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Histórias da loucura Crítica de cinema Congresso de Psiquiatria Desenhos do Juquery Pixar inova em filme infantil Canadá sediou evento Impresso e On-line - Boletim nº 28 - Mai-Jun-Jul 2015 6 7 8 Gastos sem fim Mesmo com plano de saúde, usuários estão pagando psicólogos e terapeutas do próprio bolso

Mesmo com plano de saúde, usuários estão pagando ... · Até o momento em que o transtorno ou doença mental incapacita o indivíduo. Aí a conta fica muito mais cara. TIRAGEM:

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Histórias da loucura Crítica de cinemaCongresso de PsiquiatriaDesenhos do Juquery Pixar inova em filme infantilCanadá sediou evento

Impresso e On-line - Boletim nº 28 - Mai-Jun-Jul 2015

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Gastos sem fimMesmo com plano de saúde,

usuários estão pagando psicólogos e terapeutas do

próprio bolso

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A Lei 10.216 está em vigor há 14 anos, e nasceu para propor uma mudança que se desvirtuou. Se por um lado ela promoveu a desinstitucionalização de muitos pacientes psiquiátricos, por outro não houve contrapartida suficiente das políticas públicas para que se formasse uma rede, de fato, no atendimento em saúde mental da

população. Muitos Centros de Atenção Psicossocial foram inaugurados, inúmeros hospitais psiquiátricos foram sendo sufocados para que fechassem as portas – e a população ficou sem a retaguarda de leitos, e sem efetivas medidas de detecção de problemas mentais na rede básica de saúde.

Essa defasagem, embora seja mais visível no âmbito público do atendimento, é detectável também no sistema privado. Via plano de saúde, segundo prevê a lei, é possível recorrer a psiquiatras e psicólogos para tratamento de trans-tornos. Mas há limites no número de consultas para psicólogos e terapeutas ocupacionais, e há ainda uma tímida rede de profissionais dispostos a se submeter a trabalhar mediante valores aviltantes, como os que apuramos em reportagem de capa desta edição. É difícil acreditar, mas há planos de saúde que pagam R$ 8 por 45 minutos de uma sessão de psicoterapia.

CANAL ABERTO

EXPEDIENTE

O BARATO CAROAI

EDITORA:

Ana Paula Barbulho (MTB 22170)

Editora interina:

Aline Moura (MTB 42946)

REDAÇÃO E REVISÃO:

Fabiane de Sá, Rebeca Salgado e Ricardo

Balego

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:

Carlos Eduardo e Felipe da Fonseca

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

Ricardo Mendes, coordenador do Comitê

de Saúde Mental da FEHOESP

Embora haja uma garantia em lei, na prática a população acaba não tendo acesso a tratamentos que envolvem a saúde mental. Ora porque as consultas são limitadas por ano, ora porque não encontram profissionais em locais acessíveis, ou disponíveis.

É preciso um olhar especial para a saúde mental no Brasil. A anamnese de um psiquiatra não pode durar dez minutos. Um tratamento psicológico não pode se limitar a 12 sessões por ano, ou limitar a extensão deste limite a determinadas patologias consideradas graves. Não em um ambiente em que a doença mental é cada vez mais prevalente.

O que acaba acontecendo é, de novo, um apar-theid. Quem tem recursos financeiros, mesmo pagando por um plano de saúde, procura um profissional particular e arca com as consultas. Quem não tem como pagar duas vezes desiste do tratamento. Até o momento em que o transtorno ou doença mental incapacita o indivíduo. Aí a conta fica muito mais cara.

TIRAGEM:

2.000 exemplares

CIRCULAÇÃO:

Entre diretores e administradores

de hospitais psiquiátricos e clínicas

FOTOS:

Thinkstock e divulgação

CORRESPONDÊNCIAS:RedaçãoR. 24 de Maio, 208 - 14º andarCEP: 01041-000 - São Paulo - SPTel. (11) [email protected]

Saúde Mental em Foco é uma publicação:

Por Ricardo MendesCoordenador do Comitê de Saúde Mental da FEHOESP

DEU NA IMPRENSA

em resposta a vários fatores, como em decorrência de uma inflamação causada pela doença que levou à internação ou pelo uso de certos medicamentos.

"A preocupação é relativamente recente. Os pri-meiros estudos sobre o assunto foram publicados em 2011 e desde então o delirium tem mostrado ser um importante e grande desafio da medicina", diz Jorge Salluh, pesquisador do IDOR e um dos autores do estudo, publicado no British Medical Journal (BMJ). "O delirium pode ocorrer por múltiplas causas, mesmo que a doença que levou o paciente ao hospital não seja neurológica. Se você tem pneumonia, por exemplo, e é internado na UTI, pode vir a desenvolver."

A síndrome é mais comum entre idosos, pessoas com alterações cognitivas e pacientes com doenças terminais. Embora seja uma condição comum, tem sido subestimada e subdiagnosticada pelos pro-fissionais da UTI. "Uma das razões para isso é que muitos pacientes ficam sedados durante longos períodos da internação, de modo que os sinais não são percebidos", explica Salluh. Além disso, há casos em que o delirium é "hipoativo" e o paciente só mostra indicações muito sutis de confusão mental.

Os resultados do estudo lançam luz sobre o real alcance e impacto a doença e os autores esperam que isso chame a atenção de médicos, pesquisadores e gestores de saúde para a importância de reduzir a morbidade e a mortalidade decorrente da síndrome. "Nosso estudo é um forte sinal de que pacientes críticos devem ser monitorados e acompanhados para verificar a aparição do delirium", ressalta um dos autores, o médico Robert D. Stevens, da Universi-dade John Hopkins. "Agora esperamos ver esforços para reduzir a incidência do mesmo por meio de prevenção de intervenções terapêuticas."

O delirium pode ser prevenido através de medidas como o uso racional de sedativos e anestesia, a redução do uso de medicamentos benzodiazepínicos, a promoção adequada do sono e a movimentação nas terapias ocupacionais. "O delirium é um fator de risco modificável, só precisamos dar a ele a atenção que merece", conclui Salluh.

Pacientes internados em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) frequentemente sofrem de de-lirium, uma síndrome clínica caracterizada por confusão mental, falta de atenção, alucinações e, às vezes, agitação. Essa condição tem sido associa-da a um mal prognóstico, mas a magnitude do delirium não era conhecida. Pesquisadores do Ins-tituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade John Hopkins apresentam, agora, a maior revisão de literatura já feita sobre o tema e concluem que a síndrome está fortemente associa-da às altas taxas de mortalidade, maiores períodos de internação e comprometimen-to cerebral após a alta hospitalar.

Um grupo de pesquisadores, do Brasil e dos EUA, se debruçou sobre 42 estudos previamente publica-dos sobre o assunto, totalizando 16.559 pacientes. O delirium foi identificado em 5.280 (32%) dos casos graves analisados nesses trabalhos. Em com-paração aos que não desenvolveram delirium, os pacientes com essa síndrome mostraram duas vezes mais chance de morrer durante a hospitalização.

Os pesquisadores também observaram que os pacientes com esta condição ficaram em média 1,38 dias a mais na UTI que os demais doentes e precisaram receber ajuda de aparelhos para respirar (ventilação mecânica) por 1,79 dias a mais que os pacientes que não a apresentaram.

O delirium tem sido descrito como um dos tipos mais comuns de falência nas UTIS. Ele é uma for-ma de comprometimento cerebral que pode ocorrer

Quase uma em cada dez pessoas, em todos os países, apresenta transtornos da saúde mental, segundo a Organização Mundial da Saúde. En-tretanto, somente 1% dos profissionais da saúde atua na atenção a este delicado tema.

Essa difícil situação é explicitada no "Atlas de Saúde Mental da OMS 2014", lançado em julho último, em Genebra, pela Organização Mundial da Saúde.

Na média global, assinala o Atlas, existe um psiquiatra ou psicólogo para cada 10 mil pessoas.

CONFUSÃO MENTAL DOS PACIENTES NA UTI PODE AUMENTAR O TEMPO DE INTERNAÇÃO E LEVAR A COMPROMETIMENTO CEREBRAL

O ATLAS DE SAÚDE MENTAL DA OMSNos países em desenvolvimento, essa relação diminui mais ainda, passando a taxa de um especialista em saúde mental para 100 mil pessoas; nos países ricos, a taxa é de um médico para 2 mil pessoas. Essa situação, segundo a OMS, decorre do pouco investimento, em todos os países, na atenção à saúde mental da população: de US$ 2 por pessoa por ano em países de baixa renda aos US$ 50 anuais por pessoa nos países ricos.

Com base nos dados da atenção especializada de 171 países, a OMS ela-borou um plano de ação aos seus países-membros, para ser desenvolvido nos próximos cinco anos. Entre as propostas, uma delas seria aumentar em 20% a cobertura dos serviços especializados em desordens mentais severas, incentivar a promoção e prevenção da saúde mental e reduzir em 10% a taxa de suicídio, atualmente na média de 11,4 para cada 100 mil pessoas.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determina um rol de procedimentos obrigatórios que devem ser cobertos pelos planos de saúde. Dentre eles estão sessões de terapia, psicoterapia, tratamentos com psicólogos e outros serviços. Mas muitos usuários de convênios médicos estão arcando com os custos de atendimentos que são cobertos pelos planos, pagando pela saúde em dose dupla.

Psicólogos e terapeutas ocupacionais, além de nutricionista e fonoaudiólogos, estão incluídos na cobertura obrigatória dos convênios – o chama-do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS –, porém, o desconhecimento das regras por parte dos beneficiários e, muitas vezes, a dificuldade em encontrar um profissio-nal de confiança têm leva-do os usuários dos planos de saúde para os consultó-rios particulares. Somado a esses problemas, ainda há a regulamentação da agência que prevê que as sessões não devem ser uma demanda espontânea, mas um pedido médico. En-quanto que o atendimento particular pode partir da livre demanda, ou mesmo de encaminhamento esco-lar, como as psicoterapias.

A legislação em vigor des-de 7 de junho de 2008, quando passou a valer a resolução normativa (RN) nº 167 da ANS, de 9 de janeiro do mesmo ano, estabelece a obrigatoriedade legal aos tratamentos de transtornos psiquiátricos e até ressalta a impor-tância da adoção de medidas que evitem a estig-matização e a institucionalização dos portadores de transtornos psiquiátricos; atendimento às emer-gências, consideradas as situações que impliquem risco à vida ou de danos físicos para o próprio ou para terceiros (incluídas as ameaças e tentativas de suicídio e autoagressão) e/ou em risco de danos morais e patrimoniais importantes; até 12 sessões, por ano de contrato, de psicoterapia de crise, logo após atendimento de emergência; para alguns transtornos mentais, até 40 consultas ou sessões com psicólogo ou terapeuta ocupacional; consul-tas médicas (psiquiátricas) em número ilimitado; e serviços de apoio diagnóstico, como laboratório,

imagem, eletroneurofisiologia etc.

Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o limite para as sessões fere o Código de Defesa do Consumidor (CDC), já que é considerado uma restrição à cobertura. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vê as determinações quanto à quantidade de consultas autorizadas e o tempo para o tratamento como preocupante. “Temos informação que alguns planos de-terminam o prazo de tratamento e adotam critérios para o paciente ter direito a consultas psicológicas. O controle feito pelas operadoras sobre a atuação profissional do psicólogo que, em alguns casos, exige grande quantidade de trabalho burocrático, é outro aspecto que chama a atenção”, afirma a represen-tante do CFP na ANS, Anice Holanda.

De acordo com uma pesquisa online realizada pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), entre outubro e novembro de

2014, junto à categoria sobre a atuação dos psicólogos vinculados a planos de saúde que atuam naquele Estado e em São Paulo, a necessidade do encaminhamento ao psicólogo ser feito por um médico é uma das principais dificuldades relatada por 52% dos pesquisados, por tirar a autonomia do paciente em buscar o atendimento, e do profissional, o que remete ao Ato Médico (art. 4º, § 2º: “Não são privativos do médico os diagnósticos funcional, cinésio-funcional, psicológico, nutricional e ambiental, e as avaliações comportamental e das capacidades mental, sensorial e perceptocognitiva”).

Questões referentes à remuneração e condições de traba-lho inadequadas também foram relatadas pelos respon-dentes à pesquisa. Em média, o valor repassado pelos planos por consulta foi de R$ 32,65, por uma sessão de 45 minutos. Mas os valores pagos citados vão desde R$ 8 a R$ 80, por consulta, o que, segundo as entidades repre-sentativas, são um obstáculo para o credenciamento aos convênios. “A inserção da psicologia no plano de saúde é muito importante para potencializar o acesso da popu-lação ao tratamento, mas ainda há uma longa estrada a ser trilhada. Por enquanto, o custo-benefício não compensa

para o profissional. A remuneração compatível está relacionada à qualidade do atendimento oferecido ao consumidor. Com uma melhor remuneração, profissionais têm condições de atender com mais tempo e em menor volume, o que traz uma melhora na qualidade”, informa o CRP de São Paulo, em nota à reportagem do Saúde Mental em Foco.

Sobre a dificuldade dos beneficiários de planos conseguirem consulta/sessões com psicólogo, a representante do CFP diz que a entidade tem conhecimento de um panorama geral, e tem tratado desse assunto com a ANS, mas é impor-tante que os psicólogos usem continuamente os canais de comunicação com os conselhos regionais para formalizar situações sobre obstáculos de acesso e que esses dados subsidiem a gestão desse tema pelo Conselho Federal e pelas regionais dos Estados. “Há um cenário diverso no país, que reflete o próprio referenciamento geográfico da saúde suplementar nas regiões do Brasil. Exis-tem situações de precarização do serviço, em relação à proporção psicólogos/número de usuários, o que tem causado problemas técnicos e éticos com o tempo e a qualidade do atendimento - ponto este reivindicado pelos psicólo-

Anice Holanda

MATÉRIA DE CAPA

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Gastos sem fimMesmo com plano de saúde, usuários estão

pagando psicólogos e terapeutas do próprio bolso Por Fabiane de Sá

gos para ações por parte do Sistema Conselhos de Psicologia (CFP e CRPs)”, explica.

Mais problemasO limite no número de sessões e o valor pago aos psicólogos também estão fazendo surgir outro problema aos beneficiários de planos de saúde: para continuar com o tratamento, muitas vezes os usuários precisam ou são induzidos a pagar pe-las sessões por fora dos planos. “Muitos buscam o profissional por indicação e preferem o atendi-mento particular devido ao número reduzido de sessões estabelecido pelas operadoras, o que pode criar uma expectativa frustrada no paciente por não continuar o tratamento. Também temos co-nhecimento que ainda há um grande de número de pacientes que desconhece a inclusão do profissio-nal na cobertura dos planos de saúde. O importan-te sempre é o usuário exigir a cobertura”, orienta o CRP-SP.

Para Anice Holanda, do CFP, a indução ao paga-mento particular configura “postura anti-

ética do psicólogo”. Segundo o órgão, cabe reclamação ao CRP onde o fato ocorreu para a devida verificação e registro de queixa junto à opera-dora e à agência reguladora. “No âmbito da relação ética psicólogo-

-cliente, é importante toda a clareza das regras de prestação de serviço. A

limitação do número de sessões pela operadora é um fato preocupante, porém não pode ser tomado como falta ética do profissional, visto

que o mesmo tem um contrato com o plano de saúde e a não autorização de ativação do serviço de atendimento psicológico é responsabi-lidade da operadora. A questão central é a clareza de todos os pontos desde o início da prestação de serviços.”

Holanda esclarece ainda que a entidade participa e vem fazendo a gestão, assim como outras entida-des de classe, defesa do consumidor e representan-tes de outros segmentos, do complexo sistema de regulação da saúde suplementar por meio do qual a cobertura mínima dos planos de saúde é estabe-lecida. “Sabe-se que essa cobertura não atende a real demanda por assistência psicológica e, a cada revisão de cobertura, um novo enfrentamento é estabelecido em prol da ampliação do acesso. Nos últimos anos, apesar de haver reconhecidamente grande limitação, a série histórica mostra um au-mento gradativo do acesso.”

A gerente-geral de Regulação Assistencial da ANS, Raquel Lisbôa, informa que operadoras têm obrigação de disponibilizar prestadores de servi-ços para garantir o atendimento aos beneficiários no tempo oportuno. Os prazos para atendimento na rede credenciada são fixados pelo órgão regula-

dor (RN nº 259, de 17 de junho de 2011). Caso haja necessidade de locomoção para outro município, a operadora deve se respon-sabilizar diretamente pelo custeio das despesas com transpor-te. Se o beneficiário do plano de saúde for obrigado a pagar pelo transporte, a operadora deverá reembolsá-lo integral-mente. “Qualquer dificuldade de acesso às coberturas ga-rantidas pelo rol de procedimentos deve ser denunciada à ANS. É pelas informações recebidas dos consumidores que a agência fiscaliza e aplica as sanções e punições previstas na legislação, obrigando as operadoras a qualificarem o aten-dimento aos beneficiários de planos de saúde”, garante Lisbôa.

As operadoras que não disponibilizarem prestadores de serviços para garantir o atendimento dentro dos prazos estipulados pela ANS podem ser multadas (o valor varia de R$ 80 mil a R$ 100 mil), terem a comercialização dos planos suspensa ou até sofrerem o cancelamento do registro. Para o CFP, a discussão tem de ir além, com um diálogo amplo com a ANS para oferecer minimamente o que está na Constituição e na Lei de Refor-ma Psiquiátrica, que é o direito à saúde integral. “A discussão que queremos ampliar e levar para as operadoras e para o órgão regulador é que a ação do psicólogo na promoção e prevenção da saúde diminui custos, já que melhora a adesão do paciente aos tratamentos, diminui o uso de remédios, previne agravos e pode reduzir a necessidade de consultas e o tempo de internação", ressalva Anice Holanda.

Já a gerente da ANS afirma que a agência vem buscando alinhar a assistência em saúde mental na saúde suplementar às políticas estabelecidas pelo Minis-tério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), respeitando as particularidades existentes no setor. “Nesse sentido, além do que é estabele-cido como cobertura obrigatória pelos planos, o órgão estimula as operadoras a desenvolver programas de promoção e prevenção na linha de cuidado em saúde mental; desde 2005, há a inclusão de indicadores de saúde mental no Sistema de Informações de Produtos; e fóruns de discussão com os vários segmentos envolvidos são realizados”, justifica Raquel Lisbôa.

Prazos máximos de atendimento, segundo a RN 259

Raquel Lisbôa

Anice Holanda

MATÉRIA DE CAPA

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Serviços

Consulta básica - pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetríciaConsulta nas demais especialidadesConsulta/ sessão com fonoaudiólogoConsulta/ sessão com nutricionistaConsulta/ sessão com psicólogoConsulta/ sessão com terapeuta ocupacionalConsulta/ sessão com fisioterapeutaConsulta e procedimentos realizados em consultório/ clínica com cirurgião-dentistaServiços de diagnóstico por laboratório de análises clínicas em regime ambulatorialDemais serviços de diagnóstico e terapia em regime ambulatorialProcedimentos de alta complexidade (PAC)Atendimento em regimento hospital-diaAtendimento em regime de internação eletivaUrgência e emergência

Consulta de retorno

Prazo máximo de atendimento (em dias úteis)

7 14 10 10 10 10 10

7

3

10 21 10

21 Imediato

A critério do profissional responsável pelo atendimento

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Até 11 de outubro, o MASP apresenta a exposição “Histórias da loucura: desenhos do Juquery”, inaugurando um novo espaço expositivo no pri-meiro subsolo do museu. A mostra reúne cerca de 100 desenhos feitos por internos do Hospital Psiquiátrico do Juquery, localizado em Franco da Rocha, São Paulo. As obras eram parte da coleção de Osório César (1895-1979), fundador e diretor da Escola Livre de Artes Plásticas, que funcionou no hospital entre 1956 e meados da década de 1970.

Médico psiquiatra do Juquery por mais de quatro décadas, Osório foi um dos pioneiros no Brasil a pesquisar e a aplicar o uso da arte como recur-so terapêutico em pacientes psiquiátricos. Por acreditar tanto na potência artística dos internos quanto nas qualidades estéticas de seus trabalhos, o médico, que foi casado com a artista Tarsila do Amaral, promoveu exposições de desenhos e pinturas criados no Juquery. O MASP sediou duas delas: em 1948, um ano após a inauguração do museu, e em 1954. Em 1974, Osório doou sua coleção particular ao MASP, fato que atestava seu desejo de salvaguardá-la como um acervo de arte, ao invés de arquivá-la como parte de seus estu-dos. “Histórias da loucura: desenhos do Juquery” retoma o interesse do museu por essa inestimável coleção, possibilitando a recuperação de histórias plurais, que tratam tanto de sua própria história, quanto da produção desses autores que passaram a integrar um importante acervo de arte na con-dição de artistas.

Além disso, o título da exposição alude direta-mente ao livro “História da loucura”, do filósofo francês Michel Foucault, originalmente publicado em 1961. Nele, Foucault desenvolveu uma genea-logia das ideias e práticas referentes à construção e manutenção da noção de loucura na história do Ocidente. Dessa forma, as histórias a que o título da mostra se refere sugerem não apenas aquelas dos artistas da mostra, mas relatos mais amplos, que tratem também de acontecimentos, ideias, formas de arte e narrativas pessoais e ficcionais. São temas que o MASP pretende desenvolver em um projeto maior, denominado “Histórias da lou-cura”, do qual os desenhos de Juquery serviriam de capítulo inicial.

Novo espaço expositivo

O projeto expositivo ocupa um novo espaço no primeiro subsolo do MASP, dividido em duas salas. Uma delas é inteiramente dedicada aos 42 desenhos de Albino Braz, artista cujas obras foram exibidas na sessão "Imagens do inconsciente", da mostra Brasil 500 anos - artes visuais, em 2000, em São Paulo. A outra sala recebe mais de 50 desenhos dos artistas Pedro Cornas (o estudioso), J. Q., Claudinha D’Onofrio, Pedro dos Reis, Sebastião Faria, A. Donato de Souza, Marianinha Guimarães, Armando Natale, Augustinho, H. Novais.

Desenvolvido pela METRO Arquitetos, o projeto prevê a divisão do espa-ço, cujas paredes são de vidro, em dois ambientes separados, configurados por um sistema flexível de painéis em estrutura metálica, soltos do chão, o que permitirá outras configurações futuras. No interior dessas salas serão expostas as obras de arte, protegidas da incidência de luz direta. O objetivo é manter a transparência dos espaços do museu, sem comprometer a con-servação dos desenhos, naturalmente frágeis, por serem, em sua maioria, de lápis sobre papel.

Complementando a exposição, o MASP lança um catá-logo integral, com a reprodução de todos os desenhos apresentados na mostra. Dois ensaios introduzem a pu-blicação: um de autoria de Kaira M. Cabañas, professora visitante do Departamento de Letras da PUC-RJ, e outro concebido pela direção artística do MASP, que assina a curadoria da exposição.

Sobre o Juquery

O Hospital Psiquiátrico do Juquery, ora denominado Asilo de Alienados do Juquery, foi inaugurado em 1898. O projeto arquitetônico foi concebido por Ramos de Azevedo e a administração das primeiras décadas do complexo ficou a cargo do médico psiquiatra Fran-cisco Franco da Rocha, que dá nome à cidade-sede do hospital. Atualmente, o Complexo Hospitalar Juquery desenvolve uma política antimanicomial, com atividades ligadas à saúde e ao bem estar da população paulistana.

"Histórias da loucura: desenhos do Juquery"

Pedro dos Reis, Sem título (cabeça masculina)

EXPOSIÇÃO

Até 11 de outubro de 2015

Local: primeiro subsolo do MASP

Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP

Telefone: (11) 3149-5959

Horários: Terça a domingo: 10h às 18h (bilheteria aberta

até às 17h30); Quinta-feira: 10h às 20h (bilheteria até 19h30)

Ingressos: R$25,00 (entrada); R$12,00 (meia-entrada)

O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo, e às quintas-feiras, a partir das 17h.

O Congresso de Psiquiatria mais importante do mundo, da Associação Americana de Psiquiatria (APA), realizou-se entre 16 e 20 de maio, em Toronto, no Canadá. O tema desta 168ª edição foi “Psiquiatria: Integrando corpo e mente, coração e alma”. O evento é conhecido por apresentar inú-meras pesquisas em seus mais diferentes espectros. Uma delas procurou mostrar que a prática da espiritualidade e a religião está ligada a melhor qualidade de vida para pacientes que passaram por doenças como o câncer. Comandado pelo pesquisador Anthony Cannon, da Northwestern University, o estudo trabalhou com 551 pacientes sobreviventes de câncer, chegando à conclusão de que a religião ou qualquer tipo de prática ligada à espiritualidade ajuda as pessoas a lidarem com sentimentos de desesperança, depressão, pânico e ansiedade num contexto de incerteza do futuro. Moshe Szyf, do Instituto de Epigenética e Psico-biologia da McGill University, falou sobre a epi-

genética e os últimos estudos que demonstram como o ambiente

social tem impacto sobre a biologia do ser humano. “Um dos grandes mistérios é como coisas efêmeras, como o comportamento social, podem mudar coisas

físicas, como o ser humano. Hoje sabemos que o compor-

tamento social tem enorme im-pacto no fenótipo, especialmente no início da vida”, disse o especialista, em entrevista para o canal APA TV,

exclusivo do Congresso. Segundo ele, as ligações moleculares “conversam” com o DNA e o modi-ficam. “Essas descobertas nos ajudam a entender porque não temos uma base genética para muitas doenças mentais, a despeito de inúmeras pesquisas feitas na última década”. Na opinião de Moshe, a diferença entre a genética e a epigenética é que esta pode ser mudada, porque assim como as pro-teínas colocam suas marcas no DNA, essas marcas podem ser retiradas – por meio de medicamentos, por exemplo. A partir desta descoberta, as doenças mentais podem ser comparadas ao câncer. “É o mesmo mecanismo que acontece com o câncer, quando há mudança de DNA. É exatamente o que acontece com a doença mental em nível de genes. Então, não há diferença entre a doença física e a mental, elas estão conectadas.” Outra novidade foi a apresentação da vareniclina – farmacoterapia para cessação do tabagismo em pessoas com dependência da nicotina – como uma

Psiquiatria ganha novos contornos com descobertas sobre ciência, mente e espírito

droga supostamente eficaz para o tratamento do alcoolismo. Segundo Daniel Falk, administrador de Ciência da Saúde para o Instituto Nacional sobre Consumo de Álcool e Alcoolismo dos EUA, 8% dos americanos possuem problemas com álcool e 12%, com dependência de nicotina. Ainda, 3% possuem os dois problemas, o que representa cerca de 6 milhões de pessoas, apenas nos EUA. Devido ao sucesso nas pesquisas feitas até ago-ra, que desmontraram que a droga age no receptor chamado acetilcolina, a ideia é partir para um estudo mais amplo, randomizado, com seres humanos. Para o psiquiatra brasileiro Sérgio Teixeira Mendes, que esteve em maio na cidade de Toronto para acompanhar o encontro anual da APA, o congresso é “pura ciência”. “É feito por gente muita séria e consistente, e não há espaço para a indústria farmacêutica ficar fazendo propaganda”, disse. “O que mais me impressionou foi uma coisa chama-da cintilografia cerebral. Antes o que se via nos exames era um notebook de última geração, que é o cérebro. Era possível olhar para o notebook, mas ele estava desligado. O médico olhava uma ressonância magnética e dizia: ‘não tem tela trincada, não está faltando nenhuma tecla, aparentemente está tudo bem’. Na cintilografia, com essas novas técnicas de PET e SPET, é como se apertássemos uma tecla no notebook e conseguíssemos enxergar o comando. Estamos começando a ver o cérebro funcionando. O que é fascinante é que durante uma vida inteira eu mediquei pessoas e tinha uma leve ideia do que estava acontecendo. Mas, hoje, com o avanço da neurociência, começamos a fazer correlações”, conta Mendes.

Assim como foi demonstrado em diversos estudos durante o Congresso da APA, o comportamento está intimamente ligado à psiquiatria e seus trata-mentos. Sérgio Mendes destaca um dos assuntos mais importantes debatidos no Canadá, e que já gera enorme demanda nos consultórios mundo afora, inclusive aqui no Brasil. “Não vai ter psiquiatra no futuro suficiente para atender o que está por vir. Porque os nossos antepassados viveram obede-cendo à escuridão e à claridade. Como toda a natureza. E se você pensar que a luz elétrica tem menos de 200 anos, o que são 200 anos na evolução da espécie humana? Em muito pouco tempo o ser humano está subvertendo tudo. Teve um grande avanço, mas, por outro lado, se eu fosse medicar todo mundo que me procura com problema de insônia e com problema de memória! Você vê pessoas jovens que estão tendo branco, porque elas não dormem o suficiente. Ou muito pouco. Existe um estudo, e eu assisti à aula durante seis horas, sobre o ritmo circadiano. E isso é uma das coisas mais assustadoras e fascinantes no mundo de hoje”, releva. Segundo Mendes, os hábitos das pessoas tem contribuído para os distúrbios, como ligar um smartphone ou um tablet antes de dormir, ou jogar vídeo game, ou ir a uma festa numa quarta-feira às onze horas da noite quando se tem que acordar cedo no dia seguinte. “A luz que emana da tela, por exemplo, ativa o tronco cerebral. Muito do que hoje está fazendo com que as pessoas tenham o fun-cionamento prejudicado é a falta de esclarecimento e conhecimento. Como médico a gente tem obrigação de alertar. E isso vai ser uma coisa alarmante. A psiquiatria vai ter uma demanda explosiva. Não vai ter é psiquiatra bem formado para atender a todos”, conclui.

O próximo Congresso da Associação Americana de Psiquiatria será de 14 a 20 de maio de 2016, em Atlanta (Georgia, EUA). Saiba mais sobre a edição de 2015 em www.apa.org.

CONGRESSO

Moshe Szyf

Daniel Falk

Em tempos de uma “ditadura da felicidade”, o estúdio Pixar teve a ousadia de mergulhar no interior das emoções. Criou uma animação brilhante e corajosa, que se propõe a debater a importância dos sentimentos para o ser humano – sejam eles bons ou ruins. No mundo superficial em que vivemos, no qual os posts das redes sociais estão a escancarar uma alegria frívola, o filme "Divertida Mente" mostra que a vida nem sempre é diversão. Desta vez não são brinquedos nem monstros os protagonistas. Os sentimentos, cinco deles, é que tomam as rédeas do roteiro, e levam adiante uma história que passeia pelo cérebro de uma menina de 11 anos, chamada Riley.

Nascida no Meio Oeste americano, Riley se vê obrigada a ter de lidar com a frustração quando seus pais decidem se mudar para São Francisco, na Califórnia. Até aí, nada de original. O enredo se passa, no entanto, 90% dentro da cabeça da menina, comandada a princípio pela Alegria. É ela quem rege a mente da garota, e em alguns momentos força a barra para que nada saia dos trilhos, e para que as memórias e experiências de Riley estejam sempre à beira da euforia. Chega a criar um círculo imaginário, e a determinar que Tristeza não saia dali, para que não toque em nada e não faça as lembranças tristes florescerem. Ao lado de Medo, Raiva e Nojinho, Tristeza age como coadjuvante, até a página dois.

O filme, em seu conjunto, é uma grande alegoria emocional. E conse-gue explicar a mente humana de maneira didática, sem ser sacal. Os roteiristas se fazem entender até mesmo pelas crianças menores, e arrancam risadas e compaixão do público. As memórias são retratadas por pequenos balões de vidro, sensíveis ao toque, e de cores diferen-tes – cada um representando um sentimento. O inconsciente é um grande porão imundo, guardado por vigias e uma porta de madeira imensa e assustadora. Os sonhos, hilários, são produzidos ao vivo, como em sets de cinema.

A história de fato começa a ficar interessante quando Alegria e Tris-teza se perdem da sala de comando. É quando Alegria deixa de liderar as emoções da menina e, aparentemente, tudo começa a dar errado. Em busca de retornar ao seu posto de comandante, Alegria realiza um verdadeiro tour pela mente da garota. Quase vira uma memória esquecida, passa pelo mundo dos sonhos, pelo inconsciente, vê os alicerces da mente se

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desmoronarem ao longo do tempo, e teme nunca mais conseguir voltar. Chega a deixar Tristeza de lado, em nome do sucesso de sua empreitada. Ao encontrar o amigo imaginário da primeira infância da garota, Bing Bong, Alegria consegue ajuda para retornar. De maneira lúdica, e extre-mamente poética, consegue transpor o abismo das emoções perdidas montada num carrinho mágico que voa – pura fantasia. Neste passeio pela mente de Riley, que dura quase o filme todo, Alegria se dá conta de que precisa deixar Tristeza agir ao invés de contê-la. Percebe que as memórias são feitas de todos os sentimentos, que não podem ser ignorados. E que o choro represado precisa sair quando não mais se contém. Porque chorar é humano. E estar triste, também.

Há muito de psicanálise em "Divertida Mente". Muito de melancolia, de vida real. E também muita crítica à maneira como estamos encarando o mundo contemporâneo, regado a antidepressivos, coachs da felicidade e sorrisos forçados.

A recomendação é: reúna filhos e sobrinhos para ver o filme, assim terá uma desculpa para assisti-lo. Mas não se trata de uma história para crianças. E esteja preparado para deixar vir à tona seus sentimentos. Todos eles. Porque o longa de Peter Docter (direção) é como a vida: assim... uma montanha russa.

CRÍTICA DE CINEMA

Nem sempre diversãoPor Aline Moura