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104 v 13 DE AGOSTO DE 2009 ESPAÇO SOCIEDADE Missão ‘Lua 2020’ Uma nova geração de foguetões está a ser testada para que o Homem regresse à superfície lunar PEDRO MIGUEL SANTOS E ste é um enorme passo em frente para os objec- tivos de exploração da NASA.» A frase podia ter sido proferida anos antes da chegada do Homem à superfície lunar, mas não foi. Também não se tra- tou de uma réplica da épica declaração de Neil Armstrong quando, em 20 de Julho de 1969, pisou o satélite natural da Terra: «Este é um pequeno passo para um Homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.» O autor daquela frase é Doug Cooke, responsável da agência espacial norte- -americana (NASA), a propósito do lançamento do Ares I-X, efectuado em 28 de Outubro último, em Cabo Canaveral, Florida. O protótipo, que realizou um voo experimental de apenas dois minutos, será a base do futuro veículo espacial, Ares I, que sustenta o programa Constellation, cujo objectivo é levar o 13.º americano à Lua, em 2020. Além disso, pre- tende ser o novo meio de transporte no espaço – há quase três décadas que não era construído um modelo de raiz. O voo foi controlado com a ajuda de mais de 700 sensores, que mediram diferentes variáveis (vibração, temperatura, velocidade, pressão, entre outros), em tempo real. A ex- periência correu dentro do previsto, embora tenha havido falhas na abertura dos pára-quedas, na altura da queda do primeiro segmento no mar. «O Ares I-X vai fornecer uma quantidade enorme de dados, que serão utilizados para me- lhorar o design e a segurança da próxima geração de veícu- los de voo espacial americanos», disse Doug Cooke. PARA O INFINITO O entusiasmo da declaração faz relembrar os tempos áu- reos da corrida ao Espaço, nos idos anos de 1950 e 1960, e marca uma nova etapa da pesquisa do Universo. Anunciada pelo então Presidente dos EUA George W. Bush, em Janei- ro de 2004, como um dos grandes pilares do programa da NASA para as décadas iniciais do século XXI, a futura aluna- gem do Homem é o ponto de partida para um projecto mais ambicioso. «Com a experiência e o conhecimento ganhos na Lua, estaremos prontos para dar os próximos passos na exploração espacial: missões humanas a Marte e aos mun- dos além», vaticinou Bush. Parte desta engrenagem já está a funcionar – mas, para voltarem a ver a Terra a partir da Lua, os americanos têm de ultrapassar uma série de desafios. Além das reservas ma- nifestadas por Barack Obama quanto ao financiamento do programa Constellation (que suporta o envio de tripulações ao Espaço), a NASA tem de conseguir desenvolver a Orion, a nave espacial que substituirá o Space Shuttle, com a última viagem marcada para 2010. E construir um foguetão mais seguro e eficiente – como se pretende que o Ares I seja. Tudo para ficar concluído em 2015. O passo é mesmo enorme. ARES I, 2015 ALTURA: 94 metros DIÂMETRO: 5,5 metros MOTORES: 2 CORPOS: 2 (primeiro andar e andar superior) CARGA ÚTIL NA ÓRBITA TERRESTRE BAIXA: 25 mil kg SATURNO V, 1967 ALTURA: 110,6 metros DIÂMETRO: 10,1 metros MOTORES: 11 SEGMENTOS: 3 (S-IC, S-II, S-IVB) CARGA ÚTIL NA ÓRBITA TERRESTRE BAIXA: 118 800 kg PORMENORES É uma mistura de tecnologia e design inéditos (no segmento que suportará a Orion, a nave espacial baseada nos modelos Apollo), com aperfeiçoamento de hardware já utilizado no Saturno V e no Space Shuttle, quanto à propulsão A palavra de ordem é eficiência. Por isso, é mais pequeno e menos poderoso, mas aproveita melhor as diferentes condições de pressão atmosférica para se elevar A diferença de potência prende-se com o facto de ter sido concebido para levar apenas a tripulação. O Saturno V servia, também, para transportar carga. A próxima geração de foguetões lançadores de carga será uma versão pesada do Ares I, o Ares V FOTOMONTAGEM JORGE COSTA

missão lua 2020

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A palavra de ordem é eficiência. Por isso, é mais pequeno e menos poderoso, mas aproveita melhor as diferentes condições de pressão atmosférica para se elevar CORPOS: 2 (primeiro andar e andar superior) A diferença de potência prende-se com o facto de ter sido concebido para levar apenas a tripulação. O Saturno V servia, também, para transportar carga. A próxima geração de foguetões lançadores de carga será uma versão pesada do Ares I, o Ares V PEDRO MIGUEL SANTOS 94 metros

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Page 1: missão lua 2020

104 v 13 DE AGOSTO DE 2009

ESPAÇO SOCIEDADE

Missão ‘Lua 2020’

Uma nova geração de foguetões está a ser testada para que o Homem

regresse à superfície lunarPEDRO MIGUEL SANTOS

Este é um enorme passo em frente para os objec-tivos de exploração da NASA.» A frase podia ter sido proferida anos antes da chegada do Homem à superfície lunar, mas não foi. Também não se tra-

tou de uma réplica da épica declaração de Neil Armstrong quando, em 20 de Julho de 1969, pisou o satélite natural da Terra: «Este é um pequeno passo para um Homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.» O autor daquela frase é Doug Cooke, responsável da agência espacial norte--americana (NASA), a propósito do lançamento do Ares I-X, efectuado em 28 de Outubro último, em Cabo Canaveral, Florida. O protótipo, que realizou um voo experimental de apenas dois minutos, será a base do futuro veículo espacial, Ares I, que sustenta o programa Constellation, cujo objectivo é levar o 13.º americano à Lua, em 2020. Além disso, pre-tende ser o novo meio de transporte no espaço – há quase três décadas que não era construído um modelo de raiz. O voo foi controlado com a ajuda de mais de 700 sensores, que mediram diferentes variáveis (vibração, temperatura, velocidade, pressão, entre outros), em tempo real. A ex-periência correu dentro do previsto, embora tenha havido falhas na abertura dos pára-quedas, na altura da queda do primeiro segmento no mar. «O Ares I-X vai fornecer uma quantidade enorme de dados, que serão utilizados para me-lhorar o design e a segurança da próxima geração de veícu-los de voo espacial americanos», disse Doug Cooke.

PARA O INFINITOO entusiasmo da declaração faz relembrar os tempos áu-reos da corrida ao Espaço, nos idos anos de 1950 e 1960, e marca uma nova etapa da pesquisa do Universo. Anunciada pelo então Presidente dos EUA George W. Bush, em Janei-ro de 2004, como um dos grandes pilares do programa da NASA para as décadas iniciais do século XXI, a futura aluna-gem do Homem é o ponto de partida para um projecto mais ambicioso. «Com a experiência e o conhecimento ganhos na Lua, estaremos prontos para dar os próximos passos na exploração espacial: missões humanas a Marte e aos mun-dos além», vaticinou Bush.

Parte desta engrenagem já está a funcionar – mas, para voltarem a ver a Terra a partir da Lua, os americanos têm de ultrapassar uma série de desafios. Além das reservas ma-nifestadas por Barack Obama quanto ao financiamento do programa Constellation (que suporta o envio de tripulações ao Espaço), a NASA tem de conseguir desenvolver a Orion, a nave espacial que substituirá o Space Shuttle, com a última viagem marcada para 2010. E construir um foguetão mais seguro e eficiente – como se pretende que o Ares I seja. Tudo para ficar concluído em 2015. O passo é mesmo enorme.

ARES I, 2015 ALTURA:

94 metros

DIÂMETRO: 5,5 metros

MOTORES: 2

CORPOS: 2 (primeiro andar e andar superior)

CARGA ÚTIL NA ÓRBITA TERRESTRE BAIXA:

25 mil kg

SATURNO V, 1967ALTURA:

110,6 metros

DIÂMETRO: 10,1 metros

MOTORES: 11

SEGMENTOS: 3 (S-IC, S-II, S-IVB)

CARGA ÚTIL NA ÓRBITA TERRESTRE BAIXA:

118 800 kg

PORMENORESÉ uma mistura de tecnologia e design inéditos (no segmento que suportará a Orion, a nave espacial baseada nos modelos Apollo), com aperfeiçoamento de hardware já utilizado no Saturno V e no Space Shuttle, quanto à propulsão

A palavra de ordem é eficiência. Por isso, é mais pequeno e menos poderoso, mas aproveita melhor

as diferentes condições de pressão atmosférica para se elevar

A diferença de potência prende-se com o facto de ter sido concebido para levar apenas a tripulação. O Saturno V servia, também,

para transportar carga. A próxima geração de foguetões lançadores de carga será uma versão pesada do Ares I, o Ares V

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