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MINISTÉRIO PÚBLICO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DE COLOMBO - COMARCADA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA-PR _ CáSTORTi} BlSTfflMIíflR jj; rpo RfEIDHôI C i y e i W ?235-37,20ÍU,lí.0029. í?eo 2779/2MÜ. livro f?r CUEL tiisse,,.. és - AtíD fíl/IL PUBLICi, As&troía... !Í!OS - EtESfiSCIHENÍO 50 B^ Ãcao,,,.., AÇÃO CÍVIL PKBLIW Custas.,,. víC 4Í0.5?. Rt 3ff,(Hi CBLDHB8/PR, U/ii/201(l"-'., HstribíiiiÍGr Judicial V ; -ti ^ s r^- 02 á O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO r PARANÁ, por intermédio de sua agente ministerial ao final assinada, no uso de suas atribuições legais junto à PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO DE COLOMBO, situada na Rua Dorval Ceccon, 664, Jardim Nossa Senhora de Fátima, Colombo, Paraná, onde recebe notificações, vem com o devido respeito, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 127, caput, art. 129, inciso III, art. 37, caput, c/c § 1° e 4°, da Constituição Federal, art. 1 14, caput, art. 120, inciso III, todos da Constituição Estadual, Lei n° 7.347/85 (Ação Civil Pública), art. 25, inciso IV, letras 'a' e 'b', da Lei n° 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), art. 3°, 4°, 11, 12 e 17 da Lei n° 8.429/92, propor apresente: AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO POR DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO Contra IZABETE CRISTINA PAVIN, brasileira, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n° 358.490.459-53 SSP/PR, deputada estadual, residente na Rua Padre Francisco Bonatto, 430, Centro,

MINISTÉRIO PÚBLICO€¦ · mandatos em simultaneidade com aquele, ou seja, a fixação da remuneração somente é permitida para a legislatura subsequente. Se de outro modo age

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Page 1: MINISTÉRIO PÚBLICO€¦ · mandatos em simultaneidade com aquele, ou seja, a fixação da remuneração somente é permitida para a legislatura subsequente. Se de outro modo age

MINISTÉRIO PÚBLICO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _

VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DE COLOMBO - COMARCA DA

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA-PR _

C á S T O R T i } BlSTfflMIíflR jj; rpo RfEIDHôIC i y e i

W ?235-37,20ÍU,lí.0029. í?eo 2779/2MÜ. livro f?rCUEL

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CBLDHB8/PR, U/ii/201(l"-'.,HstribíiiiÍGr Judicial

V; -ti ^sr^- 02

á

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DOr

PARANÁ, por intermédio de sua agente ministerial ao final assinada, no uso de

suas atribuições legais junto à PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PROTEÇÃO

AO PATRIMÔNIO PÚBLICO DE COLOMBO, situada na Rua Dorval

Ceccon, n° 664, Jardim Nossa Senhora de Fátima, Colombo, Paraná, onde

recebe notificações, vem com o devido respeito, à presença de Vossa

Excelência, com fulcro no art. 127, caput, art. 129, inciso III, art. 37, caput, c/c

§ 1° e 4°, da Constituição Federal, art. 1 14, caput, art. 120, inciso III, todos da

Constituição Estadual, Lei n° 7.347/85 (Ação Civil Pública), art. 25, inciso IV,

letras 'a' e 'b', da Lei n° 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público),

art. 3°, 4°, 11, 12 e 17 da Lei n° 8.429/92, propor apresente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO POR DANOS

CAUSADOS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO

Contra IZABETE CRISTINA PAVIN, brasileira,

inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n° 358.490.459-53 SSP/PR,

deputada estadual, residente na Rua Padre Francisco Bonatto, 430, Centro,

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MINISTÉRIO PÚBLICO

Colombo, Paraná e corn endereço profissional na Assembléia Legislativa do

Paraná - Praça Nossa Senhora de Salete s/n, Curitiba/PR e JOÃO DALPRA,

brasileiro, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o n° 158.140,339-91

SSP/PR, residente e domiciliado na Rua José de Alencar, n° 06, Guaraituba,

Colombo, Paraná. *—~^.

£3 í0

L NARRATIVA FÁT1CA

Esta Promotoría de Justiça recebeu representação

formulada pelo Partido da Frente Liberal, com notícia de ato de improbidade

administrativa referente aos vencimentos pagos à Izabete Cristina Pavin, prefeita

de Colombo na época dos fatos, bem como ao seu vice-prefeito municipal, João

Dalprá.

Constatou-se através de Auditoria Contábil realizada

pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná que os réus acima nominados, na

condição de Prefeita e Vice-Prefeito, respectivamente, na vigência de seus

mandatos, período compreendido de 2000 a 2004, tiveram subsídios em

desacordo com as autorizações legais e com a própria Câmara Municipal de

Colombo.

Tal fato ocorreu devido à aprovação da Lei 829/2001,

elaborada e proposta em total desconformidade com os princípios

constitucionais que norteiam o exercício da função pública, a que todos os

agentes políticos estão subordinados, como Princípio da Moralidade

Administrativa, Legalidade, Impessoalidade, dentre outros, o que será

demonstrado com a propositura da presente ação.

Anteriormente à aprovação da referida lei, no período

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MINISTÉRIO

compreendido entre 1997 a 2000, os subsídios fixados ao prefeito e vice-prefeito

eram regulados pelo Decreto Legislativo n. 56/1996, que estipulava os valores

de R$ 6.000,00 para o prefeito e RS 1.500,00 para vice-prefeito.

Posteriormente, no exercício de 2000, houve a

elaboração de Projeto de Lei de iniciativa do Poder Legislativo, de n. 287/2000,

que previa o aumento dos subsídios do prefeito municipal para R$9.000,00 e do

vice-prefeito para R$4.500,00, concernente a legislatura de 2001 a 2004. Se

aprovado, passaria a vigorar em 1° de janeiro de 200 L

No entanto, foi vetado pela ex-prefeita, com a

justificativa de que o aumento dos subsídios dos agentes políticos em nada

beneficiaria a comunidade colombense. Asseverou, ainda, que a proposta carecia

de motivo relevante e, portanto, era contrária ao interesse público.

A conduta adotada pela ré confirma a sua evidente má-

fé, ao vetar projeto de lei que pretendia fixar novos subsídios ao cargo que

ocupava, sendo que, em seguida, apresentaria novo projeto tendente a regular

mesma matéria.

No ano seguinte, em absoluta contradição com a

opinião sustentada anteriormente pela ré, foi formulado projeto de lei n.

311/2001, que dispunha sobre a fixação dos subsídios do Prefeito, Vice-Prefeito

e Secretários Municipais para os exercícios de 2002 a 2004, em total

desconformidade com a Lei Orgânica do Município de Colombo, inclusive com

valor de subsídio além daquele que fora por ela considerado custoso à população

do município de Colombo,

O subsídio estabelecido no referido projeto de lei

compreendia o valor de R$11.200,00 para o prefeito e R$4.500,00 para o vice-

prefeito.

A ilegalidade constatada se deve a não observância do

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MINISTÉRIO PUBLICAda Ksiucio <río

disposto na Lei Orgânica do Município de Colombo que vigorava na época, a

qual estabelecia que a remuneração do prefeito, do vice-prefeito e dos

vereadores seria de competência da Câmara Municipal e deveria ser fixada em

até 30 (trinta) dias antes do pleito municipal.

Conforme documentação trazida na representação, a

aprovação da Lei n. 829/2001, que fixou a remuneração dos agentes políticos

mencionados, não se deu dentro do prazo legal, motivo pelo qual se constata a

má-fé dos réus, ao receberem quantias indevidas. Além dísso, conforme

explicitou o presidente da Câmara Municipal de Colombo, em parecer emitido

na data de 30 de janeiro de 2008, tal projeto de lei sequer foi instruído com

estudos para a fixação dos valores e tampouco com demonstrações

orçamentárias.

A Assessoria Técnica Legislativa, ao emitir o parecer

n. 049/2001 acerca do projeto de lei de n. 311/2001, ressaltou a irregularidade

do que vinha disposto:

"Na realidade a proposição em exame deveria ter sido

aprovada no ano de 2000, antes do pleito municipal, para

vigorar na Legislatura de 2001 a 2004. Todavia, tendo em

vista a lacuna legislativa, e, considerando que deve ser

observado o princípio da anterioridade, é que a proposta dispõe

sobre os subsídios em pauta somente para o exercício de 2002 a

2004".

Ou seja, demonstrou-se inclusive por meio do parecer

que a medida tomada estava em desacordo com as exigências legais.

Posteriormente, foi juntado parecer do Tribunal de

Contas do Estado do Paraná, referente à prestação de contas do exercício de

2004 do município de Colombo. No item 4.3, que trata de "Outros aspectos

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MINISTRIO

legais", atentou-se para a remuneração dos agentes políticos, no sentido de que

fosse observado o prazo da Lei Orgânica Municipal;

"O ato fíxatório não atende disposições da Lei

Orgânica do Município, visto que a fixação da remuneração para os

detentores de mandato eletivo não observa o prazo estipulado na mesma."

(grifo nosso)

Ademais, ressaltou a intempestividade do ato: "O ato

fíxatório não atende disposições legais, visto a existência de artigo que vincula a

remuneração a Cargo de Servidores/Deputados Estaduais".

Ainda, no item 5.4, referente a "Outros aspectos

legais", posicionou-se no seguinte sentido:

"Remuneração dos Agentes Políticos. Jurisprudência. O ato

fíxatório não atende disposições legais, conforme ressalva

contida no item 4, Segundo o critério técnico aplicado em tais

situações, adota-se a mesma remuneração recebida no último

mês do mandato passado acrescida dos reajustes legais

concedidos aos servidores. Assim procedendo, foram

apurados excessos, cuja regularização se torna

indispensável para o saneamento desta questão

especificamente, cabendo o ressarcimento dos valores

percebidos a maior, atualizados monetária mente, por parte

dos Agentes Políticos conforme consta no Anexo I da presente

Instrução" (grifo nosso).

Em outro ponto da análise, percebe-se a afirmação por

parte daquele Tribunal de Contas de que o ato fixador realmente foi baixado em

data divergente do prazo estabelecido na Lei Orgânica Municipal, bem como sua

publicação realizada após o período de eleições. f

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MINIS

Foi juntada, ainda, cópia de consulta formulada pelo

Presidente da Câmara Municipal de Colombo, contendo a indagação da

possibilidade ou não de submeter projeto de lei em pauta à votação e discussão

na mesma sessão legislativa, o que, por óbvio entende-se por ilegítimo e ilegal.

Em acórdão proferido pelo Relator Dês. Oto Luiz

Sponholz, denota-se mais uma vez a ilegalidade do ato:

"É vedado ao legislativo municipal fixar os subsídios do

Prefeito, Vice-Prefeito e Secretários, quando estes exercem

mandatos em simultaneidade com aquele, ou seja, a fixação da

remuneração somente é permitida para a legislatura

subsequente. Se de outro modo age a Câmara Municipal, está

afrontando o princípio da legalidade, que determina a estrita

observância da lei e dos princípios em que se assenta".

Assim, apurou-se que nos meses de fevereiro de 2002 a

dezembro de 2004, a então prefeita e seu vice-prefeito receberam a mais do que

lhes era realmente devido, conforme se infere no demonstrativo retirado do

Parecer de Auditoria n. 067/2010 do Setor de Auditoria das Promoíorias de

Justiça Especializadas:

Tabela 01 - Prefeita Municipal, referente aos meses de fevereiro de 2002 a dezembro de 2004

{inclusive 13° salário):

Mês_Jey/02,

mar/02abr/02mai/02jun/02jul/02ago/02

1

R$recebido11.200,0011.200,0011.200,0011.200,0011200,0011200,00

u±L2oo.oo_

R$que deveria

receber6.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,00

R$diferença5.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,00

CORREÇÃO MONETÁRIA

índice inicial1,3276394133089211,33574991,34496651,3530363

L 1,36893451,3908375

índice final(out/10)

2,48086502,48086502,48086502,48086502.48086502,48086502,4808650

R$^corrigido

9.716,879,693,129.657,879.591,699.534,489.423,759.275,35

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^w MINISTÉRIOset/02

OUt/02nov/02dez/0213° sal.Jan/03fev/03mar/03abr/03mai/03Jun/03Jul/03ago/03set/03out/03nov/03dez/0313° sal.Jan/04

, fev/04mar/04

j abr/04mai/04Jun/04Jul/04ago/04set/04out/04no v/04

i dez/0413° sal.total

11.200,00 j11.200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011.200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,0011200,00

425.600,00

6.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,006.000,00

228.000,00

5.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005,200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,005.200,00

197.600,00

1,41322991,43774951,47930041,54757021,54757021,58935461,62622761,65102761,67604061,69104121,69374691,68731061,68596081,69270461,70853141,71562181,72291321,72291321,73273381,74685561,75969501,77289271,786721218033377181947761,83648971,85311001,85913261,86563951,87739311,8773931

2,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650 ^2,48086502,48086502,48086502,48086502t48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650

j__ 2,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650

l 2,4808650l

9.128,388.972,708.720,688.335,978.335,978.116,827.932,707.813,627.697,017.628,737.616,547.645,607.651,727.621,237.550,647.519,437.487,617.487,617.445,177.384,987.331,107.276,537.220,217.153,687.090,227.024,546.961,546.938,996.914,79 j6.871,506.871,50

| 302.640,87

Taoe,a 02 - Vice Prefeito - referente aos meses de fevereiro de 2002 e dezembra de 2004:

mêsfev/02mar/02abr/02 _,mai/02jun/02jul/02ago/02set/02ouí/02nov/02

RSRecebido4.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004,500,004.500,004.500,004.500,00

R$que deveria

receber1500,001500,001.500,001.500,001.500,00 "^1500,001.500,001500,001500,001500,00

R$diferença3.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003,000,003.000,003.000,003.000,00

CORREÇÃO MONETÁRIA

índice inicial1,3276394133089211.33574991,3449665

,_ 1,35303631,36893451,39083751,41322991,43774951,4793004

índice final(out/10)

2,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650

R$i_ corrigido

5.605,895.592,195.571,855.533,675.500,665.436,785,351,165.266,375.176,565.031,16

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MINISTÉRIO Pdez/02 4.500,0013° saí.Jan/03fev/03mar/03abr/03mai/03Jun/03

j Jul/03ago/03set/03out/03nov/03dez/0313° sal.Jan/04fev/04mar/04abr/04mai/04Jun/04Jul/04ago/04set/04out/04nov/04dez/0413° sal.Total

1.500,004.500,00 1,500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004.500,004,500,004.500,004.500,00

171.000,00

1.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500.001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,001.500,00

57.000,00

3.000,003.000.003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,003.000,00

j 3.000,00| 114.000,00

1,54757021,54757021,58935461,62622761,65102761,67604061,69104121,69374691,68731061,68596081,69270461,70853141,7156218

L 1,72291321,72291321,73273381,74685561,75969501,77289271,78672121,80333771,81947761,83648971,85311001,85913261,8656395

]_ 1,87739311,8773931

2,48086502,48086502,48086502,4808650 i2,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650

. 2,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,48086502,4808650

i

4.809,214.809,214.682,784.576,604.507,864.440,584.401,194.394,164.410,92 |4.414,454.396,874.356,14 l4.338,13 l4.319,77' l4.319,774.295,294.260,574,229,484.198,004.165,504.127,124.090,514.052,624,016,274.003,263.989,303.964,323.964,32

174.600,50

Desta forma, o prejuízo causado ao erário em relação a

cada um dos réus, no período compreendido entre os meses de fevereiro de 2002

a dezembro de 2004, em valores atualizados, importa em R$302.640,87

(trezentos e dois mil, seisceníos e quarenta reais e oitenta e sete centavos)

recebidos indevidamente por Izabete Cristina Pavin e R$174.600,50 (cento e

setenta e quatro mil, seisceníos reais e cinqüenta centavos) recebidos

indevidamente por João Daíprá, totalizando o montante de R$ 477.241,37

(quatrocentos e setenta e sete mil, duzentos e quarenta e um reais e trinta e sete

centavos). / ^~^./ _.fi —-— ^-———-™ _^>

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MINISTÉRIO PÚBLICO

2. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Não há dúvidas de que o fato exposto trata de caso de

improbidade administrativa com grave desonestidade funcional.

O legislador conceituou ato de improbidade

administrativa nos seguintes termos:

"Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de

vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,

mandato, função, emprego ou atividade nas entidades

mencionadas no art, 1° desta Lei, e notadamente:"

Os réus praticaram ato de improbidade administrativa,

importando em enriquecimento ilícito, já que auferiram vantagem patrimonial

em razão dos cargos que ocupavam no Poder Executivo do município de

Colombo, quais sejam, de prefeita municipal e více-prefeito, conforme resta

demonstrado com a documentação em anexo.

A Constituição Federal, no artigo 37, caput, determina

que "a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência [...]".

O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho, ao

estabelecer, no art. 4°. da Lei de Improbidade Administrativa (n °. 8429/92) que:

"os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar

pela estrita observância dos princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos".

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MINISTÉRIO

Analisando o dispositivo legal acima citado, antes de

incorrerem no locupletamento mais grave disposto na Lei de Improbidade

Administrativa, violaram as disposições gerais por esta trazidas, no que tange à

obrigatoriedade de observância dos princípios básicos da administração pública.

Importante mencionar o previsto no artigo 5° da

referida lei, que trata da necessidade de integral ressarcimento do dano, objeto

pretendido pela presente ação:

"Art 5°. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou

omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o

integral ressarcimento do dano."

Ademais, cabe analisar brevemente o dispositivo legal

que vigorava na época dos fatos - Lei Orgânica do Município de Colombo:

"Art. 15. E de competência exclusiva da Câmara Municipal: XI

- fixar remuneração do Prefeito, do Vice-Preíeito e dos

Vereadores e sua forma de reajuste, em cada legislatura, até 30

(trinta) dias antes da realização do pleito municipal, para a

subsequente;

Art. 16. A remuneração do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos

Vereadores, será fixada pela Câmara, no último ano da

legislatura, para a subsequente, até 30 (trinta) dias antes das

eleições municipais, observadas as seguintes disposições;"

Conforme verificado acima e com o exposto na

narrativa dos fatos, a medida dos réus foi eivada de evidente má-fé, pois

contrária 'a disposição da própria Lei Orgânica do Município, de amplo

conhecimento do Poder Executivo.

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,- v " f\\.v v A

A -*•* i á MI MIS

Os atos praticados pela administração estão

condicionados ao atendimento estrito da lei. Hely Lopes Meirelles lembra que:

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade

pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido

fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa 4pode

fazer assim'; para o administrador público significa 'deve fazer

assim'.

Pelo princípio da legalidade, todo e qualquer ato

praticado peío agente público deve ater-se aos termos e limites da lei, sendo

vedada toda e qualquer conduta que contrarie as disposições legais.

Sobre o princípio da legalidade, ensina Diógenes

Gasparini que:

"O princípio da legalidade, resumido na proposição suporta a íei que

fizeste, significa estar a Administração Pública, em toda sua atividade,

presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de

invalidade do ato e responsabilidade de seu autor. Qualquer ação estatal

sem o correspondente calço legal ou que exceda ao âmbito demarcado

pela íei, é injurídica e expõe-se à anulação."2

Ainda, Celso Antônio Bandeira de Mello:

Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e captar-lhe

o sentido profundo cumpre atentar para o fato de que ele é a

Direito Administrativo Brasileiro, 22a ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 82.„—••.———

11

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MINISTÉRIO PÚBÚj^

tradução jurídica de um propósito político: o de submeter os

exercentes do poder em concreto - o administrativo a um

quadro normativo que embargue favoritismos, perseguições ou

desmandos.

Ademais, demonstrando a submissão do executivo às

leis, o mesmo autor discorre que o princípio da legalidade é o da completa

submissão da Administração às leis, devendo esta tão-somente obedecê-las,

cumpri-las, pô-las em prática.

Conforme demonstrado, os réus receberam a mais que

o previsto para remuneração mensal de Prefeito e Vice-Prefeito, já que a lei

atribuidora de aumento de subsídio encontra-se eivada de vício, ultrapassando os

limites de suas atribuições e competências, estabelecendo um montante salarial

ao qual não tinham direito.

Violaram preceitos da Carta Magna, expressão

máxima da legalidade, desviando-se, portanto, dos mandamentos da lei, razão

pela qual houve, sem dúvida, ofensa ao princípio da legalidade, ficando o ato

praticado eivado de nulidade e os réus sujeitos à sanção estabelecida no

ordenamento jurídico, qual seja, o ressarcimento pelos danos causados ao

patrimônio público municipal.

Além de ofensa ao princípio da legalidade, outros

foram violados, tal como o da moralidade administrativa. De acordo com este

princípio, a administração e seus agentes devem atuar sempre em conformidade

com os princípios éticos. A violação destes implica violar o próprio Direito,

configurando-se como ilicitude. Devem os agentes políticos, no exercício de

suas funções, procederem com lealdade, sinceridade e lhaneza.

Ademais, os réus enriqueceram-se ilicitamente,

3 - In Direito Administrativo, Editora Saraiva, y edição, 1993,,tág~

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/l FLS.

MINISTÉRIO PUB^Qim~>

do

porquanto incorporaram, por qualquer forma, ao seu patrimônio, valores

integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°. da Lei

de Improbidade Administrativa, nos termos do art. 9°., XI do mesmo diploma e

causaram prejuízo ao erário, conforme disposto no art. 10, "caput" e XI do

citado diploma, vez que liberaram e usufruíram da liberação de verba pública

sem a estrita observância das normas pertinentes.

Comprovada, portanto, a ação ilícita dos réus, o dano

ao patrimônio público, a existência de nexo causai entre ação ilícita e dano

causado, configura-se, portanto, a obrigação destes em ressarcir os danos

causados aos cofres municipais.

Em que pese os atos de improbidade administrativa

descritos já tenham sido alcançados pela prescrição, assim não ocorreu com a

obrigação de reparar o dano causado aos cofres públicos municipais. O

legislador constituinte, preocupado com a integridade do patrimônio público,

determinou expressamente que "a lei estabelecerá os prazos de prescrição

para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem

prejuízo ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento"

(Artigo 37, §5°, da Constituição Federal).

Assim, quanto às ações de ressarcimento, quis o

constituinte que fossem imprescritíveis, uma vez que há muito não se tolera a

dilapidação, desvio, apropriação ou malbaratamento do patrimônio público em-

detrimento do interesse coletivo.

Destarte, qualquer agente público que, com sua

atuação, dolosa ou culposa, enseje perda patrimonial ao erário deve ser

compelido a restituir os valores que, de alguma forma, deixaram de ser aplicados

em benefício da coletividade, o que ocorreu no caso em análise.

O ressarcimento satisfaz os interesses público, social e

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MI MIS TÉ R /<Q~~1%B LICO-•*- r -M- -a-. -*- » - '.\*ff .-':. - . . - , , . , . . i . . i >, i,-, ,, -i, i

diíuso, de toda a população de Colombo, bem como da própria administração

pública, em preservar íntegro o Erário Público e em ver solucionados, com

firmeza e seriedade, os casos de desvio, apropriação e dilapidação do dinheiro

público.

Ademais, o enriquecimento ilícito deflagrado pelos

réus adveio de lei que não respeitou a técnica legislativa descrita na Constituição

Federal, norma que deve ser interpretada analogicamente à Constituição dos

estados, com base no Princípio da Simetria. Dispõe o artigo 67 da Constituição

Federal:

"A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá

constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa,

mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer

das Casas do Congresso Nacional".

Por estas razões, constata-se evidente violação aos

preceitos constitucionais e iníraconstitucionais, motivo pelo qual, pleiteia-se o

ressarcimento de toda a quantia pelos réus adquirida de forma ilícita.

J. DO PEDIDO

Diante dos fatos e argumentos expostos,

requer-se:

I - Seja a presente Ação Civil Pública recebida

(juntamente com os 3 volumes do Inquérito Civil n. 29/2009)

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MINIS-*- r --M~ -*--*- ' -*-

II- O reconhecimento da ilegalidade dos vencimentos

percebidos pelos réus, nas importâncias recebidas além do limite estipulado no

decreto 56/1996), referente aos meses de fevereiro de 2002 a dezembro de 2004,

individualizado, para cada um dos agentes políticos, no montante de R$

302.640,87 (trezentos e dois mil, seiscentos e quarenta reais e oitenta e sete

centavos) para a Ré Izabete Cristina Pavin e R$ 174.600,50 (cento e setenta e

quatro mil, seiscentos reais e cinqüenta centavos) para réu João Dalprá, e sua

conseqüente lesão ao patrimônio público, somando-se os juros legais

devidamente atualizados por contador;

III - Seja julgado procedente o pedido, para o fim de

condenar os réus ao ressarcimento integral do prejuízo causado ao patrimônio

público, no valor total de R$302.640,87 (trezentos e dois mil, seiscentos e

quarenta reais e oitenta e sete centavos) para a Ré Izabete Cristina Pavin e R$

174.600,50 (cento e setenta e quatro mil, seiscentos reais e cinqüenta centavos)

para réu João Dalprá, devidamente corrigido e acrescido dos juros legais;

IV - Seja determinada a citação dos réus para

contestarem, querendo, a presente ação de ressarcimento, sob pena de revelia,

devendo, ao final, ser o pedido julgado procedente, condenando-os aos ônus da

sucumbência e demais cominações legais;

V - Seja o Município de Colombo citado a integrar a

presente ação, na qualidade de litisconsorte ativo, caso queira, podendo suprir

eventuais omissões e falhas da inicial e apresentar ou indicar os meios de prova

15

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X*a A O í r,'\Ar "A--^ Y\p. Q t n \

MlNISTÉRK^P^tBLICO

de que dispõe, conforme disposto no art 17, § 3°. da Lei 8429/92 c/c art. 6°., §

3°. da Lei 4717/65 (Lei da Ação Popular)

VI- Protesta-se por todos os meios de provas em direito

admitidos, notadamente os depoimentos pessoais dos réus, sob pena de

confessos, oítiva de testemunhas, juntada de documentos e perícias, dentre os

quais os autos de Inquérito Civil n. 29/2009 em anexo.

Dá-se à causa, para efeitos legais, o valor de R$

477.241,37. (quatrocentos e setenta e sete mil, duzentos e quarenta e um reais e

trinta e sete centavos)

Colombo, 12 de novembro de 2030.

DORENIDES GUERRA-PÍRES

Promotora de Justiça

16

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FORO REGIONAL DA COLOMBO DA COMARCA DA REGIÃOMETROPOLITANA DE CURITIBA

1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37,2010.8.16.0028 - p.̂V '->£•

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO

DO ESTADO DO PARANÁ em face de IZABETE CRISTINA PAVIN e JOÃO

DALPRA, estes qualificados na inicial, visando à condenação à restituição de valores

recebidos indevidamente.

Alega o autor que recebeu representação formulada pelo Partido da Frente

Liberal, na qual foi comunicado ato de improbidade administrativa praticado pelos réus, ex-

prefeita e ex-vice-prefeito de Colombo, referente aos subsídios por eles percebidos. Aduz

que através de auditoria contábil realizada pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná foi

constatado que os subsídios auferidos pelos demandados no período de 2000 a 2004

estavam em desacordo com as autorizações legais, dado que a Lei Municipal n° 829/2001,

que os fixou, foi elaborada na mesma legislatura em que os subsídios foram pagos.

Afirma que no período compreendido entre 1997 a 2000 os subsídios

fixados ao prefeito e ao vice-prefeito eram regulados pelo Decreto Legislativo n° 56/1996,

que estipulou o valor de R$ 6.000,00 para o Prefeito e R$ 1.500,00 para o vice-prefeito.

Assevera que no exercício de 2000 foi elaborado projeto de lei majorando os referidos

valores, o qual, contudo, foi vetado pela primeira ré, sob a justificativa de contraríedade ao

interesse público.

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FORO REGIONAL DA COLOMBO DA COMARCA DA REGIÃOMETROPOLITANA DE CURITIBA

1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 -

Sustenta que no ano de 2001 os réus, de forma contraditória, formularam

projeto de lei, sob o n° 311/2001, aumentando os subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito

para R$ 11.200,00 e R$ 4.500,00, respectivamente. Alega que a referida lei contraria a Lei

Orgânica Municipal, que estabelecia que a fixação da remuneração do prefeito, do vice-

prefeito e dos vereadores seria de competência da Câmara Municipal e deveria ser fixada

em até 30 (trinta) dias antes do pleito municipal. Afirma que o referido projeto também não

foi instruído com estudos para a fixação dos valores e com demonstrações orçamentárias.

Alega que a irregularidade na fixação dos subsídios foi constatada pelo

Tribunal de Contas do Estado do Paraná, sendo apurado que nos meses de fevereiro de 2002

a dezembro de 2004 os réus receberam indevidamente a importância de RS 477.241,37, a

qual deve ser restituída aos cofres públicos.

Sustenta que a conduta dos réus caracteriza-se como ato de improbidade

administrativa, bem como afronta os princípios da legalidade e da moralidade

administrativa. Aduz que os réus se enriqueceram ilicitamente em detrimento do patrimônio

público, e que o projeto de lei que aumentou seus subsídios não poderia ser aprovado na

mesma sessão legislativa em que foi vetado o anterior.

Pede, ao final, a condenação da primeira ré à restituição do valor de RS

302.640,87 e do segundo réu à restituição do valor de R$ 174.600,50, já atualizados até a

data da propositura da ação. Juntou documentos às fls. 18/483.

Citado (íl 500/v), o segundo réu ofereceu contestação às fls. 488/498, na

qual alega que na função de vice-prefeito não teve qualquer participação na elaboração da

lei que fixou seus subsídios, a qual é de responsabilidade exclusiva da primeira ré e da

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1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8 .16.0028 - r

Câmara Municipal de Colombo, razão pela qual não pode ser condenado pela prática de ato

de improbidade administrativa.

Sustenta inexistir dolo, má-fé ou cuípa em sua conduta, o que impede a

caracterização do ato de improbidade administrativa. Aduz que não assumiu o cargo de

Prefeito Municipal à época dos fatos, e que os subsídios recebidos no período têm caráter

alimentar, sendo portanto irrepetíveis. Pede, ao final, a improcedência da demanda.

Citada (fl. 500/v), a primeira ré ofereceu contestação às fls. 502/561,

argüindo, em sede de preliminares, sua ilegitimidade para figurar no pólo passivo da

presente demanda, dado que a fixação dos subsídios do prefeito e do vice-prefeito é de

competência da Câmara Municipal, bem como a ilegitimidade do parquet para a propositura

da presente Ação Civil Pública. Afirma que não houve nenhuma auditoria realizada no

Município de Colombo a respeito dos fatos debatidos na presente demanda, e que todas as

contas que prestou foram aprovadas, com ressalvas, pelo Tribunal de Contas do Estado do

Paraná.

Assevera que a única auditoria que foi realizada foi arquivada pelo

Corregedor-Geral do Tribunal de Contas, por se tratar de mera pressão política e que não

houve dano aos cofres do Município de Colombo, ante a inexistência de dolo, o que impede

a caracterização do ato de improbidade. Pede, ao final, a extinção do processo sem

resolução do mérito, ou, eventualmente, a total improcedência da demanda.

O autor apresentou impugnação à contestação às fls. 565/580, sustentando

a legitimidade ad causam de ambas as partes e que apenas os subsídios recebidos de forma

lícita são irrepetíveis, reiterando, ainda, os termos da inicial.

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1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 - p.;

Intimadas as partes para que especificassem as provas que efetivamente

pretendiam produzir (fl. 582). o segundo réu informou não ter interesse na produção de

outras provas, a primeira ré deixou o prazo transcorrer in albis (fl. 583/v) e o autor pediu o

julgamento antecipado do feito (fls. 585/586).

É O RELATÓRIO. DECIDO.

II - FUNDAMENTAÇÃO.

Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO

ESTADO DO PARANÁ em face de IZABETE CRISTINA PAVIN e JOÃO DALPRÁ,

visando à condenação à restituição de subsídios recebidos indevidamente pelos réus no

exercício dos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito.

O feito comporta julgamento antecipado, nos termos do art. 330, inc. I, do

Código de Processo Civil, ante a inexistência de requerimento das partes de produção de

outras provas além das já constantes dos autos.

No que se refere à preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério Público,

sem razão a primeira ré. Conforme o disposto no art. 129, inc. III, da Constituição Federal, é

função institucional do Ministério Público a promoção de inquérito civil e a propositura de

Ação Civil Pública para a proteção do patrimônio público, o que é exatamente a hipótese

dos autos, em que se pretende a condenação dos réus à restituição de valores recebidos de

forma alegadamente indevida em detrimento do patrimônio público.

Para o exercício desta função, os art. 5°, inc. I, prevê expressamente a

legitimação do Ministério Público para a propositura tanto da Ação Civil Pública quanto de

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1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 -

eventual medida cautelar necessária à proteção dos direitos que o parquet tem o dever de

zelar.

A par disso, o entendimento acerca da legitimidade do Ministério Público

para a propositura de Ação Cívíl Pública visando ao ressarcimento de danos ao erário é

pacífico no Superior Tribunal de Justiça, encontrando-se consolidado no enunciado n° 329

da súmula de jurisprudência dominante daquela corte, abaixo transcrito:

Súmula 329 - O Ministério Público tem legitimidade para propor açãocivil pública em defesa do patrimônio público.

Por outro vértice, não se vislumbra qualquer afronta ao princípio da

separação dos poderes em razão da propositura da presente demanda ou em caso de sua

eventual procedência, dado que o pedido (ressarcimento de danos causados ao erário) não

diz respeito à prática de ato afeto às funções precípuas do Poder Legislativo ou do Poder

Executivo, e o ato normativo que deu causa ao prejuízo é reputado inconstitucional, o que

legitima o reconhecimento de sua invalidade pelo Poder Judiciário de modo a garantir a

supremacia da Constituição.

Frise-se, por relevante, que não há necessidade de prévia declaração, via

controle concentrado, de inconstitucionaíidade (ou ilegalidade, diante da Lei Orgânica

Municipal) do ato normativo que deu azo ao alegado prejuízo ao patrimônio público, sendo

plenamente possível a realização do controle incidenter tantum de constitucionalidade.

Observe-se ainda, por oportuno, que a declaração da inconstitucionaíidade

da Lei que elevou os subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito não é o objeto do pedido, mas

sim causa de pedir, o que autoriza a realização do controle difuso de constitucionalidade por

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l' VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 - n./7j>

constitucionalidade. Precedentes do STF. 4. (...) RECURSOSEXTRAORDINÁRIOS CONHECIDOS E PROVIDOS1.

Afasto, pois, a preliminar de ilegitimidade ativa.

Em relação à preliminar de ilegitimidade passiva, sem razão a primeira

demandada. Tendo-se em vista que a presente demanda tem por objeto a condenação dos

réus à restituição de valores decorrentes de enriquecimento ilícito, é irrelevante que o ato

normativo que deu suporte ao referido enriquecimento tenha sido editado por pessoa diversa

dos réus, dado que foi o patrimônio destes que alegadamente foi majorado de forma

indevida, e, portanto, são os demandados que devem suportar os efeitos de eventual

condenação.

Não havendo outras preliminares a serem apreciadas, e presentes as

condições da ação e os pressupostos processuais, passo à análise do mérito.

De plano, cumpre frisar que a presente demanda tem por objeto, como

acima exposto, tão somente a condenação dos réus à restituição de valores que lhes causou

enriquecimento ilícito em prejuízo do patrimônio público, e não às penas aplicáveis na

hipótese de prática de ato de improbidade administrativa, pretensão esta que estaria,

ademais, prescrita (Lei n° 8.429/1992, art. 23, inc. I).

O suporte fático do enriquecimento sem causa, por sua vez, não depende

necessariamente da prática de qualquer ato pela parte que enriqueceu, bastando, para sua

caracterização: a) o enriquecimento de um sujeito (= acréscimo patrimonial); b) o

correspondente empobrecimento de outro (= decréscimo patrimonial causado pelo

1 RE 511961, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/2009, DJe-213D1VULG 12-11-2009 PUBLIC 13-11-2009 EMENT VOL-02382-04 PP-00692 RTJ VOL-00213- PP-00605

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enriquecimento de outrem); e c,í) a inexistência de causa ao enriquecimento, c.2) sua

invalidade, c,3) sua ineficácia ou c.4) sua cessação.

Destarte, independentemente das condutas dos réus se amoldarem às

hipóteses dos arts. 9 a 11 da Lei n° 8.429/1992, configurado que esteja o suporte fático do

enriquecimento sem causa, em prejuízo do erário, cabível a sua condenação à restituição dos

valores recebidos indevidamente.

No caso dos autos, o alegado locupletamento ilícito dos réus se deu no

período de fevereiro de 2002 a dezembro de 2004, período em que, por força da Lei

Municipal n° 829/2001, os subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito foram elevados de RS

6.000,00 e R$ 1.500,00 para R$ i l .200,00 e R$ 4.500,00, respectivamente.

Ocorre que, tratando-se de Lei Municipal fixadora dos subsídios do

Prefeito e Vice-Prefeito, esta deve obedecer à regra da legislatura, que estabelece a

impossibilidade de a Câmara Municipal aumentar seus subsídios, ou os subsídios o Prefeito

e do Vice-Prefeito, para a própria legislatura.

É o que dispõe o art. 29 da Constituição Federal, abaixo transcrito:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dosmembros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos osprincípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivoEstado e os seguintes preceitos:V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais

fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o quedispõem os arts. 37, XI, 39, § 4°, 150, II, 153, III, e 153, § 2°, I;

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Tal dispositivo, por sua vez, encontra-se reproduzido no art. 13, inc. V, da

Lei Orgânica do Município de Colombo, que assim dispõe:

Art. 13. É da competência exclusiva da Câmara, além de outrasatribuições previstas nesta Lei Orgânica:V - fixar os subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito, dos SecretáriosMunicipais e dos Vereadores, em cada Legislatura para a subseqüente,observado o que dispõe a Constituição Federal;

Nesse sentido é a pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,

como se vê abaixo:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO,CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SUBSÍDIOS DE PREFEITOE VEREADORES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGAPROVIMENTO. 1. Fixação vara legislatura subsequente. Princípio daanterior idade. Precedentes. 2. O Tribunal a quo não julgou válida lei ouato de governo local contestado em face da Constituição da República.Inadmissibilidade do recurso pela alínea c do art. 102, inc. III, daConstituição da República. Precedente .

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRA VO DE INSTRUMENTO.PREFEITO. VICE-PREFEITO E VEREADORES. REMUNERAÇÃO..MAJORAÇÃO. FIXAÇÃO. LEGISLATURA SUBSEQUENTE. ART. 29, V,DA CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO. I - OTribunal de origem, ao constatar que os Atos 3 e 4/97 da Mesa daCâmara Municipal de Arapongas traduziram majoração de remuneração,agiram em conformidade com o entendimento yacífico desta SupremaCorte no sentido de que a remuneração de Prefeito, Vice-Prefeito e deVereadores será fixada vela Câmara Municiyal, vara a legislatura

2 RE 484307 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 23/03/2011, DJe-067Dl VULG 07-04-2011 PUBLIC 08-04-2011 EMENT VOL-02499-OI PP-00093

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subsequente, de acordo com o disposto no art. 29, V. da ConstituiçãoFederal. Precedentes. III — Agravo regimental improvido .

AGRA VO REGIMENTAL EM AGRA VO DE INSTRUMENTO.PREFEITO. VICE-PREFEITO E VEREADORES. REMUNERAÇÃO.MAJORAÇÃO. FIXAÇÃO. LEGISLATURA SUBSEQUENTE. ART. 29, V.DA CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO. I- OTribunal de origem, ao constatar que os Atos 3 e 4/97 da Mesa daCâmara Municipal de Arapongas traduziram majoração de remuneração,agiram em conformidade com o entendimento pacífico desta SupremaCorte no sentido de que a remuneração de Prefeito, Vice-Prefeito e deVereadores será fixada pela Câmara Municipal, para a legislaturasubsequente, de acordo com o disposto no art. 29, V, da ConstituiçãoFederal. Precedentes. III-Agravo regimental improvido4.

CONSTITUCIONAL AÇÃO POPULAR. VEREADORES:REMUNERAÇÃO; FIXAÇÃO: LEGISLATURA SUBSEQÜENTE. C.F..are. 5°, LXXIII; art. 29, V. PATRIMÔNIO A4ATERIAL DO PODERPÚBLICO, MORALIDADE ADMINISTRATIVA: LESÃO, L - Aremuneração do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores será fixadapela Câmara Municipal em cada legislatura para a subseqüente. C.F.,art. 29, V, Fixando os Vereadores a sua própria remuneração, vale dizer,fixando essa remuneração vara viser na vróyria legislatura, yratica atoinconstitucional lesivo não só ao patrimônio material do Poder Público,como à moralidade administrativa, que constitui patrimônio moral dasociedade. C.F., art. 5°, LXXIII. II. - Ação popular julgada procedente. III.- R. E. não conhecido5.

Do exame do documento de fls. 71/75 se extrai que a referida Lei

Municipal n° 829/2001 foi aprovada em três votações, ocorridas em sessões extraordinárias

3 AI 776230 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010,DJe-227 DIVULG 25-11-2010 PUBLIC 26-11-2010 EMENT VOL-02439-02 PP-003274 AI 776230 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010,DJe-227 DIVULG 25-11-2010 PUBLIC 26-11-2010 EMENT VOL-02439-02 PP-003275 RE 206889, Relatora): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 25/03/1997, DJ 13-06-1997 PP-26718 EMENT VOL-01873-11 PP-02257

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Ia VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 - p. Jf /'"Í"

da Câmara de Vereadores de Colombo nas datas de 17.12.2001 e 18.12.2001, e sancionada

em 21.12.20016, ou seja, quando já iniciada a legislatura de 2001 a 2004.

Deflui daí, com facilidade, que a referida lei viola frontalmente o art. 29,

ínc. V, da Constituição Federal, bem como o art. 13, inc. V, da Lei Orgânica do Município

de Colombo, sendo, portanto, inválida ab initio por inconstitucionalidade e ilegalidade.

Inválida a norma, esta jamais produziu seu efeito de elevação dos

subsídios do Prefeito e do Vice-Prefeito, do que se conclui pela inexistência de causa à

percepção, por parte dos demandados, da diferença entre os subsídios que deveriam

perceber (RS 6.000,00 para a primeira ré e RS 1.500,00 para o segundo réu) e os que foram

efetivamente percebidos (R$ 11.200,00 e RS 4.500,00, respectivamente) no período de

fevereiro de 2002 a dezembro de 2004 (= enriquecimento dos demandados).

Nesse ponto, deve-se destacar o entendimento esposado no julgamento da

Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão ajuizada pela primeira demandada em

face do Município de Colombo, no qual restou consignado que

"Segundo entendimento desta Corte, não aprovada a lei que fixa ossubsídios em legislatura antecedente, os atuais agentes públicos devemcontinuar auferindo os subsídios anteriores, com os reajustes devidosaos servidores em gerar (fl. 285, destaques do original).

Pois bem. As diferenças de remuneração acima descritas, por sua vez,

foram recebidas pelos réus em detrimento do patrimônio do Município de Colombo, que

indevidamente suportou decréscimo em razão do pagamento dos referidos valores aos

Conforme consulta ao sítio eletrônico do Município de Colombo: http://www.colombo.pr.gov.br/

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demandados (= empobrecimento do Município causado pelo enriquecimento dos réus) com

suporte em lei inválida (= ausência de causa).

Configurado, pois, o suporte fático do enriquecimento sem causa, impõe-

se a restituição pelos réus, independentemente de dolo ou culpa destes, dos valores

recebidos indevidamente no período de fevereiro de 2002 a dezembro de 2004.

Observe-se, por oportuno, que ainda que fosse necessária a culpa dos

demandados para a configuração do dever de restituição, esta decorreria da necessária

ciência dos demandados (Lei de Introdução ao Código Civil, art. 3°) dos termos da Lei

Orgânica do Município, especificamente de seu art. 13, inc. V, acima transcrito.

Destarte, e ante a ausência de impugnação específica ao cálculo de fls.

07/09, devem os réus restituir ao Município de Colombo a importância de R$ 477.241,37,

arcando a primeira ré com RS 302.640,87 e o segundo réu com R$ 174.600,50, valores estes

já atualizados até a data da proposiíura da demanda, e que deverão desde então ser

acrescidos de correção monetária pela média do INPC com o IGP-DI, bem como de juros

rnoratórios de 1% ao mês (Código Civil, art. 406 c.c Código Tributário Nacional, art. 161, §

1°), estes contados a partir da citação (Código de Processo Civil, art. 219).

Ressalte-se ainda, por relevante, que tratando-se de ressarcimento por

enriquecimento sem causa, e não de repetição de indébito (cujo suporte fático é distinto e,

consequentemente, gera pretensão distinta), não há que se falar em irrepetibilidade dos

referidos valores em razão de seu caráter alimentar.

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1a VARA CÍVEL - Autos n° 9235-37.2010.8.16.0028 -

Ademais, ainda que se admitisse que a pretensão do autor é de repetição

de indébito, a irrepetibilidade dos valores de caráter alimentar só incide na hipótese destes

valores terem sido recebidos licitamente, o que não é o caso dos autos

III - DISPOSITIVO

Pelo exposto, com fundamento no artigo 269, I, do Código de Processo

Civil, julgo procedente a pretensão inicial nestes autos formulada pelo MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ em face de IZABETE CRISTINA PAVIN e

JOÃO DALPRÁ, para:

a) condenar a ré IZABETE CRISTINA PAVIN a restituir ao Município

de Colombo a importância de R$ 302.640,87 (trezentos e dois mil seiscentos e quarenta

reais e oitenta e sete centavos), acrescida de correção monetária pela média do INPC com o

IGP-DI a partir de 16.11.2010 (data da propositura da demanda), e juros moratórios de 1%

ao mês, contados a partir da citação;

b) condenar o réu JOÃO DALPRÁ a restituir ao Município de Colombo a

importância de R$ RS 174.600,50 (cento e setenta e quatro mil e seiscentos reais e cinqüenta

centavos), acrescida de correção monetária pela média do INPC com o IGP-DI a partir de

16.11.2010 (data da propositura da demanda), e juros moratórios de 1% ao mês, contados a

partir da citação;

Em razão da sucumbência, condeno os réus ao pagamento, cada qual, de

metade das custas processuais.

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Intime-se pessoalmente o autor, nos termos do art. 236, § 2°, do Código de

Processo Civil.

Publique-se. Registre-se^Intimem-se.

ColombcL 05 de dézen/ibro de 2011

MONE TRENTOJuíza de Direito

Recebi

Colomb

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C O N C L U S Ã O

Faço conclusos os presentes autos a MM. Juíza de Direito, \ ̂Dra. SIMONE TRENTO.Colombo, 12 de mario de 201Z

Mario Caw&BuenoEscrivãoDesignado

AUTOS N.° 9235-37.2010.8.16.0028

1. A sentença de fl . 587/600 foi publicada em

02/02/2012, o prazo para recorrer iniciou em 03/02/2012 e, considerando

que os réus possuem procuradores diferentes (art. 191 do CPC), o prazo

terminou em 03/03/2012 (sábado) e prorrogou para dia 05/03/2012

(segunda-feira), conforme art. 184 do CPC, O recurso de apelação foi

protocolado dia 06/03/2012, ou seja, um dia após o término do prazo,

razão pela qual deixo de receber o recurso de apelação protocolado à fl.

603/663.

2. Dê-se ciência ao Ministério Público para início

da fase de cumprimento de sentença.

3. Intimações e diligências necessárias.

Coíotnbo,,í4 de/março de 2012

SlMON

Juíza-^e Direito

RECIBONesta^áãtaVecebi estes autos.

u~ M 1

Cüfíombo, \1S /OJ7/2012.

ueno'Designado

l-