33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES ____________________________________________________ 1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU-PR. "A Administração não titulariza interesses públicos. O titular deles é o Estado, que, em certa esfera, os protege e exercita através da função administrativa. (...) Os bens e os interesses não se acham entregues à livre disposição da vontade do administrador. Antes, para este, coloca-se a obrigação, o dever de curá-los nos termos da finalidade a que estão adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 18.ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 65) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º, da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

  • Upload
    ngohanh

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª

SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO

IGUAÇU-PR.

"A Administração não titulariza interesses públicos. O titular deles é o Estado, que, em certa esfera, os protege e exercita através da função administrativa. (...) Os bens e os interesses não se acham entregues à livre disposição da vontade do administrador. Antes, para este, coloca-se a obrigação, o dever de curá-los nos termos da finalidade a que estão adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 18.ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 65)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas

atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição

Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,

da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Page 2: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

em face a:

CARLOS JULIANO BUDEL, brasileiro, casado, Engenheiro Civil, ex-

Vereador da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr, nascido aos 24/07/1954,

filho de José João Budel e de Maria do Carmo, residente na Avenida Iguaçu, nº

179, apartamento 33, Vila Yolanda, CEP 85.853-230, nesta cidade e Comarca de

Foz do Iguaçu-Pr; e

ANTÔNIO CARLOS RAMOS, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar1,

natural de Anhembi-SP, nascido aos 06.10.1953, filho de Antônio Ramos e de

Zaira Maria de Moraes, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 7.125.363-5

(SSPPR), e CPF/MF nº 605.717.138-15, residente na Rua Grajaú, nº 151,

Conjunto Habitacional Imperatriz, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

1. DOS FATOS:

A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto

descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores

comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,

prática de ato de improbidade administrativa. 1 Vide portaria 02/2013.

Page 3: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Com isso, o Ministério Público propôs, em

fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para

que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados

quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade

administrativa, visando, portanto, que o número de tais servidores comissionados

não seja superior àqueles providos por concurso público, e também para que

abstivessem a mantença de funcionários nomeados ad nutum em quantidade

superior a dos efetivos.

Deste feito foram extraídas cópias integrais e

instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada

vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o

escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos

comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou

servidores comissionados irregulares.

Com efeito, conforme declarações prestadas no

presente Inquérito Civil Público, verificou-se que ANTÔNIO CARLOS

RAMOS foi nomeado para exercer o cargo de assessor parlamentar do ex-

vereador CARLOS JULIANO BUDEL, durante o seu mandato compreendido

entre os anos de 2009 a 2012 (nomeações constantes no CD de fls. 38).

Da análise dos autos, em especial do teor das

oitivas (fls. 06/08), infere-se haver manifesto desvio de função por parte de um

dos assessores parlamentares (ANTÔNIO CARLOS RAMOS), vinculado ao

Page 4: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

então vereador CARLOS JULIANO BUDEL, vez que não exercia as

atividades inerentes ao cargo a que fora contratado.

A Resolução Legislativa nº 015, de

17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:

“Art. 9º. São atribuições do Assessor

Parlamentar:

I– prestar serviços ao vereador, em

atividades externas;

II– atender e prestar esclarecimentos a

pessoas que demandem ao gabinete;

III– agendar compromissos do titular do

gabinete;

IV– elaborar e expedir as correspondências

do gabinete;

V– manter arquivo das correspondências

recebidas e expedidas pelo gabinete e de

outros documentos de interesse deste;

VI- efetuar o controle das pautas de sessões

e de proposições legislativas de interesse do

gabinete;

VII- assistir o titular do gabinete no

desempenho de suas atribuições;

Page 5: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

5 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

VIII– organizar as reuniões promovidas

pelo gabinete, providenciando a pauta e os

convites aos participantes;

IX– executar outras tarefas determinadas

pelo titular do gabinete, inerentes as

atribuições deste”.

Em sede de depoimento (arquivo de áudio e

vídeo em CD-ROM anexo), ANTÔNIO CARLOS RAMOS declarou ser2

assessor jurídico do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL, há

aproximadamente quatro anos.

Indagado acerca das funções exercidas,

declarou que elas eram “mais externas”.

Função externa – exterior, aquilo que está do

lado de fora – cujo antônimo, neste caso específico, representa o trato direto com

os afazeres que se impõe ao exercício do cargo em comissão, necessários ao

regular desempenho da atividade camarista. Muito embora o texto da Resolução

Legislativa preveja a atuação daquele que preenche cargo comissionado em

atividades externas, prestando serviços ao vereador, salta aos olhos o errôneo

emprego de tal atribuição dada ao assessoramento.

2 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria 41/2009); Exonerado em setembro de 2009 (Portaria 267/2009); Nomeado em novembro de 2009 (Portaria 318/2009); Exonerado em julho de 2010 (Portaria 106/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria 234/2010); Exonerado em janeiro de 2013 (Portaria 02/2013).

Page 6: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

A função “mais externa” diz respeito à visita

aos bairros da cidade, determinado “atendimento à população” e seus respectivos

pedidos. Assim, a atuação como assessor acaba por consistir em mera indicação

dos problemas da comunidade, de que se têm conhecimento pelas visitas, e

ocorrem sem hora ou data marcada, sem pauta ou organização.

O comparecimento à Câmara de Vereadores,

como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria três ou quatro vezes por

semana, com a finalidade de “passar informações” ao ex-vereador.

Indagado acerca da existência de algum

mecanismo de controle de frequência, além das câmeras de vigilância, respondeu

negativamente. Asseverou nunca ter assinado “folhas de frequência” ou “folhas

ponto”.

Declarando ter “muita coisa para fazer” com relação

à prestação de assessoramento, ANTÔNIO CARLOS RAMOS, no entanto, não

soube elencar com clareza e consistência todas as tarefas relativas à sua

ocupação. “Saneamento”, “poda de árvore”, todas indicações genéricas, vagas,

inexistente qualquer relatório ou acompanhamento dos assim chamados

“atendimentos”.

Denota-se, assim, que conforme as

transcrições acima, o assessor parlamentar ANTÔNIO CARLOS RAMOS não

desempenhava as funções a ele inerentes, e sim, promovia ações assistencialistas

ao ex-vereador, caracterizando uma evidente artimanha para promoção política,

Page 7: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

7 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

já que o atendimento à população, da forma realizada, é evidente mecanismo –

deveras utilizado – de “atendimento” e contato com eleitores em potencial.

Assim, assistindo os cidadãos de forma personalíssima – o que não serve para

atender as demandas sociais e os interesses de toda a coletividade -, com ares de

generosidade e atento, na verdade prima pela lembrança de seus “auxílios” em

tempo de eleição.

Portanto, revela-se a assessoria legislativa do

Vereador CARLOS JULIANO BUDEL nítido clientelismo, negocismo,

incumbindo-se o agente comissionado de atividades que, não bastassem

extrapolar as limitações legais do cardo de Vereador, visam à continuidade do

parlamentar no poder legislativo.

Ressalte-se, nesse átimo, que a função de

tapar os buracos nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a

necessidade de faixas de pedestres, entre outras necessidades básicas da

comunidade em geral, não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.

Sendo o Prefeito a figura máxima do

Executivo no âmbito municipal, é dele a responsabilidade de atender os anseios

da população, reunindo-se constantemente com a sociedade a fim de aferir as

reivindicações coletivas, encontrando as possibilidades para a satisfação das

necessidades do município.

Ao vereador, parte do poder legislativo, cabe

as elaborações, discussões e votações que envolvam a aprovação de leis

Page 8: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

8 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

municipais, visando o bem estar da comunidade de modo geral. Além disso, tem

como dever a fiscalização do orçamento público e da administração do Poder

Executivo.

Destarte, resta caracterizado o desvio de

função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém

o poder, ou seja, do Vereador CARLOS JULIANO BUDEL.

O desvio de função é o desempenho pelo

funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.

Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram

efetivamente prestadas pelo assessor parlamentar, tendo em vista a falta de

informações, frequência e comprovação de eficiência em seu labor, já que sua

oitiva é confusa e vaga. Ademais, o labor seria realizado junto às residências e

bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.

Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho

externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas

adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no

exercício das funções típicas do Poder Legislativo.

Se assim fosse permitido, necessária a

autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada

bairro do Município em tela.

Page 9: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

9 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Observa-se que as funções de assessor

parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre

nomeação e exoneração.

Há farta prova de que o então Vereador,

desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,

atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em

proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no

artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo

11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.

Dos relatos acima descritos, frutos das

diligências realizadas nesta investigação ministerial que, embasadora da presente

ação, esteve pautada e atenta aos princípios da ampla defesa e contraditório,

infere-se a caracterização da conduta ímproba, consistente na atuação do

assessor parlamentar em desconformidade com os princípios orientadores da

administração pública, mormente no que tange à honestidade, já que,

aproveitando-se do cargo e, em tese, a serviço da administração, agiu em

proveito exclusivo daquele que assessorava.

O desvio de finalidade, compactuado por

aquele democraticamente eleito para representar os cidadãos iguaçuenses, revela

a engenhosa prática dos parlamentares que, perversamente, utilizam-se do cargo

político como ponte para a promoção pessoal e realização de interesses

puramente particulares.

Page 10: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

10 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

E o desvio de finalidade do cargo de confiança,

por conseguinte, revela o desvirtuamento do erário destinado a este fim. O dano

à arca pública, portanto, verifica-se também configurado, como resultado da

improbidade – ou imoralidade administrativa qualificada.

Se é legítima a existência dos cargos

comissionados, destinados ao assessoramento do vereador CARLOS JULIANO

BUDEL, o mesmo não se pode afirmar com relação à legalidade da atuação

prática do mencionado assessor, já que finalisticamente desvirtuada.

2. DOS FUNDAMENTOS:

2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:

A Carta Magna estabelece que os cargos em

comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais

foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas

características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na

Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.

Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que

o desvio de poder se verifica:

Page 11: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

“Quando o agente se serve de um ato para

satisfazer finalidade alheia à natureza do

ato utilizado. Há, em consequência, um

mau uso da competência que o agente

possui para praticar atos administrativos,

traduzida na busca de uma finalidade que

simplesmente não pode ser buscada ou,

quando possa, não pode sê-lo através do ato

utilizado3”.

A autoridade que pratica uma conduta com

finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o

desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real

intenção da autoridade pública.

Ademais, preleciona a renomada doutrinadora

Maria Sylvia Zanella di Pietro4:

“O desvio de poder ocorre quando a

autoridade usa do poder discricionário

para atingir fim diferente daquele que a lei

fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder

Judiciário autorizado a decretar a nulidade

3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:

Malheiros, 1992. p. 126-127. 4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.

Page 12: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

do ato, já que a Administração fez uso

indevido da discricionariedade, ao desviar-

se dos fins de interesse público definidos na

lei”.

No presente caso, o Vereador CARLOS

JULIANO BUDEL se valeu de um de seus funcionários, remunerado pelo

Órgão Legislativo, utilizando-o em flagrante desvio de função, isto é, com fim

diverso daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que

dispõe sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do

Iguaçu, incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I,

da Lei de Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.

Neste diapasão, dispõe a doutrina5:

“(...) o desvio de poder é, por definição, um

limite à ação discricionária, um freio ao

transbordamento da competência legal

além de suas fronteiras, de modo a impedir

que a prática do ato administrativo,

calcada no poder de agir do agente, possa

dirigir-se à consecução de um fim de

5 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.

Page 13: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

interesse privado, ou mesmo de outro fim

público estranho à previsão legal”.

A utilização de assessores parlamentares para

exercerem funções como verificar “as lombadas eletrônicas”, “medidas com

relação ao saneamento básico” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,

indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato

ao seu fim legal.

Acrescenta, ainda, a sobredita lição:

“O poder foi conferido ao administrador

público para realizar determinado fim, por

determinados motivos e por determinados

meios, toda ação que se apartar dessa

conduta, contrariando o desejo da lei,

padece do vício de desvio de poder ou de

finalidade e, como todo ato abusivo ou

arbitrário, é ilegítimo.

(...)

O desvio de finalidade ou de poder é, assim,

a violação ideológica da lei, ou, por outras

palavras, a violação moral da lei,

colimando o administrador público fins não

requeridos pelo legislador, ou utilizando

Page 14: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

motivos e meios imorais para a prática de

um ato administrativo aparentemente legal.

O ato praticado com desvio de finalidade –

como todo ato ilícito ou imoral – ou é

consumado às escondidas ou se apresenta

disfarçado sob o capuz da legalidade e do

interesse público. Diante disto, há que ser

surpreendido e identificado por indícios e

circunstâncias que revelem a distorção do

fim legal, substituído habilidosamente por

um fim ilegal ou imoral não desejado pelo

legislador”.

Destaca-se que uma das formas previstas em lei

para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio

regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da

Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de

atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que

importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão

ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da

Administração Pública (previstos no artigo 11).

2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:

Page 15: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,

da Lei nº 8.429/92:

“Art. 9º: Constitui ato de improbidade

administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício

de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no

artigo 1º desta lei, e notadamente:

(...).

IV - utilizar, em obra ou serviço particular,

veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de

propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei,

bem como o trabalho de servidores públicos,

empregados ou terceiros contratados por

essas entidades;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu

patrimônio bens, rendas, verbas ou valores

integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”

Verifica-se que ANTÔNIO CARLOS

RAMOS foi nomeado para o cargo em comissão de assessor parlamentar, junto

Page 16: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

16 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

ao Gabinete do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL, mas nunca exerceu

as funções intrínsecas a esse cargo. Consectário, seus vencimentos foram

utilizados de forma desvirtuada, distante do objetivo previsto para as atividades

atribuídas.

Com isso, os requeridos enriqueceram-se

ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do

mandato do ex-vereador CARLOS JULIANO BUDEL e do cargo de assessor

parlamentar, consistente no desvio da remuneração paga pela Câmara de

Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de funções que

deveriam ter sido realizadas pelo réu.

Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio

dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara

Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou, ANTÔNIO CARLOS

RAMOS nunca trabalhou efetivamente para as funções atinentes ao cargo para o

qual foi nomeado. E, em tendo os réus se aproveitado de tal situação, vieram a

incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de Leis local.

O assessor réu recebeu sem ‘trabalhar’,

enriqueceu ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com

remuneração muito superior à da maioria da população brasileira, que não conta

com o denominado "padrinho" ou "pistolão".

Assim sendo, não tendo desempenhado as

atribuições inerentes ao cargo comissionado, aceitou participar de uma fraude

Page 17: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

contra a Administração Pública para atingir finalidades particulares,

desrespeitando o artigo 15, da Lei nº 8.112/90, aplicado analogicamente, in

verbis: "efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou da função de

confiança".

Destarte, ao intentar a promoção política do

Vereador CARLOS JULIANO BUDEL, este também enriqueceu ilicitamente,

na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em trabalhos

políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares para esta

função.

Trata-se de experiência corriqueira no Estado

brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que

nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.

As condutas dos requeridos, logo, encontra

plena e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos

IV e XI do artigo 9º, da Lei de Improbidade Administrativa.

O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou

notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o

pagamento de serviços inúteis, desempenhado pelo assessor do Gabinete do ex-

vereador réu, não obstante a Casa de Leis local realizar o pagamento desses

comissionados.

Page 18: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

O enriquecimento ilícito e consequentemente o

prejuízo do Poder Legislativo, segundo Informação de Auditoria de fls. 40/45,

foi de R$ 257.515,56 (duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais

e cinquenta e seis reais), montante alusivo os vencimentos percebidos pelo

assessor ANTÔNIO CARLOS RAMOS.

Como se não bastasse, a evidente e reprovável

conduta ilícita é destacada nos seguintes julgados:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO

SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS

EM COMISSÃO. FALTA DE

PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.

É procedente o pedido de ressarcimento,

formulado em ação civil pública, diante da

demonstração de que servidores

municipais, ocupantes, na época, de cargo

comissionado, não exerceram regularmente

suas funções. Nega-se provimento ao

agravo retido, rejeita-se a preliminar e

nega-se provimento aos recursos de

apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação

nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.

Page 19: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ

21.09.2007).

“Constitucional/Administrativo Ação de

improbidade administrativa. Legitimação

ativa do Ministério Público e demais

condições acionárias presentes.

Cerceamento defensório inocorrente.

Empresa pública municipal - Contratação

de servidora sem a realização de concurso

público ou processo seletivo - Ausência de

efetivo exercício das funções respectivas,

apesar de assinado o ponto - Recebimento

dos salários - Infringência ao art. 37,

“caput” e inciso II, da CF -

Responsabilização de todos os envolvidos -

Penalidades bem impostas, incluso o

ressarcimento do erário - Procedência

parcial ampliada para total - Provimento

ao recurso ministerial e desprovimento dos

demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito

Público, Apelação com revisão nº

8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.

24.06.2009, DJ 18.08.2009).

Page 20: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

20 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Em razão disso, CARLOS JULIANO

BUDEL e ANTÔNIO CARLOS RAMOS ficam sujeitos às sanções previstas

no artigo 12, inciso I, da referida Lei nº 8.429/92.

2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:

A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos

atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que

importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízo ao erário e que

atentam contra os princípios da administração pública, estabelecendo as sanções

aplicáveis aos seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.

O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do

aludido diploma legal prevê:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial,

desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das

entidades referidas no art. 1º desta Lei, e

notadamente:

Page 21: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

21 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

I - facilitar ou concorrer por qualquer

forma para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de

bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta Lei;

(...)

XII – permitir, facilitar ou concorrer para

que terceiro se enriqueça ilicitamente;”

Assim, pode-se dizer que, ao contratar

ANTÔNIO CARLOS RAMOS em flagrante ofensa a Lei de Improbidade

Administrativa, bem como à Carta Magna, o réu CARLOS JULIANO BUDEL

facilitou a incorporação de verba pública ao patrimônio daquele, o que resultou

num enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.

Ora, se tais verbas legalmente não deveriam

ser suportadas pela Administração Pública, em razão da função desempenhada

por ANTÔNIO CARLOS RAMOS não ser legalmente prevista (em flagrante

desvio de finalidade), tais gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder

Público o direito de ser ressarcido do que ilicitamente pagou.

Desta forma, o requerido CARLOS

JULIANO BUDEL deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tal

contratado, id est, o que representa perda patrimonial para a Administração

Pública (prejuízo aos cofres públicos) em razão de ter mantido 01 (um) assessor

Page 22: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

22 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

parlamentar que exercia diariamente funções de assistencialismo no Município

de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 06/08.

Destarte, não podem os contribuintes do

Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar

as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido

CARLOS JULIANO BUDEL foi o responsável pelas contratações ilegais e

pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao patrimônio

público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano causado ao

erário.

Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a

jurisprudência:

"(...) o dinheiro público, exatamente por ser

res publica, há de ser gasto dentro da

estrita conformidade legal.

(...)

'Quem quer que utilize dinheiros públicos

terá de verificar seu bom e regular

emprego, na conformidade das leis,

regulamentos e normas emanadas das

autoridades administrativas competentes',

ou seja: 'quem gastar, tem de gastar de

acordo com a lei'

Page 23: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

23 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Isso quer dizer: quem gastar em desacordo

com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco

e perigos. Pois impugnada a despesa, a

quantia gasta irregularmente terá de

retornar ao Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes

realizada, de enriquecimento ilícito da

Administração.

(...)

Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não

convalidáveis', são retirados do mundo

jurídico, retroagindo os efeitos do

desfazimento ex tunc. Evidentemente,

efeitos padronômicos ao ato, já acontecidos,

não são suscetíveis de eliminação. Daí por

que os terceiros de boa fé devem ser

indenizados. Entretanto, não bastará a

invalidação administrativa do ato, sem

recomposição do Erário, para se excluir a

ação popular.

(...)

Demais disso, há que se enfatizar que,

suprimido do mundo jurídico o ato

maculado de ilegalidade, a conseqüência

será a reposição ao erário.

(...)

Page 24: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

24 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Aquele que praticou os atos terá agido por

sua conta, riscos e perigos6" (grifou-se e se

destacou).

“Como corretamente anotou o Min. Mílton

Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do

administrador público, pela salvaguarda de

que o empregado, em contraprestação,

prestou serviços, será construir um

estranho indene de impunidade em favor

do agente político que praticou ato

manifestamente contra a lei - nexo causal

das obrigações da relação de trabalho

nascida de ato ilegal - criando-se inusitada

convalidação dos efeitos de ato nulo. Será

estimular o ímprobo a agir porque, a final,

aquela contraprestação o resguardará

contra ação de responsabilidade civil.’

(...)

Está em questão um princípio: fazendo

tabula rasa da Constituição e da lei, pode o

administrador contratar impunemente,

sem concurso, ou em período defeso..., e

ficar tudo por isso mesmo? Pode cometer

tais ilegalidades gritantes e mandar a conta

6 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.

Page 25: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

25 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

para os cofres públicos? Pode ser a

execução da própria ilegalidade o bill de

indenidade que irá beneficiar o

administrador ímprobo? Isto é absurdo.

Se o administrador pudesse assim estar

garantido, poderia contratar impunemente

seus apaniguados para ardorosamente

labutarem em sinecuras ou fazerem obras

que terceiros poderiam fazer melhor e mais

barato para a Fazenda7” (grifou-se e se

destacou).

É inquestionável que a contratação do dito

assessor para exercer integralmente função meramente assistencial, em

desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que

qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza

dano e redunda no dever de ressarcir.

E é aí que se inclui o dever por parte do

requerido CARLOS JULIANO BUDEL em ressarcir a Administração pelos

prejuízos causados, consoante artigos 37, § 4º, da Constituição da República e 4º

e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.

7 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.

Page 26: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

26 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

A Constituição da República estabelece, em

seu artigo 37 que:

“A administração pública direta, indireta

ou fundacional, de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte:”

Desta forma, são os princípios da legalidade,

moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência as vigas mestras de

orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos

Poderes da República.

Diógenes Gasparini, no que se refere ao

princípio da legalidade, leciona que:

“(...) a este princípio também se submete o

agente público. Com efeito, o agente da

Page 27: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

27 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

Administração Pública está preso à lei e

qualquer desvio de suas imposições pode

nulificar o ato e tornar seu autor responsável

e, conforme o caso, disciplinar, civil e

criminalmente8”.

Nesse ínterim, cumpre asseverar que todo ato

de agente público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição

Federal, pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido

fazer o que a lei expressamente autorize.

Do mesmo modo, o princípio da moralidade

administrativa também restou lesado.

Ao tratar do tema, leciona a doutrina9:

“A moralidade administrativa é um

princípio informador da ação

administrativa, devendo se pautar na

consciência do administrador a vedação do

agir dissociado dos conceitos comuns,

ordinários, válidos, respeitando as

diferenças históricas do honesto e justo. 8 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6. 9 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.

Page 28: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

(...)

Tal princípio poderia ser identificado com

o da justiça, ao determinar que se trate a

outrem do mesmo modo que se apreciaria

ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade

inteira, motivo pelo qual o princípio da

moralidade exige que, fundamentada e

racionalmente, os atos, contratos e

procedimentos administrativos venham a

ser contemplados à luz da orientação

decisiva e substancial, que prescreve o

dever de a Administração Pública

observar, com pronunciado rigor e a maior

objetividade possível, os referenciais

valorativos basilares vigentes, cumprindo,

de maneira precípua até, proteger e

vivificar, exemplarmente, a lealdade e a

boa-fé para com a sociedade, bem como

travar o combate contra toda e qualquer

lesão moral provocada por ações públicas

destituídas de probidade e honradez”.

Ao agente público não basta agir

expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e

sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de

Page 29: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

29 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

assessor para empreender função meramente assistencial é, indubitavelmente,

ato não apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.

O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,

ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são

obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.

Destarte, todo administrador público tem,

necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,

deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de

punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo

11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:

“Dos atos de improbidade administrativa

que atentam contra princípios da

administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra qualquer

ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e

lealdade às instituições, e notadamente:”

No caso em exame, o requerido CARLOS

JULIANO BUDEL, quando no exercício do cargo de Vereador da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma

Page 30: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

30 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

irregular indivíduo no serviço público, ofendendo de morte a Lei de Improbidade

Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e moralidade.

Ora, se houve inobservância da Constituição e

das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o

princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes

Meirelles10:

"A legalidade, como princípio de

administração (CF, art. 37, caput, significa

que o administrador público está, em toda sua

atividade funcional, sujeito aos mandamentos

da lei e às exigências do bem-comum, e deles

não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à

responsabilidade disciplinar, civil e criminal,

conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa

está condicionada ao atendimento da lei.

Na Administração Pública não há liberdade

nem vontade pessoal. Enquanto na

administração particular é lícito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é perimido fazer o que a lei

10 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.

82/83.

Page 31: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

31 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

autoriza. A lei para o particular significa

‘pode fazer assim’; para o administrador

público significa ‘deve fazer assim’”.

Repise-se, CARLOS JULIANO BUDEL não

respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionário em flagrante desvio de

função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram (ex-vereador e

assessor) atos vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem

funcionários públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo

concurso.

Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de

legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,

atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11

da Lei nº 8.429/92.

3. DO PEDIDO:

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,

querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº

8.429/92;

Page 32: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

32 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,

seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na

forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os

termos da presente, sob pena de revelia;

c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na

condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº

8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,

suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar

provas de que disponham sobre os fatos;

d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações

acrescentadas pela Lei de Improbidade;

e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o

depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a

testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;

f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e

III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade

administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos

princípios informadores da Administração Pública;

Page 33: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · adstritos" (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. ... O comparecimento à Câmara de Vereadores, como revelou ANTÔNIO CARLOS RAMOS, ocorria

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

33 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000587-0

g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 257.515,56 (duzentos e

cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais e cinquenta e seis reais) pelos

requeridos;

Atribui-se à causa o valor R$ 257.515,56

(duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e quinze reais e cinquenta e seis

reais).

Termos em que se

Pede e espera deferimento.

Foz do Iguaçu, 12 de julho de 2013.

Marcos Cristiano Andrade Promotor de Justiça

DOCUMENTOS ANEXOS:

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000587-0 (01 volume).