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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM GOIÁS Protocolo nº 161.920/2016 TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO GOIÁS AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL Nº 278-40.2016.6.09.0047 Recorrentes: ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL lator: JUIZ LUCIANO MTANIOS HANNA RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ABUSO DE PODER ECONÔMICO. PRELIMINARES AFASTADAS. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. MEDIDA JÁ ALCANÇADA VIA MANDADO DE SEGURANÇA. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTOS ATÉ A DATA DA AUDIÊNCIA. PRECEDENTES. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA POR NÃO TER SIDO REALIZADO O DEPOIMENTO PESSOAL. DESCABIMENTO. NO MÉRITO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DE PODER ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. OS RECORRENTES ARQUITETARAM UM FORTE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS/GO. O ESQUEMA TINHA TRÊS VERTENTES. 1) DISTRIBUIÇÃO DE 2400 LITROS DE COMBUSTÍVEL (GASOLINA) AOS ELEITORES, MEDIANTE DISTRIBUIÇÃO DE 45 VALE-COMBUSTÍVEIS. PROVA TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL ROBUSTA E FORTE COMPROVANDO A CONDUTA NARRADA NA INICIAL. 2) COMPRA DE PASSAGENS AOS ELEITORES PARA IREM VOTAR. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL NO SENTIDO DE QUE FORAM COMPRADAS MAIS DE 40 PASSAGENS PARA OS ELEITORES IREM VOTAR EM DIVINÓPOLIS. 3) COMPRA DO VOTO DA ELEITORA LORRANE CONFIRMADA PELA PROVA NOS AUTOS E COM INDÍCIOS DE QUE TERIA HAVIDO MAIS VOTOS COMPRADOS. AS PROVAS DOS AUTOS FORAM ROBUSTAS E CONTUNDENTES NO SENTIDO DE QUE OS RECORRENTES, COM O AUXÍLIO DO “TIO JOCA”, “ALÊ” E “SULA”, ARQUITETARAM UM GRANDE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS, QUE FOI DECISIVO NO PLEITO MUNICIPAL DE 2016, O QUAL FOI DECIDIDO EM DIVINÓPOLIS POR UMA IMPRESSIONANTE DIFERENÇA DE 20 VOTOS. OS FATOS NARRADOS NA INICIAL FORAM INTEGRALMENTE CONFIRMADOS Ministério Público Federal – Procuradoria Regional Eleitoral em Goiás Avenida Olinda, Quadra G, lote 02, Park Lozandes, Goiânia/GO, CEP 74.884-120 Fone (62) 3243-5311- Fax (62) 3243-5312 Homepage: www.prgo.mpf.mp.br

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM GOIÁS

Protocolo nº 161.920/2016

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO GOIÁSAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL Nº 278-40.2016.6.09.0047Recorrentes: ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHORecorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALlator: JUIZ LUCIANO MTANIOS HANNA

RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ABUSO DE PODER ECONÔMICO. PRELIMINARES AFASTADAS. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. MEDIDA JÁ ALCANÇADA VIA MANDADO DE SEGURANÇA. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTOS ATÉ A DATA DA AUDIÊNCIA. PRECEDENTES. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA POR NÃO TER SIDO REALIZADO O DEPOIMENTO PESSOAL. DESCABIMENTO. NO MÉRITO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DE PODER ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. OS RECORRENTES ARQUITETARAM UM FORTE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS/GO. O ESQUEMA TINHA TRÊS VERTENTES. 1) DISTRIBUIÇÃO DE 2400 LITROS DE COMBUSTÍVEL (GASOLINA) AOS ELEITORES, MEDIANTE DISTRIBUIÇÃO DE 45 VALE-COMBUSTÍVEIS. PROVA TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL ROBUSTA E FORTE COMPROVANDO A CONDUTA NARRADA NA INICIAL. 2) COMPRA DE PASSAGENS AOS ELEITORES PARA IREM VOTAR. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL NO SENTIDO DE QUE FORAM COMPRADAS MAIS DE 40 PASSAGENS PARA OS ELEITORES IREM VOTAR EM DIVINÓPOLIS. 3) COMPRA DO VOTO DA ELEITORA LORRANE CONFIRMADA PELA PROVA NOS AUTOS E COM INDÍCIOS DE QUE TERIA HAVIDO MAIS VOTOS COMPRADOS. AS PROVAS DOS AUTOS FORAM ROBUSTAS E CONTUNDENTES NO SENTIDO DE QUE OS RECORRENTES, COM O AUXÍLIO DO “TIO JOCA”, “ALÊ” E “SULA”, ARQUITETARAM UM GRANDE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS, QUE FOI DECISIVO NO PLEITO MUNICIPAL DE 2016, O QUAL FOI DECIDIDO EM DIVINÓPOLIS POR UMA IMPRESSIONANTE DIFERENÇA DE 20 VOTOS. OS FATOS NARRADOS NA INICIAL FORAM INTEGRALMENTE CONFIRMADOS

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DIANTE DA QUEBRA DE SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS QUE APONTARAM COM SEGURANÇA TEREM OS RECORRENTES CIÊNCIA E TEREM PARTICIPADO NA GERÊNCIA DO ILÍCITO ELEITORAL. PROVAS TESTEMUNHAIS E DOCUMENTAL QUE ATESTARAM A PRÁTICA ILÍCITA QUE GANHOU CONTORNOS DE ABUSO DE PODER ECONÔMICO POR PARTE DOS RECORRENTES. RESPONSABILIDADE DOS RECORRENTES É PATENTE E EVIDENTE. MULTA ACERTADAMENTE FIXADA NO MÁXIMO LEGAL, RESPEITANDO OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. PROVA ROBUSTA, CONTUNDENTE E IRREFUTÁVEL DA GRAVIDADE DOS EVENTOS AQUI DESCRITOS. ABUSO DE PODER ECONÔMICO MEDIANTE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO CONFIGURADO. CASSAÇÃO DO DIPLOMA E DECRETAÇÃO DE INELEGIBILIDADE DOS RECORRENTES. MANUTENÇÃO INTEGRAL DA SENTENÇA A QUO. PARECER PELO CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO ELEITORAL.

Trata-se de recurso eleitoral interposto por ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO contra sentença proferida

pelo Juízo da 47ª Zona Eleitoral (Divinópolis/GO) que, ao apreciar Ação de

Investigação Judicial Eleitoral pela suposta prática de abuso de poder econômico

e captação ilícita de sufrágio (art. 41-A, da Lei nº 9.504/97 e art. 22 da LC 64/90),

proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, reconheceu o ilícito eleitoral e

julgou procedentes os pedidos formulados na inicial e cassou os registros de

candidatura dos recorrentes, declarou suas inelegibilidades por 08 anos e ainda os

condenou à multa individual de R$ 53.205,00.

Em suas razões, os recorrentes alegam, preliminarmente: (a) a necessidade de se conceder efeito suspensivo no presente recurso eleitoral; (b) nulidade das provas juntadas intempestivamente pelo MPE; (c) preliminar de

nulidade por descumprimento do procedimento exigido na AIJE. No mérito,

pugnou pela total improcedência da ação tendo em vista não terem sido

comprovados os fatos narrados na inicial, tampouco foi comprovado que o

candidato beneficiário tinha conhecimento da conduta ilícita aqui narrada.

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Alternativamente, caso se conclua pela procedência do pedido, para que seja

minorada a multa aplicada.

Contrarrazões recursais oferecidas pelo MPE pugnando pelo

desprovimento do recurso aventado.

É o relatório.

I – Das preliminares alegadas pelas partes.

I.1 – DA CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO

No pertinente a esta preliminar, tem-se que os recorrentes já

lograram êxito em conseguir o alegado efeito suspensivo, via mandado de

segurança nº 0600596-18.2016.6.09.0000, impetrado neste TRE/GO, em que lhes

foi garantido o direito à diplomação, nos termos da liminar deferida (ID. 6850

daquele processo).

Ademais, a Lei nº 13.165/2015 incluiu o §2º do art. 257 do

Código Eleitoral, estabelecendo que o recurso eleitoral interposto contra sentença

que resulte em cassação possui efeito suspensivo, excepcionando-se, assim, a

regra da eficácia imediata das decisões judiciais em matéria eleitoral. Confira-se:

Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

§ 1º A execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através

de comunicação por ofício, telegrama, ou, em casos especiais, a

critério do Presidente do Tribunal, através de cópia do acórdão.

§ 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por

juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em

cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato

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eletivo será recebido pelo Tribunal competente com efeito

suspensivo.

Logo, tendo ocorrida a diplomação dos recorrentes, não há o

que ser aventado quanto a esta preliminar. Mantendo-se, claro, o efeito

suspensivo do recurso.

I.2 – DA NULIDADE DAS PROVAS JUNTADAS PELO MPE ANTES DA AUDIÊNCIA

Alegam os recorrentes que o Ministério Público Eleitoral

inovou ao juntar os documentos de fls. 467/481, impedindo o regular exercício da

defesa.

Porém, razão não os assiste. Os documentos juntados só retratam, de maneira gráfica, todo o extenso trabalho realizado pelo Parquet eleitoral durante a colheita de provas do ilícito aqui narrado, as quais encontram-se devidamente juntadas nos autos, vale dizer, não houve inovação.

No pertinente, colha-se manifestação do Promotor Eleitoral:“06- A alegação de nulidade da juntada de provas quando da audiência

de instrução eleitoral realizada em 30 de novembro de 2016 não

merece prosperar, notadamente porquanto a legislação eleitoral e a

jurisprudência pátria são uníssonas e pacíficas em se admitir a

produção probatória até a data da realização da audiência, conforme

bem lembrado pelo magistrado monocrático.

07- Não houve qualquer prejuízo à defesa dos requeridos, que

puderam exercer seu direito de ampla defesa e de contraditório. Foram juntadas, de diferente, apenas três fotografias nas quais se

revelou, uma vez mais, a posição de destaque na campanha eleitoral

do tio do requerido ALEX SANTA CRUZ, o senhor JOAQUIM IZAÍAS

OLIVEIRA, conhecido como “JOCA”.

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08- Os diagramas juntados aos autos, assim como a relação de

passageiros e de dados telefônicos contêm informações que já

haviam sido trazidas aos autos quando da propositura da ação

eleitoral, e foram reapresentados, desta feita em audiência, após

análise de vínculo dos envolvidos, para a comodidade da consulta

dos dados analisados. Não se trouxe qualquer fato novo ao

processo, mas sim limitou-se o parquet a realizar a análise da

informação anteriormente coligida a partir de decisões judiciais

de afastamento do sigilo telefônico e igualmente disponibilizá-la

aos requeridos. Análise que poderia ser feita quando das

alegações finais, mas optou-se por juntar já quando da audiência

de instrução. 09- Consoante pode ser verificado nos autos da AIJE, a quebra do

sigilo de dados telefônicos de ONILCON RODRIGUES DOS SANTOS,

vulgo “SULA”, de ALEXANDRE FREITAS DE ARAÚJO, vulgo “ALÊ” e

JOAQUIM IZAÍAS, vulgo “JOCA”, foi devidamente juntada aos autos

quando da propositura da ação. Às fls.61/68 encontra-se cópia do

pedido de quebra. Às fls.149/152 pode-se vislumbrar a decisão judicial

que deferiu a quebra de sigilo de dados telefônicos. Às fls.166/275

encontram-se os extratos telefônicos encaminhados pela operadora.

Frise-se, portanto, que todos os documentos referentes à quebra de

sigilo de dados telefônicos foram juntados pelo parquet quando da

propositura da AIJE. Os documentos juntados pelo MPE em audiência

nada mais são que documentos que contêm exatamente as mesmas

informações, apenas dispostas em forma de diagrama de vínculo e em

documento no formato excel.” (fls. 584/585)

Ademais, conforme bem apontou o Juízo a quo, o

procedimento eleitoral previsto no art. 22 da LC 64/90 permite a juntada de

documentos até a audiência.

Não bastasse, ainda temos que no processo eleitoral vigora o

princípio pas de nullité sans grief, em que para se decretar a nulidade há que ter a

prova do prejuízo, o que não ocorreu nos autos, ao revés, já que os documentos

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juntados apenas se limitaram a diagramar as provas nos autos, houve facilitação a o exercício da ampla defesa .

Nesse sentido, confira-se acórdão dos TREs brasileiros,

verbis:TRE/MA: MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO CONTRA

EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. MUNICÍPIO DE ARAIOSES. DECISÃO

DO JUIZ RELATOR QUE INDEFERIU O ADIAMENTO DE AUDIÊNCIA

DE INSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA

MANIFESTAÇÃO ACERCA DE DOCUMENTAÇÃO JUNTADA AOS

AUTOS. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. PROVAS JÁ CONHECIDAS

E IMPUGNADAS PELOS IMPETRANTES EM SUAS

CONTRARRAZÕES. DIREITO DE DEFESA EXERCIDO. PRINCÍIOS

DA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO ASSEGURADOS. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA.

- A cópia das mídias juntadas posteriormente não se qualifica como

prova nova, por se tratar de simples repetição de documentos que já

constavam dos autos quando as partes adversas foram citadas para

contestar.

- Nenhum ato jurídico deve ser declarado nulo, se da nulidade não

resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.

(MANDADO DE SEGURANCA nº 2829, Acórdão nº 16731 de

17/02/2014, Relator(a) ALICE DE SOUSA ROCHA, Publicação: DJ -

Diário de justiça, Tomo 39, Data 27/02/2014, Página 2 )

TRE/MT: REPRESENTAÇÃO ELEITORAL - CAPTAÇÃO ILÍCITA

DE VOTOS - ART. 41-A DA LEI 9.504/97 - EMBASAMENTO EM

TERMOS DE INQUÉRITO POLICIAL - POSSIBILIDADE -

INVESTIGAÇÃO JUDICIAL NÃO EXIGIDA.

(….)

DOCUMENTOS - JUNTADA APÓS A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA

- VISTA DA PARTE POR OCASIÃO DAS ALEGAÇÕES FINAIS -

CERCEAMENTO DE DEFESA QUE NÃO SE CARACTERIZA. Se a parte se refere aos documentos nas alegações finais e pede

o desentranhamento, demonstra o seu efetivo conhecimento e _________________________________________________________________________

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acesso sobre eles, o que afasta a alegação de cerceamento de

defesa.

(Recurso Eleitoral nº 497, Acórdão nº 14533 de 04/12/2003, Relator(a)

JURACY PERSIANI, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 28,

Tomo 6786, Data 04/12/2003, Página 45 )

TRE/MG: Recursos Eleitorais. Ações de Impugnação de mandato

eletivo - AIME. Eleição suplementar de 2013. Abuso de poder

econômico. Captação ilícita de sufrágio. Cassação dos mandatos.

Condenação em multa e declaração de inelegibilidade. Preliminar de

cerceamento de defesa. Alegação de não oportunização de acesso

ao relatório de ligações telefônicas e de ausência de vista após a

juntada de documentos com as alegações finais. Obediência aos

princípios constitucionais. Documentos juntados em audiência,

com a presença da defesa técnica dos recorrentes, e/ou

disponíveis na rede mundial de computadores. Preliminar

rejeitada. (…)

(RECURSO ELEITORAL nº 14760, Acórdão de 13/11/2014, Relator(a)

WLADIMIR RODRIGUES DIAS, Relator(a) designado(a) PAULO

CÉZAR DIAS, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-

TREMG, Data 26/11/2014)

Assim, deve esta preliminar ser rejeitada.

I.3 – DA NÃO OBSERVÂNCIA DO RITO PREVISTO EM LEI – NÃO ABERTURA DE PRAZO PARA NOVAS DILIGÊNCIAS

Insurgem as partes recorrentes com a não abertura de prazo

para novas diligências que impossibilitou que fosse realizado o depoimento

pessoal do recorrente “ALEX DE EVA”.

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Todavia, verifica-se da ata de audiência que o Magistrado

questionou sobre novas diligências, tendo indeferido, acertadamente, o pedido de

depoimento pessoal do recorrente.

E isso, por uma razão simples, que decorre da literal

interpretação do art. 385 do CPC, que nos informa que o depoimento pessoal será

tomado se, e somente se, a parte contrária requerer ou o juiz, de ofício, a ordenar.

Art. 385. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a

fim de que esta seja interrogada na audiência de instrução e

julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício.

Ademais, verifica-se que o processo seguiu toda a sua

marcha legalmente definida possibilitando o exercício de todas os instrumentos

processuais disponibilizados às partes, garantindo-se os mais amplos postulados

do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

Assim, não havendo prejuízo, não há que se falar em nulidade,

mesmo raciocínio que faz o Código Eleitoral em seu art. 219, verbis:

Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e

resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades

sem demonstração de prejuízo.

Logo, esta preliminar deve ser rechaçada.

II – DO MÉRITO

Relativamente ao mérito, nota-se que são três os fatos que

embasam a presente ação eleitoral a) a compra de combustível para ser dada aos

eleitores que tivessem ido votar em Divinópolis, como se fosse uma “ajuda de

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custo”; b) fornecimento de passagens de ônibus a eleitores em troca de votos; c) compra de voto da eleitora Lorrane.

II.1 – COMPRA DE COMBUSTÍVEIS PARA OS ELEITORES

O Ministério Público Eleitoral após extenso trabalho de

produção de provas logrou comprovar que os recorrentes arquitetaram um grande esquema de compra de votos dos eleitores de Divinópolis em uma eleição super acirrada, decidida em favor deles por uma impressionante diferença de 20 votos.

Interessante de se notar que, se a vitória foi alcançada com

diferença de duas dezenas de voto, a instrução processual revelou que os

recorrentes capturaram ilicitamente um número muito maior de eleitores.

Segundo apurou-se, em uma das frentes de compra de votos,

o tio do recorrente ALEX SANTA CRUZ, Joaquim Izaías de Oliveira (“TIO JOCA”), juntamente com Alexandre Freitas de Araújo (ALÊ) e Onilcon Rodrigues dos Santos (SULA), empreenderam esforços para que os eleitores de

Divinópolis tivessem vales combustíveis, que variavam entre 40 a 60lts, em troca

de voto nos candidatos, ora recorrentes.

Pois bem. No dia 01/10/2016, véspera das eleições

municipais, “TIO JOCA” foi até o posto GO-118, em Monte Alegre/GO e adquiriu

2.400 litros de combustível (gasolina), que foram distribuídos em vale-

combustíveis contendo 40l ou 60lts.

Aqui, um parênteses, o posto em Monte Alegre situa-se em

uma rota estratégica, tanto para os eleitores que não residem na cidade (que

moram ao Sul do estado por exemplo), quanto para os munícipes de

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Divinópolis/GO, que poderiam completar o tanque de seus carros e utilizá-los

nesta localidade. E, por óbvio, para os recorrentes, o melhor seria que fosse

utilizado um posto de combustível situado em outra cidade, para dificultar a

relação entre os vales combustíveis e o questão eleitoral.

A título de ilustração, junta-se mapa indicando a localização

estratégica do posto de combustíveis.

Os 2.400 litros de combustíveis foram pagos com cheque à

vista, do banco SICOOB, da conta do Sr. Joaquim Izaías de Oliveira (TIO JOCA),

no valor de R$ 9.573,00 (nove mil, quinhentos e setenta reais e setenta e três reais), cuja microfilmagem encontra-se acostada à fl. 55.

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Tal quantia foi distribuídas em 45 vales combustíveis de 40 e 60 litros, que foram utilizados pelos eleitores, principalmente no dia das eleições.

Confira-se a esse respeito depoimento perante à Promotoria Eleitoral de São

Domingos da testemunha Eliane Gomes Cordeio Damasceno, dona do posto de

gasolina (fls. 56/57):

é proprietária/gerente do Posto de Combustíveis GO-118, situado na

entrada de Monte Alegre/GO; QUE no dia 01 de outubro de 2016 foi

procurada por um senhor de Divinópolis de Goiás, cujo nome não se

recorda com precisão, mas é algo parecido com “JOCA”, o qual disse à

depoente que desejava deixar um certo valor em combustível em

“haver” no posto e que fossem emitidos vales abastecimento em

quantidades variáveis referente a este valor de gasolina; QUE o próprio

“JOCA” disse à depoente que fizesse 30(trinta) vales abastecimento na

quantidade de 60 (sessenta) litros cada um, e 15 (quinze) outros vales

abastecimento na quantidade de 40 (quarenta) litros cada um; QUE a

depoente fez os vales abastecimento utilizando para tanto requisições

com timbre do Posto, nas quais constavam a quantidade de

combustível em “HAVER”, o valor do combustível, assim como uma

rubrica da depoente ou de seu filho Bruno; QUE “JOCA” efetuou o

pagamento do combustível adquirido com um cheque no valor

aproximado de R$9.573,00 (nove mil, quinhentos e setenta e três

reais); QUE tal cheque já foi depositado na conta do Posto junto ao

Banco Itáu de Monte Alegre (Agência 5128, Conta 06687-4), tendo sido

compensado sem problemas; QUE apresentará, tão logo seja possível,

microfilmagem da cártula do cheque, a qual pretende solicitar ao banco

ainda esta semana; QUE na data de hoje (10/10/16) durante

cumprimento de Mandado de Busca e Apreensão expedido pela

Justiça Eleitoral, entregou espontaneamente os vale abastecimento

que se encontravam no estabelecimento; QUE deseja esclarecer que

os abastecimentos funcionaram da seguinte forma; QUE os vale

abastecimento foram entregues a “JOCA” no próprio dia 01 de

outubro de 2016, e no dia seguinte, dia 02 de outubro, dia da

eleição, diversos carros foram abastecidos no posto ao longo do _________________________________________________________________________

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dia mediante a apresentação de tais vales pelos motoristas dos

veículos; QUE ocorreu de mais de um carro ser abastecido

mediante a apresentação de um só cupom, já que nem todo carro

comportava no tanque os 60 litros do vale; QUE foram

abastecidos algo em torno de 60 veículos com o uso dos vales

bastecimento; QUE recebeu uma cópia da decisão judicial de busca e

apreensão expedida pelo juízo da 47ª ZE.

Em juízo, a testemunha confirmou os fatos narrados,

relatando, ainda, que após a busca e apreensão realizada no referido posto, o Sr. Joaquim Izaías a procurou no estabelecimento e solicitou que ela lhe fornecesse um documento falso atestando que ele era um cliente antigo e contumaz do posto, oferecendo em troca o encaminhamento de vários veículos para serem abastecidos no posto. Confira-se:

Testemunha Eliane Gomes Cordeiro Damasceno

Juiz: A Sra. É proprietária do posto GO-118? Que fica em Monte

Alegre?

Testemunha: Sim.

Juiz: Na época da eleição, o posto da Sra. Forneceu combustível para

o tio do candidato ALEX, Joaquim Izaías de Oliveira?

Testemunha: Não. Chegou um Sr. Lá que até então eu não conhecia.

Não sabia o nome. Procurou a gente que queria comprar um

combustível. Não sei a finalidade do combustível. Aí ele me procurou,

tava eu na minha sala. Tava eu e meu marido. Chegou esse Sr. Que eu

não conhecia, falando que era de Divinópolis, procurou a gente que

queria comprar uma quantidade de combustível, não falou pra que era.

E ia fazer o pagamento pra gente. Aí ele falou que era em cheque. O

meu marido pegou o cheque, olhou, não conhecia. Pra gente vender o

combustível... nós não tem o costume.. tem que ter assim uma

referência. Uma identificação. Aí meu marido pegou o cheque, olhou..

não conhecia... não conhecia a pessoa, mas falou que era de

Divinópolis. Tudo bem. Aí falou lá, quanto o Sr. Quer, aí falou lá a

quantidade né..

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Juiz: A Sra. Lembra a quantidade?

Testemunha: Como a quantidade era maior... ele falou que o cheque

viria de 8 a 9 mil reais.

Juiz: Era mais de 2 mil litros de combustível?

Testemunha: Isso, acredito que sim. Aí ele falou.. não eu tinha que ver

o cheque analisar... consultar o cheque tudo, porque eu não conhecia a

pessoa. Ou então pegasse uma referência de alguém.

Juiz: Nunca tinha passado essa pessoa antes lá. Pra fazer compra

com a Sra?

Testemunha: Não. Nunca. Não conhecia.

Juiz: Isso era um dia antes das eleições? A sra. Se recorda ou não?

Testemunha: Foi. Acho que foi dia primeiro. Eu não conhecia. E

falei, não, então tudo bem. To aqui, sou comerciante há 30 anos em

Monte Alegre. Nunca tive problema referente a venda com ninguém

(…) Ele falou que queria comprar. Tudo bem. Aí fomos pegar o

cheque, analisar, olhar né. Mas como não conhecia, meu marido

falou que queria uma referência. Ou então fornecer o combustível

após a compensação do cheque. Aí ele... não, mas não tem

problema, meu cheque é bom. (…) Aí ele deu as referências que

tem no cheque. Peguei o telefone. E falei, tudo bem, aí a gente

vende e depois o Sr. Pode pegar. Aí ele pediu um comprovante. Aí

eu falei tudo bem. Como o Sr. Quer? Aí ele falou a forma como ele

queria, fiz os comprovantes os a ver né. E passei pra ele. Como ele

tinha dado referências boas do cheque, que não tinha problema.

Normal.

Juiz: E aí, como é que foi entregue esse combustível? De que forma

que ele foi fornecido?

Testemunha: Ele falou que queria que eu fizesse os comprovantes de

60 litros e 40 litros. E queria assim, aí eu dividi toda a litragem dessa

forma.

Juiz: A Sra. Entregou pra ele documentos semelhantes a estes que eu

vou mostrar pra Sra. Que estão nas folhas 35 até 53 do processo?

Testemunha: São esses mesmos. São os comprovantes. Todos

assinados por mim, por meu filho. Eu chamei ele porque ia dar uma

quantidade maior. Tá aqui a assinatura do Bruno e assinatura minha.

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(…) Eu falei assim, só que o Sr. Vai pegar tudo de uma vez? Ele

falou, não vai ser aos poucos. Como era muito, a gente não tinha

uma disponibilidade muito grande.

Juiz: Então, só para ficar bem claro. Houve o pagamento, em

forma desse cheque, e para garantir a entrega desse combustível,

a forma que vocês combinaram foi a entrega dessas notinhas...

dessas pequenas notas, constando o haver, ou seja, cada cupom

daquele valia essa quantidade de combustível que estava escrita

aqui. Então, qualquer pessoa que chegasse lá e apresentasse

esse cupom pegava o combustível. Não pagava nada.

Testemunha: Isso. Não pagava nada. Já tinha recebido

Juiz: Esse combustível foi fornecido quando? A Sra. Fez o negócio

com ele no sábado. Aí a Sra. Falou que as vezes nem teria todo esse

combustível naquele dia. Então como é que foi distribuído isso?

Testemunha: Eu perguntei pra ele se ele ia pegar tudo de uma vez ele

falou que não, então a partir do dia seguinte ele começou a pegar.

Inclusive ele não pegou tudo de uma vez, eu fiquei abastecendo

durante muitos dias.

Juiz: Durante muitos dias... Durou o que? Só pra gente ter uma

estimativa?

Testemunha: Mais ou menos uns oito dias.

Juiz: Todo o combustível foi entregue?

Testemunha: Eu acho que ainda não foi pego todos não. Inclusive

eu tava com isso aí assim... porque eu tinha que fechar meu caixa

e eu tava vendo isso aí e eu acho que não foi pego tudo, não

entrou. Não sei porque, mas eu passei o valor todinho.

Juiz: A sra. Não sabe, entregou pra ele abastecer e cada pessoa era

diferente? Sempre pessoas diferentes?

Testemunha: Eu entreguei pra ele, não sei que carro que foi, quem ia,

mas eram sempre pessoas diferentes.

(...)

MP (10'40''): Quando a Sra. Prestou depoimento no Ministério Público

a Sra. Informou que os cupons eram cupons de 60 e 40 litros. E

Poucos carros tinham a capacidade de 60 e 40... A Sra. Disse que um

cupom era utilizado em mais de um carro.

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Testemunha: Eu não sei a forma definitiva ni que.. se ele queria por

em um carro, se eram em dois... era a forma dele pegar né. Mas

assim.. eu não poderia determinar.. ele não me questionou nada não.

MP: No domingo a Sra. Não trabalhou? A Sra. Viu o movimento de

carro?

Testemunha: Trabalhei.. sábado, domingo. Muito movimento de carro

né... de fora... muita gente...

MP: O cheque, é esse de fl. 55? Foi esse que ele utilizou para pagar a

Sra.? No valor de 9.563,70 reais. Esse é o cheque? Aqui tá o verso do

cheque, essa letra que está no verso do cheque é de quem?

Testemunha: É. Esse cheque. Foi dele. Foi meu marido que

escreveu.

MP (12'): Aqui consta o telefone e o nome do Filoneto José dos Santos.

Quem fez essa anotação?

Testemunha: Ele queria pagar em cheque, mas meu marido pediu

uma referência, porque ele não conhecia. Aí foi fornecida a

referência dele.

MP: Então, esse celular 62 999174563 e Filó, Divinópolis foi o marido

da Sra. Que escreveu?

Testemunha: Foi, a referência que ele que deu esses telefones... Aí

meu marido escreveu abonando o cheque porque ele não conhecia.

MP (13'50''): Depois desse fato, que o MP teve lá, o Joaquim Izaías,

essa pessoa que comprou o combustível ela voltou lá no posto?

Testemunha: Um dia ela voltou na minha residência, me falando

sobre esse abastecimento, se teve algum problema, querendo

nota... Aí eu falei que eu não posso emitir mais, porque o Sr. Tinha

que ter pego no dia. No dia ele não pegou nota, não pediu.. e eu

não tinha nada a fazer.

MP: Ele pediu para que a Sra. Fizesse alguma declaração que

constasse que ele era um cliente frequente do posto?

Testemunha: Ele me pediu assim... como que eu podia ajudar. Eu

não sei o que tá se passando, eu vou ajudar como? O Sr. Chegou

comprou, eu recebi, entreguei meu combustível... O que que o Sr.

Quer que eu faça? Porque eu não vou fazer nada, porque eu não

posso fazer nada, porque eu não fiz nada além disso pro Sr. Ele foi

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querendo uma forma de eu ajudar, por conta de uma declaração,

sei lá... de fazer uma nota fiscal.. de comprovar que ele era meu

cliente... Como que é meu cliente se eu nunca vi essa pessoa? Lá

no posto nunca comprou de mim.

MP: Por acaso o Joaquim Izaías prometeu que se a Sra. Fizesse

essa declaração ele ia providenciar veículos para serem

abastecidos lá no posto?

Testemunha: Ele... teve uma conversa assim que eu não dei muita

atenção, porque eu não vou fazer nada além do que foi

acontecido. Eu não me interessei, era meu horário de almoço eu

não tinha nem almoçado ainda, ele chegou lá por volta de meio

dia, uma hora.. Eu falei... ó Sr. Infelizmente eu não posso ajudar o

Sr. Nota eu não posso fazer, eu não posso fazer nada... O Sr.

Chegou, comprou, foi pago, recebi, meu combustível foi entregue

não tem forma nenhuma de eu ajudar o Sr. Não... Agora inventar...

o posto não inventou nada. Eu vou pegar meu combustível e dar

de graça pra alguém que eu nem conheço? Não existe isso. Foi

comprado, pago e entregue. (…)

Ora, a situação acima narrada além de extremamente grave

configura ato atentatório à dignidade da justiça eleitoral, na medida que revela que

JOCA tentou corromper uma testemunha do autor da presente ação.

Quanto às alegações da defesa do recorrente no sentido de

que a proprietária do posto teria inventado as histórias, reproduzo trecho da

brilhante peça processual do Promotor de Justiça Eleitoral, verbis:

“29- Os recorrentes, na defesa apresentada ao juízo singular,

acusaram, absurdamente, a proprietária do posto de ter criado todos os

fatos informados pelo Ministério Público com relação à aquisição de

combustível. Pela teratologia dos argumentos, cabe destacá-los neste

momento:

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“Por certo para livrar-se de distribuição de gasolina- que poderia estar

fazendo para eleitores do município onde tem o seu comércio- inventou

a história da reserva de uma cota de combustível pelo tio do candidato,

ora investigado. Valeu-se, sabe lá, do cheque polpudo que recebera,

para criar a história quando pega em flagrante, tanto que no PPE

encabeçado pelo MPE não apareceu com o cheque e, ainda, não

consta depósito específico do referido cheque na conta da empresa”

(Trecho da defesa apresentada pelos requeridos às fls.439)

30- Em audiência, a testemunha proprietária do posto repudiou

veementemente todas as aleivosias assacadas pelos requeridos, tendo

informado detalhes de como ocorrera a transação, esclarecendo, no

que tange ao depósito e compensação do cheque de “TIO JOCA”, que

mais de um cheque foi depositado no dia 03/10/16, juntamente com o

cheque emitido por “TIO JOCA”, razão pela qual o valor específico do

cheque (R$9.573,60) aparece registrado junto ao valor total depositado

(R$10.453,60)”. (fls. 597/598)

Pois bem. A verdade é que com a quebra de sigilo bancário

autorizada judicialmente, foi possível verificar que no dia 03/10/16 foi realizado um

depósito de cheque no valor de R$ 10.453,60 (fls. 54/55), referente ao depósito do

mencionado cheque de R$ 9.573,60 dado pelo Sr. Joaquim, além de outros. Aliás,

o próprio banco Itaú encaminhou a microfilmagem do cheque emitido pelo Sr.

JOCA e depositado na conta corrente do posto. Não bastasse, a proprietária do estabelecimento, Sra. Eliane, em juízo confirmou que o cheque foi depositado no dia 03:

MP (15'50''): Aqui nas fls. 54 consta o extrato da conta onde foi

depositado o cheque. No dia 03/10, segunda-feira, consta aqui

deposito em cheque no valor de R$ 10.353,60, o cheque foi emitido é

R$ 9.573,60, porque dessa diferença?

Testemunha Eliane Gomes Cordeiro Damasceno: Porque a conta

nossa tem vários cheques né. Foi depositado esses e outros cheques.

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Pode ter dado o valor a mais não foi só o dele. Como eu faço depósito

constante na conta.

Logo não há dúvidas de que o cheque foi utilizado pelo Sr.

Joaquim para pagamento do combustível para compra de votos e que o cheque

contou com o aval do ex-Prefeito, FILONETO JOSÉ DOS SANTOS, vulgo “FILÓ”, que inclusive foi aposto seu número de celular no verso da cártula.

O Sr. FILONETO declarou explícito apoio político à campanha do ora recorrente, ALEX DE EVA, participando ativamente de atos de campanha, discursando em palanques, doações eleitor a is, além de manter

intenso contato telefônico com o Sr. Joaquim, no dias 23, 26, 29 e 30 de setembro

e 06, 10 e 11 de outubro, conforme apurado na quebra de sigilo de dados

telefônicos.

Portanto, tem-se como evidenciado que a c aptação ilícita de sufrágio ocorreu massivamente mediante a distribuição dos vales- combustíveis do posto GO-118 aos eleitores , os quais foram utilizados no dia das eleições (02 de outrubro) pelos beneficiados. Interessante notar que a

defesa, em uma tentativa desesperada de livrar os recorrentes da imposição das

duras sanções disciplinadas no art. 22, XIV, da LC 64/90, inventou que o Sr.

Joaquim teria comprado 2.400 litros de óleo diesel, para utilização em sua

propriedade. Para sustentar essa afirmativa, arrolaram como testemunha o

funcionário do “TIO JOCA” ERLLAINY OLIVEIRA ROCHA, o qual praticou, em

flagrante, o delito de falso testemunho, durante o seu depoimento em juízo.

Vem a calhar que o próprio Magistrado, em audiência, advertiu

a testemunha, reiteradas vezes, do delito de falso testemunho, ao ponto da

própria advogada, após o pedido de encaminhamento da testemunha à Delegacia de Polícia, ter solicitado ao juízo uma retratação da versão anteriormente dada. (conforme mídia de fls. 466 )

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Novamente, colaciono trecho das contrarrazões recursais do

MPE:

33- Na tentativa desesperada de convencer o magistrado de piso de

que não adquirira 2.400 litros de gasolina destinados a eleitores por

meio de vales abastecimento de 40 e 60 litros, “TIO JOCA” apresentou

como testemunha o seu funcionário de nome ERLLAINY OLIVEIRA

ROCHA, o qual, flagrantemente, cometeu o delito de falso testemunho

durante o depoimento em juízo. Ao ponto de a própria advogada, após

o pedido do MPE de prisão, ter solicitado um juízo de retratação, a qual

se verificou apenas parcialmente. Contrariando a totalidade de provas

testemunhais e documentais produzidas, a testemunha insistiu na

mentira apresentada por seu patrão de que haviam adquirido óleo

diesel no posto e que, portanto, os vales abastecimento onde consta

expressamente a aquisição de gasolina teriam sido forjados pelo

próprio estabelecimento comercial.

34- Tratou-se, em verdade, de uma “testemunha de viveiro”, como já

denominava o célebre ROBERTO LYRA. Aquela testemunha criada,

alimentada, para servir a determinado propósito, que no caso dos autos

foi o de reforçar as mentiras de “TIO JOCA”. (fls. 613/614)

Nesse particular, irretocáveis as conclusões lançadas pelo

Magistrado a quo:

No mais, pretender valer o depoimento da testemunha Erllany Oliveira

Rocha significaria simplesmente ignorar todas as demais evidências,

que demonstram claramente a testemunha ter faltado com a

verdade em diversas informações prestadas. A testemunha em

questão trabalha para Joaquim Isaías na citada fazenda e disse

inicialmente que era comum o fornecimento de diesel pelo posto de

combustíveis GO 118 em Monte Alegre/GO, mas, ao final do

depoimento, resolveu voltar atrás e confirmar que foi ao posto apenas

em um dia, na companhia de Joaquim Isaías, tendo visto ele ingressar

no escritório sem acompanhar ou detalhar a negociação de

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combustíveis. Apenas confirmou que recolheu diesel para a fazenda

no citado posto uma única vez até o dia das eleições. Neste ponto,

está claro que mentiu sob influência do patrão, notadamente quando

se compara suas informações com as demais provas, a saber, os

relatos em juízo de Elaine Gomes Cordeiro e Josué Gomes, além da

citada prova documental que já destacamos. É dizer: não bastassem

as ilicitudes praticadas no pleito eleitoral, os requeridos ainda

buscam corromper a apuração dos fatos e a patente possibilidade

de terem cometido novos delitos. Se para chegar ao poder se

sujeitam a semelhantes condutas, que se pode pensar caso

iniciem o exercício dele? Parece não haver limites aos requeridos,

ao vulnerar não apenas regras eleitorais e promover o

desequilíbrio no pleito eleitoral, mas também buscar levar a erro o

próprio Juízo, acreditando que o relato de uma testemunha

pudesse abalar todas as demais evidências.

Por isso, não há espaço para qualquer dúvida sobre a aquisição

de vultuosa quantidade de combustíveis no Posto GO 118 voltada

a beneficiar eleitores de Divinópolis de Goiás e angariar votos

para os então candidatos - e agora réus nesta demanda eleitoral -

Alex Santa Cruz Oliveira e Jofre Pereira Cirineu Filho. (fl. 540)

Por fim, releva destacar o depoimento da testemunha JOSUÉ ALVES DOS SANTOS, que esclareceu ter tomado conhecimento de que o

combustível adquirido por “TIO JOCA” no Posto GO-118 era destinado à

campanha de “ALEX DE EVA”, e que as sobras da gasolina haviam sido dadas

por ALEX a um candidato a vereador da coligação que havia se endividado e

venderia a parte doada para cobrir parte das despesas.

“Testemunha Josué Alves dos Santos

(4'49'') Juiz: Então, o candidato falou pro Sr., ele que comentou pro Sr.,

que esse combustível era pertinente à campanha do então candidato,

que acabou sendo eleito, ALEX, à Prefeitura de Divinópolis e que

aquilo ali era pra ele tentar diminuir o prejuízo dele?

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Testemunha: Isso, pra tentar diminuir o prejuízo que ele gasto. Os R$

5.000,00 que ele gastou na campanha.

(...)”

Ainda segundo JOSUÉ ALVES, à mando de “ALEX DE EVA”, seu “TIO JOCA”, havia lhe ligado de Alagoas prometendo-lhe depositar dinheiro

em sua conta bancária caso concordasse em trabalhar na campanha de seu

sobrinho, o que, ainda segundo a testemunha, foi recusado. Resta demonstrado,

uma vez mais, o papel de protagonista de “TIO JOCA” na campanha eleitoral de

seu sobrinho “ALEX DE EVA”.

“Testemunha Josué Alves dos Santos

(7'31'') Juiz: O Sr. Recebeu alguma proposta de combustível...

alguma coisa nesse sentido pra votar em alguém nessa eleição?

Testemunha: Não não. A única proposta que eu tive que eu me recusei

dela, foi só que o Sr. Joca que é Tio do Alex me pediu o número da

minha conta para ele passar dinheiro na minha conta para eu fazer

campanha pro ALEX

(...)

(08'20'')MP : O Sr. Sabe se o Tio do Alex procurou outras pessoas

para trabalhar na campanha?

Testemunha: Não

MP: Como foi essa proposta?

Testemunha: Essa proposta ele me fez... assim.. ele até tava me

ligando só na parte da manhã... até seis horas da manhã.. acho

porque do fuso horário da cidade onde ele mora... Porque assim,

lá no assentamento de fato.. lá o pessoal me conhece assim

porque eu gosto de mexer com política.. sou mais relacionado,

tenho muitos amigos... aí ele me pediu e mandou eu apoiar o ALEX

… aí eu fui e falei.. olha mas eu já tenho compromisso... Aí ele foi e

falou assim.. e quanto você quer pra tocar... uma hora você quer

fazer uma festinha, quer fazer uma farrinha pra tu... pra você fazer

as coisas.. quanto você precisa? Ai eu falei assim, pra mim te dar

uma resposta mais clara, primeiro, eu tenho que saber do _________________________________________________________________________

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candidato. Eu não sei nem se esse candidato quer que eu faça

parte de campanha dele... então eu não quero abrir compromisso

com o sr. Dessa parte.. de pegar dinheiro... aí ele falou que eu

pensasse que depois ele retornava a ligação pra mim.”

O testemunho de JOSUÉ ALVES DOS SANTOS (Fone: 99928-9421, Cadastro telefônico à fl.337) goza de credibilidade, não apenas

pela segurança e convicção com que foi prestado, mas sobretudo por estar em

harmonia com as demais provas dos autos. De fato, “TIO JOCA” manteve contato

telefônico com JOSUÉ em duas oportunidades, consoante revelado pela quebra

de sigilo de dados telefônicos de “TIO JOCA” (Fone: (82) 981140814). No dia

15/09, às 07:30(fl.240) assim como no dia 16/09, às 06:15 (fl.241).

Prudente mencionar que foram confeccionados e distribuídos

45 vales-combustível de 60 e 40lts, cada um, totalizando 2.400 litros. Na pior das

contas, o benefício alcançou 45 eleitores, porém, como é sabido um carro pode levar até 5 pessoas, não obstante, conforme bem ponderou a própria dona do posto de gasolina, um carro as vezes não comportava a litragem especificada no vale, que era utilizada para abastecer outros veículos. Ou

seja, na realidade, o número de votos captados ilicitamente é muito maior.

II.2 – DO FORNECIMENTO DE PASSAGENS DE ÔNIBUS A ELEITORES EM TROCA DE VOTOS

Não bastasse a gravidade dos fatos já delineados, temos que

os recorrentes ainda articularam uma nova empreitada na compra de votos,

capitaneada pela distribuição de passagens de ônibus aos eleitores de Divinópolis

para ali exercerem a sua soberania, claro, em troca pediam o apoio aos

candidatos, ora recorrentes.

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Após uma intensa investigação, descobriu-se que

ALEXANDRE FREITAS DE ARAÚJO, vulgo “ALÊ”, e ONILCON RODRIGUES DOS SANTOS, vulgo “SULA”. “SULA” e “ALÊ” cooptaram eleitores em

Goiânia/GO, adquiriram eles mesmos as passagens de ônibus da empresa Real

Expresso, e as entregaram aos eleitores, consoante esclarecido no depoimento

prestado pela eleitora IRANETE PEREIRA CAMPOS DE SOUSA, integralmente

confirmado em juízo.

“QUE obteve o contato da pessoa responsável pela aquisição e entrega

de passagens em Goiânia, que conhece por “SULA”; QUE manteve

contato com “SULA”(996553434) e conversou acerca das passagens,

no que “SULA” pediu que a depoente ligasse para “ALÊ”, com quem

deveria tratar a respeito; QUE se não lhe falha a memória ligou para

“ALÊ” na quinta feira (996539738) e informou-lhe os nomes das

pessoas que viajariam, mais precisamente seu filho ÍTALO SOUSA

CAMPOS e seu sobrinho DHIONATAN PEREIRA BARBOSA, além da

própria depoente; QUE quando foi na sexta-feira à noite recebeu uma

ligação telefônica de “SULA”, durante a qual ele disse à depoente que

entregaria as passagens na rodoviária de Goiânia por volta das

20:30min;QUE no horário e local marcados “SULA” entregou para a

depoente 06 (seis) passagens, três de ida para Divinópolis de Goiás e

três de volta para Goiânia; QUE embarcou no ônibus em companhia de

seu filho e de seu sobrinho por volta das 21:30hrs de sexta feira, tendo

chegado no dia seguinte a Divinópolis; QUE retornaram de Divinópolis

no dia 02 de outubro às 21:30min;QUE “SULA”, no ato de entrega das

passagens disse à depoente que desse uma força para o 23, que

votasse no candidato “ALEX DE EVA”.

Aqui, a empreitada garantiu que aproximadamente 40

eleitores, nominalmente identificados pelo MPE fossem contemplados pelos

recorrentes e seu esquema de compra de votos, o que desequilibrou,

sobremaneira, a isonomia do pleito municipal, que foi definido com uma diferença de 20 votos apenas.

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Sobre a emissão de bilhetes, na modalidade, bloco, confira-se

o delineado pelo Promotor Eleitoral:

43- Observe ilustríssimo relator, que nos bilhetes de passagem

(fls.74/114) constam a data e a hora da emissão de cada bilhete. Os

bilhetes referentes aos eleitores WESLEY (fl.79), KESSIA (fl.80),

MARIA APARECIDA (fl.81), FRANCILEIDE (fl.82), ALLYNE (fl.83),

WENES (fl.84), MORGANIA (fl.85) e JOSILENE (fl.86) foram todos

emitidos exatamente às 13:05, em bloco.

44- Os bilhetes referentes aos eleitores WAGNER (fl.87), EDILENE

(fl.88), VALÉRIA (fl.89), HILKA (fl.90), KELLY (fl.91), ÍTALO (fl.92),

MARIZE (fl.93), TAVANY (fl.94), ALINE (fl.95) e DIEGO (fl.96) foram

todos emitidos precisamente às 13:18, em bloco.

45- Os bilhetes referentes aos eleitores WEBER (fl.97), DESVITA

(fl.98), MARCILENE (fl.99), ISMAR (fl.100), DIEGO (fl.101), LUCIENE

(fl.102), MURITA (fl.103) e KAMILA (fl.104) foram todos emitidos

precisamente às 13:28, em bloco.

46- Os bilhetes referentes aos eleitores IRANETE (fl.105),

WANDERLEIA (fl.106), KARINE (fl.107), DIONATHAM (fl.108), ÍTALO

SOUSA (fl.109), MARCOS (fl.110), MATHEUS (fl.111) e IVANILSON

(fl.112) foram todos emitidos precisamente às 13:40, em bloco.

47- O fato de os bilhetes terem sido emitidos em blocos em momentos

distintos se deu porquanto o sistema da empresa era preenchido com

os dados dos passageiros e logo em seguida os bilhetes daquele

determinado conjunto de passagens eram impressos de uma só vez,

mediante um só comando. Após a impressão daquele bloco o sistema

era novamente preenchido com mais dados, que por sua vez eram

impressos no conjunto seguinte, e sucessivamente. Observe

Excelência, que os bilhetes “doados” à testemunha IRANETE e a seu

sobrinho DHIONATAM e filho ÍTALO foram emitidos no bloco referente

às 13:40.

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Durante todo este período dispendido para a impressão das

passagens (13:05 às 13:53) “ALÊ” encontrava-se no terminal rodoviário situado

no Araguaia Shopping, conforme revelou a quebra da erb (Estação Rádio Base)

responsável pela transmissão do sinal de seu aparelho celular naquele dia, horário

e local.

A erb utilizada pelo aparelho empregado por “ALÊ” (nº 62 996539738) no dia 29/09/16 (erb n 6506 3228), no período compreendido entre

10:56 e 14:40 horas, conforme informado pela operadora VIVO a este juízo

(fls.217/218), situa-se na Avenida Goiás Norte, 3592, Quadra 02, precisamente

no Terminal Rodoviário situado no Araguaia Shopping (fls.230). Vale dizer, durante

todo este período “ALÊ” permaneceu no terminal rodoviário de Goiânia e, ao

contrário do que disse em juízo na condição de informante, não permaneceu

apenas por 40 minutos na rodoviária para adquirir tão somente as passagens de

IRANETE SOUSA CAMPOS, do filho e sobrinho dela, mas sim por quase 04(quatro) horas, adquirindo mais de 40 bilhetes em benefício de eleitores.

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Em juízo, a testemunha ALÊ – ouvida como informante –

negou veementemente que manteve contato com outros eleitores, além, de claro,

inventar uma versão fantasiosa sobre a compra da passagem da Sra. Iranete

Sousa Campos. Porém, a quebra de sigilo de dados telefônicos revelou que ele manteve contato com vários outros eleitores. A título de exemplo :

Nome do eleitor Dia e hora do contato Referência nos autosFrancileide Margarida da

Silva

30/09/16 – às 10h05; 10h11;

10h13 e 10h15

Fls. 219 e fls. 398

Allyne Martins dos Santos 28/09/16 – às 10h26 Fls. 216 e 369Valéria Pereira Gonçalves 30/09/16 – às 10h55 e 10h56 Fl. 220 e 321

Ilka Nayara Teixeira Sidião 28/09/16 – às 10h39 Fls. 216 e 392Marize Ribeiro da Silva 30/09/16 – às 07h20; 08h26 e

08h42

Fls. 219 e 351

Ismar Rodrigues Damaceno

Santos

29/09/16 – às 11h13 Fls. 217 e 366

Weder Francisco de Souza 30/09/16 – às 15h52 15h53 Fls. 220 e 398

Adão Gomes Cardoso 28/09/16 – às 13h53 e 15h56 Fls. 216 e 350

O negócio de compra de passagens se dava da seguinte

forma. Os eleitores procuravam ALÊ, SULA ou até mesmo o TIO JOCA, solicitando

passagens para o dia da eleição, para tanto, pediam os dados dos agraciados

para que fossem emitidos os bilhetes de viagem. Então, no dia 29/09/16, ALÊ se

dirigiu ao guichê da empresa Real Expresso e comprou as passagens dos

seguintes eleitores, os quais efetivamente votaram em Divinópolis, conforme

demonstram os cadernos de votação juntados nos autos:

1. WESLEY DA SILVA LIMA (fl.146);2. MARIA APARECIDA PEREIRA DOS SANTOS (fl.134);3. FRANCILEIDE MARGARIDA DA SILVA (fl.121);4. ALLYNE MARTINS DOS SANTOS (fl.117);5. WENES DA SILVA LIMA (fl.145);

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6. MORGANIA BARBOSA LIMA (fl.137);

7. JOSILENE DIAS DE SOUZA (fl.128 );

8. WAGNER PEREIRA GONÇALVES (fl.143);9. EDILENE FERREIRA DE ALMEIDA (fl.120);10. VALÉRIA PEREIRA GONÇALVES (fl.141);11. ILKA NAYARA TEIXEIRA SIDIÃO (fl.123);12. MARIZE RIBEIRO DA SILVA (fl.135);13. TAUANY RIBEIRO DE SOUSA (fl.147)14. ALINE PEREIRA DA SILVA (fl.116);15. DIEGO RODRIGUES GOMES (fl.118);16. WEDER FRANCISCO DE SOUSA (fl.142);17. MARCILENE ALVES DE SOUSA (fl.132);18. ISMAR RODRIGUES DA MACENA(fl.125);19. LUCIENE RODRIGUES DA MACENA (fl.131);20. MURILA TORRES DO PRADO (fl.138);21. KAMILA TORRES DO PRADO (fl.129);22. IRANETE PEREIRA CAMPOS DE SOUSA (fl.124);23. VANDERLEIA LUSTOSA CARDOSO (fl.144);24. KARINE DOS SANTOS GUIMARÃES (fl.130);25. DHIONATHAM PEREIRA BARBOSA (fl.118);26. ÍTALO SOUSA CAMPOS (fl.126);27. MARCOS ADRIANO FERREIRA JESUS (fl.133);28. MATHEUS FERREIRA DE JESUS (fl.136) ;29. IVANILSON SANTOS GUIMARÃES (fl.127);30. RAIMUNDA PIMENTEL (FL.140);31. HELOÍSA PAULO DE MACEDO MELO (FL.122) e32. ADÃO GOMES CARDOSO (fl.115).

Após a compra das passagens, estas foram dadas para o Sr.

Onilcon Rodrigues dos Santos (“SULA”), que as distribuiu aos eleitores, conforme

destacou a testemunha Sra. Iranete, a qual também afirmou em juízo que a _________________________________________________________________________

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benesse não foi gratuita, tendo o “SULA” entregado o bilhete e pedido para que

ela votasse no 23, número do candidato ALEX SANTA CRUZ (“ALEX DE EVA”),

ora recorrente.“6'

Testemunha Iranete: Aí eu fui e liguei pra ele. Ele atendeu e disse.

Uai, a Sra. Não vai querer as passagens não? To aqui com elas, a

sua, do seu irmão e do seu filho. Aí pus a roupa e fui lá pra rodoviária

e cheguei lá e peguei lá com ele as passagens.

Juiz: A Sra. Veio pelo ônibus regular?

Testemunha Iranete: Eu vim por aquele da Real Expresso, que vem

diariamente.

Juiz: Que horas que saiu de lá?

Testemunha Iranete: Saiu 21h30 da noite.

Juiz: Quem forneceu a passagem para a Sra. Foi quem?

Testemunha Iranete:Foi o SULA. Eu conheço ele por SULA eu não

sei o nome dele.

Juiz: Na hora de entregar a passagem, a Sra. Recebeu algum

indicativo ou alguma informação que era pra Sra. Votar pra esse ou

aquele candidato?

Testemunha Iranete: Ele me entregou as seis passagens, as três

de vinda, que era minha, do meu filho e do meu sobrinho e as três

de volta. Aí falou pra mim, aí você dá uma ajudinha lá pro 23.

Juiz: Pro 23? O 23 era o número do candidato ALEX, a Prefeito e

do candidato JOFRE, a vice?

Testemunha Iranete: Foi. Isso mesmo. Uhum.

Juiz: Que horas ele falou isso? Foi por telefone?

Testemunha Iranete: Foi na hora de entregar as passagens.

Juiz: E era esse SULA que estava lá?

Testemunha Iranete: Foi. Foi o SULA que me deu as passagens.

Juiz: E ele falou para dar uma ajudinha pro 23?

Testemunha Iranete: Foi. Ele falou, dá uma ajudinha pro 23.

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Vale lembrar que, muito embora ALÊ e SULA tenham sido

ouvidos como informantes em juízo, apresentaram uma versão contraditória,

mentirosa e claramente moldada para tentar, sem sucesso, excluir a

responsabilidade dos ora recorrentes.

Nesse ponto, para facilitar a visualização, colaciona-se o

diagrama juntado à fl. 469 dos autos.

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Aqui, convém trazer mais uma prova da participação do

candidato ALEX DE EVA no mencionado esquema de compra de votos. A quebra

de sigilo de dados telefônicos mostrou que no dia 28/09/16, um dia antes da

compra das passagens, às 07h28, o recorrente (nº 62 999494150) manteve

contato telefônico com o Sr. Alexandre Freitas de Araújo (62 996539738),

conforme fl. 215, além de vários outros telefonemas realizados.

Assim, após exaustiva instrução, não restam dúvidas de que

o candidato ALEX DE EVA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO, ora recorrentes,

comandaram um esquema de compra de votos nas eleições municipais de 2016,

para o qual contou com a efetiva participação do Sr. Joaquim Iazais de Oliveira,

seu “TIO JOCA”, o Sr. Alexandre Freitas (ALÊ) e o Sr. Onilcon Rodrigues dos

Santos (SULA).

A sentença foi categórica em afirmar, verbis:

“Mais que isso, forçoso reconhecer que o MPE comprovou, ao

trazer aos autos os registros de emissão de passagens, que

foram expedidas cerca de 40 passagens em blocos no período de

13h05 e 13h53 do dia 29/09/2016 (três dias antes da eleição),

todas direcionadas a pessoas de Divinópolis (fls. 74/114). Ademais, coincide o registro das pessoas beneficiadas com os

contatos realizados entre Alexandre Freitas via telefone entre os dias

28/09 e 30/09/2016. Os relatórios comprovam contatos realizados que

Alexandre Freitas ("Alê" ) com as seguintes pessoas: Francileide

Margarida, Allyne Martins, Valéria Pereira, Ilka Nayara Sidião, Marize

Ribeiro da Silva, Weder Souza, Ismar Rodrigues e Adão Gomes.

Não há espaço probatório para prosperar as versões de Onilon

Rodrigues e de Alexandre Freitas, quando ouvidos em juízo,

porquanto, muito embora confirmem o fornecimento das

passagens, buscam fazer o vínculo com um parente de Iranete, o

que foi negado por esta. Interessante que não há nos autos a

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apresentação de qualquer motivo para que Iranete faltasse com a

verdade. Ao contrário, tanto Onilon como Alexandre têm claro

motivo para faltar com a verdade ao serem ouvidos em juízo,

porquanto a confirmação da versão constante na inicial

implicaria na confissão de crime eleitoral (como aliás já estão

sendo processados). Não por outro motivo, foram ouvidos como

informantes. Portanto, as provas existentes nos autos demonstram de modo

uníssono o esquema de benefício a eleitores de Divinópolis de Goiás

voltado a influenciar de modo decisivo o resultado das Eleições 2016

de Divinópolis de Goiás a partir dessa frente de aquisição de

passagens rodoviárias.” (fls. 542/543)

Por fim, frise-se, estamos tratando de um episódio em que

cerca de 40 eleitores foram agraciados pela compra de passagens realizada pelo

candidato ALEX DE EVA, por intermédio de TIO JOCA, ALÊ e SULA, sendo que a eleição foi decidida pela surpreendente diferença de 20 votos, razão pela qual

está mais que evidenciado que o fato é grave e violou a isonomia, o equilíbrio e a

probidade das eleições daquele pequeno município.

II.3 – COMPRA DE VOTOS DA ELEITORA LORRANE

Colhe-se da inicial que no dia das eleições, o Sr. Oloízio

Pereira Martins abordou a Sra. Lorrane Santos em sua residência, e lhe indagou

se já teria ido votar, ao que respondeu que ainda não, momento no qual entregou-

lhe uma nota de R$ 50,00 (cinquenta reais) e pediu para que votasse nos

candidatos ALEX SANTA CRUZ e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO.

Confira-se, neste particular, depoimento prestado junto ao

MPE:

que reside em Divinópolis de Goiás/GO há mais de dez anos com seu

companheiro; QUE no dia 02 de outubro de 2016 encontrava-se na

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área dos fundos de sua residência escovando os dentes quando foi

chamada da rua por uma pessoa que conhece como ELOÍSIO,

morador de Divinópolis de Goiás/GO; QUE ELOÍSIO perguntou à

depoente se já havia votado, no que respondeu que ainda não; QUE

ELOÍSIO aproximou-se por detrás do muro e chamou a depoente,

tendo perguntado em seguida qual era o candidato da casa e a

depoente respondeu que ainda não sabia; QUE ELOÍSIO retirou da

carteira uma nota de R$50,00 (cinquenta reais) a estendeu para a

depoente e disse: “então vota pra nóis, pro 23, pro ALEX”; QUE ele

perguntou ainda se havia mais alguém da casa para votar “no lado

deles”, no que a depoente disse que não; QUE ELOÍSIO disse antes

de sair: ”não tem problema, porque pra nóis já ganhamos”; QUE

chamou a tenção da depoente o fato da cédula estar com marca de

grampo; QUE ELOÍSIO estava de bicicleta; QUE sua sogra MARIA

BEATRIZ encontrava-se molhando o canteiro neste momento e

presenciou a entrega do dinheiro.

Em juízo, a Sra. Lorrane confirmou o depoimento prestado e

ainda foi ouvida a sua sogra Maria Beatriz, que presenciou a cena, a qual também

corroborou os fatos descritos. Confira-se:

Testemunha Lorrane Santos Santana

Juiz (1'45''): O que a Sra. sabe a respeito dos fatos? O que Sra.

Presenciou sobre eventual compra de votos. Algo nesse sentido

Testemunha: Tipo, meu.. pediu para votar e tentaram comprar.

Juiz: A Sra. É eleitora de Divinópolis? Como é que aconteceu esse

fato?

Testemunha: Eu tava em casa.

Juiz: Tava em casa? Onde a Sra. Mora?

Testemunha: Eu moro em Divinópolis. Próximo à Igreja Assembleia

de Deus.

Juiz: Alguém bateu lá? Bateram a campainha na casa da Sra.?

Testemunha: E me chamaram.

Juiz: Já conhecia?

Testemunha: Ahn. Um pouco. _________________________________________________________________________

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Juiz: E como é que foi essa abordagem?

Testemunha: Chegaram e me perguntaram se eu já tinha votado e

eu disse que não.

Juiz: Domingo de manhã?

Testemunha: Foi, eu tava escovando os dentes na área e aí me

chamaram e eu fui. Aí perguntaram se eu já tinha votado e eu disse

que não. Aí me deram uma nota de cinquenta reais e me perguntaram

se eu votava pro 23. Aí eu peguei o dinheiro e ele me perguntou se

tinha mais alguém na casa queria. E eu falei que eu achava que não,

porque realmente não ia querer. Aí ele me entregou o dinheiro e saiu.

Juiz: Então alguém bateu na casa da Sra. No dia da eleição. A sra.

Conhece essa pessoa?

Testemunha: É o Eloísio.

Juiz: Então ele entregou o dinheiro pra Sra., com o compromisso

da Sra. Votar para o número 23. O número 23 era do candidato

ALEX e do vice-candidato a Prefeito JOFRE?

Testemunha: Sim. Isso.

MP: Alguém tava lá próximo e presenciou isso?

Testemunha: Só minha sogra.

MP: Qual o nome da sua sogra?

Testemunha: Maria Conceição, mais conhecida como Maria Beatriz...

MP: Ela mora lá junto? Ela ouviu vocês conversando ou só viu?

Testemunha: Ela mora lá comigo. Ela tava próxima a horta. Aí Ela só

viu tudo, entendeu? Aí eu acho que mais alguém viu, porque só tava

nós duas e não comentou com ninguém. Alguém viu e comentou com

mais alguém.

MP: Ela viu e foi lá falar com você? Porque você tava conversando

com outro homem?

Testemunha: Aí ela viu, mas como eu tava conversando com outro

homem. Aí eu peguei e falei pra ela.

MP (5'35''): Ele te deu foi quanto?

Testemunha: 50 reais.

MP: Uma nota de cinquenta reais? Você viu se tinha mais dinheiro?

De onde ele tirou esse dinheiro?

Testemunha: Foi. Ele tinha. Tirou da carteira.

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Testemunha Maria da Conceição Filha Ferreira

Juiz (1'26''): O que a Sra. Sabe desses fatos?

Testemunha: Eu tava no dia em que chegou essa pessoa lá e deu

dinheiro pra minha nora. Pra ela votar pra ele. E eu tava molhando a

horta e vi aquela pessoa conversando com ela. Quando eu cheguei lá

ela falou que o rapaz passou aqui e deu um dinheiro pra mim votar

pra ele.

Juiz: A Sra. Não viu ele entregando a nota?

Testemunha: Eu não vi. Mas quando eu cheguei lá ela tava com a

nota na mão e tava grampeada né.

(...)

Ouvido em juízo, o Sr. Oloízio Martins negou os fatos, porém,

não deu explicação plausível para a transferência efetuada por Onilcon Rodrigues

Santos (“SULA”) para a esposa daquele, Sra. Aline Rodrigues Vieira Martins, na

vultosa quantia de R$ 4.000,00, no dia 27/09/16. Dinheiro que certamente foi

destinado à compra de votos aqui delineada, sobretudo pelo fato da Sra. Lorrane e

Sra. Maria Beatriz, que a nota de R$ 50,00 dada a ela estava com marca de

grampos, indicando que a mesma fazia parte de um bolo muito maior de dinheiro.

Testemunha Oloízio Martins

Juiz (2'): O que que o Sr. Participou dessas eleições aqui, Sr.

Oloízio?

Testemunha: Nada.

Juiz: No dia eleição o Sr. Tava fazendo o que?

Testemunha: Na cidade, lá em casa e andando na rua.

Juiz: Nesse caminhar do Sr. Pela rua, o Sr. Cometeu algum crime

eleitoral?

Testemunha: Também não.

Juiz: O Sr. Não pegou lá, não bateu na casa da eleitora?

Testemunha: Não.

Defesa: O Sr. Não encontrou no dia da eleição com ninguém? Não

pediu voto pra ninguém?

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Testemunha: Não. Eu não participei de nada não.

MP: Sr. Aluízio, qual o nome da esposa do Sr.?

Testemunha: Aline.

MP: Aline Rodrigues Vieira Martins?

Testemunha: É.

MP: Ela faz o que? E o Sr.?

Testemunha: Ela trabalha na Prefeitura. Trabalha na merenda. Eu não

trabalho não.

MP: O Sr. Sabe de um depósito de 4 mil reais que a Aline recebeu na

conta dela?

Testemunha: Sei.

MP: Quem fez essa transferência pra ela

Testemunha: Foi um sobrinho meu, SULA.

MP: O Sr. Pode esclarecer do que se trata esse dinheiro?

Testemunha: Ele me passou o dinheiro pra mim comprar uns bezerro

pra ele.

MP: Foi pra isso esses 4 mil?

Testemunha: Exatamente.

MP: E transferiu na conta dela? Ela que sacou?

Testemunha: Sim. Comprei os bezerros, tem como provar. Na época

eu comprei dez bezerros, porque eu comprei eles a 700.

MP: O sr. Pagou quanto em cada bezerro?

Testemunha: Eu paguei neles 600 / 700 reais.

MP: Então o dinheiro não deu?

Testemunha: Deu... depois ele passou mais 3500.

MP: E o Sr. Comprou de quem?

Testemunha: Pessoal de Divinópolis mesmo.

MP: E o sr. Pegou GTA?

Testemunha: Não. Vou receber eles agora. No mês de maio.

MP: O Sr. Sabe o que é GTA?

Testemunha: Sei. Mas eu vou receber os bezerro agora no mês de

maio

MP: Certo. O Sr. Manteve contato com o Sr. Alex Santa Cruz, o

Joaquim Izaías (JOCA), conhece eles?

Testemunha: Não. Tive não.

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MP: Com o Alê, com o Onilcon (SULA)?

Testemunha: Não, também não. Com o SULA sim.

Destarte, está comprovado que houve a captação ilícita de

sufrágio da eleitora Sra. Lorrane Santos, o que bastaria para uma cassação, nos

termos do art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Confira-se precedente do TSE:

RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. AÇÃO DE

IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE

SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. ABUSO DE PODER

ECONÔMICO. ART. 14, § 10, DA CF/88. PROVAS INEQUÍVOCAS.

GRAVIDADE DA CONDUTA. DESPROVIMENTO.

Histórico da Demanda

(...)

6. A compra de um único voto é suficiente para configurar

captação ilícita de sufrágio, uma vez que o bem jurídico tutelado

pelo art. 41-A da Lei 9.504/97 é a livre vontade do eleitor, sendo

desnecessário aferir potencial lesivo dessa nefasta conduta para

desequilibrar a disputa. Precedentes.7. Abuso de poder também comprovado diante do conteúdo

econômico, do grande número de pessoas na reunião e, ainda, da

diferença de apenas 58 votos para o primeiro suplente.

Conclusão

8. Nego provimento ao recurso especial e mantenho a cassação de

diploma imposta à recorrente por compra de votos e abuso de poder.

(Recurso Especial Eleitoral nº 54542, Acórdão de 23/08/2016,

Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO,

Relator(a) designado(a) Min. ANTONIO HERMAN DE

VASCONCELLOS E BENJAMIN, Publicação: DJE - Diário de justiça

eletrônico, Data 18/10/2016, Página 85/86)

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III – DA RESPONSABILIDADE DOS RECORRENTES

Como restou demonstrado ao longo da instrução processual

os candidatos ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU

FILHO arquitetaram um grande esquema de compra de votos, no qual fizeram

parte Joaquim Izaías de Oliveira (TIO JOCA), Onilcon Rodrigues Dos Santos

(SULA) e Alexandre Freitas de Araújo (ALÊ).

Aliás, pode-se constatar que o grande intermediador dos

candidatos, até mesmo com o fim de mascarar o esquema ilegal e criminoso, foi o

Sr. Joaquim (TIO JOCA), que é tio do recorrente ALEX SANTA CRUZ (ALEX DE

EVA).

Com efeito, a quebra de sigilo telefônico, com

monitoramento das ERBs (estação rádio-base) possibilitaram saber a localização

do aparelho celular (linha nº 82-981140814) utilizado pelo Sr. Joaquim no período

citado, o que indica que no dia 22/09/16 por volta de 16h, o Sr. Joaquim estava no aeroporto de Maceió/AL (ERB 8507 3008 7) tendo chegado em Brasília/DF (ERB 6570 0218 1) por volta das 19h30 ( fl. 246 ) . Ressalte-se, ainda, que às

19h58 TIO JOCA tentou estabelecer contato com o ora recorrente, ALEX DE EVA, não tendo sucesso. Fato que se repetiu mais a noite no mesmo dia, e as ligações perduraram ainda durante todo o período que aqui esteve.

Destaque-se, que mesmo antes eles já trocaram inúmeros telefonemas, conforme bem apontou o promotor eleitoral.

“21. Uma brevíssima consulta aos extratos telefônicos obtidos judici-

almente e juntados a esta ação eleitoral revelam que no período de

cerca de 30 dias da campanha “TIO JOCA” e o sobrinho “ALEX DE

EVA” mantiveram entre si intenso contato telefônico, com aproxima-

damente 100(cem) chamadas.” (fl. 589)

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Veja-se que o Sr. Joaquim é funcionário público em Alagoas

e esteve em Goiás, mais precisamente em Divinópolis ajudando o sobrinho,

justamente no período entre o dia 2 7 de setembro e 0 6 de outubro . Ou seja, o

tio do recorrente esteve aqui justamente para auxiliar na campanha eleitoral do

então candidato ALEX DE EVA.

O vínculo também é reforçado ao se constatar da prestação de contas que o Sr. Joaquim Izaías de Oliveira foi doador de campanha do candidato. Além disso, ainda participou ativamente da campanha do sobrinho, subindo em palanques, participando de reuniões e passeatas, articulando com agentes políticos (prefeito, vereadores, deputado), consoante revelam as fotografias juntadas aos autos (fls. 479/481).

Interessante, ainda, o seguinte apontamento feito pelo

Promotor Eleitoral:

Após a eleição do sobrinho, a título de exemplo da relevância da

eminência parda, o tio “JOCA” apressou-se em encontrar-se com o

deputado estadual por Goiás/GO ISO MOREIRA em seu gabinete em

Goiânia(fl.165), fazendo-se fotografar ao lado do deputado como tio e

emissário do sobrinho recém-eleito, como que para agradecer o apoio

do deputado e prestar contas da eleição, revelando uma vez mais sua

decisiva participação e influência durante a campanha, não apenas

como tio de “ALEX DE EVA”, mas como protagonista de atos legais e

ilegais.

23. Na audiência de instrução realizada na data de 30 de novembro

de 2016 “TIO JOCA” informou ao juízo, após ser reiteradas vezes

inquirido, que chegou a Divinópolis de Goiás/GO tão somente no dia

30 de setembro, tendo votado no dia 02/10/16 e depois retornado

para Alagoas. Ocorre eminente relator, que a quebra de sigilo de

dados telefônicos autorizada judicialmente revelou, por meio das erb’s

(estação de rádio base) utilizadas pelo aparelho de “TIO JOCA”, que o

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mesmo permaneceu em Divinópolis desde o dia 27 de setembro a 08

de outubro(fls.251/260). A erb utilizada pelo aparelho celular de “TIO

JOCA” neste período possui registro nº 6583 0071, e encontra-se

situada no município de Divinópolis de Goiás/GO, mais precisamente

na praça da prefeitura municipal (fls.269).

Para facilitar o estabelecimento do vínculo entre o Sr.

Joaquim Izaías e o ora recorrente, segue diagrama juntado aos autos nas fls. 470.

No caso debatido nestes autos a atuação da eminência

parda de “ALEX DE EVA”, seu tio “JOCA”, foi crucial nas práticas ilegais

flagradas e no caixa dois desenvolvido com recursos que não transitaram pela

conta de campanha. O forte vínculo familiar, e até mesmo político existente entre _________________________________________________________________________

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ambos restou amplamente demonstrado e foi fundamental para o “êxito” das

práticas ilícitas anteriormente planejadas e levadas a efeito nestas eleições.

Quanto a esta questão, a jurisprudência eleitoral brasileira há muito superou a fase ingênua em que se exigia o envolvimento direto do candidato nas ilicitudes eleitorais, reconhecendo, hodiernamente, no vínculo de parentesco existente entre os envolvidos, fator que não deve ser desprezado, sobretudo no contexto probatório que se apresenta nestes autos. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEI-

ÇÕES 2008. PREFEITO. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA

DE SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. CONFIGURAÇÃO. CO-

NHECIMENTO PRÉVIO. DEMONSTRAÇÃO. MULTA PECUNIÁRIA.

PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. NÃO PROVIMENTO. 1. A decretação de nulidade de ato processual sob a alegação de cer-

ceamento de defesa - inobservância do art. 22, I, a, da LC 64/90 -

pressupõe a efetiva demonstração de prejuízo, nos termos do art. 219

do CE, o que não ocorreu no caso concreto. Precedentes. 2. A carac-

terização da captação ilícita de sufrágio pressupõe a ocorrência simul-

tânea dos seguintes requisitos: a) prática de uma das condutas pre-

vistas no art. 41-A da Lei 9.504/97; b) fim específico de obter o voto

do eleitor; c) participação ou anuência do candidato beneficiário na

prática do ato. 3. Na espécie, o TRE/MG reconheceu a captação ilícita

com esteio na inequívoca distribuição de material de construção em

troca de votos - promovida por cabos eleitorais que trabalharam na

campanha - em favor das candidaturas do agravante e de seu respec-

tivo vice. 4. O forte vínculo político e familiar evidencia de forma

plena o liame entre os autores da conduta e os candidatos bene-

ficiários. Na hipótese dos autos, os responsáveis diretos pela

compra de votos são primos do agravante e atuaram como cabos

eleitorais - em conjunto com os demais representados - na cam-

panha eleitoral. 5. A adoção de entendimento diverso demandaria o

reexame de fatos e provas, providência inviável em sede extraordiná-

ria, a teor da Súmula 7/STJ..(Agravo Regimental em Recurso Espe-

cial Eleitoral nº 815659, Acórdão de 01/12/2011, Relator(a) Min.

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FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário da Justiça

Eletrônico, Tomo 026, Data 06/02/2012, Página 28).

Recurso contra expedição de diploma. Captação ilícita de sufrá-

gio. Abuso do poder econômico. Cassação de diploma. Candida-

ta ao cargo de deputado federal. 1. Caracteriza captação ilícita de

sufrágio o depósito de quantia em dinheiro em contas-salário de inú-

meros empregados de empresa de vigilância, quando desvinculado

de qualquer prestação de serviços, seja para a própria empresa, que

é administrada por cunhado da candidata, seja para campanha eleito-

ral. 2. A atual jurisprudência do Tribunal não exige a prova da par-

ticipação direta, ou mesmo indireta, do candidato, para fins de

aplicação do art. 41-A da Lei das Eleições, bastando o consenti-

mento, a anuência, o conhecimento ou mesmo a ciência dos fa-

tos que resultaram na prática do ilícito eleitoral, elementos esses

que devem ser aferidos diante do respectivo contexto fático. No

caso, a anuência, ou ciência, da candidata a toda a significativa

operação de compra de votos é fruto do envolvimento de pesso-

as com quem tinha forte ligação familiar, econômica e política. 3.

Na hipótese de abuso do poder econômico, o requisito da potenciali-

dade deve ser apreciado em função da seriedade e da gravidade da

conduta imputada, à vista das particularidades do caso, não devendo

tal análise basear-se em eventual número de votos decorrentes do

abuso, ou mesmo em diferença de votação, embora essa avaliação

possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. Recurso

a que se dá provimento para cassar o diploma da recorrida.

(Recurso Contra Expedição de Diploma nº 755, Acórdão de

24/08/2010, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES,

Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 28/9/2010,

Página 11 e 15 )

Pondera-se, ainda, que as eleições para os cargos de vereador e prefeito são definidas, muitas vezes, por diferença de poucos votos –

como se deu in casu, com a vitória sendo consagrada com uma diferença de

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apenas 20 votos, sendo que a compra ilícita de votos, mediante distribuição de combustíveis, passagens e dinheiro desequilibra as eleições em favor dos candidatos, ora recorrentes, o que também denota a gravidade da conduta (art. 22, XVI, da LC 64/90).

Com efeito, há fatos ilícitos que, por si só, possuem uma carga ética negativa tão forte que por si só denotam gravidade suficiente para a caracterização de abuso de poder e cassação de mandato (v.g. utilização

na campanha de dinheiro de fontes vedadas como corrupção, tráfico de drogas,

caixa 2, etc.).

In casu, a distribuição de combustíveis, entrega de

passagens e dinheiro com o fim de obter-lhe o voto, constitui captação ilícita de sufrágio e, tendo em vista o alto gasto despendido para financiamento do esquema de compra de votos, também restou configurado o abuso de poder econômico por parte dos candidatos, ora recorrentes.

Destarte, as condutas aqui descritas afetaram seguramente a igualdade e a normalidade do pleito eleitoral , havendo provas robustas, contundentes e irrefutáveis da gravidade dos eventos aqui narrados ,

razão pela qual deve ser mantida integralmente a sentença a quo , mantendo- se a cassação dos diplomas dos candidatos ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO, bem como a decretação de suas inelegibilidades pelo prazo de 08 anos.

II. 4 – DA MULTA APLICADA

Um último ponto aventado no recurso diz respeito à

minoração da multa aplicada. Todavia, os recorrentes sequer se dignaram a

fundamentar tal pleito.

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Com efeito, não há como prosperar as irresignações quanto

ao patamar fixado no máximo legal, visto que foi devidamente fundamentado,

confira-se:

Assim também a jurisprudência tem entendimento pacificado, no

sentido de que a configuração de abuso de poder econômico a ponto

de influenciar o pleito eleitoral:

No que tange à aplicação da multa de que trata o art. 41-A da Lei

9.504/97, que varia entre R$ 1.064,10 (mil e sessenta e quatro

reais e dez centavos) a R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil

duzentos e cinco reais), tenho que o caso demanda aplicação da

pena em patamar máximo, ante a absoluta gravidade dos fatos

narrados, a quantidade de documentos apreendidos que

demonstra a manifesta compra de votos e o grau de

reprovabilidade da conduta concretizada pela própria

versatilidade da captação ilícita por três diferentes formas. (fl.

545)

Ora, após todo o aqui narrado, somado às provas robustas

firmadas no âmbito da presente ação de investigação judicial eleitoral, tem-se que a fixação de multa no máximo legal atende aos parâmetros da razoabilidade e proporcionalidade, vez que os fatos aqui narrados são graves e denotam o ardil dos recorrentes em afetar significativamente a isonomia e o equilíbrio das eleições, mediante captação ilícita de sufrágio.

Repita-se, a eleição foi acirradíssima, tendo sido decidida em

favor dos recorrentes por uma diferença de apenas 20 votos, sendo que as

condutas aqui narradas beneficiaram um sem-número de eleitores, além de ter

sido evidenciada a formação de caixa dois de campanha, bem com o dispêndio de vultosos gastos para distribuição de passagens, combustíveis, tudo em troca de votos. Sem falar, é claro, na compra direta do voto da eleitora LORRANE, sendo certo que a prática foi reiterada no dia das eleições. E,

deixando de lado a questão puramente patrimonial, ainda temos a afetação do _________________________________________________________________________

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equilíbrio e normalidade das eleições .

IV. Conclusão

Destarte, as provas dos autos revelam de forma contundente

e robusta que os recorrentes promoveram, por intermédio de seus articuladores de

campanha, uma captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97) massiva,

como verdadeira estratégia de campanha eleitoral, por meio de doação de

combustíveis, passagens de ônibus e dinheiro a diversos eleitores, o que pela

elevada gravidade, notadamente em uma eleição muito disputada definida por

uma pequena diferença de apenas 20 (vinte) votos, faz com que também esteja

caracterizado o abuso de poder econômico, nos termos do art. 22, inciso XIV, da

LC 64/90. Assim, a sentença recorrida deve ser integralmente confirmada.

Ante o exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral manifesta-se

pelo conhecimento e desprovimento do recurso eleitoral.

Goiânia, 27 de fevereiro de 2017.

ALEXANDRE MOREIRA TAVARES DOS SANTOSPROCURADOR REGIONAL ELEITORAL

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