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Minha vida de menina Helena Morley

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Minha vida de menina

Helena Morley

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOFACULDADE DE EDUCAÇÃO

METODOLOGIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA II Prof. Drª Claudia Riolfi

Sequência didáticaCarolina de Oliveira Carvalho

Graziele Mariusso CorreiaHendrika Engelina Maria Scheltinga Mueller

Keila da Silva VieiraTânia Regina Leite Coelho

São Paulo, 2019.

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Caminhos percorridos

- 1. Leitura de textos sobre os temas: leitura, aluno e aulas de ensino de língua portuguesa.

- 2. Leitura dos documentos oficiais - 3. Estabelecimento das nossas expectativas- 4. Organização metodológica da sequência didática

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“O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo amar… o verbo sonhar… É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: “Ama-me!” “Sonha!” “Lê!”. “Lê, já te disse, ordeno-te que leias!” - Vai para o teu quarto e lê! Resultado? Nada. Ele adormeceu sobre o livro (…). - Ele acha que as descrições são demasiado longas. Temos de o compreender, estamos no século do audiovisual, evidentemente, os autores do século XIX tinham de descrever tudo… - Mas isso não é razão para o deixarmos saltar metade das páginas!” Daniel Pennac (1996). Como um romance, pp. 11-12

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Base nacional comum curricular“O campo da vida pessoal organiza-se de modo a possibilitar uma reflexão sobre as condições que cercam a vida contemporânea e a condição juvenil no Brasil e no mundo e sobre temas e questões que afetam os jovens. As vivências, experiências, análises críticas e aprendizagens propostas nesse campo podem se constituir como suporte para os processos de construção de identidade e de projetos de vida, por meio do mapeamento e do resgate de trajetórias, interesses, afinidades, antipatias, angústias, temores etc., que possibilitam uma ampliação de referências e experiências culturais diversas e do conhecimento sobre si.” (p.479-480)

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Base nacional comum curricular - Habilidades(EM13LGG401) Analisar textos de modo a caracterizar as línguas como fenômeno (geo) político, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso. (p.486)

(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na recepção, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor previsto, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.) (p.499)

(EM13LP49) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam. (p.515)

(EM13LP53) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário. p.(516)

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Por que escolhemos esse livro?

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Um resumo https://www.youtube.com/watch?v=PjKh79-kAI8

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Plano de aulaLivro: Minha vida de menina (Helena Morley)

Objetivos e expectativas: Apresentar a obra Minha vida de menina considerando diferentes aspectos, a saber: social, histórico, linguístico, artístico; Discutir a importância da obra; Ajudar os alunos com as questões do vestibular; Refletir sobre as diferentes maneiras de registrar o cotidiano.

Número de aulas: 14*

Público escolhido: Turma do 2º ano do EM (Motivo: histórico e temático)

Recursos para leitura: Livro em pdf

Organização da leitura: Recomenda-se que os alunos leiam cerca de 10 páginas por dia

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Aulas 1 e 2*Objetivos: Sensibilizar os alunos ao gênero textual diário; conversar sobre a prática de escrever coisas sobre o nosso cotidiano (abrir possibilidades-redes sociais); Apresentar diferentes livros que também contam histórias de mulheres (atividade em grupo); Apresentar o livro Minha vida de menina (atividade: esses motivos me convencem? e leitura da nota à primeira edição e uma entrada)

Metodologia:

1. Conversa inicial sobre o que é diário (características formais e temáticas) e a prática da escrita;

2. Conhecendo outros relatos de mulheres (atividade com resumos ou entrega de livros) - Alunos são divididos em grupos de 5-6 pessoas e cada grupo fica responsável por falar brevemente sobre o livro ou resumo que recebeu (slide com links sugeridos). Caso os alunos tenham celular com internet, a atividade pode ser mais livre (eles buscarão as informações sobre a obra)

3. Atividade: Leitura “7 motivos para ler Minha vida de menina” (disponível em https://livroecafe.com/2017/09/17/7-motivos-para-ler-minha-vida-de-menina-helena-morley/) - Esses motivos estão bem formulados? Eles te convencem?

4. Leitura da nota + leitura da entrada “Sábado, 10 de março” - Síntese de uma estrutura; chamar atenção para os pontos colocados pela autora (Escola Normal; a diferença entre a vida atual e antiga; a felicidade sem bens materiais)

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Material de apoio - resumos/resenhas

1. https://www.culturagenial.com/quarto-de-despejo-carolina-maria-de-jesus/

2. https://livrarianobel.com.br/index.php/resenha-o-diario-de-anne-frank/

3. http://www.opoderosoresumao.com/livros/resenha-a-guerra-nao-tem-rosto-de-mulher

4. https://www.artescetera.com.br/musica/rita-lee-uma-autobiografia-resenha/

5. http://carolvayda.com.br/resenha-eu-sou-malala/

6. http://resumodopera.blogspot.com/2013/09/resenha-persepolis.html

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NOTA À 1a EDIÇÃO

Em pequena meu pai me fez tomar o hábito de escrever o que sucedia

comigo. Na Escola Normal o Professor de Português exigia das alunas uma

composição quase diária, que chamávamos "redação" e que podia ser, à nossa

escolha, uma descrição, ou carta ou narração do que se dava com cada uma.

Eu achava mais fácil escrever o que se passava em torno de mim e entre a

nossa família, muito numerosa. Esses escritos, que enchem muitos cadernos

e folhas avulsas, andaram anos e anos guardados, esquecidos. Ultimamente

pus-me a revê-los e ordená-los para os meus, principalmente para minhas

netas. Nasceu daí a idéia, com que me conformei, de um livro que mostrasse

às meninas de hoje a diferença entre a vida atual e a existência simples que

levávamos naquela época.

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Não sei se poderá interessar ao leitor de hoje a vida corrente de uma

cidade do interior, no fim do século passado, através das impressões de uma

menina, de uma cidade sem luz elétrica, água canalizada, telefone, nem

mesmo padaria, quando se vivia contente com pouco, sem as preocupações

de hoje. E como a vida era boa naquele tempo! Quanto desabafo, quantas

queixas, quantos casos sobre os tios, as primas, os professores, as colegas e

as amigas, coisas de que não poderia mais me lembrar, depois de tantos

anos, encontrei agora nos meus cadernos antigos!

Relendo esses escritos, esquecidos por tanto tempo, vieram-me

lágrimas de saudades de meus bons pais, minha boa avó e minha admirável

tia Madge, a mulher mais extraordinária que já conheci até hoje e que mais

influência exerceu sobre mim, pelos seus conselhos e pelo seu exemplo.

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Nesses escritos nenhuma alteração foi feita, além de pequenas

correções e substituições de alguns nomes, poucos, por motivos fáceis de

compreender.

Agora uma palavra às minhas netas. — Vocês que já nasceram na

abastança e ficaram tão comovidas quando leram alguns episódios de minha

infância, não precisam ter pena das meninas pobres, pelo fato de serem

pobres. Nós éramos tão felizes! A felicidade não consiste em bens materiais

mas na harmonia do lar, na afeição entre a família, na vida simples, sem

ambições — coisas que a fortuna não traz, e muitas vezes leva.

Rio, setembro de 1942.

HELENA MORLEY

(p. 9)

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Sábado, 10 de março

Hoje foi dia de festa em casa.

Meu pai foi segunda-feira para Bom Sucesso onde ele está fazendo um

serviço.* Era semana de lavra e ele estava com muita esperança na apuração.

Meu pai anda tão caipora que ninguém mais espera sorte aqui em casa. Só

ele é que diz sempre: "Esperem. Nem sempre o infeliz chora. O dia há de

chegar". Mas não chega nunca.

Hoje ele foi apeando da besta e mamãe lhe dizendo: "Estou achando

você com cara boa. A apuração deu alguma coisa?". Ele não respondeu. Abriu

uma folha de papel na mesa e alisou, depois meteu a mão no bolso do colete

com uma pachorra que me fazia aflição, tirou o picuá** e derramou os

diamantes no papel. Eram uns grandes e outros pequenos.

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Eu corri e abracei-o. Todos fizeram uma algazarra e começaram os

pedidos. Renato e Nhonhô pediram roupa nova e botins; eu e Luisinha

vestidos.

Ele calculava os diamantes em dezesseis contos, mas Seu Antônio

Eulálio só deu treze e quinhentos porque a fazenda*** não era boa.

Meu pai diz que o serviço dá muita esperança e que a formação é muito

boa, mas a água é que é pouca. Assim mesmo ele espera salvar o prejuízo do

ano passado e ficar com bom lucro este ano. Mas mamãe diz que está muito

acostumada com vida de mineiro; tira da terra num ano e torna a enterrar

no ano seguinte. Que é melhor gastar mais com a família. (p. 93)

(*) Serviço: mineração.

(**) Picuá: pequeno tubo de bambu ou taquara para guardar diamantes.

(***) Fazenda: o mesmo que qualidade.

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Aula 3Objetivos: Aprofundar as características do gênero diário e sua organização; Discutir a estrutura adotada pela narradora; Sensibilizar os alunos a linguagem utilizada no livro; Deixar uma pergunta para casa (sobre a temática abordada em sala)

Metodologia: O professor explicará de forma dialogada e não exaustiva as características do gênero diário; Em duplas os alunos deverão escolher uma entrada do livro Minha vida de menina e apontar as principais características de um diário ali presentes. Se preferirem também podem escrever/ criar uma entrada.

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Diário❏ O Diário é um tipo de texto pessoal em que uma pessoa relata experiências,

ideias, opiniões, desejos, sentimentos, acontecimentos e fatos do cotidiano. Normalmente produzido para ser lido somente pela própria pessoa ou por um amigo muito íntimo. Alguns tipos de diários até incluíam um cadeado com chave. Além dos textos podem incluir fotos, figuras, bilhetes, anotações, poesias.

❏ Diálogo íntimo entre o escritor e o papel.❏ Chamado também de "agenda". Um diário não é composto por capítulos, mas

sim, por entradas.❏ A palavra “diário” (do latim diarium) está relacionada com o termo “dia”.

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Diários❏ Além dos diários pessoais, temos também os diários de viagem, que relatam

experiências sobre determinado passeio e os chamados "diários de ficção" que são textos literários criados segundo o modelo confessional dos diários.

❏ Podem ser importantes documentos históricos, testemunhando uma época. Exemplo: o famoso “Diário de Anne Frank”.

❏ Podem ser considerados uma autobiografia.❏ Na comunicação virtual, os blogs se assemelham aos diários uma vez que muitos

possuem as mesmas características e, por isso, são comumente chamados de “Diários Virtuais”.

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Características do Diário❏ Relatos pessoais❏ Histórias verídicas❏ Registro de acontecimentos❏ Escritos em primeira pessoa❏ Registros em ordem cronológica❏ Caráter intimista e confidente❏ Subjetividade e espontaneidade❏ Escrita confessional❏ Vocabulário simples❏ Presença de vocativo❏ Linguagem informal❏ Textos assinados

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Texto e Linguagem

❏ Texto Descritivo - expõe apreciações e observações, de modo que indica aspectos, características, detalhes singulares e pormenores, seja de um objeto, lugar, pessoa ou fato. São textos repletos de adjetivos, os quais descrevem ou apresentam imagens a partir das percepções sensoriais do locutor (emissor).

❏ Dessa maneira, alguns recursos linguísticos relevantes na estruturação dos textos descritivos são: a utilização de adjetivos, advérbios de tempo, verbos de ligação, metáforas e comparações.

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Linguagem

❏ Linguagem - informal, coloquial, despreocupada e familiar com expressões populares e gírias, que marcam a oralidade dos textos haja vista seu número reduzido de leitores.

❏ Os blogs que atualmente correspondem a uma evolução dos diários, podem ser

produzidos com uma linguagem mais despreocupada, no entanto, dependendo do número de leitores e o público alvo, as pessoas utilizam uma linguagem mais formal.

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Segunda-feira, 6 de maio

Que dia maravilhoso passei hoje. Nosso professor de História Natural convida de vez em quando as

alunas para irem à casa dele estudar Botânica no quintal, praticamente. Eu não sou capaz de me

interessar por estudo de Botânica. Prefiro decorar meus pontos e entrar em exame sem muito

trabalho. Enquanto as estudiosas iam pela porta afora com o professor lhes ensinando o que é pétala,

corola, pistilo, caule e mais tanta coisa, eu apreciava a vista que se tem da casa dele, que é linda!

Avista-se todo o Rio Grande com o rio, a serra, as lavadeiras. Formei logo o plano de convidar as

amigas e dali irmos passear no Rio Grande. Depois que nos despedimos do professor, nos separamos

das colegas na porta. Elas foram terminar o dia na Escola e nós descemos pelo Burgalhau até o Rio

Grande. Na virada do beco encontramos uma vendinha. Elvira, que sempre tem dinheiro, comprou

rapadura, farinha de milho e queijo. Fomos à casa de uma preta nossa conhecida e lhe pedimos uma

vasilha. Ela nos trouxe uma cuia muito limpa e nós misturamos a rapadura, queijo e farinha com água

fria e fizemos uma jacuba do outro mundo. Sentamo-nos na lapa e fizemos descansadas nossa

merenda. Depois tiramos as botinas, metemos os pés na água e fomos subindo rio acima até o poço

do Glória. íamos andando pelo rio e apanhando sempre-vivas nas margens. O campo está agora uma

beleza! Que inveja das lavadeiras que passam ali naquela beleza o ano todo, enquanto nós vivemos

numa casa apertada a metade do dia e a outra metade na Escola. Eu preferia ser uma lavadeira do Rio

Grande.(Grifos nossos 173-174)

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Atividade: identificação das

características apresentadas

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“Esperei sem poder falar muito, de tanta fome. Chegou a

hora do jantar e a negra Maria encarreirou todos os

meninos no banco da mesa grande do salão do forno e foi

trazendo os pratos feitos para cada um. Quando chega a

minha vez Maria vira para mim e pergunta: "Sinhá Helena,

ocê também quer janta?". Eu, espantada da pergunta,

respondi: "Não, não quero não!" Pensando que a burra

entendesse. Espero o meu prato e não vem. Grito a Maria:

"Que é do meu prato?". Ela responde: "Uai! Ocê não disse

que não queria? Agora não tem mais comida". Fiquei tão

pasma que nem pude reclamar. Fiz o que mamãe diz que a

gente deve fazer quando o sofrimento é grande: oferecer o

sacrifício a Deus que ele agradece e ajuda depois, quando

se precisa. Não quis a sobremesa de melado com cará. Não

sei se foi para fazer bem o sacrifício ou se foi de raiva.

Acabado o jantar vovó olhou para mim e disse: "Você está

pálida e de beiços brancos. Que é isto? Está doente?". Eu

respondi: "Não senhora. Talvez seja porque eu não

merendei nem jantei". Vovó exclamou: "Forte coisa!".”

O trecho é um exemplo da utilização da

linguagem oral no diário. Em Minha vida

de menina, as expressões orais:

a) refletem as situações econômica e social

vivenciadas por Helena Morley.

b) determinam a classe social de cada

personagem, de modo que a linguagem é

alterada de acordo com a situação

descrita.

c) caracterizam a região, o momento

histórico e a aproximação aos fatos

cotidianos, presentes no texto.

d) objetivam aproximar a obra de um

público mais amplo, de modo a alcançar

leitores de todas as classes sociais.

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Aula 4: Possibilidades de atividades

Objetivo: Apresentar 3 possibilidades de atividades finais para os alunos.

Metodologia: Explicar a importância da diversidade avaliativa; conscientizá-los que, dentro das possibilidades apresentadas, a escolha é livre; Comentar que a data de entrega ou apresentação será no final da sequência.

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Aula 4: Possibilidades de atividades 1. Criação de um diário de leitura: Ao final da sequência

didática, os alunos entregarão um diário de leitura contendo suas impressões sobre o livro. Possibilidade: escrita ou por meio de stories destacados no Instagram.

2. Em grupo: Criação de um blog, no qual os alunos devem registrar momentos do cotidiano escolar (principalmente da sala de aula) que lhes chamaram atenção, ou foram significativos - Possibilidade de registro de memórias.

3. Em dupla: Os alunos devem escolher alguns episódios escritos por Helena e a partir deles escreverem novas aventuras, mas considerando que agora ela é uma menina do século XXI (O que muda? Muito!)- Possibilidade de criar uma fanfic

Como criar um blog: https://pt.wix.com/start/criar-blog

O que é fanfic: https://www.youtube.com/watch?v=gYpTPnuud1w

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Aulas 5 e 6Objetivo: Contextualizar a obra historicamente.

“...todo texto é um pronunciamento sobre uma dada realidade. Ao fazer esse pronunciamento, o produtor do texto trabalha com as ideias de seu tempo e da sociedade em que vive.Com efeito, as concepções, as ideias,as crenças, os valores não são tirados do nada, mas surgem das condições de existência.” (Para entender o texto: leitura e redação/ J L Fiorin e F P Savioli)

Metodologia: Apresentar brevemente a configuração histórica do Brasil e do mundo na época em que o livro foi escrito; Comentar sobre as obras literárias nacionais da época; Dialogar sobre a questão da FUVEST 2018 que se relaciona com o tema discutido.

Atividade: Os alunos, em grupos, deverão enumerar os temas abordados na obra com citações do texto. Qual ou quais desses temas despertam mais interesse para o aluno/grupo?

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Contexto histórico 1881-1902Panorama Mundial:

● Unificação da Itália e da Alemanha

● Positivismo (Augusto Comte)

● Evolucionismo (Charles Darwin)

● Segunda revolução industrial

● Socialismo científico

● Lutas proletária

Principais autores e obras na literatura nacional:

Romance realista: Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Dom Casmurro (1889), Quincas Borba(1892).

Romance naturalista: Aluísio Azevedo - O cortiço (1890), O mulato (1881), Casa de Pensão (1890)

Poesia: Olavo Bilac - Via láctea(1888) , Raimundo Correia - Sinfonias (1883), Alberto de Oliveira - Meridionais (1884)

Panorama Brasileiro:

● Decadência da monarquia

● Abolição da escravatura ( 1888)

● Proclamação da República ( 1889 )

● Governo Marechal Deodoro e 1ª

Constituição Republicana

● Cultura cafeeira

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“[...] Meus irmãos são criados no trabalho. Meu pai diz que na Inglaterra não há negros e são os

brancos que trabalham.” (p. 62)

“Vovó sempre se queixa que a Lei de Treze de maio serviu pra dar liberdade a todo mundo menos a

ela, que ficou com a casa cheia de negros velhos, negras e negrinhos. Ela gosta quando casa qualquer

delas; dá enxoval e uma mesa de doces. A senzala antiga tem um quarto de noivos que dá para o

terreiro. De vez em quando tem que se arranjar o quarto para um casamento. Vovó fica contente e já

se casaram muitas. Bela é que foi a última e já está tão feliz!” (p. 86)

“[...] Meu pai vive sempre esperando dar num cascalho rico: mas é só esperança, esperança toda a

vida.Quando ele dá no lavrado , como desta vez, lá se vai todo o dinheiro e ainda fica devendo.” (p. 48)

“[...] Eu não teria pressa de ir para o céu se morasse no Biribiri. [...] Dona Mariana e o Major Antônio

Felício conseguiram na terra. Eles são os donos da fábrica e a família toda é empregada ali. [...] De

noite as moças da fábrica brincam de roda e de tudo que querem. O lugar onde elas dormem é uma

casa comprida chamada Convento.” (p. 36)

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“Meu pai hoje veio da Boa Vista com tio Joãozinho para votarem no Presidente da República e no Dr.

João da Mata para deputado. [...] Os negros da chácara, que sabem ler, que são Marciano, Roldão e

Nestor,já desde cedo estavam de roupa limpa para a eleição.” (p. 91)

“Padre Neves me disse outro dia, quando eu lhe contei que um primo me havia dito que o homem vem

do macaco, que é um grande pecado ouvir essas coisas.” (p. 99)

“[...] Eu sou o contrário, não gosto de ler. Se gostasse não ia perder meu tempo com Samuel Smiles,

não; leria Júlio Verne, que é muito melhor e mais divertido.” (p. 40)

“[...] Meu avô não foi enterrado na igreja porque era protestante; foi na porta da Casa de Caridade e

até hoje se fala nisso em Diamantina.” (p. 71)

“Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando são na igreja do Rosário, que é pegada

à chácara da vovó, eu gosto mais ainda. Até parece que a festa é nossa. E este ano foi mesmo.” (p. 38)

“Faz hoje três dias que eu entrei para a Escola normal.” (p. 16)

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Escravidão no Brasil❏ A economia do Brasil durante três séculos (XV ao XVIII) alicerçou-se no sistema colonial

caracterizado pela exploração comercial.❏ A base dessa economia era o latifúndio, a monocultura da cana de açúcar e a mão de obra

escrava.❏ Estima-se que quatro milhões e oitocentos mil escravos foram traficados para o Brasil.

Durante os trezentos e cinquenta anos de escravidão, de cada cem pessoas que entravam no território brasileiro, oitenta e seis eram escravos negros africanos e quatorze eram brancos europeus livres.

❏ 1850: Lei Eusébio de Queiroz que suprime o tráfico negreiro❏ 1888: Lei Áurea: Abolição

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Henry Koster, 1816A sugar mill, Brazil, Travels in Brazil

Johan Moritz Rugendas, 1835Lavagem do minério de ouro, proximidade da montanha de Itacolomi

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Diamantina❏ A mineração como atividade socioeconômica resultou das expedições de interiorização

do Brasil, as chamadas entradas e bandeiras, em busca de pedras e metais preciosos. Ocorreu um grande movimento migratório para a regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso com a descoberta de ouro, diamante e esmeralda.

❏ Os primeiros diamantes no Brasil foram encontrados por volta de 1729. O Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, em Minas Gerais foi seu principal centro produtor. Até 1810, cerca de três milhões de quilates foram extraídos.

❏ Com a mineração a região de minas Gerais tornou-se um centro econômico e político marcado pela urbanização, por uma crescente burguesia e a diversificação de vários ofícios, mas a estrutura de trabalho ainda era a escravagista.

❏ No fim do século XVIII, com o esgotamento dos aluviões e sem tecnologia, se encerra a atividade mineradora.

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d

Rua Direita Caminho dos escravos Mercado

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Acervo IMS Chichico Alkmim Biribiri Igreja N Sra do Rosário dos dos pretos Antiga escola

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TEXTO PARA AS QUESTÕES 74 E 75 (FUVEST, 2018)

Voltada para o encanto da vida livre do pequeno núcleo aberto para o campo, a jovem Helena, familiar a todas as classes sociais daquele âmbito, estava colocada num invejável ponto de observação. (…)

Sem querer forçar um conflito que, a bem dizer, apenas se esboça, podemos atribuir parte desta grande versatilidade psicológica da protagonista aos ecos de uma formação britânica, protestante, liberal, ressoando num ambiente de corte ibérico e católico, mal saído do regime de trabalho escravo. Colorindo a apaixonada esfera de independência da juventude, reveste-se de acentuado sabor sociológico este caso da menina ruiva que, embora inteiramente identificada com o meio de gente morena que é o seu, o único que conhece e ama, não vacila em o criticar com precisão e finura notáveis, se essa lucidez não traduzisse a coexistência íntima de dois mundos culturais divergentes, que se contemplam e se julgam no interior de um eu tornado harmonioso pelo equilíbrio mesmo de suas contradições.

Alexandre Eulálio, “Livro que nasceu clássico”. In: Helena Morley, Minha vida de menina.

O trecho do romance Minha vida de menina que ilustra de modo mais preciso o que, para o crítico Alexandre Eulálio, representa “a coexistência íntima de dois mundos culturais divergentes” é:

(A) “Se há uma coisa que me faz muita tristeza é gostar muito de uma pessoa, pensando que ela é boa e depois ver que é ruim”.

(B) “Eu tinha muita inveja de ver meus irmãos montarem no cavalo em pelo, mas agora estou curada e não montarei nunca mais na minha vida”.

(C) “Já refleti muito desde ontem e vi que o único meio de ter vestido é vendendo o broche. Vou dormir ainda esta noite com isto na cabeça e vou conversar com Nossa Senhora tudo direitinho”.

(D) “Se eu não ouvir missa no domingo, como quando estou na Boa Vista onde não há igreja e não posso ouvir no Bom Sucesso, fico o dia todo com um prego na consciência me aferroando”.

(E) “Este ano saiu à rua a procissão de Cinzas que há muitos anos não havia. Dizem que não saía há muito tempo por falta de santos, porque muitos já estavam quebrados”.

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Aula 7Objetivos: O professor deve apresentar aos alunos os principais personagens do romance Minha Vida de Menina como forma de fazer uma mapeamentos das relações familiares. A compreensão dos laços familiares permite que a vasta gama de personagens seja identificada de forma mais clara pelos alunos e consequentemente conduz à uma leitura mais dinâmica. No entanto, o principal objetivo é preparar o aluno para as questões dos vestibulares que serão trabalhadas como verificação de conteúdo da aula.

Metodologia: Haverá uma aula com atividades de avaliação de conteúdo por meio da divisão da sala em dois grupos, um grupo irá analisar os principais personagens femininos e o outro os principais personagens masculinos, através de passagens contidas no próprio romance. A primeira parte da aula será de pesquisa, já a segunda parte será a criação de uma árvore genealógica que compreenda algumas das principais personagens.

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Principais personagens femininas“Vovó mostra gostar mais de mim que de Luisinha que é afilhada dela. Desde pequenina me fazia uns

agrados que mamãe nunca fez e prestava atenção a tudo que eu falava. Ela me diferencia tanto das

outras que, sem sentir, fica me parecendo que ela é a mãe e mamãe é avó. Se penso uma coisa falo a

vovó, se tenho alegria digo a vovó, se tenho raiva me queixo a vovó. Ela, depois de mais velha, me faz

de menino pequeno. Se come uma coisa me dá o resto; se vai passear na horta me chama; se quer

apanhar fruta sou eu que tenho de ir; na hora da reza, de noite, eu é que tenho de tirar o terço.” (p. 85)

“Vovó é muito inteligente. Ela nunca estudou e nunca a vi abrir um livro; só de orações. Depois de

velha é que ela veio para a cidade e como ela compreende tudo bem! Interessa-se por tudo que eu lhe

conto; olha minhas notas, coisa que mamãe nunca fez. Ela me conta a vida de moça e eu gosto muito

de ouvi-la.” (p. 118)

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Principais personagens femininas“Por que todo o mundo gosta de reprovar as coisas más que a gente faz e não elogia as boas? Eu e

minha irmã nem parecemos filhas dos mesmos pais. Eu sou impaciente, rebelde, respondona,

passeadeira, incapaz de obedecer e tudo o que quiserem que eu seja. Luisinha é um anjo de bondade.

Não sei como se pode ser como ela, tão sossegada. Nunca sai de casa sem ir empencada no braço de

mamãe. Não reclama nada. Se eu disser que já a vi reclamando um vestido novo, minto. E se ganha um

vestido e eu quiser lhe tomar, ela não se importa. Pois todos me chamam de menina rebelde e

ninguém elogia Luisinha.” (p. 76)

“Luisinha é muito teimosa. Ela me obedece muito mas é muito gulosa e come as coisas que lhe fazem

mal, mesmo escondido. Ela já tinha tido na Boa Vista uma cólica de goiaba, que mamãe só conseguiu

melhorar com rezas e promessas; e mesmo assim não se corrigiu.” (p. 97)

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Principais personagens femininas“Voltamos e já encontramos mamãe, de volta da lavadeira, enxaguando-a e

cantando umas coisas tão ternas como só ela sabe cantar. Como é simpática

a voz de mamãe! Às vezes gosto de vê-la triste para cantar. Não é por

maldade, mas é que a tristeza dela são sempre saudades de meu pai, às

vezes quando ele está a bem pouca distância de nós.” (p. 319)

“Quando fizeram Escola Normal em Diamantina tia Madge tinha perto de

quarenta anos. Assim mesmo ela entrou para a Escola e tirou o título. Mora

com tia Ifigênia e tia Cecília, que são boas modistas e no tempo das frutas

vão todas para a Fazenda fazer marmelada e goiabada.” (p. 78).

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Principais personagens masculinos

“Eu fico admirada da fraqueza do Renato para tudo. Vive sempre fazendo coisa malfeita, fugindo de casa atrás de fruta do quintal dos outros que têm muro caído.” (p. 103)

“Renato é muito acanhado. Ele não tem convivência com meninas; só com as primas.

Não conversa com nenhuma das colegas da Escola e não vai à casa de ninguém fora da família.” (p. 192)

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Principais personagens masculinos“[...] tio Geraldo também pensa que é grande, mas é mais velho e não é tão idiota. Todos os parentes vão à casa dele, mas ele não vai à casa de nenhum. Ele não pode passar sem meu pai; mas eu queria ver, se meu pai adoecesse, se ele vinha lhe fazer companhia o dia inteiro como meu pai faz a ele.” (p. 88)

“A senhora sabe Alexandre como é; fica só pensando na saúde do Geraldo e nem se lembra de si. E se adoecer, morre como um carneiro” (p. 79)

“Quando ela chegou em casa, ainda com raiva, meu pai disse: “Para que essa raiva toda? O nosso João é um inglesinho perfeito; não pode parecer negrinho de senzala”. E tornou a mandar Nhonhô fazer tudo como antes, buscar leite na fazenda e tudo o mais.” (p. 89)

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Carolina

Alexandre LuisinhaNhonhô (João)

Helena

Tia Madge

Tio Geraldo

Árvore genealógica

Lucas

Leontino

Tia Agostinha

Beatriz

Tia Aurélia

Avô Materno

Avó materna (D. Teodora)

Tia Neném

Renato

Hortênsia

Tia Carlota

Sérgio

João Afonso

Tia Clarinha

Tio Conrado

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Voltada para o encanto da vida livre do pequeno núcleo aberto para o campo, a jovem Helena, familiar a todas as classes sociais daquele âmbito, estava colocada num invejável ponto de observação. (…)

Sem querer forçar um conflito que, a bem dizer, apenas se esboça, podemos atribuir parte desta grande versatilidade psicológica da protagonista aos ecos de uma formação britânica, protestante, liberal, ressoando num ambiente de corte ibérico e católico, mal saído do regime de trabalho escravo. Colorindo a apaixonada esfera de independência da juventude, reveste-se de acentuado sabor sociológico este caso da menina ruiva que, embora inteiramente identificada com o meio de gente morena que é o seu, o único que conhece e ama, não vacila em o criticar com precisão e finura notáveis, se essa lucidez não traduzisse a coexistência íntima de dois mundos culturais divergentes, que se contemplam e se julgam no interior de um eu tornado harmonioso pelo equilíbrio mesmo de suas contradições.

Alexandre Eulálio, “Livro que nasceu clássico”. In: Helena Morley, Minha vida de menina

Fuvest 2018

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“Em pequena meu pai me fez tomar o hábito de escrever o que sucedia comigo. Na Escola Normal o Professor de Português exigia das alunas uma composição quase diária, que chamávamos "redação" e que podia ser, à nossa escolha, uma descrição, ou carta ou narração do que se dava com cada uma. Eu achava mais fácil escrever o que se passava em torno de mim e entre a nossa família, muito numerosa. Esses escritos, que enchem muitos cadernos e folhas avulsas, andaram anos e anos guardados, esquecidos. Ultimamente pus-me a revê-los e ordená-los para os meus, principalmente para minhas netas. Nasceu daí a ideia, com que me conformei, de um livro que mostrasse às meninas de hoje a diferença entre a vida atual e a existência simples que levávamos naquela época.”

A partir da passagem citada, selecione a opção que melhor define a intenção da autora ao escrever um diário:a) Registrar fatos e acontecimentos importantes sucedidos em Diamantina na época do declínio da mineração

como documento para a posteridade.b) Ampliar o conhecimento da língua portuguesa e desenvolver a habilidade de escrita para assumir um cargo de

professora quando terminasse a Escola Normal.c) Narrar acontecimentos íntimos que não queria dividir com outras pessoas e deixá-los anotados para que não

se perdessem na memória.d) Transmitir seu modo de vida e suas histórias para suas netas e para as meninas das gerações futuras.

Apesar de muitas situações que se leem nas alternativas A, B e D terem se tornado realidade, após décadas, sabemos, pelo excerto dado, que Helena, na época em que escrevia, não tinha a intenção de registrar fatos importantes no período do declínio da mineração, nem mesmo de se especializar em língua portuguesa ou de ser uma escritora dedicada às suas netas e aos seus futuros leitores. O diário se enquadra melhor no que se afirma em C.

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“Tenho pena das minhas primas com aquele pai tão metódico, como elas dizem. Na casa delas tudo é na hora, tudo é na regra, até palavras, modos, tudo. Engraçado é que as primas vivem horrorizadas de meu pai e mamãe não nos darem educação, como elas dizem, e não fazem um passeio sem nós duas, eu e Luisinha. Mas quando chega de tarde, estou mais cansada do que se estivesse trabalhando o dia inteiro, de tanto fingir de educada perto delas.Não sei se minhas primas têm pena de mim como eu tenho delas. Com certeza.”

No trecho em destaque, que foi retirado das primeiras páginas de Minha vida de menina, de Helena Morley, e faz parte da narrativa do dia 22 de abril de 1893, podemos dizer que a narradora:a) demonstra falta de vontade em conviver com suas primas por causa da educação rígida de seus tios.b) traça uma comparação entre a educação dada por seus pais a ela e Luisinha e aquela dada pelos tios às primas.c) insinua uma certa inveja das primas por terem os pais mais presentes e mais participantes na educação das

filhas.d) sente pena das primas por elas não poderem fazer longos passeios como aqueles praticados pela família

Morley.

Em relação às primas, no trecho dado, a narradora demonstra “pena” e não “inveja” ou “falta de vontade em conviver”, o que descarta as alternativas A e C. Ao afirmar que as primas não faziam “longos passeios como os da família Morley”, a alternativa D desvia-se do motivo do sentimento anunciado no trecho dado. A alternativa B é a única que lê adequadamente o trecho que, de fato, compara os modelos de educação assumidos pelas famílias mencionadas.

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Ao leitor de Minha vida de menina fica evidente que Helena Morley convivia com diferentes classes sociais.A partir dessa afirmação é possível dizer que o livro:

a) apresenta a luta de poder entre diferentes classes sociais, dado o período histórico em que os relatos ocorrem.b) traz as relações familiares de Helena Morley como metonímia das relações entre classes ocorridas no Brasil nesse

período.c) está desconectado dos eventos históricos ocorridos no Brasil no período em que foi escrito, sendo as relações

entre classes sociais inteiramente fictícias.d) é um relato da convivência entre brancos e negros num período posterior à Lei Áurea, retratando as

ambiguidades existentes nessas relações.

Registrar a luta de classes no Brasil de época não faz parte das intenções da autora, como vimos em questões anteriores. Assim, descartamos as primeiras duas alternativas. Por outro lado (apesar de não apresentar reflexões mais profundas em relação a eventos políticos), não é possível afirmar que o diário de Helena esteja “desconectado dos eventos históricos”, uma vez que muitos fatos mais distantes ou mais próximos de Diamantina, direta ou indiretamente, são mencionados pela jovem escritora. A alternativa D apresenta, de fato, um aspecto correto da obra. O convívio entre brancos e negros, no período mencionado, é comum e, em alguns momentos, os registros da autora revelam as ambiguidades dessa convivência.

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Aulas 8 e 9

Objetivos: Os alunos devem ser capazes de identificar, sobretudo com os trechos selecionados, o papel da mulher na sociedade da época e as considerações contestadoras que perpassam pela escrita de Helena. Além disso, devem ser capazes de comparar a menina Helena com Capitu, buscando similaridades e diferenças entre as duas.

Metodologia:

1. Leitura em conjunto dos trechos selecionados de Minha Vida de Menina;

2. Após a leitura, os alunos compartilham as suas impressões e ideias sobre as mulheres apresentadas;

3. Conversa com os alunos sobre uma outra personagem menina do século XIX: Capitu. Trazer trechos de Dom Casmurro que apresentem a personagem ou análises sobre a mesma (disponível em http://wwwpontopoderosa.blogspot.com/2008/11/caractersticas-da-personalidade-de.html);

4. Divididos em grupos, de 5-6 integrantes, os alunos discutem sobre o que se pode ter de semelhante e de diferente entre as duas personagens, tomando como base o material disponibilizado pelo regente. Espera-se que os alunos notem que uma delas é quem escreve sobre si mesma, enquanto a outra é descrita por outro narrador.

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“Mamãe não pode ficar longe de meu pai muito tempo. Não tinha feito uma semana da ida dele e mamãe recebendo uma carta que ele não estava passando bem do estômago, resolveu ir atrás. [...] Ajudamos a responder e quando acabaram as rezas mamãe disse a vovó: ‘Vou a Santa Bárbara. Vim lhe dizer que vou deixar aqui os três mais velhos e levo só o Joãozinho que é pequeno. Recebi carta de Alexandre que ele está com o estômago ruim. Isto não é senão a carne seca e dura que ele não pode comer. Se eu deixar, a coisa piora. A senhora sabe Alexandre como é; fica só pensando na saúde do Geraldo e nem se lembra de si. E se adoecer, morre como um carneiro’.” (p. 56, grifo nosso)

“Eu gosto de mamãe querer tanto assim a meu pai, mas acho que a vida das minhas primas que têm mães menos agarradas aos maridos é melhor que a nossa. Nunca vi uma prima ter de largar a casa dela e vir ficar na Chácara, como nós sempre ficamos, para mamãe ir atrás de meu pai.” (p. 56, grifo nosso)

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“Tia Carlota é a tia que nos faz rir, não pelo espírito, que não tem nenhum, mas porque é muito diferente das outras irmãs.

Ninguém na família se preocupa consigo. Todas as minhas tias só se ocupam dos maridos e dos filhos. A pessoa delas não vale nada. Nunca vi mamãe ou qualquer de minhas tias comer uma coisa antes dos maridos e dos filhos. Se alguma coisa na mesa é pouca, elas nem sabem o gosto.

Mamãe eu ainda acho que é mais abnegada que as outras, porque além dos cuidados com os filhos, é a que tem mais agarramento com o marido. É até falado na família. Quando eu reclamo o pouco-caso que ela faz em si e a preocupação conosco e com meu pai, ela responde: ‘Você verá quando for mãe. Você não sabe o ditado: ‘Desde que filhos tive nunca mais barriga enchi’? É a pura verdade. Minha vida são vocês e seu pai. Se vocês comem, eu fico mais satisfeita do que se fosse eu’.” (p. 155, grifo nosso)

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“Há certos dias que eu venho da Escola tão enjoada de tudo, que não tenho

ânimo de trabalhar nem estudar.

Hoje, quarta-feira, é o dia em que tenho mais obrigações. Tenho que

começar a passar as roupas desde hoje para estar tudo pronto amanhã.

Amontoar eu sei que fica pior para mim. Até agora não fui capaz de fazer nada.

Comecei a passar um vestido de babados e fiquei pensando que tanto trabalho é bobagem; que a gente devia andar com uma saia de baeta como no tempo antigo.” (p. 65-66, grifo nosso)

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“Não sei por que hei de ter este gênio de não suportar as contrariedades, tendo sido criada na nossa família, com todos tão resignados e conformados, e também sendo filha de meus pais que nunca discutem e não procuram se meter em nada. Penso sempre que a educação nada vale. Cada pessoa nasceu como Deus a fez e assim terá de ser.

Aqui em casa somos quatro irmãos e mamãe sempre diz que eu nem pareço filha dela nem de ninguém da família, e não sabe a quem saí. Meu pai diz que eu saí a uma irmã casada que mora em São Paulo e que não conhecemos. Chama-se Alice. Casou com um doutor colega de vovô que veio passear em Diamantina, foi logo para São Paulo e nunca mais voltou. Meus irmãos são muito diferentes de mim.

Eu presto atenção às conversas dos mais velhos e tomo partido que eu sei muito bem que não é da minha conta. Mas que hei de fazer se é meu gênio?” (p. 93-94, grifo nosso)

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“Vou fazer quatorze anos e já raciocino mais de que todos da família. Comecei a tirar

conclusões desde dez anos ou menos, eu penso. E juro que nunca vi uma pessoa da família de mamãe pensar nas coisas. Ouvem uma coisa e acreditam; e aquilo fica para o resto da vida.” (p. 120, grifo nosso)

“Mamãe é muito boa, eu sei bem disso. Juro que não a trocaria por nenhuma mãe do

mundo. Mas este sistema dela de não sair de casa a não ser para a Chácara de vovó me traz muito prejuízo e aborrecimento. Eu sei que se me comparasse com as outras e visse o meu uniforme como está diferente, ela providenciaria. Mas ela não vê ninguém a não ser vovó, as tias e as negras da Chácara.” (p. 142, grifo nosso)

“Estou convencida de que, se vovó dirigisse o dinheiro dela, nós não passaríamos

necessidade e mamãe e meu pai não ficariam tão amofinados como ficam às vezes, por falta de um pedaço de papel sujo, a que a gente tem de dar maior valor do que a muita coisa boa na vida.” (p. 48, grifo nosso)

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“Poucas são as vezes que entro em casa que mamãe não repita o verso:

A mulher e a galinha Nunca devem passear; A galinha bicho come, A mulher dá que falar.

E depois diz: ‘Era por minha mãe nos repetir sempre este conselho, que fomos umas moças tão recatadas. Vinham rapazes de longe nos pedir em casamento pela nossa fama de moças caseiras’.

Eu sempre respondo: ‘As senhoras eram caseiras porque moravam na Lomba. E depois, a fama foi o caldeirão de diamantes que vovô encontrou. Moça caseira, a senhora não vê que não pode ter fama? Como? Se ninguém a vê?’.” (p. 163, grifo nosso)

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“Hoje vovó esteve me explicando que muitas vezes a gente tem de fazer uma coisa malfeita para evitar um mal maior. Ela, para viver bem com vovô, tinha de enganá-lo algumas vezes. Ele tinha um gênio diferente de todos da casa.

Uma das coisas com que vovô embirrava era de fazer sabão na Fazenda. Vovó disse que ela não podia compreender viver na Fazenda comprando sabão. Então mandava os negros, no tempo dos pequis, buscar cargueiros deles para fazer sabão. Quando vovô via chegar aquela porção em casa, perguntava a vovó para que ela queria tanto pequi. Ela respondia: ‘É para fazer velas, Batista’. Ele então perguntava: ‘Faz-se velas de pequi?’. Ela respondia: ‘Muito boas’. Ele dizia: ‘Pois eu quero vê-las depois de prontas’.

Vovó enchia o tacho de pequis, fazia sabão escondido e ele acabava se esquecendo das velas. Vovó disse que para viver bem com ele tinha de esconder as coisas malfeitas e tudo que o aborrecesse porque, quando ele zangava, trancava-se no quarto e não queria sair. Uma vez ela teve de pular a janela e adulá-lo muito tempo para ele sair. Eu disse a vovó: ‘Eu não fazia isso. Ele podia ficar no quarto o tempo que quisesse, que eu não iria adulá-lo’.” (p. 52, grifo nosso)

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“Não posso deixar de dar razão a Dindinha da raiva que ela tem de vovó, já tão velhinha, ficar se afligindo por minha causa. Mas que culpa tenho eu?

Vovó mostra gostar mais de mim que de Luisinha que é afilhada dela. Desde pequenina me fazia uns agrados que mamãe nunca fez e prestava atenção a tudo que eu falava. Ela me diferencia tanto das outras que, sem sentir, fica me parecendo que ela é a mãe e mamãe é avó. Se penso uma coisa falo a vovó, se tenho alegria digo a vovó, se tenho raiva me queixo a vovó. Ela, depois de mais velha, me faz de menino pequeno. Se come uma coisa me dá o resto; se vai passear na horta me chama; se quer apanhar fruta sou eu que tenho de ir; na hora da reza, de noite, eu é que tenho de tirar o terço. ” (p. 60, grifo nosso)

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“O caso de tia Madge comigo é o mais esquisito que eu já vi. Ela é minha madrinha de crisma e eu sei que ela é quase como vovó para me achar qualidades. Eu não posso lhe contar um caso que ela ri até mais não poder. Diz a todos que eu sou inteligente, espirituosa e boa. Tudo, que uma pessoa possa fazer por outra, tia Madge faz por mim. E eu posso dizer que quase todos os aborrecimentos que tenho tido na vida são causados por ela com essa mania de se interessar tanto por mim. Eu seria muito mais feliz se ela fosse como as outras tias, que nem olham o que eu faço. Mas ela, coitada, tudo que faz de bom é para me dar um aborrecimento e às vezes sofrimento. [...]” (p. 134, grifo nosso)

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Fuvest 2018

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Aulas 10, 11 e 12*Objetivos: Apresentar aos alunos uma adaptação da obra e abrir a discussão sobre as suas diferenças e semelhanças; Mostrar que o filme também é um objeto ficcional e, por isso, recorta a história à sua maneira.

Metodologia: Conversar com os alunos que eles irão assistir uma adaptação sobre o livro que estão lendo; Pedir que eles estejam atentos às diferenças e semelhanças; Indicar que, em duplas, eles devem escolher um ponto do filme que chamou a atenção (seja estético, do enredo, etc); Apresentar algumas diferenças encontradas e suas possíveis consequências para a compreensão do diário.

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Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=xtFQOUqOt74

Filme: https://www.youtube.com/watch?v=0pJZDAJkFyA

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Pontos de análise ❏ As diferenças entre a

linearidade do livro e a utilizada no filme - Ex.: Cena inicial do padre - Filme e livro como obras de ficção

❏ Helena como crítica da instituição religiosa.

❏ A inserção do amor pelo primo (curiosidade - fato da vida adulta); Tio Geraldo

❏ A retratação da mãe e da avó - uma discussão sobre a escrita

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Sábado, 23 de setembro

Oh! que felicidade a notícia da volta de mamãe de

Santa Bárbara! Só pensar que eu vou deixar vovó em

paz, sem ninguém aborrecê-la por minha causa, já é

um alívio. Por vovó eu morava era aqui, e ela já tem

falado muitas vezes a mamãe para me deixar ficar.

Mas eu mesma é que não quero; não gosto de

cuidado demais comigo. Não gosto de muito cuidado.

Nossa família tem um homem que nem ao meu

caderno eu conto quem é, que gosta de pôr a minha

mão entre as dele e me agradar, para agradar vovó.

Que horror eu tenho! Fico tão arrepiada que parece

que minha mão está em cima da barriga de um

calango. Graças a Deus ele já não está fazendo isto

mais; parece que já viu que eu não gosto.

Filme: Minuto 19: 07.

Filme: Minuto 1:08:03; 1:34:00

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No livro, Carolina, a mãe de Helena, parece uma pessoa mais alegre. A própria Helena

escreve no diário: “Madita mãe é como nós. É dela que puxamos esse riso solto”. Já, no

filme, a personagem aparece com uma feição mais sofrida, principalmente pela

ausência do marido.

Solberg: Helena tem uma visão da mãe como alguém que acredita que a vida é feita de

sofrimentos. Mantivemos o olhar e o ponto de vista da menina sempre. Carolina só está

contente quando o marido volta das lavras e é seu amor por ele que a diferencia das

outras mulheres da família.

(Excerto da entrevista concedida pela diretora do filme)

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Terça-feira, 3 de setembro Vovó morreu! Ó querida vovó, para que Deus a levou e me deixou sozinha no mundo com tantas saudades! Sozinha sim, minha avozinha querida, pois não era a senhora a única pessoa que me compreendeu até hoje? Quem encontrarei mais na vida para dizer-me que sou inteligente, bonita e boazinha? Quem mais se lembrará de me dar um vestido bonito para não ficar inferior às primas? Quem discutirá com mamãe, procurando sempre defender-me e achando em mim qualidades, quando os outros só encontram defeitos? Sinto, minha avozinha querida, que de todos os netos só eu sofri tanto a sua perda! Disse isso mesmo aos primos e eles responderam: "Você era a única querida". Por que a senhora queria tanto a mim que sou a mais ardilosa das netas, a mais barulhenta e que mais trabalho lhe dava? Lembro-me agora com remorso do esforço que a senhora fazia todas as noites para me tirar do brinquedo e me pôr de joelhos, à hora do terço. Mas agora, lhe confesso, aqui em segredo, que era uma hora de sacrifício que a senhora me obrigava a passar. Até raiva eu sentia quando, depois de rezar o terço com todos os mistérios contemplados, ficavam minhas tias e a hipócrita da Chiquinha a lembrar todos os parentes mortos, para rezarmos um padre-nosso ou avemaria por alma de cada um. Eu ficava pensando que minha reza era capaz de levar as almas para o Inferno, pois rezava sempre contrariada. Ninguém mais conseguirá de mim este sacrifício. Mas sei, vovó, que apesar de tudo que eu fazia, a senhora sentia em mim a afeição que lhe tinha, e via o sofrimento pintado no meu rosto quando a via doente. Também eu via a sua alegria quando chegava da Escola e entrava correndo para lhe contar minhas notas. Agora que estou aqui me desabafando é que me vem à memória toda a sua ternura, toda a sua bondade para comigo. Vem-me à idéia o dia em que a comparei à Nossa Senhora.

Trecho no filme começa em 1:30:30

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Aulas 13 e 14 : Apresentação das atividades feitas

Objetivos: Apresentação das atividades finais escolhidas pelos alunos; Apresentar para os alunos a questão-problema da obra:

Publicado em livro em 1942, será que a autora simplesmente transcreveu o seu diário ou fez modificações a história?

Metodologia: Neste dia, haverá um café literário, no qual os alunos apresentarão os trabalhos realizados por eles, bem como explicarão o porquê da escolha feita.

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Material de apoio Links que podem ajudar os alunos e professores:

https://www.youtube.com/watch?v=21SxwyFyLmc&t=6107s

http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2666,1.shl

http://osolharesdehelena.blogspot.com/2017/10/exercicios.html

https://pt.slideshare.net/clauheloisa/minha-vida-de-menina-helena-morley

https://pt.slideshare.net/nando_reis/categorias-da-narrativa-10912046

https://www.webartigos.com/artigos/capitu-mulher-por-todos-os-lados/143072

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ReferênciasFIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto:leitura e redação. São Paulo: Ática, 2007.

Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: 1997.

______. Base Nacional Comum Curricular- Ensino Médio. Brasília: 2017.

MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

NOVAIS, Fernando A. Brasil em perspectiva.São Paulo: DIFEL, 1980

PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

SCHWARZ, Roberto. Duas meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

DIANA, Daniela. https://www.todamateria.com.br/genero-textual-diario/, acessado em 23/09/2019