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Revista Brasileira de Cartografia (2012) N 0 64/1: 83-101 Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto ISSN: 1808-0936 S B C METODOLOGIA PARA TOMADA DE DECISÃO NO ÂMBITO DE RISCOS SÓCIO-AMBIENTAIS EM ÁREAS URBANAS: DESMORONAMENTOS E ENCHENTES EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS NA BACIA DO CÓRREGO CABUÇU DE BAIXO - SP Methodology for Decision Making in the Context of Social and Environmental Hazards in Urban Areas: Landslides and Floodings over Slums Locations in Cabuçu River Basin (São Paulo - Brazil) Tiago Badre Marino 1 , Jorge Xavier da Silva 2 & José Alberto Quintanilha 3 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ Departamento de Geociências - Instituto de Agronomia Geociências BR-465, Km 7 – Seropédica/RJ [email protected] 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Instituto de Geociências - Laboratório de Geoprocessamento Av. Athos da Silveira Ramos, 274 - Bloco I-001 - Cidade Universitária - Rio de Janeiro/RJ [email protected] 3 Universidade de São Paulo – USP Escola Politécnica da USP – EPUSP / Depto. Enga. de Transportes - Laboratório de Geoprocessamento Av. Prof. Almeida Prado, travessa 2, n. 83 - CEP 05508-090 São Paulo/SP [email protected] Recebido em 21 Abril, 2011/ Aceito em 05 Julho, 2011 Received on April 21, 2011/ Accepted on July 05, 2011 RESUMO A Bacia Hidrográfica do Córrego Cabuçu de Baixo é um típico exemplo do que acontece em muitas cidades brasileiras. É uma bacia em acelerado processo de urbanização, mas ainda em condições para o controle, se bem administrada pelos seus gestores. Este trabalho objetiva a criação de mapeamentos que retratem avaliação positiva das condições ambientais (que pode ser chamado de “potencial”) ou negativa (genericamente chamados de “risco” ambiental). Todos os proce- dimentos computacionais realizados foram conduzidos pela metodologia de Análise Ambiental, utilizando o SIG VISTA/ SAGA/UFRJ para processamento dos mapeamentos, obtenção e validação dos resultados. O resultado final das avaliações ambientais realizadas produz um mapa classificado com notas entre zero e dez, onde as notas mais baixas são atribuídas às localidades mapeadas com baixo risco de ocorrências de enchentes e desmoronamentos. De forma análoga, classes com maiores notas representam localidades com ocorrência de assentamentos precários sob risco

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Revista Brasileira de Cartografia (2012) N0 64/1: 83-101Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento RemotoISSN: 1808-0936

S B

C

METODOLOGIA PARA TOMADA DE DECISÃO NO ÂMBITO DERISCOS SÓCIO-AMBIENTAIS EM ÁREAS URBANAS:

DESMORONAMENTOS E ENCHENTES EM ASSENTAMENTOSPRECÁRIOS NA BACIA DO CÓRREGO CABUÇU DE BAIXO - SP

Methodology for Decision Making in the Context of Social and Environmental

Hazards in Urban Areas: Landslides and Floodings over Slums Locations in

Cabuçu River Basin (São Paulo - Brazil)

Tiago Badre Marino1, Jorge Xavier da Silva2 &José Alberto Quintanilha3

1Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJDepartamento de Geociências - Instituto de Agronomia

Geociências BR-465, Km 7 – Seropédica/[email protected]

2Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJInstituto de Geociências - Laboratório de Geoprocessamento

Av. Athos da Silveira Ramos, 274 - Bloco I-001 - Cidade Universitária - Rio de Janeiro/[email protected]

3Universidade de São Paulo – USPEscola Politécnica da USP – EPUSP / Depto. Enga. de Transportes - Laboratório de

GeoprocessamentoAv. Prof. Almeida Prado, travessa 2, n. 83 - CEP 05508-090 São Paulo/SP

[email protected]

Recebido em 21 Abril, 2011/ Aceito em 05 Julho, 2011

Received on April 21, 2011/ Accepted on July 05, 2011

RESUMO

A Bacia Hidrográfica do Córrego Cabuçu de Baixo é um típico exemplo do que acontece em muitas cidades brasileiras. É

uma bacia em acelerado processo de urbanização, mas ainda em condições para o controle, se bem administrada pelos

seus gestores. Este trabalho objetiva a criação de mapeamentos que retratem avaliação positiva das condições ambientais

(que pode ser chamado de “potencial”) ou negativa (genericamente chamados de “risco” ambiental). Todos os proce-

dimentos computacionais realizados foram conduzidos pela metodologia de Análise Ambiental, utilizando o SIG VISTA/

SAGA/UFRJ para processamento dos mapeamentos, obtenção e validação dos resultados. O resultado final das

avaliações ambientais realizadas produz um mapa classificado com notas entre zero e dez, onde as notas mais baixas são

atribuídas às localidades mapeadas com baixo risco de ocorrências de enchentes e desmoronamentos. De forma

análoga, classes com maiores notas representam localidades com ocorrência de assentamentos precários sob risco

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Marino, T.B. et al.

iminente de inundações, deslizamentos de terra e desmoronamentos. Estes mapas são denominados como “Áreas

Críticas”. Também são conduzidas análises para o mapeamento de áreas indicadas para transposições de localidades

situadas em áreas críticas. A sobreposição destes dois últimos mapas aponta as localidades indicadas para transposi-

ções de assentamentos sob risco iminente dos eventos analisados.

Palavras chaves: Geoprocessamento, Análise Ambiental, Risco de Inundações, Riscos de Deslizamentos e Desmorona-

mentos, Assentamentos Precários, Cabuçu de Baixo, Análise Geo-ambiental, SAGA.

ABSTRACT

The drainage basin of Cabuçu de Baixo river is a typical example of what happened in many Brazilian cities. It is a basin

in accelerated process of urbanization, but also in a position to control, if well administered by their managers. This

study aims to create mappings facing positive assessment of environmental conditions (which can be called a “potential”)

or negative (generically called environmental “risk”). All procedures performed are conducted by the computational

methodology of Environmental Analysis, using the GIS VISTA/SAGA/UFRJ to process mappings to obtain and validate

results. The final result of environmental evaluation conducted produces a “Critical Areas” map, presenting classified

rates between zero and ten, where lower rates are assigned to locations mapped with low risk of occurrence of floods and

landslides. Similarly, classes with higher rates represent locations where precarious settlements are mapped under

imminent risk of flooding, landslides and landslides. Analyses pointing transposition areas, according to physical

factors are also conducted, aiming to locate settlements under critic areas. The overlay of these both maps point

transpositions indicated for settlements located under imminent risk areas.

Keywords: Geoprocessing, Environmental Analysis, Flooding Risk, Landslide Risk, Poor Settlements, Cabuçu River,

SAGA.

1. INTRODUÇÃO

Os principais fenômenos relacionados adesastres naturais no Brasil são os deslizamentosde encostas e as inundações, que estão associadosa eventos pluviométricos intensos e prolongados,repetindo-se a cada período chuvoso mais severo.Apesar das inundações serem os processos queproduzem as maiores perdas econômicas e osimpactos mais significativos na saúde pública, sãoos deslizamentos que geram o maior número devítimas fatais (ROCHA, 2005) .

Conforme dados do EM-DAT (2007),ocorreram 150 registros de desastres no período1900-2006. Do total ocorrido, 84% foramcomputados a partir dos anos 70, demonstrandoum aumento considerável de desastres nas últimasdécadas. Como conseqüência, foram contabilizadas8.183 vítimas fatais e um prejuízo deaproximadamente 10 bilhões de dólares. A figura 1mostra a distribuição dos tipos de desastres naturaisocorridos no Brasil num período de mais de cemanos.

O objetivo do artigo é apresentar umametodologia para a elaboração dos mapeamentossócio-econômicos e o processamento das avaliaçõesambientais utilizando o aplicativo VISTA/SAGAcomo ferramenta. Uma aplicação da metodologia

desenvolvida na Bacia do Córrego Cabuçu deBaixo (SP) permite:

- a identificação de possíveis áreas críticas(assentamentos situados em áreas avaliadas comode risco iminente de ocorrência de enchentes edesmoronamentos) na bacia, através da combinaçãodas avaliações de riscos com o mapeamento deQualidade de Vida;

- identificação de áreas indicadas paratransposição próximas de assentamentos localizadosem áreas críticas.

A Bacia Hidrográfica do Córrego Cabuçu deBaixo é um exemplo típico do que tem ocorrido emmuitas cidades brasileiras. É uma bacia emacelerado processo de urbanização, mas que aindadispõe de condições de controle, se adequadamenteadministrada pelos seus gestores.

O processo de urbanização desta regiãoocorreu principalmente às margens do CórregoCabuçu de Baixo. Estima-se que a aplicação dametodologia de Avaliação Ambiental proposta nestadocumentação para a região, poderá servir comomodelo reduzido para inúmeras outras cidadessubmetidas a processos de ocupaçãodesordenados, sem planejamento, resultando emgravíssimos impactos ambientais e sociais comopoluição da bacia hidrográfica, assoreamento derios, construções de habitações irregulares,

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Metodologia para tomada de decisão no âmbito de riscos sócio-ambientais em áreas urbanas ...

insegurança, precariedade nos serviços detransporte, saúde, educação.

1.1. A área de estudo: Bacia do Córrego Cabuçude Baixo - Características e Complexidade

O Córrego do Cabuçu de Baixo é um dosafluentes da margem direita do rio Tietê, com suafoz situada próxima à ponte da Freguesia do Ó,zona norte da cidade de São Paulo (Brasil). Suabacia hidrográfica está localizada ao norte doMunicípio de São Paulo, possui uma áreaaproximada de 42 km2 e é composta por váriosoutros córregos cujas nascentes estão ao norte,dentro do Parque Estadual da Cantareira, um dosmais importantes remanescentes de Mata Atlânticado Município de São Paulo e considerado pelaUNESCO como reserva da biosfera, ocupando30% de toda a bacia.

A bacia é constituída por relevo de morros emontanhas com grandes declividades na sua porçãonorte, que vai suavizando até alcançar na sua porçãofinal a planície aluvial do Rio Tietê. A região de relevomais acidentado, antiga zona rural, é justamenteaquela com ocupação mais recente, caracterizadapor invasões e ocupações desordenadas queprovocam intenso desmatamento em áreas de riscogeológico. Na bacia existem aproximadamente 150favelas, sendo 28 localizadas em áreas críticas derisco geotécnico, todas na porção norte da bacia(ATLAS, 2002).

Desconsiderando os fatores sociais eeconômicos envolvidos, a heterogeneidade da

mancha urbana na bacia pode ser notada pelasdiferenças no padrão das edificações (aglomeração,dimensão, forma), no sistema viário (pavimentação,largura e a não uniformidade no traçado). Grandeparte das áreas, localizadas próximas ao limite entreregiões de cobertura florestal e urbana, é tomadapor um processo de ocupação irregular(NOBREGA, 2007). Uma descrição detalhada dascaracterísticas físicas, sociais, bem como o processode urbanização da região onde se localiza a área deestudo pode ser vista em Barros (2004) e Barroset al (2005) .

O número de edificações instaladas nessasáreas aumentou consideravelmente nas últimasdécadas, sem seguir um planejamento paracomportar tal crescimento urbano. De formaanáloga, o sistema viário foi sendo formado de modoa suportar o escoamento da população residente.Verifica-se, com isso, a heterogeneidade com queas ruas têm sido formadas. Outro ponto fundamentala ser considerado é a predominância de um relevoacidentado (descrito em detalhes em NOBREGA,QUINTANILHA e BARROS, 2005), acentuando,ainda mais, as características mencionadas.

O Córrego Cabuçu de Baixo é afluente doRio Tietê pela sua margem direita, tendo suasnascentes junto a Serra da Cantareira. Localiza-sena região norte da cidade de São Paulo e tem, comobacias hidrográficas vizinhas, a leste o Córrego doMandaqui e a oeste, o Córrego das Pedras e oRibeirão Verde.

Parte de sua ocupação apresenta-seconsolidada há muito e, outra parte, notadamentenas cabeceiras, com um processo de urbanizaçãoacelerado e completamente desordenado, maisrecente - um cenário corriqueiro em nosso país.

Essa área é composta por floresta tropicaldensa e moderada, situada em terreno acidentado,cuja remoção para a introdução da ocupação têmgerado problemas ambientais. Grande parte dasáreas, localizadas próximas ao limite entre regiõesde cobertura florestal e urbana, é tomada por umprocesso de ocupação irregular. Bairros como VilaBrasilândia, Parada de Taipas e Vila NovaCachoeirinha, entre outras, estão totalmente ou emgrande parte dentro dessa bacia.

A escolha da Bacia do Córrego Cabuçu deBaixo como “área piloto” para os estudos se deu,essencialmente, devido à diversidade de cenáriosapresentados por esta região. Fatores naturais,

Fig. 1 - Tipos de desastres naturais ocorridos noBrasil (1900-2006). Legenda: IN – Inundação, ES– Escorregamento, TE – Tempestades, SE – Seca,TX – Temperatura Extrema, IF – Incêndio Florestale TR – Terremoto (EM-DAT, 2007).

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sócio-econômicos, terrenos acidentados, presençade várzeas, declives muito e pouco acentuados, quequando combinados, resultam numa gama maior deresultados.

Este artigo além, desta introdução, quecontém um breve resumo do assunto, estáestruturado da seguinte forma: o item 2 apresentaos fins do texto; o item 3 descreve a metodologiaempregada; os resultados são apresentados no item4; e finalmente, as conclusões no item 5.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O uso de termos derivados do coloquial, empesquisas, é naturalmente gerador de problemas deentendimento de seus significados. Por outro lado,em pesquisas ambientais, é comum sua utilização,muitas vezes difundida e questionada. Em princípio,os termos usados em pesquisa devem ser intrínsecos,referindo-se a um fenômeno identificável, eapresentando simplicidade e facilidade de utilização.Alguns vocábulos de uso corrente podem ter essascaracterísticas e serem usados em classificaçõesambientais. É o caso dos termos “riscos” e“potenciais”, imediatamente associados a locais queapresentem, respectivamente, dificuldades oufacilidades de utilização dos locais para moradiahumana ou para qualquer outra finalidade (paraprospecções geológicas, por exemplo). As primeirasperguntas que poderão ser feitas quanto a umasituação identificada de risco ou potencial de usosão, naturalmente, “onde?”, “risco de quê”, “atéonde?”. Tais perguntas denotam o caráter espacialque podem assumir os termos risco e potencial esuas associações com fenômenos específicos. Oatendimento a essas questões é propiciado pelo usodos termos riscos e potenciais em textos emapeamentos relativos a pesquisas ambientais queusem Geoprocessamento (Bonham-Carter, 1994,p.267-269) Ao lidar com dados georreferenciados,este campo técnico-científico torna dominante anatureza espacial da incidência de riscos oupotenciais ambientais. Esse uso não significa quedeva ser negado o valor de associações entrecampos de pesquisa, o que é particularmenteverdadeiro quanto à Demografia, conformedemonstrado por Marandola e Hogan, 2006.

Uma característica fundamental da pesquisaambiental baseada no Geoprocessamento é a amplae exaustiva varredura da área geográficaconsiderada, em busca da convergência múltipla

espaço-temporal da ocorrência de característicasambientais. Este fato implica em diversostratamentos integradores que concedempreferência, sem serem excludentes, a conceitosintrínsecos, auto-definidores das variáveisenvolvidas. Essa preferência minimiza a esperadaincidência de erros difusos no duplo processo deintegração das variáveis ao longo das dimensõestaxonômica e espacial, a ser executado peloGeoprocessamento.

Uma observação histórica refere-se àobrigatória inclusão generalizada da presençahumana nos quadros de riscos e potenciaisambientais. O tratamento de riscos ambientais, naGeomorfologia, tradicional campo de pesquisa daGeografia e da Geologia, tem sido conduzido pelasnoções de freqüência de ocorrência de umfenômeno, independentemente de ser este umperigo para a população. Tal uso independente écaracterístico da identificação de rápidos eesporádicos escoamentos hídricos superficiais,geradores da deposição de clásticos. Essesescoamentos, uma vez aumentada sua freqüência,podem gerar rampas de colúvio na base de encostasmontanhosas, em ambientes desérticos. Esseconhecimento da natureza dos espraiamentos desedimentos associados à freqüência (risco) dedesmoronamentos e deslizamentos ocorrentes emencostas, em ambientes desérticos, temtradicionalmente, orientado a explicação daocorrência de formações sedimentares (talus,rampas coluviais, terraços fluviais) herdadas eexistentes em ambientes atuais ou pretéritos. Comalgumas possíveis e raras exceções, esta origemestá dissociada da presença humana. Esta é umaraiz para o termo “risco” conter, essencialmente, aestimativa de uma possível ocorrência de umfenômeno. Tal proposição não significa,obviamente, que não se deva considerar os efeitosda concretização de um risco sobre a populaçãolocal, o que pode representar um perigo (“perigo”é, não por coincidência, uma das acepçõespossíveis de “hazard” , em inglês). Ressalte-se que,nos casos de maior envergadura, tais concretizaçõesde riscos podem ser consideradas desastresambientais, independentemente do número dehabitantes afetados, se a população local não puderrecuperar as prévias condições ambientais com seuspróprios recursos (EM-DAT, 2012). É o caso dadesertificação progressiva de áreas geográficas em

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Metodologia para tomada de decisão no âmbito de riscos sócio-ambientais em áreas urbanas ...

zonas periféricas de desertos em expansão, sobcomando de mudanças climáticas, com a açãohumana sendo apenas e eventualmente um fatorcoadjuvante. Em tempos de altas elucubraçõessobre mudanças climáticas, é razoável, ou talvezconveniente, considerar “riscos”, sua acepção maisintrínseca e direta e estimá-los com técnicasintegradoras de dados, como são as deGeoprocessamento. Essas técnicas são capazes dereproduzir a convergência de fatores causadores deeventos e entidades ambientais. Fica assim facilitadaa aceitação, pelas administrações públicas eprivadas, da clara definição de áreas de risco quemereçam atenção, inclusive aquelas onde danos àpopulação podem ocorrer. Outras áreas, estas nãoocupadas, estarão também sinalizadas quanto apossíveis usos (utilizações diretamente controladas,caso do uso militar) e adaptações no futuro.

O Geoprocessamento, em síntese, permite otratamento da convergência de fatores típica darealidade ambiental, identificando os locaisespecíficos onde ocorrem tais convergências e,assim, caracterizando-os como locais de risco oude potenciais de utilização, também específicos. Osfatores considerados podem ser físicos, bióticos ousócio-econômicos, isoladamente ou emcombinações entre os mesmos. Os dados de cadafator comparecem em um nível de sistematizaçãobásico, ligado apenas ao esforço despendido emsuas classificações. As sistematizações são notóriasgeradoras de erros, principalmente quando usadasem estruturas de integração de dados, como são asanálises por critérios múltiplos, por exemplo, degrande uso em pesquisa ambiental. Os dados serãojulgados em relação ao risco ou potencial, ou seja,quanto às chances de ocorrência de eventosnegativos ou positivos em relação à ocupaçãohumana, mas que também podem ser analisados emsituações independentes da utilização pelo homem.A convergência dos dados, em termos de locais deocorrência, define a distribuição espacial das áreasde risco ou potencial, considerando a contribuiçãode cada fator, sem manipulações ou associaçõesconceituais prévias, como podem ser as agregaçõesou partições entre fatores naturais e sociais.

Questões ambientais de todas as naturezas,origens e níveis têm sido observadas ao longo dotempo, e os impactos das ações humanas e dosfenômenos naturais vêm sendo estudados, e públicae freqüentemente discutidos e divulgados,

especialmente nos últimos trinta anos (MELOFILHO, 2003).

A metodologia de Geoprocessamentoadotada foi elaborada conforme XAVIER DASILVA e CARVALHO (1993) e XAVIER DASILVA (2001), para os quais as ocorrências dessesproblemas de impacto ao meio ambiente saudávelsão comuns, dentro de dimensões básicas do mundofísico, por isso apresentam dimensão territorial eocorrem segundo um processo dinâmico, comofunção do tempo. Com base em informações deséries temporais dos registros das ocorrênciasdesses fenômenos ambientais, pode-se aprender ocomportamento de sua evolução e elaborarprevisões sobre prováveis ocorrências futuras.

Para compreender bem o fenômeno, ohomem, em seu processo de constante evolução,elabora metodologias e procedimentos para o seuaprendizado. Dessa forma, desenvolve processode levantamento de todos os aspectos para terconhecimento da situação atual, o que possibilitasuporte ao seu diagnóstico. Com base nessediagnóstico, pelo qual se tem a identificação e formada ocorrência dos fenômenos que atuam sobre oambiente em estudo, pode-se proceder aoprognóstico, pelo qual se faz sugestões para semodificar as condições de uso dos recursos, e faz-se também previsões para os casos de haveremsido, ou não, tomadas pelo administrador asprovidências quanto às medidas mitigadoras ecompensatórias XAVIER DA SILVA (2001).

Ao se debruçar para o estudo de conceitos eprincípios lógicos utilizados na pesquisa científica e,especialmente no Geoprocessamento, XAVIER DASILVA (op.cit.) destaca as abordagens do Teoremade Bayes - que se baseia na probabilidadecondicional, ou de indicadores, em que a ocorrênciade um fenômeno é determinada, uma vez constatadaa presença de um outro fenômeno a ele associado,e leva especialmente em conta o conhecimentoprévio do pesquisador, que é incorporado aosistema; da lógica booleana – que considera as regrasalgébricas AND, NOT, OR e XOR, e, de estruturabinária, sempre por decisão de verdadeiro ou falsopara um determinado evento, permite sucessões decombinações de atributos espaciais; e da lógicaFuzzy ou nebulosa, também descrita porBONHAM-CARTER (1998), como uma funçãode pertinência que exprime a possibilidade de umavariável constituir um plano de informação ambiental.

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Marino, T.B. et al.

A lógica Fuzzy, introduzida por Lotfi Zadeh, em1965, procura modelar os modos imprecisos doraciocínio, que têm um papel fundamental nahabilidade humana de tomar decisões. Esteprocessamento nebuloso incorpora a riqueza dasinformações fornecidas por especialistas (ZADEH,1965). Ela pode ser expressa como a booleana (0ou 1), mas, no caso de representar uma variávelcontínua, como os níveis de concentração dearsênico em sedimentos lacustres, há valoresintermediários presentes (entre 0 e 1), que sãosignificativos nos seus efeitos. Então, em escalas deintervalo ou razão, essa função de pertinência podesignificar a possibilidade de ocorrência dedeterminado fenômeno ambiental.

MELO FILHO (2003) apresenta ametodologia de mapeamentos de riscos ambientais(enchentes e desmoronamentos) e de qualidade devida na Bacia do Canal do Mangue (cidade do Riode Janeiro), integrando o ambiente físico ao humano.Suas análises são estruturadas numa árvore dedecisão (XAVIER DA SILVA, 2001), conjugandofatores naturais e históricos, riscos por intervençãohumana, infra-estrutura básica do estado e doindivíduo, condições sociais e herança cultural econjuntura econômica como fatores contribuintespara a determinação dos diferentes níveis de riscose qualidade de vida na região de estudos.

2.1 Formulação da análise ambiental

A formulação de média ponderada é propostanas avaliações ambientais, conforme a seguirexposta:

(1)

onde:n - número de parâmetros (mapas) utilizados;A

i,j - possibilidade de ocorrência do evento

analisado no elemento (pixel) i,j da matriz (mapa)resultante;

Pij(k)

- peso (percentual) da contribuição doparâmetro “k”, em relação aos demais, para aocorrência do evento analisado;

Nij(k)

- nota, segundo o(s) avaliador(es),dentro da escala de “0 a 10”, da ocorrência doevento analisado, na presença da classe encontradana linha i, coluna j do mapa k.

A partir desta formulação de AnáliseAmbiental, podem ser feitas as seguintes

proposições, também segundo XAVIER DA SILVA(2001):

· Ai,j exprime a possibilidade resultante doproduto da formulação ambiental, numa escala de0 a 10, para a ocorrência de um evento, ou entidadeambiental, que seja causado, em princípio, pelaatuação convergente dos parâmetros ambientais nelaconsiderados;

· os dados envolvidos na avaliação podemser lançados em uma escala ordinal que varie entre0 e 10 ou entre 0 e 100, para que seja gerada umaamplitude de variação suficiente a permitir maiorpercepção da variabilidade das estimativas;

· a normalização dos pesos, restritos entre osvalores 0 e 1, resulta na definição do valor do pesoatribuído a um mapa como o valor máximo quequalquer das classes daquele mapa pode assumir.Por exemplo: atribuir um peso de 40% ao parâmetro“declividades”, numa análise, significa que o máximoque uma determinada classe deste mapa podecontribuir na determinação da probabilidade deocorrência do evento analisado é de 4, numa escalade 0 a 10.

3. METODOLOGIA

3.1 A Escolha do SAGA/UFRJ

O Sistema de Análise Geo-Ambiental -SAGA/UFRJ foi implantado inicialmente em 1983no Departamento de Geografia da UFRJ, pelo Prof.Dr. Jorge Xavier da Silva, coordenador do entãoGrupo de Pesquisas em Geoprocessamento (GPG).Foi desenvolvido como um sistema para aplicaçõesambientais de fácil implantação e utilização emequipamentos de baixo custo, o que se tornoupossível, principalmente, graças ao crescimento dapopularidade e uso de microcomputadores do tipoIBM-PC.

Estimativas de riscos de desmoronamentos ede enchentes, potenciais turístico e de urbanização,levantamento e diagnóstico de remanescentes daMata Atlântica no Espírito Santo, para fins depreservação, e a análise da qualidade de vida emfavelas, constituem uma pequena amostra daspesquisas realizadas pela comunidade de usuários,através da utilização do Sistema de Análise Geo-Ambiental – SAGA/UFRJ (www.lageop.ufrj.br)que é uma ferramenta específica para oprocessamento das avaliações ambientais. Outrofator essencial é a possibilidade de acesso ao códigofonte do programa, viabilizando a criação das rotinas.

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Metodologia para tomada de decisão no âmbito de riscos sócio-ambientais em áreas urbanas ...

O VISTA/SAGA foi escolhido comoferramenta de aplicação em função de suapraticidade em se alcançar a finalidade proposta.

3.2 Árvore de Decisão: Transposições paraÁreas de Riscos

A Figura 2 ilustra os materiais e processosaplicados no trabalho. As caixas foram coloridasde modo a diferenciar os processos (retângulos) eprodutos (paralelogramos) específicos dametodologia apresentada (azul) da aplicaçãoespecífica para a Bacia do Cabuçu (laranja).

Todo o processo é modelado numa estruturade representação denominada “Árvore de Decisão”(BURROUGH e MCDONNELL, 1998), queapresenta, passo a passo, cada avaliaçãointermediária necessária a se chegar ao resultadofinal (“Transposições Indicadas para Riscos deenchentes e/ou deslizamentos e desmoronamentos”).

Constituem os procedimentos metodológicos:

Base de Dados Sócio-Econômica

No estrato superior do fluxogramaapresentam-se a malha e dados censitários, obtidosa partir do IBGE (2002). Constituem os elementosnecessários para a geração de mapas temáticos que

compõem a base de dados sócio-econômica doestudo. O processo é viabilizado, para estaparticular aplicação, por meio da utilização do“Módulo de Criação de Mapas Temáticos”,componente do aplicativo VISTA/SAGA. Aseleção dos índices sócio-econômicos para aelaboração do mapeamento da Qualidade de Vidafoi baseada no Índice de Desenvolvimento HumanoMunicipal (IDHM) e o Índice de Condições de Vida(ICV), abordando variáveis nas seguintesdimensões:

- Infra-estrutura básica do estado e doindivíduo: Domicílios com água canalizada da redegeral; Domicílios com coleta de lixo por serviço delimpeza; Domicílios ligados à rede esgotamento.

- Condições sociais e herança cultural:Densidade média de habitantes por domicílio; Nívelmédio de escolaridade; Nível de analfabetismo.

- Condições de Renda: Renda média dosresponsáveis por domicílios; Responsáveis comrenda inferior a 1 salário mínimo.

Base de Dados Física

Trata-se do conjunto de mapeamentos físicosda região de estudos. É composto pelos fatoresfísicos que influenciam diretamente, na concepção

Fig. 2 - Organização metodológica do trabalho.

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dos analistas, na ocorrência dos riscos ambientaisanalisados. Para a aplicação na Bacia do Cabuçuforam utilizados os mapas de Uso do Solo eCobertura Vegetal, Declividades, Altimetria,Proximidades Viária e da Rede de Drenagem,Geomorfologia e Geologia, disponíveis à épocadesta aplicação.

Avaliação Ambiental

A partir das bases de dados sócio-econômicae física aplicou-se formulação da AvaliaçãoAmbiental para obtenção dos mapas de “Qualidadede Vida/Assentamentos Precários”, “RiscosAmbientais” (Riscos de Enchentes - RE e Riscosde Deslizamentos e Desmoronamentos - RDD) e“Áreas Indicadas para Transposições” (AITs). Aescolha do algoritmo avaliativo para oprocessamento das análises também é flexível aoutras formulações e aplicativos, a critério doavaliador.

Análises Geotopológicas

Segundo XAVIER e ZAIDAN (2007, p. 20),“O Geoprocessamento tornou possível, em umaescala inimaginada, analisar a Geotopologia de umambiente, ou seja, investigar sistematicamente aspropriedades e relações posicionais dos eventos eentidades representados em uma base de dadosgeorreferenciados, transformando dados eminformação destinada ao apoio à decisão”.

A identificação de “Áreas Críticas” é produtode uma Análise Geotopológica, uma vez que asobreposição (overlay) do mapa de “Qualidade deVida” aos “Riscos Ambientais”, processada nomódulo “Combinação de Mapas” do VISTA/SAGA, resultará na combinação de todas asentidades (classes) do primeiro com o segundomapa. O resultado viabiliza a identificação deocorrências de incidências conjuntas de duas classesquaisquer de interesse para o estudo.

O termo é utilizado para definir o ganho deconhecimento oriundo do resultado desta operaçãouma vez que serão mapeadas localidades cuja baixaqualidade de vida incida em áreas de alto risco, ouseja, são áreas críticas. A ocorrência conjunta entreáreas de alto risco e baixa qualidade de vida constituiuma relação geotopológica entre as duas classescombinadas, no mapa resultante.

Relatórios planimétricos são realizados,através do módulo “Assinatura Ambiental”, do

VISTA/SAGA, a fim de quantificar espacialmenteas áreas críticas.

Finalmente, os mapas de “Áreas Indicadaspara Transposições” são combinados com os mapasde “Áreas Críticas” e, novamente, através da análisegeotopológica são identificadas áreas indicadas paratransposições para riscos de enchentes e riscos dedeslizamentos e desmoronamentos (estrato inferiorda Figura 2)

Para a síntese final de integração dos dados,foram elaboradas árvores de decisão distintas,estruturadas em bases da geografia física da regiãode estudo, e em bases da geografia humana, paraas quais se tomou como princípio os componentesambientais tradicionalmente pesquisados para acriação dos índices que expressam os níveis dedesenvolvimento regional e de qualidade de vida.

Na Figura 3 apresenta-se a estruturacompleta da árvore de decisão múltipla, forma pelaqual foram geradas as análises ambientais. E, nasdemais, imediatamente a seguir, expõem-seindividualmente as árvores dos temas físicos e dascaracterísticas populacionais que integraram osestudos para a definição da distribuição territorialda qualidade de vida e riscos na região da bacia doCabuçu.

O diagrama da Figura 3 é denominado“Árvore de Decisão” (XAVIER DA SILVA, 2001),uma vez que propicia, em seus diversos níveis, apoioa decisões quanto ao seu objetivo formal, ou seja,estimar a quantidade, a localização e a extensão dosmovimentos populacionais a serem executados emuma área, tendo em vista a melhoria da qualidadede vida de seus habitantes. Cada um dos retângulosrepresenta um mapeamento digital de um parâmetrode análise ou uma avaliação ambiental que tenhasido executada.

A inspeção desta árvore de decisão, comotambém das parciais seguintes, possibilita que seapresentem constatações relevantes quanto à origemdos dados:

· No estrato inferior da figura (nós folhasda árvore) constam os mapas básicos elaborados eque constituem os componentes ambientaisdecisivos para as análises que se vai empreender, eque são resultantes de levantamentos e deinterpretações da realidade ambiental da Bacia doCabuçu.

· Os mapas da geografia física, utilizadosnos ramos de riscos de enchentes e deslizamentos,

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Fig. 3 - Árvore de decisão: Transposições de Assentamentos Precários (adaptado de XAVIER DA SILVA,2007).

foram elaborados por meio de estudos realizadosno projeto “Cabuçu de Baixo” (BARROS, 2004).A partir destes foram realizados procedimentos deconversões dos mapas digitais, em formato SHPpara o formato Raster/SAGA.

· Os mapas da realidade ambiental soba perspectiva da geografia humana, utilizados nosramos infra-estrutura, condições sociais e condiçõesde renda foram gerados a partir dos dadoscensitários produzidos por IBGE (2002), referentesà Base de Informações por Setor Censitário –Censo demográfico 2000.

· Os mapas derivados e resultantes deanálises mostram-se de forma assimétrica nomodelo, e foram elaborados no ambiente doprograma VISTA/SAGA.

· A estimativa de mais alto nível foiobtida a partir da conjugação e integração dasCondições Físico-Ambientais com a representaçãocartográfica das Condições de Renda, e constitui,para o elevado nível de detalhe possibilitado pelaescala e resolução adotadas, a distribuição territorialde locais indicados para transposições deassentamentos precários.

· Deve-se esclarecer que as escolhasdos parâmetros (mapas) envolvidos bem comoatribuições de pesos e notas para as avaliaçõesrealizadas neste trabalho foram realizadas de acordo

com a opinião do pesquisador deste projeto, quenão detém todos os conhecimentos suficientes parauma análise deste nível de complexidade. Valelembrar que este é um processo extremamenteinterativo e interdisciplinar, devendo contar comtécnicos especializados nos temas em discussão afim de se obter valores mais próximos da realidade.Neste caso o objetivo principal é de apresentar ametodologia de localização de áreas sob riscosambientais.

3.2.1 Detalhamento dos fatores abordados

Riscos de Enchentes - RE

A parte mais inferior da figura 4 é constituídapelos mapas digitais Uso do Solo e CoberturaVegetal, Declividades, Hipsometria, Geologia,Geomorfologia, Proximidade de Rede Viária,Proximidade da Rede Hidrográfica. Este nível foidenominado Base Temática Inicial. A partir dacombinação destes sete parâmetros, ponderadosde acordo com o grau de importância, na concepçãodo avaliador, foi gerada a carta de Riscos deEnchentes.

Riscos de Deslizamentos e Desmoronamentos- RDD

A figura 5 mostra as ponderações atribuídasaos fatores relacionados aos deslizamentos edesmoronamentos, para a aplicação considerada.

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Fig. 4 - Composição da Árvore de Riscos deEnchentes.

Fig. 5 - Composição da Árvore de Riscos deDeslizamentos e Desmoronamentos.

Fig. 6 - Composição da Árvore de Áreas Indicadaspara Transposições.

Fig. 7 - Composição da Árvore de Qualidade deVida (Assentamentos Precários).

Áreas Indicadas para Transposições

A avaliação processada na árvore retratadana Figura 6 aponta as áreas indicadas paratransposições de assentamentos precários em funçãoda conjugação dos fatores físicos apresentadoscomo parâmetros desta análise (uso do solo,declividade, faixa altimétrica e demaiscondicionantes), considerados ideais para ahabitação humana.

Qualidade de Vida (Assentamentos Precários)

A Árvore de Decisão representada na Figura7 apresenta oito mapas oriundos de dadoscensitários. Os dois mapas à direita do observadorsão relativos às condições de renda dos habitantesdos setores censitários (“renda média dosresponsáveis por domicílios” e “% da populaçãocom renda inferior a um salário mínimo”). Estesdois mapas geraram, por avaliação, o mapadenominado “Condições de Renda”, o qual retrata,à luz dos parâmetros usados, as condiçõeseconômicas da população. Analogamente, com osmapas “Domicílios com água canalizada”,“Domicílios com coleta de lixo” e “Domicílios ligadosà rede de esgotamento”, situados à esquerda, nestealinhamento, foi gerado, por avaliação, o mapa“Infra-Estrutura Básica”. E por último, os três mapas

do meio, representados por “Densidade média dehabitantes por domicílio”, “Nível médio deescolaridade” e “Nível de analfabetismo” compõemas “Condições Demográfico-culturais”.

Esses três mapas (“Infra-Estrutura”,“Condições Demográfico-culturais” e “Condiçõesde Renda”), geraram, por avaliação, o mapa“Qualidade de Vida (Assentamentos Precários)”, aser utilizado posteriormente, durante a execução donível de análise definidor de “Áreas Críticas”.

Reitera-se que a seleção dos parâmetrossócio-econômicos foi baseada no Índice deDesenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e oÍndice de Condições de Vida (ICV), apresentadosna sessão “Base de Dados Sócio-Econômica” doitem 3.4.

Árvores de Áreas Críticas

O primeiro relacionamento é a identificaçãode áreas comuns entre os mapas de riscos (nestecaso apenas enchentes e movimentos de encostas)e o mapa que sinaliza os locais onde já existemassentamentos precários ou nos quais taisassentamentos poderão vir a existir, por serem áreas,em princípio, carentes quanto às condiçõessocioeconômicas e/ou de infraestrutura. Estaconjugação é representada na Figura 8.

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3.3 Organização da Base de Dados Física

Foram integrados dados materiais produzidospela pesquisa “Gerenciamento Integrado de BaciasHidrográficas em Áreas Urbanas” (BARROS,2004), projeto este, também realizado na Bacia doCórrego Cabuçu de Baixo, além de dadosprovenientes do Atlas Ambiental do Município deSão Paulo (ATLAS, 2002) .

Todos os dados utilizados foram registradospara o sistema de coordenadas UTM (fuso 23,Datum Córrego Alegre) de forma a constituírem umabase compatível e facilitar a interpretação visual dedados da imagem com base nas referências espaciaisdas demais bases de dados.

3.4 Organização da Base de Dados SócioEconômica

Os procedimentos metodológicos para aelaboração das bases cartográficas da Região daBacia do Cabuçu, tanto do ambiente físico, comoda caracterização ambiental da população, seguiramcaminhos distintos, proporcionados peloGeoprocessamento.

Para a concepção da base de dados dageografia humana, a origem e o formato dos dadosforam únicos, exclusivamente apoiada nos resultadosdo Censo 2000 (IBGE, 2002) no nível de detalheproporcionado pelos setores censitários.

As análises ambientais da populaçãoresidente na área de estudos versaram sobre trêsprincipais dimensões, cada uma delas com seuconjunto de variáveis, empregadasconvencionalmente para a detecção dos índices dedesenvolvimento humano e de qualidade de vida.Desta forma, foram desenvolvidos mapas temáticossobre condições de infra-estrutura, caracterizadaspelas contribuições do estado e do indivíduo para aqualidade de vida, correspondentes aos cuidadoscom o saneamento básico, como condições dodomicílio quanto à água canalizada, coleta de lixopor serviço de limpeza, ligação à rede de esgotos edomicílios com banheiro exclusivo; sobre condiçõessociais e herança cultural, como número dehabitantes por domicílio, níveis de escolaridade,identificação de analfabetismo; e das condições derenda, com dados cartográficos sobre classes derenda, bem como as condições de renda mínima erenda máxima.

Fig. 8 - Composição das Árvores de Áreas Críticaspara Riscos de Enchentes e Riscos de Deslizamentose Desmoronamentos.

Fig. 9 - Composição da Árvore de Áreas Críticaspara RE e RDD e Transposições Possíveis

Árvores de Áreas Críticas para RDD e RE eTransposições Possíveis

Conjugando os dois mapas do penúltimo sub-nível determinam-se as “Áreas Críticas para RiscosDeslizamentos e Desmoronamentos e Riscos deEnchentes” (Figura 9). Torna-se possível identificar,com apoio em definições quanto a distânciasmáximas recomendáveis para transposições depopulação, a fim de evitar impactos econômicos esociais, quais as áreas de riscos quanto a enchentesnas quais já existam assentamentos precários e quepoderão ser transferidas para áreas melhores emtermos de condições físicas, bióticas e sócio-econômicas (proximidades de vias de transporte,terrenos de topografia não acidentada e sem riscosde enchentes, por exemplo).

Um outro produto importante deste confrontoentre mapas é a identificação de assentamentosprecários localizados em áreas afastadas de áreasindicadas para transposição. Para estesassentamentos outras soluções terão que seraventadas; uma delas, já sugerida em parágrafoanterior, sendo a criação de soluções para melhoriada qualidade de vida no próprio local onde estáestabelecido o assentamento precário (favela bairro,contenção de encostas, etc) .

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3.4.1 Unidade territorial: Setor censitário

A unidade territorial adotada para as análisesreferentes à população é o setor censitário,conforme delimitado e identificado por IBGE (2002).A partir dos dados originais contidos nas planilhas,elaborou-se toda a base de dados georreferenciada,de estrutura matricial, apropriada para as análises aserem realizadas no ambiente do sistema SAGA.

A região de estudo abrange o total de 442setores censitários, os quais variam enormementeem superfície. As áreas de maior concentração deocupação humana apresentam-se maisfragmentadas, em essência, na porção inferior dabacia, enquanto o setor norte, predominantementecoberto por mata nativa, de baixíssima concentraçãohumana, apresenta setores com grande porçãoterritorial.

Convém justificar a ausência de dados sócio-econômicos para os setores censitários localizadosno setor norte da área de estudo, uma vez que estasregiões representam Áreas de Proteção Ambiental(APA) e, portanto, não ocupadas pelo homem. Nasplanilhas de dados oriundas do Censo (2000),disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística, estes setores apresentamvalores nulos para todos os campos de informações(IBGE, 2002). Este fato justifica a ausência deresultados nas análises de Qualidade de Vida,baseadas em dados censitários do IBGE. Trata-sede região da Serra da Cantareira, onde de fato nãoocorreu processo de ocupação humana.

A base de dados cadastrais da população,em escala dos setores censitários, resultado doCenso 2000, foi disponibilizada pelo IBGE em2002, estruturada em quatro dimensões, a saber:Domicílios, Pessoas, Instrução e Responsáveis.

A permitir aquela visualização, os arquivosdisponibilizados em IBGE (2002) estão nosseguintes formatos: SHP, SHX, SBN, SBX e DBF,constituindo este último os valores tabulares.

A geração de toda a base georreferenciadapara este trabalho, no trato dos dados populacionais,foi desenvolvida com utilização da ferramenta decriação de mapas temáticos, disponível no módulo“VISUALIZAÇÃO”, do aplicativo VISTA/SAGA.

Primeiramente realizou-se a conversão damalha de setores censitários do formato shape (shp)para o formato matricial Raster/Saga (rs2), por meiodo “Conversor SHP->RS2”, aplicativo

desenvolvido e disponibilizado pelo LAGEOP/UFRJ.

Em segunda etapa, as tabelas originais parao município de São Paulo, de Domicílios, Pessoas,Instrução e Responsáveis, foram filtradas para a áreade estudo, pela seleção daqueles setores censitários.Todas as planilhas DBF que, antes apresentavamaproximadamente 13 mil registros, referente a todosos setores censitários da Cidade de São Paulo,passa a ter apenas 442 registros, referentes apenasaos setores cobertos pela bacia do Cabuçu. Esteprocessamento se faz necessário visando aperfeiçoaro desempenho do módulo de criação de mapastemáticos do VISTA/SAGA, reduzindo assim otempo de processamento do mesmo. A filtragemde dados foi realizada por meio da ferramenta“Filtrar dados de tabelas”, também disponível noaplicativo VISTA/SAGA.

Tendo em vista que as tabelas originais doIBGE, de formato DBF, trazem o cabeçalho (nomesdos campos) em código no formato V0001,V0002,...V2500, pois são elaboradasespecificamente para o uso no ambienteESTATCART e sendo inviável descrever osignificado de cada campo em seu título, o IBGEos codifica nos arquivos e disponibiliza um manualdescritivo de cada uma das variáveis por meio doum documento denominado “Censo Demográfico2000” (IBGE, 2002) .

4. PROCESSAMENTOS E RESULTADOSDAS AVALIAÇÕES AMBIENTAIS

Como se pode verificar na formulação daanálise ambiental, baseada no Teorema de Bayes,as notas atribuídas a cada classe, são proporcionaisà probabilidade de ocorrência do risco analisado,numa escala ordinal de 0 a 10, na visão do grupode analistas, condicionada à presença desta classe(XAVIER DA SILVA, 2001).

As classes “BLOQUEADAS” são aquelasque não serão processadas pelo algoritmo, uma vezque não há necessidade de analisar a ocorrência deriscos condicionados às mesmas por não seremantropizadas (ex.: oceano atlântico, rios) ou nãoestarem dentro do escopo do projeto (ex.: área forade análise, limite da bacia).

No caso específico deste estudo, as regiõesnão antropizadas também não foram analisadas, umavez que estas regiões não apresentam dados sócio-econômicos, inviabilizando assim, a elaboração domapeamento de qualidade de vida nestas regiões.

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A distribuição de pesos para cada parâmetropossibilita a ponderação destes, segundo o pontode vista dos analistas envolvidos, em função do graude influência daquele parâmetro na probabilidadeda ocorrência do evento analisado, em relação aosdemais envolvidos na avaliação. Para fins desimplificação dos cálculos, a soma da distribuiçãodos pesos deve ser igual a 100.

4.1 Carta de Áreas Críticas para Riscos deDeslizamentos e Desmoronamentos

Como entrada para esta AnáliseGeotopológica foram utilizados os mapas de“Qualidade de Vida/Assentamentos Precários” e“Riscos de Deslizamentos e Desmoronamentos -RDD”, sendo o primeiro mapa, apresentando cincolegendas: baixíssimo, baixo, médio, alto e altíssimorisco. Já o segundo mapa apresenta quatrolegendas: baixa, média, alta e altíssima Qualidadede Vida. Nota-se, portanto, que não forammapeados setores de baixíssima qualidade de vida,de acordo com os parâmetros selecionados nestaaplicação metodológica.

Vale lembrar que as Avaliações Ambientaisproduzem mapeamentos de riscos/potenciaiscompostos por classes entre zero e dez, onde aclasse “Nota 0” representa localidades de menorrisco/potencial e a classe “Nota 10” representa aslocalidades de mais elevado risco/potencial paraocorrência do evento analisado.

Os agrupamentos das classes de avaliaçãoforam destinados meramente à exibição dos mapas,para fins de simplificação na inspeção do analista.Para utilização em cômputos estão preservados osdados não aglutinados, sendo estes últimos osutilizados nas avaliações por apresentarem maiorriqueza taxonômica. O Quadro 1 mostra osagrupamentos realizados.

Analisando o intervalo de classes atribuídoao mapa resultante (Figura 10), destacam-se osseguintes casos:

§ Altíssima Qualidade de Vida + BaixoRisco de Enchentes: atribuída a classes cujacombinação mapeou localidades onde a qualidadede vida é considerada alta, ao passo que os riscosde ocorrência de deslizamentos são consideradosbaixos para estas mesmas localidades.

§ Média Qualidade de Vida + MédioRisco de Enchentes: representada por ocasiões cujonível de criticidade é considerado médio, ou seja,localidades cuja qualidade de vida é considerada

média e os riscos também se apresentam em tornodo grau médio.

§ Baixa Qualidade de Vida + AltíssimoRisco de Enchentes: representa as classes maisimportantes nesta análise, cuja qualidade de vida éconsiderada baixa, de acordo com a classificaçãodo IBGE e ao mesmo tempo encontra-se em áreasde elevados riscos de ocorrências de deslizamentos,salvo as classes “Altíssima Qualidade de Vida + AltoRisco de Enchentes”, “Alta Qualidade de Vida +Alto Risco de Enchentes” e “Alta Qualidade de Vida+ Altíssimo Risco de Enchentes”, que representamlocalidades de elevada qualidade de vida, porémque também se situam em áreas de elevado risco.Estes, apesar de não serem consideradosassentamentos precários, também devem seranalisados com atenção, pois, independente daclasse social, estão localizados sob área de elevadorisco.

4.2 Carta de Áreas Indicadas paraTransposições

Para a avaliação do potencial de urbanizaçãoda Bacia, foram levados em conta:

Fatores Topográficos: para declividadesmenos acentuadas são atribuídas maiores notas, umavez que o risco de ocorrências de deslizamentosaumenta de acordo com acentuação dos aclives. Ahipsometria é levada em conta devido à dificuldadede acesso que se cria, pela ausência de vias, emfunção da elevação.

Fatores Antrópicos: O mapeamento de“Uso do Solo e Cobertura Vegetal” considera o tipode ocupação atual, atribuindo-se notas maiselevadas para áreas sem ocupação como, porexemplo, a classe “Áreas vagas sem vegetação”. Aconsideração do parâmetro “Proximidades deSuperfícies Líquidas”, se dá pelo fato de quantomenor a distância da rede de drenagem, maior orisco de ocorrência de enchentes. Paraproximidades de rede viária, são consideradas

Quadro 1. Agrupamentos de classes resultantes deavaliação.

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Fig. 10 - Mapa de Áreas Críticas para Riscos de Desmoronamentos e Deslizamentos.

melhores, as localidades mais próximas das vias deacesso, recebendo estas maiores notas.

Fatores Geológicos: A geologia egeomorfologia analisam os tipos de rochas firmes esolos favoráveis à construção de moradias. Solosarenosos, argilosos, várzeas, picos e espigões sãoinviáveis para a antropização.

4.3 Carta de Transposições para Riscos deEnchentes

A elaboração da carta de Transposições paraRiscos de Enchentes deu-se por meio dasobreposição entre o “Mapa de Áreas Indicadaspara Transposições - AIT” (Figura 11) e “Riscosde Enchentes” (Figura 12). Os critérios utilizadospara a elaboração do referido mapa estão no AnexoI.

A partir do resultado deste cruzamento, pormeio de Análises Geotopológicas, foramidentificadas as ocorrências conjuntas das áreasindicadas para transposições sobre as áreas críticaspara enchentes, ou seja, onde altos riscos deocorrências de enchentes coincidam com áreas debaixa qualidade de vida. Procedimento análogo foiadotado para a elaboração do “Mapa deTransposições para Riscos de Desmoronamentose Deslizamentos” (Figura 13).

Através da inspeção visual do maparepresentado na Figura 13 é possível identificar nãosomente as localidades favoráveis à transposição,mas também a ocorrência destas áreas próximas àsresidências situadas em áreas críticas, com o objetivode se respeitar um limite mínimo de distância para

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as transposições, a fim de evitar impactoseconômicos e sociais nas famílias envolvidas apóso processo. Este fator facilita enormemente narelação com a população afetada, uma vez que estasfamílias serão deslocadas para áreas, consideradasseguras e próximas de seu ciclo social.

5. CONCLUSÕES

As avaliações ambientais apontaram os locaisna Bacia do Córrego Cabuçu de Baixo onde aexpansão urbana deve ser evitada, localidades estas,sujeitas a elevados riscos de enchentes edeslizamentos (conflitos potenciais), e por outrolado, também indicaram locais em que a expansãourbana poderá ser realizada sem problemas para apopulação e para o poder público, apontadas através

da interpretação dos mapas de Indicações paraTransposições de Áreas Críticas para Deslizamentose Enchentes, a partir dos critérios utilizados notrabalho e apresentados na metodologia.

A metodologia de criação de mapeamentosde Qualidade de Vida na região também foi atestadapor meio dos mapeamentos resultantes da árvoreda Figura 7, onde foram dissecados todos os temassocioeconômicos, considerados por referências noassunto, imprescindíveis à determinação daqualidade de vida humana.

Por complemento foi obtido também omapeamento de Assentamentos Precários, ou seja,Baixa Qualidade de Vida, de acordo com o Índicede Desenvolvimento Humano (IPEA, 1998). Apartir deste mapa foi realizada a análise

Fig. 11 - Mapa de Áreas Indicadas para Transposições - AIT.

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Fig. 12 - Mapa de Transposições para Riscos de Enchentes.

geotopológica, por meio de combinação de mapas,processadas no aplicativo VISTA/SAGA, a fim dedeterminar a ocorrência de áreas críticas, ou seja,localidades onde sejam encontradas a ocorrênciaconjunta de assentamentos precários (baixaqualidade de vida) sobre áreas de alto risco deocorrência de enchentes e deslizamentos. Oresultado final foi apresentado por meio do “Mapade Áreas Críticas para Riscos deDesmoronamentos e Deslizamentos” (Figura 10).

Finalmente, a combinação destes dois últimosmapeamentos com o “Mapa de Áreas Indicadaspara Transposições - AIT” (Figura 11) resultou omapeamento de áreas possíveis para transposiçõesde assentamentos precários. Através dainterpretação visual do “Mapa de Transposições

para Riscos de Enchentes” (Figura 12) e “Mapa deTransposições para Riscos de Desmoronamentose Deslizamentos” (Figura 13), pôde-se identificaráreas próximas, seguras para a transposição (altaindicação para transposição e baixo risco deenchente, desmoronamento e deslizamento),respeitando um limite de distância da localizaçãode origem das famílias situadas em áreas críticas.Em áreas cujos assentamentos precários ocorramsob alto risco de enchentes e deslizamentos e nãoocorram áreas próximas indicadas para realocação,sugere-se que sejam realizados investimentos emtrabalhos de melhoria de infraestrutura destes locais.

A obtenção dos mapeamentos finais detransposições indicadas para os riscos analisados,não só culminou na chegada do objetivo principal

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Metodologia para tomada de decisão no âmbito de riscos sócio-ambientais em áreas urbanas ...

Fig. 13: Mapa de Transposições para Riscos de Desmoronamentos e Deslizamentos.

inicialmente proposto, mas também comprova aeficácia do aplicativo VISTA/SAGA como umaferramenta de aplicação que viabiliza a conduçãoda metodologia. Com a possibilidade de acessoao código do programa, viabilizou-se aimplementação das rotinas complementares,imprescindíveis à otimização e execução dosprocessos envolvidos. Como contribuição aoVISTA/SAGA, o aplicativo herda uma série deferramentas, desenvolvidas ao longo deste trabalho,que potencializam ainda mais a capacidade analíticapara a realização de análises de riscos.

Objetivou-se, com o presente estudo, levantarcaminhos simples para a aquisição de conhecimentossobre estas condições ambientais precárias, gerandodiagnósticos e prognósticos como elementos de

apoio à decisão quanto à melhoria da qualidade devida dos habitantes destas áreas urbanasproblemáticas.

Em essência, foram levantados potenciais deutilização da área, juntamente com os riscos deeventos danosos, dentro do quadro deoportunidades e ameaças a estas áreas inseridasdentro do tecido urbano.

Uma vez realizados estes estudos osconhecimentos adquiridos, pelo uso doGeoprocessamento, sobre a realidade ambientalurbana e problemática da Bacia do Córrego Cabuçude Baixo poderão ser extrapolados, com as devidasprecauções, para inúmeras outras áreas urbanas quepossuem características semelhantes e enfrentam osmesmos problemas.

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100 Revista Brasileira de Cartografia, N0 64/1, p. 83-101, 2012

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