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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
____________________________________________________
1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª
SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO
IGUAÇU-PR.
"A Administração não titulariza interesses públicos. O titular deles é o Estado, que, em certa esfera, os protege e exercita através da função administrativa. (...) Os bens e os interesses não se acham entregues à livre disposição da vontade do administrador. Antes, para este, coloca-se a obrigação, o dever de curá-los nos termos da finalidade a que estão adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 18.ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 65)
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas
atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição
Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,
da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
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2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
em face a:
CARLOS JULIANO BUDEL, brasileiro, casado, Engenheiro Civil, ex-
Vereador da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr, nascido aos 24/07/1954,
filho de José João Budel e de Maria do Carmo, residente na Avenida Iguaçu, nº
179, apartamento 33, Vila Yolanda, CEP 85.853-230, nesta cidade e Comarca de
Foz do Iguaçu-Pr; e
ANTÔNIO CARLOS RAMOS, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar1,
natural de Anhembi-SP, nascido aos 06.10.1953, filho de Antônio Ramos e de
Zaira Maria de Moraes, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 7.125.363-5
(SSPPR), e CPF/MF nº 605.717.138-15, residente na Rua Grajaú, nº 151,
Conjunto Habitacional Imperatriz, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:
1. DOS FATOS:
A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto
descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores
comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,
prática de ato de improbidade administrativa. 1 Vide portaria 02/2013.
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3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
Com isso, o Ministério Público propôs, em
fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para
que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados
quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade
administrativa, visando, portanto, que o número de tais servidores comissionados
não seja superior àqueles providos por concurso público, e também para que
abstivessem a mantença de funcionários nomeados ad nutum em quantidade
superior a dos efetivos.
Deste feito foram extraídas cópias integrais e
instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada
vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o
escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos
comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou
servidores comissionados irregulares.
Com efeito, conforme declarações prestadas no
presente Inquérito Civil Público, verificou-se que ANTÔNIO CARLOS
RAMOS foi nomeado para exercer o cargo de assessor parlamentar do ex-
vereador CARLOS JULIANO BUDEL, durante o seu mandato compreendido
entre os anos de 2009 a 2012 (nomeações constantes no CD de fls. 38).
Da análise dos autos, em especial do teor das
oitivas (fls. 06/08), infere-se haver manifesto desvio de função por parte de um
dos assessores parlamentares (ANTÔNIO CARLOS RAMOS), vinculado ao
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4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
então vereador CARLOS JULIANO BUDEL, vez que não exercia as
atividades inerentes ao cargo a que fora contratado.
A Resolução Legislativa nº 015, de
17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:
“Art. 9º. São atribuições do Assessor
Parlamentar:
I– prestar serviços ao vereador, em
atividades externas;
II– atender e prestar esclarecimentos a
pessoas que demandem ao gabinete;
III– agendar compromissos do titular do
gabinete;
IV– elaborar e expedir as correspondências
do gabinete;
V– manter arquivo das correspondências
recebidas e expedidas pelo gabinete e de
outros documentos de interesse deste;
VI- efetuar o controle das pautas de sessões
e de proposições legislativas de interesse do
gabinete;
VII- assistir o titular do gabinete no
desempenho de suas atribuições;
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VIII– organizar as reuniões promovidas
pelo gabinete, providenciando a pauta e os
convites aos participantes;
IX– executar outras tarefas determinadas
pelo titular do gabinete, inerentes as
atribuições deste”.
Em sede de depoimento (arquivo de áudio e
vídeo em CD-ROM anexo), ANTÔNIO CARLOS RAMOS declarou ser2
assessor jurídico do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL, há
aproximadamente quatro anos.
Indagado acerca das funções exercidas,
declarou que elas eram “mais externas”.
Função externa – exterior, aquilo que está do
lado de fora – cujo antônimo, neste caso específico, representa o trato direto com
os afazeres que se impõe ao exercício do cargo em comissão, necessários ao
regular desempenho da atividade camarista. Muito embora o texto da Resolução
Legislativa preveja a atuação daquele que preenche cargo comissionado em
atividades externas, prestando serviços ao vereador, salta aos olhos o errôneo
emprego de tal atribuição dada ao assessoramento.
2 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria 41/2009); Exonerado em setembro de 2009 (Portaria 267/2009); Nomeado em novembro de 2009 (Portaria 318/2009); Exonerado em julho de 2010 (Portaria 106/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria 234/2010); Exonerado em janeiro de 2013 (Portaria 02/2013).
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6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
A função “mais externa” diz respeito à visita
aos bairros da cidade, determinado “atendimento à população” e seus respectivos
pedidos. Assim, a atuação como assessor acaba por consistir em mera indicação
dos problemas da comunidade, de que se têm conhecimento pelas visitas, e
ocorrem sem hora ou data marcada, sem pauta ou organização.
O comparecimento à Câmara de Vereadores,
como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria três ou quatro vezes por
semana, com a finalidade de “passar informações” ao ex-vereador.
Indagado acerca da existência de algum
mecanismo de controle de frequência, além das câmeras de vigilância, respondeu
negativamente. Asseverou nunca ter assinado “folhas de frequência” ou “folhas
ponto”.
Declarando ter “muita coisa para fazer” com relação
à prestação de assessoramento, ANTÔNIO CARLOS RAMOS, no entanto, não
soube elencar com clareza e consistência todas as tarefas relativas à sua
ocupação. “Saneamento”, “poda de árvore”, todas indicações genéricas, vagas,
inexistente qualquer relatório ou acompanhamento dos assim chamados
“atendimentos”.
Denota-se, assim, que conforme as
transcrições acima, o assessor parlamentar ANTÔNIO CARLOS RAMOS não
desempenhava as funções a ele inerentes, e sim, promovia ações assistencialistas
ao ex-vereador, caracterizando uma evidente artimanha para promoção política,
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já que o atendimento à população, da forma realizada, é evidente mecanismo –
deveras utilizado – de “atendimento” e contato com eleitores em potencial.
Assim, assistindo os cidadãos de forma personalíssima – o que não serve para
atender as demandas sociais e os interesses de toda a coletividade -, com ares de
generosidade e atento, na verdade prima pela lembrança de seus “auxílios” em
tempo de eleição.
Portanto, revela-se a assessoria legislativa do
Vereador CARLOS JULIANO BUDEL nítido clientelismo, negocismo,
incumbindo-se o agente comissionado de atividades que, não bastassem
extrapolar as limitações legais do cardo de Vereador, visam à continuidade do
parlamentar no poder legislativo.
Ressalte-se, nesse átimo, que a função de
tapar os buracos nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a
necessidade de faixas de pedestres, entre outras necessidades básicas da
comunidade em geral, não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.
Sendo o Prefeito a figura máxima do
Executivo no âmbito municipal, é dele a responsabilidade de atender os anseios
da população, reunindo-se constantemente com a sociedade a fim de aferir as
reivindicações coletivas, encontrando as possibilidades para a satisfação das
necessidades do município.
Ao vereador, parte do poder legislativo, cabe
as elaborações, discussões e votações que envolvam a aprovação de leis
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municipais, visando o bem estar da comunidade de modo geral. Além disso, tem
como dever a fiscalização do orçamento público e da administração do Poder
Executivo.
Destarte, resta caracterizado o desvio de
função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém
o poder, ou seja, do Vereador CARLOS JULIANO BUDEL.
O desvio de função é o desempenho pelo
funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.
Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram
efetivamente prestadas pelo assessor parlamentar, tendo em vista a falta de
informações, frequência e comprovação de eficiência em seu labor, já que sua
oitiva é confusa e vaga. Ademais, o labor seria realizado junto às residências e
bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.
Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho
externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas
adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no
exercício das funções típicas do Poder Legislativo.
Se assim fosse permitido, necessária a
autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada
bairro do Município em tela.
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9 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
Observa-se que as funções de assessor
parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre
nomeação e exoneração.
Há farta prova de que o então Vereador,
desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,
atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em
proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no
artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo
11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.
Dos relatos acima descritos, frutos das
diligências realizadas nesta investigação ministerial que, embasadora da presente
ação, esteve pautada e atenta aos princípios da ampla defesa e contraditório,
infere-se a caracterização da conduta ímproba, consistente na atuação do
assessor parlamentar em desconformidade com os princípios orientadores da
administração pública, mormente no que tange à honestidade, já que,
aproveitando-se do cargo e, em tese, a serviço da administração, agiu em
proveito exclusivo daquele que assessorava.
O desvio de finalidade, compactuado por
aquele democraticamente eleito para representar os cidadãos iguaçuenses, revela
a engenhosa prática dos parlamentares que, perversamente, utilizam-se do cargo
político como ponte para a promoção pessoal e realização de interesses
puramente particulares.
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E o desvio de finalidade do cargo de confiança,
por conseguinte, revela o desvirtuamento do erário destinado a este fim. O dano
à arca pública, portanto, verifica-se também configurado, como resultado da
improbidade – ou imoralidade administrativa qualificada.
Se é legítima a existência dos cargos
comissionados, destinados ao assessoramento do vereador CARLOS JULIANO
BUDEL, o mesmo não se pode afirmar com relação à legalidade da atuação
prática do mencionado assessor, já que finalisticamente desvirtuada.
2. DOS FUNDAMENTOS:
2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:
A Carta Magna estabelece que os cargos em
comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais
foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas
características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na
Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.
Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que
o desvio de poder se verifica:
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11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
“Quando o agente se serve de um ato para
satisfazer finalidade alheia à natureza do
ato utilizado. Há, em consequência, um
mau uso da competência que o agente
possui para praticar atos administrativos,
traduzida na busca de uma finalidade que
simplesmente não pode ser buscada ou,
quando possa, não pode sê-lo através do ato
utilizado3”.
A autoridade que pratica uma conduta com
finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o
desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real
intenção da autoridade pública.
Ademais, preleciona a renomada doutrinadora
Maria Sylvia Zanella di Pietro4:
“O desvio de poder ocorre quando a
autoridade usa do poder discricionário
para atingir fim diferente daquele que a lei
fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder
Judiciário autorizado a decretar a nulidade
3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 1992. p. 126-127. 4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.
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12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
do ato, já que a Administração fez uso
indevido da discricionariedade, ao desviar-
se dos fins de interesse público definidos na
lei”.
No presente caso, o Vereador CARLOS
JULIANO BUDEL se valeu de um de seus funcionários, remunerado pelo
Órgão Legislativo, utilizando-o em flagrante desvio de função, isto é, com fim
diverso daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que
dispõe sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do
Iguaçu, incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I,
da Lei de Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.
Neste diapasão, dispõe a doutrina5:
“(...) o desvio de poder é, por definição, um
limite à ação discricionária, um freio ao
transbordamento da competência legal
além de suas fronteiras, de modo a impedir
que a prática do ato administrativo,
calcada no poder de agir do agente, possa
dirigir-se à consecução de um fim de
5 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.
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13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
interesse privado, ou mesmo de outro fim
público estranho à previsão legal”.
A utilização de assessores parlamentares para
exercerem funções como verificar “as lombadas eletrônicas”, “medidas com
relação ao saneamento básico” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,
indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato
ao seu fim legal.
Acrescenta, ainda, a sobredita lição:
“O poder foi conferido ao administrador
público para realizar determinado fim, por
determinados motivos e por determinados
meios, toda ação que se apartar dessa
conduta, contrariando o desejo da lei,
padece do vício de desvio de poder ou de
finalidade e, como todo ato abusivo ou
arbitrário, é ilegítimo.
(...)
O desvio de finalidade ou de poder é, assim,
a violação ideológica da lei, ou, por outras
palavras, a violação moral da lei,
colimando o administrador público fins não
requeridos pelo legislador, ou utilizando
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14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
motivos e meios imorais para a prática de
um ato administrativo aparentemente legal.
O ato praticado com desvio de finalidade –
como todo ato ilícito ou imoral – ou é
consumado às escondidas ou se apresenta
disfarçado sob o capuz da legalidade e do
interesse público. Diante disto, há que ser
surpreendido e identificado por indícios e
circunstâncias que revelem a distorção do
fim legal, substituído habilidosamente por
um fim ilegal ou imoral não desejado pelo
legislador”.
Destaca-se que uma das formas previstas em lei
para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio
regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da
Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de
atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que
importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão
ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da
Administração Pública (previstos no artigo 11).
2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:
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15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,
da Lei nº 8.429/92:
“Art. 9º: Constitui ato de improbidade
administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no
artigo 1º desta lei, e notadamente:
(...).
IV - utilizar, em obra ou serviço particular,
veículos, máquinas, equipamentos ou
material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei,
bem como o trabalho de servidores públicos,
empregados ou terceiros contratados por
essas entidades;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu
patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”
Verifica-se que ANTÔNIO CARLOS
RAMOS foi nomeado para o cargo em comissão de assessor parlamentar, junto
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16 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
ao Gabinete do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL, mas nunca exerceu
as funções intrínsecas a esse cargo. Consectário, seus vencimentos foram
utilizados de forma desvirtuada, distante do objetivo previsto para as atividades
atribuídas.
Com isso, os requeridos enriqueceram-se
ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do
mandato do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL e do cargo de assessor
parlamentar, consistente no desvio da remuneração paga pela Câmara de
Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de funções que
deveriam ter sido realizadas pelo réu.
Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio
dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara
Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou, ANTÔNIO CARLOS
RAMOS nunca trabalhou efetivamente para as funções atinentes ao cargo para o
qual foi nomeado. E, em tendo os réus se aproveitado de tal situação, vieram a
incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de Leis local.
O assessor réu recebeu sem ‘trabalhar’,
enriqueceu ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com
remuneração muito superior à da maioria da população brasileira, que não conta
com o denominado "padrinho" ou "pistolão".
Assim sendo, não tendo desempenhado as
atribuições inerentes ao cargo comissionado, aceitou participar de uma fraude
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17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
contra a Administração Pública para atingir finalidades particulares,
desrespeitando o artigo 15, da Lei nº 8.112/90, aplicado analogicamente, in
verbis: "efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou da função de
confiança".
Destarte, ao intentar a promoção política do
Vereador CARLOS JULIANO BUDEL, este também enriqueceu ilicitamente,
na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em trabalhos
políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares para esta
função.
Trata-se de experiência corriqueira no Estado
brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que
nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.
As condutas dos requeridos, logo, encontra
plena e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos
IV e XI do artigo 9º, da Lei de Improbidade Administrativa.
O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou
notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o
pagamento de serviços inúteis, desempenhado pelo assessor do Gabinete do ex-
vereador réu, não obstante a Casa de Leis local realizar o pagamento desses
comissionados.
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18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
O enriquecimento ilícito e consequentemente o
prejuízo do Poder Legislativo, segundo Informação de Auditoria de fls. 40/45,
foi de R$ 257.515,56 (duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais
e cinquenta e seis reais), montante alusivo os vencimentos percebidos pelo
assessor ANTÔNIO CARLOS RAMOS.
Como se não bastasse, a evidente e reprovável
conduta ilícita é destacada nos seguintes julgados:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO
SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS
EM COMISSÃO. FALTA DE
PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.
É procedente o pedido de ressarcimento,
formulado em ação civil pública, diante da
demonstração de que servidores
municipais, ocupantes, na época, de cargo
comissionado, não exerceram regularmente
suas funções. Nega-se provimento ao
agravo retido, rejeita-se a preliminar e
nega-se provimento aos recursos de
apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação
nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.
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19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ
21.09.2007).
“Constitucional/Administrativo Ação de
improbidade administrativa. Legitimação
ativa do Ministério Público e demais
condições acionárias presentes.
Cerceamento defensório inocorrente.
Empresa pública municipal - Contratação
de servidora sem a realização de concurso
público ou processo seletivo - Ausência de
efetivo exercício das funções respectivas,
apesar de assinado o ponto - Recebimento
dos salários - Infringência ao art. 37,
“caput” e inciso II, da CF -
Responsabilização de todos os envolvidos -
Penalidades bem impostas, incluso o
ressarcimento do erário - Procedência
parcial ampliada para total - Provimento
ao recurso ministerial e desprovimento dos
demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito
Público, Apelação com revisão nº
8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.
24.06.2009, DJ 18.08.2009).
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Em razão disso, CARLOS JULIANO
BUDEL e ANTÔNIO CARLOS RAMOS ficam sujeitos às sanções previstas
no artigo 12, inciso I, da referida Lei nº 8.429/92.
2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:
A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos
atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que
importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízo ao erário e que
atentam contra os princípios da administração pública, estabelecendo as sanções
aplicáveis aos seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.
O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do
aludido diploma legal prevê:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
notadamente:
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I - facilitar ou concorrer por qualquer
forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de
bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei;
(...)
XII – permitir, facilitar ou concorrer para
que terceiro se enriqueça ilicitamente;”
Assim, pode-se dizer que, ao contratar
ANTÔNIO CARLOS RAMOS em flagrante ofensa a Lei de Improbidade
Administrativa, bem como à Carta Magna, o réu CARLOS JULIANO BUDEL
facilitou a incorporação de verba pública ao patrimônio daquele, o que resultou
num enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.
Ora, se tais verbas legalmente não deveriam
ser suportadas pela Administração Pública, em razão da função desempenhada
por ANTÔNIO CARLOS RAMOS não ser legalmente prevista (em flagrante
desvio de finalidade), tais gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder
Público o direito de ser ressarcido do que ilicitamente pagou.
Desta forma, o requerido CARLOS
JULIANO BUDEL deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tal
contratado, id est, o que representa perda patrimonial para a Administração
Pública (prejuízo aos cofres públicos) em razão de ter mantido 01 (um) assessor
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parlamentar que exercia diariamente funções de assistencialismo no Município
de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 06/08.
Destarte, não podem os contribuintes do
Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar
as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido
CARLOS JULIANO BUDEL foi o responsável pelas contratações ilegais e
pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao patrimônio
público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano causado ao
erário.
Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a
jurisprudência:
"(...) o dinheiro público, exatamente por ser
res publica, há de ser gasto dentro da
estrita conformidade legal.
(...)
'Quem quer que utilize dinheiros públicos
terá de verificar seu bom e regular
emprego, na conformidade das leis,
regulamentos e normas emanadas das
autoridades administrativas competentes',
ou seja: 'quem gastar, tem de gastar de
acordo com a lei'
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Isso quer dizer: quem gastar em desacordo
com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco
e perigos. Pois impugnada a despesa, a
quantia gasta irregularmente terá de
retornar ao Erário Público.
Não caberá a invocação, assaz de vezes
realizada, de enriquecimento ilícito da
Administração.
(...)
Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não
convalidáveis', são retirados do mundo
jurídico, retroagindo os efeitos do
desfazimento ex tunc. Evidentemente,
efeitos padronômicos ao ato, já acontecidos,
não são suscetíveis de eliminação. Daí por
que os terceiros de boa fé devem ser
indenizados. Entretanto, não bastará a
invalidação administrativa do ato, sem
recomposição do Erário, para se excluir a
ação popular.
(...)
Demais disso, há que se enfatizar que,
suprimido do mundo jurídico o ato
maculado de ilegalidade, a conseqüência
será a reposição ao erário.
(...)
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Aquele que praticou os atos terá agido por
sua conta, riscos e perigos6" (grifou-se e se
destacou).
“Como corretamente anotou o Min. Mílton
Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do
administrador público, pela salvaguarda de
que o empregado, em contraprestação,
prestou serviços, será construir um
estranho indene de impunidade em favor
do agente político que praticou ato
manifestamente contra a lei - nexo causal
das obrigações da relação de trabalho
nascida de ato ilegal - criando-se inusitada
convalidação dos efeitos de ato nulo. Será
estimular o ímprobo a agir porque, a final,
aquela contraprestação o resguardará
contra ação de responsabilidade civil.’
(...)
Está em questão um princípio: fazendo
tabula rasa da Constituição e da lei, pode o
administrador contratar impunemente,
sem concurso, ou em período defeso..., e
ficar tudo por isso mesmo? Pode cometer
tais ilegalidades gritantes e mandar a conta
6 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.
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para os cofres públicos? Pode ser a
execução da própria ilegalidade o bill de
indenidade que irá beneficiar o
administrador ímprobo? Isto é absurdo.
Se o administrador pudesse assim estar
garantido, poderia contratar impunemente
seus apaniguados para ardorosamente
labutarem em sinecuras ou fazerem obras
que terceiros poderiam fazer melhor e mais
barato para a Fazenda7” (grifou-se e se
destacou).
É inquestionável que a contratação do dito
assessor para exercer integralmente função meramente assistencial, em
desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que
qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza
dano e redunda no dever de ressarcir.
E é aí que se inclui o dever por parte do
requerido CARLOS JULIANO BUDEL em ressarcir a Administração pelos
prejuízos causados, consoante artigos 37, § 4º, da Constituição da República e 4º
e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.
7 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.
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2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
A Constituição da República estabelece, em
seu artigo 37 que:
“A administração pública direta, indireta
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:”
Desta forma, são os princípios da legalidade,
moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência as vigas mestras de
orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos
Poderes da República.
Diógenes Gasparini, no que se refere ao
princípio da legalidade, leciona que:
“(...) a este princípio também se submete o
agente público. Com efeito, o agente da
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Administração Pública está preso à lei e
qualquer desvio de suas imposições pode
nulificar o ato e tornar seu autor responsável
e, conforme o caso, disciplinar, civil e
criminalmente8”.
Nesse ínterim, cumpre asseverar que todo ato
de agente público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição
Federal, pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido
fazer o que a lei expressamente autorize.
Do mesmo modo, o princípio da moralidade
administrativa também restou lesado.
Ao tratar do tema, leciona a doutrina9:
“A moralidade administrativa é um
princípio informador da ação
administrativa, devendo se pautar na
consciência do administrador a vedação do
agir dissociado dos conceitos comuns,
ordinários, válidos, respeitando as
diferenças históricas do honesto e justo. 8 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6. 9 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.
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28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
(...)
Tal princípio poderia ser identificado com
o da justiça, ao determinar que se trate a
outrem do mesmo modo que se apreciaria
ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade
inteira, motivo pelo qual o princípio da
moralidade exige que, fundamentada e
racionalmente, os atos, contratos e
procedimentos administrativos venham a
ser contemplados à luz da orientação
decisiva e substancial, que prescreve o
dever de a Administração Pública
observar, com pronunciado rigor e a maior
objetividade possível, os referenciais
valorativos basilares vigentes, cumprindo,
de maneira precípua até, proteger e
vivificar, exemplarmente, a lealdade e a
boa-fé para com a sociedade, bem como
travar o combate contra toda e qualquer
lesão moral provocada por ações públicas
destituídas de probidade e honradez”.
Ao agente público não basta agir
expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e
sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de
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assessor para empreender função meramente assistencial é, indubitavelmente,
ato não apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.
O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,
ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são
obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.
Destarte, todo administrador público tem,
necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,
deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de
punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo
11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:
“Dos atos de improbidade administrativa
que atentam contra princípios da
administração pública:
Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra qualquer
ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e
lealdade às instituições, e notadamente:”
No caso em exame, o requerido CARLOS
JULIANO BUDEL, quando no exercício do cargo de Vereador da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma
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irregular indivíduo no serviço público, ofendendo de morte a Lei de Improbidade
Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e moralidade.
Ora, se houve inobservância da Constituição e
das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o
princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes
Meirelles10:
"A legalidade, como princípio de
administração (CF, art. 37, caput, significa
que o administrador público está, em toda sua
atividade funcional, sujeito aos mandamentos
da lei e às exigências do bem-comum, e deles
não se pode afastar ou desviar, sob pena de
praticar ato inválido e expor-se à
responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso.
A eficácia de toda atividade administrativa
está condicionada ao atendimento da lei.
Na Administração Pública não há liberdade
nem vontade pessoal. Enquanto na
administração particular é lícito fazer tudo
que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é perimido fazer o que a lei
10 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.
82/83.
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31 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
autoriza. A lei para o particular significa
‘pode fazer assim’; para o administrador
público significa ‘deve fazer assim’”.
Repise-se, CARLOS JULIANO BUDEL não
respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionário em flagrante desvio de
função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram (ex-vereador e
assessor) atos vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem
funcionários públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo
concurso.
Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de
legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,
atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11
da Lei nº 8.429/92.
3. DO PEDIDO:
Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:
a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,
querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº
8.429/92;
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b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,
seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na
forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os
termos da presente, sob pena de revelia;
c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na
condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº
8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,
suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar
provas de que disponham sobre os fatos;
d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações
acrescentadas pela Lei de Improbidade;
e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o
depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a
testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;
f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e
III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade
administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos
princípios informadores da Administração Pública;
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33 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0
g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 257.515,56 (duzentos e
cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais e cinquenta e seis reais) pelos
requeridos;
Atribui-se à causa o valor R$ 257.515,56
(duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais e cinquenta e seis
reais).
Termos em que se
Pede e espera deferimento.
Foz do Iguaçu, 12 de julho de 2013.
Marcos Cristiano Andrade Promotor de Justiça
DOCUMENTOS ANEXOS:
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000587-0 (01 volume).