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48 I ÉPOCA I 19 de janeiro de 2015 s sobrados são enfileirados um ao lado do outro. Cada andar tem um morador. O acesso ao piso superior é feito por escadas de ma- deira improvisadas. Graças a gambiar- ras elétricas, alguns deles dispõem de comodidades como frigobar, televisão e exaustor. O cenário lembra uma viela de favela. Mas os sobrados são celas do pre- sídio Complexo do Curado, localizado, ironicamente, na Avenida da Liberdade, no Recife. Como qualquer imóvel priva- do, as celas viraram ativos valiosos num mercado imobiliário criado dentro do presídio. Quanto maiores forem a ven- tilação e a iluminação, maior é o valor de venda ou aluguel, afirma a assistente social Wilma Melo, uma das fundadoras do Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões (Sempri). Há três décadas, Wilma dedica seus dias ao Curado, onde perdeu o marido, um ex-detento. Ela acompa- nhou, desde o início, o crescimento da favela encarcerada. O metro quadrado mais caro, diz Wilma, ultrapassa R$ 2 O mil – equivalente ao metro quadrado na periferia de São Paulo ou de um bairro classe média em Belém. Como troça, os presos apelidaram os sobrados de Mi- nha Cela, Minha Vida, uma alusão a um dos programas de governo mais caros à presidente reeleita Dilma Rousseff. Eles foram construídos pelos próprios pre- sos. Segundo o padre Wilmar Varjão, da Pastoral Carcerária, parte do material de construção é comprada com dinheiro das famílias dos presos. Chega em cami- nhões ou em carriolas. Além dos sobrados, existe outra mo- dalidade de cela: as casas de pombo. Ou tocas, como são chamadas no relatório geral do último mutirão carcerário do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). São buracos feitos pelos presos dentro das paredes, um ao lado do outro – como urnas num cemitério vertical (confira a foto nas próximas páginas). Cada buraco é equipado com um colchão e tem um dono. Para subir a eles, os presos usam escadas. O preço dos buracos, como os sobrados, tem variações. Com ventila- ção e luminosidade, pode custar até R$ 2 mil, afirma Wilma. Os presos, diz ela, não buscam conforto apenas para si próprios. Cada um deles quer um lugar melhor para receber a família nos dias de visita. A diária de um buraco chega a custar R$ 50. Os presos que não têm poder ou di- nheiro para comprar ou alugar um sobra- do ou um buraco são obrigados a dormir no chão das celas, dos banheiros, dos pá- tios ou das BRs, apelido dado aos corre- dores do presídio – outra troça, alusão às siglas das rodovias federais. Em uma das vezes em que o advogado Fernando Delgado, da Clínica de Direitos Humanos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, perguntou a um preso sobre a lotação de uma das celas, recebeu uma resposta confusa:“Aqui dorme cinco, mas conta 24 (sic)”. Delgado entendeu, depois, a matemática do presídio. O preso queria dizer que aquela cela tinha 24 presos, s CENAS BRASILEIRAS No presídio Complexo do Curado, no Recife, criou-se um mercado em que se vendem e se alugam celas por até R$ 5 mil. Quem controla tudo, mesmo a circulação nos pavilhões, são os presos Minha cela, minha vida Thais Lazzeri

minha cela minha vida

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s sobrados são enfileirados umao lado do outro. Cada andartem um morador. O acesso ao

piso superior é feito por escadas de ma-deira improvisadas. Graças a gambiar-ras elétricas, alguns deles dispõem decomodidades como frigobar, televisão eexaustor. O cenário lembra uma viela defavela. Mas os sobrados são celas do pre-sídio Complexo do Curado, localizado,ironicamente, na Avenida da Liberdade,no Recife. Como qualquer imóvel priva-do, as celas viraram ativos valiosos nummercado imobiliário criado dentro dopresídio. Quanto maiores forem a ven-tilação e a iluminação, maior é o valorde venda ou aluguel, afirma a assistentesocial Wilma Melo, uma das fundadorasdo Serviço Ecumênico de Militância nasPrisões (Sempri). Há três décadas,Wilmadedica seus dias ao Curado, onde perdeuo marido, um ex-detento. Ela acompa-nhou, desde o início, o crescimento dafavela encarcerada. O metro quadradomais caro, diz Wilma, ultrapassa R$ 2

O mil – equivalente ao metro quadrado naperiferia de São Paulo ou de um bairroclasse média em Belém. Como troça, ospresos apelidaram os sobrados de Mi-nha Cela, Minha Vida, uma alusão a umdos programas de governo mais caros àpresidente reeleita Dilma Rousseff. Elesforam construídos pelos próprios pre-sos. Segundo o padre Wilmar Varjão, daPastoral Carcerária, parte do material deconstrução é comprada com dinheirodas famílias dos presos. Chega em cami-nhões ou em carriolas.

Além dos sobrados, existe outra mo-dalidade de cela: as casas de pombo. Outocas, como são chamadas no relatóriogeral do último mutirão carcerário doDepartamento de Monitoramento eFiscalização do Sistema Carcerário, doConselho Nacional de Justiça (CNJ). Sãoburacos feitos pelos presos dentro dasparedes, um ao lado do outro – comournas num cemitério vertical (confira afoto nas próximas páginas). Cada buracoé equipado com um colchão e tem um

dono. Para subir a eles, os presos usamescadas. O preço dos buracos, como ossobrados, tem variações. Com ventila-ção e luminosidade, pode custar até R$ 2mil, afirma Wilma. Os presos, diz ela, nãobuscam conforto apenas para si próprios.Cada um deles quer um lugar melhorpara receber a família nos dias de visita.Adiária de um buraco chega a custar R$ 50.

Os presos que não têm poder ou di-nheiro para comprar ou alugar um sobra-do ou um buraco são obrigados a dormirno chão das celas, dos banheiros, dos pá-tios ou das BRs, apelido dado aos corre-dores do presídio – outra troça, alusãoàs siglas das rodovias federais. Em umadas vezes em que o advogado FernandoDelgado,da Clínica de Direitos Humanosda Universidade Harvard, nos EstadosUnidos, perguntou a um preso sobre alotação de uma das celas, recebeu umaresposta confusa:“Aqui dorme cinco,masconta 24 (sic)”.Delgado entendeu,depois,a matemática do presídio.O preso queriadizer que aquela cela tinha 24 presos, s

CENAS BRASILEIRAS

No presídio Complexo do Curado, no Recife,criou-se um mercado em que se vendem e sealugam celas por até R$ 5 mil. Quem controla tudo,mesmo a circulação nos pavilhões, são os presos

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SOBRADOCUSTO: R$ 5 MIL

A construção, segundodenúncias, é feita com

dinheiro das famíliasdos presos. O governo

de Pernambuco nega

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mas cinco haviam comprado o direito dedormir em colchões. Os outros ficavamno chão. Nos dias de visita íntima, aossábados, redes e cabanas aramadas sãoenfileiradas no pátio. Cada um protegea própria intimidade com um lençol.As mulheres pernoitam no presídio.

O “PACTO PELA VIDA”O Curado nasceu em 2012, com ca-

pacidade para 2.114 presos, para substi-tuir o presídio Professor Aníbal Bruno. Ocomplexo foi criado com uma estruturade três unidades independentes e mura-das, cada uma com diretor, enfermaria,cozinha e escola. Um dos motivos paraa mudança, segundo o governo de Per-nambuco, era tratar os presos com“maishumanidade” e melhorar a organização.

A criação do Curado foi tambémuma resposta ao aumento da popula-ção carcerária em Pernambuco, um dosefeitos do Pacto pela Vida, programade segurança pública implementadopelo ex-governador Eduardo Campos(1965-2014). Vitrine do PSB, partidono comando de Pernambuco há oitoanos, o Pacto, lançado em 2007, crioubônus salariais para os policiais queatingissem metas de apreensão de dro-gas e prisões preventivas. A taxa de ho-micídios do Estado caiu mais de 30%.Entre 2006 e 2012, também aumentouem 206% o número de encarceradospor posse de drogas. Um relatório doMinistério da Justiça, de novembrode 2012, diz que o Pacto tem pontospositivos, “mas é uma bomba de efeitoretardado”. O CNJ, em outro relatório,de maio de 2014, diz que “a falta de in-vestimento, a demora no julgamentoprocessual e a manutenção da prisãode pessoas que cometeram pequenosdelitos transformam as casas prisionaisem verdadeiros depósitos de pessoas”.

Nos dias 8 e 9 de maio de 2013, aprocuradora da República Carolina deGusmão Furtado, acompanhada de ou-tras autoridades, visitou o Curado. “Ve-rificamos que a divisão do presídio emtrês unidades resumiu-se a uma simplesseparação murada,que em nada minimi-zou a questão da superlotação”, diz Ca-rolina. Hoje, amontoam-se no Curado7.031 detentos,pouco mais de um quintoda população carcerária de Pernambuco.

CENAS BRASILEIRAS

VISITA ÍNTIMACUSTO: R$ 50Os aramadossão cobertospor lençóis aossábados. Redestambém servemde cama

CACHAÇACUSTO: R$ 20Além de bebidas,vende-sematerial dehigienee limpeza

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Sobram presos – e faltam defensores pú-blicos,promotores e advogados.“A Justiçade Pernambuco é muito problemática.É um quadro de quase caos”, afirma oministro Gilmar Mendes, do SupremoTribunal Federal. Nos mutirões feitos noCurado, o CNJ, não raras vezes, encon-trou detentos com penas vencidas haviamais de cinco anos. Os presos,muitas ve-zes,não sabem nem quanto tempo ficarãoatrás das grades. Em uma das inspeçõesfeitas por autoridades federais no Cura-do, o então secretário de Ressocialização(Seres) de Pernambuco, coronel RomeroRibeiro, disse que não informava as pre-visões das penas aos detentos por receiode instabilidades no presídio. Ribeiro foiexonerado do cargo há dois meses.

O CHAVEIRONo Curado, os agentes penitenciários

não entram nos pavilhões. O diretor doSindicato dos Agentes Penitenciários dePernambuco, Nivaldo Oliveira, diz queos agentes ficam em funções adminis-trativas e na gaiola, a entrada do presídio.Em uma das visitas de monitoramento,entre os dias 26 e 27 de agosto de 2013,trabalhavam 16 agentes, ou um para cada400 presos. O CNJ recomenda um paracinco. “O Curado é uma brincadeira demau gosto do Estado. Nosso efetivo éuma vergonha”, diz Oliveira.

Em Leviatã,o filósofo Thomas Hobbes(1588-1679) afirma que o homem, noestado de natureza, impõe-se ao outropela força, ferramenta para conquistare manter o poder. Para evitar o estadode guerra, cria-se um contrato social, abase da filosofia política moderna. Todosabdicam de suas liberdades para que oeleito assegure paz e proteção a todos.Cinco séculos depois, o CNJ encontroudentro do Curado o homem primitivoe o eleito de Hobbes personificados emuma só figura, o chaveiro. Num relatóriode 2010, assim é descrito o chaveiro:“Umpreso, geralmente condenado ou respon-dendo por crime de homicídio, que im-põe a ordem e a disciplina no pavilhão...Relaciona presos a serem encaminhadosaos médicos, psicólogos, advogados e as-sistentes sociais. É assessorado por umauxiliar e um mesário”.

O número de chaveiros é desconhe-cido. Nos 17 pavilhões oficiais há ao s

CASA DE POMBOCUSTO: R$ 2 MIL

Os buracos,construídos nas

paredes dascelas, servem de

cela para quempode pagar

JOGO DE BILHARCUSTO: R$ 2

O valor da partidaé cobrado

por pessoa

ALUGUELDO BURACO

CUSTO: R$ 50Diária cobrada

em dias devisita para

receber a família

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menos um, geralmente ligado a gruposde extermínio.Os carcereiros paraestataisgerenciam as celas e outras áreas, como aenfermaria e a cantina. São alçados aoscargos de chefia ao ser indicados por ou-tros chaveiros, diz Wilma. Há denúnciasde que presos recrutados pelo Estado paratrabalhar na cadeia seriam chaveiros.

Cada chaveiro dita as próprias regras.Em geral, cobram, à parte, por materialde limpeza e higiene pessoal e por idas àenfermaria e até mesmo ao banheiro, seo preso não tem condições de ir sozinho.O chaveiro decide qual preso pode terassessoria jurídica e o horário das visitas.

O chaveiro tem,além disso,o poder dedecidir sobre a liberdade de movimen-tação na cadeia. Nos presídios, existe acela da disciplina. Em tese, apenas qua-tro homens deveriam permanecer ali porum determinado período.No Curado,até70 presos ficam no isolamento por tem-po indeterminado, afirma Delgado, deHarvard. Alguns dos presos confinadosforam jurados de morte. Outros, desco-bertos delatores. E há os encaminhadospelo chaveiro. Como o chaveiro tem aprerrogativa de dizer quem está certo ounão,pode atribuir mau comportamentoa qualquer preso e mandá-lo para o cas-tigo.ÉPOCA conversou com uma pessoacujo parente foi para o castigo pelas mãosde um chaveiro. O parente, acusado deincitar violência, está há quatro meses noisolamento. A condição para a saída doconfinamento – uma cela com uma únicaentrada de ar e uma bica – é o pagamentode R$ 2 mil ao chaveiro.

No relatório do CNJ de 2010, o cha-veiro também é descrito como“o respon-sável pela venda de drogas e, não raro,é o traficante”. As drogas não entrampela porta do presídio, diz Wilma. Lá, ocontrole é severo. Os pacotes, bem comoas armas, chegam por cima dos muros.Embora seja proibido por lei, o Curadoestá localizado no perímetro urbano doRecife. A proximidade de casas facilita otrabalho dos arremessadores. Depois dejogar a encomenda, eles são abrigadospelos vizinhos do presídio. A troca daguarda no presídio é uma das brechas.Além disso, cerca de 50% das guaritasem torno do presídio estão desativadas.

Dentro do Curado, buracos nos mu-ros entre as unidades prisionais permitemque tanto drogas quanto facões circulem

(confira a foto na próxima página).O pre-so que não pode pagar pelo consumo dadroga ou é jurado de morte ou pede ajudapara a família. Um pai de um preso dissea representantes do Ministério da Justiça,segundo o relatório de inspeção de no-vembro de 2012, que pagava o fumo e asobrevivência do filho usuário de drogapor depósito bancário.Os dados da contado traficante chegavam por mensagem decelular. Para o presidente da Ordem dosAdvogados do Brasil (OAB) de Pernam-buco, Pedro Henrique Reynaldo Alves,“sem a droga, os presos não conseguempermanecer sem se rebelar”.

“PIOR QUE PEDRINHAS”“O Curado é pior que Pedrinhas”,

diz Delgado. O Complexo Penitenciá-rio de Pedrinhas, no Maranhão, ganhou

destaque no ano passado com rebeliõesem série e mortes violentas, como de-capitações. Delgado é um dos cincodenunciantes que levaram, em 2011, oCurado à Comissão Internacional deDireitos Humanos da Organização dosEstados Americanos (OEA). Desde en-tão, instituições em defesa dos direitoshumanos contabilizaram 265 denúnciasde atos violentos no Curado. Uma daspromotoras que acompanharam o caso,Rosa Maria de Andrade, escreveu numrelatório de outubro de 2012 que “atro-cidades há muito vinham ocorrendo semquaisquer providências”.

Em 2010, durante visita de monitoresde ONGs de direitos humanos, um presofoi encontrado com as costas raspadaspor faca e uma fratura exposta no braçoesquerdo. Em um documento da Seresde 30 de outubro de 2012, um preso

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alegou ter sido espancado por agentes,disse que recebeu choques elétricos e foiviolado com um cabo de vassoura. Numrelatório do Ministério Público (MP) dePernambuco, de 31 de outubro de 2012,aparecem denúncias de tortura e maus-tratos cometidos por agentes e chaveiros.Em 20 de junho de 2013, um preso mor-reu envenenado. No boletim de ocorrên-cia, consta causa da morte desconhecida.

Em uma das inspeções feitas porDelgado, um porrete de madeira foi en-contrado na área do presídio destinadaà Polícia Militar. O porrete tinha aramenuma extremidade e vinha com a ins-crição“Direitos Humanos”(foto acima).O material foi entregue ao diretor dopresídio. Segundo Delgado, o caso nãofoi solucionado. As fotos da apreensãoconstam no documento entregue à Co-missão de Direitos Humanos da OEA.

Como o Brasil não apresentou avançossignificativos na solução dos problemasdo presídio, o caso do Curado, em maiode 2014, subiu para a Corte Interameri-cana de Direitos Humanos, onde o paísassumiu uma posição equivalente a deum réu. É uma situação vexatória, emque o país, em tese, passa a ser obrigadoa cumprir as determinações da Cortepara atenuar a superlotação, a falta deassistência jurídica, a violação de direitoshumanos, entre outros problemas.

Para salvar a imagem do país, criou-seum fórum permanente dos governos fe-deral e estadual sobre o Curado. A cadatrês meses, o governo brasileiro mandaà Corte um relatório sobre os avançosfeitos ou não. Na ata da reunião de 28de agosto de 2014, o fórum disse ter ve-rificado avanços no sistema de saúde emonitoramento dos presos. Caso não

haja avanços, a diplomacia é acionadaem busca de um acordo. Para os defen-sores de direitos humanos, manter o Bra-sil como réu é uma maneira de forçar aimplementação das medidas. “Não vejocomo a situação pode mudar sem umaintervenção federal”, afirma Delgado.

Há duas semanas, uma reportagemda TV Globo flagrou detentos do Cura-do portando celular e facões. O entãosecretário da Seres, Carlos HumbertoInojosa, pediu demissão. O novo secre-tário de Justiça e de Direitos Humanosde Pernambuco, Pedro Eurico, Pastaresponsável pela Seres, assumiu em 2de janeiro. Eurico diz desconhecer ocomércio de celas e negou a existênciada cela de isolamento. A ÉPOCA, anun-ciou revistas semanais nos pavilhões,alambrados de 6 metros nos muros,contratação de 162 agentes penitenciá-rios, renovação do sistema de monito-ramento atual – por ele considerado“ineficiente”–, revisão das máquinas deraios X e a criação de 3.700 vagas empresídios do Estado até 2016. Os casosde tortura até então sem solução, dizEurico, serão investigados.

Mudanças no sistema prisional exi-gem muita transpiração – e dinheiro.Pernambuco tentou construir maispresídios em parceria público-privada,mas a empresa responsável faliu e oprojeto parou. Em dezembro, o pro-motor Marco Aurélio Farias, coordena-dor de Cidadania e Direitos Humanosde Pernambuco, protocolou na Justiçaestadual um pedido de interdição parcialdo Curado. “Esperava do governo umsinal que não aconteceu”, afirma Farias.O juiz Luiz Rocha, da 1a Vara de Execu-ções Penais do Recife, responsável peloCurado, não demonstra muita pressa emjulgar a ação. Diz que tem 17 mil proces-sos para acompanhar e que não sabe seo Estado de Pernambuco sequer respon-derá ao MP. A Justiça deveria mostrarmais agilidade. Para o promotor Farias,Curado pode implicar uma sentençainternacional sem precedentes para oBrasil. “O caso Curado pode extrapolarpara um monitoramento do sistema pri-sional de Pernambuco e de todo o paíspela Corte Interamericana”, diz Farias.Não é difícil entender por quê. O Cura-do expõe sem retoques as condiçõesmedievais de nossas cadeias. u

TERRA SEM LEI1. Cela do isolamento2. O chão do pátiode um dos pavilhõesonde dormem presos3. Porrete com dizeres“Direitos Humanos”4. Buracos entremuros para trocade armas ede drogas

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