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Caderno utilizado para implementação do Programa PDE 2008-10

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PROFESSORA PDE

COLETÂNIATEXTOS

CADERNO PEDAGÓGICO

http://escolaprof.files.wordpress.com/2008/04/gestao_sistemica.jpg

O Fracasso Escolar:

novos saberes

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional

PDE LUIZA DE FÁTIMA WEIBER DE LIMA

PONTA GROSSA 2008

COLETÂNIA DE

TEXTOS

DO

ADERNO PEDAGÓGICO

http://escolaprof.files.wordpress.com/2008/04/gestao_sistemica.jpg

O Fracasso Escolar: construindo

novos saberes

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional

IMA

construindo

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1

CCCOOOLLLEEETTTÂÂÂNNNIIIAAA DDDEEE TTTEEEXXXTTTOOOSSS

O Fracasso

Escolar:

construindo

novos saberes

‘ Autor: Luiza de Fátima Weiber de Lima [email protected] Escola Estadual Professor

Amálio Pinheiro Ensino Fundamental

Orientadora: Gislene Lössnitz Bida [email protected]

Universidade Estadual de Ponta Grossa

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APRESENTAÇÃO

Esta Coletânea de Reportagens e Textos faz parte do Caderno

Pedagógico: O Fracasso Escolar: construindo novos saberes com objetivo

principal de dialogar com professores sobre as altas taxas de reprovação e

evasão escolar e no desenvolvimento de alternativas pedagógicas que venham

contribuir na resolução deste problema.

É um material com o objetivo de subsidiar as discussões no momento

da execução do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola Estadual

Professor Amálio Pinheiro – Ensino Fundamental do Programa de

Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná

(SEED).

Tenho certeza que com ele poderemos realizar muitos debates e

procurar alternativas com o propósito de preparar os sujeitos para o

desenvolvimento pleno de sua cidadania, como um ser importante na

transformação e na busca de um mundo melhor.

Luiza de Fátima Weiber de Lima

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO........................................................................................... 2

AUTORIZAÇÃO PARA USO DAS REPORTAGENS...................................... 5

UNIDADE I....................................................................................................... 6

BENCINI, R. ;MARANGON,C. Fala, mestre! Bernard Charlot. Revista Nova Escola....................................................................................................................................

7

DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança........... 10

GENTILE, P. A educação, vista pelos olhos do professor, Revista Nova Escola..............................................................................................................

11

GENTILE, P. A família, culpada? Revista Nova Escola ................................. 14

PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação............................... 16

UNIDADE II...................................................................................................... 17

ENSINAR bem é...criar vínculos, Revista Nova Escola.................................. 18

ENSINAR bem é...decidir na incerteza, Revista Nova Escola......................... 19

FERRARI. M. Ensinar bem é...saber demonstrar, Revista Nova Escola......... 20

ENSINAR bem é...saber elogiar, Revista Nova Escola.................................... 22

ENSINAR r bem é...saber explicar, Revista Nova Escola................................ 23

ENSINAR bem é...saber fazer perguntas, Revista Nova Escola..................... 25

UNIDADE III..................................................................................................... 27

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4

28

FALZETTA, R. É preciso dizer não: Fla mestre! Tania Zagury, Revista Nova Escola...............................................................................................................

28

JOVER, A. Indisciplina: como lidar com ela? Revista Nova Escola................. 32

LOPES, Á. Disciplina: é mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam a criar. Revista Nova Escola................................................................

34

MACEDO, L. Disciplina é um conteúdo como qualquer outro. Revista Nova Escola...............................................................................................................

39

GENTILE, P. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola...................... 43

ROCHA, G. A Escola como ela é: pela ritualização da sala de aula. Julio Groppa Aquino. Revista Nova Escola..............................................................

49

ROVANI, A.. Compromisso que garante o sucesso. Revista Nova Escola...... 51

TAILLE, Y de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras. Revista Nova Escola........................................................................................

53

UNIDADE IV 58

GROSSI, G.P. Você é a chave da motivação em sala de aula. Revista Nova Escola. on Line, ...............................................................................................

59

MENEZES, L. C. De onde vem a tal motivação? Revista Nova Escola.......... 64

ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo, Revista Nova Escola. on Line.......................................................................................

65

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AUTORIZAÇÃO REVISTA NOVA ESCOLA

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TEXTOS PARA DISCUSSÃO

UNIDADE I

http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 1nn

BENCINI, R. ;MARANGON,C. Fala, mestre! Bernard Charlot. Revista Nova Escola, São Paulo, n. 196, out. 2006. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0196/aberto/mt_169929.shtm

DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio de Jabeiro: DP&A editora, P. 77-96, 2000. p.77-96.

GENTILE, P. A educação, vista pelos olhos do professor, Revista Nova Escola, São Paulo, n. 207, nov. 2007. p. 34-35.

GENTILE, P. A família, culpada? Revista Nova Escola On LIne, NOVA ESCOLA On-line - O site de quem educa! 13/11/2007 - 18:34. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/online/redatores/paola/20071113_posts.shtml

PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001. p.117-127.

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11..FALA, MESTRE! BERNARD

CHARLOT

Edição 0196 Out/2006

O conflito nasce quando o professor não ensina

Pesquisador frânces afirma que, quando faltam reflexão no saber e prazer e aventura em classe, a escola perde o sentido original

• Roberta Bencini,Cristiane Marangon

Há duas línguas diferentes sendo faladas na escola: a dos professores e a dos alunos." Para Bernard Charlot, professor de Ciências da Educação da Universidade de Paris 8 e da pós-graduação da Universidade Federal de Sergipe, essa tensão existe porque os dois lados desconhecem o prazer do saber. Sem dramatizar os conflitos nem apresentar vítimas e culpados - o que seria muito simplório para uma questão tão profunda -, o pesquisador passou quase 20 anos estudando, principalmente em escolas da periferia da França, a relação que as pessoas estabelecem com o conhecimento. Os jovens gostam de aprender? O que determina o interesse pelos estudos? Seu objetivo principal é descobrir por que alguns adolescentes pobres não avançam na Educação formal, enquanto outros se revelam bem-sucedidos. Grande parte dos trabalhos foi realizada pelo grupo de pesquisa Escol (Educação, Socialização e Coletividades Locais) na Universidade de Paris 8 desde 1987. Um dos pontos de

destaque é a semelhança entre os educadores brasileiros e franceses. A hipótese é que existem situações, como as de ensino, que são universais. Hoje, Charlot acompanha de perto a realidade das escolas brasileiras, principalmente as do Nordeste. Aos 62 anos, vive em Aracaju, casado com uma professora brasileira. A seguir, os principais trechos da entrevista realizada em São Paulo. Por que a relação entre alunos e professores é tão difícil? BERNARD CHARLOT Para os alunos, há uma lógica no ato de estudar e, para os professores, há outra. Ouço muito das crianças: "Fui a todas as aulas, estudei em casa e não concordo com as notas que recebi". O professor retruca, afirmando que o estudante é preguiçoso e não entendeu a matéria. Esse descompasso revela o grande abismo que existe entre as pessoas e interfere no processo de aprendizagem. Quem está com a razão, os professores ou os alunos? CHARLOT O objetivo de minhas pesquisas não é encontrar vítimas e vilões. Os dois lados têm suas razões. E digo isso com sinceridade.Qual a trajetória de alunos e professores na construção do saber? Isso sim é importante e explica o ponto de vista de cada um. Estudar a ótica do outro é a primeira lição que alunos e professores precisam aprender. Mesmo assim, o diálogo verdadeiro ainda é muito difícil. Qual é o sentido da escola para os alunos? CHARLOT As crianças francesas acham que, como seus pais, que ganham por hora de trabalho, deveriam ser recompensadas pela quantidade de tempo passado em frente dos livros. Ou seja, as notas deveriam ser proporcionais ao estudo. Mas, é óbvio, essa não é a lógica da escola. A instituição escolar defende que, se o

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estudante não fez as tarefas, não leu nem adquiriu um saber intelectual, ele pode ser reprovado. Para esse aluno, isso é uma injustiça, algo ilógico. A maioria dos estudantes gosta de ir à escola para comer, namorar e brincar. Nunca ouço que é um lugar para aprender. Para eles, os estudos, os trabalhos e as pesquisas existem para atender apenas aos interesses da escola. Assim, professores pensam que ensinam e alunos pensam que estudam. Como fazer os alunos estudarem e os professores ensinarem de fato? CHARLOT Há milhares de motivos pelos quais os jovens imaginam que a escola é o lugar do lazer e não do saber. É importante descobri-los, mais do que criticar. Os conflitos nascem quando o professor explica algo que não é compreendido. Ainda tranqüilo, e com outras palavras, ele explica de novo, e outra vez sem sucesso. Rapidamente, ele vai considerar o estudante um incapaz. O educador culpa o aluno, mas se sente fracassado também porque a turma não avança. O jovem, por seu lado, pensa que o professor não sabe ensinar. O clima fica tenso e uma coisa sem importância vira estopim para uma agressão verbal ou física. O professor não age dessa forma porque está sobrecarregado de tarefas? CHARLOT Ser professor hoje em dia é uma missão quase impossível. É preciso ter jogo de cintura para enfrentar as diversas contradições. O aluno vai à escola sem ter recebido uma socialização prévia. No passado, quando apenas uma pequena parte da população tinha acesso à Educação formal, não havia esse problema. Os pais preparavam os filhos para essa etapa da vida e os irmãos mais velhos, que também freqüentavam a escola, ajudavam os mais novos. Porém, quando toda a população passa a estudar, você se vê diante de crianças que não foram preparadas para as situações de aprendizagem. A dificuldade atual da escola é conseqüência da democratização. E quem há de reclamar disso?

Por que tantos professores criam imagem de um aluno ideal? CHARLOT Essa questão é muito complicada. O professor espera encontrar em sala de aula um clone ideal dele mesmo, ou seja, uma pessoa que ele gostaria de ser: crítico, reflexivo, leitor e dedicado. Mas o professor também deseja alunos obedientes. E essa contradição é insolúvel. Como ser, ao mesmo tempo, obediente, crítico e inquieto com a realidade? Na verdade, os critérios estão quase sempre baseados no comportamento: muitos acreditam que o bom aluno é aquele que não atrapalha o andamento da aula, chega na hora certa, levanta a mão para fazer perguntas inteligentes e conta com o interesse dos pais pelos estudos. E os alunos, o que esperam dos professores? CHARLOT Uma vez ouvi esta frase: "Gosto muito do meu professor porque ele nos trata como seres humanos". Ilude-se quem pensa que os meninos e as meninas esperam um amigo ou um colaborador mais velhos. Os jovens querem se relacionar com um profissional maduro. Outro ponto importante: eles não querem ser números. Não há nada pior para uma criança ou um adolescente do que encontrar seu professor na rua e não ser reconhecido. Os jovens não agüentam ser tratados como anônimos. Isso confirma uma das principais competências que se espera de um profissional da Educação - a capacidade de se relacionar. E acrescento: com humor, que é o melhor remédio para enfrentar as contradições do universo da Educação. Sempre houve conflito entre quem ensina e quem aprende? CHARLOT Sim, porque existe uma tensão que faz parte do ato pedagógico. O primeiro problema que o docente enfrenta é não produzir diretamente seu trabalho. Explico: o que faz o aluno aprender é sua própria atividade intelectual, não a do mestre. O trabalho do educador é despertar e promover essa atividade. É assim, sempre foi e sempre será, em qualquer sociedade e época. Se o estudante

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fracassa, a culpa é do professor, por mais que ele não tenha o poder de enfiar o saber dentro da cabeça do jovem. Essa tensão se converte facilmente em conflito quando o aluno se sente pressionado ou enganado. Mas os conflitos nem sempre são negativos. Penso que é uma sorte viver tantas contradições. Para ser feliz é preciso renunciar a uma idéia enganosa de felicidade. O humor, a reflexão e o prazer são imprescindíveis para aceitar as

diferenças e é isso que permite avançar. Já imaginou uma escola sem conflitos? Seria muito monótona. "O sentido da escola não é o mesmo na

cabeça do estudante e na do professor" "Professores pensam que ensinam e

alunos pensam que estudam"

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22.. DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio

de Jabeiro: DP&A editora, 2000. P.77-96.

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33. Como o professor vê a educação

Edição 0207 Nov/2007

Uma das perguntas do questionário tinha 23 itens. Entre eles, a falta de didática e de metas de aprendizagem. Mas,na hora de listar os principais problemas do dia-a-dia dentro da sala de aula, os 500 professores entrevistados colocaram os seguintes três:

a não-participação dos

pais no dia-a-dia da

escola,

a desmotivação dos

alunos e

DE QUEM É A RESPONSABILI

DADE

PELA EDUCAÇÃO

RUIM?

. Como o professor vê a

Edição 0207 Nov/2007

Uma das perguntas do questionário tinha 23 itens. Entre eles, a falta de didática e de metas de aprendizagem. Mas,na hora de listar os principais problemas do

dia dentro da sala de aula, os 500 professores entrevistados colocaram os seguintes três:

participação dos

dia da

a desmotivação dos

a indisciplina dentro da

classe (e o primeiro está

fora da sala).

Por que a família é vista tão mal? Ao comparar a escola pública com a particular, os professores dão algumas pistas: 72% dizem que quem leciona na rede pública faz também o papel de assistente social, enquanto apenas 3% apontam que quem está na privada tem essa mesma função (será mesmo?). O termo mais usé sobreposição. Para

25% da amostra,“a escola está no lugar da família”. E outros 38% reforçam que, na escola pública, “o professor não ensina, mas ajuda o aluno a sobreviver”. Em outra resposta, 64% afirmam que o

nível socioeconômico das crianças intervém no aprendizado (negativamente, no caso da pública, e positivamente, no caso da particular).

DE QUEM É A RESPONSABILI-

EDUCAÇÃO

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a indisciplina dentro da

classe (e o primeiro está

fora da sala).

Por que a família é vista tão mal? Ao escola pública com a

particular, os professores dão algumas pistas: 72% dizem que quem leciona na rede pública faz também o papel de assistente social, enquanto apenas 3% apontam que quem está na privada tem essa mesma função (será mesmo?). O termo mais usado

25% da amostra,“a escola está no lugar da família”. E outros 38% reforçam que, na escola pública, “o professor não ensina, mas ajuda o aluno a sobreviver”. Em outra resposta, 64% afirmam que o

nível socioeconômico das crianças rvém no aprendizado

(negativamente, no caso da pública, e positivamente, no caso da particular).

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As causas do problema

“Durante décadas, o professor montou uma representação-padrão de estudante, projetando o desejo de que ele venha de casa educado, com os parentes providenciando todos os requisitos básicos para que eles convivam em sociedade e aprendam.

“Esse quadro não existe”, diz Lino de Macedo. Da mesma forma, é fictícia a concepção de família ideal.Pai e mãe trabalham fora e nem sempre moram na

mesma casa – e os dois fatores levam à diminuição do tempo dedicado às crianças e, com isso, dos momentos de “formação doméstica”.

A tendência é fazer, inconscientemente, o que Luis Carlos de Menezes chama de enquadramento social: “A ampliação da escolarização no Brasil fez com que crianças e jovens de comunidades antes excluídas entrassem no sistema. equivocadamente, o professor acha que a origem cultural do garoto e da mocinha os impede de aprender. Além disso, como não quer assumir a função de formá-los, ele desiste de ensinar”. Houve consenso entre os debatedores: não é a família que tem de ser responsabilizada pelo insucesso da garotada, mas a escola, que precisa rever sua missão e seu projeto pedagógico para atender a todos, com ou sem problemas socioeconômicos.

Além das transformações sociais, existem as culturais, políticas, econômicas e tecnológicas – que, de maneira geral, a escola não acompanha. Ao longo dos anos, a defasagem do currículo e dos conteúdos, a falta de relação com a realidade e uma série de outros fatores tiveram reflexos na não-

aprendizagem. O professor acredita que sua responsabilidade sobre a Educação é muito grande, mas as notas ruins nos testes de avaliação levam a sociedade a repetir que o ensino vai mal.“Sentindo-se impotente, ele procura causas externas, criando uma situação que o prende: já que não pode mudar a família do aluno, ele acha que não é possível ensinar”, analisa a psicopedagoga Maria Cristina Mantovanini.

Para refletir

Sim, a participação da família é fundamental para que a criança se desenvolva como estudante.Por isso, ela deve ser motivo de preocupação. “Não dá para correr atrás de resultados de ensino sem pensar em reeducar os pais, que não conhecem a proposta pedagógica da escola, o que ela oferece aos filhos e como eles aprendem”, diz Maria Cristina.Reuniões de pais e atividades conjuntas nos fins de semana podem ser planejadas especialmente para promover essa integração.

Uma saída é conscientizar-se de que o novo papel do professor inclui atender o aluno que não vem pronto de casa para adquirir conhecimento. Lino de Macedo acredita que, ao perceber que a sociedade mudou e que agora é preciso fazer isso, sem esquecer de ensinar conteúdos, você se preocupa também em dar o exemplo. Assim, a angústia diminui: “Com menos ressentimento, fica mais fácil aproximar-se, melhorar a relação com o estudante e, em conseqüência, as condições de aprendizagem”.

Em conjunto, redes de ensino, direção e corpo docente deveriam estar preocupados com a definição do currículo. “Ninguém vai se sentir motivado a conhecer algo que não tem relação nenhuma com a vida”

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ressalta Menezes. “É necessário levar para a escola a cultura da comunidade e voltar a prática para a formação total do aluno. O que não dá é ficar esperando que ele saia correndo atrás dos conteúdos para dominá-los.”Outro caminho para diminuir a tal desmotivação é deixar de lado o vício pedagógico de buscar sempre a passividade do educando:

“As crianças são curiosas por natureza e gostam de fazer perguntas, mas elas só aprendem se tiverem espaço para a participação. E isso existe quando há conversa, fala, movimentação e argumentação e não um ambiente de apatia”, ressalta Menezes (leia mais na coluna Pense

Nisso, na página 90). Nunca é demais lembrar que só consegue motivar quem conhece (e utiliza) boas práticas de ensino. Chegamos assim à segunda contradição apontada pela pesquisa:

o professor acha que foi bem formado, mas acaba admitindo não estar preparado para o dia-a-dia em classe nem saber como enfrentar os problemas da sala de aula, como o famoso desinteresse e a não menos decantada indisciplina.

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes

/pdf/0207/capa.pdf

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44..ESCOLA E FAMÍLIA

por Paola Gentile

NOVA ESCOLA ON-LINE - O SITE

DE QUEM EDUCA!

DIRETO DA REDAÇÃO

13/11/2007 - 18:34

A família, culpada?

77% dos professores acreditam que o principal problema de sala de aula é a ausência da família do aluno. Quando vi este dado na pesquisa que NOVA ESCOLA encomendou ao Ibope – e que saiu publicada na edição de novembro – fiquei perturbada como jornalista da área de Educação. Mas me incomodou ainda mais como mãe. Então quer dizer que se meu filho não aprende a culpa é do que acontece – ou não acontece – em casa?

Como repórter, procurei especialistas para me explicar o que o professor estava querendo dizer com isso... Fiquei pensando o que aconteceria se eu fosse até a escola reclamar que meus filhos não comem verdura ou que não me obedecem de jeito nenhum. Fico imaginando a coordenadora pedagógica olhando para mim com cara de interrogação e se controlando para não ser indelicada, mas falando para si mesma: “E o que é que eu tenho com isso?”

Será que as mães dos alunos desses professores também pensam dessa maneira quando ouvem tamanho absurdo da boca dos profissionais da escola? A pesquisa desencadeou reações iradas nos internautas. Até concordo que os pais podem ser responsabilizados pelo fato de a criança não comparecer às aulas (é obrigação deles, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente). Mas uma vez que a criança está lá, a tarefa de fazer com que ela aprenda é do professor. Estou aqui retirando dessa análise os casos extremos, de meninos e meninas que sofrem violência doméstica ou que apresentam algum outro problema que mereça ser encaminhado a outros profissionais. Esses são minoria e não servem de justificativa para que uma classe inteira do Ensino Fundamental termine o ano sem estar alfabetizada ou não sabendo resolver problemas.

Claro que a importância que a família dá aos estudos reflete no desenvolvimento da criança: ter acesso a material escrito em casa, desde pequenos, predispõe os pequenos à alfabetização; pais que estudaram mais tendem a cobrar melhor desempenho dos filhos etc. etc. Mas se nada disso acontece com os alunos de hoje, cabe à escola providenciar as condições propícias para o aprendizado. Porque também está comprovado que qualquer criança pode aprender, independente de classe social, da formação e da configuração familiar e de outros fatores que são sempre colocados como “desculpa”.

Diferentes realidades O aluno brasileiro vive como sabemos: em uma sociedade com diferenças e injustiças sociais, mas isso não significa que ele não tenha direito a uma boa educação e a um professor que pelo menos se empenhe para que ele aprenda. Ao contrário: talvez ele precise mais do que os que vivem em países em que todas as condições favorecem o aprendizado. Como na

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Finlândia, por exemplo. Um estudo do espanhol Javier Melgarejo Draper, diretor do Colégio Claret de Barcelona, mostrou como as realidades são bem diferentes. Ele passou 13 anos estudando o sistema educativo daquele país, apontado em todas as avaliações internacionais como sendo o melhor do mundo.

A conclusão foi de que o sistema social como um todo precisa do apoio de três sub-sistemas: o escolar, o familiar e o de recursos culturais (formado por biblitecas, ludotecas, cinemas etc.). Esses eixos se interrelacionam de tal maneira que o trabalho educativo é feito em cadeia. As estruturas estão sincronizadas e se ajudam mutuamente, não havendo bloqueio entre elas. Quando trata da família, o pesquisador cita, na verdade, os programas sociais que permitem que as mães continuem a exercer suas atividades profissionais (90% das mulheres com filhos em escolas trabalham fora). Lá, tem-se a crença de que a família só deve manter-se na formação tradicional se entre os cônjuges houver afeto, respeito e igualdade de direitos e deveres.

Acontece é que quando o professor é questionado sobre os motivos que levam a família a ser um problema, eles respondem justamente que elas são “desetruturadas”, “ausentes, porque os pais trabalham fora e ‘depositam’ a criança na escola” e que “não se interessam pelo aprendizado do filho”. Ou seja, problemas para uns, desafios para outros.

A questão é: se temos parte da população que não teve acesso à escola, mas que agora tem os filhos na sala de aula – a quem cabe convencer esses pais da importância da educação das crianças? A quem cabe atrair os pais para a escola e fazê-los participantes do processo? Vamos tentar responder levando em consideração a realidade brasileira... É a escola que precisa colocar em seu planejamento a parceria com as famílias e procurar fazer a sua parte, que é ensinar. Esse pode ser o começo de uma engrenagem bem azeitada que poderá fazer os sub-sistemas começarem a trabalhar. Isso, pelo menos, está ao nosso alcance.

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55.. PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001. P.117-127.

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TEXTOS PARA DISCUSSÃO

UNIDADE II

http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 2nn

ENSINAR bem é...criar vínculos, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 167, nov. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0167/aberto/mt_178182.shtml acesso em: 27 out. 2008. ENSINAR bem é...decidir na incerteza, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 163, jun. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0163/aberto/mt_244144.shtml acesso em: 27 out. 2008. FERRARI. M. Ensinar bem é...saber demonstrar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 161, abr. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0161/aberto/mt_244556.shtml acesso em: 27 out. 2008. ENSINAR bem é...saber elogiar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 166, out. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0166/aberto/mt_181679.shtml acesso em: 27 out. 2008. ENSINAR r bem é...saber explicar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 160, mar. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0160/aberto/mt_246439.shtml acesso em: 27 out. 2008. ENSINAR bem é...saber fazer perguntas, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 159, jan. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0159/aberto/mt_242501.shtml acesso em: 27 out. 2008.

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11..

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0167/aberto/mt_178182.shtml

Edição 167 - nov/2003

ENSINAR BEM É...

... CRIAR VÍNCULOS

A aprendizagem melhora quando você se relaciona bem com os estudantes. E isso inclui acreditar que todos eles são capazes

As posturas que você assume em sala de aula interferem no desempenho da turma, embora não se dê a devida importância a fatores afetivos. É por meio do vínculo existente entre você e cada um dos alunos que a aprendizagem acontece. "Se a criança não aprende, o professor deve refletir sobre o ato de ensinar", aconselha Madalena Freire, do Espaço Pedagógico, um centro de formação de educadores de São Paulo.

Além de desenvolver habilidades cognitivas, você deve fazer com que todos se sintam em condições de aprender. "Tudo o que o professor vive em sala está sendo decifrado, inclusive a linguagem não-verbal", diz Madalena. Por isso, considerar o estudante sempre capaz é uma maneira de tornar o processo de aprendizagem mais estimulante. Por outro lado, quem compara as crianças entre si e deposita nelas a obrigatoriedade de sucesso corre o risco de bloquear o vínculo, fazendo com que o interesse pelo conhecimento se perca.

"A afetividade existe quando o professor considera o estudante como único e o leva a construir suas próprias relações com o mundo", diz Ana Rosa Abreu, coordenadora de projetos de formação docente. Mas lembre-se: ser afetivo não é ser bonzinho. Estabelecer um vínculo afetivo é ensinar os alunos a serem curiosos e fazer com que eles encontrem um lugar para as suas idéias, que podem ser diferentes das suas.

Formação e diálogo

Lidar com relações afetivas não é coisa que se aprenda facilmente. A formação continuada e a troca de experiências o ajudam a se sentir mais seguro para trabalhar com as expectativas da classe. "O professor é referência fundamental para o estudante. As estratégias de vínculo entre eles devem ser vistas com cuidado para que sejam construídas ferramentas pedagógicas efetivas", diz Daniel Valdez, professor da Universidade de Buenos Aires.

Mesmo que você tenha menos vontade de olhar para aquele estudante que não aprende, lembre-se de que é exatamente ele que precisa de uma atenção maior. "Está na hora de investir na qualidade do vínculo entre professor e aluno", recomenda Ana Rosa.

O bom relacionamento pede:

aceitar cada estudante como ele é e acreditar no potencial dele;

conhecer os alunos e as necessidades de cada um;

recorrer ao autoconhecimento, questionando sempre a qualidade da aula que acabou de dar e a resposta da turma;

discutir sua postura em classe com outros professores e compartilhar possíveis problemas;

não esperar que o vínculo seja sempre positivo. Esteja ciente de que conflitos existem e que é preciso administrá-los.

Revista Nova Escola 167 ano XVIII

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22..

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes

/0163/aberto/mt_244144.shtml

Edição 163 - jun/2003

Ensinar bem é...

...decidir na incerteza Um acontecimento inesperado dentro ou fora da escola, uma pergunta desconcertante, uma curiosidade... Por mais que você disponha de conhecimento pedagógico e experiência, a dinâmica da sala de aula é impregnada de surpresas. Assim como outros profissionais que lidam com pessoas, o professor tem de decidir certo e rápido, mesmo que não disponha do tempo e do espaço necessários para uma reflexão mais profunda. Hoje isso acontece com freqüência ainda maior por causa da avalanche de informações proporcionada pela tecnologia. Ela provoca mudanças no cenário político, econômico e social, trazendo a incerteza em relação ao futuro para o cotidiano de todos, inclusive de crianças e adolescentes. Diferente do passado No modelo tradicional de ensino, era comum usar o autoritarismo e mecanismos de coerção como a ameaça de notas baixas, de repetência ou de exclusão para manter uma rotina previsível na classe. "O professor era um ensinador", afirma Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. "Hoje nosso papel é o de negociador de diferenças. Para isso, precisamos estar preparados para mudanças

constantes." Diante de situações inusitadas, a primeira atitude a tomar deve ser manter a tranqüilidade. Você tem de estar aberto para ouvir as necessidades (previstas e imprevistas) dos alunos e perceber e interpretar as sutilezas de cada membro da turma. Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, completa que só dá uma resposta adequada à situação quem mantém a calma e reconhece os próprios limites. Sem afobação Dar respostas rápidas não significa decidir com pressa. As reações mais inadequadas diante do inesperado e do incerto são as produzidas pela afobação. "Se as situações educativas se caracterizassem apenas pelos numerosos fatores a serem integrados e pela necessidade de agir rapidamente, a competência do professor seria semelhante à habilidade do malabarista ou do piloto de Fórmula 1", opina o sociólogo suíço Philippe Perrenoud. Como a teoria nunca é suficiente para abranger os desafios do cotidiano dinâmico, o ideal é aprimorar a prática conhecendo os processos que envolvem a tomada de decisão. E lembre-se: seus alunos vão aprender, ao mesmo tempo que você, a decidir e a agir na incerteza.

Na prática

Diante da incerteza, é preciso: aceitar a ambigüidade e a complexidade das relações na sala de aula; reconhecer os fatores que geram mal-entendidos; eleger prioridades; aprender com a experiência e conhecer os próprios limites; estimular os alunos à reflexão; trocar experiências com os outros membros da equipe pedagógica; usar a intuição.

Dica: A melhor forma de adaptar-se às

diversidades é estar aberto ao diálogo e buscar qualificação. É essencial conhecer as teorias pedagógicas e ter formação para a solidariedade e a cidadania.

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http://revistaescola.abril.com.br/edicoes

/0161/aberto/mt_244556.shtml

Edição 161 - abr/2003

Ensinar bem é...

...saber demonstrar Márcio Ferrari

Fazer demonstrações é uma estratégia pedagógica indispensável para certos assuntos, como experimentos nas aulas de Ciências, jogos e práticas esportivas ou na hora de ensinar a dirigir um carro. Para temas e subtemas que envolvem habilidades e processos, a demonstração é a forma mais rápida e eficiente de fazer a turma entender o assunto.

No ensino de Ciências, as demonstrações assumem muitas vezes o papel de verificação prática do que foi visto na teoria. "Servem, nesses casos, para fechar um determinado tema que exige constatação", diz Miguel Castilho Júnior, professor de Biologia da Escola Nova Lourenço Castanho, em São Paulo.

Ao demonstrar, todo professor assume o papel de especialista. Mostra "como" fazer enquanto descreve o processo e reflete sobre ele em voz alta. Ao assumir esse posto, é recomendável adotar o hábito de falar sempre em primeira pessoa, sem cortar a participação dos alunos.

Ao ensinar "como se faz", não deixe de planejar a atividade de forma a preparar o segundo passo, que é levar o aluno a recorrer sozinho às habilidades e aos processos apresentados. Por isso, durante as demonstrações, explicite as decisões, os processos e a progressão das etapas da

atividade, para que tudo fique muito claro aos que estão apenas observando.

Além do "fazer" e do "pensar alto", as demonstrações implicam o uso de outros instrumentos didáticos, como esquemas e outras informações visuais, responder a perguntas durante a própria atividade, alternar movimentos em seqüência com interrupções (para observar se todos estão aprendendo) e reservar um tempo no final da aula para dúvidas e esclarecimentos. "É útil perguntar como cada um explica o que foi observado", sugere Castilho.

Se a objetividade é uma qualidade a ser buscada sempre, mais ainda no caso das demonstrações. Nunca dê explicações vagas e aproveite o momento para explicar princípios e mecanismos subjacentes ao processo que está sendo demonstrado. Compartilhando seu pensamento em voz alta, você convida todos à participação e à compreensão.

Ao planejar uma demonstração, um bom método é identificar a "estrutura" do processo, decompondo as etapas em módulos em um nível adequado ao conhecimento do aluno. É importante que ele tenha a noção mais clara possível dessa estrutura, para poder repeti-la. Embora a prática de demonstrações tenha características rígidas por definição — não há como fugir de um passo-a-passo definido de antemão —, ela não exclui a participação e a criatividade da turma. "O segredo é propor tarefas que representem algum desafio", ensina Castilho. "Senão tudo se restringe a seguir uma receita."

Na prática O aluno aprende mais quando: vê o professor demonstrando e "pensando alto"; tem a oportunidade de fazer perguntas sobre o processo; acompanha as etapas do processo em "câmera lenta"; vê o passo-a-passo esquematizado visualmente; tem tempo para discutir o que foi feito e visto. Por que utilizar esse recurso:

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para mostrar como se faz algo e apresentar novas habilidades; para fazer melhor uso dos seus conhecimentos específicos; para deixar claros para os alunos os princípios e conceitos subjacentes a um processo; para sustentar, com uma atividade dirigida, o aprendizado sobre um determinado tema;

para garantir aos estudantes condições de agir por si mesmos. A boa demonstração exige: "pensar alto" e mostrar "como"; explicitar a estrutura do processo; decompor o processo em etapas; estimular os alunos a fazer perguntas; dar tempo para refletir sobre o processo; permitir que o aluno repita o processo sozinho

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http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0166/aberto/mt_181679.shtml

Edição 166 - out/2003

ENSINAR BEM É...

... saber elogiar

A qualidade do elogio não está nas palavras, mas na maneira como ele é feito. E isso na escola pode ter sérias conseqüências

Em sala de aula, elogios demais ou de menos podem ser igualmente prejudiciais para o estudante. Autora de uma tese sobre o assunto, Telma Vinha, de Campinas (SP), concluiu que esse discurso de admiração pode ser dividido em duas categorias: o valorativo e o descritivo.

O valorativo tem um caráter destrutivo, independentemente de conter uma crítica positiva ou negativa. A frase "Você é muito inteligente" é um exemplo. Nela está contido um juízo de valor. Esse tipo de exaltação, de acordo com Telma, gera dependência. A criança passa a fazer as coisas com o objetivo de receber a aprovação das pessoas e vai perdendo a capacidade de se auto-avaliar. Imagine que um aluno muda uma mesa de lugar. Se em vez de afirmar "Você é muito forte" você disser "Obrigada, eu não conseguiria carregar isso sozinha", o julgamento sobre ser forte ou não fica a cargo dele. O estudante que tem sempre suas ações enaltecidas de forma valorativa

pode ficar com receio de desapontar os outros. "É uma carga muito grande ser inteligente ou bem-comportado durante o tempo todo", considera a pedagoga.

Descrever pontos fortes

Já o elogio descritivo é benéfico e contribui para que o estudante adquira consciência da sua própria evolução. Expressões como "Parabéns. Seu texto está muito bem redigido. Você conseguiu captar bem o tema proposto" podem ser ditas em particular ou de maneira que a classe ouça, pois a turma toda aprende com os erros e acertos de um colega.

"Ser descritivo dá trabalho para o professor", admite Telma. Ela explica que é mais fácil escrever palavras como "lindo" ou "parabéns" do que indicar os pontos fortes presentes em uma atividade. Se a classe for numerosa, você pode fazer essas intervenções em alguns trabalhos apenas, em cada aula. Por meio de um revezamento, ao final de determinado período todas as crianças terão suas lições avaliadas desse modo.

Para quem não está acostumado a atuar assim, Telma dá uma sugestão: "Faça de conta que está descrevendo o texto analisado para alguém que não o leu, ou o desenho ou projeto para alguém que não o viu".

Três razões para elogiar

Por iniciativa: as boas idéias têm de ser valorizadas mesmo que o produto final seja ruim. Em nossas escolas esse tipo de elogio não é comum.

Por esforço: o empenho da criança precisa ser sempre reconhecido, caso contrário ela poderá se sentir desestimulada no futuro.

Por resultado: há alunos que aprendem com mais facilidade que os outros. Fique atento para não valorizar somente os bons resultados, já que todos precisam de elogios.

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http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0160/aberto/mt_246439.shtml

Edição 160 - mar/2003

Ensinar bem é...

...saber explicar

Pesquisas feitas com alunos mostram que saber explicar é a mais importante qualidade de um professor ¿ porque quem faz isso bem torna suas aulas mais interessantes. Essa habilidade não nasce com a gente, mas pode ser desenvolvida e aperfeiçoada.

Fazer associações

Explicar, segundo os dicionários, é dar compreensão a outra pessoa. "Crianças e adolescentes dependem da intermediação de adultos para aprender", diz a pesquisadora e consultora Elvira Souza Lima. "Não há ensino sem explicações." A capacidade de cada aluno de entendê-las relaciona-se com os mesmos mecanismos de quase todo aprendizado, ou seja, a utilização da experiência pessoal ou da associação com informações que ele já tem. Por isso cabe ao educador ajudar os estudantes a vasculhar o próprio conhecimento. "O maior desafio é expressar-se de acordo com os processos de pensamento da turma, em especial se forem crianças", afirma Elvira. Ao planejar uma explicação, é fundamental prever que

conceitos serão expostos à turma e como isso será feito, para obter o máximo de clareza e atingir os objetivos (leia o quadro ao lado).

Você mesmo pode aferir a eficácia de cada método. Elvira Souza Lima indica dois caminhos para isso. O primeiro é a análise do próprio desempenho mediante o registro das aulas, em vídeo ou áudio. O segundo é conversar com os estudantes e escutar o que eles têm a dizer, para ver o que entenderam. Assim você avalia melhor a sintonia que se estabelece entre professor e alunos. Cinco abordagens As explicações podem seguir cinco tipos de abordagem.

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Definição de conceitos. Eles podem ser concretos ou abstratos e familiares (presentes no dia-a-dia) ou técnicos (restritos a especialistas). Os abstratos e técnicos demandam mais explicação, porque estão além da experiência sensorial e imediata. Semelhanças e diferenças. É hora de dar um passo maior. Com essa abordagem, você compara, distingue e/ou classifica as informações em grupos. Para tratar de catolicismo e protestantismo, por exemplo, um quadro comparativo é um bom material de apoio. Causa e efeito. Essa abordagem mostra como um fenômeno leva a outro numa seqüência lógica. É o melhor jeito de explicar acontecimentos como a eclosão de uma guerra ou o surgimento de um movimento artístico. Diagramas facilitam a compreensão. Finalidade. Mostrar "para que serve" um trabalho evoca a experiência dos alunos e os ajuda muito a entender. Um bom exemplo é falar de princípios de saúde e mostrar como eles se aplicam à prática de esportes. Processos. Quando lança mão dessa abordagem, você revela como as coisas funcionam. A ênfase é na seqüência de itens. Por isso, essa é melhor maneira de descrever um lance de um jogo de tênis ou uma coreografia.

O que e como explicar

Recursos para explicações

Divisão em tópicos

Analogias

Esquemas gráficos

Exemplos e antiexemplos

Conexões com experiência do aluno

Humor

Tipos de abordagem

Definição de conceitos

Similaridades e diferenças

Causa e efeito

Finalidade

Processos

Tipos de conceitos

Concreto x Abstrato

Familiar x Técnico

Para avaliar explicações

Análise de gravações das aulas

Entrevistas com os alunos

Duas dicas Uma recomendação: o humor é um bom aliado para tornar as explicações mais acessíveis e interessantes. Conhecer os comentários que vão divertir a turma só depende de você.

Um alerta: abrir espaço para debates durante a apresentação só serve para atrasar o processo e desviar o assunto. Uma vez encerrado um tópico ou um tema, porém, a discussão é bem-vinda.

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http://revistaescola.abril.com.br/edicoes

/0159/aberto/mt_242501.shtml

Edição 159 - jan/2003

Ensinar bem é...

... saber fazer perguntas

O mundo está cada vez menor. Entenda por que e veja um plano de aula para explorar o assunto em classe

Márcio Ferrari

Fazer perguntas aos alunos na sala de aula é a forma mais comum de interação do professor com sua classe e um dos métodos mais usados para aprofundar o conhecimento sobre um determinado assunto. Por meio das questões o professor pode avaliar como a turma acompanha seu raciocínio e, assim, avançar nos conteúdos. "Ensina-se a fazer perguntas sendo um bom perguntador", diz José Sérgio Fonseca de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Ou seja, como todo instrumento pedagógico, essa atividade envolve técnica e repetição e pode ser aperfeiçoada se forem observados alguns métodos.

Novas abordagens Em primeiro lugar, é importante definir quais são os objetivos das perguntas. Ao serem questionados os alunos se vêem frente a frente com o próprio conhecimento, o que deve levá-los a querer aprender mais ou experimentar novas abordagens do tema.

Perguntas podem ajudar o estudante a saltar da informação factual para a análise, a organizar o pensamento e a observar como o professor constrói conhecimento. Justamente por isso, elas devem permitir que os jovens usem as próprias palavras para expressar uma visão particular do assunto em foco. Só assim é possível efetivamente compreender o objeto de estudo — em vez de ficar apenas repetindo o que o professor recitou.

Um alerta Embora fazer perguntas seja um excelente instrumento de aprendizado, é fundamental saber identificar os limites de utilização desse recurso em classe. Há assuntos que se prestam melhor a uma aula expositiva do que a uma discussão aberta e só você, professor, tem como avaliar qual é, no contexto específico de cada turma, o melhor caminho a seguir num determinado momento. Fechadas e abertas Há dois tipos de pergunta. As perguntas fechadas são as que têm só uma resposta certa e são as mais apropriadas para recapitular lições e avaliar até onde vai o domínio do aluno sobre a matéria. As perguntas abertas, que permitem mais de uma resposta correta, são as que estimulam exposições individuais e discussões coletivas. A atividade de perguntar e responder terá rendimento adequado se estiver vinculada aos objetivos didáticos, se for um instrumento que faça avançar o conhecimento durante essa aula e se fornecer aos alunos oportunidades para formular os próprios questionamentos, procurar respostas e estimular os colegas a fazer o mesmo.

Compartilhar objetivos Uma boa maneira de ressaltar a importância das perguntas no aprendizado é expor aos alunos, no início de uma aula, quais são as perguntas que aquela atividade tentará responder. Assim, você compartilha objetivos didáticos, atiça a curiosidade e desperta a atenção da turma — é essencial que todos se sintam livres para apresentar hipóteses e formular questões sobre o tema. Ao fazer perguntas abertas, o professor deve se certificar de que não tem, de antemão, uma única resposta que considere boa. É comum, nas discussões, dirigir os

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argumentos de forma que todos concordem no final. Isso vicia o processo e limita o aproveitamento dos estudantes. É muito mais interessante abrir, de fato, o debate: "Por que você acha isso?", "Fale mais", "Explique melhor". "A chave é criar uma atmosfera para que todos possam perguntar", diz Fonseca de

Carvalho. Um bom método é organizar a classe em duplas e dar um tempo para debater uma resposta antes de formulá-la em voz alta. Regras como as dos programas de televisão — "peça ajuda às outras duplas", "pergunte à classe" — são bem-vindas.

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TEXTOS PARA DISCUSSÃO

UNIDADE III

http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 3nn

FALZETTA, R. É preciso dizer não: Fla mestre! Tania Zagury, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 15, n. 130, p.14, mar. 2000.

JOVER, A. Indisciplina: como lidar com ela? Revista Nova Escola, São Paulo, ano 13, n. 113, p. 34-38, jun. 1998.

LOPES, Á. Disciplina: é mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam a criar. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 20, n. 183, p. 45-49, jun/jul. 2005.

MACEDO, L. Disciplina é um conteúdo como qualquer outro. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 20, n. 183, p. 24-26, jun/jul. 2005.

GENTILE, P. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 17, n.149, p.15-19, nov. 2007. P. 34-35, jan./fev.. 2002.

ROCHA, G. A Escola como ela é: pela ritualização da sala de aula. Julio Groppa Aquino. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 17, n. 149, p.14, jan./fev.. 2002.

ROVANI, A.. Compromisso que garante o sucesso. Revista Nova Escola, São Paulo, ano19, n. 172, p. 48, mar.2004.

TAILLE, Y de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 23, n. 213, p. 26-30, jun/jul.2008.

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. Edição 130 - mar/2000

Fala, mestre! Tania Zagury

É preciso dizer não

Pesquisadora carioca diz que a escola deve mobilizar os pais para a necessidade de impor limites e, assim, auxiliar na educação moral dos filhos

Ricardo Falzetta

Paulo Jares

"Abalados pela crise ética, os pais de hoje não impõem limites às crianças e não ensinam o que

é certo e o que é errado"

Nas últimas décadas, a escola vem assumindo praticamente sozinha um papel que, em princípio, não deveria ser só seu: o de educar seus alunos para a cidadania. Essa carga foi sendo despejada sobre a instituição por uma série de motivos. A sociedade mudou, valores éticosse transformaram e muitos pais ficaram inseguros com relação à

formação dos filhos. Não é o caso de os professores abrirem mão dessa responsabilidade e jogarem a culpa nas famílias, mas a pesquisadora Tania Zagury defende que é preciso encontrar um ponto de equilíbrio. Durante os últimos vinte anos, essa filósofa e mestre em educação estudou as dificuldades na criação dos jovens e encontrou respostas que lhe renderam quatro livros. Suas descobertas podem ajudá-lo a redividir essa árdua tarefa de transmitir preceitos éticos e morais necessários para uma boa convivência social. O segredo, segundo ela, está na reaproximação com os pais. Nesta entrevista, ela indica caminhos para quem quer formar cidadãos produtivos, participativos, críticos e respeitosos. Mas avisa: essa tarefa não é nada fácil.

Nova Escola: Quem tem hoje o papel de educar as crianças para a cidadania? Os pais ou a escola?

Tania Zagury: Essa missão está sobrando muito mais para a escola, apesar de ela não ter condições de arcar sozinha com a responsabilidade. Não que os pais estejam acomodados. Nas últimas décadas, nossa

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sociedade passou por mudanças que se refletiram nas relações familiares.

NE: Que mudanças foram essas?

Tania: Os pais de hoje trabalham mais e passam menos tempo com os filhos. A mãe, que antes ficava em casa e transmitia valores morais, agora trabalha fora e, em 27% dos casos, é arrimo de família. Quando chegam do trabalho, ambos estão cheios de culpa pela ausência e, para minimizar esse sentimento, tornam-se muito permissivos, deixam de estabelecer limites e de ensinar o que é certo e errado. Por trás de tudo isso há uma insegurança grande, em parte fruto da crise ética institucional que estamos vivendo no Brasil. No passado, a família tinha um papel de formação ética do indivíduo. À escola cabia a transmissão da cultura acumulada (tendo o professor no papel de centro de conhecimento) e uma parte da formação de hábitos e atitudes. Reestabelecida a democracia, a volta da liberdade de imprensa permitiu que uma série de escândalos viessem à tona e a população percebeu que a impunidade corria solta. Casos como o de PC Farias, o dos anões do Orçamento e o do ex-deputado Sérgio Naya passaram a deixar no ar uma sensação ruim de que, para se dar bem no Brasil, é preciso ser, no mínimo, "esperto". Senti, nas minhas pesquisas, que essa inversão de valores afetou negativamente as famílias.

NE: De que forma?

Tania: Antigamente, ninguém deixava por menos. Se a criança trazia para casa um lápis ou uma borracha de um colega, não se aceitava, mesmo que fosse apenas um empréstimo. No dia seguinte, tinha de devolver ao dono. No momento em que se vê triunfar a impunidade, os pais não agem mais assim. Como são amorosos e preocupados — e não querem ver seus filhos por baixo —, ficam em dúvida se devem preservar esses valores com um nível de exigência tão alto. Prevalece a idéia de que as pessoas têm de levar vantagem em tudo. Eles temem que o filho perca os instrumentos necessários para se defender

em uma sociedade que privilegia os espertos. Têm a impressão de que ele será o único a agir com ética e sentem medo de que se torne um "bobão". Tornam-se inativos, inseguros. Como conseqüência, acabam transferindo a responsabilidade da educação moral para os professores.

A. Milena/ R. Stuckert/ C. Versiani

"Casos como o de PC, o dos anões do Orçamento e do ex-deputado Naya deixam a idéia de que é

preciso ser esperto para se dar bem"

NE: E como a escola deve agir diante dessa situação?

Tania: Deve revitalizar a confiança da família no seu papel de formadora e trazê-la cada vez mais para dentro da instituição. Quando os pais passaram a se sentir inseguros e culpados por não estar tão próximos dos filhos, a escola tentou ocupar esse espaço. Mas ela não tem condições de fazer bem as duas coisas. Os conteúdos estão mudando muito rapidamente. O professor precisa se reciclar, tem responsabilidades profissionais e não pode arcar com tarefas que são prioritariamente da família. Ao levar os pais a participar de encontros, palestras, reuniões e troca de experiências com outros pais, eles saem fortalecidos e sentem que não estão sozinhos nessa luta.

NE: Mas os pais aceitam participar?

Tania: Muitos sim, mas sempre há os que resistem. Os que delegam toda a responsabilidade aos professores são os que trazem mais problemas. Costumam não aceitar críticas e apóiam os filhos em atitudes indisciplinadas. São os que pedem que não sejam aplicadas provas às segundas-feiras para viajar no fim de

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semana ou sugerem que se enforquem feriados para que seus filhos não corram o risco de perder matéria. Se o pai faz esse tipo de reclamação, a escola se enfraquece e o jovem sem limites se fortalece.

NE: O que fazer para evitar esse enfraquecimento?

Tania: Pais e professores devem agir em conjunto. A própria escola tem de mostrar coesão e transparência e trabalhar em equipe. Se um problema de indisciplina é enviado para uma instância superior e a direção abranda, o professor sai enfraquecido. Ninguém pode tomar atitudes isoladas. Por exemplo, aplicar uma prova mais difícil porque determinado aluno é bagunceiro. O planejamento pedagógico, que deve incluir o programa de avaliação, precisa ser claro e seguido à risca. Essa postura gera confiança. O aluno percebe que a escola é séria, bem definida e passa a respeitá-la.

NE: Por que muitos pais modernos não conseguem dizer não aos filhos?

Tania: Eles têm o que eu chamo de visão excessivamente psicologizada da educação. Preocupam-se demais com a psiqué, com o emocional, se os filhos vão ficar com algum trauma, algum complexo ou com a auto-estima abalada cada vez que eles lhes impõem limites. Muitos tornam-se superprotetores, alegando que o tempo é escasso e que preferem curtir os filhos em vez de ficar fazendo exigências. Mas esse tempo que sobra é precioso para a formação ética dos filhos. Nessas poucas horas é preciso ter postura. É preciso fazer a criança entender que os pais se ausentam porque estão trabalhando. E que trabalham porque querem dar segurança, saúde e educação aos filhos. A criança compreende isso muito bem. Quando juntos, os pais devem dar atenção, carinho, amor e... educação aos filhos.

NE: A senhora afirmaria que os estudantes de hoje estão mais indisciplinados por causa da falta de limites em casa?

Tania: Com certeza eles estão mais indisciplinados, mas não apenas por causa disso. Há três fatores que contribuem para essa situação. Em primeiro lugar, a insegurança dos pais. Criança que não aprendeu a esperar a vez, que bate na porta quando a mãe está no banheiro, que grita para chamar a atenção, chega à escola e repete esse modelo. Em segundo lugar, está um fator que, isoladamente, é positivo. Na sociedade atual, a quantidade de estímulos que a criança recebe a faz mais articulada. Ela argumenta mais cedo e discute sobre mais assuntos. Por fim, mudanças ocorridas nas últimas décadas ajudam a compor esse ambiente. A relação professor/alunos se alterou de forma radical. Na década de 50, a hierarquia era rígida. O mestre tinha poder absoluto, o que é muito ruim. Com o chamado movimento da Escola Nova, no final dos anos 60 e início dos 70, o aluno passou a ter mais participação. O poder do professor diminuiu, o que é positivo. No entanto, nem todos os docentes souberam lidar de forma eficiente com essa democracia em sala de aula.

NE: Como lidar com essa indisciplina? Existem castigos na era moderna?

Tania: A solução começa pela boa formação do professor, que precisa dominar muito bem os conteúdos, ter bom relacionamento com os alunos, muita didática e autoridade com eles, mas ser afetuoso e respeitoso. Dessa forma, ele será querido e respeitado. Por outro lado, a escola tem de ter autonomia para agir pedagogicamente. Pôr para fora da sala ou expulsar o aluno devem ser os últimos recursos, pois são formas de exclusão social que não levam a nada. O importante é fazer o aluno perceber as conseqüências dos seus atos. Se picha uma parede, deve pintá-la. Se quebra uma carteira, deve consertá-la. Essas sanções, porém, necessitam do apoio da família e têm de estar claras para todos os envolvidos, desde o início das aulas.

Marcos Rosa

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"Os pais temem que suas crianças sejam perdedoras. Vi um pai gritar para o filho, num jogo, que derrubasse o colega para não perder

um gol"

NE: O que a senhora acha de pais que estimulam a precocidade dos filhos?

Tania: Isso faz parte de uma sociedade competitiva, com tendência à recessão e cada vez mais globalizada. As pessoas estão com muito medo. Cada vez mais cedo os pais procuram dar estímulos para o filho não ficar para trás. Só que acabam exagerando. Há crianças que até disputam docinhos a tapa nas mesas de aniversários. E, quando acha que o filho não lutou, o pai fica incomodado. Tem medo de que ele seja um derrotado. Começa a incentivar atitudes que normalmente não incentivaria. Certa vez, vi um pai gritar para o filho, num jogo de futebol amistoso, que derrubasse o colega para não perder um gol. O medo é um grande inimigo da educação ética.

NE: Esse estímulo, então, não é saudável?

Tania: Tudo o que é excessivo é ruim. É ótimo que se consiga perceber certas inclinações e habilidades nos filhos. Mas que isso não se torne um motivo de ansiedade para a criança. É muito interessante que um filho goste de jogar xadrez. Mas, se surge um clima de cobrança quando ele perde um campeonato, não é bom. A aprendizagem tem de vir acompanhada do prazer. Do contrário, podemos criar uma população de neuróticos. Bebê já tem de ir para a piscina. Com 5 anos, tem de estar alfabetizado em duas línguas. Depois, faz vestibulinho. Desse jeito, suprimimos a infância, gerando pessoas estressadas, competitivas e ansiosas.

NE: Essa precocidade gera situações por vezes constrangedoras — perguntas que desconcertam qualquer adulto. Como pais e professores devem agir nessas situações?

Tania: A orientação que costumo dar é que a verdade deve ser sempre a resposta. É evidente que, de acordo com a idade, os pais precisam dosar a profundidade do que estão falando. Não convém aprofundar mais do que foi perguntado, respondendo sempre de forma objetiva e concreta. Se não se der por satisfeita, a criança continuará perguntando até que se sinta atendida. É muito chato quando uma simples pergunta se transforma numa aula de Biologia. Também a mentira ou as meias-verdades são percebidas pela criança. Agindo assim, pais e professores perdem a credibilidade.

NE: A senhora tem filhos?

Tania: Sim. Dois, já entrando na idade adulta.

NE: Como agiu com eles?

Tania: O que escrevo nos livros é exatamente o que fiz, toda a vida, em minha casa, com meus filhos. Eu e meu marido colocamos limites desde o começo. Limites coerentes, no momento certo e bem dosados, é claro. Sempre exercitamos esse equilíbrio entre a liberdade e a responsabilidade e também nossa autoridade como pais. Não pense que foi fácil, mas vale a pena quando, depois de alguns anos, seu filho vira uma pessoa produtiva, ética e respeitosa.

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Comportamento

Indisciplina: como lidar com ela? Por Ana Jover

Não pense que o problema é só seu. Escolas de todos os níveis sociais, no mundo inteiro, têm de enfrentar a questão da disciplina, sem recorrer a castigos e mantendo sempre vivo o interesse do aluno. Veja alguns modos de tornar isso possível

O que fazer diante de uma classe repleta de baderneiros? Como botar ordem no caos? De quem é a culpa?

Com certeza você já se deparou ao menos uma vez com essas perguntas. Realmente, conquistar a disciplina em sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino nos dias de hoje, tanto nas instituições públicas como privadas, e merece uma séria reflexão.

Não trataremos aqui de atos de vandalismo contra escolas, nem de desajustes decorrentes do uso de drogas – por sua própria relevância e abrangência, tais temas merecem um artigo à parte.

Vamos pensar no que acontece dentro da classe, quando o professor tenta desenvolver o conteúdo de sua disciplina para crianças ou adolescentes desinteressados, apáticos, bagunceiros, isto é, indisciplinados. Talvez alguns professores saudosistas (e até mesmo os progressistas), numa situação de desespero, sonhem em punir severamente, "à antiga", os baderneiros: expulsar da sala, tirar pontos da nota, ganhar "no berro", enfim, reprimir severa e exemplarmente os "maus elementos". Era desse jeito que a antiga escola procedia. Mas o seu modelo era apropriado a um quartel, onde

prevalece a hierarquia. Tanto nas famílias como no ensino, a disciplina era obtida à custa de medo, subserviência e coação.

Ora, se o ensino é um direito da criança e do adolescente e um dever do Estado, no intuito de promover pessoas livres, autônomas, capazes de exercer plenamente a cidadania, não nos interessa criar um exército amedrontado de pseudo-cidadãos, quer dizer, gente que vai para uma guerra desconhecida.

Vamos pensar juntos. Qualquer exército forma tropas para combater em algum tipo de guerra. Se você, educador, seguir a mesma orienta-ção dada às tropas, fica a pergunta: quem é o inimigo? Resumindo, queremos formar gente autônoma, emancipada, livre e consciente, ca-paz de fazer suas próprias escolhas.

Para começar, vamos adotar o conceito atual de disciplina, que vem a ser o reconhecimento da atividade em grupo, harmonicamente supervisionada por uma autoridade externa (no caso, o professor). Esse reconhecimento pressupõe, da parte do aluno, valores éticos anteriores à escolarização: entendimento de regras comuns, partilha de responsabilidades, cooperação, reciprocidade, solidariedade etc. E, acima de tudo, reconhecimento dos direitos do outro, sem o que fica impossível a convivência em grupo.

Fácil? Não, dificílimo, porque tais noções vêm da família (existem, mas são raríssimos, os alunos que as desenvolvem por conta pró-pria). E nem toda família tem con-dições de fornecer tais valores. Nessa hora, a convivência, a troca de idéias – caso a caso, aluno por aluno – é premente. As próprias famílias, aliás, costumam ser mais permeáveis do que a gente pensa: de um modo geral, aceitam as noções vindas da escola e tentam à sua maneira colocá-las em prática.

Agora, quando a família está indisponível ao educador, o professor tem de assumir esse papel.

Por uma nova disciplina

Em primeiro lugar, é preciso abandonar os clichês do tipo "o adolescente é rebelde e revoltado pela própria natureza", "as crianças são naturalmente egocentradas e indisciplinadas".

Ninguém nasce rebelde ou disciplinado: trata-se de um comportamento construído. Se antigamente disciplina equivalia ao silêncio ab-soluto, a disciplina desejada hoje é a do interesse e da participação. É importante que o aluno fale, dê sua opinião, de modo que possamos acompanhar suas descobertas e sua

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aprendizagem. Aqui, a sua atuação é decisiva, pois uma coisa é verdade: com exceção de casos patológicos, crianças e adolescentes são muito curiosos. Eles adoram aprender, desde que o conhecimento não lhes pareça impingido e, sobretudo, quando seu interesse e participação são estimulados.

Mas eles também gostam de ser respeitados: valorizam a sinceridade, o jogo aberto de um professor.

Com todo o prazer

Satisfazer uma curiosidade (no caso, despertada pelo professor em classe) e, a partir disso, construir um novo saber, é uma experiência extremamente recompensadora. Ou seja, é trabalho e prazer ao mesmo tempo.

Mas o fato de que o trabalho es-colar se constitua em prazer não significa que ele se transformou em lazer. Esse tipo de confusão é co-mum e acaba acarretando inúmeros problemas, sobretudo de disciplina.

Daí a importância de se fazer uma negociação permanente. Como nem todo assunto vai interessar a todo mundo todos os dias, convém fazer um acordo, uma espécie de "contrato social" com a classe, estabelecendo as regras do jogo. Todos participarão da feitura das regras, mas, uma vez acatadas pela maioria, a turma se obriga a cumpri-las. Caso uma ou várias regras, com o tempo, não funcionem mais, pára-se tudo e discute-se com os alunos a criação de novas regras.

Para ficar mais prático, divida a classe em grupos, cada qual destinado a estudar determinado conjunto de regras e apresentar propostas, que depois serão votadas por todos.

Essa postura não pode passar a imagem do professor "bonzinho" (que sequer é respeitado pelos alunos), mas sim a do professor interessado na classe como um todo e em cada um de seus membros. Aqui também é fundamental dizer a verdade. Existe, sim, uma liberdade na organização da classe, mas ela se destina ao aprendizado. E, para que ele aconteça, é necessária a presença de uma autoridade representada pelo professor. Em outras palavras, o professor não é o "dono" do saber, mas aquela pessoa que orienta a classe para que ela construa seu jeito de aprender, cada vez mais e melhor.

Pouco a pouco, a turma vai percebendo a legitimidade dessa autoridade. Mas vai percebendo na prática, através daquilo que viveu e não porque alguém disse que é assim e pronto. Essa é a nova disciplina. Um imenso desafio e um enorme prazer para alunos e professores.

Bibliografia:

Indisciplina na Escola; alternativas teóricas e práticas, org. por Julio Groppa Aquino (Summus Editorial);

Confrontos na Sala de Aula, de Julio Groppa Aquino (Summus Editorial);

Disciplina, Limite na Medida Certa, de Içami Tiba (Editora Gente);

Desnudando a Escola, de Luiza Laforgia Gavaldon (Pioneira Educ.)

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Edição 183 - jun/2005

Reportagem de capa

Disciplina É mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam a criar

Algazarra em classe, brigas, xingamentos, depredação e até agressões a professores não acabam com gritos ou ameaças. O fim da indisciplina acontece quando crianças e adolescentes são ouvidos, conhecem o objetivo de cada atividade e negociam a melhor maneira de atingi-los

Áurea Lopes

Quando a bagunça é muita, mesmo que a gente queira prestar atenção não consegue." A queixa de Larissa Daiana de Oliveira Abreu, 13 anos, aluna da 8ª série da Escola Estadual Parque Piratininga II, em Itaquaquecetuba, na grande São Paulo, dá uma amostra do problema que interfere na aprendizagem e, claro, está entre as maiores preocupações dos professores. Manter a disciplina é, sem dúvida, uma arte que poucos mestres dominam. O autoritarismo, os gritos e o bom e velho "já para a diretoria" não funcionam mais. A melhor saída para manter a ordem é a negociação de objetivos e regras com os estudantes, que vão aos poucos aprendendo a ter disciplina. Sim, você pode ensinar esse conteúdo como qualquer outro! Mas o que é disciplina de fato? O conceito varia de acordo com a situação, com o tipo de aula a ser dado e até mesmo com o perfil do professor.

"Um aluno que levanta de sua cadeira para falar com o colega pode ser considerado indisciplinado ou não, depende do professor", explica Cândida Maria Daltro Alves, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz, na

Bahia. Ela avaliou durante dois meses o comportamento de oito professores de 5ª série em duas escolas, uma pública e uma particular da cidade de Piracicaba, em São Paulo. Durante o trabalho parte de sua dissertação de mestrado , Cândida constatou que nem todos diferenciam o estudante indisciplinado do que está enfrentando alguma dificuldade dentro ou fora da escola. "É preciso conhecer a criança. Algumas não conseguem, por exemplo, ficar caladas por muito tempo."

Cândida associa a disciplina a três pontos: metodologia, conteúdo e relações interpessoais. "Não há quem fique atento a uma aula que não motiva", assegura. Até o conteúdo mais interessante fica difícil de ser assimilado se não há empatia com o professor. Entre os educadores acompanhados no estudo, apenas dois não enfrentavam problemas de disciplina em classe exatamente os que tinham melhor desempenho nos três aspectos identificados pela pesquisadora.

Parte da dificuldade do professor em lidar com a questão está em sua formação. O psicólogo Lino de Macedo, docente da Universidade de São Paulo (leia entrevista na pág. 24), afirma

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que uma das características importantes do professor para conseguir disciplina é a equanimidade. "Ele precisa respeitar as diferenças, mas tratar todos de um modo justo." Além disso, ele deve dar o exemplo, cumprindo o que promete.

Um ambiente caótico se torna acolhedor quando os alunos ajudam a criar regras

Quem leciona em escolas onde o problema de indisciplina é grave (algazarra em classe, agressões físicas, xingamentos e depredações) pode pensar que atitudes repressivas sejam a solução. Mas as medidas capazes de fazer os alunos mudarem o modo de agir e de pensar têm outra natureza: a participação da comunidade escolar. Trabalhando dessa maneira, a Escola Estadual Parque Piratininga II pôs fim ao caos no prédio que abrigava mais de 2 mil alunos.

Os estudantes pichavam a escola, agrediam os colegas e ofendiam os professores. E o pior: os alunos não eram os únicos vilões da história. "Eu via professores gritando com adolescentes, e funcionários batendo boca com pais na recepção", conta a diretora Fátima Zen Casarini. Em 1998, Fátima pediu a professores e alunos que fizessem propostas para acabar com os problemas cotidianos. Surgiu o Código Interno Disciplinar. Os alunos listaram as infrações, divididas em muito graves, graves, médias e leves. E definiram as sanções: perda de pontos (com 20 pontos, os pais do aluno seriam chamados) e multas pagas com papel higiênico ou sabonete para uso coletivo.

Os objetivos do código da Piratininga II, afixado nas paredes da escola, eram, entre outros: evitar chamar os pais constantemente; fazer com que os alunos refletissem sobre suas ações; e tornar o ambiente escolar agradável. Sete anos depois, o código caiu em desuso. "Antes as salas de aula precisavam ser limpas com vassoura grande, tamanha era a quantidade de lixo. Hoje faz parte da rotina dos alunos conservar o ambiente arrumado", lembra Fátima. As regras de

convivência foram incorporadas. "Se um aluno novo gritar palavrões, os colegas dizem a ele para não fazer isso", diz Fátima.

A participação da garotada na gestão da escola é constante. Todos têm acesso à caixa de avaliação, em que depositam bilhetinhos com elogios, críticas e sugestões. De acordo com Fátima, os recados são recolhidos diariamente e mostrados aos professores e funcionários. A diretora admite que todo esse trabalho não significou o fim dos conflitos. "Eles existem e são saudáveis; as agressões é que devem ser contidas."

Se os estudantes agridem colegas e professores, o ensino precisa mudar

Diferentemente do que muitos acreditam, as causas da indisciplina não estão apenas no estudante e na educação que ele traz de casa. "Ao achar que as soluções para o problema estão fora do seu alcance, a escola nega a responsabilidade que lhe cabe. Disciplina tem tanto a ver com a família quanto com a escola", diz Telma Vinha, integrante do Laboratório de Psicologia Genética da Universidade Estadual de Campinas. A equipe da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Nava, em São Paulo, resolveu assumir efetivamente essa responsabilidade seis anos atrás. Ocorrências graves eram registradas lá: alunos atiravam carteiras escada abaixo, professores eram obrigados a se trancar no almoxarifado para não ser agredidos fisicamente por alunos e chegaram a ser assaltados por estudantes a poucos metros da escola.

Um dia, a diretoria, os professores e os coordenadores se reuniram para pensar em uma educação mais interessante para os alunos, moradores de um bairro pobre da cidade. "Os jovens tinham que parar de odiar escola", diz a diretora Fujiko Satomi Takahashi. Assim, começaram a ser implantados projetos extracurriculares com participação voluntária. "O primeiro foi a cozinha experimental, criada quando a direção ficou sabendo que os alunos vendiam o leite da merenda ou trocavam

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por drogas", lembra a coordenadora pedagógica

Maria Lúcia B. Nogueira de Sá. Depois vieram o grupo de teatro, as aulas de xadrez, a horta comunitária, o programa de orientação sexual, o jornal dos alunos e a rádio.

A violência externa ainda afeta os jovens, mas eles se portam melhor em classe, e as pichações, as depredações e os roubos não acontecem mais. "No passado, a gente nem podia conversar com os estudantes. Hoje, eles respeitam mais a escola e os professores", lembra Tereza Guimarães da Silva que leciona Inglês. Tudo isso graças às mudanças na vida acadêmica e na postura da equipe escolar. Durante as aulas, os professores procuraram formas de cativar os alunos, com trabalhos interdisciplinares, por exemplo, que passaram a dar mais sentido ao que era estudado.

Especialmente querido entre os alunos, o professor de História Edson Alberto Giacom conta que mesmo nas aulas tradicionais e explanativas, comuns em sua disciplina, ele não enfrenta problemas de disciplina. "Encanto os alunos com o conhecimento. Procuro fazer com que fiquem vidrados no que eu falo". Giacom atribui seu bom relacionamento com os alunos a uma postura equilibrada: "Tenho um vínculo afetivo com a classe, uma relação de amizade. Mas não esqueço que sou um adulto me relacionando com crianças que necessitam de uma autoridade dentro da sala". Giacom dá a receita de sucesso de suas aulas. "Só aprendi a dar aula depois que comecei a fazer contratos com os alunos."

As crianças aprendem desde cedo a se organizar para chegar à autodisciplina

Escolas particulares, que não enfrentam problemas de disciplina graves, como os que ocorriam na Piratininga II e na Pedro Nava, adotam com sucesso a negociação de regras com os alunos. De acordo com Stella Galli Mercadante, diretora do Ensino Fundamental da Escola Vera Cruz, em São Paulo, quando o professor compartilha

com a turma seus objetivos para uma aula ou um projeto, por exemplo, ele não precisa correr atrás dos alunos para que a meta seja cumprida. "O objetivo tem que ser de todos, e não do professor. Esse é o pulo-do-gato." Investir na autonomia como geradora da autodisciplina traz excelentes resultados. "Temos um trabalho com representantes de classe, eleitos pelos próprios alunos. Eles se reúnem periodicamente para discutir desde questões práticas do dia-a-dia, como a ocupação do espaço coletivo, até para refletir sobre o que é democracia e cidadania", conta Elisa Vieira, coordenadora do Ensino Fundamental I.

Em cada sala de aula, a participação dos alunos nas decisões é constante. Dessa maneira, o estudante entende que, se realiza um trabalho individual, o melhor é estar em sua carteira, sozinho, para poder refletir. Já para que uma atividade de grupo seja produtiva, a escolha dos integrantes da equipe é fundamental. A dinâmica é útil, inclusive, na preparação de estudos do meio. A professora Teruco Hayashida, encarregada de organizar as viagens das 7ª séries, estimula a turma a listar as características necessárias a cada integrante para um bom trabalho e uma boa convivência no grupo. Com essa estratégia, a professora tem o que comemorar: "Diminuíram muito as horas de viagem dedicadas a administrar conflitos".

Ao dar aos alunos a chance de participar da elaboração de regras, a escola põe fim ao conceito de disciplina como um mecanismo de repressão ou controle, na avaliação de Telma Vinha. Ela ressalta que, muitas vezes, em nome da disciplina, o aluno fica à mercê de normas autoritárias, como "falar só quando questionado" e "não fazer outra coisa senão o que o professor mandou". Essa é, para Telma, uma educação para a obediência, que ela chama de "escola para a passividade". "Nesse modelo entram as filas, as cabeças atrás de cabeças, o tempo limitado para cada atividade, os conteúdos estagnados, as provas homogêneas", exemplifica.

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Com isso, em vez de autonomia, a criança desenvolve dependência. "É como lembrar a todo momento que o aluno não tem capacidade de decidir por si e enquadrá-lo em um espaço em que todos se comportem da mesma maneira. Como se isso fosse possível." Por essa lógica, quem não obedece é tratado à base de castigos e ameaças que, segundo Telma, só fazem

algum efeito com crianças que temem a autoridade: "As outras não se intimidam. E, quanto mais gritos e repressão dos professores, mais se satisfazem internamente".

Mesmo numa escola democrática, os limites são essenciais para a disciplina

Embora encarada de forma flexível nas escolas mais democráticas, a disciplina ainda inclui um componente essencial: o respeito aos limites. "O aluno indisciplinado não é mais aquele que conversa ou se movimenta na sala. É o que não tem limites, não respeita os sentimentos alheios, tem dificuldade em se autogovernar", esclarece Telma. São essas as características que devem ser trabalhadas. "Em vez de um pré-requisito, a disciplina se torna um dos objetivos a ser construídos pela escola", explica. "E desde os primeiros anos", completa Sílvia Helena Passos Vieira, professora da 1ª série do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo.

Com as crianças menores, essa construção deve ser permanente. Todos os dias, as regras e os combinados são lembrados e apresentados aos pequenos. "O professor precisa perceber quando um bate-boca vai se tornar uma briga, interceder quando alguém pega o material do amigo, conversar sem pressa com o agredido e com o agressor para estimular a reflexão sobre o ato e o pedido de desculpas voluntário", diz Sílvia. Na Educação Infantil, se necessário, a professora pára de dar aula para conversar com o aluno enquanto a assistente cuida da classe, que não se dispersa fazendo bagunça.

Os mais velhos exigem igualmente um trabalho pontual. Responsável pela coordenação pedagógica de 5ª série ao 3º ano do Ensino Médio, Marina Escobar de Kinjo, do Nossa Senhora Aparecida, acredita que deve-se aproveitar cada conflito para discutir os valores e a vida em comunidade. "Quando um aluno deixa tocar o celular na aula ou senta como se estivesse no sofá de casa, é preciso mostrar que ele não tem o direito de converter o espaço público em espaço privado."

No cotidiano do colégio, uma medida eficaz para cultivar a disciplina durante a aula e acabar com os conflitos entre professor e aluno são os contratos didáticos. Trimestralmente, os professores estabelecem roteiros de estudos que discutem com a turma. O aluno sabe tudo o que será abordado: as aulas teóricas e práticas programadas, se haverá atividades externas e como será feita a avaliação, entre outros detalhes. "O contrato, como diz o nome, é um combinado. O aluno não fica ansioso, pois sabe o que vai acontecer com ele. O espaço de diálogo com o professor é garantido", argumenta Marina. A mesma metodologia é utilizada em classe. Assim que entra na sala, a professora de Língua Portuguesa Márcia Carvalho Rufino, por exemplo, coloca na lousa tudo o que será feito. Assim, os alunos vão se organizando com calma.

Aprender a resolver problemas por meio do diálogo, no entanto, não se dá de uma hora para outra. Telma Vinha lembra que "a criança aprende gradualmente, como resultado da reflexão contínua, da troca de pontos de vista e da coerência nos procedimentos empregados". Por isso, a primeira lição para os professores interessados em "ensinar" disciplina é: se trabalhado com dedicação, o aluno que não tem disciplina pode perfeitamente aprender a ter.

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O que fazer em classe na hora na bagunça Nem todas as escolas têm um projeto que contemple a questão da disciplina. Por isso, às vezes, os professores enfrentam esse desafio sozinhos. Aqui, algumas sugestões para amenizar o problema. Não grite. Se o barulho se sobrepõe à sua voz, espere em silêncio: a turma vai perceber que isso está prejudicando a aula. Recorra aos contratos. Se as regras coletivas são claras e todos estiverem de acordo, fica mais fácil chamar a atenção quando ocorre uma transgressão.

Seja coerente com o que pede aos alunos. Não adianta cobrar pontualidade se você chega atrasado.

Não considere a indisciplina um ataque pessoal. Não aceite provocações para não reforçar comportamentos indesejados. Seja enérgico quando necessário sem perder o afeto. Faltas graves merecem atitudes firmes. O diálogo e a reflexão não eliminam a sanção prevista. Não desanime. A assimilação da disciplina é um processo gradativo e exige investimento. Você terá que repetir o discurso para o mesmo aluno várias vezes.

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Edição 183 - jun/2005

Fala, mestre!

LINO DE MACEDO

"Disciplina é um conteúdo como qualquer outro"

Para o psicólogo especializado em Piaget, o comportamento dos alunos em sala de aula é algo que precisa ser ensinado e varia de acordo com a atividade

Ao longo da carreira, Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, se especializou no construtivismo do suíço Jean Piaget (1896-1980), na psicologia aplicada à educação e nos jogos infantis ele coordena um laboratório de pesquisas e elaboração de atividades relacionadas às brincadeiras e voltadas para a escola. Um assunto que ocupa particularmente sua atenção são os estágios de desenvolvimento da criança e a importância de o professor conhecer o que acontece em cada fase do crescimento. Com essa vivência, ele encara um dos temas que mais preocupam os educadores: a disciplina. Segundo o psicólogo, disciplina na escola não é questão de boa conduta nem de formação trazida de casa. "Disciplina se aprende e é do interesse de todo mundo, porque facilita a relação da gente com as coisas." O que o professor pode fazer para que a turma se comporte como deve? O exemplo é um dos caminhos. "Fala-se muito que as crianças de hoje não têm limites. Mas nós, adultos, também não temos." Macedo acaba de lançar uma nova coletânea de

textos, Ensaios Pedagógicos, que tem como subtítulo a pergunta Como Construir uma Escola para Todos? Um dos capítulos trata especificamente de disciplina, tema discutido na entrevista a seguir, concedida a ESCOLA, em São Paulo.

É possível ensinar disciplina? Sim. Disciplina é uma competência escolar que as crianças aprendem como qualquer conteúdo. Condição para realizar um trabalho com êxito, é uma matéria interdisciplinar, porque dela dependem todas as outras. A disciplina vem de casa? Para alguns educadores, sim. Quem considera a disciplina uma coisa que se tem ou não se tem possui uma visão moralizante que transforma uma competência numa questão de valor. Para eles, a disciplina depende da força de vontade do aluno ou da determinação dos pais. Essa visão atribui culpa em caso de indisciplina. De fato, na escola exclusiva, anterior à atual, selecionavam-se os alunos e ficavam de fora aqueles que não se ajustavam ao comportamento desejado. Nesse caso, disciplina era mesmo um pré-requisito para a escola. Hoje, comportadas ou não, todas as crianças têm direito a estudar.

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Qual o principal erro da escola em relação à disciplina? É pensar que existe um único tipo de disciplina e que ela só pode ser imposta. Minha idéia é que disciplina é um trabalho de todos em sala de aula. Constrói-se a melhor forma de acordo com a necessidade. Numa aula tradicional, expositiva, enquanto o professor fala ou escreve no quadro-negro, os alunos devem ficar quietos, prestar atenção e copiar. Acontece que hoje temos muitas propostas pedagógicas. Cada cultura escolar e cada atividade em sala de aula têm uma disciplina adequada a seu desenvolvimento. Dependendo da situação, a melhor pode ser o silêncio, as crianças perguntando ou conversando entre si. É possível ensinar disciplina pelo exemplo? Sim. Um erro comum é achar que a falta de disciplina é sempre do outro. Fala-se muito que as crianças de hoje não têm limites. É verdade. Mas nós, adultos, também não temos. Em uma sociedade como a nossa, um dia se almoça de manhã, outro dia de tarde, outro dia enquanto se fala ao celular. Nós é que não temos rotinas para organizar a vida das crianças. Entendemos os motivos da nossa "indisciplina" porque sabemos que para muitas pessoas a regularidade se tornou impossível. Mas, se nós não somos disciplinados, por que esperamos um comportamento regular das crianças, como se fosse uma coisa natural, espontânea, quase herdada? Podemos conquistar o aluno para um projeto de disciplina conseguindo a admiração dele. Em sua origem, a palavra disciplina tem a ver com discípulo. Discípulo é uma pessoa que tem alguém como modelo e se entrega pelo valor que atribui a essa pessoa. Com o tempo, perdeu-se o elemento de referência que havia antigamente. Isso tem de ser novamente conquistado, pouco a pouco, pelos dois lados. A disciplina que se aprende na escola serve para a vida toda?

A gente tem de pensar a disciplina ao mesmo tempo como fim e como meio. É um fim porque podemos desenvolver atitudes como concentração, responsabilidade, interesse. Essas coisas viram ferramentas pessoais e de trabalho. Disciplina é também um meio, um instrumento sem o qual as coisas não acontecem ou acontecem fora do prazo ou dos padrões. A disciplina ajuda a desenvolver a autonomia? Disciplina é, cada vez mais, autodisciplina. Um exemplo é a lição de casa. Hoje em dia a maioria das famílias não tem um adulto com tempo disponível para fiscalizar o dever. A própria criança aprende a administrar essa tarefa e, se necessário, ela pede socorro. A autonomia é uma conquista, um aprendizado complexo e longo pelo qual as crianças desenvolvem a disciplina para dar conta de suas tarefas. O que é ser uma pessoa disciplinada? Ser disciplinado significa ter um comportamento subordinado a regras. Mas o que é regra? Algo que se constrói por consentimento. É como em um jogo. As regras são arbitrárias, mas a criança aceita porque gosta de jogar. Sem regra, não há jogo. Para definir regras, usamos o recurso da democracia. A classe toda discute, sob a condição de que todos aceitem o que a maioria decidir. O problema é que a minoria pode se recusar a cumprir. Deve-se combinar previamente que a não observação das regras implicará punições ou perdas. Um dos motivos que nos levam a aderir à disciplina são as conseqüências de não nos entregarmos a ela. Convencer é diferente de impor. Todas as obrigações devem ser submetidas a discussão? Não. Por exemplo: muitos pais perguntam aos filhos se eles querem comer. Eu não acho que seja uma boa pergunta. Porque, se o filho disser

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que não quer comer, como fica? A melhor pergunta é o que ele quer comer, dando opções. Dar autonomia não significa abrir mão do seu papel de líder e de responsável por certas coisas. Se você submeter tudo à opinião da maioria das crianças, a curto prazo elas vão decidir pelo pior. Primeiro, tenta-se convencer. O último recurso é impor. É errado tentar tratar como homogêneo algo desigual como a relação adulto e criança ou a relação professor e aluno. As crianças conseguem entender a importância da disciplina? Em 1930 Piaget escreveu um livro importante, O Julgamento Moral da Criança, e mostrou que mesmo as bem pequenas já têm valores como o gosto pelas regras, pela disciplina, pelo fazer bem-feito e por se entregar a uma tarefa coletiva. Só que o adulto não percebe. Piaget provou que é possível ver isso usando o exemplo das brincadeiras. A própria garotada se auto-regula e se submete a regras coletivas. Piaget analisou como o respeito entre iguais promove o desenvolvimento da criança. Muitos pais e professores sabem compartilhar com ela a necessidade de uma regra de forma que a criança até reclama, mas aceita, entendendo que é o melhor. Como ensinar a disciplina na pré-escola? Para alunos da Educação Infantil, digamos de 2 a 6 anos, a brincadeira, a fantasia, as histórias são ótimas estratégias. A argumentação científica não funciona com os pequenos. O recurso lúdico soa sincero para a criança, porque é uma espécie de dramatização do assunto, uma elaboração simbólica da questão. Nessa idade, outro recurso possível é simplesmente, com habilidade, dar uma ordem e pedir que ela seja cumprida. Nesse caso, é preciso deixar claro para a criança que há uma diferença entre ela e o adulto. Ela sabe disso e até se sente aliviada.

Como ensinar a disciplina no Ensino Fundamental? A idade dos 7 aos 11 anos é interessante para trabalhar disciplina como uma boa regra ou uma regra sem a qual certas coisas não se desenvolvem bem. O convencimento se dá de forma empírica, com exemplos, discussão, não mais como faz-de-conta. Uma coisa é o imaginário, outra é a própria negociação da regra. O problema do convencimento no seu sentido adulto é que ele supõe um pensamento hipotético-dedutivo ("se você não fizer isso, acontece aquilo"). Mas crianças com menos de 12 anos não entendem esse pensamento. É preciso trabalhar com elas a própria construção das regras mais adequadas para uma determinada tarefa que se espera que realizem. Se necessário, ela pede socorro. A autonomia é uma conquista, um aprendizado complexo e longo pelo qual as crianças desenvolvem a disciplina para dar conta de suas tarefas. O que é ser uma pessoa disciplinada? Ser disciplinado significa ter um comportamento subordinado a regras. Mas o que é regra? Algo que se constrói por consentimento. É como em um jogo. As regras são arbitrárias, mas a criança aceita porque gosta de jogar. Sem regra, não há jogo. Para definir regras, usamos o recurso da democracia. A classe toda discute, sob a condição de que todos aceitem o que a maioria decidir. O problema é que a minoria pode se recusar a cumprir. Deve-se combinar previamente que a não observação das regras implicará punições ou perdas. Um dos motivos que nos levam a aderir à disciplina são as conseqüências de não nos entregarmos a ela. Convencer é diferente de impor. Todas as obrigações devem ser submetidas a discussão? Não. Por exemplo: muitos pais perguntam aos filhos se eles querem comer. Eu não acho que seja uma boa pergunta. Porque, se o filho disser que não quer comer, como fica? A melhor pergunta é o que ele quer comer, dando opções. Dar autonomia não significa abrir mão do seu papel de líder e de responsável por certas coisas. Se você

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submeter tudo à opinião da maioria das crianças, a curto prazo elas vão decidir pelo pior. Primeiro, tenta-se convencer. O último recurso é impor. É errado tentar tratar como homogêneo algo desigual como a relação adulto e criança ou a relação professor e aluno. As crianças conseguem entender a importância da disciplina? Em 1930 Piaget escreveu um livro importante, O Julgamento Moral da Criança, e mostrou que mesmo as bem pequenas já têm valores como o gosto pelas regras, pela disciplina, pelo fazer bem-feito e por se entregar a uma tarefa coletiva. Só que o adulto não percebe. Piaget provou que é possível ver isso usando o exemplo das brincadeiras. A própria garotada se auto-regula e se submete a regras coletivas. Piaget analisou como o respeito entre iguais promove o desenvolvimento da criança. Muitos pais e professores sabem compartilhar com ela a necessidade de uma regra de forma que a criança até reclama, mas aceita, entendendo que é o melhor. Como ensinar a disciplina na pré-escola? Para alunos da Educação Infantil, digamos de 2 a 6 anos, a brincadeira, a fantasia, as histórias são ótimas estratégias. A argumentação científica não funciona com os pequenos. O recurso lúdico soa sincero para a criança, porque é uma espécie de dramatização do assunto, uma elaboração simbólica da questão. Nessa idade, outro recurso possível é simplesmente, com habilidade, dar uma ordem e pedir que ela seja cumprida. Nesse caso, é preciso deixar claro para a criança que há uma diferença

entre ela e o adulto. Ela sabe disso e até se sente aliviada. Como ensinar a disciplina no Ensino Fundamental? A idade dos 7 aos 11 anos é interessante para trabalhar disciplina como uma boa regra ou uma regra sem a qual certas coisas não se desenvolvem bem. O convencimento se dá de forma empírica, com exemplos, discussão, não mais como faz-de-conta. Uma coisa é o imaginário, outra é a própria negociação da regra. O problema do convencimento no seu sentido adulto é que ele supõe um pensamento hipotético-dedutivo ("se você não fizer isso, acontece aquilo"). Mas crianças com menos de 12 anos não entendem esse pensamento. É preciso trabalhar com elas a própria construção das regras mais adequadas para uma determinada tarefa que se espera que realizem.

A disciplina e a ordem podem prejudicar a criatividade? Rigidez é uma coisa, rigor é outra. Os artistas, que trabalham com criação, costumam ser super-rigorosos. Já rigidez é acreditar que uma coisa só pode ser feita de um jeito, definido arbitrariamente. A disciplina está do lado da criação, mas não é uma só. Alguns trabalham de dia, outros à noite; alguns de um modo, outros de outro. A maior parte dos artistas tem de cumprir prazos, se impõe tarefas. Se não houver disciplina, você pára no meio, esquece. Acontece que muitas vezes nós, adultos, usamos o discurso do rigor para defender nossa rigidez ou nossa incapacidade de lidar com as situações.

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Índice da edição 149 - jan/2002

Reportagem de capa

A indisciplina como aliada

Ela atrapalha e incomoda, mas se for trabalhada de forma adequada pode ajudá-lo a conquistar a turma neste novo ano

Paola Gentile

Ano novo, novos desafios. O maior deles, provavelmente, é conquistar a turma, fazê-la produzir mais do que o esperado, criar condições para que todos aprendam. Por isso, preparamos duas reportagens para começar as aulas com o pé direito. Veja aqui sugestões para ransformar o pátio num verdadeiro ambiente educativo, capaz de reduzir a agressividade dos estudantes e ajudá-los a se tornar mais participativos e menos indisciplinados, o tema desta página.

Como lidar com os grupinhos que não param de conversar e não participam das atividades? E com os que, semana após semana, deixam de fazer a lição? Sem falar nos problemas mais graves, como a falta de respeito dentro da classe, os xingamentos e, o pior, as agressões verbais e físicas. Pesquisa realizada no ano passado pelo Observatório do Universo Escolar, em parceria com o Ministério da Educação, constatou que

a indisciplina é uma das causas mais apontadas pelos professores para o fracasso do planejamento inicial.

Masao Goto Filho

Ana Paula, da Vianna Moog, em São Paulo:o "aluno-problema" se tornou um dos mais interessados com uma dose extra de atenção e

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pedidos de ajuda na organização da sala

"A família não impõe limites!" "É a televisão que educa as crianças." "Eles não estão a fim de nada, não têm jeito!" Quantas vezes você já não ouviu (ou proferiu) essas frases? Não há dúvidas de que boa parte do problema passa mesmo pela família, ausente e desestruturada, pelos programas de TV, cada vez mais violentos, e pelo próprio jovem, cujo caráter ainda está em formação. Mas saber disso não resolve o problema. Nesta reportagem, são apontados três caminhos para compreender e resolver a questão: a diferença entre autoridade e autoritarismo, a importância de compreender a necessidade que o jovem tem de se expressar e as vantagens de construir pactos com a garotada (tema também da coluna de estréia de Julio Groppa Aquino). Tudo para transformar a indisciplina em aliada.

Autoridade se constrói

É impossível falar de indisciplina sem pensar em autoridade. E é impossível falar de autoridade sem fazer uma ressalva: ela não é dada de mão beijada, mas é algo que se constrói. Ou seja, ter autoridade é muito diferente de ser autoritário (leia o

quadro abaixo). Dizer "não faça isso", ameaçar e castigar são atitudes inúteis. O estudante precisa aprender a noção de limite e isso só ocorre quando ele percebe que há direitos e deveres para todos, sem exceção.

Um professor

autoritário...

Um professor com

autoridade...

...exige silêncio para

ser ouvido;

...conquista a

participação com

atividades pertinentes;

...pede tarefas

descontextualizadas;

...mostra os objetivos

dos exercícios

sugeridos;

...ameaça e pune; ...escuta e dialoga;

...quer que a classe

aprenda do jeito que

ele sabe ensinar;

...procura adequar os

métodos às

necessidades da turma;

...não tem certeza da

importância do que

está ensinando;

...valoriza o conteúdo

de sua disciplina na

construção do

conhecimento;

...quer apenas passar

conteúdos;

...adapta os conteúdos

aos objetivos da

educação e à realidade

do aluno;

...vê o aluno como um

a mais.

...vê o aluno como um

ser humano.

Ana Kennya Félix, que leciona Língua Portuguesa na Escola Crescimento, em São Luís, dá uma boa amostra de como fazer isso. Certo dia, ela encontrou sua classe de 7ª série em pé de guerra por causa de uma discussão entre os meninos. Um deles desafiou-a a "botar moral". Calmamente, ela pediu que todos se sentassem e deu início a uma conversa sobre o sentido de "moral"

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(no caso, ordem). "Eles não esperavam esse encaminhamento e o debate serviu para a gente pensar sobre os limites de nossos atos", constata a professora.

Um dos obstáculos mais frequentes na hora de usar o mau comportamento a favor da aprendizagem é uma atitude comum a muitos professores: encarar a indisciplina como agressão pessoal. "Não podemos nos colocar na mesma posição do jovem", adverte Julio Aquino, professor de Psicologia da Educação na Universidade de São Paulo (USP). Quando a desordem se instala, diz ele, é fundamental agir com firmeza. Como fazer isso? Não há fórmulas prontas, mas um bom caminho é discutir o caso com os envolvidos e aplicar sanções relacionadas ao ato em questão.

O professor precisa desempenhar seu papel o que inclui disposição para dialogar sobre objetivos e limitações e para mostrar ao aluno o que a escola (e a sociedade) esperam dele. Só quem tem certeza da importância do que está ensinando e domina várias metodologias consegue desatar esses nós. Maria Isabel Fragoso, professora de História do Colégio Albert Sabin, em São Paulo, sabe que sua disciplina requer muitas aulas expositivas. Mas ela notou que não conseguia atenção suficiente ao falar diante do quadro-negro. A saída foi propor à garotada a criação de encenações sobre alguns períodos históricos. Resultado: o desinteresse e a bagunça logo se transformaram em mais concentração.

Rogério Albuquerque

Maria Isabel, do Albert Sabin, em São Paulo: as aulas expositivas deram lugar a peças de teatro e a turma que gostava de bagunça logo começou a participar mais

Bagunça ou inquietação?

Cintia Copit Freller, professora de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da USP, nos ajuda a compreender essa pergunta. "A indisciplina é uma das maneiras que as crianças e os adolescentes têm de comunicar que algo não vai bem". Por trás de uma guerra de papel podem estar problemas psíquicos ou familiares. Ou um aviso de que o estudante não está integrado ao processo de ensino e aprendizagem. Cerca de 95% dos casos atendidos pelo Serviço de Orientação à Queixa Escolar, coordenado por Cintia, são resolvidos na própria classe. O truque

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é transformar a contestação em aliada, dando atenção ao jovem e ajudando-o a entender o que o incomoda.

Carlos Silva

Cely, da Ciro Pimenta, em Belém: achar o foco de interesse do aluno

foi a chave para integrá-lo

De maneira geral, as escolas consideram rebeldia as transgressões às regras de convivência ou a não adequação a um modelo ideal seja em relação ao ritmo de aprendizagem (bom é quem aprende rápido) seja em relação ao comportamento (só queremos os obedientes). O primeiro passo é tomar consciência de que a inquietação é inerente à idade e faz parte do processo de desenvolvimento e de busca do conhecimento. O segundo, aceitar as diferenças. "A adolescência, em especial, é a fase de descobrir e de testar limites", diz o psicólogo português Daniel Sampaio, autor de Indisciplina: Um Signo Geracional.

Ok, a contestação é natural em crianças e jovens, mas como lidar com ela? Ana Paula Gama, regente de uma turma de 4ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vianna Moog, em São Paulo, conta o que fez para "domar" um garoto tido como o terror em pessoa. "Augusto*, então com 12 anos, era conhecido

desde a 1ª série como agressivo e desinteressado. A mãe freqüentemente assistia às aulas a seu lado e ajudava nas lições de casa. Tudo em vão", lembra a professora.

Ana Paula começou a pedir ajuda na arrumação da sala e na distribuição e recolhimento de material. Em pouco tempo, ele tomou a iniciativa de abandonar as carteiras do fundão e a sentar-se na frente. Passou a prestar atenção, a freqüentar as classes de reforço e a oferecer-se para executar as mais variadas tarefas. "Ela incentivou o lado bom do estudante, mostrou que ele pode ser útil", analisa Cintia Freller. Só com carinho e atenção, Ana Paula fez com que Augusto superasse o estigma de aluno-problema.

"Quando há relacionamento afetuoso, qualquer caso pode ser revertido em pouco tempo", afirma Tânia Zagury, psicóloga e pesquisadora em educação. Ana Cely Monteiro da Silva, da Escola Municipal Ciro Pimenta, em Belém, precisou de apenas três meses para incluir Márcio* na turma de 2ª série. Com 13 anos, ele não tinha amigos, ameaçava os colegas e se dizia "do mal". Faltava muito e, quando aparecia, contestava tudo.

Cely sabia que o problema estava em casa. Por ocasião do Dia dos Pais, ela decidiu trabalhar um texto sobre relacionamento familiar. Na hora do debate, Márcio expôs o próprio drama: pai desempregado, alcoólatra e violento. "Ele tinha bom vocabulário e gostava de expor suas idéias", lembra a professora. O passo seguinte foi elogiar as colocações do menino e propor discussões sobre outros temas. Ao ver seus interesses contemplados na classe, o jovem se

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tornou assíduo e participativo. "Aliar as necessidades de ensino-aprendizagem às preferências da turma é uma estratégia que sempre dá certo", garante Nívea Maria de Carvalho Fabrício, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

Meireles Júnior

Anna, da Crescimento, em São Luís: o diálogo como forma de mostrar autoridade e discutir

valores e ética

Contrato pedagógico

Finalmente, chegamos ao contrato pedagógico. Como todos os acordos que celebramos na vida (aluguel, casamento etc.), este também é um pacto com aspirações e obrigações. Como escreve Julio Aquino, não se trata de definir o que não é permitido

fazer na sala de aula e na escola, mas de abrir um diálogo entre professor e alunos para estabelecer o que é bom para todos e aqui, o exemplo de uma escola talvez não sirva para outra.

"É nossa função dizer à turma tudo o que cabe a ela para facilitar o ensino", diz. "Em contrapartida, devemos mostrar empenho em fazer todos aprenderem. Só assim os jovens encontram sentido nos conteúdos e participam mais."

Com responsabilidade, todos devem dizer o que querem e o que não querem que aconteça neste ano letivo que se inicia. Vale a pena redigir essa carta de intenções. Pode chamar de contrato mesmo, ou de combinado. As regras podem valer para o ano todo ou para uma atividade específica. Como em todo diálogo, esse também pressupõe a possibilidade de rever posições, se necessário. Assim, todos vão incorporar e cumprir as normas de conduta. E a indisciplina, que antes incomodava, se transforma numa grande aliada.

Os especialistas e o nó da

disciplina

Giselle Rocha

"A escola precisa quebrar o círculo vicioso e instalar o benigno,

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ressaltando as qualidades do jovem e mostrando que ele pode ter liderança positiva"

Cintia Copit Freller, do Serviço de Queixa Escolar da USP

Giselle Rocha

"Encontrar o centro de interesse da turma como um todo é uma excelente estratégia para integrar os jovens no processo de aprendizagem"

Nívea Maria Fabrício, da Associação Brasileira de Psicopedagogia

Paulo Jares

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0149/aberto/mt_245660.shtml

"Quando há relacionamento de afeto e um professor atencioso, qualquer caso pode ser revertido em pouco tempo"

Tânia Zagury, psicóloga e pesquisadora em Educação

Como enfrentar os "rebeldes"

Esqueça a imagem do aluno "ideal";

Observe a criança e o grupo com atenção;

Procure criar situações, com histórias ou brincadeiras, que levem a turma a refletir sobre o comportamento de um ou mais colegas, sem expô-los;

Converse com os que atrapalham a aula, ouvindo suas razões;

Não abra mão do objeto de seu trabalho, que é o conhecimento;

Não rotule o aluno, em hipótese alguma;

Diferencie as aulas, evitando rotinas;

Esclareça as conseqüências para a aprendizagem das atitudes consideradas inadequadas;

Lembre-se de que os conteúdos podem ser atitudinais, e não apenas factuais e conceituais.

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66...

Índice da edição 149 - jan/2002

A escola como ela é

Pela ritualização da sala de aula Julio Groppa Aquino

Nove entre dez profissionais da educação afirmam que um dos maiores entraves do ofício reside no descaso com a autoridade do professor por parte das novas gerações. Embora legítima, essa constatação merece alguns reparos.

Em primeiro lugar, não se pode conceber a noção de autoridade na vida contemporânea como algo de véspera. Ela se constrói aos poucos, artesanalmente. Em segundo, as ações escolares que se pretendam democráticas necessitam ser negociadas e reinventadas continuamente. É aí que desponta a proposta de contrato pedagógico uma alternativa relativamente

simples, mas com resultados notáveis.

Os antigos costumavam dizer que "o combinado não sai caro". Com razão. Celebramos contratos mesmo que implícitos todo o tempo, em todos os momentos da vida. É uma espécie de pacto de confiança, que poderia ser assim resumido: "Primeiro, diga-me o que espera que eu faça e seja, para que eu possa esperar algo de você". Assim começamos a cultivar expectativas acerca do outro e de nós mesmos e passamos a contar com parâmetros de julgamento de nossas ações e das alheias. Um bom exemplo disso é o primeiro dia de aula ocasião mágica de convocação dos mais jovens para o ingresso no velho mundo que os precede. Muitas vezes, apenas o bom senso não é suficiente para nos guiar mediante a engenhosa tarefa de iniciar o ano letivo. Quem não precisa de um certo fôlego diante de trinta ou quarenta pares de olhos desconfiados, espreitando o que virá e se repetirá nos próximos meses? É hora de ultrapassar as aparências, de dizer a que viemos. Sempre que deparamos com alguém pela primeira vez é preciso conhecer sua trajetória de vida. Vale a pena, de cara, aproveitar o tempo para contar um pouco de sua história e ouvir as que os alunos têm para revelar. Histórias de realizações, de fracassos e, sobretudo, de aspirações. Mas não só. É fundamental o

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professor dispor abertamente do projeto de trabalho para o ano que se inicia, dando a conhecer as exigências e condições mínimas para que as aulas transcorram a contento. O mesmo vale para o outro lado do balcão. Muitos se espantarão com a clareza que os alunos têm de seus deveres. E vontade de participar não lhes falta a não ser que não se queira vê-la... Estabelecer um plano contratual significa organizar conjuntamente as rotinas de trabalho (o que será feito) e de convivência (como será feito) do jogo escolar. Não se trata de regras fixas. Elas devem estar em constante revisão. No meio do caminho, é inevitável recordar ou mesmo reformular os acordos. Mal nenhum há nisso.

Os contratos pedagógicos explicitam as condições mínimas para que as aulas ocorram a contento. São um pacto de confiança entre professor e aluno

Mais importante de tudo: contratos estão longe de ser uma lista de mandamentos do que não pode ser feito. Ao contrário, eles tratam do que deve ocorrer durante o ano letivo. O resto o respeito mútuo, o exercício livre do pensar e a alegria de tomar parte da vida escolar é conseqüência. Contratos pedagógicos são, em suma, formas sutis de ritualização da sala de aula. São estratégias de consagração dos diferentes papéis de professor e aluno esses protagonistas do mundo das idéias e seu encantamento, que ainda poucos conhecem.

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77... Revista

Nova escola, edição 172 - mai/2004

Sala de aula

Compromisso que garante o sucesso

Os alunos se tornam responsáveis pela aprendizagem quando combinam objetivos e tarefas com você

Andressa Rovani

Combinado, contrato pedagógico ou contrato didático. O nome pode variar, mas o conceito é um só: um acordo estabelecido entre o professor e a classe que leva todos a buscar um mesmo objetivo, a aprendizagem. "Quando se estabelece um contrato entre o professor e a turma, os estudantes deixam de ser apenas aqueles que estão destinados a obedecer, mas se tornam iguais em direitos e deveres", diz Maria de Fátima Francisco, professora de Filosofia da Educação da Universidade de São Paulo.

O contrato didático é útil tanto no começo do ano quanto no início de um projeto. Nesses momentos, você espera que a garotada se

dedique ao estudo e tenha uma disciplina exemplar. Mas, do outro lado da sala também existem expectativas. Crianças e adolescentes querem saber o que vão aprender e de que maneira. Um consenso sobre o que podem ou não fazer e quais as conseqüências pelo não cumprimento de alguma regra é fundamental.

Os bons resultados virão se crianças e jovens se sentirem responsáveis pela identificação de seus objetivos e pela criação dos meios para alcançá-los. Você passa a tutor dessas intenções, avaliando e fazendo intervenções. "Os alunos só assumem a própria aprendizagem quando é dada a eles oportunidade de uma participação ativa", diz Claudio Baptista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Foi o que fez o professor Ricardo César, do Centro Educacional dos Pimentas, de Guarulhos (SP), em 2003. O relacionamento entre ele e a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi todo baseado num contrato didático. O professor conhecia os altos índices de evasão em classes de EJA e logo no início das aulas apresentou à classe sua proposta de trabalho para o semestre (veja matéria à pág. 44). Para cumpri-la, todos juntos definiram quais seriam as responsabilidades do professor e dos estudantes, na maioria trabalhadores desempregados.

Entre as regras previstas no documento estavam as seguintes: se um aluno faltar à aula, os colegas têm permissão de visitá-lo em casa para saber o motivo da ausência; atrasos são permitidos, mas ninguém entra em classe

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passados mais de dez minutos do sinal; provas e seminários são os instrumentos utilizados para avaliar o rendimento dos estudantes; e alunos e professor têm responsabilidades definidas no desenvolvimento de cada tema. O

contrato, de acordo com César, foi fundamental para o sucesso do grupo. "Eu era apenas o condutor do projeto. As regras valiam para todos, que se tornaram mais unidos e participativos."

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88..

Revista Nova Escola edição 213 - jun/2008

Entrevista | Yves de La Taille

Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras

Amanda Polato

Agressões, humilhação, ausência de limites. Nove em cada dez educadores reclamam que as salas de aula estão cada vez mais incivilizadas e que é preciso dar um basta. Para resolver o problema, nove entre dez escolas recorrem a regras de controle e punição. “É legitimo, mas é pouco. É preciso criar uma lei para coibir algo que o bom senso por si só deveria banir?”, questiona Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Especialista em Psicologia Moral (a ciência que investiga os processos mentais que levam alguém a obedecer ou não a regras e valores), ele defende que a escola ajude a formar pessoas capazes de resolver conflitos coletivamente, pautadas pelo respeito a princípios discutidos pela comunidade. O caminho para chegar lá passa pela formação ética – não necessariamente como conteúdo didático, mas principalmente no convívio diário dentro da instituição. Co-autor dos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) sobre Temas Transversais, La Taille aponta que a tentativa de abordar assuntos como ética, orientação sexual e meio ambiente de maneira coordenada em várias disciplinas não funcionou no Brasil. “É uma proposta sofisticada que não se transformou em realidade.” Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, o ganhador do Prêmio Jabuti de 2007 na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise, com o livro Moral e Ética, Dimensões Educacionais e Afetivas, indica caminhos para trabalhar esses temas no ambiente escolar.

• Políticos, educadores e a sociedade cada vez mais pedem ética para solucionar problemas sociais. A que se atribui essa demanda? YVES DE LA TAILLE Existe uma situação de medo, uma percepção de que as relações humanas estão cada vez mais desrespeitosas. Mas creio que a demanda social não seja realmente por ética. O clamor,

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na verdade, é por normatização. Tanto que hoje temos uma espécie de hiperinflação de leis. Um exemplo é o projeto aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo proibindo o uso de celulares dentro das classes. É claro que atender ao aparelho durante a aula atrapalha, mas como a escola enfrenta esse problema? Criando uma regra de controle em vez de discutir os valores envolvidos nessa situação – o respeito ao outro, por exemplo. Penso que deveria haver uma regulação social, e não uma regulação estatal, para esses comportamentos.

• O que significa isso? LA TAILLE Significa que a própria sociedade deveria ser capaz de administrar essas atitudes. O professor, por exemplo, tem a possibilidade de dizer: “Não vamos usar o celular porque isso atrapalha a aula, a não ser numa emergência”. Quando uma lei exterior resolve até os mínimos conflitos, cria-se uma sociedade infantil. Já a formação ética, em vez da simples normatização, discute as relações com outras pessoas, as responsabilidades de cada um e os princípios e valores que dão sentido à vida.

• Como a escola pode discutir princípios e valores? LA TAILLE Antes de tudo ela tem de eleger seus próprios princípios, coerentes com a Constituição brasileira: liberdade, respeito, igualdade, justiça, dignidade... É fundamental, ainda, deixar claro aos estudantes e pais quais são esses princípios, defendendo-os com unhas e dentes. Por exemplo, se um aluno for humilhado, ferindo o princípio da dignidade, algumacoisa precisa ser feita. Aí entram debates, reuniões e

assembléias para discutir regras que garantam a defesa do princípio.

• "A dimensão moral da criança tem de ser trabalhada desde a pré-escola. Ética se aprende, não é uma coisa espontânea" Qual é a real influência da escola no desenvolvimento moral e ético? LA TAILLE Em primeiro lugar, é preciso lembrar que criar cidadãos éticos é uma responsabilidade de toda a sociedade e suas instituições. A família, por exemplo, desempenha uma função muito importante até o fim da adolescência, enquanto tem algum poder sobre os filhos. A escola também, na medida em que apresenta experiências de convívio diferentes das que existem no ambiente familiar – se deixo meu quarto bagunçado, o problema é meu; se deixo uma classe bagunçada, o problema não é só meu.

• Cidadania e ética podem ser trabalhadas nas séries iniciais? PERGUNTA DA LEITORA Solange Gomes, Vilhena, RO LA TAILLE Claro. A dimensão moral da criança tem de ser tratada desde a préescola e se estender por toda a trajetória do aluno. O trabalho pode ser feito de forma simples ou sofisticada, não importa: o que a escola não pode é silenciar. Décadas atrás, tiraram a disciplina Educação Moral e Cívica do currículo. É bom que ela tenha sido eliminada por causa de sua ligação com a didatura militar, mas o problema é que não colocaram nada no lugar. Moral, ética e cidadania se aprendem, não são espontâneas.

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• É preciso criar aulas específicas para abordar esses temas? LA TAILLE Penso que a transversalidade é melhor que uma aula específica. Se ela for considerada inviável numa determinada instituição, então que se proponha uma aula. Mas, se essas discussões não encontrarem eco nas próprias relações da escola, o trabalho em sala terá pouco efeito. É preciso que o conteúdo seja inseparável do convívio. Não adianta falar das belas virtudes da justiça e da generosidade e ter um ambiente de desrespeito e indiferença. Por outro lado, se os contatos forem expressão de uma sociedade digna e solidária, faz sentido discutir justiça e generosidade. Existe uma ponte entre a vida e a ref lexão sobre a vida. Muitos educadores trabalham regras de convivência com a turma em suas aulas por meio dos combinados, discutindo normas coletivamente. Qual é sua opinião sobre essa prática? LA TAILLE Para que um combinado seja efetivamente aceito, é preciso prestar atenção a três aspectos. Primeiro, é necessário que os princípios inspiradores norteiem o acordo e sejam explicitamente colocados, não fiquem apenas implícitos para a turma. Na escola inglesa Summerhill, por exemplo, um dos princípios fundamentais é o da igualdade. Com base nele, ficou decidido que nenhuma assembléia poderia resolver que os meninos menores serviriam aos maiores – algo que, na prática, poderia acontecer caso os mais velhos tivessem maioria em uma votação, digamos. Esse, aliás, é o segundo ponto importante:

deve-se evitar ao máximo que os combinados se dêem por votação. É preferível procurar o consenso, o que dá muito mais trabalho mas é bem mais rico porque desenvolve a prática de escutar o outro. Se o grupo segue muito rápido para a votação, elimina-se uma etapa preciosa que poderia ser dedicada ao diálogo. A votação não é diálogo, a votação é poder: se eu tenho mais votos que você, você perde e eu ganho. Em terceiro lugar, o professor não pode abrir mão de seu papel de autoridade, simplesmente jogando para o grupo asresponsabilidades pelas sanções que o combinado pode gerar.

• Há algum caso prático que exemplifique essa atuação? LA TAILLE Posso contar um fato real ocorrido numa excelente escola, uma das melhores que eu conheço. A professora combinou com uma turma de 5 e 6 anos que, após as brincadeiras, as crianças guardariam os brinquedos. Todas brincaram, mas duas delas resolveram não guardar o brinquedo. O que fazer nessa hora? A educadora – que depois se arrependeu profundamente – propôs que a classe criasse uma lista num pedaço de papel, escrevendo de um lado aqueles que cumpriram o combinado e do outro os que não. Resultado imediato: o menino e a menina que haviam desobedecido ao acordo ficaram desesperados porque se viram excluídos. Foram para casa e disseram que não queriam mais voltar à escola de jeito nenhum. O erro da professora foi justamente atribuir ao grupo a sanção. A tirania do grupo às vezes é pior do que a tirania de uma só pessoa.

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• Qual seria a atitude correta da professora nessa situação? LA TAILLE Ela deveria ser a guardiã do combinado, dizendo aos pequenos: “Vocês vão arrumar os brinquedos, sim. Primeiro, em razão do combinado. Segundo, porque eu estou mandando”. É preciso cuidar para que a criança não substitua a figura do adulto. Ela precisa dessa referência de autoridade, de proteção, de confiança. Depois, à medida que a turma vai tomando consciência e refletindo sobre as questões morais, pouco a pouco o grupo passa a assumir essa referência. Então, pode-se dizer que a questão da indisciplina é um problema moral? LA TAILLE Depende do que se entende por indisciplina. Eu vejo três definições para o termo. A primeira tem a ver com a falta de autodisciplina, que é quando o aluno não consegue organizar a tarefa. A segunda pode ser associada à desobediência. Acontece quando eu mando o aluno fazer algo e ele não faz. Eu deixo de ter autoridade porque ele não seguiu minhas ordens, mas não fui desrespeitado. O estudante pode desobedecer dizendo algo como “Senhor, me desculpe, mas eu não vou fazer a lição”. É uma questão política, tem a ver com a legitimidade do posto de direção. A terceira indisciplina, o desrespeito, essa, sim, é uma questão moral. Se estou lecionando e o aluno se levanta e vai embora como se eu não existisse, fui desobedecido como autoridade e desrespeitado como pessoa, independentemente do fato de eu ser ou não professor. Isso não se justifica. Um professor com uma aula chata não me autoriza de jeito nenhum a

desrespeitá-lo. Como co-autor do capítulo dos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, qual é sua avaliação sobre o impacto desse documento na formação dos alunos? LA TAILLE Em geral, o que se verifica é que a tranversalidade foi pouquíssimo implementada. Ela se baseia na idéia de que um determinado tema social seja trabalhado coordenadamente por professores de várias disciplinas. Cada um deles contribuiria, dentro de sua área de atuação, para o ensino desses assuntos. Para que isso seja feito, é preciso que a equipe se reúna, estabeleça metas e defina o que cada um vai abordar. Isso pressupõe uma elaboração complexa: o tempo é essencial para organizar as propostas, colocá-las à prova e – não vamos esquecer nunca – avaliá-las. Na prática, esbarra- se em diversos problemas, como o fato de muitos professores trabalharem em várias escolas e só comparecerem para dar aulas ou, no máximo, também às reuniões ligadas a sua disciplina. As escolas não estão preparadas para a transversalidade? LA TAILLE Eu diria que não estão disponíveis para ela, até pelas condições trabalhistas que acabei de mencionar. Existem belíssimas atividades com temas transversais, mas quase sempre são levadas por um único professor. Raramente há o comprometimento institucional necessário para o projeto se tornar a realidade proposta pelos PCNs. E o governo também precisa se

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comprometer. De que forma? LA TAILLE Os políticos prestam um grande desserviço à Educação quando cada novo governo quer partir quase do zero, como se cada mandato fosse a Revolução Francesa, que aboliu o calendário anterior e implantou novos meses, novas datas. Pegue-se o caso dos PCNs, feitos no governo Fernando Henrique e atualmente deixados de lado, apenas vegetando no site do Ministério da Educação. E o programa Parâmetros em Ação, que era essencial para

instrumentalizar a proposta, foi abandonado. Ele seria essencial para concretizar os PCNs, que são, evidentemente, teóricos.

• Quer saber mais? • BIBLIOGRAFIA

Labirintos da Moral, Mario Sérgio Cortella e Yves

de La Taille, 112 págs.,

Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500, 26 reais

Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves

de La Taille, 152 págs.,

Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 34,90 reais

Moral e Ética – Dimensões Educacionais e

Afetivas,

Yves de La Taille, 192 págs., Ed. Artmed, tel.

0800-703-3444, 36 reais

Vergonha, a Ferida Moral, Yves de La Taille, 288

págs.,

Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 43,90 reais

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TEXTOS PARA DISCUSSÃO

UNIDADE IV

http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 4nn

GROSSI, G.P. Você é a chave da motivação em sala de aula. Revista Nova Escola. on Line, Disponível em: <<http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml> Acesso em 20 de Nov. 2008.

MENEZES, L. C. De onde vem a tal motivação? Revista Nova Escola. São Paulo, ano 17, n. 207, p.82, nov. 2007.

ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo, Revista Nova Escola. on Line, Disponível em: <<http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248561.shtml>, Acesso em 20 de Nov. 2008.

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11..

Edição 134 - ago/2000

Você é a chave da motivação em sala de aula

Gabriel Pillar Grossi

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml

NOVA ESCOLA ON-LINE - O SITE

DE QUEM EDUCA!

Você é a chave da motivação em sala de aula

Suas atitudes, decisões e ações em sala de aula são essenciais para criar um ambiente motivador. Ao responder com a máxima honestidade esse teste, você vai descobrir se está pondo lenha na fogueira da motivação dos alunos ou despejando nela baldes de água fria. Para cada questão, há um comentário da autora do teste, a pedagoga Madza Ednir.

Gabriel Pillar Grossi

A jornalista Madza Ednir acompanhada de crianças senegalesas na travessia que leva do

continente à ilha de Gorée, em Dacar

Madza Ednir é pedagoga e presta serviços de consultoria em comunicação e educação ao Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), à Fundação Victor Civita e ao Instituto Ayrton Senna, onde edita o jornal "Campeão de Cidadania". É co-autora do conjunto de publicações "Todos pela Educação no Município" (CECIP/Unicef, 1992), que divulgam as recomendações de Jomtien no Brasil, de cartilhas, de manuais e de uma fotonovela, buscando tornar acessíveis a amplas camadas da população os seus direitos de cidadania. Foi editora de jornais dirigidos a educadores, como o "Paulicéia Educação", da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1983-1985) e o "Escola Agora", da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo (1995-1998).

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ATENÇÃO: Selecione, no máximo, duas alternativas em cada item, com exceção do item 4, no qual você poderá escolher todas as alternativas verdadeiras para o seu caso. Ao final, consulte o gabarito, some os pontos que você fez e veja em qual faixa você se encontra.

1 - É uma segunda feira e a primeira aula da semana vai começar. Assinale a frase que melhor traduz o seu estado de espírito.

a - "Será que vou ter forças para sobreviver até sexta feira nesta escola ?" b - "O primeiro aluno que bancar o engraçadinho na sala de aula vai se ver comigo. Eles querem guerra? Pois vão ter!" c - "Tomara que esta semana seja bem melhor que a anterior." d - "Preparei um monte de desafios interessantes para as próximas aulas. Estou louco(a) para ver como eles vão reagir". Comentário da autora

Arquivo Pessoal

Seu entusiasmo – ou sua desmotivação – são contagiosos e decidem como será o "clima" na sala de aula

2 - Marque os comentários que mais correspondem ao que você, em geral, sente por seus alunos.

a - "Adoraria se fossem raptados coletivamente por um disco voador." b - "A maioria é boa, mas alguns não querem nada com nada."

c - "São muito diferentes, fazem coisas que às vezes me emocionam e outras me deixam de cabelos em pé, mas gosto muito de todos eles". d - "Procuro compreendê-los."

Comentário da autora Nossas necessidades de amor e afeto precisam ser atendidas para a chama da motivação crescer. Os alunos sentem quando você gosta de verdade de cada um deles e isso os estimula a aprender e a crescer.

3 - Assinale as afirmações que você poderia fazer , em relação à(s) disciplinas(s) que ensina.

a - "Domino completamente o conteúdo e a metodologia e não preciso aprender mais. b - " Interesso-me bastante e procuro, no dia a dia, aperfeiçoar o domínio do conteúdo e da metodologia. c - "Muitas vezes preciso ensinar coisas que estão no currículo, mas não me interessam e não sei ao certo para que servem na vida real ."

Comentário da autora Sua disposição para continuar aprendendo é captada de mil maneiras pelos alunos, que passam a seguir o seu exemplo. A condição número um para provocar o interesse dos alunos por um tema é, no mínimo, saber por que ele é relevante. O melhor mesmo é ser apaixonado(a) pelo assunto.

4 - Assinale todas as afirmações que você poderia fazer em relação às suas atitudes durante as aulas.

a - Procuro estimular os alunos a questionar as minhas idéias. b - Estou sempre disposto(a) a ajudar. c - Tenho dificuldades em criar um ambiente descontraído. d - Faço com que os alunos compreendam que errar faz parte da aprendizagem. e - Não costumo aceitar decisões da classe. f - Antes de dar a minha opinião, escuto as dos alunos.

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g - Na maior parte do tempo, a palavra está comigo. Raramente faço perguntas, desafio os alunos com problemas ou os estimulo a agir.

Comentário da autora A motivação explode quando os alunos sentem que você confia neles, que os escuta e respeita suas idéias e julgamentos, que não os trata como se fossem inferiores ou incapazes, mas como parceiros da maravilhosa aventura que é aprender sempre.

5 - O que você sabe sobre os seus alunos ?

a - O nome dos que mais se destacam. b - Características gerais, como nível sócio-econômico e cultural das famílias. c - Seus principais interesses, sonhos e preocupações.

Comentário da autora Compare essa resposta com a do item 2 para ver se elas "batem". Quem gosta se interessa por conhecer o outro e não se contenta com informações gerais sobre a comunidade a que pertencem. Se você sabe quais são as necessidades e preocupações dos alunos, pode relacioná-las ao que está ensinando e descobrir a melhor forma de cativar cada um.

6 - Um(a) colega conta que, antes de iniciar a aula, reserva alguns minutos para uma "roda da conversa", para que os alunos tenham a oportunidade de contar alguma novidade, comentar uma notícia, dizer como estão se sentindo e planejar com o(a) professor(a ) o que vão fazer . Você...

a - …pensa : "Quanta perda de tempo! Desse jeito ele(a) nunca vai vencer o conteúdo". b - ...pergunta: "E como você utiliza, na sua aula, as informações que os alunos trazem para essa roda da conversa?". c - ...pergunta: "E como você utiliza, na sua

aula, as informações que os alunos trazem para essa roda da conversa?".

Comentário da autora Professores motivados costumam fazer perguntas aos colegas para aprender com eles. E são capazes de estimular seus alunos a também fazer perguntas, sinal inequívoco de motivação.

7 - Você vai começar a trabalhar um novo tema com os alunos. Como procede?

a - Explico o assunto da forma mais clara possível. b - Faço perguntas para descobrir o que os alunos já sabem sobre o assunto. c - Procuro relacionar o assunto com a vida cotidiana e com os interesses da turma.

Comentário da autora Como se sentiria um professor de Língua Portuguesa que, em uma capacitação, se deparasse com um especialista discorrendo sobre Mecânica? Com o aluno se passa o mesmo. Ele precisa saber por que está aprendendo algo. Deve perceber a utilidade daquilo que aprende, na realização de seus objetivos, na satisfação de suas necessidades. Por exemplo, um menino que gosta de empinar papagaios, ficará motivado a aprender medidas, se puder usar esse conhecimento para construir pipas melhores.

8 - Assinale o tipo de estratégia que você usa mais freqüentemente em sala de aula.

a - Exposições orais, cópias e ditados. b - Trabalhos em grupo e estudos do meio. c - Projetos que encorajam os alunos a resolver problemas reais, a fazer algo que seja interessante para eles, utilizando os conhecimentos adquiridos.

Comentário da autora O trabalho por projetos é uma das

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alternativas mais eficientes quando se trata de motivar os alunos. Por várias razões: permite a aplicação prática do conhecimento; favorece a interdisciplinaridade; dá mais oportunidades de opção aos alunos, que podem escolher seu grupo e as tarefas mais adequadas aos seus interesses e capacidades. Ao satisfazer as necessidades que os alunos têm de compreender, de se sentir capazes, de realizar, você está estimulando sua motivação.

9 - Ao entrar na sala, você percebe que o ambiente está sujo e muito bagunçado. Que atitude toma ?

a - Nenhuma. O importante é começar a aula o quanto antes. b - Chama alguém da diretoria para ver o estado deplorável da sala e tomar providências. c - Pergunta aos alunos o que aconteceu e, depois de ouvi-los, convida-os a, junto com você, rapidamente organizar o espaço antes de iniciar a aula.

Comentário da autora O espaço físico da sala de aula deve atender às necessidades de bem estar dos alunos para não acabar com a sua motivação. A limpeza, a disposição das carteiras, a estética da sala são fatores pedagógicos que precisam ser levados em conta. E os alunos devem estar conscientes disso, participando dos esforços para embelezar e harmonizar seu ambiente.

10 - Assinale os recursos que estão à disposição dos alunos e que você utiliza regularmente.

a - Quadro negro e giz. b - "Cantinhos" com materiais relativos a diferentes áreas do conhecimento, computador, oportunidades de participar de excursões, visitas a museus, teatros… c - Livros, dicionários, jornais e revistas.

Comentário da autora Os "cantinhos" ajudam os alunos das séries iniciais a identificar o que mais gostam de fazer. Dar aos alunos a possibilidade de identificar e colocar em prática suas diferentes habilidades e capacidades é garantia de motivação. Ao diversificar ao máximo as opções de atividades, você está no caminho certo.

11 - Você utiliza os resultados das avaliações …

a - …verificando quais alunos estão com desempenho abaixo da média e providenciando medidas de recuperação. b - …elogiando os melhores alunos e deixando bem claro aos demais o quanto são incapazes. c - …mostrando o quanto os alunos avançaram e convidando cada um a comparar os resultados que obteve com as metas que havia estabelecido para si mesmo.

Comentário da autora Os alunos ficam motivados quando compreendem que são responsáveis por sua própria aprendizagem. Ao ajudá-los a estabelecer metas individuais e a se auto-avaliar, você está fazendo com que assumam, aos poucos, o controle de suas vidas.

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Gabarito

Questão e Pontuação

1 a.0 b.0 c.1 d.2

2 a.0 b.0 c.2 d.1

3 a.0 b.1 c.0

4 a.1 b.1 c.0 d.1 e.0 f.1 g.0

5 a.0 b.1 c.2

6 a.0 b.1 c.1

7 a.0 b.1 c.2

8 a.0 b.1 c.2

9 a.0 b.1 c.2

10 a.0 b.2 c.1

11 a.1 b.0 c.2

Resultados

Menos de 13 pontos Água Gelada: Alerta vermelho! A desmotivação está colocando em perigo sua realização pessoal e a aprendizagem dos alunos

Entre 14 e 21 pontos Vento na Fogueira: Você faz o possível para estar atento(a) às necessidades dos alunos e apresentar a eles objetivos e tarefas que lhes permitam satisfazê-las.

Mais de 21 pontos Gasolina Pura: Parabéns! Você adora o que faz, e seus alunos estão descobrindo o prazer de nunca perder a motivação de aprender.

Fontes

http://novaescola.abril.com.br/ed/134_ago00/html/cresca_teste.htm

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml

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22.. Edição 207 - nov/2007

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0207/aberto/mt_256856.shtmlhttp://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0207/aberto/mt_256856.shtm

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33.

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml

Edição 134 - ago/2000

Cresça e aconteça

Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo

Motivação é a chave para ensinar a importância do estudo na vida de cada um de nós

Luciana Zenti

O professor Domingos Ditano Jr. canta um rap matemático para seus alunos:

motivação garantida

Júlia é uma menina falante e alegre. Nas rodas de leitura, que acontecem

toda semana na escola em que estuda, em São Paulo, está sempre atenta aos comentários da professora e se empolga contando aos colegas as passagens da história que está lendo. "Se bobear, leio até dicionário", diz, sorrindo. Surpreendente? Pois saiba que, na turma de Júlia, ela não é exceção. Quase todos levantam a mão quando alguém pergunta se estão lendo mais do que no ano passado. Eles adoram contar suas aventuras pelas páginas impressas, o que transforma a atividade em um grande bate-papo.

Embora todos os educadores saibam a importância da educação para o desenvolvimento do ser humano, fazer

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com que crianças e adolescentes compreendam isso é certamente mais difícil. Mas está longe de ser impossível. Ao contrário. Experiências como a de Simone Santiago, a professora de Júlia (leia mais nos textos que acompanham as fotos, abaixo), têm como base uma palavra-chave: motivação.

"Não se pode esperar que todos os alunos queiram estudar e se interessem, pois muitos acham a escola chata e a freqüentam por obrigação", afirma Antonio Santos, professor de Psicologia Educacional da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP).

A indisciplina excessiva, a falta de interesse constante e a apatia dos estudantes são, sim, um problema enorme. E é preciso muita disposição para superá-las. Infelizmente, não existe uma receita mágica para transformar as aulas em foco de atração, mas com sensibilidade e energia para enfrentar o desafio você pode conquistar seus alunos, ganhar tempo e, o que é melhor, trabalhar com mais prazer.

Nesse aspecto, os especialistas são unânimes: é fundamental mostrar que estudar também é divertido. "Não existe aluno sem solução. De um jeito ou de outro se descobre algo de que ele goste", diz Olgair Gomes Garcia, professora de Didática da PUC-SP e coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino de São Paulo. "O profissional atento valoriza o estudante quando ele participa e, assim, consegue trazê-lo para o grupo."

Papéis trocados

Como explica Olgair, a maior dificuldade é planejar a aula de forma a interessar a todos. "Cada jovem traz em si características muito diferentes. Por isso

é tão complicado criar um clima de aprendizagem", destaca. Isso acontece porque a motivação não é apenas algo natural, mas depende de fatores externos.

Na linguagem dos especialistas, há uma divisão entre a motivação intrínseca — quando o próprio conteúdo basta para gerar um interesse — e a extrínseca — quando se recorre a elogios, notas ou prêmios. "As pesquisas mostram que quanto mais idade o aluno tem mais se torna imprescindível a motivação intrínseca", explica Antonio Santos. Para trabalhar essa motivação, o mais importante é estimular o progresso do grupo e criar um ambiente agradável em sala. "O estudante precisa perceber que o que ele faz é valorizado. Para a sua auto-estima isso é essencial."

Segundo Santos, o aluno é naturalmente motivado para tudo aquilo que esteja ligado ao momento de vida pelo qual está passando. Ocorre que muitos professores planejam as atividades apenas de acordo com seu ponto de vista, sem definir os desafios a partir da perspectiva da classe. "Uma boa dica é inverter os papéis. Se o educador descobrir o que a classe quer, com certeza vai atrair sua atenção", ensina.

Vale a pena investir na motivação

Estabeleça metas individuais. Isso permite que os alunos desenvolvam seu próprio critério de sucesso.

Emoções positivas melhoram a motivação. Se você pode tornar alguma coisa engraçada ou emocionante, sua turma tende a aprender muito mais.

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Matemática no embalo do rap

Rogério Voltan

Quando era estudante, Domingos Ditano Jr, que hoje leciona Matemática na Escola Internacional de Alphaville, em Barueri (Grande São Paulo), se questionava por que as aulas não podiam ser divertidas. Passados alguns anos, ele resolveu aplicar no trabalho o que gostava como aluno. Com bom humor e a ajuda do rap, transformou as aulas e conquistou a turma. As letras explicam de forma objetiva e engraçada o conteúdo e auxiliam na introdução da matéria, na correção de exercícios ou no esclarecimento de dúvidas. "Assim é possível motivá-los a estudar sem que eles percebam", comemora.

Demonstre por meio de suas ações que o aprendizado pode ser agradável.

Desperte na criança o desejo de aprender.

Dê atenção. Mostre ao aluno que você se importa com o progresso dele. Ser indiferente a uma criança é um poderoso desmotivador.

O professor como peça principal

Explorar a afetividade foi a saída encontrada por Ivonete Feitosa, que

trabalha na Escola Estadual Doutor Edigardo Cajado, em Ribeirão Preto (SP), para atrair os alunos. "Tento valorizar a criança para que ela tenha prazer de ir à escola. Esse é o nosso papel", diz. No ano passado, ela assumiu uma turma de 3a série que mal sabia ler e escrever. Na classe estava a aluna Sara Isaira, que jogou o material no chão no primeiro dia, demonstrando sua antipatia pelos livros. Ivonete assumiu o desafio de conquistá-la e, hoje, enche o peito ao contar o sonho da menina: ser professora.

Negocie regras para o desenvolvimento do trabalho.

Mostre como o conteúdo pode ser aplicado na vida real.

Explique sempre os objetivos da atividade.

Em vez de recriminar respostas ou atitudes erradas, reconheça o trabalho bem-feito.

Sempre que possível ofereça opções de atividades.

Brincadeira de roda na biblioteca

Masao Goto Filho

Dar oportunidades de escolha pode gerar ótimos resultados. Com autonomia sobre o trabalho, a criança se envolve na atividade e produz mais. Essa foi a idéia adotada na escola Ibeji,

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em São Paulo. Para estimular a leitura, Simone Santiago criou a roda de biblioteca. Pelo menos uma vez por semana a turma se reúne para uma conversa em que cada um conta um pouco do livro que está lendo. Na sala, foi criada uma minibiblioteca, com obras trazidas pelos alunos. Eles não têm prazo de entrega dos livros e, no caso

de não gostarem da obra, podem trocá-la por outra.

Seja flexível ao ensinar. Apresente exemplos para estimular a reflexão.

Use recursos visuais, como desenhos, fotos, gráficos, objetos.