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1 PONTIFÍCA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP ELIZABETH CIERI GESTÃO DO DISCURSO CORPORATIVO, NA MODALIDADE ESCRITA MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA SÂO PAULO 2011

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA SÂO PAULO 2011 Cieri... · Ao meu pai – forte, seguro, culto e simples, sábio e humilde – por cultivar em mim a importância do saber, ... na

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PONTIFÍCA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ELIZABETH CIERI

GESTÃO DO DISCURSO CORPORATIVO, NA MODALIDADE ESCRITA

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÂO PAULO

2011

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PONTIFÍCA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ELIZABETH CIERI

GESTÃO DO DISCURSO CORPORATIVO, NA MODALIDADE ESCRITA

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para

a obtenção do título de MESTRE em Língua

Portuguesa, sob a orientação do

Prof. Doutor João Hilton S. Siqueira

SÂO PAULO

2011

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BANCA EXAMINADORA

__________________________________

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D E D I C A T Ó R I A

Dedico, não somente este trabalho, mas toda a minha vida aos meus dois

anjos da guarda: meus pais Leonor e Waldemar.

À minha mãe – luz que não se apaga – por assumir a graça da

maternidade em sua totalidade. Obrigada por me alimentar, por compreender

meus silêncios, por me oferecer eternamente seu colo, seus abraços, sua

ternura. Como disse alguém: Deus não pode estar em todos os lugares, por isso

criou as mães.

Ao meu pai – forte, seguro, culto e simples, sábio e humilde – por cultivar

em mim a importância do saber, por acreditar em mim, por me ensinar a viver, a

lutar, a caminhar com honra e determinação.

Meus pais me elegeram uma de suas prioridades. A jornada pareceu

árdua, mas tenho certeza de que Deus sempre os guiou e continua guiando,

invadindo-os de sabedoria.

Muito, muito obrigada por tudo!

Eu os amo, infinitamente, por toda a eternidade!

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A G R A D E C I M E N T O S

A DEUS e à Nossa Senhora por me darem saúde e conduzirem-me na

realização de mais este sonho.

Ao meu marido Marcos, por me ajudar a construir a minha família, que

tanto amo, e por todos os momentos felizes que vivemos juntos.

Às minhas filhas queridas Alessandra e Andressa.

Obrigada, Alessandra, pela sua amizade, delicadeza e por compreender,

com uma sabedoria iluminada e única, toda a nossa história. E fazer dela um

motivo a mais para nossa cumplicidade e união.

Obrigada, Andressa, pela sua alegria, força, carinho, pelo seu

amadurecimento em nossas conversas e por confiar em meus conselhos. Você

preencheu o lugarzinho vazio no meu coração.

Ao meu genro, Guilherme, que completou a minha família, enchendo-a

de felicidade.

À minha irmã Carla, por, ainda tão jovem, segurar a minha mão e ajudar –

me a levantar e seguir em frente.

Ao meu mestre, com carinho... Agradeço ao meu mestre e orientador

Prof. Dr. João Hilton S. Siqueira, por repartir tantos momentos de sabedoria e

ensinar-me o que é ser competente, conhecedor e, ao mesmo tempo, generoso

e dócil. A ele dedico minha mais profunda admiração.

Ao Prof. Dr. Luiz Antonio Ferreira, pela descoberta da importância da

retórica nas várias esferas da vida: na familiar, na social e, entre tantas outras,

na corporativa.

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Ao Prof. Dr. Laan Mendes de Barros pelas valiosas contribuições para o

enriquecimento e finalização desta dissertação.

A todos os professores que me acompanharam nesta jornada. Eles estão

presentes em cada frase, em cada palavra, em cada conceito aqui pesquisado.

À Lourdes, secretária do Programa de Pós-Graduação em Língua

Portugesa, pela sua atenção, dedicação e carinho.

A CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior -, pela concessão da bolsa, para que eu pudesse finalizar o meu curso

de mestrado.

A todos os colegas com os quais eu convivi e compartilhei conhecimentos

de mundo.

A todos os profissionais que, durante anos, sem saber que estavam

sendo observados, colaboraram para que este trabalho se realizasse.

MUITO OBRIGADA!

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Uma palavra que não representa uma ideia

é uma coisa morta,

da mesma forma que uma ideia

não incorporada em palavras

não passa de uma sombra.

LEV S. VIGOTSKY

(1896-1934)

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CIERI, E. Gestão do Discurso Corporativo, na Modalidade Escrita.

Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. São Paulo: Pontifícia

Universidade Católica, 2011.

RESUMO

Esta dissertação investiga a importância da boa escrita na esfera

corporativa. Com a extinsão da secretária e a vinda da internet, os profissionais

de diversos níveis passaram a escrever e-mails, memorandos, relatórios, entre

outros impressos. Pretende-se, a partir daí, situar a Gestão do Discurso

Corporativo como uma competência essencial na construção de uma carreira

sólida. A comunicação organizacional truncada e mal conduzida afeta, de fato,

as relações de sucesso.

Para a aquisição desta competência, foram pesquisados elementos sócio-

históricos e levantados alguns recursos léxicos, gramaticais, textuais da língua

portuguesa, sem a intenção de esgotá-los. Afinal, a língua portuguesa é muito

rica para ser concentrada em apenas algumas centenas de folhas. Ao final, os

anexos apresentam exemplos reais coletados durante alguns anos.

Palavras-chave:

Discurso – Corporação – Competência – Mensagem – Gestão.

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CIERI, E. Management of the Corporate Speech, in the Written Form.

Master Thesis in Portuguese Language. São Paulo: Pontifícia Universidade

Católica, 2011.

ABSTRACT

This study inquires the importance of good writing in the corporate sphere.

With the extinction of the secretary and the coming of the internet, the

professionals in several levels had started to write e-mails, memorandum reports,

and others printed matters. It is intended, from there, to point out the

Management of the Corporative Speech as an essential ability in the

construction of a solid career. The truncated and badly transmited

entrepreneurial communication affects, indeed, the success relations.

To acquire this ability, sociohistorical elements were searched and

some Portuguese language´s lexical, grammatical, textual principies were

got up, with no intention of exhausting them. After all, the Portuguese

language is very rich to be concentrated in only some hundreds of sheets. In

the end, the attachments show real examples collected during several

years.

Keywords:

Speech - Corporation - Ability - Message - Management

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SUMÁRIO

Glossário.................................................................................................012

Introdução................................................................................................015

1-Fundamentação Teórica......................................................................022

1.1 Informação, Comunicação, Discurso........................................022

1.2 Comunicação Empresarial........................................................025

1.2.1 Comunicação Descendente........................................026

1.2.2 Comunicação Ascendente..........................................027

1.2.3 Comunicação Horizontal ou Lateral............................027

1.3 A Comunicação Intermediada pelo Discurso............................028

1.3.1 Código Fechado e Aberto...........................................031

1.3.1.1 Código Aberto................................................031

1.3.1.2 Código Fechado...........................................031

1.4 A Língua e seus Aspectos Léxico-gramaticais.........................034

1.4.1 Tópico Frasal...............................................................034

1.4.2 Coesão e Coerência....................................................036

1.4.2.1 Coesão..........................................................036

1.4.2.2 Coerência......................................................036

2-A Arte de Redigir..................................................................................039

2.1 Escolha Lexical.........................................................................043

2.2 Os Segredos da Pontuação......................................................051

2.3 Nível de Formalidade Adequado..............................................054

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2.4 Coesão e Coerência no Texto..................................................055

2.4.1 Linguística Textual......................................................061

2.4.2 Relação Léxico-gramatical..........................................062

2.4.3 O Universo do Texto e suas Implicações para se

Alcançar Coesão e Coerência..............................................063

3-O Universo Corporativo e seus Gêneros...............................................070

3.1 Construções Retóricas..............................................................084

3.1.1 Argumentação.............................................................088

3.2 Gêneros Corporativos...............................................................090

3.2.1 Gênero Memorando....................................................094

3.2.2 Gênero Relatório.........................................................096

3.2.3 Gênero e-mail..............................................................097

4. Discurso Corporativo.............................................................................102

4.1 O Gestor Pedagogo do Discurso..............................................102

4.2 Gestão do Discurso Corporativo...............................................103

Considerações Finais...............................................................................107

Referências.............................................................................................109

Anexo I...................................................................................................120

Anexo II..................................................................................................121

Anexo III..................................................................................................122

Anexo IV..................................................................................................123

Anexo V...................................................................................................128

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GLOSSÁRIO

e-mail = (eletronic mail) correio eletrônico.

Benchmarking = parâmetros de excelência, comparação de produtos/serviços

entre os melhores.

Blog = diário virtual onde pessoas escrevem sobre suas experiências e

passatempos.

CEO = (chief executive officer) presidente.

Chão de fábrica = nível hierárquico mais baixo em uma empresa.

Chat = bate-papo via web.

Check list = lista de verificação.

Core business = negócio principal da empresa.

Database = banco de dados.

Design = imagem.

Endomarketing = comunicação interna: com funcionários.

Exomarketing = comunicação externa: com fornecedores, colaboradores, clientes.

Feed back = retorno de informação.

Follow up = acompanhamento.

Full time = período integral.

Hardware = parte física do computador, ou seja, é o conjunto de componentes

eletrônicos, circuitos integrados e placas. Dispositivos que compõem um

computador, inclusive a CPU, a memória e os dispositivos de entrada e saída.

In loco = no local.

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Intranet = rede corporativa que utiliza a tecnologia e a infra-estrutura de

transferência de dados da Internet na comunicação interna da própria empresa ou

comunicação com outras empresas.

Jurisprudência = aplicação de estudo de casos jurídicos na tomada de decisões

judiciais.

Laudo = análise jurídica.

Mailing = abreviação de Mailing List, em inglês. Banco de dados onde se

armazenam dados de consumidores (nome, endereços, características do

consumidor, entre outros) para serem utilizados em marketing direto, tais

como: mala direta, telemarketing e correio eletrônico.

Mão de obra = força de trabalho.

Medida provisória = medida com força de lei, adotada pelo presidente da

República, mediante ato unipessoal, sem a participação do Poder Legislativo, que

somente será chamado a discuti-la em momento posterior.

Missão = o que a empresa faz e é atualmente.

Network = rede de relacionamento.

Newsletter = folheto informativo de uma determinada empresa com circulação

interna e/ou externa.

ONG = organização não governamental.

Pager = aparelho eletrônico para envio e recebimento de mensagens curtas.

Radio peão = manifestações comunicacionais não controladas que correm pelo

caminho da informalidade dentro das organizações.

Report = relatório.

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Software = parte lógica do computador, ou seja, o conjunto de instruções e dados

processado pelos circuitos eletrônicos do hardware.

Stakeholder = acionista.

Start up = início.

Terceirização = contratação, feita por uma empresa, de serviços secundários

relativos à atividade principal da empresa.

Twitter = rede social, hospedada na internet, que permite que os usuários enviem

atualizações pessoais, contendo apenas texto em menos de 140 caracteres.

Visão = o que a empresa pretende fazer e ser em um tempo futuro definido.

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INTRODUÇÃO

A modalidade escrita ganha as mais distintas configurações nos usos

diários de que dela fazem. Dentre as esferas da atividade humana com grande

circulação de documentos escritos, está a empresarial, que, por isso mesmo,

sofre, muitas vezes, de acometimentos de deslizes que prejudicam, em muito,

uma interação, nem diria precisa, mas, pelo menos, adequada. O estudo dessa

interação empresarial, por meio da língua escrita, recebe o nome, na literatura

especializada, de discurso corporativo.

A bibliografia não é muito rica, uma vez que o material, geralmente, é

elaborado para cursos de treinamento em empresas, não ultrapassando material

de atividades, o que nos leva, neste trabalho, a propor um estudo da Gestão do

Discurso Corporativo, na modalidade escrita.

Para a exploração investigativa do tema, a pesquisa foi formulada a partir

das questões:

a. O que é discurso corporativo?

b. Quais os estudos relevantes acerca do tema existentes até então que

contribuem para a gestão de um discurso corporativo eficaz?

c. Quais os recursos para gerir um discurso corporativo eficaz?

d. O que é gestão do discurso corporativo?

Esta dissertação tem como objetivo geral a investigação de recursos para

gerir um discurso corporativo eficaz, cujo alicerce se constroi pelo levantamento

de estudos relevantes sobre a arte de redigir, pela compreensão do universo

corporativo e seus gêneros, para, finalmente, conceituar Gestão do Discurso

Corporativo.

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À guisa de esclarecimentos sobre o tipo de registro adotado nesta parte

do trabalho, volta-se a destacar a carência de material teórico sistematizado e

publicado sobre gestão do discurso corporativo. Nesse sentido, torna-se difícil

adotar um discurso impessoal. A primeira pessoa na elaboração desta parte do

projeto retrata bem o atual estado da arte do assunto em pauta, pois o que mais

se tem são relatos de experiência decorrentes de cursos de treinamento.

Graduei-me em letras - com habilitação em tradução e interpretação - ,

objetivando a vida acadêmica e, após algum tempo, cursei pós-graduação em

marketing, já que havia ingressado no universo corporativo. Assim, dois fatores

sempre acompanharam minha vida profissional: o mundo corporativo e a

comunicação por meio da linguagem escrita e falada. Aparentemente, parecem

distintas, no entanto nos meus vinte anos de vida corporativa, sempre notei a

dificuldade dos profissionais em se fazerem entender, tornando a comunicação

profissional um enorme desafio.

Já presenciei o insucesso de profissionais tecnicamente competentes,

mas que não sabiam transmitir e compartilhar seus conhecimentos. No entanto,

convivo com profissionais com tal domínio de oratória e cujos discursos são tão

socialmente apropriados a ponto de envolverem seus pares, convencerem

superiores e motivarem subordinados, que se tornaram verdadeiros líderes por

aceitação, não por imposição.

Acredito que a exigência dessa competência linguística se iniciou com a

extinção da figura da secretária de departamento. No mundo corporativo, a

secretária era responsável pela elaboração e revisão de comunicados,

apresentações e relatórios. Com a queda dessa figura, caiu também o véu que

camuflava a capacidade linguística do profissional. Na era do conhecimento e da

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internet, em que qualquer funcionário escreve e-mails para toda a empresa,

fornecedores e clientes, e não raro escreve em nome da empresa, a exigência

da comunicação eficiente em português se tornou fundamental.

O e-mail, por exemplo, não se consolidou só como uma ferramenta de

comunicação corporativa, mas também um documento com amparos legais que,

na maioria das empresas, fica arquivado por muito tempo. Trata-se de um

registro de erros que, não só denuncia o nível linguístico do seu autor, como

também pode ser usado, e muitas vezes é, como prova judicial contra ou a favor

de seus interlocutores. Inclusive, algumas empresas, como a Petrobrás, mantêm

um departamento jurídico só para vigiar e-mails entre seus funcionários,

colaboradores, fornecedores, clientes e denunciar os que podem colocar em

risco a missão, a imagem, os negócios definidos pelos altos gestores.

Decidi ingressar no mestrado em Língua Portuguesa, devido ao meu

incômodo quanto ao despreparo da sociedade corporativa em se comunicar de

maneira acertada. Nesse sentido, este trabalho busca as relevâncias social e

científica. Social, pois compreendendo a realidade, há possibilidade de

promover a melhoria da qualidade da comunicação no contexto empresarial.

Científica, pois colabora e complementa estudos realizados até então.

Logicamente, para se modificar o contexto organizacional com todas as

complexidades atreladas a ele, é importante considerar os múltiplos elementos

presentes nessa esfera, como o nível sociocultural de cada profissional,

condição geográfica, conhecimento de mundo, experiência acumulada,

capacidade de olhar e ver, de observar o explícito e o implícito. Contudo, esta

pesquisa não tem como objetivo investigar todos os elementos. Isto demandaria

um tempo significativamente superior ao disponível. Ela se atém a investigar

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alguns recursos linguísticos que auxiliam na comunicação corporativa eficaz.

Enfim, o trabalho busca ser um suplemento de sentido às pesquisas nessa

perspectiva, além de ser um convite para o surgimento de novas contribuições.

Saber se expressar no mundo corporativo é fundamental. Hoje, não

basta mais saber apenas sobre a área que domina, é essencial entender os

vários termos corporativos empregados no dia-a-dia das empresas. Exercitar o

discurso corporativo não significa usar jargões ou frases feitas. Conhecer e

saber usar o corporativês, como já é chamado esse tipo de discurso, é primordial

na busca por empregos na área corporativa. As empresas usam termos que, na

maioria das vezes, definem cargos e processos próprios para cada área de

atuação, além de facilitar a comunicação entre empresas e favorecer

negociações entre parceiros. De acordo com o diretor administrativo financeiro

Dias (2006), da Hoken International Company, cada vez mais o discurso

corporativo é uma exigência do mercado.

O crescimento e a internacionalização das empresas, a troca de

informações de forma ágil, a globalização da economia, a profissionalização, o

aperfeiçoamento educacional e a derrubada das fronteiras na comunicação pela

Internet contribuíram para a criação dessa nova linguagem. Para Dias (2006), o

uso do discurso corporativo é irreversível. As expressões usadas, mesmo as

vindas do inglês, são, ou deveriam ser, do entendimento de todos. Não há volta

nesse processo e a empresa que não utilizar esse tipo de linguagem terá

dificuldades para realizar negócios e até mesmo de se consolidar no mercado

(DIAS, 2006).

Apesar de o corporativês ser necessário, deve-se evitar a linguagem

elitista e técnica, pois essa pode prejudicar a comunicação tanto com o cliente

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interno quanto com o externo. O ideal é usar linguagem simples, porém eficaz,

que evite palavras complicadas, longos discursos e jargões que, de tanto serem

repetidos, já não transmitem mais seu real significado. Isso dá mais qualidade,

compreensão e segurança à comunicação. Por isso, quem busca vaga em

grandes corporações deve encontrar o meio termo entre a comunicação formal e

informal. Sim, porque o corporativês está incluso nesses dois tipos de

linguagem. Quem busca uma boa comunicação precisa avaliar a ocasião,

valorizar o conteúdo do que se pretende dizer e observar os seus interlocutor.

É comum, no mundo corporativo, o uso e a prática de gestões: gestão de

suprimento, gestão de pessoas, gestão logística, e muitas outras. E, por que não,

Gestão do Discurso Corporativo? Na verdade, todas as gestões dependem

diretamente e, até hierarquicamente, da Gestão do Discurso Corporativo. É por

meio dela que tudo se inicia, desenrola e finaliza em uma corporação; é preciso

se comunicar adequadamente para concretizar as intenções, buscar os objetivos,

alcançar as metas (BERLO,1999).

São vários os discursos utilizados em corporações: discurso persuasivo,

motivacional, informativo, receptivo, imperativo, corretivo e outros. Tudo se

adapta à situação social na qual um determinado sujeito discursa. Porém, para o

domínio dessa gestão, é preciso absorver três conhecimentos:

comunicação eficaz;

corporação e seus contextos;

gestão e competência

A comunicação é um ato diário e constante, que faz a diferença entre o

sucesso e o fracasso de relações profissionais. Pimenta (1999) diz que não

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basta somente a competência técnica – ser um bom engenheiro, um bom

contador – é preciso adquirir a competência da Gestão do Discurso Corporativo,

uma vez que a interação social é cada vez mais exigida.

A necessidade de escrever com clareza e objetividade ocorre em quase

todas as situações enfrentadas pelos profissionais. Escrever bem é, de fato, uma

das habilidades mais valorizadas na esfera corporativa. Seja um e-mail, um

memorando, uma carta ou um relatório final. Cada texto apresenta suas

características, mas os princípios fundamentais valem para todos os gêneros:

planejar antes de escrever, respeitar os princípios da textualidade, usar a

gramática corretamente, conhecer o público alvo, traçar o fio condutor, encontrar

o tom certo, revisar e editar.

Todavia, para subir os degraus da ascensão profissional, é preciso

eliminar duas barreiras do sucesso na comunicação. A primeira é a barreira

comportamental: tem-se que deixar de lado a postura egoísta que registramos

na infância, quando se transfere ao leitor a incapacidade de entender a

mensagem. A limitação pode estar na maneira de como o escritor se expressa.

A segunda é a mais importante: o bom domínio do português.

A corporação é uma esfera de atividade humana, cujos profissionais são

sujeitos que se amoldam a uma ideologia unificada, determinada na missão e na

visão propagadas pelo endomarketing. Fairclough (2001) ensina que o sujeito só

existe no exercício de um papel social. Esse papel social é criado pela produção

discursiva adequada à situação social, à prática social de uma determinada

esfera, no caso a Corporativa. Cada papel social constitui o seu ethos – o diretor

da Coca-Cola é a Coca-Cola em seus discursos. A constituição discursiva tem

que se moldar ao auditório, particular ou universal, em busca de adesão para

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uma retórica eficaz. Fairclough (2001) ratifica tal afirmação quando defende que

é fundamental que o sujeito entenda sua comunicação como um ato

performativo, gerando no outro a reação intencionada.

O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e exigente.

Cabem aos profissionais se atualizarem, a fim de interagirem de maneira eficaz

dentro de cada contexto específico.

Para o estudo do objeto estabelecido para investigação, este trabalho se

organiza, além da introdução e da conclusão, nas seguintes partes:

1. Fundamentação Teórica – em que são apresentados os subsídios que

dão sustentação para a elaboração do modelo de análise.

2. A Arte de Redigir – onde se concentram os recursos léxico-gramaticais

e textuais da Língua Portuguesa para a criação de um texto claro,

coeso e coerente.

3. O Universo Corporativo – que trata dos ambientes coporativos,

identidades organizacionais, enfatizando-se a importância da retórica

como ferramenta de construção de uma comunicação eficaz e como

blindagem de algumas armadilhas. Aqui também são expostos alguns

gêneros corporativos.

4. Discurso Corporativo – em que é assumida a responsabilidade do

profissional em sua comunicação diária, expondo as diferenças entre a

comunicação tradicional e a contemporânea. O estudo culmina com a

definição e as aplicações da Gestão do Discurso Coporativo.

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1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta parte procura discitur aspectos referentes à Teoria da Informação no

seu significado abrangente, de modo a compreender também a comunicação,

uma vez que “não há informação fora de um sistema qualquer de sinais e fora de

um veículo ou meio apto a transmitir esses sinais”. (PIGNATARI, 2008, p. 15).

Discute, ainda, aspectos referentes à constituição do discurso corporativo em

busca de seu perfil gestor, discutindo a comunicação em seus movimentos

interativos na empresa, como agente integrador dos setores e revelador dos

níveis correspondentes, além de suas peculiaridades na dependência direta do

estilo léxico gramatical usado.

1.1 Informação, Comunicação, Discurso

A revolução industrial fez surgir o interesse pelos problemas de

comunicação e pela precisão de mensagens. O aumento do consumo, e

consequentemente do desenvolvimento, desafiou o mercado na criação de

informações sintéticas, de discurso adequado, determinando modificações globais

no comportamento de uma comunidade optante pelo produto industrializado, em

detrimento ao artesanato. Os músculos foram engolidos por processos de

automação, cuja programação se torna refém de organismos informacionais, onde

a informação ocupa lugar central. Kunsch (2009) lembra que foi o início do

Informacionalismo – expressão proposta por Castells, em 1999, para designar

telecomunicação mais informática, ou mehlor, a integração em redes, cuja

circulação acontece entre e dentro de empresas, conectando em tempo real

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pessoas em diferentes continentes, salas e andares de um mesmo edifício. Foi,

então, que surgiram os designers da mensagem: escritores, jornalistas,

publicitários, cineastas e outros ganham consciência de designers, de forjadores

das novas línguagens.

Pignatari (2008) destaca que o designer da linguagem percebe e cria novas

relações e estruturas de signos. Vale ratificar que, ao se falar de relação, fala-se

de linguagem, pois uma relação só pode ser explicitada sob alguma forma

sígnica, estabelecendo um vínculo expresso em termos de linguagem, uma

linguagem precisa, organizada, na busca da transmissão eficaz das mensagens.

É aqui que informação e comunicação se entrelaçam. “O que se comunica?

Informação, simples ou complexa, ao nível das relações humanas ou sociais...”

(PIGNATARI, 2008, p. 21). A medida do conteúdo da informação, ou melhor, o

teor ou taxa de informação é o que importa para a teoria da informação e da

comunicação. A comunicação de concretiza, na medida em que a mensagem é

entendida, sintonizada, estabelecida pela transmissão de estímulos e pela

provocação de respostas. E a vida humana se manifesta nesse processo contínuo

de comunicação, afinal, viver é estar no mundo com outros.

Com isso, a comunicação pode ser considerada o processo global básico e

primário, o que torna possível a vida em sociedade. O aprimoramento da

capacidade comunicativa, portanto, é uma forma de ampliação do relacionamento

com o mundo. Para tanto, é preciso exteriorizar ideias de forma organizada, ideias

estas fruto das informações a que se tem acesso, por meio de experiências,

conversas e leituras.

A comunicação humana opera incessantemente com elementos que

representam a realidade, uma vez que não se conhece a realidade em sua

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essência, mas como ela aparece para cada indivíduo. São os signos os

elementos capazes de representar a realidade. Estes elementos só podem ser

estabelecidos por um contrato social, uma convenção previamente aceita. A

reapresentação da realidade – o signo – pode se dar por meio de cores, objetos,

cheiros, palavras. Piognatari (2008) defende que a palavra escrita seria um

símbolo, por se tratar do signo do signo, entretanto, cabe a esta pesquisa reter o

conceito de designer da informação, capaz de organizar os signos verbais – a

palavra escrita – segundo as regras que os regem nas relações com seus

usuários. Tais regras, abordadas mais adiante, reduzem os chamados ruídos ou

distúrbios da comunicação. Como nenhum sistema de comunicação está isento

de erros, a possibilidade da boa informação está garantida se a taxa de ruído for

baixa.

No caso desta pesquisa, intenciona-se aprofundar a interação humana, o

intercâmbio social por meio das palavras – signos verbais – na modalidade

escrita, ou melhor, no texto e no contexto. Texto, aqui, é o conjunto verbal, a

movimentação de estruturas sintáticas, ou, forma. Contexto é o processo

coerente, coeso, semântico, ou, conteúdo.

Para defender o título adotado, vale diferenciar linguagem, língua e

discurso. Enquanto a primeira se refere a toda e qualquer forma de comunicação,

pois representa a capacidade inata de interação entre as pessoas, a língua se

utiliza apenas de signos verbais, convencionais, usados por membros de uma

mesma comunidade. Entretanto, é no discurso – escrito, materializado -, resultado

do texto e do contexto, que esta dissertação se concentra.

Portanto, para melhor entendimento do leitor, fica aqui convencionado que

discurso é a forma organizada de usar a língua, é a exposição metódica,

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ordenada do texto, na construção do contexto, na adequação da mensagem. E

comunicação, intermediada pelo discurso, é a interação social, interlocução,

transmissão e compartilhamento de ideias.

1.2 Comunicação Empresarial

A Comunicação Empresarial (Organizacional, Corporativa ou Institucional)

compreende um conjunto complexo de atividades, ações, estratégias, produtos e

processos desenvolvidos para reforçar a imagem de uma empresa ou entidade

(sindicato, órgãos governamentais, ONGs, associações, universidades, etc)

junto aos seus públicos de interesse (consumidores, empregados, formadores

de opinião, classe política ou empresarial, acionistas, comunidade acadêmica ou

financeira, jornalistas, etc) ou junto à opinião pública (BAHIA, 1995).

Persona (2007) afirma que a Comunicação Empresarial tem assumido,

nos últimos anos, maior complexidade, tendo em vista a necessidade de

trabalhar com diferentes auditórios (portanto, diferentes conteúdos, discursos e

línguagens), o acirramento da concorrência, a segmentação da mídia e a

introdução acelerada das novas tecnologias.

Hoje, exige-se do profissional da área não apenas conhecimentos e

habilidades nas práticas profissionais, mas também uma visão abrangente do

mercado e do universo dos negócios. Mais do que um simples executor de

tarefas, o profissional deve ser um executivo, um gestor, capaz de planejar,

estrategicamente, o esforço de comunicação da empresa ou entidade.

A comunicação é o processo pelo qual as pessoas que trabalham em uma

empresa transmitem informações entre si e interpretam o seu significado

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(PIMENTA, 1999). Um conjunto de informações importantes e exatas ajudam a

melhorar a tomada de decisões e outros tipos de desempenho para os

indivíduos e para os grupos. Um sistema de comunicação eficiente tem, como

objetivo, manter as pessoas e os departamentos com informação e

compreensão que lhes permitirá, e estimulará, a realização de suas tarefas com

eficiência (ARGYRIS e BARTOLOMÉ, 1999).

Ser um comunicador habilidoso é essencial para ser um bom administrador

e líder de equipe. E para isso, Argyris e Bartolomé (1999) classificam e explicam

três fluxos da comunicação interna: a descendente - de cima para baixo; a

ascendente - de baixo para cima; e a horizontal ou lateral.

1.2.1 Comunicação Descendente

A comunicação de cima para baixo se refere ao fluxo de informação que

parte dos níveis mais altos da hierarquia da organização, chegando aos mais

baixos. Entre os exemplos estão um gerente passando atribuições à sua

assistente, um supervisor fazendo um anúncio a seus subordinados e o

presidente de uma empresa dando uma palestra para sua equipe

administrativa. Os funcionários devem receber a informação de que precisam

para desempenhar suas funções e se tornar (e permanecer) membros leais da

organização.

Muitas vezes, os funcionários ficam sem a informação adequada. Um

problema é a sobrecarga de informação: os funcionários são bombardeados com

tanta informação que não conseguem absorver tudo. Grande parte da

informação não é muito importante, mas seu volume faz com que muitos pontos

relevantes se percam. Quanto menor o número de níveis de autoridade através

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dos quais as comunicações devem passar, tanto menor será a perda ou

distorção da informação.

Os administradores, complementam Argyris e Bartolomé (1999), podem

fazer muitas coisas para melhorar a comunicação descendente. Em primeiro

lugar, a administração deve desenvolver procedimentos e políticas de

comunicação. Em segundo lugar, a informação deve estar disponível àqueles

que dela necessitam. Em terceiro lugar, a informação deve ser comunicada de

forma adequada e eficiente. As linhas de comunicação devem ser tão diretas e

breves quanto possível. A informação deve ser clara, consistente e pontual -

nem muito precoce, nem (o que é um problema mais comum) muito atrasada.

1.2.2 Comunicação Ascendente

A comunicação de baixo para cima vai dos níveis mais baixos da hierarquia

para os mais altos.

Os administradores devem facilitar a comunicação de baixo para cima,

motivando as pessoas a fornecer informações valiosas.

1.2.3 Comunicação Horizontal ou Lateral

Muita informação é partilhada entre pessoas do mesmo nível hierárquico. A

comunicação horizontal ou lateral pode ocorrer entre pessoas da mesma equipe

de trabalho ou entre pessoas de departamentos diferentes. Por exemplo, um

gerente de compras encaminha um relatório a um gerente de produção.

Especialmente em ambientes complexos, nos quais as decisões de uma unidade

afetam a outra, a informação deve ser partilhada horizontalmente.

Enfim, para a gestão da comunicação corporativa em qualquer atividade,

Chapell e Read (1973) afirmam que o elemento imprescindível é o discurso visto

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como instrumento de intermediação e de constituição sígnica de representação

dos sujeitos no discurso.

1.3 A Comunicação Intermediada pelo Discurso

Kunsch (2009) destaca a circulação de três discursos nas organizações:

discursos bem-ditos, mal-ditos e não-ditos.

Os discursos mal-ditos são os produzidos à margem dos canais

convencionais de comunicação, os não autorizados. Sua cladestinidade aparece

em expressões como “falar pelas costas”, “falar po baixo do pano”, rádio-peão”.

Os discurso não-ditos são os mal-ditos empedidos de serem expressados,

ou porque não podem, ou porque não devem ser ditos por determinados sujeitos

em situações específicas. O não-dito é o mal-dito silenciado.

Os discursos bem-ditos são “mensagens instutucionais e oficiais,

autorizadas e planejadas, divulgadas pelos canais de comunicação formais ou

informais, como intranet, e-mail, notas, comunicados internos, memorandos, ...”

(KUNSCH, 2009 p.130). Esses enunciados são produzidos dentro da norma

padrão da língua portuguesa, cuja uniformidade de sua apresentação é garantida

com manuais de redação. É no discurso bem-dito que se foca toda essa

dissertação.

O discurso não se restringe ao ato de transmitir informações, entre tantas

funções, a mais central é a de dar forma/posição ao falante, determinando,

assim, o lugar que de fato ocupa ou que acha que ocupa numa sociedade

(GNERRE, 1985). Pessoas falam para serem ouvidas, respeitadas e também

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para exercer influência sobre as outras: discursos políticos, sermão de igreja,

aulas, etc...

As produções linguísticas têm regras apropriadas dos atos de linguagem,

levando em conta as relações sociais entre o escritor/falante e o leitor/ouvinte.

As regras são: a) a hora certa de falar; b) que tipo de conteúdo é permitido falar;

c) que tipo de variedade linguística é oportuna. As regras são válidas tanto para

o escritor/falante quanto para o leitor/ouvinte, pois, em uma sociedade, é fato

que nem todos os integrantes têm o mesmo poder de acesso a produções

linguísticas, culta ou padrão, considerada língua, estas associadas tipicamente a

conteúdos de prestígio (BERLO, 1999).

É preciso ficar atento quanto ao discurso utilizado, porque, de acordo com

Therezo (1999), ele (o discurso) revela:

região de origem do emissor;

canal de comunicação escolhido;

posicionamento subjetivo ou objetivo do emissor;

camada social do emissor;

relação formal ou informal com o receptor.

O discurso é carregado de marcas históricas e sociais trazidos pelo

indivíduo, porém, dentro das corporações, esse discruso deve ser retrabalhado e

adaptado: o discurso define o sucesso ou o fracasso, a aceitação ou a rejeição,

a harmonia ou o conflito de uma carreira (NASSAR e FIGUEIREDO, 2000).

As sociedades desconsideram o aprendizado sócio-histórico isolado do

indivíduo, obrigando-o às respectivas adaptações, ao reaprendizado, ao

aprender a aprender, para não ser marginalizado.

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A formação do indivíduo é construída em sua infância por meio das

influências recebidas do meio em que vive e por seus familiares. Essas

influências são enraizadas em sua cultura, fazendo-o carregá-las por toda a

vida. Esse processo dificulta a assimilação de novos aprendizados e, em nível

corporativo, compromete seu sucesso profissional. Contudo, a habilidade da boa

comunicação linguística pode ser adquirida e aprimorada (MIRANDA, 1999).

Nassar (2000) escreve que a comunicação é a habilidade humana que

ajuda a superar a condição animal e a tornar o ser humano um ente social

distanciado intelectualmente dos demais seres vivos do planeta.

E, falando em seres vivos, Matos (2009) afirma que é a comunicação que

proporciona o holismo e a sinergia dos sistemas vivos. Segundo ele,

corporações são entendidas como organismos – entidades vivas - estreitamente

dependentes do comportamento sinérgico de suas partes.

Comunicar é, portanto, provocar uma resposta, uma reação do receptor. Se

um relatório é muito bem escrito, mas não é compreendido pelo receptor, ele

não estabelece uma comunicação. Um departamento não expede relatórios para

exibir conhecimentos, mas para realizar negócios (TEIXEIRA, 2007).

Correspondência eficaz é aquela que gera uma resposta correta, que

satisfaz às necessidades do emitente, adaptada ao nível de linguagem, à

capacidade de recepção de seu destinatário. O redator eficaz é um constante

pesquisador de palavras mais simples pelas frases mais curtas e

compreensíveis para seus receptores (MIRANDA, 1999). Sem dúvida, saber

escrever bem é obter a resposta correta e resposta correta é a que vem ao

encontro das necessidades intencionadas.

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Na correspondência comercial e jornalística, deve-se sempre responder:

que, quem, quando, como, onde e por quê. Correspondência comercial não é

laboratório de experiências linguísticas, por isso deve ser sucinta e coesa, para

transmitir ideias aos outros (BAHIA, 1995).

Comunicar é tornar comum nossos desejos e nossas necessidades,

provocando uma resposta. A gentileza, o “por favor”, o “muito obrigado”,

funcionam como lubrificantes da comunicação (MATOS, 2009).

1.3.1 Código Fechado e Aberto

O sucesso empresarial depende muito de um sistema de comunicação

eficaz, quer internamente, quer externamente. A comunicação imprecisa,

ambígua e insuficiente tem causado a ruína de muitas empresas. Comunicação

é participação, transmissão, troca de conhecimentos e experiências

(MAXIMIANO, 2006). A falta de precisão na comunicação acarreta problemas

para o desempenho de tarefas, e, às vezes, prejudica até mesmo as relações

humanas, gerando desentendimentos, discussões e redução da produtividade.

Berlo (1999) alega que uma comunicação se torna eficaz quando o redator,

em vez de utilizar um código aberto usa um fechado. O código aberto possibilita

muitas interpretações; o fechado admite apenas um entendimento.

1.3.1.1 Código Aberto: é o que possibilita mais de uma conclusão.

- Eu comprei uma resma de papel.

1.3.1.2 Código Fechado: é o que possibilita apenas uma conclusão.

- Eu comprei uma resma de papel de cor branca, tamanho A4, para impressora

jato de tinta.

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Berlo (1999) complementa aclarando que primeiramente devemos procurar

saber com quem se irá falar, porque fatores como a formação profissional, o

status, o nível de linguagem, os conhecimentos e os interesses do receptor

influenciam o entendimento da mensagem. Antes de iniciar a comunicação, é

importante que o emissor procure saber: quais são os conhecimentos do

receptor em relação ao assunto a ser abordado? Qual seu nível de linguagem?

Qual seu grau de interesse?

Para alcançar a comunicação eficaz é preciso reconhecer e compreender

por que ocorrem os desentendimentos e, em seguida, aprender a reduzi-los ou

evitá-los. Afinal, a comunicação entre dois funcionários é eficaz quando o

receptor interpreta a mensagem do emissor da mesma forma que este pretendia

que fosse entendida (ARGYRIS e BARTOLOMÉ, 1999).

Para aprimorar a comunicação empresarial, Miranda (1999) recomenda

atenção às habilidades técnicas, aos sistemas e às atitudes.

As habilidades técnicas envolvem respostas às seguintes questões:

Como transmitir informações?

Como instruir?

Como ser breve e claro?

A comunicação nas organizações, apesar de ser um processo complexo,

pode ser controlada pelos atuantes nos processos de comunicação. A maior

parte das insatisfações dos funcionários surge das comunicações imperfeitas

que resultam em choques entre emoções e ações, gerando grande

descontentamento no trabalho. Contudo, é perfeitamente possível evitar tais

insatisfações através da conscientização de cada integrante da organização, da

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importância do processo de comunicação, de maneira que seja utilizado de

forma adequada aos funcionários e ao ambiente de trabalho (FREITAS, 2006).

A capacidade de se comunicar hábil e efetivamente é a parte central de

tudo o que qualquer funcionário faz, todavia Argyris e Bartolomé (1999) lembram

que central não quer dizer evidente, ou ainda, em destaque, pois o sistema de

comunicação em uma empresa é eficaz quando não se percebe que ele existe,

tal a sua naturalidade e harmonia. Uma organização se comunica de forma ideal

quando os empregados utilizam os canais formais e informais, continuamente,

tanto com os níveis superiores, como com os níveis inferiores e do mesmo nível.

Um dos maiores problemas das organizações é que a comunicação é

frequentemente unidirecional, de gerentes para subordinados, por exemplo, sem

qualquer reflexão ou retorno da mensagem enviada. Sabe-se também que cada

funcionário interpreta uma mensagem de forma diferente, muitas vezes

permitindo o surgimento de barreiras à comunicação interpessoal. A

comunicação é um meio para alcançar os objetivos da empresa. Informações

exatas e rápidas são fundamentais para que se possa tomar decisões eficazes.

Entretanto, a comunicação não se faz só pela língua, mas pelas formas

de seu uso, que constroem os recursos estratégicos de um discurso. Para que o

escritor atinja o entendimento intencionado da maioria de seus leitores, várias

considerações devem ser examinadas e cumpridas atentamente.

Kranz (2009) diz que a primeira é o Planejamento. Antes de começar a

escrever, devem ser reunidas todas as informações necessárias para a

construção da mensagem. Se for preciso, pesquisas devem ser incluídas para

melhor fundamentação do texto. Após escrever, observando a gramática, os

princípios da textualidade, o aditório, o fio condutor, é fundamental revisar, reler

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minuciosamente e re-escrever. Esse exercício deve ser feito tantas vezes

quantas forem necessárias.

Para garantir a significação pretendida no discurso, Cassany (1995)

defende a importância da pontuação, da sintaxe, dos níveis de formalidade.

Esses recursos constroem o entendimento, a organização do conteúdo,

tornando o texto mais coerente e claro.

A pontuação é o termômetro da escrita. Somente observando os pontos e

as vírgulas de um texto é que se pode arriscar uma ideia aproximada da

qualidade geral da prosa.

Definir o Fio Condutor é outra importante consideração a ser observada por

Maquesi (2004). Seja qual for o texto - um e-mail, um memorando, uma carta,

um simples bilhete – o escritor deve construir a unidade temática e se manter fiel

a ela. Para atrair a atenção do receptor é necessário que o próprio assunto de

um texto seja restrito. É preciso estabelecer uma ideia central para um texto e

procurar restringi-la o mais possível. Quanto aos parágrafos de um texto, deve-

se escrever de modo que a ideia do parágrafo seja identificada rapidamente. O

parágrafo não se reduz a seu aspecto visual/estético, nem tem a sua extensão

medida em centímetros, mas em conteúdo . Mudando de assunto, muda-se o

parágrafo.

1.4 A Língua e seus Aspectos Léxico-gramaticais

1.4.1 Tópico Frasal

O uso do tópico frasal em um parágrafo funciona como uma frase-núcleo,

uma frase que resume todo o pensamento que será desenvolvido no corpo do

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parágrafo, expõe Abreu (1990). Se no desenvolvimento, surgirem ideias que não

estejam na frase inicial, é melhor o redator mudar de parágrafo.

Como garantia da exposição das ideias, devem-se traçar os limites do

parágrafo, pois a ideia central do que vai se expor, em uma sequência de

orações, é recomendada para todos os redatores de qualquer texto corporativo.

É preciso observar os três fundamentos do tópico frasal: (anexo I)

a. – deve ser específico;

b. – deve ser pormenorizado;

c. – deve ser argumentativo.

Koch (2008) e Antunes (2005) também contribuem para esse trabalho,

quando se faz necessário ponderar sobre coesão e coerência na construção

textual do sentido.

Koch (2008) conceitua a coesão como o fenômeno que diz respeito ao

modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se

encontram interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando

sequências veiculadoras de sentido. Para Fiorin (1996), a coesão textual é a

ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto.

A coesão é, segundo Abreu (1990), o encadeamento semântico que produz a

textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um

termo presente em uma sentença A. Daí a necessidade de haver concordância

entre o termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente,

Marcuschi (2004) define os fatores de coesão como aqueles que dão conta da

sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua

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que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de

sentido.

1.4.2 Coesão e Coerência

Ferreira (1977) aplica abaixo as definições dos termos: coesão e coerência:

1.4.2.1 Coesão:

a. União íntima das partes de um todo.

b. Harmonia, concordância, união.

c. Conexão, nexo, coerência.

d. Fís. Propriedade resultante da ação das forças atrativas existentes entre as

partículas (moléculas, átomos, íons) constitutivas de um corpo.

1.4.2.2 Coerência:

a. Qualidade, estado ou atitude de coerente.

b. Ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias; relação

harmônica; conexão; nexo, lógica.

c. Fís. Propriedade apresentada por duas ou mais ondas eletromagnéticas

monocromáticas que têm o mesmo comprimento de onda e o mesmo plano

de vibração, apresentam diferenças de fase constantes e passam, em um

mesmo intervalo de tempo, por uma mesma região do espaço.

- A partir dessa definição, é possível separar coesão e coerência?

É muito interessante responder essa pergunta a partir das definições acima.

Percebemos, por meio delas, o forte vínculo e intrerdependência na

materialização de ambas. A coesão está intimamente ligada na coerência e vice-

versa.

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É preciso ressaltar:

nas definições a, b, c de COESÃO e a, b de COERÊNCIA, Ferreira

(1977) se utiliza dos mesmos termos: harmonia, conexão , nexo;

na definição de COESÃO, encontramos a palavra COERÊNCIA.

nas definições dentro da física, tanto na COESÃO como na COERÊNCIA, a

mensagem que se tira é de união, atração.

Ainda, com o objetivo de facilitar a produção escrita dos inúmeros

veículos utilizados em corporações, são resgatados os gêneros textuais:

definição e funcionalidade, e gêneros textuais emergentes, segundo Marcuschi

(2004). Aqui, como exemplos, serão enquadrados como gêneros o

memorando, o relatório e o e-mail, revestidos, conforme esclarecido por

Bakhtin (2002), dos três aspectos que os definem:

conteúdo;

estilo verbal;

construção composicional.

Além da língua e seu uso, os profissionais devem conhecer o ambiente

corporativo e suas regras de comportamento – código de conduta - para

alcançarem sucesso. Devem respeitar hierarquia e adaptar-se à identidade

organizacional de cada corporação. Freitas (2006) diz que o bom gestor deve

criar identidade com a cultura organizacional da empresa para a qual trabalha. A

cultura organizacional é responsável pelo nível de formalidade do discurso

utilizado, pela escolha do léxico e do estilo verbal dos funcionários. O discurso

de uma corporação deve ser padronizado, unificado para garantir o sucesso da

sua missão. Porém, Teixeira (2007) afirma que, apesar de o endomarketing ser

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o departamento que define, integra e impõe essa cultura organizacional, cabe ao

funcionário se capacitar, por meio de diversos conhecimentos, para atender às

expectativas da corporação.

Por fim, é defendida a exposição de Gestão do Discurso Corporativo

como a utilização dos conhecimentos linguísticos de forma estratégica. Aqui,

cabe a competência de usar um discurso persuasivo, ou corretivo, ou

impositivo e tantos outros de acordo com a função exercida, a meta a ser

alcançada, a missão a ser cumprida.

Fairclough (2001) corrobora com Halliday (2004) sobre a afirmação de

que função textual diz respeito a como as informações são trazidas ao primeiro

plano ou relegadas a um plano secundário. Diz respeito a como manipular o

relevante ou abrandar uma informação de acordo com o intencionado,

provocando reações, impondo soluções, conquistando aliados.

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2 - A ARTE DE REDIGIR

Escrever é uma habilidade como outra qualquer, a ser praticada,

desenvolvida e aperfeiçoada. E quanto mais aprimorada tal habilidade, menos

ruído se sobrepõe à mensagem. Afinal, mesmo sendo uma atividade quase

sempre individual, escrever tem por objetivo básico a comunicação – a

transmissão de ideias e sentimentos de uma mente a outra. É para isso que

regras de gramática e os princípios da boa escrita foram desenvolvidos: para

que se possa entender um ao outro. Podem-se destacar como pontos

indispensáveis: clareza, simplicidade, consistência, concisão e brevidade,

pontuação, escolha lexical, nível de formalidade, correção, precisão, coesão,

coerência, competência retórica e atenção para com o leitor, sendo alguns

desses pontos abordados no decorrer deste trabalho. Ao escrever, menos

muitas vezes significa mais. Em vez de escrever para outra empresa que a

organização está interessada em alinhar o potencial da companhia com a

longeva reputação de inovadora global, pode-se escrever simplesmente que a

empresa tem sólida reputação como inovadora e está interessada em discutir a

melhor forma de se beneficiarem mutuamente, unindo as duas forças.

Escrever a um auditório pretendido:

Saber escrever a um auditório pretendido é um dos princípios a ser

primeiramente observado. É preciso se colocar no lugar do leitor a que a

mensagem será dirigida. Ideias não bem expostas o colocam perante o grande

esforço de decifrá-las. Kranz (2009) lembra que conhecer bem o auditório

também ajuda a determinar o grau de formalidade com o qual se deve escrever.

Embora o pronome “você” seja bastante aceito, é mais adequado usar “o

senhor” e “a senhora” em cartas corporativas formais. No entanto, o uso de

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“senhor” e “senhora” em e-mails para pares com quem já se tenha um certo grau

de intimidade pode soar arrogante.

Nos tempos de economia global em que se vive, com empresas

recorrendo cada vez mais a terceirizações para assumir algumas das funções

comerciais e até mesmo no exterior, a comunicação com colegas e clientes de

outros países está se tornando cada vez mais comum. Ao escrever a um

auditório internacional, são precisos textos mais formais. É preciso, por exemplo,

evitar se dirigir a contatos do exterior usando o primeiro nome. Tem-se que usar

nome e sobrenome, às vezes, somente o sobrenome, seguidos sempre do

pronome de tratamento “Sr” ou “Sra”. Manter o auditório em mente significa

conhecer os interesses específicos desse segmento e saber abordá-los,

completa Kranz (2009).

Por isso, ao escrever uma carta ou um relatório, é preciso ter em mente a

provável reação dos leitores ao conteúdo, ao estilo e ao tom.

Quanto ao conteúdo:

Não se deve estender em explicações técnicas detalhadas se os leitores

forem leigos. Porém, se todos eles forem especialistas no assunto, deve-se

utilizar jargão técnico, mais conciso, evitando explanações genéricas. Caso haja

leitores especialistas e leigos, é preciso alcançar um equilíbrio sutil, priorizando

os leigos.

Quanto ao estilo:

Se alguns dos leitores forem pouco letrados, não cabe usar duscurso

excessivamente rebuscado. Entretanto, não se devem subestimar leitores

eruditos e de bom nível educacional com estilo simplório e explicações

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desnecessárias. O lema é adequação. Escrever de forma simples, tendo em

mente que a definição de simplicidade varia de acordo com o nível de

sofisticação do leitor. Medeiros (1998) estabelece que o bom estilo focaliza

diretamente o conteúdo e serve à causa da comunicação clara. Quando o

escritor negligencia a adequação do estilo ao conteúdo, o resultado pode ser um

texto pomposo, cuja forma predomina sobre o conteúdo.

Quanto ao tom:

O tom da escrita pode ser considerado pomposo se muito elevado ou

chulo e descortês, se for baixo demais. Se os leitores forem diretores-executivos

de uma empresa, o tom deve ser adequadamente respeitoso e formal.

É importante ressaltar que alguém tem de se esforçar para que a

comunicação ocorra com sucesso. O esforço da escrita é inversamente

proporcional ao da leitura: quanto maior o trabalho do escritor, menor o do leitor.

E vice-versa. Se o escritor não fizer a sua parte, será que o leitor fará a dele ou

considerará o texto ilegível, deixando-o de lado?

Como síntese da abordagem em referência, Garcia (1975) destaca:

Dirigir a mensagem de acordo com o interesse do leitor;

determinar o nível de formalidade do texto com base no auditório;

manter um tom profissional, mesmo em textos menos formais;

não se esquecer de levar em consideração aspectos como

diferenças culturais e linguísticas;

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Concisão e Brevidade (anexo II)

Concisão não é exatamente o mesmo que brevidade. O primeiro

aspecto diz respeito à qualidade do material, o segundo, à quantidade. Um

depende da capacidade do autor para concentrar informações em poucas

palavras, o outro determina o volume do texto.

A brevidade embora desejável, às vezes não é alcançável. Uma carta ou

relatório complexo nem sempre pode ser breve. Se tiver de cobrir muitos tópicos,

vai necessariamente cobrir também muito papel.

O que sempre é possível é a concisão – rigor de linguagem, eficácia

concentrada. Isto significa apresentar cada ponto de maneira mais breve

possível, mesmo que o texto tenha pontos demais a serem expostos para que

seja curto. Assim, mesmo um texto longo pode ser conciso, e até um texto breve

pode ser desnecessariamente prolixo.

O excesso de explicações em uma carta de reclamação ou a redundância

em um memorando serve apenas para reduzir o impacto da mensagem. Quanto

mais prolixo for o texto, maior será o risco de o leitor desistir dele. Vale lembrar

que os profissionais, em sua maioria, por acumularem funções, não têm tempo

ocioso para leituras longas e prolixas. O tempo e o texto conciso valem ouro.

Como não seria possível destacar com mais deltalhes todos os princípios

fundamentais na construção de um texto, optou-se em aprofundar, dentre eles,

três: escolha lexical, pontuação coesão e coerência.

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2.1 Escolha Lexical:

“A palavra é mesmo uma entidade mágica.

Fugidia, ela nos faz perseguir um sentido.

Às vezes, se esconde e não nos permite entendê-la

em plenitude, mas, ainda ssim, nos arrebata,

encanta, envolve e toma conta de nossos

corações e mentes”

FERREIRA, 2010

Ora se encontra na literatura o termo corporação, ora empresa, ora

organização. E, já que o assunto é escolha lexical, faz-se necessário, aqui,

esclarecer definitivamente se há ou não diferenças entre os termos.

Ferreira (1977) define:

“Corporação: associação de pessoas do mesmo credo ou profissão,

sujeitas à mesma regra ou estatutos, e com os mesmos deveres ou direitos”,

p.388

“Empresa: associação de pessoas para a exploração de um negócio”, p.

514

“Organização: associação ou instituição com objetivos definidos”, p. 1005.

É interessante observar que todos os termos se traduzem em

“associação” que, por sua vez, é definida por Ferreira (1977) como união,

ligação de duas ou mais pessoas em um só conjunto, segundo uma norma

determinada. A partir daqui, elimina-se a ambiguidade de uso sobre os três

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termos, já que todos convergem para a mesma prática social de um grupo de

pessoas com os mesmos objetivos.

A Língua Portuguesa tem um vocabulário muito rico. Isso significa

grandes vantages e alguns perigos. As principais vantagens são variedade e

precisão. Os perigos correspondentes são variação desnecessária e fraseado

pedante.

A multiplicidade de sinônimos oferece a escritores uma ampla esfera de

opções para que possam se expressar com eficácia, além de evitar ambiguidade

e garantir precisão. Entretanto, além da escolha adequada das palavras, é

preciso ordená-las corretamente. Um pequeno discuido na posição de uma

única palavra pode fazer com que o sentido da frase fique comprometido. A

regra é: uma palavra ou expressão deve ficar o mais próximo possível de

qualquer outra palavra ou expressão que com ela mantenha relação semântica

ou gramatical. A consequência do desrespeito a essa regra é a ambiguidade,

completa Azeredo (2000).

No ambiente empresarial, existem muitas armadilhas e tentações, como

clichês, jargões, termos estrangeiros, palavras demasiadamente técnicas e outros

conjuntos de termos que comprometem a legibilidade do texto. Não que não se

possam ser usadas, às vezes um eufemismo ou metáfora são adequados em

algumas circunstâncias. É melhor escrever a um funcionário que a empresa, por

hora, não precisa mais de seus serviços do que escrever que ele está demitido. É

claro que cada universo possui seu próprio glossário e que deve ser dominado e

utilizado com adequação. Entretanto, o jargão eletista, com intuito de manipulação

ou para ocultar significados já vem sendo repudiado nas corporações. Há algum

tempo, gírias, chingamentos e palavras vulgares devem ser evitadas a todo custo.

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São inúmeros os processos ganhos de assédio moral, devido a palavras

ofensivas, de humilhações, violência psicológica, ameaças, perseguições.

Hirigoyen (2001) diz que em ambientes de pressão extrema, qualquer método é

válido, incluindo a humilhação para melhores resultados.

Com medo de entrar no próximo corte, diz Hirigoyen (2001), as pessoas

passaram a se submeter mais às perversidades.

Certas palavras, usadas nas organizações, trazem consigo um histórico de

costume onde se escondem hierarquias, preconceitos e uma visão mecanicista

das relações.. Termos como chão-de-fábrica, mão-de-obra e rádio-peão carregam

em si o peso da inferioridade, da desqualificação do trabalhador e expressam um

inconsciente coletivo. É necessária a consciência do que se diz, pois as palavras

têm vida, têm peso. Com isso, a afirmação de Blair (1992) sobre o significado de

uma palavra ser o seu uso na linguagem nos remete aos conceitos da

pragmática, uma vez que se considera além das próprias palavras, suas

condições de produção e consumo.

Veja, abaixo, dois anúncios:

Qual destes sites é mais eficiente para vender um produto?

Ambos têm um design colorido, mas somente o segundo tem TEXTO.

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O texto utilizado para vender o produto ou serviço é o que faz a diferença.

Desde os primórdios do comércio, negócios são feitos com palavras. Investir em

tecnologia e design é importante, mas é o texto que conversa com o auditório.

Seja site, blog, catálogos, boletins, newsletters ou qualquer material promocional

devem levar uma mensagem clara dos benefícios que os leitores buscam. Caso

contrário, a empresa vai ficar falando sozinha. A mensagem deve ser uma

agradável conversa com o cliente, para atrair sua atenção, cativá-lo e criar

confiança para fechar negócios. É o poder da palavra que convence o mercado.

Criatividade, ritmo e nível de formalidade são os elementos que fixam a imagem

na mente do público.

O jogo da língua escrita é uma combinação de palavras com intenções

específicas. O que se espera é o reconhecimento dessas intenções por parte do

leitor, gerando, assim, a reação pretendida. O uso da linguagem implica no

domínio e uso de regras, pois a aplicação correta de um termo significa que se

age de acordo com as regras estabelecidas pelo contexto de sua aplicação

(WITTGENSTEIN, 1984).

Mas, onde se encontra a dificuldade para a aplicação adequada?

De fato, “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”

(WITTGENSTEIN, 1984), ou melhor, do conhecimento e visão de mundos e

universos. Os universos de experiência e de crença compreendem os

conhecimentos adquiridos pelo escritor, nos fatos por ele memorizados, nas

informações por ele armazenadas durante a sua experiência. E o mesmo se

aplica no entender, no interpretar do leitor, completa Turazza (2005). Dependendo

do grau de instrução, dos dados culturais armazenados, enfim do saber do

escritor e do leitor, uma proposição poderá ter maior ou menor grau de precisão

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quanto ao seu conteúdo, à sua verdade. O universo linguístico é o lugar onde se

processam ou se formalizam a estruturação dos mundos e universos.

Diante do desafio de juntar os pares, as empresas investem cada vez mais

em processos de contratação, na busca da linearidade de profissionais com

semelhantes graus de instrução, experiências e conhecimentos de mundo e, para

cargos de chefia, com capacidade de respeitar as diferenças individuais de

subordinados, transmitindo seu legado de forma respeitosa.

Estatística da informação

Vale, nesse momento, enriquecer o tema em questão com o

comportamento da linguagem por meio de processos estatísticos, cujo estudo

teve, segundo Pignatari (2008), como um dos pioneiros G. K. Zipf. Ao abordar

levantamento estatístico de um discurso verbal, tomando-se a palavra como

unidade, devem-se distinguir dois conceitos: palavra-ocorrência: é a palavra

efetiva, a palavra tinta sobre papel; palavra-tipo: é a abstração, o conceito

linguístico. Pignatari (2008) exemplifica com o poema “No Meio do Caminho”, de

Drummond, composto por vinte palavras-tipo e sessenta e uma palavras-

ocorrência. Contínuos estudos revelam que, em diversas línguas, as cinquenta

palavras-tipo mais utilizadas constituem aproximadamente 60% das palavras-

ocorrência na língua falada, e 45% na língua escrita, sendo que a maior parte das

palavras de uso corrente é representada por monossílabos. Com tais

levantamentos estatísticos, Pgnatari (2008) explica que Zipf tentou mostrar, que a

comunicação é uma das atividades humanas sujeita a uma lei por ele chamada

de princípio do menor esforço. O homem, segundo a qual, reduz ao mínimo a

ação total envolvida para atingir seus objetivos. Apesar de a língua portuguesa ter

como esqueleto as consoantes, Piganatari (2008), utilizando um computador IBM

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1620, precedeu a contagem de vogais e consoantes em textos brasileiros e

obteve a porcentagem de 48% de vogais e 52% de consoantes. Conclui-se que

metade de todo e qualquer texto, em português é composto de vogais, lembrando

que as vogais são apenas cinco. Essa teoria estatística da informação, embora

relativamente recente, já ganhou vários adeptos que, tentam contribuir para uma

construção mais lógica da mensagem, cujo principal objetivo é reduzir os

chamados ruídos da comunicação.

O Inglês é a língua dos Deuses.

Para muita gente, o inglês é a língua dos deuses corporativos enquanto

que o português é a língua que qualquer funcionário de baixo escalão pode falar.

Alguns profissionais usam em excesso palavras em inglês que poderiam ser

muito bem usadas em português. A fronteira entre a necessidade e o ridículo está

na escolha das palavras que melhor defidem ou explicam o que se está querendo

dizer. Mais pessoas entendem melhor se ler notebook do que micro computador

portátil. Fala-se da área de marketing e não da área de mercadologia.

Eventualmente, utilizam-se palavras em inglês. Mas, isso é bem diferente de

deixar o discurso corporativo excessivamente poluído. Outro dia, quando um

jovem perguntou o significado de CEO, o professor respondeu: “presidente de

empresa”. O jovem respondeu: “Só isso? Em inglês parece bem mais”. Esse é o

limite entre o bom senso e a banalidade. Quem diz que precisa fazer um follow up

do processo de benchmarking está precisando urgente de uma dose de Machado

de Assis.

Termos em inglês impressionam, mas não se deve exagerar.

Qualquer executivo moderno não resiste à tentação de usar dois ou três

termos ingleses. Necessário pode não ser, mas, que impressiona, impressiona.

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Quando alguém pergunta: “O que você acha?” Ou: “Eu gostaria de ouvir o seu

feed back”. No segundo caso, pensa-se bem mais ao elaborar a resposta. É a

mesma diferença que existe entre trabalhar em período integral e trabalhar full

time. A impressão é que quem trabalha full time não apenas trabalha mais, como

ainda é mais competente. Ou quando se pede um favor profissional a alguém e a

resposta é: “vou falar aí com um povo que conheço” - já se fica com a impressão

de que não vai acontecer nada. Mas, se a resposta for: “vou acessar meu

network” - também pode ser que nada aconteça, mas a esperança já é bem

maior. Imagine, então, um chefe que, ao dizer ao seu subordinado que lhe faltam

as informações de venda para iniciar o relatório do mês, diz: “dá para você

cobrar?” O subordinado, com certeza, vai sair da sala sem muito entusiasmo.

Mas, se o chefe disser: “preciso dar o start up no meu report, mas pelo meu check

list falta o database. Voce faria o follow up?”, o subordinado inicia imediatamente,

mesmo sem entender direito o que lhe foi pedido. É verdade que existem termos

em inglês que já fazem parte da rotina do mundo corporativo: marketing, e-mail.

Uma ou outra palavra em inglês, usada aqui e ali, pode mesmo impressionar ou

até esclarecer. O problema está no exagero.

Entretanto, inglês não é mais uma diferenciação, e sim obrigação.

Principalmente, porque é o idioma da internet e do mundo dos negócios. Quando

um japonês e um iuguslavo fazem uma reunião, eles se entendem em inglês. Um

exemplo prático de como o inglês se tornou parte da vida diária é o nome dos

produtos que já chegarm ao Brasil com o nome em inglês: MTV, HBO, Nike,

Nugget.

Gehringer (2003) explica que o que se nota é que os jovens brasileiros

estão mais preocupados em aprender inglês do que português. Uma das

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preocupações das boas empresas é garantir que seus funcionários estejam

sempre atualizados. E uma das maiores consultorias do mundo - a

PriceWaterhouseCoopers - é um belo exemplo da preocupação com essa

atualização. Em seus escritórios no Brasil, a Price constatou que seus novos

contratados precisavam se aperfeiçoar em um idioma: o português. Do total de

horas de treinamento por que passam os contratados da Price, quase 10% são

dedicados a aulas de português. Pode parecer surpreendente, mas nas

avaliações iniciais da Price, tem ficado claro que os jovens brasileiros estão muito

mais preocupados em aprender inglês, do que aprender português. Com a

chegada do e-mail nas empresas e, com ele, as necessidades de os profissionais

se comunicarem uns com os outros diretamente, a deficiência em escrever

corretamente o português ficou muito mais evidente. E não é aquele português

erudito que só os bachareis entendem. Sâo os aspectos bem básicos do ensino

fundamental, como concordância verbal, grafia e acentuação. Gehringer (2003)

conta que em um recente teste escrito de uma empresa, foi constatado que de

cada dez candidatos com o curso superior que discorreram sobre o tema

ascensão profissional, nove não souberam soletrar a palavra ascensão. E cinco

que responderam à questão: “como pretende ascender em sua vida

profissional?”, mencionaram isqueiros e fósforos. Sabe-se de muitas empresas

que pagam cursos de inglês e de espanhol para seus funcionários. Entretanto,

são raríssimas as que pagam cursos de português

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2.2 Os Segredos da Pontuação

“Pensamos equivocadamente que para pontuar bem somente é preciso saber

que sinal deve ir em cada posição. Porém, as pessoas que sabem pontuação escrevem

de um modo diferente das que não sabem. Quem entende a vírgula, o ponto e vírgula, o

ponto – e também os dois pontos, o hífen e a interrogação – produz estruturas sintáticas

diferentes de quem não os entende.”

Edward P. Bailey Jr.

A pontuação é como um termômetro da escrita. Somente observando os

pontos e as vírgulas de um texto é que se pode arriscar uma ideia aproximada da

qualidade geral do texto. É um engano afirmar que a língua escrita representa ou

reflete fielmente a língua falada. São duas as caracetrísticas que separam a

língua falada da língua escrita:

a) a língua falada visa ao intercâmbio imediato, ao passo que a língua

escrita visa à permanência;

b) a língua falada conta com inúmeros recursos (gestos, entonações,

expressões faciais,...), ao ponto que a língua escrita conta somente com

a materialidade do meio em que se exprime.

A pontuação não está relacionada à entonação, não está condicionada

ao discurso oral. Erroneamente, ensina-se a colocar vírgula em uma pausa fraca

ou em uma curva ascendente e ponto em uma pausa longa ou curva

descendente.

Cassany (1995) esclarece que não faz nenhum sentido escrever

conforme o que dizemos ou o que entoamos – a não ser que pretendamos

simular ou reproduzir os tiques do diálogo e esconder o estilo escrito de um texto.

A pontuação é um dos recursos oferecidos para representar as

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sutilezas, a tensão, a expressividade da língua escrita, nas suas funções

expressiva (? / !), textual ( ( ) / [ ] / ..... / - / “ “ / : / ; ) e estrutural ( . / ,).

A pontuação tem suas funções bem definidas: estruturar as diversas

unidades do texto, delimitar a frase e o parágrafo, marcar os giros sintáticos do

texto, destacar ideias, eliminar ambiguidades e organizar conteúdo: tema central,

subtema, ideia, detalhe.

À medida que os sinais refletem a organização do conteúdo, o texto se

torna mais coerente e claro (CASSANY, 1995). Duas vírgulas colocadas no local

adequado marcam uma boa subordinada; o uso frequente de pontos regula o

equilíbrio dos parágrafos; em vez disso, o abuso de parênteses, a escassez de

pontos de continuidade ou a presença excessiva de vírgulas soltas são maus

indícios. Os sinais de pontuação se inter-relacionam intimamente com o resto da

redação e criam conexão entre sinais, unidade linguística e valor comunicativo.

Assim, o quadro abaixo mostra que, de fato, a pontuação estrutura as diversas

unidades do texto:

SINAL UNIDADE TEXTUAL UNIDADE SIGNIFICATIVA

ponto final texto mensagem

Ponto parágrafo tema, capítulo, seção

ponto de continuidade oração ideia, pensamento

ponto e vírgula frase, sintagma nota, comentário

vírgula, exclamação, interrogação,

parênteses

inciso, aposição complemento

O grau de complexidade de um documento pode ser determinado por quais

e quantos sinais utilizados. Alguns estudiosos incluem na pontuação outros

recursos gráficos paralelos como o et cetera ou o uso de letra cursiva ou negrito e

do sublinhado com a função de destacar a prosa. No quadro seguinte, cada grau

de complexidade contém os sinais dos graus anteriores, inclusive os adicionados

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com o sinal de mais (+) na linha correspondente. Assim, no primeiro e mais

simples somente é usado o ponto de continuidade; no terceiro, o ponto de

continuidade, o ponto, a vírgula e o ponto e vírgula; e no sexto e mais complexo,

todos os sinais mencionados.

Com o passar do tempo, os usos da pontuação vão mudando e se configurando

conforme as convenções atuais, seguindo hábitos e modas (MILLER, 1992).

UTILIZAÇÃO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO NO DECORRER DOS SÉCULOS

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Podemos destacar as seguintes constantes:

80% dos sinais utilizados são vírgulas e pontos;

tendêndia moderna de abreviar ou cortar as orações: ao longo dos três

séculos, aumenta-se o uso do ponto em detrimento do uso da vírgula, cai o

ponto e vírgula, mantém-se os dois pontos;

aumento dos diálogos ou do discurso direto: aumento significativo dos

sinais marcados da modalidade (interrogação e exclamação) e reticências;

crescente desuso do ponto e vírgula;

2.3 Nível de Formalidade Adequado

“O nível de formalidade é o sal e a pimenta do texto”.

CASSANY, 1995

O discurso formal se relaciona ao discurso menos popular, mais culto,

aprendido na escola com instrução programada. Está nas comunicações mais

controladas, naquelas nas quais os usuários vigiam mais e melhor o que dizem e

como dizem. Esse é o discurso que deve ser adotado nas escritas corporativas.

Já o discurso informal costuma se associar a situações espontâneas

(conversas, notas pessoais, etc), à língua corrente e comum, adquirida de forma

natural, pela interação com a família, amigos. Essa informalidade não deve existir

nas comunicações corporativas.

Dominar a escrita significa também perceber o valor sociolinguístico da

língua. E isso determina, para cada situação, o nível específico de formalidade,

adequado ao interlocutor, à função e ao texto. (anexo III)

Notam-se as marcas de formalidade / informalidade por meio da seleção de

vocabulário, de usos sintáticos e recursos estilísticos. A carga formal e informal da

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língua não é um valor estável, nem absoluto para todos os usuários, pois varia de

acordo com a história, a geografia, a experiência linguística de cada indivíduo e

principalmente do uso linguístico de cada comunidade, de cada esfera de

comunicação.

2.4 Coesão e Coerência no Texto

“A vida é formada e formalizada por

texto: uma imagem, um som.

Tudo é texto”.

(TURAZZA, 2005)

Quem nunca escreveu ou falou alguma coisa que foi entendida de maneira

diferente da que gostaria que fosse entendida? Ou foi interpretado de maneira

diferente da que intencionou? Seja por falta ou excesso de informação; ou

ainda porque o conhecimento do conteúdo veiculado não era partilhado

suficientemente com o interlocutor; ou mesmo por não possuir elementos

contextualizadores suficientes. Todas essas razões nos fazem pensar que,

quando chamamos um texto de incoerente, estamos nos referindo à não

ativação de elementos necessários para que tanto o escritor (falante) como o

leitor (ouvinte) atribuam sentido.

Para Ingedore Koch (2008), a coerência textual diz respeito ao modo como

os elementos subjacentes à superfície textual vêm a construir, na mente dos

interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. Diante dessa

afirmação da autora, percebemos que a coerência não é algo dado no próprio

texto, mas construído por meio dele. É preciso que ele faça sentido para

alguém, para que esse alguém possa atribuí-lo coerente. A coerência de um

texto depende majoritariamente da troca de informações entre os

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interlocutores, portanto está ligada diretamente aos nossos conhecimentos

sobre o assunto.

No entanto, o puro conhecimento sóciocognitivo não é suficiente se não

apreendermos os aspectos estritamente linguísticos. A questão é refletirmos

sobre quais escolhas lexicais fazemos e o modo como podemos construir a

arquitetura do texto, as estratégias linguísticas, a fim de que o texto se torne

claro e faça sentido ao nosso interlocutor - referimo-nos, agora, à coesão

textual, referencial, sequencial.

Caso o leitor não compreenda o código ali colocado, a coerência não se

constituirá. Isso pode ocorrer quando há alguma expressão no texto de uma

língua diferente daquela usada pelo leitor, como o latim, o francês, o inglês, e

outras. Ou, ainda, quando o registro é extremamente específico de uma área,

como os famosos jargões técnicos: vocabulários jurídico, médico, etc. Além do

conhecimento das palavras, a relação sintática também é de suma importância,

ou seja, a forma como articulamos e combinamos as palavras. Dessa maneira,

dizemos que as relações entre os segmentos textuais para estabelecimento da

coesão podem se apresentar no interior do enunciado; entre orações e

períodos; entre parágrafos.

Portanto, a coerência de um texto está fundamentada em elementos

externos ao próprio texto e na forma de construir o texto. Elementos externos

ao próprio texto são o conhecimento de mundo que temos sobre o assunto e a

forma de construir o texto é o nosso conhecimento linguístico. O homem não

tem só a língua como conhecimento cultural, mas é por meio dela que o

homem organiza seu conhecimento de mundo.

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A seguir, encontra-se uma breve retomada histórica. Trata-se de um

recorte de apenas dois momentos que ilustram a evolução na análise da

comunicação textual, cujo foco passa da palavra para a frase, para o texto,

para o enunciado. Independentemente do foco, precisa-se da língua

oral/escrita para se fazer entender e, para tal, coerência e coesão norteiam as

mensagens, o querer.

Enfim, chega-se na Linguística Textual e seus recursos léxico-gramaticais,

para, por meio das considerações explanadas, alcançar a definição de Homem

sócio-histórico-psíquico-ideológico-cultural.

Século XIX

A história, aqui, inicia-se no século XIX: o século dos comparativistas, da

linguística comparativa. Nessa época, três gerações com três vertentes teóricas

estabelecem diferentes métodos para abordagem da língua:

1ª. Geração Comparativista: Perspectiva Histórica.

Hipótese: Todas as línguas tinham sua origem no hebraico – o idioma do

velho testamento. Isso porque quando Deus ditou os 10 mandamentos, Moisés

escreveu em hebraico: a língua mais antiga que deu origem a todas as outras

línguas. Pois bem, essa 1ª geração comparativista afirma que há uma protolíngua,

uma língua da qual as outras se originam. E acabam concluindo que a origem das

línguas não é o hebraico, mas o sânscrito, por ser a língua da civilização hindu.

Portanto, o português é uma língua hindu-europeia, assim como o francês, o

espanhol, e outras.

É segundo tal hipótese que essa geração defende sua grande tese: as

línguas são produtos da história. Elas são produzidas na e pela história.

2ª. Geração Comparativista: O Homem é Produto do Meio.

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Essa geração discute o realismo, a propagação e incentivo à ciência, o

aprimoramento industrial ao substituir o motor a vapor pelo motor elétrico. Brotam

as pesquisas em física, química, nas ciências exatas. Sempre comparando, os

estudos se baseiam na teoria de Darwin, que é o determinismo, o positivismo, a

teoria da evolução. É nessa perspectiva que a comparação entre as línguas

continua.

Hipótese: As línguas são organismos vivos que nascem, crescem,

desenvolvem-se e morrem. Surge, então, a concepção de Línguas Vivas e

Línguas Mortas.

Concepção: A História é inimiga das Línguas.

3ª. Geração Comparativista: As Línguas são Produtos Sociais, apesar

da Influência Histórica

Continua a gramática comparada, mas sob a ótica da física, da

propagação do som. Começa-se a perceber a diferença entre fonema e som e

que os fonemas se atualizam pelo som.

Conclui-se que as línguas se transformam, mas estas transformações

não são aleatórias. Elas obedecem a leis cegas e necessárias. Isso porque as

línguas são sociais, são produtos sociais, apesar da influência histórica. Saussure

(2004) dizia que a linguagem vive através do tempo, sendo, portanto, suscetível

de se transmitir. Saussure (1897 – 1913), que foi dessa geração, era um grande

conhecedor na linguística histórica. Ele constrói os primeiros princípios com

orientação metodológica para trabalhar a língua em uma perspectiva científica,

sendo chamado de PAI DA LINGUÍSTICA.

A língua não existe em si e por si. Ela existe em uma relação

inexoravelmente necessária com a linguagem, com o pensamento, com a fala e a

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fala existe em uma relação inexoravelmente necessária com a língua. A língua se

liga na linguagem, que se liga no pensamento, que se liga na fala, que se liga na

língua.

Trabalhar a linguagem é trabalhar o homem (KOCH, 2008).

Século XX

Estruturalismo.

Até aproximadamente 1960, deu-se a era estruturalista. Nela, o objeto

de estudo é a Palavra focalizada quanto à sua estrutura e/ou a Palavra inserida

nas categorias da frase (o objeto mais complexo da análise é a frase). É quando a

gramática tradicional contemporânea ou gramática normativa se torna objeto de

crítica e passa a ser questionada e depreciada. O estruturalismo é definido como

um sistema imanentei, excluindo, portanto, o homem das investigações e aí,

necessariamente, excluem-se a história, a cultura e os valores. O estruturalismo é

“ahistórico”, “ahumano”. Ele projeta um falante ideal.

Pós-Estruturalismo

A partir de 1960, surge, então, uma linguística transfástica: é o momento

do surgimento da Teoria da Enunciação, de Benveniste (1902 – 1976) (tal teoria

iImanente – menos história, menos humano. Existe independente do homem.

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já havia sido produzida por Benveniste em 1930. Porém, foi apagada na época,

voltando a ser considerada a partir de 1960). Passa-se, então, da dimensão frasal

para aquela em que se focaliza o enunciado em correlação com a enunciação. O

enunciado é produto da enunciação.

Enunciação é colocar em funcionamento a língua por um ato individual de

utilização, afirma Benveniste (1989).

Benveniste (1989) trata a problemática da linguagem abordando relações

entre o biológico e o cultural, entre a subjetividade e o social.

O pós-estruturalismo estuda a língua em uso, a língua empregada por um

falante real, em situações reais de interações face a face ou totalmenteii ou

parcialmenteiii mediadas. Aqui, há a inserção do homem e, consequentemente,

da história, da cultura, dos valores, uma vez que a língua está focada nas

atividades de falaiv, tanto orais como escritas.

É no pós-estruturalismo que se começa a estudar a Linguística Textual.

Trabalha-se a língua na dimensão do seu uso efetivo.

iiTotalmente mediada = possui alto grau semântico. É a interação em que se usa a língua escrita,

cujos sinais são veiculados por livros, jormais, revistas.

iiiParcialmente mediada = possui baixo grau semântico. É a interação em que se utiliza de

recursos tecnológicos como blog, telefone, MSN e outros.

ivAtividades de fala são práticas discursivas, onde a língua funciona como quadro de referência

para exercício das atividades. Porém, precisamos da língua para produzir a fala.

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2.4.1 Linguística Textual

O grande postulado e princípio da linguística do texto são as falas dentro

do texto coeso e coerente. Não podemos dissociar texto de discurso, pois eles

coexistem. Na verdade, o tecido do discurso é o texto. Benveniste (1989) diz que

é o homem que produz sentidos de mundo e os comunica para o mundo.

Se o homem é produto de sentidos e esses sentidos têm uma dimensão

histórica sociocultural-cognitiva, o contexto não pode ser visto fora do texto. O

conhecimento do homem é herdado de seus antepassados e recontextualizado

para atender às novas gerações. Nesse momento, não se pode deixar de citar

Vigotsky (1896 – 1934):

Duarte (2006) escreve que Vigotsky se fazia uma pergunta fundamental:

“Como o homem cria cultura?”

Ele buscou a resposta na Psicologia e acabou por elaborar uma teoria do

desenvolvimento intelectual, sustentando que todo conhecimento é construído

socialmente, no âmbito das relações humanas. Sua teoria tem por base o

desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico,

enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento,

sendo essa teoria considerada históricossocial.

Retomando, sabe-se que, no caso, a comunicação não existe sem os

processos de interação sociocognitivo-culturais e ideológicos. Práticas discursivas

se remetem às atividades de comunicação. A prática discursiva tende a marcar o

DIZER: quando se tem algo a comunicar a alguém. Comunica-se para dizer. O

comunicar implica o dizer: o que dizer, como dizer, para quem dizer, onde dizer.

Assim, conclui-se que o comunicar é uma prática discursiva cultural, envolvendo

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os interlocutores, o tema, o lugar, o turno. Dessa maneira, adequa-se a

comunicação ao outro.

2.4.2 Relação Léxico-gramatical

A língua só se explica pela relação léxico-gramatical. Estudar léxico no

ponto de vista morfológico é estudar o dicionário. O léxico estuda a palavra,

através da qual formamos a gramática, o texto. Todavia, o texto não se reduz à

palavra. A palavra é formalizada pela gramática em uso. É a gramática que trata

da tecitura da palavra que compõe o texto.

Conforme Turazza (2005), o homem não tem só a língua como

conhecimento cultural, mas, é por meio dela que o homem organiza seu

conhecimento de mundo. Dentro dos repertórios culturais, estão os recursos

léxico-gramaticais (BAKTHIN, 2002).

O linguista puro tem como objeto de estudo a língua, que é um código

social, que por sua vez corresponde a um sistema qualificado como imanente. Ou

seja, é um sistema que existe independente do homem, porque é de toda uma

sociedade. O sistema da língua é como o sistema matemático: de 0 a 9 é finito; a

partir de 10, é infinito. O sistema da língua é um conjunto de elementos finitos,

mas as suas regras combinatórias são infinitas. Porém, tudo já está previsto pelo

sistema. A criatividade é determinada pelo sistema. Como o sistema é social, para

que se produza entendimentos, usa-se a língua com liberdade, porém, já previsto

pelo sistema. Nenhum conhecimento humano pode ser expresso a não ser por

meio de uma língua comum, um sistema de codificação para se expressar. Esse

sistema de codificação sempre implicou duas tecnologias complementares: léxico

e gramática. Não há gramática sem o léxico e o léxico precisa da gramática. Até

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no dicionário, a palavra faz referência à gramática: masculino, transitivo direto,

etc. A sintaxe gramatical é cognitiva e, portanto, é dinâmica. É o léxico que revela

o grau de crescimento linguístico. Quanto mais aprendemos, mais aumenta a

massa lexical (TURAZZA, 2005).

Para os estudos semânticos, afasta-se da linguística da palavra, da frase

para a linguística textual. O estudo semântico defende que a língua também tem

uma dimensão semântica que não se reduz à palavra isolada ou na dimensão das

frases. Saindo, assim, da linguística da língua para a linguística da fala. O homem

nunca falou ou falará por palavras ou frases isoladas, e sim, por textos coesos e

coerentes. Esse homem é sócio-histórico-psíquico-ideológico-cultural. A dimensão

da fala é a linguagem em ação pelo uso da língua. A língua é um meio para o

exercício da fala humana. Essa fala humana é registrada pela materialidade do

som ou das letras. Quando nos referimos a texto, referimo-nos à arte de tecer o

conteúdo do pensamento pelos fios da linguagem. O léxico e a gramática são

recursos da fala. Não existe texto sem discurso. E nem discurso sem texto. E para

haver sentido, é preciso haver entre os fios da linguagem a coesão e a coerência.

2.4.3 O Universo do Texto e suas Implicações para se Alcançar

Coesão e Coerência.

Texto é uma unidade de sentido que se explica por uma dupla lateralidade:

a coerência e a coesão. Atenção: lateralidade não é oposição, é como o ovo. O

ovo é uma unidade com dupla lateralidade = a gema e a clara. Não se obtém

incoerência/coerência semântica sem obter incoerência/coerência sintática.

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Se mudar a relação, muda o significado.

Considerações:

a. Não há coesão sem coerência e vice versa. O que existe são graus de coesão

e graus de coerência e esses graus são proporcionais ao domínio de

conhecimento linguístico e não linguístico que os leitores de um texto possui.

Ex.: Se eu tiver que escrever sobre o motor da minha geladeira, não vou

conseguir, pois não possuo esse conhecimento. Ou melhor, o meu

conhecimento sobre mecânica é de um grau elementar.

b. Não existe nenhum objeto à semelhança de um dicionário e gramática sem a

leitura. O objeto da leitura é o texto. Só que o texto não é um objeto só da

professora de português, ele também é da professora de matemática, de

psicologia, é de todos. Portanto, há inúmeras teorias de leitura.

c. Desde que o homem existe, ele produz texto. Ele só fala por meio de textos.

Seja a fala materializada pelo som – oral - ou pela letra – escrita.

d. Escrever é um ato de fala. Não há oposição entre oralidade e escrita, mas sim,

complementação. É por isso que o indivíduo enquanto vai aprendendo a

língua escrita na proficiência, a língua oral vai mudando. Os modelos de

coordenação, a sintaxe, o léxico mudam. Temos que pensar em

complementação e não em oposição. O teatro, a novela, o Jornal Nacional são

falados, mas têm um texto escrito. Todas as falas orais têm por suporte a

língua escrita.

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Se não existissem textos, não haveria como transmitir os conhecimentos

herdados pelos antepassados para as gerações futuras e que são cultivados,

recontextualizados e reinterpretados no cotidiano. Esse trabalho de cultivar o

que foi herdado, recontextualizando e reinterpretando é o que se chama de

cultura. Produzir textos é um trabalho cultural com uma dimensão muito

grande. É pela cultura que o homem se humaniza. Competência de linguagem

não se desenvolve sem a produção da cultura. Conclui-se, então, que

trabalhar a educação é produzir cultura.

Até hoje, a Linguística Textual não tem uma posição unânime para

responder à questão: O que é texto? Também há a mesma dificuldade para

responder o que é a palavra. Há várias respostas, mas abordando uma parte

do texto e da palavra e não o todo. Isso porque não se trabalha a língua e sim

a linguagem. Assim, quando se trabalha o texto, não se consegue apenas na

dimensão da língua e sim nas correlações, porque, na situação de texto, a

língua tem múltiplas funções.

O texto é um espaço da esfera da linguagem, onde os conhecimentos de

mundo são tecidos, entretecidos e retecidos continuamente (Filologia). Sem

conhecimento, não há texto. O texto é um artefato cultural. Quanto maior

habilidade na arte desta tecitura, maior o grau de valorização deste texto.

Nesse sentido de artefato cultural, o texto é interdisciplinar e está na

extensividade do conhecimento prévio. Quanto maior o conhecimento prévio,

maior a habilidade de leitura.

O leitor em busca de coerência e coesão.

Diante de um texto, tem-se sempre que executar duas operações:

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1ª – construir uma unidade temática para aquele texto, para atribuir

sentidos, sem o rompimento da coerência e da coesão. Todo texto só pode ter

um único tema que deve ser construído linguisticamente da primeira à última

linha. O tema não pode ser abandonado.

Como se constroi o tema?

Constrói-se o tema assegurando a progressão semântica por meio de dois

recursos:

A não repetição de ideias e de vocábulos: os linguistas chamam de

circularidade ou tema circular. O texto não pode ser circular;

a não ruptura entre as ideias. Elas devem estar bem articuladas e

entrelaçadas. Quando há ruptura de ideias, o texto tem anacolutos.

O que é tema?

É um recorte dado no(s) campo(s) conceitual(is) de uma área. Pode ser

chamado de foco. É o conteúdo do dizer.

A partir daí, pode-se analisar o texto sob uma perspectiva psicolinguística.

Isso permite ler o texto como unidade de sentidos ou significações que se

explica por uma dupla lateralidade, que uns chamam de coesão e coerência e

outros chamam de coerência local (semântica) e coerência global (conceitual).

Todo texto, completa Koch (2008), tem que ter uma referência tematizada

com progressão semântica da primeira à última linha.

Recursos para a criação do tema:

Escolher um gênero;

Adequar a escolha lexical ao gênero escolhido;

Conceituar o campo a que o texto se refere;

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2ª - projetar ou construir o quadro enunciativo da interação, ou seja,

projetar o interlocutor, mesmo sem conhecê-lo. Isso é possível por meio do

tipo de registro, de estilo, da escolha do léxico. Ao projetar o escritor, também

é preciso assumir a posição de colaborador, ou melhor, tem-se que estar

aberto para diálogos. Não se pode refutá-lo antes de ler o texto todo,

compreendendo-o.

Antunes (2005) justifica que quando se trabalha a língua escrita, apesar de

o outro não estar presente, todo o trabalho está voltado para o outro – informação

à distância.

Essas duas operações são fundamentais e simultâneas diante do texto:

1ª – construir um tema psicolinguista;

2ª – construir o quadro enunciativo da interação

Todo o texto é uma função comunicativa. E para atribuir-lhe sentido, é

preciso definir o conteúdo da comunicação.

A língua tem dupla função:

A função de comunicar

A função epistêmica = conteúdo refletido, pensado, analisado. Falar de

modo responsável, crítico, reflexivo, apoiado em argumentos com grau

significativo de veracidade. Mas, o que é grau significativo de veracidade?

É aquele conteúdo a que a sociedade atribui valor de verdade. O indivíduo

não pode dizer o que não tem validade social. O homem é um ser comunicante,

porque ele é um ser pensante.

Concluindo a construção da coerência, Antunes (2005) diz que ela se dá

por:

Reiteração: retomada do tema;

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associação: dimensão lexical;

conexão: dimensão sintática.

Independente das diversas maneiras de se analisar a comunicação durante

os tempos, a coerência e a coesão sempre caminham juntas e estão presentes

em todo o cotidiano do homem. Seja nas atitudes domésticas e/ou profissionais,

no caráter, na dança, na vestimenta, no canto, nas artes, no amor, na linguagem

escrita/oral, nas figuras, nos símbolos, nas logomarcas, slogans, missão e visão

das corporações, enfim, em todos os processos não só humanos, mas também

na natureza e entre os animais.

O homem precisa ser coeso e coerente para conviver, ser aceito e amado

socialmente. É uma imposição da sociedade desde sua idade primitiva. Coesão e

coerência são tão importantes para o homem que ele se cobra e cobra do outro,

pois, caso contrário, exclui ou é excluído, limitando-se ao seu próprio isolamento.

Antunes (2005) e Koch (2009) observam a relevância da coesão e

coerência no texto, ditando os mesmos recursos, embora com nomenclatura

diferente. Ambas trabalham com teoria semântica e recursos linguísticos e

concluem que ler é proceder a um constante movimento de vai e vem que liga e

sobrepõe simultaneamente os constituintes de frases (significados e sentidos) e

as frases entre si, para elaborar uma unidade de sentido global. Por esse

procedimento (do ir e vir, por e sobrepor), a leitura avança na dimensão linear do

tempo (a língua é um sistema linear) por imposição do próprio código linguístico

que é linear (tem-se que falar um vocábulo após o outro, não se consegue falar

vários vocábulos ao mesmo tempo). Tem-se que escolher vocábulos genéricos e

específicos e saber organizá-los. Mas, desenvolvem-se ao mesmo tempo numa

simultaneidade cognitiva alinear, cujos limites são aqueles da capacidade de

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memorização do leitor. Ao conjugar essa dimensão linear com a alinear, o leitor,

por meio do texto, abre-se para um processo de compreensão que dele exige

inúmeras releituras e nessas releituras vai construindo e reconstruindo novos

conceitos, novas pegadas do texto.

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3 – O UNIVERSO CORPORATIVO E SEUS GÊNEROS

“Se um líder não consegue transmitir uma

mensagem com clareza e nem motivar outras

pessoas a reagir, então nem adianta

passar a mensagem”.

(GILBERT AMELIO,

ex-CEO da Apple Computer)

O ambiente fortemente competitivo do mercado econômico não

permite mais negligenciar a comunicação, principalmente, dos responsáveis pela

manutenção da identidade organizacional. Construída sobre línguagens, Iasbeck

(1998) esclarece que a identidade organizacional está sujeita às mais variadas

interpéries, uma vez que suas condições de existência dependem de como são

recebidos os textos que a alicerçam, da imagem formada na mente daqueles

que recebem tais textos. Isso explica o quão importante se torna a produção

textual corporativa inserida em seus gêneros.

Antes de abordar os gêneros corporativos, é essencial reservar algumas

páginas para explorar um aspecto que deve estar presente em qualquer

comunicação corporativa: a competência retórica.

Não é fácil fazer alguém pensar da mesma forma que o outro. E

certamente é mais difícil fazer isso usando apenas a palavra escrita, afinal ela

não pode comunicar expressões faciais ou inflexões de voz, fatores que

conferem determinada ênfase em um diálogo. No entanto, redigir um

memorando ou um relatório convincentes é possível. Seu poder de persuasão

será fortemente determinado se observados recursos retóricos diversos, como a

escolha das palavras, técnicas argumentativas, figuras retóricas e, sem dúvida, a

devida adaptação do discurso ao auditório previsto. É o que se chama de A Arte

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de Argumentar. No mundo corporativo, a arte de argumentar é trazer subsídios

para que as pessoas possam melhorar seu relacionamento profissional, é a

capacidade de trabalhar em equipe, de motivar e de resolver conflitos. E a

linguagem é um dos meios utilizados para se alcançar tais objetivos como uma

estratégia persuasiva ligada à intencionalidade.

Não basta mais a competência técnica para fazer carreira e alcançar os

altos graus em uma coporação, a competência retórica se tornou decisiva. Este

subcapítulo pretende mostrar a real importância da retórica para o profissional

moderno, além dos passos para persuadir e conseguir a adesão do auditório,

seja ele particular - composto de uma pessoa, um subordinado ou um chefe

imediato, um cliente, um fornecedor, uma reunião interna - ou universal,

formado por pessoas em diversas condições.

O profissional pode ter ideias brilhantes, mas, se não conseguir transmiti-

las, elas não o levarão a lugar algum (LEE LACOCCA, ex-CEO executivo da

Chrysler).

É como um jogo: Há uma estratégia de jogo? A equipe a conhece? Assim

como o técnico de um time, o gestor está encarregado de orientar uma equipe

de pessoas rumo a uma meta comum. O sucesso da execução depende não só

da capacidade de explicar essa estratégia com clareza, como também das

escolhas argumentativas para persuadir e motivar a equipe. Não haverá bons

resultados se a comunicação for deficiente. De nada adianta ter a estratégia de

jogo de um campeão se o técnico envia sinais errados aos jogadores.

Além disso, o conhecimento dos recursos retóricos é uma via de mão

dupla, pois blinda o profissional de algumas armadilhas. Sabendo das marcas

linguísticas utilizadas na argumentação, técnicas de relação interpessoal e ter a

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sensibilidade de perceber a manipulação, o receptor pode se esquivar dessa

prática e utilizá-la contra quem a aplica. Especialistas garantem que estudar a

arte de persuadir o outro se tornou necessidade não só para quem quer

persuadir, mas também para não ser enrolado pela conversa alheia.

Retórica é a arte de bem falar, mediante o uso de todos os recursos da

linguagem para atrair e manter a atenção e o interesse do auditório. Entretanto,

Reboul (2004, p. 24) defende que “retórica não se reduz ao poder de persuadir;

no essencial, é a arte de achar os meios de persuasão que cada caso

comporta”.

A retórica, dentro da sua amoralidade, é a arte de argumentar e uma boa

argumentação abre portas. Em uma era de informação global, em que

comunicar está na base das relações pessoais e profissionais, estar

familiarizado com as principais formas de argumentar e persuadir virou um

trunfo. Em um mercado altamente competitivo e em acelerada mudança, a

habilidade de comunicar ideias e persuadir as pessoas da necessidade de

mudanças é essencial. Assim podemos afirmar que a persuasão é

provavelmente a habilidade mais importante para um profissional se destacar no

meio social em que vive (BELLENGER, 1987).

A persuasão tem um poder incalculável, podendo ser utilizada tanto para

realizações nobres, como para enganar as pessoas. Profissionais como

médicos, advogados, engenheiros, sacerdotes e políticos, entre outros, podem

utilizá-la para influenciar positivamente seus pacientes, clientes e seguidores.

Assim como vigaristas, maus políticos e comerciantes inescrupulosos utilizam-na

regularmente para ludibriar pessoas de boa fé. Na verdade, somos todos seres

retóricos, contrutores sociais, sujeitos ativos, ocupando, ora o papel de oradores,

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ora de auditório. “Como oradores, somos influenciadores e demonstramos a

realidade sob certos ângulos [ ......] para conquistar a adesão de nosso

interlocutor [.....] Como auditório, aceitamos ou não a visão de realidade exposta

pelo orador” (FERREIRA, pág. 13 – 2010).

Ao contrário do convencimento, da imposição pela autoridade ou pela

força física, a persuasão lida com a vontade das pessoas. A pessoa persuadida

age de acordo com a vontade do persuasor, mesmo que seu intelecto não esteja

convencido da verdade sobre o assunto. Por isto, a persuasão é uma arma tão

poderosa e ao mesmo tempo perigosa. Quem não conhece inúmeros exemplos

de políticos que, mesmo sendo reconhecidamente corruptos, ainda assim

vencem eleições sobre candidatos íntegros e honestos? O mesmo pode

acontecer – e é bem comum – com um profissional em relação ao seu plano de

carreira.

Mas também se pode dizer que a persuasão tem um lado artístico, pois

quando se aprende a utilizá-la de maneira natural, graciosa e

inconscientemente, sem mesmo pensar que se está persuadindo alguém, ela se

torna uma arte. São notórios os inúmeros exemplos de comerciantes,

vendedores, líderes religiosos, políticos com uma retórica muito eficaz. São

pessoas que possuem uma comunicação poderosa, que envolvem os

interlocutores com seus conselhos e acabam conseguindo do outro exatamente

o que eles querem.

Um médico ou psicólogo, por exemplo, pode utilizar o poder da persuasão

para estimular um paciente a superar uma doença grave, como apoio ao

tratamento de saúde. O diretor de uma empresa pode utilizar a persuasão junto

aos funcionários para melhorar a produtividade de sua fábrica. Praticamente em

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qualquer atividade humana, pode-se usar a persuasão de maneira útil e

benéfica. Alguns profissionais como vendedores, líderes religiosos e políticos

utilizam a persuasão como sua principal ferramenta de trabalho. Precisam

constantemente persuadir as pessoas para realizar suas atividades.

A persuasão é um conceito e uma forma específica de comunicação. Mas

também pode ser entendida como uma ferramenta que possibilita realizar

determinadas tarefas. Se se pretende motivar pessoas a executarem ações de

bom grado e entusiasticamente, ela é a ferramenta mais eficaz, pois apenas

convencer as pessoas da importância e da necessidade destas ações não é

suficiente para estimulá-las. É preciso persuadi-las.

Mas, o que vem a ser exatamente Persuadir?

Persuadir compreende três espécies, a saber: convencer, comover,

agradar.

Convencer vem de "cum + vincere" = vencer o opositor com sua

participação. E tecnicamente denota persuadir a mente através de provas

lógicas: indutivas (exemplos) ou dedutivas (argumentos). Assemelha-se ao

docere (ensinar), que é a tentativa de persuasão partidária no domínio

intelectual.

Comover vem de “cum + movere” = persuadir através do coração. Pela

excitação da afetividade, a vontade arrasta o intelecto a aderir ao ponto de vista

do orador. Ethos (moral) é usar um grau de intensidade mais suave. Movere

(mover) é intensidade mais violenta, correspondendo ao pathos (paixão).

Agradar corresponde na terminologia latina a "placere".

“Delectare” (deleitar) é a persuasão no domínio afetivo. (Tringale, 1988).

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O que se negocia pela retórica?

Pode-se afirmar que só existe retórica em condição de negociação. E a

capacidade para negociar é algo que todas as pessoas devem adquirir. Do

estadista negociando tratados que afetam a vida de milhões ao empregado da

empresa pedindo um aumento de salário, ou o jovem solicitando o seu primeiro

emprego – qualquer um precisa constantemente chegar a acordos com outras

pessoas.

“O que negociamos pela retórica? A identidade e a diferença, a própria, a

dos outros; o social que as enrijece, o político que as legitima e por vezes as

sacode, o psicólogo e o moral em que elas flutuam” ( MEYER, 2007, pág. 26).

Isso exige um domínio das habilidades de persuasão, compromisso,

diplomacia, discurso claro e audição atenta.

A maneira mais curta e melhor para fazer fortuna é deixar que as pessoas

vejam com clareza que é o interesse delas promover o seu, comentou Jean de la

Bruyère, o satirista francês do século XVII.

É certamente verdade que um dos segredos básicos da persuasão é

convercer outras pessoas de que o que é bom para o orador também é bom

para elas. O negociador habilidoso é o único cujos oponentes também saem das

conversas se sentindo satisfeitos com o resultado. O patrão está feliz em dar ao

subordinado um aumento de 8% a fim de manter seus serviços e dedicação –

sendo que este já estaria feliz com apenas 7%. Vender e negociar têm muito em

comum. No primeiro caso, vendem-se produtos/serviços, no segundo, ideias.

Ambos geralmente resultam em dinheiro. E as duas situações envolvem vender

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a si mesmo. Uma vez que outros o vejam como confiável, estará a caminho do

sucesso.

Duailibi e Sominsen (2000) dizem que a retórica é uma arte muito

utilizada pelos profissionais de marketing, quando desejam persuadir os

consumidores a agir de determinada forma (comprar um carro, fazer doações a

entidades carentes, votar, etc). Eles ainda acrescentam que a qualidade da

mensagem por eles criada é o que altera, por exemplo, a condição de um

produto da prateleira do anonimato para o reconhecimento e a compra pelo

público. Tal capacidade pode ser gerada pela qualidade ou pelo poder de

sedução ou de influência da estratégia utilizada, como uso de anúncios

coloridos; qualidade do papel, da tinta, das impressoras; utilização de fotografias

e desenhos coloridos, paisagens; utilização de personagens da sociedade,

artistas consumindo ou manuseando produtos; elaboração de mensagens de

efeito; textos argumentativos. Esses argumentos são os njotórios lugares

retóricos – topói – lugares de qualidade, de quantidade, de modéstia, de

presença, de juventude, e outros. Reboul (2004, p. 52) recupera tais lugares

como “etiquetas dos argumentos, sob os quais vamos buscar o que há para

dizer em um ou em outro sentido”.

Ao se transmitir uma informação, deseja-se, no mínimo, a adesão como

objetivo ou meta de condicionar a ação a ela. Mas, o ato de persuadir só será

realizado graças a uma conivência, uma concordância, uma cumplicidade do

destinatário/indivíduo receptor da mensagem em relação ao emissor. O

persuasor terá que controlar o processo da interação para que haja um

consentimento ideal, ou seja, o persuadido deverá ter a impressão "de se ter

convencido por si mesmo" (BELLENGER, 1987, p. 39).

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Para que haja retórica, são precisos três componentes básicos: orador,

auditório, lógos.

No orador, encontramos o Ethos, o caráter que o orador constrói de si

(ARISTÓTELES, 2000). É o caráter que o orador revela para seu auditório,

construído no discurso. Basicamente, são três as intenções do orador: ensinar;

agradar; apaixonar.

“Todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si.

Para tanto, não é necessário que o locutor faça seu autorretrato, detalhe suas

qualidades nem mesmo que fale explicitamente de si. Seu estilo, suas

competências linguísticas e enciclopédicas, suas crenças implícitas são

suficientes para construir uma representação de sua pessoa” (AMOUSSY, 2005,

pág. 9).

No auditório, há o Pathos – paixões – o auditório constrói a imagem do

orador.

O Lógos, ou discurso, intermedia o ethos e o pathos. “.é uma mídia por

meio da qual o orador e o auditório se encontram, para comunicar o que pensam

e trocar pontos de vista” (MEYER, 2007, pág. 22).

Segundo Meyer (2007), a retórica, para Aristóteles, é um discurso – lógos

– do orador adequado a persuadir um auditório.

Portanto, a competência retórica se constitui com:

• a construção do ethos

• a paixão do pathos

• a racionalidade do lógos

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Segredos da Eficácia Retórica

Após finalizar os estudos, pode-se concluir que são dois os segredos da

eficácia retórica: analisar o auditório e fundamentar o discurso.

A. Analisar o Auditório

O primeiro desafio do orador retoricamente eficaz é analisar o auditório. É

essencial respeitar as opiniões e valores do público, não o forçando a abraçar a

posição do orador, mas sim o conduzindo passo a passo por caminhos lógicos

até um entendimento mútuo.

Para se ganhar adeptos e conquistar a adesão do auditório, a constituição

discursiva deve se moldar a ele. Seja um auditório particular, constituído por

pares, ou universal. O orador deve considerar as paixões do auditório.

Atualmente, os profissionais de recursos humanos estão vivendo um

grande dilema para motivar e reter os funcionários da geração X, os nascidos a

partir de 1980, e os da geração Y, os nascidos a partir de 1990. São jovens

conectados com o mundo, extremamente ativos, rápidos, atualizados,

acostumados a exercer várias tarefas simultaneamente. Não são persuadidos

pelo salário. Eles exigem constantes desafios e uma excepcional competência

retórica de seus gestores, para que realmente acreditem em oportunidades de

crescimento.

Na era atual – a da sustentabilidade – as empresas estão sendo cada vez

mais exigidas às adaptações ambientais, para continuarem mundialmente

competitivas. O HSBC, por exemplo, propôs aos seus funcionários, além de

cursos de responsabilidade ambiental e engajamento em ações voluntárias

promovidas pelo banco, duas semanas de estudos de campo em um centro de

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pesquisa no Paraná e o título de “líder ambiental”. Conforme o Guia Exame

(11/2010), por enquanto, cerca de 80 líderes ambientais foram formados no

Brasil. A meta, até 2012, é formar outros 100. “Estamos no começo da jornada.

Mas é sensível o aumento da lealdade e da motivação”, afirma Conrado Engel,

presidente do HSBC Brasil (GUIA EXAME, 11/2010, pág. 148).

Ainda segundo o Guia Exame (11/2010), o Itaú Unibanco criou o Banco

de Ideias Sustentáveis com o objetivo de estimular o maio número possível de

funcionários a dar sugestões sustentáveis, com direito a blog, viagens e

cerimônia de gala para premiações. “O Banco de Ideias Sustentáveis é uma

forma de manter acesa a chama, fazendo com que essa preocupação seja

incorporada ao dia a dia da organização”, diz Roberto Setúbal, presidente

executivo do Itaú Unibanco (GUIA EXAME, 11/2010, pág. 150).

As estratégias de persuasão dependem do auditório para o qual o

discurso é direcionado. Dentro da divisão de auditório particular e universal, é

preciso observar diferenças entre as pessoas para o uso apropriado dos

recursos. Há pessoas de comportamento visual, outras de comportamento

sinestésico e, outras, auditivo.

As de comportamento visual raciocinam em termos de imagem. Para

serem persuadidas a irem à praia, é preciso descrever o mar, a areia, o sol. As

sinestésicas guiam seu comportamento pelo apelo às sensações e sentimentos.

Não se interessam por descrições visuais. Se forem comprar um carro, é

importante que seja confortável, e não necessariamente bonito. E as de

comportamento auditivo são persuadidas por argumentos orais. Podem

conversar por horas e horas ao telefone, porque não precisam ver ou sentir.

Precisam, sim, de uma boa drescrição oral.

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Em síntese, para iniciar o processo de persuasão, é preciso colocar em

primeiro lugar o auditório, abrindo os olhos e ouvidos para aquele em quem mais

se deve prestar atenção. O auditório não pode ser mero espectador e sim

assembléia que julga e se comove. Meyer (2007) sustenta que as paixões do

auditório devem ser levadas em consideração pelo orador, pois, exprimem o

aspecto subjetivo de um problema e respondem a ele também em função da

subjetividade implicada.

“Encontrar as questões implicadas no pathos é tirar partido dos valores do

auditório, da hierarquia do preferível, que é a sua. É o que enraivece, o que ele

aprecia, o que ele detesta [......] , e assim por diante. [...] E todos esses

interrogativos remetem a valores que dão conta daquilo que Descartes teria

chamado de “movimento da alma”. (MEYER, 2007, pág. 39).

B. Fundamentar o discurso

Para que haja eficácia retórica, é fundamental se preparar para persuadir

os outros e aprender a ter ouvido crítico nas relações dialógicas. O primeiro

passo para convercer alguém de algo é saber em que consiste uma boa

argumentação. Toda a linguagem é dotada de intencionalidade, portanto, todo o

discurso é argumentativo. O bom argumento é aquele que se sustenta e é bem

fundamentado. Um discurso bem argumentado amarra os pontos da conversa e

a fixa na mente do auditório, convidando-o à ação. Vale lembrar que a retórica

só existe no domínio da controvérsia, da polêmica, é preciso de acordo para

existir retórica. Sendo assim, não há retórica no discurso autoritário e nos

dogmas.

É importante enfatizar que a linguagem não é objetiva, não espelha o

mundo de forma universal. Na verdade, ela é interpretativa e intencional. Diante

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disso, afirma-se que a verdade não é absoluta, é construída, manipulada. A

realidade não se constrói por si mesma e sim por uma retórica eficaz. Porém, o

sentido argumentativo não é psicológico, e sim se pauta pelo uso da razão.

Quando se pensa na questão científica, constrói-se a racionalidade e, por meio da

racionalidade, buscam-se as respostas cinetíficas. Logo abaixo, encontra-se o

quadro com o sistema retórico. Esse sistema deve ser aplicado em qualquer

situação em que se objetiva a persuasão. Seja em uma reunião gerencial, na

apresentação de um novo negócio ao superior imediato, na motivação de uma

equipe para alcançar metas, e em toda ocorrência em qualquer esfera social.

• Na invenção, o orador empreende todos os argumentos e outros

meios de persuasão relativos ao tema de seu discurso. A tematização é a

abstração do problema. Diferente da referência, que é o assunto propriamente

dito.

“É no momento da invenção que o orador demonstra conhecer bem o

assunto e, por isso, consegue reunir todos os argumentos plausíveis para a

interpretação do discurso”. (FERREIRA, 2010, pág. 63).

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• A disposição (taxis), ou a ordenação desses argumentos, funde-se

com a invenção, pois, segundo Ferreira (2010), dispositio é a parte da retórica

chamada de macroestrutura textual.

• A elocução (lexis) não diz respeito à palavra oral, mas à redação

escrita no discurso. É onde entram as figuras de estilo, como ironia, antítese,

metáfora e tantas outras.

• Na ação (hypocrisis), há a proferição afetiva do discurso e suas

implicações em termos de voz, mímicas e gestos. No discurso escrito,

modalidade da minha pesquisa, a ação cabe a eloquência reconhecida pelo

leitor.

De forma sintética, no quadro acima, destacamos os dois auges do

planejamento discursivo retórico:

a. Formular tese inicial para criar adesão.

A tese de adesão inicial fixa o objetivo inicial do discurso por meio de uma

ideia de fácil e consensual aceitação, levando o auditório ao que se quer

persuadir. Aqui está o exórdio, cuja principal função, segundo Reboul (1998), é

tornar o auditório dócil, atento e benevolente.

b. Apresentar e desenvolver argumentos provocantes, ou tensos, ou

apaixonantes

Um bom argumento é o ímã do discurso. Uma argumentação apropriada

e apresentada em uma linguagem à altura da compreensão do leitor elimina

elementos de discordância.

No decorrer do discurso, o orador deve analisar fatos que sustentem o

raciocínio inicial para desmontar as resistências do opositor, conduzindo-o a

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uma situação em que possa admitir somente o previamente esperado. Deve

haver uma estrutra sequenciada de argumentos que dirija o raciocínio do

auditório para a lógica e concordância de ideias do discurso.

No final, a argumentação volta a fazer referência ao ímã da atenção

usado no início. Esse fortalecimento discursivo não deixa alternativa ao auditório

que não seja concordar e aceitar que foi persuadido.

Não se pode esquecer jamais que, para cada tipo de auditório, tema,

situação e intenção, haverá um conjunto ideal de expedientes e técnicas

argumentativas, para se atingir a eficácia. Assim, não existe um único recurso

que possa garantir o sucesso de um orador, mas um grande grupo desses

recursos a ser apreendido.

Encontram-se, nos anexos IV e V, duas análises retóricas: uma política e

outra corporativa. O discurso político está intrinsicamente unido ao corporativo,

uma vez que o profisisional bem sucedido é politicamente bem articulado. Como

demonstrado nas análises, os dois discursos se fundem na mesma

característica: provocar efeito persuasivo, onde o orador é um sujeito explícito no

exercício de um papel social. Os conceitos da retórica política são os mesmos

da coporativa e devem ser aplicados em todo o discurso de um profissional que

almeja, não só crescer em sua carreira, como manter o posto conquistado.

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3.1 – Construções Retóricas

O procedimento metodológico para a realização das análises é

interpretativista, em busca da produção de textos corporativos eficazes,

considerando-se:

a retórica;

o discurso corporativo;

a gestão do discurso corporativo

Para uma melhor situação das implicações retóricas no discurso

corporativo, vale destacar os atos retóricos no discurso político, base para a

constituição retórica na organização.

Logo de início, é fundamental situar a definição e a prática de discurso

político. Enquanto no discurso científico, a ênfase no discurso apaga as marcas

do sujeito (o orador), criando um efeito de sentido de “saber objetivo”, o político,

ao contrário, é o discurso, por excelência, do sujeito explícito. O orador é, pois,

um sujeito presente que se instaura completamente no discurso (Pinto,1989). É

necessário, neste momento, esclarecer que sujeito, ao contrário de indivíduo, só

existe no exercício de um papel social criado pela produção discursiva adequada

à situação social (Fairclough, 2001). Esse sujeito entende sua comunicação

como um ato performativo, gerando no outro a reação intencionada. Portanto, o

discurso político é um texto argumentativo, fortemente persuasivo, em nome do

bem comum, alicerçado por pontos de vista do orador ou de oradores que

representa, e por informações compartilhadas que traduzem valores sociais,

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políticos, religiosos e outros. Frequentemente, apresenta-se como uma fala

coletiva que procura sobrepor-se em nome de interesses da comunidade e

constituir norma de futuro. Está inserido numa dinâmica social que

constantemente o altera e ajusta a novas circunstâncias. Em períodos eleitorais,

a sua maleabilidade permite sempre uma resposta que oscila entre a satisfação

individual e os grandes objetivos sociais da resolução das necessidades

elementares dos outros.

Arendt (1958) afirma que o discurso político tem por finalidade a

persuasão do outro, quer para que a sua opinião se imponha, quer para que os

outros o admirem. Para isso, necessita da argumentação, que envolve o

raciocínio, e da eloquência da oratória, que procura seduzir recorrendo a afetos

e sentimentos.

Contratos Assumidos entre Orador e Auditório.

Na retórica política eficaz, os procedimentos argumentativos utilizados

pelo orador fazem com que o auditório creia nele, nos seus esforços e nas suas

boas intenções. O discurso eficaz simula uma relação contratual entre os

interlocutores, através de um fazer-persuasivo, propondo um acordo, um

contrato, levando o auditório a crer nos valores em jogo e na própria veracidade

do discurso.

De acordo com Pinto (1989), o discurso político vive da sua capacidade

de interpelar, pois seu êxito depende da sua habilidade de construir sujeitos com

a mesma visão de mundo que defende. Seu objetivo é, assim, vencer a luta

(política), através do jogo da descontrução e reconstrução de significados.

Argumentos: Formas de Contratar

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Segundo Perelman e Olbrechts (1996), técnicas argumentativas são os

fundamentos que estabelecem a ligação, adesão entre o orador e o auditório.

Muitos fatos da linguagem podem ser utilizados para fazer com que

mentiras pareçam verdades inquestionáveis:

Modalidade Argumentativa Persuasiva:

Os raciocínios apresentados são os silogismos e partem de afirmações

que não podem ser comprovadas. São generalizações, sem base científica. No

entanto, a forma como são apresentadas, inibe qualquer tipo de argumentação

por parte de quem ouve.

Analogia e Metáfora

Nos trechos ainda extraídos do 8o Congresso Nacional da CUT 2003

(anexo IV), Lula, querendo mostrar seu discurso e ele próprio como dignos de

crédito, empenha-se na construção de um “dizer verdadeiro” que esteja próximo

do auditório, que lhe seja familiar. Desse modo, para fazer-crer, por meio de um

fazer-parecer verdadeiro que seja acessível ao outro, o Presidente se vale, de

um procedimento conhecido de todos: o uso da metáfora e do raciocínio por

analogia. Essas duas estratégias argumentativas são amplamente estudadas

pela retórica.

Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996), situando o raciocínio por analogia

no âmbito dos argumentos baseados na estrutura do real, definem essa noção

como uma similitude de estruturas, cuja fórmula mais genérica seria: A está para

B assim como C está para D. Os autores propõem chamar de “tema” o conjunto

dos termos de A e B sobre os quais repousa a conclusão e de “foro” o conjunto

dos termos C e D, que servem para estribar o raciocínio. Desse modo, a famosa

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frase de Aristóteles: “Assim como os olhos dos morcegos são ofuscados pela luz

do dia, a inteligência de nossa alma é ofuscada pelas coisas naturalmente

evidentes”, os termos A e B (inteligência da alma, evidência) representariam o

tema e os termos C e D (os olhos dos morcegos, luz do dia), o foro.

Afirmando que, normalmente, o foro é mais bem conhecido do que o

tema, cuja estrutura ele deve esclarecer, os autores destacam que, para que

haja analogia, tema e foro devem pertencer a áreas distintas.

Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996), estudando as técnicas

argumentativas que, segundo eles, são fundamentos que estabelecem a ligação

entre as teses de adesão inicial e a tese principal, coloca a analogia entre os

argumentos fundamentados na estrutura do real e afirma que, quando queremos

argumentar pela analogia, utilizamos como tese de adesão inicial um fato que

tenha uma relação analógica (de mesma similitude) com a tese principal.

Metáfora (anexo IV)

A metáfora é uma figura retórica que, segundo Perelman & Olbrechts-

Tyteca (1996), é utilizada especialmente a serviço da persuasão, já que possue

um poder persuasivo subliminar, ativando nosso sistema límbico, região do

cérebro responsável pelas emoções. Enquanto figura de palavra, a metáfora (do

grego metaphorá = transporte) é uma comparação abreviada, calcada, pelo seu

próprio sentido etimológico, na ideia de transporte do sentido próprio para o

sentido figurado.

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3.1.1 Argumentação

Tendo em vista as bases retóricas discutidas no plano do discurso

político, constituem-se os procedimentos de análise da argumentação no

discurso corporativo.

Guimarães (1997) afirma que a utilização da argumentatividade da língua

não lhe é sobreposta, pois já está prevista em sua organização interna. Nas

formas de argumentação, estão as figuras argumentativas ou retóricas, cujo

papel fundamental é provocar efeito persuasivo sobre o auditório, assumindo,

então, todo o seu significado argumentativo. Perelman e Oldbredcht-Tyteca

(1996) sustenta que quando a figura retórica perde seu caráter argumentativo,

torna-se apenas figura de estilo, pois, é percebida como um mero ornamento.

“A figura pode mesmo não ser imediatamente captada pelo auditório, mas

seu efeito é sempre notado em função dos objetivos do orador: movere (emoção

suscitada); docere (conhecimento transmitido); delectare (prazer oferecido).

Todas pretendem atingir o efeito persuasivo” (FERREIRA, 2010, p.123). (anexo

V).

Com certeza, argumentar não é tentar provar o tempo todo que se tem

razão, impondo vontade própria. Argumentar é saber convencer, vencer junto

com o outro, caminhar lado a lado, removendo obstáculos que impeçam o

consenso. Segundo Passadori (2010), para uma ascensão profissional, é mais

valorizada a competência retórica do que o conhecimento técnico, pois, se ele

sabe comover, conduzir, motivar o ambiente corporativo, basta se cercar de

técnicos para fluir seu trabalho de forma eficaz.

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O ato retórico é uma tentativa intencional criada e elaborada em uma

dada situação, com uma audiência específica sobre uma determinada questão

para alcançar um determinado objetivo. É tudo determinado. A competência

retórica se constrói quando, no final do discurso, o auditório se manifesta

favorável, sensibilizado e persuadido.

O estudo da retórica enquanto arte de persuadir não se restringe

simplesmente ao interesse acadêmico. Se os sofistas em suas arengas

chegavam a persuadir centenas de pessoas, os modernos meios de

comunicação hoje tornam possível a persuasão de milhões de pessoas de uma

só vez. Se muitos não desejam entrar para carreiras públicas ou corporativas e

podem passar a vida toda sem fazer um discurso para uma platéia maior do que

algumas pessoas, é verdade também que todos os seres humanos, em alguma

etapa de suas vidas, sentem a necessidade de persuadir alguém - mesmo que

seja uma só pessoa - de alguma coisa; e mais ainda, hoje, mais do que nunca, é

impossível viver em comunidade sem que a todo tempo alguém tente convencer

alguém de alguma coisa - seja através de anúncios na TV, seja em campanhas

políticas, seja em um sermão na igreja ou em uma aula na universidade.

A retórica em si mesma é neutra, podendo ser bem ou mal usada. A única

forma de alertar para o potencial lesivo da retórica e evitar que ela cause danos

às pessoas é divulgar amplamente as técnicas argumentativas, e esperar que

com isso sejam evitados os efeitos nefastos que a retórica pode causar e de

cujos exemplos a história está cheia. Da mesma forma, devem ser amplamente

divulgadas para que mais e mais profissionais cresçam e se realizem, seja no

fomento de novas oportunidades para a sociedade, no acesso à educação, na

cura de uma patologia ou na elevação da fé.

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3.2 Gêneros Corporativos

Embora a escrita eletrônica esteja se difundindo cada vez mais, outras

formas tradicionais de comunicação ainda sobrevivem e bem. Os gestores

executivos não conseguem ascender em sua carreira se não souberem escrever

cartas formais, relatórios e outros tipos de texto mais longos próprios de

correspondência oficial. Memorandos internos ainda circulam entre as quatro

paredes das empresas. Cartas de agradecimento, cumprimento ou crítica devem

surgir fluente e facilmente, pois são produzidas com grande frequência. Na

verdade, essas formas tradicionais de escrita são programdas para forçar os

leitores a se deterem às informações, assimilando todos os detalhes. Nesse

caso, a precisão é fundamental e uma habilidade linguística deficiente pode

detonar a proposta mais brilhante de negócios.

Cada comunicação tem sua finalidade e suas regras linguísticas, sendo,

portanto, um gênero textual pertencente ao domínio discursivo corporativo.

Para Bakhtin (2002), só é possível se expressar mediante gêneros

discursivos. Esses gêneros constroem enunciados concretos e com formas

típicas para a totalidade discursiva. Tais enunciados – relativamente estáveis –

cinstituem-se historicamente nas diferentes situações sociodiscursivas – também

relativamente estáveis. A comunicação, então, é uma prática sócio-histórica

exercitada por uma determinada comunidade dentro de uma determinada

situação. Cada esfera da comunicação discursiva gera determinados gêneros

pré-estabelecidos por um repertório próprio.

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Os gêneros, conforme Bakhtin (2002), são revestidos de três aspectos:

conteúdo;

estilo verbal;

construção composicional.

O conteúdo se refere à seleção dos temas abordados.

O estilo verbal se define pela escolha dos recursos linguísticos, ou seja,

recursos lexicais, gramaticais, fraseológicas da língua.

A construção composicional se estabelece pela disposição e

procedimentos refletidos na organização e acabamento da totalidade discursiva.

Bakhtin (2002) acrescenta, ainda, aos gêneros, duas classes:

a classe primária: presente na comunicação cotidiana e

espontânea;

a classe secundária: presente na comunicação culta,

desenvolvida, estudada, complexa, científica. É a classe em

que se situam os gêneros corporativos.

Marcuschi (2003) ratifica os estudos de Bakhtin sobre gêneros e releva

suas funcionalidades. Gêneros textuais são entidades sociodiscursivas e formas

de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa.

Em face ao posto, os gêneros textuais são eventos comunicativos inseridos

em diversos contextos – orais e escritos – e vinculados à vida sociocultural-

histórica de seus praticantes. Afirma-se, em consequência, que o conhecimento

sócio-histórico delimita os parâmetros sociodiscursivos da comunicação.

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Apesar de os gêneros textuais estabilizarem as atividades comunicativas,

não são instrumentos impeditivos da ação criativa. Ao contrário, são eventos

dinâmicos, maleáveis, suscetíveis às necessidades e atividades socioculturais.

Basta constatar a quantidade de gêneros textuais existentes na era dos povos de

cultura essencialmente oral – antes da escrita alfabéticav – e os existentes hoje

com a cultura eletrônica.

Diante da explosão de novos gêneros, pode-se afirmar que os gêneros se

caracterizam pelas suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais.

O surgimento de novos gêneros já fora notado por Bakhtin na citada

transmutação dos gêneros e assimilação de um gênero por outro, gerando novos.

Observam-se, atualmente, alguns gêneros emergentes, que carregam traços de

suas matrizes. Pode-se tomar como gênero emergente o e-mail (carta eletrônica),

que abriga afinidades com cartas pessoais, comerciais e bilhetes, porém, com

identidades próprias. A denominada cultura eletrônica revela que os gêneros

textuais surgem e se integram funcionalmente nas esferas nas quais se

desenvolvem. Partindo daí, Marcuschi (2007) acrescenta aos três aspectos do

gênero, defendido por Bakhtin (2002), a propriedade funcional, ilustrando como

exemplos: o telefone, a televisão, o rádio, o sermão, a receita culinária, a

reportagem jornalística, entre outros.

Assim, uma vez que gêneros são fenômenos sócio-históricos e

culturalmente sensíveis, não há como fazer uma lista fechada de todos os

gêneros.

v – A tecnologia da escrita foi inventanda em torno do ano 2000 a.C. (REVISTA SUPER

INTERESSANTE – ed. 284 – nov/2020, p. 61)

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Faz-se necessário, para completar o presente estudo, citar duas

definições: tipo textual e domínio discursivo:

tipo textual: é a variedade de sequências linguísticas

utilizadas em um determinado gênero. Portanto, torna-se

evidente que cada gênero pode conter diferentes tipos

textuais;

domínio discursivo: designa uma esfera da atividade humana.

São produções discursivas de uma comunidade específica.

Do ponto de vista de domínio, pode-se citar o domínio no qual

se insere o discurso religioso ou comporativo. Há um conjunto

do domínio religioso, como: novena, jaculatória, ladainha,

entre outros.

E do domínio corporativo, estão: memorando; relatório; carta de

agradecimento, de divulgação, de apresentação, de recusa, de reclamação, de

desculpas, de recomendação; ata; contrato; currículo; procuração; declaração; e-

mail; outros.

Nesses outros, estão diversos gêneros pertencentes a campos discursivos

distintos e individuais pertencentes ao universo corporativo. Melhor explicando, no

universo corporativo, há o gênero jurídico, cujos gêneros próprios são, entre

outros: a procuração, a jurisprudência, a medida provisória, o laudo. Há também o

campo publicitário, com os gêneros: mala direta, promoção, informe, catálogo,

slogan, pesquisa de mercado, e-mail marketing, mailing, peça institucional,

anúncio e outros. Vale lembrar que, como já dito, cada gênero pertencente aos

muitos campos discursivos coporativos, carrega seu próprio glossário. O campo

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da Informática, por exemplo, utiliza em suas comunicações hardware, software,

chat, intranet, twiter, blog, e assim por diante.

Encontram-se, a seguir, a exposição de alguns gêneros coporativos.

3.2.1 Gênero Memorando (anexo VI):

Memorandos são documentos breves usados para comunicar informações

entre um grupo seleto de pessoas dentro da mesma empresa ou associado a ela.

Memorandos podem ser elaborados a respeito de diversos assuntos – desde o

anúncio de uma promoção, passando por lembretes aos funcionários acerca de

prazos importantes, até a apresentação de questões de maior importância. Por

essa razão, elaborar memorandos que chamem a atenção e incitem a resposta

desejada é uma habilidade gerencial fundamental.

Memorandos costumam ser escritos em um formato dedutivo ou em um

formato indutivo.

Memorandos dedutíveis apresentam informações em ordem decrescente

de importância e dispõem as informações em ordem lógica, e não cronológica. A

questão mais importante deve ser apresentada primeiro, seguida de informações

que a sustentem nos parágrafos posteriores. Isso é útil para destinatários que

detêm o mesmo conhecimento sobre o assunto.

Memorandos indutivos, por outro lado, ordenam as ideias em ordem

crescente de importância. A indução é útil quando executivos têm de comunicar

más notícias. Este formato permite estabelecer de maneira lógica as razões que

levaram à conclusão a que o leitor está prestes a chegar. O contexto é

apresentado primeiro, seguidos por dados que o corroborem.

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Memorandos consistem de dois componentes principais: um cabeçalho e o

corpo da informação a ser apresentada.

Cabeçalho: O cabeçalho lista as seguintes informações: os nomes dos

destinatários, o nome do remetente, a data de circulação do documento e uma

linha de assunto descrevendo brevemente seu conteúdo. Memorandos são

imediatamente reconhecíveis graças a seu formato, como mostra abaixo:

Conteúdo: Memorandos não devem ser exaustivos. O objetivo é resumir

informações essenciais. O destinatário da mensagem deve reconhecer

imediatamente se as questões apresentadas são urgentes ou não. A linguagem

dos memorandos deve ser clara e simples. Não se deve sobrecarregar o texto de

jargões e acrônimos. Apesar de não se utilizar linguagem sofisticada, não significa

que possa haver descuido, pois, memorandos podem ser armazenados, circulam

pela empresa ou até fora dela. É possível ser cordial e acessível sem sacrificar o

profissionalismo.

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3.2.2 Gênero Relatório

Relatórios são documentos mais longos, em geral produzidos para informar

ou notificar pessoas acerca de uma situação e recomendar providências futuras.

Costumam servir como fonte para tomadas de decisão bem fundamentada,

portanto, precisão e clareza são essenciais.

Relatórios podem ser elaborados com a colaboração de toda uma equipe

ou por apenas uma pessoa. Em geral, alguém assume a tarefa de redigir o texto,

mesmo que muitas pessoas contribuam com algumas partes.

Um relatório digno de crédito é caracterizado por sua objetividade e pela

confiabilidade dos dados apresentados. Diferentemente de uma carta de

divulgação, os relatórios não tentam, de forma explícita, mudar a opinião de

alguém, não contendo, portanto, juízo de valor. Eles expõem um panorama geral

de determinado assunto, apresentando os prós e os contras. Esses textos muitas

vezes trazem tabelas, gráficos e outras ilustrações para sustentar as informações

apresentadas no documento. Alguns incluem apêndices que listam materiais ou

fontes de referência e glossários que definem a terminologia desconhecida.

O objetivo do relatório deve ser claro, bem definido e mantido em toda sua

apresentação. O auditório e seu conhecimento prévio acerca do tema devem ser

primeiramente considerados. Se o relatório for para não-especialistas, os termos

complexos devem ser simplificados e os técnicos devem ser traduzidos.

Relatórios dependem de fatos e podem demandar cuidadosa pesquisa,

cujos dados podem ser encontrados no âmbito da própria organização.

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Organização do relatório

Introdução: o relatório deve começar descrevendo o tema, fornecendo

informações prévias e determinando seu objetivo. A introdução deve ser breve,

suscinta e atrair o leitor. O corpo do texto precisa dar maior dimensão aos pontos

centrais descritos na introdução.

Corpo do texto: Esta é a parte na qual a informação se transforma em

conhecimento. Sempre que possível, deve ser organizado em diversas seções,

conferindo maior coerência e ajudando o leitor a seguir a estrutura do relatório. A

fim de ajudar o leitor a compreender os dados apresentados, é aconselhável

inserir gráficos informativos, como tabelas e ilustrações.

Conclusão: A conclusão deve resumir os pontos e as descobertas expostos

no corpo do relatório. É nesse momento que se deve incluir recomendações e

pedidos de ação.

Apêndices: Um apêndice é qualquer material complementar anexado no fim

de um documento para fins de referência. Os mais comuns são bibliografia e

glossários.

3.2.3 Gênero e-mail:

“Os textos surgem, desaparecem, reaparecem, transformam-se, adaptam-

se para satisfazer necessidades de determinada comunidade discursiva. Cada um

deles preenche determinadas finalidades. Por isso existe a carta, o relatório, a

ata, o editorial, a notícia, o recibo, a anedota, o poema, a receita culinária e uma

infinidade de outros gêneros. E conforme a necessidade, novos gêneros vão

sendo criados. É dentro desse contexto que nasceu o e-mail. Com o advento da

internet, surgiu a oportunidade de as pessoas se comunicarem por escrito,

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utilizando-se desse meio eletrônico. E as pessoas se comunicam por meio de

textos. Logo, um novo gênero estava sendo admitido no seio da comunidade

discursiva internética. Estava criado o e-mail” (ZANOTTO, 2005, p.117)

Com a vinda da internet, o e-mail – eletronic mail (correspondência

eletrônica) – tornou-se a única forma de se ter acesso rápido e confiável à maioria

das pessoas que trabalham em empresas.

De fácil utilização, os e-mails se tornaram indispensáveis nas organizações,

pois, além de desburocratizar o acesso às informações, agilizam processos e

diminuem custos, poupando tempo de telefonemas, envio de fax ou espera por

correspondência.

Conforme uma pesquisa realizada em 2006 pela consultora Office Tea, o e-

mail é a ferramenta de comunicação mais difundida e útil desde o advento do

telefone. Enquanto em 2001 apenas 27% dos executivos preferiam usar

mensagens eletrônicas como meio de comunicação, em 2006 esse percentual

subiu para 71% e, em 2010, chegou a 93%. Profissionais da maioria dos

segmentos usam e-mails internos para marcar reuniões, pedir informações,

compartilhar opiniões e e-mails externos para, também, divulgar dados, produtos,

serviços.

Entretanto, embora e-mails sejam usados com frequência como um meio

rápido de comunicação, para que as mensagens sejam eficientes e cumprirem

sua função sóciodiscursiva, devem obedecer a um estilo verbal apropriado, a um

conteúdo pertinente e a uma estrutura composicional adequada.

Quanto ao estilo verbal, deve-se observar uma linguagem simples, precisa

e clara, jamais se esquecendo de que mensagens eletrônicas devem ser curtas e,

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portanto, objetivas. São fundamentais os cuidados com a gramática e a

pontuação. As escolhas linguísticas são estudadas e mais ou menos formais. Se

for um e-mail externo (e-exomail) – para cliente, fornecedor, colaborador – o

registro é mais formal. Ao e-mail interno (e-endomail) – entre os próprios colegas

– cabe um registro menos formal. Atenção: Não é informal, pois, não se

aconselha o emprego de gírias, palavras vulgares, abreviaturas. Cuidado com as

letras em caixa alta, pois é como se o locutor/emissor estivesse gritando.

Como parâmetros, seguem-se dois fatores quanto à formalidade da

linguagem:

• a intimidade entre os interlocutores;

• a seriedade necessária ao tema.

Quanto ao conteúdo dos e-mails corporativos, os temas devem se referir

apenas aos negócios que permeiam as empresas, para que enquadrem ao

gênero aqui defendido. Além disso, e-mails corporativos são acompanhados e

vigiados pelas empresas interlocutoras, sem que seus funcionários notem.

Conteúdos e línguagens não apropriados estão previstos na lei como crimes e,

não só podem, como são usados contra toda a comunidade envolvida.

Quanto à estrutura composicional, segue:

Embora e-mails sejam usados com alta frequência na esfera corporativa,

vale lembrar que devem seguir a estrutura de uma carta (gênero originador do e-

mail). As mensagens, embora curtas, devem conter uma introdução, um corpo

com informações sucintas, porém importantes, e uma conclusão.

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No bloco superior, deve conter:

• e-mail(s) do(s) destinatário(s) diretos;

• e-mails(s) do(s) destinatários copiados(s), quando for o caso;

• assunto: o título central do tema, o fio condutor da mensagem;

• anexo(s), quando for o caso.

No corpo do texto, deve conter:

• Saudação: sempre que possível, dirigir-se ao destinatário pelo

nome e com uma saudação adequada: “Prezado Senhor”, “Caros

Acionistas”, Excelentíssimos Doutores. Se for um e-mail interno, enviado a

um colega com frequência, pode-se dispensar todo esse formalismo.

Porém, continua conveniente iniciar pelo nome. No entanto, seja quem for

o destinatário, a gentileza e o profissionalismo devem sempre servir de

lema. É indicado o uso da vírgula para separar a saudação do corpo do

texto.

• Corpo da mensagem: cabem uma ou duas frases como

introdução ao assunto central da mensagem. Um segundo parágrafo é

necessário para reiterar ou esclarecer os principais objetivos. É

fundamental deixar bem claros prioridades ou itens que requerem ação

imediata. Caso seja inerente, é nesse momento que se dispõem links para

a obtenção de maiores informações.

• Conclusão: aqui está o agradecimento ou o “à espera de seu

retorno” ou “atenciosamente”.

• Assinatura: a assinatura correta não só apresenta um fim

simpático para a mensagem, como também, combinada com a saudação

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adequada, incentiva uma resposta por parte do destinatário. Os elementos

da assinatura são:

nome completo;

cargo;

nome da empresa em que trabalha;

endereço eletrônico;

site da empresa (se houver).

A saudação combinada com corpo e a assinatura bem elaborados formam

a chamada “netiqueta” (a etiqueta de e-mail corporativo)

Embora ainda haja controvérsias sobre e-mail ser gênero, espera-se ter

apresentado uma defesa eficaz sobre e-mail corporativo pertencer ao domínio

discursivo de uma corporação como um dos gêneros utilizáveis. Os e-mails

corporativos são peças da comunicação sociocultural-histórica de uma sociedade

empresarial de fronteiras definidas.

Partindo desse consenso, os e-mails corporativos, ao se adequarem aos

quesitos de gênero, tornam-se eficientes no cumprimento da sua função social.

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4 - DISCURSO CORPORATIVO

4.1 O Gestor Pedagogo do Discurso

Todo profissional deve assumir sua parte de resposabilidade na

comunicação diária em seu universo organizacional, afinal, “comunicar é tarefa de

todos” (KUNSCH, 2009, p.357.) A cada integrante da organização cabe a

eficiência comunicativa em seu próprio nível, de acordo com sua capacidade e

sua potencialidade. Entretanto, ao assumir a visão compartilhada da comunicação

como instrumento de diálogo genuínio e eficiente, o gestor se torna essencial por

conhecer o uso potencial de cada ferramenta da comunicação. Ele se torna uma

espécie de pedagogo do discurso, estimulando e orientando espaços de

comunicação, motivando e transferindo habilidades para a difusão correta das

mensagens. Com a abertura da exportação, na era Collor, toda a comunicação se

modificou, desde a interna, dentro dos muros de cada organização, até a

responsável em levar o produto ou serviço dentro da casa do consumidor. A

comunicação tradicional, imperativa e unidirecional deu lugar à contemporânea,

dialógica, coparticipante e mais multilateral. A seguir, um quadro mais explicativo

retirado de Kunsch (2009, p.357) fixa os limites entre comunicação tradicional e

comunicação contemporânea:

Comunicação Tradicional Comunicação Contemporânea

Foco em produtos Foco em processos

Vertical/descendente Multirateral

Assimétrica Simétrica em rede

Autocentrada e autorreferente Foco no cidadão, no usuário, no cliente, nos públicos

Emissor receptor Processo plural, complexo, multifacetado, dinâmico

Publicidade/divulgação jornalística/eventos Múltiplos instrumentos

Mecânica Orgânica

Massiva Customizada, segmentada, individualizada

Discurso da autoridade Argumentos dos sujeitos

Ferramenta de poder Processo para autonomia, solidariedade, sociabilidade

Receptor passivo Participantes ativos da comunicação

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Fragmentação Integração

Comunicação do emissor Coconstrução, experiência conjunta, partilha

Cultura da emissão, da divulgação Cultura da interface, da interação, do diálogo

Lógica da disseminação Lógica de despertar o interesse, o acesso e a compreensão

Transmissão Compartilhamento/cooperação

Informação como espelho da realidade Informação como construção social

4.2 Gestão do Discurso Corporativo

Inicia-se, aqui, com a definição do termo COMPETÊNCIA. Segundo

Macedo (2006), competência é entendida pela sigla CHA.

C – Conhecimento: SABER = é todo o saber adquirido por meios

impressos, digitais, empíricos, capacitando o sujeito ao criticismo e,

consequentemente, à sua contínua evolução.

H – Habilidade: SABER-FAZER = está relacionado ao fazer, à pratica

constante de uma atividade. Ação física ou mental que indica o saber adquirido.

A – Atitude: SABER-SER = está associada ao ser efetivamente.

Competência é um conjunto de conhecimentos (saberes), habilidades

(saber-fazer) e atitudes (saber-ser). Pressupõe, portanto, operações mentais,

capacidades para usar habilidades e emprego de atitudes adequadas à realização

de tarefas. A competência profissional gera a laboralidade, melhor dizendo, gera a

navegabilidade entre as várias ocupações ou áreas profissionais. Portanto, um

perfil profissional bem sucedido se situa no saber, saber-fazer, saber-ser, saber-

conviver.

A competência permite a mobilização de conhecimentos, para que se

possa enfrentar uma determinada situação com capacidade de encontrar os

melhores recursos, no momento e na forma adequados.

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No campo da linguística, um profissional competente respeita as

identidades e diferenças, inter-relaciona pensamentos, ideias e conceitos,

desenvolve o pensamento crítico e flexível, adquire autonomia intelectual e utiliza

a linguagem como meio de expressão, comunicação e informação.

Competência Essencial

Algumas organizações têm investido na aquisição de competências

chamadas essenciais. Tarapanoff (2001) diz que as competências essenciais são

consideradas portas de entrada para os mercados futuros, na medida em que

permitem às organizações investirem em novos produtos/serviços, baseados em

competências antigas aprimoradas e especializadas.

Organizações que buscam sustentabilidade devem investir na comunicação

como uma competência essencial. Uma vez adquirida tal competência essencial,

os integrantes se transformam em agentes autônomos de comunicação,

garantindo, assim, o diálogo para expor ideias e trocar experiências. Com isso, as

áreas se tornam aptas a assumir o protagonismo de bem comunicar com a

finalidade de capacitar a organização ao ambiente em que vive e se tornar mais

competitiva.

Kunsh (2009) indica que esse processo requer a criação de espaços, nos

quais ocorra a aquisição das habilidades de processar a informação que circula

na organização e de adquirir conhecimento em comunicação, espaços de

aprendizagem individual e coletiva, em que o conhecimento seja reconstruído e

partilhado.

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Identidade Organizacional

Faz-se necessário, também, abordar identidade organizacional enquanto

essência, aquilo que faz a organização se distinguir de outras e o que é percebido

como estável ao longo do tempo. Para Albert e Whetten (1985), identidade nas

organizações tem como base três características:

centralidade: tem como foco os atributos fundamentais que

representam o que a organização é, seus objetivos e sua

missão. É um sistema central, interno de crenças, valores e

normas que constrói o sentido para os empregados sobre o

que é a organização, direcionando suas ações. É na

centralidade, que o profissional percebe os termos que

podem e não podem ser usados. É onde o clima

organizacional se instaura como amistoso, agressivo, tenso,

cooperativo ou competitivo, definindo a linguagem do

endomarketing.

distintividade: define a individualidade da organização,

separando-a do todo, diferenciando-a dos concorrentes,

provendo sua unicidade em relação ao mercado.

permanência: enfatiza a longevidade da identidade

organizacional, os atributos que são mantidos ao longo do

tempo.

A identidade organizacional é o DNA da organização, os atributos que a

definem, que a fazem ser diferente das demais e que, de certa forma, determinam

o que ela será no futuro. Em certo sentido, o processo de comunicação faz as

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escolhas das características da identidade organizacional e as traduz para os

stakeholdes internos e externos. Complementando esses argumentos, Abratt

(1989) ressalta a coordenação e consistência das mensagens (sejam estas

formais, informais ou por meio de comportamentos) como resultado das

atividades tanto operacionais quanto administrativas da empresa. E, para que as

mensagens sejam eficazes, Melewar e Jenkins (2002) explicam que é necessário

se assegurar de que incorporem a filosofia e os valores da organização, sendo

compartilhadas tanto pelos empregados operacionais quanto pelo nível gerencial.

Em suma, a partir dos apectos abordados no decorrer deste trabalho,

chega-se, enfim, na seguinte definição de Gestão do Discurso Corporativo:

É a competência linguística essencial e individual, adaptada a cada

identidade organizacional, de utilizar a comunicação – no caso, escrita – de forma

fiel ao papel social ocupado, com foco no entendimento do leitor, provocando

ação, reação e sentimentos intencionados. A responsabilidade do bom gestor não

se limita a criar e manter eficientes produtos e serviços, mas também, em gerir o

discurso corporativo na busca do estímulo do desenvolvimento comunicativo de

cada integrante, trazendo para a consciência a importância da exposição de

ideias para o sucesso efetivo de seu trabalho.

A gestão do discurso corporativo, como um processo amplo e disseminado,

pode ajudar a lidar com a incerteza, a dubiedade, a complexidade e a diversidade

presentes nas organizações.

O segredo consiste em cada profissional trazer para si a responsabilidade

da comunicação efetiva, entendendo o arbítrio linguístico como autopreservação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho defende, mais do que trazer à luz informações e

esclarecimentos para auxiliar nas dificuldades da comunicação organizacional,

valorizar a gestão do discurso corporativo como uma ferramenta, não uma

plumagem.

Os aspectos relevantes da arte de redigir, os gêneros corporativos, a

definição de gestão e competência, apresentados aqui, pretendem ser mais um

dos inúmeros materiais de divulgação, consulta e incentivo para o

aperfeiçoamento e crescimento do material humano nas corporações.

Espera-se, ainda, ampliar a consciência dos profissionais na busca da

valorização da língua portuguesa – tão rica nas suas infinitas possibilidades de

comunicar - como seu primeiro e mais importante idioma, enquadrando os demais

em segundo plano.

Esta comunicação, além de situar o presente como um período ineficaz e

faminto de conscientização, pretende, também, deixar em aberto novos estudos

para a efetiva implantação da competência linguística nas organizações como um

recurso moderno, estratégico e em contínua atualização para atender às

necessidades de quem a utiliza.

Espera-se que, a partir das questões aqui levantadas, este e novos

estudos integrem a área acadêmcia ao mundo corporativo, entendendo o

professor de língua portuguesa como o grande agente do processo de

conscientização e capacitação dos profissionais em ascensão. O papel

transformador do professor de português é a chave para as empresas se

disntinguirem do todo e permanecerem no mercado, eternizando a identidade

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organizanional tão perseguida, porém, sem muito alcance. Não só a

PriceWaterhouseCoopers, mas todas as empresas poderiam incluir, no seu

quadro de funcionários, os professores de português como investimento prioritário

ao preparo de seus profissionais. Essa atitude, definitivamente, seria a

concretização de que o maior patrimônio de uma empresa é, de fato, o seu capital

humano. Habilitar o profissional a escrever e interpretar textos em qualquer área

de atuação, incrementar a capacidade linguística inserida em um mundo onde a

comunicação está sempre presente, transformar funcionários em poliglotas dentro

da própria língua, treinar a habilidade de comunicação em um registro mais formal

são alguns dos benefícios de se manter nas empresas o professor de português.

Com os profissionais tão bem preparados e valorizados, são certos o

crescimento e estabilização das corporações no mundo globalizado e tão

competitivo como o que se apresenta nos dias de hoje e, cada vez mais, no

amanhã.

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Guia Exame 2010. Editora Abril, novembro/2010

Revista Exame. Editora Abril: ed. 986 - ano 45 - n. 3 - 23/2/2011

Revista Exame. Editora Abril: ed. 987 - ano 45 - n. 4 - 09/3/2011

Revista Super Interessante. Editora ABRIL: ed. 284 - novembro/2010

Revista Galileu. Editora Globo: n.233 - dezembro/2010 Revista Galileu. Editora

Globo: n.233 - dezembro/2010

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Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento: ano 5 - n. 60 - outubro/2010

Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento: ano 5-n.61- novembro/2010

Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento: ano 5-n.62- dezembro/2010

Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento: ano 5 - n. 63 - janeiro/2011

Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento: ano 5-n. 64 - fevereiro/2011

Guia da Língua 2010, Editora Segmento

Revista Distribuição. Editora Brasileira de Comércio: ed. 215-ano 19- janeiro/2011

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Anexo I

Tópico Frasal

a - O tópico frasal não deve ser genérico e sim específico

Genérico: Enviamos grande quantidade de mercadorias que somam enorme

montante de dinheiro.

Específico: Enviamos dez dúzias de sabonete X, cinco dúzia de colônias y,

mercadorias que somam R$ 900,00.

b – Deve ser pormenorizado

Sem pormenores: Enviamos um cheque há muito tempo

Com pormenores: Enviamos o cheque n° ----, no dia 17 de outubro, no valor de

R$ 200,00.

c - Argumentação e opinião

Se no tópico frasal se argumentou com fatos, há possibilidade de convencer o

leitor a estimulá-lo a continuar na leitura.

É necessário saber distinguir opinião de argumentação.

Opinião: é o modo pessoal de ver os fatos.

Não aceitamos tal mercadoria por estar muito feia.

Argumento: é o raciocínio pelo qual se tira uma consequência ou dedução.

Não aceitamos os chuveiros elétricos e as torneiras que nos foram enviados por

apresentarem defeitos. Aqueles chegaram amassados, estas com as roscas

espanadas.(argumentação: a declaração envolve fatos.).

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Anexo II

Concisão e Brevidade

Abaixo, uma carta de recomendação prolixa e a mesma carta editada:

Versão Prolixa:

Versão

Concisa

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Anexo III

Valor sociolinguístico

Tem-se abaixo o valor sociolinguístico da língua percebido e não percebido:

a. Recado para a família:

Hoje tenho prova e chegarei tarde para o jantar. – texto adaptado ao

interlocutor, portanto, valor sociolinguístico percebido.

Lamento ter que lhes informar que, devido à realização de uma prova

avaliativa para os meus estudos de comunicação escrita, não poderei

comparecer no jantar na hora costumeira. – texto não adaptado ao

interlocutor, portanto, valor sociolinguístico não percebido.

b. Pedido de autorização de ausência no trabalho:

Solicito autorização para me ausentar com o fim de me preparar para

uma prova avaliativa dos meus estudos. – texto adaptado ao

interlocutor, portanto, valor sociolinguístico percebido.

Tenho uma prova. Posso sair mais cedo? – texto não adaptado ao

interlocutor, portanto, valor sociolinguístico não percebido.

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Anexo IV

Formas de Contratar

Modalidade Argumentativa Persuasiva: Assertiva (apodítica)

Exemplo 1:

Todo empresário é bom administrador; Toda mulher bonita é burra.

Exemplo 2:

[...] Os preconceituosos contra mim diziam assim: como é possível o Lula

governar um país, se ele não sabe nem falar inglês? Como é que ele vai

conseguir conversar com o Bush, com o Tony Blair? E eu estou provando que eu

não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo. Eu tenho que falar

português. Eu não preciso falar inglês para ser respeitado. Eu tenho que falar,

pura e simplesmente, a língua de 175 milhões de brasileiros. (Trecho recortado

da “fala” do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 04/06/2003, no 8º

Congresso Nacional da CUT).

Analogia

No trecho que segue, a analogia criada no discurso do Presidente Lula

leva a um fazer-crer (persuasivo) que se propõe como verdadeiro:

[...] Eu tenho, meu caro João Felício, a consciência de que muitas

pessoas que morrem afogadas, não morrem afogadas porque não sabem nadar,

porque se as pessoas tivessem controle emocional e consciência de que o seu

corpo é mais leve do que a água, se essas pessoas mantivessem a

tranquilidade, certamente, muitos não morreriam. Morrem porque ficam

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nervosas, batem demasiadamente as mãos e os pés, abrem a boca demais,

bebem águas indevidas e morrem afogadas... 2

No governo, também é assim. Um país do tamanho do Brasil, com a

quantidade de problemas que tem, o Presidente da República não pode, em

nenhum momento perder o equilíbrio....1

1 – tese principal – o governo não deve agir de forma precipitada

2 – foro – o nadador se afoga por se precipitar.

Metáfora

[...] O que não pode é alguém julgar uma criança quando ela ainda está

no ventre da mãe. Porque nós temos apenas cinco meses de Governo.

[...] O primeiro boletim que eu fiz na vida era mostrando que um

trabalhador sozinho era um graveto fácil de quebrar, mas um monte de

gravetinhos juntos era um feixe de lenha tão forte que ninguém conseguiria

quebrá-lo.

No primeiro caso, o "nós" (eu + equipe de Governo) é comparado à

criança no ventre da mãe;

No segundo, estabelece-se uma relação entre o trabalhador e o graveto

.Assim, há um "transporte" entre o sentido próprio de criança no ventre da mãe

(= feto) e de graveto (= pedaço de lenha miúda) para o sentido figurado.

A intenção de Lula, ao se valer dessas metáforas, é mostrar:

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No primeiro caso, que não se deve julgar o Governo (as ações do

Governo) sem que ele esteja efetivamente pronto (ele ainda está em processo

de formação);

No segundo caso, que "a união faz a força", já que um único

graveto/trabalhador é frágil, mas um feixe de lenha/uma "massa" de

trabalhadores tem poder.

Vemos, portanto, que, por meio de analogias e metáforas, o Presidente,

com um propósito claramente didático, estabelece associações frequentes entre

atitudes e ações do Governo e temas e figuras pertencentes ao universo do

cidadão comum, destacando-se, nesse procedimento persuasivo, temas como a

tranquilidade e a união (da parte do Governo), a tolerância e a paciência (da

parte dos outros, sobretudo daqueles que criticam o governo). Um discurso

predominantemente temático, como o político, ganha, assim, uma boa dose de

concretude através de figuras como a do nadador afobado, a da criança no

ventre da mãe e a do graveto/feixe de lenha, pertencentes a diferentes isotopias

que se entrelaçam com a isotopia política.

O Bem Elaborado Discurso do PT (antes da eleição)

Em outubro de 2005, antes da eleição a Presidente, Lula fez à imprensa

um discurso aparentemente uníssono ao que o povo queria ouvir. É uma prova

concreta de como, por meio das palavras inseridas um uma sintaxe

intencionada, manipula os recursos retóricos na busca da adesão do auditório.

“O nosso partido cumpre o que promete.

Só os tolos podem crer que

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Não lutaremos contra a corrupção.

Porque, se há algo certo para nós, é que

A honestidade e a transparência são fundamentais

Para alcançar os nossos ideais

Mostraremos que é grande estupidez crer que

As máfias continuarão no governo, como sempre.

Asseguramos sem dúvida que

A justiça social será o alvo de nossa ação.

Apesar disso, há idiotas que imaginam que

Se possa governar com as manchas da velha política.

Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que

se termine com os marajás e as negociatas.

Não permitiremos de nenhum modo que

As nossas crianças morram de fome.

Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que

Os recursos econômicos do país se esgotem.

Exerceremos o poder até que

Compreendam que

Somos a nova política.”

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O povo ouviu tudo o que sempre sonhou. Entretanto, após uma análise

mais de perto do referido discurso, o jornalista Paulo Martins deixou clara a

intenção do orador em sua matéria, na Gazeta do Paraná, cujo título foi:

“A verdade Sufocada: A história que a esquerda não quer que o Brasil

conheça”.

Você não entendeu? Então, releia o mesmo discurso – linha por linha -,

porém de baixo para cima. Você descobrirá o discurso preparado para depois da

sua posse.

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Anexo V –

V.1 Argumentação

Para a presente análise retórica, foi selecionada uma carta corporativa

enviada por um fornecedor a um cliente “prospect”, ou seja, a um possível futuro

cliente.

Embora essa carta não garanta uma resposta do cliente, ela oferece ao

Sr. Cardoso algumas boas razões para levá-la em consideração.

O fato de a carta ser personalizada situa o auditório particular,

especializado, moldando e restringindo o lógos a um lugar específico de

interação entre os sujeitos sociais.

O texto inicia com Prezado Sr. desmonstrando alto respeito e

hieriarquização.

Podem-se atribuir aqui duas Figuras Retóricas:

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• de Autoridade, ao elevar o Sr. Cardoso a um lugar de importância e

prestígio;

• de Comunhão, pois chama a participação ativa do Sr. Cardoso.

Em: “Antonio Lopes indicou-me seu nome” - também se tem a

Figura de Autoridade, pois a referência a um conhecido indica tratar-se de uma

fonte confiável.

A expressão pager aparece na 2a linha e se repete na 3a linha,

caracterizando Figura de Presença. A repetição é a mais comum das figuras de

presença, usada, aqui, para fixar o produto de interesse do fornecedor.

Lugares Retóricos são suportes que sustentam o encaminhamento

da argumentação. Em: “O pager será lançado no salão Online Communication,

em Chicago” - o fornecedor oferece o Lugar de Qualidade, já que esse pager é

um lançamento, é o mais novo.

“Se o senhor visitar a feira, posso fornecer-lhe uma amostra do

aparelho, para que possa decidir se ele atende às necessidades de sua equipe

móvel” - O papel da retórica é o de aplicar a razão à imaginação para calcar

melhor o desejo (BACON, 1625). João Martins (orador) trabalha com o desejo do

Sr. Cardoso (auditório). Aqui, o fornecedor joga com um argumento quase

lógico, oferecendo uma comparação entre o aparelho já utilizado pelo Sr.

Cardoso e o pager digital a ser lançado. A palavra digital também remete ao

Lugar de Qualidade. Torna-se também uma Figura de Escolha, no momento em

que qualifica e caracteriza o pager que está sendo oferecido.

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Na modalidade argumentativo-persuasiva injuntiva, o orador usa o

imperativo, dando uma ordem, embora parecendo um livre arbítrio do auditório:

“Não hesite em nos contatar, caso precise de ajuda”.

Por meio de diferentes projeções do “EU”, com diferentes efeitos de

sentido, o orador vai construindo seu fazer-persuasivo-discursivo, levando o

outro a saber, mas sobretudo a crer nas suas boas intenções. O “eu” pode

deslizar entre o “eu individual”, os diversos “nós” e o “ele”, revelando um sujeito

que se instaura completamente e explicitamente no discurso.” ....Não hesite em

nos contatar...” Esse nós se refere a João Martins e a todos os funcionários da

empresa. É uma prática comum no mundo corporativo o uso do nós mesmo

quando se trata de um único orador. O profissional representa a empresa, a

corporação para a qual ele trabalha, sendo seu discurso unificado e validado por

ela.

“Obrigado pela atenção” - saber usar o tom certo, adaptado ao

auditório é um forte recurso retórico. Quer seja um pedido ou uma carta, é

possível persuadir com muito mais facilidade se lançarmos mão de duas

expressões mágicas: “por favor” e “obrigado”. Essas expressões comovem e

desarmam o auditório, aproximando-o do orador e, no caso de uma ordem

superior, aveludam o logos, fazendo-o soar mais como uma solicitação educada

do que como uma determinação.

O termo “Cumprimentos” - fecha o contrato, deixando no Sr.

Cardoso um sentimento de retribuição, de reciprocidade pelo apreço

demonstrado por João Martins.

É claro que a identificação da função de João Martins – Gerente de

Marketing – também lhe confere autoridade para enunciar tal documento. Mas,

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revela ainda, que a função do Sr. Cardoso deve ser semelhante a dele, pois, no

mundo corporativo é de praxe a comunicação horizontal, a comunicação

partilhada entre pares, entre pessoas de mesmo nível hierárquico.

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V.2 Gêneros: Memorando e e-mail

Memorando:

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e-mail

Gênero Textual: e-mail corporativo Estrutura composicional De: [email protected]

Bloco Superior Para: [email protected] C.c.: [email protected] Assunto:Compra da máquina "Steel-09" Anexo: Proposta de compra da "Steel-09" Prezado Senhor Marco Souza, Saudação Analisando a solicitação quanto à compra em referência, levantamos

Corpo da Mensagem

as seguinte observações: Nossa fábrica se compõe de quatro máquinas similares, em uma área de 5m2. Apesar de o modelo apresentado ser de alta tecnologia e precisão, ao chegarmos, hoje, bem cedo na empresa, avaliamos melhor nossa capacidade de produção e concluimos que estamos ociosos quanto à mão de obra e não quanto ao maquinário. Agradecemos, entretanto, a colaboração e primamos pela sua contínua dedicação.

Conclusão Atenciosamente, Elizabeth Cieri

Assinatura

Gerência Geral

Taboa Participações Ltda

[email protected]

www.taboaimoveis.com.br