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REPRESSÃO POLÍTICA E OS PRESÍDIOS DA DITADURA: PRESÍDIO TIRADENTES E PRESÍDIO CARANDIRU Casa de correção, depósito de escravos, cadeia pública e cárcere político, o Presídio Tiradentes foi inaugurado em 1852, foi fechado e demolido em 1973, restando hoje apenas o arco de pedra de seu portal. Ainda durante o período da ditadura, observamos uma geografia da repressão, tendo em vista a localização do DEOPS, do Batalhão Brigadeiro Tobias e do Presídio Carandiru – inaugurado em 1920 e tendo parte de sua construção demolida em 2002. Fazendo uma breve análise histórica sobre o espaço carcerário encontramos dois conceitos fundamentais, a saber: disciplinarização e repressão. A partir do século XIX com a consolidação do sistema capitalista, as sociedades passam por profundas transformações quanto a sua organicidade gerando, portanto uma sociedade disciplinar que abarca todas as esferas da vida, seja na produção material, seja no padrão comportamental. Portanto, quem não se adequa a esse modus operandi passa a ser punido. Ao retomarmos a constituição do sistema prisional verificamos que havia um projeto disciplinar para os cidadãos pertencentes às camadas empobrecidas, muitos dos que eram presos se enquadravam no estigma de vadios e arruaceiros. Com o início dos regimes ditatoriais a ideia de disciplina vem atrelada a repressão política, pois as ideologias contrárias as politicas de estado não tinham espaço e já não cabia apenas uma disciplinarização do modo de pensar e agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que fossem extintas. Para compreendermos as lutas daqueles que não se calaram contra aos governos opressores vivenciados no Brasil, tanto no Estado Novo quanto no Golpe de 1964, resgatamos a memória e a história do primeiro cárcere construído em São Paulo, o Presídio Tiradentes, bem como do Presídio Carandiru. Cenário do massacre de 111 presos empreendido pela força policial. PRESÍDIO TIRADENTES O Presídio Tiradentes esteve localizado na Avenida Tiradentes na altura do número 451, restando, atualmente, apenas o seu pórtico, conhecido como “Arco do Presídio”, o qual foi tombado como patrimônio histórico em 1985 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT. A rede carcerária, em suas formas concentradas ou disseminadas (...), foi o grande apoio, na sociedade moderna, do poder normalizador 1 . Michel Foucault - Vigiar e Punir. Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA

Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES … · Casa de correção, ... Na década de 30, com o Estado Novo as feições do ... Ficha de Monteiro Lobato nos arquivos

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REPRESSÃO POLÍTICA E OS PRESÍDIOS DA DITADURA: PRESÍDIO TIRADENTES E PRESÍDIO CARANDIRU

Casa de correção, depósito de escravos, cadeia pública e cárcere político, o

Presídio Tiradentes foi inaugurado em 1852, foi fechado e demolido em 1973,

restando hoje apenas o arco de pedra de seu portal . Ainda durante o período

da ditadura, observamos uma geografia da repressão, tendo em vista a

localização do DEOPS, do Batalhão Brigadeiro Tobias e do Pres ídio

Carandiru – inaugurado em 1920 e tendo parte de sua construção demolida

em 2002.

Fazendo uma breve análise histórica sobre o espaço

carcerário encontramos dois conceitos fundamentais,

a saber: disciplinarização e repressão. A partir do

século XIX com a consolidação do sistema

capitalista, as sociedades passam por profundas

transformações quanto a sua organicidade gerando,

portanto uma sociedade disciplinar que abarca todas

as esferas da vida, seja na produção material, seja no

padrão comportamental. Portanto, quem não se

adequa a esse modus operandi passa a ser punido.

Ao retomarmos a constituição do sistema prisional

verificamos que havia um projeto disciplinar para os

cidadãos pertencentes às camadas empobrecidas,

muitos dos que eram presos se enquadravam no

estigma de vadios e arruaceiros. Com o início dos

regimes ditatoriais a ideia de disciplina vem atrelada a

repressão política, pois as ideologias contrárias as

politicas de estado não tinham espaço e já não cabia

apenas uma disciplinarização do modo de pensar e

agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que

fossem extintas.

Para compreendermos as lutas daqueles que não se

calaram contra aos governos opressores vivenciados

no Brasil, tanto no Estado Novo quanto no Golpe

de 1964, resgatamos a memória e a história do

primeiro cárcere construído em São Paulo, o Presídio

Tiradentes, bem como do Presídio Carandiru.

Cenário do massacre de 111 presos empreendido

pela força policial.

PRESÍDIO TIRADENTES

O Presídio Tiradentes esteve localizado na Avenida Tiradentes na altura do número 451, restando, atualmente,

apenas o seu pórtico, conhecido como “Arco do Presídio”, o qual foi tombado como patrimônio histórico em 1985

pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT.

A rede carcerária, em suas formas concentradas

ou disseminadas (...), foi o grande apoio, na

sociedade moderna, do poder normalizador1.

Michel Foucault - Vigiar e Punir.

Memorial da Resistência de São Paulo

PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA

Histórico da Construção do Presídio Tiradentes

Na província de São Paulo, a época Imperial, a

concepção do espaço carcerário foi se estabelecendo

lentamente e locais paliativos foram utilizados para o

aprisionamento dos infratores. A falta de um sistema

carcerário estava diretamente relacionada à escassez

de verbas e de profissionais que pudessem realizar tal

projeto. Nesse sentido, a Casa de Correção de São

Paulo, após um longo percurso quanto a sua

construção, surge em resposta a crescente demanda

de infratores viabilizando, assim, a aplicação do

código criminal a todos aqueles que ousavam

descumpri-lo. Portanto, a disciplina, a correção e a

repressão são conceitos inerentes à constituição do

Presídio Tiradentes como veremos ao longo de sua

história.

Conhecida inicialmente como a Cadeia da Luz, a

Casa de Correção de São Paulo, foi criada em 1825,

sendo inaugurada somente em 6 de maio de 1852.

Sua estrutura foi pensada para atender duas

demandas específicas, a saber: como depósito de

escravos os quais eram postos no calabouço, e a casa

de correção, propriamente dita, para onde iam todos

aqueles que em certa medida não se adequavam as

regras dessa sociedade, seja pela prática de delitos,

seja por sua condição social, e deste modo as penas

eram cumpridas através do trabalho.

Figura 1. Gravura reproduzida - MENEZEZ, Raimundo de. “Espetacular evasão da Cadeia da Luz em 1884”

Localizava-se no largo do Seminário (atual Avenida

Tiradentes), que começava na Rua do Comércio da Luz e no

baixo muro do Jardim do mesmo nome, prolongando-se até as

porteiras da Inglêsa desembocando nas Ruas Alegre e

Constituição (atual Brigadeiro Tobias e Florêncio de Abreu).i

Durante a sua construção o presídio passou por

inúmeras depredações e reformas permanecendo a

Penitenciária e a Cadeia no estado improvisado de

1877 até o final da monarquia e, pelo menos, por

mais trinta anos durante todo o período

republicanoii. As condições de encarceramento eram

as piores possíveis apontando todo descaso com a

vida, tanto do ponto de vista arquitetônico, com

celas em tamanho reduzido e insalubres, quanto às

insuficientes condições de higiene e alimentação

proporcionadas aos presos. A precariedade da

construção e as más condições de encarceramento

eram uma marca que o Presídio carregaria até a sua

extinção em 1973, quando da sua demolição para o

andamento das obras do metrô.

Figura 2. Planta da Casa de correção de São Paulo. Relatório da comissão Inspetora da Penitenciária de 12 de novembro de 1885. In Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Presidente da Província João Alfredo Corrêa de Oliveira no dia 15 de fevereiro de 1886. São Paulo: Typographia a vapor Jorge Seckler & C. 1886, planta n°. 1.

O responsável pela construção foi Daniel Pedro

Muller. Para o projeto da Casa de Correção em São

Paulo se utilizou da planta de William Powers, vice-

diretor da prisão de Auburn (NY), contudo em

proporções menores. Entre os anos de 1830/40 a

burocratização e a falta de recursos financeiros

embargaram a concretização de inúmeros projetos na

província de São Paulo. Somente em 1850, com a

expansão cafeeira e a capitação de recursos materiais,

foi possível a finalização de parte do projeto do

presídio.

Flávia Maíra de Araújo Gonçalves – Cadeia e

Correção: Sistema prisional e população carcerária

na cidade de São Paulo

Sistema Prisional no Início do Século XX

A discussão na esfera pública quanto à deficiência do

sistema prisional datam do início do século XX.

Paulo Egídio em seu ensaio: Estudos de Sociologia

Criminal teoriza sobre o problema da criminalidade e

o associa a questões de ordem social. Tendo

assumido um papel importante no senado de São

Paulo, propôs alterações no Código Penal, bem

como a criação de novas instituições relacionadas à

prisão, já que o sistema vigente encarcerava tanto os

criminosos como os menores abandonados e os

excluídos socialmente. Para ele a reforma

penitenciária compreendia o estabelecimento de uma rede

de instituições „racional e praticante‟ concebida para prevenção

de delitos, para a sua supressão, para a correção dos

delinquentes e para a prevenção da reincidênciaiii. Para tanto,

seria necessário uma reforma na instituição vigente.

Propôs, portanto, a criação de uma comissão que se

encarregaria de verificar as condições e necessidades

da principal penitenciária de São Paulo, o Tiradentes.

Figura 3. Presídio Tiradentes. O Estado de São Paulo de 14 maio

de 1911.

O parecer desta comissão, mediante as condições de

higiene e da constituição da construção, apontou que

uma condenação ali cumprida era uma pena de

morte atenuada. Frente os dados levantados pela

comissão o Tiradentes estava integralmente

condenado, e nesse sentido a proposta de Paulo

Egídio para uma nova Penitenciaria do Estado, viria

se concretizar em 1911 quando se inicia as obras da

nova Penitenciária do Estado – Instituto de Regeneração

- Carandiru, e sua inauguração se dá em abril de 1920,

visando atender as exigências do código penal

republicano de 1890. O Instituto de Regeneração

cumpriu o seu papel, sendo considerado modelo nas

Américas, recebia visitas de inúmeros estudantes de

direito, personalidades das mais diversas

nacionalidades, chegando a ser considerado um dos

cartões postais da cidade de São Paulo. Ainda assim,

o presídio Tiradentes continuou a funcionar

encarcerando novos infratores.

Figura 4. Foto aérea do Carandiru.

http://www.sap.sp.gov.br

Na década de 30, com o Estado Novo as feições do

Presídio Tiradentes se reconfiguraram, os que

lutaram contra os regimes ditatoriais que se

instalaram no país acabavam por cumprir suas

sentenças naquele espaço. Assumindo, portanto a

vocação de presídio político, o qual recebeu em um

pavilhão especial todos os indiciados na Lei de

Segurança Nacional. Esta característica se seguiria até a

queda do Regime em 1945. Neste período passaram

por lá José Maria Crispim e Monteiro Lobato

homenageados posteriormente por outros presos

políticos que lá estiveram desde 1968, nomeando a

cela em que passaram em décadas anterioresiv.

Perseguição Política

O século XX é marcadamente um período de

grandes mudanças e transformações no interior de

suas estruturas, seja no campo da política e

ideologias, seja no âmbito das relações

internacionais; algumas dessas transformações

culminaram em experiências catastróficas como as

duas grandes guerras e os regimes ditatoriais, os

quais se instalaram tanto na Europa quanto nos

países periféricos. Deste modo, não poderia ter sido

diferente o caso do Brasil, no qual as conjunturas

internacionais influiriam diretamente na nossa

política e sociedade. Sendo assim, buscou-se a defesa

da “democracia” sob a égide da perseguição ao

comunismo.

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) surge em

1922 e com ele a Aliança Nacional Libertadora

(ALN), que combatia a influência do fascismo no

Brasil e reivindicava a suspensão da dívida externa do país, a

nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária e

a proteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de

amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo

popular v . Frente ao teor revolucionário destas

reivindicações tanto o PCB como a ALN foram

postos na ilegalidade na Era Vargas com base na Lei

de Segurança Nacional promulgada em abril de 1935,

que definia e punia os crimes contra o Estado e a

ideologia vigente. Esta lei surge como medida de

controle popular e suporte para a repressão e

perseguição a todos aqueles que se enquadravam em

atividades supostamente subversivas, como por

exemplo, o caso Monteiro Lobato.

Lei de Segurança Nacional

Podemos, portanto apreender que a menor

discordância ou questionamento quanto à política

adotada pelo governo seria motivo para o

enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Deste

modo, a perseguição política, o encarceramento, as

torturas e punições tornaram-se prática recorrente

tanto na Era Vargas quanto no golpe de 1964.

Elevando-se significativamente a população

carcerária, tal efeito se deu, sobretudo frente à

especialização da polícia política que objetivava

conter e reprimir as mobilizações populares e

organizações políticas. Como consequência as prisões

ficaram ainda mais precárias devido a quantidade de novos

presos. O cárcere tornou-se o local de exclusão, por excelência,

dos inimigos políticos e sociais do regimevi.

Com o golpe militar em 1964 a Lei de Segurança

Nacional (LSN) juntamente com o Serviço Nacional de

Informações (SNI) -, criado em junho do mesmo ano,

forneciam e produziam informações que atendiam

aos interesses da ditadura e de seus aliados, elevando

o grau de recrudescimento da repressão política. O

inimigo a ser combatido encontrava-se no meio do

povo. Estudantes, intelectuais, artistas e militantes

políticos foram o principal foco de perseguição e

para tanto foi implantado em escala nacional o

Destacamento de Operações e Informações – Centro de

Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) o qual visou

não só a perseguição, mas o aprisionamento e a

eliminação de todos os opositores do regime. Esse

período da nossa história aponta para a violação

integral dos direitos da pessoa humana, os fins

justificaram os meios frente a defesa de um Estado

de exceção, que se instalou no país com a derrubada

de um governo eleito democraticamente.

Da Tortura ao Cárcere no Tiradentes

Os regimes políticos totalitários instalados em

diversos lugares do mundo propiciaram o

desenvolvimento de métodos científicos de tortura,

os quais foram disseminados em larga escala entre

diversos países. O intuito desses métodos era o de se

obter confissões e delações, mas não somente isso,

utilizou-se esse instrumento como forma de

intimidação e opressão das populações,

O escritor de literatura infantil não era

ligado a uma ideologia de esquerda,

contudo por ter discordado e expresso

suas opiniões em relação à política

adotada por Vargas quanto à exploração

do petróleo, em um jornal, acabou sendo

investigado pelo Departamento Estadual

de Ordem Política e Social (DEOPS) e foi

acusado de desmoralizar o Conselho do

Petróleo bem como de injuria ao

presidente Vargas. Esse episódio ficou

conhecido como “o escândalo do

petróleo” e lhe rendeu um período de

detenção no Presídio Tiradentes.

Ficha de Monteiro Lobato nos arquivos do

Deops – Arquivo do Estado

corroborando, nesse sentido, a consolidação de

governos ditatoriais, nos quais a participação popular

inexistia.

No Brasil, durante o regime militar (1964 – 1985)

ocorreu à institucionalização de um aparato repressor

de supressão dos direitos da pessoa humana, esses

organismos desempenharam um importante papel na

manutenção de um Estado ilegítimo que perdurou

por vinte e um anos. E ainda hoje, podemos dizer

que existem os resquícios dessa estrutura

desenvolvida no regime ditatorial, pois com a lei da

anistia foram também beneficiados os torturadores

que até o momento não responderam e tampouco

foram punidos por seus crimes de lesa humanidade.

Com o Ato Institucional - 5, em 1968, o governo

passou a ter plenos poderes colocando fim ao direito

do habeas corpus, a presos políticos. Os inimigos

políticos perseguidos pelo Estado quando de seu

sequestro passavam por interrogatórios violentos

quase sempre acompanhados por torturas físicas,

morais e psicológicas. As sessões de tortura e

interrogatório podiam acontecer a qualquer

momento do dia ocasionando um estado de

suspensão e apreensão por parte do preso, pois este

nunca sabia em que momento retornaria as sevícias,

e enquanto estivessem nos porões da ditadura o

destino era incerto. Muitos acabaram mortos e

desaparecidos, outros como aponta os relatos

tiveram a “sorte” de serem encaminhados ao

Presídio Tiradentes, pois a detenção ali remetia certa

proteção judicial era, portanto o fim da

incomunicabilidade e do sigilo do preso

formalizando assim, uma auditoria militar.

Antônio Candido frente aos depoimentos de alguns

ex-presos políticos condensa no prefácio do livro

Tiradentes, um presídio da ditadura, o significado de ser ir

para o Tiradentes, lá seria como uma espécie de

purgatório entre os limites do céu e do inferno.

Contudo, a detenção não significava propriamente o

fim das atrocidades praticadas pelo aparato

repressivo, ainda assim, o preso político poderia

retornar aos interrogatórios seguidos de torturas,

tanto no DOI-CODI quanto no DEOPS como

aconteceu com diversos militantes, entre eles temos

o caso emblemático de Frei Tito, que posteriormente

se suicidou, e o da teatróloga Heleny Guariba –

desaparecida política. Para muitos chegar ao Tiradentes

significava um alívio, quase uma vitória por ter sobrevivido às

torturas, ao desaparecimento, à mortevii.

Por trás das grades

A punição não era aplicada somente contra os

opositores do regime, dentro deste espaço carcerário

encontravam-se os presos comuns - corrós. Segundo

os relatos de presos políticos alguns corrós eram

retirados de suas celas no meio da madrugada, sendo

torturados em um poço existente no meio do

presídio, e muitas vezes após a tortura eram levados

para lugares ermos, pelo temido Esquadrão da Morte

que os eliminavam de modo torpe e cruel.

O Esquadrão da Morte era composto por autoridades

policiais do próprio Tiradentes, os envolvidos eram o

diretor do presídio, bem como o delegado e outros

funcionários da instituição, tendo como seu principal

mentor o delegado Sérgio Fernando Paranhos

Fleury, conhecido agente da repressão. Portanto, a

prática das torturas e do extermínio se estendia a

outros campos da sociedade, eliminar os indesejados

e os excluídos era parte do projeto deste grupo,

podemos subentender que a perseguição não se dava

apenas no âmbito político-ideológico, para esses

homens as camadas empobrecidas deveriam ser

eliminadas e seus direitos subtraídos.

As impunidades praticadas por esse grupo não

passariam incólumes, a partir da década de 70 o

procurador de justiça Hélio Pereira Bicudo inicia um

processo de denúncias contra os delitos praticados

por esse grupo, em certo sentido começou a

delinear-se a luta pelos direitos humanos e a tentativa

de punição daqueles que abusavam do poder que

lhes fora outorgado. A investigação das mortes

praticadas pelo Esquadrão foi possível devido ao

trabalho do ex - preso político Guilherme Simões

Gomes – dentista, que mantinha as fichas de

atendimentos dos presos e estas nem sempre

correspondiam com os registros internos do

presídio, o que viabilizou a instauração do processo

contra o grupo. Ainda que os responsáveis não

tenham sido punidos, a instauração desse processo

foi um importante passo tanto na denúncia dos

abusos cometidos quanto no efetivo resgate dos

direitos humanos suplantados pelo regime.

A vida no cárcere

Aqueles que não se conformaram com o regime

instituído ousaram lutar por um ideal, de pátria livre

e igualitária para todos os brasileiros, dotados de um

forte espírito de solidariedade que foi transposto

para além de suas militâncias políticas. A vida na

prisão trouxe uma nova percepção do mundo e das

lutas iniciadas no espaço sujo e opressivo do cárcere, todos se

organizavam, inventavam modos de tornar menos intragável a

comida, discutem, se divertem, brigam, se dividem, se

reagrupam, mas superam a dissolução que ameaça o preso e,

de certo modo, amadurecem em condições anormaisviii.

Mesmo por detrás daquelas grades havia um espaço

para a vida e a luta continuava a ser feita de outro

modo, através da solidariedade, onde as diferenças

ideológicas eram postas de lado e tanto presos

políticos quantos os corrós partilhavam das angustias

e anseios existentes no espaço prisional. Em um dos

relatos encontrado no livro Tiradentes, um Presídio da

Ditadura: Memórias de Presos Políticos, encontramos essa

solidariedade em que no meio da noite, quando os presos

comuns eram torturados, foram as vozes dos presos políticos

que, aos gritos furiosos, exigiram e conseguiram o fim de mais

aquele bárbaro suplícioix. Bem como a união dos presos

em protestarem, com uma greve de fome, quando

alguns companheiros foram levados a outros

presídios.

Dentro das celas superlotadas impregnadas de sujeira

e umidade, e a falta da luz do sol que lhes era

concedida somente por duas horas semanais, ainda

era possível encontrar um espaço de resistência

criador e criativo, muitos que ali passaram

expressaram suas vivências através da produção

artística, como os artistas plásticos Carlos Takaoka

que em 1979 expôs as aquarelas produzidas nos

cárcere, e Alípio Freire e Sérgio Ferro os quais

ilustraram, com suas pinturas, o livro de memórias

daqueles que estiveram presos no Tiradentes, assim

como a experiência do teatrólogo Augusto Boal, em

Torquemada (peça teatral), que começa a escrevê-la

ainda dentro do cárcere levando aos palcos uma

realidade ocultada dentro dos porões da ditadura.

Essas memórias desvelam uma história pouco

conhecida, o que se tentou fazer, por muito tempo,

foi descreditar a luta de brasileiros e brasileiras que se

indignaram com o estado de barbárie imposto pelo

regime ditatorial, o qual se ocupou especialmente de

manter as profundas diferenças sociais existentes no

país. Homens e mulheres acreditaram na

possibilidade de transformação, se levantaram,

lutaram mesmo sabendo dos riscos que corriam.

Optaram pela esperança de um país justo,

independente das opções que tenham escolhido para

essa transformação. Pelo Tiradentes entre 1969 a

1973 passaram cerca de trezentos presos políticos,

das diversas organizações de esquerda existentes na

época. Esses militantes traziam em si a chama de que

algo novo poderia ser construído. Retomar suas

histórias, suas lutas e seus ideais, é fazer aquilo que

Walter Benjamin propôs nas teses sobre o conceito

de história, em que o dom de despertar no passado as

centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador

convencido de que também os mortos não estarão em segurança

se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.

Presídio Carandiru

Figura 5. Carandiru no início do século XX. http://www.sap.sp.gov.br

Como tantos outros presídios no período da

repressão, o Carandiru serviu de morada aos que não

se calaram perante o regime autoritário que assolava

o país durante os anos de 64 a 85. Nele cabeças

pensantes que lutaram para que hoje tenhamos o

direito de ir e vir cumpriram parte do ritual

estipulado no maior presídio da América Latina:

passaram pela Divinéia, vestiram o uniforme,

tomaram as vacinas e por várias vezes ouviram as

preleções do diretor e foram conduzidos pelos

longos corredores do presídio às suas celas com os

demais presos.

Em 68, quando o 30º congresso da Une era realizado

em um sítio em Ibiúna, um grupo de estudantes após

uma passagem pelo Tiradentes, completou sua pena

no Carandiru. Em seu livro, Tempo de Resistência,

Leopoldo Paulinox, relata que o grupo de estudantes

saiu na madrugada do Presídio Tiradentes com

destino ignorado e quando ainda estava escuro

viram-se no pátio do Carandiru, lá recebidos pelo

diretor do presídio, Coronel Fernão Guedes, que

como fazia com os demais presos, fez uma preleção

sobre as regras do presídio, informando que no

momento contavam com mais de 5.000 detentos,

sendo que para os presos políticos foi reservado um

corredor que os comportaria durante o tempo em

que lá estivessem. Não seria necessário rasparem o

cabelo, porém tomaram as vacinas e vestiram o

uniforme do presídio, suas roupas e pertences

ficaram mediante recibo, retidos na administração do

presídio. Suas celas não foram trancadas de dia, o

que possibilitou a conversa com alguns presos

comuns que por bom comportamento passavam o

dia fora das celas realizando trabalhos burocráticos.

Alguns estudantes de direito foram consultados

pelos presos comuns devido à situação que levavam

sem assistência jurídica e sem julgamento, esquecidos

na imensidão do Carandiru, conheceram também o

detento mais famoso do local, o italiano Menegheti,

que cumpria uma de suas infinitas penas por roubo.

No Carandiru, este grupo de presos políticos, teve a

quebra da incomunicabilidade, a qual estavam

inseridos no Tiradentes e quebraram a greve de

fome, única arma que possuíam, estavam sem comer

a mais de 72 horas. O grupo permaneceu apenas

uma noite e um dia no Carandiru, porém relata com

emoção quando às 18 h. o presídio parou num

momento de reflexão quando os alto-falantes

tocaram a Ave Maria, ele pode sentir pelos gestos e

olhos dos detentos aquele momento de reflexão

sobre suas e vidas e uma ponta de esperança que

brotava de trás das grades. No dia seguinte logo após

o almoço, saíram em ônibus da polícia sob forte

escolta, sendo encaminhados para prestarem

depoimentos no Dops.

Em setembro de 1970, por ordem do juiz-auditor da

2ª região militar, Nelson M. Guimarães, 30 presos

políticos, após cumprirem parte da pena no

Tiradentes, foram transferidos para Casa de

Detenção do Carandiru, Maurice Politi xi , no livro

Resistência atrás das Grades, faz um panorama sobre

esta passagem pelo Carandiru, onde permaneceram

no pavilhão 8 por 13 meses. Nesta época, o governo

Médici (outubro/69 a maio/73), auxiliado pelo

grupo de extermínio chefiado por Sérgio Paranhos

Fleury, o “Esquadrão da Morte”, conseguiu a proeza

de eliminar aproximadamente 250 das quase 480

pessoas declaradas mortas e desaparecidas na

ditadura, nomeando os anos que passou no poder

em “anos de chumbo”. A repressão e a autonomia

dos militares em “resolver do seu jeito” faziam-se

constantes, neste período (maio/70) foram criados

os DOI(s)-CODI (Destacamento de Operações e

informações ligadas aos Centros de Operações de

Defesa Interna). Nesta época o regime militar

arruinou o país, de 69 a 73 a dívida externa elevou-se

em 286%, chegando a um patamar de 12 bilhões de

dólares.

Porém enquanto o regime apertava de um lado, de

outro a resistência por parte dos opositores realizava

autenticas acrobacias a fim estabelecerem a

democracia e a tão sonhada liberdade de expressão,

de dentro dos presídios havia a união e o consenso

entre os presos políticos que viam a cadeia com uma

“trincheira de luta”. Com pouquíssimas exceções

como os chamados “artistas”xii, eles buscavam meios

de denunciar as atrocidades a que eram submetidos,

além de usarem a única arma que dispunham para

chamar a atenção da imprensa para situação: “A

greve de fome”.

Os presos políticos desta vez ocuparam uma ala

isolada no Carandiru, tal precaução foi tomada por

medo da “contaminação de ideias subversivas” a

outros detentos. Após uma aparente estabilidade, no

dia 07/06/1972 foi avisado ao grupo de presos

políticos que seis deles se preparassem pois iriam

fazer uma viagem, o destino não foi avisado o que

causou muita aflição ao grupo, pois sairiam dali sem

que seus familiares e advogados ficassem sabendo e

poderiam terminar como um “presunto”xiii.

Acordados de madrugada, os presos políticos Frei

Fernando, Frei Yves, Frei Betto, Wanderley Caixe,

Manuel Porfírio e Maurice Politi foram reunidos no

pátio, onde algemados aos pares, foram conduzidos a

dois camburões fechados por volta das 5 h. da

manhã, tomando destino ignorado, dentre várias

voltas por estradas desconhecidas, algemados e

apertados na traseira dos camburões, chegaram já

por volta das 21 h. no presídio de Presidente

Venceslau, bem na divisa do estado.

O Massacre de 1992

O Massacre do Carandiru é chamado por alguns de

“tragédia anunciada”, outros o viram como uma

forma de conter a violência gerada pelos próprios

presos. O fato é que depois do massacre, os órgãos

de direitos humanos, empenharam-se ativamente

contra as atrocidades cometidas em presídios e a

imprensa passou a questionar mais a manipulação de

informações por parte do governo.

Às vésperas das eleições municipais na cidade de

São Paulo, dentro do maior presídio da capital,

ocorreu uma luta que de um lado estavam 325

policiais fortemente armados com escudos,

metralhadoras, coletes a prova de bala, cavalos e cães

treinados, de outro um bando de detentos armados

com pedaços de paus.

Os PMs dispararam contra os presos com metralhadoras,

fuzis e pistolas automáticas, visando principalmente a cabeça e

o tórax. Na operação também foram usados cachorros para

atacar os detentos feridos. Ao final do confronto foram

encontrados 111 detentos mortos: 103 vítimas de disparos

(515 tiros ao todo) e 8 morreram devido a ferimentos

promovidos por objetos cortantes. Não houve policiais mortos.

Houve ainda 153 feridos, sendo 130 detentos e 23 policiais

militares.xiv

Alguns dizem que o conflito foi gerado por uma

discussão banal entre dois detentos, coisa fácil de

resolver, porém tomou proporções imensas, talvez

irreparáveis, pois, mesmo com as indenizações ainda

pendentes, a vida humana não é reposta.

No dia do massacre eu e meu companheiro fomos responsáveis

pelo campeonato da quadra. (...) quando foi faltando alguns

minutinhos, mais ou menos pras três horas, olhei pra quadra

pra ver se tava tudo normal, mas não vi nenhum jogador. (...)

Foi nessa hora que começou a sair os jogadores do campo, (...)

falando que tinha uma treta aqui pra cima (...). Nisso já

chegou os funcionários recolhendo o pessoal que estava no

campo. (...). No corredor todo mundo ficou em fila e aí eu

notei a gravidade da situação. Os funcionários já estavam

todos no portão e na hora que eu entrei no pavilhão já tava o

maior barulho (...) Não era a primeira vez que eu tava

passando por isso, (...) então eu fui pro meu xadrez, eu e meu

companheiro, e que seja o que Deus quiser, daqui a pouco vai

acalmar a situação (...) Só que não foi isso que aconteceu.

Antes do choque entrar, o comandante do choque gritou: „Todo

mundo dentro do xadrez, ninguém na galeria que a gente vai

subir‟. Conclusão, isso era mais ou menos três e vinte, três e

meia, daqui a pouco começamos a escutar tiro, bomba, de

repente abriu a porta do xadrez e o policial entrou – eu notei

pelo coturno, porque a gente não pode olhar pra cara, então

nós, de cabeça pra baixo olhando pro chão – ele começou a

perguntar onde a gente tinha posto as armas. (...) „Não aqui é

o setor do de esporte, nosso negócio é esporte, a gente tamos

pagando uma dívida pra Justiça, sem treta com ninguém , pode

olhar debaixo da cama, que o senhor vai ver só bola, rede,

essas coisas‟. (...) aí ele ficou olhando pra gente uns quatro,

cinco segundos (...) aí desengatilhou a arma. Eles tavam em

dois, um dentro da cela com a arma engatilhada e na nossa

cara e o outro (...) ficou na porta com a porta meio aberta,

meio fechada, e falou: „Vamos ver se é isso mesmo‟. Depois

saíram fora, entraram no xadrez vizinho (...). Tinha dois no

xadrez e um não tava, os dois que estavam lá eles mataram,

quer dizer, foram matando, eu jamais imaginava que a polícia

ia fazer uma coisa daquelas. Aí passaram pra esse lado e

subiram lá em cima, eu escutava tiro (...). Conclusão, quando

foi lá pras quatro e quinze mandaram todo mundo descer pro

pátio, pelado. (...) Eu desci e aí, me lembro como se fosse hoje

(...) tinha uns três corpos caídos com a metade do corpo pra

dentro do xadrez e a metade do corpo pra fora, e no outro

xadrez mais pra frente, a mesma coisa. (...) quando chegou na

curva (...) tinha aquele bolão de cara de shorts – do GATE

(Grupo de Ações Táticas Especiais), da ROTA (Rondas

Ostensivas Tobias de Aguiar) – e eu escutei um deles falando

assim „os caras do GATE e da ROTA tão aí pra cima

matando pra caramba‟, aí não sei se foi o comandante ou

quem foi que falou: „Não é pra matar ninguém não‟! Aí

começaram a discutir entre eles e tava um bolo de cara em pé

sem saber pra onde vai, né? Aí gritaram: „É pra todo mundo

ficar no chão deitado, não é pra ficar escutando as ideias‟! Aí

caiu todo mundo um em cima do outro. E depois de dois

minutos foi todo mundo pro pátio – aquele corredor, os

guardas com cachorro de um lado, um espacinho mínimo -,

passamos tudo correndo e ficou todo mundo sentado no pátio,

de fila em fila sentado com a cabeça no meio das pernas. E

pra cima aquele barulhão, e deu seis horas, deu sete horas, e a

situação pra cima continuava feia e quando foi lá pras nove e

meia, mais os menos, silenciou, porque a polícia tava dando o

couro em nóis. Aí deu pra gente olhar meio do rabo dos zóio e

a gente viu que era corregedor, era todo mundo engravatado,

saindo da carceragem e entrando no corredor da enfermaria.

Aí que parou. Mas das três e meia até às nove horas, acho

que só na guerra pra ver uma coisa daquelas. xv (Bissiliat,

2003:153).

Ao todo foram 111 mortos, número divulgado

somente no dia seguinte faltando 15 min. para

fecharem as urnas. Tal medida foi tomada por medo

do número de mortos ser prejudicial ao candidato a

prefeito Aloysio Nunes, indicado pelo governador da

época Luiz Antônio Fleury Filho. O número inicial

seria 4 mortos, após a saída do número oficial,

familiares dos detentos ficaram desesperados sem

saber se seus parentes estavam vivos ou mortos,

aglomeraram-se na porta do presídio, porém, mesmo

com o desespero e o empenho a lista com os nomes

oficial dos mortos só foi publicada no dia 08 de

outubro.

Conforme um levantamento feito pela Comissão de

Direito Humanos, o perfil mostrou que 80% das

vítimas do massacre não havia sido julgada, somente

9 presos tinham recebido pena acima de 20 anos,

quase metade dos mortos, 51 detentos tinha menos

de 25 anos, 35 deles tinha entre 29 e 30 anos, 92,66%

dos presos foram detidos por assalto, 8% por

homicídio.xvi

A Polícia Militar afirmou que os detentos tinham armas e

apresentou dezenas de armas brancas e 13 armas de fogo. O

informe balístico informa que “todas as armas apresentam em

suas superfícies sinais de oxidação normalmente encontrados

em condições de armazenagem em ambientes inadequados”.

Essas informações levam a creditar que as armas foram

“plantadas”. A tese de que houve confronto armado entre

policias militares e detentos não é sustentada pelas provas dos

autos do processo. A legitima defesa alegada pela cúpula da

Polícia Militar não tem fundamento nos fatos. O laudo do

Instituto de Criminalística concluiu: “Em todas as celas

examinadas, as trajetórias dos projéteis disparados indicavam

atirador(es) posicionado(s) na soleira das celas, apontando sua

arma para os fundos ou laterais (...) Não se observou

quaisquer vestígios que pudessem denotar disparos de armas de

fogo realizados de dentro para fora das celas, indicando

confronto entre as vítimas-alvo e os atiradores postados na

parte anterior da cela”. O relatório de criminalística termina

com a afirmação de que não fora possível elaborar conclusões

mais profundas porque „(...) o local dava nítidas demonstrações

de que fora violado, tornando-o inidôneo para a perícia‟.xvii

A Desativação

Devido a grande repercussão e pressão internacional,

em 1996, criou-se no Brasil, o Programa Nacional de

Direitos Humanosxviii, dentre os planos do programa

estava o da Desativação da Casa de Detenção.

“Incrementar a desativação da Casa de Detenção de

São Paulo (Carandiru), e de outros estabelecimentos

penitenciários que contrariem as normas mínimas

penitenciárias internacionais”.

Em 1998, com opiniões divergentes sobre a

desativação ou não, iniciou-se o processo com a

transferência de detentos para outros presídios,

porém, a morosidade no Brasil é uma constante e só

em setembro de 2002, o processo de transferência

foi concluído.

14 de setembro de 2002: última noite na Casa de

Detenção, Carlos Rita, um funcionário com mais de

30 anos de trabalho na Casa, sentia em seu interior

um aperto, porém tinha consciência que seria para o

bem, da população, pois como ele próprio afirma: “

(...) não há mais razão de existir, de forma nenhuma.

Você não recupera ninguém aqui, (...) e não ia

recuperar se continuasse”. (Bissiliat, 2003:240).

Nessa última noite restavam apenas 73 sentenciados

na detenção, o funcionário relata também a falta de

estrutura e a impossibilidade de reeducar uma

população carcerária tão grande, lembrando que em

determinadas épocas o Carandiru chegou a ter 8.000

detentos, como nos demais presídios brasileiros uma

superlotação que excede sua capacidade em até

200%. O Carandiru foi desativado, mas a situação

carcerária brasileira continua estagnada, a prisão, o

cárcere é a única solução vendida à sociedade como

forma de reeducação daqueles que cometem delitos e

não se adequam ao padrão, mas como o indivíduo

recém-saído de uma estrutura com condições sub-

humanas, tendo seu tempo gasto na morosidade e

sem orientação adequada estará pronto a reintegrar a

sociedade?

Adaércio de Lima, vulgo Twin, era um dos presos da

Casa de Detenção em 2000, ele próprio descreve a

situação vivida:

Um minuto é uma hora, uma hora é um ano. (...) porque o

tempo não passa, você vai no campo, olha, olha, fuma um

baseado, vê televisão, quando você vê são nove horas ainda,

(...) Então, um dia aqui é uma semana, é muito longo. (...) O

trânsito, dentro de um ônibus lotado. Tem muita gente que

reclama, mas para mim seria gratificante. (...)A gente não tem

assistência social. Se você tiver uma depressão (...), você não

pode chorar, porque o preso não pode. (...) vai ser tirado:

„Você é o maior bunda-mole, é um vacilão!‟ (...) Você não tem

uma pessoa para conversar. (Bissiliat, 2003:209-217).

É muito difícil a vida carcerária, mas a reintegração

na sociedade ainda é um caminho mais cruel, pois as

oportunidades são escassas, quando se puxa a ficha e

constata-se alguma pendência com a justiça, o ex-

presidiário acaba sem emprego, além da constate

vergonha que o acompanha, ás vezes é mais fácil

voltar ao mundo do crime do que encarar a

sociedade.

Parque da Juventude

Hoje na Avenida Cruzeiro do Sul aquela fila gigante

que se formava nas madrugadas de sábado para

domingo não acontece mais. Esposas, mães, irmãos,

amigos de detentos formam filas em outros presídios

e no antigo endereço foi erguido um complexo com

quadras, escolas técnicas e áreas verdes, o Parque da

Juventude, concluído em 2007.

Composto de 3 grandes espaços, sendo o primeiro

voltado à prática esportiva com quadras, pistas de

cooper, espaços para skates e patins, banheiros e

bebedouros e uma área de 16 mil metros quadrados

de mata preservada para trilha ecológica.

O segundo remete a ideia de parque com jardins,

espaços para piqueniques, trilhas, passarelas, com

playground, além da preservação da antiga muralha

do Carandiru com 600 metros de extensão e das

ruínas de celas solitárias.

Já o terceiro, de cunho cultural, onde foram

preservados os pavilhões 4 e 7, sendo no primeiro a

Etec Paula Souza e no segundo a Etec das Artes,

juntas têm quase 2.000 alunos, no espaço do antigo

pavilhão 2, está a Biblioteca de São Paulo, modelo da

Secretaria da Cultura e também o Acessa São Paulo

com internet gratuita, além de uma área coberta para

shows que comporta até 15.000 pessoas.

O projeto arquitetônico do parque ficou a cargo do

escritório de Gian Carlo Gasperini, arquiteto italiano

radicado no Brasil, onde doutorou-se em 1972, pela

FAUUSP, dentre seus projetos está a construção do

auditório Cláudio Santoro em Campos do Jordão e o

Credicard Hall em São Paulo.

O projeto paisagístico foi elaborado por Rosa Grena

Klias, paulista de São Roque, graduada pela

FAUUSP em 1955, autora do livro “Parques

Urbanos em São Paulo”, dentre seus projetos está a

reforma do vale do Anhangabaú em São Paulo.

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