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Mestrado em Economia e Gestão Internacional Faculdade de Economia da Universidade do Porto A cooperação empresarial internacional em IDI. Uma análise empírica, com especial enfoque no papel dos Intermediários Ana Margarida Catarino Silva Alho 2008 Orientadora: Aurora A.C. Teixeira

Mestrado em Economia e Gestão Internacional Faculdade de ... Catarino... · Dadas as características únicas da base de dados que ... habitualmente são obtidos no longo prazo,

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Mestrado em Economia e Gestão Internacional

Faculdade de Economia da Universidade do Porto

A cooperação empresarial internacional em IDI.

Uma análise empírica, com especial enfoque no

papel dos Intermediários

Ana Margarida Catarino Silva Alho

2008

Orientadora: Aurora A.C. Teixeira

i

Agradecimentos

Em primeiro lugar, quero agradecer o precioso apoio, incentivo, compreensão e

paciência oferecidas pela minha orientadora, Professora Doutora Aurora Teixeira,

que sempre se mostrou disponível para me acompanhar neste processo, fazendo

sempre valiosíssimas críticas e “dicas” nos momentos oportunos, que me

permitiram sempre superar as minhas limitações. O seu elevado profissionalismo e

raras capacidades de trabalho e envolvimento são um exemplo que me esforçarei

por seguir.

À actual e anterior Direcção do Mestrado, em particular à Professora Doutora Ana

Teresa Tavares Lehman, pelo mérito da criação deste mestrado inovador, no qual

me revejo, e pelo rigor e profissionalismo com que o dinamizou.

A todos os professores, pelos seus sábios ensinamentos.

A todas as organizações que gentil e graciosamente colaboraram nesta investigação

e sem as quais seria impossível a elaboração da mesma.

À FEP, em particular ao seu Director, Professor Doutor José Silva e Costa, pela

disponibilização de recursos materiais que muito ajudaram na realização do estudo.

Aos meus colegas, que sempre me acarinharam.

Para concluir, à minha família pelo seu apoio incondicional, especialmente,

ao meu marido João Alexandre, pelo seu constante incentivo, paciência e por

acreditar sempre nas minhas capacidades;

ao meu filho João Francisco, pela compreensão das muitas horas subtraídas na

elaboração desta dissertação, pelo carinho que me deu e que foi a minha luz para

concluir este projecto.

ii

Resumo

Não obstante existir já um vasto número de publicações relativamente à cooperação

empresarial em I&D+I (IDI), e apesar do amplo reconhecimento da importância das

instituições intermediárias no processo de cooperação em IDI, o estudo empírico do seu

papel é escasso, disperso e fragmentado. Adicionalmente, os trabalhos académicos

desenvolvidos nesta área são essencialmente de natureza teórica e a perspectiva

internacional da cooperação em I&D é raramente abordada. Assim, para além da

questão dos Intermediários, escasseia evidência empírica sobre a motivação, principais

dificuldades/obstáculos e resultados associados aos projectos internacionais de

cooperação em IDI. A presente investigação tem como objectivo contribuir para a

resolução desta lacuna. Com base numa base de dados única que inclui 473 projectos

de cooperação em IDI, promovidos no âmbito do 6th FP, envolvendo empresas e

instituições intermediárias de todos os países da União Europeia, aferimos, através de

um inquérito directo às entidades envolvidas, as principais razões, obstáculos e

resultados do processo de cooperação internacional em IDI, assim como a importância

dos Intermediários neste âmbito. Dadas as características únicas da base de dados que

nos permite estabelecer comparações entre as percepções das organizações de

diferentes países, é possível tecer, com base nos resultados, importantes considerações

de política na área da cooperação tecnológica.

A evidência empírica recolhida demonstra que as principais motivações apontadas para

a cooperação são “Promover a partilha de conhecimento/aprendizagem” e “Promover a

imagem da empresa”. As questões associadas ao desenvolvimento tecnológico,

nomeadamente no que diz respeito ao custo e risco, são também razões consideradas

importantes ou extremamente importantes. As principais dificuldades apontadas pelas

organizações são “Falta de empenho”, “Problemas com os parceiros-empresas”,

“Escassez de recursos financeiros” e “Escassez de recursos humanos”. Ainda em

relação às dificuldades, embora globalmente não consideradas excessivamente

relevantes pelas entidades respondentes, registam-se “Dificuldades culturais” e

“Divergências pessoais” como sendo as menos apontadas. Das respostas relativas aos

resultados obtidos da cooperação, verifica-se que estes se focalizam mais naqueles que

habitualmente são obtidos no longo prazo, em prejuízo daqueles que estão associados

iii

ao curto prazo. Em concreto, no tipo de projectos em análise, as questões que se

referem à “Melhoria da imagem da empresa” e “Emergência de novas alianças

estratégicas”, são os exemplos que atestam essa evidência. Os aspectos associados à

comercialização e de penetração no mercado, encontram-se entre as razões menos

valorizadas por parte dos inquiridos. No que respeita às funções desempenhadas pelos

Intermediários, aquelas que se são percepcionadas pelas entidades respondentes como

mais importantes são: “Investigação e conhecimento interno para apoiar o consórcio”,

o que nos leva a acreditar que os inquiridos encaram que os Intermediários

desempenham um papel fundamental em funções designadas mais ‘tradicionais’, como

a promoção e intercâmbio de conhecimentos e de know-how, e, “Diagnosticar, testar,

analisar e inspeccionar”. As funções mais ‘novas’ dos Intermediários, identificadas na

literatura – acreditação, validação e regulamentação, protecção, para enumerar algumas

- não surgem como muito relevantes para as organizações respondentes. Apenas a

função “Previsão e Planeamento Tecnológico” foi percepcionada pelas entidades

envolvidas (empresas e Intermediários) como moderadamente importante.

Com base na estimação do modelo multivariável da importância atribuída aos

Intermediários e aos resultados percepcionados pelas entidades participantes,

concluímos que a importância atribuída aos Intermediários tende a depender mais de

características do projecto, nomeadamente o seu (menor) custo e (maior) dimensão do

que das características das entidades participantes. Apenas a capacidade inovadora das

entidades emerge (positiva e estatisticamente) associada a uma maior importância

atribuída aos Intermediários. A nacionalidade das entidades participantes e do promotor

surge também com forte poder explicativo, o que releva a necessidade para se ter em

conta a heterogeneidade de percepções ao nível internacional quanto à importância dos

Intermediários. A mesma observação se aplica relativamente à percepção dos

resultados (globais e específicos). Neste caso, constatamos que o capital humano, o

índice de proximidade cultural entre participantes e a ‘multinacionalidade’ constituem

determinantes relevantes e positivas da percepção (por parte das entidades

participantes) dos resultados de Inovação.

Palavras-chave: Cooperação I&D+I, Intermediários; Projectos internacionais.

iv

Abstract

Despite the large number of publications related to the corporative cooperation in

R&D+I (RDI), and though the broad acknowledgement of the importance of

intermediate institutions for the cooperation process in RDI, the empirical study of their

role is scarce, scattered, and dispersed. Additionally, the scholar studies developed in

this area are essentially theoretical, and the international perspective to the R&D

cooperation is barely adopted. Furthermore, empirical evidence is poorly developed

about the motivation, main difficulties/obstacles, and about the results related to the

international cooperation projects in RDI. Our investigation aims at contribute to solve

this gap.

Resorting to an unique database that includes 473 projects of RDI cooperation projects,

developed within the 6th Framework Programme, including intermediate companies

and institutions of all the European Union, we assess, by means of a direct survey, the

main reasons, obstacles, and results of the RDI international cooperation process, as

well as the importance of Intermediaries within this scope. Taking into account the

unique characteristics of the database that permit us to make comparisons between the

perceptions of the different countries’ organisations, it is possible to draw, based on the

results, important policy inferences as far as the technological cooperation is

concerned.

The empirical evidence shows that the main motivations for cooperation are

“Promotion of knowledge sharing and learning” and “Promotion of the company’s

image”. In the one hand, issues related to the technological development, namely as far

as cost and risk is concerned, are also reasons considered as important or extremely

important. On the other hand, organisations identify as main difficulties the “Lack of

commitment”, “Problems with partner-companies”, “Lack of financial resources” and

“Lack of human resources”. Regarding the difficulties, and though they are not

globally considered as relevant by the surveyed entities, they account for “Cultural

differences” and “Personal differences”. The results given are mainly focused on the

ones usually taken at the long term, and to the detriment of the ones associated to the

short term. Namely, regarding the type of projects under analysis, the issues that are

related to the “Improvement in the company’s image” and the “Emergence of new

v

strategic alliances” are an example of that evidence. Issues related to the

commercialisation and the market penetrations are among the less relevant. As far as

the functions performed by the intermediaries are concerned, the ones that are revealed

by the surveyed entities as more important are, for instance, “Research and internal

knowledge to support the consortium” (what lead us to think that they understand the

intermediaries role as related to the so-called more ‘traditional’ functions, like the

promotion and the exchange of knowledge and know-how), and also “Diagnosis,

testing, analysis and supervision”. The more recently identified functions in literature –

accreditation, validation and regulation, protection, to name a few – are not considered

as relevant by the organisations. Only the function “Forecast and technological

planning” was perceived by companies and intermediaries as moderately important.

Considering the multi-variable model-based estimation of the importance given to the

Intermediaries, and the results perceived by the surveyed entities, we may conclude

that this importance tend to depend more from the project characteristics, namely its

(lower) cost and (greater) dimension, than from the entities’ features. Only the

innovative capacity of the entities emerges (positively and statistically) associated to a

higher Intermediaries importance. The nationality of the surveyed entities and of the

promoter is also a strong reason, what shows us the necessity to take into consideration

the heterogeneity of the perceptions at an international level of the Intermediaries

importance. This exact observation applies to the results understanding (global and

specific). We observe that the human capital, the cultural proximity index between the

participants and the ‘multinationality’ are relevant and positive determinants of the

perception (as far as the surveyed entities are concerned) to the Innovation results.

Keywords: R&D+I cooperation; Intermediaries; International projects

vi

Índice de conteúdos

Agradecimentos ..........................................................................................................i

Resumo ..................................................................................................................ii

Abstract .................................................................................................................iv

Índice de conteúdos ..................................................................................................vi

Índice de Quadros...................................................................................................viii

Índice de Figuras ......................................................................................................ix

Introdução ..................................................................................................................1

Capítulo 1. Cooperação em I&D e o papel dos Intermediários. Uma síntese da

literatura .................................................................................................4

1.1. Considerações iniciais ..........................................................................................4

1.2. Principais razões para as empresas cooperarem em I&D.....................................5

1.3. Principais dificuldades e resultados identificados na cooperação........................9

1.4. O papel dos Intermediários na cooperação em I&D+I.......................................14

Capítulo 2. Cooperação em I&D e o papel dos Intermediários. Considerações

metodológicas........................................................................................22

2.1. Considerações iniciais ........................................................................................22

2.2. Detalhando o inquérito ministrado às empresas.................................................23

2.3. A população-alvo................................................................................................24

2.4. Procedimento de recolha e tratamento de dados ................................................24

2.5. Breve caracterização da amostra dos projectos e das organizações respondentes

associadas.............................................................................................................26

Capítulo 3. Relevância das Instituições de Apoio ao I&D na cooperação

empresarial em I&D. Uma aplicação empírica de nível

internacional. ........................................................................................36

vii

3.1. Considerações iniciais ........................................................................................36

3.2. Razões para a cooperação internacional em I&D ..............................................37

3.3. Dificuldades e resultados encontrados nos projectos de cooperação

internacional em I&D ..........................................................................................39

3.4. Importância atribuída pelas entidades participantes em projectos de I&D aos

Intermediários ......................................................................................................43

3.5. Determinantes da importância atribuída aos Intermediários e dos resultados

percepcionados pelas organizações participantes nos projectos internacionais de

I&D ......................................................................................................................46

Conclusão ................................................................................................................58

Referências ...............................................................................................................63

Anexos ................................................................................................................69

Anexo A1 – Inquérito implementado ........................................................................70

Anexo A2 – Testes às diferenças de médias relativos aos resultados de cooperação e

à importância atribuída aos Intermediários pelas empresas e Intermediários .....71

viii

Índice de Quadros

Quadro 1: Motivações para a cooperação em I&D+I................................................. 8

Quadro 2: Principais razões/motivos para o insucesso nos projectos de cooperação

........................................................................................................................... 11

Quadro 3: Resultados esperados do processo de cooperação empresarial em I&D. 14

Quadro 4: Definição de Intermediários conforme função........................................ 16

Quadro 5: Funções do Intermediário de acordo com a literatura ............................. 19

Quadro 6: Funções dos Intermediários..................................................................... 21

Quadro 7: Descrição do processo metodológico de recolha e tratamento de dados 25

Quadro 8: Sumário estatístico das características dos projectos de cooperação

internacionais em I&D – população versus amostra......................................... 27

Quadro 9: Estatísticas descritivas e matriz de correlação do peso médio de cada país

por projecto ....................................................................................................... 30

Quadro 10: Algumas estatísticas descritivas das entidades respondentes................ 31

Quadro 11: Razões para a cooperação internacional em I&D por entidade

respondente ....................................................................................................... 39

Quadro 12: Dificuldades para a cooperação internacional em I&D por entidade

respondente ....................................................................................................... 40

Quadro 13: Explicando o log odds da importância acima da média atribuída pelas

organizações aos Intermediários em projectos de cooperação internacional em

I&D ................................................................................................................... 52

Quadro 14: Explicando o log odds da percepção de obtenção de resultados acima da

média nos projectos de cooperação internacional em I&D .............................. 55

Quadro 15: Testes às diferenças de médias relativos aos resultados de cooperação71

Quadro 16: Testes às diferenças de médias relativos à importância atribuída aos

Intermediários pelas empresas e Intermediários ............................................... 71

ix

Índice de Figuras

Figura 1: Contabilização do envio e recepção dos inquéritos .................................. 26

Figura 2: Peso médio de cada país em cada projecto (n=174) ................................. 29

Figura 3: Número de trabalhadores por tipo de entidade respondente (n=174)....... 32

Figura 4: Número de engenheiros no total de trabalhadores (%) (n=174)............... 32

Figura 5: Número de engenheiros no total de trabalhadores por tipo de entidade

respondente (%) (n=174) .................................................................................. 32

Figura 6: Distribuição das entidades respondentes por tipo de actividade .............. 33

Figura 7: Tipo de entidade por intensidade de I&D (rácio I&D sobre as vendas)... 34

Figura 8: Tipo de entidade por rácio de exportações sobre vendas (n=174)............ 35

Figura 9: Tipo de entidade por rácio de capital estrangeiro (n=174) ....................... 35

Figura 10: Razões para a cooperação internacional em I&D................................... 38

Figura 11: Resultados da cooperação internacional em I&D................................... 41

Figura 12: Resultados da cooperação internacional em I&D por tipo de entidade

respondente ....................................................................................................... 42

Figura 13: Papel dos Intermediários no processo de cooperação internacional em

I&D ................................................................................................................... 44

Figura 14: Papel dos Intermediários no processo de cooperação internacional em

I&D por tipo de entidade respondente .............................................................. 46

1

Introdução

A importância da inovação tecnológica é comummente aceite como um factor chave

para o desenvolvimento e sustentabilidade da vantagem competitiva (Best, 2001 in

Rush et al., 2004). Apesar de algumas empresas terem sido capazes de gerar e

implementar inovações tecnológicas, a maioria das empresas ainda não se revela

capaz de gerir o processo de inovação (Rush et al., 2004). Ao nível empresarial, o

processo de tomada de decisão aquando da introdução de um novo produto/serviço

deve ter em linha de conta a melhor adequação da sua tecnologia (Katsioulis e

Heineman, 2006). A inovação pode envolver um investimento significativo em

custos fixos e os departamentos de I&D, quando existem nem sempre produzem

resultados tangíveis no curto prazo (Katsioulis e Heineman, 2006).

No sentido do reforço do seu conhecimento, intensidade de pesquisa e expansão das

unidades de negócio, as empresas têm necessidade de cooperar para reduzir os

custos, tempo e riscos associados ao desenvolvimento de tecnologia e ao processo

de expansão de mercados (Tidd et al., 2005). A evidência empírica demonstra que

os relacionamentos entre as empresas apresentam, uma elevada taxa de insucesso

uma vez que estes processos normalmente enfrentam muitos obstáculos difíceis de

contornar, nomeadamente, perda de know-how técnico, relações de poder

assimétricas, divergências estratégicas e ao nível da fixação de objectivos (Tidd et

al., 2005). A variedade de formas de ligação das organizações é quase ilimitada,

englobando as alianças estratégicas, licenciamento, acordos de cooperação em I&D,

joint-ventures em I&D, consórcios e redes, constituindo em alguns casos sistemas

extremamente complexos e abertos (Teece, 1996).

Este cenário de complexidade potenciou o aparecimento do fenómeno da

intermediação (Hoppe e Ozdenoren, 2005), de onde emergiu um conjunto de actores

denominados, de uma forma ampla, por Intermediários, e que desempenham um

conjunto importante de funções dentro do sistema de inovação como mediadores ou

facilitadores do processo de cooperação (Howells, 2006). O Intermediário pode

fornecer a possibilidade de poupar nos custos de aquisição de conhecimento,

2

identificar novas invenções e separar as oportunidades lucrativas das não lucrativas

(Hoppe e Ozdenoren, 2005).

Ao longo das duas últimas décadas tem-se observado um interesse crescente no

estudo do papel do Intermediário. Howells (2006: 720), num estudo seminal,

sugeriu a definição de Intermediário de inovação como “[a]n organization or body

that acts as an agent or broker in any aspects of the innovation process between two

or more parties”. Assim, Intermediário, designa um conjunto de organizações,

incluindo brokers, terceiras-partes e outras entidades que estão envolvidos em

actividades de apoio ao processo de inovação.

Embora exista um elevado número de publicações empíricas publicadas sobre

cooperação em I&D, o mesmo não se verifica quanto ao estudo do papel do

Intermediário, aferição dos motivos, obstáculos e dos resultados obtidos no contexto

da cooperação internacional em I&D, constatando-se que os poucos estudos que

existem, são de natureza fundamentalmente teórica e onde a informação surge de

uma forma fragmentada e dispersa. A evidência revela ainda a existência de poucos

estudos empíricos que testem, de entre as funções que desempenham, quais são

aquelas que se perfilam como as mais relevantes para as empresas. Pelo nosso

melhor conhecimento, não existem também estudos empíricos que avaliem a

importância atribuída a essas mesmas funções pelos próprios Intermediários, o que

confere ao nosso estudo, a este nível, um carácter pioneiro.

Tentando preencher a lacuna identificada na literatura, o principal objectivo deste

trabalho consiste em acrescentar mais detalhe empírico sobre o papel e os

benefícios criados pelos Intermediários envolvidos em projectos de cooperação em

I&D+I,1 e simultaneamente, sublinhar as principais diferenças observadas entre os

países a este nível, bem como a motivação, os obstáculos e os resultados que estão

subjacentes a este tipo de projectos. Para este propósito utilizamos um questionário

1 Não obstante os projectos em análise na parte empírica explicitamente se referirem a I&D+I, o que vem na linha com a versão mais recente do Manual de Oslo (OECD/European Communities, 2005) – que ao I&D acrescentam actividades não directamente relacionadas com a investigação e desenvolvimento, mas que resultam em novidade com retorno económico (Inovação) para a empresa e/ou para o contexto envolvente –, optámos, na presente dissertação, por questões de simplicidade, referir I&D em alternativa a I&D+I. Uma discussão mais profunda dos conceitos I&D e I&D+I pode ser encontrada no Manual de Identificação das actividades de IDI, publicado pela COTEC Portugal (COTEC, 2006).

3

a entidades que participaram no 6º Programa Quadro da União Europeia (UE) que

participaram em projectos de cooperação internacional em I&D. Estes projectos

constituem uma amostra adequada para testar as nossas questões de pesquisa na

medida em que estes envolvem entidades Intermediárias que desempenham um

papel chave no reforço da capacidade de inovação das PMEs.

Em suma, o nosso estudo visa responder às seguintes questões:

1. Quais são as principais razões/motivos que levam as organizações a cooperar em

I&D?

2. Quais são as principais dificuldades e resultados encontrados pelas organizações

na cooperação em I&D?

3. Quais são, na percepção das organizações envolvidas (empresas e

Intermediários), as principais funções desempenhadas pelos Intermediários na

cooperação em I&D?

O documento está organizado da seguinte forma. No Capítulo 1, e no sentido de

sustentar as questões de pesquisa, efectuamos uma revisão da literatura da

cooperação em I&D, apontando as principais razões, dificuldades e resultados na

cooperação em I&D, e do papel do Intermediário nesse processo. Posteriormente,

no Capítulo 2, explicamos de forma detalhada a metodologia subjacente ao estudo.

No Capítulo 3, apresentamos os resultados empíricos e em Conclusões, sintetizamos

os principais resultados do estudo e derivamos algumas implicações de política

económica.

4

Capítulo 1. Cooperação em I&D e o papel dos Intermediários.

Uma síntese da literatura

1.1. Considerações iniciais

Nos últimos 20 anos têm vindo a verificar-se novas tendências na forma como é

conduzida a I&D (Busom e Fernández-Ribas, 2008). O estabelecimento de redes e

alianças entre empresas ou entre empresas e outros organismos públicos é uma

delas. Por outro lado, o aumento da concorrência associado à crescente

complexidade das tecnologias estimulam as empresas em geral e, em especial

empresas inovadoras, a cooperar com outras empresas e instituições de

conhecimento público (Beers et al., 2008), no sentido de promoverem e realizarem

investimentos em I&D. Outros motivos que conduzem à cooperação, incluem a

partilha dos custos, das incertezas inerentes ao desenvolvimento de novas

tecnologias, e ao acesso ao conhecimento tácito (Hagedoorn, 1993).

Ao mesmo tempo, o interesse crescente no estudo de temáticas como a análise dos

sistemas de inovação, networks científicas e difusão da inovação, associados ao

aumento crescente das colaborações e do outsourcing, suscitaram renovado

interesse por parte dos académicos na investigação dos nós e ligações associados à

cooperação em Investigação e Desenvolvimento mais Inovação (I&D+I) (Howells,

2006). Neste contexto, tem surgido um novo conjunto de actores, amplamente

denominados por “Intermediários”, entendendo-se estes como um conjunto de

organizações e outras entidades que estão envolvidos em actividades de apoio ao

processo de inovação (Howells, 2006).

Ao longo deste capítulo far-se-á uma breve apresentação da literatura em

cooperação internacional em I&D, dedicando um enfoque especial às funções dos

Intermediários. Esta síntese, pretende constituir um enquadramento para o trabalho

empírico desenvolvido na presente dissertação, não sendo nossa pretensão, elaborar

um trabalho de síntese de literatura exaustiva na área.

A próxima secção apresenta as principais razões que estão na base da motivação

para as empresas cooperarem em I&D. Na Secção 1.3 são identificadas as principais

5

dificuldades e resultados no processo de cooperação. Finalmente, na Secção 1.4, é

definido e enquadrado o conceito de Intermediário, aferindo o seu papel ao nível da

cooperação em I&D.

1.2. Principais razões para as empresas cooperarem em I&D

A importância da inovação tecnológica é amplamente reconhecida como sendo um

factor chave para o desenvolvimento e sustentabilidade de vantagens competitivas

(Best, 2001 in Rush et al., 2004). Na realidade, a inovação tecnológica é uma

actividade complexa associada a um elevado grau de risco e incerteza quanto à sua

futura rentabilidade. As suas fontes e processos raramente estão confinados ao

interior das fronteiras da própria organização, requerendo uma combinação de

inputs com recurso a uma multiplicidade de agentes externos (Dodgson, 1994).

Apesar de algumas empresas, principalmente as de maior dimensão, possuírem as

capacidades necessárias para realizar actividades de investigação e desenvolvimento

(I&D) e futura implementação de inovações tecnológicas que lhes permitam

garantir uma vantagem competitiva, a maior parte ainda não se revela com

capacidade para o conseguir (Rush et al., 2004; Hamel, 2007), exigindo, consoante

as suas necessidades, um certo tipo de cooperação conjunta (Dodgson, 1994;

Duysters et al., 1999; Becker and Dietz, 2004; Tidd et al., 2005). Figueiredo (2003)

(in Rush et al., 2004) definiu essas capacidades tecnológicas como “[t]he resources

needed to generate and manage improvements in processes and production

organisation, products, equipment and engineering projects”.

A literatura regista a tendência generalizada para o aumento do fenómeno de

colaboração entre empresas nas últimas décadas (Teece, 1992; Das e Teng, 1999;

Duysters et al., 1999; Tether, 2002; Becker e Dietz, 2004) e evidencia a sua

importância no processo de inovação (Teece, 1992, Tether, 2002; Becker e Dietz,

2004). De facto, face ao cenário do aumento da concorrência e das pressões

competitivas associadas ao crescente custo da investigação e desenvolvimento

(I&D), bem como ao encurtamento do ciclo de vida dos produtos que tem

caracterizado as últimas décadas, as empresas têm vindo a recorrer cada vez mais à

cooperação em I&D (Duysters et al., 1999). Para facilitar o desenvolvimento e a

6

comercialização de novas tecnologias, existe uma grande variedade de acordos de

cooperação que se caracterizam por um comprometimento entre dois ou mais

parceiros para atingir um objectivo comum e que implicam a conjugação dos seus

recursos e actividades (Teece, 1992; Dogson, 1994). As parcerias com base na

inovação são relacionamentos que envolvem, pelo menos em parte, um esforço

significativo em I&D (Hagedoorn et al., 2000).

Os principais tipos de cooperação identificados são (Tidd et al., 2005: 212):

subcontratação/relação com os fornecedores, licenciamento, consórcio, aliança

estratégica, joint-venture e networks. No sentido genérico do termo, não existe um

tipo óptimo de cooperação. Contudo, na prática, as características tecnológicas e do

mercado limitam as opções, e a cultura da empresa e as considerações estratégicas

determinam o que é desejável e o que é possível (Tidd et al., 2005).

As relações de cooperação em I&D podem caracterizar-se como horizontais ou

verticais, sendo relevante esta distinção. A cooperação vertical em I&D (e.g.

subcontratação e alianças com fornecedores) ocorre ao longo da cadeia de valor de

produção do produto e são reconhecidas por terem um papel central no processo de

inovação (Dogson, 1994), na medida em que a motivação prévia para o seu

estabelecimento está associada a redução de custos (Tidd et al., 2005). A

cooperação horizontal em I&D (e.g. licenciamento, consórcios e cooperação com os

potenciais concorrentes das fontes de know-how) é caracterizada por ocorrer entre

parceiros ao mesmo nível no processo de produção. Tende a ser vista de uma forma

mais reticente por parte das empresas (Dogson, 1994), dado que a motivação

subjacente a esta estratégia inclui o acesso a know-how complementar tecnológico e

de mercado (Tidd et al., 2005). Neste âmbito, os consórcios e, em particular, os

consórcios de I&D, são compostos por um conjunto de organizações que trabalham

em conjunto num projecto relativamente bem especificado (Tidd et al., 2005). Os

consórcios são criados de modo a que as empresas e outras organizações – entidades

de apoio ou de intermediação - possam reunir recursos a fim de empreender

actividades conjuntas em I&D (Hagedoorn et al., 2000). Englobam a partilha dos

custos e dos riscos da investigação, dos escassos recursos de competência e

7

equipamentos, e da execução da investigação pré-concorrencial e a preparação das

normas (Tidd et al., 2005).

Existe uma grande variedade de explicações teóricas que sugerem as diversas

motivações que estão subjacentes à cooperação em I&D (Dogson, 1994). A

literatura de referência mais antiga sublinha a necessidade de desenvolver a

tecnologia para apoiar as estratégias da empresa e do negócio. Neste caso, as

decisões quanto à aquisição da tecnologia começam pela avaliação dos pontos fortes

e fracos da empresa. A abordagem baseada em investigações mais recentes é menos

instrumental e está focada em questões associadas à qualidade, nomeadamente

processos de integração de recursos e de aprendizagem tecnológica (Tidd et al.,

2005).

A cooperação em I&D promove a aprendizagem de novas tecnologias e de novos

métodos para a sua criação, ao mesmo tempo que ajuda as empresas a

percepcionarem como é que essas mesmas tecnologias poderão afectar o seu

negócio (Dogson, 1994). O desenvolvimento de competências requer a existência,

por parte da empresa, de uma intenção ou políticas explícitas para utilizar a

cooperação como uma oportunidade de aprender em vez de minimizar custos (Tidd

et al., 2005).

A troca de informação e partilha de conhecimentos com diversos parceiros são

factores de extrema importância para o processo de inovação (Teixeira et al., 2008).

Na maioria das vezes, o conhecimento desenvolvido pelas organizações é de

natureza tácita, difícil de codificar e de difundir, o que implica que o seu processo

de transferência esteja muito dificultado se não se recorrer a ajuda de terceiros.

Teece (1994), Katz e Martin (1997) e Bozeman e Corley (2004), citados em

Bammer (2008), resumem substancialmente a literatura existente sobre este assunto

apontando razões que incluem o acesso a equipamentos e a recursos, cruzamento de

informação de diversa natureza, acesso a financiamento, aprendizagem do

conhecimento tácito sobre uma técnica, obtenção de prestígio, visibilidade e

reconhecimento e promoção da educação de estudantes.

8

Por questões de análise e fundamentação lógica, Tidd et al. (2005) sugerem a

classificação das motivações para a cooperação em I&D em três grupos de acordo

com a sua natureza: tecnológica, de mercado e organizacional. Teixeira et al.

(2008), com base numa síntese de literatura, envolvendo o percurso do processo de

inovação, desde a invenção até ao desenvolvimento científico de novos produtos no

mercado, elaboraram uma sinopse bastante precisa das principais motivações que

estão subjacentes ao estabelecimento de acordos de cooperação em I&D (cf. Quadro

1).

Quadro 1: Motivações para a cooperação em I&D+I

Motivações Descrição Estudos

Acesso a conhecimento tecnológico (novo e complementar) o que lhes permite seguir novas linhas de investigação.

Hladik (1985); Link e Bauer (1989); Hagedoorn (1993); Wang (1994).

Atingir economias de escala reagindo rapidamente ao mercado apesar do ambiente de incerteza ao nível do desenvolvimento tecnológico.

Teece (1992); Hausler et al. (1994); Hagedoorn e Narula (1996); Katz e Martin (1997); Tidd (1997); Robertson e Gatignon (1998)

Formação de alianças como um mecanismo de intermediação entre o mercado e a hierarquia. Quanto mais complexa é a tecnologia disponível mais ineficiente é o mercado (local onde as empresas podem adquirir os conhecimentos necessários para desenvolver a tecnologia).

Shing (1997); Robertson e Gatignon (1998)

Complexidade do desenvolvimento tecnólogico

Como possibilidade de aquisição e internalização de aptidões e competências dos parceiros de forma a criar novos conhecimentos válidos para a empresa.

Hamel (1991); Steensma (1996)

Ao combinar os seus esforços, as empresas podem reduzir a incerteza face ao resultado positivo esperado do desenvolvimento tecnológico uma vez que este resultado pode não aparecer suficientemente rápido ou ser mais dispendioso do que o inicialmente previsto.

Porter e Fuller (1996); Hladik (1988); Dogson (1992a); Hagedoorn (1993); Tsang (1998)

A probabilidade de uma inovação alcançar sucesso depende também de aspectos de complementaridade dos recursos e do aumento de investimento em I&D, que é favorecida pela cooperação.

Sinha e Casumano (1991)

As necessidades de procura por parte dos consumidores mudam constantemente. A diferença de tempo que medeia entre a invenção do produto e o seu aparecimento no mercado implica também um alto risco para as empresas logo o objectivo será reduzir esse intervalo.

Hladik (1998); Dogson (1992a); Hagedoorn (1993); Hausler et al. (1994)

Desenvolvimento Inovação Tecnológica (associados a incertezas com a realização, o desempenho e a antecipação pelos concorrentes)

Redução e partilha da incerteza e dos custos

Ajudar a evitar a duplicação de esforços desnecessários em I&D e para atingir economias de escala.

Porter e Fuller (1996); Dogson (1992a)

Para absorver os conhecimentos e competências que lhes falta e que é representado pelo conhecimento tácito do seu parceiro, ou seja, o seu know-how tanto na área da tecnologia como em outras esferas.

Teece, 1992

Com o objectivo de alargar o leque de produtos, ou substituindo os que já existem, uma vez que já se encontram em sectores maduros.

Hagedoorn (1993)

Crescimento no mercado interno e acesso a outros mercados permitindo-lhes melhorar as expectativas de retorno do investimento.

Hladik (1988); Dogson (1992a,b); Hagedoorn (1993); Sakakibara (1997a,b)

Acesso ao mercado e busca de oportunidades

A padronização de produtos e processos visando excluir eventuais concorrentes com a aplicação de uma estratégia baseada na diferenciação dos custos e benefícios que irá funcionar como uma barreira à entrada de novas empresa no sector.

Porter e Fuller (1986); Hladik (1988); Dogson (1992a); Hagedoorn (1993); Miyata (1996)

Fonte: Teixeira et al. (2008).

9

Apesar da colaboração ocorrer de diversas formas e possa reflectir diferentes

motivações, os parceiros envolvidos no processo podem obter benefícios mútuos

que individualmente nunca conseguiriam obter (Dogson, 1994). Esses benefícios

incluem (Dogson, 1994; Duysters et al., 1999; Tidd et al., 2005): reduzir custos de

desenvolvimento tecnológico ou de entrada no mercado; reduzir os riscos de

desenvolvimento ou de entrada no mercado; conseguir economias de escala na

produção; reduzir o tempo de desenvolvimento e de comercialização de novos

produtos. Na próxima secção discutimos com detalhe os benefícios mas também os

obstáculos/dificuldades e os resultados associados à cooperação em I&D.

1.3. Principais dificuldades e resultados identificados na cooperação

[L]et the potential alliance partner beware: all is not as it seems. It is true that one can leverage resources, jump-start technology and facilitate market development. It is also true that one can learn a great deal from one’s partner in a shorter time than it would have taken to develop that particular skill set or tacit technology internally. The exposed gains are many and well documented. The data, however, paint a different and more somber picture. (Spekman et al., 1996 in Duysters et al., 1999: 344).

A evidência empírica demonstra que existe um número crescente de empresas a

estabelecerem acordos de cooperação (Das e Teng, 1999), tendo vindo a registar-se

uma taxa de crescimento anual de 25% desde 1985 (Pekar e Allio, 1994, in Das e

Teng, 1999). Não obstante das vantagens associadas a este processo, a sua taxa de

insucesso ainda se apresenta muito elevada (Das e Teng, 1999; Duysters et al, 1999;

Tidd et al., 2005). Uma vez que incorre em riscos inerentemente associados à sua

natureza, a cooperação em I&D deve ser classificada como uma estratégia de alto

risco (Das e Teng, 1999).

Na sua generalidade, a literatura evidencia o predomínio de conflitos no processo de

colaboração. Estes conflitos podem existir entre os parceiros ou dentro do contexto

da aliança. No primeiro caso, a sua origem pode residir em diversos aspectos, a

saber: esforço individual de cada parceiro para obter maior lucro; definição de

objectivos incompatíveis; diferenças na afectação de recursos; comportamentos

oportunistas; imitação de Know-how; competição de mercado a jusante. No caso do

conflito se verificar dentro da organização, a sua existência pode ser devida a

10

diferenças nas orientações estratégicas, diferenças culturais, percepção do risco, e

diferenças nas práticas de gestão (Das e Teng, 2003).

Neste sentido a literatura reconhece um vasto número de acontecimentos que

desencadeiam estes conflitos e que podem mesmo conduzir ao término da aliança

(Quadro 2). A diversidade de culturas, perspectivas políticas e organizacionais são

apontadas por Hladik (1988), como principais causadores de problemas durante os

acordos. O forte desejo por controlar o desenvolvimento do projecto (relação

assimétrica) é também um factor referido pelo mesmo autor. Mais recentemente,

Johnson (2008) no seu estudo sobre as funções, recursos e benefícios das

organizações intermediárias que sustentam a colaboração triple helix em I&D,

refere igualmente que as diferenças culturais entre duas ou mais organizações

podem ser influir negativamente no normal decorrer da cooperação. Estas

diferenças podem residir na diferente forma como os intervenientes utilizam os seus

recursos. Outros factores apontados como perturbadores da relação entre os

parceiros são a falta de experiência, a deficiente ou incompleta preparação do

projecto e a dificuldade em trabalhar em equipa.

Segundo Kelly e Arora (1996) o facto das empresas não integrarem nos seus

quadros competências técnicas e organizacionais, não existirem estruturas de

incentivo para o mercado onde aquelas se inserem, e (sobretudo) a interacção entre

Pequenas e Médias Empresas (PMEs), e o número de instituições de apoio no

desenvolvimento e transferência de tecnologia ser ainda diminuto (agravando as

dificuldades para as PMEs acederem à informação de novas tecnologias que foram

ou se encontram em desenvolvimento), constituem os factores que legitimam a não

adopção por estas empresas de sistemas inovadores e/ou produtos. Vários estudos

(e.g., Massa e Testa, 2008) atestam que quanto maior a transferência tecnológica

desenvolvida por parte de empresas, mais astutas ficam estas face à inovação e mais

experiência vão acumulando para a adopção de outras tecnologias.

De acordo com Mora-Valentin et al. (2004), as limitações mais comuns

apresentadas dizem respeito à falta de homogeneização e integração das variáveis,

dimensões e medidas a serem utilizadas, assim como a definição da análise. A falta

11

de empenhamento por parte de um parceiro ou mesmo de um vasto número de

cooperantes, é identificada também como um factor que condiciona o

desenvolvimento do projecto (Mora-Valentin et al., 2004).

Para Geisler e Furino (1993), a comunicação é fundamental para desenvolvimento

do projecto. A falta de diálogo potencia a não transmissão da informação, o que

pode levar ao abrandamento dos projectos de cooperação. Doney et al. (1998)

completam a ideia referindo que a confiança entre os parceiros influencia, de forma

positiva, a parceria. Se existir desconfiança, os parceiros tendem a não desempenhar

as suas funções da forma mais adequada com receio de fuga de informação.

Duysters et al. (1999), referem ainda como dificuldades, os incentivos assimétricos,

o facto do tempo previsto para o desenvolvimento do projecto não ser o adequado e

das expectativas dos parceiros poderem ser irrealistas.

Face ao exposto, e após análise da literatura, podemos identificar o conjunto de

razões que podem conduzir ao fracasso de uma aliança (cf. Quadro 2).

Quadro 2: Principais razões/motivos para o insucesso nos projectos de cooperação

Barreiras Descrição Autor (ano)

Comunicação

O processo de comunicação entre diversas organizações é fundamental para o sucesso, uma vez que corresponde à troca de informação, conceitos ou ideias; forma como é trocada, transmitida e proposta actividades de I&D.

Geisler e Furino (1993)

Confiança Vontade de acreditar no outro parceiro numa fase em que um torna o outro vulnerável. A falta de integridade e benevolência colocam o acordo em causa.

Doney et al. (1998)

Cultural Diferentes culturas promovem diferentes opiniões Hladik (1988)

Diferentes objectivos

O desacordo nos objectivos a atingir influencia o desenvolvimento do projecto

Campbell (1997)

Problemas com parceiros

A falta de compromisso por parte de alguns parceiros durante a execução do projecto / acordo estabelecido

Mora-Valentin et al. (2004)

Relação de poder assimétrica

O forte desejo em controlar o desenvolvimento da cooperação.

Hladik (1988)

Incentivos assimétricos

O interesse por parte dos parceiros ser demasiado diferente entre os mesmos.

Duysters et al, (1999)

Expectativas/timings irrealistas

Incapacidade de cumprir os prazos estabelecidos e obter os resultados desejáveis

Duysters et al, (1999)

Escassez de recursos humanos

Número insuficiente de recursos humanos para desenvolver as tarefas pré-estabelecidas

Kelly e Arora (1996)

Escassez de recursos financeiros

Falta de fundos para desempenhar as diversas tarefas estabelecidas no acordo de colaboração.

Kelly e Arora (1996)

12

A avaliação do sucesso de uma aliança é um processo difícil uma vez que é

condicionada pelas diferentes expectativas que as empresas possam ter. Uma

aliança pode ter diversos objectivos, explícitos ou implícitos, podendo os seus

resultados serem planeados ou não (Tidd et al., 2005). Quando analisamos o

sucesso ou insucesso no fenómeno da cooperação em I&D devemos adoptar uma

visão mais alargada sobre as vantagens que daí possam advir. Ao invés de

avaliarmos o sucesso ou insucesso somente em termos de outputs verificáveis,

deveremos também ter em consideração os seus outcomes menos quantificáveis,

nomeadamente aquisição e desenvolvimento de novas aptidões e competências que

poderão vir a utilizar à posteriori de uma forma mais ‘tecnológica’ e produtiva

repercutindo-se assim mais directamente ao nível da rentabilidade de mercado

(Dogson, 1994).

Vários estudos (e.g., Vonortas, 1997; Becker e Dietz, 2004; Okamuro, 2004, 2005),

comprovam que as opiniões sobre os resultados obtidos após colaborações entre

empresas e/ou empresas-entidades de I&D divergem de forma sustancial entre os

inquiridos. De acordo com Okamuro (2004) e Becker e Dietz (2004), o

estabelecimento das parcerias criaram impactos positivos nos ganhos, crescimento

produtivo e na criação de patentes. Esta opinião não é partilhada, no entanto, por

Vonortas (1997). Segundo este autor, a cooperação entre entidades pode produzir

resultados negativos, nomeadamente ao nível da produção.

O sucesso dos acordos de cooperação empresarial em I&D é usualmente avaliado

em termos de estabilidade, continuidade, sobrevivência e evolução do

relacionamento durante o período em que as entidades se encontram a colaborar em

conjunto (Mora-Valentin et al., 2004). Pode afirmar-se que as entidades que já

tenham estado envolvidas numa experiência de colaboração anterior tendem a obter

um resultado superior face às entidades que colaboram pela primeira vez em

conjunto uma vez que o factor confiança relativamente às primeiras ainda não foi

estabelecido e a comunicação ainda se encontrar em fase experimental (Mora-

Valentin et al., 2004). A este propósito, Teece (1990), refere que as empresas

Europeias e Norte-Americanas apenas recentemente se aplicaram eficazmente na

cooperação como meio de competitividade de forma a combater empresas

13

emergentes, como por exemplo as Asiáticas, dado que estas evidenciam já uma

vasta experiência ao nível da cooperação empresarial.

Apesar de enfrentarem muitas dificuldades os parceiros podem individualmente

usufruir de vários benefícios que actuando isoladamente não conseguiriam obter. Os

resultados da colaboração podem ter reflexo em todos os parceiros, potenciando a

obtenção de economias de escala tanto ao nível do aumento da produção como no

lançamento de novos produtos (Dogson, 1994).

A participação de empresas em projectos de cooperação proporciona resultados

preciosos para as actividades das empresas. Segundo os seus gestores, o

envolvimento em projectos cooperativos, conduz a um aumento da eficiência, e a

possibilidade de implementar nas instalações, novos processos que possam

desencadear um aumento de lucros ou mesmo a criação de emprego (GCE, 1994;

GPI, 1995). Deste modo, e segundo Hladik (1988), é fomentada a redução e partilha

de incertezas e custos. Através do relacionamento que é desenvolvido durante a

execução do projecto, poderá surgir a possibilidade de entrada em novos mercados,

conduzir a um aumento da quota de exportação, ou mesmo virem a ser estabelecidas

novas alianças. A oportunidade de lançamento de novos produtos também é um

resultado que as empresas esperam, dado que usualmente num projecto de I&D, são

desenvolvidas inovações que as distanciam dos seus concorrentes (Hladik, 1988).

A criação de patentes ou outro género de Propriedade Intelectual, como marcas, são

outros exemplos apontados como resultados esperados pelos participantes

empresariais. Teece (1990), Becker e Dietz (2004) e Busom e Fernández-Ribas

(2008) confirmam que através de acordos e alianças os participantes aspiram atingir

um objectivo comum, desenvolvendo novas e melhores tecnologias. Por último, a

participação em projectos internacionais promove ainda uma melhoria de imagem

perante os concorrentes ou mesmo parceiros (Dollinger et al., 1997).

O Quadro 3 apresenta a súmula dos principais resultados esperados do processo de

cooperação face aos motivos explanados na secção anterior.

14

Quadro 3: Resultados esperados do processo de cooperação empresarial em I&D

Motivos Detalhes

Complexidade tecnológica e de desenvolvimento

Atingir economias de escala na produção

Promover a partilha de conhecimento/aprendizagem

Redução e partilha de incertezas e custos

Reduzir o custo de desenvolvimento tecnológico

Reduzir o risco de desenvolvimento tecnológico

Reduzir o tempo de desenvolvimento de novos produtos

Reduzir o tempo de comercialização de novos produtos

Acesso ao mercado e novas oportunidades

Reduzir o custo de entrada no mercado

Reduzir o risco de entrada no mercado

Promover a imagem da empresa

Consórcio Reputação da Instituição de Apoio/Promotora

1.4. O papel dos Intermediários na cooperação em I&D+I

Presentemente, e para se manterem competitivas no mercado global, as empresas

sentem a necessidade de investir em novas tecnologias (Hall et al., 2001). A

literatura regista diversas correntes de opinião acerca da real capacidade interna por

parte das empresas para o desenvolvimento e obtenção dessa mesma tecnologia.

Alguns autores afirmam que para o efeito, as empresas têm que ter uma elevada

capacidade de utilização de redes externas e de criação de alianças (Van Dijk,

1997), de superarem as estruturas escassas que possuem para o desenvolvimento

das actividades (Sivades e Dwyer, 2000), e de tirarem o proveito adequado do

conhecimento operacional e dos seus clientes. Diversos autores apontam, no

entanto, que as PMEs possuem recursos escassos e fracas condições para

desenvolverem internamente actividades de I&D (Hausman, 2005), falta de

contactos externos (Srinivasan et al., 2002), formação inadequada (Romano, 1990)

e resistência em delegarem autoridade ou decisão para terceiros (Dyer e Handler,

1994).

De modo a contornar estes obstáculos à inovação, as empresas tendem a estabelecer

colaborações com um outro conjunto de actores comummente denominados como

"Intermediários", também designadas por “Instituições de Apoio às actividades de

Investigação e Desenvolvimento (I&D)”, e que executam uma série de tarefas-

15

chave no âmbito do processo de inovação. Estas instituições intermediárias

constituem uma mais-valia para os seus clientes/parceiros na medida em que, para

além de poderem desempenhar um papel de mediador entre os utilizadores da

inovação e os seus criadores (Hoppe e Ozdenoren, 2005; Kodama, 2008), possuem

a importante capacidade de avaliação do potencial da tecnologia e do respectivo

licenciamento (Hoppe e Ozdenoren, 2005; Kodama, 2008).

O Intermediário desempenha também um papel crítico no contexto da inovação

como facilitador de transferência de informação de tecnologia, essencial para a

promoção da inovação, e como elo de ligação entre organismos de investigação e

empresas (Etzkowitz e Goktepe, 2005). Exemplos desses organismos incluem

brokers de tecnologia, ligação a universidades, centros tecnológicos regionais,

agência de inovação e networks transnacionais tais como à TII (ver The European

Association for the Transfer of Technology, Innovation and Industrial Information)

(Bessant e Rush, 1995). São assim distintas as designações apresentadas para as

“Instituições de Apoio ao I&D”, bem como as definições que lhe estão associadas, a

saber: third parties, empresas intermediárias, bridgers, brokers, Intermediários de

informação e organizações superestruturadas. O Quadro 4 foi elaborado com base

no trabalho de pesquisa bibliográfica sobre a intermediação realizado por Howells

(2006), e sintetiza o conjunto de definições evidenciadas de forma dispersa na

literatura, tendo como pressuposto se a inovação se realiza a nível organizacional ou

processual.

A diversidade em que se pode revestir o seu papel, e a flexibilidade nos modos de

operacionalização e interacção, significa que os Intermediários actuam como ‘pontes’ ao

longo de vasta faixa de utilizadores (Bessant e Rush, 1995). Tendo em consideração as

suas competências (e.g., elevada experiência na avaliação do valor das novas invenções;

acesso a informação relevante de forma mais atempada) e face ao cenário de dúvida acerca

da rentabilidade que caracteriza o investimento em novas tecnologias, o Intermediário pode

ter também um papel relevante no sentido de ajudar os potenciais investidores na sua

tomada de decisão, fornecendo-lhes informações úteis que lhes permitirão economizar

custos e ajudar a reduzir a sua incerteza (Hoppe e Ozdenoren, 2005).

16

Quadro 4: Definição de Intermediários conforme função

Termo Definição ou função

Organizacional

Intermediários

Agências intermediárias que suportam a transferência tecnológica em pequenas empresas; suportam a exploração tecnológica e promovem a troca entre redes de ciência e colectivos. Organizações publicas ou privadas que actuam como agentes de transferência tecnológica entre os hospedeiros e os utilizadores.

Third parties Indivíduos ou organizações que intervêm nas decisões de adopção de outros

Brokers Facilitadores da difusão de novas ideias de um sistema social, para o exterior Agências intermediárias

Formulam as políticas de investigação

Consultores como promotores de pontes

Promovem as pontes durante os intervenientes do processo de inovador

Empresas intermediárias

Adoptam soluções que se encontram no mercado que satisfazem o utilizador individual

Bricoleus Agentes que desenvolvem novas aplicações para novas tecnologias de forma a que estas ultimas possam ser utilizadas noutras áreas para além das previamente identificadas

Organizações super-estruturizadas

Organizações que facilitam e coordenam o desenrolarem da transmissão de informação

Brokers de conhecimento

Agentes que favorecem a inovação por combinação da tecnologias existents

Intermediários por níveis

Apoiam a orientação do sistema científico para atingir os objectivos económico-sociais

Intermediários para a inovação

Empresas de serviços que actuam como intermediários em sistemas de inovação

Brokers tecnológicos

Intervenientes que fornecem informações e conhecimento a redes industriais

Instituições regionais

Correspondem a substitutos funcionais para empresas que não se encontram inseridas em redes

Intermediários de conhecimento

Organizações que avaliam o valor inatingível de um conhecimento recebido por um receptor.

Processo/actividades Serviços de consultadoria para a inovação

Papel especifico para promoção da inovação, que envolve uma variedade de actor, incluindo empresas de consultadoria e agencias intermediárias

Brokering tecnológico Uma organização cria novos produtos através de redes entre soluções já existentes e outros sectores ou tecnologias

Pontes de inovação Fornecimento de conhecimento ou serviços que complementam sd actividades de empresas

Brokering de conhecimento

Promovem a troca de informação sobre inovação entre empresas

Fonte: Adaptado de Howells (2006)

De forma geral, o Intermediário propicia a oportunidade para possíveis investidores

economizarem numa componente crítica relacionada com a inovação: através do

conhecimento e perspicácia para avaliar novas invenções, os Intermediários têm a

17

capacidade de conjugar as invenções que são lucrativas com potenciais investidores

(Hoppe e Ozdenoren, 2005). De acordo com Lamoreaux e Sokolopp (2002), os

Intermediários, no caso de se tratarem de agentes de propriedade intelectual ou

advogados, poderão ser agentes facilitadores entre investidores e inventores.

Os gabinetes de transferência de tecnologia existentes nas Universidades são os

Intermediários mais referenciados na literatura. Estes gabinetes, operam como uma

interface entre a Universidade, cuja missão principal se consubstancia na avaliação

do poder comercial da tecnologia desenvolvida no campus universitário (Wright et

al., 2008), e na procura de potenciais investidores que manifestem interesse,

capacidades e os recursos necessários para utilizarem a dita tecnologia para

aplicação no mercado (Wright et al., 2008). As incubadoras tecnológicas também

são consideradas como Intermediários (Hoppe e Ozdenoren, 2005), estabelecendo a

intermediação entre start-ups e potenciais investidores de forma a conseguirem

convencer os investidores de que uma determinada start-up é lucrativa. Wright et

al. (2008) referem ainda que os Intermediários podem ser centros de investigação

públicos ou departamentos de I&D associados a centros sectoriais.

Não obstante a reconhecida importância que estas entidades intermediárias/de apoio

têm no âmbito dos projectos de cooperação em I&D, e da existência de algumas

evidências que indiciam que o processo da intermediação na inovação tem crescido

ao longo do tempo (Howells, 2006), a avaliação e mensuração efectiva do seu real

valor têm recebido pouca atenção na literatura.

Após revisão dos estudos académicos com base na intermediação, Howells (2006)

constatou que o papel do Intermediário de inovação tem vindo a ser investigado em

quatro campos distintos (cf. Quadro 5): difusão e transferência de tecnologia; gestão

da inovação (Intermediários como organizações e nas actividades em que estão

envolvidos); sistemas de inovação e redes de inovação; organizações de serviços de

conhecimento intensivo.

De uma modo geral, na área de transferência e difusão de tecnologias, o

Intermediário caracteriza-se por influir na difusão e adaptação dos produtos/serviços

tecnologias por parte das empresas, assim como proporcionar o suporte na tomada

18

da decisão de adoptar ou não determinada tecnologia, e por avaliar a tecnologia

quando esta se encontra no mercado (Mantel e Rosegger, 1987). Watkins e Horly

(1986) acrescentam ainda que quando a transferência de tecnologias é realizada em

empresas de dimensões distintas, o Intermediário possui ainda o papel de identificar

os parceiros e fornecedores, promover a moderação entre as entidades envolvidas e

apoiar nos acordos de cooperação que irão resultar das interacções (como por

exemplo, acordos de licenciamento).

No caso da gestão de inovação, são consideradas Intermediários as organizações

que apoiam empresas que não gozam da capacidade para a criação de networkings e

estabelecimento de elos de ligação (McEvily e Zaheer, 1999), transformam ideias e

efectuam transferência de conhecimento (Hargadon e Sutton, 1997). Neste caso o

seu papel não se reporta apenas a criar ligações, mas sim em facultar um repositório

de conhecimentos disponíveis para os utilizadores e a fornecer soluções que

correspondam a novas combinações de ideias já existentes, provenientes dos

clientes.

Na literatura dos sistemas de inovação faz-se a distinção entre empresas-

Intermediários (Stankiewicz, 1995), instituições de ligação (bridging institutions) e

comunidades de inovação (Lynn et al., 1996). As primeiras ajudam as empresas no

sentido de empresas a adoptar tecnologias que se encontram no mercado, as

instituições de ligação efectuam a interacção entre os vários intervenientes de um

sistema tecnológico. No caso de se tratar de comunidades de inovação, o seu âmbito

é um pouco mais restrito, consistindo num grupo de entidades que estabelecem

ligações dentro de uma rede de inovação. O papel principal dos Intermediários nos

sistemas de inovação consiste em moderar o nível organizacional e o nível político

(Howells, 2006).

O papel dos Intermediários é ainda alvo de estudo pela literatura das Knowledge

Intensive Business Suppliers (KIBS). Neste caso, os Intermediários possuem um

papel “close-contact” com os clientes para desenvolver alterações inovadoras.

Dentro destes quatro grupos, Howells (2006) constatou a existência de

sobreposições evidentes e de poucas referências cruzadas entre os diversos estudos

19

o que indicia que a informação que existe está bastante dispersa e que o papel do

Intermediário ainda não está bem fundamentado. No Quadro 5 sistematizam-se as

diferentes funções, de acordo com a taxonomia definida por Howells (2006)

efectuando o cruzamento com as diversas abordagens teóricas.

Quadro 5: Funções do Intermediário de acordo com a literatura

Abordagens teóricas

Transferência de

Tecnologia

Gestão de

Inovação

Sistemas de

Inovação KIBS

Transferência de Tecnologia e Conhecimento

� Difusão e adaptação de tecnologias

� Transferência de conhecimento

� Proximidade para promoção da inovação

� Suporte na decisão de adopção

� Suporte na adopção de tecnologias

Apoio à decisão

� Estudo de mercado para a

tecnologia

Networking � Identificar

parcerias � Networking e elos de ligação

� Ligações dentro de uma

rede de inovação

Funçõ

es

Moderação/ Intermediação

� Moderar e apoiar acordos

� Moderar a interacção entre

os intervenientes

Nota: KIBS – Knowledge Intensive Business Sectors

O estudo de Howells (2006), permite retirar algumas das conclusões aparentemente

inesperadas. Apesar das entidades intermediárias tenderem a estar focadas em

actividades particulares, ditas ‘tradicionais’, a evidência demonstra que o leque dos

serviços oferecidos parece estar a aumentar, estando os Intermediários a

desempenhar um papel mais variado e holístico do que era expectável. Neste

sentido, também se constata que o leque de funções desempenhadas pelos

Intermediários é muito mais vasto do que habitualmente se supunha.

Hargadon e Sutton (1997) são da opinião que o papel dos Intermediários se centra

basicamente em tecnologias específicas que se transferem entre empresa e

20

organizações e cujo objectivo consiste em novos usos e aplicações de tecnologias já

existentes para novos sectores. Neste sentido, as capacidades de consultoria surgem

como fundamentais para a actividade (Bessant e Rush, 1995).

Apesar de Mantel e Rosegger (1987) referirem que os Intermediários, após a

transferência de tecnologia, têm o papel de avaliadores dessa mesma tecnologia,

Bessant e Rush (1995) caracterizam as funções de uma forma mais ampla como:

articulação e selecção das tecnologias; localização de novas fontes de

conhecimento; criação de redes com portadores de conhecimento externo e

desenvolvimento e implementação. Massa e Testa (2008) focam ainda que as

empresas muitas das vezes recorrem às instituições de apoio para certificar

processos ou mesmo para os testar em laboratório. Kodama (2008), focalizando a

intermediação entre Universidade-Empresa, aponta que os Intermediários fornecem

informações para os potenciais parceiros, propiciando oportunidades para o

encontro dos interessados e ainda coordenam as actividades da colaboração de

forma a reduzir os custos associados. Acrescenta ainda que, actividades como o

apoio à participação das entidades em esquemas de apoio para financiamento em

I&D, organização de eventos para networking, licenciamento, apoio na criação de

novos negócios são alguns dos papéis que o Intermediário também poderá/deverá

preencher.

Outros autores (e.g. Bessant e Rush, 1995) completam a ideia de que as funções dos

Intermediários se estendem até à transferência de tecnologia, onde para além de

identificar a tecnologia, detêm também funções de filtragem de tecnologias,

identificação e localização de novas fontes de conhecimento, desenvolvimento e

implementação do negócio, interface entre os vários players, onde as estratégias de

inovação completam as actividades dos Intermediários da inovação.

Da compreensão das ideias atrás expostas, complementando e compilando com o

trabalho desenvolvido por Howells (2006), conseguimos identificar mais claramente

as áreas de actuação dos Intermediários e as suas respectivas funções (Quadro 6).

21

Quadro 6: Funções dos Intermediários

Área Função

Transferência de Tecnologia e Conhecimento

Previsão do planeamento tecnológico

Apoio na troca de conhecimento entre parceiros

Investigação e conhecimento interno para apoiar consórcio

Diagnosticar, testar, analisar e inspeccionar

Proporcionar instalações para ensaios em escala piloto

Desenvolvimento de protótipos e scale-up

Desenvolvimento de referências para acreditação

Avaliação dos produtos e tecnologias que se encontram no mercado

Apoio à decisão

Identificar oportunidades de mercado para o produto obtido

Apoio na protecção dos resultados (Propriedade Intelectual) Desenvolver planos de negócio

Networking Identificar e seleccionar possíveis parceiros

Moderação/ Intermediação

Facilitador de contractos de negociação

Apoio na regulamentação e moderação

Apoio na criação de canais de vendas

Apoio na obtenção de fundos para desenvolver a prova de conceito

De notar que as relações entre os Intermediários e os clientes são usualmente

efectuadas da forma um-para-um-para-um. Não obstante, nos sistemas de inovação

estas relações apresentam-se mais complexas sendo muitas vezes efectuadas da

forma muitos-para-um-para-muitos, ou mesmo muitos-para-um-para-um (Howells,

2006). Estas colaborações desenrolam-se por toda a cadeia de valor, horizontal e

vertical, o que faz com que os fornecedores recorram frequentemente aos

Intermediários para que estes consigam divulgar, junto de futuros clientes, as

inovações que desenvolveram.

No capítulo seguinte é descrito o processo metodológico subjacente à presente

dissertação tendo por base uma amostra representativa de projectos de cooperação

internacional em I&D.

22

Capítulo 2. Cooperação em I&D e o papel dos Intermediários.

Considerações metodológicas

2.1. Considerações iniciais

O processo de investigação teve início com a revisão da literatura sobre a

cooperação em I&D, apontando as principais razões, dificuldades e resultados bem

como a explanação do papel que os Intermediários desempenham nesse processo.

Da síntese de literatura, efectuada no Capítulo 1, identificámos algumas lacunas que

sustentam a investigação do presente trabalho de investigação. Em concreto, não

obstante a quantidade (e qualidade) de estudos existentes sobre a temática da

cooperação, nomeadamente, cooperação em I&D, poucos estudos focam a

cooperação em I&D envolvendo Pequenas e Médias Empresas (PMEs), e um menor

número ainda analisa o papel que os Intermediários desempenham nestas

colaborações. Existem dois importantes aspectos que merecem ser aqui ressalvados.

Um primeiro é o de, na sua generalidade, a evidência empírica existente sobre esta

temática - cooperação em I&D – tender a ser baseada na percepção das empresas,

negligenciando a percepção de instituições intermediárias, como por exemplo

institutos de I&D, Universidades e Associações Sectoriais. Adicionalmente, a

dimensão internacional da cooperação em I&D, envolvendo PMEs, não tem sido,

pelo nosso melhor conhecimento, abordada.

Assim, o presente estudo pretende aferir, por um lado, a percepção de empresas e

Intermediários relativamente às razões, dificuldades e resultados dos projectos de

cooperação internacional em I&D. Por outro lado, recolhe evidência sobre quais as

funções mais relevantes dos Intermediários nos projectos de cooperação em I&D

(novamente, segundo empresas e Intermediários). Face ao exposto, e dada a

dimensão internacional da nossa amostra, temos a aspiração de

explicarmos/identificarmos quais das variáveis associadas às características dos

projectos e das entidades respondentes, podem revelar-se relevantes e

estatisticamente significativas (positiva ou negativamente) para explicar quer o

elevado grau de importância atribuída aos Intermediários quer os resultados

atingidos nos projectos de cooperação internacional um I&D (Capítulo 3).

23

Ao longo deste capítulo descreve-se os pressupostos metodológicos subjacentes ao

presente estudo. Assim, a secção seguinte (Secção 2.2) fundamenta e detalha o

inquérito que sustenta todo o trabalho empírico da presente dissertação, interligando

a totalidade das questões de investigação. A Sessão 2.3 apresenta e justifica a

escolha da população inicial das entidades a inquirir. De seguida (Secção 2.4)

descreve-se todo o procedimento adoptado na recolha e tratamento dos dados.

Finalmente, na Secção 2.5 apresenta-se uma síntese estatística das principais

variáveis em análise que caracterizam a nossa amostra final. Convém referir, que ao

longo deste estudo, a nossa unidade de medida de referência principal é o projecto.

2.2. Detalhando o inquérito ministrado às empresas

Tendo por base os objectivos referidos e o facto de não existirem bases de dados

publicamente disponíveis que contenham informações sobre a temática em análise a

nível microeconómico (i.e., por empresas, instituição), em termos metodológicos, a

recolha de informação teve que passar necessariamente por recurso a inquéritos

directos a empresas (em concreto, PMEs) e Intermediários que num determinado

período tivessem estado envolvidos em projectos de cooperação internacional em

I&D.

O questionário que elaborámos (cf. Anexo 1) contém cinco partes distintas, de

acordo com as questões/objectivos de investigação atrás mencionadas (os). A

primeira parte caracteriza a entidade respondente, nomeadamente quanto à idade,

dimensão, tipo de entidade (PMEs, Outras), capital humano (número de

trabalhadores; número de engenheiros; trabalhadores com mais de 12 anos de

escolaridade) e medidas de performance (vendas; exportações; investimento em

I&D; capital estrangeiro). As restantes partes do inquérito questionam sobre os

motivos (Parte 2), dificuldades (Parte 3), papel dos Intermediários (Parte 4) e

resultados da cooperação (Parte 5). Foi aqui utilizado uma escala de Likert de 1-7

(1- nada importante/não alcançado … 7- extraordinariamente importante/ alcançado

na totalidade) para aferir o grau de importância atribuído por cada respondente a

cada item.

24

2.3. A população-alvo

A nossa população-alvo foi o conjunto de empresas (PMEs) e outras organizações

(aqui designadas por Intermediários) que participaram em projectos de investigação

do tipo Co-operative e Collective Research,2 no âmbito do Sexto Quadro

Comunitário de Apoio (FP6) promovido pela União Europeia (UE) que decorreu

entre 2002-2006. Esta população cumpre os requisitos exigidos pelas nossas

questões de investigação: projectos de cooperação internacionais em I&D;

envolvem PMEs e Intermediários.

A partir do documento publicado pela União Europeia - SME FP6 Project

Catalogue – A Collection of Co-operative and Collective Research Projects,3 onde

estão disponíveis todos os projectos de cooperação em I&D do tipo ‘Co-operative’ e

‘Collective’’, construímos a base de dados subjacente ao presente estudo.

O catálogo da UE faz uma sinopse de 473 projectos e, para cada um dos projectos,

indica o promotor e respectivos contactos (email; telefone e fax). Esta preciosa

informação permitiu operacionalizar, de uma forma rápida e eficiente, o envio dos

inquéritos. Adicionalmente, cada projecto continha também uma descrição do

mesmo e informação relativa às características do contrato e do número,

nacionalidade e designação das entidades envolvidas.

2.4. Procedimento de recolha e tratamento de dados

Posteriormente ao tratamento da informação de base disponibilizada no Catálogo,

procedemos ao envio dos 473 inquéritos. A forma de envio escolhida inicialmente

foi o e-mail em que cada questionário, escrito em inglês e personalizado com a

identificação da entidade responsável pelo projecto bem como com o nome e

designação do projecto, seguia como anexo acompanhado com uma mensagem

texto também personalizada com o nome do responsável de cada projecto. Os

inquéritos foram enviados em formato Word, com inserção de campos de

formulário, de forma a facilitar o seu preenchimento por parte do respondente. Dado

2 Enquanto que nos projectos do tipo Co-operative Research o I&D é atribuído a entidades que podem ser Universidades, Centros Tecnológicos, etc., nos de tipo Collective Research os performers externos são basicamente Associações específicas de cada sector de actividade. 3 In http://ec.europa.eu/research/sme-techweb/index_en.cfm?pg=publications, acedido em 15 de Setembro de 2008

25

que algumas entidades inquiridas estavam envolvidas em mais do que um projecto

de investigação, existiu também o cuidado de aquando do seu envio, anexar os

vários inquéritos correspondentes. O envio por e-mail foi efectuado por três vezes

no espaço de tempo de três semanas, pelo que existiu a necessidade de durante esse

período se proceder à actualização do ficheiro de modo a não enviar nenhum

inquérito que tivesse já sido respondido, o que exigiu um esforço e atenção

adicional. Para os 43 projectos que não conseguimos contactar por e-mail, as

entidades correspondentes foram contactadas (por duas vezes) via fax.

Quadro 7: Descrição do processo metodológico de recolha e tratamento de dados

DURAÇÃO DETALHES METODOLÓGICOS

29 Set/ 5 Out

6/12 Out

13/19 Out

20/26 Out

27 Out/ 2 Nov

3/9 Nov

Fase 1

Construção de base de dados (Excel)

Contactos do promotor do projecto (Fonte: documento UE).

E: 473 E: 366 E: 308 E: 43 E: 38

RN: 2 RN: 3 RN: 2 RN: 1 RN: 1

NR: 43 NR: 0 NR: 0 NR: 3 NR: 3

AR: 15 AR: 15 AR: 12 AR: 10 AR: 10

Rec

olha

de

dad

os

Fase 2

Envio e recepção dos inquéritos*

Via e-mail

Semanas: 6/12 Out, 13/19 Out e 20/26 Out.

Via fax

Semanas: 27 Out /2 Nov e 3/9 Nov. R: 47 R: 55 R: 21 R: 19 R: 32

Tra

tam

ento

de

dad

os

Fase 3

Construção Base de Dados para tratamento estatístico (SPSS)

Características dos projectos

(Fonte: documento EU)

Características das entidades

respondentes

(Fonte: inquérito)

Legenda: E: Envios; RN: Não Respondido; NR: Não Recepcionado; AR: Aguarda Resposta; R: Resposta

* Inquéritos excluídos de envio semanal: respostas negativas e a aguardar resposta.

A contabilização e súmula deste processo está descrita na Figura 1, tendo-se

registado uma taxa de resposta de 37%,4o que face ao curto espaço de tempo com

que decorreu e dada a sua natureza não obrigatória, se revela bastante satisfatória.

4 A taxa de resposta foi obtida através do quociente entre o total de inquéritos recebidos e a diferença entre o número total de inquéritos enviados (projectos) e número de inquéritos não recepcionados.

26

Figura 1: Contabilização do envio e recepção dos inquéritos

2.5. Breve caracterização da amostra dos projectos e das organizações

respondentes associadas

O resultado da pesquisa originou uma amostra de 174 projectos de cooperação

internacional em I&D, envolvendo 71 empresas (1 portuguesa e 70 de 16 países da

UE) e 61 entidades intermediárias (1 portuguesa e 60 de outros 15 países). Da nossa

amostra final (174 projectos), 84 foram respondidos por empresas e 90 por

entidades intermediárias. A análise em termos percentuais da sua distribuição

evidencia que 48,3% das respostas recepcionadas dizem respeito a empresas e

51,7% correspondem a Intermediários, o que revela a sua uniformidade quanto ao

tipo de entidade respondente.

O Quadro 8 retrata as principais características de algumas das variáveis utilizadas

no modelo de estimação econométrico (área, duração, custo, financiamento, tipo de

contrato, entidades por projecto, países por projecto e países promotores) dos

projectos de cooperação internacionais em I&D, estabelecendo o paralelismo entre a

população inicial e a nossa amostra final. O teste não paramétrico das médias

(Kruskal Wallis Test) mostra que, para variáveis consideradas críticas, não existem

diferenças estatisticamente relevantes, entre a nossa amostra final e os projectos não

respondidos (cf. Quadro 8). Relativamente à população inicial de projectos, e no

que respeita ao conjunto de variáveis que dizem respeito à área de desenvolvimento

do projecto, apenas a amostra de respostas do sector Agro-alimentar & Aquacultura

aparece sub-representada, embora de forma pouco notória. Similarmente, o mesmo

de verifica em relação à variável da nacionalidade do país promotor relativa ao

Reino Unido. Face à evidência apresentada, podemos afirmar que o conjunto de

dados recolhidos através do nosso inquérito (amostra), é manifestamente

representativo da população.

27

Quadro 8: Sumário estatístico das características dos projectos de cooperação internacionais em I&D – população versus amostra

Média Kruskal Wallis Test

Variáveis População (n=473)

Amostra (n=174)

Chi-Square

Asymp. Sig.

Custo do projecto (€) 1.670.761,8 1.700.641,7 0,670 (0,413)

Financiamento (€) 1.000.868,1 1.024.259,5 0,403 (0,525)

Número de entidades participantes 11,4 11,8 0,881 (0,348)

Tipo de Contrato (%)

Co-operative Research 82,5 81,0

Collective Research 17,5 19,0

0,382 (0,537)

Número de países envolvidos 5,4 5,6 1,550 (0,213)

Duração (meses) 27,7 27,9 0,820 (0,365)

Áreas do projecto (%)

Agro-alimentar & Aquacultura 18,0 14,9

Ambiente 9,1 10,9

Biotecnologia & Saúde 10,6 8,6

Ciências de Gestão 0,2 0,0

Construção 1,9 1,2

Energia 7,8 8,1

Materiais & Processos 36,4 36,8

Silvicultura 0,8 1,2

TIC & Electrónica 13,1 14,9

Transporte 2,1 3,4

Promotores por países (%)

Alemanha 18,0 18,4

Áustria 4,4 5,2

Bélgica 1,9 2,9

Chipre 0,2 0,0

Dinamarca 2,3 1,7

Espanha 13,7 14,4

Finlândia 1,9 2,3

França 3,2 2,3

Grécia 2,1 3,4

Holanda 6,6 5,7

Hungria 1,1 1,7

Irlanda 0,4 0,0

Islândia 0,4 0,6

Israel 0,8 0,0

Itália 11,0 10,3

Lituânia 0,2 0,6

Noruega 4,7 5,2

Polónia 0,6 0,6

Portugal 1,3 1,7

Reino Unido 21,8 19,5

Suécia 3,0 2,9

Suíça 0,4 0,6

Fonte: Autores com base em documento publicado pela União Europeia – SME FP6 Project Catalogue.

28

Em média, o custo de cada projecto corresponde a 1.700.642 Euros, a que

corresponde uma comparticipação por parte da UE equivalente a 60%, tem uma

duração da execução de aproximadamente 28 meses e envolve 12 entidades

pertencentes a 6 países distintos. O tipo de contrato que prevalece é o Co-operative

Research (81%).

As principais áreas sobre que incidem este tipo de projectos são, por ordem

decrescente de importância: Materiais & Processos, TIC & Electrónica e Agro-

alimentar & Aquacultura. Conjuntamente, estas três áreas, representam em termos

percentuais e em média, 66,6 % da amostra final indiciando a sua forte componente

tecnológica. As áreas menos representadas são: Transporte (3,4%), Construção e

Silvicultura (ambas com 1,2%) e Ciências de Gestão (sem registos apurados,

embora na população inicial a sua representatividade também seja mínima).

Foram identificados 22 nacionalidades distintas relativas aos países promotores,

sendo que esta responsabilidade se encontra repartida maioritariamente (62,4%) por

quatro países: Reino Unido, Alemanha, Espanha e Itália. Como curiosidade, embora

se apresente sem representatividade notória em termos de entidade promotora,

Portugal exibe um peso de 1,7%, figurando ao lado de países como a Dinamarca e

Hungria, e acima de países ditos de economia emergente como a Polónia, Lituânia,

Islândia.

Se analisarmos o peso médio de cada país por projecto (Figura 2), relativamente ao

país de origem da entidade respondente (novamente, empresas e Intermediários),

verificamos existir uma maior diversidade de nacionalidades envolvidas (37). No

entanto, e à excepção da Itália, embora o seu peso diminua em termos percentuais

(embora de forma pouco significativa), no ranking dos Top-4 continuam a figurar

os quatro países identificados como mais representativos analisados em termos de

país de origem de entidade respondente.

29

0,0

0,1

0,1

0,1

0,1

0,2

0,2

0,3

0,3

0,4

0,4

0,4

0,6

0,9

0,9

1,0

1,2

1,2

1,2

1,5

2,1

2,1

2,1

2,3

2,3

2,5

2,5

3,1

3,4

3,6

3,9

4,7

5,1

10,0

11,8

13,6

13,8

0 10 20

Israel

Estados Unidos

Chile

Brasil

Austrália

Rússia

Irlanda do Norte

Malta

Letónia

Islândia

Chipre

Bulgária

Turquia

Lituânia

Estónia

Eslovénia

Suiça

Roménia

Eslováquia

Irlanda

Hungria

Finlândia

Dinamarca

República Checa

Portugal

Grécia

Bélgica

Áustria

Suécia

Polónia

Noruega

França

Holanda

Itália

Espanha

Reino Unido

Alemanha

Figura 2: Peso médio de cada país em cada projecto (n=174)

30

A análise das correlações do peso médio de cada país em cada projecto (Quadro 9),

permite-nos extrair informação acerca do grau de envolvimento entre os países que

apresentam maior representatividade na nossa amostra (Reino Unido, Alemanha,

Espanha e Itália). Neste tipo de projectos, se a nacionalidade da organização da

entidade promotora for o Reino Unido, este país tende a ter representado um maior

número de organizações do Reino Unido em cada projecto. Para além disso, em

projectos que envolvam entidades do Reino Unido, tendem a envolver um menor

número de organizações de nacionalidade, alemã, espanhola, e italiana (correlação

estatisticamente significativa e negativa). De forma análoga, projectos em que

participem entidades de nacionalidade alemã tendem a envolver um menor número

de entidades italianas e do Reino Unido e em projectos que envolvam entidades de

nacionalidade italiana participam menos entidades de nacionalidade alemã e do

Reino Unido. Como curiosidade, embora não evidenciado no Quadro 9, as

evidencias apontam para que projectos que envolvam entidades portuguesas tendem

a abarcar mais entidades de nacionalidade australiana (correlação estatisticamente

significativa e positiva).

Quadro 9: Estatísticas descritivas e matriz de correlação do peso médio de cada país por projecto

Proporcionalidade Média SD Mínimo Máximo (1) (2) (3) (4) (5) (6)

(1) País Promotor 0,262 0,130 0 0,64 1 0,026 0,159* 0,030 0,068 0,092

(2) Alemanha 0,138 0,150 0 0,57 1 -0,181* -0,137 -

0,210** -0,116

(3) Reino Unido 0,136 0,166 0 0,67 1 -

0,209** -0,182* -0,004

(4) Espanha 0,118 0,148 0 0,56 1 -0,082 -0,004

(5) Itália 0,100 0,146 0 0,60 1 -0,070

(6) França 0,470 0,096 0 0,71 1

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

O Quadro 10 evidencia algumas estatísticas descritivas que nos permitem

caracterizar as entidades respondentes e que, tal como referenciado anteriormente,

são responsáveis pela promoção de cada um dos projectos.

31

Quadro 10: Algumas estatísticas descritivas das entidades respondentes

Média

Variáveis 71 Empresas (n=84)

61 Intermediários (n=90)

Total da Amostra (n=174)

Nº Trabalhadores 49,8 746,7 398,3

Engenheiros no total dos trabalhadores (%) 54,5 46,6 50,7

I&D no total das vendas (%) 41,1 66,4 53,1

Exportações no total das vendas (%) 35,3 21,5 29,3

Capital Estrangeiro (%) 8,9 1,7 5,6

Nota: Média para o período 2005-2007

Fonte: Autores com base em inquérito directo a entidades envolvidas em projectos de cooperação internacional em I&D.

Da observação do quadro anterior podemos afirmar que em relação às variáveis

relativas à componente humana, e em média, o número de trabalhadores relativos

aos Intermediários é significativamente maior do que nas empresas, embora nos

dois casos difira bastante da média observada para a totalidade da amostra (398,3), e

que o rácio de engenheiros no total dos trabalhadores apresenta um valor bastante

alto (50,7%).

Relativamente às variáveis que medem o índice de performance (em média) das

entidades respondentes: o rácio do I&D no total das vendas representa mais de

metade do investimento total das entidades respondentes (53,1%), sendo que no

caso das entidades intermediárias se apresenta nos 66,4%; a percentagem de

exportações no total das vendas é superior no caso das empresas (35,3% face a

21,5% no caso de se tratar de entidades intermediárias) embora em ambos os casos

o valor seja significativo; enquanto que a percentagem de capital estrangeiro

apresenta um valor diminuto, 8,9% no caso de se tratar de empresas e 1,7% no caso

das entidades intermediárias.

Ao adoptarmos os critérios de agrupamento a recomendação da União Europeia

(2003) relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas, decompõe-se a

amostra em cinco categorias diferentes (Figura 3). O cruzamento das nossas

variáveis, número de trabalhadores com o tipo de entidade, revela que o peso das

grandes empresas é nulo e que as pequenas e médias (pequenas e grandes) empresas

32

é de quase 77%. No que diz respeito às entidades intermediárias constata-se que

estes enquadram as cinco categorias definidas, sendo que 33,3% possuem mais de

500 trabalhadores e que quase 45% apresentam entre 50 a 499 trabalhadores o que

revela que este tipo de entidades apresenta um elevado grau de empregabilidade.

6,2%

49,4%

34,6%

22,2%

9,9% 33,3%

23,5%

16,0%

4,9%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Intermediários

Empresas

[1;9]- Micro

[10;49] - Pequenas

[50;249] - Médias-Pequenas

[250;499] - Médias-Grandes

+ 500 - Grandes

Figura 3: Número de trabalhadores por tipo de entidade respondente (n=174)

Nota: Média para o período 2005-2007 Fonte: Autores com base em inquérito directo a entidades envolvidas em projectos de cooperação internacional em I&D.

As figuras seguintes demonstram, as médias globais de intensidade de qualificação -

medida em termos de número de engenheiros.

[20%;100%]81%

06%

[3%;5%[2%

[5%;20%[10%

[1%;3%[1%

Figura 4: Número de engenheiros no total de trabalhadores (%) (n=174)

8,1%

15,0%

83,8%

5,0%

5,4%

77,5%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Intermediários

Empresas

0

[1%;3%[

[3%;5%[

[5%;20%[

[20%;100%]

Figura 5: Número de engenheiros no total de trabalhadores por tipo de entidade respondente (%) (n=174)

Nota: Média para o período 2005-2007

Fonte: Autores com base em inquérito directo a entidades envolvidas em projectos de cooperação internacional em I&D.

De um modo geral, e em média, as empresas respondentes apresentam um rácio

ligeiramente superior de engenheiros relativamente ao emprego total das entidades

intermediárias (54,5% versus 46,6%). Não obstante, 83,5% dos Intermediários

33

inquiridos declararam ter nos seus quadros entre 20 a 100 engenheiros,

apresentando, nesta categoria, um rácio superior ao das empresas que não deixa de

ser também surpreendentemente elevado (77,5%). Da análise em termos globais

constata-se que 81% das entidades inquiridas integram nos seus quadros 81% de

engenheiros relativamente à totalidade dos seus quadros o que denota uma elevada

componente de qualificação em relação ao emprego total (Wood e Ridao-Cano,

1999; Noorbaksh et al., 2001).

4

8

24 3 2 1

2

5

57

40

1

2 1

8

2

14

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Intermediários

Empresas

Agricultura, produção animal,caça, pesca e florestaIndústrias transformadoras

Electricidade, gás, vapor

Tratamento, distribuição e gestãode águas residuaisConstrução

TICs

Consultoria, actividades técnicas eCientíficasEducação

Actividades nas áreas sociais e dasaúdeArtísticas, desportivas e de lazer

Outras actividades na área dosserviços

Figura 6: Distribuição das entidades respondentes por tipo de actividade

Conforme destacado na Figura 6, do cruzamento da nossa variável estratégica tipo

de entidade com o tipo de actividade desenvolvida, revela alguns padrões

interessantes. As áreas associadas à consultoria, actividades técnicas e científicas

prevalecem em ambos os casos (empresas e Intermediários). No caso das empresas,

para além desta área, que representa 40% das respostas fornecidas, as indústrias

transformadoras também apresentam um peso significativo, correspondendo a quase

¼ do seu peso total. No caso de se tratar de uma entidade intermediária, os dados

recolhidos revelam que estes se enquadram em mais duas áreas estatisticamente

significativas, sendo que 14% do seu total pertence a áreas ligadas à educação

(Universidades e Institutos) e 8% enquadram-se noutras actividades na área dos

serviços (Associações). A evidência apresentada corrobora a literatura no sentido

em que confirma que a actividade de intermediação é maioritariamente

34

desempenhada por entidades ligadas a Universidades, Institutos e Associações bem

como outros organismos, como por exemplo, consultores.

25,4%

61,9%

5,3%

86,0%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

0 ]0;5%[ [5%;20%[ [20%;100%] + 100%

% total de projectos (n=174)

Empresas

Intermediários

Figura 7: Tipo de entidade por intensidade de I&D (rácio I&D sobre as vendas)

Nota: Média para o período 2005-2007

À primeira vista, as iniciativas em I&D são bem inferiores nas empresas do que nas

entidades intermediárias (Figura 7). Conforme referido anteriormente, em média, as

empresas investem 41,1% do seu volume de negócios em actividades de I&D,

enquanto que os Intermediários investem 66,4%. Estes valores não deixam de ser,

no entanto, bastante significativos e demonstrativos da importância que o I&D

desempenha nas suas estratégias de desenvolvimento. Cerca de 62% das empresas

inquiridas declararam investir entre 20 a 100% do seu volume total de negócios em

despesas de I&D. Para a mesma categoria de investimento, os Intermediários

investem 86%. Estes valores são indicativos do elevado grau de importância

atribuído a actividades ligadas à investigação e desenvolvimento.

Da análise da Figura 8 consta-se uma fraca propensão das entidades promotoras

para actividades exportadoras. Este resultado poderá indiciar que os principais

motivos que estão na base destes projectos poderão não ter a ver com a sua

componente comercial mas com outro tipo de razão.

35

24,0%

20,0%

34,0%

20,0%

2,0%

19,7%

15,2%

21,2%

19,7%

9,1%

15,2%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%

0

]0;20%[

[20%;40%[

[40;60%[

[60%;80%[

[80%;100%]

% total de projectos

Empresas

Intermediários

Figura 8: Tipo de entidade por rácio de exportações sobre vendas (n=174)

Nota: Média para o período 2005-2007

No que diz respeito à percentagem de capital estrangeiro detido por cada entidade

(Figura 9) deve salientar-se que uma percentagem substancial das entidades

respondentes é totalmente detida por capital nacional (77,3% no caso de se tratar de

empresas e 92,6% no caso dos Intermediários).

92,6%

1,9%

5,6%

77,3%

6,1%

9,1%

1,5%

6,1%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%

0

[1%;10%]

[11%;50%]

[51%;74%]

[75%;100%]

% total de projectos

Empresas

Intermediários

Figura 9: Tipo de entidade por rácio de capital estrangeiro (n=174)

Face aos elementos reunidos, e dada a dimensão e cariz internacional da amostra, é

exequível, após devido tratamento estatístico, proceder a análises comparativas que

nos permitirão tecer considerações de política na área da cooperação tecnológica.

36

Capítulo 3. Relevância das Instituições de Apoio ao I&D na

cooperação empresarial em I&D. Uma aplicação

empírica de nível internacional.

3.1. Considerações iniciais

O presente estudo tem por objectivos, por um lado, analisar empiricamente a

percepção de empresas e Intermediários relativamente às razões, dificuldades e

resultados dos projectos de cooperação internacional em I&D e, por outro lado,

recolher evidência sobre quais as funções mais relevantes dos Intermediários nos

projectos de cooperação internacional em I&D (novamente, segundo empresas e

Intermediários).

Existem, como sistematizamos no Capítulo 1, poucos estudos empíricos que

avaliem e quantifiquem de entre as funções que os Intermediários desempenham,

quais são as que se perfilam como as mais relevantes para as empresas. Assim,

pretendemos aqui acrescentar mais detalhe empírico sobre o papel e os benefícios

criados pelos Intermediários envolvidos em projectos de cooperação em I&D, e

simultaneamente, sublinhar as principais diferenças observadas entre os países a

este nível, bem como a motivação, os obstáculos e os resultados que estão

subjacentes a este tipo de projectos.

Para este propósito, conforme detalhado no Capítulo 2, utilizamos um questionário

dirigido a empresas que participaram em projectos de I&D do 6º Programa Quadro,

envolvendo PMEs e entidades intermediárias, as quais desempenham um papel

chave no reforço da capacidade de inovação dessas PMEs.

Em suma, como referido na Introdução, as nossas questões de investigação, que

tentamos responder no presente capítulo, são:

1. Quais são as principais razões/motivos que levam as organizações a cooperar em

I&D?

2. Quais são as principais dificuldades e resultados encontrados pelas organizações

na cooperação em I&D?

37

3. Quais são, na percepção das entidades envolvidas, as principais funções

desempenhadas pelos Intermediários na cooperação em I&D?

Neste capítulo começamos por descrever as principais motivações para a

cooperação em I&D (Secção 3.2). Posteriormente (Secção 3.3), descrevemos as

principais dificuldades e resultados desses projectos de cooperação. Na Secção 3.4,

aferimos, na percepção das entidades envolvidas, as principais funções

desempenhadas pelos Intermediários na cooperação em I&D. Finalmente, na Secção

3.5, apresentamos os resultados de estimação do modelo Logit, a partir do qual

discutimos os factores que explicam a maior importância atribuída aos

Intermediários, bem como os factores que estão na base de perceções de resultados

globais e específicos acima da média por parte das entidades promotoras

participantes.

3.2. Razões para a cooperação internacional em I&D

Tendo em consideração a amostra total que respondeu ao inquérito sobre

cooperação em I&D (Figura 10), constata-se que o número de respostas obtidas

acima dos 50% do número total de projectos referem-se a “Promover a partilha de

conhecimento/aprendizagem” e “Promover a imagem da empresa”, com 62,7% e

50,9% respectivamente, figurando entre os principais motivos que justificam a sua

participação em projectos de cooperação internacional em I&D.

As questões associadas ao desenvolvimento tecnológico, nomeadamente no que diz

respeito ao custo e risco, são razões consideradas importantes ou extremamente

importantes para, respectivamente, 46,9% e 46,1% dos inquiridos.

Surpreendentemente a “Reputação da Instituição de Apoio/Promotora” figura entre

as principais razões que potenciam a cooperação (44,7%). Os motivos associados a

aspectos comerciais e de penetração no mercado encontram-se entre as razões

menos valorizadas por parte dos inquiridos. Esta constatação pode ficar a dever-se

ao facto de os projectos em análise estarem mais a montante do processo de

inovação, onde a preocupação com a Investigação e o Desenvolvimento são mais

38

prementes e as questões de Aplicação ao nível de mercado dessa mesma I&D é um

objectivo de mais longo prazo.

20,4

46,9

16,0

46,1

28,0

42,3

50,9

62,7

44,7

17,1

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0

Reduzir o custo de entradano mercado

Reduzir o custo dedesenvolvimento

tecnológico

Reduzir o risco de entrada nomercado

Reduzir o risco dedesenvolvimento

tecnológico

Reduzir o tempo decomercialização de novos

produtos

Reduzir o tempo dedesenvolvimento de novos

produtos

Promover a imagem daempresa

Promover a partilha deconhecimento/aprendizagem

Reputação da Instituição deApoio/Promotora

Atingir economias de escalana produção

CUST

ORISCO

TEM

POCONHECIM

ENTO/

IMAGEM

OUTRAS

Figura 10: Razões para a cooperação internacional em I&D

Nota: Em percentagem de projectos em que as entidades respondentes consideram o item importante ou extremamente importante

Fonte: Autores com base em inquérito directo a entidades envolvidas em projectos de cooperação internacional em I&D.

Não obstante, quando analisada conjuntamente, e relativamente às observações

registadas, quer por parte das empresas, quer por parte das entidades intermediárias

(Quadro 11), verifica-se que, em média, existe uma grande decalage na percepção

entre as duas entidades respondentes, sendo que esta é muito mais relevante no caso

dos Intermediários do que nas empresas.

Outra ilação que se pode retirar é que, em média, e à excepção da razão referida

anteriormente de “Promover a partilha de conhecimento/aprendizagem”, todos os

outros motivos apontados são mais valorizados pelas empresas do que pelos

Intermediários.

39

O teste não paramétrico das médias, denominado Kruskall Wallis Test, permite-nos

aferir de entre os motivos apontados aqueles que apresentam diferenças

estatisticamente significativas ao nível das percepções entre as duas entidades

respondentes (empresas e Intermediários).

Como podemos observar, verificamos que existem diferenças estatisticamente

significativas relativamente às questões identificadas na literatura como sendo de

natureza comercial, nomeadamente quanto ao motivo “Reduzir o custo de entrada

no mercado”, “Reduzir o risco de entrada no mercado”, “Reduzir o tempo de

comercialização de novos produtos”, que neste caso são percepcionados pelas

empresas como mais importantes. Para além dos motivos apontados, “Promover a

partilha de conhecimento/aprendizagem” também é um motivo que evidencia uma

diferença de percepção estatisticamente significativa, sendo que, neste caso, mais

valorizado pelas entidades intermediárias.

Quadro 11: Razões para a cooperação internacional em I&D por entidade respondente

Média Kruskal Wallis Test Variáveis Empresas

(n=84) Intermediários

(n=90) Chi-Square

Asymp. Sig.

Reduzir o custo de desenvolvimento tecnológico 5,11 4,70 2,596 (0,107)

Reduzir o custo de entrada no Mercado 4,18 3,58 4,202 (0,040) **

Reduzir o risco de desenvolvimento tecnológico 5,10 4,67 2,578 (0,108)

Reduzir o risco de entrada no Mercado 4,06 3,49 3,835 (0,050) **

Atingir economias de escala na produção 3,68 3,29 2,112 (0,146)

Reduzir o tempo de desenvolvimento de novos produtos 4,60 4,60 0,001 (0,976)

Reduzir o tempo de comercialização de novos produtos 4,49 3,52 11,773 (0,001) ***

Promover a partilha de conhecimento/aprendizagem 5,14 5,80 7,305 (0,007) ***

Promover a imagem da empresa 5,13 5,02 0,329 (0,566)

Reputação da Instituição de Apoio/Promotora 4,39 5,04 4,819 (0,028) **

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

3.3. Dificuldades e resultados encontrados nos projectos de cooperação

internacional em I&D

Muito embora numa primeira análise não pareça existir grandes dificuldades

associadas aos projectos de cooperação em análise (no global, para empresas e

Intermediários, a média registada é de 3,4 numa escala de 1 a 7), constata-se que,

40

em média, as empresas percepcionam de forma mais significativa as dificuldades

associadas ao processo de cooperação do que as entidades intermediárias (Quadro

12). Em termos de scoring, no entanto, não se verificam grandes oscilações entre as

duas percepções.

Tendo em conta o exposto anteriormente, as principais dificuldades sentidas são

“Falta de empenho”, “Problemas com os parceiros-empresas”, “Escassez de

recursos financeiros” e “Escassez de recursos humanos”. Os factores identificados

na literatura como factores de natureza relacional (Hladik, 1988; Mora-Valentin et

al., 2004) afiguram-se desvalorizados neste tipo de projectos. No que diz respeito às

dificuldades menos percepcionadas por ambos os tipos de entidade respondente,

parece também verificar-se uma concordância, sendo que “Dificuldades culturais” e

“Divergências pessoais” são as menos referidas. Não obstante, os resultados

empíricos evidenciam diferentes e estatisticamente significativas percepções por

ambos os tipos de organizações respondentes no que concerne a “Problemas com os

parceiros-instituiçoes de apoio” e “Falta de empenho”, sendo que em ambos os

casos as empresas, e em média, lhe atribuem um grau de importância mais elevado.

Quadro 12: Dificuldades para a cooperação internacional em I&D por entidade respondente

Média Kruskal Wallis Test Variáveis Empresas

(n=84) Intermediários

(n=90) Chi-Square

Asymp. Sig.

Divergências estratégicas/objectivos 3,18 3,14 0,017 (0,897)

Problemas com os parceiros-empresas 4,19 4,01 0,471 (0,493)

Problemas com os parceiros-instituições de apoio 3,67 2,92 8,199 (0,004) ***

Relação de poder assimétrica 3,29 3,04 0,925 (0,336)

Diferenças culturais 2,71 2,68 0,060 (0,806)

Falta de confiança entre os parceiros 2,95 3,00 0,024 (0,878)

Divergências pessoais 2,74 2,44 4,543 (0,033)

Falta de empenho 4,31 3,87 2,751 (0,097) *

Expectativas/timings irrealistas 3,76 3,67 0,264 (0,608)

Incentivos assimétricos 3,41 3,07 2,101 (0,147)

Escassez de recursos financeiros 3,91 3,73 0,456 (0,499)

Escassez de recursos humanos 3,81 3,88 0,075 (0,784)

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

41

Quando analisadas as respostas relativas aos resultados obtidos da cooperação

(Figura 11), constata-se que estes se focalizam mais naqueles que são habitualmente

obtidos no longo prazo em detrimento daqueles que estão associados ao curto prazo.

Neste tipo de projectos, as questões que se referem à “Melhoria da imagem da

empresa” e “Emergência de novas alianças estratégicas”, são o exemplo que

demonstra essa evidência, uma vez que foi mencionado respectivamente por 47% e

29,3% da totalidade dos inquéritos recepcionados, podendo concluir-se que estes

mesmos resultados vão ao encontro dos motivos principais definidos para a

colaboração.

Outra conclusão curiosa que se pode extrair é que a questão da inovação está bem

presente nesta tipologia de projectos. Tal é demonstrado pelo número de respostas

no que diz respeito a “Implementação de novos processos” e “Lançamento de novos

produtos”, dado que figuram de entre os resultados esperados em segundo e em

terceiro lugar, respectivamente, recolhendo 38,1% e 35,4% do total dos inquéritos

recebidos. Mais uma vez se verifica que as questões associadas com o mercado não

são muito referenciadas.

7,5

8,4

15,7

19,2

22,6

23,4

29,3

35,4

38,1

47,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Aumento da quota de exportação

Criação de emprego

Aumento dos lucros

Entrada em novos mercados

Aumento da eficiência

Patentes/outra Propriedade Intelectual

Emergência de novas alianças estratégicas

Lançamento de novos produtos

Implementação de novos processos

Melhoria imagem empresa

Figura 11: Resultados da cooperação internacional em I&D

Nota: Em percentagem de projectos em que as entidades respondentes consideram o item importante ou extremamente importante

Fonte: Autores com base em inquérito directo a entidades envolvidas em projectos de cooperação internacional em I&D.

42

À excepção do “Aumento dos lucros” e “Emergência de novas alianças

estratégicas” (cf. Figura 12), todos os outros resultados que se verificaram são

percepcionados em maior escala pelas empresas.

Existe uma grande decalage de percepção entre os dois tipos de entidades

respondentes quanto ao “Aumento dos lucros” e a “Patentes/outra Propriedade

Intelectual”.

1=não a lcançado de to do 7=a lcançado na to ta lidade

**

*

0

1

2

3

4

5

6

7Lançamento de novos produtos

Implementação de novos processos

Entrada em novos mercados

Aumento dos lucros

Criação de emprego

Emergência de novas alianças estratégicas

Aumento da quota de exportação

Aumento da eficiência

Patentes/outra Propriedade Intelectual

Melhoria imagem empresa

Empresas (n=84)

Intermediários (n=90)

Figura 12: Resultados da cooperação internacional em I&D por tipo de entidade respondente

Nota: Valores em média; ver detalhe em Anexo A2 – Quadro 14

** Significância 5% *; Significância 10%

Como referido no capitulo anterior, o inquérito ministrado às empresas previa, para

cada grupo de questões (recorde-se, razões, dificuldades, papel dos Intermediários e

resultados do processo de cooperação em I&D), uma questão de resposta aberta.

Embora as respostas que observaram não tenham sido em número significativo,

toda a evidência recolhida foi incluída na nossa análise, embora não tenha sido

considerada no tratamento estatístico, dada a sua natureza pontual. Assim sendo, no

que diz respeito aos motivos apontados para a cooperação, os inquiridos apontaram:

“educação”; “descoberta de novos conceitos”; “valorização de mercado” e “serviço

que promova o I&D no Reino Unido na indústria da cerâmica”. Como dificuldades

acrescentaram “elevado grau de burocracia”.

43

3.4. Importância atribuída pelas entidades participantes em projectos de

I&D aos Intermediários

A nível mais descritivo, a figura seguinte tem como objectivo, identificar de entre as

funções desempenhadas pelos Intermediários, aquelas que se revelam mais

importantes na percepção das entidades respondentes, fazendo um paralelismo com

as novas funções identificadas por Howells (2006) no seu trabalho seminal.

Como se pode verificar, as organizações inquiridas, avaliaram que a função

“Investigação e conhecimento interno para apoiar o consórcio” foi a função mais

desempenhada pelos Intermediários, estando representada em 55% do total dos

projectos (ver Figura 13). Considerando que o motivo mais mencionado para a

cooperação empresarial foi a “Promoção e partilha de conhecimento/aprendizagem”

(62,7% dos projectos invocaram essa importância), leva-nos a crer que os inquiridos

encaram que os Intermediários desempenham aqui um papel fundamental para a

promoção e intercâmbio de conhecimentos e de know-how. A função “Diagnosticar,

testar, analisar e inspeccionar” englobada dentro do grupo “Testar e validar” é outra

das funções mais valorizadas pelas entidades respondentes. Funções apontadas na

literatura como sendo relevantes, tais como “Apoio na regulamentação e

moderação” (Hoppe e Ozdenoren, 2005), e as associadas à natureza comercial

referidas por Kodama (2008) e Howells (2006) não são consideradas como tão

relevantes neste tipo de projectos, apresentando percentagens de, respectivamente,

16%, 1% e 15%.

44

31,0

46,1

55,0

41,7

14,5

47,9

40,8

39,1

11,4

10,2

16,1

18,5

13,3

7,2

21,1

19,9

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

Identificar e

seleccionar po

ssíveis

parceiros

Investigação

eco

nhecimento interno

para apo

iar

consórcio

Diagnosticar, testar,

analisar e

inspeccion

ar

Propo

rcionar

instalaçõe

s pa

raensaios em

escala

piloto

Desenvo

lvimento de

protótipos e scale-up

Identificar

oportunida

des de

mercado

para o

prod

uto ob

tido

Desenvo

lver plano

sde

negóc

ioApo

io na criação de

canais de vend

asApo

io na ob

tenção

de fu

ndos para

desenvolver a

prova

de con

ceito

1.Previsão do

planeamento

tecnológ

ico (31,0%

)

2.Identificação

e processam

ento da

inform

ação

(55

,6%)

3.Apo

io na troc

a de

conhecimento entre

parceiros (41,7%

)

4.Facilitado

r de

contractos de

nego

ciação

(14

,5%)

5.Testar e validar (42

,6%)

6.Desenvo

lvimento

de referências para

acreditação (11,4%

)

7.Apo

io na

regulamentação e

mod

eração

(10

,2%)

8.Apo

io na

protecção do

sresultado

s(Proprieda

deIntelectual) (16

,1%)

9.Com

ercialização

(15

%)

10.A

valiação do

sprod

utos e

tecnolog

ias qu

e se

enco

ntram no

mercado

(19

,9%)

Fig

ura

13:

Pap

el d

os Inte

rmed

iári

os n

o pro

cess

o de

coop

eraç

ão in

tern

acio

nal

em

I&

D

Nota: Em percentag

em de projectos em

que

as en

tida

des resp

onde

ntes con

side

ram o item

impo

rtan

te ou ex

trem

amen

te im

portan

te

45

Como podemos concluir da análise da Figura 14, no que diz respeito à percepção

das funções/papéis desempenhadas pelos Intermediários, aferidas quer do ponto de

vista das empresas quer do ponto de vista dos Intermediários, constata-se que à

excepção de “Apoio na criação de canal de vendas” e “Desenvolver planos de

negócio” todas as outras funções são percepcionadas de forma relativamente

significativa por parte das entidades intermediárias.

No caso da entidade respondente se tratar de uma empresa, as funções consideradas

como mais importantes foram “Investigação e conhecimento interno para apoiar

consórcio”, “Apoio na troca de conhecimento entre parceiros” e “Identificar e

seleccionar possíveis parceiros”. Seguem-se as funções consideradas menos

tradicionais como fazendo parte do papel desempenhado pelos Intermediários como

testar e validar (Howells, 2006), tais como “Diagnosticar, testar, analisar e

inspeccionar”, “Proporcionar instalações para ensaios em escala piloto”,

“Desenvolvimento de protótipos scale-up”. Não é de surpreender, uma vez que a

evidência empírica revela que as razões associados à comercialização e ao mercado

são relativamente pouco referenciadas, que os itens “Identificar oportunidades de

mercado para o produto obtido”, “Desenvolver planos de negócio”, “Apoio na

criação de canais de vendas” e “Apoio na obtenção de fundos para desenvolver a

prova de conceito” apareçam aqui como as funções menos menos valorizadas pelas

empresas. Tal facto pode ficar a dever-se às características dos projectos dado que

estes são pouco direccionados para a aplicação e mais direccionados para montante.

No que diz respeito à percepção do papel dos Intermediários, por eles mesmos, a

opinião em termos de ranking de funções é praticamente a mesma, à excepção da

função “Desenvolvimento de referências para acreditação” onde se verifica uma

grande decalage, figurando em nono lugar no caso da entidade respondente se tratar

de uma empresa e em décimo-quarto lugar, de entre as 16 funções identificadas na

literatura, no caso de se tratar de uma entidade intermediária.

Estes resultados parecem confirmar o trabalho desenvolvido por Howells (2006) na

medida em que se pode constatar que para além das funções mais tradicionais, que

têm vindo a ser identificadas, existem um outro tipo de funções, percepcionadas

46

pelas entidades envolvidas (de novo, empresas e Intermediários) como sendo de

elevada importância neste tipo de projectos de cooperação.

1=não de to do 7=papel extremamente impo rtante

**

*

***

***

***

*

***

0

1

2

3

4

5

6

7

Previsão do planeamento tecnológico

Identificar e seleccionar possíveis parceiros

Apoio na troca de conhecimento entre parceiros

Investigação e conhecimento interno para apoiar consórcio

Facilitador de contractos de negociação

Diagnosticar, testar, analisar e inspeccionar

Proporcionar instalações para ensaios em escala piloto

Desenvolvimento de protótipos e scale-up

Desenvolvimento de referências para acreditação

Apoio na regulamentação e moderação

Apoio na protecção dos resultados (Propriedade Intelectual)

Identificar oportunidades de mercado para o produto obtido

Desenvolver planos de negócio

Apoio na criação de canais de vendas

Apoio na obtenção de fundos para desenvolver a prova deconceito

Avaliação dos produtos e tecnologias que se encontram nomercado

Empresas (n=84)

Intermediários (n=90)

Figura 14: Papel dos Intermediários no processo de cooperação internacional em I&D por tipo de

entidade respondente

Nota: Valores em média; ver detalhe em Anexo A2 – Quadro 15

*** Significância 1%; ** Significância 5% ;* Significância 10%

3.5. Determinantes da importância atribuída aos Intermediários e dos

resultados percepcionados pelas organizações participantes nos

projectos internacionais de I&D

No sentido de complementar as análises estatísticas exploratórias efectuadas nas

secções anteriores, na presente secção avaliamos empiricamente as determinantes

da importância atribuída aos Intermediários e os resultados percepcionados pelas

organizações participantes nos projectos internacionais de I&D. Assim, a

importância atribuída (acima da média) aos Intermediários pelas organizações

participantes nos projectos e a percepção de obtenção de resultados acima da média

por parte dessas mesmas organizações constituem as nossas variáveis dependentes

ou a explicar.

A natureza binária dos dados observados relativos à variável dependente

[importância atribuída/resultados percepcionados acima da média? (1) Sim; (0)

47

Não] restringe a escolha do modelo de estimação. Além disso, os pressupostos

necessários para testar a hipótese numa análise de regressão convencional são

necessariamente violados (por exemplo, não parece viável assumir que a

distribuição dos erros sejam normal). Os valores previstos numa análise de

regressão múltipla não podem ser interpretados como probabilidades porque não

restringe ao intervalo entre 0 e 1. Por isso, as técnicas convencionais de estimação

no contexto de uma variável dependente discreta, não constituem uma opção válida.

Com base nas restrições mencionadas acima, a análise deste estudo será conduzida

no contexto do enquadramento geral dos modelos probabilísticos.

Prob (ocorre evento j) = Prob (Y=j) = F [efeitos relevantes: parâmetros].

em que

Y = 1 se importância atribuída/resultados percepcionados pelas organizações

participantes estão acima da média

Y = 0, caso contrário

Sendo assim, para explicar, por exemplo, a relevância empírica das características

‘internacionais’ do projecto – número e tipo de países das entidades participantes -,

para a importância atribuída/resultados percepcionados pelas entidades

participantes, é necessário incluir outro conjunto de factores relevantes que

potencialmente explicam os resultados, pelo que:

),(1)0(Pr),()1(Pr ββ XFYobeXFYob −====

O vector X inclui um conjunto de factores, susceptíveis de influenciar a importância

atribuída e a percepção que as entidades participantes têm sobre os resultados de

cooperação. Este conjunto de factores divide-se em dois grandes grupos: um

relacionado com as características dos projectos e outro com as características das

empresas. No primeiro grupo - características dos projectos – constam as variáveis:

Custo do projecto; Número de organizações, empresas e Intermediários, que

participam no projecto; Estado do projecto (concluído=1; em execução=0);

Proporção de apoio financeiro (financiamento/custo); Tipo de contrato/instrumento

(PMEs-Co-operative research contracts=1; Collective=0); Tipo de entidade

48

participante (PME=1; Outros=0); Diversidade de países que participam em cada

projecto (número de diferentes países); Número de países da mesma nacionalidade

do promotor, entre outras variáveis; País da entidade participante e do promotor;

área científica. No grupo características das organizações que participam nos

projectos constam as variáveis: Dimensão (número de empregados); Capital

Humano (proporção de engenheiros no total); Intensidade em I&D (rácio I&D nas

vendas); Intensidade de exportações (rácio das exportações nas vendas); Capital

estrangeiro (participação estrangeira no capital igual ou superior a 10%=1;

outros=0).

É importante ressaltar que o modelo aqui proposto, não obstante, estar ancorado na

revisão de literatura efectuada no Capítulo 1, não pretende constituir um modelo de

teste de hipóteses já que não existe (ainda) um corpo teórico suficientemente

robusto que proponha assumpções predefinidas entre a importância que os

participantes nos projectos de I&D atribuem aos Intermediários e variáveis como

custo do projecto, número de parceiros, etc. O mesmo se diga para a percepção que

os participantes têm sobre os resultados globais e específicos (inovação, lucros, etc.)

da cooperação. Assim a especificação econométrica proposta tem por objectivo, não

um teste à ‘teoria’ mas antes um entendimento ‘empírico’ sobre as relações entre

características de projectos e empresas (variáveis explicativas do modelo) e a

importância que os participantes nos projectos de I&D atribuem aos Intermediários

ou a percepção que os participantes têm sobre os resultados globais e específicos

(variáveis dependentes do modelo).

O conjunto de parâmetros β reflecte o impacto das alterações de X na probabilidade

da organização associada ao projecto atribuir uma importância ao Intermediário ou

percepcionar um resultado acima da média.

Para um dado vector de repressores X, será de esperar que a probabilidade

permaneça entre 0 e 1. A abordagem adoptada está no âmbito dos modelos

probabilísticos, ou seja,

0)1(Prlim1)1(Prlim ====−∞→′+∞→′

YobeYobXX ββ

49

Dado que o modelo de probabilidade é uma regressão:

( )[ ] ( )[ ] )(110)\( XFXFXFXYE βββ ′=′+′−=

Como qualquer modelo de regressão não linear, independentemente qual for a

distribuição usada, os parâmetros do modelo de probabilidade não são

necessariamente os efeitos marginais. Sendo assim,

βββββ

)()(

)()\(Xf

Xd

XdF

X

XYE ′=′′

=∂

Sendo f (.) a função de densidade que corresponde à distribuição cumulativa, F(.).

Escolhendo para F a distribuição logística obtemos o modelo logit:

[ ])(1)()1()(

)(2

XXe

e

Xd

XdX

Xββ

ββ

β

β′Λ−′Λ=

+=

′′Λ

No modelo logit, a derivada da probabilidade em ordem a um elemento de X varia

com X. Uma maneira mais conveniente de rescrever a derivada é:

[ ] [ ]βββ )(1)(\

XXX

XYE′Λ−′Λ=

∂∂

Segundo Johnston e Dinardo (2001), o modelo logit surge como forma funcional e

conveniente para modelos com variáveis endógenas binárias. A formação do

modelo assegura que as probabilidades estimadas permanecem entre 0 e 1. A

principal diferença entre a distribuição normal e a distribuição logística é que esta

última tem mais peso nas abas. De acordo com Greene (1993), em alguns casos por

conveniência matemática, existem razões práticas para privilegiar uma ou outra,

mas é difícil justificar a escolha de uma distribuição sobre outra com base em

razões teóricas. Portanto, na maioria dos casos de aplicações, não parece fazer muita

diferença na escolha de uma ou outra.

Para explicar da melhor forma o resultado, calculam-se os coeficientes que ajudam

na interpretação das estimativas do modelo. Por isso, no modelo regressão logística,

os parâmetros são estimados usando o método da máxima verosimilhança (MV). Ou

seja, dados os pressupostos assumidos face à distribuição dos erros, são

seleccionados os coeficientes para tornar os resultados mais fáceis de observar.

50

Utilizamos a estimação da regressão logística geral com a seguinte especificação:

i

empresasdasticascaracterís

projectodoticascaracterís

projectodoticascaracterís

Z

oEstrangeirCapitalβXeIntensidadβIDeIntensidadβHumanoCapitalβDimensãoβ

temaÁreapromotorPaísteparticipanPaíspromotornacpaísesNopaísesDiv

entidadeTipocontratoTipoapoioopprojestadoorgnrcustoZwith

emédiadaacimaresultadoaimportânciP

ε

βββββ

βββββββ

++++++

+++++

+++++++=

+=

444444444444444444444 3444444444444444444444 21

4444444444444444444444 34444444444444444444444 21

44444444444444444444 344444444444444444444 21

____

_______

___Pr__lnln

;1

1)/(

1615141312

1110987

6543210

Optamos por proceder a um ajustamento da equação do modelo logística para o

modelo reescrito em termos dos odds do evento ocorrer, o que ajuda a interpretar de

forma mais clara e directa os coeficientes da função logística.

Nesse caso, obtém-se o modelo logit de seguinte forma:

i

empresasdasticascaracterís

projectodoticascaracterís

projectodoticascaracterís

oEstrangeirCapitalβXeIntensidadβIDeIntensidadβHumanoCapitalβDimensãoβ

temaÁreapromotorPaísteparticipanPaíspromotornacpaísesNopaísesDiv

entidadeTipocontratoTipoapoioopprojestadoorgnrcustomédiadaabaixoouigualob

médiadaacimaob

ε

βββββ

βββββββ

++++++

+++++

+++++++=

444444444444444444444 3444444444444444444444 21

44444444444444444444444 344444444444444444444444 21

444444444444444444444 3444444444444444444444 21

____

_______

___Pr__lnln.Pr

.Prlog

1615141312

1110987

6543210

Uma maneira de interpretar o coeficiente logístico seria a alteração no rácio de odds

associado a uma alteração unitária na variável independente:

i

empresasdasticascaracterís

projectodoticascaracterís

projectodoticascaracterís

oEstrangeirCapitalβXeIntensidadβIDeIntensidadβHumanoCapitalβDimensãoβ

temaÁreapromotorPaísteparticipanPaíspromotornacpaísesNopaísesDiv

entidadeTipocontratoTipoapoioopprojestadoorgnrcusto

emédiadaabaixoouigualob

médiadaacimaobε

βββββ

βββββββ

++++++

+++++

+++++++

=4444444444444444444444 34444444444444444444444 21

44444444444444444444444 344444444444444444444444 21

444444444444444444444 3444444444444444444444 21

____

_______

___Pr__lnln

1615141312

1110987

6543210

.Pr

.Pr

Neste caso, o е elevado a βi é o factor pelo qual os odds se alteram quando a ith

variável independente aumenta em uma unidade. Quando βi é positivo, este factor

será maior do que 1, o que significa que o odds aumenta e o factor influência de

forma positiva a percepção, por parte das entidades participantes nos projectos,

relativamente à importância ou resultados da cooperação; se βi é negativo, este

factor será inferior a 1, o que significa que os odds reduziram, neste caso o factor

influencia de forma negativa a percepção, por parte das entidades participantes nos

projectos, no que respeita à importância ou resultados da cooperação; quando βi é

igual a 0, o factor será igual a 1, o que significa que os odds se mantém inalterados,

51

por isso, o factor não evidencia impacto sobre a percepção, por parte das entidades

participantes nos projectos, quanto à importância ou resultados da cooperação.

Por exemplo se a estimativa de β6 é positiva e estatisticamente significativa, então

ser um projecto em que a entidade promotora é uma Pequena e Média Empresa

(PME) (versus ser um outro tipo de organização, como por exemplo, universidade

ou instituto de I&D), está associado a uma valorização acima da média da

importância atribuída aos Intermediários (ou, no caso do resultados, uma

valorização acima da média nos resultados globais ou específicos apercebidos da

cooperação).

No Quadro 13 são apresentados os resultados da estimação relativa aos

determinantes do log odds da importância (acima da média) atribuída aos

Intermediários. Apresentamos 3 modelos, um mais restrito – Modelo 1 – que não

entra em linha de conta com o número de entidades participantes que pertencem ao

mesmo país que a entidade promotora (que poderíamos considerar um índice de

‘proximidade cultural’), nem a nacionalidade específica do promotor (Alemão,

Britânico, Espanhol, ou Italiano versus outros países), e um mais abrangente –

Modelo 3 -, que inclui todas as variáveis consideradas no Modelo 1 mais as

referidas anteriormente. O Modelo 2 é similar ao Modelo 1 mas relativamente a este

exclui a variável ‘Tipo de entidade’ (PME versus outras organizações).

Excluindo o Modelo 1, os restantes modelos estimados revelam uma razoável

qualidade de ajustamento, com a estatística do qui-quadrado associada ao teste

Hosmer e Lemeshow a revelar um nível de significância acima de 10%, o que

significa não rejeição da hipótese nula de que os modelos estimados representam a

realidade de forma adequada.5 Adicionalmente, a percentagem de ‘previsões’

correctamente estimadas estão entre os 63% e os 67%.

5 Dado que o teste Hosmer e Lameshow rejeita a hipótese nula de que o Modelo 1 representa bem a realidade, os nossos comentários incidem apenas sobre os Modelos 2 e 3.

52

Quadro 13: Explicando o log odds da importância acima da média atribuída pelas organizações aos Intermediários em projectos de cooperação internacional em I&D

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

(1) Custo do projecto (ln) -1,487* -1,548* -2,471*

(2) Número de organizações, empresas e Intermediários, que participam no projecto (ln)

2,058* 2,077* 2,377

(3) Estado do projecto (concluído=1; em execução=0)

0,199 0,267 -0,153

(4) Proporção de apoio financeiro (financiamento/custo)

-1,333 -1,366 -2,455

(5) Tipo de contrato/instrumento (PMEs-Co-operative research contracts=1; Collective=0)

-0,417 -0,553 -0,421

(6) Tipo de entidade promotora (PME=1; Outros=0)

-0,329 - -0,003

(7) Diversidade de países que participam em cada projecto (número de diferentes países em ln)

-0,946 -0,966 0,019

(8) Número de países da mesma nacionalidade do promotor (ln)

- - 0,865

Alemanha -0,518 -0,498 -0,133

R.U. 1,144* 1,128* 2,643***

Espanha -0,757 -0,743 -2,152***

Itália 0,125 0,124 0,281

(9) Pelo menos um dos participantes é do país (sim=1; não=0)

França -0,272 -0,239 -0,255

Alemanha - - -3,010***

R.U. - - -0,848

Espanha - - 1,631

(10) O promotor do projecto é do país... (sim=1; outro=0)

Itália - - -0,073

Agro-alim.&Aquac 0,580 0,528 -0,402

Ambiente 0,047 0,013 -0,767

Biotecn. & Saúde 0,317 0,180 -0,033

Energia 1,747 1,643 1,563

Mat. & Processos 1,098 1,014 0,768

Características do Projecto

(11) A área temática do projecto é... (yes=1; no=0)

TIC & Electrónica 1.593 1,531 1,748

(12) Dimensão – número de empregados (ln)

0,039 0,088 0,118

(13) Capital Humano (proporção de engenheiros no total)

0,518 0,390 -0,211

(14) Intensidade em I&D (rácio I&D nas vendas)

1,118 1,266* 1,226

(15) Intensidade de exportações (rácio das exportações nas vendas)

-0,143 -0,189 -1,754

Características das entidades promotoras

(16) Capital estrangeiro (participação no capital igual ou superior a 10%=1;outros=0)

0,307 0,243 -0,001

Constante 17,352 17,955 29,547

N 108 108 108

Atribuem uma importância aos Intermediários acima da média 56 56 56

Outros 52 52 52

Qualidade do ajustamento

% correctos 62,9 63,0 66,7

Teste Hosmer e Lameshow (signif) 18,190 (0,019) 10,547 (0,229) 6,09 (0,637)

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

53

Um facto que resulta bastante claro das estimações efectuadas é que são sobretudo

características associadas ao projecto que ‘explicam’ a importância (acima da

média) atribuída aos Intermediários. De facto, projectos menos onerosos (i.e., com

menor custo) e que envolvem um maior número de organizações, tendem em média,

estar associados a uma melhor apreciação do papel desempenhado pelos

Intermediários. Adicionalmente, tudo o resto constante, em projectos que exista

pelo menos um participante do R.U, a importância atribuída aos Intermediários

tende a estar acima da média. Em contraste, se no projecto em causa existir pelo

menos um participante Espanhol ou o promotor for Alemão (ver Modelo 3), a

importância atribuída aos Intermediários é menor.

Do lado das características das organizações envolvidas, apenas a intensidade em

I&D emerge como positiva e significativamente relacionada com a importância

atribuída aos Intermediários (Modelo 2). Tal indicia que projectos em que a

entidade promotora apresenta uma maior capacidade de inovação (aferida pela valor

das despesas em I&D no seu volume de negócio) estão associados a uma maior

valorização dos Intermediários.

É interessante referir que o ser uma PMEs ou outro tipo de organização (e.g.,

Universidade, Instituto de I&D) não parece ter qualquer impacto na importância

atribuída aos Intermediários. A priori, sendo que os Intermediários tendem a ser

organizações do sistema científico e tecnológico (Howells, 2006), nomeadamente

universidades, centros tecnológicos ou associações, poder-se-ia esperar que estas

últimas organizações atribuíssem uma importância (acima da média) aos

Intermediários (i.e., poder-se-ia esperar que a estimativa de β6 fosse negativa e

estatisticamente significativa), o que não ocorre.

Não se constatou, com base na amostra e estimações efectuadas, que as áreas

temáticas nas quais os projectos estavam inseridos diferissem (estatisticamente) na

importância atribuída os Intermediários.

Em suma, controlando para um conjunto vasto de factores que potencialmente

poderiam ‘explicar’ a diferente importância atribuída aos Intermediários nos

projectos de cooperação internacional em I&D, nomeadamente, entre outros, a

54

dimensão das empresas, capital humano, intensidade exportadora, e peso do capital

estrangeiro, concluímos que, em média, um projecto tem associado uma

importância atribuída aos Intermediários tanto maior quanto:

� Menor o respectivo custo;

� Maior o número de entidade participantes;

� Incluir participantes do Reino Unido;

� Não incluir participantes da Espanha;

� Não incluir promotores da Alemanha;

� Mais inovadoras forem as entidades promotoras.

Assim, não obstante a diversidade dos países que participam em cada projecto e o

índice de ‘proximidade cultural’ não ‘explicarem’ a maior importância atribuída aos

Intermediários, o tipo de país a que pertencem as entidades participantes e

promotores surge como uma relevante variável explicativa.

Para além de procurar entender quais os determinantes da importância atribuída aos

Intermediários, é pertinente aferir de que forma esses mesmos determinantes

influenciam a percepção das entidades participantes quanto aos resultados globais e

específicos (Inovação, Emprego e lucros, Networking e imagem). Os resultados da

estimação dos modelos estão patentes no Quadro 14.

Controlando para factores associados a características dos projectos, como o custo,

o respectivo estado (em execução ou já concluído), dimensão (número de entidades

participantes), tipo de entidade promotora e nacionalidade dos participantes e

promotores, assim como características associadas às entidade promotoras, como a

dimensão, intensidade em I&D, entre outras, concluímos que os projectos que estão

associados a uma percepção de resultados globais acima da média (Modelo 4) estão,

em regra associados:

� Tipo de contratos de cooperação em Investigação envolvendo PMEs;

� Não incluir participantes da Espanha;

� Não incluir promotores do Reino Unido ou Alemanha;

� Serem entidades com reduzida actividade de exportação;

� Serem entidades de capital estrangeiro.

55

Quadro 14: Explicando o log odds da percepção de obtenção de resultados acima da média nos projectos de cooperação internacional em I&D

Modelo 4: Global

Modelo 5: Inovação

Modelo 6: Emprego e

lucros

Modelo 7: Networking e imagem

(1) Custo do projecto (ln) 0,109 0,544 -0,825 1,022

(2) Número de organizações, empresas e Intermediários, que participam no projecto (ln)

1,916 -0,385 0,989 0,174

(3) Estado do projecto (concluído=1; em execução=0)

0,272 -0,797 0,034 1,787

(4) Proporção de apoio financeiro (financiamento/custo)

5,740 4,080 1,762 9,331*

(5) Tipo de contrato/instrumento (PMEs-Co-operative research contracts=1; Collective=0)

3,958** 2,369 1,941 -0,531

(6) Tipo de entidade promotora (PME=1; Outros=0)

-0,513 0,223 0,235 -0,009

(7) Diversidade países que participam em cada projecto (número de diferentes países em ln)

2,102 0,813 2,299* -0,320

(8) Número de países da mesma nacionalidade do promotor (ln)

0,991 1,327* 0,782 -0,048

Alemanha -0,321 -0,149 0,002 -0,095

R.U. 1,295 1,025 0,489 1,944**

Espanha -1,324* -0,856 -1,146* -1,496*

Itália -0,849 0,110 -0,321 -0,829

(9) Pelo menos um dos participantes é do país (sim=1; não=0)

França 0,103 0,058 -0,176 -0,747

R.U. -2,593*** -1,788** -1,371* -1,303

Alemanha -1,729* -1,232 -1,788** -3,071***

Espanha 0,422 0,173 1,051 0,948

(10) O promotor do projecto é do país... (sim=1; outro=0)

Itália -0,256 -0,883 -1,237 1,299

Agro-alim.&Aquac -22,424 -2,501 -2,060 -0,253

Ambiente -22,922 -3,029** -2,773* -2,901*

Biotecn. & Saúde -23,508 -4,151** -2,582 -0,923

Energia -21,603 -1,794 -1,581 0,831

Mat. & Processos -21,474 -1,876 -1,670 -1,384

Características do Projecto

(11) A área temática do projecto é... (yes=1; no=0)

TIC & Electrónica -21,487 -2,169 -1,367 -1,105

(12) Dimensão – número de empregados (ln) -0,190 -0,179 0,097 -0,045

(13) Capital Humano (proporção de engenheiros no total)

-0,004 0,067 0,269 2,379**

(14) Intensidade em I&D (rácio I&D nas vendas)

-0,662 -0,991 -0,078 0,026

(15) Intensidade de exportações (rácio das exportações nas vendas)

-3,778*** -4,167*** -2,524** -3,019**

Características das entidades promotoras

(16) Capital estrangeiro (participação no capital igual ou superior a 10%=1; outros=0)

1,792* 1,929** 0,169 0,318

Constante 7,387 -9,001 4,536 -18,409

N 107 107 107 107

Têm uma percepção dos resultados acima da media 69 69 69 69

Outros 38 38 38 38

Qualidade do ajustamento

% de correctos 77,6 75,7 68,2 82,2

Teste Hosmer e Lameshow (signif) 7,459 (0,488)

4,293 (0,829)

4,196 (0,838)

26,67 (0,21)

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

56

Assim, no caso da percepção sobre os resultados globais dos projectos de

cooperação internacional em I&D, o aspecto ‘internacional’ vem bastante relevado.

Em concreto e bastante interessante é o facto de projectos que envolvem promotores

com capitais estrangeiros percepcionarem, em média, resultados globais mais

notórios do que entidades promotoras de capitais nacionais.

Quando analisamos os resultados específicos, nomeadamente os associados à

Inovação (Modelo 5), constatamos novamente que os projectos que envolvem

promotores com capitais estrangeiros percepcionam, resultados de inovação mais

notórios do que entidades promotoras de capitais nacionais. Desta feita e, de forma

diferenciada dos resultados globais, a área temática emerge aqui como relevante,

com projectos pertencentes às área de ambiente, biotecnologia e saúde com

percepções de resultados de inovação aquém da média. Não é de descurar que este

resultado esteja associado ao maior grau de inovação destas áreas e portanto maior

nível de exigência das entidades que estão associadas a estes projectos no que

concerne ao resultado de inovação. O índice de proximidade cultural (número de

países da mesma nacionalidade do promotor) emerge como positiva e

significativamente relacionado com a percepção de resultados de inovação acima da

média. Tal poderá ser explicado pelo facto de em termos de inovação ser muitas

vezes exigido um grau de confiança e integração razoável entre entidades que

participam num projecto, o que poderá ser mais facilmente alcançável se tais

entidades forem próximas, nomeadamente em termos culturais (Teixeira et al.,

2008).

Para a percepção de resultados específicos em termos de emprego e lucros (Modelo

6) acima da média, contribuem positivamente factores como a diversidade de países

que participam nos projectos, mas novamente, ter participantes espanhóis e

promotores britânicos e alemães da área do ambiente contribui negativamente para a

percepção destes resultados específicos.

Finalmente, a percepção de resultados acima da média no que concerne a

Networking e Imagem (Modelo 7) surge associada a uma característica da empresa

que se revelou sempre insignificante nos restantes resultados, o capital humano. De

facto, projectos em que a entidade promotora apresenta um peso elevado dos

57

engenheiros no total do emprego tendem a observar, em média, percepções mais

satisfatórias ao nível dos resultados de networking e imagem. Também de forma

distinta aos outros resultados ser um projecto com um elevado nível de

financiamento e incluir entidades do Reino Unido, está associado a uma percepção

de melhorias no networking e imagem. Isto poderá em parte indiciar que apenas

entidades que possuam níveis elevados de capital humano sejam capazes de entrar

em redes de elevada qualidade de parceiros, que por sua vez, são bem sucedidos em

captar um elevado montante de financiamento público/comunitário. Daí não ser de

estranhar que entidades que entrem nestas redes percepcionem (acima da média)

uma melhoria na sua imagem e networking.

Em síntese, relativamente à percepção dos resultados (globais e específicos),

podemos concluir, que tudo resto constante, em média, as percepções sobre esses

resultados por parte das entidades promotoras dos projectos tendem a ser tanto mais

optimistas quanto:

� Mais se referir a ‘Contratos de cooperação em Investigação envolvendo PMEs’

(resultados globais);

� Maior a proporção de financiamento comunitário e intensidade de capital

humano (resultados em termos de inovação e networking);

� Maior a diversidade de países participantes (resultados em termos de emprego e

lucro);

� Maior o índice de proximidade cultural entre participantes (resultados em termos

de inovação);

� Não incluir participantes da Espanha;

� Não incluir promotores do Reino Unido ou Alemanha;

� Não ser da área de Ambiente;

� Serem entidades com reduzida actividade de exportação;

� Serem entidades de capital estrangeiro (resultados globais e de inovação).

58

Conclusão

O presente trabalho de investigação pretendeu, numa primeira fase analisar, do

ponto de vista das entidades envolvidas (empresas e Intermediários), os interesses

que estiveram subjacentes ao estabelecimento dos projectos de cooperação

empresarial em I&D, identificar as principais dificuldades sentidas e resultados

obtidos nesses mesmos projectos e apurar, de entre as funções desempenhadas pelos

Intermediários, aquelas que se perfilam de maior importância. Numa segunda fase,

e sentido de complementar as análises estatísticas exploratórias efectuadas,

avaliámos empiricamente as determinantes da importância atribuída aos

Intermediários e dos resultados percepcionados pelas organizações participantes nos

projectos internacionais de I&D.

No que diz respeito ao primeiro ponto atrás descrito, e nomeadamente quanto às

razões inerentes à cooperação, as principais motivações apontadas foram “Promover

a partilha de conhecimento/aprendizagem” (62,7%) e “Promover a imagem da

empresa” (50,9%). As questões associadas ao desenvolvimento tecnológico,

nomeadamente no que diz respeito ao custo e risco, são razões consideradas

importantes ou extremamente importantes para, respectivamente, 46,9% e 46,1%

dos inquiridos, bem como a “Reputação da Instituição de Apoio/Promotora”

(44,7%). Os motivos associados a aspectos comerciais e de penetração no mercado,

encontram-se entre as razões menos valorizadas por parte dos inquiridos. Outra

conclusão que se pode retirar é que, em média, e à excepção da razão referida

anteriormente de “Promover a partilha de conhecimento/aprendizagem”, todos os

outros motivos apontados são mais valorizados pelas empresas do que pelos

Intermediários. O teste não paramétrico das médias, denominado Kruskall Wallis

Test, permite-nos aferir que existem diferenças estatisticamente significativas

relativamente às questões identificadas na literatura como sendo de natureza

comercial, designadamente quanto aos motivos “Reduzir o custo de entrada no

mercado”, “Reduzir o risco de entrada no mercado” e “Reduzir o tempo de

comercialização de novos produtos”. Para além dos motivos referidos, “Promover a

59

partilha de conhecimento/aprendizagem” também evidencia uma diferença de

percepção estatisticamente significativa.

De um modo global constata-se que, em média, as empresas percepcionam de forma

mais significativa as dificuldades associadas ao processo de cooperação que as

entidades intermediárias. As principais dificuldades registadas foram “Falta de

empenho”, “Problemas com os parceiros-empresas”, “Escassez de recursos

financeiros” e “Escassez de recursos humanos”. No que diz respeito às dificuldades

menos percepcionadas por ambos os tipos de entidade respondente registam-se

“Dificuldades culturais” e “Divergências pessoais”.

Das respostas relativas aos resultados obtidos da cooperação, constata-se que estes

se centram mais naqueles que são habitualmente obtidos no longo prazo em

detrimento daqueles que estão associados ao curto prazo, como por exemplo,

“Melhoria da imagem da empresa” e “Emergência de novas alianças estratégicas”,

que foram mencionados respectivamente por, 47% e 29,3% da totalidade dos

projectos respondidos, podendo concluir-se que estes mesmos resultados vão ao

encontro dos motivos principais definidos para a colaboração, sistematizados no

Capítulo 1.

A questão da inovação está bem patente nesta tipologia de projectos. Tal é

comprovado pelo número de respostas no que diz respeito a “Implementação de

novos processos” e “Lançamento de novos produtos”, dado que figuram de entre os

resultados esperados em segundo e em terceiro lugares, respectivamente,

recolhendo 38,1% e 35,4% do total dos inquéritos recebidos. Mais uma vez se

verifica que as questões relacionadas com o mercado não são muito referenciadas.

De entre as funções desempenhadas pelos Intermediários, aquelas que emergem

com mais importantes na percepção das entidades respondentes são: “Investigação e

conhecimento interno para apoiar o consórcio” (representada em 55% do total dos

projectos), o que nos leva a crer que os inquiridos encaram os Intermediários como

entidades que desempenham um papel fundamental para a “Promoção e intercâmbio

de conhecimentos e de know-how” e para “Diagnosticar, testar, analisar e

inspeccionar”. Funções apontadas na literatura como sendo relevantes, tais como

60

“Apoio na criação de canais de vendas”, e, uma vez mais, as associadas à natureza

comercial referidas por Kodama (2008) e Howells (2006), não são consideradas

como relevantes neste tipo de projectos. No que diz respeito à percepção das

funções/papéis desempenhadas pelos Intermediários, aferidas quer do ponto de vista

das empresas quer do ponto de vista dos Intermediários, verifica-se que à excepção

de “Desenvolvimento de referências para acreditação” e “Apoio na criação de canal

de vendas”, todas as outras funções são percepcionadas de forma mais significativa

por parte das entidades intermediárias.

Os resultados empíricos apurados confirmam parcialmente o trabalho desenvolvido

por Howells (2006). De facto, constatamos que, para além das entidades

respondentes identificarem como importantes as funções mais tradicionais que os

Intermediários usualmente preenchem – “Apoio na troca de conhecimento entre

parceiros” e “Investigação e conhecimento interno para apoiar consórcio” -, estão a

emergir novas funções reconhecidas de elevada importância neste tipo de projectos

de cooperação – e.g., “Previsão do planeamento tecnológico” - ainda que de forma

fragmentada e dispersa,.

Baseando-nos na avaliação empírica das determinantes da importância atribuída aos

Intermediários e os resultados percepcionados pelas organizações participantes nos

projectos internacionais de I&D, tendo em consideração a importância atribuída

(acima da média) aos Intermediários pelas organizações participantes nos projectos

e a percepção de obtenção de resultados, acima da média, por parte dessas mesmas

organizações, concluímos que, em média, um projecto tem associado uma

importância atribuída aos Intermediários tanto maior quanto: menor o respectivo

custo; maior o número de entidade participantes; incluir participantes do Reino

Unido; não incluir participantes da Espanha; não incluir promotores da Alemanha;

mais inovadoras forem as entidades promotoras. Do mesmo modo, relativamente à

percepção dos resultados (globais e específicos), podemos concluir, que tudo resto

constante, em média, as percepções sobre esses resultados por parte das entidades

promotoras dos projectos tendem a ser tanto mais optimistas quanto: mais se referir

a ‘Contratos de cooperação em Investigação envolvendo PMEs’ (resultados

globais); maior a proporção de financiamento comunitário e intensidade de capital

61

humano (resultados em termos de inovação e networking); maior a diversidade de

países participantes (resultados em termos de emprego e lucro); maior o índice de

proximidade cultural entre participantes (resultados em termos de inovação); não

incluir participantes da Espanha; não incluir promotores do Reino Unido ou

Alemanha; não ser da área de Ambiente; serem entidades com reduzida actividade

de exportação; serem entidades de capital estrangeiro (resultados globais e de

inovação).

Em termos de política de Inovação parece pertinente, com base nos resultados

obtidos, ressaltar a importância da dimensão internacional dos projectos,

nomeadamente da relação positiva que encontramos entre o capital estrangeiro

(‘multinacionalidade’) das entidades promotoras e a percepção de melhores

resultados globais e de inovação. Adicionalmente, a relação positiva e significativa

entre a capacidade de inovação (expressa aqui de forma algo parcial pelo indicador

de capital humano) e os resultados de inovação vem em certa medida sublinhar a

importância dos países apostarem na formação e educação das suas populações,

mais especificamente da sua população activa, e assim poderem com maior eficácia

aproveitar a cooperação em I&D e, por conseguinte, ver a competitividade das suas

empresas e regiões aumentar de forma sustentada. Finalmente, em face da

importância assumida pelo ‘índice de proximidade cultural’ (i.e., num projecto

existir participantes da mesma nacionalidade do promotor, numa grande parte dos

casos entidades intermediárias), e tendo em conta que a importância dos

Intermediários vem mais relevada em projectos cujos promotores são mais

inovadores, parece ser pertinente por parte das Autoridades de Política em cada

país, implementar medidas de conducentes ao estimulo da capacidade de inovação

das suas entidades intermediárias, nomeadamente as pertencentes ao sistema

científico e tecnológico (e.g., Institutos de I&D e Universidades).

Como qualquer trabalho de investigação, este que aqui apresentamos não se

encontra isento de limitações que em si mesmas constituem importantes e

interessantes pistas de investigação futura. Assim, para obtermos uma imagem mais

rigorosa sobre a questão da cooperação internacional em I&D e da relevância dos

Intermediários seria importante inquirir não apenas as entidades promotoras mas

62

também todos os participantes em cada um dos projectos de cooperação

internacional em I&D. Isto, no entanto, exigiria a disponibilização por parte da

entidade gestora do Cordis de pelo menos informação relativa aos contactos de

email, telefone ou fax das organizações participantes, o que de momento,

infelizmente, não é ainda exequível. A evidência aqui analisada é baseada

essencialmente em ‘percepções’, ou seja, na avaliação (subjectiva) de cada entidade

relativamente a razões, dificuldades, resultados de cooperação, bem como da

importância dos Intermediários. Uma análise baseada em dados mais ‘objectivos’

nomeadamente sobre os resultados da cooperação constituiria uma enorme mais

valia. Tal, no entanto, passaria eventualmente pela utilização de metodologias mais

‘qualitativas’, baseadas em casos de estudo, envolvendo assim necessariamente uma

amostra muito mais reduzida de projectos/organizações.

63

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69

Anexos

70

Anexo A1 – Inquérito implementado This questionnaire is confidential and its results will be used for scientific research purposes only, in the context of the Faculty of Economics, University of Porto (FEP-UP). It is important that

you try to answer all questions. Please, put an X in the box that matches your answer.

Organization’s name: Industry/Sector of company:

Project:

Name/Contact of the respondent: Beginning of the company’s activity (year):

Mean values over the last 3 years (you might provide approximate figures): Number of workers: % (in total workers) of engineers: % (in total) of workers with more than 12 years of schooling: % (in total sales) of exports: % (in total sales) of Research and Development (R&D): % foreign capital: Organization’s type (please x the correct option): SMEs Other organizations 1. Reasons for entrepreneurial cooperation – please indicate the level of importance (1- not important… 7 – extremely important) of the reasons that may promote the participation of your organisation in cooperation projects. 1 2 3 4 5 6 7 Decrease in the cost of technological development Decrease in the cost of market entry Reduction of risk in technological development Reduction of risk in market entry Reach economies of scale in production Time reduction in the development of new products Reduction of commercialisation time for new products Promotion of knowledge sharing and learning Promotion of the company’s image Reputation of the Supporting or Promoting Institution Other (please state which one): _______________________ 2. Difficulties associated with cooperation – please indicate the level of importance (1- not important… 7 – extremely important) of the following difficulties that arise when your organisation participates in cooperation projects. 1 2 3 4 5 6 7 Disagreements regarding strategies/objectives Problems with partners-companies Problems with partners-supporting institutions Asymmetrical relationship of power Cultural differences Lack of confidence between partners Personal differences Lack of commitment Unrealistic expectations/timings Asymmetrical incentives Lack of financial resources Lack of human resources Other (please state which one): ______________________ 3. Functions performed by intermediaries/Institutions that support RD+I – in your opinion, the intermediary entities (Association; Technological Centre, R&D Laboratory, …) involved in the project played a role in the following activities (1- not at all … 7 – extremely important role)

1 2 3 4 5 6 7 Forecast of technology planning Identification and selection of possible partners Support in the exchange of knowledge between partners Research and internal knowledge to support the consortium Facilitator of business contracts Diagnosis, testing, analysis and supervision Provider of facilities for pilot scale trials Development of prototypes and scale-up Development of accreditation references Support in legal regulation and moderation Support in the protection of results (Intellectual Property) Identification of market opportunities for the obtained product Development of business plans Support in the establishment of sales channels Support in raising funds for the development of proof of concept Assessment of the products and technologies within the market Other (please state which one): _____________________________ 4. Results of the cooperation – in your opinion, the cooperation project that the company was involved in has promoted (1- not fulfilled at all … 7 – totally fulfilled) 1 2 3 4 5 6 7 Launching of new products Implementation of new processes Entry in new markets Profit increase Job creation Emergence of new strategic alliances Increase in the export share Efficiency improvement Patents/other Intellectual Property Improvement in the company’s image Other (please state which one): _____________________________

71

Anexo A2 – Testes às diferenças de médias relativos aos resultados de cooperação e à

importância atribuída aos Intermediários pelas empresas e Intermediários

Quadro 15: Testes às diferenças de médias relativos aos resultados de cooperação

Média Kruskal Wallis Test Variáveis Empresas

(n=84) Intermediários

(n=90) Chi-Square

Asymp. Sig.

Lançamento de novos produtos 4,68 4,39 0,983 (0,322)

Implementação de novos processos 4,71 4,66 0,014 (0,907)

Entrada em novos mercados 3,85 3,77 0,081 (0,777)

Aumento dos lucros 3,69 3,73 0,017 (0,896)

Criação de emprego 3,79 3,40 2,705 (0,100) *

Emergência de novas alianças estratégicas 4,62 4,68 0,168 (0,682)

Aumento da quota de exportação 3,78 3,04 1,983 (0,159)

Aumento da eficiência 3,87 4,27 2,533 (0,112)

Patentes/outra Propriedade Intelectual 4,12 3,47 5,228 (0,022) **

Melhoria imagem empresa 5,13 4,93 0,560 (0,454)

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%

Quadro 16: Testes às diferenças de médias relativos à importância atribuída aos Intermediários pelas empresas e

Intermediários

Média Kruskal Wallis Test Variáveis Empresas

(n=84) Intermediários

(n=90) Chi-Square

Asymp. Sig.

Previsão do planeamento tecnológico 4,01 4,85 11,457 (0,001) ***

Identificar e seleccionar possíveis parceiros 4,80 5,11 1,115 (0,291)

Apoio na troca de conhecimento entre parceiros 4,89 5,25 2,918 (0,088) *

Investigação e conhecimento interno para apoiar consórcio 5,09 5,68 7,707 (0,006) ***

Facilitador de contractos de negociação 3,58 3,81 0,899 (0,343)

Diagnosticar, testar, analisar e inspeccionar 4,71 5,41 9,425 (0,002) ***

Proporcionar instalações para ensaios em escala piloto 4,09 5,00 10,196 (0,001) ***

Desenvolvimento de protótipos e scale-up 4,33 4,92 3,705 (0,054) *

Desenvolvimento de referências para acreditação 3,73 3,60 0,493 (0,482)

Apoio na regulamentação e moderação 3,28 3,66 2,609 (0,106)

Apoio na protecção dos resultados (Propriedade Intelectual) 3,56 3,91 1,954 (0,162)

Identificar oportunidades de mercado para o produto obtido 3,57 4,15 5,919 (0,015) **

Desenvolver planos de negócio 3,07 3,29 0,791 (0,374)

Apoio na criação de canais de vendas 2,85 2,66 0,358 (0,550)

Apoio na obtenção de fundos para desenvolver a prova de conceito 3,56 3,78 0,549 (0,459)

Avaliação dos produtos e tecnologias que se encontram no mercado 3,89 3,99 0,210 (0,647)

Legenda: *** significativo a 1%; ** significativo a 5%; * significativo a 10%