Mestrado Allan Rocha Damasceno A formação de professores e os desafios para a educação inclusiva as experiências da escola municipal leonidas sobrino porto

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    FACULDADE DE EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    DISSERTAO DE MESTRADO

    A FORMAO DE PROFESSORES E OS DESAFIOS PARA

    A EDUCAO INCLUSIVA: AS EXPERINCIAS DA

    ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO

    Por

    Allan Rocha Damasceno

    Sob a orientao da

    Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa

    ABRIL

    2006

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    ALLAN ROCHA DAMASCENO

    A formao de professores e os desafios para a educao

    inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino

    Prto

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Educao da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Educao.

    ORIENTADORA: Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa

    Niteri

    2006

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Ficha catalogrfica

    Damasceno, Allan Rocha A formao de professores e os desafios para a

    educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal

    Lenidas Sobrino Prto / Allan Rocha Damasceno.

    Niteri: 10/04/2006.

    194 p., 3 cm.

    Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade

    Federal Fluminense, 2006.

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    ALLAN ROCHA DAMASCENO

    A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Aprovada em abril de 2006

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Educao da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Educao.

    BANCA EXAMINADORA

    Niteri

    2006

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    DEDICATRIA

    minha famlia: Gilson, Rose e Amanda, meu eterno ninho;

    Tutuca, meu especial tio;Ruth, minha me e av.

    Janana, minha incentivadora, com quem tenho uma dvida impagvel.

    A Yago, um educando mais que especial em minha vida!

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    AGRADECIMENTOS

    Gostaria inicialmente de agradecer a Deus por permitir que esteja aprendendo e

    crescendo um pouco mais a cada dia.

    A meus pais que sempre me incentivaram e minha irm querida meus sinceros

    agradecimentos pela presena preciosa.

    A minha Janana pela pacincia, perseverana e amor devotado durante toda a

    realizao deste trabalho. querida Ana Clara pelas horas que no pude me dedicar ao

    brincar to precioso para ela, minhas desculpas e a certeza de que voc um dia entender

    que papai alm de ter um grande desafio a ser vencido, no podia se furtar em promover

    esse debate to necessrio e importante no cenrio educacional brasileiro.

    minha orientadora, interlocutora e amiga, Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa,

    no tenho palavras para expressar tamanha gratido e, com certeza, se me atrevesse a

    escolher algumas, nesta pequena pgina no haveria espao suficiente. Obrigado por tudo

    Valdelcia, voc um cone na educao brasileira.

    Aos professores que participaram deste estudo, coordenao e direo da Escola

    Municipal Lenidas Sobrino Prto, que abriram as suas portas, tornando possvel

    investigar como vem se dando o processo inclusivo naquele espao educacional.

    Enfim, agradeo a todos os amigos de c e de l, que contriburam para a realizao

    de minha dissertao de mestrado.

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    Todo o acto educativo um acto feito de desafio, de imprevisvel, de novo. no confronto com as

    exigncias que o quotidiano nos traz, que nos vamos fazendo mais e melhores educadores.

    (Peas, 2003, p. 141)

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    SUMRIO

    APRESENTAO..................................................................................................................

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    CAPTULO I - FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA: OS DESAFIOS DA FORMAO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA ................................

    20

    CAPTULO II - A FORMAO DE PROFESSORES FRENTE DEMANDA DAS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS ESTUDANTES COM DEFICINCIA ......................

    33

    1. A DEMOCRATIZAO DA ESCOLA NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA .....

    33

    2. A FORMAO DE PROFESSORES PARA A AUTONOMIA E A EMANCIPAO PELA DEMOCRATIZAO DA ESCOLA .................................

    44

    CAPTULO III - A FORMAO DE PROFESSORES PARA A INCLUSO ESCOLAR DE ESTUDANTES COM DEFICINCIA ............................................................................

    61

    1. EDUCACAO INCLUSIVA: SEUS FUNDAMENTOS HISTRICOS, FILOSFICOS E LEGAIS .............................................................................................

    64

    2. FORMAO DE PROFESSORES E ESCOLA INCLUSIVA: A QUESTO DO PRECONCEITO ..............................................................................................................

    93

    CAPTULO IV - DEFICINCIA VISUAL, AUDITIVA E MENTAL: SEUS ASPECTOS EDUCACIONAIS ..................................................................................................................

    104

    CAPTULO V - EDUCAO INCLUSIVA E AS EXPERINCIAS DOS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO ...............................................................................................................................

    147

    1. A FORMAO DOS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO .......................................................................

    149

    a. A FORMAO DOS PROFESSORES: SUAS DIMENSES ACADMICAS E

    PROFISSIONAIS .....................................................................................................

    163

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    2. AS CONCEPES SOBRE A ESCOLA INCLUSIVA: O QUE PENSAM AS PROFESSORAS DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO ...........................................................................................

    169

    CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................

    182

    REFERERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..............................................................................

    190

    ANEXOS ................................................................................................................................

    196

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    TABELA DE ILUSTRAES

    Figura Ttulo Autor URL Pgina

    1 Viva a diferena No divulgado www.veradias.pro.br 1

    2 Dane of youth Pablo Picasso www.allposters.com 7

    3 Education is the key to success

    Joysmith Brenda

    www.jbgallery.com 20

    4 Projeto de valorizao da cultura

    afro-brasileira na escola pblica

    No divulgado http://200.198.51.40/sistema/projetos/transfer/diver

    sidade

    48

    5 Deficiente: para o povo essa histria

    uma lenda

    No divulgado http://portal.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhosecoordenadorias/deficien

    tes

    91

    6 Claude dessinant, Francoise et Paloma

    Pablo Picasso www.arteemcasa.com 134

    7 Abaporu Tarcila do Amaral

    www.tarciladoamaral.com.br

    168

    8 Reading, 1875 - 1876 Pierre A. Renoir

    www.allposters.com 177

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    RESUMO

    Em minha dissertao realizei um estudo no qual investiguei a formao dos professores com vistas organizao da escola inclusiva. Busquei investigar questes: Como democratizar a escola, se seus professores permanecem atrelados s amarras conservadoras impostas pelo pensamento dominante? Como pensar em escolas inclusivas organizadas por professores que no se percebem capazes de elaborar sua prtica pedaggica com base em aes reflexivas? A formao de professores, tanto inicial, quanto continuada tem contribudo para/na organizao de escolas inclusivas? Este estudo se baseou, sobretudo, no pensamento de Theodor Adorno, representante da teoria crtica da escola de Frankfurt e de alguns de seus comentadores, onde procurei discutir a formao docente possvel, no atual estgio civilizatrio, que no d conta do atendimento da diversidade dos estudantes com deficincia, pois sua dimenso unicamente adaptativa no vem sendo ainda capaz de possibilitar aos professores a reflexo necessria para o desenvolvimento de sua autonomia, com vistas sua emancipao. Portanto, embora a formao docente possvel no contemple as diferenas dos estudantes, pensando-as, sobretudo, como inerentes condio humana, logo se faz necessrio atualmente pensar para alm dessa, na busca da superao dos limites impostos pelo desconhecimento acerca das necessidades educacionais especiais dos estudantes com deficincia. Tendo, ento, como eixo norteador a formao crtica dos professores para a autonomia docente, com vistas organizao de escolas inclusivas analisei algumas dimenses, como a educao e emancipao; educao e poltica; educao e sensibilizao. A incluso escolar deve ocorrer por intermdio da mudana de concepo sobre educao, deficincia, escola, dentre outras categorias, e no apenas com base nos dispositivos legais ou por algum tipo de ao autoritria. O movimento inclusivo escolar de estudantes com deficincia , sobretudo, sensibilizar os professores pela reflexo crtica acerca de sua formao e de sua prtica pedaggica. Analisei tambm a educao inclusiva e suas possibilidades no desenvolvimento de sentimentos de solidariedade e respeito entre professores e estudantes, deficientes e no deficientes, para o acesso a uma educao emancipadora. Foram analisadas as questes legais que amparam a incluso escolar de estudantes com deficincia na rede regular de ensino; as possibilidades na organizao de escolas inclusivas; a incluso escolar de estudantes com deficincia como um processo em andamento; a relao entre a incluso escolar e o preconceito, com base no pensamento de autores como Crochk e Costa, entre outros, que possibilitaram aprofundar minhas reflexes crticas acerca da gnese do preconceito na sociedade e sua manifestao pelos indivduos. Ainda analisei os aspectos educacionais que envolvem a deficincia visual, auditiva e mental, presentes na escola estudada. Os resultados deste estudo, que foi realizado em uma Escola de Ensino Fundamental da Rede Pblica do Municpio do Rio de Janeiro, teve como sujeitos a diretora adjunta e quatro professoras da instituio. Por intermdio de entrevistas semi-estruturas com os profissionais da escola, foi possvel perceber que o caminho a ser percorrido para a organizao da escola inclusiva muito extenso, contudo necessrio. Os resultados obtidos no locus de meu estudo permitiram concluir que a formao dos professores tem contribudo pouco, de sobremaneira, no combate e na superao da excluso dos estudantes deficientes, sobretudo pelo escasseamento do debate em torno dessa questo. Mesmo sentindo-se um tanto solitrios no movimento de incluso escolar, os professores da escola utilizam a experimentao como um dos recursos no fazer pedaggico frente s demandas dos estudantes deficientes. Dentre as consideraes finais, penso que a principal contribuio de meu estudo a possibilidade da crtica sobre a formao profissional, inicial e continuada do professor, que tem sido predominantemente voltada para a reproduo de fazeres pedaggicos, o que vem obstando ou retardando o processo de incluso escolar de estudantes deficientes na escola pblica inclusiva. Palavras-chave: formao de professores; educao e escola inclusiva; necessidades educacionais especiais.

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  • A f ormao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

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    ABSTRACT

    In my composition I accomplished a research witch I investigated a teacher formation craving the inclusive school organization. I searched for reasons: How could be possible to democratize the school, if its teachers maintain themselves linked by conservatory hawsers imposed by the ruling thoughts? How can we think about inclusive schools organized by teachers that do not seem to be able to create their own pedagogical practice based on reflective actions? Had the teachers formation (as initial as continuous) contributed for/in the inclusive schools organization? This research was based on, above all, the Theodor Adorno thoughts, an author of Frankfurt School, where I tried discussed the possible teaching staff formation, in current civilizatory stage that is not able to attend the disable students diversity, because its uniquely adaptable dimension has not being capable to make possible to the teachers the necessity reflection development of their autonomy, craving for a emancipation. Consequently the possible teaching staff formation does not perceive the differences of the students, thinking about them, above all, how inherent to the human condition, so making necessary nowadays thinking beyond this, in the quest for limit-breaks impost ignorance near to the specials educational need of the disable students. Having, then, like guide axle the criticism formation of the teachers for the teaching staff autonomy, craving the inclusive schools organization I analyzed some dimensions with the education and emancipation; education and politics; education and sensibility. The school inclusion should happen by the intermediate of the conception change about education, disability and school, between others categories, and not just based on legal apparatus or by some kind of authority actions. Inclusive school movement of disable students is, above all, to sensibilize the teachers by the criticism reflection around their own formation and pedagogical practice. I analyzed too the inclusive education and their possibilities in the development of the solidarity feelings and respect between the teachers and students, disable and not disable, to the access of a emancipative education. The legal reasons that take care of school inclusion of disable students in the regular teaching web were analyzed; the possibilities in the inclusive schools organization; the school inclusion of disable students like a current process; the relation between school inclusion and the prejudice, based on the thoughts of the authors like Crochk and Costa, and others, that make possible to deepen my criticism reflections around the genesis of the prejudice in the society and its manifestation by each human being. I also analyzed the educational aspects that involve the visual, mental and auditory disabilities in view in the studied schools. The results of this study, that was accomplished in a Elementary school of the public web Municipality of Rio de Janeiro, had like subject the adjunct directorship and four teachers of the institution. By the intermediate of interview half structure with the school professionals, it was possible to perceive that the way we must travel over for the inclusive school organization is too long, however necessary. The results got in the locus of my study allows me to conclude that the teacher formation has contributed only a little, excessively, in the combat and the surmount of the exclusion of the disable students, above all scarcity of the debate pointed. Even feeling a kind solitary I the movement of the school inclusion, the schoolteachers utilized the experimentation like one of the resources in the pedagogical doing in front of the demands of the disable students. In the finals considerations, I think that the mainly contribution of my study is the possibility of the criticism about the professional formation, initial and continuous of the teacher that had been predominantly turned to the reproduction of the pedagogical doing, what come hindering retarding the process of the school inclusion of the disable students in the inclusive public school. Keyword: Teacher formation; education and inclusive school; special educational needs.

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    A diferena a essncia da humanidade

    Figura 1

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    A educao tem sentido unicamente como educao dirigida a uma auto-reflexo crtica.

    A exigncia que Auschwitz no se repita a primeira de

    todas para a educao.

    Theodor Adorno

    APRESENTAO

    Este estudo representou para mim em mais uma oportunidade de viver experincias,

    que na sociedade da homogeneizao tm sido dificultadas aos indivduos.

    Colocar-me no movimento de viver essa experincia me fez relembrar a minha

    trajetria de professor, e atrelada essa, a minha trajetria humana.

    A experincia do convvio com a deficincia vem de longa data. Ter um tio

    deficiente fez-me despertar, ainda precocemente, para a diversidade humana. Esse convvio

    possibilitou-me compreender que a idia da deficincia como incapacidade estava

    completamente equivocada. Entretanto, o olhar de censura, de condescendncia, de

    preconceitos que o cercavam me levava a questionar a prpria condio do ser deficiente.

    Contudo, ainda no possua elementos que pudessem me apoiar a elaborar a idia de

    deficincia, e da, a dialogar com outras compreenses, que estivessem alm das que

    comumente so difundidas.

    A opo pelo exerccio do magistrio, penso hoje, relaciona-se exatamente com a

    idia que cultivava sobre a possibilidade infinita do ser humano aprender, mesmo com

    questes objetivas presentes, como a deficincia. A escolha pela rea de atuao, a fsica,

    foi norteada com base nas dificuldades que observava, quando estudante no Ensino Mdio,

    nos colegas que percebiam naquela rea do conhecimento um grande quebra-cabea, um

    saber cujo entendimento era possvel apenas a poucos. O descontentamento com todo esse

    contexto levou-me, ainda no terceiro perodo do Curso de Fsica na Universidade a

    investigar as causas dessas dificuldades e a desenvolver estudos voltados para essa direo.

    14

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Os resultados desses estudos se tornaram publicaes apresentadas em congressos

    da rea, com ateno especial meno honrosa concedida pela Universidade a um, dentre

    os trabalhos que desenvolvi a poca.

    No meu trabalho de concluso do curso de Fsica, investiguei e desenvolvi

    propostas metodolgicas de ensino de fsica para estudantes com dificuldades de

    aprendizagem. Recordo-me de ter ouvido de uma das avaliadoras da banca: Eu se fosse

    voc investiria nessa rea. Voc se revela no que faz!. Nunca mais esqueci essa afirmao.

    Em minha primeira experincia em sala de aula como professor, em uma Escola de

    Ensino Mdio Profissionalizante, localizada no Municpio do Rio de Janeiro, pude perceber

    que, entre tantos estudantes, havia um especial.

    Yago1, seu nome. Ao encontr-lo em minha classe o percebi muito distante, mas

    acolhido por alguns colegas que se identificavam com sua humanidade.

    Uma questo me afligiu naquele momento: Como trabalhar de maneira a atender as

    demandas educacionais daquele estudante? Como acolher Yago? Em nenhum momento em

    minha formao havia participado de debates que contemplassem as necessidades especiais

    de estudantes deficientes. Contudo, havia o desejo em ajud-lo. Sentia-me sensvel ao seu

    acolhimento.

    Embora tenha sentido medo, no me permiti imobilizar. Percebendo que existia a

    necessidade de me movimentar, busquei apoio junto aos pares. Minhas experincias no

    foram exitosas, no primeiro momento. Os demais professores, como eu, tambm no se

    reconheciam naquela realidade. Existia uma grande diferena entre ns: Eu no me

    contentava com que Yago estivesse margem.

    Naquele contexto, verifiquei que a melhor opo era aprofundar os estudos que j

    realizava como autodidata. Foi no Curso de Especializao em Educao Especial da

    Universidade Federal Fluminense, onde encontrei elementos para poder intervir melhor

    naquele contexto.

    Dessa experincia, pude avanar e verificar que o problema que me afligia era

    extensivo a um contexto muito maior. Assim como eu, muitos outros professores estavam

    vivendo o dilema da incluso escolar de deficientes. Entretanto, as minhas observaes me

    revelaram que o medo que eu havia sentido, e que era recorrente, no os colocavam, em sua

    1 Neste estudo todos os sujeitos so identificados por pseudnimos.

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto maioria, no movimento que ocorrera comigo. Muitos professores se imobilizavam frente

    mudana necessria, mas nem por isso simples de ser realizada.

    Pensei: Como contribuir para minha diferenciao como indivduo professor, como

    tambm possibilitar o debate acerca das lacunas que existiram em minha formao, para

    que essas no se afirmem como elemento dificultador na formao de meus colegas

    professores e, conseqentemente, em mais um obstculo incluso escolar dos estudantes

    deficientes?

    Nesse sentido, apresento minhas contribuies apresentadas neste estudo. Com base

    nas reflexes do pensamento de Adorno, representante da Teoria Crtica da Sociedade,

    debato a formao de professores possvel na sociedade contempornea.

    Analisando as categorias como educao para a democratizao; educao para

    emancipao; educao poltica; educao e preconceito; educao para a sensibilizao;

    entre outras, busquei compreender a dimenso adaptativa que tem sido priorizada na

    formao dos professores, que no pode ser negada, mas que no tem oportunizado o

    desenvolvimento da autonomia e emancipao desses indivduos.

    com a premissa de que a formao dos professores, afastando-se da idia de sua

    dicotomizao inicial e continuada, embora sem neg-la, no tem oportunizado a

    diferenciao dos indivduos na sociedade da homogeneizao, que inicio o debate.

    Desse ponto podemos inferir: Como pensarmos uma educao que se volte para a

    diversidade e a diferena dos estudantes, se o enfoque nos estudantes homogneos,

    iguais? Como pensarmos em uma educao inclusiva se no reconhecemos a diversidade

    dos estudantes como sendo a essncia de sua humanidade? Como pensarmos em uma

    sociedade democrtica com a manuteno de escolas excludentes?

    Portanto defendo a idia de que antes de pensarmos em capacitao e

    aperfeioamento para professores em servio, incorporao de debates na formao inicial,

    que se voltem prioritariamente para o como fazer, o que considero reducionista, o

    movimento de repensarmos a formao que aponte para alm da adaptao, possibilitando

    o desenvolvimento da autonomia docente, migrando para o com base em minhas reflexes

    vou (vamos) realizar.

    A primeira pergunta a essa afirmativa a de que, de fato, isso uma transferncia

    de responsabilidade, projetando-a exclusivamente para o professor? Essa argumentao

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto desconstruda quando o professor considerado como mais um agente, que considero nesse

    momento como elemento-chave para a efetivao do processo inclusivo, que deve partilhar

    as responsabilidades junto aos rgos competentes e demais membros da sociedade pela

    redemocratizao da escola, alm dos profissionais da escola. A responsabilidade de

    todos, mas caber ao professor possibilitar o acolhimento e atendimento das necessidades

    educacionais especiais dos estudantes deficientes em sua sala de aula, uma vez que o

    sistema no vem sendo capaz de atender responsavelmente a complexa estrutura de

    transio da escola exclusiva para a escola inclusiva.

    Dessa forma, elaborar minha dissertao tornou-se um desafio, um entre muitos a

    serem vividos em minha formao. Escrev-la levou-me a entender minha fragilidade

    humana e da concluir que no somos imunes ao preconceito.

    Ter elaborado minha dissertao me fez perceber que na sociedade da

    homogeneizao, da ideologia dominante, o germe da emancipao est presente, assim

    como o aprisionamento ideolgico. E, penso que a autonomia est acessvel pela reflexo

    crtica, em minha compreenso, uma instncia de resistncia barbrie.

    Hoje, ao discutir sobre a escola inclusiva, penso em transformao social, em

    retomada da democratizao do Brasil. E, ao pensar em redemocratizao a associo

    liberdade, ao desenvolvimento da sensibilidade com vistas emancipao, organizao de

    uma sociedade mais justa e humanizada, portanto constituda por pessoas felizes.

    Foi nesse movimento que elaborei minha dissertao, que divide-se nas seguintes

    partes: a apresentao, com os fundamentos para a definio do objeto de estudo; o

    primeiro captulo onde apresento o tema e a formulao da situao-problema, onde

    procuro apontar os desafios da formao de professores para a escola inclusiva, e

    discuto a formao do professor como questo de estudo necessria para o entendimento do

    atual processo de incluso escolar de deficientes.

    No segundo captulo foi desenvolvido o tema da formao de professores frente

    demanda das necessidades especiais dos estudantes com deficincia; enfocando a

    democratizao da escola na sociedade contempornea, discutindo a incluso escolar no s

    como movimento de redemocratizao da escola, mas tambm como processo de mudana

    nas estruturas sociais, e debatendo ao mesmo tempo a formao de professores para a

    17

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto autonomia e emancipao, buscando a compreenso da formao no pensamento de

    Adorno, Costa, Crochk, dentre outros autores.

    No terceiro captulo, debato os aspectos presentes no processo de incluso escolar,

    em especial os seus fundamentos histricos, filosficos e legais, e apresento minhas

    reflexes sobre a questo do preconceito e a sua relao com a formao dos professores

    considerando a escola inclusiva.

    No penltimo captulo, o quarto, discuto aspectos educacionais no processo de

    escolarizao de estudantes que apresentam deficincia visual, auditiva e mental,

    identificadas nos estudantes da escola estudada.

    Finalmente, o quinto captulo refere-se apresentao e anlise dos dados coletados

    nas entrevistas realizadas com as professoras da Escola de Ensino Fundamental regular,

    Lenidas Sobrino Prto, pertencente Rede Municipal do Rio de Janeiro, onde destaco

    questes ligadas estruturao e organizao da educao inclusiva, com nfase nos

    aspectos da formao dos professores dessa Escola.

    Espero que minhas contribuies nesta dissertao, dando continuidade s minhas

    experincias, possam contribuir para a reflexo acerca da formao do professor, se

    contrapondo aos impedimentos postos incluso de estudantes com deficincia na mesma

    escola.

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Educao Inclusiva: por uma escola-mundo

    onde caibam todos os mundos Figura 2

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Educar alunos com deficincia tarefa a ser desenvolvida pelo professor no cotidiano escolar em parceria com esses mesmos alunos

    Valdelcia Alves da Costa

    Uma escola que se desenvolve fugindo aos conflitos uma escola dbil

    Amrico Peas

    CAPTULO I - FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA: OS

    DESAFIOS DA FORMAO DE PROFESSORES PARA

    A ESCOLA INCLUSIVA

    A problemtica deste estudo vincula-se questo da formao dos professores, em

    particular os que atuam ou iro atuar em classes inclusivas. Embora minha anlise possa se

    estender para a questo da formao dos professores de maneira geral, entendo que meu

    objeto de pesquisa necessita se particularizar, considerando os limites do estudo.

    Versando meu estudo sobre a formao do professor para e na escola inclusiva,

    tendo como pressuposto que essa se configura no espao pedaggico que considero, assim

    como os pesquisadores da educao (Costa, Glat, Carvalho, dentre outros), como sendo o

    mais adequado para o atendimento dos estudantes deficientes, apresento algumas

    orientaes defendidas por Ainscow (1995), autora com experincias internacionais sobre a

    realidade da formao de professores para a escola inclusiva.

    A primeira considerao que destaco aponta para as recomendaes de outras

    realidades internacionais, incorporadas aqui com base nas experincias de Ainscow (1995,

    p. 14), que esto em consonncia com as analisadas por outros estudiosos da formao de

    professores para a incluso escolar de estudantes com deficincia1 no Brasil, como Costa,

    Crochk, dentre outros:

    1 Aditarei neste trabalho algumas nomenclaturas que se referem ao mesmo grupo de indivduos. Quando me referir aos estudantes com deficincia, estarei tratando daqueles que possuem alguma deficincia objetiva, como por exemplo: surdez ou cegueira. Excepcionalmente, tambm poderei me referir a estes sujeitos como estudantes com necessidades especiais.

    20

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Ao encorajarmos os professores a explorarem formas de desenvolver a sua prtica, de modo a facilitar a aprendizagem de todos os alunos, estamos, porventura, a convid-los a experimentarem mtodos que, no contexto da sua experincia anterior so estranhos. Consequentemente, necessrio empregar estratgais que lhes reforcem a auto-confiana e que os ajudem nas decises arriscadas que tomarem. A nossa experincia diz-nos que uma estratgia eficaz consiste em implicar a participao dos professores em experincias que demonstrem e estimulem novas possibilidades de aco.

    Nesse sentido, se faz necessrio que o professor desenvolva um senso crtico, para

    que enfrente o desafio, novo para todos, que ensinar na e para a diversidade de seus

    estudantes. E, sobre a orientao que pensa que pode ser dada aos professores no

    desenvolvimento dessa capacidade, Ainscow (1995, p. 17), esclarece:

    Esta orientao acompanha o pensamento actual no mundo da formao dos professores em que se aceita, de forma crescente, que a prtica se desenvolve a partir de um processo fundamentalmente intuitivo, atravs do qual os professores ajustam os seus planos de aula, a sua actuao e as sua respostas luz do feedback dos elementos da sua classe.

    E acrescenta (1995, p. 17):

    Para alm de se sublinhar a importncia de se dar aos professores oportunidades de considerarem novas possibilidades, a outra estratgia que consideramos til consiste no apoio experimentao na sala de aula atravs de formas que encorajem a reflexo sobre as actividades. A chave desta estratgia que consideramos til consiste no apoio experimentao na sala de aula atravs de formas que encoraje, a reflexo sobre as actividades. A chave desta estratgia situa-se na rea do trabalho em equipe. Encorajamos, especificamente, os professores a formarem equipes e/ou partenariados em que os respectivos membros concordem em se ajudar uns aos outros a explorar aspectos da sua prtica.

    A referida autora (p. 18) recomenda o trabalho em equipe e a experimentao como

    sendo direes possveis para o desenvolvimento das aes docentes que atendam s

    demandas de aprendizagem dos estudantes com deficincias na escola inclusiva.

    21

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Atravs de todos este processos de trabalho em equipe e em partenariado dada forte nfase quilo que Gidin (1990) chama de dilogos. Esta forma de reflexo crtica, realizada em colaborao com os colegas, especialmente importante na rea das necessidades educativas especiais. Especificamente, as nossas tradies levaram-nos a conceptualizar o trabalho de uma forma relativamente estreita, em que foram excludas muitas possibilidades que poderiam ter gerado melhores oportunidades para as crianas que pretendemos ajudar. Especificamente, as nossas tradies levaram-nos a olhar para o nosso trabalho fundamentalmente em termos tcnicos.

    A reflexo crtica por parte dos professores, que o fio condutor da linha de anlise

    deste trabalho, est presente nas experincias de Ainscow, como capaz de promover a

    mudana das idias que derivem em aes factualmente acolhedoras e inclusivas, pois a

    ausncia dessa capacidade promoveria certas implicaes, como destacado por Ainscow

    (1995, p.18):

    No entanto, quando as abordagens so aplicadas de forma acrtica, podem conduzir a formas de trabalhar que continuam a manter, em relao a certas crianas, os pontos de vista baseados na deficincia. Assim, necessrio ajudar os professores a aperfeioar-se como profissionais mais reflexivos e mais crticos, de modo a ultrapassarem as limitaes e os perigos das concepes baseadas na deficincia.

    Ou seja, a ausncia da reflexo contribuir para afirmar a excluso dos estudantes

    com deficincia da escola regular. Assim, necessrio se faz que os professores sejam

    apoiados a entenderem, enfrentarem e superarem os limites pedaggicos e atitudinais

    postos incluso escolar dos estudantes com deficincias, como destacado por Ainscow

    (1995 p. 20):

    Deste modo, possvel sensibilizar os professores a novas formas de pensar que lhes desvendaro novas possibilidades para o aperfeioamento da sua prtica na sala de aula. Isto implica que no nos limitemos a preocupar-nos com mtodos e materiais e que levemos os professores a tornarem-se pensadores reflexivos e a sentirem a confiana suficiente para experimentarem novas prticas, luz do feedback que recebem dos seus alunos.

    22

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto Entendo que a formao de professores para o atendimento da diversidade dos

    estudantes com deficincias, no dever apenas se circunscrever em torno dos mtodos e

    tcnicas, porque apenas esses no daro conta das diversas e diferentes condies

    pedaggicas no previstas do cotidiano escolar inclusivo. Os professores que tero que

    desenvolver uma postura investigativa para o enfrentamento e superao dos desafios

    cotidianos.

    E, embora a questo parea se fechar em torno da reflexo crtica dos professores,

    Ainscow (1995, p. 21) alerta para a necessidade de no se limitar a questo em torno do

    indivduo. Ou seja, alm dos profissionais elaborarem suas reflexes com base em suas

    percepes e anlises, a necessidade de debater suas experincias condicional para que o

    projeto da escola inclusiva se torne exitoso:

    Assim, embora a reflexo seja uma condio necessria para a formao profissional, no suficiente. Tem de ser acrescida por confrontaes com pontos de vista alternativos. Da a necessidade de se criarem oportunidades para realizar experincias de demonstrao de formas diferentes de trabalhar em colaborao com os colegas.

    Ante o exposto, possvel cotejar com a realidade brasileira, e afirmar que h em

    nosso meio educacional uma demanda por professores capazes de elaborarem concepes

    educacionais e pedaggicas com base em reflexes, tornando-se assim autores de sua

    prpria prtica pedaggica. Ou seja, vivemos em um contexto escolar atual onde os

    professores se tornaram reprodutores de prticas institudas, muitas vezes pelo prprio

    sistema de ensino, contribuindo para a manuteno de estruturas das quais deveriam ser, a

    priori, seus reelaboradores. Nesse sentido, proponho algumas questes de anlise

    relacionando-as formao de professores e organizao de escolas inclusivas, cerne do

    meu estudo:

    Como tornar a escola inclusiva se seus professores permanecem atrelados s amarras de uma prtica pedaggica tradicional decorrente de uma

    formao docente conservadora ainda dominante?

    23

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Como pensar em escolas inclusivas organizadas por professores que no se percebem capazes de elaborar sua prpria prtica pedaggica com base em

    reflexes crticas e experimentaes junto com seus estudantes?

    A formao de professores, inicial e continuada, tem contribudo para a organizao de escolas inclusivas?

    Os desafios postos organizao de escolas inclusivas esto presentes no processo de formao dos professores, tanto inicial quanto continuada?

    Quais os elementos presentes no processo de formao (inicial e continuada) que contribuem para a organizao de escolas inclusivas?

    Como enfrentar ou mesmo superar, pela formao crtico-reflexiva, os desafios postos incluso de estudantes com deficincia na escola

    regular?

    As experincias vividas pelos professores, tanto profissionais quanto acadmicas, tm contribudo para a organizao de escolas inclusivas? De

    que maneira?

    Como os professores podem ser apoiados em sua atuao docente para tornar possvel a organizao de salas/escolas inclusivas?

    No caso da educao escolar inclusiva, minha experincia como professor de fsica

    do ensino regular, atuando em escolas com estudantes deficientes includos, revelou-me

    que existe uma grande resistncia dos professores desse nvel de ensino em acolher esses

    estudantes em suas salas de aula. Muitos so os fatores alegados para afirmar a segregao,

    como falta de preparo profissional, carncia de cursos de capacitao e aperfeioamento,

    inexistncia de adaptaes estruturais das escolas, dentre outros.

    Entretanto, o que se observo que mesmo quando alguns desses obstculos so

    minimizados, ainda assim a resistncia, de maneira geral, permanece. Qual ser, ento, o

    principal, se que se pode singularizar, entrave organizao de escolas inclusivas? O que

    entendo e defendo que os pensares e aes daqueles que devero atuar nessas escolas

    demandadas socialmente, devero se constituir em fator de modificao dessa estrutura,

    que hoje no atende demanda humana, porque no est preparada para educar para e na

    diversidade humana.

    24

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto Penso que esperar que o sistema, por si mesmo, se reestruture, de maneira que os

    professores, em postura submissa, aguardem as propostas e estratgias de mudanas

    desenvolvidas pelo poder executivo objetivando a incluso daqueles que foram, e porque

    no afirmar que ainda permanecem em outra escola, - a especial -, historicamente excludos

    das instncias sociais comuns, os deficientes, no resultar em mudanas efetivas no

    sistema educacional. O momento de mobilizao, do trabalho cooperativo, da busca de

    parcerias em prol da mudana escolar e educacional, e qui, social, promovida pela

    incluso escolar no acolhimento da diversidade dos estudantes com deficincia na escola

    inclusiva.

    Contudo, observo que as escolas especiais sobrevivem mantendo longe do convvio

    social os estudantes deficientes, ratificando assim a lgica da excluso presente na

    sociedade de classes. O momento atual que vivemos de busca da superao da escola

    especial. Os professores podem e devem agir se desejam promover a reestruturao da

    escola para se tornar inclusiva. Quanto a isso Costa (2005, p. 67), esclarece:

    Diante dessa possibilidade, a questo posta aos profissionais que atuam na educao dos deficientes : no o momento de pensar a prpria concepo de educao especial, uma vez que ela contm a idia de discriminao, de segregao, de barbrie, de excluso escolar, social e cultural dos educandos com deficincia denominados especiais, ou seja, inadaptados, desiguais? Pensar sobre isso pode ser revolucionrio, pois Aquele que pensa ope resistncia, embora constatando que, para os profissionais dessa rea [...] mais cmodo seguir a correnteza, ainda que declarando estar contra a correnteza. (Adorno, 1995a, p. 208).

    Entretanto, para isso necessitamos desenvolver uma postura reflexiva, significada

    por Adorno (1995, p.169) como auto-reflexo crtica, elemento essencial no movimento

    pela emancipao das pessoas:

    Esclarecimento a sada dos homens de sua auto-inculpvel menoridade. A democracia repousa na formao da vontade de cada um em particular, tal como ela sintetiza na instituio das eleies representativas. Para evitar um resultado irracional preciso pressupor a aptido e a coragem de cada um em se servir de seu prprio entendimento.

    25

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    No estou afirmando neste trabalho que a responsabilidade pela efetivao do

    processo inclusivo exclusivamente do professor, eximindo o sistema, e apresentando-o

    como o super-heri. Estou debatendo as responsabilidades e posicionando o professor

    como um elemento essencial no atual estgio em que vivemos o processo de incluso

    escolar de deficientes. Na verdade quero reforar a idia de que por mais que existam

    possibilidades de debate na formao do professor, seja inicial ou continuada, a questo

    que nessa transio do processo inclusivo penso que no daremos conta de capacitar ou

    formar todos os educadores para intervirem na realidade atual. O professor dever ser

    capaz de desenvolver suas estratgias, junto com seus estudantes, ainda que empiricamente,

    tendo como meta o atendimento das necessidades educacionais dos estudantes com

    deficincias. Isso no me parece que poder ser contemplado em cursos extra-curriculares

    ou disciplinas inseridas dos cursos nos diversos nveis de ensino. E, isso tambm no reduz

    a importncia desses. O trabalho a ser feito o despertar pela conscientizao da

    necessidade de se refletir sobre a realidade para nela intervir. Parece-me que isso est posto

    a poucos, da podemos entender o discurso da maioria dos professores que se sentem

    incapazes de participar do processo.

    Refletindo sobre a realidade da formao de professores, e como vem se dando,

    podemos fazer algumas constataes. A primeira delas diz respeito possibilidade de

    oferecimento dos cursos de formao inicial e continuada para professores pelo Ministrio

    da Educao e suas Secretarias. No me parece, hoje, que seja possvel a promoo de

    cursos de capacitao em grande escala para a preparao dos docentes que iro atuar na

    escola inclusiva, pressupondo que essa seja a melhor alternativa para o desenvolvimento da

    auto-reflexo crtica capaz de promover a autonomia intelectual.

    Temos obstculos a serem enfrentados, no que se refere s possibilidades da

    formao de professores para atuao na escola inclusiva. Destaco que hoje no dispomos

    de professores suficientes para capacitarem os professores em servio, conforme foi

    apresentado em debate sobre a formao de professores para a escola inclusiva no II

    Congresso Brasileiro de Educao Especial, ocorrido em novembro de 2005 na

    Universidade Federal de So Carlos, So Paulo. Entretanto, outros servios podem ser

    ofertados de maneira que busquem suprir essa carncia de professores de professores.

    Servios como TV escola e outros programas de educao distncia talvez se

    26

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto constitussem em possveis solues transitrias para esse obstculo. Entretanto, teramos

    que avaliar qual o impacto dessa formao no que diz respeito ao desenvolvimento da auto-

    reflexo crtica e da sensibilidade no trabalho com estudantes deficientes. Assumindo o

    risco, atrevera-me a afirmar que, possivelmente o debate e o dilogo nos cursos presenciais

    de formao de professores tambm no garantem o desenvolvimento das citadas posturas

    almejadas, porque deve existir o desejo do professor em ser um agente transformador.

    Contudo, a viabilidade do debate entre os pares nos encontros presenciais j denota a

    possibilidade de desenvolvimento dessas capacidades pela reflexo e anlises

    coletivamente desenvolvidas. Em contrapartida, com quem os professores atendidos pelos

    programas de educao distncia poderiam debater suas questes? Existiriam tutorias?

    Caso existissem, seriam suficientes frente ao grande nmero de questes a serem

    enfrentadas? Percebo que a proposta de formao de professores distncia no

    inviabilizada com as questes apresentadas, mas esses questionamentos desconstroem a

    possibilidade de debate efetivo. No minha inteno aprofundar questionamentos sobre

    esse aspecto em especial, entretanto penso que mencion-los se fez necessrio frente

    possibilidade de formao de professores distncia, to difundida hoje no pas.

    Sobre esse aspecto, Crochk (1997, p. 144) apresenta sua idia sobre o debate acerca

    da formao do professor para o atendimento da demanda da escola inclusiva, afirmando

    que A transmisso de conhecimentos e a conseqente reflexo sobre eles no podem

    prescindir da presena do professor. afirmado pelo autor a importncia da formao

    presencial, uma vez que o esclarecimento no se dar na carncia/ausncia do debate, da a

    importncia do professor, um indivduo mediador autnomo e emancipado.

    Outro ponto de anlise se refere ao desenvolvimento das competncias profissionais

    que tero que ser apresentadas pelos professores ao trmino dos seus cursos, sejam eles de

    formao inicial ou continuada. Percebo um outro sentido, velado, para o uso da

    terminologia competncia, que entendo como uma retomada da tecnocratizao da

    educao. Parece-me que para ser um promotor da incluso escolar basta que se faa

    alguma disciplina includa nos cursos de graduao ou mesmo ter freqentado com um

    mnimo de aproveitamento algum curso de especializao ou capacitao profissional.

    Novamente vale retomar a concepo Adorniana de formao. Adorno (1995, p. 140) nos

    esclarece a pertinncia do debate sobre para que educar:

    27

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Quando sugeri que conversssemos sobre: Formao para qu? ou Educao para qu?, a inteno no era discutir para que fins a educao ainda seria necessria, mas sim: para onde a educao deve conduzir? A inteno era tomar a questo do objetivo educacional em um sentido muito fundamental, ou seja, que uma tal discusso geral acerca do objetivo da educao tivesse preponderncia frente discusso dos diversos campos e veculos da educao.

    Nesse sentido, Adorno nos apia no esclarecimento de que a formao possvel

    esteja somente sendo capaz de manter a idia de que estamos capacitando/preparando os

    professores para atuarem na escola inclusiva, quando realmente estamos apenas informando

    os mesmos sobre algumas possibilidades de intervenes junto aos estudantes deficientes.

    reducionista a idia de uma formao que apenas instrumentalize pedagogicamente.

    Entretanto, apenas o conhecimento sobre tcnicas e mtodos, o que para mim est muito

    prximo da concepo de competncias nos documentos legais e no contexto discursivo da

    educao, no o nico caminho para uma interveno pedaggica bem sucedida. Nesse

    sentido, a educao teria apenas uma dimenso adaptativa, ou seja, no apontando a

    possibilidade e necessidade de uma formao que possa ir alm da adaptao demanda

    social, sem neg-la. Costa (2005, p. 61) nos auxilia nessa compreenso, afirmando que:

    A educao para a adaptao, como j destacado por Adorno (1995b), tem a funo de preparar os homens para se orientarem no mundo. Ou seja, a questo da adaptao importante e a educao deve t-la como meta, mas deve ir alm dela, no sentido da emancipao.

    Alm de tcnicas e mtodos, o professor deve ser capaz de saber escolh-las,

    quando us-las, como us-las, de transform-las (adaptando-as de acordo com as

    necessidades). Para chegar a esse comportamento almejado, no me parece que nos cursos

    de formao (inicial e continuada) se priorizem as competncias e habilidades. O enfoque

    deve se redirecionar do mtodo para o professor, sem ignorar a importncia do primeiro. O

    professor autnomo capaz de buscar o conhecimento das metodologias existentes e de

    desenvolver as suas. Nesse sentido, o professor deve ser formado para pensar e elaborar

    seus prprios mtodos de ensino.

    Uma outra discusso que retoma o ponto anterior se constitui em termos da incluso

    de disciplinas com enfoque nas temticas das necessidades educacionais especiais advindas

    28

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto das deficincias dos estudantes, nos cursos de licenciatura e normal superior. Algumas

    instituies pblicas e privadas j incorporaram em suas grades curriculares, em carter

    obrigatrio ou no, disciplinas que contemplem debates sobre a educao de deficientes.

    Contudo, ainda no conhecemos resultados sobre o impacto na prtica dos professores que

    participaram desses debates na academia. Ser necessria a realizao de pesquisas para

    estudarmos essa questo, at para ratificarmos, se /foi a melhor alternativa ou a suficiente

    para o desenvolvimento da auto-reflexo e da sensibilidade dos professores que iro atuar

    na escola inclusiva. No comprovada a hiptese, teremos elementos para repensarmos a

    abordagem que as disciplinas oferecidas dispensam no que se referem ao desenvolvimento

    da conscincia crtica por parte dos futuros professores. Este estudo transita por essas

    questes.

    E sobre essas questes, Costa (2002, p. 42), afirma que:

    Com isso quero dizer: educar alunos com deficincia tarefa a ser desenvolvida pelo professor no cotidiano escolar em parceria com esses mesmos alunos. E mais, cabe ao professor, tambm, no espao de aprendizagem estabelecido com seus alunos viabilizar o fim dos espaos considerados da educao especial, significando isso a possibilidade de acesso inicial e permanncia em uma mesma escola para alunos com deficincia e alunos sem deficincia, na perspectiva da educao democrtica.

    O que afirmado pela referida autora sintetiza a idia central deste trabalho.

    Pensarmos que a educao democrtica nos leva a pensar na impossibilidade de

    coexistncia de escolas especiais e regulares. Isso permite ratificar que o professor

    elemento chave na mudana que se faz necessria, visto que uma sociedade democrtica

    demanda escolas verdadeiramente democrticas, portanto constitudas por

    indivduos/professores livres pensantes e emancipados.

    Outro aspecto que a aparece neste estudo como uma categoria de anlise, inclusive

    anteriormente mencionada, a sensibilizao necessria para o atendimento das demandas

    humanas e pedaggicas dos estudantes deficientes. Penso que ningum seja capaz de

    outorgar sensibilidade a outrem. Penso que a sensibilidade no possvel ser transferida

    entre indivduos. Somos capazes de criar condies em espaos de formao que estimulem

    o desenvolvimento da sensibilidade nos professores. Nesse sentido, os indivduos sensveis

    29

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto estariam mais abertos ao acolhimento da diversidade humana, reconhecendo-a no como

    caracterstica que apenas diferenciam os indivduos, mas como essncia da natureza

    humana, desenvolvendo assim a tolerncia e aceitao no coletivo social.

    Uma vez que estivessem sensveis causa da incluso de deficientes na escola

    regular, os professores estaro atentos para a condio da fragilidade humana, assim

    refletindo criticamente sobre a condio da deficincia, opondo obstculo a um dos maiores

    agentes segregadores, ou seja, o preconceito.

    Sobre o preconceito, Costa (2005, p. 134), afirma que s o desenvolvimento da

    conscincia verdadeira, por meio da reflexo crtica, que poder viabilizar a superao, e

    tomara, a eliminao do preconceito:

    A conscincia da deficincia pode contribuir no s para o desenvolvimento humano das pessoas com deficincia, como para o enfrentamento do preconceito e da discriminao que norteiam a questo da deficincia, embora a aceitao da deficincia pelos deficientes no implique sua aceitao pela sociedade.

    E a autora ainda acrescenta:

    (...) considerando, sobretudo, que (...) a nossa cultura, por diversos mecanismos, dentre os quais a distino entre classes normais e especiais, pode favorecer o preconceito, como destaca Crochk (1997, p. 19). Para isso, faz-se necessrio pensar o ressignificado da formao dos professores e a educao dos deficientes, que pressupem por parte dos educadores uma postura crtica em relao ao seu papel social e prpria educao, considerando essa como movimento, ou seja, como ao poltica e reflexiva.

    E mais, para Mazzotta (1993, p. 40) A fora do trabalho docente, pode canalizar-se

    tanto para a transformao quanto para a estagnao social e, Na qualidade de educador

    por excelncia no sistema escolar, o professor constitui elemento-chave.2

    Penso que a anlise da formao dos professores e sua atuao no cotidiano escolar

    a questo central deste estudo. Como essa proposta, penso ser possvel e necessrio

    entendermos o processo de incluso escolar de estudantes com deficincias na escola

    pblica na atualidade. Penso tambm que meu estudo se torna neste momento emergencial,

    2 Grifo nosso.

    30

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto uma vez que vrios estudos esclarecem que o professor, na prtica, o agente principal pela

    organizao de escolas inclusivas, com todas as contradies que existem no processo de

    incluso social e escolar, mas que podero ser compreendidas e superadas.

    Portanto, este estudo objetiva, com base nos elementos que apontam para o

    entendimento da prtica dos professores na escola inclusiva, com base na reflexo proposta

    por Adorno:

    * Caracterizar uma escola pblica municipal com experincias de incluso de

    estudantes com deficincia, no municpio do Rio de Janeiro, em seus aspectos poltico-

    administrativos, poltico-pedaggicos, acessibilidade fsica, pedaggicos e atitudinais;

    * Caracterizar a formao dos professores de uma escola pblica municipal com

    experincias de incluso de estudantes com deficincia, no municpio do Rio de

    Janeiro, considerando seus aspectos acadmico-profissionais relativos escola

    inclusiva e s necessidades educacionais especiais dos estudantes com deficincia;

    * Identificar na formao dos professores de uma escola pblica municipal com

    experincias de incluso de estudantes com deficincia, no municpio do Rio de

    Janeiro, os elementos relativos ao atendimento da diversidade dos estudantes com

    necessidades educacionais especiais em suas salas de aula.

    Considerando a problematizao e os objetivos deste estudo, penso que sua

    elaborao poder contribuir para a socializao das experincias de professores no

    processo de incluso escolar de estudantes com deficincia em escolas pblicas regulares,

    possibilitando dessa maneira o entendimento de como vem se dando o processo de incluso

    escolar de estudantes com deficincia na atualidade e, assim, o desenvolvimento de aes

    em prol do atendimento s necessidades educacionais especiais desses estudantes na escola

    pblica democrtica.

    31

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Formao de professores: tempo de esclarecimento! Figura 3

    32

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Eis um exemplo de como nossa educao constitui necessariamente um procedimento dialtico, porque s podemos viver a democracia e

    s podemos viver na democracia quando nos damos conta igualmente de seus defeitos e de

    suas vantagens Becker

    CAPTULO II - A FORMAO DE PROFESSORES FRENTE DEMANDA

    DAS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS ESTUDANTES COM

    DEFICINCIA

    1. A DEMOCRATIZAO DA ESCOLA NA SOCIEDADE

    CONTEMPORNEA

    Pensar em escola democrtica nos possibilita a reflexo sobre a escola que temos e a

    escola que queremos. Sobre a escola que temos podemos fazer algumas constataes

    objetivas pertinentes, dentre as quais podemos destacar a mais relevante a este estudo:

    segregadora. Como conseqncia decorrente dessa afirmao, podemos inferir - no d

    conta de atender diversidade humana; educa para a homogeneizao, uma vez que

    desconsidera as diferenas; reproduz a lgica dominante - s os mais fortes resistem;

    hierarquiza os indivduos, uma vez que reproduz as classes existentes na organizao

    social; dentre muitas outras constataes.

    A afirmao e o reconhecimento da escola exclusiva esto em confronto com a

    proposta de incluso escolar de deficientes, porque significa modificar estruturas

    cristalizadas espao-temporalmente. Entretanto, a necessidade de mudarmos a escola que

    temos, excludente, segregadora, parece-me que nunca esteve to evidente e fortalecida

    como hoje.

    A sociedade, ainda que pseudo-democrtica, comea a se mobilizar pela mudana e

    reorientao da escola que no se contenta mais em reproduzir a lgica da marginalizao,

    demasiadamente evidente na sociedade intolerante.

    33

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Esse movimento valioso uma vez que essa ressignificao aponta para a

    possibilidade de modificarmos outras instncias sociais que tambm apresentam a mesma

    lgica da excluso, como por exemplo, a formao para e pelo trabalho.

    Centrando a discusso na educao escolar e considerando os dados do Censo

    Escolar de 2004 (INEP, 2005), quanto matrcula de estudantes deficientes na escola

    regular, observo que a incluso escolar um movimento em desenvolvimento no Brasil, o

    que refora que os esforos pela democratizao da escola e, por conseguinte, de

    redemocratizao social, sendo irrefrevel no atual estgio civilizatrio.

    De acordo com os dados do INEP, apenas 34,4% dos estudantes com deficincia

    esto matriculados no ensino regular. Dos 566.753 estudantes deficientes matriculados nos

    sistemas de ensino, 323.258 (57,04 %) esto nas escolas da rede pblica e 243.495 (42,96

    %) nas escolas da rede privada, como verificado no grfico abaixo:

    Relao de estudantes deficientes matriculados no ano de 2004, distribuidos por rede de ensino

    43%

    Estudantes deficientesmatriculados nasescolas da redepblica

    D

    com ne

    65,6%,

    (regular

    importa

    57% Estudantes deficientesmatriculados nasescolas da redeprivada

    Grfico 1

    etalhando esses nmeros, chegamos a um outro dado, ou seja, 371.383 estudantes

    cessidades educacionais especiais so atendidos em escolas especiais; cerca de

    e 195.370 estudantes com necessidades especiais so atendidos em escolas comuns

    es), o que percentualmente significa 34,4% dos estudantes (vide grfico 2).

    nte destacar que o aumento da matrcula nas escolas que esto aderindo ao projeto

    34

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto de escola inclusiva vem ocorrendo em maior nmero e proporo nas escolas pblicas. Em

    contrapartida, nas escolas particulares, percebe-se um crescimento mais lento.

    Relao de estudantes deficientes atendidos por modalidade escolar no ano de 2004

    34%

    66%

    Estudantes deficientesatendidos em escolasespeciais

    Estudantes deficientesatendidos em escolascomuns

    Grfico 2

    Refletindo acerca do atendimento dos estudantes deficientes, marcadamente

    predominante nas escolas especiais, podemos deduzir que ainda h um longo caminho a ser

    percorrido no que diz respeito reestruturao da escola regular para o pleno atendimento

    desses estudantes, o que nos possibilita compreender a razo da maior incidncia de

    estudantes deficientes serem atendidos nas escolas especiais.

    Dados mais recentes sobre o Censo Escolar de 2005, do INEP MEC (informativo

    n 131, 10/03/2006) j nos revela que houve uma diminuio do nmero de estudantes nas

    instituies especializadas em educao especial. Segundo o informe, h na educao

    bsica brasileira 301.586 estudantes com necessidades especiais matriculados em escolas

    especializadas. Esse nmero inclui estudantes com cegueira, baixa viso, surdez profunda,

    surdez moderada, surdocegueira, necessidades fsicas, necessidade mental (deficincia

    mental), autismo, sndrome de Down, necessidades mltiplas e condutas tpicas.

    Proporciona mente, os estudantes com necessidades mentais especiais formam o maior

    grupo nas e

    meio do que

    lscolas de educao especial: 52,96% do total. Os dados foram coletados por

    stionrio do Censo Escolar 2005.

    35

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Necessidade Especial Creche

    Pr-Escola

    Ensino Fundamental

    Ensino Mdio

    Educao de

    Jovens e Adultos

    Educao Profissional

    (Bsico)

    Educao Profissional (Tcnico)

    Total

    Cegueira 378 597 1.412 107 824 688 133 4.139 Baixa viso 679 779 1.896 57 605 901 106 5.023 Surdez severa ou profunda 617 2.549 11.040 501 1.791 1.001 33 17.532

    Surdez leve ou moderada 239 760 2.286 38 415 361 16 4.115

    Surdocegueira 42 99 241 1 33 40 0 456 Fsica 2.665 2.759 4.374 101 1.106 1.133 40 12.178Mental 10.946 25.314 77.182 310 16.918 27.703 1.369 159.742Autismo 562 1.994 2.500 42 531 573 8 6.210 Sndrome de Down 3.342 4.747 9.375 50 2.878 3.681 81 24.154

    Mltipla 8.707 10.906 20.153 277 4.494 6.489 189 51.215Condutas tpicas 1.440 3.303 9.643 24 1.075 1.197 140 16.822

    Total 29.617 53.807 140.102 1.508 30.670 43.767 2.115 301.586

    Tabela 1 Estudantes matriculados em escolas de educao especial, por nvel de ensino, segundo o tipo de necessidade Brasil 2005

    Isso significa que est ocorrendo o fenmeno de migrao dos estudantes

    deficientes das escolas especializadas para as escolas regulares. um fato inquestionvel!

    Dados de uma outra pesquisa revelam que o nmero de estudantes deficientes que

    freqentam classes comuns no ensino regular das redes de ensino pblica e privada, de

    acordo com o Censo Escolar de 2004 (INEP, 2005), cresceu de 145.141, em 2003, para

    195.370, em 2004. Na rede pblica, esse nmero passou de 137.186 estudantes, em 2003,

    para 186.547, em 2004. Na rede particular, o aumento foi de 7.955 estudantes, em 2003,

    para 8.823, em 2004, como observado no grfico seguinte:

    36

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Relao de estudantes deficientes matriculados em escolas comuns (pblicas e privadas) de acordo com o

    ltimo Censo (INEP, 2005)

    0

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    Anos

    N.

    de a

    luno

    s

    12003 22004

    Grfico 3

    Com relao matrcula dos estudantes deficientes, observamos um aumento nesses

    nmeros, conforme dados do INEP (MEC, 2005). As matrculas desses estudantes em

    classes comuns (inclusivas) atingiram 34,4% em 2004, enquanto as matrculas globais

    desse tipo de atendimento cresceram 12,4%. O crescimento dessas matrculas pode ser

    observado na tabela:

    Crescimento de Matrculas de Estudantes de Educao Especial por Tipo de Deficincia - Censo Escolar 2004

    Tipo de Deficincia Crescimento Global % Crescimento Inclusivo %

    Visual 85 127 Auditiva 11 30 Fsica 28 38 Mental 16 58 Mltipla 14 58 Altas habilidades/superdotados 20 73 Condutas Tpicas 279 597

    Tabela 2 Descrio do aumento de matrculas de estudantes deficientes por tipo de deficincia

    37

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Comparativamente, de acordo com o Censo Escolar de 2003 (INEP, 2004), apenas

    28,8% dos estudantes com deficincia estavam matriculados no ensino regular. Dos

    504.039 estudantes deficientes matriculados nos sistemas de ensino, poca, 358.898

    freqentavam escolas exclusivamente especializadas e 145.141 estavam includos em

    escolas comuns. Ou seja, existe uma demanda a ser priorizada na organizao de escolas

    inclusivas, como observada no seguinte grfico:

    Grfico 4

    Relao de estudantes deficientes atendidos por modalidade escolar no ano de 2003

    71%

    29%

    Estudantes deficientesatendidos em escolasespeciais

    Estudantes deficientesatendidos em escolascomuns

    Considerando o exposto, parece inegvel a efetivao da matrcula dos estudantes

    deficientes na escola comum. Afirmamos somente em termos da matrcula porque no

    tivemos a sso a dados, sejam de pesquisas acadmicas ou mesmo oficiais do Ministrio da

    Educao obre a permanncia e condio desses estudantes na escola comum.

    Da

    mesmos

    Universid

    de gradua

    Do total

    ce

    , sdos mais recentes do INEP (informativo n. 128, 20/02/2006), revelam que esses

    estudantes deficientes esto concluindo o ensino mdio e chegando s

    ades. No Brasil so mais de 5.077 estudantes deficientes matriculadas nos cursos

    o. Isso representa 0,12% das 4.163.733 matrculas no ensino superior brasileiro.

    de estudantes com de necessidades especiais, 1.220 freqentam instituies

    38

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto pblicas e 3.857 esto em instituies privadas. Essas informaes esto mais detalhadas na

    tabela a seguir:

    Matrculas Unidade da Federao

    Total Pblica Privada Total 5.077 1.220 3.857 Norte 342 229 113 Acre 1 1 - Amap 11 3 8 Amazonas 231 213 18 Par 55 1 54 Rondnia 19 - 19 Roraima 2 2 - Tocantins 23 9 14 Nordeste 451 168 283 Alagoas 14 3 11 Bahia 145 7 138 Cear 31 1 30 Maranho 19 14 5 Paraba 118 109 9 Pernambuco 77 14 63 Piau 21 2 19 Rio Grande do Norte 13 8 5 Sergipe 13 10 3 Sudeste 2.618 459 2.159 Espirito Santo 37 1 36 Minas Gerais 586 187 399 Rio de Janeiro 1.006 234 772 So Paulo 989 37 952 Sul 1.147 255 892 Paran 407 207 200 Rio Grande do Sul 570 1 569

    Tabela 3 Nmero de estudantes deficientes matriculados em cursos de graduao presenciais, por dependncia administrativa das instituies, segundo Unidades da

    Federao, Brasil, 2004

    No que se refere aos tipos de deficincias identificadas pelo Censo da Educao

    Superior 2004, a deficincia visual a que concentra maior nmero de matrculas nos

    cursos de graduao do Pas, isso , 1.606, o que corresponde a 31,63% do total de

    39

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto matrculas de estudantes especiais. A seguir vm a deficincia fsica, 30,52%, e auditiva,

    17,58%. Os estudantes matriculados com altas habilidades representam 6,51% das

    necessidades especiais, somando 331 matrculas. Podemos visualizar essa descrio na

    tabela a seguir, com base no Informativo do INEP (n. 128, 20/02/2006):

    Tipo de necessidade especial Regies

    Total Auditiva Visual Fsica Mltiplas Mental Condutas Tpicas Altas

    Habilidades Outras

    Total 5.077 893 1.606 1.550 180 59 224 331 234 Norte 342 32 233 64 1 - - - 12 Nordeste 451 77 104 203 4 8 6 40 9 Sudeste 2.618 364 980 702 145 32 53 280 62 Sul 1.147 322 198 324 30 14 144 6 109 Centro-Oeste 519 98 91 257 - 5 21 5 42

    Tabela 4 Nmero de estudantes deficientes matriculados em cursos de graduao presenciais, por tipo de necessidade,

    segundo Regies, Brasil, 2004

    Os dados at agora apresentados caracterizam o contexto atual do processo

    inclusivo. Mesmo considerando os limites sociais com os obstculos existentes na incluso

    dos estudantes deficientes, esses esto chegando s escolas comuns (regulares), nos trs

    nveis de ensino, ou seja, fundamental, mdio e superior.

    No que se refere formao de professores para o atendimento das necessidades

    especiais dos estudantes deficientes, os dados nos revelam que desde o Censo Escolar de

    2002 (INEP, MEC), no existem registros sobre o nmero de docentes da educao bsica

    (que compreende a educao infantil, ensino fundamental e mdio) que possuem curso

    especfico ou formao sobre as questes presentes na educao especial. Ou seja, posso

    afirmar que, nos procedimentos de coleta de dados adotados no se contemplou nenhuma

    abordagem vinculando a formao docente educao especial, o que considero uma

    hiptese remota, ou o nmero de professores com essa formao inexpressivo frente ao

    total de professores da educao bsica.

    Os dados da Secretaria de Educao Especial (INEP, 2005) nos apresentam em sua

    pesquisa informaes sobre a formao dos professores atuantes na educao especial, nos

    40

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto ltimos trs Censos Escolares (INEP, 2002, 2003 e 2004). Por exemplo, dos 50.079

    educadores atuantes na educao especial no ano de 2004, um total de 35.875 professores

    (71,6%) possuam cursos especficos na rea. O que tambm revelador, pois seria

    fundamental que todos os professores que atuam em instituies especializadas tivessem

    formao em educao especial.

    A carncia de informaes a respeito da formao docente dos professores atuantes

    na escola comum inclusiva nos instiga nessa discusso, considerando que so recentes as

    experincias de incluso escolar de deficientes no Brasil.

    Estudos atuais revelam a necessidade de pensarmos a formao do professor para

    que o projeto de escola inclusiva seja exitoso, embora ainda de maneira dicotomizada, ou

    seja, professor de escola regular versus professor de escola especial.

    Mendes (2002, p. 81), em sua anlise sobre as perspectivas para a construo de

    escolas inclusivas no Brasil, destaca que Dois aspectos parecem centrais para que haja

    uma poltica de educao inclusiva: a organizao de servios e a formao de

    professores.

    Por outro lado, em relao formao do professor para educao inclusiva, Bueno

    (1999, p. 162) aponta a necessidade de capacitao de professores do ensino regular com

    formao bsica, e professores especializados, destacando que:

    Se, por um lado, a educao inclusiva exige que o professor do ensino regular adquira formao para fazer frente a uma populao que possui caractersticas peculiares, por outro, exige que o professor de educao especial amplie suas perspectivas, tradicionalmente centradas nessas caractersticas.

    O que ratifica minha afirmao sobre a dicotomizao dos tipos de professores, ou

    seja, o da escola regular versus professor da escola especial. Temos que avanar, para alm

    dos antagonismos que nos prendem s dissenses que acabam por ofuscar o objetivo da

    organizao da escola inclusiva.

    Quanto questo do que pensam os professores sobre a transio do processo

    inclusivo no cenrio educacional brasileiro, Aranha (2004, p. 51) relata as narrativas desses,

    com base em sua participao em projetos de disseminao de polticas publicas de

    41

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    incluso, promovidos pela Secretaria de Educao Especial do MEC, em alguns municpios

    brasileiros:

    Nessa ocasio, os educadores puderam se manifestar com relao proposta do governo federal, bem como quanto s dificuldades que tem vivenciado em sua realidade local. A proposta de implementao da educao inclusiva nos sistemas educacionais municipais e estaduais mostrou-se aceita por unanimidade, considerada consistente com a motivao e o interesse dos educadores presentes. Os participantes do encontro desvelaram dificuldades que tm sido encontradas no processo, como a necessidade de programas de formao continuada para professores, formalizados em cada sistema educacional, j que grande parte dos professores, nas diferentes redes educacionais, no se percebe capacitada para o ensino na diversidade.3

    O observado por Aranha factual e nos apia no entendimento da escassez de

    informaes nos ltimos censos escolares sobre o quantitativo de professores da educao

    bsica com formao especfica ou mesmo com experincia profissional no atendimento

    aos estudantes deficientes.

    Isso posto, destacamos o pensamento de Oliveira (2004, p. 240), ao afirmar que:

    Nesse contexto, est em debate a Pedagogia Inclusiva, apontada como um novo paradigma em Educao. A proposta de uma educao inclusiva est pautada em uma concepo diferenciada de escola e aprendizagem, fundamentando sua prtica pedaggica em uma aprendizagem mediada. Como decorrncia, algumas alteraes significativas devem ocorrer na dinmica da escola, na busca dessa nova conscincia coletiva e, portanto, a formao de professores, inicial e continuada, est no centro das discusses.

    Vale destacar que a prpria idia de formao, pressupe um continuum, ou seja,

    por toda a vida. Entretanto, no poderamos negar a dicotomizao criada em torno da

    formao do professor, em inicial e continuada, o que faz com que nos aproximemos

    criticamente da expresso por no poder negar o seu uso recorrente no discurso pedaggico

    e nos documentos sobre formao de professores.

    3 Grifo nosso.

    42

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Oliveira (2004, p. 240), ainda esclarece quanto a isso:

    No entanto, algumas impropriedades vm sendo cometidas na forma de compreender e interpretar como se daria formao de professores nesse novo contexto, principalmente a formao do professor de Educao Especial. Falar de uma educao inclusiva que pressupe, entre outras coisas, a insero de alunos com deficincia em classes comuns do ensino regular, falar de uma pedagogia de suporte para que as diferenas no sejam meros pretextos para a no-aprendizagem. Assim, formar professores competentes e qualificados pode ser o alicerce para que se garanta o desenvolvimento das potencialidades mximas de TODOS os alunos, entre eles, os com deficincia.4

    A referida autora destaca que a responsabilidade em promover a incluso escolar

    est tambm nas mos dos professores, lembrando Stainback (2004), ao afirmar que os

    estudantes e o professor e, no o sistema, tm a possibilidade de efetivar a criao de

    escolas acolhedoras. Essas questes reforam a pertinncia da pesquisa em formao de

    professores, que muito tem a contribuir sobre as possibilidades de mudana no sistema

    educacional.

    Bueno (1999, p. 18), a respeito da formao de professores para o atendimento das necessidades especiais dos estudantes deficientes, afirma que:

    (...) h de se contar com professores preparados para o trabalho docente que se estribem na perspectiva de diminuio gradativa da excluso escolar e da qualificao do rendimento do aluno, ao mesmo tempo em que, dentro dessa perspectiva, adquiram conhecimentos e desenvolvem prticas especficas necessrias para absoro de crianas com necessidades educacionais especiais.5

    Portanto, levando em conta a demanda existente de estudantes deficientes que esto

    sendo matriculados na escola comum, pela retomada do processo de democratizao social,

    reafirmamos o compromisso dos professores com a organizao de escolas inclusivas e os

    desafios postos sua formao.

    4 Grifo nosso. 5 Grifo nosso.

    43

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    2. A FORMAO DE PROFESSORES PARA A AUTONOMIA E

    EMANCIPAO PELA DEMOCRATIZAO DA ESCOLA

    Discutindo sobre a democracia, onde destaco o papel da escola como local da

    democratizao do saber, Adorno (1995, p. 169) esclarece que a exigncia de emancipao

    parece ser evidente. Assim:

    A democracia repousa na formao da vontade de cada um em particular, tal como ela se sintetiza na instituio das eleies representativas. Para evitar um resultado irracional preciso pressupor a aptido e a coragem de cada um em se servir de seu prprio entendimento.

    No que se refere democracia, entendo que a criao de uma sociedade onde as

    escolas sejam democratizadas demanda indivduos que sejam emancipados, autnomos. O

    chamamento feito por Adorno importante uma vez que pensando que vivemos em um

    Estado democrtico, vivemos sob a tutela das escolhas das minorias dominantes. Ou seja,

    um falseamento da democracia, uma pseudodemocracia. Penso na possibilidade de que

    somos capazes de fazer as nossas escolhas, mesmo sem nos libertarmos do que Adorno,

    inspirando-se em Kant, chama de auto-inculpvel menoridade.

    E, Adorno (1995, p. 142), alerta quanto s posturas reacionrias anti-democrticas,

    caractersticas dos indivduos heternomos, afirmando que:

    Numa democracia, quem defende idias contrrias emancipao, e, portanto, contrrios deciso consciente independente de cada pessoa em particular, um antidemocrata, at mesmo se as idias que correspondam a seus desgnios so difundidas no plano formal da democracia. As tendncias de apresentao de ideais exteriores que no se originam a partir da prpria conscincia emancipada, ou melhor, que se legitimam frente a essa conscincia, permanecem sendo coletivo-reacionrias.

    No pensamento de Adorno, est presente a idia de que democratizar significa

    formar indivduos com autonomia. Sem a constituio das subjetividades, o que temos a

    massificao, ou seja, alguns poucos indivduos pensam por uma maioria, e se impe o que

    os primeiros exigem, independente das necessidades da totalidade dos indivduos. Isso

    44

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto pseudodemocracia. Os sujeitos que se submetem a essa lgica so os que se identificam

    cegamente com o coletivo. O indivduo crtico capaz de se perceber participante da

    cultura, at porque no existem indivduos sem a cultura, mas importante que no se

    confundam com ela.

    O que nos trazido reflexo por Adorno que a democracia constitui-se no desejo

    de libertar a conscincia dos domnios ideolgicos sociais, ou seja, significa reconhecer que

    s atravs da reflexo e auto-reflexo crtica, da luta pela libertao do pensar que nos

    tornaremos iluministas de nossa prpria conscincia. E, posso acrescentar que aquele que

    consegue vencer as suas prprias amarras do pensamento, capaz de se tornar um

    libertador de outras conscincias, sobretudo na relao entre professores e estudantes.

    Contudo, o que estaria sendo considerado por Adorno (1995, p. 124) como

    heteronomia? Ele considera a heteronomia como um tornar-se dependente de

    mandamentos, de normas que no so assumidas pela razo prpria do indivduo, ou seja, o

    antnimo da autonomia, significada por ele como o poder para a reflexo, a

    autodeterminao, a no-participao.

    Pensando nessa afirmao e fazendo uma analogia questo da formao do

    professor da escola inclusiva, penso que o professor que puder libertar-se das dificuldades

    por ele mesmo impostas ao processo de acolhimento aos estudantes deficientes, poder se

    tornar quilo que chamamos de agente agregador, ou seja, um multiplicador de idias e

    reflexes que tambm podero apontar para a libertao de outras conscincias, que se

    encontram encarceradas pela auto-inculpvel menoridade.

    Segundo Becker, in Adorno (1995, pp. 169-170), a configurao da

    pseudodemocratizao fundamenta-se na concepo educativa de cada pas, pois:

    Parece-me ser possvel mostrar claramente a partir de toda a concepo educacional at hoje existente na Alemanha Federal que no fundo no somos educados para a emancipao, pois a possibilidade de levar cada um a aprender por intermdio da motivao converte-se numa forma particular do desenvolvimento da emancipao.

    Na realidade educacional, quando poca foi escrito o trecho citado, Becker

    destaca-nos que a educao ofertada no dava conta do desenvolvimento do sentimento da

    autonomia nos sujeitos. Ou seja, se no educamos para a emancipao, ento educamos

    45

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto para a reproduo. Da ratificarmos o carter da falsa democracia, uma vez que a verdadeira

    demanda sujeitos autnomos. Segundo Becker, atravs do despertar do desejo no sujeito

    de se emancipar que a autonomia se configurar.

    E, Adorno (1995, pp. 174175) confirma a existncia dessa ausncia/carncia do

    sentimento autnomo, destacando que esse fenmeno no seria privilgio somente da

    Alemanha, pois:

    Creio que a questo da emancipao a rigor um problema mundial. Estive durante algumas semanas visitando escolas na Unio Sovitica. Foi muito interessante ver como num pas que h muito tempo realizou a transformao das relaes de produo mudou extraordinariamente pouco em termos de no educar as crianas para a emancipao e que nessas escolas persista dominando um estilo totalmente autoritrio de educar. efetivamente muito interessante este fenmeno da continuidade mundial do domnio da educao no-emancipadora, embora a poca do esclarecimento j vigore h tempos, e embora certamente no apenas em Kant, mas tambm em Karl Marx haja muitas coisas que se opem a essa educao no-emancipadora.

    Essa constatao levou Becker (1995, p. 169) a afirmar que no fundo no somos

    educados para a emancipao, concluindo que:

    Evidentemente a isto corresponde uma instituio escolar em cuja estruturao no se perpetuem as desigualdades especficas das classes, mas que, partindo cedo de uma superao das barreiras classistas das crianas, torna praticamente possvel o desenvolvimento em direo emancipao mediante uma motivao do aprendizado baseada numa oferta diversificada ao extremo.

    Com isso, o referido pensador reconhece a necessidade de se ofertar propostas

    diversas de escolarizao para que sejam atendidas as diferentes demandas presentes na

    diversidade dos sujeitos que constituem a coletividade. Quanto a isso (1995, p. 170), afirma

    que:

    Para nos expressarmos em termos corriqueiros, isto no significa emancipao mediante a escola para todos, mas emancipao pela demolio da estruturao vigente em trs nveis e, por intermedirio de uma oferta formativa bastante diferenciada e mltipla em todos os nveis, da pr-escola at o aperfeioamento permanente,

    46

  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    possibilitando, deste modo, o desenvolvimento da emancipao em cada indivduo, o qual precisa assegurar sua emancipao em um mundo que parece particularmente determinado a dirigi-lo heteronomamente, situao que confere uma importncia maior ao processo.

    Como est posta, a formao possvel a que prioritariamente conduz os indivduos

    a um estado heternomo. Com isso, fica clara a inteno do sistema em se servir do

    processo educativo para perpetuar a ideologia avassaladora que se fixa em seus ideais,

    atendendo assim demanda de mercado posta no sistema neoliberal.

    Dessa forma, Adorno (1995, p. 168) acaba por concluir que (...) o mero

    pressuposto da emancipao de que depende uma sociedade livre j se encontra

    determinado pela ausncia de liberdade da sociedade, o que refora a idia anterior.

    Fazendo um cotejamento com a formao dos professores, posso afirmar ante o

    exposto, para que minimizemos, at o total desaparecimento, que o que desejamos, do

    sentimento de excluso e do preconceito, como sendo um dos principais promotores dessa

    segregao, precisamos de professores que se constituam livres pensantes, educando para a

    liberdade e para a emancipao como proposto por Adorno.

    Nesse contexto emerge um debate importante, onde Adorno (1995, p. 139)

    apresenta uma questo epistemolgica da formao docente, ao afirmar que Nesta medida

    parece-me urgente incluir na discusso a questo do o que e a questo do para que a

    educao (...).

    Isto me leva a pensar qual a formao que desejamos e a possvel para o

    desenvolvimento da autonomia dos professores atuantes na escola inclusiva. No

    suficiente apenas afirmarmos que os cursos oferecidos nas esferas municipais, estaduais e

    federais sero capazes de dar conta da demanda humana dos estudantes deficientes. So

    esforos que se constituem em aes no processo de organizao da escola acolhedora e

    democrtica. Entretanto, h de se questionar essa formao, at para verificarmos seu

    potencial, e no cairmos no erro de que estamos desenvolvendo o melhor, ou se possvel

    avanar ainda mais.

    Adorno (1995, p. 140), ainda nos esclarece quanto pertinncia do debate sobre o

    educar: para qu?, afirmando:

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  • A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto

    Quando sugeri