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António Sala Memórias da Vida e da Rádio dos Afectos

Memórias da Vida e da Rádio dos Afectos - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Oct/memorias_da_vida_e_da_radio_dos_afectos_ql… · heróis da montanha, com o ruído arrastado do projector

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António Sala

Memórias da Vida e da Rádio dos Afectos

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Prefácio

Nunca ouvi António Sala na rádio.Mas tenho desculpa. É que fui educado no estrangeiro

e em Portugal passei pouco tempo. E quando frequentei a faculdade em Lisboa apenas usava a rádio para ouvir notícias.

Conheci por isso António Sala pela televisão. Um exce-lente apresentador; sóbrio, simpático, comunicativo e talen-toso. Um programa dele parecia carimbado com um selo de qualidade, com uma apresentação tão fluida e transparente como a água de uma fonte de montanha.

Depois de uma breve passagem por um concurso tele-visivo, conheci -o finalmente como homem de rádio quando fui à Rádio Renascença dar -lhe uma entrevista – na ver-dade, duas – para o seu programa. António Sala confirmou--se como um conversador nato, inteligente e informado, daqueles que transforma as palavras em mel, uma abelha talentosa que labora pacientemente em torno dos entrevis-tados para lhes extrair o pólen.

Estamos a falar de um dos melhores profissionais da comunicação social no nosso país. Mas quem dele um mais justo juízo pode fazer não sou verdadeiramente eu, mas

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aqueles para quem, durante anos e tantas manhãs, ele falou ao pé da orelha – os ouvintes.

Ou, neste caso, os leitores.

© José Rodrigues dos Santos

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«A bonita mulher foi violentamente atingida com três facadas rápidas. A primeira no braço, quando tentou defender -se. A segunda na cabeça, um pouco acima da orelha direita. A terceira, já com ela no chão inconsciente, foi desferida no peito e perfurou -lhe o coração. A mulher estava morta. O assassino retirou a faca, devagar, levantou--se lentamente, e, protegido pela escuridão, desapareceu no silêncio da noite.»

Que início incrível para um livro!Lembro -me que era mais ou menos assim que come-

çava um dos romances da velha colecção Vampiro, que o meu avô conservava com o maior dos cuidados e devorava com indisfarçável prazer.

Eu também os lia, mas à noite, na cama, e às escondi-das. Já me tinham dito várias vezes: «Ainda não tens idade para ler estas coisas.»

Mas era mais forte do que eu. Não conseguia resistir. Pois é, já em criança eu era um leitor compulsivo.

Aos oito anos, em Vila Nova de Monsarros, esperava com verdadeira ansiedade a chegada da carrinha da biblio-teca ambulante, que trazia os livros que durante algumas semanas me ajudavam a crescer. A devolução de alguns

Caros ouvintes (e leitores)

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exemplares foi -me, por vezes, bem difícil. Já nessa altura havia entre mim e eles uma ligação a que se poderia cha-mar mágica. Os simpáticos funcionários da Fundação Gul-benkian cedo o perceberam. Tratavam -me com par ti cular carinho. Muitas vezes, deram -me sugestões que aceitei ape-nas por vergonha de recusar e para não me julgarem ingrato e malcriado. Foi assim que de Emílio e os Detectives, de Erich Kastner, à Odisseia, de Homero, de muitos clássicos a imen-sos contemporâneos, devorei livro após livro e me fiz homem.

Lia de tudo e até o que não devia. Claro que, desde então, depois de todos estes anos, estou diferente. A idade traz -nos a noção do bem finito que é o tempo e empresta--nos um pouco de sabedoria para o saber gerir melhor. Pelo menos é o que pensamos. Saber aproveitar o tempo. Mas tenho dúvidas. Há alguns anos lia muitos jornais diários. Hoje leio dois, que considero de referência: um semanário e uma revista, cuja leitura se prolonga por vários dias. Também procuro muita informação nos média digitais. Os livros, esses sim, são a minha paixão. Saborear -lhes o toque e as letras. Até os seus cheiros. Os mundos que escondem. As emoções que oferecem.

Consigo, com mais ou menos disciplina, ler dois, ou mesmo três livros ao mesmo tempo. Claro que nunca dois romances, dois ensaios ou dois livros técnicos em simul-tâneo. No entanto, ler um romance – isso é obrigatório – e um livro de não -ficção, para mim, é uma quase rotina a que já me habituei.

Os livros ajudam a exercitar o cérebro, contribuem para acumular conhecimentos e estimulam os nossos sen-tidos. São o melhor acesso às avenidas da cultura. Os livros marcam -nos e mudam -nos.

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A minha paixão por eles é tal que, às vezes, cega -me. Só assim se justifica que ciclicamente caia na tentação de mergulhar no fascinante mundo dos que os escrevem. Dou por mim a tentar ser um desses. Esta é a sexta vez que me deixo cair em tentação. Nos cinco livros anteriores, tantas outras vezes prometi que jamais o voltaria a fazer. Falhei sempre. Por isso, não há mais promessas. As coisas são o que têm de ser, e pronto. Ao longo de mais de oito anos, fui encontrando tempo de o escrever, e ele aqui está.

Neste livro, não tento sequer vestir o fato do escri-tor. Tenho consciência dos meus limites e respeito muito aqueles que vestem essa pele. Sou, isso sim, um contador de histórias ligadas aos afectos e aos olhares, às coisas e às pessoas que marcaram a minha vida e, sobretudo, o meu modo de fazer rádio. É, única e simplesmente, a visão de um radialista e o contar das histórias que o marcam na profissão, mas não só. É também, e para lá de um teste-munho, o deixar em página escrita, se possível aos mais novos, um desafio para a chamada área do entretenimento radiofónico. Não são raras as vezes em que esta é tratada como secundária, quando comparada ao jornalismo de informação. E não é.

Talvez daí o número contrastante dos universitários de Comunicação Social que escolhem jornalismo, e não entretenimento comunicacional. Espero que, para esses, a leitura deste livro seja um despertar de curiosidade, que os venha, quem sabe?, motivar a uma nova experiência, ou mesmo levar à descoberta de uma ignorada vocação.

É também a minha modesta homenagem a todos os que fizeram e aos que ainda escrevem a história da rádio em Portugal. Dos técnicos e produtores mais anónimos, às

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vozes e nomes mais reconhecidos. A todos os que amam a rádio como eu.

E é, acima de tudo, o meu profundo e reconhecido agradecimento ao ouvinte. O receptor maioritariamente anónimo. O elo final, que justifica e completa a razão de todo o nosso trabalho. O ouvinte, a pessoa mais importante da rádio.

Por isso, aqui vos deixo um livro da rádio que sempre fiz. Uma rádio de afectos, e da vida que me ofereceu. Uma vida que acabou por extravasar para a televisão, o palco, a música, e que me proporcionou fantásticas aventuras e viagens pelo mundo. Este é o livro dessas histórias e dessas memórias.

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Era uma vez…

… um miúdo que tinha dificuldade em adormecer quando estava na velha casa da avó Sara, em Vila Nova de Monsarros. O nome dele era António Sala…

O meu quarto, no primeiro andar, era grande, e a entrada da escassa luz que chegava da rua imprimia nas velhas paredes sombras indefinidas. A pintura já conhecera melho-res dias, acusava o desgaste provocado por longos Inver-nos, misturada com o salitre e o calor de penosos Verões.

Eu puxava o lençol até aos olhos, tentando prote ger -me das visões fantásticas que a noite e as sombras projectavam de forma desfocada na parede em frente. Parecia que os contrastes de brancos e negros ganhavam lentos movimen-tos e se viravam para mim.

O sono não vinha e o medo ia ganhando espaço. Sentia que se ia entalando comigo entre os lençóis. Então, enco-lhia as pernas e juntava os braços numa posição defensiva. Ainda hoje, quando os calores e os frios das febres me ata-cam sazonalmente, dou por mim a procurar entre tremores a mesmíssima posição.

Uma das minhas paixões de miúdo era o cinema.Dos primeiros filmes, recordo, a preto -e -branco, as

imagens fascinantes de uns quantos alpinistas a subirem

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lenta e perigosamente uma montanha gelada. Isso acon-tecia na igreja, no salão de jovens, durante a projecção de documentários cedidos a título gratuito por algumas das embaixadas acreditadas entre nós.

O som era sempre roufenho e, quando a imagem desfo-cava, até nos podíamos dar por contentes, porque o normal era a fita partir -se várias vezes e interromper a projecção. Claro, a berraria era certa entre os mais novos, logo seguida pelos «chius» escandalizados dos mais velhos, que só acal-mavam quando a luz se acendia. Depois de colada a fita, voltava a escuridão que antecedia o regresso ao ecrã dos heróis da montanha, com o ruído arrastado do projector de 16 milímetros a ganhar balanço para conseguir estabilizar imagem e som na sua velocidade de cruzeiro. Muitas vezes, o filme não chegava ao fim. A lâmpada fundia -se, e a de reserva já tinha ido pelo mesmo caminho sem informar o projeccionista. Então, toda a gente ia mais cedo para casa.

Nessas noites, adormecia ainda com mais dificuldade. Dava voltas na cama e interrogava -me sobre como teria acabado a aventura. Punha -me a tentar descobrir -lhe mais do que um final, e lá escolhia aquele que me agradava. Nessa altura, já eu estava metido no enredo e raramente não era o primeiro a chegar ao cimo da montanha, ven-cendo a corrida e conquistando o troféu. Por vezes, era difícil perceber quando o final não era, então, obra de Morfeu, ganhando imagens a cores, o que significava que o «realizador» já tinha adormecido. Hoje sei que era assim, porque nunca sonhei a preto -e -branco.

As sombras na parede daquele velho quarto, porém, eram cinzento -escuras. A figura que a minha imagina-ção mais desenhava nessas sombras de parede era um

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velho, que parecia ter um casaco até aos pés e cabelo só de um lado. Queixo longo, afiado, e nariz aquilino, que, quando se esticava, mais parecia o de uma bruxa. Metia--me medo. Parecia olhar para mim e para uma enorme multidão que eu via projectada nas sombras envolventes. Nesse momento, para fintar o medo já não chegava puxar o lençol para cima, fechar um olho, esticar as pernas e apertar os braços. Correr para o quarto da minha avó afigurava -se a melhor solução. Reconheço que era a mais segura, mas a menos honrosa para a minha dignidade ferida. Senti que não o poderia fazer mais vezes, ou corre-ria o risco de liquidar por completo o alpinista vencedor dos finais felizes, dos tais filmes inacabados. Isso é que não podia ser.

Numa dessas noites, o sono não vinha, como de cos-tume, e o velho das sombras voltou a atacar. Travei a respiração e senti o metralhar do coração. Foi por certo uma luta de breves segundos, mas que me pareceu durar minutos.

Apetecia -me fugir, correr para o quarto da avó e enfiar--me na cama dela, sentir o seu corpo cansado e quente, e esperar que ali não aparecessem as sombras do velho e da multidão. A vontade era essa, mas o desejo de lutar para não deixar de ser herói falava mais alto.

«Que raio, o velho mete medo, mas nem sequer fala!»Uau! Nunca tinha pensado nisso!O velho nunca tinha falado! Metia -me medo sem nunca

ter dito uma palavra. E a multidão era silenciosa! Nunca tinha feito qualquer ruído! Nem um simples murmúrio.

Aos seis anos, inventei uma coisa que só viria a desco-brir vinte anos mais tarde: a maioria silenciosa.

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Então, foi a minha vez de falar. Não sei o que me deu; não imagino o que me terá passado pela cabeça. Lenta-mente, mas de forma segura, comecei a falar -lhe.

– Sabes, fui o primeiro a chegar ao cimo da montanha gelada.

O velho ficou quieto, e a multidão deixou de estremecer.– Estava muito frio, mas cheguei primeiro que todos

os outros alpinistas. Sabes, tenho muita força. Muita força mesmo.

O velho nesta altura parece que se encolheu. Por sua vez, a multidão chegou -se um bocadinho mais à frente. Engraçado, isso só me encorajou. Aliás, da multidão eu nunca sentira medo. Fui descontraindo e atirei:

– Querem que vos conte a minha aventura, que já está num filme e tudo? Querem?

A multidão acenou que sim com as cabeças, como se fossem uma só e única cabeça. Sim, queria.

Baixei um pouco o lençol e pus os braços de fora.– Pois é, eu sou um grande aventureiro, e tenho histó-

rias fantásticas para vos contar.Uma voz tímida saiu da parede e disse num tom rouco

e cansado:– Conta tudo, que nós queremos ouvir.Fiquei pasmado! Era o velho. Mas agora não estava em

primeiro plano. Parecia que tinha recuado e se juntara à multidão. Afinal, nem parecia tão grande como dantes. E o casaco nem era tão comprido como eu julgara. Estiquei as pernas, levantei um braço, e indiquei -lhe com um dedo junto à boca para ficar em silêncio porque eu estava a falar. Pareceu -me ter ficado assustado. Eu, isso também não queria. Sorri -lhe com ar de compreensão. Ficou mais

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tranquilo e o nariz pareceu -me ter encolhido um pouco. Achei -o muito interessado no que eu tinha para dizer.

Falei, falei, falei durante muito tempo. Quando contava as coisas mais empolgantes e arriscadas, a multidão ficava como que suspensa. Aquela gente quase parava de respirar e soltava expressões de admiração.

Ao referir, com tristeza, a morte do cão que se perdeu nas montanhas geladas, senti que alguns na multidão, espe-cialmente as crianças e as mulheres mais velhas, choravam.

Se eu sorria e elevava o som da minha voz, contando a vitória final de uma aventura extraordinária, a multidão assaltava os meus ouvidos com aplausos intermináveis e exclamações de júbilo. Quase sempre o som final era a voz da minha avó, interrompendo a minha fantasia e entrando no quarto com tom ameaçador, dizendo:

– Cala -te imediatamente e dorme. És doido ou quê?…Cala -te e dorme.

Eu lá me encolhia e fazia os possíveis por acalmar a excitação do que tinha vivido, deixando o sono tomar conta de mim. Finalmente, adormecia, mas não sem antes ouvir a minha avó refilar no seu quarto.

– Parece doido! Sozinho no quarto, e fala com quem?Devo ter repetido esta cena vezes sem conta. O exercí-

cio de quebrar o medo comunicando, sei hoje, foi a minha primeira experiência no fascinante acto de falar com os outros e estabelecer diálogos.

Sonorizei sombras. Inventei vozes a velhos e a multidões caladas. Tinha seis anos, e percebi que nunca queria ser outra coisa senão aquilo. Mas não lhe sabia o nome. Alguns anos mais tarde, pensei: «É ser actor», mas não era. Pensei: «É ser cantor»; não era. Depois: «Locutor»… Aí, fiquei mais perto.

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Hoje, há uma palavra que define o que, desde os meus seis anos, tenho tentado fazer. Não sei se o conseguirei, mas deixem -me tentar convosco, desta forma escrita, o mesmo que há tantos anos eu tentava com as sombras que povoa-vam a parede dos medos, no velho quarto da minha avó Sara: comunicar.

Deixem -me contar -vos as histórias reais da minha vida, que fazem o universo do meu mundo. As minhas histórias da rádio. A que fiz, a que penso, a que oiço, a que amo. Uma rádio real, com pessoas reais, feita por pessoas e para pessoas, quer seja um velho ou uma criança, uma mulher jovem ou uma grande multidão. Uma rádio que só vale a pena quando é verdadeira, quando informa ou forma, quando diverte ou fascina.

Nos meus seis anos, ainda não havia nascido a televi-são em Portugal, mas já eu ouvia muito a rádio, sobretudo a Emissora Nacional, onde pontuava a fantástica Maria Madalena Patacho, e o Rádio Clube Português, que me interessava pelo trabalho do espantoso José de Oliveira Cosme. Eram estes os programas infantis.

Desde muito criança que a rádio é para mim uma palavra mágica. Começou por ser a caixinha de sons e músicas que me embalou no berço. Mais tarde, tornou--se no suporte de vozes e palavras que me faziam ouvir e entender o mundo.

Sempre escutando rádio, aprendi a descodificar notícias, namorar, ouvir concertos, pedir discos, aceitar sugestões, ouvir futebol, gostar de teatro, adormecer bem, levantar -me ainda melhor, viajar acompanhado, mesmo que estivesse só.

Ainda não tinha 17 anos, entrei para o mundo fasci-nante da rádio. Aí cresci e me fiz homem. Na rádio, fiz e

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vivi madrugadas, tardes e milhares de manhãs, com entre-vistas, reportagens, crónicas e concertos. Ao vivo ou em diferido. Realizei emissões em palcos, aviões, navios, sub-marinos, templos romanos, castelos medievais, de carro, de bicicleta, de sidecar, no circo, em fóruns, palácios, vielas, teatros, arenas, bibliotecas, cinemas, prisões, ave-nidas, pavilhões, monumentos, hospitais, praças nobres de aldeias, vilas e cidades, da Europa às Américas, de África ao Oriente.

Na rádio conversei com o povo, com estrelas, vivi revoluções, nascimentos, mortes, cantos, lágrimas, alegrias, festejos e pesares. Embarquei a minha voz em formas ana-lógicas e digitais. Em onda curta, onda média, FM, satélite, Internet. Cheguei a lugares que não pisei, e falei a milhões de pessoas que não conheço.

Quarenta e cinco anos após o começo desta minha aventura, continuo apaixonado pela magia da rádio. Que é como quem diz, apaixonado pelo palco maior dos sons. Grande rádio é aquela que se inventa e reinventa nas sonoridades de todos os dias. Adorna -se, como uma mulher bonita, de música, notícias e jingles, vaidosa de audiências. Mas, quando se despe, deixa ouvir a nudez da sua pele e as formas reais e os contornos da sua alma. Comunica sons, vozes, emoções, palavras e afectos às pessoas, que a rádio, na sua gíria própria, designa por ouvintes. Homens e mulheres que são a única razão de ser da sua existência.

Sempre tive com a rádio dois compromissos: amá -la e fazê -la. Amá -la, ainda a amo com paixão e perfeição; quanto a fazê -la, porventura nem sempre o terei conseguido fazer tão bem quanto desejava e ela merecia, mas tentei.