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TEMPO NO LITORAL TERÇA VENTO Mín 15 O Máx 25 O HOJE FRIO AMANHÃ VENTOSO Mín 18 O Máx 26 O Mín 19 O Máx 27 O Brincadeira de criança Poucos se aventuraram a entrar no mar ontem em Tramandaí. A água fria e suja, afugentaram os banhistas, que preferiram caminhar, jogar futebol, frescobol ou simplesmente aproveitar o dia ensolarado. A auxiliar de escri- tório Cassiane Santos, 33 anos, de Taquara, não gosta de entrar na água com o mar da cor de chocolate. “O tempo está bom para curtir. Pena que a água está muito suja”. Os amigos Ronaldo Augusto Silva, 11 anos, Mateus Henrique da Silva, 9 anos, de Montenegro e Roberto Júnior e Roberto Jú- nior Batista dos Santos, 11 anos, de Triunfo, não queriam nem saber se o mar estava sujo. Eles brincavam com a bola dentro e fora da água. Tramandaí - O cantor nativista Ernesto Fagundes faz show hoje à noite, às 22 horas, no centro, na Avenida Emancipação esquina com a Avenida Fernando Amaral. A apresentação é uma promoção do Sesc/RS, em parceria com a prefeitura. Imbé - A IX Feira de Livro, que será realizada no centrinho da Avenida Mariluz, inicia no dia 30. Na programação, palestras, exposições, shows musicais, hora do conto, oficinas, troca de livros, e tenda do chimarrão. Balneário Pinhal - Os adeptos da vida saudável podem participar da ginástica da praia, no distrito do Magistério. Alongamentos e dança aeróbica são algumas das atividades, que são realizadas às terças-feiras das 18 às 19 horas e, de quarta a domingo, pela manhã, das 9 às 10 horas e à tarde das 18 às 19 horas. As aulas ocorrem na arena de esportes à beira mar, na saída da Rua São Jeronimo. Balada segura - Mais de 10 mil veículos já foram fiscalizados pela Brigada Militar durante a 43ª Operação Golfinho – Balada Segura entre os dias 15 de dezembro de 2012 e 25 de janeiro. No litoral norte, 2.731 veículos foram abordados. Destes, 212 receberam autuações e 90 foram recolhidos. A BM autuou 67 pessoas por embriaguez. Pra garotada - Palhaços, malabaristas e acrobatas podem ser vistos no circo Vostok, que está em curta temporada em Imbé. Os espetáculos são realizados de terça a domingo, na Avenida Paraguassú esquina com a Avenida Caxias, em dois horários, às 19 e as 21h30. MARÉ Hoje mais raros, botos seguem encantando PEDRO BARBOSA Geraldona, Catatau e Ba- grinho são alguns dos nomes que você vai ouvir quando perguntar sobre a presença dos botos no estuário do Rio Tramandaí. Eles recebem es- tes apelidos dos pescadores, que completam este espetá- culo de união na busca pe- lo melhor peixe. Durante a pesca, o boto faz um cerco às tainhas, com movimentos que identificam o cardume. Os pescadores, por sua vez, ficam à beira do Tramandaí, com água até a cintura, en- quanto o boto conduz o car- dume de peixes, avisando qual o melhor momento pa- ra o tarrafeio. De acordo com o biólogo do Centro de Estu- dos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - Ins- tituto de Biociências/Ufrgs, Maurício Tavares, a relação é bem singular. “Acredito que haja uma pesca cooperativa. O comportamento do animal é relacionado com a pesca. Há todo um ritual. Quando o boto bate com a cabeça, o pescador lança a sua tarrafa e volta para o final da fila.” Pescador há 15 anos, An- tônio dos Santos Neto, 52 anos, de Tramandaí, enten- de que a presença do boto significa que tem mais pei- xe entrando no canal. “Nor- malmente eu me posiciono mais próximo do rio e es- pero ele mostrar. Daí lan- ço a tarrafa.” Às vezes, os botos migram, vão para o mar, para outras regiões e depois voltam para o estu- ário do Tramandaí. Ensinamento O professor do departa- mento de Zoologia do Insti- tuto de Biociências da Ufr- gs, Ignacio Moreno, explica que há toda uma cultura en- tre o boto e o pescador, que é transmitida de geração em geração. “A fêmea ensina o filhote a pescar na barra. Is- so é uma interação que be- neficia os pescadores, pois eles sinalizam quando tem tainha.” Nos anos 80 e início da década de 1990, era comum vê-los durante a tempora- da de veraneio. Lobisomem, Galhamol e Coquinho en- cantavam os turistas com seus pulos e brincadeiras. E, obviamente, faziam a ale- gria dos pescadores. Mas, com o crescimento do turis- mo na região e, consequen- temente, aumento da pre- sença de jetskis e lanchas, aos poucos os botos foram aparecendo menos durante o verão no Tramandaí. Mo- reno atribui ao turismo a re- dução no aparecimento. “Há comida, mas também temos o jetski e a lancha que são muito prejudiciais. Os botos acabam optando por não en- trar na barra.” Em 1992, um estudo re- alizado pelo biólogo Luiz Tabajara dava conta de que existiam dez botos. Eram eles: Galhamol, Coquinho, Manchada, Geraldão, Ba- grinho, Pomba, Lobisomen, Catatau, Barata e Boto Es- quisito. EXPEDIENTE Para falar com a redação: [email protected] Reportagens e fotos Marcelo Kervalt e Pedro Barbosa Contatos: (51) 9246-3990 ou 9177-4439 Para entrega de jornal Jornal NH: (51) 3594-0494 Jornal VS: (51) 3591-2020 Jornal DC: (51) 3462-7018 Jornal de Gramado: (54) 3286-1666 Correio de Gravataí: (51) 3489-4001 Diário de Cachoeirinha: (51) 3489-4001 Para anúncios Jornal NH: (51) 3594-0143 Jornal VS: (51) 3591-2036 Jornal DC: (51) 3462-7058 Jornal de Gramado: (54) 3286-1666 Correio de Gravataí: (51) 3489-4005 Diário de Cachoeirinha: (51) 3489-4005 O espetáculo da barra INTEGRAÇÃO O professor do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs, Ignacio Moreno, passa um longo período fotografando e catalogando os botos no estuário do Rio Tramandaí. É um de seus guardiões. Aliás, são suas as fotos de botos que ilustram essas duas páginas. “Principalmente entre abril e maio, que é quando a presença é maior, costumo monitorá-los na barra. Geralmente antes de ir trabalhar e no final da tarde.” Turismo e poluição afastam os animais É comum ver nas águas do Tramandaí barcos, jetskis e praticantes de kitesurfe. O professor do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs, Igna- cio Moreno, explica que a presença dos animais corre risco à longo prazo por cau- sa da poluição. “Quando co- mecei a pesquisar os botos no estuário do Tramandaí, eles apareciam constante- mente. Era comum ver ani- mais durante o verão. Ho- je, eles desapareceram.” O impacto ambiental causado pela poluição provoca uma doença nos botos, chamada lobomicose. Segundo o bi- ólogo do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - Ins- tituto de Biociências/Ufrgs, Maurício Tavares, o Lobiso- mem, considerado um dos mais conhecidos botos da região, morreu em 2005 em função da doença. A redu- ção é constatada pelos pes- cadores. O pescador Lino Ramos, 45 anos, de Tramandaí, atri- bui ao turismo náutico o afastamento dos botos. “No verão, eles não costumam vir tanto. Os jetskis atrapa- lham muito. Entre março e junho, eles voltam novamen- te. Geralmente é a época em que os filhotes aprendem a pescar.” QUEM SÃO ELES Os cerca de dez botos que habitam o Rio Tramandaí são da espécie tursiops truncatus, pertencentes à família delphinidae. Popularmente são conhecidos como boto, golfinho narriz de garrafa ou flipper. O biólogo do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - Instituto de Biociências/UFRGS, Maurício Tavares, explica que a área é um local de aprendizado para os filhotes. “É como uma família. Não existem somente dez botos no litoral. Porque os outros não entram aqui? Este grupo de botos transmite conhecimento para as outras gerações, que mantém a tradição de integração com os pescadores.” O último estudo é de 2010, realizado pelo Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul. Dos botos presentes no início da década de 1990, Geraldona, Catatau e o Bagrinho são os que ainda habitam o estuário do Tramandaí. Tavares explica que depois de realizado o primeiro estudo, descobriu- se que Geraldão era, na verdade, fêmea e virou Geraldona. Estudos para que eles não desapareçam Mesmo com os pesca- dores conhecendo os botos mais antigos pelo nome, é muito difícil identificá-los. O biólogo do Centro de Es- tudos Costeiros, Limnológi- cos e Marinhos (Ceclimar) - Instituto de Biociências/ Ufrgs, Maurício Tavares, explica que a identificação é feita por uma marca que o animal possui. “Acredita- mos que haja mais de uma espécie. Aqueles que ficam mais próximos da barra, são bichos costeiros, ligados à faixa de praia. Estamos ma- peando o seu comportamen- to para ver onde se repro- duzem.” Tavares conta que os pesquisadores preten- dem colocar um instrumen- to de telemetria nos botos e acompanhar por satélite. O professor do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs, Igna- cio Moreno, que também é um dos fundadores do Gru- po de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars), diz que além dos monitoramentos estão iniciando um estudo sobre o impacto do turismo. “Uma aluna da pós-graduação em biologia animal vai estudar como o turismo atrapalha os botos. Queremos desco- brir se essas atividades vão fazer com que os botos de- sistam da barra.” Parceria na busca pelo alimento A relação entre o boto e o pescador já é uma tradição no estuário do Rio Traman- daí. O boto mostra para o pescador onde está o peixe. Lino Ramos (foto abaixo), 45 anos, de Tramandaí, vive da pesca há 20 anos. “Che- guei em 1990 e fui apren- dendo a conhecê-los pelo nome. Sei identificar cada um dos botos.” Ramos ex- plica que a Geraldona pos- sui uma marca de corte, co- mo se fosse feito por um facão. Já o Coquinho, po- de ser identificado por uma mancha que possui próximo às nadadeiras. O Bagrinho recebeu este nome por ter um brilho parecido com o do bagre. Com tantos parcei- ros, a pescaria torna-se uma relação de amizade. Ramos conta que, para ele, o me- lhor boto para a pesca era a Galhamol. “Ela era calma. Meio que preparava o cardu- me, fazendo com que ele se juntasse. Daí dava uma olha- da para nós, sinalizando. Era só dar a tarrafada.” Patrimônio natural da cidade O decreto 49, de 31 de janeiro de 1990, declarou os botos da barra do Rio Tramandaí como patrimônio natural da cidade de Imbé. Criado com o intuito de preservar a natureza local voltada às atividades turísticas, o decreto prevê a proteção dos botos, evitando e coibindo qualquer tipo de dano causado aos animais. Logo na entrada da cidade, já é possível notar a importância dada a eles. Há um pórtico representativo, onde os turistas costumam parar no local para tirar fotos. Além disso, os alunos aprendem nas escolas a respeitar e proteger a espécie. FOTOS IGNACIO MORENO/UFRGS PEDRO BARBOSA/GES-ESPECIAL PEDRO BARBOSA/GES-ESPECIAL RODRIGO RODRIGUES/GES

Mín 15o Mín 18o Mín 19o Máx o Máx o Máx o O espetáculo da … · 2014-05-05 · Avenida fernando Amaral. A apresentação é uma promoção ... vão para o mar, para outras

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Tempo No LIToRAL

terçavento

Mín 15o

Máx 25o

hojefrio

aManhÃventosoMín 18o

Máx 26o

Mín 19o

Máx 27o

Brincadeira de criançaPoucos se aventuraram a entrar no mar ontem em tramandaí. A água fria e suja, afugentaram os banhistas, que preferiram caminhar, jogar futebol, frescobol ou simplesmente aproveitar o dia ensolarado. A auxiliar de escri-tório Cassiane santos, 33 anos, de taquara, não gosta de entrar na água com o mar da cor de chocolate. “o tempo está bom para curtir. Pena que a água está muito suja”. os amigos ronaldo Augusto silva, 11 anos, Mateus Henrique da silva, 9 anos, de Montenegro e roberto Júnior e roberto Jú-nior Batista dos santos, 11 anos, de triunfo, não queriam nem saber se o mar estava sujo. eles brincavam com a bola dentro e fora da água.

tramandaí - o cantor nativista ernesto fagundes faz show hoje à noite, às 22 horas, no centro, na Avenida emancipação esquina com a Avenida fernando Amaral. A apresentação é uma promoção do sesc/rs, em parceria com a prefeitura.

Imbé - A iX feira de Livro, que será realizada no centrinho da Avenida Mariluz, inicia no dia 30. na programação, palestras, exposições, shows musicais, hora do conto, oficinas, troca de livros, e tenda do chimarrão.

Balneário Pinhal - os adeptos da vida saudável podem participar da ginástica da praia, no distrito do Magistério. Alongamentos e dança aeróbica são algumas das atividades, que são realizadas às terças-feiras das 18 às 19 horas e, de quarta a domingo, pela manhã, das 9 às 10 horas e à tarde das 18 às 19 horas. As aulas ocorrem na arena de esportes à beira mar, na saída da rua são Jeronimo.

Balada segura - Mais de 10 mil veículos já foram fiscalizados pela Brigada Militar durante a 43ª operação Golfinho – Balada segura entre os dias 15 de dezembro de 2012 e 25 de janeiro. no litoral norte, 2.731 veículos foram abordados. Destes, 212 receberam autuações e 90 foram recolhidos. A BM autuou 67 pessoas por embriaguez.

Pra garotada - Palhaços, malabaristas e acrobatas podem ser vistos no circo vostok, que está em curta temporada em imbé. os espetáculos sãorealizados de terça a domingo, na Avenida Paraguassú esquina com a Avenida Caxias, em dois horários, às 19 e as 21h30.

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Hoje mais raros, botos seguem encantandopedRo BARBosA

Geraldona, Catatau e Ba-grinho são alguns dos nomes que você vai ouvir quando perguntar sobre a presença dos botos no estuário do Rio Tramandaí. Eles recebem es-tes apelidos dos pescadores, que completam este espetá-culo de união na busca pe-lo melhor peixe. Durante a pesca, o boto faz um cerco às tainhas, com movimentos que identificam o cardume. Os pescadores, por sua vez, ficam à beira do Tramandaí, com água até a cintura, en-quanto o boto conduz o car-dume de peixes, avisando qual o melhor momento pa-ra o tarrafeio. De acordo com o biólogo do Centro de Estu-dos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - Ins-tituto de Biociências/Ufrgs, Maurício Tavares, a relação é bem singular. “Acredito que haja uma pesca cooperativa. O comportamento do animal é relacionado com a pesca. Há todo um ritual. Quando

o boto bate com a cabeça, o pescador lança a sua tarrafa e volta para o final da fila.”

Pescador há 15 anos, An-tônio dos Santos Neto, 52 anos, de Tramandaí, enten-de que a presença do boto significa que tem mais pei-xe entrando no canal. “Nor-malmente eu me posiciono mais próximo do rio e es-pero ele mostrar. Daí lan-ço a tarrafa.” Às vezes, os botos migram, vão para o mar, para outras regiões e depois voltam para o estu-ário do Tramandaí.

EnsinamentoO professor do departa-

mento de Zoologia do Insti-tuto de Biociências da Ufr-gs, Ignacio Moreno, explica que há toda uma cultura en-tre o boto e o pescador, que é transmitida de geração em geração. “A fêmea ensina o filhote a pescar na barra. Is-so é uma interação que be-neficia os pescadores, pois eles sinalizam quando tem tainha.”

Nos anos 80 e início da década de 1990, era comum vê-los durante a tempora-da de veraneio. Lobisomem, Galhamol e Coquinho en-cantavam os turistas com seus pulos e brincadeiras. E, obviamente, faziam a ale-gria dos pescadores. Mas, com o crescimento do turis-mo na região e, consequen-temente, aumento da pre-sença de jetskis e lanchas, aos poucos os botos foram aparecendo menos durante o verão no Tramandaí. Mo-reno atribui ao turismo a re-dução no aparecimento. “Há comida, mas também temos o jetski e a lancha que são muito prejudiciais. Os botos acabam optando por não en-trar na barra.”

Em 1992, um estudo re-alizado pelo biólogo Luiz Tabajara dava conta de que existiam dez botos. Eram eles: Galhamol, Coquinho, Manchada, Geraldão, Ba-grinho, Pomba, Lobisomen, Catatau, Barata e Boto Es-quisito.

eXPeDIentePara falar com a redação:[email protected] e fotosMarcelo Kervalt e Pedro BarbosaContatos: (51) 9246-3990 ou 9177-4439

Para entrega de jornalJornal nH: (51) 3594-0494Jornal vs: (51) 3591-2020Jornal DC: (51) 3462-7018Jornal de Gramado: (54) 3286-1666Correio de Gravataí: (51) 3489-4001Diário de Cachoeirinha: (51) 3489-4001

Para anúnciosJornal nH: (51) 3594-0143Jornal vs: (51) 3591-2036Jornal DC: (51) 3462-7058Jornal de Gramado: (54) 3286-1666Correio de Gravataí: (51) 3489-4005Diário de Cachoeirinha: (51) 3489-4005

O espetáculo da barra

InteGraçÃo o professor do departamento de Zoologia do instituto de Biociências da Ufrgs, ignacio Moreno, passa um longo período fotografando e catalogando os botos no estuário do rio tramandaí. É um de seus guardiões. Aliás, são suas as fotos de botos que ilustram essas duas páginas. “Principalmente entre abril e maio, que é quando a presença é maior, costumo monitorá-los na barra. Geralmente antes de ir trabalhar e no final da tarde.”

Turismo e poluiçãoafastam os animais

É comum ver nas águas do Tramandaí barcos, jetskis e praticantes de kitesurfe. O professor do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs, Igna-cio Moreno, explica que a presença dos animais corre risco à longo prazo por cau-sa da poluição. “Quando co-mecei a pesquisar os botos no estuário do Tramandaí, eles apareciam constante-mente. Era comum ver ani-mais durante o verão. Ho-je, eles desapareceram.” O impacto ambiental causado pela poluição provoca uma doença nos botos, chamada lobomicose. Segundo o bi-ólogo do Centro de Estudos

Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - Ins-tituto de Biociências/Ufrgs, Maurício Tavares, o Lobiso-mem, considerado um dos mais conhecidos botos da região, morreu em 2005 em função da doença. A redu-ção é constatada pelos pes-cadores.

O pescador Lino Ramos, 45 anos, de Tramandaí, atri-bui ao turismo náutico o afastamento dos botos. “No verão, eles não costumam vir tanto. Os jetskis atrapa-lham muito. Entre março e junho, eles voltam novamen-te. Geralmente é a época em que os filhotes aprendem a pescar.”

QUem sÃo eLesos cerca de dez botos que habitam o rio tramandaí são da espécie tursiops truncatus, pertencentes à família delphinidae. Popularmente são conhecidos como boto, golfinho narriz de garrafa ou flipper.

o biólogo do Centro de estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) - instituto de Biociências/UfrGs, Maurício tavares, explica que a área é um local de aprendizado para os filhotes. “É como uma família. não existem somente dez botos no litoral. Porque os outros

não entram aqui? este grupo de botos transmite conhecimento para as outras gerações, que mantém a tradição de integração com os pescadores.”o último estudo é de 2010, realizado pelo Grupo de estudos de Mamíferos Aquáticos do rio Grande do sul. Dos botos presentes no início da década de 1990, Geraldona, Catatau e o Bagrinho são os que ainda habitam o estuário do tramandaí. tavares explica que depois de realizado o primeiro estudo, descobriu-se que Geraldão era, na verdade, fêmea e virou Geraldona.

Estudos para que eles não desapareçam

Mesmo com os pesca-dores conhecendo os botos mais antigos pelo nome, é muito difícil identificá-los. O biólogo do Centro de Es-tudos Costeiros, Limnológi-cos e Marinhos (Ceclimar) - Instituto de Biociências/Ufrgs, Maurício Tavares, explica que a identificação é feita por uma marca que o animal possui. “Acredita-mos que haja mais de uma espécie. Aqueles que ficam mais próximos da barra, são bichos costeiros, ligados à faixa de praia. Estamos ma-peando o seu comportamen-to para ver onde se repro-duzem.” Tavares conta que os pesquisadores preten-

dem colocar um instrumen-to de telemetria nos botos e acompanhar por satélite. O professor do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Ufrgs, Igna-cio Moreno, que também é um dos fundadores do Gru-po de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars), diz que além dos monitoramentos estão iniciando um estudo sobre o impacto do turismo. “Uma aluna da pós-graduação em biologia animal vai estudar como o turismo atrapalha os botos. Queremos desco-brir se essas atividades vão fazer com que os botos de-sistam da barra.”

Parceria na busca pelo alimento

A relação entre o boto e o pescador já é uma tradição no estuário do Rio Traman-daí. O boto mostra para o pescador onde está o peixe. Lino Ramos (foto abaixo), 45 anos, de Tramandaí, vive da pesca há 20 anos. “Che-guei em 1990 e fui apren-dendo a conhecê-los pelo nome. Sei identificar cada um dos botos.” Ramos ex-plica que a Geraldona pos-sui uma marca de corte, co-mo se fosse feito por um facão. Já o Coquinho, po-

de ser identificado por uma mancha que possui próximo às nadadeiras. O Bagrinho recebeu este nome por ter um brilho parecido com o do bagre. Com tantos parcei-ros, a pescaria torna-se uma relação de amizade. Ramos conta que, para ele, o me-lhor boto para a pesca era a Galhamol. “Ela era calma. Meio que preparava o cardu-me, fazendo com que ele se juntasse. Daí dava uma olha-da para nós, sinalizando. Era só dar a tarrafada.”

Patrimônio natural da cidade

O decreto 49, de 31 de janeiro de 1990, declarou os botos da barra do Rio Tramandaí como patrimônio natural da cidade de Imbé. Criado com o intuito de preservar a natureza local voltada às atividades turísticas, o decreto prevê a proteção dos botos, evitando e coibindo qualquer tipo de dano causado aos animais. Logo na entrada da cidade, já é possível notar a importância dada a eles. Há um pórtico representativo, onde os turistas costumam parar no local para tirar fotos. Além disso, os alunos aprendem nas escolas a respeitar e proteger a espécie.

Fotos IgnacIo Moreno/UFrgs

Pedro BarBosa/ges-esPecIal

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