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    MESTRAC3 EM CtNCtAS SOC!A!S

    MIGRAO E INDUSTRIALIZAO:

    O CASO DO CIA

    D I S S E R T A O A P R E S E N T A D A A O

    M E S T R A D O E M C I N C I A S H U M A N A S

    D A U N I V E R S I D A D E F E D E R A L

    D A B A H I A

    RACHEL MARIA DE ARAJO ANDRADE

    U N I V K R S I D A L ' L DA B A H I A

    F A C U L D A D E BFI F I L O S O F I A

    a ' s t o cANo, de Tcm bo ^ ^ ^

    SALVADOR BAHIA 197)

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    U n iv e rs id a d e F e d e r a ! d a B a h i a - U F B A

    Facu!dade de Fi !osofia e Cincias Humanas

    Esta obra foi digitaiizada no

    Ce n t r o d e D i g i t a i i z a o ( CED I G ) d o

    P r o g r a m a de P s -g r a d u a o em H i st ria da U F B A

    Co o r d e n a o G e r a ) : P r o f . M i ) t o n M o u r a

    Co o r d e n a o T c n i c a : L u i s B o r g e s

    2013Contatos:[email protected] /lab@ ufba.br

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    1. INTRODUBO

    0presente trabalho resultado de uma pesquisa

    por ns realizada como dissertao final para o curso de Mejs

    trado em Cincias Humanas da Faculdade de Filosofia e Cincias

    Humanas da Universidade Federal da Bahia. Tem ele como tema

    geral um estudo da migrao no Brasil e, em particular, do Cen

    tro Industrial de Aratu como polo de atrao de migrantes.

    Situamos o tema no momento presente, tomando co

    no referncia es^-ial a Bahia, ou mais precisamente, a rea

    da Grande Salvador.

    Achando importante uma justificativa do tema que

    remos dizer da nossa motivao em tom-lo como assunto de pes;

    auisa. Nos pases latino-americanos e, de modo geral, nos pai

    ses em vias de desenvolvimento, dois fenmenos demogrficoslm

    trazido preocupaes para os planificadores da economia e da

    vida social: o aumento global da populao e sua concentrao

    nas reas urbano-industriais.

    Esta segunda tendncia, isto , o fenmeno migra

    trio, e sobretudo, o xodo rural, de fenmeno espordico vem

    se transformando num processo regular e continuo nos pases on

    de a estrutura econmica, voltada para a industrializao, co

    mea a perder o carter de uma economia tradicionalmente agri

    cola.

    0xodo rural foi um dos elementos que propulsio

    nou e permitiu a industrializao e urbanizao do Brasil, nas

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    2 .

    dimenses em que tais fenmenos podem ser observados em nossos

    dias.

    Industrializao e urbanizao so dois procejssos que se acham estreitamente ligados. A cidade e a indstria

    se ajudam mutuamente. 0crescimento da primeira propicia ao

    setor industrial uma infra-estrutura slida - foras motrizes

    para a produo, meios de comunicao, comrcio, servios - en

    fim os elementos indispensveis ao seu pleno funcionamento;por

    outro lado, o incremento do setor industrial tem como result^

    do a formao de ncleos urbanos cada vez mais importantes do

    ponto de vista econmico, social e poltico.

    E, nesse sentido, a indstria e as grandes cida

    des so importantes fatores de mobilidade geogrfica da popula

    o, na medida em que provocam o xodo rural e, de modo gera^

    as migraes internas.

    Compreendendo essa dinmica, e, particularmente

    interessada em conhecer seus mecanismos de funcionamento, esco

    lhemos como tema de nossa dissertao final de Mestrado o fen

    meno das migraes internas, tomando como ponto de referncia

    para tal estudo o Centro Industrial de Aratu, para verificaran

    que medida ele vem se constituindo num polo de atrao de mi

    grantes.

    1.1 - Ideias diretivas

    Como pontos de partida e orientao para a anli

    se dos dados coletados, formulamos algumas idias diretivas tne

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    serviro de coordenadas bsicas de nossa investigao:

    - a presso migratria para reas onde se acham insta

    ladcB centros industriis resultado da combinao de fatorfs

    atrativos dessas reas - expressos sob a forma de melhores cpor

    tunidades de trabalho e salrio - que atuam paralelamente que

    les repulsivos das reas de partida dos migrantes.

    - etn face do desequilibrio existente entre o processo

    de desenvolvimento industrial e a situao da agricultura, naBahia, a criao do polo industrial da Grande Salvador - Arati

    principalmente, - vem constituindo um foco de atrao para a

    populao rural do Estado.

    - a atrao exercida pelo Centro Industrial de Aratu

    mais acentuada sobre as populaes de reas mais prximas,onde mais facilmente se observa a difuso de informaes a res

    peito de um possivel mercado de trabalho.

    - a populao atrada para este polo de desenvolvimen

    to industrial acentuadamente jovem.

    1.2 - Observaes metodolgicas

    Tentando esclarecer da melhor forma possivel os

    caminhos seguidos a fim de atender aos objetivos propostos, a

    presentaremos os procedimentos e criterios adotados durante o

    trabalho.

    Inicialmente consideramos importantes urna refe

    rncia terica sobre o tema, seguida de urna sintese onde anali

    3.

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    4.

    samos o fenmeno das migraes internas no Brasil; para tanto,

    nos apoiamos, tanto quanto possvel, na literatura existente s

    bre a matria.

    Entretanto, necessrio se faz aplicar esses refe

    rentes tericos a uma situao concreta para testar em que me

    d ida determinados aspectos verificados com certa regularidade

    no Brasil, e na Amrica Latina de modo geral, esto presentes

    no contexto a ser estudado. Os trabalhos escritos sobre o a_s

    sunto apontam, sem maiores divergncias, o processo de indus

    trializao e a estrutura agrria das sociedades em desenvolvi

    mento fatores relevantes do fenmeno da migrao. 0 primeiro

    desses indicadores refere-se atuao das reas industriais^

    mo poios de atrao de migrantes. Assim, nada mais justo que

    escolher o Centro Industrial de Aratu, recentemente instalado

    numa rea prxima a Salvador, capital do estado da Bahia, como

    universo para nosso eetudo.

    So empiricamente constatveis as mudanas ba_s

    tante significativas que vm ocorrendo, nesses ltimos anos,

    na populao da rea circunvizinha ao CIA., em funo da atrao por ele exercida. Isso porque a publicidade que foi e con

    tinua sendo feita em torno desse parque industrial faz com que

    se intensifiquem as expectativas de muitas pessoas com relao

    ao nmero de empregos criados, com a implantao de empresas na

    referida rea.

    Tais expectativas motivam a corrida do campo e,

    de centros urbanos menores, de grande massa da populao atrai

    da pela grande oferta de empregos. Contudo, a reserva de popu

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    lao para responder aos estmulos da industrializao bem

    maior que a capacidade do setor industrial de absorver esta po

    pulao. Na verdade, o nmero de empregos criados com o CIA.,ainda que considervel, torna-se limitado em face da grande

    procura. Embora muitos migrantes venham sendo absorvidos pelo

    mercado de trabalho, provavelmente, a maioria deles no conse

    guiu, por diversas razoes, ingressar na fora de trabalho in

    dustrial.

    Desse modo, torna-se realmente muito difcil me

    dir exatamente a intensidade desse fluxo migratrio que se di

    rige s reas prximas do ncleo industrial em busca de melho

    res condies de trabalho. Poderamos, certo, tomar ento

    como universo de investigao os empregados nas empresas j em

    fase de funcionamento no CIA. Em termos ideais seria, talvez,

    a alternativa indicada. Uma outra possibilidade -e por ns a

    dotada - seria tomar como unidade de investigao o Ncleo Ha

    bitacional Rubens Costa,cenatrudo na rea de habitao do CIA

    com o objetivo de alojar operrios das indstrias ali instala

    das. Decidimos concentrar nosso interesse na populao a re

    sidente, verificando a incidncia de migrantes, a procedncia

    e ocupao anterior dos mesmos, suas caractersticas e os motL

    vos que os levaram a trabalhar no CIA.

    A realizao do levantamento em que se baseou o

    nosso trabalho exigiu certas deliberaes; cabem, pois,algumas

    justificativas para os procedimentos utilizados e esclarecimen

    to das dificuldades encontradas:

    Das 800 unidades residenciais que compem o uni

    5.

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    6.

    verso do Ncleo Habitacional Rubens Costa, tomamos urna amostra

    aleatoria de 60% e vamos aqui justificar tal escOlha. 0crit

    rio adotado foi o mesmo utilizado pela Aesessoria de Programa

    o e Oramento do Centro Industrial de Aratu quando da reali

    zaao de urna pesquisa scio-economica na rea, em agosto de

    1971.

    Considerando o carter especifico do Ncleo, por

    que vinculado a um parque industrial, urna amostra de 60% pare

    ceu-nos, portanto, suficiente para assegurar uma boa margem de

    segurana nos resultados obtidos.

    E fot muito bom deixarmos essa margem mais ampla

    porque, durante o levantamento de campo, surgiram algumas difi

    culdades, no sendo possvel atingir-se os 60% estipulados ini

    cialmente. Das 480 unidades habitacionais correspondentes a

    60% do universo, 74 casas estavam fechadas e, segundo informa

    oes dos vizinhos, por ocasio da coleta de dados, algumas de

    las estavam, ja h algum tempo, sem morador; em outras casas

    os moradores no se achavam presentes nas diversas ocasiSes em

    que foram procurados pelas auxiliares de campo. Em 9 das uni

    dades residenciais funcionavam estabelecimentos comerciais (aj*

    mazens, vendas, farmcia, bar e frigorifico), em 3delas, cli

    nicas de urgncia; uma escola, uma instituio assistencial e

    religiosa e uma Igreja Assemblia de Deus acham-se tambm ins

    taladas em 3 unidades do Ncleo. Tais casos foram, obviamentedesprezados.

    Aplicou-se, assim, 391 questionrios sumrios e

    algumas entrevistas tomando-se como referncia o (s)morador(es)

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    7 .

    da unidade residencial vinculado (s) ao CIA. Desse material

    que foi retirado grande parte dos dados aqui utilizados no ca

    pitulo 4. As informaes para preenchimento dos questionriosforam fornecidas pelas mulheres ou, em alguns casos, mes dos

    operrios. Sendo o trabalho de campo realizado durante os dias

    teis eles se encontravam nos locais de trabalho.

    Finalmente, queremos registrar um agradecimento

    ao Professor Machado Neto, aos professores do curso e, em especiai, professora Zahid Machado Neto pelo incentivo e orien

    tao que nos deu durante toda a fase de elaborao deste tra

    balho.

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    8.

    2. BASES TERICAS DE APOIO

    A estrutura demogrfica de uma sociedade normal

    mente varia em funo de um duplo movimento: o primeiro, resul

    tado do crescimento natural ou vegetativo da populao e deter

    minado pelas diferenas entre as taxas de natalidade e mortali

    dade; o segundo, especial, relativo aos deslocamentos paciflrcs

    de pessoas, implicando mudana de residncia de uma rea para

    outra e, em alguns casos, tambm, de estilo de vida e de traba

    lho. Este ltimo movimento pode ser definido como fenmeno da

    migrao.

    Nosso objetivo central estudar os movimentos dei

    populao circunscritos aos limites de uma sociedade politica

    mente organizada, as chamadas migraes internas; para tanto,

    pareceu-nos indispensvel recorrer literatura existente a

    que tivemos acesso. Assim, apresentaremos a seguir uma sinte-'

    se do material terico que trata dos aspectos gerais do fenme

    no, da multiplicidade de suas formas e da ao simultnea, ou

    no, dos fatores de atrao e expulso de migrantes de uma

    rea para outra.

    2.1 - Quadro tipolgico das migraes internas

    Para se construir uma tipologia das migraes in

    temas torna-se necessrio, antes de tudo, fazer uma distino

    entre o que se considera como pnpulao urbana e populao ru

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    ral.

    Os criterios utilizados para uma caracterizao

    de populao urbana e de populao rural apresentam certo grau

    de arbitrariedade, dando margem a que os mesmos sejam defini

    dos por estatsticos, demgrafos e outros estudiosos do assun

    to desde a forma mais simplificada, quase exclusivamente ba

    se do nmero de habitantes que vive numa aglomerao, at ae

    mais complexas, que a esse dado acrescentam outras variveisconsideradas bsicas para melhor compreenso dos conceitos de

    populao urbana e populao rural.

    Qual o significado desses dois elementos?

    Os demgrafos fazem referencia a um criterio nu

    mrico ou quantitativo (mais comumcnte adotado, seja isolada

    mente ou associado a outros) que considera urbana a populao

    de uma localidade quando esta atinge ou ultrapassa um nmero

    determinado de habitantes. *

    Quando, alem dos dados quantitativos, intervenan

    dicadores de ordem qualitativa torna-se bem mais completa adis

    tino entre o habitat rural e urbano, pois, alm dos dados

    quantitativos atuam fatores de ordem qualitativa, por exemplo,

    9-

    (l) - Critrio bastante relativo que pode variar de pais para

    pas. Assim, "nos Estados Unidos, na Blgica, nos Pa i

    ses Baixos, a populao de uma localidade s urbana quando

    conta com mais de 5 000 habitantes; na Frana, em Portugal, no

    Mxico, na Argentina, esse nmero reduzido a 2 000; na Colom

    bia, a 1 500". Paul Hugo - Demografia Brasileira, pg. 190.

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    11.

    diariamente uma mo de obra volante da cidade para o campo e

    vice-versa.

    No caso brasileiro, o criterio utilizado pela

    Comisso Censitria Nacional, para definir os quadros urbano,

    suburbano e rural foi estabelecido com sentido mais amplo con

    siderando que os ncleos que so sede administrativas deveriam

    ser, de fato, aglomerados urbanos de alguma importancia. o

    que se pode depreender do texto do Decreto Lei n? 311, de 2 demaro de 193& que ftxou normas de sistematizao para a divi

    so territorial do pas.

    "A experiencia dos ltimos censos parece ter moj

    trado que as caractersticas da populao urbana nem sempre sito

    respeitadas pela administrao municipal por uma determinao

    vlida das zonas correspondentes." Uma soluo apresenta

    da pelo Professor Mortara para corrigir essas possveis distor

    es foi a de considerar como urbana a populao das zonas ur

    baas c suburbanas apenas quando ca for superior a 5 CCO *iabi

    tantes. A vantagem de tal limite seria a de eliminar urna popu

    lao com caractersticas rurais, que de outra forma poderia

    vir incluida na categoria urbana.

    Em nossa opinio o que melhor caracteriza essas

    duas grandes divises da populao em urbana e rural, e canela

    est de acordo a grande maioria dos demgrafos muito mais "o

    carter das atividades, dos modos de vida e no propriamente a

    (5) - Paul Hugon - op. cit., pg. 190

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    aglomerao, o nmero de habitantes da comunidade.

    A posio de Maria Isaura Pereira de Queiroz

    e mais ou menos idntica a esse respeito. Admite ela que adistino entre grupos urbanos e grupos rurais deve ser feita

    muito mais em funo das peculiaridades da organizao do tra

    balho que pela localizao no espao e a forma de habitat.

    Feitos esses esclarecimentos, passemos a discri

    minar os principais tipos de mobilidade da populao no interior de um pais.

    Levando-se em considerao a maior ou menor dis

    tncia que separa a rea de origem da rea de destino, as mi

    graoes internas so inter-regionais, quando a mobilidade geo

    grfica se faz, num mesmo pas, de uma regio para outra, ouintra-regionais, quando os fluxos migratrios so efetuados

    dentro de uma mesma regio.

    Podem, ainda, as migraes internas ser classifi

    cadas em trs grandes grupos de acordo com as caractersticasch

    zona de partida e chegada, tomando como variveis as categorias rural c urbana.

    a) migrao inter-rural, movimento de

    de uma rea rural para outra tambm rural. cabvel se fazer

    12.

    (6) - Castro Barreto - Povoamento e populao - poltica populacional brasileira apud Francisco Camargo - op. cit.

    pg. 45.

    (7) - "Por que uma Sociologia dos grupos rurais" in Sociologia

    Rural, pg. 15

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    13.

    uma distino referente s condies da rea do partida que,

    segundo Paul Hugon, pode ser uma regio de cultura de subs!

    tencia ou do uma agricultura de tipo comercial. No primeiro

    caso, o migrante abandona sua terra para sc instalar numa regi

    ao onde as formas de explorao agrcola atingiram nveis mais

    altos de desenvolvimento. As condies climticas, a presso

    demogrfica ou o sistema agrrio da rea dc origem levaram-na

    a se constituir num ponto de emigrao por excelncia. No se

    gundo caso, o migrante parte do uma zona agrcola comercial di

    rigindo-se a uma outra onde a agricultura apresenta mais altos

    ndices de crescimento ou, pelo menos, de crescimento igual ao

    dc sua regio dc origem.

    b) a migrao rural-urbana, mais comumente deno

    minada de exodo rural, caracteriza-se pela emigrao de grande(9)numero de pessoas de zonas rurais para centros urbanos,^' sig

    nificando uma transferncia da fora de trabalho ocupada na

    agricultura e pecuria para atividades urbanas. Tal fenmeno

    mostra-se mais intenso nos perodos de transformao da estru

    tura econmica de um pas, particularmente naquele em quese a

    celcra o processo de industrializao.

    A migrao rural-urbana pode se efetuar sob duas

    formas: migrao cclica tambm denominada sazonal e migrao

    (8) - op. cit. pg. 188

    (9) - Esse tipo de migrao se d tambm em sentido inverso,

    isto , da cidade para o campo, embora no se verifique

    com muita intensidade.

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    permanente. Estariam incluidos no primeiro caso aqueles indi

    viduos que deixam suas comunidades em periodos anuais conheci

    dos, chaados, geralmente, perodos de entre-safra e que vari

    am de acordo com o tipo de atividade agrcola em que esto en

    gajados. Saem, via de regra, desacompanhados da familia,o que

    perfeitamente explicvel por se tratar de um curto perodo

    de permanncia na cidade.

    Denomina-se migrao permanente quando os traba

    lhadores rurais se radicam definitivamente na cidade ou, pelo

    menos, quando tal mudana implica num afastamento prolongado

    do grupo de origem. Os casados, muitas vezes,mudam-se com

    toda a familia ou decidem viajar inicialmente sozinhos, deixan

    do no campo filhos e esposa (esta com responsabilidades econo

    micas e sociais frente ausencia do marido) a quem vai buscar

    depois de alcanar certa estabilidade no novo ambiente.

    c) est ainda incluida entre os moviment

    nos de populao, a migrao inter-urbana que engloba os deslo

    camentos de populao de urna rea urbana para outra igualmente

    14.

    (10) - A migrao sazonal tambm se d frequentemente partindo

    de uma rea rural para outra igualmente rural.

    (11) - Na maioria dos casos no se trata de um rompimento to

    tal j que continuam mantendo uma srie de vnculos de

    tipo econmico, social, familiar ou comunal com sua comunidade

    de origem.

    (12) - Esse tipo de migrao tambm denominado de "migrao

    por etapas."

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    urbana. Esse tipo dc migrao muito frequente partindo de

    cidades menores para centros mais adiantados - metrpoles e ci

    dades industriais.

    2.2 - Fatores que se constituem em razes de migrao

    Procurando analisar dc forma mais aprofundada as

    razes reais do xodo rural, podem ser apontados alguns fatoies

    considerados bsicos para melhor compreenso de tal fenmeno:

    de um lado, como fatores de expulso do campo, estariam o tipo

    dc estrutura agrria, a introduo dc novas tcnicas na agri

    cultura e o forte crescimento natural da populao rural,

    por outro lado, o desequilbrio do processo de desenvolvimento

    econmico (criando enormes distncias econmicas e sociais en

    tre campo e cidade, ou mesmo entre regies) e o processo cres

    cente de industrializao de certos ncleos urbanos atuam for

    temente como poios de atrao dc migrantes rurais e de popula

    es provenientes de centros urbanos menos desenvolvidos.

    0baixo nvel de vida das populaes do Interiorde muitos pases, sobretudo nas regies onde predominam as gran

    des propriedades rurais, a conservao de prticas tradicionais

    de valorizao do solo (basicamente empricas) e, principalmen

    15.

    (13) - Outras causas do xodo rural seriam as calamidades natu

    rais (incidncia de prolongados perodos de seca, por

    exemplo) que a tcnica moderna ainda no pde eliminar.

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    te, a impossibilidade de acesso ao meio essencial de produo-

    - a terra leva os indivduos a buscarem melhores condies

    de vida, experimentando novas fontes de produo j que o seu

    meio nno dispe de condies de prend-los. Qualquer oportuni

    dade que surja significa um atrativo para o homem do campo,con

    vertendo-o cm migrante.

    Sendo assim, a inelasticidadc da produo agrico

    la, o tipo dc explorao dominante a as formas arcaicas de re

    lao de trabalho afastam o trabalhador da rea rural dc ori_

    gem, para a cidade, onde imagina encontrar melhores possibili

    dades dc trabalho, salrio e condies gerais de vida.

    0 incremento natural da populao rural deve-se,

    em grande parte, alta taxa de natalidade (consideravelmente

    mais elevada que a da populao urbana) e pronunciada tendn

    cia diminuio das taxas de mortalidade^** ) fenmeno carac

    ueristico da evoluo demogrfica contempornea e resultante

    dos progressos alcanados pela medicina.

    A forte "pressno vegetativa do campo" cria um de

    sequilbrio entre a mo de obra disponvel c o emprego que podc resultar numa saturao absoluta ou relativa do fator huma

    no. Tal situao estimula os deslocamentos de trabalhadores a

    gricolas para outras reas rurais onde sejam melhores as possi

    bilidades de trabalho ou para atividades na indstria ou servi

    1 6.

    (14) - Diminuio nem sempre muito expressiva nas reas mais

    atrasadas, mas, sempre sensvel.

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    17.

    os nas zonas urbanas. Esse esquema tem validade sobretudo em

    reas agrcolas evoludas, quando as inovaes introduzidas

    nos processos de cultura da terra, na criao de animais, no

    beneficiamcnto de produtos ou nos meios de transporte dos lo

    cais de produo para os centros de consumo constituem fatores

    nitidamente favorveis h liberao de pondervel poro de mo

    de obra rural.

    0desenvolvimento da cnica aplicada agrieul

    tura, aumentando a produtividade do trabalhador, permite a am

    pliao da oferta de produtos agrcolas, embora ponha em dispo

    nibilidade uma parcela da mo de obra empregada. E, em qual

    riuer parte onde se aplique agricultura o progresso tcnico,

    possibilitando uma produo capaz dc satisfazer a procura com

    menor nmero de trabalhadores, ocorrer o fenmeno do xodo rural.

    Elemento considerado, multas vezes, de fundamen

    tal importncia para explicar os fluxos migratrios do campo a

    ra a cidade o desequilbrio existente entre o processo de

    crescimento do setor agrcola se comparado ao setor industrial.

    "Nas naes hoje industrializadas, urbanizao,

    industrializao e elevao da produtividade agrcola marcha

    ram igualmente, assegurando um certo equilbrio na sociedade

    global. Tal correlao no parece existir nos pases do Ter

    (15) - Fenmeno tpico de pases onde se introduziu no setor

    agrcola uma tecnologia bastante desenvolvida.

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    20/93

    18.

    ceiro Mundo. Crescimento urbano e crescimento da agricultura

    esto dissociados. Esse desequilbrio alem de causar graves

    perturbaes um verdadeiro processo cumulativo de nubdesen

    volvimento."

    Quando um pais apresenta no seu processo de de

    senvolvimento esse fator de desequilibrio, isto , quando se

    desenvolve uma poltica de incentivo aos investimentos no se

    tor secundrio de sua economia cm detrimento das atividades a

    gricolas, os poios industriais passam a atuar, fortemente, co

    mo fator de atrao propiciando o deslocamento das populaes

    agrcolas para esses centros mais desenvolvidos. Isto, de re

    ferencia ao desequilbrio entre setores da economia, mas, h

    que se considerar que o crescimento das regies mais industria

    lizadas se processa em ritmo cada vez mais acelerado, aumentando as diferenas estruturais e as distncias entre nveis de

    vida, gerando, assim, um desequilibrio regional num mesmo paia.

    "Essa acentuao progressiva das desigualdades econmicas e so

    ciais entre regies de observao geral. 0livre jogo das

    foras de mercado suscita um processo de enriquecimento progiaa

    sivo nas regies mais ricas."

    E os centros urbano-industriais mais desenvolvi

    dos, na medida em que podem oferecer vantagens em termos de em

    (16) - Gilbert Blardone - Progrs conomique dans le tiers mon

    de. pag. 95

    (17) - Paul Hugon - op. cit., pag. 201

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    21/93

    prego, salrios mais altos, melhores oportunidades cultu

    rais e educacionais estimulam, fortemente, as migraes inter-

    nas("^) para essas reas. No mundo inteiro so as cidades de

    mais de 20000habitantes que possuem as taxas de crescimento

    mais fortes. Tal situao deriva da atrao que a cidade exer

    ce sobre os migrantes, efeito que aumenta paralelamente im

    portncia da mesma e que se analisa essencialmente nas mlti

    pias vantagens das condies de emprego que se desenvolvem ao

    mesmo tempo que a cidade. "A industrializao e a urbanizao- como estruturas de enquadramento e de funcionamento - esto,

    de fato, estreitamente ligadas." Quanto mais a cidade

    cresce mais ela tem condies de fornecer s indstrias uma in

    fra-estrutura. slida - foras motrizes para a produo, trans

    portes, comunicaes, comrcio para a circulao dos produtos-

    - enfim os elementos necessrios a seu pleno desenvolvimento.

    As cidades grandes e a indstria so, pois, im

    portantes fatores de mobilidade demogrfica n-i medida em que

    provocam o xodo rural e as migraes internas, em geral.

    0desenvolvimento dos meios de comunicao tam

    bm pode ser considerado, em certa medida, como um elemento es

    timulador de migrao interna. Tais progressos permitem a di

    fuso de imagens culturais das reas mais modernas at as mais

    19.

    (19 ) * Sxodo rural e, tambm, migrao de uma rea urbana paraoutros centros urbanos mais desenvolvidos.

    (20) - Paul Hugon - op. cit., pg. 225

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    22/93

    20.

    afastadas, provocando uma maior irradiao dos padres de con

    sumo e estilos de vida prprios de regies mais desenvolvidas.

    Tem papel relevante a constituio da rede de transportes per

    mitindo e facilitando a mobilidade geogrfica da populao no

    interior de um pais.

    2 .3 - Os primeiros contatoe com a cidade grande e os mecaniaips

    de insero no mercado de trabalho urbano-industrial

    A adaptao do trabalhador (seja ele proveniente

    de zona rural ou de centros urbanos mais atrasados) as novas

    condies de vida impostas pelo mundo industrial-urbano s se

    faz atravs o abandono gradual das estruturas tradicionais e a

    incorporao em sistemas mais complexos de produo e vida so

    ciai.

    Os primeiros contatos com a cidade grande consti

    tuem, geralmente, um periodo bastante dificil(^) pois, vindo

    de regies pouco desenvolvidas o migrante ainda no est apto

    para executar as tarefas exigiaa pela sociedade industrial.

    "Operrio sem especializao, ele s conhecer no inicio as ta

    (21) - Uma maneira de amenizar essa fase de adaptao (no caso

    de migrantes rurais) a situao denominada "migraopor etapas," isto , a passagem de uma zona rural para outra

    mais evoluida antes de chegar rea urbana. Assim o impacto

    seria menor e a adaptao se faria menos dificilmente.

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    23/93

    refas mais duras, menos remunetadae e menss estveis. Suas

    condies de vida so, frequentemente, as mais precrias; no

    raro, nos grandes centros industriais, em casebres miserveis,

    elas apresentam seu aspecto mais terrvel e onde se tem a im

    presso de que o xodo rural no teve outro efeito seno o de

    transforip&r a pobreza rural em misria citadina. Para mui

    tos a mudana no representa nada mais que essa situao.

    Naqueles aspectos referentes s oportunidades de

    emprego verifica-se que o jovem migrante, frequentemente, no

    pode sequer oferecer-se como mo de obra por desconhecer os me

    canismos mais gerais que controlam a participao no mercado

    de trabalho, isto , informaoes referentes oferta, maneira

    de conseguir e efetuar uma adaptao entre suas capacidades pes

    soais em termos de qualificao e as exigncias dos empregos

    disponveis.

    Neste momento o despreparo do migrante dificulta

    uma competio no mercado industrial e urbano. No dispondo

    de um nvel de qualificao pelo menos razovel, as possibili

    dades de encontrar emprego so multo restritas vez que o merca

    do de trabalho, nesse particular, se apresenta bastante exigen

    te. Despreparado, sem capacitao profissional defin J!a, o mi

    grante forado a aceitar qualquer emprego, sendo absorvido

    pelos nveis mais baixos na escala ocupacional e, consequente

    mente, pelos de mais baixa remunerao.

    21.

    (22) - Paul Hugon - op. cit., pg. 228

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    24/93

    Outro ponto que merece ser explicitado que

    medida que o mercado de trabalho se organiza em moldes burocr

    ticos, passa-se a exigir do trabalhador-migrante, pelo menos,

    o reconhecimento legal da sua condio; em outras palavras, pa

    ra se oferecer como mo de obra necessita possuir documento^?^

    Sem a documentao, situao mais frequente, v-se margem do

    mercado constitudo e, consequentemente, fora da proteo le

    gal outorgada ao trabalhador, marginalizando-se dos sistemas

    mais produtivos e de mais alta remunerao. Nestas condiesresta-lhe o subemprego. Tal situao cria um ambiente favor

    vel integrao do migrante no mercado de trabalho urbano-iji

    dustrial apenas na medida em que so iniciais e temporrias,gor

    mitindo um primeiro reajuste s condies de vida urbana e

    obteno dos requisitos necessrios categoria de trabalhador

    regularmente admitido. Alguns, portanto, terminam sendo absor

    vidos pelo sistema urbano-industrial. "A cidade que o havia

    atrado, mas que de inicio s lhe permitia assistir ao espet

    culo, pouco a pouco vai lhe permitir participar e se integrar

    nela, definitivamente?

    (23) - Carteira do Ministrio do Trabalho, Titulo de eleitor,

    carteira de identidade.

    (24) - Paul Hugon - op. cit. pg. 228

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    2?.

    3. MIGRAES INTERNAS NO BRASIL

    3.1- Histrico

    Embora no se disponha de informaes muito pre

    cisas sobre as correntes migratrias anteriores a 19^0, sabe-

    que os movimentos de populao no Brasil datam de muito tempa

    Poder-se-ia mesmo reportar ao perodo colonical quando os ind.

    genas, nmades por excelncia, viviam se deslocando de uma re

    a a outra por todo o territrio nacional, cultivando terras

    ora num lugar, ora noutro. Tambm os negros, quando conseguem

    romper a fiscalizao dos engenhos, fugiam dos canaviais do li

    toral, embrenhando-se no interior do pas. Essas referncias

    foram apontadas apenas para demonstrar que a migrao interna

    longe de ser um fenmeno recente entre ns, existia desde otem

    po do Brasil Colnia. '

    Juarez Brando Lopes fala de "movimentos re

    lativamente curtos,circunscritos regio" referindo-se s migraoes na regio Nordeste, do Serto para o Litoral, decorren

    tes das grandes estiagens.

    Foi, entretanto, a partir de 1877 que se iniciou

    o xodo de nordestinos para fora da regio. A longa durao

    (25) - Juarez Brando Lopes - Desenvolvimento e Mudana Social.

    pg. 57

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    26/93

    24.

    (2 anos) da seca, nesse perodo, levou alguns retirantes Ama

    znia atrados pela borracha e estimulados pelo Governo.

    "Pela primeira ve2, porm, a Nao tomou consci.

    ncia do flagelo. A seca nordestina passou a ser problema na

    cional. As primeiras medidas do Governo Federal foram toma

    das".(*^) 0 xodo de nordestinos para a Amaznia se prolongou

    at 1920, quando a crise da borracha acarretou a reduo de_s

    se fluxo e, paralelamente, tem incio a migrao de populaes

    nordestinas para as lavouras de caf no estado de So Paulo, ent

    substituio do imigrante europeu. "O Brasil teve de recorrer

    a imigrantes europeus para suprir os claros do estado de So

    Paulo, pois era mais fcil deslocar o estrangeiro do que o ho

    mem do interior. Foi s depois da Primeira Guerra Mundial que

    a populao do Brasil se ps em movimento, movimento esse que,depois da Segunda Guerra aumentou de tal maneira que chegou a

    causar inquietaes."^*^)

    Tal afirmao verdadeira na medida em que ee

    verifica, pelos dados dos ltimos Censos, a intensidade dos mo

    vimentos de populao no Brasil, sobretudo os ndices de imi

    grao naquelas unidades da federao onde essas taxas j se

    apresentam bastante elevadas.

    Como se pode ver, a migrao interna no feno

    meno novo no Brasil mas, a sua intensidade, hoje, as proporoas

    (26) - Juarez Brando Lopes - op. cit. pg. 57

    (27) - Juarez Brando Lopes - op. cit. pg. 57

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    27/93

    que assumiu e suas consequncias tm sido objeto de reflexoga

    ra os estudiosos do assunto.

    Os fatores que estimulam o deslocamento dos indi

    vduos de uma rea para outras reas, os diversos tipos de mi

    graSo e os aspectos gerais do fenmeno sero temas por ns lia

    tados neste capitulo.

    3-2- Tipos de migrao no Brasil

    As migraes dc carter inter-regional, no Bra

    sil, poderiam ser classificadas em dois grandes grupos, fican

    do em primeiro lugar os fluxos que se dirigem de regies agr.

    colas para outras regies tambm agrcolas; casos que ilustram

    esse primeiro tipo so as migraes de reas rurais do Nordes

    te para as lavouras do Sul e Sudeste do pais e, tambm, os des

    locamentos das lavouras paulistas para os cafezais do norte do

    Paran. Em seguida, viriam os deslocamentos de trabalhadores

    de reas rurais para os centros industriais do pais, especial

    mente para o estado de So Paulo.

    Podemos, de certa forma, medir a tendncia ao xo

    do rural e sua intensidade comparando, pelos dados dos Censos,

    a proporo de populao rural na populao total. Tal anl_i

    se nos permite verificar uma diminuio gradativa da populao

    rural acompanhada de um crescimento da populao urbana. Cada

    vez mais se intensifica esse fenmeno entre ns, conforme se

    pode observar no grfico e na tabela que se seguem:

    25 .

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    28/93

    26 .

    Populao rural-urbana (^)

    1940 19 5O i960 1970

    45% t 56% A

    rural t ]urbana

    - f 2QPopulao rural total nas regies do Brasil '

    Regioes% da populao rural total

    1940 1950 i960 1970

    Norte 72,3 68,5 62,2 54,9

    Nordeste 76,5 73,6 65,8 58,0

    Sudeste 60,6 52,5 42,7 27,2

    Sul 72,3 70,5 62,4 55,4

    Centro-oeste 78,5 75,6 65,0 51,7

    Total 68,8 63,8 54,9 44,0

    Fonte: Recenseamento e Sinopse Preliminar-1970

    (28) - Paul Hugon - op. cit. pg. 206

    (29) - apud Paul Hugon - op. cit. pg. 206

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    27.

    No Brasil se verificou uma diminuio relativa

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    30/93

    significativo ressaltar que a tendncia dos

    fluxos migratrios para So Paulo, inicialmente para a agricul

    tura, passam a se dirigir, depois de algum tempo, para outros

    setores da atividade econmica.

    A indstria paulista, a asceno de 'trabalhador

    agrcola (em caso de xodo rural) a operrio de grandes inds

    trias, os salrios mais altos, enfim, todas as vantagens que a

    grande cidade pode oferecer tm atrado milhares de nordestinos

    a So Paulo. Isso por demais conhecido e j exaustivamente

    comprovado. Juarez Brando Lopes, por exemplo, num estudo rea

    lizado em 1956/58em uma indstria paulista observou que um

    quarto de seus operrios (nao qualificados e semi-qualificado^

    era constitudo de indivduos procedentes do nordeste brasile_i

    ro e da Bahia.

    Ao lado dessas correntes principais, outras, par

    tindo das regies sudeste, sul e principalmente do nordeste d_i

    rigem-se ao norte e centro-oeste brasileiro; so os fluxos que

    se dirigem sobretudo de Minas Gerais, Bahia e estados nordesti

    nos, para Gois.

    Cabe ainda uma pequena referncia s migraes

    de trabalhadores para as chamadas zonas novas procura de ser

    vios pblicos. Caso tpico e recente dessa migrao o de_s

    locamento de homens do nordeste e centro-oeste do pais para o

    trabalho de construo das rodovias Transamaznica e Perime

    28 .

    (32) - Cf. Juarez Brando Lopes - op. cit. pg. 62

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    31/93

    tral-Norte estimulada pelo prprio plano de integrao - rodo

    via e colonizao - a que se prope o Governo Federal.

    Com referencia s migraes intra-regionais, dejstacam-se aquelas correntes que partem do Piau e Cear para o

    Maranho e do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, ainda que

    nenhuma delas seja realmente significativa. Tambm para esse

    tipo de migrao So Paulo atua como polo de atrao; os mais

    numerosos deslocamentos de um estado para outro no perodo 3^0

    -I95O se verificaram de Minas Gerais para So Paulo na ordem de

    512 7 % migrantes.

    Dado que as cidades maiores e a indstria exeioan

    atrao sobre o conjunto da rea que as cerca, caberia lembrar

    os fluxos migratrios que num mesmo estado se dirigem do inte

    rior (zona rural ou urbana) para a capital, principalmente, ou

    mesmo para outras cidades maiores do estado. Embora no tenha

    mos encontrado nos autores consultados denominao especifica

    para esse tipo de migrao, parece-nos acertado denomin-la de

    migrao intra-estadual j que a mobilidade est circunscrita

    a uma s unidade da federao.

    No nordeste brasileiro teramos dois casos bem

    tpicos dessa situao: Recife e Salvador. Dados do IBGE iMs

    tram que 76% da populao urbana de Recife formada por fluxos

    29.

    (33) - Embora sem maior significao, a migrao intra-estadual

    se efetua tambm de uma rea rural para outra igualmente

    rural e, em menor escala, de centros urtanos para zonas rurais.

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    32/93

    30.

    migratrios, cujos componentes, em sua maioria, tm como rea

    de origem a zona rural do estado de Pernambuco, embora a cida

    de conte com grande nmero de habitantes vindos de outros esta

    dos do nordeste - 6l 158paraibanos, 24 500alagoanos e 18600

    potiguares.

    A situao mais ou menos idntica em Salvador

    onde o saldomigratrio de sua populao de 1940 a 1950foi de

    46 644 habitantes, chegando a 76090no decnio subsequente e

    atingindo um total de 85916habitantes no periodo que vai de

    1960a 1968. 0 Censo Demogrfico de 1970 - Bahia registrou

    um total de 297 584 pessoas no naturais de Salvador e a resi

    dentes, sendo que 236871desse total proveniente do interi

    or do estado da Bahia, sobretudo da chamada "zona de influ

    ncia predominante" de Salvador que compreende as regies do

    Recncavo (a mais prxima, mais povoada e melhor servida pelos

    meios de comunicao), Feira de Santana e Jequi. Em menor e_s

    cala migrantes de todo o interior do estado chegam capital,

    fixando-se ai como residentes.

    (34) - Cf. Ivan Mauricio - "A nova guerra dos Mascates" in Opi

    nio. 30/7 a 07/08/1973-

    (35) * Programa de Recursos Humanos - A Dinmica Populacional

    de Salvador. pg. 91

    (36) - Fundao IBGE - Censo Demogrfico - Bahia - 1970 pgs. f

    369/371

    (37) - Cf. Jacqueline B. Garnier - "As migraes para Salvador"

    in Boletim Baiano de Geografia, pg. 524

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

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    31.

    Finalmente falaremos da migrao sazonal ou tem

    porria. Na regio nordeste, por exemplo, este movimento de

    populao se processa entre o agreste e o serto, de um ladq

    e a zona da mata onde predominam as culturas da cana de acar

    e de cacau, de outro. A dinmica dessa sada temporria est

    ligada ao fato de os trabalhadores (cultivando terras prprias

    ou alheias) dedicarem-se cultura do algodo (produto para co

    mercializao), alm do milho c feijo produzidos para a sutsi

    tncia. No agreste se ocupam com o trato de suas pequenas cul

    turas de fevereiro a maro - preparando o terreno, plantando,

    limpando - at setembro e outubro quando, consumidos o milho e

    o feijo necessitam de dinheiro para a sobrevivncia; como nos

    seus roados s h o algodo para a colheita, trabalho que po

    de ser executado por mulheres e crianas, tratam de migrar pa

    ra a zona aucareira, onde usinas e engenhos esto necessitan-

    (38)do de braos para a colheita e moagem da cana.' '

    0fluxo migratrio dirige-se, frequentemente, pa

    ra o vale do Cear Mirim (Rio Grande do Norte) onde por razoes

    geogrficas as etapas de plantio e colheita da cana so execu

    tadas simultaneamente, obrigando, assim, as usinas a duplicaiac

    o nmero de trabalhadores.

    A situao apresenta-se menos complexa na zona

    (38) - EsBes trabalhadores recebem, na zona da mata, vrias denomlnaoes, como por exemplo, "corumbas," 'baatingueirod'

    ou "curaus."

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    canavieira do estado da Paraba; ai no se verifica a coinci

    dncia nas etapas do plantio e colheita (sendo a rea menos

    mida o plantio pode ser efetuado numa fase anterior colheita)

    e, assim, o acrscimo do nmero de trabalhadores na poca da

    safra de apenas 20% sobre o total empregado no inverno.

    A regio cacaueira (sul da Bahia) tambm chegam

    correntes migratrias desse tipo. Isso porque sendo o cacau u

    ma cultura permanente (no existe a preocupao anual com o

    plantio) h uma sensvel diferena entre os perodos de safra

    e entre-safra no que se refere ao nmero de trabalhadores ocu

    pados. Como a colheita muito prolongada, estendendo-se pra

    ticamente de abril a dezembro (com um intervalo curto no ms

    de agosto), h uma grande quantidade de migrantes que se deslo

    ca do nordeste da Bahia e de Sergipe para trabalhar nessa

    rea.

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    35/93

    33.

    ca dos mesmos constatou que muitos deles deslocavam-se cinco,

    seis e at sete vezes para So Paulo, no perodo do desemprego

    sazonal., reintegrando-se pouco tempo depois sua comunidade e

    s tarefas agrcolas.

    3.3- Fatores de migrao no Brasil

    0 fenmeno da migrao rural-urbana no Brasil e_a

    t intimamente ligado e deriva mesmo da estrutura agrria do

    pais. A estrutura vigente, ao estabelecer o regime de grandes

    propriedades e formas tradicionais de relao de trabalho,atua

    como fator de expulso do trabalhador rural de sua rea de ori

    gem. For outro lado, o desequilbrio do nosso processo de de

    senvolvimento econmico, apoiando-se nos incentivos fiscais con

    cedidos indstria, em detrimento das atividades agrcolas,:8z

    com que os poios industriais brasileiros, particularmente aque

    les instalados na zona sul do pas, constituam um forte fator

    de atrao para as populaes de reas menos desenvolvidas, es

    timulando assim o deslocamento para esses grandes centros industriais.

    No Brasil o crescimento desigual das economias

    gionais e dos respectivos nveis de vida representam uma das

    causas mais determinantes das migraes internas. Observa-se

    regies com uma economia agrcola de carter essencialmente tm

    dicional e com um setor industrial incipiente, ao lado de ou

    tras mais desenvolvidas graas a um setor agrcola incorporado

    a uma eeonomia de tipo capitalista e, principalmente, existen

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    36/93

    cia de um parque industrial.

    Em mbito nacional a consolidao econmica dada

    regio sudeste e, sobretudo, ao estado de So Paulo, teve ini

    cio com a cafeicultura que, favorecendo o estabelecimento de

    condies necessrias industrializao, passou a atuar, aps

    a sua implantao, como verdadeira "bomba de suco" da popula

    o de outras reas do pais.

    ccrto que no apenas So Paulo, capital econ

    mica do pais, atua como polo de atrao dc migrantes; ai o fe

    nmeno mais significativo. Entretanto, os fluxos migratri

    os se dirigem tambm a Guanabara e Minas Gerais (regio sudes

    te), Paran, Santa Catarina e Pio Grande do Sul (regio sul) e

    Pernambuco e Bahia (no nordeste), onde sc instalaram os maio

    res parques industriais de cada uma dessas regies, conforme sepode ver no quadro que se segue:

    Setor industrial (^1)

    34.

    Unidades daFederao

    N? de estabelecimentos

    Valor doproduto

    Pessoalocupado

    Foramotriz

    So Paulo 36254 658067422 831339 2647 8 5Guanabara 5 328 1 1 1 31954o 176636 364 5DMinas Gerais 12372 71 445 397 140 268 422 8^Paran 6417 47 063544 68455 236 059Santa Catarina 5900 26334875 69682 201059Rio G. do Sul 12629 85245397 134630 362623Pernambuco 3606 32998271 72058 187 637

    Bahia 5 950 22 348 946 50 023 63500

    Fonte: Censo Industrial - i960

    (4l) - apud Paul Hugon. op. cit. pg. 230

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    37/93

    B surpreendente o crescimento populacional das

    reaE urbanas desses estados, particularmente de suas metrp^

    les; e, nesse sentido, a contribuio do xodo rural e, de mo

    do geral, das migraes internas bastante significativo.

    E por que as cidades industriais atraem migran

    teB? A primeira explicao seria a expectativa de encontrarla

    balho na indstria ou servios urbanos, dado que a cidade pode

    oferecer uma diversidade considervel e crescente de atividade

    nos setores secundrio e tercirio, com a proliferao do co

    mrclo em geral e dos servios privados. Com referncia aos

    migrantes rurais a esperana de um trabalho mais estvel atua

    como estimulo mudana, Para o trabalhador habituado aos tra

    balhos duros da roa, as atividades urbanas lhes parece menos

    cansativas fisicamente, alm de estar assegurado pela legisla

    o trabalhista. Os nveis mais altos de remunerao e a pos

    sibilidade de elevao do nvel de vida, na medida em que me

    lhorem as condies de alojamento e alimentao, so tambm' as

    piraes de todo migrante que chega metrpole industrial. To

    das essas caractersticas do mundo urbano, aliadas posslbili

    dade de ascenso social, aquisio de conhecimentos, mais am

    pias alternativas de lazer contribuem decisivamente para ocres^

    cimento populacional das grandes metrpoles brasileiras, espe

    cialmente aquelas situadas no centro-sul do pais, em detrimen

    to daB reas rurais e centros urbanos menos desenvolvidos.

    No recenseamento de 1960a populao urbana, no

    Brasil, representava 46,% da populao total. 0 fenmeno da

    urbanizao foi to forte nesses ltimos dez anos que, pelos

    35.

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    resultados do Censo de 1970 esse percentual se elevou a 55*9%

    da populao total. E, pela primeira vez em nosso pais, a po

    pulao urbana ultrapassou os ndices da populao rural.

    0processo de urbanizao no apresenta homogSBi^

    dade em todo o territrio nacional variando segundo as regies

    do pais, conforme mostra a tabela que se seque:

    Distribuio da populao urbana pelas regies do Brasil

    (% da populao total)

    36.

    RegioesPeriodos

    1940 1950 i960 1970

    Norte 3,1 3,08 3,0 3,1Nordeste 26,2 25,2 24,0 22,0

    Sudeste 56 , 1 57,1 55,6 55,4

    Sul 12,3 12 ,2 13,9 14,0

    Centro-Oeste 2,09 3,0 3,2 4,7

    Brasil 3 1 ,2 36,1 46,3 55,9

    Fonte: Sinopse Preliminar do Censo de 1970

    (43) - Nessa regio se encontram as 3 .nais populosas cidades

    do Brasil: So Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    39/93

    37 .

    H que ae considerar que o aumento da populao

    urbana no deriva do seu crescimento natural; tal crescj.

    mento provocado, em grande parte, pelas migraes internas.

    Mas, esse acelerado processo de urbanizao, no Brasil, ro per

    mitiu que as cidades grandes se preparassem para enfrentar o

    aumento da populao produzido pelas migraes. 0mundo urba

    no-industrial no tem condies de acolher todos os migrantes

    (veja-se, por exemplo, os problemas de ordem habitacional e e

    ducacional) e, muito menos, de absorver no mercado de trabalho

    toda essa fora de trabalho disponvel; tal incapacidade fran

    camente visvel quando se observa os ndices de subemprego, de

    semprego, ou ainda, de deliquncia e criminalidade.

    Outra razo, no to fundamental atualmente, en

    tre as j apontadas que pode explicar as migraes de nordestinos so as calamidades, sobretudo a incidncia de prolongados

    perodos de seca, as ms condies climticas, enfim "uma natu

    reza que ainda no est na medida do homem - que vive obsecado

    pela fome, doena e pela morte.

    Finalmente, o desenvolvimento e a multiplicao

    dos meios de comunicao de idias no Brasil vem possibilitan

    do a comparao entre situaes econmicas e niveis de vida do

    Nordeste e Sul do pais ou mesmo entre duas reas de uma mesma

    (43) - As taxas de natalidade nas cidades so geralmente infe

    riores quelas apresentadas em reas rurais.

    (44) - Paul Hugon - op. cit. pg. 203

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    40/93

    regio, tornando cada vez menos suportveis a permanncia nas

    reas desfavorecidas e atuando, de certa forma, como estimulo

    s migraes internas.

    Aqui tem papel relevante a constituio ou ampli

    ao da rede de transportes, no leste e nordeste do Brasil. ^

    nicialmente, diz Juarez Brando Lopes, os contigentes nor

    destinos vinham por via martima; finalmente chegou, com a e_s

    trada de rodagem transnordestina, a era do caminho e dos "pars

    -de-arara" o que contribuiu, em certa medida, para aumentar o

    volume dos fluxos migratrios.

    interessante observar que as migraes nordes

    tinas para fora da regio dc fenmeno peridico passa a ser

    continuo. 0 socilogo L.A. Costa Finto chega a Alar do apare

    cimento de uma ideologia de migrao que consiste na generali

    zao da idia de que "sair melhorar". Diz ainda o referido

    autor que a emigrao de um indivduo, antes vista pela famili

    a como uma desgraa, hoje, ao contrrio, encarada como uma

    esperana de melhores dias; os que ficam esperam que o esposq

    pai, irmo ou parente lhes enviem da grande cidade os meios para partirem tambm.

    38.

    (45) - Cf. Juarez Brando Lopes - Desenvolvimento e Mudana So

    ciai, pg. 59

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    41/93

    39-

    4 - 0 PROCESSO DE MIGRARO NA BAHIA B 0 CENTRO INDUSTRIAL DE

    ARATU

    4.1- Aspectos da industrializao na Bahia

    Na regio Nordeste, os estados de Pernambuco e

    Bahia so os que apresentam os mais altos ndices de industria

    lizao, graas a uma srie de vantagens oferecidas pelos r

    gos federais e apresentadas sob a forma de incentivos fiscais,

    sistemas de crdito e financiamento, essas unidades da federa

    o e, sobretudo, suas capitais passaram a se constituir poios

    de desenvolvimento industrial.

    A localizao geogrfica da Bahia, o seu sistema

    de escoamento seja rodovirio, martimo e ferrovirio e a exijs

    tncia de recursos naturais diversificados ofereciam amplas pcs

    sibilidades para se implantar ali um parque industrial. 0 de

    senvolvimento do setor secundrio no Estado, hoje cada vez nBis

    crescente, teve inicio na dcada de 6o, ainda que a dcada an

    terior tenha contribudo de forma decisiva para estabelecer asbases da industrializao que ora se processa; foi nesse perio

    do (nos anos 50) que tiveram incio as atividades da PETR0BRA

    o funcionamento da Hidro-Eltrica de Paulo Afonso, ao lado da

    criao da SUDENE e do Banco do Nordeste.

    A criao de poios industriais no Nordeste resul

    tou na alterao do quadro dos movimentos migratrios no &asiL

    Os dados do Censo de 70 mostram que os movimentos migratrios

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    42/93

    40.

    de carter intra-regional tm sido substancialmente maiores que

    aqueles inter-regionais. Tal situao tem significado preciso,

    que a presso migratria j no to forte para os * centros

    tradicionais de Rio de Janeiro e So Paulo desde quando os cen

    tros urbanos regionais, na medida em que se industrializam pas

    sam a se constituir em poios de atrao.

    0 caso de Salvador, capital do Estado da Bahia,

    tpico dessa situao. 0processo crescente de industrializa

    o, entre outros fatores, teve como resultado o vertiginoso

    crescimento populacional da cidade, conforme se pode ver no qua

    dro abaixo:

    Crescimento populacional de Salvador

    Populaao dc Salvador

    1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970'

    129109 174412 205313 283422 290443 417235 635971 1027,142

    Fonte: Anurio Estatstico do Brasil e Sinopse

    Preliminar do Censo Demogrfico - 1970

    Comparando os dados dos Censos de 1960/1970 pode

    mos verificar que, alm de Salvador, alguns municpios de sua j

    rea metropolitana apresentaram um crescimento populacional bastante significativo, crescimento que pode ser explicado, em gan

    de parte, pela proliferao de indstrias na rea. Os municp_i

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    43/93

    os de Camaari e Sim&s Filho ilustram bem esEa situao*

    41.

    Crescimento populacional de Camaari e Simes Filho

    MunicpiosPopulao

    I960 1970

    Camaari 21 849 34 281

    Simes Filho 9 953 22202

    Fonte: Sinopse Preliminar do Censo Demogrfico

    1970

    Salvador, embora no tenha funes de metrpolesemelhante s de So Paulo e Rio de Janeiro, teve seu parque

    industrial consideravelmente ampliado nesses ltimos anos, o

    que contribuiu para transformar a cidade em metrpole regional

    exercendo sua influncia em todo o territrio baiano e,at mes

    mo, em estados vizinhos.

    0 Centro Industrial de Aratu constitui, hoje, o

    principal polo de concentrao industrial do Estado. Estando

    cie diretamente ligado ao objetivo especfico de nosso estudo

    deixa-lo-emoe parte pera ser tratado num item especial.

    Contguo rea do CIA comeou a formar-se um a

    glomerado industrial espontneo que se transformou, depois de

    alguns anos, no Centro Industriei dc Camaari, rea que apre

    senta uma srie de fatores favorveis implantao de empresas

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    44/93

    industriais* sobretudo aquelas ligadas ao setor petroqumico.

    "Quando se iniciou a construo do CIA a perspectiva ento e

    xistente para o municpio de Camaari era a de que permanecer!

    a corno rea de influncia e no mais que isto, seu destino su

    bordinando-se ao comportamento de Aratu como polo dinamizador

    da regio. Entretanto, pela interferencia de fatores vrios*

    naturais e espontneos, tal perspectiva, no se concretizou. Ao

    invs, comeo a afirmar-se em Camaari a existencia de um par

    que industrial autnomo (...). Obviamente a tendncia futura

    ser a interao que o planejamento desde j est considerando

    entro Aratu e Camaari (...) Interao entre 2 poios autno

    (46)mos .' ^

    Outras areas do Estado ainda que no possuam n

    dices de industrializao to elevados quanto as anteriores, a

    presentam, de certo modo, concentraes industriais significa

    tivas na economia baiana.

    0 municpio de Feira de Santana, por exemplo, pe

    la sua localizao geogrfica e por se constituir num ponto de

    convergncia das rodovias que ligam grande parte do interior

    baiano capital do Estado, tornou-sc um centro econmico onde

    se desenvolveu ump pequena concentrao de indstrias. As pos

    sibilidades parr este nunicipio nu! entprr" consideravelmente

    cotr a construo do ro^ovic BR-$24 (Rio-Bahia) favorecendo, as

    42.

    46 - Secretaria de Industria e Comrcio - Planejamento indus

    trial de Camaari. Diagnstico preliminar e Termos de re

    ferncia. pg. 1

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    45/93

    sim, as condioee de crescimento e expanso da econonia local

    que culrinou con s criao do piit.eiro distrito industrirl do

    estudo - o Centro Industrial Subr - sobre o qual frremos co

    mentrios meie adiante.

    Cruz das Almas e farr^o^ipe, municpios lidados

    economia fumageira, so "reas que apresentam uma situao

    tpica de atividade industrial totalmente vinculada e dependen

    te do setor primrio, o que marca profundamente sua configura-

    ^c". C?)

    Ilhus, Itabuna (zona cacaueira), Vitria da

    Conquista e Jequi (zona de pecuria) sao importantes centros

    urbanos do estado da Bahia. Nos dois primeiros o setor secun

    drio acha-se de certa forma "sufocado pela rentabilidade e

    prestigio da empresa rural".^^^ Em Conquista e Jequi a inds

    tria sofre os mesmos efeitos de restrio por parte do setor

    primrio, s que decorrente no mais da agricultura cacaueira

    e sim da atividade pecuria. Ainda assim a industrializao

    vem tentando, com algum exito, romper esse quadro, o que certa

    mente ser possvel com a implantao de distritos industriais

    em municpios de cada uma dessas reas, Ilhus e Vitria da

    Conquista, respectivamente.

    43.

    47- Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social - Mo de Obra

    Operria-Industrial pg. 4

    48- Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social - op. cit. pag.

    4

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    46/93

    A existncia desseB ncleos industriais, espalha

    dos pelo interior do Estado, aliada preocupao do governo

    em descentralizar e interiorizar o setor industrial na Bahia

    foram fatores que motivaram um trabalho de seleo e implanta

    o de distritos industriais nessas reas com o objetivo de

    criar pequenas e mdias empresas, aproveitando a matria prima

    local e absorvendo o contingente de mo de obra do interior.

    A primeira experincia nesse sentido foi o Centro

    Industrial Suba situado no municpio de Feira de Santana a108 km de Salvador. Para implantao dos demais distritos fo

    ram selecionados 4 municpios baianos - Ilhus, Vitria da Con

    quista, Jequi e Juazeiro - que, em suas reas de influncia,a

    tuam como capitais regionais.

    4.2 - 0 Centro Industrial de Aratu - CIA

    A seleo de reas para criao de centros tidus

    triais feita, geralmente, com base nas vantagens especiais

    existentes em funo de recursos naturais, infra-estrutura dis

    ponvel ou mao de obra especializada de modo a tornar economi

    camente vivel o empreendimento que vem a se constituir numa

    alternativa conveniente ao desenvolvimento de uma cidade, Esta

    do ou regio.

    Baseando-se em tais critrios os Governos Federal e Estadual, decidircm numa ao conjunta criar um polo in

    dustrial prximo cidado do Salvador (vide grfico 1), propor

    cionando condioes e vantagens, com o objetivo de estimular os

    44.

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

    47/93

    GRFICO ) L OC AL IZA O GEOGRFtCA DOCENTRO INDUSTRIAL

    DE ARATU

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    48/93

    45.

    investimentos industriais na rea.

    Uma das primeiras medidas concretas tomadas ne_s

    te sentido foi o Decreto de n? 15 432, baixado pelo Governo do

    Estado e datado de 10 de fevereiro de 1965; pelo qual flcatam

    assegurados ao centro, j ento denominado Centro Industrial cb

    Aratu, os recursos indispensveis sua implantao, constitui

    dos de 25% das indenizaes pagas pela Fetrobrs ao Estado, so

    - ' ' (49bre a produo local de petroleo e gas natural: ^

    A escolha do Estado da Bahia para implantao de

    centro industrial no se efetuaria de maneira arbitrria, j

    que, segundo dados encontrados no Flano Diretor do Centro In

    dustrial de Aratu, existiriam ali vantagens especiais para o

    investimento na rea, aqui discriminadas de forma sintetiza

    da:

    a) situao geogrfica do estado;

    b) variedade de recursos naturais, minerais e a

    gricolas; .

    c) possibilidades no que diz respeito ao desenvd.

    vimento dc um parque petroqumico;

    d) mercado em expanso para produtos manufatura

    doa e de consumo final;

    d) variedades de fontes de energia;

    f) sistema virio (A Bahia integra-se s diversas

    4 9 - 0 CIA foi criado pela Lei Estadual n? 2321 de 11 de fevep ***

    reiro de 1966, abrangendo uma rea de 436 km .

  • 7/25/2019 Migrao-e-Industrializao-O-Caso-do-CIA-PDF-A.pdf

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    regies do pais atravs das rodovias: BE-116 e BR-101 - Centro

    -Sul; BR-242 - Centro-oeste; BR-101, BR-116 e BR-110 interli

    gam Salvador a todas as capitais do Nordeste).

    Informa, ainda, o Plano Diretor do CIA encontrar

    na rea de Aratu um conjunto de condies excepcionalmente fa

    vorveis(^) & uma grande concentrao industrial, dai a esco

    lha dessa rea para instalao do centro; tal deciso encontra

    justificativa nos seguintes fatores:

    a) possibilidade -*'e suprtncnto r!e c^ua de super

    ficie c de subsolo;

    b) ofeitn dc derivados do petrleo e gs natural;

    c) proximidade dc Salvador e de outros ncieoe

    populacionais, possibilitando a oferta de survios especializa

    dos existentes naqueles centros urbanos;

    d) oferta elstica da terra;

    c) recursos industriais existentes ou em

    tao, j considerveis;

    f) existncia de alguns ncleos habitacionais qie

    podem suprir mo de obra com deslocamento em condies usuais,

    por trem e nibus.

    0 objetivo fundamental do CIA seria, assim, asse

    gurar uma oferta elstica e estvel de terrenos industriais em

    46.

    50 - Essas condies favorveis atrairam vrias indstrias pa

    ra a rea de Aratu, mesmo antes de instalado o Centro In

    dustrial.

    51 - Cf. Plano Diretor do CIA.

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    rea bem situada, racionalmente zoneada (vide grfico 2) e e

    quipada, oferecendo s indstrias excelentes condloes de com

    petitividade, pelas vantagens iniciais de implantao e baixos

    custos de operao.

    As condiSes da rea atraram grande nmero de

    empresarios que, motivados pelas vantagens oferecidas, resolve

    ram investir no CIA. A configurao do quadro atual do CIA, a

    presentada nos quadros que se seguem, demonstra claramente tal

    situao:

    47.

    Quadro atual de emuresas no CIA

    Situao das empresas Nmero deempresasMo de obra

    ocupada

    Em produo 57 10 740

    Em implantao 25 3 563

    Total d2 14 303

    Fonte: Assessoria de Planejamento do CIA

    Quadro atual de projetos - CIA

    Situao dos projetos Nmero de

    projetos

    Mo de

    obra

    aprovados 12 1 514

    em anlise 11 1 931em elaborao 41 5 314

    sigilosos 24 1 770

    Total 88 10539

    Fonte: Assessoria de Planejamento do CIA

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    GRF!CO )! ZONEAMENTO DOCENTRO [NDUSTRtALDE ARATU

    O M A t M O W t . 7 5 Q Q H A

    M M A P O M U M M A 1 3 0 0 H A

    O K A O K t A B A n t C O M H C I O O O H A

    0 S A O E I R ^ S I O 0 0 0 H A

    f O m P L M 0 O m E O R O O C l i S

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    48.

    4 . 3 * 0 movimento migratrio em funo do CIA observado atra

    vs do Ncleo Habitacional Rubens Costa

    4.3 .1 - 0 Ncleo Rubens Costa

    J no Plano Diretor do Centro Industrial de Ara

    constava a criao de "reas de habitao nas proximidades das

    zonas industriais, principalmente para alojar operrios fabris^

    cuja produtividade aumenta com a menor distncia e a faciliadedc acesso ao local de emprego, e com melhores condies ambien

    tais de habitao c trabalho. Tambm se dever prever habita

    o para os empregados dc servios diversos, pois de se eep^

    rar que toda uma populao se deslocar para a regio, em car

    ter permanente. Ademais, uma das consequncias importantes da

    CIA ser aliviar Salvador das migraes que fazem crescer sua

    populao marginar o que importa na convenincia de que a

    rea do Centro possa fixar o maior nmero de famlias, e assim

    constituir um mercado de mo de obra local o mais numeroso e

    mais variado que seja economicamente vivel para estimular as

    indstrias. Isto , o esforo que necessariamente ter de ser

    feito para alojar esse incremento da populao, deve ser apli

    cado na proximidade do novo mercado de trabalho - onde poss

    vel dar uma orientao ao povoamento - e no na cidade, onde

    predonina o subeniprc^o"^^^

    Assim, o plano

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    50.

    A segunda etapa do plano de habitao encontra

    se em fase de execuo; 1200unidades residenciais esto sendo

    construidas. Alm disso, acham-se em fase de estudo, projetos

    para a construo de 2pequenos ncleos: no primeiro deles oi

    mero de unidades habitacionais poder oscilar entre 300a 500

    residncias, sendo que outro, especialmente para executivos,

    possuir de 50a 100residencias.

    4.3.2 - Procedencia da populao residente

    Em qualquer estudo de nigrao importante co

    nhecer a trajetria do migrante, o itinerrio percorrido de_s

    de a partida da rea de origem at a.rea de chegada que, nonosso caso, foi o Ncleo Habitacional Rubens Costa do Centro

    Industrial de Aratu. 0 volume de migrantes, as razoes de mi

    grao so tambm aspectos de grande interesse para o nosso es

    tudo.

    Na anlise do Ncleo Habitacional do CIA vimosque oa operarios sorteados na amostra procedem, em sua maiori^

    dos municipios do Recncavo baiano perfazendo um total de 36,5%

    (vide grfico 3). Alis, a regio do Recncavo a mais po

    pulosa do Estado da Bahia. Um quinto da populao acha-se ai

    concentrada. No perodo 50/60 houve um incremento substancial

    na populao urbana dessa rea, decorrente do xodo rural cu

    da transferencia de contingentes populacionais de outras zonas

    fisiogrficas para as cidades do Recncavo; o afluxo demogrfi

    fico, nesse periodo, foi resultado do processo de industrial!-

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    GRAF!CO)t! PROCEDENOA DAPOPULAO DONCLEO HABtTACtONALRUBENS COSTA

    L E C E H O A -

    LL

    X U C R Q - R E B t A O 0 0 R E C B M E A V B 7 .

    O t J R O S E S I A O O S - 1 7 X

    S A t V A [ ) 0 t ! . B A H ! A - 2 9 X

    0 M R A S M ! C R Q - R E B ! Q t S .

    I D E M t U S I V E S A L H O Q R F0ME: tEVARIAWEMO BE CAMM

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    zao nas reas petrolferas.

    Embora a cidade de Salvador tambm esteja inclu^

    da no Recncavo, decidimos deix-la . parte para efeito de an

    lise. Sua contribuio bastante significativa pois segundo

    os dados colhidos durante o levantamento de campo 29*04% nas

    ceu nesta cidade.

    Considerando o Centro Industrial como um polo de

    atraao de migrantes, podemos afirmar que sua influencia efe

    tivamente exercida sobre a populao circunvizinha dos munic

    pios do Recncavo. Ai, as estradas de ferro e de rodagem, es

    tas em grande parte asfaltadas e contando com linhas regulares

    de onibus, facilitam a mobilidade da populao pela regio.

    Muitos dos trabalhadores industriais procedem das

    micro regies de Feira de Santana, Jequi e, em menor escala,

    do Agreste de Alagoinhas e outras cujos dados podem ser vistos

    na tabela II.

    Os resultados obtidos por Jacqueline Beaujeu Gar

    nier, quando de uma pesquisa realizada sobre migraes para

    Salvador, foram confirmados no nosso levantamento com referen

    cia significativa contribuio do Recncavo, Feira de Santa

    na e Jequi como regies que forncccm migrantes para Salvador.

    Com relao primeira delas, assim se expressa a autora: " a

    regio maiB prxima de Salvador, a mais povoada, a mais valori^

    zada, a melhor servida pelos meios de comunicao diretos, que

    se revela como a grande fornecedora das migraes para a mtrjs

    pole? (54)

    54 - Jacqueline B. Garnier - "As Migraes para Salvador" in

    Boletim Baiano de Geografia - pg. 524

    51.

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    Do total de operarios sorteados na amostra,57 de

    les tem como rea de origem outros estados do Brasil (vide gr

    fico 4). E aqui poder-se-ia fazer duas consideraes de acor

    do com a procedencia destes individuos: a presena de nordes

    tinos* paraibanos, pernambucanos, cearenses, alagoanos e, so

    bretudo, s e r g i p a n o s ^ 5 ) _ poderia, at certo ponto, ser expli

    cada como uma atrao de Salvador e, por que no dizer, do seu

    parque industrial.

    No segundo caso, esto englobados aqueles proce

    dentes do sul e sudeste do pas: Minas Gerais, Rio de Janeirq

    So Paulo, Paran e Espirito Santo. Estes, em nmero bastante

    reduzido, quando consultados a respeito da motivao para traba

    lhar no CIA alegaram, em sua maioria, a ordem de transferncia

    de suas respectivas matrizes para assessorar a implantao das

    filiais na rea. Os motivos da migrao foram, portanto, Intel

    ramente diversos daqueles referidos pelos nordestinos cuja sai

    da foi, em larga escala, motivada pela expectativa de melhores

    condies de vida e de trabalho em Salvador.

    Conhecida a rea de origem de nossos entrevista

    dos, seria interessante acompanhar a trajetria de todos elee

    52.

    55 - Dos trabalhadores provenientes de outros estados do BrasIL

    a grande maioria tem como estado natal Sergipe. Alis,osdados colhidos no Recenseamento de 70, demonstram o quanto

    forte o fluxo migratrio de Sergipe para Salvador. Veja-se per

    exemplo, que das 60 713 pessoas no naturais do estado da Ba

    hia e residentes em Salvador, 20 664 tm Sergipe como estadom

    tal.

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    GRAFICO tV PROCEDENCIA DA

    POPULAO DONCLEO HABITACIONALRUBENS COSTA

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    at a chegada ao ncleo do CIA. Entretanto, dificuldades en

    contradas durante o perodo de levantamento de campo levou-nos

    a reduzir o nmero de informaes. De maneira alguma queremos

    dizer que elas no sejam importantes. Consideramo-las fundanai

    tais, apenas em nosso caso, tomou-se impossvel trabalhar es

    ees dados. Assim, conhecida a cidade natal, obtivemos tambm

    informaes referentes ao local de ltima residncia dos traba

    lhadores, antes da fixao no Ncleo.

    Constatamos, pela anlise dos dados, que grande

    parte dos trabalhadores, antes de chegar ao Ncleo, tinha como

    residncia a cidade do Salvador (64,70%), estando includos ras

    se grupo os que ali nasceram e aqueles que migraram para aque

    la cidade. Tal situao pode ser explicada, em grande parte,

    pelo fato de ter sido Salvador a cidade onde mais se fez publicidade em torno do CIA e, porque, sendo ela a capital do esta

    do, a poder-se-ia encontrar mais facilmente, toda uma gama de

    informaes a respeito da nova frente de empregos criada com a

    implantao do CIA.

    Em segundo lugar, acham-se aqueles provenientesde cidades do Recncavo, particularmente as que esto mais pr

    ximas do Centro Industrial, e j caracterizadas por alguma con

    centrao industrial como, por exemplo, Camaari, Candeias, Ca

    tu, Madre de Deus, So Sebastio do Pass e Simes F i l h o . ( 6)

    Em menor escala, indivduos procedentes de outras regies do es

    53.

    56- Mais adiante veremos que a maioria dos nossos entrevista

    dos j se encontrava vinculado ao setor secundrio.

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    54.

    tado (vide tabela III) vieram diretamente para o Ncleo sempas

    sar por Salvador ou outros municpios mais prximos do Centro

    Industrial.

    Com relao ao tempo de permanncia no local de

    residncia anterior ao Ncleo, achamos aconselhvel dividi-lo

    em dois perodos. Sendo o objetivo do trabalho tentar medir a

    t que ponto o Centro Industrial de Aratu vem se constituindo

    num polo de atrao, tor.anos co* o ano-base aquele de sua irplai

    taao para dividir esses dois perodos. Assin, aqueles que ti

    veran! coro ltino local de residncia Salvador ou municpios tb

    Recncavo prxir os da rea do CIA e ai permaneceram num pero

    do inferior a 7 anos, poder ter efetuado a migrao para essas

    reas motivados pjla oferta de empregos criada com a inplanta-

    o do CIA (Quando de anlise dos dados que apontan as razcs

    que levaram os entrevistados a trabalhar no CIA, tal situao

    pode scr vista de forma raie clara e nais objetive).

    Importante tanbn conhecer as atividades desen

    volvidas assin coro o setor da econonia a que se achavam liga

    dos antes da fixao no Ncleo. A anlise dos dados demonstrou

    que o nmero de operrios que j se achava vinculado ao setor

    secundrio da economia era bastante expressivo, correspondendo

    a 60,35% do total. Aqui tambm esto includos os casos de

    transferncia da empresa matriz para a filial do CIA e aqueles

    operrios que j trabalhavam em empresas instaladas na rea,an

    tes mesmo da criao do Centro Industrial. Atravs de entrevjs

    tas realizadas observamos que, entre os demais,alguns trabalha

    vam em pequenas empresas desempenhando tarefas de carter mui

    to mais artesanal que industrial.

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    Dos operrios do CIA que residem no Ncleo, sorte

    ados na amostra, 17,15% achavam-se ligados ao setor tercirio

    incluindo aqueles que trabalhavam no comrcio, seja como empre

    gados ou por conta prpria e em servios de modo geral. Ali^

    desenvolver atividade por conta prpria como o comrcio, por e

    xemplo, parte de um padro de independncia econmica difund_i

    do no Brasil entre os que vem da lavoura e os que vivem em pe

    quenas cidades. 0trabalho por conta prpria representa um va

    lor cultural multo grande para as camadas mais baixas da popula;o.(57)

    Uma parcela de 8,44% ingressou na fora de traba

    lho recentemente como operrios das empresas instaladas no CIA;

    nessa faixa significativa a concentrao de jovens.

    Finalmente, uma feferncia queles que vieram do

    setor agrcola e que na tabela rv representa um percentual irre

    levante de 2,30%. Aqui importante salientar que essa vincul-

    lao agricultura diz respeito ocupao anterior ao trabalho

    no CIA. Se, ao contrrio, tomarmos como referncia a rea de o

    rigem da populao estudada vamos ver que, entre os baianos,(vi

    de tabela V) quase 30% proveniente de reas rurais. Alis,

    prevendo a corrida do campo para a cidade em funo da criao

    do CIA, os planejadores do Centro Industrial reservaram uma

    rea denominada "zona de transio" ao lad.o da faixa habitacio

    nal destinada a "atividade horti-granjeiras de apoio ao CIA, ou

    55.

    57 - Cf. Juarez B. Lopes - Sociedade Industrial no Brasil,pg.

    36.

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    a reflorestamento. Estima-se que a presena de atividade agr_

    cola ao lado da faixa habitacional, amenizar aB condies am

    bientais das unidades vicinais, alm de supri-las de alguns ar

    tigos. Facilitar, tambpi, a transio do homem de uma vida

    agrcola, em que se formou, para um meio u r b a n o - i n d u s t r i a l ^ ^ )

    Uma sntese das condies da agricultura no Esta

    do da Bahia particularmente no Recncavo, fornecer elementos

    para explicar os fatores que contriburam na expulso dessa po

    pulaao de origem rural.

    0 centro da atividade econmica na Bahia, apesar do eres

    cimento industrial verificado nos ltimos anos, continua sendo

    o setor primario, ou mais precisamente a atividade agrcola.

    Tal atividade caracteriza-se pelas grandes propriedades -os la

    tifndios monocultores - ou pela expressiva fragmentao dasterras - os minifndios - que, como os primeiros, so igualmen

    te i m p r o d u t i v o s . (59) lado deste aspecto de ordem estrutur.

    outros fatores concorrem para que a produtividade agrcola n

    apresente ndices considerados satisfatrios, quais sejam, as

    formas tradicionais de relao de trabalho, a falta de especia

    lizao da mo de obra ocupada (empregando tcnicas rudimenta-

    56.

    53 - Plano Diretor do CIA - cap. III, pg, 6

    59 - Um estudo sobre xodo rural na Bahia aponta como fator re-

    pulsor do campo, entre outras coisas "as superficies grandes demais e cinsuficientemente desenvolvidas economicamente, do

    que resulta o regime dos latifndios improdutivos, assim como o

    das propriedades pequenas demais para serem produtivas".

    Paul Hugon - op. cit. pg. 196

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    res de cultivo do solo* geralmente base do empirismo), a ex

    plorao da terra sem o necessrio emprego de adubos e ferti

    lizantes para superar o seu desgaste, a baixa rnmunerao do

    trabalho agrcola e, ainda o sistema limitado de f inane iamenTc

    agrcola impossibilitando uma modernizao da lavoura. Este ,

    em linhas gerais, o quadro da agricultura na Bahia.

    A zona do Recncavo no se constitui uira exceo

    regra. Ai, a atividade agrcola, particularmente voltada

    ra o setor de exportao depende de centros externos para co

    locao de seus produtos, estando, por isso mesmo, sujeita s

    frequentes oscilaes deste r-ercado externo. Ao lado de una

    agricultura de exportao h un setor dc economia de subsis

    tncia, dc rrpjide fragilidade e sempre relegado a segundo pl*.

    no, visto estaren as nelhores terras sempre ocupadas pelas la

    vouras de exportao al*' de conpetir em desigualdade de con

    dies com o setor exportador na obteno de financiamento pa

    ra investir no setor. *

    0 setor de exportao, no Recncavo, est repre

    sentado pelas economias canavieira e fumageira."A monocultura

    aucareira, elemento propulsionador e toda a rea mais exten

    sa e mais representativa do Recncavo encontra no massap um

    solo ideal; no sistema de propriedade - as sesmarias - um pon

    to de partida excelente para o seu crescimento. A produo

    para a exportao vai se adequar e integrar no sistema capita

    lista mercantil mundial". Tal situao perdura por muito

    60 - Zahid Machado Neto - Quadro Sociolgico da Civilizao

    do Recncavo - pg. 7

    57.

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    tempo at que se d"uma ruptura de grandes propores com a abo

    lio." A atividade aucareira que teve sua fase urea de

    expanso e apogeu, comea, a partir de ento, a entrar em decli

    nio. As crises se sucedem, Apesar de algumas tentativas para

    super-las verifica-se, algum tempo depois, o colapso da econo

    mia aucareira que hoje sobrevive no Recncavo graas a urna jgo

    litica protecionista do govemo.

    A lavoura do fumo tambm tem papel relevante na

    economia do Recncavo, sendo uma atividade agrcola, assim cono

    o acar, organizada em funo de um mercado exterior. Ao coi

    trrio da cana de acar a atividade fumageira se desenvolveu

    em pequenas propriedades de terra, verificando-se nessas reas

    "relaes de trabalho que em muito pouco diferem da comum parce^

    ria no aluguel da terra, cabendo sempre ao proprietrio deata

    as funes de concentrar o produto que ele estoca e vende aos

    trapiches ou diretamente s fbricas". A oferta elstica

    de mao de obra nao estimula aos proprietrios de terra, no se

    tor, uma modernizao da agricultura. A permanncia de tal si

    tuao resulta numa baixa produtividade da lavoura fumageira.

    Este quadro das lavouras canavieira e fumageira,aqui apresentado de maneira geral, no pode deixar de ter sous

    efeitos na poltica de mo de obra, podendo gerar condies fa

    vorveis emigrao dessas reas. Outro aspecto que determina

    o clima de insatisfao nas reas rurais que o carter da ati

    58.

    61 - Zahid Machado Neto - op. cit. pg. 7

    62 - Zahid Machado Neto - op. cit. pg. 9

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    vidade agrcola eBt a exigir uma quantidade mo de obra tnai

    or em determinados perodos aps o que rompe-se o vinculo en

    tre empregador e empregado. J que a maioria dos trabaUiadoiBB

    no tm acesso ao meio assencial de produo - a terra - esses

    longos perodos de desemprego estimulam o xodo em direo s

    cidades,sobretudo para o setor industrial onde crescen

    te a oferta de trabalho, ainda que limitada em face da grande

    procura. Desses migrantes, os que se ligam ao setor secundri

    o resultam, provavelmente, de um peneiramento que exclui agtan

    de maioria, sobretudo aqueles que vm das camadas mais baixas

    da populao rural.

    Essa oferta 'e trrbalho na rea urbana,ainda que

    limitada com relao procura, ofcrece vantagens em ternos

    lariais no que estir.ula as migraes do interior do estado. Ca

    be aqui uma considerao a respeito da questo salarial. A di

    ferena entre os salrios pagos na agricultura e aqueles pa^os

    na indstria (beu raie eluvadoe se comparados aos agrcolas )

    constitui, ccrtarcntc, o fator nais direto dc atraEo que a ci

    dade exerce sobre o hor-er** rural; entretanto, tal diferena

    bastante relativa, pois a sociedade urbana, pelas condies r.esnas do seu estilo de vida cria uma srie de necessidades que

    representa para o migrante rural uma sobrecarga inexistente no

    seu antigo oramento quando habitante do campo.

    59.

    63- No caso do acar, por exemplo, a fragilidade da economiavoltada, desde o inicio da colonizao brasileira, para a

    cultura da cana, no propiciou a fornao de ncleos urbanos de

    economia diversificada, fazendo com que a presso migratria

    se fizesee, principalmente, no sentido de Salvador.

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    6o.

    4.3.3 - Fatores de migrao para o Ncleo do CIA

    Um dos aspectos principais do estudo de migrao

    consiste na anlise dos elementos que influram e motivaram a

    sada para outra rea. Aqui se observa que os motivos apresen

    tados refletem, de certa forma, aqueles elementos que se cons

    tituem fatores de atrao do ponto de vista das reas urbano

    industriais.

    nal e expressa sob a forma de "arranjar emprego", "salrio tals

    alto e trabalho melhor", "transferncia", "possuir carteira

    e, paralelamente, uma boa remunerao que vai refletir no au

    mento do poder aquisitivo, constituram as motivaes e aspira

    es mais fortes para os trabalhadores do CIA, residentes no

    Ncleo. certo que a situao de assalariado industrial que

    lhe assegurada, a participao no mundo urbano, os salrios

    mais altos atuam fortemente como fatores de atrao de migran

    tes, mas, importante no esquecer que, para aqueles vindos de

    reas rurais, os fatores repulsivos atuam fortemente, motivan

    do cada vez mais sadas de reas rurais para centros urbanos.

    Analisando a situao real, a atrao que a cidade exerce de

    64 - Tendo escolhido o Ncleo Habitacional como universo de

    nosso trabalho, explicada est a presena de uma varivel

    - a casa prpria - expressa isoladamente ou aliada a outro fa

    tor como motivo de ida para o CIA.

    0exame de tais informaes revela-nos a predomi

    nncia de uma motivao econmica ligada situao ocupacio-

    assinada" (vide tabela Portanto, a procura de emprego

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    67/93

    6 i .

    corre e depende objetivamente das desvantagens do campo, ex

    pressas sob a forma de impossibilidade de acesso ao meio essen

    ciai de produo - a terrra - e baixa remunerao do trabalho

    agrcola.

    4.3.4 - Caracterizao da populao do Ncleo

    Conhecida a procedncia e os motivos que levaram

    os nossos entrevistados a trabalharem no CIA e residirem no Nu

    cleo, partimos para um conhecimento dessa populao,iden