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MERGULHANDO NA HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS E ENTRE O POVO POTIGUARA: SUAS PRÁTICAS E PROCESSOS EDUCATIVOS Maria Sônia Barbalho de Macêdo 1 Aureni Maria da Silva 2 Resumo: Este artigo relata sobre a cultura e costumes dos índios Potiguaras, bem como suas lutas e ideais e o direito a cidadania junto aos órgãos que os ajudam enfrentar os problemas, que busca estabelecer condições de igualdade de direito e queremos propor uma desconstrução de papel erroneamente cons- truído com relação aos índios Potiguara e, retirá-las da condição de papel su- bordinado. Esse estudo pretende contribuir para o ensino da temática indígena nas escolas publicas da cidade Baia da Traição qual é a escola. Trata-se do relato de uma experiência vivenciada por idosos. Ao longo desse estudo coletamos dados necessários e fizemos entrevistas para a realização desse artigo. Palavras-chave: Índio Potiguara, Cidadania, Direito, Educação. INTRODUÇÃO A escolha dessa temática é um grande desafio pessoal, pois sendo eu, mulher, mãe e edu- cadora indígena potiguara. Os Potiguaras estão desde o Século XVI habita o litoral do Nordeste do Brasil, aproximadamente entre as atuais cidades de João Pessoa, entre os municípios parai- banos de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação. Esses municípios encontram-se e inseridos 1 Aluna do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena (ProLind), da Universidade Federal de Campina Grande, já graduada em Estudos Sociais pela Universidade Estadual da Paraiba — UEPB, Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA, Pós graduação em Gestão, Coordenação e Supervisão Escolar pela Faculdade João Calvino. 2 Mestre em Historia contemporâneo, pela Universidade Nova de Lisboa/Portugal. Trabalhos realizados na linha da educação feminina.

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MERGULHANDO NA HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS E ENTRE O POVO POTIGUARA: SUAS PRÁTICAS E PROCESSOS EDUCATIVOS

Maria Sônia Barbalho de Macêdo 1

Aureni Maria da Silva 2

Resumo: Este artigo relata sobre a cultura e costumes dos índios Potiguaras, bem como suas lutas e ideais e o direito a cidadania junto aos órgãos que os ajudam enfrentar os problemas, que busca estabelecer condições de igualdade de direito e queremos propor uma desconstrução de papel erroneamente cons-truído com relação aos índios Potiguara e, retirá-las da condição de papel su-bordinado. Esse estudo pretende contribuir para o ensino da temática indígena nas escolas publicas da cidade Baia da Traição qual é a escola. Trata-se do relato de uma experiência vivenciada por idosos. Ao longo desse estudo coletamos dados necessários e fizemos entrevistas para a realização desse artigo.

Palavras-chave: Índio Potiguara, Cidadania, Direito, Educação.

INTRODUÇÃO

A escolha dessa temática é um grande desafio pessoal, pois sendo eu, mulher, mãe e edu-cadora indígena potiguara. Os Potiguaras estão desde o Século XVI habita o litoral do Nordeste do Brasil, aproximadamente entre as atuais cidades de João Pessoa, entre os municípios parai-banos de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação. Esses municípios encontram-se e inseridos

1 Aluna do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena (ProLind), da Universidade Federal de Campina Grande, já graduada em Estudos Sociais pela Universidade Estadual da Paraiba — UEPB, Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA, Pós graduação em Gestão, Coordenação e Supervisão Escolar pela Faculdade João Calvino.2 Mestre em Historia contemporâneo, pela Universidade Nova de Lisboa/Portugal. Trabalhos realizados na linha da educação feminina.

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na Microrregião do Litoral Norte e, por conseguinte, na Mesorregião geográfica da Mata na Paraíba, e São Luís, no Maranhão. Variantes do nome, nos documentos históricos, são: Potygoar, Potyuara, Pitiguara, Pitagoar, Petigoar, entre outros. Não há acordo sobre o significado do nome, que geralmente é traduzido como ‘pescadores de camarão’ ou ‘comedores de camarão’. Os povos indígenas Potiguaras paraibanos são muitas vezes esquecidos pela sociedade, e, principalmente, pelo governo que deixa a desejar. É uma população que pouco se houve falar. Porém possuem uma linda cultura, ate consideradas estranhas, por indivíduos que não conhecem seus costumes. Esses índios potiguaras tiveram importante papel na guerra de conquista da Paraíba, em 1575, até a fundação da vila de Nossa Senhora das Neves, em 1585, hoje João Pessoa.

Nesse artigo trataremos sobre os direitos e discriminação dos índios potiguaras no es-tado da Paraíba, que também são cidadãos e muito importantes para a preservação cultural do País. Temos consciência dos nossos assegurados legislação indígena. A lei nos assegura de vários direitos como os Direitos Humanos dos povos indígenas no Brasil. Segundo, DHNET 3:

Os povos indígenas reivindicam direitos legais sobre 11% do território nacional e têm obtido im-portantes reconhecimentos dos mesmos. Em sua grande maioria, as terras indígenas (aproxima-damente 95%) situam-se na Amazônia, ocupando cerca de 18% da região, e nelas vivem pouco menos de 50% dos indígenas brasileiros. Em contraste, outros 50% dos indígenas são habitantes de áreas do sul do Brasil, cuja superfície é inferior a 2% do total dos territórios indígenas.

Os índios potiguaras são assistidos pela FUNAI-PB, por outras entidades religio-sas ou organizações não governamentais. A FUNAI tem a função de orientar por di-versos princípios, dentre os quais se destaca o reconhecimento da organização social, costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas, buscando o alcance da ple-na autonomia e autodeterminação dos povos indígenas no Brasil, contribuindo para a consolidação do Estado democrático e pluriétnico. Por tanto, a competência da FUNAI é demarcar, assegurar, proteger as terras por eles tradicionalmente ocupadas e promover à educação básica. Tendo por obrigação desse órgão é criar condições de melhorias para os indígenas, entretanto, em algumas situações deixam os índios insatisfeitos, e, por tal motivo, os índios fazem manifestações na própria FUNAI4, e se for preciso viram o dia e a noite, até que tudo fique resolvido. Soma-se a tudo isso, o nosso empenho por meio deste estudo dissertativo de expor uma produção geral das contribuições, no que diz respeito ao direito e cidadania indígena, que foi que há séculos discriminados, ou seja, éramos vistos como não cristão, incapaz, sem ter espaço na sociedade.

3 DHNET - Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos. É um espaço de encontro, apoio, intercâmbio, articula-ção e coordenação de organizações que desenvolvem trabalhos sistemáticos na área de Educação em Direitos Humanos no Brasil. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/inedex.htm.4 A FUNAI, é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, é a coordenadora e principal executora da política indigenista do Governo Federal. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil. Disponível em: http://www.funai.gov.br/.

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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É fundamental reconhecer a importância dos indígenas para a construção da Identidade bra-sileira. A herança das culturas indígenas em nossa cultura e presente em nosso dia como hábitos, costumes, crenças. Preservar a história indígena potiguara é manter viva a memória do nosso povo.

O principal objetivo é valorizar a nossa cultura potiguara-PB de maneira pedagógica. Devemos analisar a legalidade dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988, verificando suas praticas, onde nem sempre são valorizadas.

Ao abordar a situação indígena hoje, busquei retirar um pouco a história do nosso povo principalmente no tocante ao contato com os colonizadores portugueses a partir do século XVI; as perseguições sofridas, o desrespeito aos nossos costumes nossa língua, como também ao nosso toré ritual do toré 5.

O tema: Mergulhando na História dos Direitos Humanos e entre o Povo Potiguara: Suas Prá-ticas e processos educativos. Tem por finalidade chamar atenção para os nossos direitos a cidadania como todos os seres humanos e mostrar para a sociedade que somos todos iguais perante a constituin-te brasileira. O artigo 5º da Constituição Federal Brasileira afirma. Os direitos fundamentais surgiram para assegurá-la às pessoas a possibilidade de ter uma vida digna, livre e igualitária. Os direitos e ga-rantias fundamentais estão disponíveis na CF/1988 do artigo 5º ao 17º dispostos em direitos e garantias individuais, civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, difusos e coletivos. Os direitos e deveres individuais e coletivos são encontrados nas constituições de quase todos os países democráticos. O constitucionalismo moderno sugere que esses direitos sejam o ponto inicial para a ordem jurídica.

As entrevistas foram realizadas com questões abertas para que o entrevistado pudesse ficar a vontade nos seus relatos, onde mesmo em suas narrativas rememoram lembranças de vivencias em sua infância. A importância de trabalhar com esta temática é fundamental para a integração e o desenvolvimento dos professores e alunos indígenas potiguaras.

Nesse estudo procuramos transgredir a ideia de que a escola é apenas um espaço onde se produz conhecimento, e sim um espaço onde se produz cultura e educação onde o ser humano está inserido enquanto ser multiplicador desse saber. A Escola Estadual Indígena Pedro Poti situada na aldeia São Francisco-PB realiza um trabalho voltado para a cultura local realizando atividades culturais como a semana da conscientização indígena potiguara. Com base nessas praticas compreendemos que o reconhecimento e valorização da cultura tem permitido a afirmação dos saberes deixados pelos nossos ancestrais.

A escola é nosso verdadeiro instrumento de consolidação dos direitos conquistados. Não basta ape-nas adquirir os conhecimentos, é necessário que seja garantida também a realização do projeto so-cial para construirmos a escola indígena cidadã. Um espaço para nova gerações com espirito critico e participativo, que contemple e valorização da cultura indígena (ANGELO, 2002; 2003, p. 207).

Ao analisarmos a semana da conscientização indígena potiguara-PB podemos identificar a troca de conhecimento de experiências dos anciões contando suas histórias seja na educação, na

5 Toré é uma dança que está na própria percepção e representação da tradição coletiva.

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saúde, na terra e cultura. Segundo Freire (1983) enfatiza que “todo saber novo se gera no saber que também se torna velho, se havia instalado como saber novo,”, ou seja, nos diz que o conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em relação ao mundo, exige uma ação transformadora desse sujeito sobre a realidade, o que implica invenção e reinvenções, implica um novo olhar mais atento sobre a situação atual sobre as escolas indígenas. Nossa cultura permeada de educação, as experiên-cias especiais são fundamentais na construção e na reconstrução dos saberes (FREIRE, 1983, p. 47).

A HISTÓRIA DOS ÍNDIOS POTIGUARAS NA PARAÍBA

Desde o início da colonização do território brasileiro pelos Portugueses, no ano de 1500 foi estabelecida no Brasil uma sociedade profundamente cercada pela diferenciação entre con-quistadores e os povos originários. Os indígenas, primeiros habitantes da terra brasileira a partir do século XVI foram explorados de varias formas e escravizados. Roubaram-lhes os territórios originários primeiro dos litorais, depois dos sertões do que passou a ser chamado de América Portuguesa. Para Moraes (2000, p. 410),

A colônia é um resultado da instalação lusitana nas novas terras, cujo desenvolvimento se dá com a incorporação constante de novos espaços, com a conquista e exploração de novos lu-gares. O território colonial é, portanto, um anexo no espaço imperial da metrópole […] Foi a colonização lusitana que inventou e gerou o “Brasil”, na apropriação das terras “desconhecidas” dessa porção do Novo Mundo, na submissão das populações nativas defrontadas, na ocupação perene de certos lugares. Não há nenhum elemento de identidade (política, étnica, linguística, ou natural) pré-colonial que agregue esta porção do planeta num conjunto unitário, que lhe dê alguma feição individualizadora ou indenitária. Não existe um passado comum nem demar-cações naturais que minimamente delimitem e articulem o espaço onde se constrói a colônia.

A partir da colonização inicia-se a transformação tratando-se de um momento no qual o homem europeu passa a se relacionar não mais com uma natureza pura, mas sim, com todos os habi-tantes, os índios, transformando assim em uma natureza socializada e inserida no território brasileiro. Conforme Pires (1990, p. 25), quando os europeus cruzaram o Atlântico, chegaram a uma terra que possuía uma gigantesca população de nativos, que se espalhavam por todo o seu território “[…] divi-diram os indígenas em dois grandes grupos: os Tupi, que falavam a “língua geral”,2 e os Tapuia, que falavam a “língua travada” (língua macro Jê), isto é, outros idiomas que eles não compreendiam”.

O reconhecimento da humanidade do indígena e dos direitos dos índios no período colo-nial brasileiro, foi inicialmente citado pelo rei Felipe III, através de carta Regia que afirmava os direito indígenas sobre seus territórios, enfatizando que eles não poderiam ser molestados, nem tampouco transferidos contra outras vontades, no entanto na prática esta lei indigenista torna-va-se letra morta, pois os colonos violentamente invadiam os territórios indígenas obrigando

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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muitos grupos étnicos a migrarem em processos contínuos de novas territorialidades6. Con-forme Little (2002, p. 3) Ao pensar na ocupação tradicional em que os povos indígenas exercem sobre um determinado território, a categoria mais apropriada para pensarmos essa relação é

“territorialidade”, onde o autor define, como “o esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente biofísico, converten-do-se assim em seu território”. Continuando com o mesmo autor, ele afirma que:

a territorialidade é uma força latente em qualquer grupo, cuja manifestação explícita depen-de de contingências históricas. O fato de que um território surge diretamente das condutas de territorialidade de um grupo social implica que qualquer território é um produto histórico de processos sociais e políticos (LITTLE, 2002, p. 3).

Entendemos que ao longo da história do Brasil, aconteceram sucessivos movimentos de expansão das fronteiras territoriais do Estado e da sociedade nacional, que se confrontaram, na maioria das vezes, com as territorialidades dos grupos que habitavam esses espaços, tais como povos indígenas, remanescentes de quilombos e outras comunidades tradicionais.

Já para João Pacheco de Oliveira (1999, p. 54-55) na maioria dos casos, as circunstâncias políticas obrigam as populações a ser expulsas de seu território a passar por um processo de reor-ganização social. Em que Oliveira define a territorialização, em quatro circunstâncias que implica:

1. A criação de uma nova unidade sociocultural mediante o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciadora;

2. A constituição de mecanismos políticos especializados;3. A redefinição do controle social sobre os recursos ambientais; 4. A reelaboração da cultura e da relação com o passado.

O que o esse autor Oliveira chama de processo de territorialização, no caso brasileiro, são os movimentos em que as comunidades indígenas fizeram para obter:

vêm a se transformar em uma coletividade organizada, formulando uma identidade própria, ins-tituindo mecanismos de tomada de decisão e de representação, e reestruturando as suas formas culturais (inclusive as que o relacionam com o meio ambiente e com o universo religioso) […]. As afinidades culturais ou linguísticas, bem como os vínculos afetivos e históricos porventura exis-tentes entre os membros dessa unidade política administrativa (arbitrária e circunstancial) serão retrabalhados pelos próprios sujeitos em um contexto histórico determinado e contrastados com

6 Segundo, João Pacheco Oliveira e Lifft As palavras “terra” e “território”, bem como, “territorialidade” e “territorializa-ção”, têm uma sonoridade parecida, mas os seus significados são diferentes, como veremos ao longo deste ensaio.

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características atribuídas aos membros de outras unidades, deflagrando um processo de reorgani-zação sociocultural de amplas proporções (PACHECO DE OLIVEIRA, 1998, p. 56).

Compreendemos que a territorialização é, sem dúvida, um desdobramento da ação colonialista que historicamente causou sofrimentos para os povos indígenas, quilombolas, camponeses e outras populações em território nacional. Embora ao longo da história do Brasil, segundo Teófilo da Silva (2005, p. 131), os povos indígenas foram os que mais sofre-ram compulsões tais como expropriação fundiária, circunscrição territorial, aldeamento, doutrinação religiosa, acamponesamento e proletarização.

Diante de tantas perdas os movimentos indígenas no Brasil se organizaram, e se for-taleceram. As mobilizações dos povos indígenas era a luta pela reconquista de territórios que haviam sido desapossados no passado cresceram expressivamente. Há mais de quatro décadas esses movimentos vêm se organizando em grupos étnicos e passaram, a pleitear a demarcação de territórios onde pudessem viver em condições apropriadas para a sua reprodução física e cultural. Lutam para restabelecer sua territorialidade própria, contraposta às configurações territoriais que o Estado e as forças privadas do capitalismo tentam lhes impor. Para essas comunidades indígenas a terra não significa apenas em um meio de produção. Ela é o espaço em que se assentem modos de vida próprias dos índios, que não são baseados na ocupação intensiva e não é algo do qual se possa desfazer em função da recorrência a alternativas.

Conforme escreve Paulo Celso de Oliveira, em que alguns elementos da natureza são referenciados pelos os povos indígenas dando significação às relações que mantêm no seu território.

Os povos indígenas atribuem nomes aos lugares, aos rios, às plantas e aos animais. Eles conhecem os mais diversos ecossistemas, classificam os lugares para fins de moradia, realização de atividades econômicas e práticas culturais, bem como para a preservação do meio ambiente (OLIVEIRA, 2006, p. 13).

Concluímos que o território indígena envolve marcos de mais fácil identificação física, como os caminhos de marcha, como os lugares de moradias e cemitérios, ou como os espaços de exploração da natureza, que são as áreas de caça pesca coleta, agricultura e cultivo de plantas medicinais. Entre-tanto esse território também pode envolver espaços valorados por suas qualidades históricas, sim-bólicas ou sobrenaturais, como a morada dos espíritos dos antepassados, dos mitos fundadores etc. Embora ressalte (LITTLE, 2002, p. 5), que a questão de “o território de um grupo social determinado, incluindo as condutas territoriais que o sustentam, pode mudar ao longo do tempo, dependendo das forças históricas que exercem pressão sobre ele”. Desta maneira, se faz necessário considerar que:

As relações específicas imbuídas na noção do lugar não devem ser confundidas com as da noção de originalidade, isto é, o fato de ser o primeiro grupo a ocupar uma área geográfica — o que apelaria à ideia de terras imemoriais -, algo difícil, senão impossível de ser estabelecer, como bem mostram as disputas arqueológicas (LITTLE, 2002, p. 10).

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Para Pacheco de Oliveira (1999), as fronteiras territoriais dos povos indígenas são razoavel-mente flexíveis. Só existe oscilação conforme diante de razão de mudanças demográficas, expedições guerreiras ou movimentos migratórios de natureza variada. A demanda dos grupos indígenas sobre a terra pode sofrer alterações significativas em função da convergência circunstancial de interesses e da capacidade de resistência diante da pressão de outras sociedades vizinhas, portadoras de características semelhantes (OLIVEIRA, 1999, p. 177-178). O governo brasileiro, de vez por outra revisa as terras indí-genas, sofrendo acréscimos, diminuições, junções e desacertos do Estado ou de iniciativas espúrias de interesses contrariados, porém, essas ocorrências fazem parte do próprio caráter do processo de terri-torialização de uma comunidade indígena no interior do marco institucional estabelecido pelo Estado.

Conhecidos historicamente desde 1501, os Potiguaras ocupavam um território que se estendia pela costa do nordeste, entre as cidades de Fortaleza/CE até João Pessoa/PB. Na Paraíba, ocupavam todo o vale do rio Mamanguape, litoral norte, desde a Baia da Tradição até a atual Serra da Raiz (na época Serra da Cupaoba). A partir da década 1930 foi fundado o Posto Indí-gena (PI) entre os potiguaras, na aldeia São Francisco. Em 1942, o posto foi transferido pela a aldeia do Forte, com o nome de PI Nísia Brasileira, que permanece até hoje. Na década de 1960, o SPI foi extinto e substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Após a demarcação da Funai o território potiguar passou a ocupar uma área de 33.757 hectares, distribuídos em três áreas contínuas, nos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Marcação. Os potiguares é hoje a maior população indígena do Nordeste etnográfico, uma das maiores populações do Brasil. Tem aproximadamente 12.115 habitantes que vivem em 29 aldeias, em três municípios.

De acordo com cronistas portugueses, possuíam 50 aldeias na ‘terra do caju azedo’, também conhecido como Acajutibiró, hoje Baía da Traição.

A terra denominada aos potiguaras esta localizada em uma planície do litoral Norte da Paraíba e tem seus limites 75% cercado por água. Ao norte está o rio Camaratuba, ao sul, o rio Mamanguape e a leste o Oceano Atlântico. Possui belas praias de diferentes proporções e formas. Algumas mais extensas e outras menores, esculpidas junto às baías e o mar aberto. Existem ainda aquelas integradas as rochas desgastadas pela ação do tempo e das marés.

O território é rico em manancial de água doce, com muitas nascentes espalhadas ao longo dos vales, nas grutas, nos planaltos, formando dezenas de olhos d`água que jorram de verão a verão sem nenhuma vegetação ao seu redor. Nos cursos dos rios são encontrados paus (terrenos alagados), as camboas e os manguezais, formando um rico ecossistema tropical.

O toré7 é um ritual indígena que solidifica são apenas as fronteiras étnicas, os si-nais diacríticos, mas ser o oceano para onde confluem todas as águas do cotidiano potiguar,

7 Como na maioria dos grupos indígenas localizados no Nordeste, o toré é uma importante prática ritual, capaz de balizar as diferenças internas, projetando os grupos nas situações de contato. No caso dos Potiguara, o toré é geralmente realizado nas comemorações do Dia do Índio (19 de abril), sendo pensado como um “ritual sagrado” que celebra a amizade entre as distintas aldeias, realçando o sentimento de grupo e de nação. É uma dança que está na própria percepção e representação da tradição coletiva, sendo, portanto, um elemento essencial para eles se pensarem enquanto possuidores de um passado histórico comum.

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traduzidos em rituais sagrados de agradecimento, luta, festa, brincadeira, contestação, come-moração, dor, reinvindicação e esperanças.

Na educação do Estado da Paraíba, a Baia da Traição destaca pelo desempenha na educacional na formação dos índios potiguaras. Nos últimos anos as conquistas educacionais vêm se desenvolvendo com a criação desde 2004 da Organização dos Professores Indígena Potiguara (OPIP). Capacitação de professores está sendo realizadas desde 2008 várias profes-sores estão terminando o magistério indígena (ensino médio) promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba.

A Universidade Federal de Campina Grande criou, através do Prolind, uma gradua-ção a nível superior especifica para os indígenas, denominada de “Professor Intercultural” pre-tende iniciar uma formação semipresencial.

A EDUCAÇÃO INDÍGENA UM DIREITO ADQUIRIDO NA BAIA DA TRAIÇÃO

A constituição federal de 1988 assegurou ainda aos povos indígenas o direito a educa-ção, reconhecendo a utilização das línguas nativas e dos seus próprios processos de aprendiza-gem (art 210, parágrafo 2°), e a proteção as suas manifestações culturais (art 215, paragrafo1°)

A educação escolar indígena vem obtendo avanços, desde a década de 70, avanços signifi-cativos no que diz respeito á legislação que a regula. Se existem hoje leis bastante favoráveis, quanto ao reconhecimento da necessidade de uma educação especifica, diferenciada e de qualidade para as populações indígenas na pratica, entretanto, há enormes conflitos e contradições a serem superados.

Nos últimos anos, os professores indígenas, a exemplo do que ocorre em muitas outras esco-las do País, vem insistentemente afirmando a necessidade de contarem com currículos mais próximo de sua realidade e mais condizentes com as novas demandas de seus povos e lutam pela mudança em substituição aqueles modelos de educação que, ao longo da história eles vêm sendo impostos, já que tais modelo nunca corresponderam aos seus interesses políticos e as pedagogias de suas culturas.

Quando se fala de currículo diferenciado e especifico, refere-se ás praticas pedagógi-cas a qual caracteriza a escola indígena, por suas praticas estarem voltadas a realidade de suas comunidades é por meio dela que cada escola indígena pode definir seus fins educacionais e políticos, os tipos de aprendizagem considerados significativos, são as formas de avaliação, calendários específicos e projetos específicos.

Pensar nas mudanças necessárias para a superação desses problemas exige que parta-mos da escola e de sua relação com o contexto social, com toda a complexidade que essa proble-mática carrega em direção a transformação capazes de favorecer mudanças nas atitudes e nas praticas dos professores de melhorar o funcionamento das escolas, onde eles atuam e interagem.

A educação escolar indígena vem obtendo grandes avanços e transformações signi-ficativas. A constituição de 1988 e a nova LDB (Lei de Direitos e Bases) garantem aos povos indígenas o direito de estabelecer formas particulares de organização escolar por exemplo, um

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currículo próprio que eles assegurem também grande autonomia. Esbarra-se, no desconheci-mento de como operacionalizar nas praticas cotidianas na sala de aula.

A pratica educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mais também um processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tor-narem aptos a atuar no meio social e a transformação em função de necessidade econômica sociais e politicas da coletividade (LIBANEO, 1999, p. 120).

A escola, nosso verdadeiro instrumentos de consolidação dos direitos conquistados. Não basta apenas adquirir os conhecimentos, é necessário que seja garantida também, a realização do pro-jeto social para construirmos a escola indígena cidadã. Um espaço para nova gerações com espirito critico e participativo, que contemple e valorização da cultura indígena (ANGELO, 2002; 2003, p. 207)

Segundo Nilda (2014), a educação indígena não é algo imitado, mas real, viver dentro de limites vivenciando vindos de um povo ao longo dos tempos mais remotos, como natural de seres humanos nativos desta terra. A educação indígena sempre foi e serão ao longo dos tempos vivencia e convivência de um povo que se fala de sustentação de um povo forte de caracteres fortes que por sua vez dá ênfase para que haja mais suporte para as realidades convivências de um povo nobre e forte como tais. Mais para tanto é necessário que se dê possibilidades a vários métodos tendo base no progresso do ensino-aprendizagem tanto no ensino escolar como no ensino familiar.

Os avanços antes de tudo é preciso reconhecer os avanços verificados neste campo são decorrentes das lutas políticas que os povos indígenas têm empreendidos direitos sociais diferenciado, entre eles, suas demandas por escolarização. Uma das demandas constantes do movimento indígena no brasil tem sido o acesso pleno a todas as etapas do ensino.

No que se refere a educação básica, a reinvindicação primeira é por escolas nas comu-nidades que sejam gestadas pelos próprios professores indígenas. Essa é uma das formas pelas quais os povos indígenas acreditam poder fortalecer seus laços comunitários e melhor estruturar suas relações com a sociedade. Nesse sentido, o fato de quase todas as comunidades terem sua escola muitas delas com professoras e gestores indígenas, pode ser considerado um dos avanços.

Para atender essa demanda foram criados cursos de formação específicos para pro-fessores indígenas, tanto os magistérios de nível médio quanto as licenciaturas interculturais, ofertadas por diferentes instituições de ensino superior.

As licenciaturas por sua vez, tem como principal incentivo o programa de apoio a for-mação superior e licenciatura indígena (PROLIND), criado em 2005, no âmbito do ministério da educação. Desde então, 23 cursos, em 17 estados da Federação, atenderam a 3.171 profes-sores indígenas. No que se refere a formação continuada, o MEC está a ação saberes indígenas na escola, em parceria com as instituições de ensino superior e secretaria de educação. Um dos principais objetivos dessa ação, centrada nas realidades sociolinguísticas e culturais dos diferentes povos indígenas atendidos, é o apoio aos professores indígenas em suas praticas de ensino destinado à promoção do letramento do numeralmento e do uso dos conhecimentos tradicionais de cada povo.

Um dos principais avanços verificados é a constituição de um ordenamento jurídico especifico para a educação escolar indígena que tem orientado a formulação e implementação

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de politicas de educação mais afeitas as realidades socioculturais e linguísticas dos povos indí-genas. Ainda que essa legislação não tenha alcançado uma maior efetividade pratica, tem ser-vido tanto como marco regulador das ações do sistema do ensino quanto como instrumento de luta dos povos indígenas pela garantia do direito a educação escolar diferenciada.

São exemplos disso às diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar indí-gena na educação básica definidas pelo CNE, em 2012. Nessas diretrizes são reafirmados:

• Os princípios da especificidade, interculturalidade, diferenciação, bilinguismo/ multi-linguismo e o aspecto comunitário da educação escolar indígena;

• A condição da escola indígena como uma categoria detentora de ordenamento jurídico próprio na construção de desenhos curriculares, calendários e processos de avalia-ção adequados às especificidades dos povos indígenas e suas comunidades.

Demanda crescente nos povos indígenas nos últimos anos, o acesso ao ensino superior é tido como estratégico para formação de intelectuais e professionais compro-metidos com seus projetos de sociedades.

Os povos indígenas buscam ultrapassar a condição de tutela que tem caracterizado a suas relações com o estado brasileiro. Para isso, procuram os cursos superiores com o proposito prin-cipal de constituírem sua autonomia e protagonismo na gestão de seus territórios, sobretudo nas áreas de saúde, da educação, do desenvolvimento sustentável, da agroecologia e do direito.

A lei de cotas, aprovada em 2012, criou a oportunidade para a presença indígena nas univer-sidades. Com essa lei, o MEC implementou o programa bolsa permanência, que destina valor diferen-ciado para os estudantes indígenas e quilombolas, em função de suas características socioculturais e territoriais, já que, para muitos, cursar o ensino superior implica a saída em suas comunidades.

Os povos indígenas têm-se apropriado politicamente da instituição escola como meio de fortalecer seus modos de ser, de saber e de poder, de acordo com o princípio da intercultu-ralidade proposto em seus projetos educativos e societários.

A lei 11.645 coloca em perspectiva a história e a cultura dos povos indígenas ao lado da história e da cultura de diferentes grupos que compõem a sociedade brasileira, como forma de reconhecer seu caráter pluricultural e multiétnico. Infelizmente, há inda um grande desen-volvimento sobre os povos indígenas, fazendo persistir no imaginário social imagem caricatu-radas, folclorizados, alimentadoras de preconceitos a respeito dos povos indígenas, concebidas fora do tempo e da sociedade nacional.

Essa distância e desconhecimento que estigmatizam os povos indígenas negando a sua presença contemporânea e evidenciando o lugar ocupado por eles no imaginário nacional, levaram a criação de leis como a de nº 11.645. Esse é um exercício reflexivo que precisamos fazer, e essa norma elege a escola em seus currículos como lugares privilegiados para isso.

O desafio agora é a sua efetiva implementação pelo sistema de ensino, que ainda pre-cisa institucionalizar mecanismos e estratégias para esse fim. O que se tem observado, em muitos casos é a permanência de manifestações folclorizadas, com o tratamento da temática

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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em datas comemorativas, como o dia do índio, quando as escolas e crianças são adornadas com símbolos associados aos povos indígenas.

Conhecer a história e a cultura dos povos indígenas possibilita à sociedade brasileira refle-tir sobre a mesma e construir bases mais solidarias no dialogo e na convivência com as diferenças. Dessa maneira torna-se capaz de estabelecer relações socialmente mais justas e voluntarias.

O Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas ainda é um importante docu-mento orientador das praticas pedagógicas dos professores indígenas, ao apresentar subsídios pedagó-gicos, antropológicos, históricos linguísticos e jurídicos para a construção de currículos diferenciados.

Todavia, ele retrata a realidade das escolas indígenas daquele período, centrada, basicamente, nas experiências pedagógicas dos anos iniciais do ensino fundamental. Com a ampliação da oferta de educação escolar indígena para toda a educação básica, há, de fato, a necessidade de se atualizar esse documento.

Nesse estudo transgredir a ideia de que a escola é apenas um espaço onde se produz o conhecimento, e sim um espaço onde se produz cultura e educação onde o ser humano está inserido enquanto ser multiplicador desse saber. A escola estadual Indígena Pedro Poti na Aldeia São Francisco realiza cada ano um trabalho voltando para a cultura local, realizando atividades culturais como semana da conscientização Indígena, semana cultural potiguara. Nesse período a escola trabalha varias temática, tais como, memoria, terra, saúde, legislação entre outras, envolvendo toda comunidade escolar e os anciões onde os mesmos repassam os seus conhecimentos e orientando nas atividades. Com base nessas praticas compreendemos que o reconhecimento e valorização da cultura têm permitido assim, a afirmação de nossa identidade e dos saberes deixados pelos nossos ancestrais.

Neste caso, a educação passa a ser vista tanto como uma forma de resistência, como de afirmação de Identidade. Como um catalogo simbólico que governa e controla o comporta-mento dos seres humano, sendo a cultura vista como uma teia de significado que contextualiza a vida pratica do sujeito, geertz (1989) contribui para uma crescente visibilidade dos processos criativos, pelos quais os objetivos culturais são inventados e tratados como significados. Nós educadores buscamos através da nossa cultura incentivar nossos alunos a afirmar sua identi-dade enquanto indígena potiguara, procuramos desenvolver praticas pedagógicas que diferen-ciam as escolas indígenas das demais escolas tradicionais.

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL HOJE

A construção de escolas em terras indígenas e sua adequação aos padrões arquite-tônicos de cada comunidade. O reconhecimento das escolas indígenas pelos conselhos de educação, considerando seus projetos pedagógicos, currículos e calendário diferenciado, bem como as necessidades de recursos orçamentários específicos para a manutenção dessas escolas, sobretudo aquelas situadas em locais de difícil acesso.

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A gestão da alimentação escolar, respeitando os hábitos alimentares dos diferentes povos indígenas. A implementação de modelos de educação infantil adequadas às realidades socioculturais de cada povo indígena. A criação da categoria do professor indígena nos quadros de magistério do ser-viço publico e a implementação de formas de seleção adequada às propostas de formação diferenciadas.

Além disso, é fundamental que os indígenas busquem assumir o controle social das politicas de educação escolar indígena participando, dos conselhos escolares, dos conselhos ali-mentação escolares, dos conselhos de educação escolar indígena existente em alguns estados.

Projeto do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Povo Potiguara-PB - PRO-LIND O esse projeto do PROLIND- Povo Potiguara resulta do esforço e compromisso do grupo de trabalho formado pela UFCG e povo Potiguara, que empreenderam um longo e profundo processo de discussão e amadurecimento de ideias acerca da formação docente e suas praticas, na intensão de responder aos desafios que são colocados pela sociedade atual, em relação a escolarização das população indígena, especialmente em nível superior.

Este projeto é norteado pela orientação da Lei nº 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, Lei de nº 10.172/01, Plano Nacional de Educação- PNE e do Refe-rencial Curricular Nacional para as Escolar Indígenas- RCNEI, além da Portaria Ministerial 559/91 e da Resolução CNE/CEB nº 003/99.

Por ser um curso diferenciado, a licenciatura indígena apresenta uma proposta curricular ampla e f lexível, em que o discente tem a opção de delinear sua trajetória, como forma de possibilitar condições para o enfrentamento das questões presentes no cotidiano tanto escolar como da aldeia.

Fruto de um trabalho árduo de seus elaboradores e colaboradores, o projeto peda-gógico de licenciatura indígena tem como uma das principais marcas, o fato de seu pro-cesso de elaboração ter contado com a efetiva participação da comunidade potiguara que através de oficinas, atividades de pesquisa e seminários, foram atores na construção deste projeto de formação docente, que se propõe a valorizar os conhecimentos acumulados pela comunidade, além de ser instrumento de transformação social.

Memória e história recente dos direitos indígenas Potiguara: direitos a educação escolar indígena, avanços e retrocessos. A Escola Estadual Indígena Pedro Poti está em evolução no seu processo histórico sempre se preocupando com a educação de crianças e jovens potiguara, porém temos muito que avançar para que possamos atingir os objetivos da educação indígena diferenciada, onde contamos com a participação das comunidades e corpo docente na discussão e compreensão desta educação.

Nós indígenas potiguara temos muito a contribuir na busca de um mundo melhor para a humanidade. E partindo da igualdade, da diferença que podemos criar o novo. A edu-cação pode ser um dos instrumentos pedagógicos sociais para construir as relações intercul-turais, baseadas no dialogo entre as culturas.

Cada pessoa no momento que evoca suas lembranças está trazendo para o presente aquilo selecionado, pois nossas memorias são seletivas. Le Goff afirma os avanços:

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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• A demarcação das terras indígenas de Jacaré de São Domingo, São Miguel e Monte-Mor.• Construção de escolas nas aldeias.• Implantação do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.• Valor especifica de merenda escolar.• Criação da categoria escola indígenas Estaduais e Municipais.• Implantação da disciplina Tupi no Ensino Fundamental e Médio e também Etnohis-

tória só no Fundamental e antropologia no Ensino Médio.• Aprovação do PROLIND- para os professores.• Curso de formação continuada especifica e diferenciada.• Criação dos PPP- Projeto Politico Pedagógico nas escolas indígenas.

Retrocessos

• Não conclusão do Magistério Indígena.• Concurso publico especifico para professores indígena.• Criação da categoria professor indígena a não continuidade da • Licenciatura intercultural (PROLIND).

DIREITO Á EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

A constituição federal de 1988 assegurou ainda aos povos indígenas o direito a educação, reconhecendo a utilização das línguas nativas e dos seus próprios processos de aprendizagem (art 210, parágrafo 2°), e a proteção as suas manifestações culturais (art 215, paragrafo1°)

A educação escolar indígena vem obtendo avanços, desde a década de 70, avanços significa-tivos no que diz respeito á legislação que a regula. Se existem hoje leis bastante favoráveis, quanto ao reconhecimento da necessidade de uma educação especifica, diferenciada e de qualidade para as populações indígenas na pratica, entretanto, há enormes conflitos e contradições a serem superados.

Quando a escola foi implantada em área indígena, as línguas, a tradição oral, o saber e a arte dos povos indígenas foram discriminados e excluídos da sala de aula. A função da escola era fazer com que estudantes indígenas desaprendessem suas culturas e deixassem de ser indi-víduos indígenas. Historicamente, a escola pode ter sido o instrumento de execução de uma política que contribuiu para a extinção de mais de mil línguas (FREIRE, 2004 p. 23).

Nos últimos anos, o professor indígena a exemplo que ocorre em muitas outras escolas do País vem insistentemente afirmando a necessidade de contarem com currículos mais próximo de sua realidade e mais condizentes com as novas demandas de seus povos e lutam pela mudança em substituição àqueles modelos de educação que, ao longo da história eles vêm sendo impostos, já que tais modelos nunca corresponderam aos seus interesses políticos e as pedagogias de suas culturas.

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Quando se fala de currículo diferenciado e especifico, refere-se ás praticas pedagógicas a qual caracte-riza a escola indígena, por suas praticas estarem voltadas a realidade de suas comunidades é por meio dela que cada escola indígena pode definir seus fins educacionais e políticos, os tipos de aprendizagem considerados significativos, são as formas de avaliação, calendários específicos e projetos específicos.

Pensar nas mudanças necessárias para a superação desses problemas exige que partamos da escola e de sua relação com o contexto social, com toda a complexidade que essa problemática carrega em direção a transformação capazes de favorecer mudanças nas atitudes e nas praticas dos professores de melhorar o funcionamento das escolas, onde eles atuam e interagem.

A educação escolar indígena vem obtendo grandes avanços e transformações signifi-cativas. A constituição de 1988 e a nova LDB (Lei de Direitos e Bases) garantem aos povos indígenas o direito de estabelecer formas particulares de organização escolar por exemplo, um currículo próprio que eles assegurem também grande autonomia. Esbarra-se, no desconheci-mento de como operacionalizar nas praticas cotidianas na sala de aula.

A pratica educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mais também um processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tor-narem aptos a atuar no meio social e a transformação em função de necessidade econômica sociais e politicas da coletividade (LIBANEO, 1999, p. 120).

A escola, nosso verdadeiro instrumentos de consolidação dos direitos conquistados. Não basta apenas adquirir os conhecimentos, é necessário que seja garantida também, a realização do projeto social para construirmos a escola indígena cidadã. Um espaço para nova gerações com espirito critico e participativo, que contemple e valorização da cultura indígena (ANGELO, 2002; 2003, p. 207).

Segundo Nilda (2014), a educação indígena não é algo imitado, mas real, viver dentro de limites vivenciando vindos de um povo ao longo dos tempos mais remotos, como natural de seres humanos nativos desta terra. A educação indígena sempre foi e serão ao longo dos tempos vivencia e convivência de um povo que se fala de sustentação de um povo forte de caracteres fortes que por sua vez dá ênfase para que haja mais suporte para as realidades convivências de um povo nobre e forte como tais. Mais para tanto é necessário que se dê possibilidades a vários métodos tendo base no progresso do ensino-aprendizagem tanto no ensino escolar como no ensino familiar.

Segundo Rita Potyguara a educação indígena se refere aos processos próprios de ensino e aprendizagem dos acontecimentos e valores necessários à reprodução sociocultural e lin-guística de cada povo indígena.

Os avanços antes de tudo é preciso reconhecer os avanços verificados neste campo são decorrentes das lutas políticas que os povos indígenas têm empreendidos direitos sociais di-ferenciado, entre eles, suas demandas por escolarização. Uma das demandas constantes do movimento indígena no Brasil tem sido o acesso pleno a todas as etapas do ensino.

No que se refere à educação básica, a reinvindicação primeira é por escolas nas comuni-dades que seja gestada pelos próprios professores indígenas. Essa é uma das formas pelas quais os povos indígenas acreditam poder fortalecer seus laços comunitários e melhor estruturar suas relações com a sociedade. Nesse sentido, o fato de quase todas as comunidades terem sua escola muitas delas com professoras e gestores indígenas, pode ser considerado um dos avanços.

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A escola entrou na comunidade indígena como um corpo estranho, que ninguém conhecia. Quem a estava colocando sabia o que queria, mas os índios não sabiam, hoje os índios ainda não sabem para que serve a escola. E esse é o problema. A escola entra na comunidade e se apossa dela, tornando-se dona da comunidade, e não a comunidade dona da escola. Agora, nós índios, estamos começando a discutir a questão (FREIRE, 2004, p. 28).

Para atender essa demanda foram criados cursos de formação específicos para profes-sores indígenas, tanto os magistérios de nível médio quanto as licenciaturas interculturais, ofertadas por diferentes instituições de ensino superior. A licenciatura por sua vez tem como principal incentivo o programa de apoio a formação superior e licenciatura indígena (PRO-LIND), criado em 2005, no âmbito do ministério da educação. Desde então, 23 cursos, em 17 estados da Federação, atenderam a 3.171 professores indígenas. No que se refere a formação continuada, o MEC está a ação saberes indígenas na escola, em parceria com as instituições de ensino superior e secretaria de educação. Um dos principais objetivos dessa ação, centrada nas realidades sociolinguísticas e culturais dos diferentes povos indígenas atendidos, é o apoio aos professores indígenas em suas praticas de ensino destinado a promoção do letramento do numeramento e do uso dos conhecimentos tradicionais de cada povo.

Um dos principais avanços verificados é a constituição de um ordenamento jurídico es-pecifico para a educação escolar indígena que tem orientado a formulação e implementação de politicas de educação mais afeitas as realidades socioculturais e linguísticas dos povos indíge-nas. Ainda que essa legislação não tenha alcançado uma maior efetividade pratica, tem servido tanto como marco regulador das ações do sistema do ensino quanto como instrumento de luta dos povos indígenas pela garantia do direito a educação escolar diferenciada.

São exemplos disso às diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar indígena na educação básica definidas pelo CNE, em 2012. Nessas diretrizes são reafirmados:

• Os princípios da especificidade, interculturalidade, diferenciação, bilinguismo/ mul-tilinguismo e o aspecto comunitário da educação escolar indígena;

• A condição da escola indígena como uma categoria detentora de ordenamento ju-rídico próprio na construção de desenhos curriculares, calendários e processos de avaliação adequados às especificidades dos povos indígenas e suas comunidades.

Demanda crescente nos povos indígenas nos últimos anos, o acesso ao ensino supe-rior é tido como estratégico para formação de intelectuais e professionais comprometidos com seus projetos de sociedades.

Os povos indígenas buscam ultrapassar a condição de tutela que tem caracterizado a suas relações com o estado brasileiro. Para isso, procuram os cursos superiores com o proposito prin-cipal de constituírem sua autonomia e protagonismo na gestão de seus territórios, sobretudo nas áreas de saúde, da educação, do desenvolvimento sustentável, da agroecologia e do direito.

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A lei de cotas, aprovada em 2012, criou a oportunidade para a presença indígena nas universi-dades. Com essa lei, o MEC implementou o programa bolsa permanência, que destina valor diferen-ciado para os estudantes indígenas e quilombolas, em função de suas características socioculturais e territoriais, já que, para muitos, cursar o ensino superior implica a saída em suas comunidades.

Os povos indígenas têm-se apropriado politicamente da instituição escola como meio de fortalecer seus modos de ser, de saber e de poder, de acordo com o princípio da interculturali-dade proposto em seus projetos educativos e societários.

A lei 11.645 coloca em perspectiva a história e a cultura dos povos indígenas ao lado da história e da cultura de diferentes grupos que compõem a sociedade brasileira, como forma de reconhecer seu caráter pluricultural e multiétnico. Infelizmente, há inda um grande desenvolvimento sobre os povos indígenas, fazendo persistir no imaginário social imagem caricaturadas, folclorizados, alimentadoras de preconceitos a respeito dos povos indígenas, concebidas fora do tempo e da sociedade nacional.

Essa distancia e desconhecimento que estigmatizam os povos indígenas negando a sua presença contemporânea e evidenciando o lugar ocupado por eles no imaginário nacional, le-varam a criação de leis como a de nº 11.645. Esse é um exercício reflexivo que precisamos fazer, e essa norma elege a escola em seus currículos como lugares privilegiados para isso.

O desafio agora é a sua efetiva implementação pelo sistema de ensino, que ainda precisa institu-cionalizar mecanismos e estratégias para esse fim. O que se tem observado, em muitos casos é a perma-nência de manifestações folclorizadas, com o tratamento da temática em datas comemorativas, como o dia do índio, quando as escolas e crianças são adornadas com símbolos associados aos povos indígenas.

Conhecer a história e a cultura dos povos indígenas possibilita à sociedade brasileira refle-tir sobre a mesma e construir bases mais solidarias no dialogo e na convivência com as diferen-ças. Dessa maneira torna-se capaz de estabelecer relações socialmente mais justas e voluntarias.

O Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas ainda é um importante documen-to orientador das praticas pedagógicas dos professores indígenas, ao apresentar subsídios pedagógi-cos, antropológicos, históricos linguístico e jurídicos para a construção de currículos diferenciados.

Todavia, ele retrata a realidade das escolas indígenas daquele período, centrada, basica-mente, nas experiências pedagógicas dos anos iniciais do ensino fundamental. Com a amplia-ção da oferta de educação escolar indígena para toda a educação básica, há, de fato, a necessi-dade de se atualizar esse documento.

Nesse estudo transgredir a ideia de que a escola é apenas um espaço onde se produz o conhecimento, e sim um espaço onde se produz cultura e educação onde o ser humano está inserido enquanto ser multiplicador desse saber. A escola estadual Indígena Pedro Poti na Aldeia São Francisco realiza cada ano um trabalho voltando para a cultura local, realizando atividades culturais como semana da conscientização Indígena, semana cultural potiguara. Nesse período a escola trabalha varias temática, tais como, memoria, terra, saúde, legislação entre outras, envolvendo toda comunidade escolar e os anciões onde os mesmos repassam os seus conhecimentos e orientando nas atividades. Com base nessas praticas compreendemos que o reconhecimento e valorização da cultura tem permitido assim, a afirmação de nossa identidade e dos saberes deixados pelos nossos ancestrais.

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Neste caso, a educação passa a ser vista tanto como uma forma de resistência, como de afirmação de Identidade. Como um catalogo simbólico que governa e controla o comporta-mento dos seres humano, sendo a cultura vista como uma teia de significado que contextualiza a vida pratica do sujeito, Geertz (1989) contribui para uma crescente visibilidade dos processos criativos, pelos quais os objetivos culturais são inventados e tratados como significados.

Nós educadores buscamos através da nossa cultura incentivar nossos alunos a afirmar sua identidade enquanto indígena potiguara procuramos desenvolver praticas pedagógicas que diferenciam as escolas indígenas das demais escolas tradicionais.

No Brasil, os povos indígenas têm reconhecidos suas formas próprias de organização social, seus valores simbólicos, tradições, conhecimentos e processos de constituição de sa-beres e transmissão cultural para as gerações futuras. A extensão desses direitos no campo educacional gerou a possibilidade de os povos indígenas se apropriarem da instituição escola, atribuindo-lhe identidade e função peculiares.

A escola, espaço histórico de imposição de valores e assimilação para incorporação à economia de mercado e, nesse processo, devoradora de identidades, passa a ser reivindicada pelas comunidades indígenas como espaço de construção de relações intersocietárias basea-das na interculturalidade e na autonomia política.

Embora as escolas indígenas se proponham a serem espaços interculturais, onde se deba-tem e se constroem conhecimentos e estratégias sociais sobre a situação de contato interétnico, podem ser conceituadas como escolas de fronteira espaços públicos em que situações de ensino e aprendizagem estão relacionadas às políticas indenitárias e culturais de cada povo indígena.

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL HOJE

A construção de escolas em terras indígenas e sua adequação aos padrões arquitetônicos de cada comunidade. O reconhecimento das escolas indígenas pelos conselhos de educação, considerando seus projetos pedagógicos, currículos e calendário diferenciado, bem como as necessidades de recursos orçamentários específicos para a manutenção dessas escolas, sobre-tudo aquelas situadas em locais de difícil acesso.

A gestão da alimentação escolar, respeitando os hábitos alimentares dos diferentes povos indí-genas. A implementação de modelos de educação infantil adequadas às realidades socioculturais de cada povo indígena. A criação da categoria do professor indígena nos quadros de magistério do servi-ço publico e a implementação de formas de seleção adequada às propostas de formação diferenciadas.

Além disso, é fundamental que os indígenas busquem assumir o controle social das po-liticas de educação escolar indígena participando, dos conselhos escolares, dos conselhos ali-mentação escolares, dos conselhos de educação escolar indígena existente em alguns estados.

Entretanto objetivo da escola indígena se caracteriza por ser comunitária, ou seja, espe-ra-se que esteja articulada aos anseios de comunidade e a seus projetos de sustentabilidade ter-ritorial e cultural. Dessa forma, a escola e seus profissionais devem ser aliados da comunidade

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e trabalhar a partir do diálogo e participação comunitária, definindo desde o modelo de ges-tão e calendário escolar o qual deve estar em conformidade às atividades rituais e produtivas do grupo até os temas e conteúdos do processo de ensino-aprendizagem.

Como também os direitos linguísticos dos povos indígenas, de que os processos de aprendi-zagem escolares sejam feitos nas línguas maternas dos educandos, trazem a atenção para a realidade sociolinguística da comunidade onde está inserida a escola e para os usos das línguas tanto no espaço comunitário quanto no escolar. Chamamos isso de bilinguismo ou multilinguíssimo na escola indíge-na, visto que em algumas regiões, falantes e comunidades indígenas usam no dia-a-dia, além de duas ou três línguas maternas, o português e as línguas usadas nos países com que o Brasil faz fronteira.

Um dos nossos desafios como professora indígena e potiguara é colocar em pratica as realidades sociolinguísticas, como também problematizar a situação do uso da língua portu-guesa como língua materna. Muitos povos indígenas no processo colonizatório perderam o uso de suas línguas e adotaram a língua portuguesa. Vários pesquisadores vêm demonstran-do que as variedades da língua portuguesa usadas pelos povos indígenas são marcadas pelas diferenças culturais e que, portanto, essas variedades têm que ser levadas em conta, frente à variedade-padrão e outras variedades, pois espelham o pertencimento étnico dos educandos.

O RECONHECIMENTO DA HUMANIDADE DO INDÍGENA E DOS DIREITOS DOS ÍNDIOS.

No Brasil Colônia a educação formal dos indígenas esteve primeiramente de 1549 a 1757 sob a responsabilidade dos missionários católicos, principalmente padres jesuítas, represen-tantes da Companhia de Jesus, os quais foram legitimados e apoiados pela Coroa Portuguesa e pelos administradores locais. Todavia o Estado brasileiro pautou sua relação com os povos indígenas muito mais pela negação que pelo reconhecimento de direitos. Segundo Ana Valéria Araújo (2006), a Constituição de 1891 não fazia sequer menção à existência de índios no terri-tório brasileiro. Em tempos mais recentes, a negação do direito à diferença adquiriu contornos mais explícitos, manifestando-se na política integracionista, baseada numa concepção que buscava assimilar os índios à sociedade brasileira. Continuando a mesma autora, em que ela afirma que a negação do estado brasileiro em relação ao índio tratava-se, na verdade, da pos-sibilidade de fazer com que os índios paulatinamente deixassem de ser índios. Nesse sentido, as diferenças culturais dos povos indígenas, compreendidas pelo crivo da inferioridade, foram sistematicamente negadas e, desse modo, fadadas à assimilação pela matriz dominante.

O Alvará de 1 de abril de 1680 reconheceu os indígenas como ‘’ primários e naturais senhores’’ de suas terras destacando que as sesmarias concedidas pela coroa não podiam afetar os direitos originais.

O reconhecimento da humanidade do indígena e dos direitos dos índios, porem, con-tinuou a ser referido na legislação colonial. Em 1611, por exemplo, Felipe III, através de carta Regia afirmava o direito dos indígenas sobre seus territórios, enfatizando que eles não pode-riam ser molestados, nem tampouco transferidos contra outras vontades. O Alvará de 1 de

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MERGULHANDO NA HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS E ENTRE O POVO POTIGUARA: SUAS PRÁTICAS E PROCESSOS EDUCATIVOS

abril de 1680 reconheceu os indígenas como ‘’ primários e naturais senhores’’ de suas terras destacando que as sesmarias concedidas pela coroa não podiam afetar os direitos originais.

Sob essa perspectiva, início o meu trabalho falando na memória e história da luta pelos direi-tos indígenas do povo Potiguara seja terra, educação, e práticas culturais, discorrendo sobre os avanços, desafios e possibilidades de novas conquistas pelas demandas indígenas diante da sociedade nacional.

A Constituição Federal promulgada em 1988 assegurou importantes dispositivos em favor dos povos indígenas. O reconhecimento do “direito originário sobre as terras que tra-dicionalmente ocupam” e a explicitação do respeito a diferença cultural e linguística, bem como a obrigatória consulta aos interesses desse povos em caso de aproveitamento de recursos hídricos ou de exploração de minerais em suas terras, realmente significam conquistas.

O capítulo VIII da Constituição Federal (CF), intitulado dos Indígenas, em seus artigos 231 e 232 e respectivos parágrafos delineou as bases políticas em que se devem efetivar as relações entre os diferentes povos indígenas, e o Estado brasileiro. A Constituição Federal de 1988 foi elabo-rada e aprovada no contexto do processo de redemocratização do País. Naquele momento, lideran-ças indígenas de diferentes povos exerceram junto ao congresso constituinte legitimas pressões.

A nova Constituição inovou em todos os sentidos, estabelecendo, sobre tudo, que os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam são de natureza originária, ou seja, que são an-teriores a formação do próprio Estado, existindo independentemente de qualquer documento oficial.

O artigo 231 da Constituição de 1988

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo a União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

O parágrafo 1º do artigo 231 destaca,

são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter perma-nente, as utilidades para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

A Constituição Federal finalmente reconhece que os povos indígenas foram os primeiros senhores de fato e de direitos desta terra chamada Brasil, incorporando a seus ideais de justiça a ideia do “indigenato” (já defendida pelo brilhante jurista João Mendes Junior no início do século).

A Constituição de 1988 aos índios.

• Uso fruto exclusivo do solo, dos rios, e dos lagos existentes nas terras indígenas;• Que o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos ai os potenciais energéticos, a

pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com a autorização do congresso nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-

-lhes assegurada a participação nos resultados da lavra.

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• A garantia da inalienabilidade e indisponibilidade das terras indígenas e a imprescri-tibilidade dos direitos sobre elas, a proibição da remoção dos índios das suas terras.

• A nulidade de todos os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas.

• A legitimidade dos índios, suas comunidades, e organizações para ingressarem em juízo em defesa dos seus direitos e interesses.

OS INDÍGENAS E SEUS DIREITOS INVISIBILIZADOS NOS DISCURSOS CONSTITUCIONAIS.

O movimento indígena no Brasil começou a tomar forma, integrando o amplo movimento de reorganização da sociedade civil que caracteriza os últimos anos de ditadura militar no país. Várias comunidades e povos indígenas, superando o processo de denominação e perda de seus contingentes de população, passam a se reorganizar para fazer frente às ações integracionistas do Estado Brasileiro.

Dentro de um panorama de lutar por direitos humanos e sociais é que essa “escola indí-gena”, ou “escola para índios”, começou a ser pensada. Foi reconhecida a relação da educação com o direito de se apresentarem as várias culturas e experiências sociais e politicas dos povos indígenas, e os problemas decorrentes do seu contato com a sociedade mais ampla.

Para Araújo (2006), é na Constituição de 1988 rescindiu o paradigma da integração e da assimilação que até então dominava o nosso ordenamento jurídico, assegurando aos índios o direito à diferença, calcado na existência de diferenças culturais, e garantindo aos povos indígenas permanecerem como tal, se assim o desejarem, devendo o Estado assegurar-lhes as condições para que isso ocorra. Além disso, nessa Constituição que reconhece que:

ao reconhecer aos povos indígenas direitos coletivos e permanentes, a Constituição abriu um novo horizonte para o país como um todo, criando as bases para o estabelecimento de direito de uma sociedade pluriétnica e multicultural, em que povos continuem a existir como povos que são, independente do grau de contato ou de interação que exerçam com os demais setores da sociedade que os envolve (ARAÚJO, 2006, p. 45).

São direitos coletivos dos povos indígenas, entre outros, o direito ao seu território e aos recursos naturais que ele abriga, o direito a decidir sobre sua história, sua identidade, suas instituições politicas e sociais, e o direito ao desenvolvimento de suas concepções filosóficas e religiosas de forma autônoma.

O artigo 210 assegura às comunidades indígenas, no ensino fundamental regular, o uso de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem e garante a prática do ensino bilíngue em suas escolas. O artigo 215 define como dever do Estado a proteção das manifestações culturais indígenas. A escola constitui, assim, instrumento de valorização dos saberes e processos próprios de produção e recriação de cultura, que devem ser a base para o conhecimento dos valores e das normas de outras.

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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O reconhecimento dos direitos educacionais específicos dos povos indígenas foi reafirmado no decreto nº 1904/96, que institui o Programa Nacional de Direitos Humanos. Ali se estabelecer.

O artigo 78- LDB determina que concebera ao sistema de Ensino da União, com a colabo-ração das agencias federais de fomento à cultura e de assistências aos índios, desenvolver programa integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, com os objetivos de: “1º proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memorias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas e a valorização de suas línguas e ciências; 2º garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não índias”.

Artigo 79 LDB- estabelece que as responsabilidades originarias da União devem estar compartilhadas com os demais sistemas de ensino, determinando procedimentos para o pro-vimento da Educação Escolar Indígena e salientando que os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas.

O primeiro projeto de constituição do Brasil elaborado em 1823, faziam uma referencia à criação de estabelecimentos para a catequese e a civilização dos indígenas (título XIII, art. 254). A constituição que foi outorgada em 1824, porem, não faz referencia aos povos originários. Foi mais conveniente aos legisladores negar a sua existência. O tema voltou a ser discutido na adoção do Ato Institucional de 1834, quando se transferiu às assembleias provinciais competência para promover (catequese e a civilização do indígena) e o estabelecimento de colônias (art.11, parágrafo 5).

Com a Proclamação da Republica sob a influência do positivismo de Augusto Comte, que inspirava diferentes intelectuais e políticos brasileiros, surgiu uma proposta de constitui-ção, em 1890, que objetivamente considerava a existência dos povos indígenas e assegurava-

-lhe um relacionamento centrado na proteção e a não violação de seus territórios. A Republica seria formada pela federação desses estados. Esta proposta, apesar de

discutida, não foi aceita. A constituição que foi aprovada em 1891, na Primeira Republica, não fez também qualquer menção aos indígenas.

Com a ocorrência da revolução de 1930 e o chamado fim da primeira República, o governo de Getúlio Vargas promoveu a elaboração de uma nova constituição. Promulgada em 1934, esta constituição diz que ‘compete privativamente a União’ legislar sobre a incorporação dos indígenas à comunhão nacional (art. 5 XIX, m)”.

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

A ideia de Direitos humanos tem seu surgimento ligado á necessidade de defesa do cida-dão contra as ingerências do Estado, de seus agentes, e também contra os excessos de poder e violações praticadas por entes privados.

O termo ‘’direitos humanos’’ é um dos mais utilizados na cultura jurídica e na politica atual, pelos profissionais do direito e pelos cidadãos. Pode-se dizer que é bem próximo da ideia de Direito Nacional, presente nos séculos XVIII, uma vez que, tal qual este, funciona como

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uma garantia para a dignidade da pessoa humana e de igualdade entre os seres, além de ter a função reguladora da legitimidade dos sistemas políticos e ordenamentos jurídicos.

Direitos humanos são aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser humano, por sua própria natureza e pela dignidade que a ela é inerente. Os direitos huma-nos são produtos de lutas politicas e dependem de fatores históricos e sociais que refletem os valores e aspirações de cada sociedade, sendo que também requerem um ambiente propicio para que sejam respeitados. A historia dos direitos humanos no Brasil está vinculada, de for-ma direta, com a historia das constituições brasileiras.

Por tanto, para discorrermos acerca de tal assunto, abordaremos, sucintamente, a histó-ria das varias constituições no Brasil e a importância que as mesmas atribuíram aos direitos humanos. A primeira constituição brasileira — a constituição Imperial de 1824 — provocou o repudio de inúmeras pessoas. Essa constituição outorgada após a dissolução da constituinte, razão de sua rejeição em massa, acarretou protestos em vários estados brasileiros, como em Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Várias das reivindicações de liberdade da época culminaram com a consagração dos di-reitos humanos pela referida constituição, que apesar de autoritária (por concentrar uma grande soma de poderes nas mãos do Imperador) revelou-se liberal no reconhecimento dos direitos.

O Brasil é signatários de diversas convenções internacionais, que resguardam os interes-ses dos povos indígenas. A declaração dos Direitos do Homem aprovada pela assembleia geral das nações unidas, em 1948, estabelece em seu art 1, que ‘’ todos os homens nascem livres e iguais em dignidades e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espirito de fraternidade.

Para compreender a ideia de Direitos Humanos em que diz respeito a um direito inter-nacionalmente reconhecido, como os direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, individuais ou difusos, que se referem á necessi-dade de igualdade e de defesa da dignidade humana. Agindo como linguagem internacional que estabelece a uma conexão com os estados democráticos de direitos, a politica dos direitos humanos pretende fazer cumprir: a os princípios da contemporaneidade: da solidariedade, da singularidade, da coletividade, da igualdade e da liberdade.

Faz-se necessário constituindo os princípios fundadores de uma sociedade moderna, os Direitos Humanos têm se convertido em formas de luta contra as situações de desigualdades de acesso aos bens materiais e imateriais, combater as descriminações praticadas sobre as diversida-des socioculturais, de identidade de gênero, de etnia, de raça, de orientação sexual, de deficiências, dentre outras e de modo geral, as opressões cinguladas ao controle do poder por minorias sociais.

A partir dessa Constituição Federal de 1988 que se inicia a discussão acerca dos Direitos indígenas, isto é, dos sistemas jurídicos dos povos indígenas, no Brasil, ganhou novos parâmetros após o reconhecimento da diversidade pela indígena, no Brasil. Mesmo depois dessa Constituição Federal o Estado brasileiro permanece como um sistema único, impondo as normas jurídicas da sociedade hegemônica aos povos indígenas, ignorando (ou pouco considerando) as normas dife-renciadas que regulam a organização social e o funcionamento das sociedades indígenas. Além

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Acta Científica, Engenheiro Coelho, SP, p. 19-42, 2º semestre de 2016DOI: http://dx.doi.org/10.19141/1519-9800/actahumanas.v25.n2.p19-42

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disso, no caso do Direito indígena, as mudanças foram muito poucas os velhos estereótipos e pre-conceitos, as antigas práticas autoritárias e tutelares, e o abismo cultural associam-se à tradição dogmática e ao monismo jurídico predominante na cultura jurídica positivista brasileira para tor-nar os Direitos diferenciados dos povos indígenas irreconhecíveis, simplesmente invisíveis.

De acordo com Oswaldo Ruiz Chiriboga (2006), o Estado brasileiro precisa enten-der o Direito indígena compreende os sistemas de normas, procedimentos e autoridades que regulam a vida social das comunidades e lhes permite resolver seus conflitos de acordo com seus valores, perspectiva de mundo, necessidades e interesses. Para Maria Teresa Sierra (1998), onde ela afirma que o Direito é elemento central da identidade étnica, a tal ponto que um povo que perdeu seu Direito, perdeu parte importante da sua identidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, concluímos que o estado brasileiro precisa reconhecer o direito aos povos indígenas de manterem suas tradições culturais significa necessariamente possibilitar o exercício da jurisdição indígena, paralela à estatal. Desse modo, o exercício de seus siste-mas jurídicos próprios é necessária condição para assegurá-la a permanência da diversi-dade cultural e da pluralidade de Direitos no território brasileiro.

Embora seja dever do estado brasileiro a afirmação das identidades étnicas, a recupera-ção da memória histórica e a valorização das línguas e conhecimentos dos povos indígenas por meio da educação, distribuição e difusão de materiais didáticos e paradidáticos específicos aos contextos indígenas, considerando as questões linguísticas e culturais.

Ao longo dessa pesquisa cheguemos a compreensão que as sociedades indígenas vêm elaborando complexos sistemas de pensamento e modos próprios de produzir, armazenar, ex-pressar, transmitir, avaliar e reelaborar seus conhecimentos e suas concepções sobre o mundo, o homem e o sobrenatural através de suas conquistas e pelas escolas especificas. Os resultados estão nos trabalhos científicos e filosóficos próprios, elaborados em condições únicas, trans-mitidos e enriquecidos a cada geração. Essas produção de ricos acervos de informações e refle-xões sobre a natureza, sobre a vida social e sobre os mistérios da existência do povo indígena.

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