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MÉTODOS E PLANOS PARA O ENSINO DOS ESPORTES · como basquete, futebol de campo, futsal, handebol, vôlei e judô abordados sob tópicos de síntese histórica, fundamentos e respectivos

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MÉTODOS E PLANOS PARA O ENSINO DOS ESPORTES Carlos Alberto Tenroller & Eduardo Merino

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 3 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4 CAPITULO 1: Conceitos Gerais ......................................................................... 5

1.1 Esporte e sua origem................................................................................ 5 1.2 Como surgiu a primeira bola: lenda, mito ou verdade? ............................ 6 1.3 Conhecimentos indispensáveis como base para o ensino dos esportes.. 7

1.3.1 Educação ........................................................................................... 9 1.3.2 Educação Física............................................................................... 10 1.3.3 Pedagogia e didática........................................................................ 11

1.4 Princípios básicos que deverão ser considerados no planejamento das aulas sobre esportes .................................................................................... 11

1.4.1 Elementos indispensáveis em um bom plano de ensino das aulas de esportes .................................................................................................... 12

1.5 Estrutura do plano de aula para o ensino dos esportes.......................... 16 CAPÍTULO 2 Métodos mais utilizados para o ensino dos esportes ................. 20

2.1 O que é método ...................................................................................... 20 2.1.1 Método parcial ou analítico .............................................................. 22

2.1.2 Método global ou método complexo .................................................... 22 2.1.3 Método misto.................................................................................... 23 2.1.4 Método global em forma de jogo ou método de confrontação ......... 23 2.1.5 Método em série de jogos ................................................................ 23 2.1,6 Método recreativo............................................................................. 24 2.1.7 Método transfert ............................................................................... 24 2.1.8 Método da cooperação-oposição ..................................................... 25

CAPÍTULO 3 Basquetebol................................................................................ 27 3.1 Síntese histórica do basquetebol............................................................ 27

3.2 Os fundamentos do basquetebol ........................................................ 28

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APRESENTAÇÃO De forma surpreendente este livro, que reúne informações e orientações de grande pertinência para a atuação acadêmico-profissional, vem ao encontro de necessidades e anseios do corpo docente e discente da educação física. Os autores, preocupados em sintetizar com qualidade aspectos importantes para o desenvolvimento do ensinar o esporte, agregam conceitos gerais de temas que a essa atividade se relacionam, apresentando de forma clara a inserção da prática desportiva no ensino. Revêem metodologias que podem ser aplicadas e que são comumente utilizadas para o ensino propriamente dito do esporte. Como eixo central, encontramos, de maneira singular, esportes como basquete, futebol de campo, futsal, handebol, vôlei e judô abordados sob tópicos de síntese histórica, fundamentos e respectivos planos de aula, procurando fornecer subsídios para a atuação prática, dotada de um discernimento evolutivo e com conhecimento dos fundamentos de cada modalidade esportiva apresentada. Enfim, com muita satisfação congratulo os autores, que, com grande competência, conseguiram contextualizar o esporte, proporcionando recursos metodológicos e convidando o leitor a refletir através de sugestões e idéias inovadoras. É de enorme valia podermos contar com um apanhado tão rico de informações pertinentes. Faço consideração especial ainda à superação de vida do professor Carlos, cujo progresso acompanhei. Sou testemunha da sua imensa vontade de vencer, demonstrada em seu constante aprimoramento, com muita motivação, garra e esperança, visando sempre contribuir para a sociedade do conhecimento no que tange ao mundo do esporte e suas vertentes.

Ana Lígia Finamor Profa. Dra. do curso de Educação Física da ULBRA Canoas

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INTRODUÇÃO Há muito que o homem se dedica à prática de atividades físicas. Em relação ao esporte, fenômeno que ocupa espaços cada vez maiores em nossa sociedade, não é diferente. A importância da prática esportiva é facilmente percebida através dos jornais, das revistas, da televisão, onde os atletas, muitos deles nossos ídolos ou heróis, podem ser vistos com freqüência. Esse fenômeno acentua-se nos períodos em que ocorrem jogos olímpicos ou campeonatos mundiais/internacionais. Para se ter noção da importância do esporte no mundo, a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) proclamou o ano de 2005 como o "Ano Internacional do Esporte e da Educação Física". Este livro aborda as modalidades basquetebol, futebol de campo, futsal, handebol, voleibol e judô, seis dos esportes mais praticados nas escolas brasileiras, cujos praticantes, somados seus adeptos e apaixonados, representam um número muito expressivo de pessoas nos cinco continentes do globo. Organizado em oito capítulos, dirige-se aos leitores que têm interesse em conhecer os fundamentos técnicos de cada uma dessas modalidades e desejam saber de modo resumido (síntese histórica) como, quando e onde elas surgiram. No livro, após a apresentação dos oito métodos de ensino, o leitor tem acesso aos conceitos dos fundamentos de cada um e a alguns planos de aula. Através desta publicação, esperamos contribuir com aquelas pessoas que estão envolvidas com os esportes, em especial os acadêmicos, professores e profissionais de Educação Física, cuja linda missão é a de proporcionar à sociedade o acesso à prática do basquetebol, futebol de campo, futsal, handebol, voleibol e judô e assim contribuir para uma sociedade mais ativa, mais humana, mais saudável e feliz.

Os autores

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CAPITULO 1: Conceitos Gerais

1.1 Esporte e sua origem Conforme o estudioso BARBIERI (2001), a palavra esporte tem sua origem no inglês sport, que se referia a exercícios físicos, prazer, distração, brincadeira e repouso corporal. Como sinônimo, temos em língua portuguesa a palavra desporto, originária do antigo francês desport Para BARBIERI, citando MANACORDA (1996), é na França que surge o primeiro registro do termo, no século XII. TUBINO (1994), todavia, data a origem no século XIV, quando os marinheiros usavam as expressões "fazer esporte". Para esse autor, o esporte é considerado um extraordinário instrumento de paz e um dos melhores meios de convivência humana, devido a sua característica lúdica e sua tendência de promover a confraternização entre os diferentes participantes das competições. Uma das versões mais difundidas de esporte é aquela que o caracteriza como jogo institucionalizado, regulado por códigos, regras e comandado por federações e confederações. Apoiado na sociologia, BARBANTI (1994) considera o esporte uma atividade competitiva, institucionalizada, que envolve esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas por indivíduos cuja participação é motivada pela combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos. BARBANTI classifica o esporte nas seguintes categorias: amador, de elite, de massa, feminino, para crianças e jovens, para deficientes, toda a vida, profissional e universitário. GEORGES MAGNANE, citado por OLIVEIRA (1993), considera o esporte uma atividade de lazer em que predomina o esforço físico, simultaneamente jogo e trabalho, praticada de maneira competitiva, comportando regulamentos e instituições específicas, suscetível de transformar se em atividade profissional. Por se tratar de um fenômeno muito abrangente, a definição de esporte é muito ampla e complexa. Pode ser concebida em várias realidades e com vários objetivos. TEIXEIRA (2001), ao citar BRACHT (1989) sobre a provável gênese e desenvolvimento do esporte moderno, diz que o termo "esporte" refere-se a uma atividade corporal com caráter competitivo surgida no âmbito da cultura européia que, com esta, se expandiu para todos os cantos do planeta. A partir da "Carta Internacional de Educação Física e Desportos", de 1979, o conceito de esporte torna-se muito mais amplo, caracterizando também atividades como o xadrez, o bilhar e outros jogos de salão, entendidas como esportes intelectivos. Existem muitas classificações de esporte, entre as quais

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se podem citar esportes olímpicos, esportes de tradição não-olímpica. artes marciais, esportes de aventura ou desafio, esportes de relação com a natureza, esportes de identidade cultural e esportes de expressão corporal. Na Constituição do Brasil de 1988, no artigo 217, está expresso que esporte é prioridade educacional, um "direito de todos"; esporte é saúde, educação e vida; esporte é confraternização entre os povos; esporte suspende guerras; esporte une culturas e povos. DAIUTO (1991) define o esporte como uma necessidade individual e social, uma influência que se evidencia cada vez mais entre as atividades do homem. Considera-o também uma fonte de saúde e de distração, uma alternativa diante da modernização e das ameaças do mundo moderno, capaz de preservar a integridade física e moral do homem. Ao fazer uma análise conceituai dos elementos que compõem o esporte, TEIXEIRA (2001) diz que há diferenças terminológicas entre Estados Unidos e Brasil em torno do que significa brincadeira, jogo, esporte e desporto. Após apresentar seus conceitos, considera, de acordo com HELAL (1990), que o esporte incorpora elementos do jogo e, portanto, também é jogo. A elevação da organização burocrática acima dos interesses individuais dos praticantes coloca o jogo na esfera do esporte. Somada a essas características, está a disputa física e a competição (HELAL, 1990). Não se pretende, neste trabalho, abordar a diferença encontrada com freqüência na literatura entre as classificações de esporte de alto nível ou de competição, esporte de lazer ou de participação ou esporte escolar ou esporte de base. Para maior entendimento de tais classificações, sugere-se consulta a obra Transformação didático-pedagógica do esporte, de ELENOR KUNZ (2001).

1.2 Como surgiu a primeira bola: lenda, mito ou verdade? Como a maioria dos conteúdos e das atividades apresentadas neste livro refere-se a esportes que necessitam de algum tipo de bola para sua prática, temos o interesse de estimular nos leitores a busca por novas referências bibliográficas relativas ao surgimento da primeira bola. Os que tentarem encontrar a resposta certamente conhecerão várias histórias sobre as origens dos seis esportes aqui abordados. A seguir, apresentamos uma versão sobre o surgimento da primeira bola. Há muito tempo, não se sabe a época ou o país, em uma grande floresta onde os índios viviam em tribos surgiu a primeira bola. Como todos sabem, na selva, principalmente há muito tempo, havia muitos animais predadores que, para sobreviver, se alimentavam de outros animais. Isso caracterizava a lei da sobrevivência que impõe aos mais fortes vencerem os mais fracos. Também submetidos a essa lei, os índios que habitavam a selva tinham de ser, antes de tudo, rápidos e inteligentes para

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sobreviver. Por isso, sempre que se encontravam ameaçados ou eram perseguidos por animais selvagens, corriam para cima das árvores. Essa situação levou-os a observar que os predadores, após arranharem o caule de determinadas árvores na tentativa de subir, afastavam-se e desistiam da caça. Os índios então identificaram no líquido de forte odor que saía desses caules o motivo para a fuga dos animais. Conseqüentemente, passaram a espalhar a substância pelo corpo e, uma vez sentindo-se protegidos, começaram a andar mais tempo pela floresta. Hoje sabemos que esse líquido, produto das seringueiras, é a matéria-prima utilizada na produção da borracha. E o surgimento da bola, como aconteceu? Como os índios tinham de tirar a substância do corpo, e para isso se utilizavam da água de lagos ou rios, notavam que ao se lavarem pequenos pedaços de borracha iam-se formando. Quanto mais se limpavam, maior ficava o volume. Ao término das sessões de banhos, verdadeiras bolas eram criadas. Sabendo-se que o homem é um ser lúdico (do latim ludus - relativo a jogo, brinquedo), pode-se perguntar: o que faziam os índios com as bolas que criavam? Pode-se facilmente responder que eles também foram os inventores dos esportes praticados com bola. E mais: adotaram o método recreativo nas práticas. Lenda, mito ou verdade?

1.3 Conhecimentos indispensáveis como base para o ensino dos esportes Os conhecimentos aqui apresentados são de extrema importância. Aquele que os dominar plenamente não terá dúvidas quanto à organização das atividades de ensino dos esportes São informações que deverão oportunizar maior eficiência na prática pedagógica do professor no seu dia-a-dia, quer seja na abordagem dos alunos, quer seja na elaboração e organização do planejamento das aulas. Na verdade, conhecer os fundamentos técnicos, táticos, sistemas e a prática das modalidades esportivas, não chega a perfazer uma fração muito significativa dos conteúdos ou conhecimentos indispensáveis para o ensino dos esportes. Quando se tala em ensino, parece que tudo é infinito, isto é, os processos pedagógicos são sempre muito amplos e cheios de alternativas. Muitas são as ciências que podem estar presentes em uma aula: psicologia, pedagogia, fisiologia, biologia, sociologia, etc. Como não cabe aqui abordar todas essas ciências, mencionamos aquelas que julgamos indispensáveis para o ensino dos esportes e que deverão ser dominadas pelos professores de Educação Física quando forem pôr em ação tais conteúdos.

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Períodos do desenvolvimento motor e cognitivo É a partir da identificação de características inerentes a cada faixa etária que o professor poderá entender seus alunos e assim elaborar um plano de aula em conformidade com a fase que eles estão vivenciando sem desrespeitá-los e evitando incorrer em erros. Para isso, o professor precisa saber que existem períodos na vida dos seres humanos cuja transformação física e cognitiva se dá de forma mais ou menos intensa. Por exemplo: em crianças com menos de 10 anos de idade, não são indicadas atividades que exijam a capacidade de concentração. O professor não deve prolongar explicações sobre as atividades, pois a capacidade de atenção e de reter as informações não está desenvolvido, e conseqüentemente essas informações poderão ser perdidas. Esse é um dos motivos pelo qual não se devem ensinar táticas ou sistemas para alunos dessa faixa etária. Outro período bastante intenso sob o ponto de vista do desenvolvimento motor é o compreendido entre os 11 e 13 anos para as meninas e dos 13 aos 15 anos para os meninos, quando acontece o amadurecimento sexual. Nesses estágios, é prejudicada a "perfeição" dos gestos técnicos, pois há um rápido crescimento dos membros superiores e inferiores, o que dificulta a coordenação. Conforme nos ensina WEINECK (1989), "modificações marcantes das proporções, como crescimento anual de altura até 10cm, aumento de peso até 9,5kg causam uma sensível instabilidade hormonal". Por conseqüência dessas transformações, os alunos ficam mais críticos, quando passam a oferecer mais resistência e questionam as atividades propostas pelo professor com maior freqüência. É um período em que se podem desenvolver alguns conteúdos básicos de sistemas, os posicionamentos em quadra e a iniciação a tática dos esportes. Um excelente exemplo para o entendimento do desenvolvimento motor e cognitivo são os estudos de GALLAHUE (1996) que demonstram, através de uma ampulheta, as fases do desenvolvimento humano relacionadas á idade e aos estágios de desenvolvimento motor. Caminhos para ensinar - as metodologias de ensino Considerando as características motoras, cognitivas e outros fatores, é interessante que o professor procure mais de uma maneira de conduzir o processo de ensino dos esportes. De acordo com a idade e a realidade da turma, o educador lançará mão de "caminhos'' - métodos de ensino - para abordar os conteúdos. Entre as alternativas metodológicas, podem-se citar as seguintes: método global, método parcial, método misto, método recreativo, método global em forma de jogo, método em série de jogos, método transferi e o método da cooperação-oposição. O objetivo de adotar um determinado método está intimamente ligado com os propósitos a atingir organizados pelo professor e com a

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realidade do corpo discente, isto é, em relação ao perfil dos alunos. No capítulo 2, serão explicados oito métodos de ensino. Saber organizar as aulas e os seus objetivos Para saber como foram, quais serão as próximas aulas e quais os conteúdos nelas adotados, é de suma importância que o professor organize seus planos em cada aula, em consonância com seus objetivos atingidos e os que deverão ser atingidos. Para isso, deverá saber quais são os elementos essenciais de um "plano de aula" e como deverão ser estruturadas essas aulas. Por exemplo: um plano deverá ter um cabeçalho onde serão informados objetivo, conteúdos, método, recursos, sexo, faixa etária ou série dos alunos e tempo da aula. Quanto à estrutura da aula (ver item 1.5), poderá ser constituída de três partes ou mais.

1.3.1 Educação Do latim educatione. Conforme FERREIRA (1986), processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando a sua melhor integração individual e social. FREIRE (1985), referindo-se a educação, faz um comentário que se tornou bastante conhecido no meio pedagógico: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa. Os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo". FRANCO (1997) define a educação como forma de garantir e preservar a espécie humana. Considera que a educação nasceu com o homo sapiens, e por isso é preciso que este seja entendido para entendermos aquela. DURKHEIM (1978) frisa que a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social. Nos dias de hoje, a educação inicia-se antes mesmo do nascimento. Os pais procuram estimular o bebê através de conversa ou o uso de outros recursos, como música ou toques e carinhos expressos na barriga da mãe. Na verdade, a educação é processo contínuo, isto é, por mais que se viva, sempre estaremos aprendendo, e mesmo assim não conseguiremos saber tudo. A educação se dá através do conhecimento de várias ciências, quando são modificadas as percepções mentais ou cognitivas, sociais, motoras e as atividades psicomotoras - que este livro trata com mais ênfase através do ensino das modalidades esportivas. Apesar da especificidade, pelos conceitos que estão acima escritos pode-se entender que neste trabalho temos a pretensão de explorar vários

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conhecimentos inerentes à educação e à educação física e, em especial, aos esportes com planejamento e metodologias identificadas.

1.3.2 Educação Física Trata-se de prática pedagógica sistematizada que engloba um amplo e complexo processo de ações, quer seja educacional ou não, isto é, a educação física que se dá no meio escolar tem propósitos de promover de modo global aspectos motores e psicossociais, socialização, domínio corporal, entre tantos outros, usando vários meios para isso. No caso deste livro, o meio usado e que será explorado será o esporte, de modo específico os esportes basquetebol, futebol de campo, futsal, handebol, vôlei e judô. No meio extra-escolar, os objetivos da educação física poderão ser de ordem profilática e competitiva, ocupação de tempo livre, lazer, entre outros. O termo pedagógico foi mencionado porque é preciso haver pedagogia em qualquer área de ensino, tanto no meio escolar como extra-escolar. A organização ou o planejamento de um treino para uma equipe de alto nível certamente necessita de uma pedagogia, isto é, de uma previsão de objetivos bem articulados a serem atingidos. Cada unidade de treino, comparando-se a uma aula, comporá conteúdos a serem desenvolvidos e praticados com fins específicos. A respeito da concepção de educação física, podemos encontrar na literatura diversos entendimentos. Todavia, por mais que os estudiosos queiram apresentar um conceito, parece que ele fica limitado a alguns fundamentos que estão presentes em cada realidade. Qual será o objeto de estudo da educação física e quais os seus objetivos? HILDEBRANDT e LAGING (1994) defendem que o ensino da educação física deve capacitar os alunos a tratarem como educação os conteúdos esportivos nas mais diversas condições dentro e fora da escola. Entendem ainda que se esse objetivo for atingido, os alunos terão condições de criar situações esportivas, agora ou no futuro, e estarão aptos a tomarem decisões, quer seja individual ou coletivamente, de maneira crítica e autônoma. De acordo com MALANOVICZ (2003), educação física possibilita ao indivíduo o desenvolvimento de atitudes morais como honestidade, lealdade, respeito e cooperação. Para OLIVEIRA (1993), educação física é educação na medida em que reconhece o homem como o arquiteto de si mesmo e da construção de uma sociedade melhor e mais humana, onde não será necessário "levar vantagem em tudo". Segundo TANI (1988), educação física seria o movimento para que aconteçam melhoras nas aptidões físicas, bem como a aprendizagem dos movimentos.

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FREIRE (1994) considera que o objeto do estudo seria a ação corporal, que se assemelha ao entendimento através do movimento com propósitos de adaptações psíquicas e motoras. Para outros autores, o conteúdo de estudo da educação física é a cultura corporal como forma de linguagem que favorece experiências sobre objetos. Por fim, HURTADO (1987) afirma que a educação física.

(...) quaisquer que sejam suas funções, corresponde a uma atividade muscular controlada, regida por normas, princípios, métodos e objetivos bem definidos que vão desde o movimento morfofuncional do organismo infanto-juvenil até a manutenção do equilíbrio homeostático do indivíduo adulto e a readaptação orgânico-funcional do indivíduo doente ou deficiente físico. (...) serve de maneira decisiva e vital para a educação do indivíduo.

1.3.3 Pedagogia e didática Pedagogia, do grego paidos (criança) e agein (guiar, conduzir), pode ser entendida com a ciência que estuda as maneiras de educar. Didática, do grego didasko (ensinar), é uma das disciplinas da pedagogia que estuda o processo de ensino através dos seus componentes, que são os conteúdos, o ensino e a aprendizagem (LIBÂNEO, 2002), um conjunto de procedimentos e ações que visam dirigir de maneira eficiente, organizada, a aprendizagem, procurando alcançar de modo objetivo as metas do processo educacional. A didática coloca em prática a pedagogia. Conforme FERREIRA (1986), pedagogia é um conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático. Didática é a técnica de dirigir e orientar a aprendizagem. VEIGA (1996) afirma que a didática é um conjunto de regras que visam assegurar aos futuros professores as orientações necessárias ao trabalho docente. Pelo exposto, podemos dizer que o motor da pedagogia é a didática.

1.4 Princípios básicos que deverão ser considerados no planejamento das aulas sobre esportes Planejamento, consoante FERREIRA (1986), é o trabalho de preparação para qualquer empreendimento segundo roteiro e métodos determinados, planificação com objetivos definidos.

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Para LIBÂNEO (2002), é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades quanto a sua revisão e adequação no processo de ensino. Além disso, trata-se de um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação. Planejar refere-se ao objetivo ou os objetivos que deverão ser atingidos, bem como os recursos e como estes poderão ser medidos ou avaliados, VASCONCELLOS (1995) afirma que planejar é antecipar uma ação a ser realizada. Ao frisar a importância do planejamento no ensino da educação física e dos esportes, HILDEBRANDT e LAGING (1994) dizem que mesmo quando os alunos tomam parte das decisões em relação aos objetivos, conteúdos e maneira de acontecer e praticar as aulas, "O ensino da educação física jamais é sem planejamento e sem objetivo, pelo contrário: ele necessita de planejamento". A fim de que o planejamento das aulas de esportes seja bem-elaborado, citam-se alguns dos princípios básicos a serem considerados:

a) conhecimento da realidade, das suas exigências, necessidades e tendências;

b) definição dos objetivos, que devem ser claros e significativos; c) determinação de meios e recursos possíveis, viáveis e disponíveis; d) estabelecimento de créditos e princípios de avaliação do processo de

ensino e de aprendizagem; e) estabelecimento de prazos e de etapas para sua execução; f) revisão constante, possibilitando o acompanhamento dos agentes

envolvidos; g) sentimento de coletividade, porque todos os envolvidos devem participar

ativamente das propostas a serem realizadas e de seu redimensionamento permanente.

1.4.1 Elementos indispensáveis em um bom plano de ensino das aulas de esportes Sondagem De acordo com LIBÂNEO (2002), cabe ao professor, em última instância, escolher os conteúdos - habilidades, conhecimentos e valores - e os métodos e procedimentos didático-pedagógicos com fins de viabilizar o processo de transmissão-assimilação de conteúdos. Conforme esse autor, o professor tem três fontes a partir das quais irá organizar suas aulas: a programação oficial de cada matéria; os próprios conteúdos da matéria e, finalmente, as exigências teóricas e práticas colocadas pela prática de vida dos alunos. Dessa maneira, apoiados na terceira fonte de que o professor pode lançar mão, consoante a sugestão de LIBÂNEO (2002), entendemos que a sondagem é o processo de investigação ou pesquisa da realidade para, a partir da situação investigada, pensar e preparar uma ação cada vez mais consciente

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e real. Para ilustrar esse entendimento, perguntamos: como praticar a sondagem nos alunos? Exemplificando, inicialmente poderá ser dividido o grande grupo em dois, três ou mais pequenos grupos. A partir dessa divisão, quando serão formados os grupos "a", "b", "c" ou mais, conforme o tamanho da turma sondada, será então determinado que o primeiro grupo deverá executar, por exemplo, a condução da bola de futebol por marcações na quadra, como sobre as linhas das áreas dos goleiros, linhas de fundo ou linhas limítrofes laterais. Após dois a cinco minutos, seguirá outro subgrupo, até que todos tenham efetuado o exercício. O que aconteceu nessa simples atividade foi uma sondagem. Enquanto um grupo conduzia a bola, os demais observavam. Em seguida, há uma pequena reunião para que haja um consenso ou parecer em torno das realidades analisadas. A partir daí, poderá ser pensada ou preparada uma aula sobre o esporte que foi sondado (neste caso o futebol) com o conteúdo de condução e, o mais importante, de forma consciente e mais próximo à realidade dos praticantes. Objetivos: o quê? Para quê? Os objetivos antecipam resultados e processos esperados do trabalho conjunto do professor e dos alunos (LIBÂNEO, 2002). Nesse sentido, trata-se do desempenho a ser demonstrado pelos alunos em resposta às práticas dos fundamentos técnicos (no caso dos esportes aqui abordados). Resumidamente, ao redigir os objetivos o professor estará descrevendo os conhecimentos que deverão ser desenvolvidos, isto é, expressar o que os alunos deverão aprender. Para LIBÂNEO (2002), existem dois níveis de objetivos educacionais: os objetivos gerais, que expressam propósitos mais amplos, isto é, representam uma hipótese em torno da aprendizagem, que posteriormente poderão auxiliar o professor a convertê-los em objetivos específicos, e os objetivos específicos, que indicam comportamentos mais fáceis de dimensionar, de observar e de avaliar e que, consoante LIBÂNEO (2002), devem estar vinculados aos objetivos gerais. Exemplo: aproveitando o exercício de condução, anteriormente mencionado, pode-se objetivar que, decorridos determinados números de aulas, os alunos poderão demonstrar ou apresentar menos resistência (dificuldades) em conduzir a bola de futebol em ziguezague, entre cones, ou conduzi-la de costas com o solado do pé. Isso para que, ao enfrentarem os aspectos mais complexos de um jogo (adversário, torcida, pressões), possam usar essas habilidades estimuladas e desenvolvidas durante as aulas de acordo com os objetivos traçados no planejamento. Além dos objetivos gerais e específicos. SILVA (2003) apresenta os objetivos comuns que deverão ser os primeiros e elaborados pelo conjunto de professores comuns a cada disciplina (plano de área curricular). Os objetivos particulares são específicos em cada unidade didática do plano de curso e aparecem no plano de unidade didática, e os objetivos imediatos são os comportamentos que os alunos deverão demonstrar ao final da aula.

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Conteúdos São informações, fatos, conceitos, atitudes, princípios, processos e habilidades (os fundamentos dos esportes) a serem dominados pelo educando. Para BARBANTI (1994), nos objetivos educacionais o conteúdo é o material ou a habilidade que se espera que o aluno aprenda, podendo ser chamado de conteúdo programático. Qual foi o conteúdo abordado na sondagem? Sim, a condução. Outros conteúdos dos esportes são os passes, os dribles, os chutes, os arremessos, os cabeceios, as fintas, as marcações e os diversos tipos de domínios. Também são considerados conteúdos que podemos e devemos trabalhar através dos esportes, entre outros, o domínio corporal, as percepções de espaço, a lateralidade, a socialização, a percepção óculo-pedal, percepção óculo-manual, noções de espaço... Metodologia Do grego méthodos, 'método' + log(o) + ia. S.f. A arte de dirigir o espírito na investigação da verdade (FERREIRA, 1986). Em síntese, trata-se do estudo dos caminhos - estudo dos métodos -, meios ou fins de que poderá lançar mão o professor com intuito de facilitar o entendimento ou o desenvolvimento de habilidades motoras ou cognitivas. Modo operacional que propicie ao aluno situações estimuladoras de aprendizagens e meio de dar vida aos objetivos e conteúdos. Para DAIUTO (1991), é uma parte da didática, como esta o é da pedagogia, que tem uma característica mais concreta e mais definida. Sabe-se que cada metodologia tem suas características positivas ou negativas, isso em conformidade com a realidade e diversos aspectos a serem considerados. Exemplificando: qual metodologia foi posta em ação na atividade de condução na sondagem? Será que foi a mais favorável? Foi a mais positiva? Na verdade, o método adotado foi o global, que, conforme XAVIER (1986), consiste em ensinarmos uma destreza motora, apresentando todo o seu conjunto. Poderia ser feita essa sondagem através de outra metodologia? Certamente que sim. Ao adotarmos o método global em forma de jogo, por exemplo, enquanto os alunos jogam, o professor faz a sondagem. Para melhor entender os métodos de ensino que poderão ser adotados, sugerimos a leitura do próximo capítulo. Recursos São elementos importantes que facilitam e apóiam, em conjunção com os métodos, todos os tipos de ensino e aprendizagem. Podem ser divididos em humanos e materiais. Materiais: bolas, quadra, tatame, arcos, cordas, cones, apito, caneta e prancheta para anotações.

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Humanos: os próprios alunos, pois participaram na sondagem e, também, foram sondados, o que proporcionou uma interação entre eles, com a proposta e presença do professor enquanto mentor da prática pedagógica. Como exemplos de recursos humanos, XAVIER (1986) cita o professor, o educando, o pessoal técnico administrativo e a comunidade. Já como recursos materiais, mencionam recursos naturais (campo, bosques...), instrumental da escola (bolas de handebol, rede, colchões, plinto, medicinebol...) da comunidade (local, praças ginásios, biblioteca...), instrumental do professor (livros, transparências, cronômetro, apito...) e instrumental do educando (camiseta, tênis, caneta, caderno...). Avaliação Conforme o estudioso MATHEWS (1980), "Na programação educacional, a avaliação é um processo contínuo, lidando com os objetivos globais de educação; ela é um termo mais abrangente do que medição e refere-se comumente à avaliação total da criança''. Trata-se de um conjunto de ações em instrumentos que permitem um diagnóstico de ensino e aprendizagem que facilita ao professor aprimorar suas ações e, ao aluno, a conscientização de sua aprendizagem. A respeito do termo avaliação, ensina HOFFMANN (2001) que ao praticarmos a avaliação estamos exercendo um ato político, mesmo quando não o pretendemos. Para a autora, cabe aos professores ficarem atentos e conscientes em relação às normas, leis e resoluções existentes nas escolas no sentido de avaliar os alunos dentro do significado e do jogo de poder nelas considerado. Trata-se, dessa forma, de um emaranhado de fatores burocráticos. Em síntese, "um jogo político". Como alternativas de modelos de avaliação, HOFFMANN (2001) apresenta a "avaliação numa visão liberar e a "avaliação numa visão libertadora", indicando essa segunda visão como opção em detrimento da primeira, isso porque a visão liberal é caracterizada como classificatória, disciplinadora, que privilegia a memorização individual e competitiva. Por outro lado, entende a autora ser preciso que os professores proporcionem posturas cooperativas nas atividades e, assim, as desigualdades sociais e culturais poderão ser mais bem trabalhadas nas atividades pedagógicas. Para a avaliação dos alunos nas atividades apresentadas ao longo deste livro, que estão no item "Plano de aula para o ensino" – presente em cada um dos esportes -, será considerado o que preconiza o Projeto Político Pedagógico da escola, respeitando suas normas, leis e resoluções existentes, conforme mencionado anteriormente a partir de HOFFMANN (2001), no sentido de que a avaliação dos alunos ocorra dentro do significado do jogo de poder considerado em cada escola. Porém, como uma sugestão na maneira de avaliar na disciplina de Educação Física, pois nem todas as escolas têm isso expresso no Projeto Político Pedagógico, e considerando o que foi citado anteriormente, sugere-se

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que aspectos como participação, interesse, realização de todas as atividades, respeito aos colegas e ao professor, entre outros itens, sejam considerados no processo de avaliar individualmente e coletivamente os alunos. Portanto, pelos conceitos e exemplos mencionados, esses elementos indispensáveis deixam óbvio que um professor de Educação Física sério e responsável deverá dominá-los e pô-los em execução sempre que objetivar realizar um trabalho digno de credibilidade.

1.5 Estrutura do plano de aula para o ensino dos esportes Trata-se de um elemento indispensável aos profissionais que realmente têm o hábito de trabalhar de maneira organizada e que, desse modo, poderão lançar mão do referencial que ficará registrado após a aula prática ou teórica. Essa é a possibilidade de saber quais os conteúdos já trabalhados serão facilmente identificados quando alguém porventura questionar o trabalho feito pelo professor até então. O que devemos colocar no plano de aula? Por quê? Inicialmente, ao depararmos um profissional que faz uso desse recurso, podemos acreditar que se trata de um professor que sabe o que quer, ou seja, seus objetivos e os dos alunos estarão registrados. Bem como os demais elementos essenciais do plano de ensino ou de aula, o que permite àqueles que desejem saber sobre uma aula, por exemplo, fazê-lo a partir da consulta desses registros. Como sugestão de plano de aula, eis alguns elementos importantes que deverão estar presentes: Cabeçalho Esse item deve conter uma série de informações que poderão ser lidas por aqueles que desejarem saber do que se trata a aula, para que a entendam antes mesmo de ser posta em prática. No cabeçalho, deve haver dados de identificação com conteúdos, objetivos gerais e objetivos específicos, métodos, recursos materiais (bolas, arcos, cordas, apito...) e recursos humanos, dados sobre os alunos (quantidade, sexo, idade, categoria ou série). Deixar espaço (opcional) para preenchimento de observações ou avaliações decorridas na aula, caso não queira deixar para o final do plano. Partes da aula Na maioria das vezes, a aula é dividida em três fases bem distintas. Cada uma delas tem uma intensidade, desenvolve determinados conteúdos e deve estar interligada às demais, em perfeita sincronia e consonância com as informações contidas no cabeçalho.

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Parte Inicial, Fase Inicial ou Parte 1. Pane Principal, Desenvolvimento ou Parte 2. Parte Final, Volta à Calma ou Pane 3. Na parte inicial da aula, entre os objetivos mais interessantes a atingir, estão elevar a FC (freqüência cardíaca) a fim de que uma quantidade maior de sangue passe pelo sistema circulatório, o que será de grande importância para as solicitações dos grupos musculares envolvidos nas atividades que se seguirão, entre outros benefícios fisiológicos. Nessa parte da aula, é interessante que, antes do aquecimento, o professor explique as atividades, bem como os seus respectivos objetivos. Com a idéia de que todas as atividades sejam prazerosas, divertidas e alegres, é pertinente que nessa fração da aula aconteçam exercícios, de preferência lúdicos. Porém, dependendo do objetivo da aula, às vezes, essa metodologia não será possível. Quanto tempo é designado para essa parte da aula? Teoricamente, entre cinco e 10 minutos, mas, na prática, devem-se observar alguns fatores que poderão elevar ou reduzir esse espaço de tempo. Imaginem um aquecimento previsto para acontecer em cinco minutos, quando a temperatura estiver abaixo de zero. Será que realmente conseguiremos promover um aquecimento satisfatório para dar seqüência às atividades? É muito provável que deveremos aumentar o tempo de aquecimento. Agora pensem em realizar um aquecimento durante 10 minutos quando a temperatura estiver próxima a 40 graus. Talvez tenhamos de reduzir esse tempo ou a intensidade do exercício para evitar sobrecarga nessa parte da aula, a fim de que o restante também possa ser cumprido. Existem muitas outras maneiras de conduzir essa pane inicial. Uma pergunta que pode ser interessante para esse momento da aula é: o que fazer primeiro antes da parte principal da aula? Alongar? Aquecer? Inicialmente, é oportuno citar que há pelo menos dois tipos de aquecimento: o aquecimento geral, obtido através de movimentos gerais, sem objetivo específico nos grupos musculares exigidos na parte principal, e também o aquecimento específico, que, de modo resumido, se obtém pelos movimentos específicos com ênfase nos grupos musculares, os quais serão trabalhados com maior grau de importância. Assim, podemos entender que é mais sensata a seguinte seqüência de atividades na fase inicial: 1°) aquecimento geral (sem intensidade); 2°) alongamento, e 3°) aquecimento específico com um pouco mais de intensidade ou com maior número de repetições visando, assim, deixar os alunos ou atletas com o organismo "preparado" para iniciar exercícios na parte principal. O que devemos objetivar para a parte principal? Nela deverão estar descritas todas as atividades de modo seqüencial e, o mais importante, estar em conformidade com o que foi citado no cabeçalho. Ou seja, os objetivos, conteúdos e as demais informações devem aparecer nessa parte da aula. Aqui acontece o objetivo maior. Caso isso não venha a acontecer, algo no plano de

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aula deverá ser revisto. O tempo designado para essa parte varia de 25 minutos a 40 minutos aproximadamente. Para que serve a parte final? Seu principal objetivo é fazer com que os alunos voltem às atividades da primeira parte da aula com a freqüência respiratória e a freqüência cardíaca não elevadas e, assim, possam continuar a executá-las. Nessa fração da aula, deverá ser feito o alongamento final. Esse é o momento oportuno para comentários acerca da prática desenvolvida. Normalmente, o tempo dessa volta à calma acontece entre cinco e 10 minutos. O tempo total de uma aula de Educação Física é, em média, 60 minutos nas escolas. Podemos encontrar instituições de ensino onde o tempo varia de 45 a 60 minutos. Isso estará em conformidade com a distribuição da carga horária das demais disciplinas ou atividades. Existem escolinhas de esportes onde a distribuição ou organização do plano de aula acontece em até sete momentos. Essa maneira de organizar a aula acontece da seguinte maneira:

1° Momento - tempo livre. Tem como objetivo os alunos serem observados. Nesse espaço de tempo "livre", o professor fará a "leitura dos comportamentos psicológicos", principalmente notando comportamento de agressividade ou falta de controle emocional, entre outros. Os materiais, várias bolas, ficarão a disposição dos alunos para que executem qualquer atividade. Essa é uma importante fração da aula no sentido de contribuir para que, no caso de que algum aluno venha a se comportar inadequadamente, o professor possa estar sabendo previamente e - mais importante ainda esse aluno tenha uma atenção "especial" de maneira que haja uma efetiva preocupação com o bem-estar do aluno, de tal forma que o professor consiga contribuir afetivamente na perspectiva afetiva..

2° Momento - reunião em círculo para trabalhar algum tema voltado para a educação geral. Exemplo: regras de trânsito, respeito às pessoas na rua, valorização dos idosos ou de portadores de necessidades especiais, consideração sobre os conselhos dos professores e dos pais. 3º Momento - aquecimento a partir de atividades lúdicas, já podendo acontecer de modo inicial a prática de fundamentos que serão desenvolvidos na parte principal. 4º Momento - alongamento. 5º Momento - são desenvolvidos os fundamentos técnicos dos esportes (chute, passe, condução, deslocamentos, pegadas, ukemis, desequilíbrio, arremesso, controle do corpo).

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6º Momento - o jogo ou jogos com orientação de regras, tática e demais informações pertinentes aos esportes. 7° Momento - volta à calma, quando acontece alongamento, conversa, sugestões e críticas com objetivos construtivos sobre determinados comportamentos observados ao longo da aula.

O tempo de cada um desses sete momentos será distribuído conforme o tempo total da aula e ainda, deverão ser levados em consideração à faixa etária dos alunos, quantidade de alunos, objetivos da aula, enfim a realidade da turma entre outros elementos. Observação: o exemplo de plano de aula com sete partes normalmente é mais fácil de ser posto em prática nas escolinhas, onde o número de alunos em cada turma não costuma ser elevado. Já nas escolas da rede pública, por exemplo, onde as turmas são grandes e os alunos geralmente pertencem a famílias carentes, observam-se manifestações de desrespeito e, em algumas vezes, de atritos (brigas, chutes, arremessos fortes, disputas para pegar a bola na goleira, etc) quando várias bolas são disponibilizadas para brincadeiras ou jogos livres. Os planos de aula não podem fugir muito do modelo dividido em três partes, isso porque se deve designar, por exemplo, maior tempo para a parte principal da aula. Nas outras partes, pode haver espaços de tempo menores e distintos.

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CAPÍTULO 2 Métodos mais utilizados para o ensino dos esportes

2.1 O que é método Com a pretensão de esclarecer o que é método sem a intenção de apresentar uma extensa abordagem do termo, são aqui mencionados alguns conceitos e seus respectivos autores. Para começar, é interessante observar FERREIRA (1986): do grego méthodos, "caminho para chegar a um fim". Caminho pelo qual se atinge um objetivo. Programa que regula previamente uma série de operações que se devem realizar, apontando erros evitáveis, em vista de um resultado determinado; processo ou técnica de ensino. Formado por meta, que é sinônimo de "para", e hodos, similar a "caminho". Isso equivale a dizer que é o caminho para, ou ainda sugere a idéia de prosseguimento. LIBÂNEO (2002) afirma que método de ensino é a ação do professor, ao dirigir e estimular o processo de ensino em função da aprendizagem dos alunos, quando utiliza intencionalmente um conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos. Entendemos que método é a forma como se desenvolve a prática do ensino. Pelos métodos adotados, então, podemos esperar um determinado resultado do processo de ensino. De acordo com CANFIELD (1981), os métodos de ensino supõem maneiras organizadas e sistemáticas de possibilitar e criar ambientes que, de modo eficiente e científico, levem a resultados favoráveis. Já para LAVILLE e DIONNE (1999), método indica regras e propõe um procedimento. Uma interessante experiência de ensino, ou método de ensinar os conteúdos da Educação Física, é a publicação das Concepções abertas no ensino da Educação Física, de REINER HILDEBRANDT e RALF LAGING (1994). Nessa obra, os métodos para ensinar, planejar e realizar as aulas são possibilitados ("abertos") aos alunos que têm participação nas decisões em relação aos objetivos, aos conteúdos e demais elementos do processo de ensino. Será que é possível acontecer uma aula sem método? Essa é uma pergunta interessante que o professor dirige com freqüência aos acadêmicos de Educação Física quando são abordados e estudados conteúdos de metodologias para o ensino dos esportes nas disciplinas de vôlei, judô, handebol, futsal, basquetebol e futebol de campo. É muito provável que esse mesmo professor, se questionado a respeito da organização ou do método que adotou, terá dificuldade em lembrar se, por exemplo, de aulas, conteúdos ou métodos de que lançou mão há um mês ou mais tempo. É por isso que estamos reforçando a importância do saber e, principalmente, de saber organizar as aulas através dos seus elementos indispensáveis, sugerindo, para isso, oito métodos para o ensino dos esportes. Esses métodos não podem ser

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postos em ação sem que outros conhecimentos didáticos e pedagógicos sejam dominados pelo professor. Para se ter uma idéia de como retemos os conhecimentos, a partir de métodos de ensino, Sant'anna (1986) afirma que até 85% do conhecimento são retidos depois de três horas da aula se as informações foram transmitidas simultaneamente oral e visualmente. No caso do esporte, esse percentual eleva-se para 90% quando discutimos e praticamos os conteúdos. Seus fundamentos devem ser praticados após sua apresentação, assim como se deve, também, possibilitar alguma discussão sobre seus conceitos. Conforme CLENAGHAN e GALLAHUE (1985), na escolha do método pedagógico devem-se considerar: o professor, sua experiência, sua personalidade, seus valores e suas metas de aprendizagem; o aluno, sua maturidade, sua conduta diante das atividades e seu interesse e, ainda, o meio, isto é, o lugar, o tempo e as condições de segurança para execução das atividades. CLENAGHAN e GALLAHUE conceituam dois tipos de métodos pedagógicos: o método direto e o método indireto. O primeiro é considerado como tradicional e está centrado no professor, que é o responsável por tomar as decisões em torno do que, como e quando o aluno deverá realizar a atividade. Já o método indireto consiste em o aluno ter liberdade de realizar tarefas e atingir suas metas sem a imposição do professor. Como uma terceira opção de método pedagógico, CLENAGHAN e GALLAHUE (1985) apresentam a combinação do método indireto com o direto, ressaltando a possibilidade de explorar os aspectos de vantagem em cada método. A seqüência desse método é: 1° exploração livre, 2º exploração guiada ou orientada, 3º resolução progressiva do problema e 4º treinamento específico. Sabemos que não há apenas uma maneira de ensinar. São várias as alternativas de métodos. Mas qual é ou quais são os melhores? Qual é o mais indicado conforme a idade ou realidade dos alunos? Na tentativa de responder a essa pergunta, sugerimos a leitura da obra do professor Teimo Pagana Xavier (1986) Métodos de ensino em Educação Física, excelente livro que inclusive recebeu um merecido prêmio do MEC. Nele são abordados os métodos de ensino global, parcial e misto, e, através de ilustrações, em forma de tabelas, são sugeridas diversas modalidades esportivas em conformidade com as faixas etárias e os fundamentos, relacionando os aos métodos mais apropriados. Essas são questões que estarão sendo abordadas nas próximas páginas deste livro. As respostas serão dadas na forma de exemplos de aulas, seus exercícios, atividades e organização - os planos de aula - e seus elementos indispensáveis. Entre os principais objetivos desta obra, certamente o mais significativo está centrado nos métodos e planos para o ensino dos esportes aliados aos conceitos pertinentes a sua pedagogia de ensino.

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Sabendo, ainda, que é muito difícil deixar de contemplar mais alguns conteúdos que são inerentes a esse tema, abordamos, também, informações básicas relativas aos fundamentos técnicos dos esportes e os elementos essenciais inerentes ao plano de aula. A seguir, são identificados oito métodos que poderão ser adotados na condução das práticas de ensino no dia-a-dia de quem desenvolve trabalhos com os esportes. Para facilitar ainda mais o entendimento desses métodos, eles são exemplificados nos planos de aula de cada uma das modalidades abordadas nesta obra.

2.1.1 Método parcial ou analítico Esse método consiste em ensinar uma destreza motora por partes para, posteriormente, uni-las entre si. A destreza motora pode ser subdividida segundo o modo pelo qual as partes serão ligadas posteriormente (XAVIER, 1986). Se o método for adotado para o fundamento de chute, vejamos quais dos seus detalhes devem ser ensinados:

1- a perna de apoio, com uma pequena inclinação na articulação do joelho, deverá estar ao lado da bola; 2- a ponta do pé de apoio apontará para o local onde deverá ser chutada a bola; 3- se o objetivo do chute for um percurso rasteiro para a bola, esta deverá ser atingida na parte superior; se for desejada uma trajetória parabólica ou alta, deverá ser atingida próximo ao solo; 4- a parte superior do tronco deverá ser inclinada em direção à bola, porém com o peso corporal recaindo sobre a perna de apoio.

Mesmo observados todos esses detalhes, provavelmente o chute não sairá perfeito, pois vários outros fatores fogem do controle do professor e do aluno. Será, portanto, esse método o mais indicado? Esperamos que, depois de estudados os outros sete exemplos de métodos que seguem, isso seja útil pelo menos no sentido de identificar o melhor ou os melhores para cada realidade de trabalho.

2.1.2 Método global ou método complexo Para XAVIER (1986), o método global ou método complexo consiste em ensinar uma destreza motora apresentando o seu conjunto. No caso dos fundamentos do chute ou do arremesso, esses deverão ser ensinados sem a intervenção inicial do professor. Isto é, primeiramente haverá a execução do gesto de modo completo, e, se for necessário, o responsável pela aula contribuirá nas próximas repetições desse fundamento. Pelo método, é possível acontecer um jogo em que poderão ser observados os fundamentos técnicos dos esportes de forma global e em conformidade com a idade e a modalidade desportiva, entre outras variáveis. Xavier (1986) indica que o método global é mais adequado para crianças de sete a 18 anos de idade, que

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aprendem os fundamentos de passe, drible, chute, cabeceio, arremesso e o jogo.

2.1.3 Método misto Para XAVIER (1986), esse método consiste na sincronia dos métodos global-parcial-global. Primeiramente acontece a execução do gesto como um todo. Em seguida, o gesto é parcializado com o objetivo de proceder a "correções" do movimento ou dos movimentos. Finalmente, volta-se à prática completa dos movimentos. Desse modo, a segunda parte servirá, com base no que foi observado no primeiro momento, para que o professor faça a demonstração do exercício e, assim, a partir da terceira parte, aconteça o gesto completo. Trata-se de uma metodologia bastante rica sob o ponto de vista didático, com mais fatores positivos do que negativos.

2.1.4 Método global em forma de jogo ou método de confrontação Para entendermos esse método, basta que haja a prática do desporto ou da modalidade como um todo. Isto é, parte-se do princípio de que se aprende um desporto através do próprio jogo. Conforme DIETRICH (1988), o método da confrontação se dá sob o lema "jogar, jogar, jogar!" Esse autor alerta, porém, que há uma "displicência metodológica", uma vez que não se verifica um planejamento bem estruturado. Não acontece um desmembramento do jogo em elementos isolados. Devemos imaginar uma concepção simpática que preconize ser absurdo querer dividir metodicamente um jogo esportivo, porque com essa divisão o todo deixaria de existir.

2.1.5 Método em série de jogos A idéia, aqui, basicamente é que "jogando aprende-se, antes de tudo, através dos próprios jogos". Esse método tem muitas semelhanças ao global em forma de jogo, até mesmo na terminologia. No entanto, na prática ele pode ser entendido mais facilmente. Para colocá-lo em ação, pode-se, por exemplo, estabelecer que serão feitos pequenos jogos, e em cada um será trabalhado um dos fundamentos técnicos do esporte. Um jogo de cinco minutos, em que deverá ser trabalhado somente o passe ou os tipos de passes, dependerá da realidade do grupo. Em outro jogo, poderá ser feito o passe somente após o aluno ter feito o drible. Noutro, o gol poderá ser feito somente de cabeça. No próximo, apenas três toques na bola (o terceiro, obrigatoriamente, deve ser um chute a gol). Em um novo jogo, poderá receber a bola somente aquele aluno que fez uma finta. Esse é o método que indicamos para aqueles professores que têm a árdua função de fazer o "peneirão". Na prática, geralmente é muito complicado

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adotá-lo, principalmente quando o número de candidatos for muito grande. Não há espaços de tempo ou espaços físicos para sua execução. Ao executá-lo, o professor deverá ter fichas de registros dos desempenhos técnicos observados, designando assim alguns minutos para observar individualmente cada fundamento técnico.

2.1,6 Método recreativo Sem dúvida, esse é o método, se não o mais em voga na atualidade, o mais popular adotado na iniciação dos esportes. São muitos os livros que apresentam atividades recreativas para o ensino dos mais variados conteúdos nas aulas de educação física. Muitos estudiosos o defendem em suas teorias. A adoção desse método se faz presente em todas as realidades e níveis dos esportes. Essa é a constatação que fizemos quando observamos aulas e treinamentos de equipes de competições. Porém, é claro, na realidade do alto nível a quantidade de treinos com ênfase lúdica é proporcionalmente menor. No entanto, nem por isso menos importante. Como exemplo, apresentamos ao longo deste livro atividades lúdicas no judô e nos demais esportes. No final do livro, nos anexos, estão descritas atividades de aquecimento para equipes de alto nível do handebol que adotam o método e que, a partir da criatividade do professor, poderão ser adaptadas para outras modalidades esportivas. É possível que os elementos técnicos ou táticos, abordados de uma maneira lúdica, ou seja, recreativa, propiciem ao docente um melhor aprendizado do esporte. Já no alto nível, tem o seu efeito "antiestressante", ou seja, diminuem o nível de ansiedade, que é muito importante no sentido de contribuir na rotina de treinamento. Corroborando a opinião sobre os benefícios oriundos do método recreativo aplicados no esporte de alto nível, cita-se MARIOTTI (1996): “Recreamo-nos quando conseguimos subtrair-nos ao habitual ou cotidiano, quando achamos deleite, seja levando a cabo uma atividade (...) . Em síntese, a prática rotineira, habitual e repetitiva precisa lançar mão do método recreativo."

2.1.7 Método transfert Método proposto por Bayer (1994), na Europa, com jogadores de handebol. Adotando-o, poderemos trabalhar mais de uma modalidade desportiva na mesma atividade, associando-se gestos técnicos desses esportes. Assim, ao se trabalhar a condução do futsal ou a progressão do handebol, por exemplo, estaremos exercitando e desenvolvendo em nossos alunos os eixos corporais inferior e superior, além de estarmos desenvolvendo o raciocínio rápido, as percepções óculo-pedais e óculo-manuais em uma só atividade.

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Trata-se de um excelente método no sentido de estimular nos alunos as percepções de espaço, a inteligência para outros elementos presentes num contexto durante o jogo. Esse método poderá ser adotado por aquele professor que tem dificuldade de convencer alunos a praticarem o futsal. Para tanto, poderá mesclar as modalidades. Se o aluno tiver interesse apenas para o vôlei, a atividade poderá ter duas bolas, uma de vôlei e a outra de futsal. Como exemplo, citamos a seguinte atividade: duas colunas de alunos estarão dispostas diagonalmente, de modo que ao sinal do professor o primeiro de cada coluna deverá conduzir a bola e, no meio do percurso, trocar com o outro as bolas. Em seguida, aquele que recebeu a de vôlei fará um arremesso ou um ataque, enquanto que o outro deverá chutar a gol. É aí que o professor deverá agir de modo a elogiar aquele aluno que prefere o vôlei, dizendo-lhe que o chute foi muito bom, entre outras palavras de estímulos positivos. Assim é provável que esse aluno sinta firmeza nas próximas práticas, tomando gosto pela modalidade de futsal.

2.1.8 Método da cooperação-oposição As noções de companheiro e adversário são básicas para o ensino e o entendimento da estrutura funcional do jogo. Assim, deve-se, através desse meio, dar ênfase aos valores de cooperação entre os praticantes que, para acontecer o jogo ou a competição, precisam do adversário, e este deverá ser visto como um "cooperador". Do contrário, não teremos como jogar contra. Esse método, assim, enfatiza o significado de jogar "com" em detrimento do jogar "contra". As duas situações são imprescindíveis no processo educacional. Porém, quando houver o predomínio da "oposição", é interessante relembrar alguns valores que muitas vezes não estão explícitos - muitos foram esquecidos pelos apelos comerciais impostos por vários meios de comunicação. Há um reforço muito forte em torno da "oposição". O professor deverá estar atento a esse fenômeno. Acreditamos que esse é o método com o qual o professor poderá ganhar muitos alunos ou perder muitos alunos. Para confirmar essa posição, eis o que acontece, com base em fatos reais: você faz parte de um grupo de amigos que joga futebol ou futsal na quadra de um ginásio, sistematicamente quatro vezes por mês. Todos pagam uma taxa por jogo ou mensalmente. Então, após ter trabalhado durante várias horas no dia, você se desloca para esse ginásio a fim de jogar. Como você se sentiria ao sair desse jogo, que deveria ser para recreação ou lazer, se lá alguém da equipe adversária ("oposição") desse um chute ou pontapé na sua perna com o objetivo de machucá-lo? A resposta, sem dúvida, é que você sentiria total descontentamento. Esse problema acontece com freqüência em muitos grupos de "amigos". Agora tente imaginar como são incorporados esses problemas em alunos de uma escola ou de uma escolinha de esportes onde o professor não consegue entender que as sensações de desprazer irão afastar os alunos das

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atividades. Isso poderá acontecer imediatamente ou depois de alguns dias. Há uma explicação fisiológica para esse afastamento. De modo resumido, quando sentimos prazer com o que fazemos, secretamos mais beta-endorfinas, porém quando os alunos não sentem prazer nas atividades ou durante a aula, as catecolaminas (os hormônios da "fuga") são jogados em maior quantidade na corrente sangüínea. O professor deverá ter noção e saber os efeitos oriundos a partir das técnicas, estímulos e principalmente dos métodos escolhidos para desenvolver as suas aulas. Se conseguir usar o método da cooperação-oposição de modo a não valorizar em demasia a vitória em detrimento da derrota, provavelmente será bem-sucedido na sua pedagogia, isto é, na condução das atividades das suas aulas sem permitir que alunos mais sensíveis sejam discriminados, o que, em alguns casos, será o motivo do afastamento das aulas de Educação Física.

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CAPÍTULO 3 Basquetebol

3.1 Síntese histórica do basquetebol O basquetebol no mundo O basquetebol (bola ao cesto) foi criado em dezembro de 1891, no Colégio Internacional da ACM, cuja sede era no colégio de Springfield, em Massachusetts, EUA, pelo professor canadense de Educação Física James A. Naismith (BOSC, 1998). Naquela época, a idéia era de que vários alunos pudessem participar em um jogo atraente e de fácil adaptação, sem violência, de fácil aprendizagem, ajustável a qualquer espaço e que, assim, satisfizesse e despertasse o interesse geral. No primeiro jogo, utilizando uma bola grande e dois cestos de pêssegos distantes aproximadamente três metros do solo, Naismith, que havia escrito 13 artigos de regras, contou com a participação de 18 alunos, nove contra nove (TOSETI, [ s / d ] ) . Conforme Lima et al. (1988), as primeiras regras criadas por Naismith foram publicadas em 15 de novembro de 1892. A primeira demonstração do basquetebol em jogos olímpicos aconteceu em 1904, em St. Louis, nos EUA. No dia 18 de junho de 1932, ao final da primeira conferência internacional de basquetebol, que contou com a presença de representantes de 12 países, em Genebra, na Suíça, foi criada a Federation Internationale de Basketball (FIBA). Em Berlim, 1936, aconteceu a primeira disputa de medalhas na modalidade, isto com a participação masculina. As mulheres só puderam participar em Olimpíadas a partir de 1976. Na primeira partida olímpica (1936), James Naismith foi homenageado ao lançar ao alto para iniciar a participação dessa modalidade que cresceu muito no mundo inteiro ao longo das décadas. Existem, atualmente, conforme o sítio da Confederação Brasileira de Basquetebol, mais de 170 países filiados à FIBA, o que representa mais de 300 milhões de pessoas praticantes. Naismith morreu aos 78 anos de idade, em 1939. O basquetebol no Brasil Em 1896, através do professor norte-americano Auguste Farnham Shaw, do colégio Mackenzie da cidade de São Paulo, chegou ao Brasil a primeira bola (já oficial) de basquetebol (MEDALHA, 1974). As alunas desse colégio foram as primeiras a praticar a nova modalidade. Nesse mesmo ano, o esporte já era reconhecido como profissional nos EUA, a partir da fundação da Liga Nacional de Basquetebol. Pelo fato de este ter sido praticado e aceito primeiro entre as mulheres, o professor Shaw teve algumas dificuldades para convencer os homens a praticar o basquetebol que, também, disputava com o futebol a preferência da época.

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MÉTODOS E PLANOS PARA O ENSINO DOS ESPORTES Carlos Alberto Tenroller & Eduardo Merino

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Conforme COUTINHO (2001), o Brasil foi o quinto país do mundo e o primeiro da América do Sul a conhecer o basquetebol. A partir de 1910, na ACM do Rio de Janeiro, o basquetebol começou a ser praticado sistematicamente. Em 1933, foi fundada a Federação Brasileira de Basquetebol. Segundo TOSETI (s/d), até 1933 o basquete brasileiro era organizado pela Confederação Brasileira de Desportos. Em 1959, em Santiago, capital do Chile, e em 1963, no Rio de Janeiro, Brasil, no naipe masculino, o Brasil sagrou-se bicampeão do mundo na categoria adulto. No ano de 1987, o Brasil vence os Estados Unidos na final dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis. Em 1994, foi a vez da equipe feminina adulta sagrar-se campeã mundial, em Cuba. Em 1996, essa mesma seleção foi vice-campeã em Atlanta, Estados Unidos. Nos Jogos Pan-americanos de 1999, em Winnipeg, no Canadá, mais uma vez a seleção masculina do Brasil venceu os Estados Unidos na final.

3.2 Os fundamentos do basquetebol Manejo (controle) da bola Trata-se da habilidade de domínio da bola em relação aos aspectos de espaço, tempo e percepções do oponente. O controle da bola poderá acontecer parado, em movimento (deslocamento), com uma ou duas mãos. Manejo (controle) do corpo É a capacidade de interagir de modo consciente em relação à bola, ao adversário, ao espaço de tempo e de lugar. Paradas bruscas,