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Metodologia para modelagem de negócios em empresas nascentes de base tecnológica Artigo completo Autor: Breno Valente Fontes Araújo 1 Co-autores: Adriana Ferreira de Faria 2 Marcos Fernandes de Castro Rodrigues 3 Natália Michele Ferreira 4 Thainá Santos Lage 5 Resumo Este trabalho explora a modelagem de negócios como componente intrínseco à gestão empresarial bem alicerçada e fundamental para o desenvolvimento de um projeto incipiente. Considerando, também, o papel trivial das incubadoras de empresas como organizações propulsoras do desenvolvimento de novos negócios, o presente artigo agrega aos empreendedores e demais interessados o conhecimento relativo ao processo de formulação de uma metodologia de modelagem de negócios no âmbito de um programa de pré-incubação. Foi realizada revisão bibliográfica de itens que tecem a discussão acerca da geração de modelos de negócios e utilizada a pesquisa-ação como procedimento técnico para desenvolver uma metodologia de modelagem eficaz e de fácil implantação, ao mesmo tempo. Feito isso, apresenta-se, nos Resultados, a metodologia proposta e analisa-se o desempenho da mesma diante de alguns problemas enfrentados pelas incubadoras de empresas, tomando como parâmetro a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CenTev/UFV). Palavras-chave: modelo de negócio, incubadora de empresas, pré incubação, Business Model Generation, Mínimo Produto Viável. 1 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 2 Doutora em Engenharia Mecânica pela UFU e prof.ª Adjunta no Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica (DEP), UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 3133. Email: [email protected]. 3 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 4 Graduada em Administração pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 5 Graduanda em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected].

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Metodologia para modelagem de negócios em empresas nascentes de base

tecnológica

Artigo completo

Autor:

Breno Valente Fontes Araújo1

Co-autores:

Adriana Ferreira de Faria2

Marcos Fernandes de Castro Rodrigues3

Natália Michele Ferreira4

Thainá Santos Lage5

Resumo

Este trabalho explora a modelagem de negócios como componente intrínseco à gestão

empresarial bem alicerçada e fundamental para o desenvolvimento de um projeto incipiente.

Considerando, também, o papel trivial das incubadoras de empresas como organizações

propulsoras do desenvolvimento de novos negócios, o presente artigo agrega aos

empreendedores e demais interessados o conhecimento relativo ao processo de formulação de

uma metodologia de modelagem de negócios no âmbito de um programa de pré-incubação.

Foi realizada revisão bibliográfica de itens que tecem a discussão acerca da geração de

modelos de negócios e utilizada a pesquisa-ação como procedimento técnico para desenvolver

uma metodologia de modelagem eficaz e de fácil implantação, ao mesmo tempo. Feito isso,

apresenta-se, nos Resultados, a metodologia proposta e analisa-se o desempenho da mesma

diante de alguns problemas enfrentados pelas incubadoras de empresas, tomando como

parâmetro a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) do Centro Tecnológico de

Desenvolvimento Regional de Viçosa (CenTev/UFV).

Palavras-chave: modelo de negócio, incubadora de empresas, pré incubação, Business

Model Generation, Mínimo Produto Viável.

1 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro

Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 2 Doutora em Engenharia Mecânica pela UFU e prof.ª Adjunta no Departamento de Engenharia de Produção e

Mecânica (DEP), UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 3133. Email: [email protected]. 3 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro

Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 4 Graduada em Administração pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo

Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 5 Graduanda em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro

Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected].

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Methodology for creating business model in technology-based springs

companies

Full paper

Author:

Breno Valente Fontes Araújo6

Co-authors:

Adriana Ferreira de Faria7

Marcos Fernandes de Castro Rodrigues8

Natália Michele Ferreira9

Thainá Santos Lage10

Abstract

This work explores the business modeling as intrinsic component to well-founded

business management and fundamental for the development of a fledgling project.

Considering the trivial role of business incubators as propelling organizations of new business

development, this article adds to the entrepreneurs and other interested parties the knowledge

concerning the process of formulating a business modeling methodology applied in a pre-

incubation program. It was performed a literature review of items that weave the discussion of

the creation of business models and used action-research as a technical procedure to develop

an effective and easy methodology for the implantation of business modeling. Once this is

done, it is presented the proposed methodology and it is analyzed its performance on some

problems faced by business incubators, taking as parameter the Technological-based Business

Incubator (IEBT) from the Technological Center of Regional Development of Viçosa

(CenTev / UFV).

Key words: business model, business incubator, pre incubation, Business Model Generation,

Minimum Viable Product.

6 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro

Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 7 Doutora em Engenharia Mecânica pela UFU e prof.ª Adjunta no Departamento de Engenharia de Produção e

Mecânica (DEP), UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 3133. Email: [email protected]. 8 Graduado em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro

Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 9 Graduada em Administração pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo

Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected]. 10

Graduanda em Engenharia de Produção pela UFV. Endereço: Av. Oraida Mendes de Castro, Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa - MG, CEP: 36570-000. Tel.: (31) 3899 2602. Email: [email protected].

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1. Introdução

O panorama atual do mercado é caracterizado tanto por um elevado desenvolvimento

tecnológico quanto por ações globalizadas que impõem constantes mudanças aos seus

integrantes. Todos os atores envolvidos no ambiente de oferta e demanda de bens e serviços

estão sujeitos às transformações políticas, sociais e econômicas, as quais são também

potencializadas pelo acirramento da competição entre as organizações. Tem-se, portanto, uma

via de mão dupla. Este cenário, extremamente complexo, se configura como a Era da

Revolução apregoada por Gary Hamel e torna a flexibilidade um atributo indispensável aos

empreendedores que almejam obter e/ou manter o sucesso na empreitada empresarial.

Em contrapartida a este acirramento competitivo, os modelos de gestão anteriormente

considerados como diferenciais organizacionais tornaram-se condição mínima nas empresas.

W. Chan Kim e Renée Mauborgne (2005) alertam que esta competição direta por resultados

pode trazer enormes prejuízos às empresas, fazendo alusão a um cenário sangrento, o ‘oceano

vermelho’. Os autores incentivam os empreendedores a fugirem dessa disputa, rastreando

oportunidades inexploradas e as criando por meio de ferramentas que dão suporte à inovação

da proposta de valor oferecida aos clientes. Segundo os autores, essa prática resultará no

encontro do chamado ‘oceano azul’, local onde a sobrevivência e o crescimento dos negócios

acontecem de modo bem menos agressivo.

Neste sentido, a inovação, em voga nos dias de hoje, é empregada neste artigo com o

sentido de “exploração com sucesso de novas ideias”. O economista Joseph Schumpeter, em

consonância a este pensamento, foi o precursor da teoria que relaciona inovação e

desenvolvimento econômico, tendo cunhado o termo ‘destruição criativa’, um processo

dinâmico no qual novas tecnologias tornam obsoletas as anteriores. De forma mais

abrangente, pode-se definir este mecanismo como um processo que possibilita a perturbação

do equilíbrio econômico e evolução do sistema capitalista.

Já quando encarada pelo prisma das empresas nascentes de base tecnológica

(ENBT’s), a inovação apresenta um tratamento diferenciado, uma vez que tais organizações

se caracterizam pelo uso intensivo de conhecimento técnico-científico. Desta forma, a

Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT – CenTev/UFV), entidade de fomento

ao empreendedorismo tecnológico vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV),

percebeu a existência de uma oportunidade de melhoria em seu processo de pre incubação. As

edições anteriores do programa não eram contempladas com um espaço para discussão do

negócio de cada empreendedor e, até então, a pré incubação auxiliava os empreendedores no

desenvolvimento do Plano de Negócios, com base nos resultados do Estudo de Viabilidade

Técnica, Econômica, Comercial e de Impactos Ambiental e Social (EVTECIAS). Este estudo,

que demanda dados históricos de empresas reais e um mercado relativamente estável para que

possa gerar conclusões mais assertivas, consistia na principal contribuição do programa às

empresas. No entanto, no caso de negócios que tenham caráter inovador, as atividades

pautam-se em uma série de hipóteses e inferências, que devem ser validadas antes de se abrir

a empresa.

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Nestas circunstâncias, questionou-se a eficácia do atual modelo empregado no

programa como único instrumento para minimização dos riscos e incertezas que cercam os

negócios, bem como a falta de uma etapa que favoreça o desenvolvimento do modelo de

negócios das EBT’s. Com isso, um trabalho de reestruturação do programa de pre incubação

foi iniciado a fim de construir uma nova metodologia, a qual deve incluir ferramentas para

validar todas as hipóteses e reduzir as incertezas inerentes ao modelo de negócios e,

principalmente, ao mercado em que a empresa está se inserindo. Espera-se que com esta

reestruturação os empreendedores possam sair mais preparados para encarar os desafios do

mercado e conhecer de forma mais ampla os componentes do seu negócio antes de, de fato, se

constituir a empresa.

Neste intuito, o objetivo deste artigo é expor a importância da modelagem de

negócios, sobretudo para as ENBT’s, e detalhar a metodologia concebida para o Programa de

Pré-Incubação da IEBT. Deseja-se, com isso, fornecer os inputs teóricos necessários para que

a etapa de modelagem de negócios integre o calendário de ações das incubadoras de

empresas, tendo em vista os bons resultados que podem vir desta medida.

2. Fundamentação Teórica

Esta seção abordará conceitos importantes para o desenvolvimento deste artigo, quais

sejam:

2.1. Incubadora de empresas de base tecnológica

Uma empresa nascente de base tecnológica é aquela que se encontra em um estágio

inicial de desenvolvimento e cujos produtos ou processos demandam uso significativo de

conhecimento para que se obtenha viabilidade técnica. O emprego de insumos tecnológicos

confere alto valor agregado aos produtos deste tipo de empresa. Em termos práticos, a Política

Operacional da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP, 2014) considera que uma

empresa de base tecnológica é aquela que atende a, pelo menos, duas das seguintes

características:

a) desenvolvam produtos ou processos tecnologicamente novos ou melhorias

tecnológicas significativas em produtos ou processos existentes. O termo

produto se aplica tanto a bens como a serviços;

b) obtêm pelo menos 30% (trinta por cento) de seu faturamento,

considerando-se a média mensal dos últimos doze meses, pela

comercialização de produtos protegidos por patentes ou direitos de autor, ou

em processo de obtenção das referidas proteções;

c) encontram-se em fase pré-operacional e destinam pelo menos o

equivalente a 30% (trinta por cento) de suas despesas operacionais,

considerando-se a média mensal dos últimos doze meses, a atividades de

pesquisa e desenvolvimento tecnológico;

d) não se enquadram como micro ou pequena empresa e destinam pelo

menos 5% (cinco por cento) de seu faturamento a atividades de pesquisa

e desenvolvimento tecnológico;

e) não se enquadram como micro ou pequena empresa e destinam pelo

menos 1,5% (um e meio por cento) de seu faturamento a instituições de

pesquisa ou universidades, ao desenvolvimento de projetos de pesquisa

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relacionados ao desenvolvimento ou ao aperfeiçoamento de seus produtos ou

processos;

f) empregam, em atividades de desenvolvimento de software, engenharia,

pesquisa e desenvolvimento tecnológico, profissionais técnicos de nível

superior em percentual igual ou superior a 20% (vinte por cento) do

quantitativo total de seu quadro de pessoal;

g) empregam, em atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico,

mestres, doutores ou profissionais de titulação equivalente em percentual

igual ou superior a 5% (cinco por cento) do quantitativo total de seu quadro

de pessoal.

Uma incubadora de empresas de base tecnológica (IEBT), por sua vez, é uma

organização que trabalha em prol do desenvolvimento das ENBT’s. Abrigam novos negócios

por um tempo limitado e através do aporte de espaço físico, assessoramento jurídico e

gerencial, infraestrutura compartilhada e consultorias especializadas, bem como possibilidade

de interação com as unidades de pesquisa das universidades, as incubadoras preparam as

empresas para o mercado e ajudam-nas a superar as grandes dificuldades existentes nos

estágios iniciais de funcionamento.

As IEBT’s são entidades promotoras do empreendedorismo e da inovação. Estão

inseridas nos sistemas regionais de inovação e contribuem para o desenvolvimento regional à

medida que disseminam conhecimento e reduzem a taxa de mortalidade das empresas

incubadas, o que implica em geração de postos de trabalho e pagamento de impostos ao

município.

De maneira geral, as incubadoras dispõem de três modalidades de programas: pré-

incubação, incubação e pós-incubação. Os programas acompanham o estágio de

desenvolvimento das empresas e oferecem o suporte condizente com cada realidade.

O foco deste trabalho está no programa de pré-incubação, que é caracterizado pelo

amparo a negócios incipientes. Nesta etapa os empreendedores têm apenas projetos,

carecendo ainda da constituição formal da empresa. Neste intuito a incubadora auxilia no

processo de abertura da empresa e no amadurecimento do negócio, aprontando-os para o

ingresso ao programa de incubação.

2.2 Modelagem e modelo de negócios

Não há uma vasta literatura sobre modelos de negócios. A ampla discussão em torno

deste tema, bem como a produção científica correspondente, são fenômenos recentes, que

ganharam notoriedade a partir dos anos 1990, com a explosão das empresas ‘ponto com’.

Osterwalder e Pigneur (2011, p. 14) afirmam que modelo de negócios é o que “[...]

descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização”.

Esta definição, mundialmente aceita, busca sintetizar algo maior e mais complexo, que é a

fundação sobre a qual a empresa irá edificar sua estratégia ou, em outras palavras, é a

estruturação de todos os componentes responsáveis por proporcionar valor aos clientes e de

como lucrar a partir disto.

Agora, torna-se importante ressaltar o que é valor e a diferença entre modelo de

negócios e estratégia empresarial. Valor, no contexto deste artigo, é sucintamente definido

como a soma de benefícios, tangíveis ou intangíveis, percebida pelos clientes.

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A estratégia empresarial está relacionada a decisões da alta administração sobre o

futuro do negócio, o que se espera alcançar e como. Embora, na prática, seja difícil distinguir

os dois conceitos, esta tarefa se torna menos árdua quando se tem em mente as palavras de

Keen e Qureshi (2006, p. 2, tradução e grifo nossos), segundo os quais

O modelo de negócio estabelece os princípios e axiomas em que a estratégia

é construída. A estratégia surge do modelo de negócios e é traçada para

atingir diferenciais competitivos. Para alguns especialistas, o modelo de

negócio representa o ‘o que’ em um negócio inovador e estratégia o ‘como’.

A modelagem do negócio pode ser entendida como o conjunto de conceitos e métodos

que visa estabelecer o melhor modelo de negócios para uma empresa, o que significa não só

sua sobrevivência, mas também a garantia de desenvolvimento sustentável da mesma. A

modelagem deve assegurar o total entendimento sobre o negócio e permitir que os

empreendedores atestem o modelo de negócios. Para tanto, cada entidade deve definir quais

ferramentas utilizar como subsídio neste processo. Aqui serão exploradas duas ferramentas: o

Business Model Canvas e o produto mínimo viável (MVP, na sigla em inglês).

Diferentemente do Plano de Negócios, que é quase inerte, a modelagem de negócios é

extremamente dinâmica e busca mitigar as incertezas intrínsecas ao negócio, como espera-se

que seja, tendo em vista o perfil mutável do mercado atual. O Plano de Negócios segue uma

tendência clássica, sendo um documento formal característico da Administração tradicional.

Ele inclui, de maneira geral, uma descrição acerca da empresa, o seu planejamento (os

objetivos e uma espécie de plano de ação). No entanto, a dificuldade de previsibilidade do

mercado diante do imperativo da inovação acaba comprometendo as análises presentes no

Plano de negócios. Neste sentido, a utilização de uma metodologia de modelagem de negócio

que dirima estas incertezas, antes de, de fato elaborar o plano de negócios, tornará este último

mais assertivo.

2.2.1 Business Model Canvas

Com o intuito de “padronizar” o conceito de modelo de negócios, cujo conhecimento é

um pré-requisito para todos aqueles que integram o meio empresarial, Osterwalder e Pigneur

(2011) criaram a ferramenta Business Model Canvas (também chamado de Canvas, apenas,

que significa Quadro ou Tela) que consiste em um quadro com nove componentes, como pode

ser visto na Figura 1, abaixo:

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Figura 1 - Business Model Canvas

Fonte: Osterwalder e Pigneur (2011, p.44)

A utilização da ferramenta é indicada, não só para o desenvolvimento de um negócio,

mas, também, no desenvolvimento de um novo produto, sendo utilizada no mundo inteiro por

empresas de pequeno, médio e grande porte. As nove caixas do Canvas tem o objetivo de

ilustrar de forma clara e objetiva os principais aspectos envolvidos na concepção de uma ideia

inovadora.

A “Proposta de valor” fica no bloco central do Quadro porque representa a

essência da organização e a sua razão de existir, sendo o motivo principal para um cliente

optar por uma empresa em detrimento de outra. Ela indica a solução que a empresa entrega

para sanar uma “dor” / necessidade do cliente.

À direita do Quadro, em analogia ao cérebro humano, estão os blocos ligados à

emoção, ou seja, estão relacionados com o que os clientes enxergam, valorizam e como é o

contato e o relacionamento com os mesmos:

Os “Segmentos de clientes” referem-se à fatia do mercado que a empresa

deseja atender, agrupando os clientes de acordo com suas características e alguma

similaridade no comportamento ou nas suas necessidades.

Os “Canais” incluem qualquer forma de interação com os clientes, sobretudo

em termos de comunicação, vendas e distribuição dos produtos.

O “Relacionamento com clientes” define qual o tipo de vínculo será adotado

entre a organização e cada um dos segmentos de clientes, com o objetivo de atraí-los e

fidelizá-los.

A “Fonte de receitas” representa, não só o montante cobrado pelo produto que

é vendido, mas também a forma como essa cobrança é feita e os mecanismos de precificação.

Do outro lado, à esquerda do Quadro, estão os blocos associados à razão. Estes são os

‘bastidores’, os componentes que sustentam o modelo de negócios. É tudo aquilo que a

empresa precisa ter e fazer para entregar a proposta de valor:

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Os “Recursos principais”, que podem ser financeiros, intelectuais, físicos ou

humanos, são aqueles ativos da empresa indispensáveis para o bom funcionamento do modelo

de negócios.

As “Atividades chave” são aquelas de maior importância para a organização,

isto é, as atividades que precisam ser executadas para a empresa conseguir entregar a Proposta

de valor para os clientes.

Os “Parceiros principais” são todas as entidades externas à empresa que são

fundamentais para que o modelo de negócio funcione. Esse campo compreende as alianças

estratégicas que são firmadas com o propósito de reduzir riscos, terceirizar serviços, focar no

core business e adquirir recursos com mais facilidade, dentre outros.

A “Estrutura de custos”, por fim, engloba os custos fixos e variáveis mais

relevantes para a operacionalização do modelo de negócios. As empresas podem buscar

ganhos através das economias de escala e escopo. De maneira geral, as empresas são

direcionadas ou por custo ou por valor (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011).

O Canvas é uma ferramenta de fácil assimilação, mesmo para leigos. Quando impresso

em grande superfície, como uma folha tamanho A1, favorece a cocriação de modelos de

negócios, ou seja, um grupo de pessoas tem a oportunidade de discutir e rascunhar os

elementos do Quadro através de anotações em post-it ®. Se necessário, as anotações podem

ser manipuladas sem complicação alguma. De acordo com Osterwalder e Pigneur (2011, p.

42), o Canvas “[...] é uma ferramenta prática e útil que promove entendimento, discussão,

criatividade e análise”.

2.3 Produto Mínimo Viável

No momento em que um modelo de negócios é criado, os empreendedores

naturalmente assumem uma série de suposições como verdades absolutas. Por exemplo,

quando um produto é planejado para atender um determinado problema enfrentado por um

segmento de clientes. Será que essas pessoas estão realmente dispostas a pagar por esta

solução? Os empreendedores apostam que sim, porém, muitas vezes, eles estão equivocados.

Eric Ries (2012, p. 24) lançou o conceito de startup enxuta (no inglês, lean startup)

como resultado dos estudos que desenvolveu com o propósito de refrear a morte precoce de

startups. Segundo ele, o grande problema dessas empresas que fracassaram é que “executaram

com sucesso um plano que não levava a lugar nenhum”, ou seja, desperdiçaram tempo e

dinheiro em um modelo repleto de hipóteses falsas.

Para a Associação Brasileira de Startups – abstartups (2014), startup é “uma empresa

de base tecnológica, com um modelo de negócios repetível e escalável, que possui elementos

de inovação e trabalha em condições de extrema incerteza”. Sendo assim, pode-se dizer que

startup é um tipo particular de EBT, entretanto os princípios da lean startup são aplicáveis a

todas as EBT’s.

A metodologia da lean startup preconiza a experimentação em detrimento do

planejamento minucioso (BLANK, 2014). Para tanto, trabalha com o conceito de

aprendizagem validada, que é o conhecimento, proveniente de dados empíricos, de verdades

acerca do negócio. Esses dados são coletados de clientes reais e fazem da aprendizagem

validada o principal indicador de progresso de uma startup.

Um produto mínimo viável (MVP, na sigla em inglês) é uma versão do produto que

permite a obtenção da aprendizagem validada. Isso implica, sobretudo, em verificar se o que a

empresa está oferecendo tem valor para algum segmento de clientes e como atrair novos

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clientes. Em suma, o MVP é a melhor forma de realizar experimentação. Nas palavras de Ries

(2012, p. 58), a experimentação resulta em uma especificação detalhada do produto que

precisa ser desenvolvido e “ao contrário de um planejamento estratégico tradicional ou um

processo de pesquisa de mercado, essa especificação estará enraizada no feedback do que está

em funcionamento hoje, em vez de ser uma antecipação de que talvez funcione amanhã”.

Os MVP’s podem ser construídos de diversas formas, como por meio de protótipos,

vídeos, landing pages, apresentações em power point ou realização manual do trabalho. Um

exemplo deste último seria o identificador de músicas shazam11

, um aplicativo que começou

com um número telefônico em que as pessoas ligavam e colocavam a música no microfone,

recebendo o nome da mesma algum tempo depois por SMS. Já o Dropbox, serviço de

compartilhamento de arquivos na nuvem (uso da cloud computing), precisava testar as

hipóteses de a sincronização de arquivos tratar-se de um problema que os clientes sequer

imaginavam ter e de que um número razoável de pessoas experimentaria o produto. Para isso,

Drew Houston, CEO da Dropbox Inc., explicou o funcionamento da tecnologia e redirecionou

os interessados para seu site por meio de um vídeo (RIES, 2012).

A validação das hipóteses que permeiam o Canvas por intermédio do MVP, explica a

importância desta ferramenta no processo de modelagem de negócios.

3. Metodologia

O trabalho que originou este artigo se trata, do ponto de vista de sua natureza, de uma

pesquisa aplicada; em relação à forma de abordagem do problema, de uma pesquisa

qualitativa; e, do ponto de vista dos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa-ação.

A pesquisa qualitativa pode ser conceituada como um “guarda chuva”, que abrange

várias formas de pesquisa e ajuda a compreender e explicar o fenômeno social com o menor

afastamento possível do ambiente natural (Godoi et al., 2010), Além disso, a pesquisa

qualitativa geralmente oferece descrições ricas e bem fundamentadas, além de explicações

sobre processos em contextos locais identificáveis (FLICK, 2009).

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada

em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual

os pesquisadores e participante representativos da situação ou do problema estão envolvidos

de modo cooperativo ou participativo. As dez características principais da pesquisa-ação são

(COUGHLAN; 2002 apud MIGUEL, 2007): o pesquisador toma ação (não é mero

observador); envolve dois objetivos: solucionar um problema e contribuir para a ciência; é

interativa (cooperação e interatividade entre os envolvidos); objetiva desenvolver um

entendimento holístico; é fundamentalmente relacionada à mudança; requer um entendimento

da estrutura étnica (valores e normas); pode incluir todos os tipos de métodos de coleta de

dados (técnicas quantitativas e qualitativas); requer um vasto pré-entendimento (do ambiente

organizacional, condições, estrutura e dinâmica das operações); deve ser conduzida em tempo

real (um estudo de caso “vivo”); requer critérios próprios de qualidade para sua avaliação.

4. Resultados

11

Disponível em: <http://blog.luz.vc/marketing/5-tipos-de-minimo-produto-viavel/>. Acesso em: 12 de abril de

2014.

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Como principal resultado do trabalho, foi estruturada uma metodologia de modelagem

de negócio que se enquadra no programa de Pré-Incubação. O programa tem duração de seis

meses, dos quais, os três primeiros são destinados à Modelagem de Negócio e os últimos três

para elaboração do Plano de Negócio.

A metodologia desenvolvida visa atender empresas de diferentes setores e, por conta

disso, foi estruturada para funcionar de forma dinâmica e flexível. Buscou-se conciliar os

conceitos do “Business Model Generation” e do “Lean Start-up”, de forma que o modelo de

negócio e suas hipóteses fossem validadas antes da elaboração do Plano de Negócio e

abertura da empresa.

A Modelagem de Negócio foi estruturada, basicamente, em seis macro etapas:

1- Ambientação do negócio;

2- Workshop Canvas – Business Model Generation;

3- Apresentação do Canvas, feedback e reformulação;

4- Elaboração do Canvas de Hipóteses e Testes;

5- Execução dos testes e validação das hipóteses.

6- Apresentação de Status e apresentação final

A figura 3 ilustra o cronograma de atividades da metodologia proposta.

Figura 2 - Cronograma de atividades Modelagem de Negócio

Fonte: Equipe de trabalho

Ambientação do Negócio

Essa etapa é considerada o “start” do programa, tem duração de quatro horas e ocorre

individualmente com cada projeto. Tem como principal objetivo o conhecimento do projeto

por parte dos Gerentes de Acompanhamento. A ambientação segue uma metodologia

desenvolvida na incubadora, que busca a caracterização de quatro aspectos do negócio: a)

Competências; b) Negócios; c) Serviços/Produtos; d) Mercados. A figura 4 ilustra de que

forma são trabalhados esses aspectos.

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Figura 3 - Aspectos Ambientação do Negócio

Fonte: Equipe de trabalho

Essa etapa garante que os gerentes da incubadora tenham um conhecimento prévio dos

projetos e, dessa forma, possam entender melhor a empresa antes de iniciar o

acompanhamento e desenvolvimento do modelo em si, bem como, auxilia os empreendedores

a refletirem o seu próprio negócio e para onde querem ir e atuar.

Workshop Canvas – Business Model Generation

Os empreendedores que participam do programa de pré-incubação não possuem

conhecimento sobre aspectos relacionados à modelagem de negócios e tampouco tiveram

contato com a metodologia do Business Model Generation. Com o objetivo de capacitá-los

para elaboração do Canvas, foi estruturado um Workshop de 8 horas a ser realizado com

todos os projetos.

O Workshop se baseia em, quatro etapas:

1- Dinâmica de grupo: é realizada uma dinâmica para que ocorra interação entre os

participantes e para passar algumas reflexões para os empreendedores – duração de

uma hora;

2- Conceituação: são apresentados conceitos fundamentais para o desenvolvimento de

um negócio inovador e para elaboração do Modelo de Negócio – duração de uma hora

e meia.

3- Apresentação da ferramenta e construção do modelo de negócio: são apresentados

todos os nove blocos do quadro Canvas e os grupos iniciam a elaboração dos modelos

de negócio – duração de quatro horas e meia.

4- Conceituação e apresentação dos próximos passos: são apresentados os próximos

passos da modelagem e alguns conceitos necessários para as próximas atividades do

programa – duração de uma hora;

O Workshop é a principal atividade do processo de modelagem, pois serve de base

para as atividades nos três meses seguintes, sendo indispensável a participação de todos os

membros das equipes no evento. Dessa forma, pode-se ter um acompanhamento mais

próximo com cada equipe, além de fomentar a discussão em torno dos Canvas.

Apresentação do Canvas, feedback e reformulação

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Com a versão inicial do Canvas elaborada, é agendada, com cada projeto, uma reunião

para que possa ser discutido cada ponto do quadro e para que o mesmo seja apresentado para

pessoas externas ao projeto.

A discussão inicial é feita apenas com o gerente de acompanhamento, e os empresários

tem a oportunidade de tirar qualquer dúvida que tenha ficado a respeito da construção do seu

quadro Canvas. Em seguida, são convidadas três pessoas que ainda não conhecem o projeto

para que seja feita a apresentação do Canvas. Essas três pessoas atuam como avaliadores e, ao

fim, da apresentação, fazem críticas e sugerem pontos de melhoria para o modelo de negócio

da empresa. A apresentação deve ter duração de cinco minutos e deve garantir que um

estranho ao projeto consiga entender de forma clara a proposta da empresa. Portanto, é de

fundamental importância que os avaliadores não conheçam o projeto, pois, assim, os pontos

falhos do modelo e da apresentação poderão ser identificados.

Após as críticas e sugestões dos avaliadores, a equipe do projeto, juntamente com o

gerente de acompanhamento, reformula e finaliza a segunda versão do Canvas da empresa.

Elaboração do Canvas de Hipóteses e Testes;

Ao fim da reunião de apresentação dos Canvas, é agendado um novo encontro com

cada projeto para criação dos Canvas de Hipóteses e Testes. Nesse encontro são discutidas

todas as incertezas que os empreendedores têm a respeito do desenvolvimento da empresa.

São, então, elaboradas diversas hipóteses para os nove blocos do Canvas e dentre elas são

identificadas as hipóteses mais impactantes que são indicadas no Canvas de Hipóteses.

São criados, então, mecanismos de validação para cada uma das hipóteses, o que

chamamos de “testes”. Para cada hipótese deve-se criar um teste para validação. Os testes

devem ser criados tendo como base a teoria do Mínimo Produto Viável (MVP), que visa

extrair o máximo de informações possíveis com o mínimo de recursos e esforços. O MVP

pode ser um vídeo, uma apresentação em MS Power Point, entrevistas com potenciais

clientes, aplicação de questionário etc.

A elaboração de um MVP depende da hipótese a ser validada e das informações que

os empresários desejam coletar. Deve-se ter muita atenção ao criar e aplicar um MVP, pois as

informações geradas a partir dos testes servirão como base para o desenvolvimento do

negócio. Portanto, ao criar um MVP, os empreendedores devem ter claramente os aspectos a

serem avaliados e todas as variáveis envolvidas controladas. A figura 4 indica o fluxo de

criação de um MVP.

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Figura 4 - Criação do Mínimo Produto Viável (MVP)12

Vale destacar que o principal objetivo da primeira hipótese deve ser identificar as reais

necessidades dos clientes e se os mesmos estão dispostos a pagar pelo que a empresa está

oferecendo como solução. A validação dessa hipótese servirá de base para criação do

produto/serviço. Enquanto não estiverem validados os clientes e suas necessidades, não é

indicado que o projeto avance, pois é a partir da necessidade de um cliente que uma empresa

deve montar toda sua estratégia.

Execução dos testes e validação das hipóteses.

Nas semanas seguintes, os empreendedores devem aplicar os testes e validar as

hipóteses traçadas em reunião. O gerente de acompanhamento é responsável por acompanhar

e garantir que esses testes estão sendo executados. Após a aplicação dos testes, é agendada

uma nova reunião com cada projeto para avaliação dos resultados e criação de novas

hipóteses a serem validadas. O prazo de validação de cada hipótese é de no máximo duas

semanas, para que o modelo possa prosseguir até que as hipóteses estejam validadas.

Essa etapa é a mais extensa e crítica da metodologia proposta. Ela tem duração de dois

meses, porém, a criação e validação de hipóteses deve ocorrer de forma constante dentro da

empresa, tornando-se uma excelente ferramenta de melhoria contínua. No programa de pré-

incubação, essa etapa se encerra a uma semana do fim do terceiro mês, para que o Canvas

final possa ser elaborado e já esteja validado.

Durante essa etapa as incertezas são minimizadas, principalmente, as relacionadas aos

potenciais clientes e à solução (produto/serviço) oferecida pela empresa.

Apresentação de Status e apresentação final

Ao final de cada mês, ocorre uma reunião com a participação de todos os projetos e da

equipe da Incubadora, chamada “Apresentação de Status”. Nesse dia, cada projeto apresenta

os avanços e dificuldades enfrentados na validação das hipóteses. Para isso, cada equipe tem

direito a dez minutos de apresentação e cinco para questionamentos.

12

Disponível em: http://mycenter.com.br/blog/como-transformar-uma-ideia-em-um-produto-de-sucesso/ Acesso em: 03/04/2014.

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Neste momento os empreendedores tem a possibilidade de desenvolver suas redes de

contatos, discutir suas ideias e, principalmente, trocar experiências com os demais

empreendedores de outros projetos. Com isso, aumenta-se a sinergia e colaboração do

ecossistema da incubadora, além de motivar os empreendedores.

Ao fim do terceiro mês, ocorre a apresentação final dos Canvas. A apresentação deve

funcionar da mesma forma que a Apresentação de Status, porém, deve-se priorizar a

apresentação do Canvas final.

5. Conclusão

O modelo proposto apresenta-se como uma excelente metodologia para o

desenvolvimento de negócios incipientes. Anteriormente identificados como deficiências do

programa, aspectos como intensidade das atividades, acompanhamento e networking, agora

são pontos positivos e fortemente trabalhados pela equipe da IEBT.

Os benefícios da metodologia são diversos, dos quais podemos destacar:

Redução dos riscos e gastos no desenvolvimento do projeto – a execução dos

testes para validar as hipóteses garante a diminuição das incertezas inerentes ao

projeto, aumentando a probabilidade de êxito futuro e cortando gastos

desnecessários que a empresa poderia vir a ter.

Gestão a vista – os membros de ENBTs, muitas vezes se preocupam apenas

com as atividades técnicas e não dão a devida atenção aos aspectos de gestão

da empresa e o Canvas é uma excelente ferramenta para minimizar esse

problema, pois os membros da equipe são sempre confrontados a refletir e

discutir as ideias e incertezas do projeto;

Networking – um dos principais focos do programa de Pré-Incubação, hoje, é o

Networking e as Apresentações de Status são um excelente espaço para troca

de experiências e criação de uma boa rede de contatos;

Coocriação e trabalho em equipe – durante toda etapa de modelagem e,

principalmente, na criação e validação do Canvas, os membros das equipes são

levados a trabalhar conjuntamente, desenvolvendo o espírito e trabalho em

equipe em cada um dos membros.

Motivação – muitos dos empreendedores que entravam nos programas de prés

anteriores desistiam, ou não se viam motivados, devida a baixa intensidade do

programa e por estarem envolvidos em outras atividades. A fim de atacar esse

problema, a metodologia proposta exige dos membros do projeto grande

dedicação, garantindo que apenas os projetos que realmente querem evoluir

como empresas prossigam para Incubação;

Melhor acompanhamento da equipe da IEBT – a modelagem exige dos

gerentes da IEBT um acompanhamento ainda mais próximo, o que garante

uma melhoria nos serviços prestados pela Incubadora aos projetos Pré-

Incubados.

Entretanto, a metodologia exige muito esforço da Incubadora, demandando, assim

uma equipe maior e muito bem capacitada para conseguir atender a todas as necessidades dos

projetos. Além disso, a maioria dos membros das empresas tem atividades extras ao projeto, o

que pode dificultar a realização das atividades e prejudicar o desenvolvimento do projeto

dentro do programa.

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Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo

apoio a este projeto.

6. REFERENCIAL TEÓRICO

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