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Resumo: A compreensão da formação histórica de Minas Gerais não pode prescindir da consideração de determina- ções de longo prazo, notadamente de escolhas perpetradas pela elite regional em momento chave do processo de moder- nização do Brasil. A tomada de consciência do atraso econô- mico relativo, na passagem do século XIX para a centúria seguinte, e a série de políticas de desenvolvimento regional, concebidas e efetivadas no transcurso do período republica- no, singularizam a evolução de Minas. A recuperação econô- mica assume posição central nas políticas econômicas, o Estado ascende à posição de ator privilegiado, elites moder- nas progressivamente projetam-se no setor público e o plane- jamento converte-se em instrumental estratégico. No proces- so de integração do mercado interno brasileiro caberá a Minas Gerais inserção periférica, marcada por persistências e mudanças que estabelecem ou aprofundam desequilíbrios intra-regionais, sociais e setoriais. Palavras-chave: Minas Gerais, Período Republicano, Desen- volvimento Regional, Estado, Planejamento MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: A MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: A MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: A MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: A MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASO TRASO TRASO TRASO TRASO ECONÔMICO, EST ECONÔMICO, EST ECONÔMICO, EST ECONÔMICO, EST ECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTO ADO E PLANEJAMENTO ADO E PLANEJAMENTO ADO E PLANEJAMENTO ADO E PLANEJAMENTO MARCELO MAGALHÃES GODOY * MARCELO MAGALHÃES GODOY * MARCELO MAGALHÃES GODOY * MARCELO MAGALHÃES GODOY * MARCELO MAGALHÃES GODOY * * Doutor em História Econômica. Profes- sor do Departamen- to de Ciências Eco- nômicas da Facul- dade de Ciências Econômicas da Uni- versidade Federal de Minas Gerais e pesquisador do Centro de Desen- volvimento e Plane- jamento Regional – Cedeplar – da UFMG Cad. Esc. Legisl., Belo Horizonte, v. 11, n. 16, p. 89-116, jan./jun. 2009

MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASO ECONÔMICO, … · “economia do ouro” que conhecemos o primeiro movimento de integração das economias regionais da América portuguesa. Com

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Resumo: A compreensão da formação histórica de MinasGerais não pode prescindir da consideração de determina-ções de longo prazo, notadamente de escolhas perpetradaspela elite regional em momento chave do processo de moder-nização do Brasil. A tomada de consciência do atraso econô-mico relativo, na passagem do século XIX para a centúriaseguinte, e a série de políticas de desenvolvimento regional,concebidas e efetivadas no transcurso do período republica-no, singularizam a evolução de Minas. A recuperação econô-mica assume posição central nas políticas econômicas, oEstado ascende à posição de ator privilegiado, elites moder-nas progressivamente projetam-se no setor público e o plane-jamento converte-se em instrumental estratégico. No proces-so de integração do mercado interno brasileiro caberá aMinas Gerais inserção periférica, marcada por persistênciase mudanças que estabelecem ou aprofundam desequilíbriosintra-regionais, sociais e setoriais.

Palavras-chave: Minas Gerais, Período Republicano, Desen-volvimento Regional, Estado, Planejamento

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MARCELO MAGALHÃES GODOY *MARCELO MAGALHÃES GODOY *MARCELO MAGALHÃES GODOY *MARCELO MAGALHÃES GODOY *MARCELO MAGALHÃES GODOY *

* Doutor em HistóriaEconômica. Profes-sor do Departamen-to de Ciências Eco-nômicas da Facul-dade de CiênciasEconômicas da Uni-versidade Federalde Minas Gerais epesquisador doCentro de Desen-volvimento e Plane-jamento Regional –Cedeplar – da UFMG

Cad. Esc. Legisl., Belo Horizonte, v. 11, n. 16, p. 89-116, jan./jun. 2009

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Abstract: In order to understand the historical formation ofMinas Gerais, it is necessary to consider its long-termdeterminants, especially the choices made by the regional eliteat a key moment in the modernization process in Brazil. Agrowing awareness of the region’s economic backwardnessduring the passage from the 19th to the 20th century led to aseries of regional development policies, designed and put intoplace during the republican period, points to the uniqueness ofMinas. Economic recovery took on a central role in theeconomic policies, the State rose to the position of privilegedactor, modern elites progressively became more active in thegovernment and planning became a strategic instrument. In theprocess of integration of the Brazilian domestic market, MinasGerais has a peripheral position, marked by persistence andchanges that establish or deepen intra-regional, societal andsector imbalances.

Keywords: Minas Gerais, Republican period, regionaldevelopment, State, planning

Esperamos que, de alguma forma, o que discutiremoshoje à noite possa suscitar ou ampliar o interesse em relação ànossa História. O que se pretende aqui é uma tentativa decompreensão alargada, portanto de longo prazo, de nossaformação histórica, notadamente de nossa formação econômi-ca. Por essa razão, iniciaremos a exposição com um recuo notempo, e apresentar o que seria um modelo interpretativo daformação econômica de Minas Gerais, dos séculos XVIII eXIX, para então tratarmos do período republicano. Sem esserecuo, acreditamos impossível compreender as questões queestavam postas no centro das atenções no início do períodorepublicano, fundamentais para superar a condição de subde-senvolvimento, já então considerada um problema grave.

Esse modelo interpretativo se estrutura em umaperiodização da evolução da economia mineira segundo “ci-clos longos”, ou períodos largos de tempo. O primeiro momen-

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to é a “economia do ouro”, que compreende aproximadamenteas três primeiras quadras do século XVIII e tem como carac-terísticas fundamentais um dinâmico sistema escravistacentrado na mineração, orientado para o mercado externo,pois, em última instância, trata-se de um produto colonial euma “polarização espacial” exercida exclusivamente pelo nú-cleo minerador, pelos espaços da mineração, concentradosaproximadamente no centro geográfico da capitania. No séculoXVIII, Minas Gerais constitui-se no principal pólo do mercadointerno da Colônia. É com a formação e desenvolvimento da“economia do ouro” que conhecemos o primeiro movimento deintegração das economias regionais da América portuguesa.

Com a crise desse sistema escravista minerador, naterceira quadra do século XVIII, passamos à primeira transi-ção. Uma transição certamente nos marcos de uma formaçãoeconômica pré-capitalista e que se realiza entre a segundametade do século XVIII e a primeira quadra do século XIX.Qual o processo fundamental desse período de transição? Umareestruturação produtiva, que significa o alargamento da fron-teira de ocupação; a aceleração de um processo em curso,desde meados do século XVIII, de diferenciação espacial; e aconversão de um movimento centrípeto, predominante até aterceira quadra do século XVIII, de procura pelo centro deMinas Gerais, pelos espaços da mineração, em um movimentocentrífugo, de procura pela fronteira, de alargamento da fron-teira. Nesse quadro, há uma redefinição do padrão integrativode Minas Gerais com as outras economias regionais do Brasil.

Superada a transição, passamos para um terceiro perí-odo, marcado pela consolidação de um dinâmico sistemaescravista, agora uma economia de subsistência mercantil. Aformação e o auge desse novo sistema econômico se proces-sam entre a primeira e a terceira quadras do século XIX. TalvezMinas Gerais represente a única experiência histórica relevan-te, da época moderna, de passagem de um dinâmico sistemaescravista orientado para o mercado externo para um dinâmicosistema escravista orientado para o mercado interno. Essedinâmico sistema escravista está associado à consolidação da

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regionalização em gestação desde a segunda metade do séculoXVIII e estabeleceu característica invariável de nossa históriadesde então: a grande diversidade interna de Minas Gerais.Isso significa dizer que é quase um anacronismo históricoconsiderar Minas Gerais como uma entidade homogênea sobqualquer aspecto que se considere. A diversidade será carac-terística marcante da economia e demografia de Minas, paraalém das diferenças relacionadas à formação natural, que sãoanteriores, mas que também se transformam a partir da inter-venção humana. O núcleo dinâmico desse sistema escravistasão as atividades da agropecuária e os setores de transforma-ção associados ou não à agropecuária. Vigora fortedescentralização econômica, ou a constituição de sistemaseconômicos sub-regionais com maior ou menor grau de auto-nomia. Altera-se o quadro prevalecente no século XVIII,quadro único na história de Minas Gerais, quando da existên-cia de um verdadeiro centro polarizador capaz de integrar todoo espaço efetivamente ocupado de Minas Gerais. Até o tercei-ro quartel do Dezoito, a economia do ouro, espacialmenteconcentrada no centro da capitania, exercia atração sobre osoutros espaços regionais mineiros, para além de se constituirno mais importante pólo do mercado interno colonial. Essapolarização nunca mais será alcançada. À desagregação daeconomia do ouro seguiu-se processo de desconcentraçãoespacial econômica e demográfica e a ausência de centrocapaz de integrar o território mineiro. A fragmentação regionalprevalecerá entre a última quadra do século XVIII e a primeirado século XX, quando estava em curso a lenta formação deárea de influência da nova capital, instalada exatamente noantigo centro minerador. No presente, Belo Horizonte nãopolariza o conjunto do estado, pois boa parte do Sul de Minas,do Triângulo e da Zona da Mata é polarizada por outrasmetrópoles regionais, principalmente Rio de Janeiro e SãoPaulo. Outra característica desse período é o primado domercado interno, ou economia com o predomínio de direçãonão exportadora da produção. O grosso da economia mineiraestava orientada para o mercado interno, seja para o seupróprio mercado interno, seja para o mercado interno do país,

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portanto de outras províncias. Entretanto, existiam algunsimportantes espaços regionais e sub-regionaisagroexportadores. O principal era o café da Zona da Mata.

A segunda transição é completamente diferente datransição do século XVIII para o século XIX. É a transiçãopara uma formação econômica capitalista. Trata-se da crisedesse sistema escravista, entre a terceira e a quarta quadra doséculo XIX, e a passagem para outra formação econômica.Essa segunda transição, que nos interessa particularmente,deve ser entendida em dois planos de enquadramento, que nospermitirão compreender as condições econômicas e sociais deMinas na entrada do século XX, no início do período republi-cano. O primeiro é o quadro geral das “reformas liberais” doséculo XIX, que podem ser sintetizadas na reconfiguração dostermos de inserção do Brasil, e de Minas no Brasil, na divisãointernacional do trabalho. A nós cabia uma posição periférica,expressa no provimento de alimentos e matérias-primas parao centro e a importação de bens manufaturados, para além degrande dependência financeira. É, portanto, nada mais do queuma adaptação às novas contingências e determinações docentro capitalista. Essas contingências e determinações dizemrespeito não só ao Brasil, mas ao conjunto da América Latina.Uma série de processos compõe essas “reformas liberais”, quetêm por objetivo adequar a periferia às novas exigências docentro. O processo de modernização do Brasil define o segun-do enquadramento. As referidas “reformas liberais” devem serentendidas como integradas à modernização do país, conquan-to insuficientes para explicar inteiramente a dinâmica dasmudanças em curso. Ou seja, desde por volta de 1850, estão emmovimento uma série de transformações econômicas, políti-cas, sociais, culturais e institucionais que, no longo prazo, irãoalterar profundamente o perfil do Brasil.

Destacam-se quatro processos que integram nossamodernização. A transição do trabalho escravo para o trabalholivre é o primeiro. O segundo é o estabelecimento da propri-edade privada juridicamente plena, a partir de 1850, com a Leide Terras. O terceiro processo é a modernização das relações

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comerciais e financeiras, particularmente a progressiva cons-tituição de sistema bancário. O quarto é a transição de rede detransportes tradicionais para um sistema de transportes moder-no e integrado. É preciso salientar: são processos de longoprazo, portanto se estendem por um intervalo de tempo largoe, no caso de países periféricos, em especial os países detradição colonial, são processos marcados pela incompletudee ritmo relativamente lento.

Consideramos a segunda metade do século XIX, emparticular as décadas de 70 e 80, período-chave para asprincipais economias regionais do Brasil. É preciso insistirque ainda não podemos falar em um mercado interno integra-do. Devemos entender as referidas economias regionais doBrasil como espaços econômicos com um grau de autonomiabastante elevado, logo com um grau de integração muitopequeno. Isso significa dizer que o impacto dessas transforma-ções é regionalmente muito diferenciado. Entendemos, emsintonia com certa literatura, que essas duas décadas são chaveporque configuram uma “oportunidade histórica”. Oportuni-dade na medida em que o aproveitamento ou não dessaconjuntura favorável definirá a forma, o ritmo e o alcance doprocesso de modernização em cada uma dessas economiasregionais. É, portanto, o momento da partida de certas trans-formações em direção a uma economia capitalista avançada.

Vejamos rapidamente a evolução de algumas das prin-cipais economias regionais do Brasil, antes de refletirmosespecificamente sobre o caso mineiro. A partir do exame daresposta de Minas a essa “oportunidade histórica”, teremos oselementos necessários para pensar o estado na República.

O Rio de Janeiro deve ser segmentado em duas realida-des. Na última quadra do século XIX, a cafeicultura fluminenseestá em franco declínio e a economia regional encontra-seestagnada. Entretanto, o quadro da cidade do Rio de Janeiroé diferente, sobretudo por apresentar dinamismo relativamen-te independente das vicissitudes do conjunto da província. ACorte, depois capital federal, não apenas desempenhava fun-ções relacionadas à condição de centro político e administra-

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tivo do país, mas também cumpria importantes funções econô-micas e financeiras, que se desdobravam por espaço territorialmuito mais amplo. Mais do que aproveitar a referida oportu-nidade, a cidade do Rio de Janeiro apresentará crescimentoeconômico constante ao longo do século XIX e início doséculo XX, conquanto superada em importância pela cidadede São Paulo na década de 1920.

São Paulo é a economia regional que efetivamenteaproveitará a mencionada “oportunidade histórica”. Combi-naram-se vários fatores favoráveis a partir da década de 1870:a presença de relações virtuosas e auto-sustentáveis entre cafée indústria, o desdobramento de capital agrário e mercantil emcapital industrial e a partida da industrialização, a especificidadeda transição do trabalho em São Paulo, com a soluçãoimigrantista, exclusiva de São Paulo, que é um diferencialimportante, o desenvolvimento urbano e a multiplicação dasfunções das cidades de São Paulo, em particular da capital,desenvolvimento urbano com uma série de especificidadesnão observáveis em outras economias regionais do Brasil, aaceleração da constituição de um mercado de terras propria-mente capitalista, processo muito mais lento e incompleto norestante do país e a formação de uma rede bancária moderna,com a superação da estrutura de crédito tradicional.

Pernambuco e Bahia, as principais economias regio-nais do Nordeste desde o período colonial, caracterizam-sepor uma “modernização sem mudança”. O núcleo dinâmicodessas economias, o setor açucareiro, transforma-se apenasparcialmente. Persistiram relações de propriedade e de pro-dução não capitalistas e é lenta e incompleta a modernizaçãotecnológica da agroindústria canavieira. Essas são as razõesda perda de importância do comércio externo de açúcarbrasileiro, que, no início do século XX, respondia por ínfimaparcela do mercado internacional de açúcar. A alternativaserá destinar a produção açucareira para o mercado interno,sobretudo a partir de 1930, com a decisiva participação doEstado, reservando mercados do Sudeste para a produçãonordestina.

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O caso do Rio Grande do Sul é marcado, como emMinas, por diversidade regional, embora não tão complexa, epor economia orientada para o mercado interno. Observa-seque nenhum dos sistemas econômicos do Rio Grande do Sulconseguirá aproveitar as possibilidades da referida “oportuni-dade histórica”. Não se elaborará um projeto de desenvolvi-mento regional capaz de integrar os subsistemas econômicosgaúchos.

Vejamos agora o caso de Minas Gerais, que é o que nosinteressa particularmente. De forma sintética, podemos afir-mar que, no momento da partida do processo de moderniza-ção, em especial nessas duas décadas-chave, quando estáconfigurada a “oportunidade histórica”, Minas Gerais se apre-sentava em posição proeminente no quadro geral das economi-as regionais do Brasil.

Minas Gerais tinha o maior sistema escravista regionaldo país, o que significava deter a economia mais dinâmica,posto que a posse de escravo, no século XIX, pelo menos atéa década de 1870, era índice de dinamismo econômico. Minasapresentava a segunda economia cafeeira do país, em termosde produção, e em fase acelerada de expansão na década de1870, além de deter a mais dinâmica economia de subsistênciamercantil voltada para o mercado interno nacional, e de ser aprovíncia com o setor de transformação – entenda-se ativida-des industriais, posto que não estamos falando de industriali-zação – mais desenvolvido do país, pelo vigor de sua indústriatêxtil, de sua indústria siderúrgica, e pela transformação degêneros da agropecuária. Minas Gerais apresentava a maiorpopulação do Império e, nessa medida, o maior mercadoconsumidor, sendo a taxa de crescimento da população livremineira, no século XIX, superior à taxa média nacional. Aregião mineira ainda conservava uma malha urbana extrema-mente capilarizada e desenvolvida, em parte herança do séculoXVIII e em parte já resultado de um processo de reestruturaçãofuncional dos centros urbanos. Minas Gerais possuía elevadodinamismo da circulação mercantil interna e externa. É possí-vel dizer que, nesse momento, a região mineira havia dado a

MINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASOMINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASOMINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASOMINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASOMINAS GERAIS NA REPÚBLICA: ATRASOECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTOECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTOECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTOECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTOECONÔMICO, ESTADO E PLANEJAMENTO

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partida à constituição de uma divisão regional do trabalhointerna à província. Privilegiada também quanto aos recursosnaturais, Minas apresentava matérias-primas indispensáveisao processo de industrialização (basta lembrar o caso dominério de ferro e do manganês, entre outros) e uma capacida-de de geração de energia hidráulica sem paralelo no país e,mesmo depois, de geração de energia elétrica, quando doinício da construção de hidrelétricas. A primeira hidrelética daAmérica Latina foi construída em Minas Gerais. Além disso,vigorava um protecionismo natural bastante importante, resul-tante da posição geográfica interior e dos custos elevados dostransportes, que asseguravam mercado praticamente cativopara a produção mineira.

Essas características e tantas outras, embora essas de-vam ser as mais importantes, colocavam Minas Gerais, naterceira quadra do século XIX, em condições privilegiadaspara aproveitar a referida “oportunidade histórica”. O que eranecessário fazer? Certamente, entre os aspectos que deveriamcompor uma política de desenvolvimento regional, deveriamestar presentes o fortalecimento do mercado interno mineiro,uma política industrialista e a conversão de proteção geográ-fica em proteção tarifária, proteção aduaneira, enfim, proteci-onismo. Ao contrário, o que se observa é que, por váriasrazões, no início do processo de modernização do Brasil, nãoexiste um projeto de desenvolvimento regional para MinasGerais. Mencionaremos apenas alguns aspectos de destacadaimportância.

Em primeiro lugar, em um quadro em que vigora ummodelo político centralizado – refiro-me ao período imperial–, as elites mineiras apresentavam, em geral, uma ausência deconsciência de pertencimento a uma entidade regional, paraalém da unidade político-administrativa. À diversidade regio-nal já mencionada correspondeu uma fragmentação dos inte-resses das elites mineiras. Em segundo lugar, prevalece uméthos patrimonialista e o clientelismo tende a mediar asrelações entre a sociedade civil e o Estado. A tradução prática:uma verdadeira insensibilidade ante o potencial de transfor-

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mação da economia regional, ante essas possibilidades hápouco mencionadas, uma indiferença para com as vantagensrelativas da economia regional, da economia mineira; e umaimpassibilidade diante da “oportunidade histórica”, ou seja,incompreensão ou negligência ante um quadro nacional einternacional favorável às transformações que se poderiamcolocar em movimento. Outra característica, a fragilidadeeconômica e baixa expressividade de empreendedores de tipomoderno, e aqui me refiro a empresários industriais. Há aindaa prevalência ou maior influência de signos de distinção socialtradicionais, como aquisição de terra, propriedade de escra-vos, busca de atividades ligadas ao “rentismo” urbano, entreoutros. Também importante é a resistência à mudança social.Ou seja, a estrutura de poder que predomina em Minas Geraisé assente no controle da terra e na subordinação política daspopulações rurais. É preciso lembrar que, nesse momento, aparcela da população que vive em espaços verdadeiramenteurbanos é francamente minoritária. Por fim, talvez mais comoconseqüência de tudo o que foi dito, mas ainda assim umelemento decisivo, a esta apropriação de projetos e recursosorientados para a modernização, uma apropriação pessoaldestituída de qualquer identificação com um projeto de desen-volvimento regional. O modelo de incentivos e subsídiospúblicos a iniciativas modernizantes era baseado em privilégi-os e monopólios, e as elites mineiras não perderam tempo emse aproveitar desse modelo.

Vejamos alguns aspectos da modernização em MinasGerais que refletem essa perda de oportunidade. No que serefere à terra, à questão fundiária, preserva-se ou aprofunda-se uma estrutura fundiária concentrada, um acesso não demo-crático à terra. Quanto ao trabalho, a transição é para relaçõesde trabalho não capitalistas. A transição mineira não se baseiana passagem do escravo para o imigrante, mas, sim, napassagem do escravo para o livre nacional, em relações sociaisde produção não capitalistas. Na cafeicultura mineira, certa-mente, nessa altura, o espaço sub-regional mais dinâmico deMinas Gerais, pode-se observar a incipiência dos desdobra-mentos café-indústria, ao contrário do que ocorre em São

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Paulo. Aquelas relações virtuosas são identificáveis em MinasGerais, mas não são auto-sustentáveis. A indústria mineira émuito disseminada e espacialmente desconcentrada, opera empequena escala de produção, o que, em larga medida, édefinido pela desconcentração do próprio mercado consumi-dor e pela vigência de custos de transporte bastante elevados,e apresenta nível técnico baixo.

Um bom exemplo de como a modernização em Minasé marcada pela impropriedade e pela ausência da consciênciadas possibilidades de transformação é o caso dos transportes.O modelo de modernização dos transportes que prevalece emMinas, que, a rigor, segue o mesmo modelo do conjunto dopaís, é um modelo insensível às exigências da economiamineira. A modernização ferroviária no Brasil, salvo poucasexceções, é essencialmente orientada para as necessidades daagroexportação. A economia mineira é essencialmente volta-da para o mercado interno. Em última instância, a moderniza-ção ferroviária faz parte das referidas “reformas liberais”,reformas que objetivam, é claro, dinamizar a vinculação daperiferia do capitalismo ao centro. Portanto, privilegia-se oescoamento de alimentos e matérias-primas, como foi dito, eassegura-se a distribuição de importados. Inclusive, um dosefeitos perversos da modernização ferroviária, quase que todaamarrada a um “modelo radial”, ou seja, dos portos em direçãoao interior, sem ferrovias ou ramais que integrassem as econo-mias regionais, seria abrir os mercados internos do interior aesses produtos importados. É bom dizer que, se esse modelode modernização dos transportes é funcional para uma econo-mia agrário-exportadora, não o é certamente para uma econo-mia que se vincula fundamentalmente ao mercado interno,como é o caso de Minas Gerais. É preciso também dizer que,até essa altura ou até a terceira quadra do século XIX, ostransportes tradicionais são compatíveis com a evolução daeconomia mineira e atenderam perfeitamente às necessidadesinternas e externas de comunicação e circulação. Ou seja, elesforam, durante um certo período, funcionais para uma econo-mia não-exportadora. Nesse momento, naturalmente se deve-ria pensar em um modelo de modernização dos transportes

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adequado ou compatível com uma economia voltada para omercado interno. Outro problema decorrente da disfuncionalmodernização ferroviária para Minas Gerais está refletido nasfinanças da província e depois estado. Os institutos da “garan-tia de juros” ou da “subvenção quilométrica”, que assegura-vam remuneração mínima e satisfatória para os investimentosna construção e operação de ferrovias no Brasil, oneravamsobremaneira os cofres públicos. Minas apresentava contaspúblicas equilibradas até a década de 1870, quando o ônus dosubsídio provincial às ferrovias impactaram enormemente noorçamento e levaram a crescente endividamento externo.

Na passagem do século XIX para o século XX, verifica-mos a tomada de consciência do atraso relativo de Minas Gerais,da sua condição de subdesenvolvimento. A constatação doatraso econômico estimulará o desenvolvimento de planos paraa superação dessa condição, portanto uma articulação políticapor meio da concepção e efetivação de projetos para o desenvol-vimento regional de Minas Gerais. A referida consciênciasomente emerge no início do século XX porque a primeiradécada republicana é marcada pela resolução de uma série deconflitos internos as elites mineiras, ainda incapazes de sepensarem pertencendo a uma entidade regional comum. Trata-se de tardia percepção da condição de subdesenvolvimentoresultante da perda da mencionada “oportunidade histórica”.Então, a partir desse ponto, o que se irá verificar, pelo menos atéo período que trataremos – a década de 60 –, é a colocação emmovimento de uma série de projetos de desenvolvimento regi-onal com vistas a superar a posição de atraso relativo.

São duas vertentes de políticas de desenvolvimento queirão vigorar ao longo desse período. Uma preconiza a diversi-ficação econômica, a idéia de um sistema econômico comple-to, ou seja, de se buscar desenvolver a agricultura, a pecuária,a agroindústria e a indústria ao mesmo tempo. Esse tipo demodelo combina com o quadro de uma economia regionalpouco integrada ao mercado nacional. Um segundo modelo jáaparece como projeto no início do século XX, ainda que deforma embrionária, mas irá esperar quatro décadas para conhe-

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cer sua primeira tentativa de efetivação, quando o processo deintegração do mercado interno está avançado e em termosirreversíveis. Trata-se de projeto que propõe, ao contrário doprimeiro, a especialização produtiva, ou seja, que coloca aindustrialização no centro das atenções ou como o principalmeio para superar a condição de atraso relativo. São diversasas variáveis que determinam qual será a política de desenvol-vimento hegemônica em cada período. Os condicionamentosda economia regional de Minas, da economia nacional e daeconomia internacional, em combinação sempre nova, irãodefinir qual é a natureza do projeto hegemônico em cada umdos momentos.

Outro dado importante, e que define eixo indispensávelà compreensão dessas transformações no século XX, é agradual diferenciação das elites de Minas Gerais e o surgimentoprogressivo de divergências de interesse que, em última ins-tância, vão se resolver nos termos habituais da nossa culturapolítica, portanto na direção de uma grande conciliação. Quaissão essas elites? As elites tradicionais, as agrárias e as políti-cas, e as elites modernas, as empresariais e as técnicas.

A crescente intervenção do Estado na esfera econômicatambém é traço permanente, outro eixo fundamental perceptí-vel desde o início do século XX até a década de 60. O Estadoamplia os campos e a intensidade da interferência na econo-mia. A compreensão da participação do setor público emMinas Gerais é indispensável, como o próprio título dessaexposição já quis pôr em evidência, ou seja, o Estado é umagente privilegiado no processo de tentativa de superação dacondição de subdesenvolvimento ou da implantação de ummodelo de desenvolvimento, que é marcado por uma série decontradições, como iremos salientar.

Qual é o ponto de partida para a articulação política eintervenção na realidade? É a produção de diagnósticos,balanços e levantamentos da situação geral da economia e dasociedade de Minas Gerais. Esses balanços quase sempreconvergem para o mesmo ponto, para a constatação da posiçãode atraso relativo. Essa visão dualista sempre coloca Minas em

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uma posição de atraso diante de São Paulo e do Rio de Janeiro.É uma visão sempre permeada de certo negativismo, de certopessimismo. O quadro econômico e social de Minas Geraissuscita preocupações. Trata-se de quadro de estagnação eco-nômica, de desarticulação interna e de evasão populacional.

Outro aspecto importante é o surgimento e a reiteração,desde o final do século XIX, da percepção da ausência de umcentro polarizador interno capaz de integrar o conjunto deMinas Gerais e conter a influência de pólos econômicosexternos, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Não sepode entender a mudança da capital, não se pode entender aescolha do local em que seria construída a nova capital, sem seconsiderar a busca da constituição de um centro políticoassociado a um centro econômico capaz de polarizar o conjun-to do estado, integrar o conjunto do estado. Duas formas deintegração, como podemos verificar se examinarmos o proces-so histórico em seu conjunto no século XX. Primeiro, noquadro de um mercado interno nacional não integrado, em umquadro em que prevalecem sistemas econômicos regionais.Inicialmente se busca uma economia autônoma em relação aorestante do país, um sistema econômico completo e indepen-dente. Em um segundo momento, quando se mostra inviávelo primeiro padrão de integração, visto que a integração domercado interno nacional é irresistível e irreversível, busca-seintegração ao mercado interno brasileiro que não seja perifé-rica, que não seja dependente. Passa-se a lutar pela superaçãoda condição periférica, da condição dependente ou subordina-da. Então já não se pensa mais em um sistema econômicocompleto, mas em um sistema econômico que se integre damelhor forma possível ao sistema econômico nacional.

O primeiro projeto de desenvolvimento regional doinício do século XX é o projeto de diversificação econômica.Ele foi definido no 1º Congresso Agrícola, Industrial e Comer-cial, realizado em Belo Horizonte, no ano de 1903, presididopor João Pinheiro, e que reuniu as “classes produtoras” deMinas Gerais, os representantes das elites econômicas regio-nais. Prioriza-se o projeto de modernização da agropecuária,

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sem desconsiderar a indústria, mas centrado no desenvolvi-mento agropecuário. De fato, ao longo da Primeira República,prevalece o projeto de diversificação econômica com ênfasena integração regional, que postula progressiva substituiçãode importações e que objetiva a constituição de sistemaeconômico completo.

No entanto, como referido, desde o início do século XXemerge o projeto de especialização industrial, que só irá seimpor, como foi salientado, 40 anos depois. O que ele propõeé a concentração dos investimentos no setor potencialmentemais dinâmico. Portanto, a percepção da existência de vanta-gens comparativas ou de uma certa vocação econômica. Háestreita associação desse projeto com profissionais egressosda Escola de Minas de Ouro Preto, principal centro de forma-ção técnica, de quadros técnicos que se projetarão no setorpúblico, primeiro e essencialmente, como assessores técnicos,seja na administração central, seja em administração paralela,e também, em um segundo momento, sobretudo a partir dadécada de 50, na ocupação de cargos políticos administrativose de direção. Uma das preocupações centrais daqueles quepropugnaram ou se associaram a esse projeto é a políticamineral e siderúrgica de Minas Gerais, que desde o final doséculo XIX e início do século XX, coloca-se como umproblema, sobretudo porque se trata de um momento em quehá uma verdadeira competição no plano internacional, pelacaptura, pelo controle de reservas estratégicas de minerais esua transferência, sua exportação para a Europa e EstadosUnidos.

Na década de 30, surge uma nova etapa, a crise domodelo primário exportador e a emergência do modelo deindustrialização substitutiva de importações. Processam-se aintroversão da economia brasileira, a priorização da integraçãodo espaço econômico nacional e a gradual constituição de umadivisão regional do trabalho. O resultado dessa divisão regio-nal do trabalho, que estará consolidada entre 1930 e 1960, éa constituição de um pólo nacional, é São Paulo, e a quasecompleta periferização do conjunto ou do restante do país.

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Minas Gerais, aparentemente, encontrava-se em uma posiçãofavorável em 1930, tendo em vista a diversificação econômicaem curso. No entanto, na realidade, a diversificação buscavafortalecer uma inclinação que já não era mais compatível coma dinâmica da economia brasileira, tendo em vista a integraçãodo mercado interno, uma integração que colocará MinasGerais em uma posição subordinada. Ainda assim, na décadade 30, prevalece a continuidade do projeto de desenvolvimen-to econômico diversificado, embora com características no-vas. A principal característica é a centralidade do Estado comoagente privilegiado do desenvolvimento regional. O governode Minas Gerais, na década de 30, prioriza o desenvolvimentoda agropecuária e da agroindústria, sobretudo gêneros daagricultura e da pecuária para a indústria, conquanto se obser-ve forte expansão da siderurgia, em continuidade com adécada de 20, o que mostra que aquele projeto de especializa-ção industrial não era destituído de sentido econômico. Aindaque não seja hegemônica no quadro do desenvolvimentoregional, a siderurgia cresce sobremaneira. Basta dizer que,em 1940, Minas Gerais detém liderança inconteste na siderur-gia brasileira. Antes da Companhia Siderúrgica Nacional deVolta Redonda, Minas respondia por 60% do aço produzidono Brasil, 90% do ferro-gusa e 50% dos laminados. E asiderurgia em Minas, que representava algo em torno de 4% daprodução industrial mineira em 1919, em 1939 já representavaquase um quarto (24%).

No início da década de 40, observamos importantealteração do projeto de desenvolvimento regional de Minas.Pela primeira vez, prioriza-se o desenvolvimento industrial,decorrência de fatores internos e externos ao Brasil. O princi-pal fator interno foi a perda do projeto da grande siderurgia.Minas Gerais lutou para que a grande siderurgia aqui seestabelecesse, mas perdeu para o Rio de Janeiro. Por decisãodo Governo Federal, a CSN acabou instalando-se em VoltaRedonda. A resposta do Governo de Minas foi a elaboração ea efetivação de projeto de desenvolvimento regional estruturadona centralidade da industrialização. A conjuntura internacio-nal também é muito favorável. A Segunda Guerra Mundial

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implicou o aprofundamento da industrialização substitutiva, ea centralização política do Estado Novo foi fundamental,porque ampliou a subordinação das economias regionais emrelação às determinações de um projeto para o conjunto dopaís. Supera-se definitivamente a idéia de um desenvolvimen-to regional autônomo e considera-se a inevitabilidade daintegração de Minas ao centro dinâmico da economia nacio-nal. A principal realização desse período foi a criação dacidade industrial de Contagem, o embrião do “sistema dedistritos industriais” que foram implantados a partir da décadade 50. O momento foi decisivo para acelerar o crescimento deBelo Horizonte, a constituição de um centro econômico capazde polarizar o território de Minas Gerais. Consolidou-setambém o papel central do Estado na promoção do desenvol-vimento regional.

Uma breve nota sobre os dois governos do final dadécada de 40 e início da década de 50, porque foram governos-chave da história de Minas Gerais. O governo Milton Campos,de 1947 a 1950, representou o último momento de vigência deprojeto de desenvolvimento regional diversificado, emboracom a indústria no centro das atenções. No governo Camposprocedeu-se à formulação de um primeiro plano bemestruturado, em que o planejamento entrava de forma decisivapara a superação da condição de subdesenvolvimento. Trata-va-se do Plano de Recuperação Econômica e Fomento daProdução, que teve em Renné Giannetti o seu grande mentor.E depois o governo de Juscelino Kubitschek, de 1951 a 1954,quando a especialização industrial foi definitivamente coloca-da em primeiro plano. Governo conhecido pelo “binômioenergia e transporte”, pela priorização de investimentos infra-estruturais em geração de energia e modernização dos trans-portes, portanto por criar as condições indispensáveis para aarrancada industrial. O governo JK também deve ser ressalta-do pelo surgimento de uma estrutura político-administrativaparalela. Foi o momento em que se esvaziaram as atribuiçõesdo centro institucional das políticas econômicas, que se man-tinha desde a década de 30, e restringiu-se a sua importânciaà Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho, e

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do surgimento ou reforço de agências específicas para odesenvolvimento industrial. Nesse contexto foi criada a Cemig,em 1952, e dinamizado o DER de Minas Gerais, criado em1946, as duas instâncias administrativas que respondem pelosfortes investimentos em transporte e geração de energia. ACemig é o embrião do desenvolvimento regional estruturadoem agências governamentais, baseadas, portanto, na presençade uma tecnoestrutura e na centralidade da utilização derecursos instrumentais de planejamento.

Na década de 60, Minas Gerais estava pronta para agrande arrancada industrial. A maturação do planejamento,como instrumento de política econômica, o aperfeiçoamentode estrutura institucional, com a multiplicação nas décadas de50 e 60 de agências governamentais voltadas para o desenvol-vimento, a consolidação de um corpo técnico, de uma elitetécnica no aparelho de Estado, a definição de modelo deespecialização industrial e a maturação de padrão de investi-mentos que privilegiava capitais públicos nacionais e privadosestrangeiros compuseram quadro favorável à arrancada indus-trial de Minas Gerais.

No entanto, sobreveio a crise econômica, que pôs emevidência a fragilidade da indústria mineira. O esgotamento domodelo de industrialização substitutiva de importações semanifestou sobretudo por crise em que sobressaíramdesequilíbrios e contradições geradas em 30 anos de cresci-mento econômico. Desequilíbrios manifestos na assimetria dodesenvolvimento regional brasileiro. Um processo de indus-trialização não planejado que resultou em concentração eco-nômica excessiva. No final da década de 50, São Paulo detevealgo próximo de dois terços do produto interno bruto nacional.Nos demais espaços regionais do Brasil, ainda são vigorosasrelações sociais de produção e de propriedade não-capitalistase elevados níveis de pobreza. O modelo é concentrador darenda e da riqueza. Também são expressivos os desequilíbriossetoriais. Conquanto entre as décadas de 30 e 50 o Brasil tenhaalcançado estágios superiores do processo de industrialização,a modernização no campo foi lenta e conservadora. Basta que

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comparemos as taxas de crescimento da indústria com as daagricultura para se perceber que os ritmos são completamentediferentes. As relações sociais no campo alteram-se pouco, emrazão da feição conservadora da modernização. O modelo deindustrialização por substituição de importações encontraseus limites, pois gerava desequilíbrios, distorções e contradi-ções que teriam que ser resolvidas no quadro democrático daQuarta República ou, como efetivamente se verifica a partir deabril de 1964, prevaleceria desenvolvimento excludente. Apartir do início da década de 60, as taxas de crescimento caíramsubstantivamente, com recuperação econômica só a partir de1967-68. Os sete ou oito primeiros anos da década de 60 forammarcados por crise que atingiu especialmente e de forma muitomais grave certos ramos industriais, como, por exemplo, asindústrias tradicionais mineiras. Verificou-se processo gene-ralizado de insolvência de indústrias têxteis, alimentícias e deoutros bens de consumo não duráveis. O caráter monopolistada indústria da década de 50, sobretudo de capital estrangeiro,significava concentração excessiva e geração de grande capa-cidade ociosa.

Um documento emblemático das relações entre Estadoe desenvolvimento, da utilização de recursos instrumentais deplanejamento e do papel de agências governamentais orienta-das para o desenvolvimento regional foi o Diagnóstico daEconomia Mineira de 1968, primeiro grande documento ela-borado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais,instituição criada em 1962. O Diagnóstico é emblemáticoporque consolida uma série de experiências de produção dedocumentos que analisaram a economia mineira e propuseramprojetos de intervenção. Entretanto, no Diagnóstico a perspec-tiva histórica é considerada de forma requintada se comparadocom os projetos anteriores. O Diagnóstico consolida certaspremissas que presidem à compreensão dessas propostas deintervenção. Que premissas são essas? Primeiro, a tantas vezesmencionada consciência do atraso relativo e da presença defortes desequilíbrios regionais internos a Minas Gerais. Se-gundo, a proeminência de matriz desenvolvimentista, de umpensamento desenvolvimentista, inspirado em parte na teoria

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cepalina. Terceiro, o lugar do Estado, ator privilegiado nasuperação do subdesenvolvimento. Quarto, a política comoesfera necessária e prioritária à promoção do desenvolvimen-to, o desenvolvimento politicamente orientado, com a partici-pação decisiva dos técnicos.

Também é importante ressaltar que o processo deindustrialização de Minas Gerais é marcado por outrasespecificidades. Primeiro, a descontinuidade entre a grandeindústria mineira do século XX e a manufatura e o artesanatodo século XIX: não são as mesmas plantas industriais, salvoraras exceções. Segundo, a descontinuidade entre o empresá-rio pré-capitalista mineiro do século XIX e o empresáriocapitalista do século XX: não é o mesmo empresário, excetuadospoucos casos. Terceiro, a descontinuidade entre o capital dasunidades tradicionais e o capital da indústria moderna: a maiorparte do capital da arrancada da industrialização mineira écapital público nacional e capital privado estrangeiro. Emquarto lugar, a desconcentração da indústria mineira até adécada de 1940, em perfeita sintonia com a desconcentraçãodo mercado consumidor e elevados custos dos transportes.

Ainda com relação à participação do empresário minei-ro no processo de industrialização releva mencionar duasvertentes: uma diz que o empresário é frágil, incapaz deassumir as oportunidades da industrialização acelerada, apartir da década de 1950; outra diz que o empresário foi capazde criar as condições para a arrancada industrial, mas, dada avigência de certo modelo de industrialização, não foi capaz deaproveitar as condições que criou.

Uma vertente influente da historiografia mineira assu-me que o empresariado mineiro era frágil em capacidade de searticular, incapaz de tomar a frente do processo de transforma-ção, de modernização, um empresariado conservador, apega-do a certos valores tradicionais. Ressalta certos elementospsicossociais que, de alguma forma, condicionaram esse atorimportante no processo de industrialização e determinaram asua incapacidade de se constituir como classe, capaz de estarà frente dessas transformações. Para essa linha de interpreta-

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ção, o Estado assume funções adicionais, que normalmentenão lhe são atribuídas, notadamente em um contexto em quepredomina orientação liberal, assim como abre-se espaçosignificativo para o capital estrangeiro.

A outra interpretação recusa a atribuição de conserva-dor ou pouco empreendedor imputada ao empresariado minei-ro. Entende que o empresariado participou ativa e decisiva-mente da criação das condições para industrialização, pormeio de associações de classe. Considera que a Federação dasIndústrias de Minas Gerais e Associação Comercial de Minastiveram papel extremamente relevante. Ademais, trata-se deempresariado que ocupará posição importante no aparelho deEstado, em funções diretivas, como é o caso de AméricoRenné Giannetti, Secretário de Agricultura, Indústria, Comér-cio e Trabalho do governo Milton Campos. No entanto, paraessa vertente da historiografia, as condições da industrializa-ção brasileira e a posição da economia mineira no quadro daeconomia nacional acabaram por impor ou exigir condiçõespara uma participação mais ativa do empresariado que, a rigor,não tinha condições de atender. O Estado acabou ocupandoespaço estratégico importante, sobretudo no caso de investi-mentos pouco atraentes, de longa maturação e de rentabilidademais baixa, ao passo que para capitais privados estrangeirosforam criadas condições excepcionais de atração.

Por fim, analisemos o problema demográfico de MinasGerais no século XX. As relações entre economia e demografiasão certamente de primeira importância. O século XIX foimarcado por crescimento econômico, pelo menos até a terceiraquadra, e concomitante crescimento populacional. Até a déca-da de 1920, Minas detém a maior população do Brasil. Oséculo XX foi marcado por crescimento econômico maislento, em relação a outros estados, e por fenômeno talvezpouco conhecido: uma imensa evasão populacional. Entre1920 e 1980, Minas Gerais é o estado com os maiores índicesde emigração do país. Essa evasão de população está associadaà mudança na estrutura social e no comportamento demográficoda população. Entretanto, trata-se de movimento populacional

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essencialmente decorrente dos processos de urbanização, in-dustrialização e de modernização conservadora no campo.

A modernização conservadora no campo produz gra-ves problemas. Entre eles, a minifundiarização, ou seja, nasregiões em que a pequena produção camponesa predomina, atendência é a da impossibilidade de reprodução dessas po-pulações em crescimento quando a fronteira fecha. O fenôme-no decorrente é a emigração, definitiva ou sazonal, em buscade novas oportunidades ou de complementação de renda.Expulsa-se também população quando a mecanização e autilização de técnicas modernas tornam disfuncionais muitasrelações de trabalho tradicionais no campo. Colonos, agrega-dos, parceiros e meeiros não têm mais sentido nas grandesunidades produtivas, nos grandes latifúndios. As migraçõesinternas no período contemplado têm várias faces. Eram tantorural-urbano, como rural-rural. Buscava-se a frente pioneira,a posse compatível com as necessidades de reprodução daspopulações camponesas. A frente era, no entanto, instável,porque aos pioneiros se seguia a expansão agrária. O pequenoprodutor abre a fronteira com uma agricultura de subsistênciae níveis baixos de mercantilização. Por decorrência, nãoconsegue sustentar a posse da terra, não consegue dar legitimi-dade jurídica à posse e fica permanentemente vulnerável àpressão e à expulsão exercida pela grande lavoura. Inscreve-se, portanto, em movimento contínuo de busca de nova fron-teira. Outra face importante dessa migração, que apresentacaráter definitivo, é a que se dirige para as áreas em que aagricultura comercial é demandadora de mão-de-obra. Essefenômeno explica o grande número de mineiros na fronteira doParaná e Mato Grosso. A partir de 1930, a imigração européiaperdeu importância. A expansão da fronteira da agroexportaçãoe da grande agricultura comercial passou a se basear noemprego do trabalhador nacional. No século XIX, as condi-ções internas de Minas permitiam que a população crescessee encontrasse condições para sua reprodução. No século XX,rompe-se essa relação, os recursos tornam-se crescentementeinsuficientes, seja pela concentração fundiária, seja pelo fe-chamento da fronteira, seja ainda pelo declínio histórico da

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produtividade da terra, resultante do nível técnico baixo e doelevado impacto ambiental das culturas tradicionais intensi-vas. Também se deve considerar os fatores de atração, econô-micos ou não, que a vida urbana, o acesso a bens públicos e oemprego na indústria e no setor de serviços, inclusive naburocracia pública, exerceram sobre a população rural tradici-onal. As migrações em direção aos espaços urbanos resulta-ram na impossibilidade de assimilação, de emprego, daspopulações que chegavam aos grandes centros. Por quê?Porque a taxa de crescimento de emprego na indústria e nosetor de serviços era substantivamente inferior à taxa decrescimento da população residente. Se pensarmos que essapopulação é acrescida da imigrante, e em número crescente,concluiremos que o resultado é evidente, ou seja, amarginalização progressiva de parcela expressiva de ambos osestratos sociais, residente e, principalmente, imigrante.

Some-se a esse cenário o problema da taxa declinanteda participação dos salários na apropriação do produto indus-trial, e então não será difícil compreender o agravamento dosmencionados desequilíbrios sociais. No Brasil, em 1959, ossalários representavam 19% do produto industrial. Em 1970,18,7% e, em 1974, 15,5%. Agora, vejamos os dados referentesa Minas Gerais: em 1959, 20,5%; em 1970, 16,6%; e, em 1974,apenas 11,7%. Portanto, entre o esgotamento do processo deindustrialização substitutiva de importações, no final da déca-da de 1950 e o fim do “milagre econômico”, em 1974, observa-se pronunciado processo de concentração de renda e deriqueza, provavelmente em níveis historicamente inéditos. Ouseja, a participação relativa dos salários decresce de formaacentuada. O regime de 1964 criou condições excepcionaispara impedir qualquer reivindicação por alteração nessasrelações de força internas à sociedade brasileira. Todos os“pontos de estrangulamento social”, identificados no final dadécada de 50 e início da década de 60, que se esperavamsuperados com as “reformas de base”, que estavam na agendapolítica do governo João Goulart, foram abandonados. Oregime de 64 assegurou a vitória do capital frente ao trabalho.A contrapartida da prosperidade do capital foi o sufocamento

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das reivindicações dos trabalhadores, com a impossibilidadede organização e de associação autônomas, estrito controledos sindicatos e ilegalidade dos processos de mobilização pormeio de greves.

Uma última consideração. Conquanto a linha de expo-sição adotada e a interpretação da formação histórica de Minasque se buscou ressaltar possam apresentar elementos origi-nais, ou pareçam inéditas pela específica combinação quepropõem de múltiplas vertentes historiográficas, não se acre-dita tarefa árdua identificar as diversas matrizes interpretativasem que se recolheram subsídios ou, no caso de alguns períodose temas, que foram inteiramente apropriadas. Em outrostermos, afirma-se que o exposto pode guardar alguma relevân-cia como ensaio geral e certamente padece de grandes limita-ções se examinado no particular. São agruras inerentes aintento de semelhante natureza, que, ao mesmo tempo, apre-sentam-se vulneráveis à crítica do especialista e estão sujeitasà comparação com os luminares do ensaio. Ainda assim, ecomo desde o início se afirmou, a gratificação almejada seráproporcional à reflexão que suscitar sobre nossa singularformação histórica.

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