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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Procuradoria-Geral de Justiça GRUPO ESPECIAL DE APOIO À ATUAÇÃO DOS PROCURADORES DE JUSTIÇA (HABEAS CORPUS) Recurso Especial em Visita Periódica ao Lar Página 1 de 31 Paciente LINEU DA COSTA AMORIM- reg. 05579210-5 Exmo. Sr. Desembargador Terceiro Vice Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. "HABEAS-CORPUS" 0013423-76.2010.8.19.0000 Desembargadora Maria Angélica G.Guerra Guedes Paciente LINEU DA COSTA AMORIM COPIA O Ministério Público oficiante nesta Câmara Criminal por designação da Chefia do Parquet para atuar no GRUPO ESPECIAL DE APOIO À ATUAÇÃO DOS PROCURADORES DE JUSTIÇA ( HABEAS CORPUS) vem respeitosamente no prazo legal, interpor o presente RECURSO ESPECIAL Com fundamento no art. 105, inciso III 1 alíneas A e C da Constituição Federal em face do respeitável acórdão de fls. 74/80, pelos motivos 1 III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) (...) c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

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Paciente – LINEU DA COSTA AMORIM- reg. 05579210-5

Exmo. Sr. Desembargador Terceiro Vice Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

"HABEAS-CORPUS" 0013423-76.2010.8.19.0000 Desembargadora Maria Angélica G.Guerra Guedes

Paciente LINEU DA COSTA AMORIM

COPIA O Ministério Público oficiante nesta Câmara Criminal por designação da

Chefia do Parquet para atuar no GRUPO ESPECIAL DE APOIO À

ATUAÇÃO DOS PROCURADORES DE JUSTIÇA (HABEAS CORPUS)

vem respeitosamente no prazo legal, interpor o presente

RECURSO ESPECIAL Com fundamento no art. 105, inciso III 1alíneas A e C da Constituição

Federal em face do respeitável acórdão de fls. 74/80, pelos motivos

1 III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais

Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão

recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) (...)

c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

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que passa a expor entendendo, com todas as vênias que teria ocorrido

negativa de vigência a texto de lei federal, ou seja, aos arts. 5º, 65, 66,

67, inciso I bem como ao art. 123 inciso III e art. 197 todos da Lei de

Execução Penal além de adotar posicionamento divergente do que é

utilizado perante o Superior Tribunal de Justiça havendo a

necessidade de pacificação da nossa jurisprudência sobre o tema

saídas periódicas (visita periódica a família e/ou de trabalho extra-

muros) diante de cumprimento de penas longas e a analise subjetiva

individual do interno, destacando que esta matéria deveria ser

apreciada via agravo e não no estreito campo do "HABEAS-CORPUS".

Do prequestionamento

Não entendemos que seja necessária a interposição de embargos de

declaração para rediscutir a matéria tendo em vista que, no momento

de apresentação de nosso parecer, ocorreu a indicação dos dispositivos

legais que ensejariam a devida apreciação, por parte do Colegiado.

Naquela oportunidade assinalamos, conforme poderemos verificar às

fls. 67/68 dos autos, representando fls. 4 e 5 do parecer que, caso a

douta Câmara Criminal optasse por conceder os benefícios nesta

Instância, via "habeas-corpus" e não por agravo apreciado, pelo

colegiado, deveria ocorrer a expressa manifestação sobre o teor dos

referidos dispositivos.

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Poderemos verificar no douto acórdão ora questionado que a nobre

Relatora fez menção expressa aos dispositivos indicados ou ao tema

básico do "HABEAS-CORPUS" de modo a se tornar desnecessária,

agora, a interposição dos embargos que só terminariam não sendo

conhecidos diante da ausência das hipóteses do art. 619 do Código de

Processo Penal e não poderiam, por conseqüência, gerar qualquer

alteração da posição, ali, sustentada pelo Colegiado.

PENAL E PROCESSO PENAL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – OMISSÃO INEXISTENTE – EFEITO MODIFICATIVO DO JULGADO – EMBARGOS REJEITADOS – 1- O acórdão somente deveria se pronunciar sobre matéria tratada nas apelações ou daquela arguida de ofício, não daquela "prequestionada" nas alegações finais. 2- De toda sorte, é evidente que somente o juiz da execução penal poderia apreciar a alegação de continuidade delitiva, tratando-se de delitos apurados em feitos distintos e que não deviam ser reunidos por não estarem na mesma fase processual. 3- Quanto ao mais, o acórdão expressamente apreciou a matéria tratada nos embargos de declaração. 4- No sistema processual vigente, os embargos de declaração não são o meio adequado à substituição da orientação dada pelo julgador, mas tão-somente de sua integração, sendo que a sua utilização com o fim de prequestionamento pressupõe o preenchimento dos pressupostos previstos no artigo 619 do Código de Processo Penal. 5- Caracterizado o caráter infringente dos embargos declaratórios quando se pretende a rediscussão de temas já devida e expressamente apreciados no acórdão embargado. 6- Não tendo sido demonstrado o vício supostamente existente no acórdão, que não apresenta obscuridade, omissão ou contradição a sanar, revelam-se improcedentes os embargos. 7- Embargos de declaração rejeitados. (TRF 3ª R. – EDcl-ACr 2001.61.81.001424-0/SP – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff – DJe 21.01.2010 – p. 141) (grifos e negritos nossos) júris síntese de janeiro e fevereiro de 2010.

999904201 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CRIMINAL AMBIGÜIDADE – OBSCURIDADE – CONTRADIÇÃO OU OMISSÃO – INOCORRÊNCIA – PREQUESTIONAMENTO – PRETENSÃO – INADMISSIBILIDADE – Inexistindo qualquer das hipóteses previstas no art.

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619 do CPP, descabidos os aclaratórios. (TJAC – EDcl 2008.000884-2/0001.00 – (8.563) – C.Crim. – Rel. Des. Feliciano Vasconcelos – DJe 07.10.2009 – p. 21)- júris síntese de janeiro e fevereiro de 2010.

Por outro lado não havendo qualquer contradição, omissão,

ambigüidade ou obscuridade não cabe a sua interposição sendo

meramente protelatórios

EDcl nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.110.549 - RS (2009/0007009-2) RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI EMBARGANTE : IDEC - INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ADVOGADO : MARIA ELISA CESAR NOVAIS E OUTRO(S) RECORRENTE : EDVIGES MISLERI FERNANDES ADVOGADO : MARIA DE FÁTIMA TONET RECORRIDO : BANCO SANTANDER S/A ADVOGADO : ALDE DA COSTA SANTOS JUNIOR E OUTRO(S) EMENTA EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. REJEIÇÃO. ANÁLISE DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. I - Os Embargos de Declaração são recurso de natureza particular, cujo objetivo é esclarecer o real sentido de decisão eivada de obscuridade, contradição ou omissão. II - Estando o Acórdão Embargado devidamente fundamentado, são inadmissíveis os segundos embargos que pretendem reabrir a discussão da matéria. III - Refoge à competência do Superior Tribunal de Justiça apreciar suposta ofensa a dispositivos constitucionais, ainda que para fins de prequestionamento, sob pena de invasão da competência do Supremo Tribunal Federal. Embargos de Declaração rejeitados. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Raul Araújo Filho, Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro Documento: 976729 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 11/06/2010 Página 1 de 8 Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS).

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Brasília, 26 de maio de 2010(Data do Julgamento) Ministro SIDNEI BENETI Relator

Diante destas condições não o utilizamos, o que não inviabiliza a

interposição deste recurso especial para apreciar a presente hipótese.

A matéria foi devidamente discutida nesta Instância, nesta Câmara

Criminal não sendo possível argüir inovação por parte do Ministério

Público neste recurso ora interposto.

Da tempestividade

Recebemos os autos para ciência do acórdão em 08/06/10

Interpusemos o presente recurso em 23/06/10

Logo, foi observado o prazo legal, sendo, portanto, tempestivo,

merecendo ser conhecido, estando mais um dos pressupostos de

admissibilidade superado

Da relevância da matéria

Não poderemos esquecer que hoje, principalmente, diante do elevado

número de penas a serem cumpridas em nosso sistema penitenciário,

bem como, com as mais recentes interpretações sobre a concessão de

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benefícios aos apenados condenados por delitos hediondos ou

assemelhados, estaria surgindo uma leva de presos que, possuindo

longo período a ser ainda cumprido, diante das penas elevadas

impostas e confirmadas por nossos Tribunais, conseguem com os

lapsos temporais mais curtos, a progressão de regime ingressando no

semiaberto, sem que estejam, ainda, aptos ao retorno a esta

possibilidade de convívio social.

Voltam ao convívio social, ainda, devendo longa pena.

Qual foi então o fim a ser alcançado com sua condenação ?

A reinserção social em curto lapso de tempo?

Mas, quando na sociedade estava, até bem empregado (não era

subemprego) não soube aproveitar aquelas regras, principalmente as

disciplinares, como policial que foi.

Assim não teria sentido a imposição de penas longas em decorrência

de cometimento de delitos graves.

Como a sociedade vai entender estas saídas? De que valeu a imposição

da pena tão elevada, se o seu retorno ao meio livre foi tão rápido ?

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Assim, no presente caso, como em tantos outros que estamos

apreciando, um apenado que possui um total de penas de 21 anos e 6

meses de reclusão, dos quais cumpriu, apenas, 6 anos (vide fls. 24) em

regime mais rigoroso, ou seja, o fechado, agora possa ingressar em uma

unidade com menor rigor de segurança e, em menos de um ano de sua

progressão conseguir as saídas simultâneas de VISTA PERIÓDICA A

FAMÍLIA e TRABALHO EXTRA-MUROS.

E O PIOR, tais benefícios foram concedidos no estreito campo do

"habeas-corpus" sem que o Ministério Público oficiante perante os

autos do procedimento executivo e o juízo que, está de posse dos autos,

com todos os seus incidentes, seja novamente ouvido sobre o que

pretende o paciente.

O que a Câmara Criminal possui em mãos para decidir?

Só as peças que a defesa trouxe na interposição. Como entender

neste caso o respeito ao contraditório ? E o tratamento igualitário

entre as partes ? Sim, porque o Ministério Público por força legal –

inciso I, do art. 67 da Lei de Execução Penal - é o órgão

fiscalizador do procedimento executório.

Na verdade, destes 15 anos a serem, ainda, cumpridos o apenado em

questão, respeitando o principio da individualização das penas, já está

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na verdade em pleno gozo de sua liberdade sem qualquer

vigilância eficaz.

Sim, pois até prova em contrario, está legalmente autorizado a sair

todos os dias para trabalhar e ainda gozar no dias a serem estipulados

pelo Juízo da Vara de Execuções Penais as visitas periódicas à sua

família.

Voltando, ainda, ao principio da individualização da execução

percebemos que o apenado já foi integrante da Policia Civil e Militar

do Estado do Rio de Janeiro. Em decorrência de sua condenação

referente a CARTA DE EXECUÇÃO DE SENTENÇA n.11700-7 obteve

a perda de função. Cumpre pena por delitos graves como extorsão,

seqüestro, quadrilha, peculato.

Logo, qual a relevância deste tema para a Sociedade?

Parece-nos que é inquestionável a configuração da relevância da

matéria, ou seja, concessão de saídas temporárias aos presos que

foram condenados a cumprir penas longas (em crimes hediondos ou

assemelhados) e, em menos de sua metade, novamente saem e voltam

para o cárcere a título de que estariam trabalhando ( o que no caso do

apenado não lhe foi impeditivo para delinqüir antes) e visitando a

família.

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Inaplicabilidade da Súmula 7 do STJ

O presente recurso especial não trata de matéria de fato.

Ao contrário, a discussão cinge-se à interpretação e alcance da

norma prevista nos artigos 5º, 123 inciso III, 197, 66 IV, 67, 68

inciso I da Lei 7210/84.

Em outras palavras, busca-se discutir o posicionamento do acórdão

que entendeu que poderia, em campo tão restrito como o "HABEAS-

CORPUS" apreciar os pedidos que foram indeferidos pela autoridade

coatora em decisão devidamente fundamentada, proferindo-se, na

verdade, outra decisão (não se cassou aquela, mas reformou-se a

anterior como se recurso fosse) permitindo simultaneamente as duas

saídas temporárias que surgem previstas no art. 122 da Lei de

Execução Penal e são destinadas aos internos cumprindo pena em

regime semiaberto, desde que sejam tais saídas compatíveis com o fim

da execução.

A questão, portanto, é eminentemente de direito.

Atendidos, assim, os requisitos das súmulas 282 e 356, do Supremo

Tribunal Federal.

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Desta forma, resulta a inexistência de qualquer óbice à admissão do

presente recurso e ao seu conhecimento pelo Colendo Superior

Tribunal de Justiça

Esperamos, portanto, que os pressupostos de admissibilidade estejam

devidamente preenchidos.

Dos fatos

No caso dos autos, a impetração busca desconstituir decisão do Juízo

da Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro que indeferiu

requerimento formulado pela defesa técnica para concessão dos

benefícios de Visita Periódica à Família e Trabalho extramuros.

Tal decisão apoiou-se na manifestação do Ministério Público em

atuação perante aquele Juízo, a qual asseverou que a concessão de tais

benefícios no caso em questão não seria a medida mais adequada aos

fins da pena do Recorrido, pois considerada sua recente progressão ao

regime semiaberto, bem como a gravidade concreta dos delitos

perpetrados pelo mesmo, somada ao longo lapso de pena a ser

cumprido, tem-se que o deferimento de tais benefícios constituiria um

estímulo à evasão do recorrido.

O Indeferimento foi objeto de pedido de reconsideração igualmente

indeferido.

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A análise dos documentos acostados aos autos permite as seguintes

conclusões de ordem fática:

O Recorrido tem contra si a Carta de Execução de Sentença

nº2005/11700-7, cuja pena total é de 21 anos e 6 meses de reclusão

em regime inicialmente fechado, por infrigência aos arts. 158,§1º,

primeira parte; 288, parágrafo único, 312, caput e 159, §1º, na forma

do art. 69, todos do Código Penal.

Foi concedida ao Recorrido progressão para o regime semiaberto em

03/06/09.

A defesa Técnica requereu, respectivamente em 30/07/09 e 13/08/09,

a concessão dos benefícios de Visita Periódica ao Lar e Trabalho

Extramuros.

Da lesão aos dispositivos de lei federal Das razões para o provimento do recurso pela alínea a, do artigo 105, III,a da

Constituição Federal.

DA NEGATIVA DE VIGENCIA AOS ART. 5º, 66 INCISO IV, 67 E 68 INCISO I BEM COMO ARTS. 123 INCISO III E 197 TODOS DA Lei de Execução Penal.

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Parece-nos claro que ao ser apreciada a matéria em sede de "habeas-

corpus" ao invés de AGRAVO estaríamos fugindo da manifestação do

Ministério Público que atuaria perante o Juízo Executório e mais, da

possibilidade legitima de retratação proveniente do tramite do próprio

recurso de agravo.

Na verdade, não foi possível ao Ministério Público de 1ª instância

participar desta nova reavaliação da matéria – observando sua posição

acostada no primeiro momento - que opinou sobre o pedido que aqui

veio, por cópia, às fls. 45 no sentido de não concessão dos dois

benefícios e foi acompanhado pelo juízo executor.

Por outro lado, neste campo não possuímos além do contraditório a

possibilidade de diligenciar, produzir provas como ocorre no campo do

recurso em que nos é viável baixar os autos, converter em diligências

para melhor instruir o recurso. Aqui, não.

Estamos atrelados a brevidade da apreciação e do material que apenas

nos foi apresentado pela defesa.

Nas informações a autoridade coatora preocupa-se de regra em não ser

prolixo, por não entender que sua missão não é defender o ato judicial

em si, mas a observação da legalidade do ato de indeferir o beneficio

pretendido e, neste campo, ficamos à mercê do que apenas o paciente

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entende que deveremos saber e o Juiz, na preocupação de zelar por sua

conduta quanto a legalidade do ato.

Logo, AGRAVO existe em lei, no art. 197 da Lei de Execução Penal.

Não foi revogado, não foi alterado, não foi sequer disciplinado quanto a

sua forma de tramitação chegando-se com os anos ao entendimento de

que diante da natureza das decisões que poderão ser alvo deste

recurso, sua postura deveria ser entendida como a do RECURSO EM

SENTIDO ESTRITO.

Daí passou-se a adotar a mesma ritualização.

Por outro lado, é inegável que agora decidindo pela concessão de dois

benefícios por meio de WRIT, estamos dizendo de forma implícita que

o AGRAVO só poderá ser utilizado pelo Ministério Público oficiante

perante a Vara de Execuções Penais e, quanto à defesa, esta poderá

obter a reforma da decisão com um mero WRIT, sem campo de provas,

sem contraditório, sem manifestação do real órgão fiscalizador do

procedimento executivo, que é o Ministério Público que oficia nos

autos da execução e não esta Procuradoria de Justiça que sequer

dispõe dos autos para analise do que pretende a parte.

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Com esta decisão proferida pelo colegiado feriram-se os dispositivos

previstos na Lei de Execução Penal, ou seja, o art. 1972 – quanto ao

recurso, o art. 5º3 quanto a individualização da execução; o art. 66, IV 4

quanto ao poder do juiz que atua na Vara de Execuções Penais de

julgar os procedimentos executórios em especifico sobre saídas

temporárias e o inciso I, do art. 68 bem como o art. 675, quanto ao

poder conferido em lei de órgão fiscalizador da execução entregue ao

Ministério Público

Não custa destacar que o recurso de AGRAVO em execução sequer

possui o efeito suspensivo o que de certa forma se por um lado não

causa maiores prejuízos ao apenado quando o Ministério Público

recorre, porque ele (o interno) começa a usufruir o beneficio, mesmo

que, depois, seja cassado.

Por outro lado, para a Sociedade que vem através do Ministério Público

fiscalizar a execução da pena imposta pelo Judiciário, vê, na rua, ao seu

lado, como na hipótese dos autos, o elemento com pena elevada, saindo

normalmente, sem escoltas, para trabalhar todos os dias (v.fls.44) de 7

2 Art. 197. Das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.

3 Art. 5º. Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar

a individualização da execução penal. 4 Art. 66. Compete ao juiz da execução:

(...)

IV - autorizar saídas temporárias; 5 Art. 67. O Ministério Público fiscalizará a execução da pena e da medida de segurança, oficiando no

processo executivo e nos incidentes da execução.

Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:

I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;

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às 17 horas quando lhe faltam cumprir, pelo menos 15 anos desta pena

total de 21 anos e 6 meses.

E quanto ao argumento que o direito de ir e vir do apenado estaria

sendo cerceado e daí admitir-se o "HABEAS-CORPUS" com todas as

vênias aos que adotam este pensamento, deveremos verificar que o

direito de ir e vir está cerceado desde o momento em que encarcerado

foi o paciente para cumprir pena, legalmente imposta e os BENEFICIOS,

são uma decorrência da execução pena e da necessidade de dosar a

concessão destes em face do total desta condenação.

O que se discute, neste recurso, são os benefícios concedidos e não a

liberdade do paciente.

Quanto a individualização, parece-nos claro que cabe ao juízo da Vara

de Execuções Penais em face do que consta nos autos da execução, das

analises apresentadas, do perfil traçado no curso da execução analisar

com o total de pena ainda a ser cumprido, se a concessão de tal

beneficio será adequada para o preso e/ou para Sociedade.

Há o comum problema da vitimização do custodiado que atinge aos

envolvidos na execução.

Enquanto não encarcerado, realizamos todos os esforços possíveis e

impossíveis para trazê-lo para o cárcere.

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Enfim preso ! Vamos dar inicio ao cumprimento da pena !

Agora, ele tem todos os direitos possíveis e impossíveis para sair da

prisão. Tem família, tem trabalho, tem estudo, tem reinserção social,

tem a abominável discriminação da reinserção no campo trabalhista,

tem o argumento de que cadeia não recupera ninguém, a pena não é

um castigo nem é a punição dos seres culturamente desenvolvidos. Os

garantistas meio desinformados protestam pelo término da expiação,

pela unificação das penas para concessão dos benefícios, pelo fim da

Sumula 715 do Supremo Tribunal Federal,6 etc.

Portanto, no curso da execução dos crimes hediondos que antes não

teriam direito a progressão de regime, desde 2006 e mais claro, desde

6 715 - A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75

do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento

condicional ou regime mais favorável de execução.

Julgados:

RHC 63.673, DF, 2ª T., DJU de 20.06.1986, RTJ 118/497

HC 63.836, FR, 2ª T., 17.06.1986, DJU de 14.08.1986, RTJ 118/935

HC 65.522, SS, 1ª T., 17.11.1987, DJU de 11.12.1987, RTJ 136/172

HC 66.212, NS, 1ª T., 07.06.1988, DJU de 16.02.1990

RE 111.489, NS, 1ª T., 19.08.1988, DJU de 24.04.1992, RTJ 143/241

HC 68.262, MAM, 2ª T., 04.12.1990, DJU de 07.02.1991, RTJ 134/1.198

HC 68.662, CV, 2ª T., 03.09.1991, DJU de 04.10.1991, RTJ 137/1.204

HC 69.161, NS, 2ª T., 14.04.1992, DJU de 12.03.1993, Lex 178/327

HC 70.002, CM, 1ª T., 16.03.1993, DJU de 16.04.1993, RTJ 147/637

HC 69.423, CV, Plenário, 17.06.1993, DJU de 17.09.1993, Lex 182/281, RTJ 142/129

HC 71.815, IG, 1ª T., 14.02.1995, DJU de 31.03.1995

HC 74.428, CM, 1ª T., 29.10.1996, DJU de 03.10.2003

HC 75.341, CV, 2ª T., 10.06.1997, DJU de 15.08.1997

HC 78.326, SP, 1ª T., 16.03.1999, DJU de 16.04.1999

DJU 09.10.2003, rep. DJU 10.10.2003 e DJU 13.10.2003

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a lei 11464/2007 passamos a ter progressão para os hediondos, mas ai

surgiu o percentual.

Poderá ser com 1/6, ¼, 2/5, 3/5 e a matemática nunca foi boa aliada

para as ciências jurídicas e quase todos estão conseguindo, como o

destes autos, a progressão com 1/6 de pena.

Antes ele não teria sequer direito a progressão.

Mas, agora, com 1/6 ele conseguiu, graças ao evoluído acórdão

proferido pelo Supremo Tribunal Federal, sobre a interpretação das

normas e a necessidade de maior estimulo para o retorno do

encarcerado, ao mundo livre.

Bem, este é um deles.

A sua prisão inicial foi em 1997, obteve liberdades e prisões, até que

em 2006 realmente iniciou o cumprimento de pena.

Dentre os delitos pelos quais foi condenado, encontramos os

hediondos ou os assemelhados.

O seu total de penas é longo. Mas, agora, se considera no direito de

voltar a trabalhar ? Voltar ao contato familiar !

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A família já o visitava na cadeia, conforme consta dos autos. Logo, não

estava isolada no fundo do cárcere. Na verdade, o novo flanco familiar,

porque o anterior nos parece ter ficado no passado.

Disto tudo, entendemos que a matéria de direito lesionada, que teve

sua vigência negada diz respeito a ter a douta Câmara Criminal

reformado uma decisão fundamentada, correta, que justificava o

indeferimento dos benefícios, por um acórdão pautado só em

documentos apresentados pela defesa, no campo do "HABEAS-

CORPUS" sem os autos da execução, colocando, em tese, na rua

diariamente o paciente para trabalhar e nos dias de folga, visitar a

família, possuindo, ainda, longa pena a cumprir estando longe o

momento em que poderá obter o livramento condicional.

Por tais motivos, entendemos que deva ser provido o presente

recurso, cassando-se o acórdão proferido, restabelecendo-se o

anterior, devendo o juízo novamente instruir novo procedimento

de saídas temporárias, um para VISTA PERIÓDICA A FAMÍLIA e

outro para trabalho extra-muros com o fito de verificar após este

período em novo regime, com novas regras, a conduta do

apenado, sendo possível gradualmente lhe conceder as saídas

para analise de suas saídas e retornos, sendo ouvidos o Ministério

Público e a administração carcerária como exige o caput do art.

123 da Lei de Execução Penal.

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Não poderemos esquecer que o apenado não está fazendo nenhum

favor em cumprir a pena imposta, nem a cadeia é hotel para estadia

temporária.

DO DISSIDIO JURISPRUDENCIAL

Das razões para o provimento do recurso pela alínea “c”, do artigo 105, III,a da Constituição Federal.

Ao estabelecermos uma comparação entre o Acórdão recorrido e o que

foi decidido recentemente pela Colenda 6ª Turma deste Superior

Tribunal de Justiça tanto no HC nº 143.409, de Relatoria do Exmo.

Ministro Og Fernandes, como no HC nº145.186, de Relatoria da Exma.

Ministra Maria Thereza de Assis Moura, fica evidente a divergência

entre a posição recorrida e a melhor Jurisprudência sobre o tema,

senão vejamos:

Os Acórdãos paradigma trataram da mesma matéria versada nos

presente autos, tendo concluído no sentido de que se o Juízo da

Execução, fundamentadamente, conclui que, no momento de análise do

requerimento, o paciente/recorrido não faz jus aos benefícios

pleiteados em razão da inadequação de tais benefícios aos fins da pena,

resta claro que tais benefícios devem ser indeferidos pelo não

preenchimento do requisito esculpido no art. 123, III da LEP.

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Em apoio, os Acórdãos expressamente destacaram que a concessão de

tais benefícios não é automática sempre que o apenado obtenha

progressão de regime, como quis fazer crer a impetração.

A comparação entre as razões de decidir do Acórdão recorrido e dos

Acórdãos paradigma é ainda mais reveladora da divergência:

Acórdão Recorrido

“Em que pesem os argumentos de que lançou mão o douto magistrado “a quo”, entendo que os mesmos não são idôneos para os fins que se destinam. É cediço que as Visitas Periódicas ao Lar e Trabalho Extramuros visam permitir ao apenado adquirir mais responsabilidade, aprimorar seu convívio social e, por conseguinte, facilitar seu reingresso na sociedade. É dever do Estado fomentar o estreitamento do vínculo familiar e inserção do apenado no seio social, a fim de abreviar sua ressocialização. No caso, verifico que o ora paciente faz jus à concessão de VPL e TEM, vez que preenche os requisitos objetivos e subjetivos exigidos, bem como resta demonstrada a existência de vínculo familiar e oferta de emprego de auxiliar de serviços gerais, de segunda à sábado, mediante controle de freqüência por livro de ponto e renda mensal no valor de R$ 465,00(quatrocentos e sessenta e cinco) reais(fls. 21 e fls. 29) “....” “ Nesta esteira, negar ao paciente o benefício acima mencionado, sob a alegação demonstrada pelo Juízo “a quo”, afronta um dos princípios esculpidos na LEP, como já dito acima, qual seja, o de proporcionar condições para a reintegração social do condenado”. (transcrição de fls. 79/80 do voto da Relatora Desembargador. Maria Angélica Guerra Guedes.)

Vejamos o que dizem os Acórdãos Paradigma:

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Trecho do voto do Relator no HC nº 143.409

“O benefício das saídas temporárias não é intrínseco à progressão ao regime semiaberto, devendo, pelo contrário, ser deferido ou indeferido motivadamente pelo Juízo da Execução Penal. Cabe à este Juízo verificar se estão presentes os requisitos objetivos e subjetivos para a concessão do benefício. No caso, a decisão do Juízo das Execuções está suficientemente motivada. O Juízo de Direito da Vara de Execuções Penais da Comarca da Capital/RJ corretamente entendeu acerca da incompatibilidade do benefício com os objetivos da pena e que a benesses devem ser concedidas de forma progressiva à medida que o apenado vá demonstrando estar apto à concessão de benefícios. É o que demonstra trecho da decisão, que se transcreve abaixo (fls. 86/88): Não é outra a razão de a Lei de Execução Penal ter adotado o sistema da progressividade que objetiva favorecer o apenado que apresenta bom comportamento carcerário, inserindo-o em regime menos rigoroso, com maior amplitude de saídas extra-muros, e sancionar aquele que persevera com condutas graves, regredindo-o para um regime mais severo. Portanto, em consonância com o próprio sistema progressivo da pena, a submissão do apenado a situação mais benéfica, com maior liberdade e contato com a família e a sociedade em geral deve ser gradual, de forma a assegurar que o apenado vá se adaptando à nova realidade paulatinamente, até que logre atingir a liberdade condicional e, finalmente, a plenitude da liberdade com o término da pena ou extinção da punibilidade. No caso em tela, o apenado já obteve a progressão de regime fechado para o semi-aberto, sendo certo que só obterá lapso temporal para livramento condicional em 18/09/2015, estando o término de sua pena com unificação prevista para 06/11/2026.

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Por outro lado, não procede a alegação da defesa no sentido de que o indeferimento do requerimento de VPL não representa a transformação do regime semi-aberto em fechado, porquanto é da própria essência do semi-aberto o menor rigor da Unidade Prisional em que o apenado se encontra encarcerado, em contraponto ao regime fechado em que os apenados, não raro, ficam confinados em suas celas, não tendo a possibilidade de transitarem nas áreas dentro do próprio Presídio. Assim, a própria progressão de regime, de per si, constitui benefício ao apenado independentemente da concessão da saída extra-muros ora requerida. Constato, destarte, que a concessão no presente momento da saída extra-muros do apenado para visitar sua família não se coaduna com o objetivo da pena, servindo, inclusive de estímulo para a eventual evasão, como bem ressaltado pelo ilustre parquet, razão pela qual indefiro o pleito de visita periódica ao lar, ao menos no presente momento. Observa-se, na hipótese dos autos, que o paciente ainda não preencheu o requisito previsto no art. 123, III, da Lei nº 7.210/84, sendo irrelevante a progressão ao regime semiaberto quando ausentes outras exigências. Mesmo já tendo sido beneficiado com a progressão para o regime semiaberto, o réu só terá direito de pleitear livramento condicional no ano de 2015, demonstrando a incompatibilidade do benefício das saídas temporárias com os objetivos da pena. Além do mais, a medida pretendida só deve ser concedida aos apenados que já estão próximos de alcançar a liberdade, auxiliando em sua readaptação à vida social.

E no Acórdão do HC nº 145.186:

“As benesses inerentes à execução penal somente são deferidas de forma progressiva, comungando do

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mesmo escopo dos regimes carcerários. Ao magistrado a quo cabe a análise da aptidão do apenado para a concessão de um dado benefício. Desse modo, a visita periódica ao lar não deve ser deferida de forma automática, conjuntamente com a progressão ao regime semiaberto. Necessário se faz o exame acerca do preenchimento, por parte do apenado, dos pressupostos previstos em lei, atentando-se para a razão maior das benesses na execução criminal, que consiste na readaptação do condenado à vida em sociedade. No caso, verifica-se que o Juízo da execução indeferiu a visita periódica ao lar fundamentando adequadamente o decisum no requisito estipulado no inciso III do artigo 123 da Lei de Execuções Penais, visto que não constatou a compatibilidade de tal deferimento com o objetivo da reprimenda. A mim me parece, portanto, correta a decisão de primeiro grau”.

Resta, portanto, evidente que o aresto recorrido interpretou de forma

completamente dissonante o art. 123, III da LEP quando considerados

os Acórdãos mencionados acima, devendo este Tribunal reformar a

decisão guerreada para, fazendo prevalecer seu entendimento,

restabelecer a decisão de primeiro grau.

Ainda outro ponto que merece ser destacado diz respeito a

interposição do "habeas-corpus" ao invés de agravo, sendo rejeitada

nossa preliminar no julgamento do "habeas-corpus" 0013423-

76.2010.8.19.0000, 3ªCCrimTJRJ, diante do teor de fls. 77, a saber:

“....Inicialmente, rejeito a preliminar argüida pela douta Procuradoria de Justiça, consubstanciada na ausência de

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interposição de recuso especifico, qual seja, agravo de execução. Em razão do direito de liberdade ser um bem indisponível, o formalismo exacerbado não encontra rigor na seara penal, mormente diante de flagrante constrangimento ilegal. Ademais, esta Colenda Corte, em reiteradas decisões tem se posicionado no sentido de conhecer a questão, inexistindo, destarte, óbice ao presente mandamus.”

Poderemos, ainda, destacar no voto do acórdão no recurso em

"habeas-corpus" n.26.226(2009/0109903-5) proferido pelo Superior

Tribunal de Justiça, cuja ementa segue abaixo que, o "HABEAS-

CORPUS" não é via eleita para discutir esta matéria, diante da

necessidade de revolvimento do conjunto fático-probatório o que

sempre sustentamos sobre a não interposição do agravo sendo caso de

não conhecimento do WRIT, por não ser possível o revolvimento da

prova colhida no curso da execução, a saber:

EXECUÇÃO PENAL. "HABEAS-CORPUS". ART. 123 DA Lei de Execução Penal. SAIDA TEMPORÁRIA, VISITA AO LAR. AUSENCIA DE REQUISITO SUBJETIVO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. INVERSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA. RECURSO IMPROVIDO.

1. O indeferimento da saída temporária para visita ao lar encontra-se devidamente fundamentado na ausência de requisito subjetivo.

2. A inversão do julgado demandaria necessariamente o revolvimento do conjunto fático-probatório, o que é inviável na via eleita.

3. recurso improvido”

(...)

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No voto transcreve o parecer do MPF destacando os fundamentos que elucidaram a controvérsia, a saber: “A hipótese é de improvimento do recurso. Mesmo com cumprimento de ¼ da pena e o recorrente se encontrar no regime semiaberto, esses requisitos, por si sós, não ensejam a obrigatoriedade do reconhecimento do beneficio requerido, pois há a necessidade da compatibilidade com os objetivos da pena. (....) Ademais, encontrando-se bem fundamentada a decisão singular, concluir de forma diversa depende de aprofundado exame do conjunto fático-probatório dos autos, notadamente quanto à satisfação do pressuposto subjetivo, o que é inviável em sede de "habeas-corpus", remédio jurídico-processual, de índole constitucional, que tem como escopo resguardar a liberdade de locomoção contra ilegalidade ou abuso de poder, marcado por cognição sumária e rito célere. Ante o exposto, nego provimento ao recurso.”

Mais uma vez, restou claro que em sede de "habeas-corpus" esta

matéria exige maior valoração de prova e o estreito campo do WRIT

não permite maiores considerações.

E mais, no "habeas-corpus" 105.325-RJ (2008/-0092917-0) sendo a

relatora, a Ministra LAURITA VAZ, esta posição foi claramente

sustentada, quando entende que a via estreita do "HABEAS-CORPUS"

não comporta o revolvimento do conjunto probatório, divergindo o

acórdão ora recorrido da posição sustentada no acórdão proferido

pelo Superior Tribunal de Justiça, a saber:

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HABEAS CORPUS Nº 105.325 - RJ (2008/0092917-0)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

IMPETRANTE : FELIPE LIMA DE ALMEIDA - DEFENSOR PÚBLICO

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PACIENTE : ALMIR ROGÉRIO QUINTAN RIBEIRO (PRESO)

EMENTA

HABEAS CORPUS . EXECUÇÃO PENAL. PACIENTE QUE CUMPRE PENA POR

DUPLO LATROCÍNIO. DEFERIMENTO DE PROGRESSÃO PARA O REGIME

SEMIABERTO. PLEITO DE AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTRA-MUROS,

NA FUNÇÃO DE GUARDA MUNICIPAL. INDEFERIMENTO PELO JUÍZO DAS

EXECUÇÕES. RATIFICAÇÃO PELA CORTE ESTADUAL. REQUISITO SUBJETIVO.

ANÁLISE DO PEDIDO QUE IMPLICA O REVOLVIMENTO DO CONJUNTO

FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE NA VIS ESTREITA DO WRIT. ORDEM

DENEGADA.

1. Como se extrai do acórdão vergastado, o indeferimento da autorização para trabalho externo

foi fundamentado na ausência do preenchimento de requisitos subjetivos previstos no art. 37, da

Lei de Execução Penal, litteris: "A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção

do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento

mínimo de 1/6 (um sexto) da pena".

2. Embora este Superior Tribunal de Justiça admita a impetração de habeas corpus como

sucedâneo de recurso, no caso o agravo em execução, esse entendimento está adstrito à hipótese

em que a controvérsia esteja limitada a possível ofensa aos princípios da individualização da

pena e à Constituição Federal, cujo deslinde, meramente de direito, prescindam de revolvimento

de material fático-probatório.

3. Todavia, no caso dos autos, a reavaliação da decisão que indeferiu a saída para trabalho extra-

muros, na função de guarda municipal, de Apenado que cumpre pena por duplo latrocínio,

esbarra na impossibilidade de se examinar tal pedido em sede de habeas corpus, pois necessário

o exame detalhado dos requisitos subjetivos, notoriamente inviáveis de aferição na via estreita

do writ, que não admite dilação probatória.

4. Ordem denegada

E, ainda prossegue o acórdão, em seu voto:

“O acórdão, que ratificou a decisão de primeiro grau, foi fundamentado nos seguintes

termos:

"O paciente tem em trâmite na Vara de Execuções Penais a CES n. 2006/00056-6,

expedida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de São Fidélis, na qual consta que

foi condenado pela prática do crime descrito no art. 157, § 3º (duas vezes), na forma do

art. 70, ambos do Código Penal, a pena de 23 (vinte e três) anos e 04 (quatro) meses de

reclusão.

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Consta dos autos que foi concedida a progressão para o regime semi-aberto, decisão que restou confirmada por esta Colenda Câmara, nos autos do Recurso de Agravo (Lei

n. 7.210/84) n. 745/2007, interposto pelo Ministério Público.

O impetrante pretende, através do presente writ, a concessão ao paciente da saída para

trabalho extra-muros, sustentando a ilegalidade e arbitrariedade da autoridade

coatora, que não obstante o preenchimento de todos os requisitos legais, negou o

direito público subjetivo do paciente à autorização temporária de saída para trabalho

externo, causando-lhe grave constrangimento ilegal, sanável por via do presente writ.

É assente na jurisprudência o entendimento de que se afigura inviável a concessão de

writ quando a pretensão nele versada demande a aferição de elementos objetivos e

subjetivos .

Extrai-se dos autos que o Juízo da Vara de Execuções Penais indeferiu o pedido de

saída para trabalho extra-muros respaldado em elementos concretos, acolhendo

parecer ministerial, de que seria contraditório autorizar ao apenado a prestação de

serviço de guarda municipal, responsável pela segurança do povo e da coisa pública,

bem como por se tratar de servidor de outro Município.

Ocorre que a decisão contrária aos interesses do paciente é impugnável pela via do

agravo, meio processual adequado para revisão do decisum e revolvimento de matéria

que demanda o exame de fatos e informações quanto às condições e possibilidades de

cumprimento do trabalho extra-muros .

Nesses termos, o writ não é o adequado ao exame de situações fáticas e requisitos

subjetivos para a obtenção do benefício previsto na Lei de Execução Penal.

À conta de tais considerações, não vislumbro o constrangimento ilegal alegado, pelo

que dirijo o meu voto no sentido da denegação da ordem."

(fls. 36/37)

A Lei de Execução Penal regula a matéria da seguinte forma:

"Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente

em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou

Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em

favor da disciplina.

[...]

Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do

estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do

cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a

praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento

contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo. "

Impende salientar, inicialmente, que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

tradicionalmente limitava a concessão do benefício do trabalho externo ao condenado

que se encontrava no regime fechado.

Contudo, esse entendimento foi flexibilizado para admitir o referido benefício para os

apenados que cumprem pena no regime semiaberto, desde que satisfeitos os requisitos

necessários, de natureza subjetiva, mesmo quando se tratar de regime inicial, diante do

critério da razoabilidade que sempre incide na adaptação das normas de execução à

realidade social e à sua própria finalidade, ajustando-as ao fato concreto.

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Confira-se, a propósito, o seguinte trecho do voto do Ministro GILSON DIPP, acolhido pela Quinta Turma por unanimidade, quando do julgamento do HC n.º 19.156/RS, in

verbis :

"[...] Já firmei posição no sentido de admitir o trabalho externo aos condenados ao

regime semi-aberto, independentemente do cumprimento de 1/6 da pena – ainda mais

quando constatadas condições pessoais favoráveis do agente.

Incide, na hipótese, a lógica do critério da razoabilidade, que se faz necessário na

adaptação das normas de execução à realidade social e à sua própria finalidade,

ajustando-as ao fato concreto – daí porque o caráter programático de certas normas

constantes da Lei de Execução, ao qual se deve atentar sempre .

A individualização da solução, portanto, não pode ser tida como ilegal, em atenção ao

propósito final da sistemática penal

Nesse sentido, Júlio Fabbrini Mirabete, in Comentários à Lei n.º 7.210/84, 6.ª Edição,

São Paulo, Atlas, 1996, págs. 107/108:

'O trabalho externo é uma atenuação gradativa inserida no regime de execução da pena

em estabelecimento fechado, determinando-se ainda que se exija do condenado o

cumprimento de pelo menos um sexto da pena'; [...] 'Embora na jurisprudência, se tem

exigido que, iniciando o condenado o cumprimento da pena em regime semi-aberto, há

necessidade também que tenha cumprido um sexto da pena, existe orientação diversa

fundada na inexistência de regra expressa a respeito do tempo de cumprimento de pena

no regime semi-aberto, deixando a concessão ao prudente critério da oportunidade e

conveniência do juiz da execução [...]'.

Pois bem. No caso, o indeferimento da autorização para trabalho externo, para voltar à

função de guarda municipal, foi fundamentado no fato de que "seria contraditório

autorizar ao apenado a prestação de serviço de guarda municipal, responsável pela

segurança do povo e da coisa pública, bem como por se tratar de servidor de outro

Município " (fl. 37).

Nesses termos, evidencia-se que o referido indeferimento se deu com base no

exame de situações fáticas e requisitos subjetivos previstos no art. 37, da Lei de

Execução Penal, litteris: "A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela

direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além

do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena".

Ou seja, a análise do pedido apresentado no presente writ implica a análise sobre a

"aptidão, disciplina e responsabilidade" do Paciente.

Embora este Superior Tribunal de Justiça admita a impetração de habeas corpus como

sucedâneo de recurso, no caso o agravo em execução, esse entendimento está adstrito à

hipótese em que a controvérsia esteja limitada à possível ofensa aos princípios da

individualização da pena e à Constituição Federal, cujo deslinde, meramente de direito,

prescindam de revolvimento de material fático-probatório.

Todavia, no caso dos autos, a avaliação da decisão que indeferiu a saída para trabalho

extra-muros, na função de guarda municipal, de Apenado que cumpre pena por duplo

latrocínio esbarra na impossibilidade de se examinar tal pedido em sede de habeas

corpus, pois necessário o exame detalhado dos requisitos subjetivos, notoriamente

inviáveis de aferição na via estreita do writ, que não admite dilação probatória.

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Finalizando:

Conforme salientado pelo parecer ministerial, "saliente-se, por fim, que nada

impede que o paciente possa vir a pleitear, perante o Juiz da Execução Penal ou

por intermédio do agravo (art. 197, LEP), o deferimento do benefício da saída

extra-muros para desempenhar uma outra atividade, desde [que] compatível com

a pena imposta" (fl. 50).

Ante o exposto, DENEGO a ordem.

É o voto.

MINISTRA LAURITA VAZ

Assim, percebe-se que a hipótese deste acórdão em que foi relatora a

douta Ministra LAURITA VAZ é similar a que estamos trazendo para

apreciação, tanto que a douta Desembargadora Relatora optou por

rejeitar nossa preliminar afirmando que estaria em apreciação o

direito de liberdade e este seria um bem indisponível, e

.... “o formalismo exacerbado não encontra rigor na

seara penal, mormente diante de flagrante

constrangimento ilegal...”(fls. 78)

o que vem na contra-mão da posição desta Corte, como provamos nas

transcrições apresentadas.

E mais, a partir de fls. 79, Sua Excelência, passa a examinar as peças

que foram apresentadas pela parte impetrante, esquecendo, com todo

o respeito que não nos foi possível contraditá-las, em face de

ausência dos autos principais, o que poderia ser analisado num campo

mais amplo, como no agravo, onde o Ministério Público por

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Recurso Especial em Visita Periódica ao Lar

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Paciente – LINEU DA COSTA AMORIM- reg. 05579210-5

determinação legal, art. 68, I da Lei de Execução Penal oficiaria e o

JUÍZO, se fosse o caso, poderia optar pela retratação diante da

ritualização do próprio recurso previsto no art. 197 da Lei de Execução

Penal.

Não, optou-se por apreciar o que veio – apena, repita-se - pelas mãos

da defesa, em flagrante cerceamento da atuação do Ministério Público

como órgão fiscalizador do procedimento executório.

Portanto, parece-nos claro que buscamos a pacificação da

jurisprudência, no sentido de que esta matéria, por envolver conceito e

valoração probatória, não cabe ser apreciada em estreita via como

"HABEAS-CORPUS", ocasionando o cerceamento da atuação do

Ministério Público de 1º grau, lesionando o contraditório e a

possibilidade de apreciação da matéria, mais uma vez, pelo juiz natural

da causa, ou seja, o juízo das execuções.

Por sua vez, mais uma vez restou claro que nossa jurisprudência não

caminha nos mesmos termos do acórdão ora questionado que foi

proferido pela douta 3CCrim do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Requeremos assim a pacificação de nossa jurisprudência no sentido

que a matéria é discutível por agravo e não por "habeas-corpus" e por

outro lado, sua apreciação envolve valoração fática que foge ao

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caminho optado, sendo coerente a postura do juízo de 1ª instância que

indeferiu motivadamente a concessão do beneficio.

Conclusão

Diante destes argumentos exaustivamente expostos requeremos:

a) que seja o presente recurso admitido; b) que seja a parte contrária intimada para apresentar as

contrarrazões;

c) que seja restabelecido o cumprimento da lei de execução penal, cassando-se o douto acórdão proferido pela Egrégia Terceira Câmara Criminal, restabelecendo-se a decisão do juízo da Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro, no sentido de não serem concedidos os dois benefícios de saídas temporárias, devendo ser novamente instruído novos pedidos – individuais, sendo ouvida a Administração Carcerária (nos dois pedidos de saída) bem como o Ministério Público vindo os pareceres compatíveis para a analise dos pleitos de saídas observando, assim, a ficha disciplinar, apreciada a compatibilidade dos pedidos com o fim da execução da pena.

d) Portanto, o provimento do presente recurso, comunicando-se ao

Juízo executor e a SEAP (local de custódia do interno) para a finalidade acima descrita, pacificando-se nossa jurisprudência em face das decisões acostadas sobre o tema.

Nestes termos, E.deferimento. Rio de Janeiro, 23 de junho de 2010.

Celma P.D. de Carvalho Alves Procuradora de Justiça