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RESE- hipóteses de cabimento fora do rol do art 581, CPP. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: STF - HC 117384 SP Decisão HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HIPÓTESES DE CABIMENTO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. AUSÊNCIA DE AMEAÇA AO DIREITO DE IR E VIR. INVIABILIDADE DA IMPETRAÇÃO. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União, em benefício de Carlos Roberto Pereira Dória, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial n. 1.179.202, Relatora a Ministra Laurita Vaz. 2. Narra a Impetrante que o Paciente foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela suposta prática do crime do art. 171, § 3.º, c/c. o art. 29 do Código Penal, vez que, supostamente, teria requerido e obtido fraudulentamente benefício previdenciário em favor da seguradora Maria Izabel de Oliveira (Evento 2, f. 3). Relata que: No curso da instrução do processo originário, Autos nº 2000.61.81.007964-2, foi requerida pelo Ministério público federal a juntada aos autos de provas emprestadas, consistentes em interrogatório, depoimentos, além de outros documentos, de ação penal diversa movida em face do paciente, sem que se submetesse ao prévio contraditório, tampouco ao exame da pertinência dos elementos a serem transladados para apuração da ação penal em andamento. A defesa manifestou discordância em relação à documentação acostada aos autos, em desconformidade às regras processuais e garantias fundamentais do acusado, cujos fundamento encontram-se delineados logo adiante, e requereu o desentranhamento dos autos. Em decorrência do indeferimento do pedido de desentranhamento dos documentos e admitidos como prova emprestada, ao arrepio das garantis processuais, ainda que manifesta a ofensa ao contraditório e a ampla defesa, foi interposto Recurso em Sentido Estrito, sob a alegação de analogia a fundamentação legal insculpida no

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RESE- hipóteses de cabimento fora do rol do art 581, CPP.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:

STF - HC 117384 SP

Decisão

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HIPÓTESES DE CABIMENTO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. AUSÊNCIA DE AMEAÇA AO DIREITO DE IR E VIR. INVIABILIDADE DA IMPETRAÇÃO. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União, em benefício de Carlos Roberto Pereira Dória, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial n. 1.179.202, Relatora a Ministra Laurita Vaz. 2. Narra a Impetrante que o Paciente foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela suposta prática do crime� do art. 171, § 3.º, c/c. o art. 29 do Código Penal, vez que, supostamente, teria requerido e obtido fraudulentamente benefício previdenciário em favor da seguradora Maria Izabel de Oliveira (Evento 2, f. 3). Relata que: No curso da instrução do� � processo originário, Autos nº 2000.61.81.007964-2, foi requerida pelo Ministério público federal a juntada aos autos de provas emprestadas, consistentes em interrogatório, depoimentos, além de outros documentos, de ação penal diversa movida em face do paciente, sem que se submetesse ao prévio contraditório, tampouco ao exame da pertinência dos elementos a serem transladados para apuração da ação penal em andamento. A defesa manifestou discordância em relação à documentação acostada aos autos, em desconformidade às regras processuais e garantias fundamentais do acusado, cujos fundamento encontram-se delineados logo adiante, e requereu o desentranhamento dos autos. Em decorrência do indeferimento do pedido de desentranhamento dos documentos e admitidos como prova emprestada, ao arrepio das garantis processuais, ainda que manifesta a ofensa ao contraditório e a ampla defesa, foi interposto Recurso em Sentido Estrito, sob a alegação de analogia a fundamentação legal insculpida no art. 581, XIII do Código de Processo penal, de modo a sanar a mácula. Contudo, a 5ª Turma do Tribunal Federal da 3ª Região, em acórdão, não conheceu do recurso em sentido estrito interposto pela Defensoria Pública da União em favor do assistido/paciente, visando o desentranhamento de documentos juntados pelo MPF aos autos e admitidos como prova emprestada, por entender, equivocadamente, que o rol do art. 581 do CPP é taxativo, não atentando por tanto para as possibilidades de cabimento da interpretação extensiva conforme o entendimento dos Tribunais Superiores.(Evento 2, ff. 3/4) 3.� Interpôs-se, então, o Recurso Especial n. 1.179.202 no Superior Tribunal de Justiça, Relatora a Ministra Laurita Vaz. Em 6.9.2011, negou-se provimento ao recurso: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.� ART. 581 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. INTERPOSIÇÃO DESSE RECURSO CONTRA DECISÃO DO JUIZ SINGULAR QUE REJEITOU O PEDIDO DE

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DESENTRANHAMENTO DE PEÇAS, POR JULGÁ-LAS PERTINENTES AO DESLINDE DA CAUSA. DESCABIMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, NA HIPÓTESE. RECURSO DESPROVIDO. 1. Admite-se interpretação extensiva ou analógica às hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito, "desde que a situação a que se busca enquadrar tenha similitude com as hipóteses do art. 581 do CPP" (Resp 197.661/PR, 6.ª Turma, Rel.Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe de 01/12/2008). 2. No caso, pretende o Recorrente interpretar extensivamente o inciso XIII do art. 581 do Código de Processo Penal, que prevê o cabimento do referido recurso em face de decisão "que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte". No entanto, essa previsão não se assemelha à hipótese dos autos, na qual a Defesa pretende reformar decisum que indeferiu pedido de desentranhamento de peças admitidas pelo Magistrado Singular como prova emprestada. 3. Recurso desprovido. (Evento 8, f. 60) 4. Contra esse julgado foi� impetrado o presente habeas corpus, no qual a Impetrante alega que o Superior� Tribunal de Justiça não atuou com o costumeiro acerto, tendo em vista que há, sim, cabimento do recurso em sentido estrito no caso em tela ,tanto em decorrência de ser possível a interpretação extensiva, quanto pelo fato de inexistir recurso específico para o desentranhamento das provas emprestadas, bem como para impugnar a ilegalidade da decisão que admitiu provas emprestadas (Evento 2,f. 4). Salienta, ainda, que o� pedido de desentranhamento das provas emprestadas feitos pela defesa nas instâncias inferiores decorrem de violações perpetradas pelo Tribunal coator aos princípios do devido processo legal, bem como ao princípio da presunção de inocência, por isso a revaloração jurídica dos fatos não se confunde com o revolvimento do conjunto fático-probatório (Evento 2, f. 12). Este o teor dos pedidos:� Por todo o exposto, restando evidentemente demonstrado o constrangimento ilegal� imposto ao paciente, vem requerer a Vossa Excelência, através desse MM. Relator, o conhecimento da presente ORDEM DE HABEAS CORPUS, com o fim de: a) Conceder a medida cautelar, liminarmente pleiteada, a fim de suspender a tramitação do processo originário que tramita na 5ª Vara federal da 1ª. Subseção Judiciária de São Paulo, processo nº 2000.61.81.007964-2, eivado de vício insanável, até decisão final de mérito no presente writ; b) No mérito, requer a concessão da ordem, a fim declarar a nulidade da prova emprestada juntada aos autos do feito que tramita na 5ª Vara federal da 1ª. Subseção Judiciária de São Paulo, processo nº 2000.61.81.007964-2, vez que produzidas com inobservância das garantias legais e processuais e por conseguinte, declarar nulo todo os atos processuais subsequentes da sobredita ação penal, por violar o princípio do contraditório e da ampla defesa, incorrendo em cerceamento de defesa. c) Ad cautelam, requer igualmente no mérito, a concessão da ordem, a fim de declarar o cabimento do Recurso em sentido Estrito para arrostar decisões judiciais que cuidem do desentranhamento das provas ilegais acostadas aos autos do processo ou declarara de nulidades destas, por inexistir recurso específico, ordenando-se, por conseguinte, que o Tribunal Regional Federal 3ª.. Região aprecie o mérito do recurso em sentido estrio lá ofertado; d) requer, por derradeiro, a intimação pessoal do Defensor Público-Geral Federal para acompanhar o presente feito, inclusive quando da colocação do presente writ em mesa de julgamento, vez que há interesse do impetrante em sustentar oralmente as razões que dão lastro à impetração; contados em dobro todos os prazos, na forma do inciso I do art. 44 da Lei Complr nº 80/1994. (Evento 2, ff. 13/14) Examinada a matéria posta à� apreciação, DECIDO. 5. Os elementos fáticos e jurídicos apresentados não autorizam

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o prosseguimento desta ação neste Supremo Tribunal. 6. Conforme relatado, a defesa do Paciente interpôs recurso especial no Superior Tribunal de Justiça, pedindo a reforma de acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que não conheceu de recurso em sentido estrito visando o desentranhamento de prova alegadamente nula. 7. Ressaltou-se no voto condutor do acórdão objeto da presente impetração que o� recurso em sentido estrito, com base no inciso XIII do art. 581 do Código de Processo Penal, isto é, "que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte"não abarca a hipótese de impugnação de decisum que rejeita o pedido de desentranhamento de peças. Com efeito, mesmo se utilizando da interpretação extensiva ou analógica, não se verifica semelhança entre a previsão legal e o caso que se pretende equiparar, pois, na hipótese em apreço, não se reconheceu nulidade de nenhum ato processual, referindo-se a discussão acerca da utilização de prova emprestada para elucidação dos fatos (Evento 8, ff. 63/64). 8. A questão debatida no� Superior Tribunal de Justiça é processual, relativa ao cabimento de recurso em sentido estrito interposto. O inciso LXVIII do art. 5º da Constituição da República condiciona a concessão do habeas corpus às situações que em que alguém sofre ou se acha ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por� ilegalidade ou abuso de poder. No caso dos autos, o acórdão objeto da impetração� não atentou, ainda que de forma reflexa, contra a liberdade de ir e vir do Paciente. 9. A discussão sobre o cabimento do recurso em sentido estrito interposto traduz tentativa de utilização do habeas corpus como sucedâneo recursal, o que não é admitido pela jurisprudência deste Supremo Tribunal: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.� AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. QUESTÕES ALHEIAS À PRIVAÇÃO DA LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE, CONTRANGIMENTO ILEGAL OU ABUSO DE PODER. ORDEM DENEGADA. I A via� estreita do habeas corpus não pode ser utilizada como sucedâneo de recurso, para discutir questões alheias à liberdade de locomoção, tais como ausência dos pressupostos de admissibilidade recursal. Precedentes. II A decisão impugnada está� em consonância com a jurisprudência desta Corte no sentido de que incumbe ao agravante o dever de impugnar, de forma específica, cada um dos fundamentos da decisão questionada, sob pena de não conhecimento do recurso. III Ordem� denegada. (HC 113.660, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ 13.2.2013 grifos� � nossos) HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. DECISÃO� QUE INADMITE RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE AMEAÇA AO DIREITO DE IR E VIR. INVIABILIDADE DE IMPETRAÇÃO DO HABEAS CORPUS. NÃO CONHECIMENTO DO HABEAS CORPUS. PRECEDENTES. - A utilização do habeas corpus, por imperativo constitucional art. 5º, LXVIII -, limita-se às situações em que o� cidadão sofre ou é ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. - Não traduz ofensa ou ameaça ao direito de ir e vir, a merecer proteção pela via do habeas corpus, a decisão que inadmite recurso especial. - Habeas corpus denegado. (HC 106.493, de minha� relatoria, DJ 26.5.2011 grifos nossos) Veja-se, ainda, o�  HC 94.574, Relator o Minstro Dias Toffoli, DJ 24.9.2010; e o HC 81.524, Relator o Ministro Néri da Silveira, DJ 8.3.2002. 10. Ressalte-se que a questão referente à nulidade da prova emprestada sequer foi objeto de debate nas instâncias precedentes, as quais se ativeram à análise do cabimento ou não do recurso em sentido estrito interposto. A declaração da aventada nulidade na presente sede processual caracterizaria indevida supressão de

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instância, não se admitindo o exame de fundamentos da impetração que não tenham sido antes apreciados. Não se comprova manifesta ilegalidade ou abuso, não se cogitando de automática ofensa aos princípios constitucionais. Nesse sentido, o HC 109.909, de minha relatoria, DJ 12.3.2013; o Inq. 2.774, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ 6.9.2011; o HC 91.973, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ 28.3.2008; o HC 89.468, Relator o Ministro Carlos Britto, DJ 11.10.2007; o HC 72.295, Relator o Ministro Octavio Gallotti, DJ 27.10.1995; o HC 67.707, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ 14.8.1992; e o HC 67.064, Relator o Ministro Aldir Passarinho, DJ 2.6.1989. 10. Pelo exposto, nego seguimento ao presente habeas corpus (art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e art. 38 da Lei 8038/90), ficando, por óbvio, prejudicada a medida liminar requerida. Publique-se. Brasília, 22 de abril de 2013.Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. CABIMENTO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA AÇÃO NA PENDÊNCIA DE DISCUSSÃO JUDICIAL DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS.RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. É cabível a interposição de recurso em sentido estrito para impugnar decisão que, em razão de questão prejudicial, determinou a suspensão do inquérito policial.

2. Esta Corte de Justiça tem jurisprudência uniforme no sentido de que a pendência de discussão acerca da exigibilidade do crédito tributário perante o Poder Judiciário não obriga a suspensão da ação penal, dada a independência entre as esferas.

3. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp 1550458/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 15/04/2016)

Inteiro Teor:

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1486267&num_registro=201502103762&data=20160415&formato=PDF

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO DE DECISÃO QUE REVOGOU O BENEFÍCIO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO.

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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CABIMENTO. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por GUILHERME ALBUQUERQUE DIAS DE OLIVEIRA, com base na alínea "c" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, ementado nos termos abaixo: RECURSO CRIMINAL. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ARTIGO 89, § 3º, DA LEI N. 9.099/1995). IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA. HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO ROL TAXATIVO DO ARTIGO 581 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RECURSO NÃO CONHECIDO.

Nas razões do recurso especial, sustenta o recorrente divergência jurisprudencial em relação à interpretação do artigo 581 do Código de Processo Penal. Para tanto, argumenta que o Superior Tribunal de Justiça entende que "o RESE é o recurso apropriado para atacar a decisão que determina a suspensão do processo".

Em contrarrazões recursais, o recorrido alega que não foi apontado o dispositivo de lei federal que teria recebido interpretação divergente, o que atrai a incidência da Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal, bem como que não teria sido comprovado e demonstrado o dissídio jurisprudencial.

Admitido o recurso, manifestou-se o Ministério Público Federal pelo não conhecimento do apelo especial.

É o relatório.

O recurso merece prosperar. Inicialmente, conheço do recurso especial porque, ao contrário do que sustenta o recorrido, o recorrente indicou dispositivo de Lei Federal que teria recebido interpretação divergente (artigo 581 do Código de Processo Penal), comprovando e demonstrando o dissídio jurisprudencial existente.

Depreende-se dos autos que o recorrente foi beneficiado com a suspensão condicional do processo. No entanto, em decorrência do trânsito em julgado em outra ação penal, que condenou o réu ao cumprimento de pena em regime semiaberto, o benefício foi revogado. Contra essa decisão, a parte interpôs recurso em sentido estrito, que não foi conhecido pelo Tribunal de origem, por considerar incabível essa espécie recursal no caso concreto. No recurso especial, pretende o recorrente que se reconheça que o recurso em sentido estrito é o recurso cabível para impugnar decisão que determina a suspensão condicional do processo. O artigo 581 do Código de Processo Penal regula as hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito. Em geral, esse recurso serve para impugnar decisões interlocutórias, no entanto, ele não se iguala ao agravo previsto no Código de Processo Civil, pois sua hipótese de incidência é taxativa. Ademais, em alguns casos, esse recurso também é cabível contra sentença e decisões administrativas. Quanto ao cabimento do recurso em sentido estrito para impugnar decisão que revoga o benefício da suspensão condicional do processo, o artigo 581 do Código de Processo Penal estabelece que:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

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XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

Embora o dispositivo mencionado não contenha a expressão verbal “ revogar a suspensão condicional do processo", deve-se proceder a uma interpretação extensiva do referido artigo porque a suspensão condicional da pena é um instituto muito semelhante à suspensão condicional do processo.

A origem dos institutos é a mesma: possuem um caráter descarceirizante. A consequência jurídica para a aceitação tanto da suspensão condicional da pena quanto para a suspensão condicional do processo é a não aplicação da pena privativa de liberdade, seja porque um suspende a marcha processual ou seja porque o outro suspende a própria pena imposta na sentença.

Configuram, também, um instituto condicional, pois somente poderá ser aplicado quando cumpridos requisitos impostos.

Dessa forma, em razão da interpretação extensiva, onde se lê "conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena", acrescente-se "suspensão condicional do processo".

Eis a lição de Gustavo Henrique Badaró: Prevalece o entendimento de que o rol é taxativo e não exemplificativo. Todavia, parte da doutrina admite que se lhe dê interpretação extensiva. Como explica Greco Filho, "a interpretação extensiva não amplia o conteúdo da norma; somente reconhece que determinada hipótese é por ela regida, ainda que a sua expressão verbal não seja perfeita". Assim, por exemplo: a lei prevê o recurso contra a rejeição da denúncia e, por interpretação extensiva, admite-se o recurso da decisão que rejeita o aditamento da denúncia. Ou a lei prevê o recurso da decisão que determina a suspensão do processo, em razão da questão prejudicial, e admite-se, por interpretação extensiva, o recurso da decisão que determina a suspensão do processo no caso do art. 366 CPP, ou da decisão que concede a suspensão condicional do processo. (Processo Penal. Rio de Janeiro: Campus: Elsevier, 2012, p. 623/624)

Sobre o tema, cumpre trazer à baila os seguintes julgados deste Sodalício:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. DEFERIMENTO NA ORIGEM. CASSAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO, EM SEDE DE CORREIÇÃO PARCIAL. VIA INADEQUADA. CABIMENTO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. INTERPOSIÇÃO FORA DO PRAZO LEGAL. PRECLUSÃO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFESA. CERCEAMENTO DE DEFESA.

1. A teor do entendimento desta Corte, "contra decisão que concede, nega ou revoga suspensão condicional do processo cabe recurso em sentido estrito." (RMS 23.516/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/12/2007, DJe 03/03/2008).

2. Ademais, quando da interposição da correição parcial, já havia transcorrido o prazo para a impugnação da decisão do Juízo da origem, tendo havido, portanto, a preclusão processual.

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3. De qualquer forma, houve, ainda, flagrante cerceamento de defesa no processamento da correição parcial, já que não houve a devida intimação da defesa da ora Paciente, para a apresentação de sua resposta.

4. Ordem concedida para, cassando o acórdão ora hostilizado, restabelecer a decisão monocrática que determinou a suspensão do processo penal movido contra a ora Paciente.

(HC 90.584/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/10/2008, DJe 03/11/2008)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DECISÃO QUE REVOGA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. EXISTÊNCIA DE RECURSO PRÓPRIO. CABIMENTO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. SÚMULA Nº 267/STF.

I - Contra decisão que concede, nega ou revoga suspensão condicional do processo cabe recurso em sentido estrito (Precedentes desta Corte).

II - Descabida, portanto, a utilização do mandado de segurança perante o e. Tribunal a quo, tendo em vista a existência de recurso próprio, ex vi da Súmula nº 267 do c. Pretório Excelso ("Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição").

Habeas corpus não-conhecido.

(HC 103.053/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 18/09/2008, DJe 10/11/2008)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. DECISÃO QUE INDEFERE PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RECURSO CONHECIDO.

1. Na letra do artigo 581, inciso XI, do Código de Processo Penal, cabe recurso em sentido estrito da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena, havendo firme entendimento, não unânime, de que se cuida de enumeração exaustiva, a inibir hipótese de cabimento outra que não as expressamente elencadas na lei.

2. Tal disposição, contudo, por força da impugnabilidade recursal da decisão denegatória do sursis, prevista no artigo 197 da Lei de Execuções Penais, deve ter sua compreensão dilargada, de maneira a abranger também a hipótese de suspensão condicional do processo, admitida a não revogação parcial da norma inserta no Código de Processo Penal.

3. Desse modo, cabe a aplicação analógica do inciso XI do artigo 581 do Código de Processo Penal aos casos de suspensão condicional do processo, viabilizada, aliás, pela subsidiariedade que o artigo 92 da Lei nº 9.099/95 lhe atribui.

4. A recorribilidade das decisões é essencial ao Estado de Direito, que não exclui a proteção da sociedade, ela mesma.

5. Recurso conhecido.

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(REsp 263.544/CE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 12/03/2002, DJ 19/12/2002, p. 457)

Mais recentemente, o Ministro Sebastião Reis Junior manteve o mesmo entendimento, ao julgar monocraticamente o Recurso Especial n. 1.401.959/SC, publicado em 5/8/2015.

Por fim, vale ressaltar que, no que se refere à suspensão condicional da pena, o dispositivo foi parcialmente revogado, pois em se tratando de hipótese de execução penal, o recurso cabível passou a ser o agravo em execução, permanecendo o cabimento do recurso em sentido estrito somente nas hipóteses em que forem proferidas decisões antes da instauração do processo executório.

Ante o exposto, com fundamento no artigo 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, combinado com o artigo 3º do Código de Processo Penal, dou provimento ao recurso especial para que, afastado o óbice do não cabimento do recurso, determinar que o Tribunal de origem prossiga no julgamento da impugnação.

Publique-se.Intimem-se.

Brasília, 27 de agosto de 2015.

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

Relatora

RECURSO ESPECIAL Nº 1.544.853 - SC (2015/0177082-5)

Inteiro Teor:

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=MON&sequencial=51532633&num_registro=201501770825&data=20150908&formato=PDF

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ROL TAXATIVO. APLICAÇÃO EXTENSIVA. ADMISSÃO. ANALOGIA. INVIABILIDADE. PRODUÇÃO DE PROVA. INDEFERIMENTO. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU. INTERPOSIÇÃO. DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA. SÚMULA 284/STF.

1. As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito, trazidas no art. 581 do Código de Processo Penal e em legislação especial, são exaustivas, admitindo a interpretação extensiva, mas não a analógica.

2. Por não estar elencada entre as situações que admitem o recurso em sentido estrito nem com elas possuindo relação que admita interpretação extensiva, é descabido o manejo deste recurso contra a decisão do Juízo de primeiro grau que indeferiu a produção de prova requerida pelo Parquet, no caso, a realização de exame de DNA.

3. O recorrente não indicou, dentre as hipóteses previstas no art. 581 do Código de Processo Penal ou em leis especiais, qual aquela que, a seu entender, abrangeria,

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por interpretação, o caso concreto. Ausente, nesse aspecto, a delimitação da controvérsia, incide a Súmula 284/STF.

4. Recurso especial não conhecido.

(REsp 1078175/RO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 26/04/2013)

Inteiro Teor:

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1225863&num_registro=200801650480&data=20130426&formato=PDF

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ART.581 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. INTERPOSIÇÃO DESSE RECURSO CONTRA DECISÃO DO JUIZ SINGULAR QUE REJEITOU O PEDIDO DE DESENTRANHAMENTO DE PEÇAS, POR JULGÁ-LAS PERTINENTES AO DESLINDE DA CAUSA.DESCABIMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, NA HIPÓTESE. RECURSO DESPROVIDO.

1. Admite-se interpretação extensiva ou analógica às hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito, "desde que a situação a que se busca enquadrar tenha similitude com as hipóteses do art. 581 do CPP" (REsp 197.661/PR, 6.ª Turma, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe de 01/12/2008).

2. No caso, pretende o Recorrente interpretar extensivamente o inciso XIII do art. 581 do Código de Processo Penal, que prevê o cabimento do referido recurso em face de decisão "que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte". No entanto, essa previsão não se assemelha à hipótese dos autos, na qual a Defesa pretende reformar decisum que indeferiu pedido de desentranhamento de peças admitidas pelo Magistrado Singular como prova emprestada.

3. Recurso desprovido.

(REsp 1179202/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe 21/09/2011)

Inteiro teor:

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1087421&num_registro=201000250077&data=20110921&formato=PDF

PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO QUE INDEFERE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA. CABIMENTO.

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É passível de impugnação, segundo orientação firmada nesta Corte, por recurso em sentido estrito, decisão interlocutória de primeiro grau que indefere a produção antecipada de provas, para que se verifique, no caso concreto, a necessidade dessa providência processual, ressalvada a posição do relator (Precedentes).

Recurso especial provido.

(REsp 1054044/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 02/10/2008, DJe 10/11/2008)

Inteiro teor:

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=824518&num_registro=200800965949&data=20081110&formato=PDF

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIMES DE QUADRILHA OU BANDO, ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL E DE REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. QUESTÃO DE FUNDO JÁ APRECIADA POR ESTE STJ NO RHC N.º 18.242/RJ, PELA E. MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA. DISSENSO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 3.º DO CPP. SÚMULA N.º 284 DO STF. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

DECISÃO

Vistos etc.

Trata-se de recurso especial interposto por MÁRIO RUBENS VIANA HIGINO, em face de acórdão proferido no recurso em sentido estrito n.º 2005.51.08.000129-0, pelo Tribunal Regional Federal da Segunda Região, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal.

Consta nos autos que o Recorrente, ADILSON DE BARBOSA DE JESUS e MANOEL MESSIAS SANTOS foram denunciados pela prática dos crimes dos arts. 207 e 288 do Código Penal, em concurso material. Ao Recorrente, ainda, foi imputada a prática do delito do art. 149 do mesmo Codex. DEMÉTRIO FONTES TOURINHO foi denunciado como incurso nos arts. 149, 203, 207 e 288, c.c. o art. 69, e RAMILTON PEREIRA DA SILVA pelos crimes dos arts. 288 e 207, c.c. o art. 69 todos do Código Penal.

Recebida a denúncia, os corréus ADILSON e MANOEL MESSIAS arguiram a incompetência absoluta do Juízo Federal de São Pedro da Aldeia/RJ, em razão da matéria e do lugar do cometimento da infração penal. O pedido foi julgado improcedente (fls. 76/77).

Irresignados, ADILSON e MANOEL MESSIAS interpuseram recurso em sentido estrito e/ou apelação criminal, que não foram recebidos (fls. 79/80).

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Contra essa decisão, o Recorrente interpôs recurso em sentido estrito, que foi julgado prejudicado, conforme decisão monocrática de fls. 160/161.

Interposto agravo interno, a decisão foi reconsiderada.

Opostos embargos de declaração, estes não foram conhecidos, enquanto que o recurso em sentido estrito foi desprovido, nos termos da seguinte ementa:

"PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO QUE FIRMA A COMPETÊNCIA DO JUÍZO. IRRECORRIBILIDADE.

1. Não há como se atacar a decisão judicial que dá o respectivo Juízo por competente, seja por meio de apelação, seja por meio de recurso em sentido estrito.

2. Há manifesta impropriedade do recurso de apelação para a hipótese sub judice, eis que este somente é cabível de decisões definitivas ou com força de definitivas, nos termos do art. 593 do CPP.

2. A hipótese dos autos também não se enquadra dentre aquelas contempladas no art. 581 do CPP, tendo em vista que o elenco de hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito a que se refere o artigo em comento é taxativo, não sendo pertinente este instrumento recursal contra decisão que julgou improcedente a exceção de incompetência.

3. A matéria somente poderá ser ventilada em sede de habeas corpus ou em apelação eventualmente interposta da sentença de mérito.

4. Embargos de Declaração não conhecidos e Recurso improvido." (fl. 196)

Foram interpostos embargos infringentes, que foram desprovidos, conforme a ementa a seguir transcrita:

"PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES. DECISÃO QUE REJEITA A EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. IRRECORRIBILIDADE. ART. 581. ROL TAXATIVO. INTEPRETAÇÃO EXTENSIVA E ANALOGIA. IMPOSSIBILIDADE. SILÊNCIO ELOQUENTE. RECURSO QUE TUMULTUARIA O ANDAMENTO DO PROCESSO. RECURSO IMPROVIDO.

I - O entendimento doutrinário prevalente é no sentido de que o art. 581 do CPP apresenta um rol numerus clausus, o que é efetivamente o mais adequado em se tratando de cabimento recursal, que, de acordo com a melhor técnica, deve sempre vir previsto expressamente em lei.

II - Não se pode negar a possibilidade da interpretação extensiva e, em casos lacunosos, da própria analogia, quando estamos em sede processual. Contudo, no caso da decisão que rejeita a exceção de incompetência, sua não previsão no elenco do art. 581 não retrata lapso do legislador ou utilização de expressões insuficientes, mas sim verdadeiro silêncio eloquente com o fim específico de excluir o manuseio do recurso em sentido estrito nesses casos.

III - Quando a omissão legislativa é pré-ordenada, não cabe ao Judiciário alterar a indumentária legal a fim de adequá-la ao que melhor lhe aprouver em termos de

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economia e celeridade, pois se assim o fizer, estará se arvorando na função legislativa e afrontando o princípio constitucional da separação de poderes. A princípio, a jurisprudência e a doutrina só devem ser utilizadas como fontes quando a lei for omissa ou disser menos do que quis efetivamente dizer.

IV - Não se pode olvidar que há necessidade de modernização dos instrumentos processuais hoje em uso no direito pátrio. Todavia, tal modernização há que se fazer através do competente processo legislativo, único procedimento efetivamente albergado pela Constituição para implementar a contento modificações dessa natureza.

V - Se por um lado as ações autônomas de impugnação devem ser evitadas, pois, inequivocamente, sua proliferação atravancará ainda mais o Judiciário, a tendência de modificações legislativas tem sido no sentido de eliminar certos recursos ou resguardar seu cabimento para momento futuro oportuno, e não de alargar o elenco de possibilidades de impugnação.

VI - Exatamente esse o caso das alterações implementadas através da Lei n.° 11.187/05, onde o legislador pretendeu restringir a viabilidade do agravo de instrumento em prol do normal trâmite da instrução processual.

VII - Assim como o querelado na ação civil se valerá do agravo retido, que só será apreciado juntamente com a apelação, o réu, no caso dos autos, poderá voltar a ventilar a matéria em sede de apelação criminal.

VIII - Permitir que se discuta a competência depois de tanto tempo da prática delitiva, simplesmente porque os meios processuais não parecem os mais céleres e econômicos, pode postergar demasiadamente a análise meritória de uma ação penal e ensejar até mesmo a prescrição.

IX - Recurso improvido." (fls. 248/249)

Insurge-se o Recorrente contra essa decisão, alegando negativa de vigência ao art. 3.º do Código de Processo Penal e divergência jurisprudencial quanto à aplicação do art. 581 do Código de Processo Penal. Sustenta que deve ser aplicada analogia ao caso concreto, para considerar cabível o recurso em sentido estrito contra decisões que não acolhessem arguições de competência.

Assim, requer a reforma do acórdão recorrido, para que o recurso interposto pelos corréus seja recebido pelo Tribunal de origem.

Contrarrazões às fls. 277/287.

Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento e desprovimento do recurso (fls. 297/315). À fl. 327, encaminhei os autos à eminente Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, para consulta sobre eventual prevenção, que não acolhida, conforme o despacho de fl. 330.

É o relatório.

Decido.

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De início, cumpre apontar que a questão de fundo, relativa à competência, que se pretende discutir nos autos do recurso em sentido estrito interposto na origem, já foi apreciada por esta Corte Superior de Justiça, pela e. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, quando do julgamento do RHC n.º 18.242/RJ, na qual foi reconhecida a competência do Juízo Federal de São Pedro de Aldeia/RJ para julgar a ação penal originária. O acórdão restou assim ementado:

"PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. ALICIAMENTO DE TRABALHADORES. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE TRABALHO. QUADRILHA OU BANDO. CRIME CONTRA DIREITOS HUMANOS. ART. 109, V-A, VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. ART. 78, II, 'A', CPP. INFRAÇÃO MAIS GRAVE. ART. 71, CPP. PREVENÇÃO. VARA FEDERAL DE SÃO PEDRO DA ALDEIA/RJ.

1. Trata-se de crime de aliciamento de trabalhadores que eram levados de uma unidade da Federação para outra.

2. Pela denúncia, narra-se um sofisticado esquema de burla à organização do trabalho e à dignidade humana.

3. Inteligência dos comandos insertos no art. 109, V-A, VI, da Constituição Federal, no art. 10, VII, da Lei n. 5.060/66 e no Título IV, da Parte Especial do Código Penal.

4. Compete, assim, à Justiça Federal processar e julgar a ação penal em apreço.

5. No tocante à circunscrição da Justiça Federal, deve-se ater à conexão com o delito mais grave: quadrilha ou bando.

6. O crime de quadrilha ou bando, enquanto permanente e desenvolvido em mais de uma localidade, conduz à determinação da competência pela prevenção.

7. Mantida a competência da Vara Federal de São Pedro da Aldeia/RJ.

8. Recurso conhecido, mas improvido." (DJ de 25/06/2007)

Ainda que assim não fosse, o recurso não merece prosperar.

Quanto à alínea c, observa-se que o cotejo analítico não foi efetuado nos moldes legais e regimentais, ou seja, com transcrição de trechos do acórdão recorrido e paradigma, que demonstrem a identidade de situações e a diferente interpretação dada à lei federal, por conseguinte, a simples citação de julgados, sem que se evidencie a similitude das situações, não se presta para demonstração do dissídio.

Dessa forma, a sugerida divergência não foi demonstrada na forma preconizada nos arts. 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, §§ 1.º e 2.º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.

Quanto à arguida violação à lei federal, o Recorrente alicerça sua irresignação em suposta negativa de vigência ao art. 3.º do Código de Processo Penal, que possui a seguinte redação, litteris:

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"A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito."

Conforme se pode observar, não há, nessa norma, qualquer disposição acerca do cabimento do recurso em sentido estrito contra decisões que rejeitam arguições de incompetência.

Assim, o dispositivo tido por violado não contém comando normativo capaz de alterar a conclusão a que chegou o Tribunal de origem, qual seja:

"Destarte, a princípio, o recurso em sentido estrito só teria cabimento em se tratando de decisão que acolhe a exceção de incompetência, nos termos do art. 581, inciso III, do CPP.

De outro giro, não se pode negar a possibilidade da interpretação extensiva e, em casos lacunosos, da própria analogia, quando estamos em sede processual, segundo o permissivo do art. 3.º do CPP.

Contudo, no caso da decisão que rejeita a exceção de incompetência, sua não previsão no elenco do art. 581 não retrata lapso do legislador ou utilização de expressões insuficientes, mas sim verdadeiro silêncio eloqüente com o fim específico de excluir o manuseio do recurso em sentido estrito nesses casos. Em outras palavras: foi intencional a omissão dessa espécie de decisão, a fim de não tumultuar a instrução processual." (fl. 242)

Incide, destarte, o óbice contido na Súmula n.º 284 do Pretório Excelso, in verbis:

"É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia."

Ante o exposto, com fulcro no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, c.c. o art. 3.º do Código de Processo Penal, NEGO SEGUIMENTO ao recurso especial.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília (DF), 06 de dezembro de 2010.

MINISTRA LAURITA VAZ

Relatora

(Ministra LAURITA VAZ, 17/12/2010)

RECURSO ESPECIAL Nº 964.026 - RJ (2007/0149319-6)

Inteiro Teor:

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RECURSO ESPECIAL. ALÍNEAS "A" E "C" DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 83 C/C 618 DO CPP. HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ART. 3º, 581, X, DO CPP, ALÉM DOS ARTS. 522 E 162, § 2º, DO CPC. PRERROGATIVAS DE DEFESA DO ADVOGADO. ART. 7º, INCISO X, DA LEI N.º 8.906/94.

No âmbito interno dos Tribunais, a competência por prevenção é regulada pelo regimento interno, sendo que, no caso dos autos, a Câmara julgadora não pode ser tida por incompetente se o interessado não argüiu a sua impugnação em momento oportuno, qual seja, até o início do julgamento.

Pela melhor orientação, o cabimento do recurso em sentido estrito não corresponde a "numerus clausus" se submetendo, por isso, à interpretação extensiva e à integração por analogia, desde que a situação a que se busca enquadrar tenha similitude com as hipóteses do art. 581 do CPP.

Na espécie, a ampliação do referido rol não guarda semelhança com os casos nele previstos, o que não se mostra possível, sob pena de quebrar a harmonia do sistema de impugnação recursal adotado pelo Código de Processo Penal.

O julgamento em mesa de recurso, por si só, não pode ser causa de violação à ampla defesa e ao contraditório.

Recurso conhecido pela divergência, quanto às hipóteses do art. 581 do CPP, e negado provimento.

(REsp 197.661/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 12/06/2008, DJe 01/12/2008)

Inteiro Teor:

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TJ-PR - Recurso em Sentido Estrito : RSE 5529844 PR 0552984-4

Ementa

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. INTERPOSIÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO CONTRA DECISÃO REVOGATÓRIA DE PRISÃO TEMPORÁRIA. CABIMENTO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DA HIPÓTESE PREVISTA NO INC. V, DO ART. 581, DO CPP. ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. VÍCIO NÃO OCORRENTE. REQUISITO DO PERICULUM IN MORA NÃO DEMONSTRADO PARA EMBASAR A MEDIDA CAUTELAR EXCEPCIONAL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. É cabível a interposição de recurso em sentido estrito contra decisão que revoga a prisão temporária, por admitir o Código de Processo Penal, na lacuna da lei,

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interpretação extensiva, com aplicação da analogia e os princípios gerais de direito. Assim, se o art. 581, inc. V, do CPP prevê esse recurso contra decisão que indefere ou revoga a prisão preventiva, por analogia, cabível também na hipótese dos autos, não se podendo olvidar que as duas modalidades de prisão tem natureza cautelar.

2. A decisão que, embora concisa, aponta as razões de convencimento do julgador, não padece do vício de nulidade.

3. Não se justifica o restabelecimento da prisão temporária quando não demonstrada sua real necessidade (periculum in mora), pois além de ser medida excepcional, não pode ter cunho sancionatório, apenas pela gravidade do delito, tendo em vista o princípio constitucional da presunção de inocência.

ASSUNTO: Recurso cabível do indeferimento do mandado de busca e apreensão

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

STJ - RECURSO ESPECIAL : REsp 1258187 RS 2011/0132954-3

Decisão

RECURSO ESPECIAL Nº 1.258.187 - RS (2011/0132954-3) RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECORRIDO : EM APURAÇÃO ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. BUSCA E APREENSÃO PENAL. RECURSO CABÍVEL. APELAÇÃO. INADEQUAÇÃO IN CASU. AUSENTE JUSTIFICATIVA PARA DILIGÊNCIA INVASIVA INADEQUADA A DETERMINAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. Recurso especial a que se nega seguimento. DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público Federal com fundamento no art. 105, III, a e c, da Constituição da República, contra acórdão do Tribunal Regional da 4ª Região que não conheceu do recurso de apelação do órgão ministerial em razão de ser incabível apelação contra decisão de indeferimento de busca e apreensão (fls. 40/52). Esta, a ementa do acórdão regional (fl. 52): PROCESSO PENAL. INDEFERIMENTO DE PROVA. FASE INVESTIGATÓRIA. NÃO CONHECIMENTO DA APELAÇÃO. 1. Tratando-se de pedido de prova em investigação criminal, não se tem em sua denegação hipótese de decisão definitiva ou com igual força, a justificar a admissão do recurso de apelação. 2. Apelo não conhecido. No recurso especial, a parte recorrente alega que o acórdão a quo violou o art. 593, II, do Código de Processo Penal, porquanto doutrina e a jurisprudência tem entendido que a apelação é o recurso adequado para os casos em que a decisão denega o pedido de busca e apreensão, conforme previsto no art. 593, II, do CPP (fls. 134/144). Almeja, por fim, a declaração de nulidade do acórdão local, devolvendo-se os autos ao colegiado a quo para que examine o mérito do pedido do recurso (fl. 66). O Ministério Público Federal opinou pelo provimento do recurso (fls. 86/94). É o relatório. Presentes os requisitos de admissibilidade, o recurso

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merece ser conhecido. No caso, o acórdão regional não conheceu o apelo defensivo contra decisão monocrática que indeferiu pedido de busca e apreensão na residência do recorrido formulado por autoridade policial, de documentos pessoais ou relativos ao recebimento de benefício previdenciário (fls. 10/13 e 40/52). Nesse contexto, segundo o recorrente, a aludida decisão reveste-se de caráter de certa definitividade, nos termos do inciso II do art. 593 do Código de Processo Penal: Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; Da atenta leitura do voto condutor do acórdão regional, constato que a decisão que indeferiu o mandado de busca e apreensão não detém definitividade, in verbis (fls. 44/48): [...] Inicialmente, registro que a Busca e Apreensão está prevista no Capítulo XI, Título VII (da Prova), no Código de Processo Penal. Alguns autores classificam-na como meio de prova; outros, como meio de assegurar uma prova. Registro, todavia, que a Busca e Apreensão é medida excepcional, devendo ser observados para a sua decretação os limites que a Constituição Federal impõe. Assim, mostra-se necessário agir com cautela, a fim de coibir comportamento abusivo por parte dos agentes do poder público, e evitar violação aos princípios constitucionalmente assegurados. Por esta razão, cumpre ao Poder Judiciário avaliar a real necessidade de decretação da referida medida, com observância das normas legais dispostas nos arts. 240, § 1º 'e' e 'h', e 241 do Código de Processo Penal. Quanto ao tema, Cleunice Bastos Pitombo, in Da Busca e da Apreensão no Processo Penal, 2ª ed. São Paulo: RT, 2005, p. 186-187, assim leciona (fls. 191-192): "Em face da vigente Constituição, apenas a autoridade judiciária pode determinar a realização da busca processual penal (art. 241 do CPP, c/c art. 5º, inc. XI, da Constituição da República). Nenhuma outra autoridade, ainda que investida de poderes excepcionais de investigação, poderá expedir mandado de busca. Não podem determinar a busca e a apreensão a autoridade policial (civil ou militar); o presidente da comissão parlamentar de inquérito; o ministério público. Podem, entretanto, pedir a restrição ao direito fundamental ao poder Judiciário. Lembre-se de que a constituição República, de modo expresso, atribui ao poder judiciário atos que lhe são privativos. A chamada reserva de jurisdição. Vale dizer: restrição ao direito fundamental é atividade exclusiva do Poder Judiciário."In casu, noticiam os autos que Anderson Dornelles é investigado nos autos do IP 2008.71.11.001611-0, pela prática, em tese, do crime tipificado no art. 171, § 3º, do CP (estelionato). Segundo consta, há fortes indícios de o investigado ser o responsável por saques indevidos do benefício de Ossival Schmachtenberg, após seu falecimento. O Parquet alega que estão presentes os requisitos necessários a possibilitar a busca e apreensão dos documentos, visto que existem fortes indícios da autoria do delito por parte de Anderson, apontado como responsável por saques indevidos junto ao INSS após a morte de Ossival. Sustenta que a medida é necessária para o deslinde do caso, pois visa melhor elucidação dos fatos, visto que podem ser localizadas provas na residência do investigado a fim de embasar a investigação. [...] Pois bem, é certo que a decretação da medida só é admitida para fins de investigação criminal quando se apresentar como única maneira de obtenção da prova de eventual cometimento do delito. Contudo, não é o que se verifica no presente caso. O inquérito teve origem em boletim de ocorrência, registrado na polícia por Clara Fabiana de Araújo (filha do falecido), no qual a comunicante informou que Anderson estava na posse de documentos do seu pai desde a data de seu óbito, e que alguém estaria

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recebendo em nome do falecido valores depositados pelo INSS à título de aposentadoria. Este foi o fato que serviu como indício de que Anderson Dornelles seria o responsável pelos saques do benefício previdenciário de Ossival. Contudo, tal informação não constitui circunstância capaz de autorizar a medida postulada. Isso porque, conforme já mencionado, não constitui o único meio hábil do qual poderia lançar mão o estado para a obtenção da prova. Conforme bem registrou o juízo a quo, o depoimento prestado pelo próprio investigado, no sentido informar quais documentos mantinha em seu poder e o motivo pelo qual detinha a posse de tais documentos, poderia contribuir para a investigação. Ademais, em crimes desta espécie não é este o expediente utilizado para a comprovação da materialidade e autoria delitivas. Diversas outras providências são tomadas com este fim. Até mesmo medidas administrativas praticadas pelo INSS e depoimentos de testemunhas contribuem no deslinde dos fatos. Somente a informação prestada pela filha do falecido não é capaz de firmar convicção de que efetivamente os documentos estavam na residência de Anderson. A providência postulada, portanto, não consiste na única alternativa capaz de esclarecer os fatos, razão pela qual não se justifica a adoção da medida. Ademais, conforme restou consignado pelo magistrado, o indeferimento do pedido não obsta que seja procedido o reexame da medida casou outros elementos de prova sejam trazidos aos autos. Dessa forma, tenho que deve ser mantida a decisão atacada, diante da precariedade dos elementos apresentados, o que impossibilita o deferimento da medida pretendida. [...] Por fim, a meu ver, in casu, o recurso de apelação não é a via adequada para impugnar a decisão judicial, em matéria criminal, que indeferiu busca e apreensão. Inclusive porque este Superior Tribunal considera o seguinte: justificada a necessidade da diligência invasiva, não há ilicitude na determinada busca e apreensão (HC 117.116/ES, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 4/11/2014). Logo, contrário sensu, não havendo justificativa na decisão, indevida a determinação de busca e apreensão. Diante disso, não merece reforma o acórdão a quo. Sendo repetidamente decidida a matéria debatida, conforme os precedentes citados, o presente recurso comporta pronta solução, nos moldes do art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, c/c o art. 3º do Código de Processo Penal, com o fim de se agilizar a prestação jurisdicional. Ante o exposto, com fulcro nos arts. 28 da Lei n. 8.038/1990, 34 do RISTJ e 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao recurso especial. Publique-se. Brasília, 16 de março de 2015. Ministro Sebastião Reis Júnior Relator

TRF-3 - MANDADO DE SEGURANÇA MS 6466 SP 0006466-05.2011.4.03.0000 (TRF-3)

Data de publicação: 15/05/2014

Ementa

MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO DE INDEFERIMENTO DE BUSCA E APREENSÃO. EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA DELITIVA. POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DE LISTAS DE APOSENTADOS DO INSS PARA O REQUERIMENTO FRAUDULENTO DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS. LOCALIZAÇÃO DOS DADOS

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CADASTRAIS DE TITULAR DE CONTA, UTILIZADA PARA RECEBIMENTO DE VALORES RELATIVOS À VENDA DAS LISTAS. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL POR AUSÊNCIA DE OUTROS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. CABIMENTO DO PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO.

1. Mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público Federal contra decisão proferida que indeferiu o pedido de busca e apreensão de computadores e de todos os documentos relacionados à prática dos crimes tipificados nos artigos 171, § 3º e 325, § 2º, ambos do Código Penal.

2. Cabível o mandado de segurança, ante a inexistência de previsão de recurso contra a decisão que indefere o pedido de busca e apreensão. Precedentes da Primeira Seção do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

3. Em que pese o âmbito cognitivo limitado do mandado de segurança, no caso dos autos a presença de indícios suficientes de autoria a justificar o deferimento de medida de busca e apreensão é patente, restando indubitável que a decisão atacada pautou-se em premissa equivocada.

4. Observa-se troca de e-mails acerca da suposta negociação dos cadastros de aposentados do INSS, fornecendo o número de sua conta para o depósito do valor da venda.

5. Ao ser oficiado à Caixa Econômica Federal, em 21.06.2010, houve indicação errônea do número da conta, gerando a resposta de não localização da conta. No entanto, posteriormente, mediante nova solicitação, desta feita com o número correto da conta a Caixa Econômica Federal informou os dados do titular da conta. 5. Embora a decisão impugnada baseie-se no Relatório Policial de em que constou ter havido respostas negativas da Microsoft Corporation, quanto à localização da conta de e-mail, e da Caixa Econômica Federal sobre os dados cadastrais do titular da poupança, verifica-se que houve informação da Caixa Econômica Federal sobre a localização dos dados cadastrais do titular da poupança. Portanto, a decisão da DD. Autoridade impetrada, pela ausência de indícios de autoria criminosa, baseia-se em premissa equivocada.

6. Existem indícios de autoria delitiva aptos a autorizar a medida de busca e apreensão requerida. O inquérito policial foi arquivado diante da ausência de outros elementos probatórios para a continuidade da investigação e/ou oferecimento de denúncia, ressalvando-se expressamente a possibilidade do artigo 18 do CPP, após o julgamento de mandamus, a indicar a imprescindibilidade da medida.

7. Segurança concedida.

TRF-3 - APELAÇÃO CRIMINAL - 16641 : ACR 71 SP 2004.61.81.000071-0

APELAÇÃO CRIMINAL CONTRA INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 70 DA LEI Nº 4.117/62. RADIODIFUSÃO É ESPÉCIE DO GÊNERO TELECOMUNICAÇÕES. CONDUTA

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SUBSUME-SE, EM TESE, NO ART. 183 DA LEI Nº 9.472/97. NECESSIDADE DA MEDIDA DE BUSCA E APREENSÃO PLEITEADA. RECURSO PROVIDO.

Apelação criminal contra decisão que indeferiu o pedido de busca e apreensão dos equipamentos de telecomunicação pertencentes à emissora RÁDIO DIMENSÃO FM, com fundamento na inconstitucionalidade do art. 70 da Lei nº 4.117/62.

A Constituição Federal não traz a definição de telecomunicações. Os incs. XI e XII, alínea a, do art. 21 da CF permitem concluir apenas que a exploração da radiodifusão compete à União. Esses dispositivos não repercutem na matéria penal tratada na legislação infraconstitucional. Os tipos penais incriminadores descritos na Lei nº 9.472/97 devem ser interpretados à luz da definição fornecida por esta norma. A CF não trouxe qualquer parâmetro ou limitação acerca dos serviços que devem integrar as telecomunicações.

Da definição legal (art. 60, § 1º, da Lei nº 9.472/97) extrai-se que radiodifusão é espécie do gênero telecomunicações. Por essa razão, o art. 215, inc. I, da Lei nº 9.427/97 não tornou nulo o art. 70 da Lei nº 4.117/62 quanto à regulamentação da radiodifusão.

O art. 183 da Lei nº 9.472/97 veio reafirmar a ilicitude da conduta imputada ao réu e puni-la com maior rigor que a nº Lei 4.117/62. O alcance e significado da expressão "clandestinamente", que é mencionada no art. 183, está no parágrafo único do art. 184 da Lei 9.472/97.

Da comparação do art. 70 da Lei nº 4.117/62 com o art. 183 da Lei nº 9.472/97 verifica-se que houve mera repetição: a norma jurídica, na descrição da conduta, é a mesma.

Não se pode confundir a liberdade de criação, expressão e manifestação do pensamento e de informação com a utilização dos meios de comunicação, que está sujeita a regime especial. As normas do Código Brasileiro de Telecomunicações não são incompatíveis com a ordem constitucional vigente e carece de amparo jurídico o raciocínio de que a carta magna não teria autorizado a incriminação da conduta.

A conduta subsume-se, em tese, no art. 183 da Lei nº 9.472/97. Conforme a representação da autoridade policial, a estação de radiodifusão sonora estava em funcionamento, utilizando o espectro de radiofreqüência, sem a devida autorização legal. Os fiscais foram impedidos de adentrar no imóvel utilizado pela emissora para proceder à lacração cautelar dos equipamentos.

O corpo de delito depende da medida de busca e apreensão pleiteada, a fim de submeter a exame pericial e colher elementos de convicção sobre a materialidade do crime.

Recurso provido.

TJ-DF - Apelação Criminal APR 20150510076756 (TJ-DF)

Data de publicação: 26/10/2015

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Ementa: 

APELAÇÃO CRIMINAL. INDEFERIMENTO DE PEDIDOS DE BUSCA EAPREENSÃO DOMICILIAR E DE PRISÃO PREVENTIVA. RECURSO CABÍVEL. APELAÇÃO. FUNDADAS RAZÕES. EXISTÊNCIA. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA DEMONSTRADA. RECURSO PROVIDO.

1. Dispõe o art. 581 , inc. V , do CPP que a decisão que indefere requerimento por prisão preventiva desafia recurso em sentido estrito. Lado outro, a decisão que indefere a realização de busca e apreensão tem força de definitiva e, de acordo com o inc. II do art. 593 do CPP , são impugnadas por intermédio de apelação. Conforme o disposto no art. 593, § 4º , do CPP , ainda que parte da decisão seja impugnada por recurso em sentido estrito, quando cabível a apelação deverá ser ela utilizada para a impugnação de toda a matéria discutida. 2. Nos termos do art. 240 do CPP, a busca e apreensão domiciliar poderá ser realizada para a descoberta dos objetos necessários à prova da infração e colheita de quaisquer elementos de convicção, desde que presentes fundadas razões para o deferimento da medida. O que a lei processual penal exige é a verificação da necessidade da medida para levantar elementos de prova, baseada em fundadas razões, como na hipótese em apreço. 3. A teor do art. 312 do Código de Processo Penal , a prisão preventiva poderá ser decretada quando presentes o fumus comissi delicti, consubstanciado na prova da� materialidade e na existência de indícios de autoria, bem como o periculum libertatis,� fundado no risco que o agente, em liberdade, possa criar à ordem pública ou econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei penal. Presentes, na hipótese, os requisitos autorizadores da prisão preventiva do investigado. 4. Recurso do Ministério Público provido.

Encontrado em: - 26/10/2015 Apelação Criminal APR 20150510076756 (TJ-DF) HUMBERTO ADJUTO ULHÔA CONHECIDO. DEU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME. 3ª Turma Criminal Publicado no DJE : 26/10/2015

TJ-RS - Recurso em Sentido Estrito RSE 70058162306 RS (TJ-RS)

Data de publicação: 24/04/2014

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE BENS APREENDIDOS. TRÁFICO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO PENDENTE DE TRÂNSITO EM JULGADO. PRECEDENTES. 1. Trata-se de recursos de apelação interpostos por C.S.S. e C.S.R., inconformados com a sentença que indeferiu a restituição de bens apreendidos em cumprimento a mandado de busca e apreensão, apreendido na residência de C.S.S, acusado pela prática, em tese, do crime de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Nas razões, alegam que nenhuma fundamentação válida foi dada para o indeferimento da restituição dos bens apreendidos, ressaltando que não há qualquer comprovação, inclusive no inquérito policial, no sentido de que eles tenham sido adquiridos ou utilizados para prática de ilícitos. Pedem a restituição dos bens ou a sua nomeação como fiéis depositários. 2. Em não havendo sentença transitada em julgado e em sendo duvidosa a origem dos bens apreendidos ou a utilização destes no ilícito,

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a sua apreensão, pelo menos até o final do processo, torna-se impositiva. APELAÇÕES NÃO PROVIDAS. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70058162306, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 16/04/2014)

TJ-PR - Correição Parcial : COR 10355803 PR 1035580-3 (Acórdão)

Ementa

CORREIÇÃO PARCIAL - PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR ALEGADA EXISTÊNCIA DE QUADRILHA - INDEFERIMENTO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA CONHECIMENTO DO RECURSO MEDIDA CAUTELAR QUE NÃO SE JUSTIFICA DIANTE DA INSUFICIÊNCIA DOS ELEMENTOS ACOSTADOS AOS AUTOS DECISÃO MANTIDA RECURSO NÃO PROVIDO