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  • Cultura histrica, mdia e ensino de histria: problemas polticos de ensinar e aprender

    Prof. Dr. Sonia Wanderley (UERJ)

    Introduo

    A postura que adotamos com respeito ao passado, quais as relaes entre passado, presente e futuro no so apenas questes de interesse vital para todos: so indispensveis. inevitvel que nos situemos no continuum de nossa prpria existncia, da famlia e do grupo a que pertencemos. inevitvel fazer comparaes entre o passado e o presente: essa a finalidade dos lbuns de fotos de famlia ou filmes domsticos. No podemos deixar de aprender com isso, pois o que a experincia significa. Podemos aprender coisas erradas e, positivamente, o que fazemos com freqncia-, mas se no aprendemos, ou no temos nenhuma oportunidade de aprender, ou nos recusamos a aprender de algum passado algo que relevante ao nosso propsito, somos, no limite, mentalmente anormais. (HOBSBAWM, 1998, p. 36)

    Hobsbawm nos lembra com suas palavras que o pensamento histrico uma caracterstica intrnseca existncia humana. Por sua natureza, a necessidade de conhecer o passado e relacion-lo ao presente algo imprescindvel aos seres humanos. Essa epgrafe nos remete ao conceito de conscincia histrica, tal qual definido por Jrn Rsen. Para esse autor, a conscincia histrica algo universalmente humano e articula, fundamentalmente, dois elementos: o passado como experincia e o presente e o futuro como campos de ao orientados por este passado, tendo como funo auxiliar a compreenso da realidade passada para entendimento da realidade presente. (RSEN, 2001).

    Dizer que a conscincia histrica algo inerente ao humano, no importa negar que ela seja mutvel, melhor dizendo, que possa se tornar mais complexa com o aprendizado. Ou seja, assim como Hobsbawm nos deixa

  • antever, Rsen tambm categrico quanto importncia da aprendizagem, no desenvolvimento da conscincia histrica. Melhor dizendo, ele indica que a aprendizagem histrica pode ser explicada como um processo de mudana estrutural na conscincia histrica.

    O texto de Hobsbawm situa muito bem a relao precpua entre o aprendizado e a experincia. Da mesma forma, Rsen considera a relao necessria entre esses dois termos. Contudo a experincia que permite a apreenso da historicidade, afirma, no se encontra vinculada unicamente a uma disciplina acadmica ou escolar. Para esse autor, a aprendizagem escolar apenas uma forma dentre outras de se desenvolver a conscincia histrica.

    Todos os dilogos que os homens realizam com a natureza, com os demais homens e consigo mesmos, acerca do que sejam eles prprios e seu mundo desenvolvem a conscincia histrica (RSEN: 2001). Assim, a aprendizagem da histria um processo que busca explicar as experincias do tempo a partir do desenvolvimento de competncias narrativas. O autor compreende competncia narrativa como a habilidade para narrar uma histria por meio da qual a vida prtica recebe uma orientao no tempo.

    Partindo desses pressupostos, devemos, pois, nos perguntar se estamos, enquanto profissionais da histria, sendo capazes de desenvolver narrativas que, em sua constituio de sentido, se vinculem experincia do tempo de maneira que o passado possa tornar-se presente no quadro cultural de orientao da vida prtica contempornea.

    Mais ainda, se e de que forma estamos trabalhando/refletindo a perspectiva apontada por Rsen de que ensino e aprendizagem devam ser encarados como fenmeno e processo fundamental da cultura humana, no restritos simplesmente escola. (RSEN, 2010). Considerando que o aprendizado

  • histrico incorpora as experincias adquiridas na convivncia com outras instncias socializadoras nas quais estamos mergulhados cotidianamente e que do forma ao que se convencionou chamar de cultura histrica, quais as reflexes que estamos produzindo no espao formador de docentes sobre essas outras narrativas constitutivas da cultura histrica?

    Entendemos cultura histrica como uma forma especfica de experimentar e interpretar o mundo, que descreve e analisa a orientao da vida prtica, a autocompreenso e a subjetividade dos seres humanos (CARDOSO, 2008). Pode-se dizer que a cultura histrica o resultado de manifestaes da conscincia histrica que relacionam-se aos diversos meios nos quais a histria utilizada, mesmo que de forma inconsciente, tais como os produtos da comunicao de massa. O saber histrico escolar sim parte constitutiva dessa cultura, auxiliando, inclusive, a formao de identidades. Mas, como foi dito, a cultura histrica no se resume ao que ensinado/aprendido no ambiente acadmico e/ou escolar.

    Em um mundo midiatizado, como o atual, pode-se definir, de forma monopolista, a quem dado o direito de produzir sentidos, dar forma e expressividade ao passado, principalmente se levarmos em conta o presentismo reinante, aliado sacralizao da memria e de seus lugares?

    Pensar a Histria na contemporaneidade, portanto, nos obriga a considerar a produo miditica haja vista sua capacidade de produzir eventos e constituir sentidos. Assim, os campos da produo historiogrfica senhora, at pouco tempo, da produo de sentido para o passado e o da comunicao no que tange reflexo sobre sua capacidade na fabricao de imagens simblicas, conjunto de representaes que forjam verdades/significados se entrelaam de tal forma no estabelecimento da cultura histrica que no podem, tanto

  • historiadores, como jornalistas ou estudiosos da comunicao, deixar de refletir sobre a questo.

    De que forma, ns, pesquisadores e professores de histria, consideramos entre os nossos afazeres a tarefa de refletir sobre a ao/reao dessa outra competncia narrativa no aprendizado da histria? Em sentido inverso, mas no contrrio, de que forma consideramos a sua utilizao ou propomos pesquisas aplicadas para entendermos como ela influencia o desenvolvimento da conscincia histrica, principalmente no mbito do ensino da histria?

    Justificativa

    Antes que os historiadores viessem a olhar para seu trabalho como uma simples questo de metodologia de pesquisa e antes que se considerassem cientistas, eles discutiram as regras e os princpios da composio da histria como problemas de ensino e aprendizagem. Ensino e aprendizagem eram considerados no mais amplo sentido, como fenmeno e processo fundamental da cultura humana, no restrito simplesmente escola. O conhecido ditado historia vitae magistra (...) indica que a escrita da histria era orientada pela moral e pelos problemas prticos da vida, e no pelos problemas tericos ou empricos da cognio metdica. (RSEN, 2010)

    Hoje, mais o que nunca, a histria uma disputa. Certamente, controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente: em nossos dias, contudo, essa disputa assumiu uma considervel amplitude. De fato, a democratizao do ensino e a difuso dos conhecimentos histricos por outros meios cinema, televiso contribuem para esclarecer o cidado, ao mesmo tempo sobre o funcionamento de sua prpria cidade e sobre o uso e utilizaes polticas da histria. (...) Pois, na verdade, o Estado e o poltico no so os nicos a colocar a histria sob vigilncia. Tambm o faz a sociedade, que, por sua vez, censura e autocensura qualquer anlise que possa revelar suas interdies, seus lapsos, que possa comprometer a imagem que uma sociedade pretende de si mesma. (FERRO, 1989, p. 1-2)

    Nesses tempos ps-modernos (?) o rigor cientfico que diferencia o saber produzido pela cincia, no caso a Histria e seu ensino, no o qualificaria a ter um reconhecimento maior que o de qualquer outra forma de conhecimento,

  • como o de senso comum. Essa a afirmativa que vem caracterizando diversas reflexes nos dias de hoje.

    Apesar de discordar dos fundamentos das crticas ps-modernas, Rsen acredita que tais questionamentos, longe de fortalecerem a perspectiva de que a Histria no detm mais lugar cativo enquanto explicao do passado, refundam conceitos definidores para a viso moderna de Histria, obrigando-nos, como profissionais, a consider-los, com o rigor terico e metodolgico que caracteriza os estudos histricos, mas, sem esquecer que a produo historiogrfica no deve estar descolada dos problemas relacionados ao seu ensino e aprendizagem.

    Outra questo pertinente nos apresentada por Ferro na epgrafe utilizada acima. Sua palavra nos lembra que a vigilncia produo de significados sobre o passado no se faz apenas pelo Estado, com a histria oficial. Diante da extensa produo sobre o modus vivendi contemporneo e a necessidade de o ambiente escolar refletir as diferentes orientaes de um mundo que reconhece a diversidade de culturas que o compe, e o informacionalismo oriundo do desenvolvimento dos meios de comunicao, no deveramos retomar a leitura clssica de Ferro e pensar de que forma a produo do politicamente correto multicultural no est nos afastando de um objetivo mais primordial, qual seja, o papel poltico enquanto pesquisadores e formadores de professores que tm como objetivo o desenvolvimento da conscincia histria, como nos indica Rsen?

    Unindo a preocupao de Ferro de Rsen, entendemos que seja um campo bastante profcuo ao pesquisador de histria, debruar sobre a diversidade de narrativas1 que compreendem a cultura histrica, mormente a miditica e o

    1 Entenda-se narrativa como um processo de fazer ou produzir uma trama da experincia

    temporal tecida de acordo com a necessidade da orientao de si no curso do tempo. O

  • saber histrico escolar, em busca do entendimento de como elas se entrelaam no processo de ensino-aprendizagem de histria. Como elas se aproximam ou se diferenciam do conhecimento histrico acadmico, baseado no desenvolvimento da historiografia. Essas pesquisas devem considerar a necessidade de compreender a diversidade da cultura histrica; porm, no podem descuidar do carter poltico formador da educao histrica.

    Como nos diz Ferro: tambm a sociedade censura e autocensura qualquer anlise que possa revelar suas interdies, seus lapsos, que possa comprometer a imagem que (...) pretende de si mesma. O perigo de no se diferenciar/avaliar as formas com as quais a conscincia histrica vem tona, muita delas simplificadoras ou reificadoras enquanto processo, real e, muitas vezes, capaz de retirar do ensino de histria seu carter formador, em essncia, poltico.

    Cultura histrica, mdia e ensino de histria A reverberao do conceito de cultura histrica dentro e fora dos meios acadmicos reflete o papel que a memria histrica vem adquirindo no espao pblico.

    El concepto de cultura histrica aborda un fenmeno que caracteriza desde aos el papel de la memoria histrica en el espacio pblico: me refiero al boom continuo de la historia, a la gran atencin que han suscitado los debates acadmicos fuera del crculo de expertas y expertos, y a la sorprendente sensibilidad del pblico en el uso de argumentos histricos para fines polticos. (RSEN, 2009)

    Torna-se questo essencial para a pesquisa histrica, portanto, a importncia adquirida pela memria na constituio de manifestaes da conscincia histrica. Pierre Nora identifica como fator determinante no desejo de memria de nossa poca a questo da mundializao, processo no qual os meios de comunicao de massa exercem um papel primordial. Nora discorre acerca de

    produto deste processo narrativo, a trama capaz de tal orientao, uma histria. (RSEN, 2010)

  • um movimento de alterao do tempo, que passa a ser mais dinmico. A durao do fato a durao da notcia, o novo quem comanda, propagando significado para a hegemonia do efmero.

    Tambm estudiosos da mdia, como o intelectual alemo Andreas Huyssen, demonstram preocupao com essa problemtica. Segundo o autor, est em curso a ascenso de uma cultura da memria para a qual o desenvolvimento da mdia tem papel significativo:

    A reciclagem e explorao pela indstria cultural de tpicos relacionados memria contribuem para a expanso de preocupaes relativas memria na esfera pblica. Num sentido mais amplo, contudo, a maior parte da cultura contempornea da memria, eu penso, resulta do naufrgio do imaginrio de utopias futuras caracterstico do sculo XX. (HUYSSEN, 2004)

    Demonstrando paralelismo com o pensamento de Nora, Huyssen considera que nos dias de hoje tentamos combater o medo e o perigo do esquecimento com estratgias de sobrevivncia de rememorao pblica e privada:

    O enfoque sobre a memria energizado subliminarmente pelo desejo de nos ancorar em um mundo caracterizado por uma crescente instabilidade do tempo e pelo fraturamento do espao vivido (HUYSSEN: 2000).

    Para Huyssen, essa cultura da memria seria uma forma de compensar a perda de estabilidade que o indivduo tem no tempo presente, uma forma de combater a nossa profunda ansiedade com a velocidade de mudana e o contnuo encolhimento dos horizontes de tempo e de espao.

    O discurso miditico tem participao ativa na aceitao social dessa cultura da memria; mas, segundo Huyssen, embora o jornalismo investigativo srio seja essencial para a construo pblica de discursos de memria nacional, o seu enquadramento temporal necessariamente limitado ao presente e ao passado recente, por isso o jornalismo precisaria ser complementado pelo trabalho historiogrfico. (HUYSSEN: 2004) O autor aponta os perigos de uma

  • anlise que considere apenas o espao/tempo privilegiado pela mdia e, de certo modo, aproxima-se da leitura realizada por Ferro.

    Essa proximidade tambm pode ser identificada no texto de Nora quando ele considera a memria, processo vivido e conduzido por grupos vivos, em evoluo permanente, suscetvel a manipulaes:

    A memria vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela est em permanente evoluo, aberta dialtica da lembrana e do esquecimento, inconsciente de suas deformaes sucessivas, vulnervel a todos os usos e manipulaes, susceptvel de longas latncias e de repentinas revitalizaes (NORA:1993).

    Por outro lado, se o espao pblico cada vez mais utiliza e se sensibiliza com a argumentao histrica na explicao de seu espao/tempo, como esto os historiadores refletindo sobre essa apropriao por no iniciados, em especial os jornalistas, de discursos e prticas que at ento lhes eram cativos? Mais ainda, como os pesquisadores do ensino de histria esto refletindo sobre como a narrativa miditica de teor dito histrico, porm carregada de memria, tem sido utilizada na produo do saber histrico escolar.

    O prprio Rsen reconhece os limites atuais da anlise desenvolvida por parte dos historiadores. Recorrendo necessidade de expandir as perspectivas da didtica da histria2, afirma:

    Ainda uma questo aberta se a nfase na vida pblica da didtica da histria ter um eco positivo. Mas deveria ficar claro que, desde que o pblico no pode digerir a produo de uma disciplina profissional altamente especializada da histria profissional sem mediao, existe uma necessidade definitiva de pessoal treinado e disposto a cumprir esta mediao. O que deveria ser evidente que as habilidades normais adquiridas pelo historiador profissional no so suficientes para a execuo dessa mediao. (RSEN: 2010)

    2 Rsen considera a didtica da histria uma disciplina do campo historiogrfico que analisa os

    fundamentos da educao histrica. Expandindo seus objetos de estudo para alm do ensino e aprendizagem na escola, considera como problemticas dessa disciplina todas as formas e funes do raciocnio e conhecimento histrico na vida cotidiana, prtica. (RSEN: 2010)

  • No tocante a utilizao de uma abordagem da moderna didtica da histria na anlise dos usos e funes da narrativa de teor histrico nos meios de comunicao de massa, ele indica: os insights especficos da didtica da histria (...) tm de ser transformados na linguagem do nosso entendimento da comunicao de massa. Em outras palavras, aponta para a necessidade do desenvolvimento de abordagens tericas e metodolgicas e de estudos empricos que integrem questes e mtodos com as disciplinas especializadas na anlise da vida pblica. (RSEN: 2010)

    Por outro lado, o saber histrico escolar uma das fontes primordiais do desenvolvimento da conscincia histrica dos indivduos contemporneos. E no se pode negar que as interpretaes apresentadas pela mdia tm um espao cada vez mais ampliado na produo dos materiais didticos escolares. Muitas vezes, a narrativa miditica chega a rivalizar com aquela desenvolvida pela historiografia, se considerarmos as fontes pesquisadas e as opinies apresentadas por alunos/professores em sala de aula.

    Uma proposta de pesquisa de pesquisa aplicada Pelo exposto, entende-se a necessidade do desenvolvimento de pesquisas de campo que, considerando a produo miditica e a educao histrica como agentes das explicaes histricas mais aceitas pelos indivduos nos dias de hoje e a importncia poltica que tais explicaes tm no desenvolvimento da conscincia histrica, principalmente em sociedades com as caractersticas da brasileira, permitam o adensamento de reflexes acadmicas acerca dos usos da histria na vida pblica.

    Como proposta de uma pesquisa/ao, esses trabalhos deveriam ser capazes de identificar e analisar a relao que se estabelece entre memria e histria em narrativas midiatizadas da histria e perceber como essas narrativas so utilizadas na produo do saber histrico escolar, tendo em vista o

  • desenvolvimento da conscincia histrica na educao bsica. Pensando na divulgao de seus resultados, seria interessante o desenvolvimento de oficinas e outras atividades extensionistas nas quais pudessem ser aplicados os resultados da reflexo realizada, considerando, no apenas os alunos do ensino bsico, como a formao docente, o que envolveria alunos da graduao, ps-graduao e docentes universitrios e da educao bsica.

    Como nos ensina Rsen, faz-se urgente, no campo da pesquisa acerca do ensino da histria, o desenvolvimento de estudos que encontrem caminhos metodolgicos para resgatar, como competncia da reflexo histrica, as dimenses do pensamento histrico inseparavelmente combinadas com a vida prtica, ou seja, que produzam reflexo sobre a comunidade na qual eles se inserem. (RSEN, 2010).

    Considerando a capacidade da mdia de fazer circular socialmente os significados que produz e a importncia da histria escolar na definio do que histria para a maioria dos indivduos, esse tipo de engajamento prope o desenvolvimento de pesquisas empricas (surveys) que possibilitem mapear e entrecruzar matrizes discursivas das narrativas produzidas pela mdia e por professores/alunos de histria da educao bsica, tendo em vista analisar o grau de complexidade da conscincia histrica que se constitui a partir delas.

    Para a anlise qualitativa dos dados seria bastante produtiva a reflexo de Rsen acerca da didtica da histria. Assim, os instrumentos de pesquisa devero ser construdos de forma a permitir o conhecimento das dimenses do pensamento histrico inseparavelmente combinadas com a vida prtica (RSEN: 2010) estruturadas pelas narrativas histricas resultantes do saber

  • escolar e da mdia. O que, ao final, permite-nos trabalhar com a tipologia da conscincia histrica3, tal qual foi proposta por Rsen.

    Essa tipologia est fundamentada na compreenso de que possvel analisar a complexidade da conscincia histrica apreendida nas narrativas produzidas pelas fontes estudadas, j que essa conscincia tida como um conjunto coerente de operaes mentais que definem a peculiaridade do pensamento histrico e a funo que ele exerce na cultura humana.

    Vamos considerar que, assim como a escrita da histria historiogrfica, as escrita miditica e escolar da histria tambm se utilizam da narrativa como um procedimento mental que confere sentido experincia do tempo, sendo a forma lingstica por meio da qual se realiza a funo de orientao da conscincia histrica. Sendo assim, os instrumentos de pesquisa devem ser competentes na identificao dos procedimentos da narrao histrica, na definio seus diversos componentes e na descrio de sua coerncia e inter-relaes.

    A partir desse procedimento, o estudo das narrativas histricas apontaria tipos diversos de conscincia histria. Em uma escala crescente de complexidade, Rsen desenha uma tipologia, embora aponte o carter essencialmente didtico dessa construo, na medida em que os tipos de conscincia histrica no existiriam no estado puro em situaes reais da vida. Ele prope, ento, quatro tipos de conscincia histrica, relacionadas s competncias narrativas (diferenciao passado/presente, interpretao e orientao) que refletem. So elas: tradicional, exemplar, crtica e gentica. (RSEN: 2010).

    3 Estamos considerando conscincia histrica como uma categoria que no apenas tem

    relao com o aprendizado e o ensino de histria, mas cobre todas as formas de pensamento histrico, atravs dela se experiencia o passado e se o interpreta como histria. (RSEN: 2010)

  • A justificativa terica para utilizao metodolgica dessa tipologia a compreenso de que ela permite explicar e perceber o processo de aprendizagem histrica como um processo de mudana estrutural na conscincia histrica. Voltando aos objetivos propostos pela pesquisa, desligar o processo de aprendizado da histria do simples adquirir conhecimento do passado ou informaes atualizadas quase que imediatamente.

    Em termos tericos, no difcil explicar o desenvolvimento da conscincia histrica como um processo de aprendizagem. A aprendizagem conceituada em seu marco de referncia como uma qualidade especfica dos procedimentos mentais da conscincia histrica. Tais procedimentos so chamados de aprendizagem quando as competncias so adquiridas para a) experimentar o tempo passado, b) interpret-lo na forma de histria e c) utiliz-lo para um propsito prtico na vida diria. (RSEN: 2010)

    Referncias Bibliogrficas: CARDOSO, Oldimar. Por uma definio de Didtica da Histria. In: Revista Brasileira de Histria [on line]. So Paulo, v. 28, n 55, p. 153-170 2008. FERRO, Marc. A histria vigiada. So Paulo: Martins Fontes, 1989. HOBSBAWM, Eric. Sobre a Histria: Ensaios. So Paulo: Companhia das Letras, 1998. HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela Memria: arquitetura, monumentos, mdia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. ________. Mdia e discursos da memria. Revista Brasileira de Cincias da Comunicao, vol. 27, n 1, p. 97-104 2004. NORA, Pierre. Entre Memria e Histria: a problemtica dos lugares, In: Projeto Histria. So Paulo: PUC, n 10, pp. 07-28, dezembro de 1993. RSEN, Jrn. Razo histrica: teoria da histria fundamentos da cincia histrica. Braslia: Editora da UnB, 2001. SCHMIDT, Maria Auxiliadora, BARCA, Isabel; MARTINS, Estevo de Resende (orgs.). Jrn Rsen e o ensino de histria. Curitiba: Editora UFPR, 2010.