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10 a 23 de Junho.1118
Como explica à SM o Dr. Hernâni Caniço,
médico de família em Coimbra, “habitual-
mente as crianças são mais afectadas
[pela diarreia], no entanto existe uma in-
cidência sazonal relacionada com o pe-
ríodo estival, que é comum e transversal a
todos os grupos etários. Há também al-
guns casos em população com risco sani-
tário”. Assim, importa conhecer as causas
e perceber se se trata de uma diarreia
aguda ou crónica. “No primeiro caso, são
de origem infecciosa, habitualmente viral,
auto-limitadas, e com um quadro de rela-
tiva prostração. No caso das diarreias cró-
nicas, a sua causa dependerá da investi-
gação complementar diagnóstica, tendo
casos frequentes de iatrogenia medica-
mentosa, síndrome do intestino irritável,
doença intestinal inflamatória ou neoplá-
sica e celiaquia, o que pode motivar refe-
renciação a cuidados secundários”, conta
o também docente da Faculdade de Medi-
cina de Coimbra. “Poderá haver diarreia
aguda ou crónica (se não diagnosticadas
atempadamente), no caso específico das
parasitoses intestinais que encontramos,
muito frequentes, particularmente hel-
mintíases e giardíase”, acrescenta.
Nas crianças, esta é também uma patolo-
gia frequente, em especial nas mais pe-
quenas. O Dr. António Macedo, pediatra do
Hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa,
refere que, nestas faixas etárias, “a grande
maioria das situações de diarreia são cau-
sadas por vírus, sendo que o rotavírus
ocupa uma posição de destaque, não só
por ser o principal agente causador de
diarreia, mas também por ser responsável
por casos potencialmente graves. Mais ra-
ramente pode estar implicada uma bac-
téria, como a salmonela ou a shigella,
sendo o diagnóstico clínico habitualmente
difícil; algumas circunstâncias epidemio-
lógicas ou clínicas, como febre alta, fezes
com muco e sangue e alterações neuroló-
gicas, podem fazer suspeitar de etiologia
bacteriana”. Não obstante, a maioria das
situações não são graves e o tratamento
pode mesmo ser feito no domicílio, sob
orientação médica. O pediatra dá exemplo
de algumas das perguntas que importa
colocar aos pais: “A diarreia é muito fre-
quente? A criança vomita ou tolera líqui-
dos? A criança está a urinar como é habi-
tual? A actividade é normal? A língua está
seca? Bebe água com sofreguidão? Que
peso terá perdido? (Aqui os pais habitual-
mente pecam por excesso). Estas questões
permitem, na maior parte dos casos, evitar
uma ida ao médico ou ao hospital”.
Tratamento em adultosQuanto à diarreia aguda, na generalidade
dos casos deve actuar-se mantendo a hi-
dratação, usando solutos ricos em elec-
trólitos e açúcar e esperando pela reso-
lução espontânea dos sintomas. De
acordo com o Dr. Hernâni Caniço, as pre-
parações absorventes e o bismuto em
diarreias agudas simples, o difenoxilato e
a loperamida (com precaução e restrição
na doença inflamatória intestinal e shi-
gelose) são opções terapêuticas, em curta
duração, e os anticolinérgicos na sín-
drome do intestino irritável.
Médicos recomendam prevenção e tratamento
Casos de diarreia aumentam no VerãoCom o calor e o crescimento do número de viagens para o estrangeiro,designadamente para países com condições higieno-sanitárias menosfavoráveis, os distúrbios gastrointestinais tornam-se mais frequentes.A escolha do tratamento adequado depende da causa, mas tambémdo grupo etário.
Com a globalização e o turismo para destinos exóticos, os casos de diarreia do viajante têm vindo a aumentar.O uso de fontes de água locais não tratadas pode estar na origem do problema.
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19semana
“Os antibióticos não são rotina para a diar-
reia bacteriana, podendo ser mesmo con-
traproducentes, mas podem ser usados
de forma empírica (fluorquinolonas) em
indivíduos idosos e debilitados, na diar-
reia do viajante e doença grave ou em
doentes com culturas positivas. Shigella,
febre tifóide, colite pseudo-membranosa,
Campilobacter e Yersinia são tratadas
com antibióticos específicos (trimetoprim
+ sulfametoxazol, amoxicilina, cloranfe-
nicol, eritromicina, vancomicina, metro-
nidazol, colestiramina, rifampicina e ba-
citracina, a cada caso), tal como as
infecções parasitárias com diarreia com
metronidazol, di-iodo-hidroxiquina e qui-
nacrina”, informa o especialista em Me-
dicina Geral e Familiar.
Já o tratamento da diarreia crónica tem de
ter em conta a etiologia (corticóides, sul-
fassalazina, suplementos enzimáticos, lo-
peramida), sem prejudicar o diagnóstico o
mais precoce possível de lesões neoplásicas.
Tratamento em criançasNos mais pequenos, “a administração
adequada de líquidos, nomeadamente de
um soro de hidratação, pode evitar a evo-
lução para um quadro mais grave”, reco-
menda o Dr. António Macedo. Já dietas
muito restritivas devem ser evitadas “por-
que conduzem muitas vezes a perdas
ponderais desnecessárias”. “A prática cor-
rente de diluir mais as fórmulas ou dar
leites sem lactose na fase aguda da diar-
reia parece ter um benefício marginal na
evolução da doença. O leite materno
deve ser sempre mantido”, acrescenta o
pediatra. Alguns casos “podem beneficiar
com a administração criteriosa de anti-
-eméticos, que, em caso de sucesso, per-
mitem o recurso aos líquidos orais”.
No que respeita às opções terapêuticas
em função dos diferentes casos, o espe-
cialista diferencia consoante a possibili-
dade de fazer o tratamento no domicílio
ou a necessidade de internamento, nas si-
tuações mais graves de desidratação ou
quando estão associados vómitos in-
coercíveis. “Sempre que é necessário in-
ternar é importante quantificar o grau de
desidratação, em função do peso que foi
perdido e definir o tipo de desidratação
(sódio está normal, alto ou baixo), que
condiciona o ritmo a que a criança vai
ser reidratada”, explica. Embora rara-
mente seja necessário identificar o
agente, alguns casos causados por bac-
térias como a shigella ou o campylobacter,
beneficiam de tratamento antibiótico, re-
fere o médico. Depois, “há substâncias
susceptíveis de reduzir a duração da diar-
reia, e que, como tal, podem ser utiliza-
das como adjuvantes da hidratação; in-
cluem-se aqui o racecadotril e os
probióticos”.
Papel dos probióticosOs probióticos são microrganismos vivos
que, entre outros efeitos, ajudam a regu-
larizar a flora intestinal e têm efeitos be-
néficos para a saúde do indivíduo. Os mais
utilizados são os lactobacillus e bifidobac-
térias (bactérias produtoras de ácido lác-
tico) e uma levedura, Saccharomyces Bou-
lardii. “Vários estudos demonstram a sua
eficácia em reduzir a duração da diarreia
aguda infecciosa e na prevenção da diar-
reia causada por antibióticos”, adianta o
Dr. António Macedo, que sustenta a sua
afirmação nos estudos e orientações clí-
nicas internacionais. “Nas normas apre-
sentadas pelas ESPGHAN [Sociedade Eu-
ropeia de Gastrenterologia Pediátrica,
DIARREIA DO VIAJANTE
A diarreia do viajante tornou-se muito frequente face à globalização, ao turismo e às migrações. A suaprevenção faz-se evitando o uso de fontes de água locais de duvidosa qualidade, vegetais frescos e cubos degelo, admitindo-se por vezes a quimioprofilaxia antibiótica, atentando à alta frequência de resistênciasbacterianas e a eficácia do bismuto, recomenda o Dr. Hernâni Caniço.“É possível prevenir a diarreia, através das fórmulas, espaços e estratégias de promoção da saúde e priorizandoa educação sanitária do doente e do meio ambiente”, salienta o médico. Para tal, importa “aconselhar atranquilidade, a manutenção da boa hidratação (até com preparações de açúcar e electrólitos se justificadose sem contra-indicação), a utilização de água engarrafada, a evicção de alimentos potencialmentecontaminados (vegetais crus, prazos de validade ultrapassados), e os cuidados perianais (banhos quentes,lavagem com algodão absorvente embebido em água tépida em vez de papel higiénico após a defecção, evitaro uso do sabão)”.
Perante um quadro de diarreia, uma das perguntasprementes, em particular nesta altura do ano, é aocorrência de uma viagem recente.
“Existe uma incidênciasazonal [de diarreia]relacionada com o períodoestival, que é comum e transversal a todos os grupos etários”, assinala o Dr. Hernâni Caniço
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“Artigo publicado na edição 626 da Revista Semana Médica (10-06-2011)”
19semana
“Os antibióticos não são rotina para a diar-
reia bacteriana, podendo ser mesmo con-
traproducentes, mas podem ser usados
de forma empírica (fluorquinolonas) em
indivíduos idosos e debilitados, na diar-
reia do viajante e doença grave ou em
doentes com culturas positivas. Shigella,
febre tifóide, colite pseudo-membranosa,
Campilobacter e Yersinia são tratadas
com antibióticos específicos (trimetoprim
+ sulfametoxazol, amoxicilina, cloranfe-
nicol, eritromicina, vancomicina, metro-
nidazol, colestiramina, rifampicina e ba-
citracina, a cada caso), tal como as
infecções parasitárias com diarreia com
metronidazol, di-iodo-hidroxiquina e qui-
nacrina”, informa o especialista em Me-
dicina Geral e Familiar.
Já o tratamento da diarreia crónica tem de
ter em conta a etiologia (corticóides, sul-
fassalazina, suplementos enzimáticos, lo-
peramida), sem prejudicar o diagnóstico o
mais precoce possível de lesões neoplásicas.
Tratamento em criançasNos mais pequenos, “a administração
adequada de líquidos, nomeadamente de
um soro de hidratação, pode evitar a evo-
lução para um quadro mais grave”, reco-
menda o Dr. António Macedo. Já dietas
muito restritivas devem ser evitadas “por-
que conduzem muitas vezes a perdas
ponderais desnecessárias”. “A prática cor-
rente de diluir mais as fórmulas ou dar
leites sem lactose na fase aguda da diar-
reia parece ter um benefício marginal na
evolução da doença. O leite materno
deve ser sempre mantido”, acrescenta o
pediatra. Alguns casos “podem beneficiar
com a administração criteriosa de anti-
-eméticos, que, em caso de sucesso, per-
mitem o recurso aos líquidos orais”.
No que respeita às opções terapêuticas
em função dos diferentes casos, o espe-
cialista diferencia consoante a possibili-
dade de fazer o tratamento no domicílio
ou a necessidade de internamento, nas si-
tuações mais graves de desidratação ou
quando estão associados vómitos in-
coercíveis. “Sempre que é necessário in-
ternar é importante quantificar o grau de
desidratação, em função do peso que foi
perdido e definir o tipo de desidratação
(sódio está normal, alto ou baixo), que
condiciona o ritmo a que a criança vai
ser reidratada”, explica. Embora rara-
mente seja necessário identificar o
agente, alguns casos causados por bac-
térias como a shigella ou o campylobacter,
beneficiam de tratamento antibiótico, re-
fere o médico. Depois, “há substâncias
susceptíveis de reduzir a duração da diar-
reia, e que, como tal, podem ser utiliza-
das como adjuvantes da hidratação; in-
cluem-se aqui o racecadotril e os
probióticos”.
Papel dos probióticosOs probióticos são microrganismos vivos
que, entre outros efeitos, ajudam a regu-
larizar a flora intestinal e têm efeitos be-
néficos para a saúde do indivíduo. Os mais
utilizados são os lactobacillus e bifidobac-
térias (bactérias produtoras de ácido lác-
tico) e uma levedura, Saccharomyces Bou-
lardii. “Vários estudos demonstram a sua
eficácia em reduzir a duração da diarreia
aguda infecciosa e na prevenção da diar-
reia causada por antibióticos”, adianta o
Dr. António Macedo, que sustenta a sua
afirmação nos estudos e orientações clí-
nicas internacionais. “Nas normas apre-
sentadas pelas ESPGHAN [Sociedade Eu-
ropeia de Gastrenterologia Pediátrica,
DIARREIA DO VIAJANTE
A diarreia do viajante tornou-se muito frequente face à globalização, ao turismo e às migrações. A suaprevenção faz-se evitando o uso de fontes de água locais de duvidosa qualidade, vegetais frescos e cubos degelo, admitindo-se por vezes a quimioprofilaxia antibiótica, atentando à alta frequência de resistênciasbacterianas e a eficácia do bismuto, recomenda o Dr. Hernâni Caniço.“É possível prevenir a diarreia, através das fórmulas, espaços e estratégias de promoção da saúde e priorizandoa educação sanitária do doente e do meio ambiente”, salienta o médico. Para tal, importa “aconselhar atranquilidade, a manutenção da boa hidratação (até com preparações de açúcar e electrólitos se justificadose sem contra-indicação), a utilização de água engarrafada, a evicção de alimentos potencialmentecontaminados (vegetais crus, prazos de validade ultrapassados), e os cuidados perianais (banhos quentes,lavagem com algodão absorvente embebido em água tépida em vez de papel higiénico após a defecção, evitaro uso do sabão)”.
Perante um quadro de diarreia, uma das perguntasprementes, em particular nesta altura do ano, é aocorrência de uma viagem recente.
“Existe uma incidênciasazonal [de diarreia]relacionada com o períodoestival, que é comum e transversal a todos os grupos etários”, assinala o Dr. Hernâni Caniço
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“Os antibióticos não são rotina para a diar-
reia bacteriana, podendo ser mesmo con-
traproducentes, mas podem ser usados
de forma empírica (fluorquinolonas) em
indivíduos idosos e debilitados, na diar-
reia do viajante e doença grave ou em
doentes com culturas positivas. Shigella,
febre tifóide, colite pseudo-membranosa,
Campilobacter e Yersinia são tratadas
com antibióticos específicos (trimetoprim
+ sulfametoxazol, amoxicilina, cloranfe-
nicol, eritromicina, vancomicina, metro-
nidazol, colestiramina, rifampicina e ba-
citracina, a cada caso), tal como as
infecções parasitárias com diarreia com
metronidazol, di-iodo-hidroxiquina e qui-
nacrina”, informa o especialista em Me-
dicina Geral e Familiar.
Já o tratamento da diarreia crónica tem de
ter em conta a etiologia (corticóides, sul-
fassalazina, suplementos enzimáticos, lo-
peramida), sem prejudicar o diagnóstico o
mais precoce possível de lesões neoplásicas.
Tratamento em criançasNos mais pequenos, “a administração
adequada de líquidos, nomeadamente de
um soro de hidratação, pode evitar a evo-
lução para um quadro mais grave”, reco-
menda o Dr. António Macedo. Já dietas
muito restritivas devem ser evitadas “por-
que conduzem muitas vezes a perdas
ponderais desnecessárias”. “A prática cor-
rente de diluir mais as fórmulas ou dar
leites sem lactose na fase aguda da diar-
reia parece ter um benefício marginal na
evolução da doença. O leite materno
deve ser sempre mantido”, acrescenta o
pediatra. Alguns casos “podem beneficiar
com a administração criteriosa de anti-
-eméticos, que, em caso de sucesso, per-
mitem o recurso aos líquidos orais”.
No que respeita às opções terapêuticas
em função dos diferentes casos, o espe-
cialista diferencia consoante a possibili-
dade de fazer o tratamento no domicílio
ou a necessidade de internamento, nas si-
tuações mais graves de desidratação ou
quando estão associados vómitos in-
coercíveis. “Sempre que é necessário in-
ternar é importante quantificar o grau de
desidratação, em função do peso que foi
perdido e definir o tipo de desidratação
(sódio está normal, alto ou baixo), que
condiciona o ritmo a que a criança vai
ser reidratada”, explica. Embora rara-
mente seja necessário identificar o
agente, alguns casos causados por bac-
térias como a shigella ou o campylobacter,
beneficiam de tratamento antibiótico, re-
fere o médico. Depois, “há substâncias
susceptíveis de reduzir a duração da diar-
reia, e que, como tal, podem ser utiliza-
das como adjuvantes da hidratação; in-
cluem-se aqui o racecadotril e os
probióticos”.
Papel dos probióticosOs probióticos são microrganismos vivos
que, entre outros efeitos, ajudam a regu-
larizar a flora intestinal e têm efeitos be-
néficos para a saúde do indivíduo. Os mais
utilizados são os lactobacillus e bifidobac-
térias (bactérias produtoras de ácido lác-
tico) e uma levedura, Saccharomyces Bou-
lardii. “Vários estudos demonstram a sua
eficácia em reduzir a duração da diarreia
aguda infecciosa e na prevenção da diar-
reia causada por antibióticos”, adianta o
Dr. António Macedo, que sustenta a sua
afirmação nos estudos e orientações clí-
nicas internacionais. “Nas normas apre-
sentadas pelas ESPGHAN [Sociedade Eu-
ropeia de Gastrenterologia Pediátrica,
DIARREIA DO VIAJANTE
A diarreia do viajante tornou-se muito frequente face à globalização, ao turismo e às migrações. A suaprevenção faz-se evitando o uso de fontes de água locais de duvidosa qualidade, vegetais frescos e cubos degelo, admitindo-se por vezes a quimioprofilaxia antibiótica, atentando à alta frequência de resistênciasbacterianas e a eficácia do bismuto, recomenda o Dr. Hernâni Caniço.“É possível prevenir a diarreia, através das fórmulas, espaços e estratégias de promoção da saúde e priorizandoa educação sanitária do doente e do meio ambiente”, salienta o médico. Para tal, importa “aconselhar atranquilidade, a manutenção da boa hidratação (até com preparações de açúcar e electrólitos se justificadose sem contra-indicação), a utilização de água engarrafada, a evicção de alimentos potencialmentecontaminados (vegetais crus, prazos de validade ultrapassados), e os cuidados perianais (banhos quentes,lavagem com algodão absorvente embebido em água tépida em vez de papel higiénico após a defecção, evitaro uso do sabão)”.
Perante um quadro de diarreia, uma das perguntasprementes, em particular nesta altura do ano, é aocorrência de uma viagem recente.
“Existe uma incidênciasazonal [de diarreia]relacionada com o períodoestival, que é comum e transversal a todos os grupos etários”, assinala o Dr. Hernâni Caniço
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“Artigo publicado na edição 626 da Revista Semana Médica (10-06-2011)”
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Hepatologia e Nutrição], baseadas em vá-
rias metanálises, é referido um efeito be-
néfico dos probióticos, em particular nos
casos por rotavírus, mais evidente quando
o tratamento é iniciado precocemente, re-
duzindo o tempo de diarreia em cerca de
um dia. É provável que todos os probióti-
cos tenham algum efeito positivo, embora
tendo em conta o desenho dos estudos
efectuados seja difícil discriminar indivi-
dualmente qual o efeito de cada um. Pre-
sentemente, as estirpes com eficácia com-
provada são o Lactobacillus GG e o Saccha-
romyces Boulardii”, sustenta. Por isso, na sua
prática clínica, o médico pediatra recorre
ao Saccharomyces Boulardii. “No que respeita
à minha experiência com o Saccharomyces
Boulardii, posso afirmar que o utilizo com
alguma frequência nas situações de diar-
reia aguda; embora a sua eficácia seja
modesta (menos um dia de diarreia),
quando usado com critério é seguro e
tem um custo aceitável”, visto ainda ser
comparticipado.
Já o Dr. Hernâni Caniço afirma que os pro-
bióticos podem ter um papel tanto na pre-
venção como no tratamento. “Podem ser
uma opção na diarreia aguda, como pre-
venção, em adultos e crianças; e no tra-
tamento, em crianças e adultos, particu-
larmente na gastroenterite viral; na
diarreia associada a antibióticos e, admite-se,
na diarreia induzida por radiação”, diz. E
mais acrescenta: “A minha experiência
clínica com probióticos sugere a redução
da severidade e a duração da diarreia no
tratamento da diarreia infecciosa aguda
em crianças e adultos, bem como na pre-
venção da diarreia associada a antibióti-
cos em adultos, tal como refere a World
Gastroenterology Organisation”. No caso
do Saccharomyces boulardii, o clínico conta
que o tem usado na sua prática clínica,
“em situações específicas de tratamento
da diarreia aguda infecciosa, em crianças
e adultos, e prevenção da diarreia asso-
ciada a antibióticos em adultos, com efi-
cácia e sucesso aparente”.
Evidência científicaA evidência científica sobre a utilidade
dos probióticos é diversa, destacando-se
as referências da World Gastroenterology
Organisation e da Organização Mundial
de Saúde. “No entanto, apenas algumas
cepas de probióticos, nomeadamente Sac-
charomyces boulardii, têm sido incluídas
em estudos com método científico (cujos
achados podem ser cepa-específicos) e
há necessidade de novos conhecimentos
em relação ao mecanismo de acção para
que se possa explorar a potencialidade
terapêutica, sendo necessários futuros
estudos para comprovar a eficácia e se-
gurança na população pediátrica, con-
forme cita o Jornal de Pediatria da Socie-
dade Brasileira de Pediatria”, sublinha o
médico de Coimbra. Até porque “existem
probióticos com géneros, espécies e ce-
pas diferentes, sendo que os estudos apli-
cados a cada cepa e dose utilizada não
podem ser generalizados automatica-
mente a outras cepas ou doses mais bai-
xas, além do veículo/enchimento que al-
tere a viabilidade da cepa”.•
Em crianças pequenas com diarreia, evitar a desidratação deve ser uma das preocupações principais.
PROBIÓTICO SACCHAROMYCES BOULARDII
O Dr. José Feliz, investigador de Biomedicina na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, explica que os mecanismosde acção do Saccharomyces boulardii podem ser classificados em três tipos: luminal, trófica e anti-inflamatória. “Nolúmen intestinal, o S. boulardii apresenta um efeito anti-toxina, ao bloquear os receptores das toxinas produzidas poragentes patogénicos”, refere. Este probiótico “possui também um efeito antimicrobiano, ao impedir o crescimento deagentes patogénicos, a adesão destes aos enterocitos e promovendo a integridade da barreira intestinal, como foidemostrado in vitro com células do cólon infectadas por E. coli enteropatogénica e enterohemorrágica”. E, igualmentecomo acção luminal, “exerce um efeito restaurador da flora comensal intestinal e um efeito metabólico, estimulandoa produção de ácidos gordos de cadeia curta que se encontram diminuídos durante a doença inflamatória intestinal”. Em relação à acção trófica, o investigador explica que “o S. boulardi, estimula a maturação do enterocito edesse modo promove o aumento de enzimas da ‘bordadura em escova’, como a lactase, a maltase e a sacarase.Aumenta também a produção de IgA secretória”.Por fim, a sua acção anti-inflamatória “é exercida ao estimular o sistema imune e ao reduzir as respostaspró-inflamatórias.
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“Os antibióticos não são rotina para a diar-
reia bacteriana, podendo ser mesmo con-
traproducentes, mas podem ser usados
de forma empírica (fluorquinolonas) em
indivíduos idosos e debilitados, na diar-
reia do viajante e doença grave ou em
doentes com culturas positivas. Shigella,
febre tifóide, colite pseudo-membranosa,
Campilobacter e Yersinia são tratadas
com antibióticos específicos (trimetoprim
+ sulfametoxazol, amoxicilina, cloranfe-
nicol, eritromicina, vancomicina, metro-
nidazol, colestiramina, rifampicina e ba-
citracina, a cada caso), tal como as
infecções parasitárias com diarreia com
metronidazol, di-iodo-hidroxiquina e qui-
nacrina”, informa o especialista em Me-
dicina Geral e Familiar.
Já o tratamento da diarreia crónica tem de
ter em conta a etiologia (corticóides, sul-
fassalazina, suplementos enzimáticos, lo-
peramida), sem prejudicar o diagnóstico o
mais precoce possível de lesões neoplásicas.
Tratamento em criançasNos mais pequenos, “a administração
adequada de líquidos, nomeadamente de
um soro de hidratação, pode evitar a evo-
lução para um quadro mais grave”, reco-
menda o Dr. António Macedo. Já dietas
muito restritivas devem ser evitadas “por-
que conduzem muitas vezes a perdas
ponderais desnecessárias”. “A prática cor-
rente de diluir mais as fórmulas ou dar
leites sem lactose na fase aguda da diar-
reia parece ter um benefício marginal na
evolução da doença. O leite materno
deve ser sempre mantido”, acrescenta o
pediatra. Alguns casos “podem beneficiar
com a administração criteriosa de anti-
-eméticos, que, em caso de sucesso, per-
mitem o recurso aos líquidos orais”.
No que respeita às opções terapêuticas
em função dos diferentes casos, o espe-
cialista diferencia consoante a possibili-
dade de fazer o tratamento no domicílio
ou a necessidade de internamento, nas si-
tuações mais graves de desidratação ou
quando estão associados vómitos in-
coercíveis. “Sempre que é necessário in-
ternar é importante quantificar o grau de
desidratação, em função do peso que foi
perdido e definir o tipo de desidratação
(sódio está normal, alto ou baixo), que
condiciona o ritmo a que a criança vai
ser reidratada”, explica. Embora rara-
mente seja necessário identificar o
agente, alguns casos causados por bac-
térias como a shigella ou o campylobacter,
beneficiam de tratamento antibiótico, re-
fere o médico. Depois, “há substâncias
susceptíveis de reduzir a duração da diar-
reia, e que, como tal, podem ser utiliza-
das como adjuvantes da hidratação; in-
cluem-se aqui o racecadotril e os
probióticos”.
Papel dos probióticosOs probióticos são microrganismos vivos
que, entre outros efeitos, ajudam a regu-
larizar a flora intestinal e têm efeitos be-
néficos para a saúde do indivíduo. Os mais
utilizados são os lactobacillus e bifidobac-
térias (bactérias produtoras de ácido lác-
tico) e uma levedura, Saccharomyces Bou-
lardii. “Vários estudos demonstram a sua
eficácia em reduzir a duração da diarreia
aguda infecciosa e na prevenção da diar-
reia causada por antibióticos”, adianta o
Dr. António Macedo, que sustenta a sua
afirmação nos estudos e orientações clí-
nicas internacionais. “Nas normas apre-
sentadas pelas ESPGHAN [Sociedade Eu-
ropeia de Gastrenterologia Pediátrica,
DIARREIA DO VIAJANTE
A diarreia do viajante tornou-se muito frequente face à globalização, ao turismo e às migrações. A suaprevenção faz-se evitando o uso de fontes de água locais de duvidosa qualidade, vegetais frescos e cubos degelo, admitindo-se por vezes a quimioprofilaxia antibiótica, atentando à alta frequência de resistênciasbacterianas e a eficácia do bismuto, recomenda o Dr. Hernâni Caniço.“É possível prevenir a diarreia, através das fórmulas, espaços e estratégias de promoção da saúde e priorizandoa educação sanitária do doente e do meio ambiente”, salienta o médico. Para tal, importa “aconselhar atranquilidade, a manutenção da boa hidratação (até com preparações de açúcar e electrólitos se justificadose sem contra-indicação), a utilização de água engarrafada, a evicção de alimentos potencialmentecontaminados (vegetais crus, prazos de validade ultrapassados), e os cuidados perianais (banhos quentes,lavagem com algodão absorvente embebido em água tépida em vez de papel higiénico após a defecção, evitaro uso do sabão)”.
Perante um quadro de diarreia, uma das perguntasprementes, em particular nesta altura do ano, é aocorrência de uma viagem recente.
“Existe uma incidênciasazonal [de diarreia]relacionada com o períodoestival, que é comum e transversal a todos os grupos etários”, assinala o Dr. Hernâni Caniço
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“Artigo publicado na edição 626 da Revista Semana Médica (10-06-2011)”