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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado de São Paulo EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA CÍVEL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO – SP Inquérito Civil nº 1.34.001.002720/2015-51 FORÇA TAREFA RECEITA FEDERAL NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO – 36º ofício A corrupção é o pior mal da nossa época” (Papa Francisco) 1 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da República signatária, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com fundamento no artigo 37, caput e § 4º, artigo 129, incisos III e IX, da Constituição Federal, artigo 6º, inciso XIV, alínea f, da Lei Complementar n.º 75/93 e nas disposições da Lei n.º 8.429/92, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido de medida liminar em face de: JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, brasileiro, Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil, LUCIANA PEREIRA, brasileira, jornalista, ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO, brasileira, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: 1. DOS FATOS 1. Consta dos autos que JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, no período de 2003 a 2011, enriqueceu ilicitamente ao adquirir para si, no exercício do cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, bens com valores desproporcionais à sua renda, além de violar princípios que regem a administração pública , através da gestão e administração da empresa “ THREE BLOCKS GESTÃO DE BENS PRÓPRIOS LTDA”, configurando, assim, o ato de 1 Em discurso no Vaticano – 14/09/2013. 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALProcuradoria da República no Estado de São Paulo

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA CÍVEL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO – SP

Inquérito Civil nº 1.34.001.002720/2015-51FORÇA TAREFA RECEITA FEDERALNÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO – 36º ofício

“A corrupção é o pior mal da nossa época” (Papa Francisco)1

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da

República signatária, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com fundamento no artigo 37, caput e § 4º, artigo 129, incisos III e IX, da Constituição Federal, artigo 6º, inciso XIV, alínea f, da Lei Complementar n.º 75/93 e nas disposições da Lei n.º 8.429/92, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido de medida liminar

em face de:JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, brasileiro, Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil,

LUCIANA PEREIRA, brasileira, jornalista,

ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO, brasileira,

pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1. DOS FATOS

1. Consta dos autos que JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, no período de 2003 a 2011, enriqueceu ilicitamente ao adquirir para si, no exercício do cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, bens com valores desproporcionais à sua renda, além de violar princípios que regem a administração pública, através da gestão e administração da empresa “THREE BLOCKS GESTÃO DE BENS PRÓPRIOS LTDA”, configurando, assim, o ato de

1 Em discurso no Vaticano – 14/09/2013.

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Improbidade Administrativa previsto no artigo . LUCIANA PEREIRA (entre 2009 e 2010) e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO (em 2008) auxiliaram JOSÉ ADALARDO a camuflar seu patrimônio, estabelecendo, com ele, parceria na aquisição e alienação de, respectivamente, imóveis e um automóvel, concorrendo e se beneficiando dos atos de Improbidade Administrativa praticados pelo agente público JOSÉ ADALARDO, configurando, assim, os ilícitos previstos nos artigos artigos 9º, inciso VII e artigo 11, “caput”, c/c artigo 3º da Lei nº 8.429/1992

2. Segundo se apurou no Inquérito Civil nº 1.34.001.002720/2015-51 deste MPF, tais fatos foram constatados pela Corregedoria da Receita Federal da 8ª Região (ESCOR 08) no Procedimento Administrativo (PAD) nº 16302.000049/2013-21, instaurado em face do servidor JOSÉ ADALARDO. A necessidade de instaurar tal procedimento decorreu da constatação de que, nos anos calendários analisados, o servidor apresentou uma variação patrimonial incompatível com os rendimentos declarados (fls. 17).

3. Assim, foi verificado o enriquecimento ilícito por parte do réu JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, no período de 2003 a 2011, totalizando a variação patrimonial a descoberto no valor de R$ 545.944,14 (quinhentos e quarenta e cinco mil, novecentos e quarenta e quatro reais e quatorze centavos – vide tabela de fls. 17 – verso) ; perfazendo o montante atualizado de R$ 1.419.483,41 (um milhão, quatrocentos e dezenove mil, quatrocentos e oitenta e três reais e quarenta e um centavos)2.

4. No curso das investigações por este MPF, foi solicitada cópia integral do Processo Administrativo Disciplinar n° 16302.000049/2013-21 (mídia de fls. 52). Do referido arquivo, foram extraídas cópias das declarações de renda de JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA referentes aos anos-calendário 2004 (fls. 62/66), 2005 (fls. 67/71), 2006 (fls.72/74), 2007 (fls. 75/77), 2008 (fls 78/83), 2009 (fls. 84/87), 2010 (fls. 88/92) e 2011 (fls. 93/98). Através da análise destas declarações, é possível constatar a flagrante discrepância entre o patrimônio ostentado pelo servidor e a renda por ele auferida.

5. O PAD supracitado (mídia de fls. 52) foi instaurado, justamente, com a finalidade de dirimir questões controvertidas a respeito

2 Todos os valores das Variações Patrimoniais a Descoberto (VPD) foram atualizados com base na Taxa Selic (https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/jsp/index.jsp):VPD do AC 2003 = R$ 86.515,41 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2003 (31/12/2003 a 09/03/2016) = R$ 352.920,00 VPD do AC 2004 = R$ 75.375,28 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2004 (31/12/2004 a 09/03/2016) = R$ 264.516,97 VPD do AC 2005 = R$ 61.182,52 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2005 (30/12/2005 a 09/03/2016) = R$ 180.354,77 VPD do AC 2008 = R$ 190.989,38 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2008 (31/12/2008 a 09/03/2016) = R$ 388.722,02 VPD do AC 2009 = R$ 64.136,83 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2009(31/12/2009 a 09/03/2016) = R$ 118.725,67 VPD do AC 2010 = R$ 67.744,72 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2010 (31/12/2010 a 09/03/2016) = R$ 114.243,98 Soma de todos os valores atualizados: R$ 1.419.483,41

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(1) da ausência de comprovação de valores percebidos; (2) do acréscimo patrimonial a descoberto(VDP) em diversos anos; (3) e das diversas operações imobiliárias realizadas com indícios de terem sido declaradas abaixo do valor de mercado e, posteriormente, (4) a incorporação destes imóveis à empresa THREE BLOCKS ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS LTDA.

2. DO INQUÉRITO CIVIL 1.34.001.002720/2015-51

6. O presente Inquérito Civil foi instaurado a partir de ofício do Escritório da Corregedoria da 8ª Região Fiscal (ESCOR08) que prestou informações sobre o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) n° 16302.000049/2013-21, instaurado contra o servidor JOSÉ ROBERTO ADALARDO OLIVEIRA.

7. Em resposta a ofício expedido por este Parquet Federal, o ESCOR8 encaminhou cópia integral do PAD n° 16302.000049/2013-21 em arquivo digital (fls.52).

8. O Parecer Escor08 n° 0053/2013, juntado às fls. 16/49, concluiu, após minuciosa investigação, pela necessidade de apurar o vertiginoso enriquecimento do servidor JOSÉ ROBERTO ADALARDO OLIVEIRA, no período de 2003 a 2011.

3. DA EVOLUÇÃO PATRIMONIAL DO SERVIDOR JOSÉ ROBERTO ADALARDO OLIVEIRA

9. Segundo consta do Parecer Escor08 n° 0053/2013 (fls. 17), nos anos calendários analisados (2003 a 2011), JOSE ADALARDO apresentou um significativo acréscimo patrimonial. Tal conclusão deriva da simples observação da tabela de evolução patrimonial extraída do referido Parecer:

10. É possível perceber que em 31/12/2003 o servidor declarou um patrimônio total de R$ 510.516,59. Já em 31/12/2011, oito anos depois, o patrimônio declarado pelo servidor JOSÉ ROBERTO alcançou o montante de R$ 3.907.002,25; o que evidencia um acréscimo patrimonial de, aproximadamente, R$ 3.396.485,66 em 8 anos.

11. Tamanho acréscimo patrimonial não encontra fundamento nos rendimentos declarados pelo servidor, tendo sido constatada uma expressiva Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) na maioria dos anos calendários analisados. Passe-se, agora, a analisá-las de maneira pormenorizada.

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4. DAS IRREGULARIDADES CONSTATADAS NOS ANOS-CALENDÁRIO DE 2003 A 2011

4.1. ANO-CALENDÁRIO DE 2003

12. Conforme disposto na tabela de fls. 17 (verso), no ano-calendário de 2003 apurou-se uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) de R$ 86.515,41.

13. Neste mesmo ano-calendário, o agente público declarou em sua DIRPF o valor de R$ 7.320,00 (recebidos de Pessoa Física), que foi impugnado pela Comissão de Sindicância constituída pelo ESCOR8. Em que pese as informações fornecidas pelo servidor a respeito do referido montante, a Comissão considerou que estas não são suficientes para comprovar o efetivo recebimento do valor declarado. Ainda, no mesmo ano-calendário, há outro valor declarado (R$ 25.000,00), cuja origem não foi comprovada.

14. Conforme o Parecer Escor08 n° 0053/2013 (fls. 18 – verso), “(...) a Comissão identificou, no extrato apresentado pelo servidor referente ao AC 2003, vários depósitos não identificados (…), o que, em tese, poderiam configurar alguma irregularidade já que, afora as hipóteses casuais lícitas (práticas de outras atividades compatíveis, acumulação lícita de cargos, recebimento de herança, sorteios, aluguéis, etc), parte-se do pressuposto de que a remuneração auferida pelo exercício do cargo é a única origem regular de recursos do servidor”.

15. Além das supracitadas controvérsias, há ainda, duas questões pendentes com relação às seguintes operações:

• à venda de um Jetski à RUI FERNANDO SALVADO COSTA pelo valor de R$ 18.000,00 (fls. 18/19). A DIRPF AC 2003 do servidor JOSÉ ADALARDO não faz qualquer menção ao “JETSKI JAGUAR” e ao suposto adquirente. Além disso, indagado administrativamente sobre os presentes fatos, RUI FERNANDO alegou não se recordar da compra e não possuir qualquer contrato ou cópia de transação bancária entre ele e o servidor;

• à compra da parte que ainda não lhe pertencia de dois imóveis (um deles, situado na Rua Céu Tropical nºs 404 e 416; e um terreno situado na mesma rua de nº 400) no valor de R$ 125.000,00. Segundo consta às fls. 19, a Comissão de Sindicância identificou a compensação de um cheque de R$ 95.000,00 em extrato bancário apresentado pelo servidor. O valor de R$ 30.000,00 restante, em tese (segundo justificado pelos alienantes), fora pago em espécie

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pelo servidor, mas não há qualquer registro nos extratos bancários apresentados. Insta mencionar que, no AC 2008, JOSÉ ADALARDO negociou estes mesmos imóveis por, aproximadamente, 6(seis) vezes o valor declarado em sua DIRPF, o que pode indicar que eles tenham sido subavaliados (quando da compra) ou negociados (em 2008) de forma superavaliada (quando da alienação pelo servidor).

4.2. ANO-CALENDÁRIO DE 2004

16. Conforme disposto na tabela de fls. 17 (verso), no ano-calendário de 2004, foi apurada uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) no valor de R$ 75.375,28.

17. Como no ano-calendário anterior, foram constatados vários depósitos injustificados (fls. 20, verso), além de uma inconsistência em relação a supostos contratos de locação realizados pelo agente público com CLÁUDIO JORGE PESSOTI e com a empresa SOLUTION PACKING REPRESENTAÇÕES LTDA (CNPJ 04.177.182/0001-21). Em síntese, os dois contratos de locação se referem ao mesmo imóvel (localizado na Avenida Morumbi, 8411, Sala 21, 2° andar) e seus prazos se sobrepõem (fls. 20). Enquanto o contrato com CLÁUDIO possui vigência de 01/11/2003 à 01/10/2005, o contrato supostamente avençado com a referida pessoa jurídica possui vigência de 0 1/07/2004 à 30/06/2005.

18. Ademais,o servidor JOSÉ ROBERTO informou, quanto ao suposto contrato de locação assinado com CLÁUDIO JORGE PESSOTI, que este fora celebrado pelo valor mensal de R$ 900,00 (novecentos reais). No entanto, no extrato bancário do AC 2004 fornecido pelo servidor, não foi possível encontrar nenhum lançamento que refletisse o valor constante neste contrato. Destarte, o valor declarado não foi considerado como efetivo ingresso de recursos para o AC de 2004.

19. Além disso no ano calendário de 2004 o agente público réu JOSÉ ROBERTO ADALARDO declarou a venda de três veículos com lucros consideráveis:

Valor de aquisição Valor de venda CARAVAN 1997 – Placa CIN 8334

R$ 20.000,00 R$ 36.000,00 – fls. 65

VW GOLF 1.6 ANO 1999 – COR PRATA – PLACA CSE 4741

R$ 20.000,00 R$ 24.500,00 – fls. 65 (verso)

VW GOLF 2.0 ANO 2000 – COR PRETO – PLACA CVR 2553

R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 - fls. 66

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20. Entretanto, a efetividade de tais operações não foi comprovada (fls. 20 – verso) e o primeiro veículo mencionado (CARAVAN 1997 – Placa CIN 8334) não consta na relação de bens da DIRPF do servidor (fls. 63 – verso).

21. A forma como supostamente teriam ocorrido estas operações de venda dos veículos é completamente atípica e suspeita, pois conforme se observa na DIRPF do servidor às fls. 65/66, aparentemente, todas as vendas teriam ocorrido com lucro; e, em tese, lucros altíssimos, posto que os três veículos foram, supostamente, alienados com um impressionante acréscimo de 80%, 22,5% e 50%, respectivamente.

22. Como bem mencionado no Parecer Escor08 n° 0053/2013 ( fls. 16/49): “(...) a princípio, esse fato contraria totalmente a lógica do mercado já que, como é de conhecimento geral, carros sofrem depreciação anual e não valorização. No presente caso, os veículos negociados possuíam em média 5 (cinco) anos de uso”.

4.3. ANO-CALENDÁRIO DE 2005

23. Conforme disposto na tabela de fls. 17 (verso) e fls. 21, no ano-calendário de 2005, apurou-se uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) de R$ 61.182,52.

24. O recebimento de alguns recursos, tal como declarado na DIRPF (fls. 67/71) do servidor JOSÉ ADALARDO, não foi devidamente comprovado pelo réu. Quais sejam (fls. 67 - verso):

• R$ 6.750,00 da empresa SOLUTION PACKING REPRESENTAÇÕES LTDA (CNPJ 04.177.182/0001-21);

• R$ 20.000,00 da empresa SAMOGIM & SILVEIRA CONSULTORIA EMPRESARIAL (CNPJ 06.058.043/0001-04);

• R$ 18.784,00 de Pessoa Física.

25. Com o intuito de investigar a finalidade e o efetivo recebimento de tais valores, a Comissão de Sindicância do ESCOR8 enviou às empresas SOLUTION PACKING REPRESENTAÇÕES LTDA e SAMOGIM & SILVEIRA CONSULTORIA EMPRESARIAL, um “Termo de Solicitação de Informação”. No entanto, as referidas correspondências retornaram com a indicação

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de que as empresas teriam se mudado. A respeito da efetividade/finalidade de tais pagamentos, o agente público réu também não logrou êxito em comprová-las.

26. Com relação ao valor de R$ 18.784,00 recebido de Pessoa Física (fls. 67 - verso), o JOSÉ ROBERTO ADALARDO justificou que este seria proveniente de aluguéis. Apesar disso, não apresentou qualquer contrato de locação, nem indicou no extrato bancário a efetividade do valor percebido.

27. Às fls. 22, concluiu a Comissão do ESCOR8: “(...) embora tenha havido o ingresso de numerário na conta corrente do servidor, ele não comprovou a real finalidade/origem do pagamento”. O mesmo se aplica ao item “valor em moeda corrente”, previsto às fls. 68 (verso), que aponta o recebimento do valor de R$ 30.000,00.

28. Neste ano-calendário ainda não foram comprovadas as seguintes transações (fls. 68 – verso):

a) a alienação do veículo JEEP CHEROKEE SPORT (ano 1997 – placa CLM 0507) por R$ 28.000,00, acerca da qual somente foi apresentada uma cópia da “Autorização para Transferência do Veículo”;

b) a alienação do imóvel localizado na Avenida Morumbi, 8411 – Sala 21, 2º andar, em São Paulo (SP), pelo valor de R$ 82.500,00. Em relação à venda deste imóvel, observou o Parecer Escor08 n° 0053/2013 (fls. 22 - verso), que a adquirente, TERESA MACARIO DE OLIVEIRA (CPF 276.056.758-36) é dependente de seu cônjuge MILTON PEREIRA DE OLIVEIRA (CPF 276.056.785-36), que, por sua vez, não teria capacidade financeira para participar da referida operação (informação extraída dos sistemas da Receita Federal - fls. 22, verso), demonstrando a possível e provável ocorrência de operações com pessoas laranjas.

4.4. ANO-CALENDÁRIO DE 2006

29. No ano-calendário de 2006, diferentemente dos demais, pode-se cogitar da existência de uma Variação Patrimonial a Descoberto (tal como concluiu a Comissão do ESCOR8); mas, neste ano, especificamente, a VPD não é tão facilmente percebida como nos anos já analisados.

30. Conforme exposto às fls. 23/24, neste AC de 2006 foi constatada uma Declaração de Operação Imobiliária (DOI de n° 331437/2006) referente ao apartamento n° 71, situado na Rua Bela Vista, 626 – Alto da Bela Vista, São Paulo. Consta desta DOI, a informação de que o servidor JOSÉ ROBERTO e sua ex-cônjuge - MARIA LUCIA MORENO - seriam os adquirentes do imóvel, enquanto VICENTE MORENO JIMENEZ, pai de MARIA LUCIA, o alienante.

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31. Após pertinente explicação acerca do histórico do referido imóvel, às fls. 24 (verso), concluiu a Comissão do ESCOR8 “(...) pela existência de indícios de que a operação imobiliária teria sido suportada na sua integralidade pelo servidor e, por isso, o valor venal do imóvel declarado na DIRPF AC 2005 de MARIA LUCIA - R$ 60.121,00 - em tese, caberia ao servidor. Portanto, o valor de R$ 60.121,00 poderia ser considerado como dispêndio do servidor para o AC 2006, o que implicaria em uma Variação Patrimonial a Descoberto de R$ 50.945,83”.

32. Ainda, na DIRPF do AC 2006 (fls.72/74), o servidor JOSÉ ADALARDO declarou o recebimento de R$ 18.720,00 de pessoa física. Impugnado quanto à origem e finalidade do valor recebido, JOSÉ apresentou um cheque (emitido por KATUCIA CRISTINA CARDOSO DE OLIVEIRA) no valor de R$ 12.000,00, que, em tese, refere-se a um pagamento de GUILHERME PAIVA (Posto Taubaté). Quanto ao valor restante (R$ 6.720,00), afirma o servidor réu que este seria referente a aluguéis; mas, apesar do alegado, o servidor não apresentou nenhum extrato bancário que comprovasse o efetivo recebimento destes valores e, por este motivo, a Comissão entendeu pela ausência de finalidade dos valores declarados e os desconsiderou do cálculo da variação patrimonial.

4.5. ANO-CALENDÁRIO DE 2007

33. No ano-calendário de 2007, não foi constatada Variação Patrimonial a Descoberto (VPD).

4.6. ANO-CALENDÁRIO DE 2008

34. Conforme disposto na tabela de fls. 17 (verso) e nas fls. 25, no ano-calendário de 2008, apurou-se uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) de R$ 190.989,38.

35. Em síntese e a título de exemplo, no AC de 2008, o servidor JOSÉ ROBERTO ADALARDO:

a) declarou em sua DIRPF (fls. 78/83), o recebimento de R$ 22.500,00 de Pessoa Física. Impugnado pela Comissão do ESCOR8, o réu não logrou comprovar o efetivo recebimento deste valor (fls. 25 – verso);

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b) na mesma DIRPF, declarou a venda do veículo JEEP CHEROKEE TD- ANO 2004, PLACA DIX 4777, por R$ 100.000,00 (fls. 80). Pela quarta vez o automóvel do agente público réu, aparentemente, valorizou com o decorrer do tempo, contrariando a lógica do mercado. Acerca desta operação, concluiu a Comissão ESCOR8 que diante de tais peculiaridades “(...) quais sejam, preço de venda 25% acima do valor declarado dois anos antes e suposto pagamento ocorrendo 2 (dois) dias depois da transferência do veículo, a Comissão entendeu que há indícios de que a operação declarada não representa fielmente o ocorrido. (…) Em tempo, cumpre registrar que a compradora ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO foi sócia do servidor investigado na empresa 3R2L Comércio de Automóveis Ltda. e, à época da compra do veículo JEEP CHEROKEE, ocupava o cargo de Auditora-Fiscal. Entretanto, em 20/09/2011, por meio da Portaria do Ministro da Fazenda N° 462, ela foi demitida do serviço público por ato de improbidade e por valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública – PAD N° 16302.000022/2010-95” (fls. 26). Portanto, ROSANA (fls. 175/180), como sócia de JOSÉ ROBERTO, o auxiliou a camuflar seu enriquecimento ilícito;

c) declarou a compra de um imóvel (apartamento de n° 74 na Rua João Pimenta, 105), conforme DIRPF de fls. 80. Acerca desta operação, concluiu o supracitado Parecer Escor08 (fls. 28) que o preço de mercado do imóvel em questão seria de, aproximadamente, R$ 316.000,00; ou seja, R$ 176.000,00 a mais do que o valor declarado pelo servidor. Evidente, portanto, que a operação mobiliária foi declarada abaixo do valor realmente praticado;

d) declarou a compra de uma casa (localizada na Rua Conde de Porto Alegre, 176, Brooklin Paulista, São Paulo – fls. 80, verso), em conjunto com outro Auditor-Fiscal, o Sr. RONALDO LEMBI MASCARENHAS. A respeito da referida operação, é curioso o fato de que o imóvel em questão, adquirido em junho de 2008 por R$ 550.000,00, foi negociado pelos servidores em dezembro de 2010 por R$ 2.100.000,00. Assim, constata-se que não se pode cogitar de uma variação de preço do metro quadrado que justifique tamanha discrepância. Ainda, insta consignar que a Comissão ESCOR8 encontrou uma notícia acerca da prisão do procurador da empresa alienante (BRADONSOL SOCIDADE ANÔNIMA), HUGO CARNELOS JUNIOR, acusado de oferecer propina a Policiais Militares (fls. 29, verso);

e) declarou, conforme fls. 81/83, outras operações imobiliárias que são, flagrantemente, irregulares. Na ocasião, o agente público réu vendeu um galpão e um terreno (aqueles adquiridos no AC 2003), ambos situados na Rua Céu Tropical, Jabaquara, em São Paulo (SP). Os bens foram declarados em sua DIRPF nos valores de R$ 150.518,43 e R$ 50.819,42, respectivamente. Conforme se depreende da DIRPF de JOSÉ ROBERTO, a operação imobiliária, em tese, alcançou o montante de R$ 1.250.000,00, dos quais: R$ 1.000.000,00 seriam relativos ao galpão e o restante, R$ 250.000,00, refere-se ao terreno. Soma-se a estes inquestionáveis “indícios” de irregularidade, o fato de que, à época desta operação imobiliária, o Auditor

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Fiscal MASSAO IWAI, lotado na Delegacia de Fiscalização de São Paulo, e sua esposa, TERESA AKYAMA IWAI, detinham 49% da participação societária da empresa MOTOS HIRAYAMA LTDA, justamente a adquirente de ambos os bens (o galpão e o terreno)(fls.32);

Conforme disposto no Parecer Escor08 n° 0053/2013 (fls. 16/49), “(...) chama a atenção o fato de que imóveis, com indícios de terem sido declarados abaixo do valor de mercado, terem sido negociados com uma empresa cujo o quadro societário era formado por um Auditor-Fiscal e sua esposa, os quais, ao deixarem a sociedade, receberam como pagamento de suas quotas exatamente os imóveis adquiridos do Auditor-Fiscal ora investigado”.

f) declarou a venda do veículo HONDA CIVIC SEDAN ANO 2007/MOD2008 (fls. 80, item 21), adquirido em 2007, por R$ 72.200,00 para ARQUIMALHAS MALHAS E TECIDOS LTDA, pelo valor de R$ 65.000,00 (R$ 15.000,00 como sinal e R$ 50.000,00, recebidos pelo Banco Safra). Há, no entanto, indícios de que a operação declarada não corresponda ao que realmente ocorreu. Para comprovar a efetividade desta operação, o servidor réu apresentou um e-mail (do dia 21/02/2008, às 16:22 horas), trocado com FERNANDA NÁPOLI RIBEIRO (Banco Safra), no qual esta lhe informa sobre a documentação necessária para a venda de um veículo através do Banco Safra. Ocorre que o servidor informou que o recebimento do valor de R$ 50.000,00 teria ocorrido por meio do TED realizado em sua conta corrente no dia 22/02/2008; ou seja, todo o procedimento de preparação e entrega de documentos, passando pela análise, para, enfim, ocorrer o pagamento, teria ocorrido em um prazo de 24 horas, tempo recorde (e, por isso, inverossímil) para uma negociação como esta.

4.7. ANO-CALENDÁRIO DE 2009

36. Conforme disposto na tabela de fls. 17 (verso) e nas fls. 32, no ano-calendário de 2009, apurou-se uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) de R$ 64.136,83.

37. O recebimento de R$ 35.000,00 (fls.85), tal como declarado na DIRPF (fls. 84/87) do servidor JOSÉ ROBERTO, não foi devidamente comprovado. Argumenta, o agente público réu, que tais depósitos eram provenientes de contratos de aluguel; entretanto, conforme disposto às fls. 32 (verso), não apresentou documentação idônea para comprová-lo quando teve oportunidade.

38. Todas as operações imobiliárias declaradas neste AC de 2009 são flagrantemente irregulares. A ilicitude de tais operações pode ser facilmente constatada através da análise da DIRPF do servidor réu, na qual constam informações duvidosas, como passa-se a expor:

39. Em junho de 2009, o servidor JOSÉ ROBERTO adquiriu um imóvel em Vargem Grande Paulista pelo suposto valor de R$

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500.000,00 (conforme declarado na DIRPF às fls.86). No entanto, a Comissão responsável pelo Parecer Escor08 n° 0053/2013, concluiu “ (...) pela existência de indícios de que a operação estaria declarada por um valor abaixo do valor realmente praticado . As informações constantes na DOI dão conta de que o imóvel em questão é urbano, do tipo “FAZENDA/SITIO/CHACARA”, com uma área de 96.800m² (fls. 406). Apesar de constar que o preço da operação foi de R$ 500.000,00, tanto a 'Certidão de Registro do Imóvel' como a 'Escritura Pública' (fls. 804 a 838) indicam que o valor venal do imóvel seria R$ 951.715,28 , ou seja, aproximadamente, 90% maior que o preço declarado ” (fls. 33).

40. No mesmo mês, há outra operação imobiliária suspeita. O réu, adquiriu um imóvel na Rua Além Mar, n° 19 – Campo Belo, São Paulo/SP (declarado às fls. 86), junto com a ré, LUCIANA PEREIRA (CPF: 151.758.188-56). Conforme se observa na DIRPF do AC 2009 às fls. 86 (verso), JOSÉ ROBERTO declarou o dispêndio de R$ 55.000,00 pela compra de 50% do referido imóvel.

41. A segunda adquirente - LUCIANA - que teria adquirido a outra metade do imóvel – não teria capacidade financeira para participar da operação imobiliária em questão (fls. 34). Isto porque a própria adquirente declarou (em sua DIRPF do AC 2009) apenas R$ 33.045,80 de recursos disponíveis para aquisição de bens e serviços.

42. Além dessa inconsistência, somam-se os seguintes fatos:

• verificou-se, na cópia do extrato bancário do alienante Durval Antonio Guerra Valente que o pagamento do referido imóvel teria ocorrido em um único depósito no dia 29/06/2009 (fls. 34), embora este, supostamente, tenha ocorrido por meio de dois cheques, um do Banco do Brasil (referente a metade do servidor JOSÉ ROBERTO) e um do Banco Bradesco (referente a metade da segunda adquirente);

• o imóvel, apesar de sua ótima localização (próximo a grandes empreendimentos e em frente a um dos principais clubes de tênis de São Paulo - o Play Tennis) e significativa área (214,50 m²), foi negociado por, apenas, R$ 110.000,00 (R$ 512,82 por metro quadrado). Conforme demonstrado às fls. 35, o preço estimado do metro quadrado praticado à época da operação imobiliária seria de R$ 2.921, ou seja, 6 (seis) vezes maior do que o praticado.

43. Destarte, há, mais uma vez, indícios de que a operação tenha sido declarada abaixo do valor realmente negociado e, ainda, pelas contradições já expostas, concluiu-se que o verdadeiro e único adquirente do imóvel seria o servidor investigado o qual, para a aquisição deste, teria tido um dispêndio em torno de R$ 600.000,00 e não os R$ 55.000,00 declarados.

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4.8. ANO-CALENDÁRIO DE 2010

44. Conforme disposto nas tabelas de fls. 17v, e fls. 36, no ano-calendário de 2010, apurou-se uma Variação Patrimonial a Descoberto (VPD) de R$ 67.744,72.

45. De fato, é constante a realização de operações de compra e venda pelo agente público réu de imóveis e veículos nestes anos em análise (2003/2011).

46. Demonstrada sua reincidência nas irregularidades e controvérsias supracitadas, cabe, apenas, citar que neste AC de 2010, há:

• R$ 41.399,60 de recursos declarados (DIRPF de fls. 89) não comprovados;

• a venda do veículo FORD FUSION (ano de 2008) por R$ 55.000,00, a respeito da qual só restou comprovado o efetivo recebimento de parte do crédito pelo servidor JOSÉ ROBERTO;

• a compra de um automóvel CAPTIVA SPORT FWD que, conforme disposto no Parecer Escor 08 n°0053/2013, às fls. 36, padece de evidências de que não ocorreu tal como declarada (às fls. 37, alguns dados justificam a suspeita de que o verdadeiro dispêndio do servidor para a aquisição do veículo teria sido algo entre R$ 79.399,25 e R$ 76.676,99, e não os R$ 53.000,00 declarados na DIRPF de fls. 91);

• a compra de um MOTOCICLO/BMW F 800 S (declarada às fls. 91, verso);

• diversas operações imobiliárias extravagantes que foram minuciosamente expostas às fls. 37/43. Entre elas:

a) a compra (no dia 13/07/2010) de 50% do imóvel pertencente à LUCIANA PEREIRA que ambos adquiriram em 2009. Em tese, LUCIANA, teria vendido sua parte ao servidor réu pelo valor correspondente a 100% da quantia que ambos investiram quando da compra. Em 2009, LUCIANA teria contribuído com R$ 55.000,00 para a compra de 50% do imóvel e, em 2010, teria vendido para o servidor réu estes mesmos 50% por R$ 110.000,00 (alegação inverossímil e distante da realidade mercadológica tendo em vista que o preço estimado do metro

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quadrado nesta área só teria aumentado 13% de um ano para o outro – fls. 38).

Notou-se que a intenção de JOSÉ ADALARDO, na realidade, era a de fornecer, à LUCIANA, as condições econômicas e financeiras necessárias para a aquisição de outro imóvel em conjunto com o servidor réu, o que foi, de fato, realizado no dia 14/07/2010 (um dia após o servidor comprar os 50% do imóvel que pertencia a LUCIANA).

No dia 14/07/2010, o servidor réu e LUCIANA adquiriram um apartamento (situado na Rua Caiçaras, n°46, apto. 61, Edifício Maria Luiza, Chácara Santo Antônio, São Paulo) por R$ 210.000,00. Segundo a documentação, tanto o servidor réu, como LUCIANA PEREIRA teriam pago R$ 105.000,00 à alienante. No entanto, uma análise mais atenta dos fatos revela que a operação realizada no dia 13/07/2010 foi, de fato, uma manobra para fornecer à LUCIANA condições de adquirir, no dia seguinte, outro imóvel, em conjunto com o servidor réu (já que foi verificado que LUCIANA não teria, segundo seus rendimentos declarados, capacidade econômica e financeira para participar da operação ocorrida no dia 14/07/2010). Assim, ambos lograram êxito em ocultar o único e real adquirente do imóvel: JOSÉ ADALARDO. Além disso, o valor estimado deste imóvel remonta em, aproximadamente, R$ 363.120,00, ou seja, 73% superior aos R$ 210.000,00 informados (fls. 39). Destarte, há fortes indícios de que estas operações tenham sido executadas como forma de diluir os custos de aquisição dos imóveis e dificultar um possível reconhecimento do enriquecimento ilícito do servidor réu;

b) a aquisição de um apartamento (situado na Rua Antônio de Macedo Soares, 1349, apto. 42, Edifício Village, Campo Belo, São Paulo), em novembro de 2010, pelo valor de R$ 300.000,00 (fls. 91 – verso). Apesar do valor declarado, o servidor réu e o alienante só comprovaram o efetivo pagamento/recebimento de R$ 282.000,000 e, além disso, há, mais uma vez, indícios de que esta operação imobiliária tenha sido declarada abaixo do valor real negociado. Infere-se (fls. 41) que o valor de mercado estimado para o imóvel seria de, aproximadamente, R$ 598.400,00, quase 100% superior aos R$ 300.000,00 declarados. Logo, a diferença de R$ 298.400,00 poderia ser considerada como dispêndio do servidor réu para o AC 2010, o que aumentaria o valor da Variação Patrimonial a Descoberto.

4.9. ANO-CALENDÁRIO DE 2011

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47. Neste AC de 2011 não foi constatada Variação Patrimonial a Descoberto (VPD). Pelo contrário: o confronto entre as origens de recursos declarados e as aplicações identificadas, resultou em sobra líquida de recursos no montante de R$ 281.732,91. No entanto, conforme o Parecer Escor 08 n°0053/2013, nota-se que considerável parcela dos recursos disponíveis para o servidor no AC 2011, tem origem na operação de venda do imóvel situado na Rua Conde de Porto Alegre, 176, Brooklin Paulista, São Paulo-SP, a qual possui notáveis indícios de irregularidades (fls. 43).

48. Na DIRPF deste AC de 2011 (fls. 93/98), foi declarada a compra de dois conjuntos - 61 e 62 - localizados no 6° andar do Edifício Drogasil Brooklin, (Rua Barão do Triunfo , 464, São Paulo/SP) pelo valor de R$ 680.000,00. No entanto, como demonstrado às fls. 44/45, concluiu-se que o verdadeiro dispêndio do servidor para aquisição dos imóveis seria algo em torno de R$ 1.095.915,00. Além disso, ainda na DIRPF do AC 2011, o servidor réu declarou ter recebido o montante de R$ 112.949,42 de pessoa física; no entanto, não apresentou documentação apta a comprovar o efetivo recebimento destes valores.

5.0. DAS PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS DO SERVIDOR JOSÉ ADALARDO

49. O servidor JOSÉ ROBERTO constituiu, em 27/06/2011, a empresa THREE BLOCKS ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS LTDA (CNPJ 13.929.805/0001-66 – fls. 99/105), junto com seus filhos (DIANNA, TAMY e THALES), com capital social de R$ 10.000,00. Entretanto, conforme fls. 46, em 21/10/2011, ou seja, quatro meses após a constituição da empresa, esta teve seu capital alterado para R$ 2.300.000,00, com a integralização de diversos imóveis de propriedade do servidor réu e de valor em moeda corrente nacional.

50. A maioria dos bens transferidos para a empresa foram objeto de análise e há fortes indícios de que estes bens tenham sido adquiridos por valores superiores aos declarados, nos termos da tabela abaixo (fls. 46 – verso):

ITEM BENS - DESCRIÇÃO VALOR DIRPF (R$)

VALORES DE MERCADO

ESTIMADOS (R$)1 Casa situada no município e

comarca de Ibiúna, Bairro Cachoeira

R$ 150.000,00 R$ 150.000,00

2 FORD KA FLEX 2008/2009, Cor R$ 25.000,00 R$ 25.000,00

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Preta, Placas: DXD 37933 Apartamento n° 74, Edifício

Maison Champs Elysees, Rua João Pimenta, n° 105 – São Paulo/SP

R$ 140.000,00 R$ 316.000,00

4 Casa situada na Rua Além Mar, nº 19 – Campo Belo – São Paulo/SP

R$ 165.000,00 R$ 626.554,50

5 Terreno urbano contendo benfeitorias, situado no município de Vargem Grande Paulista/SP

R$ 500.000,00 R$ 951.715,28

6 Gleba de terra no município de Vargem Grande Paulista com área de 49.000,09 m²

R$ 125.000,00 R$ 125.000,00

7 Apartamento n° 42, Edifício Village, Campo Belo, Rua Antônio de Macedo Soares, 1349, São Paulo/SP

R$ 300.000,00 R$ 598.400,00

8 Automóvel GM Captiva Modelo Sport, ano 2008, placa “EGO 7171”, cor preta

R$ 53.000,00 R$ 76.676,99

9 Motociclo BMW F800S, ano 2007, placa “ESP 0810”

R$ 30.000,00 R$ 30.000,00

10 Conjuntos 61 e 62, situados no Edifício Drogasil, Brooklin, Rua Barão do Triunfo, 464 – São Paulo/SP

R$ 680.000,00 R$ 1.095.951,20

TOTAL: R$ 2.168.000,00 R$ 3.995.297,97

51. Embora os filhos de JOSÉ ADALARDO constem como sócios desta empresa, até a constituição da THREE BLOCKS eles não possuíam nenhuma ocupação ou movimentação financeira e, inclusive, constavam como dependentes do servidor réu em sua DIRPF - vide DIRPF de 2010 (fls. 88 - verso), 2009 (fls.84 - verso) e 2008 (fls.78 - verso). Até o recurso utilizado na integralização em Outubro de 2011, teve como origem um empréstimo realizado pelo próprio servidor aos filhos (fls. 46).

52. Em que pese constar na sociedade os nomes dos filhos, inclusive tendo como responsável pela empresa TAMY MORENO DE OLIVEIRA, filha do servidor, há indícios de que a empresa foi integralmente constituída pelo servidor, além de ser totalmente administrada por ele.

53. Além desta, há outras duas participações societárias do servidor JOSÉ ROBERTO: uma na empresa 3RL2 COMÉRCIO DE AUTOMÓVEIS

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LTDA (CNPJ 06.081.680/0001-00); e outra, na empresa AUTO POSTO WOL LTDA (CNPJ 06.339.992/0001-62). Nas DIRPFs do servidor réu, não foi constatado nenhum valor referente a distribuição de lucros e dividendos oriundos destas empresas (fls. 47).

54. Desta forma, verifica-se que o agente público réu JOSÉ ADALARDO declarou diversas negociações mobiliárias, imobiliárias e financeiras fictícias com a específica finalidade de tentar justificar quantias ilícitas que recebia, as quais, provavelmente, eram obtidas como pagamento de propina. Informa-se, ainda, que eventuais atos de corrupção passiva praticado pelo réu serão investigados em procedimento próprio.

55. Entretanto, referida tentativa restou frustada, pois a Receita Federal do Brasil em profunda análise patrimonial de JOSÉ ADALARDO constatou as fraudes empregadas por este. Abaixo segue tabela exemplificativa de algumas das operações fictícias, confira-se:

OPERAÇÃO ENVOLVIDO (PF ou PJ) ANO VALOR DECLARADO

Recebimento de alugueis (fls. 18)

CLÁUDI JORGE PESSOTI 2003 R$ 7.320,00

Venda de jet ski (fls.18 - verso)

RUI FERNANDO SALVADO COSTA

2003 R$ 18.000,00

Venda de veículo (Caravan 1997 – placa “CIN 8334) - fls. 65

MIORI COM. IND. E DISTRIBUIÇÃO LTDA

2004 R$ 36.000,00

Venda de veículo (VW Golf, ano 1999, placa “CSE 4741”) - fls. 65 verso

NEMER E COSTA COMÉRCIO DE AUTOMÓVEIS LTDA

2004 R$ 24.500,00

Venda de veículo (VW Golf, ano 2000, placa “CVR 2553”) - fls. 66

UNIBANCO LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL

2004 R$ 30.000,00

Alienação de imóvel (sala comercial) localizado na Av. Morumbi, 8411, São Paulo/SP – fls. 70

TERESA MACARIO DE OLIVEIRA

2005 R$ 82.500,00

Alienação de veículo (JEEP CHEROKEE, ano 2004, placa “DIX 4777”) - fls. 80

ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO

2008 R$ 100.000,00

Aquisição de imóvel VICENTE MORENO 2008 R$ 140.000,00

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(apartamento no edifício Maison Champs Elysees) – fls. 80

JIMENEZ

Aquisição de imóvel (fazenda em Vargem Grande Paulista) – fls. 86, verso

EMILJA ZEIGER 2009 R$ 500.000,00

Aquisição de 50% de imóvel (rua Além Mar, 19) - fls. 91

LUCIANA PEREIRA 2010 R$ 110.000,00

Aquisição de um apartamento (Rua Antônio de Macedo Soares, 1349, apto. 42, Edifício Village, Campo Belo, São Paulo) – fls. 91, verso

FLÁVIO AUDI CATEB 2010 R$ 300.000,00

5. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO

5.1. DA NÃO OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO NO CASO EM TELA

56. A princípio, necessário salientar que o fato em comento não está prescrito.

57. De acordo com o artigo 23, inciso II, da Lei 8.429/1992, o prazo prescricional para ocupantes de cargos ou empregos efetivos serão estipulados por lei específica, razão pela qual remete-se à lei do servidor público federal nº 8.112/90.

58. A Lei 8.112/90, por sua vez, determina em seu artigo 142, §2º, que os prazos prescricionais previstos em âmbito penal serão utilizados para os atos ímprobos que sejam também capitulados como crime.

59. Com efeito, a ilicitude praticada pelo réu supera a mera seara fiscal e cível (improbidade), atingindo, igualmente, a criminal, no que se refere à Sonegação Fiscal, em razão das condutas tipificadas na Lei n.º 8.137/901, que dispõe sobre os crimes contra a ordem tributária.

60. No mesmo sentido leciona o Professor José Roberto Pimenta:

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“O segundo exame volta-se para a recondução normativa do prazo, pela Lei 8.112/90, aos prazos de prescrição previstos na lei penal, quando os fatos forem capitulados como crime. A interpretação deste transplante normativo de prazos carece de cuidadosa compreensão tendo em vista que a probidade é catalogada por vários autores como bem jurídico afetado pela prática dos crimes contra a Administração Pública. Têm validade no terreno da improbidade as conclusões lançadas para a responsabilidade administrativa.A Lei 8.122/1990 determina a aplicação, em sede administrativa, dos prazos prescricionais previstos em lei penal, quando a infração for capitulada como crime (art. 142, §2º). Para preservar a segurança jurídica atinente à previsibilidade da ação punitiva, a melhor intelecção indica que devem ser aplicados os prazos prescricionais previstos no artigo 109 do Código Penal, ou seja, o regramento geral e preliminar dos prazos prescricionais da pretensão punitiva in abstracto porque é a categoria legal que delimita o lapso temporal norteador do direito de propor a ação penal, surgido com a ocorrência do ilícito.”2

61. Neste sentido, tendo em vista que o crime previsto no art. 1°, incisos I e II, da Lei 8.137 tem como pena a reclusão de dois a cinco anos, a prescrição em abstrato, nos termos do artigo 109, III, do Código Penal, ocorrerá em doze a nos .

62. Considerando que o Processo de Investigação Patrimonial em face do servidor JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA foi instaurado em 17/10/2008 (fls. 16), este é o dies a quo do prazo prescricional, o qual terá fim em 2020.

63. Evidente, portanto, que não está prescrita a pretensão punitiva do Estado contra o Ato de Improbidade em questão.

5.2. DA RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, À LUZ DA LEI Nº 8.429/1992.

64. Com o claro intuito de combater condutas ímprobas e a corrupção no âmbito da Administração Pública, o legislador trouxe à luz a Lei nº 8.429/92, que, através dos artigos 9º, 10 e 11, busca impedir que agentes públicos, e particulares que com estes concorram ou se beneficiem, possam enriquecer ilicitamente, causar prejuízos aos cofres públicos ou violar os princípios norteadores da Administração Pública, confira-se:

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Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.”

65. Ao conceituar os agentes públicos por ela alcançados, referida lei estatuiu em seu artigo 2º que “agente público é todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo 1º da lei”.

66. A síntese dos fatos até então narrados na exordial permite a conclusão de que o servidor ré u apresentou acréscimo patrimonial não justificado, ostentando bens e gastos de valores desproporcionais à evolução dos rendimentos auferidos no exercício do seu cargo público e que, as rés, LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO concorreram com JOSÉ ROBERTO, realizando transações para acobertar seu patrimônio.

67. Com efeito, os atos praticados pelos réus tipificam-se como atos de Improbidade Administrativa, consistentes no acréscimo patrimonial em valor desproporcional à evolução do patrimônio ou renda, configurando infração disposta no artigo 9º, VII da Lei 8.429/92.

5.3. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA TIPIFICADA NO ART. 9, VII E ART. 11, “CAPUT” DA LEI 8.429/1992 E DA PRESCINDIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO DO VÍNCULO ENTRE O ACRÉSCIMO PATRIMONIAL E DOS ATOS PRATICADOS EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE ATRIBUIÇÕES PÚBLICAS

68. O art. 9º, VII, da Lei n. 8.429/92 prescreve:

“Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício do cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art.1o desta lei, e notadamente:

VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza

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cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;”.

69. Nessa linha de raciocínio, a evolução patrimonial do agente público, portanto, deve guardar compatibilidade com os rendimentos percebidos em razão do exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública e com as demais receitas de origem lícita que aufira, de modo que se tem uma presunção de inidoneidade do agente público que adquire patrimônio incompatível com a normalidade do seu padrão de vencimentos.

70. Ademais, conforme o art. 13 da Lei nº 8.429/92, a evolução patrimonial dos agentes públicos é controlada de forma rigorosa, o que ampara o entendimento de que deve haver correlação entre os bens adquiridos e os rendimentos percebidos em razão do exercício de atividade junto ao Poder Público e de outras atividade comprovadamente lícitas.

71. Exigir do autor da ação de improbidade administrativa que o mesmo demonstre a existência de vínculo entre o aumento de patrimônio e o exercício da função pública é, simplesmente, descumprir o dispositivo, por contrariar o sistema de tipificação adotado pela Lei nº . 8.429/92. Sobretudo se é o réu Auditor da Receita Federal e possui obrigação legal e funcional, de, no minimo, zelar pelo determinado no texto normativo e pelos princípios a serem seguidos – como bem é o caso.

72. Desse modo, cabe ao autor da Ação de Improbidade provar apenas o exercício de função pública e a variação patrimonial desproporcional aos rendimentos do agente público, incumbindo ao réu provar que o acréscimo patrimonial ocorreu de forma lícita.

73. Deve-se salientar que, ainda que caiba ao investigado a prova de que o patrimônio incompatível com sua renda seja lícito, o réu JOSÉ ADALARDO teve oportunidades para demonstrar a suposta licitude patrimonial no decorrer das investigações . Entretanto, em nenhum momento, conseguiu esclarecer as variações patrimoniais expostas.

74. Frise-se, ainda, que a reprovabilidade da aquisição patrimonial sem devida justificativa é reconhecida pela Convenção Interamericana Contra a Corrupção, aprovada pelo decreto legislativo n° 152 e promulgada pelo decreto n° 4410/02, que dedicou artigo específico para o enriquecimento ilícito:

''Art. IX Sem prejuízo de sua Constituição e dos princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, os Estados Partes que ainda não o tenham feito adotarão as medidas necessárias para tipificar como delito em sua legislação o aumento do patrimônio de um funcionário público que exceda de modo

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significativo sua renda legítima durante o exercício de suas funções e que não possa justificar razoavelmente''.

75. Além disso, a norma veiculada pelo art. 9º, VII, da Lei nº 8.429/99 é residual, conforme lecionam Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, na obra Improbidade Administrativa (Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2010, p. 417) :

“Sendo desnecessário que o autor da ação demonstre qual o ato praticado pelo agente público que ensejou uma evolução patrimonial incompatível com os seus rendimentos, torna-se possível dizer que o inciso VII do art. 9º da Lei nº 8.429/1992 assume feição eminentemente residual em relação às demais figuras previstas no referido dispositivo legal. Resultando infrutíferas as tentativas de individualização e prova do ilícito praticado, as atenções devem se voltar para o resultado do ato, o que é suficiente à configuração da tipologia legal ora analisada”.

76. Assim, para configurar improbidade em casos como este analisado, não é necessária a comprovação de que o ato tenha ocorrido no exercício da função, sobretudo quando violados os princípios da legalidade (artigo 13, caput e §§ 1º e 2º da Lei 8.429/1992), da moralidade, e afrontamento aos deveres de honestidade e lealdade (artigos 5º, LXXIII, e 37, CF; 116, II e IX da Lei 8.112/1990; e 2º, caput e parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999).

77. Dessa forma, basta a indicação de ato ilícito (no caso, a omissão de rendimentos e consequente violação dos princípios) e de ser sujeito à Lei de Improbidade. Para reforçar o argumento, convém relembrar que, caso terceiro não vinculado à Administração Pública aja em parceria com servidor público (tal como fizeram LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO) , aquele será, igualmente, submetido às penalidades da Lei 8.429/1992, consoante seu artigo 3º.

78. Ora, se terceiro alheio à Administração que induza ou concorra para a prática de ato improbo será também abarcado pela Lei 8.429/92, com maior razão, o ocupante de cargo público deverá ser alvo do referido texto legal, quando violar princípios da boa Administração Pública, independentemente se este se valeu ou não de seu cargo/função.

79. Nesse sentido, convém transcrever o julgado do Egrégio Tribunal Federal da Primeira Região:

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE. SOCIEDADE ENTRE AUDITOR FISCAL APOSENTADO E OUTRO LICENCIADO PARA DEFESA DE CONTRIBUINTES. CONTRATO DE ASSESSORIA TRIBUTÁRIA E DEFESA

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ADMINISTRATIVA PERANTE A CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS. PRELIMINARES. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELA FALTA DE OPORTUNIDADE DE APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES FINAIS. PRESCRIÇÃO. LEGITIMIDADE DO RÉU APOSENTADO. TERCEIRO QUE SE BENEFICIOU DIRETAMENTE DO ATO PRATICADO PELO SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA PARA TRATAMENTO DE INTERESSE PARTICULAR. VÍNCULO COM A ADMINISTRAÇÃO MANTIDO. PROVAS DE PRÁTICA DE ATIVIDADE ILEGÍTIMA. SENTEÇA QUE CONDENOU OS RÉUS À PERDA DOS VALORES ACRESCIDOS ILICITAMENTE AOS SEUS PATRIMÔNIOS. PROPORCIONALIDADE. DESNECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE MULTA CIVIL. 1. A não intimação das partes para apresentação das razões finais não traduz nulidade. Esse ato processual não é obrigatório em sede de ação civil, ademais, os apelantes não demonstraram a existência de prejuízo efetivo à sua defesa. 2. Não ocorreu a prescrição no caso. As condutas envolvidas no presente feito, que estão sendo investigadas em inquérito policial, podem configurar crime de peculato, sonegação tributária e/ou lavagem de dinheiro. Logo, os prazos de prescrição previstos na lei penal serão aplicáveis, nos termos do art. 142, da Lei 8.112/90. 3. Outrossim, a instauração do processo administrativo disciplinar contra os réus interrompeu o prazo prescricional. 4. Mesmo na condição de servidor aposentado, o primeiro apelante está sujeito às sanções da Lei de Improbidade Administrativa porque agiu em parceria com servidor público da ativa para fins de auferir benefícios ilícitos, nos termos do art. 3º da Lei 8.429/92. 5. O servidor licenciado mantém seu vínculo com a administração e não fica livre para agir contrário aos interesses públicos. A licença concedida foi de natureza temporária, o servidor poderia a qualquer tempo, reassumir o cargo. 6. A sanção aplicada, de devolução dos valores pagos pelos serviços de assessoria ilícita, é proporcional. Importante ressaltar que as sanções descritas no art. 12, I, pela prática de ato de improbidade previsto no art. 9º, VIII, podem ser aplicadas simultaneamente ou não. É imprescindível a obediência ao parágrafo único do art. 12. Mostra-se suficiente, na hipótese dos autos, a devolução dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio dos réus. 7. Apelações improvidas.” (AC 200734000329115AC - APELAÇÃO CIVEL – 200734000329115; Relator: Desembargador Federal Hilton Queiroz; TRF1; Quarta Turma; e-DJF1 Data:01/12/2010 Pg.:254) (sem grifos no original).

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80. Ademais, o Superior Tribunal de Justiça já registrou o mesmo entendimento de que, para tipificação no artigo 9, inciso VII, da Lei 8.429/92, não demanda nada além da comprovação de que o agente público auferiu patrimônio incompatível com sua renda:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. DESPROPORCIONALIDADE ENTRE RENDA E PATRIMÔNIO. NÃO COMPROVAÇÃO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. (Informações Adicionais) (...)Há interesse processual do Ministério Público em ação de improbidade quando há indícios de evolução patrimonial incompatível com a renda do agente público. Isso porque o ato de improbidade descrito no artigo 9º, inciso VII, da Lei n. 8.429/1992 demanda unicamente a inexistência de suporte financeiro à aquisição de patrimônio. (…)A caracterização do referido ato de improbidade não demanda nada além da comprovação de que o agente público auferiu patrimônio incompatível com sua renda. Não é necessário que se indique de que modo esse patrimônio foi angariado. Repita-se: basta a comprovação de inexistência de capacidade financeira para fazer frente à evolução patrimonial . REsp 1327683 (2012/0118473-7 – 23/04/2014) – MIN. R. FRANCISCO FALCÃO”.

81. Verifica-se, nesse sentido, que o dever de zelar pelos princípios que regem a Administração Pública e suas funções, transcendem a necessidade de apenas fazê-lo quando do exercício ou função.

82. Destarte, resta claro que a incidência do art. 9º, VII, da Lei nº 8.429/92 não requer a comprovação em específico dos atos ilícitos que originaram a evolução patrimonial indevida, pois o dispositivo em questão presume a ilegitimidade da vantagem patrimonial injustificada e incompatível com os rendimentos de agente público, salientando-se que já restou provado no curso deste Procedimento Preparatório que a vantagem patrimonial auferida pelo servidor réu não foi justificada.

6. DO PEDIDO LIMINAR

83. Por todos os fatos expostos nesta exordial, depreende-se, inequivocamente, que o servidor JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, réu na presente ação, mediante a prática de atos ímprobos e censuráveis, obteve locupletamento ilícito, atuando com afronta aos princípios enumerados no artigo 37 da Constituição Federal. As rés, LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES

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NAPOLEÃO, concorreram para o acobertame nto do enriquecimento ilícito do servidor réu.

84. Diante disto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer liminarmente a decretação, com fundamento nos artigos 12, da Lei nº 7.347/85, e 7º da Lei nº 8.429/92, da indisponibilidade dos bens móveis (veículos e aplicações financeiras) e imóveis dos réus, em montante suficiente para assegurar o integral pagamento da quantia de:

A) JO SÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA: R$ 8.516.900,46 (oito milhões, quinhentos e dezesseis mil, novecentos reais e quarenta e seis centavos) constituídos da seguinte forma:

1) a perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente (art. 12, I, Lei 8.429/92) no valor de R$ 1.419.483,41 (um milhão, quatrocentos e dezenove mil, quatrocentos e oitenta e três reais e quarenta e um centavos) 3 .

2) o pagamento da multa civil prevista no artigo 12, I, da Lei n° 8.429/92, (duas vezes o valor do enriquecimento ilícito) no valor de R$ 2.838.966,82 (dois milhões, oitocentos e trinta e oito mil, novecentos e sessenta e seis reais e oitenta e dois centavos).

TOTAL: R$ 4.258.450,23 (quatro milhões, duzentos e cinquenta e oito mil, quatrocentos e cinquenta reais e vinte e três centavos).

B) LUCIANA PEREIRA: R$ 354.870,85 (trezentos e cinquenta e quatro mil, oitocentos e setenta reais e oitenta e cinco centavos) constituídos da seguinte forma:

3 Todos os valores das Variações Patrimoniais a Descoberto (VPD) foram atualizados com base na Taxa Selic (https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/jsp/index.jsp):

• VPD do AC 2003 = R$ 86.515,41 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2003 (31/12/2003 a 09/03/2016) = R$ 352.920,00

• VPD do AC 2004 = R$ 75.375,28 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2004 (31/12/2004 a 09/03/2016) = R$ 264.516,97

• VPD do AC 2005 = R$ 61.182,52 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2005 (30/12/2005 a 09/03/2016) = R$ 180.354,77

• VPD do AC 2008 = R$ 190.989,38 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2008 (31/12/2008 a 09/03/2016) = R$ 388.722,02

• VPD do AC 2009 = R$ 64.136,83 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2009 (31/12/2009 a 09/03/2016) = R$ 118.725,67

• VPD do AC 2010 = R$ 67.744,72 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2010 (31/12/2010 a 09/03/2016) = R$ 114.243,98

Soma de todos os valores atualizados: R$ 1.419.483,41

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1) R$ 354.870,85 (trezentos e cinquenta e quatro mil, oitocentos e setenta reais e oitenta e cinco centavos) referentes à ¼ (um quarto) do valor do enriquecimento ilícito caracterizado pela VPD do servidor-réu JOSÉ ROBERTO (artigo 12, inciso I, da Lei n° 8.429/92).

C) ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO: R$ 202.783,34 (duzentos e dois mil, setecentos e oitenta e três reais e trinta e quatro centavos) constituídos da seguinte forma:

1) R$ 202.783,34 (duzentos e dois mil, setecentos e oitenta e três reais e trinta e quatro centavos) referentes à 1/7 (um sétimo) do valor do enriquecimento ilícito caracterizado pela VPD do servidor-réu JOSÉ ROBERTO (artigo 12, inciso I, da Lei n° 8.429/92).

85. A indisponibilidade de bens prevista no art. 7º da Lei 8.429/92 é medida de natureza cautelar, que denota estarem presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, visando a indisponibilidade de bens, sem a perda da posse direta, para evitar o perecimento do patrimônio do servidor- réu e, assim, garantir a futura recomposição do patrimônio público.

86. O fumus boni iuris (ou a prova inequívoca da verossimilhança do pedido, segundo os dizeres do artigo 273 do Código de Processo Civil) encontra-se devidamente demonstrado, à vista dos fundamentos acima narrados a tornar de rigor a concessão das medidas liminar pleiteada por este Parquet.

87. O periculum in mora também está patentemente demonstrado, visando, tal medida, a evitar a dilapidação de bens adquiridos ilicitamente. Isso porque a alienação de bens necessários a assegurar a aplicação das sanções pecuniárias postuladas nesta ação provocarão irremediável prejuízo ao patrimônio público e social.

88. Observe-se, ademais, que a medida ora requerida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL procura impor o menor gravame possível aos réus, pois os bens tornados indisponíveis continuarão na posse e administração de seus proprietários - ao contrário do que ocorreria se fosse pedido o sequestro de bens - previsto no artigo 16 e parágrafos, da Lei de Improbidade Administrativa.

89. De extrema importância que essa medida seja concedida sem a oitiva da parte contrária, pois poderão os réus, JOSÉ ROBERTO, LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO, tomando conhecimento do pedido, providenciar a imediata transferência desses bens para terceiros.

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90. Outrossim, requer seja decretada a indisponibilidade dos bens móveis e imóveis dos réus, além de outros eventualmente encontrados, com a realização das seguintes providências:

1) Expedição de ofício aos Cartórios de Registro de Imóveis de São Paulo para que seja averbada a indisponibilidade na matrícula dos imóveis de titularidade dos réus;

2) Seja determinada a indisponibilidade dos veículos mantidos em nome dos réus, mediante bloqueio via RENAJUD;

3) Seja determinada a indisponibilidade dos valores mantidos em nome dos réus, mediante bloqueio BACENJUD.

7. DOS PEDIDOS PRINCIPAIS

91. Outrossim, com base no todo exposto, e considerando os elementos de prova produzidos, a demonstrar a violação ao artigo 9º, VII (enriquecimento ilícito) e artigo 11º (este somente em relação ao réu JOSÉ ADALARDO) da Lei nº 8.429/92, sejam os réus, JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO, notificados para oferecimento de manifestação preliminar e, posteriormente, citados, para, querendo, apresentar contestação (art. 17, §§ 7º e 9º da Lei n 8.249/92).

92. Ao final, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL seja a presente ação julgada PROCEDENTE, reconhecendo-se a prática dos atos de improbidade pelo réu JOSÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA, bem como a participação em tais atos das rés LUCIANA PEREIRA e ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO, a fim de que sejam condenados nos termos do art. 12, I, da Lei nº 8.429/92, abaixo especificado:

A) JO SÉ ROBERTO ADALARDO DE OLIVEIRA:

1) perda da função pública;

2) a perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente (art. 12, I, Lei 8.429/92) no valor de R$ 1.419.483,41 (um milhão, quatrocentos e dezenove mil, quatrocentos e oitenta e três reais e quarenta e um centavos) 4 .

4 Todos os valores das Variações Patrimoniais a Descoberto (VPD) foram atualizados com base na Taxa Selic (https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/jsp/index.jsp):

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3) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de dez anos (art. 12, I, Lei n° 8.429/92);

4) o pagamento da multa civil prevista no artigo 12, I, da Lei n° 8.429/92, (duas vezes o valor do enriquecimento ilícito) no valor de R$ 2.838.966,82 (dois milhões, oitocentos e trinta e oito mil, novecentos e sessenta e seis reais e oitenta e dois centavos) ;

5) a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos (art. 12, inc. I, da Lei n° 8.429/92);

6) pagamento de multa civil de 50 vezes o valor de sua remuneração5 no montante de R$ 725.336,00 (setecentos e vinte e cinco mil, trezentos e trinta e seis reais - art. 12, inc. III, Lei n° 8.429/92).

B) LUCIANA PEREIRA:

1) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de dez anos (art. 12, I, Lei n° 8.429/92);

2) o pagamento da multa civil prevista no artigo 12, I, da Lei n° 8.429/92 no valor de R$ 354.870,85 (trezentos e cinquenta e quatro mil, oitocentos e setenta reais e oitenta e cinco centavos) referentes à ¼ (um quarto) do valor do enriquecimento ilícito caracterizado pela VPD do agente público réu JOSÉ ROBERTO;

• VPD do AC 2003 = R$ 86.515,41 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2003 (31/12/2003 a 09/03/2016) = R$ 352.920,00

• VPD do AC 2004 = R$ 75.375,28 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2004 (31/12/2004 a 09/03/2016) = R$ 264.516,97

• VPD do AC 2005 = R$ 61.182,52 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2005 (30/12/2005 a 09/03/2016) = R$ 180.354,77

• VPD do AC 2008 = R$ 190.989,38 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2008 (31/12/2008 a 09/03/2016) = R$ 388.722,02

• VPD do AC 2009 = R$ 64.136,83 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2009 (31/12/2009 a 09/03/2016) = R$ 118.725,67

• VPD do AC 2010 = R$ 67.744,72 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2010 (31/12/2010 a 09/03/2016) = R$ 114.243,98

Soma de todos os valores atualizados: R$ 1.419.483,41Portanto, o valor da causa: R$ 1.419.483,41 + 2 x R$ 1.419.483,41 (R$ 2.838.966,82) + R$

725.336,00 + R$ 354.870,85(Luciana) + R$ 202.783,34 (Rosana) = R$ 5.541.440,42 (cinco milhões, quinhentos e quarenta e um mil, quatrocentos e quarenta reais e quarenta e dois centavos)

5 R$ 14.506,72 (quatorze mil, quinhentos e seis reais e setenta e dois centavos – fls. 117)

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3) a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos (art. 12, inc. I, da Lei n° 8.429/92).

C) ROSANA DENIGRES NAPOLEÃO:

1) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de dez anos (art. 12, I, Lei n° 8.429/92);

2) o pagamento da multa civil prevista no artigo 12, I, da Lei n° 8.429/92 no valor de R$ 202.783,34 (duzentos e dois mil, setecentos e oitenta e três reais e trinta e quatro centavos) referentes à 1/7 (um sétimo) do valor do enriquecimento ilícito caracterizado pela VPD do agente público réu JOSÉ ROBERTO;

3) a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos (art. 12, inc. I, da Lei n° 8.429/92);

93. Requer, ademais, após deferidas as liminares postuladas, seja determinado o regular prosseguimento do feito, observado o rito do artigo 17, da Lei nº 8.429/92 e, ainda:

a) a intimação da União Federal, através da Procuradoria Regional Federal 3ª Região, para que manifeste o seu interesse em integrar esta lide, com base no § 3º, do artigo 17, da Lei n.º 8.429/92;

b) a condenação dos réus nos eventuais ônus da sucumbência cabíveis;

c) a juntada do Inquérito Civil nº 1.34.001.002720/2015-51, instaurado na Procuradoria da República de São Paulo e que instrui a presente ação.

94. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, tais como depoimento pessoal dos réus, provas testemunhais, documentais e, caso necessário, pericial.

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95. Dá-se à causa o valor de R$ 5.541.440,42 (cinco milhões,quinhentos e quarenta e um mil, quatrocentos e quarenta reais e quarenta e dois centavos),6.

São Paulo, 09 de março de 2016.

THAMÉA DANELON VALIENGO Procuradora da República

Núcleo de Combate à corrupção

6 Todos os valores das Variações Patrimoniais a Descoberto (VPD) foram atualizados com base na Taxa Selic (https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/jsp/index.jsp):

• VPD do AC 2003 = R$ 86.515,41 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2003 (31/12/2003 a 09/03/2016) = R$ 352.920,00

• VPD do AC 2004 = R$ 75.375,28 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2004 (31/12/2004 a 09/03/2016) = R$ 264.516,97

• VPD do AC 2005 = R$ 61.182,52 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2005 (30/12/2005 a 09/03/2016) = R$ 180.354,77

• VPD do AC 2008 = R$ 190.989,38 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2008 (31/12/2008 a 09/03/2016) = R$ 388.722,02

• VPD do AC 2009 = R$ 64.136,83 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2009 (31/12/2009 a 09/03/2016) = R$ 118.725,67

• VPD do AC 2010 = R$ 67.744,72 - atualizado com base no último dia-útil do mês de dezembro de 2010 (31/12/2010 a 09/03/2016) = R$ 114.243,98

Soma de todos os valores atualizados: R$ 1.419.483,41Portanto, o valor da causa: R$ 1.419.483,41 + 2 x R$ 1.419.483,41 (R$ 2.838.966,82) + R$ 725.336,00 + R$

354.870,85(Luciana) + R$ 202.783,34 (Rosana) = R$ 5.541.440,42 (cinco milhões, quinhentos e quarenta e um mil, quatrocentos e quarenta reais e quarenta e dois centavos)

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