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MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE 19ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MOSSORÓ DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E TUTELA DE FUNDAÇÕES Alameda das Imburanas, n. 850, Presidente Costa e Silva, Mossoró/RN Telefone: (84) 3316-6365 EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE MOSSORÓ-RN O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através da Décima Nona Promotora de Justiça e no uso de suas atribuições legais, conferidas pelos artigos 37, § 4º, 127, caput, 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988; art. 25, inciso IV, alínea ‘a’, da Lei n.º 8.625/93, na Lei nº 7.347/85 e art. 62, inciso I da Lei Complementar n.º 141/96 e com fundamento nos artigos 966, § 4º e 967, III do Código de Processo Civil, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com supedâneo no Inquérito Civil nº 06.2016.00002691-9, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ACORDO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE C/C TUTELA CAUTELAR em face de MUNICÍPIO DE MOSSORÓ, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Prefeitura Municipal de Mossoró, situada à Av. Alberto Maranhão, 1751, Centro, Mossoró-RN;

MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE 19ª …

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MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute

DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

EXMO SR JUIZ DE DIREITO DA 1ordf VARA DA FAZENDA PUacuteBLICA DA

COMARCA DE MOSSOROacute-RN

O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

atraveacutes da Deacutecima Nona Promotora de Justiccedila e no uso de suas atribuiccedilotildees legais

conferidas pelos artigos 37 sect 4ordm 127 caput 129 inciso III da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 art 25 inciso IV aliacutenea lsquoarsquo da Lei nordm 862593 na Lei nordm 734785 e art 62 inciso

I da Lei Complementar nordm 14196 e com fundamento nos artigos 966 sect 4ordm e 967 III do

Coacutedigo de Processo Civil vem mui respeitosamente agrave presenccedila de Vossa Excelecircncia

com supedacircneo no Inqueacuterito Civil nordm 06201600002691-9 propor a presente

ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE DE ACORDO

HOMOLOGADO JUDICIALMENTE CC TUTELA CAUTELAR

em face de

MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute pessoa juriacutedica de direito

puacuteblico interno com sede na Prefeitura Municipal de Mossoroacute

situada agrave Av Alberto Maranhatildeo 1751 Centro Mossoroacute-RN

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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

DIOacuteGENES DA CUNHA LIMA brasileiro casado advogado

inscrito no CPFMF nordm 003049994-15 portador do RG nordm 48941

SSPRN domiciliado na Av Hermes da Fonseca nordm 957 Tirol

Natal Rio Grande do Norte

CENTRAL PARK INCORPORADORA LTDA pessoa juriacutedica

de direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm

157068280001-37 com sede na Av Coelho Neto 62 Alto da

Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN representada legalmente pelos Sr

WILSON RODRIGUES FERNANDES brasileiro casado

empresaacuterio inscrito no CPFMF nordm 293965494-87 portador do

RG nordm 595392 SSPRN residente e domiciliado agrave Rua Coronel

Faustino nordm 238 Alto da Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN

MONTANA CONSTRUCcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de

direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 084754360001-

49 com sede na Rua Presidente Quaresma nordm817 Alecrim

Natal-RN representada legalmente pelo Sr JOSEacute GILMAR DE

CARVALHO LOPES brasileiro divorciado empresaacuterio

inscrito no CPFMF nordm 106123274-34 portador do RG nordm

192033 SSPRN residente e domiciliado agrave Av Amintas Barros

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Telefone (84) 3316-6365

nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN

JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito

privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com

sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro

Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN

JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no

CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN

residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo

sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia

Mossoroacute-RN

pelos fatos e fundamentos a seguir delineados

I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO

Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna

com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na

tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui

idade superior a 60 (sessenta anos)

1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia

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II - DOS FATOS

O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da

celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta

Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da

cidade de MossoroacuteRN

Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal

Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995

Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste

da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro

mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001

um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a

retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de

tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os

terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas

depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas

De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um

terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos

Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence

ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html

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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de

empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma

contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de

um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio

puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a

aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio

histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm

1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai

do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e

vai ateacute o Bairro Belo Horizonte

Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade

de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da

3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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DIOacuteGENES DA CUNHA LIMA brasileiro casado advogado

inscrito no CPFMF nordm 003049994-15 portador do RG nordm 48941

SSPRN domiciliado na Av Hermes da Fonseca nordm 957 Tirol

Natal Rio Grande do Norte

CENTRAL PARK INCORPORADORA LTDA pessoa juriacutedica

de direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm

157068280001-37 com sede na Av Coelho Neto 62 Alto da

Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN representada legalmente pelos Sr

WILSON RODRIGUES FERNANDES brasileiro casado

empresaacuterio inscrito no CPFMF nordm 293965494-87 portador do

RG nordm 595392 SSPRN residente e domiciliado agrave Rua Coronel

Faustino nordm 238 Alto da Conceiccedilatildeo Mossoroacute-RN

MONTANA CONSTRUCcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de

direito privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 084754360001-

49 com sede na Rua Presidente Quaresma nordm817 Alecrim

Natal-RN representada legalmente pelo Sr JOSEacute GILMAR DE

CARVALHO LOPES brasileiro divorciado empresaacuterio

inscrito no CPFMF nordm 106123274-34 portador do RG nordm

192033 SSPRN residente e domiciliado agrave Av Amintas Barros

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nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN

JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito

privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com

sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro

Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN

JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no

CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN

residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo

sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia

Mossoroacute-RN

pelos fatos e fundamentos a seguir delineados

I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO

Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna

com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na

tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui

idade superior a 60 (sessenta anos)

1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia

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II - DOS FATOS

O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da

celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta

Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da

cidade de MossoroacuteRN

Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal

Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995

Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste

da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro

mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001

um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a

retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de

tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os

terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas

depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas

De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um

terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos

Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence

ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html

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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de

empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma

contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de

um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio

puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a

aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio

histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm

1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai

do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e

vai ateacute o Bairro Belo Horizonte

Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade

de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da

3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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nordm 5348 Nova Descoberta Natal-RN

JARDIM PARTICIPACcedilOtildeES LTDA pessoa juriacutedica de direito

privado inscrita no CNPJMF sob o nordm 204033910001-00 com

sede na Praccedila Getuacutelio Vargas nordm 35 1ordm andar Sala 07 Centro

Mossoroacute-RN representada legalmente pelo Sr GENIVAN

JOSUEacute BATISTA brasileiro casado empresaacuterio inscrito no

CPFMF nordm 011523514-00 portador do RG nordm 64623 SSPRN

residente e domiciliado agrave Rua Deocleciano Venceslau da Paixatildeo

sn Condomiacutenio Spazio di Mocircnaco Apto 1301 Nova Betacircnia

Mossoroacute-RN

pelos fatos e fundamentos a seguir delineados

I ndash DA PRIORIDADE NA TRAMITACcedilAtildeO DO PROCESSO

Inicialmente o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte pugna

com fulcro no art 71 da Lei nordm 1074120031 (Estatuto do Idoso) pela preferecircncia na

tramitaccedilatildeo do presente processo uma vez que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima possui

idade superior a 60 (sessenta anos)

1 Art 71 Eacute assegurada prioridade na tramitaccedilatildeo dos processos e procedimentos e na execuccedilatildeo dos atose diligecircncias judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a60 (sessenta) anos em qualquer instacircncia

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II - DOS FATOS

O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da

celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta

Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da

cidade de MossoroacuteRN

Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal

Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995

Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste

da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro

mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001

um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a

retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de

tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os

terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas

depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas

De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um

terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos

Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence

ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html

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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de

empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma

contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de

um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio

puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a

aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio

histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm

1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai

do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e

vai ateacute o Bairro Belo Horizonte

Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade

de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da

3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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II - DOS FATOS

O acordo extrajudicial que a presente accedilatildeo busca anular originou-se a partir da

celeuma existente em relaccedilatildeo aos terrenos que integravam o patrimocircnio da extinta

Rede Ferroviaacuteria Federal SA (RFFSA) localizados na Avenida Rio Branco coraccedilatildeo da

cidade de MossoroacuteRN

Conforme resgate histoacuterico os trens de passageiros operaram no ramal

Mossoroacute-SousaMossoroacute ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueiros ateacute o ano de 1995

Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da Malha Nordeste

da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro

mas tachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001

um grupo de empresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees2 e procedeu com a

retirada dos equipamentos operacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de

tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas de terraplanagem foram trazidas para nivelar os

terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e as estruturas das oficinas

depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas

De acordo com os fatos apurados no procedimento em epiacutegrafe existe um

terreno situado no Corredor Cultural mais precisamente localizado apoacutes a Praccedila dos

Esportes com extensatildeo da Av Rio Branco a Av Coelho Neto que natildeo mais pertence

ao Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que foi realizada uma suposta permuta ndash2 httpoestenewsblog-transportesblogspotcom200905inicio-e-fim-do-ramal-mossorosousa_1825html

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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de

empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma

contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de

um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio

puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a

aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio

histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm

1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai

do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e

vai ateacute o Bairro Belo Horizonte

Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade

de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da

3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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que ora se pretende anular ndash envolvendo a Prefeitura de Mossoroacute e um grupo de

empresaacuterios encabeccedilado pelos Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

Para melhor compreensatildeo dos fatos faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma

contextualizaccedilatildeo de toda a disputa que culminou na celebraccedilatildeo e homologaccedilatildeo de

um acordo eivado de nulidades que ferem notoriamente natildeo apenas o patrimocircnio

puacuteblico em seu aspecto financeiro como tambeacutem no sentido imaterial uma vez que a

aacuterea atingida integra o Corredor Cultural de Mossoroacute importante patrimocircnio

histoacuterico-cultural do municiacutepio projeto esse nascido atraveacutes da Lei Municipal nordm

1481983 na gestatildeo do ex-Prefeito Jerocircnimo Dix-Huit Rosado Maia cuja extensatildeo vai

do Bairro Santa Delmira atravessa a Avenida Rio Branco ndash aacuterea central da cidade ndash e

vai ateacute o Bairro Belo Horizonte

Com efeito o Corredor Cultural foi concebido mediante lei com a finalidade

de viabilizar equipamentos de cultura e lazer em Mossoroacute quais sejam o Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado3 a Estaccedilatildeo das Artes Elizeu Ventania4 o Memorial da

3 Equipamento construiacutedo em 2003 em uma parceria feita entre a Prefeitura Municipal de Mossoroacute e aPetrobras para incentivar a cultura local e que conta com uma aacuterea de 2570 msup2 e com 740 lugares4 Equipamento construiacutedo em 1999 onde acontecem a maioria das festas e eventos da cidade localiza-se num antigo preacutedio que compunha o Sistema Ferroviaacuterio Federal e foi recuperado com a parceriada Petrobras havendo tambeacutem no local um espaccedilo denominado Museu do Petroacuteleo

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute

DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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Resistecircncia5 a Praccedila de Convivecircncia6 a Praccedila de Eventos7 o Parque da Crianccedila8 e a

Praccedila dos Esportes9 aleacutem disso o projeto prevecirc a urbanizaccedilatildeo e construccedilatildeo de outros

equipamentos de lazer na aacuterea

Segundo as informaccedilotildees constantes dos autos a RFFSA apoacutes finalizar sua

operaccedilatildeo na cidade de Mossoroacute toda a aacuterea que ela utilizaraacute ficou sem uso e

abandona por 5 (cinco) anos ndash de 1995 quando os trens cargueiros pararam de

operar ateacute 2000 quando a Prefeitura de Mossoroacute iniciou a construccedilatildeo do Teatro

Municipal Dix-Huit Rosado

Em razatildeo da liquidaccedilatildeo da RFFSA iniciada atraveacutes do Decreto nordm 3277 de 7

de dezembro de 1999 os direitos de posse dos terrenos da zona urbana de Mossoroacute

onde situava-se a estaccedilatildeo ferroviaacuteria e onde passavam os trilhos da estrada de ferro

foram leiloados

5 Equipamento construiacutedo em 2008 e que conta com exposiccedilotildees que destacam o tema do Cangaccedilo e aresistecircncia da cidade de Mossoroacute ao bando de Lampiatildeo que tentou invadir a cidade no ano de 1927 Eacutecomposto por diversos paineacuteis distribuiacutedos em trecircs andares que destacam diferentes temas e aspectosdo Cangaccedilo6 Equipamento construiacutedo em 2007 conta com uma aacuterea de 7978msup2 e consiste em um complexodestinado ao lazer e agrave cultura dos mossoroenses Eacute composto por uma seacuterie de bares restaurantes elanchonetes que contam com muacutesica ao vivo e movimentam a vida noturna da cidade7 Equipamento construiacutedo em 2008 que conta com aacuterea de 4963 metros quadrados com estrutura paraa realizaccedilatildeo de eventos e ciclovias8 Equipamento construiacutedo em 2006 numa aacuterea de 5000msup2 com setores para festas infantis parque dediversatildeo castelo da Cinderela casa dos Sete Anotildees Branca de Neve e vaacuterios equipamentos de lazerAtualmente o equipamento estaacute em desuso e abandonado pelo poder puacuteblico municipal9 Equipamento construiacutedo em 2007 numa aacuterea de 7714msup2 com quadras de futsal vocirclei handebolbasquete aacuterea para caminhadas quiosques entre outros

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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Conforme a ata do leilatildeo10 em 18042001 foi firmado o Contrato nordm

41RFFSA-ERREC200111 no qual consta que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima adquiriu

os direitos de posse de aacuterea equivalente a 72797msup2 (setenta e dois mil setecentos e

noventa e sete metros quadrados) situada agrave Avenida Rio Branco regiatildeo central de

Mossoroacute-RN

Pois bem Cumpre ressaltar que anteriormente agrave realizaccedilatildeo do leilatildeo consta

dos autos do Inqueacuterito Civil que embasam a presente accedilatildeo que no dia 21 de agosto

de 2000 a entatildeo Prefeita de Mossoroacute Sra Rosalba Ciarlini enviou ofiacutecio agrave RFFSA

atraveacutes de fac-siacutemile12 demonstrando seu interesse em adquirir os direitos de posse

de imoacuteveis integrantes do patrimocircnio da antiga Estrada de Ferro Mossoroacute-Sousa-

Mossoroacute vertidos ao patrimocircnio da RFFSA notadamente o imoacutevel localizado na Av

Rio Branco e a Av Augusto Severo onde hoje eacute situado o Teatro Municipal Dix-Huit

Rosado bem como o imoacutevel delimitado pela Av Rio Branco e Rua Joaquim Nabuco

onde era localizada a antiga Oficina de Reparo de Trens da RFFSA e solicitando nos

termos da Lei 866693 a sua devida avaliaccedilatildeo

Em seguida no dia 24 de agosto de 2000 a RFFSA apoacutes vistoria in loco foi

informada por teacutecnicos do Escritoacuterio Regional de Recife (ERREC) que estavam sendo

depositados materiais de construccedilatildeo e placas informativas da Secretaria Municipal de

Urbanismo e Obras de Mossoroacute anunciando a construccedilatildeo do Teatro Municipal de10 Colacionada agrave fl 66 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe11 Colacionado agraves fls 69-71 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe12 Colacionado agraves fls 80-82 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute

DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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Mossoroacute na aacuterea solicitada pela Prefeitura no ofiacutecio supramencionado

A RFFSA entatildeo ajuizou uma accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse13 em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute sob a alegaccedilatildeo de que houve uma invasatildeo do terreno onde

estava sendo construiacutedo o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado

O Municiacutepio por sua vez alegou que a RFFSA jaacute havia perdido a posse dos

terrenos em razatildeo do abandono baseando-se no inciso I do art 520 do Coacutedigo Civil

de 1916 ainda em vigor agrave eacutepoca cujo texto aduzia que ldquoArt 520 Perde-se a posse das

coisas I ndash pelo abandonordquo

Citado para integrar a lide o Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte por

meio da 7ordf Promotoria de Justiccedila apresentou Manifestaccedilatildeo14 no sentido de que fazia

bastante tempo que a parte autora (RFFSA) havia perdido a posse do imoacutevel pois era

de conhecimento puacuteblico e notoacuterio que havia uma praccedila puacuteblica construiacuteda pela

Prefeitura de Mossoroacute no local caracterizando por parte dessa a posse velha sobre o

imoacutevel

Eacute vaacutelido mencionar que a RFFSA era uma sociedade de economia mista

integrante da Administraccedilatildeo Indireta do Governo Federal ou seja Pessoa Juriacutedica de

Direito Privado portanto constituiacuteda por bens privados15 Desse modo os bens

pertencentes agrave RFFSA agrave eacutepoca eram passiacuteveis de usucapiatildeo ainda que utilizados para

13 Processo nordm 2001014FP14 Conforme as fls 127-128 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe15 Nos termos do art 98 do Coacutedigo Civil de 2002 in verbis ldquoSatildeo puacuteblicos os bens do domiacutenio nacionalpertencentes agraves pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico interno todos os outros satildeo particulares seja qualfor a pessoa a que pertenceremrdquo

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute

DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos uma vez que caso ocorresse o decurso do tempo

necessaacuterio para a concretizaccedilatildeo da usucapiatildeo ndash requisito imprescindiacutevel agrave

consumaccedilatildeo da prescriccedilatildeo aquisitiva ndash demonstrar-se-ia que o bem natildeo era

imprescindiacutevel agrave continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos desempenhados pela

empresa16

No caso em discussatildeo os bens da RFFSA que integravam a linha Mossoroacute-

Sousa-Mossoroacute encontravam-se desafetados tendo em vista que a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria de Mossoroacute foi desativada no ano de 199717 Ademais os bens

pertencentes a RFFSA apenas passaram a integrar o patrimocircnio da Uniatildeo em 2007

atraveacutes da Lei nordm 1148318 ou seja aos imoacuteveis objeto da controveacutersia natildeo era

aplicaacutevel a imprescritibilidade caracteriacutestica tiacutepica dos bens puacuteblicos

A despeito da manifestaccedilatildeo de interesse do Municiacutepio de Mossoroacute na aacuterea

conforme solicitaccedilatildeo realizada pela Prefeita Rosalba Ciarlini agrave RFFSA no ano

16 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 13917 Os trens de passageiros operaram no ramal Mossoroacute-Sousa ateacute janeiro de 1988 e os trens cargueirosateacute o ano de 1995 Em 1997 a Companhia Ferroviaacuteria do Nordeste (CFN) originada da MalhaNordeste da RFFSA hoje denominada Transnordestina assumiu o controle da estrada de ferro mastachou o ramal como economicamente inviaacutevel e o abandonou Em abril de 2001 um grupo deempresaacuterios arrematou o ramal por R$ 27 milhotildees e procedeu com a retirada dos equipamentosoperacionais da estaccedilatildeo (trilhos trollies vagotildees placas de tracircnsito e afins) Por fim maacutequinas deterraplanagem foram trazidas para nivelar os terrenos por onde a ferrovia passava e pontilhotildees e asestruturas das oficinas depoacutesitos e o escritoacuterio da RFFSA foram demolidas18 Apenas a partir da entrada em vigor da Lei nordm 114832007 a Uniatildeo passou a suceder a extinta RFFSAem seus direitos obrigaccedilotildees e accedilotildees judiciais Por essa razatildeo os bens que integravam a RedeFerroviaacuteria passaram a ser administrados pela Secretaria do Patrimocircnio da Uniatildeo (SPU) ligada aoMinisteacuterio do Planejamento Desenvolvimento e Gestatildeo

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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seguinte (2001) a RFFSA lanccedilou o edital de um leilatildeo sendo um dos objetos

ofertados os lotes de terra correspondentes agrave aacuterea onde anteriormente estava

instalada a linha Mossoroacute-Sousa-Mossoroacute

Em 17 de abril de 2001 a Cacircmara Municipal de Mossoroacute aprovou a lei que

transformou o espaccedilo em Corredor Cultural e no dia seguinte 18 de abril de 2001

ocorreu o leilatildeo do terreno realizado pelo Escritoacuterio da RFFSA localizado na cidade

do Recife (ERREC) na cidade do Natal-RN ocasiatildeo em que um grupo de empresaacuterios

encabeccedilado pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima arrematou o lote pelo valor de R$

24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e sete reais)

Cumpre destacar que agrave eacutepoca do leilatildeo os bens da RFFSA natildeo haviam sido

inventariados muito menos avaliados tendo sido o trecho de 72797msup2 (setenta e

dois mil setecentos e noventa e sete metros quadrados) localizado no coraccedilatildeo da

cidade de Mossoroacute arrematado pelos empresaacuterios por um valor extremamente

discrepante e aqueacutem do real valor da aacuterea

Em razatildeo da realizaccedilatildeo do leilatildeo dos direitos de posse da aacuterea a RFFSA

protocolou peticcedilatildeo informando que natildeo possuiacutea mais interesse na lide possessoacuteria

entre a empresa e o municiacutepio de Mossoroacute ndash Processo nordm 2428-2 ndash uma vez que agora

o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima seria a parte legiacutetima para integraacute-la

O Sr Dioacutegenes por sua vez ajuizou uma nova accedilatildeo de reintegraccedilatildeo de posse

da aacuterea onde estava sendo construiacutedo o jaacute citado teatro registrada sob o nordm

20038400009170-7 que posteriormente teve sua unificaccedilatildeo com a accedilatildeo proposta

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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pela RFFSA determinada pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal de Mossoroacute-RN a fim de que

fossem julgadas simultaneamente ficando registrada sob o nordm 20058401001794-019

Apoacutes a unificaccedilatildeo foi proferida nova Decisatildeo pelo Juiacutezo da 8ordf Vara Federal20

dessa vez no sentido de que natildeo havia o cabimento da reintegraccedilatildeo de posse tendo

em vista que houve a incorporaccedilatildeo do bem discutido ao patrimocircnio puacuteblico

municipal o que impossibilitaria a reversatildeo agrave situaccedilatildeo anterior

No entendimento do magistrado o presente caso seria resolvido atraveacutes do

instituto da desapropriaccedilatildeo indireta ou seja um desapossamento de imoacutevel

particular pelo Poder Puacuteblico sem a observacircncia dos procedimentos legais

impedindo-o de exercer os poderes inerentes ao seu domiacutenio natildeo cabendo ao

possuidor pleitear o reingresso do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular

indenizaccedilatildeo em virtude das perdas e danos produzidos pelo expropriante em face

dos prejuiacutezos causados o que resultou na conversatildeo do feito em accedilatildeo de

indenizaccedilatildeo por perdas e danos

Em seguida os autos foram encaminhados para a Justiccedila Estadual uma vez

que a Advocacia-Geral da Uniatildeo requereu a exclusatildeo da Uniatildeo da lide em razatildeo de

sua ausecircncia de interesse em assistir o Municiacutepio de Mossoroacute na accedilatildeo21

A accedilatildeo entatildeo passou a tramitar na Vara da Fazenda Puacuteblica da Comarca de

Mossoroacute sob o nordm 0703974-3320098200106 e no ano de 2013 onde foi apresentado

19 Decisatildeo constante agraves fls 205-206 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe20 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe21 Decisatildeo constante agraves fls 111-113 do Anexo II Volume II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE19ordf PROMOTORIA DE JUSTICcedilA DA COMARCA DE MOSSOROacute

DEFESA DO PATRIMOcircNIO PUacuteBLICO E TUTELA DE FUNDACcedilOtildeESAlameda das Imburanas n 850 Presidente Costa e Silva MossoroacuteRN

Telefone (84) 3316-6365

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente

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um acordo22 extrajudicial realizado entre a Prefeitura de Mossoroacute agora jaacute represen-

tada pela entatildeo prefeita Claacuteudia Regina o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central

Park Incorporadora Ltda datado de 15 de abril de 2013 cujos termos concordavam

com efetivaccedilatildeo da troca de alguns terrenos situados na Av Rio Branco e aacutereas proacutexi-

mas (passados pela Prefeitura para o Sr Dioacutegenes) por uma porccedilatildeo de um terreno lo-

calizado na Avenida Cunha da Mota23 (passado para a Prefeitura) consequentemen-

te o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima renunciou ao direito de pleitear qualquer indeniza-

ccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta e reconheceu em favor Prefeitura de Mossoroacute a pos-

se justa e a propriedade plena de partes das glebas em discussatildeo2422 O acordo foi firmado nos seguintes termos ipsis litteris ldquoo AUTOR renuncia ao direito de pleitearem face do MUNICIacutePIO qualquer indenizaccedilatildeo por desapropriaccedilatildeo indireta (hellip) reconhecendo emfavor do deste a posse justa e a propriedade plena de partes das glebas especificamente aquelas emque jaacute se encontram edificados e em funcionamento bens puacuteblicos medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Tenente JoseacuteAgripino) incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limitesfixados pela Rua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Tenente Joseacute Agripino Por sua vez OMUNICIacutePIO reconhece em favor do AUTOR a posse justa e a propriedade plena de todo o restante daaacuterea sob disputa judicial quais sejam as aacutereas medindo aproximadamente 578519msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino) 749060msup2 (limites fixadospela Rua Ceacutesar Campos Avenida Rio Branco e Rua Coelho Neto) 235751msup2 (limites fixados pela RuaTen Joseacute Agripino e Rua Joseacute Bonifaacutecio) 230935msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio Rua Joatildeode Brito e Rua Ten Joseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) 517179msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua TenJoseacute Agruiacuteno ldquosicrdquo) e 375514msup2 (limites fixados pela Rua Joseacute Bonifaacutecio e Rua Ten Joseacute Agruiacutenoldquosicrdquo) totalizando aproximadamente 2686957msup2 ()rdquo23 Local onde hoje funciona a AeC Contact Center em razatildeo da Lei Municipal nordm Lei nordm 30292013 quedoou o imoacutevel agrave citada empresa de call center24 Nos termos do acordo ldquoespecificamente aquelas em que jaacute se encontram edificados e emfuncionamento bens puacuteblicos (memorial descritivo em anexo I) medindo aproximadamente4592829msup2 (limites fixados pela Rua Augusto Severo Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripino)incluindo a aacuterea natildeo edificada que mede aproximadamente 948323msup2 esta com limites fixados pelaRua Niacutesia Floresta Avenida Rio Branco e Rua Ten Joseacute Agripinordquo

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Insta salientar que o acordo prevecirc que a pretensatildeo do autor da demanda judi-

cial - Sr Dioacutegenes da Cunha Lima - de dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebas

que remanesceriam na sua propriedade deveriam respeitar o que disciplina a Legis-

laccedilatildeo Urbaniacutestica Municipal estipulada pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacute-

veis para o bairro onde estatildeo situados os imoacuteveis quais sejam restriccedilatildeo de uso e

ocupaccedilatildeo controle de gabarito e coeficiente de aproveitamento

Os autos foram remetidos ao Ministeacuterio Puacuteblico a fim de que fosse emitido pa-

recer acerca do acordo O Oacutergatildeo Ministerial entatildeo manifestou-se pela nulidade do

acordo uma vez que uma das partes interessadas na demanda ndash Sr Antocircnio Alves

da Silva25 - natildeo foi devidamente citada No entanto o Magistrado entendeu que a au-

secircncia da citaccedilatildeo natildeo causava prejuiacutezo algum ao processo

O acordo extrajudicial realizado pelas partes foi homologado em 02 de maio

de 2013 atraveacutes de Sentenccedila26 exarada pelo Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica de

Mossoroacute de titularidade do Magistrado Pedro Cordeiro Juacutenior que declarou natildeo

haver interesse puacuteblico primaacuterio que justificasse a intervenccedilatildeo do Oacutergatildeo

Ministerial na demanda uma vez que pelo seu entendimento o caso natildeo envolvia

ldquodiscussotildees ambientais do patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer outro interesse

puacuteblico para o qual o legislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob pena

de nulidade a demanda versa exclusivamente sobre direitos patrimoniais e portanto de25 Reacuteu que ocupava uma barraca situada na aacuterea em discussatildeo e cuja citaccedilatildeo foi requerida pela parteautora conforme consta da Apelaccedilatildeo interposta pelo Ministeacuterio Puacuteblico fls 98-106 do Volume I doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe26 Colacionada agraves fls 43-48 do Volume III Anexo II do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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natureza disponiacutevel de modo natildeo vejo como rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo

Ademais o Juiacutezo determinou que apoacutes cumpridos os termos da transaccedilatildeo e

pagas as custas o processo deveria ser arquivado com baixa na distribuiccedilatildeo sem

submeter a Sentenccedila ao reexame necessaacuterio

O Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte apresentou recurso

de apelaccedilatildeo com a finalidade de anular a sentenccedila homologatoacuteria alegando que uma

das partes envolvidas no caso natildeo foi citada para oferecer contestaccedilatildeo no entanto o

recurso natildeo foi conhecido sob a justificativa de que ldquoausecircncia de interesse recursal do

Ministeacuterio Puacuteblicordquo27

Por fim importante salientar que ressalvado um trecho do terreno delimitado

pela Rua Ceacutesar Campos e pela Rua Coelho Neto onde estaacute situada uma das unida-

des da rede de lojas ldquoA Construtorardquo28 os terrenos entregues ao Sr Dioacutegenes da Cu-

nha Lima e agrave Central Park Incorporadora Ltda por ocasiatildeo do acordo realizado com

a Prefeitura de Mossoroacute encontram-se quase que em sua totalidade desocupados

em claro descumprimento agrave funccedilatildeo socioambiental da propriedade em uma das

aacutereas mais valorizadas do Municiacutepio de Mossoroacute

27 Conforme fl 119 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe28 Contrariando a Legislaccedilatildeo Urbaniacutestica do Municiacutepio de Mossoroacute como seraacute explicitado adiante

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A lide pode ser resumida pelos seguintes fluxograma

Fluxograma 01

JF = Justiccedila Federal

VFP = Vara da Fazenda Puacuteblica

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Quanto agraves consequecircncias do que foi acordado

Fluxograma 02

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O mapa a seguir elaborado a partir das informaccedilotildees prestadas pelo Primeiro

Ofiacutecio de Registros e Notas de Mossoroacute29 demonstra a aacuterea cujos direitos de posse

foram leiloadas pela RFFSA e a atual disposiccedilatildeo dos terrenos transacionados no

acordo

29 Documentos acostados agraves fls 200-211 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 01

III - DA ADEQUACcedilAtildeO DA ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA DECLARATOacuteRIA DE

NULIDADE

Inicialmente eacute necessaacuterio transcrever o texto do artigo 1ordm da Lei nordm 734785

que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica

Art 1ordm Regem-se pelas disposiccedilotildees desta Lei sem prejuiacutezo da accedilatildeopopular as accedilotildees de responsabilidade por danos morais e patrimoniaiscausadosl - ao meio-ambientell - ao consumidorIII ndash a bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico turiacutestico epaisagiacutesticoIV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoV - por infraccedilatildeo da ordem econocircmicaVI - agrave ordem urbaniacutesticaVII ndash agrave honra e agrave dignidade de grupos raciais eacutetnicos ou religiososVIII ndash ao patrimocircnio puacuteblico e social (Grifos acrescidos)

Nesse mesmo sentido a Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico aduz que

Art 25 Aleacutem das funccedilotildees previstas nas Constituiccedilotildees Federal e Estadualna Lei Orgacircnica e em outras leis incumbe ainda ao Ministeacuterio Puacuteblico

(hellip)

IV - promover o inqueacuterito civil e a accedilatildeo civil puacuteblica na forma da lei

a) para a proteccedilatildeo prevenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dos danos causados ao meioambiente ao consumidor aos bens e direitos de valor artiacutestico esteacuteticohistoacuterico turiacutestico e paisagiacutestico e a outros interesses difusos coletivos eindividuais indisponiacuteveis e homogecircneos

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b) para a anulaccedilatildeo ou declaraccedilatildeo de nulidade de atos lesivos ao patrimocircniopuacuteblico ou agrave moralidade administrativa do Estado ou de Municiacutepio desuas administraccedilotildees indiretas ou fundacionais ou de entidades privadasde que participem

Dessa forma da simples leitura dos dispositivos acima colacionados fica

evidente que a Accedilatildeo Civil Puacuteblica consiste em instrumento adequado para

resguardar o patrimocircnio puacuteblico municipal objetivo pretendido pela presente accedilatildeo

Ademais com o advento da Lei 131052015 nosso Novo Coacutedigo de Processo

Civil o legislador previu a possibilidade do ajuizamento de accedilatildeo anulatoacuteria no sect 4ordm

do art 966 cujo texto diz que

Art 966 A decisatildeo de meacuterito transitada em julgado pode ser rescindidaquando (hellip)

sect 4o Os atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partes ou poroutros participantes do processo e homologados pelo juiacutezo bem como osatos homologatoacuterios praticados no curso da execuccedilatildeo estatildeo sujeitos agraveanulaccedilatildeo nos termos da lei (Grifos acrescidos)

Segundo Misael Montenegro Filho30

A accedilatildeo anulatoacuteria se constitui no instrumento adequado para combateratos homologatoacuterios e atos de disposiccedilatildeo de direitos praticados pelas partese homologados pelo juiz como a sentenccedila homologatoacuteria da separaccedilatildeo oudo divoacutercio consensual (Grifos acrescidos)

O Superior Tribunal de Justiccedila tambeacutem jaacute se pronunciou sobre o tema

30 MONTENEGRO FILHO Misael Novo Coacutedigo de Processo Civil comentado ndash 3 ed rev e atual ndashSatildeo Paulo Atlas 2018

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PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACcedilAtildeO RESCISOacuteRIASENTENCcedilA HOMOLOGATOacuteRIA DE ACORDO EM ACcedilAtildeO DEDESAPROPRIACcedilAtildeO EMISSAtildeO DE JUIacuteZO SOBRE O CONTEUacuteDO DAAVENCcedilA CABIMENTO DA RESCISOacuteRIA PRECEDENTE 1 Eacute paciacutefica ajurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila no sentido de que adecisatildeo judicial homologatoacuteria de acordo natildeo produz coisa julgadamaterial podendo ser anulada a avenccedila por accedilatildeo diversa da rescisoacuteria 2Admite esta Corte no entanto o cabimento de accedilatildeo rescisoacuteria na hipoacuteteseem que a sentenccedila rescindenda ao homologar transaccedilatildeo entre as partes darelaccedilatildeo processual analisa o conteuacutedo da avenccedila emitindo sobre ele juiacutezode valor 3 Recurso especial provido Superior Tribunal de Justiccedila 2ordf TurmaREsp 1201770 MG Publicado no DJe em 20112013 (Grifos acrescidos)

No decorrer da peccedila restaraacute evidentemente provada a nulidade com que se

baseou o acordo ora vergastado

Em capiacutetulo proacuteprio seraacute abordado que o acordo decorreu de uma espeacutecie de

desapropriaccedilatildeo indireta e seu consequente ressarcimento ao particular o foi de modo

absolutamente ilegal Com efeito o ldquopagamento31rdquo a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo ao

particular foi realizado por meio do reconhecimento pelo municiacutepio da propriedade

dos terrenos em favor do particular que originalmente era detentor dos direitos de

posse (Sr Dioacutegenes da Cunha Lima) tambeacutem sendo acordado o acreacutescimo de mais

um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute anteriormente pertencente a

particulares Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel

31 Natildeo houve pagamento em dinheiro

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A lei determina expressamente32 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em

casos de desapropriaccedilatildeo por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a

elaboraccedilatildeo de laudo e paga em dinheiro natildeo havendo margem legal para que o

gestor puacuteblico decida realizar o pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de

imoacuteveis que sequer foram avaliados ao particular

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho33

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeosubjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

32 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro33 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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Outra nulidade evidenciada no malfadado acordo homologado judicialmente

decorre do fato que a aacuterea transacionada esta inserida no corredor cultural cuja

destinaccedilatildeo de uso do local esta adstrita as finalidades estabelecidas na Lei 15072001

onde soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede Em outras palavras

toda a aacuterea da Zona Especial da Av Rio Branco estaacute AFETADA por lei para uma

funccedilatildeo especiacutefica E os terrenos daquela avenida natildeo satildeo passiacuteveis de alineaccedilatildeo sem

que exista uma lei DESAFETANDO Ademais os bens puacuteblicos alienaacuteveis soacute o satildeo

os ldquodominicaisrdquo ou seja aqueles que natildeo satildeo utilizados pela coletividade nem para a

prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja estatildeo desafetados

Aqueles bens de uso comum do povo destinados ao uso da coletividade em

geral ou de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos e serviccedilos

administrativos integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e natildeo podem ser alienados

Portanto natildeo poderiam ser objeto de transaccedilatildeo posto que protegidos pela

inalienabilidade Nesse sentido os artigos 100 e 101 do Coacutedigo Civil de 2002

determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

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Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico

Outro requisito indispensaacutevel agrave alineaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute a

autorizaccedilatildeo legislativa e sua ausecircncia tem o condatildeo de gerar a nulidade de

pleno direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem

puacuteblico

Conclui-se portanto que para desconstituir atos de disposiccedilotildees de direitos

praticados pelas partes homologados pelo Juiacutezo atraveacutes de sentenccedila que limita-se a

homologar transaccedilatildeo efetuada natildeo tratando acerca do conteuacutedo da pactuaccedilatildeo os

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efeitos do negoacutecio juriacutedico poderatildeo ser afastados mediante a propositura de accedilatildeo

anulatoacuteria nos moldes do sect 4ordm do art 966 do Novo Coacutedigo de Processo Civil

No presente caso o Juiacutezo da Vara da Fazenda Puacuteblica proferiu sentenccedila

meramente homologatoacuteria dos termos do acordo extrajudicial firmado entre as

partes sem adentrar no meacuterito da questatildeo por eles transacionada Portanto eacute

cristalino o cabimento da accedilatildeo anulatoacuteria para afastar os efeitos do negoacutecio juriacutedico

em discussatildeo

IV - DA IMPRESCRITIBILIDADE DA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE NULIDADE

A ilustre jurista Maria Helena Diniz leciona que a nulidade eacute uma sanccedilatildeo

imposta pela lei que determina a privaccedilatildeo de efeitos juriacutedicos do ato negocial

praticado em desobediecircncia ao que a norma juriacutedica prescreve34

Nas palavras de Flaacutevio Tartuce35 ldquoa nulidade eacute a consequecircncia prevista em lei nas

hipoacuteteses em que natildeo estatildeo preenchidos os requisitos baacutesicos para a existecircncia vaacutelida do ato

negocialrdquo

Em se tratando de nulidade absoluta o negoacutecio juriacutedico natildeo produz efeitos

uma vez que os requisitos necessaacuterios para o seu plano de validade estatildeo ausentes o

que ofende normas de ordem puacuteblica tornando o negoacutecio absolutamente invaacutelido

34 DINIZ Maria Helena Coacutedigo Civil anotado 15 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 p 19435 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico 6 ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2016 p 291

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Nesses casos em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo cabiacutevel e agrave existecircncia de prazo para intentaacute-la

leciona Flaacutevio Tartuce36

quando haacute nulidade absoluta deve ser proposta uma accedilatildeo declaratoacuteria denulidade que seguia regra geral o rito ordinaacuterio (CPC1973) atualprocedimento comum (CPC2015) Essa accedilatildeo diante de sua naturezapredominantemente declaratoacuteria eacute imprescritiacutevel ou melhortecnicamente natildeo estaacute sujeita a prescriccedilatildeo ou decadecircncia Aimprescritibilidade tambeacutem estaacute justificada porque a nulidade absolutaenvolve preceitos de ordem puacuteblica impedindo consequentemente que oato convalesccedila pelo decurso do tempo ( art 169 do CC) (Grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiccedila do Estado de Goiaacutes recentemente prolatou a seguinte

decisatildeo

APELACcedilAtildeO CIacuteVEL ACcedilAtildeO ANULATOacuteRIA ASSINATURA FALSA ATONULO ACcedilAtildeO IMPRESCRITIacuteVEL PRECEDENTES STJ E TJGORECURSO PROVIDO INVERSAtildeO DOS OcircNUS SUCUMBENCIAISHONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS REDIMENSIONADOS 1 A fianccedilafirmada por meio de assinatura comprovadamente falsa por meio de laudopericial eacute nula de pleno direito 2 O ato nulo natildeo se convalida com odecurso do tempo inteligecircncia do art 169 CC Assim a accedilatildeo anulatoacuteriaque busca anular ato eivado de viacutecio insanaacutevel eacute imprescindiacutevelPrecedentes STJ e TJGO 3 Diante do provimento do recurso os ocircnussucumbenciais devem ser redimensionadosinvertidos considerando otrabalho adicional exercido em grau recursal em favor do procurador daparte apelante 4 APELACcedilAtildeO CIacuteVEL CONHECIDA E PARCIALMENTEPROVIDA SENTENCcedilA REFORMADA EM PARTE (TJ-GO ndash ApelaccedilatildeoCiacutevel 03917778620158090051 Relator GUILHERME GUTEMBERG ISACPINTO Data de Julgamento 08032019 5ordf Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo DJ de 08032019) (Grifos acrescidos)

No mesmo sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila

36 Ibid p 293

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART 544 DO CPC73) - ACcedilAtildeODECLARATOacuteRIA CC PEDIDO CONDENATOacuteRIO - DECISAtildeOMONOCRAacuteTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMOINSURGEcircNCIA DO REQUERIDO 1 Admissiacutevel o agravo apesar de natildeoinfirmar a totalidade da decisatildeo agravada pois a jurisprudecircncia do STJ eacuteassente no sentido de que a impugnaccedilatildeo de capiacutetulos autocircnomos da decisatildeorecorrida apenas induz agrave preclusatildeo das mateacuterias natildeo impugnadas 2 Asubsistecircncia de fundamento inatacado apto a manter a conclusatildeo do arestoimpugnado e a apresentaccedilatildeo de razotildees dissociadas desse fundamentoimpotildeem o reconhecimento da incidecircncia das Suacutemulas 283 e 284 do STF poranalogia Precedentes 3 Os negoacutecios juriacutedicos inexistentes e osabsolutamente nulos natildeo produzem efeitos juriacutedicos natildeo satildeo suscetiacuteveisde confirmaccedilatildeo tampouco natildeo convalescem com o decurso do tempo demodo que a nulidade pode ser declarada a qualquer tempo natildeo sesujeitando a prazos prescricionais ou decadenciais Precedentes Incidecircnciada Suacutemula 83STJ 4 Agravo regimental desprovido (STJ ndash AgRg no AREsp489474 MA 20140057986-4 Relator Ministro MARCO BUZZI Data deJulgamento 08052018 T4 ndash QUARTA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe17052018) (Grifos acrescidos)

Dessa forma por visar declarar a nulidade de negoacutecio eivado de um viacutecio

insanaacutevel que natildeo pode ser confirmado pelas partes nem pode convalescer pelo

decurso do tempo a accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade natildeo pode ser atingida pela

prescriccedilatildeo nem pela decadecircncia podendo ser proposta a qualquer tempo Isso eacute o

que ocorre no presente caso

V - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva dos demandados eacute justificada pela razatildeo de que o

acordo homologado em Juiacutezo foi elaborado entre as seguintes partes o Municiacutepio de

Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima e a Central Park Incorporadora Ltda

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Em relaccedilatildeo agraves demais partes notadamente as empresas Jardim Participaccedilotildees

Ltda e Montana Construccedilotildees Ltda em que pesem natildeo terem participado

efetivamente do acordo existem 04 (quatro) imoacuteveis transacionados no acordo que

atualmente estatildeo registrados em nome das referidas empresas conforme as Certidotildees

Vintenaacuterias emitidas pelo Primeiro Ofiacutecio de Registros e Notas37

Os terrenos estatildeo distribuiacutedos do seguinte modo

Mapa 0238

37 Acostadas agraves fls 202-211 do Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

38 Mapa elaborado com base nas informaccedilotildees acostadas agraves fls 202-2011 do Volume Principal doInqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Desse modo demonstra-se que todas as partes demandadas possuem

legitimidade para integrar o polo passivo da presente lide

VI - DA POSSIBILIDADE DO MUNICIacutePIO DE MOSSOROacute INTEGRAR A LIDE

COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL

O acordo que a presente accedilatildeo visa anular foi realizado no ano de 2013 eacutepoca

em que o comando da gestatildeo municipal cabia agrave Sra Claacuteudia Regina Freire de

Azevedo

Ocorre que atualmente a gestatildeo municipal eacute comandada pela Sra Rosalba

Ciarlini Prefeita Constitucional do Municiacutepio de Mossoroacute cabendo a ela a

possibilidade de manifestar interesse em integrar a lide na qualidade de assistente

litisconsorcial do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Norte

Isso porque o microssistema da tutela do patrimocircnio puacuteblico autoriza a

Fazenda Puacuteblica a integrar o polo ativo da demanda conforme aduzido na Lei

734785 Vejamos

Art 5o Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelarI - o Ministeacuterio Puacuteblico (hellip)sect 5deg Admitir-se-aacute o litisconsoacutercio facultativo entre os Ministeacuterios Puacuteblicosda Uniatildeo do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses edireitos de que cuida esta lei (Grifos acrescidos)

A Lei nordm 471768 que regula a Accedilatildeo Popular tambeacutem versa sobre o assunto

Art 6ordm A accedilatildeo seraacute proposta contra as pessoas puacuteblicas ou privadas e as

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entidades referidas no art 1ordm contra as autoridades funcionaacuterios ouadministradores que houverem autorizado aprovado ratificado oupraticado o ato impugnado ou que por omissas tiverem dadooportunidade agrave lesatildeo e contra os beneficiaacuterios diretos do mesmo(hellip)sect 3ordm A pessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou de direito privado cujo atoseja objeto de impugnaccedilatildeo poderaacute abster-se de contestar o pedido oupoderaacute atuar ao lado do autor desde que isso se afigure uacutetil ao interessepuacuteblico a juiacutezo do respectivo representante legal ou dirigente (Grifosacrescidos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento dos Tribunais brasileiros Vejamos

um julgado do Tribunal de Justiccedila do Estado do Maranhatildeo

AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVILPUacuteBLICA MIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVOCOMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL INTERESSE PUacuteBLICOPOSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARAFIGURAR NOS POLOS PASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADEPRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 A accedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeode improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam deforma especialiacutessima a legitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agravesaccedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da Accedilatildeo Popular de maneira aensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezodo respectivo representante legal esteja presente o interesse puacuteblico 3 Incasu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio atuar como assistentelitisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildeesdirigidas a outras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidentepor outro lado sua responsabilidade objetiva quanto agraves faltas que lhe satildeoimputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedila contestatoacuteriaou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadas

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administrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assimsendo ante as peculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacutepatente a singularidade da presente demanda razatildeo pela qual haacute de ser elasubmetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeo dospedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espequeno art 6ordm sect 3ordm da Lei nordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54do CPC a postura de assistente litisconsorcial no que tange agraves questotildeesatinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmenteprovido (TJ-MA - AI 0349962014 MA 0007573-5120148100000 RelatorKLEBER COSTA CARVALHO Data de Julgamento 05032015 PRIMEIRACAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

Dessa forma em atenccedilatildeo ao interesse puacuteblico pode o Municiacutepio de Mossoroacute

integrar o polo ativo da presente accedilatildeo na qualidade de assistente litisconsorcial

devendo no entanto responder objetivamente pelas faltas que lhes forem imputadas

no acordo ora rebatido

VII - DA LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa ad causam do Ministeacuterio Puacuteblico para o ajuizamento da

presente accedilatildeo adveacutem dos precisos termos do art 127 da Constituiccedilatildeo Federal ldquoO

Ministeacuterio Puacuteblico eacute instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

incumbindo-lhe a defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveisrdquo

Aleacutem disso a Lei nordm 734785 que disciplina a Accedilatildeo Civil Puacuteblica determina

em seu art 5ordm que ldquoTecircm legitimidade para propor a accedilatildeo principal e a accedilatildeo cautelar I - o

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Ministeacuterio Puacuteblico ()rdquo Desse modo conferiu-se expressamente legitimidade para

que a Instituiccedilatildeo de Defesa da Sociedade promova a Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico

Nesse sentido colhem-se liccedilotildees de vaacuterios doutrinadores brasileiros dentre eles

destacamos respectivamente os posicionamentos de Hugo Nigro Mazzilli39 e Nelson

Nery Juacutenior40

Como se vecirc portanto a defesa do patrimocircnio puacuteblico faz-se natildeo soacute pelaaccedilatildeo popular sob iniciativa do cidadatildeo como tambeacutem pela accedilatildeo civilpuacuteblica sob iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico ou dos demais legitimados daLei no 734785 diante da norma residual que lhes comete sem prejuiacutezo daaccedilatildeo popular a defesa judicial de qualquer interesse coletivo e difuso ndash porisso que natildeo estatildeo excluiacutedas naturalmente as infraccedilotildees agrave ordem econocircmicaou os danos ao patrimocircnio puacuteblico

A legitimidade do MP decorre da CF 129 III natildeo podendo a leiinfraconstitucional modificaacute-la O MP pode ajuizar qualquer tipo de accedilatildeona defesa do patrimocircnio puacuteblico e social e natildeo apenas a de reparaccedilatildeo dedano

Ademais nos termos do Coacutedigo de Processo Civil de 1973 a legitimidade para

a propositura da accedilatildeo rescisoacuteria e da anulatoacuteria encontrava-se positivada no artigo

487

Art 487 Tem legitimidade para propor a accedilatildeoI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingular

39 MAZZILLI Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juiacutezo 8a ed Satildeo Paulo Saraiva 1996 p14014140 NERY JUacuteNIOR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil e legislaccedilatildeoprocessual extravagante em vigor 3a ed Satildeo Paulo RT 1997 p 1660

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II - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que Ihe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a sentenccedila eacute o efeito de colusatildeo das partes a fim de fraudar a lei(Grifos acrescidos)

O dispositivo supramencionado guarda correspondecircncia com o art 967 do

nosso atual Coacutedigo de Processo Civil vejamos

Art 967 Tecircm legitimidade para propor a accedilatildeo rescisoacuteriaI - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a tiacutetulo universal ousingularII - o terceiro juridicamente interessadoIII - o Ministeacuterio Puacuteblicoa) se natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeob) quando a decisatildeo rescindenda eacute o efeito de simulaccedilatildeo ou de colusatildeo daspartes a fim de fraudar a leic) em outros casos em que se imponha sua atuaccedilatildeoIV - aquele que natildeo foi ouvido no processo em que lhe era obrigatoacuteria aintervenccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Nas hipoacuteteses do art 178 o Ministeacuterio Puacuteblico seraacuteintimado para intervir como fiscal da ordem juriacutedica quando natildeo for parte(Grifos acrescidos)

Da simples leitura do dispositivo legal acima colacionado depreende-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico tem legitimidade para propor accedilatildeo anulatoacuteria no caso de natildeo ter

sido ouvido como parte no processo em que lhe era obrigatoacuteria a intervenccedilatildeo

Ademais no paraacutegrafo uacutenico do art 967 eacute feita menccedilatildeo ao art 178 do Coacutedigo

de Processo Civil cujo texto prevecirc que o representante Ministerial tambeacutem deveraacute

ser intimado para intervir como custos legis nas seguintes hipoacuteteses

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Art 178 O Ministeacuterio Puacuteblico seraacute intimado para no prazo de 30 (trinta)dias intervir como fiscal da ordem juriacutedica nas hipoacuteteses previstas em leiou na Constituiccedilatildeo Federal e nos processos que envolvamI - interesse puacuteblico ou socialII - interesse de incapazIII - litiacutegios coletivos pela posse de terra rural ou urbanaParaacutegrafo uacutenico A participaccedilatildeo da Fazenda Puacuteblica natildeo configura por si soacutehipoacutetese de intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico (Grifos acrescidos)

O Ministeacuterio Puacuteblico foi alccedilado pela Constituiccedilatildeo Federal agrave funccedilatildeo de defensor

dos direitos da sociedade Em razatildeo dessa atribuiccedilatildeo aos Membros do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute dada autonomia funcional para atuaccedilatildeo dentro dos limites constitucionais

e legais devendo defender os interesses sociais constitucionalmente garantidos aos

cidadatildeos bem como implementar e resguardar a efetividade desses direitos

Agrave Instituiccedilatildeo coube ainda a atribuiccedilatildeo de atuar como fator de equiliacutebrio nas

relaccedilotildees entre a Administraccedilatildeo Puacuteblica e o administrado objetivando o bom e correto

funcionamento da maacutequina estatal a salvaguarda dos direitos dos administrados e a

harmonia entre os Poderes

Entre os macrointeresses colocados sob a tutela do Ministeacuterio Puacuteblico ganha

relevacircncia o referente ao acesso e agrave fruiccedilatildeo dos bens integrantes do patrimocircnio

cultural brasileiro que recebe especial proteccedilatildeo por parte do ordenamento juriacutedico

vigente em nosso paiacutes sendo considerado um direito fundamental difuso e

indisponiacutevel

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Ademais o Ministeacuterio Puacuteblico possui atribuiccedilatildeo expressa para a defesa e

proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico conforme dispotildee o artigo 129 III da Constituiccedilatildeo

que prevecirc ser essa uma das funccedilotildees institucionais que lhe foi atribuiacuteda ldquoa promoccedilatildeo

do inqueacuterito civil e da accedilatildeo civil puacuteblica para a proteccedilatildeo do patrimocircnio puacuteblico e social do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivosrdquo

Isso posto faz-se necessaacuterio demonstrar os argumentos trazidos na sentenccedila

homologatoacuteria do acordo discutido na presente accedilatildeo para afastar a necessidade da

participaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na lide

ldquonatildeo se trata de demanda que envolva discussotildees ambientais dopatrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblico para o qual olegislador tenha obrigado a intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico sob penade nulidade a demanda proposta versa exclusivamente sobre direitospatrimoniais e portanto de natureza disponiacutevel de modo que natildeo vejocomo rejeitar a transaccedilatildeo proposta pelos litigantesrdquo (Grifos acrescidos)

Ocorre que a ideia de que a demanda natildeo tratava de discussatildeo que envolvesse

ldquoo patrimocircnio histoacuterico-cultural ou qualquer interesse puacuteblicordquo eacute equivocada tendo

em vista que o objeto do acordo consiste em aacuterea de extrema relevacircncia para o

patrimocircnio histoacuterico-cultural da cidade de Mossoroacute

O Corredor Cultural faz parte da identidade dos cidadatildeos mossoroenses

constituindo uma importante aacuterea utilizada pelos habitantes locais para o lazer para

atividades culturais e para a praacutetica de esportes aleacutem de ser um dos principais

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pontos turiacutesticos da cidade sem se descurar que sua criaccedilatildeo estaacute baseada em lei local

(Lei 15072001)

Ademais deve-se ressaltar que a atividade administrativa eacute regida por

princiacutepios basilares dentre eles estatildeo o Princiacutepio da Supremacia do Interesse Puacuteblico

e o Princiacutepio da Indisponibilidade do Interesse Puacuteblico considerados pelo ilustre

Celso Antocircnio Bandeira de Mello como as ldquopedras de toque do Direito Administrativordquo

Nas palavras de Rafael Carvalho Rezende Oliveira41

Os bens puacuteblicos subordinam-se a regime juriacutedico distinto daqueleaplicaacutevel aos bens privados em geral Em resumo as principaiscaracteriacutesticas dos bens puacuteblicos satildeo alienaccedilatildeo condicionadaimpenhorabilidade imprescritibilidade e natildeo onerabilidade (Grifosacrescidos)

Pode-se afirmar portanto que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo age em peacute de

igualdade com particulares em suas atividades pois seus bens estatildeo resguardados

dentre outras pela caracteriacutestica da indisponibilidade sendo a alienaccedilatildeo deles

condicionada agrave sua desafetaccedilatildeo ou seja cabiacutevel apenas em relaccedilatildeo aos bens puacuteblicos

dominicais

Dessa forma eacute inadmissiacutevel a ideia de que os administradores do Municiacutepio

tecircm o direito de dispor livremente dos bens a ele pertencentes sem respeitar o

melhor interesse da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da coletividade

Como consequecircncia loacutegica natildeo deve nem pode ser considerado que o acordo

versava exclusivamente sobre direitos patrimoniais de natureza disponiacutevel uma vez

41 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 677

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que a demanda envolve bens puacuteblicos destinados a cumprir uma funccedilatildeo de extrema

relevacircncia e valor imaterial para a sociedade mossoroense

Conclui-se portanto que os direitos discutidos na lide versavam sobre bens

indisponiacuteveis que natildeo poderiam ser livremente transacionados e que demandavam

obrigatoriamente a intervenccedilatildeo ministerial para a correta e liacutecita disposiccedilatildeo aleacutem da

obediecircncia aos princiacutepios constitucionais e aos demais disposiccedilotildees legais que seratildeo

devidamente especificados a seguir

VIII - DO DIREITO

VIII1 ndash Do Leilatildeo dos direitos de posse realizado pela RFFSA

No ordenamento juriacutedico brasileiro diferentemente da propriedade a posse

natildeo eacute entendida como um direito real42 mas sim como um direito de natureza

especial caracterizada pelo domiacutenio faacutetico que a pessoa exerce sobre a coisa Nesse

sentido Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald43 lecionam

Entendemos que para aleacutem da concepccedilatildeo de posse como relaccedilatildeo de fato oumera exteriorizaccedilatildeo de um direito de propriedade as normas que tutelam aposse satildeo a ela direta e imediatamente dirigidas Portanto a posse eacute um

42 Isso porque o rol presente no Coacutedigo Civil eacute taxativo e nos seguintes termos Art 1225 Satildeo direitosreais I - a propriedade II - a superfiacutecie III - as servidotildees IV - o usufruto V - o uso VI - a habitaccedilatildeoVII - o direito do promitente comprador do imoacutevel VIII - o penhor IX - a hipoteca X - a anticrese XI -a concessatildeo de uso especial para fins de moradia XII - a concessatildeo de direito real de uso e XIII - a laje43 FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direitos Reais 6a ed Rio de Janeiro LumenJuris 2009 p 32

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direito subjetivo dotado de estrutura peculiar

O proacuteprio texto do Coacutedigo Civil em seu art 1916 define que ldquoConsidera-se

possuidor todo aquele que tem de fato o exerciacutecio pleno ou natildeo de algum dos poderes

inerentes agrave propriedaderdquo Portanto entende-se que a posse natildeo estaacute necessariamente

relacionada agrave existecircncia de um tiacutetulo Basta que seja desempenhado um dos atributos

do domiacutenio para que algueacutem seja considerado possuidor da coisa o que inclusive

enseja a possibilidade do uso das accedilotildees possessoacuterias

Em razatildeo da independecircncia entre a posse e propriedade os direitos

possessoacuterios podem ser alienados de forma isolada confirmando que o referido

instituto eacute dotado de valor econocircmico Tal situaccedilatildeo ocorre com frequecircncia no nosso

paiacutes uma vez que comumente as burocracias envolvidas na transferecircncia de bens

imoacuteveis natildeo satildeo observadas entre elas inclusa o registro no cartoacuterio competente

Na presente situaccedilatildeo a RFFSA apenas dispunha dos direitos de posse dos

terrenos prova disso eacute que os lotes sequer possuiacuteam matriacutecula e registro em cartoacuterio

Desse modo por ocasiatildeo do Leilatildeo realizado por meio do Edital nordm

002RFFSAERREC200144 foram adquiridos pelo Sr Dioacutegenes da Cunha Lima

apenas os direitos de posse da seguinte aacuterea destacada no mapa

44 Documentos acostados agraves fls 69-73 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Mapa 0345

A informaccedilatildeo eacute corroborada pelos depoimentos46 prestados pelos engenheiros

da RFFSA em audiecircncia realizada nos autos da Accedilatildeo de Reintegraccedilatildeo de Posse

registrada sob o nordm 2001014FP Vejamos

45 Mapa elaborado a partir das informaccedilotildees constantes no contrato firmado entre as partes conformefls 6970 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe46 Fls 104-106 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Os depoimentos acima colacionados demonstram que a RFFSA de fato tinha

os direitos de posse da aacuterea No entanto conforme demonstrado posse e

propriedade satildeo institutos diferentes e independentes

Desse modo o objeto do Edital nordm 002RFFSAERREC2001 restringia-se agrave

alienaccedilatildeo dos direitos de posse da aacuterea destacada no Mapa 01 uma vez que ningueacutem

pode alienar o que natildeo eacute seu O Contrato nordm 41 firmado entre a RFFSA e o Sr

Dioacutegenes da Cunha Lima traz os seguintes termos

Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

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Ante o exposto conclui-se que ao contraacuterio do que afirma o Sr Dioacutegenes da

Cunha Lima nunca foi proprietaacuterio dos bens alienados mas mero detentor dos

direitos possessoacuterios da aacuterea leiloada pela RFFSA

VIII2 ndash Da desapropriaccedilatildeo indireta e da desobediecircncia agrave legalidade estrita

A desapropriaccedilatildeo constitui modalidade supressiva de intervenccedilatildeo do Estado

na propriedade privada agrave luz do interesse puacuteblico Trata-se portanto de

procedimento administrativo utilizado pelo Poder Puacuteblico que impotildee ao proprietaacuterio

de um bem a sua perda em favor do patrimocircnio puacuteblico em regra mediante preacutevia e

justa indenizaccedilatildeo

Na hipoacutetese de desapropriaccedilatildeo indireta considerada uma forma de esbulho

pelos doutrinadores47 a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo observa o devido processo legal e

os tracircmites necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da desapropriaccedilatildeo ordinaacuteria

No entanto apesar da aparente irregularidade a desapropriaccedilatildeo indireta eacute

irreversiacutevel sendo assegurado ao particular que teve o bem desapropriado apenas o

direito de reclamar indenizaccedilatildeo mas natildeo o de conseguir a retrocessatildeo do bem48

Ocorrida a desapropriaccedilatildeo indireta o que subsiste eacute a propositura de accedilatildeo

judicial com a finalidade de reclamar perdas e danos devendo o valor47 ALEXANDRE Ricardo Direito administrativo Ricardo Alexandre Joatildeo de Deus ndash 4 ed revatual e ampl ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 201848 Decreto-lei nordm 33651941 Art 35 Os bens expropriados uma vez incorporados agrave Fazenda Puacuteblicanatildeo podem ser objeto de reivindicaccedilatildeo ainda que fundada em nulidade do processo dedesapropriaccedilatildeo Qualquer accedilatildeo julgada procedente resolver-se-aacute em perdas e danos

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correspondente agrave indenizaccedilatildeo ser apurado conforme o procedimento estabelecido no

Decreto-lei nordm 33651941 que dispotildee acerca das desapropriaccedilotildees por utilidade

puacuteblica

De acordo com o referido dispositivo legal deveraacute ser elaborado laudo pericial

no curso da instruccedilatildeo processual que levaraacute em consideraccedilatildeo preccedilo de aquisiccedilatildeo e

interesse auferido pelo possuidor o estado de conservaccedilatildeo e seguranccedila o valor venal

dos bens da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos a valorizaccedilatildeo ou depreciaccedilatildeo da

aacuterea dentre outros49

Ao final da instruccedilatildeo processual a sentenccedila fixaraacute o valor arbitrado a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo que normalmente segue o disposto no laudo pericial estando sujeita ao

duplo grau de jurisdiccedilatildeo desde que atenda os requisitos do atual art 496 do Coacutedigo

de Processo Civil50 soacute produzindo efeitos depois de confirmada pelo Tribunal

49 Decreto-lei nordm 33651941 - Art 27 O juiz indicaraacute na sentenccedila os fatos que motivaram o seuconvencimento e deveraacute atender especialmente agrave estimaccedilatildeo dos bens para efeitos fiscais ao preccedilo deaquisiccedilatildeo e interesse que deles aufere o proprietaacuterio agrave sua situaccedilatildeo estado de conservaccedilatildeo eseguranccedila ao valor venal dos da mesma espeacutecie nos uacuteltimos cinco anos e agrave valorizaccedilatildeo oudepreciaccedilatildeo de aacuterea remanescente pertencente ao reacuteu 50 Art 496 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeito senatildeo depois de confirmadapelo tribunal a sentenccedila I - proferida contra a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal os Municiacutepios esuas respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - que julgar procedentes no todo ou emparte os embargos agrave execuccedilatildeo fiscal sect 1ordm Nos casos previstos neste artigo natildeo interposta a apelaccedilatildeono prazo legal o juiz ordenaraacute a remessa dos autos ao tribunal e se natildeo o fizer o presidente dorespectivo tribunal avocaacute-los-aacute sect 2ordm Em qualquer dos casos referidos no sect 1ordm o tribunal julgaraacute aremessa necessaacuteria sect 3ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a condenaccedilatildeo ou o proveitoeconocircmico obtido na causa for de valor certo e liacutequido inferior a I - 1000 (mil) salaacuterios-miacutenimos paraa Uniatildeo e as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico II - 500 (quinhentos) salaacuterios-miacutenimos para os Estados o Distrito Federal as respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico eos Municiacutepios que constituam capitais dos Estados III - 100 (cem) salaacuterios-miacutenimos para todos os

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responsaacutevel

Em respeito agrave Constituiccedilatildeo Federal51 e ao Decreto-lei nordm 3365194152 o

pagamento nos casos de desapropriaccedilatildeo por utilidade puacuteblica deveraacute ocorrer de

forma justa preacutevia e em dinheiro recompondo o patrimocircnio de quem foi

expropriado

Tratando-se de desapropriaccedilatildeo indireta dado que acontece mediante uma

imissatildeo na posse por parte da Administraccedilatildeo o pagamento preacutevio de indenizaccedilatildeo

fica prejudicado no entanto continuaraacute sendo devido e pago de modo justo e em

dinheiro

Conforme relatado no presente caso a accedilatildeo possessoacuteria ajuizada pelo

particular foi convertida em accedilatildeo indenizatoacuteria53 conforme a Decisatildeo proferida pelo

demais Municiacutepios e respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico sect 4ordm Tambeacutem natildeo se aplicao disposto neste artigo quando a sentenccedila estiver fundada em I - suacutemula de tribunal superior II -acoacuterdatildeo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiccedila em julgamentode recursos repetitivos III - entendimento firmado em incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivasou de assunccedilatildeo de competecircncia IV - entendimento coincidente com orientaccedilatildeo vinculante firmada noacircmbito administrativo do proacuteprio ente puacuteblico consolidada em manifestaccedilatildeo parecer ou suacutemulaadministrativa51 Art 5ordm (hellip) XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ouutilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiroressalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo 52 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro ()53 Em que pese a conversatildeo da accedilatildeo possessoacuteria em indenizatoacuteria inicialmente causar estranheza oentendimento do STJ no Resp Nordm 1442440AC demonstra que tal medida eacute possiacutevel Vejamos oacoacuterdatildeo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO REINTEGRACcedilAtildeO DE POSSE CASOCONCRETO IMPOSSIBILIDADE INVASAtildeO DO IMOacuteVEL POR MILHARES DE FAMIacuteLIAS DEBAIXA RENDA OMISSAtildeO DO ESTADO EM FORNECER FORCcedilA POLICIAL PARA OCUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL APOSSAMENTO ADMINISTRATIVO E OCUPACcedilAtildeOCONSOLIDADA ACcedilAtildeO REINTEGRATOacuteRIA CONVERSAtildeO EM INDENIZATOacuteRIA POSTERIOR

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Juiacutezo da 8ordf Vara Federal54 pois segundo o entendimento do magistrado a

controveacutersia seria resolvida atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta

Vejamos os exatos termos da Decisatildeo

Trecho 01 da Decisatildeo constante agrave fl 215 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

EXAME COMO DESAPROPRIACcedilAtildeO JUDICIAL SUPREMACIA DO INTERESSE PUacuteBLICO ESOCIAL SOBRE O PARTICULAR INDENIZACcedilAtildeO RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOMUNICIacutePIO JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS NAtildeO OCORREcircNCIALEGITIMIDADE AD CAUSAM JUSTO PRECcedilO PARAcircMETROS PARA A AVALIACcedilAtildeO SUPRESSAtildeODE INSTAcircNCIA CAacuteLCULO DO VALOR LIQUIDACcedilAtildeO DE SENTENCcedilA Relator Ministro Gurgelde Faria Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico publicado em 1502201854 Decisatildeo constante agraves fls 214-220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Trecho 02 da Decisatildeo constante agrave fl 216 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 03 da Decisatildeo constante agrave fl 217 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Trecho 04 da Decisatildeo constante agrave fl 220 do Anexo II Volume I do Inqueacuterito Civilem epiacutegrafe

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Diante do exposto obviamente natildeo caberia ao possuidor pleitear o reingresso

do imoacutevel ao seu patrimocircnio mas apenas postular indenizaccedilatildeo em virtude das

perdas e danos produzidos pelo expropriante em face dos prejuiacutezos causados

Dessa forma a indenizaccedilatildeo a ser pleiteada pelo antigo detentor dos direitos de

posse das glebas em discussatildeo deveria ser paga de modo justo auferido a partir de

laudo pericial e em dinheiro

No entanto o que ocorreu na praacutetica foi - apoacutes o decliacutenio de competecircncia

desse processo quando a Advocacia-Geral da Uniatildeo manifestou-se no sentido de natildeo

possuir interesse puacuteblico da Uniatildeo envolvido ndash a celebraccedilatildeo de um acordo

extrajudicial homologado em Juiacutezo na Justiccedila Estadual em total desconformidade

com a legalidade uma vez que natildeo foi realizada avaliaccedilatildeo da aacuterea em discussatildeo

para auferir o quantum a ser pago a tiacutetulo da posse e inobservando que essa aacuterea

estava circunscrita numa zona de proteccedilatildeo cultural

Ao fim e a cabo a aacuterea do corredor cultural por onde passava a extinta linha

feacuterrea Mossoroacute-Sousa era bem puacuteblico pertencente ao Municiacutepio de Mossoroacute

sendo a extinta RFFSA titular apenas dos direitos de posse os quais apoacutes o fim de

suas atividades deveriam em sua totalidade serem devolvidos ao povo

mossoroense

Aleacutem disso o pagamento a tiacutetulo de indenizaccedilatildeo foi realizado por meio do

reconhecimento da propriedade dos terrenos em favor do particular que

originalmente era detentor dos direitos de posse tambeacutem sendo acordado o

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acreacutescimo de mais um terreno ao patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute

anteriormente pertencente a particulares

Ante o exposto faz-se necessaacuterio ressaltar que diferentemente da liberdade

conferida aos particulares que podem realizar tudo aquilo que natildeo eacute vedado em lei

todos os atos realizados pela Administraccedilatildeo Puacuteblica satildeo regidos pela legalidade

estrita prevista expressamente no caput do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal logo os

agentes puacuteblicos apenas podem agir de acordo com o que estaacute expressamente

previsto na legislaccedilatildeo

Nas palavras do ilustre jurista Joseacute dos Santos Carvalho Filho55

O princiacutepio da legalidade eacute certamente a diretriz baacutesica da conduta dosagentes da Administraccedilatildeo Significa que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei Natildeo o sendo a atividade eacuteiliacutecita Tal postulado consagrado apoacutes seacuteculos de evoluccedilatildeo poliacutetica tem pororigem mais proacutexima a criaccedilatildeo do Estado de Direito ou seja do Estado quedeve respeitar as proacuteprias leis que edita O princiacutepio ldquoimplicasubordinaccedilatildeo completa do administrador agrave lei Todos os agentes puacuteblicosdesde o que lhe ocupe a cuacutespide ateacute o mais modesto deles devem serinstrumentos de fiel e doacutecil realizaccedilatildeo das finalidades normativasrdquo Naclaacutessica e feliz comparaccedilatildeo de HELY LOPES MEIRELLES enquanto osindiviacuteduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei natildeo veda oadministrador puacuteblico soacute pode atuar onde a lei autoriza (hellip) Umaconclusatildeo eacute inarredaacutevel havendo dissonacircncia entre a conduta e a leideveraacute aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude Natildeo custa lembrarpor uacuteltimo que na teoria do Estado moderno haacute duas funccedilotildees estataisbaacutesicas a de criar a lei (legislaccedilatildeo) e a de executar a lei (administraccedilatildeo ejurisdiccedilatildeo) Esta uacuteltima pressupotildee o exerciacutecio da primeira de modo que soacutese pode conceber a atividade administrativa diante dos paracircmetros jaacuteinstituiacutedos pela atividade legisferante Por isso eacute que administrar eacute funccedilatildeo

55 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Satildeo Paulo Atlas 2017

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subjacente agrave de legislar O princiacutepio da legalidade denota exatamente essarelaccedilatildeo soacute eacute legiacutetima a atividade do administrador puacuteblico se estivercondizente com o disposto na lei (Grifos acrescidos)

Na presente situaccedilatildeo os agentes puacuteblicos agiram de modo livre em

oportunidade na qual a discricionariedade natildeo era cabiacutevel A lei determina

expressamente56 que a indenizaccedilatildeo devida ao particular em casos de desapropriaccedilatildeo

por interesse puacuteblico deveraacute ser apurada mediante a elaboraccedilatildeo de laudo e paga em

dinheiro natildeo havendo margem legal para que o gestor puacuteblico decida realizar o

pagamento atraveacutes de daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis que sequer foram avaliados

ao particular

Desse modo tendo em vista a clara ofensa ao princiacutepio constitucional da

legalidade o negoacutecio juriacutedico realizado entre o grupo de empresaacuterios a entatildeo

Prefeita de Mossoroacute Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e a entatildeo Procuradora-

Geral do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Bulamarqui eacute iliacutecito e

precisa ser anulado

VIII3 ndash Da possibilidade de desapropriaccedilatildeo dos direitos de posse

O art 2ordm do Decreto-Lei 33651941 determina que ldquotodos os bens poderatildeo ser

desapropriadosrdquo Portanto embora hajam exceccedilotildees agrave possibilidade de desapropriar em

regra se haacute um bem juriacutedico ele pode ser objeto de desapropriaccedilatildeo Eacute o que ocorre

56 Decreto-lei nordm 33651941 Art 32 O pagamento do preccedilo seraacute preacutevio e em dinheiro

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com a posse jaacute que ela eacute um bem juriacutedico e confere ao seu titular direitos e

obrigaccedilotildees

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu que ldquoA posse conquanto

imaterial em sua conceituaccedilatildeo eacute um fato juriacutegeno sinal exterior da propriedade Eacute portanto

um bem juriacutedico e como tal suscetiacutevel de proteccedilatildeo Daiacute por que a posse eacute indenizaacutevel como

todo e qualquer bemrdquo57 Por isso ldquoO expropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem

direito a receber a correspondente indenizaccedilatildeordquo58

Esse entendimento foi reproduzido no julgamento do AgRg no Ag

1261328BA que cita diversos precedentes no mesmo sentido

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DEINSTRUMENTO - ADMINISTRATIVO - INTERVENCcedilAtildeO DO ESTADO NAPROPRIEDADE - DESAPROPRIACcedilAtildeO - POSSE - INDENIZACcedilAtildeO AODETENTOR DA POSSE - POSSIBILIDADE - SUacuteMULA 83STJ 1 Oexpropriado que deteacutem apenas a posse do imoacutevel tem direito a receber acorrespondente indenizaccedilatildeo Precedentes REsp 1118854SP Rel MinistraELIANA CALMON DJe 28102009 REsp 953910BA Rel MinistroMAURO CAMPBELL MARQUES DJe 10092009 REsp 769731PR RelMinistro LUIZ FUX DJ 31052007 p 343 REsp 184762PR Rel MinistroHUMBERTO GOMES DE BARROS DJ 28022000 2 Agravo regimentaldesprovido AgRg no Ag 1261328 BA 20090242583-0 Relator MinistroLUIZ FUX Data de Julgamento 06042010 T1 ndash PRIMEIRA TURMA Datade Publicaccedilatildeo DJe 22042010

Ocorre que embora indenizaacutevel o valor pago a tiacutetulo da desapropriaccedilatildeo da

posse natildeo eacute igual ao pago quando o particular tem a propriedade do bem Nesse

57 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 769731PR Brasiacutelia 8 de maio de 200758 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 1261328BA Brasiacutelia 6 de abril de 2010

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sentido eacute o entendimento do Superior Tribunal de Justiccedila59

Eacute injuriacutedico todavia indenizar-se a posse mediante a quantificaccedilatildeointegral do imoacutevel como se o ressarcimento (ao mero possuidor) recaiacutessesobre a posse e o domiacutenio A indenizaccedilatildeo integral in casu considerado oproprietaacuterio ao mesmo tempo como possuidor e proprietaacuterio importa emenriquecimento iliacutecito do expropriado em detrimento do oacutergatildeo puacuteblicoexpropriante com desafeiccedilatildeo agrave justeza da reparaccedilatildeo que o princiacutepioconstitucional preconiza (Grifos acrescidos)

O pagamento deve ser proporcional ao direito que o particular deteacutem de

modo que natildeo importe em enriquecimento iliacutecito Portanto a indenizaccedilatildeo deveraacute

recair nas benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias construiacutedas de boa-feacute acrescida de uma

quantia mensurada atraveacutes de um percentual aplicado sobre o valor do domiacutenio da

terra nua

Quanto ao paracircmetro adotado para mensurar o valor da posse o Superior

Tribunal de Justiccedila em algumas ocasiotildees jaacute decidiu60 que

O ressarcimento de terreno desapropriado sem tiacutetulo dominial (arts 524 e530 i Coacutedigo Civil) em favor do legiacutetimo possuidor natildeo deve ser feito porinteiro Como soluccedilatildeo de equidade eacute razoaacutevel que se reconheccedila a quemdesfrute de habitual uso e gozo do imoacutevel expropriado indenizaccedilatildeoequivalente a 60 sobre o valor do terreno mais aquela decorrente dasbenfeitorias uacuteteis e necessaacuterias que perdeu (Grifos acrescidos)

O percentual acima mencionado serve apenas como base vaacutelido para casos

gerais Na situaccedilatildeo em concreto devem ser avaliados criteacuterios como o tempo da

posse podendo ser inferior aos 60 (sessenta por cento) quando a posse for recente

59 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 77624PR Brasiacutelia 20 de junho de 199660 Superior Tribunal de Justiccedila Recurso Especial 538PR Brasiacutelia 3 de maio de 1993

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eou sem qualquer espeacutecie de tiacutetulo negocial

Cumpre ressaltar que a desapropriaccedilatildeo apenas dos direitos de posse eacute possiacutevel

somente nas hipoacuteteses em que o bem imoacutevel natildeo se encontre registrado nas

serventias imobiliaacuterias Isso ocorre porque caso o ente puacuteblico desapropriasse

exclusivamente os direitos de posse de um imoacutevel registrado o valor pago a tiacutetulo de

indenizaccedilatildeo seria menor que o justo uma vez que a propriedade natildeo estaria sendo

indenizada

No presente caso os imoacuteveis objeto da demanda natildeo possuiacuteam registro

cartoraacuterio tendo sido determinada a abertura de matriacutecula pelo Juiacutezo conforme a

Sentenccedila homologatoacuteria do acordo61

Isso significa que o Sr Dioacutegenes da Cunha Lima natildeo tinha os direitos de

propriedade dos terrenos mas sim os direitos de posse conforme consignado no

Contrato nordm 41RFFSA-ERREC2001

61 Acostada agrave fl 96 Volume I do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe

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Contrato colacionado agraves fls 69-71 do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe acostado aosautos por Dioacutegenes

Ademais embora o particular tivesse os direitos de posse dos terrenos como

comprovado atraveacutes da ata do leilatildeo da RFFSA a posse era recente tendo a

Prefeitura Municipal de Mossoroacute no ano de 2000 realizado manifestaccedilatildeo de interesse

na aacuterea editado lei no ano de 2001 que demonstrava o interesse puacuteblico e ainda

edificado construccedilotildees puacuteblicas e planejado a execuccedilatildeo de outras na aacuterea conforme jaacute

detalhado na siacutentese faacutetica do caso

Dessa forma a indenizaccedilatildeo devida pelo Municiacutepio de Mossoroacute ao Sr Dioacutegenes

da Cunha Lima a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta deveria (e ainda deve) ser

quantificada levando em consideraccedilatildeo que ele era titular recente dos direitos de

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posse das glebas natildeo da propriedade

Outrossim saliente-se que ao fim do procedimento de desapropriaccedilatildeo todos

os imoacuteveis objeto da lide deveriam ter sido registrados na serventia imobiliaacuteria

competente em nome do Municiacutepio de Mossoroacute tendo em vista que a

desapropriaccedilatildeo eacute forma originaacuteria de aquisiccedilatildeo da propriedade isto eacute independe de

tiacutetulo anterior

Desse modo diante das incontaacuteveis ilegalidades constantes no acordo ora

firmado entre as partes os imoacuteveis ao longo do poliacutegono da Av Rio Branco devem ter

seu registro retificado constando que o Municiacutepio de Mossoroacute eacute o detentor de seus

direitos de posse e propriedade

VIII4 ndash Da inobservacircncia ao art 475 do CPC 1973

O acordo em discussatildeo foi firmado e homologado no ano de 2013 eacutepoca em

que vigorava o Coacutedigo de Processo Civil de 1973 Dessa forma a aplicaccedilatildeo do

reexame necessaacuterio deveria ter sido observada nos moldes prescritos no art 475 da

referida legislaccedilatildeo Vejamos

Art 475 Estaacute sujeita ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo natildeo produzindo efeitosenatildeo depois de confirmada pelo tribunal a sentenccedilaI - proferida contra a Uniatildeo o Estado o Distrito Federal o Municiacutepio e asrespectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblicoII - que julgar procedentes no todo ou em parte os embargos agrave execuccedilatildeo dediacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica (art 585 VI)sect 1o Nos casos previstos neste artigo o juiz ordenaraacute a remessa dos autos

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ao tribunal haja ou natildeo apelaccedilatildeo natildeo o fazendo deveraacute o presidente dotribunal avocaacute-lossect 2o Natildeo se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenaccedilatildeo ou odireito controvertido for de valor certo natildeo excedente a 60 (sessenta)salaacuterios miacutenimos bem como no caso de procedecircncia dos embargos dodevedor na execuccedilatildeo de diacutevida ativa do mesmo valorsect 3o Tambeacutem natildeo se aplica o disposto neste artigo quando a sentenccedila estiverfundada em jurisprudecircncia do plenaacuterio do Supremo Tribunal Federal ou emsuacutemula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

Da leitura do dispositivo acima colacionado entende-se que as sentenccedilas

proferidas contra o Municiacutepio estatildeo sujeitas ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo produzindo

efeitos apenas apoacutes a realizaccedilatildeo de sua confirmaccedilatildeo pelo tribunal competente

Sobre o tema relevante destacar o que leciona Leonardo Carneiro da Cunha62

Para que haja efetivamente a remessa necessaacuteria deve o juiz determinaacute-lade maneira expressa na proacutepria sentenccedila Natildeo havendo tal determinaccedilatildeoou seja omitindo-se o juiz em determinar a remessa obrigatoacuteria jamais iraacuteoperar-se o tracircnsito em julgado da sentenccedila Nesse caso o juiz de ofiacutecioou a requerimento de qualquer uma das partes poderaacute corrigir a omissatildeodeterminando a qualquer momento a remessa dos autos ao tribunal parao reexame da sentenccedila Alternativamente o presidente do tribunaligualmente de ofiacutecio ou a requerimento de qualquer das partes poderaacuteavocar os autos determinando a distribuiccedilatildeo a um relator para que sejaprocessado e julgado o reexame necessaacuterio No caso de haver a incidecircnciade uma das hipoacuteteses dos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 do CPC natildeo basta que o juizsimplesmente omita na sentenccedila a determinaccedilatildeo de reexame necessaacuterioIsso porque a simples omissatildeo faraacute com que natildeo transite em julgado asentenccedila podendo a qualquer momento ser determinada a remessanecessaacuteria ou avocados os autos pelo presidente do tribunal Realmentepara que se faccedila valer o comando encartado nos sectsect 3ordm e 4ordm do art 496 doCPC deve o juiz fundamentadamente dispensar a remessa necessaacuteria

62 Cunha Leonardo Carneiro da A Fazenda Puacuteblica em juiacutezo ndash 15 ed rev atual e ampl ndash Rio deJaneiro Forense 2018

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esclarecendo o motivo pelo qual natildeo a determinou Aliaacutes a necessidade defundamentar eacute exigecircncia constitucional reforccedilada pelo disposto no sect 1ordm doart 489 do CPC Caso natildeo haja a dispensa fundamentada haveraacute simplesomissatildeo impedindo o tracircnsito em julgado da sentenccedila cujo reexamenecessaacuterio se considera determinado ex lege consoante se extrai dostermos do enunciado 423 da Suacutemula do STF () Dispensada a remessanecessaacuteria e natildeo havendo recurso contra tal dispensa exsurgiraacute acoisa julgada material somente podendo o meacuterito ser reapreciado em sedede accedilatildeo rescisoacuteria caso se configure uma das hipoacuteteses arroladas no art966 do CPC (Grifos acrescidos)

Os Tribunais brasileiros posicionam-se no sentido de que a inobservacircncia ao

reexame necessaacuterios impede a formaccedilatildeo de coisa julgada material Vejamos

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS INFRINGENTES INOBSERVAcircNCIADA REMESSA NECESSAacuteRIA AUSEcircNCIA DE TRAcircNSITO EMJULGADO I ndash A omissatildeo ao envio dos autos a este Eg Tribunal RegionalFederal por forccedila da remessa necessaacuteria impede o tracircnsito em julgado daSentenccedila de acordo com a Suacutemula 423 do STJ Por conseguinte satildeo nulastodas as Decisotildees tomadas apoacutes a Sentenccedila II ndash O reexame necessaacuterio - noseu momento correto e adequado - eacute uma imposiccedilatildeo legal insuperaacutevel eportanto inafastaacutevel III ndash No que concerne ao meacuterito os elementosconstantes dos autos natildeo lograram comprovar a aprovaccedilatildeo do Autor nasmateacuterias constantes do concurso para a carreira de Oficial de Chancelarianatildeo se podendo afirmar categoricamente que o mesmo seria aprovado aofinal de todas as etapas do referido concurso IV ndash Natildeo restou demonstradonos autos ainda que o Autor foi reprovado na entrevista por conta demotivaccedilatildeo poliacutetica V ndash Recurso provido para dar provimento agrave RemessaNecessaacuteria no sentido de julgar improcedente o pedido contido naexordial determinando a nulidade de todas as Decisotildees tomadas apoacutes aSentenccedila fazendo prevalecer desta feita o voto vencido nos seus exatostermos (TRF-2 ndash EIAC 41256 RJ 930200497-0 Relator DesembargadoraFederal FATIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA Data de Julgamento24112005 QUARTA SECcedilAtildeO ESPECIALIZADA Data de Publicaccedilatildeo DJU ndashData16122005 ndash Paacutegina422) (Grifos acrescidos)

APELACcedilOtildeES CIacuteVEIS IMPUGNACcedilAtildeO AO CUMPRIMENTO DE

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SENTENCcedilA RECONHECIDA A AUSEcircNCIA DO TRAcircNSITO EMJULGADO POR INOBSERVAcircNCIA Agrave REMESSA NECESSAacuteRIASENTENCcedilA CONCESSIVA DA SEGURANCcedilA NA ORIGEM DUPLOGRAU DE JURISDICcedilAtildeO OBRIGATOacuteRIO ndash ART 14 sect 1ordm DA LEI 1201609INAPLICABILIDADE DO ART 496 DO CPC15 AFASTADA ALITIGAcircNCIA DE MAacute-FEacute RECURSO IMPROVIDO CABIacuteVEL A FIXACcedilAtildeODE HONORAacuteRIOS DE SUCUMBEcircNCIA sect 8ordm do art 85 do CPC15PROVIDO O APELO ADESIVO (TJ-BA ndash APL 0308321-4520148050001Relator Regina Helena Ramos Reis Segunda Cacircmara Ciacutevel Data dePublicaccedilatildeo 08052018) (Grifos acrescidos)

Depreende-se portanto que uma vez atingido o patrimocircnio do municiacutepio a

sentenccedila obrigatoriamente deve ser submetida ao duplo grau de jurisdiccedilatildeo

excetuando-se os casos expressamente previstos na lei devendo o Juiacutezo justificar a

ocorrecircncia da hipoacutetese por ocasiatildeo da Sentenccedila natildeo sendo possiacutevel que a sua

omissatildeo baste para a inocorrecircncia do reexame

A consequecircncia da inobservacircncia da submissatildeo da sentenccedila ao duplo grau de

jurisdiccedilatildeo eacute a impossibilidade da ocorrecircncia do tracircnsito em julgado da accedilatildeo isso

significa dizer que natildeo haveraacute a formaccedilatildeo de coisa julgada material

No presente caso o patrimocircnio do Municiacutepio de Mossoroacute foi claramente

afetado pela transaccedilatildeo logo o Juiacutezo tinha a obrigaccedilatildeo legal de submeter a Sentenccedila agrave

remessa necessaacuteria tendo em vista natildeo tratar-se de situaccedilatildeo que amolde-se a

qualquer hipoacutetese de dispensa prevista no texto legal Como natildeo o fez e sequer

justificou o motivo natildeo haacute que se falar em formaccedilatildeo de coisa julgada material ou

seja a Sentenccedila proferida nos autos de nordm 0703974-3320098200106 natildeo poderia

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produzir efeito algum

Observe da simples leitura do dispositivo legal agrave eacutepoca em vigecircncia que a

presente situaccedilatildeo natildeo se enquadra em hipoacutetese de dispensa do reexame necessaacuterio

Com base no valor R$ 24815700 (duzentos e quarenta e oito mil cento e cinquenta e

sete reais) pago pelo grupo de empresaacuterios para a aquisiccedilatildeo dos terrenos no ano de

2001 sem a incidecircncia de juros ou qualquer atualizaccedilatildeo percebe-se que o quantum

ultrapassa o valor de 60 (sessenta) salaacuterios-miacutenimos previsto no sect3ordm do art 475 do

CPC1973 cujo valor no ano de 2013 era de R$ 6780063 (seiscentos e setenta e oito

reais) totalizando a quantia de R$ 4068000 (quarenta mil seiscentos e oitenta reais)

valor extremamente aqueacutem do atribuiacutedo aos bens objeto da transaccedilatildeo

VIII5 - Da impossibilidade de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos afetados

De acordo com o Coacutedigo Civil64 os bens puacuteblicos podem ser classificados em

trecircs espeacutecies quais sejam a) de uso comum do povo destinados ao uso da

coletividade em geral b) de uso especial destinados agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

63 Decreto nordm 7872201264 Art 99 Satildeo bens puacuteblicosI - os de uso comum do povo tais como rios mares estradas ruas e praccedilasII - os de uso especial tais como edifiacutecios ou terrenos destinados a serviccedilo ou estabelecimento daadministraccedilatildeo federal estadual territorial ou municipal inclusive os de suas autarquiasIII - os dominicais que constituem o patrimocircnio das pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico como objetode direito pessoal ou real de cada uma dessas entidadesParaacutegrafo uacutenico Natildeo dispondo a lei em contraacuterio consideram-se dominicais os bens pertencentes agravespessoas juriacutedicas de direito puacuteblico a que se tenha dado estrutura de direito privado

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e serviccedilos administrativos e c) dominicais que natildeo satildeo utilizados pela coletividade

nem para a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos ou administrativos ou seja satildeo

desafetados

As duas primeiras modalidades integram o domiacutenio puacuteblico do Estado e a

terceira integra os bens de domiacutenio privado do Estado Nesse sentido os artigos 100 e

101 do Coacutedigo Civil de 2002 determinam que apenas os bens puacuteblicos dominicais

podem ser objeto de alienaccedilatildeo

Art 100 Os bens puacuteblicos de uso comum do povo e os de uso especial satildeoinalienaacuteveis enquanto conservarem a sua qualificaccedilatildeo na forma que a leideterminarArt 101 Os bens puacuteblicos dominicais podem ser alienados observadas asexigecircncias da lei (Grifos acrescidos)

Contudo a inalienabilidade inerente aos bens puacuteblicos de uso comum do povo

e de uso especial natildeo eacute absoluta sobre isso a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro 65

assevera que os bens

que sejam inalienaacuteveis em decorrecircncia de destinaccedilatildeo legal e sejamsuscetiacuteveis de valoraccedilatildeo patrimonial podem perder o caraacuteter deinalienabilidade desde que percam a destinaccedilatildeo puacuteblica o que ocorrepela desafetaccedilatildeo (hellip) (Grifos acrescidos)

Sobre os conceitos de afetaccedilatildeo e desafetaccedilatildeo Rafael Carvalho Rezende de

Oliveira66 afirma 65 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 163466 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 675-676

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A afetaccedilatildeo (ou consagraccedilatildeo) e a desafetaccedilatildeo (ou desconsagraccedilatildeo)relacionam-se com a vinculaccedilatildeo ou natildeo do bem puacuteblico agrave determinadafinalidade puacuteblica Afetaccedilatildeo significa a atribuiccedilatildeo faacutetica ou juriacutedica definalidade puacuteblica geral ou especial ao bem puacuteblico Os bens puacuteblicosafetados satildeo os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial Ainstituiccedilatildeo da afetaccedilatildeo pode ocorrer de trecircs formas a) lei (ex lei queinstitui Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA) b) ato administrativo (ex atoadministrativo que determina a construccedilatildeo de hospital puacuteblico) e c) fatoadministrativo (ex construccedilatildeo de escola puacuteblica em terreno privado semprocedimento formal preacutevio configurando desapropriaccedilatildeo indireta)Desafetaccedilatildeo ao contraacuterio eacute a retirada faacutetica ou juriacutedica da destinaccedilatildeopuacuteblica anteriormente atribuiacuteda ao bem puacuteblico Os bens desafetados satildeoos bens puacuteblicos dominicais Da mesma forma que a afetaccedilatildeo adesafetaccedilatildeo pode ser implementada de trecircs maneiras a) lei (ex lei quedetermina a desativaccedilatildeo de reparticcedilatildeo puacuteblica) b) ato administrativo (exato administrativo que determina a demoliccedilatildeo de escola puacuteblica com atransferecircncia dos alunos para outra unidade de ensino) e c) fatoadministrativo (ex incecircndio destroacutei biblioteca puacuteblica municipalinviabilizando a continuidade dos serviccedilos) (Grifos acrescidos)

No presente caso por forccedila da Lei 15072001 a aacuterea objeto do acordo

homologado judicialmente integra a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3)67 local

em que soacute poderiam ser desempenhadas atividades relacionadas a oacutergatildeos puacuteblicos

equipamentos de paisagismo recreaccedilatildeo lazer educaccedilatildeo e sauacutede

67 Art 11 (hellip) III ndash Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) compreendida pelas aacutereas natildeo edificadaseou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estado de ruiacutena situadas entre as faixas de rolamentoesquerda e direita da Av Rio Branco no seu segmento entre a Av Augusto Severo e a Rua CoelhoNeto Inclui-se ainda na ZE3 as aacutereas natildeo edificadas eou cujas edificaccedilotildees encontram-se em estadode ruiacutena localizadas no trecho seccionado da faixa de rolamento direita da Av Rio Branco e incluiacutedasno poliacutegono formado a partir da interseccedilatildeo desta com segmento da Rua Niacutesia Floresta seguindo-sepelas Ruas Joseacute Bonifaacutecio e Joaquim Nabuco e pela Travessa Joatildeo de Brito desta pela continuaccedilatildeo daRua Joseacute Bonifaacutecio ateacute a Rua Ceacutesar Campos seguindo-se por esta ateacute a faixa de rolamento esquerda daAv Rio Branco fechando o poliacutegono

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Tendo em vista que a afetaccedilatildeo do bem ocorreu atraveacutes de uma lei em respeito

ao Princiacutepio da Simetria e agrave hierarquia dos atos juriacutedicos apenas mediante a ediccedilatildeo

de nova lei em disposiccedilatildeo contraacuteria o bem poderia ser desafetado conforme leciona

Rafael Carvalho Rezende de Oliveira68

A afetaccedilatildeo e a desafetaccedilatildeo formais devem respeitar o princiacutepio da simetria ea hierarquia dos atos juriacutedicos Assim por exemplo na hipoacutetese em que alei confere destinaccedilatildeo a determinado bem puacuteblico a desafetaccedilatildeo deveocorrer por meio de lei e natildeo por meio de ato administrativo (Grifosacrescidos)

Assim sabendo-se que natildeo houve a ediccedilatildeo de nova lei que desafetasse os bens

que constituem a Zona Especial da Av Rio Branco (ZE3) conclui-se que os terrenos

alienados atraveacutes do acordo elaborado entre as partes natildeo eram bens dominicais ou

seja natildeo se enquadravam como bens de domiacutenio privado do Estado uma vez que

estavam afetados pela Lei 15072001 que os definiu como Zona Especial do

Municiacutepio de Mossoroacute Dessa forma os bens em questatildeo eram protegidos pela

inalienabilidade o que segundo os termos do art 100 do Coacutedigo Civil inviabilizava

a celebraccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

A inobservacircncia da inalienabilidade dos bens transacionados natildeo eacute a uacutenica

irregularidade presente na celebraccedilatildeo do acordo homologado isso porque aleacutem da

desafetaccedilatildeo a realizaccedilatildeo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos deve obedecer a alguns

requisitos legais Eacute o que seraacute analisado no proacuteximo toacutepico68 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 676

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VIII6 ndash Das disposiccedilotildees legais que regem a daccedilatildeo em pagamento de imoacuteveis

puacuteblicos

Os bens puacuteblicos municipais podem ser alienados atraveacutes dos seguintes

institutos venda doaccedilatildeo troca daccedilatildeo em pagamento permuta investidura

concessatildeo de domiacutenio legitimaccedilatildeo da posse incorporaccedilatildeo e retrocessatildeo69

Apoacutes a realizaccedilatildeo da desafetaccedilatildeo do bem que pretende transacionar a

Administraccedilatildeo Puacuteblica deveraacute em regra cumprir os seguintes requisitos a)

justificativa ou motivaccedilatildeo b) definir o valor do bem por meio de avaliaccedilatildeo preacutevia c)

realizaccedilatildeo de licitaccedilatildeo na modalidade concorrecircncia para os bens imoacuteveis

(dispensada em alguns casos) e d) autorizaccedilatildeo legislativa mediante a ediccedilatildeo de lei

especiacutefica que autorize a alienaccedilatildeo dos imoacuteveis puacuteblicos70

No caso da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento ensina Nelson Nery Costa71

que

vem a ser o contrato em que o credor consente em receber coisa que natildeoseja dinheiro em substituiccedilatildeo da prestaccedilatildeo que lhe era devida OMuniciacutepio pode se valer desse instituto privado desde que hajaautorizaccedilatildeo legislativa e avaliaccedilatildeo preacutevia (Grifos acrescidos)

69 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 21770 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 41271 COSTA Nelson Nery Direito municipal brasileiro ndash 6ordf ed rev atual e ampl - Rio de JaneiroForense 2014 p 218

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Aleacutem de ser regida pelos arts 356 a 35972 do Coacutedigo Civil o ordenamento

juriacutedico brasileiro prevecirc que a realizaccedilatildeo de daccedilatildeo de bens puacuteblicos em pagamento eacute

subordinada aos ditames legais previstos nos arts 17 e 24 da Lei de Licitaccedilotildees e

Contratos Administrativos (Lei nordm 866693)

Art 17 A alienaccedilatildeo de bens da Administraccedilatildeo Puacuteblica subordinada agraveexistecircncia de interesse puacuteblico devidamente justificado seraacute precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa para oacutergatildeos daadministraccedilatildeo direta e entidades autaacuterquicas e fundacionais e para todosinclusive as entidades paraestatais dependeraacute de avaliaccedilatildeo preacutevia e delicitaccedilatildeo na modalidade de concorrecircncia dispensada esta nos seguintescasosa) daccedilatildeo em pagamento (hellip)

Em se tratando de bens puacuteblicos municipais e no presente caso pertencentes

ao Municiacutepio de Mossoroacute a alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos tambeacutem seraacute submetida ao

art 23 da Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Norte e ao art 108 da Lei

Orgacircnica do Municiacutepio de Mossoroacute

Art 23 A alienaccedilatildeo a qualquer tiacutetulo de quaisquer espeacutecies de bens dosMuniciacutepios depende de preacutevia autorizaccedilatildeo legislativa e licitaccedilatildeoParaacutegrafo uacutenico Eacute dispensada a licitaccedilatildeo quando o adquirente for pessoajuriacutedica de direito puacuteblico interno ou entidade de sua administraccedilatildeo indireta

72 Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devidaArt 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regular-se-atildeopelas normas do contrato de compra e vendaArt 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeoArt 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecer-se-aacute a obrigaccedilatildeoprimitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

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Art 108 A alienaccedilatildeo de bens municipais subordinada a existecircncia deinteresse puacuteblico devidamente justificado seraacute sempre precedida deavaliaccedilatildeo e obedeceraacute agraves seguintes normasI - quando imoacuteveis dependeraacute de autorizaccedilatildeo legislativa e concorrecircnciapuacuteblica dispensada esta nos casos de doaccedilatildeo e permuta (Grifos acrescidos)

Da anaacutelise dos dispositivos acima colacionados depreende-se que para a

realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento de bens puacuteblicos pertencentes ao Municiacutepio de

Mossoroacute faz-se necessaacuteria apoacutes a devida desafetaccedilatildeo do bem a motivaccedilatildeo

demonstrando a presenccedila de interesse puacuteblico devidamente justificado bem como a

avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem transferidos e a autorizaccedilatildeo legislativa

Acerca do Princiacutepio da Motivaccedilatildeo Maria Sylvia Zanella Di Pietro73 leciona

que

O princiacutepio da motivaccedilatildeo exige que a Administraccedilatildeo Puacuteblica indique osfundamentos de fato e de direito de suas decisotildees Ele estaacute consagrado peladoutrina e pela jurisprudecircncia natildeo havendo mais espaccedilo para as velhasdoutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcanccedilava soacute os atosvinculados ou soacute os atos discricionaacuterios ou se estava presente em ambas ascategorias A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de atoporque se trata de formalidade necessaacuteria para permitir o controle delegalidade dos atos administrativos (Grifos acrescidos)

Em complemento Rafael Carvalho Rezende de Oliveira74 afirma que

73 Pietro Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo ndash 31 ed rev atual e ampl ndash Rio de JaneiroForense 2018 Toacutepico 331374 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 323

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a motivaccedilatildeo dos atos administrativos independentemente de previsatildeo legalexpressa nesse sentido diminui a possibilidade de atuaccedilatildeo arbitraacuteria daAdministraccedilatildeo A transparecircncia puacuteblica impotildee a exposiccedilatildeo das razotildees defato e de direito que ensejaram a praacutetica de determinado ato A motivaccedilatildeoconfere maior legitimidade agrave atuaccedilatildeo estatal servindo como paracircmetroimportante de controle judicial e social bem como instrumento inibidorda arbitrariedade administrativa A obrigatoriedade de motivaccedilatildeo eacute umaexigecircncia constitucional que deriva dos princiacutepios democraacutetico dalegalidade da publicidade e da ampla defesa e do contraditoacuterio (Grifosacrescidos)

Conclui-se portanto que a motivaccedilatildeo exigida em relaccedilatildeo agrave daccedilatildeo de bens

puacuteblicos em pagamento tem caraacuteter obrigatoacuterio e caracteriza-se como um

instrumento de garantia da transparecircncia e da boa administraccedilatildeo dos bens puacuteblicos

impedindo que as decisotildees tomadas pelos responsaacuteveis por gerir a coisa puacuteblica

sejam tomadas de maneira autoritaacuteria sem fundamento que as embase ou em

desrespeito ao melhor interesse da Administraccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo preacutevia pode-se afirmar que consiste em conditio sine

qua non para a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento de imoacutevel puacuteblico uma vez que eacute

necessaacuteria a elaboraccedilatildeo de laudo que apure o preccedilo de mercado dos bens objeto da

transaccedilatildeo com a finalidade de demonstrar a equivalecircncia entre os seus valores

garantindo-se desse modo que a Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo assuma uma obrigaccedilatildeo

causadora de perda patrimonial ao transferir um imoacutevel que valha mais do que a

diacutevida que possui com o credor o que acarretaria grave prejuiacutezo ao eraacuterio

A conduta de permitir ou facilitar qualquer forma de alienaccedilatildeo de

bem puacuteblico incluiacuteda a daccedilatildeo em pagamento por valor inferior ao

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estabelecido no mercado pode inclusive acarretar a responsabilizaccedilatildeo do

agente que praticou o ato Nesse sentido eacute o Acoacuterdatildeo nordm 12732018-

Tribunal de Contas da Uniatildeo 75

Outrossim o ato de permitir ou facilitar a alienaccedilatildeo permuta oulocaccedilatildeo de bem puacuteblico por preccedilo inferior ao de mercado eacuteclassificado como ato de improbidade administrativa pela Lei nordm84291992 (art 10 IV) [tambeacutem se o preccedilo for superior ao demercado (art 10 V)] O agente responsaacutevel pela praacutetica do atofica sujeito agraves sanccedilotildees previstas no art 12 II do mesmodiploma legal (Grifos acrescidos)

Diante da gravidade das penalidades que podem ser adotadas no caso de

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico por valor aleacutem ou aqueacutem do estipulado em mercado eacute

possiacutevel perceber a importacircncia salutar que a avaliaccedilatildeo preacutevia dos bens a serem

transferidos possui

Tendo em vista que conforme explicitado anteriormente no presente toacutepico a

realizaccedilatildeo de procedimento licitatoacuterio eacute dispensada nos casos de daccedilatildeo em

pagamento o uacuteltimo requisito necessaacuterio para a realizaccedilatildeo da referida modalidade

de licitaccedilatildeo eacute a autorizaccedilatildeo legislativa

Sobre o tema de grande valia satildeo os ensinamentos do ilustre professor Jacoby

Fernandes76 Vejamos

A exigecircncia de lei para que a Administraccedilatildeo possa alienar eacute condiccedilatildeoessencial agrave praacutetica do ato e sua ausecircncia acarreta a nulidade de pleno

75 Acordatildeo ndeg 12732018 ndash TCU ndash Plenaacuterio p 10 Disponiacutevel em httpsbitly2WvkEKw76 JACOBY FERNANDES Jorge Ulisses Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 9 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2012 p 214

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direito descabendo a ratificaccedilatildeo posteriorSem lei para a alienaccedilatildeo nada existiu no mundo juriacutedico e impotildee-se adeclaraccedilatildeo de nulidade desde a origem de todos os atos que visavam agravealienaccedilatildeo dos bens inclusive a licitaccedilatildeo aleacutem da apuraccedilatildeo deresponsabilidade (hellip) A Lei de Improbidade ndash Lei nordm 84291992 ndash que abrangeu todos os agentespuacuteblicos tipifica como crime a alienaccedilatildeo sem lei no seu art 10 incs I e IVdesde que fique caracterizado o prejuiacutezo ao eraacuterioTambeacutem a Lei nordm 866693 no art 89 considera crime deixar de observar asformalidades legais na contrataccedilatildeo direta entre as quais insere-se aalienaccedilatildeo de bens imoacuteveis sem lei (Grifos acrescidos)

Nesse quadrante infere-se que a inobservacircncia da ediccedilatildeo lei autorizadora da

alienaccedilatildeo de bem puacuteblico eacute conduta tipificada como crime tanto pela Lei de

Improbidade Administrativa quanto pela Lei de Licitaccedilotildees

Aleacutem disso a ausecircncia de lei ainda tem o condatildeo de gerar a nulidade de pleno

direito de todos os atos praticados com a finalidade de alienar o bem puacuteblico desde a

sua origem uma vez que no plano juriacutedico nada foi realizado O viacutecio portanto tem

natureza insanaacutevel o que implica na impossibilidade de realizaccedilatildeo de ratificaccedilatildeo

posterior dos atos praticados

Apoacutes a anaacutelise de todos os elementos e tracircmites necessaacuterios para alienaccedilatildeo de

imoacuteveis puacuteblicos notadamente atraveacutes da realizaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento

passemos a discorrer de modo concreto sobre os motivos que justificam a nulidade

do acordo em discussatildeo na presente accedilatildeo

VIII7ndash Da inobservacircncia ao sistema de precatoacuterios

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A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu art 10077 prevecirc de modo categoacuterico e

imperativo que a execuccedilatildeo de diacutevidas contra a Fazenda Puacuteblica deve ser realizada

por meio do sistema de precatoacuterios uma vez que os bens puacuteblicos satildeo inalienaacuteveis e

natildeo estatildeo sujeitos agrave penhora natildeo podendo portanto serem levados a execuccedilatildeo para

satisfazer a pretensatildeo do credor

Tendo em vista a inafastabilidade da observacircncia do regime de precatoacuterios de

extrema valia eacute o que leciona o professor Jorge Ulysses Jacoby Fernandes78 a respeito

da utilizaccedilatildeo do instituto da daccedilatildeo em pagamento em detrimento daquele regime

O mero interesse em se livrar do deacutebito natildeo eacute juridicamente autorizadordo procedimento Ao contraacuterio se ficar evidenciado que apenas esseinteresse serviu de justificativa para a daccedilatildeo em pagamento deve ser essasimplesmente anulada com recomposiccedilatildeo do eraacuterio e responsabilizaccedilatildeoda autoridade que o praticou A anulaccedilatildeo ampara-se no art 2ordm aliacutenea ldquodrdquoda Lei de Accedilatildeo Popular - Lei nordm 47171965 Para a regularidade da daccedilatildeoem pagamento impotildee-se a existecircncia de interesse puacuteblico em dar umdeterminado bem imoacutevel para o particular que de posse do bem iraacutedesenvolver o interesse puacuteblico pretendido pela Administraccedilatildeo sendoesse particular tambeacutem credor da mesma (Grifos acrescidos)

O presente caso demonstra a ocorrecircncia da situaccedilatildeo acima exemplificada uma

vez que o acordo foi firmado entre as partes apenas com o intuito de livrar o

Municiacutepio de Mossoroacute da diacutevida prova disso eacute que a maioria dos terrenos objeto da77 Art 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Municipaisem virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo exclusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dosprecatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nasdotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fim78 JACOBY FERNANDES J U Contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo 10 ed rev atual ampl BeloHorizonte Foacuterum 2016 697 p (Coleccedilatildeo Jacoby de Direito Puacuteblico v 6) p 196

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transaccedilatildeo encontra-se desocupada em clara inobservacircncia agrave funccedilatildeo social da

propriedade

O Coacutedigo Civil de 2002 ao tratar sobre o direito de propriedade prescreveu

que

Art 1228 O proprietaacuterio tem a faculdade de usar gozar e dispor da coisae o direito de reavecirc-la do poder de quem quer que injustamente a possua oudetenhasect 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonacircncia com assuas finalidades econocircmicas e sociais e de modo que sejam preservadosde conformidade com o estabelecido em lei especial a flora a fauna asbelezas naturais o equiliacutebrio ecoloacutegico e o patrimocircnio histoacuterico e artiacutesticobem como evitada a poluiccedilatildeo do ar e das aacuteguas

A poliacutetica de desenvolvimento urbano tem como objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes conforme artigo 182 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo PoderPuacuteblico municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem porobjetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade egarantir o bem-estar de seus habitantes

O referido dispositivo legal ainda determina a ediccedilatildeo de plano diretor

principal Lei Municipal em termos de planejamento territorial para os municiacutepios e

determina as consequecircncias cabiacuteveis quando o proprietaacuterio de solo urbano natildeo

edificado natildeo promove o seu devido aproveitamento

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sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio paracidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico dapoliacutetica de desenvolvimento e de expansatildeo urbanasect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua funccedilatildeo social quando atende agravesexigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no planodiretorsect 3ordm As desapropriaccedilotildees de imoacuteveis urbanos seratildeo feitas com preacutevia e justaindenizaccedilatildeo em dinheirosect 4ordm Eacute facultado ao Poder Puacuteblico municipal mediante lei especiacutefica paraaacuterea incluiacuteda no plano diretor exigir nos termos da lei federal doproprietaacuterio do solo urbano natildeo edificado subutilizado ou natildeo utilizadoque promova seu adequado aproveitamento sob pena sucessivamentedeI - parcelamento ou edificaccedilatildeo compulsoacuteriosII - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivono tempoIII - desapropriaccedilatildeo com pagamento mediante tiacutetulos da diacutevida puacuteblica deemissatildeo previamente aprovada pelo Senado Federal com prazo de resgatede ateacute dez anos em parcelas anuais iguais e sucessivas assegurados ovalor real da indenizaccedilatildeo e os juros legais

Desse modo o ordenamento juriacutedico brasileiro consagra a funccedilatildeo social da

propriedade determinando que o proprietaacuterio exerccedila o seu direito de propriedade

de modo a respeitar os ditames constitucionais combatendo que aacutereas inclusas no

plano diretor do municiacutepio permaneccedilam subutilizadas ou ateacute mesmo inutilizadas

De acordo com o que preceitua o art 42 da Lei nordm 102572001 Estatuto da

Cidade o Plano Diretor deve conter a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderatildeo

ser aplicadas as sanccedilotildees previstas no art 182 sect4ordm da Constituiccedilatildeo Federal

Art 42 O plano diretor deveraacute conter no miacutenimoI ndash a delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanas onde poderaacute ser aplicado o

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parcelamento edificaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo compulsoacuterios considerando aexistecircncia de infra-estrutura e de demanda para utilizaccedilatildeo na forma do art5o desta Lei

Seguindo essa determinaccedilatildeo o Plano Diretor de Mossoroacute em seu art 112

dispocircs o seguinte

Art 112 Satildeo considerados passiacuteveis de parcelamento edificaccedilatildeo ouutilizaccedilatildeo compulsoacuterios os imoacuteveis natildeo edificados subutilizados ou natildeoutilizados localizados nos seguintes bairros especificados no Mapa 5Anexo II()VII ndash Poliacutegono ao longo da avenida Rio Branco

Com isso demonstra-se que a legislaccedilatildeo municipal cuidou em assegurar as

necessidades dos cidadatildeos como qualidade de vida justiccedila social e desenvolvimento

das atividades econocircmicas podendo o Municiacutepio aplicar os instrumentos cabiacuteveis

para fazer as propriedades urbanas localizadas no poliacutegono localizado na Av Rio

Branco cumprirem com a sua funccedilatildeo social atendendo agraves exigecircncias miacutenimas

fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade expressas no plano diretor

Conclui-se portanto que a funccedilatildeo social da propriedade urbana seraacute

devidamente cumprida quando ocorrer sua funcionalizaccedilatildeo por meio do

desenvolvimento de suas funccedilotildees sociais (moradia trabalho circulaccedilatildeo lazer

integraccedilatildeo entre os seres humanos crescimento educacional e cultural preservaccedilatildeo

do meio ambiente etc) observadas as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e as

prioridades estabelecidas no Plano Diretor Urbano aprovado pela Cacircmara

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Municipal

Ocorre que no presente caso as aacutereas transacionadas no acordo localizadas

no coraccedilatildeo da cidade de Mossoroacute e que possuem extremo valor sentimental e

material para a populaccedilatildeo encontram-se inutilizadas e ateacute mesmo com construccedilotildees

irregulares que ofendem a legislaccedilatildeo urbaniacutestica do municiacutepio conforme seraacute

abordado em toacutepico adiante

Vejamos algumas imagens capturadas no dia 13 de junho de 2019 que

demonstram a atual situaccedilatildeo de abandono dos imoacuteveis transacionados Para facilitar

a compreensatildeo e visualizaccedilatildeo da localizaccedilatildeo de cada um dos terrenos vamos nos

referir aos imoacuteveis da seguinte forma

Mapa 04

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Terreno 01-A pertencente agrave Montana

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Terreno 02-A pertencente agrave Montana

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Terreno 03-A pertencente agrave Montana

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Terreno 01-B pertencente a Dioacutegenes

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Terreno 02-B pertencente a Dioacutegenes

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Nota-se portanto que os imoacuteveis 01-A 02-A 03-A 02-A e 02-B estatildeo deixando

de desempenhar a funccedilatildeo a eles determinada para a realizaccedilatildeo de especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria o que demonstra a necessidade de anulaccedilatildeo da transaccedilatildeo pois foi

celebrada uma daccedilatildeo de imoacuteveis puacuteblicos em pagamento de forma absolutamente

ilegal quando na verdade deveria ter havido uma condenaccedilatildeo em desfavor do

Municiacutepio de Mossoroacute a ser executada por meio do sistema de precatoacuterios

Jaacute em relaccedilatildeo ao imoacutevel 01-C onde encontra-se edificado o preacutedio da

empresa A Construtora Express suas ilegalidades seratildeo tratadas no toacutepico VII9 da

presente accedilatildeo

VIII8 - Da nulidade do acordo homologado judicialmente

Para que o negoacutecio juriacutedico possa ser considerado vaacutelido alguns requisitos

miacutenimos satildeo considerados essenciais Caso ocorra a ausecircncia de qualquer um desses

elementos o negoacutecio seraacute considerado em regra invaacutelido de pleno direito

Tal entendimento eacute decorrente do texto expresso do Coacutedigo Civil Brasileiro

Vejamos

Art 166 Eacute nulo o negoacutecio juriacutedico quandoI - celebrado por pessoa absolutamente incapazII - for iliacutecito impossiacutevel ou indeterminaacutevel o seu objetoIII - o motivo determinante comum a ambas as partes for iliacutecitoIV - natildeo revestir a forma prescrita em leiV - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a suavalidadeVI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa

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VII - a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a praacutetica semcominar sanccedilatildeo

Da anaacutelise do presente caso diversos satildeo os viacutecios que levam agrave total nulidade

do acordo celebrado entre o Municiacutepio de Mossoroacute e homologado pela entatildeo Vara

Uacutenica da Fazenda Puacuteblica da Comarca de Mossoroacute

Em primeiro lugar na ocasiatildeo o Municiacutepio de Mossoroacute foi representado pela

entatildeo Prefeita Sra Claacuteudia Regina Freire Azevedo e pela entatildeo Procuradora-Geral

do Municiacutepio Sra Rafaela Maria Ferreira de Souza Burlamaqui que possuiacuteam a

legitimidade para exercer a representaccedilatildeo judicial do Municiacutepio ativa e

passivamente conforme a previsatildeo do Coacutedigo de Processo Civil

Ocorre que em que pese a Procuradora-Geral do Municiacutepio e a Prefeita

possuiacutessem a legitimidade para firmar acordo no acircmbito do processo judicial natildeo

havia que se falar em livre arbiacutetrio para praticar o ato de autorizaccedilatildeo da daccedilatildeo em

pagamento que necessita de manifestaccedilatildeo do Poder Legislativo Municipal atraveacutes

da aprovaccedilatildeo de lei autorizadora sob risco de incorrer em violaccedilatildeo do princiacutepio da

separaccedilatildeo dos Poderes79

Natildeo havendo a ediccedilatildeo de lei formal que permitisse a realizaccedilatildeo da daccedilatildeo dos

terrenos em pagamento eacute patente a violaccedilatildeo das regras do processo legislativo bem

como da legitimidade da parte para propor o acordo nos exatos termos em que foi

celebrado tornando nulo o negoacutecio firmado

79 Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si oLegislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

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Em relaccedilatildeo ao objeto transacionado eacute necessaacuterio que seja liacutecito possiacutevel

determinado ou determinaacutevel Sobre o tema luacutecidos satildeo os ensinamentos de Flaacutevio

Tartuce80

Somente seraacute considerado vaacutelido o negoacutecio juriacutedico que tenha comoconteuacutedo um objeto liacutecito nos limites impostos pela lei natildeo sendocontraacuterio aos bons costumes agrave ordem puacuteblica agrave boa-feacute e agrave sua funccedilatildeo socialou econocircmica de um instituto ()Nas tiacutepicas situaccedilotildees de negoacutecios juriacutedicos de alienaccedilatildeo de coisa caso doscontratos de compra e venda e de doaccedilatildeo o objeto deve ser aindaconsumiacutevel do ponto de vista juriacutedico (segunda parte do art 86 do CC -consuntibilidade juriacutedica) Em outras palavras o objeto deve ser alienaacutevel aopasso que a venda ou a doaccedilatildeo de bem inalienaacutevel eacute nula por ilicitude doobjeto ou fraude agrave lei (art 166 II e VI do CC) (Grifos acrescidos)

O objeto transacionado no acordo conforme anteriormente explicitado

consistia em um bem puacuteblico afetado protegido pela claacuteusula de inalienabilidade

aplicada aos bens puacuteblicos Dessa forma a daccedilatildeo em pagamento nos moldes em

que foi realizada natildeo poderia ter ocorrido uma vez que a licitude do objeto eacute uma

condiccedilatildeo indispensaacutevel agrave celebraccedilatildeo do negoacutecio juriacutedico e a realizaccedilatildeo de qualquer

tipo de alienaccedilatildeo de bens puacuteblicos eacute obrigatoriamente condicionada agrave desafetaccedilatildeo do

bem

Quanto agrave forma do negoacutecio juriacutedico em regra eacute livre mas em alguns casos a

lei exige forma especiacutefica Eacute o que ocorre no presente caso tendo em vista que para a

celebraccedilatildeo da daccedilatildeo em pagamento o ordenamento juriacutedico determina ser necessaacuterio

que haja a ediccedilatildeo de uma lei autorizadora como forma de manifestaccedilatildeo da vontade80 TARTUCE Flaacutevio Manual de direito civil volume uacutenico - Rio de Janeiro Forense Satildeo PauloMEacuteTODO 2011 p 184 e 185

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da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Desse modo um ato praticado pela Prefeita Municipal unilateralmente sem

autorizaccedilatildeo preacutevia por parte do Poder Legislativo atraveacutes da ediccedilatildeo de uma lei natildeo

tem o condatildeo de alienar um bem puacuteblico

Assim a celebraccedilatildeo do acordo preteriu solenidades que a lei considera

essenciais para a sua validade uma vez que foi realizada a daccedilatildeo em pagamento de

bem puacuteblico afetado sem elaboraccedilatildeo de avaliaccedilatildeo preacutevia e sem autorizaccedilatildeo

legislativa requisitos esses exigidos de modo indispensaacutevel para a alienaccedilatildeo de bens

puacuteblicos conforme explicitado no toacutepico anterior

Conclui-se portanto que o acordo celebrado e homologado judicialmente

que culminou com a daccedilatildeo em pagamento de terrenos integrantes do Corredor

Cultural de Mossoroacute estaacute repleto de nulidades insanaacuteveis que impedem a

convalidaccedilatildeo ou ratificaccedilatildeo dos atos praticados devendo ser declarado nulo com

efeitos retroativos agrave data de sua celebraccedilatildeo

VIII9 - Do descumprimento de termo constante do acordo por parte dos

demandados

O acordo firmado entre o Municiacutepio de Mossoroacute o Sr Dioacutegenes da Cunha

Lima e a Central Park Incorporadora prevecirc na aliacutenea ldquobrdquo do trecho que demonstra a

motivaccedilatildeo da celebraccedilatildeo do acordo que a destinaccedilatildeo dada pelos empresaacuterios aos

terrenos objeto do acordo deveriam observar as restriccedilotildees atinentes agrave aacuterea Vejamos

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CONSIDERANDO(hellip)b) A pretensatildeo de o AUTOR dar destinaccedilatildeo econocircmico-comercial agraves glebasque remanesceratildeo na sua propriedade respeitando o que disciplina aLegislaccedilatildeo Urbaniacutestica (restriccedilotildees de uso e ocupaccedilatildeo controle de gabarito ecoeficiente de aproveitamento) que natildeo satildeo maiores das que de formageneacuterica satildeo estipuladas pelo Plano Diretor e demais normas aplicaacuteveis parao bairro em que se situam os imoacuteveis

Ocorre que a aacuterea transacionada atraveacutes da daccedilatildeo em pagamento integra o

poliacutegono da Av Rio Branco definido como Zona Especial 3 popularmente conhecido

como Corredor Cultural de Mossoroacute aacuterea de interesse puacuteblico que possui restriccedilotildees

legais agrave construccedilatildeo de empreendimentos conforme determina a Lei Complementar

nordm 0122006 que dispotildee sobre o Plano Diretor do Municiacutepio de Mossoroacute Vejamos

Art 122 O Poder Puacuteblico municipal poderaacute exercer o direito de preferecircnciapara aquisiccedilatildeo de imoacutevel urbano objeto de alienaccedilatildeo onerosa entreparticulares conforme disposto nos arts 25 26 e 27 da Lei Federal nordm 10257de 10 de julho de 2001 ndash Estatuto da CidadeParaacutegrafo uacutenico O direito de preferecircncia seraacute exercido sempre que o PoderPuacuteblico necessitar de aacutereas para I ndash regularizaccedilatildeo fundiaacuteriaII ndash execuccedilatildeo de programas e projetos habitacionais de interesse socialIII ndash constituiccedilatildeo de reserva fundiaacuteriaIV ndash ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbanaV ndash implantaccedilatildeo de equipamentos urbanos e comunitaacuteriosVI ndash criaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos de lazer e aacutereas verdesVII ndash criaccedilatildeo de unidades de conservaccedilatildeo ou proteccedilatildeoVIII ndash proteccedilatildeo de aacutereas de interesse histoacuterico cultural ou paisagiacutestico(Grifos acrescidos)

Art 123 Os imoacuteveis colocados agrave venda nas aacutereas de incidecircncia do direito de

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preempccedilatildeo deveratildeo ser necessariamente oferecidos ao Municiacutepiosect 1ordm Satildeo considerados passiacuteveis de direito de preempccedilatildeo as aacutereaslocalizadas nos seguintes bairros aleacutem das Aacutereas Especiais de ProteccedilatildeoAmbiental e especificadas no Mapa 05 Anexo 2 I ndash Bairro do CentroII ndash Bairro RincatildeoIII ndash Bairro Presidente Costa e SilvaIV ndash Bairro AeroportoV ndash Bairro AlagadosVI ndash Bairro Bom JardimVII ndash Bairro Lagoa do MatoVIII ndash Ao longo da Av Rio BrancoIX ndash Distrito IndustrialX ndash Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental sect2ordm As aacutereas destinadas a aplicaccedilatildeo do Direito de Preempccedilatildeo citadas nocapiacutetulo anterior estatildeo sujeitas aos seguintes fins citados no art 122 destaleia) Aacutereas Especiais de Proteccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII e VIIIb) Centro ndash Incisos IV VI VII e VIIIc) Presidente Costa e Silva ndash Incisos I II III IV V e VId) Rincatildeo - Incisos I II III IV V e VIe) Aeroporto ndash Incisos I II III V e VIf) Alagados - Incisos VI e VIIg) Bom Jardim - Incisos VI e VIIIh) Lagoa do Mato ndash Incisos VII e VIIIi) Ao longo da Avenida Rio Branco ndash Incisos III IV V e VIj) Distrito Industrial - Inciso IV k) Em torno da Aacuterea Especial de Preservaccedilatildeo Ambiental ndash Incisos VI VII eVIII (Grifos acrescidos)

Da leitura dos dispositivos acima elencados infere-se que toda a aacuterea

localizada ao longo da Av Rio Branco soacute pode ser utilizada para constituiccedilatildeo de

reserva fundiaacuteria ordenamento e direcionamento da expansatildeo urbana implantaccedilatildeo

de equipamentos urbanos e comunitaacuterios bem como para a criaccedilatildeo de espaccedilos

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puacuteblicos de lazer e aacutereas verdes

Ocorre que um dos terrenos dados em pagamento por meio do acordo com o

grupo empresarial mais precisamente o que se inicia agrave Rua Ceacutesar Campos foi

utilizado para a edificaccedilatildeo de uma unidade da rede de lojas de material de

construccedilatildeo denominada ldquoA Construtorardquo o que ofende diretamente o Plano Diretor

do Municiacutepio de Mossoroacute uma vez que a obra natildeo estaacute entre as hipoacuteteses permitidas

pela lei o que caracteriza o descumprimento dos termos acordados entre as partes

A construccedilatildeo de um empreendimento de alto impacto em aacuterea

primordialmente residencial e de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-cultural causa

indubitavelmente seacuterias consequecircncias na qualidade de vida dos moradores da

regiatildeo ao meio ambiente e ao patrimocircnio da cidade ocasionando uma

desconformidade com o propoacutesito inicial da aacuterea cuja destinaccedilatildeo tem como

propoacutesito a moradia e a preservaccedilatildeo da Histoacuteria mossoroense

Vejamos como atualmente estaacute sendo utilizada a aacuterea

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Os moradores da regiatildeo chegaram a ajuizar uma Accedilatildeo Popular registrada sob

o nuacutemero 0823189-9120168205106 - ainda em tracircmite perante o Juiacutezo da 1ordf Vara da

Fazenda Puacuteblica de Mossoroacute-RN - embasada no Coacutedigo de Obras e Posturas do

Plano Diretor e do Coacutedigo Ambiental ambos do Municiacutepio de Mossoroacute com o

intuito de que fosse determinada a suspensatildeo da obra e a consequente demoliccedilatildeo da

construccedilatildeo irregular que jaacute havia sido realizada

Tudo isso demonstra que a unidade da empresa ldquoA Construtorardquo acima

descrita foi construiacuteda em aacuterea vedada para tal tipo de empreendimento aleacutem de

ferir de morte outras leis locais que regulamentam a construccedilatildeo de imoacuteveis

Ademais aleacutem de infringir a legislaccedilatildeo municipal a obra foi construiacuteda em

aacuterea reconhecidamente de domiacutenio puacuteblico uma vez que o acordo celebrado entre as

partes eacute nulo de pleno direito devendo portanto ser determinada a sua demoliccedilatildeo

mediante indenizaccedilatildeo do particular a ser realizada pelo Municiacutepio de Mossoroacute em

razatildeo das benfeitorias realizadas ateacute a presente data

IX - DA SALVAGUARDA DO TERRENO CONSTANTE NA CLAacuteUSULA

SEGUNDA DO ACORDO

Em que pese o acordo celebrado entre as partes ser eivado de inuacutemeras

nulidades insanaacuteveis o terreno cedido pelos particulares ao Municiacutepio na Claacuteusula

Segunda81 do acordo natildeo pode ter sua propriedade revertida ao particular cedente81 O CEDENTE transferiraacute de modo natildeo oneroso ao MUNICIacutePIO uma aacuterea com 1000000msup2 parte deuma gleba maior medindo 14997372msup2 resultante da unificaccedilatildeo das matriacuteculas 13032 14007

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Isso porque a referida aacuterea foi doada pelo Municiacutepio de Mossoroacute mediante a

Lei Municipal nordm 30292013 para sediar a AeC Contact Center empresa responsaacutevel

por empregar cerca de 1500 (um mil e quinhentos) cidadatildeos de Mossoroacute e cidades

vizinhas

Dessa forma em razatildeo do interesse puacuteblico envolvido ainda que o acordo seja

nulo e que a aacuterea originalmente pertencesse a particulares a Administraccedilatildeo

Municipal ao editar a lei de doaccedilatildeo deu destinaccedilatildeo especiacutefica ao terreno o que pode

ser solucionado atraveacutes do instituto da desapropriaccedilatildeo indireta que incide quando

Em determinadas hipoacuteteses o Poder Puacuteblico esbulha o bem privadoutilizando-o em seguida para satisfaccedilatildeo do interesse puacuteblico Natildeoobstante a ilicitude da accedilatildeo estatal a legislaccedilatildeo e a jurisprudecircnciareconhecem a impossibilidade de devoluccedilatildeo do bem ao particular tendoem vista a sua afetaccedilatildeo ao interesse puacuteblico restando ao esbulhado odireito de ser indenizado82

Ao desapropriar um bem pertencente a particular a Administraccedilatildeo ficaraacute

responsaacutevel por indenizaacute-lo de modo justo preacutevio e em dinheiro nos termos do

Decreto-lei nordm 336541

Ocorre que no caso de desapropriaccedilatildeo indireta natildeo haacute como a Administraccedilatildeo

Puacuteblica indenizar previamente a parte tendo em vista que primeiro a posse eacute

esbulhada a exemplo do que ocorreu na presente situaccedilatildeo13124 13445 13338 14096 13406 13339 13258 13400 e 13131 todas registradas no PrimeiroOfiacutecio de Notas de Mossoroacute-RN82 OLIVEIRA Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo ndash 7 ed ndash Rio de JaneiroForense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2019 p 664

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Cumpre salientar que no presente caso o particular era proprietaacuterio do

imoacutevel conforme Certidatildeo de Inteiro Teor do Imoacutevel83

Ante o exposto com intuito de preservar o melhor interesse puacuteblico

(caracterizado pelos bastantes postos de trabalho que a empresa AeC Contact Center

oferta para a regiatildeo) a Administraccedilatildeo Puacuteblica deve apoacutes realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo da

aacuterea indenizar o anterior proprietaacuterio do imoacutevel a tiacutetulo de desapropriaccedilatildeo indireta

como forma de evitar o seu enriquecimento sem causa

X - DA TUTELA CAUTELAR DE URGEcircNCIA ndash OBRIGACcedilAtildeO DE NAtildeO FAZER

O Coacutedigo de Processo Civil de 2015 cuidou em disciplinar o instituto da tutela

provisoacuteria que pode ser fundamentada em urgecircncia (cautelar ou antecipada) ou

evidecircncia sendo que nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 29484 a tutela de

urgecircncia poderaacute ser concedida em caraacuteter antecedente ou incidental

Segundo Daniel Amorim Assumpccedilatildeo Neves a diferenccedila entre a tutela cautelar

83 Expedida pelo1ordm Ofiacutecio de Notas da Comarca de Mossoroacute-RN cuja coacutepia encontra-se acostada agraves fls30-31 do Anexo II Volume III do Inqueacuterito Civil em epiacutegrafe84 Art 294 A tutela provisoacuteria pode fundamentar-se em urgecircncia ou evidecircnciaParaacutegrafo uacutenico A tutela provisoacuteria de urgecircncia cautelar ou antecipada pode ser concedida emcaraacuteter antecedente ou incidental

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e a antecipada eacute que

A tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela antecipada satisfaz paragarantir O objeto da tutela cautelar eacute garantir o resultado final doprocesso mas essa garantia na realidade prepara e permite a futurasatisfaccedilatildeo do direito A tutela antecipada satisfaz faticamente o direito e aofazecirc-lo garante que o futuro resultado do processo seja uacutetil agrave partevencedora A presenccedila de garantia e satisfaccedilatildeo em ambas serve paraexplicar a frequente confusatildeo em sua distinccedilatildeo o que inclusive levou olegislador a prever expressamente a fungibilidade entre elas (art 305paraacutegrafo uacutenico do Novo CPC) (Grifos acrescidos)

Conclui-se portanto que o objetivo da cautelar eacute meramente preventivo pois

consiste em assegurar o resultado uacutetil do processo desse modo o Juiacutezo determinaraacute

providecircncias de resguardo e preservaccedilatildeo da coisa objeto do litiacutegio protegendo a

coisa pleiteada para que quando a satisfaccedilatildeo da pretensatildeo venha a ocorrer os efeitos

decorrentes do provimento ainda sejam uacuteteis ao credor

Conforme leciona Marcus Viniacutecius Rios Gonccedilalves85

A tutela seraacute de urgecircncia quando houver ldquoelementos que evidenciem aprobabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado uacutetil doprocessordquo (CPC art 300 caput) Os requisitos satildeo o fumus boni juris isto eacutea probabilidade do direito e o periculum in mora isto eacute risco de que sem amedida o litigante possa sofrer perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecilreparaccedilatildeo (Grifos acrescidos)

No presente caso com o intuito de evitar qualquer prejuiacutezo financeiro ou dano

ambiental e desgaste do solo natildeo haacute outra saiacuteda que natildeo pleitear o Ministeacuterio

85 GONCALVES Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado ndash 9 ed ndash Sao PauloSaraiva Educaccedilatildeo 2018

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Puacuteblico do Rio Grande do Norte em caraacuteter antecedente a concessatildeo de tutela de

urgecircncia de natureza cautelar com a finalidade de que os atuais proprietaacuterios da aacuterea

abstenham-se de construir cercar ou fazer qualquer tipo de edificaccedilatildeo na aacuterea da

Avenida Rio Branco transacionada no acordo que visa ser anulado ateacute a resoluccedilatildeo

da presente demanda

Dada a nulidade absoluta do acordo conforme exaustivamente demonstrado

o fumus boni iuris estaacute presente porque os terrenos objeto da controveacutersia consistem

em aacuterea que conhecidamente pertence ao Municiacutepio de Mossoroacute integrante do

patrimocircnio imaterial da cidade de importacircncia salutar para a populaccedilatildeo Desse

modo natildeo eacute possiacutevel que particulares construam qualquer tipo de edificaccedilatildeo nos

terrenos

Jaacute o periculum in mora reside na necessidade de evitar que outras edificaccedilotildees

sejam realizadas na aacuterea causando aleacutem de prejuiacutezo financeiro aos particulares

prejuiacutezo ao eraacuterio com eventual demoliccedilatildeo bem como seacuterios prejuiacutezos ambientais a

exemplo do comprometimento do solo e a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

O receio de que outras construccedilotildees sejam realizadas eacute fundado em recentes

notiacutecias veiculadas pela miacutedia local de que uma empresa estaria dando iniacutecio agrave

construccedilatildeo de um shopping86 em um dos terrenos transacionados

A concretizaccedilatildeo de tal empreendimento consistiria em grave atentado contra86 httpdefatocommossoro78392empresa-de-natal-inicia-construo-de-shopping-no-corredor-cultural httpsblogdomagnoscombr20180913depois-de-a-construtora-shopping-esta-sendo-erguido-no-corredor-cultural-de-mossoro

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as leis municipais que versam sobre o uso e a ocupaccedilatildeo do solo de Mossoroacute sendo de

extrema necessidade a suspensatildeo e cancelamento de qualquer licenccedila eventualmente

existente que autorize a obra

Desse modo fica demonstrado que os dois requisitos necessaacuterios agrave concessatildeo

da tutela cautelar estatildeo presentes uma vez que existe tanto o risco ao resultado uacutetil

do processo quanto o perigo de prejuiacutezo irreparaacutevel ou de difiacutecil reparaccedilatildeo caso natildeo

seja ela deferida

XI - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto requer o Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do

Norte

a) Seja realizada a citaccedilatildeo dos reacuteus para querendo contestem a accedilatildeo no

prazo legal sob pena de revelia

b) Seja facultada ao Municiacutepio de Mossoroacute a possibilidade de integrar a lide

no polo ativo na qualidade de assistente litisconsorcial8787 Nesse sentido AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO CIVIL ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICAMIGRACcedilAtildeO DE ENTE PUacuteBLICO PARA O POLO ATIVO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIALINTERESSE PUacuteBLICO POSSIBILIDADE MICROSSISTEMA DE DEFESA DO PATRIMOcircNIOPUacuteBLICO LEGITIMIDADE DO ENTE PUacuteBLICO MUNICIPAL PARA FIGURAR NOS POLOSPASSIVO E ATIVO DA ACcedilAtildeO POSSIBILIDADE PRECEDENTES PARCIAL PROVIMENTO 1 Aaccedilatildeo civil puacuteblica a accedilatildeo de improbidade administrativa e a accedilatildeo popular compotildeem ummicrossistema de defesa do patrimocircnio puacuteblico de sorte que regulam de forma especialiacutessima alegitimidade de agir 2 Destarte eacute aplicaacutevel agraves accedilotildees civis puacuteblicas o art 6ordm sect 3ordm da Lei da AccedilatildeoPopular de maneira a ensejar tambeacutem nesta espeacutecie de accedilatildeo a faculdade de migraccedilatildeo de pessoajuriacutedica de direito puacuteblico do polo passivo para o ativo desde que a juiacutezo do respectivo representantelegal esteja presente o interesse puacuteblico 3 In casu se haacute por um lado a faculdade de o Municiacutepio

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c) Seja deferido o pedido de antecipaccedilatildeo dos efeitos da tutela com a

finalidade de que sejam suspensas eventuais licenccedilas emitidas para a

construccedilatildeo de qualquer empreendimento na aacuterea transacionada bem como

seja determinada a proibiccedilatildeo da realizaccedilatildeo de qualquer edificaccedilatildeo

benfeitorias ampliaccedilatildeo nos imoacuteveis dos particulares jaacute edificados na aacuterea

desta accedilatildeo ou seja relativa ao acordo realizado entre as partes ateacute a

soluccedilatildeo da presente demanda

d) Ao final julgar procedente a presente accedilatildeo declarando e reconhecendo a

nulidade do acordo firmado entre as partes com a consequente retificaccedilatildeo

dos registros dos imoacuteveis para que a posse e a propriedade passem a ser

registradas em nome do Municiacutepio de Mossoroacute

e) Seja reconhecida a desapropriaccedilatildeo indireta ocorrida no preacutedio localizado agrave

Av Cunha da Mota onde atualmente funciona a empresa AeC Contact

Center devendo o Municiacutepio de Mossoroacute indenizar em dinheiro de modoatuar como assistente litisconsorcial no polo ativo da demanda em relaccedilatildeo agraves pretensotildees dirigidas aoutras pessoas requeridas na mesma accedilatildeo tambeacutem eacute evidente por outro lado sua responsabilidadeobjetiva quanto agraves faltas que lhe satildeo imputadas pelo autor as quais podem ser rechaccediladas em peccedilacontestatoacuteria ou tal como no caso vertente reconhecidas e inclusive remediadasadministrativamente pelo uso da autotutela (suacutemula 473 do STF) 4 Assim sendo ante aspeculiaridades a respeito da legitimatio ad causam eacute patente a singularidade da presente demandarazatildeo pela qual haacute de ser ela submetida a tratamento ortodoxo pelo Judiciaacuterio com a decomposiccedilatildeodos pedidos formulados de sorte que o municiacutepio possa assumir com espeque no art 6ordm sect 3ordm da Leinordm 47171965 cc arts 5ordm sect 2ordm da Lei nordm 73471985 e 54 do CPC a postura de assistente litisconsorcialno que tange agraves questotildees atinentes agraves outras partes do processo e concomitantemente manter-se nopolo passivo em relaccedilatildeo aos demais 5 Agravo de instrumento parcialmente provido (TJ-MA - AI0349962014 MA 0007573-5120148100000 Relator KLEBER COSTA CARVALHO Data deJulgamento 05032015 PRIMEIRA CAcircMARA CIacuteVEL Data de Publicaccedilatildeo 09032015)

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justo a antiga proprietaacuteria qual seja a empresa Central Park

Incorporadora

f) Seja determinada a demoliccedilatildeo da unidade da loja ldquoA Construtorardquo

localizada agrave Rua Ceacutesar Campos bem como a reparaccedilatildeo dos danos

causados agrave aacuterea

g) Seja condenado o Municiacutepio de Mossoroacute a indenizar o particular

proprietaacuterio do imoacutevel onde funciona a ldquoA Construtorardquo na Av Rio Branco

em razatildeo das benfeitorias jaacute realizadas na aacuterea ateacute a presente data

h) Protesta pela produccedilatildeo de todo e qualquer meio de prova em direito

admitido inclusive a prova documental depoimento pessoal dos

envolvidos e a oitiva de testemunhas abaixo arroladas

Daacute-se agrave causa o valor de R$ 50000000

Nesses termos pede deferimento

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de Justiccedila

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) Francisco Valadares Filho brasileiro advogado e professor da UERN ex-Procurador Geral do Municiacutepio de Mossoroacute inscrito no CPFMF sob o nordm413194944-04 residente e domiciliado agrave Rua Lopes Trovatildeo 560 Bairro Doze AnosMossoroacute-RN CEP 59605-260

2) Maria Aparecida Delfino da Costa brasileira solteira professora portadora do RGnordm 342786 SSP-RN inscrita no CPFMF sob o nordm 345566484-91 residente edomiciliada agrave Rua Amaro Duarte 140 Nova Betacircnia Mossoroacute-RN CEP 59612-060

3) Joyce Nunes de Deus brasileira advogada inscrita no CPFMF sob o nordm016702173-70 com endereccedilo profissional na Rua Chico de Clara nordm 145 SantoAntocircnio Mossoroacute-RN CEP 59619-755

4) Silvio Ricardo Sales Cadena brasileiro solteiro inscrito no CPFMF nordm 090089004-59 portador do RG nordm 657210 ndash SSPPE com endereccedilo profissional na Av RioCapibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

5) Seacutergio de Queiroz Bezerra Cavalcanti brasileiro casado engenheiro civil inscritono CPFMF nordm 102403064-49 portador do RG nordm 981978 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

6) Adelino Ameacuterico de Freitas Filho brasileiro casado engenheiro inscrito noCPFMF nordm 183704264-72 portador do RG nordm 1297846 ndash SSPPE com endereccediloprofissional na Av Rio Capibaribe 147 Satildeo Joseacute Recife-PE

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7) Antocircnio Evacircnio de Arauacutejo brasileiro advogado inscrito no CPFMF sob o nordm130259294-72 domiciliado agrave Rua Antocircnio Vieira de Saacute 114 10ordm andar AeroportoMossoroacute-RN CEP 59607-100

Mossoroacute 13 de agosto de 2019

Patriacutecia Antunes Martins19ordf Promotora de JusticcedilaAssinado digitalmente