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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL – SC § 1 RECURSO ELEITORAL N. 670-73.2012.6.24.0088 CLASSE 30 ASSUNTO: RECURSO ELEITORAL AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO – ABUSO – DE PODER ECONÔMICO – DE PODER POLÍTICO / AUTORIDADE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO – PEDIDO DE CASSAÇÃO DE REGISTRO – PEDIDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA – PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE – PEDIDO DE APLICAÇAO DE MULTA – RECURSO NOS AUTOS DA AIJE N. 670-73.2012.6.24.0088 DA 88ª ZONA ELEITORAL / BLUMENAU RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RECORRENTE: BRAZ RONCÁGLIO RECORRENTE: CÉLIO DIAS RECORRENTES: FÁBIO ALLAN FIEDLER; ROBINSOM FERNANDO SOARES; ALMIR VIEIRA RECORRIDO: BRAZ RONCÁGLIO RECORRIDO: CÉLIO DIAS RECORRIDOS: FÁBIO ALLAN FIEDLER; ROBINSOM FERNANDO SOARES; ALMIR VIEIRA RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL MM. Juiz Relator. Trata-se de quatro recursos interpostos reciprocamente pelos recorrentes acima nominados em face da sentença proferida pelo respectivo Juízo Eleitoral que julgou procedente em parte os pedidos formulados pelo Ministério Público Eleitoral por restarem configuradas as condutas vedadas previstas no art. 73, II e III, da Lei n. 9.504/97 praticadas por Fabio Allan Fiedler, Robinson Fernando Soares, Almir Vieira e Braz Roncáglio; e a captação ilícita de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/97 praticada por Célio Dias (fls. 1.082-1.135).

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL – SC

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RECURSO ELEITORAL N. 670-73.2012.6.24.0088 – CLASSE 30

ASSUNTO: RECURSO ELEITORAL – AÇÃO DEINVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL –CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO – ABUSO– DE PODER ECONÔMICO – DE PODER POLÍTICO /AUTORIDADE – CAPTAÇÃO ILÍCITA DESUFRÁGIO – PEDIDO DE CASSAÇÃO DE REGISTRO– PEDIDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA – PEDIDODE APLICAÇÃO DE MULTA – PEDIDO DEDECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE – PEDIDODE APLICAÇAO DE MULTA – RECURSO NOSAUTOS DA AIJE N. 670-73.2012.6.24.0088 DA 88ªZONA ELEITORAL / BLUMENAU

RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALRECORRENTE: BRAZ RONCÁGLIORECORRENTE: CÉLIO DIASRECORRENTES: FÁBIO ALLAN FIEDLER; ROBINSOM FERNANDO

SOARES; ALMIR VIEIRARECORRIDO: BRAZ RONCÁGLIORECORRIDO: CÉLIO DIASRECORRIDOS: FÁBIO ALLAN FIEDLER; ROBINSOM FERNANDO

SOARES; ALMIR VIEIRARECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

MM. Juiz Relator.

Trata-se de quatro recursos interpostos reciprocamentepelos recorrentes acima nominados em face da sentença proferida pelo respectivoJuízo Eleitoral que julgou procedente em parte os pedidos formulados peloMinistério Público Eleitoral por restarem configuradas as condutas vedadasprevistas no art. 73, II e III, da Lei n. 9.504/97 praticadas por Fabio AllanFiedler, Robinson Fernando Soares, Almir Vieira e Braz Roncáglio; e a captaçãoilícita de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/97 praticada por CélioDias (fls. 1.082-1.135).

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Irresignado, o representante do Ministério Público Eleitoralde 1º Grau, preliminarmente, requer o levantamento do sigilo pelo qual seprocessam os autos porque não há vedação de ordem legal que demande amanutenção do suposto sigilo, já que somente a ação de impugnação de mandatoeletivo (AIME) é que deve ser processada em segredo de justiça, comoexpressamente dispõe o §11 do art. 14 da Constituição Federal.

No mérito, aduz que os recorridos/recorrentes Robinsom,Célio e Braz utilizaram de bens móveis pertencentes à administração direta ouindireta do Município em favor dos recorridos por intermédio da empresaCONSTRUPAV (que mantém contrato de prestação de serviços com aPrefeitura), pelo que requer sejam os mesmos dados como incursos na infraçãoprevista no inciso I do art. 73 da Lei n. 9.504/97.

Quanto ao recorrido/recorrente Almir Vieira, aduz queutilizou serviços de patrola da empresa CONSTRUPAV em benefício da suacandidatura, o que, do mesmo modo, também configuraria violação ao inciso I doart. 73 da Lei n. 9.504/97.

No que tange aos recorridos/recorrentes Fábio Allan Fiedlere Robinsom Fernando Soares, aduz que a sentença reconheceu o uso de veículolocado pelo Poder Público pelo colaborador de campanha de Robinson FernandoSoares, mas deixou de imputá-lo como incurso no inciso I do art. 73 da Lei n.9.504/97. Aduz que referido veículo também foi usado para beneficiar acandidatura de Fábio Alan Fiedler, conforme confirmado pelo depoimento dopróprio Alexandre Luiz Brollo, então Secretário de Obras, razão pela qualpleiteia para que sejam também incursos no art. 73, I, da Lei n. 9.504/97.

Ainda com relação a Robinsom Fernando Soares, requer suacondenação por abuso de poder político, em virtude de interferência nascontratações de servidores tanto na Prefeitura quanto na CONSTRUPAV, e acondenação pela prática de captação ilícita de sufrágio [art. 41-A da Lei n.9.504/97] pela negociação para angariar o voto de João Valle Neto e Dalto dosReis [R$ 3.000,00], que não eram da legenda.

Com relação a Célio Dias, aduz que fez uso de telefonefuncional e de funcionário público em expediente para captação ilícita desufrágio, incorrendo na prática dos incisos II e III do art. 73 da 9.504/97,devendo portanto, ser-lhe aplicada multa por infração a esse dispositivo e serdeclarado inelegível. Acrescenta que o servidor Braz Roncaglio intermediou juntoao Diretor Presidente da URB a contratação do servidor Sergio Luiz da Silva semconcurso público nos três meses anteriores ao pleito, o que encontra vedação noinciso V do art. 73 da Lei n. 9.504/97.

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Insurge-se quanto à dosimetria das penalidades, seja porque(I) os recorridos foram condenados ao pagamento de multa no valor de 5.000UFIR’s por infração ao disposto no art. 73, II e III da Lei n. 9.504/97 e/ou art.41-A da Lei n. 9.504/97, tendo porém sido a multa fixada de modo igualitárioquando deveriam ser-lhes aplicadas multas individualizadas, ou (II) porque omagistrado aplicou a pena no patamar mínimo embora tivesse fundamentado quea multa não poderia ser fixada em tal patamar, seja, ainda, (III) porque omagistrado não levou em conta a reincidência da conduta para fins de duplicaçãoda multa.

Por fim, aduz que a multa por infração ao art. 41-A não foicorretamente aplicada com relação a Robinsom, porquanto fixada de forma únicaquando deveria ser de modo particularizado por tipo de infração, requerendo oprovimento do recurso para majorar o valor da multa aos recorridos Fábio AllanFiedler, Robinsom Fernando Soares, Almir Vieira e Braz Roncáglio, bem comopara que estes sejam incursos na imputação do inciso I, do art. 73, da Lei n.9.504/97, e Braz Roncáglio também pelo inciso V do referido dispositivo legal.Quanto ao recorrido Célio Dias, para que seja reconhecido como incurso nos trêsprimeiros incisos do art. 73 da Lei n. 9.504/97 e condenado ao pagamento demulta na forma dos §§ 4º e 6º do referido diploma, declarando-se-o inelegível por8 anos conforme o inciso XIV do art. 22 da LC n. 64/90.

Inconformado, Braz Roncáglio, em suas razões recursaisacostadas às fls. 1.233/63 arguiu preliminarmente: a) nulidade do feito a contardo despacho que reconheceu a intempestividade da defesa preliminar, mediante adeclaração incidental da inconstitucionalidade da Resolução n. 7.838/2011TRE/SC, pelo que a prova que embasa o pedido não poderia ter sido utilizada noprocesso eleitoral; b) ilicitude das provas; c) período de ocorrência dos fatosreferentes ao art. 41-A da Lei das Eleições e d) ilegalidade da prova emprestada.No que toca ao mérito, requereu a improcedência do pedido ao argumento de quenão há provas de que tenha incorrido em abuso do poder político comoreconhecido pela sentença agora objeto de recurso. Junta ainda os documentos defls.1264/8.

Célio Dias arguiu preliminarmente: a) a prova que embasa opedido não poderia ter sido utilizada no processo eleitoral; b) nulidade dasentença por haver utilizado fato não narrado na inicial como elemento de prova;c) nulidade da sentença por não haver feito menção aos depoimentos dastestemunhas arroladas pelo recorrente; d) nulidade da sentença por não tercolhido o depoimento pessoal do recorrente. Quanto ao mérito, requereu aimprocedência do pedido ao argumento de que não há provas de que tenha

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praticado a captação ilícita de sufrágio reconhecida pela sentença agora objeto derecurso (fls. 1.270/328).

Almir de Oliveira (fls. 1345-1404), Fábio Allan Fiedler (fls.1406-1465) e Robinsom Fernando Soares (fls. 1467-1.553), em peças separadasargúem, preliminarmente: a) violação ao devido processo legal e ao contraditórioe ampla defesa pela indisponibilidade da totalidade dos áudios constantes noprocedimento criminal originário das escutas; b) nulidade do feito por não haverprova da autorização judicial para interceptação telefônica; c) falta de interesseprocessual e intempestividade da propositura da AIJE; d) perda de objeto da açãofrente ao não julgamento até a data da diplomação; e) falta de pressupostoprocessual por inépcia da inicial; f) impedimento do Promotor de JustiçaCoordenador da GAECO de Itajaí por ser irmão de vereador eleito no pleitoproporcional de 2012. Quanto ao mérito, requerem a reforma da sentença atacadaao argumento de que não há prova de que tenham incorrido nos incisos II e III doart. 73 da Lei n. 9.504/97, asseverando ainda não haver incidência do art. 22 daLei Complementar n. 64/90. Sustentam a nulidade da sentença por falta defundamentação na medida em que não teria conferido valor às provas testemunhale documental produzidas pela defesa. Requerem a aplicação dos princípios daproporcionalidade e razoabilidade para serem afastadas as penalidades aplicadaspela sentença recorrida. Ao final, ao argumento de que não incidiram nos incisosII e III do art. 73 da Lei n. 9.504/97, e nem no art. 41-A da mesma lei eevidenciada a falta de gravidade, requerem sejam afastadas as penalidades quelhes foram aplicadas. Requerem ainda, em caso de não lograr êxito em seurecurso, que o acórdão mencione os dispositivos legais violados para efeito deprequestionamento.

Em sede de contrarrazões, as partes recorridas pugnarampelo desprovimento dos recursos interpostos.

Os autos vieram ao TRE/SC. É o sucinto relatório; presentesos pressupostos de admissibilidade, os recursos merecem ser conhecidos.

Inicialmente, registre-se que em nome da economiaprocessual os recursos, no que possuam de comum, serão analisados emconjunto, começando-se pela preliminar de ilicitude da prova por ausência deautorização judicial para interceptação telefônica e ilegalidade da provaemprestada, comum a todos os recorrentes, à exceção do Ministério PúblicoEleitoral de 1º Grau. Pois bem.

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A preliminar foi muito bem enfrentada pelo Magistrado a quoque afastou os motivos que ensejariam a ilicitude da prova na ótica dos recorrentes,cujo teor vale transcrever, por elucidativo, verbis:

1.1 Utilização de conversas telefônicas autorizadas em procedimento de naturezadiversa, por não contemplar as mesmas partes, juiz e objeto, nem haver prova documental dalicitude da gravações.

Conforme se conclui da análise dos autos, a presente ação decorre de um procedimentoinvestigatório inicialmente instaurado no âmbito criminal para apurar notícias de crimessupostamente praticados contra a Administração Pública Municipal de Blumenau,notadamente no âmbito da Companhia de Urbanização de Blumenau (URB).

No curso das investigações, o juízo criminal deferiu o pedido de interceptação telefônicade alguns supostos envolvidos e, na seqüência, os autos do procedimento investigatório foramencaminhados ao Tribunal de Justiça, diante da existência de indícios de participação deautoridade com foro privilegiado. No Tribunal de Justiça, o Desembargador Relatordeterminou o compartilhamento das escutas telefônicas ao Ministério Público Eleitoral, porentender que havia fortes indícios de prática de atos que importam abuso de poder econômicoe político e corrupção eleitoral.

A decisão que autorizou o compartilhamento das conversas telefônicas (f. 80-84) estáembasada em ensinamentos doutrinários e precedentes jurisprudenciais que admitem autilização da prova de conversa telefônica , obtida licitamente, como prova emprestada emprocesso de natureza civil ou mesmo em procedimentos administrativos.

Ainda que, eventualmente, os ora representados não estejam sendo investigados noprocedimento criminal, isso não impede o uso das conversas telefônicas como meio de prova,desde que se lhes assegure o acesso a tais informações e se lhes garanta o direito aocontraditório e à ampla defesa.

Não há necessidade de instruir o presente pedido com a decisão do juízo criminal queautorizou, inicialmente, a interceptação telefônica.. Primeiro porque, diante da leitura dopedido da Procuradora de Justiça e da decisão do Relator da Medida Cautelar (f. 72-84), nãohá dúvida de que, efetivamente, existiu uma decisão judicial autorizando a interceptaçãotelefônica. Logo, não há fundada dúvida de que a medida à margem de decisão judicial. Alémdisso, poderia o próprio interessado ter pedido uma certidão ao juízo em que se processaaquela ação, acerca da existência da decisão. (fl. 681-682).

Quanto à prova da interceptação telefônica em si, tem-se queforam preenchidos todos os requisitos autorizadores previstos na Lei n. 9.296/96,quais sejam: a prova foi autorizada (i) por Juiz competente; (ii) em decisãofundamentada (iii) durante o curso da investigação criminal, (iii) pelo prazo de 15dias, renovável por igual prazo, com indícios razoáveis da autoria ouparticipação em infração penal; (iv) a prova não podia ser obtida por outro meio

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idôneo e o (v) os fatos investigados não constituíam infração penal punida, nomáximo, com pena de detenção.

Adentrando na questão das interceptações telefônicas, estasforam autorizadas nos autos do procedimento investigatório criminal n.008.12.005807-0, deflagrado pelo Promotor de Justiça da 2ª Vara Criminal daComarca de Blumenau, visando apurar a prática de crimes de formação dequadrilha, fraude a licitações, peculato, prevaricação, corrupção e lavagem dedinheiro, dentre outros, no âmbito da administração do município de Blumenau, eno qual se concluiu haver um “esquema para favorecimento de empreiteiras,operacionalizado por meio da contratação, por preços superfaturados, daCompanhia de Urbanização de Blumenau em processos de dispensa dalicitação, dada a sua privilegiada condição de empresa pública, e posteriorsubcontratação de empresas particulares, desviando assim, recursos públicosem proveito dos membros do esquema criminoso” (fl. 811-812)

Simples constatar que as respectivas decisões judiciais estãodevidamente fundamentadas no que tange aos indícios de autoria e àimprescindibilidade da medida como meio de comprovação de crimes apenadoscom reclusão. A partir desse ponto, as informações colhidas são válidas,aplicando-se como corolário (agora com repercussão nos ilícitos eleitorais oradiscutidos) o princípio da "Comunhão da Prova", cujo teor esclarece que, com arealização das interceptações telefônicas, o seu resultado pode ser utilizado naaveriguação de delitos com sanções de outra natureza, havendo uma eficáciaextensiva desse meio de prova.

Nesse sentir, prega a doutrina:O valor constitucionalmente protegido pela vedação das interceptaçõestelefônicas é a intimidade. Rompida esta, licitamente, em face do permissivoconstitucional, nada mais resta a preservar. Seria demasia negar a recepção daprova assim obtida, sob a alegação de que estaria obliquamente vulnerado ocomando constitucional. Ainda aqui, mais uma vez, deve prevalecer a lógica dorazoável. (Ada Pellegrini Grinover, Antônio Scarance Fernandes e AntônioMagalhães Gomes Filho).

Portanto, não há que se cogitar em qualquer ilegalidade dasprovas surgidas a partir das interceptações telefônicas em comento, pois cada umadas decisões judiciais deixa antever a prévia autorização judicial para a colheita daprova e comunhão dessa para outras áreas.

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Sobre interceptação telefônica, o TRESC já decidiu, verbis:

- ELEIÇÕES 2008 - RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃODE DIPLOMA - PRELIMINARES DE CERCEAMENTO DE DEFESA EAUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA - QUESTÕESDIRIMIDAS DURANTE A INSTRUÇÃO - ANÁLISE PREJUDICADA -PRELIMINARES DE ILEGALIDADE DE INTERCEPTAÇÕESTELEFÔNICAS E DE IMPOSSIBIILDADE DO SEU USO NOPROCESSO ELEITORAL - REJEIÇÃO - SUPOSTA CAPTAÇÃOILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO -PROVA SEGURA DA OFERTA E DA ENTREGA DE BENESSES EMTROCA DE VOTOS - PROVIMENTO.

1. As decisões mais recentes do Superior Tribunal de Justiça edo Supremo Tribunal Federal tem reconhecido que a denúncia anônimapoderá ensejar a coleta de elementos para instauração de inquérito policial,motivo pelo qual não pode ser considerado ilegal o procedimentoinvestigatório iniciado a partir de declaração prestada ao PromotorEleitoral no qual são descritos fatos que configuram a prática de condutacriminosa, ainda que não conste dos autos a identificação da testemunha.

2. Sendo lícita e idônea, a interceptação telefônica poderá serutilizada como prova emprestada para dirimir controvérsias na esfera civil eadministrativa. No expressivo dizer do Ministro Cezar Peluso "no âmbitonormativo do uso processual dos resultados documentais da interceptação,o mesmo interesse público na repressão de ato criminoso grave que, porsua magnitude, prevalece sobre a garantia da inviolabilidade pessoal,justificando a quebra que a limita, reaparece, com gravidade só reduzidapela natureza não criminal do ilícito administrativo e das respectivassanções, como legitimante desse uso na esfera não criminal, segundoavaliação e percepção de sua evidente supremacia no confronto com odireito individual à intimidade" (STF, Inq. 2.424 QO-QO, DJ 24.08.2007).

3. Comprovado, de forma segura, que o candidato prometeu eentregou vantagens materiais (passagens rodoviárias, transporte gratuito,consultas médicas, exames clínicos e dinheiro) "ao eleitor, com o fim deobter-lhe voto", resta configurada a captação ilítica de sufrágio (Lei n.9.504/1997, art. 41-A).

4. "A finalidade da ação de impugnação é destituir do mandatoeletivo aqueles que o auferiram com o emprego de abuso do podereconômico, corrupção ou fraude, não se prestando à declaração deinelegibilidade" (TRESC, Ac. n. 20.611, de 17.07.2006, Juiz NewtonVarella Júnior)1.

1 RD - RECURSO DE DIPLOMACAO nº 2237030 - Dionísio Cerqueira/SC Acórdão nº 25228 de 09/08/2010Relator(a) SÉRGIO TORRES PALADINO Publicação: DJE - Diário de JE, Tomo 148, Data 16/8/2010, Página6-7

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Como bem ponderado pelo ilustre representante doMinistério Público Eleitoral de 1º Grau, a prova quanto à existência de regularautorização judicial para interceptação telefônica nos termos da Lei 9.296/96 estácontida na cópia da decisão que autorizou o compartilhamento das informaçõesobtidas mediante a interceptação telefônica deferida nos autos da investigaçãocriminal proferida pelo eminente Desembargador do Tribunal de Justiça de SantaCatarina, Roberto Lucas Pacheco, conforme se verifica às fls. 811-8122.

No que tange à alegada violação ao devido processo legal eao contraditório e à ampla defesa pela indisponibilidade da totalidade dos áudiosconstantes no procedimento criminal originário das escutas, suscitadas por Almirde Oliveira, Fábio Allan Fiedler e Robinsom Fernando Soares, reporto-me àspercucientes ponderações da ilustre representante do Ministério Público Eleitoralde 1º Grau, verbis:

Realmente, como o processo de origem das escutas telefônicas seprocessava em segredo de justiça, conforme expressamente dispõe oart. 1º da Lei n. 9.296/96, não houve o contraditório. Pretender ocontrário, tornaria sem valia, como prova, a quebra do sigilo dascomunicações telefônicas.Afirma ainda o Recorrente que não houve pedido com demonstraçãoda necessidade da interceptação telefônica e nem indicação dos meios aserem empregados, contudo, a própria prova por si acostada ao feito,em especial as petições firmadas pelo Promotor de Justiça GustavoMereles Ruiz Diaz de fls. 1537/83, 1595/603, 1688/714, 1963/78,demonstram que foram seguidos todos os trâmites legais para odeferimento das escutas telefônicas.É de se notar, ainda, que as transcrições das conversas se deram tãoapenas nos assuntos de interesses das investigações e outras açõesilícitas, em conformidade com as decisões que autorizaram as escutas,inclusive como forma a preservar a intimidade (e colocar a salvo a vidaprivada) dos interlocutores e dos alvos da quebra do sigilo.Apesar de não terem sido transcritas o inteiro teor das conversações, ainicial em áudio foi encaminhada juntamente com a notificação e acontrafé ao Recorrente (cópia idêntica a de fl. 206), que inclusivedevolveu sua cópia, como se pode ver às fls. 652/3, fato este quepermitiu a mais ampla defesa, na medida em que os representadostiveram acesso ao inteiro teor de todas as conversações citadas emnota de rodapé por sinopses, além de todos os demais áudioscompartilhados e juntados com a inicial à fl. 87.

2 Esta última decisão proferida em 13/7/2012 deferiu a prorrogação da quebra do sigilo das comunicações dos alvos que citapelo prazo de 15 dias, ou seja, as escutas que instruem a AIJE foram captadas em conformidade com ordem judicial.

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Inclusive, com a colagem dos áudios junto às sinopses na inicial poráudio (fl. 206), permitiu que a defesa tivesse tempo muito superior aoprazo legal conferido para apresentação de resposta, em razão dasuperveniência do recesso forense.Em que pese a alegação do recorrente de que as sinopses que instruema AIJE são apócrifas, com a juntada da cópia dos Autos da MedidaCautelar n. 212.063297-6/008.12.005807-0, às fls. 1536/3662, opróprio recorrente logrou produzir prova no sentido inverso, qual seja,que as sinopses fazem parte daqueles autos, e tal como requerido àsfls. 72/9 pela Procuradora de Justiça, foram extraídas daqueles autos.Não faz sentido, então, a nulidade do feito por não haver prova daautorização judicial para interceptação telefônica, pois está muitoevidente que a prova questionada foi obtida em restrita observância dalegislação pertinente. (fls. 3.856-3.857).

Tampouco merecem prosperar as preliminares arguidas pelostrês candidatos recorrentes Fábio Alan Fiedler, Robinsom Fernando Soares eAlmir Vieira de (i) falta de interesse processual e intempestividade dapropositura da AIJE; (ii) perda de objeto de ação frente ao não julgamento até adata da diplomação; (iii) falta de pressuposto processual, por inépcia da inicial;senão, vejamos:

A jurisprudência do TSE fixou de modo claro que ascondutas vedadas aos agentes públicos previstas no art. 73 da Lei n. 9.504/97devem ser atacadas processualmente através da representação prevista em seuart. 96 com a aplicação de multa; todavia, poderiam ser atacadas através da AIJEprevista no art. 22 da Lei Complementar n. 64/90, já não mais como condutasvedadas (com aplicação das sanções ali previstas), mas como abuso de poderpolítico com aplicação da sanção de inelegibilidade e outras pertinentes. Assim, omesmo fato pode ter duas implicações: se tomado como conduta vedada aosagentes públicos, pode ser impugnado por meio do art. 96; se tomado comoabuso de poder político, pode ser atacado por meio da AIJE.

A questão é simples e não demanda maiores delongas. É queda leitura da peça inicial se verifica que está ela fulcrada em duas premissas: aprática de conduta vedada e o abuso de poder político decorrente dessascondutas, ambas a suscitarem as penalidades de cassação do registro (a deinelegibilidade por conduta vedada, no entanto, se restringe à condenação porabuso; no caso de conduta vedada que implique em cassação é decorrência legale não precisa ser declarada em sentença).

Sabe-se que a Lei Complementar n. 64/90 não fixou omomento apropriado para ajuizamento da AIJE ou seu dies a quo, nem tampouco

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prazo final para sua propositura, dies a ad quem. Contudo, recentemente foiincluído o § 12 ao art. 73 que estipula a data da diplomação, como prazo finalpara ajuizamento da representação com espeque nas condutas vedadas,sufragando entendimento adotado pelo TSE em diversos precedentes. Assim,voltando ao caso concreto, tendo a ação sido protocolizada no dia 12/12/2012 eos eleitos diplomados em 19/12/2012, resta claro ter sido ajuizada dentro doprazo legal, pelo que se afasta a preliminar de falta de interesse processual eintempestividade da propositura da AIJE.

Da mesma forma, e como consectário lógico da preliminaranteriormente analisada, não merece ser acolhida a alegada perda de objeto frenteao seu não julgamento até a data da diplomação, por uma questão singela, paradizer o mínimo: se a AIJE pode ser proposta até a data da diplomação, pareceóbvio que seu julgamento se dará após tal evento. A única distinção a ser feitarefere-se aos efeitos correspondentes: se julgada antes da diplomação, a sentençacassará o registro; após, cassará o diploma, declarando, em um ou em outromomento, a inelegibilidade para as eleições que se realizarem nos próximos 8anos, na forma do disposto no inciso XIV, do art. 22 da Lei Complementar. Peloafastamento, pois, dessa preliminar.

A preliminar de falta de pressuposto processual por inépciada inicial também é facilmente rechaçada uma vez que da leitura da inicialverifica-se que há pedido e causa de pedir, sendo que da narração dos fatosdecorre logicamente a conclusão, pelo que não vislumbro qualquer dificuldadepara as partes oferecerem defesa.

A última preliminar suscitada pelos três recorrentes refere-seao impedimento do Promotor de Justiça, Coordenador da GAECO de Itajaí, porser irmão de vereador eleito no pleito proporcional de 2012. Alegam que o Dr.Jean Michel Forets, Promotor de Justiça da Comarca de Itajaí, Coordenador daGAECO – Grupo de atuação especial criado pela Procuradoria Geral de Justiçaem 1995 (que tem como função básica o combate a organizações criminosas)possui parentesco com vereador eleito no último pleito – Jefferson Forest –,portanto estaria impedido de presidir as presentes investigações criminais, emespecial as interceptações telefônicas.

Ocorre que, como bem ponderado pelo ilustre representantedo Ministério Público de 1º Grau, a prova carreada pelo Recorrente deixa claroque o Promotor Dr. Jean Michel Forets não participou das investigações ou dasescutas telefônicas deferidas por decisão judicial. E, mesmo que tivesseparticipado, o simples fato de ter um irmão que concorreu ao pleito proporcional

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nessa cidade não macularia de modo algum a prova obtida de forma lícita e quefoi compartilhada com o Ministério Público Eleitoral por decisão judicial.

Acresço ainda que a iniciativa para realização da referidainterceptação telefônica partiu de outro Promotor de Justiça, o Dr. GustavoMeireles Ruiz Dias, com atribuições na Comarca de Blumenau, sendo que aparticipação do Promotor Jean Michel Foreste se restringiu ao auxílio àProcuradora de Justiça Coordenadora do CMA para a realização das cópias eremessas dos áudios, das gravações em mídia e do material gerado a partir delasnaquilo que interessasse à Promotoria Eleitoral, o que por si só já afasta oalegado impedimento do Coordenador da GAECO.

Encerradas as preliminares suscitadas pelos recorrentesAlmir, Fabio e Robinson, passo à análise das demais preliminares, suscitadas porBraz Roncáglio e Célio Dias.

Braz Roncáglio suscita duas preliminares: (i) nulidade dofeito a contar do despacho que reconheceu a intempestividade da defesapreliminar, mediante a declaração incidental da inconstitucionalidade daResolução n. 7.838/2011 TRE/SC, pelo que a prova que embasa o pedido nãopoderia ter sido utilizada no processo eleitoral; e, (ii) período de ocorrência dosfatos referentes ao art. 41-A da Lei das Eleições.

Com efeito, o recorrente exerceu seu direito de defesa deforma intempestiva, porquanto, devidamente notificado em 18.12.2012,apresentou defesa apenas em 08.01.2013, quando deveria ter sido apresentada noprimeiro dia útil após o recesso forense – 07.01.2013 –, o que ensejaria em tese oreconhecimento da revelia.

Todavia, a ‘revelia’ em sede de AIJE tem tratamentodiferenciado, pois as questões suscitadas são sempre de ordem pública, a versarsobre direito indisponível, de modo que, mesmo não tendo a parte contestado ofeito, não se podem reputar automaticamente como verdadeiros os fatosafirmados na inicial, tanto é que o Magistrado apreciou as preliminares suscitadaspelo recorrente e enfrentou o mérito analisando as provas produzidas em conjuntocom as defesas dos demais recorrentes, pelo que não merece prosperar apreliminar suscitada pelo recorrente. Ou seja, na prática tratou-se de um meroatraso na entrega da defesa, que foi considerada.

Quanto à alegada ausência de indicação e prova do períodode ocorrência dos fatos referentes ao art. 41-A da Lei das Eleições, esta não sesustenta, como bem ponderado pelo ilustre representante do Ministério PúblicoEleitoral de 1º Grau, “de vez de que a sentença que o recorrente pretende verdeclarada nula não reconheceu nenhum ato de captação ilícita de sufrágio

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imputada na exordial, tanto é que o recorrente foi condenado unicamente pelaprática de abuso de poder político, previsto no art. 73 da Lei das Eleições (fl.1134)”. Pelo afastamento, portanto, da preliminar aventada.

Resta a análise de outras três preliminares suscitadas pelorecorrente Célio Dias, quais sejam, (i) nulidade da sentença por haver utilizadofato não narrado na inicial como elemento de prova; (ii) nulidade da sentença pornão haver feito menção aos depoimentos das testemunhas arroladas pelorecorrente; (iii) nulidade da sentença por não ter colhido o depoimento pessoal dorecorrente.

No que tange à alegação de a sentença haver utilizado fatonão narrado na inicial como elemento de prova, não merece prosperar. Comefeito, a sentença reconheceu que um dos fatos evidenciava a captação ilícita desufrágio, mas deixava de reconhecer o ilícito porque não havia sido narrado nainicial, servindo apenas para reforçar o entedimento acerca do modooperandi do recorrente em outro fato narrado na inicial.

Da mesmo forma, quanto à preliminar de nulidade dasentença por não haver feito menção a depoimentos das testemunhas arroladaspelo recorrente, aplicável o princípio do livre convencimento ou da persuasãoracional, pelo qual o magistrado forma seu convencimento livremente, nos termosdo art. 131 do Código Processo Civil. O juiz é, portanto, livre para basear seuconvencimento tanto naquilo que as partes fazem (ativamente) no processo, comonaquilo que deixam de fazer, tendo sempre em mente que todas as provaspossuem valor relativo, não estando o juiz adstrito sequer a considerarverdadeiros os fatos sobre cujas proposições estão de acordo com as partes.Assim, tenho que o magistrado decidiu com base nos elementos existentes noprocesso, avaliando-os segundo critérios críticos e racionais, dispensando paraisso menção expressa na sentença a todos os depoimentos dos autos.

Ademais, como bem ponderado pelo representante doMinistério Público Eleitoral, “se a sentença não mencionou tais depoimentos, éporque não os considerou relevantes, mas que com toda certeza foram levadosem consideração para formação do convencimento, até porque o magistradosentenciante foi o mesmo que coletou a prova na audiência, e tudo no mês dejaneiro/2013 (ou seja, quando os fatos ainda estavam muito vivos na memóriado magistrado)”.

Por fim, quanto à preliminar de nulidade da sentença por nãoter colhido o depoimento pessoal do recorrido, esta é facilmente rechaçada, umavez que não há no rito previsto no art. 22 da Lei Complementar disposição

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expressa para tal mister, o que desobriga o magistrado da produção da suaprova, caso entenda desnecessário.

Quanto ao mérito propriamente dito, ao regulamentar oabuso do poder econômico e/ou político e as condutas vedadas aos agentespúblicos, o intuito da legislação eleitoral subjacente consiste em punir asartimanhas de campanha, o clientelismo e o amesquinhamento do voto, que sócomprometem o processo eleitoral e a própria democracia. Pretende-se evitar ouso da máquina pública em favor de determinado candidato em detrimento dosdemais concorrentes ao pleito eleitoral, de modo que seja preservada a lisura daeleição, a qual deve transcorrer dentro do equilíbrio necessário à manutenção dalegitimidade do resultado das urnas.

Sobre o abuso de poder político, vale trazer à baila, a liçãode José Jairo Gomes, verbis:

Atento a essa realidade, a Lei n. 9.504/97 proibiu aos agentes públicos,servidores ou não, a consecução de certas condutas. Trata-se daschamadas condutas vedadas, previstas no art. 73 a 78 daquele diploma,as quais serão analisadas oportunamente. Para efeito da configuraçãode abuso de poder político, o rol legal não é numerus clausus, masmeramente exemplificativo. Por razões óbvias, as condutas proibidas aídiscriminadas também configuram improbidade administrativa,conforme prescreve o artigo 11, I, da Lei n. 8.429/92, já que feremigualmente os princípios regentes da Administração Pública, é isto,aliás, que está dito no § 7º do artigo 73 daquela norma3.

Assim, tem-se que a conduta vedada pode configurar abusode poder político, bastando para isso que a conduta afete a legitimidade enormalidade da disputa eleitoral e o princípio da isonomia entre os candidatos nopleito.

Já o abuso de poder econômico e/ou político se dá nomomento em que há um desequilíbrio de forças decorrente da apropriação defunção, cargo ou emprego público, na Administração direta ou indireta, em favorde seu detentor ou em benefício de alguma outra candidatura em desfavor dosdemais candidatos, conforme dispõe o art. 22, caput, e inciso XIV, da LeiComplementar n. 64/90, verbis:

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério PúblicoEleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geralou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir

3 Gomes, José Jairo. Direito Eleitoral 5ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. P. 168

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abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso dopoder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos oumeios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político,obedecido o seguinte rito:

XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação doseleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajamcontribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para aseleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que severificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamentebeneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso dopoder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dosautos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, sefor o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espéciecomportar; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

Destaca-se que, antes do advento da Lei Complementar n.135/2010 (Lei da Ficha Limpa), era pacífico o entendimento dos tribunais danecessidade, para que fosse julgada procedente a AIJE, a prova da potencialidadedos fatos abusivos para macular o pleito. No entanto, a mencionada leicomplementar introduziu ao art. 22 acima transcrito o inciso XVI abaixotranscrito:

XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidadede o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstânciasque o caracterizam. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010).

Portanto, atualmente, para a configuração dos abusos depoder econômico, político, de autoridade ou do uso indevido dos meios decomunicação não é mais exigível a constatação de aptidão dos atos abusivos paracomprometer a lisura das eleições ou influir no resultado das urnas, sendosuficiente à sua configuração a verificação da 'gravidade das circunstâncias que ocaracterizam’.

Isso assentado, considerando que a representação envolvevários recorridos, bem como servidores públicos municipais e de empresasprestadoras de serviços no município de Blumenau, por uma questão de didáticapasso a elencar, em ordem alfabética, o nome e o cargo/função de cada uma daspessoas citadas nos referidos áudios para melhor elucidação dos fatos.

1.ALEXANDRE LINHARES BROLLO – Secretário deObras da Prefeitura de Blumenau e Coordenador da campanha à reeleição docandidato Fábio Allan Fiedler.

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2.ALMIR VEIRA – Diretor de Obras Conveniadas e Obrasdo Mutirão, da Secretaria Municipal de Obras. Candidato a vereador no últimopleito pelo PSD, tendo sido diplomado 1º suplente do partido.

3.BRÁZ RONCÁGLIO – Diretor da Secretaria deArticulação Política da Prefeitura de Blumenau. Candidato ao cargo de Vereadorno último pleito pelo PR, tendo sido diplomado 2º Suplente do partido.

4.CÉLIO DIAS – Diretor Administrativo-financeiro daSecretaria de Governo e Articulação Política da Prefeitura de Blumenau.Candidato ao cargo de vereador, tendo sido eleito com 2.606 votos.

5.CLAUDIO MARCELO ZIMMERMANN – Diretor deEsporte e Lazer da Fundação Municipal de Desporto.

6.EDSON BRUNSFELD – Secretário de Governo e daArticulação Política da Prefeitura de Blumenau.

7.EDUARDO JACOMEL – Diretor-Presidente da URB,Companhia de Urbanizadora de Blumenau.

8.FÁBIO ALLAN FIEDLER – Vereador e candidato àreeleição no último pleito pelo PSD. Teve como coordenador da campanhaeleitoral Alexandre Linhares Brollo, então Secretário de Obras da Prefeitura deBlumenau.

9.GIOVANI GERVÁSIO WILWERT – Gerenteoperacional das empresas CONSTRUPAV de propriedade de Israel de Souza.

10.ISRAEL DE SOUZA – Proprietário de fato da empresaCONSTRUPAV

11.LUCIANO MACHADO FELIZARDO – Gerente deOrçamentos e de Composição de Custos da Prefeitura de Blumenau.

12.LUIZ HENRIQUE FUMAGALLI – Funcionário doSetor de Compras da Secretaria de Obras da Prefeitura de Blumenau.

13. MARIA HELENA – Funcionária da URB lotada noSetor de Compras.

14. MOISÉS RODRIGUES – Vulgo “TCHÊ”, empreiteirodas empresas de Israel de Souza.

15. MURILO ROGÉRIO CAMPOS – Diretor daSecretaria de Governo e Articulação Política da Prefeitura de Blumenau.

16. RAGYBE – Funcionário da Prefeitura lotado naSecretaria de Serviços Urbanos.

17. ROBINSOM SOARES – Diretor de Iluminação daSecretaria de Serviços Urbanos da Prefeitura Municipal de Blumenau. Candidatoa Vereador pelo PSD, eleito pelo partido.

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18. VICTOR SILVEIRA FARIAS – Diretor Técnico daURB.

Em síntese, temos então a seguinte situação:

SERVIDORES DA URB:1. Eduardo Jacomel – Presidente da URB2. Victor Silveira Farias – Diretor Técnico da URB3. Maria Helena – Setor de Compras da URB4. Rodrigo Zanlucca – Diretor de Recursos Humanos

SERVIDORES DA SECRETARIA DE OBRAS:1. Alexandre Luiz Brollo – Secretário de Obras2. Almir Vieira – Diretor de Obras Conveniadas e Mutirão3. Luiz Henrique Fumagalli – Setor de Compras

SERVIDORES DA SECRETARIA DE SERVIÇOSURBANOS:1. Robinsom Soares – Diretor de Iluminação2. Luciano Machado Felizardo – Gerente de Orçamento e

Custos3. Ragybe Uriel4. Vilson Reinert – Fiscal

SECRETARIA DE GOVERNO E DA ARTICULAÇÃOPOLÍTICA:1. Edson Brunsfeld – Secretário2. Célio Dias – Diretor Administrativo3. Braz Rongálio4. Claudio Marcelo Zimmermann – Diretor de Esporte5. Murilo Rogério Campos.

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Identificados os personagens principais da trama, verifica-seque o foco da ação de investigação judicial eleitoral ajuizada pelo MinistérioPúblico Eleitoral de 1º Grau divide-se, basicamente, em seis nortes:

(i) engajamento de servidores municipais comissionadose efetivos nas respectivas campanhas dentro do horário de expediente;

(ii) uso reiterado de veículos oficiais e telefonesfuncionais em benefício dos candidatos representados;

(iii) desvio de material/patrimônio da URB para atenderinteresse eleitoral de alguns candidatos e consequentemente corrupção eleitoralaos eleitores beneficiados;

(iv) indicação de pavimentação de ruas em bairrosdotados de pouca infra-estrutura em benefício da candidatura dos representados;

(v) contratação de servidores no período vedado pelalegislação eleitoral.

(vi) captação ilícita de sufrágio praticada por Célio Dias eBráz Roncáglio.

Passa-se à análise dos tópicos.Da leitura atenta da inicial e da oitiva dos áudios com

depoimentos das testemunhas verifico a existência de farto material a comprovaro abuso de poder político e econômico praticado por funcionários da prefeitura deBlumenau em prol das candidaturas dos recorridos.

Registro que aprofundei a análise nos depoimentos colhidosna intenção de efetuar sua correlação com os áudios que já constam transcritos nainicial e foram exaustivamente analisados na primeira instância, cujas indicaçõesgeográficos nos autos de placas, folhas e especialmente as razões de procedência,por isso desde já se subscreve de modo a evitar repetição cansativa edesnecessária do que ali já bem feito, exceto no que destacado a seguir,

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Trata-se de inúmeras ligações telefônicas realizadas ourecebidas pelas pessoas acima identificadas, as quais se comprometem à entregade materiais (macadame, brita), indicação de ruas, cessão de veículos (carros,caminhões e patrola), visitas a eleitores, utilização de telefones de propriedade daPrefeitura e de servidores públicos durante o horário de expediente, tudotornando evidente o uso indevido da máquina administrativa com fins eleitorais.Vejamos.

(i) Do engajamento dos servidores na campanha eleitoraldos recorridos (art. 73, III, da Lei n. 9.504/97)

Inicialmente no que tange ao engajamento dos servidorespúblicos nas campanhas eleitorais, resta incontroverso que o candidato FÁBIOFIEDLER contou com a efetiva colaboração dos servidores Alexandre LuizBrollo e Luiz Henrique Fumagalli, ambos lotados na Secretaria de Obras doMuncipio, o primeiro (Secretário da Pasta) para realização de sua campanhaeleitoral inclusive no horário de expediente, conforme se constata do depoimentoda testemunha Armando Girardi, Policial Militar responsável pelo relatório inloco e pelo monitoramento da interceptação das conversas de AlexandreLinhares Brollo no período de 20.6.2012 a 31.07.2012 e de Luiz HenriqueFumagalli, em maio. Ressalte-se que o período monitorado é anterior ao períodoeleitoral, que teve início em 07 de julho de 2012.

Segundo referida testemunha, Alexandre Brollo sempredeixou claro que era coordenador da campanha de Fábio Fiedler.

Afirmou que acompanhou a diligência referente as fls. 09-12e disse que, pelos áudios, foi monitorado que os referidos iriam se encontrar naRua 5 de outubro, e assim monitorou o encontro onde Fábio Fiedler e AlexandreBrollo, que almoçaram e depois se dirigiram até o local onde foram tiradas asfotos de fls. 10. Indagado sobre o que aconteceu no local, respondeu que nãotinha conhecimento do que foi conversado, somente que entraram em umaresidência e cumprimentaram as pessoas. Indagado se a testemunha tinha faladocom o morador da casa, disse: “não, porque pelos áudios eles tratavamsomente de eleição, em votos, em conversa, então creio que seria muitodifícil ser identificado outro assunto nesse dia”(05’17’’). Indagado pelorepresentante do Ministério Público Eleitoral sobre o volume de ligações entreFábio Fiedler e Alexandre Luiz Brollo, respondeu: “durante o terceiro e quartoperíodo que monitorei, as ligações eram constantes, no período da manhã,da tarde, à noite, eles mantinham contato diariamente” (09’56”). Indagado se

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restava demonstrado de forma explícita que Alexandre Linhares Brollo trabalhavaeleitoralmente para Fábio Fiedler ou se esse era o tratamento normal de umvereador com o Secretário de Obras, respondeu com “certeza que nos áudio queforam monitorados com relevância o sentido era o eleitoral, inclusive emáudios aí comenta até em votos, 300 votos, 150 votos, assinar ordem deserviço, é claro, consta dos áudios. Indagado se faziam campanha no horário deexpediente ou fora dele, respondeu que o faziam “durante o horário deexpediente até o Alexandre Brollo pegar férias ou licença no dia 13.07”.Indagado se Alexandre Linhares Brollo continuou usando o telefone após sair emférias/licença, confirmou o fato, explicando que as ligações de Fábio Fiedler eAlexandre Luis Bollo continuaram pelo mesmo telefone após Alexandre LuisBrollo sair em férias; indagado então se o telefone interceptado de AlexandreLinhares Brollo era funcional ou particular, respondeu: “só funcional,cadastrado em nome da Prefeitura Municipal de Blumenau”. (11’25”).

Ainda sobre o engajamento dos servidores nas campanhaseleitorais, a testemunha Jonas de Souza, que monitorou as ligações de AlexandreLinhares Brollo (no período de maio de 2012), Luiz Henrique Fumagalli (periodo demaio de 2012) e Luciano Machado Felizardo (período de agosto 2012) e realizoudiligências in loco, confirmou que os telefones interceptados eram funcionais.Indagado sobre as ligações de Alexandre Luiz Brollo, disse que “boa parte dasconversações dele era referente à campanha de Fábio Fiedler. Falava muitosobre a campanha de Fábio Fiedler. Ficava boa parte do horário de trabalhodele preparando a campanha” [...] “marcando reuniões, bingos, acertandoas propagandas” (13’20”). Indagado sobre a participação de Luiz HenriqueFumagalli na campanha de Fábio Fiedler, disse ter havido uma ligação de FábioFiedler para Alexandre Luiz Brollo em que este pede indicação de nomes de ruasa serem pavimentadas. Após isso, há um contato entre Alexandre Luiz Brolloe eLuiz Henrique Fumagalli em que este também pede indicação de ruas, ficandobem claro que a intenção era o aproveitamento da obra para a campanha de FábioFiedler, e onde iriam visitar moradores durante a campanha eleitoral.

Na mesma linha, vale citar o depoimento da testemunhaLuana Chaves Cervi Becker, Delegada de Polícia coordenadora da investigação,que afirma de modo contundente que Alexandre Luiz Brollo foi o coordenador dacampanha de Fábio Fiedler e que sua secretária na Secretaria de Obras era aresponsável pela agenda do candidato. Disse que foi interceptada uma ligação deAlexandre Luiz Brollo, na qual ele [Alexandre] estava na rua e ligou para asecretária para perguntar se tinha alguma brecha na agenda de Fábio. Disse ainda

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que restou “claro que ela [secretária], na Secretaria de Obras, durante ohorário de expediente, estava cuidando da agenda do candidato”.

Ainda citando o testemunho de Luana Chaves Cervi Becker,quando indagada sobre o envolvimento de Fábio Fiedler na indicação depavimentação de ruas [assunto que será tratado em outro tópico], disse que foraminterceptadas várias ligações feitas durante o expediente. Indagada se essasligações foram feitas depois de Alexandre Linhares Brollo pegar licença ou seainda quando estava no cargo, respondeu que “foram antes e depois. Nos doismomentos. Antes de pedir o afastamento do cargo ele já trabalhava fazendocampanha para o Fábio Fiedler, inclusive esse encontro que foi monitoradofoi antes de ele pedir o afastamento da secretaria”. Indagada se AlexandreLuiz Brollo continuou a frequentar a Secretaria coordenando o trabalho,respondeu que o policial Armando Girardi monitorou Alexandre Luiz Brollosendo que aquele afirmou que Alexandre Luiz Brollo teria continuado defato coordenando a Secretaria de Obras.

No que tange ao candidato ROBINSOM SOARES, vulgoRobinho, a testemunha Luana, indagada se referido candidato tinha utilizadofuncionário na campanha eleitoral e se poderia citá-los, respondeuafirmativamente que, “Victor Silveira Farias, diretor técnico da URB,auxiliava diretamente na campanha dele, inclusive era ele quemintermediava as ruas que seriam pavimentadas através do contato que eletinha com o Almir Vieira e também a questão do material desviado da URB.Luciano Machado Felizardo, era um dos coordenadores, e pelos áudios elesempre estava no comitê de Robinho. Ragybe Uriel era funcionário daSecretaria de Serviços Urbanos e também trabalhou na campanha deRobinho”. Indagada se esse trabalho foi feito durante o expediente, respondeuque “no caso do Victor foi aquilo que falei, durante o horário de expediente,inclusive o próprio trabalho dele. O Ragybe participou de reuniões com oMoysés Rodrigues e os moradores das ruas para acertar a pavimentação eteve uma ligaçao que ele pediu o celular da URB para ser usado nacampanha ( 27’16”).

Em outro momento do depoimento da testemunha LuanaChaves Cervi Becker, especificamente quando a testemunha falava sobre o usode veículos do município para deslocamento para atividades de campanha, estanarrou o episódio em que foi monitorado um encontro no comitê do candidato“Robinho”, quando este chegou, por volta das 16 horas, juntamente com o

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servidor Luciano Felizardo Machado – os dois funcionários da prefeitura-durante o horário de expediente (23’33”).

De igual forma, o candidato CÉLIO DIAS fez uso doservidor Cláudio Marcelo Zimmermann, Diretor de Esporte e Lazer da FundaçãoMunicipal de Desporto. O reconhecimento da participação deste na campanha deCélio Dias durante o horário de expediente foi feito de forma minuciosa peloMagistrado de origem, cujo trecho da sentença, peço vênia para transcrever,verbis:

No que concerne a Cláudio Marcelo Zimmermann, o áudio201207025143331 revela, sem nenhuma dúvida, que ele trabalhou nacampanha de Célio Dias.Uma tal “Ana” liga para Claúdio e pede adesivos para cinco pessoas.Cláudio explica que “tem que ir ali no comitê colocar”, e “e só avisarque é do Célio Dias que eles colocam (...) o comitê é geral, do JeanKullman”, é pra botar do Célio, né, ao que ele responde “aham” “dooutro assunto a gente fala pessoalmente” e se despedem.

A conversa se passou no dia 25/07/2012 (uma quarta-feira), às14h33min, durante o horário de expediente de Cláudio.[...]Não obstante, a conversa serve para demonstrar que Cláudio atuou emfavor de Célio Dias, reforçando o entendimento (que será exposto emseguida) de que houve captação ilícita de sufrágio em outro episódioprotagonizado por Cláudio.

Em outra conversa, também ocorrida no período eleitoral e no horáriode expediente (áudio 581), Cláudio Marcelo Zimmermann orienta umcidadão sobre o procedimento de um estabelecimento e, depois detratado sobre o assunto, diz pro interlocutor “preciso da tua ajuda parao Célio Dias” e a pessoa, mais à frente, responde que “uns 25 ou 30votos eu sei que consigo né”.Não pode ser admitido o argumento de que o requerido Céliodesconhecia a atuação de Cláudio Roberto Zimmermann em seu favor.Não é o que se conclui das conversas telefônicas 581 e20120725143331, acima mencionadas, em que Cláudio dizabertamente que é para pegar os adesivos lá no “nosso” comitê e que“é só avisar que é do Célio Dias”.

Aliado a isso, a testemunha Edson Francisco Brunsfeld,Secretário de Governo e da Articulação Política, afirma em seu depoimento que

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Claúdio Marcelo Zimmermann é correligionário de Célio Dias e ajudou nacampanha dele (20’46”).

Ainda sobre o engajamento de servidores públicos nacampanha eleitoral do candidato ora recorrido, trago à lume, novamente, trechodo depoimento da testemunha Luana Chaves Cervi Becker que, indagada sobre apessoa de Edson Francisco Brunsfeld, confirmou que ocupava o cargo deSecretário de Governo e da Articulação do Município e que nessa Secretariatrabalhavam: Murilo Rogério Campos, Célio Dias, Braz Roncáglio; e pelosáudios, Edson Francisco Brusnfeld estava trabalhando na campanhaeleitoral de Célio Dias. Não só de Célio Dias, mas também de outroscandidatos do partido dele (32’33”).

Por fim, resta afirmar que BRÁZ RONCÁGLIO fez usodos serviços de sua filha, servidora pública municipal, para tratar de assuntosrelativos à campanha, conforme demonstrado pelo áudio transcrito na fl. 43 dainicial, quando Bráz liga para Andréia e fala sobre santinhos de campanha.ALMIR VIEIRA usou o servidor Victor Silveira Farias para a realização defavores em troca da liberação das ruas, conforme se pode ver no acerca do abusode poder político na indicação de ruas para serem pavimentadas.

Em resumo, resta comprovado não somente pelos áudioscolacionados na inicial mas também pelos depoimentos acima referidos que osentão candidatos, ora recorridos, usaram dos serviços de servidores públicos oude empregados da administração direta ou indireta municipal para comitê decampanha eleitoral durante o horário de expediente.

Organizando as referências já feitas acima, tem-se que(i) Fábio Fiedler utilizou os serviços de Alexandre Luiz

Brollo e Luis Henrique Fumagalli;(ii) Robinson Soares utilizou os serviços de Luciano

Felizardo Machado (Setor de Compras da Secretaria de Obras), Victor SilveiraFarias (Diretor Técnico da URB) e Ragybe Uriel (Secretaria de ServiçosUrbanos);

(iii) Célio Dias, os serviços de Claudio MarceloZimmermann (Diretor de Esporte e Lazer da Fundação Municipal de Desporto, ede Edson Brunsfeld (Secretário de Governo e da Articulação Política);

(iv) Bráz Roncáglio, de sua filha Andréia, também servidorapública municipal, e

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(v) Almir Vieira usou o servidor Victor Silveira Farias.

Por essa razão, merece reparo a decisão de 1º grau no quetange a esse tópico para tão-somente acrescer à condenação de Célio Dias aconduta prevista no art. 73, III, da Lei n. 9.504/97 e dar provimento ao recursodo Ministério Público Eleitoral de 1º Grau também nesse aspecto, desprovendo orecurso interposto pelos demais recorridos.

(ii) Do uso reiterado de veículos oficiais e telefonesfuncionais em benefício dos candidatos representados (Art. 73, I da Lei n.9.504/97)

No que tange a esse tópico, a questão vai além do uso demóveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta do Municípioem benefício dos candidatos (art. 73, I, da Lei n. 9.504/97), porquanto o que sevê das provas produzidas nos autos, como bem ponderado pelo ilustrerepresentante do Ministério Público Eleitoral de 1º Grau, é o verdadeiro“ambiente de promiscuidade entre a URB e os seus prestadores de serviços comos candidatos em questão, repita-se, todos ligados aos setores de obrasmunicipais e que por isso tinham seus tentáculos fincados na URB e periféricospara a obtenção de favores materiais” (fl. 1.151, parágrafo segundo).

Para melhor análise da questão, mister assentar algumaspremissas quanto ao contexto político no município de Blumenau nas eleições de2012, utilizando para tanto trechos retirados da peça inicial.

De acordo com a inicial, o então prefeito do Município deBlumenau, filiado ao PSD, no período imediatamente anterior e durante acampanha eleitoral de 2012 passou a fazer uso ostensivo do aparato do Municípioem favor dos candidatos recorridos, que, à exceção de Fábio Fiedler, ocupavamcargos de destaque na sua administração e eram filiados a partidos políticos[PR/PSD] que integravam a mesma coligação para as eleições majoritárias quetinha por candidato o deputado Jean Jackson Kuhlmann (fl. 04, parágrafo quarto,da peça inicial).

Com efeito, dos depoimentos colhidos nos autos e como jáabordado no tópico anterior, facilmente se verifica o apoio que os representadostinham das pessoas ocupantes de cargos do primeiro “escalão” da Prefeitura,todos ligados às pastas de Obras, Serviços Urbanos e da Articulação Política;esta última, inclusive, tinha como Secretário Edson Francisco Brusnfeld, queacumulava a função de Presidente do Partido da República e tinha por objetivoeleger no mínimo dois candidatos a vereador, razão pela qual apoiou a

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candidatura de Célio Dias, então Diretor Administrativo dessa pasta, e BrazRoncáglio, ambos a ele subordinados na referida pasta. Já a Secretaria de Obrastinha à frente Alexandre Luiz Brollo que, conforme já dito, foi coordenador dacampanha de Fábio Fiedler, juntamente com Luiz Henrique Fumagalli, servidorsubordinado a Alexandre Luiz Brollo na Secretaria de Obras e o própriocandidato Almir Vieira. Por último, a Secretaria de Serviços de Urbanos tinhacomo Diretor de Iluminação o próprio candidato Robinson Soares, que contavacom o apoio de Luciano Felizardo Machado, Gerente de Orçamento e Custos.

Nesse contexto, referidas secretarias, pela própria naturezados serviços que prestam [obras e serviços urbanos], guardam vinculação diretacom a Companhia Urbanizadora de Blumenau (que tem como Presidente EduardoJacomel e Diretor Técnico Victor Silveira Farias), e com a CONSTRUPAV,empresa contratada pela Prefeitura Municipal de Blumenau (que tem porproprietário de fato Israel de Souza e gerente operacional Giovani GervásioWilwert).

Dito isso, passa-se à análise do uso de caminhões, veículose máquinas que foram cedidos em benefício da candidatura dos recorridos.

O primeiro fato diz respeito à cessão de uma patrola embenefício da candidatura de Robinson Soares.

De acordo com o depoimento da testemunha Luana ChavesCervi Becker, foram interceptadas ligações de Giovani Gervásio Wilwert, gerenteoperacional das empresas de Israel [CONSTRUPAV] e Victor Silveira Farias eMoisés, vulgo Tchê, que estava pavimentando ruas em favor do candidatoRobinsom. Em uma ligação, Giovani Gervásio Wilwert pede para Victor apatrola e o respectivo operador durante duas horas para serem utilizados em outrodia, ao que Victor respondeu que iria ver. Segundo o depoente, na tarde domesmo dia o próprio Robinson liga para Victor falando da patrola, se teria comoemprestar a patrola para Giovani, pelo que concluiu que: “Então esseempréstimo da patrola não é do Victor, é da URB. É a patrola da URB paraser colocada em rua que estava sendo pavimentada pelo Moisés Rodrigues,vulgo Tchê. Aí foi mais um desvio da patrola para rua pavimentada” (8’50” a09’50”).

Ainda quanto ao uso da patrola, sustenta o representante doMinistério Público Eleitoral de 1º Grau que o representado Almir Vieira autorizoua cessão da patrola para dar início às obras de asfaltamento da Rua Emília Piske,seu reduto eleitoral.

Com efeito, as provas colacionadas nos autos são robustasnos sentido de que Almir Vieira fez uso do cargo para viabilizar o asfaltamento

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de ruas com intuito eleitoreiro, questão que será analisada no tópico seguinte dapresente manifestação. Contudo, não vislumbro a necessária comprovação do usoefetivo do maquinário em prol da sua candidatura, em especial porque apavimentação da referida rua já estava prevista anteriormente no cronograma doPrograma “Asfaltando Prá Gente” razão pela qual deixo de reconhecer estaconduta como a prevista no inciso I do art. 73 da Lei n. 9.504/97.

No que tange ao empréstimo de veículos e caminhões parafixação de placas e veículos, a testemunha Luana Chaves Cervi Becker, quandoindagada sobre quais candidatos teriam feito uso, foi enfática ao afirmar quequase todos, passando a discorrer sobre a participação de cada candidato:

ROBINHO – Segundo a depoente houve várias ligaçõesentre Luciano Machado Felizardo e Giovani Gervásio Wilwert e entre Israel deSouza e Giovani para acertar assuntos de veículos. Segundo a depoente, Israelfala que o compromisso que assumiu com Robinho foi o de ceder um caminhão eum carro; além disso, estavam pedindo mais uma Kombi. Afirma que LucianoFelizardo Machado ligou várias para Giovani Gervásio Wilwert para pedir aKombi e que ao final Giovani disse: “A gente não tem Kombi, a gente não temmais Kombi para alugar”. Afirma ainda que o Israel de Souza chegou a dizerpara Luciano Felizardo que: “Luciano, se você conseguir uma Kombi paraalugar, eu vou lá pago e cedo para vocês”. Por fim, afirma que, “no final, elesconseguiram alugar mais uma kombi e a cederam para o comitê do Robinho,inclusive quem pegou essa Kombi foi Luciano Machado Felizardo, tem váriosáudios nesse sentido”. E conclui: “Então, para o Robinho foram 3 veículos”.(31’28 a 32’28)

CÉLIO - Segundo a depoente, foram cedidos umcaminhãozinho para a colocação de placas e um caminhão para buscar madeirasde sustentação de placas em Barra Velha. Acerca desse segundo caminhão, adepoente afirma que o próprio Célio Dias ligou para Israel de Souza para pediremprestado um caminhão só para esse dia e que Israel falou em vários momentosque o compromisso que tinha assumido com Edson Brusnfeld fora o de cederdois caminhões para a campanha e que um já estava com o Célio Dias.Registre-se que Edson Brunsfeld era o Secretário de Governo e ArticulaçãoPolítica e trabalhava em prol da candidatura dos vereadores do Partido daRepublica, especificamente para Célio Dias .

Voltando aos caminhões para colocação de placas, tem-seque os fatos são incontroversos, e embora o esforço da testemunha Israel de

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Souza em afirmar que referidos caminhões não eram da CONSTRUPAV mas simde empresas por ela indicadas, as provas colacionadas nos autos indicam que acolocação de placas foi sim realizada por caminhões da CONSTRUPAV,adesivados com a marca da empresa. Acerca da questão, a testemunha LuanaChaves Cervi Becker afirma que em uma das ligações em que Giovani fala comCélio Dias, este “chega a dizer que um dos caminhões não serve porque tem acasinha e o adesivo da CONSTRUPAV”. O áudio que diz respeito a essaconversa é o de n. 568, localizado no final da pág. 36 da peça inicial, de cujoteor peço vênia para transcrever parte do trecho, verbis:

GIOVANI comenta sobre o caminhão da CONSTRUPAV com adesivoe a casinha a serviço de Robinho colocando placas, e Célio ainda citaa lei eleitoral de que “qualquer empresa que prestar qualquerserviço ou produto para o serviço público municipal não pode serdoador de campanha, sob pena de uso da máquina” e o ISRAEL nãopode doar mesmo declarando: “não, eu vou doar, eu quero dar 50 milpra tua campanha lá Célio” não, não posso pegar porque é uso domáquina pública. O cara só ia lá bater a foto lá do caminhão daCONSTRUPAV e ia esperar ele ganhar e depois pedir o teu mandato.Mais no final, GIOVANI diz que ligou pro Robinho e ele disse que jásabia. Também, diz que uma [...] destes caras, cassam teu mandato,por causa da [...] do caminhão com as ferramentas, casinha, na RuaEça de Queiroz, que é reduto do FÁBIO.

Assim sendo, tenho como comprovado o uso de caminhõesda empresa CONSTRUPAV, que presta serviço ao poder público municipal, paraa colocação de placas dos candidatos Robinsom Soares e Célio Dias.

Sem desdouro da argumentação do magistrado de origemque entende não haver proibição na legislação eleitoral para a participação dereferidas empresas em campanhas eleitorais, penso que assiste razão ao nobrerepresentante do Ministério Público Eleitoral de 1º grau ao entender que autilização de caminhões que prestam serviços à Prefeitura Municipal deBlumenau configura claramente a prática da conduta vedada prevista no art. 73, I,da Lei n. 9.504/97.

Sobre o tema trago à lume a lição de José Jairo Gomes:

À vista do critério de afetação ou destinação do bem, a doutrinacontemporânea encarta na categoria dos bens públicos todos aquelescomprometidos com a realização de serviços de caráter público.Privados, ao contrário, são aqueles ordenados a atender interessesparticulares, ou seja, de seus próprios titulares. Desse prisma, tem-se

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ressaltado serem públicos os bens de entidades privadas prestadorasde serviços públicos, desde que afetados diretamente a uma finalidadepública.4

Ainda quanto à cessão de veículos em benefício dosrecorridos, merece provimento o recurso interposto pelo representante doMinistério Público para reconhecer o uso de veículos da prefeitura por servidoresem benefício da candidatura de Robinsom Soares e Fábio Fiedler.

Com efeito, no que tange ao candidato Robinson Soares, oMagistrado de origem reconheceu o uso. pelo servidor Victor Silveira Farias, doveículo locado pelo Poder Público em prol da candidatura do referido candidato;senão, vejamos o trecho da sentença que aborda a questão, verbis:

Por mais que a defesa tenha tentado mostrar o contrário estásuficientemente demonstrado que Victor Farias, responsável pelosetor técnico da URB, trabalhou ativamente na campanha política,inclusive no horário de expediente e usando veículo oficial , sendoflagrado visitando o comitê de Robinsom e usando telefone funcionalpara tratar de assuntos que dizem respeito à promoção eleitoral dorequerido (fl. 1.104, último parágrafo; fl. 1.105, primeiro parágrafo)

De fato, a depoente Luana Chaves Cervi Becker, quandoindagada sobre a utilização de carros do município para atividades de campanha,disse “que foi monitorado o encontro do Victor Silveira Farias com MoisésRodrigues, o Tchê, durante o horário de expediente, para tratar dapavimentação das ruas para o candidato Robinho. Nesse encontro ele estavafazendo uso de um FIAT Palio que era de uma locadora e essa locadoratinha um contrato com a URB de locação de veículo. A testemunha aindaafirma que Victor fez uso do mesmo veículo quando foi ao encontro nocomitê do candidato “Robinho”, por volta das 16 horas, juntamente com oservidor Luciano Felizardo Machado (22’18 a 23’33”).

FÁBIO - Quanto ao candidato Fábio Fiedler, traz-se como depoimento da testemunha Armando Girardi, citada no tópico anterior e que foiresponsável pelo relatório in loco e monitoramento das conversas interceptadaspor Alexandre Linhares Brollo. Indagada sobre o encontro monitorado entreFábio Fiedler e Alexandre Luiz Brollo a Rua 05 de outubro o dia 02 de julho de2012, especificamente se estavam usando veículos da prefeitura, afirmou que sim, 4 Gomes, José Jairo. Direito Eleitoral. 5 ed. Belo Horizonte: Del Rey , 2010, pág.

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que “no local havia o carro a Serviço da Prefeitura Municipal de Blumenau– Plantão 24 horas” (13’22”)”. Do contraponto entre os depoimentos deAlexandre Brollo e Vilson Reinert, tem-se que o carro fotografado na fl. 10 eradirigido pelo Fiscal de Manutenção de Bairros Vilson Reinert. Embora o Fiscaltivesse afirmado que o encontro na Rua 05 de outubro foi mera coincidência,Alexandre Luiz Brollo afirmou que o Fiscal participou do encontro, tanto que ele[Alexandre] fez o pedido para o Fiscal na parte da manhã daquele dia a fim deatender o eleitor que morava na referida casa, e com isso auferir dividendoseleitorais à candidatura de Fábio Fiedler, que acompanhou pessoalmente oatendimento ao eleitor/morador, em uma típica manobra eleitoreira. Não fosseisso bastante, a própria testemunha Alexandre Luiz Brollo reconhece que fez usodo veículo e do motorista do Fiat Palio para se dirigir até o local, não havendodúvida quanto à utilização de veículo oficial pelo recorrido Fábio Fiedler em prolda sua candidatura.

Ainda sobre a conduta prevista no inciso I do Art. 73 da Lein. 9.504/97, há o uso dos telefones funcionais da prefeitura em prol dacandidatura de quase todos os candidatos, conforme se depreende do depoimentode várias testemunhas, a começar pela testemunha Luana Chaves Cervi Beckerque, ao ser indagada se os representados usavam telefones do município noperíodo eleitoral, respondeu que: “Sempre! Quando eles sedesincompatibilizaram, no caso o Braz Roncáglio, ele parou de fazer uso dotelefone público. O Robinson efetuou a portabilidade do telefone dele. Eulembro que o final do telefone era 2555. Eu estava monitorando. Ele efetuou aportabilidade e passou para o nome dele esse telefone e a partir de então eleficou pagando a conta do telefone. O estranho é que a partir daí , reduziu onúmero de chamadas. A gente começou a desconfiar que ele estaria fazendouso de outro telefone. Através dos outros investigados, por exemplo do Victor,do Luciano, de outras pessoas que estavam sendo monitorados, a gentedescobriu que o Robinsom estava usando outro telefone. Quando a gente foiconsultar o cadastro, tava cadastrado em nome do município.

Ainda citando a testemunha Luana Chaves Cervi Becker,afirmou que Ragybe solicitou telefone celular da URB para ser usado nacampanha, pedido que foi atendido no mesmo dia, esclarecendo que: “foramvárias contatos que eles tiveram: o Ragybe e o Victor, o Victor e o Eduardo,vulgo Fritz, que era do Departamento Financeiro da URB. O Ragybe pede 5linhas telefônicas, mas no final a gente apurou dois termos deresponsabilidade que foram assinados no mesmo dia que o Victor liga paraRagybe e diz que pode mandar os rapazes buscar os celulares com o Fritz.

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Nesse mesmo dia, durante as buscas, a gente apreendeu os termos deresponsabilidade de dois aparelhos de celulares. Indagada se os aparelhosforam pagos pela URB respondeu que os dois aparelhos de celular da URB foramcedidos para Ragybe (27’20” a 28’10”).

Ainda citando o depoimento da testemunha Luana ChavesCervi Becker, quando indagada sobre o telefone de Alexandre Luiz Brollo,respondeu que o “telefone que estava interceptado era funcional”, fato quetambém foi confirmado pela testemunha Armando Girardi, conforme transcrito notópico anterior (11’25”).

A testemunha Julio Cesar, que monitorou os telefones deLuciano e Murilo, ambos funcionários públicos e que trabalhavam para campanhade Robinsom Soares, também afirmou que os telefones que usaram eram daPrefeitura.

Para encerrar o tópico acerca do uso de bem público em prolda candidatura dos representados, tem-se que o servidor Claudio MarceloZimmermann fez uso do telefone funcional em prol da campanha de Célio Dias, oque foi reconhecido pelo magistrado de origem e abordado no tópico anterior.

Desse modo, tenho que restou amplamente configurada aprática da conduta vedada prevista no inciso I do art. 73 da Lei n. 9.504/97 pelosrepresentados Fábio Fiedler, Robinsom Soares e Célio Dias.

(iii) desvio de material/patrimônio da URB para atenderinteresse eleitoral de candidatos e consequente abuso de poder político dosrecorridos Almir Vieira e Braz Roncáglio (art. 73, II, da Lei n. 9.504/97).

Para melhor elucidação dos fatos, faz-se mister lembrar queo recorrido Almir Vieira era servidor lotado na Secretaria de Obras e responsávelpela autorização e execução de obras conveniadas [obras do mutirão], e por essacondição detinha amplo conhecimento das ruas que seriam pavimentadas, o quefacilitava seu trâmite junto aos Presidente das Associações de Moradores dosBairros a fim de se auto-promover com o eleitorado.

O primeiro episódio envolvendo a distribuição de macadamerefere-se ao pedido de Francisco Dias, Presidente da Associação de Moradoresdo Bairro Sestrém. Acerca do fato, a testemunha Luana Chaves Cervi Beckeresclareceu que em virtude de Almir ter prévio conhecimento das ruas que seriampavimentadas, repassava tais informações a Ragybe - que trabalhava para acampanha de Robinho - e a Moisés, empreiteiro que pavimentava as ruas. Estes,de forma antecipada, entravam em contato com os Presidentes das Associações

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de Moradores dos bairros beneficiados com a pavimentação (alguns deles ouvidosnos autos, como o próprio Francisco acima referido) a fim de obter dividendos eleitoraiscom a rua a ser pavimentada. Em troca dessas informações, a testemunhaesclarece que Victor prestava alguns favores, dentre os quais cita o episódioenvolvendo o Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Cestrém,Francisco Dias, relatando que Almir ligou para Victor para pedir macadame,visando atender ao pedido feito por Francisco Dias. Victor entra em contato comGiovani, empreiteiro das empresas de Israel, que afirma possuir macadame.Então Victor liga para Almir para dizer que estava tudo certo com o macadame,sendo a retirada e a entrega do material ao presidente da associação monitoradapelos policiais que realizaram a diligência in loco. Indagada se a URB teria pagoo macadame, respondeu afirmativamente, “em nenhum momento foiperguntado o valor do macadame, nem o Almir, nem o Victor falam emvalores. Eles só perguntam se podem tirar, se não podem. Aí ele temautorização do Israel, então pode tirar”.

Francisco Dias confirmou os fatos, contudo, afirmou queefetivou o pagamento do material no valor de R$ 4.000,00 reais, sendo o chequeemitido pelo motorista que realizou a retirada do material. Contudo, tal afirmaçãonão procede. A uma, porque, como dito pela testemunha acima, em nenhummomento foi mencionado o valor referente ao macadame. A duas porque ocheque mencionado pela testemunha Francisco Dia como forma de pagamentoteria sido emitido aproximadamente 15 dias antes do início das tratativas pararetirada do macadame.

Assim, resta claro o abuso de poder político perpetrado pelocandidato Almir Vieira, que usou de materiais custeados pela PrefeituraMunicipal de Blumenau em prol da sua candidatura. Aqui vale a penatranscrever trecho da sentença que abordou a questão, verbis:

Como foi observado pelo Ministério Público Eleitoral nas alegaçõesfinais (fl. 810), não faz o menor sentido a Associação de Moradoresdo Morro do Sestrém procurar a URB para adquirir uma carga demacadame. O normal e ordinário seria contratar uma empresaqualquer que fornecesse tal material, sendo completamentedesnecessário procurar o requerido Almir e pedir interferência dele,assim como foi desnecessário gestionar a intermediação do Diretorda URB (Victor)

Voltando ao desvio de material da URB, trago novamente àcolação depoimento de Luana Chaves Cervi Becker sobre o desvio de massaasfáltica e o abuso de poder político do candidato Robinsom Soares.

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Segundo a depoente, foram interceptadas várias ligações,inclusive do próprio Robinsom que fala para Moisés que já havia conversadocom Presidente da URB e que estava tudo certo para ele pegar o material naURB, inclusive a massa asfática, e que ele deve tratar desses assuntos diretocom o Victor.

Por fim, sobre o desvio de material há ainda a passagemcitada pela testemunha acima referida quanto ao desvio de cargas de expurgossolicitadas pelo requerido Braz Roncáglio, ao afirmar que no início dasinterceptações foi ouvida uma conversa entre o Presidente da URB, EduardoJacomel, e oVictor Silveira Farias, Diretor Técnico da URB, informando que ocandidato do PR havia pedido duas cargas de expurgos. Indagada sobre quem erao candidato, respondeu que um deles era Braz Roncáglio.

Assim, facilmente se conclui que os candidatos Almir Vieira,Robinsom Soares e Bráz Roncáglio usaram do cargo que ocupavam para desviarmaterial em benefício de suas campanhas (Art. 73, II, da Lei n. 9.504/97).

A respeito das condutas de Bráz, indica-se também a leiturados trechos da inicial e da sentença, respectivamente, às fls. 42-47 e 1129-1130.

(iv) indicação de pavimentação de ruas em bairrosdotados de pouca infra-estrutura em benefício da candidatura dosrepresentados (art 73, II, da Lei n. 9.504/97 c/c abuso de poder político).

No que tange a esse aspecto, as provas colacionadas nosautos demonstram de forma clara e inequívoca o abuso de poder político e asmanobras eleitoreiras dos candidatos representados na exploração do “ProgramaAsfaltando Prá Gente”, realizado por intermédio de convênio celebrado entre oMunicípio de Blumenau e a Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina –BADESC.

Das ligações interceptadas, verifica-se a constantepreocupação dos candidatos na pavimentação de ruas, em um claro intuito de sepromoverem perante o eleitorado beneficiado com a pavimentação das ruas. Issopode ser bem observado pelo depoimento da testemunha Luana Chaves CerviBecker. Quando indagada sobre o processo de asfaltamento financiado peloBADESC, respondeu que foram interceptadas ligações de Fábio Fiedler comAlexandre Linhares Brollo pedindo indicação de nome de ruas a serem incluídasno convênio do BADESC, bem como ligações desse último para Luiz HenriqueFumagalli, servidor da Secretaria de Obras, nas quais conversam sobre váriasruas, dentre as quais as que ficariam próximas à casa do vereador Fábio.

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Indagada sobre a participação do candidato Robinson Soaresna questão do asfaltamento de ruas, respondeu que os moradores pagavam umaparte e o candidato Robinho arcava com a outra. A depoente cita um áudio emque Moisés Rodrigues conversa com um morador acerca da pavimentação da rua,no qual ele fala que o contrato deverá ser no valor de R$ 17.000,00, dos quais osmoradores pagam determinado valor e o restante será pago pelo candidatoRobinho. Assim fica nítido que o candidato Robinho pagava parte dapavimentação com o material retirado da URB. De acordo com os áudios omorador identificado é Marcos Correa, que no seu depoimento confirmou astratativas com o servidor Ragybe [que trabalhava na campanha de Robinho], e acolocação das placas do candidato Robinho após a pavimentação, conforme fotosde fl. 23. Outra rua pavimentada com a efetiva participação do candidatoRobinsom Soares foi a Rua Ângelo Vanelli. Aliás, acerca dessa rua específicaaconteceu um fato inusitado envolvendo dois dos candidatos representados[Robinho e Almir Vieira]. Durante a pavimentação, dois fiscais da prefeituraembargaram a obra ao argumento de que ela não possuía projeto, tampoucoautorização para ser pavimentada, quando então o empreiteiro entrou em contatocom Victor, que, por sua vez, ligou para Almir Vieira, responsável pela liberaçãodas ruas do mutirão, pedindo a liberação da referida obra por se tratar de obra docandidato Robinsom. A rua então, foi pavimentada e novos dividendos a favordo candidato Robinsom foram colhidos.

No que tange ao envolvimento do candidato Almir Vieira napavimentação de ruas, além de ser o responsável pela liberação do asfaltamentode ruas em prol dos demais candidatos (em especial Robinson Soares porintermédio de Victor Silveira Farias, sendo que em troca recebia alguns favorescom relação à URB, como a retirada de macadame) as provas colacionadas aosautos dão conta que Almir Vieira efetivamente se empenhou na pavimentação darua Emília Pinski [prolongamento de 700 metros], a qual fazia parte de umaantiga reivindicação da comunidade e, assim que foi pavimentada, o candidatoprontamente colocou sua placa contendo propaganda eleitoral a fim de lembraraos moradores os seus esforços na conclusão da obra e com isso também ganhardividendos eleitorais.

(v) contratação de servidores no período vedado pelalegislação eleitoral perpetrada por Bráz Roncáglio (Art. 73,V, da Lei n.9.504/97).

Há nos autos provas que remetem à contratação na data de23.7.2012 do servidor Sérgio Luiz da Silva, conhecido como Serginho, pela

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Companhia Urbanizadora de Blumenau para o cargo de Assistente de Serviços,com vínculo empregatício celetista, mediante efetiva interferência do recorridoBráz Roncáglio. O representante do Ministério Pública sustenta que tal condutase amolda ao inciso V do art. 73 da Lei das Eleições, cujo teor peço vênia paratranscrever, verbis:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não,as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade deoportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

(...)

V – nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir semjusta causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meiosdificultar ou impedir o exercício funcional, e ainda, ex officio,remover, transferir ou exonerar servidor público, nacircunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até aposse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito,ressalvados:

Contudo, ainda que se admita interpretação ampliativa dodispositivo acima transcrito, parece-me que a conduta se dirige especificamenteao agente público que contrata o servidor público. No caso, alinho-me à posiçãodo Magistrado de origem que entendeu ter ficado claro o abuso de poder políticoempreendido por Bráz Roncáglio na contratação do servidor Sergio Luiz da Silvapara trabalhar na URB, o qual usou abusivamente da sua interferência políticaperante o Diretor Presidente daquela, Eduardo Jacomel, para efetivar acontratação. Com com isso deixo de reconhecer a prática de conduta vedadaprevista no inciso V, do art. 73, da Lei das Eleições, mas mantenho oreconhecimento do abuso de poder político perpetrado por Bráz Roncáglio paracontratação do servidor nos quadros da URB.

(vi) abuso de poder político de Robinsom Soares paracontratação de seus colaboradores na administração municipal.

Sustenta o representante do Ministério Público Eleitoral queo candidato Robinsom Soares também usou de forma abusiva o poder públicocom o propósito de obter apoio político quando interferiu na demissão doservidor Jefferson de Souza da URB para assumir o cargo de Diretor deIluminação, até então ocupado pelo próprio Robinsom Soares, e tambéminterferiu nas tratativas em torno da data retroativa da demissão. Sustenta ainda,

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que a servidora Maisa, esposa do gerente da CONSTRUPAV, Giovani GervásioWilwert, foi contratada pela URB por intermédio de Robinsom Soares.

Com efeito, a testemunha Luana Chaves Cervi Becker,quando indagada acerca da substituição do candidato Robinson Soares,respondeu que foram interceptadas ligações de Robinsom Soares com Benjamimdo Valle, Diretor Financeiro da URB, para tratar da demissão de Jefferson deSouza porque iria assumir a Diretoria de Iluminação, cargo que Robinsom Soaresocupava. Afirmou ainda que foram interceptadas ligações de Robinsom comRodrigo para manipular as datas [datas retroativas].

Nesse aspecto, sem desdouro da diligente atuação dorepresentante do Ministério Público Eleitoral, tenho que eventuais irregularidadesno que tange às contratações intermediadas por Robinsom Soares, acasoexistentes, refogem à seara do Direito Eleitoral. A uma, porque não restoucomprovada a participação efetiva de Jefferson de Souza na campanha deRobinson de Souza. A duas porque, ao menos em tese, soa de forma ordinária aindicação de servidor para ser substituto no cargo. Contudo, não se descarta apossibilidade de a nomeação ter sido feita apenas pro forma, o que poderá sermelhor analisado pela Promotoria de Justiça com atribuições para atuar na áreada Moralidade Administrativa, conforme bem ponderado pelo magistrado deorigem na fl. 1.111, parágrafo 3º, verbis: Se ocorreu alguma fraude com oobjetivo de o requerido Robinsom continuar recebendo os vencimentos do cargoem comissão, tal irregularidade não tem conotação eleitoral, devendo serapurada no âmbito próprio.

Todavia, a situação se mostra diversa no que tange àcontratação pela URB da servidora Maísa, esposa do gerente operacional daempresa CONSTRUPAV Giovani Gervásio Wilwert, pessoa que trabalhouefetivamente para a campanha de Robinsom Soares. Com efeito, referidacontratação repercutiu na campanha eleitoral do recorrido, fato que inclusive foireconhecido pelo próprio Magistrado na sentença (fl. 1.112, parágrafo 3º), o qual,contudo, afastou a ilegalidade da conduta por entender que a legislação eleitoralnão impede que as sociedades empresárias contribuam para as campanhaseleitorais, ainda que mantenham contratos com a administração pública,argumento rechaçado no segundo tópico desta manifestação. Dessa forma, tenhoque a contratação da servidora Maísa por intermédio do candidato RobinsonSoares teve conotação eleitoreira e garantiu o apoio irrestrito de seu marido nasua campanha eleitoral, conforme se pode perceber nos diversos áudiosinterceptados de conversas de Giovani Gervásio Wilwert, em franca campanha

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para candidatura de “Robinho”, pelo que deve ser reconhecido o abuso de poderpolítico por mais esse fato.

(vii) entrega a eleitor de vantagem pessoal em troca deapoio político por parte de Robinsom Soares e Célio Dias (art. 41-A da Leidas Eleições)

A questão refere-se às negociações envolvendo o ex-Prefeitode Blumenau Dalton dos Reis, o também candidato João do Valle Neto e ocandidato Robinsom Soares. De acordo com a inicial, a conversação se deu nodia 19/07/2012, entre o candidato João do Valle Neto e Luciano e Robinho.

Sobre os fatos, a testemunha Luana Chaves Cervi Beckerafirmou que foram interceptadas várias ligações entre Luciano FelizardoMachado, João do Valle Neto e Robinsom Soares. Segundo a testemunha ocandidato João do Valle Neto vendeu o apoio político do ex-prefeito Dalton parao candidato Robinsom Soares, sendo que este pagaria algum valor para Dalton.Afirma que Luciano [novamente durante o horário de expediente] e João doValle Neto marcaram um encontro com Dalton dos Reis que foi monitoradopelos policiais. Afirma que logo em seguida iniciaram as tratativas de valores,ressaltando que os áudios deixavam claro que João do Valle Neto precisava dedinheiro e iria receber o dinheiro de Robinho. Indagada se efetivamente houve aentrega do dinheiro, disse que interceptou uma conversa de Luciano FelizardoMachado com Robinsom Soares na qual este último autorizou o pagamento deR$ 3.000,00.

Dalton dos Reis, ouvido como testemunha, em síntese,afirma que ajudou o candidato João do Valle Neto em consideração a um amigofalecido naquele ano. Disse também que referido candidato pediu a ele apoio aum outro candidato [Robinho]. Disse que sua ajuda seria a indicação de umas 80a 90 pessoas que poderiam ser remuneradas, na média de R$ 150,00, paracooptação de votos, o que perfazeria o total de R$ 13.000,00, mas que o contatoseria entre os integrantes da organização da campanha do Robinho e essaspessoas, sem qualquer intermediação dele no repasse do referido dinheiro. Disseainda que o candidato João do Valle Netto não possui recursos financeiros.

O áudio transcrito na fl. 34, contudo, traduz o teor daconversa mantida entre João do Valle Neto e Luciano Felizardo Machado eexpressa de forma clara quais os arranjos eleitoreiros que seriam obtidos pormeio desse apoio, senão vejamos o trecho da mencionada conversa, verbis:

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João vai tentar convencer o DALTON dizendo que com o dinheiro“deles” está tentando fazer sua campanha, porque está [f...] e se nãoarrumarem mais nada, devido aos dez que foi prometido na“primeira”, vai começar a cortar os cabos eleitorais e repassar parao LUCIANO ou alguém, porque contratou um pessoal esperando“uma coisa” e se ver que “não vem”, JOÃO diz que vai bater emretirada, LUCIANO diz que DALTO falou que ia passar alguns nomese não passou nenhum, também que ia organizar e ligar, também nãofez, JOÃO diz que DALTON lhe ligou no dia anterior, e estádescontente, porque esperava em torno de R$ 13.000,00 e só recebeuR$ 3.000,00., LUCIANO diz que falou para ele que depois vemmais, JOÃO diz vai tentar fazer a cabeça de DALTON parapermanecer e quando LUCIANO juntar uma “graninha maissignificativa”, JOÃO vai dizer para o DALTON deixar os oitentanomes prontinhos, aí LUCIANO entrega a “grana”, JOÃO diz aindaque se comprometeu com esse “negócio” [...] João diz que o queDALTON passar será bem vindo, se ele arrumar 30, que resultar emtrezentos votos, fica contente, LUCIANO diz que essas pessoas queDALTO pretende passar, não são multiplicadores, apenas vão votar[...] JOÃO pede para o LUCIANO ver o quanto vão passar para oROBINHO, porque tem direito a ganhar a igual, para ele vão tentarpassar R$ 10.000,00 até as eleições.

A conversa acima transcrita deixa claro que a lista contendoo nome de eleitores seria vendida ao candidato Robinsom Soares por R$13.000,00, dos quais porém foram pagos somente R$ 3.000,00, fato confirmadopela testemunha Luana, conforme se pode ver da conversa acima transcrita.Aliado a isso, o áudio acostado na fl, 33 demonstra que Luciano levou paraDalton o valor de R$ 3.000,00, ficando claro que a negociação quanto àliberação dos oitenta nomes somente não se levou inteiramente a cabo comooriginalmente acordado porque não foi pago todo o valor de 13.000,00 pedidopor Dalton, não por questões atinentes à forma de como seria feito o pagamentoaos eleitores.

A captação ilícita de sufrágio é evidente, porquantodemonstrado que Robinsom Soares efetivamente pagou R$ 3.000,00 a Dalton dosReis para captar o voto de eleitores, como deixa claro a conversa acimatranscrita no seguinte trecho: “LUCIANO diz que essas pessoas que DALTON pretendepassar não são multiplicadores, apenas vão votar”; não são, portanto, cabos eleitorais,como consignado na decisão do Magistrado de origem. Não obstante, ainda quese cogitasse que referido dinheiro pudesse ser usado para contratação de caboseleitorais, não há qualquer indicação de que efetivamente tivesse sido usado para

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tal fim, mas ao contrário há convicção de que o valor de R$ 3.000,00 foi pago,primeiro, para a obtenção do voto e do apoio de Dalton dos Reis à campanha deRobinson e, consequentemente, para a captação ilícita de sufrágio de eleitoresindicados por Dalton e, evidentemente, o próprio voto deste mesmo.

Assim, nesse aspecto igualmente merece ser provido orecurso ministerial para reconhecer a prática da conduta prevista no art. 41-A daLei n. 9.504/97 perpetrada pelo recorrido Robinsom Soares.

No que tange à captação ilícita de sufrágio de Célio Dias, asentença não merece qualquer reparo, porquanto cabalmente comprovada aprática ilícita perpetrada pelo servidor Cláudio Marcelo Zimmermann “quandoorienta um cidadão sobre o procedimento a ser observado para a obtenção dealvará de funcionamento de um estabelecimento e, depois de tratado sobre esseassunto, diz para o interlocutor ‘preciso da tua ajuda pro Célio Dias’ e a pessoamais à frente responde que ‘uns 25 ou 30 votos eu sei que consigo né’”. (fl.1.120, parágrafo primeiro). A aquiescência de Célio Dias à conduta de CláudioMarcelo Zimmermann resta comprovada de forma inequívoca por meio de outraconversa na qual Cláudio avisa o interlocutor de que basta passar no comitê parapegar os adesivos e avisar que é do Célio Dias (fl. 1.119, parágrafo segundo).

Analisados os fatos que ensejaram a representação doMinistério Público Eleitoral de 1º Grau, passa-se às questões residuais dainsurgência ministerial, qual seja, a dosimetria das penas.

A primeira irresignação refere-se à individualização da penade multa por infração; a segunda, ao patamar em que fixada a multa pela práticada conduta vedada e à terceira à majoração da multa por reincidência.

Com efeito, o arbitramento da multa deve levar em conta acapacidade econômica do infrator, a gravidade da conduta e a repercussão que ofato atingiu. No caso dos autos, o próprio magistrado sentenciante reconheceuque a multa pela prática da conduta vedada e pela captação ilícita de sufrágio nãopoderia ser fixada no mínimo legal; contudo, na parte dispositiva assim a fixoupara as condutas vedadas praticadas pelo representados Fábio Fiedler, RobinsonFernando Soares, Almir Vieira e Braz Roncáglio, isto é, no valor equivalente a5.000 UFIR’s, patamar mínimo da legislação eleitoral, pelo que deve ser providoo recurso a fim de que seja majorada a multa para patamar acima do mínimo legale com isso sancionar, de forma individualizada, as práticas dos representados,devendo também ser levado em conta o número de condutas vedadasindividualmente levadas a cabo por eles.

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Há ainda pedido de majoração da pena de multa pelaaplicação da reincidência.

Sobre o tema, a lição de Olivar Coneglian, in verbis:

Toda vez que a lei fala em “reincidência”, ela é muito infeliz.Começa que o termo “reincidência” não tem a mesma carga técnicadas leis penais. Reincidência, aqui, é apenas reiteração de conduta.Pergunta-se: deve dobrar a multa abstrata ou concreta?Se a reincidência se dá da mesma ação anterior, deve-se entender quevai ser aplicada a mesma multa anterior, dobrada.Mas se a conduta for diferente, ou tiver caraterísticas que a tornemúnica, a aplicação de multa anterior deve servir como referência.Assim, independentemente de quanto tenha sido a multa anterior, oJuiz deve fixar a segunda multa de acordo com o ato agora praticado,e então dobra essa segunda multa, já concreta, seja ela qual for, emrazão de uma primeira multa.5

Tem-se assim que para a caracterização da reincidêncianecessária a existência de decisão anterior que reconheça a prática do ilícito e emface dele tenha sido cominada multa, o que não restou evidenciado nos autos,razão pela qual não merece ser provido o recurso nesse aspecto.

Por fim, no que tange ao levantamento do sigilo da presenteAção de Investigação Judicial Eleitoral, verifica-se que efetivamente nãosubsistem razões para sua manutenção. Primeiro porque o sigilo original daescuta já foi levantado nos Autos n. 2012.063297-6, nos quais autorizada arealização das interceptações telefônicas. Segundo, porque no âmbito destaJustiça Especializada somente as Ações de Impugnação de Mandato Eletivotramitam em segredo de justiça como bem lembrado pelo representante doMinistério Público Eleitoral.

ANTE O EXPOSTO, a Procuradoria Regional Eleitoral, porseu agente signatário, manifesta-se pelo conhecimento dos quatro recursos acimareferidos e, no mérito, pelo provimento parcial daquele interposto pelorepresentante do Ministério Público Eleitoral de 1º Grau para:

(i) reconhecer a prática da conduta prevista no inciso I doart. 73 da Lei das Eleições pelos representados FábioAllan Fiedler, Robinson Fernando Soares e CélioDias;

5 Lei das Eleições Comentadas. 5 ed. Curitiba: Juruá, 2008, pág. 356.

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(ii) reconhecer a Célio Dias a prática da conduta previstano inciso III do art. 73 da Lei das Eleições, bem comodo abuso de poder político por ele perpetrado emfavor da candidatura para cassar o diploma e declará-lo inelegível pelo prazo de 8 (oito) anos;

(iii) majorar, de forma individualizada, o valor da multabase aplicada por infração ao art. 73 a todos osrepresentados

(iv) reconhecer a prática da captação ilícita de sufrágiopelo representado Robinsom Fernando Soares, fixandoa multa, de forma individualizada daquela referente àconduta vedada, também em patamar acima domínimo legal.

Por fim, pelo desprovimento dos demais recursos, mantendo-se incólume a sentença quanto à cassação do diploma e declaração deinelegibilidade dos recorridos.

Florianópolis, 11 de julho de 2013.

ANDRÉ STEFANI BERTUOLProcurador Regional Eleitoral