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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO Missão: Promover assistência jurídica aos necessitados, com excelência, efetivando a inclusão social, respaldado na ética e na moralidade. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Paciente: DEMÉTRIO BROETTO Impetrante: Marcello Affonso Barreto Ramires – Defensor Público __________________________________________________________________________________ Defensoria Pública da Infância e Juventude – Complexo do POMERI – Avenida Dante Martins de Oliveira, s/n Planalto Cuiabá/MT - Telefone: (65) 3653-4757 – Fax: (65) 3653-3422 - E-mail: [email protected] 1

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Missão: Promover assistência jurídica aos necessitados, com excelência, efetivando a inclusão social, respaldado na ética e na moralidade.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Paciente: DEMÉTRIO BROETTOImpetrante: Marcello Affonso Barreto Ramires – Defensor Público

Autoridade COATORA: Juízo de Direito da 1ª Vara da Comarca de Cáceres/MT.

HABEAS CORPUS __________________________________________________________________________________

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3422 - E-mail: [email protected]

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Missão: Promover assistência jurídica aos necessitados, com excelência, efetivando a inclusão social, respaldado na ética e na moralidade.

com pedido de concessão liminar da

Ordem

MARCELLO AFFONSO BARRETO RAMIRES, Defensor Público do Estado de Mato Grosso, atuante no núcleo da

Defensoria Pública de Cáceres/MT, cujo endereço encontra-se inserto no rodapé

da presente, vem, com o devido acato, impetrar o presente Writ, com fulcro no art.

5º, LXVIII, da Constituição Federal e nos termos dos arts. 647 e 648, I e VI do

Código de Processo Penal, em favor de DEMÉTRIO BROETTO,

adolescente, convivente, residente e domiciliado na rua Travessa da União, bairro

São José, em Cáceres/MT, submetido a procedimento de apuração de ato

infracional, mediante representação oferecida pelo parquet, como incurso nas

condutas amoldadas no artigo 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, e no artigo 180,

caput, CP, contra ato ilegal do Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da

Primeira Vara da Comarca de Cáceres/MT, apresentando, para tanto, as

seguintes asserções de fato e de direito:

 

DOS FATOS

O Paciente foi representado pelo parquet como

incurso nas condutas amoldadas no artigo 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, e no

artigo 180, caput, CP.__________________________________________________________________________________

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Ao final do procedimento em primeiro grau de

jurisdição, a autoridade apontada como coatora proferiu sentença aplicando ao

paciente a medida sócio-educativa de internação, sendo que assim o fez sem

oportunizar às partes, em especial à defesa, manifestação acerca do laudo

definitivo, já que este foi juntado aos autos após a apresentação das derradeiras

alegações.

Irresignada, a defesa interpôs recurso de

apelação.

Todavia, posto que na processualística menorista

o sobredito recurso não goza de efeito suspensivo (art. 196, VI, ECA), sendo certo

ainda que já foi expedida a guia de execução provisória de execução de medida

sócio-educativa do paciente, se fez necessária a impetração do presente remédio

heróico.

Dito isso, pois bem.

DA NÃO INTIMAÇÃO DAS PARTES PARA MANIFESTAÇÃO ACERCA DO

LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO

Os princípios do contraditório e da ampla defesa foram

erigidos pela Carta Magna de 1988 a direito fundamental da pessoa humana, tal

como se pode extrair de seu art. 5º, inciso LV, que assim dispõe:

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Aos litigantes, em processo judicial ou

administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes.

Versando acerca do princípio do contraditório expõe

FERNANDO CAPEZ:

Compreende, ainda, o direito de serem

cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a

oportunidade de manifestarem-se sobre ele, antes de

qualquer decisão jurisdicional (CF, art. 5º, LV).1

No caso em testilha, vislumbra-se que o laudo toxicológico

definitivo aportou aos autos após o oferecimento das alegações finais, não

havendo intimação das partes para que sobre ele se manifestassem.

Assim sendo, restou transgredido o princípio do contraditório,

dando ensejo à nulidade do feito, a partir de sua juntada ao caderno processual.

Nesse sentido é a jurisprudência do Egrégio SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

PROCESSO PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ART.

12, LEI 6.368/1976. LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO.

1 Curso de Processo Penal, São Paulo: Saraiva, 10ª ed., pg. 19.__________________________________________________________________________________

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JUNTADA TARDIA. INTIMAÇÃO PARA AS PARTES SE

MANIFESTAREM. AUSÊNCIA. AMPLA DEFESA. PREJUÍZO.

NULIDADE DO ÉDITO CONDENATÓRIO. PROLAÇÃO DE

NOVA SENTENÇA. PRISÃO CAUTELAR. EXCESSO DE

PRAZO. ORDEM CONCEDIDA.

A ausência de juntada do laudo toxicológico definitivo até a

audiência de instrução não causa a nulidade do processo, se

sanada a irregularidade, com a intimação das partes para

manifestação e requerimentos pertinentes, antes da prolação

da sentença.

A simples presença física do laudo nos autos antes da

prolação da sentença não supre a nulidade decorrente da

ofensa ao contraditório e à ampla defesa, se não oportunizada

às partes se manifestarem sobre ele.

A falta de manifestação das partes acerca do laudo

toxicológico definitivo tem o condão de invalidar os atos

praticados após sua juntada, pois revelado o prejuízo

ocasionado pela afronta aos princípios da ampla defesa e do

contraditório.

Reconhecida a nulidade da condenação torna-se pertinente a

alegação de excesso de prazo, tendo em vista que a paciente,

recolhida cautelarmente, não deu causa à invalidade da

sentença.

Ordem concedida anular a sentença condenatória e

determinar que outra seja proferida, após intimação das partes

para se pronunciarem sobre o laudo toxicológico definitivo

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juntado aos autos, e ainda, para que aguarde o julgamento em

liberdade, ante o manifesto excesso de prazo.(sem grifos no

original).

(STJ – HC 53.879/PA, Rel. Min. Paulo Medina, 6ª Turma, DJ

01.08.2006, pg. 558).

E o prejuízo ao paciente — para lá de presumido, vez que

diante estamos de uma nulidade de ordem absoluta em razão do desrespeito ao

aludido princípio constitucional — foi concreto, na medida em que a autoridade

coatora se apoiou sobremaneira no laudo definitivo para concluir pela traficância,

vejamos, fls. 180 dos autos de origem:

“ora, o adolescente afirma-nos que é usuário

apenas de pasta base, e tendo em sua residência

sido encontrado um cachimbo, que o mesmo

afirmou ser de sua propriedade, o que nos faz

confirmar o uso da referida substância pelo

representado. Contudo, a droga apreendida no feito em tela não se trata de pasta base (a cocaína, no caso em tela, não encontrava-se em sua forma de pasta), mas sim na forma “ pó e grânulos, (...)” , conforme afirmado no laudo DEFINITIVO de fls. 164. FRISO que tal fato, nos

reforça, ainda, mais o fato de que a droga

apreendida não destinava-se ao uso do representado, pois este não faz uso de

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cocaína em pó (cloridrato), mas sim da pasta de cocaína (pasta base), que é um subproduto da folha de coca diverso do apreendido em poder do representado.” destacamos

Com se vê, não oportunizada à Defesa a manifestação

acerca do laudo definitivo toxicológico, foi inarredável o prejuízo ao paciente,

razão pela qual o presente feito deve ser anulado desde a juntada daquele aos

autos.

DA IMPOSSIBILIDADE DA APLICAÇÃO DE INTERNAÇÃO AO ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO DE TRÁFICO

Na seara da infância e juventude, há

entendimento jurisprudencial firmado no sentido de que o ato infracional análogo

ao tráfico de substâncias entorpecentes não é de grave ameaça ou violência, não

podendo ensejar a drástica medida sócio-educativa de internação.

Sobre o tema os Tribunais têm decidido (HABEAS

CORPUS nº 13283/2004 classe I-09 – Comarca de Juína):

HABEAS CORPUS – ATO INFRACIONAL ATRIBUÍDO A MENOR – INTERNAÇÃO PROVISÓRIA – ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO – NÃO CONFIGURAÇÃO – FEITO JÁ

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SENTENCIADO – ATO INFRACIONAL

ANÁLOGO AO CRIME PREVISTO NO ART. 12

DA LEI 6.368/76 – MEDIDA SOCIOEDUCATIVA

DE INTERNAÇÃO – CONSTRANGIMENTO

ILEGAL EVIDENCIADO – ORDEM CONCEDIDA.

Vejamos, pois pertinente, alguns trechos do que

ficou assentado no voto do Desembargador Mariano Alonso Ribeiro relator do

sobredito writ:

“No entanto, realmente, há outra causa ensejadora de constrangimento ilegal, qual seja a afronta ao art. 122 ECA.É da letra do artigo 122 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente):‘Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:I – tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves;III – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.Parágrafo 1º. O prazo de internação da hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3(três) meses.

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Parágrafo 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.’A medida de internação foi ministrada a

adolescente por praticar ato infracional análogo ao

crime de tráfico de substâncias entorpecentes.

Todavia, a internação do adolescente só deve ser

admitida em casos excepcionais, ou, ainda,

quando esgotados todos os esforços à

reeducação do mesmo, devendo respeitar sua

condição de peculiar pessoa em desenvolvimento.

Ao que se tem, o artigo 122 do Estatuto da

Criança e do Adolescente enumera de forma

taxativa os casos em que se aplica a medida

sócio-educativa de internação.

Dessa forma, mesmo em se tratando

de crime de tráfico de entorpecentes,

ainda que considerado hediondo, é

inaplicável a medida sócio-educativa

de internação quando ausentes os

demais pressupostos autorizativos da

medida (incisos 1, 11 e 111 do artigo

122), por expressa vedação legal.

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Importante registrar, ainda, o parecer ministerial

no mesmo Habeas Corpus:

“É pacífico na doutrina e na jurisprudência que o rol do art. 122 é exaustivo. Ocorre que, pela análise da sentença acostada às fls. 21/23, o caso da menor Jaqueline de Lima Alves não se encaixa em nenhum dos três incisos, o que conduz à impossibilidade de aplicação de medida de internação. Senão, vejamos.À menor foi atribuída a prática do ato infracional tipificado no art. 12 da Lei nº 6.368/76 (tráfico de substância entorpecente), restando a autoria e materialidade devidamente comprovadas, conforme a r. sentença inclusa. Na fundamentação do decisum, em nenhum momento o magistrado faz qualquer alusão ao cometimento de outras infrações pela menor, o que descarta de plano as hipóteses dos incisos II e III. Também nada se registrou no sentido de violência ou grave ameaça à pessoa, nos termos do inciso I.Na verdade, a sentença aplica medida de

internação por considerar que o tráfico é ato de

suma gravidade, com alcance maléfico de

proporções imensuráveis, que põe em risco a

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integridade do meio social. Irretorquível tal juízo,

com o qual o Ministério Público compactua

integralmente.

Contudo, daí a se falar em violência ou grave

ameaça à pessoa vai uma longa distância.

Impossível, pois encaixar o ato da menor numa

das três hipóteses do art. 122. E, como já dito, tal

rol é exaustivo, não admitindo interpretação

extensiva.”

Outro não é o entendimento do Superior Tribunal

de Justiça:

‘RECURSO EM HABEAS CORPUS. MENOR .

ATO INFRACIONAL. TRÁFICO ILÍCITO DE

ENTORPECENTES. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA

OU GRAVE AMEAÇA A PESSOA. MEDIDA

SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO.

DESCABIMENTO. ARTIGO 122 DA LEI 8.069/90.

ENUMERAÇÃO TAXATIVA.

1. O artigo 122 do Estatuto da Criança e do

Adolescente enumera, de forma taxativa, numerus

clausus, as hipóteses de cabimento da medida

sócio-educativa de internação, dentre as quais não

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se enquadra o ato infracional equiparado a tráfico

ilícito de entorpecentes.

Recurso parcialmente provido para que se

imponha ao adolescente medida diversa da

internação.” (RHC 15337/SP, 6ª Turma, Rel. Min.

Hamilton Carvalhido, DJU de 03-05-2004)

Não é correto fundamentar a internação alegando

que o ato infracional em questão é análogo ao tráfico de drogas e que a violência

é da essência de tal delito, como se extrai, cristalinamente, dos julgados

colacionados.

Definitivamente, pois o fato em apreço não

encontra guarida nas hipóteses previstas nos incisos do artigo 122 do Estatuto,

das quais o operador do direito não pode se afastar para decidir se aplica ou não a

medida de internação aos adolescentes envolvidos com atos infracionais.

No mais, e apenas corroborando a assertiva

supra, vale dizer, como o fez Paulo Afonso Garrido de Paula, em sua obra

Menores, Direito e Justiça,2que a internação possui finalidade educativa e curativa,

não sendo outras as razões porquê a Carta Política de 1988 e a legislação

infraconstitucional consagraram os princípios da brevidade, da excepcionalidade e

2 PAULA, Paulo Affonso Garrido de. Menores. Direito e Justiça. São Paulo, Ed. RT, 1989.__________________________________________________________________________________

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do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento quando da

aplicação de qualquer medida privativa de liberdade aos adolescentes.

A despeito da importância dos três princípios, o

que nos revela, aqui, maior importância é o da Excepcionalidade, segundo o qual

a medida de internação deve ser a derradeira trincheira no combate dos

comportamentos indesejados dos adolescentes, sendo aplicada tão-somente nas

taxativas hipóteses encontradiças no artigo 122 do ECA.

Sim, pois a medida de internação é tão severa e

contrária ao conjunto de intenções do ECA que só pode ser aplicada quando

inviável a adoção das demais.

A privação de liberdade, neste contexto, surge

como última ratio, após outras formas de advertência e repreensão, e não como

um fim em si mesmo, mas como um meio de possibilitar aos adolescentes

atividades educacionais que lhe forneçam novos parâmetros de convívio social.

Destarte, havendo possibilidade de ser imposta

medida menos onerosa ao direito de liberdade do adolescente, deve tal ser

imposta em detrimento da internação, sempre levando-se em conta, também, a

peculiar situação de pessoa em desenvolvimento.

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Saliente-se, ademais, que a medida sócio-

educativa de internação não pode ser aplicada como um castigo, conforme já

decidiu nossos Tribunais, vejamos:

“A internação da criança e do adolescente é medida

extrema, recomendável somente quando desaconselhadas

as medidas menos rigorosas.” Grifou-se. 3

“A internação, no âmbito do procedimento especializado

para a apuração de atos infracionais cometidos por

adolescentes, é a medida sócio-educativa mais grave e, por

isso mesmo, apresenta-se como exceção, onde a regra geral

é o mínimo afastamento do infrator do convívio familiar (art.

121, caput, da Lei 8.069/90)” 4

“Apelação. Ato infracional análogo ao crime capitulado no

artigo 157,§2º, inciso I. Medida sócio-educativa de liberdade

assistida.

A gravidade do fato, por si só, não impede a concessão da

medida sócio-educativa de liberdade assistida a adolescente

que, além de se envolver pela primeira vez em ato anti-

social, tem histórico familiar e referências sobre a conduta

social favoráveis, tendo ainda a possibilidade de participar

de programa de ressocialização e curso profissionalizante.

Recurso a que se dá provimento.” 5

Grifou-se.

3 STJ – 6a T. – RHC 7447 – Rel. Luiz Vicente Chernicchiaro – j. 28.05.1998 – DJU 29.06.1998, p. 3234 STJ – 6a T. – HC 8499 – Rel. Fernando Gonçalves – j. 16.04.1999 – DJU 17.05.1999, p. 2435 TJRJ, apelação nº 99.100.00008, 5ª Câmara Criminal

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“Apelação – Estatuto da Criança e do Adolescente

– Ato Infracional – Fato Análogo ao Roubo

Qualificado – Internação – Inconformismo –

Condições Favoráveis – Provimento – Concessão

de Liberdade Assistida.

A gravidade do ato infracional, por si só, não

justifica a aplicação de medida sócio educativa de

internação.

O direcionamento para a aplicação da medida

deverá ser aquele que melhor resultado se obterá

para o desenvolvimento do adolescente como

pessoa útil para a sociedade.

Assim, SE ELE SE MOSTRA ARREPENDIDO,

RECONHECENDO O ERRO COMETIDO, ENCONTRANDO

APOIO DE SEUS FAMILIARES, COM QUEM MANTÉM BOM

RELACIONAMENTO, A MEDIDA DEVERÁ SER MENOS

GRAVOSA .” 6

Grifou-se.

“NO CASO SUB JUDICE SÓ O QUE SE TEM É A GRAVIDADE DO

ATO INFRACIONAL, O QUE NÃO BASTA , como vimos, para a

decretação da internação provisória. Importante ver que o

relatório de assistente social encarregado de entrevistar o

agravado diz que ele mora com a avó e dois irmãos, porque

a mãe é falecida e o pai é desconhecido. Cursou até a 6a

série do 1o grau e abandonou os estudos porque não podia

conciliar estudo e trabalho (trabalhou como Office boy). O

6 TJRJ, apelação nº 2000.10000071, 1ª Câmara Criminal__________________________________________________________________________________

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irmão disse que ele sempre se portou adequadamente, que

não há conflito entre ele com a família e não há

envolvimento com drogas. Os autos não falam mesmo em

antecedentes infracionais. DESTARTE, NÃO HAVIA MESMO

NECESSIDADE IMPERIOSA DE SER DECRETADA A MEDIDA .” 7

(grifos nossos)

“Ato infracional – ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO –

Sentença que impõe medida sócio-educativa consistente em

LIBERDADE ASSISTIDA por 12 meses – Recurso do Ministério

Público, objetivando aplicação da medida de internação –

AUSÊNCIA DE ANTECEDENTES E RESPALDO SÓCIOFAMILIAR

ALIADOS AO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE LABORAL QUE INDICAM

ACERTO DA DECISÃO APELADA – Recurso não provido.” 8

Mister se faz lembrar, eis que salutar, a aplicação da

Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), ratificada pelo Brasil em 20 de setembro de 1.990,

instrumento internacional recepcionado pela Carta Magna de 1988, art. 5º, parágrafo 1º e 2º,

dispondo que a internação do adolescente deve ser usada como último recurso, e por período

breve, vejamos:

AARTIGORTIGO 37 37 – O– OSS E ESTADOSSTADOS--PARTESPARTES ASSEGURARÃOASSEGURARÃO QUEQUE::...... NNENHUMAENHUMA CRIANÇACRIANÇA SEJASEJA PRIVADAPRIVADA DEDE SUASUA LIBERDADELIBERDADE DEDE FORMAFORMA ILEGALILEGAL OUOU ARBITRÁRIAARBITRÁRIA. A . A DETENÇÃODETENÇÃO, , AA RECLUSÃORECLUSÃO OUOU AA PRISÃOPRISÃO DEDE UMAUMA CRIANÇACRIANÇA, , SERÁSERÁ EFETUADAEFETUADA EMEM CONFORMIDADECONFORMIDADE COMCOM AA LEILEI EE APENASAPENAS COMOCOMO ÚLTIMOÚLTIMO RECURSORECURSO, , EE DURANTEDURANTE OO MAISMAIS BREVEBREVE PERÍODOPERÍODO DEDE TEMPOTEMPO QUEQUE FORFOR APROPRIADOAPROPRIADO..

7 TJSP – AI 262.202-0/2 – Rel. Oliveira Passos8 TJSP – Câm. Esp. – Acv 43.269-0 – Rel. Álvaro Lazzarini – j. 25.06.1998

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Missão: Promover assistência jurídica aos necessitados, com excelência, efetivando a inclusão social, respaldado na ética e na moralidade.

TTODAODA CRIANÇACRIANÇA PRIVADAPRIVADA DADA LIBERDADELIBERDADE SEJASEJA TRATADATRATADA COMCOM HUMILDADEHUMILDADE EE OO RESPEITORESPEITO QUEQUE MERECEMERECE AA DIGNIDADEDIGNIDADE INERENTEINERENTE ÀÀ PESSOAPESSOA HUMANAHUMANA, , EE LEVANDOLEVANDO--SESE EMEM CONSIDERAÇÃOCONSIDERAÇÃO ASAS NECESSIDADESNECESSIDADES DEDE UMAUMA PESSOAPESSOA DEDE SUASUA IDADEIDADE. E. EMM ESPECIALESPECIAL,, TODATODA CRIANÇACRIANÇA PRIVADAPRIVADA DEDE SUASUA LIBERDADELIBERDADE FICARÁFICARÁ SEPARADASEPARADA DEDE ADULTOSADULTOS, , AA NÃONÃO SERSER QUEQUE TALTAL FATOFATO SEJASEJA CONSIDERADOCONSIDERADO CONTRÁRIOCONTRÁRIO AOSAOS MELHORESMELHORES INTERESSESINTERESSES DADA CRIANÇACRIANÇA, , EE TERÁTERÁ DIREITODIREITO AA MANTERMANTER CONTATOCONTATO COMCOM SUASUA FAMÍLIAFAMÍLIA PORPOR MEIOMEIO DEDE CORRESPONDÊNCIACORRESPONDÊNCIA OUOU DEDE VISITASVISITAS, , SALVOSALVO EMEM CIRCUNSTÂNCIASCIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAISEXCEPCIONAIS..

TTODAODA CRIANÇACRIANÇA PRIVADAPRIVADA SUASUA LIBERDADELIBERDADE TENHATENHA DIREITODIREITO AA RÁPIDORÁPIDO ACESSOACESSO AA ASSISTÊNCIAASSISTÊNCIA JURÍDICAJURÍDICA EE AA QUALQUERQUALQUER OUTRAOUTRA ASSISTÊNCIAASSISTÊNCIA ADEQUADAADEQUADA, , BEMBEM COMOCOMO DIREITODIREITO AA IMPUGNARIMPUGNAR AA LEGALIDADELEGALIDADE DADA PRIVAÇÃOPRIVAÇÃO DEDE SUASUA LIBERDADELIBERDADE PERANTEPERANTE UMUM TRIBUNALTRIBUNAL OUOU OUTRAOUTRA AUTORIDADEAUTORIDADE COMPETENTECOMPETENTE, , INDEPENDENTEINDEPENDENTE EE IMPARCIALIMPARCIAL EE AA UMAUMA RÁPIDARÁPIDA DECISÃODECISÃO AA RESPEITORESPEITO DEDE TALTAL AÇÃOAÇÃO..

Como se vê, não há como se perpetuar o ato

apontado como ilegal, pois que ameaça indevidamente a liberdade do paciente.

De outro lado, a autoridade coatora fundamenta a

necessidade da segregação do paciente com base nas certidões de fls. 29/32 dos

autos de origem, as quais sequer atestam se os procedimentos ali constantes

transitaram em julgado ou não.

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A respeito do assunto, esse Sodalício (6ª Cam.

Cível – Recurso de Apelação Cível nº 33996/2006 – Classe II – 19 – Comarca da

Capital – Rel. Des. Mariano Alonso Ribeiro Travassos – j. 04.10.2006 – DJ

09.10.2006), ao reformar sentença que aplicou internação a um adolescente pela

alegação de reiteração na prática delitiva, posicionou-se da seguinte forma:

Recurso de Apelação Cível nº 33996/2006 –

Classe II – 19 – Comarca da Capital – Rel. Des.

Mariano Alonso Ribeiro Travassos – j. 04.10.2006

– DJ 09.10.2006

EMENTA:

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL-REPRESENTAÇÃO DE ATO INFRACIONAL-SENTENÇA QUE JULGA PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO DO MP- APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO-PRELIMINAR- NULIDADE PROCESSUAL-DESACOLHIDA- NO MÉRITO-RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

VOTO (MÉRITO)

EXMO. SR. DES. MARIANO ALONSO RIBEIRO

TRAVASSOS (RELATOR)

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Egrégia Turma:

O Apelante hostiliza a r. sentença recorrida

sustentando que não se encontram presentes os

pressupostos legais autorizadores da aplicação da

medida sócioeducativa de internação.

No contexto de sua sentença afirmou o MM.

Julgador:

“...No concernente à aplicação da medida sócio-

educativa, muito embora se constate que a

infração praticada pelo jovem, não se revestiu de

violência ou grave ameaça à pessoa, constata-se

da certidão de fls. 15/17, que são várias as

passagens do representado por este Juízo,

demonstrando não dissuadido da prática delitiva,

presumindo-se assim, que a aplicação de uma

medida mais branda não será suficiente na

reeducação deste jovem, eis que já está

estruturado no meio infracional.” (Sent. Fl. 51)

Estaria, pois, a respectiva decisão

consubstanciada no inciso II do art. 122 do ECA?

Lastreando a sua tese de que não há, in casu, a reiteração a que se refere o inciso II do art.

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122 do ECA, para sustentar a aplicação da medida de internação do menor/Apelante, a defesa traz à colação o acórdão unânime do Colendo Conselho da Magistratura do TJMT, de relatoria do eminente Dês. José Ferreira Leite que estabeleceu a inteligência legal a respeito. (fls. 57/60)

Realmente, fixou o douto Relator em seu voto:

“... Examinando detidamente os autos, porém, tenho que não deve prevalecer o entendimento esposado pela douta julgadora no presente feito.

E assim entendo porque não há nos autos a indicar que o apelante já fora condenado, com trânsito em julgado, nos procedimentos descritos na certidão de fls. 35, quais sejam: roubo, porte ilegal de arma, homicídios e tentativa de homicídio, de modo que, considerar tais infrações para a aplicação de medida sócio-educativa tão drástica como a internação viola o princípio da presunção de inocência, esculpido na Constituição Federal,

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no art. 5º, LVII, que possui o seguinte teor, verbis:

‘art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória’;” (fls; 58/59)

Ainda no respectivo voto foi transcrito ementa de acórdão do TJMG nesse sentido.

“Ementa: Agravo – Pedido de Custódia Preventiva de Menor – Não demonstração dos requisitos necessários – Indeferimento – Inteligência do art. 174 do ECA – Reiteração de Atos Infracionais – Ausência de decisão com trânsito em julgado – Princípio de Presunção de Não-culpabilidade – Negado Provimento ao

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recurso.” (TJMG – 3ª Cam. Criminal, RAC n° 000282279-9/00 – Rel. Gomes Lima, j. 04-02-03, DJ 19-3-03) (grifo nosso)

Parece certo, pois, que não basta o fato do menor apresentar antecedentes, para justificar, por si só, a aplicação da medida socioeducativa de internação.

Por reiteração no cometimento de outras infrações graves (inciso II, art. 122), como bem acentua Emílio Garcia Mendez, representante da UNICEF/América do Sul, “...refere-se ao requisito prévio da existência de atos infracionais graves, também devidamente com provadas, que tiveram como conseqüência qualquer das medidas previstas no art. 112, com exceção da própria medida de internação.” (apud Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado – 6ª edição – p. 416)

Creio que transparece como certo o entendimento fixado pelo Colendo Conselho da Magistratura que para se falar em reiteração a interagir na aplicação da medida

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socioeducativa de internação é imprescindível que haja decisão transitada em julgado. 9

(Grifo nosso)

Destarte, a privação da liberdade do paciente

reveste-se de grave ilegalidade, eis que sem amparo na Legislação que informa a

matéria, trazendo graves e irreparáveis prejuízos ao mesmo. 

De qualquer sorte Excelências, a celeuma jurídico-

repressiva existente em torno da questão em epígrafe não enseja a aplicação de

uma medida tão gravosa como a segregação do paciente, vez que não se

encontra presente justa causa ou razão plausível para a atitude ilegal da

autoridade coatora indicada.

A Constituição Federal, o Código de Processo

Penal Brasileiro, bem como o Estatuto da Criança e do Adolescente prescrevem,

respectivamente:

 

CF, Art. 5º...

9 TJ/MT – 6ª Cam. Cível – Recurso de Apelação Cível nº 33996/2006 – Classe II – 19 – Comarca da Capital – Rel. Dês. Mariano Alonso Ribeiro Travassos – j. 04.10.2006 – DJ 09.10.2006.

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LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

CP, Art. 647.  Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

CP, Art. 648.  A coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa; ...

ECA, Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.

Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios

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suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

ECA, Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.

Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

Outros dispositivos legais vão na mesma esteira

da inadmissibilidade da segregação do paciente, vez que não encontram-se

presentes as causas que ensejam a sua internação, razão por que deve ser

imediatamente desinternado.

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DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR 

O caso em tela comporta prestação jurisdicional

liminar, posto que presentes os pressupostos necessários para tanto.

A plausibilidade jurídica da concessão da liminar

encontra-se devidamente caracterizada. O fumus boni iuris foi devidamente

demonstrado pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos alhures explicitados.

O periculum in mora, por sua vez, é patente, em

virtude do direito envolvido, bem como pel o fato de que o paciente está

segregado em estabelecimento inadequado, que não cumpre seu papel

ressocializador em face do ser humano em desenvolvimento.

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer seja liminarmente

concedida ordem de Habeas Corpus, sendo expedido o competente alvará de

soltura em favor do paciente.

Após as informações da autoridade coatora,

requer seja concedida definitivamente a ordem impetrada, desinternando-se o

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paciente e anulando-se o feito desde a juntada do aludido laudo toxicológico

definitivo.

Pede deferimento 

Cáceres, 31 de janeiro de 2.008.

MARCELLO AFFONSO BARRETO RAMIRESDefensor Público

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