136
1 CONTATO SOCIAL REVISTA ELETRÔNICA DO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS Nº3 – ANO 3 - 2013 MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO Artigos e resumos expandidos III Encontro de Ciências Sociais

MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

  • Upload
    haminh

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

1

CONTATO SOCIAL

REVISTA ELETRÔNICA DO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Nº3 – ANO 3 - 2013

MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO

Artigos e resumos expandidos

III Encontro de Ciências Sociais

Page 2: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

2

UNIÃO DE ENSINO E CULTURA DE GUARAPUAVA - UNIGUA

Cleri Becher de Mattos Leão

Diretora Presidente

Leonardo Becher de Mattos Leão

Diretor Administrativo

FACULDADE GUARAPUAVA - FG

Carlos Alberto Ferreira Gomes

Diretor Geral

CONTATO SOCIAL

REVISTA ELETRÔNICA DO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

ANO 3 – Nº 3 – 2013

MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO

Artigos Científicos e Resumos Expandidos

Page 3: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

3

CONSELHO EDITORIAL

Prof. Dr. Carlos Alberto Ferreira Gomes

Profª Ms. Cerize Nascimento Gomes

Prof. Ms. Grazieli Eurich

Prof. Ms. João Carlos Batista Morimitsu

Profª Ms. Patrícia Terezinha da Silva

Profª.Ms. Rosimeri Chaia Pedroso

Prof. Ms. Vitor Ogiboski

COMISSÃO DE APOIO

Carlos de Jesus Lima (Filosofia)

Ciro Nascimento Gomes (Comunicação Social)

Dafne Ribeiro Breda (Pedagogia)

Eliane Lupepsa Costenaro (História)

Gilce Primak Niquetti (Pedagogia)

Jorge Luiz Zaluski (História)

Leticia Larsson (Pedagogia)

Obs: A Comissão de Apoio é constituída por acadêmicos do Curso de Ciências

Sociais que já possuem graduação em áreas afins e/ou cursos de especialização Lato

Sensu.

Page 4: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

4

GOMES, Cerize Nascimento e GOMES, Carlos Alberto

(orgs) . Contato Social: Minorias, Ativismo e Inclusão.

107 páginas. Faculdade Guarapuava (FG). REVISTA

CONTATO SOCIAL - ANO 3, Nº 3, 2013.

Palavras-chave: Ativismo. Educação. Inclusão.

Minorias. Sociedade.

Page 5: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

5

ÍNDICE

1 - A participação dos movimentos sociais na elaboração das propostas pedagógicas dos programas Saberes da Terra e Projovem Campo - Elenice De Paula, Jorge Luiz Zaluski e Ângela Maria Hidalgo... .... ............ ........ ........ ............ ........ ........ ..... p. 07

2 - Música popular e os movimentos sociais brasileiros - Rodrigo Alves Fávaro. Co-autores: Adriane Aparecida Prudente Machado, Dafne Ribeiro Breda, Fábio Noima Pelosi, João Carlos de Souza, Simone Ferreira Zeni...p. 45 3 - O canto popular religioso nos rituais da umbanda: registro etnográfico na Tenda Pai Francisco em Guarapuava (PR) - Cerize Nascimento Gomes p. 63

4 - Currículo e formação: um breve relato sobre as contribuições da sociologia do currículo, os desafios da formação docente e os princípios da educação profissional – Rafael Morgentale Disconzi..................................................p. 77

RESUMOS EXPANDIDOS

5 - A “Primavera das Mulheres”: feminismo e religiosidade em Guarapuava –

Karina de Fátima Bochnia ..........................................................................p. 94

6 - A expressividade política dos povos do campo frente ao sistema escolar no

município de Pinhão (PR) – Carlos de Jesus Lima.......................................p.100

7 - A inclusão escolar de alunos com deficiência: estudo de caso no município

de Nova Laranjeiras (PR) – Eliseu Chuska.................................................p.105

8- A tradição gaúcha e suas ramificações em Guarapuava(PR) - Valmir José

Jocoski .......................................................................................................p.109

9 - A festa de Cosme e Damião ou um passeio entre o sagrado e o profano nos terreiros de umbanda – Luciane Pietras...................................................p.112 10 - Ritos religiosos e festividades da umbanda : a festa do preto velho – Lucélia Terezinha de Araújo Pietras ......................................................p.116 11- Estudo sobre as contribuições do cooperativismo para as mulheres agricultoras do município de Turvo (PR) – Débora Machado....................p.119

Page 6: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

6

12 - Adolescentes infratores na cidade de Guarapuava: uma análise geocriminal dos espaços utilizados e da relação de poder – Alex Maurício de Lima............................................................................................................p.122

13 - As cartografias sociais como identidade cultural dos povos faxinalenses da região de Guarapuava (PR) – Eliane de Fátima Bueno ............................p.127

14 - Rap, funk e juventude: narrativas urbanas sobre protesto e consumo - Dinaldo Almendra.......................................................................................p.131

Page 7: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

7

A PARTICIPAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA

ELABORAÇÂO DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DOS

PROGRAMAS SABERES DA TERRA E PROJOVEM CAMPO

ELENICE DE PAULA1

JORGE LUIZ ZALUSKI2

ÂNGELA MARIA HIDALGO 3

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo verificar e analisar a presença

dos princípios educacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

(MST), em que explicita a compreensão do movimento social a cerca de sua

importância nas conquistas para os sujeitos que vivem no campo. Por meio das

concepções de alguns conceitos como cidadania, trabalho, agricultura

sustentável e identidade do campo, junto aos dois projetos Saberes da Terra

de 2007 e Projovem Campo de 2010, percebendo suas mudanças e

permanências bem como suas possibilidades. A pesquisa trata num primeiro

momento do Histórico da educação destinada aos povos do campo, num

contexto de lutas e conflitos, segundo momento o nascimento do movimento

social (MST) e sua luta pela terra e por uma educação. Essa verificação foi

realizada mediante a uma pesquisa bibliográfica e documental. O

aprofundamento das discussões bibliográficas apoiou-se nos autores que

discutem a temática da educação do campo, como Roseli Caldart, Miguel

Arroyo, Joaquim Gonçalves Costa entre outros teóricos da educação do

campo. Ao concluir a pesquisa, percebemos o comprometimento do movimento

social do campo (MST), em legitimar seus princípios ideológicos junto aos

cadernos pedagógicos dos dois programas, preocupados na formação de uma

educação pautada na valorização da cultura e identidade do campo.

PALAVRAS – CHAVE: Educação do campo; Movimento social (MST);

Princípios ideológicos. 1 Graduada em História pela Unicentro 2008, especialista e Ensino e História da América

Latina 2010. Educação do Campo 2011, Mídias Integradas a Educação 2012. E-mail:

[email protected]

2 Graduado em História pela Unicentro 2008, especialista em Ensino e História da América 2010,

Gestão Escolar 2011, Mídias Integradas a Educação 2012. Acadêmico do segundo período de Ciências

Sociais – Faculdade Guarapuava, 2013. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Educação pela UNESP. e-mail: [email protected]

Page 8: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

8

INTRODUÇÃO

A problemática da educação do campo, que permeia a

adequação do currículo, sobretudo na questão das técnicas,

conteúdos, formas de avaliação, e a util idade daquilo que se é

ensinado nas escolas do campo junto à formação de professores

para atuarem nas escolas do campo, nos últ imos anos tem sido

amplamente discutida em diversos setores da sociedade, com

diferentes interesses dos grupos sociais do campo. A respeito da

educação muito se tem escrito, acerca das dif iculdades da

implantação de um ensino que rompa com a tradicional forma de

educação presente no meio rural, visto que existe um

prolongamento do ensino das escolas localizadas no meio urbano,

para as escolas do campo (BENJAMIM; CALDART, 2000).

Muitas vezes por não entender a dinâmica das populações,

este ensino tem contribuído para dif icultar ainda mais o

aprendizado das crianças que habitam o campo, bem como não se

percebe nos órgãos do Estado responsáveis pela educação uma

preocupação de se construir uma proposta educacional para a

educação do campo, isso demonstra que um dos maiores

problemas dos países menos desenvolvidos está no analfabetismo

no meio rural (BEZERRA NETO, 1999).

A educação do campo tem sido vista como um novo

paradigma, que valoriza o trabalho no campo e os sujeitos

trabalhadores, suas part icularidades, contradições e cultura, como

prática social, que vem em contradição ao capitalismo agrário que

atende aos interesses do agronegócio, que durante muito tempo

levaram ao esvaziamento do campo (SOUZA, 2007).

Este trabalho aborda questões relacionadas ao envolvimento

da sociedade civil organizada, em seu novo lugar na busca por

polít icas públicas, ref letindo sobre suas contribuições na proposta

para a educação do campo na efetivação do programa Saberes da

Page 9: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

9

terra do território Cantuquiriguaçu e também o projeto Projovem

campo, na reconstrução de uma nova escola que atenda suas

especif icidades.

Para a construção destes dois programas existe o

envolvimento dos movimentos sociais e do Estado, a proposta da

pesquisa consiste em perceber se hav ia a presença dos princípios

educacionais nas duas coleções do Saberes da Terra, e no

programa Projovem Campo, com base nos princípios da educação

do MST, como também, ref letir sobre os conceitos de cidadania,

trabalho, agricultura sustentável e identidade camponesa.

Para a realização deste trabalho, util izou -se a pesquisa

bibl iográf ica, composta por leituras sobre o tema proposto, a

metodologia uti l izada foi por meio de análises documental.

Ao debater sobre educação do campo implica nas

abordagens de vár ias questões, principalmente a que rompe com

um ensino que não valoriza o conhecimento do aluno, em

propostas pedagógicas fechadas cristalizadas em muitas escolas

públicas, novas abordagens que coincide muito com a proposta

educacional do MST (MARTINS, 2004).

A abordagem sobre os princípios educacionais propostos

pelo MST é fundamental para a compreensão do processo histórico

de elaboração dos cadernos para o programa Saberes da Terra, a

questão que norteou está pesquisa foi que durante a elaboração

do programa houve uma grande participação do movimento social,

com objetivos de transformação social. No entanto, existe uma

disparidade na organização dos cadernos do qual o MST teve uma

maior part icipação na elaboração dos materiais destinados ao

primeiro projeto, em relação ao segundo do qual foram feitos

poucos apontamentos sobre as propostas do movimento.

De igual forma está análise servirá de referência para as

intervenções nos cadernos, na tentativa de entender a implantação

Page 10: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

10

do Programa e identif icar a presença de princípios educacionais do

MST. Para investigação foram selecionados os cadernos nº06 e

07, Cidadania, organização social e polít icas públicas e nº8 e 9

desenvolvimento territorial sustentável e sol idário, referentes ao

primeiro programa que dará na implantação do programa Projovem

campo, o estudo será realizado nos referidos cadernos nº5

desenvolvimento sustentável e solidário com enfoque territorial e

no caderno nº3 Cidadania, organização social e polít icas públicas.

Esse material pedagógico foi analisado com objetivo de verif icar

como se dá as articulações no sentido da efetivação desses

princípios organizacionais e pedagógicos do MST.

A escolha pela análise dos primeiros cadernos do Projeto

Saberes da Terra do Estado do Paraná deve -se ao fato deste ser

considerado um projeto de base para a implantação do programa

do Governo Federal o Projovem Campo, que vêm a apresentar uma

série de contradições, mas também de muitas possibi l idades, em

sua tentativa de material ização de uma concepção de educação

especif ica para o campo.

Para entender o processo de escolarização para a

população do campo, é necessário estudar a trajetória da

constituição do ensino brasi leiro, em meio às representações e

concepções para a construção do ensino para as classes

populares.

1. REPRESENTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO

A história da educação do campo muitas vezes pode ser

compreendida a partir do descaso em relação à população

camponesa, sendo as escolas do campo uma extensão dos

saberes da cidade, com condições precárias de funcionamento

Page 11: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

11

sobre bases estranhas, que não condiz com a realidade do espaço

social responsável pela sua existência, o que implica no

nascimento de outras alternativas de educação que começam ser

gestada nos movimentos sociais que vão começar a reivindicar

uma escola direcionada para a realidade do campo.

Num primeiro momento, o ensino pretende designar o

estabelecimento de processos e polí t icas referentes à organização

da sociedade capitalista, com o objet ivo em um ensino elementar da

leitura, da escrita, do cálculo, da moral e da religião, a educação

como forma de doutrinação do povo. O caráter autoritário e

excludente da nação que se queria construir deixava explicito o

limite da inclusão. Ela seria positiva desde que não colocassem em

risco as formas tradicionais de submetimento da maioria com a

exploração da elite imperial. Daí a ideia de que a escola não

deveria comprometer o tempo do trabalho, ou de que a escola

deveria instruir para o trabalho mecânico, para reforçar essa ideia

de instrução do povo, buscam exemplos em outros países

(SALDANHA, 1924).

O ensino para as populações rurais foi desenvolvido como

forma de civi l izar o caboclo, vis to como atraso ao desenvolvimento,

superst icioso, era preciso levar a “ luz às trevas”, para que esse

sujeito ignorante pudesse viver melhor, e principalmente ter

“cultura”, caberia a escola ensinar técnicas agrícolas do trabalho na

roça, ter uma produção voltada para atender a demanda da

indústria, do comércio e do consumo das cidades, forma de integrar

o homem do campo ao sistema capitalista (SALDANHA, 1924).

A partir de uma análise cronológica da constituição do ensino,

podemos dizer que este foi uma construção histórica, a ideia de

formar uma sociedade através da educação, formar um homem para

viver em uma sociedade diferente, a educação como um direito,

mas obrigatória.

Page 12: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

12

Podemos perceber que no século XIX, se permeia a noção de

educação e instrução como estratégias de constituição do Estado

nacional e da Nação brasi leira, como também, a característ ica de

que qualquer projeto civil izatório para o Brasil deveria comportar

como elemento fundamental a questão da instrução primária, em

que deveria primeiramente ser gestada na legislação, para depois

ser colocada sobre o povo, do qual pode ser resaltado outro

aspecto, a crença otimista na educabil idade do sujeito hum ano,

sobretudo na legislação como estratégia de conformação da

realidade social de cada individua. A construção da educação

estava sendo pensada para as classes populares, com a f inalidade

de atender os processos socioeconômicos, tendo como base, um

ensino fundamentado em questões de instrução dos trabalhadores.

Com a passagem ao Estado como responsável pelo

atendimento educacional, percebe-se que a educação passa a ter

diferentes metas e propostas, estas que estão fundamentadas em

formas e concepções metodológicas diferentes que correspondem a

cada período observado (SALDANHA, 1924).

A educação rural apenas se desenvolverá quando surgem os

movimentos migratórios na década de 1910 e 1920, em que o

Estado vai desenvolver a educação rural como forma de conter a

saída dos homens do campo, também uma maneira de evitar

maiores problemas sociais da cidade. Com o advento do Estado

novo na década de 1930, a educação rural é vista como meio de

atender aos interesses da industrial ização, mas o processo escolar

não sofre alterações (SALDANHA 1924).

Durante esse período vamos ter o desenvolvimento do projeto

ruralista no Brasil, pensando sobre a necessidade de f ixar o homem

no campo junto a um determinado parâmetro pedagógico. Desde

esse período estão presentes as discussões que permeavam a

necessidade de f ixação do homem no campo, propostas estas que

determinavam um parâmetro pedagógico especif icam para o campo,

Page 13: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

13

tais discussões f izeram este movimento f icar conhecidas como

“rural ismo pedagógico” (BEZERRA NETO, 2003).

Ao longo de toda sua trajetória nas propostas para a

educação do campo podem ser percebidas que existem ainda hoje

algumas continuidades bem como suas rupturas que se

assemelham com as propostas desse movimento. Principalmente

com o MST, no que se refere ao conteúdo e a metodologia

especif ica para o meio rural, através de uma proposta de f ixação do

homem no campo, dos quais se aproximam dos autores que

defendem o rural ismo pedagógico (BEZERRA NETO, 2003).

Enquanto que a proposta do MST apresenta algumas

diferenças em relação as proposta dos ruralistas, principalmente no

que se refere ao modelo de sociedade, enquanto o MST busca

construir uma sociedade social ista, baseada no princípio de

solidariedade crit icando o modelo atual capital ista, já com o

movimento ruralista, esse defendia uma proposta nacionalista e

capital ista. O que se determinou como rural ismo pedagógico foi

uma proposta de educação para os trabalhadores rurais

fundamentadas na ideia de segurar o homem no campo, formar

professores para atuarem no meio rural, formado por um grupo de

intelectuais, pedagogos (BEZERRA NETO, 2003).

Essa proposta nasce em 1930 em meio a uma conjuntura

histórica no momento em que o Brasil passava por grandes

transformações econômicas e polít icas, com uma grave crise do

sistema capitalista, e a formação de vários movimentos contra o

governo em todo o país, por exemplo, o Tenentismo (BEZERRA

NETO, 2003).

Entre os anos de 1945 a 1960, foram desenvolvidos os

programas para a alfabetização, tendo um caráter assistencial ista,

entendendo as populações do campo como atrasadas e incultas, já

nos anos 1960 e 1970 a educação era forma de preparar mão de

Page 14: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

14

obra barata que viesse a atender ao sistema econômico da época

(SALDANHA, 1924).

Deste modo a escola e a educação eram apenas uma forma

de aprofundar o modelo social e econômico da sociedade

dominante, visto apenas como um mecanismo a reforçá -la para que

não ocasionasse uma transformação. O que ocorria, era que o

Estado propunha este modelo educacional dentro do pensamento

positivista de Augusto Comte4, a escola como meio para atingir o

progresso e o desenvolvimento, assim manteria a sociedade de

classes necessária ao capitalismo.

Percebemos que na história do Brasil a educação do campo

sempre esteve à margem das prioridades do Estado, este cenário

faz nascer muitas reivindicações promovidas por associações civis

e movimentos sociais, assumindo muitas vezes o papel do Estado

para evitar a exclusão educacional das populações rurais.

Após duas décadas de intensa urbanização e êxodo rural, a

temática da educação do campo não ocupou papel relevante

na agenda de política educacional durante o período de

transição democrática dos anos 80, e só voltou à pauta do

debate político pedagógico nos anos 90, pelas mãos dos

movimentos sociais (ANDRADE; DI PIERRO, S/D, p.7).

Por muito tempo a educação no campo não foi discutida, e

assim acabava tendo visões distorcidas da realidade em relação ao

seu conceito, em que a educação era apenas para que o

trabalhador rural aprendesse a ler e a escrever, a té então era

entendido que o homem do campo necessitava apenas de um

4

Principal representante da corrente filosófica positivismo, que afirmava ser

possível planejar o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade a partir de critérios

das ciências exatas, organizar o conhecimento humano sobre bases exatas, que teve

grande influência no Brasil.

Page 15: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

15

ensino primário para trabalhar na agricultura, assim as propostas

para o ensino caminhavam junto a essa concepção (ARROYO,

2005).

2. EDUCAÇÃO DO CAMPO E MOVIMENTOS SOCIAIS

O desenvolvimento das discussões sobre educação do campo

está muito atrelado à história dos movimentos sociais no Brasil

durante os anos de 1930 a 1960, por causa da conjuntura polít ica

presente na época vai exist ir uma forte presença de trabalhadores

rurais e urbanos que buscam pela implantação de leis trabalhistas.

O MST será o primeiro movimento camponês estruturado do

país, que surgirá da reunião de vários movimentos populares de

luta pela terra e pela educação, questionando os valores da

sociedade capitalista, os quais promoveram ocupações de terra em

diversos estados a part ir de 1980. Sua fundação aconteceu

of icialmente em 1984 no município de Cascavel, no Paraná, onde

foi realizada o 1° Encontro Nacional do Movimento. Desde esse

momento através de muito esforço o MST tem atingido algumas

conquistas, como a terra e a educação. Percebe -se também que o

movimento construiu uma forte inf luência na opinião pública, capaz

de fazer com que o governo adotasse certas medidas que são do

interesse do movimento (COMPARATO, 2003).

As especif icidades do MST foram estudadas a partir de uma

ótica polít ica, a qual se deve ao fato de ser um movimento

organizado fora dos poderes constituídos, mas isso não indica a

ausência do envolvimento de partidos polít icos dentro de sua

estrutura, para que ocorra aprovação de suas decisões no espaço

público.

Segundo Arroyo (2004), os movimentos sociais do campo

estão vivos, e mais do que nunca existe um reconhecimento de toda

Page 16: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

16

a sociedade, em ver no campo um lugar de luta pela terra e por

melhores condições de vida, neste sentido também existe uma

renovação educacional dentro dos movimentos sociais e nos

governos populares, nascendo das raízes populares. O MST, por

exemplo, entre seus objetivos esta a formação de uma pedagogia

para a educação do campo.

Arroyo (2004, p. 68), af irma que o desenvolvimento da

educação do campo está muito atrelado aos ideais dos movimentos

sociais, nesse contexto ele explica :

Significa que a educação só se tornará realidade no campo

somente se ela ficar colada ao movimento social. Mais ainda

acreditamos que o próprio movimento social é educativo,

forma valores, nova cultura, provoca processos em que desde

a criança ao adulto novos seres humanos vão se constituindo.

Todavia, a despeito de todo um percurso do movimento e dos

seus sujeitos, a história dos movimentos é parte fundamental da

história da educação do campo no Paraná, ainda que pouco

estruturada, reconhecendo a existênc ia de poucas escolas que se

inst itua como escola do campo, sendo percebida uma adequação

de currículos nas escolas que mais desestimulam o aluno, fazendo

com que haja uma sobreposição da cidade sobre o campo. Surge

daí a importância desse estudo em perceber a luta dos movimentos

para legit imar as leis por uma educação no campo.

Percebendo que a educação no e do campo tem um vínculo

de origem com as lutas sociais camponesas, isso fez com que

ocorressem conquistas de vários benefícios, bem como a garantia

de polít icas públicas para o campo junto à valorização de sua

cultura, compreendendo que este vínculo lhe confere um traço de

identidade importante, pois se busca construir outro olhar para a

relação: campo e cidade vista dentro do princípio de igualdade

social e diversidade cultural.

Page 17: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

17

Mas nem sempre foram levadas em consideração as

necessidades e a relação entre campo e cidade, somente a partir

da intensif icação das lutas pelos direitos sociais, presentes desde

a década de 1960 no Brasil, foram visadas a con strução da

identidade no campo, uma nova consciência de dignidade, nova

consciência de direitos, é que se avalia a necessidade de

construção de projetos para a educação no campo (ARROYO,

2005).

A partir desse contexto de mobil ização social do MST

presentes na elaboração, consolidaram compromisso do Estado e

da sociedade brasileira em promover a educação para todos,

garantindo o direito ao respeito e à adequação da educação às

singularidades culturais e regionais, embora isso ainda não esteja

sendo colocado em prática em diversas regiões do Brasil

(FERNANDES, 2002).

Durante muito tempo os movimentos sociais não t iveram

representação no campo polít ico, eram duramente questionados e

reprimidos pelo sistema polít ico. Entre 1910 a 1940 não exist ia

organizações de sindicatos que viessem a lutar pelos direitos dos

movimentos sociais, desde a década de 80, começam a se

mobilizar a f im de pressionar as frentes polít icas, no intuito de

garantir seus direitos a terra. Essa luta foi estabelecida por

ribeir inhos, seringueiros, sem-terra e bóias frias, e tantos outros

segmentos rurais (BENJAMIM; CALDART, 2000).

Os movimentos sociais rurais de 1980 formados por

estudantes, trabalhadores rurais e urbanos, ribeir inhos,

seringueiros, sem-terra, boias-frias, movimento sindical,

movimento das mulheres camponesas e a formação de novos

partidos polít icos, que eclodiram depois de um longo período de

ref luxo imposto pelo regime mil itar. Estas irão lutar contra duas

frentes, uma imposta pela sociedade e outra pelos espaços

polít icos, contra os valores de ordem que são colocados pela

Page 18: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

18

própria sociedade que os crit ica, sendo a mídia uma das

divulgadoras e formadoras da opinião pública contra os

movimentos sociais. Os movimentos sociais serão compreendidos

numa lógica contra a ordem vigente, bem como o próprio Estado

sentindo-se ameaçado pelo fortalecimento desses movimentos

sociais, fazendo com que o Estado se util ize muitas vezes da

violência organizada para reprimir os manifestantes (CALDART,

2004).

Esse novo pensamento que se consolidou nos anos 80, junto

ao fortalecimento dos movimentos sociais, não teve muita abertura

polít ica, pois mesmo com toda sua organização em defesa de lutas

sociais que buscavam melhores condições para a vida no campo,

não fez com que realmente fossem implantadas polít icas públicas

que viessem a atender aos interesses dos movimentos sociais

(CALDART, 2004).

As dif iculdades para superar a ideia pejorat iva vinculada aos

movimentos sociais, que irão lutar por melhores condições no

campo, vêm juntamente ao desenvolvimento da economia num

conjunto de vários fatores que vão colaborar e fortalecer as

lideranças dos movimentos sociais, devido ao avanço do

agronegócio em áreas antes ocupadas pela agricultura familiar, fez

com que houvesse um aumento por disputas polít icas, em grande

parte, as experiências inovadoras desencadeadas pelos

movimentos sociais rurais dos anos 80 foram amputadas à esfera

das ações governamentais sem muita representação, apenas fez

com que houvesse uma “estatal ização” dos mov imentos sociais, ou

seja, o Estado vai controlar e tutelar suas ações, tendo em vista

uma nova relação com o Estado (GOHN, 2007).

O que merece destaque é a relação direta entre l ideranças

de movimentos sociais e governos, e nem tanto entre movimento

social e Estado, consolidando uma relação polít ica e não

necessariamente uma nova inst itucionalidade pública, mas isso vai

Page 19: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

19

estar presente em algumas esferas dos movimentos sociais

(GONH, 2007).

A realidade atual engloba novas visões e diversas

abordagens que buscam a interpretação de seus mundos sociais e

culturais, sendo esse meio constituído por diversos grupos étnicos,

como por exemplo, indígenas, descendentes de negros

provenientes de quilombos, todos os agricultores, pescadores

ribeir inhos, compreendendo assim a existência da diversidade

presente no meio rural, percebido dentro das polít icas

educacionais possibil itando a visibil idade bem como a valorização

desses espaços (COSTA, 2010).

Embora que ainda limitado existe uma mobilização dos

movimentos sociais frente ao Estado, isso se dá através de

pressões sociais, no sentido de provocar reação no Estado para a

construção de polít icas públicas para a garantia e ampliação de

seus direitos. Isso ainda representa um grande desafio para as

classes populares, para construir instrumentos polít icos que

busquem maior representat ividade dentro do poder do Estado.

Atualmente são visíveis as articulações dos movimentos

sociais populares do campo na organização e formulação das

polít icas públicas junto ao Estado, princ ipalmente no que tange na

melhoria da educação no campo, que traz os objetivos de

valorização dos sujeitos, priorizando os aspectos culturais, sociais

e econômicos (COSTA, 2010).

Essas iniciativas que ganharam espaço desde 2002 abrem

espaço para um novo paradigma no campo, em perceber este

como um lugar não apenas definido em terri torial idade, mas um

espaço de cultura e de trabalho, do qual possibi l ita o

desenvolvimento de outras propostas que impulsionaram outros

debates, em dar mais visibi l idade a falta de polít icas educacionais,

percebendo a necessidade de um novo projeto.

Page 20: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

20

Será em meio a esses debates que nasce o Programa

Nacional de Educação na Reforma Agrária o PRONERA, com

objetivo de implantar ações educativas para as populações dos

assentamentos e acampamentos rurais, propondo uma metodologia

de ensino especif ica a realidade sociocultural do campo, como

meta de reduzir as taxas de analfabetismo, capacitar professores

para atuar nas escolas do campo, bem como a formação

prof issional voltado para o trabalho no campo.

O PRONERA representa uma iniciativa que se constituiu fora

do âmbito governamental, nasce das discussões entre o MST e as

Universidades, no I Encontro Nacional dos Educadores e

Educadoras da Reforma Agrária o ENERA, em Brasília 1997, que

somente ganhará força devido à capacidade de mobilização dos

movimentos sociais, sindicatos e da sociedade civil (ANDRADE; DI

PERRO, S/D).

Para entender o que é polít ica pública, primeiro é preciso

definí-la como todas as polít icas elaboradas pelo Estado qu e visa

o bem estar social da população, seu conceito está relacionado à

manipulação do poder polít ico dentro do espaço econômico e da

ação do Estado nas relações de produção (VIEIRA, 2001).

Para a compreensão de polít icas públicas usaremos a

definição de Telmo Adams (S/D), segundo este, são ações públicas

assumidas pelo Estado, com ou sem a participação da sociedade

que concret izam direitos humanos coletivos ou direitos sociais

garantidos em lei.

A Educação do Campo no Brasil vem desde 2002 sendo

construída, nesse sentido percebe-se que existe ainda a falta de

polít icas públicas que atendam as necessidades, bem como as

particularidades regionais e nacionais.

As polí t icas públicas estão pautadas numa luta histórica dos

movimentos sociais em fazer valer o d ireito a uma educação de

Page 21: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

21

qualidade, e melhorias para quem trabalha na agricultura, e assim

devem estar presentes na realidade das escolas do meio rural, de

modo a sanar uma dívida social histórica. Como forma de

reivindicar ações sistemáticas do poder públ ico, evidenciam-se

iniciat ivas de movimentos sociais, sindicais, Organizações Não -

Governamentais (ONGs), universidades e inst ituições vinculadas à

temática. Nesse contexto esses movimentos sociais vêm discutindo

leis por uma educação do campo em âmbito nac ional.

Assim não podemos desvincular a história da educação do

campo como parte da história dos movimentos sociais,

principalmente do MST, em que essa nasce num espaço de

contradições, de lutas sociais, será impulsionada principalmente

através de pressões sociais, que ocuparão espaços nas

formulações de polít icas públicas.

No Brasil e em toda América do Sul se têm empregado

polít icas públicas que devem ser feitas algumas discussões, em

que se vê prat icamente sem possuir realmente uma polít ica social,

muitas vezes aparecem programas e diretrizes relacionadas com a

educação, muitos não revelam às pretensões de uma mudança

social, em que quase sempre não se transformam, tendo apenas

um caráter de ser exibida à sociedade, sem intervir nela, porque

muitas vezes não é essa função de intervir, são elaboradas para

atender aos interesses de um Estado autoritário e capital ista

(VIEIRA, 2001).

Percebemos assim que muitas polít icas educacionais para o

campo estão sendo articuladas a partir das formas de organização

para a conservação da mesma estrutura social, sejam elas

produtivas, comerciais, polít icas, culturais ou rel igiosas. A

educação sempre vem atender aos interesses do Estado,

particularmente a educação dita “moderna” vincula -se ao sistema

capital ista de produção (CERICATO, 2008).

Page 22: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

22

Buscando entender a organização dos movimentos sociais

populares tanto no passado como no presente, evidenciamos o seu

fortalecimento a partir de 2002, em que vão conseguir a partir de

toda uma trajetória aprovar a proposta para a educação do campo,

que aconteceu no campus da Universidade de Brasília, o

documento gestado f icou chamado de declaração de 2002, que

contou com a art iculação nacional por uma educação do campo,

integrada por vários representantes que fazem parte, sendo a

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento dos

Trabalhadores Rurais (MST) Universidade de Brasíl ia (UNB),

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF), entre outros movimentos sociais presentes, teve como

principal objet ivo propor uma discussão sobre a situação e as

perspectivas do ensino no campo, bem como a falta de polít icas

públicas para a educação (CALDART, 2002).

A Conferência de 2002 abre espaço para as discussões sobre

a educação do campo, que vem denunciando a falta de escolas, de

infraestrutura, docentes sem qualif icação, alta taxa de

analfabetismo, levantando a questão de que por não receberem

uma educação apropriada ocorre uma desmotivação por parte dos

estudantes em continuar no campo, perdendo muitas vezes sua

própria identidade, esse sistema de educação fora das relações

culturais, nas escolas do campo fez surgir os seguintes programas,

as casas familiares rurais, as Escolas Agrícolas, o Movimento de

Educação de Base, e o Setor de Educação do MST, dando o início

a várias reivindicações, que contribuíram para a construção de

uma nova escola para as populações do campo.

Dessa conferência surgiu uma das mais recentes conquistas

dos movimentos sociais, oportunizando a abertura de espaços para

a efetivação de polít icas públicas, uma delas a aprovação das

Diretr izes Operacionais para a educação básica nas escolas do

Page 23: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

23

campo, que esta presente no parecer n°36/2001 e na resolução

1/2002 do conselho nacional de educação (CALDART, 2002).

Um dos traços fundamentais que vêm desenhando a

identidade deste movimento por uma educação do campo e a

luta do povo do campo por políticas públicas que garantam o

seu direito à educação, e a uma educação que seja no e do

campo (CALDART, 2002, p. 26).

A partir da realização dessa conferência, f icou observada

que nos Estados em que houve garantia desses direitos, foram

aqueles em que ocorreu uma maior organização dos movimentos

sociais, em todas as reivindicações encaminhadas aos p oderes

públicos.

O estudo da trajetória do MST, bem como sua luta, faz parte

da compreensão para entender a construção das polít icas públicas

para a educação do campo. Para que seja possível entender quais

os objetivos estão presentes nas polít icas para os referidos

programas Saberes da Terra e Projovem Campo, que podem ser

considerada uma das conquistas dos movimentos sociais.

Quanto à participação dos movimentos sociais na efetivação

das polít icas públicas é preciso em primeiro lugar conhecer o

relacionamento entre Estado e movimento social, em dados

momentos da história podemos perceber que sua participação

depende das conjunturas polít icas presentes no comando do poder

do Estado. Os movimentos sociais caracterizam -se por possuir

uma postura de oposição ou negação ao Estado, crit icando ou

reivindicando melhores condições de vida (MARTINS, 2004).

Dependendo da conjuntura polít ica no poder do Estado o

governo será sem duvida o maior adversário dos movimentos

sociais principalmente o MST, mas nesse sentido tanto governo

como MST, têm consciência de que tanto um quanto o outro não

Page 24: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

24

podem ignorar a sua existência, porque os movimentos sociais

precisam dialogar com o governo para atingir seus objetivos

(MARTINS, 2004).

Podemos perceber que qualquer ação do MST na sociedade

ganha muita repercussão na mídia, muita força e visibil idade do

que qualquer outro movimento. Isso ocorreu principalmente

durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, embora por um

momento o governo quisesse destruir o movimento, mas isso só

fez com que ocorressem maior envolvimento e representação

polít ica, iniciando uma serie de reivindicações e mobilizações no

cenário polít ico (MARTINS, 2004).

Contrariando toda uma suposta tradição de passividade e

anomia do povo brasileiro, o MST consegue se organizar, ter

força política, e desafia os poderes constituídos, não

permitindo em nenhum momento, que a sociedade brasileira

se esqueça da existência de milhares de trabalhadores rurais

que não têm terra para cultivar (COMPARATO, 2003, p. 85).

Podemos, portanto af irmar que o MST é um ator polít ico com

forte presença no cenário público atual. Não existe somente como

reivindicação a posse pela terra, mas também o MST pressiona o

governo para que haja polít icas públicas para o atendimento a

educação do campo com qualidade, exigindo um direito que é seu

fundamental a prát ica para a cidadania.

Para que fosse possível a análise dos cadernos do Saberes

da Terra e Projovem Campo, primeiramente foi necessário

conhecer os princípios educacionais do MST, bem como a historia

do movimento, principalmente seu envolvimento polít ico no que diz

respeito na busca pela efetivação de polít icas públicas para a

educação.

Page 25: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

25

3. PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS DO MST - CONSTRUÇÃO DE

UM CONHECIMENTO POR MEIO DA INTERAÇÃO

A ref lexão acerca desses princípios educacionais em meio às

duas propostas torna-se pertinente na medida em que é analisada

dentro do contexto da educação do campo, porque ambas são

carregadas por diversos interesses pessoais tanto do MST e do

Estado, a f im de apaziguar os conflitos sociais.

O desenvolvimento do setor responsável pela educação no

MST foi formado em 1987, num encontro realizado no Estado do

Espírito Santo, reunindo vários representantes de vários

acampamentos e assentamentos com um caminho já tri lhado na

educação do campo.

Durante o período de 1999 a 2001, o MST dedicou -se a uma

produção teórica especif ica sobre educação, o objet ivo do estudo

aqui proposto é situar brevemente a trajetória de elaboração dos

cadernos em meio à proposta de educação dos movimentos

sociais, em que busca uma educação a partir da realidade, do

conhecimento e das experiências concretas de cada sujeito em seu

ambiente no caso o campo.

O MST uniu a luta pela terra e pela reforma agrária a luta por

uma educação de qualidade que respeite sua cultura, bem como,

possibil ite uma transformação social, atrelado ao fato de que o

ensino deve partir da realidade dos estudantes em que a educação

não se resume apenas na escola, mas que a realidade dos

estudantes deve fazer parte de seu aprendizado. Todas essas

atividades educacionais estão pautadas em alguns princípios

f i losóficos da educação, presentes no caderno da proposta

educacional do MST, pautados nos seguintes princípios:

A educação para a transformação social, Educação para o

trabalho e cooperação. Educação voltada para as várias

Page 26: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

26

dimensões das pessoas humana. Educação com e para

valores humanistas e socialistas e educação como um

processo permanente de formação e transformação humana

(MST apud MARTINS, 2004, p. 57).

No que se refere à educação para a transformação social, o

objetivo não está somente ao acesso à propriedade, mas na

socialização de seu acesso. Para o MST a educação é um direito

de todos, e a escola deve proporcionar aos estudantes o

conhecimento de sua história, tomando consciência e capacidade

para transformar sua realidade. Em relação a educar para o

trabalho, não seria educar para o mercado de trabalho, o trabalho

é entendido como um processo de preparação para as mudanças

na estrutura social, na transformação de uma sociedade mais

igualitária, não no sentido de exploração capitalista, mas de

produção de riquezas e do saber na valorização do trabalho rural.

Quanto à cooperação estão l igadas ao sentido de compreensão do

trabalho colet ivo, as razões sociais seriam de cooperação, para

que seja possível a obtenção de uma infra -estrutura para todos,

ainda para o MST, a cooperação é entendida como uma

associação entre o trabalho, capital, a f im de enfrentar os

monopólios, e últ imo educar para as vá rias dimensões humanas e

para valores humanistas, signif ica a formação técnica prof issional,

quanto à formação cultural, tendo como objetivo a construção de

uma sociedade melhor para viver, pautadas em valores da justiça

social, realidade democrática e valores humanistas e social istas

(MST apud MARTINS, 2004).

Part indo desses pr incíp ios, o MST re iv indica do

Estado que a escola públ ica do meio rura l seja

pensada e organizada para o trabalho no campo,

dando a mesma ênfase para o trabalho manual e o

trabalho inte lectual, rompendo ass im com a

d icotomia soc ia l do t rabalho inte lec tual para uma

classe e o trabalho braçal para outra. O MST

entende, por tanto, que part indo da prát ica

produt iva para a educac ional , estar iam fazendo

Page 27: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

27

uma re lação d ia lét ica entre teor ia e prát ica

(BEZERRA NETO, 1999, p.47) .

A concepção de educação existente no interior do movimento

relaciona entender a escola não apenas como o único espaço de

formação humana, para o MST isso se dá na integração entre

escola e sociedade, interagindo com as relações sociais já

existentes ao redor dos estudantes, pois o conhecimento da

realidade faz com que ocorra uma transformação social que

proporcione melhorias na educação. A concepção educacional do

MST está fundamentada nas bases teóricas do pensamento de

Paulo Freire, no que diz respeito da educação como prá tica da

liberdade, do conhecimento para a transformação social e

emancipação humana, e de Pistrak em que vincula a proposta

entre educação e o trabalho real da produção, entender o trabalho

na escola como parte de sua vivencia social. A metodologia deve

ser baseada na produção de conhecimento, partindo da realidade

para depois levar ao conhecimento cientif ico desta realidade.

Por f im, esse movimento propõe uma educação permanente

de formação, transformação humana, reforçando a concepção de

que o processo educacional não se dá exclusivamente na escola,

mas sim na dinâmica social.

Desta forma, o MST, optando pela educação para a

liberdade, busca trabalhar com a valorização da cultura popular,

das tradições, dos costumes, partindo da realidade, em que muitas

vezes a escola urbana não consegue atender esses objetivos.

Entretanto, existem outras teorias da educação as quais

crit icam o mult icultural ismo, de um ensino para cada segmento da

sociedade, pautado em sua realidade, questionando a relação

entre a teoria e prática, a qual nega o que chamamos de educação

tradicional. Segundo Duarte (2010) é preciso que o ensino na

escola supere suas formas burguesas, mas de certa maneira que

Page 28: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

28

privi legie a transmissão do conhecimento científ ico produzido ao

longo da história da humanidade (DUARTE, 2010).

Os princípios da educação no MST estão pautados no

conhecimento a partir de sua vivência, numa luta por uma

transformação estrutural na ordem social da sociedade atual, uma

educação aberta para o mundo, sem se fechar aos limi tes da

realidade, proporcionando conhecimento científ ico.

Nos últ imos 20 anos, podemos perceber um grande

fortalecimento dos movimentos populares do campo que vêm

buscando o debate junto ao Estado acerca da educação do campo,

que buscam respeitar uma dinâmica dos próprios sujeitos do

campo, entendo a questão cultural, social e econômica no e do

campo, que vêm abrindo um novo debate sobre o processo

histórico de implantação de polít icas para a educação (COSTA,

2010).

4. MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS – ANÁLISE DOS

CADERNOS DO PROJOVEM SABERES DA TERRA

O Projovem é uma recente proposta de polít ica pública dentro

da educação do campo que se inscreve na perspectiva de retomar

a identidade dos sujeitos do campo, junto a uma qualif icação para

o trabalho, num cenário atual de muito descaso com o meio rural.

O programa ao propor um ensino fundamental de qualidade,

em paralelo oferece formação prof issional, resultado na verdade

de um processo muito mais amplo, como uma proposta polít ica de

governo, junto a uma mobilização dos movimentos sociais por uma

educação do campo.

O processo educativo do Programa Saberes da Terra,

procurou em alguns aspectos fazer uma ligação entre as vivências

dos estudantes junto ao contexto pedagógico, ao conteúdo

curricular. Nesse sentido a implantação do conteúdo funciona

Page 29: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

29

como uma incorporação da realidade e depois processá -la como

conteúdos informativos, assim o espaço escolar não deve ser visto

apenas como um mero lugar de transmissão de conhecimento, mas

um espaço de formação humana (COSTA, 2010).

A proposta pedagógica do Projovem Campo Saberes da

Terra5, esta voltada à capacitação das pessoas para o ensino

fundamental integrado a qualif icação prof issional na modalidade de

educação de jovens e adultos fase II de 5ª a 8ª séries.

Este projeto tem como prioridade atender a demanda de

jovens com idade entre 18 a 29 anos, que não concluíram o ensino

fundamental. As regiões atendidas estão localizadas no meio rural,

compreendidas entre o Vale do Ribeira e Cantuquiriguaçu.

A construção do projeto nessa região, foi desenvolvido a

partir da compreensão da educação como forma de sanar uma

divida histórica, principalmente com os povos do campo, basta ver

os altos índices que indicam a falta de escolarização das pessoas

que vivem no campo, em relação ao meio urbano, que se

dist inguem em realidades diferentes.

Segundo dados do IBGE mostram que cerca de 32 milhões de

pessoas vivem no campo, e trabalham em áreas rurais. Para essa

população o acesso à escola torna -se um grande desafio, bem

como sua permanência (IBGE, 2011).

Em meio a todas essas necessidades dos trabalhadores

rurais, que vem nascer às discussões acerca da educação do

campo, que tem como ponto de partida a conferência da educação

do campo de 2002. A implantação do projeto nos municípios da

região do Cantuquiriguaçu, contou com um estudo prévio do

5 O Projeto Saberes da Terra no Território Cantuquiriguaçu foi desenvolvido em três

pilares fundamentais. Junto às parcerias entre o MEC, a Associação de Municípios da região

do Cantuquiriguaçu e das Prefeituras municipais que se envolveram no projeto através das

Secretarias de Educação.

Page 30: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

30

processo desenvolvimentista regional juntamente com os

movimentos sociais e a (CONDETEC) 6, que possibil itaram a

execução e elaboração do projeto Saberes da Terra, com uma

proposta de atender as especif icidades regionais, a escolarização

dos trabalhadores da agricultura familiar, também capacitação para

atuarem na educação.

Na elaboração do Projeto Polít ico Pedagógico (PPP) do

Programa, contou com a part icipação do Movimento dos Pequenos

Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragens

(MAB), Sindicato dos trabalhadores rurais e integrantes da gestão

pública municipa l e de algumas prefeituras, envolvidos em cada

região do Cantuquiriguaçu, e a participação do Estado através da

Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

(SECAD), junto ao MST (COSTA, 2010).

O planejamento da polít ica tem como base o Decreto

n°5154/04, que considera que a formação inicial e continuada de

trabalhadores deve acontecer através de cursos ou programas de

educação prof issional, com o objetivo de elevar a educação dos

trabalhadores, o objetivo maior desse programa é a qualif i cação

prof issional, além de promover o acesso à educação, que visa sua

qualif icação prof issional e seu desenvolvimento humano, vinculado

6 O Conselho de Desenvolvimento do Território Cantuquiriguaçu é composto por

diferentes atores sociais. Mais de 44 entidades que representam os segmentos: públicos,

privados e não governamentais da região. De acordo com o regimento interno e sua estrutura

organizacional, o Conselho contempla em sua atual composição: conselheiros representantes

de: Movimentos Sociais (MST e MPA), Organizações (como a OAB e Associações de

Engenheiros), Gestores Públicos (Prefeitos e Secretários Municipais), Igrejas, Empresas

(inclusive Multinacionais), Sindicatos de Trabalhadores Rurais e de Educação, Instituições

Educativas (Nível Médio e Superior), representantes das Câmaras Setoriais (tais como:

Educação, Agricultura, Assistência Social, etc.), Bancos Estatais e Cooperativas de Crédito,

ONGs, entre outros. Todos os segmentos devem contemplar diferentes critérios, como

abrangência no mínimo regional; ter histórico de discussão para

o desenvolvimento territorial, bem como contemplar em seus projetos o

desenvolvimento econômico social justo para a maioria da população. Presentes nos

Municípios de Candoí, Cantagalo, Goioxim, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras,

Pinhão, Rio Bonito do Iguaçu e Virmond.

Page 31: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

31

há um programa nacional de Educação de Jovens e Adultos

integrado com a qualif icação prof issional para os agricultores

familiares, que surge como uma polít ica pública para o campo,

visando à integração de acesso a todos, principalmente dos

excluídos do sistema formal de ensino. Como explicitado na

citação abaixo dada pelo ministro da educação Fernando Haddad:

Ao lançar o programa, Haddad salientou que a capacitação

profissional e a escolaridade se mantiveram separadas

durante muito tempo no Brasil. Com o programa, segundo o

ministro, será possível educar o jovem do campo, respeitada a

cultura local e o ambiente no qual ele está inserido. “O objetivo

é que, dentro do seu ambiente, o jovem alcance um

desenvolvimento pessoal que colabore com o desenvolvimento

de sua comunidade, valendo se das oportunidades que estão

a sua disposição”, afirmou Haddad. (Fonte: MEC/ Notícia

veiculada em 26 de abril de 2006 apud COSTA, 2010 p. 88).

Outra questão importante da proposta e que o projeto deveria

contemplar as relações polít icas, culturais e sociais ambientais de

cada região, visando também à sustentabil idade, buscando com

que cada jovem aplicasse seu conhecimento na prática.

A duração do curso foi prevista para 5 semestres com aulas

presenciais na escola, e outra parte deveria ser desenvolvida nas

localidades rurais. A matriz curricular seria por área do

conhecimento dividido em disc iplinas que estão organizadas em

linguagens, códigos e suas tecnologias, l inguagem matemática e

ciência da natureza e ciências sociais estas são as de formação

Básica, as discipl inas de qualif icação social e prof issional que

visam à produção rural famil iar .

Para Costa (2010), por mais que o Projeto Saberes da Terra

seja um programa oriundo do Estado e que pode corresponder aos

interesses do capital, o ambiente em que foi inserido pode ter seus

limites, mas também suas possibi l idades.

Page 32: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

32

Enfim, o projeto traz uma proposta pré-determinada, definida

a integração curricular, em que deve orientar -se constantemente

com a realidade, numa interação entre sujeitos educativos

entendidos como todos os envolvidos, com a comunidade e o

mundo do trabalho dos estudantes, para que seja possível uma

intervenção a part ir da realidade dos educandos, articulados com

os conteúdos (COSTA, 2010).

Do ponto de vista dos movimentos sociais populares,

principalmente no que se refere ao MST, à educação por eles

sonhada deverá ser a porta de entrada para que haja uma

transformação social, pois para o MST o acesso à educação é um

direito, onde pesquisas revelam que a maioria dos sujeitos

militantes ou não vivem no campo, são pessoas que não tiveram

acesso à educação.

Assim a análise dos cadernos do Projovem Saberes da Terra

em meio à proposta de Educação do MST, torna -se muito

pertinente na medida em que há o entendimento de sua

participação na elaboração dos programas junto ao Estado, bem

como sua história na construção das discussões para a educação

do campo.

Nas abordagens dos cadernos do Projovem Saberes da

Terra está muito presente a necessidade da superação de uma

educação que condicione os sujeitos a conformação de uma

sociedade de classes, que vê na luta pela reforma agrária, a

mudança na estrutura social vigente, que permeiam as

contradições da sociedade capital ista, mostrando que os povos do

campo buscam uma nova proposta de educação e trabalho.

Nesse sentido os conteúdos se pautaram na necessidade

desenvolver propostas que envo lvam a teoria e prát ica, essa sendo

à base de constituição de formação dos sujeitos do campo, para

que a escola possa propiciar sua inserção no mundo do trabalho,

Page 33: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

33

consistindo a partir de três eixos de estudo e formação

prof issional, polít icas sindical e po lít ica pública.

Assim essa será uma das primeiras contradições entre a

proposta de educação para o trabalho do MST, e a que está

presente nos cadernos, que vem a atender aos interesses do

mundo capitalista, não visando romper com o modelo de sociedade

atual.

O programa foi desenvolvido a partir dos avanços nos

debates sobre a educação do campo em 2002, sendo muito

presente a compreensão de educação, que não mais reduzisse aos

valores da produção capitalistas, sendo elaborados muito além

desse entendimento, mas voltados para a formação humana,

incorporando alguns princípios educativos dos movimentos sociais,

como prát ica social, trabalho e cultura, voltados para as

populações do campo, af im do entendimento de sua realidade,

desenvolvendo pesquisas para que os estudantes conheçam sua

comunidade, como as atividades presentes na pagina 115

“Construindo um olhar sobre nossa realidade”, que propõe

trabalhar o conhecimento cientif ico com um enfoque local,

ressaltando o papel dos sujeitos nos processos de interfe rência.

Percebe-se a presença de alguns princípios de educação do

MST, que se fundamentam baseados em uma educação para a

transformação social, para a cooperação, uma educação para a

ação dos sujeitos que possam interferir no processo de

transformação social da realidade no caderno 5 - Desenvolvimento

sustentável e solidário com enfoque territorial as abordagens

propõem que os estudantes façam pesquisas e conheçam seu

território, abordando questões como da página 31, “como se

caracteriza o seu território do ponto de vista de sua história,

econômica, polí t ica, geográfica, cultural e identidade”, enfocando

temas como educação do campo, agroecologia, organização da

produção, organização social.

Page 34: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

34

Os processos formativos presentes nas práticas educativas

do programa Projovem campo do ano de 2010, se aproximam muito

da metodologia do MST, em concordância nos seguintes princípios

metodológicos Como: A relação entre teoria e prática, combinação

entre os processos de ensino na sala de aula junto à capacitação

para o trabalho no campo, mas ainda atendo ao modelo de

formação para manutenção da sociedade capital ista, a realidade

como base do conhecimento, educação para o trabalho e pelo

trabalho, relação entre a educação e a valorização da cultura dos

povos do campo, formação dos educadores para o programa.

A educação não está apenas associada na escola, mais num

sentido mais amplo, objetivando a formação dos sujeitos,

discutindo as lutas sociais presentes no cotidiano dos estudantes,

a citação abaixo demonstra como está explicito esses princípios:

Através das capac itações real izadas nos colet ivos,

os jovens aprendem processos educat ivos voltados

para a real idade do semi-ár ido, observando l im ites,

potenc ia l idades econômicas, soc ia l , pol í t ica,

cu ltura l e ambienta l . Duran te as capac i tações, o

jovem discute temáticas re lac ionadas à c idadania,

pol í t icas públ icas e geração de renda na agr icu ltura

famil iar do semi-ár ido (caderno 5 Projovem campo,

2010, p.136) .

Assim percebe-se a relação entre teoria e prática o

conhecimento da sala de aula esta sendo colocado de forma que

estabeleça uma educação para o trabalho. Embora ainda a questão

de atender as particularidades locais esteja fora das teorias

presentes nos cadernos, não enfocando um conhecimento sobre a

sua realidade, apenas através de pesquisas pelos estudantes,

ponto este visível nas atividades.

A leitura da realidade sócio -econômica e cultural do terri tório

se faz muito presente no livro em que aborda a questão da

Page 35: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

35

territorialidade, compreendida não apenas como espaço onde se

mantêm relações afetivas e culturais, mas o lugar onde se

desenvolve as identidades locais, essas identidades próprias

muitas vezes vão determinar a própria ação dos sujeitos.

Outra preocupação da proposta está central izada no discurso

pautado na preservação ambiental, sempre priorizando o

desenvolvimento regional sustentável, que tem como objetivo o

desenvolvimento sócio-econômico.

Os movimentos sociais estão muito l igados na preservação

da identidade dos grupos nos diversos espaços, e não mais com o

sujeitos predeterminados pelas macro-estruturas que irão

determinar a ação dos sujeitos (GOHN, 2010).

Uma das formas presentes no sentido da formação da

identidade camponesa, ref lete na retomada da plantação das

sementes crioulas, crit icando o uso de ag rotóxico, durante a

revolução verde da década de 1960, que uti l izou do discurso de

aumento da produtividade sem visar à qualidade, esse resgate das

sementes vem como forma de preservar a identidade camponesa, e

se inscreve como uma ação contraria ao agronegócio.

A abordagem da cultura local verif ica -se através dos

conteúdos relat ivos à temática de textos sobre o campo e mesmo

através de f iguras ressaltando a importância do trabalho no campo,

mas a ausência de uma base de problematização dos problemas

enfrentados pelos trabalhadores rurais atualmente tem pouca

profundidade, demonstrando que a cultura do campo é entendida

apenas como um conjunto das manifestações artísticas, em

diferentes modalidades, que são vivenciadas nas localidades, em

algumas abordagens a identidade do campo se dá através das

lutas sociais.

Essa identidade é que vai determinar a luta pela reforma

agrária como uma polít ica pública, entendida como uma das

Page 36: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

36

condições fundamentais para se alcançar o desenvolvimento

sustentável sendo um novo projeto pautado nos conceitos da

agroecologia em contradição com o agronegócio.

A reforma agrár ia é uma das pol í t icas públicas defendidas pelo movimento agroecológico nac ional , v ista como uma das condições fundamentais para se alcançar um desenvolv imento rura l sustentável. Por sua par te, os movimentos de luta pela ter ra - em espec ia l o MST – vêm crescentemente incorporando o enfoque agroecológico como paradigma a estruturação técnica econômica dos assentamentos (caderno 5 Projovem, 2010, p. 41) .

A territorialidade se dá no próprio entendimento da

necessidade da reforma agrária, na conversão das grandes áreas

de monoculturas em novas unidades familiares de produção,

visando à diversif icação da produção. Os movimentos sociais que

lutam pela terra são entendidos como responsáveis pelo

fortalecimento da agricultura familiar.

As feiras l ivres aparecem como outro espaço

impor tante de comercia l ização. Em vár ios

municíp ios anal isados, a presença dos

assentamentos contr ibui para a d ivers if icação e o

cresc imento da oferta local de produtos chegando a

repercut ir no aumento do tamanho ou mesmo da

f reqüênc ia das fe iras, e em alguns casos,

provocando rebaixamento de preços de produ tos

a l imentares.. . Ainda com relação à

comercia l ização, foram detectadas mudanças

induzidas pela organização dos assentamentos,

pr inc ipalmente onde há presença de movimentos

soc ia is organizados, como o MST (caderno 5

Projovem, 2010, p. 43).

Essa nova representação na interpretação dos movimentos

sociais estabelece um diálogo com o Estado, reconhecendo sua

historicidade pela luta da terra.

Page 37: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

37

A educação é entendida como uma prát ica a cidadania,

formar um cidadão consciente, aproximando teoria e prática,

revelando uma abordagem de um trabalho voltado para a formação

da cidadania, voltados para atitudes e valores que se pautam em

princípios éticos, na perspectivas de uma sociedade mais humana.

Observa-se em alguns textos que procuram adequar

mudanças no ensino, d iscutindo no decorrer deles as lutas pela

terra, trabalho, qualidade de vida, educação, reconhecimento

social e a formação do sujeito social, possibil itando a construção

de novos paradigmas para a educação do campo.

Dessa maneira, a formação da cidadania é trabalhada nos

livros a part ir da problematização de questões mais próximas da

realidade dos estudantes, servindo de f io condutor para atingir os

objetivos do programa.

Dessa forma o desenvolvimento econômico é entendido como

uma construção com bases na preservação do meio ambiente,

presentes nos dois cadernos analisados, o projeto em defesa das

sementes crioulas, traz uma forma de proteger a natureza,

constituindo-se como elemento em defesa da agricultura

sustentável.

Nos cadernos do Saberes da terra de 2007, percebe-se uma

abordagem muito mais voltada para o marxismo ortodoxo, fazendo

uma análise mais pela estrutura econômica do que por um viés

cultural, discutindo muito as relações macro estrutural,

contrapõem-se a uma educação para a conformidade e pa ra a

integração ao mundo do trabalho nos moldes capitalistas.

Enquanto que os cadernos do Projovem 2010 trazem um

conteúdo mais bem elaborado do que na 1ª edição de 2007, em

que propõe um ensino por meio do lugar em que o estudante vive

abordando assuntos como, identidade, agricultura sustentável,

cidadania, polít icas públicas presentes no município e trabalho nos

Page 38: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

38

dois cadernos podem perceber que esses princípios estão

próximos da l inha de pensamento dos movimentos sociais.

Os objet ivos presentes nas coleções propõem uma

abordagem mais próxima dos sujeitos do campo, l igado a questões

sociais, culturais e do cotidiano, visando formar alunos mais

crít icos do meio em que vivem, por exemplo, na citação “Qual a

educação necessária para construir a cidadania”, do caderno 6 e 7

do Saberes da Terra de 2007 na pagina 07, demonstra a definição

de cidadania por meio da part icipação dos sujeitos na sociedade e

como forma de libertação dos meios de exploração.

As coleções são formadas por cinco cadernos, tem como

proposta principal trabalhar a identidade do homem do campo,

dentro de uma proposta de agricultura sustentável. Os cadernos

demonstram que na formulação dos objetivos havia uma clareza

com a descrição dos conteúdos, sempre com a preocupação de

integrar a teoria a realidade do estudante. Como podemos

perceber na citação abaixo os cadernos pretendiam buscar uma

interação com os estudantes, favorecendo a discussão de

problemas pertinentes à realidade.

Acredi tamos que a part ic ipação polí t ica dos

suje i tos do campo nas pol í t icas públ icas for ta lece a

af irmação da ident idade do camponês, da

camponesa e das suas formas organizat ivas,

favorece a v inculação das ident idades colet ivas e

desses suje i tos como part ic ipantes de um

movimento soc ia l que luta por terra, reforma

agrár ia, por uma produção do e no campo por meio

da agr icu l tura fami l iar . Para isso propomos uma

ref lexão com intu ito de, percebendo melhor à

real idade (CADERNO 3 PROJOVEM CAMPO, 2010,

pg. 21).

Diante da citação acima se percebe uma nova proposta de

ensino, a qual entende a sala de aula como um espaço de

Page 39: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

39

produção de conhecimento, isso implica também na va lorização do

conhecimento dos estudantes.

Nas duas coleções estudadas os conceitos cidadania,

trabalho, agricultura sustentável, estão voltados para o debate a

partir da realidade de cada região, propondo atividades que levem

a ref lexão das praticas sociais presentes em sua comunidade.

São essenciais as observações acima, pois discutem uma

nova concepção de ensino, bem como a analise dos cadernos é

fundamental, pensar se essa mudança trará transformações para

quem vive no campo, partindo de uma narrativa ma is próxima de

quem escuta, diferente do ensino tradicional, que ignora a

historicidade das populações do campo.

Embora ainda tenha suas l imitações, algumas permanências

do ensino tradicional, e distanciamento com algumas realidades do

campo, mostrando uma visão romantizada, não abordando os

conflitos presentes entre Estado e movimentos sociais pela luta da

terra e pela educação do campo.

Contudo percebemos que o ensino apropriado às escolas do

campo, ainda está em meio a muitas discussões, sobre o que

deveria ser do conhecimento do cidadão do campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do estudo da proposta de educação do programa

Saberes da Terra, foi possível verif icar a presença de algumas

práticas educativas muito coerentes com os princípios f i losóficos e

pedagógicos dos movimentos sociais, principalmente do MST.

Embora ainda sendo pensada como uma forma de suprir a carência

das populações do campo, combater a pobreza através de

Page 40: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

40

programas de bolsas e projetos voltados para a formação para o

mercado de trabalho.

Apresentando suas restrições e suas possibi l idades as

coleções podem ser entendida, como um espaço colet ivo, múltiplo

e fragmentado, incompleto, com muitas vozes. Não como um livro

pronto, acabado, mas dando possibil idades dos estudantes

formarem seu próprio conhecimento acerca de sua realidade.

Dentro da lógica da própria produção dos cadernos é preciso

entender que cada conteúdo será uma escolha de recortes, de

produções possíveis.

Entretanto é possível inferir outras considerações,

ressaltando a importância das abordagens em que prioriza

conhecimento do campo, isso é muito relevante para o processo de

adequação das escolas, mas também se percebe uma mudança

muito lenta para a adoção desses programas para que

efetivamente virem polít icas públicas para a educação do campo.

O estudo da trajetória da educação do campo se fez presente

a f im de entender os debates para a construção de uma educação

para as “classes populares”, principalmente nas escolas situadas

no meio rural.

O entendimento de educação presentes em ambas as

coleções está associada a um sentido mais amplo, que vai além da

própria escola, com objetivo de formar cidadãos conscientes, não

deixando de lado as lutas sociais, colocando em prática através de

atividades fora da escola, o encontro entre a teoria e a prática.

Percebe-se que o programa se inscreve em uma das

conquistas da educação do campo, conquistada pelos movimentos

sociais, que uniu a luta pela terra junto ao direito a uma educação

de qualidade, que respeite as part icularidades locais, buscando

compreende-los em sua realidade social, considerando a realidade

como parte da produção do conhecimento.

Page 41: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

41

Neste contexto podemos entender que a luta por polí t icas

públicas para a educação do campo sempre esteve junto ao

fortalecimento dos movimentos sociais organizados na sociedade

civil.

Pesquisas recentes indicam que os efetivos do MST se

elevaram a 350 mil famílias assentadas e 70 mil famílias

acampadas, o que representa cerca de 1,5 milhões de pessoas.

Sabemos que essa luta pela terra não começa pelo MST, podemos

ver na história do Brasil a presença de vários movimentos

camponeses como o de Canudos séc. XIX e do Contestado no

século XX, mas o MST trará uma luta pela educação, buscando

uma transformação do presente (COMPARATO, 2000) .

Conclui-se que os cadernos analisados, vêm apresentando

melhorias, fazendo abordagens mais próximas da realidade dos

estudantes das escolas do campo, construindo e fortalecendo suas

identidades, part indo da recuperação da memória e valorizando

seus conhecimentos.

Claro que a educação ideal para o campo está ainda no

plano das ideias, sempre haverá divergências sobre seu formato

através de novas abordagens, de mudanças na sociedade. Desta

forma o ensino nas escolas do campo e os movimentos sociais

estarão sempre sendo construídos e, produtos da sociedade, em

constante transformação.

Portanto, é impossível entender a trajetória da educação do

campo sem conhecer a luta dos movimentos sociais do campo,

intimamente ligado à construção de uma nova escola para o

campo.

REFERÊNCIAS

ADAMS, Telmo. As políticas públicas no Brasil. Programa de pesquisa e

Pós-graduação da Universidade Jesuíta Unisinos. São Leopoldo - RS - S/D.

Page 42: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

42

ANDRADE, Márcia Regina; DI PIERRO, Maria Clara. Programa Nacional de

Educação na Reforma Agrária em perspectiva – Dados básicos para uma

avaliação – PRONERA. S/D.

ARROYO, Miguel Gonzáles; CALDART, Roseli Salete; MOLINA,

Mônica Castagna. Por uma Educação do Campo: A educação

básica e o movimento social do campo. 3 edição. Ed. Vozes: Rio

de Janeiro, 2004.

BENJAMIM, César; CALDART, Roseli. Projeto Popular e Escola

do Campo. Art iculação Nacional Por uma educação Básica do

campo. Coleção 03. Brasília – DF, 2000.

BEZERRA NETO, Luiz. Sem Terra aprende e ensina: estudo

sobre as práticas educativas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais. Coleção Polêmicas do nosso tempo; 67. Autores

Associados. Campinas, SP, 1999.

______________. Avanços e retrocessos na educação rural no

Brasil . Campinas-São Paulo, 2003.

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento Sem Terra . 3

edição. Ed. Expressão Popular: São Paulo, 2004.

CERICATO, Kátia Aparecida. Os princípios organizativos e

proposta pedagógica do MST: Contradições de sua

materialização na Escola Estadual Iraci Salete Strozak.

Programa de Pós – Graduação da Universidade Federal de

Londrina. Londrina, Pr, 2008.

COMPARATO, Bruno Konder. A ação política do MST. ed. Expressão

popular. São Paulo, 2000.

COSTA, Joaquim Gonçalves. O processo educativo no projeto saberes da

terra do território Cantuquiriguaçu: limites e possibilidades. Programa de

Pós – Graduação em Educação – UFPR. Dissertação de Mestrado – Curitiba,

2010.

FERNANDES, Cássia do Carmo Pires. MOVIMENTOS SOCIAIS E

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO.

Programa de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo e

Sustentabil idade – Educampo – FaE/UFMG – 2002.

GOHN, Maria da Glória (Org.). Movimentos sociais no início do século XXI:

antigos e novos atores sociais. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Page 43: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

43

_______________________. Movimentos sociais e redes de mobilizações

civis no Brasil Contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 2010.

KOLLING, Edgar J.. CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli Salete.

Educação do campo: identidade e políticas públicas. Brasília: Articulação

Nacional Por Uma Educação do Campo, 2002. (Por Uma Educação do Campo,

4).

MARTINS, Fernando Jose. Gestão democrática e ocupação da escola: O

MST e a educação. Ed. EST. Porto Alegre, 2004.

MARTINS, Ligia Márcia; DUARTE, Newton. Formação de

professores-Limites contemporâneos e alternativas necessárias: O

Debate contemporâneo das teorias pedagógicas. Ed. ABEU –

Cultura Acadêmica. São Paulo, 2010.

MATOS, Kelma Socorro Lopes . Movimentos Sociais, Educação

popular e Escola: a favor da diversidade. Ed. UFC: Fortaleza,

2003.

NAGEL, Lizia Helena. Estado e políticas sociais no Brasil: O

Estado brasileiro e as políticas educacionais a partir dos anos

oitenta. EDUNIOESTE: Cascavel - Paraná, 2001.

SALDANHA, Levy. O Ensino: A escola sertaneja. Publicação da Inspectoria

Geral do Ensino do Paraná, Ano III, N° 1. Curitiba, 1924.

_________________ . O Ensino: A superstição do caboclo. Publicação da

Inspectoria Geral do Ensino do Paraná, Ano III, N° 2. Curitiba, 1924.

Souza, Maria Antônia de. A pesquisa sobre educação e o Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos Programas de Pós-Graduação

em Educação. Universidade Tuiuti do Paraná, Programa de Pós-Graduação

em Educação. Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007.

VIEIRA, Evaldo. Estado e políticas sociais no Brasil: Estado e

política Social na década de 90. EDUNIOESTE: Cascavel -

Paraná, 2001.

OUTRAS FONTES

Cadernos pedagógicos 6 e 7 do Programa Saberes da Terra.

Cidadania, organização social e políticas públicas .

Cantuguiriguaçu/ SECAD. Laranjeiras do Sul - Paraná, 2007.

Cadernos pedagógicos 8 e 9 do Programa Saberes da Terra.

Desenvolvimento territorial sustentável e solidário.

Cantuguiriguaçu/ SECAD. Laranjeiras do Sul - Paraná, 2007.

Page 44: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

44

Cadernos pedagógicos 3 do Programa Saberes da Terra Projovem

campo. Cidadania, organização social e políticas públicas .

Cantuguiriguaçu/ SECAD. Brasíl ia, 2010.

Cadernos pedagógicos 5 do Programa Saberes da Terra Projovem

campo. Desenvolvimento sustentável e solidário com enfoque

territorial. Cantuguiriguaçu/ SECAD. Brasília, 2010.

Page 45: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

45

MÚSICA POPULAR E OS MOVIMENTOS SOCIAIS BRASILEIROS

PROF. RODRIGO ALVES FÁVARO

Estudantes:

Adriane Aparecida Prudente Machado

Dafne Ribeiro Breda

Fábio Noima Pelosi

João Carlos de Souza

Simone Ferreira Zeni

Ciências Sociais – FG

RESUMO: O presente artigo pretende demonstrar o comprometimento da música popular brasileira com as demandas dos movimentos sociais que emergem em contextos sociais, econômicos e políticos diversos. Para isso, utiliza-se de referências relevantes sobre a teoria dos movimentos sociais brasileiros, compreendidos em dois períodos diferentes: o da política totalitária militarista e o da pós-redemocratização do Estado brasileiro. Foram evidenciadas, durante o texto, algumas das principais características desses movimentos sociais, identificando-os como importantes atores políticos que contribuem, ao longo da história, para o desenvolvimento da nação brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Música. Militarismo. Redemocratização. Demandas. Movimentos Sociais.

INTRODUÇÃO

A música, mais que outras categorias artísticas, faz parte da vida das

pessoas, seja como forma de entretenimento, seja como forma de identificação

ideológicaou política. Os artistas se utilizam da música para expor suas

opiniões, suas ideias, seus anseios, os quais muitas vezes estão em harmonia

com os movimentos sociais. Desde já deixamos claro que o conceito de

movimento social que adotaremos aqui é compartilhado das obras teóricas de

Maria da Glória Gohn, qual afirma que “nós os vemos como ações sociais

coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da

população se organizar e expressar suas demandas” (2010, p.13).

Dessa forma o presente trabalho pretende verificar de que forma a

música foi utilizada como meio de divulgação das demandas dos diversos

movimentos sociais no Brasil, em seuscontextos. Apresentando diversos

anseios de parte da população e de artistas que encontraram na poesia e na

Page 46: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

46

música uma forma de demonstrar sua insatisfação, seja ela política, cultural,

econômica ou de cunho ideológico. Nesse sentido, Maria da Glória Gohn

afirma que:

Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias

que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta

(mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à

ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações,

etc.), até as pressões indiretas (GOHN, 2010. P. 13).

Assim, a autora ainda afirma que os movimentos sociais são

caracterizados por ações sociais coletivas, por interesses em comum, ou seja,

interesses de reivindicação ou mobilização pela sua demanda (GOHN, 2010).

Dessa forma, podemos afirmar que a partir dessas características, grandes

contestações políticas no Brasil advêm de manifestações pela música, como

por exemplo, na década de 60,após o golpe militar, quando diversos artistas

passaram a compor suas músicas com cunho político, fazendo críticas ao

regime político adotado e as crueldades cometidas pelo mesmo, porém de

forma indireta, tendo em vista que a própria censura não permitia que essas

reivindicações fossem diretas.

1. MÚSICAS E O PERÍODO MILITAR

Entre 1964 a 1985 o Brasil viveu um dos períodos mais controversos de

sua história. Sob a égide de um governo Militar, o país passou por diversas

transformações sociais que afetaram em maior ou menor grau, toda população

brasileira nesse período. Os impactos desse período foram tão grandes que

mesmo depois de quase vinte anos do fim desse regime, a sociedade brasileira

atual sente as reverberações emanadas desse contexto (Vide a comissão da

Verdade).

Nesse sentido, o Brasil passou por momentos de grandes disputas

internas entre as forças sociais do período. Assim, a principal marca do

governo brasileiro nesse período era a forte dominação política, construída

Page 47: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

47

através dos Atos Institucionais (AI), que aumentavam cada vez mais o poder do

executivo e diminuía o poder do legislativo, o bipartidarismo político (ARENA,

MDB), grande repressão, com o uso das forças militares, cometendo

assassinatos e torturas, além de repressão de manifestações culturais, através

de censuras de músicas, filmes, peças de teatro, jornais, revistas, etc.

Em contrapartida, alguns movimentos sociais buscaram reverter esse

cenário, tentando mostrar a face cruel e repressora do Governo Militar. Entre

esses movimentos de contestação podemos citar o Movimento Estudantil

(UNE), os diversos movimentos de grupos de esquerda que, algumas vezes, se

utilizaram da luta armada contra os militares e alguns cantores da época.

Nessa época, os movimentos sociais de destaque eram essencialmente

urbanos e “tiveram papel de destaque nas frentes de luta contra o regime

militar” (GOHN 2010, p.7)

Dessa maneira, a música foi um dos principais elementos utilizados

tanto pelos militares como pelos contestadores do regime, como um

mecanismo para conquistar a mobilização da população. Músicas como “Eu te

amo meu Brasil” da dupla Dom e Ravel gravada em 1970, em meio a um

sentimento ufanista gerado pelo “Milagre Econômico” e pela conquista da Copa

do mundo de futebol pela seleção brasileira, pode ser considerada exemplo de

músicas que corroboravam com a Ditadura Militar (NAPOLITANO, 2004).

Da mesma maneira, importantes cantores do período escreviam letras

metafóricas para tentar burlar o sistema de censura elaborado pelo governo.

Podemos citar músico como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Taiguara,

Caetano Veloso, Geraldo Vandré, que procuraram em suas letras denunciar a

falta de democracia e os crimes cometidos por esse regime.

Dentre um grande número de cantores que fizeram seus trabalhos

contra o regime militar, escolhemos para nossa pesquisa trabalhar com

algumas músicas de Taiguara Chalar da Silva e Chico Buarque de Holanda,

pelo fato de terem sido dois dos compositores musicais brasileiros mais

perseguidos no período.

Page 48: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

48

1.1 Taiguara

(Dafne Ribeiro Breda Gonçalves)

Taiguara Chalar da Silva, músico, compositor e intérprete, nasceu em

nove de outubro de 1945 em Montevidéu, porém veio para o Brasil aos quatro

anos de idade, com seu pai Ubirajara da Silva, também músico.Morou no Rio

de Janeiro até os quinze anos e depois mudou-se para São Paulo, onde viveu

até 1975 quando se exilou em Londres, morou ainda em Paris, Tanzânia e

Etiópia. Voltou para o Brasil apenas em 1982.

Uma das características nas obras de Taiguara é sua versatilidade de

estilo musical, compondo desde sambas até sertanejos, porém suas músicas

mais conhecidas são marcadas por um romantismo e melodia popular, como

“Universo do teu corpo”, “Viagem”, “Hoje” e “Teu sonho não acabou”, muito

tocadas nas rádios entre 1968 e 1975.

Por suas críticas à repressão durante o período da ditadura militar,

assim como Chico Buarque de Holanda, foi um dos compositores mais

perseguidos pela censura, tanto é, que dois de seus álbuns foram censurados

por inteiro, bem como um total de 68 músicas também censuradas.

Devido a essas perseguições pela ditadura militar, Taiguara além de

músicas e álbuns, teve também vários de seus shows cancelados como ele

mesmo explica:

[...] quando o processo capitalista, na sua fase imperialista, não consegue ainda, por meios econômicos, desapropriar uma nação inteira, é evidente que ele tem que usar os meios militares, que foram usados na época. A ditadura militar me proibiu 68 músicas, perseguiu os nossos espetáculos pelo interior de São Paulo, Santa Catarina e Paraná — onde eu fiz três circuitos universitários quase impossíveis de realizar porque a polícia federal chegava. Agentes disfarçados, à paisana, chegavam nas rádios e cancelavam a entrevista, cancelavam o show pela rádio, ameaçavam o público. Quando nós chegávamos com o ônibus, com todo o equipamento, após ter feito um gasto enorme, o clube estava fechado a cadeado e não se encontrava a diretoria — isso aconteceu em Piracicaba, Bauru e várias cidades do interior de São Paulo. Então, como eu não podia mais gravar, a censura proibia tudo e não podia mais sobreviver com o trabalho, a saída foi o aeroporto

7. (SILVA, 1991, p.10).

7Entrevista concedida ao Jornal Inverta em 24/09/1991.

Page 49: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

49

Esses foram os motivos que o levaram a se exilar na Inglaterra, onde

mais tarde gravou em inglês seu álbum Letthechildrenhearthemusic (Deixe que

as crianças ouçam as músicas), que por sua vez, foi também proibido de ser

lançado pela Polícia Federal do Brasil.

Taiguara retornou ao Brasil em 1982, período em que a repressão militar

já era menor, e aprofundou-se nas pesquisas de sonoridades paraguaias e

africanas. A partir de então, voltou a realizar shows por todo o Brasil. Em 1990,

seu último show foi gravado e transmitido pela TV Manchete. Seu último álbum

foi lançado em 1994, “Brasil Afri”. Taiguara faleceu no dia 14 de fevereiro de

1996, devido a um câncer avançado de bexiga.

Dentre suas músicas, faremos a reflexão a cerca da música Hoje, de seu

álbum também intitulado Hoje em 1969 e Que as crianças cantem livres do

álbum Fotografias em 1973.

Hoje Trago em meu corpo as marcas do meu tempo

Meu desespero, a vida num momento A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...

Hoje Trago no olhar imagens distorcidas

Cores, viagens, mãos desconhecidas Trazem a lua, a rua às minhas mãos,

Mas hoje, As minhas mãos enfraquecidas e vazias Procuram nuas pelas luas, pelas ruas...

Na solidão das noites frias por você. Hoje

Homens sem medo aportam no futuro Eu tenho medo acordo e te procuro

Meu quarto escuro é inerte como a morte Hoje

Homens de aço esperam da ciência Eu desespero e abraço a tua ausência

Que é o que me resta, vivo em minha sorte Sorte

Eu não queria a juventude assim perdida Eu não queria andar morrendo pela vida

Eu não queria amar assim como eu te amei.

Nesta letra podemos perceber que aparentemente se trata uma canção

romântica, porém em suas entrelinhas notamos que ele se refere ao dia de

hoje, o único dia o qual tinha certeza que poderia viver, demonstra sua

preocupação com a imposição da violência, o medo que assombrava muitas

pessoas nesse período, bem como a preocupação com o futuro que era

incerto.

Page 50: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

50

Leia-se a canção intitulada Que as crianças cantem livres:

O tempo passa e atravessa as avenidas E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé E o vento forte quebra as telhas e vidraças

E o livro sábio deixa em branco o que não é

Pode não ser essa mulher o que te falta Pode não ser esse calor o que faz mal

Pode não ser essa gravata o que sufoca Ou essa falta de dinheiro que é fatal

Vê como um fogo brando funde um ferro duro

Vê como o asfalto é teu jardim se você crê Que há sol nascente avermelhando o céu escuro

Chamando os homens pro seu tempo de viver

E que as crianças cantem livres sobre os muros E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor

E que o passado abra os presentes pro futuro Que não dormiu e preparou o amanhecer...

Assim como na letra anterior, essa composição traz também em suas

entrelinhas a realidade sombria, porém ao mesmo tempo demonstra a

esperança pelo futuro que sonhava que um dia iria chegar o tempo em que a

ditadura acabaria assim como o sofrimento desse período.

1.2 Chico Buarque de Holanda

(Adriane Aparecida Prudente Machado)

Francisco Buarque de Holanda (Chico Buarque de Holanda) nasceu em

1946 no Rio de Janeiro filho do Sergio Buarque de Holanda (Historiador) e

Maria Amélia Cesário Alvim (pianista). No ano de 1946, Chico e a família vão

morar em São Paulo onde seu pai Sergio Buarque é nomeado diretor do

museu Ipiranga. Em 1953 muda-se para Itália onde seu pai passa a lecionar na

Universidade de Roma. Anos mais tarde retornam ao Brasil Chico demonstra

interesse pela música a qual passa a fazer parte de sua vida. Recebeu grande

influência de João Gilberto. Dez anos mais tarde Chico Buarque entra para a

Universidade de São Paulo no curso de Arquitetura e Urbanismo, onde

participa de movimentos estudantis. Nesse mesmo ano da um ponto de partida

Page 51: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

51

na sua carreira musical, que segundo ele foi com a participação no musical

Balanço do Orfeu com a musicaTem mais Samba.

Chico Buarque volta morar no rio de Janeiro no ano de 1967, lança seu

segundo LP Chico Buarque de Holanda V2. Ainda nesse ano escreve a música

Roda Viva. No ano seguinte 1968, vence festival Internacional da Canção com

a música Sabiá em parceria com Tom Jobim.

No final da década de 60, janeiro de 1969, Chico participa da passeata

dos cem mil, contra a repressão do regime militar, e é exilado para a Itália. Só

retorna ao Brasil em março de 1970 acreditando que a situação da política

brasileira estava melhorando. Ele encontra o país divido entre massacre

político e sentimentos nacionalistas. Diante da decepção ao ver que nada havia

mudado e, sensibilizado pelos problemas brasileiros, sentiu-se a necessidade

de realizar um trabalho que mostrasse a realidade de sua pátria. Então assina

contrato com a gravadora Philips para produção de mais um disco. A música

Apesar de Você chega a quase cem mil copias vendidas e propagando em

todas as rádios do país, mas é censurada e recolhida das lojas. O estoque foi

quebrado, e a fábrica fechada.

Ao voltar do exílio Chico Buarque apresenta um interesse pela política e esse fato se reflete na sua música, passando a intensificar sua crítica social. As canções de repressão passam a ser um documento fiel da época. Assim, “Apesar de Você” (1970), “Deus Lhe pague” (1971) “Quando o Carnaval Chegar” (1972) e “Cálice” (1973) foram quatro canções compostas nos quatro anos mais opressores e censurados no Brasil. (MENESES, 2002, p.35).

Algumas canções de Chico Buarque foram censuradas em sua

totalidade, outras apenas palavras e versos retirados das músicas. Porém

algumas passavam despercebidas diante dos funcionários da censura. Em um

show Chico Buarque e Gilberto Gil resolveram interpretar o refrão da música

Cálice e a gravadora com medo da repressão desliga o microfone fazendo os

cantores calarem-se diante da multidão.

Meneses (2002, p.68), considera a composição Apesar de Você a mais

conhecida das canções de repressão composta por Chico Buarque. A proposta

dessa canção é a mudança do momento presente para um futuro libertador,

possuindo tanta vertente critica quanto utópica.

Page 52: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

52

Essa composição foi considerada o hino da ditadura militar e marcou

Chico Buarque com alvo constante da censura. Diante da situação, o

compositor reprimido pela censura, utiliza-se das metáforas para denunciar e

rebelar. Nos primeiro versos de apesar de você temos a realidade repressiva

do poder, que ao dar uma ordem deve ser prontamente obedecidas sem

nenhum direito a explicações. Chico usou a palavra você para representar o

opressor e fez a música como se estivesse falando sobre o momento presente:

Observe-se a letra da música Apesar de Você:

Hoje é você quem manda Falou ‘tá’ falado

Não tem discussão [...]. Falando de lado

E olhando pro chão [...] Você que inventou esse estado

E inventou de inventar Toda a escuridão

Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar

O perdão

O verso da canção remete a uma situação de submissão através do

medo que as pessoas possuem da autoridade imposta. Ao mesmo tempo

medo de olhar de frente a situação diante da opressão e do autoritarismo.

Alguns versos nos dão a impressão que chegará um momento em que o

opressor será cobrado pelas atrocidades cometidas, das quais ele não ficara

impune. Os versos:

Amanha há de ser Outro dia

A água nova brotando Quando o galo cantar

Água nova brotando O jardim florescer Vendo o dia raiar

Amanhã renascer O céu clarear [...]

Mostram-nos a esperança no amanhã, da vida em liberdade. Chico

reforça sua crença em uma nova época e inicio de uma vida sem repressão,

sem forças políticas. Devido à censura, a canção Apesar de Você só seria

incluída num álbum do cantor em 1978, quando foi lançada como última faixa

Page 53: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

53

de Chico Buarque (1978). Outros artistas que regravaram essa música sem

saber do seu implícito,se viram obrigados a fazer publicidade para o governo.

Os movimentos sociais dos anos 70 e 80 foram atuações políticas

decisivas para a conquista de muitos direitos sociais, os quais se fizeram

presentes na Constituição Cidadã de 1988. E a arte teve sua carga de mérito

para essa conquista do cidadão brasileiro. E nesse contexto a música foi meio

importante de divulgação das demandas políticas e sociais do povo.

2. A MÚSICA E OS NOVOS ATORES SOCIAIS

Com o fim da ditadura militar no Brasil e nos demais países da América

Latina, o manifesto político principalmente pela música, perdeu espaço e foi

ocupado por outros movimentos, principalmente a partir de 1990, quando “[...]

ecologistas, proliferaram após a conferência ECO 92, dando origem a inúmeras

ONGs (Organizações Não-Governamentais). Aliás, as ONGs passaram a ter

muito mais importância nos anos 90 do que os próprios movimentos sociais.”

(GOHN, 2010. P. 22).

Portanto, vendo-se agora sem alvo de ataque, os movimentos sociais

antimilitaristas perderam força e saíram de cena. Porém, a partir dos anos 90

surgem novas formas de organização popular.

Com a Constituição Cidadã prevendo em sua letras os direitos e

garantias individuais como uma de suas Cláusulas Pétreas (CF, Art. 60, § 4º), e

com a situação de desigualdade social e outros diversos problemas sociais de

certa forma abafados pela ideologia militar, a sociedade começou a se

organizar politicamente. Surgiram, portanto várias formas de organização

popular: “Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, pela Reforma Urbana, Fórum

Nacional de Participação Popular, etc” (GOHN, 2010, p.20), resultando

posteriormente em movimentos sociais institucionalizados, como é o caso dos

movimentos dos homossexuais, dos afro-brasileiros, dos indígenas, dos

funcionários públicos, dos ecologistas, entre outros.

Não podemos deixar de citar o movimento social antiglobalização, que

surge próximo à virada do sec. XX para o XXI negando a forma “como a ordem

capitalista vigente se reproduz” (GOHN, 2010, p. 33). Trata-se de uma

Page 54: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

54

organização popular de âmbito global, mas que absorve as demandas dos

movimentos sociais brasileiros, tratados até aqui, por serem frutos da

reprodução dessa ordem capitalista vigente.

E não obstante, ao lado dessas manifestações populares, a música se

fez presente. Mais uma vez divulgando as demandas dos novos movimentos

sociais. Elencaremos alguns exemplos a seguir.

2.1. Demandas ambientais

Uma das grandes demandas dos movimentos sociais que surgiram a

partir dos anos 90, e mais especificamente nas discussões dos movimentos

sociais antiglobalização é a do equilíbrio ambiental. Exemplo disso é a grande

quantidade de grandiosas ONGs de caráter ambiental. Dentre as mais

conhecidas estão WWF, Greenpace, Ecoar, SOS Mata Atlântica.

Nesse sentido, surgem composições de grande divulgação para

propagar essa dos novos atores sociais.

2.1.1 Pampa Pobre (Gaúcho da Fronteira)

(João Carlos de Souza)

No ensejo desse novo modelo de movimento social, em 1991 o grupo de

rock brasileiro Engenheiros do Hawaii regravou um grande sucesso de autoria

de Gaúcho da Fronteira e Vaine Darde. A música trata dessa nova

preocupação da sociedade moderna com o meio ambiente, propondo à

sociedade a luta se for o caso, para preservar e recuperar a natureza.

Segue a letra:

Mas que pampa é essa que eu recebo agora Com a missão de cultivar raízes

Se dessa pampa que me fala a história Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração Heranças feitas de fortunas rotas

Campos desertos que não geram pão Onde a ganância anda de rédeas soltas

Page 55: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

55

Se for preciso, eu volto a ser caudilho Por essa pampa que ficou pra trás

Porque eu não quero deixar pro meu filho A pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é rei Tendo poderes sobre o pão e as águas

Onde esquecido vive o peão sem leis De pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chirua É um desafio que a minha idade afronta

Pois me deixaram com a guaiaca nua Pra pagar uma porção de contas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho Por essa pampa que ficou pra trás

Porque eu não quero deixar pro meu filho A pampa pobre que herdei de meu pai

A música gaúcha originalmente é carregada de regionalismo e de

demonstrações de orgulho de seu povo pelo seu lugar, mas a letra de

“Herdeiro da Pampa Pobre” relata além desse orgulho, também a vergonha da

degradação ambiental que foi feita ao ecossistema natural do Rio Grande do

Sul, que é o pampa também chamado de campos ou coxilhas.

A letra da música retrata um dos movimentos sociais do século XXI, que

é a preocupação com as questões ambientais, remontando o orgulho gaúcho

no movimento social armado do século XIX que foi a Revolução Farroupilha.

Na análise da letra da música em si podemos destacar que é feito o

questionamento do que lhe sobra de ambiente natural para a sua geração,

restando apenas matizes, ou manchas de uma natureza exuberante, que a

ação predatória e gananciosa de antepassados, rouba o direito de gerações

futuras de desfrutar de um ambiente saudável e produtivo, que pode ser

verificado pelo processo de desertificação na região de Bagé naquele estado.

Na sequência a letra da música mostra que o povo irá à luta para preservar e

recuperar aquele ambiente, para que seus descendentes possam ser

privilegiados com a possibilidade de desfrutar deste ambiente de forma plena,

diferentemente da geração atual.

Na segunda parte da música são confrontadas as questões sociais,

econômicas e ambientais, onde fala do poder econômico do patrão que usa a

natureza como bem entende, destruindo rios e controlando a produção e

deixando na miséria a população excluída. Em seguida a música mostra que

Page 56: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

56

esta dívida ambiental sobra à população em geral para arcar com os custos

financeiros e até de saúde para recuperá-la, criticando os altos cultos de

tratamento de água, esgoto e resíduos sólidos, além de ser uma referência aos

valores excessivos dos impostos que são pagos pela população brasileira.

Por fim a música reforça a luta pela preservação e recuperação dos

ambientes naturais, que podem ser vistos hoje por todo o globo por meio de

ONGs que lutam de várias formas na defesa de seu ideal, sendo um dos

movimentos sociais retratados na obra da Maria da Glória Gohn em

Movimentos Sociais no início do século XXI: Antigos e novos atores sociais.

3.1.2. Canção da Terra – Pedro Munhoz

(Simone Ferreira Zeni)

Nessa mesma perspectiva, por reinvindicações de cunho ambiental,

Pedro Munhoz, também gaúcho, compôs a música Canção da Terra que foi

gravada pela trupe O Teatro Mágico, em 2011, no disco Sociedade do

Espetáculo.

Tudo aconteceu num certo dia Hora de ave Maria o universo vi gerar

No princípio o verbo se fez fogo Nem atlas tinha o globo Mas tinha nome o lugar

Era terra, terra E fez, o criador, a natureza Fez os campos e florestas

Fez os bichos, fez o mar Fez por fim, então, a rebeldia

Que nos dá a garantia Que nos leva a lutar

Pela terra, terra Madre terra nossa esperança

Onde a vida dá seus frutos O teu filho vem cantar

Ser e ter o sonho por inteiro Ser sem-terra, ser guerreiro

Com a missão de semear À terra, terra

Mas apesar de tudo isso O latifúndio é feito um inço

Que precisa acabar Romper as cercas da ignorância

Que produz a intolerância

Page 57: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

57

Terra é de quem plantar À terra, terra

Com essa música está em execução o primeiro contrato que reconhece

a música livre no mercado fonográfico brasileiro. Pela primeira vez uma música

trilha sonora de novela da emissora mais poderosa do país terá a característica

de livre distribuição e gestão de obra feita pelo autor.

A partir desta experiência, sem dúvida a música brasileira vira uma

página. Isto ocorre com o contrato que o trovador amigo do Movimento sem

Terra (MST) e a trupe O Teatro Mágico acabam de assinar com a Rede Globo

e a gravadora Som Livre.

Os movimentos sociais têm construído representações simbólicas

afirmativas por meio de discursos e práticas “[...] ao realizarem essas ações,

projetam em seus participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles

que eram excluídos de algo passam a sentir-se incluídos em algum tipo de

ação de um grupo ativo.” (GOHN, 2010. p.16)

Canção da Terra é uma música conhecida entre os movimentos sociais,

especialmente no MST, pois fala sobre a Reforma Agrária, que faz parte das

discussões políticas atuais, pois é uma música gravada há apenas três anos.

Fazendo um paralelo com a natureza, ela engloba também o movimento

ambientalista, nos fazendo refletir sobre a melhoria e o cuidado com o meio

ambiente.

Essa luta por terra é um marco dos movimentos sociais, e uma

constante na humanidade, há muito tempo faz-se manifestações para que mais

grupos se organizem e entrem nessa luta pela garantia de se ter uma

propriedade.

A propriedade aqui se torna um símbolo de riqueza, de poder entre os

povos. Rousseau em Discurso Sobre a Origem das Desigualdades, afirma que:

O primeiro homem que cercou um pedaço de terra, que veio com a ideia de dizer isto é meu e encontrou gente simples o bastante para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassinatos derivam desse ato! De quanta miséria e horror a raça humana poderia ter sido poupada se alguém simplesmente tivesse arrancado as estacas, enchido os buracos e gritado para seus companheiros: Não deem ouvidos a este impostor. Estarão perdidos se esquecerem que os frutos da terra pertencem a todos, e que a terra, ela mesma, não pertence a ninguém. Sendo assim, dá-se a entender que todos merecem uma

Page 58: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

58

propriedade se essa não estiver falta ao seu proprietário. (ROUSSEAU, 1967, p. 211-212)

A constante luta por terra é acompanhada também pelas diferentes

relações com a política, a economia e também com a sociedade. Segundo

Maria da Glória Gohn“os movimentos populares criaram, ampliaram ou

fortaleceram também a construção de redes sociais” (GOHN, 2010. P. 17).

2.2 Demandas antiglobalização

(Fábio Noima Pelosi)

Os movimentos sociais antiglobalização tomou corpo no inicio do século

XXI, é caracterizado pelo “grito” de socorro, não pelo fim do processo de

globalização, que a cada ano se incorpora e atinge cada vez mais

intensamente os países, mas negando processo tomado pelo sistema

globalizante, que está se colocando acima de tudo, tradições, culturas, etnias,

acima também da justiça e igualdade de todo ser humano; “o movimento

antiglobalização nega a forma como a ordem capitalista instituída vigente se

reproduz e não a ordem em si” (Gohn 2010, p. 21).

Desta forma, a música “Mais que um mero poema” de composição de

Guilherme de Sá em 2009, auxilia a compreensão da legitimaçãodas

demandas que os movimentos sociais atuais estão pautando e defendendo.

Parece estranho

Sinto o mundo girando ao contrário Foi o amor que fugiu da sua casa

E tudo se perdeu no tempo É triste e real

Eu vejo gente se enfrentando Por um prato de comida

Água é saliva Êxtase é alívio, traz o fim dos dias

E enquanto muitos dormem, outros se contorcem É o frio que segue o rumo e com ele a sua sorte

Você não viu? Quantas vezes já te alertaram Que a Terra vai sair de cartaz

E com ela todos que atuaram? E nada muda, é sempre tão igual

A vida segue a sina

Page 59: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

59

Mães enterram filhos, filhos perdem amigos Amigos matam primos

Jogam os corpos nas margens dos rios contaminados Por gigantes barcos

Aquilo no retrato é sangue ou óleo negro? Aqui jaz um coração que bateu na sua porta às 7 da manhã

Querendo sua atenção, pedindo a esmola de um simples amanhã Faça uma criança, plante uma semente

Escreva um livro e que ele ensine algo de bom A vida é mais que um mero poema

Ela é real É pão e circo, veja

A cada dose destilada, um acidente que alcooliza o ambiente Estraga qualquer face limpa

De balada em balada vale tudo E as meninas

Das barrigas tiram os filhos, calam seus meninos Selam seus destinos

São apenas mais duas histórias destruídas Há tantas cores vivas caçando outras peles

Movimentando a grife A moda agora é o humilhado engraxando seu sapato

Em qualquer caso é apenas mais um chato Aqui jaz um coração que bateu na sua porta às 7 da manhã

Querendo sua atenção, pedindo a esmola de um simples amanhã Faça uma criança, plante uma semente

Escreva um livro e que ele ensine algo de bom A vida é mais que um mero poema

Ela é real E ainda que a velha mania de sair pela tangente

Saia pela culatra O que se faz aqui, ainda se paga aqui

Deus deu mais que ar, coração e lar Deu livre arbítrio

E o que você faz? E o que você faz?

Aqui jaz um coração

Através dessa música escrita em 2009, percebemos claramente o“grito”

desses movimentos sociais antiglobalização, o afastamento entre as pessoas,

dos indivíduos no seu papel enquanto uma sociedade, o individualismo que o

sistema trás através da competição por status na sociedade, distanciamento

cada vez maior do pobre e do rico, isso está bem expresso na letra;

Mães enterram filhos, filhos perdem amigos Amigos matam primos

Jogam os corpos nas margens dos rios contaminados Por gigantes barcos

Aquilo no retrato é sangue ou óleo negro? (Sá, 2009)

Page 60: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

60

O que o compositor da letra da música contesta é exatamente o que

está relacionado com a demanda dos movimentos sociais antiglobalização.

Também está explícita na letra a discrepância dos direitos humanos que é um

direito universal, quando a letra trás;

Eu vejo gente se enfrentando Por um prato de comida

Água é saliva Êxtase é alívio, traz o fim dos dias

E enquanto muitos dormem, outros se contorcem É o frio que segue o rumo e com ele a sua sorte

(Sá, 2009)

Um direito assegurado a todo indivíduo no Artigo XXV na Declaração

Universal dos Direitos Humanos;

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1948).

Através da música várias bandas e compositores do século XXI, se

expressam com suas letras de músicas, em apoio aos movimentos sociais,

atingindo a massa popular, e não se utilizam mais de uma faceta em suas

letras, a demanda está expressa de entendimento para quem quer que se

depare com a canção.

Alguns grupos estilos de músicas de bandas de jovens têm incorporado as bandeiras de lutado movimento antiglobalização, ampliando-o;muitos se incorporam fisicamente ás ações doseventos, ou criam músicas e depoimentos deapoio ao movimento, conferindo-lhe uma faceta de rebelião cultural [...]. (GOHN,2002)

A Banda Rosa de Saron, uma banda da religião católica, muito

expressiva em suas canções, e que atinge um público alvo jovem, está pautada

em suas letras em defesa aos direitos humanos, como vimos na letra em

análise, que é o que Maria da Glória Gohn trás em seu texto abordando

movimentos sociais antiglobalização, um movimento atual do século XXI.

Page 61: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto neste artigo, vimos que a música popular esteve

historicamente comprometida com as demandas dos movimentos sociais.

Analisando o sentido que Gohn dá ao termo “movimentos sociais”,

observamos que são ações sociais coletivas que viabilizam a população

expressar suas demandas. Ou seja, são indivíduos que se encontram

subjetivamente pela necessidade de alguma justiça que ainda não está, ainda

queparcialmente, garantida a ele. E desse encontro surge uma identidade de

grupo relacionado a essa demanda.

Os movimentos sociais dos anos 70 e 80 levantaram a bandeira da

opressão militar que não garantia a livre manifestação social, política, cultural

da diversidade brasileira. Dentro desse contexto, artistas traduziam essas

injustiças através de músicas que iam de encontro à ideologia militar do

período da ditadura, entre 1964 e 1985.

Com o fim da ditadura militar e a redemocratização do Estado Brasileiro,

os movimentos sociais antimilitarismo perderam força e ganharam visibilidade

outros movimentos sociais com demandas diferentes, como por exemplo,

movimentos de habitabilidade, estrutural-política, ambiental, contra o

desemprego, de saúde pública, rurais, étnico-raciais, de gênero e contra

políticas neoliberais. E uma das formas mais expressivas da manifestação

direta e indireta desses atores, foi e continua sendo a música popular.

Esclarecendo-se assim a relevância dessa modalidade de produção artística. A

qual, além da questão estética, possui importante função política.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro, não. Música popular cafona e

ditadura militar. São Paulo: Record, 2002.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais no início do século XXI:

antigos e novos atores sociais. 4º Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

Page 62: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

62

MENESES, Adélia Bezerra. Desenho Mágico: poesia e política em Chico

Buarque. São Paulo: 3. Ed. Ateliê Editorial, 2002.

NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica

dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História.

São Paulo, v. 24, nº 47, p.103-126, 2004.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Discurso Sobre a Origem da Desigualdade.

São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SITOGRAFIA

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em

http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm.Acesso

em 06 de Junho de 2013.

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em

http://www.dicionariompb.com.br/taiguara/discografia. Acesso em 20 de maio

de 2013.

OUTRAS FONTES

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF, Senado,1998.

Page 63: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

63

O CANTO POPULAR RELIGIOSO NOS RITUAIS DA UMBANDA:

REGISTRO ETNOGRÁFICO NA TENDA PAI FRANCISCO EM

GUARAPUAVA (PR)

Profª.Ms. Cerize Nascimento Gomes

Grupo de Pesquisa em Cultura e Religiosidade Afro-índio-brasileira

Ciências Sociais - FG

RESUMO: Promover a produção de conteúdos para o ensino da história e da cultura afro-índio-brasileira por meio de pesquisas regionalizadas é um dos objetivos centrais desse artigo que promove um estudo a partir de observação participante na Tenda de Umbanda Pai Francisco na cidade de Guarapuava (PR). A investigação possui recorte sobre o uso de cantos como expressão cultural e prática ritualística próprias da umbanda, anotando-se também o forte sincretismo religioso e a representação de tipos sociais brasileiros presentes nessas manifestações. O artigo sobre os cantos usados durante os rituais de umbanda, integra um estudo do Grupo de Pesquisa em Cultura e Religiosidade Afro-índio-brasileira da Faculdade Guarapuava, e tem como finalidade observar a expressão religiosa das comunidades tradicionais que preservam experiências populares centradas na oralidade e nos costumes, bem como contribuir com novos conteúdos para o ensino da história e da cultura dos povos africanos e indígenas.

Palavras-chave: Cultura popular. Religiosidade. Canto. Identidade.

Sincretismo.

1. ORAR CANTANDO

Porque cantar parece com não morrer

é igual a não se esquecer que a vida aqui tem razão.

Ednardo/Climério

A complexidade de expressões da religiosidade popular brasileira reflete

que a cultura enquanto objeto de estudo científico e prática ritualística é algo ao

mesmo tempo singular e plural. Os elementos disponibilizados pela cultura

popular permitem ao homem encontrar mecanismos para a satisfação de suas

necessidades materiais e espirituais, em tempos distintos. Desse modo a

cultura funciona como um aparato capaz de promover ao ser humano sua

satisfação e seu bem estar em plano objetivo e também subjetivo.

Page 64: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

64

Através das expressões de sua religiosidade e do sincretismo próprio

das manifestações e das crenças populares, as pessoas forjam um caminho do

seu mundo pessoal (interior) para o espaço público (exterior) , motivo pelo qual

o estudo dessas práticas configuram-se em novos olhares sobre a construção

simbólica dos espaços sociais, políticos e ideológicos.

Os cantos usados durante as giras nos rituais da umbanda, integram

um estudo do grupo de pesquisa em cultura e religiosidade afro-brasileira da

Faculdade Guarapuava, e tem como finalidade observar a expressão religiosa

das comunidades tradicionais que preservam uma experiência popular

centrada na oralidade e nos costumes.

No que diz respeito aos cantos e às giras da umbanda, sua importância

histórica e social está na sua capacidade de transgressão aos princípios e

práticas das religiões instituídas ou oficializadas, por meio da apropriação dos

elementos ritualísticos dos povos africanos e também dos povos indígenas,

diretamente ligados as forças da natureza com celebrações que são pontuadas

por cantos e danças de caráter ritualístico religioso.

Em Sagrados mistérios, Sônia Guimarães explica que a música popular

religiosa é inúmera e diversificada, com cantos coletivos entoados em

uníssomo. Ela descreve o toré que é uma dança ritual dos povos indígenas do

nordeste e cuja cantoria é acompanhada pela incorporação dos encantados

que são entidades típicas desses povos; o xiré que é uma festa religiosa onde

os fiéis cantam ao som de tambores e atabaques em honra aos orixás do

candomblé e a gira que é um dos principais rituais da umbanda na qual os

participantes cantam e dançam girando. (GUIMARÃES, 2011, p.25 e 26)

Segundo a autora esses cantos de origem indígena e africana como o os

torés, os xirés e as giras podem ser vistos como uma transposição da missa

católica e suas formas mais conhecidas por meio da cantoria de hinos,

poemas litúrgicos, antífonas, lamentações, oratórios, réquiens e cantatas.

Escreve Guimarães:

A situação instaurada na formação da religiosidade brasileira congrega, portanto, a expressão religiosa oficial e a expressão religiosa oriunda das comunidades em sua experiência secular , firmada na oralidade e nos costumes, na apropriação e transgressão dos sistemas. Essa

Page 65: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

65

relação, ainda que desigual, provocou e provoca um fluxo contínuo de trocas e reinvenção das religiosidades. (GUIMARÃES, 2011, p.15)

Sobre o uso da música e do canto nas práticas religiosas, Guilherme de

Melo em A música no Brasil, descreve que sua funcionalidade é atribuída ao

cotidiano dos povos indígenas nativos e dos africanos trazidos para a América

Portuguesa, observando-se o fato da habilidade que essas etnias possuíam de

absorver as práticas musicais e de cantar durante longo tempo a ponto de

causar arrebatamento. (MELO, apud GUIMARÃES, 2011 p.16).

Guimarães registra essa função religiosa do canto entre os povos

nativos com a reprodução de um texto sobre uma cerimônia indígena:

A cerimônia da benção, que era feita por mais de quinhentos guerreiros. (...) Começava com danças e cantos sagrados. (...) O canto, que principiava com voz baixa e soturna como a dos padres , terminava por gritos e exclamações cabalísticas. As mulheres e os meninos não podendo tomar parte da dança, contentavam-se em repetir essas exclamações, fazendo um coro de dissonantes vozes. (GUIMARÃES, 2011, p.16).

Destaca-se que “a presença forte do canto nas práticas musicais dos

povos nativos, somadas às práticas instituídas na catequese ” (GUIMARÂES,

2011, p.17) foi um dos fatores que colaborou para o abrandamento da

comunicação entre os povos indígenas, africanos e europeus. Esse contato

teria resultado ao longo do tempo em variações populares próprias de um novo

mundo com novos cantos e novas expressões ritualísticas religiosas.

Sobre os povos africanos, a autora relata que:

Da enorme contribuição dos povos africanos aqui trazidos, destaca-se definitivamente a ação da música que até hoje se faz presente, a partir da ritualística devotada ao panteão de deuses diretamente ligados às forças da natureza. (...) A necessidade de os afrodescendentes manterem suas memórias, em contrapartida ao empenho da igreja em impor sua liturgia, santos e trindade, deu origem aos matizes sonoros que tanto marcam as características da nossa música. (...) Foi no seio de lutas culturais chegadas até nós pela via da resistência que se formou o grande manancial de manifestações, nas quais o canto é ao mesmo tempo testemunho histórico e transcedência do cotidiano. (GUIMARÃES, 2011, p.18 e 19)

Page 66: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

66

Guimarães pondera que as ações de evangelização no novo mundo já

pretendiam incentivar o canto popular, valorizar e reverenciar as tradições

musicais dos povos encontrados .Tal procedimento teve como resultado a

gestação de um repertório de música popular religiosa inúmero e diversificado,

que se expressa por meio de “benditos, incelanças, encomendações de almas,

penitências, romances, xácaras, bailes pastoris, cheganças, reisados, rezas,

torés, xirés e giras” (GUIMARÃES, 2011, p.25).

Versando sobre o mesmo tema Heridan de Jesus Guterres Ferreira, no

artigo (Em)canto de santo: religiosidade e identidade no bumba meu boi do

Maranhão, entende que por meio do canto ritualístico a língua constitui-se em

forma de ação e de confronto ideológico entre o sujeito e o meio social. Para a

autora a língua é um elemento fundamental na formação do povo brasileiro e a

partir das manifestações populares, deixa de ser vista como um sistema

abstrato para demarcar novos espaços sociais:

Nas últimas décadas tem se intensificado estudos a respeito da identidade mestiça, focando-se principalmente, a questão dos valores identitários afrobrasileiros, que permeiam os sujeitos e suas relações no país, considerando-se para tanto, a contribuição do negro, do branco e do indígena na formação do povo brasileiro.Nessa perspectiva, leva-se em consideração alguns valores identitários, tais como a oralidade, a ancestralidade, a circularidade, entre outros que se manifestam nos usos e costumes do brasileiro, inclusive na cultura popular. (FERREIRA, 2012, p.3)

Christiane Caetano em Sonora Brasil, explica que são muitos os

festejos religiosos populares do Brasil. Observa-se que tais rituais são

realizados tanto em áreas urbanas metropolitanas quanto em áreas rurais

inóspitas. A autora destaca-se a festa do Divino Espírito Santo, no Maranhão,

que tem entre os seus elementos mais importantes as caixeiras, senhoras

devotas que cantam e tocam caixas acompanhando todas as etapas da

cerimônia (CAETANO, 2011, p.33). Outra festa mencionada na pesquisa é a

Comitiva de São Benedito que tem na música e na dança os instrumentos de

louvação ao santo, cuja prática é bastante comum em vários estados

brasileiros . Citam-se também as bandas de congo comuns no Espírito Santo

como a principal manifestação de tradição oral desse estado e que estão

relacionadas a São Sebastião, São Pedro, São Benedito e Nossa Senhora da

Penha. (CAETANO, 2011, p.48)

Page 67: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

67

Lucrécio Araújo de Sá Junior, em Entre Logos, Ethos e Phatos: A

linguagem persuasiva, representativa e discursiva da religiosidade popular,

analisa as relações entre discurso, história e memória por meio dos cantos

religiosos que constituem a cultura popular. Para o autor:

Na religiosidade popular o canto é uma ferramenta linguística, concebida e procurada na medida em que os indivíduos põem em prática o imaginário social. (...) No campo das tradições religiosas os cantos são signos lingüísticos cujo significado e sentidos envolvem os sentimentos, as emoções,as crenças e os valores de todo um grupo. (SÀ JR, 2011, p.105).

Segundo Sá Jr., os cantos foram se desenvolvendo “de forma

periférica, longe dos centros eclesiais por meio de orações cantadas e

moldadas seguindo práticas e representações populares” que com o tempo

assumiram formas múltiplas (SÁ JR, 2011, p.106) . Os cantos religiosos

populares são usados com várias finalidades e reportam ao imaginário social,

comunicando-se por meio de uma “linguagem sobrecarregada de símbolos”

repletos de imagens e alegorias que tem possuem o poder de integrar os

devotos em comunidade.

2. APONTAMENTOS DIDÁTICOS

Daniel Torquarto de Lima e Paula Maria Fernandes da Silva, em O canto

às orixás: A presença feminina da religiosidade afrobrasileira nas canções,

abrem novos rumos para o debate sobre a importância do estudo sobre as

práticas religiosas populares. Os autores pontuam a necessidade de usar o

material coletado nessas pesquisas como elementos didáticos que possam

despertar o interesse dos estudantes pelas temáticas relacionadas à cultura e à

historia dos afrodescendentes.

Os autores entendem que a musicalidade dos terreiros de umbanda é

marcada pela herança africana e sugerem que esse repertório seja

transportado para a sala de aula:

O expressar dos sentimentos, dos valores e principalmente o trazer a tona elementos culturais, pode ser feito através das músicas; assim este estudo reflete sobre a utilização desse instrumento na sala de aula como recurso didático, ele pode ser utilizado em qualquer disciplina desde que haja um planejamento , para que a mesma não seja apenas para motivação de uma aula, mas que seja também um instrumento que desperte o estudante a interpretação da música baseado no

Page 68: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

68

conhecimento e na experiência de vida que ele já possui. (LIMA e SILVA, 2010, p.2)

Segundo Lima e Silva as linguagens alternativas, como a música e o

canto, têm sido usadas como importantes ferramentas didáticas. Esse é o

caso, por exemplo, do estudo da Musica Popular Brasileira (MPB) para a

compreensão do regime militar das décadas de 1960 e de 1970. Ampliar essa

prática pedagógica para o cenário das práticas religiosas indígenas e negras

possibilita reconhecer que a história possui páginas de opressão e

discriminação sobre essas etnias e que, dentre as formas de dominação e

exploração que negam e degradam a identidade étnica desses povos destaca-

se a discriminação religiosa. (LIMA E SILVA, 2012, p. 4)

3. OS CANTOS NA UMBANDA

A técnica de observação participante na Tenda de Umbanda Pai

Francisco, na cidade de Guarapuava (PR), ocorreu no dia 27 de abril de 2012,

as 14h, por ocasião de uma atividade complementar da disciplina de

Antropologia Cultural do Curso de Ciências Sociais, da Faculdade

Guarapuava. Participaram da atividade 24 acadêmicos orientados por duas

professoras do grupo de pesquisa em cultura e religiosidade afro-brasileira.

As observações permitiram o registro de atividades ritualísticas que se

realizam nos dias de sábado, durante o período da tarde, nas quais se reúnem

o chefe do terreiro ou pai de santo e os médiuns que recebem as entidades dos

caboclos, que são espíritos indígenas; dos pretos-velhos representados por

entidades afro-brasileiras e dos exus que envolvem a recepção de espíritos de

malandros, baianos, ciganos, boiadeiros e pombagiras.

O templo no qual se realizam os rituais de incorporação é de chão

batido, com bancos feitos de pequenas toras de madeira e possui um altar com

imagens e representações de orixás, santos, caboclos e exus masculinos e

femininos, além de pretos-velhos, pretas-velhas e anjos. O local onde ocorrem

as manifestações dessas entidades é separado dos participantes por uma

pequena cerca, cujo portão só pode ser transposto pelas pessoas convidadas

pelos médius ou pelo pai de santo.

Page 69: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

69

3.1. Pontos de abertura

Em correspondência com o recorte proposto pela presente pesquisa, de

trabalhar com o repertório de cantos utilizados na umbanda, anotou-se durante

a observação ritualística que desde a abertura dos trabalhos, são usados os

cantos e que os mesmos reproduzem desde o primeiro momento o sincretismo

entre o candomblé pela menção aos orixás e o catolicismo quando menciona

o Pai Nosso, a Ave Maria, alguns santos cristãos e os anjos:

Salve o ponto de abertura/ Salve o terreiro povo de umbanda/ Bate a cabeça Ogum está chegando/ Salve o ponto / Pai Nosso / Ave Maria.

Salve o ponto de defumação/ Magia, mistério e umbanda/ Nossa Senhora defuma o seu altar/ Para seus reis, para seus filhos chegar/ Eu defumo a minha aldeia de caboclo/ Para o mal sair e só o bem entrar/ Ponto de defumação/ Defume todos um por um.

Vou firmar meu ponto/ Com fé em meus orixás/ Com arruda e

guiné/ E a licença de Oxalá/ Com arruda e guiné/ E a licença

de oxalá/ Corre a guia preto velho/ Seu povo vai trabalhar/ Com

a ajuda de rei congo no congá

Só firma ponto quem pode mandar/ Meu ponto é seguro da

mãe Iemanjá/ Só manda fogo quem pode mandar/ Meu fogo é

seguro meu pai Oxalá

Salve o ponto/ Salve Iansã/ Cheira a arruda e alecrim/ Cheira o incenso e a guiné/ Umbanda tem fundamento/ E preciso prepará/(...) Glória glória meu São Jorge/ Que não esquece de firmar/ Salve Jorge/ Salve anjo da guerra/ Salve seu ponto/ Salve Jorge.

O anjo da guarda bendito sejais/ Em nome de Deus seus filhos guardai

3.2. Cantos dos caboclos

Oi lá nas mata onde os “caboco” mora

Vestimenta de “caboco” é samambaia

só.

Os caboclos são entidades indígenas incorporadas durante os rituais da

umbanda. Sobre o vasto repertório de entidades que se manifestam nos

templos de umbanda Maria Helena Villas Bôas Concone diz que são

Page 70: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

70

numerosíssimos os personagens que transitam por sua mitologia e cerimonial

(CONCONE, 2004, p.281).

Durante os trabalhos de observação ritualística pode-se perceber

através dos cantos o momento em que determinados caboclos incorporam e

passam a fazer parte do ritual. Percebe-se também que mesmo durante a

recepção das entidades indígenas ocorre o encontro com os orixás africanos e

com os santos cristãos.

Chama-se atenção para letras dos cantos populares repletas desse

sincretismo possível nos rituais da umbanda. Outra questão é a de como essas

figuras míticas correspondem ao que Concone (2004, p.284) denomina de

“mitos e símbolos fundantes da sociedade brasileira”.

Leiam-se trechos de canções entoadas pelos participantes do ritual

observado:

Salve os caboclos/ Salve os orixás / Quem manda lá nas matas é Oxossi caçador / Sete caboclos/ Sete Lanças/ Sete Flechas/ Firma seu ponto saravá meu pai Xangô/ Quem mandá lá nas matas é Oxóssi Caçador/ Firma seu ponto saravá meu pai Xangô.

Pena Branca chegou no terreiro/ Pena Branca chegou prá trabalhar/ Saravá Pena Branca no terreiro/ Saravá Pena Branca no Congá.

Salve caboclo Ubirajara/ Salve! / Que penacho é aquele/ É o penacho de arara/ Quando rompe a mata virgem/ É o caboclo Ubirajara/ Sou Ubirajara do peito de aço/ Piso no chão não importa embaraço.

Eu vi chover eu vi relampiar/ Mas mesmo assim o céu estava azul/ Firma seu ponto nas folhas de Jurema/ Que Oxóssi é dono do Maracatu.

Se chama Tupi e é um companheiro/ Trabalha lá na Aruanda/ E trabalha no terreiro

Salve o sol e salve a lua/ Salve São Sebastião/ Salve São Jorge Guerreiro/ Que nos deu a proteção.

Oxóssi e Pena Branca/ Passeavam naquela rua/ Mas olha que beleza o clarão da lua.

Em relação ao sincretismo podem ser destacados dos cantos acima, os

caboclos: Sete Lanças, Sete Flechas, Pena Branca, Ubirajara, Tupi e Jurema.

Entre os orixás são mencionados Oxóssi e Xangô. Do panteão de santos

Page 71: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

71

católicos estão presentes nas cantorias São Sebastião e São Jorge. Essa

harmonia entre representações de religiosidades diversas é típica dos rituais de

umbanda por suas origens relacionadas ao candomblé, aos rituais indígenas,

ao espiritismo kardecista e ao catolicismo.

3.3. Cantos dos pretos velhos e das pretas velhas

Pretos velhos quando vem de Aruanda

Vem trazendo as leis de Umbanda.

Canto popular

Os pretos velhos e as pretas velhas são considerados figuras-chave da

umbanda e mito fundante da sociedade brasileira. Isso significa dizer que a

figura simbólica do preto velho, com os cabelos brancos, fumando seu

cachimbo, apoiado sobre a bengala ou o cajado faz parte do imaginário dos

tipos sociais brasileiros.

Os cantos curtos, entoados várias vezes durante os rituais,

reproduzem esse simbolismo:

Preto Velho que fuma cachimbo/ Preto velho que arrasta o pé/ Preto velho que vem de Aruanda/ Prá salvar seus filhos de fé.

Preta velha você não me engana/ Arruma sua saia com palha de cana/ E o cigarro que ela fuma... é de palha de Aruanda / E o cigarro que ela fuma... é de palha de Aruanda.

Durante a recepção dessas entidades vários cânticos são executados.

Por meio das letras percebe-se que é nesse momento do ritual que o

sincretismo religioso é menor e as crenças afro-brasileiras são predominantes:

Preto Velho, Preta Velha/ Vovô, vovó / Salve os pretos velhos/ Salve o povo de Angola/ Salve as tribos africanas.

Eu sou Manoel Jangadeiro/ Eu sou Manoel Jangadeiro/ Pai das crianças/ E chefe do terreiro.

Preto velho vem de Minas no caminho da fazenda/ Oi tem areia/ Oi tem areia

Eu confio em meus orixá/ Com arruda e com guiné/ E a ajuda com ajuda de Oxalá/ Vem pai João/ Vem mãe Maria/ Saravá santa senzala/ Salve o clarão do dia

Na minha terra não tem embaraço/ Chegou preto velho do peito de aço/ E o navio gritou no mar/ E a barca balancio/ Fala a língua preto velho/ Que eu quero falar nagô

Page 72: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

72

Deve-se considerar também a questão sócio-espacial, no que diz

respeito aos pretos velhos e às pretas velhas é notável o número de

referências feitas aos países ou localidades tipicamente africanos:

Pai Joaquim, rei , rei/ Pai Joaquim, rei, á/ Pai Joaquim veio de

Angola/ Pai Joaquim veio de Angola / Rei lá.

Eu vou chamar Oxalá meu Congo/Que meu Congo vem/ O rei

Congo ajudar/ Congo rei Congo/ Congo chegou/ Congo

maravilha/ No terreiro saravá

Vovó tem sete saias/ A última saia tem mironga/ Vovó veio de

Angola/ prá salvar filhos de umbanda / Com seu patuá e sua

figa de guiné/ Vovó veio de Angola/ Prá salvar filhos da fé

Sobre a menção feita às entidades de outras religiões, como já foi dito,

elas são mais raras quando da incorporação dos pretos velhos e das pretas

velhas. Mesmo assim ainda puderam ser constatadas referências a São Jorge,

São Benedito e Nossa Senhora, nas manifestações cantadas em dois

momentos do ritual. Primeiramente durante a incorporação do rei Congo e

depois na despedida das entidades:

Piso na linha de Congo/ É de congo e de congá, aruê/ Piso na

linha de Congo/ Agora é que eu quero vê/ Viva congo, viva rei

Congo/ Viva Congo em ação/ Viva São Jorge Guerreiro/ Viva

São Sebastião

Já vai preto velho subindo pro céu/ Que nossa senhora lhe

cubra com seu véu/ O sino da igrejinha faz belem bem blom/ O

sino da igrejinha faz belem bem blom/ Deu meia noite o galo já

cantou/ Deu meia noite o galo já cantou/ Já vai preto velho

subindo pro céu.

3.4. Cantos dos exus

Senhora pombagira eu vou cantar em seu louvor

Na barra da sua saia corre água e nasce flor.

Canto popular

Ressalta-se ainda que a umbanda tem o poder de sacralizar tipos

sociais brasileiros contestadores e rebeldes que incorporam como exus. São

Page 73: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

73

conhecidos nos centros de umbanda os malandros, os baianos, os boiadeiros,

os marinheiros e as pombagiras. São espíritos alegres e descontraídos que

bebem cachaça ou champagne; cantam, dançam e riem alto durante os rituais

revelando a face contestadora e contracultural da sua religiosidade

(CONCONE, 2004, p.285). Esse aspecto está relacionado à sua origem

religiosa simples e livre próprias dos terreiros de macumba usados pelos afro-

descendentes antes da oficialização da umbanda.

Na Tenda Pai Francisco os cantos para os exus masculinos são curtos e

repetidos várias vezes:

E na Bahia/ Ninguem pode cos baiano

Quebra coco rebenta sapucá/ Vamos todos sarava/ Quem não

pode com a mandinga/ Não carrega patuá

Me chamam de boiadeiro/ Boiadeiro eu não sou/ Eu sou

tocador de gado/ Boiadeiro é meu patrão

Notou-se durante a incorporação dos exus a predominância da recepção

das entidades femininas das pombagiras:

Arreda homem que ai vem mulher/ Arreda homem que ai vem

mulher / Ela é a pombagira rainha do candomblé/ Ela é pomba

gira a mulher de muita fé.

Deu um vento na roseira/ A roseira desfolhou/ é o vento do

saiote/ Da pombagira que chegou

Minha mãe é uma moça bonita demais/ Ela é ela é a pomba

gira de Umbanda.

Vem pomba gira/ Vem me ajudar/ Você é a rainha da umbanda/

Pomba gira da quimbanda/ Vem bailar.

Leia-se um dos cantos tradicionais da umbanda, gravados por cantores

de Música Popular Brasileira (MPB) como Rui Maurity e Angela Maria, entre

outros. O canto descreve uma das entidades mais populares da umbanda, a

pombagira cigana e foi entoado durante o ritual observado no momento de sua

incorporação por uma médium bastante jovem:

Page 74: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

74

De vermelho e negro vestindo a noite o mistério trás/ De colar

de cor de brinco dourado a promessa faz/ Se é preciso ir você

pode ir peça o que quiser/ Mas, cuidado amigo ela é bonita, ela

é mulher.

(...) E nos cantos da rua/ Zombando, zombando, zombando

está/ Ela é Moça Bonita girando, girando, girando lá/ Oi girando

lá oiê/ Oi girando lá oiê/ Oi girando lá oiê/ Oi girando lá...

É evidente que o momento da “chegada” da pombagira cigana ao

terreiro é bastante esperado pelas pessoas que participam do ritual. Ela se

apresenta como uma entidade alegre e predisposta a atender pessoas com

problemas amorosos. Uma das peculiaridades dessa entidade é ler a mão dos

consulentes, um costume cigano preservado pela umbanda.

Enquanto a pombagira lê a mão de algumas pessoas previamente

agendadas pelo pai de santo e outras aleatoriamente escolhidas pela entidade,

ouve-se repetidamente o canto:

Vim caminhando a pé para ver/ se encontrava pomba gira

cigana de fé/ Eu só queria saber onde mora/ Pombagira cigana

de fé/ Ela parou, leu a minha mão e me disse toda a verdade/

Eu só queria saber onde mora/ Pombagira cigana de fé.

A despedida faz-se por meio de um canto repetido duas ou três vezes

até que a entidade cigana abandone o corpo da médium:

Vai, vai moça bonita/ Vai, vai minha senhora/ Pombagira diz adeus/ Se despede e vai embora/ Vai pombagira/ Vai pombagira passear/ Numa estrada tão bonita/ Numa noite de luar.

3.5. Canto e resistência

Outra questão evidente no decorrer do processo ritualístico é a presença

da demanda, uma forma de devolução do mal feito ou desejado. Os cantos

feitos refletem esse papel das entidades. Tais características estão bem

marcadas em diversos momentos ritualísticos quando os cantos entoados e

repetidos transformam-se em enfrentamento:

Eu tenho sete espadas/ Eu tenho sete escudos/ Eu tenho sete flechas/ Que ganhei de Tranca Tudo/ Pra me defender contra todo o mal/ Depois de bem cortada/ Entregarei seu Beira Mar

Page 75: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

75

Oi caboclo o que é que tu qué/ É pau de aroeira/ É pau de guiné / Eu quebro macumbeiro/ E o que vier.

Não estrague a mata que é de Oxóssi/ Não quebre a pedra que é de Xangô/ Não faz demanda prá filho de umbanda/ Porque nas matas tem gavião vencedor

Caboclo Quebra Pedra no terreiro ele chegou/ As vezes estou grande/ As vezes não estou/ Caô, Caô, Caô/ Quebra Pedra chegou/ No terreiro de Xangô/ Caô, Caô, Caô/ Sou quebra pedra/ Sou guerreiro de Xangô.

Umbanda sua rainha chegou/ Umbanda mais uma estrela

brilhou/ E a pombagira vem girar/ E a pombagira vem trabalhar/

Ela é demandeira/ Quando pisa na tronqueira/ Ela é justiceira/

Na encruza ela é guerreira

Meu pai Xangô está no remo/ Meu pai Xangô é orixá/ Olha seus filhos a pedir meu pai/ Justiça e paz nesse congá.

A representação das pombagiras, dos caboclos e dos orixás como

guerreiros, demandeiros e vencedores está relacionada a algumas

características que fazem com que os espíritos afro-índio-brasileiros sejam

vistos como defensores dos fiéis. Para Concone (2004, p.286-287) essas

características são a juventude, a força, a justiça, a capacidade de chefia, a

agitação e o movimento. Esses espíritos simbolizam a força, a liberdade, a

natureza, o poder e o paganismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir o artigo sobre o canto popular religioso nos rituais de

umbanda parece-nos bastante evidente que mesmo os leigos podem

compreender desde a primeira participação nesses rituais, por meio dos cantos

populares, a fertilidade do encontro entre os orixás africanos, os caboclos

indígenas, os santos e os anjos católicos e os espíritos do kardecismo.

Esse sincretismo das entidades e das crenças de povos diversos,

possibilitou o encontro de gentes de contextos sociais e de idéias divergentes.

Os rituais da umbanda promovem desde sua fundação a união de símbolos e

de pessoas que por alguns momentos, durante a celebração ritualística, são

irmanadas pelas emoções e sentimentos característicos dos centros de

umbanda.

Page 76: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

76

A observação etnográfica realizada na Tenda Pai Francisco em

Guarapuava permite-nos afirmar que os cantos populares exercem um papel

fundamental em todos os momentos do ritual e que os mesmos servem de

ponte de compreensão sobre os papéis incorporados nos terreiros e os tipos

sociais consagrados pelos brasileiros, tão bem representados pelos pretos

velhos, pelas pretas velhas, pelos índios, boiadeiros, baianos, marinheiros,

malandros e pelas pombagiras.

A expectativa com relação ao presente estudo é a de que ele ofereça

contribuições simples, porém concretas, para ampliar as oportunidades de

ensino da história e da cultura dos povos afro-brasileiros e indígenas.

REFERÊNCIAS

CAETANO , Christiane. Sonora Brasil: Circuíto 2011/2012. Rio de Janeiro:

SESC, 2011.

CONCONE, Maria Helena Vilas Bôas. Caboclos e pretos-velhos da umbanda.

In. Encantaria Brasileira: O livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de

Janeiro, Pallas, 2004, p. 281-303

GUIMARÃES, Sônia. Sagrados mistérios. In: Sonora Brasil: Circuito

2011/2012. Rio de Janeiro: SESC, 2011.

PRANDI, Reginaldo. Encantaria Brasileira : O livro dos mestres, caboclos e

encantados. Editora Pallas, São Paulo, 2001

SITOGRAFIA

FERREIRA, Heridan de Jesus Guterres (org). (Em) canto de santo:

religiosidade e identidade no bumba meu boi do Maranhão. Disponível em:

http://cral.in2p3.fr/artelogie/IMG/article_PDF/article_a179.pdf. Acessado em 10

de maio de 2013.

SÁ Jr, Lucrécio Araújo de. Entre Logos, Ethos e Phatos: A linguagem

persuasiva, representativa e discursiva da religiosidade popular. 2011, p. 105-

114. Disponível em: http://www.cchla.ufrn.br/Vivencia/sumarios/38. Acessado

em 07 de junho de 2013.

Page 77: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

77

CURRÍCULO E FORMAÇÃO: UM BREVE RELATO SOBRE AS

CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DO CURRÍCULO, OS DESAFIOS DA

FORMAÇÃO DOCENTE E OS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

RAFAEL MORGENTALE DISCONZI8

RESUMO: O presente artigo está dividido em três partes: a primeira relata o estudo da sociologia do currículo, elucidando sua importância como instrumento de mediação técnica e metodológica em busca de uma reflexão crítica de mundo. Entende-se que currículo não pode se preocupar somente com a organização do conteúdo, nem encará-lo de modo neutro e imparcial, mas como um artefato que produz ideologias, identidades e conhecimentos acerca de uma realidade social. A segunda parte corresponde aos desafios da formação dos profissionais de licenciatura, e a última se refere os princípios que regem a educação profissional, esta voltada exclusivamente para desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Será apresentado sugestões relevantes a partir da perspectiva dialética, que coaduna com abordagem de uma educação inclusiva, multicultural e sociocrítica das diferentes esferas que compõe a heterogeneidade societal.

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Currículo, Formação Docente, Educação

Profissional.

INTRODUÇÃO

Dentro da consagrada Sociologia da Educação, criou-se um espaço para

discutir a importância do currículo no sistema escolar. Essa brecha ou vazio

encontrado começou no final dos anos sessenta, início dos anos setenta, com

os primeiros críticos chamados de teóricos da reprodução: Louis Althusser,

Pierre Bourdieu, Jean-Claude Passeron, Establet e Baudelot como maiores

destaques. A partir dos trabalhos desenvolvidos, colocaram em pauta assuntos

como reprodução social, ideologia, poder e currículo entre outros.

8 Professor de Sociologia na Faculdade de Guarapuava - Departamento de Ciências Sociais e

da Rede Pública de Ensino do Paraná. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais (PUCRS), Porto Alegre/RS. Pós-Graduado em Metodologia de Ensino em Sociologia (FACEL), Curitiba/PR. Mestrando em Ciências da Educação (UPAP), Assunção/Paraguai.

Page 78: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

78

No primeiro momento, será discutido a sociologia da educação a partir

da intenção de trabalhar o currículo como forma político-cultural e o educador

como elemento decisivo neste processo. No momento que o educador escolhe

determinado assunto, conteúdos, informações, está selecionando segundo

uma visão de mundo, o que é importante que os educandos saibam, isto é, a

maneira de ver e entender as relações que se materializam no mundo está

impregnado de valores ideológicos. Qual Importância na seleção, organização

e transmissão de conhecimento escolar? Qual é o objetivo de discutir a

formação curricular na escola?

No segundo momento, um dos pontos centrais que elucidamos são os

cursos de formação dos profissionais de licenciatura, em relação aos

obstáculos encontrados referente à complexidade das novas configurações

sociais presente nos sistemas educacionais. Nesse sentido, entende-se que o

profissional docente tem o papel de intelectual transformador, contribuindo para

novas perspectivas de análise do saber-fazer e do fazer-saber. Nesse sentido,

os professores precisam ser estimulados ainda quando estudantes na sua

formação universitária a desenvolverem pesquisas, transformado-os em

pesquisadores-em-ação como denomina Henry Giroux.

E o terceiro e último assunto abordado nesse artigo, a reflexão sobre a

educação profissionalizante, sua proposta de integrar os estudantes a

diferentes perspectivas de trabalho, educação, ciência e tecnologia. Nesse

quesito, visa estabelecer conhecimentos específicos para aptidões necessárias

para atender a demanda das exigências do mundo do trabalho.

1. O PAPEL DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO

O currículo é visto como forma de política cultural, onde a cultura é

encarada como terreno fértil de conflitos e concepções que formam a vida

social. É na contradição cultural existente na sociedade que o currículo pode

ser uma ferramenta útil a ser aplicada como contestação e resistência das

relações assimétricas encontradas no interior do sistema de ensino.

Page 79: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

79

A pedagogia radical e a pedagogia progressista trabalham com a ideia

de que a prática é inseparável da teoria ou a teoria é inseparável da prática.

Ambas trabalham com a perspectiva do conhecimento que resultam no

reconhecimento de grupos desfavorecidos, ao mesmo tempo, que estimulam

uma linguagem que contribui a inserção da escola numa nova esfera pública,

resgatando ideias de democracia, que defende o respeito as diferenças nos

mais diversos âmbitos, assim como a justiça social. A pedagogia radical

fornece subsídios para passagem da consciência ingênua para consciência

crítica, pois, transfere a forma de “classe de si” para “classe para si”.

Os educadores progressistas apontam para uma ruptura da situação de

opressão, que são criados e reforçados pela sociedade capitalista, e estimulam

uma experiência prática para construção de uma nova ordem social. Ser

oprimido significa não somente estar subjugado economicamente, mas

principalmente não ser respeitado em suas manifestações culturais. Quem

sofre essa condição, muitas vezes não percebe, e pior, considera-se como

condição “natural” a privação, a espoliação, a exclusão.

Se as ideias liberais constitui o pensamento fundante do sistema de

ensino moderno, Pierre Bourdieu (2011) salienta que tais características

descritas acima apresentam-se como arbitrário cultural (pedagógico), sendo

que estas diferenças correspondem obstáculos quanto ao sucesso escolar,

compreendidos como diferenças de capacidades, de um lado, estão os grupos

que dominam com facilidade o capital cultural presentes nos livros didáticos, na

escrita, na linguagem e nas expressões artísticas por exemplo, e do outro lado,

grupos que não possuem tais "capacidades", pois são oriundos de famílias

desprovidas de acúmulo de capital cultural. Segundo o autor, essa prática no

seio escolar, em última instância, resultaria uma polarização entre os

possuidores de "dons naturais" e os despossuídores, recaindo no plano

individual toda a justificativa do possível fracasso no aproveitamento escolar.

Assim, a instituição escolar, que em outros tempos acreditamos que

poderia introduzir uma forma de meritocracia ao privilegiar aptidões

individuais por oposição aos privilégios hereditários, tende a instaurar,

através da relação encoberta entre a aptidão escolar e a herança

cultural, uma verdadeira nobreza de estado, cuja autoridade e

Page 80: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

80

legitimidade são garantidas pelo título escolar. (BOURDIEU, 2008, p.

39)

Um dos papéis primordiais do currículo na escola como instituição

deveria ser de socialização, no seguinte sentido, promotora de ensinamentos

de humanização, autonomia, liberdade, livre arbítrio, equidade, justiça social,

respeito às diferenças, o que se vê é muitas vezes ao contrário, serve como

mecanismo de formulação e reformulação de subjetividades apropriadas

estritamente a geração de mão-de-obra necessária para mercado de trabalho.

É a partir desse propósito que os teóricos críticos da reprodução enxergam a

educação institucionalizada como reprodutora de desigualdades sociais.

O currículo não se constitui apenas de técnicas, instrumentos e

organização do conhecimento escolar, nem pode ser encarado de modo

amorfo, inodoro, imparcial e ingênuo. Passa a ser visto como conhecimento

implicado na produção de relação de poder no interior da escola, mas também

como contextualização histórica.

O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão

desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado

em relações de poder, o currículo transmite visões sociais

particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais

e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e

atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas específicas e

contingentes de organização da sociedade e educação. (MOREIRA;

SILVA;1995b, p. 7-8)

No trabalho de Althusser (1983) A ideologia e os aparelhos ideológicos

do Estado, há uma clara preocupação com a questão da ideologia na

educação. Esse ensaio rompe com a perspectiva liberal da educação que

desinteressadamente envolve a transmissão de conhecimento. A transmissão

de conhecimento é dirigida, intencional e formadora de opiniões através do

qual a classe dominante transfere suas ideias sobre o mundo, com o objetivo

de reprodução da estrutura social existente. A escola como uma das

instituições reprodutoras e mantenedoras da estrutura de classes tem o papel

de garantir o ensinamento de valores apropriados do capitalismo.

Parafraseando Moreira e Silva (1995b, p.23):

Page 81: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

81

A ideologia, nessa perspectiva, está relacionada às divisões que

organizam a sociedade e às relações de poder que sustentam essas

divisões. O que caracteriza a ideologia não é a falsidade ou verdade

das ideias que veicula, mas o fato de que essas idéias são

interessadas, transmitem uma visão do mundo social vinculada aos

interesses dos grupos situados em uma posição de vantagem na

organização social. A ideologia é essencial na luta desses grupos

pela manutenção das vantagens que lhes advêm dessa posição

privilegiada.

Os dois últimos teóricos críticos da educação são Roger Establet e

Christian Baudelot e desenvolveram conjuntamente a teoria da escola dualista,

realizaram pesquisas extensas nas escolas francesas, nas quais descobriram

que existem duas redes de escolarização: uma destinada aos filhos dos

membros da classe empresarial e outra destinada aos filhos dos membros da

classe trabalhadora9 (GADOTTI, 1999, p.197). Nesse sentido, há duas escolas

que coexistem de forma dissimulada, pelo fato, de que aparentemente elas se

alicerçam na ideologia da classe dominante para se apresentarem como única

e universal, que ofereceriam oportunidades iguais, ou seja, há uma

“naturalização” das relações assimétricas entre classes que se afirmam na

base ideológica do liberalismo embasado na perspectiva que “todos são

iguais”, isto é, “todos gozariam das mesmas oportunidades”.

Segundo Establet-Baudelot (1971, p. 298 apud SAVIANI, 2007, p.157), a

escola não é um local de luta para transformar a sociedade, mas somente

reproduzi-la.

(...) aparelho escolar capitalista é diretamente responsável pelas

modalidades segundo as quais este concorre para a reprodução das

relações de produção capitalistas. Isto supõe evidentemente que nós

elaboraríamos pouco a pouco uma definição sistemática da forma

escolar, da qual nós simplesmente indicamos que ela repousa

fundamentalmente sobre a separação escolar, a separação entre as

práticas escolares e o trabalho produtivo.

9 A primeira classe teria acesso às melhores escolas; seus filhos teriam tempo e recursos para

estudar; disponibilidade e recursos para freqüentar outras atividades que complementam a

formação e educação escolar, quanto à segunda classe, não teriam acesso às melhores

escolas nem a complementação dos seus estudos, seja por conta da falta de recursos

financeiros, seja por conta da incompatibilidade com a sua jornada de trabalho, que os

obrigaria a freqüentar cursos noturnos, sem possibilidade de fazerem outros cursos paralelos.

Page 82: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

82

Nos anos oitenta surgiu uma nova corrente de estudos educacionais,

intitulada de Nova Sociologia da Educação, que contribuiu de forma

significativa para o debate sobre o campo do currículo, com ênfase para o

papel da escola e o processo de seleção dos conteúdos culturais a serem

distribuídos, numa concepção crítica.

No artigo Cultura e Currículo, Alfredo Veiga-Neto (2002, p. 49) ressalta

as mudanças nas conjecturas na pós-modernidade, como os valores, questões

de gênero, etnia, política, economia e o próprio multiculturalismo. Faz uma

crítica a corrente metodológica ligada aos “velhos esquemas” baseados na

oposição binária, principalmente a temas envolvendo política e economia. De

acordo com Veiga-Neto a dialética materialista ligada ao culturalismo rompe

com a perspectiva reducionista que muitos autores a concebem10, pelo fato, de

associá-lo ao marxismo materialista mecanicista11 ligada a Escola de Moscou.

Os educadores críticos reprodutivistas apontam para uma ruptura da situação

de violência, que são criados e reforçados pela sociedade capitalista, e

estimulam uma experiência de prática inovadora.

A escola deve ser vista como um espaço que proporcione a

possibilidade de escolha, de indagação, de decição, de duvidar, experimentar

hipóteses de ação. Não se pode conceber a escola como algo fechado,

estático, fixo e imutável, mas como ambiente aberto para sua construção e

reconstrução permanente.

No livro Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica

da aprendizagem, Henry Giroux (1997, p. 48) fala da prática do currículo oculto

muito comum nas escolas: "(...) inconscientemente podem acabar endossando

formas de desenvolvimento cognitivo que mais reforçam do que questionam as

formas existentes de opressão institucional." Nesse sentido, o currículo oculto

10

Houve dois nomes importantes que mudaram o caráter marxista na história: Gramsci e Lukasc. Eles demonstraram a importância da superestrutura na determinação dos fenômenos, isto é, mostraram diversas instâncias que influenciam na transformação da sociedade, como as ideias, a educação, a consciência de classes, as ideologias políticas entre outras. Neste sentido, os chamados marxistas culturalistas demonstram como fatores culturais podem mudar a infra-estrutura. 11

Também chamado de determinismo mecanicista, onde a infra-estrutura determina tudo, em outras palavras, não a nada que não decorra diretamente do plano econômico.

Page 83: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

83

praticado muitas vezes pelos professores em salas de aula legitima o domínio

cultural a partir de certos discursos, desacredita e marginaliza outros.

2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ENTRAVES E DESAFIOS

De acordo com o livro Territórios Contestados, Antônio Flávio Moreira e

Tomaz Tadeu da Silva (1995a) citam Henry Giroux sobre a contribuição para

novas perspectivas de análise da formação de professores. Nesse sentido,

descreve a importância de que os cursos de licenciaturas formem professores

para atuarem como intelectuais transformadores e como pesquisadores-em-

ação. É relevante salientar a afirmativa de Freitas (1992) sobre os problemas

da formação de licenciados que não carecem de esforços teórico excepcional,

mas sim de “vontade política” para seu encaminhamento. Acrescenta, contudo,

que não se trata apenas de vontade pessoal, trata-se de circunstâncias que

impedem o desenvolvimento de certos projetos e a implementação de certas

práxis.

Um outro fato que merece destaque é trazida por Apple (1995) nas

discussões acerca da desqualificação sofrida pelos professores, identificada

como uma corrente crescente - a imposição de procedimentos de controle

técnico sobre os profissionais que atuam nas escolas.

Outra questão é o prestígio, status e a realização do trabalho docente,

este não está sendo valorizado como deveria, e com isso a classe vem

sofrendo profundos abalos. A própria condição salarial e de trabalho são

fatores desmotivantes para diminuição da procura por cursos de licenciaturas.

Segundo pesquisas, divulgadas durante o Seminário Remuneração do

Professor, Gestão e Qualidade da Educação12, realizado em São Paulo em

2007, é emblemático que “alunos de professores que participaram dos

chamados cursos de atualização não tiveram desempenho melhor do que

aqueles que assistiram às aulas de educadores que não fizeram os cursos”.

12

Fonte: http://aprendiz.uol.com.br/content/swoviclodr.mmp Acesso em 17/03/2012.

Page 84: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

84

Neste ponto, o cientista político e sociólogo Simon Schwartzman relata que

“não podemos continuar reduzindo o problema da educação brasileira em

questões como salários, cursos de aperfeiçoamento ou uso de computador”. O

assunto é complexo e reacende o debate sobre a precariedade na qualidade

da educação em vários âmbitos no Brasil.

Isso é um dado surpreendente, porque se torna um sinônimo do que

Paulo Freire (1996, p. 25) disse: “ensinar não é apenas transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua construção”.

Muitos cursos de formação de docente seguiam a concepção tradicional

de pedagogia - a visão positivo-funcionalista de de Émile Durkheim (1978, p.

60) a educação significa “ação exercida por uma geração sobre a geração

seguinte, com o fim de adaptá-la ao meio social...”.Segue a prática do

reducionismo, do consenso, do fatalismo e da acomodação que não podem

mudar a ordem das coisas. A partir da obra freiriana Pedagogia da Indignação

(2000) citada na contracapa por Alípio Casali: “não se educa sem a capacidade

de se indignar diante das injustiças”, demonstra primeiramente a refutação

dessa ótica, segundo verifica-se a necessidade de outros elementos para

compreensão do fenômeno atual. Este último, uma possibilidade alternativa

frente a concepção que está impregnada desde o começo do século XX.

Parafraseando Veiga-Neto (2002, p. 48), “o ato de educar não envolve

um processo de colonização de mentes e corpos?” Como ensinar para outros

grupos sem impor a eles meus valores? Essas questões servem para refletir

sobre o conceito de aculturação muito debatido nas ciências sociais. O maior

problema é quando esse conceito ultrapassa atingindo o conceito de

inculcação cultural, onde há uma imposição clara de hábitos, regras, condutas,

valores, costumes como meio adequado de aprendizagem.

O trabalho docente não é definido apenas como atividade em sala de

aula, ele agora compreende gestão da escola no que se refere à

dedicação dos professores ao planejamento, à elaboração de

projetos, à discussão coletiva do currículo e da avaliação.13

(OLIVEIRA, 2004, p. 1132)

13

No caso do Brasil ver especificamente os artigos 13 e 14 da LDB n° 9.394/96.

Page 85: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

85

Uma maneira diferente de pensar o processo de ensino e aprendizagem

é a participação coletiva possibilita que aqueles educandos que são

economicamente e culturalmente desfavorecidos participem ativamente no

processo de produção. Assim como “intelectuais orgânicos” conceito

gramsciano, os grupos subordinados puderiam gerar seus “intelectuais”, os

alunos representantes de camadas menos abastadas poderiam formar seus

“próprios professores”, rompendo com a lacuna e o distanciamento deixado

pelas instituições que não reconhecem os direitos, entre eles o do processo da

cidadania. Em outras palavras, “esses professores” poderiam ajudar a criar as

condições necessárias para construção de instituições de educação popular,

como uma forma de educação cultural alternativa frente à exclusão e

desamparo que sofrem essas populações.

A palavra contra-hegemonia de expressão de Gramsci (1971) reforça a

lógica da crítica e oferece elementos para pensar na criação de novas relações

sociais e novos espaços públicos que materializam formas alternativas de

resistência, ou seja, funciona como meio de luta e negação diante dos

discursos e práticas dominantes. Nesse sentido:

A idéia de uma cultura comum (...). Envolve um exercício de

conceituação coletivo, de que participem todas as pessoas,

atuando ora como indivíduos, ora como grupos, num processo

contínuo, que jamais pode ser dado como pronto ou concluído.

Nesse processo coletivo, a única regra incondicional é manter

todos os canais e instituições de comunicação continuamente

abertos, para que todos possam contribuir e ser estimulado a

contribuir. (WILLIAMS, s.d., apud APPLE, 1982, p. 51)

Na produção do conhecimento coletivo, o pensar certo implica na

existência de sujeitos que pensam mediados por objetos sobre que incide o

próprio pensar dos sujeitos. É fundamental que na prática da formação

docente, o aprendiz de educador assuma que é indispensável pensar certo,

que isso não se adquire apenas de algumas situações ou leituras, mas na

produção em conjunto do professor e com o educando. Por isso, que o

professor está em permanentemente em formação. Nesse sentido, Giroux

(1997, p.239) citando Gramsci argumenta que “todo o professor é sempre um

aluno, e todo aluno, um professor”.

Page 86: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

86

O processo de escolarização deveria ensinar aos estudantes a “ordem

objetiva das coisas”, segundo Herbert Marcuse (1982, p.142):

“(...) uma sociedade que mantém sua estrutura hierárquica

enquanto explora com eficiência cada vez maior os recursos

naturais e mentais e distribui os benefícios dessa exploração

em escala cada vez maior. Os limites dessa racionalidade e

sua força sinistra aparecem na escravização progressiva do

homem por um aparato produtor que perpetua a luta pela

existência, estendendo-o a uma luta total internacional que

arruína a vida dos que constroem e usam esse aparato”.

É preciso relatar que não há negação da importância que competem as

instituições de educação formal, mas tem um problema: os princípios

reprodutivos seguem uma perspectiva liberal. O alunado se torna refém dessa

lógica, porque está internalizando o pensamento da sociedade do consumo, o

individualismo exacerbado que dá significado e significância nas suas relações

sociais.

2.1 A docência pode ser caracterizada como um processo de

proletarização?

A pergunta é pertinente, pelo fato, que o processo educacional não cria

a divisão social do trabalho, mas ela tem o papel fundamental de produzir

indivíduos com características adequadas para esta divisão. Assim, a

escolarização fornece uma população dividida, isto é, produz por um lado

trabalhadores intelectuais, e por outro lado, trabalhadores manuais. Então, o

sistema educacional está contribuindo para produção de indivíduos com

características de socialização adequadas a divisão social do trabalho. A

educação é concebida com ferramenta necessária para responder a demanda

de formação de mão-de-obra.

Outro ponto contrastante corresponde as condições de trabalho:

O que vem sendo considerado um processo de precarização do

trabalho decorre da constatação de que é possível o crescimento

econômico sem ampliação do número de empregos, o que tem

contribuído para o acirramento das desigualdades sociais neste

Page 87: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

87

começo do século. (POCHMANN, 1999 apud OLIVEIRA, 2004,

p.1138).

A discussão envolve o entendimento sobre o trabalho capitalista. Nesse

ponto, precisa-se expor a tese da proletarização - o processo que pelo qual um

grupo de trabalhadores perde, em diferentes graus maiores ou menores, o

controle sobre seus meios de produção, ou seja, a organização de suas

atividades e o objetivo de seu trabalho.

Partindo desse pressuposto, o trabalho do professor vem cada vez mais

perdendo autonomia, aumentando a especialização, fruto de uma maior divisão

social do trabalho. Nessa perspectiva o professor como qualquer outro

trabalhador vem sofrendo as conseqüências da intensificação e fragmentação

do processo de produção material da sociedade.

O trabalho docente está perdendo progressivamente até o poder de

decidir sobre o tempo de suas atividades, somente o professor pode ou poderia

decidir o tempo necessário para que a “turma X” precisa ou precise para

assimilar tal matéria, diferentemente da “turma Y” que tem ou teve mais

facilidade. Mas já vem pré-estabelecido na forma de disciplina, diretrizes,

horários, programas, normas de avaliação, etc. A educação é uma forma de

condicionamento, mas não pode ser imposto de forma anti-reflexiva, como

sustenta a pedagogia tradicional, e ninguém melhor que o educador para

avaliar qual é a melhor maneira de realização do seu trabalho.

O professor precisa romper com a concepção da escola como empresa,

que tem objetivo de formar o aluno somente como valor de troca, como mero

instrumento de lucro a serviço do capital.

3. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL: OBJETIVOS E PRINCÍPIOS

As mudanças drásticas pelas quais vem passando o mundo,

intensificado pela globalização (entre o local e global), nas últimas décadas

produziram transformações na prática social e no trabalho. O sistema

Page 88: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

88

educacional brasileiro está buscando reformas que contemple a adequação às

novas exigências do mundo competitivo.

O ensino médio, que corresponde à educação secundária superior, é a

grande questão de debates atualmente na educação. Que formação está

sendo estabelecida entre a educação geral e a educação profissional? Como

conciliar os objetivos de preparação de visão crítica que envolve os estudos

entre o mundo do trabalho e desenvolvimento pessoal?

Em 1996, o Brasil aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a

Lei N° 9.394, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro. Ela consiste três

níveis14 para educação: Básico, Técnico e o Tecnológico. O primeiro

estabelece a modalidade de educação não-formal, ou seja, independe da

escolaridade prévia. O segundo, destinados a jovens e adultos que estejam

cursando ou tenham concluído o ensino médio. E o terceiro, destinado à

formação superior, tanto de graduação como de pós-graduação.

Segundo Filho15 (1999, p. 2) define a educação profissionalizante:

A educação profissional tem como objetivos não só a formação de

técnicos de nível médio, mas a qualificação, a requalificação, a

reprofissionalização para trabalhadores com qualquer escolaridade, a

atualização tecnológica permanente e a habilitação nos níveis médio

e superior. A educação profissional deve levar ao “permanente

desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”.

Essa reformulação da educação profissional veio a ser adotada a partir

de modelos já existentes, como a educação secundária implementada na

Argentina e Israel. Essa reinstrumentalização da educação profissionalizante

tem uma função primordial: atender os interesses de diversos setores da

economia, especificamente, de qualificar a mão-de-obra nacional.

O marco curricular estabelece conteúdos, orientações e metodologias a

ser trabalhadas, quanto aos objetivos16:

14

Algumas bibliografias descrevem apenas dois níveis: a educação básica e a educação superior, pelo fato, a primeira incorpora o nível básico e técnico, e a segunda o nível tecnológico correspondendo à formação superior. 15

Rui Leite Berger Filho é Secretário de Educação Média e Tecnológica, Ministério da Educação, Brasil. 16

Assinalamos somente três pontos que achamos relevantes para nossa discussão.

Page 89: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

89

- Currículos baseados em competências requeridas para o exercício

profissional.

- A prática profissional constitui e organiza o desenvolvimento curricular.

- Oferta de cursos sintonizada com as demandas do mercado, dos cidadãos e

da sociedade.

Percebemos que ensino técnico não se propõe formar indivíduos críticos

diante das relações de trabalhos, mas de adaptá-los ao sistema bem numa

visão funcionalista durkheimiana de integração social. Para promover uma

mudança qualitativamente diferente na educação, educador e educadora

precisam romper com a concepção da escola como empresa, que tem objetivo

de formar indivíduos somente como valor de troca, como fossem meros

instrumentos de lucro a serviço do capital.

Nessa perspectiva, a escola, ao invés de servir para aplainar

diferencias sociais e compensar desvantagens de nascimentos, como

pretende a ideologia liberal, estaria diretamente implicada na

reprodução das desigualdades sociais estabelecidas por uma

organização econômica cuja lógica consiste exatamente em manter

uma sociedade de classes. A partir dessa ideia básica, tem-se

tentado explicar muitas e variadas características do sistema

educacional por seus vínculos com certas das necessidades do

sistema capitalista. (SILVA, 1992, p. 174)

O ensino educacional formal tem uma função sócio-política e

multicultural de formação, mas na prática é utilizada como mecanismo de

homogeneização histórica que reproduzem e mantém valores e normas

dominantes.

Segundo o livro Educação como Prática da Liberdade, Paulo Freire

(1973, p.15) aborda:

Não existe um processo educacional neutro. A educação ou funciona

como instrumento usado para facilitar a integração da geração mais

jovem na lógica do sistema atual e trazer conformidade à mesma, ou

então torna-se a “prática da liberdade” – o meio através do qual

homens e mulheres lidam crítica e criticamente com a realidade e

descobrem como participar da transformação de seu mundo.

Page 90: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A possibilidade de reconstruir a educação como “educação crítica”,

implica numa ampliação na sua representação nas esferas públicas. Essa

questão surgiria a partir da politização da educação, na reivindicação de

classes populares, de diversos movimentos sociais por políticas públicas

inclusivas17, com objetivo que reparassem as desigualdades historicamente

produzidas. A educação é um campo de luta, de disputas intermináveis, por

mexer nos privilégios de uma pequena minoria da sociedade, em detrimento de

uma grande maioria espoliada sócio-político-economicamente, quase ou sem

chances de poder ter um ensino de qualidade. O estudo do currículo propicia

um olhar mais apurado da realidade que nos cercam, ao mesmo tempo,

servindo de instrumento de ação transformadora para uma nova ordem

qualitativa de aprendizagem.

Quanto aos cursos de formação docente, enfatizamos que as mudanças

na licenciatura que se fazem necessárias não podem ser refletidas sem a

noção a uma política mais ampla na qual educação e educadores recebam

outro tratamento. Algumas questões desafiadoras destacamos entre elas:

ensino e pesquisa, teoria e prática, qualidade de trabalho, compromisso e

responsabilidade social.

E por último, a educação profissionalizante apresenta interesses bem

dirigidos, de promover conhecimentos específicos para os estudantes, este por

sua vez corresponde quase exclusivamente a segmentos ligados à economia.

A observação que façamos corresponde ao ensino ministrado, pois não pode

ser encarado como uma mercadoria, muito menos os indivíduos que nela

atuam, contemplados por currículos que objetivam somente a visão

tecnocráticas e corporativista. Finalizando, então, não se pode dissociar a

reflexão crítica sobre o currículo da formação docente e da educação

profissionalizante.

_______________________________________________________________

17

É a questão das cotas raciais e do programa Prouni que são alvos de grandes discussões em torno do assunto.

Page 91: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

91

REFERÊNCIAS

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado: nota sobre os aparelhos

ideológicos de estado; trad. Walter José Evangelista, Maria Laura Viveiros de

Castro. 6° ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

APPLE, M. W. Ideologia e Currículo. São Paulo. Editora Brasiliense, 1982.

BOURDIEU,P.; PASSERON, J. C. A Reprodução – Elementos para uma Teoria do

Sistema de Ensino. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

__________. Escritos de Educação. In: CATANI, A. e NOGUEIRA, M. A. (org.). 12.

ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

__________. Razões práticas: sobre a teoria da ação. 9° ed. Campinas/SP.:

Papirus, 2008.

DURKHEIM, È. Educação e Sociologia. São Paulo. Melhoramentos, 1978.

FILHO, R. L. B. Educação profissional no Brasil: novos rumos. Revista Ibero

Americana, N°20, maio-agosto de 1999.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

São Paulo, Paz e Terra, 1996.

_________, P. Educação como Prática da Liberdade. São Paulo, Paz e Terra,

1973.

FREITAS, L. C. Em direção a uma Política para a Formação de Professores. Em,

Aberto, Ano 12, n° 54, 1992.

GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. 8 ed. São Paulo: Ática, 1999.

GIROUX, H. A. Os Professores como Intelectuais. Porto Alegre, RS. Artes Médicas,

1997.

MARCUSE, Herbert. A Ideologia da Sociedade Industrial: O homem

unidimensional. Rio de Janeiro. 6° Ed. Zahar Editores, 1982.

MOREIRA, A. F. e SILVA, T. T. Territórios Contestados. O currículo e os novos

mapas políticos e culturais. Petrópolis, RJ. Vozes, 1995a.

__________, A. F. e SILVA, T. T. Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo. 2° Ed.

Cortez Editora, 1995b.

OLIVEIRA, D. A. A reestruturação do trabalho docente: precarização e

flexibilização. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1127-1144, Set./Dez. 2004.

Page 92: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

92

Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>

SAVIANI. D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista

Brasileira de Educação v. 12 n. 34 jan./abr. 2007

SILVA, T. T. O que produz e o que reproduz em educação. Ensaios de Sociologia

da Educação. Porto Alegre, RS. Artes Médicas, 1992.

VEIGA-NETO, A. Cultura e Currículo. Contrapontos, ano 2, n° 4 – Itajaí/SC, jan/abril,

2002.

SITOGRAFIA

http://www.rieoei.org/rie20a03.htm. Acessado em 11 de março de 2012.

http://www.oei.es/quipu/brasil/educ_profesional.pdf. Acessado em 16 de março de

2012.

http://aprendiz.uol.com.br/content/swoviclodr.mmp. Acessado em 17 de março de

2012.

Page 93: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

93

RESUMOS EXPANDIDOS

Page 94: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

94

A “PRIMAVERA DAS MULHERES”: FEMINISMO E RELIGIOSIDADE EM

GUARAPUAVA

KARINA DE FATIMA BOCHNIA

Orientadora: Profª.Dra. Rosemeri Moreira

Ciências Sociais-FG

PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Mulheres. Religiosidade. Feminismo.

A presente pesquisa sobre o Movimento Mulheres da Primavera - MMP,

surgido no Bairro Primavera na cidade de Guarapuava, permite analisar a

construção e a configuração do primeiro movimento de mulheres,

declaradamente feminista, na cidade de Guarapuava, PR.

O MMP surgiu no ano de 2002, inserido num projeto da Paróquia Nossa

Senhora de Fátima da Igreja Católica, vinculado a necessidade da participação

dos católicos na vida política do município. No ano de 2009 foi

eleita, pelo PHS (Partido Humanista da Solidariedade) uma das integrantes do

MMP como vereadora da cidade de Guarapuava. Em 2012, essa mesma

vereadora Eva Schran de Lima tornou-se vice-prefeita da cidade. Fato inédito

na política local.

É Importante assinalar que o MMP constituído atualmente por

aproximadamente trinta mulheres é o primeiro movimento de mulheres a

declarar-se Feminista na região e a filiar-se ao movimento internacional

denominado Marcha Mundial das Mulheres. E que mesmo nos

grupos ditos de esquerda da região, não existe uma identificação imediata com

o feminismo. Como é o caso do PT local, por exemplo, que não se utiliza do

termo feminista, preferindo o termo “mulheres do PT”.

Dessa forma, a implicação política do uso do termo feminista por parte

de um movimento social de mulheres, principalmente por estarem vinculadas a

Igreja Católica, por si só já nos coloca questões para uma análise histórica e

sociológica.

A pesquisa em torno do MMP torna-se necessária na medida em que se

Page 95: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

95

fazem os seguintes questionamentos: Em que medida as reivindicações e

estratégias do MMP são feministas? Sob qual patamar ideológico se deu a

configuração inicial do MMP? Qual é a relação do MMP estabelecida com

outros grupos políticos organizados de mulheres, principalmente os grupos de

ditos de esquerda? De que forma, e sob quais experiências, se deu a

construção das participantes do MMP como sujeitos políticos? Qual a

importância da MMP na configuração política e religiosa local?

Essas questões permitem a análise de como se formam as identidades

coletivas. Além disso permite também aprofundar as representações, locais em

termos políticos e religiosos, sobre as configurações e identidades de gênero.

Ainda em termos políticos, a pesquisa propicia a discussão sobre as recusas e

aceitações do termo Feminismo na cultura política local. Nessa perspectiva, a

análise do MMP nos permitirá investigar a construção do movimento; as suas

formas de organização; e a ação das mulheres como sujeitos políticos na

cidade de Guarapuava.

1. ABORDAGEM DA TEORIA

Ao definir a categoria “mulheres” é necessário identificar historicamente o

processo ao qual levou a compreensão da categoria em quanto sujeitos

possuidores de uma identidade própria e suas relações construídas

culturalmente.

A historiadora Joana Pedro apresenta em uma análise didática as lutas

feministas e o papel das mulheres na história definindo o debate atual sob a

perspectiva de “gênero”. Para dar embasamento a essa pesquisa é

imprescindível a compreensão do papel dos movimentos feministas, da

formação da identidade na categoria “mulher “e a perspectiva de gênero,

enquanto categoria de análise, na reflexão do sujeito em relação a cultura.

Segundo a historiadora Joana Pedro:

Afinal, do que estamos falando quando dizemos “relações de Gênero”? estamos nos referindo a uma categoria de análise, da mesma forma quando falamos de classe, raça/etnia, geração.” (PEDRO, 2000, p. 3)

Page 96: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

96

O Movimento Feminista, destacado pela historiadora Joana Pedro, pelo

viés de uma nomenclatura mais tradicional, teve diversas fases divididas em

ondas. Na “primeira onda', durante o século XIX e início do século XX, o

movimento focou sua reinvindicações em favor dos direitos políticos; como

votar e ser eleita; e dos direitos sociais e econômicos como o de trabalho

remunerado, estudo, propriedade e herança. Será na chamada “segunda onda”

que a categoria “gênero” é criada: “Foi justamente na chamada “segunda onda”

que a categoria “Gênero” foi criada, como tributária das lutas do feminismo e do

Movimento de mulheres.” (pág.3)

Até esse momento utilizava-se a categoria “mulher”, pensada

justamente em contraposição a palavra “homem” palavra considerada universal

o que é considerado comum em nossa fala ou escrita ao nos referirmos a um

grupo de pessoas usarmos o plural masculino, o questionamento desse

movimento feminista se dava no sentido de que o universal na sociedade era

considerado masculino, e quando eram nomeadas pelo masculino não sentiam

se incluídas. “Assim, era como “Mulher” que elas reafirmavam uma Identidade,

separada da de “Homem” (pág. 4)

Dessa forma, optaram por realizar grupos de reflexão composto

somente por mulheres, pois a presença de homens nas reuniões inibia

palavras e iniciativas das mulheres, as quais nessas reuniões narravam a

maneira como tinham sido criadas, percebendo o que acontecia

individualmente com cada uma dentro de um contexto amplo.

Nesta pesquisa o uso de gênero como categoria analítica corresponde

aos pressupostos defendidos pela Historiadora Joan Scott que assinala que

sua definição de “gênero” divide-se em duas partes que estão inter-

relacionadas, mas, que devem ser diferenciadas: A primeira é que

gênero é um elemento que se constitui em relações sociais baseadas nas

diferenças percebidas entre os sexos. A segunda é que gênero seria

uma primeira forma de dar significado a relações de poder. Esta categoria

implica ainda em quatro elementos que estão inter-relacionados, em primeiro

estariam os símbolos construídos culturalmente, um exemplo seria o de Eva e

Maria baseados na religião cristã ocidental. (SCOTT, Joan W. 1990, p. 86); o

Page 97: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

97

segundo seriam conceitos normativos que expressam interpretações dos

significados e símbolos que estão presentes em doutrinas e que afirmam

categoricamente e inequivocamente o significado de masculino e feminino, na

qual chama a atenção para o perigo de posições dominantes que declararem-

se como únicas possíveis. (SCOTT, p. 86); o terceiro aspecto sobre as ralações

de gênero consiste em o pesquisador descobrir a natureza do debate ou da

repressão que leva a aparência de uma permanência que escapa do tempo na

representação binária de gênero, incluindo uma concepção política

referenciando a instituição ou a organização social. Scott chama a atenção

neste terceiro aspecto, ao fato de não se trabalhar gênero em uma categoria

específica de parentesco, mas demonstrar também as categorias econômicas

e políticas presentes ( SCOTT, p.. 87); o quarto e último elemento está

relacionado a identidade subjetiva de gênero na qual o pesquisador deve

examinar as formas as quais as identidades genereficadas são

substantivamente construídas, nas quais o pesquisador deve ainda, relacionar

seus achados com toda uma série de atividades, organizações e

representações sociais historicamente específicas. (SCOTT, pág. 88)

Sob essas circunstâncias, a autora destaca que:

A primeira parte da minha definição de gênero, então, é composta desses quatro elementos e nenhum dentre eles pode operar sem os outros. No entanto eles não operam simultaneamente, como se fosse um simples reflexo do outro. (SCOTT, 1990, p. 88)

Faz-se necessário o pesquisador analisar as relações que se encaminham

nesses quatro aspectos. Dessa maneira, Gênero enquanto categoria de análise

propõe uma transformação sob a perceptiva do conhecimento tradicional,

acrescentando novos temas e incluindo novos discursos no sentido de analisar

a natureza dessas relações.

2. FONTE E DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO

O MMP do Bairro Primavera, consiste em uma organização de mulheres

que reúnem –se quinzenalmente para discutir assuntos pertinentes a realidade

Page 98: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

98

social em que estão inseridas, tanto econômicas quanto sociais e políticas. O

objetivo do movimento é promover a emancipação das mulheres nas esferas

financeira, emocional e política, com foco no equilíbrio de Gênero na sociedade

Além de promoverem uma vez por ano a romaria da mulher a partir de temas

que focam a participação da mulher nos espaços sociais como exemplo o tema

da romaria deste ano de 2012 que foi: Participação política das mulheres,

autonomia financeira feminina e combate da violência contra as mulheres.

O bairro primavera localiza-se nas margens BR 277 com a PR 466 na

entrada da cidade de Guarapuava, sendo um espaço delimitado pelo parque

das araucárias e o rio xarquinho além das residências de classe média em

geral a economia do bairro concentra-se no comercio em geral e

principalmente pelo comércio de peças e utilidades de carros e caminhões pelo

fato de localizar-se na rodovia.Possui ainda um posto de saúde municipal que

atende a comunidade, 4 igrejas sendo uma católica e 3 evangélicas e 4 escolas

sendo uma estadual e 3 municipais. A população do bairro segundo o último

censo realizado pela igreja católica em 2011 era de 12.000 habitantes.

Portanto as mulheres que participam do MMP vem em geral da classe

média e tem profissões diferenciadas entre elas encontram-se as seguintes

profissões: advogadas, assistentes sociais, professoras, secretárias, donas de

casa, domésticas entre outras, as mulheres que participam do movimento

possuem idade entre 15 e 60 anos, também possuem raça/etnia diferenciada

entre elas existem negras, branca e pardas.

A construção do movimento, suas estratégias e reivindicações serão

analisadas através das atas e entrevistas flexíveis realizadas de forma

qualitativa, com no máximo cinco mulheres. Nessa perspectiva, as entrevistas

serão encaminhadas através de diálogos e de forma livre, convidando as

entrevistadas a falar sobre o assunto de interesse comum.

REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith. Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do “pós

modernismo”. Cadernos Pagu, n. 11, 1998. PP. 11-42.

Page 99: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

99

CAVALCANTI, Vanessa Ribeiro Simon. Memórias femininas: tempo de viver,

tempo de lembrar. Revista Brasileira História. vol. 27, n. 54. São Paulo. Dez.

2007

D’ALÉSSIO, Maria Mansor. Intervenções da memória na Historiografia:

identidades, subjetividades, fragmentos, poderes – PUC. SP. Projeto História

Trabalhos da memória. n. 17, Nov. 1998.

JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memória. Ed. Siglo Veintiuno, España,

Argentina, 2001.

MORAES, Marieta ; MACHADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio

de Janeiro. FGV, 1996

SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e

realidade, vol. 16, n° 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990, p.5.

SITOGRAFIA

PEDRO, Maria Joana. Traduzindo o debate: o uso da categoria Gênero na

pesquisa histórica. História, São Paulo, v.24, N.1, P.77-98, 2005. <

http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a04v24n1.pdf> acesso em:14/04/2013.

PINSKY, Carla Bassanezi. Estudos de Gênero e história social. Estudos

feministas 17(1): 296, janeiro-abril/2009

<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/11687/10988>

acesso 14/04/2013.

Page 100: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

100

A EXPRESSIVIDADE POLITICA DOS POVOS DO CAMPO FRENTE AO

SISTEMA ESCOLAR NO MUNICIPIO DE PINHAO (PR)

CARLOS DE JESUS LIMA

Ciências Sociais (FG)

“A cultura deve deixar de ser perfume e passar a ser feijão”

Tom Zé

PALAVRAS-CHAVE: Filosofia. Liberdade. Igualdade. Sujeito. Direito.

Levado a pesquisar sobre as noções de justiça social numa justificação

filosófica para em seguida compreender as causas e condições de pessoas

mencionadas aqui como não citadinas, optei pela analise de cunho bibliográfico

e comparativo de entre os textos que me serviram de apoio como norte para

todos os assuntos abordados. A compreensão das categorizadas noções

pertinentes as ações coletivas como de política, cidadania, direito, sociedade,

comunidade e entre outros; levaram-me a ponderar por vezes a impossibilidade

de serem reconhecidos como cidadãos plenos todos aqueles que vivem a

margem do sistema – haja vista que a categoria cidadão pertence

conceitualmente às correlações cidade/cidadão. O camponês, portanto surge

como não citadino – ele pode não ser cidadão?

Segundo o filosofo grego Aristóteles (séc. IV AC), “Quem não pode fazer

parte de uma comunidade ou quem não precisa de nada, bastando-se a si

mesmo, não é parte de uma cidade, mas é fera ou Deus” (Poli. I, 2, 1253 a 27),

definindo assim, o homem como um ser que não pode efetivar-se senão dentre

os outros, isto é, a possibilidade de ser, do homem, permanece numa

comunidade de homens.

Pela clássica definição de política, tomada aqui a partir de Aristóteles, ou

seja, partindo da idéia de que em algum momento e lugar ocorre originariamente

entre dois e/ou mais seres uma relação, um “combinado” (que em algum sentido

daí para diante os envolvidos vão passando a ser, de certo modo, sócios, como

na amizade ou num casal de namorados, por exemplo), com necessidades

Page 101: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

101

razão, palavra – a capacidade divina no homem – passando a formar

comunidade, vila, cidade. Compreende-se também a relação do termo cidadania

ao fundamento das comunidades, das cidades; do cidadão, do ser que é da

cidade – da política – sem a qual não se pode

ser. Não ser cidadão, é o mesmo que não pertencer à cidade, ou melhor, à

comunidade de homens.

Aponta-se na direção que certamente tomaríamos, a titulo de exemplo,

dentre as mais variadas instancias sociais. A escola, portanto caracterizada

como simples reprodutora da ordem presente. Nunca transformadora.

Dado que a ordem social aqui se presta como construto de relações

humanas – nos remetendo a autores como Hobbes, Locke e Rousseau, na

medida em que podemos resgatar idéias referentes ao contrato social –,

referente a um bem e, portanto, caracterizando um bem quando relacionado a

alguma finalidade.

Segundo o professor Bernardo Mançano Fernandes (SEED, p15), temos

“três distintos modelos de interpretação do campesinato”. Fica difícil conceber

uma via de ação sem que antes saibamos definir com clareza o objeto de

nossas ações. Devemos ter em mente que por mais diferentes que sejam entre

si, os paradigmas em questão, permanecem numa lógica sistemática associada

à idéia de capital. O camponês por certo sofre a ameaça de extinguir-se devido à

impossibilidade de sustentar-se fora da lógica capital-industrial (fim do

campesinato). Por outro lado, o camponês requerendo (num processo de

resistência) sua permanência e luta diante da lógica capital-industrial que

precisaria também da produção de bens do camponês – perspectiva que

compreende um estado de crise permanente do sistema capitalista na medida

em que a própria crise faz com que o sistema evolua: 1)pelo arrendamento; 2)

pelo financiamento de terras; 3) e pela própria ocupação; – permanentemente

destruindo e (dando origem a resistências) recriando o campesinato (fim do fim

do campesinato). Numa terceira possibilidade, o camponês se transformaria em

agricultor familiar devido ao processo de desenvolvimento da sociedade como

Page 102: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

102

um todo – permanece neste caso uma dualidade: camponês/atrasado –

agricultor familiar/modernizado (metamorfose do campesinato);

Retomando a concepção filosófica de Aristóteles onde, “Quem não pode

fazer parte de uma comunidade ou quem não precisa de nada, bastando-se a si

mesmo, não é parte de uma cidade, mas é fera ou Deus” (Poli. I, 2, 1253 a 27),

concomitante às noções paradigmáticas expostas pelo professor Fernandes,

observamos claramente a figura do camponês como de O excluído, do sistema

vigente. Não faz parte de uma cidade. Não mora nem participa de um sistema

citadino. Classificado como bruto compreender-se-á numa exclusão que é

ideologicamente naturalizada, ou seja, para ser e pertencer como um cidadão,

só lhe resta dobrar-se ao sistema vigente ou lutar contra (empreendida como

necessidade dicotômica) – deixar de ser camponês porque é preciso? Tornar-se

camponês porque é preciso?

Se o ato de tornar-

pelo pacto social ou mesmo pela relação entre sujeitos que se dão a reconhecer

numa comunidade, como ocorre na seara dos movimentos sociais, resultando

em ações políticas legitimas na medida em que constituem uma determinada

ordem social – pelo saber conviver entre membros e, ao mesmo tempo, pelos

objetivos comuns pelos quais lutam e constituem seus grupos organizados.

Desses grupos, portanto partem as reivindicações expressivas de uma

população insatisfeita porque se reconhecem na margem de um sistema

excludente e identificam-se pelo pertencimento que lhes foi negado – forçando-

os a uma outra posição de existência frente a um dado sistema.

Quem são eles? “Joaquim, homem de meia idade, importante sujeito e

apoiador de minha pesquisa (...) Posseiro, ele tem uma historia peculiar de

inserção no município, que nos remete às tramas do conflito fundiário lá

ocorrido” (AYOUB, 2011, p 9) – muito de emblemático envolve a historia do

município de Pinhão. Observamos características peculiares do sistema escolar

nesse município que, em particular através do Projeto Político Pedagógico (PPP)

do Colégio Estadual do Campo São José, “A Casa Escolar São José iniciou seus

serviços estudantis em 1954 e era de caráter particular de propriedade das

Page 103: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

103

Indústrias João Jose Zattar” (2011, p 13). São evidenciados na identidade de

alunos que como filhos e ou netos de pessoas que participaram de conflitos,

tornam-se o grande numero do publico dessas escolas.

A educação surge, apesar de muito já avançado em relação às

paradigmáticas noções sobre os povos do campo, ainda refém da sistemática

externa aos interesses do ser humano feito aluno – transformar-se o humano

numa ferramenta, é a lógica do sistema cujo ponto de referencia é o

capital/industrial.

Uma coisa que se torna inegável pela natureza do próprio direito, ou seja,

para ser direito tem de ser legitimado, ou seja, de alguma forma tem de ser

escrito para ser lei. Se não estiver escrito, o direito por certo não existirá – a

lógica das construções normativas nos permite afirmar ainda, que se o direito

pertencer a quem possui determinado bem – quem não o possui não terá

direitos. O sem terra, portanto não tem direito a terra... Conclusão um tanto obvia

pela lógica, mas estranha por se tratar de sujeitos humanos que se supõem

iguais perante a lei.

Apesar de estranho, os movimentos sociais compõem-se de sujeitos que

vivem a margens do direito, da cidade, do sistema, etc.

(“constituídos/instituidos”)– justamente por isto se legitima a luta para que sejam

incluídos. Deve-se observar a quem a escola do campo servirá: reproduzindo um

sistema carregado de condicionantes que excluem e vem mantendo excluídos,

ou, torna-se diferente – como escola orgânica que vive a vida de seus membros:

os alunos.

REFERÊNCIAS

AYOUB, Dibe Salua. Madeira sem lei: jagunços, posseiros e madeireiros em

um conflito fundiário no interior do Paraná - Curitiba 2011 (Dissertação de

Mestrado)

CREMONESE, Dejalma. Teoria política – Ijuí : Ed. Unijuí, 2008. – 220 p. –

(Coleção educação a distância. Série livro- texto).

Page 104: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

104

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado

eclesiástico e civil; 3. ed. – São Paulo : Abril Cultural, 1983.

MONTEIRO,Nilson. Madeira de lei: uma crônica da vida e obra de Miguel

Zattar – Curitiba: Edição do autor, 2008.

NICOLA, Abbagnano; Dicionário de Filosofia – t. Alfredo Bosi; 4ª ed. São

Paulo: Martins Fontes 2000.

PRADO JUNIOR, Caio; O que é: liberdade, justiça, direito – São Paulo – Circulo

do Livro, 1994, 188 p.

SITOGRAFIA

ROSA, Graziela Rinaldi da. Conhecendo maneiras de pensar gênero na

filosofia de Portugal. Rev. Estud. Fem. [online]. 2008, vol.16, n.1, pp. 249-252.

ISSN 0104-026X. in: http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n1/a23v16n1.pdf de

12/10/2011.

RIBEIRO, Renato Janine. Filosofia, ação e filosofia política. Rev. bras. Ci.

Soc., São Paulo, v. 13, n. 36, Feb. 1998. Disponível em : Available from

<http://www.scielo.br/scielo.php. Accessado em 12 de outubro de 2011.

OUTRAS FONTES

SEED/PR. Cadernos Temáticos: educação do campo/Paraná. Superintendência

da educação. Departamento de Ensino Fundamental. – Curitiba: SEED-PR,

2008. – 75vp.

Page 105: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

105

A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA: ESTUDO

DE CASO NO MUNICÍPIO DE NOVA LARANJEIRAS(PR)

ELISEU CHUSCA

Ciências Sociais- FG

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão. Escola. Deficiências. Educação. Sociedade.

Este resumo tem por objetivo apresentar uma breve discussão sobre a

inclusão de alunos portadores de deficiência no município de Nova Laranjeira.

O conceito de deficiência formou-se ao longo da historia, e foi influenciado por

diversas culturas, que deu significados diferentes de acordo com seu contexto.

No momento atual muito tem se falado sobre a problemática que envolve o

tema, mais ele só ganhou força após a declaração de Salamanca de 1994. A

qual preconizou a escola como sendo para todos, devendo adaptar seu espaço

estrutural, e seu currículo com o fim de prover ambiente integrado e sem

descriminação.

Para CARVALHO (2000) houve períodos que marcaram a concepção de

deficiência dentro do tempo histórico, segundo o autor na antiguidade os

deficientes eram vistos como demônios ou como portadores de poderes e dons

divinos. Fato que causa medo em alguns, e admiração de outros, serviços de

saúde nessa época era quase inexistente. Seguindo os escritos de Carvalho

que diz que a lei da hereditariedade de Mendel, as descobertas genéticas e os

testes de inteligência contribuíram negativamente para justificar a exclusão

escolar e social de muitas pessoas. Pensamento que só começou a mudar

opôs a I e II segunda guerra mundial, quando houve a necessidade de atender

e reabilitar os soldados que retornavam dos campos de batalha com graves

mutilações. O que chamou a atenção para o atendimento de outras pessoas

com deficiência. Sabe-se que a escola é fundamental para toda criança, e

ainda mais para quem possui alguma necessidade especial. Embora o termo

usado para referir-se as pessoas com necessidade especial seja muitas vezes

pejorativos não dando espaço para as possibilidades de melhora do individuo.

Para Tessaro (2005) “inclusão não implica desconsiderar a

diversidade/diferença, ao contrario, significa aceitar e reconhecer a diversidade

Page 106: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

106

na vida e na sociedade,” precisa-se identificar cada individuo como um ser

único, com suas necessidades, desejos e vontades que lhe são própria de sua

unitariedade. O grande desafio da escola da educação de hoje é de criar um

ambiente que oportunize o acesso de toda a diversidade humana existente, o

ensino especial inclusivo é muito mais exigente que o ensino regular, a busca

de incluir o deficiente dentro do contexto escolar e social, com o fim de torná-

los sujeitos independentes e cidadãos participativos dentro do contexto social

de maneira igualitária deve ser a busca do profissional que trabalha com essa

problemática.

Esta pesquisa tem por objetivo abordar o tema da inclusão escolar no

município de Nova Laranjeira, com o propósito de verificar como se encontra a

inclusão no mesmo. Sendo que o referente município esta localizado no região

oeste do Paraná, a qual possui baixo nível IDH (índice de desenvolvimento

humano) sendo a região considerada a mais pobre do estado. Sua população

segundo dados do IBGE é de 11218 habitantes, esta a uma distancia de 418

km da capital Curitiba. A maioria de sua população reside na área rural do

município. Os primeiro contato feito com o secretario municipal de educação e

com uma professora que responsável pelo trabalho da inclusão no município

revelou que são 816 alunos matriculados na rede municipal de ensino, são três

escolas que possuem alunos inclusos atualmente, a secretaria municipal de

educação não possui um projeto político pedagógico (PPP) municipal, que

segundo a professora R, O PPP (projeto político pedagógico) e de

responsabilidade de cada escola, também não existe um levantamento de

dados sobre o numero do total de alunos inclusos.

A pesquisa presente pesquisa tem como objetivo abordar o tema da

inclusão escolar, em um município do interior, que supostamente possui pouca

estrutura e recursos. O desenvolvimento da pesquisa e da busca por

informações e levantamentos de dados serão embasados na pesquisa

bibliográfica com autores, como Vigostky, Carvalho, Mantoan e outros, alem de

entrevistas com três professoras experientes que estão trabalhando com a

inclusão no município. O qual pretende-se saber como se da a relação

professor aluno, quais as dificuldades em incluir o aluno com deficiência no

contexto escolar. E pra escola quais as dificuldades da inclusão será que

Page 107: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

107

possibilita diagnosticar as dificuldades e limitações da ação pedagógica,

curricular na sala de aula.

Os problemas relacionados a inclusão do aluno com deficiência no

ensino regular, permeia um desafio a ser superado pela escola e professores.

A escola tem por propósito romper barreiras como o preconceito, rejeição, que

podem levar o deficiente ao isolamento do ambiente escolar e social. a escola

esta sendo desafiada a oferecer as condições necessária para que o incluso

se desenvolva o Maximo de sua potencialidade com dignidade e respeito de

cidadoa que o mesmo merece e tem direito.

REFERÊNCIAS

CARVALHO R. E. Integração e inclusão de que estamos falando? São

Paulo: Ed Memon, 1997.

CARVALHO R.E. Renovando barreiras, a aprendizagem. Porto Alegre:

Editora Casa, 2003.

D`ANTINO, M. E. F. (1997). A questão da integração do aluno com

deficiência Mental na escola regular. In: M. T. E. Mantoan (org.). A

integração de pessoas com 21deficiência: contribuições para uma reflexão

sobre o tema. São Paulo: Memnon, Editora SENAC, p.97-103.

MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Ser ou estar, eis a questão, explicando o

déficit intelectual, Rio de janeiro WVA, 1997.

MANTOAN, M.T.E. Compreendendo a deficiência mental: Novos caminhos

educacionais. São Paulo: Scipione, 1989.

MANTOAN, M.T.E. A integração de pessoas com deficiência: Contribuições

para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Ed. SENAC, 1997.

MAZZOTA, Marcos Jose Silveira. Educação especial no Brasil: Historia e

políticas publicas. 3. Ed são Paulo: Cortez, 2001.

MARCHESI, A. Da linguagem da deficiência, as escolas inclusivas. 2º Ed.

Porto Alegre: Artmed, 2004. Vol. 3.

MINISTERO DA EDUCACAO E CULTURA-MEC. N.1/1998, Educação

Especial. Cadernos da TV Escola.

MAZZOTTA, M.J.S. (2005). Educação Especial no Brasil História e

Políticas Públicas. 5ª ed. São Paulo: Cortez.

Page 108: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

108

MOREIRA, A. F.; LINHARES, C.; e. Formação de Professores pensar e

fazer. 3ª ed. São Paulo: Cortez. (1995).

MOTTA, C. O. Por que a inclusão de alunos com necessidades educativas

especiais no ensino fundamental da rede publica? Rio de Janeiro:

Universidade Candido Mendes, 1999.

OLIVEIRA, Maria Helena Alcântara. Trabalho e deficiência mental:

perspctativas atuais. Brasília DF. Dupligrafica editora. 2003.

PESSOTI, I. Deficiência mental: da superstição a ciência. São Paulo: Ed. Da

Universidade de São Paulo, 1984

PADILHA, A. M. Lunardi. Práticas Pedagógicas na Educação Especial: a

capacidade de significar o mundo e a inserção do deficiente mental. 2º ed.

Campinas: FAPESP, 2005.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Educação profissional e emprego de pessoas

com deficiência mental pelo paradigma da inclusão. (org). Brasília, DF.

Dupligráfica Ed. 2003.

TESSARO, N.S. Inclusão Escolar Concepções de Professores e Alunos e

Especial da Educação Regular. São Paulo: Casa do Psicólogo. (2005).

VIGOSTSKY, L.S. (1988). Formação social da mente. São Paulo: Martins

Fonseca.

SITOGRAFIA

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

WWW.ibge.gov.br. Acessado em 21. Abril. 2013.

OUTRAS FONTES

BRASIL (2000). LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei 9.394/96.

Brasília: CORDE.

BRASIL. Constituição da Republica federativa do Brasil de 1988. Brasília:

Gráfica do Congresso Nacional, 1988.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 7.679, 02 de dezembro de 1999.

Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de

deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de

curso. D F, 1999. Seção 1 E, p. 20.

Page 109: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

109

A TRADIÇÃO GAÚCHA E SUAS RAMIFICAÇÕES EM GUARAPUAVA

VALMIR JOSÉ JOCOSKI

Orientador: Prof. Ms. Ernando Brito Gonçalves

Ciências Sociais – FG

PALAVRAS-CHAVE: Tradição. Gaúchos. Cultura. Costumes. Sociedade.

Apesar de sua natureza espacial creditada ao povo que mora no estado

do Rio Grande do Sul, a cultura gaúcha faz parte da vida do povo de

Guarapuava, um município do Paraná, desde sua fundação no século XIX.

Pode-se fazer tal afirmação a partir de informações históricas sobre o

Município. Segundo a historiadora Gracita Gruber Marcondes a região ficou

conhecida como caminho das tropas e era passagem obrigatória das tropas

de gado que vinham do Rio Grande do Sul e seguiam para Sorocaba em São

Paulo. Através desse contato alguns moradores do lugar teriam assimilado e

adquirido costumes próprios da cultura gaúcha que era trazida pelos tropeiros

que por aqui passaram e também por aqueles que aqui se estabeleceram

devido às grandes e férteis áreas de pastagens que aqui existiam. Dessa

forma a cultura gaúcha foi sendo disseminada em toda a região.

Quando se ouve a palavra: “gaúcho” normalmente nos vem a memória

um homem tipicamente a caráter, usando botas, uma calca larga e um pedaço

de pano pendurado ao pescoço. Segundo o dicionário a palavra gaúcho

significa: “ habitante do campo, o cavaleiro hábil e valente que vive em contato

com a natureza e no trato do gado”.

Partindo desta definição podemos ter uma noção previa dos motivos

pelos quais a região de Guarapuava passou a ter uma forte influência da

cultura gaúcha. Historicamente falando a cidade teve e ainda continua tendo

um grande laço com essa cultura, pois basicamente desde sua formação teve

a influência do homem do campo que vivia exclusivamente do cultivo da terra

e do trato com o gado. A partir dessas práticas alguns costumes foram

introduzidos, fazendo com que o guarapuavano fosse considerado por muitos

estudiosos, um autentico gaúcho.

Page 110: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

110

No quer diz respeito a pesquisa, em um primeiro plano devemos nos

ater a definição de cultura que segundo alguns autores pode ser definida

como um conjunto de bens materiais que caracterizam um determinado

agrupamento humano, como também pode ser compreendida como “um

conjunto complexo que inclui conhecimentos, artes, leis, crenças, moral,

costumes, enfim, tudo o que o homem adquire como membro de sua

comunidade” (LARAIA, 2003).

Entre os objetivos do trabalho está o de analisar e compreender a

influência que a cultura gaúcha mantém sobre algumas pessoas do local, pois

nota-se que vários habitantes da cidade aderiram aos costumes e as tradições

da cultura gaúcha mesmo não tendo nenhuma ligação ou contato com os rio-

grandenses ou com a sua cultura.

A partir desse contexto será feita uma abordagem teórica para

compreender as ramificações desta cultura. Serão utilizados referenciais de

Darci Ribeiro, Caroline Kraus Luvizoto, Roque de Barros Laraia e Gracita

Gruber Marcondes. Entre os métodos de pesquisa a serem utilizados estão o

método compreensivo do sociólogo Max Weber e o método de observação

participante com descrição por meio de diário de campo desenvolvido pelo

antropólogo Bronislaw Malinovski. Estes autores servirão de embasamento

teórico para o determinado estudo e sendo desta forma buscar-se á uma

melhor compreensão do referido tema.

Através desse estudo busca-se compreender as várias manifestações da

cultura gaúcha na região de Guarapuava. Um dos propósitos é a

compreensão das várias formas pelas quais se apresenta tal cultura, o que

aponta para a necessidade de uma pesquisa de campo bem elaborada que

permita entender a disseminação da cultura gaúcha e suas ramificações na

região de Guarapuava.

REFERÊNCIAS

LARAIA,Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Page 111: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

111

LUVIZOTO, Caroline Kraus. As tradições gaúchas e sua racionalização na

modernidade tardia. São Paulo : Cultura Acadêmica, 2010.l

MARCONDES, Gracita Gruber. Guarapuava: História de Luta e Trabalho.

Guarapuava:UNICENTRO,1998.

MALINOWSKI, Bronislaw. Os argonautas do Pacifico Ocidental. São

Paulo: Coleção os Pensadores, Editora Abril, 1988.

RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São

Paulo: Companhia das letras, 1997.

WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix,1968.

___.A ética protestante e o espírito do capitalismo.São Paulo:

Pioneira,1983.

___.Ação e relação social.In:FORACCHI, M. M., MARTINS, J. S.(Org.).

Sociologia e sociedade. Rio de Janeiro: LTC, 1978.

Page 112: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

112

A FESTA DE COSME E DAMIÃO OU UM PASSEIO ENTRE O SAGRADO E

O PROFANO NOS TERREIROS DE UMBANDA

LUCIANE PIETRAS

Orientadora: Profª. Ms.Cerize Nascimento Gomes

Grupo de Pesquisa em Cultura e Religiosidade Afro-índio- brasileira

Ciências Sociais - FG

PALAVRAS-CHAVE: Umbanda. Religiosidade. Cultura. Educação. Inclusão.

São Cosme e São Damião

Cheira cravo, cheira rosa, cheira flor de laranjeira

Cantiga popular de louvação aos orixás

Os objetivos da pesquisa que está sendo proposta para a elaboração do

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, são os de investigar a religiosidade

afro-brasileira a partir de estudo de caso sobre a FESTA DE COSME E

DAMIÃO, promovida anualmente no mês de setembro, mais especificamente

no dia 27 de setembro pela Tenda de Umbanda Pai Francisco, localizada no

Bairro Trianon, na cidade de Guarapuava.

Sobre Cosme e Damião pode-se dizer que eles representam os Ibejí ou

Ibejís, orixás africanos que protegem as crianças e são conhecidos na

Umbanda como os orixás de amor e alegria. O sincretismo dos ibejis com os

santos católicos, Cosme e Damião, que viveram no oriente em 300 D.c, deve-

se ao fato de que eram gêmeos e foram médicos, não cobravam por seus

préstimos, tinham especial atenção com as crianças e curavam não somente

as pessoas, mas também os animais. Entre as suas principais qualidades

dentro dos templos de umbanda estão as de trazer a cura para doenças de

natureza diversa e amparar as crianças.

Page 113: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

113

Junto aos pretos velhos e aos caboclos, as crianças formam o tripé da

Umbanda, revela Raimundo Nonato Ribeiro da Silva (SILVA, 2012). Segundo

ele, os domínios dos ibeijis são os parques, jardins e extensos gramados.

Sua cor é o rosa e os espíritos que trabalham sob a irradiação de Ibejís apesar

da forma frágil com que se apresentam, ou seja, como crianças, depois de

Oxalá são os únicos orixás que dominam totalmente a magia. O autor explica

que nas obrigações da umbanda aos Ibejís, são utilizadas velas cor de rosa,

flores com tonalidade rosa e sem os espinhos ou ainda brancas. Segundo ele,

também são usados doces como as cocadas, balas, pirulitos e fatias de bolo. A

bebida é a água pura ou misturada com mel e atualmente são ofertados

refrigerantes como o guaraná.

Os ibejis representam, segundo Sônia Guimarães, a necessidade dos

afrodescendentes manterem suas memórias, em contrapartida ao empenho da

Igreja em impor sua liturgia, seus santos e sua trindade. Para a autora, o povo

africano, em sua diáspora forçada, jamais cultuou os santos católicos em

detrimento aos seus orixás. (GUIMARÃES, 2011, p.18)

Sobre as festas e rituais da umbanda, a autora explica que :

O tempo nas festas e liturgias também são atualizações de eventos sagrados que se inscrevem em intervalos periódicos, instaurando a experiência sagrada na cotidianidade profana, propiciando o religare, a repetição do fato religioso de outrora (...). Portanto, o tempo sagrado atualiza-se nas festas, em qualquer tempo e em qualquer cultura. O ritual das festas aproxima o homem contemporâneo do acontecimento sagrado mítico anterior ao seu tempo, refazendo o mito no presente e o tornando primordial. (GUIMARÃES, 2011, p.12)

Os primeiros resultados da pesquisa sugerem que os rituais e as festas

da umbanda são praticamente desconhecidos na região de Guarapuava,

mesmo diante do expressivo número de centros de umbanda em atividade na

cidade. Estima-se num primeiro momento que mais de 15 tendas estejam em

funcionamento. A invisibilidade desses locais e dessas práticas sugere que os

umbandistas preferem permanecer anônimos. Esse anonimato é um indício de

que os adeptos da umbanda consideram que a identificação dos locais de

culto e das pessoas que participam dos rituais da umbanda pode gerar mal

estar e insegurança entre a comunidade umbandista.

Page 114: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

114

Tal teoria promoveu o levantamento de algumas hipóteses relacionadas

ao exercício de discriminação religiosa, acompanhada de falta de tolerância e

do uso de preconceito contra as religiões de matriz africana na região de

Guarapuava. Desse modo o estudo específico sobre a Festa de Cosme e

Damião é um desafio que tem como propósito desvendar para a comunidade

acadêmica alguns aspectos das crenças e das práticas próprias da umbanda,

investigando-se também sua existência e sua história no município de

Guarapuava.

As fontes de pesquisa serão bibliográficas e orais e a metodologia

utilizada será a da observação participante, com realização de entrevistas e

acompanhamento da Festa de Cosme e Damião , produção de material

fotográfico e se possível de um vídeo documentário, uma vez que esses

materiais poderão ser utilizados como referenciais de pesquisa.

O presente projeto está relacionado também à necessidade de

produção de material didático para atendimento dos pressupostos pela Lei

10.639/2003 e pela Lei 11.645/2008 , as quais determinam a inclusão de

conteúdos de história e cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da

educação básica.

REFERÊNCIAS

CONCONE, Maria Helena V. B. Umbanda: uma religião brasileira. Col.

Religião e Sociedade Brasileira. São Paulo, CER-FFLCH da USP, 1987.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: M.Fontes, 1992.

EYN, Cido de Osun. Candomblé: A panela do segredo. São Paulo:

Mandarim, 2000.

GUIMARÃES, Sonia. Sagrados mistérios: Vozes do Brasil. Rio de

Janeiro:SESC, 2011.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo

Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 113-122, 1994.

PRANDI, Reginaldo. Modernidade com feitiçaria: candomblé e umbanda no

Brasil do século XX. Tempo Social; Rev. Social. São. Paulo: USP, , 2(1): 49-

74, 1.sem. 1990

VALLA, Victor Vincente (org.). Religião e cultura popular. Rio de Janeiro:

DP&A, 2001.

Page 115: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

115

SITOGRAFIA

SILVA, Raimundo Nonato Ribeiro da. Um trajeto poético nas práticas

devocionais de Cosme e Damião em Salvador. Disponível em :

http://www.academicoo.com/artigo/um-trajeto-poetico-nas-praticas-devocionais-

de-cosme-e-damiao-em-salvador . Acessado em 20 de novembro de 2012.

Page 116: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

116

RITOS RELIGIOSOS E FESTIVIDADES DA UMBANDA : A FESTA DO

PRETO VELHO

LUCÉLIA TEREZINHA DE ARAUJO PIETRAS

Orientadora: Profª. Ms.Cerize Nascimento Gomes

Grupo de Pesquisa em Cultura e Religiosidade Afro-índio-brasileira

Ciências Sociais - FG

PALAVRAS-CHAVE: Umbanda. Religiosidade. Educação. Cultura.

Preconceito.

O presente projeto está relacionado à necessidade de produção de

material didático para atendimento dos pressupostos pela Lei 10.639/2003 e

pela Lei 11.645/2008 , as quais determinam a inclusão de conteúdos de história

e cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da educação básica.

A existência dessa legislação sugere que as faculdades e universidades,

em especial os cursos de licenciatura, devem se transformar no espaço

próprio para fomentar a pesquisa sobre as questões étnico-raciais relacionadas

aos povos afro-brasileiros e indígenas.

Nesse sentido, escolheu-se uma temática própria da religiosidade e da

cultura afro-brasileira, com foco sobre os fundamentos e as práticas de

umbanda no Brasil, incluindo-se informações que possam fundamentar estudos

multidisciplinares étnico-raciais com enfoque antropológico e social.

Para o desenvolvimento da pesquisa escolheu-se um estudo de caso

sobre um ritual religioso específico da umbanda, denominado Festa do Preto

Velho que ocorre anualmente no mês de maio, no terreiro da Tenda Espiritual

Pai Francisco, localizada no Bairro Trianon em Guarapuava.

A pesquisadora Maria Helena Villas Boas Concone estuda o simbolismo

dos personagens da umbanda. Segundo ela os caboclos e os pretos velhos

são os símbolos-chave dessa religião e marcam presença desde o nascimento

do Brasil. Todos os demais personagens, os baianos que representam o preto

jovem; o mulato, o boiadeiro, o marinheiro, a Pomba Gira e o Zé Pilintra

formam a composição de um quadro simbólico que ajuda na interpretação da

história, da cultura e da formação do povo brasileiro. (CONCONE, 1987)

Page 117: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

117

Entre as definições encontradas para a origem etimológica do vocábulo

umbanda, Cavalcanti Bandeira, em o que é a umbanda afirma que ela é uma

palavra originária da língua kimbundo, utilizada em muitos dialetos bantus,

falada em Angola, Congo e Guiné.

De acordo com o autor a palavra é utilizada para mencionar uma nação

poderosa ou um espírito poderoso. Ela reporta a palavra kimbanda que

significa curandeiro. De acordo com os sentidos em que é aplicada e com sua

origem gramatical é entendida como a arte ou magia de curar, poder de curar,

ofício de ocultismo ou ciência médica.

A partir das fontes de pesquisa foram encontradas diversas

denominações para os locais de realização de cultos de umbanda: centros de

umbanda, templos de umbanda, terreiros de umbanda e tendas de umbanda.

A pesquisa bibliográfica realizada para a produção do presente artigo

sugere que a fundação da umbanda data das duas primeiras décadas do

século XX com o surgimento dos primeiros terreiros nos estados do Rio de

Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. A religião é bastante sincrética e

reúne princípios do catolicismo, do espiritismo e do candomblé promovendo a

comunhão de princípios da religiosidade branca européia, negra africana e

indígena americana.

As fontes de pesquisa serão bibliográficas e orais e a metodologia

utilizada será a da observação participante, com realização de entrevistas e

acompanhamento da Festa do Preto Velho, produção de material fotográfico e

se possível de um vídeo documentário, uma vez que esses materiais poderão

ser utilizados como referenciais de pesquisa.

REFERÊNCIAS

CONCONE, Maria Helena V. B. Umbanda: uma religião brasileira. Col.

Religião e Sociedade Brasileira. São Paulo, CER-FFLCH da USP, 1987.

EYN, Cido de Osun. Candomblé: A panela do segredo. São Paulo:

Mandarim, 2000.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo

Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 113-122, 1994.

Page 118: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

118

NEGRÃO, Lísias Nogueira. (1973) Umbanda e questão moral: formação e

atualidade do campo umbandista em São Paulo. São Paulo. Tese de

livre-docência. FFLCH-USP.

PRANDI, Reginaldo. Modernidade com feitiçaria: candomblé e umbanda no

Brasil do século XX. Tempo Social; Rev. Social. São. Paulo: USP, , 2(1): 49-

74, 1.sem. 1990

SITOGRAFIA

D’OGUM, João. A origem da umbanda. Disponível em:

http://www.centroespiritaurubatan.com.br/estudos/o-que-e-umbanda.html.

Arquivo acessado em 10 e setembro de 2012.

Page 119: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

119

ESTUDO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DO COOPERATIVISMO PARA AS

MULHERES AGRICULTORAS DO MUNICIPIO DE TURVO – PR

DEBORA MACHADO

Orientadora: Profª .Ms. Cerize Nascimento Gomes

Ciências Sociais-FG

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres. Agricultura. Cooperativismo. Trabalho.

Economia.

A presente pesquisa está relacionada ao cooperativismo e ao

desenvolvimento sustentável como alternativas para a geração de emprego e

renda, para as mulheres agricultoras, a partir de estudo sobre o exemplo da

Cooperativa de Produtos Agroecológicos, Artesanais e Florestais de Turvo –

COOPAFLORA.

Uma das questões mais debatidas neste início de século, está

relacionada ao surgimento de um modelo de sociedade organizada a partir de

uma base econômica, social, cultural e ambiental mais sustentável. Jalcione

Almeida, em A problemática do desenvolvimento sustentável, procura elucidar

a concepção dessa prática:

A noção de desenvolvimento sustentável vem sendo utilizada como portadora de um novo projeto para a sociedade, capaz de garantir, no presente e no futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da natureza. Transforma-se, gradativamente, em uma categoria-chave amplamente divulgada, inaugurando uma via alternativa onde transitam diferentes grupos sociais.(ALMEIDA, 1997, p.20).

Levando-se em consideração que os projetos relacionados ao

desenvolvimento sustentável vem sendo utilizados como uma alternativa para a

sobrevivência dos grupos sociais e da natureza, foca-se esse estudo sobre as

ações das mulheres e suas conquistas sócio-economicas por meio da

Coopaflora, uma cooperativa que desenvolveu projetos experimentais de

sustentabilidade que tornaram-se referência para o Brasil.

Page 120: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

120

Inserido na macrorregião de Guarapuava , Turvo caracteriza-se pela

posse e preservação de uma das maiores reservas nativas de araucárias do

Sul do Brasil. Com chuvas regulares, clima frio, e altitude média de 1000m, o

município favorece a agricultura e é conhecido nacionalmente pelo

desenvolvimento de um programa de cultivo de ervas orgânicas de excelência,

tais como Alcachofra, alfazema, alecrim, calendula, camomila, capim-limão,

carqueja, cavalinha, chapeu de couro, endro, espinheira-santa, funcho, macela,

manjericão, manjerona, melissa, menta, oregano, pata-de-vaca, poejo, sálvia,

sete-sangrias, tanchagem e tomilho. O trabalho das mulheres tem sido

fundamental para a consolidação dos projetos.

Maria Celeste Corrêa em O uso sustentável dos recursos naturais na

floresta com araucárias explica que o município de Turvo tornou-se uma

referencia em sustentabilidade porque os agricultores familiares reunidos em

torno do Instituto Agroflorestal Bernardo Harkvoorth (IAF) e a Coopaflora

promovem por meio dos produtos da floresta o desenvolvimento local

(CORREA, 2010, p.20). A autora referenda as contribuições das mulheres para

o desenvolvimento dos programas de plantas medicinais, de melhoria da

qualidade da erva-mate e o de preservação dos faxinais regionais.

A Cooperativa congrega 85 famílias de pequenos produtores rurais,

inseridos em uma área de 765 hectares. Incluindo-se familiares, funcionários e

prestadores de serviços, a comunidade atendida pela Coopaflora envolve mais

de 430 pessoas, que adotaram o sistema agroecológico de produção como

opção de trabalho e filosofia de vida. Nossa pesquisa vai procurar identificar

quantas dessas pessoas são do sexo feminino e quais são as ações realizadas

especificamente pelas mulheres.

Pressupõe-se que a Coopaflora, por meio de suas ações e projetos,

contribui de modo significativo para a conservação dos remanescentes

florestais de araucária, bem como com a recuperação dos ambientes florestais

já degradados, ao mesmo tempo em que busca estimular a melhoria das

condições de vida das famílias de pequenos agricultores , através do

desenvolvimento da agricultura familiar sustentável, baseada na agroecologia.

Page 121: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

121

A metodologia utilizada será a de pesquisa bibliográfica por meio da

utilização de fontes teóricas, pesquisa aplicada e de campo com visitas à

Coopaflora e encontros com as mulheres agricultoras. Pretende-se consultar

o arquivo de documentos e fotografias da Coopaflora e promover de técnicas

de pesquisa oral a partir da realização de entrevistas.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Jalcione. A problemática do desenvolvimento sustentável. In:

BECKER, Dinizar Fermiano (org). Desenvolvimento sustentável:

Necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul (RS): EDUNISC, 1997.

CAVALCANTI, Clóvis. (org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma

sociedade sustentável. São Paulo: Cortez; Recife: Fundação Joaquim Nabuco,

1998.

CORREA, Maria Celeste. O uso sustentável dos recursos naturais na

floresta com Araucárias. São Paulo: Serzegraf, 2010.

SILVA, Maria Joseane. Organização autônoma de mulheres agricultoras:

emergência de “novos” sujeitos políticos coletivos no campo.

SITOGRAFIA

http://www.arvoredobrasil.com.br/. Acessado em 16 de maio de 2011.

http://www.ecocert.com.br/certificacao.html. Acessado em 16 de maio de 2011.

http://www.arvoredobrasil.com.br/coopaflora/. Acessado em 24 de maio de

2013.

Page 122: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

122

ADOLESCENTES INFRATORES NA CIDADE DE GUARAPUAVA: UMA

ANÁLISE GEOCRIMINAL DOS ESPAÇOS UTILIZADOS E DA RELAÇÃO DE

PODER

ALEX MAURICIO DE LIMA

Orientador: Prof. Ms. João Carlos Morimitsu.

Ciências Sociais - FG

PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes. Infração. Poder. Espaços.

Ressocialização.

O presente projeto vem demonstrar a difícil luta pela reinclusão de

adolescentes em conflito com a lei na cidade de Guarapuava, objetivando

delimitar os pontos de maior interesse no intuito de realizar o acompanhamento

de novas políticas aplicáveis aos adolescentes que se envolvem

prematuramente com o crime, sinalizando uma melhor compreensão do

ambiente social onde ele se desenvolve, através da análise dos trabalhos

desenvolvidos pelo único projeto de ressocialização e de medidas sócio-

educativas existentes na cidade de Guarapuava, o Projeto Formando o

Cidadão.

Todo adolescente foi uma criança, com isso se explica então, com início

de tudo, quando ele passa de apenas um pequenino sem muita voz e nem vez,

para um jovem de corpo quase adulto, com tamanho praticamente igual ao dos

outros. Assim podemos verificar nas crianças, a primeira fonte de pesquisa

sobre tal tema, onde elas começam a aprender e a desenvolver suas novas

habilidades, e a conhecer um mundo que até pouco tempo atrás era

desconhecido ou distante de sua condição, se tornando agora, palpável a suas

mãos.

Marco Antonio Cabral dos Santos, (SÃO PAULO, 2005) escreveu uma

pesquisa sobre as crianças e criminalidade no inicio do século, onde retratou

como surgiram os primeiros atos infracionais da época, com a explosão

demográfica e o surgimento das indústrias em São Paulo, o que levou a surgir

às primeiras apreensões de batedores de carteiras e mendigos adolescentes,

Page 123: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

123

que eram o perigo das ruas nos primórdios da industrialização. Segundo sua

pesquisa do período de 1900 a 1916, foi registrada quase o mesmo número de

prisões entre menores e maiores de idade, é claro que o tipo do crime se

diferenciava muito, tendo em vista o período em que se analisou.

Outro referencial foi pesquisado também no Núcleo de Estudos da

Violência da Universidade de São Paulo, NEV-USP.

As estatísticas de criminalidade mostram que boa parte dos envolvidos

em crimes violentos no Brasil apresenta um perfil bastante definido. São jovens

do sexo masculino, com idades entre 15 e 24 anos, geralmente pobres e

moradores das periferias dos grandes centros urbanos. Os homicídios têm sido

a principal causa de morte nessa faixa de idade, respondendo por 40% dos

óbitos. Em sua maioria, esses adolescentes tinham algum tipo de ligação com

delitos, tais como, roubo e tráfico de drogas.

A delinquência juvenil, tanto por sua relevância estatística quanto pelas

consequências nefastas que acarreta à sociedade, é um dos mais graves

problemas da segurança pública. Para entendê-la, é preciso, antes de tudo,

varrer os mitos que a cercam. Um trabalho da Universidade de São Paulo

ajuda a desfazer alguns deles. O estudo foi feito a partir da análise dos

prontuários de 2.400 internos da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor

(FEBEM) entre 1960 e 2002. Os resultados, que uma revista divulgou em sua

reportagem, indicam que, nas últimas quatro décadas, ao mesmo tempo, em

que cresceu a participação dos adolescentes no crime, aumentaram também o

grau de escolaridade e a inserção desses jovens infratores no mercado de

trabalho.

O resultado chama atenção por contrariar uma das crenças mais

difundidas no que se refere ao problema da criminalidade entre os jovens: a de

que mais empregos e maior escolaridade, por si só, seriam capazes de diminuir

as taxas de violência. "O estudo mostra que isso não tem sido suficiente para

deter a escalada da criminalidade entre os adolescentes", afirma a psicóloga

Marina Bazon, orientadora da pesquisa e especialista em delinquência juvenil.

Page 124: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

124

E por que isso ocorre? Para educadores e sociólogos, há duas

respostas para o fenômeno. A primeira diz respeito à qualidade da educação

recebida pelos adolescentes. Boa parte dos infratores que passaram pela

Febem em 2002 (67,5%) cursou entre a 5ª e a 8ª série do ensino fundamental,

mas a maioria (66%) não estava matriculada quando foi presa. O dado indica

que a escola pública tem sido incapaz de reter os jovens. "Quando eles

abandonam as aulas, a chance de conseguirem se qualificar para bons

empregos fica ainda mais remota. Diante de trabalhos e remuneração ruins,

percebem que o mundo do crime oferece uma possibilidade de ganho maior e

mais rápido", afirma Marina Bazon. (2007)

A segunda resposta está em uma combinação perversa: mais instrução,

mesmo que precária, aliada a baixa remuneração, colabora para causar no

jovem uma frustração existencial e material cuja válvula de escape pode ser a

prática de roubos e furtos. "Especialmente nos crimes contra o patrimônio, o

roubo não se dá pela fome ou pela privação absoluta. O menino não assalta

porque não tem um sapato, mas sim porque deseja ter um tênis de grife", diz o

sociólogo Michel Misse (2010), do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e

Violência Urbana (NECVU), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Um estudo feito pelo núcleo (2010), a partir de dados da 2ª Vara de Infância e

Juventude do Rio de Janeiro, mostra que os adolescentes infratores passaram

a cometer crimes mais violentos. Até 1994, o número de furtos superava o de

roubos. Hoje, essa relação se inverteu. O número de assaltos à mão armada,

entre os anos de 1960 e 2004, saltou de 264 para 5.377, um crescimento de

quase 2.000%. No mesmo período, o número de ocorrências de furtos

envolvendo jovens aumentou 165%.

Trazendo para uma realidade local, a cidade de Guarapuava possui

dados sobre as incidências de infrações e delitos oriundas de adolescente

demonstrada por meio de estatísticas do serviço auxiliar da Infância e

Juventude vinculado ao Poder Judiciário do Estado do Paraná. Pretende-se

com tais dados apresentar alternativas tais como a criação de programas

focados nos jovens. Políticas públicas genéricas de combate ao crime não têm

eficiência em relação ao jovem delinquente, afirmam especialistas. É preciso

Page 125: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

125

pensar em iniciativas específicas para eles. "Não basta, por exemplo,

implementar uma Bolsa Família e distribuir renda", afirma o sociólogo Cláudio

Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança

Pública da Universidade Federal de Minas Gerais. (Minas Gerais, 2010)

Um exemplo de iniciativa específica é oferecer alternativas que reduzam

a exposição do jovem ao ambiente de criminalidade. As escolas em tempo

integral, com projetos que se estendem inclusive nos fins de semana, têm

conseguido bons resultados em áreas de periferia. Há também que se pensar

em ressuscitar a velha e boa assistência social do Estado. Isso ajudará, e

muito, a impedir que famílias desestruturadas produzam jovens delinquentes.

A pesquisa em questão da necessidade da adoção de medidas de modo

a combater ou minimizar os efeitos sobre o desenvolvimento e qualidade de

vida dos adolescentes e da sociedade vitimada pelas ações dos mesmos, ou

seja, que são acometidas pelo problema.

Os objetivos de pesquisa são os de fundamentar a relação existente

entre a ocorrência de adolescentes infratores que adentram ao projeto

formando cidadão e seus desencadeamentos após sua passagem nas medidas

sócio-educativas, no intuito de rastrear o ponto-chave da problemática em

questão, no intuito de acrescentar medidas novas de políticas para a criança e

o adolescente; caracterizar a problemática da criminalidade juvenil dentro do

município de Guarapuava ligando às expectativas de reinserção desses

adolescentes a sociedade; analisar o estigma social criado em torno desses

jovens envolvidos com a criminalidade e a importância de um

acompanhamento profissional na recuperação desse jovem; verificar a

importância do Projeto Formando Cidadão dentro da comunidade de

Guarapuava, mostrando dados estatísticos de entrada e saída desses menores

do mundo da criminalidade, auxiliando-os dentro desse contexto.

Os métodos utilizados serão os de origem qualitativa e quantitativa além

do uso da literatura disponível, ou seja, fontes primárias de informação como

livros, artigos, teses, dissertações, monografias, entre outros referentes ao

assunto.

Page 126: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

126

REFERÊNCIAS SANTOS, Marco Antonio Cabral dos. Criminalizando a pobreza: implicações

entre ação policial e políticas médico-sanitárias em São Paulo (1890-1920).

Juiz de Fora (MG): UFJF, 2005.

FREITAS, Marcos Cezar de. História Social da Infância no Brasil, Editora

Cortez-Universidade São Francisco. Guarulhos, Estado de São Paulo,1997.

PRIORE, Mary Del. História das crianças no Brasil, Editora Contexto. São

Paulo, Estado de São Paulo,2002.

OUTRAS FONTES

Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. (NEV- USP)

Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade

Federal de Minas Gerais

Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (NECVU-UFRJ).

Projeto Formando o Cidadão vinculado a Secretária de Assistência Social da

Prefeitura Municipal de Guarapuava.

Serviço Auxiliar da Infância e Juventude de Guarapuava, Poder Judiciário do

Estado do Paraná.

Page 127: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

127

AS CARTOGRAFIAS SOCIAIS COMO IDENTIDADE CULTURAL DOS

POVOS FAXINALENSES DA REGIÃO DE GUARAPUAVA

ELIANE DE FÁTIMA BUENO

Orientadora: Profª. Ms. Cerize Nascimento Gomes

Ciências Sociais – FG

PALAVRAS-CHAVE: Faxinal. Cartografia. Cultura. Identidade. Povos

Tradicionais.

O presente projeto de pesquisa tem como objeto de estudo as

Cartografias Sociais das comunidades tradicionais faxinalenses da região de

Guarapuava no que diz respeito à reafirmação de sua identidade coletiva. Este

trabalho surgiu após a leitura das cartografias compreendendo que estas visam

a afirmação das identidades desses povos a partir da visão que os mesmos

têm da sua forma de organização, incluindo o uso comum da terra para

produção e criação de animais e principalmente, principais conflitos sociais a

partir desse modo de vida, ou seja, a maneira com que essas populações

encaram as novas formas de produção na chegada de vizinhos que não

compartilham do mesmo método de produção, além do relato presente nas

cartografias de que essas comunidades, a partir do processo de modernização

do sistema de produção agrícola está fadada ao desaparecimento deste modo

de produção, o que se configura como principal preocupação desses povos.

Para a este projeto serão aqui utilizadas como fontes de pesquisa as

Cartografias Sociais, as quais têm como princípio fundamental o envolvimento

dos sujeitos mapeadores com o processo de mapeamento de informações

sobre práticas tradicionais de produção e reprodução social e dos conflitos

enfrentados por estes grupos, visando o fortalecimento destes movimentos

sociais que se estabelecem a partir da evocação de identidades territoriais

coletivas.

Page 128: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

128

Segundo o estudo realizado por Roberto de Souza Martins no livro “Terra

e Território Faxinalense: notas sobre a busca do reconhecimento”, existem no

Paraná cerca de 44 faxinais e na região de Guarapuava em torno de 3 mil

famílias que vivem no sistema faxinal. Este sistema de produção e organização

tem um modo peculiar de posse comum da terra e de criadouros de animais,

fato este ignorado pela população da cidade, que conhece o Faxinal somente

como uma localidade do interior e que tem costumes como da cidade, tendo

em vista que são cidadãos comuns. Sendo assim, estudar os Povos e

Comunidades Tradicionais a partir de suas experiências e relatos é uma forma

de reconhecimento acadêmico de sua organização.

Dessa forma, no presente estudo, os conceitos presentes na obra de

Norbert Elias e John. L. Scotson, “Os estabelecidos e os outsiders: sociologia

das relações de poder a partir de uma comunidade” são de grande valia. Os

autores realizaram durante aproximadamente três anos, na pequena

comunidade industrial urbana, de nome fictício de Winston Parva, no sul da

Inglaterra, que mostra uma clara divisão, em seu interior, entre um grupo de

residentes estabelecidos desde longa data num bairro relativamente antigo e,

ao redor dele, duas povoações formadas em época mais recente, cujos

moradores eram tratados pelo grupo dos estabelecidos como outsiders.

Também se torna relevante neste trabalho, a obra de Stuart Hall,

“Identidade Cultural na pós-modernidade”, em que o propósito do livro é

explorar algumas das questões sobre a identidade cultural na modernidade

tardia e avaliar se existe uma crise de identidade, em que consiste essa crise e

em que direção ela está indo. Ao desenvolver seus argumentos, o autor

introduz certas complexidades e examina alguns aspectos contraditórios que a

noção de "descentração do sujeito", em sua forma mais simplificada.

O projeto das cartografias sociais tem o como objetivo dar a

oportunidade de povos e comunidades tradicionais fazerem seu auto-

reconhecimento. Para a elaboração das mesmas são realizadas oficinas de

mapas e técnicas de uso de GPS e tem o reconhecimento do Instituto de

Terras, Cartografia e Geociências – ITCG do Paraná e contou com o apoio

Secretaria de Estado da Educação – SEED, do Grupo de Trabalho

Page 129: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

129

Intersecretarial Clóvis Moura, da Universidade Federal do Paraná Setor Litoral

e organizações e entidades da sociedade civil como o Centro Missionário de

Apoio ao Campesinato Antônio Tavares Pereira – CEMPO e o Instituto Equipe

de Educadores Populares.

A elaboração da Cartografia Social é tida pelos “faxinalenses” como

instrumento de afirmação social, identificação de seus territórios e

fortalecimento da identidade e instrumento de reconhecimento de sua

existência:

“Esse mapeamento para mim eu acho é muito importante porque ele é um reconhecimento. Não adianta eu dizer que tem um faxinal se ele não aparece em documento nenhum, e ele estando no mapa ele está sendo reconhecido, tem mais força pra brigar com o governo. Se vamos brigar por algum recurso: “Não! O meu faxinal tá aqui no mapa tal”. Então o mapeamento é importante por isso, é um reconhecimento, tem mais força pra frente e de sair pela frente.” (Depoimento do Sr. Antônio Rodrigues de Lima, do Faxinal dos Seixa, município de São João do Triunfo)

Essa experiência tem serventia, segundo os próprios faxinalenses, como

instrumento de luta por visibilidade social e política, opondo-se aos mapas

oficiais do Estado, que se utilizam do “silêncio cartográfico” como estratégia de

ocultar certas realidades cuja propagação não interessa aos responsáveis por

sua produção.

Sendo assim, a partir da organização da Articulação Puxirão dos Povos

Faxinalenses em 2005, esses povos foram ganhando visibilidade e em 2007

elaboraram um dossiê entregue na Assembléia Legislativa do Paraná

denunciando acontecimentos como a presença de novos proprietários que

colocariam cercas e que traria danos a esta forma de produção. Nesse sentido,

ao estudar o dossiê, conclui-se que é necessário o estudo da organização do

povos faxinalenses a partir de sua visão não como forma interpretativa de

olhares de pesquisadores que não convivem diretamente com esses povos,

mas com participação em seu cotidiano, tais como reuniões da "Rede" ou

diretamente nas ações afirmativas de reconhecimento de tais povos e que

envolvem manifestações dentro da Assembléia Legislativa do Paraná,

Câmaras Municipais de vários municípios (cita-se aqui o exemplo de

Rebouças-PR) e encontros regionais dos Povos Faxinalenses.

Page 130: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

130

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de (Org.) ; SOUZA, R. M. (Org.) . Terras de Faxinais. Manaus: Edições da Universidade do Estado do Amazonas, 2009.

ELIAS Norbert; e SCOTSON, John. L.; Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma comunidade; tradução Vera Ribeiro; tradução do posfácio à edição alemã, Pedro Süssekind – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. – São Paulo: Editora da UNESP – Biblioteca Básica, 1991. _______. (2002) Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Touro. 10.ed. Rio de Janeiro:DP&A, 2005. SOUZA, R. M. ; Rocha, E.P. . Terra e Território Faxinalense: notas sobre a busca do reconhecimento. Campos (UFPR), v. 08, p. 209-212, 2007

SITOGRAFIA

www.planalto.gov.br/ccivil

www.novacartografiasocial.com

www.redepuxirão.com.br

FONTES DOCUMENTAIS

PROJETO NOVAS CARTOGRAFIAS SOCIAIS DOS POVOS E

COMUNIDADES TRADICIONAIS DO BRASIL - Fascículos 1, 3 e 5 – Povos

dos Faxinais – Paraná. Brasília, Março. 2007.

SÍNTESE DO 3º. ENCONTRO ESTADUAL DOS POVOS FAXINALENSES.

2010.

POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO. SUSTENTÁVEL DE POVOS

E COMUNIDADES TRADICIONAIS NO BRASIL. DECRETO 6.040. Palácio do

Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em Abr/2012

Page 131: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

131

RAP, FUNK E JUVENTUDE: NARRATIVAS URBANAS SOBRE PROTESTO

E CONSUMO18

DINALDO ALMENDRA19

PALAVRAS-CHAVE: Música. Rap. Funk. Protesto. Consumo.

Este resumo expandido apresenta os resultados parciais e preliminares de

pesquisa ainda em desenvolvimento sobre rap, funk e juventude.

Cabe analisar como os jovens, através dessas narrativas da periferia, lidam

com o sofrimento humano e a luta política, bem como produzem cultura e lazer,

na busca de sentidos de vida para as suas condições de existência,

construindo identidades a partir de mediações sociais, políticas, culturais e

religiosas que atravessam e constituem o rap e o funk. Toma-se como ponto de

partida um acontecimento recente: a participação de Mano Brown, dos

Racionais MC’s, em um vídeo-clipe de funk, fato que produziu um curto-circuito

entre a cultura hip hop e o mundo do funk, quer dizer, uma tensão entre

públicos jovens das periferias e das favelas. Com efeito, o caso demonstra os

giros de sentido das representações sociais que a juventude pobre urbana faz

de si e do lugar que ocupam na cidade.

O rap e o funk caminham hoje juntos e misturados e, ao mesmo tempo,

separados, nas periferias e nas favelas das cidades brasileiras. A participação

de Mano Brown, líder dos Racionais MC’s, em um videoclipe de funk, da

música Tanto faz, tanto fez, do MC Pablo do Capão, funkeiro paulista e

morador do Capão Redondo, “quebrada” de Brown, rendeu ao rapper duras

críticas de uma parte dos integrantes da cultura hip hop e dos fãs de rap. O

videoclipe, em que MC Pablo do Capão canta enquanto Mano Brown aparece

atrás do funkeiro, parado e posicionado ao fundo, olhando firme para a câmera,

18 Resumo expandido de pesquisa sobre as relações entre rap e juventude desenvolvida na Universidade Estadual do

Centro-Oeste (UNICENTRO), submetido ao III Encontro de Ciências Sociais da Faculdade Guarapuava – Minorias,

Inclusão e Ativismo. 19 Doutorando em Sociologia pelo IESP-UERJ. Professor do Departamento de Comunicação Social da

UNICENTRO.

Page 132: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

132

circulou pela internet dando origem a matérias em sites especializados em hip

hop e, na esteira disso, desencadeou incontáveis posts de usuários das redes

sociais com comentários críticos e, também, de apoio ao rapper.

O videoclipe do funk Tanto faz, tanto fez foi disseminado no Youtube no dia

17 de abril de 2013, seguido por centenas de posts com comentários críticos

pela participação do rapper. No dia seguinte, o portal Rap Nacional repercutiu a

matéria Mano Brown é apedrejado com comentários após aparição em

videoclipe de funkeiro, enquanto que o site Vai Ser Rimando publicava Mano

Brown aparece em clipe de funkeiro do Capão e desperta fúria de fãs. Em São

Paulo, em meio a esse curto circuito desencadeado pela aproximação entre rap

e funk, a assessoria de Mano Brown, em um primeiro momento, divulgou uma

nota informando que “o vídeo polêmico não foi autorizado pelo Mano Brown.

Mano Brown não gravou este vídeo como um produto, ele estava na loja do

Fundão no momento da gravação e apenas fez um gesto de apoio ao

amigos. O uso destas imagens não teve autorização do Mano Brown” —

Fundão é a marca de roupas criada pelo rapper, e ambos usam as camisas

com as suas cores no videoclipe.

Essa nota foi logo retirada do ar, mas capturada pelo site Noticiário

Periférico antes que fosse deletada e substituída, fornecendo o seguinte

esclarecimento público: “Mano Brown felicita e deseja Sucesso ao MC Pablo do

Capão e aos muitos jovens artistas de sua comunidade. Sua presença no vídeo

foi um gesto de apoio e incentivo porque conhece a dura caminhada que é a

vida de artista da periferia no Brasil”. No Rio de Janeiro, MC Leonardo,

morador da favela da Rocinha e autor, com MC Júnior, de funks tombados no

imaginário popular, como Rap das Armas e Endereço dos bailes, e hoje na

liderança da APAFUNK (Associação dos Profissionais e Amigos do Funk),

organização mobilizada em torno da luta contra a discriminação do funk,

publicou, na sua página pessoal no Facebook e, também, no site da revista

Caros Amigos, um texto cujo título é uma síntese perfeita do ruído provocado

na percepção do público jovem: Mano Brown no funk?

Page 133: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

133

Mas, afinal, por que essa repentina justaposição entre a cultura hip hop

paulista e o mundo do funk carioca produziu tamanha tensão entre diferentes

segmentos do público periférico?

Essa justaposição entre rap e funk a partir da presença do maior rapper

brasileiro no videclipe de um funkeiro e antigo amigo do Capão Redondo — MC

Pablo participou de videoclipe dos Racionais MC’s, da música Vida Loka Parte

II, do disco Nada como um dia após outro dia, de 2004 —, expôs os focos de

tensão e os giros de sentido culturais, sociais e políticos implicados nos temas

narrados tanto pelo rap e quanto pelo funk nas próprias margens urbanas onde

esses gêneros são produzidos e consumidos. Em outras palavras, criou fortes

dissonâncias, mas também aproximações entre vivências, valores e visões

políticas da juventude periférica e favelada, forjadas pelas práticas e trajetórias

de vida dos próprios rappers e funkeiros, e cantadas em suas músicas. Com

efeito, cabe observar que o curto-circuito entre a cultura hip hop e o mundo

funk se deu a partir da conexão de narrativas nascidas daquilo que irmana os

jovens periféricos, e gera traços identidários e sensos de solidariedade e mútua

compreensão que eles possuem entre si: a pobreza urbana, seguida da

estigmatização de classe e de cor sofrida nos lugares onde vivem e, também,

em circulação pelos diferentes espaços sociais da cidade.

O fenômeno recente da explosão do funk carioca nas periferias de São

Paulo, onde predominou o rap cadenciado pela militância do movimento hip

hop, é marcado por uma nova vertente do funk. No coração econômico do

Brasil, nasceu uma nova versão do tamborzão carioca, o chamado “funk

ostentação”, em que o batidão pesado é a base para que os MCs paulistas

como o Pablo do Capão cantem e exaltem dinheiro, bens de consumo e o sexo

com belas mulheres, estilo que começa a influenciar os bailes do Rio. Os MCs

do funk ostentação fazem a ode ao consumo, cantam e rimam marcas famosas

dos bens de consumo mais variados: roupas de grife, bebidas alcoólicas,

carros, motos, etc. Nos seus videoclipes, fazem suas performances em

cenários rodeados de mulheres, de iates luxuosos ou casas de alto padrão, e

balançam para as câmeras notas de dinheiro vivo, as de 100 reais.

Page 134: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

134

Assim, além da presença de Mano Brown em um vídeo-clipe do gênero

funk, o fato de ter sido “apedrejado com comentários” e despertado a “fúria de

fãs” foi agravado por se tratar de uma música estilo “ostentação”. De um lado,

muitos acusaram o rapper de ter vacilado, quer dizer, “rap é compromisso”, é

engajamento político e luta contra todas as formas de alienação dos jovens na

“sociedade capitalista”. Do outro lado, os fãs de rap (ou de funk) afirmavam que

o funk também faz parte da vida das “quebradas” de todo o Brasil, por isso,

estão irmanados nesse espírito comum, pois ambos os gêneros sempre

sofreram preconceito e perseguição, sendo frutos das mesmas dores e alegrias

das periferias. A síntese dessas tensões entre a cultura hip hop e o mundo funk

pode ser capturada em um diálogo entre MC Leonardo e um fã de rap postado

nas redes sociais. O fã de rap cita a letra de uma música clássica dos

Racionais MC’s, Vida Loka Parte II, justamente a que conta com uma

participação do MC Pablo do Capão, para ironizar a participação de Mano

Brown no vídeo-clipe, e recebe o seguinte comentário do funkeiro carioca20:

Miguel Bartholo "pobre eh o diabo, eu odeio ostentacao"

Mano Brown

Mc Leonardo Apafunk Miguel Bartholo , antes dessa frase aí

o tem outra!

Mc Leonardo Apafunk "Tudo vai tudo é faze irmão, logo mais

vamos arrentar no mundão, de cordão de elite 18 kilates, pôe

no pulso logo um breit que tal, tá bom..." e por aí vai

Tanto o usuário quanto MC Leonardo referem-se ao mesmo trecho de

Vida Loka Parte II, porém, selecionam e destacam o que é necessário a

construção das respectivas argumentações: “Tudo vai, tudo é fase irmão, logo

mais vamo arrebentar no mundão. De cordão de elite, 18 quilate, põe no pulso

logo Breitling. Que tal, tá bom. De lupa Bausch&Lomb, bombeta branca e

vinho, Champanhe para o ar, que é pra abrir nossos caminhos. Pobre é o

diabo, e odeia a ostentação. Poder rir, mas não desacredita não”. Quer dizer,

20 Disponível em:< https://www.facebook.com/mcleonardorj?hc_location=timeline> Acesso em: 04 jun. 2013.

Page 135: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

135

Mano Brown, ao mesmo tempo em que critica a sociedade em que vivem pela

segregação que sofrem, também canta as marcas e os bens de consumo que

essa juventude também aspira e sonha ter. Daí os posts de jovens nas redes

sociais dizerem, por exemplo, que21

“rap e funk são como água e óleo, não se misturam”

“O Rap é da favela, o funk é da favela, não podemos negar

isso, mas são realidades diferente, o rap luta contra a

alienação, o funk canta justamente pra alienar as pessoas,

mano, na favela não tem camaro, na favela não tem R1, na

favela não tem isso que passa nos clipes, os caras cantam

como se tudo aquilo que tivesse alí fosse a realidade deles e

todos nós sabemos que não é, o brown foi um guerreiro do

Rap, o brown juntamente com o racionais revolucionou o Rap

durante tempos, mas de um certo tempo pra cá o brown não é

o mesmo de antes, acho que isso pego muito mal pra ele,

Racionais fez um show aqui na minha cidade junto com o Catra

[Funkeiro carioca] que o valor passava de 100 reais, será isso o

certo?”

“O que adianta cantar contra o preconceito e ser

preconceituoso? O que adianta querer ter liberdade de

expressão, e discriminar a forma do próximo se expressar? O

que adianta levantar uma falsa bandeira e dizer que é "100%

favela" e não aceitar as expressões dessa mesma favela?

Vamos fazer com os outros o que fizeram com a gente?

Discriminar? Chega de hipocrisia dentro do RAP. Se não gosta,

como eu também não gosto de funk, ao menos respeita”

Esse acontecimento demonstra o quanto essas narrativas musicais

urbanas são, de fato, algo como que um sensível sismógrafo social, cultural e

político da vida cotidiana da juventude pobre. As suas letras e vídeos-clipes

expressam as transformações sociais sofridas pelas classes populares e

médias em todo o Brasil contemporâneo, nas regiões metropolitanas ou

interioranas, em especial a emergência das classes C e D, e tem muito a

revelar das representações sociais e políticas da juventude entre protesto e

consumo, e, também, crime e espiritualidade, temas a serem aprofundados e

desenvolvidos no curso desta pesquisa.

21 Disponível em: <http://www.rapnacional.com.br/portal/mano-brown-e-apedrejado-com-comentarios-apos-

aparicao-em-videoclipe-de-funkeiro/> Acesso em 04 jun. 2013.

Page 136: MINORIAS, ATIVISMO E INCLUSÃO - Faculdade Guarapuavafaculdadeguarapuava.edu.br/arquivos/biblioteca/contato_social_03.pdf · ... formas de avaliação, e ... disparidade na organização

136

REFERÊNCIAS

COSTA, Jurandir Freire. Perspectivas da juventude na sociedade de mercado.

In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs). Juventude e Sociedade:

trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Perseu Abramo,

2004.

KEHL, Maria Rita. Radicais, Raciais, Racionais: a grande fratria do rap na

periferia de São Paulo. São Paulo Perspec. [online]. July/Sept. 1999, vol.13,

no.3. p.95-106

NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo. Juventude e Sociedade: trabalho,

educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2004.

SOVIK, Liv. O Rap Desorganiza o Carnaval: Globalização e Singularidade na

Música Popular Brasileira. Cadernos do CRH (UFBA), Salvador. v. 33, n.

jul/dez, p. 247-255, 2000

SITOGRAFIA

VIANNA, Hermano. Funk paulistano. Disponível em:

<http://hermanovianna.wordpress.com/tag/hip-hop/> Acesso em: 07 mai 2013.