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Ministro de Estado do - Plural · A produção de oleaginosas para o biodiesel pode ser feita em pequenas áreas ou de forma consorciada com outras cultu-ras, e mesmo aproveitando

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Convênio 086/2006 - MDA

Projeto de Apoio à Formação deArranjos Produtivos de Biodiesel

Plural Cooperativa

Ana Maria AndradeAriane FavaretoBreno Aragão TibúrcioEforgMônica SchröderReginaldo MagalhãesSupervisão

José Clóvis LunardiRafael Feltran BarbieriSérgio Luís BurtetArticuladores

Arilson FavaretoMônica SchröderReginaldo MagalhãesYumi Kawamura GonçalvesElaboração - publicaçãojulho/2007

Tadeu Araujo / NaliartArte e diagramaçãoJosé Clovis LunardiFotosEditora XamãImpressão e acabamento

Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente da República

Guilherme CasselMinistro de Estado doDesenvolvimento Agrário

Marcelo Cardona RochaSecretário-Executivo do Ministériodo Desenvolvimento Agrário

Adoniram Sanches PeraciSecretário Nacional daAgricultura Familiar

Arnoldo Anacleto de CamposDiretor de Agregação de Valor e Renda

Jânio Luis da RosaCoordenador Geral de Biocombustíveis

www.territorioplural.com.brFone/Fax: 11 5575-4839

Jaqueline Lemos MartinsDiretora Presidente

Reginaldo MagalhãesDiretor Financeiro

Egeu Goméz EstevesDiretor Secretário Geral

Secretariada Agricultura Familiar

Ministériodo Desenvolvimento Agrário

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ITEM 2

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ITEM 1O Programa Nacional deProdução e Uso de Biodiesel (PNPB)

Instrumentos deplanejamento e gestão

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Governança Participativa –os arranjos produtivos

5Índice

Introdução

Importante alternativaCríticas à produçãoCritérios de sustentabilidadeObjetivos e instrumentos do PNPB

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Cadeia produtivaArranjos produtivosArranjos produtivos do biodieselGrupo de Trabalho Gestor (GTG)

DiagnósticoAnálise estratégica e elaboração de um planoA contratualização e a gestão do plano

IntroduçãoDiante da necessidade mundial de diversificar a matriz

energética e encontrar alternativas para os combustíveis fós-seis, o Brasil destaca-se por seu potencial para produção debiocombustíveis, já tendo constituído uma ampla estruturaprodutiva e acumulado tecnologia na produção do etanol dacana-de-açúcar. O Programa Nacional de Produção e Uso deBiodiesel (PNPB) propõe convergir a estratégia de diversifi-cação da matriz energética com os objetivos sociais do de-senvolvimento.

A combinação entre a inclusão social e a viabilidade eco-nômica da produção de biodiesel depende, entretanto, daconstrução de articulações entre os agentes econômicos eas políticas públicas de apoio à agricultura e à produção debiodiesel, formando arranjos produtivos estáveis. Neste sen-tido, o PNPB — por intermédio do “Projeto Pólos de Biodiesel”,do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceriacom organizações como a Plural —, está apoiando a forma-ção de Grupos de Trabalho Gestores (GTGs), que se responsa-bilizem pela coordenação da produção de matéria-prima edas negociações entre agricultores familiares e as empresasprocessadoras de biodiesel, dentro dos parâmetros do SeloCombustível Social previsto no PNPB.

Esta publicação foi elaborada para contribuir com o pro-cesso de constituição e consolidação dos GTGs, fornecen-do elementos sobre as políticas públicas diretamente rela-cionadas à produção de biodiesel e à inserção da agricultu-ra familiar. Também sugere instrumentos para as funçõesde planejamento em torno dos arranjos envolvendo produto-res e indústrias.

A primeira parte deste material aborda aspectos gerais doPNPB. Em seguida é apresentada a proposta de formaçãodos grupos gestores, na lógica da governança participativa.E finalmente, são propostos instrumentos de planejamentoaos trabalhos dos GTGs. Pr

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O uso de fontes alternativas de energia vem ganhando im-portância no mundo e no Brasil por diferentes motivos. Nofuturo, haverá combustível suficiente para todos os usos? Quaisos impactos das emissões de gases na atmosfera, gerados pelaqueima de combustíveis derivados do petróleo? Diante dessaspreocupações, os biocombustíveis são apontados como umadas saídas para estes problemas.

Nos países em que existem condições para produção debiocombustíveis (etanol e biodiesel), este potencial pode seraproveitado para aumentar a segurança de abastecimento domercado interno e para gerar divisas através da exportação doproduto. No Brasil, a produção de biocombustíveis é uma opor-tunidade para gerar empregos e renda em áreas rurais, redu-zindo as desigualdades entre as regiões.

O PNPB, programa interministerial lançado em dezembro de2004, é uma ação do Governo Federal para promover a produ-ção e o uso do biodiesel de forma sustentável, combinando odesenvolvimento das áreas rurais do país com a expansão doproduto no mercado interno e externo.

Importante alternativaO biodiesel é um combustível biodegradável obtido a partir

de óleos vegetais ou gorduras animais. Assim como o etanol,ele é denominado de biocombustível por ser derivado debiomassa, fonte natural e renovável composta pela matéria or-gânica de origem vegetal ou animal utilizada para produção deenergia. Por isso, se tornaram uma alternativa energética im-portante no mundo, com a vantagem de serem menos poluentesdo que os combustíveis de base fóssil (derivados do petróleo).

O Programa Nacionalde Produção e Usode Biodiesel (PNPB)

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O biodiesel pode ser usa-do puro ou misturado ao di-esel em diversas proporções, em motores automotivos (de ca-minhões, tratores, camionetas, automóveis etc.) ou motores parageração de energia elétrica e de calor. Desta forma, há grandefacilidade para que a sua comercialização seja ampliada.

Existem no Brasil dezenas de espécies vegetais que po-dem ser utilizadas para produção de biodiesel, tais comomamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim e soja,dentre outras. A tabela a seguir mostra o potencial de rendi-mento de alguns dos principais cultivos utilizados para a pro-dução de biodiesel.

A produção de oleaginosas para o biodiesel pode ser feitaem pequenas áreas ou de forma consorciada com outras cultu-ras, e mesmo aproveitando as entressafras. O cultivo consorci-ado e a rotação de culturas são práticas que ajudam a mantera qualidade do solo e reduzir os custos com adubação, alémdos benefícios de se manter a produção de alimentos nas uni-dades produtivas familiares.

Como são muitas as combinações possíveis para o cultivoconsorciado, recomenda-se que os órgãos técnicos sejam con-sultados e a produção planejada seja diversificada.

Cultivo Mamona Girassol Soja Palma Algodão

Rendimentos prováveis (kg/ha) 1.500 1.500 3.000 20.000 3.000

Teor de óleo vegetal 47% 42% 18% 20% 15%

Produção de óleo vegetal (kg/ha) 705 630 540 4.000 450

Fonte: SAF/MDA

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A cadeia produtiva do biodiesel gera uma série de co-pro-dutos (glicerina, torta, farelo etc) que podem ser aproveitadospara diferentes finalidades. Por exemplo, a torta resultante doesmagamento pode ser utilizada para alimentação animal oupara adubação na unidade produtiva familiar.

O Brasil tem potencial para produzir biodiesel a partir dematérias-primas diversas, com diferentes tecnologias e parafinalidades distintas. A demanda é crescente e cada vezmais empresas investem no setor. As pesquisas, experimen-tos e testes podem revelar vantagens e desvantagens doscultivos e podem abrir novas possibilidades em toda a ca-deia produtiva.

A produção do biodiesel envolve um conjunto dinâmico detecnologias, regiões geográficas, tipos de cultivos que envol-vem produtores e empresas com características diferentes. OPNPB, ao mesmo tempo em que aproveita todas estas diferen-ças, busca assegurar uma certa padronização, de forma que oproduto final atenda a especificações físico-químicas que dêemsegurança ao consumidor final. A Agência Nacional do Petró-leo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável por au-torizar o funcionamento de indústrias de biodiesel e fiscalizarsua produção e comercialização, é quem estabelece essasespecificações para padronizar o produto.

Críticas à produçãoVárias organizações da sociedade civil, governos e univer-

sidades estão promovendo um debate internacional que apon-ta alguns riscos na produção de biodiesel. É muito importanteconsiderar esses questionamentos e identificar possibilidades

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de aperfeiçoamento do programa e da ação dos GTGs. Asprincipais críticas são as seguintes:

a) Produtos para produção de biocombustíveis em áreas tem-peradas, como o milho produzido nos Estados Unidos,apresentam balanço energético muito baixo;

b) A expansão dos plantios de soja e cana-de-açúcar podeprovocar o deslocamento da pecuária em direção a áre-as de fronteira e ampliar o desmatamento do cerrado eda Amazônia;

c) A ampliação da produção de biocombustíveis pode au-mentar as áreas de monocultura e provocar a redução daprodução e elevar os preços dos alimentos;

d) A produção de biocombustíveis pode acentuar a concen-tração de terra e de renda, com a inserção apenas degrandes produtores e grandes indústrias;

Por causa desses riscos, a ampliação dos mercados debiocombustíveis tende, num futuro próximo, a ser regulamen-tada por um sistema de certificação. Algumas iniciativas jáestão sendo desenvolvidas com esse objetivo.

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Critérios de sustentabilidadeGrandes empresas, governos, universidades e ONGs estão

se reunindo para definir princípios e critérios para garantirque a produção de biocombustíveis não comprometa os re-cursos naturais, as condições de trabalho e a qualidade devida. Uma das principais iniciativas é a Roundtable onSustainable Biofuels1.

Até o momento foram definidos os seguintes critérios:

• A produção de biomassa não pode provocar a contamina-ção ou degradação dos recursos hídricos, dos solos e doar, deve promover a responsabilidade ambiental e a con-servação dos recursos naturais e biodiversidade;

• A produção de biomassa não deve deslocar cultivos oupráticas que provoquem desmatamento;

• O balanço de gases de efeito da cadeia de produção eaplicação da biomassa deve ser positivo;

• A produção de biocombustíveis não pode causar direta ouindiretamente a redução da produção de alimentos;

• O uso de transgênicos para produção de biocombustíveisdeve ser transparente;

• A produção de biomassa deve contribuir para prosperidadelocal, o bem estar das comunidades, trabalhadores e po-pulações rurais, com o controle do uso de trabalho infantil;

• A produção de biocombustíveis deve ser rastreável paraque os consumidores possam diferenciar entre fontes sus-tentáveis e não sustentáveis.

(1) Mais informações podem ser obtidas no site: http://cgse.epfl.ch/page65660.html

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Objetivos e instrumentos do PNPBPara promover a produção e uso do biodiesel de forma

sustentável é necessário pensar na viabilidade econômica,aproveitando os recursos naturais de maneira que o equilí-brio ecológico seja mantido ou restaurado. A produção deveservir ao desenvolvimento regional e à inclusão social, atra-vés da geração de emprego e renda.Assim, o PNPB pretende:

• Promover o aproveitamento das oleaginosas de acordocom as diversidades regionais;

• Dar segurança para o abastecimento de biodiesel no mer-cado;

• Dar garantia de qualidade para o consumidor;• Tornar o biodiesel competitivo frente ao diesel de petróleo;• Ser uma política de inclusão social.

Um conjunto de incentivos e medidas governamentais, apre-sentados a seguir, visa conduzir a produção de biodiesel nopaís, observando as diretrizes citadas acima.

Mistura obrigatória, mercado crescente e garantidoO consumo de biodiesel é incentivado por meio de um

mecanismo que estabelece uma demanda mínima do produtono mercado nacional. A Lei 11.097/2005 prevê que a partirde janeiro de 2008 será obrigatória, em todo território nacio-nal, a mistura B2, ou seja, 2% de biodiesel e 98% de dieselconvencional. Em janeiro de 2013, será obrigatória a misturaB5 (5% de biodiesel mais 95% de diesel). Esta proporção Pr

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pode ser elevada, e até mesmo a utilização de biodiesel puro(B100) é possível, desde que autorizada pela Agência Nacio-nal do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Incentivos tributáriosA cobrança de impostos sobre o biodiesel foi estruturada

de forma a viabilizar a inclusão social e reduzir disparidadesregionais mediante a geração de emprego e renda nos seg-mentos mais carentes da agricultura brasileira. Assim, ela temo propósito de conceder redução total ou parcial dos tributosfederais que normalmente incidem sobre os combustíveis(CIDE, PIS/Pasep e Cofins) para produtores de biodiesel queapóiem a agricultura familiar.

A regra geral é que a tributação federal no biodiesel nuncadeve ser superior à do diesel mineral. Além disso, os produto-res de biodiesel que adquirem matérias-primas de agricultoresfamiliares, qualquer que seja a região brasileira, poderão terredução de até 68% nos tributos federais. Se essas aquisiçõesforem feitas de produtores familiares de dendê (palma) na re-gião Norte ou de mamona no Nordeste e no Semi-Árido, estaredução pode chegar a 100%. Para beneficiar-se da reduçãodos tributos, os produtores de biodiesel precisam ser detento-res do Selo Combustível Social.

Selo Combustível Social – inserção da agricultura familiarO Selo Combustível Social é um mecanismo central para

promoção da inclusão da agricultura familiar nas cadeias pro-dutivas do biodiesel. Sua concessão é coordenada pelo MDA.Os produtores de biodiesel com concessão do Selo Combustível

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Social têm que cumprir algumas obrigações,que comprovem a promoção da inclusão so-cial e do desenvolvimento regional:

a) adquirir matéria-prima de agricultores fa-miliares, em proporções que variam confor-me a região (10% nas regiões Norte e Cen-tro-Oeste; 30% nas regiões Sul e Sudeste e50% no Nordeste e no Semi-Árido);b) prestar assistência técnica para produção

de oleaginosas, compatível com as quantidades de produ-to acordadas e com os princípios e diretrizes da PolíticaNacional de Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA,observando também as necessidades relacionadas à estru-tura e funcionamento da unidade familiar como um todo. Aassistência técnica pode ser feita por técnicos próprios dasempresas, por empresas terceirizadas ou por empresas pú-blicas. Além dessa assistência, os arranjos produtivos po-dem e devem procurar envolver os órgãos públicos e de-mais organizações que atuam nessa área.

c) celebrar contratos com os agricultores familiares para ofornecimento das matérias-primas por eles produzidas ecom a anuência de uma organização de representaçãodesses agricultores (sindicatos e/ou federações de traba-lhadores rurais). A negociação dos contratos entre asempresas e os agricultores inclui a pré-fixação dos pre-ços das oleaginosas, os critérios de ajuste do preço acor-dado, os prazos e condições de entrega dessa matéria-prima e as garantias de cada parte. Pr

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As empresas que obtiverem o Selo poderão contar com os se-guintes benefícios:

a) ter redução parcial ou total de tributos federais, comoapresentado no item anterior;

b) participar dos leilões públicos de compra de biodieselorganizados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP);

c) ter acesso a condições favoráveis de financiamento noBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES) e suas instituições credenciadas. O Programa deApoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel prevê fi-nanciamento de até 90% dos itens passíveis de apoio paraprojetos com o Selo Combustível Social e de até 80% paraos demais projetos. O apoio do BNDES destina-se a todasas fases de produção do biodiesel, entre elas: produção deóleo bruto, armazenamento, logística, beneficiamento desub-produtos e aquisição de máquinas e equipamentos;

d) usar esse certificado para diferenciar a origem/marca dobiodiesel no mercado.

As condições para obtenção do Selo, assim como os bene-fícios a que ele dá direito, estão previstos nas InstruçõesNormativas Nos 01 e 02, de 2005 do MDA.

Desenvolvimento tecnológicoA pesquisa é importante para permitir melhor aproveita-

mento dos recursos e das matérias-primas, para que os pro-cessos industriais se tornem mais eficientes e menos custo-sos, para ampliar o uso do biodiesel e de seus co-produtos.

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O PNPB direciona recursos para financiar o desenvolvimentode tecnologias ligadas ao biodiesel em diferentes campos:

• seleção de matérias-primas conforme as característicasdiferenciadas de solo e clima de cada região;

• desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de processos deprodução industrial mais eficientes;

• testes em motores e componentes utilizando diferentesproporções de biodiesel, o que é importante para permitiro uso de misturas biodiesel/diesel em percentuais supe-riores a 5% num futuro próximo.

• novos usos e aplicações para os co-produtos da fabrica-ção de biodiesel (principalmente farelos, tortas e glicerina)

Outros instrumentos de apoioO Governo Federal vem procurando estimular iniciativas que

impulsionem a produção e o uso do biodiesel. É o caso dasparcerias com organizações não-governamentais e de coopera-ção científica e tecnológica com outros países, e das parceriascom Prefeituras e entidades da sociedade civil para a organiza-ção de agricultores familiares em associações ou cooperativas.

O Conselho Nacional de Política Fazendária, responsável pelacoordenação das medidas voltadas ao imposto estadual inci-dente sobre a comercialização de combustíveis (ICMS), vemdebatendo a definição de cargas tributárias estaduais compatí-veis com o modelo tributário federal.

Os leilões de compra de biodiesel, organizados pela Agên-cia Nacional do Petróleo, são também um estímulo à produção,enquanto a mistura de 2% (B2) não é obrigatória. Pr

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Com o objetivo de inserir a agricultura familiar na cadeiaprodutiva do biodiesel, é fundamental viabilizar condiçõesestáveis à inserção produtiva desses agricultores nas regiõesem que operam as empresas que detêm o Selo CombustívelSocial. Ao mesmo tempo, é necessário que exista segurança,por parte das empresas, sobre o fornecimento da matéria-pri-ma contratada. Há um conjunto de incentivos públicos volta-dos para fazer com que se encontrem estes interesses e paraque as relações dentro do arranjo produtivo formado em deter-minada região tornem-se estáveis e sejam capazes de gerarbenefícios econômicos, sociais e ambientais.

Para tanto, é necessário viabilizar a complementaridade deinteresses entre os elos da cadeia produtiva, considerando adiversidade de agentes e de variáveis aí presentes. Por isso estásendo proposto, por intermédio do Projeto Pólos de Biodiesel, aformação de um espaço coletivo de discussão e de negociaçãode compromissos, que deve planejar e monitorar as ações den-tro do arranjo produtivo local. Esta é a função do Grupo de Tra-balho Gestor (GTG), apresentado adiante.

Cadeia produtivaÉ um sistema de organizações, pesso-

as, atividades, informação e recur-sos envolvidos em transformar ma-térias-primas em um produto final eem fazê-lo chegar ao consumidor.Na cadeia produtiva estão interliga-dos processos distintos e comple-mentares de agregação de valor.

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De forma simplificada, uma ca-deia produtiva agroindustrial envolve:

• Fornecedores de insumos• Agricultores• Indústrias processadoras• Distribuidores e comerciantes• Agentes financeiros• Organizações sociais• Prestadores de serviços (assistência técnica e outros)• Órgãos de pesquisa

As relações entre estes agentes ocorrem de diferentes ma-neiras e mudam conforme os incentivos, as demandas do mer-cado e as políticas públicas. O relacionamento entre estesagentes interfere na organização da produção, nas condiçõesde comercialização, na qualidade dos produtos e na seguran-ça dos próprios agentes. A cadeia de produção do biodieselcompreende o cultivo das oleaginosas que fornecerão a maté-ria-prima, o esmagamento, o processamento para produção doóleo, e a distribuição.

Arranjos produtivosÉ comum que pequenos empreendimentos ou pequenos pro-

dutores tenham dificuldades para garantir a venda de seus produ-tos, para dispor de informações e outros benefícios que grandesempresas ou grupos empresariais acessam com maior facilida-de. Em geral, encontram condições mais desfavoráveis para suasnegociações do que os empreendimentos de grande escala. Pr

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A formação de arranjos produtivos locais é a principal es-tratégia de sustentabilidade de pequenos empreendimentos.Se estiverem organizados entre si, a proximidade favorece acirculação de informações e a utilização coletiva de serviços,equipamentos e infra-estrutura especializados e mais eficien-tes. As relações de cooperação entre pequenos produtores au-mentam também sua capacidade de inovação, aprendizageme competitividade no mercado.

Os arranjos envolvem os produtores rurais organizados etodos os demais elos da cadeia produtiva (incluindo as organi-zações e instituições públicas que interferem diretamente noprocesso). Trata-se de um conjunto diversificado de agentes -agricultores, empresas, distribuidores, e órgãos públicos - comdiferentes interesses, diferentes capacidades de investimentoe, algumas vezes, até competem entre si.

A organização do arranjo produtivo tem o propósito de me-lhorar as relações entre todos os agentes, de forma que umprojeto comum possa ser elaborado e posto em marcha. O avan-ço deste projeto, que depende de um compromisso entre todosos envolvidos, pode gerar benefícios que não existiriam se cadaum agisse de forma isolada, e se as políticas públicas nãoestivessem combinadas.

Arranjos produtivos do biodieselEstão se formando, basicamente, a partir das estratégias

das empresas produtoras de biodiesel para a aquisição dematérias-primas dos agricultores familiares e das formas deorganização da produção levadas à frente pelos agricultores,com os seguintes objetivos:

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• assegurar o fornecimento de matérias-primas para que asempresas ganhadoras dos leilões atinjam as metas deentrega do biodiesel;

• garantir que os agricultores familiares, fornecendo maté-rias-primas para as empresas, participem de forma com-petitiva e duradoura na cadeia produtiva.

A organização do arranjo produtivo e seu desenvolvimento,dentro dos objetivos do PNPB, envolvem um conjunto de ele-mentos que dizem respeito à produção, ao acesso às políticaspúblicas e às negociações entre os envolvidos:

• Negociações e contratos entre indústrias e agricultores:fidelização dos fornecedores, mecanismos de resoluçãode conflitos, fortalecimento da confiança nas relações,qualidade dos contratos, monitoramento do cumprimento;

• Produtividade e rendimento das matérias-primas produzi-das: qualidade de sementes (sementes certificadas), quan-tidade e qualidade das oleaginosas, diversificação dasoleaginosas, observância das disposições do zoneamentoagrícola,2 oferta e conteúdo da assistência técnica, de-

(2) O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um trabalho técnico conduzidopela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e divulgado peloMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no inicio de cadaano agrícola ou ciclo de plantio, de modo a estabelecer as melhores condiçõesde desenvolvimento das culturas. Ele trata da aptidão das regiões para cadacultivo e determina a melhor época de semeadura. Para a obtenção de financi-amento de custeio à produção agrícola nos bancos oficiais, é necessário que aoleaginosa esteja prevista no Zoneamento Agrícola de Risco Climático. Asinformações sobre os zoneamentos agrícolas aprovados podem ser obtidas nosite www.agricultura.gov.br. Pr

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mandas dos agricultores para viabilizarem a produção,formas de organização social dos produtores familiares(cooperativas, associações, grupos de produção etc.), te-mas para pesquisa e capacitação;

• Competitividade da oferta das matérias-primas: seleçãode espécies mais aptas regionalmente e com maior pro-dutividade, custos de produção;

• Logística de comercialização das matérias-primas produzi-das: pulverização da oferta de oleaginosas, adensamentodas áreas de produção, viabilização de condições adequa-das de entrega, transporte, distribuição, armazenamento;

• Acesso ao crédito por parte dos agricultores: planejamen-to do calendário agrícola, organização da demanda porcrédito, intermediação junto aos agentes financeiros, as-sistência técnica e acompanhamento;

• Avaliação dos resultados econômicos e dos impactos so-ciais e ambientais da produção;

• O fortalecimento da organização dos produtores em asso-ciações e/ou cooperativas.

Os arranjos produtivos do biodiesel, para que sejam sustentá-veis, precisam confluir os diferentes interesses, considerando:

• o fluxo de informações;• a articulação de políticas públicas e o acesso a elas;• a adequação da produção em seus diversos aspectos;• os aspectos ambientais da produção – equilíbrio entre as

condições de produção conhecidas e a adoção de práti-cas ambientalmente corretas.

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Esse conjunto amplo e complexo de fatores exige uma ca-pacidade de planejamento e de coordenação locais, impli-cando ações sistêmicas e integradas que resultem de um di-agnóstico das potencialidades locais e da construção de rela-ções de cooperação entre os empreendimentos. A presença deinstituições locais com tal capacidade é um elemento-chavepara o sucesso dos arranjos produtivos. O caráter permanenteda articulação entre elas é outro elemento crucial. Daí a im-portância dos grupos de trabalho gestores.

Grupo de Trabalho Gestor (GTG)Deve ser o espaço em que, coletivamente, sejam coor-

denados os interesses dos agricultores familiares e empre-sas, de um lado, e os aportes que os vários instrumentosde política pública podem oferecer, de outro. Esta coorde-nação deve se materializar em um planejamento integra-do, que expresse o acordo e o compromisso entre os agen-tes envolvidos, e ao mesmo tempo seja referência paraatuação destes agentes.

Por que constituir o GTG?A existência do GTG não deve ser vista como uma formali-

dade. Existem razões que justificam sua existência e a neces-sidade do seu funcionamento:

• Não é raro que grandes empresas imponham condiçõesde negociação desfavoráveis para os agricultores famili-ares, principalmente quando esses agricultores negoci-am de forma isolada. O GTG deve ser um espaço onde asnegociações entre empresa e agricultores sejam feitasde forma mais equilibrada;

• Se houver uma coordenação entre os produtores e entreestes e as empresas, os acordos e a logística de produçãoe comercialização das matérias-primas podem ser organi-zados em conjunto, reduzindo os custos e aumentando asegurança, tanto para os agricultores quanto para as em-presas que compram a matéria-prima.

• As políticas públicas são comumente oferecidas e acio-nadas de forma isolada pelos agricultores, o que reduz aeficiência de cada uma delas. O GTG deve articular es-sas políticas públicas e seus mediadores e facilitar oacesso dos agricultores a elas, contribuindo para ampliarsua cobertura e, assim, melhorar as condições de acessodestes agentes aos mercados.

Quem deve participar do GTG?A composição dos GTG deve ser flexível e aberta às carac-

terísticas e necessidades de cada arranjo produtivo. Contudo,alguns agentes precisam estar presentes:

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• representantes das indústrias de biodiesel com Selo Com-bustível Social;

• os agricultores familiares que estabelecerem contrato eseus representantes (cooperativas, associações, sindica-tos e federações);

• responsáveis pela assistência técnica conveniada com asindústrias;

• representantes das organizações de apoio (bancos, órgãosde assistência técnica, capacitação e pesquisa);

Quais as funções do GTG ?Da mesma forma, as funções do GTG devem se adaptar às

necessidades dos arranjos produtivos. Mas, algumas delas sãocertamente comuns:

• ser um espaço de negociação — e de acompanhamentodessa negociação — entre os agricultores familiares e asindústrias que compram a matéria-prima;

• planejar cada safra agrícola e as condições da inserçãodos agricultores familiares no arranjo produtivo, o queimplica: fomentar a circulação de informações importan-tes para as decisões dos agentes que participam dos ar-ranjos produtivos; articular parceiros para viabilizar a pro-dução; buscar soluções para as dificuldades de inserçãodesses agricultores;

• acompanhar a implantação da oferta de assistência téc-nica para os agricultores fornecedores da empresa e; fa-zer a articulação das políticas de apoio à agricultura fa-miliar e facilitar o acesso dos agricultores. Pr

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• monitorar a execução do planejamento da safra e as re-lações entre empresas e agricultores (o cumprimento doscontratos);

• fornecer subsídios para o monitoramento do Selo Combus-tível Social pelo MDA.

Constituído o GTG, pode ser elaborado um regimento internopara orientar sua atuação, definindo as regras de participaçãodos membros, os objetivos e as funções do grupo. O regimentodeve ser discutido e elaborado pelas pessoas e organizaçõesque participam do GTG.

O que pode ser planejado e monitorado pelo GTG?De maneira bem concreta, espera-se que o GTG possa minima-

item 2

Políticas públicasApesar da sua importância soci-al e produtiva, muitos segmen-tos da agricultura familiar enfren-tam dificuldades para uma inser-ção nos mercados agropecuáriosem condições adequadas. Justa-mente por isso há um conjuntode políticas públicas voltadaspara o fortalecimento da agricul-tura familiar e para o desenvolvi-mento rural, diretamente relaci-onados à inserção deste segmentode produtores nos arranjos pro-dutivos de biodiesel. O crédito ea assistência técnica são os maisconhecidos, no entanto, outrosdispositivos podem ser acessadosvisando criar condições adequa-das para a entrada dos agricul-tores familiares nos arranjos,como o seguro agrícola.

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mente planejar e monitorar aspectosessenciais dos arranjos:

• Acesso dos agricultores ao Progra-ma Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar (Pronaf),acompanhando a implantação doplano de financiamento;

• Organização da produção, demodo a viabilizar formas de fo-mentos à produção dos agricul-tores: compras coletivas de se-mentes de qualidade e insumos;redução dos custos de produção;diversificação das culturas; ATERe capacitação; divulgação de re-sultados de pesquisas; logísticada colheita e transporte; agrega-ção de valor aos co-produtos efomento ao cooperativismo e aoassociativismo dos agricultoresfamiliares;

• Logística de comercialização;• As metas do planejamento: iden-

tificando avanços e debilidades edefinindo as medidas corretivas;

• O cumprimento dos contratos pe-las empresas: acompanhando

PronafO Pronaf é um Programa de apoioao desenvolvimento rural, a partirdo fortalecimento da agricultura fa-miliar, visando a geração de postosde trabalho e de renda. É coorde-nado pelo Ministério do Desenvol-vimento Agrário, por meio da Se-cretaria da Agricultura Familiar. Paraacessar os créditos de custeio e in-vestimento do Pronaf, é necessáriaa Declaração de Aptidão ao Pronaf(DAP), que é um documento queidentifica a família como benefi-ciária do Pronaf e diz a que Grupode renda essa família pertence(Grupos A, B, C, D e E). Entidadesoficiais de assistência técnica e ex-tensão rural ou sindicatos do meiorural são autorizados a emitir a DAP,que deve ser fornecida gratuita-mente, mesmo para quem não forsindicalizado. As regras para oenquadramento da renda brutaanual familiar em cada Grupo doPronaf estão disponíveis no site(www.mda.gov.br/saf). Para apoiaros agricultores familiares que atu-am na cadeia produtiva do bio-diesel, poderá ser concedido novocrédito de custeio, independente-mente do montante de recursos jáutilizado em outras operações,quando se tratar de lavoura cujoproduto será utilizado como maté-ria-prima na produção de biocom-bustíveis, em regime de parceria ouintegração com indústrias, exigidado agricultor a apresentação do com-promisso de compra do produto emi-tido pela unidade industrial.

ATER, preço pago e condições dacomercialização, entre outros e toman-do as providências ao seu alcance.

É importante que os membros dosGTGs definam regras claras e transpa-rentes de funcionamento, com a atribui-ção de papeis, responsabilidades, formasde coordenação e avaliação dos resul-tados do trabalho.

Possíveis dificuldadesDado o caráter inovador da proposta,

é possível que surjam algumas dificul-dades na coordenação, planejamento,implementação das atividades e cum-primento dos acordos no interior dos ar-ranjos produtivos, que podem estar liga-das à viabilidade da produção ou às re-lações entre os agentes que compõemos arranjos produtivos ou mesmo aoacesso às políticas públicas, como:

• poucos parceiros participando do arranjo produtivo ou umnúmero pequeno e disperso de agricultores contratados po-dem comprometer o fornecimento da matéria-prima a serfornecida pelos agricultores familiares;

• a organização da demanda pelo Pronaf junto aos agentesfinanceiros, por intermédio do GTG, pode não ser sufici-ente para garantir o acesso dos agricultores ao crédito

CooperativismoO cooperativismo resulta da as-sociação voluntária de pessoasque constituem um empreendi-mento econômico comum paraatingir objetivos que também sãocomuns entre si. Os cooperadossão, ao mesmo tempo, usuáriose proprietários e exercem o con-trole sobre a atuação da coope-rativa. As cooperativas podem serconstituídas pelos agricultoresfamiliares com diversas finalida-des: para a venda coletiva das ma-térias-primas produzidas e a aqui-sição de equipamentos e insumos,para ampliar a oferta e as condi-ções da assistência técnica e paraa produção de óleo vegetal e dossub-produtos. Com a cooperativa,os agricultores podem reduzir seuscustos e aumentar a renda gera-da nas suas atividades. As indús-trias com Selo Combustível Socialtambém podem celebrar contra-tos para compras de matéria-pri-ma de cooperativas da agriculturafamiliar; essas cooperativas sãoidentificadas com a DAP 3.0.

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público, também condicionado por problemas como ohistórico de inadimplência, a inadequação dos tetos docrédito às condições de produção em determinadas regi-ões ou mesmo a percepção dos agentes financeiros sobrea consolidação da matriz produtiva;

• a concorrência entre os diferentes usos que podem seratribuídos às oleaginosas pode afetar a disposição dosfornecedores de matérias-primas do biodiesel em reali-zar contratos no início da safra, preferindo decidir pelomelhor preço em cada safra e não se interessando emparticipar do planejamento que deve ser feito pelo GTG;

• a frágil organização sindical e econômica dos agriculto-res em algumas das importantes regiões produtoras dematérias-primas para o biodiesel pode dificultar a inter-locução entre fornecedores e indústrias,

• e um histórico de conflitos entre a empresa e os agriculto-res (e sua representação sindical) afeta o caráter da rela-ção estabelecida para o fornecimento à produção debiodiesel e a disponibilidade para a cooperação e o esta-belecimento de acordos conjuntos e pode tornar neces-sário um esforço maior para reconstruir tal relação.

Estas dificuldades comprometem a consolidação das re-lações comerciais entre a empresa e os agricultores e afe-tam as relações de confiança e cooperação entre eles. As-sim, é esperado que os GTG possam formular estratégias ouadotar procedimentos capazes de minimizar os problemasenvolvidos. Em síntese, esses grupos é que dão vida aos ar-ranjos produtivos do biodiesel. Pr

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Instrumentosde planejamentoe gestão

Os planos de uma organização, seja ela uma empresa, umsindicato, uma associação, uma cooperativa, ou até mesmoum órgão de governo, são condicionados permanentementepor diversos fatores que tendem a submeter um projeto comobjetivos estratégicos a uma série de contingências cotidia-nas: a escassez de recursos, a heterogeneidade dos atores so-ciais, a diversidade de posições em disputa, os interesses ma-nifestos e os interesses subjetivos dos envolvidos, a pulveri-zação de esforços, o desequilíbrio entre o tratamento técnicoe o tratamento político dos problemas.

Essas são contingências sempre presentes, com maior oumenor peso, dependendo das condições de governança e, nãoraramente, comprometem o projeto e os objetivos estratégi-cos. Quando isso acontece, as falhas são sempre atribuídasa “falta de habilidade” de um responsável ou a “conjunturasdesfavoráveis” que impediram a consecução das metastraçadas. E elas sempre aparecem a posteriori, geralmentequanto o comprometimento do projeto já está avançado.

Ora, o conhecimento mais valioso para quem está à fren-te de um empreendimento é justamente saber, com algumaantecedência, se o projeto a ser levado adiante será eficaz

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e politica e economicamente viável.No caso dos arranjos produtivos do biodiesel isso também

ocorre. Parte do papel dos GTG é resolver os impasses e proble-mas que surjam no decorrer da execução dos contratos. Mas éainda mais importante que eles se antecipem a esses proble-mas. E para isso é preciso valer-se de ferramentas tradicionais,mas pouco usadas na governança de arranjos como esses.

Para construir uma estratégia sólida e para planejar asações que ela envolve não basta realizar um seminário (ouoficina) no qual o diagnóstico, a estratégia e as ações sãodesenhados. Um verdadeiro processo de planejamento co-meça antes. Em termos gerais, pode-se conceber um proces-so de planejamento como o encadeamento de seis etapas oumomentos, apresentados de maneira esquemática na figurada página 30.

Todos devem se envolver em todas as etapas do planeja-mento, mas isso não significa que todos devem fazer tudoem todas as etapas. É preciso criar mecanismos para apro-veitar o potencial de cada um. É necessário transformar osdiferentes saberes e posições de organizações em algo parasomar e não em algo para dividir as pessoas. O fundamentalnão é todos fazerem tudo, mas todos contribuírem da melhorforma e, sobretudo, todos terem poder de decidir, em cadaetapa, do começo ao fim.

Três instrumentos básicos são necessários para fazer comque a constituição ou o trabalho dos GTGs aconteça de formasólida e objetiva: 1 - o diagnóstico do arranjo; 2 - a análise dodiagnóstico e elaboração do plano de trabalho do GTG; e 3 - acontratualização das ações. Pr

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Etapas do planejamento estratégico– encadeamento e conteúdo

1a EtapaPré-diagnóstico

2a EtapaDiagnóstico

3a EtapaAnálise estratégica

4a EtapaDesenho de ações

5a EtapaEstruturação

do plano

6a EtapaContratualização eCondução/gestão

do plano

Levantar e sistematizar asinformações disponíveis possíveissobre o empreendimento.

Análise situacional: completar o pré-diagnóstico da etapa anterior e identificarcoletivamente os nós a serem desatados.

Apoiado no diagnóstico, definircoletivamente a meta que orienta aestratégia e as grandes prioridades.

Tendo por referência a meta e oscampos de prioridade, desenharracionalmente ações para atingi-la.

Fazer a gestão da estratégia, materializadano plano. Envolve um contrato (formal ounão) e avaliações e adequações constantes.

Organizar um conjunto de ações emum plano coerente em termos detempo e recursos para execução.

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DiagnósticoAs questões a seguir são indicativas e devem ser

complementadas e adaptadas para cada arranjo. Em geral elasfornecem um parâmetro mínimo para que a fase seguinte, deanalise e elaboração de um plano de trabalho ocorram embases mais concretas:

• Quais as potencialidades e os problemas que podem seridentificados nas diferentes etapas da cadeia produtiva?(Considerar o cultivo das matérias-primas; a distribuição eo esmagamento das oleaginosas e o processamento in-dustrial para a produção do óleo)

• Quais as principais demandas dos agricultores paraviabilizarem a produção de oleaginosas para o biodiesel?

• Quais as características das transações realizadas pelasempresas com os agricultores familiares?

• Quais os desafios e as potencialidades para as empresasprodutoras de biodiesel utilizarem as matérias-primas dosagricultores?

• Quais as principais políticas de apoio aos agricultoresfamiliares que produzem oleaginosas para o biodiesel quejá vêm sendo aplicadas na região? Existem dificuldadespara os agricultores acessarem tais políticas? Por quê?

• Como é a oferta e o acesso ao Pronaf e a outras formas definanciamento?

• Como tem funcionado o seguro da agricultura familiar?• Como tem sido utilizado o zoneamento agrícola?• Como é a oferta de assistência técnica e de capacitação?• Existem iniciativas de articulação entre as várias políti- Pr

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cas, ações e instrumentos mencionados?• Existe articulação entre os municípios produtores de ole-

aginosas para o biodiesel? Como estão articulados aspolíticas e/ou municípios?

• Quais deveriam ser as prioridades para a constituição efuncionamento de um arranjo produtivo de biodiesel na-quele local?

• Existem diferenças de opinião entre os agentes locaissobre quais são os principais problemas e desafios a se-rem enfrentados?

• Quais os agentes econômicos, organizações ou institui-ções públicas que deveriam fazer parte do GTG, que jáestão ou poderiam estar inseridos na cadeia, ou que pode-riam contribuir para o fortalecimento do arranjo produtivo?

Análise estratégica e elaboração de um planoCada GTG identificará as demandas, os entraves e o poten-

cial do arranjo produtivo que está sendo constituído. Assim, osconteúdos específicos do plano de trabalho variam conformea realidade de cada arranjo. Em todos as situações será funda-mental: agrupar os problemas e estabelecer prioridades. Umbom planejamento não é uma lista de atividades, mas umaanalise estratégica sobre: onde estão os principais entraves eonde devem se concentrar os esforços para resolvê-los.

Assim, pode haver problemas e dificuldades relacionadasà organização da produção, ou à relação entre agricultores eempresas, ou à disponibilidade e acesso às políticas de apoio.Após: a) o entendimento das razões que respondem por cadaum desses grupos de problemas e b) o levantamento dos recur-

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sos materiais e humanos de que se pode dispor para enfrentá-los é que se podem definir objetivos e prioridades.

Os tópicos a seguir são um roteiro para auxiliar a confor-mação de um plano de trabalho para os GTG ou para a consti-tuição de um arranjo. É um roteiro indicativo e seu contornodefinitivo deve obedecer à realidade de cada arranjo.

• Quais são os objetivos de curto prazo, considerando a safracorrente e relacionados à viabilização da sua comercializaçãonas condições previstas contratualmente;

• Quais são os objetivos de médio prazo, considerando oplantio da safra seguinte e a atração de novos parceiros nocontexto de implementação do Selo Combustível Social eda atuação dos GTG;

• Caracterizar o arranjo produtivo, e sua situação atual. Sin-tetizar os pontos fracos e fortes do arranjo produtivo;

• Definir as ações do GTG para superar os pontos fracos epara aproveitar da melhor maneira os pontos fortes;

• Definir as ações do GTG para estabilizar as relações entreos agricultores e as empresas e se é possível melhorá-lase por que meios;

• Definir metas objetivas para cada ação;• Definir responsabilidades e atividades para os integrantes

do GTG para atingir as metas definidas pelo grupo;• Definir os prazos em que as metas devem ser alcançadas;• Definir as formas de monitoramento dos resultados (o que,

quem e quando monitora), preferencialmente com indi-cadores objetivos e de fácil acompanhamento;

• Discutir o envolvimento possível de futuros novos parceiros. Proj

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A contratualização e a gestão do planoComo a realidade é sempre mais complexa e dinâmica do

que a capacidade de planejar, é normal que já no dia seguinteà elaboração de um plano surjam coisas que não foram previs-tas. O fundamental é que, mais do que um planejamento es-tratégico, tenha-se um pensamento estratégico. Isto é, a capa-cidade de ter o plano elaborado como uma referência para aação, mas vendo-o como algo vivo com necessidade de ajus-tes e adequações constantes. O plano não deve ser uma cami-sa de força ou algo frio e estático.

Por isso, a sistemática de gerenciamento do plano ocupaum lugar central na execução da estratégia do arranjo produti-vo. Como não é possível reunir todo o GTG a cada novidade quesurge, será preciso ter uma coordenação ágil e coesa das ações.Os responsáveis pela execução das ações definidas deverão sereunir periodicamente para avaliar o andamento do plano. Estaperiodicidade dependerá do ritmo do GTG. O caráter participativodo planejamento não deve se encerrar na elaboração do plano,mas perdurar por sua execução, balanços e redefinições.

Alem disso, é preciso contratualizar o que foi acordado entreos membros do GTG. Isso é importante para conferir maior seri-edade e formalidade aos compromissos estabelecidos, evitan-do assim um eterno recomeço a cada vez que se for planejarações. Isto pode ser feito por meio de um Termo de Compromis-so, reconhecido e firmado entre todos os membros, ou atravésde um Contrato de Gestão. Nele devem estar estabelecidas asmetas, as principais ações, as responsabilidades, os indicado-res para monitoramento e avaliação e, se for o caso, as sançõesa serem aplicadas em caso de descumprimento.Pr

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Fontes de consulta:

• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: www.mapa.gov.br

• Ministério de Desenvolvimento Agrário: www.mda.gov.br

• Secretaria da Agricultura Familiar: www.mda.gov.br/saf

• Ministério de Ciência e Tecnologia: www.mct.gov.br

• Ministério de Minas e Energia: www.mme.gov.br

• Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis: www.anp.gov.br

• Portal BIODIESEL: www.biodiesel.gov.br

• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: www.embrapa.gov.br

E, ainda:

• Associação Brasileira das Industrias de Biodiesel: www.biodieselbr.com.br

• Portal Agronegócio: www.portalagronegocio.com.br

• Carbonobrasil: www.carbonobrasil.com.br

• Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais: www.abiove.com.br

• Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.: www.petrobras.com.br

• International Energy Agency: www.iea.org

• Conselho Europeu de Biodiesel: www.ebb-eu.org

• National Biodiesel Board: www.biodiesel.org