10
Actas 10ª Conferencia Latinoamericana y 3ª Conferencia Panamericana de la Sociedad Internacional de Educación Musical “Educación musical en las Américas: Situación actual y desafíos para el futuro” 4 al 7 de agosto de 2015, Lima, Perú Facultad de Artes Escénicas Pontifica Universidad Católica del Perú Agosto, 2015

MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

  • Upload
    carol

  • View
    10

  • Download
    2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICALActas ISME 2015 - PeruAutora: Caroline Caregnato

Citation preview

Page 1: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

Actas 10ª Conferencia Latinoamericana y

3ª Conferencia Panamericana de la

Sociedad Internacional de Educación Musical

“Educación musical en las Américas:

Situación actual y desafíos para el futuro”

4 al 7 de agosto de 2015, Lima, Perú

Facultad de Artes Escénicas

Pontifica Universidad Católica del Perú

Agosto, 2015

Page 2: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

i

AUSPICIADORES

Page 3: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

ii

COMITÉ ORGANIZADOR

Autoridades ISME

Margaret Barrett (ISME Past President), Ana Lucía Frega (HLM ISME), Sergio Figueiredo (ISME

Board Member), Patricia A. González Moreno (ISME Board Member)

Comité Organizador Internacional

Ana Lucía Frega (Argentina), Sergio Figueiredo (Brasil), Lyscenia Durazo (Perú)

Comité Científico Internacional

Patricia A. González Moreno (Presidenta), Luciana del Ben, Violeta Schwarcz López Aranguren, Harry

E. Price, Carlos Poblete Lagos

Comité Organizador Local

Lyscenia Durazo, Danilo Yánac, Isabel Ricaldi, Johan Flores, Eduardo Acosta, Gabriel Iwasaki,

Claudia Manrique, Yicela Barrera, Julio Gallardo.

Comité de Becas y Relaciones Interinstitucionales para el Perú

Pilar Zúñiga

Comité Artístico

Marco Antonio Mazzini, Bertrand Valenzuela Rocha, Lyscenia Durazo

Edición General de Actas de Conferencia

Patricia González Moreno, con la colaboración de Gabriel Iwasaki

Page 4: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

17

MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

Caroline Caregnato

[email protected]

RESUMO

Este trabalho tem como objetivos apresentar brevemente algumas discussões teóricas sobre a questão

da memória musical, do ponto de vista da Psicologia da Música, e apresentar estratégias pedagógicas

que têm sido empregadas no ensino de Percepção Musical com o intuito de promover o

desenvolvimento da competência de memorizar músicas. Nele são apresentados uma breve revisão de

literatura abordando os diferentes tipos de memória e a formação de chunks, e também um breve relato

de formas de aplicação das ideias teóricas discutidas, dentro do contexto das aulas de Percepção

Musical visando facilitar a memorização. A partir do que foi exposto, pode-se afirmar que para que a

memorização aconteça é preciso que professores e alunos se engajem na intepretação e busca de

compreensão dos elementos constitutivos da linguagem musical e de sua forma de organização.

Também é necessário que pontes sejam estabelecidas entre as situações vivenciadas na aula de

Percepção Musical e os conceitos estudados em outras disciplinas, pois a memorização depende dos

conhecimentos musicais que o sujeito possui.

Palavras-chave: memorização; Percepção Musical; ditado musical.

INTRODUÇÃO

Enquanto professores de Percepção Musical frequentemente nos deparamos com estudantes que

se queixam de dificuldades de memorização de músicas ou de ditados. Essas dificuldades, como

podemos imaginar, impedem qualquer tentativa posterior de notação, pois a memorização é o primeiro

passo nesse processo. Acredito ser de extrema importância, auxiliarmos nos estudantes a sanar suas

dificuldades em memorizar o que ouvem, não apenas pelas implicações que isso pode ter no ensino de

Percepção Musical e na realização de ditados, mas também por suas implicações para a prática musical.

Apesar de o problema da memorização ser frequentemente tomado como uma questão insolúvel

ou como uma competência inata, acredito que ela pode ser desenvolvida. Acredito que, conhecendo os

processos cognitivos envolvidos na atividade de memorização, é possível que professores e estudantes

possam buscar estratégias de trabalho mais eficientes e possam sanar as dificuldades enfrentadas.

Este trabalho tem como objetivos apresentar brevemente algumas discussões teóricas sobre a

questão da memória musical, do ponto de vista da Psicologia da Música, e apresentar estratégias que

Page 5: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

18

têm sido empregadas no ensino de Percepção Musical com o intuito de promover o desenvolvimento da

competência de memorizar músicas.

Dessa forma, iremos observar na sequência uma breve revisão de literatura levantando a questão

dos diferentes tipos de memória e também abordando a formação de chunks. Em seguida, veremos um

breve relato de formas de aplicação das ideias teóricas discutidas nas aulas de Percepção Musical com

o intuito de promover a memorização.

OS TIPOS DE MEMÓRIA E A FORMAÇÃO DE CHUNKS

Estudando a memória musical, Kalakoski (2007) observou que conhecimentos e habilidades

musicais pré-adquiridos auxiliam no processo de memorização ou, mais especificamente, contribuem

para a construção de chunks. Segundo as definições empregadas pelo autor, o processo de construção

de chunks é responsável por codificar peças de informação (de natureza sonora, visual ou outra) em

unidades cognitivas chamadas de chunks. Um chunk pode ser entendido, dessa forma, como um

conjunto de elementos fortemente relacionados entre si, mas relacionados de modo débil com outros

elementos que não pertencem a ele. Um chunk é, portanto, um grupo construído mentalmente que

envolve um número indefinido de informações (BUTLER, 1992, p. 147).

Segundo Butler (1992), a capacidade de retenção de informações na memória não é muito

ampla, então as unidades de informação precisam ser unidas, formando chunks, para que cada chunk

passe a ser armazenado como uma unidade específica de informação, liberando a capacidade de

armazenamento da memória para que ela retenha mais dados. Dois ou mais chunks ainda podem ser

agrupados, gerando um único chunk que, uma vez formado, permitiria a liberação de ainda mais espaço

de armazenamento na memória.

Como mencionamos acima, Kalakoski (2007) acredita que conhecimentos e habilidades

musicais pré-adquiridos ajudam no processo de codificação de unidades de informação musical em

chunks, facilitando a memorização. Segundo o autor, esses dados são condizentes com estudos

realizados a partir da memorização de posições de peças em um jogo de xadrez. Nesses casos,

jogadores apresentaram melhor memorização que não-jogadores em função de seus conhecimentos

específicos na área e de uma melhor capacidade para construir chunks daí decorrente.

Na sequência iremos discutir como ocorre a formação de chunks, mas antes será preciso

estabelecer uma distinção entre os diferentes tipos de memória.

Como aponta Brower (1993, p. 21-22), as informações captadas pelos sentidos são inicialmente

armazenadas na memória sensorial, que é um tipo de armazenamento de natureza pré-cognitiva, que

Page 6: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

19

mantém a informação em seu estado original, de forma tal que os eventos sejam lembrados como

sensações e não ainda como percepções (percepção envolve organização e interpretação de estímulos).

A memória sensorial permite o armazenamento do som das badaladas de um relógio, por exemplo,

como um conjunto de estímulos sonoros que rompe o silêncio, e não ainda como um anúncio das horas.

Quando a memória sensorial está voltada para estímulos sonoros ela recebe o nome de memória ecoica

e dura por volta de dois segundos.

Após o tempo que dura a memória sensorial, segundo Brower (1993, p. 21-22), as informações

podem passar a ser armazenadas na memória de curto prazo, também chamada de memória de trabalho.

Esse tipo de memória é capaz de reter informações longas e em quantidade grande o suficiente para

permitir a construção de sentenças ou frases musicais. Essa memória é fruto da atividade cognitiva e

nos permite acessar conscientemente as informações, compreendendo-as. A memória de curto prazo

também possui capacidade de armazenamento limitada. Acredita-se que podemos reter nela no máximo

de cinco a nove unidades de informação ao mesmo tempo, dependendo do tipo e da extensão dos dados

armazenados.

Ainda segundo Brower (1993, p. 22), buscando superar as limitações da memória de curto

prazo, podemos reter informações na memória de longo prazo, que é um tipo de armazenamento mais

ou menos permanente e que pode reter quantidade ilimitada de dados. Essa memória guarda não apenas

eventos, mas também conhecimentos conceituais.

Como dizíamos logo acima, o número de informações que podem ser retidas na memória de

curto prazo é de no máximo cinco a nove unidades. Desse modo, é indispensável que informações

curtas sejam agrupadas entre si, formando chunks, para que a capacidade de armazenamento se

expanda. Esse agrupamento de informações, contudo, depende de um processo de reconhecimento de

padrões que só pode ser levado a cabo com o auxílio da memória de longo prazo e dos conhecimentos

nela retidos sobre como certas informações podem ser agrupadas. Podemos fazer uma analogia entre

esse processo e o trabalho do leitor de código Morse. Este, ao ouvir uma sequência de sinais sonoros,

precisa se remeter aos conhecimentos que possui arquivados em sua memória de longo prazo sobre

leitura de código Morse. Esses conhecimentos o ajudarão a unir sinais sonoros em conjuntos que

formam letras e palavras. Sem a formação de chunks representando letras, e sem a união desses chunks

de letras em chunks maiores de palavras, a construção de uma frase na memória de curto prazo não

seria possível. Assim, podemos assistir a um processo de troca que ocorre entre a memória de longo

prazo e a memória de curto prazo, de modo tal que uma auxilia a outra (KLEEMAN, 1985-1986, p. 5-

6).

Page 7: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

20

Kleeman (1985-1986, p. 6-7) sugere que processos como esse também ocorrem na memória

musical. Para ele, uma frase melódica formada, por exemplo, por um contorno ascendente composto

apenas por graus conjuntos, também pode se tornar um chunk. Ou seja, os sucessivos intervalos da

escala diatônica podem estar armazenados na memória de longo prazo de um musicista. Esse sujeito

pode projetar o contorno de uma melodia recém ouvida diante do quadro de intervalos diatônicos que

possui “arquivado”. Esse conhecimento sobre a escala diatônica pode ajudá-lo a interpretar todas as

notas da melodia como apenas uma unidade de informação (um chunk), que pode ser definido

teoricamente como “um trecho de escala”. Segundo esse autor, o mesmo ainda ocorre com ritmos, que

ao invés de serem memorizados como um apanhado de notas diversas, podem ser retidos como padrões

rítmicos.

Desse modo, parece possível que conhecimentos conceituais sobre teoria musical, análise,

história da música, etc, aprendidos anteriormente e retidos na memória de longo prazo, possam auxiliar

na construção de chunks e no armazenamento de maior quantidade de informação na memória de curto

prazo. Uma melhor capacidade de armazenamento de informações recentes pode ser fundamental na

realização de atividades como o ditado musical e que são comumente empregadas no ensino de

Percepção Musical. Assim, nos parece que um bom desempenho em atividades desse gênero depende

também do desenvolvimento de conhecimentos em outros campos de estudo musical ou mesmo de

prática analítica consciente.

O DESENVOLVIMENTO DA MEMORIZAÇÃO DA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

Uma vez que a memorização é facilitada com a construção de chunks, podemos trabalhar

durante as aulas de Percepção Musical no sentido de buscar desenvolver a capacidade de construí-los.

Nesse sentido, é sempre importante buscarmos compreender, dentre as diversas notas musicais

ou pequenas unidades de informação que compõem o discurso musical, o que pode ser unido de modo

a formar uma unidade maior e coerente. Podemos compreender, por exemplo, as células rítmicas como

um tipo de “unidade maior” ou, em outras palavras, como um chunk. A figura 1 apresenta exemplos de

células rítmicas, resultado da união de pequenas unidades de informação (de figuras rítmicas) que, ao

invés de serem memorizadas uma a uma, podem ser mais facilmente retidas na memória se

compreendidas como um conjunto.

Page 8: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

21

Figura 1. Exemplos de células rítmicas.

Buscando reunir unidades menores de informação musical, podemos chegar ainda à construção

de motivos. Dessa forma, é útil que busquemos motivos, por exemplo, quando tentamos memorizar

ditados. Tomemos como um exemplo para discutir essa questão o pequeno excerto, transcrito abaixo, e

que pode ser utilizado na realização de ditados rítmicos.

Figura 2. Excerto rítmico.

Esse excerto dificilmente conseguiria ser memorizado como uma sequência de notas musicais,

pois isso implicaria em memorizar vinte e oito unidades de informação (vinte e oito figuras rítmicas)

em ordem, o que, conforme vimos acima, seria impossível, pois a capacidade de armazenamento de

nossa memória de curto prazo é de no máximo nove unidades de informação.

Construindo chunks poderíamos compreender o excerto acima como sendo composto por

algumas células rítmicas e figuras musicais isoladas. Dessa forma, precisaríamos memorizar apenas

doze unidades de informação, como mostra a figura 3. Em comparação com a alternativa anterior, esta

estratégia é mais eficiente, mas ainda assim não é bom o suficiente, pois a quantidade de informações a

serem armazenadas ainda é maior que a capacidade da memória de curto prazo.

Figura 3. Identificação de doze células rítmicas ou figuras isoladas.

Page 9: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

22

A identificação de motivos no excerto anterior poderia favorecer de forma mais eficiente a

memorização. A figura 4 apresenta os motivos que podem ser identificados no trecho em questão.

Existe apenas um motivo de três tempos no exemplo, e que é apresentado quatro vezes de forma

idêntica, apenas com acentuações diferenciadas, já que o começo do motivo aparece ora no tempo forte

do compasso, ora nos tempos fracos e ora no tempo meio forte. Esse motivo, por sua vez, é formado

por células rítmicas que haviam sido consideradas como chunks anteriormente. Como vimos, chunks

menores podem ser reunidos em chunks maiores, facilitando assim a memorização. Ao

compreendermos o excerto da figura 4 como a repetição de um único motivo, de fato sua memorização

se torna mais fácil, uma vez que existe apenas uma unidade de informação que precisa ser memorizada

e repetida quatro vezes quando tratarmos de escrevê-la em um ditado ou de executá-la.

Figura 4. Identificação de um motivo.

Para além de buscar motivos, também podemos buscar semi frases e frases dentro do material

musical, formando chunks cada vez maiores. Embora tenhamos usado como exemplo aqui um excerto

rítmico, a construção de chunks também pode ser praticada em excertos melódicos buscando facilitar a

memorização, por exemplo, de músicas usadas em ditados. A compreensão da estrutura musical

visando a construção de chunks também pode contribuir para a memorização de repertório musical.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto, nos parece importante estimular os alunos de Percepção Musical que

realizam ditados a buscar estabelecer relações entre as pequenas unidades de informação que ouvem

(notas ou motivos musicais) visando a formação de chunks e a ampliação da capacidade de

armazenamento de informações musicais na memória.

Para que essas relações entre pequenos elementos do discurso musical possam ser estabelecidas

também é importante que sejam estabelecidas pontes entre o trabalho realizado na aula de Percepção

Musical e os conhecimentos construídos nas aulas de Análise Musical, Harmonia, Contraponto, entre

outras, pois esses conhecimentos, retidos na memória de longo prazo, são a base para o trabalho de

“decodificação” empreendido na construção de chunks, como vimos acima.

Page 10: MEMORIZAÇÃO NA AULA DE PERCEPÇÃO MUSICAL

23

Por fim, é importante que as atividades de Percepção Musical não sejam encaradas apenas como

exercícios que devem ser repetidos de forma mecânica. É indispensável que alunos e professores

busquem interpretar e compreender os elementos da linguagem musical envolvidos no cotidiano da

disciplina, pois, como vimos, a memorização depende da compreensão da organização do discurso

musical.

REFERÊNCIAS

BROWER, C. Memory and the perception of rhythm. Music Theory Spectrum, v. 15, n. 1, p. 19-35,

1993. Disponível em:

http://www.jstor.org/discover/10.2307/745907?sid=21105841122791&uid=3737664&uid=4&u

id=2. Acesso em: 31/03/2015

BUTLER, D. The musician’s guide to perception and cognition. New York: Schirmer Books, 1992.

KALAKOSKI, V. Effect of skill level on recall of visually presented patterns of musical notes.

Scandinavian Journal of Psychology, v. 48, p. 87-96, 2007. Disponível em:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17430362. Acesso em: 31/03/2015.

KLEEMAN, J. E. The parameters of musical transmission. The Journal of Musicology, v. 4, n. 1, p. 1-

22, 1985-1986. Disponível em:

http://www.jstor.org/discover/10.2307/763720?sid=21105841122791&uid=4&uid=3737664&u

id=2. Acesso em: 31/03/2015.