15
O PROGRAMA MICRO EMPREENDEDOR INDIVIDUAL E OS FATORES DETERMINANTES À ADESÃO: UM ESTUDO EMPÍRICO NO VALE DO SÃO FRANCISCO. RESUMO O programa Micro Empreendedor Individual, em vigor a partir da Lei Complementar nº 128/2008, foi a maior ação do Governo Federal no tocante ao combate à economia informal, que em 2009 alcançou R$ 580 bilhões, pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB). Pela dimensão do programa, torna-se pertinente investigar quais dos benefícios oferecidos, mostram-se relevantes à sua adesão. Para tal, com o intuito de verificar esta realidade no Vale do São Francisco, foram aplicados questionários, utilizando escala likert de 5 pontos a 231 vendedores ambulantes nas cidades de Petrolina - PE, Juazeiro BA e Casa Nova - BA, o que permitiu identificar 68 participantes do programa. A esta sub-amostra foi efetuado o procedimento da análise fatorial, tendo em vista o objetivo do presente estudo. A fatorabilidade dos itens foi considerada satisfatória diante dos resultados obtidos da KMO e teste de esfericidade de Barlett. Constatou-se que dos 15 benefícios proporcionados pelo programa, 5 mostram-se estatisticamente insignificantes, ao nível de 5%. Por não serem pertinentes para a adesão ao programa, acarretam em custos desnecessários para o governo. Já com relação aos beneficios identificados como estatisticamente relevantes, foram identificados, através de uma rotação dos 10 benefícios em 6 fatores, a saber: economia de custos, benefícios adquiridos, realização/auto-estima, condições de crescimento, economia na captação de recursos e formalização sem burocracia. Estes construtos explicam, de forma clara, o real desejo dos trabalhadores informais à adesão ao programa do Micro empreendedor individual. Assim, torna-se necessário replicar o estudo em outras regiões e, se confirmado tal cenário, excluir os benefícios insignificantes tendo em vista os custos intrínsecos de tais subvenções. Palavras - chave: Empreendedor Individual; informalidade; desenvolvimento econômico; análise fatorial; gestão pública. 1. Introdução O Brasil, sobretudo, após o advento do plano real e a subsequente realização de algumas pontuais reformas estruturais realizadas nos últimos anos, despontou como uma das principais potências econômicas do mundo. Entretanto, a despeito de tal realidade, o país perde muito da sua competitividade devido, entre outros problemas estruturais, à problemática da informalidade. O Governo, com intuito de buscar soluções, ou pelo menos minimizar o atual patamar da economia subterrânea brasileira, que contempla “quase 10 milhões de empreendedores informais” (PADUAN, 2010:131), fomentou a formalização destes trabalhadores, potenciais contribuintes, através da Lei Complementar 128/2008, do Micro Empreendedor Individual MEI, promulgada em julho de 2009. Assim, pode-se notar que as expectativas por parte do Governo em relação à receptividade e êxito do programa são grandes. O potencial de transformação da economia informal, no contexto nacional, é encarado como o grande incentivador à divulgação e desenvolvimento do programa. Esta investigação buscou mostrar com maior profundidade o fenômeno em estudo, de modo a torná-lo mais claro, bem como entender as motivações que levam os trabalhadores informais do Vale do São Francisco a aderirem ao programa do MEI.

Mei

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O programa Micro Empreendedor Individual, em vigor a partir da Lei Complementar nº 128/2008, foi a maior ação do Governo Federal no tocante ao combate à economia informal, que em 2009 alcançou R$ 580 bilhões, pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB).

Citation preview

Page 1: Mei

O PROGRAMA MICRO EMPREENDEDOR INDIVIDUAL E OS FATORES

DETERMINANTES À ADESÃO: UM ESTUDO EMPÍRICO NO VALE DO SÃO

FRANCISCO.

RESUMO

O programa Micro Empreendedor Individual, em vigor a partir da Lei Complementar nº

128/2008, foi a maior ação do Governo Federal no tocante ao combate à economia informal,

que em 2009 alcançou R$ 580 bilhões, pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB).

Pela dimensão do programa, torna-se pertinente investigar quais dos benefícios oferecidos,

mostram-se relevantes à sua adesão. Para tal, com o intuito de verificar esta realidade no Vale

do São Francisco, foram aplicados questionários, utilizando escala likert de 5 pontos a 231

vendedores ambulantes nas cidades de Petrolina - PE, Juazeiro – BA e Casa Nova - BA, o que

permitiu identificar 68 participantes do programa. A esta sub-amostra foi efetuado o

procedimento da análise fatorial, tendo em vista o objetivo do presente estudo. A

fatorabilidade dos itens foi considerada satisfatória diante dos resultados obtidos da KMO e

teste de esfericidade de Barlett. Constatou-se que dos 15 benefícios proporcionados pelo

programa, 5 mostram-se estatisticamente insignificantes, ao nível de 5%. Por não serem

pertinentes para a adesão ao programa, acarretam em custos desnecessários para o governo. Já

com relação aos beneficios identificados como estatisticamente relevantes, foram

identificados, através de uma rotação dos 10 benefícios em 6 fatores, a saber: economia de

custos, benefícios adquiridos, realização/auto-estima, condições de crescimento, economia na

captação de recursos e formalização sem burocracia. Estes construtos explicam, de forma

clara, o real desejo dos trabalhadores informais à adesão ao programa do Micro empreendedor

individual. Assim, torna-se necessário replicar o estudo em outras regiões e, se confirmado tal

cenário, excluir os benefícios insignificantes tendo em vista os custos intrínsecos de tais

subvenções.

Palavras - chave: Empreendedor Individual; informalidade; desenvolvimento econômico;

análise fatorial; gestão pública.

1. Introdução

O Brasil, sobretudo, após o advento do plano real e a subsequente realização de

algumas pontuais reformas estruturais realizadas nos últimos anos, despontou como uma das

principais potências econômicas do mundo. Entretanto, a despeito de tal realidade, o país

perde muito da sua competitividade devido, entre outros problemas estruturais, à problemática

da informalidade.

O Governo, com intuito de buscar soluções, ou pelo menos minimizar o atual patamar

da economia subterrânea brasileira, que contempla “quase 10 milhões de empreendedores

informais” (PADUAN, 2010:131), fomentou a formalização destes trabalhadores, potenciais

contribuintes, através da Lei Complementar 128/2008, do Micro Empreendedor Individual –

MEI, promulgada em julho de 2009.

Assim, pode-se notar que as expectativas por parte do Governo em relação à

receptividade e êxito do programa são grandes. O potencial de transformação da economia

informal, no contexto nacional, é encarado como o grande incentivador à divulgação e

desenvolvimento do programa.

Esta investigação buscou mostrar com maior profundidade o fenômeno em estudo, de

modo a torná-lo mais claro, bem como entender as motivações que levam os trabalhadores

informais do Vale do São Francisco a aderirem ao programa do MEI.

Page 2: Mei

Frente a esse cenário, tornou-se pertinente questionar até que ponto os benefícios

oferecidos aos trabalhadores informais são relevantes à opção de adesão ao programa do

MEI? Diante deste questionamento, foi realizado um estudo de caso no vale do São Francisco,

especificamente nas cidades de Petrolina – PE com 290.693 habitantes, considerada a 6ª

maior cidade de Pernambuco, Juazeiro – BA com 194.096 habitantes e Casa Nova- BA com

62.862 habitantes, segundo dados do IBGE 2010.

Por se tratar de um tema novo, praticamente com inexistência de pesquisa para o

referencial teórico, o presente estudo assume maior relevância pelo fato de contribuir para

debates sobre os aspectos que permeiam a formalização dos trabalhadores informais e serve

de referência para fomentar futuras pesquisas sobre essa temática.

O estudo se justifica pela relevância de identificar os fatores preponderantes à adesão

ao programa MEI, tendo em vista, seu impacto social e econômico. Como limitações do

estudo, destacam-se a necessidade de majoração da amostra (tanto nas cidades quanto aos

indivíduos); o aprofundamento do estudo da eventual relação antagônica entre os micro

empreendedores individuais e os beneficiários do Bolsa Família e, por fim, o aprofundamento

das análises fatoriais (construtos).

O estudo subdivide-se em quatro partes. Na primeira, são apresentados os principais

conceitos que nortearam a pesquisa. Na segunda parte, são dispostos os aspectos

metodológicos aplicados no estudo e, em seguida, na terceira parte, são apresentadas as

análises na amostra estudada.

Para concluir, na quarta e última parte, são apresentadas as considerações finais, onde

são abordadas as contribuições advindas do estudo, suas limitações e indicações a futuras

pesquisas.

2. Referencial teórico

2.1 A Informalidade na economia brasileira

A informalidade é o principal estigma de uma sociedade desigual e, como tal, deve ser

minimizada por meio de políticas governamentais. Tanzi (2009:38) argumenta sobre o

surgimento da informalidade, “à medida que os níveis e alíquotas dos impostos aumentam,

intensificam-se os esforços dos contribuintes para evitá-los é maior e a probabilidade de

evasão fiscal por meio de transações não oficiais e não registradas”.

Devido à pressão social por acesso aos serviços básicos garantidos pela Constituição

Federal, os gastos governamentais têm sido paulatinamente incrementados. Essa demanda

crescente pressiona uma maior eficácia na arrecadação, seja pelo acréscimo da quantidade de

contribuintes ou pela majoração das alíquotas dos tributos.

Tanzi (2009) afirma ainda que a informalidade cresce proporcionalmente ao aumento

dos impostos. Como as operações realizadas nos setores informais não são declaradas, o

Governo, não arrecada e, em consequência, não detém todos os recursos possíveis. Este

cenário termina por acarretar no incremento da carga tributária implantando assim um ciclo

vicioso. Os indivíduos, por sua vez, como forma de solucionar as dificuldades decorrentes

desta conjuntura, agravada pela falta de emprego, engrossam o setor informal da economia

brasileira.

Segundo Paduan (2010:129), um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas

(FGV) e o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), constatou que a economia

informal movimentou em 2009 R$ 580 bilhões, ou seja, 18,4% do Produto Interno Bruto

(PIB), conforme apresentado na figura 1:

Page 3: Mei

Figura 1 - Economia Subterrânea Brasileira.

Fonte: PADUAN, 2010:129.

Com relação à quantidade de Micro e Pequenos Empreendedores que se enquadram

como informais, a situação tem apresentado uma significativa melhora nos últimos anos,

conforme se pode observar na figura 2:

Figura 2 - Universo de Pequenos Empreendedores na economia brasileira.

Fonte: PADUAN, 2010:129.

Diante do exposto, pode-se perceber que o universo dos pequenos empreendedores

que atuavam na informalidade, com até cinco funcionários, apresentou uma significativa

melhora nos últimos 13 anos, saindo da quase totalidade a um patamar de 83,7%.

A quantidade de pequenos empreendedores formais na economia nacional, também

apresentou incremento nos últimos anos, conforme a figura 3:

Figura 3 - Universo de Pequenos Empreendedores na economia brasileira.

Fonte: PADUAN, 2010:129.

O ambiente de negócios sofreu uma substancial alteração a partir da reforma tributária.

A Lei Complementar 123/2006 criou o Simples Nacional, sistema que unifica os tributos

federais, estaduais e municipais, desonerando a carga tributária e, por consequência,

incentivando os pequenos negócios à formalização. A ação governamental apresentou grande

êxito, indicando boas expectativas para os próximos anos.

2.2 Micro Empreendedor Individual (MEI)

O poder público, com o intuito de combater a informalidade, implantou uma programa

com o intuito de reduzir a economia subterrânea, aumentando a arrecadação, viabilizando o

acesso a quem queira se regularizar. Acerca da definição da figura do empreendedor

individual, o Portal do Micro Empreendedor Individual (BRASIL, 2010) assim se manifesta: É a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno

empresário. Para ser um empreendedor individual, é necessário faturar no máximo

Page 4: Mei

até R$ 36.000,00 por ano, não ter participação em outra empresa como sócio ou

titular e ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da

categoria. O Micro empreendedor Individual – MEI é regulamentada pela Lei

Complementar 128/2008, com vigência a partir de 01.07.2009.

A lei propicia a melhoria na vida de quem trabalha por conta própria, disponibilizando

direitos através da legalização dos pequenos negócios. É disponibilizada então, para milhões

de brasileiros, oportunidade de sair da informalidade e usufruir de auxílios, proteções e outras

vantagens oferecidas pelo programa do MEI.

Em outras palavras, a lei 128/2008 propicia, ao trabalhador informal, a elevação à

categoria de pequeno empresário, o que contempla uma série de benefícios e, de forma

atrelada, fomenta uma maior arrecadação por parte do Estado.

Devido à amplitude do universo e, sobretudo, à quantidade de profissões e negócios

informais, tornou-se necessário limitar àqueles que podem aderir ao programa. Assim, para a

formalização como micro empreendedor individual, o trabalhador terá que ter sua atividade

econômica enquadrada em uma das 439 ocupações previstas na lei.

A adesão ao programa é realizada, de forma gratuita, pelo sítio eletrônico do

programa, disponível em <http://www.portaldoempreendedor.gov.br>, ou presencialmente

nos escritórios de contabilidade cadastrados, que são responsáveis, além da inscrição, pela

elaboração da primeira declaração anual simplificada. O Sistema Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) é parceiro deste programa, disponibilizando

orientações à formalização, bem como, oferecendo consultoria gratuita aos beneficiários.

O programa MEI propicia, aos empreendedores, a participação no Sistema de

Recolhimento em Valores Fixos Mensais dos Tributos abrangidos pelo Simples Nacional

(SIMEI), desde que o faturamento esteja abaixo do teto estipulado (R$ 36.000,00/ano).

Conforme incisos I a VI do Art. 13 da Lei Complementar nº 123/2006, “o empreendedor

individual não está sujeito ao recolhimento dos tributos como IRPJ, IPI, CSLL, COFINS, PIS

e Contribuição Patronal Previdenciária, para quem não possuem empregados” (BRASIL,

2010).

De acordo com a lei citada acima, o Micro Empreendedor Individual é isento dos

tributos que se enquadram na tabela do Simples Nacional, por optar pelo SIMEI,

proporcionando numa economia dos valores devidos. Acerca dos aspectos tributários do

programa, O Micro empreendedor Individual (MEI) poderá optar pelo Sistema tributário de

Recolhimento em Valores Fixos Mensais, independentemente da receita bruta

mensal, possibilitando economia no recolhimento dos tributos devidos. Sob a

alíquota de: 11% sobre um salário mínimo para previdência social, em valores fixos

mensais são R$ 1,00 de ICMS para atividades de indústria ou comércio; e R$ 5,00

de ISS para atividades de prestação de serviços. (BRASIL, 2010).

Nota-se o grande apelo à simplificação e à economicidade para os empreendedores.

“Os tributos terão que ser recolhidos até o 20º dia de cada mês, por meio do documento de

arrecadação disponível para impressão no Programa Gerador no Portal do Simples Nacional”,

o que simplifica o processo de contribuição, possibilitando uma economia no recolhimento

dos tributos devidos (BRASIL, 2010).

3. Metodologia

A pesquisa apresenta uma abordagem quantitativa e utiliza o método indutivo de coleta

de dados, pois, partindo de uma análise regional acerca da relevância de cada um dos

benefícios proporcionados pelo programa MEI, delineia uma proposta de explicação dos

fatores relevantes à opção de adesão ao programa no nível macro. “Os passos do método

podem ser resumidos em: observação, análise, desenvolvimento de hipóteses, teste

experimental, modelo e, por fim, generalização dos resultados” (KUMAR, 2005:72).

Page 5: Mei

A pesquisa tem cunho parcialmente descritivo, tendo em vista que “visa descrever

sistemas, técnicas e procedimentos seguidos na prática” (MAJOR e VIEIRA, 2009:144). Jung

(2004:198) complementa: “visa a identificação, registro e análise das características, fatores

ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo”. Entretanto, também apresenta

aspectos exploratórios, pois “visa à descoberta, o achado, a elucidação de fenômenos, ou, a

explicação daqueles que não eram aceitos apesar de evidentes” (JUNG, 2004:197).

Como objeto para recolha de dados, foram aplicados questionários de 15 itens com a

descrição de cada um dos benefícios disponibilizados pelo programa do MEI (obtidos no site

do programa na web (http://www.portaldoempreendedor.gov.br), utilizando de escala likert de

5 pontos. As questões apresentam-se como proxies dos benefícios desejados pelos optantes, a

saber: Cobertura Previdenciária; Registro de Funcionários; Possibilidade de obter crédito

junto a bancos; União de empreendedores para compras conjuntas; Baixo custo de

formalização (ICMS e ISS); Controles Simplificados; Inexistência de taxas de abertura e

gratuidade de Alvará; Cidadania; Assessoria contábil gratuita para registro da empresa; Apoio

técnico do SEBRAE; Isenção de taxas de registro e alvará grátis; Obrigação de entrega de

declaração única; Crescimento como empreendedor; Vendas para o governo e, por fim,

Segurança jurídica.

Para o tratamento dos dados, optou-se por utilizar o procedimento de análise fatorial,

“tendo em vista que, fomenta o agrupamento e estudo das variáveis explicativas do objeto em

estudo’’. A ferramenta permite entender a composição de um conjunto de variáveis à adesão

do fenômeno em análise, o programa do MEI (FIELD, 2009).

Quanto aos procedimentos, foi realizado uma pesquisa de campo com intuito de

explicar/entender as motivações à adesão do programa no Vale do São Francisco. Vergara

(2000:48) contribui acerca do procedimento de pesquisa de campo: “a investigação empírica

no local onde ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir

entrevistas, aplicação de questionários, teses e observações participantes ou não”.

A fim de obter os dados, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas, SEBRAE, das cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, foi consultado sobre a

eventual contribuição para o estudo, disponibilizando o banco de dados dos beneficiários da

região para que fosse possível a aplicação dos questionários. Entretanto, o referido órgão não

forneceu as informações necessárias, em razão de serem confidenciais e sigilosas.

Os escritórios de contabilidade que prestavam serviços de assessoria gratuita aos

participantes do programa também foram consultados, entretanto, também não foi obtido

êxito na obtenção dos contatos dos participantes da pesquisa, tendo em vista, a inexistência

deste tipo de controle por parte dos profissionais de contabilidade.

Os empreendedores esclareceram que, devido à restrição legal de participação

conjunta nos programas Microempreendedor Individual (MEI) e Bolsa Família, o

empreendedores informais têm relutado e, sobretudo, abdicado à adesão ao programa do MEI

em detrimento de serem excluídos do programa Bolsa Família. Assim, considerando o cenário

apresentado, testou-se a seguinte hipótese:

(H0:) Existe uma relação antagônica entre o número de optantes do programa

Microempreendedor Individual e os beneficiários dos programas sociais do governo Federal.

Optou-se então por obter as informações diretamente no campo de pesquisa adotando

assim, o procedimento de aplicar o questionário aos ambulantes das cidades pesquisadas,

independentemente destes serem ou não optantes do programa. Apesar de, eventualmente, não

obter uma identificação legítima do respondente, com o intuito de efetuar a segregação

necessária para tabulação dos dados, foi solicitada a identificação dos optantes do programa

no cabeçalho do questionário. Do total de 231 participantes, cerca de 30% enquadravam-se

como micro empreendedores individuais, conforme apresentado na tabela 01:

Page 6: Mei

Participantes Optantes MEI %

231 68 29,4 Tabela 01 - Número de participantes e optantes do programa MEI.

Assim, como o objetivo do estudo detinha-se em verificar a relevância dos fatores

relevantes à adesão ao programa, os dados utilizados foram os correspondentes, apenas, aos

68 vendedores ambulantes que participavam do programa MEI, nas cidades de Petrolina – PE,

Juazeiro – BA e Casa Nova – BA. A delimitação das cidades abrangidas nas análises, deu-se,

sobretudo, por conta da indisponibilidade de recursos financeiros para contemplar toda região,

contudo, este agravante não comprometeu os resultados da pesquisa pois as cidades analisadas

contemplam 96% da população do Vale do São Francisco (SERPRO/MDIC, 2010).

A região do Vale do São Fracisco foi escolhida à realização da pesquisa dada sua

relevância econômica (2º maior produtor nacional de uvas e vinhos finos, notório exportador

de frutas para todo o mundo; polo de ecoturismo (VSF, 2011), pela relevância demográfica -

Petrolina – PE com 290.693 habitantes é a 6ª maior cidade de Pernambuco, Juazeiro – BA

com 194.096 habitantes é a 6ª maior cidade da Bahia, e Casa Nova- BA com 62.862

habitantes é a 27ª maior cidade da Bahia (IBGE, 2010) - e por sua relevância no programa

MEI, dado que responde por, aproximadamente, 4% dos casos de adesão ao programa MEI

nos Estados da Bahia e Pernambuco (SERPRO/MDIC, 2010).

Os questionários foram aplicados entre os meses de agosto e setembro de 2010,

apresentadando uma questão aberta (análise descritiva) e as demais fechadas, utilizando-se da

escala de Likert de cinco pontos, com o intuito de facilitar a tabulação dos dados e,

consequentemente propiciar a análise quantitativa do fenômeno em estudo. Em todas as fases

do estudo foi utilizado o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences SPSS

Statistics 17.0®.

Optou-se pela Análise Fatorial para tratamento dos dados por ser uma metodologia

bastante utilizada, sobretudo, pelos pesquisadores sociais para mensurar construtos que não

podem ser quantificados diretamente. Field (2009:553) contribui: Por exemplo, estudantes de administração (ou mesmo psicólogos) podem estar

interessados em medir a exaustão (burnout) que é quando alguém que tem

trabalhado muito em um só projeto (um livro, por exemplo) por um longo período

de tempo subitamente se encontra destituído de motivação e inspiração e quer bater

a cabeça várias vezes no computador.

Ainda sobre a análise de fatores, Hair (1998:193) cita que uma de suas principais

atribuições é: “construir um questionário para medir variáveis subjacentes”. No estudo em

questão, a técnica estatística de análise fatorial foi utilizada para testar a relevância estatística

das variáveis/benefícios do fenômeno, isto é, adesão ao programa do MEI.

4. Análise dos dados

4.1 Levantamento prévio

Verificou-se a relação entre a quantidade de pessoas optantes pelo programa MEI,

frente às beneficiárias do programa Bolsa Família, na região Norte/Nordeste, conforme a

tabela 02: ESTADO BENEF. SOCIAIS OPTANTES MI

BA 4.138.983 6.413

PE 2.648.109 858

CE 2.589.009 744

PB 1.222.857 627

RN 873.012 494

AL 1.039.467 414

MA 2.190.513 360

Page 7: Mei

SE 537.006 165

PI 1.081.533 144

PA 1.590.774 750

AM 667.944 404

RO 276.612 328

TO 307.203 248

AC 165.747 198

RR 103.896 91

AP 118.158 154

Total 19.550.823 12.392

Tabela 02 – Optante do programa MEI X beneficiários B.F, nas regiões Norte/Nordeste em 2009.

Fonte: SERPRO/MDIC ,2009. Tabela elaborada pelo autor

As regiões Norte e Nordeste foram agregadas nas análises devido a similaridade em

termos econômicos/sociais/culturais. Os resultados apresentados na tabela 03, revelam que

existe uma correlação positiva (R) relevante, isto é, correlação de cerca de 76%, entre os

optantes do programa MEI e os beneficiários dos programas do governo federal.

Micro_Emp Benef_Soci

Micro_Emp Pearson Correlation 1 ,761**

Sig. (2-tailed) 0,001

N 16 16

Benef_Soci Pearson Correlation ,761** 1

Sig. (2-tailed) 0,001 N 16 16

Tabela 03 – Cálculo da correlação linear da relação inversa MEI X B.F, nas regiões Norte/Nordeste.

Fonte:Saída do software SPSS.

Verifica-se então, um coeficiente de correlação (R) de 0,761, índice considerado alto,

e um nível de significância de 95% (LEVINE, 2005). Analisando a tabela 03, nota-se a

existência de uma correlação linear positiva, ou seja, nos estados compreendidos na análise, a

adesão ao programa Bolsa Família apresenta comportamento similar à adesão ao programa

MEI. Esta relação linear positiva é melhor apresentada no gráfico 01:

Gráfico 01 – Relação inversa dos optantes do programa MI X beneficiários BF, nas regiões Norte/Nordeste.

Fonte: do autor

É perceptível que os pontos encontram-se muito próximos da linha de tendência,

denotando que converge com o número de micro empreendedores individuais, não sendo

antagônicos (correlação negativa), como previsto pelos profissionais de contabilidade

consultados. Nota-se, também, que os pontos encontram-se muito próximo da linha de

tendência traçada pelo modelo.

Page 8: Mei

Outro ponto que demanda atenção decorre do coeficiente de determinação (R2) que

explica a quantidade percentual explicativa de uma variável em relação à participação da

variação total (ROSS,1997), atinge aproximadamente 58%, isto é, os benefícios da Bolsa

Família explicam, aproximadamente, 3/5 da adesão ao programa MEI, na região estudada.

Assim, a hipótese nula foi refutada.

Entretanto, torna-se necessário um aprofundamento das análises da relação entre os

dois programas, por cidade, sobretudo do interior dos estados federativos. Estudos acerca da

análise da constituição da renda familiar – eventualmente o optante pode inscrever algum

dependente da bolsa família e ambos podem usufruir dos programas assim como-, oferecem

informação incremental para futuros estudos.

4.2 Identificação dos fatores

Na abertura do questionário, foi solicitada a identificação dos participantes do

programa MEI. Àqueles que indicavam que não participavam, foram questionados acerca das

motivações para tal opção. Os resultados encontram-se destacados no gráfico 01:

Gráfico 01 - Motivações dos participantes para não adesão ao programa MEI no Vale do São Francisco

Fonte: do autor

A maior parte dos participantes, 38% preferiram não opinar sobre as motivações à não

adesão ao programa. Cerca de 27% se justificaram que por já receber o Bolsa Família temiam

perder o benefício, uma vez que o MEI é oferecido, exclusivamente, para pessoas

impossibilitadas de ter seus próprios rendimentos.

Outra justificativa relevante, que compreende cerca de 18% dos entrevistados, decorre

do desconhecimento dos benefícios advindos da formalização dos negócios, fato este, que

demanda atenção por parte do Governo, tendo em vista que, eventualmente as ações de

divulgação podem estar sendo realizadas de forma equivocada e/ou ineficaz.

Por último, aproximadamente 12% da amostra não tem interesse, principalmente, por

considerar a situação dos trabalhadores informais melhor que a dos formais, sobretudo,

devido ao fato de não possuirem vínculo empregatício, inexistindo obrigação com

pagamentos de impostos ao governo.

Com os questionários em mãos, foi efetuado o procedimento de análise fatorial nos

dados obtidos via formulários. O primeiro passo trata de verificar a relevância estatística do

conjunto de variáveis analisadas, conforme apresentado na tabela 04:

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,729

Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 112,389

DF 105

Sig. 0,293

Tabela 04 - Significância de todas as variáveis dos benefícios do programa MEI, no Vale do

São Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Page 9: Mei

Nota-se que, apesar da ocorrência de uma Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) de 0,729,

índice considerado bom, o nível de significância geral de 0,293 ficou bem acima do nível

aceitável de 0,05 (FIELD, 2009). Assim, tornou-se necessário avaliar cada um dos benefícios

oferecidos pelo programa MEI e seus respectivos níveis de significância, individualmente.

Segundo Field (2009:271), a KMO: “representa a razão da correlação ao quadrado

para correlação parcial ao quadrado entre as variáveis”, isto é, a medida evidencia quais

variáveis se relacionam com as demais. Nesse sentido, Hutcheson e Sofroniou (1999: 224-

225) contribuem na análise da KMO afirmando que “valores acima de 0,50 são aceitáveis,

porém, medíocres; entre 0,70 e 0,80 são bons; entre 0,80 a 0,90 são ótimos e acima de 0,90

são excelentes’’.

Outra variável que demanda atenção é o teste de Bartlett’s (Bartlett's Test of

Sphericity) que “testa a hipótese nula de que a matriz de correlações original é uma matriz

identidade” (FIELD, 2009:580). Em outras palavras, o teste verifica se as variáveis são não

correlacionadas.

Em análises fatoriais, é imprescindível um alto grau de correlação entre as variáveis,

assim, deseja-se negar a hipótese nula de que a matriz é identidade. Analisando a tabela 04,

nota-se um nível de significância de 0,293, acima do aceitável de 0,05. Conclui-se, assim, que

a matriz em questão é identidade, o que inviabiliza o processo de extração de fatores. Análise

individualmente o KMO, pode-se notar que 5 dos benefícios apresentaram-se não

significativos ao nível de 5%, uma vez que orbitrarem abaixo do limiar de 0,70. Os resultados

foram destacado e podem ser observados na tabela 05:

Isenção taxas

de Registro e

Alvará grátis

Obrigação de

entrega de

declaração única

Vender para o

Governo

Possibilidade de

crescimento como

Empreendedor

Segurança

Jurídica

Isenção taxas de

Registro e Alvará

grátis

,617a

-,046

,005

-,064

,066

Obrigação de entrega

de declaração única

-,046

,532a

-,063

-,034

-,171

Vender para o

Governo

,005 -,063 ,607a -,098 ,081

Possibilidade de

crescimento com

Empreendedor

-,064

-,034

-,098

,583a

-,072

Segurança Jurídica ,066 -,171 ,081 -,072 ,56a

Tabela 05 – KMO individual dos benefícios não relevantes para os benefícios do programa

MEI, no Vale do São Francisco. .

Fonte:Saída do software SPSS.

Embora insignificantes na amostra estudada, os 5 benefícios excluídos demandam

algumas reflexões a serem levadas em consideração. A isenção de taxas de registro e alvará

grátis não acarreta em grande economia aos trabalhados informais, assim, eventualmente,

pode-se justificar sua insignifância quando comparado aos demais benefícios.

Quanto à obrigação de entrega de declaração única, eventualmente, não é interessante

devido não estarem totalmente isentos de declarar ao governo o faturamento, necessitando,

por sua vez, dispor de declaração única/anual com o montate vendido em todos os meses.

Já com relação à possibilidade de crescimento como empreendedor, este não se

apresenta como interessante, devido à própria restrição legal do programa que limita o

faturamento em R$ 36.000,00/ano. Em um cenário de crescimento progressivo, o

desenquadramento do programa torna-se iminente e a migração para o Simples Nacional

Page 10: Mei

necessária, acarretando a perda dos benefícios, sobretudo da redução das alíquotas, oriundas

do programa MEI.

Quando se fala em vender ao governo, para o micro empreendedor este benefício pode

não ser desejado, sobretudo, pela dificuldade implícita de participação em morosos processos

de licitação que demandam, entre outras exigências, emissão de nota fiscal, que acarreta,

necessariamente, em recolhimento dos impostos devidos e pressiona o faturamento para o teto

máximo permitido pelo programa. Neste cenário, torna-se mais interessante concentrar as

vendas para pessoas físicas, em decorrência da dispensa de emissão de notas fiscias.

Outros aspectos pertinentes ainda em relação às vendas para ao governo, trata-se da

burocracia, uma vez que a necessidade de manter em dia a documentação de regularidade

fiscal e da necessária agilidade na apresentação da documentação em licitações. Tudo isto

sem abordar o iminente descompasso entre os prazos médios obtidos pelos fornecedores e

oferecidos/demandados pelo governo, que necessariamente, acarreta na falta de sincronismo

entre recebimentos e desembolsos de caixa oriundos. Este último cenário finda por pressionar

a detenção de recursos próprios adicionais e/ou a captação de recursos de terceiros a título de

capital de giro com o objetivo de evitar problemas com fornecedores, sobretudo, de

desabastecimento.

Quanto à segurança jurídica, trata-se de um direito do cidadão, garantido pela

Constituição Federal, visando estabilidade e a proteção contra as alterações bruscas de uma

lei. Neste contexto, o benefício não agrega muito, frente ao cenário anterior.

Preenchida esta lacuna, após a remoção das 5 variáveis insignicantes, uma nova

análise de fatores foi efetuada. Avaliando novamente a relevância estatística do conjunto de

variáveis (agora 10 no total), obteve-se resultado satisfatório a um nível de significância de

5%, conforme apresentado na tabela 06:

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,718

Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 85,698

DF 45

Sig. 0,000

Tabela 06 - Significância das 10 variáveis remanescentes dos benefícios do programa MEI, no

Vale do São Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Nota-se que, embora a Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) tenha sofrido suave subtração,

permaneceu acima do limiar de 0,70 e, de forma atrelada, apresentou nível de significância

geral de 0,000, valor aceitável, tendo em vista ser menor que o nível de significância de 0,05

(FIELD, 2009:581). O próximo passo necessário às análises foi verificar a Kaiser-Meyer-

Olkim (KMO) diagonais da matriz anti-imagem das correlações, conforme apresentado na

tabela 07:

Cobertura Previdenciária ,635 a -0,334 -0,058 0,129 0,021 0,013 -0,03 -0,113 -0,254 -0,192

Registro de Funcionários -0,334 ,710a -0,004 0,195 -0,035 -0,054 -0,317 0,15 -0,108 0,183

Possibilidade de obter

crédito junto à bancos -0,058 -0,004 ,789a -0,134 -0,178 0,175 -0,059 0,079 -0,123 0,021

União de empreendedores

para compras conjuntas 0,129 0,195 -0,134 ,663a 0,015 0,059 0,019 0,133 -0,019 0,208

Baixo custo de

formalização (ICMS e ISS) 0,021 -0,035 -0,178 0,015 ,706a 0,019 -0,327 0,08 0,094 -0,101

Controles Simplificados 0,013 -0,054 0,175 0,059 0,019 ,764a 0,02 -0,081 0,053 -0,195

Inexistência de taxas de

abertura da firma -0,03 -0,317 -0,059 0,019 -0,327 0,02 ,736a 0,271 -0,075 -0,07

Cidadania -0,113 0,15 0,079 0,133 0,08 -0,081 0,271 ,783a 0,071 -0,168

Assessoria contábil gratuita

para registro da empresa -0,254 -0,108 -0,123 -0,019 0,094 0,053 -0,075 0,071 ,757a 0,183

Page 11: Mei

Apoio técnico do SEBRAE -0,192 0,183 0,021 0,208 -0,101 -0,195 -0,07 -0,168 0,183 ,624a

Tabela 07 - Matrizes Anti-Imagem da variáveis remanescente dos benefícios do programa MEI, no Vale do São

Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Segundo Field (2009:280): “Além das estatísticas KMO, também é importante

examinar os elementos diagonais da matriz anti-imagem das correlações: o valor deve estar

acima de um mínimo de 0,50 para todas as variáveis”. Analisando os valores obtidos, nota-se

que todos os valores gravitam acima deste limiar, satisfazendo a exigência mínima para

validação das variáveis.

A tabela 08 apresenta os autovalores associados a cada benefício antes da extração (10

fatores), depois da extração (6 fatores) e depois da rotação (permaneceram 6 fatores).

Component Initial Eigenvalues

Extraction Sums of Squared

Loadings

Rotation Sums of Squared

Loadings

Total

% of

Variance Cumulative % Total

% of

Variance

Cumulative

% Total

% of

Variance

Cumulative

%

1 2,734 27,341 27,341 2,734 27,341 27,341 1,935 19,352 19,352

2 1,784 17,838 45,18 1,784 17,838 45,18 1,61 16,102 35,453

3 1,183 11,83 57,009 1,183 11,83 57,009 1,348 13,476 48,929

4 0,907 9,068 66,077 0,907 9,068 66,077 1,081 10,815 59,744

5 0,768 7,684 73,761 0,768 7,684 73,761 1,022 10,222 69,966

6 0,618 6,178 79,94 0,618 6,178 79,94 0,997 9,974 79,94

7 0,585 5,854 85,793

8 0,577 5,769 91,562

9 0,463 4,633 96,195

10 0,381 3,805 100

Tabela 08 - Variância total explicada dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Segundo Field (2009:580): “a rotação tem o efeito de otimizar a estrutura do fator e

uma consequência para estes dados é que a relativa importância dos fatores é equalizada”.

Antes do procedimento, o fator 1, por exemplo, era responsável por 27,34% da variância total

(Cumulative %), após a extração, sua capacidade explicativa caiu para 19,352%, todavia, com

os 5 fatores, têm-se um efeito sinérgico que garante a explicação de, aproximadamente

79,94% de toda a variação total da amostra.

A tabela 09 apresenta as comunalidades de cada benefício, isto é, a proporção a

variação comum presente dentro de cada variável (FIELD, 2009:262). Em outras palavras, as

comunalidades apresentam a proporção de cada variável que é comum às demais, ou seja,

quanto cada variável explica o fenômeno estudado.

Initial Extraction

Cobertura Previdenciária 1 0,812

Registro de Funcionários 1 0,716

Possibilidade de obter crédito junto à bancos 1 0,933

União de empreendedores para compras conjuntas 1 0,954

Baixo custo de formalização (ICMS e ISS) 1 0,719

Controles Simplificados 1 0,99

Inexistência de taxas de abertura e gratuidade de Alvará 1 0,726

Cidadania 1 0,663

Assessoria contábil gratuita para registro da empresa 1 0,693

Apoio técnico do SEBRAE 1 0,788

Tabela 09 - Comunalidades dos 10 Benefícios relevantes do programa MEI, no Vale do São

Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Page 12: Mei

Assim, analisando a tabela 09, pode-se afirmar que 81,2% da variância associada ao

benefício 1 é comum ou compartilhada, em outras palavras, o fator cobertura previdenciária

reflete, aproximadamente, 81% de aspirações comuns aos demais fatores. Esta informação é

útil para entender a finalidade da análise fatorial: Antes da extração existem tantos fatores quanto variáveis, assim, toda variância é

explicada pelos fatores e todas as comulidades são 1. Entretanto, depois da extração,

alguns dos fatores são descartados e alguma informação é perdida. Os fatores retidos

não podem explicar toda variação presentes nos dados, mas podem explicar uma

parte (FIELD, 2009:582).

A tabela 10 apresenta 6 variáveis, denominados construtos, que condensam os 10

benefícios. Embora não consigam explicar toda a variação, obtém êxito em aproximadamente

80%. Field (2009:582) contribui: “depois que os fatores foram extraídos, temos uma ideia

melhor de quanta variância é, na realidade, comum”.

Os 6 fatores em questão não são suficientes para explicar toda a variação presente,

entretanto, explicam parte substancial. A quantidade de variável explicada e relacionada com

as demais variáveis é apresentada na tabela 10:

Reproduced

Correlation

Cobertura

Previdenciária ,812a 0,483 0,065

-

0,251 0,066

-

0,029 0,282 0,049 0,478 0,255

Registro de Funcionários

0,483 ,716a 0,11 -

0,294 0,262

-0,041

0,582 -

0,413 0,453

-0,175

Possibilidade de

obter crédito junto à

bancos

0,065 0,11 ,933a 0,142 0,374 -

0,262 0,23

-0,218

0,343 -

0,184

União de empreendedores para

compras conjuntas

-

0,251

-

0,294 0,142 ,954a

-

0,018

-

0,175

-

0,049

-

0,251 0,086

-

0,253

Baixo custo de

formalização (ICMS e ISS)

0,066 0,262 0,374 -

0,018 ,719a

-

0,096 0,581

-

0,362

-

0,073 0,171

Controles

Simplificados

-

0,029

-

0,041

-

0,262

-

0,175

-

0,096 ,990a

-

0,106 0,214

-

0,128 0,325

Inexistência de taxas

de abertura e gratuidade de Alvará

0,282 0,582 0,23 -

0,049 0,581

-

0,106 ,726a -0,55 0,23

-

0,072

Cidadania 0,049 -

0,413

-

0,218

-

0,251

-

0,362 0,214 -0,55 ,663a

-

0,243 0,45

Assessoria contábil

gratuita para registro da empresa

0,478 0,453 0,343 0,086 -

0,073

-

0,128 0,23

-

0,243 ,693a

-

0,332

Apoio técnico do

SEBRAE 0,255

-

0,175

-

0,184

-

0,253 0,171 0,325

-

0,072 0,45

-

0,332 ,788a

Residualb

Cobertura

Previdenciária

-

0,053 0,032

-

0,001 0,02 0,041

-

0,054

-

0,057

-

0,165

-

0,128

Registro de Funcionários

-0,053

0,056 0,1 -0,03 -

0,013 -

0,084 0,094

-0,122

0,025

Possibilidade de

obter crédito junto à

bancos

0,032 0,056 0,021 -

0,115 0,001 0,021

-0,044

-0,116

0,027

União de empreendedores para

compras conjuntas

-

0,001 0,1 0,021

-

0,003 0,002

-

0,004 0,078

-

0,068

-

0,031

Baixo custo de

formalização (ICMS e ISS)

0,02 -0,03 -

0,115

-

0,003 0,017

-

0,138 0,108 0,115

-

0,135

Controles

Simplificados 0,041

-

0,013 0,001 0,002 0,017

-

0,008 0,005

-

0,032 -0,04

Inexistência de taxas

de abertura e gratuidade de Alvará

-

0,054

-

0,084 0,021

-

0,004

-

0,138

-

0,008 0,117 0,017 0,001

Cidadania -

0,057 0,094

-

0,044 0,078 0,108 0,005 0,117 0,011

-

0,149

Assessoria contábil

gratuita para registro da empresa

-

0,165

-

0,122

-

0,116

-

0,068 0,115

-

0,032 0,017 0,011 0,09

Apoio técnico do - 0,025 0,027 - - -0,04 0,001 - 0,09

Page 13: Mei

SEBRAE 0,128 0,031 0,135 0,149

Tabela 10 - Correlações reproduzidas dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São

Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Na parte superior da tabela 10 são apresentados os coeficientes de correlações entre

todos os benefícios remanescentes. Na verdade, trata-se de uma re-leitura da tabela 07 após a

extração dos fatores, ou seja, é uma “aplicação do modelo de extração de fatores para explicar

o fenômeno em detrimento dos dados observados” (FIELD, 2009:587).

Para constatar o ajuste do modelo, deve-se analisar a parte inferior da tabela, onde são

apresentados os valores residuais (diferenças entre o valor previsto pelo modelo e os

observados) (GUJARATI, 2000). A divergência entre ambos cenários foi de 21 ocorrências,

46%, valor aceitável uma vez que o “teto máximo de 50% para aceitação do modelo como

pertinente”, isto é, permite considerá-lo válido (op cit, 2009:587).

A tabela 11 apresenta os autovalores associados a cada benefício após a rotação dos 10

fatores, correlacionados a 6 construtos reais:

Component

1 2 3 4 5 6

Inexistência de taxas de abertura e gratuidade de Alvará 0,809

Baixo custo de formalização (ICMS e ISS) 0,752

Cidadania -0,629 0,472

Cobertura Previdenciária 0,829

Assessoria contábil gratuita para registro da empresa 0,717

Registro de Funcionários 0,517 0,555

Apoio técnico do SEBRAE 0,861

União de empreendedores para compras conjuntas 0,955

Possibilidade de obter crédito junto à bancos 0,926

Controles Simplificados 0,968

Tabela 11 - Rotação dos componentes da Matrix (Fatores) dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São

Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Segundo Field (2009:589) a tabela 11 revela que o questionário composto inicialmente

por 15 benefícios, na verdade, representam 6 construtos, qualidades, almejadas por àqueles

que optam por aderir ao programa.

O próximo passo foi identificar os construtos extraídos e apresentados na tabela 11. O

valor máximo a ser obtido por uma variável é 1, assim, os valores apresentados próximo deste

limiar mostram-se mais relevantes do que os demais (FIELD, 2009). Para Field (2009:589):

“se o fator matemático produzido pela análise representa um construto real, temas comuns

entre as perguntas com cargas altas podem nos ajudar a identificar o que o construtor pode

ser”.

Os 6 (seis) construtos obtidos e analisados são apresentados abaixo na tabela 12: Fatores Construtos

Fator 1 Economia de Custos

Fator 2 Benefícios Adquiridos

Fator 3 Realização/Auto-estima

Fator 4 Condições de crescimento

Fator 5 Economia na captação de recursos

Fator 6 Formalização sem burocracia

Tabela 12 - Fatores almejados pelos participantes do programa MEI, no Vale do São Francisco.

Fonte:Saída do software SPSS.

Page 14: Mei

Analisando mais detalhadamente a tabela 12, pode-se notar no fator 1 o agrupamento

dos benefícios, inexistência de taxas de abertura e gratuidade de alvará, baixo custo de

formalização (ICMS e ISS) e registro de funcionários, todos apresentando valores positivos,

indicando que medem a mesma característica. Percebe-se claramente que estão ligados a

questões de redução de custos, denominados como o construto real “economia de custos”, que

representa a intenção de reduzir os custos organizacionais após a formalização.

Quanto ao fator 2 representa o construto real, “benefícios adquiridos”, considerando

que as cargas maiores apresentadas são as dos benefícios previdenciários, assessoria contábil

gratuita para registro da empresa e registro de funcionário. Este último, surge nos dois

primeiros construtos, entretanto no fator 2 ele aparece, mais relevante que no primeiro, onde

encontra-se mais ligado a benefícios adquiridos do que a economia de custos. Assim, neste

fator representa o desejo por ter acesso aos direitos que serão adquiridos pelos MEI, ao aderir

ao programa.

Já o fator 3 que compreende os benefícios de cidadania e apoio técnico do SEBRAE

foi denominado como construto de “realização/auto-estima”. Pode-se notar, que está

relacionado ao direito à dignidade, auto-realização profissional, pessoal e social, ou seja, o

cidadão consegue se realizar exercendo, de forma digna, a cidadania, de acordo com as leis

em vigor, podendo, inclusive, contar com apoio técnico do SEBRAE, com orientações e

capacitações, para se tornar mais apto para realizar e desenvolver suas aptidões e, por

extensão, tornar perene a sensação de auto-realização.

O fator 4 contemplou apenas o benefício de União de empreendedores para compras

conjuntas, que foi caracterizado como o construto de “Condições de crescimento”, pois

proporciona, aos empreendedores, condições mais vantajosas, sobretudo no tocante aos preços

e condições de pagamento das mercadorias compradas, tendo em vista o iminente volume das

compras.

O quinto fator, assim como o quarto, compreendeu apenas um benefício: Possibilidade

de obter crédito junto a bancos. É nítida a necessidade e, sobretudo, a intenção de captar

recursos bancários para financiar os pequenos empreendimentos, assim, o construto foi

denominado de “Economia na captação de recursos”. Com o acesso ao programa MEI, torna-

se real a possibilidade do empreendedor obter créditos bancários com significativa redução

dos custos (tarifas e taxas de juros adequadas para ao micro empreendedor individual em

detrimento às captações por meios não oficiais).

Por último, o sexto fator representa a desburocratização por meio dos Controles

Simplificados, com uma alta carga de 0,96. O construto foi denominado como “formalização

sem burocracia” pois a inexistência da necessidade de contabilidade formal e da exigência,

após a formalização, apenas de uma única declaração de faturamento anual através da

Internet.

5 Considerações finais

O programa Micro Empreendedor Individual surgiu com intuito de regularizar os

milhões de negócios informais no país. O governo criou o programa com diversos benefícios

para fomentar/incentivar o setor informal a abdicar da situação, tendo em vista a amplitude da

economia subterrânea que chega a movimentar cerca de 18% do PIB do país.

Este cenário é proveniente, em parte, devido às altas cargas tributárias incidentes nas

atividades empresariais, às taxas de desemprego da economia nacional e as diversas

burocracias exigidas por parte do governo às instituições normalmente formalizadas. Assim,

até então, não existia outra opção aos pequenos empreendedores a não ser optar pela

informalidade. O objetivo principal desta pesquisa foi estudar a motivação que leva os

trabalhadores informais, do Vale do São Francisco, à adesão ao programa Micro

Page 15: Mei

empreendedor individual. Nesse sentido, o trabalho constatou que dos quinze (15) benefícios

oferecidos pelo programa, cinco (5) não apresentaram relevância estatística, isto é, não foram

características desejadas pela amostra estudada.

No entanto, a despeito da irrelevância dos cinco (5) benefícios, estas subvenções

acarretam em custos para o Governo no momento em que uma série de subvenções é por ele

realizada, propiciando na ineficácia do gasto público.

Os dez (10) benefícios que se mostraram significantes, estão relacionados aos aspectos

legais, tributários, previdenciários e trabalhistas, considerados indispensáveis para o seu

sucesso. Após uma nova rotação foi possível condensar os dez (10) benefícios em seis (6)

fatores. Ficando assim, considerados como “construtos reais”, que explicam, de forma mais

clara, o desejo dos trabalhadores informais a adesão ao programa do Micro empreendedor

individual.

Os construtos reais encontrados receberam a nomenclatura de: economia de custos,

benefícios adquiridos, realização/auto-estima, condições de crescimento, economia na

captação de recursos e formalização sem burocracia. Em outras palavras, estes fatores

revelam os temas comuns almejados e, consequentemente, buscados pelos participantes do

programa MEI.

Como sugestões para futuras pesquisas, recomenda-se o aprofundamento das análises

acerca da relação entre o programa Bolsa Família e o programa do Micro Empreendedor

Individual, sobretudo, na perspectiva do optante inscrever dependentes no bolsa família e

usufruir dos programas, indo de encontro à restrição legal de gozar de ambos programas.

Referências

BRASIL. Portal do Micro empreendedor individual. Disponível em:

<http://www.portaldoempreendedor.gov.br.htm>. Acesso em: 28 set. 2010.

FIELD, Andy. Descobrindo a estatística usando o SPSS. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

HAIR et al. Multivariate data analysis. New Jersey: Prentice Hall, 1998.

HUTCHESON, G.; SOFRONIOU, N. The multivariate social scientist. London: Sage, 1999.

GUJARATI, D. Econometria Básica. São Paulo: Makron Books, 2000.

JUNG, Carlos Fernando. Metodologia Científica: Ênfase em Pesquisa Tecnológica. Disponível em:< http://

www.jung.pro.br >. Acesso em: 04 fev. 2008.

KUMAR, R.. Research Methodology – a step-by-step guide for beginners. 2. ed .London: Sage., 2005.

LEVINE David M., BERENSON, Mark L. e STEPHAN, David. Estatística: Teoria e aplicações. Rio de

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 2005.

MAJOR, M.J., VIEIRA, R. (Org.). Contabilidade e Controlo de Gestão – Teoria, Metodologia e Prática. 3 ed.

Lisboa: Escolar Editora, 2009.

PADUAN, Roberta. As marcas da formalização, especial trabalho. Revista EXAME, São Paulo, Ed.972, nº

13, p.131, 28/07/2010.

SERPRO/MDIC, Serviço Federal de Processamento de Dados/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior. Benefícios sociais por estados. Disponível em <http://www.

http://www.sebrae.com.br/uf/bahia>. Acesso em: 09 nov. 2010.

TANZI, V. A economia subterrânea, suas causas e conseqüências. In: Economia subterrânea: uma visão

contemporânea da economia informal no Brasil. Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2009.

VSF, vale do São Francisco. Economia. Disponível em: < http://www.valedosaofrancisco.com.br/Economia/> .

Acesso em 29 Abr 2011.

VERGARA S. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Ed. Atlas, 2000.