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Mercredi Intensif
Ana Elisa Andrighetti Especialização em Terapia Intensiva HSL/AMIB
Pós-graduanda AMIB/Redentor
Medicina de Emergência HPS Porto Alegre
27 de fevereiro de 2013
Apresentação do Caso
Paciente J.M.S., 77 anos, masculino, branco
07/01 – Chega à emergência às 14:42
• Queixa Principal: dificuldade de fala, cansaço e diminuição da acuidade visual. Sintomas iniciados aproximadamente às 3h antes, com melhora parcial e espontânea
• HMP: uso regular de Cardizem; troca de prótese de cabeça de fêmur em out/2012. Nega alergias
Apresentação do Caso
Paciente J.M.S., 77 anos, masculino, branco
07/01 – Chega à emergência às 14:42
Conduta inicial
?
Apresentação do Caso
Paciente J.M.S., 77 anos, masculino, branco
07/01 – Chega à emergência às 14:42
Conduta inicial
• Iniciados AAS e Sinvastatina
• Solicitada TC de crânio, ECG, RxTx, laboratório
Exames de admissão
Hemograma Completo: • Hb: 14,8 g/dL; Hct: 45,4 %
• LEUCOCITOS: 7,9 mil/mm3
• B: 3 %; S: 64 %;L: 27 %; M: 6 %
• PLAQUETAS: 208 mil/mm3
TAP : 11,4 seg; Ativ: 100,0 %; INR: 1,00
PTT : 27,6 seg / Rel: 1,15
GLICOSE : 99 mg/dL
Ur : 26 mg/Cr: 1,05 mg/dL
Na : 142 mEq/L; K : 5,1 mEq/L
PCR : 0,25 mg/dL
Hipótese Diagnóstica
AIT X AVE ?
07/01 – Chega ao CTI às 23:41
Neurológico:
Não observado déficit motor em Ms superiores e inferiores.
Disartria leve com discreta paresia facial E.
Sem déficits visuais no momento do exame.
Apresentação do Caso
Eco transtorácico: • Válvulas Ao, Mi, Tricúspide e pulmonar com morfologia e
movimentação normais.
• VE com espessura de paredes e diâmetros cavitários normais. Demais cavidades normais.
• Função sistólica global e diastólica do VE normal.
• VD normocontrátil.
• VCI com diâmetros normais, normodistendida, com variação respiratória normal.
• Color doppler e doppler pulsado mostram fluxos intracavitários
normais.
Exames CTI
Exames de admissão
Doppler de carótidas e vertebrais: • Carótidas com exame de fácil realização técnica;
• Sistema carotídeo com diâmetros e pulsatilidade normais.
• Discreto espessamento médio-intimal difuso em ambas carótidas com pequenas (mínimas) placas de ateroma fibro – cálcicas e não obstrutivas em ambas regiões bulbares.
• Fluxos laminares de velocidades normais em ambas carótidas e seus respectivos ramos internos e externos.
• Vertebrais bem visualizadas e com contornos normais e fluxos de velocidades normais.
08/01: mantém discreta disartria
Evolução do Caso
08/01 09/01: surge queixa de disfagia; mantém paresia facial. Paciente não tolerou fazer RNM.
Durante noite surge queixa de dificuldade ventilatória; mantinha SV estáveis
Evolução do Caso
08/01 09/01 10/01: RNM com anestesia sem intercorrências; paciente
sem queixas ventilatórias, algo sonolento, mas de fácil
despertar. 20h: Pcte ansioso; SV estáveis; sem déficits motores 21h: “Pcte referindo que ‘a garganta está fechando’ e só consegue respirar sentado fora do leito. No momento muito ansioso. Lúcido”. PA 190X100mmHg; Fc 95bpm; Fr 20mpm; Sat O2 95% ; AP e exame cervical normais. Conduta: Diazepam (delirium) 22h: Pcte mantém queixa de dificuldade ventilatória; exame físico normal; Sat O2 94%. Ansioso porém sonolento Conduta: NBZ, Hidrocostisona 100mg, 1amp de fenergam
Evolução do Caso
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01 3:00: “Paciente acorda muito agitado, falando com alguma confusão mental, porém responde, obedece comandos. Acha que está em casa e apresenta comportamento agressivo, tentando sair do leito”. PA 200X100mmHg; Fc 100; Sat O2 97% Conduta: Haldol IV. Iniciado Precedex® em BI 6:30: Plantão chamado porque “pcte apresentou bradicardia. Solicito suspensão do Precedex®. Ao chegar para examiná-lo, paciente apresenta PCR em assistolia. Iniciadas compressões torácicas, feitas 3 amp de adrenalina.
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01 6:35: “Paciente retorna em AESP. Feita 1 amp de atropina. Paciente retorna RCR após 10min de parada.” • PA 200x100mmHg; Fc 80bpm; Sat O2 96% em BVM • IOT difícil. Chamada ajuda, tentativas sem sucesso.
Não tolerou máscara laríngea (queda da Sat O2-60%). Retorna ventilação BVM, com melhora. Solicitado presença do cirurgião da emergência
9:30: Cricotireoidostomia; noradrenalina 5mL/h; status convulsivo; sedado (RAAS -5) Solicitada TQT, nova TCC, EEG.
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01: RNM de crânio e cervical
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01: Avaliado pela neurologia “Comatoso, G 7 (2+4+1), pupilas mióticas” SV estáveis. Sedação suspensa
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 Neurologia: “Miastenia Gravis? (ptose/diplopia/disartria/disfagia) Encefalopatia Anóxica pós PCR com crise convulsiva” “EEG digital com 30 min de duração mostrando padrão surto – supressão.”
Evolução do Caso
14/01 - Exames Laboratoriais:
AC FOLICO : 12,36 ng/Ml; VIT B12 : 903 pg/mL
HBSAG : N R; ANTI-HBS : <2.0 UI/L
HEPATITE C - ANTICORPOS : N R
VDRL : N R
FTA-ABS-IGG e IGM : N R
T4 LIVRE : 1,6 ng/dL; TSH : 0,04 mcUI/mL
HIV 1+2 - ANTICORPOS : N R
ANTI-RECEPTOR DE ACETILCOLINA : >20.00 nmol/L
ANTI-MUSK : < 0.05 nmol/L
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01: Início do Mestinon®; ENMG
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01
17/01: sem sedação; - quadro comatoso; - sem resposta à dor
...
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01
17/01
...
18/01: EEG digital mostrando inatividade bioelétrica de forma difusa
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01
17/01 18/01
...
... 25/01: Terminou imunoglobulina. RNM: restrição à difusão cortical (fronto-temporo-parietal-occipital bilateral). Estado vegetativo Iniciada discussão sobre terminalidade
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01
17/01 18/01
...
25/01 ... 01/02: Sedação ...
08/01 09/01 10/01
Evolução do Caso
11/01
12/01 13/01 14/01 15/01
17/01 18/01
...
25/01 ... 01/02 ... 19/02 6h20min: PCR em assitolia; Constatado óbito
...
MIASTENIA GRAVIS
Epidemiologia
• Relativamente incomum
• Prevalência nos EUA de 20/100.000
• Desordem auto imune caracterizada por fraqueza muscular flutuante, que piora com exercício e melhora ao repouso
• Em 2/3 dos pacientes, sintoma inicial é o envolvimento da musculatura ocular extrínseca
• 10% dos pacientes com sintomas restritos à musculatura ocular
Músculos extraoculares
Reto superior Oblíquo superior
Reto externo
Reto interno
Reto inferior
Oblíquo inferior
Geralmente progride para outros músculos: bulbares e dos membros, resultando na Miastenia Gravis Generalizada
1 língua
2 palato mole
3 nasofaringe
4 orofaringe
5 transição
6 glote
7 EES
MIASTENIA GRAVIS
MIASTENIA GRAVIS
< 40 anos
Interferência de Gênero e idade:
:
:
:
Puberdade/40-50 anos
> 50 anos
Fisiopatologia:
Sistema imune produz anticorpos que atacam os receptores localizados no lado muscular da junção neuromuscular
Desconhece-se o que desencadeia o ataque do organismo contra os próprios receptores
Predisposição genética: papel essencial
MIASTENIA GRAVIS
MIASTENIA GRAVIS
Clínica: Fraqueza flutuante: cansaço que piora com atividades repetidas e melhora ao repouso
Piora da fraqueza também no calor, infecções ou sob estresse
Distribuição: ocular, músculos bulbares, musculatura proximal das extremidades , pescoço
Generalização dos sintomas em 50% dos pacientes nos 2 primeiros anos
Mortalidade pela doença: 5 – 9%
MIASTENIA GRAVIS
Distribuição dos sintomas:
25%
36%
39%
85%
fraqueza leve
fraqueza ocular
fraqueza severa, com disfagia, reflexo da tosse deprimido e diminuição da capacidade vital
fraqueza moderada
60% dos pacientes apresentam fadiga mastigatória (especialmente para sólidos)
CRISE MIASTÊNICA
• Precipitada por infecção, medicações (aminoglicosídeos, bloqueadores neuromusculares, sulfato de Mg, ẞ bloqueadores, fluorquinolonas,...)
• Fraqueza de extremidades – proximal/MsSs
• Extensor e flexor do pescoço comumente afetados
MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico
Teste do cloreto de edrofônio:
• Inibidor da acetilcolinesterase de curta duração
• Prolonga duração de ação da acetilcolina na JNM
• Administração IV = melhora objetiva na força muscular, especialmente ocular
• Risco de arritmia e hipotensão; atropina disponível para bradicardia severa
• Efeitos adversos: aumento da salivação e sudorese, náuseas, dores de estômago, fasciculações musculares
• Sensibilidade 71 – 95%
Teste do cloreto de edrofônio:
MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico
Teste do Gelo:
• Em paciente com ptose e contra indicação ao edrofônio
• Saco de gelo sobre o olho
2 – 5 min = melhora da ptose
MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico
Teste Eletrofisiológico:
a) Estimulação Nervosa Repetida: testa transmissão neuromuscular
• diminuição força de 10% entre 1◦ e 5◦ estímulos
• teste + em 75% dos pacientes com MG generalizada e 50% com MG ocular
b) Eletromiografia de Fibra Única: teste diagnóstico mais sensível
• mede tempo entre 1◦ e 2◦ potencial de ação, que tende a aumentar
• anormal em 95 – 99% dos pacientes
• não é específico
MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico
Teste Imunológico:
a) Concentração Sérica de Anticorpo anti – AChR:
• altamente específico
• sensibilidade de 85% para MG generalizada
• concentração do anticorpo não se relaciona com gravidade da doença
• pode ser negativo na imunossupressão ou precocemente na doença
b) Anticorpos Contra Proteínas Citoplasmáticas no Músculo Estriado:
• prevalente em pctes com MG + Timoma (ou apenas Timoma)
c) Miastenia Gravis com Anticorpo Anti – AChR negativo:
• testar anticorpo anti – MUsK → positivo em 40% pctes
MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico
Tomografia ou ressonância de tórax: • Em todos pacientes → excluir timoma
• Cautela no contraste iodado: pode exacerbar fraqueza muscular da doença
Avaliação da tireóide
MIASTENIA GRAVIS Tratamento
• Conforme gravidade
• Avaliação individual
Inibidor da acetilcolinesterase: • Primeira linha de tratamento; resposta variável
• Aumenta a quantidade de acetilcolina na JNM
• Não altera progressão /desfecho
• Piridostigmina → dose inicial 15-30mg cada 4-6h
→ efeitos adversos pelas propriedades colinérgicas: cólicas abdominais, diarréia, salivação, secreção brônquica, náusea, sudorese, bradicardia, fasciculações e câimbras
→ doses elevadas na IRC pioram fraqueza muscular
MIASTENIA GRAVIS Tratamento
Terapias Imunomoduladoras De Curto Prazo:
• Imunoglobulina
• Rápido início de ação (dias), mas efeito transitório
• Uso na Crise Miastênica e em pré-operatório; também para manter remissão
• Complicações: trombose (aumento da viscosidade)
Plasmaferese:
• Melhora a força na maioria dos pctes
• 4-6 sessões
• Efeitos adversos: hipotensão, parestesia, infecções, complicações tromboembólicas nos catéteres, tendência a sangramento por diminuição de fatores de coagulação
MIASTENIA GRAVIS Tratamento
Imunoterapia de Longo Prazo:
• Remissão ou quase remissão
• Corticosteróide: quando sintoma não controla com inibidor da acetilcolinesterase
• Boa resposta com doses altas; titular até menor dose efetiva
• Pode haver exacerbação temporária
MIASTENIA GRAVIS Tratamento Imunossupressores Não Esteróides
a) Azatioprina: • Reduz síntese de ácido nucléico • Interfere na proliferação de células T e B • Efetiva em 70 – 90% dos pacientes • Resposta clínica demorada; mais efetiva se combinada com prednisona • Efeitos adversos: hepatotoxicidade, leucopenia b) Micofenolato: • Bloqueia proliferação de células T e B • Doses elevadas associadas a mielossupressão • Contra indicado na gravidez; • Cautela se IRC, doenças TGI, supressão da medula
óssea, idosos
MIASTENIA GRAVIS Tratamento
c) Ciclofosfamida:
• IV ou VO
• > 50% dos pctes assintomáticos após 1 ano de tto
• Efeitos adversos: perda de cabelo, náuseas, vômitos, anorexia, descoloração da pele
d) Ciclosporina:
• Bloqueia síntese dos receptores da IL-2
• Usada quando não tolera azatioprina
e) Tacrolimus:
• Sucesso em baixas doses
• Menos nefrotóxico que ciclospirina
Imunossupressores Não Esteróides
MIASTENIA GRAVIS Tratamento MG Resistente Ao Tratamento: • TMO ou rituximab +
ciclosporina
Cirurgia: • Timectomia: aconselhada
quando fraqueza está controlada para permitir procedimento
• Corticóide + Ig IV pré cirúrgico
Reabilitação:
• Ajuda a aliviar sintomas
MIASTENIA GRAVIS Tratamento
Reabilitação:
• Intensidade e progresso dos exercícios dependem do estagio da doença e das condições gerais de saúde
Manejo interdisciplinar:
Neurologista | Fisioterapeuta | Terapia ocupacional Fonoaudiólogo | Psicólogo