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1 Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Mensuração de Ativos Biológicos (Aves e Suínos): Uma Análise Crítica do CPC-29 Ativo Biológico e Produto Agrícola. Renata Bandeira Gomes do Nascimento São Paulo 2011

Mensuração de Ativos Biológicos (Aves e Suínos): Uma ...tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/913/1/Renata Bandeira Gome… · iluminar nos caminhos acadêmicos, minha orientadora,

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1

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Mensuração de Ativos Biológicos (Aves e Suínos):

Uma Análise Crítica do CPC-29 Ativo Biológico

e Produto Agrícola.

Renata Bandeira Gomes do Nascimento

São Paulo

2011

2

Renata Bandeira Gomes do Nascimento

Mensuração de Ativos Biológicos (Aves e Suínos):

Uma Análise Crítica do CPC-29 Ativo Biológico

e Produto Agrícola.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para a

obtenção do título de Mestre em Controladoria

Empresarial.

Orientador: Prof.ª. Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

São Paulo

2011

3

N244 Nascimento, Renata Bandeira Gomes do Mensuraçăo de ativos biológicos (aves e suínos): uma

análise crítica do CPC-29 ativo biológico e produto agrícola/ Renata Bandeira Gomes do Nascimento– 2011.

117f. : il.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011. Orientação: Profa Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

Bibliografia: f. 108-112 1. Contabilidade. 2. Mensuraçăo e Divulgaçăo de Ativos

Biológicos 3. Valor Justo . I. Título. CDD 657

4

Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Professor Dr. Moisés Ari Zilber

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Professor Dr. Sérgio Lex

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

5

Excellence is an art won by training and habituation:

we do not act rightly because we have virtue or excellence,

but we rather have these because we have acted rightly;

'these virtues are formed in man by his doing the actions';

we are what we repeatedly do.

Excellence, then, is not an act but a habit.

ARISTÓTELES

6

Dedico essa dissertação à minha mãe

ADYLAMAR e ao meu irmão CARLOS EDUARDO

pelo seu apoio incondicional, suas palavras de carinho

e incentivo, fundamentais para a conclusão desta

dissertação. Ao meu filho FABRICE por ter me

ensinado a amar de uma forma que eu

nunca pensei ser capaz.

7

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus por seu amor e suas obras em minha vida.

Como poderia não agradecê-lo pela mãe maravilhosa que tudo sacrificou em nome da

educação de seus filhos, que tem uma coragem tão infinita quanto seu amor que nos faz

acreditar que com esforço todos os sonhos são possíveis, que não há limites em busca do

conhecimento, obrigada Adylamar Bandeira Gomes, por ser minha mãe, minha melhor amiga

e maior incentivadora.

Como não agradecê-lo pelo irmão que todos os dias me ensina o verdadeiro significado da

palavra pai, que conjuga o verbo amar e respeitar com primazia sem igual, a você Carlos

Eduardo Bandeira G. do Nascimento meu muito obrigada!

Como negar a existência de Deus, se pela segunda vez, me cedeu seu anjo de luz para me

iluminar nos caminhos acadêmicos, minha orientadora, a Prof.ª Dra. Maria Thereza Pompa

Antunes, obrigada pelo exemplo como ser humano e profissional, pelas palavras de incentivo

e, sobretudo, pela confiança que sempre depositou na minha capacidade de realização.

Adylamar, Carlos e Maria Thereza, sem vocês a realização desse sonho não seria possível,

aqui manifesto a minha eterna gratidão. Que Deus os abençoe sempre e retribua em infinitas

graças tudo o que fizeram por mim.

Agradeço ao meu pequeno tesouro Fabrice Gerarts, benção mais esperada recebida de Deus,

fonte de alegria infinita, você tão pequeno e tão colaborativo, a quem espero um dia possa se

orgulhar de todo o meu esforço.

Agradeço também a minha querida amiga e incentivadora Érica J. Rodrigues por termos

seguido juntas nessa jornada rumo ao conhecimento.

8

RESUMO

O objetivo deste estudo foi verificar se a adoção do valor justo como método de avaliação dos

ativos biológicos, especificamente aves e suínos, conforme requerido pelo CPC-29 e IAS-41,

é mais adequada que o custo de aquisição e/ou formação dentro da realidade do mercado

brasileiro, por meio de: (1) confirmação da existência ou não de um mercado ativo; (2)

mensuração desses ativos pelo valor justo apontando os pontos fracos e fortes dessa forma da

metodologia adotada; (3) comparação entre os valores mesurados através do método do custo

histórico e do valor justo; (4) identificação da forma adequada de mensuração para ativos

biológicos de produção; e (5) análise do aprimoramento ou não da característica de

comparabilidade de demonstrações contábeis de empresas da agroindústria de carnes de aves,

suína e bovina, após a adoção do CPC-29 e IAS-41. Para tanto foi desenvolvida uma pesquisa

do tipo exploratória, em que a coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica,

entrevistas, observação e análise documental. Em virtude de sua representatividade no setor

agroindustrial, a BRF - Brasil Foods S.A. foi escolhida para o emprego do procedimento de

análise de caso experimental. Os resultados dos conteúdos analisados demonstram: (1) a não

existência de mercado ativo para aves e suínos no Brasil; (2) que o método de mensuração a

valor justo requer a adoção de premissa “forçada” em relação à atribuição da margem de lucro

à atividade agrícola e “subjetiva” em relação à taxa de desconto para os ativos biológicos

objeto deste estudo; (3) que, especificamente, como resultado da análise de caso experimental,

para a BRF, a diferença entre o custo histórico e o valor de mercado não se revelou material;

(4) que a adoção do valor justo como método de mensuração de ativos biológicos para

produção causa distorção nas demonstrações contábeis; e (5) a comparabilidade de

demonstrações contábeis ficou prejudicada após a adoção do IAS-41 e CPC-29. Julga-se que

os resultados obtidos contribuirão com profissionais de mercado, acadêmicos, legisladores e

fiscalizadores para melhoria da qualidade das demonstrações contábeis.

9

ABSTRACT

The purpose of this study was to determine whether the adoption of fair value as a

measurement method of biological assets, specifically poultry and pigs, as required by IAS-41

and CPC-29, is more appropriate than the cost of acquisition and/or formation within the

reality of the Brazilian market through: (1) confirmation of the existence of an active market,

(2) measurement of these assets at fair value highlighting the strengths and weaknesses of the

methodology, (3) comparison between the values measured through the historical cost and

fair value, (4) identification of the appropriated method to measure biological assets for

production, and (5) analysis of the improvement or not of the comparability of financial

statements of companies in the poultry, pork and beef agribusiness, after the adoption of IAS-

41 and CPC-29. In order to achieve such objectives an exploratory research was developed, in

which the data was collected through literature research, interviews, observation and

document analysis. According to its representation in the agribusiness sector, BRF – Brasil

S.A. was chosen to be analyzed as experimental study case. The results of the analyzed data

were: (1) that there is no active market for poultry and pork in Brazil, (2) that the method of

fair value measurement requires the adoption of biased assumption regarding the allocation of

the profit margin to the agriculture activity and subjective assumption related to the discount

rate for the biological assets within the scope of this study, (3) that specifically, as a result of

BRF’s experimental study case, the difference between historical cost and market value is not

material, (4) that the adoption of fair value as a method of measurement of biological assets

for production causes distortion in the financial statements, and (5) comparability of financial

statements was impaired after the adoption of IAS-41 and CPC-29. Hopefully, the results

achieved will contribute to market professionals, academics, legislators and non-government

authorities in improving the quality of financial statements.

10

Sumário

Lista de Figuras.................................................................................................................. 12

Lista de Tabelas................................................................................................................. 14

1. Introdução...................................................................................................................... 15

1.1 Contextualização do Tema............................................................................... 15

1.2 Questão de Pesquisa......................................................................................... 21

1.3 Hipótese de Pesquisa........................................................................................ 21

1.4 Objetivo Geral.................................................................................................. 21

1.5 Justificativa...................................................................................................... 22

2. Referencial Teórico........................................................................................................ 24

2.1 O Processo de Harmonização Contábil no Mundo.......................................... 24

2.2 O Processo de Harmonização Entre as Normas Contábeis Brasileiras e as

Internacionais.........................................................................................................

30

2.3 O que são os Ativos Biológicos? .................................................................... 39

2.4 O Mercado de Aves (Categoria Frango) no Brasil.......................................... 44

2.5 O Mercado de Suínos no Brasil....................................................................... 49

2.6 Formas de Mensuração Contábil dos Ativos Biológicos................................. 55

2.7 O Método do Valor Justo................................................................................. 62

3. Procedimento Metodológico.......................................................................................... 68

3.1 Tipo de Pesquisa.............................................................................................. 68

3.2 Método de Pesquisa......................................................................................... 68

3.2.1 Quanto ao Objetivo........................................................................... 68

3.2.2 Quanto ao Procedimento................................................................... 68

3.3 População e Amostra....................................................................................... 69

3.4 Procedimento de Coleta de Dados: Instrumento e Técnica............................. 70

3.5 Procedimento de Tratamento de Dados........................................................... 72

4. Resultados Esperados e Contribuições.......................................................................... 73

4.1 Apresentação e Análise dos Resultados........................................................... 73

4.1.1 Do Objetivo Específico 1.................................................................. 73

4.1.2 Do Objetivo Específico 2.................................................................. 81

4.1.3 Do Objetivo Específico 3.................................................................. 91

4.1.4 Do Objetivo Específico 4.................................................................. 92

4.1.5 Do Objetivo Específico 5.................................................................. 95

5. Considerações Finais..................................................................................................... 101

11

Referências Bibliográficas................................................................................................. 105

12

Lista de Figuras

Figura 1. Influências Ambientais no Desenvolvimento da Contabilidade........................ 24

Figura 2. A Estrutura do IASB.......................................................................................... 26

Figura 3. Como são Desenvolvidos os Pronunciamentos Emitidos pelo IASB................ 27

Figura 4. A Adoção do IFRS no Mundo............................................................................ 29

Figura 5. Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro 1990 – 2010.................... 31

Figura 6. Evolução do Índice de Preços do Mercado (IGPM-FGV) 1990 - 1994............. 31

Figura 7. Evolução do Índice de Preços do Mercado (IGP-M-FGV) 1995 – 2010........... 32

Figura 8. Estrutura de Normatização Contábil Brasileira 1976-2008............................... 33

Figura 9. Marcos Regulatórios da Convergência das Normas Brasileiras ao IFRS.......... 34

Figura 10. Estrutura de Normatização Contábil Brasileira Atual, após a Lei nº 11.638... 39

Figura 11. Representação Simplificada da Cadeia Produtiva de Carne............................ 42

Figura 12. Representação Simplificada Ciclo de Produção de Aves e Suínos.................. 43

Figura 13. Produção Mundial de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção para 2011.... 44

Figura 14. Produção Mundial de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção para 2011.... 45

Figura 15. Principais Países Exportadores de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção

para 2011............................................................................................................................

46

Figura 16. Principais Países Importadores de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção

para 2011............................................................................................................................

46

Figura 17. Destinação da Produção de Carne de Frango Brasileira.................................. 47

Figura 18. Principais Empresas Exportadoras de Carne de Frango Brasileira.................. 48

Figura 19. Produção Mundial de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para 2011........... 49

Figura 20. Consumo Mundial de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para 2011........... 50

Figura 21. Principais Países Exportadores de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para

2011...................................................................................................................................

50

Figura 22. Principais Países Importadores de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para

2011...................................................................................................................................

51

Figura 23. Produção de Carne Suína no Brasil.................................................................. 52

Figura 24. Distribuição do Abate Inspecionado de Suínos do ano de 2007 de Acordo

com as Principais Empresas Frigoríficas Atuantes no Mercado em 2007 e 2009.............

53

Figura 25. Percentual de Participação por Região no Número de Abates de Suínos por

Cabeça................................................................................................................................

54

Figura 26. Árvore de Decisão para Adoção do CPC-29 e IAS-41.................................... 61

Figura 27: Modelos de Avaliação de Ativos..................................................................... 65

Figura 28: Fórmula do Modelo do Fluxo de Caixa Descontado........................................ 66

Figura 29: Árvore de Decisão para Adoção do CPC-29 e IAS-41Aplicada ao Ativo

13

Biológico – Frangos........................................................................................................... 75

Figura 30: Árvore de Decisão para Adoção do CPC-29 e IAS-41Aplicada ao Ativo

Biológico - Suínos.............................................................................................................

79

Figura 31: Premissas Adotadas no Método do Valor Presente do Fluxo Futuro de Caixa

Descontado.........................................................................................................................

82

Figura 32: Método de Formação de Preço dos Ativos Biológicos

Vivos............................................................................................................................

85

Figura 33: Modelo de Valor Presente de Fluxo de Caixa Futuro dos Ativos

Biológicos..........................................................................................................................

85

Figura 34: Modelo de Determinação da Taxa de Desconto............................................... 87

Figura 35: Taxas Comparativas WACC x WARA............................................................ 89

Figura 36: Cotações Históricas da Saca de 60 Quilos de Soja e Milho – SP.................... 90

Figura 37: Valor Justo x Custo Histórico (Frangos e Suínos)........................................... 91

Figura 38: Análise do Cumprimento dos Requerimentos de Divulgação do CPC-29 e

IAS-41............................................................................................................................

97

14

Lista de Tabelas

Tabela 1. O Progresso do Processo de Harmonização Contábil no Mundo...................... 28

Tabela 2. A Posição da Adoção do IFRS nos Países do G-20........................................... 29

Tabela 3. Lista de Pronunciamentos Técnicos Emitidos Pelo CPC no Ano de

2008...................................................................................................................................

36

Tabela 4. Lista de Pronunciamentos Técnicos Emitidos Pelo CPC no Ano de 2009........ 37

Tabela 5. Exemplos de Ativos Biológicos, Produto Agrícola e Produtos Resultantes do

Processamento Depois da Colheita....................................................................................

41

Tabela 6. Critério de Avaliação Contábil dos Estoques de Animais para Abate em

31/12/2009 por Grandes Empresas do Agronegócio Brasileiro........................................

57

Tabela 7. Sumário de Observações Efetuadas e Respectivos Objetivos........................... 72

15

1. Introdução

1.1. Contextualização do Tema

Desde o início da década de noventa, a economia brasileira vem passando por

profundas transformações; entre elas, destacam-se: (a) a abertura do mercado, que

impulsionou o país rumo à competitividade; (b) a redução das taxas inflacionárias

proporcionada pela adoção do Plano Real; e (c) o forte desenvolvimento do mercado de

capitais. Essa última transformação culminou com recordes de ofertas públicas de abertura de

capital de companhias brasileiras e multinacionais na Bolsa de Valores de São Paulo

(BOVESPA), atraindo cada vez mais o capital estrangeiro com o objetivo de investimento e

não somente de especulação. Diante dessas mudanças, a modernização da contabilidade

brasileira se fez imprescindível (CFC, 2005).

Com a redução das taxas inflacionárias e a expansão do mercado de capitais, a

contabilidade nacional na forma societária passou, então, a ocupar o seu lugar de direito e ser

reconhecida como uma fonte importante de informações para tomada de decisão, tanto para

usuários internos como para externos. Entretanto, as diferenças entre as práticas contábeis

locais e as internacionais e norte-americanas mostrou-se um problema para fomentar os

investimentos no país.

Dentro desse contexto, para o Brasil não havia outra escolha a não ser harmonizar suas

práticas contábeis locais com as normas internacionais de contabilidade.

Dessa forma, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), através da Resolução

1.055, emitida em 7 de outubro de 2005, capítulo I, artigo 1º, criou o Comitê de

Pronunciamentos Contábeis (CPC), considerando, mais precisamente, os seguintes aspectos:

Considerando que a crescente importância da internacionalização das normas

contábeis vem levando inúmeros países a caminhar para um processo de

convergência que tenha como consequências: (a) a redução de riscos nos

investimentos internacionais (quer os sob a forma de empréstimo financeiro

quer os sob a forma de participação societária), bem como os créditos de

natureza comercial, redução de riscos essa derivada de um melhor

entendimento das demonstrações contábeis elaboradas pelos diversos países

por parte dos investidores, financiadores e fornecedores de crédito; (b) a

maior facilidade de comunicação internacional no mundo dos negócios com o

uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea; e

(c) a redução do custo do capital que deriva dessa harmonização, o que no

caso é de interesse, particularmente, vital para o Brasil (CFC, 2005).

O CPC foi idealizado pelos principais membros das áreas acadêmica, governamental e

da iniciativa privada com o intuito de permitir avanços concretos em direção à modernização

16

das normas e práticas contábeis brasileiras, entre eles: a Associação Brasileira das

Companhias Abertas (ABRASCA), a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e

Financeiras (FIPECAFI), a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do

Mercado de Capitais (APIMEC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

(IBRACON), a (BOVESPA) e o CFC.

Os idealizadores do CPC identificaram as seguintes necessidades que precisavam ser

atendidas por esse novo órgão:

Convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de

elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e

decisões, redução de custo de capital); centralização na emissão de normas

dessa natureza (no Brasil, diversas entidades o fazem); representação e

processo democráticos na produção dessas informações (produtores da

informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia, governo)

(CPC, 2009). (grifo nosso)

Nesse contexto, o CPC foi criado com o objetivo de promover:

“o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre

procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa

natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora

brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de

produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade

Brasileira aos padrões internacionais.” (CPC, 2009).

Apesar de sua atuação autônoma, o CPC interage também com a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), o Banco Central do Brasil (BACEN), a Federação Brasileira de Bancos

(FEBRABAN), a Secretaria da Receita Federal (SRF) e a Superintendência de Seguros

Privados (SUSEP) (CPC, 2009). Ao CPC coube emitir os pronunciamentos contábeis, as

orientações e interpretações técnicas que posteriormente podem ou não ser adotados por

órgãos reguladores e, por consequência, requeridos das diversas pessoas jurídicas, nas mais

variadas formas, tais como: instituições financeiras, seguradoras, sociedades anônimas, etc.,

atuantes no Brasil.

Em resumo, pode-se concluir que o CPC tem como principal finalidade auxiliar na

harmonização das normas e dos procedimentos contábeis aos padrões internacionais de

contabilidade, visando facilitar o processo de elaboração e homogeneização das

demonstrações contábeis.

Segundo Farah (2005), a adoção dos conjuntos de regras internacionais pelas empresas

brasileiras propiciaria as seguintes vantagens a essas organizações:

Mais agilidade para fazer captações e obter créditos externos, como os

destinados às importações; isso porque demonstrações contábeis mais

17

inteligíveis reduzirão dúvidas e incertezas, especialmente por parte de credores

e analistas, o que diminuirá o custo financeiro de captações de recursos.

Maior confiança por parte dos importadores no exterior, os quais tendem a

aumentar o vínculo comercial com companhias que são transparentes e capazes

de mostrar, de forma clara, que têm boa envergadura financeira, fatores

essenciais para indicar que poderão garantir o fornecimento de mercadorias

para seus clientes no futuro próximo.

Melhora nas condições para abertura de capital nas maiores bolsas de valores

do mundo.

Diminuição do retrabalho dos contadores, especialmente de multinacionais,

pois, atualmente, esses profissionais precisam preparar demonstrações

contábeis alinhadas às necessidades fiscais e técnicas de suas matrizes.

Após a sua instalação, o CPC passou a revisar e discutir com a comunidade contábil as

normas até então emitidas pelo International Accounting Standard Board (IASB).

Em 28 de dezembro de 2007, com a promulgação da Lei n° 11.638, o Brasil deu um

dos passos mais importantes para o início efetivo em direção ao seu processo de

harmonização das práticas contábeis adotadas localmente com aquelas emitidas pelo IASB.

Dentro desse contexto, o CPC manteve especificamente, até 31 de julho de 2007, a

minuta do pronunciamento técnico CPC-29 - Ativo Biológico e Produto Agrícola (CPC-29),

elaborado a partir do International Accounting Standard 41 – Agriculture (IAS-41) emitido

pelo IASB, em audiência pública, sendo finalmente aprovado em 7 de agosto de 2009.

O CPC-29 tem por objetivo principal estabelecer o tratamento contábil e os

requerimentos de divulgação relacionados aos ativos biológicos e produtos agrícolas, sendo a

sua aplicação obrigatória nas demonstrações contábeis dos exercícios findos a partir de 31 de

dezembro de 2010 e nas demonstrações contábeis de 31 de dezembro de 2009 a serem

divulgadas em conjunto com as demonstrações contábeis de 2010 para fins de comparação

(CVM, 2009).

O CPC-29 introduziu a definição de ativo biológico como um animal ou planta vivo e,

também, definiu produção agrícola como o produto que é obtido ou colhido de ativo biológico

da entidade.

Para fins deste estudo o termo produto agrícola e produção agrícola serão utilizados

com o mesmo significado.

Além disso, o CPC-29 introduziu uma nova forma de mensuração e avaliação de

ativos biológicos, especificamente o item 12, o qual determina que:

18

a) os ativos biológicos devem ser mensurados ao valor justo menos as despesas com

venda no momento do reconhecimento inicial e no final de cada período de competência,

exceto se o valor justo não puder ser mensurado de forma confiável; e

b) a produção agrícola obtida de ativos biológicos de uma entidade deve ser

mensurada ao valor justo, menos as despesas com venda, no momento da colheita.

Assim, os valores justos atribuídos aos ativos biológicos e à produção agrícola

representam o custo de aquisição e/ou formação dos estoques no momento da aplicação do

pronunciamento técnico CPC-16 – Estoques (CPC-16), ou outro pronunciamento aplicável.

O CPC-29, em seu item 8, apresenta uma definição de referencial de valor justo e

determina que:

[...] o valor justo é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um

passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e

independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a

liquidação da transação, ou que caracterizem uma transação compulsória

(CPC, 2009, item 8).

No Brasil, antes da adoção do CPC-29, os ativos biológicos poderiam ser mensurados

pelo seu custo de formação, ou seja, incluir os custos integrantes do ciclo operacional, na

medida de sua formação, imputáveis, direta ou indiretamente ao produto (MARION, 2010,

p.19). Assim como era possível também a adoção do valor de mercado, entretanto, esta

metodologia era rejeitada pelos produtores por fazer com que houvesse a necessidade de

antecipação de imposto sobre a renda (MARION, 2010, p.212).

Todavia, essa nova realidade de obrigatoriedade da adoção do valor justo para

mensuração dos ativos biológicos tem gerado muita controvérsia e discordância, tanto na

Europa como em outras regiões do mundo (BOONE, 2009; BURNSIDE, 2005; STAFFORD-

BUSH, 2009; PEERY e KELLY, 2009).

Adicionalmente, no caso do Brasil, o entendimento da complexidade do ambiente em

que as corporações estão inseridas, bem como a dimensão dessas operações, faz com que

surja a necessidade de se questionar, também, se o valor justo é realmente o melhor método

de avaliação para essa classe de ativos.

Por outro lado, é considerado fato por muitos estudiosos que a avaliação a valor justo

de um ativo ou passivo pode ser de maior relevância do que o custo histórico pelo qual o

mesmo foi adquirido ou formado, visto que o valor justo reflete o valor teórico pelo qual o

ativo poderia ser comprado ou vendido em uma transação corrente entre partes interessadas.

De fato, um sistema que reflete os preços de transações recentes pode levar a um melhor

19

conhecimento do perfil de risco das empresas (GWILLIAM e JACKSON, 2008; IUDÍCIBUS

e MARTINS, 2007).

Tem-se que a condição preexistente para a aplicação do valor justo é de que os valores

de mercado dos ativos em questão estejam disponíveis através de um mercado ativo, que

conforme definido no parágrafo 8 do CPC-29, é aquele em que existem todas as seguintes

condições:

(a) os itens negociados dentro do mercado são homogêneos;

(b) compradores e vendedores dispostos à negociação podem ser normalmente

encontrados, a qualquer momento; e

(c) os preços estão disponíveis para o público.

Contudo, entende-se que isso não é o que se pode observar, de maneira geral, na

realidade de certas commodities brasileiras, mais especificamente aves e talvez suínos, devido

à concentração da produção verticalizada em poucas indústrias. Além disso, mesmo que esses

valores estivessem disponíveis, em alguns casos, eles não necessariamente podem refletir as

condições de um mercado equilibrado e competitivo, visto que se faz necessário entender a

influência na formação de preços desses grandes grupos industriais do setor de aves e suínos.

Adicionalmente, descartada a possibilidade de utilizar-se de preços de mercado ativo,

o CPC-29 requer a utilização da técnica do valor presente do fluxo de caixa líquido teórico a

ser gerado pelos ativos biológicos e pela produção agrícola ajustado pela estimativa de gastos

com esforços de vendas. No entanto, se considerada a complexidade no processo produtivo e

na distribuição dos produtos, o tamanho geográfico dos mercados atendidos pelas empresas

brasileiras, e até mesmo a dificuldade em se auferir com precisão a margem futura de

realização dos estoques, é de se questionar se não estaria o método do valor justo injetando

um nível excessivo de subjetividade e volatilidade nos preços de transação.

Outrossim, não seria essa volatilidade maior em decorrência da normatização contábil

do que um reflexo dos fundamentos das transações? Além disso, as decisões de

administradores e investidores não poderiam estar afetadas apenas pelo regime de mensuração

adotado?

Assim sendo, entende-se que o regime de valorização deverá auferir a volatilidade

desses ativos ao invés de criá-la, fato que, em alguns casos, poderiam ser injustificáveis.

Avaliar a natureza e a severidade desses efeitos é a chave para concluir pelo melhor método

de mensuração.

Outro fato relevante em relação à questão dos ativos biológicos e sua avaliação a valor

justo é que a crise econômica global deflagrada no segundo semestre de 2008 trouxe à tona,

20

mais uma vez, a discussão sobre os prós e contras da adoção da contabilidade do valor justo

(fair-value accounting). Esse fato levou Pozen (2009) a propor à Security Exchange

Commission (SEC) o desenvolvimento de um novo demonstrativo financeiro com o objetivo

de reconciliar o fluxo de caixa líquido e o resultado líquido apurado pelo método do valor

justo. Ainda nesse sentido, Stafford-Bush (2009) relata em sua carta ao Financial Reporting

Standards Board que, na Nova Zelândia, os ganhos decorrentes das mudanças do valor justo

dos ativos biológicos reconhecidos de acordo com o IAS-41 são frequentemente excluídos por

credores financeiros em geral e pelas agências de rating em suas avaliações acerca das

condições financeiras das entidades analisadas. Diante desses fatos, não seria também

adequado avaliar a necessidade de adoção de um modelo de reconciliação pelas entidades que

são obrigadas a adotar o CPC-29 ou o IAS-41?

Outro aspecto polêmico introduzido pela nova regra é o fato de que o valor justo é

requerido para todos os ativos biológicos, não considerando as suas características e o seu

propósito dentro da entidade.

Os ativos biológicos normalmente são segregados entre: (a) de produção; e (b) para

comercialização. No primeiro caso, os ativos têm essencialmente a característica de ativo

imobilizado e não são adquiridos com a intenção de que gerem lucros para a entidade através

de sua venda; em vez disso, a razão primária de sua existência dentro da entidade é gerar

outros ativos ou produção agrícola; por exemplo, a vaca leiteira é adquirida e/ou formada e

mantida como ativo para a produção de leite.

Os itens do ativo imobilizado de uma entidade são mensurados pelo custo de

formação; porque, então, para um ativo similar um ganho deve ser reconhecido nas

demonstrações contábeis? Caso o ativo imobilizado fosse registrado pelo valor justo, de

acordo com as práticas internacionais de contabilidade, seria o caso de uma reavaliação, e a

contrapartida do incremento do valor do ativo não se daria contra o resultado do período e,

sim, contra uma reserva no patrimônio líquido; entretanto, o ativo biológico para produção

não recebe tratamento similar segundo o IAS-41 ou o CPC-29. Estaria neste caso, a

comunidade contábil diante de uma incoerência e distorção da informação contábil?

Apesar de as práticas internacionais estarem cada vez mais difundidas e sendo

adotadas por diversos países, no que cerne aos ativos biológicos talvez nenhum país tenha a

representatividade do Brasil, considerando a dimensão das atividades agrícolas nacional, a

complexidade e a representatividade dessa indústria no Produto Interno Bruto (PIB) e na

balança comercial do país. Não seria, então, legítima a preocupação de que uma regra contábil

21

possa conduzir a avaliação inadequada do valor dos ativos e, como consequência, prejudicar a

capacidade de tomada de decisão do usuário da informação contábil?

Nesse sentido, é válido presumir que as entidades que possuem ativos biológicos -

aves e suínos possam ter enfrentado dificuldades na mensuração, evidenciação e divulgação

dos seus ativos biológicos. Assim sendo, este estudo aborda especificamente os

procedimentos para mensuração a valor justo dos ativos biológicos - aves e suínos, suas

peculiaridades e sua complexidade.

1.2. Questão de Pesquisa

A questão de pesquisa que motiva este estudo é: O valor justo representa a forma mais

adequada de se atribuir valor aos ativos biológico (aves e suínos) e às receitas e perdas a

serem auferidas decorrentes da variação deste valor justo, como requer o CPC-29 e IAS-41,

do que o custo de aquisição e/ou formação?

1.3. Hipótese de Pesquisa

Avaliando-se a importância e o impacto da mudança na forma de mensuração dos

ativos biológicos, a hipótese que se pretende demonstrar é a seguinte:

HIPÓTESE: O valor justo como forma de mensuração dos ativos biológicos poderá

não refletir adequadamente os valores a serem atribuídos aos estoques de ativos biológicos,

tampouco imputar ao resultado ganhos não realizados sujeitos a mudanças que não estão sob

controle da administração, como por exemplo, mudanças nos preços, catástrofes naturais,

novas doenças, etc., adicionando volatilidade às demonstrações contábeis não oriundas do

contexto operacional das entidades per se e, ainda não permitir que seja atendida a

característica qualitativa da informação contábil relativa à comparabilidade.

1.4. Objetivo Geral

O objetivo geral desse estudo é o de verificar se a adoção do valor justo como método

de avaliação dos ativos biológicos, especificamente aves e suínos, é mais adequada do que o

custo de aquisição e/ou formação dentro da realidade do mercado brasileiro.

22

Com os resultados dessa verificação, almeja-se apresentar quais são os pontos fortes e

fracos da mensuração dos ativos biológicos - aves e suínos, adotando-se a metodologia do

valor justo. Tendo como base esse resultado, espera-se contribuir com os seguintes objetivos

específicos:

1. Confirmar a existência, ou não, de um mercado ativo que reflita as condições de

mercado especificadas na teoria contábil do valor justo do CPC-29 e IAS-41.

2. A partir das conclusões do item (1), estimar o valor justo dos ativos biológicos

objeto desse estudo com base nos valores de mercado ou pelo método do fluxo de

caixa descontado, conforme requeridos pelo CPC-29 e IAS-41, e, com base nessa

estimativa, avaliar os pontos fortes e fracos desse método.

3. Proceder a uma análise comparativa da mensuração de uma mesma classe de

ativos pelo valor justo e custo de formação e/ou aquisição.

4. Identificar qual o melhor método de mensuração dos ativos biológicos com

característica de produção.

5. Analisar se a adoção do CPC-29 e IAS-41 prejudicou a comparabilidade entre

demonstrações contábeis de entidades que atuam em um mesmo segmento, no que

tange à mensuração dos ativos, à apresentação dos efeitos do valor justo na

demonstração do resultado e à observância aos requerimentos de divulgação do

CPC-29 e IAS-41.

1.5. Justificativa

Dada a importância da adoção do valor justo como método de mensuração dos ativos

biológicos, faz-se necessária a verificação da possibilidade de sua adoção sem viés e uso de

premissas forçadas, visto que a regra deve auferir a volatilidade dos ativos e não criá-la.

Avaliar a natureza e os efeitos da adoção do valor justo como método de mensuração

dos ativos biológicos é a chave para concluir-se qual o melhor método de mensuração, que

permita aos usuários da informação contábil tomar decisões com base em dados que reflitam,

de forma mais adequada, a realidade das transações ocorridas.

Além disso, vale mencionar que a atividade profissional da autora deste estudo

permitiu verificar a dificuldade de aplicação desta nova regra contábil na empresa BRF –

Brasil Foods S.A. (BRF) e suas subsidiárias Sadia S.A. e Avipal Nordeste S.A., que, segundo

a publicação Exame Maiores e Melhores de Julho de 2010, ocupam a 5º, 4º e 98º posições

entre as 400 maiores do agronegócio brasileiro. A autora deste estudo desempenha a função

23

de contadora responsável pelas demonstrações contábeis do grupo BRF desde 5 de maio de

2009. Assim sendo, os resultados e as conclusões deste estudo poderão contribuir para a

solução das questões relativas ao tema no âmbito da BRF e, possivelmente, de outras

empresas do setor.

24

2. Referencial Teórico

2.1. O Processo de Harmonização Contábil no Mundo

O processo de globalização proporcionou a integração econômica, social e cultural dos

povos e foi virtualmente derrubando barreiras geográficas, permitindo a expansão dos

negócios internacionalmente, estabelecendo e fortalecendo novos blocos econômicos, como,

por exemplo, a União Européia e o Mercosul. Diante desse processo, surgiu, mundialmente, a

necessidade de se harmonizar as diferenças de práticas contábeis existentes entre os diversos

países (RADEBAUGH, GRAY & BLACK, 2006).

De acordo com Radebaugh, Gray & Black (2006, p.14), as diferenças entre práticas

contábeis ocorrem principalmente devido aos fatores, apresentados na Figura 1.

Figura 1: Influências Ambientais no Desenvolvimento da Contabilidade

Fonte: RADEBAUGH, GRAY & BLACK (2006, P.14)

Entre os diversos fatores apresentados na Figura 1, identificam-se alguns deles

presentes no sistema contábil brasileiro, que, de certa forma, contribuíram para o atraso no

avanço e na modernização das práticas contábeis, tais como tributação (forte influência da

25

legislação tributária), altíssimos níveis inflacionários, baixo índice de formação e pesquisa na

área contábil.

De acordo com Farah (2005), a existência de diversas práticas contábeis levou

usuários da informação contábil a tomar decisões equivocadas acerca de seus investimentos;

por exemplo, durante a crise econômica ocorrida na Ásia em 1997, muitos investidores,

sobretudo europeus, não detectaram nos balanços contábeis de diversas corporações asiáticas

a situação financeira delicada pela qual passavam; isso ocorreu porque os analistas não

sabiam, na verdade, como as demonstrações contábeis eram preparadas. Essa crise

especificamente aumentou a conscientização geral da necessidade de harmonização das

normas contábeis no plano internacional, bem como a de haver uma melhoria na qualidade

das informações.

Diante desse cenário, no ano de 2001 foi criado o IASB como parte do International

Accounting Standards Committee (IASC).

Conforme divulgado no documento Who We Are and What We Do (2009), emitido

pelo IASB, os objetivos deste órgão são os seguintes:

a) Desenvolver, sob o interesse comum, um único conjunto de padrões de

contabilidade de alta qualidade, compreensível e executável que requeira

demonstrações e outras informações contábeis de alta qualidade, transparentes

e comparativas para auxiliar os participantes dos vários mercados de capitais

do mundo e outros usuários dessas informações a tomar decisões econômicas.

b) Promover o uso rigoroso desses padrões de contabilidade.

c) No alcance dos objetivos associados com os itens (a) e (b) considerar,

conforme o caso e se apropriado, as necessidades especiais das pequenas e

médias empresas e dos mercados emergentes.

d) Promover a convergência dos padrões nacionais de contabilidade e as normas

internacionais de contabilidade (International Financial Reporting Standards -

IFRS) com soluções de alta qualidade.

O IASB busca alcançar seus objetivos da seguinte forma:

Um órgão independente emissor de pronunciamentos contábeis, supervisionado

por um grupo de curadores diversificado geográfica e profissionalmente, e que

presta contas ao conselho de monitoramento do mercado de valores

mobiliários.

26

Apoiado por um conselho consultivo de IFRS e pelo comitê de interpretações

de IFRS, ambos externos, que lhe oferecem orientações para tratar as

divergências quanto à interpretação dos pronunciamentos emitidos.

Um processo de elaboração de normas sistemático, aberto, participativo e

transparente.

Interação com investidores, reguladores, empresários e com a profissão

contábil em geral, em cada etapa do processo.

Esforços de colaboração com a comunidade mundial de emissores de

pronunciamentos contábeis.

O IASB está estruturado conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2: A Estrutura do IASB

Fonte: IASB – Quem Somos e o Que Fazemos (2011, p.2).

27

No que se refere à estrutura do IASB, apresentada na Figura 2, cabe destacar a

participação dos diversos agentes de mercado, através do conselho de monitoramento. Esse

fato pode ser apontado como o principal fator de contribuição para a alta aceitação das normas

emitidas por este órgão.

O processo de desenvolvimento e emissão dos padrões internacionais de contabilidade

emitidos pelo IASB pode ser visualizado na Figura 3.

Figura 3: Como são Desenvolvidos os Pronunciamentos Emitidos pelo IASB

Fonte: IASB – Quem Somos e o Que Fazemos (2011, p.3).

Destaca-se na Figura 3 a importante interação entre o IASB e os usuários interessados

nas normas contábeis a serem emitidas. Todas as importantes e pertinentes divergências de

opiniões são propriamente documentadas e justificadas. A não inclusão de determinada

sugestão no pronunciamento final emitido pelo órgão é justificada, ou seja, pode-se concluir

que se trata de um processo bilateral e consensual, e não unilateral.

Segundo o próprio órgão, os esforços do IASB possibilitaram a aceitação dos padrões

internacionais de contabilidade em aproximadamente cento e vinte países. Dentro desse

processo de disseminação, destacam-se na Tabela 1 os fatos e as ações mais importantes.

28

Tabela 1: O Progresso do Processo de Harmonização Contábil no Mundo

Fonte: Adaptado IASB – Who We Are and What We Do (2009, p.4).

29

A Figura 4 permite uma visão geral de como o processo de convergência para as

normas internacionais de contabilidade foi disseminado entre os países.

Figura 4: A Adoção do IFRS no Mundo

Fonte: IASB – Who We Are and What We Do (2009, p.4)

Em relação às principais economias do mundo (G-20), todas permitem ou

estabeleceram prazos para a convergência para o IFRS, nas demonstrações contábeis de suas

companhias de capital aberto, conforme demonstra a Tabela 2.

Tabela 2: A Posição da Adoção do IFRS nos Países do G-20

30

Fonte: Adaptado IASB – Who We Are and What We Do (2011, p.4)

Com base nas informações apresentadas na Tabela 2, é possível concluir que o

processo de convergência de normas contábeis mundialmente para um único conjunto de

normas é um movimento praticamente sem possibilidade de retrocesso.

2.2. O Processo de Harmonização Entre as Normas Contábeis Brasileiras e as

Internacionais

O Brasil viveu um longo período de recessão e crise monetária que teve início em

meados de 1973 e que perdurou até 1994, com a adoção do Plano Real (BACHA, 2004 p.

226).

Durante esse período, a economia brasileira atingiu altíssimos índices de inflação,

aumento da dívida externa e pouquíssimo crescimento do PIB, conforme demonstrado nas

Figuras 5, 6 e 7.

31

Figura 5: Evolução do PIB Brasileiro 1990 - 2010

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

PIB -4,3 1,00 -0,5 4,90 5,90 4,20 2,20 3,40 0,00 0,30 4,30 1,30 2,70 1,10 5,70 3,20 4,00 6,10 5,20 -0,6 7,50

-4,30%

1,00%

-0,50%

4,90%

5,90%

4,20%

2,20%

3,40%

0,00%0,30%

4,30%

1,30%

2,70%

1,10%

5,70%

3,20%

4,00%

6,10%

5,20%

-0,60%

7,50%

-6,00%

-4,00%

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

Pe

rce

ntu

al d

e C

resc

ime

nto

Ano

PIB

Fonte: Adaptado Portal Brasil

Os dados exibidos na Figura 5 revelam a dificuldade que o país tem em manter um

ritmo de produção crescente e estável, no período de vinte e um anos, iniciado em 1990 e

findo em 2010, apenas entre 2005 e 2007 houve crescimento contínuo em relação ao ano

anterior.

Figura 6: Evolução do Índice de Preços do Mercado (IGP-M-FGV) 1990 - 1994

1990 1991 1992 1993 1994

IGP-M 1699,87% 458,38% 1174,67% 2567,34% 869,74%

1699,87%

458,38%

1174,67%

2567,34%

869,74%

0,00%

500,00%

1000,00%

1500,00%

2000,00%

2500,00%

3000,00%

Pe

rce

ntu

al d

e I

nfl

ação

Me

did

o p

elo

IG

P-M

Ano

IGP-M

Fonte: Adaptado BACEN

32

A análise dos dados contidos na Figura 6 permite verificar os altíssimos índices

inflacionários ocorridos no período entre 1990 e 1994. Em decorrência desse cenário de

instabilidade econômica e altíssimos índices inflacionários, o Brasil foi pioneiro no

desenvolvimento e na aplicação da técnica da correção monetária de balanço.

Figura 7: Evolução do Índice de Preços do Mercado (IGP-M-FGV) 1995 – 2010

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

IGP-M 15,23% 9,18% 7,73% 1,78% 20,10% 9,95% 10,37% 25,30% 8,69% 12,42% 1,20% 3,84% 7,74% 9,80% -1,71% 11,32%

15,23%

9,18%7,73%

1,78%

20,10%

9,95% 10,37%

25,30%

8,69%

12,42%

1,20%

3,84%

7,74%

9,80%

-1,71%

11,32%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

Pe

rce

ntu

al d

e I

nfl

ação

Me

did

o p

elo

IG

P-M

Ano

IGP-M

Fonte: Adaptado Portal Brasil

Nos dados exibidos na Figura 7 pode-se verificar uma redução nos níveis

inflacionários, até o momento atual.

É de conhecimento geral que a partir de 1995 foi proibida a correção monetária de

balanços; entretanto, a classe contábil representada pela FIPECAFI, discordou dessa

regulamentação.

O ambiente hiperinflacionário, o tímido e, até mesmo em alguns períodos, a ausência

de crescimento econômico registrados nesses anos podem ser apontados como fatores que

contribuíram para o atraso na evolução da contabilidade brasileira, bem como o fato de os

contadores, em sua maioria, seguirem as orientações emanadas da legislação fiscal em vez de

os princípios de contabilidade geralmente aceitos, conforme exemplificado a seguir:

A Contabilidade sempre foi muito influenciada pelos limites e critérios

fiscais, particularmente os da legislação de Imposto de Renda. Esse fato que

ao mesmo tempo trouxe à Contabilidade algumas contribuições importantes e

bons efeitos limitam a evolução dos Princípios Fundamentais de

Contabilidade, ou ao menos, dificulta a adoção prática de princípios

contábeis adequados, já que a Contabilidade era feita pela maioria das

empresas com base nos preceitos e formas de legislação fiscal, a qual nem

sempre se baseava em critérios contábeis corretos (FIPECAFI, 2000, p.25).

33

A introdução da Lei das Sociedades Anônimas (Lei das S.A.s), sancionada em 15 de

dezembro de 1976, foi considerada um grande avanço para a época; entretanto, os aspectos

contábeis dessa lei permaneceram vigentes ao longo de um período de mais de trinta anos,

sendo inevitável torna-se ultrapassada perante a nova realidade econômica e o processo de

globalização mundial (CPC, 2009).

Durante muitos anos, a contabilidade no Brasil foi norteada pela Lei das S.A.s e pelas

regulamentações emitidas por outros órgãos reguladores, como apresentado na Figura 8.

Figura 8: Estrutura de Normatização Contábil Brasileira 1976 - 2008

Fonte: GIGUEIRA JR (2010, p. 2).

A Figura 8 apresenta a Lei das S.A.s norteando as regulamentações emitidas pelos

demais órgãos competentes em cada setor representativo do mercado, como, por exemplo,

instituições financeiras, seguradoras, etc.

A urgência por mudanças na contabilidade brasileira é de longa data e intensificou-se

após a emissão do Projeto de Lei nº 3.741/00; entretanto, várias etapas foram necessárias até a

adoção por completo do IFRS nas demonstrações contábeis consolidadas das sociedades

anônimas no exercício social findo em 31 de dezembro de 2010.

A evolução contábil recente no Brasil deu-se através dos marcos regulatórios,

apresentados na Figura 9.

34

Figura 9: Marcos Regulatórios da Convergência das Normas Brasileiras ao IFRS

Fonte: GIGUEIRA JR (2010, p. 19).

Os detalhes dos marcos regulatórios referentes à convergência das normas contábeis

brasileiras para o IFRS são os a seguir mencionados.

O Projeto de Lei nº 3.741/00 teve sua tramitação iniciada no Congresso Nacional

Brasileiro no ano de 2000 com o propósito de:

Alterar e revogar os dispositivos da Lei No. 6404, de 15 de dezembro de

1976, definir e estender às sociedades de grande porte disposições relativas à

elaboração e publicação de demonstrações contábeis e dispõe sobre os

requisitos de qualificação de entidades de estudo e divulgação de princípios,

normas e padrões de contabilidade e auditoria como Organizações da

Sociedade Civil de Interesse Público (DIÁRIO DA CÂMARA DOS

DEPUTADOS, 2000).

Em 7 de outubro de 2005, o CFC criou o CPC, com as seguintes perspectivas:

O CPC representa a perspectiva de importantes avanços no caminho da

atualização e da modernização de normas e preceitos contábeis.

Na perspectiva da história, ele é o resultado da abertura da economia

brasileira para o exterior, a qual colocou nossas empresas em contato direto

com economias mais avançadas, inclusive com títulos negociados nas bolsas

de maior movimento do mundo, e ao alcance dos investidores sediados em

outros países (CPC, 2009, p.4).

O CPC inovou na forma de trabalho em relação ao envolvimento das diversas partes

interessadas em matéria contábil no país, adotando o modelo vigente no mercado europeu e

também no mercado norte-americano, através de audiência publica, a saber:

Destinado a buscar soluções para as questões que se apresentarem, com

ampla e indiscriminada consulta a quem possa ser afetado, o Comitê inova no

trato de questões regulamentares porque reúne representantes de entidades da

área privada, do mundo acadêmico e do setor governamental, sentados à

35

mesma mesa e imbuídos de um único critério, que é a busca da modernidade.

Na verdade, estamos diante de uma dupla convergência: de um lado, a

necessidade universal de integrar regras contábeis aos padrões internacionais;

de outro, a participação, no debate interno, de representantes de todos os

atores do mercado brasileiro – governo, iniciativa privada e órgãos

acadêmicos – dialogando livre e democraticamente no CPC (CPC, 2009, p.5).

Com relação às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar

pelo BACEN, em 9 de março de 2006, através do Comunicado nº 14.259, este órgão decidiu:

[...] ciente das profundas transformações verificadas nos últimos anos no

cenário econômico mundial, representadas, notadamente, pelo acelerado

processo de globalização da economia, as quais impõem a necessidade de

promover a convergência de normas de contabilidade e de auditoria em nível

internacional. [...] Determinar, no âmbito do Banco Central do Brasil, o

desenvolvimento de ação específica, a ser concluída até 31 de dezembro de

2010, com o objetivo de identificar as necessidades de convergências às

normas internacionais de contabilidade e às normas internacionais de

auditoria, promulgadas, respectivamente, pelo o IASB e pela IFAC,

aplicáveis às instituições financeiras (BACEN, 2006).

Em 13 de julho de 2007, a CVM emitiu a instrução nº 457, em que resolveu, como

consta no artigo1º, que:

As companhias abertas deverão, a partir do exercício findo em 2010,

apresentar as suas demonstrações financeiras consolidadas adotando o padrão

contábil internacional, de acordo com os pronunciamentos emitidos pelo

International Accounting Standards Board – IASB (CVM, 2007).

Em 28 de dezembro de 2007, o Governo Federal do Brasil, através da Casa Civil,

promulgou a Lei nº 11.638, que alterou e revogou em diversos aspectos a Lei das S.A.s; entre

os aspectos mais importantes, destacam-se: (a) estendeu a preparação e divulgação de

demonstrações contábeis às companhias de grande porte; (b) tornou obrigatória a elaboração e

divulgação da demonstração dos fluxos de caixa; (c) tornou obrigatória a elaboração e

divulgação da demonstração do valor adicionado; (d) proibiu a reavaliação de ativos; e (e)

instituiu a análise de recuperação do ativo imobilizado (impairment) (BRASIL, Lei nº 11.638,

2007).

Durante o ano de 2008, o CPC, dentro do objetivo estabelecido, emitiu 15

pronunciamentos, que foram aprovados pela CVM e já requeridos na preparação das

demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 2008, relacionados aos

seguintes temas, apresentados na Tabela 3.

36

Tabela 3: Lista de Pronunciamentos Técnicos Emitidos Pelo CPC no Ano de 2008

CPC nº Assunto Correspondente no IASB

00 Estrutura para a Preparação e a Apresentação das Demonstrações Contábeis Framework for the

Preparation and

Presentation of Financial

Statements

01 Redução ao Valor Recuperável de Ativos IAS 36

02 Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações

Contábeis

IAS 21

03 Demonstrações do Fluxo de Caixa IAS 7

04 Ativo Intangível IAS 38

05 Divulgação Sobre Partes Relacionadas IAS 24

06 Operações de Arrendamento Mercantil IAS 17

07 Subvenção e Assistência Governamentais IAS 20

08 Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários IAS 32

09 Demonstração do Valor Adicionado Não há

10 Pagamento Baseado em Ações IFRS 2

11 Contratos de Seguro IFRS 4

12 Ajuste a Valor Presente Não há

13 Adoção Inicial da Lei nº 11.638/07 e MP nº 449/08 Não há

14(*) Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação IAS 39 e IAS 32

Fonte: Adaptado CPC

(*) Substituído pelo CPC 38, CPC 39 e CPC 40, emitidos em 2009.

Durante o ano de 2009, o ritmo de trabalho do CPC foi intenso, o que culminou com a

emissão de mais 27 pronunciamentos, todos com adoção obrigatória nas demonstrações

contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 2010, relacionados aos temas

apresentados na Tabela 4.

37

Tabela 4: Lista de Pronunciamentos Técnicos Emitidos Pelo CPC no Ano de 2009

CPC nº Assunto Correspondente no IASB

15 Combinação de Negócios IFRS 3

16 Estoques IAS 2

17 Contratos de Construção IAS 11

18 Investimento em Coligada e em Controlada IAS 28

19 Investimento em Empreendimento Controlado em Conjunto (Joint Ventures) IAS 31

20 Custo de Empréstimos IAS 23

21 Demonstração Intermediária IAS 34

22 Informações por Segmento IFRS 8

23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro IAS 8

24 Evento Subsequente IAS 10

25 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes IAS 37

26 Apresentação das Demonstrações Contábeis IAS 1

27 Ativo Imobilizado IAS 16

28 Propriedade para Investimento IAS 40

29 Ativo Biológico e Produto Agrícola IAS 41

30 Receitas IAS 18

31 Ativo Não Circulante Mantidos para Venda e Operação Descontinuada IFRS 5

32 Tributos sobre o Lucro IAS 12

33 Benefícios a Empregados IAS 19

35 Demonstrações Separadas IAS 27

36 Demonstrações Consolidadas IAS 27

37 Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade IAS 27

38 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração IAS 39

39 Instrumentos Financeiros: Apresentação IAS 32

40 Instrumentos Financeiros: Evidenciação IFRS 7

41 Resultado por Ação IAS 33

43 Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 41 Não há

Fonte: Adaptado CPC

O Governo Federal do Brasil, através da edição da Medida Provisória nº 449/08, que

posteriormente foi convertida na Lei nº 11.941/09, procurou neutralizar os efeitos tributários

que poderiam ser provocados pelas novas normas contábeis, conforme exposto a seguir:

38

No que concerne ao Regime Tributário de Transição - RTT objetiva-se

neutralizar os impactos dos novos métodos e critérios contábeis introduzidos

pela Lei nº 11.638, de 2007, na apuração das bases de cálculo de tributos

federais nos anos de 2008 e 2009, bem como alterar a Lei nº 6.404, de 1976,

no esforço de harmonização das normas contábeis adotadas no Brasil às

normas contábeis internacionais. A Lei nº 11.638, de 2007, foi publicada no

Diário Oficial da União de 28 de dezembro de 2007, e entrou em vigor no dia

1º de janeiro de 2008, sem a adequação concomitante da legislação tributária.

Esta breve vacatio legis e a alta complexidade dos novos métodos e critérios

contábeis instituídos pelo referido diploma legal - muitos deles ainda não

regulamentados - têm causado insegurança jurídica aos contribuintes. Assim,

faz-se mister a adoção do RTT, conforme definido nos arts. 15 a 22 desta

Medida Provisória, para neutralizar os efeitos tributários e remover a

insegurança jurídica.

O processo de harmonização das normas contábeis nacionais com os padrões

internacionais de contabilidade - objetivo maior da Lei nº 11.638, de 2007 -

deve prolongar-se pelos próximos anos, razão pela qual, há necessidade de

que o RTT não seja aplicável apenas no ano de 2008, mas também no ano de

2009, e, se necessário, nos anos subsequentes, quando, então, ao se

descortinar o novo padrão da contabilidade empresarial a ser adotado no País,

possa-se regular definitivamente o modo e a intensidade de integração da

legislação tributária com os novos métodos e critérios internacionais de

contabilidade. Nesse contexto, o § 1º do art. 15 da proposição em tela prevê a

aplicação do RTT até que seja editada lei regulando definitivamente os

efeitos tributários das mudanças nos critérios contábeis, a qual pretende-se

que seja neutra, ou seja, que não afete a carga tributária (BRASIL, MP 449,

2008).

Os efeitos das diferenças causadas entre as novas normas contábeis e os livros de

apuração do lucro tributável foram e devem ser refletidos nas demonstrações contábeis

através do diferimento dos impostos.

Por fim, em 24 de setembro de 2009, o BACEN, através da Resolução nº 3.786, dispôs

que as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN

devem, a partir de 31 de dezembro de 2010, elaborar e divulgar anualmente demonstrações

contábeis consolidadas adotando o padrão internacional, de acordo com os pronunciamentos

emitidos pelo IASB.

Como consequência, o novo cenário da regulamentação contábil no Brasil está

representado na Figura 10.

39

Figura 10: Estrutura de Normatização Contábil Brasileira Atual, Após a Lei nº 11.638

Fonte: GIGUEIRA JR (2010, p. 15).

Apesar do plano agressivo em termos de prazo para a harmonização das normas

contábeis brasileiras para o IFRS, o país concluiu com êxito esse processo com a apresentação

das demonstrações contábeis das companhias abertas de acordo com as novas regras até 31 de

março de 2011.

2.3. Ativos Biológicos

A fim de se conceituar os Ativos Biológicos, julga-se que inicialmente se faz

necessário expor a definição de ativo.

Segundo o Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual Para Elaboração

e Apresentação das Demonstrações Contábeis, emitido pelo CPC (2008, item 49 (a), p. 16),

um ativo é definido como “um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos

passados e do qual se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade”.

Esse pronunciamento, nos itens 53 a 55 (p. 17 e 18), esclarece ainda que:

“O benefício econômico futuro embutido em um ativo é o seu potencial em

contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de

caixa para a entidade. Tal potencial poderá ser produtivo, quando o recurso

for parte integrante das atividades operacionais da entidade. Poderá também

ter a forma de conversibilidade em caixa ou equivalentes de caixa ou poderá

ainda ser capaz de reduzir as saídas de caixa, como no caso de um processo

industrial alternativo que reduza os custos de produção.

A entidade geralmente usa os seus ativos na produção de mercadorias ou

prestação de serviços capazes de satisfazer os desejos e necessidades dos

clientes. Tendo em vista que essas mercadorias ou serviços podem atender

40

aos seus desejos ou necessidades, os clientes se dispõem a pagar por eles e

contribuir assim para o fluxo de caixa da entidade.

Os benefícios econômicos futuros de um ativo podem fluir para a entidade de

diversas maneiras. Por exemplo, um ativo pode ser: (a) usado isoladamente

ou em conjunto com outros ativos na produção de mercadorias e serviços a

serem vendidos pela entidade; (b) trocado por outros ativos; (c) usado para

liquidar um passivo; ou (d) distribuído aos proprietários da entidade.” (CPC,

2008).

Por sua vez, o CPC-29 e o IAS-41 (CPC 2009, item 5, p.3) definem ativo biológico

como “um animal e/ou uma planta, vivos”, bem como definem produção agrícola como “o

produto colhido de ativo biológico da entidade”.

A definição de ativos biológicos no ambiente contábil ocorreu através da introdução

do IAS-41, e, por esse motivo, as definições acerca dos ativos biológicos são baseadas na

definição oriunda do pronunciamento, conforme exemplos a seguir:

“Produto agrícola é o produto colhido ou obtido a partir de um ativo biológico de uma

entidade. Ativo biológico refere-se a um animal ou planta vivos, que produz um produto

agrícola” (FIPECAFI, 2010, p.86).

Wahlen, Baginski e Bradshaw (2008, p.548) definem ativos biológicos como “animais

e plantas vivos que serão transformados em produtos para venda, produção agrícola, ou ativos

biológicos adicionais”.

Philipp (2011, p.83) define ativo biológico como “animais ou plantas vivos”.

Com o intuito de ilustrar a diferença entre ativo biológico, produto agrícola e produtos

resultantes do processamento após a colheita, foram incluídos exemplos constantes no CPC-

29 na Tabela 5.

41

Tabela 5: Exemplos de Ativos Biológicos, Produto Agrícola e Produtos Resultantes

do Processamento Depois da Colheita

Ativos biológicos Produto agrícola

Produtos resultantes do

processamento após a

colheita

Carneiro Lã Fio, tapete

Árvores de uma plantação Madeira Madeira serrada, celulose

Plantas

Algodão

Cana colhida

Café

Fio de algodão

Açúcar e álcool

Café limpo em grão, moído ou

torrado

Gado de leite Leite Queijo

Porcos Carcaça Salsicha, presunto

Arbustos Folhas Chá, tabaco

Videiras Uvas Vinho

Árvores frutíferas Fruta colhida Fruta processada

Fonte: CPC-29 (2009, item 4, p.3).

Apesar da definição simplificada desses ativos, eles podem possuir características que

requerem outras definições para correta classificação e mensuração relacionadas

principalmente ao seu propósito dentro das operações da entidade a que pertencem, sendo elas

de consumo ou de produção.

Para Ernst & Young, os ativos para consumo são aqueles que serão objeto de colheita,

como produção agrícola ou vendidos como ativos biológicos, enquanto os ativos biológicos

de produção são aqueles que não serão consumidos, mas, ao contrário, são aqueles que se

autorregeneram (Ernst & Young, 2008, p.2721).

O CPC-29 e o IAS-41 não requerem obrigatoriamente a segregação entre ativos

biológicos de consumo e de produção; entretanto, incentivam essa divulgação conforme a

seguir: “A entidade é encorajada a fornecer uma descrição da quantidade de cada grupo de

ativos biológicos, distinguindo entre consumíveis e de produção ou entre maduros e imaturos,

conforme apropriado. Por exemplo, a entidade pode divulgar o total de ativos biológicos

passíveis de serem consumidos e aqueles disponíveis para produção por grupos. A entidade

pode, além disso, dividir aquele total entre ativos maduros e imaturos. Essas distinções podem

42

ser úteis na determinação da influência do tempo no fluxo de caixa futuro. A entidade deve

divulgar a base para realizar tais distinções” (CPC, 2009, item 43, p.10).

Os ativos biológicos objetos desse estudo são aves (categoria frango) e suínos de

consumo e de produção; entretanto, faz-se necessário entender o ciclo de produção e consumo

desses animais nas operações das entidades a que pertencem.

No Brasil, a indústria de processamento de carnes de aves e suínos é composta por

vários participantes; entretanto, observou-se uma concentração de participação de mercado e

que os participantes líderes operam de maneira bastante similar, através do sistema de

integração, conforme demonstrado nos itens 2.4 e 2.5 a seguir; portanto, levando-se em

consideração essa característica, utilizou-se o processo produtivo apresentado na Figura 11,

referente à BRF, para exemplificar o funcionamento do ciclo de produção.

Figura 11: Representação Simplificada da Cadeia Produtiva de Carne

Fonte: BRF – Brasil Foods S.A. – Formulário 20F (2011, p. 38).

43

A Figura 11 exibe um ciclo de produção altamente verticalizado, ou seja, a indústria é

proprietária dos animais que serão insumos para a produção. Essa indústria é até mesmo

responsável pela produção dos grãos que servirão de alimento aos animais que, quando

atingem o ponto de abate, serão transformados em produtos industrializados com alto valor

agregado.

O ciclo de produção de aves e suínos, objeto deste estudo, permite que estes sejam

segregados em categorias distintas conforme sua finalidade dentro da indústria. Esse processo

pode ser visualizado por meio da Figura 12.

Figura 12: Representação Simplificada Ciclo de Produção de Aves e Suínos

Bisavó Avó Matrizes de

reprodução

Animais de corte

Fonte: Desenvolvido pelo autor

No Brasil, os participantes da indústria de processamento de carnes de aves e suínos,

em sua maioria, terceirizaram a produção de bisavós, em função do alto custo de produção

envolvido para seu desenvolvimento.

A produção das bisavós, ou seja, os ovos de avós, avós com 1 dia de vida, ou leitões

de até 22 quilos são adquiridos de terceiros.

Conforme se pode verificar por meio das Figuras 11 e 12, as produções das bisavós

são enviadas as granjas de avós, onde os animais são criados, constituindo o grupo de avós

que, quando atingem a fase de reprodução, irão produzir o grupo de matrizes. As matrizes

produzem animais de corte (BRF – Formulário 20F, 2011, p.38).

Os animais de corte, sendo pintos de um dia ou leitões são enviados para produtores

integrados (ou seja, produtores terceirizados), cujas operações são integradas ao processo de

produção. (BRF – Formulário 20F, 2011, p.38).

A criação dos animais de corte na BRF ocorre da seguinte forma: “os integrados são

responsáveis por gerenciar e cuidar do crescimento das aves em seus aviários e suínos em

suas instalações, sob a supervisão de nossos veterinários. O pagamento dos integrados é

baseado no índice de desempenho determinado conforme a mortalidade dos animais e a

A N I M A I S D E P R O D U ÇÃ O

44

proporção entre a quantidade ingerida de ração e a carne produzida (índice de conversão

alimentar) e destina-se a cobrir os custos de produção e proporcionar lucros líquidos.

Fornecemos ração e suporte técnico e veterinário aos integrados durante todo o processo de

produção.” (BRF – Formulário 20F, 2011, p. 38).

Quando os animais atingem o ponto de abate, estes são transferidos das instalações dos

produtores integrados para as plantas onde serão abatidos e transformar-se-ão em insumos

para a produção de produtos com alto valor agregado, que posteriormente serão distribuídos a

rede varejista até alcançarem o consumidor final.

2.4. O Mercado de Aves (Categoria Frango) no Brasil

De acordo com a União Brasileira de Avicultura (UBABEF), no Brasil, a avicultura

emprega mais de 4,5 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e responde por quase 1,5%

do PIB.

Segundo o Foreign Agricultural Service (USDA), órgão do Governo norte-americano,

em 2010 a produção brasileira atingiu cerca de 12,3 milhões de toneladas, garantindo ao

Brasil uma posição entre os três maiores produtores mundiais de carne de frango com Estados

Unidos e China, conforme demonstrado na Figura 13.

Figura 13: Produção Mundial de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção para 2011

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

2007 2008 2009 2010 2011

EUA 16.226 16.561 15.935 16.563 16.637

China 11.291 11.840 12.100 12.550 13.000

Brasil 10.305 11.033 11.023 12.312 11.750

União Européia 8.320 8.594 8.756 9.095 9.000

México 2.683 2.853 2.781 2.809 2.850

Outros 19.700 20.837 21.698 22.662 22.972

Milh

ões

de to

nela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

45

Conforme dados da UBABEF, do total de carne produzido, cerca de 65% permanecem

no mercado interno. O consumo per capita de carne de aves no Brasil está em

aproximadamente 39 quilos por ano. Em consumo segundo, o USDA, o Brasil ocupa a

terceira posição; entretanto, as estimativas apontam para uma redução no consumo durante o

ano de 2011, conforme apresentado na Figura 14.

Figura 14: Consumo Mundial de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção para 2011

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

2007 2008 2009 2010 2011

EUA 13.582 13.428 12.940 13.463 13.670

China 11.415 11.954 12.210 12.457 12.890

União Européia 8.358 8.564 8.692 8.779 8.870

Brasil 7.384 7.792 8.032 9.132 8.301

México 3.061 3.281 3.264 3.344 3.388

Outros 24.508 26.013 26.722 27.952 28.108

Milh

ões

de to

nela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

Ainda segundo a UBABEF, desde 2004, o Brasil mantém a posição de maior

exportador mundial, tendo terminado o ano de 2009 com a marca de 3 milhões de toneladas

embarcadas para mais de 150 países.

46

Figura 15: Principais Países Exportadores de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção

para 2011

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

2007 2008 2009 2010 2011

Brasil 2.922 3.242 2.992 3.181 3.450

EUA 2.678 3.157 3.093 3.072 3.016

União Européia 635 742 783 992 840

Thailand 296 383 379 432 440

China 358 285 291 379 410

Outros 492 604 675 737 798

Milh

ões

de to

nela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

Conforme dados da UBABEF, os principais países importadores da produção

brasileira são Japão, Rússia e Arábia Saudita. A Figura 16 apresenta os principais países

importadores de carne de frango.

Figura 16: Principais Países Importadores de Carne de Frango 2007 a 2010 e Projeção

para 2011

-500

1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000

2007 2008 2009 2010 2011

Japao 696 737 645 789 760

União Européia 673 712 719 676 710

Arábia Saudita 470 510 605 678 680

Russia 1.222 1.159 913 618 600

México 380 433 492 549 550

Outros 3.644 4.255 4.278 4.689 4.700

Milh

õe

s d

e t

on

ela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

47

Conforme mencionado anteriormente, segundo a UBABEF cerca de 65% da produção

nacional é consumida no território brasileiro. A Figura 17 apresenta especificamente os

números referentes aos mercados interno e externo.

Figura 17: Destinação da Produção de Carne de Frango Brasileira

Fonte: Adaptado, Relatório Anual UBABEF – 2009 (p.19).

Em síntese, os dados apresentados demonstram que o Brasil está entre os principais

produtores, exportadores e consumidores de carne de frango.

A UBABEF estima que 90% da avicultura industrial brasileira esteja sob o sistema

integrado entre produtores e frigoríficos, denominado nesse estudo como “sistema de

integração”.

O sistema de integração de frangos no Brasil foi implantado na década de 50 e é

apontado pela UBABEF como principal fator de consolidação da produção em cadeia

harmonizando a atividade dos criadores com a das agroindústrias (abatedouros).

A primeira narrativa sobre o sistema de integração consta da biografia de Attílio

Francisco Xavier Fontana, fundador da Sadia S.A., conforme descrito a seguir:

“[...] de maneira inédita no Brasil, na década de 50, o Sistema de Fomento

Agropecuário, unindo em parceria, a indústria e o agricultor, com o propósito

de prestar assistência técnica aos produtores rurais, acompanhando

tecnicamente a produção de matéria-prima, através de um programa de

integração entre empresa e criador, garantindo a boa qualidade dos animais

que vão para abate, a produtividade e a rentabilidade das pequenas

propriedades rurais, a operacionalidade e viabilidade da avicultura e da

suinocultura no país e a fixação à terra dos agricultores minifúndios da região

catarinense e avicultores [...]” (FONTANA, 1988, p.3).

Em geral, o sistema de integração consiste em um apoio permanente aos avicultores

(“integrados” ou “criadores”) com o assessoramento e fornecimento de agrônomos,

veterinários, técnicos rurais, fornecimento de ração, medicamentos e pintos de um dia. Aos

48

integrados cabe criar os animais de acordo com as melhores práticas de produção conforme as

rígidas normas de bem-estar animal, biosseguridade e sanidades estabelecidas pelas

agroindústrias às quais estejam vinculados através de contrato de prestação de serviços. Tais

regras são monitoradas de perto pelas empresas integradoras, garantindo o rastreamento do

produto da granja à mesa do consumidor.

O modelo de integração brasileiro é baseado no modelo norte-americano.

A UBABEF conta com 32 empresas associadas, sendo apenas 10 responsáveis por

90% da exportação de carne de frango, conforme representado na Figura 18.

Figura 18: Principais Empresas Exportadoras de Carne de Frango Brasileira

24%

23%

19%

11%

3%2%

2%2%

2% 2%

10%

BRF

Sadia

Seara

Doux Frangosul

Diplomata

Vale

Agrogen

Unifrango

Copacol

Aurora

Fonte: Adaptado, Relatório Anual UBABEF – 2009 (p.28).

As principais empresas do setor divulgam ao mercado que os seus parceiros no

sistema de integração trabalham de forma exclusiva para atender as especificações

determinadas para controle de qualidade e rastreabilidade de seus produtos. Conforme

mencionado antes 90% da produção de carne frango está sob o sistema de integração e,

portanto, apenas 10% dos produtores operam no modelo independente. Este é o primeiro fator

que permite concluir que não há um mercado ativo para determinação do preço do frango

vivo, assim como de carne in natura, que corresponderia à produção agrícola prevista no

CPC-29.

Apesar de haver cotação para a negociação do frango vivo, não foram encontrados

dados públicos referente ao volume negociado.

49

2.5. O Mercado de Suínos no Brasil

De acordo com a Estatística da Produção Agropecuária – Março 2011, elaborada e

divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o abate de suínos

acumulado no ano de 2010 correspondeu a 32.510 milhões de cabeças, representando um

aumento de 5,1% em relação ao ano anterior como também um novo recorde para o setor.

O Brasil está entre os principais produtores de carne suína, conforme demonstrado na

Figura 19, ocupando a 4º posição, atrás de China, União Europeia e Estados Unidos da

América.

Figura 19: Produção Mundial de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para 2011

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

2007 2008 2009 2010 2011

China 42.878 46.205 48.905 51.070 51.500

União Européia 22.858 22.596 22.434 23.000 22.120

EUA 9.962 10.599 10.442 10.187 10.204

Brasil 2.990 3.015 3.130 3.195 3.260

Rússia 1.640 1.736 1.844 1.920 2.310

Outros 13.685 13.592 13.644 13.851 13.998

Milh

õe

s d

e t

on

ela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

O Brasil também figura como um dos principais mercados consumidores de carne

suína, ocupando atualmente a 5º posição, conforme demonstrado na Figura 20.

50

Figura 20: Consumo Mundial de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção para 2011

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

2007 2008 2009 2010 2011

China 42.710 46.691 48.823 51.097 51.590

União Européia 21.507 21.024 21.057 21.271 20.600

EUA 8.965 8.806 9.013 8.653 8.485

Rússia 2.534 2.789 2.688 2.773 3.159

Brasil 2.260 2.390 2.423 2.577 2.620

Outros 15.873 16.153 16.264 16.582 16.661

Milh

õe

s d

e t

on

ela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

O Brasil ainda está posicionado entre os principais exportadores de carne suína,

ocupando a 4º posição, conforme demonstrado na Figura 21.

Figura 21: Principais Países Exportadores de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção

para 2011

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

2007 2008 2009 2010 2011

EUA 1.425 2.117 1.857 1.917 2.121

União Européia 1.286 1.727 1.415 1.754 1.550

Canadá 1.033 1.129 1.123 1.159 1.175

Brasil 730 625 707 619 640

China 350 223 232 278 280

Outros 337 327 308 286 302

Milh

ões

de to

nela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

Os principais mercados importadores de carne suína estão apresentados na Figura 22.

51

Figura 22: Principais Países Importadores de Carne Suína 2007 a 2010 e Projeção

para 2011

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

2007 2008 2009 2010 2011

Japao 1.210 1.267 1.138 1.198 1.157

Rússia 894 1.053 845 854 850

México 451 535 678 687 690

Córeia do Sul 447 430 390 382 410

EUA 439 377 378 390 397

Outros 1.632 2.534 2.083 2.247 2.301

Milh

õe

s d

e t

on

ela

das

Ano

Fonte: USDA – Foreign Agricultural Service - April 2011

O rebanho brasileiro de suínos encontra-se distribuído principalmente nas regiões

centro-sul e nordeste do país; no entanto, na Região Centro-Sul predominam os criatórios com

elevados níveis tecnológicos (sistemas de integração) e, na Região Nordeste, o rebanho suíno

está distribuído em produções de menor escala comercial e em grande parte em criatórios de

subsistência (COSER, 2010, p.7).

Os dados mais recentes disponibilizados pela Associação Brasileira da Indústria

Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), relativos à produção nacional dividida

entre industrial (sistemas de parceria) e subsistência (produtor independente), revelam que a

produção de subsistência representa apenas 11% da produção nacional e sua

representatividade está sendo reduzida com o passar dos anos, conforme apresentado na

Figura 23.

52

Figura 23: Produção de Carne Suína no Brasil

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Industrial 2.242 2.134 2.101 2.269 2.531 2.644 2.686

Susbsistência 630 563 519 439 412 354 342

Em m

il to

ne

lad

as

11%

89%

22%

78%79% 80%

86%84%

88%

14%16%20%21%

12%

Fonte: ABIPECS (2008, p. 4)

No Brasil, no caso específico da carne suína, as grandes empresas normalmente

trabalham em sistemas de integração. Esse sistema de produção em 2001 foi responsável por

aproximadamente 40% do rebanho total e 87% do abate inspecionado nacional. (IPARDES.

2002, p.44).

Segundo Coser, em 2007, o total de abates promovidos pelas 10 principais empresas

de abatedouros correspondeu a 66,66% do total de suínos abatidos, o que ressalta uma

concentração dos abates em grandes empresas; este esclarece ainda que:

“[...] as fusões e aquisições no setor brasileiro de abate de suínos, nos últimos

dois anos aceleraram o processo de concentração dos abates em grandes

empresas. Sadia, Perdigão e Eleva tornaram-se empresas de um mesmo

grupo, enquanto Mabella, e Seara foram adquiridas pelo frigorífico Marfrig,

que até então não atuava na cadeia de suínos.” (COSER, 2010, p.11).

53

Figura 24: Distribuição do Abate Inspecionado de Suínos do ano de 2007 de Acordo

com as Principais Empresas Frigoríficas Atuantes no Mercado em 2007 e 2009

Fonte: COSER (2010, p. 12)

Conforme mencionado anteriormente, a Região Sul concentra a maior parte de

produção e abate de suínos do país, como apresentado na Figura 25.

54

Figura 25: Percentual de Participação por Região no Número de Abates de Suínos por

Cabeça

Fonte: Adaptado IBGE – Indicadores da Produção Pecuária – Março de 2011 (p. 24)

Na Região Sul há o forte predomínio da produção e do abate dos animais. Quando se

analisa a representatividade desta região por tonelada, o percentual de participação é

aproximadamente de 65% nos anos de 2009 e 2010.

Em entrevista concedida ao site www.suinos.com.br, em 14 de setembro de 2010, o

Sr. Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul

(ACSURS), quando perguntado sobre os percentuais aproximado de suínos terminados

(abatidos) no sistema de parceria (integração) e na produção independente no Estado,

esclareceu que:

“Hoje, não existem mais suinocultores independentes. Eles tornaram-se inter-

independentes, tendo em vista que não possuem um contrato de integração

com as agroindústrias, mas definem sua produção de acordo com uma

demanda específica pré-acordada com determinada empresa. Atualmente, em

torno de 70 a 80% dos suinocultores gaúchos fazem parte do sistema de

integração, que possuem contrato formalizado, e, em torno de 20% dos

produtores atuam no mercado independente, sem contrato formalizado.”

(ACSURS, 2010).

Os dados analisados indicam uma forte dependência do produtor rural com a

agroindústria, dependência esta formalizada através dos contratos de parceria (integração),

que permitem a verticalização do processo produtivo brasileiro, apontado como fator-chave

de melhoria na qualidade do produto nacional, e permite uma conclusão prévia acerca da

ausência de mercado nas condições estabelecidas pelo CPC-29 e IAS-41.

55

Apesar de haver cotação para a negociação da arroba do suíno, não foram encontrados

dados públicos referente ao volume negociado.

2.6. Formas de Mensuração Contábil dos Ativos Biológicos

Historicamente, é de conhecimento geral que, no Brasil, até a adoção do CPC-29, o

custo de aquisição como forma de mensuração dos ativos biológicos foi o método mais

utilizado. Especificamente para o setor de carnes, essa informação pode ser corroborada

através da análise das demonstrações contábeis de algumas indústrias do setor para o

exercício findo em 31 de dezembro de 2009, conforme apresentado na Tabela 4. Além disso,

de acordo com Ernst & Young (2008, p. 2702), apesar do advento do IAS-41, o custo de

aquisição, continua, de longe o método mais comumente utilizado no mundo.

Por outro lado, analisando-se o ambiente regulatório de matéria contábil brasileiro

antes da adoção dos pronunciamentos emitidos pelo CPC, especificamente, a Lei das S.A.s,

não se encontrou na redação original nenhum tópico específico que se aplicasse à

contabilidade pecuária ou rural.

O artigo 183, da Lei das S.A.s, que trata da avaliação de elementos do ativo, no item

II, determina: “os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da

companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado,

serão avaliados pelo custo de aquisição ou produção deduzido de provisão para ajustá-lo ao

valor de mercado, quando este for inferior”, ou seja, os estoques devem ser avaliados pelo

método do custo ou mercado dos dois o menor, ainda no parágrafo 4°, deste artigo a Lei prevê

que: “os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser avaliados pelo

valor de mercado, quando esse for o costume mercantil aceito pela técnica contábil”, apesar

dessa possibilidade na Lei os dados do estudo documentado na Tabela 6 revela que esta não

foi a pratica adotada no Brasil.

Dentro desse contexto, segundo Marion, na contabilidade agropecuária, o método do

custo consiste em apropriar ao rebanho os custos incorridos e a eles pertinentes.

Periodicamente deve-se efetuar a distribuição proporcional do custo do rebanho entre as

cabeças do rebanho, a saber:

[...] o gado reprodutor tem função semelhante a máquinas e equipamentos de

uma indústria, e o rebanho em formação seria o produto em elaboração de

uma indústria (estoque) (MARION, 2010, p.100).

56

Ainda conforme este autor, a Receita Federal do Brasil, através do Parecer Normativo

nº 57/76, reconhece a possibilidade de valorização de rebanhos pelo método a valor de

mercado, que consiste em:

O método a valor de mercado considera o preço de mercado do plantel que

normalmente é maior que o custo, reconhecendo-se um ganho econômico

periodicamente (normalmente uma vez por ano), em virtude do crescimento

natural do rebanho. Dessa forma, o gado fica destacado na conta “estoque”

pelo seu valor de mercado (e não de custo), e no resultado é reconhecido o

ganho econômico do período, ou seja, a diferença a maior do valor de

mercado atual sobre o valor no período anterior. Denomina-se ganho

econômico do período, uma vez que não houve entrada de dinheiro, mas

valorização do plantel (MARION, 2010, p.91).

A definição do valor de mercado apresentada por Marion permite inferir que esse

método se assemelha em vários aspectos à nova normatização introduzida pelo CPC-29 e

IAS-41; entretanto, a sua adoção pelas grandes companhias do agronegócio brasileiro

detentoras de ativos biológicos não ocorreu, conforme constatado na análise das 100 maiores

nos segmentos pecuários de aves e suínos e carne bovina, que constam da lista das 400

Maiores do Agronegócio, conforme publicação Exame Melhores e Maiores de Julho de 2010,

apresentado na Tabela 6.

Os dados apresentados na Tabela 6 podem ser considerados como um indicativo de

que o custo de formação como forma de mensuração dos ativos biológicos predominava como

prática contábil adotada entre as grandes empresas do agronegócio pecuário brasileiro nas

demonstrações contábeis elaboradas até o exercício findo em 31 de dezembro de 2009.

57

Tabela 6: Critério de Avaliação Contábil dos Estoques de Animais para Abate em

31/12/2009 por Grandes Empresas do Agronegócio Brasileiro

Posição entre as 400

Maiores 2010 (1) Empresa(1) Segmento(1)

Vendas

(US$ milhões) (1)

Método de avaliação dos

estoques nas demonstrações

contábeis de 31.12.2009

4 Sadia S.A Aves e suínos 6.495,7 Método do custo (2)

5 BRF Aves e suínos 5.992,9 Método do custo (2)

8 JBS Carne bovina 3.376,7 Método do custo (2)

24 Seara Aves e suínos 1.753,6 Método do custo (2)

26 Marfrig Carne bovina 1.642,8 Método do custo (2)

27 Aurora Alimentos Aves e suínos 1.628,3 Método do custo (3)

28 Frigorifico Minerva Carne bovina 1.565,7 Método do custo (2)

36 C. Vale Aves e suínos 1.207,6 Método do custo (3)

46 Doux Aves e suínos 1.010,9 Método do custo (3)

78 Mataboi Carne bovina 599,4 Método do custo (3)

79 Copacol Aves e suínos 584,3 Método do custo (2)

85 Coopavel Aves e suínos 559,0 Método do custo (2)

89 Diplomata Aves e suínos 543,3 Método do custo (3)

98 Avipal NE Aves e suínos 478,5 Método do custo (2)

Fonte: (1) Exames Melhores e Maiores 2009; (2) Obtidos das demonstrações contábeis de 31/12/2009 disponíveis em

diversos sites de internet; e (3) Informações obtidas por contato telefônico com a Administração de cada empresa.

A nova normatização contábil foi desenvolvida pelo IASB com o intuito de endereçar

os problemas que surgiram nesse ramo de atividade. Nesse contexto a diversidade do

tratamento contábil das atividades agrícolas estava relacionada a:

(a) Antes do desenvolvimento do IAS-41 ativos relacionados à atividade

agrícola e suas mudanças eram excluídos do escopo dos pronunciamentos

internacionais de contabilidade;

(b) As normas contábeis para atividade agrícola desenvolvida pelos

reguladores locais de cada país, em geral, eram fragmentadas (piecemeal)

desenvolvidas para resolver problemas específicos relacionados à forma da

atividade agrícola significante para aquele país ou região;

(c) A natureza da atividade agrícola cria incertezas ou conflitos quando se

aplica modelos contábeis tradicionais, particularmente, devido a eventos

críticos associados com a transformação biológica (crescimento,

degeneração, produção e procriação) que modificam a substancia do ativo

biológico que são difíceis de serem apropriadamente tratados nos modelos

tradicionais de contabilidade baseados no custo histórico e na realização

(ERNST & YOUNG, 2008, p.2702).

Diante desse cenário, em 1994, o IASB, patrocinado pelo Banco Mundial, iniciou o

desenvolvimento do IAS-41. O projeto estendeu-se por aproximadamente 6 anos, sendo o

pronunciamento finalmente aprovado em dezembro de 2000.

58

Em relação ao escopo do IAS-41, esse pronunciamento aplica-se à produção agrícola,

que, por sua vez, corresponde ao produto colhido do ativo biológico, somente até o ponto da

colheita. Após esse momento o IAS-2 – Estoques, ou outro pronunciamento específico,

deverá ser observado. Portanto, destaca-se que o IAS-41 não se aplica ao processamento da

produção agrícola após a colheita, mesmo que ele seja uma extensão natural da atividade

agrícola.

Como apresentado no item 2.3, a melhor definição contábil de ativos biológicos é que

eles são animais ou plantas vivos.

Com o objetivo de permitir uma melhor compreensão da norma, no item 5 do CPC-29

e IAS-41 são apresentadas as definições de outros termos relacionados à atividade agrícola

com significados específicos, a saber:

Transformação biológica compreende o processo de crescimento,

degeneração, produção e procriação que causam uma mudança qualitativa ou

quantitativa no ativo biológico.

Atividade agrícola é o gerenciamento da transformação biológica e da

colheita de ativos biológicos para venda ou conversão e, produtos agrícolas

ou em ativos biológicos adicionais, pela entidade.

O IAS 41, no item 6, estabelece que a atividade agrícola abrange uma série de

atividades, entretanto, com certas características comuns, tais como:

(a) Capacidade de mudança: animais vivos e plantas são capazes de

transformações biológicas;

(b) Administração da mudança: a administração facilita a transformação

através do aumento ou pelo menos estabilização das condições necessárias

para que o processo ocorra. Essa administração diferencia a atividade

agrícola de outras atividades;

(c) Medição da mudança: as mudanças na qualidade ou quantidade advindas

da transformação biológica ou colheita são mensuradas e monitoradas como

parte da rotina da função da administração;

A transformação biológica, por sua vez, apresenta os seguintes tipos de

resultados:

(a) Mudanças nos ativos por meio de:

(i) crescimento (um aumento na quantidade ou uma melhora na qualidade do

animal ou planta;

(ii) degeneração (uma diminuição na quantidade ou deterioração na qualidade

do animal ou planta; ou

(iii) a procriação (criação de outros animais ou plantas); ou

(b) A produção de produtos agrícolas.

De acordo com o IAS-41, o reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos

devem observar a existência das seguintes condições, ressaltando que os itens (a) e (b) se

aplicam a qualquer tipo de ativo:

(a) A entidade controla o ativo como resultado de eventos passados;

(b) É provável que os benefícios futuros associados com o ativo irão se

converter para a entidade; e

(c) O valor justo ou custo do ativo pode ser mensurado confiavelmente.

59

Os ativos biológicos devem ser mensurados no reconhecimento inicial e a cada

exercício pelo seu valor justo deduzido dos custos para vendê-los, exceto se o valor justo não

puder ser mensurado confiavelmente.

A determinação do valor justo de um ativo biológico ou produção agrícola pode ser

facilitada pelo agrupamento desses itens de acordo com atributos significantes, tais como

idade ou qualidade. Uma entidade seleciona os atributos correspondentes utilizados pelo

mercado como base para determinação de preços.

O IAS-41, no item 18 esclarece que, se um mercado ativo não existir, uma entidade

poderá utilizar uma ou mais das seguintes opções disponíveis para determinar o valor justo:

(a) O preço mais recente de transação de mercado, contanto que não

tenham ocorrido mudanças significativas nas circunstâncias econômicas entre

o período da data da transação e a data das demonstrações contábeis;

(b) Preço de mercado para ativos similares com ajustes para refletir as

diferenças existentes; e

(c) Preço padrões do setor (cotações).

Especificamente, para este estudo, entende-se importante observar a definição de

mercado ativo constante do pronunciamento. De acordo com o item 8, todas as seguintes

condições devem ser atendidas para a existência de um mercado ativo:

(a) os itens negociados dentro do mercado são homogêneos;

(b) compradores e vendedores dispostos à negociação podem ser

normalmente encontrados, a qualquer momento; e

(c) os preços estão disponíveis para o público.

Caso haja circunstâncias em que o valor de mercado não possa ser obtido, o IAS-41

no item 20, determina que a entidade deverá utilizar o valor presente do fluxo de caixa líquido

esperado do ativo, descontado à taxa corrente do mercado, para definição do valor justo.

O item 30 do CPC-29 e IAS-41 considera a hipótese de incapacidade para

mensuração de forma confiável do valor justo:

Há uma premissa de que o valor justo dos ativos biológicos pode ser

mensurado de forma confiável. Contudo, tal premissa pode ser rejeitada no

caso de ativo biológico cujo valor deveria ser determinado pelo mercado,

porém, este não o tem disponível e as alternativas para estimá-los não são,

claramente, confiáveis. Em tais situações, o ativo biológico deve ser

mensurado ao custo, menos qualquer depreciação e perda por

irrecuperabilidade acumuladas. Quando o valor justo de tal ativo biológico se

tornar mensurável de forma confiável, a entidade deve mensurá-lo ao seu

valor justo menos as despesas de venda (CPC-29, 2009, item 30).

Resumidamente, pode-se afirmar que diversos aspectos devem ser considerados para

a verificação de qual método de mensuração é mais adequado para um determinado grupo de

ativos, entre eles, o gerenciamento da atividade agrícola, as características dos ativos

biológicos, o mercado, etc. A partir do CPC-29 e IAS-41, desenvolveu-se uma árvore de

60

decisão apresentada na Figura 26, com o objetivo de facilitar a visualização de todos os

aspectos a serem considerados na tomada de decisão relacionada à metodologia a ser adotada.

61

Figura 26: Árvore de Decisão para Adoção do CPC-29 e IAS-41

SIM

NÃO

SIM

A entidade controla o ativo e é

provável que benefícios associados ao

ativo fluirão para a entidade?

A entidade gerência a transformação

biológica, promovendo ou estabilizando

as condições necessárias para

que o processo ocorra?

A mudança na qualidade ou quantidade

causada pela transformação biológica ou colheita

é mensurada e monitorada como função

rotineira do gerenciamento?

Operação

considerada fora do

escopo do IAS-41/

CPC-29, identificar

outro

pronunciamento

aplicável.

Existe um mercado ativo onde

todas as seguintes condições existem:

(a) os itens negociados são homogêneos?

(b) compradores e vendedores podem

ser normalmente encontrados; e

(c) os preços estão disponíveis

para o público?

Houve transação recente

em mercado desse ativo, e desde então

não houve mudança significativa nas

circunstâncias econômicas entre a data

da transação e a data das

demonstrações contábeis?

Existe preço de ativos similares

que possam ser ajustados para

refletir diferenças existentes?

Há cotações padrões

de mercado relacionadas ao ativo que

possam ser utilizadas com os

devidos ajustes?

As despesas com

vendas podem ser

confiavelmente

estimadas?

É possível estimar o

valor presente do fluxo

de caixa líquido esperado

do ativo de forma

claramente confiável?

NÃO

NÃO

NÃO

SIM

SIM

NÃO

NÃO

SIM

SIM

NÃO

SIM

SIM

NÃO

Adotar o CUSTO

HISTÒRICO para

mensuração dos

ativos biológicos.

Adotar o VALOR

JUSTO para

mensuração dos

ativos biológicos.

SIM

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir do IAS-41 e CPC-29

62

2.7. O Método do Valor Justo

De maneira geral, pode-se afirmar que a definição de valor justo é bastante similar nas

principais literaturas contábeis existentes, como, por exemplo, as emitidas pelo IASB e pelo

Financial Accounting Standard Board (FASB) e as adotadas pela CVM, desde o início do

processo de harmonização das práticas contábeis iniciado em dezembro de 2007 com a Lei nº

11.638.

Tais definições partem de modelos simples como valores disponíveis no mercado, por

exemplo, a cotação de uma ação em bolsa de valores, até os modelos mais complexos, quando

as premissas adotadas para a elaboração de um modelo matemático não são observáveis. Na

prática pode-se afirmar que são inúmeras as dificuldades para determinar os valores justos de

ativos e passivos.

Laux e Leuz (2009) verificaram que os defensores do valor justo argumentam que,

quando adotado para ativos e passivos, este reflete condições de mercado e assim fornece

informações tempestivas, aumentando, portanto, a transparência e encorajando ações

corretivas imediatas (poucos argumentam sobre a importância da transparência). Esses autores

também verificaram que os opositores do valor justo alegam que este não é relevante e que é

potencialmente ilusório para ativos mantidos por um longo período e, em particular, até o

vencimento; os preços podem ser distorcidos pela ineficiência do mercado, pela

irracionalidade do investidor ou por problemas de liquidez. Os autores argumentam, ainda,

que valor de mercado baseado em modelos matemáticos não é confiável e que o valor justo

contribui para a procyclicality (“efeitos pró-cíclicos”) do sistema financeiro.

Portanto, entende-se que mesmo os valores de mercado observáveis podem não refletir

os fundamentos econômicos do objeto relacionado e, como consequência, a marcação a

mercado não seria apropriada.

Além disso, a partir das observações de Laux e Leuz (2009), entende-se que valores de

mercado observáveis podem desviar dos fundamentos econômicos, devido ao fato de o

mercado não ser eficiente a respeito das informações públicas disponíveis o tempo todo.

Assim como, custos de transação, limites à arbitragem como também preços de mercado

podem estar sujeitos a comportamentos tendenciosos e a irracionalidade do investidor.

Especificamente em relação ao mercado de aves e suínos, ressalta-se o fato de haver

um nível de concentração em que poucos participantes poderiam determinar e controlar o

valor justo do ativo correspondente, como, por exemplo, pode-se mencionar o tamanho e a

representatividade da BRF nos ativos biológicos de aves e suínos com a aquisição da Sadia

63

S.A., Eleva Alimentos S.A. e Avipal Nordeste S.A., ocorridas entre 2008 e 2009. Nesse caso,

pode-se estabelecer uma relação com a experiência da Enron, sendo esta a pioneira e, durante

um intervalo de tempo, a única a utilizar-se de contratos derivativos do clima e de energia,

manipulando a marcação a mercado desses contratos, como cita Benston (2006):

[...] a experiência com a Enron deveria dar aos FASB e ao IASB e a outras

instituições regulamentadoras que permitem (de fato, requerem) a adoção do

nível 3 de valor justo (premissas não observáveis), onde os números

reportados não são muito bem suportados por preços de mercado relevantes

razões para serem cuidadosas. Uma vez que a Enron foi autorizada a utilizar

valores justos para contratos de energia, e uma reavaliação estendida dos

mesmos a uma grande e variada base de ativos, para reportes internos e

externos, avaliações pessoais e bonificações. Acarretando na superavaliação

das suas receitas e lucro líquido e estruturando operações para apresentar

fluxos de caixa como oriundos das operações ao invés de atividades

financeiras. Bonificações baseadas no valor justo proporcionaram aos

empregados e administradores incentivos para supervalorizar seus projetos,

acarretando em despesas operacionais altas e raramente em projetos bem

sucedidos. As perdas incorridas deram espaço para o aparecimento de

subterfúgios contábeis adicionais, até que todo o empreendimento entrou em

colapso (BENSTON, 2006).

Ainda segundo este autor, a determinação de um conjunto de padrões de contabilidade

envolve trocas. Todos os regimes contábeis apresentam custos e benefícios e são

provavelmente diferentes pelas diversas empresas e/ou indústrias.

Para Iudícibus e Martins (2007), a mistura atual de valores e o incremento dessas

alternativas não estão resolvendo os problemas de avaliação da contabilidade a custos

históricos e talvez estejam criando uma complexidade não acompanhada de todos os possíveis

benefícios que esses valores adicionais podem propiciar.

Iudícibus e Martins (2007) ressaltam sua preocupação em relação à adoção do valor

justo no sentido de que, além das dificuldades de determinação dos valores, se pretende

substituir as bases originais de avaliação por outra, totalmente sem possibilidade de tracking

(no sentido de poder ser rastreado, auditado, de maneira formal e objetiva, vinculado). Não

seria mais cuidadoso adotar as premissas mais avançadas em demonstrações suplementares?

Os autores ainda afirmam que o conceito e a aplicação do valor justo representam, sem

dúvida, uma espetacular, agressiva e, de certo modo, arriscada virada no que se refere à

avaliação contábil, a saber:

Espetacular, pois os órgãos reguladores até tomam a dianteira com relação

aos scholars (acadêmicos) na defesa e no enforcement (aplicação) dessa nova

e revolucionária forma de avaliação. As Estruturas Conceituais Básicas

deveriam, assim, ser alteradas e emendadas. Agressiva, pois coloca o valor

justo em lugar de e não em complemento a algo que já existe e que vem há

séculos nas demonstrações contábeis como forma principal de avaliação, ou

seja, o custo histórico como base de registro inicial (com sua variante custo

histórico corrigido). Passa por cima, até, do custo corrente e do custo de

reposição, alternativas mais conhecidas dos contadores. De certo modo

64

arriscada, pois, ao apagar-se o registro histórico para, em seu lugar, colocar-

se ativos e passivos avaliados pelo valor justo, estar-se-á dificultando o

tracking entre competência e fluxos de caixa. Por outro lado, o grau de

subjetividade dos cálculos de fluxos descontados, quando não existir mercado

ativo, beira quase a não aceitabilidade, sob o ponto de vista de um mínimo de

objetividade e consistência.

Iudícibus e Martins (2007) sugerem a adoção de uma estruturação planejada a longo

prazo, mas, até que se chegue lá e se tenham pesquisas empíricas validando as mudanças,

seguir um caminho apenas um pouco mais trabalhoso, mas provavelmente muito mais

informativo e com uma visualização muito mais ampla dos efeitos dos diferentes critérios

assumidos de valoração, mantendo-se as duas bases.

Diante destas afirmações, conclui-se que se faz necessária uma análise sobre qual

informação se deseja transmitir nas demonstrações contábeis.

Nesse sentido, cabe ressaltar o estudo realizado por Boone (2009) nas empresas

holandesas que adotaram o valor justo para mensuração dos ativos biológicos. Devido à

volatilidade introduzida por esse mecanismo contábil, estas decidiram não mais adotar esses

efeitos a partir de 2009. Nesse caso, a adoção do IAS-41 foi fortemente criticada pelo fato de

que o valor justo é muito subjetivo e, portanto, poderia distorcer a comparação das

demonstrações contábeis das empresas ao longo do tempo.

Há de se abordar, ainda, as metodologias disponíveis para mensuração do valor justo;

de acordo com Martins (2001), os métodos mais comumente usados são os chamados de

valores de entrada, muito usados na elaboração de demonstrações contábeis de ampla

divulgação, e baseiam-se nas referências valorativas obtidas nos seguimentos do mercado em

que a empresa adquire seus recursos. Os métodos chamados de valores de saída são aqueles

obtidos nos segmentos de mercado nos quais a empresa oferta seus recursos. Os principais

tipos de modelos de avaliação a valores de entrada e saída são apresentados na Figura 27.

65

Figura 27: Modelos de Avaliação de Ativos

Fonte: Adaptado MARTINS (2001, P.20).

Para Martins (2001), as diversas alternativas de avaliação não são conflitantes entre si

ou substitutivas uma das outras, como às vezes acadêmicos e profissionais afirmam, e, sim,

complementares uma das outras, visões diferentes do mesmo objeto. O autor considera que a

integração entre todas as formas é absolutamente viável e evidenciável, teórica e

praticamente. Todas são, na verdade, distribuições diferentes do mesmo fluxo de caixa;

consequentemente, todas são conciliáveis com ele (sempre) e convergem para o mesmo valor

a longo prazo.

Entretanto, apesar de os diversos métodos apresentados na Figura 27, se equivalerem,

o CPC-29 e IAS-41 mencionam, no item 20, que, na ausência de um mercado ativo, as

entidades devem adotar a metodologia do valor presente do fluxo de caixa futuro líquido

esperado do ativo, descontado à taxa corrente do mercado.

Assim sendo, a teoria da metodologia do valor presente será a única abordada neste

estudo.

Segundo Martins (2001), a metodologia do valor presente do fluxo de caixa futuro

consiste em converter os benefícios e sacrifícios associados a um item patrimonial em

quantidades de moeda, respeitando as épocas de ocorrência, e transportá-las para a data

66

específica por meio do uso de taxas de juros. Além disso, segundo o autor, o valor presente do

fluxo futuro de caixa, aplicado ao ativo, objetiva identificar o montante que, recebido hoje,

proporcionaria a mesma utilidade que outro recebido em data futura determinada

(equivalência de capitais).

De acordo com Breda e Hendriksen (2007), a adoção do método do valor presente do

fluxo de caixa futuro, somente é válida se atendidas às seguintes condições:

(a) os recebimentos e pagamentos futuros de dinheiro (ou equivalente) forem

conhecidos ou estimáveis com elevada segurança; e

(b) o período de tempo for relativamente longo.

A metodologia de avaliação do valor presente do fluxo de caixa líquido esperado do

ativo, descontado à taxa corrente do mercado está baseada na regra do valor presente e, é

obtida através da fórmula apresentada na Figura 28.

Figura 28: Fórmula do Modelo do Fluxo de Caixa Descontado

V = F 1 + F 2 + K + F n

( 1 + d )1

( 1 + d )2

( 1 + d )n

Em que:

V = V alor presente esperado do item

n = Vida util do ativo

d = Taxa de desconto (reflete o risco inerente ao fluxo de caixa estimado)

FCt = Fluxo de caixa no período t

Fonte: MARTINS (2001, P.113)

Assim como os demais métodos apresentados na Figura 27, o método do valor

presente do fluxo de caixa futuro apresenta vantagens e desvantagens, a saber:

Vantagens:

(1) É a opção que mais de aproxima do valor econômico do item avaliado e,

portanto, está num dos mais elevados níveis de atendimento ao conceito

da unidade;

(2) Identifica imediatamente os elementos patrimoniais geradores de riqueza

para a empresa e dimensiona essa riqueza, também imediatamente,

considerando a devida taxa de desconto para trazê-la a valor presente.

(3) Quando conseguida sua aplicação com valores bastante confiáveis trata-

se de forma de avaliação quase insuperável, quando se quer medir o

valor econômico de um ativo (MARTINS, 2001, p.118).

67

Desvantagens:

Analisando os ângulos da objetividade e praticabilidade, o valor presente do

fluxo futuro de caixa mostra-se vulnerável. Por isso, sua aplicação na

contabilidade deve merecer profunda reflexão. Os componentes do valor

presente do fluxo futuro de caixa considerados subjetivos e/ou difíceis de

obter são os seguintes:

(1) Valores esperados dos recebimentos e pagamentos futuros;

(2) Época de ocorrência dos eventos;

(3) Taxa de desconto; e

(4) Dificuldade ou impossibilidade de se conhecer o valor presente líquido

individualizado de cada um dos ativos da empresa (MARTINS, 2001,

p.118).

O autor também destaca que o uso generalizado e pouco refletido do valor presente do

fluxo futuro de caixa pode disseminar comportamentos imediatistas, incentivadores da

especulação financeira exagerada, em detrimento da produção de bens e serviços e de seus

benefícios de longo prazo.

68

3. Procedimento Metodológico

3.1. Tipo de Pesquisa

O estudo tem características fenomenológicas predominantes, pois avalia uma pequena

amostra, utilizando métodos de pesquisa de forma a obter-se diferentes percepções dos

fenômenos observados (COLLINS e HUSSEY, 2005).

3.2. Método de Pesquisa

3.2.1. Quanto ao objetivo

O estudo desenvolvido é de caráter exploratório (BEUREN, 2008), visto que no Brasil

não se tem conhecimento de estudos a respeito da adequação e das possíveis consequências da

adoção do valor justo como instrumento de mensuração e avaliação dos ativos biológicos -

aves e suínos, pois a sua obrigatoriedade se faz para demonstrações contábeis referentes ao

exercício social findo em 31 de dezembro de 2010.

3.2.2. Quanto ao procedimento

Neste estudo, foi empregado o procedimento de análise de caso experimental da

empresa BRF- Brasil Foods S.A. No Apêndice 5 tem-se a carta de autorização da diretoria

para a realização do presente estudo.

Desenvolveu-se um estudo com profundidade sobre a adequação da adoção do valor

justo para mensuração de ativos biológicos - aves e suínos no Brasil (unidades de análise),

com o objetivo de analisar as dificuldades, o grau de subjetividade e a relação custo versus

benefício de implantação dos novos procedimentos requeridos pelas normas contábeis.

Quanto à análise do caso experimental, de forma a permitir um melhor entendimento

sobre a representatividade da empresa escolhida, apresenta-se resumidamente a história da

BRF.

Nos primeiros anos da década de trinta, no meio-oeste de Santa Catarina, descendentes

de duas famílias de imigrantes italianos – os Ponzoni e os Brandalise – estabeleceram um

pequeno negócio cujo crescimento deu origem a um dos maiores complexos agroindustriais

69

do mundo. Inaugurado em Vila das Perdizes, às margens do Rio Peixe, um armazém de secos

e molhados com o nome de Ponzoni, Brandalise & Companhia, negócio que deu origem à

Perdigão.

Em 1939 a empresa iniciou suas atividades industriais com um abatedouro de suínos.

A partir de então a empresa expandiu vigorosamente suas atividades, principalmente através

do crescimento orgânico. Em meados de 2005 iniciou-se um novo ciclo de expansão com o

objetivo de entrar em novos mercados, assim em um curto período de tempo a Perdigão

adquiriu mais de oito empresas, destacando-se Eleva S.A., e Batavo S.A., no ramo de lácteos.

Em 2009 a Perdigão e sua principal concorrente a Sadia S.A. comunicaram ao mercado um

processo de associação. Na mesma data a Perdigão passou a chamar-se BRF – Brasil Foods

S.A.

Atualmente, as principais atividades da BRF são foco na criação, produção e abate de

aves, suínos e bovinos, industrialização e/ou comercialização de carnes in natura, produtos

processados, leite e lácteos, massas, vegetais congelados e derivados de soja, entre os quais,

destacam-se:

Frangos inteiros e cortes de frangos, perus, suínos e bovinos congelados;

Presuntos, mortadelas, salsichas, linguiças, e outros produtos defumados;

Hambúrgueres, empanados, quibes, almôndegas;

Lasanhas, pizzas, pão de queijo, tortas e vegetais congelados;

Leite, produtos lácteos e sobremesas;

Sucos, leite e sucos de soja;

Margarinas; e

Farelo de soja e farinha de soja refinada, bem como ração animal.

A BRF é uma das maiores exportadoras mundiais de aves e maior empresa global de

proteína em valor de mercado. No Brasil, está entre as principais empregadoras privadas, com

aproximadamente 113 mil funcionários. (BRF, 2011).

3.3. População e Amostra

A população estudada engloba os ativos biológicos da empresa BRF nas categorias

de aves e suínos que, por sua vez, foram determinadas com base na representatividade das

subcategorias inseridas na população. Por exemplo, na categoria de aves foi estudada a

70

subcategoria frango, devido à sua representatividade nesse grupo, não sendo consideradas as

categorias peru, codornas e aves especiais.

3.4. Procedimento de Coleta de Dados: Instrumento e Técnica

Neste estudo, os dados são predominantemente qualitativos, havendo uma

combinação de entradas de dados. Portanto, para se realizar a coleta desses dados, optou-se

pela realização de pesquisa bibliográfica, entrevistas, observação e análise documental.

(COLLINS e HUSSEY, 2005).

Portanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica, conforme exposto no capítulo 2, a

respeito do mercado de aves e suínos de forma a se conhecer o funcionamento do mercado,

principalmente em relação aos aspectos de volume produzido, principais produtores,

representatividade do sistema de integração e do sistema independente e, ainda, a participação

das principais agroindústrias nesse mercado, bem como a identificação, ou não, de

concentração do mercado em poucos atores do setor agroindustrial.

Quanto às entrevistas estas foram realizadas com os dirigentes das principais

associações de produtores de carnes de frango e suína, UBABEF e Associação Brasileira dos

Criadores de Suínos (ABCS), respectivamente, com o intuito de identificar:

1) os aspectos positivos e negativos dos sistemas de criação através dos modelos

de integração e independentes;

2) quais são os percentuais atuais de terminação e/ou abate no sistema de

integração e no sistema independente;

3) a existência de um levantamento de terminações e/ou abates por empresa, e

qual a participação das 10 maiores empresas nesse processo;

4) qual é a forma mais provável de ocorrer à entrada de novos concorrentes do

porte de um dos quatro líderes;

5) para quais finalidades são utilizadas as cotações para a carne suína e do frango

vivo divulgadas em alguns sites de internet; e

6) se na opinião dessas associações, representadas por seus dirigentes, existe um

mercado ativo para os animais objeto deste estudo considerando-se as

condições de valor justo estabelecidas no CPC-29 e IAS-41.

Essas informações são relevantes para este estudo para se atender ao objetivo

específico 1, referente à confirmação da existência ou não de um mercado ativo para

71

negociação dos ativos biológicos - aves e suínos, bem como auxiliar em atender ao objetivo

específico 2.

Assim sendo, com o objetivo de aprimorar-se o entendimento do mercado de frangos,

em 2 de junho de 2011, realizou-se uma entrevista com o Sr. Francisco Sérgio Turra, vide

Apêndice 1 deste estudo. Essa escolha é justificada por sua experiência profissional, resumida

a seguir: foi Prefeito da cidade de Marau no Estado do Rio Grande do Sul, neste município há

vários produtores de frangos e uma forte presença da agroindústria. O Sr. Francisco foi duas

vezes Deputado Estadual no Estado do Rio Grande do Sul, Diretor de Desenvolvimento e

Investimento do Banrisul, Presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e

Ministro da Agricultura nos anos de 1998 e 1999. É atualmente presidente da UBABEF.

Adicionalmente, com o intuito de obter-se o entendimento da utilização e do tamanho

do mercado de frangos vivos, levando-se em consideração o fato de haver divulgações desses

preços que poderiam refletir as condições de mercado estabelecidas no pronunciamento

contábil, em 6 de junho de 2011, entrevistou- se o Sr. Oto J. Xavier, Diretor de Assessoria

Agropecuária da Jox Assessoria Agropecuária, vide Apêndice 3, deste estudo.

Ainda, com o propósito de aprimorar-se o entendimento do mercado de suínos

identificou-se o Sr. Fabiano José Coser, para realização de uma entrevista, vide Apêndice 2,

deste estudo. Esta escolha justificou-se por sua experiência profissional e acadêmica, a saber:

médico veterinário formado pela Universidade Federal de Viçosa – UFV em 1998, mestre em

Agronegócios pela Universidade de Brasília – UnB, 2010 que trabalhou durante 06 anos

como consultor na área de genética e nutrição de suínos e atualmente é Diretor Executivo

ABCS e autor da dissertação de mestrado “Contrato de Integração de Suínos: Formatos,

Conteúdos e Deficiências da Estrutura de Governança Predominante na Suinocultura

Brasileira.

Por último, com o intuito de atender o objetivo específico 5, entrevistou-se o Sr.

Reynaldo Leite de Carvalho – Contador, responsável pelas demonstrações contábeis da

Copacol – Cooperativa Agroindustrial Consolata, vide Apêndice 4, deste estudo, as perguntas

dirigidas a esse profissional foram:

1) Na elaboração das demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de

dezembro de 2010 a Copacol adotou o CPC-29 para avaliação, mensuração e

divulgação dos seus ativos biológicos?

2) Foi elaborado o fluxo de caixa futuro descontado para os ativos biológicos?

Em relação às observações estas foram realizadas nos locais abaixo indicados e com

os seguintes objetivos:

72

Tabela 7: Sumário de Observações Efetuadas e Respectivos Objetivos

Data Local Objetivo

11/08/2009 Visita a fábrica de abate de aves e suínos no

município de Carambeí no Estado do Paraná.

Observar o recebimento, o abate e a

industrialização de aves e suínos.

12/08/2009 Visita a fábrica de abate de aves no município

de Videira no Estado de Santa Catarina.

Observar o recebimento, o abate e a

industrialização de aves e suínos.

13/08/2009 Visita ao incubatório de aves no município de

Herval d´Oeste no Estado de Santa Catarina.

Observar o processo de incubação de ovos, a

sexagem de aves, e procedimentos para envio

para os parceiros integrados.

14/08/2010 Visita a três parceiros integrados no município

de Capinzal no Estado de Santa Catarina.

Observar o controle dos veterinários sobre o

manejo de aves e suínos, controle de ração,

controle do índice de mortalidade e controle

do ganho de peso dos animais.

15/08/2009 Vista a fábrica de abate de aves e suínos no

município de Capinzal no Estado de Santa

Catarina.

Observar o recebimento, o abate e a

industrialização de aves e suínos.

22/07/2010 Visita ao incubatório de aves no município de

Rio Claro no Estado de São Paulo.

Observar o processo de incubação de ovos,

sexagem de aves, e procedimentos para envio

para os parceiros integrados

23/07/2010 Visita a granja de avós no município de Brotas

no Estado de São Paulo.

Observar o recebimento de avós de 1 dia, o

manejo e processo de criação de avós e

postura de ovos, bem como o processo de

incubação de matrizes.

30/05/2011 Visita a Bolsa de Suínos de São Paulo, no

município de Espírito Santo do Pinhal, região

de Campinas, no Estado de São Paulo.

Observar as negociações de suínos em

mercado organizado.

Em relação ao processo de análise documental restringiu-se a análise de documentos

internos elaborados pela Administração da BRF.

3.5. Procedimentos de Tratamento de Dados

Os dados coletados através das técnicas mencionadas foram tratados por meio do

método não quantitativo de análise de dados qualitativos, denominado procedimento analítico

geral (COLLINS e HUSSEY, 2005).

73

4. Apresentação e Análise dos Resultados

4.1. Apresentação dos Resultados

A apresentação dos resultados obtidos obedece à sequência dos objetivos específicos

propostos no capítulo 1.

4.1.1. Do Objetivo Específico 1

O objetivo específico 1 trata de confirmar a existência, ou não, de um mercado ativo

que reflita as condições de mercado e a prática de valor justo especificadas na teoria contábil

do CPC-29 e IAS-41, referente a aves (categoria frango) e suínos.

Em relação ao mercado de Aves (Categoria Frango)

De maneira geral verificou-se, através dos dados divulgados pelo USDA, que em um

ranking mundial o Brasil ocupa a primeira posição como maior exportador de carne de

frango, o terceiro lugar entre os maiores produtores de carne de frango e o quarto lugar entre

os maiores mercados consumidores desse produto.

Adicionalmente, tem-se que cerca de 65% da produção nacional é consumida pelo

mercado doméstico e mais de 90% da produção nacional se dá pelo sistema de integração.

De acordo com as informações fornecidas pelo Sr. Francisco Sérgio Turra, presidente

da UBABEF, mais de 90% da produção de carne de frango brasileira é produzida através do

sistema de integração.

Apesar de não haver dados recentes, o entrevistado afirma que a agroindústria de carne

de frangos está concentrada em apenas dois líderes sendo: BRF (Sadia e Perdigão) e Marfrig.

Em 2010, a BRF divulgou que o grupo foi responsável pelo abate de 1,6 bilhão de

cabeças de frango, enquanto a Marfrig divulgou que abateu 649 milhões de cabeças.

Adicionalmente, de acordo com as informações fornecidas pelo Sr. Oto J. Xavier,

Diretor de Assessoria Agropecuária da Jox Assessoria Agropecuária, esclareceu-se que os

preço de frango vivo divulgados no site desta assessoria são utilizados na aquisição de frango

vivo, também denominado frango em pé, por avícolas e pequenos abatedouros que não têm

74

potencial econômico para investir no sistema de integração, que esse mercado é relativamente

pequeno e que o total negociado deve representar algo inferior a 5% do mercado total.

De acordo com os entrevistados e principalmente baseando-se no fato de mais de 90%

da produção ser oriunda do sistema de integração e esse sistema estar concentrado em apenas

dois participantes de mercado, há fortes indicativos de que não há um mercado que reflita a

definição de valor justo estabelecida no item 8 do CPC-29 e IAS-41:

“[...] é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, entre partes

interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a

ausência de fatores, que pressionem para a liquidação da transação ou que

caracterizem uma transação compulsória”. Diante dessa definição, em sua

opinião, há no Brasil tal mercado que reflita essas condições? (CPC, 2009

p.5)

Com base nos conhecimentos adquiridos foram aplicados os requerimentos do CPC-29

e IAS-41 nas condições de mercado da empresa BRF, conforme demonstrado na Figura 29, e

concluiu-se não haver um mercado ativo que atenda esses requerimentos.

75

Figura 29: Árvore de Decisão para Adoção IAS-41 e CPC-29 Aplicada ao Ativo

Biológico - Frangos

A entidade controla o ativo e é

provável que benefícios associados ao

ativo fluirão para a entidade?

A entidade gerência a transformação

biológica, promovendo ou estabilizando

as condições necessárias para

que o processo ocorra?

A mudança na qualidade ou quantidade

causada pela transformação biológica ou colheita

é mensurada e monitorada como função

rotineira do gerenciamento?

Existe um mercado ativo onde

todas as seguintes condições existem:

(a) os itens negociados são homogêneos?

(b) compradores e vendedores podem

ser normalmente encontrados; e

(c) os preços estão disponíveis

para o público?

Houve transação recente

em mercado desse ativo, e desde então

não houve mudança significativa nas

circunstâncias econômicas entre a data

da transação e a data das

demonstrações contábeis?

Existe preço de ativos similares

que possam ser ajustados para

refletir diferenças existentes?

Há cotações padrões

de mercado relacionadas ao ativo que

possam ser utilizadas com os

devidos ajustes?

É possível estimar o

valor presente do fluxo

de caixa líquido esperado

do ativo de forma

claramente confiável?

1-SIM

4-NÃO

3-SIM

6-NÃO

5-NÃO

Adotar o VALOR

JUSTO para

mensuração dos

ativos biológicos.

2-SIM

7-NÃO

8-CONDIÇÃO

A SER

VALIDADA NO

OBJETIVO

ESPECÍFICO 2

8-SIM

Adotar o CUSTO

HISTÒRICO para

mensuração dos

ativos biológicos.

8-NÃO

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir do IAS-41 e CPC-29

76

Em resposta ao requerimento 1, pode-se inferir que as agroindústrias controlam seus

ativos biológicos na categoria frango e que os benefícios econômicos futuros associados ao

ativo fluirão para as entidades, pois, de outra maneira, não poderiam reconhecer esses ativos

em seus balanços patrimoniais, quer no grupo de ativos biológicos quer em outros grupos.

Quanto ao requerimento 2, utilizando-se do conhecimento obtido por meio da análise

de caso experimental, constatou-se que a BRF gerencia a transformação biológica,

principalmente através do fornecimento de rações, medicamentos, assessoria técnica

veterinária, etc.

Em relação ao requerimento 3, também por meio da análise de caso experimental na

BRF, verificou-se que as mudanças biológicas qualitativas e quantitativas são mensuradas e

monitoradas rotineiramente tanto em granjas próprias, através de seus empregados, quanto nas

granjas dos parceiros integrados, através de visitas semanais para controles de índices

relacionados a mortalidade, ganho de peso, conversão alimentar, etc.

O requerimento 4 estabelece que, para a existência de um mercado ativo, que todas as

seguintes condições sejam atendidas:

(a) os itens negociados são homogêneos;

(b) compradores e vendedores podem ser normalmente encontrados; e

(c) os preços estão disponíveis para o público.

Assim sendo, com relação ao item (a), em teoria os ativos negociados no mercado de

frango vivo são os mesmos que aqueles de propriedade da BRF; entretanto, assume-se a

premissa de que os criadores dos animais negociados no mercado spot adotam os mesmos

critérios de observação das normas sanitárias vigentes.

Quanto ao item (b), entende-se que, como o mercado de frangos vivos é pequeno em

relação ao mercado total, não seria possível encontrar vendedores que pudessem atender à

demanda das agroindústrias. Esse fator deve ser considerado conforme requer o CPC-29 e

IAS-41, em seu item 8: “compradores e vendedores dispostos à negociação podem ser

normalmente encontrados a qualquer momento”, portanto, quando compara-se o potencial de

volume demandado com o volume ofertado, conclui-se não ser possível encontrar vendedores

com capacidade para atender a demanda potencial.

Ainda com relação ao item (b), é importante lembrar que o FASB e o IASB, em

decorrência da crise de crédito deflagrada em 2008, que tornou ilíquido o mercado de alguns

ativos financeiros, emitiram regras especificas para evitar a adoção dos preços divulgados

nesses mercados para determinação do valor justo de ativos e passivos a serem incluídos nas

77

demonstrações contábeis, entende-se que devido ao baixo volume de negociação no mercado

de frangos, por analogia, esse mercado também possa ser considerado ilíquido.

Em relação ao item (c), os preços estão disponíveis ao público e, portanto, esse

subitem estaria atendido. Resumindo, o requerimento 4 não seria atendido devido ao tamanho

do mercado e à sua representatividade.

Com relação aos requerimentos 5, 6 e 7, os preços de transações recentes, de ativos

similares e cotações-padrão disponíveis são aqueles obtidos dentro das condições de mercado

descritas no requerimento 4 e pelas razões já expostas não poderiam ser aplicáveis.

Quanto ao requerimento 8, uma análise detalhada foi realizada e apresentada para

atendimento ao objetivo específico 2 deste estudo.

Em relação ao mercado de Suínos

De maneira geral, verificou-se, através dos dados divulgados pelo USDA, que o Brasil

é o quarto maior produtor e exportador de carne suína e o quinto maior mercado consumidor

desse produto.

Verificou-se, também, que, durante o ano de 2009, as quatro principais agroindústrias

do setor concentraram 57,21% do total de abates, sendo elas: BRF: 32,77%, Aurora: 11,08%,

Marfrig: 7,73% e Alibem: 5,63%, conforme apresentado na Figura 24.

Conforme entrevista realizada com o Sr. Fabiano J. Coser, transcrita no Apêndice 2

deste estudo, cerca de 65% da produção de carne suína brasileira é produzida através do

sistema de integração verticalizada, e os 35% restantes através do sistema independente;

entretanto, dentro desse sistema, parte considerável da produção é negociada diretamente com

a agroindústria através de outras modalidades de contratos, tais como: acordos tácitos e

parcerias estratégicas. A esse respeito destaca-se que o CPC-29 e IAS-41, no item 16, rejeita a

possibilidade de utilização, como referência de preço de mercado, os preços acordados entre

vendedor e comprador através de contratos. Como consequência dessas negociações através

destes contratos, o remanescente da produção negociada em mercado independente não é

representativa, o que pode ser corroborado ao se analisar a quantidade de cabeças negociadas

no mercado independente organizado.

Ainda segundo o Sr. Fabiano, no Brasil existem duas Bolsas de Suínos organizadas: a

Bolsa de Suínos de São Paulo e a de Belo Horizonte, onde ocorrem as negociações de cabeças

de suínos, oriundas do modelo de produção independente.

78

Efetuou-se uma visita a Bolsa de São Paulo, na cidade de Espirito Santo do Pinhal, na

região de Campinas, e constatou-se a realização de negociações de compra e venda desses

ativos. Conforme informações obtidas nas Bolsas, o volume total de cabeças negociadas do

mês de maio de 2011 na Bolsa de São Paulo foi de aproximadamente 10.500 cabeças,

enquanto em Minas Gerais o total aproximado foi de 13.500 cabeças. Anualizado esse

volume, estima-se que o potencial anual de negociação fica em torno de 288.000 cabeças, que

corresponderia a apenas 0,9% do total nacional de abates do ano de 2010, que totalizou 32,5

milhões de cabeças, conforme divulgado pelo IBGE.

Com base nos conhecimentos foram aplicados os requerimentos do CPC-29 e IAS-41

nas condições de mercado da empresa BRF, conforme demonstrado na Figura 30, e concluiu-

se não haver um mercado ativo que atenda esses requerimentos.

79

Figura 30: Árvore de Decisão para Adoção IAS-41 e CPC-29 Aplicada ao Ativo

Biológico – Suínos

A entidade controla o ativo e é

provável que benefícios associados ao

ativo fluirão para a entidade?

A entidade gerência a transformação

biológica, promovendo ou estabilizando

as condições necessárias para

que o processo ocorra?

A mudança na qualidade ou quantidade

causada pela transformação biológica ou colheita

é mensurada e monitorada como função

rotineira do gerenciamento?

Existe um mercado ativo onde

todas as seguintes condições existem:

(a) os itens negociados são homogêneos?

(b) compradores e vendedores podem

ser normalmente encontrados; e

(c) os preços estão disponíveis

para o público?

Houve transação recente

em mercado desse ativo, e desde então

não houve mudança significativa nas

circunstâncias econômicas entre a data

da transação e a data das

demonstrações contábeis?

Existe preço de ativos similares

que possam ser ajustados para

refletir diferenças existentes?

Há cotações padrões

de mercado relacionadas ao ativo que

possam ser utilizadas com os

devidos ajustes?

É possível estimar o

valor presente do fluxo

de caixa líquido esperado

do ativo de forma

claramente confiável?

1-SIM

4-NÃO

3-SIM

6-NÃO

5-NÃO

Adotar o VALOR

JUSTO para

mensuração dos

ativos biológicos.

2-SIM

7-NÃO

8-CONDIÇÃO

A SER

VALIDADA NO

OBJETIVO

ESPECÍFICO 2

8-SIM

Adotar o CUSTO

HISTÒRICO para

mensuração dos

ativos biológicos.

8-NÃO

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir do IAS-41 e CPC-29

80

Em resposta ao requerimento 1, pode-se inferir que as agroindústrias controlam seus

ativos biológicos na categoria suínos e os benefícios econômicos futuros associados ao ativo

fluirão para as entidades, assim como todos os ativos registrados em seus balanços

patrimoniais.

Quanto ao requerimento 2, utilizando-se do conhecimento obtido por meio da análise

de caso experimental, constatou-se que a BRF gerencia a transformação biológica,

principalmente através do fornecimento de rações, medicamentos, assessoria técnica

veterinária, etc.

Em relação ao requerimento 3, as mudanças biológicas qualitativas e quantitativas são

mensuradas e monitoradas rotineiramente tanto em granjas próprias através de seus

empregados, quanto nas granjas dos parceiros integrados através de visitas semanais para

controles de índices relacionados a mortalidade, ganho de peso, conversão alimentar, etc.

O requerimento 4 estabelece que, para a existência de um mercado ativo todas as

seguintes condições sejam atendidas:

(a) os itens negociados são homogêneos;

(b) compradores e vendedores podem ser normalmente encontrados; e

(c) os preços estão disponíveis para o público.

Assim sendo, com relação ao item (a), em teoria os ativos negociados no mercado spot

de suínos são os mesmos que aqueles de propriedade da BRF; entretanto, nesse caso também

se assume a premissa de que os criadores dos animais negociados no mercado spot adotam os

mesmos critérios de observação das normas sanitárias vigentes.

Quanto ao item (b), com base na representatividade dos volumes negociados nas

Bolsas de São Paulo e Minas Gerais, ou seja, 0,9% do total da produção nacional infere-se

que não seria possível encontrar vendedores que pudessem atender a demanda em termos de

volume das agroindústrias. Esse fator deve ser considerado conforme requer o CPC-29 e IAS-

41, em seu item 8: “compradores e vendedores dispostos à negociação podem ser

normalmente encontrados a qualquer momento”. Entende-se que a mesma analogia aplicada a

mercados ilíquidos mencionada no item sobre o mercado de frangos se aplica neste caso.

Em relação ao item (c), os preços estão disponíveis ao público e, portanto, esse

subitem estaria atendido. Resumindo, o requerimento 4 não seria atendido principalmente

devido ao tamanho do mercado e à sua representatividade.

Com relação aos requerimentos 5, 6 e 7, os preços de transações recentes, de ativos

similares e cotações-padrão disponíveis são aqueles obtidos dentro das condições de mercado

descritas no requerimento 4 e pelas razões já expostas não poderiam ser aplicáveis.

81

Quanto ao requerimento 8, uma análise detalhada foi efetuada e apresentada para

atendimento ao objetivo específico 2 deste estudo.

4.1.2. Do Objetivo Específico 2

Propôs-se no objetivo específico 2, a partir dos resultados obtidos no objetivo

específico 1, estimar o valor justo dos ativos biológicos objeto deste estudo com base nos

valores de mercado ou pelo método do fluxo futuro de caixa descontado, conforme requerido

pelo CPC-29 e IAS-41 e, com base nessa estimativa, avaliar os pontos fortes e fracos do

método adotado.

Considerando a conclusão do objetivo específico 1 de que não há referência de

mercado adequada a ser adotada para determinação do valor justo dos ativos biológicos - aves

(categoria frango) e suínos, dá-se continuidade à análise a fim de verificar-se é possível adotar

como requerido pelo CPC-29 e IAS-41 a metodologia de fluxo de caixa futuro descontado a

valor presente para estimar o valor justo destes ativos.

Conforme mencionado no item 2.7, a metodologia de fluxo de caixa futuro descontado

a valor presente considera que o valor de um ativo está relacionado ao valor presente dos

fluxos de caixa líquidos gerados pelo ativo no futuro; sendo assim, as premissas apresentadas

na Figura 31 foram consideradas na tentativa de determinação do valor justo através desta

metodologia.

82

Figura 31: Premissas Adotadas no Método do Valor Presente do Fluxo Futuro de

Caixa Descontado

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Os custos apresentados na Figura 31 são detalhados a seguir com base nas

informações disponibilizadas pela Administração da BRF, portanto, compreendem:

(a) Custo dos animais recém-nascidos: no caso dos frangos, refere-se ao custo

acumulado de formação dos pintos de um dia e, no caso dos suínos, ao custo

dos leitões de 24 a 27 dias (22 quilos).

(b) Custo da ração: refere-se ao gasto com a ração consumida pelo animal no

processo de engorda.

(c) Custo dos medicamentos: refere-se ao gasto com medicamentos que são

aplicados no animal durante sua vida.

(d) Custo da remuneração dos integrados: refere-se ao valor pago aos produtores

parceiros. O processo de produção da BRF é feito com a participação de

parceiros, em que a empresa fornece os insumos necessários e os parceiros são

responsáveis pela engorda do animal.

(e) Custo com assistência técnica: refere-se aos custos com salários e transporte de

técnicos agrícolas e veterinários responsáveis por dar assistência técnica ao

produtor parceiro no desenvolvimento e na criação dos animais.

83

Julga-se necessário esclarecer que, no caso dos frangos, o tempo médio de formação

do estoque para abate é de 45 dias, enquanto para os suínos esse tempo corresponde a

aproximadamente 150 dias.

Na data de encerramento das demonstrações contábeis, os estoques de animais de uma

agroindústria é, via de regra, composto por animais de diversas idades, ou seja, dias, portanto,

se faz necessário, segregar os animais de acordo com os dias de vida a fim de estimar os

custos a serem incorridos, que são compostos pelos itens (a) a (e) detalhados anteriormente e

incluídos no modelo de avaliação.

Como parte do processo de gerenciamento da atividade agrícola, os custos incorridos

são devidamente apontados e registrados e, com base nesses apontamentos, foi utilizado o

histórico médio de dozes meses para projetar o custo a ser incorrido para a formação do

animal até a sua idade de abate.

As premissas utilizadas para estimativa de custo basearam-se somente no custo

histórico de formação incorrido.

Conforme apresentado no objetivo específico 1, não há fonte de mercado, transação

recente ou de ativos similares que possam ser utilizados para projetar as receitas a serem

geradas pelos ativos biológicos; portanto, a cadeia produtiva foi analisada com o objetivo de

identificar-se em qual parte do processo de produção e comercialização haveria um preço de

venda estabelecido para ser decomposto e parte dele ser atribuído ao ativo biológico.

As análises do processo de produção revelaram que o estágio mais próximo com preço

de venda determinado é o representado pela carne in natura (animais inteiros e em cortes) e,

portanto, para estimativa da receita a ser incluída no modelo do valor presente dos fluxos de

caixa futuros, foi utilizado o preço de venda da carne in natura.

Cabe esclarecer que a carne in natura sofre um processo de industrialização e, por esse

motivo, o preço de negociação foi ajustado para excluir deste os gastos dessa atividade

industrial, que consistem principalmente em: gastos com embalagem, mão-de-obra,

depreciação e outros custos diretos e indiretos de fabricação, como também foi necessário

excluir-se a margem de lucro industrial do preço de venda dos produtos in natura.

O processo de auferir a margem industrial revelou-se o aspecto mais subjetivo e

complexo da análise desenvolvida, pois não havia nenhum tipo de estudo desenvolvido

internamente que avaliasse o desempenho da Companhia sob esse aspecto, tampouco as

decisões cotidianas de estratégias de venda e produção são tomadas com base nessas

informações. Isso se deve ao fato de que, segundo os seus Administradores, a Companhia não

tem, e nunca teve, intenção de comercializar os seus ativos biológicos ainda vivos. Esse fato é

84

justificado por que os produtos processados são aqueles que geram maior valor agregado e,

por consequência, maior margem de contribuição para os negócios; portanto, estabelecer uma

correlação entre a margem de lucro a ser distribuída para a atividade industrial e para a

atividade agrícola foi um desafio.

Primeiramente considerou-se a possibilidade de se utilizar a relação do custo incorrido

na atividade agrícola versus o custo total incorrido para obtenção do produto industrializado,

somando-se os custos incorridos nas duas atividades: agrícola e industrial e, a partir do

percentual obtido, distribuir o preço de venda e, por consequência identificar a margem;

entretanto, essa premissa revelou uma distorção, visto que o lucro teórico apurado a ser

atribuído à atividade agrícola superaria a margem bruta auferida pela atividade in natura, que,

devido ao processo de industrialização, tem maior valor agregado aos clientes do que os

animais vivos, per se. Outro fator que contribuiu para essa distorção é que, na

comercialização dos produtos in natura, as marcas da BRF (Sadia, Perdigão, Batavo e Avipal)

ainda não causam tanta diferenciação nos produtos, sendo o valor dessas marcas é muito mais

percebido em produtos com processo de industrialização mais elaborados que geram maior

valor agregado.

O processo de definição de atribuição de margem de lucro a atividade agrícola foi

extenso. Concluiu-se que o percentual poderia girar em torno de 5% a 25%; entretanto, não se

conseguiu desenvolver nenhuma premissa lógica que permitisse constatar a adequação do

número a ser incluído no modelo. Ao fim do processo, ficou estabelecido que a margem de

lucro a ser atribuída a atividade agrícola seria de 10%; portanto, no estudo desenvolvido

internamente pela BRF, o preço do frango e do suíno vivos foi definido da forma apresentada

na Figura 32.

85

Figura 32: Método de Formação de Preço dos Ativos Biológicos Vivos

Fonte: Desenvolvido pelo autor

(1) A ser obtido através do faturamento líquido / volume de vendas da atividade in natura;

(2) Percentual referente a perda média de peso em quilos com o corte e limpeza de partes não comercializáveis

na venda do animal in natura;

(3) Lucro bruto / receita líquida da atividade in natura; e

(4) Estimativa baseada em discussões realizadas pela Administração

Após a determinação do preço de venda do ativo biológico vivo, foram estimados por

idade os custos a incorrer acrescido dos custos incorridos e todos os dados foram inseridos no

modelo matemático do valor presente do fluxo futuro de caixa do ativo, conforme apresentado

na Figura 33.

Figura 33: Modelo de Valor Presente de Fluxo de Caixa Futuro dos Ativos Biológicos

Fonte: Desenvolvido pelo autor

86

A Figura 33 demonstra que o fluxo de caixa foi apurado considerando a idade dos

animais, por exemplo, animais de 1 dia, 2 dias, 3 dias, até atingir a idade de abate de 45 dias

para frangos e 150 dias para suínos. A seguir foram incluídas no modelo as seguintes

premissas adotadas pela Administração da BRF:

(1) Número de animais na data de elaboração das demonstrações contábeis, agrupados

por idade.

(2) Preço de venda por quilo apurado conforme demonstrado na Figura 32.

(3) Receita total apurada pela multiplicação da quantidade de animais pelo preço de

venda por quilo.

(4) Custos e despesas operacionais que são formados pelos gastos incorridos e pela

estimativa de gastos a incorrer relacionados a custo dos animais recém-nascidos,

custo com rações, custo com medicamentos, custo com assistência técnica e custo

com remuneração de parceiros integrados.

(5) Efeitos do imposto de renda (IRRF) e contribuição social (CSLL) sobre o fluxo de

caixa esperado, considerando-se as taxas vigentes no encerramento das

demonstrações contábeis.

(6) Ativos que contribuem tipicamente incluem qualquer ativo tangível ou intangível

necessários no processo de auxiliar e suportar o ativo-alvo da análise; em sua

geração de fluxo de caixa, as premissas utilizadas na determinação desses custos

que contribuem para a geração de fluxo de caixa dos ativos biológicos da BRF

foram: (a) ativo imobilizado: foi estimado com base na depreciação, no desgaste e

na reposição do imobilizado em função da produção dos ativos biológicos,

aplicando-se uma taxa média de remuneração; e (b) matrizes (animais de

produção): foi estimado com base na depreciação das matrizes em função da

produção do ativo biológico aplicando-se uma taxa média de remuneração.

(7) Fator de desconto ou taxa de desconto; como ponto de partida para apuração dessa

taxa foi utilizado o custo médio ponderado de capital (WACC) e, em seguida, esse

parâmetro foi ajustado para refletir o risco específico do ativo biológico, conforme

demonstrado na Figura 34.

87

Figura 34: Modelo de Determinação da Taxa de Desconto

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Os elementos da fórmula do cálculo do WACC demonstrados na Figura 34 foram

obtidos da seguinte forma:

(a) Representa o retorno requerido pelo investidor para investimentos em títulos

conceitualmente sem risco (Risk Free). Foi adotado como parâmetro de taxa livre

de risco a média aritmética histórica dos últimos 24 meses, considerando-se a data

de encerramento das demonstrações contábeis indicadas na Figura 34 e as taxas

oferecidas pelo governo norte-americano (T-Bond norte-americano).

(b) Representa o retorno acima da taxa livre de risco que o investidor exige para

investir (estar exposto ao risco) no mercado de capitais (Equity Risk Premium),

devido a seu risco inerente. Foi adotado o prêmio médio verificado para as ações

(valorização e dividendos pagos) de grandes empresas americanas desde 1926.

Fonte: Morningstar (ex: Ibbotson Associates).

(c) Representa a medida do risco da empresa ou do setor em análise. Para o cálculo do

Beta, foi utilizado o Beta desalavancado médio de empresas que atuam no mesmo

segmento da BRF, com base na estrutura de capital e taxa de imposto de renda de

88

cada empresa. Esse Beta médio foi realavancado utilizando-se a estrutura de

capital média do mercado e pela taxa média de 34% de IRRF e CSLL.

(d) Representa o retorno adicional (prêmio) exigido pelo investidor institucional para

investir no Brasil (Country Risk Premium). Foi adotado como prêmio a média

aritmética do spread dos últimos 12 meses praticado entre os títulos do governo

brasileiro e do governo norte-americano de prazos similares.

(e) Representa o índice projetado de inflação anual de longo prazo norte-americana

calculada com base na expectativa embutida de inflação nos títulos de longo prazo

(T-Bond norte-americano de 30 anos) oferecidos pelo governo norte-americano,

que possuem rendimento indexado ao Consumer Price Index (CPI). Fonte: The

Economist Inteligence Unit (EIU).

(f) Para o cálculo da alavancagem financeira, foi considerada a média aritmética da

relação debt/equity (dívida/patrimônio) para uma amostra de empresas

comparáveis do mesmo segmento da BRF.

(g) O custo de capital de terceiros foi calculado com base na média dos custos de

empréstimos da BRF, nas respectivas datas-base, ponderados pelos saldos em

aberto, líquidos do benefício de IRRF e CSLL de 34%. Para o cálculo do custo de

capital de terceiros real, foi subtraída a inflação brasileira projetada. Estes dados

são obtidos das demonstrações financeiras divulgadas pela Companhia.

Após a determinação do WACC, identificou-se que era necessário ajustar essa taxa

para refletir o risco específico do ativo biológico. Esse ajuste foi efetuado através da

metodologia do modelo matemático Weighted Average Return on Asset (WARA), que,

conforme definido por Pratt e Grabowski (2011), há de ser interpretado da seguinte forma:

A maioria das empresas é composta de vários tipos de ativos tangíveis e

intangíveis. Por exemplo, uma companhia que detém, gerencia e desenvolve

usinas energéticas teria vários ativos (direitos oriundos de contratos, direitos

de concessão, etc.). Cada um desses ativos requer diferentes taxas de retorno.

Imagine que cada ativo é uma propriedade separada. O fluxo de caixa para

cada ativo estaria sujeito aos riscos operacionais do ativo e a capacidade

desse ativo de atrair investimentos de terceiros e próprio (PRATT e

GRABOWSKI, 2011, p.230).

Após a inserção dos dados no modelo matemático de valor presente do fluxo de caixa

futuro dos ativos foram apuradas as diferenças apresentadas na Figura 35 no objetivo

especifico 3.

Conforme proposto neste objetivo específico 2, a partir dos resultados obtidos no

objetivo específico 1, verificou-se não ser possível e adequado estimar o valor justo dos ativos

biológicos objeto deste estudo com base nos valores de mercado e, sendo assim, aplicou-se a

89

metodologia do fluxo futuro de caixa descontado e, portanto, para cumprir com os objetivos

estabelecidos, é apresentada a seguir uma avaliação dos pontos fortes e fracos desse método

mediante as condições que foi utilizado.

Pontos Fortes

(a) O modelo apresenta ao usuário da informação um valor estimado de

realização desses ativos considerando o estágio de formação e/ou produção

em que se encontram, se aproximando do seu valor econômico.

(b) Permite que os acionistas antecipem seus retornos e, portanto, realizem

seus investimentos, independentemente da transferência dos riscos e

benefícios desses ativos para terceiros, ou seja, da realização dos ativos.

Pontos Fracos

(1) No desenvolvimento do modelo foi necessária a adoção de premissa

“forçada” e subjetiva quanto à margem estimada da atividade agrícola.

Adicionalmente, nenhuma divulgação a esse respeito foi capturada nas

notas explicativas, parte integrante das demonstrações contábeis, conforme

analisado detalhadamente no objetivo específico 5;

(2) Conforme mencionado por vários autores, entre eles, Martins e Damodaran,

uma das etapas mais controversas do método do fluxo de caixa futuro

descontado é a premissa relacionada à taxa de desconto; neste caso, a

Administração da BRF utilizou uma metodologia comumente utilizada para

estabelecer um parâmetro a ser utilizado como taxa, o WACC, entretanto,

esta foi ajustada pela metodologia do WARA de forma subjetiva, como não

poderia deixar de ser, visto que depende de julgamento da Administração.

Por último, cabe ressaltar que a taxa de desconto tem alta correlação com

os valores finais obtidos na metodologia do fluxo de caixa futuro

descontado. A Figura 35 demonstra as taxas divulgadas pela BRF por

ambos os métodos:

Figura 35: Taxas Comparativas WACC x WARA

Taxas 2008 2009 2010

WACC 6,10% 5,75% 6,00%

WARA 6,83% 6,94% 6,93%

Fonte: BRF – Brasil Foods S.A. – Formulário 20F (2011, p. F-65).

90

(3) De forma geral, o modelo desenvolvido baseou-se somente em informações

de custo histórico; portanto, não incorporou previsões de mudança nos

preços de matérias-primas, principalmente rações. Conforme divulgado no

Formulário 20F arquivado pela Administração da BRF junto ao SEC

muitas de suas matérias-primas são commodities cujos preços estão em

constante flutuação em resposta às forças de oferta e demanda (a BRF

compra uma grande quantidade de farelo e grãos de soja, e milho, para

fabricação de rações). Embora os custos destes insumos sejam

denominados em reais, os preços destas commodities tendem a seguir

preços internacionais de farelo e grãos de soja e, em menor grau, milho,

sendo, portanto, influenciados pelas flutuações da taxa de câmbio. As

compras de milho, farelo e grãos de soja representaram aproximadamente

22,7% dos custos de vendas em 2010 e 22,6% em 2009. A volatilidade

dessas commodities está apresentada na Figura 36.

Figura 36: Cotações Históricas da Saca de 60 Quilos de Soja e Milho - SP

-

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Preç

o da

Sac

a de

60K

G -

SP

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

2010 Milho 15,7 15,4 15,2 15,2 15,6 15,4 16,3 18,3 20,1 22,1 22,7 23,4

2009 Milho 20,6 18,9 18,5 19,2 19,4 18,3 17,6 16,8 16,6 17,1 16,8 16,6

2008 Milho 24,1 24,0 23,7 23,6 23,2 24,2 21,9 20,8 19,7 18,3 18,2 20,3

2010 Soja 17,1 16,8 16,6 15,7 15,4 15,2 15,2 15,6 15,4 16,3 18,3 20,1

2009 Soja 18,3 18,2 20,3 20,6 18,9 18,5 19,2 19,4 18,3 17,6 16,8 16,6

2008 Soja 23,4 26,3 25,4 24,1 24,0 23,7 23,6 23,2 24,2 21,9 20,8 19,7

Fonte: Agrolink (Disponível em: www.agrolink.com.br)

91

4.1.3. Do Objetivo Específico 3

Foi proposto no objetivo específico 3, proceder-se a uma análise comparativa da

mensuração de uma mesma classe de ativos pelo valor justo e custo de formação e/ou

aquisição. A Figura 37 apresenta uma comparação entre o valor justo apurado pelo método do

fluxo de caixa futuro descontado e o valor apurado pelo método do custo histórico como base

de valor.

Figura 37: Valor Justo x Custo Histórico (Frangos e Suínos)

Fonte: Desenvolvido pelo autor, a partir de dados fornecidos pela Administração da BRF.

A Figura 37 demonstra que, de acordo com as premissas adotadas, não foram apuradas

diferenças significativas entre o valor justo e o valor contábil apurado por meio do custo

histórico como base de valor, ou seja, quando comparado o valor monetário do custo histórico

com o valor de mercado apurou-se uma diferença de 8,6% em 2008, 1,7% em 2009 e em 2010

o valor justo foi inferior ao valor histórico em 02,%. Pode-se apontar que esse fato resulta

principalmente de dois fatores:

(1) as premissas adotadas têm forte correlação com o custo histórico; e

(2) o prazo de vida desses ativos biológicos é bastante curto, sendo 45 para frangos e

150 dias para suínos.

Com base nos resultados apresentado na Figura 37, a Administração BRF alega que a

adoção do valor justo estaria injustificada pela relação custo versus benefício, uma vez que

adotado na contabilidade esse método, obrigatoriamente por força do Parecer Normativo CST

nº 14, de 19 de maio de 1981, a empresa deveria manter um sistema de contabilidade

integrado e coordenado com o restante da escrituração contábil fiscal, não satisfeita essa

condição o lucro seria arbitrado (PORTAL TRIBUTÁRIO, 1981).

92

Um estudo preliminar efetuado pela Administração da BRF revelou a necessidade de

um investimento da ordem de no mínimo R$50 milhões para implantar um sistema de custeio

integrado, que permitisse atender os requerimentos ficais para dedutibilidade do custo

apurado por esse método.

Entende-se que a decisão e entendimento da Administração estão suportados pelo item

44, do Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual Para Elaboração das

Demonstrações Contábeis, como segue:

O equilíbrio entre o custo e o benefício é uma limitação de ordem prática, ao

invés de uma característica qualitativa. Os benefícios decorrentes da

informação devem exceder o custo de produzi-la. A avaliação dos custos e

benefícios é, entretanto, em essência, necessariamente, sobre aqueles usuários

que usufruem os benefícios. Os benefícios podem também ser aproveitados

por outros usuários, além daqueles para os quais as informações foram

preparadas; por exemplo, o fornecimento de maiores informações aos

credores por empréstimos pode reduzir os custos financeiros da entidade. Por

essas razões, é difícil aplicar o teste de custo-benefício em qualquer caso

específico. Não obstante, os órgãos normativos em especial, assim como os

elaboradores e usuários das demonstrações contábeis, devem estar

conscientes dessa limitação (CPC, 2008, item 44).

Destaca-se que, atualmente, na BRF as decisões de investimento, produção, e

estratégias de marketing e vendas, não levam em consideração o valor justo apurado de

acordo com o IAS-41 e CPC-29.

4.1.4. Do Objetivo Específico 4

Foi proposto no objetivo específico 4, identificar-se qual o melhor método de

mensuração dos ativos biológicos com característica de produção; dessa forma,

primeiramente, é importante lembrar que o CPC-29 e IAS-41 não apresentam distinção no

tratamento contábil de animais para consumo/abate (estoque) ou aqueles com características

de produção; entretanto, devido à peculiar diferença existente entre esses dois grupos, julgou-

se importante discutir as características dos ativos de produção e avaliar qual a forma correta

de mensuração contábil desses ativos.

Quanto à definição de ativo biológico para produção, o item 44 do CPC-29 e IAS-41

menciona:

Ativos biológicos consumíveis são aqueles passíveis de serem colhidos como

produto agrícola ou vendidos como ativos biológicos. [...] Ativos biológicos

para produção são os demais tipos como, por exemplo: rebanhos de animais

para produção de leite, vinhas, árvores frutíferas e árvores das quais se

produz lenha por desbaste, mas com manutenção da árvore. Ativos biológicos

de produção não são produtos agrícolas, são, sim, auto renováveis (CPC-29,

item 44, 2009).

93

Portanto, com base na definição dos pronunciamentos, não haveria o que se discutir a

respeito da forma de mensuração; uma vez considerado dentro do escopo do pronunciamento,

o tratamento contábil a ser dado é o do valor justo; entretanto, as normas internacionais de

contabilidade têm como uma de suas principais características o fato de serem baseadas muito

mais em princípios do que em regras. Conforme mencionado no Manual de Contabilidade

Societária, as normas e pronunciamentos são razoavelmente detalhados, mas não têm

necessariamente resposta para todas as dúvidas. Além disso, as normas internacionais de

contabilidade são baseadas na prevalência da essência sobre a forma, isso significa:

[...] Antes de qualquer procedimento, o profissional que contabiliza, bem

como o que audita, devem, antes de mais nada, conhecer muito bem a

operação a ser contabilizada e as circunstâncias que a cercam. Assim não

basta simplesmente contabilizar o que está escrito. É necessário ter certeza de

que o documento formal represente, de fato, a essência econômica dos fatos

sendo registrados (IUDÍCIBUS, MARTINS, GELBCKE, SANTOS; 2010; p.

21).

Ainda nesse sentido, o Pronunciamento Conceitual Básico, emitido pelo CPC,

Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis,

esclarece:

Para que a informação represente adequadamente as transações e outros

eventos que ela se propõe a representar, é necessário que essas transações e

eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com a sua substância

e realidade econômica, e não meramente sua forma legal. A essência das

transações ou outros eventos nem sempre é consistente com o que aparenta

ser com base na sua forma legal ou artificialmente produzida (CPC, 2008,

item 35).

Também, no pronunciamento conceitual básico é mencionada a necessidade da

apresentação adequada das transações nas demonstrações contábeis, a saber:

Para ser confiável, a informação deve representar adequadamente as

transações e outros eventos que ela diz representar. Assim, por exemplo, o

balanço patrimonial numa determinada data deve representar adequadamente

as transações e outros eventos que resultam em ativos, passivos e patrimônio

líquido da entidade e que atendam aos critérios de reconhecimento. A maioria

das informações contábeis está sujeita a algum risco de ser menos do que

uma representação fiel daquilo que se propõe a retratar. Isso pode decorrer de

dificuldades inerentes à identificação das transações ou outros eventos a

serem avaliados ou à identificação e aplicação de técnicas de mensuração e

apresentação que possam transmitir, adequadamente, informações que

correspondam a tais transações e eventos (CPC, 2008, itens 33 e 34).

Assim sendo, entende-se ser necessário apresentar as definições de ativo imobilizado

com o intuito de verificar se os ativos biológicos de produção em sua substância devam ser

assim avaliados como bens desse grupo de ativos.

94

Em 26 de junho de 2009, o CPC, emitiu o pronunciamento técnico 27 – Ativo

Imobilizado (CPC-27). Entre as definições constante do pronunciamento, no item 6, o ativo

imobilizado é definido como o item tangível que:

(a) É mantido para uso na produção ou fornecimento de mercadorias ou

serviços, para aluguel a outros, ou para fins administrativos.

(b) Espera-se utilizar por mais de um período.

Segundo o CPC-27, bens do ativo imobilizado correspondem aos direitos que tenham

por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da entidade ou exercidos

com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram a ela os benefícios,

os riscos e o controle desses bens.

Analisando-se essa definição, pode-se concluir que os ativos biológicos de produção

na categoria de aves e suínos são bens tangíveis, mantidos para uso na produção e destinados

à manutenção das atividades da entidade, por mais de um período de tempo; portanto,

essencialmente, além de serem ativos biológicos também apresentam todas as características

de um item do ativo imobilizado.

Em relação à mensuração do ativo imobilizado, o CPC-27, nos itens 15 e 16,

determina que um item do ativo imobilizado deve ser mensurado pelo custo, e este, por sua

vez, compreende:

(a) custo de aquisição acrescido de impostos não recuperáveis sobre a compra, depois

de deduzidos descontos comerciais e abatimentos, se houver; e

(b) quaisquer custos diretamente atribuíveis para colocar o ativo no local e condições

necessárias para o mesmo ser capaz de funcionar da forma pretendida pela

administração.

Portanto, conclui-se haver um ativo, com as mesmas características e substância

econômica, com tratamentos contábeis diferenciados, sendo que o tratamento requerido pelo

CPC-29 e IAS-41, nesse caso, por analogia, conclui-se que nada mais é do que a reavaliação

do ativo biológico com característica de produção com a contrapartida reconhecida

diretamente ao resultado do período em vez do patrimônio líquido, causando assim uma

distorção nas demonstrações contábeis à luz das características dos ativos biológicos de

produção.

Esse ponto de vista também foi manifestado pelo New Zealand Institute of Chartered

Accountants:

Uma das principais críticas ao IAS-41, é a exigência de que todas as

mudanças no valor justo dos ativos biológicos sejam reconhecidas na

95

demonstração do resultado do período em que ocorram. Não havendo

diferenciação entre os ativos biológicos para produção e aqueles para venda

Ativos biológicos para produção são aqueles que não se tem a intenção de

auferir-se lucro com a sua venda, mas ao contrário, produzir outros ativos

biológicos ou produção agrícola.

O New Zealand Institute of Chartered Accountants considera que os ativos

biológicos para produção são ideologicamente similares aos bens do ativo

imobilizado [...].

A única diferença entre os ativos biológicos para produção e os bens do ativo

imobilizado é a forma física do ativo.

O New Zealand Institute of Chartered Accountants considera que as

mudanças no valor justo decorrentes das reavaliações (mudanças de valor)

deveriam ser contabilizadas diretamente no patrimônio líquido, da mesma

forma como ocorre com os bens do ativo imobilizado.

O New Zealand Institute of Chartered Accountants considera que as

mudanças físicas deveriam ser reconhecidas na demonstração do resultado.

Essas mudanças incluem nascimento, crescimento, envelhecimento e morte,

equivalente a impairment, depreciação e baixa do ativo imobilizado.

É importante ressaltar que a agroindústria não pode realizar diretamente a

mudança de valor dos ativos biológicos para produção.

Reconhecer as mudanças de valores dos ativos biológicos para produção na

demonstração do resultado não auxilia na análise do desempenho das

entidades, uma vez que, essas mudanças estão frequentemente fora do

controle das entidades e usualmente não são para das atividades diárias de

gerenciamento das entidades (STAFFORD-BUSH, 2009).

Entende-se que os fatores apresentados pelo New Zealand Institute of Chartered

Accountants podem ser considerados válidos, uma vez que esse país já tem experiência com a

adoção do IAS-41 e suas consequências.

4.1.5. Do Objetivo Específico 5

Foi proposto no objetivo específico 5, apresentar-se uma conclusão a respeito de como

a adoção do CPC-29 e IAS-41 poderia ter melhorado, ou prejudicado a comparabilidade entre

as demonstrações contábeis de entidades que atuam em um mesmo segmento, no que tange

aos requerimentos de divulgação dos ativos biológicos e à apresentação na demonstração do

resultado.

Dessa forma, foram selecionadas as demonstrações contábeis das 100 maiores nos

segmentos pecuários de aves e suínos ou carne bovina, que constam da lista das 400 Maiores

do Agronegócio, conforme publicação Exame Melhores e Maiores de Julho de 2010, e

realizou-se a comparação de suas demonstrações contábeis com os requerimentos de

divulgação do CPC-29 e IAS-41. Os resultados estão apresentados na Figura 38.

Adicionalmente, para fins de comparação, foram selecionadas aleatoriamente

demonstrações contábeis de empresas internacionais também do agronegócio relacionado a

96

aves e suínos ou carne bovina que já adotaram o IAS-41, a fim de também avaliar-se o

cumprimento dos requerimentos de divulgação.

97

Figura 38: Análise do Cumprimento dos Requerimentos de Divulgação do IAS-41 e CPC-29

INTERNACIONAISNACIONAIS

# Requerimento JBS - S

.A.

(1)

BR

F

(2)

MA

RF

RIG

(3

)

BO

VIN

OS

MA

RF

RIG

(3

)

AV

ES E

SU

ÍNO

S

AU

RO

RA

(5)

MIN

ER

VA

C. V

AL

E

DO

UX

(5)

MA

TA

BO

I(5

)

CO

PA

CO

L

DIP

LO

MA

TA

(5)

MH

P

(Ucr

ânia

)A

AC

O(A

ust

rália)

GE

NU

SA

R(I

ngla

terr

a)P

ION

EE

R

(Áfr

ica

do

Sul)

QUAL O MÉTODO DE MENSURAÇÃO ADOTADO VJ OU CH? CH CH VJ CH VJ CH CH VJ VJ VJ VJ

40

A entidade deve divulgar o ganho ou a perda do período corrente em relação

ao valor inicial do ativo biológico e do produto agrícola e, também, os

decorrentes da mudança no valor justo, menos a despesa de venda dos

ativos biológicos.

- - - - -

41 A entidade deve fornecer uma descrição de cada grupo de ativos biológicos.

43

A entidade é encorajada a fornecer uma descrição da quantidade de cada

grupo de ativos biológicos, distinguindo entre consumíveis e de produção ou

entre maduros e imaturos, conforme apropriado. A entidade deve divulgar a

base para realizar tais distinções.

As demonstrações contábeis devem divulgar, caso isso não tenha sido feito

de outra forma:

(a) a natureza das atividades envolvendo cada grupo de ativos biológicos; e

(b) mensurações ou estimativas não-financeiras de quantidade físicas;

(i) de cada grupo de ativos biológicos no final do período; e

(ii) da produção agrícola durante o período.

47

A entidade deve evidenciar o método e as premissas significativas aplicados

na determinação do valor justo de cada grupo de produto agrícola no

momento da colheita e de cada grupo de ativos biológicos.

- -

48

A entidade deve divulgar o valor justo, menos a despesa de venda do

produto agrícola colhido durante o período, determinado no momento da

colheita.

- - - -

A entidade deve apresentar a conciliação das mudanças no valor contábil de

ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente. A conciliação

inclui:

(a) ganho ou perda decorrente da mudança no valor justo menos a despesa

de venda;- - - -

(b) aumentos devido às compras;

(c) reduções atribuíveis às vendas e aos ativos biológicos classificados como

mantidos para venda ou incluídos em grupo de ativos mantidos para essa

finalidade, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 31 – Ativo Não

Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada;

(*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*)

(d) reduções devidas às colheitas;

(e) aumento resultante de combinação de negócios; (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*)

(f) diferenças cambiais líquidas decorrentes de conversão das demonstrações

contábeis para outra moeda de apresentação e, também, de conversão de

operações em moeda estrangeira para a moeda de apresentação das

demonstrações da entidade.

(*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*) (*)

46

50

98

Figura 38: Análise do Cumprimento dos Requerimentos de Divulgação do IAS-41 e CPC-29 (Continuação)

NACIONAIS INTERNACIONAIS

# Requerimento JBS - S

.A.

(1)

BR

F (2

)

MA

RF

RIG

(3

)

BO

VIN

OS

MA

RF

RIG

(3

)

AV

ES E

SU

ÍNO

S

AU

RO

RA

(5)

MIN

ER

VA

C. V

AL

E

DO

UX

(5)

MA

TA

BO

I(5

)

CO

PA

CO

L

DIP

LO

MA

TA

(5)

MH

P

(Ucr

ânia

)A

AC

O(A

ust

rália)

GE

NU

SA

R(I

ngla

terr

a)P

ION

EE

R

(Áfr

ica

do

Sul)

51

A entidade é encorajada a divulgar, por grupo, ou de outra forma, o total da

mudança no valor justo menos a despesa de venda, incluído no resultado,

referente às mudanças físicas e de preços no mercado. Geralmente, essa

informação não é tão útil quando o ciclo de produção é menor que um ano

(por exemplo, quando se criam frangos ou se cultivam cereais).

- - - - -

Se a entidade mensura ativos biológicos pelo custo, menos qualquer

depreciação e perda no valor recuperável acumuladas (ver item 30), no final

do período deve divulgar:

(a) uma descrição dos ativos biológicos; - - - - - -

(b) uma explicação da razão pela qual o valor justo não pode ser mensurado

de forma confiável;- - - - - -

(c) se possível, uma faixa de estimativas dentro da qual existe alta

probabilidade de se encontrar o valor justo;- - - - - -

(d) o método de depreciação utilizado; - - - - - -

(e) a vida útil ou a taxa de depreciação utilizada; e - - - - - -

(f) o total bruto e a depreciação acumulada (adicionada da perda por

irrecuperabilidade acumulada) no início e no final do período.- - - - - -

Se durante o período corrente a entidade mensura os ativos biológicos ao

seu custo menos depreciação e perda no valor recuperável acumuladas (ver

item 30), deve divulgar qualquer ganho ou perda reconhecido sobre a venda

de tais ativos biológicos, e a conciliação requerida pelo item 50 deve

evidenciar o total relacionado com tais ativos, separadamente.

Adicionalmente, a conciliação deve conter os seguintes montantes, incluídos

no resultado e decorrentes daqueles ativos biológicos:

(4) (4) (4) (4) - (4) (4) - - - -

(a) perdas irrecuperáveis; (*) (*) - (*) - (*) (*) - - - -

(b) reversão de perdas no valor recuperável; e (*) (*) - (*) - (*) (*) - - - -

(c) depreciação. - - - - -

Onde:

VJ Valor justo

CH Custo histórico

Plenamente atendido

Parcialmente atendido

Não atendido

- Não aplicável

(1) Apenas os ativos biológicos das unidades da Argentina e da Itália foram mensurados pelo valor justo.

(2) Compreende a BRF anteriormente denominada Perdigão S.A., Sadia S.A. e Avipal Nordeste incorporadada em 31 de março de 2010.

(3) Adquiriu a Seara Alimentos

(4) Ver análise no parágrafo 50

(5) Aempresa não divulga e não fornece desmonstrações contábeis para usuários externos

(*) Não foi possível avaliar por meio das demonstrações contábeis se ocorreram eventos relacionados que requeressem tal divulgação.

54

55

99

A análise documentada na Figura 38 revelou que diversos requerimentos de

divulgação não foram atendidos, principalmente pelas empresas brasileiras. As falhas

observadas estão resumidas a seguir:

(1) Algumas empresas consideraram o valor de custo como valor justo; entretanto,

nenhuma justificativa foi apresentada para essa consideração, como, por

exemplo, consta nas demonstrações contábeis da Cooperativa Agroindustrial

Consolata - Copacol: “Os ativos biológicos devem ser reconhecidos ao valor

justo. A Copacol considerou como valor justo o seguinte: (i) matrizes de suínos

e aves em formação: foram avaliados ao custo de aquisição, deduzidos dos

impostos incidentes, mais os insumos aplicados (custo de mão-de-obra, ração,

medicamentos e outros; (ii) plantéis (animais reprodutores): após o período de

formação, os plantéis passam a ser depreciados durante o seu ciclo produtivo,

com base no número estimado de ovos para aves e número estimado de partos

para suínos, de aproximadamente quinze meses para aves e trinta e seis meses

para suínos. Portanto, o valor justo de avaliação foi calculado com base nos

custos de formação, líquidos da depreciação acumulada”. A exceção nesse

sentido foram as empresas Marfrig e BRF, que mencionaram ter desenvolvido

um estudo de fluxo de caixa futuro descontado que revelou diferenças

imateriais entre o valor justo e o custo de formação, e, por esse motivo,

mantiveram o custo histórico como forma de mensuração, pois este

representava substancialmente o valor justo dos ativos. Entretanto, nenhuma

dessas empresas justificou o motivo por não ter registrado o ajuste a valor

justo, uma vez que, estimado o valor justo, se infere que poderiam tê-lo

registrado.

(2) As empresas brasileiras que adotaram o valor justo para avaliação dos ativos

biológicos da categoria bovinos foram Marfrig, JBS e Minerva. Estas

utilizaram valores de mercado; como consequência, não houve necessidade de

divulgação adicional a respeito de premissas adotadas; entretanto, para estimar

o valor justo de frangos e suínos, a BRF e a Marfrig mencionaram que

adotaram a metodologia do fluxo de caixa futuro (apenas a BRF divulgou as

principais premissas adotadas).

(3) Algumas empresas analisadas justificaram a adoção do custo por não haver um

mercado ativo para os ativos aves e suínos, o que foi constatado no objetivo

específico 1; entretanto, não apresentaram justificativa por não terem

100

considerado o método do fluxo de caixa futuro descontado para estimar o valor

justo.

(4) No Brasil as empresas analisadas, com exceção da BRF, não apresentaram

informações a respeito da quantidade física de seus ativos biológicos e

nenhuma delas apresentou a movimentação das quantidades físicas dos ativos

biológicos conforme requerido pelo item 46 do CPC-29 e IAS-41.

(5) Em relação à adoção do custo histórico como método de mensuração, é

requerida, no item 54 do CPC-29 e IAS-41, a divulgação de informações a

respeito do método de depreciação adotado, da vida útil dos ativos e do saldo

de depreciação acumulada. Entretanto nenhuma das empresas analisadas

atendeu satisfatoriamente esses requisitos.

Adicionalmente, notou-se que as empresas sediadas em outros países apresentam um

padrão melhor de divulgação em relação aos requerimentos do IAS-41; entretanto, a

divulgação de premissas adotadas quando utilizado o método do fluxo de caixa futuro

descontado, restringe-se a listá-las (não há detalhes qualitativos). As taxas de desconto

utilizadas foram divulgadas, mas nenhuma explicação de como foram determinadas foi

apresentada.

Quanto à apresentação dos efeitos de ganhos ou perdas decorrentes de mudanças no

valor justo dos ativos biológicos na demonstração do resultado observou-se que as empresas

brasileiras não destacaram esses efeitos nessa demonstração, enquanto as empresas

internacionais divulgaram como outras receitas ou dentro do grupo do custo das vendas;

portanto, mais uma vez observa-se prejuízo em relação à possibilidade de comparação das

demonstrações contábeis.

101

5. Considerações Finais

Este estudo abordou o tema Ativos Biológicos - Aves e Suínos com um enfoque

crítico da adoção do CPC-29. Teve por objetivo geral verificar se a adoção do valor justo

como método de avaliação destes ativos biológicos era mais adequada que o custo de

aquisição e/ou formação dentro da realidade do mercado brasileiro. A justificativa para este

estudo está na importância das atividades de criação, abate e transformação de aves e suínos

para o Brasil, que se posiciona como um dos principais criadores, exportadores e

consumidores dessas commodities, aliado aos impactos que a mudança na forma de

mensuração desses ativos pode causar em função da adoção do CPC-29.

Assim sendo, com base na análise desenvolvida, foram alcançados os seguintes

resultados:

1. Confirmou-se a não existência de um mercado ativo que refletisse as condições de

mercado especificadas na teoria contábil do valor justo do CPC-29 e IAS-41,

principalmente devido aos seguintes fatores:

Aves

(a) Mais de 90% da criação de frangos ocorre através do sistema de integração.

(b) O mercado agroindustrial está concentrado principalmente em dois

participantes: BRF e Marfrig.

(c) Os preços de mercado divulgados são utilizados para transações em

pequenas avícolas, que ainda negociam frango em pé, e pequenos

abatedouros, que não têm recursos econômicos para investir no sistema de

integração.

(d) A criação de frangos no sistema independente não produz volume

suficiente para atender a demanda da agroindústria e permitir que as

condições de mercado ativo estabelecidas no CPC-29 e IAS-41sejam

atendidas.

Suínos

(a) Mais de 65% da criação de suínos ocorre através do sistema de integração.

(b) O mercado agroindustrial está concentrado principalmente em três

participantes: BRF, Marfrig e Doux Frangosul.

102

(c) A produção no sistema independente é negociada com a agroindústria

através de contratos de parceria e acordos tácitos.

(d) Somente cerca de 0,9% da produção brasileira é negociada em mercado

ativo organizado, nas Bolsas de São Paulo e Minas Gerais.

2. Dada a inexistência de mercado ativo que atendesse aos requerimentos do CPC-29

IAS-41, foi analisado o método do fluxo de caixa futuro descontado elaborado pela

Administração da BRF e identificou-se os seguintes pontos fortes e fracos deste

modelo:

Pontos Fortes

(a) O modelo apresenta ao usuário da informação um valor estimado de

realização desses ativos considerando o estágio de formação e/ou produção

em que se encontram, aproximando-se do seu valor econômico.

(b) Permite que os acionistas antecipem seus retornos e, portanto, realizem

seus investimentos, independentemente da transferência dos riscos e

benefícios desses ativos para terceiros, ou seja, da realização dos ativos.

Pontos Fracos

(a) No desenvolvimento do modelo foi necessária a adoção de premissa

“forçada” e “subjetiva” quanto à margem estimada da atividade agrícola,

sendo que os requerimentos de divulgação não capturam tal situação.

(b) A utilização da taxa de desconto é determinada de forma subjetiva em

decorrência do modelo adotado, neste caso, especificamente WARA.

(c) O modelo desenvolvido baseou-se somente em informações de custo

histórico, não incorporando previsões de mudança nos preços de matérias-

primas, principalmente rações.

3. A análise comparativa da mensuração destes ativos biológicos pelo custo histórico

versus o valor de mercado apurado através do método do fluxo de caixa futuro

descontado revelou uma diferença imaterial, sendo 8,6%, 1,7% e (0,2)% para os

anos 2008, 2009 e 2010, respectivamente. De acordo com a visão da

Administração, a implantação de sistemas que permitissem a apuração sistemática,

o controle e a geração tempestiva dessas informações, à luz da relação custo versus

benefício, é injustificável.

4. Pelo fato de as características dos ativos biológicos para produção serem as

mesmas dos itens a serem registrados no balanço patrimonial dentro do grupo do

ativo imobilizado, conclui-se que o reconhecimento de ganho na demonstração do

103

resultado sobre ativos mantidos para manutenção das atividades das companhias

causa uma distorção nas demonstrações contábeis.

5. Considerando-se que as demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de

dezembro de 2010 são as primeiras a constar os requerimentos de divulgação do

CPC-29, identificou-se uma perda na característica qualitativa relativa à

comparabilidade das informações fornecidas pelas companhias analisadas.

Em síntese, diante dos resultados obtidos, pode-se concluir que o valor justo como

forma de mensuração dos ativos biológicos não reflete adequadamente os valores a serem

atribuídos aos estoques de ativos biológicos - aves e suínos Essa conclusão se justifica,

especificamente, por:

(a) Não haver mercado ativo no Brasil para os ativos objetos deste estudo.

(b) A adoção do modelo de fluxo de caixa futuro descontado requer a adoção de

premissa que não pode ser objetivamente justificada, como a atribuição da

margem de lucro à atividade agrícola e à atividade industrial.

(c) A taxa de desconto a ser adotada requer ajustes subjetivos de forma a refletir o

retorno esperado do ativo.

(d) Não há justificativa econômica para reconhecimento de ganhos sobre ativos

mantidos para proporcionar a manutenção das atividades da companhia.

(e) Os requerimentos de divulgação não foram adequadamente atendidos pelas

empresas analisadas prejudicando a comparabilidade entre as mesmas.

De maneira geral, espera-se ter contribuído com profissionais de mercado,

acadêmicos, legisladores e fiscalizadores com os resultados ora apresentados para uma

melhoria da informação contábil a ser elaborada e divulgada pelas agroindústrias atuantes no

segmento de aves e suínos.

Limitações do Estudo

Quanto aos objetivos 1, 4 e 5, os resultados deste estudo refletem condições do

mercado de aves e suínos e são considerados aplicáveis a quaisquer participantes e/ou pessoas

na forma física ou jurídica interessadas nas informações ora expostas.

Em relação ao objetivo 2, o modelo adotado pela BRF pode ser adaptado a realidade

de outras empresas do setor, observadas as restrições apontadas.

Em relação ao objetivo 3 este tem caráter informativo e não indica que os mesmos

resultados possam ser alcançados por outras empresas do setor, pois a taxa de retorno

104

esperada do ativo avaliado pode ser substancialmente diferente, assim como os custos

históricos incorridos podem ser diferentes em virtude de fatores inerentes a cada negócio

individual.

Recomendações do Estudo

Sugere-se, por parte dos órgãos reguladores, a revisão do requerimento de avaliação a

mercado de ativos com propósito de manutenção das atividades das entidades, ou seja, ativos

biológicos para produção, pois conclui-se não haver diferenças sob a ótica econômica das

características desses ativos e outros bens do ativo imobilizado.

Caso a informação do valor justo dos ativos biológicos de produção seja considerada

de extrema relevância, sugere-se, que o mesmo seja feito através de informações

suplementares.

Sugere-se ainda a esses órgãos estabelecerem a forma específica de divulgação na

demonstração do resultado em virtude das inconsistências ou até mesmo omissões

identificadas.

É recomendada aos órgãos fiscalizadores a emissão de um ofício e/ou outros

documentos julgados mais adequados, sugerindo-se que sejam observados de forma adequada

os requerimentos de divulgação estabelecidos no CPC-29.

Sugere-se ao órgão responsável pela tradução da norma internacional IAS-41 para a

língua portuguesa a revisão da tradução do termo produto agrícola para produção agrícola,

pois a tradução literal pode causar confusão ao leitor do pronunciamento CPC-29.

Recomenda-se o desenvolvimento de estudos mais aprofundados a respeito dos efeitos

do reconhecimento da variação do valor justo nos cálculos do EBTIDA (Earnings Before Tax,

Interest, Depreciation and Amortization) ou LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos,

Depreciação e Amortização).

105

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110

APÊNDICE 1

Entrevista com Francisco Sérgio Turra – Presidente Executivo da União Brasileira de

Avicultura (UBABEF), concedida em 2 de junho de 2011, pessoalmente nas instalações da

UBABEF, apresenta-se a seguir a transcrição completa das informações obtidas.

1) De maneira geral, como a UBABEF analisa o atual sistema de produção de frangos

no Brasil, considerando a produção pelo sistema de parceria (integração) e o sistema

independente (aspectos positivos e negativos)?

No setor de frangos praticamente não há produção pelo sistema independente, hoje

pode-se afirmar com base em estudo feito por nós que mais de 90% do total da produção se

dá pelo sistema de integração vertical. Em geral, os benefícios que podem ser apontados são:

a modernização das técnicas de produção, a expansão dos volumes de produção e o

desenvolvimento genético, enquanto o aspecto negativo a ser observado é a concentração do

mercado que não necessariamente é um reflexo do sistema de integração.

2) Quais os percentuais atuais de produzidos e abatidos no sistema de integração e no

sistema independente?

Podemos afirmar que mais de 90% da produção e abate está no sistema de integração.

3) Qual foi o último levantamento de terminação por empresa? Se sim, qual o período

e qual a participação de BRF, Sadia, Seara, Doux e Diplomata, respectivamente?

Esses números não são divulgados pelas empresas do setor, entre as grandes apenas a

BRF tem divulgado esse número.

4) Em sua opinião, qual a forma mais provável de ocorrer a entrada de novos

concorrentes no mercado do porte de um dos quatro líderes?

Primeiro, é do meu entendimento que temos distintamente apenas dois líderes no

mercado a BRF (fusão entre a Sadia e a Perdigão) e a Marfrig, não vejo como as demais

agroindústrias possam expandir seus negócios no mercado, a única forma de haver um novo

entrante seria via aquisição de parte ou do negócio de um dos dois líderes.

5) Diante do fato da disseminação do sistema de parcerias (integração), a cotação do

frango vivo divulgada em diversos sites de internet é utilizada em quais tipos de transação?

São preços de referência, mas não são utilizados na negociação entre agroindústria e

produtores. O mercado de frango vivo é muito pequeno, mas difundido em cidades pequenas

e servem para atender pequenos mercados que chamamos de quitandas.

111

6) A Comissão de Valores Mobiliários, através da Deliberação CVM No. 596/09

determinou às empresas de capital aberto, que na data de suas demonstrações financeiras

possuírem ativos biológicos, nesse caso, especificamente, frangos, devem avaliá-los pelo

valor justo, sob a seguinte definição para esse valor justo: “é o valor pelo qual um ativo pode

ser negociado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si,

com a ausência de fatores, que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem

uma transação compulsória”. Diante dessa definição, em sua opinião, há no Brasil tal mercado

que reflita essas condições?

Na minha opinião, de acordo com a definição apresentada, esse mercado não existe,

visto que mais de 90% da produção e abate estão no sistema de integração.

112

APÊNDICE 2

Entrevista com Fabiano José Coser – Diretor Executivo da Associação Brasileira de

Criadores de Suínos (ABCS), concedida em 30 de maio de 2011, por meio de contato

telefônico, apresenta-se a seguir a transcrição completa das informações obtidas.

1) De maneira geral, como a ABCS analisa o atual sistema de produção de suínos no

Brasil, considerando a produção pelo sistema de parceria (integração) e o sistema

independente (aspectos positivos e negativos)?

Hoje, enxergamos que está bem dividido, há na realidade duas suinoculturas. De

maneira geral, existe a suinocultura independente que trabalha no mercado spot que se

organiza através de Bolsas nas regiões de São Paulo, Minas Gerais, parte do Centro-Oeste,

principalmente Goiás e Distrito Federal e de algumas regiões do Nordeste onde existe alguma

suinocultura. Entretanto, é bem claro que atualmente em torno 65% das matrizes são

comercializadas através do sistema de integração vertical que são os sistemas liderados por

empresas que trabalham no ramo de transformação, frigoríficos, grandes agroindústrias.

No sistema independente o que mais se aproxima do conceito contábil do valor justo,

seriam as negociações ocorridas nas Bolsas organizadas sendo: a Bolsa de Suínos de São

Paulo e a de Belo Horizonte que trabalham mais próximo do mercado spot.

Em termos de aspectos positivos e negativos acho que é o sistema de integração é

bastante interessante, enquanto estrutura de governança. Quanto aos pontos positivos existe a

segurança de produtor estar trabalhando sob a alçada de uma grande agroindústria que fornece

toda a base genética, assistência técnica, nutrição (ração), garante a compra dos seus animais,

enquanto o lado negativo reside na perda do poder de determinação do proprietário do suíno

sobre a atividade. Cada vez mais, o produtor se depara com regras muito rígidas a serem

cumpridas, há uma grande discussão sobre onde termina o papel do proprietário e começa o

papel do prestador de serviço, há casos em que o proprietário é somente um prestador de

serviços para a agroindústria, mesmo ele sendo proprietário da terra e das instalações não é

dono dos principais ativos (animais e nutrição). O proprietário não detém o poder de

determinar as regras que são estabelecidas. Estas já são pré-determinadas pela agroindústria,

ou seja, o poder de determinação fica muito limitado.

Por outro lado, no sistema do mercado spot, o produtor não tem a proteção da

agroindústria e fica exposto as variações do mercado.

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2) É correto afirmar que cada vez mais o produtor exerce o papel de prestador de

serviços ao invés de criador, dentro da realidade brasileira?

Sim.

3) Quais tipos de mudanças o Projeto de Lei nº 4.378/981 propõe na relação

agroindústria versus produtor?

Na verdade, o projeto de lei fornecerá um arcabouço legal ao sistema de integração.

Atualmente, o sistema de integração não tem um respaldo jurídico próprio, então e com esse

projeto alguns direitos ficarão salvaguardados, por exemplo: 1) as questões das garantias que

as empresas integradoras (agroindustriais) devem fornecer a seus integrados; 2) como serão os

sistemas de pagamentos; e 3) esclarecer como será determinado o preço do serviço prestado.

Atualmente, existem algumas questões que são pontos de atrito entre a agroindústria e os

produtores, principalmente aquelas relacionadas à questão de produtividade.

4) Quais os percentuais atuais de suínos terminados no sistema de parceria e no

sistema independente?

De maneira geral, pode-se falar em 65% de terminação no sistema de integração e o

restante no sistema independente. Entretanto, existem outros tipos de acordos entre os

mercados spot totalmente puro e os sistemas de integração vertical totalmente puro que seriam

sistemas de contratos, acordos tácitos, parcerias estratégicas, que não são spot nem sistema de

contrato.

5) Qual foi o último levantamento de terminação por empresa? Se sim, qual o período

e qual a participação de BRF, Sadia, Seara, Doux e Diplomata, respectivamente?

Há poucos dados em termos de empresas, pois após a fusão de Sadia e Perdigão, as

empresas pararam de divulgar esses dados. Os últimos dados liberados são aqueles que

constam da dissertação de minha autoria.

6) Em sua opinião, qual a forma mais provável de ocorrer à entrada de novos

concorrentes no mercado do porte de um dos quatro líderes?

Através de aquisições.

7) Diante do fato da disseminação do sistema de parcerias (integração), a cotação do

suíno divulgada em diversos sites de internet é utilizada em quais tipos de transação?

1 Projeto de Lei nº 4.378/98 regula as relações jurídicas entre a agroindústria e o produtor rural integrado e dá

outras providências.

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Recomendo que você entre em contato com a Bolsa de Suínos de São Paulo ou Minas

Gerais para obter maiores detalhes, sobre a formação de preços, as transações são compra e

venda no mercado spot.

8) A Comissão de Valores Mobiliários, através da Deliberação CVM No. 596/09

determinou às empresas de capital aberto, que na data de suas demonstrações financeiras

possuírem ativos biológicos, nesse caso, especificamente, frangos, devem avaliá-los pelo

valor justo, sob a seguinte definição para esse valor justo: “é o valor pelo qual um ativo pode

ser negociado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si,

com a ausência de fatores, que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem

uma transação compulsória”. Diante dessa definição, em sua opinião, há no Brasil tal mercado

que reflita essas condições?

Considerando essa definição de valor justo “é o valor pelo qual um ativo pode ser

negociado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a

ausência de fatores, que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma

transação compulsória”, essa realidade pode ser observada nas negociações ocorridas nas

Bolsa de Suínos de São Paulo e Minas Gerais.

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APÊNDICE 3

Entrevista com Oto J. Xavier – Diretor de Assessoria Agropecuária da JOX Assessoria

Agropecuária, concedida em 6 de junho de 2011, por meio de contato telefônico, apresenta-se

a seguir a transcrição completa das informações obtidas.

1) A cotação do frango vivo divulgada em diversos sites de internet é utilizada em

quais tipos de transação?

Para venda de frango em pé (frango vivo) para avícolas, pois ainda existe comércio de

frango vivo em algumas cidades, e para pequenos abatedouros que não têm potencial

econômico para investir no sistema de integração verticalizado.

Além disso, os valores divulgados pela JOX são também utilizados pela BM&F como

referência de mercado, pois apesar do tamanho do mercado ele é totalmente independente.

2) Por qual volume responde esse mercado de frango vivo em relação a produção

nacional?

Não há levantamento desses dados, mas acredito que não ultrapasse 5% do total. É um

mercado relativamente pequeno.

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APÊNDICE 4

Entrevista com Reynaldo Leite de Carvalho – Contador, responsável pelas

demonstrações contábeis da Copacol – Cooperativa Agroindustrial Consolata, concedida em 9

de junho de 2011, por meio de contato telefônico, apresenta-se a seguir a transcrição completa

das informações obtidas.

Na elaboração das demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de

2010 a Copacol adotou o CPC-29 para avaliação, mensuração e divulgação dos seus ativos

biológicos?

Sim, entretanto, concluímos que o valor de mercado não representa o valor justo,

considerando que os animais para abate têm um ciclo muito rápido de 42 dias e o valor de

mercado muitas vezes não cobre o custo de produção, pois esse mercado não é representativo,

por ser muito pequeno, portanto, os animais estão avaliados ao custo.

Quanto as matrizes, foram avaliadas ao custo de formação/ aquisição deduzidos de

depreciação.

Vocês não elaboraram o fluxo de caixa descontado para os ativos biológicos?

Não, porque nossos animais têm um ciclo de vida muito rápido 42 dias animais para

abate e 18 meses os animais de produção.

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APÊNDICE 5

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