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Sobre memória de um cacique indígena
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Anais do XI Encontro Internacional da ANPHLAC 2014 Niteri Rio de Janeiro
ISNB 978-85-66056-01-3
Memria e esquecimento do cacique Mateo Pumacahua no
bicentenrio da independncia do Peru
Jaime de Almeida*
Os caciques Tpac Amaru e Mateo Pumacahua enfrentaram-se durante
a Grande Rebelio (1780-1781). O primeiro, embora reivindicasse ser
descendente de Beatriz Clara Coya (neta de Manco Capac, filha de Sayri
Tpac e meia-irm de Tpac Amaru), casada com o nobre espanhol Martn
Garca de Loyola, (por isto ele autonomeou-se Tpac Amaru II durante a
rebelio), no estudou no colgio San Borja destinado aos ndios nobres e
filhos de caciques, no conseguiu ser reconhecido como o legtimo herdeiro do
Marquesado de Oropesa e sua rebelio foi combatida pela nobreza incaica. O
segundo reivindicava ser descendente do inca Huayna Capac (e reforou tal
pretenso casando suas filhas Polonia e Ignacia com descendentes oficiais
daquele), foi aluno do colgio de San Borja e era oficial do Regimento de ndios
Nobres de Cusco, embora no integrasse a mais elevada elite quchua,
representada pelos 24 Eleitores do Cabildo Inca.1
Por sua decisiva participao em defesa da ordem, o cacique Mateo
Pumacahua conseguiu maior ascenso social e econmica. Adquiriu
propriedades, tornou-se um mecenas oferecendo festas e construindo obras
pblicas. Quando, em consequncia da ocupao da Espanha por tropas
francesas e do sequestro da famlia real por Napoleo Bonaparte, formaram-se
juntas nas principais cidades da Pennsula e da Amrica em defesa da
monarquia espanhola, o brigadeiro Mateo Pumacahua participou da represso
desencadeada pelo vice-rei do Peru Jos Fernando de Abascal contra as
tropas revolucionrias enviadas pela junta patritica de Buenos Aires ao Alto
Peru, sendo nomeado coronel do Regimento de Milcias de Infantaria de ndios
Nobres de Cusco. Dentre a nobreza ndia do continente, Mateo Pumacahua foi
quem alcanou o mais elevado cargo poltico da monarquia espanhola,
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atuando como governador intendente e presidente da Audincia de Cusco (em
1807 e de setembro de 1812 a maio de 1813).2
Em agosto de 1814 o velho cacique aderiu ao projeto autonomista do
Ayuntamiento de Cusco que exigia da Audincia a aplicao da Constituio
liberal promulgada em Cdiz em 1812 e integrou a Junta de Governo de Cusco
organizada pelos irmos Jos e Vicente Angulo. A rebelio se difundiu por
grande parte das provncias de Cusco e Charcas e foi violentamente reprimida
pelo vice-rei Abascal. O cacique Mateo Pumacahua, derrotado na batalha de
Umachir, foi preso, julgado e enforcado (em seguida foi decapitado e
esquartejado) em Sicuani, em maro de 1815.
A perpetuao da memria de Mateo Pumacahua foi objeto de um dos
primeiros decretos do Congresso Constituinte do Peru (6 de junho de 1823),
inscrevendo-o no rol dos Benemritos da Ptria.3 A maior parte de sua famlia
escapara dos rigores da represso; suas filhas podiam apelar memria de
seu martrio e os homens da famlia podiam eleger-se deputados. Aqui se
encontra um fio de continuidade a ser reconstitudo, a presena de seus
descendentes em cargos polticos e honrarias.
Um fragmento das memrias de Daniel OLearyindicaqual era a
percepo intelectual e afetiva de Simn Bolvar e seu crculo acerca da
historicidade do Peru e seus grandes personagens indgenas, em que se
destacam Tupac Amaru e Mateo Pumacahua:
La ciudad del Cuzco puede, en verdad, llamarse la Roma de Amrica.
Su historia, sus fbulas encantan. La inmensa fortaleza del lado del
norte, es el Capitolio; el templo del sol, su coliseo; Manco Cpac fue
su Rmulo; Viracocha, su Augusto; Huscar, su Pompeyo, y
Atahualpa, su Cesar. Los Pizarros, Almagros, Valdivias y Toledos son
los hunos, godos y cristianos que la destruyeron; Tupac-Amaru es su
Belisario que le dio un da de esperanza; Pumacahua, su Rienzi y
ltimo patriota.4
As memrias de Luis Valcrcel, nascido em 1891, evidenciam a forte
presena de Mateo Pumacahua na paisagem urbana, nas vizinhanas e na
cultura oral de Cusco dos incios do sculo XX. A comemorao do centenrio
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de Pumacahua (sic) ocorreu na poca em que ele compunha, com um grupo
de colegas vinculados greve estudantil de 1909e em sintonia com o novo
reitor da Universidade, Alberto Giesecke, o que veio a se chamar a escola
cusquenha, comuma decidida proposta indigenista. O grupo publicou em
memria de Pumacahua uma srie de documentos inditos de um cartrio
local, no primeiro (e nico) nmero da revista que criaram chamada Nuestra
Historia. O contexto em que atuavam foi assim lembrado por ele:
En los comienzos de la 'escuela cusquea' el llamado problema
indgena se reduca a la defensa del indio. Esa actitud tiene, como se
sabe, antecedentes lejanos en nuestra historia, pero que en esa
poca nos eran casi desconocidos. Es curioso comprobar que por
entonces no exista la menor preocupacin por figuras histricas de
tanta relevancia como el padre Las Casas y Tpac Amaru y no se
haba valorado el aspecto indigenista de la obra de Garcilaso. A la
labor de defensa del indgena que ellos y otros personajes realizaron
no se le conceda el mnimo valor. A nosotros, catedrticos y alumnos
indigenistas, nos toc rescatar esas figuras y darles el reconocimiento
que merecan. As, por ejemplo, en 1914 hicimos un homenaje a
Pumacahua, en ocasin del primer centenario de su alzamiento, y en
1916 el Instituto Histrico del Cusco, compuesto por intelectuales y
profesores universitarios, celebr el tricentenario de la muerte del
Inca Garcilaso de la Vega. En los aos posteriores se han dado
significativas muestras de gratitud a estos personajes tanto tiempo
olvidados.
Luis Valcrcel tambm relata que um grupo de estudantes da Faculdade
de Letras representou o drama quchua do sculo XVIII "Usca Paucar" no
centenriode Pumacahua: El hecho de que hubiese obras en quechua atraa
tambin a la gente humilde. 5 Enquanto isso, ocorria um fenmeno
surpreendente a apropriao das memrias de Mateo Pumacahua e Tpac
Amaru, numa perspectiva milenarista,por ndios convertidos ao adventismo e
por crculos anarquistas em ao na regio andina de Cusco:
Qu se puede esperar de la trinidad monstruosa del Estado, la
iglesia y el capital? que de jesuitas inquisidores y sanguinarios
descendientes de un fraile y un soldado asesinos de Atahualpa,
Tupac Amaru y Pumacahua?6
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A criao do Parque Pumacahua (1916), e a inaugurao do Arco de
Pumacahua (1918) em Sicuani, local em que o cacique fora executado, embora
certamente imbudas de um sentido nacionalista oficial, no devem ter deixado
de alimentar, junto a alguns crculos plebeus da regio, o sentido contestatrio
que assim se manifestava na imprensa anarquista:
[] Soy de la estirpe de los hijos del trabajo
mi abolengo viene desde abajo.
Soy de la raza que subyugaron ibricos ladrones,
soy de la raza sojuzgada por repblicas mandones.
Es mi orgullo ser indio y tener la rebelda,
de Cahuide, Tpac Amaru y Pumacahua [...]
Es mi orgullo ser indio y ser anarco7.
O Centenrio privilegiou a memria hispnica e criolla das elites; mas
Tpac Amaru e Mateo Pumacahua foram includos no conjunto de heris da
ptria peruana por meio de placas com seus nomes no Panten de los
Prceresem 29/06/1921 (centenrio da independnciatrazida pelas tropas
platinas e chilenas de San Martn e Thomas Cochrane) e inaugurado
precisamente em10/12/1924 (centenrio da batalha de Ayacucho vencida por
tropas bolivarianas e platinas comandadas por Sucre).
A histria do Panteo, lugar de memria excepcional, apresenta ciclos,
em cada ciclo so incorporados novos heris. Nesse momento inicial de
panteonizao,parece que os dois caciques foram colocados em p de
igualdade do ponto de vista de status. Com o acmulo progressivo de
personagens (atualmente, j so mais de 500) e, principalmente, com a
variao das formas de representao/exposio que definem e hierarquizam
graus de status (placas, efgies, bustos, esttuas, cenotfios, etc.), atualmente
notvel a diferena das atenes dispensadas memria dos dois caciques.
Mateo Pumacahuasegue representado sob formas hierarquicamente mais
simples: uma placa com seu nome e, mais recentemente, um busto.8
Quanto panteonizao do cacique Tpac Amaru, alm do busto e
esttua(s) que a se encontram,ser necessrio acompanhar a tramitao do
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Projeto de Lei n. 2885/2013-CR, recentemente apresentado ao Congresso da
Repblica pela Comisso de Cultura e Patrimnio Cultural. Esse projeto
prope, para a comemorao do Bicentenrio da Independncia do Peru em
2021, o reconhecimento oficial da gesta emancipadora de Tpac Amaru e
Micaela Bastidas, a entronizao de seus bustos em vrios locais pblicos
importantes (inclusive, apesar de que ali j esto, no Panteo) e a construo
de um Mausolu Nacional.9
Retornemos ao contexto do Centenrio, cuja data central o 28 de
julho, no ambiente serrano em torno de Cusco, para retomar o tema das
apropriaes utpicas das figuras de Mateo Pumacahua e Tpac Amaru por
anarquistas e indgenas. 10 Desde 1919, membros do Comit Pr-Direito
Indgena Tahuantinsuyo passaram a atuar junto aos ndios das provncias altas
de Cusco. Prometiam outros tempos, "o renascimento do Imprio do
Tahuantinsuyo". Comeou a circular o rumor de que os ndios deviam liquidar
como cachorros os brancos e mestios infiltrados em seus povoados. O ponto
central de suas prticas rituais era a montanha do Apu Rumitaque onde eram
abenoados pelos seus paq'os (sacerdotes). Mensageiros divulgavam a
palavra de ordem: "alcotawan mistitawan khanka qaqapin wauhina
(o mestio, como o cachorro, se mata sobre rocha spera).
O 28/08/1921 Centenrio da Independncia foi anunciado como "el
da en que Rumitaque se sacudira para aplastar a los mistis". Os fazendeiros
deviam ser esquartejados como Tpac Amaru. Numa escaramua, uma
multido de ndios prendeu o lder dos mestios, Leopoldo Alencastre, e
lhe cortaram a lngua, arrancaram-lhe os olhos e os cabelos e esmagaram-lhe
os dedos. Na manh de 31 de julho, cerca de 2.500 ndios concentrados na
montanha Rumitaque enfrentaram com ferres de gado, fundas e pedras as
escopetas e revlveres dos mestios. O resultado dessa luta pela restaurao
do Tahuantinsuyo foi mais de 500 mortos, muitos feridos presos, o xodo para
as alturas ou para a selva.Mesmo sobo peso da represso e das represlias,
os sobreviventes e seus descendentes seguiriam evocando orgulhosamente as
batalhas do Apu Rumitaque, invocando os seus deuses ancestrais e
aguardando o retorno do Inca.O surto milenarista associado ao Centenrio
prosseguiu at1924 com as rebelies indgenas de Huaquira e Quiota.
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Um Manifesto aos ndios de Cusco assinado por um grupo que se
identificava como Os Filhos de Cahuide, em Sicuani (onde morreu o cacique
Pumacahua) no dia 28/08/1921 demonstra que o massacre recente no havia
intimidado os rebeldes. O manifesto conclua assim: No detenten las tierras!!
Puede llegar una hora bonita, seores propietarios!! Viva Pumacahua!11
Por sua vez, o historiador Carlos Wiesse explicitava em 1925 o discurso
oficial e hegemnico acerca da independncia do Peru; nele, a rebelio de
Pumacahua de 1814 aparece como um levantamento genuinamente nacional
cujo fracasso se explicaria pela desorganizao dos insurgentes e, sobretudo
pelas divises entre os ndios e sua falta de preparao.12 Assim, em contraste
com o protagonismo indisciplinado das massas indgenas do passado e do
presente, Mateo Pumacahua sobressaa como um membro legtimo das elites
cuja memria merecia ser recuperada na comemorao.
muito sugestiva a forma como a memria de Mateo Pumacahua se
infiltrou no processo de reurbanizao de Lima promovido em funo do
Centenrio.13 A cinco quarteires da histrica Plaza Mayor que mantm at
hoje a sua centralidade poltica e religiosa, criou-se um novo polo urbano mais
moderno e conectado s novas dinmicas do comrcio, indstria, finanas,
transportes coletivos, etc.: a Plaza de San Martn, que foi inaugurada na
vspera do dia do Centenrio. A nova praa foi progressivamente rodeada por
edifcios construdos com os novos materiais e tcnicas da arquitetura
moderna, convertendo-se numa vitrine que antecipava o progresso da cidade e
do pas. Um desses edifcios o Portal de Pumacahua, que dialoga com outros
edifcios identificados com nomes de personagens relevantes da histria
nacional como o Portal de Zela homenagem ao prcer Francisco Antonio de
Zela (1768-1819) e revoluo de Tacna (1811); alm de evocar e afirmar, tal
como se fazia com Pumacahua, a participao dos prprios peruanos no
processo da independncia nacional, o Portal de Zela introduzia nesse
importantssimo lugar de memria o tema crucial das provncias ocupadas pelo
Chile ao final da Guerra do Pacfico e o Hotel Bolvar. Com seu elogiado estilo
neocolonial, a nova paisagem urbana materializava a leitura do passado
oficializada pelo Centenrio e pelo Oncenio do presidente Augusto B. Legua e
anunciava um futuro radicalmente oposto ao projeto anarquista andinizado de
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restaurao do Tahuantinsuyo. O escultor Luis Agurto produziu dois
expressivos medalhes em bronze retratando Pumacahua e Zela. O medalho
de Mateo Pumacahua foi inaugurado em 1933.
A cidade de Lima recebia dezenas de monumentos pblicos, muitos
deles doados pelas colnias de imigrantes estrangeiros bem sucedidos nos
negcios. A Sociedade Central Japonesa ofereceu um monumento a Manco
Cpac, o primeiro inca; o escultor David Lozano iniciou a obra em 1922. Com
mais de 5 metros de altura, o monumento seria inaugurado em 1926. Por sua
vez, Luis Agurto apresentou em 1924 um projeto de monumento a Tupac
Amaru, mas a iniciativa provocou apenas um prolongado debate acerca de
como o heri se vestiria.14Sem ignorar essa polmica, Jos Carlos Maritegui
que criticava a utopia do retorno ao Tahuantinsuyo abordou a questo de
como compreender Tpac Amaru no ensaio Lo nacional y lo extico:
El Per es todava una nacionalidad en formacin. Lo estn
construyendo sobre los inertes estratos indgenas, los aluviones de la
civilizacin occidental. La conquista espaola aniquil la cultura
incaica. Destruy el Per autctono. () Un artificio histrico clasifica
a Tpac Amaru como un precursor de la independencia peruana. La
revolucin de Tpac Amaru la hicieron los indgenas; la revolucin de
la independencia la hicieron los criollos. Entre ambos acontecimientos
no hubo consanguineidad espiritual ni ideolgica.15
Quatro anos mais tarde, Maritegui fez duas menes bastante
significativas ao cacique Mateo Pumacahua e no se referiu a Tpac Amaru
em sua mais importante obra. A primeira dessas referncias aparece no
segundo dos sete ensaios, O Problema do ndio, geralmente apontado como
o mais importante do conjunto da obra:
La Revolucin de la Independencia no constituy, como se sabe, un
movimiento indgena. La promovieron y usufructuaron los criollos y
aun los espaoles de las colonias. Pero aprovech el apoyo de la
masa indgena. Y, adems, algunos indios ilustrados como
Pumacahua, tuvieron en su gestacin parte importante. El programa
liberal de la Revolucin comprenda lgicamente la redencin del
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indio, consecuencia automtica de la aplicacin de sus postulados
igualitarios. Y, as, entre los primeros actos de la Repblica, se
contaron varias leyes y decretos favorables a los indios. Se orden el
reparto de tierras, la abolicin de los trabajos gratuitos, etc.; pero no
representando la revolucin en el Per el advenimiento de una nueva
clase dirigente, todas estas disposiciones quedaron slo escritas,
faltas de gobernantes capaces de actuarlas.La aristocracia
latifundista de la Colonia, duea del poder, conserv intactos sus
derechos feudales sobre la tierra y, por consiguiente, sobre el indio.
Todas las disposiciones aparentemente enderezadas a protegerlo, no
han podido nada contra la feudalidad subsistente hasta hoy.16
Est claro, portanto, que diferentemente da participao de Mateo
Pumacahua na revoluo de Cusco em 1814 a rebelio de Tpac Amaru tem
sua importncia e relevncia num outro contexto, totalmente alheio reflexo
mariateguiana acerca da independncia do Peru e, como veremos, da prpria
forja da nao peruana. Os leitores desavisados poderiam surpreender-se ao
encontrar a segunda referncia feita por Maritegui ao mais poderoso
adversrio de Tpac Amaru no ltimo dos seus famosos Sete Ensaios O
Processo da Literatura ,j que no se conhece nenhum texto literrio escrito
por Mateo Pumacahua. Para a compreenso do que desejamos destacar, a
transcrio precisa ser mais longa. Depois de criticar o carter exclusivamente
urbano e limenho da literatura do perodo colonial, Maritegui passa
imediatamente ao contexto da revoluo de 1814 em que atuaram o cacique
Pumacahua e o poeta Mariano Melgar:
El sentimiento indgena no ha carecido totalmente de expresin en
este perodo de nuestra historia literaria. Su primer expresador de
categora es Mariano Melgar. La crtica limea lo trata con un poco de
desdn. Lo siente demasiado popular, poco distinguido. Le molesta
en sus versos, junto con una sintaxis un tanto callejera, el empleo de
giros plebeyos. Le disgusta en el fondo, el gnero mismo. No puede
ser de su gusto un poeta que casi no ha dejado sino yaraves. ()
Por reaccin, no superestimo artsticamente a Melgar. Lo juzgo
dentro de la incipiencia de la literatura peruana de su poca. Mi juicio
no se separa de un criterio de relatividad.
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Melgar es un romntico. Lo es no slo en su arte sino tambin en su
vida. El romanticismo no haba llegado, todava, oficialmente a
nuestras letras. En Melgar no es, por ende, como ms tarde en otros,
un gesto imitativo; es un arranque espontneo. ()
Algunos yaraves de Melgar viven slo como fragmentos de poesa
popular. Pero, con este ttulo, han adquirido sustancia inmortal.
Tienen, a veces, en sus imgenes sencillas, una ingenuidad pastoril
que revela su trama indgena, su fondo autctono. La poesa oriental,
se caracteriza por un rstico pantesmo en la metfora. Melgar se
muestra muy indio en su imaginismo primitivo y campesino.
Este romntico, finalmente, se entrega apasionadamente a la
revolucin. En l la revolucin no es liberalismo enciclopedista. Es,
fundamentalmente, clido patriotismo. Como en Pumacahua, en
Melgar el sentimiento revolucionario se nutre de nuestra propia
sangre y nuestra propia historia.
Para Riva Agero, el poeta de los yaraves no es sino "un momento
curioso de la literatura peruana". Rectifiquemos su juicio, diciendo
que es el primer momento peruano de esta literatura.17
A primeira referncia feita por Maritegui a Mateo Pumacahua se insere
na problemtica marxista das infraestruturas, do modo de produo: o
Problema do ndio se d a ler aps o Esquema da Evoluo Econmica e abre
caminho para a leitura do Problema da Terra. J a segunda referncia est
inserida na abordagem das superestruturas, da formao histrico-social da
nao peruana. Maritegui poderia ter recorrido a muitos outros personagens,
paisagens ou processos sociais para contextualizar a obra potica de Mariano
Melgar; mas ao decidir associ-lo a Mateo Pumacahua, ele reforou a
importncia social e cultural que via na revoluo de Cusco para a formao
nacional peruana, em contraste com as limitaes que criticava, tanto na
grande rebelio de Tpac Amaru, quanto no desfecho oficial e criollo do
processo da independncia.
No ano seguinte publicao dos Sete Ensaios, o historiador Jorge
Basadre manifestou sua discordncia frontal em relao ao conceito de
comunismo inca proposto por Maritegui (Al comunismo inkaico -que no puede
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ser negado ni disminuido por haberse desenvuelto bajo el rgimen autocrtico
de los Inkas-, se le designa por esto como comunismo agrario) e tambm,
provavelmente, em relao a um texto acadmico recm-publicado na Frana
por Louis Baudin sobre o Imprio Socialista dos Incas: Muy poco o nada tiene el
socialismo doctrinario de nuestros das -o mejor dicho de los das del futuro- con el
socialismo pre-hispnico.18
E mais, em 1931, no ano em que se inaugurava em Sicuani um primeiro
monumento pblico em memria de Mateo Pumacahua, o mesmo Jorge
Basadre explicitou a diferena entre os dois caciques num captulo chamado
El planteamiento de la cuestin social y Jos Carlos Maritegui que comea
justamente com o subttulo TUPAC AMARU E PUMACAHUA:
Si podemos simpatizar con Tpac Amaru, tenemos que reflexionar
mucho sobre lo que hubiera ocurrido en el caso utpico de que
triunfase; con anhelante solidaridad, podemos seguir, en cambio, el
levantamiento de Pumacahua, desear su triunfo, lamentar su derrota
porque el xito de este levantamiento hubiese sido el xito del
Per fusionado, ni alejado de lo criollo como Tpac Amaru ni alejado
del indio como la Emancipacin sanmartiniana y bolivariana.19
Assim, tanto o discurso nacionalista da comemorao oficial quanto os
anarquistas (com notvel recepo indgena, como vimos), Maritegui, Basadre
eos apristas tendiam no somente a valorizar Tupac Amaru e Mateo
Pumacahua ao mesmo tempo mas, em certos casos, chegavam at mesmo a
atribuir a este ltimo um protagonismo histrico mais relevante.
Um primeiro ponto de inflexo ocorre em 1932 com a fundao do
Grupo Tpac Amaru na Argentina pelo intelectual marxista boliviano Tristn
Marof (Gustavo Adolfo Navarro Ameler, 1898-1979)com um programa radical
de luta contra a guerra do Chaco e pela unificao dos grupos antiimperialistas.
Cabe examinar se j se havia cogitado, nos crculos de esquerda e,
principalmente, no Comintern, da possibilidade de adotar Tpac Amaru como
cone da militncia comunista na Amrica do Sul. Ao que parece, como Tristn
Marof no se submeteu disciplina imposta pelo stalinismo e veio a ser um dos
fundadores do POR (Partido Obrero Revolucionario) trotskista na Bolvia, o
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Partido Comunista Peruano rigidamente controlado por Eudocio Ravines desde
1930 no teria maior interesse em apropriar-se da figura de Tupac Amaru,
enquanto se concentrava na atuao junto classe operria e na crtica aos
desvios pequeno-burgueses de todos os tipos.Por isto, somente a partir da
fundao do Partido Obrero Revolucionario (trotskista) no Peru em 1946
pouco depois que o Partido Comunista retornara s teses de Jos Carlos
Maritegui que o recurso memria e simblica de Tupac Amaru poderia
tornar-se uma alternativa possvel para os comunistas peruanos.
No entanto,a memria oficial permanecia evidentemente muito mais
identificada aos grandes personagens espanhis da Conquista e aos criollos
da Colnia e da Independncia. O momento mais solene da comemorao do
quarto centenrio da cidade de Lima, em janeiro de 1935, por exemplo, foi a
inaugurao de um monumento a Francisco Pizarro no trio da catedral. Por
sua vez, a partir da criao do Colgio Emblemtico Mateo Pumacahua em
Sicuani, em 1939, passou a existir um vnculo explcito entre uma parcela da
populao letrada peruana e a memria do cacique de Chincheros. O
intelectual indigenista Jos Mara Arguedas, por exemplo, a trabalhou como
professor (1939-1941) enquanto redigia a novela Yawar Fiesta.
Um novo ponto de virada se localizaria em 1942, quando Luis Valcrcel
e seu grupo da escola cusquenha comemoram o bicentenrio do nascimento
de Tpac Amaru; aparentemente, uma iniciativa bastante isolada. Logo mais,
basta comparar a quantidade de livros publicados a partir de meados da
dcada de 1940 para se perceber o crescimento do interesse pela rebelio de
Tupac Amaru no Peru e no mundo enquanto Mateo Pumacahua, em sua
situao ambgua de cacique realista em 1780 / cacique patriota em 1814, tal
como figurava nos livros didticos e no Panteo, permanecia praticamente
isolado em seus nichos locais de Cusco e Sicuani. Entre 1947 e 1957,
enquanto somente uma obra focalizava Mateo Pumacahua, publicaram-se trs
sobre Tpac Amaru, duas delas com circulao internacional.20
A recepo dessas novas obras com caractersticas acadmicas veio a
fazer-se num quadro marcado pela reabertura poltica do pas (1958) e pelo
impacto da revoluo cubana (1959).21 Os jovens militantes ou simpatizantes
do Partido Comunista e da APRA (Ao Popular Revolucionria Americana)
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que entravam a partir de agora num processo de radicalizao de suas
posies polticas retornando s questes originais formuladas por Jos Carlos
Maritegui e Haya de la Torre intensificaram a inquietao com a questo
indgena ou camponesa, conforme as suas leituras acadmicas e, em
certos casos, com a guerrilha. O primeiro movimento importante a atuao do
jovem universitrio Hugo Blanco junto ao movimento campons a partir de
1962 na regio de La Convencin, nas imediaes de Cusco.
Em 1964, ao final de muitas peripcias inaugurou-se o primeiro
monumento pblico em memria de Tpac Amaru, feito em bronze pelo
escultor Juan Bravo Vizcarra, na Plaza de Armas de Yanaoca. Parece que
esse primeiro monumento no tem atualmente muita visibilidade.22No mesmo
ano ocorre a apario pblica do movimento revolucionrio Tupamaros no
Uruguai; esta apropriao da memria de um cacique inca do sculo XVIII por
jovens tipicamente urbanos descendentes, em sua maioria, de imigrantes
europeus,atesta a expanso do processo de aproximao entre a nova
esquerda latino-americana e o indigenismo. Neste contexto, significativa a
apario de um primeiro agrupamento guerrilheiro peruano diretamente
identificado com o nome (e, provavelmente, com a simblica) de Tpac Amaru
em 1965, atuando na regio de Cusco e na serra central. Trata-se de um grupo
de militantes universitrios do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria,
uma dissidncia da ala esquerda do APRA) que foi duramente reprimido pelas
foras armadas; alguns de seus militantes haviam recebido treinamento
poltico-militar em Cuba; o saldo desse enfrentamento foi de cerca de 300
mortos, a includos os principais dirigentes do grupo guerrilheiro Tpac Amaru:
Luis de La Puente Uceda e Guillermo Lobatn. Aparentemente, esta
apropriao marcadamente poltica da memria de Tpac Amaru por jovens
intelectuais urbanos radicalizados no conseguiu adeso ou simpatia por parte
do campesinato ndio e mestio.23
O ponto de inflexo mais decisivo nesse processo em que estamos
tentando reconstituir os momentos de maior visibilidade / invisibilidade da
memria dos caciques Tpac Amaru e Mateo Pumacahua nas representaes
do passado peruano, especialmente em contextos comemorativos a
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espetacular oficializao de Tpac Amaru como o cone central da nao
peruana no dia 24/06/1969 pelo regime militar nacionalista dirigido pelo general
Juan Velasco Alvarado, que abria uma nova etapa do seu projeto de reformas
chamado Plano Inca.
Aqui se apresenta um tema fascinante por aprofundar, o dia 24 de junho
como lugar de memria. Numerosos especialistas j analisaram as tentativas
de colagem da festa mvel catlica do Corpus Christi festa solar incaica do
Inti Raymi desde os primeiros momentos da colonizao espanhola do Peru.24
Pareceque, aps a independncia e com a diminuio do poder eclesistico,
finalmente prevaleceu a associao mais evidente entre a festa andina do
solstcio de inverno do hemisfrio sul (Inti Raymi) e a festa crist do solstcio de
vero do hemisfrio norte (So Joo). O presidente Augusto Legua instituiu o
Dia do ndio a celebrar-se no dia 24 de junho por meio de um decreto supremo
a 23/05/1930. O intelectual cusquenhista Humberto Vidal Unda, futuro prefeito,
instituiu a festa local do Dia de Cusco no dia do Inti Raymi / So Joo de 1944,
com a presena do presidente Manuel Prado Ugarteche.
, portanto, mais que evidente a inteno do general-presidente Juan
Velasco Alvarado de imprimir extrema importncia cerimnia, amplamente
difundida por todos os meios de comunicao, em que anunciou a decretao
da Lei da Reforma Agrria (decreto n. 17716) no dia do Inti Raymi / So Joo /
do ndio / de Cusco em 1969. O general-presidente mandou preparar um
grande retrato de Tpac Amaru com os braos abertos rompendo as correntes
que os atavam e se colocou sua frente, para que a televiso, o cinema e as
fotografias dos jornais difundissem uma imagem inequvoca de ruptura com as
seculares estruturas de opresso dos ndios. A partir da, o retrato de Tpac
Amaru substituiu o de Francisco Pizarro no antigo Salo Pizarro do palcio de
governo.25
Por outro lado, o decreto n. 17718, anunciado na mesma data,
estabelecia que o dia 24 de junho passasse agora a ser chamado Dia do
Campons. Esta aparentemente simples substituio de nomes ajustava
contas com a face sombria da modernizao acelerada durante o Oncenio do
presidente Augusto Legua. Apesar de criar o Patronato da Raa Indgena e a
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Direo de Assuntos Indgenas no Ministrio de Fomento, e estabelecer o Dia
do ndio no dia 24 de junho, a principal atitude de Legua em relao ao
problema indgena fora a Ley de Conscripcin Vial logo apelidada mita
republicana que obrigava todos os ndios vares entre 18 e 60 anos a
trabalhar doze dias ao ano, sem remunerao, na construo de estradas que
passassem por seus vilarejos. Agora, o regime militar pretendia, com a reforma
agrria, transformar definitivamente os ndios (categoria tnica) em
camponeses (categoria sociolgica).
Abria-se agora o caminho para a monumentalizao de Tpac Amaru
que implicaria numa guerra de imagens que precisa ser pesquisada com
especial ateno. Uma lei previa desde 1966 a criao de um monumento
pblico em memria de Tpac Amaru na Plaza de Armas de Cusco; mas j
estava ali uma fonte com um monumento anacrnico em memria de
Atahualpa. Embora se tratasse de mera cpia de uma escultura genrica de
ndio importada dos Estados Unidos ao que parece, por iniciativa de Albert
Giesecke, que fora reitor da Universidade de San Antonio Abad e prefeito de
Cusco no incio do sculo isto no impedia que uma forte corrente da opinio
pblica da cidade manifestasse simpatia por ela. Na noite de 5/09/1969 (dois
meses aps o decreto da reforma agrria), um grupo de tupacamaristas
arrancou do seu pedestal a esttua-pastiche de Atahualpa.
Um novo decreto do governo militar reafirmou como questo de
interesse pblico a instalao de um monumento a Tpac Amaru na Plaza de
Armas de Cusco. Quase s vsperas da comemorao do Sesquicentenrio
da Independncia, a 29/10/1970 o mesmo grupo tupacamarista cometeu um
atentado similar contra o monumento a Mateo Pumacahua em Sicuani por
consider-lo traidor de Tpac Amaru. A reao emocional provocada por
esses atentados impediu que eles atingissem plenamente os seus objetivos.
Em Sicuani, a esttua de Pumacahua foi restaurada um tanto grosseiramente
sua cabea ficou ligeiramente inclinada para baixo. Em Cusco, a velha e
discutvel esttua de Atahualpa foi substituda por uma outra com uma
aparncia mais prxima do consenso estabelecido acerca de como representar
os imperadores incas.
Depois de trs concursos pblicos sem projeto aprovado, o escultor
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Joaqun Ugarte y Ugarte foi encarregado de executar o seu projeto de
monumento a Tpac Amaru. A inaugurao da enorme esttua equestre
(fundida em 1976) ocorreu quatro anos depois, durante a comemorao do
bicentenrio da grande rebelio, na praa Tpac Amaru que se decidiu
construir em 1979.26
Assim, o Sesquicentenrio da Independncia foi comemorado enquanto
a monumentalizao de Tpac Amaru ainda estava em curso; provvel que
os principais interessados apostassem na aproximao de outra efemride
muito mais significativa para os seus propsitos, os 200 anos da rebelio.
A bibliografia relativa ao Sesquicentenrio privilegia a intensificao da
disputa historiogrfica em torno do verdadeiro sentido da independncia. E
muito logicamente, a bibliografia que vem sendo produzida em funo do
Bicentenrio que se avizinha retoma esse debate colocando-o em perspectiva.
Um tema especfico a pesquisar so as polticas recentes relativas aos lugares
de memria e, mais especificamente, as polticas de memria diretamente
articuladas aos usos pblicos das imagens de Mateo Pumacahua e Tpac
Amaru.
No campo da discusso historiogrfica, sobressaem a importncia e os
prolongamentos do severo questionamento feito ao porre nacionalistaque
representou a gigantesca comemorao organizada pelo governo militar de
Juan Velasco Alvarado por um grupo de historiadores acadmicos em que se
destacou o jovem historiador Heraclio Bonilla:
En 1972 los historiadores Heraclio Bonilla y Karen Spalding, al
publicar trabajo tan original ("La Independencia en el Per: las
palabras y los hechos") en la obra colectiva publicada por el Instituto
de Estudios Peruanos "La independencia en el Per (Lima: .E.P
ediciones, 1972), que presenta traba os tanto o ms novedosos y
trascendentes como los de Pierre Chaunu, Tulio alperin Donghi, E.J.
obsbawm y Pierre ilar, causaron una gran conmocin en el mbito
intelectual vinculado al campo histrico al sostener, como idea
fundamental -hertica para aquellos tiempos- que el proceso de la
independencia peruana estuvo determinado ntegramente por
intereses extrarregionales, bsicamente por los intereses comerciales
y financieros de Inglaterra, de tal manera que la independencia no
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pod a ser analizada ni interpretada como un proceso interno, como
producto de un largo proceso de lucha por ella, sino que le fue
impuesta a los peruanos, quienes realmente no la deseaban, por no
convenirles la separacin con relacin a Espaa.27
Esse debate permanece em aberto e sempre se aprofunda explcita ou
implicitamente por ser o centro da reflexo acerca da prpria ideia de
historicidade da nao peruana, e j est voltando a inflamar-se em torno do
Bicentenrio que se avizinha. Um bom exemplo de que o interesse pelo tema
no se limita aos historiadores pode ser visto num vdeo recente em que o
deputado Manuel Dammert justifica o projeto de lei n. 2855/2013-CR, (j
mencionado) pela necessidade de enfrentar corrientes historiogrficas
conservadoras que pretenden borrar de la memoria el aporte de figuras
epnimas como la del cacique de Tungasuca.28 Pela nossa parte, interessa
identificar e avaliar os momentos e os modos de uso poltico da memria e da
imagem de Tpac Amaru e de Mateo Pumacahua.
Apesar da inequvoca ascenso de Tpac Amaru ao posto de cone
maior da nao peruana, promovida pelo regime militar nacionalista,
importantes setores de opinio sem questionar a importncia histrica do
personagem recusam o voluntarismo, o autoritarismo e o utopismo
frequentemente vinculados ao seu culto. Por outro lado, a radicalizao do
encontro entre o comunismo e o indigenismo a partir do encerramento do
governo militar radicalizao que conduziu ao surgimento do Sendero
Luminoso (cujo programa poltico-ideolgico conciliava o mariateguismo e o
maosmo) e do Movimento Revolucionrio Tpac Amaru esgotou-se ao final
de uma longussima e dura guerra suja que fez quase 70.000 vtimas, em sua
maioria ndios e mestios.
A historiografia peruana muito sofisticada, e convida-nos a comparar a
trajetria da memria de dois personagens importantes. O contraponto entre o
cacique Tpac Amaru cone maior de um processo que ultrapassa os limites
da histria peruana e o cacique Mateo Pumacahua, heri da independncia
do Peru pode contribuir ao questionamento da dimenso mtica pela
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historiografia crtica.
* Universidade de Braslia. Contato: [email protected]
1V. CAHILL, David. Nobleza, identidad y rebelin: los incas nobles del Cuzco frente a Tpac
Amaru (1778-1782) in Histrica, vol. 27, n. 1, 2003, pp. 9-49;ALAPERRINE-BOUYET, Monique. La educacin de las elites indgenas en el Per colonial. Lima: Institut Franais dEtudes Andines, 2007; GARRETT, David T. Shadows of Empire. The Indian Nobility of Cusco, 1750-1825. New York: Cambridge University Press, 2005, pp. 80, 84, 241. 2V. PERALTA, Luz & PINTO, Miguel. Mateo Pumacahua. En torno a la personalidad del
cacique de Chinchero. Lima: Seminario de Historia Rural Andina. Universidad Nacional Mayor de San Marcos; OP ELAN GODOY, Scarlett. Dionisio nca Yupanqui y Mateo Pumacahua: dos indios nobles frente a las Cortes de Cdiz (1808-1814) in ORREGO PENAGOS, Juan Luis; ALJOVN DE LOSADA, Cristbal; LPEZ Soria (comp.). Las independencias desde la perspectiva de los actores sociales. Lima: Organizacin de Estados Iberoamericanos para la Educacin, la Ciencia y la Cultura / Universidad Nacional Mayor de San Marcos / Pontificia Universidad Catlica del Per, 2009, pp. 93-104. 3V. HERRERA, Jos Hiplito. El lbum de Ayacucho: coleccin de los principales documentos
de la guerra de la independencia. Lima: Tipografa de Aurelio Alfaro, 1862, p. 246. A obra, com seu estilo comemorativo, situa-se no contexto do Cinquentenrio da Independncia. 4Cf. RUMAZO GONZLEZ, Alfonso. O'Leary, edecn del Libertador: biografa. Caracas:
EDIME, 1956, p. 121. 5VALCARCEL, Luis E. Memorias. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 1981, pp. 142-143 e
47. 6Fragmento do artigo La Raza nd gena in La Protesta n. 39, 1914 cf. KAPSOLI, Wilfredo.
Ayllus del Sol. Anarquismo y utopa andina. Lima: TAREA, 1984, p. 179. 7La Protesta n. 86, 1920, apud KAPSOLI, pp. 188-189.
8V. CASALINO SEN, Carlota Alicia. Los hroes patrios y la construccin del Estado-nacin en
el Per (siglos XIX y XX). (Tese de Doutorado). Lima: Universidad Mayor de San Marcos, 2008. 9"Ley que declara de importancia histrica e inters nacional el reconocimiento de la Gesta
Emancipadora de Tpac Amaru II y Micaela Bastidas en la celebracin del Bicentenario de la Independencia del Per" disponvel em http://www2.congreso.gob.pe/Sicr/ApoyComisiones/comision2011.nsf/DictamenesFuturo/CACC500489DBF8F005257CD30060FF7D/$FILE/CULTURA_2855-2013-CR_Txt.Fav.Sust.Mayor%C3%ADa.pdf [visitado em 7/08/2014). 10
KAPSOLI, W. op. cit. pp. 51-59; o autor se fundamenta emVALENCIA, Abraham. "Las Batallas de Rumitaque" in VALENCIA, A. et al. Homenaje al Bicentenario de la Rebelin Campesina de Thupa Amaro (1780-1980). Cusco: Centro de Estudios Andinos, 1980; VALDERRAMA FERNNDEZ, Ricardo & ESCALANTE GUTIRREZ, Carmen. Levantamiento de los indgenas de Huaquir y Quiota (1922-1924/Apurimac Cuzco). Lima: Imp. Miguel Angel Pinto, 1981; apud KAPSOLI, op. cit. p. 62. 11
El Tiempo, 17/10/1921 apud KAPSOLI, pp. 50-51. 12
ESP NOZA, Antonio. La ndependencia en los textos escolares peruanos, 1821-1921in MC EVOY, Carmen; NOVOA, Mauricio; PALTI, Elas (orgs.). En el nudo del imperio. Independencia y democracia en el Per. Lima: IEP, IFEA, 2012, p. 403. 13
A este respeito, cf. ORREGO PENAGOS, Juan Luis.Y Lleg el Centenario! Los festejos de 1921 y 1924 en la Lima de Augusto B. Legua. Lima: Titanium, 2014. 14
FLORES LEDESMA, Mara. "Mrmol y nacin: monumentos urbanos en el centenario de la independencia del Per (1921-1924)" in TRIM. Tordesillas Revista de Investigacin Multidisciplinar n. 3, 2011; VIUALES, Rodrigo Gutirrez. Monumento conmemorativo y espacio pblico en Iberoamrica. Madrid: Ctedra, 2004. 15
Publicado na revista Mundial, 9/12/1924. 16
MARITEGUI, Jos Carlos. Siete ensayos de interpretacin de la realidad peruana. Lima: Biblioteca de Amauta, 1928; o grifo meu. 17
MARIATEGUI, op. cit.; o grifo meu. 18
BASADRE, Jorge. Marx y Pachacutec in Nueva Revista Peruana n. 1, 1/08/1929, p. 21 apud David Sobrevilla in BASADRE, Jorge. Per, problema y posibilidad: y otros ensayos. Caracas: Biblioteca de Ayacucho, 1992, p. XXIII; BAUDIN, Louis L'Empire socialiste des Inka. Paris: Universit de Paris Travaux et mmoires de l'Institut d'Ethnologie V, 1928.
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19
BASADRE, Jorge. Per, problema y posibilidad: y otros ensayos. Caracas: Biblioteca de Ayacucho, 1992, pp. 121-122. A primeira edio de 1931. 20
VALCRCEL, Daniel, La Rebelin de Tupac Amaru. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1947; CORNEJO BOURONCLE, Jorge, Tpac Amaru. La revolucin precursora de la emancipacin continental. Cuzco: Universidad Nacional de Cuzco,1949; CORNEJO BOURONCLE, Jorge. Pumacahua: La revolucin del Cuzco de 1814. Cuzco: H. G. Rozas, 19 ; LEWIN, Boleslao. La rebelin de Tpac Amaru y los orgenes de la emancipacin americana. Buenos Aires: achette, 19 7. 21
Cf. PINHEIRO, Marcos Sorrilha. Utopia andina e socialismo na historiografia de Alberto Flores Galindo (1970-1990 (Tese de Doutorado). Franca: UNESP, 2009. 22
USCAMAITA HUAMN, Tefilo.Historia y odisea del primer monumento a Tupac Amaru. Lima: Universo, 1980. 23
PINHEIRO, Marcos Sorrilha, op. cit., pp. 37-38. 24
DEAN, Carolyn. Inka Bodies and the Body of Christ. Corpus Christi in Colonial Cuzco, Peru.Durham: Duke University Press, 1999;para um detalhado estudo crtico da bibliografia sobre esse tema, cf. GAREIS, Iris. "Los rituales del Estado colonial y las lites andinas" in Bulletin de l nstitut Franais dtudes Andines n. 37 (1), 2007, pp. 97-109. 25
V. LITUMA AGERO,Leopoldo. El verdadero rostro de Tpac Amaru (Per, 1969-1975). Lima: UNMSM y Pakarina Ediciones, 2011; LEONARDINI, Nanda. Identidad, ideologa e iconografa republicana en el Per inArbor: ciencia, pensamiento y culturaclxxxv/740, 2009, pp. 1259-1270. 26
TAMAYO HERRERA, Jos.La historia del monumento a Tpac Amaru. Lima: Comisin Nacional del Bicentenario de la Rebelin Emancipadora de Tpac Amaru, 1980. 27
PAREDES M., Jorge G. La independencia peruana un don forneo?Disponvel em http://www.monografias.com/usuario/perfiles/jgparedesm/monografias. V. um bom mapeamento das principais questes da disputa historiogrfica em torno da independncia em MORN RAMOS, Luis Daniel. Borrachera nacionalista y dilogo de sordos. eraclio Bonilla y la historia de la polmica sobre la independencia peruana in Praxis en la istoria. Revista del Taller de Estudios Histrico-Filosficos ao V n. 6, 2007, pp. 25-40. 28
Exposicin 'Tpac Amaru, la Independencia y el Bicentenario', por el congresista Manuel Dammert, disponibilizada emhttps://www.youtube.com/watch?v=8dYwZSOuLbU