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Melhorar pastagens, produtividade dos rebanhos e ainda preservar o ambiente nas propriedades, eliminando o uso do fogo é viável e não custa caro. O sistema de rodízio no pastoreio é uma forma racional de utilizar os pastos e proporcionar uma alimentação de qualidade para o gado durante o ano todo. E ainda traz benefício para a saúde e o ambiente, já que dispensa o uso de agrotóxicos que contaminam o solo, a água, os animais e as famílias do campo.

Melhorar pastagens, produtividade dos rebanhos e · na chuva, rebanhos infestados de mosca-do-chifre, carrapatos, vacas produzindo três ou quatro litros de leite por dia, falta d'água,

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Melhorar pastagens, produtividade dos rebanhos e

ainda preservar o ambiente nas propriedades,

eliminando o uso do fogo é viável e não custa caro.

O sistema de rodízio no pastoreio é uma forma

racional de utilizar os pastos e proporcionar uma

alimentação de qualidade para o gado durante o

ano todo. E ainda traz benefício para a saúde e o

ambiente, já que dispensa o uso de agrotóxicos

que contaminam o solo, a água, os animais e as

famílias do campo.

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Dezembro

Oficinas de Agroturismo no Portal da AmazôniaMarcelândia: 1º a 4 de dezembro, das 8h às 17h, na Câmara Municipal de VereadoresNovo Mundo: de 6 a 9 de dezembro, das 8h às 17h, no Centro de Múltiplo Uso, Rua Topázio, s/n, CentroInformações no telefone (66) 3534 1884

II Conferência Nacional do Meio AmbienteBrasília, de 10 a 13 de dezembroO evento pretende reunir mais de duas mil pessoas de todo Brasil para debater em torno do tema Política Ambiental Integrada e o Uso Sustentável dos Recursos Naturais

2ª Quinzena de JaneiroOficina de Diagnóstico Rápido Participativo do projeto de Zoneamento Ecológico Econômico de Nova Bandeirantes. Informações na prefeitura do município (66) 3572-1950

PiracemaPara garantir a reprodução natural dos peixes, até dia 28 de fevereiro a pesca nos rios de Mato Grosso está proibida

No Portal da Amazônia, o que tem sustentado a maioria das famílias do campo é o gado, que, no entanto, tem gerado uma renda muito baixa. Segundo um estudo feito no território pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Fundação Cândido Rondon, as três principais atividades econômicas da agricultura familiar são a pecuária de leite e de corte e o arroz, gerando uma renda anual de cerca de R$ 3 mil por família. Várias dificuldades explicam essa baixa renda: comercialização, transporte da produção, acesso a crédito, assistência técnica.

Além dessas dificuldades, a própria pastagem e os rebanhos apresentam problemas: pastagens degradadas que quase desaparecem durante a seca e se enchem de cigarrinhas na chuva, rebanhos infestados de mosca-do-chifre, carrapatos, vacas produzindo três ou quatro litros de leite por dia, falta d'água, são um cenário bem conhecido dos agricultores e agricultoras do território. Mas a solução pode ser mais simples do que se imagina: todas essas situações podem ser enfrentadas através do manejo ecológico das pastagens, uma técnica de uso racional da propriedade rural que pode aumentar a produtividade dos rebanhos e diversificar a produção dos pequenos sem necessidade de abertura de novas áreas de pasto. Para quem acha difícil de acreditar, algumas experiências em andamento no território mostram que tudo isso é possível sim. E além de melhorar a vida das famílias do campo, ainda podem ajudar a conservar a floresta e melhorar o ambiente em que vivemos.

Projeto Gestar

No setor agropecuário os riscos são elevados em todos os sentidos, tanto em termos econômicos como produtivos. Como exemplo, pode-se citar a oscilação de preços de mercado como no caso da soja, do arroz e do gado de leite e de corte, café, guaraná, entre outros e as perdas produ-tivas por questão de secas prolongadas, excesso de chuva, ou mesmo de ataque de pragas e doenças.

No caso da agricultura familiar, para se diminuir estes riscos e ainda promover segurança ali-mentar e a sustenta-bilidade da propriedade em longo prazo, é preciso, acima de tudo, diversi-

ficar a propriedade rural e utilizar insumos internos, ou seja, produzidos no próprio sítio. Outro aspe-cto importante é o produ-tor possuir na propriedade tanto o componente animal (gado de leite e corte, galinhas, suínos, caprinos, ovinos, peixes) como o componente vege-tal (milho, feijão, arroz, horta caseira, pomar doméstico, café, guaraná, cana-de-açúcar, napier, entre outros).

A diversificação de culturas na propriedade e a atuação no sentido do aumento da qualidade do solo e da matéria orgânica promovem uma interação positiva, que gera como conseqüência um favore-cimento e aumento da

sanidade vegetal e ani-mal, ou, em outras pala-vras, maior resistência às pragas e doenças da agricultura.

Todos estes aspectos: a diversificação de culturas e a utilização do com-ponente animal e vegetal de forma conjunta, se complementam e favore-cem a estabilidade ambi-ental e econômica e social da propriedade no longo prazo. Com isso, o desen-volvimento social nas co-munidades, principal-mente em se tratando de agricultura familiar, será extremamente favorecido.

Diogo Feistauer, enge-nheiro agrônomo e espe-cialista em certificação orgânica do Sebrae-MT

Ministério doDesenvolvimento Agrário

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A prefeitura de Carlinda as s i nou no i n í c i o de novembro o convênio com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) para começar o projeto de Agenda 21 Local no município. Segundo o coordenador do projeto, Paulo Roberto di Fillipo, a prefeitura quer encaminhar as licitações necessárias para compra de equipamentos do projeto ainda este ano e começar as atividades nas primeiras semanas de 2006. O projeto Carlinda Um Cenário de Futuro, vai realizar um diagnóstico da situação atual do município em todas as áreas, desde a infra-

estrutura até saúde e educação. As informações serv i rão para que a população discuta quais são as prioridades de investi-mento em longo prazo para que o município tenha um desenvolvimento sustentá-vel. A iniciativa leva o nome de Agenda 21 Local porque o diagnóstico vai servir para organizar uma agenda de políticas públicas sustentá-veis e prioridades de investimento e atuação em todos os setores. Uma prioridade já conhecida pelo projeto é a necessidade de recuperar áreas degradadas por garimpo, pecuária e lavouras.

A coordenação do projeto de Zoneamento Ecológico Econômico Participativo de Nova Bandeirantes deve distribuir até janeiro as cartilhas que explicam o projeto no município. Em formato de história em quadrinhos, a

Cartilha do ZEEP explica de maneira simples e divertida

o que é zoneamento e de-senvolvimento susten-tável e descreve como o projeto vai se desen-volver no município. Em 16 páginas, Seu Firmino explica o projeto para

seu vizinho de sítio, troca informações com o Sindi-cato dos Tra-ba lhadores

Rurais e leva o assunto para dentro de casa, disseminando as informações necessárias para que a população de Nova Bandeirantes participe do processo de planejamento do seu município para os próximos 10 anos. O projeto de Zonea-mento Ecológico Econômico Participativo de Nova Bandei-rantes, financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), tem por objetivo realizar estudos técnicos e diagnósticos com a comunidade para embasar o ordenamento territorial e as políticas de desenvolvimento sustentável do município. A versão digital da cartilha está disponível no site www.estacaovida.org.br.

Dona Iris e Seu José chega-ram no assentamento Bom Jaguar, em Marcelândia, há cerca de seis anos. Em seu sítio toda água disponível vem de uma barragem abastecida por uma mina, e de um poço que seca durante uma parte do ano. Nos seus 12 alqueires, a família tem algumas bananeiras e uma pequena plantação de abacaxi e abóbora. Por dificuldades de irrigação, não há horta. A renda vem do leite das cerca de 20 vacas da propriedade, vendido para clientes fixos na cidade e oferecido uma vez por semana

na feira municipal, além da venda de bezerros, eventual-mente. O lote é um dos 24 entre mais de 150 que ainda não receberam a ajuda de custo do Incra para construir a casa, e a energia elétrica chegou há cinco meses.

É por isso que a propriedade

e s t a va e n t r e a s c i n c o selecionadas para participar de um sorteio, que iria escolher a família a ser contemplada com o projeto de assistência técnica da Empaer Vida Nova. O projeto, com duração de três anos, vai transformar cerca de 1,5 hectare do sítio de D. Íris e S. José em uma Unidade Demons-trativa Sustentável (UDS), uma referência de que é possível sustentar a família rural com um pequeno investimento e empre-gando tecnologias orgânicas. Neste espaço, serão plantados arroz, milho, feijão, cana,

pastagem e espaço para criação de ani-mais de pequeno por-te, como cabras e porcos, tudo maneja-do de forma ecológi-ca, eliminando os custos com a compra de adubos sintéticos e agrotóxicos.

Rubens Rodrigues dos Santos, técnico ag ropecuár i o da Empaer de Marce-lândia responsável pela implantação da unidade explica que o objetivo é mostrar para as famílias as-

sentadas em Bom Jaguar que é possível investir em uma pequena produção familiar orgânica e sustentar a família com alimentos de qualidade.

O projeto, que atende 63 municípios em todo estado de Mato Grosso, faz parte do pro-grama de Assessoria Técnica,

Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES), do Incra. No Portal da Amazônia, além de Marcelândia, existem outras sete unidades em andamento, uma em Colider, três em Nova Canaã do Norte e três em Guarantã do Norte. Além de outras três em fase de planejamento nos municípios de Peixoto de Azeve-do, Nova Guarita e Paranaíta. Segundo o coordenador regional da Empaer de Alta Floresta, Maurílio Bueno de Magalhães, o custo de implantação das unidades é de R$ 2 mil, em média, mas o investimento compensa. “A gente quer fazer a conta e mostrar que, se a família gasta R$ 4 mil por ano no mercado, vale a pena investir R$ 2 mil e produzir o que precisa para se alimentar”, afirma Maurílio, informando que nos anos seguintes o custo de manutenção do sistema cai para R$ 800, em média.

Irisnete da Silva Carvalho e José Carvalho foram a família escolhida em Marcelândia. Para D. Iris, a ajuda vem em boa hora. "Ás vezes a gente não tem condição de andar sem um empurrão, não temos horta porque o poço seca. Tentamos plantar mamão, mas a terra é fraca e não deu. Plan-tamos mandioca e deu cupim. Se não tiver uma ajuda, não dá".

O projeto é desenvolvido em três fases. No primeiro ano, o

Esperança no Bom Jaguar

o b j e t i v o é g a r a n t i r a subsistência da família; no segundo, o investimento será em técn i cas de ges tão ambiental da proprie-dade, e no último ano se trabalha com as p o s s i b i l i d a d e s d e sustentabilidade econômica da família com sua produção. O investimento estimado do projeto no Bom Jaguar é R$ 1.800,00, com os quais a Empaer vai garantir a compra de sementes, cabras e porcos.

Junto com a implantação da unidade demonstrativa, a Empaer de Marcelândia está realizando estudos de viabili-dade econômica para o assen-tamento. A idéia é identificar possibilidades de produção e comercialização e oferecer aos assentados um conjunto de opções de investimento. Mas Rubens já tem uma orientação inicial: a produção orgânica. "É mais barato para o pequeno agricultor. Eu posso receitar um herbicida, mas no assentamento vai ter famílias que não têm condições de comprar. A idéia é que os agricultores mais humildes possam adotar e adaptar as tecnologias com sucesso em suas propriedades, e para isso é preciso baixo custo", justifica.

Sem isso, D. Iris vê um futuro pouco promissor para a agricultura familiar: "Daqui a 10 anos, se continuar como está, isso aqui tudo vai ter virado pastagem de um dono só. O pequeno está cada vez mais espremido entre os grandes",

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Responsável pelo sustento de uma grande parcela das famílias de pequenos agricul-tores e assentados no Portal da Amazônia, a pecuária de leite e de corte tem provocado sérios problemas ambientais. A maior parte das pastagens do território está degradada e o gado apresenta uma produtividade extremamente baixa, obrigando os produto-res a aumentar as áreas

abertas em seus lotes, ou vender parte dos animais quando não há mais para onde expandir.

Melhorar as pastagens da forma convencional com gradagem, aplicação de calcário para corrigir o

solo, adubos solúveis e controle de ervas com agro-tóxicos, representa um custo alto demais para a maior parte dos pequenos produ-tores, isso sem falar no custo ambiental da contaminação do solo e da água. Para se ter uma idéia, fazer uma aplicação de calcário custa em torno de R$ 500 por hectare considerando uma aplicação de 3 ton/ha com o

custo da hora de trator, e ainda é preciso fazer análise do solo para saber a necess idade exata da propriedade. O fogo tem sido uma técnica amplamente empregada, por ser barata e rápida, mas tem efeitos

devastadores a longo prazo: empobrece muito o solo.

Uma alternativa para fugir desse esquema e melhorar a renda das pequenas proprie-dades é o manejo ecológico de pastagens uma técnica que traz o aumento da produti-vidade, além de benefícios para o ambiente e a saúde da família. O sistema consiste basicamente na divisão das pastagens em vários piquetes onde o gado permanece por um tempo reduzido o ideal é de um a três dias em cada piquete. Entre as suas muitas vantagens, o sistema dispen-sa o uso do fogo, a neces-sidade de compra de agro-tóxicos e permite recuperar as áreas de preservação perma-nente e reserva legal pro-blemas que, entre outras coisas, impedem a regula-rização das propriedades rurais.

Como funciona

O sistema de manejo ecológico de pastagens, também conhecido como pa s t o r e i o ra c i ona l ou pastoreio Voisin, consiste basicamente na divisão da área em piquetes em número suficiente para permitir a mínima permanência do rebanho em cada um. Assim, o gado come um pasto de melhor qualidade, além de também acabar comento uma variedade maior de espécies de cada piquete, incluindo leguminosas nativas. A im-plantação do sistema racio-nal, apesar de respeitar algumas leis básicas, depende da análise das condições de solo de cada propriedade, do clima da região, da disponi-bilidade de água, entre outros.

A primeira lei do manejo ecológico é a do repouso. Para que o pasto possa dar sua máxima produtividade, é preciso que repouse por um período entre um pastejo e outro. Esse período varia conforme a estação – na seca, por exemplo, podem ser necessários 60 dias de

descanso. Isso permite que as ra ízes das p lantas armazenem os nutrientes necessários para um rebrote mais vigoroso. A segunda lei é a da ocupação dos pastos, que diz que o gado deve permanecer, no máximo três dias no mesmo lugar, para evitar que o gado coma várias vezes os rebrotes do pasto, o que enfraquece as plantas.

O cálculo do número ideal de piquetes, vai depender do tamanho da propriedade e do rebanho, da necessidade de áreas a serem preservadas, e até mesmo do tipo de rebanho – se é para gado de leite ou de corte. Para diminuir os custos de implan-tação dos piquetes, o uso de cerca elétrica tem se mos-trado uma boa alternativa. Além de diminuir o custo em até 80% em relação a uma cerca convencional, facilita o manejo do gado, podendo ser movida para alterar o tamanho e a quantidade de piquetes.

No sistema convencional, o gado ocupa o mesmo lugar boa parte do tempo. É o chamado "malhador", onde geralmente ficam próximos aos cochos de sal, se tira o leite e pernoitam. Esse malhador concentra uma grande parte do esterco e urina que não são aprovei-tados de forma adequada, se perdendo e chegando em alguns casos causar toxidade, impedindo o nascimento do capim e facilitando o surgi-mento de verminoses, carrapatos e mastites.

No manejo ecológico, essa área deixa de existir, dando espaço a uma área de lazer, com sal mineral, água e sombra à vontade, para onde o gado é levado todo dia por algumas horas. Assim, o manejo ecológico promove um melhor aproveitamento do esterco e da urina como adubos em toda a pastagem, melhorando também as condições de sanidade do rebanho.

Um animal adulto excreta, em média, 24 kg de esterco e 14 kg de urina por dia. Se considerarmos uma carga animal de duas cabeças por ha/ano, teríamos em torno de 27 toneladas anuais de excrementos por hectare, o que significa:

A) em termos de nutrientes:

B) em termos de adubo formulado:

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A aposta na implantação de manejo ecológico de pastagens em 20 pequenas propriedades de Nova Gua-rita e Terra Nova do Norte é só o primeiro passo de um projeto que quer demonstrar para a região que é possível ter uma produção ecológica economicamente viável sem abrir novas áreas e elimi-nando o uso do fogo. Trata-se do projeto Apoio às Práticas Sustentáveis no Portal da Amazônia, desenvolvido pelo Instituto Centro de Vida (ICV), em parceria com a Coopernova, Cooperagrepa e Instituto Ouro Verde.

O trabalho está em anda-mento nas comunidades Xanxerê e União desde ju-nho e prevê, além do mane-jo ecológico, a introdução de sistemas agroflorestais, silvi-pastoris e a recuperação de áreas degradadas, áreas de preservação permanente e reservas legais. A duração do projeto é de três anos.

Nas duas comunidades, já foram realizados cursos para mostrar os detalhes técni-cos da implantação do siste-ma de manejo para as comunidades, além de for-

mação específica para os técnicos agrônomos que acompanham o projeto. Além disso, as comunidades já começaram a realizar o levantamento de informa-ções das propriedades para planejar a implantação dos piquetes e isolamento das áreas a serem preservadas. São os próprios agricultores que vão fazer o projeto de implantação das suas pro-priedades, com orientação dos técnicos.

“Nós temos uma tendên-cia de cuidar melhor daquilo que nos gostamos. Por isso a participação em todas as etapas é importante. A gente tem que trabalhar com o conhecimento que a comunidade já possui, os produtores se apropriam das tecnologias da sua maneira” explica o coordenador do projeto Jean Carlo Figueira.

Jean explica que boa parte boa parte do material usado nas cercas é feito pelo produtor, com o que ele tem na sua propriedade, como cercas velhas, madeira e arame o que ajuda a reduzir o custo de implantação da pastagem ecológica. O

p r o j e - t o , q u e t e m financiamento do Ministério do Meio Ambiente, através d o P a d e q ( P r o j e t o s Alternativos ao Desma-tamento e às Queimadas), compra uma parte do mate-rial necessário para a cons-trução das cercas elétricas, como aparelhos eletrifi-cadores, isoladores, parte do arame, ferramentas.

As 20 propriedades vão funcionar como unidades de-monstrativas e o projeto prevê visitas de inter-câmbio de agri-cultores, agri-cultoras e jovens de outras comu-nidades do Por-tal da Amazônia. Mas, segundo Neuza Freitas do Nascimento Sa-les, da comuni-dade Xanrerê, os vizinhos já estão curiosos com o projeto. Ela con-ta que desde a realização do curso de monta-gem das cercas,

quantidade de fósforo, potássio, magnésio e cálcio disponíveis para as plantas.

O agrônomo explica que a população ideal é de 100 casais do besouro por hectare, sendo que cada casal adulto tem a capacidade de depositar de 90 a 100 ovos por um ciclo de vida de 45 dias. Existem núcleos de reprodução dos casais dos besouros que distr ibuem gratuitamente as mudas – dois em Carlinda, e quatro em Alta Floresta. Para começar a implantação do sistema, são necessários entre 20 e 40 casais de rola-bosta.

“É importante frisar que para funcionar perfeitamente, agri-cultor precisa aliar o controle biológico com outras técnicas como a rotação das pastagens, homeopatia e fitoterapia. A utilização de químicos e do fogo pode exterminar a população de rola-bosta e não extermina a p o p u l a ç ã o d a m o s c a ”, complementa Vagner.

A m o s c a d o c h i f r e (Haematobia irritans), que se reproduz no bolo fecal, se alimenta de sangue e enfraquece o gado, podendo levar à morte. Basicamente, esta mosca fica o dia todo picando o animal, se alimentando do seu sangue. Para se livrar da mosca, o animal anda muito pelo pasto, ficando irritado, o que faz com que acabe perdendo peso e energia, além de não se alimentar direto, podendo morrer. Segundo o engenheiro agrônomo Vagner Meira, um ataque concen-trado pode ocasionar queda de 15% na produção de leite e perdas de peso de 40kg por animal, além da interferir no libido dos touros e na fertilidade das vacas.

O método convencional de combate é o uso de inseticidas, mas a mosca tem mostrado

grande capacidade de se adaptar, tornando-se resistente aos venenos ano a ano, aumentando o ataque da praga, além de promover contaminação do leite, carne, solo, águas e do próprio produtor. Mas um besouro africano pode ser uma solução barata e eficaz, quando associado ao mane jo eco lóg i co de pastagens. Trata-se do rola-bosta (Onthofhagus gazella), adotado pela Embrapa Gado de Leite desde 1989, que além da mosca de chifre, também atua no controle biológico de verminoses que se utilizam do bolo fecal do gado como hospedeiro.

O besouro age enterrando o bolo fecal, do qual também se alimenta, e assim, expõe os ovos à luz e inimigos naturais e impe-de que as larvas se tornem moscas adultas. Ele é capaz de

enterrar o material até 35cm dentro do solo. Com isso, além de acabar com as condições que os ovos da mosca precisam para se desenvolver, o ro la-bosta promove a descompactação do solo, aumenta a capacidade de drenagem e faz uma fertilização natural, já que aumenta a quantidade de matéria orgânica disponível para as raízes das plantas no pasto. Assim ele também proporciona o aumento da produção de pasto, maior vigor de rebrota e qualidade nutricional e acaba por permitir uma maior lotação animal por hectare. Um bolo fecal pode ser totalmente incorporado ao solo em 48 horas.

“De cada 100kg nitrogênio que o gado consome no pasto, somente 30% é destinado à produção de carne e leite. Os outros 70% são expelidos no bolo fecal e na urina, se isso não for incorporado novamente ao solo, é desperdiçado”, explica Vagner Meira. É por isso que a qualidade do pasto melhora, com o enterrio do bolo fecal, aumenta a

que aconteceu em seu sítio, já recebeu a visita de outros produtores interessados em ver como o sistema funcio-na. “Agora está todo mundo animado”, diz Neuza, con-tanto que pessoas que não estão participando do proje-to já demonstraram interes-se em implantar o sistema: “Tem gente que diz que vai fazer por conta, não vai ficar esperando o projeto”.

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Se no inverno a seca castiga os produtores, acabando com as pastagens já super-exploradas, quando chega a chuva a situação pode não melhorar. É que com a abundância de água começa o ataque de uma das pragas mais devastadoras da pecuária, presente em todo o território: a

cigarrinha das pas-tagens, que dorme embaixo da terra durante toda a seca e desperta com as primeiras chuvas. Mas um aliado invisível po-de ajudar no combate de forma bastante vantajosa: é o contro-le biológico, feito através com a aplicação de um fungo, um

predador natu-ral do inseto.

O ciclo de vida da cigar-rinha dura de 62 a 65 dias, po-dendo variar de-pendendo da es-pécie. Ela passa de 42 a 45 dias como ninfa, fase em que f ica constantemen-te envolvida por uma espuma

que a protege contra as dife-rentes temperaturas e os ini-migos naturais, e entre de 10 e 13 dias como adulta, quando procura o parceiro para se acasalar. O controle químico tem se mostrado caro e pouco efetivo, assim como o fogo, que não mata os ovos eles ficam embaixo da terra, onde podem permanecer por até 200 dias, e não são afetados pelo fogo.

Ao tocar na cigarrinha, o fungo utilizado no controle bio-lógico (Metarhizium anisopliae) penetra e se reproduz gerando descendentes. Esses descen-dentes, ao atingirem a fase adulta, saem da cigarrinha e podem se espalhar pelo meio prosseguindo com o ciclo e combatendo de forma natural novas cigarrinhas. Além do inseto adulto, o fungo também se utiliza da ninfa como hospedeira, combatendo o problema por inteiro.

Segundo o engenheiro agrô-nomo Vander de Freitas Rocha, que coordena a Fundação Agro-amb i en t a l da Amazôn i a (Funam), a aplicação do fungo é vantajosa, pois custa três vezes menos que qualquer veneno, e evita a contaminação do solo e das águas com a aplicação de agrotóxicos. Além disso, aplica-ção do fungo pode ser feita com os animais no pasto, não sendo tóxica ao homem nem a outros animais.

Como em qualquer recei-tuário agronômico, a aplicação depende de uma prévia análise da propriedade e da intensidade do ataque das cigarrinhas. Além disso, o agricultor deve seguir as recomendações técnicas de aplicação à risca, para que o controle biológico funcione. Isto porque o fungo é bastante sensível ao calor e outros fatores ambientais e uma aplicação mal feita pode matá-los antes que possam agir nas cigarrinhas.

O resultado de anos de trabalho e resistência da comunidade Estrela do Sul, em Alta Floresta, foi inaugurado no último dia 11 de outubro, no Condomínio Agrosul, que reúne sete famílias na produção de cana-de-açúcar orgânica. Trata-se da agroindústria de proces-samento de derivados da cana, que já está produzindo açúcar mascavo e melado orgânicos.

A agroindústria foi instalada com financiamento do Banco do Brasil e tem dois padrinhos especiais, o produtor Natal Ram-paso e o professor da Unemat Vander de Freitas, que tem prestado assessoria técnica sobre o manejo ecológico da cana. Seu Natal, como é conhecido na comunidade, desmembrou uma parte de seu

sítio e doou o terreno para a instalação do prédio.

O condomínio faz parte da Cooperagrepa e integra o projeto Vida Rural Sustentável do Sebrae, que enviou o e n g e n h e i r o a g r ô n o m o Francisco de Assis Villar à Estrela do Sul, para ministrar um curso de tecnologia de produção de derivados da cana-de-açúcar.

Já no primeiro mês de funcionamento, o condomínio recebeu a visita de um comprador interessado em exportar melado orgânico para a Áustria e Alemanha. Peter Supnig, proprietário da Village

Condomínio vai exportar

para a Europa

Po i n t pa s sou t r ê s d i a s conhecendo a comunidade e a produção, no início de novembro e fechou uma compra de 300kg de melado para a Áustria. A empresa de Peter é especiali-zada em turismo e difusão de produtos ecológicos, e já trabalha com a importação dos Florais da Amazônia, produzidos no Acre. Ele conta que havia localizado o produto no Espírito Santo, mas eles haviam perdido a certificação e não tinham capacidade de produção. No país todo, Peter só encontrou melado orgânico certificado no Portal da Amazônia.

O coordenador do condomí-nio, o produtor Cícero Santana Rampaso, diz que a visita do comprador austríaco foi uma surpresa. “A gente não esperava

ter um resultado tão rápido, temos dívidas, precisamos produzir logo e chega alguém de fora para comprar, é bom demais”, vibra o agricultor. Peter Supnig também saiu gratificado da visita na comuni-dade. “O produto orgânico é um produto coletivo, e a comu-nidade tem uma combinação muito legal, como peças de uma engrenagem boa, que está andando”.

A meta de Peter é começar com 3 toneladas e chegar a um comércio regular de 10 toneladas/mês, a longo prazo. A capacidade instalada da agroindústria é de 500 quilos de açúcar-mascavo por dia. O condomínio tem 13 hectares de cana plantados, nos sítios dos dos sete sócios.

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Ingredientes:4 colheres de sopa de azeite de oliva ou óleo de babaçu3 dentes de alho bem picados 1 cebola grande picada 3 tomates maduros e firmes sem sementes 1 pimentão grande picado 5 pimentas de cheiro 600g de filé de tambaqui picadinho 1/2 xícara de chá de cheiro verde picado 1/2 xícara de chá de polpa de tomate sal e pimenta do reino branca a gosto Preparo:Numa panela aquecida, junte o azeite e o alho mexendo até dourar. Acrescente a cebola, mexendo até ficar transparente. Adicione os tomates, o pimentão, as pimentas e deixe apurar um pouco, cozinhando por cerca de 5 minutos. Junte o peixe, o sal e a pimenta, o cheiro verde e a polpa de tomate e cozinhe até o peixe ficar macio e o molho encorpado. Sirva com arroz cozido com sal. Rende uma refeição para quatro pessoas.

Nas propriedades rurais e madeireiras do Portal da Amazônia sobram matérias-primas para elaboração de adubo orgânico. A combinação esterco fresco e pó de serra podem garantir um composto rico em nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio e cálcio, entre outros. É bom para adubação de pastagens, fruticultura, culturas perenes, hortaliças e produção de mudas. A aplicação depende da análise de solo da propriedade, que vai definir a necessidade de adubação conforme a cultura. A receita inclui terra de áreas de mata, que é rica em microorganismos que auxiliam na fermentação do composto. Para ser orgânico, o ideal é que o esterco seja recolhido em áreas onde não há aplicação de agrotóxicos.

Ingredientes550 kg esterco fresco de bovinos ou aves350 kg de pó de serra100 kg de terra virgem de mata

PreparoFazer camadas de 3 a 5 centímetros de espessura, alternando o esterco, o pó de serra e a terra. O tamanho ideal é que a pilha tenha 1m metro de altura, por 1,5 ou 2 de largura. O composto deve ser misturado três ou quatro vezes durante o processo de fermentação, recomendando-se a mistura no 7º, 14º e 20º dia de fermentação. Com 25 dias, o composto fica pronto para ser aplicado. Recomenda-se que a pilha seja feita em local coberto. Se feita a céu aberto, exige cobertura, porque não pode ficar exposta a umidade excessiva. Para saber se o composto está no ponto ideal de umidade, aperte um pouco do composto na mão; ele deve ficar

com o formato da mão e não pode escorrer água. Quanto mais rápida a aplicação

O tambaqui, nativo da Bacia Amazônica, é uma das espécies de peixes mais famosas da região. Ele tem uma forma bem semelhante à do Pacu do Pantanal, sendo um primo bastante próximo dessa espécie. O corpo é arredondado, com as laterais mais estreitas, tem cor esverdeada no dorso e preta no ventre.

Sua alimentação principal é composta de frutos e sementes, o que facilita a reprodução em tanques de piscicultura. No ambiente natural, o peixe quando jovem vive em lagos e planícies de inundação. Durante a época da enchente anual do rio, a água invade largas extensões de floresta que são então colonizadas por peixes, entre eles o tambaqui. Como as árvores também frutificam nessa época, os peixes têm abundância de comida. Há indícios fortes de que a população natural de tambaqui diminuiu em razão da pesca exagerada o volume de pescado diminuiu de 16 para 4 mil toneladas no porto de Manaus nos últimos 20 anos.

O tambaqui chega a sua idade adulta entre 3 e 4 anos, podendo chegar ao peso de 6 quilos. Sua primeira desova ocorre entre o final do mês de outubro e o mês de março e sua segunda desova ocorre no início de setembro. É um peixe de fácil adaptação, podendo ser criado em tanques sem muita dificuldade. Para começar um tanque, 1.000 alevinos de 2 centímetros custam em torno de R$ 70 e o preço varia conforme o tamanho; 100 mil larvas custam em média R$ 500. Cada quilo de peixe adulto pode produzir de 150 a 170 mil ovos.

Para se ter uma boa produção é importante que o tambaqui viva num ambiente com boa qualidade de água e também que tenha uma boa alimentação. Para quem quer montar um tanque, o tambaqui depois de um ano já pode ser comercializado. Se o destino for a exportação, este pode ser comercializado já com 90 dias, já que alguns países como o Japão e a China têm o hábito de consumir o peixe ainda pequeno, o que é bem favorável para o produtor. O quilo do peixe pode custar até R$ 2,50 e ele pode ser vendido durante o ano todo, gerando bons lucros ao produtor que tiver um bom planejamento.

Para criação de tambaqui em tanques com lâmina d'água acima de 1 hectare, é necessário ter licença da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia, Piscicultura Esteio, Sema

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Uma arca de madeira recheada de livros de todos os tipos, para todos os gostos, à escolha do freguês, disponí-veis de graça para comuni-dades rurais. Essa é a boa história que o projeto Arca das Letras está escrevendo em várias regiões do país e que chegou ao Portal da Amazônia no mês de outubro.

Ao todo, 14 arcas foram distribuídas em comunidades rurais dos municípios de Alta Floresta e Carlinda, e 30 agentes de leitura receberam uma capacitação sobre como administrar as arcas e estimu-lar a leitura em suas localida-des. Outras estão previstas para Nova Guarita, Marcelân-dia, Colíder, Paranaíta e Apiácas, ainda sem data para chegar. O projeto do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) chegou ao território por iniciativa do Instituto Ouro Verde (IOV).

O objetivo é funcionar como pequenas bibliotecas, que começam recebendo certa de 200 livros. E quem decide como vai funcionar é a própria comunidade, que indica o local onde a Arca vai ficar, escolhe agentes de leitura para tomar conta dos livros e até mesmo diz quais são os livros que deseja receber. São oferecidos livros de literatura infantil, para jovens e adultos, cartilhas, livros técnicos e didáticos e dicionários.

Agentes de leitura moram nas

comunidades

Em Al ta F lo res ta , a comunidade Ouro Verde escolheu a auxi l iar de enfermagem Luciete Apare-cida Jardim Teixeira como agente e a Arca das Letras de lá vai ficar disponível no Posto de Saúde. Ela foi convidada pela escola da comunidade para ser agente de leitura porque já é uma agente de leitura informal. “Eu vivo na biblioteca da escola e os estudantes costumam me procurar para pedir livros emprestados e dicas de leitura”, conta orgulhosa.

O projeto, sem verba específica no orçamento do MDA, depende de parceiros para funcionar. No caso do Portal da Amazônia, além do IOV e das prefeituras, são parceiros o Sindicato das Indústrias de Móveis (Simo-norte), que construiu as arcas, o Sindicato dos Madeireiros (Simenorte), que doou a madeira.

Segundo o assessor do MDA Rafael Perfeito, os livros são conseguidos através de doações de escolas de Brasília, editoras, organi-zações não-governamentais e dos ministérios da Educação e da Cultura. “É por isso que n e m s e m p r e a g e n t e

c o n s e g u e mandar exa-t a m e n t e o s livros que fo-ram pedidos, mas fazemos o máximo para a t e n d e r a s comunidades”, explica Rafael, que esteve em Alta Floresta no dia 11 para entregar a arca da comunida-de Vila Rural II e ministrar a c a p a c i t a ç ã o dos agentes de leitura.

D e s d e o lançamento do Programa Arca das Letras, já foram distribuí-das mais de mil bibliotecas em assentamentos da reforma agrária, comunidades de agricultores familiares e de remanescentes quilombolas de 16 estados brasileiros. Além do Portal da Amazônia, o município de Cáceres também recebeu uma Arca, completan-do 15 arcas em Mato Grosso. Para as comunidades que se

inscreveram, não há dúvidas que o projeto traz benefícios para a educação no campo, como mostra José Nivaldo Ribeiro, agente de leitura da comunidade Rio Jordão, em Carlinda: “Se a gente perde uma oportunidade dessas, vai estar ignorando um trabalho que vai ajudar a desenvolver a comunidade”.