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MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
EXMO SR JUIZ DE DIREITO DA 1ordf VARA DA FAZENDA PUacuteBLICA DA
COMARCA DE MOSSOROacute-RN
O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
atraveacutes da Deacutecima Nona Promotora de Justiccedila e no uso de suas atribuiccedilotildees legais
conferidas pelos artigos 37 sect 4ordm 127 caput 129 inciso III da Constituiccedilatildeo Federal de
1988 art 25 inciso IV aliacutenea lsquoarsquo da Lei nordm 862593 na Lei nordm 734785 e art 62 inciso
I da Lei Complementar nordm 14196 e com fundamento nos artigos 966 sect 4ordm e 967 III do
Coacutedigo de Processo Civil vem mui respeitosamente agrave presenccedila de Vossa Excelecircncia
com supedacircneo no Inqueacuterito Civil nordm 06201600002691-9 propor a presente
ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE DE ACORDO
HOMOLOGADO JUDICIALMENTE CC TUTELA CAUTELAR
em face de
MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute pessoa juriacutedica de direito
puacuteblico interno com sede na Prefeitura Municipal de Mossoroacute
situada agrave Av Alberto Maranhatildeo 1751 Centro Mossoroacute-RN
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
DIOacuteGENES DA CUNHA LIMA brasileiro casado advogado
inscrito no CPFMF nordm 003049994-15 portador do RG nordm 48941
SSPRN domiciliado na Av Hermes da Fonseca nordm 957 Tirol
Natal Rio Grande do Norte
CENTRAL PARK INCORPORADORA LTDA pessoa juriacutedica
de direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm
157068280001-37 com sede na Av Coelho Neto 62 Alto da
Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN representada legalmente pelos Sr
WILSON RODRIGUES FERNANDES brasileiro casado
empresaacuterio inscrito no CPFMF nordm 293965494-87 portador do
RG nordm 595392 SSPRN residente e domiciliado agrave Rua Coronel
Faustino nordm 238 Alto da Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN
MONTANA CONSTRUCcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de
direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 084754360001-
49 com sede na Rua Presidente Quaresma nordm817 Alecrim
Natal-RN representada legalmente pelo Sr JOSEacute GILMAR DE
CARVALHO LOPES brasileiro divorciado empresaacuterio
inscrito no CPFMF nordm 106123274-34 portador do RG nordm
192033 SSPRN residente e domiciliado agrave Av Amintas Barros
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nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN
JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito
privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com
sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro
Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN
JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no
CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN
residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo
sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia
Mossoroacute-RN
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados
I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO
Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna
com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na
tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui
idade superior a 60 (sessenta anos)
1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia
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II - DOS FATOS
O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da
celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta
Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da
cidade de MossoroacuteRN
Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal
Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995
Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste
da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro
mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001
um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a
retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de
tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os
terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas
depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas
De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um
terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos
Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence
ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html
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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de
empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma
contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de
um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio
puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a
aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio
histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm
1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai
do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e
vai ateacute o Bairro Belo Horizonte
Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade
de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da
3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
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Telefone (84) 3316-6365
Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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DIOacuteGENES DA CUNHA LIMA brasileiro casado advogado
inscrito no CPFMF nordm 003049994-15 portador do RG nordm 48941
SSPRN domiciliado na Av Hermes da Fonseca nordm 957 Tirol
Natal Rio Grande do Norte
CENTRAL PARK INCORPORADORA LTDA pessoa juriacutedica
de direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm
157068280001-37 com sede na Av Coelho Neto 62 Alto da
Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN representada legalmente pelos Sr
WILSON RODRIGUES FERNANDES brasileiro casado
empresaacuterio inscrito no CPFMF nordm 293965494-87 portador do
RG nordm 595392 SSPRN residente e domiciliado agrave Rua Coronel
Faustino nordm 238 Alto da Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN
MONTANA CONSTRUCcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de
direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 084754360001-
49 com sede na Rua Presidente Quaresma nordm817 Alecrim
Natal-RN representada legalmente pelo Sr JOSEacute GILMAR DE
CARVALHO LOPES brasileiro divorciado empresaacuterio
inscrito no CPFMF nordm 106123274-34 portador do RG nordm
192033 SSPRN residente e domiciliado agrave Av Amintas Barros
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nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN
JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito
privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com
sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro
Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN
JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no
CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN
residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo
sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia
Mossoroacute-RN
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados
I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO
Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna
com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na
tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui
idade superior a 60 (sessenta anos)
1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia
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II - DOS FATOS
O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da
celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta
Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da
cidade de MossoroacuteRN
Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal
Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995
Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste
da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro
mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001
um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a
retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de
tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os
terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas
depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas
De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um
terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos
Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence
ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html
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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de
empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma
contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de
um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio
puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a
aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio
histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm
1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai
do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e
vai ateacute o Bairro Belo Horizonte
Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade
de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da
3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN
JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito
privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com
sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro
Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN
JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no
CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN
residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo
sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia
Mossoroacute-RN
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados
I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO
Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna
com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na
tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui
idade superior a 60 (sessenta anos)
1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia
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II - DOS FATOS
O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da
celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta
Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da
cidade de MossoroacuteRN
Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal
Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995
Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste
da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro
mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001
um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a
retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de
tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os
terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas
depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas
De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um
terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos
Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence
ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html
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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de
empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma
contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de
um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio
puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a
aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio
histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm
1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai
do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e
vai ateacute o Bairro Belo Horizonte
Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade
de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da
3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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II - DOS FATOS
O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da
celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta
Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da
cidade de MossoroacuteRN
Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal
Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995
Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste
da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro
mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001
um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a
retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de
tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os
terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas
depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas
De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um
terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos
Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence
ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html
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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de
empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma
contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de
um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio
puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a
aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio
histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm
1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai
do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e
vai ateacute o Bairro Belo Horizonte
Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade
de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da
3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de
empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma
contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de
um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio
puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a
aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio
histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm
1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai
do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e
vai ateacute o Bairro Belo Horizonte
Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade
de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da
3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a
Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros
equipamentos de lazer na aacuterea
Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua
operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e
abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de
operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro
Municipal Dix-Huit Rosado
Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7
de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute
onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro
foram leiloados
5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm
41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu
os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e
noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de
Mossoroacute-RN
Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta
dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto
de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA
atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse
de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-
Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av
Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco
onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos
termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo
Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi
informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo
depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de
Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado
A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde
estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado
O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos
terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil
de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das
coisas I ndash pelo abandonordquo
Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por
meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia
bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era
de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela
Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o
imoacutevel
Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista
integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de
Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens
pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para
13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo
necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave
consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era
imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela
empresa16
No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-
Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens
pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007
atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era
aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos
A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea
conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano
16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos
ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava
instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute
Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que
transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001
ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade
do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios
encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$
24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)
Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido
inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e
dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da
cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente
discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea
Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA
protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria
entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora
o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la
O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse
da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm
20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que
fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019
Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20
dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo
em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico
municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior
No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do
instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel
particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais
impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao
possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular
indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face
dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de
indenizaccedilatildeo por perdas e danos
Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez
que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de
sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21
A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de
Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado
19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute
DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN
Telefone (84) 3316-6365
7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente
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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-
tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central
Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam
com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-
mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-
calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-
te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-
ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-
se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo
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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-
cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas
que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-
laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-
veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e
ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento
Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-
recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do
acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves
da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-
secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo
O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio
de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de
Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo
haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo
Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia
ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse
puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena
de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo
Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e
pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem
submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio
O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso
de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma
das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o
recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do
Ministeacuterio Puacuteblicordquo27
Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado
pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-
des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-
nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com
a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados
em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das
aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute
27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante
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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma
Fluxograma 01
JF = Justiccedila Federal
VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica
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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado
Fluxograma 02
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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro
Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse
foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no
acordo
29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 01
III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE
NULIDADE
Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785
que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica
Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)
Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que
Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico
(hellip)
IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei
a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos
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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem
Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica
evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para
resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo
Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo
Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm
do art 966 cujo texto diz que
Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)
sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)
Segundo Misael Montenegro Filho30
A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)
O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema
30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018
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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)
No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se
baseou o acordo ora vergastado
Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de
desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo
absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao
particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade
dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de
posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais
um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a
particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel
31 Natildeo houve pagamento em dinheiro
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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em
casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a
elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o
gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de
imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente
decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja
destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001
onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras
toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma
funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem
que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo
os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a
prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados
Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em
geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos
administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados
Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela
inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002
determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico
Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a
autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de
pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem
puacuteblico
Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos
praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a
homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os
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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo
anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil
No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila
meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as
partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute
cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico
em discussatildeo
IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE
A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo
imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial
praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34
Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas
hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato
negocialrdquo
Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos
uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o
que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido
34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291
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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la
leciona Flaacutevio Tartuce36
quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)
O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte
decisatildeo
APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)
No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila
36 Ibid p 293
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)
Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio
insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo
decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela
prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o
que ocorre no presente caso
V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o
acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de
Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda
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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees
Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado
efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que
atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees
Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37
Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo
Mapa 0238
37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem
legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide
VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE
COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL
O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca
em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de
Azevedo
Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba
Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a
possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente
litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte
Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a
Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei
734785 Vejamos
Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)
A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto
Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as
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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)
Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos
um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas
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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute
integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial
devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas
no acordo ora rebatido
VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da
presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO
Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado
incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveisrdquo
Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina
em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o
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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para
que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico
Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles
destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson
Nery Juacutenior40
Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico
A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano
Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para
a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo
487
Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular
39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660
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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)
O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do
nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos
Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)
Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter
sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo
Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo
de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute
ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses
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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)
O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor
dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais
e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos
cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos
Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas
relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto
funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a
harmonia entre os Poderes
Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha
relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio
cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico
vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e
indisponiacutevel
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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e
proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo
que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo
do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo
Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila
homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da
participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide
ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)
Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse
ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo
em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o
patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute
O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses
constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para
atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais
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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local
(Lei 15072001)
Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por
princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico
e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre
Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo
Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41
Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)
Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de
igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados
dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles
condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos
dominicais
Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio
tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o
melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade
Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo
versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez
41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677
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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema
relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense
Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens
indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam
obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da
obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo
devidamente especificados a seguir
VIII - DO DIREITO
VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA
No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse
natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza
especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse
sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam
Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um
42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32
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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar
O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes
inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente
relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos
do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive
enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias
Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos
possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido
instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso
paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens
imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente
Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos
terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio
Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm
002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima
apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa
44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Mapa 0345
A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros
da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse
registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos
45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha
os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e
propriedade satildeo institutos diferentes e independentes
Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave
alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem
pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr
Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos
Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da
Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos
direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA
VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita
A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado
na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de
procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio
de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e
justa indenizaccedilatildeo
Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho
pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e
os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria
No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute
irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o
direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48
Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo
judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos
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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no
Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade
puacuteblica
De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial
no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e
interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal
dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da
aacuterea dentre outros49
Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao
duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo
de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal
49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os
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responsaacutevel
Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o
pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de
forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi
expropriado
Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma
imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo
fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em
dinheiro
Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo
particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo
demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR
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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a
controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta
Vejamos os exatos termos da Decisatildeo
Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe
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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso
do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das
perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados
Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de
posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de
laudo pericial e em dinheiro
No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia
desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo
possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo
extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade
com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo
para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea
estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural
Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha
feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute
sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de
suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo
mossoroense
Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do
reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que
originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o
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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute
anteriormente pertencente a particulares
Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade
conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei
todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade
estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os
agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente
previsto na legislaccedilatildeo
Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55
O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo
55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017
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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)
Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em
oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina
expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo
por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em
dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o
pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados
ao particular
Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da
legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo
Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-
Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e
precisa ser anulado
VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse
O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser
desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em
regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre
56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro
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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e
obrigaccedilotildees
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto
imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto
um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como
todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem
direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58
Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag
1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010
Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da
posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse
57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010
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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59
Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)
O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de
modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute
recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma
quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da
terra nua
Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior
Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que
O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)
O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos
gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da
posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente
59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993
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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial
Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel
somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas
serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse
exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de
indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo
indenizada
No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro
cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a
Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61
Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de
propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no
Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001
61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe
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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes
Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como
comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a
Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse
na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda
edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute
detalhado na siacutentese faacutetica do caso
Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes
da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser
quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de
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posse das glebas natildeo da propriedade
Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos
os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria
competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a
desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de
tiacutetulo anterior
Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora
firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter
seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus
direitos de posse e propriedade
VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973
O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em
que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do
reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da
referida legislaccedilatildeo Vejamos
Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos
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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente
Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas
proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo
efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente
Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62
Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria
62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018
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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)
Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao
reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos
PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)
APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE
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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)
Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a
sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo
excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a
ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua
omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame
A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de
jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso
significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material
No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente
afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave
remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a
qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer
justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou
seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia
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produzir efeito algum
Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a
presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio
Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e
sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de
2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum
ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do
CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito
reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)
valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo
VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados
De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em
trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da
coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos
63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado
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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade
nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo
desafetados
As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a
terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e
101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais
podem ser objeto de alienaccedilatildeo
Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)
Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo
e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65
assevera que os bens
que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)
Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de
Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676
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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)
No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo
homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local
em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos
equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede
67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono
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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito
ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo
de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona
Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68
A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)
Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens
que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos
alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou
seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que
estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do
Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela
inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava
a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica
irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da
desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns
requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676
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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis
puacuteblicos
Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes
institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura
concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69
Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a
Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)
justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)
realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis
(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei
especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70
No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71
que
vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)
69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218
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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento
juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute
subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e
Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)
Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)
Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes
ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao
art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei
Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute
Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta
72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros
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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)
Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a
realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de
Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo
demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a
avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa
Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona
que
O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)
Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que
73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323
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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)
Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens
puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um
instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos
impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica
sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em
desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo
Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine
qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute
necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da
transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores
garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo
causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a
diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio
A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de
bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao
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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do
agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-
Tribunal de Contas da Uniatildeo 75
Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)
Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute
possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem
transferidos possui
Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a
realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em
pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade
de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa
Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby
Fernandes76 Vejamos
A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno
75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214
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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)
Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da
alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de
Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees
Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno
direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a
sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem
natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo
posterior dos atos praticados
Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de
imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento
passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade
do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo
VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios
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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e
imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada
por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e
natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para
satisfazer a pretensatildeo do credor
Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de
extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito
da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime
O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)
O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma
vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o
Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196
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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da
propriedade
O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu
que
Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas
A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes
O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor
principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e
determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo
edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento
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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais
Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da
propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade
de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no
plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas
De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da
Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo
ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal
Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o
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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei
Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112
dispocircs o seguinte
Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco
Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as
necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento
das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis
para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio
Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas
fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor
Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute
devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do
desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer
integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo
do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as
prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara
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Municipal
Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas
no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e
material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees
irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute
abordado em toacutepico adiante
Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que
demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar
a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos
referir aos imoacuteveis da seguinte forma
Mapa 04
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Terreno 01-A pertencente agrave Montana
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Terreno 02-A pertencente agrave Montana
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Terreno 03-A pertencente agrave Montana
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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes
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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes
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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando
de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi
celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente
ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do
Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios
Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da
empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da
presente accedilatildeo
VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente
Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos
miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses
elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito
Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro
Vejamos
Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa
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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo
Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade
do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara
Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute
Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela
entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral
do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a
legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e
passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil
Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita
possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo
havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em
pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes
da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da
separaccedilatildeo dos Poderes79
Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos
terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem
como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi
celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado
79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio
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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel
determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio
Tartuce80
Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)
O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado
consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade
aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em
que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma
condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer
tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do
bem
Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a
lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a
celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio
que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185
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da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem
autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo
tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico
Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera
essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de
bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo
legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens
puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior
Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente
que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor
Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a
convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com
efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo
VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos
demandados
O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha
Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a
motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos
terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos
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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis
Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o
poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido
como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees
legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar
nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos
Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)
Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de
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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)
Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea
localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de
reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo
de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos
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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes
Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o
grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi
utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de
construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor
do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas
pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes
A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea
primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa
indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da
regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma
desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como
propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense
Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea
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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob
o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da
Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do
Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o
intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da
construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada
Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima
descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de
ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis
Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em
aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as
partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo
mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em
razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data
IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA
SEGUNDA DO ACORDO
Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras
nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula
Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007
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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a
Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel
por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades
vizinhas
Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja
nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo
Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode
ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando
Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82
Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute
responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do
Decreto-lei nordm 336541
Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo
Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute
esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664
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Telefone (84) 3316-6365
Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do
imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83
Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico
(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center
oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da
aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta
como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa
X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER
O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela
provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou
evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de
urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental
Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar
83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental
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e a antecipada eacute que
A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)
Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois
consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute
providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a
coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos
decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor
Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85
A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)
No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano
ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio
85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018
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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de
urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea
abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da
Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo
da presente demanda
Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado
o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem
em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do
patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse
modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos
terrenos
Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees
sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares
prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a
exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos
O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes
notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave
construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados
A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro
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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de
extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente
existente que autorize a obra
Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo
da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil
do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo
seja ela deferida
XI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do
Norte
a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no
prazo legal sob pena de revelia
b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide
no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio
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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a
finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a
construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como
seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo
benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea
desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a
soluccedilatildeo da presente demanda
d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a
nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo
dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser
registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute
e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave
Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact
Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)
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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park
Incorporadora
f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo
localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos
causados agrave aacuterea
g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular
proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco
em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data
h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito
admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos
envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas
Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000
Nesses termos pede deferimento
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila
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ROL DE TESTEMUNHAS
1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260
2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060
3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755
4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE
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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100
Mossoroacute 13 de agosto de 2019
Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente