27
MINISTÉRIO DA FAZENDA TERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES TERCEIRA CÂMARA Processo nº : 13857.000587/2003-89 Recurso nº : 133482 Acórdão nº : 303-32.818 Sessão de : 22 de fevereiro de 2006. Recorrente : JOÃOZINHO DESPACHANTE POLICIAL S/C LTDA. Recorrida : DRJ – RIBEIRÃO PRETO/SP. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA. NÃO SUBSTITUIÇÃO DA DCTF 1999 PELA DIPJ 1999. É cabível a aplicação da multa pelo atraso na entrega da DCTF à vista do disposto na legislação de regência. O caso é de não apresentação das DCTF relativas aos quatro trimestres de 1999. A DIPJ 1999, apresentada em branco, tem por ano-base 1998, e o lançamento se refere a multa por atraso na entrega das DCTF dos quatro trimestres de 1999. A DIPJ 1999, ano-base 1998, não é capaz de substituir a DCTF dos quatro trimestres de 1999. Mesmo as empresas imunes ou isentas de impostos e/ou contribuições, e as pessoas jurídicas inativas, têm o dever de apresentar a DCTF. É verdade que há exceção para as microempresas e empresas de pequeno porte enquadradas no regime SIMPLES, que estas estão legalmente dispensadas de apresentar DCTF com relação aos períodos em que estiverem acobertadas por esse sistema, porém, nos autos nada se afirma sobre ser essa a situação da interessada naquele período. Recurso voluntário negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os Membros da Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário, na forma do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos os Conselheiros Marciel Eder Costa, relator, e Nilton Luiz Bartoli. Designado para redigir o voto o Conselheiro Zenaldo Loibman. ANELISE DAUDT PRIETO Presidente ZENALDO LOIBMAN Relator designado

MINISTÉRIO DA FAZENDA TERCEIRO CONSELHO DE …apet.org.br/jurisprudencia/pdf/juri.adm.fede06.02-7.3.pdf · documentos de fls. 34/35, repetindo, em apertada síntese, as razões da

  • Upload
    buidieu

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Processo nº : 13857.000587/2003-89Recurso nº : 133482Acórdão nº : 303-32.818Sessão de : 22 de fevereiro de 2006.Recorrente : JOÃOZINHO DESPACHANTE POLICIAL S/C LTDA.Recorrida : DRJ – RIBEIRÃO PRETO/SP.

MULTA POR ATRASO NA ENTREGA. NÃO SUBSTITUIÇÃO DADCTF 1999 PELA DIPJ 1999.É cabível a aplicação da multa pelo atraso na entrega da DCTF àvista do disposto na legislação de regência. O caso é de nãoapresentação das DCTF relativas aos quatro trimestres de 1999. ADIPJ 1999, apresentada em branco, tem por ano-base 1998, e olançamento se refere a multa por atraso na entrega das DCTF dosquatro trimestres de 1999. A DIPJ 1999, ano-base 1998, não écapaz de substituir a DCTF dos quatro trimestres de 1999. Mesmoas empresas imunes ou isentas de impostos e/ou contribuições, eas pessoas jurídicas inativas, têm o dever de apresentar a DCTF. Éverdade que há exceção para as microempresas e empresas depequeno porte enquadradas no regime SIMPLES, que estas estãolegalmente dispensadas de apresentar DCTF com relação aosperíodos em que estiverem acobertadas por esse sistema, porém,nos autos nada se afirma sobre ser essa a situação da interessadanaquele período.Recurso voluntário negado.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.

ACORDAM os Membros da Terceira Câmara do Terceiro Conselhode Contribuintes, por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário, naforma do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos osConselheiros Marciel Eder Costa, relator, e Nilton Luiz Bartoli. Designado para redigiro voto o Conselheiro Zenaldo Loibman.

ANELISE DAUDT PRIETOPresidente

ZENALDO LOIBMANRelator designado

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Formalizado em:

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros: Nanci Gama, Sérgio deCastro Neves, Silvio Marcos Barcelos Fiúza e Tarásio Campelo Borges.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

RELATÓRIO

Trata-se de Auto de Infração eletrônico decorrente doprocessamento das DCTF ano calendário 1999, exigindo crédito tributário de R$800,00, correspondente à multa por atraso na entrega da DCTF 1º, 2º, 3° e 4°trimestres.

Cientificada da autuação em 21/08/2003, conforme AR. de fl. 21,ingressa com impugnação de fls 01/01, alegando improcedência do lançamento,originado em cumprimento de obrigação acessória de forma espontânea e antes dequalquer procedimento administrativo de fiscalização.

Requer pelo cancelamento do auto de infração, visto a empresaencontrar-se inativa à época dos fatos geradores.

Da Decisão que julgou procedente os lançamentos, fls. 25/27 aContribuinte apresentou Recurso Voluntário, tempestivo, em 29/07/2005, conformedocumentos de fls. 34/35, repetindo, em apertada síntese, as razões da peça inicial.

A Contribuinte está dispensada de apresentar arrolamento de benscomo garantia recursal nos termos da IN/SRF 264/2002, art. 2º, § 7º.

Subiram então os autos a este Colegiado, tendo sido distribuídos,por sorteio, a este Relator, em Sessão realizada no dia 24/01/2006.

Ë o relatório

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

VOTO VENCIDO

Conselheiro Marciel Eder Costa, Relator

O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos para a suaadmissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento.

Inicialmente, quanto as alegações da Recorrente de encontrar-seinativo à época dos fatos geradores, cumpre-nos esclarecer que Instrução Normativacitada na peça recursal (IN/SRF 28/1998), aplica-se tão somente as empresas optantesdo sistema SIMPLES, não podendo fazer uso desta, portanto, não aplicável aRecorrente face a condição tributária em que se encontra, ou seja, impedida de optarpelo SIMPLES em função da atividade que desenvolve..

No mais, comungo do entendimento do ilustre Conselheiro NILTONLUIZ BARTOLI quanto à ilegalidade da exigência e imposição de multa por atraso naentrega da DCTF, cujas razões acham-se estampadas no voto pelo mesmo proferidono Recurso nº 124.686, em que é recorrente J.R. Comércio de Combustíveis Ltda. erecorrida a DRJ/Recife/PE, e que servem de supedâneo e fundamento do voto aseguir:

“Cumpre investigar, nesta demanda, qual o fundamento jurídico equais as fontes formal e material da norma veiculada pela InstruçãoNormativa nº 129/86, com o fim de compulsar sua validade e eficáciano mundo do direito.

Para tanto cabe correlacionar a norma e o veículo introdutório comtodo o sistema jurídico para verificar se dele faz parte e se foiintroduzido segundo os princípios e regras estabelecidos pelopróprio sistema de direito positivo.

Inicialmente, é de se verificar a validade do veículo introdutório emrelação à fonte formal, para depois atermo-nos ao conteúdo danorma em relação à fonte material.

Todo ato realizado segundo um determinado sistema de direitopositivo, com o fim de nele integrar-se, deve, obrigatoriamente,encontrar fundamento de validade em norma hierarquicamentesuperior, e esta, por sua vez, também deve encontrar fundamento de

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

validade em norma hierarquicamente superior e assim por diante atéque se encontre o fundamento de validade na Constituição Federal. Éo sistema piramidal idealizado por HANS KELSEN.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

No caso em pauta, a tarefa primeira será a de situar hierarquicamentea Instrução Normativa nº 129/86, que instituiu para o contribuinte odever instrumental de informar à Receita Federal, por meio daDeclaração de Contribuições e Tributos Federais - DCTF as bases decálculo e os valores devidos de cada tributo, mensalmente.

O Código Tributário Nacional está organizado de forma que osassuntos estão divididos e subdivididos em Livro, título, capítulo e

sessões, as quais contêm os enunciados normativos alocados emartigos.

É evidente que a distribuição dos enunciados normativos de forma aestruturar o texto legislativo, pouco pode colaborar para ahermenêutica. Contudo podem demonstrar indicativamente quais asdisposições inaplicáveis ao caso, seja por sua especificidade seja porsua referência.

Com efeito, o Título II, trata da Obrigação Tributária, e o art. 113,artigo que inaugura o Título estabelece que:

Art. 113 - A obrigação tributária é principal ou acessória.

Este conceito legal, apesar de equiparar relações jurídicas distintas,uma obrigação de dar e outra obrigação de fazer, é um indicativo deque, para o tratamento legal dispensado à obrigação tributária, não érelevante a distinção se relação jurídica tributária, propriamente dita,ou se dever instrumental.

Para evitar descompassos na aplicação das normas jurídicas, adoutrina empreende boa parte de seu trabalho para definir edistinguir as relações jurídicas possíveis no âmbito do DireitoTributário. Todavia, para o caso em prática, não será necessárioembrenhar no campo da ciência a fim de dirimi-lo.

Ao equiparar o tratamento das obrigações tributárias, o CódigoTributário Nacional, equipara, conseqüentemente asresponsabilidades tributárias relativas ao plexo de relações jurídicasno campo tributário, tornando-as equânimes. Se equânimes asresponsabilidades, não se poderia classificar de forma diversa asinfrações, restando à norma estabelecer a dosimetria da penalidade

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

atinente à teoria das penas.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Há uma íntima relação entre os elementos: obrigação,responsabilidade e infração, pois uma decorre da outra, e seconsiderada a obrigação tributária como principal e acessória, ambasestarão sujeitas ao mesmo regramento se o comando normativo forgenérico.

Forçoso reconhecer, a partir dessa constatação que a instituição depenalidades tributárias são destinatárias das obrigações tributáriasoriundas de relação jurídica tributária de dar e de relação jurídicatributária de fazer, ou seja, de cunho patrimonial ou de cunhoprestacional.

A sanção tributária decorre da constatação da prática de um ilícitotributário, ou seja, é a pratica de conduta diversa da deonticamentemodalizada na hipótese de incidência normativa, fixada em lei. É odescumprimento de uma ordem de conduta imposta pela normatributária.

Sendo assim, tendo o modal deôntico obrigatório determinado aentrega de coisa certa ou a realização de uma tarefa (obrigação dedar ou obrigação de fazer), o fato do descumprimento, de pronto,permite a aplicação da norma sancionatória.

Tratando-se de norma jurídica validamente integrada ao sistema dedireito positivo (requisito formal), e tendo ela perfeita definiçãoprévia em lei, de forma a garantir a segurança do contribuinte depoder conhecer a conseqüência a que estará sujeito pela prática deconduta diversa à determinada, a sanção deve ter sua consecução.

Tal dever é garantia do Estado de Direito. Isto por que, não só apreservação das garantias e direitos individuais promovem asobrevivência do Estado de Direito, mas também a certeza de que,descumprida uma norma do sistema, este será implacável naaplicação da sanção. A sanção, portanto, constitui restrição dedireito, sim, mas visa a manter viva a estrutura do sistema de direitopositivo.

Segundo se verifica, a fonte formal da Instrução Normativa nº129/86 é uma Portaria do Ministério da Fazenda que delegou aoSecretário da Receita Federal a competência para eliminar ouinstituir obrigações acessórias. O Ministro da Fazenda foi autorizado

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

a eliminar ou instituir obrigações acessórias relativas a tributosfederais, por força do Decreto-lei nº 2.124/84, que em seu art. 5º,caput, dispõe que ‘o Ministro da Fazenda poderá eliminar ou

instituir obrigações acessórias relativas a tributos federaisadministrados pela Secretaria da Receita Federal’.

Por sua vez, o Decreto-lei nº 2.124/84, encontra fundamento devalidade na Constituição Federal de 1967, alterada pela EmendaConstitucional nº 01/69, que em seu art. 55, criou a competênciapara o Presidente da República editar Decretos-leis, em casos deurgência ou de interesse público relevante, em relação às matériasque disciplinou, inclusive a tributária.

Contudo, referido dispositivo legal não faz qualquer referência àdelegação de competência ao Ministério da Fazenda para criarobrigações, sejam tributárias ou não.

A antiga Constituição também privilegiou os princípios da legalidadee da vinculação dos atos administrativos à lei, o que de plano criariaum conflito entre a norma editada no Decreto-lei nº 2.124/84 e aConstituição Federal de 1967 (art. 153, § 2º).

Em relação à fonte material, verifica-se que há na norma veiculadapelo Decreto-lei nº 2.124/84, uma nítida delegação de competênciade legislar, para a criação de relações jurídicas de cunho obrigacionalpara o contribuinte em face do Fisco.

O Código Tributário Nacional, recepcionado integralmente pela novaordem constitucional, estabelece em seu art. 97 o seguinte:

Art. 97 - Somente a lei pode estabelecer:

(...)

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contráriasa seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas(grifamos).

Ora, torna-se cristalina na norma complementar que somente a leipode estabelecer a cominação de penalidades para as ações ou

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

omissões contrárias aos seus dispositivos (dispositivos instituídos emlei) ou para outras infrações em lei definidas.

Não resta dúvida que somente à lei é dada a autorização para criardeveres e direitos, sendo que as obrigações acessórias não fogem àregra.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Se o Código Tributário Nacional diz que haverá cominação depenalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,a locução “a seus dispositivos” refere-se aos dispositivos legais, àsações e omissões estabelecidas em lei e não às normascomplementares.

Aliás, a interpretação do art. 100 do Código Tributário Nacionalvem sendo distorcida com o fim de dar legitimidade a atos daadministração direta que não foram objeto da ação legiferante peloPoder competente.

Vale dizer, a hipótese de incidência contida no antecessor da normaveiculada por ato da administração não encontra fundamento devalidade em norma hierarquicamente superior, e, por vezes, éproferida por autoridade que não tem competência para fazê-lo.

Prescreve o art. 100 do Código Tributário Nacional:

Art. 100 - São normas complementares das leis, dos tratados e dasconvenções internacionais e dos decretos:

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas(grifamos).

Como bem assevera o artigo retromencionado, os atos normativosexpedidos pelas autoridades administrativas são complementares àsleis, devendo a elas obediência e submissão.

Incabível dar ao art. 100 do Código Tributário Nacional a conotaçãode que está aberta a possibilidade de um ato normativo vir asubstituir a função da lei, ou por falha da lei cobrir sua lacuna ouvício.

O atos administrativos de caráter normativo, são caracterizadoscomo normativos pois introduzem normas atinentes ao modusoperandi do exercício da função administrativa tributária e têm forçapara normatizar a conduta da própria administração em face docontribuinte, e em relação às condutas do contribuinte, servem,tão-somente, para explicitar o que já fora estabelecido em lei. Énesse contexto que os atos normativos cumprem sua função decomplementaridade das leis.

Nesse diapasão, é sempre oportuno salientar que todo ato

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

administrativo tem por requisito de validade cinco elementos: objetolícito, motivação, finalidade, agente competente e forma prevista emlei.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Percebe-se que a Instrução Normativa nº 129/86 cumpriu osdesígnios orientadores de validade do ato relativamente aos trêsprimeiros elementos, uma vez que a exigência de entrega deDeclaração de Contribuições e Tributos Federais – DCTF com o fimde informar à Secretaria da Fazenda Nacional os montantes detributos devidos e suas respectivas bases de cálculo, é dematerialidade lícita, motivada na necessidade de a Fazenda ter ocontrole dos fatos geradores que fazem surgir cada relação jurídicatributária entre o contribuinte e o Fisco, tendo por finalidade ocontrole do recolhimento dos respectivos tributos.

No que tange ao agente competente, no entanto, tal conformidadenão se verifica, uma vez que o Secretário da Receita Federal não tema competência legiferante, exclusiva do Poder Legislativo, para criarnormas constituidoras de obrigações de caráter pessoal aocontribuinte, cuja cogência é imposta pela cominação de penalidade.

É de se ressaltar que, ainda que se admitisse que o Decreto-lei nº2.124/84 fosse o veículo introdutório para outorgar competência aoMinistério da Fazenda para que criasse deveres instrumentais, oDecreto-lei não poderia autorizar ao Ministério da Fazenda a delegartal competência, como na realidade não o fez.

Ora, se o Ministério da Fazenda não tinha a competência paradelegar a competência que recebera com exclusividade doDecreto-lei nº 2.124/84, a Portaria MF nº 118/84, extravasou oslimites do poder outorgados pelo Decreto-lei.

Se toda norma deve encontrar fundamento de validade na normahierarquicamente superior, onde estaria o fundamento de validade daPortaria MF 118/84, se o Decreto-Lei não lhe outorgou competênciapara delegação?

Em relação à forma prevista em lei, entendendo-se lei como normano sentido lato, a instituição da obrigação de entrega de Declaraçãode Contribuições e Tributos Federais – DCTF, por ser obrigação e,conseqüentemente, dever acometido ao sujeito passivo da relaçãojurídica tributária, por instrução normativa não cumpre o requisito devalidade do ato administrativo, uma vez que tal instituição éreservada à LEI.

A exigibilidade de veiculação por norma legal de ações ou omissões

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

por parte de contribuinte e respectivas penalidades inerentes ao seudescumprimento é estabelecida pelo Código Tributário Nacional deforma insofismável.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Somente a Lei pode criar um vínculo relacional entre o Fisco e ocontribuinte e a correspondente penalidade pelo descumprimento daobrigação fulcral desse vinculo. E tal poder da lei é indelegável, como fim de que sejam garantidos o Estado de Direito Democrático e aSegurança Jurídica.

Por fim, mas de importância fundamental, é constatar-se que adelegação de competência legiferante introduzida pelo Decreto-lei nº2.124/84, não encontra supedâneo jurídico na nova ordemconstitucional instaurada pela Constituição Federal de 1988, uma vezque o art. 25 do ADCT estabelece o seguinte:

Art. 25 - Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias dapromulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação porlei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgãodo Poder Executivo competência assinalada pela Constituição aoCongresso Nacional, especialmente no que tange a:

I - ação normativa;

II - alocação ou transferência de recursos de qualquer espécie.

Ora, a competência de legislar sobre matéria pertinente ao sistematributário é do Congresso Nacional, como determina o art. 48 daConstituição Federal, sendo que a delegação outorgada peloDecreto-lei nº 2.124/84, ato do Poder Executivo auto disciplinado,que ainda que pudesse ter validade na vigência da constituiçãoanterior, perdeu sua vigência 180 dias após a promulgação daConstituição Federal de 1988.

Tendo a norma que dispõe sobre a delegação de competênciaperdido sua vigência, a Instrução Normativa nº 129/86, ficou semfonte material que a sustente e, conseqüentemente, também perdeusua vigência em abril de 1989.

Analisada a norma instituidora da obrigação acessória tributária,entendo cabível apreciar a cominação da penalidade estabelecida naInstrução Normativa.

No Direito Tributário a sanção administrativa tributária tem a mesmaconformação estrutural lógica da sanção do Direito Penal e se assim

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

o ato ilícito antijurídico deve ter a cominação de penalidadee s p e c í f i c a .

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Em artigo publicado na RT-718/95, p. 536/549, denominado ‘AExtinção da Punibilidade nos Crimes contra a Ordem Tributária’,GERD W. ROTHMANN, eminente professor da Faculdade deDireito da Universidade de São Paulo, destacou um capítulo sob arubrica ‘Características das infrações em matéria tributária’, quemerece transcrição aqui para servir de supedâneo ao argumento deque, a ausência de perfeita tipicidade na lei de conduta docontribuinte, implica a carência da ação fiscal:

Tanto o crime fiscal como a mera infração administrativa secaracterizam pela antijuridicidade da conduta, pela tipicidade dasrespectivas figuras penais ou administrativas e pela culpabilidade(dolo ou culpa).

A antijuridicidade envolve a indagação pelo interesse ou bem jurídicoprotegido pelas normas penais e tributárias relativas ao ilícito fiscal.

(...)

A tipicidade é outro requisito do ilícito tributário penal eadministrativo. O comportamento antijurídico deve ser definido porlei, penal ou tributária. Segundo RICARDO LOBO TORRES (Cursode Direito Financeiro e Tributário, 1993, p. 268), a tipicidade é apossibilidade de subsunção de uma conduta no tipo de ilícito definidona lei penal ou tributária.

(...)

Nisto reside a grande problemática do direito penal tributário: leispenais, freqüentemente mal redigidas, estabelecem tipos penais queprecisam ser complementados por leis tributárias igualmentedefeituosas, de difícil compreensão e sujeitas a constantes alterações.

Na mesma esteira doutrinária BASILEU GARCIA (in Instituições deDireito Penal, vol. I, Tomo I, Ed. Max Limonad, 4ª edição, p. 195)ensina:

No estado atual da elaboração jurídica e doutrinária, há pronunciadatendência a identificar, embora com algumas variantes, o delito comosendo a ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível.O comportamento delituoso do homem pode revelar-se por atividade

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

positiva ou omissão. Para constituir delito, deverá ser ilícito,contrário ao direito, revestir-se de antijuricidade. Decorre a

tipicidade da perfeita conformidade da conduta com a figura que a leipenal traça, sob a injunção do princípio nullum crimen, nulla poenasine lege. Só os fatos típicos, isto é, meticulosamente ajustados aomodelo legal, se incriminam.

O Direito Penal (e por conseguinte o Direito Tributário Penal)contém normas adstritas às normas constitucionais. Dessa sorte, estáerigido sob a primazia do princípio da legalidade dos delitos e daspenas, de sorte que a justiça penal contemporânea não concebe crimesem lei anterior que o determine, nem pena sem lei anterior que aestabeleça; daí a parêmia nullum crimen, nulla poena sine praevialege, erigida como máxima fundamental nascida da RevoluçãoFrancesa e vigorante cada vez mais fortemente até hoje (Cf. BasileuGarcia, op. cit., p. 19) .

Na Constituição Federal há expressa disposição que repete a máximaretromencionada, em seu art. 5º, inciso XXXIX - Não há crime semlei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

No âmbito tributário, a trilha é a mesma, estampada no CódigoTributário Nacional, art. 97, retrocitado.

Não há, aqui, como não se invocar teorias singelas sobre o trinômioque habilita considerar uma conduta como infratora às normas denatureza penal: o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade,segundo conceitos extraídos da preleção de DAMÁSIO E. DEJESUS (in Direito Penal, Vol. 1, Parte Geral, Ed. Saraiva, 17ªedição, p. 136/137).

O fato típico é o comportamento humano que provoca um resultadoe que seja prevista na lei como infração; e ele é composto dosseguintes elementos: conduta humana dolosa ou culposa; resultadolesivo intencional; nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;e enquadramento do fato material a uma norma penal incriminatória.

A antijuridicidade é a relação de contrariedade entre o fato típico e oordenamento jurídico. A conduta descrita em norma penalincriminadora será ilícita ou antijurídica em face de estar ligado ohomem a um fato típico e antijurídico.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Dessa caracterização de tipicidade, de conduta e de efeitos é quenasce a punibilidade.

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Tais elementos estavam ausentes no processo que cito, comotambém estão ausentes no caso presente. Daí, não ser punível aconduta do agente.

Não será demais reproduzir mais uma vez a lição do já citado mestrede Direito Penal Damásio de Jesus, que ao estudar o FATOTÍPICO ( obra citada - 1º volume - Parte Geral (Ed. Saraiva - 15ªEd. - p. 197) ensina:

Por último, para que um fato seja típico, é necessário que oselementos acima expostos (comportamento humano, resultado enexo causal) sejam descritos como crime.

(...)

Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa aconstituir em indiferente penal. É um fato atípico.

(...)

Foi Binding quem pela primeira vez usou a expressão 'lei em branco'para batizar aquelas leis penais que contêm a sanctio jurisdeterminada, porém, o preceito a que se liga essa conseqüênciajurídica do crime não é formulado senão como proibição genérica,devendo ser complementado por lei (em sentido amplo).

Nesta linha de raciocínio nos ensina CLEIDE PREVITALLI CAIS,in O Processo Tributário, assim preleciona o princípio constitucionalda tipicidade:

Segundo Alberto Xavier, ‘tributo, imposto, é pois o conceito que seencontra na base do processo de tipificação no Direito Tributário, detal modo que o tipo, como é de regra, representa necessariamentealgo de mais concreto que o conceito, embora necessariamente maisabstrato do que o fato da vida.” Vale dizer que cada tipo deexigência tributária deve apresentar todos os elementos quecaracterizam sua abrangência.’ No Direito Tributário a técnica datipicidade atua não só sobre a hipótese da norma tributária material,como também sobre o seu mandamento. Objeto da tipificação são,portanto, os fatos e os efeitos, as situações jurídicas iniciais e assituações jurídicas finais.

O princípio da tipicidade consagrado pelo art. 97 do CTN e

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

decorrente da Constituição Federal, já que tributos somente podemser instituídos, majorados e cobrados por meio da lei, apontacomclareza meridiano os limites da Administração neste campo, já

que lhe é vedada toda e qualquer margem dediscricionariedade.” (Grifo nosso)

Como nos ensinou Cleide Previtalli Cais ‘... cada tipo de abrangênciatributária deve apresentar todos os elementos que caracterizam suaabrangência...’, já que ‘... lhe é vedada (à Administração) toda equalquer espécie de discricionariedade.’

Revela-se, assim, que tanto o poder para restringir a liberdade comopara restringir o patrimônio devem obediência ao princípio datipicidade, pois é a confirmação do princípio do devido processolegal a confrontação específica do fato à norma.”

Em última análise, nos cabe verificar quanto a aplicação do artigo 7ºda Lei 10.426 de 24 de Abril de 2002 para o caso em tela,fazendo-se mister recorrer aos fatos para destes extrair-se aconclusão: a) As Declarações de Débitos e Créditos Tributáriosreferem-se aos trimestres de 1999, com prazo máximo estabelecidospara entrega até 29/02/2000. b) As entregas relativas as DCTFsocorreram todas em 21/06/2001. c) Todas as entregas, portanto,foram anteriores ao surgimento da lei retrocitada..

Não obstante ao Princípio da Irretroatividade da Lei, a exceção semais benéfica ao contribuinte, dispõe a este respeito o CódigoTributário Nacional, em seu artigo 106: “Art. 106. A lei aplica-se aato ou fato pretérito: I – em qualquer caso, quando sejaexpressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade àinfração dos dispositivos interpretados; ...” .

Portanto, decorre a partir da lei 10.426/02 o estabelecimento depenalidades ao contribuinte que não entrega ou entrega de formaintempestiva as obrigações acessórias a que deve se sujeitar, sendovedado a sua aplicação ao fatos passados.

Diante do exposto, entendo que a Instrução Normativa nº 129/86,126/98, 52/99 e 18/00, não são veículos próprios a criar, alterar ouextinguir direitos, seja porque não encontra em lei seu fundamentode validade material, seja porque a delegação pela qual se origina é

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

malversação da competência que pertine ao Decreto-lei, ou sejaporque inova o ordenamento extrapolando sua própria competência.

Diante do exposto, DOU PROVIMENTO ao Recurso Voluntário.

Sala das Sessões, em 22 de fevereiro de 2006.

MARCIEL EDER COSTA - Relator

VOTO VENCEDOR

Conselheiro Zenaldo Loibman, Relator designado.

Estão presentes os requisitos de admissibilidade do recursovoluntário, e a matéria é da competência do Terceiro Conselho deContribuintes.

A exigência objeto deste processo refere-se à multa de ofíciopor atraso na entrega da DCTF.

O recorrente se insurgiu contra a decisão recorrida nosseguintes aspectos:

1. Em 21.11.2001 entregou as DCTF relativas aos quatrotrimestres de 1999, somente para atender à notificação do PAR – Programade Auto-Regularização da Situação Fiscal- emitida pela SRF em 29.10.2001;

2. Não estava obrigada a entregar as tais DCTF’s, postoque se encontrava sem movimento desde o ano de 1998;

3. No entanto, foi autuada em 15.08.2003, por entregar forade prazo as DCTF’s acima indicadas, entregues apenas para atender ànotificação em função do PAR;

4. Em 25.08.2003 foi solicitado o cancelamento da multa,visto que não havia a obrigação de entregar as referidas declarações, postoque a empresa estava inativa naqueles anos, e as DCTF somente foram

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

entregues posteriormente por uma exigência da SRF nos termos já descritos.

A DRJ manteve o lançamento sob a alegação de que a INSRF 28/1998 obrigava a que a empresa entregasse no exercício 1999, aoinvés da Declaração de Informações Econômico-Fiscais de Pessoa Jurídica -DIPJ (segundo a DRJ efetivamente entregue com a informação deinatividade), deveria ter entregado uma Declaração de IRPJ Inativa, ficandocaracterizada assim a falta de entrega oportuna de DCTF.

Portanto a lide posta ao Conselho de Contribuintes, nestecaso, se restringe a este aspecto, já que a recorrente afirma que a SRF estáse valendo de uma IN SRF, sem força de lei que, a seu ver, instituiu aDeclaração de IRPJ Inativa para o fim de aplicar a multa, que seria indevidaposto que a entrega da DIPJ em branco, para caracterizar que não houvemovimento, substitui para todos os efeitos a Declaração Simplificada de PJI n a t i v a s .

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

Apenas por tal motivo pede o cancelamento da multa.

Veja-se que embora a afirmação inicial da recorrente seja ade que não estava obrigada a apresentar DCTF porque estava inativa desde1998 (e supostamente por todo o ano de 1999), havia, contudo entregue em1999 a DIPJ em branco, para expressar a falta de movimento.

Portanto a primeira questão real a ser enfrentada no casoconcreto é se a DIPJ apresentada em branco em 1999 substitui ou não asDCTF referentes aos quatro trimestres de 1999.

Ora, o recurso nada diz sobre entrega no exercício de 2000da DIPJ, ainda que em branco, com referência ao ano-base de 1999, apenasse refere à DIPJ 1999 entregue em branco.

Se a alegação tivesse sido de apresentação da DIPJ 2000,ano-base 1999, em branco, poderia fazer algum sentido a pretensão de certafungibilidade das declarações sob análise (DIPJ e DCTF), ainda que comcerta cautela em face do disposto no §5º do artigo 7º da Lei 10.426/02. É quea norma mencionada prevê que na hipótese de entrega de declaração quenão atenda às especificações técnicas estabelecidas pela SRF, o sujeitopassivo deverá ser intimado a apresentar nova declaração, no prazo de 10(dez) dias, contados da ciência da intimação, e sujeitar-se-á à multa previstano inciso I do caput, observado o disposto nos §§1º e 3º, ou seja, se nãoatender à intimação, para a nova declaração, no prazo mencionado.

Assim, se a comparação fosse entre a DIPJ 2000, ano-base1999, e as quatro declarações DCTF de 1999, antes de exigir a multadeveria haver a intimação para apresentação das novas declarações, com acorreta especificação estabelecida pela SRF, no prazo de dez dias a contarda intimação.

Observe-se, entretanto, que a DIPJ 1999 tem por ano-base1998, e o lançamento se refere a multa por atraso na entrega das DCTF dosquatro trimestres de 1999. Esse é motivo suficiente a aferir que a DIPJ 1999,ano-base 1998, não é capaz de substituir a DCTF de cada um dos quatro

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

trimestres de 1999. O caso é, portanto, de não apresentação das DCTFrelativas aos quatro trimestres de 1999 (nem tampouco da DIPJ 2000).

Mas resta a alegação de que estando inativa também em1999, então não estaria obrigada a apresentar as DCTF’s relativas aosquatro trimestres de 1999, e que somente o fez em 21.11.2001, para atenderà notificação do PAR – Programa de Auto-Regularização da Situação Fiscal -emitida pela SRF em 29.10.2001.

Mesmo as empresas imunes ou isentas de impostos e/oucontribuições, bem como as pessoas jurídicas inativas, têm o dever deapresentar a DCTF. É verdade que há exceção, conforme destaca a IN SRF482/04, para as

microempresas e empresas de pequeno porte enquadradas no regimeSIMPLES, que estas estão legalmente dispensadas de apresentar DCTFcom relação aos períodos em que estiverem acobertadas por esse sistema,porém, nos autos nada se afirma sobre ser essa a situação da interessadanaquele período.

Por fim, registra-se no que concerne à legalidade daimposição, a jurisprudência dominante no Conselho de Contribuintes, comotambém no STJ, à qual me filio, que é no sentido de que de nenhuma formase feriu o princípio da reserva legal.

Neste sentido os votos do eminente Ministro Garcia Vieira,nos julgamentos da Primeira Turma do STJ do REsp 374.533, de27/08/2002; do Resp 357.001-RS,de 07/02/2002 e do REsp 308.234-RS,de03/05/2001, dos quais se extrai a ementa seguinte : “É cabível a aplicação demulta pelo atraso na entrega da DCTF, a teor do disposto na legislação deregência. Precedentes jurisprudenciais.”

A penalidade pelo descumprimento da obrigação acessóriade entregar a DCTF, está prevista em lei, calcada no disposto no parágrafo §3o do art. 5o do Decreto-Lei no 2.214/84, verbis:

“Art. 5o – O Ministro da Fazenda poderá eliminar ou instituir

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

obrigações acessórias relativas a tributos federais administradospela Secretaria da Receita Federal.

(...)

§ 3o. Sem prejuízo das penalidades aplicáveis pela inobservânciada obrigação principal, o não cumprimento da obrigação acessóriana forma da legislação sujeitará o infrator à multa de que tratam osparágrafos 2o, 3o e 4o, do art. 11, do Decreto-Lei no 1.968, de 23de novembro de 1982, com a redação que lhe foi dada peloDecreto-Lei no 2.065, de 26 de outubro de 1983.”(grifei)”.

O caput e os §§ 2°, 3o e 4o do art. 11 do Decreto-Lei no 1.968/82,com redação dada pelo Decreto-Lei no 2.065/83, estão assim redigidos:

“Art. 11 – A pessoa física ou jurídica é obrigada a informar àSecretaria da Receita Federal os rendimentos que, por si ou comorepresentante de terceiros, pagar ou creditar no ano anterior, bemcomo o Imposto sobre a Renda que tenha retido.

(...)

§ 2o Será aplicada multa de valor equivalente ao de uma ORTNpara cada grupo de 5 (cinco) informações inexatas, incompletas ou

omitidas, apuradas nos formulários entregues em cada períododeterminado.

§ 3o Se o formulário padronizado (§ 1o) for apresentado após operíodo determinado, será aplicada multa de 10 (dez) ORTN aomês-calendário ou fração, independentemente da sanção previstano parágrafo anterior.

§ 4o Apresentado o formulário, ou a informação, fora do prazo,mas antes de qualquer procedimento “ex officio”, ou se, após aintimação, houver a apresentação dentro do prazo nesta fixado, asmultas serão reduzidas à metade.”(grifei)”.

In casu, fica claro que se trata de aplicação da multa por atraso naentrega da DCTF. Como consta do auto de infração, a penalidade foi aplicada porque

MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESTERCEIRA CÂMARA

a contribuinte deixou de apresentar no prazo legal a DCTF.

Observa-se que o valor da multa pelo atraso na entrega dadeclaração referida corresponde ao principal nesta obrigação de fazer. A sançãopelodescumprimento da obrigação de fazer é precisamente a multa pelo atraso naentrega da DCTF.

A Egrégia 1ª Turma do STJ, através do recurso especialnº195161/GO (98/0084905-0),relator Ministro José Delgado (DJ de 26.04.99) decidiupor unanimidade de votos assim:

“TRIBUTÁRIO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ENTREGA COMATRASO DA DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA. MULTA. INCIDÊNCIAART.88 DA LEI 8.981/95.

A entidade ‘denúncia espontânea’ não alberga a prática de ato puramente formal docontribuinte de entregar,com atraso,a declaração do imposto de renda. (grifo nosso).As responsabilidades acessórias autônomas,sem qualquer vínculo direto com aexistência do fato gerador do tributo,não estão alcançadas pelo art.138,do CTN.Há de se acolher a incidência do art.88 da Lei 8.981/95, por não entrar em conflitocom o art.138 do CTN.Os referidos dispositivos tratam de entidades jurídicasdiferentes.

Recurso provido” .

Pelo exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário.

Sala das Sessões, em 22 de fevereiro de 2006

Zenaldo Loibman – Relator designado