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Mestre Come Barro: referência no Carimbó em Quatipuru-Pa
Danilo Rosa dos Remédios
UFPA – [email protected]
Maria José Pinto da Costa de Moraes UFPA – [email protected]
Resumo: O presente trabalho tem a intenção de investigar e registrar a atuação de Mestre Come
Barro como figura de referência na prática do Carimbó na cidade de Quatipuru-PA. Mestre Come
Barro é um ‘agitador cultural’ e figura importante na Marujada de São Benedito da cidade, atua
desde criança na Marujada como cantador e tocador de tambor, também é compositor e cantor de
Carimbó. Aos dezesseis anos formou seu primeiro grupo de Carimbó chamado “Os caçulas”.
Desde 2002, quando fundou o conjunto de Carimbó, o “Raio de Sol” , o mestre vem realizando
apresentações e atividades de difusão do Carimbó na cidade. Para a realização do trabalho foram
realizadas entrevistas e pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: Carimbó. Quatipuru. Come Barro. “Raio de Sol”.
Mestre Come Barro: Reference In The Carimbó In Quatipuru-Pa
Abstract: The present work intends to investigate and record the performance of Mestre Come
Barro as a figure of reference in the practice of Carimbó in the city of Quatipuru-PA. Mestre
Come Barro is an ‘agitator cultural’ and important figure in Marujada de São Benedito in the city,
he has performed since he was a child in Marujada as a singer and drum player, he is also a
composer and singer of Carimbó. At the age of 16, he formed his first group of Carimbó called
"Os caçulas". Since 2002, when he founded a group “Raio de Sol”, the master has been performing
presentations and activities of diffusion of the Carimbó in the city. For the accomplishment of the
work interviews and bibliographical research were carried out.
Keywords: Carimbó. Quatipuru. Come Barro. “Raio de Sol”.
.
1. A cidade de Quatipuru
Quatipuru é uma cidade pequena localizada no interior, na região nordeste do
Estado do Pará, Região dos Caetés, área abrangida pela Costa Atlântica da Amazônia
Brasileira e é um dos mais novos municípios do Estado. Sua população está estimada pelo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 13.142 habitantes. Tem seus
municípios limítrofes ao sul com Capanema, a oeste com Primavera, a leste Traquateua e ao
norte o município de São João de Pirabas e Oceano Atlântico. O nome dado é inspirado num
esquilo, da família dos mamíferos roedores Sciuridae, que “em 1845, devido existir nos
arredores do povoado Valentim, muitos animais roedores chamados quatipuru, os moradores
da localidade passaram a chamar o povoado de Quatipuru” (IBGE, 2017).
A paisagem natural do município é um dos seus principais atrativos. A orla da
sede municipal, banhada pelo rio de nome homônimo ao da cidade, proporciona uma bela
paisagem e serve de lazer para os munícipes e visitantes que queiram apreciar a vista e uma
brisa que vem do mar. A nove quilômetros, se encontra a vila de Boa Vista, distrito de
Quatipuru, outro local que possui uma exuberante paisagem colorida pelo movimento das
embarcações de pescadores ancoradas à beira da orla. As praias e igarapés são um convite à
apreciação, as praias quase sempre desertas, onde o acesso é somente de barco em um
percurso que dura em média trinta minutos e os igarapés na entrada da cidade a menos de três
quilômetros. As praias mais visitadas são as praias do Peruquara, Praia de Fora e Quatipuru-
Mirim. A economia do município está baseada principalmente na pesca e no comércio, onde a
extração do caranguejo é a maior geradora de renda dos moradores. A agricultura também é
uma fonte geradora da renda de boa parte dos munícipes, na zona rural, onde há cultivo de
grãos, hortaliças, mandioca, dentre outros, que são cultivados por produtores rurais locais para
serem vendidos à comerciantes da cidade e também para outras cidades.
A cidade tem o seu calendário anual cultural marcado por diversos eventos que
reúnem a população em festejos realizados em locais públicos. No carnaval a comunidade
festeja em bloquinhos formados em cada bairro, saindo em desfile pelas ruas da cidade. O
período de festas juninas movimenta bastante a população, quadrilhas são montadas para se
apresentarem nas quermesses realizadas na cidade. O tradicional Festival do Caranguejo, que
está chegando em sua trigésima quarta edição, tem duração de quatro dias e onde acontecem
apresentações de grupos de Carimbó e grupos folclóricos, concurso de quadrilhas juninas,
apresentações de bandas e aparelhagens sonoras. Outro evento bem pontual no calendário da
cidade é o Círio de Nazaré, que acontece no terceiro domingo de outubro. Durante a semana
que antecede o círio há o arraial com vendas de comidas e bebidas, parque de diversões e
apresentações musicais ao vivo. Há ainda outros festejos como o Baile do Dia dos Pais, festa
em comemoração ao Dia das Mães e os tradicionais Festival do Camarão e Festival da Gó, em
Boa Vista.
Nascido, crescido e criado em Quatipuru foi lá que despertou o interesse deste
autor em fazer música e a vontade de aprender um instrumento. Sempre tendo diversas
influencias e referências musicais e artísticas como as festas de aparelhagem, que lá
acontecem periodicamente, a banda marcial da escola, os tios que tocavam violão, a igreja, a
mais marcante destas influências foi o Carimbó, lá tocado todo ano durante o mês de
dezembro.
Uma das pessoas que, durante esse processo de desenvolvimento e descobertas
musicais, percebia como responsável pela prática do Carimbó em Quatipuru era o senhor
Raimundo Rodrigues Borges, Mestre Come Barro, que sempre foi notável dentro desse
contexto. Desde sua infância, o Mestre Come Barro é envolvido e atuante nas manifestações
culturais, o Carimbó, Boi-Bumbá, Cordões de Bicho e na Marujada de São Benedito onde
atua a cerca de 50 anos como cantador e batedor de tambor. Ele também é o fundador e
responsável pelo grupo de Carimbó “Raio de Sol”, que acompanha a Marujada tocando os
ritmos que compõe o repertório tradicional das marujas.
Na cidade, anualmente acontece o tradicional Festival da Marujada, evento que
mais movimenta a população. O festival acontece sempre no mês de dezembro, onde durante
dez dias as marujas dançam no barracão da Marujada e pelas ruas da cidade, embaladas ao
som de ritmos como Retumbão, Chorado, Xote, Mazurca, Carimbó, dentre outros. Por fazer
parte das danças da Marujada, a prática do Carimbó na cidade está estreitamente relacionada à
festa da Marujada. A busca pelo entendimento deste contexto do qual sou fruto e dos
elementos formadores das expressões contidas nesta expressão popular que diz muito do que é
ser paraense é uma das fontes motivadoras para a minha entrega na elaboração deste trabalho,
que também acontece como uma forma de autoconhecimento. Esta pesquisa busca também
contribuir para que se haja cada vez mais o reconhecimento a esta valiosa prática musical que
é o Carimbó, aqui com o intento de entender e registrar que contribuições o mestre leva para o
contexto cultural da cidade de Quatipuru com a sua atuação juntamente com seu grupo “Raio
de Sol”.
2. Caminho percorrido
A base metodológica que dá suporte a esta pesquisa se insere no âmbito da
abordagem descritiva, estudo de caso e bibliográfica segundo as bases dadas por Gil (2006).
Descritiva e estudo de caso porque consiste no estudo profundo e aplicado de um caso que é
objetivamente descrever a contribuição de mestre Come Barro no Carimbó em Quatipuru. E
também é uma pesquisa bibliográfica, pois se faz necessário conhecer autores que já
escreveram sobre o Carimbó.
Para a realização do trabalho, que foi documentar a atuação do Mestre Come
Barro, fez-se necessário realizar com o próprio Mestre, entrevistas semiestruturadas (Bauer e
Gaskell, 2002) buscando entender melhor a sua visão, o seu contexto, ouvindo-o para que ele
pudesse, assim, descrever as suas atividades, nos dando com maior clareza a sua visão de
mundo e sua compreensão de vida, de cultura popular e da importância da preservação da
manifestação cultural na cidade. Também foram entrevistadas pessoas ligadas a ele, que
dividem com ele a experiência de manter viva esta prática e que também vivem o contexto do
Carimbó. Moradores da cidade e pessoas que têm algum envolvimento em realizações de
atividades culturais dentro da cidade também foram ouvidas para que estes também pudessem
contribuir, a partir de sua visão, sobre a importância da atuação do Mestre no contexto
cultural da cidade. As entrevistas foram feitas sem que tivéssemos um roteiro pré-estabelecido
de perguntas. Optou-se pela escolha de entrevistas semiestruturadas, deixando os
entrevistados à vontade para contar sobre suas experiências apenas conduzindo-os com alguns
questionamentos, para que a coleta dos dados pudesse acontecer da forma mais espontânea,
possibilitando o acesso a variadas informações e imagens acerca não só do tema que
trazemos, mas do contexto que cerca os envolvidos.
3. A Marujada de Quatipuru
A Marujada de São Benedito é uma manifestação cultural tradicional da região
nordeste do Pará, presente em alguns municípios da região bragantina como Augusto Correa,
Bragança, Traquateua, Vila Fátima, Capanema, Primavera e Quatipuru, que tem sua origem
com grupos negros que vieram escravizados ao Brasil a partir do século XVI. A Marujada de
Bragança, manifestação mais popular no estado dentre as cidades citadas, tem seu marco
inicial com a criação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança, no ano de 1798,
quando foi permitido aos negros escravos a sua organização em irmandades (CASCUDO,
1999, p. 562).
A introdução do trabalho escravo, para atender à lógica da economia da época,
escravista, dependente e agro-pastoril, foi a saída para os colonos, que passam a
apostar nesse recurso como a principal estratégia econômica e produt iva. O número
crescente desses escravos negros evidenciou sua necessidade na mão-de-obra como
base das relações de trabalho, a adequação ao sistema colonial à dinâmica interna de
atendimento aos mercados consumidores do restante do país e à produção
diversificada de alimentos e outros produtos (...). Provavelmente foi este o cenário
em que aconteceu a fundação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança.
Os mecanismos de dominação eram de tamanho poder que, de acordo com as
pesquisas sobre escravidão urbana, o culto e devoção dos escravos negros serviam
como estratégias de resistência do elemento cultural negro e de todo o seu
imaginário social característico. (SILVA, 2005, p. 4).
Os negros vindos de diversas regiões da África escravizados eram misturados
com outros de etnias diferentes, dificultando, assim, formas de organização internas entre
eles, então várias culturas foram misturadas nesse processo tendo como consequência perda e
mistura de diversos elementos culturais. Quando chegaram à nova terra necessitavam de se
reorganizarem, buscando novas maneiras de expressar suas crenças e costumes. Contudo, lhes
era proibido o direito de exercer suas práticas culturais. Então, a partir do momento que lhes
foi dada autorização para que pudessem se instituir em irmandades, ainda que sob a tutela da
religião cristã, os negros conseguiram um espaço para expressar suas manifestações através da
organização em culto à São Benedito, santo também negro. Para festejar essa conquista “os
escravos saíram às ruas de Bragança dançando em frente à casa de seus senhores, fazendo
exibições coreográficas” (CARVALHO, 2010, p. 78), a partir daí o evento passou a se repetir
anualmente, sendo um momento de alívio para o sofrimento cotidiano sob o qual viviam os
negros, transformando-se em tradição mantida até hoje.
Em Quatipuru, a história do princípio da Marujada não deixou muitos documentos
escritos, restando-nos recorrer ao que é relatado pelos mais antigos participantes da
manifestação. Saturnino Marques da Costa (1996), um escritor local que recolheu
depoimentos de antigos moradores, diz que a Marujada teve início por volta de 1838, próximo
ao povoado de Valentim (hoje Quatipuru), na Ilha do Titica, onde vivia Sinhá Henriqueta com
seus quatorze escravos, dos quais se recordam apenas nove nomes: Maria Pretinha, Gambarra,
Cafarnaum, Batatão, Xurupim, Tiquira, Caburé, Raimundo Cabugí e Corombó. A estes
escravos era dado o direito a um período de folga no mês de dezembro, época de Natal,
quando lhes era permitido manifestar suas danças e costumes. Então criaram uma festa ao
ritmo de seus batuques e danças para comemorar sua folga, onde veneravam São Benedito,
santo padroeiro dos negros, na qual foi escolhida uma pessoa parar liderar as danças e o
festejo, esta foi Maria Pretinha, primeira Capitoa da Marujada. Assim, repetiu-se o festejo
anualmente, sempre na mesma época. Em 1896, com a construção da igreja de São Benedito
no povoado agora já chamado de Quatipuru, e já havendo sido decretada a abolição da
escravatura em 1888 e os escravos libertos, os festejos para lá foram transferidos, para um
terreno localizado ao lado da igreja construída, cedido pela mesma. Dessa forma a festa
sucedeu-se até 1953, quando o vigário José Maria de Albuquerque proibiu que as
comemorações fossem associadas à igreja. A partir daí as atividades da Marujada passaram a
acontecer de forma alheia à Igreja Católica, sendo assim até hoje. Porém, tempos depois as
relações foram reestabelecidas com a igreja, sendo realizada uma missa para as marujas na
noite de natal, mas as atividades da Festa da Marujada continuam a ocorrer de forma
independente da igreja. Hoje a festa acontece envolvendo toda comunidade, sendo umas das
principais datas comemorativas da cidade. A festa dura dez dias durante a segunda quinzena
de dezembro, os responsáveis por organizar a festa são um casal de juízes, eleitos a cada ano,
no último dia de festa, por voto público em eleição realizada ali mesmo no Barracão.
Esclareça-se aqui que a história contada sobre o princípio da Marujada de
Quatipuru carece de um aprofundamento maior para sua confirmação de fato, motivos que
podem influenciar estudos futuros, mas é a narrativa comum entre os praticantes da mesma e
moradores da cidade.
A Marujada de São Benedito consiste em um ciclo ritual de danças em louvação à
São Benedito que integra uma complexidade e variedade de elementos estéticos, culturais,
religiosos e sociais que tem basicamente dois momentos: começando com a circulação da
Comitiva de São Benedito, pelos campos, praias e colônias da região, no período de maio a
dezembro rezando ladainhas, visitando casas de promesseiros de São Benedito e fazendo a
chamada “Esmolação” (arrecadação de donativos para a festividade); e a festividade de São
Benedito ou Festa da Marujada, como é popularmente conhecida em Quatipuru, realizada na
segunda quinzena de dezembro, após a chegada da imagem de São Benedito e sua comitiva,
quando se iniciam os festejos, onde as marujas se apresentam no Barracão da Marujada, local
de realização da festa, ensaios e apresentações. O grupo sempre é comandado por uma líder, a
Capitoa, responsável por manter a dança em ordem, havendo também um Capitão que a
acompanha.
A Marujada é constituída quase que exclusivamente por mulheres, cabendo a estas a
sua direção e organização. Os homens são tocadores ou simples acompanhantes.
Não há número limitado de marujas, nem tampouco há papéis a desempenhar. Nem
uma só palavra é articulada, falada ou cantada, como auto ou como argumentação
(...) a nossa marujada é estritamente caracterizada pela dança (...). A organização e
disciplina são exercidas por uma Capitoa e por uma Subcapitoa. (SILVA, 1959 apud
CASCUDO, 1999, p. 562).
As dançarinas usam saia rodada na cor vermelha ou azul dependendo da ocasião,
camisa branca, uma fita da mesma cor da saia transpassando o peito, chapéus por elas
confeccionados, enfeitados com penas de pato na cor branca, fitas coloridas e colares, os
marujos usam roupas e chapéu brancos e uma fita amarrada no braço direito da mesma cor
das saias das marujas. Em Quatipuru o ciclo de danças se detém a ordem: Roda, Retumbão,
Chorado, Xote, Mazurca, Valsa, Dança do Peru, Carimbó e Roda. A Roda começa e finaliza o
ritual de danças da Marujada, como forma de comemoração e agradecimento tendo “como
uma de suas características principais o fato de ser dançada somente pelas marujas,
delineando-se a formação de um sistema de matriarcado, que tem na Capitoa a figura central”
(MORAES; ALIVERTI; SILVA, 2006, p. 60). Em seguida vem o Retumbão, ritmo lento e
cadenciado, onde um par por vez dança no meio do salão com os braços levantados, sempre
um acompanhando o outro em volteios, sem se tocarem. Quem inicia a dança do retumbão são
os Capitães, o próximo interessado em participar da dança, seja homem ou mulher, pede
licença com um gesto palmas para entrar e substituir quem está na dança. O Chorado, um
homem corteja uma mulher para a dança, os dois também são os únicos a dançar no meio do
salão de forma semelhante ao Retumbão. No Xote, todos podem pegar seu par e dançar à
vontade. A Mazurca e a Valsa são semelhantes, ambas são em compasso ternário e todos
podem dançar à vontade no salão, a maior diferença é que a Mazurca tem andamento um
pouco mais acelerado. A Dança do Peru é uma das mais esperadas pelos espectadores,
consiste numa espécie de disputa, dançada ao ritmo de Carimbó, na qual vence quem
conseguir cobrir a cabeça do adversário e levá-lo (a) até a frente do grupo de músicos, a perua
tenta cobrir o peru com a saia e ele tenta cobri-la com a aba de sua camisa aberta como se
fossem suas asas. No momento do Carimbó o conjunto toca algumas músicas do gênero para
todos se divertirem. Ao final, as marujas novamente dançam a Rodaencerrando o ciclo de
apresentações daquele dia. Estre repertório, em Quatipuru, pode sofrer algumas alterações
com adição ou ausência de alguns ritmos. Na Marujada de Bragança são dançados: “Roda,
Retumbão, Chorado, nas quais se sente o ritmo do batuque negro; e Mazurca, Xote, Valsa e
Contradança, caracterizadas como danças de salão européias. (...). Após essa sequência
podem aparecer outros gêneros musicais, como a valsa, o arrasta-pé ou o baião” (MORAES;
ALIVERTI; SILVA, 2006, p. 80).
Existem algumas diferenças que são notadas entre a Marujada de Bragança e a
Marujada de Quatipuru. Começa com a Esmolação, que em Bragança saem três comitivas: a
do São Benedito praieiro, do São Benedito dos Campos e do São Benedito das Colônias,
enquanto que em Quatipuru há apenas uma comitiva. Em Quatipuru, percebe-se que a
manifestação tem uma relação bem próxima com a Umbanda, isto fica visível em alguns
marujos ao professarem sua devoção a Verequete – vodum do mar na Umbanda, que na igreja
católica é São Benedito. Em Bragança já se nota forte o vínculo com a Igreja Católica. Isso
fica explicitado no fato de haverem missas e celebrações quase todos os dias do festejo, sendo
o barracão localizado ao lado da igreja. Em Bragança também as marujas dançam de pés
descalços, coisa que não é exigência em Quatipuru. Dentro a programação de Bragança há a
Cavalhada, uma espécie disputa entre dois cavaleiros inspirada na guerra dos Mouros e
Cristãos do período medieval, outro diferencial. O repertório de danças nas duas cidades se
difere em alguns ritmos: em Quatipuru não há a Contradança, como em Bragança não há o
Carimbó, a Valsa e a Dança do Peru.
Há outra diferença notada com evidência entre as duas. Em Quatipuru, durante
todo período que acontece a Festa da Marujada, em dezembro, o Carimbó é o ritmo que
predomina na cidade, estando ele presente tanto no repertório de danças, como no baile
comunitário, a festa que continua todos os dias, após apresentação das marujas, ao som da
aparelhagem contratada para fazer a cobertura de som mecânico do evento, sendo o ritmo
mais tocado por exigência dos juízes da festa e da comunidade em geral. Enquanto que em
Bragança não se nota essa relação entre Carimbó e Marujada.
4. O Carimbó em Quatipuru
O Carimbó em Quatipuru está intrinsecamente relacionado com a Festa da
Marujada de São Benedito, pois é quando há maior efervescência do ritmo na cidade.
Nobarracão, durante os dias da festa as marujas e marujos dançam o ciclo de danças que
compõe o ritual da Marujada: a Roda, Retumbão, Chorado, Mazurca, Xote, Valsa, Dança do
Peru, Carimbó e Roda. O último ritmo tocadono ciclo de danças,antes de dançarem
novamente a Roda para finalizar, é o Carimbó, onde todo o povo presente é convidado a
dançar junto das marujas e marujos no barracão como uma grande confraternização. Sobre o
Carimbó na Marujada de Quatipuru:
O Carimbó é um dos aspectos que caracteriza a Marujada de São Benedito de
Quatipuru. Presente tanto no Ritual de Danças das Marujas e Marujos, quanto no
baile comunitário. A dança da Roda, que abre e fecha a ritualística dançada, e tem
por base o Lundu, ao final acelera transformando-se em Carimbó, chamado aqui de
“Foguinho”; A dança do Peru – grande atração do ritual – é um Carimbó de
conquista-sedução de parceiros no centro da roda, onde a maruja-perua tenta cobrir o
marujo-peru com sua saia, e o marujo-peru à maruja-perua com sua grande asa-
camisa; os parceiros vão se revezando no centro da roda até o momento em que um
dos pares é dominado-coberto. (Mana-Maní – Ponto de Cultura: Danças Circulares
da Amazônia, caderno de anotações, 2010).
Nas apresentações da marujada no barracão são tocados diariamente os vários
ritmos que compõe o repertório das danças, nota-se entre estes ritmos a presença do Carimbó
compondo as danças ritualísticas da marujada, como é o caso da Dança do Peru que é tocado
em ritmo de Carimbó, e o próprio momento dedicado ao Carimbó. Durante os dias em que
acontece a Festa da Marujada o Carimbó predomina na cidade, sendo o ritmo mais tocado
pela aparelhagem que faz a cobertura sonora nos dez dias de festa, depois que acabam as
apresentações das marujas, e também o ritmo mais ouvido pela cidade em bares, casas e
carros pelas ruas.
Porém, houve um momento na história da cidade em que o Carimbó tocado ao
vivo foi mais presente. Quando ainda não havia a participação de aparelhagens de som para
continuar a festa após as danças era o Carimbó que animava as noites até amanhecer, estes
momentos nos remetem a tempos pretéritos. Segundo o que foi relatado nas entrevistas,
antigamente havia uma prática do ritmo tocado ao vivo mais constante através de pessoas que
faziam Carimbó na cidade. Come Barro contou quem foram os seus influentes a conhecer e
tocar na Marujada, nos dando uma amostra de quem eram os mestres que tocavam Carimbó
por lá durante sua juventude:
(...) quando eu me entendi, quem fazia (Carimbó) antes aqui finado era o Caqueiro,
o finado Cabo Osvaldo, como a gente o chamava, o Barricão (...) o pessoal da
Marujada, os antigos. O Pai Mané. Mas o foco mesmo do Carimbó era o finado
Pedro Amorim, ele que era o cara do Carimbó aqui (...) quando chegava à época da
Marujada meu pai gostava de ir pra lá (pro barracão da marujada), eu ia pra lá
também e ficava olhando aquilo ali. Daí quando foi um dia eu tive aquela
inteligência de, por estar lá, pegar um instrumento e bater. E aí quando foi um dia
vieram me pedir pro papai pra eu ir com o São Benedito na comitiva (fazer
esmolação). (BORGES, 2016).
Aqui podemos entender um pouco o processo de início do mestre com a música e
quem foram as pessoas que o influenciaram para o Carimbó e a marujada, reafirmando a
relação íntima do Carimbó com a marujada também através de seus tocadores que faziam
parte do contexto festa, ficando claro os laços entre os dois. A entrevista que nos mostrou um
pouco de quem eram os antigos realizadores do Carimbó em Quatipuru é a que foi realizada
Cirllem Rosário (2016), que é realizador de um festejo que acontece anualmente em
comemoração ao Dia dos Pais e foi secretário municipal de cultura da cidade na gestão entre
os anos de 2009 e 2012:
Olha, existem algumas pessoas que já se foram que nem sempre são lembradas. Por
exemplo, existiu um cara chamado Caqueiro aqui da Barca (bairro da cidade),
existiu um cara também chamado João Fite aqui da Barca. Existe um cara hoje
chamado Meio Homem que ele não toca mais, tá doente, tem uns setenta e poucos
anos, mas também um cara muito envolvido com Carimbó. Outra pessoa que
também era envolvido e inclusive era banjoísta, e o que era mais impressionante era
que ele fazia o banjo dele da tampa de panela de pressão, que era o Zé Adão, não era
brincadeira não. Se tu procurar o Zé Adão, ele tá bem velhinho também. (...) então
são pessoas que apesar da idade deixaram também suas histórias, deixaram também
um legado pro povo porque tu imaginas se não tivesse tido esses caras há tempos
atrás... Talvez eles tenham até influenciado no próprio Come Barro. (ROSÁRIO,
2016).
Muitos dos tocadores de Carimbó em Quatipuru que já partiram para o outro
plano deixaram um legado considerável para manutenção desta cultura no local, e os que
ainda permanecem vivos já se encontram em idade avançada, estando assim impossibilitados
de permanecerem ativos tocando o Carimbó e acompanhando a marujada.
É importante salientar que existem atualmente, além do Mestre Come Barro e do
grupo “Raio de Sol”, pessoas ligadas à prática do Carimbó em Quatipuru. Estas pessoas
também estão ligadas à Marujada de São Benedito e só tocam Carimbó no mês de dezembro,
período da festa, como é o caso de Camar, Ozeas Costa, Pedrão, Mestre Olivar Lisboa, Mestre
Zeca – que inclusive já foi banjista do grupo “Raio de Sol” - e José Balbino, o “Mestrinho”,
estes dois últimos moradores da localidade de Boa Vista, distrito de Quatipuru. Mestrinho é
banjista e cantor responsável por um grupo já surgido recentemente chamado “Aratú” que se
encontra pouco ativo atualmente. Ozeas Costa também já foi banjista do grupo “Raio de Sol”,
para quem compôs um Carimbó em parceria com o Mestre Come Barro.
A grande relação do Mestre com o Carimbó vem principalmente da relação íntima
que ele tem com a Marujada de São Benedito, participando desde criança da Marujada como
tocador de tambor e cantador na comitiva de Esmolação e no grupo musical que acompanha
as danças. O relato de Alberto Cordeiro fala sobre a Marujada e a função do grupo “Raio de
Sol”, nele nos dá uma amostra da relação do Mestre Come Barro com a manifestação:
Esmolação, levantamento dos mastros, marujos, tamboreiros, indumentárias, São
Benedito, capitão, capitoa, juiz, juíza, são, enfim, os vários elementos que enaltecem
a Marujada de Quatipuru e fazem com que o povo local e visitantes percebam a
importância que essa festividade teve para os negros na Ilha do Titica e o valor que
ela continua tendo para aqueles que buscam viver sua devoção a São Benedito,
entregando-se com fervor aos ritos vivenciados nesta celebração. Perante a
grandiosidade desta Festa da Marujada de Quatipuru, faz-se necessário ressaltar a
participação do Grupo “Raio de Sol”, que acompanha com seus toques e cantorias as
celebrações festivas dessa manifestação cultural. (CORDEIRO, 2013).
Nota-se o quanto o Carimbó está ligado às celebrações a São Benedito, realizadas
no mês de dezembro em Quatipuru, ficando clara a relação entre o ritmo e a manifestação
religiosa, formando assim uma identidade cultural diferente das que se tem em outras cidades
onde existem esta expressão popular. Em Quatipuru a Festa da Marujada é por vezes
confundida com o próprio Carimbó, chamada por alguns de a “Festa do Carimbó”, gerando
assim uma forma de relação com ritmo característica do município.
Existe um período praticamente específico de Quatipuru onde o Carimbó é muito
tocado, é muito cantado, é muito dançado, que é o período da Marujada. Durante
outros períodos do ano quase não se fala nisso, mas na Marujada isso
especificamente se toca muito, se fala muito, se dança muito. Então tu imaginas só,
por exemplo, o povo praticamente espera diferentemente de outras grandes festas de
Quatipuru, espera praticamente o ano todo chegar a marujada pra dançar Carimbó.
Então eu vejo o seguinte, eu vejo de uma importância realmente muito grande pro
povo de Quatipuru a chegada da Marujada justamente pra dançar o Carimbó porque
muitas pessoas nem falam “eu vou pra marujada”, eles falam “eu vou pro
Carimbó!”. As pessoas que são quatipuruenses, que estão fora de Quatipuru, em São
Paulo, em Florianópolis, em Parauapebas, em Marabá, elas falam assim, que de
longe eles conseguem ouvir o tambor batendo do Carimbó. Então, esse tambor
evidentemente que ele existe só na mente, né, das pessoas, então a batida desse
tambor atrai eles pra que eles retornem à sua terra, à sua terrinha querida pra visitar
Quatipuru e dançar o Carimbó novamente. (ROSÁRIO, 2016).
Todos nós fazemos parte de um grupo social que tem modos de ser no mundo e é
isso que norteia o modo como encaramos a vida. Os chamamos de Identidade Cultural e é o
que mantém a lógica interna e autonomia simbólica que diferencia um grupo de outro, pois
lhe confere um caráter singular através de seus valores específicos e também universais.
Segundo Hall (2001) essa identidade nasce e se constrói a partir da interação do eu e a
sociedade, ou seja, interativamente a partir das mudanças que o contexto infere no sujeito e
vice-versa. A música, assim como outras práticas culturais, tem uma função de contribuição
para a estabilidade da identidade cultural de um povo, onde, se a música permite expressão
emocional, dá prazer estético, diverte, comunica, provoca reação física e reforça a
conformidade com as normas sociais, através de “um processo de significado social, capaz de
gerar estruturas que vão além de seus aspectos meramente sonoros, embora estes também
tenham um papel importante na sua constituição” (CHADA, 2007, p. 139), ela contribui para
a estabilidade e continuidade da cultura, como veículo de transmissão da história, mitos e
lendas que envolvem a garantia desta continuidade. Em Quatipuru, a Festa da Marujada - e
consequentemente dentro dela o Carimbó - realiza também esta função de afirmação de
identidade de um povo que, através de suas características próprias de fazer e se relacionar
com o Carimbó, cria elementos que podem, por exemplo, atribuir características próprias ao
Carimbó feito em Quatipuru.
Um ponto importante a se ressaltar sobre o Carimbó de Quatipuru é a forma como
se toca. A composição instrumental comumente utilizada para tocar é: dois curimbós (um
mais grave e outro mais agudo), maracas, pandeiro, triangulo, banjo, rabeca, saxofone ou
clarinete e vozes. Porém uma diferença é notada na maneira de tocar, diferente de grupos de
Carimbó de outras regiões do Estado que tocam os curimbós: o mais grave marcando os
tempos fortes e o mais agudo marcando os contratempos, os curimbós em Quatipuru são
tocados de forma igual, fazendo os dois o mesmo ritmo.
5. Mestre Come Barro e o grupo “Raio de Sol”
Mestre Come Barro - título que passou a referendar Raimundo Rodrigues Borges -
personagem importante da cena cultural local e um conhecido ‘agitador cultural’ do
município, atuando em vários segmentos de manifestações culturais como a Marujada,
Cordões de Bichos, Boi-bumbá, e Carimbó. É tocador de tambor, cantor e compositor de
dezenas de letras para cada segmento citado e também escritor de cordel. Ele diz que este
apelido de “come barro” lhe foi dado devido a um vício que tinha em sua infância, então seus
amigos, a mando de sua mãe, o apelidaram assim, ficando dessa forma conhecido por todos,
durante toda sua vida. É um autêntico artista de cultura popular reconhecido por onde anda na
região. Ele é envolvido com a Marujada de Quatipuru desde nove anos de idade, segundo ele,
quando iniciou tocando tambor. Desde então sempre participou de atividades relacionadas à
Marujada e outras atividades culturais.
Fonte: acervo pessoal de João Sérgio Fontes do Nascimento
Figura 1. Cruzado, Zé Adão, Caqueiro, Come Barro, Mané Raimundo, Carlos Negrão, Mané Mulata, Raimundo Fernandes e João Fite
Aos dezesseis anos formou com outros amigos de Quatipuru seu primeiro grupo
de Carimbó chamado “Os Caçulas” que durou cerca de dois anos. Durante esse tempo o grupo
animou festejos na cidade e cidades vizinhas onde o chamavam para se apresentar. É fundador
e membro-eixo do conjunto de Carimbó “Raio de Sol” um dos mais atuantes da região, com o
qual já realizou diversas apresentações pelo Estado do Pará e outros estados do Brasil.
Para explicar o surgimento do “Raio de Sol”, no entanto, é necessário entender o
contexto no qual o mesmo surgiu. No ano de 2001 por conta de indiferenças políticas com
outros membros organizadores da Festa da Marujada o Mestre foi afastado da marujada de
Quatipuru sendo proibido de acompanhar a marujada da cidade neste ano. Por esta situação e
como diz ele próprio que “jogador bom não fica sem time”, logo após seu afastamento ele foi
convidado para acompanhar a marujada de Boa Vista, distrito de Quatipuru. No ano seguinte
recebeu convite para acompanhar a marujada da cidade de São João de Pirabas, que naquele
ano estava sem músicos. Naquela oportunidade, levou os músicos que já o acompanhavam.
Até então não existia o Grupo “Raio de Sol”, pois ainda não tinha havido a necessidade de dar
nome ao conjunto, que já tocava junto. Chegaram ao local e prepararam sua apresentação,
quando foi lhes perguntado o nome do conjunto, não havendo um previamente pensado, foi
dado o nome “Cana Pura” em uma brincadeira devido aos gostos pessoais dos músicos do
conjunto pela “água que passarinho não bebe”, porém algumas dançarinas da Marujada que
acompanham o grupo ficaram descontentes com este nome, achando-o inadequado para
apresentações em público, foi quando a esposa do Mestre Come Barro sugeriu que fosse dado
o nome “Raio de Sol”, todos os membros acharam o nome bonito e concordaram, e assim
surgiu o Grupo “Raio de Sol” desta forma batizado. Tempos depois foram resolvidas as
diferenças entre os membros organizadores da Festa da Marujada em Quatipuru e o formado
grupo “Raio de Sol” passou a acompanhar as atividades e cortejos na cidade. Deste então o
“Raio de Sol” é o grupo que acompanha o mestre em suas apresentações, formado por seus
filhos, netos, vizinhos, amigos e pessoas envolvidas com a Marujada de Quatipuru.
A organologia utilizada pelo “Raio de Sol” é a tradicionalmente utilizada por
muitos grupos de Carimbó, conhecida como “pau e corda”, formada por: dois curimbós,
banjo, maracas, afoxé, triangulo, pandeiro, saxofone ou clarinete, rabeca (esta quando há
disponibilidade de músico) e vozes. A maneira de tocar segue a forma como se toca o
Carimbó em Quatipuru, com os dois curimbós reproduzindo o mesmo ritmo igualmente. A
formação do grupo pode variar de acordo com a disponibilidade de músicos, sendo o Come
Barro o único membro fixo no “Raio de Sol” e o organizador de tudo concernente ao grupo.
O grupo “Raio de Sol e o Mestre Come Barro são reconhecidos por quase todos
os moradores na cidade, que o têm como uma referência de Carimbó no município. Se for
perguntado para um morador de Quatipuru quem é Mestre Come Barro, certamente este
saberá dizer onde mora, quem é e o que faz. O Mestre é figura de liderança da expressão do
Carimbó em Quatipuru e uma das poucas figuras a se dedicar a esta prática atualmente.
Porém, quanto aos registros das atividades realizadas pelo Mestre ainda se vê uma lacuna,
existem poucos documentos que afirmam sobre suas atividades. Já foram desenvolvidos
trabalhos sobre o Carimbó por diversos pesquisadores, porém sobre a prática do Carimbó em
Quatipuru não existem muitos registros. Há um trabalho de conclusão de curso realizado e
defendido sobre a atuação de Mestre Come Barro e seu Grupo “Raio de Sol” na Marujada de
São Benedito em Quatipuru, contudo ainda é pouco para a dimensão da importância deste
personagem para a cultura local. Vê-se aqui uma oportunidade de registrar a atuação do
mestre enquanto um líder e figura de referência do Carimbó em Quatipuru para que possam
Figura 2 Ensaio do grupo “Raio de Sol” no barracão da Marujada “mestre Verequete”: Yuri e Pedro nos curimbós, Danilo no banjo, Igor no saxofone e voz, Mestre Come Barro nas maracas e voz, Chico no pandeiro e voz, Louro no triangulo e Nazareno no afoxé.
Fonte: acervo pessoal Danilo Rosa dos Remédios
existir registros de suas atividades enquanto agitador cultural, gerando assim também um
documento histórico acerca do patrimônio cultural da cidade. Há, também, de se frisar que o
Mestre já está com uma idade avançada, então, é de grande importância a realização deste
trabalho para que os dados possam ser coletados direto na fonte, e assim deixar um registro
mais fidedigno para as próximas gerações
Sobre a função que tem o grupo “Raio de Sol” no âmbito sócio-cultural, entende-
se que o mestre juntamente com seu grupo, através de suas composições executadas e
perpetuadas na memória do público, conta e documenta traços da história e elementos
culturais locais gerando também uma espécie de patrimônio musical da cidade, deixando um
legado e registro com traços que marcam a identidade local, sendo ele um dos poucos
compositores da cidade, e mais ainda, um dos poucos a contar em suas composições histórias
da cidade. Sobre isso Alberto Cordeiro, professor de artes na cidade, diz:
O Grupo “Raio de Sol” é o responsável pela música que acompanha a Marujada de
Quatipuru, anunciando a festividade de São Benedito e exaltando a vida do povo
quatipuruense e sua cultura, patrimônio artístico musical transmitido oralmente.
Essa prática musical, por um lado, faz esculpir pela memória um repertório
constantemente renovado, que ao mesmo tempo se funde e se particulariza, mas por
outro lado se fragiliza diante da influência progressiva da comunicação de massa,
tornando-se suscetível ao esquecimento, ao preconceito e à dissolução, além de
manter esse conhecimento restrito às comunidades ou aos grupos que o cultivam.
(CORDEIRO, 2013).
Devido aos avanços dos processos de globalização e os meios de comunicação em
massa, a facilidade de acesso a conteúdos diversificados através da internet, cada vez mais
estamos suscetíveis às novidades tecnológicas e informações gerais e efêmeras ou não, onde
através destas as culturas nacionais têm dominado a ‘modernidade’ e as identidades nacionais
tendem a se sobrepor a outras fontes, mais particulares, de identificação cultural” (HALL,
2001, P. 67), realizando nos membros de um grupo social elementos geradores de valores.
Este fator pode ser visto como um risco, à medida que podemos, por meio destes processos,
acabar por nos destituirmos de nossos próprios elementos culturais construídos a partir de
nossos meios de convívio social, de forma orgânica, cotidianamente, em detrimento de outros
que nos são oferecidos pela televisão, rádio, internet ou tecnologias afins. Neste sentido, vê-se
o mestre como uma figura de grande relevância para a manutenção cultural, sendo ele também
uma figura geradora de opinião, fazendo isso através da produção cultural, e uma das únicas
figuras a se dedicar ao Carimbó na cidade atualmente, que mantém tradições recontando sua
história e de seu povo através de sua música, gerando assim valores culturais enraizados na
cidade e também um documento sobre as práticas culturais locais contemporâneas a ele.
As composições feitas por ele refletem diretamente o contexto social e sócio-
cultural do qual ele faz parte. Ele é pescador, agricultor e músico acompanhante da Marujada
de São Benedito em Quatipuru há pelo menos 45 anos. Em suas letras o mestre conta histórias
e estórias, a partir de suas vivências, como da formação da marujada em Quatipuru, histórias
de suas atividades de pescador e as relações político-econômicas que concernem às suas
atividades enquanto pescador, cidadão e mestre da cultura popular, mostrando uma paisagem
e visão de mundo peculiar, que ele sente a necessidade de compartilhar. Para conseguir
entender de com clareza as atividades realizadas pelo mestre é preciso compreender o
contexto social no qual ele está inserido, como diz Salles (1969, p. 267), que uma observação
digna de registro no Carimbó é a que revela uma ambiência total do contexto no qual o
realizador está inserido, por exemplo, o caráter de canto de trabalho, representado pelos
elementos naturais, produtos da flora, da fauna, acidentes geográficos, locativos e etc. A
associação dos textos de Carimbó a um processo comunicacional e de formação cultural
crítica se funda na reflexão que aponta o ambiente de convivência cotidiana e as experiências
relacionais com os lugares de tal processo (Gabbay, 2010, p. 8).
Em uma de suas composições podemos ver com evidência o seu ambiente de
trabalho e o conhecimento que o mestre tem sobre o seu ofício de pescador:
Carimbó: Tempo do camarão
O mangueiro só da fruta no começo do verão,
é sinal de já chegou a safra do camarão. (2x)
O guará, pássaro da praia, maçarico também é,
Colhereira só marisca na reponta da maré. (2x)
Refrão:
É da maré, é da maré,
Colhereira só marisca na reponta da maré.
Ele contou como fez essa música. Certo dia estava vindo em sua canoa quando
viu um “fruto de mangueiro” cair na água - ao que ele chama de fruto de mangueiro são os
propágulos, fruto das árvores do mangue, também populares como “caneta da praia”, que em
determinado período do ano caem para propagar a sua espécie, isso faz parte do processo de
auto manutenção dos manguezais -, sendo este período o começo do verão e sabendo ele que
neste período em que os manguezais “botam” seus frutos é o mesmo em que o camarão é
encontrando em grande quantidade, ele se inspirou a fazer este Carimbó, inserindo também
outros elementos ali presentes como os pássaros que habitam a área e seus horários com as
enchentes e vazantes da maré. Então, esse Carimbó se passa todo ambientado no seu local de
trabalho, mostrando a sua perspectiva, a partir de sua canoa, refletindo o seu conhecimento
acerca de seu ofício e o contexto que vive cotidianamente.
Carimbó: A renda do município
Meu povo eu vou contar a renda que o município tem.
Tem legumes, tem carne, tem banana também.
Tem tucupi e tem farinha, que se vende muito bem.
.
Tem bolo de macaxeira, melancia e ração
Mandioca e milho verde tem cará e tem feijão.
Tem suco de maracujá, para se tomar com pão.
Temos o caranguejo, o sururu e camarão.
Temos a carne de frango, para nossa refeição.
Temos os nossos comércios, que pagam seus impostos também.
Loja e supermercado, paga os direitos que tem.
Todos os impostos são pagos, todo mês é arrecadado.
A renda da agricultura, do marisco e do pescado.
A pimenta no tucupi, para quem tem bom paladar.
Tem também a tapioca, para fazer o tacacá.
Esta composição retrata as várias fontes de renda dos moradores deQuatipuru,
mostrando a economia da cidade, coma as produções de frutas, legumes, os pescados,
derivados da mandioca como farinha, tapioca e tucupi. Ele cita uma das obrigações do
cidadão brasileiro, o compromisso que precisa ser cumprido em relação ao pagamento dos
impostos. Esta música também é importante por fazer um registro das práticas econômicas
vigentes no município, deixando um documento sobre este contexto da cidade, sempre a partir
de sua perspectiva.
Carimbó: Quatipuru terra boa
Quatipuru terra boa, cidade do meu desejo,
onde tem lindas garotas e um gostoso caranguejo. (2x)
Refrão:
Meu amor, meu xodó
Vem pra Quatipuru, pra dançar o Carimbó
Meu amor, meu xodó
Vem pra Quatipuru, venha ver o “Raio de Sol”.
Aqui ele exalta a sua paixão por sua cidade natal, demonstrando todo seu amor
por ela, fazendo um convite para uma visita à cidade para come um caranguejo, um dos
atrativos, pois a cidade é uma das maiores exportadoras de caranguejo da região nordeste do
estado, e a conhecer o Carimbó do “Raio de Sol”.
Carimbó: Glorioso São Benedito
Glorioso São Benedito, padroeiro do lugar
A cidade está em festa com a Marujada a dançar. (2x)
Refrão:
Essa tradição é dos primeiros
O Carimbó paraense
É patrimônio brasileiro (2x).
Neste Carimbó ele demonstra o sentimento de exaltação do povo quatipuruense
durante os dias da festa da marujada, quando toda cidade fica em festa a comemorar a época
de Natal, o reencontro entre amigos e entes queridos, período em que as marujas saem às ruas
da cidade em cortejo louvando a São Benedito e quando o Carimbó é muito ouvido na cidade
também. Em uma síntese, na sua composição, ele demonstra um pouco de como fica a cidade
durante os dias da festa.
Come Barro é um compositor de mão cheia, tendo ele já composto muitas
músicas, dentre vários ritmos como Carimbó, toada de boi e xote. Sempre que o “Raio de
Sol” tem uma apresentação para fazer em alguma outra localidade, ele gosta de compor um
Carimbó especialmente para a situação, em homenagem a lugar onde ocorrerá a apresentação.
Aqui ele mostra o Carimbó que fez na ocasião em que foi se apresentar no arraial do círio de
Boa Vista, distrito de Quatipuru:
Carimbó: Oh virgem mãe amorosa
Oh virgem mãe amorosa, dai a vossa benção
Oh virgem mãe amorosa, senhora da Conceição
Refrão:
Tu és querida, és mãe verdadeira
É a mãe do povo, nossa padroeira (2x)
Nossa Senhora da Conceição é a padroeira da localidade de Boa vista, então ele
fez este Carimbó, demonstrando a santa como mãe de todos para que os moradores do lugar
se sentissem representados na música, agradando-os e os homenageando.
Carimbó: Nossa tradição
Composição: Come Barro e Ozéas Costa
Nossa tradição, que há muito tempo não tinha
Foi na ilha do Titica com Dona Maria Pretinha
Lá na senzala negro já se reunia, com tambor e cantoria, era noite de natal
Refrão:
É de nossa terra, viemos fazer bonito
Vim dançar com a Marujada, do senhor São Benedito
Sinhá Henriqueta, deixa os negros festejar
Começar a nossa cultura no estado do Pará
Mestre Come Barro, canta Carimbó animado
Retumbão, Lundum, Chorado, faz a festa aonde chegar
Ozéas no banjo, o Tinho bate o pandeiro, neste ritmo brasileiro
Refrão:
é de nossa terra, viemos fazer bonito
Vim dançar com a Marujada, do senhor São Benedito
Sinhá Henriqueta, deixa os negros festejar
Começar a nossa cultura no estado do Pará
Neste Carimbó, Mestre Come Barro e Ozeas Costa contam um pouco de como
começou a Marujada em Quatipuru, fazendo alusão ao local onde começou a manifestação e
às pessoas que estiveram envolvidas nesse princípio e falando de pessoas que hoje estão
continuando essa tradição.
O Carimbó já esteve mais presente na cidade em tempos passados onde figuras
locais conhecidas como Caqueiro, Cabo Osvaldo, Barricão e Pai Mané eram pessoas que
também faziam este ritmo na cidade. Um senhor muito lembrado por todos quando se fala em
Carimbó é o Pedro Amorim, que hoje não está mais vivo. Amorim tinha também um grande
envolvimento com a Marujada e com o Carimbó, sendo em sua época um dos maiores
responsáveis e mais respeitados músicos da cidade nesse contexto, inclusive Mestre Come
Barro foi um aprendiz de Pedro Amorim. Atualmente Mestre Come Barro desponta como um
dos poucos expoentes do ritmo em atividade na cidade de Quatipuru e ativista cultural sendo
tambémum representante da Campanha do Carimbó - movimento organizado por mestres e
estudiosos que culminou com o reconhecimento, em 2014, do Carimbó como Patrimônio
Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
IPHAN – na região de Quatipuru e suas cidades vizinhas, responsável por identificar todos os
grupos e atividades relativas ao Carimbó nesta área.
Mestre Come Barro realiza de tempos em tempos, sem períodos certos, mas de
acordo com a necessidade do grupo, no quintal de sua casa, oficinas com o intuito de ensinar a
quem tiver interesse as formas de se fazer Carimbó, como tocar os instrumentos que compõe a
formação do “Raio de Sol”, para assim formar novos adeptos e praticantes da manifestação na
cidade e ele diz que faz isso não só com intuito de formar músicos para o grupo “Raio de
Sol”, mas para formar musicistas, ou pelo menos dar a oportunidade de entrarem na música
através do Carimbó, já tendo ele nesse processo formado vários dos músicos que hoje compõe
o grupo.
Figura 3. Aqui o mestre em uma das oficinas ensinando jovens a tocarem o curimbó.
Fonte: http://maria-pretinha.blogspot.com.br
Um dos frutos do Mestre que temos como exemplo é o jovem Igor Borges, seu
neto, que lhe chama de pai. Cresceu dentro do grupo, vivenciando todas as manifestações que
o avô vivencia, aprendendo a tocar vários instrumentos, sendo um dos cantores, compositores
e saxofonista do grupo.
Sou músico, toco. Canto, toco saxofone... faço Carimbó! (...) desde criança! Eu
comecei tocar com ele (Come Barro) tinha... me meti ainda não sabia, só
acompanhava ele com 9 anos, pô. Eu ajudava bater tambor só ... Fui aprendendo, fui
olhando e fui aprendendo. O que eu toquei primeiro mesmo foi tambor, aí depois eu
passei pra dançar, aí depois fui aprender tocar banjo com o Mestre Zeca. Daí foi por
diante. Depois veio um colega nosso pra cá tocar saxofone foi que eu me interessei
pra tocar. Quando ele saía eu pedi pra mim ficar tocando, aí eu tocava, aí eu ficava
arranhando, né, que eu não sabia. Aí foi, foi, até que um dia eu ganhei um. Fui
ganhar aí foi que eu fui me interessando mais e hoje em dia to tocando já com o meu
pai (BORGES, 2016).
Dessa forma, constata-se a relevância de Mestre Come Barro, como uma figura de
grande importância para a existência da prática de Carimbó em Quatipuru, dando
oportunidade também para que pessoas possam entrar no mundo da música e despertem
interesse por tocar algum instrumento através deste ritmo que representa muito dos paraenses
e contribuindo também para a manutenção desta manifestação na região, tendo consciência
aqui, de que a cidade não é uma cidade que de fato respira Carimbó a plenos pulmões, mas é
importante que se diga que se existe uma prática deste em Quatipuru para além da marujada,
esta é através de Mestre Come Barro e seu grupo “Raio de Sol” que levanta essa bandeira
onde quer que vá.
6. Considerações finais
Com os fatos anteriormente relatados neste trabalho, percebe-se que a atuação de
Mestre Come Barro abrange uma série de trabalhos envolvendo bens culturais na cidade,
alguns não mais em atividade como Boi-bumbá ou Cordões de Bicho. Estes por falta de
interesse de instituições públicas - reclamação esta muito recorrente por parte de quem
trabalha com cultura - ou mesmo por falta de interesse e reconhecimento dos próprios
moradores, e também muitos dos realizadores destas práticas na cidade também já se foram
desta vida, então Mestre Come Barro acabou por abandonar certas práticas musicais. Porém,
não o Carimbó, neste ele está muito atuante realizando apresentações com seu grupo.
Mestre Come Barro, pessoa humilde e sempre solícita que entrega tudo de si à sua
arte e através dela contribui para a continuidade de uma tradição dentro da cidade de
Quatipuru por meio de suas composições e toques de tambor diz muito do que é ser
quatipuruense e busca sempre que tem oportunidade repassar o que sabe para que isto não se
acabe. Nas oficinas que o mestre realiza, sempre busca estratégias para que os participantes
desenvolvam o maior interesse pelos instrumentos que acompanham o Carimbó, com o intuito
de sensibilizar os outros que esta cultura também está neles e que precisa ser entendida como
parte constituinte da formação da identidade das pessoas que ali vivem.
Há algum tempo o Carimbó vem sendo disseminado a nível regional e nacional,
através de uma popularização do ritmo em meios de comunicação de abrangência nacional.
Há um crescente interesse pelo assunto, apesar disso, aqui em seu lugar de origem, ainda há a
falta de políticas públicas e a forma de abordagem do assunto nem sempre traz o Carimbó
como fonte permanente de conhecimento que carrega em si os signos de uma região, mas sim
como algo cristalizado, presente apenas em um passado distante e estigmatizado como música
ingênua. No entanto, o Mestre Come Barro e seu grupo “Raio de Sol” provam que é mais que
isso, ensinando muito através de sua simplicidade, recontando e enraizando cada vez mais a
história e identidade de um povo, cumprindo uma função social que poucos têm coragem de
realizar, sempre tentando sensibilizar os outros, na busca do que é ser paraense, do que é fazer
parte do Carimbó, construindo através de sua música uma identidade que se dissemina e se
particulariza em Quatipuru, dentro de todo contexto já exposto, da Marujada, gerando frutos e
uma relação única de lidar com esta prática musical e cultural que é o Carimbó. Portanto,
creio que esta pesquisa possui relevância, contribuindo também para área da educação
realizando um registro historiográfico das atividades culturais da cidade, como também
registrando a atuação de um personagem importante deste contexto cultural.
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