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MITOS E FACTOS SOBRE O MERCADO DE TRABALHO PORTUGUÊS: A TRÁGICA FORTUNA DOS LICENCIADOS* Pedro Portugal** “Como todas as coisas com ar de certas, e que se espalham, isto é asneira; se não o fosse, não se teria espalhado.” Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro Álvaro de Campos 1. INTRODUÇÃO Em Portugal parece ter-se generalizado a per- cepção de que se agravaram significativamente as dificuldades de inserção profissional dos indivídu- os detentores de formação escolar superior. Esta ideia é alimentada periodicamente pela notícia de desemprego entre os licenciados e amplificada fre- quentemente pelas organizações profissionais que os representam. É conveniente, no entanto, subli- nhar que é questionável, tanto num caso como noutro, a neutralidade desta concepção. Sendo o desemprego dos licenciados um acontecimento re- lativamente invulgar, este fenómeno tende a atrair uma atenção desproporcionada da comunicação social (neste sentido, obedece-se à regra de que o que faz a notícia é o “homem que morde o cão” e não o seu oposto). Por sua vez, é do interesse dos licenciados representados pelas organizações cor- porativas cercear a produção de novos licenciados, e assim, proteger o seu nível salarial através da contenção da oferta de trabalho. Neste artigo procurar-se-á demonstrar que, ao contrário da ideia veiculada por esta noção de sen- so comum, o investimento em formação escolar superior oferece, no mercado de trabalho portu- guês, uma rentabilidade privada excepcional. Pre- tende-se, deste modo, estabelecer com precisão as condições de decisão em investimento em capital humano que todos os anos confrontam milhares de famílias, quando determinam financiar (ou não financiar) a obtenção de um grau académico supe- rior. 2. QUANTO VALE UMA LICENCIATURA? O essencial da aritmética do investimento num curso superior pode ser apresentado com total simplicidade. Finalizado o ensino secundário, o jo- vem (e a sua família) terá de equacionar o custo de obter formação superior com o benefício esperado dessa formação. Dito de outro modo, o jovem estu- dante terá de estabelecer a comparação entre duas carreiras profissionais distintas: aquela a que ace- derá com a formação académica secundária e aquela que lhe será garantida com a licenciatura. Em termos monetários, a componente decisiva do custo deste investimento corresponde ao mon- tante de rendimentos salariais a que o jovem vo- Banco de Portugal / Boletim económico / Março 2004 73 Artigos * As opiniões expressas no artigo são da inteira responsabilidade do autor e não coincidem necessariamente com a opinião do Banco de Portugal. Agradeço os comentários e sugestões de Mário Centeno, José António Machado, Pedro Martins e Maxi- miano Pinheiro. Este texto beneficiou também da discussão com os alunos do curso de Economia do Trabalho da licencia- tura em economia da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Agradece-se ainda o excelente apoio computa- cional da Lucena Vieira. ** Departamento de Estudos Económicos.

Mitos e Factos Sobre o Mercado de Trabalho Português

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Artigo sobre o trabalho em Portugal

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  • MITOS E FACTOS SOBRE O MERCADO DE TRABALHO PORTUGUS:A TRGICA FORTUNA DOS LICENCIADOS*

    Pedro Portugal**

    Como todas as coisas com ar de certas, e que se espalham,isto asneira; se no o fosse, no se teria espalhado.

    Notas para a Recordao do meu Mestre Caeirolvaro de Campos

    1. INTRODUO

    Em Portugal parece ter-se generalizado a per-cepo de que se agravaram significativamente asdificuldades de insero profissional dos indivdu-os detentores de formao escolar superior. Estaideia alimentada periodicamente pela notcia dedesemprego entre os licenciados e amplificada fre-quentemente pelas organizaes profissionais queos representam. conveniente, no entanto, subli-nhar que questionvel, tanto num caso comonoutro, a neutralidade desta concepo. Sendo odesemprego dos licenciados um acontecimento re-lativamente invulgar, este fenmeno tende a atrairuma ateno desproporcionada da comunicaosocial (neste sentido, obedece-se regra de que oque faz a notcia o homem que morde o co eno o seu oposto). Por sua vez, do interesse doslicenciados representados pelas organizaes cor-porativas cercear a produo de novos licenciados,

    e assim, proteger o seu nvel salarial atravs daconteno da oferta de trabalho.

    Neste artigo procurar-se- demonstrar que, aocontrrio da ideia veiculada por esta noo de sen-so comum, o investimento em formao escolarsuperior oferece, no mercado de trabalho portu-gus, uma rentabilidade privada excepcional. Pre-tende-se, deste modo, estabelecer com preciso ascondies de deciso em investimento em capitalhumano que todos os anos confrontam milharesde famlias, quando determinam financiar (ou nofinanciar) a obteno de um grau acadmico supe-rior.

    2. QUANTO VALE UMA LICENCIATURA?

    O essencial da aritmtica do investimento numcurso superior pode ser apresentado com totalsimplicidade. Finalizado o ensino secundrio, o jo-vem (e a sua famlia) ter de equacionar o custo deobter formao superior com o benefcio esperadodessa formao. Dito de outro modo, o jovem estu-dante ter de estabelecer a comparao entre duascarreiras profissionais distintas: aquela a que ace-der com a formao acadmica secundria eaquela que lhe ser garantida com a licenciatura.

    Em termos monetrios, a componente decisivado custo deste investimento corresponde ao mon-tante de rendimentos salariais a que o jovem vo-

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    * As opinies expressas no artigo so da inteira responsabilidadedo autor e no coincidem necessariamente com a opinio doBanco de Portugal. Agradeo os comentrios e sugestes deMrio Centeno, Jos Antnio Machado, Pedro Martins e Maxi-miano Pinheiro. Este texto beneficiou tambm da discussocom os alunos do curso de Economia do Trabalho da licencia-tura em economia da Faculdade de Economia da UniversidadeNova de Lisboa. Agradece-se ainda o excelente apoio computa-cional da Lucena Vieira.

    ** Departamento de Estudos Econmicos.

  • luntariamente abdica durante o perodo de forma-o. A este custo haver que adicionar as despesasescolares (livros, outro material didctico, etc.), aspropinas e as despesas de deslocao quando talse justifique pela necessidade de obteno do grauacadmico.

    O ganho esperado, em termos monetrios, cor-responder acumulao dos diferenciais de ren-dimentos do trabalho ao longo do ciclo de vidaprofissional proporcionados pela educao supe-rior.

    O exerccio que sugerido neste ensaio pro-pe-se simular as condies de deciso de um jo-vem que finalizou o ensino secundrio no Verode 2003 e que contempla a possibilidade de pros-seguir estudos superiores. Para o efeito recor-reu-se informao contida nos registos individu-ais do Inqurito ao Emprego recolhidos durante osegundo trimestre de 2003.

    O Quadro 1 sintetiza a informao amostral so-bre o valor mdio dos salrios lquidos por grupoetrio e por nveis de escolaridade dos trabalhado-res por conta de outrem entrevistados pelo INE(cerca de 10 000 trabalhadores). Este Quadro ilus-tra claramente o padro habitual de crescimentode salrios ao longo do ciclo de vida que os econo-mistas do trabalho associam com o investimentoem capital humano no posto de trabalho (expe-rincia profissional), assim como o retorno ao in-vestimento em educao formal(1).

    Ser til, em particular, reter a indicao de umsignificativo prmio salarial dos trabalhadores

    portadores de uma licenciatura, quando compara-dos com os trabalhadores que completaram so-mente o ensino secundrio. Ser do contraste entreos rendimentos do trabalho destes dois tipos detrabalhadores que sero calculados os custos e be-nefcios da obteno duma licenciatura. Implicita-mente, est-se a assumir que os trabalhadores li-cenciados obteriam, sem a licenciatura, os rendi-mentos salariais dos trabalhadores com o ensinosecundrio completo, e vice-versa. Mais, admite-seque o actual perfil etrio de rendimentos salariaisse manter para fluxo futuro de salrios dos jo-vens.

    No Grfico 1 esto representados os perfis desalrios dos dois grupos de trabalhadores ao longodo ciclo de vida (entre os 20 e os 60 anos). Admi-tindo que os trabalhadores recebem anualmente 14salrios mensais e que a durao da licenciatura de 4 anos, obtm-se uma estimativa das perdas desalrios durante o perodo de formao de 26 625euros. Em contrapartida, o valor acumulado (entreos 24 e os 60 anos) dos prmios salariais (diferen-cial de salrios) dos licenciados corresponde a cer-ca de 330 300 euros. No entanto, no , evidente-mente, indiferente ao trabalhador o recebimentode rendimentos monetrios no presente ou no fu-turo. O clculo do valor actualizado do benefcio

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    Quadro 1

    SALRIOS LQUIDOS POR GRUPO ETRIO ENVEL DE ESCOLARIDADE

    Idade 1 Ciclo(4 anos)

    3 Ciclo(9 anos)

    Secundrio(12 anos)

    Licenciatura(16-18 anos)

    15-19 . . . . . . 368 389 40620-29 . . . . . . 462 484 554 89330-39 . . . . . . 476 645 778 118740-49 . . . . . . 511 732 902 168450-59 . . . . . . 563 809 1100 191560-69 . . . . . . 543 917 967 1450

    Fonte: Inqurito ao Emprego 2003, 2 trimestre. Salrios lquidosem euros.

    Grfico 1PERFIL DE SALRIOS

    AO LONGO DO CICLO DE VIDA

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    20 25 30 35 40 45 50 55 60Idade

    Sal

    riolq

    uido

    (emeuro

    s)

    Curso Superior

    Secundrio

    (1) Numa equao de regresso em que se controlam as caracters-ticas observadas dos trabalhadores estima-se que um licencia-do obtm, em mdia, um salrio 80.2 por cento superior ao deum trabalhador com o ensino secundrio.

  • lquido do investimento requer a escolha de umataxa de desconto. Para uma taxa real de descontode 2 por cento, o valor actualizado do custo (C) edo benefcio (B) da obteno de uma licenciatura calculado simplesmente:

    C

    WidadeS

    idadeidade

    1 0 02 2020

    23

    .

    BW Widade

    LidadeS

    idadeidade

    1 0 02 2024

    60

    .

    em que WS o salrio lquido do dum trabalhadorcom o ensino secundrio, e WL o salrio lquidodum licenciado.

    Desta forma, obtm-se um valor actualizado docusto de investimento de 25 823 euros a que cor-responde um retorno de 201 286 euros, resultandodaqui um benefcio lquido de 175 462 euros. Ou-tra forma de expressar este resultado afirmar queo investimento numa licenciatura garante, em m-dia, uma taxa de rentabilidade real de 15 por cento uma rentabilidade definitivamente excepcional.

    3. SER QUE ESTE VALOR EXAGERADO?

    Existem algumas razes para pensar que oexerccio simples de aritmtica pode conduzir auma sobre-avaliao do valor monetrio duma li-cenciatura. Desde logo no foram consideradas asdespesas com o material de estudo e com as propi-nas. Sendo certo que estas despesas representamum custo, parece claro que representam uma pe-quena fraco do custo do investimento, e uma fa-tia ainda menos significativa do benefcio do in-vestimento. Por outro lado no foram reconheci-das as despesas de acomodao e transporte asso-ciadas com a deslocao de casa dos familiares dosestudantes do ensino superior. Estes custos s de-vem ser considerados, no entanto, no caso dos tra-balhadores com o ensino secundrio no incorre-rem neste tipo de despesas, o que est longe de sergarantido. As despesas com alimentao no de-vem, evidentemente, ser consideradas, a no ser,eventualmente, como um benefcio, dada a cir-cunstncia de os estudantes do ensino superior be-neficiarem de preos inferiores garantidos pelosde subsdios pblicos s cantinas universitrias.Haveria ainda que contemplar os custos psicolgi-cos da obteno de um curso superior. Estes custosteriam, todavia que ser contrastados com o desgas-

    te psquico dos trabalhadores que iniciaram maiscedo a sua actividade laboral.

    H, contudo, trs linhas de argumentao queprocuram contrariar a validade do exerccio. Noprimeiro caso sustenta-se que uma parte do dife-rencial de salrios atribuvel a competncias ina-tas dos indivduos (ou adquiridas fora do circuitoescolar) que esto associadas com um maior rendi-mento acadmico (facilidade de aprendizagem,disciplina, motivao, etc.). A investigao baseadano acompanhamento de irmos e de gmeos (mes-mo monozigticos) com um diferente percurso es-colar no tem validado esta hiptese(2).

    No segundo caso conjectura-se que a obtenode um grau superior no acrescenta nada s capa-cidades produtivas dos estudantes, servindo o sis-tema educativo simplesmente para sinalizar juntodos empregadores os trabalhadores melhor dota-dos, aqueles que aprendem com maior facilidade,e que, portanto, sero mais produtivos. Neste caso,continuar, no entanto, a ser vantajoso, do pontode vista privado, investir na aquisio dos sinais(sheepskin) que so valorizados pelo mercado detrabalho.

    No terceiro caso admite-se que no legtima apresuno de que os trabalhadores licenciados au-feririam, caso decidissem optar por iniciar a suavida laboral mais cedo, os salrios observadospara os trabalhadores no licenciados. No , noentanto, claro o sentido do enviesamento geradopela inadequao da comparao. Ser que umtrabalhador especializado obteria sucesso profissi-onal se fosse um advogado? Ser que um cirurgioexerceria as funes de tcnico administrativo comcompetncia? possvel, de facto, que os trabalha-dores determinem as suas opes profissionais (seauto-seleccionem) em funo do desempenho es-perado em cada profisso(3). Felizmente, os estu-

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    (2) Concluso idntica tem sido obtida tanto com base no estudode alteraes exgenas do nvel de escolaridade (por exemplo,a escolaridade obrigatria), como a partir de estimadores queutilizam variveis instrumentais (Card, 1999).

    (3) Poder ainda acontecer que o perfil de rendimentos salariaisdos licenciados reflicta, em parte, um maior esforo de investi-mento em capital humano ao longo da carreira profissional.Existe, de facto, alguma evidncia emprica que d suporte noo de uma maior complementaridade entre a formao es-colar e a formao profissional no local de trabalho. Esta possi-bilidade altera a percepo da composio do investimento emcapital humano mas no contraria, no entanto, a indicao ge-ral da bondade do investimento na formao acadmica.

  • dos empricos que procuraram determinar o im-pacto da auto-seleco na escolha das profissesconcluram que este efeito muito modesto.

    4. SER QUE UM VALOR INSUFICIENTE?

    Tambm se poder conjecturar que a estimativados benefcios monetrios da obteno de uma li-cenciatura est sub-avaliada. Em primeiro lugar,foi somente considerada a diferena de rendimen-tos salariais at aos 60 anos. provvel, no entantoque os licenciados continuem a beneficiar de rece-bimentos monetrios superiores aos dos trabalha-dores com o curso secundrio completo para almdos 60 anos (tanto na forma de salrios como naforma de penses)(4). Em segundo lugar, acresceainda que nos clculos ensaiados acima no se in-cluram outras formas de remunerao para almdos salrios. igualmente provvel que os licen-ciados assegurem um diferencial de rendimentosmaior atravs do recebimento de outra formas decompensao. Em terceiro lugar, necessrio terpresente que as comparaes efectuadas se limita-ram a trabalhadores por conta de outrem, tendosido excludos (for falta de informao sobre osrendimentos do trabalho) os trabalhadores porconta prpria. verosmil que os licenciados queexercem a sua profisso como trabalhadores porconta prpria (categoria que inclui os chamadosprofissionais liberais) obtenham rendimentos dotrabalho superiores aos daqueles que so trabalha-dores dependentes.

    Do balano entre as possibilidade de sub- ousobre-avaliao da rentabilidade do investimentoem formao acadmica superior parece claro queo valor avanado estar mais prximo do limiarinferior do intervalo de variao, do que do supe-rior .

    5. OUTRAS VANTAGENS

    Podem ser listadas ainda outras vantagens as-sociadas deteno do grau universitrio. sabi-do que, os locais de trabalho dos licenciados ofere-cem, em geral, condies de trabalho mais amenase aprazveis. Os licenciados so menos sujeitos acadncias de trabalho impostas pelas tecnologias

    de produo. Alm disso, podem gerir com maiorflexibilidade os seus horrios de trabalho.

    Uma maior formao acadmica tambm au-menta a produtividade das actividades associadas produo domstica. Merece relevo, em particu-lar, o efeito da qualidade do capital humano dospais sobre o investimento em capital humano dosfilhos. bem conhecida a importncia da transfe-rncia de conhecimentos entre geraes na acumu-lao de capital humano.

    Os trabalhadores licenciados so favorecidos,ainda, por uma maior segurana de emprego. Estaobservao transparece do Quadro 2, em que semostra que pouco provvel encontrar um licenci-ado na situao de desemprego.

    Assim, 1.74 vezes mais frequente observarum trabalhador com o ensino secundrio completodesempregado do que um trabalhador com umcurso superior. Quando estabelecemos a compara-o com um trabalhador com o nono ano de esco-laridade conclui-se que trs vezes mais provvela situao de desemprego para este trabalhador doque para um licenciado.

    No que diz respeito incidncia de contratos atermo e de horrios incompletos, as diferenas en-tre trabalhadores licenciados e com o ensino se-cundrio no so significativas. Ambos os tipos detrabalhadores observam taxas de incidncia clara-mente mais baixas do as dos trabalhadores commenos qualificaes acadmicas.

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    (4) Acontece, ainda, que os licenciados tm uma esperana de vidamais longa.

    Quadro 2

    ESTABILIDADE DO EMPREGOTabela de riscos relativos

    1 ciclo(4 anos)

    3 ciclo(9 anos)

    Secun-drio

    (12 anos)

    Licen-ciatura(16-18anos)

    Desemprego . . . . . . . . . 3.02 3.00 1.74 1.00Contrato a prazo . . . . . 2.24 1.43 0.98 1.00Horrio incompleto . . . 3.76 1.30 1.05 1.00

    Fonte: Inqurito ao Emprego 2003, 2 trimestre.

    Nota: Valores obtidos com base num regresso logit que incluiainda 40 variveis binrias para a idade, nacionalidade,formao profissional e sexo. Foram utilizadas 15470 ob-servaes.

  • Uma vez que se considera a educao formalum investimento em capital humano, no surpre-ende que a oferta de trabalho dos licenciados sejanotavelmente maior do que a dos no-licenciados.No s a situao inactividade visivelmente me-nos frequente entre os licenciados como maisusual encontrar um licenciado a exercer uma se-gunda actividade (ver Quadro 3). A forte presenade licenciados na administrao pblica ajuda aexplicar a menor rotao de empregos e o menornmero de horas trabalhadas entre os indivduoscom curso superior (Quadro 4).

    6. OS CURSOS SUPERIORESNO SO IGUAIS

    O sistema de ensino portugus oferece um es-pectro muito variado de formaes superiores. claro que o mercado de trabalho no valorizaigualmente as diferentes licenciaturas. No Quadro5 apresentam-se o valores dos ganhos mdios (il-quidos) de cerca de 100 000 trabalhadores, por tipode curso superior, obtidos com base nos registosindividuais dos Quadros de Pessoal de Outubrode 1999.

    interessante notar que so sobretudo as licen-ciatura das reas tecnolgicas que colocam 7reas de formao entre as dez melhor remunera-das que obtm melhor acolhimento no sectorprivado da economia. Em contrapartida, os cursosde humanidades e cincias sociais (exceptuando a

    economia e o direito) apresentam desempenhosdecepcionantes(5).

    Convm, no entanto, sublinhar que esta orde-nao no abrange os trabalhadores da adminis-trao pblica que absorve um contingente muitoimportante de licenciados, integrando anualmentecerca de metade do fluxo de produo de licencia-dos.

    Tambm no possvel distinguir os licencia-dos de acordo com a natureza pblica ou privadada instituio formadora. conhecida, em todo ocaso, a associao entre o incremento de licencia-dos por universidades privadas e o aumento davariabilidade das remuneraes.

    O inqurito desenvolvido em 2001 pelo (Insti-tuto para a Inovao na Formao) situao labo-ral dos licenciados no ano lectivo de 1994/1995,cinco anos aps a obteno da sua licenciatura,fornece indicaes coerentes com as produzidaspelos Quadros de Pessoal (ver Quadro 6). Em par-ticular, mantm-se o registo de um significativoprmio salarial nas reas tecnolgicas (em espe-cial, nas licenciaturas de informtica). Na estima-o da equao de salrios, ainda interessante

    Banco de Portugal / Boletim econmico / Maro 2004 77

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    Quadro 3

    OFERTA DE TRABALHO

    Tabela de riscos relativos

    1 ciclo(4 anos)

    3 ciclo(9 anos)

    Secun-drio

    (12 anos)

    Licen-ciatura(16-18anos)

    Inactividade . . . . . . . . . . . . 5.71 4.07 3.67 1.00Segunda actividade . . . . . . 0.66 0.30 0.32 1.00Administrao Pblica . . . 0.07 0.16 0.21 1.00

    Fonte: Inqurito ao Emprego 2003, 2 trimestre.

    Nota: Valores obtidos com base num regresso logit que incluiainda 40 variveis binrias para a idade, nacionalidade, for-mao profissional e sexo. Foram utilizadas 15470 observa-es.

    Quadro 4

    ROTAO DE EMPREGOSE HORRIO DE TRABALHO

    1 ciclo(4 anos)

    3 ciclo(9 anos)

    Secun-drio

    (12 anos)

    Licen-ciatura(16-18anos)

    Empregos . . . . . . . . . . 3.17 2.85 2.64 2.35(nmero)Horas trabalhadas . . . 40.17 40.38 39.53 37.19(horas semanais)Horas na segunda

    actividade . . . . . . . . 13.70 13.80 15.70 10.60(horas semanais)

    Fonte: Inqurito ao Emprego 2003, 2 trimestre.

    (5) A considerao de uma amostra de trabalhadores jovens noaltera qualitativamente os resultados da ordenao apres-entada. Devem ser sublinhadas, no entanto, a queda abruptados cursos de psicologia e de direito, assim como, a notvel as-censo dos cursos de informtica e de cincias matemticas eestatsticas.

  • 78 Banco de Portugal / Boletim econmico / Maro 2004

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    Quadro 5

    REMUNERAES MDIAS POR REA DA LICENCIATURA

    rea da Licenciatura Nmerode

    trabalhadores

    Remuneraomdia

    (escudos)

    Nmerode

    trabalhadores

    Remuneraomdia

    (escudos)

    Amostra total Menos de 35 anos

    Engenharia de energia; sistemas de potncia; electrotcnica;energtica; tecnologias de produo e energia . . . . . . . . . . . . . . 4 042 529 386 1 515 395 265

    Engenharia electrnica e telecomunicaes; aeronutica;aeroespacial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 913 518 926 982 411 980

    Medicina dentria/medicina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 108 505 903 172 404 481Engenharia mecnica; electromecnica; mecatrnica;

    engenharia de transportes; engenharia naval . . . . . . . . . . . . . . . 4 007 473 143 1 649 334 340Engenharia qumica; fsica; fsica tecnolgica; biotecnologia;

    biofsica; biolgica polmeros; engenharia cermicae vidro; planeamento biofsico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 234 452 786 1 082 326 073

    Engenharia civil; engenharia de projectos e gesto de obras;engenharia ambiente; engenharia de recursos hdricos;engenharia geolgica; engenharia dos materiais;engenharia do territrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 352 446 707 2 437 312 073

    Economia, finanas, cincias econmicas empresariaise matemtica aplicada economia e gesto. . . . . . . . . . . . . . . . . 10 426 437 734 5 833 319 210

    Engenharia de minas; metalrgica e metalomecnica. . . . . . . . . . 351 429 751 176 295 959Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 893 412 929 1 753 279 046Engenharia informtica e de computadores; engenharia

    de sistemas e informtica; automao e controlo;computao; informtica de sistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 070 401 481 1 734 377 069

    Fsica; qumica; fsico-qumica; qumica industrial;fsica tecnolgica; bioqumica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 511 386 108 287 284 562

    Cincias matemticas e estatsticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 479 383 381 1 067 342 136Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 288 380 930 725 253 941Contabilidade, organizao e gesto de empresas. . . . . . . . . . . . . 13 760 366 704 9 790 299 806Cincias farmacuticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 963 366 248 1 111 321 282Engenharia de produo e manuteno industrial;

    gesto e engenharia industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 533 354 861 383 301 863Medicina veterinria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199 354 598 89 296 689Cincias biolgicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 402 344 172 245 288 692Engenharia agronmica da produo agro-alimentar;

    cincias agrrias; cincias da nutrio; eng alimentar;eng hortofrutcola; enologia; produo animal; zootcnica . . . 1 374 340 873 749 264 615

    Histria e filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 508 339 361 542 256 097Informtica de gesto; tecnologias de gesto . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 402 338 912 1 237 324 427Gesto das empresas agrcolas; eng agro-industrial . . . . . . . . . . 59 334 508 41 317 077Artes plsticas (pintura, escultura, desenho) . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 325 887 52 231 600Eng florestal; produo florestal; silvicultura . . . . . . . . . . . . . . . . 46 325 600 29 234 662Arquitectura, urbanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 785 324 861 395 235 888Outras licenciaturas no especificadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 023 323 956 18 845 258 554Outras (papel; txtil; vesturio; engenharia geogrfica) . . . . . . . . 386 323 676 263 284 019Cincias geofsicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 319 440 129 264 378Gesto e administrao pblica; gesto de recursos humanos;

    gesto do patrimnio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552 312 200 408 273 377Artes artsticas (dana, canto, teatro, cinema, fotografia,

    vdeo, msica). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 311 278 47 236 406Lnguas e literaturas modernas/lingustica; lnguas

    e literaturas clssicas/lnguas e cultura portuguesa;traduo/intrpretes; cincias da traduo e culturacomparada; literatura comparada; cincias literrias. . . . . . . . . 2 112 310 398 1 024 233 725

    Desporto, educao fsica/ergonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250 299 504 160 253 851Ensino (lnguas, cincias, etc) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 451 288 920 267 228 908Marketing, publicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 677 285 320 601 264 052Comunicao social, informao, jornalismo e cincias

    da comunicao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 148 284 881 965 260 518Cincias sociais; sociologia; antropologia; poltica social;

    cincia polticas; servio social; investigao socialaplicada cincias religiosas; teologia; humanidades. . . . . . . . . . 2 230 283 631 1 268 229 978

    Gesto e planeamento regional e urbano; gesto hoteleirae planeamento turstico; gesto e desenvolvimento social . . . . 258 267 633 204 232 762

    Relaes pblicas; secretariado e cincias administrativas . . . . . 658 255 912 534 241 313Relaes internacionais; cooperao e estudos europeus . . . . . . . 879 247 548 800 233 904Artes decorativas e design . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260 241 196 207 219 949Educao especial e reabilitao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 180 625 45 162 402

    Nota: Valores obtidos com base nos Quadros de Pessoal de 1999. Trabalhadores por conta de outrem com horrio completo.

  • sublinhar o acrscimo de salrios gerado por m-dias finais de licenciatura mais elevadas (cerca de3.8 por cento por cada valor adicional), indiciandoum maior investimento em capital humano (ouum sinal distintivo de maior produtividade poten-cial junto dos empregadores) e o efeito favorveldo nvel de formao acadmica dos pais sobre os

    salrios dos filhos, sugerindo a presena da trans-misso inter-geracional de capital humano(6).

    7. O PRMIO SALARIAL NO CONTEXTOINTERNACIONAL

    As transformaes tecnolgicas que ocorreramao longo das ltimas duas dcadas, e que favore-ceram uma procura crescente de trabalhadoresqualificados, surpreendeu o mercado de trabalhoportugus numa situao de oferta insuficiente dequalificaes. Este dfice de qualificaes ter ge-rado um significativo acrscimo do prmio salarialatribuvel aos trabalhadores com curso superiorat ao meio da dcada de noventa (Cardoso, 1998 eMachado e Mata, 2001). O hiato de salrios entreos trabalhadores com e sem licenciatura ter-se-mantido muito elevado desde esse perodo.

    Os vrios estudos que estabelecem compara-es internacionais dos prmios de licenciaturano divergem na concluso de que o mercado detrabalho portugus apresenta prmios invulgar-

    Banco de Portugal / Boletim econmico / Maro 2004 79

    Artigos

    Quadro 6

    DETERMINANTES DOS SALRIOSDOS LICENCIADOS

    Variveis Coeficiente Desvio-padro

    Gnero (masculino=1). . . . . . . . . . . . . . . . 0.166 0.009Idade (em anos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.010 0.001Mdia final da licenciatura . . . . . . . . . . . 0.037 0.003Educao do pai (licenciatura=1) . . . . . . 0.110 0.012Sistema de ensino

    Universitrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.117 0.019Politcnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.090 0.019Outro

    Regime de trabalho (part-time=1) . . . . . . -0.508 0.029Tipo de contrato

    Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.130 0.032A termo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.022 0.033Prestao de servios . . . . . . . . . . . . . . -0.032 0.044Trabalho pontual ou ocasional. . . . . . 0.125 0.133Outro

    Sector pblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.142 0.011Regio

    Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.026 0.036Centro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.014 0.037Lisboa e Vale do Tejo. . . . . . . . . . . . . . 0.119 0.036Alentejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.046 0.041Algarve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.020 0.043Aores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.037 0.048Madeira

    rea de formaoInformtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.187 0.062Engenharia e tcnicas afins. . . . . . . . . 0.149 0.059Arquitectura e construo. . . . . . . . . . 0.092 0.065Matemtica e estatstica. . . . . . . . . . . . 0.092 0.061Cincias empresariais . . . . . . . . . . . . . 0.059 0.059Sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.051 0.063Cincias veterinrias . . . . . . . . . . . . . . 0.046 0.092Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.045 0.062Servios sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.039 0.076Formao de professores. . . . . . . . . . . 0.023 0.060Cincias sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0.021 0.060Indstrias transformadora . . . . . . . . . 0.011 0.067Cincias fsicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.037 0.064Humanidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.077 0.060Cincias da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.095 0.066Agricultura, silvicultura e pescas . . . -0.096 0.065Informao e jornalismo . . . . . . . . . . . -0.102 0.072Artes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.111 0.062Servios pessoais . . . . . . . . . . . . . . . . . -0.172 0.062Servios de transporte

    Nmero de observaes. . . . . . . . . . . . . . 8012

    Valor da log-verosimilhana . . . . . . . . . . -14621.38

    Fonte: Inqurito de Percurso aos Diplomados pelo Ensino Supe-rior (2001).

    Nota: Anlise de Regresso Agrupada (Distribuio gama gene-ralizada).

    Quadro 7

    PRMIO SALARIAL DOS LICENCIADOS

    Pas Em percentagem

    Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63.1Luxemburgo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40.6ustria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31.7Irlanda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31.5Finlndia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26.0Espanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25.4Blgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.5Grcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.5Frana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.4Itlia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22.9Pases Baixos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.7Alemanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20.7Reino Unido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20.3Dinamarca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19.2

    Fonte: Painel Europeu de Agregados Familiares (2000).Nota: As estimativas apresentadas foram obtidas com base em

    equaes de regresso do logaritmo de salrios, para osdiferentes pases.

    (6) A penalizao salarial associada aos cursos fornecidos pelosInstitutos Politcnicos em comparao com os garantidos pelosistema universitrio (cerca de 23 por cento) poder ser parcial-mente explicada pela durao mais curta das respectivas for-maes.

    (7) Ver OCDE, 2003 e Martins e Pereira, 2003.

  • mente elevados (ver Quadro 7)(7). Sero, alis, osmais elevados da Unio Europeia. Compreende-seque o desequilbrio entre as competncias procura-das pelos empregadores e as qualificaes dispon-veis no mercado de trabalho seja muito acentuadaporque existe um grande desfasamento entre aproporo de licenciados em Portugal e nos res-tantes pases da Unio Europeia. Este hiato dequalificaes demorar vrias dcadas a ser corri-gido.

    8. CONCLUSES

    Neste ensaio procurou-se aprofundar a anlisedas condies privadas de deciso de investimentonum curso superior. Concluiu-se que o benefciomonetrio esperado da obteno de uma licencia-tura excepcionalmente elevado, fazendo corres-ponder a um custo de investimento de cerca de 25000 euros, um valor acumulado de ganhos salaria-is de aproximadamente 200 000 euros. A estimati-va da taxa real de rentabilidade (15 por cento) ex-cede claramente o retorno esperado de outras apli-caes financeiras. Uma vez que no possvel uti-lizar o capital humano como colateral do seu fi-nanciamento gera-se um situao de mercados in-completos que pode justificar uma interveno p-blica que desenvolva o acesso a mecanismos deemprstimo directo aos jovens estudantes do ensi-no superior.

    O investimento em educao gera tambm be-nefcios sociais significativos pelas externalidadespositivas que desencadeia. Uma economia dotadade uma fora de trabalho mais educada tambmmais produtiva. De acordo com um trabalho re-cente da OCDE o dfice de qualificaes acadmi-cas em Portugal ser responsvel por uma quebraanual de 1.2 do produto interno bruto. Ter compa-nheiros de trabalho qualificados tambm tende aaumentar a produtividade (e os salrios) devido

    presena de benefcios sociais da educao nas em-presas (Acemoglu e Angrist, 2000; Martins, 2003).

    No se ignora que os jovens recm-licenciadosdefrontam presentemente dificuldades em assegu-rar um posto de trabalho desencadeadas pela re-cesso econmica e pelas restries oramentais.Mas esta uma situao conjuntural que no dissi-pa as vantagens estruturais associadas detenodum curso superior. Mesmo em conjunturas eco-nmicas desfavorveis essas vantagens persistem.Em particular, os licenciados continuam a deteruma maior probabilidade de encontrar um postode trabalho adequado, em comparao com os jo-vens com menos habilitaes acadmicas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    80 Banco de Portugal / Boletim econmico / Maro 2004

    Artigos