Metodologias de análise de cibergêneros no jornalismo brasileiro

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  • 8/9/2019 Metodologias de anlise de cibergneros no jornalismo brasileiro

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    METODOLOGIAS DE ANLISE DE CIBERGNEROS NO JORNALISMO BRASILEIRO

    LIA SEIXAS

    Universidade Federal da Bahia, Brasil

    Resumo: Atualmente, os estudos sobre cibergneros seguem duas grandes linhas de fundamentao

    terica: 1) os principais critrios de definio dos gneros da web so as propriedades das mdias

    digitais; e 2) o cibergnero, assim como qualquer gnero, estabiliza prticas sociais-lingusticas. No

    Brasil, predomina a primeira, embora a segunda venha ganhando fora. Ainda bastante incipiente, a

    pesquisa sobre cibergnero no Brasil tem como principal trabalho o livro organizado pelos linguistas

    Luiz Marcuschi e Antnio Carlos Xavier (UFPE, 2004). Embora com diferentes objetivos, os

    parmetros de anlise dos linguistas so muito similares queles do jornalismo: propriedades das

    novas mdias. No jornalismo, a pesquisa sobre gneros se desenvolveu separadamente por mdia

    (digital) ou por domnio (jornalismo). Essa separao gerou uma ausncia de dilogo entre os

    pesquisadores. Hoje, a tendncia, entretanto, o crescimento da segunda linha, com a qual dialogamos

    em nossa proposta de tese: investigar quais so e como se comportam os elementos que formam os

    conjuntos de atos comunicativos.

    Palavras-chave: cibergnero, metodologia, jornalismo, web, brasil

    Introduo

    Atualmente, os estudos sobre cibergneros seguem duas grandes linhas de fundamentao

    terica: 1) os principais critrios de definio dos gneros da web so as propriedades das mdias

    digitais; e 2) o cibergnero, assim como qualquer gnero, estabiliza prticas sociais-lingusticas. A

    primeira linha tem mais representantes nos Estados Unidos, Canad, Espanha e pases baixos

    (Dinamarca e Sucia). A segunda linha mais forte no Reino Unido e Frana. Melhor, a prima linha

    est nas rea de cincias da computao e da informao e a segunda nas reas de lingustica eretrica1. De forma resumida, as cincias da computao e da informao analisam os cibergneros

    pelos critrios de forma, contedo, propsito e funcionalidade, enquanto a lingustica se preocupa com

    1 Na lingustica, destaca-se a Genre Theory, com Carolyn Miller, Charles Bazerman, Carol Berkenkotter,Devitt, Huckin, Freedman e Medway - da The orth American Genre School(NAGS) -, John Swales (EUA)e Vijay Bhatia (Hong Kong). Nas cincias da computao, os autores que trabalham cibergneros soThomas Erickson (designer de interao e pesquisador do Social Computing Group na IBM's Watson Lab),Shepherd & Watters , Ryan et al, Crowston & Kwasnik,Tom & Campbell (Canad), Carina Ihlstrom(Sucia), Yates, & Sumner e Santini, Power & Evans (UK). Em comunicao, as pesquisas que mais sedesenvolveram sobre cibergneros so dos professores Javier Daz Noci e Ramon Salaverra. Na Frana, o

    grupo que tem se destacado na pesquisa de gneros jornalsticos, incluindo o cibergnero, faz parte da Redede Estudos sobre Jornalismo (Rseau dtudes sur le journalisme REJ - http://www.surlejournalisme.com).Ver Imagem 1, em Anexos.

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    o carter de fixao e estabilidade que o gnero impe aos tipos discursivos. Os primeiros a estudarem

    os gneros digitais, em 1997, foram Michael Shepherd (Dalhousie University, Canad) e Carolyn

    Watters (Acadia University, Canad) das cincias da computao.

    No Brasil, a pesquisa sobre cibergneros no jornalismo ainda bastante incipiente. Os estudos

    de gneros se desenvolveram separadamente por mdia (digital) ou por domnio (jornalismo). Os

    gneros do jornalismo (ou gneros jornalsticos) comearam a ser estudados desde a dcada de 50 por

    Luiz Beltro e atualizados por Marques de Melo na segunda metade da dcada de 80. J os gneros

    das mdias digitais (ou cibergneros) comearam a ser pesquisados h cerca de quatro anos (2004)

    pelo campo da lingustica. Os gneros da mdia digital no campo jornalstico carecem de pesquisas

    aplicadas. Exceto por um artigo e uma tese ligada ao Grupo de Jornalismo Online (Gjol), no existem

    estudos sobre cibergneros no jornalismo2.

    Em se tratando da noo de gnero, o campo de pesquisa do jornalismo tem uma tradio de

    estudos por mdia, ou seja, estuda-se gneros televisivos, gneros radiofnicos ou gneros

    jornalsticos, quando se fala da mdia impressa. Isso mostra que os pesquisadores brasileiros tm

    como pressuposto que a mdia um critrio definidor da genericidade de unidades discursivas. Um

    pressuposto que no sequer colocado em questo. Por isso, os estudos dos gneros televisuais se

    desenvolveram parte do campo jornalstico, fundamentados na semitica e nos Estudos Culturais. J

    o trabalho sobre gneros radiofnicos sempre esteve no guarda-chuva do campo jornalstico, voltado-

    se para o objetivo semelhante de classificar.

    O campo da pesquisa jornalstica se empenha, ainda hoje, em resolver um paradigma 3 da

    2 Machado, Elias, Borges, Clarissa, Miranda, Milena, Os gneros narrativos no jornalismo digital baiano, in:Pauta Geral, Salvador, v. Vol 5, p. 105-117, 2003. Seixas, Lia Gneros Jornalsticos Digitais. Um estudodas prticas discursivas no ambiente digital, artigo apresentado na Comps, Rio Grande do Sul, 2004,disponvel em http://www.facom.ufba.br/Pos/gtjornalismo/home_2004.htm. Em sua tese de doutorado, Thasde Mendona define hipernotcia como um subgnero do gnero informativo. Jorge, Thas de Mendona.

    A notcia em mutao. Estudo sobre o relato noticioso no jornalismo digital, Universidade Federal deBraslia, 2007. Nossa tese de doutorado deve ser a primeira pesquisa sistemtica que contempla oscibergneros no jornalismo, j que compara a mdia impressa e a digital. A tese A rosa dos gneros. Umaproposio de anlise dos elementos cardeais dos gneros jornalsticos est sendo desenvolvida noPrograma de Ps-Graduao Comunicao e Cultura Contemporneas da Faculdade de Comunicao daUFBa. Ver Imagem 2, em Anexo.

    3 O paradigma da objetividade realmente um 'falso paradigma' (Chaparro) se consideramos a interpretao,sempre existente no discurso jornalstico, mas se constituiu em regras, valores, normas da atividade,influenciando descisivamente nos contornos dos gneros discursivos jornalsticos. Assim, o paradigmaOpinio x Informao tem condicionado e balizado, h dcadas, a discusso sobre gneros jornalsticos,impondo-se como critrio classificatrio e modelo de anlise para a maioria dos autores que tratam doassunto. (...)Trata-se de um falso paradigma, uma fraude terica, porque o jornalismo no se divide, mas se constri com

    informaes e opinies. Alm de falso, o paradigma est enrugado pela velhice de trs sculos. Chaparro,Manuel. Uma nova proposta para a questo dos gneros, in: CHAPARRO, Manuel Carlos (1998), Sotaquesd'Aqum e d'Alm Mar - Percursos e Gneros do Jornalismo Portugus e Brasileiro, Jortejo Edies,

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    para outras reas. O pesquisador russo aproveitou o que representava o romance no seu nascimento e o

    trouxe como objeto principal de seus estudos. Seu conceito de dialogismo, ao colocar o bero dos

    gneros na esfera prosaica da linguagem, seduziu todos aqueles que queriam trabalhar com o discurso

    cotidiano, ou precisavam compreender a esfera do reconhecimento, ou ainda, analisar o hibridismo e a

    pluralidade. Revisto ou reinterpretado, o conceito de gnero aceito por 100% dos pesquisadores que

    estudam a noo aquele desenvolvido por Bakhtin: tipos relativamente estveis de enunciados8.

    As metodologias dos estudos de gneros e cibergneros no Brasil acompanham o cenrio

    descrito acima. Na rea do jornalismo, os principais mtodos de investigao so a pragmtica da

    comunicao, a anlise do discurso (AD, Charaudeau e Maingueneau), a anlise crtica do discurso

    (ACD, van Dijk), os estudos culturais, a teoria da interao (Goffman) e as teorias classificatrias

    (Beltro, Albertos). Na Lingustica, as metodologias mais trabalhadas so a lingustica de texto, a

    anlise conversacional, a scio-discursiva (Bakhtin, Adam, Bronckart), a scio-semitica para os

    estudos de gneros textuais/discursivos, ascio-retrica (Miller, Bazerman e Swales) tambm para os

    gneros digitais e a AD, por um grupo da UFMG.

    Os estudos sobre cibergneros

    [...]

    8 BAKHTIN, M./VOLOCHINOV, V. N. (1929) Marxismo e filosofia da linguagem. SP: Hucitec, 1981.