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REPRESSÃO POLÍTICA E OS PRESÍDIOS DA DITADURA: PRESÍDIO TIRADENTES E PRESÍDIO CARANDIRU
Casa de correção, depósito de escravos, cadeia pública e cárcere político, o
Presídio Tiradentes foi inaugurado em 1852, foi fechado e demolido em 1973,
restando hoje apenas o arco de pedra de seu portal . Ainda durante o período
da ditadura, observamos uma geografia da repressão, tendo em vista a
localização do DEOPS, do Batalhão Brigadeiro Tobias e do Pres ídio
Carandiru – inaugurado em 1920 e tendo parte de sua construção demolida
em 2002.
Fazendo uma breve análise histórica sobre o espaço
carcerário encontramos dois conceitos fundamentais,
a saber: disciplinarização e repressão. A partir do
século XIX com a consolidação do sistema
capitalista, as sociedades passam por profundas
transformações quanto a sua organicidade gerando,
portanto uma sociedade disciplinar que abarca todas
as esferas da vida, seja na produção material, seja no
padrão comportamental. Portanto, quem não se
adequa a esse modus operandi passa a ser punido.
Ao retomarmos a constituição do sistema prisional
verificamos que havia um projeto disciplinar para os
cidadãos pertencentes às camadas empobrecidas,
muitos dos que eram presos se enquadravam no
estigma de vadios e arruaceiros. Com o início dos
regimes ditatoriais a ideia de disciplina vem atrelada a
repressão política, pois as ideologias contrárias as
politicas de estado não tinham espaço e já não cabia
apenas uma disciplinarização do modo de pensar e
agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que
fossem extintas.
Para compreendermos as lutas daqueles que não se
calaram contra aos governos opressores vivenciados
no Brasil, tanto no Estado Novo quanto no Golpe
de 1964, resgatamos a memória e a história do
primeiro cárcere construído em São Paulo, o Presídio
Tiradentes, bem como do Presídio Carandiru.
Cenário do massacre de 111 presos empreendido
pela força policial.
PRESÍDIO TIRADENTES
O Presídio Tiradentes esteve localizado na Avenida Tiradentes na altura do número 451, restando, atualmente,
apenas o seu pórtico, conhecido como “Arco do Presídio”, o qual foi tombado como patrimônio histórico em 1985
pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT.
A rede carcerária, em suas formas concentradas
ou disseminadas (...), foi o grande apoio, na
sociedade moderna, do poder normalizador1.
Michel Foucault - Vigiar e Punir.
Memorial da Resistência de São Paulo
PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA
Histórico da Construção do Presídio Tiradentes
Na província de São Paulo, a época Imperial, a
concepção do espaço carcerário foi se estabelecendo
lentamente e locais paliativos foram utilizados para o
aprisionamento dos infratores. A falta de um sistema
carcerário estava diretamente relacionada à escassez
de verbas e de profissionais que pudessem realizar tal
projeto. Nesse sentido, a Casa de Correção de São
Paulo, após um longo percurso quanto a sua
construção, surge em resposta a crescente demanda
de infratores viabilizando, assim, a aplicação do
código criminal a todos aqueles que ousavam
descumpri-lo. Portanto, a disciplina, a correção e a
repressão são conceitos inerentes à constituição do
Presídio Tiradentes como veremos ao longo de sua
história.
Conhecida inicialmente como a Cadeia da Luz, a
Casa de Correção de São Paulo, foi criada em 1825,
sendo inaugurada somente em 6 de maio de 1852.
Sua estrutura foi pensada para atender duas
demandas específicas, a saber: como depósito de
escravos os quais eram postos no calabouço, e a casa
de correção, propriamente dita, para onde iam todos
aqueles que em certa medida não se adequavam as
regras dessa sociedade, seja pela prática de delitos,
seja por sua condição social, e deste modo as penas
eram cumpridas através do trabalho.
Figura 1. Gravura reproduzida - MENEZEZ, Raimundo de. “Espetacular evasão da Cadeia da Luz em 1884”
Localizava-se no largo do Seminário (atual Avenida
Tiradentes), que começava na Rua do Comércio da Luz e no
baixo muro do Jardim do mesmo nome, prolongando-se até as
porteiras da Inglêsa desembocando nas Ruas Alegre e
Constituição (atual Brigadeiro Tobias e Florêncio de Abreu).i
Durante a sua construção o presídio passou por
inúmeras depredações e reformas permanecendo a
Penitenciária e a Cadeia no estado improvisado de
1877 até o final da monarquia e, pelo menos, por
mais trinta anos durante todo o período
republicanoii. As condições de encarceramento eram
as piores possíveis apontando todo descaso com a
vida, tanto do ponto de vista arquitetônico, com
celas em tamanho reduzido e insalubres, quanto às
insuficientes condições de higiene e alimentação
proporcionadas aos presos. A precariedade da
construção e as más condições de encarceramento
eram uma marca que o Presídio carregaria até a sua
extinção em 1973, quando da sua demolição para o
andamento das obras do metrô.
Figura 2. Planta da Casa de correção de São Paulo. Relatório da comissão Inspetora da Penitenciária de 12 de novembro de 1885. In Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Presidente da Província João Alfredo Corrêa de Oliveira no dia 15 de fevereiro de 1886. São Paulo: Typographia a vapor Jorge Seckler & C. 1886, planta n°. 1.
O responsável pela construção foi Daniel Pedro
Muller. Para o projeto da Casa de Correção em São
Paulo se utilizou da planta de William Powers, vice-
diretor da prisão de Auburn (NY), contudo em
proporções menores. Entre os anos de 1830/40 a
burocratização e a falta de recursos financeiros
embargaram a concretização de inúmeros projetos na
província de São Paulo. Somente em 1850, com a
expansão cafeeira e a capitação de recursos materiais,
foi possível a finalização de parte do projeto do
presídio.
Flávia Maíra de Araújo Gonçalves – Cadeia e
Correção: Sistema prisional e população carcerária
na cidade de São Paulo
Sistema Prisional no Início do Século XX
A discussão na esfera pública quanto à deficiência do
sistema prisional datam do início do século XX.
Paulo Egídio em seu ensaio: Estudos de Sociologia
Criminal teoriza sobre o problema da criminalidade e
o associa a questões de ordem social. Tendo
assumido um papel importante no senado de São
Paulo, propôs alterações no Código Penal, bem
como a criação de novas instituições relacionadas à
prisão, já que o sistema vigente encarcerava tanto os
criminosos como os menores abandonados e os
excluídos socialmente. Para ele a reforma
penitenciária compreendia o estabelecimento de uma rede
de instituições „racional e praticante‟ concebida para prevenção
de delitos, para a sua supressão, para a correção dos
delinquentes e para a prevenção da reincidênciaiii. Para tanto,
seria necessário uma reforma na instituição vigente.
Propôs, portanto, a criação de uma comissão que se
encarregaria de verificar as condições e necessidades
da principal penitenciária de São Paulo, o Tiradentes.
Figura 3. Presídio Tiradentes. O Estado de São Paulo de 14 maio
de 1911.
O parecer desta comissão, mediante as condições de
higiene e da constituição da construção, apontou que
uma condenação ali cumprida era uma pena de
morte atenuada. Frente os dados levantados pela
comissão o Tiradentes estava integralmente
condenado, e nesse sentido a proposta de Paulo
Egídio para uma nova Penitenciaria do Estado, viria
se concretizar em 1911 quando se inicia as obras da
nova Penitenciária do Estado – Instituto de Regeneração
- Carandiru, e sua inauguração se dá em abril de 1920,
visando atender as exigências do código penal
republicano de 1890. O Instituto de Regeneração
cumpriu o seu papel, sendo considerado modelo nas
Américas, recebia visitas de inúmeros estudantes de
direito, personalidades das mais diversas
nacionalidades, chegando a ser considerado um dos
cartões postais da cidade de São Paulo. Ainda assim,
o presídio Tiradentes continuou a funcionar
encarcerando novos infratores.
Figura 4. Foto aérea do Carandiru.
http://www.sap.sp.gov.br
Na década de 30, com o Estado Novo as feições do
Presídio Tiradentes se reconfiguraram, os que
lutaram contra os regimes ditatoriais que se
instalaram no país acabavam por cumprir suas
sentenças naquele espaço. Assumindo, portanto a
vocação de presídio político, o qual recebeu em um
pavilhão especial todos os indiciados na Lei de
Segurança Nacional. Esta característica se seguiria até a
queda do Regime em 1945. Neste período passaram
por lá José Maria Crispim e Monteiro Lobato
homenageados posteriormente por outros presos
políticos que lá estiveram desde 1968, nomeando a
cela em que passaram em décadas anterioresiv.
Perseguição Política
O século XX é marcadamente um período de
grandes mudanças e transformações no interior de
suas estruturas, seja no campo da política e
ideologias, seja no âmbito das relações
internacionais; algumas dessas transformações
culminaram em experiências catastróficas como as
duas grandes guerras e os regimes ditatoriais, os
quais se instalaram tanto na Europa quanto nos
países periféricos. Deste modo, não poderia ter sido
diferente o caso do Brasil, no qual as conjunturas
internacionais influiriam diretamente na nossa
política e sociedade. Sendo assim, buscou-se a defesa
da “democracia” sob a égide da perseguição ao
comunismo.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) surge em
1922 e com ele a Aliança Nacional Libertadora
(ALN), que combatia a influência do fascismo no
Brasil e reivindicava a suspensão da dívida externa do país, a
nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária e
a proteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de
amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo
popular v . Frente ao teor revolucionário destas
reivindicações tanto o PCB como a ALN foram
postos na ilegalidade na Era Vargas com base na Lei
de Segurança Nacional promulgada em abril de 1935,
que definia e punia os crimes contra o Estado e a
ideologia vigente. Esta lei surge como medida de
controle popular e suporte para a repressão e
perseguição a todos aqueles que se enquadravam em
atividades supostamente subversivas, como por
exemplo, o caso Monteiro Lobato.
Lei de Segurança Nacional
Podemos, portanto apreender que a menor
discordância ou questionamento quanto à política
adotada pelo governo seria motivo para o
enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Deste
modo, a perseguição política, o encarceramento, as
torturas e punições tornaram-se prática recorrente
tanto na Era Vargas quanto no golpe de 1964.
Elevando-se significativamente a população
carcerária, tal efeito se deu, sobretudo frente à
especialização da polícia política que objetivava
conter e reprimir as mobilizações populares e
organizações políticas. Como consequência as prisões
ficaram ainda mais precárias devido a quantidade de novos
presos. O cárcere tornou-se o local de exclusão, por excelência,
dos inimigos políticos e sociais do regimevi.
Com o golpe militar em 1964 a Lei de Segurança
Nacional (LSN) juntamente com o Serviço Nacional de
Informações (SNI) -, criado em junho do mesmo ano,
forneciam e produziam informações que atendiam
aos interesses da ditadura e de seus aliados, elevando
o grau de recrudescimento da repressão política. O
inimigo a ser combatido encontrava-se no meio do
povo. Estudantes, intelectuais, artistas e militantes
políticos foram o principal foco de perseguição e
para tanto foi implantado em escala nacional o
Destacamento de Operações e Informações – Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) o qual visou
não só a perseguição, mas o aprisionamento e a
eliminação de todos os opositores do regime. Esse
período da nossa história aponta para a violação
integral dos direitos da pessoa humana, os fins
justificaram os meios frente a defesa de um Estado
de exceção, que se instalou no país com a derrubada
de um governo eleito democraticamente.
Da Tortura ao Cárcere no Tiradentes
Os regimes políticos totalitários instalados em
diversos lugares do mundo propiciaram o
desenvolvimento de métodos científicos de tortura,
os quais foram disseminados em larga escala entre
diversos países. O intuito desses métodos era o de se
obter confissões e delações, mas não somente isso,
utilizou-se esse instrumento como forma de
intimidação e opressão das populações,
O escritor de literatura infantil não era
ligado a uma ideologia de esquerda,
contudo por ter discordado e expresso
suas opiniões em relação à política
adotada por Vargas quanto à exploração
do petróleo, em um jornal, acabou sendo
investigado pelo Departamento Estadual
de Ordem Política e Social (DEOPS) e foi
acusado de desmoralizar o Conselho do
Petróleo bem como de injuria ao
presidente Vargas. Esse episódio ficou
conhecido como “o escândalo do
petróleo” e lhe rendeu um período de
detenção no Presídio Tiradentes.
Ficha de Monteiro Lobato nos arquivos do
Deops – Arquivo do Estado
corroborando, nesse sentido, a consolidação de
governos ditatoriais, nos quais a participação popular
inexistia.
No Brasil, durante o regime militar (1964 – 1985)
ocorreu à institucionalização de um aparato repressor
de supressão dos direitos da pessoa humana, esses
organismos desempenharam um importante papel na
manutenção de um Estado ilegítimo que perdurou
por vinte e um anos. E ainda hoje, podemos dizer
que existem os resquícios dessa estrutura
desenvolvida no regime ditatorial, pois com a lei da
anistia foram também beneficiados os torturadores
que até o momento não responderam e tampouco
foram punidos por seus crimes de lesa humanidade.
Com o Ato Institucional - 5, em 1968, o governo
passou a ter plenos poderes colocando fim ao direito
do habeas corpus, a presos políticos. Os inimigos
políticos perseguidos pelo Estado quando de seu
sequestro passavam por interrogatórios violentos
quase sempre acompanhados por torturas físicas,
morais e psicológicas. As sessões de tortura e
interrogatório podiam acontecer a qualquer
momento do dia ocasionando um estado de
suspensão e apreensão por parte do preso, pois este
nunca sabia em que momento retornaria as sevícias,
e enquanto estivessem nos porões da ditadura o
destino era incerto. Muitos acabaram mortos e
desaparecidos, outros como aponta os relatos
tiveram a “sorte” de serem encaminhados ao
Presídio Tiradentes, pois a detenção ali remetia certa
proteção judicial era, portanto o fim da
incomunicabilidade e do sigilo do preso
formalizando assim, uma auditoria militar.
Antônio Candido frente aos depoimentos de alguns
ex-presos políticos condensa no prefácio do livro
Tiradentes, um presídio da ditadura, o significado de ser ir
para o Tiradentes, lá seria como uma espécie de
purgatório entre os limites do céu e do inferno.
Contudo, a detenção não significava propriamente o
fim das atrocidades praticadas pelo aparato
repressivo, ainda assim, o preso político poderia
retornar aos interrogatórios seguidos de torturas,
tanto no DOI-CODI quanto no DEOPS como
aconteceu com diversos militantes, entre eles temos
o caso emblemático de Frei Tito, que posteriormente
se suicidou, e o da teatróloga Heleny Guariba –
desaparecida política. Para muitos chegar ao Tiradentes
significava um alívio, quase uma vitória por ter sobrevivido às
torturas, ao desaparecimento, à mortevii.
Por trás das grades
A punição não era aplicada somente contra os
opositores do regime, dentro deste espaço carcerário
encontravam-se os presos comuns - corrós. Segundo
os relatos de presos políticos alguns corrós eram
retirados de suas celas no meio da madrugada, sendo
torturados em um poço existente no meio do
presídio, e muitas vezes após a tortura eram levados
para lugares ermos, pelo temido Esquadrão da Morte
que os eliminavam de modo torpe e cruel.
O Esquadrão da Morte era composto por autoridades
policiais do próprio Tiradentes, os envolvidos eram o
diretor do presídio, bem como o delegado e outros
funcionários da instituição, tendo como seu principal
mentor o delegado Sérgio Fernando Paranhos
Fleury, conhecido agente da repressão. Portanto, a
prática das torturas e do extermínio se estendia a
outros campos da sociedade, eliminar os indesejados
e os excluídos era parte do projeto deste grupo,
podemos subentender que a perseguição não se dava
apenas no âmbito político-ideológico, para esses
homens as camadas empobrecidas deveriam ser
eliminadas e seus direitos subtraídos.
As impunidades praticadas por esse grupo não
passariam incólumes, a partir da década de 70 o
procurador de justiça Hélio Pereira Bicudo inicia um
processo de denúncias contra os delitos praticados
por esse grupo, em certo sentido começou a
delinear-se a luta pelos direitos humanos e a tentativa
de punição daqueles que abusavam do poder que
lhes fora outorgado. A investigação das mortes
praticadas pelo Esquadrão foi possível devido ao
trabalho do ex - preso político Guilherme Simões
Gomes – dentista, que mantinha as fichas de
atendimentos dos presos e estas nem sempre
correspondiam com os registros internos do
presídio, o que viabilizou a instauração do processo
contra o grupo. Ainda que os responsáveis não
tenham sido punidos, a instauração desse processo
foi um importante passo tanto na denúncia dos
abusos cometidos quanto no efetivo resgate dos
direitos humanos suplantados pelo regime.
A vida no cárcere
Aqueles que não se conformaram com o regime
instituído ousaram lutar por um ideal, de pátria livre
e igualitária para todos os brasileiros, dotados de um
forte espírito de solidariedade que foi transposto
para além de suas militâncias políticas. A vida na
prisão trouxe uma nova percepção do mundo e das
lutas iniciadas no espaço sujo e opressivo do cárcere, todos se
organizavam, inventavam modos de tornar menos intragável a
comida, discutem, se divertem, brigam, se dividem, se
reagrupam, mas superam a dissolução que ameaça o preso e,
de certo modo, amadurecem em condições anormaisviii.
Mesmo por detrás daquelas grades havia um espaço
para a vida e a luta continuava a ser feita de outro
modo, através da solidariedade, onde as diferenças
ideológicas eram postas de lado e tanto presos
políticos quantos os corrós partilhavam das angustias
e anseios existentes no espaço prisional. Em um dos
relatos encontrado no livro Tiradentes, um Presídio da
Ditadura: Memórias de Presos Políticos, encontramos essa
solidariedade em que no meio da noite, quando os presos
comuns eram torturados, foram as vozes dos presos políticos
que, aos gritos furiosos, exigiram e conseguiram o fim de mais
aquele bárbaro suplícioix. Bem como a união dos presos
em protestarem, com uma greve de fome, quando
alguns companheiros foram levados a outros
presídios.
Dentro das celas superlotadas impregnadas de sujeira
e umidade, e a falta da luz do sol que lhes era
concedida somente por duas horas semanais, ainda
era possível encontrar um espaço de resistência
criador e criativo, muitos que ali passaram
expressaram suas vivências através da produção
artística, como os artistas plásticos Carlos Takaoka
que em 1979 expôs as aquarelas produzidas nos
cárcere, e Alípio Freire e Sérgio Ferro os quais
ilustraram, com suas pinturas, o livro de memórias
daqueles que estiveram presos no Tiradentes, assim
como a experiência do teatrólogo Augusto Boal, em
Torquemada (peça teatral), que começa a escrevê-la
ainda dentro do cárcere levando aos palcos uma
realidade ocultada dentro dos porões da ditadura.
Essas memórias desvelam uma história pouco
conhecida, o que se tentou fazer, por muito tempo,
foi descreditar a luta de brasileiros e brasileiras que se
indignaram com o estado de barbárie imposto pelo
regime ditatorial, o qual se ocupou especialmente de
manter as profundas diferenças sociais existentes no
país. Homens e mulheres acreditaram na
possibilidade de transformação, se levantaram,
lutaram mesmo sabendo dos riscos que corriam.
Optaram pela esperança de um país justo,
independente das opções que tenham escolhido para
essa transformação. Pelo Tiradentes entre 1969 a
1973 passaram cerca de trezentos presos políticos,
das diversas organizações de esquerda existentes na
época. Esses militantes traziam em si a chama de que
algo novo poderia ser construído. Retomar suas
histórias, suas lutas e seus ideais, é fazer aquilo que
Walter Benjamin propôs nas teses sobre o conceito
de história, em que o dom de despertar no passado as
centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador
convencido de que também os mortos não estarão em segurança
se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.
Presídio Carandiru
Figura 5. Carandiru no início do século XX. http://www.sap.sp.gov.br
Como tantos outros presídios no período da
repressão, o Carandiru serviu de morada aos que não
se calaram perante o regime autoritário que assolava
o país durante os anos de 64 a 85. Nele cabeças
pensantes que lutaram para que hoje tenhamos o
direito de ir e vir cumpriram parte do ritual
estipulado no maior presídio da América Latina:
passaram pela Divinéia, vestiram o uniforme,
tomaram as vacinas e por várias vezes ouviram as
preleções do diretor e foram conduzidos pelos
longos corredores do presídio às suas celas com os
demais presos.
Em 68, quando o 30º congresso da Une era realizado
em um sítio em Ibiúna, um grupo de estudantes após
uma passagem pelo Tiradentes, completou sua pena
no Carandiru. Em seu livro, Tempo de Resistência,
Leopoldo Paulinox, relata que o grupo de estudantes
saiu na madrugada do Presídio Tiradentes com
destino ignorado e quando ainda estava escuro
viram-se no pátio do Carandiru, lá recebidos pelo
diretor do presídio, Coronel Fernão Guedes, que
como fazia com os demais presos, fez uma preleção
sobre as regras do presídio, informando que no
momento contavam com mais de 5.000 detentos,
sendo que para os presos políticos foi reservado um
corredor que os comportaria durante o tempo em
que lá estivessem. Não seria necessário rasparem o
cabelo, porém tomaram as vacinas e vestiram o
uniforme do presídio, suas roupas e pertences
ficaram mediante recibo, retidos na administração do
presídio. Suas celas não foram trancadas de dia, o
que possibilitou a conversa com alguns presos
comuns que por bom comportamento passavam o
dia fora das celas realizando trabalhos burocráticos.
Alguns estudantes de direito foram consultados
pelos presos comuns devido à situação que levavam
sem assistência jurídica e sem julgamento, esquecidos
na imensidão do Carandiru, conheceram também o
detento mais famoso do local, o italiano Menegheti,
que cumpria uma de suas infinitas penas por roubo.
No Carandiru, este grupo de presos políticos, teve a
quebra da incomunicabilidade, a qual estavam
inseridos no Tiradentes e quebraram a greve de
fome, única arma que possuíam, estavam sem comer
a mais de 72 horas. O grupo permaneceu apenas
uma noite e um dia no Carandiru, porém relata com
emoção quando às 18 h. o presídio parou num
momento de reflexão quando os alto-falantes
tocaram a Ave Maria, ele pode sentir pelos gestos e
olhos dos detentos aquele momento de reflexão
sobre suas e vidas e uma ponta de esperança que
brotava de trás das grades. No dia seguinte logo após
o almoço, saíram em ônibus da polícia sob forte
escolta, sendo encaminhados para prestarem
depoimentos no Dops.
Em setembro de 1970, por ordem do juiz-auditor da
2ª região militar, Nelson M. Guimarães, 30 presos
políticos, após cumprirem parte da pena no
Tiradentes, foram transferidos para Casa de
Detenção do Carandiru, Maurice Politi xi , no livro
Resistência atrás das Grades, faz um panorama sobre
esta passagem pelo Carandiru, onde permaneceram
no pavilhão 8 por 13 meses. Nesta época, o governo
Médici (outubro/69 a maio/73), auxiliado pelo
grupo de extermínio chefiado por Sérgio Paranhos
Fleury, o “Esquadrão da Morte”, conseguiu a proeza
de eliminar aproximadamente 250 das quase 480
pessoas declaradas mortas e desaparecidas na
ditadura, nomeando os anos que passou no poder
em “anos de chumbo”. A repressão e a autonomia
dos militares em “resolver do seu jeito” faziam-se
constantes, neste período (maio/70) foram criados
os DOI(s)-CODI (Destacamento de Operações e
informações ligadas aos Centros de Operações de
Defesa Interna). Nesta época o regime militar
arruinou o país, de 69 a 73 a dívida externa elevou-se
em 286%, chegando a um patamar de 12 bilhões de
dólares.
Porém enquanto o regime apertava de um lado, de
outro a resistência por parte dos opositores realizava
autenticas acrobacias a fim estabelecerem a
democracia e a tão sonhada liberdade de expressão,
de dentro dos presídios havia a união e o consenso
entre os presos políticos que viam a cadeia com uma
“trincheira de luta”. Com pouquíssimas exceções
como os chamados “artistas”xii, eles buscavam meios
de denunciar as atrocidades a que eram submetidos,
além de usarem a única arma que dispunham para
chamar a atenção da imprensa para situação: “A
greve de fome”.
Os presos políticos desta vez ocuparam uma ala
isolada no Carandiru, tal precaução foi tomada por
medo da “contaminação de ideias subversivas” a
outros detentos. Após uma aparente estabilidade, no
dia 07/06/1972 foi avisado ao grupo de presos
políticos que seis deles se preparassem pois iriam
fazer uma viagem, o destino não foi avisado o que
causou muita aflição ao grupo, pois sairiam dali sem
que seus familiares e advogados ficassem sabendo e
poderiam terminar como um “presunto”xiii.
Acordados de madrugada, os presos políticos Frei
Fernando, Frei Yves, Frei Betto, Wanderley Caixe,
Manuel Porfírio e Maurice Politi foram reunidos no
pátio, onde algemados aos pares, foram conduzidos a
dois camburões fechados por volta das 5 h. da
manhã, tomando destino ignorado, dentre várias
voltas por estradas desconhecidas, algemados e
apertados na traseira dos camburões, chegaram já
por volta das 21 h. no presídio de Presidente
Venceslau, bem na divisa do estado.
O Massacre de 1992
O Massacre do Carandiru é chamado por alguns de
“tragédia anunciada”, outros o viram como uma
forma de conter a violência gerada pelos próprios
presos. O fato é que depois do massacre, os órgãos
de direitos humanos, empenharam-se ativamente
contra as atrocidades cometidas em presídios e a
imprensa passou a questionar mais a manipulação de
informações por parte do governo.
Às vésperas das eleições municipais na cidade de
São Paulo, dentro do maior presídio da capital,
ocorreu uma luta que de um lado estavam 325
policiais fortemente armados com escudos,
metralhadoras, coletes a prova de bala, cavalos e cães
treinados, de outro um bando de detentos armados
com pedaços de paus.
Os PMs dispararam contra os presos com metralhadoras,
fuzis e pistolas automáticas, visando principalmente a cabeça e
o tórax. Na operação também foram usados cachorros para
atacar os detentos feridos. Ao final do confronto foram
encontrados 111 detentos mortos: 103 vítimas de disparos
(515 tiros ao todo) e 8 morreram devido a ferimentos
promovidos por objetos cortantes. Não houve policiais mortos.
Houve ainda 153 feridos, sendo 130 detentos e 23 policiais
militares.xiv
Alguns dizem que o conflito foi gerado por uma
discussão banal entre dois detentos, coisa fácil de
resolver, porém tomou proporções imensas, talvez
irreparáveis, pois, mesmo com as indenizações ainda
pendentes, a vida humana não é reposta.
No dia do massacre eu e meu companheiro fomos responsáveis
pelo campeonato da quadra. (...) quando foi faltando alguns
minutinhos, mais ou menos pras três horas, olhei pra quadra
pra ver se tava tudo normal, mas não vi nenhum jogador. (...)
Foi nessa hora que começou a sair os jogadores do campo, (...)
falando que tinha uma treta aqui pra cima (...). Nisso já
chegou os funcionários recolhendo o pessoal que estava no
campo. (...). No corredor todo mundo ficou em fila e aí eu
notei a gravidade da situação. Os funcionários já estavam
todos no portão e na hora que eu entrei no pavilhão já tava o
maior barulho (...) Não era a primeira vez que eu tava
passando por isso, (...) então eu fui pro meu xadrez, eu e meu
companheiro, e que seja o que Deus quiser, daqui a pouco vai
acalmar a situação (...) Só que não foi isso que aconteceu.
Antes do choque entrar, o comandante do choque gritou: „Todo
mundo dentro do xadrez, ninguém na galeria que a gente vai
subir‟. Conclusão, isso era mais ou menos três e vinte, três e
meia, daqui a pouco começamos a escutar tiro, bomba, de
repente abriu a porta do xadrez e o policial entrou – eu notei
pelo coturno, porque a gente não pode olhar pra cara, então
nós, de cabeça pra baixo olhando pro chão – ele começou a
perguntar onde a gente tinha posto as armas. (...) „Não aqui é
o setor do de esporte, nosso negócio é esporte, a gente tamos
pagando uma dívida pra Justiça, sem treta com ninguém , pode
olhar debaixo da cama, que o senhor vai ver só bola, rede,
essas coisas‟. (...) aí ele ficou olhando pra gente uns quatro,
cinco segundos (...) aí desengatilhou a arma. Eles tavam em
dois, um dentro da cela com a arma engatilhada e na nossa
cara e o outro (...) ficou na porta com a porta meio aberta,
meio fechada, e falou: „Vamos ver se é isso mesmo‟. Depois
saíram fora, entraram no xadrez vizinho (...). Tinha dois no
xadrez e um não tava, os dois que estavam lá eles mataram,
quer dizer, foram matando, eu jamais imaginava que a polícia
ia fazer uma coisa daquelas. Aí passaram pra esse lado e
subiram lá em cima, eu escutava tiro (...). Conclusão, quando
foi lá pras quatro e quinze mandaram todo mundo descer pro
pátio, pelado. (...) Eu desci e aí, me lembro como se fosse hoje
(...) tinha uns três corpos caídos com a metade do corpo pra
dentro do xadrez e a metade do corpo pra fora, e no outro
xadrez mais pra frente, a mesma coisa. (...) quando chegou na
curva (...) tinha aquele bolão de cara de shorts – do GATE
(Grupo de Ações Táticas Especiais), da ROTA (Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar) – e eu escutei um deles falando
assim „os caras do GATE e da ROTA tão aí pra cima
matando pra caramba‟, aí não sei se foi o comandante ou
quem foi que falou: „Não é pra matar ninguém não‟! Aí
começaram a discutir entre eles e tava um bolo de cara em pé
sem saber pra onde vai, né? Aí gritaram: „É pra todo mundo
ficar no chão deitado, não é pra ficar escutando as ideias‟! Aí
caiu todo mundo um em cima do outro. E depois de dois
minutos foi todo mundo pro pátio – aquele corredor, os
guardas com cachorro de um lado, um espacinho mínimo -,
passamos tudo correndo e ficou todo mundo sentado no pátio,
de fila em fila sentado com a cabeça no meio das pernas. E
pra cima aquele barulhão, e deu seis horas, deu sete horas, e a
situação pra cima continuava feia e quando foi lá pras nove e
meia, mais os menos, silenciou, porque a polícia tava dando o
couro em nóis. Aí deu pra gente olhar meio do rabo dos zóio e
a gente viu que era corregedor, era todo mundo engravatado,
saindo da carceragem e entrando no corredor da enfermaria.
Aí que parou. Mas das três e meia até às nove horas, acho
que só na guerra pra ver uma coisa daquelas. xv (Bissiliat,
2003:153).
Ao todo foram 111 mortos, número divulgado
somente no dia seguinte faltando 15 min. para
fecharem as urnas. Tal medida foi tomada por medo
do número de mortos ser prejudicial ao candidato a
prefeito Aloysio Nunes, indicado pelo governador da
época Luiz Antônio Fleury Filho. O número inicial
seria 4 mortos, após a saída do número oficial,
familiares dos detentos ficaram desesperados sem
saber se seus parentes estavam vivos ou mortos,
aglomeraram-se na porta do presídio, porém, mesmo
com o desespero e o empenho a lista com os nomes
oficial dos mortos só foi publicada no dia 08 de
outubro.
Conforme um levantamento feito pela Comissão de
Direito Humanos, o perfil mostrou que 80% das
vítimas do massacre não havia sido julgada, somente
9 presos tinham recebido pena acima de 20 anos,
quase metade dos mortos, 51 detentos tinha menos
de 25 anos, 35 deles tinha entre 29 e 30 anos, 92,66%
dos presos foram detidos por assalto, 8% por
homicídio.xvi
A Polícia Militar afirmou que os detentos tinham armas e
apresentou dezenas de armas brancas e 13 armas de fogo. O
informe balístico informa que “todas as armas apresentam em
suas superfícies sinais de oxidação normalmente encontrados
em condições de armazenagem em ambientes inadequados”.
Essas informações levam a creditar que as armas foram
“plantadas”. A tese de que houve confronto armado entre
policias militares e detentos não é sustentada pelas provas dos
autos do processo. A legitima defesa alegada pela cúpula da
Polícia Militar não tem fundamento nos fatos. O laudo do
Instituto de Criminalística concluiu: “Em todas as celas
examinadas, as trajetórias dos projéteis disparados indicavam
atirador(es) posicionado(s) na soleira das celas, apontando sua
arma para os fundos ou laterais (...) Não se observou
quaisquer vestígios que pudessem denotar disparos de armas de
fogo realizados de dentro para fora das celas, indicando
confronto entre as vítimas-alvo e os atiradores postados na
parte anterior da cela”. O relatório de criminalística termina
com a afirmação de que não fora possível elaborar conclusões
mais profundas porque „(...) o local dava nítidas demonstrações
de que fora violado, tornando-o inidôneo para a perícia‟.xvii
A Desativação
Devido a grande repercussão e pressão internacional,
em 1996, criou-se no Brasil, o Programa Nacional de
Direitos Humanosxviii, dentre os planos do programa
estava o da Desativação da Casa de Detenção.
“Incrementar a desativação da Casa de Detenção de
São Paulo (Carandiru), e de outros estabelecimentos
penitenciários que contrariem as normas mínimas
penitenciárias internacionais”.
Em 1998, com opiniões divergentes sobre a
desativação ou não, iniciou-se o processo com a
transferência de detentos para outros presídios,
porém, a morosidade no Brasil é uma constante e só
em setembro de 2002, o processo de transferência
foi concluído.
14 de setembro de 2002: última noite na Casa de
Detenção, Carlos Rita, um funcionário com mais de
30 anos de trabalho na Casa, sentia em seu interior
um aperto, porém tinha consciência que seria para o
bem, da população, pois como ele próprio afirma: “
(...) não há mais razão de existir, de forma nenhuma.
Você não recupera ninguém aqui, (...) e não ia
recuperar se continuasse”. (Bissiliat, 2003:240).
Nessa última noite restavam apenas 73 sentenciados
na detenção, o funcionário relata também a falta de
estrutura e a impossibilidade de reeducar uma
população carcerária tão grande, lembrando que em
determinadas épocas o Carandiru chegou a ter 8.000
detentos, como nos demais presídios brasileiros uma
superlotação que excede sua capacidade em até
200%. O Carandiru foi desativado, mas a situação
carcerária brasileira continua estagnada, a prisão, o
cárcere é a única solução vendida à sociedade como
forma de reeducação daqueles que cometem delitos e
não se adequam ao padrão, mas como o indivíduo
recém-saído de uma estrutura com condições sub-
humanas, tendo seu tempo gasto na morosidade e
sem orientação adequada estará pronto a reintegrar a
sociedade?
Adaércio de Lima, vulgo Twin, era um dos presos da
Casa de Detenção em 2000, ele próprio descreve a
situação vivida:
Um minuto é uma hora, uma hora é um ano. (...) porque o
tempo não passa, você vai no campo, olha, olha, fuma um
baseado, vê televisão, quando você vê são nove horas ainda,
(...) Então, um dia aqui é uma semana, é muito longo. (...) O
trânsito, dentro de um ônibus lotado. Tem muita gente que
reclama, mas para mim seria gratificante. (...)A gente não tem
assistência social. Se você tiver uma depressão (...), você não
pode chorar, porque o preso não pode. (...) vai ser tirado:
„Você é o maior bunda-mole, é um vacilão!‟ (...) Você não tem
uma pessoa para conversar. (Bissiliat, 2003:209-217).
É muito difícil a vida carcerária, mas a reintegração
na sociedade ainda é um caminho mais cruel, pois as
oportunidades são escassas, quando se puxa a ficha e
constata-se alguma pendência com a justiça, o ex-
presidiário acaba sem emprego, além da constate
vergonha que o acompanha, ás vezes é mais fácil
voltar ao mundo do crime do que encarar a
sociedade.
Parque da Juventude
Hoje na Avenida Cruzeiro do Sul aquela fila gigante
que se formava nas madrugadas de sábado para
domingo não acontece mais. Esposas, mães, irmãos,
amigos de detentos formam filas em outros presídios
e no antigo endereço foi erguido um complexo com
quadras, escolas técnicas e áreas verdes, o Parque da
Juventude, concluído em 2007.
Composto de 3 grandes espaços, sendo o primeiro
voltado à prática esportiva com quadras, pistas de
cooper, espaços para skates e patins, banheiros e
bebedouros e uma área de 16 mil metros quadrados
de mata preservada para trilha ecológica.
O segundo remete a ideia de parque com jardins,
espaços para piqueniques, trilhas, passarelas, com
playground, além da preservação da antiga muralha
do Carandiru com 600 metros de extensão e das
ruínas de celas solitárias.
Já o terceiro, de cunho cultural, onde foram
preservados os pavilhões 4 e 7, sendo no primeiro a
Etec Paula Souza e no segundo a Etec das Artes,
juntas têm quase 2.000 alunos, no espaço do antigo
pavilhão 2, está a Biblioteca de São Paulo, modelo da
Secretaria da Cultura e também o Acessa São Paulo
com internet gratuita, além de uma área coberta para
shows que comporta até 15.000 pessoas.
O projeto arquitetônico do parque ficou a cargo do
escritório de Gian Carlo Gasperini, arquiteto italiano
radicado no Brasil, onde doutorou-se em 1972, pela
FAUUSP, dentre seus projetos está a construção do
auditório Cláudio Santoro em Campos do Jordão e o
Credicard Hall em São Paulo.
O projeto paisagístico foi elaborado por Rosa Grena
Klias, paulista de São Roque, graduada pela
FAUUSP em 1955, autora do livro “Parques
Urbanos em São Paulo”, dentre seus projetos está a
reforma do vale do Anhangabaú em São Paulo.
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