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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo MEMÓRIA, DEMÊNCIA E LEITURA: UMA QUESTÃO PARA O CAMPO FONOAUDIOLÓGICO. Alessandra Anjos Ferreira Flávia Rodrigues Andrade São Paulo 2007

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

MEMÓRIA, DEMÊNCIA E LEITURA: UMA QUESTÃO PARA O CAMPO

FONOAUDIOLÓGICO.

Alessandra Anjos Ferreira

Flávia Rodrigues Andrade

São Paulo

2007

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Alessandra Anjos Ferreira

Flávia Rodrigues Andrade

MEMÓRIA, DEMÊNCIA E LEITURA: UMA QUESTÃO PARA O CAMPO

FONOAUDIOLÓGICO.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo

2007

Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado à Banca

Examinadora, como exigência parcial

para a obtenção do título de bacharel

em Fonoaudiologia da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

sob a orientação da Profa. Denise de

Oliveira Teixeira.

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I

“Todo velho sabe que morrerá em breve. Mas o que significa

saber nesse caso? A verdade da questão é que a idéia da

aproximação da morte está errada. A morte não está próxima

nem distante... Não é correto falar de uma relação com a

morte: o fato é que o velho, como qualquer outro homem, tem

uma relação com a vida e com nada mais.”

Simone de Beauvouir

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II

Agradecimentos

A Deus.

À nossa querida professora e orientadora Denise de Oliveira Teixeira, por

ter nos auxiliado em todos os momentos desse trabalho e por ter entendido todas

as nossas dificuldades. Obrigada também pelos valiosos ensinamentos e pela

deliciosa relação que pudemos estabelecer ao longo desse ano.

À nossa eterna professora Ana Luiza Marcondes Garcia (Iza), por ter

aceitado o convite para ser nossa parecerista com disponibilidade, entusiasmo e

carinho. Agradecemos também pelos ensinamentos fundamentais na nossa

trajetória de graduação.

A todos os professores que fizeram com que nós nos apaixonássemos cada

vez mais pela fonoaudiologia.

A todos os funcionários da Derdic pelo auxilio e paciência durante esses

quatro anos de convívio. Em especial à Graça e ao João, dedicados e simpáticos,

que muito nos ajudaram na pesquisa bibliográfica deste trabalho.

Às colegas da turma 46 que sempre farão parte da nossa história.

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III

Agradecimentos Alessandra

Agradeço primeiramente à Deus, Jesus e à minha Nossa Senhora das

Graças que foram o meu maior conforto nos momento mais difíceis da minha vida.

À minha mãe, Jacqueline, por seu amor incondicional. Se não fosse por ela

eu não teria dado um passo sequer nessa vida, mas com seu apoio tenho certeza

que a minha caminhada é longa e frutífera. Ela foi a única que sempre acreditou

em mim.

Ao meu irmão Diego, que se tornou um grande amigo nos últimos tempos.

Tantas brigas foram esquecidas assim que precisamos do carinho um do outro.

Aos meus irmãos xodós e afilhados Pepê e Guiga, os gêmeos mais lindos e

travessos desse mundo. Apesar de tomarem grande parte do meu tempo, o

sorriso deles compensa qualquer sofrimento. Serão sempre como meus filhos. “Eu

sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar...”.

Ao Alex, amor da minha vida, por sempre ter me apoiado, entendido minhas

crises de TCC, por ter passado noites em claro comigo no computador. Agradeço

por simplesmente me amar e me fazer a pessoa mais feliz do mundo. Ao lado dele

eu posso ser eu mesma, e não há nada mais especial que isso. É com ele que

desejo passar o resto dos meus dias!

À Flávia, minha dupla que pôde me entender durante todo esse percurso e

compreender quando eu estava exausta. Somos água e fogo e por isso nos

equilibramos.

À Raquel (Rach), eterna amiga do ginásio, por ter compreendido minha

ausência neste período. Apesar da distância sempre estamos próximas.

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IV

Às amigas inseparáveis da inesquecível turma 46: Doção, Rô, Dani, Cí, Cá,

Zveibil e Bru por um laço muito maior que amizade que pudemos viver nesses

quatro anos. A minha única tristeza em me formar é saber que não verei mais o

sorriso de vocês toda manhã e nem ouvirei todas as besteiras quando estiver

triste. Pessoas entraram e saíram do nosso grupo, mas a essência sempre

permaneceu, e por isso me faz tão bem. Vocês com certeza serão inesquecíveis

por todas as loucuras e Interfonos que passamos juntas. O que valeu a pena

valeu o tempo todo. Obrigada por fazerem parte da minha história e das minhas

memórias.

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V

Agradecimentos Flávia

Ao meu irmão, Fábio, pela amizade eterna. As conversas, o carinho, a

compreensão e a paciência que me revigoravam quando o cansaço vencia a

vontade de seguir em frente.

Ao meu pai, Hélcio, cuja força e determinação me inspiram. Agradeço a

confiança, o apoio e a sinceridade. Obrigada por batalhar comigo!

À minha mãe, Sandra, por acolher meus sofrimentos, por entender minhas

angústias e por fazer parte de mim.

À Alessandra, por dividir comigo, com seriedade e dedicação, a

responsabilidade deste trabalho.

Às queridas amigas de turma: Lili, Gabi, Samar e Kátia, pela presença

marcante neste percurso. Agradeço os sorrisos sinceros, os momentos de choro

coletivo, as cantorias, o carinho e a paciência. Vocês foram e sempre serão

essenciais!

À Vanessa, amiga ímpar, pela companhia, amizade e cumplicidade, por

dividir comigo os bons e os maus momentos. Agradeço a prontidão em me ajudar

em qualquer circunstância.

Muito Obrigada!!!

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VI

Resumo

INTRODUÇÃO: O envelhecimento populacional é, na atualidade, um fenômeno

mundial. No Brasil, a proporção de idosos vem crescendo de forma acelerada,

bem como a expectativa de vida. Porém, estudos apontam a existência de

carências e necessidades no âmbito pessoal e público dos idosos brasileiros. As

representações sociais contemporâneas trazem conseqüências maléficas para o

processo de subjetivação do sujeito do envelhecimento, assim há a necessidade

de repensar as concepções de velhice e de sujeito que têm norteado as mais

distintas práticas profissionais dirigidas ao envelhecer. Paralelamente ao

crescimento da população idosa, temos o aumento da incidência de demência

nessa população. A colocação de Izquierdo sobre a leitura como atividade que

preserva a memória articulada à crescente demanda de sujeitos que buscam a

clínica fonoaudiológica por problemas de linguagem decorrentes de quadros

demenciais mobilizou a realização deste trabalho. OBJETIVO: Investigar o

estatuto atribuído à leitura nos casos de demência por meio de uma revisão

bibliográfica. MÉTODO: Revisão da literatura pertinente sobre demência (tanto no

âmbito das neurociências como no âmbito da psicanálise), os trabalhos

fonoaudiológicos com pacientes demenciados e os estudos lingüísticos sobre a

leitura. CONCLUSÃO: Os trabalhos de Iván Izquierdo, especialmente suas

colocações sobre a leitura como a melhor atividade para preservação da memória,

indicam a necessidade de estudos interdisciplinares que tenham a leitura e a

demência como objeto de investigação. Dessa forma, há a importância da

continuidade de pesquisas que entendam a prática de leitura como cuidado à

saúde, especialmente no campo fonoaudiológico.

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Índice

INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1

CAPÍTULO 1 – MEMÓRIA E DEMÊNCIA..................................................... 6

1.1. A memória e demência na psicanálise............................................................. 8

1.2. As demências nas Neurociências .................................................................. 12

1.2.1. Tipos de memórias...................................................................................... 15

1.2.2. O esquecimento .......................................................................................... 16

CAPÍTULO 2 – A DEMÊNCIA NA FONOAUDIOLOGIA ............................. 20

CAPÍTULO 3 – A LEITURA ........................................................................ 30

Considerações Finais ................................................................................. 40

Referências Bibliográficas .......................................................................... 42

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é hoje um fenômeno mundial caracterizado

por um crescimento mais elevado da população idosa em relação aos demais

grupos etários. As baixas taxas de fecundidade e mortalidade são alguns dos

processos apontados como responsáveis por este fenômeno. (CAMARANO,

2002).

Segundo o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) a proporção de idosos no Brasil vem crescendo de forma acelerada. O

número de idosos, que era de 2 milhões em 1950, saltou para 6 milhões em 1975

e para 14,5 milhões, em 2000. A cada ano, 650 mil pessoas são incorporadas à

população com mais de 60 anos no País. Projeções feitas por técnicos do IBGE

apontam que, em 20 anos, essa parcela da população poderá ultrapassar os 30

milhões, passando a representar 13% do conjunto de habitantes brasileiros.

Associado ao envelhecimento populacional, o aumento da expectativa de

vida do brasileiro também pode ser observado. Segundo técnicos do IBGE, o

significativo aumento da expectativa de vida no país - em 1950, a expectativa de

vida dos brasileiros ao nascer era de 43,33 anos, saltando para 68,55 anos em

2000 - resulta das melhorias de condições de saúde e da rede de saneamento

básico, além do surgimento de novos medicamentos e da difusão dos programas

de vacinação. Estima-se que, em 2050, a expectativa de vida do brasileiro, ao

nascer, será de 81,3 anos.

Segundo Izquierdo (2002), “a causa principal do aumento da longevidade

dos seres humanos é, sem dúvida, o avanço espetacular da medicina” (2002:12).

Nos últimos anos, houve um avanço da ciência médica e mudanças tecnológicas

significativas promovendo progressos no tratamento de doenças, além da

melhoria no acesso aos serviços de saúde. Porém, “uma pergunta importante é se

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esses anos a mais que a medicina nos deu são melhores ou piores do que os

poucos anos que tínhamos disponíveis tempos atrás”. (IZQUIERDO, 2002:13)

Há uma incongruência entre os fenômenos e avanços medicinais dos dias

atuais e os valores da sociedade. Promovemos esforços múltiplos para estender a

vida, porém, não há o mesmo empenho na melhoria da qualidade de vida dos

indivíduos que alcançam a longevidade. A imagem do velho é, ainda, ligada à

idéia de pobreza, dependência e incapacidade.

Pesquisa pioneira e recente na investigação das percepções dos idosos

brasileiros em relação ao envelhecimento e ao contexto social em que estão

inseridos, Idosos no Brasil: Vivências, desafios e expectativas na 3ª Idade,

realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC Nacional e

SESC-SP, aponta para as carências e necessidades no âmbito pessoal e público

dos idosos brasileiros. (http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?

storytopic=1643)

Os resultados - apurados a partir dos questionários respondidos por 3.759

brasileiros e brasileiras, idosos e jovens, distribuídos nas cinco regiões do país –

“demonstram a falta de informação na sociedade sobre a velhice e sobre as reais

necessidades dos idosos, sejam elas físicas, morais, sociais, culturais. e/ou de

garantia de direitos”.

O estudo aponta que, freqüentemente, a velhice está relacionada apenas

com aspectos negativos tanto para os próprios idosos (88%), como para os grupos

de outras faixas etárias (90%). Desse modo, a velhice é rotulada como período de

perdas: a maior ocorrência de doenças, o desânimo e a dependência são

apontados como sinais da velhice.

Grande parte da literatura existente sobre a velhice e o envelhecimento,

proveniente dos mais diversos campos do conhecimento, concorda que o valor

utilitário do trabalho associado à ideologia de consumo produz um retraimento

social do sujeito que envelhece, e propõe diferentes estratégias para a superação

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deste problema. Estudos da antropologia e da psicanálise são consoantes em

relação às conseqüências maléficas das representações sociais contemporâneas

para o processo de subjetivação do sujeito do envelhecimento, apontando para

uma necessidade de repensar as concepções de velhice e de sujeito que têm

norteado as mais distintas práticas profissionais dirigidas ao envelhecer.

Joel Birman (1995) traça a trajetória histórica da velhice e suas implicações

para a produtividade subjetiva no envelhecer. Segundo ele,

Na atualidade se processam transformações importantes nas relações estabelecidas pela sociedade com a velhice na nossa tradição cultural. A velhice passa a ser objeto de cuidado e atenção especiais, que eram certamente inexistentes nos últimos dois séculos. A velhice podia ser objeto para nossa piedade e filantropia, certamente, mas não se impunha como uma problemática singular para as nossas preocupações sociais. Entretanto, se a piedade e a filantropia eram atitudes benevolentes, sem dúvida ocultavam a negatividade do lugar social que era atribuído à velhice. Enfim, eram maneiras falaciosas e até mesmo hipócritas para silenciar os valores negativos em que a modernidade inscreveu a velhice. (BIRMAN, 1995: 35)

Delia Goldfarb (2004a), em publicação sobre as contribuições da

psicanálise ao envelhecimento, discute as condições de produtividade subjetiva na

velhice, afirmando que:

O lugar do velho seria quase um não-lugar, pois, embora a partir dos investimentos das últimas décadas sejam reconhecidos como sujeitos, sendo incluídos no panorama social contemporâneo (até porque seria impossível não incluir o grupo etário que mais cresce), os velhos são empurrados para as bordas da estrutura social, são reconhecidamente obrigados a uma subjetividade ancorada na passividade, a uma pobreza de trocas simbólicas, e à renúncia ao papel de agentes sociais; são empurrados a uma perda de todo o poder sobre si mesmo. (GOLDFARB, 2004: 42)

Em publicação sobre as demências Goldfarb (2004b) formula uma hipótese

psicogênica para a demência apontando que a condição do idoso na

contemporaneidade é marcada pela falta de estímulo no presente, o encurtamento

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do horizonte da vida e o aumento das dificuldades do cotidiano, especialmente

quando existem problemas de saúde e/ou financeiros. Segundo a autora, essas

dificuldades geram

(...) um sofrimento excessivo que produz um aumento da necessidade de bem – estar. Quando esse bem – estar não pode ser construído, quando as identificações caem, a reminiscência segura a identidade. No momento da vida em que se está passando ao ‘não mais ser’, as recordações do ‘já fui’ garantem a preservação da memória. (GOLDFARB, 2004b: 234).

Segundo a psicanalista, a demência pode ser entendida como uma espécie

de defesa contra os estados depressivos que muitas vezes acompanham o

processo de envelhecimento. Refere que a psicanálise pode contribuir para uma

“compreensão mais ampla do processo demencial, baseada na possibilidade de

se pensar as demências como fenômenos causados por múltiplos fatores”

(GOLDFARB, 2004b: 35).

No âmbito da Neurociência, definida por Ivan Izquierdo (2002) como o ramo

da Biologia e da Medicina que abrange o estudo do sistema nervoso em todos os

seus aspectos, desde a anatomia aos processos psicológicos, a demência tem

sido objeto de intensa investigação.

Segundo Izquierdo, um quadro de amnésia profunda e déficit cognitivo geral

resultante de diferentes doenças cerebrais, intoxicações ou lesões de áreas

cerebrais que evocam memórias, caracteriza a demência. Afirma que “a memória

é um dos melhores exemplos do ditado ‘ a função faz o órgão’. Todo exercício que

faça praticar a memória ajuda a preservá-la e a melhorá-la, até em pacientes que

padecem de demências”. (IZQUIERDO, 2004:83)

Refere que as palavras cruzadas e o xadrez são bons exercícios, “mas de

longe, e por enorme diferença, o melhor exercício para preservar a memória é a

prática da leitura”. Izquierdo (2004) afirma que, por várias razões, a leitura é o

exercício mais recomendável para a memória:

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A leitura envolve a memória visual e a verbal; nos deficientes visuais a memória auditiva e verbal. Os dois sentidos mais importantes para os humanos são a visão e a audição. Além da memória visual ou auditiva e verbal, a leitura envolve a memória de imagens. Impossível ler a palavra ‘árvore’ sem que desfilem pela mente algumas das muitas árvores que conhecemos ao longo da nossa vida... Aliás, impossível ler sem estar recriando imagens e também classificações das coisas do universo.

A colocação de Izquierdo sobre a leitura como atividade que preserva a

memória articulada à crescente demanda de sujeitos que buscam a clínica

fonoaudiológica por problemas de linguagem decorrentes de quadros demenciais

mobilizou a realização deste trabalho.

Nosso objetivo é investigar o estatuto atribuído à leitura nos casos de

demência por meio de uma revisão bibliográfica.

Para tanto, este trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro

abordamos o tema demência tanto no âmbito das neurociências como no âmbito

da psicanálise. No capítulo seguinte, apresentamos trabalhos fonoaudiológicos

com pacientes demenciados, focalizando as intervenções voltadas à linguagem.

No terceiro capítulo, apresentamos estudos lingüísticos sobre a leitura. Por fim,

tecemos algumas considerações de modo a indicar a importância da continuidade

de pesquisas que entendam a prática de leitura como cuidado à saúde,

especialmente no campo fonoaudiológico.

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CAPÍTULO 1 – MEMÓRIA E DEMÊNCIA

Demência é um termo vindo do latim que significa perder a mente (de-

mentis). Há três séculos atrás, esta definição era utilizada para designar qualquer

pessoa que perdesse a razão ou fosse portadora de algum tipo de loucura. Essa

interpretação ainda é bastante arraigada e utilizada no senso-comum. No

dicionário Aurélio, a demência é definida como deterioração progressiva e

irreversível das funções intelectuais, resultante de lesões cerebrais. (GOLDFARB,

2006)

Em sua obra Demências, Goldfarb (2006), afirma que a demência pode ser

resultante de inúmeros quadros tais como AVC, HIV, traumatismos cranianos,

Parkinson, tumores, doença de Pick, Huntington ou Alzheimer. Normalmente se

instala em pessoas de idades avançadas e podem trazer problemas sociais,

familiares e psíquicos e ainda não têm etiologia esclarecida, não se sabe se os

danos cerebrais são causa ou conseqüência da doença.

Com o agravamento dos sintomas da D.A., o convívio do velho demenciado

com a família, que ainda tem lucidez e censura, torna-se cada vez mais difícil.

Modificações na rotina familiar para o acolhimento e tratamento deste sujeito,

podem levar à problemas financeiros e organizacionais. Assim, muitos familiares

optam pelo asilamento e internação desses velhos (BAYLÉ, 2004).

Goldfarb (2006) faz uma retrospectiva dos estudos sobre a demência e

afirma que os trabalhos inaugurais sobre o tema datam de 1787, quando Cullen

descreveu as demências inatas, as acidentais e as senis. Em 1816, a demência é

diferenciada das deficiências mentais, por Esquirol e em 1907, o psiquiatra e

anatomopatólogo alemão Alois Alzheimer publica o primeiro caso de demência em

uma mulher de 51 anos. Neste caso foi constatada a presença de conglomerados

neuronais, fibras anômalas e placas senis, em exame histológico pós-mortem.

Essa doença recebeu o sobrenome do alemão e foi considerada pré-senil, por ter

aparecido tão precocemente nessa mulher.

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No começo do século XX, ainda acreditava-se que a demência senil era

decorrente da idade, um sintoma do desgaste natural e, portanto, inevitável.

Emmanuel Régis (1911 apud GOLDFARB 2006) descreveu o caso de um

paciente com impossibilidade de transformar sensações em idéias, diminuição da

criatividade, campo cerebral estreito. A esses sintomas Régis dá o nome de fase

essencial ao invés de inicial, pois pode evoluir para outro tipo de caso além da

demência, como a depressão. “Assim, o essencial ou específico da demência

seria a perda do funcionamento psíquico normal” (GOLDFARB, 2006:53). Sobre

os sintomas da fase essencial ou inicial Goldfarb (2006) assinala:

(...) a falta de precisão e lucidez das idéias e do juízo, lacunas de memória e fadiga. A amnésia afeta em primeiro lugar as lembranças mais recentes e depois, progressivamente, as mais antigas, menos aderidas. Esquece-se o nome das coisas e a linha discursiva, ficando-se entretido nos detalhes e se esquecendo do resto da história que se queria contar. (GOLDFARB, 2006:54)

As duas próximas fases descritas por Régis são o período de Estado e o

período Terminal, nessa ordem. O Período de Estado é caracterizado pelo

comprometimento da memória antiga, até então preservada. Segundo Régis (1911

apud GOLDFARB, 2006), esta fase é bastante incoerente, pois apesar de ter

esquecido tudo o paciente pode ser capaz de jogar xadrez, cartas ou ler jornal.

A última fase descrita por Régis, caracterizada basicamente pela absoluta

perda de inteligência e incontinência de esfíncteres, é chamada de fase Terminal.

Ele também coloca em questão os aspectos morais do velho demenciado,

chegando a compará-lo com o idiota na fase Terminal.

Segundo Ferreira e Felice (2007) a estimativa é de que atualmente a

doença de Alzheimer afete cerca de 25 milhões de pessoas em todo o mundo. “No

Brasil, os dados sobre a incidência da doença são menos precisos, mas alguns

estudos epidemiológicos permitem estimar que existam entre 800 mil e 1,5 milhão

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de indivíduos afetados”. (http://www. portaldoenvelhecimento. net/artigos/ artigo

1969.htm)

Com relação à prevalência de Alzheimer dentre as demências Ferreira e

Felice ainda afirmam:

A doença de Alzheimer é, na grande maioria dos casos, uma doença associada ao envelhecimento: a incidência da doença aumenta de um em cada dez indivíduos aos 65 anos para um em cada dois ou três indivíduos aos 85 anos de idade. Considerando que a população brasileira está em um processo rápido de envelhecimento, pode-se prever que a doença de Alzheimer venha a se tornar um grave problema de saúde pública no Brasil na próxima década. (FERREIRA & FELICE, 2007)

Partindo desse pressuposto, e considerando a prevalência da D.A. em

relação aos outros casos demenciais, a revisão bibliográfica e a discussão

implementadas neste trabalho terão como foco esta patologia.

1.1. A memória e demência na psicanálise

No artigo “Mecanismos complexos de memória separam o lembrar e o

esquecer” publicado no site www.comciencia.br em 2004, o professor do

Departamento de Psicologia e Educação da Universidade de São Paulo (USP) de

Ribeirão Preto, José Lino Bueno afirma que:

Uma das definições mais usadas é a de memória como capacidade de reter e manipular informações adquiridas anteriormente. A memória é um conjunto de procedimentos que

“Para a teoria psicanalítica o mais importante é justamente o que se gostaria de esquecer”.

GOLDFARB, 2003

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permite manipular e compreender o mundo, levando em conta o contexto atual e as experiências individuais, recriando esse mundo por meio de ações da imaginação. (BUENO, 2003)

Ainda a respeito da memória no campo da psicanálise Ana Cecília Carvalho

(2003), professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de

Minas Gerais, diz que:

A memória para a psicanálise é um campo no qual as significações feitas por alguém, a partir das suas experiências vividas ou imaginadas, articulam-se em uma linha de continuidade que pode estar interrompida em alguns pontos pela ação de certos processos defensivos. (CARVALHO, 2003).

Segundo Goldfarb (2004) o esquecimento pode nos salvar, absolver ou

amenizar das dores, sofrimento e lembranças. Por outro lado, o esquecimento é a

representação da morte, o lugar da ausência, o mal grave que pode nos impedir,

pela lembrança do nome, a contemplação da verdade e do conhecimento.

Nesta perspectiva, a existência destes “processos defensivos”, demonstra

que a memória é um conceito que excede o funcionamento meramente orgânico.

Segundo Carvalho (2003):

(...) muitas memórias 'esquecidas' estão na verdade reprimidas no inconsciente por se tratarem de lembranças que trariam sofrimento para a pessoa. Em alguns momentos conhecidos como 'lapsos de memória', nos sonhos ou através de um tratamento psicanalítico, quando essas memórias seriam recuperadas e voltariam para o consciente. (CARVALHO, 2003 )

Podemos considerar a possibilidade da influência de fatores afetivos na

perda de memória do portador da D.A. Portanto, além dos aspectos orgânicos os

fatores postulados pela psicanálise podem interferir nos sintomas do indivíduo

demente. Estes fatores devem ser considerados quando a atuação com estes

pacientes está em questão.

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Segundo Goldfarb (2004b), em seu artigo Memórias e temporalidades

construindo histórias, a memória é a grande responsável pela constituição de

nossa história, uma vez que registra acontecimentos passados. Goldfarb (2004b)

ainda afirma que alguns acontecimentos fazem emergir a lembrança de fatos do

passado. O que parecia ter caído no esquecimento ressurge, e dessa maneira um

sentido que estava esquecido é construído. É uma memória que se encontra sem

procurar, os capitons. Estamos então diante da chamada “memória fundamental”,

que são vestígios do passado. “Sem este fundo de memória não existiria o Eu”.

(GOLDFARB, 2004b).

Para a autora o tempo da vida é um tempo de construção da subjetividade

e nesse tempo podemos construir nossa história. Para elaborarmos a ameaça da

perda de vida, fazemos um trabalho de ressignificação, ou seja, “um trabalho de

luto”. Isso é feito para que diante da perda outros objetos possam se instaurar.

Esse trabalho permite o crescimento do espaço da memória. Isso explica a

reminiscência, que se apresenta em idades mais avançadas, conforme a idéia de

finitude se aproxima. (GOLDFARB, 2004b)

Se não fizermos esse trabalho preparatório, nos encontramos num vazio,

numa depressão frente à falta de perspectivas para o futuro, desta maneira

negamos o passado para terminarmos com o futuro e eliminar o sofrimento do fim.

A idéia de finitude no envelhecimento pode ser vivida de maneira trágica ou

serena, depende dos fatores do próprio sujeito. (GOLDFARB, 2004b)

No entanto, algumas vezes essa elaboração e esse trabalho não podem ser

feitos. As conseqüências disso podem ser o isolamento do eu e o esquecimento,

constituindo a morte da própria identidade do sujeito. Nessa perspectiva “temos o

fracasso do trabalho de luto como um dos grandes motivadores psíquicos para as

demências”. (GOLDFARB, 2004b)

Goldfarb (2004b) ainda destaca que, quando um velho só se remete ao

passado, ele, inconscientemente, traz a idéia de ausência de presente, de que o

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tempo atual não está em sua posse. A conseqüência disso é a desnarcisação que

pode ter como estopim os suicídios (morte biológica e psíquica).

Freud, em sua obra As Lembranças Encobridoras (1899 apud Goldfarb,

2004), afirma que muitas vezes acontecimentos importantes de nossa infância são

esquecidos, enquanto outros menos importantes são memorizados. Goldfarb

(2004b) ainda afirma que:

Os elementos realmente significativos são sufocados e permanecem disponíveis na memória, e outros enlaçam com aqueles. Lembranças que aparecem justamente para que outras, mais conflitivas, possam ser esquecidas. (GOLDFARB, 2004b)

Como afirma Goldfarb (2004c) em artigo publicado no Portal do

Envelhecimento - Sobre lembranças e outros esquecimentos - as lembranças não

são aleatórias, são criadas pelo sujeito que se modifica com o passar do tempo.

Um dos questionamentos de Freud é sobre a verdade histórica, ou seja, alguns

pacientes podem recordar algo que nunca foi esquecido, pelo fato de não ter

passado para a consciência. Só recordamos o que está na consciência. “Na

consciência a temporalidade é outra. Ela se constrói sobre a ilusão de linearidade.

Acredita-se que a partir do presente pode-se avaliar o passado, retificá-lo e

projetar o futuro” (GOLDFARB, 2004c).

Segundo a autora, “ter uma história é guardar na memória uma versão de

uma seqüência de acontecimentos significativos da existência” (2004c). Assim,

essa história construtora de instâncias é abordada pela psicanálise, pois mostra a

nossa percepção atual sobre acontecimentos do passado. A memória constrói e

ressignifica o presente e por essa razão não pode ser considerada como mera

reposição do passado. Portanto, como explicita Goldfarb (2004b), a demência

pode ser pensada como “efeito do traumático sobre o processo identificatório”

(GOLDFARB, 2004b), é a morte da própria identidade do sujeito.

A autora afirma que a demência se caracteriza, basicamente, pela perda

gradual da memória e da capacidade de raciocínio, cerca de 15% dos casos são

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atribuídos a causas psicológicas. Além disso, o nível de deterioração das células

cerebrais freqüentemente não explica a intensidade dos sintomas apresentados.

Para a autora, o Eu é uma organização que depende de inúmeros fatores além

dos biológicos: fatores sociais, históricos e culturais.

Segundo Goldfarb (2004c) podemos pensar na demência também como

“uma falha na metaforização, uma impossibilidade de encadeamento de

significantes, impossibilidade de outorgar novos sentidos à vida, de produzir

pensamentos e idéias (...), uma recusa a compreender.” (GOLDFARB, 2004c).

1.2. As demências nas Neurociências

A Neurociência é o “ramo da Biologia e da Medicina que estuda o sistema

nervoso em todos os seus aspectos, desde a anatomia aos processos

psicológicos.” (IZQUIERDO, 2002: 23). Conforme dito na introdução, as

demências têm sido objeto de intensa investigação de disciplinas que compõem

as chamadas neurociências, com destaque na neurologia, na psiquiatria e na

neurobiologia.

Forlenza (2005), psiquiatra e pesquisador do Laboratório de Neurociências

do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, em artigo para a

revista Neurociência, define a Doença de Alzheimer da seguinte forma:

A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo, progressivo e geralmente de longa evolução, considerado a principal causa de demência na população. Afeta funções cognitivas como memória, capacidade de aprendizado, linguagem, atenção, capacidade visual e noção espacial. (FORLENZA, 2005)

“Cada um de nós é quem é porque tem suas próprias memórias”

(IZQUIERDO, 2004)

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Em sua obra “Memórias” (2002), Iván Izquierdo afirma que a memória é

uma função do sistema nervoso central. Os neurônios (células nervosas) emitem

prolongamentos chamados axônios, que enviam informações através da liberação

de substâncias, sendo os dendritos as estruturas que recebem as substâncias

liberadas pelas terminações dos axônios. As substâncias liberadas pelos axônios

são chamadas de neurotransmissores que, ao serem liberados em uma pequena

fenda entre os neurônios, denominada sinapse, ligam-se em proteínas da

superfície celular, denominadas receptores. O glutamato é o principal

neurotransmissor excitatório (o qual apresenta um papel fundamental na

memória), enquanto o ácido gama amino butírico (GABA) é o principal

neurotransmissor inibitório. Existem muitos outros aos quais chamamos de

neuromoduladores: a serotonina, a dopamina, a acetilcolina, a noradrenalina.

Esses neuromoduladores modulam a memória e estão diretamente relacionados

com o processamento das emoções, com o nível de alerta e estados de ânimo.

Segundo Izquierdo, “a memória dos homens e dos animais é o

armazenamento e evocação de informação adquirida através de experiências; a

aquisição de memórias denomina-se aprendizado”. (IZQUIERDO, 2004). O autor

ainda afirma que as experiências são aqueles pontos intangíveis que chamamos

de presente.

Para o autor, toda memória é adquirida num certo estado emocional. Sobre

a ação química da memória, o autor afirma:

Cada estado emocional se acompanha de uma constelação de fenômenos hormonais e neuro-humorais (humores era como os antigos chamavam os fluidos corporais). Denominam-se neuro-humorais os fenômenos ou processos que envolvem a liberação de substancias moduladoras da atividade nervosa no cérebro, como a noradrenalina, a dopamina, a serotonina, a acetilcolina ou a beta-endorfina. Diferentes estados emocionais ou de ânimo se acompanham de diferentes taxas de liberação destas substancias neuromoduladoras, que aumentam ou diminuem a capacidade de resposta de diversas áreas cerebrais, entre elas as que fazem ou evocam memórias. (IZQUIERDO, 2004: 37).

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Desta forma, podemos entender que a nossa tendência é de não esquecer

justamente as memórias que contém maior conteúdo emocional. Estas são as

chamadas memórias biologicamente significativas por Pavlov apud Izquierdo

(IZQUIERDO, 2004).

Izquierdo (2004) define Memória de trabalho como aquela utilizada para

entender a realidade e para evocar outros tipos de memórias: a de longa e de

curta duração.

A memória de trabalho depende da atividade elétrica de neurônios do córtex pré-frontal, localizado na frente da área motora, e não persiste além disso. Quando cessa a ativação dos neurônios pré-frontais, a memória de trabalho também cessa. (IZQUIERDO, 2004: 24)

Essa memória dura apenas alguns segundos. Quando a memória de

trabalho falha pode acontecer de “a realidade virar incompreensível ou alucinatória

porque seus componentes se confundem entre si” (IZQUIERDO, 2004: 26).

Segundo o autor, é justamente pela falha grosseira de memória de trabalho que se

caracteriza a esquizofrenia. Para os esquizofrênicos os cheiros se confundem com

sons, que se confundem com formas, etc.

Izquierdo (2004) afirma que a memória pode também ser definida de

acordo com sua duração. “A memória de curta duração só serve para manter a

informação disponível para o sujeito durante o tempo que requer a memória de

longa duração para ser construída.” (IZQUIERDO, 2004: 35).

A memória de curta duração se forma em minutos e leva de 3 a 6 horas

para se extinguir. A memória de trabalho tem um tempo de vida de poucos

segundos, e é construída rapidamente, enquanto a memória definitiva leva horas

para sua construção.

As memórias de difícil extinção são as que Izquierdo (2004) chama de

“biologicamente significativas”, ou seja, as que carregam uma alta carga

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emocional. O autor afirma que o a memória se forma a partir da associação dos

estímulos condicionados (neutros) com os incondicionados (os significativos, como

comida e medo). Para elucidar essa hipótese Izquierdo (2004) postula que:

É mais fácil, para um cachorro, associar o som de uma campainha (estímulo condicionado) com a presença de carne (estímulo incondicionado) do que associá-lo com a presença de uma bolinha de papel no chão. Um cachorro aprende a produzir saliva em resposta a um som, prevendo que o mesmo será seguido de um pedaço de carne. (IZQUIERDO, 2004: 38).

1.2.1. Tipos de memórias

Não existe uma memória, mas sim vários tipos de memória que se

relacionam para formar "a memória" que usamos no dia-a-dia. Uma completa a

outra e cada uma tem sua especificidade.

Para Izquierdo memória pode ser definida como “aquisição, conservação e

evocação de informações” (IZQUIERDO, 2004: 15). Conforme dito anteriormente,

o autor divide didaticamente a memória em tipos de acordo com sua duração

(memória imediata, de curta duração e de longa duração) e de acordo com seu

conteúdo (memórias de trabalho, declarativas e procedurais).

Dentre as memórias classificadas por duração, a memória imediata é

aquela que dura apenas alguns segundos ou minutos além do fato ao qual se

referem, a memória de curta duração dura de uma a seis horas e a memória de

longa duração dura mais horas, dias ou anos. (IZQUIERDO, 2004)

Dentre as memórias classificadas por conteúdo, a memória de trabalho

dura segundos, segundo o autor, “dura pouco porque deve durar pouco, senão

nos confundiria.” (IZQUIERDO, 2004: 20); a memória declarativa é aquela que

podemos declarar que existem e como são e; as memórias procedurais são

dificilmente explicáveis de forma declarativa (como, por exemplo, tocar piano).

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Segundo Izquierdo, algumas memórias geram uma “inibição de respostas

naturais ou inatas; outras, num aumento dessas respostas ou na geração de

respostas novas; outras que não envolvem nenhuma resposta direta ou aparente.”

(IZQUIERDO, 2004: 22). Ou seja, podemos ter esquecimentos globais, limitados,

esquecimentos por modalidades sensoriais, esquecimento de animais, de

pessoas, assim por diante. É por essa razão que existem pessoas com ótima

memória para rostos, outras que lembram números de telefone antigos, pessoas

com boa memória para fatos, e assim por diante.

1.2.2. O esquecimento

“O esquecimento é ‘a outra cara’ da memória, ou o aspecto mais saliente da memória: é

muito mais o que esquecemos que o que recordamos”. (CASTELLANO, 1987).

Segundo Izquierdo (2004) o esquecimento pode ser de variadas etiologias.

Um, clássico, é a extinção, ou perda geralmente gradativa de uma memória por

sua evocação reiterada sem reforço; ou seja, sem aquele(s) componente(s) que a

fizeram marcante quando adquirida: um choque elétrico no caso de um

aprendizado aversivo, comida no caso de um aprendizado alimentício, a resposta

no caso de um número telefônico, o pagamento no caso de um serviço prestado.

A simples passagem do tempo é outro fator no esquecimento.

No dia-a-dia esquecer é essencial. Se não esquecemos não pensamos, não

usamo-nos de generalizações e assim nenhuma atividade cognitiva é capaz de se

estabelecer. O esquecimento é normal, mas em grande escala torna-se patológico

e chama-se amnésia.

“Claramente muitas memórias desaparecem, esvaecem para sempre”.

(IZQUIERDO, 2004)

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Segundo Izquierdo (2004), existe uma função no esquecimento: talvez o ser

humano esqueça devido à saturação dos mecanismos de armazenamento. “As

possibilidades de intercomunicação entre as células do cérebro são imensas, e de

cada uma dessas conexões ou sinapses pode surgir memórias”. (IZQUIERDO,

2004:21)

Izquierdo (2004) afirma que há quatro formas básicas de esquecimento: a

extinção e a repressão, que tornam as memórias menos acessíveis, o bloqueio

e o esquecimento que consistem no desaparecimento real das memórias.

A maioria das memórias são perdidas ao longo dos anos por desuso das

sinapses que as carregavam. Este é um acontecimento natural e não patológico

(IZQUIERDO, 2004). Para os seres humanos o período de maior perda neuronal é

dos nove aos treze meses de idade. “O esquecimento real ocorre por falta de uso

ou por desaparição das células nervosas e/ou de suas sinapses.” (IZQUIERDO,

2004: 50).

Assim como a falta de uso pode extinguir a memória, o seu uso reiterado

favorece o desenvolvimento da memória. Para “exercitar” a memória esta deve ser

constantemente evocada.

Uma atividade que requer todas as áreas cerebrais responsáveis pelas

memórias (memória visual, auditiva, verbais, etc.) é a leitura. Sobre a atividade de

leitura o autor explicita que:

A melhor recomendação possível para o exercício da prática da memória é ler, ler e ler. É evidente que podemos mobilizar outros tipos de memória fazendo outras coisas; mas nenhuma atividade mobiliza tantas variedades de memória como a simples leitura (...) Ao ler, colocamos em atividade a memória verbal, visual, imagens e até memória motora. (IZQUIERDO, 2004: 51).

Pensando a partir desse pressuposto de Izquierdo, a leitura portando pode

auxiliar bastante nos casos demenciais, em que a memória é progressivamente

perdida. Segundo Izquierdo (2004) estudos apontam que a incidência de doenças

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da memória (Alzheimer) é muito menor em indivíduos com maior grau de

escolaridade.

“A doença de Alzheimer é causada por lesões cerebrais específicas que

vão matando um certo número de neurônios e sinapses por dia” (IZQUIERDO,

2004: 54). Nessa perspectiva, um indivíduo que tem mais sinapses, demorará

mais tempo para perdê-las completamente do que um indivíduo que possui

poucas sinapses. O mesmo ocorre com o déficit benigno ou transtorno perceptivo

(comum em pessoas com mais de 50 anos, mas não considerado patológico).

Portanto é de bom alvitre ler, ler e ler, e se interessar pelo que se lê e pelo que se ouve. E, como lendo se aprende, estaremos praticando o funcionamento de nossa capacidade de memória e garantindo uma maturidade e, mais tarde, uma senilidade, menos penosa. (IZQUIERDO, 2004: 56)

Neste capítulo apresentamos alguns trabalhos produzidos no âmbito da

psicanálise e das neurociências sobre a demência.

As questões apresentadas e discutidas a partir da psicanálise, oferecem

elementos conceituais, tanto no que diz respeito à visão de sujeito, quanto no que

tange ao modo como se entrecruzam tempo e memória no processo de

subjetivação na velhice que, a nosso ver, podem ampliar a definição de memória

para além de uma conceituação estritamente biológica. Os trabalhos revisados

nos permitem compreender que a memória e o exercício da reminiscência na

velhice cumprem um papel fundamental na (re) significação do presente e no

constante e inacabado processo de subjetivação. Goldfarb nos permite

compreender que são os fios da memória e do desejo que tecem a temporalidade

do sujeito, a história existencial. Para a autora a demência pode ser pensada

como “efeito do traumático sobre o processo identificatório” (GOLDFARB, 2004b),

como a morte da própria identidade.

No âmbito das Neurociências, destacamos os dizeres de Izquierdo que

apontam para o papel da linguagem na ativação dos mecanismos cerebrais

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envolvidos na memória e, sobretudo, na indicação da leitura como a melhor

atividade para o exercício da memória, até mesmo nos sujeitos demenciados.

Izquierdo oferece a possibilidade de refletir sobre a importância da linguagem e,

por extensão, das contribuições que podem ser dadas pela fonoaudiologia

entendida como o campo do conhecimento que tem como objeto de estudo e

intervenção a linguagem.

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CAPÍTULO 2 – A DEMÊNCIA NA FONOAUDIOLOGIA

Os trabalhos que dizem da linguagem dos portadores da Doença de

Alzheimer (D.A.) vêm sendo publicados há apenas 30 anos e a maioria deles é

desenvolvido por médicos (neurologistas, mais especificamente). Grande parte

das publicações indica que as alterações de fala e de linguagem são

características da doença frequentemente notadas, portanto a escassa

participação de fonoaudiólogos na autoria de trabalhos sobre a demência é um

fato que deve ser enfrentado por meio de estudos que tenham como foco de

investigação a demência, mais especificamente a linguagem nos quadros

demenciais.

Segundo a fonoaudióloga Karin Zazo Ortiz e o neurologista Paulo Bertolucci 1“o uso da linguagem depende de conhecimentos múltiplos, incluindo sistemas de

informação lingüística e sistemas de informação conceptual e perceptual não

lingüísticas”. Para esses autores, estes conhecimentos “são exteriorizados através

de estruturas fonológicas, sintáticas, semânticas e discursivas” (ORTIZ &

BERTOLUCCI, 2005).

Os autores afirmam que “a linguagem é um processo bastante elaborado e

complexo, logo suas alterações podem ocorrer em qualquer nível, seja no aspecto

fonológico, sintático, semântico ou discursivo”. (ORTIZ & BERTOLUCCI, 2005)

Alertam que as referidas alterações podem ocorrer tanto na fala como na escrita.

1 Paulo Bertolucci, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do

Sul e é doutor em Neurologia pela Universidade Federal de São Paulo. Karin Zazo Ortiz possui

graduação em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de São Paulo (1990), especialização

(1991), mestrado (1995) e doutorado (2000) em Distúrbios da Comunicação Humana pela

Universidade Federal de São Paulo. Realizou pós-doutorado em neurociências no setor de

neurologia do comportamento da UNIFESP-EPM (2005).

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A respeito da avaliação desses pacientes, Bertolucci & Ortiz (2005) afirmam

que “a avaliação deve procurar identificar alterações nos aspectos emissivos e/ou

compreensivos da linguagem em todas as suas vertentes”. (ORTIZ &

BERTOLUCCI, 2005)

Segundo os autores, os primeiros estudos acerca da linguagem do portador

de D.A. buscaram estudar alterações no eixo léxico-semântico. A estes estudos

iniciais, acrescentaram-se, paulatinamente, estudos descrevendo alterações

semânticas, sintáticas e discursivas tanto na comunicação oral quanto na

comunicação gráfica. (BERTOLUCCI & ORTIZ, 2005).

Bertolucci e Ortiz referem que estudos mais recentes apontam que a

alteração de memória “interfere no processamento lingüístico e,

conseqüentemente, na compreensão de sentenças”. (ORTIZ & BERTOLUCCI,

2005). Afirmam os que portadores de D.A. normalmente apresentam desempenho

insatisfatório nos testes específicos de memória e que as dificuldades na

compreensão discursiva destes pacientes parece estar relacionada a outras

habilidades cognitivas. Fato que, na visão dos autores, pode justificar as

dificuldades dos portadores de D.A. para a compreensão de subentendidos,

inferências e sentenças ambíguas.

Bertolucci & Ortiz (2005) afirmam que os portadores de D.A. lembram com

mais facilidade das informações essenciais do que das informações irrelevantes.

Segundo os autores, parece que “o processamento do discurso está mais

marcadamente afetado nestes pacientes, sendo mais relacionado, neste caso, às

falhas da memória de trabalho”. (BERTOLUCCI & ORTIZ, 2005).

O médico Paulo Dalgalarrondo (2000 apud Lílian Rodrigues Queiroz &

Talita Gonçalves de Moura et al, 2002) descreve as alterações de linguagem do

portador de D.A. da seguinte forma:

É a dificuldade em encontrar as palavras, parafasia, que constitui a emissão de uma palavra substituída por outra, seja do mesmo campo semântico (parafasia semântica) ou narrativa; as apraxias que são distúrbios no planejamento dos movimentos articulatórios

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ou desorganização na atividade gestual; as disartrias que são distúrbios do controle muscular com lesão no sistema nervoso periférico ou central; a anomia, que é a inabilidade de denominar objetos e a ecolalia que constitui a repetição sem sentido no discurso de outras pessoas. (DALGALARRONDO, 2000 APUD LÍLIAN RODRIGUES QUEIROZ & TALITA GONÇALVES DE MOURA et al, 2002)

Bertolucci & Ortiz (2005) afirmam que estudos recentes com pacientes

portadores de D.A. apontam para o fato de que há déficits no processamento

léxico-semântico. Nesses casos existe um enigma: as dificuldades existem devido

à perda da informação semântica ou à dificuldade no acesso léxico?

Com relação a essa questão Bertolucci & Ortiz (2005) postulam que:

De fato, é bem reconhecido que falhas de nomeação podem ter múltiplas causas. Elas podem estar relacionadas a falhas no sistema semântico, sistema léxico-semântico e/ou léxico-fonológico. Porém, nos casos de nomeação por confrontação visual, deve-se também considerar a hipótese da alteração de nomeação existir por falha no processo de reconhecimento visual da figura ou uma falha no acesso ao sistema semântico decorrente do processamento visual. Em relação à controvérsia relativa a este tópico, há uma tendência em se considerar tal prejuízo relativo à perda da informação semântica. (BERTOLUCCI & ORTIZ, 2005)

Segundo os autores “o bom desempenho lingüístico” de uma pessoa

depende da preservação de todas as funções cognitivas, principalmente a

memória (de trabalho) e a atenção. (BERTOLUCCI & ORTIZ, 2005).

Mac-Kay (1996)2, afirma que o que existe em comum em todas as

demências “é a falha na comunicação intencional, seja ela lingüística ou não-

lingüística”. Segundo a autora:

2 Graduada em Fonoaudiologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa

(FCMSC).

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A comunicação de idéias com significado é a base da comunicação intencional e é justamente no campo das idéias que a demência traz conseqüências em termos de desorganização. Há uma dificuldade na memória semântica e na memória episódica e é pela memória semântica que convergem e se relacionam informações de várias modalidades, formando o conhecimento conceitual. (MAC-KAY,1996)

Para Queiroz & Moura (2002) a anomia é uma evidência da deterioração do

conteúdo da memória semântica.

Mansur3, Carthery4, Caramelli5 e Nitrini6 (2005), afirmam que há uma

divisão que separa os problemas de linguagem oral e os problemas de linguagem

escrita no discurso do portador de D.A. tanto no que diz respeito á compreensão

quanto à produção de linguagem.

Segundo os autores a linguagem oral do portador de D.A., no que diz

respeito à compreensão apresenta falhas e déficits nos aspectos fonético-

fonológico e lexicais. (MANSUR, CARTHERY, CARAMELLI E NITRINI, 2005).

Sobre os aspectos fonético-fonológicos do portador de D.A., os autores

atentam para a dificuldade de sintetizar e processar a informação advinda da fala,

além de falhas nos aspectos atencionais. Referem que essas dificuldades ganham

maior amplitude conforme o maior número de dados e informações contidos no

discurso. Já sobre os aspectos lexicais os autores afirmam que há uma polêmica,

pois alguns autores afirmam que o problema é que o estoque semântico se

3 Graduada em Fonoaudiologia e em Lingüística. É Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo e Doutora em Lingüística Universidade de São Paulo.

4 Graduada em Fonoaudiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1996),

mestrado em Psicologia (Neurociências e Comportamento) pelo Instituto de Psicologia da

Universidade de São Paulo (2000) e doutorado em Ciências (Neurologia) pela Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo (2005) 5 Médico, Pós-doutor e Livre-docente na Universidade de São Paulo

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deteriora, outros autores afirmam que o problema é em relação ao acesso a esse

estoque. (MANSUR, CARTHERY, CARAMELLI E NITRINI, 2005).

Ainda no mesmo trabalho publicado, Mansur, Carthery, Caramelli e Nitrini

(2005) apontam para o fato da dificuldade de compreensão de sentenças

complexas para os portadores de D.A. Esta dificuldade se acentua caso esteja se

trabalhando com sentenças não canônicas e as com voz passiva muito extensas.

Esta dificuldade pode estar relacionada com a “sobrecarga na capacidade de

armazenamento em memória de curta duração”. (MANSUR, CARTHERY,

CARAMELLI E NITRINI, 2005).

Ainda pensando na linguagem oral temos os aspectos da produção. Para

os autores o portador de D.A. pode ser considerado “fluente”, já que até nas fases

mais avançadas da doença os aspectos fonético-fonológicos estão íntegros. Nos

aspectos semântico-lexicais os problemas que aparecem são relacionados à

nomeação o que pode ser decorrente das falhas na memória. Os autores

observaram que em portadores de D.A. com maior grau de instrução essa

dificuldade não ganham maiores amplitudes nas fases mais avançadas da

doença. (MANSUR, CARTHERY, CARAMELLI E NITRINI, 2005).

Referente à produção do discurso do portador de D.A., Mansur, Carthery,

Caramelli & Nitrini (2005) afirmam que eles têm uma menor produção textual do

que os indivíduos sadios, principalmente quando se aumenta o grau de

complexidade do discurso a ser exigido pelo interlocutor.

Passaremos agora aos aspectos elencados pelos autores em relação à

linguagem escrita. Com relação à leitura em voz alta os autores afirmam que é

uma atividade que tem sido considerada intacta no processo demencial, mesmo

após perdida a capacidade de compreender o material lido. Alguns autores que

“analisaram freqüência, extensão, regularidade, lexicalidade na leitura de palavras

6 Médico Neurologista e Doutor em Neurologia.

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têm revelado que esta habilidade não está tão preservada quanto parece”.

(MANSUR, CARTHERY, CARAMELLI E NITRINI, 2005).

Segundo Izquierdo (2000) a leitura além de estar preservada em muitos

casos de D.A., pode corroborar para a prevenção e recuperação de demencias,

visto que a incidência da D.A. é muito maior em pessoas com baixo grau de

escolarização.

Sobre a escrita, Mansur, Carthery, Caramelli e Nitrini (2005) apontam que a

agrafia quase sempre está presente nos casos de D.A. e evolui de acordo com a

progressão da doença. Segundo os autores, os portadores de D.A. podem

apresentar “déficits ortográficos, motores e práxicos para a escrita” (MANSUR,

CARTHERY, CARAMELLI E NITRINI, 2005). Os autores afirmam que os déficits

na linguagem escrita normalmente antecedem os problemas de linguagem oral.

Para Romero (2005) – em capítulo publicado no livro Distúrbios

neurológicos adquiridos: linguagem e cognição, organizado por Ortiz - a avaliação

de linguagem feita por um fonoaudiólogo é crucial para o diagnóstico diferencial de

D.A. A autora afirma que é de extrema importância esse diagnóstico diferencial e

precoce, pois “desde a fase inicial da D.A. o indivíduo tem grandes dificuldades de

introduzir tópicos durante um discurso e mantê-lo de forma coerente”. (ROMERO,

2000) Segundo a autora, nesta mesma fase o portador de D.A. também apresenta

dificuldades como a anomia e a dificuldade de compreensão. Consoante com

Mansur, Carthery, Caramelli e Nitrini, a autora afirma que a linguagem escrita

encontra-se mais comprometida em comparação à linguagem oral.

A autora afirma que ainda não há tratamento farmacológico capaz de

reverter o dano causado pela D.A., mas é possível que uma equipe multidisciplinar

identifique a progressão dos sintomas e elabore um plano terapêutico a fim de

proporcionar uma melhor qualidade de vida para o paciente e sua família.

(ROMERO, 2005). Afirma que estudos recentes apontam que o uso de estratégias

de comunicação devem ser consideradas no cuidado ao portador de demência.

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Romero (2005) elenca as estratégias de comunicação mais indicadas

para cada fase da D.A.:

D.A. LEVE

• Use frases simples;

• Diminua a velocidade de fala;

• Use frases curtas;

• Dê uma instrução de cada vez;

• Seja literal;

• Simplifique o vocabulário;

• Evite frases ou palavras com duplo sentido;

• Mantenha contato de olho;

• Converse sobre o presente;

• Fique de frente para facilitar a compreensão do conteúdo verbal;

• Estabeleça uma rotina;

• Incentive o uso de agendas, cadernos de anotações e calendários;

• Estimule a leitura e a escrita;

• Incentive a produção verbal;

• Use fotos e álbuns de família para conversas sobre fatos do

passado; Reduza o ruído competitivo.

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D.A. MODERADA

• Dê uma informação de cada vez;

• Utilize perguntas simples e fechadas para que o paciente não se

perca na resposta;

• Enfatize expressões faciais;

• Utilize as estratégias citadas anteriormente.

D.A. GRAVE

• Utilize toques para manter a atenção do paciente;

• Utilize contato de olho;

• Correlacione nome com objeto.

Mac-Kay (1996) também enfoca a significância do papel do

fonoaudiólogo nos quadros de demências, afirmando que:

Uma vez que as desordens de linguagem e comunicação são

importantes dentro das análises para o diagnóstico diferencial,

a experiência fonoaudiológica em equipe multidisciplinar, no

que concerne ao tratamento dos quadros demenciais, mostra

que é possível obter resultados positivos quando a ação

terapêutica é bem elaborada e adaptada à fase de evolução

clínica do paciente (...) Para um melhor resultado na tentativa

de se conseguir manutenção e/ou reabilitação adequadas nos

quadros de demências, tanto as reversíveis quanto as

irreversíveis, deve existir a participação diagnóstica conjunta

entre profissionais das áreas de Medicina (médico clínico e/ou

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geriatra), Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Terapia

Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, bem como contar

com a colaboração e os interesses da própria família do

paciente a fim de garantir a manutenção da qualidade de vida e

um melhor relacionamento social e familiar. (MAC-KAY,

1996).

Cada componente desta equipe multidisciplinar terá a sua função. O

fonoaudiólogo, por sua vez, deverá contribuir para a terapia nos casos de

“(...) alterações de linguagem, desordens da fala e dos órgãos

fonoarticulatórios, bem como sobre os distúrbios do sistema estomatognático

(sucção, mastigação e deglutição)” (QUEIROZ & MOURA, 2002)

Prosseguem afirmando que “o objetivo do trabalho fonoaudiológico é

restabelecer a função comunicativa, social e física do portador de demência”.

(QUEIROZ & MOURA, 2002)

Bertolucci & Ortiz (2005) afirmam que apesar de a D.A. ser uma

demência irreversível, seus sintomas podem ser trabalhados a fim de

promover uma melhor qualidade de vida para o indivíduo, familiares e

cuidadores. A esse respeito os autores afirmam que:

Acredita-se que é possível, através da intervenção fonoaudiológica, empregada juntamente a uma equipe multidisciplinar capacitada, reverter os quadros demenciais que se acreditava serem irreversíveis e auxiliar um melhor desempenho lingüístico e fonoaudiológico para os quadros que realmente são irreversíveis. (BERTOLUCCI & ORTIZ, 2005).

Neste capítulo apresentamos trabalhos fonoaudiológicos que têm como

foco o sujeito em processo demencial, especialmente intervenções dirigidas aos

problemas de linguagem que dele decorrem. Identificamos uma prevalência de

ações balizadas por uma visão organicista de sujeito, de memória e de linguagem.

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Entendemos que as visões acima referidas são compatíveis com a

tradicional relação estabelecida pela Fonoaudiologia com a Clínica Médica, no

caso específico, com a neurologia. É preciso dizer que a tradição de atendimento

de sujeitos afásicos na clínica fonoaudiológica se faz presente nos trabalhos

revisados, na medida em que não há distinção entre manifestações lingüísticas na

demência e manifestações afásicas. As estratégias e intervenções terapêuticas

apresentadas pelos autores, a nossos ver, buscam detectar o que se mantém

preservado e o que está alterado na linguagem dos sujeitos em processo

demencial, no intuito de minimizar os efeitos progressivos da demência.

Sobre a escrita o trabalho de Mansur, Carthery, Caramelli e Nitrini

(2005) afirmam que a agrafia quase sempre está presente nos casos de D.A. e

evolui de acordo com a progressão da doença. Segundo os autores, os portadores

de D.A. podem apresentar “déficits ortográficos, motores e práxicos para a

escrita.”.

Para finalizar, é preciso considerar que o(s) instrumento(s) utilizado(s) para

avaliação de linguagem dos sujeitos deveria ser explicitado pelos autores na

medida em que determina os achados clínicos e sua interpretação.

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CAPÍTULO 3 – A LEITURA

Roxane Rojo (2004), em artigo sobre letramento e capacidades de leitura

para cidadania, afirma que ler envolve diversos procedimentos e capacidades

(perceptuais, práxicas, cognitivas, afetivas, sociais, discursivas, lingüísticas), todas

dependentes da situação e das finalidades de leitura, algumas delas

denominadas, em algumas teorias de leitura, estratégias (cognitivas,

metacognitivas).

Relata que o conhecimento sobre o conjunto de capacidades que são

requeridas nas diversas práticas de leitura vem crescendo acentuadamente com o

desenvolvimento das pesquisas e teorias sobre leitura que tiveram lugar da

segunda metade do século passado até hoje. Afirma que, nos últimos 50 anos,

acumulou-se muita informação a respeito.

A autora analisa o desenvolvimento de pesquisas e estudos sobre o ato de

ler, destacando que até a segunda metade do século passado os estudos

estiveram centrados nas capacidades de decodificação do texto. Refere que, com

o desenvolvimento desses estudos, muitas outras capacidades nele envolvidas

foram sendo apontadas e desveladas: capacidades de ativação, reconhecimento e

resgate de conhecimento, capacidades lógicas, capacidades de interação social

etc.

A leitura passa, primeiro, a ser enfocada não apenas como um ato de decodificação, de transposição de um código (escrito) a outro (oral), mas como um ato de cognição, de compreensão, que envolve conhecimento de mundo, conhecimento de práticas sociais e conhecimentos lingüísticos muito além dos fonemas. (ROJO, 2004)

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Pondera que num primeiro momento tratou-se da compreensão do texto, do

que nele estava posto, ou pressuposto. Afirma que nesta abordagem, cujo foco

estava no texto e no leitor, na extração de informações do texto, descobriram-se

muitas capacidades mentais de leitura, que foram denominadas estratégias

(cognitivas, metacognitivas) do leitor. Prossegue afirmando que posteriormente

passou-se a ver o ato de ler como uma interação entre o leitor e o autor. Segundo

a autora, o texto deixava pistas da intenção e dos significados do autor e era um

mediador desta parceria interacional. Para captar estas intenções e sentidos,

conhecimentos sobre práticas e regras sociais eram requeridos.

Rojo acrescenta que mais recentemente, a leitura é vista como um ato de

se colocar em relação um discurso (texto) com outros discursos anteriores a ele,

emaranhados nele e posteriores a ele, como possibilidades infinitas de réplica,

gerando novos discursos/textos.

O discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo, dependentes do lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles – finalidades da leitura e da produção do texto, esfera social de comunicação em que o ato da leitura se dá. Nesta vertente teórica, capacidades discursivas e lingüísticas estão crucialmente envolvidas. (ROJO, 2004)

A autora defende que diferentes tipos de letramento, diferentes práticas de

leitura, em diversas situações, exigem diferentes combinações de capacidades de

várias ordens. Destaca e apresenta minuciosamente três conjuntos de

capacidades convocadas para a compreensão do texto e suas complexas

estratégias, procedimentos e atividades. São elas: capacidades de decodificação

capacidades de compreensão (estratégias) e capacidades de apreciação e réplica

do leitor em relação ao texto (interpretação, interação).

Rojo ainda ressalta que:

Mais recentemente, a leitura é vista como um ato de se colocar em relação um discurso (texto) com outros discursos anteriores a ele,

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emaranhados nele e posteriores a ele, como possibilidades infinitas de réplica, gerando novos discursos/textos. O discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo, dependentes do lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles – finalidades da leitura e da produção do texto, esfera social de comunicação em que o ato da leitura se dá. Nesta vertente teórica, capacidades discursivas e lingüísticas estão crucialmente envolvidas. (ROJO, 2004)

Oye e Ribeiro (2001), em trabalho de conclusão de curso sobre a leitura na

clínica fonoaudiológica, afirmam que três grandes linhas de pensamento movem

os estudos sobre a leitura. A primeira refere-se ao processo de produção de leitura

apoiado “numa visão da linguagem escrita como uma codificação da linguagem

oral” (2001: 09). Nesta visão, denominada associacionista, existem alguns pré-

requisitos, habilidades lingüísticas, perceptuais e motoras, para produção de

leitura, a saber: imagem corporal (conhecimento adequado do corpo),

conhecimento de direita e esquerda, orientação espacial, orientação temporal,

ritmo, análise-síntese visual e auditiva, habilidades visuais específicas (percepção,

constância de percepção de forma e tamanho, percepção de figura-fundo,

memória visual, acompanhamento visual).

A segunda linha de pensamento, refere-se ao processo de produção de

leitura como uma atividade cognitiva, nesta abordagem

(...) abdica-se de uma concepção da leitura como decodificação que, como tal, depende fortemente dos aparatos motor e perceptual, para se adotar uma visão da leitura como processamento cognitivo. Assim, o aparato cognitivo e sua determinação para o processo de leitura é que é primordial e, como tal, as estratégias dele dependentes serão discutidas exaustivamente. (OYE & RIBEIRO, 2001: 12).

Segundo as autoras, nesta perspectiva, o ato de ler ocorre através do

processamento de informações que tem início nos olhos:

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Durante a leitura, o movimento ocular não é linear, é sacádico, pois os olhos fixam-se em um lugar do texto, pulam um trecho e fixam-se novamente num ponto mais adiante. Isto permite uma leitura muito rápida indicando que a grande parte do material que lemos é adivinhada e não realmente percebida por nós, sendo assim a leitura um jogo de adivinhações. (OYE e RIBEIRO, 2001: 23).

Kleiman (2004) em Texto e Leitor: Aspectos cognitivos da leitura, discute os

conhecimentos mobilizados para a compreensão de um texto. Segundo a autora:

A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. (2004: 13)

A autora ainda destaca que a ativação do conhecimento prévio é essencial

para a compreensão, uma vez que permite que o leitor faça inferências

necessárias para relacionar diferentes partes do texto de forma coerente.

Como se vê, durante a leitura, vários conhecimentos são convocados de

maneira quase imperceptível pelo leitor que, só se dá conta da sua falta de

repertório, quando a compreensão do texto é afetada. Fica evidente, então, a

importância do conhecimento prévio para a compreensão do texto.

Para Kleiman (2004), “A procura da coerência seria um princípio que rege a

atividade de leitura e outras atividades humanas”. (KLEIMAN, 2004: 29). Assim,

através de várias pesquisas, a autora concluiu que a “nossa capacidade de

processamento e de memória melhoram significativamente quando é fornecido um

objetivo para uma tarefa” (KLEIMAN, 2004: 29). A autora também destaca que os

objetivos são propulsores da formulação de hipóteses numa leitura. Ou seja,

lemos melhor quando temos objetivos específicos em nossa leitura.

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(...) a leitura com objetivos bem definidos permitirá lembrar mais e melhor aquilo lido. A capacidade de estabelecer objetivos na leitura é considerada uma estratégia metacognitiva, isto é, uma estratégia de controle e regulamento do próprio conhecimento. (...) Também a estratégia metacognitiva implica uma reflexão sobre o próprio conhecimento (...) Esse conhecimento metacognitivo é desenvolvido ao longo dos anos de uma pessoa (...). (KLEIMAN 2004: 30)

O intercâmbio e o resgate de conhecimentos que a leitura de textos

proporciona ao leitor, permitem uma reflexão sobre o que esta atividade poderia

proporcionar no cuidado fonoaudiológico com sujeitos demenciados. A própria

autora, inclusive, destaca o exercício de rememoração necessário para esta

atividade:

O mero passar de olhos pela linha não é leitura, pois leitura implica uma atividade de procura por parte do leitor, no seu passado, de lembranças e conhecimentos, daqueles que são relevantes para a compreensão de um texto que fornece pistas e sugere caminhos, mas que certamente não explicita tudo o que seria possível explicitar. (KLEIMAN, 2004: 27)

Brakling (2004), afirma considerar a leitura como prática social e histórica,

não apenas cognitiva. O leitor competente, portanto, deve “saber utilizar nas

práticas sociais de leitura e de escrita as estratégias e procedimentos que

conferem maior eficácia ao processo de produção e atribuição de sentidos aos

textos”. (BRAKLING, 2004)

BRAKLING (2004) aponta as estratégias que usamos na leitura. São elas:

a) Ativação de conhecimento prévio sobre qualquer informação relacionada

ao texto.

b) Antecipação das informações contidas ao longo o texto.

c) Inferências, ou seja, quando lemos para além do que está no texto.

d) Localização de conteúdos presentes no texto.

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e) Conferir e validar se as inferências e antecipações estavam corretas.

f) Sintetizar informações.

g) Estabelecer relações entre os diferentes elementos do texto

h) Estabelecer relações entre o que contém o texto e o que sabemos de

outros conteúdos e experiências.

A autora também destaca o papel dos objetivos traçados durante uma

leitura. Para ela, a maneira que lemos um texto depende dos objetivos e

finalidades que norteiam a leitura. Nós podemos ler para ter uma informação

específica, geral, para seguir instruções, para aprender, para revisar, para

construir repertório, para reler oralmente, para praticar a leitura em voz alta, para

interpretar, para verificar se houve compreensão ou até mesmo por prazer

estético.

A partir dos nossos objetivos na leitura do texto decidimos o tipo da leitura a

se fazer, que pode ser: integral, inspecional, tópica, de revisão, item a item ou

leitura expressiva.

Seguindo ainda esta concepção, publicação do Programa Prazer em Ler

(2006), planejado, organizado e implementado por Instituto de promoção social,

em parceria com organizações da sociedade civil e o poder público, que surgiu

com o intuito de promover a leitura no Brasil, traz contribuições para a

compreensão da leitura como interação.

A primeira publicação resultante deste projeto explicita o intuito do

programa que concebe a leitura como fundamental a construção do sujeito

cidadão e como via de acesso ao conhecimento e à cultura. Neste sentido, a

leitura é tida como a chave para que inúmeras possibilidades possam emergir

social, cultural e subjetivamente.

O texto nos traz uma reflexão sobre as incongruências da sociedade atual

que, apesar da existência de recursos tecnológicos cada dia mais evoluídos,

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questões simples como fome, miséria, saúde e educação permanecem sem

solução. Dessa forma, a leitura se insere como contraponto reflexivo à sociedade

em que vivemos. Surge como meio de ação no mundo, possibilitando àquele que

a domina uma visão crítica e não-alienada dos acontecimentos da sociedade.

Leitura é um exercício lingüístico, uma prática que se dá dentro da língua, esta construção simbólica quase perfeita dos homens. Pela língua, com a língua e na língua o homem se comunica com outros, transfere emoções, desloca sentimentos, pensa, constrói e reconstrói significados, situa-se e dá sentido à sua vida. Falando, ouvindo, escrevendo, lendo e assim pensando. (PRAZER EM LER, 2006: 17).

Como, então, esta atividade, aparentemente individual e solitária,

proporcionaria benefícios tamanhos capazes de mudar a forma como um sujeito

se coloca no mundo? A publicação nos mostra que:

A leitura é um ato solitário em sua aparência exercido por um sujeito que tenha vontade ou necessidade de ler. Claro, esse sujeito de intencionalidade não está isolado no mundo e leva para a experiência de leitura, além de sua vontade ou necessidade, sua decisão, suas experiências de outras leituras, sua visão de mundo, seus objetivos, suas perguntas e respostas, seus saberes prévios sobre o texto, sobre a leitura, sobre o autor. Ou seja, apesar de ser um ato solitário, a leitura está contextualizada por outras mediações, além daquelas do leitor e do texto: por toda a produção cultural, social e histórica, do momento em que ela ocorre. (PRAZER EM LER, 2006:18).

Ou seja, a leitura envolve uma série de domínios outros que a

proporcionam um caráter sociabilizador. Através da leitura, conhecimentos,

saberes culturais, sociais e leituras anteriores, questões subjetivas e a busca

incessante pelo sentido estão articulados, fazendo desta atividade um exercício

reflexivo que excede (ou deveria exceder) à simples decodificação de símbolos.

É importante, porém, compreender que a visão da leitura como processo de

decodificação dos símbolos lingüísticos, não é incorreta. O que se pretende é a

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valorização de uma perspectiva que ultrapasse as vias da decodificação e alcance

a noção de leitura como “processo de interação, diálogo, conversa com o mundo,

tendo em vista a sua compreensão” (PRAZER EM LER, 2006:20). Assim,

É com base nessa compreensão mais ampla do que seja leitura que se pode afirmar:

• ler é construir significados a partir de/sobre os significados já existentes;

• pode-se ler tudo que comporte significados, quaisquer fatos, experiências, sons, gestos, movimentos, muito além dos textos escritos impressos ou eletrônicos, e

• propor a aprendizagem da leitura e estimular práticas competentes de leitura não é tarefa exclusiva da escola, mas de toda a sociedade, de qualquer nação que se queira leitora e cidadã (é nesse sentido que se pode falar de política pública para a leitura). (PRAZER EM LER, 2006: 20).

Numa perspectiva semelhante, acreditando na contribuição da análise do

discurso para uma reflexão sobre o processo de leitura, tomando-a como uma

forma de conhecimento da linguagem, segundo Orlandi (2006), não é possível

distinguir condições de produção e de recepção do discurso. Ou seja, nesta visão:

(...) embora, de fato, o momento da escrita de um texto e o momento de sua leitura sejam distintos, na escrita já esta inscrito o leitor e , na sua leitura, o leitor interage com o autor do texto. Por isso preferimos falar, em geral, em condições de produção de um texto, considerando que estas condições incluem um locutor e um receptor. Daí, então, se poder falar, sem que isto pareça estranho, em condições de produção da leitura do texto. Nossa perspectiva é, pois, a de que a leitura é produzida. (ORLANDI, 2006: 180)

Assim, a leitura é o lugar de interação entre falante e ouvinte, autor e leitor,

no qual a relação entre interlocutores é um dos fatores que constituem o processo

de leitura. A leitura é o momento privilegiado da interação verbal. (ORLANDI,

2006).

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Tendo em vista o papel ativo e interativo do leitor perante um texto, o

julgamento que ele faz em relação à legibilidade deste, segundo a autora, varia

em uma oposição básica: o texto é bem escrito/ o texto não é bem escrito,

acarretando a compreensão ou não compreensão deste texto. Orlandi também

destaca que “é preciso se considerar, no âmbito da legibilidade, a relação do leitor

com o texto e com o autor, a relação da interação que a leitura envolve”.

(ORLANDI, 2006:183)

Orlandi (2006) aponta que, em relação às condições de produção de leitura,

existem várias formas de leitura e que esta é seletiva. A autora caracteriza as

diferentes formas de leitura da seguinte maneira:

A) o que tem relevância para o leitor é a relação do texto com o autor (seria,

por exemplo, o modo de leitura que responde à questão: “o que o autor quis

dizer?”);

B) a relevância é a da relação do texto com outros textos (seria, por

exemplo, a leitura comparativa);

C) a relevância é a da relação do texto com o seu referente (seria, por

exemplo, a leitura que responde à questão: “o que o texto diz de x?”);

D) a relevância é a da relação do texto com o leitor (seria a explicitação do

papel do leitor, respondendo à questão: “o que você entendeu?”) (ORLANDI,

2006: 184).

Outro aspecto de condição de produção de leitura refere-se à questão do

contexto, não lingüístico, mas textual. Assim, considera-se o texto em sua

totalidade, sem os elementos que unificam o processo de leitura, “não há o

distanciamento necessário para a leitura, e o leitor perde o acesso ao sentido”.

(ORLANDI, 2006: 185). Nesta perspectiva,

(...) a não compreensão do texto se deve também ao fato de não se poder voltar atrás e refazer percursos, quando não há distância suficiente. O que, em suma, significa dizer que, sem distância não

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se pode apreender um texto em sua totalidade não há acesso ao sentido do texto. (ORLANDI, 2006: 185).

Como se vê, nesta visão, a questão da compreensão não se dá, apenas, ao

nível da informação, a leitura é o momento crítico da constituição do texto

(ORLANDI, 2006).

OYE & RIBEIRO (2001) referem que a leitura, fundamentada a partir de

diversos pressupostos teórico-metodológicos, é bastante utilizada nas práticas

fonoaudiológicas que estão, em sua maioria, voltadas para reabilitação dos

transtornos de leitura e escrita, freqüentemente apresentados por crianças e

adolescentes, afirmam que atuação está focada na concepção associacionista de

leitura, uma vez que relaciona as alterações de leitura a comprometimentos e

alterações perceptuais.

As autoras apontam que uma concepção sócio-contrutivista de leitura, na

qual a leitura vai além da decodificação de letra e identificação de sentenças

gramaticais, pressupõe que as atividades fonoaudiológicas realizadas visem à

conversa, discussão e construção de conhecimento sobre um texto valorizando as

diversas leituras realizadas, que podem ser realizadas pelo sujeito.

Enfim, tendo em vista as considerações de Rojo acerca do processo de

leitura como ato de se colocar em relação um discurso com outros discursos,

gerando novos textos, bem como a complexidade de estratégias e capacidades

envolvidas nesta atividade, é importante buscar articular a perspectiva discursiva

de leitura e a atuação fonoaudiológica com sujeitos demenciados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visando o objetivo citado na introdução deste trabalho – “investigar o

estatuto atribuído à leitura nos casos de demência” - é de extrema importância que

deixemos esclarecido, que não pretendemos aqui, julgar os estudos e pesquisas

realizados acerca da questão, mas, sim, oferecer aos fonoaudiólogos uma revisão

bibliográfica que possa desencadear outras pesquisas e reflexões .

Apresentamos ao longo do trabalho estudos que focalizam a demência em

diferentes campos do conhecimento, fundamentalmente nas neurociêncais e na

psicanálise, buscando identificar as concepções de sujeito, memória e demência

presentes na literatura revisada. Destacamos os trabalhos de Goldfarb como

relevantes para a compreensão da função elaborativa da memória na constituição

da identidade e subjetividade. Acreditamos que a psicanálise pode oferecer

conceitos que permitam ampliar a noção da memória, para além de sua natureza

biológica. No mesmo sentido, a hipótese psicogênica da demência formulada pela

psicanálise deve ser considerada, sobretudo, pelos profissionais envolvidos no

diagnóstico das demências.

Os trabalhos de Iván Izquierdo, especialmente suas colocações sobre a

leitura como a melhor atividade para preservação da memória, motivação inicial

deste trabalho, indicam a necessidade de estudos interdisciplinares que tenham a

leitura e a demência como objeto de investigação, especialmente no campo

fonoaudiológico.

Em relação aos trabalhos fonoaudiológicos com sujeitos demenciados,

identificamos uma prevalência da visão organicista de sujeito, linguagem e

demência decorrente da tradicional relação com a clínica médica, particularmente

com os estudos da afasia na neurologia. Procuramos discutir as ações que vêm

sendo realizadas no campo fonoaudiológico com sujeitos em processo demencial,

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particularmente aquelas voltadas à linguagem. A relação de sinonímia entre os

termos linguagem e comunicação empregados, de forma indistinta, nos trabalhos

revisados merece (re) significação. Entendemos que a perspectiva discursa

concebe a linguagem como efeito de sentido não como transmissora de

informação, tornando,assim, a comunicação uma conseqüência. Os processos de

significação estão relacionados às condições de produção discursivas,

estabelecidas por um contexto histórico e social, são marcas da subjetividade. O

que se diz não resulta somente da intenção de comunicar, mas, sobretudo, da

intenção de se propor como sujeito.

A revisão dos estudos lingüísticos sobre a leitura pretendeu oferecer

conceitos que permitam compreender a leitura não restrita à decodificação de

sinais gráficos. Entendemos que conceber a leitura como processo interativo

possa descortinar perspectivas de atuação fonoaudiológica com sujeitos

demenciados, para além da identificação de sintomas e alterações.

Esperamos que este trabalho possa contribuir para o debate teórico

dinâmico e em processo, não temos a pretensão de oferecer achados e

conhecimentos definitivos a respeito da atuação fonoaudiológica nos quadros de

demência. Buscamos, sim, oferecer a possibilidade de continuidade de estudos e

o desenvolvimento de ações que considerem que a leitura como atividade de

prevenção e, quem sabe, recuperação da memória.

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