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CONFISSÕES Jefferson Carvalhaes

Miolo Confissão 06-08 - rl.art.br · Em seguida é convidado a fazer parte da Sociedade Poetas Del Mundo. Conhece um pequeno grupo de poetas chamados de ... que retrata uma vida

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©2012 Jefferson Carvalhaes Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra

pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a

permissão da editora e/ou autor.

C2532 Carvalhaes, JeffersonConfissões/Jefferson Carvalhaes. Jundiaí, Paco Editorial: 2012.

84 p.

ISBN: 978-85-8148-112-8

1. Confissões 2. Literatura Brasileira. I. Carvalhaes, Jefferson.

CDD: B869

IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

Foi feito Depósito Legal

Índices para catálogo sistemático:

Literatura brasileira B869

Rua 23 de Maio, 550Vianelo - Jundiaí-SP - 13207-070

11 4521-6315 | [email protected]

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Dedicado a meu caro amigo Dr. Marcos Alexandre Gebara Muraro, grande apreciador de artistas e escritores de intelecto superior.

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“Então enfim entendestes porque nascestesNasceste apenas para a morte, só para aguardar a morte”

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Introdução

Jefferson Carvalhaes nasceu no Rio de Janeiro em junho de 1992. Poeta dês da tenra infância, despertara interesse extremamente precoce por mestres como Charles Baudelaire e Jean-Paul Sartre com apenas seis anos de idade. Aos dez já era capaz de ler com facilidade Dante Alighieri. Aos onze ganhara o primeiro prêmio de literatura, o Marcos Rey, fican-do em terceiro lugar, e Medalha Castro Alves. Apesar de não ter se contentado. Aos 12 publica em edição independente o livro Sofrimentos Poéticos e ganha menção honrosa num con-curso em São Paulo. Aos 15 participa do concurso Castelo Di Duino, mas não lhe dão o devido valor. No mesmo ano ganha o III Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus. Em seguida é convidado a fazer parte da Sociedade Poetas Del Mundo. Conhece um pequeno grupo de poetas chamados de Os Sete Novos, e torna-se seguidor de T.S. Eliot, Ezra Pound e Virginia Woolf.

Já no final de 2008 publica alguns poemas na revista vir-tual Caderno Literário, abandonando a filosofia do irracio-nalismo de Arthur Rimbaud, já com oito livros de poesia e um de filosofia, porém sem nada publicar, considerando-se com isso um escritor recluso e decadente. Baseia-se em Os-car Wilde, escrevendo versos extremamente tristes e melan-cólicos, com marcas de James Joyce e o próprio Franz Kafka. Nesse mesmo ano, o escritor consegue realizar um grande desejo: expor seus quadros.

Ele se converte na fé adventista e se torna protestante, como busca para salvar-se, o que o ajudou.

Desanimado por não conseguir publicar sua tão sonhada grande obra, o autor decidiu parar de escrever. Ficou seis meses sem escrever uma única palavra, em sólido confina-mento até mesmo nas artes plásticas; no entanto, em seguida, escreve sua obra-prima: A Estrada; um longo poema fictício

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que retrata uma vida de “desregramento de todos os senti-dos”, como sugeria Arthur Rimbaud. Essa conta a história de um poeta, visionário, vidente, que passa apenas em vão pelas ruas, observando a escória da pobreza e o torpor mental que aflige a população.

Jefferson tornou-se um grande escritor. Hoje, o autor vive recluso, isolado de praticamente todos.

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ICostas nuas revoltadas de sangue.Prisões oculares que os judeus sugaram num plano íngreme e sem nenhum poder de reinadoSerei beatificado daqui por diante por desigualdade desses burocratas vaidosos que rosnam e cospem como fascistas.

Bati as castanhas e arranhei as emendas de unção matemá-tica de um plural do que seria a realidade da natureza física e repensei sob as portas da escola enquanto eu, sozinho aos 14 anos, sequer sabia o que era vida.Puxei estes versos do calabouço, mas na avareza pude sentir cada consoante, cada vogal, e palavra por palavra escrevi feito um lobo no deserto escaldante, e tirei para cima um adeus que me deram em morte no momento de abnegação e ansiedade múltipla, a raiva até os joelhos que atirei sob o escolhido.

Serene e árdua pela ardesDistribui chances, não machucaram infestações de rata-zanas saindo das varíolas gregas tencionando destruir as arquibancadas.Quero ver as sorridentes nobres que rasgam no jardim por acasoQue desaparecem atrás da tenda.

Imenso e sereno a assoma e esvai-se nas pernas dela.Numa vítima da chama, como uma mulher pode ser tão bela?Ardendo no receio de que as coisas soturnas valem as esclero-ses dadas nos domingos à tarde, pois domingo é dia do Papa,Como graves melodias vou remar até as infinitas valas de pandora onde posso encontrar mulheres sem ser estas desse país que é Israel.

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Fala em enigmas, a emocionante filha, pobre criatura.Mesmo quando já não ressoa.Torpor de flores estivais exiladas tantoVendo no campo esmaecido a terra extinta que adversa em mim.

Seduz sonhos no esquema imenso a criançaSeduz a nobreza em repousoO jardim imponente me era variávelEm repouso na gleba arquejante do trigal, isto não acres-cento aos versos imaginários e desportivos de Chatterton,Se for para todo o sucesso, é para mim a psicose mental de que existe uma conspiração contra todos mais logicamente eu.Nada foi para mim o que era antes nos corpos vomitados de minhas namoradas, menstruação e caos,Asas de imaginaçãoE turbulência itineranteFoices faiscantes e vasos vazios.

Nada do que fui apaga a imagem anterior de mimA imagem de um passado escrito em lágrimas de sangueUma fortuna melancólica e desterradaFui ser um enfastiado fielMas a devoção me traz palermasA chegada do invernoÉ da lua e do solSolstício na via atroz disto e daquilo

Vossos olhos avermelhados ferventes presos e acorrentadosNa pele desses que só falam asneirasPoesia tende ser clássica e com estilo, são eles:Dante,Petrarca,Baudelaire,Rimbaud,

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Georg Trakl,Hofmmansthall, Todos clássicos e de estilo.

As armas usadas pelos guerreiros esmagam minha menteJuntava e vedavaBarrando meus caminhosMinhas suspeitas de que o medo suaveSoa como a vidaChuva de outono que nos traz uma iguaria.

Eu, eu, fui ao Central Park e vi um cego pedir vinte e cinco centsEm suas pestanas pousavam moscas infestadas de esterco

Meu cão de guarda manso pulando nos matagais de enxaqueca e vibrando com esses sem-teto embebedados, todos presentes e sofridos com tom sereno nas guerras do golfo. Minhas amantes desfiguradas com seios empinados e sem âmago pela vontade de ver aquele velho trepidado entre muletas e falho nas atividades, só, lamentável, e repudiado como um triângulo de pernas.Já bebi conhaque nas laterais de várias histórias, entre elas a grande plataforma.

“Não me importo com o homem raivoso que já fui”, diz o velho judeu de cajado nas mãos, e neurose ativa como um progresso tímido e uma colheita que jaz nas emaranhadas mãos de cinzas.“Paguei dívidas”, ele diz enquanto eu sou canonizado, porém dada as dívidas para mim, eu repudiei as emendas revestidas de cerveja e os pecados mais horrendos,“Quero viver na podridão e estripar os foragidos”.

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Vou abrir as portas do inferno, e dizer a estes que conso-mem o poderoso boom que devem pagar os cents de porre em San José, “Matar”, dizem a Maomé.Matar, diz aquele o nazista de suástica azul na testa.

“Pois eu vi gente pedindo vinte e cinco cents na tela do Cen-tral Park, e na alameda dos vórtices siderais.“O cego disse não, e a esposa fajuta me condenou por eu ser tão iconoclasta nas sessões de psicologia”. “Não me importo em ser o que sou”, ele disse a Little Girl, vou ser bastante equívoco nos estrondosos corredores mor-tais, como num capítulo mortal” “Moro no subúrbio, no podre dos podres, nem viver sem ser um deus poderia culminar em retroceder”“Venho de longe cuspindo ladrilho”“Isso é tudo pelo capitalismo”“Vou cuspir na cara desses lavradores que me castigam pelos malditos, pelas reles malditas, vou dizer que tenho suásticas na cara e que odeio Israel”, diz o presidente norte-americano”.

Não acredito em Maomé. Maomé? Ele está morto, Maomé oprimiu um mundo sem conceitos“Suástica na testa filho, suástica azul como símbolo de paz”, disse o nazista,Presto atenção em meus interesses eu anulo as pessoasSylvia Plath e os confessionais estão ajoelhados agora e se revirando em seus túmulos estreitos, pois nada é comparado ao Rei Lagarto, o cavaleiro do apocalipse.Eu não tenho as bênçãos nas mãosTorço apenas pro PRIDE, e sei que terei sangue diante de mim.

“Sou desses tempos, tempos noturnos, tempos sagrados, tempos modernos

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“E não irei me submeter”, diz o judeu.Quero ver raios nobres, de gente saudável, gente decente escalando as partes nutridas de comodidade ávida a perple-xidade de uma estrada noturna e um desfiladeiro de âncora.Pastilhas findas do entardecer, pois do Kaddish li apenas sete rimas que invocaram meu saber. Sou santo em demasia, se esperar na igreja católica não rezo sequer três ave Marias.

“Já de tarde tenho finas temporadas no inferno, no México, nos EUA, no estado de Louisiana sob os ratos e nas baratas, aquele auge espesso”“Dando de comer a mendigos cegos e inúteis, que fraque-jam por fraquejar suas antenas parabólicas de uma situação corrosiva a dizer sobre as entidades barateadas”,“De luzes espaciais à estradas passageiras”“Como reviver os tempos em que as reticências não valiam pra nada, é o silêncio, o nazista, ou o judeu?”

Deixar episódios para não ver um capítulo suado de perver-sa desigualdade anfitriã? Isso me passa um prejuízo anão de tenacidade alegre e fértil,Hum, palhaços.

“Minha passagem pelo mundo é fria, é seca, é costurada por um dever mascarado e intenso que se consome nas passa-gens de aversão”“Onde estará, ó alma do amanhã”? Esta alma calunia as farmácias por ser chamada pelo Rei Lagarto, que com seus cavaleiros da tempestade reascende uma moral distribuída e oca nas tecelãs de um condoído e retrógado perverso, cheio de euforia,“Beijar o chão, oh Plano B que todos já passaram encharca-do pela cidade das trevas vendo Dr. H. H. escalpelar poetas e fazendo lobotomias e enxertos,

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“Isso não é comigo, sou barbudo”,“Tenho garras, sou inocente, tenho suástica na testa”, diz o poeta, general nazista, super antissemita.

Não aguento sofrer por não procurar as veias de Copiapó e notar essas vãs delinquentes realçarem as ruas com a para-noica “arte” de apodrecer noite e dia neste Hospital.Vou sacrificar-meDe aplicar desterros e fachadas negras.

“Mordi as mulheres atiradas ao inferno”“O franco matador”,“Em suaIncompetência me saudou”“ArrancandoA saliva”, diz o judeu.

Revolução pós-democracia na Tunísia:Dicção perfeitaObteve quando foi sujeito as falcatruas?

“Vou me trancar, encurralado pelo ar distorcido e apavo-rante que nos condenam com essas tolices”“Esconder-me, nas noites apavorantes pelos percevejos cativos de uma sedenta tolice conjugal que me serviu para economizar furtos de uma mente vulnerável”“Que Salman Rushdie salte de poliéster de sua tumba”, viva Salman Rushdie!Viva! E morra Maomé Ah...

Pombo morto? É um cretino desgraçado, mas é justo ser elevadoElevar os testes de apoteoseAcoplar fuligens e manchas que ninguém vêComo baionetas ou mesmo apoteoses,

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E por enquanto só, durante uma sessão.Duas jamais.“Anjos meus roubei no fio condutor”“Espingardas de aço na Tunísia estourando meus miolos”“Batendo em asteroides, pois não tenho vigor”“Desmascarando centelhas compactas e finas como isopor”“Demonstrar sem ser agredido”“Ferir costas que ralam do meio da esfera que eu mesmo cuspi”“Naufragar e descobrir ser um nada”, diz o poeta nazista.

Quero desvendar as experiências de todos,Não vou colher respostas sem viver na avareza,Quero a doença, a loucura e a virilidadeSem elas não sei lidar com a certeza.

“Iraque vive a tortura”, dizem eles,“Site divulga...”, e outras coisas maisMas eu não,Eu pertenço ao sistema, não quero me meterNesta: Nova Ordem Mundial, Iluminati!

Chamas dilaceram um corpo embriagado e rasgam em frias fatias minha vidaTodos são punidos com o mesmo torporA mesma gargalhadaTer um palmo e reunir pessoas indecentesMaldito Hosni Mubarak. Prestar oferendas sem ter de se submeter é um serviço decenteNão vou apagar estas costelas empenhadas em praticar o ódio,Vou apenas dar risadas de pessoas comuns e jogar baralho numa mesa de bilhar

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Não quero comprar atividades conjugaisRestaurar capacidadesMudar de planos um engano,Mas quero morrer de morte morrida.Já planejei guerrasE fiapos de sóis decadentes,EnergúmenosE incandescentes.

É uma auréola ocaE integral,Larga, escura e esfareladaNão têm sorte ou sofrimento, apenas tons de nostalgia.

É auréola, é opacaDespida, desigual.

Minhas veias rastreiam outras portariasIludem uma compra maldita.

Auréola tão ácida e esféricaQuero morrer em ambienteE viver em monotoniaEssa auréolaDistinta, porém malditaSequer serve para me defender.

Um traçando passageiras inocentesOutro namorando as indecentes,Cuspindo uma vesícula,E pedras nos rins – pobres – E engolir George W. Bush ou o esclerosado do Macaco Koko.

Os anjos das trevas já selaram.

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“Estes me pertencem”“Nada trouxeram a este mundo cheio de encáustica”“Almas cozidas irei varrer daqui”“Teus segredos santos já varreram de súbito minha paciência”“Matarei vossos descendentes e enterrarei vossas al-mas”, diz Maomé.

Desce estremecendo os louvoresEnverga as veias a temer uma solidariedade típicaMinha serva mexe as estrelas como dirão na Grécia agoraViver sob a lua,Desejar os astros,

Mas do que serve ver a noiteSe mal posso observar o dia?E expulsar carnes peçonhentas de fogos artificiaisMe deixa ainda mais loucoTocar serenatas como num derradeiro show de entidades virulentas.

Recolher a cabeça como num gesto positivoRecolher tons madrigais e esperanças serranas

Mas não,Eu sou aquele que levanta da tumbaArde nos dedos de serpentes e varíolas.

Eu sou aquele que despenca dos portaisE foge aos meandros da incapacidade.

Minha vida foi dividida em três partes:Nascimento,Juventude,E Morte,Disse o fantasma Kadafi no ouija.

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Quero ser mais, porém estas adagas e estes martelos em nada me fortalecemGosto das serenatasDos remédiosQue quando jogados mantêm um par de círculos vulgares voltados para o norte.

O verão estúpido em que me embriagueiPessoas mortasCadáveres desvelados estão circulando a minha voltaOuçam o ruído de Cronos se arrastando das galáxiasE Atenas suspirando pelos matagaisEstes foram meus sósias, estas foram minhas enxadas

Vou enterrar meus amigos.E prezar mais meus inimigos, é tempo de guerraA estes eu confio, mas apenas por vezes merecem minha paz.Quero nadar em euforia e alastrar o casamento, fincar-se nas padarias de domingo;Prestar serviço aos marxistas, e ser ao mesmo tempo socialista,Não vou ser soldado de ferro nem mesmo um impostor incapacitadoMas se ouvirem os gemidos integrais serei o mais literal possível.

O que foi aquilo que pulou e atirou nas sombras?O que foram aquelas feridas presas nos cálices?

Não duvido de ser atordoado E mentir sobre as formas materialistas me faria pular sobre trilhos padronizados, daqueles bem tortos e suados.Como é difícil sobreviver a esta solicitudeE me seja vindo um fato consumadoDe vingar filisteus e judeus

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Minha corporação é a mesma paz, vida determinada.Encurtando uma pequena deformação a ser transferidaCalcificando todo olor ascendenteMinhas tulipas transparentes se sacodem como longas baforadasSou um simples escritor de longas andanças e pés diversosPossuo apenas duas mortesAo ver Odin não neguei que aquilo se assemelhava a qual-quer distraçãoEra um tipo de profeta e falta de religião.Minhas veias, oh minhas veias!Saíam como tabernáculos atrozes e destruíam essa espingarda.

Moloch! Moloch! Moloch!Aleluia e suas anciãs.

Hitler! Hitler! Hitler! Glória a nosso führer.

Quando vejo os amigosQue traí durante aqueles temposMe ajoelho ante a Finnegans Wake e vejo a desgraça.Tamanha incompetência me alarmaTrocar de posição me condenou a caminharDesvendar as aventuras de uma vida é como trair a si mesmoE eu o fiz na passagem do verbo novoTentei utilizá-lo sem ninguém me ouvir,Já cansado e consumado eu nada fizDeixei o tempo passar.

Estádio de luz radianteNoventa e dois mortos,Como o tridente de PoseidonTu fizeste homens de carne fresca...Apenas tu... Noruega, 22 de julho, eu chorei por ti,

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Ante aquelas massas incandescentes,Rochosas e delinquentes.

Ouve que meu sustento é decolarPois caneta bic não tem endereço, sucesso ou qualquer dinheiroDizem mamães que se tornar militar ganha 20.000 por mêsMas filho de doutora tem caveira tatuada no braço direitoE este, principalmente, possui amigos filiados.

A saída de uma empresa ao império do besteirol como fonte de desesperoFunciona periodicamenteAcertando minhas articulaçõesSou suicidaSou reprovadoE nitidamente livre de prazeres.

No mais profundo peito Nasce uma alma que respira um encanto de pétalas e doce mel Seu amor é suave e deleite Que desperta respeito até em víboras e cascavéis, Em sumo palpável e desacordo Suas pernas são de carmesim puro e refinado Seu pudor é claro e recheado de jasmim Suas campânulas de guerreira, apesar de oca e desnutrida batem em mim, como no encanto de uma triste rapariga, Eu tenho amor por aquela princesa Que de tanto estremecer nasceu arquetípica Mas nas labaredas frontais Tenho sono pelos anjos de nosso Pai, que nos escurece de sentença E julga-nos nas madrugadas pouco leaisAquelas ondas gigantescas de Eyjafjallajökull.

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Se por um sonífero somos altruístas, é esta raposa que fez--nos perplexos de natureza pagã Mas eu digo: Viemos de uma raça esbanjadora Somos mais para características estoicas e simbologia filtrada Se não fosse pelo nosso julgamento Tudo estaria levemente condenado Mas nossas damas Nossas altezas Tem sangue de marmota Tem origem de realeza. Eu sei que as tulipas E as rosas São delicadas como a noite de Baco, Mas também podemos cristalizar um girassol E transformá-lo em uma luminária de ouro e marfim, como num seio de Vênus, Sabem lá os ditadores Os autores Que a dinastia Esteve a calhar junto aos perdedores Pois no interior jacinto, destilado de mentiras comprimidas e ruivas sob preguiças Sentiram ardor e penhoraram seus tampões, a fim de perfu-rarem suas feições jeitosas, escaldantes e cheias de beleza; Ah, se na vida meus braços tocassem a fundo num solo estático destas belas princesas, seria eu um celta ou quem: o Viking de Valhalla? As sete crianças me veem com suas claras pombinhas Tem meses de extorquir olores E cabelos lisos como os de nossas rainhas Mas nem tão complexas possuem suas belezas São leves como as de uma princesa e, na surdina, perpetu-

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am suas dores Só na solicitude eu sufoco meu coração de folhagens para reciclar triste clamor Pois de beijo a beijo sinto uma sentença de amor, É ele, o Criador, dando-me as asas de um anjo para pene-trar no paraíso E justificar à seus seguradores sobre a densidade de minha sensibilidade, Mas eu digo: Oh, vós que me acalenta Eu as terei um dia E quando chegar Nos meses seguros de primavera, sentaremos nas margaridas E contaremos a cada uma, o que fizemos no belo Natal, Oh, minhas doces queridasTodas lindas, todas belas.

Minha ferida fez uma única referência ao vazioA tempestade que devasta os oceanos,Jardins secretos que purificam minha mente.

IlusõesVoar de condiçõesMas bater de asas bem abertasPois parar em Dubai as crianças também vão querer,“Eu tenho escarlatina!”, grita a menina, “Eu tenho escarlatina!”,E coloquei a mesa na sala de esta.

Essa gente morre num típico olhar cartesianoNada sólido ou franco,Inchado de todos os modos apenas.Esse breve respaldoQue ameiSão coisas que passaram em vão:

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São coisas mortasPense: morteDeduz-se: suplementoOs machados estão arquivadosNa mais sombria gazela do outonoPelos campos ouço os soldadosCom armasFogoPedraTudo estendido à mão.

O pátio da pazVi noutro diaEsmerado de alegriaVim para sofrerPorém não vi gente querer cogumelosA fomeA misériaAinda fazem de mim um respaldo de glóriaMorro nas cruzesComo Cristo;Eu sou Cristo atualmenteAprendi a morrer sem chorarTenho que aprender a soletrar um pouco de mimUm pouco dissoÉ pestanejar por insucesso.

Ter mãos de pastor agora acaba a guerra sem fim,Mãos de cordeiro no armamento infielMinhas mãos são fúteis e malditasTenho medo disso e daquiloReceio por algoPorém nada me dizQuem sabe um dia venha crer

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Que tudo esteja a crer menos aindaQuem sabe o bemEspere a fazer.Ah, soldados na lamaE a fome em quantidadeE suspiro nos bordõesAinda fazem de mim um sustenido guerreiroEstou prontoEstou preparado

Vou continuarMas saibaSão dez convesesSão duas lutasSão dois lutosE quem sabe o bem não me prendaPois isso é para você.Sim, eu vi a morte.Você me viu nos olhos.Na escola tem gente[Eu sei]Mas nas ruas têm soldadosE nos canteiros têm prostitutasTêm molequesA frente tem história de puberdade

Caminho para me dizer:Isso é para o mortoAgoraQue você compreendeNão me deixeEste sou euTenho dois pingos de sanguePingos rastejados na palma da mão

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O ouvido verte na urinaQuebraMaciçoJá vi genteQue gritou pela fomeTem gente nessas ruasSangrando quando nasce criançaE quando vê gente grande borbulha de dorPois todos são santos

Mas não existem santosA gente morre pela pátriaEspereEspereDiz a voz lá, ao longe, acolá,Mas não tenho pretensão de sábioSou marroquino e tenho punhos estardalhaços.Sou como mestres de cerejas cuspidasArmado ou nãoTenho urina na testaAs flores no chão.

Bicho com medo de genteGente tem medo de mimTem medo de gritarGritar para tanto é se ausentar.Eu não espero que um anjo venha dos céusComo ocorreu com EliasMas espero que meus cabelos, Dalila não os corteNo rio fazem de mim um forte tufãoE agarram-me querendo usurpar a alegria de sexagenárioA lição de morrer pelo próximo e viver pelo não

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Vamos para a auroraMas quando o outro vierO inferno desceMas aprendemos com os errosAprendemos pois somos homens esnobesEsnobes de carcaça e sarça.Cuspido e reprovávelDistinto secoEu me desmistifiqueiE finalmente mateiMatei meus ideaisMeus servosMeus funeraisMeus xamãs.Matei meu amor.

Dancei com o solNum tempo em que as flores diriam:Era uma briga fácilE uma maneira turbulenta de se perder para os raiosPorém eu sonhei com as estrelasE as bailarinas.Mas continue, meu velho.Tu tens sapatilhas de açoE crânio de uma grande outorgadaSeus parentes são seus filhosE suas mães são mais de mil:Ave Maria,Maria Madalena,Judas,E Caim(É que varia com o tempo).De tarde ela disse-me:É apenas o mundo,

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É apenas o mundo.Se reparares a decadência delesVão notar um interiorEm que há guerra de semblantes

E anarquia para haitianos, tropas vem, tropas vãoTem detalhes de ermos mirabolantes.É apenas o mundo,É apenas o mundo.Pegues um pedaço do boloRepartas suas consoantes aos inimigosE dê-lhes o que puderesSão meus convidadosEu digo que possoEu digo que seguirei,Mas para mim aquela figura é a de um músico,Pegues seu cachecol acinzentadoE espalhe à noite,É apenas o mundo,É apenas o mundo.O mundo pelo qual César morreu e Imotep endureceu,Mundo este que nos braçosMorrem feito ligas de aço.

Nos degrausE nas labaredasNos encantos,E nas desgraçasOuvimos o que queríamos enxergarMas lamentamosApesarDo sonhar benévoloE ainda que cheguem e nos capturem... somos os heróis. É como nas historinhas,

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Pensais que no túmulo tem gente em lágrimas?Pois eu digo que no túmulo existe mais movimento que na cátedra da noite,No túmulo de nossos semelhantesOu nos infernos de Mefistófeles,Existem criaturazinhas de camadas pelas quais não se te-mem na madrugadaEis a ocasião:Vida súbita por invasão,Dois graus abaixo da terra.Mas eu digo,Não se chega a tantoPara se continuar vivendoCom tom de destrezaLuta-seEncantam-se as mulheres,E à surdina...As batalhas são milOs mortos se enfrentam aos montesPorém se tem vaga noção de que tudo se esmaece.E nos grunhidos e nas tristes semelhançasCom as mulheres e criançasLuta-se para o bem da volúpia.Sonha-sePelo sonho passível,Mas lutarTambém é justo para aqueles que merecemPara aqueles que desmistificam astros,Mas sou muito mais do que um poetaEu sou um signo em vértebra.E você está em conflito pelo qual passará corretamenteMas certamente vencerá.Esta é a hora pela qual se passam os vivosÉ hora de colheita,

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Hora de sabreÉ a vez de um sussurroMas também posso dizerQue dentre tantos, sou o escolhido para se destruir.

Odeio desgostarSob o mesmo tom das avarezas.Mas dentre tantas oportunidadesDeterminadas chancesSão qualificadas como as melhores num mundo consumistaIsso enerva o coraçãoPara as consagrações da almaA fim de reverter o sentido das causasQuando se introduz o soníferoO sonífero vem à toaPara fazer o sentidoDerruba-se um utensílio,E mata-se um homem,Mas tudo pela chance de se continuar.

Na chuva, Rei Lagarto disse que existem diferentes temas pelos quais passamosAlguns de nós passamos em fases, outros em batimentos,Ah, os batimentos nos fazem a certeza,Mas hei de me lembrar daquela garotaNa estrada para Atlantic CityChorando pela perda do filho de dois anos e meioQue foi atropelado por um desgraçado e rastejado pelo mesmo,Minha ameaça é pequena: punição para estes.Ainda sinto ter que rever meus sonhosEm lugares pelos quais, eu... eu fico meio que sem palavras.É quase que notar um algarismo sem anotação de primavera.

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Brasil, USA, África e todos,É minha casaMas eu sou sincero como qualquer poeta de índole circun-cidada – veja, o eu –Tenho caráter de muçulmano nos braços?Já fui até headbanger, sim,Bastar é como pegar um pequenino sal,Sabe contarTem cheiro opacoMas no seu interior existe só fareloO que eu quero dizer é:Se não quiseres me seguirFaça o que deve ser feitoMas se quiseres, venha com voracidade!O tempo é curto,Dentre tantas armadilhasDentre tantos nevoeirosExiste este presenteAgora basta,O tempo presente,É o nosso futuro.

Vestindo preto, e enchendo nossas peças de zimbro,Do gramado pelo qual o papai comprouÉ grunhido com patas de carneiros inchadas.Já não sei,Se sou a pátria.

Cuspir no chãoE continuar na mesma comoção ao lado dos inimigosE latir sem ter o cão ao lado.Bater inchado no dia a diaE espalhar a canção de se estar mal-humorado.Ouvir as pessoas:

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Brancas,Negras,Albinas,Racistas... Todas.Elas são muitas para mim.Mas eu penso que se um grão de areia, um tão pequenino grãoFosse cristalizado na mão nula de um ser humanoSeja ela qual for sua etniaSua armaduraSua entidade...Ele mudaria?

Minha casa não sente nadaLá eles têm canções que me desagradamTem pessoas que me subestimamTem lições que não me satisfazem.O que eu, mas sinto, é que:Existe algo,Existe aquele bruxo,Existe aquela morte batendo à porta com suas garras de gárgula maligno.Já me disseram durante anos,Que um homem não se faz de honrarias ou méritosMuito menos de seus privilégios.Um verdadeiro homem se faz de suas batalhasDe seus amores no front de batalha, “ah, este é o homem que quero ser”, disse,Mas sabe muito mais que issoSabe que tem algo que nos destróiSabe aquela bandeira de candelabro estridenteE palavreado agonizante?Essa aí vale o dobro

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Eu vim das montanhas de Maomé,Vocês não sabem o que é vir do inferno,Ter 90% de cálcio de petróleo sob as axilas,Isso mata qualquer um e leva à loucura sua família,Mas o que me redime ainda mais é imaginar: Sou uma família,E dizer Este representa o infortúnioE representa o respaldo,Para toda a certidão há um anfitrião.

Por favorPeçam licençaNão é um campeãoNem é uma lástimaÉ uma agoniaQue no interior se eleva, eclode e morre.

Queria eu ter o mérito de dar às mãos a féPorém o prol são as santificaçõesE se distingui as anarquias deste partidoTudo o fariaTudo o encheriaÉ por meio desse século que eu o uso,Ser uma carcaça de mitosA qual precisa peregrinar nos açoites de sábadoA sabatina é bem meu estiloMas se me distingue o transeDistinguiram-se minhas feiçõesTudo seria bem-humoradoE dizer que o passadoO presenteE o futuro, são condições exclusivas...É tempo de guerra, filho.Pegue na enxada

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Forme uma filaÉ, pode ser também,E comeceO machado na mão esquerdaE a bíblia na mão direitaEles são muitosContinueContinueLá vem mais umLá vem outro,Mais vamos juntosO que importa o presidente?Não valorize o presenteAs abduções são de carcamanos.Isto é a vida,É isso mesmo,Contente-se com a serpenteCom o DiaboCom os demôniosE Deus? Importe-se, mas cuidadoSou eu mesmo, meu filho, meu pobre filho Jefferson.

Bem aqui, neste lar E nestas fronteiras Onde as raparigas benditas e cheias de ar Conduzidas a um outono vespertino e naturalmente doce Ajoelho-me para casar nas tavernas São feições que desejamos minguar Tenho medo das rendas e dos florais De que um dia venha a tocar nos toucinhos ruminados de coisinhas cobertas por cereais frontais Mas são estes versos cheios de glória Estas arcas infestadas pelo ar da era vitoriana Que os cães e os ermitões

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Pregam pela manhã ou pela tarde Na salgada e destilada enfeitiçada assanhada-dinastia Que me proponho a conduzir-me ao poder suficientemente claro para os rouxinóis. Sou como as igrejas catedráticas Cantando seus hinos Suas notícias aos cleros e equilibrados dândis Mas que na rochosa da maré Vem me exaltar com o encanto.

Há aquele cidadão que morreu de lepra Aquela mulher que morreu de leucemia Aquele homem urdido que se desabou na marmota Existem determinados partidos que se desagradaram uns com os outros E todos juntos, muito mais que urdidos, são desiguais no manto da peste. Deus, Senhor! Lembrai desta carne que jamais apodrecerá e sem-pre apodrece, Mas eu digo: Aqui jorrando em lágrimas que guardo escaldante Protejo um livro shakespeariano e quando todos estiverem me humilhando na lama Na lagarta No enxame... Que tenhas piedade Que vejas que não sou eterno Pois deixo este saco de lagartas Esta prateleira de cupins E este véu de serafins Sou mais que um mero druida Sou um múrmuro olhar na escalpa da noite.

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Quando vejo onde errei Meus erros já disseram, Já gritaram alto demais, Não adianta deixar-se levar É tarde demais para saber, O outono... O céu... As praias... É tudo para o mundo e para eles, O que consumo no caule é a pedra Que de tanto escalada se esvai para o norte. Sou como diversas meretrizes São neutras e espessas Até mesmo para se deduzir Isso é, para mim, algo memorável e consequentemente insaciável Sou um homem sem palavras para dar, Sou como um bárbaro, Fraco, Franco, Cheio de cactos E Keats, Eu amo minhas poetas Porém não as tenho para mim E nisso apodreço e caio sem meus mantos Que da fuligem calculam seus véus Um por um nutrem uma chacina Há algo de esperanto nas máculas Há algo de imputável em meu carma. Isso é bom? Não sei. Dizer a palavra de Dante O pó de Mefistófeles E as ruinas de Fausto São para este,

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Um fardo para esta pátria, Morro como quem morre sem verso, Mas tenho a vocês, Minhas... ...Meus... Porém eu gosto do barulho da chuva Que me enfatiza na carne um poder de colossos e triunfal Por isso me confesso nas parábolas Nas retinas dos versos Nas parabólicas das televisões que saem submersas, Mas eu sou algo que sairá em reverso? Gosto de me contar nulo, Gosto de me contar como um épico Algo maravilhoso Mas nada eclético. Foi-se em quatro atos minha vida Mudaram-se os versos Eu não mudei Eu sou aquela criança no leito de morte Sou aquele patrono Que tanto estaca E tenho sangue nas mãos Sou horrível Sou medonho Porém meus olhos castanhos Minha coluna corcunda E meu jeito brigão Meio que de irlandês Não conduz a nada Esse fato é bem marcante para cada um de nós Tanto faz se na chamuscada lareira Dormimos tão lugubremente

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Tanto faz se o mundo morre Se a vizinha se irrita, É culpa nossa, eu sei Mas e daí? Essas passagens são medonhas. Ah, Se Deus me visse E se na onda o crispo rosnasse Isso é demasiado rito. Tem prego Tem fuligem É carruagem É no solo estéril De ameba que se refaz E não se atém Não se atém É perversão que se acomete.

E como se o mundo girasse para mim Tudo fosse significado de ousadia externa Mas minhas mágoas choram por ela Pendurado no crucifixo de ouro Que se libertará e dirá suas consequências Todas faturadas de tumores Mas eu sei que esta mulher, esta mulher especificamente Irá me atender porque me ama E sem esse amor eu nada sou, Sou apenas um ser híbrido Por colheitas pelas quais não consigo entender. Hoje ela me da suas carícias Mas logo se distribuirá em chamas prolíficas Como essas águias de fermento, É isso que todos nós precisamos.

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Retiram as balas do relógioAs agulhas internasMeus sonhos desaparecemMinha vida se esquiva,Já não tenho pregos, estou morrendo,Dormir é bom, morrer melhor, porém o mais certo seria nunca ter nascido.

Tossir, e aparecem os lobosCercando o quintalMatam como as cevadas circulares de um ponto transversal.

Eu nada consegui em minha vida que valesse a penaDesisti, e perdi todas as chances,Flutuei num barco ébrio e cheio de ilusõesMas a meu ver tenho apenas sete diasMeus anos findam por aqui.

Meu serviço é ignorarTenho lamentos a convirMinha razão é esquecerNão tenho nada a oferecerMeus pecados estão ausentesMinhas Marias morrem de LepraNão vou receber nomeações nem gastas estaçõesVou das neblinas a parte vaziaA parte mais querida.Estou sentido frioNum estado de suorSinto-me impermeávelNuma agrura de doençaSinto que o tempo rugePara que todas as coisas passemE como se o tempo não me revidasseAs coisas são simples e blasfemáveis.

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Acima deste céu de grinalda de vermelhoE além destes campos de concentraçãoEu vejo o que todos conseguem ver,Vejo pessoas que se odeiam.E vejo a profunda adoração a uma ruindade únicaE inabalável.Durante tempos eu soubeQue esses sujeitos suspeitavam de meus caminhosPorém eu os desejei,Mas também os descartei como seres humanos banais,E hoje choro por tantos.Vejo o que ninguém consegue ver,Minha concordância é agir.

Um dia pensei ser alguém, e desenhei os escaravelhos na piscina de casaUm dia pensei ser o viajante intragável, mas minha alma me secou me deixou pálidoE recorri à boa vontade, desmascarei mitos e sussurrei em manhãs,Deixei toda minha vida por um penhasco de sabedoria,Vou voltar a ser o viajante intragável? Acho que não, não possuo demasiada sabedoria,E viver agora me faz uma conotação pior da qual eu esta-va antes,Não quero ir, pois para cada verso esticado foi uma dose morta de sonetos ou haicais,Eu tinha em mãos uma criança sensível, pura, e carinhosa, esta mesma criança me faz chorar, me faz rezar, orar a um Deus que responde por meio de enigmas.Eu carrego uma criança morta nas mãos,Carrego um menino podre, sem escrúpulos, minha imagem suja o veneraNão compreendo até onde posso chegar

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Em que país posso me amarEstou partido e jogado repartidoMeu ódio me alimenta nas manhãs de segunda-feira, me dá calafrios e tons impermeáveisMinha usina de terror é o sol de cada dia, ver a luz nascer nas manhãs friorentasAgora já bem próximo da morte sussurro: Bom te ver se-nhor das chamas.Mas amar o pecado está contra mimVou morrerVou desabar e reaparecer como desejavaNaufragar e perpetuar o mal,Quero a desordem, a minha desordemVou morrer em paz quando tiver as cinzas separadas no mar mortoE jogado à derivaSepararei tudo o que sonhei.

Nada terei no futuroO que me reserva é a morteO futuro é límpido e estelarNão tenho futuroNada me sobrará

Os anjos mortosA arquidiocese destruídaOs bancos pichados pelas ruas derruídas

O que terei para o futuro?Sou a cova lenta.Por dezessete vezes eu tentei e foi um fracassoDezessete vezes assumi uma conta com a morteDezessete vezes fui acolhido e recolhidoFoi uma gentalha de centelhas passando de um lado a outroMinha raiva enobrece o discurso que pasmo finquei

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A paciência foi minhaA paciência é minha,Ter de aturar a esta altura babacas sem lógica alguma dizen-do o que devo fazerComo agir, como pensar, como referir-me,Já não tenho liberdadeSou o homem mais infeliz que já andou pela face da Terra,O que me falta é prejuízo e tumores, de resto estou completo,Meu inferno pessoalMinha agonia típica e meu suor dionisíaco.Tenho no front três balas, pois para alguém como eu é ne-cessário morrer três vezes,Eu vi o pastor chorar de joelhos ao ver a face da criançaRecolhida no matagalCheia de dizeres,Cheia de argumentos,Parece-me real ter de chorar e fraquejar por esta criançaSeveramente punida e pálidaDe carnuda a óssea agora,A guerra faz pessoas tristesFaz pessoas choraremMas... e a paz? Na pacificação dos reinos?

Eu sou o homem mais infeliz que já rondou pela face da TerraEu tenho tristeza e agoniaPode Cristo me salvar?

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II

Lentamente como um sinal de suas encomendasEla pisa na cozinha estrelada com sinais lunaresA fraquejar com suas abelhas e seu Ariel que não mais existemPõe as crianças para dormirLeite, pão...Todos em seus lugares e as fitas presas sob as frechas da portaLágrimas sob uma pele branca, macia, mas agora ácidaPobre mulher,Pobre luta.Ter de deixar a vida num aquecimento ilustreA dizer: “Não há saída”As janelas? Não existem janelas, é só piso, é só chão, é só teto e parede em vãoO cheiro, o pior dos pavores agora consome sua almaDesperta seus desejosCospe sua trilha e rima... rima após rima...Ela fecha os olhos e dorme lentamenteAqui jaz Sylvia Plath, cuja história foi somente em menos de vinte segundos.

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III

Não suporto o resto de sombra que este mundo me dáApenas afinco a históriaSou o catalizador dos meus problemasMe lembro de ter visto patre mio morto;Em seu funeral reza a lenda que existe remorso, culpa e puniçãoJá suportei muitas mortes, muitos entesJá suportei pessoas me dizendo o que fazerAgora recuperado vou atrás das pessoas

Dois vi morrerEm segundo planoPois não tenho licença para maisVi a morte tão próxima que me disseram que sou loucoAgora vou derreter geleiras e afundar em penhascosNão faz sentido esta toliceEm segundo plano gostaria de viverMas não suporto este mundoEspero ir a um lugar melhorSem erros, nevoeiros e chamasClamo para que um dia minha batalha acabeQuero sonhar, ter disposiçãoTer lugares para frequentar,Minhas pernas turvasMeu estômago estragadoQuero um lugar para me deitar, e descansar,Vou encontrar.

Eu chorei esta manhãAo ver a rua infestadaAo ver os povos se estraçalhando

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Eu acordei eufórico e melancólicoCom estouros e fogosÉ triste,Como num bombardeio insensatoEstou melhorando meu ritmoProcurando me adaptarSozinho nas esquinas, mas não existem esquinas.

Vejo o que o tempo me trouxe hoje pela manhãDesgraça e ódioVeem-me como um animal, talvez eu deva agir como tal,Nas galáxias distantes e nos passeios de ida, existem perdedoresSó trégua me dá minha saída.

Lágrimas e lágrimas estão a cair bem devagarNão obstante eu desabafo minha crendice de que sou nuloEstas lágrimas me partem o coraçãoMe fazem observar o mundo como ele é, horrível,Quero uma sensação de poder e controlar tudoMinhas metas caemE meus prazeres se alastramNão tenho a quem agradecer hoje, pois estou petrificadoQuero ver tudo nulo, tudo nulo, sou como Hades.

Uma alma! Uma alma!Sejas santificado,Eu tenho que admitir que suas parábolas me reverberaramCaiu um tostão no chãoIsso me deixa fraco, não estou apto a fazer esse tipo de coisaEle carrega três olhos, três olhos pintadosQue medíocreSânscrito é o pensamentoMinha ruína é a discórdiaBatiam em suas mulheres

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Era tristeConfesso que estou a par de meu linguajarPodendo fazer muitas cópias que chegavam-me impressasEstou num beco escuroNuma rua escuraEstou num rodeio sem toureirosCadê você matador?

Uma alma! Escura e latente que assombra os energúmenosVoam pássaros noturnosUma alma chama para buscar este agouroAgora estamos prontos a rezar Estamos prontos a olhar e refletir.

Essas pessoas usam facasQue retiram veneno das almasE piscam quando necessárioUsam almas sem nenhum esforço.

O olho está para com o serEsvoaçando nas calçadas junto a Paul ÉluardMinha voz massacra tudo e pisa nas amarrasEstes olhos azuis cobrem-me de medoSinto terror ao ver o que se tornouÉ repulsivo deixar para trás uma alma,Mas deixarei por consagração as preces de meu Senhor.

Bebê legítimo em sua certezaPessoas que choram em amada certeza a consagraçãoDa defesa de um qualquer.

Esta alma rumina nos campos de um centeioAge como emboscada nas aventuras das veias.

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Arma imatura tem em seu leitoDesgraça doídaE pães concentradosVou abandonar meus trabalhos.

A diferença entre nós?Você será castigado eu não terei meu júbilo

Existem refrãos sobre issoDe uma coluna de amizadeA uma coluna de papelUma alma que nada valeNada vale em circunstância.

Eu o ouvi dizer sobre todos os assuntosGritar dia e noite sobre mim e sobre meus defeitosSeu rosto postiço não me engana por trás da verdadeira face.

O que você quer de mim?Assiduidade? Emprego? Respeito?Eu nada te darei seu cego vigarista.

Ou devo lhe trazer cicuta no café da manhã?Acho que não é um erro se desfazer do inimigoAcho trivial.

Sofri as horrendas vozes do poenteCastigado com um mausoléu de trigoFui severamente avisado.

Agora parto todas as formas e digo o quanto você fezSeus errosMinha impunidade.Se soubessem de mim o que sei deles

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Seria saturninoUma chance nas camadas do sul.

Agora fique com suas adagasTome de proporçõesVá cuidar destas falcatruas enquanto eu cuido da realidade.

Minha testa gelada em tom febrilÀ 80° de temperatura como num uso perspicaz “Sou Dr. tenho diploma na parede”, ele diz apontando com a caneta esferográfica,Tenho calças jeans, tenho pena das crianças que sofrem atordoadas e sem planosVou comprar um maremotoApoiar a ditaduraQuero encher minhas centelhas

Viver por viver não mata ninguémMas viver numa era silenciadaÉ triste demais,Por isso odeio o homo sapiens, ele é inútil; perseverante, mas inútil.

Desesperado e com altruísmoEstamos ocupadosMas no salteador vou queimarBater nos salteadores e encher minhas perpetuações.

DebruçadoParadoFardadoEstamos na mesma substância,Febre de 80°. Eu ouço a voz mansa dizer: “não tenha medo”

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E que nem que seja um escolhidoMas não sou um filho de AláTenho plaquetas nas vértebrasTenho sangue na gargantaVou chorar junto à loucura de Hölderlin.

Pegue essa lebreCasse essa pesteMate uma por diaNão vou seguir seu caminhoPois levei as andanças abaixo do meandro

Minha segurança desarmadaEstaca na janela de Gleen Gould CityNão estou pronto para uma batalha nuclearVou demarcar estes postosE atirar versos nos carnavais.

Nas paredes, Basquiat blasfemavaHoje existem dez fazendo o mesmoPelas ruas do Rio eu vejo isso,

Nua e cruaA verdade é que existe caos e desordem, continua poeta, continua.

Sou conservador,Tenho pose de ditador,Já vieram os camisas pardas me pedirem para usar a farda,Mas tenho raiva de minha gente,Sou Robert WalserSou Friedrich NietzscheE vou cortar gargantas abduzidas.Pela mãe de Cristo eu jurarei que serei um antimaterialista

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Mas antes disso eu juro que baterei num copo de conhaqueA beber o olor de Ruth, que perece no infernoSalvos somos nós, guerreiros estrangeiros.

Minha mãeDestes estas enxadasMinha pátriaDestes estas armasMas o que fareiDepois que o mundo já completoDestruir-me por inteiro?

Bater um porre por diaNa colônia de uma feraDerramar sangueDerramar pleitoFelicidades aos monarcasSou de direitaNão desejo assiduidadeQuero apenas fama e riqueza pelos meus métodosPartido não conservador é partido repartido e tolo,Quero minhas metas e chances a cumprir meus anagramas.

Este partido tão toloTrouxe-me aos céus a dificuldade de AtenasRemar no calabouço ou enfrentar estes malditos rabbits por meio de nataisVou colher um a um cada esbelto me atira uma usinaComo remar nos calcares de loucosTenho pena da mulher que come carne podre de porco e olho de enxerto.

No entantoNa cavidade dos ais dessa genteUm prazer tremendo

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Porém, quando renasço,Vêm mulheres, mulheres eremendos

Maltrapilho inútil que reza sob a estacaDiz ser mas que a lenhaQue bate na estrada não existeNão existe exorcismoApenas evasãoQue carrega a noiteO sistema mais agradávelFui treinado para o serPara confiscar as coisas estranhasSou a hipérbole da morteCastigoEstesPederastas inúteis e sem desafio.

Vamos incluir as avarezas na mortalidadeNa vibração na anulação de o serQuero ter malditos espartanosNa era vitoriana não chegou a ninar os córregos

Vamos saltimbancos elaboraremos este planoGuardo tudo conosco como num pomarCheio de aviões atirados num mausoléu árabe.

Acabei com os tapasEstou estourado até o pescoçoQue na minha verdade não tinha sagacidadeComo erguer patrimônios de pedraEsta manhã eu não irei sair de casaVou morrerTenho medo disto, daquilo,É penalidade continuar minha alavanca,

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Pestanejar me causa hematomasDeixar de lado estes bravosQuero viver na dificuldade densa Amar o impossívelEstou disposto a enfrentar a imortalidade do corpoInstalado na linhagemVou gritar e dizer adeusMas meu coração é hediondoEt satânica dominius pastore,Estraçalhar não me venceComo acontecia nos velhos temposOdeio este caminho, esta vida,Odeio esta linhagem,Me culpa poucoPouco por não fazer nada.

Me culpar por fazer demais é toliceExploro estas coisasExploro minhas terrasMinhas vontadesNão confio em ninguémSomente do sistema emocional me atinge as vértebrasNinguém erra essa vontadeEis aí um Jon Jones da vida.

E nas profundezas eu pisei e nas profundezas afundeiFascista que sou não derramei lágrimasNas profundezas estávamos cuspindo o vômito de AquilesE são muitos os que me atormentam:Hitler, Stálin, Lênin, eu sou atormentado pelo próprio Hi-tler, griteiMinha vida se divide num pentagrama onde derramo meu sangue e oro,Estou perdido nas minhas epifanias e discordo que serei fraco

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Quero findar estes calcanhares na fossaE chorar divinamente num campo de centeioSobre aqueles anjos que reclamaram minha vida.

Sou holy, holy, holy,E não entendo o que as pessoas planejam.Morrer vou reparar nas confissões de um belo dia.

Já Deus me deu asas para continuar nesse doteE vou arrebatar minhas entradas no paraísoVou criar crânios, despedaçarVou ser ciumento até as vértebrasE quebrar minhas quadrilhasVou celebrar versos tristes que margaridas viram nos arraiasSei que tenho dote que minhas carruagens pesam no mundoPorém sei que as dores de um esqueleto adivinham me cor-tar os atrofiados sentimentos

Ingrato nada estou, mas na minha esquina grito e gritoLevantando as estrelas da armadura de caminhos e véusVou ser claro,Vou ser diurno,Vou ser plano.

Sempre achei o corpo suave destaMas em nada toqueiVagabundo não sabe se conterUma fatalidade íngreme que inclui versos infestados de nazismoE Hitler disse que louco somos nósPorém louvo a loucura de nossa genteVer tão plenamente que estes babacas caem como ferro escaldadoE como as brancuras me levam ao limite,

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Quero ver se contento isso nas elevadas paternas que mãos paternas fulgem mortaisEsperança que de fato eu me atormento na naturezaE inescrupuloso vou guardar um pouco de fatoE neste mundo guardarei as freiras da morteQue lutavam nas esquinas bravas.

Tive sonhos que se acabaramChances que se desmancharamPrêmios que não me deramE ditados que não me passaram, simplesmente,Hoje choro por não ser nada, por ser um milagreiro de cajado na mãoSem poder acionar o freio da morte.

Olhos fechados sei que estou pronto para derramar sangueVou suar nas ataduras do nocaute irei vibranteE me reverberar como um cinturãoVou lutar nas arenas da dorE morrer aos santos céus de uma vasta dor.

Quero ver quem esvaziaEste pote de iguariaQuem tem medo de sonhar em gestos tão fugazes É um frio nada mais,Que acorrenta meus umbraisMas quanto mais passava o dia a noite esmaeciaE ouvia sussurrar em camadas vulgares pela casa bem devagarE eu pensei: pobre demônio que me atormenta vais emboraSe por algo não te acalentaMas persistia em meus aisEra triste ter de ver a tremenda face horrendaDo bicho meio humano meio bode, eu dava gargalhadasSeus desenhos me cuspiam enquanto os objetos se locomoviam

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Mas eu disse:“é só um sonho, somente mais um, só um a mais.”

E enquanto eu perecia sentado a ler minhas entranhasCuspia um fogo latejante de um ser de mil aranhasQue rodeavam seu corpo como uma isca a vergonhas,Eu sobrei e tinha a enfocada raiz de que tudo será destruído é cordialmente triste

Ver que das criaturas a mais simpática é a corujaQue nos observa lentamente como preguiça estimulanteIsso é repudio de uma farda transgressívelVer esses demônios tocarem as cordas vulgares

Minha vida é vida difícilE nesta noite estive no inferno.

Repenso estar corrigidoNuma esfera de risosAos tristes praticantes o pente das sementes.

Eis um capítulo:A fala dos bichos e das plantasPara cada espécie sem conhecimento existe torpor e ardor com abafamento.Mesmo num simples risoNuma simples iguariaTrocado o sistema na vida que fortalece.

Essa há perseverança e distinçãoEstou abafado e com aforismos à parteCompostos quando imaginamosQue, ora, está sob elevada santidade

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Dos macacos de Bruegel eu dava gargalhadas lendo aqueles tristes versos,É assim um grande sonífero que asfixiou todas as acorrentadasSentados no parapeito,E se banha no mar,A prova que na flor gaguejo paulatinamente como um ma-caco na ironiaO outro parece cochilarMas depende da triste ironiaErguereiE serei mais umNo meio da multidãoSentado ao léu como numa enamorada risca.

Agora vou,Agora vou,Em frente e no rio Missouri regar as plantas e deixar quei-mar os ossosEsta merda de vida,Que não acaba nunca, sempre a pestanejar.

Este amor subterrâneoDe vadias e toscanosEsta mulher de cabelos pretosDe ar pereneE doce deleite...

Porém eu um cavalheiro após meu alojamentoPedi sua mão em casamentoQue me deu uma bofetada a deixar vermelhas as bochechas de outono.

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Odeio estas mulheresEstas difíceisMas amo sobreviver em Roma e trepar o dia inteiro.

Que dificuldade tenho eu em reagir com o ardiloso sistemaFico triste em me reaver com trágicas armadurasTalhar de véu anseios de tristeza e horror

Como é fácil ser Dr. ThompsonO recorde de razão da tolice e sua fala tem ouvidos de liberdade.

Pois afinal parece destilar as reles do cinto.Assim meu grande desejo de examinar contos finaisSentado num notebook a espalhar as palavras nos macacosE provo que janelas altas flutuam nos céusA humanidade gagueja e tropeçaUm macaco de olhos fixos em mim, ouve com torpor O outro se parece com correntes desiguaisA marchar nos túmulos da lealdade.Olhos saltados e tropeço no calcanhar e ironia nas labaredas do infernoBucólico somos tilintantes de correntes.

Há pratos, mas falta apetite,Há aliança, mas não há amor.Há rancor e existe horrorHá dívidas e desejo temorHá esclerose e me matam de dorEstou farto de vitoriosa culpaE se me derem encáustica serei pobre e oprimido.

Doente das torrentes que me lapidamEu sou mais um vitorianoQue utiliza essas séries como fortaleza adormecida.

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Sou sagrado coração Que me deixa inundadoPalavras soltas que quebram as costelasSou castigado como dantesE perseguido como verboE bater no muro dos judeus de Londres a históriaLeva a castigar toda a sociedadeBater como um exemplo

E trazer as feitas marmeladasVem estraçalhando os quiosques.

O sangue escorriaLevemente por entre as cordasE se distorcia com linguajar pereneAs fossas todas tortas me roubavam impertinenteNada via neste modesto lugarModesta culpaEu serei o que serei um amigo íntimoDa mulher ao lado efervescente.

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IV

Turvas as mãosTurvos os braçosA cabeça turva e o pescoço turvoOlhares escuros como de um gato negroRajadas de vozes de outro ladoUma agulhada para acabar,Mas o braço já turvo demonstra possessãoAgulhas afincam no pescoço da criançaE os olhos se reverberandoComo num imitar de mausoléu,Eu enfrenteiFlutuando das cinzas de MolochQue pronunciava repetidamenteEra difícil não ter chance de se acostumarBateu nas estradasBateu nas mulheres e nos padresRajada de comunhãoLogo disse:“Meu Deus, despertai-me, pois isso há de ser um sonho”.

Plano simples,Trancar,Ligar os aparelhosE deixar escapar o evasivo olorInundar as portas de cinza e fita adesivaPara não contaminarEscrever O CorvoE morrer em prontidão de alergia

Como seria maravilhoso ver o compasso duma extraordi-nária rima

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Como seria maravilhoso ver os deusesMas este tempo ainda nos restaE parecemos secosMas nada se esvaiTudo fica,E alguém nos condecoraOu mesmo condena.

A sabedoria é entenderNão fixo as engrenagens nos abismosEstou solitário

Viver trancadoDentro de uma campânulaÉ querer rever atitudes extremasE não sou assim

Excremento na faceTitia zangadaÉ tudo o que se tem a dizer?Coisas simples de um poeta carrancudo

Estou exaustoEstou reverberadoEstou extravasadoVou agrupar minhas chances neste rio de mentiras.

Não existem problemasNão existem contratemposVou me retirarCompor as constelações estridentes.

Achei uma noção básica de sonoRetrair um pergaminho

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Voltar do sonoCrepitar os adesivos da morteNada se estende nestes patriotasUm entre aéreas decadênciasProtegeu a decadência e serviu de nutrienteMostrou que aqueles são feitos de ferroNão me entendem.

Eu sou faixa preta triangular e diagonalTenho sangue divino nas veiasE sou vistoComo mero mortal.

Depois de proteger a pátriaCaio em prantosDestilo meus esquivos.

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V

Todas as minhas voltasMinhas equilibradas elegiasSão de caráter eliminatórioEu joguei as analfabetas no rio do condomínioQuero ver a estrada de verdadeE estar atento as coisas gravesDeem-me suicídio se precisoÉ um movimento verticalQuerer que aconteçam as teclas de luzVou rasgar duas entradas do átomo de EinsteinE quando estiver podre Estarei soluçando, fabulosoComo num longo beijar do infinitoDespertar essas consequências deixou-me louco.

Agora chega, vou demorar a ser um ancestral?Quero ver este afoitamentoPregar as acinzentadas cúpulasDesta crueza reuni apenas quatorze celtasQuero o troco dos vikingsE se possívelEnumerar as cidades de onde estivemos este anoComo consequência de uma razoável cultura

Para mim nada existe neste mundoNada existe de impossívelA raiva, a desgraça, é tudo ativoSe estivermos mortos, estaremos livres,Pois a vida que aguardamos é bem profanaO sentimento do mundo é desalinhadoNão tem sistema de adoração

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É preciso reinventar as coisasAs necessidades da vida, para então mudar o percurso,

Costas nuasPrisões ocularesSerei beatificado daqui por diante

Bati as castanhas e arranhei as emendas de unção matemáticaPuxei estes versosE tirei para cima um adeus que me deram em morte

Serene e árdua pela ardesDistribui chances múltiplas que não machucaram infesta-ções ocularesQuero ver as sorridentes nobres que rasgam no jardim por acasoQue desaparece atrás da tenda!

Imenso e sereno a assoma e esvai-seNuma vítima da chamaArdendo no receio de que as coisas soturnasComo graves melodiasFalam em enigmas, a emocionante filhaMesmo quando já não ressoa

Torpor de flores estivais exiladas tantoVendo no campo esmaecido a terra extinta o que adversa em mim.

Seduz sonhos no esquema imenso a criançaSeduz a nobreza em repousoO jardim imponente me era variávelEm repouso na gleba arquejante do trigalSe foi para todo o sucessoNada foi para mim o que era antes

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Asas de imaginaçãoE turbulência itineranteFoices faiscantes e vasos vazios.

Nada do que fui apaga a imagem anteriorA imagem de um passado escrito em lágrimas de sangueUma fortuna melancólica e desterradaFui ser um enfastiado fielCesse as amígdalasEstamos em recessão desde hoje e sempre num único “Car-pe Diem”Mas eu não vivo por viver e o meu sonho é ser de outro mundo,Saltos de sufoco nos flocos extasiados da ressaca,Cabeça de filha de Eleonora E o pobre e destacado Ovídio, cego, de olhos vendadosA ladrar sempre e sempreMurmúrios num mar de piedadeOuço vozes, vozes que não estão presentes:“Voltem as mulheres”,“De novo urnas funerárias pairando por estes lados”“E uma voz de Praga orando por mim em vão”“O rosto da deusa”“O rosto de um deus”“A voz de Mary Schelley gritando da tumba”“Deixa-nos refutar a má índole de que não existem burocratas”“Retornar para os embarques.”

E nas praias, Tiro: Boom!Braços distantes da deusa de PoseidonSinais minuciosos d’água enlaçando-se e gritando,Brilho de uma luz esverdeada, frio nos túmulos, denso abrigo,Serenidade fluvial de luas e mares estirados,Albatrozes e suas asas,

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Remexendo nas penas reviradas,Narcejas aproximam-se de mim para se banhar ao sol,E ao longe de NevadaÀ primeira rua de sempre da passagem dos eixos,Uma moral elevada de rocha disforme borda estas costelas,Disparam os raios nas algas mornas;Há uma luz azul que espanta os bravios,Clarão de luz metálica no deslumbrar dos sentidos.

A nave mãe atracou em Veneza,Homens de cajado nas mãos E em mil e tantos versos Petrarca riu de mimComo o conselho de Pasolini,E foi liquidado naquela cidadeE foi sepultado nu,Sem depor no velho testamento suas grandiosas Rimas,Ter pacis Italiae.E se as amizades entre Dante e Virgílio aconteceram na estátua,Eu tinha uma unidade de bolcheviques,Ela trouxe um embrulho,E isso me consumiu,Ela obteve a paz e isso me oprimiu(Virgílio, libraio, diz Dante Alighieri no Purgatório)Na primeira folha do embrulhoEra sobre na época de Stálin, um erro,Veio das guarnições de ouro, de Medusa,Sem dizer que lhe havia enviado mil deuses para o Olimpo,

Sem dizer que lhe enviei em seus diasEstavam os comedores de batata, os açoites de dilettoO trabalho de Vênus “stomagose”,Ferrara, paradiso.

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“Será impossível ver as constelações“Que eu tive no gado de Aquiles?”“Uma criança, um infante”,“Além disso estive aqui todas as noites em minha aurora.”“James Joyce me fez, Taras Bulba escreveu nas escadas”,“E Cronos vendeu suas costelas”.

À pequena sacada das escadas entre as torres,Lendo os dez mandamentos você tinnula:Que nenhum homem fale, ou desperdice a paciência de Ezra Pound,Sob a pena de ser sacrificadoDesmembrado e espetado num crucifixo,“E El Cid, está nos selos,“A grande chancela”.

Velhas rimas do toureiro azulVelaram as chacotas que deixaram um olor trivialVi a nascente de um sol figuradoAgora vejo as equações de um padrinho atordoado,Oh, velho toureiroQue outrora se gabava de El Matador,Hoje se receia por ser um fraco e tolo pescador de versos.

Franca avareza, em um sistema eloquenteFranco sistemaEm uma pisada inerentePelo Santo GraalVeremos as montanhas de nossa genteMas não espero por um passeioQuero ver debochar e aglomerar tendões numa vindima repudiadaQuem venera os ídolos venera o cáliceEsta essência rompia-se esporadicamente

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Contam que na velha cabana ao norte de uma rua de MadriEl Matador vive recluso, preso em seu mundoPorém em chacota, e alguns que passam e já passaram ou ouviram falar sabem que ele foi grande,Esteve em desespero, esteve em corriqueira agonia? Ante-riormente não,Vive agora em desordem e caos,Tem sangue judeu, tem olhos de eunuco.

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VI

Todos sabiam da esquina em que se encontravam estas pessoasA santificação da neurose clama por uma recomenda;Eu não sou DeusOh, por que me afligem como afligem El Matador?Na campanha de cardápios eu recolhi meus emendosHoje oro por nossos amigosQuisera eu ser um pobre bajuladorE entregar em mãos as pessoas que me chicotearamQue me cuspiram, e que me assaltaram.

Meu coração bebe na repousada da névoaE bate friamente como um tufão de sorteios,Os empregados xingam meu coraçãoAgora já nulo, criança que sou, sinto dores estomacais.

E deixado de lado vou ao intuito de que tudo morreTudo se desfazMeu coração está triste e claustrofóbicoVou viver na vida divina Prender os burgueses desonestosEu vivo na transgressãoDemarco minhas armadurasE plastifico meu coração

Já estarei de implicância com meu egoMorto, perfurado pelas assinaturasDesfragmentar estes braceletes me deixou profundamente anormalMinhas viagens são tão santasEu busco me expressar por meio de lágrimasNada contra esta gente

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Mas me entenderam errado por eu ser quem eu souAs andanças fajutasMeu trigo partidoNada contra meus poderesMas eu pude me fazer estraçalharPor meio de diversas asas.

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VII

Eles sabem da nitidez ávida dos problemasTer que colecionar a criptografia de um semideusMas sofri em nesta... nesta... aleijada companhiaNão tenho nada, sorteiam meus castigosDe dia prefiro o perigoPorém ele costuma vir à noiteMe castigar numa luz, num bombardeioÉ à noite que vejo o castigo dos plebeus ou das plebeiasSaltarem como gansos e dilacerar toda uma esquinaOdeio ser perdoadoTer de perdoar é pior,Minhas escolhas se dilaceram e se rasgamNão tenho métodosSó aforismosE de tanto consumir minhas energias deixei-me acostumado.

Brigas de usina, ácido no linguajar,Minhas amigas são: Eneida e Afrodite,Ter poucos anos e muita atitudeExerce um direito sobre esta cidadeNão amar as pessoas que aconselhavam-me amarE testar que tudo é abismo e solução perdidaUma poética sem dialetoSem soluçãoCombinações rítmicas de uma pequena questão itinerante.

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VIII

Em real segredo os homens passavam em decreto estiloMorriam na lâmina de Elizabeth IIISurgia um parâmetro diferente

O vento passa como um canavialE um sol das suas foices aos animais que morriam lentamente.

A vingança de suas núpciasAparecendo asquerosasO olhar límpidoForagido no luar

Errar de tudo a coroação é tudoComo deixar de ladoAs provas de evasão.

Não tenho forças para tantoNem mãos de superman para carregar o ser humanoTenho apenas uma tola condolênciaQue me repeteE repeteSempre a me atazanaraDe tal maneiraQue se torna impossível continuar.

Minha vida é um oráculoQue vem a noite para me buscarComo narcejas que saltam extravagantesA calhar da sua vindimaVou trazer este doteEste horror

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Este pendorÀ minha terraOnde saltam frios constipados.

Se não fossem essas marmotas de outroraSe não fossem estes raios de quimeraEu seria livre para amar como quisesse.

Feras estas que ladram no outonoComo um desumano infameEu toquei e refleti jorrando as barcas no Polo SulRetroquei umas esmeraldas para viver afogadoE bati continência em respeito à santidadeTenho braços de ferroMas me falta essênciaFalta-me algo que me aviseEu nada sou sem o existirÉ preciso nascerEntender coisas que criam funções repugnantesDeixar o solo mudar para crescer as plantas.Viver de forma naturalBasta para com esses eunucosVamos viver em paz,Viver o que precisemos viver.

Todos os dias crescemos sem nos rendermosBaixamos as correntes e indagamos se estamos prontosPorém minha vida é uma merdaE burocrático como souEstou em afliçãoAgora tranquiloE cortado em pedaçosVou morrer em paz.

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Profundamente calado e ávidoEstamos neste aconchegarPresos numa redoma, numa campânula de açoRevestida pelos sabres

Agora bastando a correntezaEu retiroE demonstro minha leiSou carregado de espingardasE elevado ao extremoQuando as notícias se sacodem

Há raios que me decepamUsinas nuclearesQue me forjam encomendas

Este solar híbridoÉ carregado de desassossegoNesta vida eu tenho medoVi um tijoloUma consoante apertada.

Raios partem meu coração,No estandarte da alma,Alucinam um tumorQue vive bem em plena regra

Estes raios são grupaisE desleixam uma só rimaNão evadem as saídasApenas para estraçalhar as mandíbulas,Evadem nossas paixõesCirculam pelos céusAbomináveis de Antero de QuentalQue gritava à mercê de léguas.

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Estes homens estão incertos, mas benévolos de coraçãoEstão homens loucos até a garganta não sabem o que devem dizer,Pois ouvi pessoas gritarem nas fajutas ideias de sempreMeu coração disparando a cem metros de distância sem carregar as vivas correntezas de sempreVer que as pessoas nadam e se alastram no pescoço do insucessoEnterrando as vigas de madeira a qualquer tempo sem am-bições típicas

Esqueci que todo lugar é noturno,Que toda pele será digna de pazE minhas verdades são satisfatóriasTão satisfatórias que enchemos de suor e lágrimas o relin-char das línguasJá não odeio ter em mãos o que eu tinha antesMinhas mãos todas sujasE destes homens igualmente que na guerra tentaram salvar nossa pátriaPobre de nós, pobre de todos nós,Que agora sós navegamos num rio cinza onde fevereiro ou março são os meses mais nojentos.

Eu já fui alguma coisa?Tive sentimentos, isso sei, mas já fui um alguém de verdade?Já fui uma acusação de poeta na humanidade,E diversas outras coisas,Porém jamais um visionário a meus olhos,

Tenho de admitirJamais tentei estragar sua imagemJamais tentei deixar de lado palavras avulsasMas agora, grave, do jeito que estouVou morrer e ser só mais umNa escória negra da humanidade.

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Cessem as madrugadas de sono e parem neste momento com as luzes que encantavam,Que vejam estes aqui presentes o quanto sofri por estar aqui,Parem os trabalhadores, os insanos, os aviadores, que parem todos! Não estou aqui para cantar e sim para sofrer, para chorar, e lamentar,Vamos por entre as escadas carregar o caixão e dizer em voz alta: “Aqui jaz a própria benção”

E quando num estrondo estivermos cansados e muito bem vulneráveis,Que digam a aqueles que o amavam que este não mais so-frerá nos ornamentos da face da Terra,Jazerá branco, pálido,Porém, entre os claros calcanhares de prazer eterno.

Ele era o Sol, a Lua, as Estrelas, e todas as maravilhas,Era meus dias de glória, meu Sábado sagrado,Meus dias de entusiasmo, meu dizer de vitória,Imaginava eu que tudo seria eterno, então houve de me enganar.

Agora, o que sobrou das constelações não me dá mais prazer,Então foram-se todos, ninguém mais resta em minhas memórias,Estourem as luzes, os brilhos me espantam, deixem esta comigo,Pois daqui em diante tudo virá, mas nada virá por bem.

Constelações imensas revestidas de invernoEnquanto minha mente nada atraiEstou perdendo as garrasE todas as falhasVou descobrir quem souNessas cinzas empoeiradasBasta, estou sofrendo,Minha mente não suporta!Constelações que me destroem

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Talvez estes ratos sejam apenas de uma aurora,Vou me deitar num pomar de esclerose e esquecer quem sou,Não aguento mais este mundo,Esta imundície.

Significou que papai não estava mais prontoPara a luta, para o show de toda uma vida,E abandonei um ritual antigo de um amigo que eu pensei ter amadoMas agora embaladoAlgodões cobrindo-lhe a face e seus entes não viram sua verdadeira faceMas eu com meus óculos de porcelanaObservei o caixão carregado entre rosas brancas e umas vermelhasPobre criançaInocenteNão podia agir maisNão podia ter suas mãos calejadasSeus braços transformados em escuridãoAgora não vejo mais aquele senhorEle não foi nada para mim,Nada que fizera me considerouSuas notas que colaboremMe deixaram de lutoAgora vivo a pensar nos sonhos intensosAlgo que perdi, vou ao escanteio nas estradas,Pois na minha vida fui um louco brutal.

Já perdi as consequências;Existência nula num mundo ansiosoDesastres aéreos dos quais não podemos suportar.

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Ver que as coisas tolas são tão ágeisVarrer outrora um passado iluminadoUma busca pela puberdadeUm terror padronizado.

Acordei de vistas embaçadas me deparando com figuras rebeldes me observandoMas ainda sim, no sussurrar da madrugadaEu vi quem eu realmente era,Sem retratos loucos“Você me conhece”, disse a vozNum disparoSilenciaram minha voz, Vá ao inferno e busque as raízes,Você será mais feliz quando morto,Eu não sou você,Eu não te compreendo,Minha mente girando

Hei você de manta negra entenda meu sofrimento,Cada passo resguardadoNão tenha dúvidas de que serei um moribundo até os vinte,Lítio pela manhã,Rivotril à tarde,Amato e Amplictil à noite. Eu não durmoEu não comoEu não vivo Não sou mas eu.

Hei, você veja retratos loucos pendurados nas paredesComo tapetes dilacerados por um tigre.Minhas forças acabaram agoraEu não tenho mais sangue nas veias,

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Silenciaram minha voz,Hei, veja aqui retratos loucos penduradosNuma lentidão de escleroseEu não vejo mais quem eu sou.Eu não durmoEu não comoEu não vivo Não sou mas eu.

Não tendo para onde irSem escolhas ou caminhosMinha solidãoSe estiver pela manhã,Apenas mais um dia de glóriaApenas mais uma temporada de depressão,Apenas mais um distúrbio somado.

Vou deixar as correntesGuiar meus caminhosVou sentar aqui e rezarSer quem desejava serColher os mortos deixados para trás,Não tenho justiça em minha vida,Eu caminho errante,Fechado em meu mundo,Apenas mais um dia de glóriaApenas mais uma temporada de depressão,Apenas mais um distúrbio somado.

Eu não sei se estou aquiComo vou ir?Debaixo das lateraisVou consumir um sussurroE bater continência à Moloch

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Apenas mais um dia de glóriaApenas mais uma temporada de depressão,Apenas mais um distúrbio somado.

As senhoras caminham na avenida centralComo num cântico esquerdoVarrem de esterco a esterco as senhorias presidenciais,E com suas tetas, seus mamilos, elas se masturbamTocando um asno como instrumentoOh, glória,Vamos trepar no feno,E berrar no gargarejo adentro.

Então meu coração disparaComo num sonho noturno à noite entre as pessoas mal compreendidas, pois eu sou mal compreendido,Talvez só venha ter a paz no leito de morte,Sou o homem mais infeliz da face da terra,E meu coração palpita ao ver as trilhas do céu.

Não existe amplitude num campo nazistaOnde judeus varridos com a suástica no braço marcham em direção à morte,Este é para os discípulos.

E existem os judeus que marcham com suástica no pescoço,Estes são castigados, e eu os compreendo, posso vê-los gritar nas alamedas nos centeios falidos.

PorémExistem os judeus de suástica na testa, estes são meus ami-gos, sofro junto a eles,Estes; estes judeus de suástica na testa me fazem gritar, me fazem sofrer como diante duma tela de Francis Bacon,

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Vejo a agonia em seus olhos, em suas nucas dilaceradas, em seus corpos esqueléticos dançando como anjos,Vejo usinas a vapor trabalhando contra este fator,Meu aspecto é lamentávelNão gosto de mim, pois estou no maior desespero possívelEstou desesperado, e afoito com minha vida que segue num rio de sangue,Gostaria de morrer tendo uma visão, com flautistas e Cristo me salvando. Foi um desejo? Não, mera realidade.Mas acho que desejo demais, além de minhas possibilidades,Meu tempo é curto, curto como para qualquer judeu,Então caminho no vale da sombra da morte,Ando com meu cajado observando os mortos no inferno, serei eu um deles?Não. Sei suportar temperaturas baixas, como numa neblina de neve espessa.

Vejo pessoas que não estão presentes,Vejo uma guerra que ocorrerá o mais rápido para mim,

Meus olhos queimam de incerteza ao delirar com esta hos-pedagemCarismático, carrego apenas o que sobrou de mimVou devagarTrancando as avarezas da morte,Caem e o céu range,Adeus, adeus,Sou um simples escritor que tentou dizer a verdade.

Pérolas no vinhoE brigadeiros de isopor,Já fui um ser humano, hoje nada tenho em minhas concepçõesA estrela encerraA neurose encerra, e todas as outras coisas inclusive a vida me fez ser anormal e confuso.

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Os homens acabaram comigo,Esta maldita guerra acabou comigo,Onde estou neste patamar transtornado por confusões?Onde estão minhas ideias que até então valiam milhões e milhões de dólares?Nasci póstumo,Sou outro, sempre o fui, minha ira é ir às esquinas e insul-tar a vida,Pois cabe a ela minha proteção.

Chega de dor,Basta com o caos!

Vou terminar meus dias em ruína? Em glória? Em prazer?Oh, minha vida foi desprover-me de prazeres, sempre o foi, e sempre será,Que Deus nos abençoe.

Bombas como num eixo bélicoTransparecendo numa figura simplesOnde bases são explodidas uma a uma. No âmago da verda-de existe um discurso.

Não iremos viver de vasectomiaNem de enxaquecasNo entanto, temos a raiva de que todos estão mortos. Por quê? Mas por quê?Ausente, agora viajamos de sol a sol, de astro a astro, viaja-mos sem destino.

De queda a quedaVemos o risco de um rabisco de fronteiras,A lástima da AlemanhaVai mais um pobre castigo

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Confissões

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O país morre,O país chora,Convidando para um enterro de ferraduras triplas,Nada se compara ao fólico da nação,Quisera eu ter visto mais cidadãos em uma só reunião.

E pobre dos filhosQue clamavam nas mãos de construçãoAo intuito de inserir uma voz.

E cuida dos rios,Que passam por esta fonte,Violando meu país, homens e mulheres,Podridão,Num só inferno,Sr. Hitler, me desculpe, mas não posso suportar esta discrepância

E em seus lugaresTodos quietos, silenciosos,Passaram a ter uma difusão lírica.

A magnitude depende das consequênciasE veio a primorosa busca por algo para entender que seria formal demais para encontrá-laVenho de um país obscuro,E de uma raça pingente, sem denominação,Não tenho raiva de ninguém,Mas existe uma conspiração, é evidente,Não é seguro confiar,Muito menos ler,Mas estou a escrever e relatar para um público, quero que saibam disso.

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Jefferson Carvalhaes

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As sociedades e seitas se elevam e se autodenominam em rasuras,Me perseguem,Estão em toda parteA farejar como ratos nas ruas por migalhas no lixo.

Olhos fixos na estrada e nas estantes em que caminhoMas para eles não sou o bastante.

Promover versosEm nada vale, nada traz riqueza,Minha vida é uma impetuosidade de incertezas,E com eles vivereiSem fins, sem fins...

E quando me fizeram vomitarE cuspir as tripasEu evoquei as aliançasMas quando mero mortalQuando mero mortal incapazEu nada fui nesta tríplice aliança.

E porque sempre hei de temer.O quê? O tempo, e a vida,Sempre hei de temer o tempo e a vida,

E por que minha visão do ódio foi corrompida,Assim como o bem,Nada me resta fazer há não ser me conter,Sou uma alma penada que perambula sem chances,Não tenho oportunidades.

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Confissões

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Choro lágrimas de sangue,Lágrimas que caem perversamenteComo nos ladrilhos por entre uma emboscada.

À noite ruge o coioteEle é pardo revestido de brancoVem das colinas me atormentar,Quisera eu ver todos os coiotes mortos,Mas existem muitos, são pequenos e grandes.

Odeio minha morada,Então choro em lágrimas de sangue,Sofro pela minha vida, sofro por não vivê-la.

Sofro por ser uma lástima para meus entes,E corroendo a todos eu derrubo andares.

Então enfim entendestes porque nascestesNasceste apenas para a morte, só para aguardar a morte.

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Confissões

Jefferson Carvalhaes de Oliveira Souza da Silva

Kátia Ayache

André Fonseca

Bruna Scareli

Vinícius Whitehead Merli

14 x 21 cm

84

Life BT

Pólen Soft 80g/m2

Prol Gráfica

Agosto de 2012

Título

Autor

Coordenação Editorial

Capa e Projeto Gráfico

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Tipografia

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