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Metodologia para construção de Protocolos Comunitários Desenvolvimento Local Sustentável

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Metodologia para construção

de Protocolos Comunitários

Esta cartilha está focada em descrever a metodologia da segunda etapa, ou seja, uma proposta de modelo inovador de um plano de Desenvolvimento Local Sustentável,

e tendo como caso ilustrativo o Protocolo Comunitário do Bailique. A metodologia é composta de duas etapas: a primeira é focada na organização das cadeias produtivas

da sociobiodiversidade da região e a segunda é o fortalecimento da organização comunitária, promovendo, desse modo, o empoderamento local. No entanto, trata-se

apenas de um guia para ser adaptado e aplicado para outros PCTs (Povos e Comunidades Tradicionais), de acordo com suas próprias realidades.

Para um melhor entendimento desse processo, até para que ele ganhe um caráter sólido de continuação, recomenda-se a leitura da cartilha anterior,

“Metodologia de construção para Protocolos Comunitários”, disponível no link http://goo.gl/qdaqCx

Desenvolvimento Local Sustentável

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Gomes, José Rubens Pereira / Ramos, Roberta Peixoto / Chaubet, Mariana Bouza Cabarcos. Metodologia para Construção de Protocolos Comunitários: Desenvolvimento Local Sustentável. OELA – Oficina Escola de Lutheria da Amazônia / Rede GTA – Grupo de Trabalho Amazônico. Manaus, 2016.

52 p. il.

ISBN 978-85-92726-00-3

1. Comunidades; 2. Povos e comunidades tradicionais (PCTs); 3. Desenvolvimento local; 4. Protocolo comunitário; 5. Cadeias produtivas; 6. Amazônia; 7. Bailique; 8. Sustentabilidade. I. Título.

CDU: 334:061.2

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JOSÉ RUBENS PEREIRA GOMESROBERTA PEIXOTO RAMOS

MARIANA BOUZA CABARCOS CHAUBET

Metodologia para construção

de Protocolos ComunitáriosDesenvolvimento Local Sustentável

1A EDIÇÃO

MANAUSOELA2016

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EQUIPE DO PROJETO COORDENADOR GERAL Rubens Gomes COORDENAÇÃO DE CAMPO Jéssica Larissa Freitas da Cruz

Mariana Bouza Cabarcos Chaubet ARTICULADOR LOCAL Geová de Oliveira Alves CONSULTORA Roberta Peixoto Ramos Colaboradores Rosângela Ferreira

Arlindo Cardoso Amiraldo Picanço

DIRETORIA DA REDE GTA

PRESIDENTE Rubens Gomes DIRETORA Joci Aguiar DIRETOR João Batista Uchôa

REDE GTA AMAPÁ COORDENAÇÃO REGIONAL José Saraiva

Henrique Vasconcelos

PARCERIA INSTITUCIONAL PRESIDENTE DA OELA Carlos Cesar Durigan COORDENADORA DE PROJETOS Katiussia Souza ANALISTA FINANCEIRO Modesta Carvalho ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO Geise Melo

PARCEIRO LOCALAssociação das Comunidades Tradicionais do Bailique - ACTB

GRUPO DE APOIO COMUNITÁRIO

Comunidade Arraiol Dimauro Lopes, Daiana Lopes COMUNIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA Pedro Mira, Raimundo Cordeiro Comunidade Igarapé do Meio Elivany Rocha, Nilson Ferreira, Diogo Barbosa Comunidade do Buritizal Eliane Barbosa Comunidade Franquinho Valdirene Mota Comunidade Jaburu Grande Saara Chaves Comunidade Macedonia Jussara Teixeira, Lidia Barbosa, Adriana Santana,

Guimar Sarges COMUNIDADE NOSSA SENHORA APARECIDA Erasmo Rocha Comunidade Ponta da Esperança Elizete Pantoja COMUNIDADE PONTA DO CURUÁ Arlan Costa, Audilon dos Santos, Paulo Serrão,

Manoel Cledison COMUNIDADE VILA PROGRESSO Bismarck Santos, Neize Ferreira COMUNIDADE SÃO PEDRO DO BAILIQUE Alcindo Bajo Farias, Uellington Farias

AGRADECIMENTOS Ana Euler, Ana Maria Pereira, Antônio Luiz, Carlos Potiara, Flávia Scabin, Guilherme Alexandre Wiedman,

Igor Monteiro, João Bosco, João Matos, Jorge Alberto Vieira Costa, Luiz Carlos Joels, Patricia Calligioni de Mendonça, Paulo Santos, Thiago Cunha, Tiago Martins, Toninho Jahvali, Warwick Manfrinato

PUBLICAÇÃO PROJETO GRÁFICO Desformatados DESIGN Luciana Sugino REVISÃO Wanessa Dias

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ÍNDICE1 INTRODUÇÃO 6

2 PENSANDO NO TERRITÓRIO COMO UM TODO:DIAGNÓSTICOS DA REGIÃO

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3 DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES 16

4 FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL COMUNITÁRIO

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5 ANEXOS 42

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PREFÁCIO0

E ssa segunda cartilha da “Metodologia para Construção de Pro-tocolos Comunitários” pretende fazer provocações às lideran-ças, assim como sugerir caminhos para que saibam percorrer

os corredores dos poderes em busca do que lhes é de direito. Existem muitas políticas públicas engavetadas, exatamente pela

inoperância do estado para implantá-las. Os Governos, na maioria das vezes, não têm interesse para retirá-las das gavetas. Esta lacuna provo-cada pela omissão da execução de políticas públicas tem mantido mui-tas ONGs. Porém, para a maioria dos PCTs que não tem as informações necessárias, o acesso a essas políticas se torna um grande desafio.

JUSTIÇA SOCIAL As condições para o acesso aos benefícios e às políticas públicas por PCTs (Povos e Comunidades Tradicionais) em assentamentos diferen-ciados dependem, na grande maioria das vezes, exclusivamente dos go-vernos em cumprirem os seus papéis, assumindo a responsabilidade de fazerem os seus deveres de casa.

Para que os PCTs possam acessar essas políticas e consequente-mente os benefícios dos quais eles têm direitos, o gestor do assenta-mento deve criar o PDA (Plano de Desenvolvimento do Assentamento). Sem o PDA do assentamento o governo não “pode” emitir a DAP (Decla-ração de Aptidão ao PRONAF). Sem a DAP o produtor não estará habili-tado para acessar a nenhum benefício, nem mesmo as políticas públicas.

Como garantir Justiça Social quando o próprio governo não cumpre com suas responsabilidades, o que acaba colocando na obscuridade um nú-mero imenso de famílias de produtores familiares, extrativistas e ribeirinhos?

A Política de Garantia de Preços Mínimos é direito de acesso de todos os produtores que trabalham com os produtos contemplados na cesta do governo. No caso do Bailique, os produtores trabalham com açaí. O mercado paga, em média, R$ 0,25 a R$ 0,45 para cada quilo do açaí, enquanto que o preço mínimo do açaí pago pelo governo é de R$

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1,18 (Conab 2016). Para o produtor receber essa diferença é necessário a apresentação das notas fiscais de venda e da DAP.

MODELO DE DESENVOLVIMENTO Por que essa escolha dos gestores públicos de estimularem sempre a manutenção desses modelos produtivos dos séculos passados? Qual o verdadeiro sentido de se perpetuar esse modelo, que são extremamente perversos para uma grande massa populacional que habita as florestas e as águas, que são os Povos e Comunidades Tradicionais?

Os PCTs são grupos sociais que lidam, protegem e mantêm saberes ancestrais, sabem tratar a biodiversidade de uma forma muito sofisti-cada promovendo a conservação, principalmente nas localidades onde se tem bem-estar e qualidade de vida. Eles produzem suas moradias, seus meios de transporte, alimentos, remédios e cosméticos, inclusive os seus perfumes. Sabem assim extrair o que de melhor a natureza lhes oferece, sem degradá-la.

Sempre me pergunto: por que o sistema básico de educação ainda não se deu conta deste maravilhoso filão? Como desenvolver um Mo-delo de Produção de Base Sustentável para os povos das florestas e das águas sem um robusto Sistema Educacional adequado a essa realidade?

Este material não busca dar respostas a esses questionamentos, mas sugere elementos para reflexão para as lideranças comunitárias, de mo-vimentos sociais, ambientais e socioambientais.

Rubens GomesPresidente da Rede GTA e Diretor Executivo da OELA

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INTRODUÇÃO1

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INTRODUÇÃO1

A metodologia de construção de Protocolos Comunitários, de-senvolvida pela Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (OELA), é composta

de duas etapas principais: a primeira é o momento de construção do documento Protocolo Comunitário e a segunda é focada na constru-ção de um plano de Desenvolvimento Sustentável Local e no fortale-cimento institucional comunitário. Vale dizer que essa segunda etapa do processo é essencial para que seja colocado em prática o Protocolo Comunitário desenvolvido.

Especificamente, essa metodologia descrita tem os seguintes objetivos:

1. fortalecimento institucional da organização comunitária

2. plano de desenvolvimento sustentável local

3. organização das cadeias produtivas locais – identificadas no diagnóstico produtivo

4. desenvolvimento tecnológico e inovação

5. identificação de novos produtos, parceiros e mercados

6. prospecção e acesso às políticas públicas estruturantes

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Esta cartilha está focada em descrever a metodologia da segunda etapa, ou seja, uma proposta de modelo inovador de um plano de De-senvolvimento Local Sustentável, e tendo como caso ilustrativo o Pro-tocolo Comunitário do Bailique. No entanto, trata-se apenas de um guia para ser adaptado e aplicado para outros PCTs (Povos e Comunidades Tradicionais), de acordo com suas próprias realidades. Para um melhor entendimento desse processo, até para que ele ganhe um caráter sólido de continuação, recomenda-se a leitura da cartilha anterior, “Metodo-logia de construção para Protocolos Comunitários”. Esta se encontra disponível no link http://goo.gl/Xjvfk5.

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PENSANDO NO TERRITÓRIO COMO UM TODO:DIAGNÓSTICOS DA REGIÃO2

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PENSANDO NO TERRITÓRIO COMO UM TODO: DIAGNÓSTICOS DA REGIÃO2

A segunda etapa da “Metodologia para Construção de Protocolos Comunitários” tem dois pilares principais. O primeiro é focado na organização das cadeias produtivas da sociobiodiversidade

da região e o segundo é o fortalecimento da organização comunitária, promovendo, desse modo, o empoderamento local.

Para o possível desenvolvimento desses pilares, é necessário ter uma visão geral do território com suas oportunidades e desafios. Um dos objetivos do protocolo comunitário é fortalecer a gestão dos re-cursos naturais e do território, possibilitando deste modo que a comu-nidade possa se desenvolver de forma sustentável. Nesse sentido, os diagnósticos produtivos e fundiários devem ser desenvolvidos, para que assim possa se ter uma visão mais completa da região.

Diagnóstico ProdutivoO Diagnóstico Produtivo tem o objetivo de oferecer às comunidades envolvidas com o Protocolo Comunitário os resultados claros da pro-dução familiar: o que se produz, como se produz, onde está o mercado, quem são os compradores, preço praticado, avaliar qualidade e quanti-dade dos produtos, identificar os gargalos de escoamento da produção, identificar onde estão as carências de assistência técnica, fomento e de crédito, assim como prospectar novos produtos, parceiros, mercado e políticas públicas estruturantes.

Com o resultado do Diagnóstico Produtivo, é possível construir uma agenda positiva para melhorar, aprimorar e implantar as boas práticas de produção, de formação profissional, de manejos adequados para o desenvolvimento de tecnologias e inovações dos novos produtos da so-ciobiodiversidade.

No caso do Diagnóstico Produtivo do Bailique, foram identificados o açaí e o peixe como potenciais econômicos na região e a melancia e o maxixe como produtos principais da entressafra. A importância dos óleos, como o de andiroba, também foram identificados. Esse diagnós-

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tico também pode contribuir com a organização do Grupo de Trabalho de Conhecimentos Tradicionais (GTCT), composto por membros das comunidades, como parteiras, benzedeiras, erveiras, raizeiras, puxado-res, entre outros, através da identificação de plantas, óleos e remédios caseiros (voltados para o tratamento de doenças locais) que entram na pesquisa como um potencial econômico.

A metodologia usada para a elaboração desse diagnóstico contou com a aplicação de um questionário semiestruturado (Anexo 1) nas uni-dades familiares pertencentes a 31 comunidades e 2 localidades, no caso do Bailique. Devido à logística de campo nesse trabalho, fez-se a opção de não serem consultadas as comunidades da Vila Progresso, Macedônia e Itamatatuba devido aos seus tamanhos e a realidade local delas ser mais parecida com a de uma pequena cidade, com serviços e infraestruturas que as diferiam das outras comunidades.

O trabalho foi realizado com a ajuda da equipe de apoio comunitá-rio, composta por 10 jovens das comunidades participantes do projeto Protocolo Comunitário do Bailique, junto à equipe de campo do Projeto. Esta passou em todas as unidades familiares das comunidades, e para facilitar a análise dos dados as unidades de produção de determinados produtos foram convertidas para as unidades mais usadas na região pelos produtores locais.

Diagnóstico FundiárioRecomenda-se que a questão fundiária seja analisada, mesmo que não se tenha um conflito fundiário claro e estabelecido. É indispensável que os povos e comunidades tradicionais tenham segurança do seu ter-ritório para manter seu modo de vida (sustentável) e que venham a garantir o acesso aos recursos naturais, assim como o direito a acessar os benefícios das políticas públicas referentes a eles.

No caso específico do Bailique, o diagnóstico fundiário foi resultado de uma demanda do Protocolo Comunitário do Bailique, que foi iden-

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tificada ao longo da primeira etapa do projeto, referente ao fato de que as comunidades não tinham a segurança fundiária necessária para ga-rantirem seu modo de sobrevivência tradicional. Deste modo, a equipe de campo do projeto juntamente com a equipe de apoio comunitário, passaram em todas as comunidades pertencentes ao Protocolo Comu-nitário levando os questionários para tentarem identificar os desafios da questão fundiária na região e quais são os problemas que precisam ser resolvidos.

Para o Diagnóstico da Questão Fundiária foram elaborados dois questionários semiestruturados (Anexos 2 e 3), que foram aplicados nas unidades familiares de todas as comunidades envolvidas no Proto-colo Comunitário.

A primeira consulta foi realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2015, em 33 das 36 comunidades que compõem o Protocolo Co-munitário do Bailique. Essa consulta foi uma demanda de uma reunião ocorrida no dia 19 de setembro de 2014, na Procuradoria da República, em Macapá, com mediação do Procurador Federal Dr. Thiago Cunha do Ministério Público Federal (MPF). Foram convidados a participar o Ins-tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a Superin-tendência do Patrimônio da União (SPU), o Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá (IMAP), a Rede GTA e o Comitê Gestor do Protocolo Comunitário do Bailique. Esta reunião foi uma das primeiras tentativas de serem resolvidas as problemáticas identificadas sobre a questão fundiária do arquipélago.

Foram consultadas 71% das famílias – um total de 652 famílias. Todas elas consultadas sobre o reflexo dos assentamentos atuais no Bailique, visando saber qual o modelo de regularização fundiária que as comunidades gostariam de seguir e qual instituição deveria fazer a gestão dos assentamentos.

A segunda consulta foi realizada devido a uma demanda do MPF e teve como finalidade entender a situação dos assentamentos do Bai-lique. Foi realizada uma reunião no dia 27 de fevereiro de 2015 com a

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PENSANDO NO TERRITÓRIO COMO UM TODO: DIAGNÓSTICOS DA REGIÃO

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presença da Rede GTA, Comitê Gestor do Protocolo Comunitário do Bailique, INCRA, SPU, e o Conselho Comunitário do Bailique. Na oca-sião, o INCRA forneceu a Relação de Beneficiários (RB) e as listas de ca-dastrados dos assentamentos do Bailique. Estes dados correspondem à lista de RB de fevereiro de 2015.

Nessa consulta, foram entrevistadas 1.454 pessoas, em 34 comu-nidades e 2 localidades, no arquipélago do Bailique. As pessoas en-trevistadas fazem parte dos 6 assentamentos criados na região. São eles: Projeto de Assentamento Agroextrativista durável da Ilha do Bri-gue, Projeto de Assentamento Agroextrativista durável da Ilha do Curuá, Projeto de Assentamento Agroextrativista durável da Ilha do Franco, Projeto de Assentamento Agroextrativista durável da Ilha do Marinheiro – criados em 2006 –, e Projeto de Assentamento Agroextrativista da Terra Grande e Projeto de Assentamento Agroextrativista da Ilha do Faustino, criados em 2014. Estes últimos assentamentos, criados em 2014, estavam em fase de cadastro dos beneficiários, portanto, nenhum assentado tinha recebido os créditos da reforma agrária

Posteriormente, ocorreram diversas reuniões da equipe do governo para esclarecimentos e repassasse de informações às famílias das comu-nidades, nos moldes que preconiza o Protocolo Comunitário do Bailique.

Esse diagnóstico foi apresentado ao MPF que, após análise, emitiu a Recomendação número 19/2015 para que os órgãos envolvidos com a questão fundiária trabalhassem em parceria e tentassem resolver a questão do Bailique, o mais rápido possível.

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3 DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

C omo na primeira etapa do projeto, descrita na cartilha anterior, os Encontrões são as reuniões nas quais todos os comunitários dis-cutem assuntos relacionados à construção do seu Protocolo Co-

munitário. Na primeira etapa, foram realizados o Encontrão I e o Encontrão II.Fica de acordo com a necessidade de cada comunidade avaliar o

número de Encontrões a serem organizados nessa segunda etapa. Aqui, serão descritos os Encontrões III, IV, V e VI que aconteceram no Bailique durante o processo do plano de Desenvolvimento Local Sustentável e que foram organizados de acordo com a necessidade local, reforçando o fato que todas as demandas surgiram a partir das colocações das próprias co-munidades. Sendo assim, os Encontrões são considerados momentos em que os comunitários entram em contato com as instituições responsáveis por demandas estabelecidas por eles mesmos.

Esses Encontrões foram muito importantes para que a metodologia se desenvolvesse de forma comunitária na região, porém foram abordados temas específicos para o Bailique. Apesar de muitos PCTs se depararem com dificuldades parecidas, a sugestão dada é que as comunidades ava-liem se os conteúdos desses Encontrões são relevantes para a realidade comunitária delas, para assim estabelecer as demandas. Vale salientar que o número de Encontrões é estabelecido pelas comunidades de acor-do com as suas demandas e desafios identificados ao longo do processo.

Encontrão III Esse Encontrão teve como foco a organização da instituição local, a devo-lutiva dos diagnósticos produtivos e fundiários para a comunidade, e o iní-cio da identificação das necessidades comunitárias e vocações produtivas locais. Para isso, a organização apoiadora do processo e o Comitê Gestor do Protocolo Comunitário (criado no Encontrão I) convidaram os gestores públicos de relevância para as políticas públicas para os Povos e Comuni-dades Tradicionais (PCTs), assim como os potenciais parceiros do projeto, identificados ao longo do processo, para participarem desse Encontrão.

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Esse Encontrão III foi organizado, portanto, da seguinte forma:

DISCUSSÃO E DECISÃO COMUNITÁRIA SOBRE A NECESSIDADE DE MUDANÇA DA ESTRUTURA DO COMITÊ GESTOR DO PROTOCOLO COMUNITÁRIOUma organização no formato de Comitê Gestor tem algumas limita-ções no que diz respeito às suas atividades. Deste modo, foi identificada a necessidade de levar essa discussão às comunidades para que fosse decidido por elas qual seria o melhor formato que o Comitê poderia to-mar. É importante que as comunidades sejam informadas de quais são os possíveis formatos de organizações, suas diferenças, as obrigações e responsabilidades que as acompanham. A ideia é que a comunidade tenha informação suficiente para decidir se mantém o modelo de Comitê já existente ou se avança para um modelo diferente como, por exemplo, uma associação, uma cooperativa, entre outros.

É importante ressaltar que toda essa discussão deve ser feita em for-mato de assembleia, e, portanto, os convidados externos à comunidade (incluindo a organização apoiadora) devem se retirar do ambiente duran-te a discussão e votação para evitar qualquer influência externa.

Dependendo do resultado da votação, recomenda-se que as comuni-dades avaliem a necessidade de se discutir um estatuto inicial da organi-zação formada para assim agilizar o seu fortalecimento. Considerando a dificuldade logística de reunir várias comunidades em um mesmo local, recomenda-se tentar sempre potencializar o momento de reunião, quan-do todas as lideranças estão presentes, para se discutir e definir o máxi-mo de tópicos possíveis.

No caso específico do Bailique, foi convidada uma representante da Clínica de Direitos Humanos e Empresas da Fundação Getúlio Vargas, parceira do projeto, para explicar as diferenças entre as seguintes mo-dalidades de organizações que o Comitê Gestor poderia se transformar: Associação, Cooperativa ou uma Empresa Social.

Através de uma votação informada, os comunitários decidiram pela

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

criação de uma associação que foi denominada de Associação das Co-munidades Tradicionais do Bailique (ACTB) e pela criação de cinco Gru-pos de Trabalho (GT): GT Agroextrativismo e Produção, GT da Questão Fundiária, GT da Juventude, GT Meio Ambiente e GT do Conhecimento Tradicional. Estes Grupos de Trabalho seguiram a lógica das necessida-des identificadas pelas comunidades, as quais saíram fortalecidas pelo resultado do diagnóstico produtivo e fundiário.

Com a ajuda da Clínica de Direitos Humanos e Empresas que esta-va presente na reunião, a recém-formada ACTB decidiu fazer a primeira versão do seu estatuto, que foi posto para a votação no segundo dia do Encontrão e foi aprovada em assembleia.

DEVOLUTIVA DOS DIAGNÓSTICOS PRODUTIVO E FUNDIÁRIOEssa metodologia tem como alicerce a participação comunitária nas ati-vidades do projeto e o compartilhamento de informações. Deste modo, durante o Encontrão III, é sugerido que a equipe do projeto apresente para toda a comunidade o resultado dos diagnósticos produzidos.

Para a apresentação, recomenda-se que sejam confeccionados ban-ners com os resultados principais para que a comunidade possa visua-lizar melhor o diagnóstico (em comunidades tradicionais, evitar uso de Datashow). Além disso, é importante que as lideranças recebam o diag-nóstico impresso para poderem entender melhor o processo e passarem a informação nele contidos aos demais membros da sua comunidade.

No caso do Bailique, por ser uma região de várzea, os banners foram impressos em lona impermeável, o que permitiu que a informação cir-culasse entre as comunidades sem ser danificada. Tanto o diagnóstico produtivo quanto o fundiário, forneceram um espelho da situação real em que o Bailique se encontrava em relação às cadeias produtivas e às con-dições dos assentamentos. Com o levantamento dos gargalos, foi possí-vel identificar diversas políticas públicas que as comunidades deixavam de acessar.

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O diagnóstico produtivo foi a base para que as comunidades do Bailique definissem as cadeias produtivas mais importantes para serem trabalha-das na região e quais eram as instituições presentes no Encontrão que po-deriam auxiliar no desenvolvimento dessas cadeias de forma sustentável.

RODAS DE CONVERSA: TRABALHO EM GRUPO PARA LEVANTAMENTO DE DEMANDAS Essa atividade tem como o objetivo propiciar um diálogo entre os gesto-res públicos convidados e a comunidade. O intuito é que a comunidade possa identificar algumas das suas demandas internas e criar um plano de trabalho com esses gestores.

No caso do Bailique, os grupos de trabalho, criados pela ACTB, foram separados com as instituições que mais poderiam contribuir com cada grupo para a definição das demandas, assim como uma agenda de tra-balho que trouxesse benefício para as comunidades.

Encontrão IVO Encontrão IV foi o momento de organização das demandas estabele-cidas no Encontrão III, considerando que a instituição local e os grupos de trabalho tiveram tempo hábil para organizarem a estrutura de trabalho e definirem alguns procedimentos.

Esse Encontrão tem como objetivo fazer o reconhecimento entre as partes, o planejamento das atividades produtivas e fechar parcerias. O sucesso deste processo depende, em grande parte, da capacidade de ar-ticulação da organização apoiadora em identificar os prováveis parceiros para apresentar às comunidades envolvidas no Protocolo Comunitário, assim como da capacidade de prospecção das políticas públicas para PCTs, identificando as mais adequadas para as comunidades em foco.

Durante o Encontrão IV, cada grupo de trabalho se divide para discutir especificamente as demandas que foram identificadas e associá-las aos potenciais parceiros presentes. Em assembleia, a comunidade decide acei-

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

tar (ou não) as demandas propostas e parcerias de cada grupo de trabalho. Previamente a esse Encontrão é recomendado que as comunidades

façam reuniões preparatórias de planejamento do Encontrão IV com os coordenadores dos GTs, assim como os dirigentes da Associação Co-munitária e parceiros locais para organizar as demandas levantadas no Encontrão III. Assim, em comum acordo com todos, listam os prováveis parceiros a serem convidados para o Encontrão IV. Identificados, por fim, os possíveis parceiros a organização apoiadora faz o convite a eles.

No caso específico do Bailique, cada grupo de trabalho identificou, de acordo com suas demandas, os possíveis parceiros:

, GT CONHECIMENTO TRADICIONALInstituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá (IEPA), Departamento de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente (DPG/MMA), Secretaria de Biodiversidade e Floresta e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

, GT PRODUÇÃO E AGROEXTRATIVISMOEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA/AP), Natu-ra, Secretaria do Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável/MMA, Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (RURAP), Secre-taria de Biodiversidade e Florestas/MMA, Secretaria Municipal de De-senvolvimento Econômico do Amapá (SEMDEC), Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

, GT JUVENTUDEMinistério da Cultura (MinC), Ministério da Educação (MEC), Rede das Associações das Escolas Famílias do Amapá (RAEFAP), Universida-de Federal do Amapá (UNIFAP), Universidade Federal do Pará (UFPA), Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (SECIS) para discussão sobre Centro de Vocação Tecnológica (CVTs) e Secretaria de Juventude do MMA.

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, GT MEIO AMBIENTEEcoturismo, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF), Programa Áreas Protegidas da Ama-zônia (ARPA), Ministério do Turismo, Ministério Público Estadual (MPE).

, GT QUESTÃO FUNDIÁRIASuperintendência do Patrimônio da União (SPU), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Ministério Público Fe-deral (MPF).

Foi definida nessa reunião preparatória que a política pública gerida pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inclusão Social do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os Centros de Vocação Tecnoló-gica (CVT) seriam um dos focos desse Encontrão, pelo potencial que o CVT tem para os diversos grupos de trabalho, já que abordaria questões de educação, tecnologia e produção.

No caso específico do Bailique, a assembleia presente deliberou por uma lista de demandas específicas a cada grupo de trabalho (Anexo 4). Relacionado ao CVT, foram identificados quatro produtos da sociobiodi-versidade da região, os quais deveriam ser o foco dessa atividade: o açaí, o pescado, plantas medicinais e óleos.

O quadro a seguir trata especificamente do desenvolvimento do CVT.

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

Quadro de estudo de caso Desenvolvimento do Centro de Vocação Tecnológico Durante o Encontrão IV, as comunidades discutiram como seria a im-plementação de um CVT no Bailique e quais seriam as áreas-foco que gostariam de desenvolver. Foi desenhado, então, o seguinte plano de trabalho:

1. Açaí , Levantamento das reservas, identificação das espécies e análise das

atividades químicas e nutricionais/funcionais, Manejo/Produção de mudas/instalação de um viveiro por

comunidade (Meliponicultura), Tecnologias de beneficiamento (equipamentos), Plano de negócios

2. Óleos, Levantamento das reservas, identificação das espécies

e análise das atividades químicas e nutricionais/funcionais, Manejo/Produção de mudas/instalação de um viveiro

por comunidade, Tecnologias de beneficiamento (equipamentos), Plano de negócios

3. Peixe, Identificação das espécies mais apropriadas

para o cultivo no Bailique, Técnica de produção (tanque rede/tanque escavado), Produção de ração com insumos locais, Plano de negócios

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4. Ervas/Plantas Medicinais, Levantamento das reservas, identificação das espécies e análise

das propriedades químicas e nutricionais/funcionais com identificação de usos potenciais na indústria

, Manejo/produção de mudas/instalação de um viveiro por comunidade

, Troca de conhecimento/popularização de uso

Atividades Comuns aos temas

A) Instalação de sistema de coleta e purificação de água para o consumo e cultivo

B) Programa de capacitação nos temas necessários a implantação e continuidade do projeto

C) Uso de energia solar para apoio às atividades produtivas

D) Uma publicação colorida por tema com tiragem de 10 mil exemplares

E) Contratação de consultores em áreas-chave do projeto

F) Participação de dois representantes da comunidade em dois eventos nacionais e dois eventos internacionais nos três anos de vigência do projeto

Depois de definida essa estrutura, a assembleia do Encontrão IV empoderou o GTA/OELA para identificar parceiros para a gestão pública do CVT. Neste processo, foram identificados:

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

, Universidade Federal do Rio Grande - FURG (coordenação geral do CVT )

, EMBRAPA/AP, UNIFAP, Instituto Federal do Amapá -IFAP, NATURA, Instituto Mamirauá

A proposta do projeto do CVT engloba a criação de 2 Centros de Voca-ção Tecnológica (CVT) nos extremos Norte e Sul do Brasil, integrando culturas e biodiversidades complementares, levando em conta as dife-renças e semelhanças de um país- continente como o Brasil.

As metas identificadas no projeto são:, Seleção de 100 estudantes nas temáticas das Agrobiodiversidades

propostas, sendo 80 estudantes no CVT-Bailique e 20 alunos no CVT-Sul

, Capacitação de 300 produtores das Comunidades Tradicionais em cursos tecnológicos de curta duração, entre 20 e 80h

, Lançamento da publicação “Farmacopeia Popular do Bailique”, com tiragem de 10.000 cópias para ampla distribuição em todo o Brasil;

, Implantação da Farmácia Viva do Bailique, incluindo viveiro de pro-dução e conservação de mudas de plantas medicinais regionais, hortas comunitárias, herbário comunitário de plantas medicinais regionais, laboratório de produção de fitoterápicos e práticas didá-ticas, Farmácia da Terra ligada à casa das parteiras e um banco de germoplasma para conservação das espécies regionais utilizadas na farmácia da terra

, Levantamento da produção atual e do potencial produtivo do açaí, Disponibilização dos seguintes Mapas: Território Tradicional do

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Bailique (localização das comunidades e suas áreas de uso tradi-cional), Uso do Solo (extrativismo, agricultura, pecuária, zonas ur-banas), Vegetação ou Ecossistemas (floresta de várzea, campos inundados, manguezais)

, Zoneamento das áreas de açaizais nativos e seu status de uso e conservação (extrativismo, manejo, não explorado, degradado)

, Projetar e colocar em operação 2 estruturas flutuantes para liofiliza-ção e demais processamentos do açaí e óleos vegetais, contribuindo para a valorização dos produtos das agrobiodiversidades locais

, Instalar 2 Sistemas Fotovoltaicos Autônomos (SFAs), sendo um na planta de liofilização e o outro na planta de produção de óleos vegetais;

, 80 produtores capacitados em manejo florestal e mapeamento de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM), boas práticas para ex-tração de óleos vegetais e políticas públicas

, 4 Unidades Demonstrativas de Manejo de Produtos Florestais Não- Madeireiros (PFNM) (açaí, andiroba, pracaxi e buriti)

, 4 Unidades Demonstrativas de Manejo de Pau Mulato, 30 produtores capacitados em beneficiamento de plantas medici-

nais e fabricação de produtos naturais, Produção de 4 vídeos sobre o manejo de açaí, andiroba, pracaxi e

pau mulato, Desenvolver 5 novos superalimentos regionais a serem utilizados

em Programas Sociais das regiões abrangidas pelos CVT’s, Adequação das infraestruturas para abrigar os CVT’s, Estudo de viabilidade econômica para inserção dos produtos, Realização de 2 cursos de formação de construtores de banheiros

secos para as áreas de várzea

O orçamento desse projeto está calculado no valor de R$ 7 milhões, desembolsados em duas parcelas a serem negociadas.

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

Colocando em prática as demandas identificadas pela comunidadeÉ fundamental para a sustentabilidade do processo de Desenvolvimen-to Local Sustentável que o aprimoramento das cadeias produtivas e o treinamento das famílias produtoras estejam vinculados à educação técnica (Pedagogia da Alternância), pois isto dará base para a criação de novos Cursos Técnicos. Caso a região não tenha Escolas Famílias ou Casa Familiar Rural, recomenda-se às comunidades buscar alternativas para criação de suas próprias escolas para formação de seus filhos.

Uma vez estabelecidas as demandas e os parceiros no Encontrão IV, inicia-se a fase de se colocar em prática as atividades. Nas áreas definidas, foram organizadas as oficinas listadas a seguir.

OFICINA DE BOAS PRÁTICAS NO MANEJO DOS AÇAIZAISEssa oficina foi organizada e aplicada para os produtores de açaí que atendem ao grandioso mercado da região. O intuito foi o de racionalizar, aumentar a produção e trabalhar a qualidade e segurança do açaí, as-sim como inserir no cotidiano boas práticas socioambientais. No caso do Bailique, também foi introduzida, paralela a essa oficina, a prática da Me-liponicultura próximo aos açaizais, com intuito de aumentar a polinização. Um estudo da Embrapa Amazônia Oriental, publicado em 2014, indica aumento em média de 40% na produção de açaí em áreas polinizadas com meliponicultura. Trata-se de um ganho duplo, já que também futura-mente poderá ser explorado comercialmente o mel e seus subprodutos.

No Bailique, participaram das oficinas cerca de 134 famílias produ-toras e as oficinas de boas práticas no manejo dos açaizais ocorreram no período do verão em nove comunidades locais identificadas pela ACTB. Os cursos foram realizados com o apoio do Barco Escola Mari-mar para as aulas teóricas e as práticas foram nas florestas.

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Em relação à meliponicultura, foram realizados 6 cursos de Intro-dução à Meliponicultura, no período do verão, com mais de 50 colônias já instaladas nas comunidades, ação que está diretamente associada: a maior produção dos açaizais (polinização), a um aumento de renda através da produção e venda de mel e seus derivados (a longo prazo), e a uma necessidade mundial de fortalecer os polinizadores como agen-tes de proteção da biodiversidade.

CONSTRUÇÃO DAS HORTAS COMUNITÁRIAS COM PLANTAS MEDICINAISPara dar início as atividades com as plantas medicinais, foram iniciadas a construção de hortas comunitárias, uma em cada polo (no caso do Bailique, 4 polos). Estas hortas são embriões para iniciar o desenvolvi-mento da Farmácia da Terra, identificação botânica com exsicatas, pu-blicação de farmacopeia, criação de herbário, banco de germoplasma e criação de um Horto de Plantas Medicinais do Bailique.

No caso específico do Bailique, as hortas comunitárias fazem parte do GTCT- Grupo de Conhecimento Tradicional, composto por parteiras, erveiras e outras detentoras/es de conhecimentos sobre plantas medi-cinais. Este grupo já participou de diversas oficinas sobre como secar as plantas, fazer as exsicatas para identificação botânica, produção de cre-mes e pomadas e outros produtos que possam vir a ajudar na conser-vação desses remédios, já utilizados tradicionalmente pela comunidade.

Encontrão V Como já relatado, a questão fundiária se tornou parte essencial da dis-cussão de implementação do protocolo, uma vez que garante o territó-rio tradicional, o acesso a políticas públicas para as comunidades e ao mesmo tempo traz uma segurança de manejo sustentável.

Deste modo, o Encontrão V nasceu de uma necessidade específica do Bailique, que foi o de fortalecer o diálogo com os órgãos fundiários,

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

tentando chegar a um acordo de atividades. É necessário lembrar que, dependendo da realidade da comunidade em questão, esse Encontrão V pode ter um formato e conteúdo bem diferente.

Dentro da realidade do Bailique, o Ministério Público Federal, a As-sociação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB), e a Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) convidaram para esse Encontrão a Superintendência do Patrimônio da União (SPU), a Secretaria de Meio Ambiente do Amapá (SEMA), o Instituto Nacional da Colonização e Re-forma Agrária (INCRA) e o Instituto do Meio Ambiente e de Ordena-mento Territorial do Amapá (IMAP). A estrutura desse Encontrão foi pensada para dar espaço às discussões relacionadas à Recomendação 19/2015, emitida pelo Ministério Público Federal.

O Procurador Federal explicou para a comunidade o conteúdo da Recomendação do MPF e todos os órgãos presentes tiveram a opor-tunidade de se manifestarem, explicando assim, como estavam pla-nejando as atividades em resposta à Recomendação do MPF. Ao final do Encontrão, vários acordos foram feitos entre esses órgãos, o que incluiu: termo de cooperação entre SPU e ACTB – para fazer levanta-mento das famílias, a SEMA concordou em iniciar uma consulta com as comunidades para identificar interesse do Bailique em se tornar uma Unidade de Conservação, o INCRA concordou em dar início ao Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA) e a ACTB apoiará as ati-vidades de campo desses órgãos. Além disso, a SPU entregou, durante esse Encontrão, 126 Termos de Autorização Sustentável (TAUS) o que simbolicamente já foi um primeiro passo na questão fundiária, que está caminhando para uma solução.

Encontrão VIO foco deste Encontrão são as comunidades que tem interesse em desenvolver sua produção, promovendo o diálogo entre os produtores comunitários e as empresas/organizações que são interessadas nos

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produtos da sociobiodiversidade da região. Essa é, então, uma opor-tunidade de prospectar mercado de ambos os lados: comunidades e indústria/empresas.

Deste modo, é de responsabilidade da organização apoiadora, junto à associação gestora do Protocolo Comunitário, identificar e convidar atores externos (indústrias e possíveis parceiros) que são de interes-se da comunidade. É importante lembrar que esse Encontrão tem o intuito de ser uma prospecção de oportunidades e ao mesmo tempo de avaliação de riscos, onde as comunidades tem a chance de pensar estrategicamente com os atores externos presentes em como melhorar a qualidade de seus produtos e assim oferecê-los ao mercado.

A metodologia adotada nesse evento foi a de dar oportunidade para cada organização convidada apresentar seu trabalho e suas necessi-dades, estabelecendo um diálogo com as comunidades. Após isso e por sua vez, estas deveriam se reunir e colocar no papel as áreas que gostariam de desenvolver, identificar os desafios, gargalos e também as oportunidades.

Com essas demandas e interesses identificados, a organização apoiadora pode ajudar as comunidades a prospectar os parceiros ideais para o desenvolvimento de atividades.

No cenário do Bailique, os coordenadores do GT Agroextrativismo e Produção e dirigentes da ACTB perceberam a necessidade de or-ganizarem um Encontrão para discutir os desafios e as oportunidades da produção local. Estavam presentes uma média 300 comunitários, de 40 comunidades do território. Também presentes estavam a Coor-denação das Organizações Indígenas da Amazônia (COIAB), o Fundo Vale, Fundação AVINA, CENTROFLORA, Consultoria PLANT, Fundação CERTI, GREEN Bioetanol Social, NATURA, Fundação Banco do Brasil, EMBRAPA/AP e Projeto Casa Espírita Terra de Ismael.

Após conversa em assembleia com esses convidados, cada comu-nidade sentou com seu representante para identificar as oportunidades e desafios da sua região.

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DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES3

Ao final do trabalho em grupo, foram identificados os interesses nos seguintes projetos:

Projetos Nº de comunidades

MANEJO DE AÇAÍ 28CRIAÇÃO DE PEIXES 15AGRICULTURA 11MELIPONICULTURA 11AGROPECUÁRIA – BUBALINOS 2APICULTURA 2ÓLEO DE ANDIROBA 5PLANTAS MEDICINAIS 5CRIAÇÃO DE CAMARÃO 3CRIAÇÃO DE GALINHA 3CRIAÇÃO DE PORCO 3BENEFICIAMENTO DE POLPAS 2ÓLEO DE PRACAXI 2TURISMO DA POROROCA 2AGROFLORESTA 1CONSTRUÇÃO DE FOSSAS SÉPTICAS 1CULTIVO COMUNITÁRIO DE HORTALIÇAS, ESPÉCIES FRUTÍFERAS E FLORESTAIS DA AMAZÔNIA 1

HORTA COMUNITÁRIA 1EXTRATIVISMO DE UNHA DE GATO (UNCARIA TOMENTOSA) 1

RÁDIO COMUNITÁRIA / INTERNET / COMUNICAÇÃO 1TRATAMENTO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO E PRODUÇÃO – DESSALINIZAÇÃO 1

Foi aprovada, na plenária desse Encontrão, a decisão de eleger a planta Unha de Gato (Uncaria tomentosa) como planta símbolo do protocolo co-munitário. Ela é uma espécie muito utilizada na fitoterapia mundial, mas que praticamente desapareceu do território do Brasil devido à exploração preda-tória. No Bailique, essa espécie ainda é encontrada com certa abundância.

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As comunidades, depois dessa ação adotiva, decidiram iniciar o processo de coleta de sementes, germinação e reflorestamento, com intuito de garantir a conservação para então promoverem o uso sustentável da espécie.

Além disso, houve a identificação de outras demandas específicas rela-cionadas à questão produtiva.

Demandas por formação profissionaL

Nº de comunidades

CAPTAÇÃO DE RECURSOS 11CAPACITAÇÃO PARA BENEFICIAMENTO(POLPAS, PEIXE, ÓLEO E ANDIROBA) 10

ASSISTÊNCIA TÉCNICA (DIVERSAS ÁREAS COMO MANEJO, AGRICULTURA, APICULTURA, ETC)

9

PLANO E NEGÓCIOS 4CERTIFICAÇÃO 2CAPACITAÇÃO PARA VENDAS 2GESTÃO DE RECURSOS 2

Durante esse Encontrão foi sugerido que dois grupos específicos se juntassem para discutir suas atividades: o grupo dos produtores do açaí e o grupo de conhecimentos tradicionais, já que ambos têm questões urgentes a serem resolvidas. Como explicado anteriormente, esses dois grupos serão o foco inicial do CVT.

O Grupo dos produtores do açaí discutiu o problema do transporte para escoamento do açaí para Macapá, o que gera perda de qualidade e por consequência preço baixo. O grupo levantou vários questiona-mentos em relação a preço do frete, venda em Macapá e participação da ACTB, o que levou a necessidade de fazer um estudo para entender e melhorar o processo de escoamento desse produto. Já o Grupo de Conhecimento Tradicional se organizou para a coleta da semente da unha de gato (Uncaria tomentosa) para dar início ao seu estudo e a conservação. Além disso, o grupo discutiu também as próximas ativi-dades relacionadas à construção da sua horta medicinal.

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4

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FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL COMUNITÁRIO4

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FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL COMUNITÁRIO4

O outro pilar que forma a base do segundo ano do projeto é o fortalecimento institucional que vai refletir em um maior em-poderamento das comunidades e maior sentimento de legiti-

midade e pertencimento delas ao projeto. No caso específico do Bailique, para o fortalecimento da ACTB, foi

criado no segundo semestre de 2015, o programa de apoio educacional para universitários e estudantes das Escolas Famílias (EFA), com o intuito de engajá-los na implementação do Protocolo Comunitário do Bailique. Consideramos esta a melhor estratégia do Protocolo, uma vez que garan-te que estes jovens continuem estudando, possibilitando sua permanên-cia e inclusão no ensino superior para que eles venham a ser protagonis-tas no desenvolvimento local sustentável e na defesa de seus territórios, contribuindo assim para a justiça social e ambiental do Bailique.

Considerando a falta de experiência em gestão das lideranças da ACTB, o projeto deu início às capacitações para essas lideranças. A pri-meira aconteceu no mês de dezembro de 2015 em uma oficina de ca-pacitação financeira administrada no Bailique. Participaram 9 comuni-tários, entre eles estavam representantes da ACTB, líderes comunitários e membros do GT da Juventude.

No quadro a seguir, temos mais detalhados os temas abordados nessa oficina:

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Quadro �Oficina FinanceiraAssuntos abordados

1. Criação de uma Organização2. Assembleia de fundação3. Estatuto Social4. Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas5. Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ6. Alvará de Localização e Funcionamento7. Inscrições nos órgãos federais: INSS, CEF

Controle Financeiro e Contábil para Organizações da Sociedade Civil

1. Abertura de Conta-Corrente bancária específica para cada projeto2. Fundo Fixo de Caixa para pequenos gastos3. Fluxo de Caixa Mensal4. Controle de gastos com viagens5. Controle das contas a pagar6. Conciliação mensal dos saldos das contas bancárias7. Escrituração Contábil8. Relatórios financeiros dos projetos

Como manter a Organização legalizada1. Atualização na Receita Federal2. Alteração no Estatuto

Organização Administrativa1. Planejamento2. Organização3. Coordenação ou Direção4. Controle/Assuntos abordados

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FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL COMUNITÁRIO4

É importante avaliar as deficiências de gestão encontradas em cada comunidade, e assim definir oficinas de capacitação para suprir as ne-cessidades locais e deixar a instituição comunitária fortalecida como, por exemplo, através de oficinas de capacitação administrativa, na área de comunicação e de negócios.

Dentro desse cenário, algumas atividades específicas foram pensadas para garantir esse processo.

Metodologia das oficinas desenvolvidas no ano IIO primeiro ano do projeto foi caracterizado pela necessidade de facilitar a participação das comunidades envolvidas, uma vez que ainda não havia o sentimento de ‘pertencimento’ e ‘legitimidade’ do projeto e, portanto, foi necessário criar métodos para viabilizar a aproximação das comunidades com o projeto de Protocolo Comunitário. Deste modo, algumas ações fo-ram pensadas com este propósito, durante as oficinas – ao longo desse primeiro ano:

, Distribuição de combustível para os representantes comunitários para apoiar uma das viagens (ida ou volta) entre a comunidade e local da oficina

, Pagamento de uma ajuda de custo para as pessoas envolvidas no pre-paro das refeições, limpeza do centro comunitário e apoio durante as oficinas

, Fornecimento de alimentos nas oficinas

Diferente dessa primeira fase, no ano II existe a necessidade de mu-dar essa proposta de trabalho, uma vez que as comunidades já têm seu Protocolo Comunitário estabelecido, e deste modo, as atividades passam a ser também atividades de implementação do seu Protocolo. É preciso repassar o máximo possível de responsabilidade para as comunidades,

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com a intenção de propiciar o desenvolvimento da autonomia, indepen-dência e empoderamento local. A organização apoiadora do processo passa a ser, então, uma parceira da organização local e inicia um processo de repasse da reponsabilidade de execução das atividades diretamente para as comunidades.

Para reforçar os princípios do engajamento e do pertencimento, a organização parceira, animadora do processo, precisa reestruturar estas formas de relação. O objetivo principal é que as comunidades assumam compromissos mais contundentes dentro do processo. Recomenda-se que a organização parceira negocie com as comunidades para que elas assumam a responsabilidade como o preparo das refeições para os eventos (oficinas, cursos), limpeza do local, apoio na logística, etc. Além disso, deve-se reduzir a oferta de combustível para as comunidades, re-afirmando que o projeto pertence a elas, e como tal, devem assumir esta responsabilidade da mobilidade, assim como a divulgação do processo de fortalecimento.

Por outro lado, cabe à organização parceira o encargo de reforçar sua estratégia na prospecção de oportunidades externas, seja em políticas públicas, seja com parceiros privados, assim como a oferta de assistência técnica, transferência de conhecimento, tecnologia e inovações. A organi-zação parceira também tem a responsabilidade de viabilizar o acesso ao que não se tem nas comunidades.

É fundamental que a organização parceira repasse, aos poucos, as responsabilidades das atividades, ações e estimule as comunidades a planejarem seus próximos passos, para que elas não se sintam desam-paradas. Isso deve ser feito, especialmente, com a associação comunitá-ria criada no processo de construção do protocolo, no caso do Bailique a ACTB. É necessário que a associação comece a se empoderar do proces-so de organização e logística das oficinas, cursos e Encontrões do ano II. Vale observar que estas mudanças de relações e de atitude, inicialmen-te podem sofrer resistência junto às comunidades, porém, é importante salientar que esse processo de empoderamento gera independência e

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FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL COMUNITÁRIO4

autonomia para elas mesmas serem protagonistas do desenvolvimento local sustentável e trabalharem na organização das cadeias produtivas.

Neste cenário de mudanças de responsabilidades, a organização par-ceira inicia um processo de repassar para a Associação comunitária os equipamentos adquiridos no projeto, apesar de que esse repasse só será legalmente efetivado ao final do projeto. No entanto, é importante que simbolicamente ocorra esse repasse para que seja aumentado o senti-mento de pertencimento dos envolvidos. Além disso, é relevante que as comunidades iniciem pequenas ações para manutenção e cuidado dos equipamentos e estruturas que pertencem ao projeto, como por exemplo, mutirão para roçar a área externa da sede da organização, limpeza interna da sede, construção do porto para barco, manutenção dos barcos, etc., de acordo com as necessidades locais.

Desenvolvimento dos Acordos de Convivência das Comunidades ParceirasOs Acordos de Convivência são acordos feitos por cada comunidade onde são registradas as regras internas e são criados mecanismos que respeitam e trabalham em conjunto com o conteúdo do Protocolo Comu-nitário, que é um documento que representa um coletivo de comunida-des. Neste sentido, a existência de regras próprias para cada comunidade permite que elas desenvolvam uma forma de proteção aos seus recursos naturais e patrimônio genético. As regras, dessa forma, norteiam a vida coletiva de seus moradores, protegem seu conhecimento tradicional e fazem a gestão e proteção de seus territórios, fortalecendo assim, o Pro-tocolo Comunitário Local.

No caso específico do Bailique, esses Acordos de Convivência tratam de temas como Organização Social Comunitária, Mecanismos de Proteção e Gestão de Patrimônio Genético, Mecanismos de Proteção e Gestão Ter-ritorial e Mecanismos de Proteção e Gestão de Conhecimento Tradicional

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Associado. Os Acordos das comunidades seguem os acordos macros do Protocolo Comunitário do Bailique, no entanto, é um processo bastante di-nâmico e a comunidade tem a liberdade, quando sentir necessidade, de colocar quaisquer temas nos seus acordos comunitários.

Deste modo, todas as comunidades participantes do projeto de Proto-colos Comunitários devem construir ou atualizar seus acordos de convi-vência, lembrando que devem dialogar com o documento maior que é o Protocolo Comunitário. Para isso, a associação local executora do Protocolo deve visitar essas comunidades e auxiliar as lideranças locais a pensarem e desenvolverem o conteúdo do seu acordo de convivência.

Novas Comunidades Aderindo ao Protocolo ComunitárioComo foi explicado na primeira cartilha da metodologia, não são todas as comunidades que aceitaram participar do processo de construção do protocolo comunitário do seu território, uma vez que isso não é apresen-tado com uma obrigação comunitária e sim como uma escolha.

O que tende a acontecer é que as comunidades que estão fora do Protocolo, ao perceberem os resultados alcançados pelo processo, deci-dam aderir ao grupo. Entretanto, é necessário que essa comunidade pas-se pelo mesmo processo de capacitação das outras, através das oficinas descritas da primeira cartilha, para que ela possa aderir ao Protocolo. Isto é de extrema importância para garantir que essas comunidades se sin-tam representadas e para que a participação comunitária no Protocolo seja legítima.

É, portanto, papel da associação local executora do Protocolo, no caso do Bailique a ACTB, o de visitar essas comunidades e desenvolver todo o processo metodológico das oficinas para, então, assegurar que a informa-ção seja repassada e que essas novas comunidades estejam totalmente envolvidas no processo do protocolo.

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ANEXOS5

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ANEXOS5

ANEXO 1Questionário DE DiagnÓstico

DIAGNÓSTICO PRODUTIVO DO BAILIQUE

O QUE PRODUZ?TIPO DO

PRODUTO (semente,

óleo natural)

QUANTIDADE PRODUZIDA

COMERCIALIZA O PRODUTO?

ONDE?

PREÇO DE VENDA(R$/medida)

PERÍODO QUE USA O RECURSO

MUITO OU POUCO

DISPONÍVEL?

QUANTOS MEMBROS

OU FAMÍLIAS ENVOLVIDAS?

VENDE VIA ASSOCIAÇÃO

OU COOPERATIVA?

1 /

2 /

3 /

4 /

5 /

6 /

NOME COMUNIDADE

COMO PODERIA MELHORAR SUA PRODUÇÃO? Acesso a assistência técnica

Compra de equipamentos

Aumento do recurso da natureza

Mudança da forma do produto (Ex. semente para óleo, peixe fresco para filé)

Outro(s)

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DIAGNÓSTICO PRODUTIVO DO BAILIQUE

O QUE PRODUZ?TIPO DO

PRODUTO (semente,

óleo natural)

QUANTIDADE PRODUZIDA

COMERCIALIZA O PRODUTO?

ONDE?

PREÇO DE VENDA(R$/medida)

PERÍODO QUE USA O RECURSO

MUITO OU POUCO

DISPONÍVEL?

QUANTOS MEMBROS

OU FAMÍLIAS ENVOLVIDAS?

VENDE VIA ASSOCIAÇÃO

OU COOPERATIVA?

1 /

2 /

3 /

4 /

5 /

6 /

POLO

PARTICIPA DE ALGUMA POLÍTICA PÚBLICA (PAA, PNAE...)? Sim Qual (is)?

Não

Se não participa, por quê?

NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO, NOVAS ATIVIDADES PRODUTIVAS A SEREM DESENVOLVIDAS?

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ANEXOS5

ANEXO 2Questionário Fundiário

PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE

CGPCB - COMITÊ GESTOR DO PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE

QUESTIONÁRIO SOBRE A QUESTÃO FUNDIÁRIA DO BAILIQUE

1) Quantas pessoas moram na casa?

2) Quantas famílias moram na casa?

3) Sua família faz parte de algum assentamento? Qual?

4) Você esta satisfeito com esse modelo de Assentamento? Por quê?

Considerando que existem outros modelos de regularização fundiária (assentamentos), em sua opinião qual seria o melhor modelo de assentamento para sua família?

INCRA (federal), composto pora) Assentamento Agroextrativista: modelo de assentamento federal que contempla a disponibilidade de

recursos financeiros na forma de linhas de crédito (crédito inicial, Habitação, Fomento, Crédito Mulher e créditos da linha PRONAF) e assistência técnica em varias etapas do projeto.

b) Assentamento Verde: modelo que complementa o assentamento Agroextrativista, que visa criar me-canismos de proteção para os recursos naturais, diminuição e combate ao desmatamento.

SPU (federal), composto pora) TAUS (Termo de Autorização de Uso Sustentável): documento precário e transitório que permite o uso

da terra e seus recursos naturais para fins de atender a reforma agraria em comunidades tradicionais localizadas em terras da união. Composto por linhas de créditos e Assistência técnica ao longo do projeto.

b) Que pode ser Individual ou Coletivo (por comunidade).

IMAP (estadual) modelo atual, composto pora) Assentamento Agroextrativista: mesmo modelo do INCRA. Com documento de Licença ou Autorização

de Uso.

Considerando que as Terras do Bailique pertencem à União e que todo documento de terreno dado por outra estância, seja municipal ou estadual, não tem validade legal, e que somente a SPU pode autorizar o uso da terra por meio de documentação (portarias), qual dessas institu-ições você gostaria que assumisse a gestão das terras do Bailique?

INCRA SPU IMAP (gestão atual)

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ANEXO 3Questionário Fundiário II

PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE

ASSOCIAÇÃO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO BAILIQUE - ACTB

QUESTIONÁRIO SOBRE A SITUAÇÃO DOS ASSENTAMENTOS NO BAILIQUE

1) Qual é a sua situação dentro desse Projeto de Assentamento?

Está dentro da RB (Registro de Beneficiários) e já ganhou algum crédito

Está na RB, mas não ganhou nenhum crédito

Está apenas cadastrado

Não está na RB e nem cadastrado

Outra situação (empresário, servidor público etc.)

2) Na condição de Assentado, qual(is) desse(s) créditos você já recebeu?

Apoio inicial 1 Fomento 1 Mulher

Apoio inicial 2 Fomento 2 Instalação/casa

3) O quanto de cada crédito você recebeu?

4) Está no Cadastro Único (CAD ÚNICO)

Sim Não

5) É beneficiário do Bolsa Família (federal)?

Sim Não

OBS Identificar os beneficiários que não residem mais nas comunidades

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ANEXOS5

ANEXO 4DEMANDAS DOS GRUPOS DE TRABALHOENCONTRÃO IV

GT CONHECIMENTO TRADICIONAL

farmacológico dessas plantas

do IEPA com plantas com certificado de origem (rastreabilidade do produto)

GT PRODUÇÃO E AGROEXTRATIVISMO

técnicos na área de identificação e sementes.

trabalho e preço sem a influência do atravessador

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GT JUVENTUDE

piscicultura, construção naval, gestão ambiental, gestão pública, administração, etc. Nesse sentido pensar também em cursos que ainda não são oferecidos no Bailique mas que possam dialogar com outras estratégias e atividades de produção: bioconstrucão, especialista em saneamento básico,etc. Aqui podemos conversar com CVTs, EFAs, etc.

os cursos cheguem no Bailqiue com a mesma qualidade do que são oferecidos nas cidades

GT PRODUÇÃO E AGROEXTRATIVISMO

no Bailique para visita etc. Capacitação comunitária para esse trabalho

sanitárias, reciclagem de lixo

GT FUNDIÁRIA

demarcação das terras urgentemente

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APOIO

PARCERIA INSTITUCIONAL

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Metodologia para construção

de Protocolos Comunitários

Esta cartilha está focada em descrever a metodologia da segunda etapa, ou seja, uma proposta de modelo inovador de um plano de Desenvolvimento Local Sustentável,

e tendo como caso ilustrativo o Protocolo Comunitário do Bailique. A metodologia é composta de duas etapas: a primeira é focada na organização das cadeias produtivas

da sociobiodiversidade da região e a segunda é o fortalecimento da organização comunitária, promovendo, desse modo, o empoderamento local. No entanto, trata-se

apenas de um guia para ser adaptado e aplicado para outros PCTs (Povos e Comunidades Tradicionais), de acordo com suas próprias realidades.

Para um melhor entendimento desse processo, até para que ele ganhe um caráter sólido de continuação, recomenda-se a leitura da cartilha anterior,

“Metodologia de construção para Protocolos Comunitários”, disponível no link http://goo.gl/qdaqCx

Desenvolvimento Local Sustentável