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Universidade de Aveiro 2006 Secção Autónoma de Ciências Sociais Jurídicas e Políticas Mónica Pimentel Modelos de Cooperação Portuguesa para o Ensino Superior

Mónica Pimentel Modelos de Cooperação Portuguesa para o

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Page 1: Mónica Pimentel Modelos de Cooperação Portuguesa para o

Universidade de Aveiro 2006

Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o Ensino Superior

Universidade de Aveiro

2005 Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o Ensino Superior

Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior realizada sob a orientaccedilatildeo cientiacutefica do Prof Doutor Alberto Manuel Sampaio Castro Amaral Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade do Porto e co-orientaccedilatildeo cientiacutefica do Prof Doutor Virgiacutelio Meira Soares Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Lisboa

o juacuteri

presidente Prof Dr Joseacute Manuel Lopes da Silva Moreira Professor Associado da Universidade de Aveiro

Profa Drordf Maria Luiacutesa Ferreira Cabral dos Santos Veiga Professora Coordenadora da Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Coimbra (arguente principal)

Prof Dr Antoacutenio Manuel Magalhatildees Evangelista de Sousa Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto

Prof Dr Alberto Manuel Sampaio Castro Amaral Professor Catedraacutetico da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto (orientador)

Prof Dr Virgiacutelio Alberto Meira Soares Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias da Universidade de Lisboa (co-orientador)

agradecimentos

Aos meus orientadores Prof Alberto Amaral e Prof Virgiacutelio Meira Soarespelas excelentes capacidades cientiacuteficas e acadeacutemicas que os caracterizam eque desde sempre me permitiram partilhar Ao Prof Rui Santiago pelo apoio eincentivo que soube transmitir nos momentos de maior desacircnimo a todosaqueles que abdicaram do seu tempo para me concederem uma entrevistaaos meus amigos e familiares pela paciecircncia palavras de incentivo e motivaccedilatildeo com que sempre contei ao Bruno pelo amor que me dedica Agrave Beatriz por tudo

resumo

A presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma anaacutelise criacutetica das actividades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas nos PALOP e em Timor-Leste No actual sistema formal de educaccedilatildeo as actividades de ensino transnacional encontram-se por norma integradas emprogramas de cooperaccedilatildeo governamentais o que lhes confere caracteriacutesticas bastante peculiares Para aleacutem de identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos dosmodelos de cooperaccedilatildeo analisados satildeo tecidas consideraccedilotildees que procuramdar um contributo para a optimizaccedilatildeo da rentabilidade dos recursos financeirose humanos investidos por Portugal neste domiacutenio

abstract

This study intends to perform a critical analysis of the activities of transnational education performed by Portuguese public higher education institutions in thePALOP (African Countries of Official Portuguese Language) and East TimorIn the present formal education system the activities of transnational education are usually integrated in governmental cooperation programmes that providethem unique specificities and characteristics Beyond the identification of strong and weak aspects of the analysed models of cooperation some recommen-dations will be suggested in order to allow an optimization and profitability offinancial human resources of this domain in the future

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

IacuteNDICE

Lista de Siglas e Acroacutenimos 15

Lista de Quadros 17

Introduccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO I

1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 27

11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo 27

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior 30

121 O papel da Universidade na Europa Comum 42

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia 51

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha 56

CAPIacuteTULO II

2 O Ensino Superior Transnacional 63

21 O Ensino Transnacional no Contexto da Uniatildeo Europeia 63

211 Principais problemas do ensino superior transnacional 67

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-

nacional 71

22 O GATS e o ensino transnacional 77

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-

-econoacutemica Internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilo 84

11

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III

3 A metodologia da Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo selecccedilatildeo da amos-

tra recolha e anaacutelise dos dados 87

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo 90

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida 92

313 A selecccedilatildeo de amostra 94

314 O processo de escolha de dados e construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos 96

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo

Portuguesa 101

41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso 101

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio

do ensino superior 102

4111 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde 102

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde 103

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 106

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 122

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

sector do ensino superior 124

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

domiacutenio do ensino superior 126

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio

do ensino superior 127

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste 127

12

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste 134

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do

ensino superior 137

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino

superior ateacute 2010 141

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 152

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 153

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees 155

Conclusotildees Finais 159

Referecircncias Bibliograacuteficas 165

Tratados e Acordos 168

Revistas Jornais e Paacuteginas de Internet 168

13

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Siglas e Acroacutenimos ADISPOR mdash Associaccedilatildeo dos Institutos Superiores Politeacutecnicos Portugueses

CCISP mdash Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politeacutecnicos

CEPES (UNESCO) mdash European Centre for Higher Education

CNAVES mdash Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo Ensino do Superior

CNRT mdash Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense

CRUP mdash Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas

ECTS mdash European Credit Transfer System

ENIC mdash European Network of Information Centres

ESE mdash Instituto Superior de Educaccedilatildeo de Cabo Verde

EUA mdash European University Association

FUP mdash Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

GATE mdash Global Alliance for Transnacional Education

GATS mdash General Agreement on Trade in Services

ICA mdash Instituto Camotildees

ICCTI mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica Internacional

ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa

IPAD mdash Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

ISCTE mdash Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

ISECMAR mdash Instituto Superior de Engenharia

MCT mdash Ministeacuterio Ciecircncia e Tecnologia

MFNT mdash Most Favoured Nation Treatment

OCDE mdash Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Econoacutemica e Desenvolvimento

PALOP mdash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB mdash Produto Interno Bruto

PIC mdash Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

PNUD mdash Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

UE mdash Uniatildeo Europeia

UNDP mdash United Nations Development Programme

UNESCO ndash United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

UNTAET mdash United Nations Transnational Administration in East Timor

UNTL mdash Universidade Nacional de Timor Leste

UK mdash United Kingdom

WTO mdash World Trade Organization

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Quadros QUADRO Nordm 1 mdash Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas 98

QUADRO Nordm 2 mdash Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para a Cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde 107

QUADRO Nordm 3 mdash Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superior segundo a entidade financiadora e executor 113

QUADRO Nordm 4 mdash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo

(puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido 118

QUADRO Nordm 5 mdash A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero

de Alunos 133

QUADRO Nordm 6 mdash Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP de Cooperaccedilatildeo com Timor

Leste 140

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ldquoIn this world there are three creations whose continued and general well-being depend on their moving forward The first is the bicycle

the second the shark the third the universityrdquo

(Neave 1997)

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Introduccedilatildeo

No acircmbito do Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior da Univer-

sidade de Aveiro a presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma abordagem criacutetica agrave

expansatildeo do ensino transnacional a niacutevel mundial identificando as causas deste fenoacute-

meno e avaliando as suas consequecircncias para o sector da educaccedilatildeo O caso portuguecircs

apresenta um modelo de ensino transnacional basicamente impulsionado por iniciativas

de cooperaccedilatildeo com paiacuteses em desenvolvimento que vem demonstrar que o processo de

globalizaccedilatildeo levou de certa forma a um estiacutemulo da procura de novos mercados por

parte das instituiccedilotildees de ensino que desta forma se viraram para novos puacuteblicos

apostando em mecanismos alternativos de promoccedilatildeo de actividades educativas no domiacute-

nio do ensino superior

A definiccedilatildeo do objecto de estudo seraacute determinante no desenvolvimento do tra-

balho empiacuterico e condicionaraacute a posterior identificaccedilatildeo das principais problemaacuteticas que

importa abordar sobre este assunto Assim sendo procurar-se-aacute circunscrever a anaacutelise

empiacuterica ao estudo e criacutetica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para o sector da

educaccedilatildeo mais concretamente no domiacutenio do ensino superior uma vez que nelas estatildeo

invariavelmente inseridas actividades de promoccedilatildeo de ensino transnacional por parte

das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas universitaacuterias e politeacutecnicas

No pressuposto de que a evoluccedilatildeo das praacuteticas de ensino transnacional resulta de

um processo de transformaccedilatildeo que estaacute intimamente ligado com a mudanccedila a que se

assiste hoje na Europa e no Mundo o primeiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado ao

fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo seus efeitos e consequecircncias Este movimento que de resto

tem vindo a modificar as sociedades industriais desde os anos 70 relegando para um

plano cada vez mais regulador o papel dos Estados-Naccedilatildeo na sua funccedilatildeo de zelar pela

harmonizaccedilatildeo dos mercados e pela conciliaccedilatildeo econoacutemica torna-se um elemento impul-

sionador agrave reestruturaccedilatildeo dos sistemas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo na Europa O sector do

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino enquanto motor dinamizador e de desenvolvimento de uma Naccedilatildeo e instrumento

de competitividade e supremacia de uns paiacuteses sobre outros eacute assumido como tal pelos

paiacuteses que apostam na mercantilizaccedilatildeo deste sector

As repercussotildees deste processo de globalizaccedilatildeo podem ser de vaacuterias ordens

destacando-se de entre as mais evidentes a convergecircncia dos sistemas educativos as

oportunidades de evoluccedilatildeo e experimentaccedilatildeo que proporcionam aos vaacuterios actores

envolvidos bem como o impulso que provoca nas instituiccedilotildees conferindo-lhes a pos-

sibilidade de um desenvolvimento a vaacuterios niacuteveis Neste acircmbito o papel que desem-

penha a Universidade numa Europa comum ganha especial importacircncia por isso

mesmo seraacute dada particular atenccedilatildeo a este assunto ainda no primeiro capiacutetulo deste

trabalho Por forccedila das circunstacircncias atribuiu-se ao Tratado de Maastricht a virtude de

consolidar por um lado uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo europeia entre Estados-Membros

para o sector educativo demonstrando por outro lado a permanecircncia de uma diversi-

dade de sistemas educativos na Europa A assinatura deste tratado vem legitimar os

direitos consagrados aos cidadatildeos dos Estados-Membros confinando o papel dos Esta-

dos-Naccedilatildeo a oacutergatildeos de poder reguladores e com capacidade decisoacuteria sobre as formas

de iniciativa puacuteblicas e privadas no sector educativo

O primeiro capiacutetulo natildeo estaria completo sem uma abordagem sintetizada ao

sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia e face ao processo

de globalizaccedilatildeo Parte-se da anaacutelise do sistema de ensino no periacuteodo preacute-revolucionaacuterio

para mais aprofundadamente se descrever e caracterizar a evoluccedilatildeo do sistema de ensino

superior no periacuteodo poacutes-revoluccedilatildeo de Abril e posteriormente no contexto de adesatildeo agrave

Uniatildeo Europeia

O segundo capiacutetulo eacute dedicado ao ensino superior transnacional fazendo-se uma

anaacutelise alargada sobre os aspectos positivos e negativos deste sistema de ensino na

perspectiva dos paiacuteses emissores e dos paiacuteses receptores Os motivos que explicam o

aumento exponencial deste sector nos uacuteltimos anos satildeo analisados elencando-se os

principais problemas a ele associados Questotildees como a avaliaccedilatildeo da qualidade do

ensino praticado o papel regulador das instituiccedilotildees receptoras de ensino transnacional

ou a total ausecircncia destes mecanismos satildeo apenas algumas das questotildees que mais

preocupaccedilotildees tecircm suscitado aos estudiosos desta problemaacutetica Mas outras questotildees

igualmente importantes surgem associadas ao ensino transnacional tal como a perti-

22

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necircncia e a adequaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo enquanto elemento determinante para o

desenvolvimento sustentado do paiacutes receptor a acreditaccedilatildeo e reconhecimento de graus

ou o planeamento estrateacutegico das actividades de apoio ao sector do ensino superior

Referimo-nos neste caso particular ao ensino transnacional que surge integrado em

programas de cooperaccedilatildeo para apoio aos paiacuteses em desenvolvimento

A internacionalizaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior

assumem-se claramente como aspectos positivos a retirar da praacutetica de ensino trans-

nacional em paiacuteses onde o mercado da procura excede largamente a capacidade de

oferta por exemplo a presenccedila destas estruturas alternativas de ensino traz benefiacutecios

ao paiacutes receptor que desta forma vecirc colmatada uma incapacidade de resposta do

mercado Benefiacutecios desta natureza favorecem essencialmente os paiacuteses pobres ou em

vias de desenvolvimento que natildeo dispotildeem na maioria das vezes de estruturas de ensino

suficientes para dar resposta agrave procura de mercado Ainda assim mesmo nestes casos eacute

importante e desejaacutevel que estejam assegurados os mecanismos de controlo miacutenimos

das actividades de ensino transnacional dos paiacuteses dadores Estes mecanismos assumem

uma importacircncia acrescida quando se trata de actividades de ensino transnacional com

fins lucrativos competindo neste caso aos paiacuteses receptores dotarem-se de meios de

defesa proacuteprios impondo mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo Muitas vezes a alter-

nativa para garantir condiccedilotildees miacutenimas de regulaccedilatildeo passa por integrar o ensino trans-

nacional nos sistemas de ensino formais do paiacutes

A uacuteltima parte do segundo capiacutetulo aborda basicamente a relaccedilatildeo do ensino

transnacional com o General Agreement on Trade in Services (GATS) O aumento

exponencial da procura da educaccedilatildeo a niacutevel mundial faz deste sector um dos mais

competitivos resultando na praacutetica na proliferaccedilatildeo de actividades de ensino trans-

nacional em parte devido agrave incapacidade das instituiccedilotildees de ensino nacionais para res-

ponderem satisfatoriamente agrave procura de mercado Muitos satildeo os factores que condi-

cionam esta realidade e a verdade eacute que devido a estas circunstacircncias o papel regulador

e defensor dos governos estaacute cada vez mais enfraquecido e difiacutecil de materializar Sobre

este assunto em concreto far-se-aacute uma abordagem particularmente fundamentada nas

opiniotildees de Jane Knight pela anaacutelise exaustiva clara e consubstanciada que a autora faz

deste assunto em alguns dos seus trabalhos

23

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O terceiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado agraves questotildees metodoloacutegicas A iden-

tificaccedilatildeo das principais metodologias de investigaccedilatildeo utilizadas para a realizaccedilatildeo do

trabalho empiacuterico permitiu definir a hipoacutetese de partida identificar o problema e o

objecto de estudo A selecccedilatildeo da amostra bem como o processo de recolha de dados e a

construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos mereceram igual destaque neste capiacutetulo

Como foi anteriormente referido procurou-se fazer uma abordagem agraves activi-

dades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

que no caso se resumem na sua maioria e por forccedila das circunstacircncias a acccedilotildees

integradas em programas de cooperaccedilatildeo governamentais implementados em paiacuteses de

expressatildeo portuguesa em vias de desenvolvimento Reportando ao enquadramento

teoacuterico que antecedeu o trabalho empiacuterico foram seleccionados dois estudos de caso

que por apresentarem realidades e contextos econoacutemicos culturais e geograacuteficos dis-

tintos se entendeu representarem duas realidades diversas mas igualmente interes-

santes e reveladoras de algumas das problemaacuteticas identificadas anteriormente como

caracteriacutesticas do ensino transnacional

Pode considerar-se que existem dois modelos de cooperaccedilatildeo portuguesa para o

sector do ensino superior transnacional o primeiro tradicionalmente implementado

pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute analisado como estudo de caso nordm 1 e repor-

ta agrave experiecircncia de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde Este paiacutes representa pelas

suas caracteriacutesticas soacutecio-culturais e econoacutemicas a realidade da maioria das ex-coloacutenias

portuguesas Se eacute verdade que haveraacute muitas variaacuteveis que satildeo singulares ao contexto

Cabo-Verdiano eacute igualmente verdade que Cabo Verde eacute a ex-coloacutenia portuguesa com

quem Portugal tem a mais longa tradiccedilatildeo de cooperaccedilatildeo e onde a implementaccedilatildeo de um

sistema formal de ensino melhor tem vingado Estes satildeo alguns dos motivos que leva-

ram agrave escolha de Cabo Verde como caso de estudo

Apesar de partir de pressupostos teoacutericos semelhantes o modelo de cooperaccedilatildeo

que estaacute a ser implementado para o ensino superior no caso de Timor Leste desde 2000

a esta parte revela desde logo caracteriacutesticas distintas do modelo anterior O contexto

que envolve Timor-Leste confere-lhe especificidades e caracteriacutesticas uacutenicas quando

comparado com os PALOP e se juntarmos a estes factores a histoacuteria recente do paiacutes

rapidamente se percebe que o modelo de cooperaccedilatildeo praticado nunca poderia assumir os

mesmos contornos de modelo de cooperaccedilatildeo tradicionalmente usado por Portugal

24

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Timor Leste revelou-se um estudo de caso bastante interessante natildeo apenas pelas suas

caracteriacutesticas e especificidades mas por ser o princiacutepio de novas formas de cooperar e

de praticar ensino transnacional que se abre para as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas

25

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO I 1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo

Enquanto cidadatildeos do mundo temos hoje o privileacutegio de assistir a um

acontecimento com repercussotildees agrave escala mundial mdash o fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo Este

movimento acontece paralelamente a um processo de evoluccedilatildeo da Comunidade

Europeia uma vez que ambos os movimentos estatildeo relacionados ou seja o desenvol-

vimento do conceito de Comunidade Europeia remonta ao periacuteodo poacutes Segunda Guerra

Mundial mais propriamente ao ano de 1950 e tal como o entendemos na sua definiccedilatildeo

mais simplista 1 estaacute condicionado pelo sucesso e efectivaccedilatildeo do processo de globali-

zaccedilatildeo agrave escala mundial

O processo da globalizaccedilatildeo tem vindo a modificar as sociedades industriais

desde os anos 70 e vaacuterias tecircm sido as definiccedilotildees que procuram caracterizar este fenoacuteme-

no que marca o seacuteculo XX Field usa a definiccedilatildeo de Vincent Cable para caracterizar o

movimento de Globalizaccedilatildeo que este uacuteltimo define como uma tendecircncia para a ldquointe-

graccedilatildeo econoacutemicardquo que atravessa as fronteiras nacionais 2

1 ldquoA Uniatildeo Europeia assenta no princiacutepio do Estado de direito e na democracia em que os seus Estados-

-Membros delegam soberania em instituiccedilotildees comuns que representam os interesses de toda a Uniatildeo em questotildees de interesse comum Todas as decisotildees e procedimentos decorrem dos tratados de base ratificados pelos Estados-Membrosrdquo Site da Uniatildeo Europeia 2003 disponiacutevel em WWWURL httpwwweuropaeuintabc-pthtml Capturado em 22 de Fevereiro de 2003

2 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp

27

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Mais recentemente outros autores desenvolveram teorias econoacutemicas sobre as

ldquoevidecircnciasrdquo e verdades adquiridas das actividades poliacutetica e econoacutemica que contribuiacute-

ram para a alteraccedilatildeo profunda das poliacuteticas econoacutemicas mundiais Para Harry Arthurs

em Amaral (2002) essas ldquoevidecircnciasrdquo traduzem-se nos seguintes aspectos

No periacuteodo poacutes-guerra o Estado tornou-se um organismo demasiado dis-

pendioso para manter e demasiado interventivo para tolerar

Se os mercados forem convenientemente ldquoalimentadosrdquo e regulados pro-

porcionaratildeo prosperidade a niacutevel local e global

Mercados saudaacuteveis e proacutesperos proporcionam boas condiccedilotildees para a de-

mocracia e para o bem-estar social

Segundo estes pressupostos e seguindo uma linha de raciociacutenio neo-liberal o

conceito de Globalizaccedilatildeo define-se como a organizaccedilatildeo e integraccedilatildeo das actividades

econoacutemicas em niacuteveis que transcendem as fronteiras e jurisdiccedilotildees (Jones in Amaral

2002) Alberto Amaral considera que as ideologias neo-liberais defendem a liberaliza-

ccedilatildeo do mercado de bens e capitais como o meio mais eficaz para alcanccedilar a prosperida-

de e a paz mundial Ainda sobre este assunto Jones baseia-se no trabalho de Goldman

para concluir que o mercado livre eacute um meio de contribuiccedilatildeo para a prosperidade dos

Estados-Naccedilatildeo e para o progresso intelectual da Humanidade Nesta perspectiva o

verdadeiro papel do Estado natildeo estaacute ainda completamente definido estando a sua

intervenccedilatildeo confinada agrave funccedilatildeo de zelar pela ordem e pela manutenccedilatildeo da liberdade de

mercado Ao Estado compete tornar a economia livre revitalizada e competitiva

(Amaral 2002)

Outras correntes ideoloacutegicas defendem que a Globalizaccedilatildeo natildeo tem de ser neces-

sariamente sinoacutenimo de Estados desprovidos de qualquer papel interventivo mas antes

pelo contrario entendem que o processo de Globalizaccedilatildeo requer um envolvimento do

Estado enquanto entidade protectora do mercado livre assumindo uma atitude proacute-

-mercantilista proacute-capitalista e por vezes ateacute de parceiro econoacutemico num mercado livre

e concorrencial (Ibidem)

Eacute patente o desapontamento geral face agraves ilusotildees criadas sobre os eventuais

benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos do processo de Globalizaccedilatildeo foram mal sucedidas as pre-

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

visotildees das teorias neo-liberais que auguravam o nivelamento dos paiacuteses pobres com os

paiacuteses ricos e a euforia daria lugar agrave desolaccedilatildeo

ldquoProducing ethically or socially unacceptable distribution outcomes

in terms of equity is one of the main problems of economic

globalisation in its present form The almost complete disregard of

social responsibilities is a consequence of the fact that there is no

regulation at global level nor there is any supra-national agency

to discipline transnational markets thus avoiding the negative

effects of savage capitalism It is in general accepted that a market

to be efficient needs to be regulatedrdquo

(Amaral 2002)

No actual contexto econoacutemico global facilmente se conclui que quem deteacutem o

controlo das economias mundiais satildeo as grandes multinacionais para Amaral qualquer

acccedilatildeo social solidaacuteria por parte dos Governos seraacute infrutiacutefera ou pouco significativa

uma vez que a sua capacidade de intervenccedilatildeo se encontra bastante circunscrita e limi-

tada devido ao processo de privatizaccedilatildeo de grande parte dos serviccedilos puacuteblicos resultante

da necessidade de diminuiccedilatildeo da taxa de inflaccedilatildeo e da diacutevida puacuteblica Apesar da Univer-

sidade ser muitas vezes acusada de se encontrar arredada das discussotildees geradas em

torno deste tema a extinta Confederaccedilatildeo das Conferecircncias de Reitores Europeus repre-

sentada actualmente pela EUA mdash European University Association mdash define a

globalizaccedilatildeo a partir de uma oacuteptica economicista relacionando este conceito com a

educaccedilatildeo Para a EUA o processo de globalizaccedilatildeo estaacute associado ao facto de muitos

empregos por natildeo trazerem valor acrescentado satildeo exportados para paiacuteses pobres que

caracteristicamente proporcionam matildeo-de-obra barata 3 A uacutenica forma de os paiacuteses

ricos permanecerem ricos eacute manterem a populaccedilatildeo activa mais produtiva o que na

maior parte das vezes significa manter este sector da populaccedilatildeo melhor educado e

qualificado

Outros autores relacionam igualmente o conceito de Globalizaccedilatildeo com o sector

Educativo para Ball 4 a populaccedilatildeo activa foi directamente influenciada pelo processo

3 European Rectors Conference Ibidem 4 Amaral Alberto ldquoInstitutional identities and isomorphic pressuresrdquo CIPES and University of Porto

comunicaccedilatildeo apresentada na IMHE General Conference OECD Headquarters Paris 2002

29

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Globalizaccedilatildeo e pelas novas ideologias de direita Ainda segundo este autor os

impera-tivos das novas poliacuteticas econoacutemicas viriam a influenciar directamente as

poliacuteticas educativas o que resultou segundo Alberto Amaral 5 na metamorfose da

relaccedilatildeo ateacute aiacute estabelecida entre a Universidade e a Sociedade Esta transformaccedilatildeo natildeo eacute

apenas estrutural mas mais profunda resultando de mudanccedilas comportamentais e

ideoloacutegicas que afectam em uacuteltima instacircncia a relaccedilatildeo estabelecida entre as Instituiccedilotildees

de Ensino Superior e o Estado O papel social e cultural atribuiacutedo agrave Universidade daacute

lugar a uma funccedilatildeo com fins predominantemente econoacutemicos

A globalizaccedilatildeo favorece aleacutem do mais o desenvolvimento da economia em

consonacircncia com as poliacuteticas neo-liberais e monetaacuterias O mercado liberal eacute assumido

como a soluccedilatildeo dos problemas permitindo aleacutem do mais assegurar qualidade eficiecircn-

cia e eficaacutecia dos serviccedilos prestados favorecendo-se desta forma a iniciativa privada em

detrimento dos serviccedilos puacuteblicos

ldquoEducation is today considered an indispensable ingredient for

economic competition and is no longer seen as a social right and it

is becoming progressively a service As a direct result ldquostudents

are considered consumers and asked to pay higher feesrdquo (Torres

and Schugurensky 2002) Governments exert strong pressures

over institutions to make them more responsible to outside de-

mands and to ensure that education and research are ldquorelevantrdquo

for national economyrdquo

(Amaral 2002)

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior

Os sistemas de ensino superior nos anos 50 eram predominantemente consti-

tuiacutedos por universidades tradicionais geridas exclusivamente pelo poder Estatal

Na deacutecada de 70 verificou-se uma reestruturaccedilatildeo nos sistemas nacionais de

educaccedilatildeo e formaccedilatildeo europeus Dominavam as ideologias liberais e humanistas que

comeccedilam a sofrer pressotildees de outras correntes ideoloacutegicas que valorizavam maioritaria- 5 Ibidem

30

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mente a parte instrumental e vocacional o que levou agrave implementaccedilatildeo de uma seacuterie de

reformas como resposta agraves dificuldades de crescimento econoacutemico com as quais a

Europa se debatia face a um mercado global Perante uma Europa tradicionalmente rica

em ldquocapital humanordquo qualificado e com elevadas habilitaccedilotildees (entatildeo agrave mercecirc da

competiccedilatildeo global) havia que assegurar a competitividade face agrave ameaccedila do cresci-

mento econoacutemico e do desenvolvimento tecnoloacutegico de paiacuteses concorrentes Com o

avanccedilo das novas tecnologias a palavra de ordem era entatildeo criar uma maior aproxi-

maccedilatildeo entre a Universidade e a Induacutestria generalizando-se no pensamento poliacutetico a

necessidade do desenvolvimento destas capacidades na forccedila de trabalho dos paiacuteses

europeus principalmente a partir das camadas mais jovens As novas tecnologias de

informaccedilatildeo eram entatildeo encaradas como um importante e eficaz veiacuteculo de promoccedilatildeo e

difusatildeo do conhecimento capazes de fazer florescer a ldquoNova Sociedade de Infor-

maccedilatildeordquo O sistema de ensino superior ganha novo focirclego proporcionando formas alter-

nativas e diversificadas de oferta

Partindo da associaccedilatildeo dos conceitos de ldquoEconomiardquo e ldquoEducaccedilatildeordquo e encon-

trando-se o processo de globalizaccedilatildeo em desenvolvimento agrave escala mundial mdash o que faz

com que este fenoacutemeno esteja bem presente no processo de mudanccedila a que assistimos

hoje na Uniatildeo Europeia quer de ordem econoacutemica quer de ordem social ou poliacutetica mdash

como vimos anteriormente os sectores da Educaccedilatildeo e da Formaccedilatildeo satildeo duas aacutereas

determinantes na competitividade de um paiacutes uma vez que quando se fala de globali-

zaccedilatildeo referimo-nos implicitamente agrave competitividade entre paiacuteses

A probabilidade que um qualquer paiacutes tem de natildeo ser dominado ou ultrapas-

sado economicamente por um outro paiacutes mais desenvolvido eacute tanto menor quanto o

niacutevel de qualificaccedilatildeo e competecircncia dos seus cidadatildeos for elevado Por este motivo o

investimento na educaccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos cidadatildeos eacute uma importante mais valia que

cabe ao Estado valorizar e dele retirar o devido proveito Nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia

o niacutevel de autonomia eacute tanto maior quanto mais elevado for o niacutevel meacutedio de qualifi-

caccedilatildeo dos seus cidadatildeos Para aleacutem deste indicador haacute que ter ainda em linha de conta

as poliacuteticas existentes no domiacutenio educativo e de qualificaccedilatildeo ou os programas imple-

mentados a este niacutevel pelas instituiccedilotildees de ensino Neste loacutegica concorrencial de

mercado as Universidades que tradicionalmente satildeo governadas por acadeacutemicos

eleitos comeccedilam a ser vistas como lugares corporativistas viacutetimas de um sistema de

31

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gestatildeo obsoleto verificando-se gradualmente uma tendecircncia crescente para substituir os

acadeacutemicos por gestores qualificados e treinados para enfrentar as leis de mercado

Apesar das suas potencialidades enquanto motor dinamizador do desenvolvi-

mento de uma naccedilatildeo a aacuterea da educaccedilatildeo mereceu no passado recente pouca atenccedilatildeo

por parte das autoridades poliacuteticas europeias registando-se a primeira alusatildeo a esta aacuterea

no Tratado de Maastricht assinado inicialmente por 12 paiacuteses em 7 de Fevereiro do

ano de mil novecentos e noventa e dois Mesmo apoacutes a ratificaccedilatildeo deste Tratado foram

poucos e infrutiacuteferos os momentos de reflexatildeo que a Uniatildeo Europeia dedicou a este

sector Este facto resultaraacute da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual

ldquoa Comunidade apenas interveacutem na medida em que os objectivos natildeo possam ser

suficientemente realizados pelos Estados-Membrosrdquo (Lourtie 2000) mas a este assunto

far-se-aacute referecircncia mais adiante

Anteriormente agrave assinatura do Tratado de Maastricht eacute possiacutevel identificar quatro

momentos em que os poliacuteticos europeus dedicaram alguma atenccedilatildeo ao sector da

educaccedilatildeo a saber o periacuteodo entre 1957 e 1973 o periacuteodo entre 1974 e 1985 o periacuteodo

entre 1986 e 1992 e por uacuteltimo de 1992 em diante O primeiro momento que medeia

entre 1957 e 1973 eacute o menos profiacutecuo para o desenvolvimento das poliacuteticas educativas e

de formaccedilatildeo Europeias Sobre este primeiro momento pouco haveraacute a considerar a natildeo

ser por ocasiatildeo da assinatura do Tratado de Roma em 1957 em que apenas a formaccedilatildeo

profissional foi contemplada no artigo nordm 128 este artigo alude aos princiacutepios gerais

para o desenvolvimento de uma poliacutetica comum de formaccedilatildeo profissional considerada

condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo de uma Europa econoacutemica (Galvatildeo 2000)

Soacute num 2ordm momento que medeia entre os anos de 1974 e 1985 comeccedila a

despertar verdadeiramente nas autoridades responsaacuteveis pelas poliacuteticas europeias algum

interesse pelo sector da educaccedilatildeo especialmente no que diz respeito agrave aacuterea vocacional

surge entatildeo uma corrente que veio defender uma poliacutetica educativa comum para a

Europa cabendo ao Professor Henri Janne entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Belga a

formulaccedilatildeo dos primeiros princiacutepios deste novo pensamento poliacutetico Pela primeira vez

na histoacuteria da Europa unificada satildeo identificadas as necessidades baacutesicas de

desenvolvimento definindo-se uma estrateacutegia coerente e harmoniosa de uma poliacutetica

educativa para os Estados-Membros ldquoEacute neste contexto que foi criado o Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo que se reuniu pela 1ordf vez em 1971 e estabeleceu em 1976 o

32

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

primeiro programa de acccedilatildeordquo (Galvatildeo 2000) Esta orientaccedilatildeo poliacutetica resultou na

criaccedilatildeo de um Conselho Educativo e Cultural cujas actividades se traduzem na

promoccedilatildeo da liacutengua estrangeira na mobilidade discente e docente ou no fomento da

troca de experiecircncias entre Universidades Eacute igualmente recomendada neste primeiro

documento a criaccedilatildeo de um Comiteacute da Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 6

Com base nestas reflexotildees o Conselho de Ministros da Educaccedilatildeo Europeu

definiu como estrateacutegia que quaisquer medidas deveriam ser tomadas com base nas leis

de cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros Eacute entatildeo estabelecido em Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo onde tecircm assento todos os paiacuteses membros o Comiteacute de

Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 7 com vista a impulsionar e promover a

cooperaccedilatildeo dos parceiros europeus nas vaacuterias aacutereas As principais linhas de actuaccedilatildeo

deste Comiteacute centralizam-se na dinamizaccedilatildeo de formaccedilatildeo direccionada para a populaccedilatildeo

jovem de outros Estados-Membros a convergecircncia entre sistemas de ensino dos Esta-

dos-Membros a compilaccedilatildeo de documentaccedilatildeo e de dados estatiacutesticos o aumento da

cooperaccedilatildeo na aacuterea da educaccedilatildeo a implementaccedilatildeo do reconhecimento de diplomas

acadeacutemicos o encorajamento de poliacuteticas que permitam a liberdade de movimentos e a

mobilidade de alunos professores e investigadores e finalmente a igualdade de oportu-

nidades no acesso aos vaacuterios niacuteveis de ensino 8

Este cenaacuterio eacute convergente com o modelo de sistema de ensino superior europeu

que Teichler 9 defende ter existido desde meados dos anos 70 ateacute meados dos anos 80

Para o autor esta deacutecada caracteriza-se pela existecircncia de uma diversidade de sistemas

educativos principalmente ao niacutevel do ensino superior esta diversidade caracteriza-se

por modelos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo para o sistema universitaacuterio e modelos de

formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo para o sistema de ensino natildeo universitaacuterio Para Teichler a

diversidade de sistemas eacute igualmente verificaacutevel ao niacutevel dos programas curriculares

dos Cursos existentes na Europa

Apesar de defender a existecircncia de uma diversidade de sistemas educativos na

Europa o autor reconhece no entanto tendecircncias de uniformizaccedilatildeo nos sistemas de 6 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education

Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp 7 Ibidem 8 Official Journal of the European Communities C381 1976 9 Teichler Ulrich ldquoStructures of Higher Education Systemsrdquo in Claudius Gellert Higher Education in

Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

33

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino superior europeus e a presenccedila de aspectos identitaacuterios nas poliacuteticas educativas

europeias da deacutecada de 70 apontando os sistemas de ensino preparatoacuterio e o sistema de

acesso ao ensino superior como aqueles que revelam sinais mais evidentes de tendecircncias

de uniformizaccedilatildeo

Fazendo um exerciacutecio de comparaccedilatildeo entre os modelos de gestatildeo e organizaccedilatildeo

dos sistemas de ensino superior de alguns paiacuteses europeus nas deacutecadas de 70 e 80

constata-se que de facto existe uma diversidade de modelos organizacionais dos siste-

mas de ensino superior o que vem reforccedilar a teoria da diversidade defendida por

Teichler Como se veraacute de seguida o Reino Unido encontra-se organizado de forma

diferente da Espanha ou da Itaacutelia apesar de ser igualmente verdade que em alguns

aspectos eacute notoacuteria uma tendecircncia para a convergecircncia entre sistemas como por

exemplo o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que eacute variaacutevel entre os 3 anos miacutenimo e os

5 anos maacuteximo em funccedilatildeo dos cursos e do grau

Partindo de uma anaacutelise do modelo de organizaccedilatildeo do sistema de ensino do

Reino Unido verifica-se que neste paiacutes o ensino superior se encontra dividido por

instituiccedilotildees universitaacuterias politeacutecnicas ou equivalentes denominadas Scottish Equiva-

lent No Reino Unido as Universidades talvez devido agrave sua ancestralidade gozam de

um elevado grau de autonomia o que significa que apesar de financiadas pelo Estado

detecircm plenos poderes para determinar quais os graus concedidos e as condiccedilotildees neces-

saacuterias para a sua obtenccedilatildeo assim como autonomia para definir os criteacuterios de admissatildeo

de candidatos Os politeacutecnicos e demais instituiccedilotildees centrais inglesas revelam fortes

ligaccedilotildees ao mercado de trabalho em geral e agrave induacutestria em particular estando por

isso particularmente vocacionados para ministrar cursos de acentuado cariz tecnoloacute-

gico Em Abril de 1989 a gestatildeo dos politeacutecnicos e restantes instituiccedilotildees de ensino

superior do Reino Unido agrave excepccedilatildeo das universidades passou a ser realizada por um

uacutenico oacutergatildeo Estatal permitindo ao ensino politeacutecnico a partir desta altura conceder

graus de poacutes-graduaccedilatildeo e mestrado em paralelo com o sistema universitaacuterio Apesar

disso os politeacutecnicos continuaram a apostar maioritariamente na vertente de ensino e

menos na investigaccedilatildeo cientiacutefica Existem ainda no sistema de ensino superior inglecircs as

escolas superiores (colleges) especialmente direccionadas para um ensino teacutecnico e

particularmente ligado agrave formaccedilatildeo de professores Em qualquer um destes subsistemas

34

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de ensino ingleses o tempo miacutenimo para a obtenccedilatildeo da primeira graduaccedilatildeo varia entre

os 3 e 4 anos dependendo do curso

A Espanha apresenta nesta altura um modelo de educaccedilatildeo mais regionalizado

O sistema de ensino superior espanhol apenas compreende instituiccedilotildees de ensino

universitaacuterio organizadas hierarquicamente de forma descendente dividindo-se entre

faculdades escolas teacutecnicas e escolas superiores de engenharia e arquitectura escolas

universitaacuterias e coleacutegios universitaacuterios A frequecircncia de cada um destes subsistemas

corresponde a um nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que varia entre os 3 anos para o niacutevel de

formaccedilatildeo mais baixo podendo ir ateacute ao maacuteximo de 5 ou 6 anos de formaccedilatildeo no caso das

faculdades

Jaacute no sistema de ensino superior Italiano a formaccedilatildeo superior eacute ministrada por

instituiccedilotildees de ensino universitaacuterias que podem ser Estatais (totalmente financiadas por

fundos puacuteblicos logo dependentes do Estado) ou natildeo estatais mas neste caso trata-se

de instituiccedilotildees reconhecidas pelo Estado (instituiccedilotildees privadas que surgem por volta dos

anos 80 e que concedem graus equivalentes aos Estatais) Em funccedilatildeo dos cursos que

ministram estes estabelecimentos de ensino denominam-se por universidades politeacutec-

nicos (apenas os que ministram engenharia e arquitectura) ou magisteacuterios (dirigidos

para a formaccedilatildeo de professores) variando o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo em funccedilatildeo do

curso

O desenvolvimento do Ensino Superior Universitaacuterio neste periacuteodo ficou mar-

cado natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas universidades mas tambeacutem pelo desenvolvimento de

estruturas alternativas de formaccedilatildeo e educaccedilatildeo o que originou uma enorme diversidade

de sistemas de ensino na Europa a este propoacutesito a OCDE 10 realizou um estudo sobre

as estruturas de ensino alternativas ao sistema universitaacuterio Os resultados deste trabalho

revelaram que nos uacuteltimos 25 anos a educaccedilatildeo do sector terciaacuterio sofreu um raacutepido

crescimento e valorizaccedilatildeo social contrariamente ao que se previa Durante este periacuteodo

o nuacutemero de estudantes da maior parte dos paiacuteses industrializados quadruplicou o que

provocou o crescimento proporcional das instituiccedilotildees universitaacuterias atraveacutes do aumento

do seu corpo docente e natildeo docente crescimento esse impulsionado por incentivos

financeiros ao ensino e agrave investigaccedilatildeo cientiacutefica por parte das autoridades gover-

namentais

35

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apesar do forte desenvolvimento destas estruturas de ensino alternativo e da

valorizaccedilatildeo social alcanccedilada o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo destas instituiccedilotildees por

parte do sistema de ensino universitaacuterio natildeo foram conseguidos e as relaccedilotildees satildeo ainda

deficitaacuterias revelando-se estes aspectos obstaacuteculos a que o ensino natildeo universitaacuterio atin-

ja o status social desejado

Claudius Gellert 11 conclui a partir dos resultados deste trabalho que a expansatildeo

do sector natildeo universitaacuterio se deu de forma raacutepida e inesperada e que o aumento signi-

ficativo do nuacutemero de alunos neste subsector de ensino eacute revelador da sua capacidade de

resposta raacutepida e positiva face agraves necessidades da procura do mercado de trabalho

apresentando-se o ensino natildeo superior muitas vezes melhor equipado comparativa-

mente com as universidades e com maior capacidade de ir ao encontro das necessidades

de formar pessoas com novos perfis em parte que melhor se coadunem com os desejos

e necessidades dos empregadores resultante da introduccedilatildeo das novas tecnologias no

mercado de trabalho

Paralelamente ao desenvolvimento do subsistema natildeo universitaacuterio tambeacutem o

sistema universitaacuterio revela um processo de desenvolvimento positivo em igual periacuteodo

A sua expansatildeo origina o florescimento de disciplinas natildeo tradicionais e a implemen-

taccedilatildeo de novas formas de governaccedilatildeo mais democraacuteticas e transparentes O desenvolvi-

mento deste sector resultaria assim quer na extensatildeo e expansatildeo de instituiccedilotildees jaacute

existentes quer no surgimento de novas universidades

A consequecircncia mais imediata desta diversidade de sistemas educativos na

Europa eacute a emergecircncia e a proliferaccedilatildeo de estruturas de formaccedilatildeo de cariz mais praacutetico e

orientadas para uma componente vocacional Cada vez mais haacute a afirmaccedilatildeo de formas

de ensino superior alternativas ao ensino universitaacuterio de que satildeo exemplo no Reino

Unido os politeacutecnicos e na Alemanha as Fachhochschulen

ldquoThis expansion of higher education occurred both through the

extension of the existing university sector (partly by founding new

universities) and through the development of alternative educa-

tional structures As a consequence of this institutional different-

tiation which was a general characteristic not only of the

10 OECD Alternatives to Universities OECD Publications Paris 1991 p 85

36

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

European systems but also of those in the United States Canada

Japan New Zealand and other OECD countries (cf Eg Reisman

1981 Clark 1987b) there emerged in most systems more

practically mdash and vocationally- oriented forms of higher education

than the universitiesrdquo

(OECD 1991)

Conclui-se do estudo da OCDE que as universidades continuam no entanto a

ocupar o lugar de topo na hierarquia dos sistemas de ensino superior As instituiccedilotildees natildeo

universitaacuterias que oferecem uma formaccedilatildeo alternativa agrave formaccedilatildeo universitaacuteria apesar

de totalmente integradas nos sistemas de ensino superior natildeo atingiram ainda o niacutevel de

prestiacutegio social desejado apesar de cada vez mais ajustarem as suas estruturas agrave imagem

das estruturas universitaacuterias A elevada competitividade que hoje se vive no sector

educativo eacute sem duacutevida um elemento perturbador sendo no entanto uma mais valia para

o sector natildeo universitaacuterio a sua proximidade agrave induacutestria e ao mercado de trabalho

Em jeito de resumo pode afirmar-se que os sistemas de ensino superior europeus

apresentam elementos convergentes entre si mas natildeo poderemos alhear-nos das

especificidades e caracteriacutesticas de cada paiacutes Sobre este assunto Neave 12 aponta

algumas medidas poliacuteticas convergentes medidas essas que segundo o autor foram

adoptadas como uma antevisatildeo do futuro no sentido da existecircncia de uma Europa

Comunitaacuteria totalmente integrada O autor aponta como exemplos flagrantes da sua

teoria que prevecirc a reduccedilatildeo dos anos de formaccedilatildeo ao niacutevel do ensino superior para o

periacuteodo de 3 anos os casos da Franccedila Espanha ou Dinamarca As previsotildees de Neave

satildeo no entanto facilmente refutaacuteveis ao analisar-se com algum rigor a actual organi-

zaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses que o autor apresenta como exemplos

Analisando o modelo espanhol cujo sistema foi um dos referidos por Neave

verifica-se que apenas os Coleacutegios Universitaacuterios oferecem uma formaccedilatildeo de 3 anos

nos restantes estabelecimentos de ensino superior eacute requerida uma formaccedilatildeo que varia

entre 5 a 6 anos de estudos

11 Ibidem 12 De Witte Bruno ldquoHigher Education and the constitution of the European Communityrdquo in Claudius

Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

37

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Dinamarca natildeo seraacute igualmente dos modelos mais adequados para Neave de-

monstrar a sua teoria uma vez que o sistema de ensino superior dinamarquecircs encontra-

-se actualmente dividido entre Coleacutegios que oferecem ciclos de curta ou longa duraccedilatildeo

e cuja formaccedilatildeo varia entre os 2 e os trecircs e ou quatro anos e as Universidades relativa-

mente a estas uacuteltimas o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo eacute de 5 anos para os cursos de ciclo

meacutedio e 5 + 2 para cursos de ciclo longo O grau de doutoramento exige em meacutedia

8 anos de trabalho de investigaccedilatildeo

O sistema de ensino francecircs apesar de natildeo ter exactamente as caracteriacutesticas de

formaccedilatildeo de 3 anos defendidas por Neave parece ser o que mais se aproxima da sua

teoria da convergecircncia uma vez que o sistema de ensino superior francecircs contempla

estabelecimentos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo e estabelecimentos de formaccedilatildeo de

curta duraccedilatildeo Este sistema de ensino apresenta-se como um dos mais variados quer em

termos de categorizaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino quer em termos do nuacutemero de

anos miacutenimo de formaccedilatildeo que cada um deles oferece Existem desde logo programas

de ensino tecnoloacutegico profissionalizante que exigem uma formaccedilatildeo de 2 anos incidindo

estes prioritariamente sobre a formaccedilatildeo em aacutereas tatildeo variadas como o turismo serviccedilos

transportes ou negoacutecios Os institutos tecnoloacutegicos e administrativos satildeo considerados

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo sendo que o tempo necessaacuterio para a

atribuiccedilatildeo do Diploma de Estudos Universitaacuterios pode variar entre os 2 e os 3 anos

podendo optar-se entre o ldquoMaster Profissionalizanterdquo ou o ldquoMaster para a Investi-

gaccedilatildeordquo O Diploma de Estudos Intermeacutedios eacute obtido no final de 4 anos de frequecircncia das

instituiccedilotildees universitaacuterias e estaacute mais proximamente ligado agraves aacutereas das ciecircncias sociais

e humanas e ao estudo das liacutenguas No topo da hierarquia encontram-se os

estabelecimentos de ensino de longa duraccedilatildeo como as Universidades e as Grandes

Eacutecoles que concedem o primeiro grau no final de 3 anos de formaccedilatildeo podendo este

periacuteodo aumentar para 5 anos ou ateacute mesmo 6 anos (ex escolas de arquitectura) conso-

ante o curso No sistema de ensino superior francecircs os cursos ligados aos cuidados de

sauacutede e agrave medicina aparecem organizados de uma forma peculiar relativamente agraves

restantes aacutereas de formaccedilatildeo Estes cursos tecircm um nuacutemero miacutenimo de 4 anos de for-

maccedilatildeo que vatildeo ateacute ao limite maacuteximo de 11 anos no caso da especializaccedilatildeo meacutedica

Haacute no entanto que ressalvar o facto de apesar dos exemplos aqui apresentados

facilmente demonstrarem que Neave faz afirmaccedilotildees algo precipitadas ao defender a

38

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tendecircncia europeia para a convergecircncia dos seus sistemas de ensino para 3 anos se

poder afirmar que muitos dos sistemas de ensino acima identificados se encontram

presentemente em processos de profunda reestruturaccedilatildeo dos seus sistemas de ensino

superior e que tendencialmente essa reestruturaccedilatildeo poderaacute vir a confirmar algumas das

ideias defendidas pelo autor

Teichler como se viu natildeo nega a existecircncia de elementos comuns e de poliacuteticas

convergentes nos sistemas educativos europeus no entanto coloca uma ecircnfase especial

na diversidade do desenvolvimento das poliacuteticas europeias para o ensino superior Para

este autor os sistemas educativos natildeo se tornam mais ou menos semelhantes soacute porque

existem elementos comuns ldquoIt challenges however my predictive summary that

Europe will settle with preserving and bridging the diversity rather than becoming more

similar as far as patterns of the higher education systems are concernedrdquo (Teichler

1993) Teichler discorda em absoluto do relatoacuterio da OCDE aqui abordado quando

neste eacute afirmado que muitas das variaccedilotildees dos sistemas de ensino se explicam pela

idiossincrasia e que os elementos comuns se explicam por poliacuteticas funcionais

orientadas O autor defende que as opccedilotildees poliacuteticas fazem uso intencional de compa-

raccedilotildees internacionais e de idiossincrasias nacionais que assumem necessidades funcio-

nais geneacutericas e modelos especiacuteficos Para Teichler pelo menos na deacutecada de 70 eacute

indubitaacutevel que os sistemas de ensino superior natildeo se tornaram mais similares pelo

menos entre os anos de 1974 e 1985

Os anos entre 1986 a 1992 foram privilegiados para o sector da educaccedilatildeo no que

respeita agrave poliacutetica europeia implementando-se uma seacuterie de programas com vista ao

desenvolvimento da sociedade de informaccedilatildeo (e-learning society) No entanto apenas

em 1992 a tendecircncia comunitaacuteria no domiacutenio da Educaccedilatildeo seria plenamente assumida e

consagrada atraveacutes da assinatura do Tratado de Maastricht 13 como anteriormente

aludido Neste periacuteodo a Europa despertou verdadeiramente para as questotildees da

educaccedilatildeo assistindo-se ao surgimento de poliacuteticas para a educaccedilatildeo dos novos cidadatildeos

para a Europa Nesta altura a populaccedilatildeo comeccedilou a tomar consciecircncia da sua condiccedilatildeo

de cidadania europeia Ainda neste mesmo ano foram criados pela Comissatildeo Europeia

39

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

uma seacuterie de fundos estruturais europeus que visavam a promoccedilatildeo de programas de

desenvolvimento social regional e agriacutecola Foram ainda colocadas em curso toda uma

seacuterie de iniciativas comunitaacuterias direccionadas particularmente para as novas

tecnologias que afectariam directamente a aacuterea da educaccedilatildeo na sua vertente do ensino

superior nomeadamente com a implementaccedilatildeo de programas que fomentam a mobili-

dade de discentes docentes e funcionaacuterios (EUROTECNET COMET ERASMUS) e

reforccedilam o relacionamento inter-universitaacuterio Particularmente nesta vertente destaca-se

a acccedilatildeo do Programa Erasmus em curso desde 1987 Este programa actualmente

denominado SoacutecratesErasmus faz parte da 1ordf geraccedilatildeo de programas comunitaacuterios

tambeacutem denominados por ldquoProgramas Europeusrdquo e foi criado com o objectivo primeiro

de promover a mobilidade dos estudantes universitaacuterios Esta acccedilatildeo resulta de uma

decisatildeo do Tribunal de Justiccedila das Comunidades Europeias tomada dois anos antes do

programa ter tido iniacutecio e que considerou o subsistema do ensino superior como parte

da formaccedilatildeo profissional possibilitando deste modo a criaccedilatildeo deste programa Nesta

altura comeccedila jaacute a falar-se de ECTS mdash European Credit Transfer System

De 1992 em diante assiste-se a uma maior dinamizaccedilatildeo das poliacuteticas de mobili-

dade transferindo-se a responsabilidade da sua implementaccedilatildeo para o domiacutenio Europeu

(Field 1998) No que respeita directamente ao Ensino Superior John Field analisa o

desenvolvimento da Uniatildeo Europeia sob duas perspectivas por um lado e assumindo

uma postura de abertura e desejo de uma Europa homogeacutenea e unificada os estados-

naccedilatildeo diminuem a ldquoacircnsiardquo de controlar os seus sistemas de ensino permitindo a criaccedilatildeo

de coligaccedilotildees transnacionais entre instituiccedilotildees de ensino superior Estas coligaccedilotildees

revelam-se natildeo soacute por uma grande interacccedilatildeo mas tambeacutem pela constituiccedilatildeo de redes

inter-universitaacuterias transnacionais

Por outro lado e numa atitude defensiva subsistem paralelamente nas insti-

tuiccedilotildees de ensino redes e poliacuteticas locais e nacionais que asseguram a identidade dos

paiacuteses mantendo as especificidades proacuteprias de instituiccedilotildees que estatildeo integradas num

sistema soacutecio-cultural e econoacutemico proacuteprio

A anaacutelise de Field leva-nos a concluir que apesar da educaccedilatildeo ser uma das aacutereas

que nos uacuteltimos anos mais tem contribuiacutedo para a Europeizaccedilatildeo natildeo significa neces-

sariamente que exista convergecircncia dos sistemas de educaccedilatildeo europeus Para Field o 13 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 3251 de 24122002

40

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de Globalizaccedilatildeo estaraacute sempre condicionado pelas circunstacircncias locais de

cada naccedilatildeo pelos sistemas e praacuteticas relacionais estabelecidas entre os vaacuterios sistemas

educativos de cada paiacutes sendo esta teoria do processo de Globalizaccedilatildeo aparentemente

consistente face agrave realidade

A este propoacutesito Teichler defende que na 2ordf conferecircncia de Sienna realizada em

1992 e subordinada agrave temaacutetica ldquoPlanning for the year 2000rdquo a Comissatildeo Europeia

procurou estabelecer medidas que promovessem uma grande compatibilidade entre os

sistemas de ensino (Teichler p 32) Estas medidas foram criadas com o intuito de

promoverem uma maior mobilidade entre docentes e discentes Uma das principais

vantagens da mobilidade entre actores dos vaacuterios sistemas de ensino eacute o facto de lhes

proporcionar a possibilidade de contactarem com outros modelos de formaccedilatildeo para

aleacutem de permitir a implementaccedilatildeo de processos de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees de

ensino superior que normalmente datildeo origem a profiacutecuas trocas de experiecircncias e

curricula dos cursos que resultam muitas vezes na convergecircncia dos sistemas de

educaccedilatildeo e no surgimento de redes de cooperaccedilatildeo universitaacuteria Apesar de afirmar que

na Europa existe uma diversidade de sistemas de ensino superior Teichler defende a

evoluccedilatildeo gradual destes sistemas de ensino no sentido de qualificar os cidadatildeos para o

emprego e em uacuteltima instacircncia conduzir a uma sociedade altamente qualificada Para o

autor o cenaacuterio ideal seraacute aquele em que os sistemas de ensino superior europeus

convergem num modelo de sistema uacutenico ainda que natildeo seja possiacutevel contornar as

especificidades nacionais e que essas mesmas especificidades sejam elementos

caracterizadores dos sistemas educativos de cada paiacutes Enquanto estivermos perante um

sistema que distingue claramente os diferentes tipos de instituiccedilotildees e hierarquias o

futuro do sistema de emprego e da estrutura social estaraacute comprometido (Teichler

1993)

Eacute indiscutiacutevel que a Uniatildeo Europeia e o processo de globalizaccedilatildeo favorecem a

convergecircncia dos sistemas educativos dos paiacuteses membros no entanto haveraacute que res-

peitar as diversidades culturais pois este eacute o elemento de identidade de cada paiacutes e a sua

maior riqueza A participaccedilatildeo em programas europeus traz oportunidades irrecusaacuteveis

para as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas que para aleacutem de adquirirem expe-

riecircncia e prestiacutegio tecircm a possibilidade de contactar com novas metodologias de ensino e

aprendizagem o processo de transferecircncia e acumulaccedilatildeo de creacuteditos (ECTS) ldquopoderaacute

41

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ser de grande valor na organizaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vidardquo

(CNAVES 2002)

121 O papel da Universidade na Europa Comum

Roberto Carneiro 14 considera que estamos numa eacutepoca em que a Europa procura

uma coerecircncia sustentada as respostas que procura para estar agrave altura dos novos

desafios apenas as poderaacute encontrar nas suas instituiccedilotildees ancestrais de natureza criativa

capazes de perspectivar o futuro mdash as universidades Perante uma Europa que enfrenta

tempos difiacuteceis tempos de transiccedilatildeo de mudanccedila de interrogaccedilatildeo e incerteza 15 a

Universidade como depositaacuteria da memoacuteria histoacuterica das naccedilotildees eacute a uacutenica instituiccedilatildeo

capaz de oferecer um saber que permita agrave Europa encontrar o caminho da continuidade

Roberto Carneiro parte desta argumentaccedilatildeo para defender a ideia que a crise de iden-

tidade que sofre hoje este mosaico de paiacuteses que eacute a Europa eacute um desafio bem agrave

medida das capacidades da Universidade como instituiccedilatildeo que tem aqui a oportunidade

de desempenhar um importante papel de lideranccedila na construccedilatildeo das estrateacutegias euro-

peias de cooperaccedilatildeo

Bruno de Witte reforccedila a ideia de Carneiro ao considerar que a Uniatildeo Europeia

natildeo definiu uma poliacutetica para o ensino superior no entanto as medidas adoptadas para

esta aacuterea pelos Estados-Membros satildeo inevitavelmente influenciadas pelas decisotildees

tomadas pela Uniatildeo Europeia De Witte considera que apesar das medidas econoacutemicas

centrais adoptadas pela Uniatildeo Europeia afectarem as poliacuteticas de ensino superior

assiste-se nos uacuteltimos anos a uma mudanccedila de atitude por parte da Uniatildeo Europeia que

comeccedila a querer adoptar posiccedilotildees que ultrapassem as medidas meramente econoacutemicas

dedicando-se especificamente a discutir as questotildees ligadas agrave educaccedilatildeo e particular-

mente ao ensino superior Num futuro proacuteximo prevecirc-se que a UE possa vir inclusive

a tomar posiccedilotildees especificamente relacionadas com o ensino superior (De Witte 1993)

14 Carneiro Roberto ldquoHigher education and European integration The European Challengerdquo in Philip G Altbach Contemporary Higher Education International Issues for the Twenty-First Century vol 7 Peter Darvas 1997 284 p 15 Ibidem

42

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Como exemplo do esforccedilo que tem vindo a ser desenvolvido para a adopccedilatildeo destas

medidas estaacute a recente criaccedilatildeo dos direitos individuais do cidadatildeo europeu directa-

mente relacionados com o ensino A decisatildeo tomada em 2002 pelo Parlamento Europeu

e pelo Conselho 16 por exemplo estabelece um ldquoprograma para o reforccedilo da qualidade

no ensino superior e a promoccedilatildeo da compreensatildeo intelectual atraveacutes da cooperaccedilatildeo com

paiacuteses terceirosrdquo 17 Estas directivas assumem como suporte o Tratado de Maastricht 18

sendo em 1997 reformuladas e reforccediladas pelo Tratado de Amesterdatildeo 19 No Tratado

de Maastricht e aludindo com maior detalhe aos artigos 126ordm e 127ordm posteriormente

substituiacutedos como referido anteriormente pelos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado de

Amesterdatildeo estes instituem no Capiacutetulo III dedicado agrave Educaccedilatildeo Formaccedilatildeo

Profissional e Juventude uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo entre Estados-Membros numa

clara recusa agrave constituiccedilatildeo de uma poliacutetica comum nestes domiacutenios O artigo 149ordm

determina que ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma educaccedilatildeo de

qualidade incentivando os Estados-Membros e se necessaacuterio apoiando e completando

a sua acccedilatildeo respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-Membros pelo

conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema educativo bem como a sua

diversidade cultural e linguiacutesticahelliprdquo 20 Mais adiante no mesmo artigo estabelece-se

que ldquohellipO Conselho adopta acccedilotildees de incentivo com exclusatildeo de qualquer

harmonizaccedilatildeo das disposiccedilotildees legislativas e regulamentares dos Estados-Membrosrdquo 21

Segundo Pedro Lourtie o artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo quando conjugado

com o princiacutepio da subsidiariedade significa que apenas sejam formuladas recomen-

daccedilotildees ou realizadas acccedilotildees que natildeo impliquem alteraccedilotildees legislativas ou regulamen-

tares dos Estados-Membros Emiacutelia Galvatildeo concretiza melhor o princiacutepio da subsidia-

riedade ao afirmar que os Estados-Membros entendem que soacute faz sentido haver uma

atribuiccedilatildeo ascendente de poderes e competecircncias quando tal for complementar agrave sua

16 O Conselho eacute constituiacutedo pelos Ministros dos Estados-Membros que reunem em vaacuterias formaccedilotildees

como eacute exemplo o Conselho da ldquoEducaccedilatildeordquo 17 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 331 E25 de 31122002 18 Tratado da Uniatildeo Europeia ldquoVersatildeo Compilada do Tratado da Uniatildeo Europeiardquo Compilaccedilatildeo dos

Tratados TOMOI vol I 1999 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuro-paeuinteurlexpttreatiesdattreatiespt Arquivo capturado em 6 de Novembro de 2002

19 Tratado de Amesterdatildeo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuropaeuinteur-lexpttreatiesdatamsterdamhtml Arquivo capturado em 10 de Junho de 2003

20 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

21 Ibidem

43

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acccedilatildeo ou seja do interesse e acccedilotildees comuns aos vaacuterios Estados europeus para

alcanccedilarem objectivos que de outro modo poderiam ficar comprometidos Galvatildeo

defende que o princiacutepio da subsidiariedade eacute destinado a controlar a tentaccedilatildeo de

excessiva regulamentaccedilatildeo por parte das instituiccedilotildees comunitaacuterias 22 Segundo esta

autora o contributo que actualmente se pretende dar agrave reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo e a

Formaccedilatildeo no acircmbito da Uniatildeo Europeia centra-se nas vaacuterias facetas de que se reveste a

dimensatildeo europeia tentando simultaneamente perceber-se as razotildees pelas quais os

Estados-Membros rejeitam a dimensatildeo europeia da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo sob o ponto

de vista poliacutetico uma vez que para Emiacutelia Galvatildeo ldquoos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado

de Amesterdatildeo postulam que a Uniatildeo Europeia pluralista e democraacutetica deve respeitar

a identidade linguiacutestica e cultural dos Estados-Membros e igualmente criar as condiccedilotildees

que lhes permitam cooperar na construccedilatildeo desta nova entidade que se quer uacutenica e

pluralrdquo 23 Agrave luz dos direitos nele consagrados pode afirmar-se que este tratado legiacutetima

a cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas promotoras de ensino em paiacuteses

da Uniatildeo Europeia seja o serviccedilo fornecido por estas sob a forma presencial seja

atraveacutes do ensino agrave distacircncia

ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma

educaccedilatildeo de qualidade incentivando a cooperaccedilatildeo entre Estados-

Membros e se necessaacuterio apoiando e completando a sua acccedilatildeo

respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-

Membros pelo conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema

educativo bem como a sua diversidade cultural e linguiacutesticardquo

[Artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo (ex-artigo 126ordm do Tra-

tado de Maastricht)]

Compete no entanto aos Estados-Membros regular e decidir se e em que for-

mas a iniciativa privada eacute autorizada

De Witte debruccedilou-se mais longamente na anaacutelise dos dois uacuteltimos direitos

consagrados no Tratado de Maastricht o direito de estudar e o direito do reconheci-

mento do diploma Estes satildeo os direitos consagrados aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia 22 Galvatildeo Emiacutelia ldquoA Dimensatildeo Europeia na Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo um dilema europeurdquo NOESIS

nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

44

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

que pela sua natureza trazem maiores problemas de execuccedilatildeo O primeiro o direito a

estudar estaacute intimamente ligado com a natildeo discriminaccedilatildeo dos cidadatildeos europeus uma

vez que qualquer cidadatildeo estrangeiro que frequente uma instituiccedilatildeo de ensino superior

deveraacute merecer o mesmo tipo de tratamento que um estudante natural desse paiacutes

O direito a estudar encerra duas realidades distintas a dos estudantes filhos de

emigrantes residentes e a dos estudantes cuja mobilidade teve como uacutenico objectivo

estudar numa instituiccedilatildeo de um paiacutes que natildeo o seu No primeiro caso poucas duacutevidas se

colocam uma vez que os movimentos dos trabalhadores conquistaram o direito a

estudar para os filhos dos emigrantes residentes Em 1968 o Conselho de Ministros

reconheceu o direito de mobilidade aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia aliado ao direito a

todos os benefiacutecios sociais Igualmente foram reconhecidos aos cidadatildeos dos Estados-

Membros os direitos agrave mobilidade mdash os EC Students mdash e ao acesso ao sistema

educativo dos paiacuteses membros sempre que estejam cumpridos os requisitos de acesso

impostos pelo paiacutes hospedeiro

De Witte considera que o Tratado de Maastricht teve consequecircncias indirectas

no sistema de ensino superior dos paiacuteses membros uma vez que as consequecircncias

directas particularmente nos curricula dos cursos natildeo satildeo verificaacuteveis As conse-

quecircncias indirectas apontadas por Bruno de Witte da abertura do mercado do ensino

europeu traduzem-se em suma na promoccedilatildeo da qualidade do sistema educativo por

parte das instituiccedilotildees de ensino e consequentemente no melhoramento das oportunida-

des de emprego dos seus cidadatildeos no mercado europeu Actualmente a tendecircncia

europeia vai no sentido de possibilitar uma equivalecircncia directa dos curricula (Teichler

p 191) 24 Bruno de Witte revela-se mais ceacuteptico do que Teichler quanto a este processo

de equivalecircncias uma vez que segundo este se o reconhecimento acadeacutemico por si soacute eacute

uma situaccedilatildeo problemaacutetica mesmo tratando-se de um soacute paiacutes (como por exemplo o

Reino Unido) muito mais seraacute ao niacutevel internacional (De Witte 1993) 25

A problemaacutetica das equivalecircncias do ensino superior mereceu ao longo das

uacuteltimas deacutecadas pouca atenccedilatildeo por parte dos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas

europeias o reforccedilo dos direitos adquiridos pelos cidadatildeos Europeus viria a verificar-se

com a assinatura da Convention on the Recognition of Qualifications concerning Higher 23 Ibidem 24 De Witte ibidem

45

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Education in the European Region realizada em 1997 na Cidade de Lisboa sob a

responsabilidade do Conselho da Europa e dos paiacuteses membros da UNESCO

pertencentes agrave regiatildeo europeia onde estiveram tambeacutem representados outros paiacuteses

convidados A ideia da realizaccedilatildeo desta convenccedilatildeo partiu do Secretaacuterio-geral do

Conselho da Europa e surgiu como uma proposta de reflexatildeo conjunta sobre a evoluccedilatildeo

do ensino superior na Europa a partir de 1960 bem como uma reflexatildeo sobre o raacutepido

aumento de participantes europeus no Conselho Europeu para a Educaccedilatildeo e Cultura

A UNESCO apoiaria esta iniciativa na convicccedilatildeo de que esta beneficiaria todos os

Estados-Membros evitando a tatildeo temida ideia de uma ldquoEuropa a duas velocidadesrdquo

ajudando ainda na ligaccedilatildeo das regiotildees europeias a outras regiotildees do mundo De frisar

que na conferecircncia sobre ldquoqualifications concerning higher educationrdquo procurou ter-se

em conta as qualificaccedilotildees obtidas tanto a partir da frequecircncia do ensino superior como

as qualificaccedilotildees que permitem o acesso ao ensino superior O conceito de ldquoEuropean

Regionrdquo tenta realccedilar que ldquowhile Europe constitutes the main area of the Conventionacutes

application certain States which do not geographically belong to the European

continent (but which belong to the UNESCO Europe Region andor are party to the

UNESCO Convention on the Recognition of Studies diplomas and Degrees concerning

Higher Education in the States belonging to the Europe Region) were invited to the

Diplomatic Conference entrusted with the adoption of this convention and are thus

among the potential Partiesrdquo 26

A preceder a realizaccedilatildeo da ldquoConvenccedilatildeo de Reconhecimento de Lisboardquo nome

pela qual informalmente eacute conhecida esteve em 1993 a realizaccedilatildeo de um ldquoJoint

Feasibility Studyrdquo cuja importacircncia foi desde sempre reconhecida e aprovada nos

vaacuterios conselhos e reuniotildees que antecederam a Convenccedilatildeo de Lisboa como satildeo

exemplos o Conselho Cultural e de Cooperaccedilatildeo o Conselho Executivo da UNESCO o

Comiteacute de Ministros do Conselho da Europa ou o Comiteacute da Educaccedilatildeo do Ensino

Superior etc A Convenccedilatildeo de Lisboa eacute conhecida como a convenccedilatildeo do reconheci-

mento das qualificaccedilotildees sobre o ensino superior uma vez que este encontro tratou

25 De Witte ibidem 26 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) dispo-niacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo cap-turado em 7 de Abril de 2003

46

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

basicamente do reconhecimento das qualificaccedilotildees no que respeita ao ensino superior na

Regiatildeo Europeia O texto da Convenccedilatildeo que mais tarde viria a ser ratificado pela

maioria dos paiacuteses europeus eacute entendido como um instrumento que veio fornecer um

quadro de referecircncias normativa e metodoloacutegica que permite de forma geral lidar com

o reconhecimento de qualificaccedilotildees concedidas no acircmbito de acordos de colaboraccedilatildeo

transnacionais particularmente no que respeita agrave mobilidade de estudantes uma vez que

a Convenccedilatildeo se aplica apenas a qualificaccedilotildees obtidas no sistema de ensino de um paiacutes

reconhecido por um dos Estados seus signataacuterios

Da leitura do texto da Convenccedilatildeo de Lisboa percebe-se rapidamente que um dos

aspectos mais relevantes e consequentes deste acordo eacute o facto do reconhecimento das

qualificaccedilotildees apenas poder ser recusado por um paiacutes hospedeiro quando estas forem

substancialmente diferentes das praticadas no seu proacuteprio sistema de ensino recaindo

sobre si o oacutenus de fazer prova disso atraveacutes das suas instituiccedilotildees educativas 27

Da anaacutelise dos artigos do texto da Convenccedilatildeo torna-se evidente a preocupaccedilatildeo

dos membros signataacuterios com questotildees relacionadas com a igualdade de oportunidades

entre cidadatildeos europeus percebendo-se esta preocupaccedilatildeo pela inclusatildeo no texto da

Convenccedilatildeo de normas tatildeo lineares como sejam a existecircncia de mecanismos adequados

para a atribuiccedilatildeo de equivalecircncias das qualificaccedilotildees obtidas em paiacuteses estrangeiros ou

pelo zelo e preocupaccedilatildeo em natildeo discriminar cidadatildeos de paiacuteses estrangeiros seja por

questotildees de raccedila cor liacutengua ou religiatildeo

Aleacutem do mais este acordo pretende assegurar a competecircncia dos paiacuteses

signataacuterios no reconhecimento das qualificaccedilotildees para efeitos de prosseguimento de

estudos de um cidadatildeo num paiacutes estrangeiro ou mesmo a competecircncia destes no reco-

nhecimento e uso de um tiacutetulo acadeacutemico para efeitos de exerciacutecio de uma profissatildeo

estando deste modo o proponente sujeito agraves leis e regulamentos do paiacutes onde solicita a

equivalecircncia ou o reconhecimento do seu tiacutetulo acadeacutemico

Eacute igualmente importante a influecircncia exercida pela Convenccedilatildeo de Lisboa no que

concerne agrave facilitaccedilatildeo do acesso ao mercado de trabalho de cidadatildeos estrangeiros uma

vez que defende entre outros aspectos que todos os paiacuteses signataacuterios deveratildeo adoptar

27 Council of Europe Convention On The Recognition Of Qualifications Concerning Higher Education In

The European Region European Treaty Series Nordm 165 Lisbon 11IV1997 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpconventionscoeintTreatyenSummariesHtml165htm Arquivo captu-rado em 5 de Abril de 2003

47

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

procedimentos de afericcedilatildeo sobre as competecircncias e capacidades de cidadatildeos estran-

geiros (refugiados ou emigrantes) para acederem ao ensino superior ou ao mercado de

trabalho mesmo na ausecircncia de documentaccedilatildeo Para aleacutem da demais informaccedilatildeo

fornecida sobre os sistemas de ensino superior todos os paiacuteses deveratildeo providenciar

centros de informaccedilatildeo no sentido de fornecer serviccedilos de apoio e aconselhamento para

o reconhecimento de tiacutetulos graus qualificaccedilotildees etc a cidadatildeos estrangeiros Cada

paiacutes deveraacute encorajar as suas instituiccedilotildees de ensino superior formais a adoptar o ldquoSuple-

mento de Diplomardquo como instrumento facilitador o processo de reconhecimento dos

estudantes O ldquoSuplemento de Diplomardquo eacute um instrumento desenvolvido no sentido de

auxiliar a determinaccedilatildeo das qualificaccedilotildees de forma perceptiacutevel adequando-as aos

sistemas de ensino superior 28

A implementaccedilatildeo e supervisatildeo das normas criadas por esta convenccedilatildeo ficou a

cargo de duas instituiccedilotildees criadas para o efeito (o ENIC jaacute existe haacute cerca de uma

vintena de anos) nomeadamente o ldquoComiteacute da Convenccedilatildeo para o Reconhecimento das

Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeiardquo e a ldquoRede Europeia dos Centros

de Informaccedilatildeo Nacionais de Reconhecimento e Mobilidade Acadeacutemicardquo (Rede ENIC)

que para tal adoptaram aquando da reuniatildeo de Riga em Junho de 2001 o ldquoCode of

Good Practice mdash in the provision of transnational educationrdquo como instrumento de

auxilio na procura de um entendimento comum que ajude a encontrar soluccedilotildees para a

resoluccedilatildeo de problemas praacuteticos da Regiatildeo Europeia dos Estados desta regiatildeo e de

outras regiotildees do mundo e ateacute dentro de um espaccedilo ainda mais global do ensino

superior 29 A este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente a propoacutesito do ensino transnacional

A Convenccedilatildeo de Lisboa para aleacutem de tentar minimizar as muitas dificuldades inerentes

agrave nova realidade europeia nomeadamente no que concerne agrave grande diversidade dos

sistemas educativos para natildeo falar da diversidade cultural social poliacutetica econoacutemica e

religiosa tem a virtude de reconhecer que os estudos os certificados os diplomas e os

28 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

29 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

graus obtidos noutro paiacutes da Europa representam um importante instrumento de medida

e afericcedilatildeo da mobilidade acadeacutemica entre os paiacuteses envolvidos 30

Em jeito de conclusatildeo pode dizer-se que este documento tem a pretensatildeo de

repor as disposiccedilotildees das seis convenccedilotildees anteriormente assinadas por estes oacutergatildeos mas

principalmente foi criado como instrumento regulador e legalizador do trabalho desen-

volvido a niacutevel europeu Pretende-se que este seja um mecanismo facilitador que sirva

de garante a que as qualificaccedilotildees obtidas num paiacutes aderente sejam reconhecidas noutro

para tal haacute que criar e manter mecanismos de avaliaccedilatildeo justos que operem no mais

curto espaccedilo de tempo

Enquadrado neste contexto assistiu-se nas uacuteltimas duas deacutecadas a um esforccedilo

por parte da Uniatildeo Europeia no desenvolvimento de poliacuteticas educativas de promoccedilatildeo

de programas de apoio ao ensino superior nomeadamente de apoio agrave investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica sendo muitos deles dedicados agrave mobilidade Alguns destes programas

tiveram uma enorme visibilidade e um elevado grau de popularidade e sucesso junto da

comunidade estudantil europeia como eacute o caso do Erasmus (1987) Petra (1987) Helios

(1988) Liacutengua (1989) TEMPUS COMMET etc a provaacute-lo estaacute o sucesso do progra-

ma SoacutecratesErasmus cuja origem e desenvolvimento foram jaacute aqui abordados Estes

programas abriram precedentes no que respeita ao reconhecimento dos curricula dos

cursos nos paiacuteses da Comunidade Europeia mas tambeacutem foram uma forma de diminuir

a rigidez que outrora caracterizava os sistemas de ensino superiores europeus Assiste-se

hoje a uma tendecircncia crescente dos paiacuteses europeus principalmente os de menor

dimensatildeo para oferecerem cada vez mais cursos em liacutenguas estrangeiras de modo a

atraiacuterem alunos e parcerias estrangeiras

Eacute comummente aceite que as poliacuteticas educativas europeias satildeo discutidas na

Europa Comunitaacuteria agrave margem dos problemas do mercado comum mas tambeacutem eacute

verdade que se comeccedila a inverter esta tendecircncia com a abordagem cada vez mais

insistente destes assuntos ainda que agrave margem das reuniotildees da Uniatildeo Europeia nos

Conselhos de Ministros Europeus Apesar de ser um facto incontornaacutevel que as mudan-

ccedilas no Ensino Superior se tecircm operado a longo prazo e que as reuniotildees de Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo natildeo tecircm ainda caraacutecter vinculativo a verdade eacute que atraveacutes delas

comeccedilam a ser tomadas decisotildees relevantes e assumem-se hoje compromissos poliacuteticos 30 Ibidem

49

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sem precedentes com vista agrave maior abertura da liberdade de movimentos e promoccedilatildeo de

flexibilizaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior europeus

No ano 2000 coube a Portugal a Presidecircncia do Conselho Europeu e a propoacutesito

da realizaccedilatildeo de um Conselho Europeu Extraordinaacuterio Portugal elaborou um

documento orientador das linhas de acccedilatildeo denominado ldquoEmprego Reformas Econoacute-

micas e Coesatildeo Social mdash para uma Europa da Inovaccedilatildeo e do Conhecimentordquo Este

documento viria a servir de suporte ao Conselho Europeu Extraordinaacuterio realizado em

Lisboa que teve como principais pontos de trabalho a aacuterea da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo

ldquoPela primeira vez teve a educaccedilatildeo tal presenccedila numa reuniatildeo a este niacutevelrdquo 31 As

conclusotildees do referido Conselho Europeu vieram confirmar os aspectos focados no

documento de trabalho elaborado pelo Conselho de Ministros de Educaccedilatildeo Europeu e

das conclusotildees resultantes do Conselho Europeu de Lisboa realizado em 23 e 24 de

Marccedilo de 2000 sobressaem dois aspectos que traduzem um passo importante para as

poliacuteticas de ensino superior europeias a conclusatildeo nuacutemero 27 refere que ldquoo Conselho

Europeu solicita ao Conselho (Educaccedilatildeo) que proceda a uma reflexatildeo geral sobre os

objectivos futuros concretos dos sistemas educativos que incida nas preocupaccedilotildees e

prioridades e simultaneamente respeite a diversidade nacionalhelliprdquo Para Pedro Lourtie

entatildeo Presidente do Comiteacute de Educaccedilatildeo da Uniatildeo Europeia esta conclusatildeo representa

uma oportunidade para que o sector da educaccedilatildeo passe a ter uma maior participaccedilatildeo na

construccedilatildeo europeia 32 A segunda conclusatildeo a destacar respeita agrave contribuiccedilatildeo do

Conselho de Educaccedilatildeo para o Processo do Luxemburgo 33 Para Lourtie esta recomen-

daccedilatildeo eacute um reconhecimento da importacircncia da educaccedilatildeo (e da formaccedilatildeo) para as poliacuteti-

cas de emprego na Europeias 34 Face aos aspectos apresentados eacute indiscutiacutevel que o

sistema educativo comeccedila jaacute a entrar num niacutevel de discussatildeo europeu

31 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo

Educacional 2000 32 Ibidem 33 O ldquoProcesso do Luxemburgordquo respeita agraves poliacuteticas de emprego 34 Ibidem

50

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia

Podemos considerar que o sistema de ensino superior portuguecircs passou por dois

momentos distintos separados entre si por uma revoluccedilatildeo No entanto mesmo apoacutes o

periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio de 1974 as transformaccedilotildees operadas no ensino superior

portuguecircs continuaram num processo ritmado de evoluccedilatildeo e mudanccedila devido agraves

poliacuteticas estabelecidas que em parte se devem agrave preparaccedilatildeo da entrada de Portugal na

Uniatildeo Europeia

Antes da revoluccedilatildeo de 25 de Abril de 1974 a populaccedilatildeo portuguesa caracte-

rizava-se por apresentar elevadas taxas de iliteracia e analfabetismo inversamente

proporcionais agraves taxas de frequecircncia do ensino superior O periacuteodo poacutes revoluccedilatildeo daacute

lugar ao iniacutecio de um processo evolutivo que procurou melhorar os niacuteveis de formaccedilatildeo

da sociedade portuguesa e que viria a gerar grandes transformaccedilotildees sociais que

arrastaram consigo o sistema educativo nomeadamente o subsistema de ensino

superior A antecacircmara das transformaccedilotildees operadas em Portugal no periacuteodo poacutes

revolucionaacuterio teve iniacutecio na reforma de Veiga Simatildeo no decurso do ano de 1973 esta

reforma inspirada na ldquoteoria do capital humanordquo viria a implementar uma seacuterie de

mudanccedilas de entre as quais se conta a criaccedilatildeo de um sistema de ensino superior binaacuterio

A este ministro eacute atribuiacutedo o impulso na expansatildeo geograacutefica (espelhados no apoio que

prestou agrave criaccedilatildeo de universidades em cidades mais perifeacutericas do paiacutes) e a diversifi-

caccedilatildeo do sistema de ensino superior

No poacutes 25 de Abril o sector da educaccedilatildeo foi tido como uma das prioridades dos

Governos provisoacuterios que se seguiram O periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio que vai do ano de

1974 a 1976 caracteriza-se por uma eacutepoca em que as poliacuteticas educativas em total

oposiccedilatildeo ao regime ditatorial anterior defendiam a abertura do ensino superior a todos

os cidadatildeos que se propunham frequentar este sistema de ensino para aleacutem de

estabelecer novos objectivos de diversificaccedilatildeo e evoluccedilatildeo do ensino superior em

Portugal Os anos entre 1976 e 1986 satildeo segundo Amaral e Magalhatildees anos de

normalizaccedilatildeo do sistema de ensino nomeadamente para o subsistema de ensino

superior que a par com a investigaccedilatildeo cientiacutefica satildeo considerados instrumentos essen-

ciais para a estabilizaccedilatildeo poliacutetica e o crescimento econoacutemico (Amaral e Magalhatildees

2000) As necessidades do paiacutes nomeadamente ao niacutevel do ensino intermeacutedio levam ao

51

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

aparecimento no ano de 1979 do subsistema de ensino politeacutecnico como meio para

colmatar as necessidades de formaccedilatildeo de quadros teacutecnicos intermeacutedios formados em

ciclos de curta duraccedilatildeo

O periacuteodo revolucionaacuterio teria como consequecircncia a ascensatildeo dos sistemas de

ensino de formaccedilatildeo meacutedia a formaccedilatildeo de niacutevel superior Este facto viria a provocar um

desequiliacutebrio entre o nuacutemero de graduados e as necessidades do mercado Tendo toma-

do consciecircncia deste fenoacutemeno o Governo reconhece em 1977 a necessidade de criar

um subsistema de ensino superior meacutedio o que acontece com a promulgaccedilatildeo do

Decreto-Lei 427-B77 estabelecendo assim em Portugal um ciclo de formaccedilatildeo mais

curto de natureza vocacional Em consequecircncia de um Decreto-Lei posterior (Decreto-

-Lei 513-T79) este subsistema de ensino viria a tornar-se no subsistema de ensino

superior politeacutecnico (Amaral e Magalhatildees 2000)

Mais tarde o segundo Governo Constitucional introduziu em Portugal o conceito

de numerus clausus o que atraveacutes das poliacuteticas de acesso viria a servir como

mecanismo regulador do sistema Com a Lei nordm 6178 foram eliminados os graus

intermeacutedios que caracterizavam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior Politeacutecnicas ao

considerar-se que os seus graduados passariam a ter um niacutevel de graduaccedilatildeo superior

Por outro lado agrave sua competecircncia para dar formaccedilatildeo na aacuterea vocacional juntou-se o

reconhecimento para desenvolver trabalho de investigaccedilatildeo cientiacutefica

No entanto para Amaral e Magalhatildees (2000) apesar de haver cada vez mais

aproximaccedilatildeo entre o sistema de ensino universitaacuterio e o politeacutecnico natildeo deixa de ser

importante para o florescimento da economia portuguesa o papel desempenhado por

ambos os subsistemas A auscultaccedilatildeo da sociedade foi reveladora das necessidades do

paiacutes em termos de necessidades de teacutecnicos intermeacutedios revelaccedilotildees essas reforccediladas

pelas recomendaccedilotildees proferidas no relatoacuterio do Banco Mundial de 1977 e que vatildeo

precisamente no sentido de incentivar a formaccedilatildeo de quadros intermeacutedios que sirvam as

necessidades da economia do paiacutes

A adesatildeo de Portugal agrave Uniatildeo Europeia no ano de 1986 trouxe consigo mudan-

ccedilas a vaacuterios niacuteveis colocando o sistema educativo portuguecircs em rota de convergecircncia

com os sistemas educativos de outros paiacuteses europeus em termos qualitativos e quan-

titativos De entre os aspectos mais relevantes deste redireccionamento das poliacuteticas

educativas destacam-se o fenoacutemeno da massificaccedilatildeo do acesso ao ensino superior e a

52

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sua diversificaccedilatildeo estas traduzem-se na introduccedilatildeo de um sistema binaacuterio por um lado

e do alargamento do sistema de ensino superior ao ensino privado por outro Quanto ao

ensino superior puacuteblico viu aumentada a sua autonomia e a regulaccedilatildeo do acesso a este

atraveacutes da introduccedilatildeo de poliacuteticas de acesso Amaral e Magalhatildees (ibidem) entendem o

periacuteodo que medeia entre 1986 e 1989 como um periacuteodo de consolidaccedilatildeo da dualidade

do sistema de ensino superior que passou a ser constituiacutedo por instituiccedilotildees puacuteblicas e

privadas este processo contou com o apoio do entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Roberto

Carneiro Nesta altura regista-se um aumento exponencial da iniciativa privada quando

comparado com o ensino superior puacuteblico apresentando-se o primeiro como uma alter-

nativa ao ensino puacuteblico Entre os anos de 1987 e 1991 o nuacutemero de alunos a frequentar

o ensino superior puacuteblico aumentou 40 ao passo que no mesmo periacuteodo no ensino

superior privado registou-se um aumento exponencial de 250 (Amaral e Carvalho

2003) As causas que justificam esta explosatildeo de alunos no ensino privado satildeo atribuiacute-

das natildeo soacute a factores de ordem poliacutetica como a factores de ordem social e econoacutemica

Nesta altura satildeo crescentes as preocupaccedilotildees com a qualidade do ensino superior

oferecido pelas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas preocupaccedilotildees essas que mais tarde viratildeo

a ter um papel determinante e a liderar a lista de preocupaccedilotildees no que respeita agraves

problemaacuteticas deste sector Eacute ainda durante a deacutecada de 80 que se assiste agrave consolidaccedilatildeo

da autonomia universitaacuteria atraveacutes da promulgaccedilatildeo de Lei nordm 10888 de 24 de

Setembro segundo a qual as universidades puacuteblicas passam a ter liberdade para

estabelecer os seus estatutos gozando de autonomia cientiacutefica pedagoacutegica

administrativa e financeira tendo para aleacutem do mais poder para intervir em questotildees

de disciplina acadeacutemica (Amaral e Magalhatildees 2000)

No actual contexto soacutecio-econoacutemico eacute possiacutevel identificar alguns dos principais

constrangimentos do actual sistema de ensino superior portuguecircs que se resumem nos

seguintes aspectos

Desvalorizaccedilatildeo social da formaccedilatildeo profissional e teacutecnica especializada

natildeo conferente de grau mas com fortes ligaccedilotildees ao mercado empresarial

Ausecircncia de um planeamento estrateacutegico das actividades de formaccedilatildeo

poacutes-graduada natildeo sendo dada a atenccedilatildeo necessaacuteria a aacutereas estrateacutegicas

fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes

53

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Deficiente ligaccedilatildeo entre a componente de investigaccedilatildeo e de leccionaccedilatildeo

nas instituiccedilotildees de ensino superior

Deficiente ligaccedilatildeo entre o sistema de ensino superior portuguecircs e as

actividades de produccedilatildeo particularmente em aacutereas convencionalmente

consideradas relevantes para o desenvolvimento de um paiacutes

Dificuldades na revitalizaccedilatildeo do ensino superior nomeadamente no que

respeita agrave gestatildeo estrateacutegica das instituiccedilotildees que apresentam uma

estrutura ao niacutevel dos recursos humanos pouco eficiente e mal preparada

para os desafios da modernidade

Maacute preparaccedilatildeo dos alunos ao niacutevel do ensino secundaacuterio particularmente

em aacutereas de formaccedilatildeo de base determinantes para o sucesso escolar

Insuficiecircncia de equipamentos e infra-estruturas de apoio ao ensino e agrave

investigaccedilatildeo

Problemas ao niacutevel operativo da maacutequina administrativa das instituiccedilotildees

de ensino superior

Fraco investimento em mecanismos que apostem numa maior internacio-

nalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees como forma de alcanccedilar meios alternativos de

financiamento

Fraco investimento na atracccedilatildeo de novos puacuteblicos face ao actual decreacutes-

cimo do nuacutemero de alunos agravado pela actual formula de financia-

mento das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

As dificuldades acima identificadas procuram caracterizar o actual subsistema de

ensino superior portuguecircs satildeo coincidentes com alguns dos aspectos reconhecidos por

Marccedilal Grilo 35 como pontos fracos deste subsistema Este autor reconhece no entanto

alguns desenvolvimentos recentes que levaram a resultados positivos cujos principais

aspectos a seguir se identificam

Criaccedilatildeo de novos cursos de licenciatura com curricula e conteuacutedos

adaptados agrave realidade portuguesa nomeadamente em aacutereas importantes

35 Marccedilal Grilo Eduardo ldquoThe transformation of Higher Education in Portugalrdquo in Claudius Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

54

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o desenvolvimento da economia do paiacutes tal como a agricultura a

produccedilatildeo alimentar ou tecnoloacutegica

Desenvolvimento de um novo sistema de estruturaccedilatildeo dos cursos com a

adopccedilatildeo de unidades de creacutedito As unidades de creacutedito tecircm a particula-

ridade de proporcionar aos alunos a possibilidade de privilegiarem

dentro do curriacuteculo do curso determinadas aacutereas de formaccedilatildeo Em Portu-

gal apenas as universidades puacuteblicas podem recorrer ao sistema de creacutedi-

tos e ainda assim este natildeo eacute ainda muito utilizado Agraves universidades

privadas e institutos politeacutecnicos eacute vedada esta possibilidade por parte

dos oacutergatildeos de tutela

Realizaccedilatildeo de esforccedilos no sentido de modernizar o sistema de gestatildeo das

instituiccedilotildees de ensino que passa natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas ins-

tituiccedilotildees como tambeacutem pela aposta na dinamizaccedilatildeo das estruturas

existentes nomeadamente na aposta em formaccedilatildeo dos recursos humanos

inclusive o corpo docente

Investimento em projectos de investigaccedilatildeo nas aacutereas ligadas ao sector

produtivo nacional (muitas instituiccedilotildees de ensino procuram hoje criar

cursos e promover projectos de investigaccedilatildeo ligados ao sector produtivo

da regiatildeo onde estatildeo inseridas)

Criaccedilatildeo de novos institutos de pesquisa com ligaccedilatildeo agraves universidades e

ao sector produtivo

Criaccedilatildeo de um novo estatuto de autonomia para as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico nomeadamente universidades e institutos politeacutecnicos o

que vem tornar simultaneamente estas instituiccedilotildees mais independentes

mas tambeacutem mais responsaacuteveis por elas proacuteprias

O sucesso do sistema de ensino superior portuguecircs no futuro passaraacute pela

concretizaccedilatildeo senatildeo de todos pelo menos de alguns dos aspectos anteriormente

identificados sob pena de perder a sua capacidade competitiva face a uma Europa

Globalizada Impotildee-se a curto prazo a criaccedilatildeo de mecanismos que permitam agraves

instituiccedilotildees de ensino ir cada vez mais ao encontro das necessidades do tecido empre-

55

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sarial portuguecircs apostando na formaccedilatildeo de quadros cuja preparaccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica

responda agraves necessidades empresariais nesse domiacutenio Tambeacutem no que respeita agrave inves-

tigaccedilatildeo cientiacutefica comeccedila a verificar-se algumas tentativas bem sucedidas de aproxi-

maccedilatildeo das universidades ao sector industrial e empresarial portuguecircs A procura de

novos puacuteblicos impotildee-se igualmente como estrateacutegia de sobrevivecircncia atraveacutes da

criaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo ao longo da vida direccionados para um mercado natildeo

apenas de licenciados mas de outros actores com formaccedilatildeo meacutedia

O ensino transnacional com objectivos comerciais e lucrativos constitui uma das

aacutereas que num futuro proacuteximo poderaacute vir a assumir alguma importacircncia no sector

educativo portuguecircs Esta nova realidade representa para as instituiccedilotildees portuguesas um

esforccedilo de actualizaccedilatildeo e de manutenccedilatildeo de padrotildees de qualidade acrescido quer

enquanto promotoras deste tipo de sistema de ensino quer enquanto competidoras no

mercado nacional Estes novos desafios encerram inevitavelmente aspectos positivos e

negativos para o contexto nacional do subsistema do ensino superior como a seguir se

veraacute

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha

O processo de Bolonha resulta de um propoacutesito da Europa Unificada em criar

um Espaccedilo Europeu do Ensino Superior espaccedilo que se pretende coeso atractivo mas

igualmente competitivo para os actores intervenientes

Este processo teve iniacutecio em Maio de 1998 por ocasiatildeo de um encontro entre os

Ministros da Educaccedilatildeo Alematildeo Francecircs Italiano e do Reino Unido o qual originou a

assinatura da Declaraccedilatildeo de Sorbonne Esta declaraccedilatildeo preconizaria pela primeira vez

a construccedilatildeo de um Espaccedilo Europeu de Ensino Superior

Em Junho de 1999 os Ministros da Educaccedilatildeo de 29 Estados Europeus entre os

quais Portugal reuniram-se em Itaacutelia de onde resultaria a assinatura da Declaraccedilatildeo de

Bolonha que estabelece em definitivo os objectivos acima identificados abrangendo

56

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

desta feita docentes discentes e funcionaacuterios dos paiacuteses da Europa e Paiacuteses Terceiros

No ano de 2004 satildeo jaacute 33 os paiacuteses subscritores da Declaraccedilatildeo de Bolonha (ateacute agrave Confe-

recircncia de Berlim na qual vaacuterios outros aderiram) Da manifestaccedilatildeo deste desiacutegnio

emanou por parte dos seus signataacuterios a identificaccedilatildeo de 6 linhas de acccedilatildeo prioritaacuterias

algumas delas largamente abordadas na presente dissertaccedilatildeo As linhas de actuaccedilatildeo

definidas pautam-se pelos seguintes princiacutepios

bull A adopccedilatildeo de um sistema de graus comparaacutevel e legiacutevel entre os paiacuteses

membros

bull A implementaccedilatildeo de um sistema de ensino superior baseado fundamen-

talmente em 2 ciclos de formaccedilatildeo

bull O estabelecimento de um sistema de creacuteditos mdash ECTS

bull A promoccedilatildeo da mobilidade entre os actores do ensino superior [e natildeo soacute haacute

que ter em conta a mobilidade em geral (empregabilidade)]

bull A promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo europeia no domiacutenio da avaliaccedilatildeo da qualidade

bull A promoccedilatildeo de uma dimensatildeo europeia no domiacutenio do ensino superior

Os Ministros responsaacuteveis pela aacuterea do Ensino Superior desta feita de 33 paiacuteses

europeus reafirmariam as intenccedilotildees manifestadas em Praga e Bolonha atraveacutes da

assinatura do Comunicado de Berlim em Setembro de 2003 Este comunicado viria

para aleacutem do mais a considerar a necessidade de promover sinergias entre o Espaccedilo

Europeu do Ensino Superior e um Espaccedilo Europeu de Investigaccedilatildeo considerando-se

serem estes os dois pilares fundamentais da consolidaccedilatildeo da Sociedade do Conhe-

cimento (MCES 2004) A Comissatildeo Europeia tem a este respeito ideias bastante

concretas que resultam da reflexatildeo sobre a forma como as universidades poderatildeo vir a

desempenhar um papel fundamental e de extrema importacircncia na sociedade e na

economia do conhecimento na Europa (Comissatildeo das Comunidades Europeias 2003)

A verdade eacute que o desenvolvimento da sociedade do conhecimento depende da

produccedilatildeo de novos conhecimentos da sua eficaz transmissatildeo e divulgaccedilatildeo Uma eficaz

transmissatildeo de conhecimentos soacute eacute possiacutevel atraveacutes de processos educativos e

formativos do desenvolvimento da investigaccedilatildeo do crescimento regional e local sendo

este um papel tradicionalmente desempenhado pelas universidades Daiacute ser fundamental

57

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o sucesso dos objectivos traccedilados pelos paiacuteses signataacuterios a existecircncia ldquode uma

comunidade universitaacuteria soacutelida e proacutespera A Europa precisa de excelecircncia nas suas

universidades uma vez que soacute assim poderaacute optimizar os processos que estatildeo na base

da sociedade do conhecimento e concretizar o objectivo fixado no Conselho Europeu de

Lisboa tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinacircmica e competitiva

do mundo capaz de garantir um crescimento econoacutemico sustentaacutevel com mais e

melhores empregos e com maior coesatildeo socialrdquo (ibidem) O relevante papel que eacute dado

desempenhar agraves universidades europeias em todo este processo eacute bastante marcante

revelando-se para aleacutem do mais um importante desafio Esta eacute uma excelente fonte de

oportunidades trazendo no entanto e por outro lado dificuldades acrescidas devido agrave

forte concorrecircncia a que estatildeo sujeitas competindo-lhes de igual modo combater e

ultrapassar essas mesmas dificuldades

Perante a heterogeneidade do panorama universitaacuterio europeu que se reflecte

entre e dentro dos paiacuteses revelando-se aos mais variados niacuteveis quer seja na

organizaccedilatildeo nos modos de gestatildeo no funcionamento ou nos graus as reformas instau-

radas na sequecircncia do Processo de Bolonha representam um esforccedilo no sentido de

organizar essa diversidade tornando o sistema de ensino superior europeu mais coerente

e compatiacutevel

A Confederaccedilatildeo Europeia das Conferecircncias de Reitores em conjunto com a

Associaccedilatildeo Europeia de Universidades entendem Bolonha como ldquoum ponto de viragem

no desenvolvimento do Ensino Superior Europeurdquo (CRUE e CRE 2000) A visatildeo que

estas duas instituiccedilotildees tecircm do processo eacute uma visatildeo positiva uma vez que para estas ele

resulta de um compromisso assumido pelas instituiccedilotildees de forma livre e independente

Aparentemente estas duas instituiccedilotildees representantes dos sistemas de ensino univer-

sitaacuterios europeus entendem o papel de Bolonha como algo positivo que natildeo vem pocircr

em causa a especificidade dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses signataacuterios Esta

deduccedilatildeo decorre da interpretaccedilatildeo das afirmaccedilotildees constantes no documento em referecircn-

cia assinado por ambas as instituiccedilotildees Neste documento eacute mencionado que a

Declaraccedilatildeo de Bolonha ldquoreconhece os valores fundamentais e a diversidade de ensino

superior europeu a) reconhece claramente a independecircncia e a autonomia necessaacuteria

das universidades b) refere-se explicitamente aos princiacutepios fundamentais colocados

na Magna Charta Universitatum assinada (tambeacutem em Bolonha) em 1988 c) acentua a

58

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade de alcanccedilar um espaccedilo comum para o ensino superior dentro de um

enquadramento da diversidade de culturas idiomas e sistemas educacionais (CRUE e

CRE 2000)

Esta posiccedilatildeo oficialmente assumida pelos representantes das instituiccedilotildees de

ensino superior europeias viria a ser corroborada publicamente pelo Conselho de Reito-

res das Universidades Puacuteblicas Portuguesas em 2001 reflectindo desta feita a posiccedilatildeo

das universidades portuguesas sobre este assunto No documento divulgado pelo

CRUP 36 eacute assumida a relevacircncia que tem para o sistema de ensino superior portuguecircs o

processo de criaccedilatildeo de um espaccedilo europeu com vista ao objectivo comum da promoccedilatildeo

de uma maior integraccedilatildeo europeia das instituiccedilotildees universitaacuterias possibilitando

consequentemente a afirmaccedilatildeo do sistema de ensino superior europeu no mundo

Eacute claramente expresso o empenho e o interesse das universidades puacuteblicas numa

participaccedilatildeo activa em todo este processo propondo-se no entanto uma reflexatildeo atenta

sobre alguns aspectos que por se revestirem de especial importacircncia satildeo dignos de uma

maior atenccedilatildeo por parte do subsistema de ensino superior portuguecircs e de entre os quais

se destacam o facto da convergecircncia de graus acadeacutemicos dever revestir-se de especial

cuidado assegurando-se a comparabilidade de graus ao inveacutes de um qualquer processo

de uniformizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo o que seria contraacuterio aos pressupostos expressos

na proacutepria Declaraccedilatildeo de Bolonha Qualquer situaccedilatildeo contraacuteria poria em risco a

identidade dos subsistemas de ensino nacionais defende o CRUP

Outro aspecto que merece reflexatildeo eacute o facto da reforma do sistema de ensino

portuguecircs poder vir a resumir-se a dois ciclos sendo o de graduaccedilatildeo especialmente

vocacionado para a preparaccedilatildeo dos alunos para o mercado de trabalho Estas e as

demais transformaccedilotildees a operar visam em uacuteltima anaacutelise facilitar a mobilidade

acadeacutemica e tornar os diplomas portugueses mais reconheciacuteveis para o exerciacutecio de

profissotildees no mercado europeu (CRUP 2003)

Na planificaccedilatildeo de todas estas reformas estruturais haacute que natildeo esquecer que o

sistema de ensino superior portuguecircs eacute composto por uma panoacuteplia de instituiccedilotildees de

ensino superior universitaacuterias e politeacutecnicas puacuteblicas e privadas revestindo-se como eacute

sabido de grande complexidade e singularidade Sobre isto natildeo satildeo conhecidos estudos 36 CRUP ldquoPosiccedilatildeo do CRUP sobre a Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via

WWWURL httpwwwcruppt Arquivo capturado em 27 de Novembro de 2003

59

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comparativos que permitam posicionar o sistema de ensino superior portuguecircs no

quadro europeu ou internacional Haacute pois que ter em conta que os riscos de uma reforma

profunda implicando uma alteraccedilatildeo suacutebita do sistema de graus satildeo elevados em prol

da manutenccedilatildeo do equiliacutebrio Esta reforma a operar-se deveraacute ser gradual de forma a

permitir uma melhor consciencializaccedilatildeo social

Para Joseacute Ferreira Gomes a reforma do sistema educativo portuguecircs quando a

curto prazo deveraacute ir antes no sentido de combater o insucesso escolar e promover

eficazmente a entrada no mercado de trabalho dos licenciados Esta poliacutetica implica

medidas que levem a uma maior aproximaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino ao tecido

empresarial atraveacutes por exemplo do incentivo agrave criaccedilatildeo de estaacutegios ou mesmo na

implementaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vida (Gomes 2002) Para os

defensores de uma estrateacutegia de reforma mais lenta e gradual a prioridade assenta na

promoccedilatildeo de uma poliacutetica de transparecircncia junto do puacuteblico estudantil empregador e da

sociedade civil em geral conquistando deste modo a sua confianccedila O seu alcance

deveraacute focalizar-se por um lado em tentar aumentar o papel do mercado na definiccedilatildeo

dos niacuteveis de formaccedilatildeo mas tambeacutem por desenvolver um sistema de avaliaccedilatildeo e

acreditaccedilatildeo rigoroso e transparente

Outros autores associam-se agrave ideia de se dever contrariar a tendecircncia e alertar os

poliacuteticos e demais intervenientes para os riscos da aplicaccedilatildeo de uma reforma

inconsequente do sistema em prol da raacutepida aplicabilidade das linhas orientadoras do

processo de Bolonha Autores como Pedro Lourtie 37 alertam para o facto de o sucesso

de Bolonha natildeo ser ainda um dado adquirido havendo ainda muitos obstaacuteculos a

ultrapassar O elevado nuacutemero de actores envolvidos eacute por si soacute um elemento dificul-

tador haacute primeiramente que garantir que as reformas a operar sejam convergentes e

consonantes no tempo diz o autor

Agrave semelhanccedila de Joseacute Gomes tambeacutem Lourtie defende que eacute fundamental para

o sucesso do processo assegurar o envolvimento e a participaccedilatildeo activa de todos os

intervenientes directos no sistema bem como da sociedade civil A sustentabilidade de

Bolonha passa inevitavelmente pela realizaccedilatildeo de estudos de sustentaccedilatildeo das medidas

37 Lourtie Pedro ldquoA Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL

httpwwwutlptorgovernodecbolPLhtm arquivo capturado em 5 de Dezembro de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

a adoptar quer a niacutevel institucional quer a niacutevel das poliacuteticas nacionais e europeias

O forte envolvimento das administraccedilotildees (enquanto oacutergatildeos legisladores e reformadores)

e das instituiccedilotildees de ensino superior satildeo aleacutem do mais elementos fundamentais para o

seu sucesso perfilando-se este processo reformista como um novo desafio para Portugal

e para o resto da Europa

61

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

62

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO II 2 O Ensino Superior Transnacional 21 O ensino transnacional no contexto da Uniatildeo Europeia

O ldquoensino transnacionalrdquo 38 define-se como um sistema de ensino que ultrapassa

os limites das fronteiras dos sistemas de ensino superior nacionais enquadrando-se

regra geral ldquona categoria do ensino superior natildeo oficial no paiacutes hospedeirordquohellip O ensino

transnacional eacute frequentemente associado ao ldquofranschisingrdquo de instituiccedilotildees e programas

mas pode assumir tambeacutem outros modos de transmissatildeordquo 39 No entanto muito mais

haveraacute a dizer sobre este sistema de ensino que ultrapassa as fronteiras do seu proacuteprio

paiacutes

A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo eacute um fenoacutemeno recente jaacute na Ida-

de Meacutedia era tradicional os alunos deslocarem-se de universidade em universidade na

procura dos mestres mais famosos (o que era facilitado pela uniformidade dos estudos

na eacutepoca) do mesmo modo que os mestres se deslocavam para trocar ideias com outros

colegas ou para consultar bibliotecas (pois entatildeo natildeo existiam meios faacuteceis de comuni-

caccedilatildeo) Para aleacutem do mais as universidades sempre defenderam que eram livres e 38 ldquoHigher education activities (study programmes or sets of courses of study or educational services

including those distance education) in which the learners are located in a host country different from the one where the awarding institution is based such programmes may belong to the education of a State different from the host country or may operate outside of any national systemrdquo (Machado dos Santos 2000)

39 Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior 2002

63

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

internacionais em espiacuterito Tambeacutem no periacuteodo das colonizaccedilotildees a universidade foi

exportada de continente para continente primeiro como forma de dominaccedilatildeo colonial e

mais tarde depois da independecircncia como apoio aos povos libertados O que eacute novo eacute

um conceito de internacionalizaccedilatildeo que tende a ser confundido com o processo de

globalizaccedilatildeo e em que a difusatildeo do conhecimento e os ideais seculares satildeo substituiacutedos

por conceitos neo-liberais o que leva a considerar o ensino como um serviccedilo

ldquointernacionalmenterdquo vendaacutevel A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior numa oacuteptica

mercantilista e enquanto ldquobem de consumordquo teve iniacutecio nos anos 80 e ldquocomeccedilou por se

desenvolver e a ser incentivada natildeo tanto como um fim em si mesmo mas como meio

para o desenvolvimento de novas aacutereas do conhecimento e para a promoccedilatildeo da

qualidade atraveacutes dos seus efeitos positivos em aspectos tatildeo variados como o desem-

penho dos docentes o desempenho individual dos estudantes e as carreiras profissionais

consequentes os processos de ensino-aprendizagem o desenvolvimento curricular e os

proacuteprios niacuteveis institucional e sisteacutemico em resultado de uma aprendizagem transcul-

tural de uma comparaccedilatildeo e troca de boas praacuteticas e em alguns casos de um aumento

de massa criacuteticardquo 40 Este movimento viria ainda a contribuir para o fortalecimento da

investigaccedilatildeo cientiacutefica bem como para a introduccedilatildeo de novas linhas de trabalho nesta

aacuterea

Como se referiu anteriormente a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo

apenas ao niacutevel europeu mas num sentido mais lato agrave escala mundial faz com que

tenham sido traccedilados objectivos bastante ambiciosos para o ensino superior dando ori-

gem a acccedilotildees internacionais como satildeo exemplos os programas para a promoccedilatildeo da mo-

bilidade docente e discente anteriormente referidos

No entanto apesar das vantagens inegaacuteveis da internacionalizaccedilatildeo das insti-

tuiccedilotildees de ensino superior o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior alerta

para os riscos que pode trazer um crescimento raacutepido e descontrolado do ensino transna-

cional bem como as tentativas de o incluir no General Agreement On Trade in Services

(GATS) como veremos mais aprofundadamente mais agrave frente

Efectivamente regista-se nos uacuteltimos anos um aumento raacutepido e significativo em

termos quantitativos da oferta deste tipo de ensino apontando-se como principal

impulsionador deste sistema de ensino as facilidades proporcionadas pelas novas 40 Ibidem

64

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo Se o alargamento das oportunidades de

formaccedilatildeo a novos puacuteblicos eacute regra geral de louvar jaacute a propagaccedilatildeo raacutepida e algo

descontrolada do ensino superior transnacional levanta problemas que natildeo estatildeo ainda

controlados e circunscritos Eacute oacutebvio que natildeo satildeo apenas dificuldades que estatildeo associa-

das ao ensino superior transnacional o aumento deste sistema de ensino encerra

igualmente virtudes e aspectos positivos como se veraacute de seguida

Quando se abordam os aspectos negativos associados ao ensino superior transna-

cional eacute inevitaacutevel falar-se de uma das questotildees mais preocupantes relacionadas com

este tipo de oferta de ensino e que tem a ver com o facto de este se encontrar

sistematicamente fora dos mecanismos de controlo regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a que os

sistemas de ensino superior europeus estatildeo hoje sujeitos Para Seacutergio Machado dos

Santos o aumento exponencial do ensino transnacional eacute um assunto prioritaacuterio nas

abordagens ao processo de Bolonha na medida em que a Declaraccedilatildeo de Bolonha tem

como um dos seus objectivos preparar a Europa para o ensino transnacional (new

providers) que se posicionam fora dos sistemas de ensino formais Segundo o autor o

tema central das recentes abordagens ao processo de Bolonha gira agrave volta da

problemaacutetica da mobilidade nomeadamente dos programas educativos dos serviccedilos e

pessoas e da necessidade premente em criar-se mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo do

ensino transnacional (Machado dos Santos 2000) A verdade eacute que com o processo de

Bolonha a Europa prepara-se para fazer convergir esforccedilos e criar uma plataforma de

entendimento que lhe permita fornecer serviccedilos educativos ao resto do mundo

Fruto da Globalizaccedilatildeo a competitividade de mercado ao niacutevel do ensino superior

eacute generalizada a todas os paiacuteses atingindo natildeo soacute a Europa como outros paiacuteses

Kokosalakis 41 num estudo comparativo realizado em vaacuterios paiacuteses europeus concluiu

que na Uniatildeo Europeia o ensino superior natildeo oficial eacute jaacute um problema com alguma

expressatildeo devido ao aparecimento de um mercado florescente de oferta de novos

promotores de ensino superior natildeo oficial O estudo deste autor revelou que paiacuteses

Europeus como a Greacutecia Itaacutelia Espanha Reino Unido Irlanda e Franccedila satildeo aqueles

41 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo documento

apresentado na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

65

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

onde este fenoacutemeno eacute mais visiacutevel mas para Machado dos Santos a tendecircncia de

crescimento deste mercado verifica-se de igual modo em Portugal onde no ano de 1998

se contavam jaacute um total de 113 instituiccedilotildees de ensino superior privadas das quais satildeo

raras aquelas que natildeo apostam no ensino transnacional como meio para cativar novos

puacuteblicos fora do periacutemetro geograacutefico nacional Actualmente esta situaccedilatildeo foi

regulamentada com a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12003 de 6 de Janeiro que proiacutebe no

artigo 16ordm o funcionamento de estabelecimentos de ensino em regime de franquia

circunscrevendo a oferta de ensino superior agrave comunidade atraveacutes de relaccedilotildees de

intercacircmbio cultural cientiacutefico e teacutecnico com instituiccedilotildees congeacuteneres atraveacutes da

celebraccedilatildeo de protocolos ou acordos de cooperaccedilatildeo que apresentam caracteriacutesticas

distintas do ldquofranchisingrdquo Tambeacutem o ensino agrave distacircncia tem vindo a causar

preocupaccedilatildeo no que concerne ao garante de padrotildees miacutenimos de qualidade e regras de

protecccedilatildeo do consumidor face ao fornecimento deste serviccedilo Baseando-se nos

resultados da anaacutelise obtidos por Kokosalakis Machado dos Santos conclui que o Reino

Unido eacute sem margem para duacutevida o maior exportador europeu de educaccedilatildeo no sector

do ensino superior enquanto que os maiores importadores deste serviccedilo satildeo a Greacutecia a

Espanha e a Itaacutelia 42

As principais causas apontadas para justificar o aumento da ldquoglobalizaccedilatildeordquo do

mercado do ensino superior podem atribuir-se natildeo apenas ao aumento da procura por

parte dos estudantes do ensino graduado mas tambeacutem por parte de outros puacuteblicos

sendo no caso destes uacuteltimos um fenoacutemeno resultante da saturaccedilatildeo do mercado de

trabalho de licenciados e do aumento do niacutevel de exigecircncia do mercado empresarial que

cada vez mais procura candidatos especializados em aacutereas inovadoras A educaccedilatildeo ao

longo da vida e a formaccedilatildeo profissional tendem a ajustar-se agraves necessidades do mercado

e dos empregadores Por outro lado e em contrapartida o ensino oficial por nem

sempre se adequar agraves necessidades do mercado de trabalho e por nem sempre serem

suficientes as vagas de formaccedilatildeo que oferece propicia o aparecimento de sistemas de

ensino alternativo fora dos sistemas de ensino oficiais o que os estudiosos desta

mateacuteria denominam de ldquoformaccedilatildeo agrave medidardquo A proliferaccedilatildeo do ensino transnacional eacute

entatildeo impulsionada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo que

vieram permitir a descentralizaccedilatildeo do sistema de ensino e o aparecimento de novos 42 Ibidem

66

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

modelos de ensino e aprendizagem como o e-learning A este propoacutesito Seacutergio

Machado dos Santos atenta na possibilidade de num futuro proacuteximo em paiacuteses com

caracteriacutesticas especiacuteficas e de forma a suprimir a incapacidade da oferta fazer face agrave

procura os promotores de ensino possam vir a revelar-se instituiccedilotildees que noutros paiacuteses

se encontrem inseridas nos sistemas de ensino oficiais o que poderaacute nestes casos

assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade na formaccedilatildeo prestada pelas instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional 43 Apesar das ideias do autor quanto agrave manutenccedilatildeo

dos padrotildees de qualidade pelo facto de tratar-se de instituiccedilotildees de ensino superior que

no seu paiacutes de origem se encontram inseridas nos sistemas de ensino formais a verdade

eacute que no ensino transnacional imperam objectivos de lucro faacutecil e portanto a qualidade

eacute recorrentemente relegada para segundo plano A verdade eacute que as instituiccedilotildees

envolvidas neste tipo de mercantilizaccedilatildeo do ensino satildeo normalmente instituiccedilotildees com

um nome pouco firmado nacional e internacionalmente

No caso portuguecircs e reportando mais directamente agraves actividades de cooperaccedilatildeo

promovidas pelas instituiccedilotildees de ensino superior publicas portuguesas a realidade

assume contornos diferentes assim como diferentes satildeo as motivaccedilotildees das instituiccedilotildees

A grande maioria das universidades e institutos politeacutecnicos portugueses realizam

ensino transnacional normalmente integrado em Programas de Cooperaccedilatildeo nacionais

Neste caso natildeo se trataraacute de actividades de ldquofranchisingrdquo mas antes de actividades de

formaccedilatildeo graduada e de poacutes-graduaccedilatildeo integradas num contexto nacional mais lato e

abrangente que poderatildeo ou natildeo implicar proveitos financeiros para as instituiccedilotildees

mas que normalmente representam generosos proveitos financeiros para os docentes

envolvidos Mas este assunto seraacute convenientemente aprofundado nos capiacutetulos

seguintes

211 Principais problemas do ensino superior transnacional

Dos muitos problemas inerentes ao ensino superior transnacional contam-se

alguns que por serem transversais aos vaacuterios sistemas de ensino satildeo facilmente 43 Ibidem

67

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

identificaacuteveis Agrave medida que este sistema de ensino ganha terreno natildeo apenas nos

paiacuteses da Uniatildeo Europeia mas no resto do mundo agudizam-se as tensotildees geradas agrave sua

volta particularmente resultantes da reacccedilatildeo dos demais sistemas de ensino dos paiacuteses

hospedeiros particularmente os sistemas de ensino formais acentuando-se desta forma

cada vez mais a competiccedilatildeo crescente ao niacutevel do ensino superior Uma das deficiecircncias

recorrentemente apontadas ao ensino transnacional tem a ver com a falta de transpa-

recircncia e a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo que infelizmente o caracterizam

O facto de este tipo de ensino estar recorrentemente agrave margem dos Mecanismos de

regulaccedilatildeo e controlo pode ser um elemento gerador de tensatildeo entre os restantes sistemas

de ensino que coabitam no mesmo paiacutes e que a eles estatildeo sujeitos

O problema da regulaccedilatildeo eacute uma das questotildees que se reveste de maior cuidado

uma vez que estaacute intimamente ligado agraves questotildees legislativas linguiacutesticas e culturais do

ensino transnacional A garantia da manutenccedilatildeo de padrotildees miacutenimos de qualidade eacute um

problema que se tem vindo a acentuar em parte devido ao crescimento acelerado que

tem tido este tipo de ensino nos uacuteltimos anos As preocupaccedilotildees que provoca estatildeo

relacionadas quer com os conteuacutedos programaacuteticos e a sua multiplicidade quer com o

reconhecimento dos graus concedidos Autores como Kokosalakis ou Seacutergio Machado

dos Santos salientam a questatildeo do reconhecimento dos diplomas como uma

preocupaccedilatildeo eminente nas esferas de decisatildeo sendo este indubitavelmente um

ingrediente indispensaacutevel para o sucesso do ensino transnacional mdash ldquocertification plays

an important role in this contextrdquo afirma Machado dos Santos (Machado dos Santos

2000)

Esta questatildeo ganha uma nova dimensatildeo quando analisada na oacuteptica do consu-

midor a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade que caracteriza

pela negativa o Ensino Transnacional impede muitas vezes o reconhecimento do

diploma pelas estruturas legais em vigor no paiacutes onde se instalou o promotor do curso

ou ateacute noutros paiacuteses estrangeiros ficando deste modo o seu detentor inibido de

potencializar o investimento e o consequente logro das suas expectativas As questotildees

que se prendem com o reconhecimento e paridade de tiacutetulos e diplomas que eacute como

quem diz o reconhecimento da certificaccedilatildeo fora do paiacutes onde foi obtida tecircm normal-

mente como principal causa o facto de recorrentemente o ensino transnacional se

68

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

encontrar fora dos sistemas de ensino formais do paiacutes hospedeiro estando por inerecircncia

fora dos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo em vigor

A implementaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo eacute uma das medidas veemente-

mente defendida pelos impulsionadores do ensino transnacional em nome da transpa-

recircncia e da sua subsistecircncia ensino que apesar das fragilidades que ainda apresenta

ajuda muitas vezes a resolver algumas das lacunas de formaccedilatildeo dos paiacuteses onde se

encontra instalado

Um outro aspecto negativo eacute o facto de as instituiccedilotildees promotoras de ensino

transnacional tenderem a privilegiar aacutereas de saber com maior procura de mercado

investindo menos em aacutereas que apesar de serem de maior interesse para o desenvol-

vimento do paiacutes hospedeiro por oposiccedilatildeo satildeo menos procuradas pelos estudantes

contrariando desta forma os interesses estrateacutegicos do paiacutes hospedeiro

Segundo Kokosalakis acresce que os problemas acima identificados satildeo

transversais aos vaacuterios paiacuteses da Uniatildeo Europeia e adquirem contornos de difiacutecil

soluccedilatildeo uma vez relacionados com questotildees do foro legal Haacute apesar de tudo que ter

alguma reserva sobre as fragilidades e problemas conotados com o ensino transnacional

pois para Seacutergio Machado dos Santos a ldquotransnational education in general should not

be identified with fraudulous activities or bogus titles Much of its provision works in

parallel to the formal systems and in some cases it can be of comparable mechanisms or

even higher qualityrdquo 44 No entanto o autor natildeo deixa de reforccedilar a ideia mais saliente

sobre a falta de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo adequados que caracteriza pela

negativa o ensino transnacional Eacute de certo isenta a opiniatildeo do autor ao defender que

nem todo o ensino transnacional eacute necessariamente fraudulento no entanto a verdade eacute

que esta afirmaccedilatildeo apesar de verdadeira natildeo eacute aplicaacutevel no contexto de todos os paiacuteses

senatildeo vejamos nos paiacuteses desenvolvidos que apresentam sistemas de ensino superior

puacuteblicos e inseridos nos sistemas formais nacionais como satildeo exemplo os paiacuteses

europeus o sistema de ensino nacional eacute agrave partida melhor do que qualquer sistema de

ensino paralelo transnacional A premissa de que parte o autor isto eacute de que o ensino

transnacional natildeo tem de ser necessariamente fraudulento e desprovido de qualidade

aplica-se com maior rigor a paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

44 Ibidem

69

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

No contexto dos paiacuteses pobres os sistemas de ensino paralelos aos sistemas formais de

ensino satildeo assumidamente de maior qualidade e rigor cientiacutefico do que os nacionais

ldquoThere are indeed serious implications from the fast and

unchecked growth of transnational education hellip the crucial

problems (raised by non-official higher education) for the whole

above all the legal framework witch legitimises these issues

across the EU The difficulties are augmented by the fact that

transnational education often falls outside the official framework

for higher education and as a consequence stays outside the

formal supervision of academic standardsrdquo (Machado dos Santos 2000)

A anaacutelise do ensino superior transnacional natildeo estaria completa e seria certa-

mente tendenciosa se apenas se assinalassem os seus aspectos negativos Natildeo sendo isso

que se pretende com o presente trabalho deve clarificar-se que o ensino transnacional se

reveste igualmente de aspectos positivos natildeo soacute para o paiacutes promotor mas tambeacutem para

o paiacutes hospedeiro Digamos que o paiacutes emissor de ensino transnacional deteacutem um

oacuteptimo instrumento de divulgaccedilatildeo aleacutem fronteiras do seu ensino possibilitando a

internacionalizaccedilatildeo das suas instituiccedilotildees As actividades de ensino transnacional satildeo

tambeacutem um oacuteptimo aliado dos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto

um importante aliado para a manutenccedilatildeo de boas relaccedilotildees diplomaacuteticas entre paiacuteses

Aliado agraves relaccedilotildees diplomaacuteticas que se estabelecem entre paiacuteses andam invariavelmente

interesses econoacutemicos e culturais Econoacutemicos porque no que respeita ao domiacutenio do

ensino superior eacute uma forma de as instituiccedilotildees encontrarem novos puacuteblicos e formas

alternativas de financiamento interesses culturais porque sentimentos neo-colonialistas

agrave parte eacute uma forma de extensatildeo transnacional de uma cultura acadeacutemica

ldquoO ensino transnacional tambeacutem eacute considerado um meio para

reforccedilar a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior e promover a

cooperaccedilatildeo intercultural (Vlasceanu 1999) podendo trazer

benefiacutecios agraves instituiccedilotildees de um Paiacutes atraveacutes de ligaccedilotildees com

instituiccedilotildees estrangeiras prestigiadasrdquo

(Adam citado por CNAVES 2002)

70

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Nos paiacuteses em que a procura de ensino superior excede largamente a oferta por

parte das instituiccedilotildees de ensino nacionais quer sejam formais ou natildeo o ensino trans-

nacional eacute sem duacutevida um meio que proporciona formaccedilatildeo a um maior nuacutemero de

candidatos que de outra forma natildeo poderiam aspirar a uma formaccedilatildeo superior

Os problemas do ensino transnacional merecem pela sua importacircncia e

complexidade uma reflexatildeo mais aprofundada e criteriosa pois de futuro o sucesso

deste tipo de ensino passa indubitavelmente pela ultrapassagem de alguns dos seus

problemas mais prementes A ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo no ensino transna-

cional afigura-se como uma das questotildees de difiacutecil resoluccedilatildeo e aparece recorrentemente

na primeira linha de preocupaccedilotildees para Seacutergio Machado dos Santos natildeo se vislumbra

faacutecil o trabalho de implementaccedilatildeo destes mecanismos de regulaccedilatildeo formais e legais

neste sistema de ensino uma vez que os mecanismos reguladores diferem de paiacutes para

paiacutes e quaisquer que sejam as medidas de reconhecimento a implementar eacute de extrema

importacircncia que estas estejam em sintonia com o contexto nacional europeu ou interna-

cional dependendo do paiacutes onde se pretendem aplicar Cresce a niacutevel mundial o movi-

mento pro-liberalizaccedilatildeo do comeacutercio de serviccedilos educacionais Eacute neste contexto que

surge o GATS-General Agreement Trade Services

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-nacional

Sobre os mecanismos de regulaccedilatildeo do ensino transnacional o CNAVES

surpreendentemente revela que os paiacuteses com um sistema liberal de ensino como eacute o

caso da Austraacutelia e da Holanda apresentam menos problemas com o ensino transna-

cional do que outros paiacuteses com regras mais apertadas uma vez que sistemas de ensino

mais abertos tendem a absorver o ensino superior natildeo oficial que a curto prazo acaba

por se oficializar tornando-se por isso susceptiacutevel de mecanismos de controlo de quali-

dade Tratar-se-aacute de um processo de regulaccedilatildeo gradual e progressivo

No entanto regra geral natildeo eacute este o caminho que segue o ensino superior

transnacional mantendo-se antes pelo contraacuterio tendencialmente agrave margem do ensino

71

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

oficial do paiacutes onde se encontra implantado Satildeo bem conhecidos os problemas de

transparecircncia que suscita o ensino transnacional e a ausecircncia de mecanismos

reguladores e de controlo que o caracterizam problemas esses com que recorrentemente

se vecirc confrontado o paiacutes onde se encontra instalado Da parte da entidade promotora

uma das duas situaccedilotildees seguintes podem ocorrer na primeira a entidade proponente do

serviccedilo estaacute integrada no sistema oficial de ensino no seu paiacutes de origem e neste caso

ficaraacute sujeita aos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo existentes no seu proacuteprio paiacutes o

que lhe confere agrave partida credibilidade e assegura o cumprimento de padrotildees miacutenimos

de qualidade Neste caso parte-se do princiacutepio que a formaccedilatildeo ministrada seraacute baseada

nos cursos existentes no paiacutes de origem Este eacute o caso que melhor descreve as

actividades de ensino transnacional praticadas pelas instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas que incidem quase exclusivamente sobre os Paiacuteses de Liacutengua

Oficial Portuguesa Como veremos nos casos de estudo analisados nos capiacutetulos

seguintes e que serviram de base de estudo empiacuterico a este trabalho (casos de Cabo

Verde e de Timor Leste) os modelos de ensino transnacional portugueses estatildeo por

norma associados a programas de cooperaccedilatildeo e as instituiccedilotildees envolvidas apesar de

integradas nos sistemas de ensino formais do paiacutes de origem e ateacute mesmo do paiacutes

receptor natildeo estatildeo sujeitas a qualquer mecanismo de regulaccedilatildeo ou de avaliaccedilatildeo da

qualidade do seu ensino transnacional apenas as suas actividades regulares de ensino

satildeo avaliadas

A segunda situaccedilatildeo que pode ocorrer eacute o serviccedilo prestado ser promovido por

entidades agrave margem do sistema oficial de ensino quer no seu paiacutes de origem quer no

paiacutes hospedeiro havendo neste caso uma total ausecircncia de mecanismos que garantam

padrotildees miacutenimos de qualidade

Da parte das entidades promotoras de ensino transnacional verifica-se um

esforccedilo para a legitimaccedilatildeo da sua actividade aleacutem fronteiras e credibilizaccedilatildeo do ensino

transnacional muitas destas instituiccedilotildees de ensino superior oficiais criaram coacutedigos de

eacutetica e de conduta de que fazem parte recomendaccedilotildees que quando postas em praacutetica

pretendem assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade Jaacute as instituiccedilotildees de ensino que se

posicionam absolutamente fora de qualquer sistema de ensino oficial tentam por todos

os meios legitimar a sua actividade por vezes aliando-se a outras instituiccedilotildees bem

posicionadas Outra das soluccedilotildees encontradas para colmatar as dificuldades do exerciacutecio

72

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de regulaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo do ensino superior transnacional foi o aparecimento de

agecircncias privadas de acreditaccedilatildeo Estas agecircncias internacionais privadas actuam por

aacutereas de conhecimento e dedicam-se agrave criaccedilatildeo de coacutedigos de boas praacuteticas para o ensino

transnacional e agrave certificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que se submetem voluntariamente a este

mecanismo de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade para aleacutem do mais criam e aplicam

coacutedigos de conduta e de boa praacutetica agraves instituiccedilotildees que voluntariamente as decidem

adoptar e aplicar nas suas actividades de ensino transnacional Fica por esclarecer a

legitimidade de tais coacutedigos de conduta e de boa praacutetica assim como a credibilidade do

trabalho desenvolvido por estas agecircncias

Do lado dos paiacuteses hospedeiros os mecanismos de controlo vulgarmente

adoptados passam pela integraccedilatildeo de programas de ensino transnacional no sistema

oficial de ensino antecedido de procedimentos de reconhecimento O Conselho Nacio-

nal de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior entende que a aposta num sistema apertado de

regulaccedilatildeo e controlo do ensino transnacional natildeo resolveraacute o problema para aleacutem de

eventualmente se correr o risco de entrar em conflito com a Uniatildeo Europeia ou com as

leis internacionais Satildeo propostas por este oacutergatildeo outras formas mais interessantes e

aparentemente mais eficazes para regular este sistema de ensino por parte do paiacutes

hospedeiro como por exemplo a criaccedilatildeo de mecanismos eou incentivos para que estes

se submetam a procedimentos de avaliaccedilatildeo e apostem num ensino de qualidade

recebendo como contrapartida a possibilidade de integraccedilatildeo no sistema de ensino

oficial Neste caso aconselha-se a protecccedilatildeo a algumas nomenclaturas e alguns tiacutetulos

como por exemplo o de ldquouniversidaderdquo ldquoinstituto universitaacuteriordquo ou o poder de

reconhecimento de graus acadeacutemicos ou ateacute o reconhecimento puacuteblico oficial

Interessante eacute a alusatildeo feita pelo CNAVES ao projecto ldquoBorderless Educationrdquo

desenvolvido no Reino Unido onde eacute proposto de forma exaustiva e bastante

interessante um quadro de referecircncia qualitativa a aplicar ao ensino transnacional do

qual a seguir se transcreve um excerto pela pertinecircncia das sugestotildees nele contidas

ldquoSugerimos que os principais elementos de um quadro de referecircn-

cia qualitativa para o ensino sem fronteiras deve incluir aceitaccedilatildeo

e seguranccedila das qualificaccedilotildees auditoria do sistema para a

estruturaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos curricula ou contratos de aprendi-

zagem apropriados um sistema de creacuteditos reconhecido interna-

73

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

cionalmente qualificaccedilatildeo oficial do corpo docente seguranccedila nos

mecanismos de avaliaccedilatildeo uma abordagem de registo e certifi-

caccedilatildeo da consecuccedilatildeo de objectivos que seja reconhecida

internacionalmente informaccedilatildeo puacuteblica adequada e exacta sobre

oportunidades de aprendizagem sistemas aprovados de orien-

taccedilatildeo e de tratamento de reclamaccedilotildees para os estudantes proces-

sos transparentes de gestatildeo da qualidade para cada agente da

cadeia de formaccedilatildeo educativa acesso assegurado pelo prestador

a recursos de aprendizagem adequados publicaccedilatildeo de orienta-

ccedilotildees relevantes para as diferentes modalidades da ofertardquo

(CNAVES 2002)

O reconhecimento de instituiccedilotildees e programas de ensino eacute uma mateacuteria

controversa e de difiacutecil resoluccedilatildeo uma vez que envolve desde logo um conflito de

interesses a vaacuterios niacuteveis que pode ir de situaccedilotildees extremas como a acreditaccedilatildeo de

diplomas agrave manutenccedilatildeo de profissotildees tradicionais de cada paiacutes e agrave preservaccedilatildeo do

mercado de emprego nacional agrave crescente necessidade de mobilidade e de expansatildeo do

mercado Da Convenccedilatildeo de Lisboa aludida anteriormente resultou um quadro

normativo e metodoloacutegico para o reconhecimento de graus decorrentes do ensino

transnacional no entanto o quadro normativo proposto eacute particularmente direccionado

para a mobilidade de discentes Para aleacutem do mais o quadro normativo resultante da

Convenccedilatildeo aplica-se a qualificaccedilotildees obtidas em instituiccedilotildees de ensino superior

reconhecidas por um Estado seu signataacuterio natildeo se aplicando as mesmas normas de

reconhecimento de graus agraves qualificaccedilotildees resultantes do ensino transnacional que se

posicione fora deste contexto

Eacute sabido que a problemaacutetica do reconhecimento de instituiccedilotildees e de programas

tanto para fins acadeacutemicos como para fins profissionais envolve conflitos de interesses

pondo em oposiccedilatildeo a oacuteptica acadeacutemica que tenta proteger os diplomas e as profissotildees

tradicionais e por outro as necessidades do mercado de emprego e o irreversiacutevel

processo de mobilidade de pessoas que soacute faz sentido se lhes for permitido a

portabilidade das suas habilitaccedilotildees acadeacutemicas e qualificaccedilotildees profissionais

Sobre o ensino transnacional foi criado um grupo de reflexatildeo o Working Group

on Transnacional Education que em conjunto com o trabalho jaacute desenvolvido pela

European Network of Information Centres (Rede ENIC) e sob a eacutegide da UNESCO

74

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(CEPES) e do Conselho da Europa tentam haacute muito lidar com ldquothe issues of quality and

assessment of franchised higher education programmesinstitutions (in order to) propose

guidelines for the recognition of qualifications granted by these institutionsrdquo 45

Posteriormente agrave realizaccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Lisboa o Comiteacute da Convenccedilatildeo

para o Reconhecimento das Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeia viria

a adoptar na reuniatildeo de Riga o ldquoCode of Good Practice mdash in the provision of

transnacional educationrdquo 46 Neste documento que vem complementar a Convenccedilatildeo de

Reconhecimento de Lisboa satildeo delineados uma seacuterie de princiacutepios sob a forma de

normativas cujo principal objectivo eacute servir de referecircncia agraves actividades de avaliaccedilatildeo de

modo a permitir a manutenccedilatildeo da qualidade dos programas educativos e das instituiccedilotildees

que operam fora do paiacutes de origem O ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo define as condiccedilotildees de

prestaccedilatildeo de serviccedilos de educaccedilatildeo que uma vez cumpridas garantem a qualidade dos

serviccedilos prestados e por inerecircncia a protecccedilatildeo dos stakeholders (alunos funcionaacuterios

empregadores etc) A facilitaccedilatildeo do reconhecimento das qualificaccedilotildees pelos membros

do Conselho da EuropaUNESCO eacute outro dos objectivos pretendidos com a adopccedilatildeo do

coacutedigo normativo devendo os princiacutepios nele defendidos ser respeitados pelas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas no fornecimento dos serviccedilos educativos

Os princiacutepios do ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo satildeo apresentados sob a forma de

determinaccedilotildees normativas De modo a executar essas determinaccedilotildees particularmente no

que concerne ao reconhecimento de qualificaccedilotildees alcanccediladas atraveacutes de acordos de

ensino transnacional a rede ENIC recorre igualmente aos ldquoprocedures outlined in the

Recommendation on procedures and criteria for the assessment of foreign qualifi-

cationsrdquo 47 como instrumento complementar

Um outro aspecto importante a assegurar eacute a transparecircncia no trabalho de

certificaccedilatildeo que segundo o CNAVES poderaacute ser garantida pela adopccedilatildeo sistemaacutetica de

um ldquoSuplemento de Diplomardquo Esta proposta foi desenvolvida a partir de uma iniciativa

45 CEPES in Ibidem 46 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo comunicaccedilatildeo

apresentada na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

47 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

75

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comum entre a Comissatildeo Europeia o Conselho da Europa e a UNESCOCEPES que se

aplicado a todos os sistemas de ensino internacionais seraacute um valioso instrumento de

validaccedilatildeo e reconhecimento das qualificaccedilotildees dos seus detentores

No plano nacional ldquoa formulaccedilatildeo de poliacuteticas institucionais para a interna-

cionalizaccedilatildeo a cooperaccedilatildeo com os Paiacuteses de Expressatildeo Portuguesa deveraacute natural-

mente merecer uma atenccedilatildeo especiacuteficardquo (CNAVES 2002) Consciente das dificuldades

que o ensino transnacional traz para as estruturas de ensino nacionais formais no que

respeita em particular ao enquadramento e agrave competiccedilatildeo o CNAVES defende que a

tomada de medidas facilitadoras da implementaccedilatildeo do ensino superior transnacional

nomeadamente no que diz respeito agraves oportunidades de aprendizagem ao auxiacutelio na

resoluccedilatildeo de falhas de qualidade e aos padrotildees das qualificaccedilotildees concedidas deveratildeo

ser ponderadas e controladas Para o CNAVES ldquouma questatildeo inicial e baacutesica eacute a da

clarificaccedilatildeo e transparecircncia Uma melhor compreensatildeo da base normativa do ensino

transnacional das suas praacuteticas e dos seus efeitos eacute essencial como forma de o tornar

aceitaacutevel quer para os sistemas receptores quer para os emissoresrdquo Essencial seraacute zelar

pela transparecircncia nos mecanismos de regulaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de acordos transna-

cionais na sua monitorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e no reconhecimento e certificaccedilatildeo das

qualificaccedilotildees O CNAVES defende ser da responsabilidade das instituiccedilotildees de ensino

superior dos governos e das entidades internacionais aumentar o conhecimento puacuteblico

sobre os diversos elementos a ter em conta nos serviccedilos de ensino transnacional tais

como os estatutos das instituiccedilotildees a sua acreditaccedilatildeo e o reconhecimento dos seus

programas de estudo Para aleacutem do mais segundo este oacutergatildeo eacute da competecircncia das

autoridades nacionais fornecerem agrave sociedade civil informaccedilatildeo actualizada sobre as

instituiccedilotildees e os diplomas reconhecidos oficialmente A adopccedilatildeo destas medidas parte

de um princiacutepio de que existem outras medidas paralelas como sejam os quadros

normativos de regulaccedilatildeo para o ensino superior pressupondo-se neste caso que sejam

definidos de forma clara e rigorosa os requisitos necessaacuterios para o reconhecimento

oficial de instituiccedilotildees de ensino superior e para o registo de cursos Eacute tambeacutem defendido

pelo CNAVES a afirmaccedilatildeo do papel das agecircncias nacionais de avaliaccedilatildeo que deveratildeo

incluir no seu acircmbito de actuaccedilatildeo o ensino superior transnacional em estreita

articulaccedilatildeo com as agecircncias ENIC como garante de padrotildees miacutenimos de qualidade

Prevalece no entanto a ideia de que compete exclusivamente a cada paiacutes a avaliaccedilatildeo e

76

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acreditaccedilatildeo do ensino transnacional partindo-se do princiacutepio de que a especificidade

cultural seja salvaguardada

22 O GATS e o ensino transnacional

O General Agreement on Trade in Services (GATS) 48 foi criado no ano de 1995

e tem vindo a ser negociado sobre o controlo da WTO mdash World Trade Organization

(Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) O GATS cobre um total de 12 sectores de

serviccedilos de entre as quais o sector da educaccedilatildeo um dos uacuteltimos a ser incluiacutedo no

GATS 49 Dos muitos motivos invocados para que a Educaccedilatildeo fosse um dos uacuteltimos

serviccedilos a constar da listagem do GATS um dos mais recorrentes tem directamente a

ver com o facto de ter sido dada prioridade a outros serviccedilos alegadamente mais

lucrativos O sector da educaccedilatildeo raramente assumiu um papel de destaque nas relaccedilotildees

internacionais e europeias Este fenoacutemeno natildeo eacute diferente no caso do GATS no qual o

sector da educaccedilatildeo foi incluiacutedo soacute muito recentemente e ainda sujeito a bastantes

restriccedilotildees apesar de neste caso concreto este envolvimento tardio natildeo ser de lamentar

Uma excepccedilatildeo a esta situaccedilatildeo verifica-se no caso dos serviccedilos que envolvem a

deslocaccedilatildeo do consumidor para o paiacutes promotor do serviccedilo Um exemplo concreto desta

situaccedilatildeo satildeo os programas de mobilidade de estudantes Estes programas representam

actualmente a maior percentagem de prestaccedilatildeo de serviccedilos no mercado do ensino

superior Prevecirc-se que a primeira ronda de negociaccedilotildees sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilos

entre paiacuteses esteja concluiacuteda no ano de 2005 Esta situaccedilatildeo requer cautelas especiais da

parte dos paiacuteses envolvidos uma vez que a comercializaccedilatildeo do ensino natildeo poderaacute ser

submetido agraves mesmas regras de mercado a que satildeo submetidos os restantes bens ou

serviccedilos comercializados sob pena de comprometer a qualidade do serviccedilo prestado

48 ldquoIs the first set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo (UNESCO 2003) 49 ldquoOnly 44 of the 144 WTO Members have made commitments to education and only 21 of these have

included commitments to higher educationrdquo (WTO in Knight 2002)

77

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS coloca-o agrave mercecirc das regras do

mercado da oferta e da procura Satildeo quatro os aspectos baacutesicos que regem o sector da

educaccedilatildeo no contexto do GATS e que se traduzem no seguinte

Facilitaccedilatildeo e apoio a programas de mobilidade direccionados para alunos

professores investigadores e funcionaacuterios com vista agrave obtenccedilatildeo de

ldquoserviccedilosrdquo educativos em instituiccedilotildees de ensino estrangeiras Na praacutetica e

se fizermos um paralelismo com as leis de mercado livre esta situaccedilatildeo

permite que qualquer paiacutes possa passar a vender serviccedilos de educaccedilatildeo em

qualquer outro paiacutes Trata-se da abertura de fronteiras ao mercado da

educaccedilatildeo

Possibilidade de fornecimento de um serviccedilo educativo no paiacutes receptor

mas a partir das estruturas existentes no paiacutes promotor do serviccedilo No

caso do sector educativo este aspecto diz directamente respeito aos

programas de ensino agrave distacircncia que estatildeo hoje em franca expansatildeo De

referir que com o raacutepido desenvolvimento das novas tecnologias aliado agrave

nova sociedade de informaccedilatildeo o desenvolvimento deste tipo de ensino

tem-se tornado cada vez mais exequiacutevel

Presenccedila fiacutesica de estruturas do paiacutes que presta o serviccedilo Eacute possiacutevel

fazer-se um certo paralelismo entre esta situaccedilatildeo com o ensino trans-

nacional apesar do ensino transnacional estar muitas vezes associado a

actividades sem fins comerciais ou lucrativos como satildeo exemplo as

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

Presenccedila fiacutesica de recursos humanos originaacuterios do paiacutes promotor do

serviccedilo no proacuteprio paiacutes receptor onde desenvolvem a actividade Trata-se

concretamente da acccedilotildees de mobilidade do corpo docente e investi-

gadores que passam a desenvolver a sua actividade cientiacutefica e acadeacute-

mica em paiacuteses estrangeiros

Das regras definidas pelo GATS quer as gerais quer aquelas apenas aplicaacuteveis a

compromissos especiacuteficos posteriormente estabelecidos com determinados paiacuteses

aquela que aparentemente maior consequecircncias poderaacute trazer para o sector da Educaccedilatildeo

78

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eacute a denominada MFNT mdash ldquoMost Favoured Nation Treatmentrdquo (Estatuto de Naccedilatildeo Mais

Favorecida) De acordo com esta regra estabelecida pelo GATS todos os paiacuteses

parceiros encontram-se em peacute de igualdade e portanto merecem igualdade de

tratamento Eacute aquilo que a WTO define como a ldquofavour one favour allrdquo O MFNT

coloca em peacute de igualdade todos os sistemas de ensino que participem no GATS natildeo

distinguindo as especificidades ou fragilidades do sector educativo dos paiacuteses

envolvidos Perante um cenaacuterio segundo o qual o sector da educaccedilatildeo aparece agrave mercecirc

das leis do mercado logo sem mecanismos formais de regulaccedilatildeo e controlo pode levar

ao desenvolvimento de determinadas aacutereas em detrimento de outras apenas porque

aquelas tecircm mais procura de mercado Esta situaccedilatildeo pode originar que as aacutereas

estrateacutegicas necessaacuterias ao desenvolvimento econoacutemico do paiacutes sejam preteridas

Este risco eacute mais acentuado em paiacuteses em vias de desenvolvimento onde eacute

crucial a decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo onde investir

O sector da educaccedilatildeo no GATS encontra-se dividido em 5 subsectores sendo um

dos contemplados o ensino superior Segundo a UNESCO o ensino superior eacute

considerado uma das 3 categorias mais relevantes na educaccedilatildeo terciaacuteria O ensino

superior abrange neste caso os serviccedilos de educaccedilatildeo poacutes-secundaacuterio teacutecnicos e

vocacionais bem como outros programas de educaccedilatildeo que conduzam a um grau de

formaccedilatildeo universitaacuterio ou equivalente De salientar que a educaccedilatildeo de adultos estaacute

neste caso considerada fora do sistema regular de educaccedilatildeo

Os motivos invocados para a inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS satildeo

segundo a UNESCO o facto de ldquoTrade in higher education is a million dollar businessrdquo

Este argumento torna-se irrefutaacutevel ao constatar-se o aumento acelerado e exponencial

da procura neste sector ao qual tem sido dado pronta resposta atraveacutes das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional de caraacutecter privado ou com fins lucrativos O sector

puacuteblico natildeo tem ateacute hoje conseguido dar resposta agraves necessidades da procura e quando

este facto eacute aliado agrave implementaccedilatildeo dos ECTS e ao crescente desenvolvimento do

e-learning estamos perante um mercado bastante lucrativo e em franca expansatildeo

Bastante empenhados em garantir a competiccedilatildeo internacional nos serviccedilos educacionais

com o miacutenimo de intervenccedilatildeo governamental estatildeo entre outros paiacuteses os Estados

Unidos e desta sua intenccedilatildeo deram conta no OCDEUS Forum mdash Trade in Education

Services realizado em Maio de 2002 na cidade de Washington

79

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Para os defensores da inclusatildeo do ensino superior no GATS e desta forma a

liberalizaccedilatildeo do seu comeacutercio os argumentos usados baseiam-se em alegaccedilotildees

fundamentadas no processo de globalizaccedilatildeo como eacute o caso das alegaccedilotildees que advogam

que a inclusatildeo do sector da Educaccedilatildeo no GATS ldquoajudaria a eliminar barreiras existentes

como sejam os quadros juriacutedicos que reconhecem a educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria como um

produto puacuteblico e natildeo uma funccedilatildeo proprietaacuteria as poliacuteticas que restringem o acesso ao

mercado de serviccedilos educacionais por parte de fornecedores estrangeiros restriccedilotildees agrave

posse de universidades por entidades estrangeiras e legislaccedilatildeo que impede ou limita a

acreditaccedilatildeo de fornecedores estrangeirosrdquo (CNAVES 2002) Mais politizada eacute a

argumentaccedilatildeo a favor do GATS no sector da Educaccedilatildeo que Jane Knight 50 invoca

afirmando que este sistema poderaacute vir de alguma forma ameaccedilar o papel dos governos

como entidades reconhecidas de regulaccedilatildeo do ensino superior e defensores dos

objectivos poliacuteticos nacionais Jane Knight enumera alguns argumentos a favor da

inclusatildeo da Educaccedilatildeo no GATS como sejam a possibilidade de acesso agrave educaccedilatildeo por

um maior nuacutemero de estudantes diminuindo desta forma a disparidade entre a oferta e a

procura Tambeacutem a maior capacidade de inovaccedilatildeo pode ser usada como um argumento

a favor uma vez que os novos promotores de ensino trazem normalmente consigo

formas de ensino inovadoras porque da sua capacidade de criaccedilatildeo depende o sucesso

dos seus serviccedilos e a sua sobrevivecircncia O aumento dos ganhos econoacutemicos eacute outra das

razotildees apontadas por Knight como um dos argumentos mais usados

Este uacuteltimo argumento assume grande importacircncia na medida em que a partir do

momento em que o sistema de educaccedilatildeo passa a estar sujeito agraves leis do mercado fica agrave

mercecirc da lei da ldquoofertardquo e da ldquoprocurardquo logo susceptiacutevel de fracassar sempre que

determinados requisitos natildeo se verifiquem requisitos esses que nem sempre passam por

criteacuterios de qualidade e interesses nacionais Criteacuterios pouco ortodoxos e ditados pelas

leis de mercado ou seja pelos consumidores em suma pelo puacuteblico em geral Estes

passam a sobrepor-se a requisitos de qualidade ou outros igualmente importantes uma

vez que a oferta eacute ditada pela procura e apenas sobreviveratildeo os serviccedilos que melhor

correspondam agraves exigecircncias do mercado Todas estas questotildees pressupotildeem que o sector

50 Knight Jane ldquoGlobalization and higher Educationrdquo GATS mdash Higher Education Implications

Opinions and questions UNESCO Paris October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwunescoorgeducationstudyingabroadindexshtml Arquivo capturado em 10 de Maio de 2003

80

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

da educaccedilatildeo particularmente os responsaacuteveis pelas instituiccedilotildees de ensino bem como os

responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas de cada paiacutes passem a desempenhar um papel

activo e participante cabendo-lhes a importante tarefa de estimular as instituiccedilotildees de

ensino na busca de um ensino de excelecircncia Deve procurar-se cultivar um ensino

dinacircmico e de qualidade apenas alcanccedilaacutevel adoptando uma postura proacute-activa que

saiba acompanhar os desafios lanccedilados pelo GATS

No entanto este processo levanta ainda uma seacuterie de questotildees e algumas

reservas a muitos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas sob o argumento de que o

ensino superior natildeo se pode reduzir a um mero produto comercial governado pelas

forccedilas do mercado Esta posiccedilatildeo foi jaacute assumida publicamente por representantes de

diversas instituiccedilotildees de ensino superior associaccedilotildees de estudantes e demais actores

ligados ao sector A ldquoJoint Declaration on Higher Education and the General Agreement

on Trade in Servicesrdquo datada de Setembro de 2001 eacute disso exemplo Produzida em

conjunto e assinada pela European Universities Association pela Canadian Association

of Universities and Colleges pela American Council for Education e pelo Council for

Higher Education Accreditation esta declaraccedilatildeo expressa a intenccedilatildeo e o compromisso

dos seus signataacuterios em reduzir os obstaacuteculos agrave internacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

atraveacutes da realizaccedilatildeo de convenccedilotildees e de acordos colocando-se deste modo agrave margem

das poliacuteticas submetidas agraves leis de mercado (Knight 2002)

Dos argumentos utilizados contra a inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS

salienta-se o facto de este sector constituir um direito humano fundamental natildeo

devendo por isso ser encarada como um produto de troca comercial e como tal sujeito agraves

forccedilas do mercado por si soacute incontrolaacuteveis Por outro lado a educaccedilatildeo eacute considerada

um bem puacuteblico ao serviccedilo do desenvolvimento dos indiviacuteduos e do desenvolvimento

sustentado da sociedade como um todo o facto do ensino ser uma responsabilidade

puacuteblica faz com que deva continuar a ser regulado pelas autoridades puacuteblicas

legitimadas para tal Como aliaacutes alega Sauve ldquoSupporters of the GATS emphasise that

is to a large extent a government function and that the agreement does not seek to

displace the public education systems and the right of government to regulate and meet

domestic policy objectivesrdquo (Sauve citado por Knight 2002)

Apesar dos argumentos antiliberalizaccedilatildeo admite-se que ldquoos obstaacuteculos agrave interna-

cionalizaccedilatildeo do ensino superior devem ser removidos de forma a estimular uma

81

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

competiccedilatildeo promotora da qualidade do ensino superior mas esses objectivos devem ser

atingidos atraveacutes de um novo quadro legal de regulaccedilatildeo para o reconhecimento acadeacute-

mico a garantia de qualidade e a acreditaccedilatildeo quadro esse a ser desenvolvido pelas

instacircncias acadeacutemicas com o suporte de autoridades puacuteblicas nacionais e regionaisrdquo

(CNAVES 2002) Este quadro pressupotildee que os serviccedilos educacionais puacuteblicos e priva-

dos coexistam e cooperem para a satisfaccedilatildeo das necessidades educacionais da socie-

dade

As preocupaccedilotildees espelhadas com o ensino no GATS tornam-se ainda mais

acentuadas quando se trata de paiacuteses em vias de desenvolvimento uma vez que a

aplicaccedilatildeo do GATS neste contexto pode asfixiar os sistemas formais de ensino superior

que natildeo resistiriam a uma concorrecircncia desregulada principalmente porque essas regras

ditariam limitaccedilotildees ao financiamento puacuteblico das instituiccedilotildees de ensino o que de certo

seria incomportaacutevel para paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Sobre este aspecto em particular o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

chama a atenccedilatildeo para o Relatoacuterio do Desenvolvimento Humano do PNUD uma vez que

nele satildeo reveladas as ldquogritantes assimetrias nos quadros de indicadores relativos ao

iacutendice de desenvolvimento humano entre os paiacuteses de desenvolvimento elevado meacutedio

e baixo nomeadamente no que respeita agraves taxas de escolaridade e ao iacutendice de

educaccedilatildeordquo (CNAVES 2002) Neste quadro os sistemas nacionais de ensino superior de

cada paiacutes desempenham um papel crucial pois quando devidamente adaptados agrave

realidade social cultural e econoacutemica podem desempenhar um papel preponderante no

contributo para o seu desenvolvimento

Por conseguinte o desenvolvimento de uma aacuterea europeia comum no sector da

educaccedilatildeo poderaacute constituir uma vantagem que permitiraacute aos paiacuteses europeus manterem-

se numa posiccedilatildeo de vanguarda e vantagem face a outros paiacuteses do resto do mundo

particularmente se falamos de paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Segundo Neave a mobilidade dos indiviacuteduos ao niacutevel da cooperaccedilatildeo para investigaccedilatildeo

e formaccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios se o indiviacuteduo retornar ao paiacutes de origem Esta eacute uma

forma das regiotildees mais favorecidas contribuiacuterem para a diminuiccedilatildeo das assimetrias

entre regiotildees possibilitando que a partir da formaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de quadros os

paiacuteses mais favorecidos contribuam para o desenvolvimento dos paiacuteses menos

favorecidos (Neave 2001 citado por Veiga 2003)

82

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

As implicaccedilotildees negativas da liberalizaccedilatildeo desregulada do ensino superior natildeo

cessam aqui quando transposto para o contexto de paiacuteses desenvolvidos deparamo-nos

com problemas de outra dimensatildeo proacuteprios de um estadium de evoluccedilatildeo mais

avanccedilado como sejam os valores universitaacuterios tradicionais nomeadamente face ao

modo como eacute ministrado o ensino transnacional

ldquoA comercializaccedilatildeo do ensino superior num ambiente de

competiccedilatildeo que raia o selvagem levanta na realidade conflitos

seacuterios com o ethos universitaacuterio de reflexatildeo e procura desinte-

ressada do conhecimentohelliprdquo no entanto conclui-se que na

verdade ldquohellipmudanccedilas enormes vatildeo certamente ocorrer como

consequecircncia das cada vez maiores expectativas que a sociedade

coloca no ensino superior mas o valor intriacutenseco da ldquovida no

campusrdquo mdash o valor acrescentado da interacccedilatildeo face-a-face deveraacute

permanecer como elemento essencial para a aquisiccedilatildeo das

capacidades e competecircncias transferiacuteveis que se revestem de uma

importacircncia crucial para os mercados de trabalho de hoje e de

amanhatilderdquo (CNAVES 2002)

Para Jane Knight o GATS 51 eacute hoje uma realidade e natildeo poderemos ignorar que

ldquocross border for-profit delivery of higher education is not a new phenomenon It has

been taking place long before GATS appeared in 1995 and has clearly increased in the

last decaderdquo (Larsen citado por Knight 2002) A autora defende que ao contraacuterio de

tentar inverter-se esta tendecircncia dever-se-aacute tentar retirar o maacuteximo partido dos seus

aspectos positivos aproveitando as oportunidades que proporciona e os benefiacutecios que

traz aos paiacuteses Esta postura exige por parte das estruturas e dos actores envolvidos um

estado de vigilacircncia e alerta permanentes devendo procurar-se estar sempre informado

e activo no sector da educaccedilatildeo

51 ldquoThe GATS is the set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo Knight 2002

83

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-econoacutemica internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilos

No contexto de uma Europa global importa aferir o que distingue as actividades

de internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior daquelas que satildeo

consideradas actividades comerciais Numa oacuteptica acadeacutemica as actividades de

internacionalizaccedilatildeo encetadas pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo encaradas como motores

do desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino superior que se vecircem a braccedilos com um

mercado globalizador cada vez mais competitivo a internacionalizaccedilatildeo exige a

preparaccedilatildeo das instituiccedilotildees para esta realidade por parte dos vaacuterios actores que agora

enfrentam um mundo bem mais interligado e dependente

Numa vertente mais economicista a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees pode

ser vista como um forma de comercializaccedilatildeo de serviccedilos logo uma forma de

rentabilizaccedilatildeo das potencialidades e um agente da globalizaccedilatildeo por si soacute o recrutamento

de estudantes estrangeiros ou a comercializaccedilatildeo aleacutem fronteiras dos serviccedilos fornecidos

pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo algumas das formas encontradas por muitas instituiccedilotildees

para aumentar o orccedilamento

Este assunto assume especial importacircncia quando falamos de paiacuteses em vias de

desenvolvimento como eacute o caso dos paiacuteses do continente africano Neste trabalho

importa destacar em especial o caso dos Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portu-

guesa (daqui para a frente denominados por PALOP) pois eacute para laacute que Portugal exporta

maioritariamente ensino superior mas a este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente

Caberaacute aqui lugar agrave identificaccedilatildeo de alguns dos aspectos que permitem distinguir

entre actividades de caraacutecter meramente comercial e actividades que tecircm como

finalidade a promoccedilatildeo e a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior o

exerciacutecio de identificaccedilatildeo desses aspectos e motivaccedilotildees deveraacute residir numa anaacutelise tatildeo

racional quanto possiacutevel das reais motivaccedilotildees e dos verdadeiros benefiacutecios retirados da

realizaccedilatildeo das actividades quaisquer que elas sejam natildeo tendo tanto a ver com a

natureza das actividades desenvolvidas

Segundo Jane Knight as actividades de internacionalizaccedilatildeo podem ter como

finalidade o desenvolvimento e a promoccedilatildeo da qualidade a visibilidade ou ateacute mesmo

os benefiacutecios sociais das instituiccedilotildees e da educaccedilatildeo no sentido em que funciona como

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

um mecanismo de fornecimento de uma ferramenta de trabalho agraves futuras geraccedilotildees de

modo a permitir a obtenccedilatildeo de ganhos econoacutemicos futuros Para a autora esta postura

deveraacute ser necessariamente assumida por ambas as partes intervenientes

Para provar a subversatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo52 normalmente

associado ao aspecto menos econoacutemico das actividades de ensino superior a autora

considera que o conceito de internacionalizaccedilatildeo estaacute hoje subdividido em dois

patamares a internacionalizaccedilatildeo que visa o lucro mdash ldquofor-profit internationalisationrdquo mdash

e a internacionalizaccedilatildeo que natildeo visa o lucro mdash ldquonon-profit internationalisationrdquo

Segundo Knight esta separaccedilatildeo ajudar-nos-aacute a destrinccedilar entre as actividades educa-

tivas transnacionais que tecircm como objectivo primaacuterio a obtenccedilatildeo do lucro o que a

autora chama de ldquotrade in educational servicesrdquo e aquelas que satildeo movidas por razotildees

de caraacutecter meramente cientiacutefico ou cooperativo isto eacute pela mera promoccedilatildeo da

qualidade ou quaisquer outras actividades de caraacutecter natildeo lucrativo como sejam o

ensino a investigaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de serviccedilos que promovam o desenvolvimento de

sistemas de ensino carenciados Importa esclarecer como ponto de partida para a

distinccedilatildeo clara entre estas duas posturas face ao processo de internacionalizaccedilatildeo que

ldquothis for-profit versus non-profit approach to internationalisation needs to be explored

furtherhellip It is just too simple to label all activities which cross borders as internatio-

nalisation activities Trade in services is clearly a for-profit approach to internationali-

sation of education Whether trade in education has a net positive effect on inter-

nationalisation of higher education is yet to be determinedrdquo (Knight 2002)

52 ldquoThe process of integrating dimension into the teaching research and service functions of higher

educationrdquo Knight 2002

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III 3 A Metodologia de Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo

selecccedilatildeo da amostra recolha e anaacutelise de dados

O trabalho de pesquisa em ciecircncias sociais obedece a uma seacuterie de etapas

evolutivas tendo normalmente iniacutecio no momento da definiccedilatildeo dos objectivos e

culminando na anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos resultados A presente investigaccedilatildeo natildeo

pretende ser diferente e desde a definiccedilatildeo da problemaacutetica de partida ateacute ao teacuterminos do

processo de investigaccedilatildeo (aquando da apresentaccedilatildeo das conclusotildees e recomendaccedilotildees

finais) procurou-se cumprir com as etapas consideradas mais relevantes e adequadas agrave

natureza do estudo que se propocircs realizar

Trata-se pois de uma pesquisa monodisciplinar uma vez que procura

compreender os mecanismos de cooperaccedilatildeo institucionais a partir de um uacutenico campo

de conhecimento cientiacutefico e essencialmente descritiva dado que se propotildee analisar o

fenoacutemeno da cooperaccedilatildeo atraveacutes da reconstruccedilatildeo e anaacutelise dos modelos de cooperaccedilatildeo

portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior aplicados na uacuteltima deacutecada em Cabo Verde

e Timor Leste

Em ciecircncias sociais a etapa de pesquisa eacute fundamental e funciona como pedra

basilar da fiabilidade e da evoluccedilatildeo do processo de investigaccedilatildeo Cientificamente

considera-se que um trabalho de pesquisa tem qualidade quando este procura o

progresso cientiacutefico e a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos teoacutericos Nesta linha Ander-Egg

defende que uma pesquisa formal eacute aquela que generaliza princiacutepios ou leis isto eacute para

o autor o objectivo principal do cientista eacute o conhecimento pelo conhecimento

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(Marconi 1990) Beste 53 apesar de se posicionar na mesma linha teoacuterica que Ander-

Egg objectiva mais claramente a definiccedilatildeo do conceito de pesquisa classificando-o

como um trabalho descritivo um procedimento que visa abordar a descriccedilatildeo o registo

a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de fenoacutemenos actuais objectivando o seu funcionamento no

presente

Numa primeira etapa do trabalho de pesquisa aqui realizado procurou-se

delimitar o objecto de anaacutelise O objecto de anaacutelise escolhido para a realizaccedilatildeo deste

estudo foram os Programas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior

Este eacute o primeiro momento do trabalho exploratoacuterio atraveacutes do qual se procuraraacute

identificar e delimitar o objecto de estudo e determinar os objectivos

A segunda etapa do trabalho de pesquisa eacute normalmente dedicada agrave clarificaccedilatildeo

da orientaccedilatildeo a dar agrave anaacutelise A este momento segue-se uma terceira etapa igualmente

fundamental na qual se estabelece a hipoacutetese de partida instrumento este que serviraacute de

fio condutor e de elemento orientador ao longo das restantes etapas de trabalho

Seraacute pertinente fazer aqui uma breve abordagem aos limites do meacutetodo cientiacutefico

em ciecircncias sociais e humanas de modo a identificar as limitaccedilotildees proacuteprias que se

impotildee no rigor cientiacutefico em trabalhos desta natureza Donald Ary 54 tem sobre este

assunto uma visatildeo bastante precisa ao considerar que na utilizaccedilatildeo do meacutetodo

cientiacuteficoexperimental as ciecircncias humanas revelam grandes limitaccedilotildees quando

comparadas com o rigor cientiacutefico das ciecircncias naturais Na verdade as ciecircncias

educativas sociais e humanas natildeo conseguiram estabelecer um modo de generalizaccedilatildeo

equivalente agraves teorias das ciecircncias da natureza nem tatildeo pouco formular previsotildees dos

fenoacutemenos estudados Alguns dos maiores obstaacuteculos apontados por este autor agrave falta de

rigor cientiacutefico em ciecircncias sociais e humanas traduzem-se em questotildees que passam

pela natureza e complexidade do objecto de estudo Acresce a isto as proacuteprias

dificuldades de observaccedilatildeo (isto porque o sujeito observado eacute tambeacutem o observador ou

seja ambos satildeo seres humanos logo a natureza de ambos eacute a mesma) fazendo com que

o grau de subjectividade seja consideravelmente maior relativamente agraves ciecircncias

naturais Tambeacutem as motivaccedilotildees os valores a priori e todas as atitudes do cientista

53 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 pp 456 54 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 456 pp

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

social influenciam o seu trabalho condicionando a observaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo que este faz

dos resultados e consequentemente as conclusotildees resultantes do trabalho realizado

Mas a maior dificuldade reside sem duacutevida no facto dos fenoacutemenos sociais natildeo

serem homogeacuteneos logo as experiecircncias realizadas natildeo satildeo susceptiacuteveis de se repetirem

em condiccedilotildees semelhantes como acontece com as ciecircncias naturais Em ciecircncias

humanas trata-se de acontecimentos singulares condicionados por um determinado

contexto e portanto trata-se de fenoacutemenos de ordem qualitativa nos quais

inevitavelmente o observador eacute simultaneamente participante concluindo-se assim que

em ciecircncias humanas o meacutetodo cientiacutefico eacute bastante limitado A este propoacutesito Jean

Piaget corrobora com as afirmaccedilotildees de Ary e defende que

ldquo (hellip) As ciecircncias do homem natildeo tecircm pois nenhuma razatildeo para

se espantar da lentidatildeo passada da sua formaccedilatildeohellip Poreacutem aleacutem

das dificuldades comuns a todas as disciplinas experimentais as

ciecircncias do homem encontram-se em presenccedila de uma situaccedilatildeo

epistemoloacutegica e de problemas metodoloacutegicos que lhe satildeo mais

ou menos proacuteprios e que importa examinar de perto eacute que tendo

o homem como objecto nas suas inumeraacuteveis actividades e

sendo elaboradas pelo homem nas suas actividades cognitivas

as ciecircncias humanas estatildeo colocadas nesta posiccedilatildeo particular de

dependerem do homem simultaneamente como sujeito e como

objecto o que levanta como eacute evidente uma seacuterie de questotildees

particulares e difiacuteceis (hellip)rdquo (Jean Piaget in Marconi 1990)

Haacute que assumir agrave partida as limitaccedilotildees e dificuldades proacuteprias de um trabalho

desta natureza Ao longo do desenvolvimento do trabalho de pesquisa tentou-se ter

presente a consciecircncia de que o envolvimento do investigador deve ser controlado de

modo a natildeo se deixar tomar emocionalmente pela problemaacutetica que estaacute a tratar e assim

evitar quaisquer juiacutezos de valor sempre com o objectivo uacuteltimo de comprovar a

hipoacutetese de partida Se tal pretensatildeo natildeo foi bem sucedida no presente trabalho deve-se

natildeo haacute ignoracircncia do risco mas devido ao facto de como diz Deshaires ldquoquando nos

colocamos na posiccedilatildeo de investigador comeccedilamos por dispor das nossas proacuteprias

inclinaccedilotildees intelectuais cognitivas afectivas e outras () a investigaccedilatildeo exige uma

participaccedilatildeo iacutentima e pessoal no processo de conhecimento Faz apelo a um

investimento indispensaacutevel da proacutepria pessoardquo (Deshaires 1992)

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo

A definiccedilatildeo do problema 55 de partida significa precisar tanto quanto possiacutevel

com clareza e objectividade o assunto que se vai tratar no trabalho de pesquisa

Eacute consensualmente aceite que uma colocaccedilatildeo clara do problema pode facilitar a

construccedilatildeo da hipoacutetese de trabalho

O problema ou problemas de partida deve ser formulado preferencialmente sob

a forma de interrogaccedilotildees e delimitado a partir da indicaccedilatildeo das variaacuteveis que intervecircm

no estudo e possiacuteveis relaccedilotildees entre si Trata-se de um processo contiacutenuo que exige um

pensamento criacutetico e reflexivo cuja formulaccedilatildeo pressupotildee conhecimentos preacutevios sobre

o assunto ldquoa caracterizaccedilatildeo do problema define e identifica o assunto em estudo ou

seja um problema muito abrangente torna a pesquisa mais complexa quando bem

delimitado simplifica e facilita a maneira de conduzir a investigaccedilatildeordquo (Marinho in

Marconi 1990) O trabalho de pesquisa tem iniacutecio com o levantamento de dados que

podem ser recolhidos a partir de fontes variadas esta eacute normalmente a primeira

abordagem ao problema e eacute um procedimento que para aleacutem de fornecer todo um

manancial de informaccedilotildees ao investigador sobre o assunto em estudo pode evitar a

duplicaccedilatildeo de esforccedilos Para aleacutem do mais o trabalho de recolha de dados e a anaacutelise

bibliograacutefica permite sugerir hipoacuteteses orientando desta forma o sentido da pesquisa

Uma reflexatildeo mais aprofundada sobre algumas das questotildees suscitadas pelo

enquadramento teoacuterico das problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional bem

como o resultado de alguma troca de ideias com os orientadores ao longo da construccedilatildeo

do quadro teoacuterico viriam a revelar-se instrumentos decisivos para a maturaccedilatildeo da

problemaacutetica de partida que conduziria posteriormente agrave definiccedilatildeo do objecto de anaacutelise

O quadro teoacuterico quando eacute exaustivo e bem fundamentado auxilia eficazmente na com-

preensatildeo do universo da pesquisa documental

Da contextualizaccedilatildeo teoacuterica realizada resultou uma seacuterie de interrogaccedilotildees e

pressupostos sobre o ensino transnacional nomeadamente a convicccedilatildeo de que eacute

importante aferir rapidamente se estaacute de alguma forma salvaguardada a existecircncia de

55 ldquoProblema eacute uma dificuldade teoacuterica ou praacutetica no conhecimento de alguma coisa de real importacircncia

para a qual se deve encontrar uma soluccedilatildeordquo (Marconi 1990)

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino transnacional que se enquadram nos

programas de cooperaccedilatildeo nacional Uma outra interrogaccedilatildeo suscitada pelo quadro

teoacuterico eacute a necessidade de aferir se satildeo ou natildeo utilizados mecanismos de regulaccedilatildeo e

controlo que assegurem a qualidade do trabalho realizado ao niacutevel das instituiccedilotildees de

ensino superior esta eacute uma interrogaccedilatildeo que assumiraacute um papel dianteiro na lista de

preocupaccedilotildees deste trabalho de investigaccedilatildeo Mas outros problemas de igual relevacircncia

foram identificados nomeadamente a importacircncia que representa para o paiacutes receptor de

ensino transnacional o acesso a informaccedilotildees sobre as instituiccedilotildees que realizam as

acccedilotildees nomeadamente o enquadramento legal destas no seu paiacutes de origem o acesso

aos seus estatutos se se encontram ou natildeo integradas nos sistemas formais de ensino

entre outras Essa transparecircncia e facilitaccedilatildeo de acesso agrave informaccedilatildeo imprime por si soacute

um cunho de credibilidade e fiabilidade aos programas de ensino transnacional

valorizando-os A juntar agraves questotildees jaacute enunciadas identificaram-se outras relacionadas

com a necessidade de salvaguardar por parte do paiacutes emissor o respeito pelas

especificidades culturais do paiacutes receptor sendo essencial assegurar neste processo que

a liacutengua oficial falada no paiacutes beneficiaacuterio seja tambeacutem a liacutengua utilizada pelo paiacutes

promotor que ministra o ensino Parte-se do princiacutepio de que estes e outros princiacutepios

basilares do ensino transnacional deveratildeo estar assegurados e um eventual processo de

avaliaccedilatildeo deveraacute imperativamente averiguar o cumprimento destas regras fundamentais

para a operacircncia de um ensino transnacional transparente e de qualidade

Questotildees como a definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo o reconhecimento

dos diplomas ou a existecircncia de sinais de resistecircncia por parte das estruturas de ensino

formais dos paiacuteses receptores condicionam igualmente a definiccedilatildeo do objecto de estudo

como se veraacute de seguida

Como se disse o objecto de estudo foi delimitado agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

portuguesa para o sector da educaccedilatildeo mais propriamente no domiacutenio do ensino

superior Interessa fundamentalmente centrar a pesquisa realizada nas acccedilotildees de ensino

transnacional nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa Como anteriormente referido o

problema de partida condicionou a definiccedilatildeo do objecto de estudo uma vez que as

questotildees inicialmente suscitadas satildeo mais susceptiacuteveis de ser observadas em paiacuteses em

vias de desenvolvimento uma vez que o contexto soacutecio-econoacutemico e cultural destes os

tornam mais vulneraacuteveis agrave proliferaccedilatildeo de praacuteticas de ensino transnacional

91

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma vez definido o assunto e devido agrave escassez de recursos e de tempo o

trabalho de pesquisa incidiu sobre uma amostra que se pretende representativa do

universo Delimitou-se a anaacutelise agraves instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas univer-

sitaacuterias e politeacutecnicas visto que tratando-se de poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais

e representando estas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilateral assumidas oficialmente pelo

governo portuguecircs interessaria essencialmente ter em linha de conta o trabalho

desenvolvido pelas instituiccedilotildees de ensino de caraacutecter puacuteblico cujas actividades de

ensino transnacional se integrem nas poliacuteticas externas do paiacutes Foram portanto consi-

deradas apenas instituiccedilotildees de caraacutecter puacuteblico natildeo fazendo parte da amostra as

instituiccedilotildees de ensino superior privadas Esta demarcaccedilatildeo prende-se com vaacuterias ordens

de factores que passam natildeo soacute pelos motivos atraacutes invocados mas tambeacutem por

condicionalismos de trabalho de campo (na verdade e apesar de vaacuterias tentativas natildeo

foi possiacutevel chegar agrave fala com os responsaacuteveis pelos programas de cooperaccedilatildeo das

instituiccedilotildees privadas contactadas) Acresce a isto a escassez de informaccedilatildeo que aleacutem do

mais eacute inconclusiva e pouco revela sobre a natureza objectivos e resultados das

actividades de cooperaccedilatildeo no subsector do ensino superior privado e uma vez que nos

dois casos de estudo apenas se regista a presenccedila de uma uacutenica instituiccedilatildeo desta

natureza optou-se por deixar de fora da amostra os programas de ensino transnacional

desenvolvidos por instituiccedilotildees de ensino superior privadas

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida

Em teoria a hipoacutetese de partida eacute uma proposiccedilatildeo que serve para verificar a

validade da resposta dada a um problema Trata-se portanto de uma suposiccedilatildeo que

antecede a constataccedilatildeo dos factos e que se caracteriza como uma formulaccedilatildeo provisoacuteria

que se torna vaacutelida depois de testada e comprovada A hipoacutetese de partida assume na

pesquisa cientiacutefica o papel de propor explicaccedilotildees para os factos e ao mesmo tempo

orientar o trabalho sendo fundamental a clareza da sua definiccedilatildeo O fim uacuteltimo do

trabalho de pesquisa trata precisamente de comprovar ou rejeitar a (ou as) hipoacutetese(s)

de partida

92

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Depois da construccedilatildeo do quadro teoacuterico e da formulaccedilatildeo do problema sendo

como vimos esta uacuteltima etapa fortemente condicionada pelo enquadramento teoacuterico-

-conceptual 56 que a precede (os capiacutetulos I e II foram inteiramente dedicados agrave

identificaccedilatildeo do problema na expectativa de balizar as referecircncias teoacuterico-conceptuais

sobre o ensino transnacional) a pesquisa bibliograacutefica sobre este assunto conduziu a

uma abordagem pragmaacutetica do problema permitindo identificar objectivamente alguns

dos seus pontos fortes mas tambeacutem algumas das fragilidades de que padece o ensino

transnacional aspectos jaacute oportunamente enunciados Agrave luz da contextualizaccedilatildeo teoacuterica

definiu-se como meacutetodo de trabalho a descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos modelos de

cooperaccedilatildeo para os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa na aacuterea da Educaccedilatildeo e mais

concretamente no domiacutenio do ensino superior

Tendo como objecto de anaacutelise os programas de cooperaccedilatildeo portugueses para o

sector do ensino superior nos PALOPacutes e em Timor Leste e com base em alguns dos

problemas mais significativos relacionadas com o ensino transnacional formularam-se

questotildees de partida que permitiram construir uma hipoacutetese de trabalho que no processo

de pesquisa funciona como pedra basilar Das vaacuterias questotildees que foram sendo

suscitadas pela consulta bibliograacutefica importa salientar algumas das que se viriam a

revelar mais significativas para o desenvolvimento da pesquisa

Existem sinais de resistecircncia aos programas de ensino transnacional portu-

guecircs por parte dos sistemas de ensino formais dos paiacuteses hospedeiros

Quais os mecanismos de regulaccedilatildeo e ou controlo existentes em programas

de ensino transnacional realizado por instituiccedilotildees de ensino superior por-

tuguesas

As actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa no sector do ensino superior satildeo

enquadradas num plano integrado de acccedilatildeo governamental

Qual o paiacutes responsaacutevel pela definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas para a coope-

raccedilatildeo no sector do ensino superior

Estaacute assegurado o reconhecimento dos diplomas por parte das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional

56 Ibidem

93

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Chegou-se assim agrave formulaccedilatildeo da seguinte hipoacutetese de trabalho

Hipoacutetese A Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa carece de um planeamento estrateacutegico soacutelido e exequiacutevel que congregue todos os programas de cooperaccedilatildeo para o sector do ensino superior transnacional nos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Definida a hipoacutetese de partida estavam criadas as condiccedilotildees que permitiram

precisar o objecto de estudo sobre o qual incidiu o trabalho de pesquisa empiacuterica subse-

quente

313 A selecccedilatildeo da amostra

A amostra 57 para a realizaccedilatildeo do trabalho empiacuterico foi retirada do universo 58

constituiacutedo pelos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa em vias de desenvolvimento que

tenham beneficiado na uacuteltima deacutecada dos programas de cooperaccedilatildeo portuguesa no

sector da educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior Trata-se de uma

amostra natildeo probabiliacutestica ou seja para a sua selecccedilatildeo natildeo foram utilizadas quaisquer

teacutecnicas aleatoacuterias de selecccedilatildeo A amostra seleccionada eacute intencional uma vez que

foram escolhidas criteriosamente a documentaccedilatildeo consultada e as personalidades inqui-

ridas que neste caso natildeo tecircm de ser obrigatoriamente representativos de todos os

intervenientes no processo mas que se entendeu pela funccedilatildeo que desempenham e por

determinados cargos que ocupam ou ocupavam em momentos decisivos para os estudos

de caso tecircm ou tinham entatildeo um papel determinante em todo o processo Esta eacute uma

teacutecnica assumidamente limitada uma vez que natildeo permite o mesmo grau de

generalizaccedilatildeo dos resultados que permitem as outras teacutecnicas natildeo deixando no entanto

de ser uma teacutecnica vaacutelida dentro do contexto especiacutefico

O tempo e os recursos disponiacuteveis para a realizaccedilatildeo do trabalho de campo

revelaram-se limitados tendo-se optado por seleccionar apenas dois paiacuteses com

57 ldquoPorccedilatildeo ou parcela convenientemente seleccionada do universo (populaccedilatildeo) eacute um subconjunto do

universordquo (Marconi 1990) 58 ldquoEacute o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma caracteriacutestica em

comumrdquo (Ibidem)

94

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

caracteriacutesticas distintas e com diferentes experiecircncias e modelos de cooperaccedilatildeo com

Portugal condicionados pela trajectoacuteria histoacuterica e pelo contexto geograacutefico de cada um

deles os paiacuteses seleccionados para o estudo de caso foram Cabo Verde e Timor Leste

Cabo Verde porque desde a declaraccedilatildeo da independecircncia manteacutem fortes relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo com Portugal que tecircm vindo a evoluir nos mais diversos sentidos e o sector

da educaccedilatildeo natildeo eacute excepccedilatildeo As relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo existentes entre Portugal e

Cabo Verde satildeo reveladoras do elevado grau de relacionamento existente colocando

Portugal na dianteira entre os paiacuteses com quem Cabo Verde manteacutem relaccedilotildees de

parceria bilaterais

Timor Leste surge como o mais novo paiacutes a adoptar a Liacutengua Portuguesa como

liacutengua oficial e cuja histoacuteria ditou que em Maio de 2000 se tornasse independente e

reconhecesse em Portugal um paiacutes irmatildeo As acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que Timor Leste

tem vindo desde entatildeo a beneficiar revelando-se fundamentais para a criaccedilatildeo da sua

identidade e para o seu desenvolvimento nos mais diversos sectores A educaccedilatildeo ocupa

neste contexto um lugar estrateacutegico muito importante uma vez que sendo o Portuguecircs

uma das liacutenguas oficiais de Timor a sua afirmaccedilatildeo e a sua proliferaccedilatildeo atraveacutes do sector

educativo eacute um elemento estrateacutegico e um factor chave na sua difusatildeo e implementaccedilatildeo

no territoacuterio timorense O modelo do programa de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o

ensino superior revela-se peculiar quando comparado com os modelos praticados nos

PALOPacutes tendo o seu estudo um interesse especial uma vez tratar-se de uma

experiecircncia ldquopilotordquo levada a cabo pela cooperaccedilatildeo portuguesa e as instituiccedilotildees de

ensino superior Eacute certo que os resultados da sua aplicaccedilatildeo a meacutediolongo prazo ainda

natildeo satildeo verificaacuteveis nem comprovaacuteveis logo natildeo haacute ainda um balanccedilo das eventuais

vantagens que este modelo possa ter comparativamente com outros modelos de coope-

raccedilatildeo tradicionalmente usados quer em termos de execuccedilatildeo quer em termos de resulta-

dos No entanto uma virtude lhe assiste o facto de vir demonstrar ser possiacutevel inovar e

criar novas formas de cooperaccedilatildeo no sector do ensino superior transnacional como

alternativa aos formatos tradicionalmente existentes

95

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

314 O processo de recolha de dados mdash construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos

O trabalho de pesquisa resultou na construccedilatildeo de dois modelos de cooperaccedilatildeo

para tal e devido agrave natureza dos dados que se dividem entre dados objectivos ou

factuais e dados subjectivos optou-se por duas teacutecnicas de observaccedilatildeo distintas a

teacutecnica documental e a teacutecnica de observaccedilatildeo caracterizando-se esta uacuteltima por ser uma

teacutecnica viva a primeira pertence agrave categoria dos meacutetodos de observaccedilatildeo indirectos e

quando as fontes documentais se revelam fiaacuteveis este eacute um processo de recolha de dados

vaacutelido e que confere fiabilidade ao trabalho de pesquisa empiacuterica Foram consultados

para o efeito vaacuterios documentos oficiais e cientiacuteficos nomeadamente publicaccedilotildees

oficiais (revistas) do IPAD antigo ICP bem como todo um manancial de informaccedilatildeo

disponiacutevel na Internet em paacuteginas oficiais de organismos puacuteblicos portugueses cabo-

-verdianos e timorenses Alguns relatoacuterios oficiais de oacutergatildeos governamentais foram

igualmente fundamentais na fase de recolha de dados e informaccedilotildees nomeadamente o

relatoacuterio da ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e o ldquoEast Timor Human

Development Report 2002rdquo do PNUD

Quanto agraves teacutecnicas de observaccedilatildeo directa utilizou-se entre outras a entrevista 59

natildeo estruturada tambeacutem denominada de entrevista focalizada de perguntas abertas Este

meacutetodo permitiu recolher informaccedilotildees relevantes para o trabalho de anaacutelise documental

A teacutecnica da entrevista natildeo estruturada permite ao entrevistado ter liberdade para

direccionar a conversa no sentido que este considere mais adequado Trata-se de uma

forma que permite explorar mais amplamente o assunto em discussatildeo

A elaboraccedilatildeo de um Guiatildeo de Entrevista (anexos I e II) funcionou como roteiro

de toacutepicos e viria a revelar-se um instrumento de trabalho essencial uma vez que

permitiu assegurar uma certa homogeneidade na conduccedilatildeo das entrevistas possibili-

tando posteriormente um trabalho de anaacutelise comparativa das respostas

Os entrevistados foram escolhidos criteriosa e intencionalmente tendo sido

contactadas para o efeito individualidades representativas de oacutergatildeos governamentais

59 Para Goode e Hatt a entrevista ldquoconsiste no desenvolvimento de precisatildeo focalizaccedilatildeo fidedignidade e validade de um certo acto social como a conversaccedilatildeordquo (Goode e Hatt in Marconi 1990) Jaacute Beste

96

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilaterais

portuguesas mas tambeacutem docentes de instituiccedilotildees portuguesas directamente respon-

saacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de programas e acccedilotildees de ensino transnacional no

domiacutenio do ensino superior Realizaram-se um total de seis entrevistas a personalidades

com um grau elevado de envolvimento e capacidade de decisatildeo neste domiacutenio Dado

tratar-se de um assunto que pode suscitar poleacutemica e produz confronto de ideias de

forma a permitir maior liberdade de expressatildeo aos entrevistados natildeo satildeo identificados

nomes apenas cargos encontrando-se as entrevistas numeradas de 1 a 6 para melhor

identificaccedilatildeo a uacutenica excepccedilatildeo vai para os entrevistados dos paiacuteses beneficiaacuterios como

eacute exemplo a entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) Aproveitando o facto de este se encontrar se encontrar em Portugal surgiu a

oportunidade de o entrevistar permitindo deste modo dar voz igualmente aos paiacuteses

beneficiaacuterios No caso de Cabo Verde e por falta de oportunidade natildeo foi possiacutevel

entrevistar pessoalmente nenhum representante do governo cabo-verdiano no entanto as

facilidades disponibilizadas hoje em dia pelas novas tecnologias permitiram que apoacutes

um contacto telefoacutenico preacutevio a Directora Geral do Ensino Superior de Cabo Verde se

disponibilizasse para responder a algumas perguntas via e-mail Este meio de entrevista

alternativo natildeo permite a mesma margem de manobra permitida pela entrevista

presencial no entanto foi uma forma alternativa encontrada para auscultar a posiccedilatildeo de

Cabo Verde sobre a problemaacutetica em estudo permitindo a ambos os paiacuteses beneficiaacuterios

pronunciarem-se Apesar dos esforccedilos envidados Cabo Verde nunca chegaria a respon-

der agraves questotildees colocadas natildeo havendo por isso qualquer posiccedilatildeo oficial sobre estas

problemaacuteticas da parte deste paiacutes

As questotildees colocadas aos elementos dos paiacuteses beneficiaacuterios obedeceram igual-

mente a um Guiatildeo de Entrevista especiacutefico criado para o efeito (Anexo II) uma vez

que e apesar da natureza das questotildees ser a mesma a sua formulaccedilatildeo impotildee-se dife-

rente por forccedila das circunstacircncias

O observador assume em todo este processo um papel preponderante uma vez

que eacute utilizado como meacutetodo complementar a observaccedilatildeo participante Mann caracteriza

a observaccedilatildeo participante como ldquouma tentativa de colocar o observador e o observado

considera este meacutetodo de pesquisa como o instrumento por excelecircncia da investigaccedilatildeo social ldquoEacute muitas vezes superior a outros sistemas de obtenccedilatildeo de dadosrdquo (Best in Marconi 1990)

97

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do mesmo lado tornando-se o observador um membro do grupo de molde a vivenciar o

que eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referecircncia delesrdquo (Mann in

Marconi 1990) Estamos perante uma teacutecnica de observaccedilatildeo participante natural uma

vez que o observador se encontra profissionalmente envolvido com um dos programas

de cooperaccedilatildeo em anaacutelise Neste caso a intimidade gerada por este facto pode dificultar

o distanciamento desejaacutevel entre o investigador e o seu objecto de estudo Haacute de facto

um risco desde logo assumido de enviesamento de resultados

O Quadro nordm 1 procura resumir e clarificar melhor as teacutecnicas utilizadas neste

estudo

QUADRO Nordm 1

Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas

Categoria Teacutecnicas Referecircncias

Teacutecnicas

Documentais bull Observaccedilatildeo indirecta

bull Documentos oficiais (protocolos relatoacuterios etc)

bull Paacuteginas de internet oficiais

bull Publicaccedilotildees

bull Revistas

Teacutecnicas de

Observaccedilatildeo

bull Observaccedilatildeo directa

bull Intensiva

bull Estudo de caso

bull Entrevista (natildeo estruturada

de questotildees abertas)

bull Observaccedilatildeo participante

Fonte a autora

Apesar das fragilidades que cada uma destas teacutecnicas possa encerrar segundo

Deshaires em Ciecircncias Sociais e Humanas ldquo(hellip) conforme se trata de observaccedilatildeo

indirecta (pelas teacutecnicas documentais) ou de observaccedilatildeo directa extensiva ou intensiva

(pelas teacutecnicas vivas) devem ser respeitadas precauccedilotildees especiais Nas teacutecnicas vivas

de observaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre observador e observado apresenta inuacutemeras conse-

quecircncias no plano metodoloacutegico A conduccedilatildeo da observaccedilatildeo requer uma vigilacircncia

acrescida natildeo apenas das atitudes do observador mas tambeacutem das reacccedilotildees dos sujeitos

98

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

observados () Aliaacutes a tendecircncia actual dos investigadores para o desenvolvimento de

uma metodologia qualitativa na anaacutelise de situaccedilotildees ou de problemas em ciecircncias

humanas demonstra a que ponto a medida quantitativa eacute incapaz de responder a todas as

questotildees Em contrapartida a ideia de verificaccedilatildeo natildeo deve perder de vista a finura da

sensibilidade discriminativa ldquo (Deshaires 1992)

99

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

100

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de

Cooperaccedilatildeo Portuguesa 41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso

Como referido anteriormente o presente trabalho propotildee-se realizar um estudo

comparativo entre os modelos de ensino integrados em programas de cooperaccedilatildeo com

os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior procurando pocircr

em contraposiccedilatildeo o modelo tradicional de cooperaccedilatildeo com um outro de caracteriacutesticas

diferentes como eacute o modelo de cooperaccedilatildeo praticado com Timor Leste

Seleccionou-se como Estudo de Caso nordm 1 a anaacutelise das relaccedilotildees bilaterais entre

Portugal e Cabo Verde uma vez que a poliacutetica portuguesa de cooperaccedilatildeo com este paiacutes

traduz a dinacircmica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa e reflecte a geacutenese das acccedilotildees

de ensino transnacional nos PALOPs A anaacutelise deste Estudo de Caso procuraraacute

descrever a trajectoacuteria de cooperaccedilatildeo para a aacuterea do Ensino Superior e analisar a

evoluccedilatildeo do modelo de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde na uacuteltima deacutecada

O Estudo de Caso nordm 2 refere-se agrave cooperaccedilatildeo com Timor Leste este modelo de

cooperaccedilatildeo reveste-se de caracteriacutesticas distintas e algo peculiares relativamente ao caso

anterior particularmente salientadas quando comparado com as praacuteticas de cooperaccedilatildeo

que Portugal vem mantendo com os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa Portugal tem

um passado muito recente no que respeita agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Timor Leste

facto que confere a este modelo de cooperaccedilatildeo caracteriacutesticas de grande interesse e

singularidade revelando particularidades que se devem natildeo soacute ao passado histoacuterico que

une os dois paiacuteses mas tambeacutem ao contexto cultural e geograacutefico de Timor Leste

situaccedilatildeo que confere a este especificidades uacutenicas

101

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

4111 Enquadramento socio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde

A Repuacuteblica de Cabo Verde situa-se geograficamente ao largo da Costa Oeste

Africana e eacute constituiacuteda por um arquipeacutelago composto por dez ilhas que ocupam um

total de 4033 km2 Das dez ilhas que compotildeem o arquipeacutelago de Cabo Verde apenas

nove satildeo habitadas e o uacuteltimo censo determinou a existecircncia de um total de 341 607

habitantes com uma densidade populacional de 847 hkm2 O idioma oficial de Cabo

Verde eacute o Portuguecircs Segundo fontes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Cabo-

-Verdiano 60 a escolaridade obrigatoacuteria eacute de 6 anos que podem ser seguidos de um

ciclo de mais 5 anos trecircs dos quais para formaccedilatildeo geral e mais dois de um curso preacute-

-universitaacuterio O niacutevel de escolaridade para um paiacutes com estas caracteriacutesticas eacute consi-

derado elevado registando-se uma taxa de frequecircncia escolar na ordem dos 222 do

total de habitantes sendo este valor notoriamente superior se tivermos em atenccedilatildeo a

taxa de escolaridade do ensino baacutesico que ascende a 96 da populaccedilatildeo No ano de 1990

estimava-se uma taxa de analfabetismo de cerca de 30 o que para um paiacutes em vias de

desenvolvimento pode ser considerado um valor bastante animador em termos de

perspectivas de desenvolvimento

A populaccedilatildeo activa exerce a sua actividade maioritariamente no sector primaacuterio

seguindo-se o sector terciaacuterio sendo que o primeiro o sector de actividades onde se

inclui a agricultura e pescas eacute responsaacutevel por gerar a maior percentagem do PIB do

paiacutes A agricultura e o gado constituem portanto as principais bases da economia cabo

verdiana Economicamente o paiacutes caracteriza-se por um acentuado crescimento do saldo

negativo da balanccedila comercial e dos serviccedilos compensado pelas remessas dos

emigrantes e pela ajuda puacuteblica ao desenvolvimento (donativos e empreacutestimos)

60 Infopor (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpedendeiucpt~infoporcabo_ver-

deeducacaohtml Arquivo capturado em 1 de Julho de 2003

102

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Em suma e segundo um estudo da Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 61 podemos

considerar como condicionalismos ao desenvolvimento do paiacutes exteriores ao sistema

educativo os seguintes aspectos de ordem econoacutemico-financeira cultural e de desenvol-

vimento

Insuficiente satisfaccedilatildeo das necessidades sociais baacutesicas

Carecircncia generalizada de quadros

Reduzida dimensatildeo do sector industrial

Elevado niacutevel de dependecircncia externa

Balanccedila comercial deficitaacuteria

Grande peso do sector dos serviccedilos

Elevada taxa de desemprego atingindo maioritariamente a populaccedilatildeo

jovem

Persistecircncia de assimetrias soacutecio-culturais significativas

Grande atracccedilatildeo pela emigraccedilatildeo

Pouca atracccedilatildeo para o regresso ao trabalho agriacutecola apoacutes a escolarizaccedilatildeo

Ainda assim regista-se um grande dinamismo na sociedade cabo-verdiana com

vista agrave modernizaccedilatildeo da sua economia sendo este movimento reforccedilado pela neces-

sidade de procura de uma identidade nacional que compatibilize os valores da tradiccedilatildeo

com os desafios postos pela modernidade

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde

Os fortes e ancestrais laccedilos culturais e de amizade que unem Portugal e Cabo

Verde foram criando condiccedilotildees que propiciaram agraves instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas ao longo dos anos a manutenccedilatildeo de estreitas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo com

este paiacutes cuja afinidade linguiacutestica se revelou uma mais valia acrescida e um elemento

impulsionador ao fortalecimento das relaccedilotildees acadeacutemicas Cabo Verde soube gerir da

melhor forma as oportunidades de apoio oferecidas por Portugal particularmente para o

61 Estudos Africanos ldquoA Educaccedilatildeo na Repuacuteblica de Cabo Verde ndash Anaacutelise Sectorialrdquo Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian Volume I Lisboa 1987

103

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sector do ensino superior de tal forma que actualmente a contribuiccedilatildeo Portuguesa para

o Orccedilamento de Estado para a Educaccedilatildeo daquele paiacutes oscila entre os 20 e 30 Para

aleacutem das iniciativas individuais das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

universitaacuterias e politeacutecnicas para a promoccedilatildeo de ensino transnacional em Cabo Verde

tambeacutem o Estado Portuguecircs desde sempre financiou iniciativas desta natureza

incluindo a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo No entanto como referido anteriormente

para efeitos deste trabalho apenas interessaraacute estudar as actividades de cooperaccedilatildeo ao

niacutevel do ensino superior desenvolvidas no territoacuterio cabo-verdiano e que respeitem

apenas a instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblico

Desde sempre tecircm existido tentativas de regular e coordenar as actividades de

cooperaccedilatildeo para o ensino superior A descoordenaccedilatildeo destas actividades o desconhe-

cimento entre instituiccedilotildees governamentais sobre os programas de cooperaccedilatildeo em curso

nos vaacuterios domiacutenios eacute uma questatildeo recorrente e um problema assumido presentemente

pelo Estado Portuguecircs como uma das maiores dificuldades para a qual eacute necessaacuterio

envidar esforccedilos no sentido de minorar a ineficaacutecia das acccedilotildees daiacute decorrente Esta

constataccedilatildeo eacute assumida e reconhecida pelo Estado Portuguecircs pela voz de um

responsaacutevel pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo nacionais

ldquoEacute preciso primeiro reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos

meios que lhe permitam ter capacidade de articulaccedilatildeo e de

cooperaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas

depois eacute fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute

faz sentido no quadro de estrateacutegias de programas natildeo faz

sentido a acccedilotildees (hellip) ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as

instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo de que dentro do proacuteprio

Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou

seja como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees

de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com esse mundo todo que estaacute aiacute

fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a

sua instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do

organismo central da cooperaccedilatildeo

Portantohellip o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da

cooperaccedilatildeo com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo

(hellip)rdquo (Entrevista nordm 1)

104

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Efectivamente a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute frontalmente acusada de

ser incipiente e os seus programas de cooperaccedilatildeo incluindo aqueles ligados ao ensino

superior transnacional satildeo realizados a partir de contactos privilegiados e relaccedilotildees

pessoais ldquo(hellip) dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso

encontrar executores Como eacute que se faz o recrutamento de

executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa nesse aspecto eacute

extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais (hellip) Essa

gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de

deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final quando natildeo haacute mais dinheiro

o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da

nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo comparativamente a outros paiacuteses

(hellip) (Entrevista nordm 6)

(hellip)

ldquoPara lhe responder a isso era preciso que eu estivesse

convencido que haacute alguma estrateacutegia da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo Aahellipestas coisas da cooperaccedilatildeo pode haver uma

estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do

conhecimento das realidades locais e de conhecimentos inter-

pessoais (hellip) Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portugue-

sa pode haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo

nenhuma nunca conheci nenhumardquo (Entrevista nordm 2)

Natildeo eacute claro que se trate de uma questatildeo de ldquofavorecimentosrdquo pessoais ou insti-

tucionais no sentido de beneficiar determinada instituiccedilatildeo de ensino em detrimento de

outra mas antes de oportunidades poliacuteticas e institucionais fruto do acaso e do sentido

de oportunidade ao inveacutes de resultarem como seria desejaacutevel de uma reflexatildeo seacuteria e

conjunta que desse origem a um planeamento estrateacutegico a implementar por Portugal

No caso de Cabo Verde foi identificada desde logo a necessidade de coorde-

naccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo necessidade que se tentou suprir atraveacutes da

105

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

criaccedilatildeo da Comissatildeo Instaladora do Ensino Superior criada em 1992 no acircmbito do

Plano de Reforma do Ensino Este oacutergatildeo tinha por objectivo fazer o enquadramento

institucional das competecircncias existentes e a coordenaccedilatildeo dos projectos internacionais

atraveacutes da assinatura de acordos sucessivos No entanto e segundo o Relatoacuterio de

Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superiorrdquo 62

apesar destes esforccedilos continuaria a verificar-se uma relativa dispersatildeo das iniciativas

de cooperaccedilatildeo

Perante este facto foi aumentando cada vez mais a consciecircncia da necessidade de

uma maior coordenaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com vista agrave rentabilizaccedilatildeo dos

recursos e a um planeamento mais rigoroso para o desenvolvimento sustentado do

ensino superior em Cabo Verde nomeadamente com o apoio agrave criaccedilatildeo de uma univer-

sidade De referir que sendo a ldquofuga de ceacuterebrosrdquo uma das maiores dificuldades que

enfrentam os paiacuteses em desenvolvimento uma vez que natildeo possuem estruturas para

atrair e fixar os seus quadros meacutedios e superiores a criaccedilatildeo de uma universidade no

territoacuterio de Cabo Verde surge como uma alternativa para tentar diminuir o nuacutemero de

bolsas para fora do paiacutes anualmente atribuiacutedas quer pelo Estado Portuguecircs quer pelo

Cabo-Verdiano de referir que a taxa de retorno deste investimento eacute assumidamente

considerada abaixo dos valores desejaacuteveis uma vez que satildeo poucos os alunos que

pretendem regressar ao seu paiacutes de origem depois de formados

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Resultante deste contexto foi assinado em 1997 um Acordo de Cooperaccedilatildeo entre

Portugal e Cabo Verde para a aacuterea do ensino superior publicado em Decreto-Lei 4197

(ver anexo IX) cujo objectivo principal eacute segundo o artigo 1ordm do referido Decreto-Lei

ldquoConjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo

Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre instituiccedilotildees de ensino superior e de

investigaccedilatildeo de ambos os paiacutesesrdquo 63

62 Matias Neacutelson et al ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Marccedilo 2003 mdash Documento natildeo publicado 63 Decreto-Lei nordm 4197 de 12 de Agosto Diaacuterio da Repuacuteblica ndash I Seacuterie-A

106

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Conforme decretado constituiu-se pela primeira vez na histoacuteria de cooperaccedilatildeo

portuguesa com os paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa uma Comissatildeo Paritaacuteria cujas

atribuiccedilotildees eram essencialmente de implementaccedilatildeo e acompanhamento das acccedilotildees

conducentes ao desenvolvimento do ensino superior Esta Comissatildeo tinha como

incumbecircncia a elaboraccedilatildeo de um projecto de regulamento a homologar por ambas as

partes mdash Portugal e Cabo Verde onde estivesse especificado a sua forma de

funcionamento e o plano de actividades a implementar de modo a concretizar os

objectivos propostos Os objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria assentavam num

plano estrateacutegico de acccedilatildeo para o desenvolvimento do ensino superior e tinham um

prazo de execuccedilatildeo maacuteximo ateacute ao ano de 2002

A Comissatildeo Paritaacuteria esteve sob a coordenaccedilatildeo pela parte Portuguesa da Di-

recccedilatildeo Geral do Ensino Superior e nela encontravam-se representadas entre outras as

instituiccedilotildees de ensino superior atraveacutes de delegados do CRUP mdash Conselho de Reitores

das Universidades Portuguesas e do CCISP mdash Conselho Coordenador Institutos

Superiores Politeacutecnicos Pelo lado cabo-verdiano a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo

competia igualmente agrave Direcccedilatildeo Geral do Ensino Superior e as restantes representaccedilotildees

cabo verdianos eram exclusivamente de elementos governamentais

QUADRO Nordm 2

Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para cooperaccedilatildeo com Cabo Verde

EstruturasServiccedilos Portugal Cabo Verde

Coordenaccedilatildeo e

Desenvolvimento do

Ensino Superior

(ME)

Director do Departamento

Ensino Superior (DGESup)

Director Geral do Ensino

Superior e da Ciecircncia

(DGESC)

Ensino Superior

(instituiccedilotildees)

CRUP

CCISP mdash

Coordenaccedilatildeo da

Cooperaccedilatildeo (MNE)

Instituto da Cooperaccedilatildeo

Portuguesa (ICP)

Departamento de Cooperaccedilatildeo

da Embaixada de Cabo Verde

Direcccedilatildeo Geral de

Cooperaccedilatildeo Internacional

Observadores Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

107

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma anaacutelise mais atenta ao Quadro nordm 2 permite facilmente concluir que

enquanto do lado portuguecircs estariam representadas todas as entidade e instituiccedilotildees com

intervenccedilatildeo no processo quer ao niacutevel do financiamento e coordenaccedilatildeo quer na sua

vertente mais praacutetica de execuccedilatildeo o mesmo natildeo acontece do lado cabo-verdiano

Efectivamente a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo do paiacutes beneficiaacuterio eacute feita por

representantes de instituiccedilotildees que por norma assumem nestes processos um papel dema-

siado poliacutetico e menos planificador e executivo como seria desejaacutevel Na verdade os

principais beneficiaacuterios ou melhor os verdadeiros receptores dos programas de coope-

raccedilatildeo a implementar por esta Comissatildeo encontram-se ausentes da mesma Esta consta-

taccedilatildeo permite desde logo antever os motivos que levaram a uma certa inoperacircncia que

caracterizaria a sua actividade como a seguir se veraacute

Os eixos de actuaccedilatildeo que a Comissatildeo Paritaacuteria definiu como plano de acccedilatildeo satildeo

claramente identificados no relatoacuterio de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde produzido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento 64 Nele satildeo

indicados como objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria ldquoa reciprocidade a partilha

de tarefas a abertura a outras instituiccedilotildees um sentido de representaccedilatildeo institucional em

detrimento da representaccedilatildeo pessoal uma perspectiva de funcionamento permanente e

uma missatildeo orientada fundamentalmente para o planeamento coordenaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo

duma forma retrospectiva mas tambeacutem prospectivardquo O primeiro Plano de Actividades

da Comissatildeo definiu como linhas de acccedilatildeo questotildees pertinentes para o desenvolvimento

do ensino superior neste paiacutes que se resumem agrave necessidade de criar um enquadramento

legal do ensino superior em Cabo Verde atraveacutes do apoio agrave produccedilatildeo de legislaccedilatildeo

adequada a avaliaccedilatildeo institucional das instituiccedilotildees nacionais jaacute existentes a reorga-

nizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das dinacircmicas de cooperaccedilatildeo passando esta questatildeo pela identi-

ficaccedilatildeo de parceiros para a cooperaccedilatildeo a instalaccedilatildeo de processos de acesso ao ensino

superior em Portugal entre outros Este uacuteltimo objectivo natildeo seraacute aqui alvo de comen-

taacuterios ou consideraccedilotildees por natildeo se enquadrar nos objectivos de anaacutelise do presente

trabalho

Tendo a Comissatildeo Paritaacuteria sido criada com o intuito de monitorar as actividades

de cooperaccedilatildeo que ela proacutepria se propunha realizar a sua capacidade de execuccedilatildeo viria

a revelar-se pouco eficaz em parte devido aos fracos recursos financeiros e ateacute humanos

108

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

disponiacuteveis tendo o seu desempenho ficado aqueacutem do pretendido O relatoacuterio produ-

zido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento acusa mesmo esta Comissatildeo de

estar ldquo() condicionada na sua capacidade de realizar um acompanhamento de

proximidade da cooperaccedilatildeo e de intervirreorientar o seu plano de actividades quando

tal se tornasse necessaacuterio e em particular nas componentes em que a fragilidade deste

era mais evidente desde o iniacutecio nomeadamente na avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico

das instituiccedilotildees de ensino superior ()rdquo 65 Esta fragilidade claramente identificada no

referido relatoacuterio reveste-se de especial importacircncia na medida em que denuncia de

forma clara a ausecircncia de mecanismos de coordenaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo

levadas a cabo pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas em Cabo Verde

correndo-se o risco de haver uma desmultiplicaccedilatildeo de esforccedilos de vaacuterias instituiccedilotildees

numa mesma aacuterea carenciada em detrimento de outras aacutereas de intervenccedilatildeo igualmente

importantes O desconhecimento das actividades de cooperaccedilatildeo e a inoperacircncia da

Comissatildeo Paritaacuteria satildeo claramente denunciadas por um coordenador de programas de

cooperaccedilatildeo com Cabo Verde que apesar da existecircncia deste oacutergatildeo coordenador realiza

acordos de cooperaccedilatildeo e promove acccedilotildees em Cabo Verde com o total desconhecimento

da Comissatildeo Paritaacuteria tudo isto a partir de conveacutenios realizados entre a sua instituiccedilatildeo

de ensino e o entatildeo Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa actual Instituto Portuguecircs de

Apoio ao Desenvolvimento entidade que tutela a Comissatildeo Paritaacuteria Estas

constataccedilotildees satildeo confirmadas pelas afirmaccedilotildees do entrevistado nuacutemero 6 quando

questionado sobre as actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

ldquohellipmas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez nada eacute assim

reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido

define grandes linhas mas depois natildeo acompanhahellip a

implementaccedilatildeo das linhas (hellip) E portanto pode dizer aiacute que a

prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em primeiro

lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro

entreva e pronto Eacute uma barafunda Por outro lado a Comissatildeo

Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do ensino

superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe nada eacute que

eu negociei tudo isto agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em

64 Ibidem

109

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

minha casa falaacutessemos da Comissatildeo ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip)

soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordmhellip (referindo-

se a um elemento do ICP) foi eu natildeo quero os projectos incluiacutedos

no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute um

montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os

projectos autoacutenomosrdquo (Entrevista nordm 6)

O Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo potildee igualmente a nu a ausecircncia de qualquer Meca-

nismo de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade do trabalho desenvolvido pelas instituiccedilotildees

de ensino cooperantes Este documento vai mais longe nesta mateacuteria ao revelar que ldquoos

factos mostram que natildeo se poderaacute falar propriamente na existecircncia de um sistema de

planificaccedilatildeo e programaccedilatildeo de projectos de cooperaccedilatildeo jaacute que a evoluccedilatildeo verificada

levou a que os planos de actividades viessem a assumir a mera forma de mapas de

calendarizaccedilatildeo de missotildees A dimensatildeo visiacutevel dos projectos reduziu-se assim agrave reali-

zaccedilatildeo de missotildees (soacute) aparentemente avulsas que apenas se tornam compreensiacuteveis no

quadro do plano de actividades dos estabelecimentos de ensino de Cabo Verde e no

quadro da calendarizaccedilatildeo do serviccedilo docente relativamente agrave implementaccedilatildeo dos

curriacuteculos dos cursos que as missotildees pretendiam apoiarrdquo

As conclusotildees deste Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo revelam a existecircncia de cerca de 60

protocolos e conveacutenios celebrados entre instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

puacuteblicas e privadas e outros tantos com outras entidades de outra natureza entre as

quais instituiccedilotildees de investigaccedilatildeo Dos muitos protocolos assinados eacute assumido pelo

grupo de trabalho que os analisou e produziu o referido relatoacuterio que a grande parte

destes natildeo gerou qualquer relaccedilatildeo sustentada entre as entidades que os subscreveram

satildeo normalmente demasiado geneacutericos na sua grande maioria natildeo satildeo referidas as

fontes de financiamento e caracterizam-se particularmente por darem prioridade ao

apoio ao corpo docente agrave criaccedilatildeo de cursos e ao desenvolvimento institucional e

organizacional nomeadamente a participaccedilatildeo em conselhos cientiacuteficos apoio agrave organi-

zaccedilatildeo administrativa e cientiacutefico-departamental das escolas e das estruturas de investi-

gaccedilatildeo apoio bibliograacutefico ou laboratorial

65 Ibidem

110

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Entre 1997 e 2002 os anos de vigecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria regista-se um

incremento nas relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e cabo-

-verdianas fundamentalmente em torno dos cursos ministrados no territoacuterio A maioria

das acccedilotildees levadas a cabo satildeo missotildees pontuais de docecircncia num determinado curso

apesar de se registar igualmente programas que contemplam um ldquopacoterdquo que vai

normalmente desde a criaccedilatildeo dos curricula ateacute agrave efectiva leccionaccedilatildeo passando pelo

apoio bibliograacutefico e integraccedilatildeo de docentes cabo-verdianos no corpo docente

Segundo o mesmo Relatoacuterio registam-se taxas de leccionaccedilatildeo de docentes portugueses

nas Instituiccedilotildees de Ensino Cabo-Verdianas que oscilam entre os 80 a 100 o que

significa que natildeo estaacute a ser preparado o caminho para um desenvolvimento sustentado

apesar destes factos contrariarem as intenccedilotildees de apoio ao desenvolvimento sustentado

reveladas por governantes portugueses quando inquiridos sobre este assunto

ldquoDa poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante

desenvolver universidades locais do que transplantar univer-

sidades para esses paiacuteses (hellip) Natildeo podemos imaginar que

estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de

Direito de uma universidade qualquer como se fizeacutessemos uma

espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque

isso natildeo eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar

desenvolvimento (hellip) Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa

no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da cultura e do ensino

exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveisrdquo (Entrevista nordm 1)

Deduz-se das palavras deste representante do governo portuguecircs que para a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa mais do que organizar cursos em aacutereas estrateacutegias haacute que criar

condiccedilotildees para que a meacutedio prazo Cabo Verde possa constituir a sua proacutepria

universidade dotada de um corpo docente local apesar de natildeo ser de excluir a hipoacutetese

de manter uma cooperaccedilatildeo activa embora a outros niacuteveis

Para aleacutem das alteraccedilotildees registadas agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa

motivadas por inuacutemeros factores tais como a mudanccedila consecutiva dos responsaacuteveis

pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo estas mudanccedilas natildeo viriam a ser tatildeo

determinantes quanto isso para a efectiva concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de cooperaccedilatildeo jaacute

111

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

delineadas Determinante viria a revelar-se o Foacuterum sobre o Ensino Superior

promovido pelo Governo Cabo-Verdiano A realizaccedilatildeo deste evento marcou o processo

de criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde definido entatildeo como uma meta a atingir

pelo paiacutes a curtomeacutedio prazo A criaccedilatildeo desta instituiccedilatildeo passaraacute obrigatoriamente por

um processo de preparaccedilatildeo que entre outros ajustes obriga agrave consolidaccedilatildeo das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior jaacute existentes ao aumento da oferta de formaccedilatildeo

agrave criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de leis reguladoras do ensino superior etc Contrariamente

agraves expectativas iniciais este planeamento estrateacutegico natildeo viria a concretizar-se na sua

plenitude por responsabilidade das autoridades cabo-verdianas com excepccedilatildeo da

criaccedilatildeo da universidade cuja existecircncia apesar de tudo natildeo passou do papel assistindo-

se paralelamente ao desenvolvimento do ensino superior privado do qual pouco ou

nada se conhece nomeadamente quais os objectivos traccedilados mas que no contexto

actual do paiacutes acaba por desempenhar um papel importante na ajuda agrave supressatildeo das

necessidades de oferta

As actividades da cooperaccedilatildeo portuguesa passaram a partir desta altura a

restringir-se ao desenvolvimento e consolidaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino

superior puacuteblicos de Cabo Verde com especial incidecircncia no aumento da oferta de

formaccedilatildeo Satildeo identificadas no Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo as dificuldades

sentidas pela Comissatildeo Paritaacuteria na concretizaccedilatildeo das componentes natildeo docentes do

Plano de Actividades afirmando-se claramente que a ldquoavaliaccedilatildeo e o planeamento

estrateacutegico das instituiccedilotildees quer na identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo de parcerias estrateacutegicas

conduziu-a a uma aproximaccedilatildeo progressiva ao terrenordquo 66 Nesta fase de redefiniccedilatildeo das

linhas de acccedilatildeo da cooperaccedilatildeo traccedilaram-se novas metas no sentido de implementar

novas estrateacutegias que passam pelo fortalecimento de relaccedilotildees inter-institucionais entre

parceiros estrateacutegicos indicados por cada uma das instituiccedilotildees de ensino superior jaacute

existentes no paiacutes receptor Pretende-se com esta nova atitude promover o desenvol-

vimento sustentado do sector do ensino superior uma vez ter-se voltado novamente agrave

praacutetica de criaccedilatildeo de ldquopacotesrdquo de cursos que incluem a criaccedilatildeo dos curriacuteculos ateacute agrave sua

leccionaccedilatildeo por um corpo de docente portugueses Esta poliacutetica contrariamente ao

objectivo para a qual foi desenhada pode ser considerada regressiva na perspectiva do

paiacutes beneficiaacuterio apenas sendo entendida e aceite enquanto estrateacutegia para diminuir o

112

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fluxo de estudantes que saem do paiacutes para estudar muitos deles com bolsas da

cooperaccedilatildeo portuguesa Nesta altura a Comissatildeo Paritaacuteria estaria notoriamente

impotente para exercer as suas funccedilotildees de regulaccedilatildeo limitando-se apenas a realizar um

trabalho de conciliadora dos problemas que entretanto iam surgindo supostamente

devido agrave quantidade de projectos de cooperaccedilatildeo diacutespares que proliferavam

QUADRO Nordm 3

Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior segundo a entidade financiadora e executora

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde e Avaliaccedilatildeo das Instituiccedilotildees Ensino e Investigaccedilatildeo

Apoio concepccedilatildeo do modelo e produccedilatildeo de

legislaccedilatildeo FCG

Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian mdash

Avaliaccedilatildeo e desenvolvimento

estrateacutegico das instituiccedilotildees de ensino superior

ICP DGESup ICCTI

CIPES A vertente de avaliaccedilatildeo institucional nunca teraacute sido posta em praacutetica

Desenvolvimento do CFNISECMAR e do ensino das engenharias e nas aacutereas naacuteutica e

naval

Desenvolvimento Centro Formaccedilatildeo Naacuteutica

ICP MES

ENIDH IST

U Algarve mdash

Desenvolvimento do ISECMAR

ICP MES

U Algarve ISECMAR

ENIDH U Algarve

ICP FCT-UC

mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na Formaccedilatildeo de

Professores IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea das

Engenharias e da Gestatildeo IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea da

Matemaacutetica

ICP U

Portucalense

Esta acccedilatildeo natildeo chegou a concretizar-se por falta de confirmaccedilatildeo do ISECMAR

66 Ibidem

113

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento da Formaccedilatildeo em Economia e Gestatildeo criaccedilatildeo do ISCEE e apoio ao INAG

Cooperaccedilatildeo ISEG e ISCEE ICP ISEG FEUC

mdash

Cooperaccedilatildeo em Gestatildeo Bancaacuteria (ISGB-ISCEE)

ISGB Sistema Bancaacuterio

ISGB ISCEE

mdash

Outras cooperaccedilotildees com o ISCEE

IP Santareacutem IP Leiria

IP Santareacutem IP Leiria

mdash

Cooperaccedilatildeo com o INAG ESG Santareacutem

ESG Santareacutem

mdash

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Desenvolvimento do CFAINIDA e da formaccedilatildeo em Ciecircncias Agraacuterias e Desenvolvimento Rural

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Desenvolvimento da formaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede e criaccedilatildeo de uma Escola Superior de Sauacutede

Mestrado em Ciecircncias da Sauacutede

ICP U Coimbra mdash

Escola Superior de Sauacutede ICP U Coimbra mdash

Desenvolvimento do ISE do IP e da Formaccedilatildeo para o Sistema Educativo

1 Apoio em infraestruturas fiacutesicas e equipamentos

Construccedilatildeo de Escolas (edifiacutecio ISE)

DGAERI mdash mdash

2 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

PUENTI ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

Assistecircncia teacutecnica e cientiacutefica e docecircncia para o Bacharelato

em Educaccedilatildeo Fiacutesica ICP IP Coimbra mdash

PUENTI CEB ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

U Aberta deslocaccedilotildees

ICP U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Aberta com o ISE e o IP

ICP

U Aberta U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Portucalense com o ISE

ICP U Portucalense mdash

3 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

Apoio ao IP de Cabo Verde GAERI Vaacuterios mdash

Reconversatildeo de docentes do Ensino Baacutesico

IP Leiria IP Leiria mdash

Professores para o Poacutelo IP da Assomada

ICP ndash mdash

Curso Poacutes Graduaccedilatildeo Educadores de Infacircncia

IP IP Coimbra mdash

Bacharelato Educadores de Infacircncia

ICP IP Coimbra Curso natildeo reconhecido por Cabo Verde como formaccedilatildeo

de Ensino Superior

114

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4 Desenvolvimento de outras formaccedilotildees no ISE

Estudos Humaniacutesticos GAERI

ICP Fac Letras mdash

Cooperaccedilatildeo entre Centro Internacional matemaacutetica

e o ISE

ICP

GAERI CIM mdash

Ciclo de conferecircncias ICP CNDP mdash

Cooperaccedilatildeo Fac Letras e ISE ICP Fac Letras Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo U Coimbra e ISE ICP U Coimbra Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Histoacuteria

ICP U Portucalense Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Filosofia

ICP

U Eacutevora

U Lisboa

U Porto

Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

5 Acccedilotildees de Apoio agrave divulgaccedilatildeo e desenvolvimento da liacutengua e cultura portuguesas

Leitores Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Centro de Liacutengua

Portuguesa Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Apoio ao desenvolvimento de outros cursos aacutereas e instituiccedilotildees

1 Desenvolvimento da Formaccedilatildeo no sector do Turismo

Bacharelato em Turismo ISP IP Coimbra mdash

2 Apoio ao LEC e ao desenvolvimento da Engenharia Civil

Apoio ao LEC ICP IST mdash

Apoio agrave coordenaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo bilateral no acircmbito do ensino superior

Protocolo Ensino Superior ICP

GAERI Vaacuterios mdash

Programa de intervenccedilatildeo

do IP de Coimbra ICP

ICP

IP Coimbra mdash

Criaccedilatildeo da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Cooperaccedilatildeo PIAGET

Instituto Piaget

ICP

Instituto

Piaget mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

115

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A anaacutelise do Quadro nordm 3 vem confirmar algumas das constataccedilotildees que tecircm

vindo a ser feitas ao longo do presente capiacutetulo de um total de 40 projectos listados no

quadro nordm 3 como previstos ou efectivamente realizados para o sector do ensino

superior no territoacuterio de Cabo Verde mais de metade satildeo da responsabilidade de insti-

tuiccedilotildees de ensino superior ou outras de natureza puacuteblica Esta constataccedilatildeo vem provar

que as actividades de ensino transnacional com fins meramente cooperativos satildeo maio-

ritaacuteriamente realizadas por instituiccedilotildees puacuteblicas Jaacute o mesmo natildeo se poderaacute afirmar das

actividades desenvolvidas por instituiccedilotildees privadas que podem natildeo ter fins meramente

cooperativos mas antes de caraacutecter lucrativo Este fenoacutemeno pode levar agrave conclusatildeo

que quando as actividades de ensino transnacional se encontram integradas em poliacuteticas

de cooperaccedilatildeo logo sem natureza comercial ou sem fins lucrativos (pelo menos em

teoria) natildeo despertam o interesse das instituiccedilotildees de ensino superior privado que

sobrevivem como eacute sabido em funccedilatildeo do lucro e dos proveitos financeiros resultantes

das suas actividades Nos uacuteltimos anos a proliferaccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino

superior privado nos paiacuteses africanos tem sido exponencial levando a crer que este

aumento da oferta se faccedila a troco de propinas de valor avultado o que indicia um

retorno raacutepido do investimento e o lucro faacutecil

Quanto agraves razotildees que levaram a que alguns dos projectos aqui representados

obtivessem apoio financeiro por parte do Governo Portuguecircs e segundo as palavras de

um representante de uma instituiccedilatildeo de ensino puacuteblica beneficiaacuteria desses apoios (e

esquecendo por instantes a figura do Gestor criada pelo ICP e cujas atribuiccedilotildees seratildeo

analisadas de seguida) pode deduzir-se natildeo ter existido qualquer criteacuterio especiacutefico

mas antes por motivos que podem ser completamente aleatoacuterios como os que a seguir

se apresentam

ldquo(hellip) a primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees

futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees pessoais em escolas

que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na

parte das Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento

pessoal que a gente tem com alguns dos ex-alunos daqui que

estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses (hellip) a cabo-

-verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos os cursos que

116

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes

adaptaacutemo-nos com os curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e

pedagoacutegica do curso face a essa necessidade Mashellip em muitos

paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se

passa eacute o seguinte como as populaccedilotildees demograficamente satildeo

jovens a entrada no mercado natildeo se daacute porque natildeo haacute mercado

de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entre-

ter estes jovens e logo optam pelo ensino desde quehellip (hellip) Natildeo haacute

que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal

quanto mais noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito gran-

des neste momento em Angola do ensino superior temos muita

gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos

anaacuterquica dependendo da vontade dos dirigentes do que propria-

mente das necessidadeshelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Interessante eacute igualmente a anaacutelise das entidades financiadoras dos projectos

listados no quadro nordm 3 um total de 45 dos projectos inscritos eacute financiado na sua

totalidade pelo ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa que a niacutevel governamental eacute

a instituiccedilatildeo que tem responsabilidades ao niacutevel da concepccedilatildeo das poliacuteticas bilaterais

coordenaccedilatildeo e financiamento das actividades de cooperaccedilatildeo Dos restantes projectos o

ICP aparece como entidade financiadora parcialmente em mais 25 o que significa

que do elenco de projectos analisado o Estado Portuguecircs suporta financeiramente total

ou parcialmente 70 cabendo a outras instituiccedilotildees muitas delas puacuteblicas o

financiamento dos restantes 30 Esta anaacutelise poderaacute servir de amostra para concluir

que indubitavelmente o Estado Portuguecircs eacute o grande financiador das actividades

desenvolvidas em Cabo Verde e as instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas as

executoras no domiacutenio do Ensino Superior Eacute igualmente interessante constatar que dos

40 projectos enumerados apenas 4 estatildeo integrados no Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997

logo sob a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria Eacute caso para questionar em que contexto

eacute que aparecem os restantes projectos e qual a instituiccedilatildeo que os coordena sendo agrave

partida claro que eacute o Estado Portuguecircs a entidade financiadora Perante esta constataccedilatildeo

natildeo seraacute despiciente questionar-se a relevacircncia de todas estas acccedilotildees para o

desenvolvimento (sustentado) do sector do ensino superior cabo-verdiano ou seja natildeo

havendo um trabalho de campo e uma anaacutelise cientiacutefica que identifique claramente as

117

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidades e aacutereas estrateacutegicas corre-se o risco de se estarem a realizar acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo ldquoavulsasrdquo que muito pouco contribuiratildeo para o efectivo alcance dos

objectivos pretendidos

Num quadro de relativa indefiniccedilatildeo por parte das proacuteprias autoridades cabo-

-verdianas sobre a orientaccedilatildeo a dar agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que eacute exemplo concreto

a natildeo viabilidade da constituiccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde pelo lado de Portugal

regista-se apesar de tudo um apoio mais concertado nomeadamente na promoccedilatildeo de

formaccedilatildeo em novas aacutereas fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes de que satildeo

exemplo o sector da sauacutede ou do turismo

QUADRO Nordm 4

Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo (puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido

Instituiccedilatildeo Niacutevel de Formaccedilatildeo

199900 (nordm cursos)

200001 (nordm cursos)

200102 (nordm cursos)

200203 (nordm cursos)

Meacutedio 1 1 1 1

Bacharelato

mdash mdash ndash ndash Licenciatura mdash mdash mdash mdash

Instituto Pedagoacutegico

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 9 7 4 2

Licenciatura mdash 3 8 11 ISE ndash Instituto

Superior de Educaccedilatildeo Mestrado mdash mdash 1 1

Bacharelato 5 5 8 8

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISECMAR Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 2 2 mdash 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash CFA ndash INIDA Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 1 1 1 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISCEE Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato mdash mdash 3 3

Licenciatura mdash mdash mdash mdash Direcccedilatildeo Geral de Turismo

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

O Quadro nordm 4 apresenta a evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos e niacutevel de formaccedilatildeo

que conferem distribuiacutedos por anos lectivos e realizados nas instituiccedilotildees puacuteblicas cabo-

118

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

-verdianas desde 1999 ateacute 2003 Numa anaacutelise superficial dos dados aqui apresentados

desde logo eacute verificaacutevel que de todas as instituiccedilotildees listadas o ISE (Instituto Superior

de Educaccedilatildeo) eacute aquele que apresenta uma evoluccedilatildeo ou crescimento mais coerente No

ano lectivo de 199900 o ISE oferecia 9 cursos de bacharelato que passaram a 10 cursos

no ano lectivo seguinte distribuiacutedos entre bacharelatos e licenciaturas A evoluccedilatildeo desta

instituiccedilatildeo eacute positiva e tem sido em crescendo oferecendo no presente lectivo

(20022003) um total de 14 cursos dos quais um eacute de Mestrado (primeiro curso de

Mestrado ministrado em Cabo Verde) O ISECMAR eacute uma aposta mais vincada a partir

do ano lectivo de 200102 oferecendo desde entatildeo formaccedilatildeo em 8 cursos todos condu-

centes ao grau de bacharel Esta aacuterea eacute fundamental para o desenvolvimento do paiacutes

sendo portanto de louvar as iniciativas para o seu desenvolvimento

Apesar da recente incidecircncia de acccedilotildees de cooperaccedilatildeo nas aacutereas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a anaacutelise transversal do quadro nordm 4 revela que regra geral a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa continua a apostar maioritariamente em acccedilotildees que incidem nos

chamados cursos de ldquopapel e laacutepisrdquo as razotildees para tal satildeo oacutebvias e amplamente

conhecidas e passam pela maior facilidade e baixos custos que acarreta formar pessoas

em aacutereas para as quais natildeo satildeo necessaacuterias grandes infra-estruturas de apoio ao ensino

nem um grande investimento em material didaacutectico ou equipamentos como eacute o caso de

laboratoacuterios O Bacharelato continua a ter primazia sobre os restantes niacuteveis de

formaccedilatildeo superior o que aparentemente eacute a opccedilatildeo correcta e mais indicada tendo em

conta as reais necessidades do paiacutes No entanto o ISE salienta-se uma vez mais pelo

facto de nos dois uacuteltimos anos lectivos apostar numa formaccedilatildeo em niacuteveis mais

avanccedilados nomeadamente licenciatura e mestrado

Paralelamente agrave existecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria em funccedilotildees desde 1997 foi

criada para cada paiacutes beneficiaacuterio a figura do Gestor Para desempenhar esta tarefa foi

nomeado para cada PALOP uma individualidade ligada ao ensino superior e com vasta

experiecircncia no sector Segundo foi possiacutevel apurar este cargo reportava directamente ao

ICP e a sua actividade passava completamente agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria no caso

particular de Cabo Verde A figura do Gestor foi criado com o intuito de auxiliar Cabo

Verde na definiccedilatildeo dos programas e acccedilotildees e mediar essa negociaccedilatildeo junto das

autoridades portuguesas no entanto eacute assumido pelo proacuteprio executor do cargo na

primeira pessoa que haacute uma certa tentaccedilatildeo para exercer uma certa influecircncia junto das

119

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

autoridades cabo-verdianas Conclui-se desta forma que haacute fortes probabilidades do

processo de negociaccedilatildeo ser encaminhado pelo proacuteprio gestor que interveacutem directamente

junto do Governo Portuguecircs o que a confirmar-se vem demonstrar uma vez mais que a

Cooperaccedilatildeo Portuguesa natildeo construiu uma base sustentada de negociaccedilatildeo das suas

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo baseada em estudos cientiacuteficos e diagnoacutestico de necessidades

como seria desejaacutevel

(hellip) convidou-me e disse-me ldquoolhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute

ter um gestor da cooperaccedilatildeo para cada um dos paiacuteses eacute a pessoa

com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o

que quer eacute o outro paiacutes mas eacute preciso que algueacutem em Portugal vaacute

trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para se

encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip

porque agraves vezes as pessoas quando tambeacutem natildeo sabem o que

querem tecircm dificuldade em se exprimirrdquo (Entrevista nordm6)

Por outro lado e no caso particular de Cabo Verde o gestor tinha como moeda

de troca pelo desempenho do cargo a atribuiccedilatildeo de verbas para a execuccedilatildeo de projectos

de cooperaccedilatildeo a implementar pela instituiccedilatildeo a que ele proacuteprio pertencia Trata-se neste

caso de um claro favorecimento de uma instituiccedilatildeo de ensino pela colaboraccedilatildeo junto do

ICP de um docente procedimento que eacute interpretado pelo proacuteprio como uma moeda de

troca Sem querer fazer quaisquer juiacutezos de valor ou entrar em questotildees como a

legitimidade destes procedimentos este facto uma vez mais vem provar a ausecircncia de

uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa coerente planificada e fundamentada

ldquo(hellip) Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma remu-

neraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem

funcionado na base do voluntarismo e natildeo na base de qualquer

poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo com Cabo

Verde e nunca ganhei um tostatildeo (hellip) Sim senhora nomeiam-me

assim portanto agora vamos dar uma moeda de troca eacute o

Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute

nessa base que noacutes aahelliprdquo (hellip) As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das

120

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

relaccedilotildeeshellip (hellip) Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio

pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que aacutereas necessitava e depois

compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu

papel como gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com

as autoridades Cabo-Verdianas eu quando ia fazia uma ronda

pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o

Ministro das Financcedilas com o dos Transportesrdquo (Entrevista nordm 6)

A acccedilatildeo do Gestor aparentemente revela-se demasiado influenciadora junto das

autoridades cabo-verdianas no entanto natildeo sabemos ateacute que ponto esta atitude natildeo se

impotildee face agrave indefiniccedilatildeo do Governo Cabo-Verdiano quanto a este assunto Na verdade

compete a Portugal pelo menos moralmente e como parte detentora de meios de

diagnoacutestico criar instrumentos vaacutelidos que auxiliem Cabo Verde a tomar decisotildees nesta

mateacuteria

Pode concluir-se que a cooperaccedilatildeo com o apoio das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas tem levado a cabo uma seacuterie de iniciativas no sentido de

diversificar a oferta formativa em aacutereas que num futuro proacuteximo poderatildeo vir a integrar a

Universidade Nacional de Cabo Verde Referimo-nos concretamente agrave aacuterea das

ciecircncias e tecnologias nomeadamente as engenharias que estatildeo integradas no

ISECMAR ou agrave formaccedilatildeo de professores do ISE O reforccedilo no apoio agrave formaccedilatildeo de

professores de ensino baacutesico foi igualmente assegurado tendo o Instituto Pedagoacutegico de

Cabo Verde como instituiccedilatildeo promotora

Em suma Portugal apoiou financeiramente a criaccedilatildeo de dois institutos

pedagoacutegicos para a formaccedilatildeo de professores de niacutevel primaacuterio e secundaacuterio e manteacutem

activo o apoio no ensino poacutes-secundaacuterio nomeadamente em aacutereas como o turismo

agricultura ambiente gestatildeo e economia e sauacutede Outro exemplo do esforccedilo realizado

no sentido da criaccedilatildeo de estruturas de sustentaccedilatildeo para o ensino superior eacute a criaccedilatildeo do

Programa ldquoFUNDO FAacuteCILrdquo do ICCTI (Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecno-

loacutegica Internacional) que visa ao abrigo do Conveacutenio de Cooperaccedilatildeo de 1997 apostar

no apoio agrave cooperaccedilatildeo e actividades de ligaccedilatildeo entre Cabo Verde e Portugal (FAacuteCIL)

destinado a apoiar contactos entre investigadores cabo-verdianos e portugueses por

periacuteodos natildeo superiores a duas semanas

121

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Podemos considerar que a experiecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria natildeo produziu os

efeitos a que se propocircs aquando da sua constituiccedilatildeo mas a avaliar pelo trabalho por

esta desenvolvido natildeo deveraacute ser considerado um esforccedilo ingloacuterio O Plano Indicativo

de Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde para 2002-2004 eacute revelador de que das anteriores

experiecircncias alguns ensinamentos foram retirados apesar de este ser um documento

pouco concretizador quanto aos programas a implementar Eacute no entanto revelador das

principais linhas orientadoras nesta mateacuteria ao afirmar-se que

ldquoO apoio ao ensino superior deveraacute prosseguir quer no acircmbito de

acordos conveacutenios e protocolos celebrados entre universidades e

institutos superiores politeacutecnicos portugueses e seus congeacuteneres

dos paiacuteses parceiros quer no quadro de projectos visando a

criaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de cursos superiores em aacutereas estra-

teacutegicas bem como a promoccedilatildeo de projectos-piloto de mobilidade e

intercacircmbio de professores e estudantes

Seguindo as orientaccedilotildees introduzidashellip de que a intervenccedilatildeo na

formaccedilatildeo de quadros superiores dos PALOP deveraacute corresponder

de forma mais efectiva agraves necessidades de formaccedilatildeo superior

indispensaacutevel ao desenvolvimento sustentado dos paiacuteses o

Programa de bolsas prevecirc uma reduccedilatildeo que se procura seja

gradual do nuacutemero de bolseiros para licenciaturas no ensino

superior em Portugal que seraacute acompanhada pela concessatildeo de

bolsas internas para frequecircncia nos estabelecimentos de ensino

dos PALOP e pelo alargamento das bolsas de poacutes-graduaccedilatildeo

mestrados e doutoramentos em Portugalrdquo (Programa Indicativo de

Cooperaccedilatildeo 2002-2004)

O Programa de Cooperaccedilatildeo assinado em 2003 entre Portugal e Cabo Verde no

domiacutenio do Ensino Superior Ciecircncia e Tecnologia segue as mesmas linhas estrateacutegicas

de cooperaccedilatildeo do executivo que lhe antecedeu concretizando no entanto os termos de

alguns projectos a implementar e que parecem vir reforccedilar a ideia de que a cooperaccedilatildeo

estaacute cada vez mais voltada para o desenvolvimento das estruturas locais de formaccedilatildeo

directamente proporcional agrave reduccedilatildeo de apoios para a formaccedilatildeo graduada fora do paiacutes

de origem

122

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O acordo assinado em 2003 (ver anexo X) veio introduzir questotildees de grande

relevacircncia para o desenvolvimento concertado de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo na aacuterea do

ensino superior ao dar prioridade agrave realizaccedilatildeo de projectos conjuntos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento mas em nosso entender mais importante que isso eacute o facto de prever

acccedilotildees de avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico do ensino superior e da ciecircncia e tecno-

logia A execuccedilatildeo das acccedilotildees delineadas por este acordo ficaraacute a cargo de uma nova

Comissatildeo Paritaacuteria nomeada para o afeito da qual faratildeo parte um maacuteximo de 5 repre-

sentantes de cada paiacutes que teraacute a seu cargo planeamento articulaccedilatildeo acompanhamento

e avaliaccedilatildeo dos trabalhos

Os esforccedilos encetados no sentido da avaliaccedilatildeo da qualidade das aacutereas de

formaccedilatildeo existentes eacute essencial para a credibilidade do ensino realizado e para fixar os

jovens no territoacuterio tanto mais quando o relatoacuterio de avaliaccedilatildeo agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

de Portugal com Cabo Verde produzido em 2001 pelo CAD (Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento) da OCDE refere que ldquoOfficial statistics in Cape Verde show

universal primary enrolment which is exemplary in SSA However quality of

education at this level is still a problemrdquo 67 As novas tecnologias natildeo foram esquecidas

e agrave parte dos constrangimentos que possa trazer a exequibilidade de projectos que delas

estejam dependentes [uma vez tratar-se de paiacuteses sem infra-estruturas que permitam um

elevado niacutevel de sucesso] a verdade eacute que o e-learning apresenta-se como uma

alternativa eficaz agrave mobilidade discente e docente

O mesmo relatoacuterio conclui na fase final e no que respeita ao sector do ensino

superior que ldquohellipalthough Cape Verde is presently in the process of developing a

sector-wide strategy in education Portugal does not seem to be convinced by this

approach Portugal could take a more positive role in this process by supporting sector

analysis data collection and providing intellectual input towards the quality of basic

education improvement of secondary enrolment costs and opportunity costs of tertiary

education and so onrdquo 68 O Relatoacuterio da OCDE ao identificar como aspectos a melhorar

no modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde o processo de avaliaccedilatildeo das

actividades de cooperaccedilatildeo ou a ausecircncia dele vem confirmar as conclusotildees jaacute

67 Portugalrsquos Aid Programme in Cape Verde addendum to the main report

(DCDDACAR(2001)216PART1 and PART2) April 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL sdataprpm_portugaldocuments216add2cape_verde_2doc

68 Ibidem

123

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

anteriormente aqui retiradas Este procedimento que deveria ser regular de modo a

permitir proceder aos reajustes necessaacuterios com vista agrave melhoria da qualidade das

acccedilotildees e ao seu redireccionamento sempre que tal seja necessaacuterio eacute efectivamente um

procedimento inexistente pelo menos ateacute haacute bem pouco tempo Sobre isto seraacute de

salientar as seguintes afirmaccedilotildees de um entrevistado que curiosamente colaborou

activamente na realizaccedilatildeo deste Relatoacuterio da OCDE

(hellip) Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi

criacutetica foi dito oralmente mas estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo

existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip (hellip) Como vecirc

a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute

a minha porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo

independentes e fura completamente as regras Portanto aliaacutes

eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um

modelo perigoso (hellip) Admito e mais quer dizer eu lamento que

seja assim (hellip) portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo

portuguesa natildeo tem poliacuteticardquo (Entrevista nordm 6)

De referir que posteriormente a esta recomendaccedilatildeo da OCDE e jaacute no ano de

2003 foi realizado um trabalho de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com Cabo

Verde pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento relatoacuterio esse que por ter sido

realizado recentemente serviu de fonte de dados privilegiada para o presente trabalho

Natildeo satildeo ainda mensuraacuteveis os efeitos que esse documento possa vir a ter para a poliacutetica

de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no sector do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos identificam-se os seguintes Pontos Fortes

Manutenccedilatildeo de fortes relaccedilotildees bilaterais entre Portugal e Cabo Verde

Reforccedilo dos laccedilos culturais que unem ambos os paiacuteses

124

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Fortalecimento do Portuguecircs como primeira liacutengua falada em Cabo

Verde

Apoio agrave criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde

Tentativa de congregaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo dos projectos de cooperaccedilatildeo

para a o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no domiacutenio do ensino

superior atraveacutes da assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo em 1997

Nomeaccedilatildeo de uma Comissatildeo Paritaacuteria como oacutergatildeo planificador coorde-

nador e executante do projecto de desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do

ensino e da investigaccedilatildeo

Tentativa de implementaccedilatildeo de um oacutergatildeo representativo cada vez mais

institucional e menos pessoal atraveacutes da criaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria

Criaccedilatildeo pela primeira vez de instrumentos de trabalho como sejam os

Planos de Actividades e os Relatoacuterios de Actividades produzidos pela

Comissatildeo Paritaacuteria

Definiccedilatildeo de linhas de acccedilatildeo adequadas nomeadamente quando satildeo

definidas como estrateacutegias de actuaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo retrospectiva e

prospectiva das acccedilotildees ou ateacute questotildees como o enquadramento legal das

instituiccedilotildees de ensino a avaliaccedilatildeo da qualidade etc

Levantamento junto dos oacutergatildeos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas CRUP e CCISP dos projectos em curso no sentido

de futuramente congregar todas as actividades de cooperaccedilatildeo num uacutenico

plano de desenvolvimento evitando-se deste modo o risco de sobrepo-

siccedilatildeo de projectos

Reforccedilo das relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

e cabo-verdianas particularmente impulsionado pela assinatura do

Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997 e mais recentemente pela assinatura do

Accedilordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Adopccedilatildeo de uma estrateacutegia para a reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas de estudo

para o exterior reforccedilando em contrapartida os apoios agraves instituiccedilotildees

nacionais

125

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apoio agrave diversificaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo no sentido de preparar

estruturas miacutenimas de base que permitam o surgimento efectivo da

Universidade de Cabo Verde

Reforccedilo das poliacuteticas definidas no Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

2002-2004 com a assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Aumento da consciencializaccedilatildeo quanto agrave necessidade de implementaccedilatildeo

a breve prazo de procedimentos de avaliaccedilatildeo regulares que permitam

conduzir ao desenvolvimento sustentado do paiacutes

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos retiram-se os seguintes Pontos Fracos

Descentralizaccedilatildeo sistemaacutetica da informaccedilatildeo quanto aos programas de

cooperaccedilatildeo que podem resultar num desaproveitamento dos recursos

financeiros e humanos (haacute casos em que a sobreposiccedilatildeo de apoios eacute

verificaacutevel ateacute mesmo ao niacutevel de oacutergatildeos governamentais)

Ausecircncia de uma clara e sustentada planificaccedilatildeo estrateacutegica de acccedilotildees o

que vem atrasar o tatildeo ansiado desenvolvimento sustentado do sector da

educaccedilatildeo

Atraso na concretizaccedilatildeo do arranque da Universidade de Cabo Verde

Insucesso na plena execuccedilatildeo da poliacutetica de reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas

para formaccedilatildeo graduada no estrangeiro em parte devido ao atraso no

arranque da Universidade Nacional

Quem planeia natildeo eacute quem paga logo a exequibilidade dos projectos eacute

desde logo posta em causa

Ausecircncia na Comissatildeo Paritaacuteria de representantes das instituiccedilotildees cabo-

-verdianas de ensino superior puacuteblico

Reconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de alguma incapa-

cidade de monitorizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das acccedilotildees a que se propocircs

126

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de um mecanismo centralizador das actividades de cooperaccedilatildeo

Ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade

Multiplicaccedilatildeo de protocolos com instituiccedilotildees de ensino superior portu-

guesas e instituiccedilotildees de outra natureza

Apoio a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo conducentes ao efectivo desenvol-

vimento sustentado do ensino superior como sejam a criaccedilatildeo de ldquopaccedilo-

tesrdquo de formaccedilatildeo

Fraco investimento em aacutereas de apoio agrave formaccedilatildeo poacutes-graduada e activi-

dades de investigaccedilatildeo

Necessidade de maior regulamentaccedilatildeo da qualidade das actividades de

formaccedilatildeo de modo a aumentar a sua credibilidade

Total ausecircncia de informaccedilatildeo relativamente a questotildees importantes

como requisitos de acesso natureza das certificaccedilotildees atribuiacutedas reco-

nhecimento dos graus acadeacutemicos e equivalecircncias

A determinaccedilatildeo dos Programas e das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo a desenvolver

satildeo de certa forma condicionadas por Portugal dependendo da vontade

dos dirigentes

A cooperaccedilatildeo funciona ainda com base no voluntarismo e nas relaccedilotildees

pessoais

Alguma ineacutercia e desconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de

algumas das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo executadas durante o seu mandato

Conhecimento escasso por parte das entidades financiadoras da

qualidade e do impacto gerado pelos projectos financiados

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste

A Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste situa-se geograficamente na parte

Leste da ilha de Timor arquipeacutelago das ilhas Lesser Sunda e eacute constituiacuteda pela parte

127

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste da Ilha de Timor dela fazendo igualmente parte as pequenas ilhas de Atauacutero e

Jaco

Pouco tempo depois da retirada de Portugal do territoacuterio no ano de 1975 Timor

Leste sofreu uma ocupaccedilatildeo Indoneacutesia situaccedilatildeo que viria a prevalecer ateacute ao ano de

1999 Eacute de facto em Novembro de 1991 que apoacutes a denuacutencia ao mundo do massacre do

Cemiteacuterio de Santa Cruz eacute despoletado um movimento mundial de apoio agrave retirada das

tropas indoneacutesias de Timor Leste que sob o olhar atento das Naccedilotildees Unidas culminaria

na realizaccedilatildeo de um referendo ao povo timorense em 30 de Agosto de 1999 sobre o

desejo de independecircncia O resultado dessa consulta popular acabaria por expressar uma

vitoacuteria esmagadora a favor da independecircncia estavam dados os primeiros passos que

conduziriam agrave libertaccedilatildeo do povo timorense e ao nascimento em 20 de Maio de 2001

da mais nova Naccedilatildeo do Seacuteculo XXI a Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste

A caracterizaccedilatildeo econoacutemico-financeira de Timor Leste conduz-nos a um paiacutes

cujas caracteriacutesticas satildeo em muitos aspectos semelhantes ao caso de estudo anterior

No entanto e devido ao longo periacuteodo de ocupaccedilatildeo indoneacutesio natildeo foram criadas

condiccedilotildees que lhe permitam estar presentemente no mesmo niacutevel de desenvolvimento

econoacutemico-financeiro e cultural que Cabo Verde Timor Leste caracteriza-se por ter

uma rede de infra-estruturas extremamente precaacuteria e insuficiente para fazer face agraves

necessidades sociais baacutesicas Esta carecircncia agudizou-se com o rasto de destruiccedilatildeo

deixado pelas tropas indoneacutesias quando se retiraram contrariadas do territoacuterio O sector

industrial eacute inexistente permanecendo actualmente uma total dependecircncia da ajuda

externa As elevadas taxas de desemprego sobretudo na franja mais jovem da

populaccedilatildeo e a carecircncia generalizada de quadros qualificados satildeo problemas soacutecio-

econoacutemicos que conduzem a uma enorme atracccedilatildeo da populaccedilatildeo pela emigraccedilatildeo em

oposiccedilatildeo agrave atracccedilatildeo pelo sector agriacutecola posiccedilatildeo essa particularmente vincada numa

faixa de populaccedilatildeo mais jovem e escolarizada

Conscientes do longo caminho que ainda estaacute por percorrer na prossecuccedilatildeo do

desenvolvimento do Paiacutes e segundo dados revelados pelo Relatoacuterio da PNUD 69 os

timorenses identificaram aquando de um inqueacuterito agrave populaccedilatildeo o sector da educaccedilatildeo

69 United Nations Development Programme (UNDP) ldquoUkun Rasij Arsquoan The way aheadrdquo East Timor

Human Development Report 2002 Dili 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwundporg

128

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

como a aacuterea de investimento prioritaacuteria para o desenvolvimento de Timor Leste (70

dos respondentes indicaram a educaccedilatildeo como aacuterea prioritaacuteria) seguida da aacuterea da sauacutede

Em 2001 o Relatoacuterio das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento para Timor

Leste registava um total de 792 298 mil habitantes dos quais 235 se encontram

concentrados na aacuterea urbana O paiacutes apresenta elevadas taxas de populaccedilatildeo jovem cerca

de 439 da populaccedilatildeo situa-se abaixo dos 15 anos de idade e 537 encontra-se entre

os 15 e os 64 anos de idade no entanto a mesma fonte determina que 43 da

populaccedilatildeo timorense sofre de iliteracia e 46 eacute analfabeto 70 Estes valores satildeo revela-

dores das dificuldades acrescidas que enfrenta o Paiacutes e quando associados estes dados

ao contexto soacutecio-econoacutemico caracterizado como se viu por uma elevada taxa de

populaccedilatildeo jovem e desocupada percebe-se a urgecircncia do Governo do paiacutes em formar e

ocupar rapidamente os jovens sob pena de comprometer a estabilidade poliacutetica e social

e por inerecircncia comprometer todo o plano de desenvolvimento do paiacutes Neste contexto

o sector da educaccedilatildeo assume uma importacircncia acrescida como mecanismo de equiliacutebrio

e estabilizaccedilatildeo social e poliacutetica

As Naccedilotildees Unidas procuraram apoiar e acompanhar de perto a primeira fase de

reconstruccedilatildeo de Timor Leste atraveacutes da constituiccedilatildeo de uma Administraccedilatildeo Transitoacuteria

das Naccedilotildees Unidas em Timor Leste (UNTAET) que para aleacutem de proporcionar as

condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia ao povo timorense no periacuteodo poacutes-independecircncia

procurou ainda preparar o paiacutes para o desenvolvimento sustentado O trabalho deste

Governo de Transiccedilatildeo culminou com a declaraccedilatildeo de independecircncia e a constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste em 20 de Maio de 2002 A Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica viria a eleger como liacutenguas oficiais do paiacutes o Teacutetum e o Portuguecircs

No entanto apesar dos esforccedilos desenvolvidos e de todo o trabalho realizado por

parte dos paiacuteses cooperantes vai ainda demorar alguns anos ateacute que Timor atinja a

maturidade desejada

ldquoEast Timor must now move forward on the longer-term process of

national capacity building for sustainable development But it will

not be doing so alone There will be donor support and a sizeable

UN successor missionhellip

70 Ibidem

129

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

I know that the newly independent government of East Timor will

be ready and eager to take up the challenge of sustainable

development to achieve progress in human survival knowledge

communications and productivity

Seacutergio Vieira de Mello (East Timor Human Development Report 2002)

Os problemas do sector educativo de Timor Leste natildeo se revelam de faacutecil

soluccedilatildeo ainda mais porque tratando-se de problemas estruturais directamente

relacionados com a conjuntura poliacutetica econoacutemica e social do paiacutes mais

condicionalismo geram no processo de evoluccedilatildeo deste sector Volvido um ano apoacutes a

declaraccedilatildeo da independecircncia de Timor Leste o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no

domiacutenio do ensino superior tem ainda um longo caminho a percorrer e os desafios que

tem enfrentado e os que ainda teraacute de enfrentar no futuro natildeo se auguram de faacutecil

ultrapassagem

Como foi jaacute referido a iliteracia e o analfabetismo satildeo apenas alguns dos

problemas soacutecio-educativos mais evidentes mas natildeo satildeo os uacutenicos A verdade eacute que o

facto de a Liacutengua Portuguesa ter sido escolhida como uma das liacutenguas oficiais traz

dificuldades acrescidas aos proacuteprios oacutergatildeos de governo timorenses uma vez que a

maioria do corpo docente em todos os niacuteveis de ensino natildeo domina o Portuguecircs Esta

opccedilatildeo poliacutetica revela apesar de tudo uma grande coragem e determinaccedilatildeo por parte do

Governo Timorense mas exige do Governo Portuguecircs um enorme esforccedilo no sentido de

reforccedilar as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo para com Timor Leste particularmente no que respeita

a este sector no sentido de rapidamente proporcionar condiccedilotildees aos timorenses de

aprenderem e difundirem a Liacutengua Portuguesa Esta opccedilatildeo pode revelar uma visatildeo

estrateacutegica da poliacutetica timorense que usa a Liacutengua Portuguesa como elemento

diferenciador no contexto geograacutefico Asiaacutetico onde se inserem demarcando-se assim

culturalmente das vizinhas Austraacutelia e Indoneacutesia Esta interpretaccedilatildeo eacute reiterada por

Benjamim-Corte Real Reitor da UNTL ao afirmar que ldquoO Portuguecircs sempre foi um

siacutembolo da resistecircncia timorense um factor de diferenciaccedilatildeo entre noacutes e a outra metade

da ilha que pertence agrave Indoneacutesia Agora vamos ter de dar um passo mais agrave frente e viver

a liacutengua implementaacute-la nos vaacuterios niacuteveis de ensinordquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003) No

entanto eacute tambeacutem estrategicamente importante para Portugal que a Liacutengua Portuguesa

seja adoptada por Timor Leste como liacutengua oficial uma vez que permite a presenccedila de

130

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Portugal numa plataforma geograacutefica importante que nos coloca na rota do Oriente

Esta conclusatildeo eacute aliaacutes confirmada pelas palavras de um dos entrevistados directamente

responsaacutevel pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo e que sobre este assunto faz as

seguintes afirmaccedilotildees

ldquoO Lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a

Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de

pessoas do que por exemplo o Francecircs e eacute uma liacutengua vital viva com imenso

futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas do mundo onde a

tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees em termos demograacuteficos a estagnar

Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa afirmaccedilatildeo

internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa

eacute essencial para Portugal daiacute tambeacutem a importacircncia da Liacutengua Portuguesa

no nosso relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP

(hellip) Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave

mestra a ideia de que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente

e a aposta essencial deve ser na formaccedilatildeo de formadores locais (hellip) o futuro

passaraacute o futuro da Liacutengua Portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

Liacutengua Portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem

ensina portuguecircs nas escolas satildeo professores timorenses que aprenderam

portuguecircs com professores portugueses preferencialmente laacute porque a

formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo de

inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute

uma aposta importantiacutessima (hellip) O papel das universidades portuguesas nisto

eacute fundamental evidentemente (Entrevista nordm 1)

O legado cultural deixado pela Indoneacutesia ao povo timorense eacute francamente

mediacuteocre uma vez que os estabelecimentos de ensino eram utilizados como meios de

propaganda ao serviccedilo da Indoneacutesia visando contribuir para o enfraquecimento das

capacidades de resistecircncia da populaccedilatildeo atraveacutes de um ensino parco em qualidade Esta

situaccedilatildeo gerou um corpo docente timorense que permanece ainda hoje desprovido de

uma qualificaccedilatildeo acadeacutemica e cientiacutefica adequada a que para aleacutem das evidentes

necessidades de formaccedilatildeo graduada e poacutes-graduada se junta a dificuldade acrescida da

131

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade iminente da aprendizagem da Liacutengua Portuguesa Destas dificuldades daacute

conta o Reitor da UNTL na primeira pessoa

ldquo(hellip) Aahellip e isto eacute vaacutelido eu devo dizer natildeo soacute no contexto dos

alunos estudantes timorenses a receber explicaccedilotildees de pro-

fessores portugueses mas eu devo dizer que como princiacutepio

estamos a tratar de alunos que estejam a aprender aahellip de

professores digamos que natildeo sejam ou aliaacutes alunos que

estejam a aprender numa liacutengua em que natildeo estejam habituados

ouhellip pura e simplesmente numa liacutengua que para eles ainda eacute uma

liacutengua estrangeira Aahellip portanto eacute soacute para dizer que natildeo

acontece soacute com os timorenses mas pode acontecer em qualquer

contexto em que a liacutengua de instruccedilatildeo natildeo eacute na liacutengua materna

digamos do aprendente(hellip) Eu devo dizer categoricamente que

natildeo O facto de agora estarmos a registar ainda certas

deficiecircncias natildeo eacute pelo facto dos professores se deslocarem a

Timor Leste mas essencialmente pelo facto dos proacuteprios

aprendentes alunos natildeo terem uma preparaccedilatildeo preacutevia do mesmo

niacutevel dos estudantes portugueses que vivem e que estudam caacute em

Portugalrdquo (Entrevista nordm 5)

No domiacutenio do ensino superior a Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) eacute a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica que se insere nas estruturas formais de ensino

Inaugurada em 2000 esta instituiccedilatildeo segundo o seu Reitor ldquohellip em termos de curriacuteculos

dos cursos livros pessoal docente e grande parte dos estudantes a UNTL eacute uma

heranccedila daquilo que foi em tempos durante a ocupaccedilatildeo indoneacutesia uma universidade

provincialrdquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003)

132

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

QUADRO Nordm 5

A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero de Alunos

Faculdade Cursos Ministrados

Nordm total docentes

(20002001)

Graduaccedilatildeo do corpo docente

Nordm total alunos

(20022203 ndash 2ordm Semestre)

mdash Bacharelato 23 Licenciatura

1 Mestrado 1 Doutoramento

Agricultura

Agronomia Agroeconomia Agropecuaacuteria

Ciecircncias Agraacuterias (FUP) mdash Outro

1060

mdash Bacharelato 18 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas

Administraccedilatildeo Puacuteblica Estudo Governamental

Desenvolvimento Comunitaacuterio

mdash Outro

1911

mdash Bacharelato

24 Licenciatura

2 Mestrado

1 Doutoramento

Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Liacutengua Malaia Liacutengua Inglesa

Liacutengua Portuguesa Biologia

Matemaacutetica Quiacutemica

Fiacutesica Formaccedilatildeo Professores Portuguecircs (FUP)

ndash Outro

1406

ndash Bacharelato 10 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Economia

Gestatildeo Ciecircncias de Economia e Estudo do

Desenvolvimento Economia e Gestatildeo (FUP)

mdash Outro

968

15 Bacharelato 19 Licenciatura

mdash Mestrado

mdash Doutoramento

Teacutecnica

Engenharia Civil Engenharia Electroteacutecnica

Engenharia Mecacircnica Engenharia Electroteacutecnica (FUP)

Engenharia Informaacutetica (FUP) 4 Outro

674

Fonte Universidade Nacional de Timor Leste (2003)

Uma anaacutelise superficial do quadro nordm 5 permite ter desde logo uma visatildeo geral

relativamente ao modo como estaacute organizada a UNTL os cursos ministrados o nuacutemero

e qualificaccedilatildeo do corpo docente e o nuacutemero de alunos por faculdade Percebe-se de

imediato que as dificuldades em manter um ensino de qualidade satildeo enormes se

considerarmos a raacutecio professoraluno que eacute extremamente baixa face aos valores que

seriam desejaacuteveis ainda que natildeo tenham sido considerados nestes dados os docentes do

Programa da FUP que apesar de tudo pouca expressividade teria neste caso Satildeo vagos

133

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

os indicadores de qualidade do pessoal docente sendo no entanto desde logo

confirmado o que jaacute aqui foi dito quanto agrave necessidade urgente de formaccedilatildeo acadeacutemica

poacutes-graduada dos docentes da UNTL que maioritariamente apresentam uma graduaccedilatildeo

maacutexima de licenciatura Eacute no entanto omissa nestes dados a percentagem de profes-

sores que se encontra presentemente a fazer formaccedilatildeo poacutes-graduada Tal como referido

anteriormente os estudantes universitaacuterios que frequentavam a universidade nacional na

altura da ocupaccedilatildeo revelam graves lacunas e insuficiente preparaccedilatildeo cientiacutefica de base

facto atribuiacutedo ao facilitismo e agrave baixa qualidade do ensino superior ministrado nessa

altura Apesar de todos estes constrangimentos a Universidade Nacional de Timor

Leste eacute um importante motor de desenvolvimento para aleacutem de ser um poacutelo dinami-

zador e gerador de um certo equiliacutebrio do paiacutes uma vez que perante a elevada taxa de

desemprego apresenta-se como uma alternativa de ocupaccedilatildeo para muitos jovens que de

outra forma estariam inactivos

O nuacutemero de docentes timorenses eacute claramente insuficiente face ao elevado

nuacutemero de alunos Se a este deficitaacuterio nuacutemero de docentes deduzirmos aqueles que se

encontram em formaccedilatildeo no estrangeiro rapidamente se percebe que as dificuldades com

que luta a Universidade Nacional de Timor Leste satildeo enormes sendo portanto

compreensiacutevel que as preocupaccedilotildees com aspectos como a qualidade natildeo sejam

prioridades de instituiccedilotildees com carecircncias como as que esta apresenta Como vimos este

tipo de cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave proliferaccedilatildeo de actividades de ensino transnacional que

normalmente eacute visto como um benefiacutecio face agraves dificuldades enfrentadas sendo estas

acccedilotildees integradas nos sistemas de ensino formais com grande facilidade natildeo sendo

imposto qualquer requisito ou limite pelo paiacutes receptor

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste

Portugal demonstrou desde sempre empenho no apoio ao processo de

independecircncia de Timor Leste natildeo apenas por razotildees histoacutericas mas pela afinidade que

os portugueses sempre mantiveram com o povo timorense Em 5 de Maio de 1999

Portugal viria a assinar com o Governo Indoneacutesio um Acordo de Bases sobre Timor

134

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste testemunhado por Kofi Annan Secretaacuterio-Geral das Naccedilotildees Unidas Neste

documento ficou acordado entre as partes que Timor Leste deveria pronunciar-se

atraveacutes de um referendo universal por sufraacutegio sobre a vontade de tornar-se indepen-

dente Por esta ocasiatildeo o Presidente da Repuacuteblica Portuguesa Jorge Sampaio faria as

seguintes declaraccedilotildees aquando do anuacutencio da celebraccedilatildeo do acordo

ldquohellipPortugal is prepared to undertake all its commitments resulting

from the agreement both before and after the referendum In this

framework I would like to underline our continuing willingness to

accept all Portugalacutes responsibilities as an administrating power

If the Timorese choose independence Portugal will be ready to

cooperate as a member of the United Nations in Timoracutes peaceful

transition to independence especially from the point of view of

political institutions administration and securityhelliprdquo

(East Timor Reconstruction for Development 19992000 2000)

Os representantes poliacuteticos portugueses tecircm vindo desde entatildeo a reforccedilar esta

ideia quer junto da comunidade timorense quer da comunidade internacional Satildeo

claras e assumidas as intenccedilotildees de Portugal em continuar a manter activas as suas bases

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste nos mais variados niacuteveis com o fim uacuteltimo de promo-

ver o tatildeo desejado desenvolvimento sustentado deste Paiacutes

Durante o periacuteodo de governaccedilatildeo do territoacuterio pela UNTAET e antes da

passagem da governaccedilatildeo para as autoridades timorenses pode dizer-se que foram

construiacutedas pelas entidades externas as bases miacutenimas de apoio agrave consolidaccedilatildeo da

democracia multipartidaacuteria permitindo simultaneamente a criaccedilatildeo de estruturas que

permitiram completar a implementaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo puacuteblica o investimento

na educaccedilatildeo e na sauacutede na certeza poreacutem de que no plano do desenvolvimento

econoacutemico do paiacutes ainda muito estaraacute por realizar

No Programa Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de

Timor Leste para o ano 2000 71 eacute explicitamente assumida a educaccedilatildeo como sector

prioritaacuterio do Programa de Cooperaccedilatildeo Portuguesa com Timor Leste para esse ano

71 ldquoPrograma Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor Leste 2000rdquo

Gabinete do Comissaacuterio Para o Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor LesteSecretaria de Estado dos Negoacutecios Estrangeiros e Cooperaccedilatildeo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Junho 2000

135

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

intenccedilatildeo aliaacutes jaacute anteriormente expressa no relatoacuterio apresentado pelo Ministeacuterio dos

Negoacutecios Estrangeiros em Maio de 1999 Esta intenccedilatildeo viria a resultar na criaccedilatildeo de

sinergias para este sector nomeadamente a partir do estabelecimento de importantes

ligaccedilotildees com estruturas da sociedade civil No domiacutenio do ensino superior eacute anunciado

no PIC () para 2000 a intenccedilatildeo da reabertura progressiva de cursos na UNTL nas aacutereas

de Agronomia e Gestatildeo Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas e Ciecircncias

da Educaccedilatildeo o apoio agrave criaccedilatildeo de um Instituto da Liacutengua Portuguesa e outro de Teacutetum

apoio agrave reconstruccedilatildeo da biblioteca e ainda a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo para o ensino

superior para apoio a estudantes timorenses tanto no estrangeiro como em Timor Leste

Agrave semelhanccedila do anterior estudo de caso natildeo cabe aqui lugar agrave apreciaccedilatildeo das poliacuteticas

de atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo apesar de ser de reconhecer que muitas vezes estas

questotildees estatildeo interligadas e dependem mutuamente entre si

Para aleacutem do Decreto-Lei nordm 102000 de 10 de Fevereiro (ver anexo XI) que

regula a participaccedilatildeo de cooperantes nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo desenvolvidas com

Timor Leste desconhece-se a existecircncia de qualquer outro decreto-lei ou acordo de

cooperaccedilatildeo que regule ou estabeleccedila a realizaccedilatildeo de quaisquer outros programas ou

acccedilotildees a implementar no acircmbito da cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior

O Relatoacuterio de Actividades relativo agraves acccedilotildees desenvolvidas nos primeiros

meses do ano 2000 pela Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o sector da educaccedilatildeo daacute conta de

uma primeira actividade de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e que constou do envio de

professores portugueses para Timor Leste a fim de proporcionar a professores primaacuterios

e a alunos do ensino superior funcionaacuterios governamentais e demais staff um primeiro

contacto com a Liacutengua Portuguesa No domiacutenio do ensino superior concretamente o

mesmo relatoacuterio anuncia oficialmente a instalaccedilatildeo de trecircs cursos de ensino superior

organizados e ministrados por Portugal nas aacutereas da Economia Gestatildeo e Agricultura

Com isto seria dado o primeiro passo para a implementaccedilatildeo de um projecto mais amplo

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o Ensino Superior A execuccedilatildeo deste projecto viria

a assumir contornos peculiares partindo para um modelo de organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo

diferente dos modelos de cooperaccedilatildeo habitualmente praticados pela Cooperaccedilatildeo

Portuguesa como a seguir se veraacute

136

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do ensino superior

As Universidades Puacuteblicas Portuguesas desde o ano de 1990 que atraveacutes da

Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas (FUP) vinham desenvolvendo acccedilotildees de

colaboraccedilatildeo com o Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense (CNRT) acccedilotildees essas

enquadradas nos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto apoiadas

financeiramente pelo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Durante os primeiros nove

anos de cooperaccedilatildeo podemos falar de acccedilotildees pontuais avulsas de iniciativa institucional

eou pessoal que por forccedila das circunstacircncias poliacuteticas que envolviam Timor Leste natildeo

se enquadravam num plano de acccedilatildeo previamente estudado e negociado digamos que se

tratava de acccedilotildees espontacircneas

O movimento de apoio que se foi gerando em Portugal a favor da causa

timorense foi evoluindo rapidamente e a esta causa associaram-se rapidamente outras

forccedilas da vida acadeacutemica como as associaccedilotildees de estudantes que participaram activa-

mente nomeadamente em acccedilotildees de acolhimento e integraccedilatildeo de estudantes timorenses

refugiados poliacuteticos do regime indoneacutesio

No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo e ainda durante o Governo Transitoacuterio da UNTAET o

Padre Filomeno Jacob Conselheiro para o Ensino Superior do CNRT solicitou ao

Governo Portuguecircs atraveacutes do Ministro da Educaccedilatildeo portuguecircs apoio na aacuterea da

educaccedilatildeo um dos sectores mais problemaacuteticos no qual pelos motivos anteriormente

expostos era urgente intervir

Neste quadro o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)

manifestou ao Governo Portuguecircs total disponibilidade para a colaboraccedilatildeo com Timor

no acircmbito das acccedilotildees a desenvolver no domiacutenio do ensino superior e em Dezembro de

1999 eacute assinada uma carta de intenccedilotildees envolvendo o CRUP a FUP e o CNRT sob a

coordenaccedilatildeo e tutela dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e dos Negoacutecios Estrangeiros O com-

promisso entatildeo assumido envolvia o apoio concreto de Portugal e particularmente das

Universidades Portuguesas para as seguintes acccedilotildees

Organizaccedilatildeo de Cursos de Reciclagem de Professores do Ensino

Secundaacuterio

Criaccedilatildeo do Instituto de Liacutengua Portuguesa e do Instituto de Liacutengua

Teacutetum

137

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento das aacutereas de Agronomia EconomiaGestatildeo Direito

Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas na Universidade de

Dili

Atribuiccedilatildeo de Bolsas de Estudo para cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo

As explicaccedilotildees de um membro do CRUP que esteve directamente envolvido em

todo o processo de negociaccedilatildeo como membro do Conselho de Reitores testemunha

como o Governo de Timor Leste interveio directamente na definiccedilatildeo das acccedilotildees a

desenvolver e na escolha das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo

ldquo(hellip) entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do Governo

de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e

na presenccedila do Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria

estrutura dos cursos e todo o programa ele deslocou-se a Portugal

vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (referindo-se a um dos

coordenadores iniciais do projecto) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo Interna que estava a trabalhar nissohellip e mandou-se

para laacute depois no fim os Programas foi mandado para Timor

para aprovaccedilatildeo do Governordquo (Entrevista nordm 3)

Cada universidade nomeou um representante para os assuntos de Timor Leste a

quem cabe ainda hoje representar a sua instituiccedilatildeo e acompanhar as acccedilotildees desenvol-

vidas no acircmbito deste programa de cooperaccedilatildeo Neste seguimento satildeo preparados dois

programas distintos de actuaccedilatildeo um de emergecircncia e um outro a meacutedio prazo ambos

planeados coordenados e implementados pela FUP e cujas acccedilotildees se pautam quanto ao

primeiro programa pelos seguintes objectivos

A presenccedila fiacutesica de portugueses ou falantes de portuguecircs em territoacuterio

timorense

Assegurar o desenvolvimento do portuguecircs como liacutengua de ensino e

aprendizagem

Envolver rapidamente jovens timorenses em acccedilotildees lectivas e de actua-

lizaccedilatildeo de conhecimentos

138

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O segundo Programa de acccedilatildeo a meacutedio prazo foi desenhado com o objectivo

primeiro de ajudar agrave construccedilatildeo da Universidade Nacional de Timor Leste e depois de

definidas as prioridades de cooperaccedilatildeo pelo CNRT foram consideradas prioridades de

cooperaccedilatildeo as aacutereas das Ciecircncias Agraacuterias Economia Gestatildeo e Contabilidade Enge-

nharias e Ciecircncias da Sauacutede

As Universidades Puacuteblicas Catoacutelica e ISCTE por solicitaccedilatildeo do Misteacuterio da

Educaccedilatildeo e atraveacutes do financiamento do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros viriam a

desenvolver sob a coordenaccedilatildeo da FUP uma proposta concreta de actuaccedilatildeo que se

dividiu nas seguintes etapas

1 Um primeiro programa de voluntariado que consistia no envio pelo

periacuteodo de 3 meses de docentes das universidades portuguesas visando a

introduccedilatildeo da liacutengua portuguesa aos estudantes universitaacuterios atraveacutes da

leccionaccedilatildeo de disciplinas especiacuteficas como a Matemaacutetica Biologia

Quiacutemica etc Esta acccedilatildeo viria a ter lugar entre Abril e Setembro de 2000

e envolveu um total de 50 docentes voluntaacuterios

2 Um segundo Programa de Cooperaccedilatildeo alargando o espectro de

participaccedilatildeo aos Institutos Politeacutecnicos consistia na criaccedilatildeo de comissotildees

de trabalho por aacutereas cientiacuteficas que tinham como tarefa desenhar os

curriacuteculos para cursos superiores a leccionar em Timor Leste sob a total

coordenaccedilatildeo portuguesa ministrados numa primeira fase por docentes

portugueses com a intenccedilatildeo de a meacutedio prazo se verificar uma passagem

gradual para os docentes da UNTL na perspectiva de um desenvol-

vimento sustentado

As linhas de orientaccedilatildeo deste Programa de Cooperaccedilatildeo pautam-se por objectivos

claramente definidos que visam o desenvolvimento sustentado do sistema de ensino

superior formal timorense com particular incidecircncia no apoio agrave construccedilatildeo da UNTL

O coordenador cientiacutefico de um dos cursos ministrados actualmente em Timor Leste daacute

conta de como o processo de criaccedilatildeo dos curricula dos cursos e organizaccedilatildeo dos cursos

se processou

ldquohellipos Cursos de Timor nascem nume primeira reuniatildeo que tive-

mos em Coimbra em que eu disse ldquomdash eu tenho esta experiecircncia

139

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu resultadohelliprdquo e

a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade

nenhuma natildeo foi nenhuma habilidade especial foi delineado

porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e isto eacute uma

maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estra-

teacutegia Soacute se houver alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso

assim haacute uns anos permanentemente nunca conheci nenhuma

estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesardquo (Entrevista n ordm 2)

No ano lectivo de 2001-2002 tiveram iniacutecio os quatro primeiros cursos de

bacharelato e uma licenciatura a decorrer na UNTL a estrateacutegia de criaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo dos cursos apresenta semelhanccedilas com Cabo Verde usando-se um

sistema de ldquopacote completordquo segundo o qual Portugal desenha os curricula apoiado

em moacutedulos de leccionaccedilatildeo trimestral fornece o corpo docente e toda a bibliografia e

demais infra-estruturas de apoio agrave leccionaccedilatildeo como por exemplo os materiais para

equipar laboratoacuterios e salas de aula O Quadro nordm 6 apresenta o Programa de

Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP com Timor Leste por aacutereas cientiacuteficas

QUADRO Nordm 6 Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP

de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste

Participantes ProjectoAacuterea de Formaccedilatildeo Financiador Executor

Niacutevel de Formaccedilatildeo

Anos Observaccedilotildees

Formaccedilatildeo de Professores de

Portuguecircs IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Economia Gestatildeo IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Ciecircncias Agraacuterias IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Licenciatura Estaacutegio na

Missatildeo Agriacutecola

Engenharia Electroteacutecnica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Engenharia Informaacutetica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Fonte Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

Numa primeira fase do projecto todos os cursos satildeo ministrados quase

exclusivamente por um corpo docente portuguecircs Inicialmente e porque as dificuldades

140

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

com a aprendizagem da Liacutengua Portuguesa se revelaram difiacuteceis de superar pondo em

causa o sucesso do Projecto integraram-se nos cursos elementos do corpo docente

timorense que comeccedilariam por desempenhar funccedilotildees de monitorizaccedilatildeo e traduccedilatildeo mais

tarde alguns viriam a ser responsaacuteveis pela leccionaccedilatildeo de algumas cadeiras e a

tendecircncia eacute para que o nuacutemero de cadeiras sob a coordenaccedilatildeo timorense aumente

exponencialmente ateacute ao momento em que todas as disciplinas possam ser asseguradas

pelo corpo docente da UNTL Esta poliacutetica de preparaccedilatildeo e integraccedilatildeo progressiva do

corpo docente timorense continua a ser uma das apostas de Portugal como se veraacute mais

a frente surgindo como a estrateacutegia mais coerente face agraves intenccedilotildees de apoio ao

desenvolvimento sustentado do ensino superior em Timor A definiccedilatildeo dos criteacuterios e o

processo de selecccedilatildeo dos candidatos para os cursos eacute da total responsabilidade de Timor

Leste sabendo-se no entanto que foram seguidos os criteacuterios de selecccedilatildeo dos sistemas

universitaacuterios ocidentais para aleacutem de o conhecimento da Liacutengua Portuguesa falada e

escrita

Uma das particularidades do desenho destes cursos relativamente aos programas

analisados anteriormente eacute que eacute permitido aos alunos regressar agrave universidade

posteriormente a terem ingressado no mercado de trabalho para concluiacuterem a

licenciatura Os cursos tecircm a duraccedilatildeo de 3 anos agrave excepccedilatildeo como vimos de Ciecircncias

Agraacuterias e soacute em anos de excepccedilatildeo natildeo regulares seraacute ministrado mais um ano para

conclusatildeo da licenciatura Isto permite que os alunos tenham uma experiecircncia

profissional e permite uma certa rotatividade de alunos em formaccedilatildeo Timor precisa de

quadros qualificados e este sistema parece permitir que a curto prazo estes alunos

estejam preparados para contribuir para o desenvolvimento do paiacutes

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino superior ateacute 2010

Volvidos trecircs anos do Programa de Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor

Leste para o sector do ensino superior algumas ilaccedilotildees poderatildeo ser retiradas desta

experiecircncia Eacute certo que as especificidades do paiacutes condicionam os resultados obtidos

mas natildeo deixa de ser interessante e inovador o modelo implementado que apresenta

caracteriacutesticas diferentes dos modelos de cooperaccedilatildeo praticados com outros paiacuteses de

141

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa Se eacute verdade que alguns avanccedilos na afirmaccedilatildeo e difusatildeo da

Liacutengua junto da comunidade estudantil foram feitos existe a clara percepccedilatildeo de que o

niacutevel de satisfaccedilatildeo nesta mateacuteria ainda estaacute longe de ser alcanccedilado O corpo docente

timorense continua mal preparado em termos cientiacuteficos e a Liacutengua permanece uma

barreira Nem todos os objectivos traccedilados inicialmente para este Programa foram

alcanccedilados Eacute um dado adquirido que os cursos ministrados por Portugal e que apenas

ocupam cerca de 400 alunos num universo de 7000 natildeo satildeo suficientemente

expressivos para que lhes seja atribuiacuteda maior importacircncia no entanto e apesar disso

Timor Leste reconhece neste projecto um embriatildeo do que seraacute a futura UNTL e eacute aqui

que reside a forccedila do Programa e as suas verdadeiras potencialidades

Consciente das expectativas que quer o Governo Timorense quer o Governo

Portuguecircs depositaram neste projecto a FUP enquanto entidade coordenadora do

Programa promoveu a vinda a Portugal do Director Geral do Ensino Superior de Timor

e do Reitor da UNTL para em conjunto reflectirem sobre a dinacircmica futura do projecto

e a partir daqui elaborar um plano estrateacutegico a apresentar aos governos de ambos os

paiacuteses Apoacutes um periacuteodo de reflexatildeo que resultou dos vaacuterios encontros e reuniotildees de

trabalho com os principais intervenientes e instituiccedilotildees envolvidas no qual se incluem

os representantes das universidades e institutos politeacutecnicos e os representantes dos

oacutergatildeos de tutela que satildeo simultaneamente financiadores chegou-se a algumas

conclusotildees importantes que permitiratildeo a continuidade do projecto e que se pautam

pelos seguintes aspectos expressos num Memorando que resultou das vaacuterias reuniotildees

realizadas (Anexo XII) ldquohellip esta acccedilatildeo tem-se caracterizado por uma incerteza

permanente no que respeita ao seu financiamento natildeo tendo os orccedilamentos referentes

aos diferentes anos sido cumpridos por parte dos departamentos governamentais

responsaacuteveis As maiores dificuldades nesta acccedilatildeo tecircm como origem a baixa

proficiecircncia dos alunos em Liacutengua Portuguesa e a baixa preparaccedilatildeo cientiacutefica dos alunos

para acompanharem as disciplinas ministradasrdquo No que concerne agrave questatildeo da liacutengua

desde o iniacutecio estava previsto o apoio do Instituto Camotildees na leccionaccedilatildeo do Portuguecircs

aos alunos dos Cursos da FUP o que soacute viria a acontecer de modo regular no iniacutecio do

ano lectivo de 20032004 Jaacute no que respeita agrave questatildeo recorrente da baixa preparaccedilatildeo

cientiacutefica dos alunos os coordenadores cientiacuteficos dos cursos tecircm vindo a adaptar os

142

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

curriacuteculos dos cursos ao contexto do paiacutes permitindo desta forma aumentar

progressivamente a taxa de sucesso escolar

Foi assumido pelos signataacuterios da proposta de acccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do Ensino Superior ateacute ao ano 2010 que natildeo foi ainda alcanccedilado um niacutevel de

colaboraccedilatildeo pleno entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e a UNTL

mantendo-se aqueacutem das actividades de cooperaccedilatildeo que tecircm vindo a ser desenvolvidas

com os PALOP Num exerciacutecio de autocriacutetica satildeo diagnosticadas neste documento as

falhas do actual modelo que resultam da ausecircncia de estruturas que viabilizem o

desenvolvimento sustentado da UNTL e lhe permitam atingir um grau de autonomia

desejaacutevel a meacutedio prazo soacute assim seraacute possiacutevel assegurar a continuidade dos cursos

ministrados actualmente pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas A meacutedio

prazo a sustentaccedilatildeo a cem por cento destes cursos tornar-se-aacute incomportaacutevel para as

instituiccedilotildees de ensino portuguesas aumentando o risco de perca de controlo do projecto

em sacrifiacutecio da qualidade

A questatildeo da qualidade dos cursos ministrados por Portugal em Timor eacute

assumida pelos proacuteprios timorenses como uma questatildeo essencial apesar de natildeo estarem

ainda criadas as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo Natildeo existe registo de nenhuma

acccedilatildeo desenvolvida para a avaliaccedilatildeo da qualidade ou planos que a viabilizem num

futuro proacuteximo quer da parte timorense quer da parte portuguesa Timor mostra-se no

entanto consciente dos benefiacutecios que um processo de avaliaccedilatildeo externa poderia trazer

agrave sua instituiccedilatildeo no entanto natildeo estatildeo ainda criadas as condiccedilotildees que permitam a

implementaccedilatildeo destes procedimentos tal como afirma o proacuteprio

ldquohellip uma consciecircncia geral de que se deve fazer uma avaliaccedilatildeo ao

ensino (hellip) e as discussotildees aahellip as pessoas reconhecem que esta

eacute uma das urgecircncias Agora eu devo dizer que para se comeccedilar

um processo de avaliaccedilatildeo teria primeiro de determinar os

paracircmetros Aqui devo dizer que a lei de bases do sistema

nacional em primeiro lugar deve ser oficializada estabelecida e

oficializada e depois a partir daiacute os regimentos acadeacutemicos que

um criteacuterio dehellip acreditaccedilatildeo portanto tem de haver o estabe-

lecimento de um padratildeo nacional e que esse padratildeo nacional seja

construiacutedo depois de um cruzamento de referecircncias a outros

contextos que para Timor fazem sentidordquo (Entrevista n ordm 5)

143

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Estes factos natildeo deveratildeo no entanto servir de argumento agraves instituiccedilotildees de

ensino portuguesas para a inexistecircncia de exerciacutecios de auto-avaliaccedilatildeo da componente

cientiacutefica e pedagoacutegica das suas actividades de ensino transnacional ainda que as

mesmas se insiram em programas de cooperaccedilatildeo como eacute o caso para as instituiccedilotildees de

ensino portuguesas estes procedimentos fazem hoje parte das suas actividades regulares

E a sua implementaccedilatildeo em acccedilotildees desta natureza soacute poderia trazer benefiacutecios para

ambas as partes Um ex-representante do CRUP e anterior governante considera sobre

este assunto que

ldquoUm programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo sistemaacutetica

e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um

programa exigente para as universidades e para os e para os

docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo depois da

experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo

querer continuar e portanto eacute um programa que vai ter que gerir

estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica (hellip) da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma

atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo regularhelliprdquo (Entrevista nordm 3)

Conclui-se tal como no caso de estudo anterior que natildeo existe qualquer

mecanismo de avaliaccedilatildeo de qualidade nem tatildeo pouco se vislumbra quando tal poderaacute

vir a acontecer quer da parte timorense quer da parte portuguesa Haacute apesar de tudo

uma consciecircncia dos benefiacutecios que tal sistematizaccedilatildeo de praacuteticas poderia trazer para

ambas as partes

Algumas das propostas concretas de acccedilatildeo a desenvolver que resultam de um

processo de reflexotildees empiacuterica desprovida portanto de uma base de sustentaccedilatildeo

cientiacutefica de anaacutelise do actual modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o ensino

superior reduz-se agraves seguintes medidas a adoptar no futuro da cooperaccedilatildeo portuguesa

neste domiacutenio

Selecccedilatildeo pela UNTL de candidatos para a frequecircncia de cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo mestrado e doutoramento a realizar em Portugal ou em Paiacuteses

144

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Liacutengua Oficial Portuguesa Seraacute dada prioridade aos candidatos

provenientes do corpo docente da UNTL

A frequecircncia da formaccedilatildeo poacutes-graduada seraacute precedida de um periacuteodo de

formaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e adaptaccedilatildeo cultural ao paiacutes

Anualmente seratildeo concedidas bolsas de estudo pelo Estado Portuguecircs aos

cinco melhores alunos dos cursos da FUP em Timor para conclusatildeo da

licenciatura em Portugal na expectativa de que estes alunos possam vir a

ingressar futuramente no corpo docente da UNTL

Realizaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo extraordinaacuterios de apenas um ano

para a obtenccedilatildeo da licenciatura dirigidos apenas aos alunos dos cursos de

bacharelato da FUP depois de estes terem jaacute realizado 2 anos de

experiecircncia profissional no mercado de trabalho

Elaboraccedilatildeo de um plano global de formaccedilatildeo de docentes da UNTL e

reformulaccedilatildeo da acccedilatildeo em curso com vista ao alcance dos objectivos

acima identificados

Redefiniccedilatildeo das modalidades de ensino da Liacutengua Portuguesa a partir de

um esquema de estreita colaboraccedilatildeo entre a FUP o Instituto Camotildees e a

UNTL com vista agrave optimizaccedilatildeo do ensino da Liacutengua Portuguesa a

docentes e discentes da UNTL

Iniacutecio do planeamento de um curso de Direito na UNTL com a

colaboraccedilatildeo das Instituiccedilotildees de Ensino Superior Portuguesas e nos

moldes de coordenaccedilatildeo actualmente em vigor

Atribuiccedilatildeo pelo Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

(IPAD) de bolsas internas aos alunos mais carenciados dos cursos da

FUP na UNTL permitindo deste modo diminuir a taxa de desistecircncia e

abandono

Concluiacuteda a anaacutelise do segundo caso de estudo estaremos em condiccedilotildees de

retirar algumas conclusotildees que no iniacutecio deste caso de estudo natildeo seriam mais do que

suposiccedilotildees resultantes de alguma sensibilidade empiacuterica De facto estaremos agora em

condiccedilotildees de afirmar com maior certeza que Timor Leste eacute um caso de cooperaccedilatildeo que

assume de factos algumas particularidades quando comparado com outros paiacuteses de

145

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa daiacute receber por vezes um tratamento especial e

individualizado por parte do Governo Portuguecircs relativamente agraves poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo adoptadas Estas atenccedilatildeo especial que merece Timor Leste por parte de

Portugal eacute por exemplo verificaacutevel no programa de bolseiros timorenses que no

entanto natildeo faz parte deste estudo

A situaccedilatildeo de Timor Leste revestiu-se desde logo de um dramatismo invulgar

relativamente aos outros paiacuteses beneficiaacuterios mobilizando por isso a opiniatildeo puacuteblica

portuguesa e ateacute mundial pelos motivos atraacutes enumerados impocircs-se desde logo a

presenccedila fiacutesica portuguesa no territoacuterio uma presenccedila renovada e capaz de responder

eficazmente agraves necessidades mais imediatas Associado a este aspecto natildeo deveraacute ser

esquecido o que para Portugal viria a assumir uma importacircncia significativa no contexto

mundial a adopccedilatildeo do Portuguecircs como uma das liacutenguas oficiais de Timor Leste Esta

conjugaccedilatildeo de factores colocaram sobre Portugal uma enorme responsabilidade e a

obrigaccedilatildeo pelo menos moral de honrar os compromissos assumidos com Timor Leste

A especificidade deste estudo de caso e as particularidades que o processo de coope-

raccedilatildeo com este paiacutes apresenta satildeo reconhecidas por aqueles que de alguma forma estatildeo

ligados sob a forma de programas de cooperaccedilatildeo sendo um sentimento recorrente em

todos aqueles que estatildeo directamente ligados agraves acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do ensino superior A afirmaccedilatildeo do coordenador cientiacutefico de um dos cursos da

FUP em Timor permite perceber todo o desenvolvimento do processo relativamente agrave

criaccedilatildeo dos cursos actualmente ministrados no territoacuterio

(hellip) Timor foi um caso especiacutefico houve toda aquelahellip o

dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve a

necessidade de responder a todas as necessidades entre as

quais a substituiccedilatildeo raacutepida do ensino indoneacutesio pelo ensino

universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim

Evidentemente que os cursos que noacutes FUP transnacionais que

noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de

entreter as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo

Ministro da Educaccedilatildeo o ex-Reitor ainda no Governo de transiccedilatildeo

etc tanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras

como vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as

146

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom parece-me que a gente

natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu

contexto transnacional ao fim de 25 anos da potecircncia colonial

Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das questotildees do Mundo 25

anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de

independecircncia E os cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se

noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos para

Aacutefrica era muito mais faacutecilhelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Um membro do governo responsaacutevel pela implementaccedilatildeo das poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo natildeo tem duacutevidas em considerar que o projecto da FUP em Timor se reveste

de especial importacircncia uma vez que atende de forma eficaz a algumas das

necessidades imediatas do paiacutes no domiacutenio do ensino superior

ldquoEu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das

Universidades em Timor eacute um projecto extremamente importante e

tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da problemaacutetica

de Timor (hellip) haacute uma enorme responsabilidade que eventual-

mente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar portuguecircs e

pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e

pelo facto dos timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor

estarem profundamente empenhadas na manutenccedilatildeo do Portu-

guecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo

primeiro da sua identidade nacional Eacute da sua marca de diferenccedila

na regiatildeo (hellip) Portanto noacutes ao desenvolvermos um projecto de

ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em

Timor noacutes estamos simultaneamente estamos aquilo que eu lhe

disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia estrateacutegica do

portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde

Timor se insere Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo

a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a formaccedilatildeo de formadores

portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismordquo (Entrevista nordm 1)

Quanto ao modelo de leccionaccedilatildeo propriamente dito teraacute alguma relevacircncia

neste caso proceder-se a uma anaacutelise mais atenta do mesmo sendo um dos temas aqui

abordados a preocupaccedilatildeo com a qualidade do ensino transnacional nomeadamente o

147

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino promovido pelas instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas e tendo jaacute

sido aqui concluiacutedo que essas actividades de ensino transnacional satildeo integradas em

programas de cooperaccedilatildeo torna-se por isso pertinente analisar mais ao pormenor o

modelo de ensino praticado em Timor Leste Desde logo eacute um dado adquirido que os

cursos realizados em Timor agrave semelhanccedila do que acontece com Cabo Verde satildeo cursos

ministrados em formato de ldquopacotes de acccedilotildeesrdquo isto eacute Portugal proporciona ao paiacutes

beneficiaacuterio a execuccedilatildeo de todas as etapas envolvidas na criaccedilatildeo e execuccedilatildeo de um

curso exigindo deste uacuteltimo pouca ou nenhuma intervenccedilatildeo Esta postura por parte da

cooperaccedilatildeo portuguesa deveraacute ser contrariada devendo as acccedilotildees futuras ser

desenhadas de forma a que gradualmente a coordenaccedilatildeo e execuccedilatildeo dos cursos bem

como outras actividades associadas ao meio acadeacutemico como por exemplo a

investigaccedilatildeo cientiacutefica passem a ser da responsabilidade do paiacutes beneficiaacuterio neste caso

passariam a ser da competecircncia do corpo docente da UNTL A bem da verdade deveraacute

referir-se que as recentes recomendaccedilotildees por parte da Secretaria de Estado dos

Negoacutecios Estrangeiros e da Cooperaccedilatildeo vatildeo precisamente nesse sentido desconhe-

cendo-se sobre este aspecto qual a posiccedilatildeo do oacutergatildeo de tutela relativamente a Cabo

Verde e restantes PALOPs No entanto este processo de passagem gradual da

responsabilidade das actividades cientiacuteficas no domiacutenio do ensino superior que eacute como

quem diz promover o desenvolvimento sustentado da Universidade exige um

investimento financeiro e em termos de tempo que permita ao corpo docente da UNTL

preparar-se cientiacutefica e pedagogicamente para um ensino de qualidade Tambeacutem deveraacute

ser referido que o facto de estarmos perante um sistema de ensino dividido em

trimestres entre os quais o corpo docente portuguecircs eacute renovado pode gerar algum

desconforto nos alunos e periacuteodos de adaptaccedilatildeo de cada grupo de docentes renovado

que satildeo sem duacutevida contraproducentes no entanto as virtudes deste sistema para aleacutem

de ser o sistema possiacutevel que assegura que haja sempre candidatos permite o contacto

com uma diversidade de docentes com diferentes motivaccedilotildees interesses competecircncias

oferecendo agrave comunidade acadeacutemica de Timor a possibilidade de contactar com uma

grande diversidade de docentes portugueses

148

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A propoacutesito do modelo de leccionaccedilatildeo adoptado para Timor Leste o coor-

denador cientiacutefico de um dos cursos diz o seguinte

ldquoNatildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do

possiacutevel eacute o melhor modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute

muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo Verde era

exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de

quatro cursosrdquo(Entrevista nordm 2)

Quando questionado sobre o facto de estarem envolvidas todas as instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino superior em simultacircneo afirmou

ldquoAiacute eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o

modelo eacute quer dizer eacute igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo

Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees

deste modelo de Timor Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de

professores por um determinado espaccedilo temporal e a leccionaccedilatildeo

das cadeiras e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas

com as disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a

funcionar por partes ou por trimestres no fundo os modelos

aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor

modelo Permite o contacto interpessoal permite o acompa-

nhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar

mais tempo de conviacutevio entre professores e os alunos mas nas

condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de perma-

necircncia simplesmente as condiccedilotildees natildeo o permitem Evidente-

mente que eu acho que este modelo eacute o melhor do que o outro

modelo que temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute

deslocar soacute professores juniores e que normalmente satildeo pessoas

sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em

Cabo Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldadesrdquo

(Ibidem)

149

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Quanto agrave receptividade e aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense agrave

presenccedila portuguesa em Timor particularmente no que respeita agrave implementaccedilatildeo deste

programa pode dizer-se que a aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense tem-se

revelado bastante positiva Os programas de ensino transnacional desta natureza satildeo

por norma integrados nos sistemas formais de ensino dos paiacuteses beneficiaacuterios como eacute o

caso Inicialmente registaram-se ecos de alguma desconfianccedila por parte do corpo

docente da UNTL que temiam pela continuidade da sua actividade profissional

sentindo-se ameaccedilados pela presenccedila de professores mais qualificados e experientes do

que eles proacuteprios No entanto essa questatildeo foi rapidamente ultrapassada e hoje a

presenccedila portuguesa na Universidade Nacional de Timor Leste eacute bem vinda e encarada

como uma mais valia para o desenvolvimento da instituiccedilatildeo Num passado recente

quando um membro do Governo se deslocou ao territoacuterio de Timor em visita oficial

reteve uma opiniatildeo bastante positiva sobre o programa e sobre a presenccedila de Portugal

em Timor Leste opiniatildeo essa retratada nas seguintes palavras

ldquo(hellip) aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi gente

muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma

realidade diferente com que tinham lidado portanto natildeo eram

problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as

perspectivas das pessoas que tendo relativamente pouca

experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria

experiecircncia que ainda era relativamente curta (hellip) Tambeacutem

encontrei um eco extremamente positivo do que estava a

acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma

manifestaccedilatildeo dos alunos da Universidade nacional de Timor Leste

a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a colaboraccedilatildeo dos nossos

docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso

estava a acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo

muito positiva da docecircncia dos cursos que a FUP laacute estava a

coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar (hellip)

pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e

que se tivesse o desenvolvimento que este tipo de valorizaccedilatildeo

implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuarrdquo

(Entrevista nordm 3)

150

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Opiniatildeo mais reservada sobre este assunto tem o coordenador de vaacuterias acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo nos PALOP e simultaneamente coordenador cientiacutefico de um curso em

Timor Leste para este docente e indo ao encontro de algumas conclusotildees jaacute aqui

assumidas evidencia-se um mal-estar inicial face agrave presenccedila portuguesa ainda que

ldquodisfarccediladordquo Esses indiacutecios de alguma resistecircncia satildeo no seu entender considerados

situaccedilotildees saudaacuteveis desde que esclarecidas e ultrapassadas por ambas as partes

envolvidas

ldquoHaacute sempre algumas formas de resistecircncia e ainda bem que haacute

quer dizer nos casos que eu conheccedilo bem nomeadamente Cabo

Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente que noacutes

integraacutemos alguns cabo Verdianos como professores mas haacute

sempre a uacuteltima tentativa de diversos quadros formados em

vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo-noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a

gente natildeo vai tirar nenhum mercado de trabalho queremos eacute sair

quando aquilo for sustentaacutevel etc E no caso de Timor conhece-se

alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com

os professores da chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute

estava que nos viam como invasores como tirar o mercado de

trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existirrdquo

(Entrevista nordm 2)

Ambos os paiacuteses como se viu podem retirar vantagens das relaccedilotildees bilaterais

que estabelecem no entanto parece evidente que Timor Leste na qualidade de paiacutes

receptor e beneficiaacuterio teraacute sempre mais a ganhar do que Portugal nesta conjugaccedilatildeo de

interesses O facto do ensino transnacional desenvolvido por Portugal em Timor se

encontrar integrado num programa de cooperaccedilatildeo e a sua coordenaccedilatildeo estar centralizada

numa uacutenica entidade afasta agrave partida a hipoacutetese destas acccedilotildees serem levadas a cabo por

eventuais interesses econoacutemicos no entanto natildeo poderaacute ser esquecido que o ensino

superior atravessa actualmente uma fase difiacutecil em Portugal e na Europa e este poderaacute

ser um caminho para algumas instituiccedilotildees de ensino superior As vantagens para as

instituiccedilotildees envolvidas em projectos desta natureza satildeo no entender dos proacuteprios

151

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

docentes extraordinaacuterias particularmente ao niacutevel do enriquecimento pessoal e

desenvolvimento das relaccedilotildees interpessoais entre actores intervenientes

ldquoTudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro

vantagens extraordinaacuterias E as vantagens que satildeo extraor-

dinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos da

FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos professores agraves escolas agraves

universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se

durar uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de

investigaccedilatildeo conjunta as trocas conjuntas os seminaacuterios etc

Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro eacute

um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem

natildeo tecircm relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de

desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para a

Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura

portuguesa (hellip)rdquo (Entrevista nordm 2)

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fortes

O sector da educaccedilatildeo eacute considerado prioritaacuterio nas poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo portuguesa para Timor Leste

Aposta na formaccedilatildeo no domiacutenio do ensino superior em aacutereas

estrateacutegicas para o desenvolvimento sustentado

Forte envolvimento das autoridades timorenses e representantes do

ensino superior timorense no programa nomeadamente na definiccedilatildeo das

aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo no planeamento das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

a implementar identificaccedilatildeo dos candidatos a bolsas de graduaccedilatildeo e poacutes-

-graduaccedilatildeo

152

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Grande esforccedilo da parte de Portugal para o fortalecimento da Liacutengua

Portuguesa na comunidade acadeacutemica

Pela primeira vez na histoacuteria da cooperaccedilatildeo portuguesa neste domiacutenio

existe uma instituiccedilatildeo que coordena todas as actividades de cooperaccedilatildeo

neste domiacutenio permitindo um maior controlo das acccedilotildees desenvolvidas

Natildeo existe sobreposiccedilatildeo de projectos

Manifesto envolvimento dos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior de ambos os paiacuteses

Pela primeira vez em Portugal todas as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas estatildeo envolvidas no mesmo projecto de cooperaccedilatildeo

Planeamento estrateacutegico que visa o aumento do investimento na

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando o corpo docente da UNTL como

meio de apoiar o desenvolvimento sustentado

Formaccedilatildeo superior em ciclos de trecircs anos com a possibilidade de

regresso agrave universidade para conclusatildeo da licenciatura apoacutes um periacuteodo

de experiecircncia profissional

Adaptaccedilatildeo dos curricula dos cursos ao contexto soacutecio-cultural do puacuteblico

a que se destinam

Garantia de padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino ministrado dado

tratar-se de instituiccedilotildees promotoras que estatildeo integradas nas estruturas

formais de ensino no paiacutes de origem e portanto sujeitas a avaliaccedilatildeo de

qualidade

Adequada poliacutetica de concessatildeo de bolsas de estudo a implementar num

futuro proacuteximo

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fracos

Ausecircncia de qualquer compromisso de cooperaccedilatildeo firmado entre ambas

as partes neste domiacutenio

153

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de instrumentos tais como relatoacuterios de auto-avaliaccedilatildeo planos

de actividades ou relatoacuterios de actividades que permitam proceder a um

correcto planeamento estrateacutegico das actividades e acccedilotildees a desenvolver

Inexistecircncia de uma comissatildeo de acompanhamento que legitime as

acccedilotildees a implementar no quadro do Programa de Cooperaccedilatildeo Global

Ausecircncia de mecanismos de avaliaccedilatildeo da qualidade do ensino trans-

nacional

Indefiniccedilatildeo quanto ao reconhecimento de graus acadeacutemicos e equiva-

lecircncias da certificaccedilatildeo

Niacutevel de desenvolvimento da Liacutengua Portuguesa na comunidade acadeacute-

mica ainda aqueacutem das expectativas

Niacutevel de desenvolvimento cientiacutefico do corpo docente da UNTL ainda

abaixo do desejaacutevel

Cursos de bacharelato em sistema de ldquopacoterdquo sendo desejaacutevel um au-

mento progressivo do envolvimento do corpo docente da UNTL

Nuacutemero de alunos nos cursos ministrados por Portugal pouco expressivo

face ao universo dos estudantes da UNTL

154

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees

Concluiacuteda a anaacutelise comparativa dos dois casos de estudo resta tecer algumas

consideraccedilotildees e sintetizar alguns dos principais problemas identificados propondo

algumas recomendaccedilotildees que visam contribuir para a melhoria da qualidade dos modelos

de cooperaccedilatildeo portuguesa no domiacutenio do ensino superior com o fim uacuteltimo de

optimizar e potencializar ao maacuteximo o investimento realizado

Em primeiro lugar torna-se desde logo evidente que o modelo de cooperaccedilatildeo

implementado para Cabo Verde eacute claramente mais susceptiacutevel de originar sobreposiccedilotildees

de acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Timor Leste Este uacuteltimo por estar centralizado numa instituiccedilatildeo coordenadora

seraacute eventualmente mais eficiente do que o primeiro em termos organizativos e planifi-

cadores

Este modelo de trabalho poderaacute servir de exemplo agrave futura organizaccedilatildeo

estrateacutegica da cooperaccedilatildeo portuguesa uma vez que segundo um dos responsaacuteveis poliacuteti-

cos pela cooperaccedilatildeo estaacute em estudo a criaccedilatildeo em Portugal de um nuacutecleo que serviraacute de

mecanismo articulador e oacutergatildeo coordenador das actividades de cooperaccedilatildeo pressupon-

do-se a existecircncia de um nuacutecleo com as mesmas funccedilotildees em cada paiacutes receptor Prevecirc-

se com esta medida evitar a duplicaccedilatildeo de projectos promovendo antes a sua comple-

mentaridade Haacute no entanto a consciecircncia de que uma dinacircmica organizativa com estas

caracteriacutesticas natildeo seraacute faacutecil de alcanccedilar e portanto a sua implementaccedilatildeo efectiva

poderaacute levar ainda algum tempo a concretizar ateacute porque eacute difiacutecil aos paiacuteses bene-

ficiaacuterios disporem de estruturas exclusivamente para estes fins

No caso de Cabo Verde e dos restantes PALOP o risco de sobreposiccedilatildeo de

projectos apenas seraacute evitado quando as entidades financiadoras que satildeo simultanea-

mente a tutela adoptarem uma poliacutetica que condicione a atribuiccedilatildeo de financiamento a

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo afectas a projectos que estejam integrados num plano estrateacutegico

concebido para cada paiacutes beneficiaacuterio e alargado a todas as aacutereas Soacute desta forma seraacute

possiacutevel controlar as actividades desenvolvidas em cada aacuterea de intervenccedilatildeo apesar de

ser verdade que ainda assim acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que disponham de financiamento

proacuteprio continuaratildeo a realizar-se agrave margem deste controlo

155

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A promoccedilatildeo de ligaccedilotildees inter-institucionais eacute igualmente desejaacutevel de forma a

permitir o estreitar de laccedilos entre a comunidade acadeacutemica e cientiacutefica no fundo trata-

se de agrave semelhanccedila do que se verifica actualmente na Europa promover a mobilidade

na comunidade acadeacutemica envolvendo os vaacuterios actores do processo Na praacutetica esta

situaccedilatildeo pressupotildee a realizaccedilatildeo de acordos eou protocolos de cooperaccedilatildeo entre as

instituiccedilotildees sempre que integrados num contexto de actuaccedilatildeo mais lato da poliacutetica

governamental

De notar que as instituiccedilotildees de ensino superior que promovem regularmente

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde revelam jaacute alguma consciecircncia quanto agrave

necessidade de um planeamento estrateacutegico futuro destas actividades neste aspecto as

actividades de cooperaccedilatildeo desenvolvidas em Timor Leste encontram-se numa fase mais

inicial Por norma a cooperaccedilatildeo portuguesa carece de um trabalho sustentado de

planificaccedilatildeo das suas acccedilotildees Eacute necessaacuterio que num futuro proacuteximo se criem

mecanismos que permitam planificar as acccedilotildees a desenvolver no acircmbito de um

Programa de Cooperaccedilatildeo desenhado para cada paiacutes o estabelecimento de metas tempo-

rais e a definiccedilatildeo de objectivos e acima de tudo a identificaccedilatildeo das instituiccedilotildees finan-

ciadoras e das entidades executantes de cada acccedilatildeo A elaboraccedilatildeo destes instrumentos

deveraacute ser preferencialmente realizada por peritos especializados em cada sector de

actividade Estes seratildeo no futuro instrumentos essenciais para o sucesso da Coope-

raccedilatildeo Portuguesa nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Apesar do modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revelar pela primeira vez

uma intenccedilatildeo de congregaccedilatildeo de esforccedilos e centralizaccedilatildeo das actividades cooperaccedilatildeo

numa soacute instituiccedilatildeo (neste caso concreto esse papel eacute assumido pela Fundaccedilatildeo das

Universidades Portuguesas) eacute ainda assim desejaacutevel a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo onde

estejam representados ambos os paiacuteses envolvidos nomeadamente representantes de

todas as instituiccedilotildees envolvidas Este oacutergatildeo teria como competecircncia para aleacutem da

monitorizaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo implementadas planificar avaliar e regular

todo o trabalho desenvolvido Os dispositivos de monitorizaccedilatildeo satildeo instrumentos

fundamentais para o garante de uma articulaccedilatildeo eficaz dos projectos e que infelizmente

tecircm sido ignorados No caso particular de Cabo Verde houve uma tentativa falhada de

atribuir esse papel agrave Comissatildeo Paritaacuteria que no entanto se revelou incapaz de

desempenhar essa tarefa eficazmente talvez pelo facto das instituiccedilotildees de ensino

156

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

beneficiaacuterias que neste caso seriam as entidades mais directamente interessadas natildeo

estarem representadas nesta Comissatildeo O Acordo de Cooperaccedilatildeo para 2003 ao prever a

constituiccedilatildeo de uma nova Comissatildeo Paritaacuteria assente basicamente nos mesmos objecti-

vos que a anterior deveraacute ter em atenccedilatildeo as fragilidades reveladas pelo trabalho desen-

volvido pela anterior Comissatildeo que claramente natildeo alcanccedilou as metas a que se propocircs

Uma outra preocupaccedilatildeo a reter eacute o facto de nos futuros programas dever ser

observado um esforccedilo de articulaccedilatildeo das vaacuterias iniciativas sempre que se trate de

acccedilotildees do mesmo domiacutenio procurando desta forma garantir a convergecircncia de esforccedilos

de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees O modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revela jaacute

algumas preocupaccedilotildees desta natureza uma vez que todas as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico se vecircem pela primeira vez envolvidas num mesmo projecto de

cooperaccedilatildeo A autonomia administrativa e financeira de que gozam as instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblicas portuguesas poderaacute ser uma dificuldade acrescida agrave jaacute difiacutecil

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo como aquela que aqui se defende no

entanto deveratildeo ser envidados esforccedilos de sensibilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino para

os benefiacutecios que tal procedimento poderaacute trazer para a cooperaccedilatildeo no futuro

A efectivar-se um processo de reestruturaccedilatildeo e mudanccedila natildeo deveraacute ser

esquecido um aspecto fundamental que a curto prazo deveraacute fazer parte dos

procedimentos regulares a questatildeo da qualidade Idealmente este conceito deveria

caracterizar os modelos de ensino superior transnacional portugueses cabendo aos

paiacuteses receptores a implementaccedilatildeo de mecanismos que assegurem os padrotildees miacutenimos

de qualidade Apesar deste procedimento de regulaccedilatildeo das actividades ser desejaacutevel

conclui-se pela documentaccedilatildeo consultada e pelos testemunhos que os mecanismos de

avaliaccedilatildeo de qualidade satildeo totalmente inexistentes Eacute um facto que nos casos de estudo

aqui considerados as instituiccedilotildees de ensino superior envolvidas estatildeo integradas nos

sistemas de ensino formais do seu paiacutes logo estatildeo ciclicamente sujeitas a processos de

avaliaccedilatildeo externa o que confere a estas acccedilotildees transnacionais agrave partida o garante de

que seratildeo assegurados padrotildees miacutenimos de qualidade por outro lado o corpo docente eacute

maioritariamente constituiacutedo por professores com elevados niacuteveis de qualificaccedilatildeo

acadeacutemica e cientiacutefica e alguns anos de experiecircncia de ensino

O reconhecimento dos diplomas eacute uma questatildeo importante que muitas vezes

acaba por ser relegada para segundo plano No trabalho de pesquisa realizado nunca o

157

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de reconhecimento de graus eacute totalmente esclarecido por parte das partes

envolvidas No caso de Timor Leste por exemplo eacute referido pelo Reitor que a

atribuiccedilatildeo dos graus acadeacutemicos seraacute da competecircncia da proacutepria UNTL natildeo deixando

no entanto de reconhecer a importacircncia que teria para as partes envolvidas encontrar-se

um mecanismo conjunto de atribuiccedilatildeo de graus No caso especifico de Cabo Verde eacute

referido claramente que o reconhecimento na Europa dos graus acadeacutemicos serve

apenas para efeitos de prosseguimento de estudos sendo da competecircncia das ordens

profissionais o reconhecimento para efeitos de exerciacutecio da profissatildeo Esta questatildeo

merece alguma clarificaccedilatildeo no futuro sendo desejaacutevel o estabelecimento e a definiccedilatildeo

das regras antes do iniacutecio das acccedilotildees

Segundo as autoridades governamentais portuguesas eacute poliacutetica nacional manter

as actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa com ambos os paiacuteses analisados no entanto eacute

necessaacuterio que a curto prazo essas actividades deixem de fazer-se com base no

voluntarismo Natildeo se pretende com isto defender a profissionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

mas antes a profissionalizaccedilatildeo e a formaccedilatildeo especiacutefica de quem planeia e coordena estas

acccedilotildees Eacute preciso que rapidamente seja realizado um estudo cientiacutefico exaustivo das

necessidades destes paiacuteses no domiacutenio do ensino superior e a partir desse instrumento

estabelecer um plano de acccedilatildeo que seja efectivamente cumprido ateacute ao fim O sector

empresarial poderaacute constituir um importante aliado que natildeo deveraacute ser ignorado uma

vez que envolvendo as empresas que se encontram a actuar nestes paiacuteses poderatildeo

estabelecer-se importantes laccedilos que de futuro seratildeo fundamentais para o

desenvolvimento destes paiacuteses Eacute de registar positivamente a perspectiva de criaccedilatildeo de

um nuacutecleo nacional coordenador da cooperaccedilatildeo que a concretizar-se poderaacute vir a

imprimir um cunho de rigor e coerecircncia aos futuros programas ao mesmo tempo que

possibilitaraacute a observacircncia dos procedimentos desejaacuteveis nomeadamente ao niacutevel da

avaliaccedilatildeo da qualidade e da sustentabilidade

Conclui-se que em sobreposiccedilatildeo agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais para

o apoio ao desenvolvimento dos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no sector da

educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior mais do que motivaccedilotildees de

ordem econoacutemica ou estrateacutegica o princiacutepio da solidariedade entre paiacuteses com fortes

laccedilos culturais e afectivos eacute talvez a motivaccedilatildeo mais presente no ensino superior

transnacional em Portugal

158

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CONCLUSOtildeES FINAIS

Em jeito de conclusatildeo tecem-se algumas consideraccedilotildees finais sobre os modelos

de cooperaccedilatildeo analisados no sentido de aferir em que medida eacute que estes reflectem

algumas das questotildees e problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional aborda-

das no enquadramento teoacuterico introdutoacuterio

As poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas que determinam o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior satildeo condicionadas por factores de natu-

reza soacutecio-econoacutemica do paiacutes beneficiaacuterio um dos factores mais significativos que

recentemente tem tido bastante peso eacute o aumento gradual do nuacutemero de candidatos aos

estabelecimentos de ensino superior cabo-verdianos Consciente deste fenoacutemeno a

cooperaccedilatildeo portuguesa tecircm vindo a ajustar progressivamente a sua poliacutetica de

cooperaccedilatildeo a esta realidade diminuindo o nuacutemero de bolsas de estudo para formaccedilatildeo

graduada no exterior aumentando por outro lado proporcionalmente os apoios conce-

didos para a melhoria dos recursos internos ou aumentando o nuacutemero de bolsas para

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando desta feita professores das instituiccedilotildees de ensino

superior Este reposicionamento de Portugal sobre a poliacutetica de cooperaccedilatildeo pode ser

interpretada como uma tentativa de adopccedilatildeo de medidas que conduzam mais

rapidamente ao desenvolvimento sustentado das estruturas de ensino dos paiacuteses benefi-

ciaacuterios apesar dessa natildeo ser ainda uma realidade no caso das instituiccedilotildees de ensino

superior cabo-verdianas

A desadequaccedilatildeo de alguns dos cursos ministrados face agraves reais necessidades do

paiacutes acresce a outros factores desfavoraacuteveis para o sucesso do programa de cooperaccedilatildeo

para o ensino superior como eacute exemplo concreto o facto de continuar por instalar e

regulamentar a Universidade de Cabo Verde o que de resto tem contribuiacutedo fortemente

para atrasar o desenvolvimento e a autonomia do paiacutes neste domiacutenio

Espera-se que o Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003 permita acelerar o desenvol-

vimento do sector uma vez que se trata de um Acordo inovador na medida em que

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

apela ao recurso a ferramentas de trabalho ligadas agraves novas tecnologias postas agrave

disposiccedilatildeo pela nova sociedade de informaccedilatildeo As orientaccedilotildees deste acordo referem as

novas tecnologias como forma de proporcionar um sistema de ensino e aprendizagem

alternativo eou complementar (e-learning) que permita assegurar o niacutevel de qualidade

e que sirva simultaneamente para ajudar a diminuir o fluxo de emigraccedilatildeo e ldquofuga de

ceacuterebrosrdquo As medidas de incentivo agrave fixaccedilatildeo de residentes no paiacutes de origem revelam-

se essenciais para que o investimento nas estruturas de ensino e para o desenvolvimento

possam ter os efeitos desejados

O estudo de caso de Timor Leste apresenta uma realidade de contornos

diferentes sendo a instituiccedilatildeo de ensino superior de referecircncia nacional a UNTL Esta

instituiccedilatildeo encontra-se fortemente implantada nos sistemas formais de ensino do paiacutes

paiacutes que adquiriu jaacute uma dinacircmica e uma cultura acadeacutemica muito proacuteprias Neste caso

as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo revestem-se de maior complexidade e os seus resultados

podem ser mais consequentes uma vez que estaacute em jogo a afirmaccedilatildeo perante a

comunidade acadeacutemica a sociedade civil e as estruturas governamentais da cultura de

ensino europeia onde a liacutengua se por um lado desempenha um papel fundamental de

demarcaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo cultural por outro revela-se um dos principais obstaacuteculos ao

sucesso das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

O Modelo de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste apesar de apresentar igualmente

fragilidades tem algumas vantagens comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde Na verdade o princiacutepio natildeo deixa de ser o mesmo apesar de ser de

notar uma intervenccedilatildeo mais directa por parte das autoridades timorenses na definiccedilatildeo

das acccedilotildees a implementar na identificaccedilatildeo das aacutereas de intervenccedilatildeo prioritaacuterias na

reflexatildeo que conduz aos ajustamentos entretanto realizados entre outros

Em suma considera-se que as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para a edu-

caccedilatildeo particularmente no domiacutenio do ensino superior revelam ainda fragilidades que a

serem corrigidas permitiriam uma maior potencializaccedilatildeo do investimento

Partindo do pressuposto que no domiacutenio do ensino superior a cooperaccedilatildeo passa

essencialmente pelas iniciativas de instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas poderaacute

questionar-se sobre quais os benefiacutecios que estas instituiccedilotildees retiram destas acccedilotildees Na

verdade uma conclusatildeo poderaacute desde logo ser retirada natildeo se trata de razotildees de ordem

cientiacutefica natildeo seraacute a busca de novas aacutereas de conhecimento nem a perspectiva do

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fortalecimento da investigaccedilatildeo cientiacutefica nem tatildeo pouco seraacute a perspectiva de poder vir

a melhorar a qualidade do ensino praticado (melhor desempenho do corpo docente

novas linhas de trabalho mobilidade discente) As afinidades culturais e as raiacutezes

histoacutericas poderatildeo ser invocados como factores decisivos apesar da introduccedilatildeo de

novos modelos de ensinoaprendizagem ter aberto agrave cooperaccedilatildeo outros horizontes no

domiacutenio do ensino superior Haacute uma forte componente de aprendizagem transcultural

que se revela um elemento bastante motivador e enriquecedor para os intervenientes

Por outro lado o crescimento dos sistemas de ensino superior na Europa e a

diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos tem vindo a aumentar o niacutevel de competiccedilatildeo entre

instituiccedilotildees O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo aliado ao processo de Bolonha traz novos

desafios resultantes da abertura das fronteiras e do alargamento do sector da educaccedilatildeo a

um mercado concorrencial que se vislumbra cada vez mais agressivo As instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblico portuguesas conscientes das inevitaacuteveis dificuldades que se

avizinham de entre as quais se destacam a ausecircncia de acccedilotildees que impulsionem a sua

internacionalizaccedilatildeo europeia for-profit e a busca de novos puacuteblicos internacionais satildeo

forccediladas a procurar alternativas de expansatildeo apostando por motivos de afinidade

cultural em acccedilotildees de cooperaccedilatildeo em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa com a

vantagem acrescida de muitas dessa acccedilotildees estarem integrados em programas

governamentais financiados A inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS a concretizar-

se viraacute contribuir para acentuar algumas das dificuldades jaacute existentes uma vez que a

introduccedilatildeo da educaccedilatildeo num mercado global sujeito agraves leis da oferta e da procura iraacute

segundo os prognoacutestico de Jane Knight intensificar ainda mais a necessidade de apostar

em acccedilotildees transfronteiriccedilas for-profit

Apesar de tudo haacute que ter presente que natildeo seratildeo decerto apenas motivaccedilotildees de

ordem estritamente econoacutemica ou de sobrevivecircncia que levam as instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas a apostar na cooperaccedilatildeo mas tambeacutem o vislumbre de uma porta

que lhes confira a possibilidade de conquistar novos puacuteblicos ou a possibilidade de

alcanccedilar maior visibilidade e projecccedilatildeo noutros paiacuteses Natildeo poderemos ainda assim

negar que o lucro ou o alcance de formas de financiamento alternativos satildeo questotildees agraves

quais natildeo satildeo indiferentes as instituiccedilotildees de ensino superior No entanto estas acccedilotildees

natildeo se caracterizam propriamente por uma poliacutetica de ldquofranchisingrdquo ainda para mais

161

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

porque a transnacionalizaccedilatildeo de ensino superior portuguecircs com fins meramente

mercantilistas estaacute particularmente associada a instituiccedilotildees de ensino superior privadas

Uma das preocupaccedilotildees que num passado recente recaiacutea recorrentemente sobre

o ensino transnacional era a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo

constatando-se que essa lacuna permanece natildeo havendo efectivamente referecircncias a

qualquer tipo de oacutergatildeo ou mecanismo que regule ou avalie a qualidade das acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo realizadas neste sector Verifica-se que da parte dos paiacuteses receptores natildeo

estatildeo criadas as condiccedilotildees necessaacuterias para que esse processo de regulaccedilatildeo e controlo

possa partir deles proacuteprios apesar da maioria dos projectos se encontrar integrado nas

estruturas formais de ensino do paiacutes receptor O uacutenico garante de que satildeo respeitados

padrotildees miacutenimos de qualidade eacute o facto das instituiccedilotildees puacuteblicas que promovem acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo se encontrarem integradas nos sistemas formais dos seus proacuteprios paiacuteses

e portanto sujeitas a processos ciacuteclicos de avaliaccedilatildeo de qualidade Esta premissa

garante agrave partida um niacutevel de qualidade miacutenimo ao ensino transnacional por elas

praticado Natildeo deixa apesar de tudo de continuar a existir uma lacuna nos processos de

avaliaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo das actividades de ensino transnacionais portuguesas Seria

desejaacutevel a sujeiccedilatildeo destes projectos a processos de avaliaccedilatildeo de qualidade externos

quer atraveacutes da adesatildeo a agecircncias internacionais criadas para o efeito quer pela criaccedilatildeo

de mecanismos no paiacutes receptor com esses fins Um outro mecanismo de regulaccedilatildeo que

poderaacute sempre vir a ser implementado em alternativa e como princiacutepio de um

procedimento mais rigoroso seria a criaccedilatildeo de comissotildees internas de auto-avaliaccedilatildeo

constituiacutedas por docentes das vaacuterias aacutereas que periodicamente reflictam e auto-avaliem

o trabalho desenvolvido nas faculdades face aos objectivos traccedilados e aos resultados

alcanccedilados

Segundo as teorias de Neave (Neave 1997) haacute uma necessidade premente em

assegurar o retorno e a fixaccedilatildeo dos jovens licenciados nos paiacuteses menos favorecidos de

modo a promover o desenvolvimento e a consequentemente diminuiccedilatildeo das assimetrias

regionais conclui-se assim que as novas orientaccedilotildees das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

caminham nesse sentido reduzindo os apoios concedidos para formaccedilatildeo no exterior e

intensificando os apoios ao desenvolvimento interno De igual modo parece haver uma

preocupaccedilatildeo na preservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos valores universitaacuterios por parte das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior reflectida numa aposta na preparaccedilatildeo cientiacutefica

162

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do corpo docente dotando as instituiccedilotildees de recursos humanos e meios teacutecnicos que

permitam o seu desenvolvimento futuro

Por uacuteltimo caberaacute aos paiacuteses receptores a funccedilatildeo de regular no sentido de evitar

no futuro o asfixiamento das suas proacuteprias estruturas formais de ensino por parte do

ensino transnacional Esta postura de defesa e preservaccedilatildeo das suas estruturas formais

de ensino exige da parte destes paiacuteses um elevado grau de discernimento o que nem

sempre eacute conseguido A posiccedilatildeo de fragilidade em que se encontram perante os paiacuteses

dadores conduz muitas vezes a uma passividade exagerada e contraproducente que

deveraacute ser combatida

Haacute duas questotildees fundamentais que importa reter deste trabalho a primeira eacute

que natildeo existe actualmente nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas uma poliacutetica

concertada de internacionalizaccedilatildeo a segunda questatildeo fundamental a reter eacute o facto de

natildeo existir em Portugal uma estrateacutegica poliacutetica de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e

particularmente no domiacutenio do ensino superior

Concretizando a primeira questatildeo constata-se pelo presente trabalho que as

instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas revelam uma poliacutetica de

planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo das suas actividades transfronteiriccedilas fraacutegil e pouco articulada

Eacute necessaacuterio criar mecanismos que permitam uma efectiva internacionalizaccedilatildeo das

instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas realizada de forma concertada e proacute-activa

que natildeo tem necessariamente por passar apenas pelos paiacuteses de Liacutengua Oficial

Portuguesa eacute preciso apostar igualmente noutros caminhos noutras formas de interna-

cionalizaccedilatildeo Satildeo muitas e aliciantes as vantagens que as instituiccedilotildees podem retirar de

um processo de internacionalizaccedilatildeo o proacuteprio facto de se criar um ambiente interna-

cionalizado numa instituiccedilatildeo por si soacute eacute uma mais valia para os actores envolvidos

Isto para natildeo falar nos interessantes proveitos financeiros de que poderaacute beneficiar uma

instituiccedilatildeo de ensino que esteja aberta a um universo transnacional de largo espectro

A segunda questatildeo vem validar a hipoacutetese de partida uma vez que foi aqui amplamente

provado que natildeo existe em Portugal uma estrateacutegia da cooperaccedilatildeo que a partir da

criaccedilatildeo de mecanismos de anaacutelise baseados em estudos cientiacuteficos permitam agraves

entidades financiadoras planear definir objectivos e garantir a eficaacutecia do investimento

nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees de ensino superior apostarem na realizaccedilatildeo

de um ensino transnacional concertado e direccionado para determinados fins

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Universidade de Aveiro 2006

Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa Para o Ensino Superior

ANEXOS

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO I

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 1

(Dirigido a responsaacuteveis pelo planeamento e execuccedilatildeo das Poliacuteticas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no sector do ensino superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo O ensino transnacional eacute portanto um fenoacutemeno que natildeo eacute novo tendo jaacute sido experimentado pela maioria das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas Com base neste pressuposto 1 Eacute comum as instituiccedilotildees de ensino superior promotoras de ensino transnacional

identificarem como principais benefiacutecios a retirar destas actividades factores como a evoluccedilatildeo de desempenho do seu corpo docente e discente o desenvolvimento curricular e cientiacutefico a aprendizagem transcultural Acha que nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas estes benefiacutecios tecircm vindo a ser alcanccedilados atraveacutes da promoccedilatildeo do ensino transnacional

2 Acha que o aumento exponencial do Ensino Superior Transnacional eacute resultante do aumento

da competitividade do mercado de ensino europeu e mundial

21 Como vecirc o futuro das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas face agrave tendecircncia para o crescimento descontrolado do Ensino Superior Transnacional agrave escala mundial Quer enquanto receptoras quer enquanto promotoras de ensino

3 Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de

informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a substituir o ensino presencial no ensino transnacional

4 Como encara este modelo de ensino aprendizagem nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa 5 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes pela

ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica ao(s) caso(s) de TimorCabo Verde

6 Qual a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa de cooperaccedilatildeo para o sector da educaccedilatildeo 7 Tendo como exemplo o modelo Australiano no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional que se encontrava fora dos sistemas formais como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado acha que este modelo de actuaccedilatildeo poderia funcionar em paiacuteses como Cabo Verde ou Timor-Leste

8 Como vecirc a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos que levem o ensino transnacional a

submeter-se a processos de avaliaccedilatildeo e agrave posterior integraccedilatildeo nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes ldquohospedeirordquo

9 Em que ano Portugal comeccedilou a praticar ensino transnacional em Timor Leste

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 10 O Governo timorense teve intervenccedilatildeo na selecccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo do ensino

transnacional A selecccedilatildeo dos cursos a ministrar foi baseada em algum estudo avaliativo no sentido de identificar as aacutereas prioritaacuterias em funccedilatildeo das reais necessidades do paiacutes (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

11 Como avalia os efeitos do ensino transnacional portuguecircs em Timor nomeadamente no

desenvolvimento cultural cientiacutefico e econoacutemico do paiacutes 12 Qual tem sido a receptividadereacccedilatildeo dos sistemas de ensino formais ao ensino

transnacional 13 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO II

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 2

(Dirigido a autoridades Timorenses com responsabilidades no Sector do Ensino Superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade 1 Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a

substituir o ensino presencial no ensino transnacional

11 Como vecirc a aplicaccedilatildeo deste modelo de ensino aprendizagem em Timor-Leste Existe algum projecto nesta aacuterea em funcionamento

2 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes

devido agrave ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica a Timor-Leste

21 O que pensa da aplicaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo por parte das

estruturas formais de regulaccedilatildeo dos paiacuteses hospedeiros ao ensino transnacional 3 Quais julga serem as verdadeiras motivaccedilotildees que levam as instituiccedilotildees de ensino de paiacuteses

desenvolvidos a promoverem ensino transnacional em paiacuteses em desenvolvimento (questotildees econoacutemicas ou cooperaccedilatildeo)

4 Tomando como exemplo o modelo Australiano [no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado] acha que este modelo seria adequado para Timor-Leste

5 Acha que seria positivo a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos de avaliaccedilatildeo do

ensino transnacional tendo como contrapartida a integraccedilatildeo destes nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes hospedeiro

6 No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo em que ano comeccedilou ser praticado ensino transnacional em

Timor- Leste 7 Quais os paiacuteses que estatildeo actualmente a cooperar com Timor-Leste ao niacutevel do sistema

educativo (com estruturas de ensino) 8 Qual foi o criteacuterio utilizado pelo governo transitoacuterio de Timor-Leste para a selecccedilatildeo das

aacutereas de formaccedilatildeo superior A selecccedilatildeo dos cursos foi baseada em algum estudo (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 9 Os cursos ministrados em Timor-Leste satildeo adaptados agraves especificidades do puacuteblico a que satildeo

dirigidos 10 O ensino transnacional ministrado em Timor-Leste por instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas estaacute de alguma forma sujeito agraves regras dos sistemas de ensino formais (do paiacutes hospedeiro)

101 Estaacute integrado no sistema de ensino formal do paiacutes hospedeiro 102 Qual tem sido a receptividadeIntegraccedilatildeo por parte dos sistemas de ensino formais de

Timor Tem encontrado resistecircncia por parte destes uacuteltimos 11 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor 12 Como avalia os efeitos do ensino promovido por Portugal no desenvolvimento cultural

cientiacutefico e econoacutemico de Timor-Leste

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ANEXO III

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm1

Entrevista realizada a um alto responsaacutevel de um instituto puacuteblico portuguecircs com actividades

na aacuterea da Cooperaccedilatildeo

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador A = entrevistado A F= funcionaacuterio do instituto presente E Aaaahellip Em relaccedilatildeo entatildeo a este tema da da cooperaccedilatildeo eu gostaria de saber a opiniatildeo do

Senhor X hellip e neste caso na qualidade dehellip (cargo que ocupa) se acha que hellip e eu tentaria

direccionar-me mais para as universidades e para a cooperaccedilatildeo daquilo que conhece do trabalho

das universidades nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa nomeadamente e particularmente Timor

e Cabo Verde uma vez que satildeo os meus casos de estudo mas se entender dar exemplos de outros

paiacuteses e de outros PALOP estaacute agrave vontade

Se acha quehellip aaaahellip a apetecircncia ou aaahellip o gosto que hoje em dia as universidades e

os institutos politeacutecnicos tecircm por paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eacute no sentido da cooperaccedilatildeo

pura chamemos-lhe assim ou se por detraacutes disso denota algum interesse de cariz econoacutemico e

ateacute face ao contexto actual de Portugal do ensino e as dificuldades se nota que satildeohellip que haacute uma

fuga para a frente no fundo Ou se natildeo se eacute soacute por caraacutecter cooperativo O que eacute que acha da

actualidade em relaccedilatildeo a isso

A Muito bem olhe eu prefiro comentar a pergunta que me faz num contexto mais geral

perspectiva-la a dar-lhe um enquadramento sem me eximir de depois comentar especificamente

aquilo quehellip a que se referiu na sua pergunta Eu julgo que eacute preciso partir de uma premissa

fundamental a liacutengua a liacutengua e a cultura portuguesa mas sobretudo a liacutengua como veiacuteculo

dessa cultura eacute um vector fundamental da afirmaccedilatildeo da nossa identidade e da nossa poliacutetica

externa Ou seja noacutes somos por vocaccedilatildeo e por opccedilatildeo poliacutetica sobretudo a partir de uma eacutepoca em

que se reinstaurou a democracia em Portugal um paiacutes europeu e que encontra o seu destino na

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uniatildeo Europeia E eu insisto sobretudo numa entrevista de caraacutecter acadeacutemico em frisar uma

coisa que muitas vezes eacute esquecida Portugal natildeo eacute uma democracia apenas desde 1974 Durante

um largo periacuteodo do seacuteculo XIX noacutes tivemos um funcionamento democraacutetico das nossas

instituiccedilotildees Houve trecircs periacuteodos diferentes um periacuteodo que houve muita instabilidade e havia

democracia um periacuteodo dehellip estabilidade formal aaaahellip e democracia tambeacutem formal mas

houve um periacuteodo significativo sobretudo a partir de 1852 quase ateacute ao final do seacuteculo em que

houve efectivamente exerciacutecio de alguma estabilidade poliacutetica e de democracia tambeacutem Portanto

noacutes natildeo somos neoacutefitos da democracia E quando aaaahellip em contacto com os Paiacuteses Africanos de

Liacutengua Oficial Portuguesa e Timor dizemos retoricamente ldquoSim noacutes somos todos jovens

democracias temos todos praacutetica democraacutetica haacute 25 anoshelliprdquo isto natildeo eacute assim Portugal tem

efectivamente uma diferente experiecircncia histoacuterica em termos institucionais Aleacutem disso somos

uma naccedilatildeo com 850 anos natildeo nascemos ontem mas temos efectivamente neste contexto das

democracias ocidentais o nosso lugar claramente definido no quadro da Uniatildeo Europeia

No entanto a Uniatildeo Europeia natildeo esgota o destino histoacuterico de Portugal nem a projecccedilatildeo

de Portugal no mundo ao contraacuterio do que acontece com outros paiacuteses europeus e isso eacute

fundamental distinguir Por exemplo se eu pensar ma Beacutelgica ou na Aacuteustria o que distingue a

Beacutelgica de Aacuteustria eacute evidentemente a Uniatildeo Europeia a Europa Nem haacute outra possibilidade

natildeo haacute outra forma nem nunca houve e obviamente o futuro acelera esse tipo de dependecircncia No

caso de Portugal natildeo eacute assim O lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a liacutengua portuguesa e

uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de pessoas do que por exemplo o Francecircs

e eacute uma liacutengua vital viva com imenso futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas

do mundo onde a tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees tendem a envelhecer e a populaccedilatildeo em termos

demograacuteficos a estagnar Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa

afirmaccedilatildeo internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa eacute

essencial para Portugal a daiacute tambeacutem a importacircncia da liacutengua portuguesa no nosso

relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP designadamente agora mais

Eu julgo que noacutes estamos finalmente a caminho da preparaccedilatildeo daquilo a que se chamaraacute

uma estrateacutegia para a divulgaccedilatildeo e a expansatildeo da liacutengua portuguesa no mundo Natildeo existe um

documento estrateacutegico de enquadramento estaacute criado um grupo de trabalho inter-ministrial no

qual o Ministeacuterio dos Negoacutecios estrangeiros participa de uma forma multi-facetada atraveacutes do

Camotildees atraveacutes atraveacutes do IPAD da Missatildeo para a CPLP da Direcccedilatildeo Geral das Comunidades

Portuguesas e evidentemente um grupo de trabalho que engloba outros ministeacuterios e que no

momento oportuno teraacute que ter necessariamente a contribuiccedilatildeo da Fundaccedilatildeo das Universidades

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Portuguesas e das Universidades no seu no seu conjunto Haacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo o

Ministeacuterio do Ensino Superior e Ciecircncia etc a ideia eacute elaborar uma estrateacutegia uma estrateacutegia que

natildeo tem soacute a ver com os PALOPs com o Brasil com Timor mas tem a ver tambeacutem com a

importacircncia de manter viva a liacutengua portuguesa nos paiacuteses onde haacute uma forte comunidade

portuguesa

Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave mestra a ideia de

que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente e a aposta essencial deve ser na

formaccedilatildeo de formadores locais Ou seja a ambiccedilatildeo de fazer com que o portuguecircs possa ser

ensinado por exemplo no Senegal por professores guineenses em vez de ser por professores

portugueses ser ensinado no Brasil por professores brasileiros ou na Argentina por professores

brasileiros ou seja a mesma coisa que a poliacutetica para Timor aahellip mudanccedila dessa estrateacutegia

global quando chegamos ao dia da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento deve apostar sobretudo na

formaccedilatildeo de professores ou seja eu compreendo que durante a fase de afirmaccedilatildeo da

independecircncia fosse necessaacuterio ter em Timor cento o muitos professores portugueses e

supostamente especialistas em portuguecircs liacutengua estrangeira Mas tambeacutem sei que o futuro natildeo eacute

por aiacute que vai o futuro passaraacute o futuro da liacutengua portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

liacutengua portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem ensina portuguecircs nas

escolas satildeo professores timorenses que aprenderam portuguecircs com professores portugueses

preferencialmente laacute porque a formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo

de inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute uma aposta

importantiacutessima eacute uma aposta de futuro e passa designadamente por aahellip se ensinar o portuguecircs a

todos os niacuteveis do ensino todos os niacuteveis da escolaridade desde a educaccedilatildeo baacutesica da secundaacuteria

ateacute ao ensino universitaacuterio O papel das universidades portuguesas nisto eacute fundamental

evidentemente tal como eacute fundamental o papel institucional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior Eu dou-lhe um exemplo muito especiacutefico do que eacute

que estou a pensar da importacircncia do papel institucional noacutes temos escolas oficiais portuguesas

em Maputo e vamos ter em Dili a primeira fase estaacute concluiacuteda a segunda fase jaacute foi aprovada

financeiramente a adjudicaccedilatildeo estaacute em curso e vamos ter o arranque da segunda fase da escola

portuguesa de Dili Na escola portuguesa de Maputohellip

E Uma escola portuguesa ao niacutevel do ensino secundaacuterio

A Sim ao niacutevel do ensino exactamente a ideia eacute a ideia eacute que a escola portuguesa em

20062007 cubra toda a escolaridade secundaacuteria como o equivalente ao 12ordm ano em Portugal que

acontece na escola portuguesa de Maputo E satildeo escolas que satildeo geridas sob a batuta do

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Ministeacuterio da Educaccedilatildeo como deve ser institucionalmente Soacute que porque houve em Portugal

um periacuteodo onde natildeo havia para esse tipo de opccedilotildees estrateacutegicas os meios financeiros adequados

haacute outros paiacuteses de liacutengua portuguesa onde as escolas portuguesas satildeo produto de cooperativas de

ensino como acontece em Luanda com as dificuldades todas que daiacute advecircm E com muitas vezes

as incompreensotildees que daiacute resultam tanto da cooperativa e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo do qual a

cooperativa formalmente natildeo depende

Por outro lado haacute organizaccedilotildees natildeo governamentais que tecircm tambeacutem acompanhado este

processo basta pensar na Guineacute naquilo que a Fundaccedilatildeo de Evangelizaccedilatildeo e Cultura estaacute a fazer

directamente ao niacutevel do ensino do portuguecircs portanto haacute uma multiplicidade de actores que eacute

preciso reunir na linha estrateacutegica de que aquilo que temos que fazer eacute formar formadores eacute

formar professores de portuguecircs Natildeo eacute enviar professores para esses paiacuteses

Ora bem isto responde-lhe um pouco agrave segunda parte da sua pergunta que eacute a parte que eu

percebo que eacute a que lhe interessa mais directamente Eacute evidente que eacute mais importante na

perspectiva da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento na perspectiva do desenvolvimentohellip

E E da poliacutetica governamentalhelliptambeacutem

A Da poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante desenvolver universidades locais

do que transplantar universidades para esses paiacuteses ou seja se a Universidade Agostinho Neto

que eacute a universidade do Estado Angolano tem uma Faculdade de Direito essa Faculdade de

Direito por exemplo estou-lhe a dar apenas um exemplo tem que ter meios para se auto-sustentar

e gerir o universo dos alunos potenciais em Direito numa perspectiva Angolana de acordo com o

mercado de trabalho com o sistema juriacutedico angolano com as perspectivas de Angola no contexto

regional Natildeo podemos imaginar que estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de Direito de uma universidade qualquer

como se fizeacutessemos uma espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque isso natildeo

eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar desenvolvimento

E Eacute o chamado desenvolvimento sustentado

A Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da

cultura e do ensino exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveis Ora bem eacute evidente no

entanto que quando se fala das universidades privadas haacute aqui umas que tecircm esta perspectiva eu

dou-lhe o exemplo a Universidade Catoacutelica de Luanda ou a Universidade Lusiacuteada de Luanda satildeo

instituiccedilotildees criadas laacute de raiz e que tecircm preocupaccedilotildees de gestatildeo de um universo local nacional

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agora haacute outro tipo de instituiccedilotildees que evidentemente fizeram aquilo que no mundo empresarial

equivale agrave deslocalizaccedilatildeo de empresas o que natildeo eacute mau do ponto de vista empresarial ou seja se

eu tiver uma faacutebrica tecircxtil em Satildeo Joatildeo da Madeira que tenha equipamento obsoleto e que eu natildeo

tenha meios financeiros porque natildeo haacute escoamento suficiente de produtos por causa da minha

falta de agressividade comercial ou das cotas estabelecidas ao niacutevel da Uniatildeo Europeia eu natildeo

tenho meios financeiros suficientes para manter o niacutevel salarial pretendido eu posso

eventualmente pegar em maquinaria e instalar essa faacutebrica na Iacutendia ou no Paquistatildeo e essa faacutebrica

pode de repente tornar-se viaacutevel e o fluxo financeiro criado com esse tipo de deslocalizaccedilatildeo pode

ser muito beneacutefico porque eu posso reinvestir exactamente em Satildeo Joatildeo da Madeira beneficiando

a populaccedilatildeo que entretanto ficou sem emprego com a deslocalizaccedilatildeo da minha faacutebrica Agora

seraacute que do ponto de vista da educaccedilatildeo e da cultura este tipo de raciociacutenio eacute o raciociacutenio mais

loacutegico e coerente Seraacute que a educaccedilatildeo e a cultura e o ensino satildeo um negoacutecio E seraacute que a

deslocalizaccedilatildeo de universidades privadas para os nossos interlocutores em mateacuteria de cooperaccedilatildeo

equivale efectivamente a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento Eu tenho as maiores duacutevidas

tenho as maiores duacutevidas natildeo sei se eacute assim duvido Instintivamente diria que natildeo

Definitivamente natildeo estamos no domiacutenio da ajuda puacuteblica ao desenvolvimento apesar de

podermos se calhar contabilizar isso em termos de OCDE mas julgo que estamos muito mais

proacuteximos do domiacutenio do domiacutenio puramente comercial e infelizmente haacute exemplos disso mesmo

Mas tambeacutem satildeo exemplos que denotam uma realidade que eacute muito interessantehellip pensar Mais

uma vez o exemplo de Luanda que eacute o exemplo que eu conheccedilo melhor as universidades privadas

que laacute estatildeo custam por mecircs a cada aluno cerca de 300 doacutelares que eacute o equivalente enfim a

duzentos e cinquenta euros duzentos e quarenta euros por mecircs cada aluno e estatildeo cheias E tecircm

cerca de mil alunos cada uma o que significa que haacute uma burguesia de 3 mil ou 4 mil famiacutelias

que pode pagar que pode pagar este tipo dehellip de propinas E isso eacute tambeacutem revelador que aiacute haacute

eventualmente uma perspectiva que eacute redutora que acaba por incidir sobre outras camadas da

populaccedilatildeo agora o que natildeo se pode eacute fazer de tudo isso apenas um negoacutecio apenas um comeacutercio

tem que haver preocupaccedilotildees mais de mudanccedila

E Entatildeo eu posso concluir que o projecto que a Fundaccedilatildeo das Universidades desenvolve em

Timor aproxima-se do modelo quehellip ideal Natildeo haacute ideias mashellip do modelo que seria desejaacutevel

no futuro da cooperaccedilatildeo

A Eu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades em Timor eacute um

projecto extremamente importante e tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da

problemaacutetica de Timor Repare que Timor eacute deixe-me soacute dizer-lhe trecircs coisas muito raacutepidas de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

enquadramento que me parece que satildeo muito uacuteteis noacutes temos uma grande responsabilidade em

relaccedilatildeo a Timor Timor soacute eacute independente porque aaaahellip Portugal e os portugueses e a

diplomacia portuguesa durante deacutecadas insistiram na manutenccedilatildeo da questatildeo de Timor no topo da

agenda poliacutetica internacional Eu tenho 20 anos de carreira diplomaacutetica um pouco mais e lembro-

me das primeiras reuniotildees internacionais em que participei haacute 20 anos atraacutes quando falava de

Timor os meus colegas bocejavam Aaaahellip e sem querer discriminar nacionalidades mas

bocejavam porque ningueacutem acreditava que fosse possiacutevel manter a questatildeo de Timor no topo da

agenda e conseguir os resultados que se conseguiu portanto haacute uma enorme responsabilidade haacute

uma enorme responsabilidade que eventualmente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar

portuguecircs e pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e pelo facto dos

timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor estarem profundamente empenhadas na

manutenccedilatildeo do Portuguecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo primeiro

da sua identidade nacional E da sua marca de diferenccedila na regiatildeo

Ora bem dito isto Timor aahellip tem um contexto regional especiacutefico e um contexto

regional natildeo nos iludamos soacute tem sustentabilidade com um eventual relacionamento poliacutetico

econoacutemico militar de seguranccedila etc com a Indoneacutesia e com a Austraacutelia porque satildeo esses os

vizinhos de Timor Timor natildeo pode viver natildeo passa pela cabeccedila de ningueacutem que Timor sobreviva

como Naccedilatildeo tendo maacutes relaccedilotildees com esses vizinhos Portanto noacutes ao desenvolvermos um

projecto de ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em Timor noacutes estamos

simultacircneamente estamos aquilo que eu lhe disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia

estrateacutegica do portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde Timor se insere

Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a

formaccedilatildeo de formadores portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismo Essa pedagogia tambeacutem tem que ser feita acompanharatildeo de que haacute

ali um espaccedilo regional de integraccedilatildeo O projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas sim

parece-me a mim basicamente um projecto correcto natildeo me parece um projecto de natureza

comercial ou mercantil parece-me um projecto que tem uma dinacircmica que se insere na linha da

estrateacutegia do que eacute a nossa cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

E Isto leva-me a perguntar-lhe se aahellip se o projecto vai ao encontro das necessidades de

Timor ou se pelo contraacuterio vai no sentido do que Portugal decidiu ser o melhor ou seja se foram

ouvidos os Timorenses as aacutereas estrateacutegicas estatildeo de acordo com as necessidades identificadas

por eles proacuteprios ou se pelo contraacuterio fomos noacutes quehellip delineaacutemos no fundo a actuaccedilatildeo que

estamos a ter actualmente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Eu percebo muito bem a sua pergunta mas repare o idealhellip

E Eacute uma pergunta natildeo eacute uma afirmaccedilatildeo

A Natildeo natildeo natildeo eu percebo muito bem eu percebo muito bem o ideal eacute que essas duas

vertentes coincidam ou seja no mundo ideal seria se objectivos programaacuteticos e estrateacutegicos de

Portugal nesse contexto coincidissem com os anseios as ambiccedilotildees os interesses e as necessidades

dos timorenses Noacutes estamos convencidos que o modelo que estaacute a ser delineado corresponde a

isso mesmo Ateacute porque repare se natildeo correspondesse esses desequiliacutebrios essas disfunccedilotildees

acabariam por se notar e por comprometer o projecto Eacute fundamental repare que em ajuda puacuteblica

ao desenvolvimento tudo o que tem a ver com cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute essencial

que aquilo que a comunidade dadora internacional oferece corresponda aquilo que os paiacuteses

anseiam Natildeo eacute apenas por uma questatildeo retoacuterica de respeito pelas escolhas individuais dos paiacuteses

ou por uma ingerecircncia aahellip natildeo eacute nada disso eacute por uma razatildeo muito mais substantiva estaacute

demonstrado estaacute absolutamente demonstrado aahellip todos os niacuteveis e todas as instituiccedilotildees que se

ocupam destas mateacuterias que natildeo haacute desenvolvimento sustentaacutevel sem aquilo a que se chama a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento onership hellip hellip sem o onership do processo a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento ou seja os paiacuteses receptores de ajuda os parceiros

do oner do desenvolvimento tecircm que se sentir no lugar do condutor do automoacutevel do processo de

desenvolvimento porque se natildeo se apropriam do processo de desenvolvimento ele natildeo eacute

endogeneizado ele natildeo eacute aahellip adquirido de uma forma perene pelas sociedades que estatildeo em

causa Repare que o modelo de desenvolvimento eu quando estou a falar de desenvolvimento

tenho perfeita consciecircncia de que hoje em dia cada vez mais o desenvolvimento eacute tambeacutem o

crescimento econoacutemico a integraccedilatildeo das economias desses paiacuteses na economia global tem

imensas relaccedilotildees com o desenvolvimento do comeacutercio internacional tudo isso

Mas para aleacutem de tudo isso para aleacutem de tudo isso o desenvolvimento eacute um processo

endoacutegeno eacute um processo de consciecircncia colectiva Eu natildeo tenho a certeza se pegar aqui aahellip no

modelo AlfragideReboleira e colocar o mesmo tipo de preacutedios em Baucau se isso corresponde a

um modelo de desenvolvimento Ou melhor estou praticamente seguro que natildeo natildeo eacute Portanto

haacute todo um conjunto de caracteriacutesticas que tecircm que ser endogeneizadas pela populaccedilatildeo local o

que eacute que eu quero dizer com isto eacute evidente que se o portuguecircs como liacutengua e a cultura

portuguesa como matriz forem rejeitados pela populaccedilatildeo timorense pelos jovens timorenses pelas

(hellip) de Timor e se essa aproximaccedilatildeo natildeo tiver passado de um episoacutedio histoacuterico noacutes natildeo

podemos fazer nada contar isso noacutes natildeo podemos remar contra essa mareacute O portuguecircs ou eacute a

liacutengua veicular (hellip) das liacutenguas oficiais de Timor e corresponde agrave identidade ou natildeo eacute E ponto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

final natildeo eacute Natildeo haacute volta a dar em relaccedilatildeo a isso Eacute o drama neste momento com que a Franccedila

se debate no contexto internacional aahellip a Franccedila tem imensa dificuldades as autoridades

francesas em compreender que muito provavelmente o francecircs perdeu de uma forma definitiva a

batalha da internacionalizaccedilatildeo e de ser ouvido internacional a favor do inglecircs E provavelmente

perdeu definitivamente Eventualmente isso eacute definitivo E eventualmente as outras liacutenguas

veiculares satildeo eventualmente o Espanhol o Portuguecircs e o Aacuterabe Aaahellip Mas eacute evidente uma

pessoa tem que pensar isto em termos globais porque como todos noacutes sabemos a liacutengua mais

falada no mundo eacute o Chinecircs de Pequim ou o Chinecircs Mandarim daquela zona da China que eacute

falado por um biliatildeo de pessoas Mas isso natildeo faz do Chinecircs Mandarim uma liacutengua global

enquanto que o Espanhol e o Portuguecircs e o Aacuterabe eventualmente satildeo muito mais liacutenguas de

dehellip de globalizaccedilatildeo

E Satildeo liacutenguas a niacutevel mundial

A A aposta do portuguecircs tambeacutem passa por aiacute Eacute evidente que os timorenses vatildeo ter que

saber falar inglecircs como todos os jovens portugueses ou todos os jovens espanhoacuteis sob pena se

um jovem timorense natildeo dominar o inglecircs ou um jovem portuguecircs natildeo dominar o inglecircs daqui a

vinte anos estaacute totalmente fora de qualquer mercado de trabalho E natildeo eacute qualquer mercado de

trabalho na Uniatildeo Europeia eacute qualquer mercado de trabalho em Portugal Portanto eacute preciso ter

consciecircncia de que haacute um instrumento aaa a falar inglecircs eacute a mesma coisa do que saber utilizar

um computador eacute um tipo de linguagem que ou se aprende ou se fica for a do mercado de

trabalho

Em relaccedilatildeo ao Portuguecircs eu acho que eacute fundamental a aprendizagem ou a expansatildeo do

Portuguecircs tambeacutem como liacutengua para o mercado de trabalho e para a formaccedilatildeo em paiacuteses como

Portugal como o Brasil como Angola comohellip Moccedilambique como Timor eacute essa a nossa aposta

eacute essa a nossa aposta e cada vez mais o Portuguecircs pode servir qual eacute o paiacutes mais rico do mundo

Eacute o Luxemburgo e 30 da populaccedilatildeo fala Portuguecircs mashellip claro que isto em termos

estatiacutesticos vale o que vale mas o que eacute certo eacute que 30 da populaccedilatildeo do paiacutes mais rico do

mundo fala portuguecircs e tem ascendecircncia e ligaccedilotildees a Portugal Isso eacute muito significativo

E Por razotildees histoacutericas natildeo eacute

A Mas isso eacute muito importante Natildeo eacute natildeo eacute discipiente isto tem um grandehellip natildeo falam

chinecircs nem nem Persa natildeo eacute falam curiosamente falam Portuguecircs eacute interessante

E E os jovens jaacute vatildeo tendo algum peso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Vatildeo tendo algum peso

E Eles tecircm uma importacircncia muito significativa Mas eu julgo que sim repetindo o que disse

no princiacutepio o projecto da FUP eacute um projecto que se insere neste quadro da ajuda puacuteblica ao

desenvolvimento Agora a ajuda puacuteblica ao desenvolvimento natildeo eacute apenas o trabalho de

caritativo solidaacuterio a vertente ONGs de desenvolvimento eacute um trabalho que tem que ser pensado

numa loacutegica que estaacute muito para aleacutem da mera loacutegica da solidariedade Eacute muito significativo isto

que eu lhe vou dizer sem querer que daqui extraiacutea nenhuma conclusatildeo ideoloacutegica o problema das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento eacute umahellip um organismo que apareceu numa determinada

numa determinada condicionante e num determinado circunstancialismo histoacuterico e que natildeo eacute

aahellip nenhum amaacutetena nem eacute politicamente incorrecto se eu disser que o PNUDE que vem pelo

sistema das Naccedilotildees Unidas comeccedilou por ser ideologicamente muito descrente e esteve muito

marcado pela loacutegica sobretudo voltada para a solidariedade

Hoje em dia o PNUDE publica uma declaraccedilatildeo em livro sobre as relaccedilotildees do

desenvolvimento com o comeacutercio internacional Isto natildeo eacute publicado pelo Banco Mundial natildeo eacute

um livro do FMI eacute um livro do PNUDE Portanto a dinacircmica de desenvolvimento tem tambeacutem

outras componentes e outras vertentes a que noacutes temos que estar cada vez mais atentos

E E tem tambeacutem a vecircr com o GATS no qual o mercado da Educaccedilatildeo estaacute tambeacutem a ser

incluiacuteda natildeo eacute

A Eacute fundamental eacute fundamental a educaccedilatildeo para todos eacute um dos objectivos agora quando

estamos a falar em Educaccedilatildeo eacute preciso temos tambeacutem consciecircncia do que eacute que estamos a falar

natildeo eacute Porque aahellip repare na violecircncia disto que lhe vou dizer imagine as liacutenguas nacionais em

Angola o kimbondohellip por aiacute fora ou o ohellip

E O teacutetum

A O teacutetum haacute Cursos de Medicina em teacutetum natildeo haacute Haacute Cursos de Engenharia Electroacutenica

ou Informaacutetica em teacutetum ou em kimbondo natildeo haacute Ou seja se eu insistir que as crianccedilas de uma

determinada localidade no interior de Angola tenham uma educaccedilatildeo sobretudo razoaacutevel na

liacutengua nacional que eacute o kimbondo o que eu estou a fazer eacute imediatamente a decretar decretar que

elas natildeo vatildeo ter nunca o acesso ao ensino superior E isso eacute uma questatildeo poliacutetica natildeo eacute

Enquanto que o portuguecircs eacute natildeo soacute uma liacutengua de acesso ao ensino superior como uma liacutengua

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

veicular como para aleacutem disso o ensino em instituiccedilotildees onde se aprende portuguecircs eacute um ensino

tambeacutem muito aberto e alerta para a necessidade de dominar outras linguagens como as duas que

neste momento na minha opiniatildeo satildeo as mais importantes que satildeo o Word e o Inglecircs Mais

E No contexto informaacutetico claro Podia haver outrahellip outra interpretaccedilatildeo Aahellip em relaccedilatildeo

agora saindo um bocadinho deste que eacute quase umhellip um modelo novo e que natildeo eacute o existente nos

outros paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa as instituiccedilotildees de ensino superior privadas aahellip que

conhece e conheceraacute com certeza ateacute melhor do que eu aahellip o trabalho desenvolvido por estas

natildeo estaacute de maneira nenhuma em sintonia ou seja natildeo estatildeo metidashellip aahellip natildeo haacute um

alinhamento com a poliacutetica e com a estrateacutegia portuguesa de cooperaccedilatildeo Estatildeohellip eu natildeo queria

dizer de costas voltadas mas cada uma segue o seu caminhohellip

A Eu eu percebo o que diz Repare a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute muitas vezes

vista como a cooperaccedilatildeo institucional Este instituto e os antecessores deste instituto tantas vezes

vista como uma espeacutecie de gaveta onde se vai buscar dinheiro para financiar projectos Aahellip e

muitas vezes isso correspondia a (hellip) ateacute porque as pessoas tinham o dinheiro na gaveta e tinham

que o gastar ateacute ao final do ano sob pena de ele ser absorvido pelo Ministeacuterio das Financcedilas Aahellip

esta loacutegica eacute uma loacutegica totalmente perversa e natildeo faz sentido nenhum Eacute preciso primeiro

reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos meios que lhe permitam ter capacidade de

articulaccedilatildeo e de coordenaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas depois eacute

fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute faz sentido no quadro de estrateacutegias de

programas natildeo faz sentido a acccedilotildees natildeo eacute E eacute oacutebvio que se a Drordf Moacutenica Pimentel me viesse

pedir um subsiacutedio para fazer uma viagem a Timor no contexto de uma acccedilatildeo eu devo dizer que

natildeo porque isto natildeo se insere num programa mais vasto num contexto loacutegico mas se essa

viagem se inserir num programa num programa indicativo num projecto no contexto de trabalho

com sustentabilidade avaliado com certeza que esse subsiacutedio para ohellip a realizaccedilatildeo dessa viagem

nesse contexto especiacutefico tem que ser observada a uma luz completamente diferente Portanto

fazer perceber agraves instituiccedilotildees designadamente agraves universidades privadas que devem falar

connosco natildeo na perspectiva de virem aqui encontrar complementos de financiamento para

acccedilotildees e para projectos (hellip) mas podem articular os projectos com as perspectivas e os programas

da cooperaccedilatildeo portuguesa De facto isto eacute muito delicado o que eu estou a dizer eacute menos

delicado no caso das universidades do que por exemplo no caso das ONGs Repare em rigor as

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem sempre dizer ldquo- Natildeo mas noacutes somos a sociedade

civil noacutes temos projectos proacuteprios e vocecircs satildeo o Estado financiam-nos ou natildeo nos financiam

O que natildeo podem eacute estar a pretender ter um direito de super visatildeo sobre aquilo que noacutes fazemosrdquo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ora bem este argumento eacute reversiacutevel porque o dinheiro da cooperaccedilatildeo portuguesa eacute dinheiro

puacuteblico eacute dinheiro dos portugueses E as organizaccedilotildees natildeo governamentais tecircm que perceber

que tendo eu responsabilidades ao niacutevel do Estado ao niacutevel da governaccedilatildeo eu natildeo posso

financiar uma organizaccedilatildeo governamental que tenha um projecto que vaacute contra que seja

totalmente exterior contraacuterio ou nocivo da minha poliacutetica de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

Ora bem um exemplo muito concreto do que eacute que eu quero dizer imagine uma organizaccedilatildeo natildeo

governamental que pretendia desenvolver em Timor uma acccedilatildeo aahellip a favor da manutenccedilatildeo dohellip

baaza como liacutengua eacute evidente que eu natildeo posso financiar este tipo de coisas natildeo eacute Mais

E Mudando agora um bocadinho dehellip de temahellip

A A Drordf F (teacutecnico superior do instituto presente na entrevista) se quiser comentar ou

acrescentar alguma coisa diga

F Natildeo estava a ouvir o projecto sobre as universidades privadas nem o proacuteprio paiacutes quase

sabe (hellip) quando laacute estivemos ultimamente as autoridades de facto desconheciam o que eacute que se

estava a fazer

A Pois

E E o Governo portuguecircs natildeo podehellip natildeo pode actuar com certeza natildeo eacute

A Inclusive noacutes temos noacutes temoshellip

E Natildeo pode regular As autoridades Cabo Verdianas neste caso por exemplo tomarem

medidas de regulamentaccedilatildeo dehellip de regulaccedilatildeo porque isso eacute uma das perguntas que eu tenho

tambeacutem para colocar defende defende de alguma forma aahellip instrumentos reguladores das

actividades de dehellip das instituiccedilotildees de ensino das actividades que desenvolvem nestehellip nos

paiacuteses onde fazem cooperaccedilatildeo

A Aahellip eu julgohellip haacute aqui uma coisa que eacute muito importante que eacute o reforccedilo deste

mecanismo coordenador e de cooperaccedilatildeo repare que ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo

de que dentro do proacuteprio Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou seja

como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

esse mundo todo que estaacute aiacute fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a sua

instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do organismo central da cooperaccedilatildeo

portuguesa Portantohellip o primeiro o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da cooperaccedilatildeo

com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo Eu natildeo estou a dizer que isso esteja

adquirido eu acho que eacute um trabalho que estaacute a ser feito eacute uma das ambiccedilotildees da criaccedilatildeo dohellip

(nome do instituto) como lhe digo natildeo sei se vamos conseguir eacute um trabalho Eacute fundamental eacute

um aspecto fundamental e que tem vaacuterias vertentes natildeo interessa agora estarmos a analisar

tecnicamente mas tem uma vertente essencial que digo-lhe jaacute que eacute o problema da orccedilamentaccedilatildeo

ou seja enquanto o Ministeacuterio X que eu natildeo vou dizer qual tem um orccedilamento que usa a seu belo

prazer para acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e que se natildeo usa depois transfere para outro tipo de verbas e que

natildeo eacute aprovado no princiacutepio do ano nohellip no na elaboraccedilatildeo do orccedilamento em consonacircncia comhellip

o meu instituto aahellip e que aleacutem disso ele natildeo tem acesso aos nuacutemeros exactos nem aparece um

mapa global reflectido na lei da execuccedilatildeo orccedilamental inicialmente no orccedilamento eu natildeo tenho

mecanismos de coordenar nem de articular

Se eu natildeo sou ouvido por que razatildeo eacute que o Ministeacuterio X em vez de ter 60 tem 100 ou

tem 20 e se eu natildeo percebo para que eacute que vatildeo ser aqueles 20 ou aqueles 60 jaacute natildeo estou a falar

como eacute que esses projectos eventuais se vatildeo articular com outros E natildeo eacute com os meus que eu

natildeo sou executor de projectos eacute com outros projectos de outros Ministeacuterios para que esse

mundohellip

E Par que natildeo haja duplicaccedilatildeo tambeacutem natildeo eacute

A Natildeo haja duplicaccedilatildeo para que haja complementaridade para que o dinheiro seja bem

utilizado para que haja eficaacutecia para que haja especializaccedilatildeo para que os eixos vitais de

intervenccedilatildeo sejam respeitados portanto haacute todo um mundo de articulaccedilatildeo a fazer E que vai

demorar tempo natildeo tenhamos nenhuma ilusatildeo que essa articulaccedilatildeo inter-ministerial vai levar

tempo Este eacute um aspecto fundamental e depois haacute o mundo exterior agrave cooperaccedilatildeo puacuteblica e

institucional que satildeo as organizaccedilotildees natildeo governamentais satildeo as instituiccedilotildees privadas ou de

direito privado que fazem cooperaccedilatildeo A proliferaccedilatildeo de associaccedilotildees de fundaccedilotildees de

organismos que se dedicam a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo eacute inimaginaacutevel E repare que noacutes em Portugal

ainda natildeo estamos no momento de uma alteraccedilatildeo significativa da Lei do Mecenato porque eacute que

natildeo estamos nesse momento Porque tudo aquilo que seja falar eventual reduccedilatildeo de receitas

fiscais neste momento natildeo tem viabilidade nenhuma no actual contexto da politica de contenccedilatildeo

da despesa puacuteblica Mas no dia que eu possa deduzir os meus impostos numa acccedilatildeo de

cooperaccedilatildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Aiacute as acccedilotildees vatildeo-se multiplicar

A Elas vatildeo-se multiplicar a articulaccedilatildeo vai ser muito mais complicada muito mais difiacutecil a

coordenaccedilatildeo vai aindahellip apresentar outras outras dificuldades Eu tenho que ter aqui este

mecanismo articulador e coordenador e depois tenho que ter nos paiacuteses (hellip) um

mecanismo espelho que seja o interlocutor em mateacuteria de cooperaccedilatildeo porque se eu puder

eu sou o Director Geral do Ministeacuterio A de Transportes ou do Urbanismo falo com o

meu colega Cabo-Verdiano e combino com ele uma acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo eu estou a agir agrave

revelia da articulaccedilatildeo das autoridades portuguesas mas tambeacutem das autoridades Cabo-

Verdianas Portanto tem que haver em Cabo-Verde ou na Guineacute ou em Timor ou em

Satildeo Tomeacute um organismo centralizador e coordenador Eacute basicamente isto

E Agora reportando-nos exactamente e soacute agraves universidades ou agraves instituiccedilotildees que

promovem educaccedilatildeo ou ensino nesses paiacuteses e agora uma questatildeo muito pessoal talvez de

sensibilidade mais pessoal acha que o ensino que praticam carece de maior qualidade

aahellip que eacute um ensino feito hellip um bocadinho natildeo queria levar a pergunta muito parahellip

um ensino a ldquogranelrdquo

A Eu julgo que haacute de tudo Eu julgo que haacute de tudo

E Ou melhor como qualifica o ensinohellip

A Haacute vaacuterios exemplos e eu julgo que haacute de tudo Eu julgo no entanto eu julgo que haacute

de tudo Haacute no entanto um problema essencial aahellip que eacute digamos assim transversal a

todas essas experiecircncias que eacute o ensino natildeo ter na minha opiniatildeo suficientemente em

conta as necessidades do proacuteprio processo de desenvolvimento Ou seja aahellip em Angola

um curso de engenharia eu estou a formar um engenheiro e o engenheiro estaacute a pensar em

vir depois exercer engenharia para Portugal ou Medicina para Portugal ou para os

Estados Unidos eu tenho quehellip focar esse ensino no processo de desenvolvimento do

paiacutes da regiatildeo em que estaacute inserido Eu preciso de engenheiros especialistas em aacutegua ou

de engenheiros especialistas em agricultura ou economistas agraacuterios e se calhar eu natildeo

preciso de outro tipo de valecircncias Portanto haacute muitas vezes um desejo desajustamento

em relaccedilatildeo agrave realidade local e ao mercado de trabalho potencial e agrave inserccedilatildeo no processo

de desenvolvimento

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E E eacute motivado porquecirc

A Eacute motivado por razotildees eacute motivado por razotildees simples porque repare aahellip eu

tenho aqui aahellip cursos cujos curriacuteculos satildeo estabelecidos e cujos professores tecircm

determinado tipo dehellip experiecircncia profissional e que vatildeo ensinar isso mesmo nesses

paiacuteses Tem que haver uma adaptaccedilatildeo agrave realidade local agrave realidade do mercado local E

essa adaptaccedilatildeo se calhar soacute vai ser plenamente conseguida quando os professores forem

do paiacutes mais uma vez a questatildeo da formaccedilatildeo de formadores Agora quanto agrave qualidade

do ensino haacute de tudo Haacute de tudo Julgo no entanto que as universidades portuguesas natildeo

praticam aahellip erros como certas universidades de outros paiacuteses em que os diplomas satildeo

aahellip natildeo tecircm nenhum significado natildeo tecircm nenhum valor Noacutes conhecemos todas aahellip as

histoacuterias de universidades espanholas do Brasil aahellip que ensinam tambeacutem nesses paiacuteses

em desenvolvimento Aahellip a velha anedota das pessoas que estatildeo na paragem do

autocarro no Rio de Janeiro e diz um para o outro ldquo- se o autocarro demora mais tempo

ficamos com mais um graurdquo Aahellip isto reflecte isto isto reflecte a mentalidade e as

universidades portuguesas natildeo cometem este tipo de asneiras E haacute inclusivamente

exemplos do contraacuterio de grande exigecircncia profissional Eu devo dizer-lhe mais uma

vez relacionado com Angola como digo eacute o paiacutes que eu melhor conheccedilo comeccedilou este

ano em Angola um Mestrado em Direito o primeiro Mestrado em Direito na Faculdade de

Direito da Universidade Agostinho Neto eacute dado por professores de Coimbra e o Mestrado

as provas de Mestrado satildeo corrigidas em Coimbra natildeo satildeo sequer corrigidas laacute

portanto a exigecircncia eacute evidentemente uma exigecircncia enorme

E Claro

A Natildeo sei qual vai ser o resultado natildeo eacute Agora eacute um exemplo mas ateacute bom que

eu esteja a dar um exemplo de grande exigecircncia E eu acho quehellip evitar o tal facilitismo

de que falaacutevamos no princiacutepio da nossa conversa que eacute pequenino agora adaptando agrave

realidade local

(hellip)

A E depois haacute um aspecto aqui muito importante que tem a ver com as ordens e essas

coisas todas se eacute para incentivar a colocaccedilatildeo das pessoas laacute eacute muito importante que esses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

diplomas tenham algum reconhecimento internacional natildeo eacute Ateacute parahellip eacute preciso eacutehellip aiacute

balancear bem se natildeo estamos a abrir a porta agrave fuga de bivalecircncias e de experiecircncias

profissionais Drordf Moacutenica Pimentel mais

E Eu estou prestes a concluirhellip Acha que o ensino aahellip a partir de e-learning poderaacute

vir a ser um ensino aahellip

A Acho que sim Acho que sim Acho que eacute muito importante eacute um ensino eacute

fundamental em imensos domiacutenios aahellip haacute aiacute todo um mundo para explorar O mundo do

ensino agrave distacircncia o mundo da medicina aahellip da tele-medicina para evitar por exemplo

as evacuaccedilotildees repare que noacutes gastamos uma fortuna todos os anos com evacuaccedilotildees

muitas vezes as evacuaccedilotildees satildeo para diagnoacutestico Haacute evacuaccedilotildees para diagnoacutestico As

pessoas sentem-se mal natildeo haacute meios de saber o que tecircm vatildeo fazer o diagnoacutestico fazem

uma ecografia detecta-se aiacute a doenccedila Enquanto que a tele-medicina jaacute permite fazer

ecografias agrave distacircncia e inclusive realizar operaccedilotildees agrave distacircncia O ensino agrave distacircncia eu

aprendi no outro dia numa reuniatildeo com o Ministeacuterio da Cultura natildeo se diz ensino agrave

distacircncia deve dizer-se ensino a distacircncia Vale o que vale Estaacute a ver como como todos

os dias aperfeiccediloamoshellip Ensino a distacircncia eacute o termo sofisticado

Agora eu acredito no ensino eu acredito no ensino a distacircncia mas eacute preciso

evidentemente que essas teacutecnicas efectivamente funcionem e sejam oleadas Eu acredito

no ensino a distacircncia Acredito e ateacute lhe digo inclusivamente mais aahellip haacute cada vez mais

empresas e ateacute governos que funcionam que funcionam com esse tipo de coisas Soacute para

lhe dar um que natildeo tem nada a ver com o ensino agrave distacircncia mas daacute-lhe ou o ensino a

distacircncia daacute-lhe uma ideia de como as coisas podem funcionar aahellip tradicionalmente o

Embaixador dos Estados Unidos nas Naccedilotildees Unidas o Embaixador Americano nas Naccedilotildees

Unidas em Nova York faz parte do Governo Americano faz parte tem categoria de

Ministro se quiserhellip antes do Conselho de Ministros em Washington do Governo

Americano esse membro do Governo participa sempre por viacutedeo conferecircncia Estaacute sempre

presente nunca laacute falta Portanto isso permite hoje em dia que haja aulas em que os

professores estatildeo a falar atraveacutes de uma televisatildeo e daacute aulas se calhar daacute aulas praacuteticas

em que ele tem os seus instrumentos e os alunos estatildeo no laboratoacuterio e vatildeo repetindo os

gestos ei julgo que sim que o ensino a distacircncia tem imenso futuro e noacutes inclusivamente

temos um projecto aahellip de ensino a distacircncia em portuguecircs que envolve Timor tambeacutem

oxalaacute haja dinheiro suficiente para financiar esse projecto a curto prazo Eu julgo que sim

Mais Drordf Moacutenica Pimentel

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Finalmente qual acha que eacute a receptividade quer da parte das autoridades

governamentais quer da parte das instituiccedilotildees formais de ensino dos paiacuteses aahellip

beneficiaacuterios neste caso da cooperaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave ida de instituiccedilotildees e de docentes para

promover o nosso ensino Acha que somos bem integrados bem recebidos bem vistos ou

a sensibilidade e a experiecircncia que tem deixa antever alguma desconfianccedila algum peacute

atraacutes

A Natildeo eu julgo eu julgo que natildeo Eu julgo que em todos os paiacuteses os formadores

portugueses os cooperantes portugueses satildeo extremamente bem recebidos satildeo

extremamente acarinhados em todo o lado isso eacute praticamente universal O que tem a ver

com uma multiplicidade com uma multiplicidade de factores a nossa facilidade tambeacutem

de integraccedilatildeo aahellip enfim o bom relacionamento que permaneceu sempre ao longo da

histoacuteria dos povos penso que haacute uma enorme uma enorme receptividade E essa

receptividade evidentemente eacute um capital que natildeo se pode desperdiccedilar Agora o que eu

acho eacute que preciso ver estas coisas na medida proporccedilatildeo ou seja eacute mais uacutetil na minha

opiniatildeo ter 10 formadores de formadores em Dili do que ter 150 professores portugueses

no estrangeiro aahellip no fundo soacute ali a leccionar alunos timorenses quando deviam estar a

ensinar os professores de portuguecircs E eacute essa a grande aposta e eacute essa a grande questatildeo O

efeito multiplicador eacute esse mesmo eacute exactamente isso

(hellip)

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO IV

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm2

Entrevista realizada a um docente de uma Universidade Puacuteblica Portuguesa Coordenador de Projectos de Cooperaccedilatildeo com Timor

e Cabo Verde na aacuterea da Agronomia

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador B = entrevistado B E Bom a minha primeira pergunta eacute de caraacutecter geneacuterico e pretende saber qual eacute a sua

opiniatildeo em relaccedilatildeo aos verdadeiros motivos que levam as instituiccedilotildees de ensino superior e em

particular as puacuteblicas privadas e puacuteblicas a investir tanto na cooperaccedilatildeo como hoje se verifica

Isto eacute aahellip apregoamos muitas vezes ouhellip as instituiccedilotildees apregoam quehellip esta coisa do ensino

transnacional eacute para a evoluccedilatildeo do corpo docente para o desenvolvimento curricular e cientiacutefico

etchellip No seu entender acha que esses satildeo os verdadeiros motivos ou por ventura existiratildeo ateacute

interesses econoacutemicos

B Humhellip ora eu posso falar agrave partida aqui da minha experiecircncia e do meu instituto

E Sim isso eu percebo

B Aahellip os motivos natildeo tinham nada a ver nem com o corpo docente internacional os

motivos tinham essencialmente a ver com a possibilidade de desencadear experiecircncias de

formaccedilatildeo abrangendo os paiacuteses de liacutengua portuguesa a partir de duas duas ideias centrais a

primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees

pessoais em escolas que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na parte das

Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento pessoal que a gente tem com alguns dos

ex-alunos daqui que estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A segunda razatildeo embora pareccedila um poucohellip um pouco pretensioso o que eu vou dizer

mas no nosso caso eacute quer dizer como noacutes fazemos Ciecircncias Agraacuterias Ciecircncias Agraacuterias ligadas agrave

questatildeo da alimentaccedilatildeo da luta contra a pobreza a seguranccedila alimentar quer dizer noacutes no

Instituto temos uma linha de gente que trabalha muito nisso e temos muitos teacutecnicos para Africa

que vieram tambeacutem a desenvolver linhas e trabalhos Relatoacuterios Finais e Teses de Mestrados e

Doutoramentos nessa linha que eacute uma linha que eacute um desafio profissional muito aliciante para as

pessoas de Ciecircncias Agraacuterias que eacute o desenvolvimento do mundo sub-desenvolvido onde a

agricultura tem um papel fundamental

E Exactamente Portanto a chamada fuga para a frente dado o contextohellip actualhellip

B Natildeo natildeo natildeo Natildeo foi o nosso caso porque noacutes comeccedilamos ainda natildeo havia este

contexto

E Mas a niacutevel geral vamo-nos agora abstrair um bocadinho aqui dahellip

B A niacutevel geral a gente tem que distinguir entrehellip ensino puacuteblico e ensino privado do meu

ponto de vista O ensino privado avanccedila com vaacuterias realizaccedilotildees em vaacuterios paiacuteses de liacutengua

portuguesa no meu ponto de vista mais numa loacutegica que eacute a sua loacutegica de deslocar no fundo de

explorar mercados e colocar activos para rentabilizar economicamente Aahellip isso aiacute parece-me

que eacute a loacutegica essencial Embora tenha tambeacutem com certeza uma prestaccedilatildeo humanitaacuteria diversa

Do ensino puacuteblico natildeo haacute muitas experiecircncias de cooperaccedilatildeo a niacutevel das licenciaturas a nossa

penso que foi das primeiras em Cabo-Verde a niacutevel do ensino de licenciatura Aahellip as

experiecircncias que eu conheccedilo de poacutes-graduaccedilatildeo de Direito etc era tambeacutem tirar proveito da

Cooperaccedilatildeo Portuguesa que dava a justiccedila como uma das formas essenciais de cooperaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo do Estado das Leis etchellip

E O Direito

B E por isso Direito entrou muito rapidamente nos vaacuterios paiacuteses porque eles tinham uma

necessidade muito forte de fazer o aparelho do Estado da Justiccedila de formar as normas etc

Noacutes comeccedilaacutemos jaacute haacute 15 anos e por isso o contexto era diferente mas agora no contexto

actual evidentemente que haacute tambeacutem a necessidade de que face ao contexto do escasso nuacutemero de

alunos e professores a mais vaacute tentar responder a essa questatildeo colocando de algum modo a

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

discussatildeo esse mercado digamos em funccedilatildeo das necessidades das vaacuterias escolas Isso parece-me

que actualmente existe

E Aahellip da sua experiecircncia os paiacuteses receptores de ensino transnacional aahellip intervecircm de

alguma forma na decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo ou satildeo meros receptores paciacuteficos ou

seja natildeo natildeo tecircm qualquer intervenccedilatildeo na escolha das aacutereas de actuaccedilatildeo ou natildeo

B Da experiecircncia aqui da nossa escola que eacute a experiecircncia Cabo-Verdiana e a experiecircncia

timorense deixemos agora a timorense a Cabo-Verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos

os cursos que eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes adaptaacutemo-nos com os

curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica do Curso face a essa necessidade Mashellipem

muitos paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se passa eacute o seguinte como

as populaccedilotildees demograficamente satildeo jovens a entrada no mercado de trabalho natildeo se daacute porque

natildeo haacute mercado de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entreter estes jovens e

logo optam pelo ensino desde quehellip optam pelo ensino desde que desde que natildeo natildeohellip desde

que sirva para de facto ocupar uns anos os jovens etc

E O caso de Timor eacutehellip

B Natildeo haacute que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal quanto mais

noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito grandes neste momento em Angola do ensino

superior temos muita gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos anaacuterquica

dependendo da vontade dos dirigentes do que propriamente das necessidadeshellip

E Reais

B hellipda da economia e das populaccedilotildees

E E Cabo Verde entra nessa loacutegica ou natildeo

B Em Cabo Verde quer dizer no Curso de Ciecircncias Agraacuterias natildeo porquecirc Primeiro noacutes

como parceiros principais fomos sempre contra a abertura de cursos permanentes O que noacutes

demos foi dois cursos acaba os cursos demora uns anos ateacute recomeccedilar outro etc porque tivemos

sempre em conta que o mercado natildeo ia absorver os formados Noutras aacutereas concretamente natildeo

lhe sei dizer Haacute neste momento aacutereas laacute das Psicologias das Sociologias que se calhar aquilo

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devem estar a formarhellip natildeo natildeo tenho um conhecimento profundo para lhe poder responder

Muito embora Cabo Verde com a sua estrutura demograacutefica com cerca de 51 da populaccedilatildeo

com menos de 20 anos e com as fronteiras de emigraccedilatildeo um pouco fechadas tenha o problema

enorme destes jovens quando chegam agrave idade de estudar ou entrar no mercado de trabalho natildeo haacute

mercado de trabalho e tecircm de responder a essa situaccedilatildeo

Em Timor digamos que a histoacuteria a histoacuteria de Timor natildeo pode ser balanceada ou

estudada do meu ponto de vista em paralelo com estas histoacuterias Porque Timor foi um caso

especiacutefico houve toda aquelahellip o dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve

tambeacutem a necessidade de responder a todas as necessidades entre as quais a substituiccedilatildeo raacutepida

do ensino Indoneacutesio pelo ensino universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim Evidentemente que os cursos que

noacutes FUP transnacionais que noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de entreter

as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo Ministro da Educaccedilatildeo o eis Reitor ainda

no Governo de transiccedilatildeo etcTanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras como

vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom

parece-me que a gente natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu contexto

transnacional ao fim do de 25 anos da potecircncia colonial Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das

questotildees do Mundo 25 anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de independecircncia E os

cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos

para Africa era muito mais faacutecilhellip

E E mais barato

B E mais barato

E Mashellip aahellip acha que eu agora perdi-me no meu raciociacuteniohellip tinha uma questatildeo que

encadeava com isso

B Se a Economia vai absorver os nossos formados eacute uma questatildeo seguinte Bem quer dizer

aqui eacute sempre complicado porquehellip Timor eacute muito pobre ainda vai demorar um bocadinho esta

eacute a minha opiniatildeo vai haver natildeo haacute grandes serviccedilos puacuteblicos Natildeo haacute uma economia de

investimento privado embora os nossos jovens em alguns campos nas Informaacuteticas nas

Electroteacutecnicas podem ser orientados para formar as proacuteprias empresas para formar os seus

proacuteprios postos de trabalho com interesse para o paiacutes Agora Timor eacute de facto como vocecirc sabe

bem um paiacutes pobre 90 da populaccedilatildeo vive da agricultura na agricultura precisa imenso de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

serviccedilos teacutecnicos para poder transformar eacute preciso ainda um apoio como disse muito forte agravequelas

populaccedilotildees precisa da agricultura tropical para fazer a transformaccedilatildeo da agricultura e logo natildeo

natildeo vejo a economia a absorver os nossos quadros rapidamente

Os outros paiacuteses todos onde haacute essa experiecircncia aahellip depende francamente depende

porque enquanto Angola e Moccedilambique eu acho que jaacute haacute alguma possibilidade de absorver

quadros para rentabilizar como vai haver no futuro agora Angola agora depois da paz como eacute

evidente e ateacute Moccedilambique nalguns agricultores algumas ldquofarmasrdquo bastante grandes uma uma

grande potencialidade para as industrias alimentares que tem que tem que subir a essa fase satildeo

paiacuteses Moccedilambiquehellip o uacuteltimo relatoacuterio da ONU o PNUD de 2003 Moccedilambique ainda eacute dos

paiacuteses mais pobres do mundo Angola estaacute como estaacute (hellip) na orla litoral no Wambo e entre o

deserto tem processo econoacutemicos muito distintos onde a economia absorveu quadros laacute mas eacute de

facto era de facto uma varinha de condatildeo eacute uma coisa que de facto leva o seu tempo

E Jaacute consegui recuperar aquela pergunta que lhe queria colocar Eu julgo que o modelo que

estaacute a ser praticado em Timor de formaccedilatildeo eacute um modelo nomeadamente da Fundaccedilatildeo das

Universidades eacute um modelo pioneiro natildeo me parece que tenha ateacute ao momento havido um

modelo deste geacutenero Aahellip este modelo acha que eacute o modelo ideal pelo menos aproxima-se

mais do oacuteptimo do que os modelos de formaccedilatildeo praticados noutros paiacuteses ou pelo contraacuterio tem

uma outra experiecircncia mais positiva do que aquela que estamos a viver presentemente em Timor

Por exemplo em Cabo Verde se teve um modelo que melhor se adequasse ahellip a este tipo

de cooperaccedilatildeo ao niacutevel do ensino

B Natildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do possiacutevel eacute o melhor

modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo

Verde era exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de quatro cursos

E Exacto aiacute eacute que estaacute a diferenccedila

B Aliaacutes este modelohellip

E Porque estatildeo todas as universidades envolvidas natildeo eacute

B Ai eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o modelo eacute quer dizer eacute

igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees deste modelo de Timor

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Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de professores por um determinado espaccedilo temporal e a

leccionaccedilatildeo das cadeiras e os exames e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas com as

disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a funcionar por partes ou por trimestres no

fundo os modelos aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor modelo Permite o contacto

inter-pessoal permite o acompanhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar mais tempo de conviacutevio entre

professores e os alunos mas nas condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de permanecircncia simplesmente as condiccedilotildees

natildeo o permitem Evidentemente que eu acho que este modelo eacute melhor do que o outro modelo que

temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute deslocar soacute professores juniores e que

normalmente satildeo pessoas sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em Cabo

Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldades Eacute o modelo por exemplo que os

Holandeses utilizam em muitos paiacuteses de Aacutefrica E isso aiacute dependehellip embora o tempo de

permanecircncia seja maior mas a capacidade pedagoacutegico-cientiacutefica de acompanhamento eacute muito

menor

E Isso leva-me a colocar uma questatildeo sobre o ensino agrave distacircncia acha que num futuro

proacuteximo o ensino agrave distacircncia pode gradualmente vir a substituir o ensino presencial

B Olhe vocecirc estaacute com azar sabe Eu sou muito conservador

E (risos) Eu natildeo estou a defender o ensino agrave distacircncia

B Para jaacute digo-lhe jaacute uma coisa eu sou um bocado conservador nessas coisas O ensino agrave

distacircnciahellip sou conservador mas natildeo sou para parar o mundo O ensino agrave distacircncia vai ter cada

vez mais o seu papel mas eu acho que este contacto pessoal entre professoraluno entrehellip olhos

nos olhos a gente acompanhar o dia a dia etc eacute essencial para a gente perceber o que eacute que estaacute a

fazer se estaacute a ensinar se natildeo estaacute a ensinar se aquilo estaacute a ser uacutetil se natildeo estaacute a ser uacutetil etc

Agora o ensino agrave distacircncia tem potencialidades que permite transformar as distacircncias em

minutos Eacute possiacutevel hoje pela Internet jaacute haacute a oferta aiacute de uma seacuterie de mestrados e doutoramentos

e eu como jaacute sou velho faz-me um bocado de confusatildeo

E Mas como meacutetodo complementar digamos assim vecirc algumas virtudes nessahellip nessahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Jaacute jaacute tem virtualidades Eacute claro que se a gente conseguisse por exemplo em Timor os

professores depois de irem continuarem atraveacutes do ensino agrave distacircncia tirando duacutevidas tirandohellip

fazendo exposiccedilotildees etc ah Isso seria perfeitamente um sistema complementar de ensino

Agora naquele caso de Timor por exemplo se nunca laacute ningueacutem tivesse ido e se a gente tivesse

comeccedilado com o ensino agrave distacircncia isso era um absurdo aquilo natildeo servia para nada natildeo servia

absolutamente para nada

E Portanto sempre como meacutetodo complementar nunca como meacutetodo principal

B Como meacutetodo principal noutras condiccedilotildees noutros contextos de culturas jaacute diferentes etc

Acho perfeitamente possiacutevel como formaccedilotildees de 2ordm ciclo de 3ordm ciclo acho possiacutevel agora neste

contexto acho um disparate total

E Hoje o (entrevistado A) falava nahellip na questatildeo da evoluccedilatildeo sustentada isto eacute aahellip que

estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo deveratildeo sempre resultar nohellip que gradualmente passasse as acccedilotildees

de formaccedilatildeo para oshellip para os residentes no sentido de formar pessoas para darem continuidade

a estes projectos Eacute essahellip eacute esse o seu entendimento da cooperaccedilatildeo portuguesa em termos

dehellip

B A realidade eacute o que eacute e eacute incontornaacutevel Evidentemente que eu desejo a sustentabilidade

deste projecto como vocecirc disse Mas noacutes ainda agora acabaacutemos um projecto em Aacutefrica e eu sei

o que eacute que isso quer dizer tambeacutem aahellip mas o problema eacutehellip quando a gente trabalha em

situaccedilotildees de paiacuteses comhellip diferenccedilas culturais a ausecircncia do Estado das instituiccedilotildees etc satildeo

muito fortes a gente natildeo pode falar de sustentabilidade a gente pode formar professores e natildeo

sabe se depois de um ano de estarem na universidade jaacute esteja a falar a universidade funciona

os diversos serviccedilos da universidade funcionam etc quer dizer uma universidade natildeo eacute soacute as

pessoas a universidade eacute uma instituiccedilatildeo tem um conjunto de regras e tem a ver com a

sociedade onde estaacute inserida no meu ponto de vista Par ter uma universidade sustentaacutevelhellip

(interrupccedilatildeo) a gente natildeo pode ter soacute laacute professores e depois ter uma universidade uma

universidade eacute muito mais do que isso Satildeo bibliotecas satildeo laboratoacuterios para trabalho agrave agrave

sociedade etc Bom eu defendo essa ideia da sustentabilidade dos projectos como eacute evidente

mas natildeo (hellip) depende tambeacutem da evoluccedilatildeo da sociedade

E Mas agrave partida deve ser planeado com esse propoacutesito

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Com certeza que deve ser planeado com esse propoacutesito Mashellip vamos laacute a ver quer dizer

a sustentabilidade de um projecto universitaacuterio por exemplo em Timor como a engenharia

agraacuteria e fazendo por exemplo um paralelo com a sustentabilidade das universidades no nosso

paiacutes ou por exemplo ou se fizermos a histoacuteria para natildeo ir mais longe da Universidade de

Angola ainda no tempo colonial ou em Moccedilambique implicou uma vastiacutessima soma de

dinheiro uma formaccedilatildeo acelerada de quadros no estrangeiro que fizeram nos Estados Unidos da

Ameacuterica a maior parte das Ciecircncias Agraacuterias que eu conheccedilo que aquilo ainda natildeo estaacute em

condiccedilotildees de se suster neste momento E a universidade eacute uma universidade extremamente

jovem mas com muita aceleradamente formada havia essa disponibilidade financeira para isso

A gente deve planear os projectos com os paiacuteses com a noccedilatildeo absoluta de que podem ser

projectos falhados Noutros casos de desenvolvimento agriacutecola rural a gente planeia sempre os

projectos para a sustentabilidade Natildeo haacute nada maishellip (hellip) do que a hellip tomar-se a decisatildeo

desses projectos e ao fim de um ano deixam de ser sustentaacuteveis

E Claro No caso de Cabo Verde teve algum projecto que tivesse continuidade no tempo

B Sim vaacuterios projectos tecircm continuidade no tempo Cabo Verde tambeacutem eacute um paiacutes

especiacutefico natildeo eacute um paiacutes que se possa comparar aos outros paiacuteses de Aacutefrica Este nosso projecto

de ensino jaacute se repetiu noacutes jaacute demos dois cursos com a durabilidade de 2 anos e dentro de 6

anos estamos a preparar um outro para Cabo Verde que tem a ver com necessidades especiacuteficas

a primeira foi para as ciecircncias agro-florestais que era uma necessidade especiacutefica de quadros

para a parte (hellip) de Cabo Verde O segundo jaacute foi parahellip outra necessidade especiacutefica para a

proteccedilatildeo de plantas e era a Economia e Sociologia Rural e este terceiro jaacute eacute outra necessidade

especiacutefica tinha a ver com o Ambiente Bom satildeo pedidos que tecircm a ver com a proacutepria sociedade

cabo verdiana Satildeo sustentaacuteveis tambeacutem porque satildeo feitos no seio de uma instituiccedilatildeo de

investigaccedilatildeo que jaacute existe haacute 20 anos e que tem alguns projectos de investigaccedilatildeo e que tem o

seu trajectohellip

E Que eacutehellip

B Que eacute o INEDA - Instituto Nacional de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Agraacuterio de Cabo

Verde Logo Cabo Verde eacute um caso particular e mesmo assim a gente nunca repetiu ano a ano

a gente formou vinte e dois quadros no primeiro vinte e quatro no segundo e agora mais vinte e

tal temos outros paiacuteses lusoacutefonos temos caacute alguns alunos etc A questatildeo quer dizer eacute projecto

sustentaacuteveis haacute projectos sustentaacuteveis por exemplo eu dou-lhe o exemplo de um projecto

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sustentaacutevel que eacute muito interessante que eacute o da (hellip) da altitude das nuvens que Cabo Verde com

os recursos naturais que temhellip que jaacute dura haacute muitos anos mas tambeacutem haacute imensos projectos

que acaba o financiamento este ano ehellip morrem

E E quem eacute que identifica normalmente essas aacutereas de formaccedilatildeo

B Eacute Cabo Verde Eacute Cabo Verde

E Eacute Cabo Verde que determina essahellip

B Satildeo os Cabo Verdianos eacute que fazem isso

E E o financiamento Eacute a partir do Governo Portuguecircs ou eacutehellip

B Eacutehellip satildeo normalmente financiamento externo uma parte financiamento externo (hellip) uma

parte e outra parte o Governo Portuguecircs no segundo curso foi numa parte o Governo Portuguecircs

uma parte o proacuteprio Governo Cabo Verdiano ahellip e alguma cooperaccedilatildeo algum paiacutes

Luxemburguecircs ou Austriacuteaco natildeo me lembro agora satildeo muitas coisashellip e neste terceiro estaacute-se a

discutir agora o modelo de financiamento natildeo sei Mas logo satildeohellip natildeo satildeo cursos caros mas

satildeo cursos que exigem algum financiamento

E Ahellip ehellip este tipo de projectos em que tem estado envolvido eu posso deduzir entatildeo que

vatildeo ao encontro da estrateacutegia de Portugal em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo ou seja natildeo satildeo acccedilotildees

individualizadas e da iniciativa da (nome da Escola e da Universidade Portuguesa a que pertence

o entrevistado) neste caso Estatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo definidas

pelo Governo Portuguecircs

B Para lhe responder a isso era preciso que eu estivesse convencido que haacute alguma estrateacutegia

da Cooperaccedilatildeo Portuguesa Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da cooperaccedilatildeo Aahellip estas coisas da

cooperaccedilatildeo pode haver uma estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do conhecimento das realidades

locais e de conhecimentos interpessoais

E Em Portugal

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B Em Portugal com os outros paiacuteses laacute laacute com os outros paiacuteses Porque isso facilita

extraordinariamente a conversa ahellipa detecccedilatildeo dos problemas e das necessidades Por exemplo

Cabo Verde como eacute que comeccedila Comeccedila porque o Presidente do INEDA era um ex-agroacutenomo

daqui que tinha sido professor da Universidade de Lourenccedilo Marques que tinha que era um

bom cientista conhecido e que erahellip quer dizerhellip muito nosso conhecido o sentimento da

nacionalidade que vem de Cabo Verde haacute umas primeiras conversas ldquovocecircs podem responder

podem natildeo responderhelliprdquo

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo

B Natildeo passou muito pela estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de coisa nenhuma

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo e natildeo eacute o Governo os envolve a vocecircs

B Houve uma janela de oportunidade que foi uma verba disponiacutevel para o primeiro curso

houve o aparar com ambas as matildeos dessa instituiccedilatildeo no curso e depois eacute que houve a negociaccedilatildeo

com a Cooperaccedilatildeo Portuguesa Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portuguesa pode

haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo nenhuma nunca conheci nenhuma

E Podemos pensar que natildeo existe nenhuma estrateacutegia

B Nunca conheci nenhuma Depois evidentemente que a proacutepria cooperaccedilatildeo portuguesa

achou a experiecircncia bastante boa foi muito elogiada pela proacutepria cooperaccedilatildeo etcEu natildeo quero

ser vaidoso mas os Cursos de Timor nascem numa primeira reuniatildeo que tivemos em Coimbra

em que eu disse ldquo- eu tenho esta experiecircncia noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu

resultadohelliprdquo e a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade nenhuma natildeo foi

nenhuma habilidade especial foi delineado porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e

isto eacute uma maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estrateacutegia Soacute se houver

alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso assim haacute uns anos permanentemente nunca

conheci nenhuma estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesa

E Ou seja eu posso deduzir que as instituiccedilotildees que tecircm contactos e proximidade com

Governos ouhellip de outros paiacuteses com as instituiccedilotildees de ensino de outros paiacuteses eacute que acabam

por envolver-se no ensinohellip

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B Acabam Ateacute porque na experiecircncia que eu conheccedilo eacute assim pode-se afirmar isso Porque

para haver uma estrateacutegia era preciso que a cooperaccedilatildeo portuguesa dissesse ldquo- Noacutes queremos

apoiar isto quem se candidatarrdquohellip etc Seria ao contraacuterio natildeohellip nunca conheci nada disso

E E por acaso com com Timor eu julgo que foi um bocadinho em simultacircneo o Governo

Timorense pediu ao Governo Portuguecircs que negociou com o CRUP e houve ali um

entendimentohellip

B Sim mas teve que ver com o Governo timorense

E Exactamente

B Foi uma visatildeo do Padre Filomeno Jacob do meu ponto de vista

E Laacute estaacute agarrou uma oportunidade que lhe surgiu Mudando agora um bocadinho de

assunto indo para aacutereas um bocadinho mais delicadas ehellip talvez mais faacuteceis de discutir O

ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia dehellip de algumhellip de

alguma falta de qualidade aahellip por natildeo haver talvez ateacute articulaccedilatildeo o que eacute que acha destas

acusaccedilotildees que satildeo feitas ao ensino transnacional Uma vez que eacute coordenador de tantos

projectoshellip de ensino transnacional Isto aplica-se tanto aos privados como aos puacuteblicos a

niacutevel geral

B Evidentemente que tudo decorre de uma situaccedilatildeo que temhellip e agora vou falar a niacutevel

geral europeu de paiacuteses ricos paiacuteses pobres no ensino como em todos os outros eu acho que

tecircm tendecircncia a ter uma visatildeo neo-colonial das coisas Evidentemente que tecircm tendecircncia a poder

por um ensino de menor qualidade tecircm tendecircncia a facilitar de algum modo a haver algum

facilitismohellip mas esta eacute uma visatildeo natildeo propositada mas que as proacuteprias pessoas tecircm das

proacuteprias realidades com que se confrontam etc e tecircmhellip haacute certos casos agora jaacute natildeo tanto nos

anos 6070 dar diplomas a filhos da elite a troco de dinheirohellip etc

Tudo isto tem um passado e tem uma histoacuteria Natildeo muito nossa ateacute eacute mais dos Ingleses

dos Franceses tudo tem um passado e tem uma histoacuteria que soacute acaba quando estas proacuteprias

sociedades tiverem a formaccedilatildeo da sociedade civil que exija determinadas formas para o ensino

o que natildeo estaacute a acontecer neste momento Agora as acusaccedilotildees que se fazem sobre o ensino se

natildeo fizermos ensino transnacional tambeacutem natildeo fazemos nenhum E se natildeo fazemos nenhum e

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haacute outra situaccedilatildeo ainda pior que eacute manter o analfabetismo a ausecircncia de quadros etc do meu

ponto de vista a transformaccedilatildeo dos paiacuteses menos desenvolvidos soacute laacute vai com a educaccedilatildeo natildeo

vai laacute de outra maneira E logo a educaccedilatildeo eacute a gente fomentar o maacuteximo de cursos possiacuteveis

porque mesmo que seja de qualidade agraves vezes menor isso vai crescendo a sociedade eacute como

uma bola vai segregando pessoas cada vez melhores vai sendo foco essencial para uma melhor

sociedade Agora pouco transparente em quecirc Em dinheiros Evidentemente se a gente vai

falar em transparecircncia natildeo falamos em ensino A histoacuteria dos uacuteltimos 35 anos poacutes Segunda

Guerra Mundial a eacutepoca de todos os apoios a avaliaccedilatildeo mundial eacute pouco transparente Aliaacutes a

gente pode fazer uma listagem dos projectos que satildeo fracassos absolutos que satildeo disparates que

satildeo natildeo sei quantohellip e pode atraveacutes desta ajuda puacuteblica ao desenvolvimento mais em benefiacutecio

dos paiacuteses ricos do que paiacuteses pobres Pouco transparente em quecirc Na qualidade de ensino

E Tambeacutem

B Tambeacutem Evidentemente que a noacutes que fazemos o possiacutevel nestes nossos projectos quer

no projecto de Timor para que ele tenha qualidade mas a qualidade tambeacutem eacute uma coisa

abstracta Este discurso da qualidade que agora atravessa Portugal eacute uma coisa que me faz muita

impressatildeo Natildeo haacute qualidade abstracta soacute haacute qualidades concretas neste concreto onde

vivemos Repare no exemplo em Timor os alunos seratildeo de qualidade inferior agrave meacutedia dos

nossos aqui satildeo capaz de ser um pouco Mas no concreto no contexto daquela sociedade eles

tecircm um conhecimento inestimaacutevel A qualidade natildeo eacute uma coisahellip aliaacutes eu quando estava a

falar sobre o prestiacutegio e sobre a qualidade em abstracto Tudo isto evidentementehellip haacute outro

paiacutes de Liacutengua Portuguesa que eacute uma desgraccedila a Guineacute Bissau o que era qualidade Do meu

ponto de vista saber ler e escrever jaacute era qualidade na visatildeo concreta das coisas Bom pode ter

um bocadinho menos de qualidade mas haacute uma tendecircncia quer dizer inevitaacutevel da raccedila

humana estatildeo aqui moccedilos que se deslocam laacute e apaixonam-se por aquilo e apaixonam-se pelas

pessoas pelos alunos e haacute uma tendecircncia de factohellip e esta paixatildeo natildeo leva ahellip tambeacutem a

reprovar toda a gente a facilitar um bocadinho etchellip porque satildeo coisas inevitaacuteveis e satildeo boas

no meuhellip na minhahellip na minha visatildeo

Agora evidentemente se me falar eu venho fazer ensino privado para as elites para os

filhos das elites dos corruptos daqueles paiacuteses que pagam natildeo sei quantoshellip e a gente daacute-lhe o

diploma quer dizer isso natildeo eacute transparente isso eacute uma fraude natildeo tem nada a ver com

transparecircncia eacute uma fraude E fraudes haacute aqui como tambeacutem haacute no traacutefico de diamantes haacute o

de droga isso natildeo eacute uma coisa diferente das outras

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Em relaccedilatildeo ao reconhecimento dos diplomas obtidos nestes paiacuteses isso ao niacutevel europeu

como eacute que se processa Haacute o reconhecimento imediato tecircm de se submeter aahellip a um

exerciacutecio de equiparaccedilatildeo ouhellip datildeo-lhe equivalecircncia como eacute que eacute

B A gente tem de ter algum cuidado nisto porque o reconhecimento dos diplomas para o

exerciacutecio profissional natildeo depende das universidades depende das ordens profissionais de cada

paiacutes E o que eacute que noacutes fizemos no caso de e temos vindo a fazer no caso dehellip nos casos de

Guineacute e Cabo Verde Noacutes soacute reconhecemos aquela formaccedilatildeo para efeitos de prosseguimento de

estudos

E Noacuteshellip

B Noacutes aquihellip (referindo o nome da Escola a que pertence) Para efeito de prosseguimento de

estudos a questatildeo do reconhecimento profissional eacute uma questatildeo dos paiacuteses de origem do

estudante E eu penso que natildeo nos devemos meter nisso Quer dizer os paiacuteses tecircm as suas

ordens juriacutedicas tecircm as suas coisas defendem os seus estudos profissionais agora para efeito

de prosseguimento de estudos noacutes reconhecemos quer eacute essa a nossa obrigaccedilatildeo somos

responsaacuteveis logo muitos dos alunos a que demos cursos em Cabo Verde jaacute vieram para caacute

proseguir os seus estudos ateacute obter depois o diploma que eacute o diploma depois da escola que eacute

reconhecido como qualquer diploma no contextohellipna licenciatura

E E digamos que ele queira exercer a profissatildeo num paiacutes Europeu

B Se tirar a licenciatura aqui eacute o diploma da escola se tirar laacute depende do reconhecimento

das ordens profissionais Depende das ordens profissionais Eu tenho aqui trecircs alunos de

mestrado emhellip de Angola veterinaacuterios que estatildeo a submeter-se ao reconhecimento da ordem de

meacutedicos veterinaacuterios para poderem exercer

As universidades natildeo se devem meter nessas coisas do reconhecimento dashellip isso eacute uma

questatildeo de cada paiacutes e as ordens profissionais eacute que devem fazer o reconhecimento profissional

Noacutes devemos reconhecer sempre do meu ponto de vista para prosseguimento de estudos

E O que eacute que acha dashellip chamadas Agecircncias de Avaliaccedilatildeo e de Regulaccedilatildeo do Ensino

Transnacional aquelas redes que hoje em dia vatildeo surgindo como forma de mecanismo de

controlo da qualidade do ensino transnacional A que as instituiccedilotildees aderem se quiserem natildeo

satildeo obviamente obrigadas a isso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Quer dizer eu natildeo sei o que eacute que vocecirc vai fazer agrave entrevista mas se quer mesmo saber o

que eacute que eu penso sobre issohellip

E (risos) O que eacute que eu vou fazer vou analisaacute-lo e tentar retirar oshellip

B O que eacute que eu pensohellip eu penso que eacute outra forma de arranjar algumas formas de ganhar

dinheiro para as universidades do fundo de desenvolvimento O problema eacute quer dizer na

sociedade que noacutes vivemos cada vez mais aberta a questatildeo da avaliaccedilatildeo vem porquecirc Porque a

universidade se transformou nos uacuteltimos 10 anos A universidade no seu sentido etimoloacutegico

atirava para a cultura universal e principalmente atirava para o universitaacuterio era aquele que tinha

uma abertura de espiacuterito para a cultura para a sociedade que o rodeava Com a transformaccedilatildeo

das universidades em maacutequinas de encher salsichas ou seja com esta especializaccedilatildeo que levou

ao avanccedilo brutal do ensino superior em todo o sitio aparece a avaliaccedilatildeo necessaacuteria para fazer

reconhecer os que satildeo mais seacuterios e os que satildeo menos seacuterios natildeo eacute

O problema que se potildee eacute e aparece quer dizer no fundo no seguimento dahellip da histoacuteria

das universidades dos Estados Unidos Nos Estados Unidos como toda a gente sabe haacute das

melhores universidades do mundo mas tambeacutem haacute das piores universidades do mundo e logo

quer dizer a sua avaliaccedilatildeo eacute necessaacuteria para dar uma resposta no fundo aos clientes Tem que

entender as universidades como um mercado os alunos como clientes e o produto final cada

licenciatura eacute transformada na economia de mercado

E O professor desculpe natildeo perca a ideia com o GATS aahellip e com a introduccedilatildeo da

educaccedilatildeo no GATS na economia de mercadohellip

B Eu ia laacute chegar

E hellip estamos precisamente a caminhar para o mesmo

B Pois eu jaacute laacute ia chegar Estamos a caminhar para o mesmo soacute que para mim eu jaacute estou a

caminhar para a reforma E por isso espero natildeo vir a reunir muitas dessa coisas Porque

evidentemente que com com os programas europeus com a mobilidade com essa tudo isso

noacutes temos de caminhar para essa avaliaccedilatildeo para o ranking das universidades para essas coisas

todas Agora evidentemente transpondo isto para o outro contexto do Sul dos paiacuteses mais

pobres etc essas redes servem para dar o aval a algumas universidades para terem acccedilotildees de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino transnacional E logo porque eacute que o ensino que a nossa instituiccedilatildeo faz haacute-de ser pior

que o ensino dos Australianos para dar o caso de Timor etcEacute porque essa gente diz sim ou

natildeo Entatildeo e essa gente obedece a que valores Satildeo valores de tendecircncia poliacutetica ou satildeo valores

soacute universitaacuterios Quer dizer a questatildeo toda tem de ser estudada Eu natildeo sou especialista destas

coisas mas faz-me muita impressatildeo que haja um ranking dado por uma rede que ningueacutem sabe

como daacute A que valores eacute que obedece O que eacute que quer quer dizer etc O valor eacute soacute essa

causalidade do ensino em abstracto quer dizer ou eacute o contexto concreto de que falaacutevamos haacute

bocado Ora tudo isso satildeo paracircmetros que teratildeo de ser julgados natildeohellip tambeacutem natildeo sou grande

especialista nisso

E Vecirc com alguma renitecircncia essahellip

B Com alguma dificuldade de ser seacuterio Eu vejo eacute com alguma dificuldade de ser seacuterio

Logo como vejo com dificuldade de ser seacuterio e como tenho medo das coisas que natildeo satildeo

seacuteriashellip

E Por exemplo ainda voltando a outra questatildeo sobre a regulaccedilatildeo a Austraacutelia por exemplo eacute

um paiacutes que tentou absorver nas suas estruturas de ensino formais o ensino transnacional como

forma dehellip regulaccedilatildeo porque desta forma as instituiccedilotildees vecircem-se obrigadas ahellip

B A obedecer a determinados criteacuterioshellip

E A obedecerem mesmos criteacuterios que as instituiccedilotildees formais Isso seria uma hipoacutetese que

veria comohellip como viaacutevel por exemplo

B Eu natildeo sei Moacutenica eacute-me difiacutecil responder a isso porque eu natildeohellip natildeo sou grande

especialista nessa mateacuterias nem estudei aprofundadamente isso Mas natildeo eacute soacute a Austraacutelia isso

a histoacuteria comeccedila muito antes por exemplo nos anos 50 e 60 os Ingleses tinham ensino

universitaacuterio para Ingleses e tinha ensino universitaacuterio para os Indianos para os Paquistaneses

quer dizer haacute toda uma histoacuteria atraacutes que tem a ver comhellip e haacute um desenvolvimento fantaacutestico

das universidades em toda em toda a Aacutefrica a Aacutefrica tem muitas mais pessoas formadas do que

tinha haacute 30 anos atraacutes ou 40 anos atraacutes Agora o que eacute que nos diz que satildeo as universidades

deste ponto de vista que daacute o confere ou o atestado de bom cumprimento agraves universidades Eu

acho que todas as inter-ligaccedilotildees todos os projectos de investigaccedilatildeo todas as mobilidades satildeo

possiacuteveis mas quer dizer ainda acho quehellip sabe a gente natildeo pode discutir isto sem discutir as

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

opiniotildees que tem sobre esta questatildeo toda da globalizaccedilatildeo toda do mundo actualhellipessahellip porque

eacute que a gente haacute-de achar que o ensino aqui tem de ser igual ao ensino no Norte de

Moccedilambique Porque eacute que o Norte de Moccedilambique a partir do seu contexto natildeo pode ter as

experiecircncias de ensino que se adaptem mais agrave sua sociedade agraves suas necessidades etc do que

ter agora quer dizer isto tudo vai tender para 3 graus 4 em 4 mais 1 mais 1 mais natildeo sei quecirc

e haacute-de ser tudo igual haacute-de ser tudo ldquoamericanozinhosrdquo formados a 3 e se possiacutevel com a farda

com a bandeira americana

E Eacute o produto da globalizaccedilatildeo natildeo eacute

B Mas faz-me impressatildeo esse mundo e como me faz impressatildeo esse mundo eu tenho

tendecircncia a discutir estas questotildees natildeo da regulaccedilatildeo mas a pender para a individualidade das

questotildees dos paiacuteses A gente anda muito preocupado com a biodiversidade do mundo e natildeo nos

esqueccedilamos da biodiversidade da raccedila humana dos seus contextos histoacutericos das suas culturas

Como eu me importo um pouco com isso acho que a resistecircncia cultural a um mundo uacutenico eacute

uma chave ideal para o mundo do futuro E por isso acho defendo a individualidade de ter

cursos diferentes conforme as culturas das sociedades porque senatildeo este mundo passa para o

continente uacutenico a sentirem todos o mesmo verem todos o mesmo programa de televisatildeo a

comerem todos hamburgueses e ldquofrench-friesrdquo que aquilo eacute uma hellip natildeo tem ponta por onde se

lhe pegue

E Como eacute que os paiacuteses que recebem ensino transnacional tecircm reagido agrave nossa presenccedila agrave

presenccedila de Portugal no seu sistema de ensino Ou seja noacutes os nossos cursos as licenciaturas

portuguesas tecircm sido bem recebidas tecircm-se integrado rapidamente Ou pelo contraacuterio haacute

algumas forccedilas de resistecircncia quer por parte das licenciaturas que jaacute existem nesses paiacuteses e ateacute

por parte dos Governos

B Haacute sempre algumas forma de resistecircncia e ainda bem que haacute quer dizer no casos que eu

conheccedilo bem nomeadamente Cabo Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente

que noacutes integraacutemos alguns Cabo Verdianos como professores mas haacute sempre a uacuteltima tentativa

de diversos quadros formados em vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo- noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a gente natildeo vai tirar nenhum

mercado de trabalho queremos eacute sair quando aquilo for sustentaacutevel etc e no caso de Timor

conhece-se alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com os professores da

chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute estava que nos viam como invasores como tirar o

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mercado de trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existir Evidentemente

que se a gente quiser ir a um paiacutes qualquer e uma das universidades chegar em forccedila e tomar

conta do ensino haacute resistecircncia desses paiacuteses e ainda bem que haacute Mas imagine jaacute se o ensino

for muito forte e se puder ir avanccedilando a pouco e pouco essa resistecircncia esbate-se E que

medida eacute que a gente tem que ter A gente tem que ter uma medida que a gente vai bate e foge

quer dizer tem que tornar claro que a nossa acccedilatildeo de formaccedilatildeo eacute para sair mais tarde de facto o

caminho eacute a sustentabilidade e ter que estar laacute enquanto formos necessaacuterios quando natildeo formos

necessaacuterios natildeo haacute nenhuma nenhumahellip sustentaccedilatildeo neo-colonial de substituir os quadros

locais por quadros estrangeiros

E segundo agraves vezes tambeacutem haacute resistecircncias que satildeo resistecircncias que tecircm a ver com os

diferentes niacuteveis de qualificaccedilatildeo e isso quer dizer satildeo problemas mais gerais e se o niacutevel for

muito baixo as pessoas que vecircm de fora potildee em causa muitos quadros existentes que natildeo tecircm

muitas vezes preparaccedilatildeo e isso reflecte-se nos profissionais normais a um niacutevel dos chamado

institucional nunca vi nenhuma resistecircncia antes pelo contraacuterio

E Como eacute que explica por exemplo que em Timor e passado jaacute um ano depois da

independecircncia consigam subsistir cerca de vinte e tal universidades privadas para aleacutem da

Universidade Nacional de Timor Leste pela sua experiecircncia como eacute que acha possiacutevel a

subsistecircncia a permanecircncia de tantas aahellip instituiccedilotildees de ensino num paiacutes como Timor

B Se eu fosse Catoacutelico eu diria que Deus explicaraacute os milagres se fosse Muccedilulmano dizia

que era Alaacute Eu natildeo consigo explicar isso a natildeo ser por duas questotildees a questatildeo demograacutefica eacute

essencial para a gente explicar isso noacutes natildeo temos instituiccedilotildees que absorvam ningueacutem e temos

um nuacutemero muito grande de jovens a partir dos 18 anos e essa populaccedilatildeo natildeo tem perspectivas

de vida econoacutemica e logo pode andar nestes cursos todos a tentar alguma coisa mas tambeacutem a

ver se isso daraacute passagem depois para a Indoneacutesia com uma licenciatura aprovada etc A maior

parte desses cursos viveratildeo de de muito pouco dinheirohellip

E Do ponto de vista das instituiccedilotildees eacute que me faz um bocadinho mais de confusatildeo

B Do ponto de vista do Governo de Timor eacute que faz confusatildeo

E Do Governo e tambeacutem das proacuteprias instituiccedilotildees porque lucrativa a sua actividade natildeo

devem ser natildeo eacute Portanto natildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B A Moacutenica estaacute completamente enganada porque eacute simples a nossa noccedilatildeo de lucrativa natildeo

eacute a noccedilatildeo de lucrativa desses paiacuteses quer dizer e quando vocecirc fala em lucrativa aquilo um

pequenohellip um pequeno lucro as pequenas propinas pequeno lucro pequenos ordenados

corresponde a uma saiacuteda de vidahellip

E hellip para muita gente

B O que eacute lucrativo tambeacutem a gente estaacute a falar em 80 da populaccedilatildeo que natildeo tem receita

nenhuma e aquihellip olhe para lhe dar o exemplo que tem agora o golpe de Satildeo Tomeacute um oficial

de Satildeo Tomeacute ganha hellip 40 euros a noccedilatildeo de lucro eacute uma noccedilatildeo que tem que serhellip tambeacutem

levada ao contexto ao concreto Evidentemente que se eu tiver 30 alunos e cada aluno pagar 10

euros e se eu tiver dois professores os dois professores jaacute estatildeo num niacutevel superior dessa

sociedade e outras questotildees que se devem ver na sua devida relatividade Mais impressionante

talvez eacute como eacute que se autoriza isto e quem eacute que daacute estes diplomas haacute diplomas que ficamos

sem perceber nada quer dizer ldquo- mostre caacute o diploma para que eacute que isto serve Anda a

enganar timorensesrdquo Haacute toda uma questatildeo aiacute a estudar para saber o que eacute que eacutehellip e num estudo

de caso a gente tiraria o que eacute que eacute aquilo A gente estaacute a falar um pouco no vazio A gente

estamos a falarhellip

E Eu tambeacutem duvido que se faccedilahellip

B Aliaacutes vocecirc esteve comigo outro dia com a Vice-ministra da Educaccedilatildeo (de Timor) e

apercebeu-se que a gente fosse perguntar sobre isto agrave Vice-ministra da educaccedilatildeo ela tambeacutem natildeo

sabia responder Aliaacutes eacute nesta relatividade do contexto a que pode chamar-se universidades a

uma coisa com umas cadeiras que ensina a ler e escrever e que como natildeo haacute mecanismos para

mostrar se aquilo eacute legal se natildeo eacute legalhellip noacutes vivemos aindahellip na ausecircncia de Estado e depois

quer dizer sem qualquer restriccedilotildees e regrashellip uma universidade natildeo eacute uma ilha eacute uma

universidade como eacute evidente

E Uacuteltima questatildeohellip

B Aliaacutes muitas daquelas devem dar cursos de inglecircs que eacute para as pessoas tiraremhellip

E (Risos) Para virem trabalhar para a Europa ou para a Austraacutelia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Deve ser uma coisa dessas

E Finalmente como avalia aahellip a meacutediolongo prazo os resultados da presenccedila de Portugal

em Timor e tambeacutem porque natildeo em Cabo Verde no que respeita ao desenvolvimento cultural

cientiacutefico econoacutemico etc

E Tudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro vantagens extraordinaacuterias E as

vantagens que satildeo extraordinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos

professores agraves escolas agraves universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se durar

uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de investigaccedilatildeo conjunta as trocas

conjuntas os seminaacuterios etc Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro

eacute um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem natildeo tecircm relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para

a Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura portuguesa quer dizer

portanto aliaacutes ainda hoje esteve aqui uma aluna minha de doutoramento que esteve laacute a dar

aulas recebe cartas dos alunoshellip recebeu agora uma carta dos alunos sabem que ela se vai

casarhellip a desejar-lhe muitas felicidadeshellip a perguntar se quer prenda a pedir coisas etc e tudo

isso eacute satildeo ligaccedilotildees para a vida

Aliaacutes da minha experiecircncia laacute que eu jaacute trabalho em Aacutefrica haacute muitos anos as relaccedilotildees

pessoais e o conhecimento pessoal com as pessoas ainda satildeo aquilo que faz a gente prosseguir

gostar das pessoas etc Isto seraacute o computo geral Agora qual eacute a visatildeo no futuro mas o futuro

depende de uma coisa que vocecirc jaacute disse aiacute que existia que eu natildeo sei se existe que eacute a estrateacutegia

de cooperaccedilatildeo eacute a estrateacutegia do investimento eacute a estrateacutegia da presenccedila Portuguesa os Centros

Culturais Portugueses quer dizer as bibliotecas aquilo que satildeo os investimentos natildeo tangiacuteveis

especialmente natildeo tangiacuteveis mas que eacute permanentemente levar cultura espectaacuteculo livros

ensino senatildeo natildeo daacute quer dizer o Centro Cultural Portuguecircs da Guineacute darem uns cursos no

Centro Cultural Portuguecircs de Liacutengua Francesa Haacute aqui uma seacuterie de coisa que tecircm a ver aiacute com

estrateacutegias de cooperaccedilatildeo com poliacutetica que eu natildeo me queria meter

Agora do ponto de vista do futuro das nossas universidades o que eu sei o conhecimento

interpessoal eacute absolutamente vital para estas pessoas se nunca nenhum professor tivesse ido a

Timor dar aulas a gente natildeo sabia de nada do que laacute estava

E Sim e conveacutem natildeo esquecer que a cultura portuguesa estaacute ali

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Eacute absolutamente vital eacute talvez do meu ponto de vista o mais vital Eacute um investimento

muito barato para o papel a niacutevel futuro da presenccedila portuguesa

E Muito bem agradeccedilo-lhe muitohellip

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO V

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm3

Entrevista realizada a um ex-reitor de uma Universidade Puacuteblica

Portuguesa alto responsaacutevel no Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas agrave data do iniacutecio do Programa de

Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor-Leste

7 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador C = entrevistado C E Entatildeo a primeira questatildeo aahellip que eu tenho para lhe colocar e vou fazer talvez uma

introduccedilatildeo para nos contextualizarmos o ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 tanto

quanto se sabe e estaacute nos livros e embora tenha assumido ao longo dos diferentes anos em que

tem evoluiacutedo diferentes nomenclaturas nomeadamente a internacionalizaccedilatildeo do ensino eacute o que

se tem normalmente chamado ou o desenvolvimento da cooperaccedilatildeo noutros paiacuteses etc o ensino

transnacional eacute um fenoacutemeno que natildeo eacute novo que natildeo eacute recente E que abrange jaacute vaacuterias

instituiccedilotildees de ensino portuguesas Partindo deste pressuposto desta introduccedilatildeo a minha pergunta

eacute se acha que as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas aahellip tecircm retirado algum proveito da

promoccedilatildeo de ensino transnacional ouhellip

C Repare se entender por ensino transnacional a oferta do ensino do ensino superior num

paiacutes diferente do de origem das instituiccedilotildees eu julgo que eacute isso ohellip natildeo tenho notiacutecia de muitas

iniciativas das instituiccedilotildees portuguesas fora do territoacuterio nacional a natildeo ser a iniciativa de Timor

porque digamos foi tatildeo faladohellip ahellip e a cooperaccedilatildeo das universidades puacuteblicas em vaacuterias

iniciativas nas instituiccedilotildees portuguesas uma eacute a MCarthy que eacute uma boa iniciativa da Gulbenkian

para Moccedilambique foi pena natildeo ser mais desenvolvida houve ali uma oportunidade que creio natildeo

foi suficientemente desenvolvida haveraacute em Cabo Verde algumas tambeacutem que eacute o caso mais

diversificado de iniciativas vocecirc pode chamar a todas de iniciativas de ensino transnacional e

depois Timor Mas Timor eacute que me parece serhellip configura-se como (hellip) Natildeo haacute em nenhuma

destas iniciativas um objectivo claramente comercial nem de se quiser de aproveitamento de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

benefiacutecios imediatos por parte das instituiccedilotildees que se envolveram No caso de Timor houve

claramente uma iniciativa de solidariedade para com Timor

E Mas esseshellip as outras experiecircncias anteriores que satildeo conhecidas acha que o objectivo que

as move eacute o mesmo

C Estamos a falar naquelas que conheccedilo na experiecircncia com Moccedilambique que faz a

Gulbenkian tambeacutem foi um objectivo dessa natureza foi um objectivo de solidariedade para com

as universidades de Moccedilambique numa altura em que Moccedilambique estava a ressurgir da guerra

de 77 e que houve condiccedilotildees para retomar a cooperaccedilatildeo basicamente foihellip os outros natildeo

conheccedilo nem como presidente do CRUP estive minimamente envolvido nemhellip aqui na

Universidade de (hellip) eu acompanhei por exemplo noacutes nunca fizemos em relaccedilatildeo a Cabo Verde

uma iniciativa especialmente preparada nem temos muitahellip precisamente porque aqui na

Universidade tivemos a percepccedilatildeo de que havia jaacute tanta gente envolvida que natildeo valia a pena

estarmos a ser mais uma universidade a envolver-se

Agora o que euhellip portanto e respondendo mais directamente agrave sua pergunta natildeo creio

que tenha havido agrave parte de Timor e Moccedilambique neste caso uma iniciativa organizada geral das

universidades teraacute havido com certeza universidade a universidade mas essas eu natildeo conheccedilo O

que me permite dizer uma coisa que jaacute tenho vindo a dizer haacute muito tempo eacute que eacute uma falta

grave do sistema de ensino superior portuguecircs esta falta de organizaccedilatildeo parahellip para estar

presente ou acolher porque pode tambeacutem fazer-se ao contraacuterio ter uma oferta dirigida

naturalmente para destinataacuterios que natildeo sejam portugueses residentes

E Neste caso por exemplo vagas especiais um contingente de vagas especiais

C Natildeo sei se eacute isso tem que se arranjar um modelo exactamente Podia existir

exactamente cursos ouhellip ouhellip campos existentes ou mesmo cursos que fossem pensados e

desenhados para candidatos que natildeo satildeo necessariamente aqueles que habitualmente acedem ao

ensino superior Portanto eu cheguei a defender isso em tempos enquanto presidente do CRUP

que a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior universitaacuterio portuguecircs ainda estava por fazer de uma

forma proacute-activa Acontecia mas acontecia porque tinha que acontecer Acontecia porhellip por via

dos factos mas essa demonstrava o que evidenciava que isto era um mercado um mercado num

sentido de poder haver procura e poder haver capacidade de oferta eu julgo que nunca foi incluiacutedo

dentro das condiccedilotildees das instituiccedilotildees de ensino superior e portanto nunca deram fruto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E considera que nunca teve na linha da frente das preocupaccedilotildees das universidades porque

pouco elas retiram dessas experiecircncias

C Natildeo necessariamente natildeo necessariamente natildeo necessariamente Natildeo digo que seja essa

a razatildeo O resultado pode ser esse o resultado pode ser esse Natildeo eu acho que repare o

seguinte haacute uma outra dificuldade eacute que por exemplo noacutes natildeo tiacutenhamos um sistema de

pagamento de propinas que permite ter no sistema de estudantes natildeo nacionais ou natildeo residentes

na Uniatildeo Europeia a pagar os custos reaise eacute oacutebvio que haacute um problema de natureza ateacute

poliacutetica saber se o sistema deve oferecer a natildeo nacionais lugares ao preccedilo que oferece aos

nacionais ou natildeo pagando propinas por exemplo como sabe natildeo eacute essa a praacutetica habitual em

projectos transnacionais e portanto noacutes natildeo natildeo tiacutenhamos nas universidades por ventura o

enquadramento adequado para as universidades portuguesas defenderem uma politico nessa

direcccedilatildeo Portanto eu natildeo creio que seja por natildeo poderem tirar daiacute vantagens mas eacute mais por natildeo

terem existido ateacute agora condiccedilotildees de governo das instituiccedilotildees onde elas pudessem tomar essa

opccedilatildeo e pudessem geri-la com a autonomia que se deve ter de modo a entatildeo sim avaliarem os

custosbenefiacutecios e inscreverem ou natildeo na sua comissatildeo Tambeacutem eu creio que a experiecircncia de

Timor demonstrou eacute um dos tais projectos que eu jaacute natildeo acompanho haacute muito tempo que oshellip

que porem outras missotildees em cima dos universitaacuterios quando eles jaacute estatildeo tatildeo divididos entre as

inuacutemeras tarefas que tecircm a fazer soacute deve acontecer quando existirem condiccedilotildees para eles para

poder haver distribuiccedilatildeo de tarefas e de funccedilotildees de uma maneira mais evidente de modo a que

aquilo que se faz seja claramente bem feito e feito comhellip com o tempo que as pessoas possam ser

disponibilizadas para isso portantohellip

E Claro

C Pode haver tambeacutem este problema como eacute que as universidades pagam esse esforccedilo extra

de ter um programa dirigido para um para um puacuteblico diferente daquele que eacute o puacuteblico habitual

que as frequenta Pode haver um problema desta natureza mashellip a mim parece-me que eacute um

caminho que pode trazer benefiacutecios agraves instituiccedilotildees Noacutes estamos no entanto a esquecermo-nos de

que jaacute estamos naquilo que acontece ao niacutevel da formaccedilatildeo doutoral e na formaccedilatildeo doutoral

nomeadamente no quadro da Uniatildeo Europeia e das redes de cooperaccedilatildeo cientiacutefica europeias mas

tambeacutem de outros paiacuteses noacutes jaacute temos um nuacutemero muito grande de pessoas que vecircem caacute fazer o

doutoramento ou que fazem alternacircncia passaratildeo caacute um periacuteodo e outro noutra instituiccedilatildeo com

claros benefiacutecios para as nossas instituiccedilotildees temos essa possibilidade

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E o Professor percebeu que eventualmente haveria alguns benefiacutecios que as instituiccedilotildees

pudessem retirar do ensino transnacional Quer-me dar o exemplo de alguns

C Pois uma delas eacute criar um ambiente mais internacionalizado nas proacuteprias instituiccedilotildees e

isso a internacionalidade quer pelo facto dos seus docentes se envolverem nesse ambiente quer

pelo facto dessas ofertas poderem ter um desenho em que os estudantes passem um tempo no

proacuteprio campus das universidades ou nas escolas nos siacutetios onde as universidades tecircm as suas

origens e portanto haacute uma grande internacionalizaccedilatildeo de ambos portanto essa eacute logo uma Mas

pode como haacute bocadinho jaacute lhe referi e se a poliacutetica de pagamento de propinas lhe permitir o

pagamento dos custos que a instituiccedilatildeo entender que deve ter pode ter aiacute um retorno que seja

interessante Aahellip pode finalmente contribuir para instaurar uma verdadeira escola de poacutes-

graduaccedilatildeo em Portugal porque noacutes estamos ainda no comeccedilo da formaccedilatildeo poacutes-graduada e

portanto pode esse tipo de puacuteblico adiantar alguma actividade de poacutes-graduaccedilatildeo sistemaacutetica e

com um certo tipo de objectivos de desenvolvimento interessantes

E O professor considera que e partindo do princiacutepio que haacute maior competitividade entre as

instituiccedilotildees universitaacuterias a niacutevel nacional e ateacute a niacutevel europeu uma vez que estamos num

mercado global no contexto da globalizaccedilatildeo aahellip e focalizando-nos essencialmente no ensino

transnacional de Portugal em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa acha que o aumento de ensino

transnacional de Portugal para outros paiacuteses pode ser considerado uma fuga para a frente no

sentido que as universidades tecircm cada vez menos alunos o corpo docente precisa de ser

potencializado digamos assim aahellip e entatildeo vamos aumentar o ensino transnacional como forma

de mantermos o nuacutemero de docentes como forma de continuarmos as actividades e alguma ateacute

alguma internacionalizaccedilatildeo Vecirc isso como uma fuga para a frente ou natildeo

C Vamos laacute a ver o problema tem de se por nestes termos essa aacuterea de graduaccedilatildeo eacute uma aacuterea

extremamente competitiva portanto soacute vatildeo ter hipoacutetese de ter uma intervenccedilatildeo minimamente

significativa as instituiccedilotildees que tenham qualidade Natildeo estou aqui a incluir o trabalho com as ex-

coloacutenias portuguesas nomeadamente em Aacutefrica natildeo eacute onde haacute claramente uma carecircncia docente

e pode acontecer que haja algum espaccedilo para oferta nesses proacuteprios paiacuteses e estamos a ver isso

com algumas instituiccedilotildees privadas Aahellip ora bem eu natildeo gostaria que as Universidades

Portuguesas aahellip sobretudo as Universidades Puacuteblicas que eu conheccedilo melhor aahellip tomassem

digamos entrassem em pacircnico com a situaccedilatildeo que existe de menos procura pelos habituais

destinataacuterios do ensino superior portanto a faixa etaacuteria de 18-24 anos Mas antes tomassem esta

conjuntura para se darem conta de que haacute um excesso de oferta do mesmo tipo hatilde Noacutes se

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

compararmos aquilo que eacute oferta de ensino superior em Portugal haacute oferta muito pouco

diversificada natildeo haacute verdadeiramente formaccedilatildeo diferenciada de ofertas e de tarefas natildeo temos

formaccedilotildees curtas praticamente nenhumas se formos aos Estados Unidos e maior parte dos

estudantes que frequentam o ensino superior entendendo por ensino superior todo o ensino poacutes-

secundaacuterio natildeo estatildeo em programas de ensino daqueles que noacutes apostamos estatildeo em programas

de ensino conducentes a diploma outros com diplomas de 6 anos mas ateacute podem se diplomas

com graduaccedilatildeo superior mas frequentemente diplomas de 6 anos eacute muito comum nos Estados

Unidos e no Canadaacute 60 da populaccedilatildeo do ensino superior dos vaacuterios Estados estarem em cursos

desses conducentes a diploma e natildeo de licenciatura em Portugal natildeo existe essa oferta Portanto a

pergunta que se tem eacute quem vai oferecer quem eacute que faz essa oferta nomeadamente quando

voltar a crescer o ensino secundaacuterio para niacuteveis tais que haja outra vez procura desse tipo de

formaccedilotildees natildeo eacute Portanto haacute aqui um problemahellip

E por isso eacute que eu digo natildeo gostaria de acreditar que o ensino superior em Portugal vai

tentar resolver a conjuntura actual sem pensar que deve diversificar a sua oferta porque aiacute eacute que

estaacute a resposta aos problemas Natildeo eacute a oferta transnacional aiacute seratildeo muito poucos os ganhadores

se falarmos em ganhadores aqueles que entram nesse mercado para ficar e ao entrar para ficar

tecircm que ter uma qualidade que lhes permita competir com a oferta em liacutengua Inglesa por

exemplo Portanto isso natildeo vai ser para todos

E Eacute o mais apeteciacutevel natildeo eacute por parte da procurahellip

C Claro que eacute por enquanto Pode ser que isto mude e que haja espaccedilo ateacute para uma

estrateacutegia para o mundo que fala Portuguecircs e Espanhol e portanto haveria tambeacutem que haver lugar

a algumas instituiccedilotildees posicionarem-se para esse mercado Portuguecircs e Espanhol e ateacute fazer

alianccedilas mas em qualquer dos casos um posicionamento seacuterio e de meacutediolongo prazo para a

oferta de ensino superior transnacional natildeo vai estar ao alcance de todos e quem fizer essa natildeo

deve fazecirc-lo de uma forma oportunista isto eacute ldquo- eu vou ali tentar mais um ano ou doishelliprdquo

porquecirc Porque natildeo deve isso obriga a um reposicionamento da instituiccedilatildeo a uma distribuiccedilatildeo

interna dos recursos agrave aprendizagem dessahellip desse tipo de actividade etc

Agora se as instituiccedilotildees natildeo estiverem para aiacute voltadas e quiserem realmente apenas

fazer mudar isso para aguentar um bocadinho a conjuntura admito que uma ou outra possa ser

melhor algum tempo mas natildeo tenho nenhuma duacutevida que entrar aiacute para ficar natildeo vejo estar ao

alcance de todos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O modelo que hoje em dia inclusivo aqui na Universidade (hellip) comeccedila a surgir quando

haacute velocidade de informaccedilatildeo e modelos de ensino agrave distacircncia ndash e-learning como eacute que vecirc no

futuro o ensino transnacional em funccedilatildeo do e-learning ou seja acha que esse tipo de formaccedilatildeo de

ensinoaprendizagem pode substituir o ensino presencial no que toca ao ensino transnacional

C Bem ningueacutem eacute capaz de dizer qual eacute o papel exacto que o ensino agrave distacircncia o e-learning

vai ter No entanto toda a gente que eu tenho visto pronunciar-se com alguma percepccedilatildeo e

conhecimento desse tipo de ensino sugere eacute que ele vai ter uma presenccedila e uma presenccedila muito

significativa O que eu costumo dizer eacute talvez natildeo seja possiacutevel dizer jaacute qual vai ser o papel do

ensino agrave distacircncia mas que ele vai ter um papel e um papel muito forte vai ter E tanto vai ter no

territoacuterio nacional como vai ter no internacional e portanto noacutes aqui nas primeiras iniciativas que

fizemos vimos logo que havia muita gente interessada de variadiacutessimos territoacuterios e portanto haacute

lugar para isso Mas eu volto a insistir quem quiser posicionar-se para a utilizaccedilatildeo dessa

tecnologia e desse mundo tem de ser capaz de o fazer muito bem

E Tem de se profissionalizar

C Tem de fazer muito bem

E Tem que ter qualidade

C Portanto voltamos agravequilo que eu haacute bocado lhe dizia eu acho que eacute um bom momento

para as instituiccedilotildees se posicionarem perante o mercado e o mercado aqui significa oferta nacional

diversificada em que se inclua a capacidade de ter um nuacutemero muito grande de pessoas eu agora

jaacute natildeo falo apenas sobre os 18-24 mas tambeacutem adultos em formaccedilotildees natildeo conducentes a grau isto

natildeo existe vai ter que existir e se o ensino superior puacuteblico natildeo se posicionar para isto isto vai

aparecer por si proacuteprio porque vai haver muita gente que realmente querem vir aprender certo

tipo de coisas este tipo de competecircncias mas natildeo querem caacute vir fazer um grau Portanto quem eacute

que vai oferecer isso Natildeo havendo uma oferta evidente algueacutem iraacute oferecer portanto eacute preciso as

instituiccedilotildees posicionarem-se para isso Eacute preciso decidirem se querem realmente entrar a seacuterio na

formaccedilatildeo poacutes-graduada no mestrado e doutoramento a competir com as ofertas que existem neste

tipo de formaccedilatildeo para as pessoas que existem no territoacuterio e aiacute sim para outras fora do territoacuterio

nacional

Quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer istohellip e por sua vez quem eacute que se torna

competitivo quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer isto em parcerias internacionais europeias

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

multi-linguiacutesticas com o uso da liacutengua portuguesa com outras liacutenguas ouhellip portanto haacute aiacute um

grande espaccedilo e noacutes noacutes sentimos aqui em (hellip) haacute oportunidade para fazer isso quem eacute quehellip

sim senhora quem eacute que faz o quecirc natildeo faz sentido competir em todas as aacutereas mas haacute lugar para

isso Como eacute que nos vamos organizar eu acho que este eacute um desafio para as unihellip para

corresponder e tecircm-me chegado vaacuterias solicitaccedilotildees dos antigos territoacuterios coloniais portugueses

nomeadamente em Aacutefrica Angola e Moccedilambique que satildeo grandes espaccedilos satildeo espaccedilos que vatildeo

tendo a necessidade crescente de ensino superior de qualidade e eu tenho recebido vaacuterios apelos

no sentido das universidades puacuteblicas estarem mais por dentro do desenvolvimento dos sistemas

Como eacute que vamos estar Cada umhellip cada universidade iraacute por si ou haacute uma articulaccedilatildeo outra

vez portanto se calhar natildeo eacute uacutetil todos estarem em tudo mas talvezhellip fizesse sentido haver aiacute

uma poliacutetica nacional Como o ensino agrave distacircncia o ensino agrave distacircncia tambeacutem eacute um desafio mas

eacute um desafio que exige grande qualidade muito profissionalismo e pessoas que dediquem uma

parte muito significativa do seu tempo a fazer isso se fizerem isso natildeo podem fazer outras coisas

E Com programas ateacute especiacuteficoshellip

C Claro Exactamente

E Ainda bem que falou em qualidade porque o ensino transnacional eacute muitas vezes acusado

de falta de transparecircncia e de natildeo haver um controlo de qualidade natildeo haverhellip um mecanismo

regulador Eu pergunto regra geral acha que efectivamente estas acusaccedilotildees satildeo justas para quem

regra geral promove o ensino superior transnacional nomeadamente nas universidades ouhellip e jaacute

agora no caso de Timor se conhece qual eacute o modelo e se acha efectivamente que estas

acusaccedilotildees ao modelo que estamos neste momento a utilizar em Timor se satildeo ou natildeo satildeo

aplicaacuteveis uma vez que se trata de docentes das universidades puacuteblicas portuguesas na sua

maioria e politeacutecnico

C Eu em relaccedilatildeo agrave criacutetica geral natildeo tenho acompanhado e natildeo sei sei que haacute uma

preocupaccedilatildeo da qualidade da oferta natildeo eacute essa eacute que eacute ahellip Mas haacute um problema adicional eacute o

problema de ainda das directivas do GATS sobre considerar ou natildeo o ensino superior como um

serviccedilo e a sua total liberalizaccedilatildeo e natildeo estaacute ainda adquirido que assim natildeo seja portanto eu

inscrevia esta situaccedilatildeo como preocupaccedilatildeo ainda prioritaacuteria em relaccedilatildeo depois de garantir a

qualidade porque se ele for considerado um serviccedilo e entrar naquilo que eacute a loacutegica do comeacutercio

internacional de serviccedilos os problemas de afericcedilatildeo da qualidade ou de ausecircncia de qualidade potildee-

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

se em relaccedilatildeo a esse serviccedilo como se potildee aos outros e portanto entramos ali numa nova era e numa

era muito problemaacutetica nomeadamente para paiacuteses como o nosso e ateacute para os passos em relaccedilatildeo

aos quais noacutes queremos e ambicionamos natildeo eacute

Em relaccedilatildeo a Timor e ao que estaacute a acontecer em Timor eu natildeo acompanhei ou natildeo

acompanho haacute trecircs anos para aiacute o que se estaacute a passar e portanto natildeo faccedilo ideia porque apanhei

aquilo mesmo no comeccedilo natildeo eacute No comeccedilo depois teve um problema que foi este foi houve

uma boa preparaccedilatildeo e um bom envolvimento das universidades e um bom arranque creio que

houve depois dificuldade em manter equipas relativamente estaacuteveis no terreno e com pessoas com

algum grau de solidariedade Passaramhellip aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi

gente muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma realidade diferente com que

tinham lidado portanto natildeo eram problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as perspectivas das pessoas que tendo

relativamente pouca experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria experiecircncia

que ainda era relativamente curta Natildeo sei como eacute que isso se corrigiu mas parece-me que na

altura era a questatildeo a corrigir e os directores dos vaacuterios cursos pareceu que estavam cientes que

isso era um problema a ser acompanhado Tambeacutem encontrei um eco extremamente positivo do

que estava a acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma manifestaccedilatildeo dos

alunos da Universidade Nacional de Timor-Leste a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a

colaboraccedilatildeo dos nossos docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso estava a

acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo muito positiva da docecircncia dos cursos que a

FUP laacute estava a coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar Pois esta eacute a memoacuteria

que eu tenho e portanto pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e que se tivesse o desenvolvimento

que este tipo de valorizaccedilatildeo implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuar porque

na loacutegicahellip soacute dois anos passaram portanto neste momento deveratildeo estar no 3ordm ano do curso

talvez natildeo eacute Estatildeo no 3ordm ano

E Vamos entrar no 3ordm anohellip relativamente ao que eu digo eacute que o cenaacuterio que me descreveu

eacute o cenaacuterio actual quer dizer a dificuldade para levar pessoas com experiecircncia no terreno estaacute a

ser grande aahellip podiacuteamos depois avaliar quais satildeo os motivos que levam a isso a verdade eacute que

satildeo os docentes mais jovens que continuam a candidatar-se e efectivamente a receptividade de

Timor para com os cursos da FUP continua altiacutessima aahellip inclusivamente estamos a ver haacute o

reiniacutecio de novos primeiros anos portanto o projecto estava desenhado para abrirmos 2 vezes o

primeiro ano neste momento Timor e o Governo Portuguecircs querem que se continue a abrir

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

primeiros anos por mais duas ou trecircs vezes portanto isto deve estar para durar E portanto o

cenaacuterio que me descreve eacute exactamente ohellip julgo eu nemhellip

C Mas (hellip) para as universidades portuguesas fazerem uma avaliaccedilatildeo sentarem-se agrave volta de

uma mesa e fazerem uma avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do desempenho que estatildeo a ter e aahellip

debruccedilarem-se sobre se eacute essa a presenccedila que querem ter ou natildeo eacute natildeo eacute

E Entatildeo na sua na sua perspectiva haacutehellip aahellip em funccedilatildeo desse cenaacuterio que descreve e que eu

confirmo que eacute o actual haacute mateacuteria para discussatildeo para melhoramento e para introduccedilatildeo de

melhorias

C Na minha opiniatildeo sem duacutevida Um programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um programa exigente

para as universidades e para os e para os docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo

depois da experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo querer continuar e

portanto eacute um programa que vai ter que gerir estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma

avaliaccedilatildeo sistemaacutetica portanto tem que ter da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo

regular aahellip e como lhe disse haacute bocadinho a mim parece-me que temos aiacute no terreno uma

experiecircncia que nos pode ensinar a lanccedilarmo-nos para outro tipo de experiecircncias porque por

exemplo poderia-se pensar numa experiecircncia anaacuteloga para Angola onde numa situaccedilatildeo parecida

com Timor se vir bem o fim de guerra e a passagem a um clima de paz que vai exigir um esforccedilo

de desenvolvimento do paiacutes extraordinaacuterio que estaacute centrado e feito laacute e que vai ter com certeza

interesse em formar os seus quadros laacute para eles natildeo saiacuterem portanto podia perfeitamente pensar-

se em aprender com Timor como eacute que se potildee uma oferta destas num territoacuterio fora do paiacutes

pensado de uma forma que seria a alternativa provaacutevel porque um programa destes se pensar

bem o que foi o primeiro programa o primeiro programa foi soacute fazer com que as pessoas

correspondessem agrave necessidade que havia para a cultura portuguesa e as pessoas foram para laacute

professores universitaacuterios a ensinar as pessoas as primeiras palavras em portuguecircs aahellip reciclar

alguns professores criar interesse das pessoas pela escola e pela liacutengua portuguesa e pelahellip e pela

afeiccedilatildeo com Portugal portanto haacute aiacute outra dimensatildeo da poliacutetica internacional de Portugal que natildeo

eacute despiciente portanto por isso eacute que eu dizia haacute dois planos nisto haacute o plano da poliacutetica

universitaacuteria e haacute o plano da poliacutetica do Estado Portuguecircs e portanto uma apreciaccedilatildeo sistemaacutetica a

esse projecto permitiraacute ver que correcccedilotildees devem ser feitas Eu encontrei laacute algumas pessoas que

davam vaacuterias horas de aulas por dia e satisfeitas e encontrei outras que natildeo estavam tatildeo

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entusiasmos que natildeo era bem aquilo que elas queriam fazer natildeo devem ser levadas a mal por

isso as pessoas foram experimentar e pelo facto de laacute terem ido jaacute fizeram um grande trabalho

natildeo devemos tomar como dramaacutetico elas saiacuterem de laacute ldquo- Eu natildeo gostaria de ter outra experiecircncia

em Timorrdquo Era preciso eacute que as outras que se as conseguiacutessemos manter no programa sem elas

prejudicarem em excesso a sua proacutepria vida profissional porque alguns deles alguns professores

que eu laacute vi satildeo professores jaacute seniores com experiecircncia outros eram professores relativamente

jovens mas jaacute com uma vida universitaacuteria bastante significativa e depois eacute preciso compatibilizar

isto com o resto Quer dizer acho que para quem conduzir o programa isto eacute uma forma isto eacute

umahellip

E Por exemplo o caso dehellip um caso de estudohellip

C Exactamente mas natildeo mas eacute diferente portanto natildeo eacute natildeo eacute trivial

E Hum Hum

C Portantohellip

E E como eacute que o professor veria num futuro proacuteximo uma avaliaccedilatildeo do projecto por

comissotildees de peritos de pareshellip

C Para jaacute tem de serhellip repare nas avaliaccedilotildees eu acho que se deve escolher pessoas que

tenham alguma experiecircncia de avaliaccedilatildeo que estejam dispostos se natildeo tiverem experiecircncia a

aprender como eacute que se faz avaliaccedilatildeo que estejamhellip que tenham alguma capacidade de ver o que

eacute o projecto e o que eacute que ele significa e de olhar para paiacuteses destes natildeo eacute porque realmente

quem nunca olhou para estes paiacuteses e natildeo eacute sensiacutevel agravequilo que eacute a sua realidade muito concreta

pode natildeo ter vaacute laacute nem disponibilidade nem os olhos para vecircr o projecto naquele contexto

Mas eu natildeo fazia uma equipa muito grande fazia uma equipa relativamente pequena com

pessoas que tivessem estas condiccedilotildees fossem capazes de perceber o ambiente os objectivos do

projecto e depois ir ao local e ver como eacute que os objectivos se cumpriram ou natildeo cumpriram

F O modelo australiano para o ensino transnacional acabou por como forma de implementar

esses mecanismos de controlo de regulaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo o que se lhe quiser chamar acabou

por absorver por usar como estrateacutegia a absorccedilatildeo do ensino transnacional que estava for a dos

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circuitos formais de ensino e chamaacute-lo a si e absorvecirc-lo nas suas proacuteprias estruturas formais de

forma pontual digamos assim Acha que no futuro isto poderia ser uma boa estrateacutegia para o

ensino transnacional neste caso em Timor em Cabo Verde

C Mas estaacute a dizer isso do ponto de vista da oferta

E Do ponto de vistahellip portanto o ensino formal o ensino formal os sistemas puacuteblicos de

ensino australianos acabaram ao longo do tempo por absorver o ensino transnacional que

existia no paiacutes portantohellip

C Se uma universidade Grega estivesse a oferecer um programa na Austraacutelia como eacute que

eles faziam

E Exactamente acabavam porhellip por absorver esse curso nas suas proacuteprias estruturas na sua

proacutepria universidade o curso passaria a ser neste caso em termos concretos os cursos da FUP

em Timor passariam a constar do sistema de ensino nacional eacute mais ou menos isto Sujeitos a

todas as regras a todas as leis formais que vigorassem no paiacutes

C Claro Bom se se conseguir que o ensino superior natildeo seja metido na regra do GATS eacute

evidente que o ensino superior pode ser em cada Estado tratado dentro do que satildeo as leis desse

Estado para a oferta do ensino superior e portanto teratildeo o tratamento que essas leis permitirem

para a oferta que vem das suas proacuteprias estruturas para as instalaccedilotildees de outros paiacuteses em causa

Eu preferia isso porque me parece que o ensino superior e sobretudo o ensino universitaacuterio e a

educaccedilatildeo universitaacuteria e a universidade fazem parte em grande medida das instituiccedilotildees que

que de algum modo estruturam o Estado Naccedilatildeo e satildeo de algum modo os garantes daquilo que

satildeo os valores ashellip ou pelo menos satildeo o siacutetio onde esses valores e os princiacutepios de organizaccedilatildeo

dos Estados e das culturas nacionais satildeo preservadas e desenvolvidas portantohellip nessa medida

eu natildeo levaria e por isso eacute que eu o problema do GATS eacute um problema tambeacutem tatildeo agudo eu

preferiria que se mantivesse dentro dos poderes dos Estados as poliacuteticas do ensino superior e em

particular do ensino universitaacuterio portanto essa seraacute uma forma de garantir que ohellip quando se

fala do ensino transnacional natildeo se fala de ensino superior como serviccedilo comercial o

desenvolvimento de carreiras comerciais portanto essa eacute verdadeiramente e luta entre estas

duas opccedilotildees que estatildeo em causa natildeo eacute Quando jaacute todas fazem isso eles estatildeohellip estariam

admito eu a distanciar-se da opccedilatildeo a) natildeo sei se isso eacute verdade ou natildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Eu posso deduzir pelas suas palavras que eacute absolutamente contra a introduccedilatildeo do sector da

educaccedilatildeo no GATS

C Claramente

E Vecirc algum risco para a qualidade do ensino

C Natildeo eacute soacute pela qualidade a proacutepriahellip eacute tambeacutemhellip eu acho que noacutes perigamos em ser

Naccedilotildees diferentes e termos identidades nacionais e culturas nacionais com alguma capacidade

de se afirmarem e isso eacute essa medida de incorporaccedilatildeo do ensino superior nos serviccedilos

comerciaacuteveis na loacutegica do GATS seria uma machadada nesta relaccedilatildeo

E Seria ou vai ser porque eu daacute-me ideia que o GATS estaacute aiacute parahellip

C Eu acho que tem havido ateacute aqui tem havido claras vozes contra isso eacute preciso eacute

trabalharhellip

E Mas haacute paiacuteses que estatildeo a assinar acordos natildeo eacute

C Natildeo me parece que seja assim tatildeo expressivo e portanto acho que se estaacute a tempo de

manter uma posiccedilatildeo claramente dominante contra essa tendecircncia mas agora natildeo se pode eacute

dormir agora satildeo outras plataformas que movimentam essa (hellip) e portanto as plataformas da

educaccedilatildeo e da investigaccedilatildeo cientiacutefica e do ensino superior essas plataformas que tecircm de se

movimentar senatildeo podem ser dominadas por outras

E E acha que em Portugal vai manter-sehellip

C Portugal estava um pouco a leste disso natildeo estava a acompanhar sequer isso natildeo havia

grande informaccedilatildeo ateacute haacute pouco tempo natildeo sei como eacute que estaacute neste momento porque natildeo

tenho acompanhado mesmo mas quer dizer de maneira que haacute aqui um problema aqui de

Portugal os portugueses estatildeo um bocado frios em relaccedilatildeo e esse problema eu creio que

ultimamente tem havido maishellip um bocadito mais de consciecircncia de que haacute esse problema

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O Professor recorda-se na altura quando comeccedilou o projecto de Timor se Governo de

Timor teve alguma intervenccedilatildeo teve alguma palavrahellip acompanhou a selecccedilatildeo dos cursos que

noacutes fomos ministrar

C Com certeza que acompanhou entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do

Governo de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e na presenccedila do

Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria estrutura dos cursos e todo o programa ele

deslocou-se a Portugal vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (hellip) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo interna que estava a trabalhar nisso foramhellip e mandou-se para laacute depois no fim os

Programas foi mandado para Timor para aprovaccedilatildeo do Governo

E Portanto os cursos servem naturalmente os interesses de Timorhellip

C Exactamente foram desenhadoshellip

E hellip foram desenhados para servir os interesses de Timor

C Claramente exactamente E devem continuar a ter esse sentido natildeo eacute Os Timorenses

queriam claramente que fossem cursos que tivessem uma qualidade garantida e que a qualidade

fosse aferida agrave qualidade profissional em Portugalhellip

E Esta pergunta pode ser um bocadinho indelicada mas acha que o que move as

universidades portuguesas a estar neste momento em Timor satildeohellip objectivos de cooperaccedilatildeo ou

econoacutemicos Natildeo de imediato mas num futurohellip

C Natildeo faccedilo a miacutenima ideia porque natildeo tenho acompanhado os processos

E Mas enquanto (hellip)

C Na altura eu creio que o interesse genuiacuteno de muitos era pela cooperaccedilatildeo ok O

interesse genuiacuteno pela cooperaccedilatildeo Natildeo sei se todas as pessoas que tinham interesse genuiacuteno

pela cooperaccedilatildeo se mantiveram e portanto eacute uma pergunta que deve ser feita agraves universidades e

ateacute se as pessoas que foram envolvidas nos primeiros programas e se foram laacute naquela

campanha muito difiacutecil se estatildeo minimamente envolvidas pode suceder que elas tenham ido de

um modo geral eu falei com elas e elas gostaram e de um modo geral acharam que foi uma

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

experiecircncia muito enriquecedora natildeo sei se as universidades usaram essas pessoas aquelas que

estavam envolvidas neste programa e portanto tambeacutem natildeo como lhe disse haacute bocadinho natildeo

sei se se monitorizou a reacccedilatildeo das pessoas que depois foram jaacute para os proacuteprios cursos de

maneira a distinguir aquelas que o fizeram pela cooperaccedilatildeo portanto vamos ver o seguinte eu

creio que muito provavelmente ningueacutem quereraacute ir a Timor se natildeo tiver algum interesse pela

cooperaccedilatildeo Natildeo digo que isso esteja a acontecer porque eacute um esforccedilo eacute um esforccedilo

extraordinaacuterio Natildeo haacute mal nenhum e eacute perfeitamente normal que as pessoas acautelem de

algum modo uma compensaccedilatildeo por esse esforccedilo porque as pessoas estatildeo claramente a fazer

um esforccedilo para aleacutem do que eacute a sua actividade normal Aahellip portanto acho que tem que haver

aiacute um juiacutezo prudente e aquilo que devia contar eacute se eacute ou natildeo possiacutevel agraves universidades disporem

de um conjunto de pessoas que tecircm esse interesse e disponibilidade para fazer esse trabalho e se

se lhes pode oferecer condiccedilotildees para elas o poderem fazer sem porem em risco a sua vida

profissional futura que natildeo eacute bom para elas nem eacute bom para as proacuteprias universidades desde

que esse equiliacutebrio exista eu natildeo acho que haja aiacute um conflito

E Eu referia-me agrave universidade enquanto instituiccedilatildeo enquanto politica de cooperaccedilatildeo da

proacutepria universidade isto eacute Timor eacute sem duacutevida um o nosso ldquopezinhordquo no Orientehellip

C Sim

E hellip acha que as Universidades vecircem a cooperaccedilatildeo actual comohellip uma forma de no futuro

aahellip irem para hellip

C Natildeo creio natildeo creio que nenhuma universidade esteja a ver a cooperaccedilatildeo com Timor como

um passe para um futuro bi- direccional Natildeo tenho isto tem o valor que tem eacute uma impressatildeo

minha Eacute uma impressatildeo minha natildeo me parece natildeo me parece

Agora voltamos a algumas das suas primeiras perguntas natildeo era mal nenhum e podia ser

ateacute bem que existisse um nuacutemero um certo nuacutemero de universidades que se punham de acordo

em ter um programa de intervenccedilatildeo e de internacionalizaccedilatildeo que significasse ter acesso aos (hellip)

e que isto fosse uma parte de uma estrateacutegia onde aparecia outro tipo de incentivos mas natildeo

tenho grande expectativa em relaccedilatildeo a que as universidades estejam a pensar nisso

E Como eacute que avalia num futuro proacuteximo a intervenccedilatildeo de Portugal em Timor no que diz

respeito aahellip agrave sociedade agrave vida cultural econoacutemica acadeacutemicahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro C Isso vai depender muito dos timorenses eacute como eu digo vai depender sobretudo dos

timorenses que eles eacute que sabem que papel eacute que querem que Portugal tenha aiacute Mas natildeo eacute

menor a atenccedilatildeo diplomaacutetica e que foi dada agraves relaccedilotildees de Portugal com Timor Eacute preciso saber

que natildeo haacute repare a presenccedila de aahellip professores na universidade de Timor como cooperantes

que eacute um programa relativamente barato se formos pensar agora em outro tipo de iniciativas

que Portugal tem em termos de cooperaccedilatildeo internacional tinha um efeito multiplicador

extraordinaacuterio e era extraordinariamente apreciado pelas populaccedilotildees timorenses Imagine o que

seria se em vez dos 300 professores que noacutes conseguiacuteamos ter em Timor tiveacutessemos os mil que

o Senhor Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres prometeu que teriam em Timor mas (hellip) que

isso tem um efeito extraordinaacuterio e esse programa podia ser perfeitamente articulado com o

programa para as universidades E imagine agora que isso correspondia ao desejo da

Universidade de Timor Leste de por a usar a liacutengua portuguesa como sua liacutengua fundamental de

ensino estas trecircs coisas juntas divididas como um pacote da diplomacia portuguesa para Timor

se os timorenses quisessem por isso eacute que eu digo que quem primeiro decide satildeo os timorenses

isto iria ter um efeito brutal em termos da escolha timorense da liacutengua portuguesa e de uma

relaccedilatildeo bastante proacutexima com Portugal Se se conjugasse esta continuaccedilatildeo desta escolha de

portuguecircs com Portugal com capacidade de ter um esforccedilo de financiamento e de presenccedila e de

presenccedila que duplicasse pelo menos o nuacutemero de professores laacute e correspondesse ao desejo da

universidade nacional de Timor Leste como agora a proacutepria igreja quer instituir a universidade

catoacutelica poderia haver aqui um conjunto de factores que podiam e eu eu quando estive em

Timor sabia que da parte dos timorenses realmente haacute uma grande afectividade para com os

portugueses e para Portugal de uma maneira que eu nunca vi em nenhum lado e jaacute estive em

vaacuterios paiacuteses que foram coloacutenias portuguesas portanto muito diferente haacute ali uma miacutestica

completamente uacutenica que natildeo eacute comum

Bom mas se isto acontecer tudo bem se isto natildeo acontecer eacute evidente que a populaccedilatildeo

timorense vive muitas dificuldades diversas dificuldades em sair continuar a ter essas

dificuldades em sair da situaccedilatildeo de esteve para uma situaccedilatildeo de maior bem estar e tal e saiu

Ora bem o peso dessas dificuldades eacute um peso contra outro tipo de objectivos qual vai ser o

predominante vatildeo ser as dificuldades econoacutemicas e de sauacutede e de saneamento portanto e de

seguranccedila dehellip qual vai ser o outro caminho dehellip quem tem condiccedilotildees para dizer natildeo sei

E E se calhar nem eles natildeo eacute ainda estatildeo muito perdidos

C Mas eu creio que o programa universitaacuterio pode ser um excelente contributo todo o

programa universitaacuterio eacute a melhor coisa que Portugal pode proporcionar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Eacute uma arma uma arma que um instrumento de dehellip

C Um instrumento E defenderem a sua opccedilatildeo cultural e dehellip e de afirmaccedilatildeo como povo

naquela regiatildeo natildeo eacute

E Mas eu jaacute ouvi o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no passado dizer que a escolha da liacutengua

portuguesa foi precisamente para que aahellip se distinguissem aahellip os timorenses dos restantes

paiacuteses asiaacuteticoshellip

C Claro Claro e haacute muito tempo se provou que uma opccedilatildeo por uma identidade e uma liacutengua

com grande consistecircncia que foram aliaacutes Timor eacute um caso exemplar a resistecircncia de Timor

teve que ver com a nossa proacutepria identidade foi aquelehellip com a liacutengua com o factor dessa

identidade e dessa unidade Eles tecircm razotildees muito seacuterias para terem feito a opccedilatildeo que fizeram

oxalaacute tenham condiccedilotildees para digamos fazerem vingar essa opccedilatildeo e aiacute eacute que vamos noacutes ter

condiccedilotildees para os ajudar e corresponder ao desejo deles dehellip a concretizar essa opccedilatildeo ou natildeo

temos Bom volto ao que haacute bocadinho lhe disse haacute o plano da poliacutetica do governo e haacute o

plano da poliacutetica das instituiccedilotildees depois se forem bem apreciados talvez consigamos dar um

contributo nosso

E E Portugal soacute tem a ganhar com isso tambeacutem natildeo eacute

C Tem claro que tem eacute evidente que tem Acho que sim eacute uma referecircncia importante numa

aacuterea bastante boa e eacute uma eacute um reconhecimento que ele tem do papel na cultura e da histoacuteria de

Portugal no mundo quer dizer tem pontos difiacuteceis mas tambeacutem tem outros que as pessoas

reconhecem que tecircm valor e portanto noacutes aahellip natildeo podemos dar a volta agravequilo que somos e ao

passado que temos devemos pensar que esta presenccedila nas condiccedilotildees em que ela estaacute a ser

desenvolvida e solicitada soacute nos honra natildeo eacute

E Exactamente Bom uma uacuteltima pergunta para natildeo o maccedilar Sabe se os cursos que

Portugal promove em Timor tecircm o grau reconhecido nomeadamente em Portugal e noutros

paiacuteses europeus

C Eu natildeo sei se essa questatildeo foi adequadamente resolvida aahellip portanto isso de estar repare

houve ali uma grande tentaccedilatildeo de se arrancar com estes projectos tatildeo cedo quanto se pudesse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Havia que ter depois um desenvolvimento de aspectos mais formais que natildeo sei se foram jaacute

feitos Repare o seguinte haacute um problema quem eacute que concede aquele grau Natildeo sei se estaacute a

ver isso Qual eacute a entidade que concede aquele grau parahellip

E Julgo que eacute a Universidade Nacional de Timor-Leste

C Se for aquele diploma tem o valor que tecircm os diplomas da Universidade Nacional de

Timor-Leste mas isso eacute que era de pensar Se for um diploma de universidades portuguesas eacute

preciso saber quem satildeo as universidades que vatildeo dar o grau e se for eacute um diploma de

universidades portuguesas tem o valor do diploma de universidades portuguesas portantohellip

E Mas na altura isso foi uma preocupaccedilatildeo

C Natildeo creio Natildeo natildeo natildeo foi porque era a preocupaccedilatildeo inicial foi preparar os cursos

lanccedilaacute-los ter condiccedilotildees para eles comeccedilarem mais cedo o que foi possiacutevel natildeo eacute E foi

respondido ao interesse que os proacuteprios timorenses tinham que assim fosse e houve questotildees que

tiveram que se ir resolvendo agrave medida que chegou a oportunidade de lhes responder a natildeo ser

que mas natildeo tenho conhecimento que se tenhahellip

E Mas foihellip nunca chegou a serhellip

C Natildeo me recordo que eu tenha memoacuteria que eu tenha memoacuteria natildeo Estaacute bem Mas ainda

estaacute a tempo

E Da minha parte estaacute tudo natildeo sei se quer fazer alguma pergunta

C Natildeo acho que estaacute bem

E Muito obrigada

FIM

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ANEXO VI

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm4

Entrevista realizada a um membro do Governo ligado ao Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior

08 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador D = entrevistado D E Bom eu iria talvez comeccedilar por perguntas mais geneacutericas de ordem mais geneacutericas no

que respeita ao ensino transnacional nomeadamente o ensino tranancional dos paiacuteses europeus

em particular Portugal Iria comeccedilar por lhe perguntar o seguinte as instituiccedilotildees de ensino

superior costumam dizer que o ensino transnacional uma das virtudes que tem para as

Universidades e aos Politeacutecnicos eacute realmente um melhor desempenho do corpo docente a

Internacionalizaccedilatildeo a oportunidade de internacionalizaccedilatildeo o desenvolvimento curricular o

cientiacutefico das instituiccedilotildees aahellip eu gostaria que me dissesse se efectivamente acha que satildeo esses os

benefiacutecios que as instituiccedilotildees retiram da cooperaccedilatildeo nomeadamente com paiacuteses de liacutengua oficial

portuguesa ou se pelo contraacuterio acha que eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia face ao processo de

globalizaccedilatildeo face agrave competitividade a que as instituiccedilotildees estatildeo sujeitas aahellip ou que sejam de

ordem econoacutemica quer dizer haacute uma seacuterie de outras possibilidades que poderatildeo aahellip levar a que

as instituiccedilotildees realmente apostem nesse tipo de actividades Qual eacute a sua opiniatildeo sobre isto

D Eacute fundamentalmente a possibilidade de que enunciou primeiro mas tambeacutem a de fazer

prolongar um tipo de ligaccedilatildeo de relacionamento que eacute extremamente uacutetil para as instituiccedilotildees e

para os paiacuteses desenvolvidos Portugal e os outros paiacuteses no sentido em que se estabelece um

conjunto de laccedilos por exemplo nesta fase mais perene o que no passado podia ser de uma

natureza maishellip numa perspectiva em que umas satildeo dominantes e outras satildeo dominadas o que

natildeo eacute propriamente aquilo que as instituiccedilotildees teratildeo certamente em menta mas mais em relaccedilatildeo

dehellip de espaccedilos de novos espaccedilos tambeacutem dehellip abre perspectivas agraves instituiccedilotildees dehellip de outros

puacuteblicos digamos Hoje em dia as instituiccedilotildees de ensino superior eacute uma questatildeo em cima da

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mesa se abrirem a puacuteblicos diferentes seja dentro do seu proacuteprio espaccedilo paiacutes a puacuteblicos de

vaacuterios niacuteveis a puacuteblicos tambeacutem de natureza diferente o aluno normal naquela faixa etaacuteria dos

dezoito aos vinte e cinco anos mas possivelmente o profissional que procura uma requalificaccedilatildeo

uma actualizaccedilatildeo de conhecimentos e tambeacutem novos puacuteblicos dos paiacuteses de expressatildeo portuguesa

onde portanto haacute um conjunto imenso de oportunidades que eu acho que eacute natural serem

procuradas pelas instituiccedilotildees

E Essas oportunidades satildeo de interesse econoacutemico por exemplo Poderatildeo vir a ser

D Tecircm naturalmente uma resultante econoacutemica mashellip satildeo relaccedilotildees que vatildeo mais para aleacutem

disso as oportunidades no fundo as oportunidades de intervenccedilatildeo que resultaratildeo com certeza em

benefiacutecios de vaacuterias naturezas uma das quais natildeo eacute despiciente a parte econoacutemica certamente

quando falamoshellip abre perspectivas de subsiacutedios directos que natildeo satildeo de forma alguma de

esquecer perspectivas da aacuterea de projectos de intervenccedilatildeo local perspectivas no proacuteprio espaccedilo

europeu agora que inclusive se fala aiacute do Erasmus Mundus que no fundo eacute com paiacuteses terceiros

portanto acaba por ser outro destes novos espaccedilos reforccedilando os laccedilos intra-europeus Os espaccedilos

com outras universidades com os intervenientes de paiacuteses terceiros Portanto eacute resultante eacute uma

resultante muito forte que obviamente uma das suas vertentes eacute a vertente econoacutemica eacute eacute natural

talvez natildeo na vertente talvez natildeo sejahellip mesmo do ponto de vista econoacutemico natildeo seja tatildeo

significativa noutro tipo de acccedilatildeo mas depois que resulta em priorizaccedilatildeo de verbas

E Por inerecircncia

D Pois

E Acha que no contexto da globalizaccedilatildeo como eu dizia haacute pouco e da competitividade acha

que a ida de instituiccedilotildees de ensino superior para paiacuteseshellip para PALOPS para paiacuteses em vias de

desenvolvimento pode ser considerada uma fuga para a frente ou seja noacutes somos no fundo

atacados entre aspas por instituiccedilotildees europeias por outras instituiccedilotildees europeias face ao

decreacutescimo tambeacutem do nuacutemero de alunos debatendo-se hoje as instituiccedilotildees com algumas

dificuldades a niacutevel de financiamento acha que isto pode tambeacutem ser entendido como uma fuga

para a frente das instituiccedilotildees superiores puacuteblicas portuguesas

D Natildeo eu acho que eacute exactamente a mesma perspectiva que estava a dizer quer dizer a

Globalizaccedilatildeo e a concorrecircncia obrigam as instituiccedilotildees a procurarem alternativas e puacuteblicos

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portanto no fundo eacute aquele binoacutemio conhecido natildeo eacute as ameaccedilas tecircm que ser transformadas em

oportunidades portanto a partir das ameaccedilas que nascem da concorrecircncia somos obrigados laacute

estaacute a procurar numa linguagem mais economicista novos mercados numa linguagem mais

mais acadeacutemica digamos novos puacuteblicos que podem estar nos PALOPS como podem ser

aqueles que mencionou como pode ser nos Estados Unidos eacute a Globalizaccedilatildeo no fundo natildeo eacute

Por isso eu acho que eacute procurar obviamentehellip resultante da concorrecircncia que a procura tal como

aqui nas muitas fronteiras portuguesas naturalmente que a concorrecircncia das instituiccedilotildees tambeacutem

vai gerar a definiccedilatildeo de vocaccedilotildees algumas que vatildeo-se virar mais para um tipo de puacuteblico outras

para outro portanto isso eacute saudaacutevel natildeo eacute

E Eacute curioso que ontem entrevistei o Prof (hellip) e ele tinha exactamente a mesma perspectiva

no futuro as instituiccedilotildees iratildeo com certeza direccionar-se para determinados sectores seguir

determinada viahellip

D Efectivar assim as suas estrateacutegias identificar e e actuar Umas quereratildeo definir como

estrateacutegia a internacionalizaccedilatildeo desse ponto de vista portanto poderaacute ser natildeo eacute A classificaccedilatildeo

se eacute fuga para a frente ou natildeo dependeraacute mais de uma anaacutelise que se faccedila Esta estrateacutegia foi

escolhida por esta instituiccedilatildeo poderaacute isso (hellip) eacute uma fuga de facto para a frente mas estou

crente que na maior parte dos casos eu conheccedilo alguns deles natildeo eacute exactamente isso natildeo eacute Eacute de

facto encontrar novoshellip

E Novas vias

D Novas vias novas oportunidades

E Qual eacute a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS Aquela

questatildeo dehellip natildeo sei se sabe deve estar com certeza dentro dohellip desta problemaacutetica dehellip da

educaccedilatildeo entrar numa vertente mais econoacutemica nahellip na futura transacccedilatildeo de um bem de

consumo no fundo natildeo eacute a niacutevel mundial no futuro

D Eu acho que eacute inevitaacutevel se quer que lhe diga por muitashellip muitahellip muitas duacutevidas que

possamos ter acerca da bondade dessehellip dessehellip desse facto eu entendo que na transformaccedilatildeo

dahellip para a sociedade na transiccedilatildeo para a sociedade do conhecimento natildeo eacute Aahellip passa a ser

um valor quer dizer eacute um valor de riqueza natildeo eacute A riqueza a riqueza que eacute produzida portanto

cada vez numa sociedade do conhecimento eacute precisamente produzida a partir do conhecimento

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

natildeo eacute Eacute a transformaccedilatildeo daquilo que eacute o conhecimento em riqueza mais ou menos tangiacutevel

consoante os casos mas certamente bastante tangiacutevel portanto a certa altura teremos esta

integraccedilatildeo da educaccedilatildeo nestes esquemas com todas as questotildees que se colocam agrave volta natildeo eacute de

que noacutes proacuteprios jaacute sentimos jaacute sentimos no nosso quotidiano jaacute sentimos um conjunto de

oportunidadeshellip natildeo eacute de actividades desta natureza

E Claro

D Portanto eu natildeo julgo que natildeo vale muito a pena fingir que natildeo existe natildeo eacute Haacute que

encontrar as melhores formas de lidar comhellip

E E num futuro proacuteximo pode-se tornar um mecanismo de supremacia de uns sobre outros

natildeo eacute nessahellip nessa perspectivahellip a educaccedilatildeo diria eu eacute apenas uma opiniatildeo pessoalhellip

D Claro Claro

E hellip a educaccedilatildeohellip

D Natildeo exactamente deixe-me soacute pocircr-lhe a um niacutevel muito especulativo ainda porque eacute

evidente nesta fase ainda estamos nesta mateacuteria no domiacutenio especulativo mas eacute um pouco como

o ambiente como a atmosfera quer dizer natildeo eacute

E Sim sim

D A educaccedilatildeo eacute um pouco como isso eacute um bem a que todos tecircm o direito de aspirar natildeo eacute

mas que tambeacutem carece de ser gerido digamos porque natildeo vamos fingir que natildeo houvesse regras

porque no fundo noacutes hoje temos os acordos de Kioto que tentam impor restriccedilotildees sobre o

consumo da nossa atmosfera no meu ponto de vista

E Sim sim

D Portanto digamos que tambeacutem temos quehellip quanto mais natildeo seja para definir claramente

as regras que natildeo podem ser ultrapassadas pela entidade que de facto se aproveitam da melhor

forma da ausecircncia da definiccedilatildeo destes elementos que decorrem de natildeo se querer assumir como um

bem eventualmente eacute um bem escasso eventualmente

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E Poderaacute ser

D Poderaacute ser pensado isto eacute do ponto de vista especulativo

E Sim sim sim

D Portanto o que eu quero dizer eacute que inevitavelmente eacute um bem eacute um bem que natildeo seraacute

como qualquer capital transaccionaacutevel no sentido das trocas comerciais normais mas eacute um bem

cujo consumo tem de ser regulaacutevel de alguma forma como o ambiente comohellip de uma forma o

regular talvez aqui seja diferente

E Com mecanismos de controlo

D Com mecanismos de controlo

E Qualidade

D Qualidade natureza exactamente e que assegurem no fundo mas que tenham poder tatildeo

elevado como o ar que respiramos quer dizer todos tecircm direito natildeo eacute

E Claro

D Natildeo vamos com certeza cortar a ningueacutem por qualquer medida de natureza comercial

embora na verdade isto esteja um bocado viciado por segundas vias uns cumprem menos

quer os outros outros cumprem e natildeo cumprem as cotas Portanto poderaacute natildeo ser os melhores

exemplos nestahellip

E Eu percebo eu percebo a ideia Sobre a sociedade de informaccedilatildeo acha que num futuro

proacuteximo o ensino transnacional possa vir a ser substituiacutedo pelo e-learning pelo ensino agrave

distacircncia mantendo a estrutura e o corpo docente no seu paiacutes de origem e desta forma alcanccedilar

um puacuteblico transfronteiriccedilo Ou pelo contraacuterio acha que isso eacute uma utopia e que natildeo estaremos

ainda em condiccedilotildees de implementar a 100 esse tipo de ensino

D O ensino teraacute sempre a componente presencial e a componente natildeo presencial

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E Eacute essencial

D Eacute essencial

E Para o Senhor (hellip) como professor que eacute a questatildeo presencial eacute essencial

D Em alguma fase do processo de aprendizagem eacute importante aahellip e eu julgo que isso natildeo

estaacute muito em causa O que talvez esteja agraves vezes mais em causa nas questotildees do e-learning satildeo

os aspectos de socializaccedilatildeo natildeo eacute do ensino e da aprendizagem que possam ser mais raacutepidos Eu

penso que a questatildeo presencial ou natildeo eacute uma falsa questatildeo porque ela acaba sempre por ser

colmatada e noacutes vimos nas instituiccedilotildees eacute uma resposta e portantohellip e natildeo eacute homogeacutenea quer

dizer natildeo eacutehellip haacute mateacuterias e haacutehellip e haacute mateacuterias relativas que podem perfeitamente ser transmitidas

numa base de distacircncia e haacute outras mateacuterias que tecircm de ser necessariamente presencial portanto

dentro da sala de aula a complementaridade entre os dois eacute que me parece-me que eacute o futuro natildeo

eacute Parece-me que eacute o grandehellip que eacute o futuro ou seja muda a pedagogia muda a natureza mas eacute

natural que uma universidade mude mesmo com os seus alunos normais aahellip o ensino presencial

seja de outro cariz natildeo eacute Sejahellip portanto sejahellip natildeo seja uma aula por exemplohellip

E Mais praacutetica

D hellip muito descritiva mas por exemplo uma aula mais de discussatildeo de temas do que uma

preacute-preparaccedilatildeo dehellip um aspecto muitas vezes esquecido nesta mateacuteria eacute o aspecto da

sociabilizaccedilatildeo natildeo eacute do conviacutevio do conhecimento dos estudantes conhecerem outros

estudantes conhecerem os problemas de uns que de alguma forma os meacutetodos mais avanccedilados

desenvolvidos tecircm esse problema

Mas a cooperaccedilatildeo tem inuacutemeros tem outros problemas e agraves vezes esquece-se por exemplo

tem o problema que eacute pura e simplesmente pocircr uma mateacuteria muito bonitinha em power point ou

o que quer que seja natildeo eacute propriamente e-learning eacutehellip utilizar as novas tecnologias para

disseminar o e-learning tem muito mais por traacuteshellip

E Eacute mais interactivo

D hellip interactivo ehellip haacute esta partilha da cooperaccedilatildeo que numa fase ou noutra tambeacutem vai

exigir o conhecimento presencial portanto como eu vejo a sociedade do futuro nessa mateacuteria

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

vejo sim senhora muito baseada na formaccedilatildeo agrave distacircncia porque a permitir acessibilidades que

natildeo eram possiacuteveis aos alunos dentro da Universidade de Lisboa aceder ao curso da

Universidade de Londres por exemplo a um curso de uma mateacuteria daquele com o proacuteprio

professor de caacute o outro comanda e caacute daacute o apoio e a discussatildeo do proacuteprio daquele material vejo

neste sentido natildeo eacute Em quehellip

E Sim sim Eacute mais no sentido complementar natildeo eacute

D Complementar e portanto e em que a ecircnfase passa muito mais para o lado da

aprendizagem que ou seja eacute mais o aprendiz quem marca o ritmo natildeo eacute Enquanto a aula

normal eacute o professor quem marca o ritmo ldquo- comeccedilo agora acabo e daqui a dois dias

continuamosrdquo natildeo eacute Muda um pouco Eacute mais o aprendiz que aprendeu leu consultou viu

um curso similar na universidade de Harvard viu um curso similar na universidade da

Califoacuternia e chega agrave aula e discute com o professor ldquo- Entatildeo mas eu li isto e aquilohellip naquele

trabalho do natildeo sei quantoshelliprdquo portanto como imagino eacute uma visatildeo que eu possa ter para daqui

a vinte vinte e cinco anoshellip

E Natildeo eacute uma visatildeo muito positiva Ehellip muito interessante ehellip

D Natildeo pode deixar de ser de outra forma quer dizer e isso tem grandes vantagens natildeo

apenas do ponto de vista da formaccedilatildeo mas da qualidade dos conteuacutedos e da questatildeo formaccedilatildeo

sobre sobrehellip

E hellip sobre os actores tambeacutem natildeo eacute

D hellip a globalizaccedilatildeo Falaacutevamos haacute bocado de globalizaccedilatildeo mas falamos tambeacutem quer dizer

sobre os docentes acaba-se sempre porhellipos docentes portanto jaacute natildeo eacute quer dizer jaacute vatildeo longe

aqueles tempos do aluno caracteriacutestico que tinha a sebenta ehellip e nada existia para aleacutem da

sebenta para o estudante natildeo eacute Portanto o estudantehellip

E Nem podia contestar natildeo eacute

D Sim mas nem tinha acesso a informaccedilatildeo que lhe permitisse contestar natildeo eacute

E Pois

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro D Tinha muita dificuldade Tinha que ir para a biblioteca passar laacute horas para ver do que eacute

que andava agrave procura porque alguns nem sabiam porque nem bibliografia tinham natildeo eacute O que

jaacute natildeo eacute os tempos de hoje natildeo eacute Hoje existem manuais existe bibliografia as bibliotecas tecircm

relativamente maishellip estatildeo bastante melhor apetrechadas e portanto os estudanteshellip essa tarefa

estaacute muita mais facilitada do ponto de vista em quehellip e eacute visiacutevel aliaacutes o mundo da Internet jaacute eacute

generalizado nessa mateacuteria e portanto jaacute eacute faacutecil a um estudante meter uma palavra chave e

aparecer-lhe imensas informaccedilotildees sobrehellip e jaacute poder discutir com base em algumas coisashellip

E Eacute verdade Por exemplo para a minha tese mais de 50 da documentaccedilatildeo que obtive foi a

partir da Internet jaacute quase que natildeo tenho necessidade de me deslocar agrave biblioteca

D Pois Eacute uma vantagem os ganhos satildeo muito significativos em todos os aspectos natildeo eacute soacute

tanto a qualidade eacute a capacidade que temos de aceder a trabalhos cientiacuteficos utilizando os

motores normais de busca nem sequer eacute preciso estarhellip sem se precisar de muita coisa

E Qual eacute a poliacutetica portuguesa em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo aahellip em termos de ensino superior

D A poliacuteticahellip a poliacutetica de cooperaccedilatildeohellip

E Em traccedilos gerais

D A poliacutetica de cooperaccedilatildeo do ensino superior aahellip eacute perfeitamente enquadraacutevel na poliacutetica

de cooperaccedilatildeo aahellip que genuinamente noacutes queremos que seja de cooperaccedilatildeo o que eacute que eu

quero dizer com isto natildeo eacute de colonizaccedilatildeo natildeo eacutehellip eacute de colonizaccedilatildeo portanto resistir muito

agravequela ideia de ldquo- coitadinhos vamos laacute ajudaacute-loshelliprdquo Acho que natildeo eacute bom para nenhuma das

partes e o sentido de cooperaccedilatildeo quer dizer isto quer dizer encontrarmos pontos que nos unem

aspectos que nos movem em conjunto e vantagens para umas partes e para outras Natildeo seratildeo

universais natildeo seratildeo exactamente mas haacute um conjunto de vantagens que satildeo obviamente

universais para o espaccedilo portanto os PALOPS e Timor ou os PALOP Natildeo os PALOP seratildeo

os africanos os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa incluindo Timor e portanto as vantagens

eacute encontrar uma zona de interesse comum suficientemente forte que suscite a cooperaccedilatildeo e isso

nasce de vantagens evidentes parahellip a politica eacute exactamente esta natildeo viraacute-la ao contraacuterio

como muitas vezes tivemos essa essa tentaccedilatildeo de maacute consciecircncia colonialista etc que natildeohellip

que natildeohellip nem tentamos cair na tentaccedilatildeo dehellip dehellip de copiar modelos de outra natureza para os

quais nem temos recursos nem temos vocaccedilatildeo ou seja natildeo vou aqui mencionar alguns paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

nossos parceiros europeus inclusive que tecircm uma poliacutetica mas que tecircm a poliacutetica tambeacutem dos

anos 6070 natildeo eacute a mesma de hoje eu penso que esses paiacuteses jeacute natildeo tecircm exactamente a mesma

poliacutetica eacute claro que a cooperaccedilatildeo seraacute e a educaccedilatildeo tem muito a ver com a cooperaccedilatildeo que se

consiga nessas aacutereas e portanto ehellip e por isso eacute que eu faccedilo muita questatildeo que a cooperaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo natildeo seja vista do ponto de vista financeiro natildeo seja vista isoladamente das outras o

que eacute que eu quero dizer com isto quer dizer porquehellip aiacute eacute bilateral eacute difiacutecil na educaccedilatildeo eacute

difiacutecil haver as compensaccedilotildees que satildeo expectaacuteveis de um lado e do outro ou seja enquanto por

exemplo em termos de cooperaccedilotildees econoacutemicas e educaccedilatildeo jaacute introduzimos uma em que eacute

possiacutevel encontrar retornoshellip

E Mais raacutepidos pelo menos natildeo eacute

D hellip na aacuterea da educaccedilatildeo Eacute difiacutecil eacute natural A gente estaacutevamos a falar dos nossos

puacuteblicos natildeo eacute o mecanismo das propinas eacute um mecanismohellip natildeo estou a ver que seja faacutecil

uma universidade instalar-se e esperar que o dinheiro das propinas seja a sua fonte quando

muito eacute a sua fonte indirecta tem de haver uma cooperaccedilatildeo econoacutemica entre as empresas

portuguesas que tenham ahellip vantagens econoacutemicas natildeo eacute e que parte dessas vantagens sejam

traduzidas ou entre aspas pagas se assim quisermos pelo paiacutes recipiente pela via da educaccedilatildeo

Portanto no fundo eacutehellip isoladamente nas condiccedilotildees actuais ahellip tecircm dificuldades E no fundo eacute

o que a poliacutetica dos outros paiacuteses dos paiacuteses chamados aahellip como eacute que eu lhe hei-de dizerhellip

supostamente ldquomatildeos largasrdquo na educaccedilatildeo natildeo precisam de retirar vantagens nessa aacuterea tinham

capacidade de o tirar eacute isto que tem cerceado muito agraves vezes a nossa geraccedilatildeo na educaccedilatildeo as

nossas empresas a nossa actividade sente dificuldade em ser competitiva e ganhar esse

mercado natildeo eacute pronto () uma exploraccedilatildeo petroliacutefera em Angola mas eacute um bom exemplo

nesse sentido quer dizer na medida em que noacutes uma franja europeia ao ganharem um volume

natildeo eacute o vatildeo retirar daiacute reciclam com formaccedilatildeo ou assistecircncia meacutedica nesses paiacuteses E ateacute acaba

por beneficiar eles proacuteprios porque vai trazer matildeo-de-obra mais saudaacutevel e melhor conhecedora

para trabalhar portanto eacute perceber esse tipo de que noacutes jaacute percebemos haacute muitos anos Haacute

cinquenta anos que jaacute deviacuteamos ter quer dizer a capacidade de

E de execuccedilatildeo eacute que eacute mais complicado

D executar eacute devido agrave fragilidades do nosso tecido produtivo

E Exactamente

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D E tambeacutem agraves vezes o nosso tecido de ensino tambeacutem tambeacutem mas eu julgo que a

questatildeo natildeo estaacute no nosso tecido de ensino mas estaacute mais na capacidade de disputar com

vantagens esse esse

E Mas eu noto que no caso de Timor que eacute o que eu conheccedilo efectivamente melhor aa

parece-me que jaacute haacute essa sintonia

D Claro Exactamente

E Natildeo eacute haacute uma PT a instalar a rede de telecomunicaccedilotildees

D Claro exactamente exactamente

E E isso eacute o exemplo claro do que estaacute a defender que se bem que em Cabo Verde

tambeacutem tambeacutem jaacute haacute um tecido industrial que

D Deu os dois melhores exemplos de facto onde onde isso estaacute a ser melhor conseguido

Mais uma vez se for ver bem estaacute associado aos sectores mais agressivos da economia

portuguesa mais competitivos natildeo eacute

E Exacto O turismo agora tambeacutem comeccedila a ser talvez uma aposta de futuro

Particularmente em Cabo Verde ainda natildeo haacute condiccedilotildees

D Exactamente

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E sanitaacuterias e infra estruturas convenientes mas nesse aspecto jaacute haacute sinais de que

realmente estamos a aprender alguma coisa natildeo eacute

O ensino transnacional eacute recorrentemente acusado de alguma falta de transparecircncia

digamos assim de alguma falta de regras aa acha que o ensino que Portugal promove aa para

os PALOP sofre deste mal digamos deveria ser mais controlado Deveriam haver estruturas

redes inclusive de avaliaccedilatildeo acha que eacute uma afirmaccedilatildeo justa para o ensino transnacional

portuguecircs

D Eu acho que no fundo o envolvimento que deveria merecer

(hellip)

(Restante entrevista eacute inaudiacutevel por defeitos de gravaccedilatildeo)

FIM

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ANEXO VII

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ENTREVISTA Nordm5

Entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor-Leste

17 de Setembro de 2003

Legenda E = entrevistador F = entrevistado F E A primeira questatildeo tem a ver com o e-learning o ensino agrave distacircncia Noacutes chamamos e-

learning eacute uma o ensino agrave distacircncia eacute uma traduccedilatildeo para e-learning E eu julgo que em

Timor jaacute haacute

F Jaacute haacute jaacute

E Exactamente Portanto eacute um sistema em que o docente estaacute em Portugal e manda via

computador a informaccedilatildeo para os alunos que estatildeo em Timor Natildeo haacute o contacto fiacutesico Eu

gostaria de saber se em Timor jaacute haacute algum tipo de projecto aa deste geacutenero e qual eacute a opiniatildeo do

Reitor da Universidade de Timor em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo se natildeo houver haacute implementaccedilatildeo

deste tipo de ensino agrave distacircncia Portanto eacute o chamado ensino natildeo presencial natildeo haacute uma

presenccedila fiacutesica entre o professor e o aluno

F Bom Primeiro o que devo dizer eacute que a existe em Timor uma tal facilidade mas que

estaacute fora das pertenccedilas natildeo pertence agrave universidade estaacute instalada junto ao banco mundial no

edifiacutecio do banco mundial em Timor-Leste e a Universidade eacute de quando em quando convidada a

delegar os seus membros desde a reitoria ateacute aos professores mais seniores responsaacuteveis das

faculdades departamentos em programas previamente planeados pelo responsaacutevel que eacute

portuguecircs portanto professor acadeacutemico natildeo eacute que eacute da cooperaccedilatildeo portuguesa e que se dedica

a este tipo de actividades Falava-se no inicio da instalaccedilatildeo desta facilidade a eventual abertura

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

dentro das instalaccedilotildees da universidade ou a montagem deste centro de um centro de ensino agrave

distacircncia Aa

E Mas que natildeo veio a acontecer

F Natildeo veio a acontecer eu acho que tambeacutem natildeo vai acontecer dentro de dos proacuteximos

anos Este centro esta facilidade que eu estive a descrever neste momento estaacute a usar apenas a

sua componente aa audiovisual ainda estaacute por utilizar a outra componente que eacute atraveacutes da

Internet Eu gostaria de recomendar aa a existecircncia a instalaccedilatildeo dessas facilidades dentro da

universidade o que acarreta portanto a instalaccedilatildeo de um laboratoacuterio de computadores e o acesso agrave

Internet e a definiccedilatildeo de programas especiacuteficos que respondam agraves necessidades de uma forma

particular agrave universidade de uma forma geral agraves necessidades do paiacutes em que outras entidades

como por exemplo as agecircncias do Governo e outras pessoas fora desses ciacuterculos possam

beneficiar Portanto eu acho que ateacute jaacute faz parte das exigecircncias nesta fase de desenvolvimento da

evoluccedilatildeo da tecnologia que os timorenses tambeacutem possam utilizar essa facilidade como meio de

aprendizagem

E Entatildeo estaacute aberto a esse tipo de ensino no futuro muito bem Outra questatildeo e agora peccedilo-

lhe que seja mesmo muito sincero porque isto eacute para um trabalho cientiacutefico de investigaccedilatildeo eu

nem sequer vou referir os nomes das pessoas que tenho entrevistado e portanto estaacute perfeitamente

agrave vontade

O ensino transnacional ou melhor o ensino que estaacute ligado agrave cooperaccedilatildeo com outros

paiacuteses nomeadamente Portugal o ensino que pratica em paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa

Timor Cabo Verde Angola Moccedilambique etc este tipo de ensino a niacutevel geral natildeo me refiro soacute

a Portugal mas aos outros paiacuteses que fazem cooperaccedilatildeo muitas vezes satildeo acusados em teoria nos

muitos artigos que satildeo escritos sobre isto acusados de praticarem um ensino com pouco rigor

com pouca qualidade aa um ensino que na comunidade cientiacutefica que estuda estas coisas eacute

acusado realmente de alguma de alguma falta de rigor Por exemplo quando comparados os

cursos realizados com os mesmos cursos no seu paiacutes de origem Avaliando e analisando de uma

maneira muito fria e estaacute como digo agrave vontade para criticar se tiver de o fazer como eacute que

qualificaria os cursos que Portugal neste momento estaacute a ministrar aos alunos da Universidade

Nacional de Timor-Leste

F Mas de caraacutecter presencial

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim os que estatildeo actualmente em funcionamento natildeo eacute As licenciaturas e os

bacharelatos que Portugal neste momento tem na Universidade de Timor portanto se acha que

tem um rigor uma qualidade aa equiparada ao que se faz em Portugal Por exemplo se for um

curso imagine imagine que laacute estava um curso Australiano se o curso que os australianos laacute

estatildeo a dar normalmente tem a mesma qualidade que se fosse dado numa universidade na

Austraacutelia Neste caso o que eu lhe pergunto eacute se o ensino que Portugal laacute faz se acha que eacute um

ensino de rigor de qualidade igual agravequele que as mesmas universidades fazem mas em Portugal

F Bom acho que vamos ter de distinguir duas coisas logo de partida primeiro o facto de os

estudantes aliaacutes a educaccedilatildeo a interacccedilatildeo digamos pedagoacutegica entre o aluno e professor eacute uma

actividade aa de participaccedilatildeo Haacute um que transmite o conhecimento haacute outro que recebe O

sucesso ou natildeo sucesso deste processo de transmissatildeo e de recepccedilatildeo depende de certo modo da

do grau de participaccedilatildeo de ambos os lados Isto tem a ver com o factor recipiente e o factor fonte

Naturalmente haacute uma diferenccedila entre os professores portugueses ensinarem em Portugal e os

professores portugueses deslocados a Timor-Leste a ensinarem estudantes timorenses

A audiecircncia tambeacutem eacute contornada por certos factores Neste caso particular o domiacutenio da

liacutengua portuguesa aparece como um desses factores

(entrevista interrompida abruptamente por um telefonema)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO VIII

ENTREVISTA Nordm6

Entrevista realizada a um responsaacutevel pela poliacutetica de cooperaccedilatildeo

de um instituto politeacutecnico puacuteblico portuguecircs

23 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador G = entrevistado G E (a entrevista natildeo foi gravada desde o seu iniacutecio uma vez que o entrevistado comeccedilou por

mostrar uma seacuterie de documentaccedilatildeo relacionada com o tema)

G hellip entre o ex-ICP actual IPAD e cada um dos PALOPS nesta caso estamos a falar de

PALOPS era assinado um acordo de cooperaccedilatildeo que tinha uma designaccedilatildeo em termos de

cooperaccedilatildeo bilateral aahellip tinha uma designaccedilatildeo de PIC (Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo) que

eacute feito de 3 em anos Estamos agora no PIC de 20022004 O uacuteltimo foi o 992001 Portanto eacute

feito com cada paiacutes como vecirc um PIC para Cabo-Verde um PIC de Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e haacute

uma brochura que o ICP na altura o IPAD elabora mas que decorre de um documento escrito

assinado pelos pares normalmente ministros de negoacutecios estrangeiros de ambas as partes

E De ambos os paiacuteses

G Ora bem eacute este PIC que por grandes categorias definehellip

E hellip as acccedilotildees

G hellip natildeo natildeo natildeo eacute as acccedilotildees as aacutereas dehellip estrateacutegicas se quiser (Reportando-se agrave leitura

de um documento do IPAD) Ora bem ldquoPoliacutetica e estrateacutegia de desenvolvimento ndash prioridade da

cooperaccedilatildeo de Cabo-Verde estrateacutegia da cooperaccedilatildeo portuguesardquo Ora bem na estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo portuguesa encontram-se os principais eixos portanto a questatildeo a liacutengua a educaccedilatildeo e

ciecircncia portanto isto satildeo as diversas partes eacute as parte que conta do protocolo Portanto os eixos

de concentraccedilatildeo e depois e depois dentro de cada um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada

um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada um destes eixos fica no fim e o PIC soacute assume os

traccedilos gerais

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Natildeo tem nada a ver com projectos concretos nem programas Entatildeo vamos passar agrave

fase seguinte que eacute a seguinte dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso encontrar executores

Como eacute que se faz o recrutamento dos executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa

nesse aspecto eacute extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais Eacute a minha opiniatildeo

Portanto em primeiro lugar quandohellip por exemplo Cabo Verde disse que gostaria de ter apoio na

aacuterea da construccedilatildeo de barreiras dehellip agrave erosatildeo dos solos natildeo define projecto nenhum natildeo define

parceiro a menos que jaacute saiba que quer fazer isso com a instituiccedilatildeo tal E depois eacute preciso que

essa manifestaccedilatildeo de vontade seja transmitida pelas autoridades cabo verdianas atraveacutes da sua

secretaria para a cooperaccedilatildeo agraves autoridades portuguesas mas por outro lado a instituiccedilatildeo

portuguesa tambeacutem diga ao IPADhellip portanto eacute preciso haver aqui natildeo haacute nenhum natildeo haacute

nenhum sistema estruturadohellip

E Natildeo haacute uma coordenaccedilatildeo no fundo destas aacutereashellip

G hellip sob o ponto de vista dehellip portanto e todo este processo de mora muito tempo o que

significa que as acccedilotildees que estatildeo programadas para um certo PIC e do PIC resulta uma coisa que

me esqueci de dizer satildeos os PACS portanto um PIC tem 3 PACS satildeo os programas anuais o

PIC eacute um programa indicativo o PAC que eacute anual eacute um programa jaacute concreto para aquela aacuterea de

execuccedilatildeo do PIC natildeo eacute Pronto Ai sim jaacute satildeo os projectos por ano

Esses projectos satildeo negociados naturalmente com os respectivos ministeacuterios de acordo

com as disponibilidades financeiras porque repare eu possohellip eu vou-lhe mostrarhellipeu vou

mostrando as coisas agrave medida que vamos dizendo

E Hum hum

G Por exemplo no programa indicativo de 992001 que eacute aquele que eu acabei de lhe

mostrar isto fui eu que fiz jaacute lhe vou explicar porque eacute que fui eu por exemplo para 2001

vamos supor para o PAC para 2001 no acircmbito da educaccedilatildeo base e secundaacuteria projecto integrado

de apoio agrave crianccedila e jovens deficientes os antecedentes deste projecto jaacute vecircm de traacutes ahellip o que eacute

que em 2001 se define quem eacute o financiador neste caso por exemplo eacute o ICP mas pode ser o

financiador pode ser o ICP mais a Gulbenkian ou pode ser mais a Beacutelgica E o executor por

exemplo neste caso aqui eacute o ISCAC

Tem de definir para cada um dos projectos e tem de se atribuir naturalmente um

montantehellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Agrave acccedilatildeo

G hellip agrave acccedilatildeo Pronto Essa gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final

quando natildeo haacute mais dinheiro o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo

comparativamente a outros paiacuteses ser algo extremamentehellip

E Acha que jaacute agora aproveito para lhe perguntar isso acha que haacute realmente uma poliacutetica

de cooperaccedilatildeo e uma estrateacutegia definida a niacutevel governamental

G Natildeo

E Ou vamos andando agrave medida quehellip

G Vamos andando Tanto eacute assim que vamos andando que o Primeiro-Ministro acabou de vir

de Cabo Verde e disse que ia dar 800 vagas para estudanteshellip portanto natildeo consultou ningueacutem

daacute 800 porque eacute Cabo Verde entatildeo porque eacute que natildeo daacute 200 a Satildeo Tomeacute porque eacute que natildeo daacute

300hellip

E Se calhar devia-se reportar agora ao bolseiros timorenses que estatildeo com seacuterias

dificuldadeshellip

G Qual foi o criteacuterio que suportou Nada Portanto satildeo questotildees poliacuteticas dehellip de agora de

poliacuteticahellip

E De oportunidade

G De oportunidade poliacutetica Bom e tambeacutem usando a questatildeo da oportunidade e eu vou ser

franca se quiser dizer isso para o jornal eu digo que natildeo disse (risos) Se quiser dizerhellip eu

tambeacutem aproveitei o contexto poliacutetico eacute assim sendo grande amiga do Engordm helliphelliphellip (indicaccedilatildeo

do nome e cargo da pessoa em causa) acreditando eu que dado o meu historial de relaccedilotildees com

Cabo Verde o que eacute que eu fiz com Cabo Verde eu comecei a trabalhar em 76 comhellip eu o

(referindo-se a mais duas pessoas) fizemos os estudos para a criaccedilatildeo do ensino superior em Cabo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Verde que foi a escola da formaccedilatildeo de professores do ensino secundaacuterio que depois veio a ser

escola de formaccedilatildeo do secundaacuterio ehellip que eacute hoje o chamado instituto superior de educaccedilatildeo

Portanto estamos a falar de 76 A partir daiacute aahellip o (referindo-se a uma terceira pessoa) seguiu

mais pela aacuterea de apoio aos cursos e eu segui mais pela aacuterea da consultoria portanto fiquei eu

trabalhei com todos os ministros da educaccedilatildeo em termos de apoio no teacutecnico-cientiacutefico e

desenvolvimento curricular Depois de ter feito os programas para a aacuterea educativa os programas

da maior parte dos cursos e cadeiras de ter feito os regulamentos de estaacutegio avaliaccedilatildeo portanto

todos os anos eu passavahellip eu fazia cinco seis missotildees por ano em Cabo Verde as que eram de

Veratildeo normalmente tinham dois meses tanto que a minha filha passou grande parte do tempo em

Cabo Verde quando era pequenina porque eu ia por exemplo Julho e Agosto todo para laacute Aahellip

mas fazia portanto com esta frequecircncia terei natildeo sei 100 missotildees portanto ateacute maishellip ao longo

de 20 anos natildeo eacute

E Claro

G Trabalhei com todos em termos de assessoria aos ministros ao Gabinete Mas aleacutem disso

pela parte da (referindo-se a uma entidade) dado este know how que tinha a hellip convidou-me e eu

fiz os estudos para a reforma do sistema educativo de Cabo Verde depois fiz tambeacutem para

Moccedilambique porque isto era um financiamento do BAD (Banco Africano de Desenvolvimento)

como Moccedilambique verificou que a equipa de Cabo Verde tinhahellip

E Estava a ter resultadoshellip

G hellip e tinha os resultados porque os proacuteprios termos de referecircncia para o concurso

tinham sido feitos por mim proacutepria portanto eu fiz os termos de referecircncia e depois concorri

Quer dizer natildeo concorri individualmente ora bem natildeo (indicando nomes de outras personalidades

envolvidas)hellip para darem nome agrave equipa mas que no fundo eram convidadoshellip aa bom

Portanto depoishellip aahellip portanto esse projecto e essa forma de sistema educativo foi um projecto

que durou 6 anos aahellip mas que era um projecto com imensos componentes tinha componente do

emprego e formaccedilatildeo profissional que era liderada essa componente pelohellip pelo ex-ministro

Nascimento Rodrigues Eacute ohellip como eacute que se chama hoje o provedor dahellip da justiccedila ou da

comunicaccedilatildeo social ou dahellip pronto o provedor Foi Ministro do Trabalho natildeo eacute

E Sim

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G No tempo do PSD Depois tinha uma aacuterea de arquitectura reconstruccedilatildeo Tinha uma aacuterea de

engenharia e tinha uma aacuterea dehellip educaccedilatildeo e desenvolvimento curricular portanto a aacuterea em que

eu estava inserida

E E trabalhou nesta altura para no fundo ou melhor com o Governo de Cabo Verde

G Exactamente eu estava contratada pela Partex que era a empresa que ganhou porque isto

foi um concurso internacional cento e tal empresas Aahellip a Partex ganhou a Partex tinha-me

vindo buscar porquecirc porque sabia que eu eacute que tinha feito os termos de referecircncia e portanto eu

sabia muito bem dar a resposta aahellip e por isso eacute que depois no convite fez a mesma coisa

portanto noacutes ganhaacutemos contra uma equipa a Profabril que na altura tinha o Engordm (hellip) que estava

com um projecto pela Profabril fez este projecto foi a reforma do sistema foram seis anos noacutes

tiacutenhamos casa tiacutenhamos uma casa tiacutenhamos 2 carros portanto eacuteramos uma equipa com uma casa

laacute com 2 funcionaacuterias com motoristas com teacutecnico de contas com natildeo sei quecirc que era a Partex

portanto eu estava ao serviccedilo da Partex Embora continuasse sempre aqui a trabalhar portanto eu

fazia tudo isto em regime de consultoria

E Ia laacute coordenar no fundo e regressava natildeo eacute

G Sim ia fazer a parte fundamentalmente eu tinha a aacuterea de formaccedilatildeo de professores desde

a preacute-escola a ensino secundaacuterio Depois aahellip mas isto era a propoacutesito de eu dizer que o (hellip)

conhecendo muito bem todo este percurso que tinha vindo desde o poacutes-independecircncia portanto eu

trabalhei com todos os ministros convidou-me e disse-me ldquo- olhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute ter um gestor da cooperaccedilatildeo para

cada um dos paiacuteses eacute a pessoa com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o que quer eacute o outro paiacutes mas eacute

preciso que algueacutem em Portugal vaacute trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para

se encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip porque agraves vezes as pessoas

quando tambeacutem natildeo sabem o que querem tecircm dificuldade em se exprimir

Portanto ele criou essa figura do gestor do grupo de missatildeo por paiacutes A pessoa que foi por

exemplo indigitada para Satildeo Tomeacute eacute hoje adido cultural em Satildeo Tomeacute porque haacute muita cunha da

(hellip) Ora o Engordm (hellipreferindo-se ao entatildeo presidente do ICP) fez isto para que realmente com

elementos internos do ICP e parcialmente com pessoas externas quando tinha uma relaccedilatildeo de

confianccedila e de conhecimento da sua experiecircncia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro Para que eu pudesse ir fazer este trabalho dado que eu tinha as minhas funccedilotildees caacute ele fez

um protocolo e eacute isso que eu lhe vou mostrar elaboraacutemos um Protocolohellip

E Eacute este aqui

G Exactamente Entre o Politeacutecnico a Cooperaccedilatildeo Portuguesa que no fundo natildeo diz mais do

que isto manifesta muito boas intenccedilotildees para cooperar disponibiliza a base de dados a

participaccedilatildeo de docentes que envolve vaacuterias escolas o ICP tal talhellip depoishellip bem isto eacute uma

coisa inoacutecuahellip

E Hum hum E com base nelehellip

G Com base nisto que eacute a tal intenccedilatildeo para fazer muitas coisas de colaboraccedilatildeo uma das

colaboraccedilotildees e diz a certa altura neste protocolo ldquocada uma das colaboraccedilotildees seraacute objecto de um

protocolo adicionalrdquo Faz-se um protocolo adicional em que ele veio aqui assinar em que me

autoriza o politeacutecnico por um lado e ele me indigita e entatildeo o Instituto da Cooperaccedilatildeo

compromete-se a designar fulana como chefe do grupo de trabalho responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo

da execuccedilatildeo do PIC Portugal ndash Cabo Verde 992001 bem como os programas anuais os PAC de

9920002001

O Politeacutecnico compromete-se a disponibilizar fulana para o exerciacutecio tal talhellip No fundo

cabe ao Instituto assegurar o apoio e conceder as facilidades nomeadamente autorizar as

deslocaccedilotildees e cabe ao Politeacutecnico pagar essas deslocaccedilotildees embora eu natildeo recebesse portanto eu

natildeo recebi nenhuma remuneraccedilatildeo por isto Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma

remuneraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem funcionado na base do

voluntarismo e natildeo na base de qualquer poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo

com Cabo Verde e nunca ganhei um tostatildeo Aahellip se eu tivesse aiacute a dar aulas numa privada estava

hoje rica pelas horas que despendi tenho muito gosto mas eacute de facto uma coisa que soacute porhellip

espiacuterito de missatildeo Sim senhora nomeiam-me assim portanto agora vamos dar uma moeda de

troca eacute o Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute nessa base que noacutes

aahellip

E Uma boa jogada

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Entatildeo por exemplo por aqui jaacute podemos ver em relaccedilatildeo este eacute um documento muito

maishellip entatildeo vamos definir projecto a projecto e note-se embora haja sabe o que eacute ohellip a

Comissatildeo Paritaacuteria

E Confesso que natildeo

G Entatildeo eacute assim Cabo Verde eacute dos PALOPS uacutenico que tem uma coisa que se chama

Comissatildeo Paritaacuteria A Comissatildeo Paritaacuteria estabelece as prioridades de cooperaccedilatildeo bem como as

questotildees do acesso ao ensino superior as vagas mas eacute o uacutenico PALOP que tem isso em Portugal

E Desculpe as vagas de alunos que vecircm para Portugal como bolseiros Natildeo tem nada a ver

com o ensino laacute OK

G Esta Comissatildeo Paritaacuteria tinha quem o Director-Geral do Ensino Superior de Cabo Verde

o Director Geral do Ensino-Superior de Portugal tinha o representante do CRUP que era o Jorge

Veiga um representante do CCISP que era o Luiacutes Soares o Presidente do ICP ou o seu

substituto mais aahellip natildeo interessa quem mas no fundo tinha estas 6 ou 7 pessoas A Comissatildeo

Paritaacuteria perante as propostas que existiam dizia ldquo- Bom eacute prioritaacuterio dentro deste montante fazer

isto aquilo e aquele outrordquo E qual era esse montante Era o montante que estava inscrito num

projecto que se chamava assim sempre se chamou deixe-me encontrar chamava-se ldquoProtocolo

Do Ensino Superiorrdquo Este protocolo celebrado em 97 prevendo acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que agora

foi assinada um novo que eacute este que assinou o Duratildeo Barroso

E Que foi-o laacute assinar

G ldquoProtocolo de Cooperaccedilatildeo da Repuacuteblica de Cabo Verde nos domiacutenios do Ensino Superior

de Ciecircncia e Tecnologiardquo

E Isso estaacute disponiacutevel nahellip Internet natildeo

G Istohellip acho que estaacute Nem sei quem eacute que me mandou istohellip

E Posso-lhe pedir uma coacutepia disso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Com este protocolo em 2000 estamos a falar de 2001 portanto eacute acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo mas

soacute no superior foram orccedilamentados 18 mil contos destinados a financiar vaacuterios projectos e foram

executados 4685 Portanto quando se diz que natildeo haacute dinheiro para a cooperaccedilatildeo isso eacute mentira

porque eu eacute que estive a coordenar isto sei que tambeacutem natildeo se gasta o dinheiro que se atribui

porque as pessoas gostam de laacute ir passear a primeira vez mas agrave segunda como eacute para trabalhar jaacute

natildeo gostam

E Jaacute natildeo vatildeo

G Aahellip com as seguintes acccedilotildees pronto ora bem quem define as prioridades sendo que o

montante estipulado portanto em 2001 estipulava-se 2000 contos a Comissatildeo Paritaacuteria aleacutem de

definir as prioridades natildeo eacute porque o ISEG o Instituto Portuguecircs de Educaccedilatildeo diz assim ldquo- noacutes

queremos que venham ajudar a dar um curso de Geologiardquo depois o ISECMAR que eacute o Instituto

Superior de Ciecircncias do Mar diz ldquo- eu quero natildeo sei quecircrdquo Depois o outro diz das Ciecircncias

Agraacuteriashellip Ora bem a Comissatildeo Paritaacuteria tem a funccedilatildeo de ir ajuizar Por outro lado te como eu

disse tem de se pronunciar relativamente agraves vagas agravehellip mas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez

nada eacute assim reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido define grandes linhas

mas depois natildeo acompanhahellip a implementaccedilatildeo das linhas

E A sua execuccedilatildeo

G E portanto pode dizer aiacute que a prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em

primeiro lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro entrava e pronto Eacute uma

barafunda Por outro lado a Comissatildeo Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do

ensino superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe de nada eacute que eu negociei tudo isto agrave

margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em minha casa falaacutessemos de Comissatildeo

ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip) soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordm (hellip referindo-se ao Presidente do ICP) foi

eu natildeo quero os projectos incluiacutedos no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute

um montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os projectos autoacutenomos Entatildeo

criei 6 ou 7 projectos sem nome projecto nuacutemero 1 Programa de intervenccedilatildeo manutenccedilatildeo de um

coordenador do politeacutecnico em que termos Deslocaccedilotildees perioacutedicas a Cabo Verde por um

periacuteodo de 3 anos que eacute a duraccedilatildeo dos Cursos que estaacute previsto desenvolver e a manutenccedilatildeo de

um coordenador para acompanhamento As acccedilotildees que noacutes vamos desenvolver satildeo estas que aqui

estatildeo para acompanhar isto in loco Eu nunca pus este indiviacuteduo laacute porquecirc porque natildeo tenho

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ningueacutem que queira natildeo eacute que queira nem eu achei necessaacuterio soacute que isto diz como possiacutevel em

que eu soacute fiz entatildeo juntei 2 mil contos natildeo foi 2 mil contos foi cerca de 2 mil em cada ano para

quecirc para ter possibilidade de mandar anualmente meia duacutezia de portanto de 2 em 2 meses uma

pessoa laacute que ia eu ou me fazia substituir para coordenar os projectos que laacute estavam mas

pronto a proacutepria ida de um coordenador era uma acccedilatildeo Depois vai a cada um destes que aqui

estatildeo e cada um deles que satildeo um bacharelato em turismo que satildeo 3 bacharelatos porque eacute um

bacharelato de turismo com 3 variantes e as cadeiras comuns satildeo poucas portanto satildeo 3

bacharelatos um curso de Formaccedilatildeo de Formadores portanto eacute uma poacutes-graduaccedilatildeo eacute poacutes-

licenciatura e era um na Praia e outro no Mindelo portanto eram 2 Aahellip bacharelato em

Educaccedilatildeo Fiacutesica a assistecircncia teacutecnica jaacute tinha sido criada ateacute jaacute estava no 1ordm ano natildeo se devia

chamar bacharelato propriamente dito porque jaacute tinha comeccedilado bacharelato em Educaccedilatildeo de

Infacircncia um Curso de Especializaccedilatildeo Profissional para o 12ordm em Turismo e Ambiente Educaccedilatildeo

para a Sauacutede Especializaccedilatildeo Profissional em Contabilidade e Gestatildeo e um Curso de

Especializaccedilatildeo Profissional em Agro-Pecuaacuteria Todos estes projectos que eu abri rapidamente

veja executorhellip estaacute Portanto estamos na preparaccedilatildeo do lanccedilamento em 2001 ainda estaacutevamos a

lanccedilar portanto as missotildees que eu mandava tinham 5 mil contos era para preparar o lanccedilamento

Por exemplo Curso de formaccedilatildeo de formadores de monitores de infacircncia estaacute a ver

E Sim sim sim

G Aahellip formaccedilatildeo profissional Curso de Formaccedilatildeo Profissional em Turismo e Ambiente

Objectivos formar e desenvolver competecircncias para o turismo aos alunos que tenham o 12ordm ano

tal tal tal entidade financiadora o ICP Eu natildeo dependia de mais nenhuma entidade natildeo quero caacute

depender de entidades externas que natildeo sei se me pagam eu faccedilo gratuitamente a funccedilatildeo de

gestora porque eu era gestora natildeo aacuterea soacute da educaccedilatildeo eu geria a aacuterea dos transportes das infra-

estruturas da rede rodoviaacuteria dahellip portanto tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa da parte

cultural da cooperaccedilatildeo da cidade velha tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa eu geria a

contrapartida como eu natildeo ganhava nada eu natildeo era funcionaacuteria do ICP eles deram-me projectos

que natildeo eram para mim portanto no fundo eacute assim o Politeacutecnico ficou a dever-me e a cooperaccedilatildeo

ficou a dever um gestor agrave borla e no fundo soacute tenho que mostrar que isto funciona e funciona de

tal maneira que agora portanto este era o processo antigo com a entrada do Dr (hellip referindo-se

a um novo presidente do ICP) para Presidente o (hellip) foi extremamente correcto e eu fui laacute e disse

ldquo- olhe eu ponho o lugar de gestora agrave disposiccedilatildeo porque eu natildeo sou de caacute portanto estouhelliprdquo Ele

disse ldquo- Natildeo senhora tem muito trabalho feito ateacute agora e se quiser continuar eu soacute lhe fico

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gratordquo Eu continuei e disse ldquo- Estaacute bem mas entatildeo tambeacutem continue a apoiar-nos porque ateacute

porque agora eacute um problema de poliacutetica de governos quer dizer as coisas estatildeo a meiohellip

E Natildeo se pode parar

G Natildeo se pode parar Sim senhora tudo correu muito bem e agora veio o terceiro presidente

Quando isto muda de ICP para IPAD Eu faccedilo n cartas ao IPAD ao Presidente do IPAD respondo

toda a situaccedilatildeo anterior porque ele deve laacute ter documentos e dossiers portanto deve laacute ter o que

satildeo os antecedentes toda a actualizaccedilatildeo sobre o Politeacutecnico aqui haacute cerca de 2 meses noacutes fomos

eu e o Presidente do Politeacutecnico mais o Presidente de cada Escola fomos a Cabo Verde

convidados pela Directora Geral do Ensino Superior entregar os diplomas dos Cursos mas

pagaacutemos por nossa conta Pronto e eacute tambeacutem algo enfim pouco pouco recomendaacutevel que noacutes

natildeo tivemos a fazer nada em termos pessoais e acabaacutemos por pagar mashellip pronto foi a nossa

contribuiccedilatildeo Noacutes temos dado outra contribuiccedilatildeo que eacute por exemplo aahellip e eacute uma grande

contribuiccedilatildeo os nossos docentes que vatildeo e eu posso-lhe mostrar satildeo as missotildees que eu tenho

agora em curso portanto todo o docente que vai o que eacute que tem quehellip tem quehellip fazer tem que

ter uma autorizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo dele portanto este eacute a Escola (hellip) para ele se deslocar a Escola

(hellip) tem de fazer uma reestruturaccedilatildeo no seu plano curricular para que ele possa laacute estar 15 dias ou

3 semanas e poder compensar as aulas

E Para natildeo prejudicar as aulas

G Eu pago adiantado aqui pelo Politeacutecnico agrave agecircncia de viagens ele passa-me o cartatildeo da

viagem duas viagens e pago antecipadamente agrave agecircncia Depois de euhellip eu depois mandohellip a

escola respectiva manda-me o boletim itineraacuterio depois disso eu mando a conta da viagem para o

IPAD o IPAD reembolsa-me e das ajudas de custo Antigamente o IPAD pagava directamente e

natildeo era contra envio de factura Porque eacute que isso acontece uma parte porque fiz um Protocolo

com o IPAD que ele me propocircs agora caso a caso portanto noacutes jaacute acabaacutemos os outros cursos soacute

estamos com os 3 bacharelatos de Turismo e entatildeo este Protocolo que jaacute estaacute assinado por noacutes

falta vir o exemplar dele aprovou ainda o montante dehellip para este ano civil natildeo eacute portanto para

as cadeiras que eu disse que precisava de pocircr a leccionar que satildeo estas

E Hum hum

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Atribuiu um montante de 102 mil euros Esta forma embora mais difiacutecil de conseguir eacute

uma forma para mim muito mais segura Eu natildeo tenho o dinheiro mas tenho a garantia de quehellip

Tenho eacute sempre o problema que tenho de pagar tudo antecipadamente e depois portanto eacute uma

gestatildeo complicada Mas para noacutes eacute uma gestatildeo complicada porque temos que pagar e pedir o

reembolso depois voltar a fazer a entrada de maneira que essa situaccedilatildeo natildeo eacute muitohellip

E Claro

G Mas tenho um tecto ao passo que eu assim estou a funcionar sem redehellip

E Claro

G hellip eu mandava e depois natildeo sabiacuteamoshellip estamos a chegar ao fim de 2003 e ainda natildeo sei o

que eacute que vai acontecer mas aiacute foi o que aconteceu em 2002 noacutes soacute recomeccedilamos 2003 em

Maio os alunos ficaram sem aulas euhellip eacutehellip

E Porque eacute que estes projectos satildeo tatildeo semelhantes nos problemashellip

G Eacute uma questatildeo de gestatildeo deslocados das ilhas eu estou a falar de um sistema insular

como tal eles estatildeo deslocados das ilhas ou por conta proacutepria ou com uma bolsa do Governo

Cabo Verdiano sem aulas ateacute Maio porque o Governo Portuguecircs natildeo deu luz verde e os alunos

estavam no segundo ano

E Mas isso aconteceu em Timor tambeacutem

G Portanto neste momento a situaccedilatildeo estaacute regularizada vou ter que comeccedilar a ver jaacute a

questatildeo de 2004 depois tem o proacuteximo anohellip

E Eu em Timor jaacute agora tinha laacute os docentes e o Governo natildeo tinha dado luz verde para

comeccedilar o segundo ano

G Pois estaacute a ver Eu a certa a altura devia 7 mil e tal contos de viagens agrave agecircncia de um ano

porque eu mandei os docentes todos sem ter ainda o Protocolo Agora as coisas estatildeo

normalizadas e estamos a funcionar nestahellip nesta base

Aahellip o que eacute que eu estava a dizer com isto tudo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Estava-me a dizer que agora este ano que jaacute vai comeccedilar a planear 2004

G Portanto com este protocolo que ainda natildeo estaacute acabado de assinar vamos comeccedilar a

preparar o ano 2004 Isto eacute para lhe dizer como eacute que funcionou na praacutetica uma coisa que estaacute

escrita nos papeacuteis ah e depois noacutes lanccedilaacutemos quando eu jaacute era gestora noacutes lanccedilaacutemos uma coisa

um concurso para equipas que se candidatassem a fazer a avaliaccedilatildeo externa porquecirc Porque eu

participei numa missatildeo do CAD Comiteacute de Apoio ao Desenvolvimento que era integrada por

uma seacuterie de peritos estrangeiros e eu depois fui pelo CAD para fazer a avaliaccedilatildeo da poliacutetica

portuguesa para os PALOPS da Poliacutetica Externa Portuguesa poliacutetica de cooperaccedilatildeo para Cabo

Verde Quando eu era a gestora e acompanhei a equipa do CAD

E Mas isso eacute importantiacutessimo o que me estaacute a dizer eu natildeo conhecia esse trabalho Isso eacute um

trabalho de avaliaccedilatildeo da poliacutetica de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde

G Isto eacute umhellip olhe ldquo- Teraacute lugar em 20002001 em Paris um exame do Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento da OCDE agrave Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa como preparaccedilatildeo deslocou-se a

Portugal uma equipa constituiacuteda por elementos tal talhellipEssa equipa constituiacuteda por fulanos

fulanos vai agora proceder agrave avaliaccedilatildeo dessa poliacutetica em Cabo Verde como coordenadora do

grupo de missatildeo da relaccedilatildeo PortugalCabo Verde ao abrigo do Protocolo solicito a V Exordf

autorizaccedilatildeohelliprdquo

E E essahellip avaliaccedilatildeo jaacute teve um relatoacuterio Natildeo tecircm disponiacutevel E quem eacute que teraacute essehellip

G Portanto estaacute a ver programa de visita aahellip

E A preparaccedilatildeo da visitahellip

G hellip isto foihellip uma fase anterior para a preparaccedilatildeo Tem aqui os documentos olhe Foi

elaborado pelo CAD isto satildeo os documentos todos

E Os comentaacuterioshellip G Depois fez-se tambeacutem caacute em Portugal eles primeiro vieram a Portugal para preparaccedilatildeo

deslocam-se a Portugal portanto eu fui a essa reuniatildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Isto eacute uma adenda ao Relatoacuterio G Isto eacute o que eu tenho portanto natildeo tenho mais documentaccedilatildeo porque eu no fundo fui

acompanhar a como professora natildeo eacute

E Sim sim G Ah depois entretanto fiz um conveacutenio de cooperaccedilatildeo entre o Politeacutecnico e a proacutepria

Direcccedilatildeo Geral de Ensino Superior de Cabo Verde para suportar exactamentehellip

E Claro hellip as actividades G hellip pode usar estes trecircs protocolos que eu fiz

E Diga-me uma coisa no meio disto tudo qual eacute a receptividade e a reacccedilatildeo do Governo

Cabo Verdiano

G Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi criacutetica foi dito oralmente mas

estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip

E Natildeo havia nenhuma auto-avaliaccedilatildeo no fundo

G Natildeo avaliaccedilatildeo aahellip externa

E Externa

G E entatildeo resolvemos lanccedilar portanto eu neste momento jaacute natildeo sou gestora com a entrada

deste presidente mas na altura lanccedilou-se uma seacuterie de concursos para que equipas apresentassem

candidatura a fazerem a avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portuguesa sei laacute no domiacutenio imagine dahellip das

redes viaacuterias Bom mas comeccedilaacutemos exactamente pelo ensino superior E haacute este Relatoacuterio cuja

maior parte das coisas eu discordo ehellip porque isto eacute de quem natildeo sabe eacute de quem estaacute a ouvir a

fazer entrevistas aahellip mas a dizer o que teoricamente eacute uma coisa eacute o teoricamente e outra coisa

eacutehellip se eu lhe disser que teoricamente a Comissatildeo Paritaacuteria que define a poliacutetica de cooperaccedilatildeo no

ensino superior

E Mas na praacutetica natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Como vecirc a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute a minha

porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo independentes e fura completamente as regras

Portanto aliaacutes eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um modelo

perigosohellip

E Mas a (hellipdirigindo-me agrave entrevistada) admite entatildeo quehellip

G Admito e mais quer dizer eu lamento que seja assim

E Eacute incriacutevel natildeo eacute

G Eacute tatildeo engraccedilado que a certa altura eles ateacute conseguem fazer um capiacutetulo que eu acho que eacute

uma coisa que vale a pena mostrar haacute um capiacutetulohellip haacute muita coisa aqui que natildeo estaacute correcta

foram os dados que eles conseguiram obterhellip agora haacute aqui uma parte que eu acho muito

engraccedilada que eles chamam mesmo numa secccedilatildeo a poliacutetica do ICP e o caso do (hellip nomeando o

instituto que representa)

E Risos Portanto o (hellip) aparece quase como haacute margem dehellip Pronto no fundo eles o que

dizem eacute que o ICP eacute o executor ohellip desculpe o (hellip) eacute o executor da poliacutetica de cooperaccedilatildeo do

ICP

G Pois

E Natildeo eacute

G Natildeo Eles fazem um relato eles tecircm uma mapa de todashellip o Departamento de Matemaacutetica

da Universidade de Coimbra tambeacutem faz protocolo com eles Aahellip os serviccedilos de biblioteca

tambeacutem fazhellip o que eles potildee mas natildeo potildee um capiacutetulo A cooperaccedilatildeo desenvolvida pela

Faculdade de Medicinardquo Eles potildee ldquoO voluntarismo da cooperaccedilatildeo e a cooperaccedilatildeo desenvolvidardquo

Portanto vatildeo mandando uma ldquobocasrdquo quer dizerhellip

E Risos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G (lecirc um estrato do Relatoacuterio) ldquo O apoio a estes novos cursos seraacute a partir de agora

estruturado no ICP de modo a permitir uma dotaccedilatildeo e gestatildeo financeira individualizada de cada

projecto e autoacutenomahelliprdquo em relaccedilatildeo ao projecto que tinha estado a ser coordenado pela Comissatildeo

Paritaacuteria cujo instrumento de coordenaccedilatildeo era a Comissatildeo Paritaacuteria criada em 9697 ldquoEstes novos

cursos eram conhecidos da Comissatildeo Paritaacuteria a quem eram comunicados para validaccedilatildeo pois na

base dehellip no entanto acabavam por gozar de uma relativa autonomiahelliprdquo Natildeo eacute relativa eacute total

ldquohellip na medida em que surgem a partir do ICP sem gerar hellip a partir das partes portuguesa quer as

instituiccedilotildees de ensinohellipal tal tal Tirando assim partido do planeamento tiravam partido do

planeamento porquecirc porque quem estava no planeamento era eu do ICP Portanto eu tinha a

dupla postura de estarhellip

E A planear e a candidatar-se ao ensino

G Estaacute bem ldquoUma outra consequecircncia dessa estrateacutegia foi feita com um contrato chapeacuteu dos

financiamentos de acccedilotildees avulsas pelo projecto protocolo do ensino superiorrdquo Isto eacute verdade satildeo

acccedilotildees avulsas natildeo eacute Quer dizer ia laacute agora um indiviacuteduo uma semana ia outrohellip depois ia laacute

fazer uma conferecircncia Eventualmente por razotildees mais faacuteceis a participaccedilatildeo tornou-se mais

significativa sendo ao mesmo tempo este projecto tentar ultrapassar as dificuldadeshellip (continua a

leitura de excertos do Relatoacuterio)

Portanto eacute soacute para ver quehellip depois conseguiram pocircrhellip pronto eles ateacute criam uma sub-

secccedilatildeo soacute porhellip (referindo-se ao seu instituto) porque de facto fugiu agrave regra do que da Comissatildeo

Paritaacuteria portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo portuguesa natildeo tem poliacutetica

E Pois e mostrou muito bem (risos)

G Natildeo eacute Na altura foi a poliacutetica toda foi a poliacutetica toda somos de certeza a instituiccedilatildeo que

tem mais cursos a funcionar laacute mas natildeo eacute ida de docentes parahellip natildeo estamos a falar de ida de

docentes para fazer uma comunicaccedilatildeo ou para dar uma cadeira noacutes damos os cursos do primeiro

ao uacuteltimohellip do iniacutecio ao fim e portanto eu tenho todas as semanas 5 ou 10 pessoas em Cabo

Verde os meus docentes natildeo levam um tostatildeo natildeo eacute como os Vossos de Timor

E Natildeo natildeo ganham nem ajudas de custo Nada

G Pagamos-lhes as despesas para viver laacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Claro claro

G Eles tecircm quehellip para jaacute natildeo ficam dispensados do serviccedilo caacute como os de Timor que satildeo

substituiacutedos

E Exacto

G E vocecircs sabemhellip

E Exacto exactamente

G Os nossos natildeo portanto o horaacuterio eacute alterado e eles quando vierem datildeo as aulas caacute e

depois natildeo ganham nada por irem para laacute soacute ganham a ajuda de custo Portanto eacute um trabalho de

voluntarismo

E Haacute bocadinho perguntava-lhehellip este dossier eacute puacuteblico ou natildeo Mas posso usar estas

informaccedilotildees para a tese Portanto agrave partida eacute um dossier puacuteblico e a informaccedilatildeo pode ser

divulgada Pronto Aahellip eu sei que o CIPES por exemplo tambeacutem estaacute a fazer um trabalho de

estudo comparativo dos vaacuterios paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eu posso-lhes facultar esta

informaccedilatildeo Eu estou a perguntar porque natildeo quer terhellip

G Quem me mandou isto foi o Instituto Superior para o Desenvolvimentohellip

E sabe que eles estatildeo com muita dificuldade em obter informaccedilatildeo

G Sabe que noacutes na altura fomos ouvidos Olhe o (hellipreferindo-se a outro elemento que foi

entrevistado) foi ouvido mas foi portanto mas noacutes fomos ouvidos comohellip

E Intervenientes no fundo

G hellip a Cooperaccedilatildeo deu os nossos nomes como pessoas quehellip o Prof (hellip) foi ouvido

enquantohellip agora natildeo concordo comhellip Destas pastas a primeira eacute sobre as vaacuterias concepccedilotildees de

cooperaccedilatildeo olhe o Acordo entre Portugal e Cabo Verde em 93 o Acordo eacute o tal de 97 que agora

existe este como lhe disse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim sim

G A concepccedilatildeo e a programaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portanto como eacute que foi concebiacutevelhellip Ora

bem eacute nisto que eu natildeo concordo porque quem estaacute de forahellip Haacute aiacute muita coisa que eacutehellip

E Depois podia arranjar-me uma coacutepia do Protocolo assinado agora Mas agora para natildeo lhe

estar a roubar muito tempo que sei que tambeacutem estaacutehellip muito ocupadahellip

G Olhe as acccedilotildees programadashellip estaacute a ver

E Sim sim

G Foram estas todas agora eacute que eu as estou a mandar para laacute

E No meio disto tudo como eacute que tem sido a intervenccedilatildeo do Governo Cabo Verdiano

G Arranja as salas aahellip

E E decide eles decidem algum tipo de estrateacutegia ou natildeo Satildeo meros espectadores

G As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das relaccedilotildees isto eacute definido sei laacute por exemplo vamos

ouhellip precisamos de um curso de turismo ou entatildeo eles natildeo dizem mas satildeo convencidos outra

coisa que aiacute estaacute ditohellip

E Eacute isso eacute que eu quero saber (risos) Isto eacute satildeo eles que identificam as suas verdadeiras

necessidades ou satildeo levados a identificar (risos)

G Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que

aacutereas necessita e depois compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu papel como

gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com as autoridades Cabo Verdianas eu quando ia

fazia uma ronda pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o Ministro das

Financcedilas com o dos Transportes mas eu natildeo fazia eu natildeo auscultava as opiniotildees deles o que eu

tentava era convencecirc-los

E Era dizer ldquo- olha vai precisar distohelliprdquo (risos)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G Eacute evidente agora o que vem escritohellip

E Eacute isso que vem escrito Mas isso eacute normal

G Agora eu digo que foram eles que disseram e natildeo era natildeo eacute

E Claro Mas a verdade eacute que eles precisam de ser orientados natildeo eacute

G Aliaacutes eu tive esse trabalho como consultora dahellip da Uniatildeo Europeia para os 5 PALOPS

emhellip portanto fui consultora para a aacuterea da educaccedilatildeo dos 5 PALOPS no acircmbito do chamado

ldquoPIR PALOP 3rdquo natildeo sei se sabe o que eacute

E Natildeo

G O ldquoPIR PALOPrdquo eacute o Programa Indicativo Regional com os PALOPS portanto em vez de

ser um Programa Indicativo para um Paiacutes e ser da Cooperaccedilatildeo Portuguesahellip

E Eacute para os PALOP em geral

G Este natildeo era da Cooperaccedilatildeo Portuguesa mas era da Comissatildeo Europeia

E Sim sim

G A Comissatildeo Europeia por qualquer razatildeo natildeo conhecia laacute ningueacutem e um dia telefonou-me

um Senhor Frank natildeo sei quantos um francecircs a convidar-me eu achei que era algum amigo meu a

gozar comigo Aahellip e depois ele mandou-me o convite formal eu aceitei e entretanto integrei

uma equipa que era toda estrangeira portanto eu estava pela aacuterea da educaccedilatildeo depois havia uma

pessoa pela aacuterea dahellip dahellip da agricultura da sauacutede e fizemos um peacuteriplo pelos 5 paiacuteses que

demorou um mecircs e tal aahellip para a chamada identificaccedilatildeo das necessidades a financiar agora natildeo

por Portugal mas pela Uniatildeo Europeia E aiacute sim o meu papel foi identificar aiacute sim na aacuterea da

educaccedilatildeo em cada um dos 5 paiacuteses as grandeshellip os grandes projectos

Depois se a Comissatildeo Europeia tinha possibilidade de os financiar ou natildeo e se os paiacuteses os

queriam ou natildeo era outro problema mas a minha funccedilatildeo era identificar Aahellip aqui como gestora

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

era negociar com os Governos aquilo que era possiacutevel Portugal dar dentro do que PAC que estava

disponiacutevel

E Agora diga-me uma coisa aahellip em relaccedilatildeo agora concretamente em relaccedilatildeo agraves acccedilotildees

desenvolvidas no terreno e ao ensino promovido pelas instituiccedilotildees sejam puacuteblicas sejam

privadas aahellip de ao niacutevel da cooperaccedilatildeo acha que as acusaccedilotildees que satildeo feitas muitas vezes ao

ensino transnacional de falta de qualidade de dehellip ateacute alguma falta de transparecircncia muitas

vezes aahellip

G O que eacute que eacute o ensino transnacional

E Olhe por exemplo sei laacute uma universidade quehellip estou-me a lembrar de algumas

universidadeshellip Natildeo estou soacute a reportar-me agora a estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo aahellip no geral Agrave

ida dehellip agrave promoccedilatildeo de ensinohellip

G No exterior

E No exterior neste caso

G Normalmente uma fraude Eacute um noventahellip eacute assim eu natildeo devia estar a dizer isto a

experiecircncia que eu tenho natildeo eacute minha

E Eu natildeo lhe estou a pedir para se reportar soacute agrave sua experiecircncia A sua sensibilidade no geral

G Natildeo natildeo se eu usasse a experiecircncia pessoal diria que sem ponta de vaidade eu sou um

caso tiacutepico dohellip do voluntarismo eu pertenccedilo quase agraves ONGs aos Meacutedicos sem Fronteirashellip

E (risos)

G Eu e o (hellip referindo-se a outro docente) trabalhaacutemos vinte e tal anos graciosamente com

perda das nossas feacuterias eu passava laacute as feacuterias sim mas estava a trabalhar Mas foi um gosto eu

tenho amigos em Cabo Verde como natildeo tenho em Portugal os meus amigos de peito satildeo de laacute eu

vi aquele paiacutes crescer eacute um gosto Se eu pensar nas dezenas de docentes que eu consegui envolver

nestes projectos todos e que estatildeo a tiacutetulo gracioso porque eles vecircm natildeo ganham um tostatildeo e

chegam caacute tecircm que repor as aulas todas que caacute deixaram e ganham uma miacutesera ajuda de custo que

lhes daacute soacute para comer e dormir ainda satildeo vinte e tal contos mas o hotel custa vinte contos natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Claro

G Portanto natildeo ganham um tostatildeo eu direi que eles satildeo aahellip quase uns heroacuteis quando

podiam estar aqui a dar acccedilotildees de formaccedilatildeo a 12 contos agrave hora Agora eu natildeo posso apostar nisto

que felizmente ou infelizmente aquilo que eu conheccedilo realmente estou na cooperaccedilatildeo agrave quase 30

anos e devo-lhe dizer que a Cooperaccedilatildeo e particularmente estou a falar da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

que eacute da que eu quero falar porque a outra eu conheccedilo mas enfim conheccedilo soacute por olfacto como

eu digo natildeo eacute porque estou laacute com as pessoas vejo o que fazem como se comportam mas natildeo

sei em que condiccedilotildees vatildeo e quehellip

E Claro claro

G Da Cooperaccedilatildeo Portuguesa eacute uma fraude do mais alto niacutevel eacute uma vigarice de dehellip da

maacutexima as pessoas vatildeo daqui eu natildeo vou dizer nomes mashellip

E Natildeo vale a pena

G Cada vez que eu viajava iam 5 professores da universidade todos eles meus amigos que

chegavam laacute que queriam era comer uma bela lagosta que natildeo sei quecirc iam 2 horas laacute agrave escola natildeo

sei quantos faziam uma conferecircncia estavam laacute 5 dias vinham 3 ficavam no Sal levavam a

mulher ou o marido aahellip os filhos se natildeo levavam pediam para fazer um peacuteriplo pelas ilhas

porque gostavam de conhecer todas e tinham feito era uma conferecircncia para dizer meia duacutezia de

ldquobalelasrdquo e quem diz ldquobalelasrdquo pode ter sido uma conferecircncia muito boa mas natildeo eacute isso que estaacute

em causa

E Claro

G Podia ter sido uma conferecircncia muito boa mas aahellip isso fazia indo num dia e vindo n

outro portanto o custo a relaccedilatildeo custobenefiacutecio eacute absolutamente insustentaacutevel

(Interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravaccedilatildeo)

E Noacutes estaacutevamos a falar dehellip ah das instituiccedilotildeeshellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Portanto quando eacute dito escrito natildeo sei quecirc eacute uma coisa a verdade eacute aquilo que eu lhe

estava a dizer portanto as pessoas vatildeo por 3 dias gastam aahellip 700 contos em viagens e ajudas de

custo porque vatildeo fazer uma conferecircncia portanto noacutes aqui funcionamos assim por exemplo eu

tenho um moacutedulo de 60 horas os alunos tecircm 6 horas de aulas por dia incluindo Saacutebados o

docente chega num dia agraves 4 h da manhatilde e comeccedila a trabalhar agraves 8 do dia seguinte e vem embora

no proacuteprio dia em que acabou as aulas que eacute a uacutenica forma de fazer render o dinheiro

E Noacutes com Timor tambeacutem fazemos assim mais ou menos Agora as pessoas muitas vezes

querem eacute ir mais cedo para fazerem uns peacuteriplos pela Austraacuteliahellip

G E podem fazer desde quehellip

E Claro e tudo o que seja extra custos da Fundaccedilatildeo eacute pago directamente por eles claro Mas

diga-me o que eu precisava que me dissesse eacute Qual eacute a sua sensibilidade em relaccedilatildeo por

exemplo a universidades privadas que estatildeo a promover uma seacuterie de cursos nomeadamente em

Cabo Verde

G Penso que eacute uma fraude do (hellip nomeando uma instituiccedilatildeo privada que promove ensino em

Cabo Verde) em Cabo Verde natildeo lhe posso dar a minha opiniatildeo porque a minha opiniatildeo eacutehellip

(gravaccedilatildeo interrompida deliberadamente para que o entrevistado se sentisse mais agrave vontade para

expressar a sua opiniatildeo)

E Claro eu percebi e percebo daquilo que tenho ouvido das vaacuterias conversas que tenho

tido com vaacuterias pessoas tenho percebido essa instituiccedilatildeo normalmente ningueacutem percebe muito

bem como eacute quehellip como eacute que estaacutehellip

G Eles hatildeo-de ter alguma vantagem em laacute estar como eacute evidente

E Claro

G Cabo Verde tambeacutem haacute-de ter no sentido em que eles hatildeo-de ter tambeacutem prometido sei laacute

o quecirc Tambeacutem natildeo sei porque sei que eles pagamhellip propinas os alunoshellip sei um monte de

coisas e portantohellip tambeacutem sei que muitos pais que tecircm laacute tido os filhos ou que tecircm laacute natildeo os

querem laacute mais mas isso algum dia a gente haacute-de ver o fundo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E O resultado natildeo eacute Para finalizar aahellip em relaccedilatildeo a isto o que eacute que acha dashellip da

implementaccedilatildeo de estruturas de regulaccedilatildeo do ensino transnacional O que eacute que acha como

mecanismo de controlo por exemplo as redes de as redes privadas dehellip de avaliaccedilatildeo e de

regulaccedilatildeo do ensino transnacional ou ainda por exemplo a inserccedilatildeo desses cursos e destas acccedilotildees

no ensino formal dos paiacuteses propriamente no sentida dehellip

G Eu achava por exemplo vou-me reportar outra vez ao meu caso eu achava por exemplo

este tipo de actividades lectivas dos docentes podiam estar incluiacutedas na sua proacutepria aahellip carga

horaacuteria porque no fundo satildeo a carga horaacuteria que natildeo eacute dada caacute eacute dada noutro siacutetio eu acho que

eacute umhellip umhellip um peso excessivo e este voluntarismo acaba quer dizer ningueacutem estaacute disposto a

continuar a fazer isto a vida inteira natildeo eacute

E Claro

G Natildeo pode ser por estas regras de voluntarismo que as coisas funcionam tambeacutem Tambeacutem

basta natildeo eacute

E Claro E em relaccedilatildeo a esse dito mecanismo de controlo acha que o ensino transnacionalhellip

G Olhe eu acho que a questatildeo para mim a questatildeo eacute outra eacute eacutehellip eacute o estabelecimento

chame-lhe contrato programa ou o que quiser da entidade que eacute financiadora eacute o IPAD que

contratualizou uma instituiccedilatildeo para uma determinada acccedilatildeo que lhe apresenta portanto sempre

que a instituiccedilatildeo lhe apresenta um projecto de intervenccedilatildeo diz ldquo- Noacutes propomos fazer isto nestes

timings com estes produtos e no fim tem que haver um mecanismo de avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo e

dizer estahellip esta empresa essa instituiccedilatildeo eacute afastada para o futuro porque natildeo cumpriu da

proacutexima vez natildeo entra Mas para fazer isto tem que o IPAD ter estruturas que natildeo tem porque

aquilo eacute uma estrutura altamente desactualizada e velha ter estruturas para gerir este processo O

que eacute que eu tenho eacute um contrato programa Este protocolo eacute um contrato programa natildeo eacute Diz

o montante 72 mil euros tenho quehellip eu disse que ia dar estas cadeiras estas estas estashellip que

eu arranjava os docentes que eu pagava antecipadamente que eles me davam o dinheiro que eu

fazia o Relatoacuterio Final pronto tudo bem Agora se eu natildeo tiver cumprido o que eacute que me

acontece natildeo me acontece nada

E Ningueacutem vai avaliar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G E se eles natildeo cumprirem tambeacutem natildeo acontece nada

E Natildeo eacute consequente E o que eacute que acha os curriacuteculos ehellip quehellip ou melhor as acccedilotildees que

elabora satildeo elaborados curriacuteculos especiacuteficos para o contexto do paiacutes

G Natildeo tem nada a ver com os de caacute

E Satildeo completamente diferentes

G Pois Eu laacute natildeo dou a histoacuteria de Portugal dou a histoacuteria de Cabo Verde ou douhellip quando

dou itineraacuterios turiacutesticos natildeo eacute em Portugal eacute em Cabo Verde a um curso de turismo Quer os

programas das cadeiras quer o proacuteprio curriacuteculo

E E estatildeo planeados no sentido de haver depois umahellip

(interrupccedilatildeo na gravaccedilatildeo para virar a cassete)

G hellip quer dizer natildeo eacute neste curso de turismo que jaacute deixo gente preparada parahellip para poder

pegar no proacuteprio curso agora a nossa ideia por exemplo ao fazermos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

formaccedilatildeo de formadores e de educaccedilatildeo na infacircncia eacute fazer o quecirc foi pegar em pessoas que jaacute

eram licenciadas dar-lhes uma poacutes-graduaccedilatildeo especiacutefica para a educaccedilatildeo de infacircncia e eles jaacute

poderem ser docentes nos cursos de educadores de infacircncia Estaacute a ver

E Exactamente

G Ora mas isso tem a ver com o o que se pode chamar um programa integrado de

intervenccedilatildeo Para aleacutem de ir fazer um curso de turismo repare que eu a par do curso de turismo de

bacharelato fiz cursos teacutecnico-profissionais poacutes 12ordm ano em ecoturismo em agroturismo emhellip

exactamente foram aqueles que saiacuteram do 12ordm ano e natildeo prosseguiram os estudos e mais nos

bacharelatos de turismo eu deixei uma quota para aqueles que fizeram outro curso profissional que

tiveram equivalecircncia ao 1ordm ano e entraram directamente

E Sim sim

G Mas portanto esse eacute um problema de concepccedilatildeo estaacute a ver

E Claro FIM

Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Acordo de Cooperaccedilatildeo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

Considerando que o ensino superior constitui uma instituiccedilatildeo de cultura e de formaccedilatildeo ciacutevica de actividades sociais cientiacuteficas e teacutecnicas e ao tempo um indicador de referecircncia sobre o desenvolvimento de uma sociedade contemporacircnea cabendo-lhe um lugar essencial na produccedilatildeo desenvolvimento e dinamizaccedilatildeo da sociedade

Considerando que nesta perspectiva eacute funccedilatildeo da formaccedilatildeo superior realizar um integral aproveitamento das capacidades humanas dos cidadatildeos dos recursos e dos valores num todo orientado para a mais completa utilizaccedilatildeo das riquezas do paiacutes

Considerando que uma longa tradiccedilatildeo nesse domiacutenio pode ser invocada a respeito de Cabo Verde nomeadamente desde meados do seacuteculo XIX com a instituiccedilatildeo de escolas de elevado niacutevel pedagoacutegico e cientiacutefico responsaacuteveis pelo notaacutevel quadro actual nos diferentes planos do saber cultural cientiacutefico e teacutecnico

Considerando que a receacutem-formada Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa vem aumentar por um lado a importacircncia do desenvolvimento do ensino superior atendendo ao estreitamento de relaccedilotildees entre os seus membros e por outro o sentido da solidariedade entre as instituiccedilotildees de ensino que podem colaborar no desenvolvimento da formaccedilatildeo superior considerada nas suas diferentes aacutereas culturais cientiacuteficas e teacutecnicas onde quer que haja condiccedilotildees de viabilidade

Considerando a realidade da cooperaccedilatildeo existente entre Portugal e Cabo Verde e os resultados positivos alcanccedilados A Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde acordam em

Artigo 1ordm

Conjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre as instituiccedilotildees de ensino superior e de investigaccedilatildeo de ambos os paiacuteses

Artigo 2ordm

Para esse efeito seraacute constituiacuteda uma comissatildeo paritaacuteria destinada a desenvolver os trabalhos conducentes agrave concretizaccedilatildeo dos objectivos expostos integrando um maacuteximo de cinco representantes de cada paiacutes

Artigo 3ordm

Os elementos da comissatildeo paritaacuteria seratildeo nomeados no prazo de 45 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo

Artigo 4ordm

A comissatildeo paritaacuteria reuniraacute no prazo de 90 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo e elaboraraacute um projecto de regulamento a homologar por ambas as Partes contemplando a sua forma de funcionamento e o plano de actividades que se propotildee desenvolver com vista a atingir os objectivos previstos

Paacutegina Web 1 de 3

01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Paacutegina Inicial Publicaccedilotildees Contactos Novidades Ligaccedilotildees Mapa O Que eacute o GAERI

Artigo 5ordm

A comissatildeo paritaacuteria poderaacute convidar organizaccedilotildees privadas com trabalho desenvolvido na aacuterea do ensino para participar nas suas reuniotildees agraves quais seraacute dado estatuto de observador

Artigo 6ordm

1 - O presente Acordo entraraacute em vigor na data da uacuteltima notificaccedilatildeo do cumprimento das formalidades exigidas para o efeito pela ordem juriacutedica de cada uma das Partes e seraacute vaacutelido por um periacuteodo de cinco anos podendo ser denunciado por qualquer das Partes mediante comunicaccedilatildeo escrita agrave outra com uma antecedecircncia miacutenima de nove meses

2 - O presente Acordo poderaacute ser prorrogado por acordo entre as Partes por um periacuteodo susceptiacutevel de ir ateacute cinco anos tendo em conta a avaliaccedilatildeo do projecto feita no decurso do ano lectivo de 2001-2002 caso haja lugar agrave prorrogaccedilatildeo ela far-se-aacute por simples troca de notas entre os Ministeacuterios dos Negoacutecios Estrangeiros de cada um dos paiacuteses

Feito na cidade da Praia aos 18 de Fevereiro de 1997 em dois originais em liacutengua portuguesa fazendo os dois textos igualmente feacute

Pela Repuacuteblica Portuguesa Eduardo Carrega Marccedilal Grilo Ministro da Educaccedilatildeo

Pela Repuacuteblica de Cabo Verde Joseacute Luiacutes Livramento Ministro da Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

Declaraccedilatildeo por ocasiatildeo da assinatura do Acordo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superior

A Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian vem desde o iniacutecio dos anos 90 e no quadro da colaboraccedilatildeo estabelecida com as autoridades cabo-verdianas no domiacutenio da educaccedilatildeo prestando o seu contributo para a institucionalizaccedilatildeo do ensino superior em Cabo Verde A prioridade concedida pela Fundaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo deste niacutevel de ensino em Cabo Verde funda-se no reconhecimento da importacircncia que a formaccedilatildeo de niacutevel superior tem para o desenvolvimento sustentado do paiacutes

A Fundaccedilatildeo iraacute prosseguir o seu apoio agraves actividades de ensino superior em Cabo Verde nos termos recentemente acordados com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo deste paiacutes designadamente atraveacutes de acccedilotildees de assistecircncia teacutecnica de formaccedilatildeo de docentes de desenvolvimento curricular da oferta de equipamento cientiacutefico e didaacutectico e de bibliografia

Nesta conformidade e com o objectivo de promover uma eficaz colaboraccedilatildeo no desenvolvimento do apoio ao ensino superior em Cabo Verde a Fundaccedilatildeo mostra-se disponiacutevel em participar com o estatuto de observador na comissatildeo paritaacuteria ora criada entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde nos termos e nas condiccedilotildees que vierem a ser definidos pelas duas Partes

Cidade da Praia 18 de Fevereiro de 1997 - Pela Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian o Administrador Victor de Saacute Machado

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Assuntos Comunitaacuterios Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento Assuntos Bilaterais e Multilaterais Equivalecircncias

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 499

3 mdash Os elementos necessaacuterios agrave identificaccedilatildeo das pes-soas a abranger satildeo

a) Nomeb) Local de trabalho ou estabelecimento de ensinoc) Categoria ou cargo consoante o casod) Periacuteodo de dispensa a conceder

4 mdash Dos requerimentos de dispensa de trabalho oudas declaraccedilotildees a emitir com vista agrave justificaccedilatildeo dasfaltas deveraacute constar uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do pro-jecto e da razatildeo pela qual se entende que eacute justificadaa participaccedilatildeo do tripulante no evento

Artigo 7o

Limite temporal

Para efeitos do presente diploma a dispensa de tra-balho ou a relevaccedilatildeo de faltas escolares circunscrever--se-aacute ao periacuteodo maacuteximo de 15 de Fevereiro a 31 deAgosto de 2000

Artigo 8o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia imedia-tamente seguinte ao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 21 deJaneiro de 2000 mdash Juacutelio de Lemos de Castro Cal-das mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Luiacutes Manuel Fer-reira Parreiratildeo Gonccedilalves mdash Fernando Manuel dos SantosGomes mdash Rui Antoacutenio Ferreira Cunha mdash GuilhermedrsquoOl ive i ra Mar t ins mdash Alber to de Sousa Mar-tins mdash Armando Antoacutenio Martins Vara

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 2 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

MINISTEacuteRIO DA REFORMA DO ESTADOE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Decreto-Lei no 102000de 10 de Fevereiro

No quadro das responsabilidades que Portugal temassumido relativamente a Timor Leste assente na soli-dariedade decorrente de mais de quatro seacuteculos de his-toacuteria partilhada e no papel que internacionalmente sem-pre lhe foi reconhecido cabe ao Governo Portuguecircscriar as condiccedilotildees e os mecanismos que incentivem ereforcem a cooperaccedilatildeo com o povo de Timor Leste

Com este objectivo e integrando-se no programa deassistecircncia e cooperaccedilatildeo jaacute aprovado que visa a con-solidaccedilatildeo da paz da ordem e da tranquilidade naqueleterritoacuterio e a reestruturaccedilatildeo dos sectores baacutesicos dasociedade timorense dando resposta aos problemasquotidianos com que o povo de Timor Leste se defrontao presente diploma institui uma licenccedila especial quepossibilita o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou de interessepuacuteblico em Timor por trabalhadores do sector puacuteblicoou do sector privado no activo ou aposentados ereformados

A licenccedila especial ora instituiacuteda tem semelhanccedilas coma licenccedila definida no Decreto-Lei no 89-G98 de 13de Abril para o exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio deMacau licenccedila esta cujo regime seguia de perto o esta-belecido para a licenccedila sem vencimento para o exerciacuteciode funccedilotildees em organismos internacionais constante hojedos artigos 89o a 92o do Decreto-Lei no 10099 de31 de Marccedilo mas vai para aleacutem dela atentas as par-ticulares condiccedilotildees de exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuteriode Timor por um lado e a sua aplicaccedilatildeo aos traba-lhadores do sector privado por outro jaacute que este sectorpor certo seraacute fonte de potenciais candidatos com perfile qualificaccedilotildees adequadas ao exerciacutecio de funccedilotildees emaacutereas chave de economia do territoacuterio

Foram ouvidos os oacutergatildeos de governo proacuteprio dasRegiotildees Autoacutenomas a Associaccedilatildeo Nacional de Muni-ciacutepios e a Associaccedilatildeo Nacional de Freguesias

Foram cumpridas as disposiccedilotildees relativas agrave negocia-ccedilatildeo colectiva nos termos da Lei no 2398 de 26 deMaio

AssimNos termos da aliacutenea a) do no 1 do artigo 198o da

Constituiccedilatildeo o Governo decreta para valer como leigeral da Repuacuteblica o seguinte

Artigo 1o

Objecto

O presente diploma institui uma licenccedila especial quevisa possibilitar o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou deinteresse puacuteblico em Timor Leste no quadro das res-ponsabilidades que Portugal assumiu na assistecircnciaagravequele territoacuterio

Artigo 2o

Acircmbito pessoal

1 mdash O regime estabelecido no presente diploma apli-ca-se aos trabalhadores sujeitos a um regime de trabalhosubordinado do sector puacuteblico ou do sector privado

2 mdash As disposiccedilotildees do presente diploma satildeo tambeacutemaplicaacuteveis agraves forccedilas de seguranccedila com as adaptaccedilotildeesdecorrentes dos seus estatutos especiais

3 mdash Aos militares das Forccedilas Armadas independen-temente da situaccedilatildeo em que se encontrem aplicam-seas regras constantes do respectivo estatuto e demaislegislaccedilatildeo especial sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo de dis-posiccedilotildees mais favoraacuteveis previstas no presente diploma

4 mdash Satildeo ainda aplicaacuteveis as disposiccedilotildees do presentediploma com as necessaacuterias adaptaccedilotildees aos aposen-tados e reformados bem como agraves forccedilas de seguranccedilana situaccedilatildeo de reserva salvaguardando quanto aos apo-sentados e reformados por invalidez a exigecircncia do exer-ciacutecio de actividade diversa daquela pela qual foi reco-nhecida a respectiva incapacidade

5 mdash A concessatildeo da licenccedila especial prevista no pre-sente diploma aos trabalhadores das empresas puacuteblicase das empresas privadas seraacute obrigatoriamente pre-cedida da requisiccedilatildeo agraves respectivas entidades patronaisa efectuar pelo serviccedilo competente do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

Artigo 3o

Acircmbito institucional

1 mdash O presente diploma eacute aplicaacutevel aos serviccedilos daadministraccedilatildeo puacuteblica central local e regional autoacute-

500 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000

noma incluindo os institutos puacuteblicos na modalidadede serviccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabe-lecimentos puacuteblicos

2 mdash O presidente diploma eacute ainda aplicaacutevel agravesempresas puacuteblicas e agraves empresas privadas mediante omecanismo de requisiccedilatildeo a que se refere o no 5 doartigo 2o

Artigo 4o

Duraccedilatildeo da licenccedila

A licenccedila especial pode ser concedida aos trabalha-dores que a requeiram por periacuteodos de duraccedilatildeo natildeosuperior a dois anos renovaacuteveis ateacute ao limite de trecircsrenovaccedilotildees

Artigo 5o

Concessatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila eacute concedida por despacho do Ministrodos Negoacutecios Estrangeiros mediante requerimento dointeressado devidamente fundamentado

2 mdash No caso dos trabalhadores de empresas puacuteblicase de empresas privadas a concessatildeo de licenccedila estaacute con-dicionada a preacutevia efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que serefere o no 5 do artigo 2o

3 mdash O requerimento deve ainda conter as seguintesindicaccedilotildees

a) Nome estado civil residecircncia e telefoneb) Habilitaccedilotildees literaacuteriasc) Qualificaccedilotildees profissionaisd) Viacutenculo laborale) Serviccedilo ou entidade onde exerce funccedilotildeesf) Tipo de funccedilotildees desempenhadas e niacutevel de

responsabilidadeg) Duraccedilatildeo da licenccedila

4 mdash A concessatildeo da licenccedila depende de preacutevia pon-deraccedilatildeo do caso pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros tendo em conta todosos aspectos integrantes do programa de assistecircncia ecooperaccedilatildeo com Timor Leste e da concomitante anuecircn-cia do membro do Governo que tutela o serviccedilo deorigem ou do oacutergatildeo autaacuterquico ou regional autoacutenomocompetente

5 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores daadministraccedilatildeo puacuteblica local e regional autoacutenoma a con-cessatildeo da licenccedila pode ficar condicionada ao natildeo paga-mento da remuneraccedilatildeo durante o decurso da licenccediladevendo a sua posiccedilatildeo ser comunicada ao Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros no prazo de 15 dias a contarda data da consulta que lhe tiver sido feita pelos serviccediloscompetentes deste Ministeacuterio sob pena de se considerartaacutecita e incondicionalmente consentida

6 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores deempresas puacuteblicas e privadas a concessatildeo da licenccediladepende da preacutevia anuecircncia das respectivas entidadesempregadoras agrave efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que se refereo no 5 do artigo 2o

7 mdash Na comunicaccedilatildeo de anuecircncia agrave requisiccedilatildeo refe-rida no nuacutemero anterior devem as entidades empre-gadoras referir a assunccedilatildeo ou natildeo dos encargos comas remuneraccedilotildees durante o periacuteodo da requisiccedilatildeo

8 mdash Para efeitos da ponderaccedilatildeo a que se refere aprimeira parte do no 4 poderatildeo os serviccedilos competentesdo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros proceder agravesentrevistas que considerem necessaacuterias bem como sub-meter os interessados a exames meacutedicos e psicoloacutegicos

Artigo 6o

Efeitos da licenccedila

1 mdash A licenccedila especial natildeo afecta a situaccedilatildeo juriacutedi-co-laboral em que o trabalhador se encontra e carac-teriza-se especialmente por

a) Natildeo determinar a abertura da vaga no quadrode origem nem a alteraccedilatildeo ou perda do viacutenculolaboral

b) Natildeo implicar a perda das remuneraccedilotildees quesejam objecto de desconto para o respectivoregime de seguranccedila social

c) Manter o direito agrave contagem do tempo de ser-viccedilo para todos os efeitos legais havendo lugaragrave efectivaccedilatildeo dos correspondentes descontoslegais com base na remuneraccedilatildeo do lugar deorigem com as alteraccedilotildees remuneratoacuterias queentretanto ocorrerem

d) Manter o direito agrave progressatildeo e promoccedilatildeodevendo os serviccedilos a que pertence o trabalha-dor notificaacute-lo da abertura de concursos atraveacutesdo serviccedilo competente do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros

e) Suspender a comissatildeo de serviccedilo dos dirigentesf) Manter todos os direitos inerentes ao corres-

pondente regime de seguranccedila social aplicaacutevelg) Suspender a requerimento do interessado a con-

tagem dos prazos para apresentaccedilatildeo de rela-toacuterios ou prestaccedilatildeo de provas previstas nos esta-tutos das carreiras do pessoal docente univer-sitaacuterio de investigaccedilatildeo cientiacutefica e do docentedo ensino superior politeacutecnico

2 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees aos funcionaacuteriose agentes dos serviccedilos da administraccedilatildeo puacuteblica centralincluindo os institutos puacuteblicos na modalidade de ser-viccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabelecimentospuacuteblicos constitui encargo dos serviccedilos ou organismosa que pertencem

3 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees obrigatoacuterias para regimes de protecccedilatildeo social dosfuncionaacuterios e agentes da administraccedilatildeo local e regionalautoacutenoma quando natildeo haja anuecircncia destes quanto aoseu pagamento constitui encargo do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

4 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees para a seguranccedila social dos trabalhadores dasempresas puacuteblicas ou privadas quando natildeo haja anuecircn-cia destas quanto ao seu pagamento constitui encargodo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

5 mdash Se no decurso da licenccedila o trabalhador vier aser abrangido pelo recrutamento para a prestaccedilatildeo doserviccedilo militar poderaacute ver o tempo de duraccedilatildeo do exer-ciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio de Timor Leste contadocomo serviccedilo ciacutevico de interesse nacional para efeitosde cumprimento dos deveres de serviccedilo militarmediante despacho conjunto dos Ministros da DefesaNacional e dos Negoacutecios Estrangeiros a requerimentodo interessado

Artigo 7o

Direitos

1 mdash Os trabalhadores a quem eacute concedida a licenccedilaespecial tecircm direito

a) Ao pagamento de um subsiacutedio complementara fixar por despacho dos Ministros dos Negoacutecios

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 501

Estrangeiros e das Financcedilas a pagar em TimorLeste em doacutelares dos Estados Unidos da Ameacute-rica (USD)

b) A alojamento em Timor Leste ou a subsiacutediode renda de casa a fixar por despachos do Minis-tros dos Negoacutecios Estrangeiros e das Financcedilasde acordo com os preccedilos praticados naqueleterritoacuterio

c) A seguro de viagens de acidentes pessoaisincluindo acidentes de trabalho e doenccedilas pro-fissionais no caso de a protecccedilatildeo destes riscosnatildeo estar assegurada pelo regime de seguranccedilasocial em que se mantecircm enquadrados

d) Ao pagamento das despesas de transporte deida e volta para Timor Leste e respectivas baga-gens a partir do local de residecircncia em Portugal

e) Agrave assistecircncia meacutedica medicamentosa ciruacutergicae hospitalar ou seguro de sauacutede

f) A 30 dias uacuteteis de feacuterias por anog) Ao pagamento das despesas de viagem de feacuterias

a Portugal caso a licenccedila seja renovada ao fimde dois anos por pelo menos mais um ano

h) A um subsiacutedio de embarque de montante a fixarpor despacho conjunto dos Ministros das Finan-ccedilas e dos Negoacutecios Estrangeiros a abonar antesda deslocaccedilatildeo para Timor

2 mdash O pagamento de todas as remuneraccedilotildees e des-pesas referidas no no 1 constitui encargo do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

Artigo 8o

Fim e renovaccedilatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila termina no fim do prazo para que foiconcedida se o interessado natildeo requerer fundamenta-damente a sua renovaccedilatildeo ateacute 90 dias antes do seu termo

2 mdash O Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros devedecidir adoptando o procedimento do no 3 do artigo5o ateacute 60 dias antes do seu termo depois do que natildeohavendo decisatildeo se considera que a renovaccedilatildeo natildeo foiautorizada

3 mdash A licenccedila pode ser dada por finda por motivosde interesse puacuteblico devidamente fundamentados

4 mdash O trabalhador pode requerer o fim antecipadoda licenccedila por motivos ponderosos devidamente fun-damentados

5 mdash Se natildeo forem atendiacuteveis os motivos invocadospelo trabalhador este obriga-se a reembolsar o Estadodos pagamentos que houverem sido efectuados com asua viagem e transporte das respectivas bagagens naproporccedilatildeo dos meses que faltarem para completar operiacuteodo da licenccedila

6 mdash A licenccedila eacute ainda dada por finda no caso dedoenccedila grave natural ou de causa profissional queimpossibilite o trabalhador de exercer as suas funccedilotildeespor um periacuteodo superior a 90 dias

7 mdash Ocorrendo a morte do trabalhador em TimorLeste eacute aplicaacutevel agrave transladaccedilatildeo das cinzas ou do corpoo disposto no Decreto-Lei no 30883 de 1 de Julhosendo os requerimentos aiacute previstos endereccedilados aoMinistro dos Negoacutecios Estrangeiros e as despesas efec-tuadas custeadas pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

8 mdash Haveraacute ainda lugar na situaccedilatildeo referida nonuacutemero anterior se assim for requerido ao transportedos bens pessoais do trabalhador para Portugal custeadopelos serviccedilos referidos naquele nuacutemero

Artigo 9o

Apresentaccedilatildeo no regresso a Portugal

1 mdash O titular da licenccedila uma vez regressado a Por-tugal deve apresentar-se no prazo de cinco dias uacuteteisno serviccedilo competente do Ministeacuterio dos NegoacuteciosEstrangeiros onde receberaacute guia para o serviccedilo ou enti-dade a que se encontre vinculado a fim de ir ocuparo seu lugar e exercer as correspondentes funccedilotildees

2 mdash A guia a que se refere o nuacutemero anterior espe-cificaraacute o dia da apresentaccedilatildeo ao serviccedilo ou entidadede origem dia a partir do qual cessam as responsa-bilidades do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros pelopagamento dos respectivos encargos

Artigo 10o

Serviccedilos processadores

1 mdash Os actos administrativos e procedimentais neces-saacuterios agrave efectivaccedilatildeo da licenccedila especial designadamenteo pagamento de remuneraccedilotildees e outros abonos emTimor Leste os seguros e as despesas de transportesatildeo praticados pelos serviccedilos competentes do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

2 mdash Os serviccedilos competentes do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros devem articular com os serviccedilos ouentidades a que os titulares da licenccedila pertencem comvista a resolver todas as questotildees que surjam no decursoda mesma

Artigo 11o

Legislaccedilatildeo subsidiaacuteria

Em tudo o que natildeo esteja expressamente previstono presente diploma eacute aplicaacutevel o disposto no regimegeral da funccedilatildeo puacuteblica ou na legislaccedilatildeo geral do tra-balho consoante o regime a que se encontra sujeito otitular da licenccedila

Artigo 12o

Salvaguarda de regimes especiais

O disposto no presente diploma natildeo prejudica osdireitos dos trabalhadores emergentes de disposiccedilotildeesmais favoraacuteveis constantes de regimes especiais

Artigo 13o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia seguinteao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 22 deDezembro de 1999 mdash Antoacutenio Manuel de Oliveira Guter-res mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Juacutelio de Lemos deCastro Caldas mdash Fernando Manuel dos Santos Gomes mdashJoaquim Augusto Nunes Pina Moura mdash Eduardo Luiacutes Bar-reto Ferro Rodrigues mdash Alberto de Sousa Martins

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 3 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

  • Tese_versatildeo definitivapdf
    • intropdf
    • tesepdf
      • Anexos I a VIII - Guiotildees 1 e 2 e Entrevistaspdf
      • Anexo IX - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 1997pdf
      • Anexo X - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 2003pdf
      • Anexo XI - Decreto Lei 10-2000_1pdf
      • Anexo XII-Memorandumpdf
Page 2: Mónica Pimentel Modelos de Cooperação Portuguesa para o

Universidade de Aveiro

2005 Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o Ensino Superior

Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior realizada sob a orientaccedilatildeo cientiacutefica do Prof Doutor Alberto Manuel Sampaio Castro Amaral Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade do Porto e co-orientaccedilatildeo cientiacutefica do Prof Doutor Virgiacutelio Meira Soares Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Lisboa

o juacuteri

presidente Prof Dr Joseacute Manuel Lopes da Silva Moreira Professor Associado da Universidade de Aveiro

Profa Drordf Maria Luiacutesa Ferreira Cabral dos Santos Veiga Professora Coordenadora da Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Coimbra (arguente principal)

Prof Dr Antoacutenio Manuel Magalhatildees Evangelista de Sousa Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto

Prof Dr Alberto Manuel Sampaio Castro Amaral Professor Catedraacutetico da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto (orientador)

Prof Dr Virgiacutelio Alberto Meira Soares Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias da Universidade de Lisboa (co-orientador)

agradecimentos

Aos meus orientadores Prof Alberto Amaral e Prof Virgiacutelio Meira Soarespelas excelentes capacidades cientiacuteficas e acadeacutemicas que os caracterizam eque desde sempre me permitiram partilhar Ao Prof Rui Santiago pelo apoio eincentivo que soube transmitir nos momentos de maior desacircnimo a todosaqueles que abdicaram do seu tempo para me concederem uma entrevistaaos meus amigos e familiares pela paciecircncia palavras de incentivo e motivaccedilatildeo com que sempre contei ao Bruno pelo amor que me dedica Agrave Beatriz por tudo

resumo

A presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma anaacutelise criacutetica das actividades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas nos PALOP e em Timor-Leste No actual sistema formal de educaccedilatildeo as actividades de ensino transnacional encontram-se por norma integradas emprogramas de cooperaccedilatildeo governamentais o que lhes confere caracteriacutesticas bastante peculiares Para aleacutem de identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos dosmodelos de cooperaccedilatildeo analisados satildeo tecidas consideraccedilotildees que procuramdar um contributo para a optimizaccedilatildeo da rentabilidade dos recursos financeirose humanos investidos por Portugal neste domiacutenio

abstract

This study intends to perform a critical analysis of the activities of transnational education performed by Portuguese public higher education institutions in thePALOP (African Countries of Official Portuguese Language) and East TimorIn the present formal education system the activities of transnational education are usually integrated in governmental cooperation programmes that providethem unique specificities and characteristics Beyond the identification of strong and weak aspects of the analysed models of cooperation some recommen-dations will be suggested in order to allow an optimization and profitability offinancial human resources of this domain in the future

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

IacuteNDICE

Lista de Siglas e Acroacutenimos 15

Lista de Quadros 17

Introduccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO I

1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 27

11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo 27

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior 30

121 O papel da Universidade na Europa Comum 42

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia 51

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha 56

CAPIacuteTULO II

2 O Ensino Superior Transnacional 63

21 O Ensino Transnacional no Contexto da Uniatildeo Europeia 63

211 Principais problemas do ensino superior transnacional 67

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-

nacional 71

22 O GATS e o ensino transnacional 77

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-

-econoacutemica Internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilo 84

11

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III

3 A metodologia da Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo selecccedilatildeo da amos-

tra recolha e anaacutelise dos dados 87

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo 90

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida 92

313 A selecccedilatildeo de amostra 94

314 O processo de escolha de dados e construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos 96

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo

Portuguesa 101

41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso 101

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio

do ensino superior 102

4111 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde 102

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde 103

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 106

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 122

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

sector do ensino superior 124

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

domiacutenio do ensino superior 126

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio

do ensino superior 127

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste 127

12

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste 134

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do

ensino superior 137

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino

superior ateacute 2010 141

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 152

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 153

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees 155

Conclusotildees Finais 159

Referecircncias Bibliograacuteficas 165

Tratados e Acordos 168

Revistas Jornais e Paacuteginas de Internet 168

13

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

14

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Siglas e Acroacutenimos ADISPOR mdash Associaccedilatildeo dos Institutos Superiores Politeacutecnicos Portugueses

CCISP mdash Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politeacutecnicos

CEPES (UNESCO) mdash European Centre for Higher Education

CNAVES mdash Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo Ensino do Superior

CNRT mdash Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense

CRUP mdash Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas

ECTS mdash European Credit Transfer System

ENIC mdash European Network of Information Centres

ESE mdash Instituto Superior de Educaccedilatildeo de Cabo Verde

EUA mdash European University Association

FUP mdash Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

GATE mdash Global Alliance for Transnacional Education

GATS mdash General Agreement on Trade in Services

ICA mdash Instituto Camotildees

ICCTI mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica Internacional

ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa

IPAD mdash Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

ISCTE mdash Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

ISECMAR mdash Instituto Superior de Engenharia

MCT mdash Ministeacuterio Ciecircncia e Tecnologia

MFNT mdash Most Favoured Nation Treatment

OCDE mdash Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Econoacutemica e Desenvolvimento

PALOP mdash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB mdash Produto Interno Bruto

PIC mdash Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

15

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

PNUD mdash Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

UE mdash Uniatildeo Europeia

UNDP mdash United Nations Development Programme

UNESCO ndash United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

UNTAET mdash United Nations Transnational Administration in East Timor

UNTL mdash Universidade Nacional de Timor Leste

UK mdash United Kingdom

WTO mdash World Trade Organization

16

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Quadros QUADRO Nordm 1 mdash Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas 98

QUADRO Nordm 2 mdash Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para a Cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde 107

QUADRO Nordm 3 mdash Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superior segundo a entidade financiadora e executor 113

QUADRO Nordm 4 mdash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo

(puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido 118

QUADRO Nordm 5 mdash A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero

de Alunos 133

QUADRO Nordm 6 mdash Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP de Cooperaccedilatildeo com Timor

Leste 140

17

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

18

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ldquoIn this world there are three creations whose continued and general well-being depend on their moving forward The first is the bicycle

the second the shark the third the universityrdquo

(Neave 1997)

19

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

20

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Introduccedilatildeo

No acircmbito do Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior da Univer-

sidade de Aveiro a presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma abordagem criacutetica agrave

expansatildeo do ensino transnacional a niacutevel mundial identificando as causas deste fenoacute-

meno e avaliando as suas consequecircncias para o sector da educaccedilatildeo O caso portuguecircs

apresenta um modelo de ensino transnacional basicamente impulsionado por iniciativas

de cooperaccedilatildeo com paiacuteses em desenvolvimento que vem demonstrar que o processo de

globalizaccedilatildeo levou de certa forma a um estiacutemulo da procura de novos mercados por

parte das instituiccedilotildees de ensino que desta forma se viraram para novos puacuteblicos

apostando em mecanismos alternativos de promoccedilatildeo de actividades educativas no domiacute-

nio do ensino superior

A definiccedilatildeo do objecto de estudo seraacute determinante no desenvolvimento do tra-

balho empiacuterico e condicionaraacute a posterior identificaccedilatildeo das principais problemaacuteticas que

importa abordar sobre este assunto Assim sendo procurar-se-aacute circunscrever a anaacutelise

empiacuterica ao estudo e criacutetica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para o sector da

educaccedilatildeo mais concretamente no domiacutenio do ensino superior uma vez que nelas estatildeo

invariavelmente inseridas actividades de promoccedilatildeo de ensino transnacional por parte

das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas universitaacuterias e politeacutecnicas

No pressuposto de que a evoluccedilatildeo das praacuteticas de ensino transnacional resulta de

um processo de transformaccedilatildeo que estaacute intimamente ligado com a mudanccedila a que se

assiste hoje na Europa e no Mundo o primeiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado ao

fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo seus efeitos e consequecircncias Este movimento que de resto

tem vindo a modificar as sociedades industriais desde os anos 70 relegando para um

plano cada vez mais regulador o papel dos Estados-Naccedilatildeo na sua funccedilatildeo de zelar pela

harmonizaccedilatildeo dos mercados e pela conciliaccedilatildeo econoacutemica torna-se um elemento impul-

sionador agrave reestruturaccedilatildeo dos sistemas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo na Europa O sector do

21

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino enquanto motor dinamizador e de desenvolvimento de uma Naccedilatildeo e instrumento

de competitividade e supremacia de uns paiacuteses sobre outros eacute assumido como tal pelos

paiacuteses que apostam na mercantilizaccedilatildeo deste sector

As repercussotildees deste processo de globalizaccedilatildeo podem ser de vaacuterias ordens

destacando-se de entre as mais evidentes a convergecircncia dos sistemas educativos as

oportunidades de evoluccedilatildeo e experimentaccedilatildeo que proporcionam aos vaacuterios actores

envolvidos bem como o impulso que provoca nas instituiccedilotildees conferindo-lhes a pos-

sibilidade de um desenvolvimento a vaacuterios niacuteveis Neste acircmbito o papel que desem-

penha a Universidade numa Europa comum ganha especial importacircncia por isso

mesmo seraacute dada particular atenccedilatildeo a este assunto ainda no primeiro capiacutetulo deste

trabalho Por forccedila das circunstacircncias atribuiu-se ao Tratado de Maastricht a virtude de

consolidar por um lado uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo europeia entre Estados-Membros

para o sector educativo demonstrando por outro lado a permanecircncia de uma diversi-

dade de sistemas educativos na Europa A assinatura deste tratado vem legitimar os

direitos consagrados aos cidadatildeos dos Estados-Membros confinando o papel dos Esta-

dos-Naccedilatildeo a oacutergatildeos de poder reguladores e com capacidade decisoacuteria sobre as formas

de iniciativa puacuteblicas e privadas no sector educativo

O primeiro capiacutetulo natildeo estaria completo sem uma abordagem sintetizada ao

sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia e face ao processo

de globalizaccedilatildeo Parte-se da anaacutelise do sistema de ensino no periacuteodo preacute-revolucionaacuterio

para mais aprofundadamente se descrever e caracterizar a evoluccedilatildeo do sistema de ensino

superior no periacuteodo poacutes-revoluccedilatildeo de Abril e posteriormente no contexto de adesatildeo agrave

Uniatildeo Europeia

O segundo capiacutetulo eacute dedicado ao ensino superior transnacional fazendo-se uma

anaacutelise alargada sobre os aspectos positivos e negativos deste sistema de ensino na

perspectiva dos paiacuteses emissores e dos paiacuteses receptores Os motivos que explicam o

aumento exponencial deste sector nos uacuteltimos anos satildeo analisados elencando-se os

principais problemas a ele associados Questotildees como a avaliaccedilatildeo da qualidade do

ensino praticado o papel regulador das instituiccedilotildees receptoras de ensino transnacional

ou a total ausecircncia destes mecanismos satildeo apenas algumas das questotildees que mais

preocupaccedilotildees tecircm suscitado aos estudiosos desta problemaacutetica Mas outras questotildees

igualmente importantes surgem associadas ao ensino transnacional tal como a perti-

22

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necircncia e a adequaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo enquanto elemento determinante para o

desenvolvimento sustentado do paiacutes receptor a acreditaccedilatildeo e reconhecimento de graus

ou o planeamento estrateacutegico das actividades de apoio ao sector do ensino superior

Referimo-nos neste caso particular ao ensino transnacional que surge integrado em

programas de cooperaccedilatildeo para apoio aos paiacuteses em desenvolvimento

A internacionalizaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior

assumem-se claramente como aspectos positivos a retirar da praacutetica de ensino trans-

nacional em paiacuteses onde o mercado da procura excede largamente a capacidade de

oferta por exemplo a presenccedila destas estruturas alternativas de ensino traz benefiacutecios

ao paiacutes receptor que desta forma vecirc colmatada uma incapacidade de resposta do

mercado Benefiacutecios desta natureza favorecem essencialmente os paiacuteses pobres ou em

vias de desenvolvimento que natildeo dispotildeem na maioria das vezes de estruturas de ensino

suficientes para dar resposta agrave procura de mercado Ainda assim mesmo nestes casos eacute

importante e desejaacutevel que estejam assegurados os mecanismos de controlo miacutenimos

das actividades de ensino transnacional dos paiacuteses dadores Estes mecanismos assumem

uma importacircncia acrescida quando se trata de actividades de ensino transnacional com

fins lucrativos competindo neste caso aos paiacuteses receptores dotarem-se de meios de

defesa proacuteprios impondo mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo Muitas vezes a alter-

nativa para garantir condiccedilotildees miacutenimas de regulaccedilatildeo passa por integrar o ensino trans-

nacional nos sistemas de ensino formais do paiacutes

A uacuteltima parte do segundo capiacutetulo aborda basicamente a relaccedilatildeo do ensino

transnacional com o General Agreement on Trade in Services (GATS) O aumento

exponencial da procura da educaccedilatildeo a niacutevel mundial faz deste sector um dos mais

competitivos resultando na praacutetica na proliferaccedilatildeo de actividades de ensino trans-

nacional em parte devido agrave incapacidade das instituiccedilotildees de ensino nacionais para res-

ponderem satisfatoriamente agrave procura de mercado Muitos satildeo os factores que condi-

cionam esta realidade e a verdade eacute que devido a estas circunstacircncias o papel regulador

e defensor dos governos estaacute cada vez mais enfraquecido e difiacutecil de materializar Sobre

este assunto em concreto far-se-aacute uma abordagem particularmente fundamentada nas

opiniotildees de Jane Knight pela anaacutelise exaustiva clara e consubstanciada que a autora faz

deste assunto em alguns dos seus trabalhos

23

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O terceiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado agraves questotildees metodoloacutegicas A iden-

tificaccedilatildeo das principais metodologias de investigaccedilatildeo utilizadas para a realizaccedilatildeo do

trabalho empiacuterico permitiu definir a hipoacutetese de partida identificar o problema e o

objecto de estudo A selecccedilatildeo da amostra bem como o processo de recolha de dados e a

construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos mereceram igual destaque neste capiacutetulo

Como foi anteriormente referido procurou-se fazer uma abordagem agraves activi-

dades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

que no caso se resumem na sua maioria e por forccedila das circunstacircncias a acccedilotildees

integradas em programas de cooperaccedilatildeo governamentais implementados em paiacuteses de

expressatildeo portuguesa em vias de desenvolvimento Reportando ao enquadramento

teoacuterico que antecedeu o trabalho empiacuterico foram seleccionados dois estudos de caso

que por apresentarem realidades e contextos econoacutemicos culturais e geograacuteficos dis-

tintos se entendeu representarem duas realidades diversas mas igualmente interes-

santes e reveladoras de algumas das problemaacuteticas identificadas anteriormente como

caracteriacutesticas do ensino transnacional

Pode considerar-se que existem dois modelos de cooperaccedilatildeo portuguesa para o

sector do ensino superior transnacional o primeiro tradicionalmente implementado

pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute analisado como estudo de caso nordm 1 e repor-

ta agrave experiecircncia de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde Este paiacutes representa pelas

suas caracteriacutesticas soacutecio-culturais e econoacutemicas a realidade da maioria das ex-coloacutenias

portuguesas Se eacute verdade que haveraacute muitas variaacuteveis que satildeo singulares ao contexto

Cabo-Verdiano eacute igualmente verdade que Cabo Verde eacute a ex-coloacutenia portuguesa com

quem Portugal tem a mais longa tradiccedilatildeo de cooperaccedilatildeo e onde a implementaccedilatildeo de um

sistema formal de ensino melhor tem vingado Estes satildeo alguns dos motivos que leva-

ram agrave escolha de Cabo Verde como caso de estudo

Apesar de partir de pressupostos teoacutericos semelhantes o modelo de cooperaccedilatildeo

que estaacute a ser implementado para o ensino superior no caso de Timor Leste desde 2000

a esta parte revela desde logo caracteriacutesticas distintas do modelo anterior O contexto

que envolve Timor-Leste confere-lhe especificidades e caracteriacutesticas uacutenicas quando

comparado com os PALOP e se juntarmos a estes factores a histoacuteria recente do paiacutes

rapidamente se percebe que o modelo de cooperaccedilatildeo praticado nunca poderia assumir os

mesmos contornos de modelo de cooperaccedilatildeo tradicionalmente usado por Portugal

24

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Timor Leste revelou-se um estudo de caso bastante interessante natildeo apenas pelas suas

caracteriacutesticas e especificidades mas por ser o princiacutepio de novas formas de cooperar e

de praticar ensino transnacional que se abre para as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas

25

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO I 1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo

Enquanto cidadatildeos do mundo temos hoje o privileacutegio de assistir a um

acontecimento com repercussotildees agrave escala mundial mdash o fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo Este

movimento acontece paralelamente a um processo de evoluccedilatildeo da Comunidade

Europeia uma vez que ambos os movimentos estatildeo relacionados ou seja o desenvol-

vimento do conceito de Comunidade Europeia remonta ao periacuteodo poacutes Segunda Guerra

Mundial mais propriamente ao ano de 1950 e tal como o entendemos na sua definiccedilatildeo

mais simplista 1 estaacute condicionado pelo sucesso e efectivaccedilatildeo do processo de globali-

zaccedilatildeo agrave escala mundial

O processo da globalizaccedilatildeo tem vindo a modificar as sociedades industriais

desde os anos 70 e vaacuterias tecircm sido as definiccedilotildees que procuram caracterizar este fenoacuteme-

no que marca o seacuteculo XX Field usa a definiccedilatildeo de Vincent Cable para caracterizar o

movimento de Globalizaccedilatildeo que este uacuteltimo define como uma tendecircncia para a ldquointe-

graccedilatildeo econoacutemicardquo que atravessa as fronteiras nacionais 2

1 ldquoA Uniatildeo Europeia assenta no princiacutepio do Estado de direito e na democracia em que os seus Estados-

-Membros delegam soberania em instituiccedilotildees comuns que representam os interesses de toda a Uniatildeo em questotildees de interesse comum Todas as decisotildees e procedimentos decorrem dos tratados de base ratificados pelos Estados-Membrosrdquo Site da Uniatildeo Europeia 2003 disponiacutevel em WWWURL httpwwweuropaeuintabc-pthtml Capturado em 22 de Fevereiro de 2003

2 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp

27

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Mais recentemente outros autores desenvolveram teorias econoacutemicas sobre as

ldquoevidecircnciasrdquo e verdades adquiridas das actividades poliacutetica e econoacutemica que contribuiacute-

ram para a alteraccedilatildeo profunda das poliacuteticas econoacutemicas mundiais Para Harry Arthurs

em Amaral (2002) essas ldquoevidecircnciasrdquo traduzem-se nos seguintes aspectos

No periacuteodo poacutes-guerra o Estado tornou-se um organismo demasiado dis-

pendioso para manter e demasiado interventivo para tolerar

Se os mercados forem convenientemente ldquoalimentadosrdquo e regulados pro-

porcionaratildeo prosperidade a niacutevel local e global

Mercados saudaacuteveis e proacutesperos proporcionam boas condiccedilotildees para a de-

mocracia e para o bem-estar social

Segundo estes pressupostos e seguindo uma linha de raciociacutenio neo-liberal o

conceito de Globalizaccedilatildeo define-se como a organizaccedilatildeo e integraccedilatildeo das actividades

econoacutemicas em niacuteveis que transcendem as fronteiras e jurisdiccedilotildees (Jones in Amaral

2002) Alberto Amaral considera que as ideologias neo-liberais defendem a liberaliza-

ccedilatildeo do mercado de bens e capitais como o meio mais eficaz para alcanccedilar a prosperida-

de e a paz mundial Ainda sobre este assunto Jones baseia-se no trabalho de Goldman

para concluir que o mercado livre eacute um meio de contribuiccedilatildeo para a prosperidade dos

Estados-Naccedilatildeo e para o progresso intelectual da Humanidade Nesta perspectiva o

verdadeiro papel do Estado natildeo estaacute ainda completamente definido estando a sua

intervenccedilatildeo confinada agrave funccedilatildeo de zelar pela ordem e pela manutenccedilatildeo da liberdade de

mercado Ao Estado compete tornar a economia livre revitalizada e competitiva

(Amaral 2002)

Outras correntes ideoloacutegicas defendem que a Globalizaccedilatildeo natildeo tem de ser neces-

sariamente sinoacutenimo de Estados desprovidos de qualquer papel interventivo mas antes

pelo contrario entendem que o processo de Globalizaccedilatildeo requer um envolvimento do

Estado enquanto entidade protectora do mercado livre assumindo uma atitude proacute-

-mercantilista proacute-capitalista e por vezes ateacute de parceiro econoacutemico num mercado livre

e concorrencial (Ibidem)

Eacute patente o desapontamento geral face agraves ilusotildees criadas sobre os eventuais

benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos do processo de Globalizaccedilatildeo foram mal sucedidas as pre-

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

visotildees das teorias neo-liberais que auguravam o nivelamento dos paiacuteses pobres com os

paiacuteses ricos e a euforia daria lugar agrave desolaccedilatildeo

ldquoProducing ethically or socially unacceptable distribution outcomes

in terms of equity is one of the main problems of economic

globalisation in its present form The almost complete disregard of

social responsibilities is a consequence of the fact that there is no

regulation at global level nor there is any supra-national agency

to discipline transnational markets thus avoiding the negative

effects of savage capitalism It is in general accepted that a market

to be efficient needs to be regulatedrdquo

(Amaral 2002)

No actual contexto econoacutemico global facilmente se conclui que quem deteacutem o

controlo das economias mundiais satildeo as grandes multinacionais para Amaral qualquer

acccedilatildeo social solidaacuteria por parte dos Governos seraacute infrutiacutefera ou pouco significativa

uma vez que a sua capacidade de intervenccedilatildeo se encontra bastante circunscrita e limi-

tada devido ao processo de privatizaccedilatildeo de grande parte dos serviccedilos puacuteblicos resultante

da necessidade de diminuiccedilatildeo da taxa de inflaccedilatildeo e da diacutevida puacuteblica Apesar da Univer-

sidade ser muitas vezes acusada de se encontrar arredada das discussotildees geradas em

torno deste tema a extinta Confederaccedilatildeo das Conferecircncias de Reitores Europeus repre-

sentada actualmente pela EUA mdash European University Association mdash define a

globalizaccedilatildeo a partir de uma oacuteptica economicista relacionando este conceito com a

educaccedilatildeo Para a EUA o processo de globalizaccedilatildeo estaacute associado ao facto de muitos

empregos por natildeo trazerem valor acrescentado satildeo exportados para paiacuteses pobres que

caracteristicamente proporcionam matildeo-de-obra barata 3 A uacutenica forma de os paiacuteses

ricos permanecerem ricos eacute manterem a populaccedilatildeo activa mais produtiva o que na

maior parte das vezes significa manter este sector da populaccedilatildeo melhor educado e

qualificado

Outros autores relacionam igualmente o conceito de Globalizaccedilatildeo com o sector

Educativo para Ball 4 a populaccedilatildeo activa foi directamente influenciada pelo processo

3 European Rectors Conference Ibidem 4 Amaral Alberto ldquoInstitutional identities and isomorphic pressuresrdquo CIPES and University of Porto

comunicaccedilatildeo apresentada na IMHE General Conference OECD Headquarters Paris 2002

29

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Globalizaccedilatildeo e pelas novas ideologias de direita Ainda segundo este autor os

impera-tivos das novas poliacuteticas econoacutemicas viriam a influenciar directamente as

poliacuteticas educativas o que resultou segundo Alberto Amaral 5 na metamorfose da

relaccedilatildeo ateacute aiacute estabelecida entre a Universidade e a Sociedade Esta transformaccedilatildeo natildeo eacute

apenas estrutural mas mais profunda resultando de mudanccedilas comportamentais e

ideoloacutegicas que afectam em uacuteltima instacircncia a relaccedilatildeo estabelecida entre as Instituiccedilotildees

de Ensino Superior e o Estado O papel social e cultural atribuiacutedo agrave Universidade daacute

lugar a uma funccedilatildeo com fins predominantemente econoacutemicos

A globalizaccedilatildeo favorece aleacutem do mais o desenvolvimento da economia em

consonacircncia com as poliacuteticas neo-liberais e monetaacuterias O mercado liberal eacute assumido

como a soluccedilatildeo dos problemas permitindo aleacutem do mais assegurar qualidade eficiecircn-

cia e eficaacutecia dos serviccedilos prestados favorecendo-se desta forma a iniciativa privada em

detrimento dos serviccedilos puacuteblicos

ldquoEducation is today considered an indispensable ingredient for

economic competition and is no longer seen as a social right and it

is becoming progressively a service As a direct result ldquostudents

are considered consumers and asked to pay higher feesrdquo (Torres

and Schugurensky 2002) Governments exert strong pressures

over institutions to make them more responsible to outside de-

mands and to ensure that education and research are ldquorelevantrdquo

for national economyrdquo

(Amaral 2002)

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior

Os sistemas de ensino superior nos anos 50 eram predominantemente consti-

tuiacutedos por universidades tradicionais geridas exclusivamente pelo poder Estatal

Na deacutecada de 70 verificou-se uma reestruturaccedilatildeo nos sistemas nacionais de

educaccedilatildeo e formaccedilatildeo europeus Dominavam as ideologias liberais e humanistas que

comeccedilam a sofrer pressotildees de outras correntes ideoloacutegicas que valorizavam maioritaria- 5 Ibidem

30

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mente a parte instrumental e vocacional o que levou agrave implementaccedilatildeo de uma seacuterie de

reformas como resposta agraves dificuldades de crescimento econoacutemico com as quais a

Europa se debatia face a um mercado global Perante uma Europa tradicionalmente rica

em ldquocapital humanordquo qualificado e com elevadas habilitaccedilotildees (entatildeo agrave mercecirc da

competiccedilatildeo global) havia que assegurar a competitividade face agrave ameaccedila do cresci-

mento econoacutemico e do desenvolvimento tecnoloacutegico de paiacuteses concorrentes Com o

avanccedilo das novas tecnologias a palavra de ordem era entatildeo criar uma maior aproxi-

maccedilatildeo entre a Universidade e a Induacutestria generalizando-se no pensamento poliacutetico a

necessidade do desenvolvimento destas capacidades na forccedila de trabalho dos paiacuteses

europeus principalmente a partir das camadas mais jovens As novas tecnologias de

informaccedilatildeo eram entatildeo encaradas como um importante e eficaz veiacuteculo de promoccedilatildeo e

difusatildeo do conhecimento capazes de fazer florescer a ldquoNova Sociedade de Infor-

maccedilatildeordquo O sistema de ensino superior ganha novo focirclego proporcionando formas alter-

nativas e diversificadas de oferta

Partindo da associaccedilatildeo dos conceitos de ldquoEconomiardquo e ldquoEducaccedilatildeordquo e encon-

trando-se o processo de globalizaccedilatildeo em desenvolvimento agrave escala mundial mdash o que faz

com que este fenoacutemeno esteja bem presente no processo de mudanccedila a que assistimos

hoje na Uniatildeo Europeia quer de ordem econoacutemica quer de ordem social ou poliacutetica mdash

como vimos anteriormente os sectores da Educaccedilatildeo e da Formaccedilatildeo satildeo duas aacutereas

determinantes na competitividade de um paiacutes uma vez que quando se fala de globali-

zaccedilatildeo referimo-nos implicitamente agrave competitividade entre paiacuteses

A probabilidade que um qualquer paiacutes tem de natildeo ser dominado ou ultrapas-

sado economicamente por um outro paiacutes mais desenvolvido eacute tanto menor quanto o

niacutevel de qualificaccedilatildeo e competecircncia dos seus cidadatildeos for elevado Por este motivo o

investimento na educaccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos cidadatildeos eacute uma importante mais valia que

cabe ao Estado valorizar e dele retirar o devido proveito Nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia

o niacutevel de autonomia eacute tanto maior quanto mais elevado for o niacutevel meacutedio de qualifi-

caccedilatildeo dos seus cidadatildeos Para aleacutem deste indicador haacute que ter ainda em linha de conta

as poliacuteticas existentes no domiacutenio educativo e de qualificaccedilatildeo ou os programas imple-

mentados a este niacutevel pelas instituiccedilotildees de ensino Neste loacutegica concorrencial de

mercado as Universidades que tradicionalmente satildeo governadas por acadeacutemicos

eleitos comeccedilam a ser vistas como lugares corporativistas viacutetimas de um sistema de

31

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gestatildeo obsoleto verificando-se gradualmente uma tendecircncia crescente para substituir os

acadeacutemicos por gestores qualificados e treinados para enfrentar as leis de mercado

Apesar das suas potencialidades enquanto motor dinamizador do desenvolvi-

mento de uma naccedilatildeo a aacuterea da educaccedilatildeo mereceu no passado recente pouca atenccedilatildeo

por parte das autoridades poliacuteticas europeias registando-se a primeira alusatildeo a esta aacuterea

no Tratado de Maastricht assinado inicialmente por 12 paiacuteses em 7 de Fevereiro do

ano de mil novecentos e noventa e dois Mesmo apoacutes a ratificaccedilatildeo deste Tratado foram

poucos e infrutiacuteferos os momentos de reflexatildeo que a Uniatildeo Europeia dedicou a este

sector Este facto resultaraacute da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual

ldquoa Comunidade apenas interveacutem na medida em que os objectivos natildeo possam ser

suficientemente realizados pelos Estados-Membrosrdquo (Lourtie 2000) mas a este assunto

far-se-aacute referecircncia mais adiante

Anteriormente agrave assinatura do Tratado de Maastricht eacute possiacutevel identificar quatro

momentos em que os poliacuteticos europeus dedicaram alguma atenccedilatildeo ao sector da

educaccedilatildeo a saber o periacuteodo entre 1957 e 1973 o periacuteodo entre 1974 e 1985 o periacuteodo

entre 1986 e 1992 e por uacuteltimo de 1992 em diante O primeiro momento que medeia

entre 1957 e 1973 eacute o menos profiacutecuo para o desenvolvimento das poliacuteticas educativas e

de formaccedilatildeo Europeias Sobre este primeiro momento pouco haveraacute a considerar a natildeo

ser por ocasiatildeo da assinatura do Tratado de Roma em 1957 em que apenas a formaccedilatildeo

profissional foi contemplada no artigo nordm 128 este artigo alude aos princiacutepios gerais

para o desenvolvimento de uma poliacutetica comum de formaccedilatildeo profissional considerada

condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo de uma Europa econoacutemica (Galvatildeo 2000)

Soacute num 2ordm momento que medeia entre os anos de 1974 e 1985 comeccedila a

despertar verdadeiramente nas autoridades responsaacuteveis pelas poliacuteticas europeias algum

interesse pelo sector da educaccedilatildeo especialmente no que diz respeito agrave aacuterea vocacional

surge entatildeo uma corrente que veio defender uma poliacutetica educativa comum para a

Europa cabendo ao Professor Henri Janne entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Belga a

formulaccedilatildeo dos primeiros princiacutepios deste novo pensamento poliacutetico Pela primeira vez

na histoacuteria da Europa unificada satildeo identificadas as necessidades baacutesicas de

desenvolvimento definindo-se uma estrateacutegia coerente e harmoniosa de uma poliacutetica

educativa para os Estados-Membros ldquoEacute neste contexto que foi criado o Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo que se reuniu pela 1ordf vez em 1971 e estabeleceu em 1976 o

32

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

primeiro programa de acccedilatildeordquo (Galvatildeo 2000) Esta orientaccedilatildeo poliacutetica resultou na

criaccedilatildeo de um Conselho Educativo e Cultural cujas actividades se traduzem na

promoccedilatildeo da liacutengua estrangeira na mobilidade discente e docente ou no fomento da

troca de experiecircncias entre Universidades Eacute igualmente recomendada neste primeiro

documento a criaccedilatildeo de um Comiteacute da Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 6

Com base nestas reflexotildees o Conselho de Ministros da Educaccedilatildeo Europeu

definiu como estrateacutegia que quaisquer medidas deveriam ser tomadas com base nas leis

de cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros Eacute entatildeo estabelecido em Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo onde tecircm assento todos os paiacuteses membros o Comiteacute de

Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 7 com vista a impulsionar e promover a

cooperaccedilatildeo dos parceiros europeus nas vaacuterias aacutereas As principais linhas de actuaccedilatildeo

deste Comiteacute centralizam-se na dinamizaccedilatildeo de formaccedilatildeo direccionada para a populaccedilatildeo

jovem de outros Estados-Membros a convergecircncia entre sistemas de ensino dos Esta-

dos-Membros a compilaccedilatildeo de documentaccedilatildeo e de dados estatiacutesticos o aumento da

cooperaccedilatildeo na aacuterea da educaccedilatildeo a implementaccedilatildeo do reconhecimento de diplomas

acadeacutemicos o encorajamento de poliacuteticas que permitam a liberdade de movimentos e a

mobilidade de alunos professores e investigadores e finalmente a igualdade de oportu-

nidades no acesso aos vaacuterios niacuteveis de ensino 8

Este cenaacuterio eacute convergente com o modelo de sistema de ensino superior europeu

que Teichler 9 defende ter existido desde meados dos anos 70 ateacute meados dos anos 80

Para o autor esta deacutecada caracteriza-se pela existecircncia de uma diversidade de sistemas

educativos principalmente ao niacutevel do ensino superior esta diversidade caracteriza-se

por modelos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo para o sistema universitaacuterio e modelos de

formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo para o sistema de ensino natildeo universitaacuterio Para Teichler a

diversidade de sistemas eacute igualmente verificaacutevel ao niacutevel dos programas curriculares

dos Cursos existentes na Europa

Apesar de defender a existecircncia de uma diversidade de sistemas educativos na

Europa o autor reconhece no entanto tendecircncias de uniformizaccedilatildeo nos sistemas de 6 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education

Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp 7 Ibidem 8 Official Journal of the European Communities C381 1976 9 Teichler Ulrich ldquoStructures of Higher Education Systemsrdquo in Claudius Gellert Higher Education in

Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

33

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino superior europeus e a presenccedila de aspectos identitaacuterios nas poliacuteticas educativas

europeias da deacutecada de 70 apontando os sistemas de ensino preparatoacuterio e o sistema de

acesso ao ensino superior como aqueles que revelam sinais mais evidentes de tendecircncias

de uniformizaccedilatildeo

Fazendo um exerciacutecio de comparaccedilatildeo entre os modelos de gestatildeo e organizaccedilatildeo

dos sistemas de ensino superior de alguns paiacuteses europeus nas deacutecadas de 70 e 80

constata-se que de facto existe uma diversidade de modelos organizacionais dos siste-

mas de ensino superior o que vem reforccedilar a teoria da diversidade defendida por

Teichler Como se veraacute de seguida o Reino Unido encontra-se organizado de forma

diferente da Espanha ou da Itaacutelia apesar de ser igualmente verdade que em alguns

aspectos eacute notoacuteria uma tendecircncia para a convergecircncia entre sistemas como por

exemplo o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que eacute variaacutevel entre os 3 anos miacutenimo e os

5 anos maacuteximo em funccedilatildeo dos cursos e do grau

Partindo de uma anaacutelise do modelo de organizaccedilatildeo do sistema de ensino do

Reino Unido verifica-se que neste paiacutes o ensino superior se encontra dividido por

instituiccedilotildees universitaacuterias politeacutecnicas ou equivalentes denominadas Scottish Equiva-

lent No Reino Unido as Universidades talvez devido agrave sua ancestralidade gozam de

um elevado grau de autonomia o que significa que apesar de financiadas pelo Estado

detecircm plenos poderes para determinar quais os graus concedidos e as condiccedilotildees neces-

saacuterias para a sua obtenccedilatildeo assim como autonomia para definir os criteacuterios de admissatildeo

de candidatos Os politeacutecnicos e demais instituiccedilotildees centrais inglesas revelam fortes

ligaccedilotildees ao mercado de trabalho em geral e agrave induacutestria em particular estando por

isso particularmente vocacionados para ministrar cursos de acentuado cariz tecnoloacute-

gico Em Abril de 1989 a gestatildeo dos politeacutecnicos e restantes instituiccedilotildees de ensino

superior do Reino Unido agrave excepccedilatildeo das universidades passou a ser realizada por um

uacutenico oacutergatildeo Estatal permitindo ao ensino politeacutecnico a partir desta altura conceder

graus de poacutes-graduaccedilatildeo e mestrado em paralelo com o sistema universitaacuterio Apesar

disso os politeacutecnicos continuaram a apostar maioritariamente na vertente de ensino e

menos na investigaccedilatildeo cientiacutefica Existem ainda no sistema de ensino superior inglecircs as

escolas superiores (colleges) especialmente direccionadas para um ensino teacutecnico e

particularmente ligado agrave formaccedilatildeo de professores Em qualquer um destes subsistemas

34

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de ensino ingleses o tempo miacutenimo para a obtenccedilatildeo da primeira graduaccedilatildeo varia entre

os 3 e 4 anos dependendo do curso

A Espanha apresenta nesta altura um modelo de educaccedilatildeo mais regionalizado

O sistema de ensino superior espanhol apenas compreende instituiccedilotildees de ensino

universitaacuterio organizadas hierarquicamente de forma descendente dividindo-se entre

faculdades escolas teacutecnicas e escolas superiores de engenharia e arquitectura escolas

universitaacuterias e coleacutegios universitaacuterios A frequecircncia de cada um destes subsistemas

corresponde a um nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que varia entre os 3 anos para o niacutevel de

formaccedilatildeo mais baixo podendo ir ateacute ao maacuteximo de 5 ou 6 anos de formaccedilatildeo no caso das

faculdades

Jaacute no sistema de ensino superior Italiano a formaccedilatildeo superior eacute ministrada por

instituiccedilotildees de ensino universitaacuterias que podem ser Estatais (totalmente financiadas por

fundos puacuteblicos logo dependentes do Estado) ou natildeo estatais mas neste caso trata-se

de instituiccedilotildees reconhecidas pelo Estado (instituiccedilotildees privadas que surgem por volta dos

anos 80 e que concedem graus equivalentes aos Estatais) Em funccedilatildeo dos cursos que

ministram estes estabelecimentos de ensino denominam-se por universidades politeacutec-

nicos (apenas os que ministram engenharia e arquitectura) ou magisteacuterios (dirigidos

para a formaccedilatildeo de professores) variando o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo em funccedilatildeo do

curso

O desenvolvimento do Ensino Superior Universitaacuterio neste periacuteodo ficou mar-

cado natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas universidades mas tambeacutem pelo desenvolvimento de

estruturas alternativas de formaccedilatildeo e educaccedilatildeo o que originou uma enorme diversidade

de sistemas de ensino na Europa a este propoacutesito a OCDE 10 realizou um estudo sobre

as estruturas de ensino alternativas ao sistema universitaacuterio Os resultados deste trabalho

revelaram que nos uacuteltimos 25 anos a educaccedilatildeo do sector terciaacuterio sofreu um raacutepido

crescimento e valorizaccedilatildeo social contrariamente ao que se previa Durante este periacuteodo

o nuacutemero de estudantes da maior parte dos paiacuteses industrializados quadruplicou o que

provocou o crescimento proporcional das instituiccedilotildees universitaacuterias atraveacutes do aumento

do seu corpo docente e natildeo docente crescimento esse impulsionado por incentivos

financeiros ao ensino e agrave investigaccedilatildeo cientiacutefica por parte das autoridades gover-

namentais

35

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apesar do forte desenvolvimento destas estruturas de ensino alternativo e da

valorizaccedilatildeo social alcanccedilada o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo destas instituiccedilotildees por

parte do sistema de ensino universitaacuterio natildeo foram conseguidos e as relaccedilotildees satildeo ainda

deficitaacuterias revelando-se estes aspectos obstaacuteculos a que o ensino natildeo universitaacuterio atin-

ja o status social desejado

Claudius Gellert 11 conclui a partir dos resultados deste trabalho que a expansatildeo

do sector natildeo universitaacuterio se deu de forma raacutepida e inesperada e que o aumento signi-

ficativo do nuacutemero de alunos neste subsector de ensino eacute revelador da sua capacidade de

resposta raacutepida e positiva face agraves necessidades da procura do mercado de trabalho

apresentando-se o ensino natildeo superior muitas vezes melhor equipado comparativa-

mente com as universidades e com maior capacidade de ir ao encontro das necessidades

de formar pessoas com novos perfis em parte que melhor se coadunem com os desejos

e necessidades dos empregadores resultante da introduccedilatildeo das novas tecnologias no

mercado de trabalho

Paralelamente ao desenvolvimento do subsistema natildeo universitaacuterio tambeacutem o

sistema universitaacuterio revela um processo de desenvolvimento positivo em igual periacuteodo

A sua expansatildeo origina o florescimento de disciplinas natildeo tradicionais e a implemen-

taccedilatildeo de novas formas de governaccedilatildeo mais democraacuteticas e transparentes O desenvolvi-

mento deste sector resultaria assim quer na extensatildeo e expansatildeo de instituiccedilotildees jaacute

existentes quer no surgimento de novas universidades

A consequecircncia mais imediata desta diversidade de sistemas educativos na

Europa eacute a emergecircncia e a proliferaccedilatildeo de estruturas de formaccedilatildeo de cariz mais praacutetico e

orientadas para uma componente vocacional Cada vez mais haacute a afirmaccedilatildeo de formas

de ensino superior alternativas ao ensino universitaacuterio de que satildeo exemplo no Reino

Unido os politeacutecnicos e na Alemanha as Fachhochschulen

ldquoThis expansion of higher education occurred both through the

extension of the existing university sector (partly by founding new

universities) and through the development of alternative educa-

tional structures As a consequence of this institutional different-

tiation which was a general characteristic not only of the

10 OECD Alternatives to Universities OECD Publications Paris 1991 p 85

36

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

European systems but also of those in the United States Canada

Japan New Zealand and other OECD countries (cf Eg Reisman

1981 Clark 1987b) there emerged in most systems more

practically mdash and vocationally- oriented forms of higher education

than the universitiesrdquo

(OECD 1991)

Conclui-se do estudo da OCDE que as universidades continuam no entanto a

ocupar o lugar de topo na hierarquia dos sistemas de ensino superior As instituiccedilotildees natildeo

universitaacuterias que oferecem uma formaccedilatildeo alternativa agrave formaccedilatildeo universitaacuteria apesar

de totalmente integradas nos sistemas de ensino superior natildeo atingiram ainda o niacutevel de

prestiacutegio social desejado apesar de cada vez mais ajustarem as suas estruturas agrave imagem

das estruturas universitaacuterias A elevada competitividade que hoje se vive no sector

educativo eacute sem duacutevida um elemento perturbador sendo no entanto uma mais valia para

o sector natildeo universitaacuterio a sua proximidade agrave induacutestria e ao mercado de trabalho

Em jeito de resumo pode afirmar-se que os sistemas de ensino superior europeus

apresentam elementos convergentes entre si mas natildeo poderemos alhear-nos das

especificidades e caracteriacutesticas de cada paiacutes Sobre este assunto Neave 12 aponta

algumas medidas poliacuteticas convergentes medidas essas que segundo o autor foram

adoptadas como uma antevisatildeo do futuro no sentido da existecircncia de uma Europa

Comunitaacuteria totalmente integrada O autor aponta como exemplos flagrantes da sua

teoria que prevecirc a reduccedilatildeo dos anos de formaccedilatildeo ao niacutevel do ensino superior para o

periacuteodo de 3 anos os casos da Franccedila Espanha ou Dinamarca As previsotildees de Neave

satildeo no entanto facilmente refutaacuteveis ao analisar-se com algum rigor a actual organi-

zaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses que o autor apresenta como exemplos

Analisando o modelo espanhol cujo sistema foi um dos referidos por Neave

verifica-se que apenas os Coleacutegios Universitaacuterios oferecem uma formaccedilatildeo de 3 anos

nos restantes estabelecimentos de ensino superior eacute requerida uma formaccedilatildeo que varia

entre 5 a 6 anos de estudos

11 Ibidem 12 De Witte Bruno ldquoHigher Education and the constitution of the European Communityrdquo in Claudius

Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

37

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Dinamarca natildeo seraacute igualmente dos modelos mais adequados para Neave de-

monstrar a sua teoria uma vez que o sistema de ensino superior dinamarquecircs encontra-

-se actualmente dividido entre Coleacutegios que oferecem ciclos de curta ou longa duraccedilatildeo

e cuja formaccedilatildeo varia entre os 2 e os trecircs e ou quatro anos e as Universidades relativa-

mente a estas uacuteltimas o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo eacute de 5 anos para os cursos de ciclo

meacutedio e 5 + 2 para cursos de ciclo longo O grau de doutoramento exige em meacutedia

8 anos de trabalho de investigaccedilatildeo

O sistema de ensino francecircs apesar de natildeo ter exactamente as caracteriacutesticas de

formaccedilatildeo de 3 anos defendidas por Neave parece ser o que mais se aproxima da sua

teoria da convergecircncia uma vez que o sistema de ensino superior francecircs contempla

estabelecimentos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo e estabelecimentos de formaccedilatildeo de

curta duraccedilatildeo Este sistema de ensino apresenta-se como um dos mais variados quer em

termos de categorizaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino quer em termos do nuacutemero de

anos miacutenimo de formaccedilatildeo que cada um deles oferece Existem desde logo programas

de ensino tecnoloacutegico profissionalizante que exigem uma formaccedilatildeo de 2 anos incidindo

estes prioritariamente sobre a formaccedilatildeo em aacutereas tatildeo variadas como o turismo serviccedilos

transportes ou negoacutecios Os institutos tecnoloacutegicos e administrativos satildeo considerados

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo sendo que o tempo necessaacuterio para a

atribuiccedilatildeo do Diploma de Estudos Universitaacuterios pode variar entre os 2 e os 3 anos

podendo optar-se entre o ldquoMaster Profissionalizanterdquo ou o ldquoMaster para a Investi-

gaccedilatildeordquo O Diploma de Estudos Intermeacutedios eacute obtido no final de 4 anos de frequecircncia das

instituiccedilotildees universitaacuterias e estaacute mais proximamente ligado agraves aacutereas das ciecircncias sociais

e humanas e ao estudo das liacutenguas No topo da hierarquia encontram-se os

estabelecimentos de ensino de longa duraccedilatildeo como as Universidades e as Grandes

Eacutecoles que concedem o primeiro grau no final de 3 anos de formaccedilatildeo podendo este

periacuteodo aumentar para 5 anos ou ateacute mesmo 6 anos (ex escolas de arquitectura) conso-

ante o curso No sistema de ensino superior francecircs os cursos ligados aos cuidados de

sauacutede e agrave medicina aparecem organizados de uma forma peculiar relativamente agraves

restantes aacutereas de formaccedilatildeo Estes cursos tecircm um nuacutemero miacutenimo de 4 anos de for-

maccedilatildeo que vatildeo ateacute ao limite maacuteximo de 11 anos no caso da especializaccedilatildeo meacutedica

Haacute no entanto que ressalvar o facto de apesar dos exemplos aqui apresentados

facilmente demonstrarem que Neave faz afirmaccedilotildees algo precipitadas ao defender a

38

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tendecircncia europeia para a convergecircncia dos seus sistemas de ensino para 3 anos se

poder afirmar que muitos dos sistemas de ensino acima identificados se encontram

presentemente em processos de profunda reestruturaccedilatildeo dos seus sistemas de ensino

superior e que tendencialmente essa reestruturaccedilatildeo poderaacute vir a confirmar algumas das

ideias defendidas pelo autor

Teichler como se viu natildeo nega a existecircncia de elementos comuns e de poliacuteticas

convergentes nos sistemas educativos europeus no entanto coloca uma ecircnfase especial

na diversidade do desenvolvimento das poliacuteticas europeias para o ensino superior Para

este autor os sistemas educativos natildeo se tornam mais ou menos semelhantes soacute porque

existem elementos comuns ldquoIt challenges however my predictive summary that

Europe will settle with preserving and bridging the diversity rather than becoming more

similar as far as patterns of the higher education systems are concernedrdquo (Teichler

1993) Teichler discorda em absoluto do relatoacuterio da OCDE aqui abordado quando

neste eacute afirmado que muitas das variaccedilotildees dos sistemas de ensino se explicam pela

idiossincrasia e que os elementos comuns se explicam por poliacuteticas funcionais

orientadas O autor defende que as opccedilotildees poliacuteticas fazem uso intencional de compa-

raccedilotildees internacionais e de idiossincrasias nacionais que assumem necessidades funcio-

nais geneacutericas e modelos especiacuteficos Para Teichler pelo menos na deacutecada de 70 eacute

indubitaacutevel que os sistemas de ensino superior natildeo se tornaram mais similares pelo

menos entre os anos de 1974 e 1985

Os anos entre 1986 a 1992 foram privilegiados para o sector da educaccedilatildeo no que

respeita agrave poliacutetica europeia implementando-se uma seacuterie de programas com vista ao

desenvolvimento da sociedade de informaccedilatildeo (e-learning society) No entanto apenas

em 1992 a tendecircncia comunitaacuteria no domiacutenio da Educaccedilatildeo seria plenamente assumida e

consagrada atraveacutes da assinatura do Tratado de Maastricht 13 como anteriormente

aludido Neste periacuteodo a Europa despertou verdadeiramente para as questotildees da

educaccedilatildeo assistindo-se ao surgimento de poliacuteticas para a educaccedilatildeo dos novos cidadatildeos

para a Europa Nesta altura a populaccedilatildeo comeccedilou a tomar consciecircncia da sua condiccedilatildeo

de cidadania europeia Ainda neste mesmo ano foram criados pela Comissatildeo Europeia

39

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

uma seacuterie de fundos estruturais europeus que visavam a promoccedilatildeo de programas de

desenvolvimento social regional e agriacutecola Foram ainda colocadas em curso toda uma

seacuterie de iniciativas comunitaacuterias direccionadas particularmente para as novas

tecnologias que afectariam directamente a aacuterea da educaccedilatildeo na sua vertente do ensino

superior nomeadamente com a implementaccedilatildeo de programas que fomentam a mobili-

dade de discentes docentes e funcionaacuterios (EUROTECNET COMET ERASMUS) e

reforccedilam o relacionamento inter-universitaacuterio Particularmente nesta vertente destaca-se

a acccedilatildeo do Programa Erasmus em curso desde 1987 Este programa actualmente

denominado SoacutecratesErasmus faz parte da 1ordf geraccedilatildeo de programas comunitaacuterios

tambeacutem denominados por ldquoProgramas Europeusrdquo e foi criado com o objectivo primeiro

de promover a mobilidade dos estudantes universitaacuterios Esta acccedilatildeo resulta de uma

decisatildeo do Tribunal de Justiccedila das Comunidades Europeias tomada dois anos antes do

programa ter tido iniacutecio e que considerou o subsistema do ensino superior como parte

da formaccedilatildeo profissional possibilitando deste modo a criaccedilatildeo deste programa Nesta

altura comeccedila jaacute a falar-se de ECTS mdash European Credit Transfer System

De 1992 em diante assiste-se a uma maior dinamizaccedilatildeo das poliacuteticas de mobili-

dade transferindo-se a responsabilidade da sua implementaccedilatildeo para o domiacutenio Europeu

(Field 1998) No que respeita directamente ao Ensino Superior John Field analisa o

desenvolvimento da Uniatildeo Europeia sob duas perspectivas por um lado e assumindo

uma postura de abertura e desejo de uma Europa homogeacutenea e unificada os estados-

naccedilatildeo diminuem a ldquoacircnsiardquo de controlar os seus sistemas de ensino permitindo a criaccedilatildeo

de coligaccedilotildees transnacionais entre instituiccedilotildees de ensino superior Estas coligaccedilotildees

revelam-se natildeo soacute por uma grande interacccedilatildeo mas tambeacutem pela constituiccedilatildeo de redes

inter-universitaacuterias transnacionais

Por outro lado e numa atitude defensiva subsistem paralelamente nas insti-

tuiccedilotildees de ensino redes e poliacuteticas locais e nacionais que asseguram a identidade dos

paiacuteses mantendo as especificidades proacuteprias de instituiccedilotildees que estatildeo integradas num

sistema soacutecio-cultural e econoacutemico proacuteprio

A anaacutelise de Field leva-nos a concluir que apesar da educaccedilatildeo ser uma das aacutereas

que nos uacuteltimos anos mais tem contribuiacutedo para a Europeizaccedilatildeo natildeo significa neces-

sariamente que exista convergecircncia dos sistemas de educaccedilatildeo europeus Para Field o 13 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 3251 de 24122002

40

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de Globalizaccedilatildeo estaraacute sempre condicionado pelas circunstacircncias locais de

cada naccedilatildeo pelos sistemas e praacuteticas relacionais estabelecidas entre os vaacuterios sistemas

educativos de cada paiacutes sendo esta teoria do processo de Globalizaccedilatildeo aparentemente

consistente face agrave realidade

A este propoacutesito Teichler defende que na 2ordf conferecircncia de Sienna realizada em

1992 e subordinada agrave temaacutetica ldquoPlanning for the year 2000rdquo a Comissatildeo Europeia

procurou estabelecer medidas que promovessem uma grande compatibilidade entre os

sistemas de ensino (Teichler p 32) Estas medidas foram criadas com o intuito de

promoverem uma maior mobilidade entre docentes e discentes Uma das principais

vantagens da mobilidade entre actores dos vaacuterios sistemas de ensino eacute o facto de lhes

proporcionar a possibilidade de contactarem com outros modelos de formaccedilatildeo para

aleacutem de permitir a implementaccedilatildeo de processos de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees de

ensino superior que normalmente datildeo origem a profiacutecuas trocas de experiecircncias e

curricula dos cursos que resultam muitas vezes na convergecircncia dos sistemas de

educaccedilatildeo e no surgimento de redes de cooperaccedilatildeo universitaacuteria Apesar de afirmar que

na Europa existe uma diversidade de sistemas de ensino superior Teichler defende a

evoluccedilatildeo gradual destes sistemas de ensino no sentido de qualificar os cidadatildeos para o

emprego e em uacuteltima instacircncia conduzir a uma sociedade altamente qualificada Para o

autor o cenaacuterio ideal seraacute aquele em que os sistemas de ensino superior europeus

convergem num modelo de sistema uacutenico ainda que natildeo seja possiacutevel contornar as

especificidades nacionais e que essas mesmas especificidades sejam elementos

caracterizadores dos sistemas educativos de cada paiacutes Enquanto estivermos perante um

sistema que distingue claramente os diferentes tipos de instituiccedilotildees e hierarquias o

futuro do sistema de emprego e da estrutura social estaraacute comprometido (Teichler

1993)

Eacute indiscutiacutevel que a Uniatildeo Europeia e o processo de globalizaccedilatildeo favorecem a

convergecircncia dos sistemas educativos dos paiacuteses membros no entanto haveraacute que res-

peitar as diversidades culturais pois este eacute o elemento de identidade de cada paiacutes e a sua

maior riqueza A participaccedilatildeo em programas europeus traz oportunidades irrecusaacuteveis

para as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas que para aleacutem de adquirirem expe-

riecircncia e prestiacutegio tecircm a possibilidade de contactar com novas metodologias de ensino e

aprendizagem o processo de transferecircncia e acumulaccedilatildeo de creacuteditos (ECTS) ldquopoderaacute

41

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ser de grande valor na organizaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vidardquo

(CNAVES 2002)

121 O papel da Universidade na Europa Comum

Roberto Carneiro 14 considera que estamos numa eacutepoca em que a Europa procura

uma coerecircncia sustentada as respostas que procura para estar agrave altura dos novos

desafios apenas as poderaacute encontrar nas suas instituiccedilotildees ancestrais de natureza criativa

capazes de perspectivar o futuro mdash as universidades Perante uma Europa que enfrenta

tempos difiacuteceis tempos de transiccedilatildeo de mudanccedila de interrogaccedilatildeo e incerteza 15 a

Universidade como depositaacuteria da memoacuteria histoacuterica das naccedilotildees eacute a uacutenica instituiccedilatildeo

capaz de oferecer um saber que permita agrave Europa encontrar o caminho da continuidade

Roberto Carneiro parte desta argumentaccedilatildeo para defender a ideia que a crise de iden-

tidade que sofre hoje este mosaico de paiacuteses que eacute a Europa eacute um desafio bem agrave

medida das capacidades da Universidade como instituiccedilatildeo que tem aqui a oportunidade

de desempenhar um importante papel de lideranccedila na construccedilatildeo das estrateacutegias euro-

peias de cooperaccedilatildeo

Bruno de Witte reforccedila a ideia de Carneiro ao considerar que a Uniatildeo Europeia

natildeo definiu uma poliacutetica para o ensino superior no entanto as medidas adoptadas para

esta aacuterea pelos Estados-Membros satildeo inevitavelmente influenciadas pelas decisotildees

tomadas pela Uniatildeo Europeia De Witte considera que apesar das medidas econoacutemicas

centrais adoptadas pela Uniatildeo Europeia afectarem as poliacuteticas de ensino superior

assiste-se nos uacuteltimos anos a uma mudanccedila de atitude por parte da Uniatildeo Europeia que

comeccedila a querer adoptar posiccedilotildees que ultrapassem as medidas meramente econoacutemicas

dedicando-se especificamente a discutir as questotildees ligadas agrave educaccedilatildeo e particular-

mente ao ensino superior Num futuro proacuteximo prevecirc-se que a UE possa vir inclusive

a tomar posiccedilotildees especificamente relacionadas com o ensino superior (De Witte 1993)

14 Carneiro Roberto ldquoHigher education and European integration The European Challengerdquo in Philip G Altbach Contemporary Higher Education International Issues for the Twenty-First Century vol 7 Peter Darvas 1997 284 p 15 Ibidem

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Como exemplo do esforccedilo que tem vindo a ser desenvolvido para a adopccedilatildeo destas

medidas estaacute a recente criaccedilatildeo dos direitos individuais do cidadatildeo europeu directa-

mente relacionados com o ensino A decisatildeo tomada em 2002 pelo Parlamento Europeu

e pelo Conselho 16 por exemplo estabelece um ldquoprograma para o reforccedilo da qualidade

no ensino superior e a promoccedilatildeo da compreensatildeo intelectual atraveacutes da cooperaccedilatildeo com

paiacuteses terceirosrdquo 17 Estas directivas assumem como suporte o Tratado de Maastricht 18

sendo em 1997 reformuladas e reforccediladas pelo Tratado de Amesterdatildeo 19 No Tratado

de Maastricht e aludindo com maior detalhe aos artigos 126ordm e 127ordm posteriormente

substituiacutedos como referido anteriormente pelos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado de

Amesterdatildeo estes instituem no Capiacutetulo III dedicado agrave Educaccedilatildeo Formaccedilatildeo

Profissional e Juventude uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo entre Estados-Membros numa

clara recusa agrave constituiccedilatildeo de uma poliacutetica comum nestes domiacutenios O artigo 149ordm

determina que ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma educaccedilatildeo de

qualidade incentivando os Estados-Membros e se necessaacuterio apoiando e completando

a sua acccedilatildeo respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-Membros pelo

conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema educativo bem como a sua

diversidade cultural e linguiacutesticahelliprdquo 20 Mais adiante no mesmo artigo estabelece-se

que ldquohellipO Conselho adopta acccedilotildees de incentivo com exclusatildeo de qualquer

harmonizaccedilatildeo das disposiccedilotildees legislativas e regulamentares dos Estados-Membrosrdquo 21

Segundo Pedro Lourtie o artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo quando conjugado

com o princiacutepio da subsidiariedade significa que apenas sejam formuladas recomen-

daccedilotildees ou realizadas acccedilotildees que natildeo impliquem alteraccedilotildees legislativas ou regulamen-

tares dos Estados-Membros Emiacutelia Galvatildeo concretiza melhor o princiacutepio da subsidia-

riedade ao afirmar que os Estados-Membros entendem que soacute faz sentido haver uma

atribuiccedilatildeo ascendente de poderes e competecircncias quando tal for complementar agrave sua

16 O Conselho eacute constituiacutedo pelos Ministros dos Estados-Membros que reunem em vaacuterias formaccedilotildees

como eacute exemplo o Conselho da ldquoEducaccedilatildeordquo 17 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 331 E25 de 31122002 18 Tratado da Uniatildeo Europeia ldquoVersatildeo Compilada do Tratado da Uniatildeo Europeiardquo Compilaccedilatildeo dos

Tratados TOMOI vol I 1999 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuro-paeuinteurlexpttreatiesdattreatiespt Arquivo capturado em 6 de Novembro de 2002

19 Tratado de Amesterdatildeo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuropaeuinteur-lexpttreatiesdatamsterdamhtml Arquivo capturado em 10 de Junho de 2003

20 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

21 Ibidem

43

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acccedilatildeo ou seja do interesse e acccedilotildees comuns aos vaacuterios Estados europeus para

alcanccedilarem objectivos que de outro modo poderiam ficar comprometidos Galvatildeo

defende que o princiacutepio da subsidiariedade eacute destinado a controlar a tentaccedilatildeo de

excessiva regulamentaccedilatildeo por parte das instituiccedilotildees comunitaacuterias 22 Segundo esta

autora o contributo que actualmente se pretende dar agrave reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo e a

Formaccedilatildeo no acircmbito da Uniatildeo Europeia centra-se nas vaacuterias facetas de que se reveste a

dimensatildeo europeia tentando simultaneamente perceber-se as razotildees pelas quais os

Estados-Membros rejeitam a dimensatildeo europeia da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo sob o ponto

de vista poliacutetico uma vez que para Emiacutelia Galvatildeo ldquoos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado

de Amesterdatildeo postulam que a Uniatildeo Europeia pluralista e democraacutetica deve respeitar

a identidade linguiacutestica e cultural dos Estados-Membros e igualmente criar as condiccedilotildees

que lhes permitam cooperar na construccedilatildeo desta nova entidade que se quer uacutenica e

pluralrdquo 23 Agrave luz dos direitos nele consagrados pode afirmar-se que este tratado legiacutetima

a cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas promotoras de ensino em paiacuteses

da Uniatildeo Europeia seja o serviccedilo fornecido por estas sob a forma presencial seja

atraveacutes do ensino agrave distacircncia

ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma

educaccedilatildeo de qualidade incentivando a cooperaccedilatildeo entre Estados-

Membros e se necessaacuterio apoiando e completando a sua acccedilatildeo

respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-

Membros pelo conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema

educativo bem como a sua diversidade cultural e linguiacutesticardquo

[Artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo (ex-artigo 126ordm do Tra-

tado de Maastricht)]

Compete no entanto aos Estados-Membros regular e decidir se e em que for-

mas a iniciativa privada eacute autorizada

De Witte debruccedilou-se mais longamente na anaacutelise dos dois uacuteltimos direitos

consagrados no Tratado de Maastricht o direito de estudar e o direito do reconheci-

mento do diploma Estes satildeo os direitos consagrados aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia 22 Galvatildeo Emiacutelia ldquoA Dimensatildeo Europeia na Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo um dilema europeurdquo NOESIS

nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

que pela sua natureza trazem maiores problemas de execuccedilatildeo O primeiro o direito a

estudar estaacute intimamente ligado com a natildeo discriminaccedilatildeo dos cidadatildeos europeus uma

vez que qualquer cidadatildeo estrangeiro que frequente uma instituiccedilatildeo de ensino superior

deveraacute merecer o mesmo tipo de tratamento que um estudante natural desse paiacutes

O direito a estudar encerra duas realidades distintas a dos estudantes filhos de

emigrantes residentes e a dos estudantes cuja mobilidade teve como uacutenico objectivo

estudar numa instituiccedilatildeo de um paiacutes que natildeo o seu No primeiro caso poucas duacutevidas se

colocam uma vez que os movimentos dos trabalhadores conquistaram o direito a

estudar para os filhos dos emigrantes residentes Em 1968 o Conselho de Ministros

reconheceu o direito de mobilidade aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia aliado ao direito a

todos os benefiacutecios sociais Igualmente foram reconhecidos aos cidadatildeos dos Estados-

Membros os direitos agrave mobilidade mdash os EC Students mdash e ao acesso ao sistema

educativo dos paiacuteses membros sempre que estejam cumpridos os requisitos de acesso

impostos pelo paiacutes hospedeiro

De Witte considera que o Tratado de Maastricht teve consequecircncias indirectas

no sistema de ensino superior dos paiacuteses membros uma vez que as consequecircncias

directas particularmente nos curricula dos cursos natildeo satildeo verificaacuteveis As conse-

quecircncias indirectas apontadas por Bruno de Witte da abertura do mercado do ensino

europeu traduzem-se em suma na promoccedilatildeo da qualidade do sistema educativo por

parte das instituiccedilotildees de ensino e consequentemente no melhoramento das oportunida-

des de emprego dos seus cidadatildeos no mercado europeu Actualmente a tendecircncia

europeia vai no sentido de possibilitar uma equivalecircncia directa dos curricula (Teichler

p 191) 24 Bruno de Witte revela-se mais ceacuteptico do que Teichler quanto a este processo

de equivalecircncias uma vez que segundo este se o reconhecimento acadeacutemico por si soacute eacute

uma situaccedilatildeo problemaacutetica mesmo tratando-se de um soacute paiacutes (como por exemplo o

Reino Unido) muito mais seraacute ao niacutevel internacional (De Witte 1993) 25

A problemaacutetica das equivalecircncias do ensino superior mereceu ao longo das

uacuteltimas deacutecadas pouca atenccedilatildeo por parte dos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas

europeias o reforccedilo dos direitos adquiridos pelos cidadatildeos Europeus viria a verificar-se

com a assinatura da Convention on the Recognition of Qualifications concerning Higher 23 Ibidem 24 De Witte ibidem

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Education in the European Region realizada em 1997 na Cidade de Lisboa sob a

responsabilidade do Conselho da Europa e dos paiacuteses membros da UNESCO

pertencentes agrave regiatildeo europeia onde estiveram tambeacutem representados outros paiacuteses

convidados A ideia da realizaccedilatildeo desta convenccedilatildeo partiu do Secretaacuterio-geral do

Conselho da Europa e surgiu como uma proposta de reflexatildeo conjunta sobre a evoluccedilatildeo

do ensino superior na Europa a partir de 1960 bem como uma reflexatildeo sobre o raacutepido

aumento de participantes europeus no Conselho Europeu para a Educaccedilatildeo e Cultura

A UNESCO apoiaria esta iniciativa na convicccedilatildeo de que esta beneficiaria todos os

Estados-Membros evitando a tatildeo temida ideia de uma ldquoEuropa a duas velocidadesrdquo

ajudando ainda na ligaccedilatildeo das regiotildees europeias a outras regiotildees do mundo De frisar

que na conferecircncia sobre ldquoqualifications concerning higher educationrdquo procurou ter-se

em conta as qualificaccedilotildees obtidas tanto a partir da frequecircncia do ensino superior como

as qualificaccedilotildees que permitem o acesso ao ensino superior O conceito de ldquoEuropean

Regionrdquo tenta realccedilar que ldquowhile Europe constitutes the main area of the Conventionacutes

application certain States which do not geographically belong to the European

continent (but which belong to the UNESCO Europe Region andor are party to the

UNESCO Convention on the Recognition of Studies diplomas and Degrees concerning

Higher Education in the States belonging to the Europe Region) were invited to the

Diplomatic Conference entrusted with the adoption of this convention and are thus

among the potential Partiesrdquo 26

A preceder a realizaccedilatildeo da ldquoConvenccedilatildeo de Reconhecimento de Lisboardquo nome

pela qual informalmente eacute conhecida esteve em 1993 a realizaccedilatildeo de um ldquoJoint

Feasibility Studyrdquo cuja importacircncia foi desde sempre reconhecida e aprovada nos

vaacuterios conselhos e reuniotildees que antecederam a Convenccedilatildeo de Lisboa como satildeo

exemplos o Conselho Cultural e de Cooperaccedilatildeo o Conselho Executivo da UNESCO o

Comiteacute de Ministros do Conselho da Europa ou o Comiteacute da Educaccedilatildeo do Ensino

Superior etc A Convenccedilatildeo de Lisboa eacute conhecida como a convenccedilatildeo do reconheci-

mento das qualificaccedilotildees sobre o ensino superior uma vez que este encontro tratou

25 De Witte ibidem 26 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) dispo-niacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo cap-turado em 7 de Abril de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

basicamente do reconhecimento das qualificaccedilotildees no que respeita ao ensino superior na

Regiatildeo Europeia O texto da Convenccedilatildeo que mais tarde viria a ser ratificado pela

maioria dos paiacuteses europeus eacute entendido como um instrumento que veio fornecer um

quadro de referecircncias normativa e metodoloacutegica que permite de forma geral lidar com

o reconhecimento de qualificaccedilotildees concedidas no acircmbito de acordos de colaboraccedilatildeo

transnacionais particularmente no que respeita agrave mobilidade de estudantes uma vez que

a Convenccedilatildeo se aplica apenas a qualificaccedilotildees obtidas no sistema de ensino de um paiacutes

reconhecido por um dos Estados seus signataacuterios

Da leitura do texto da Convenccedilatildeo de Lisboa percebe-se rapidamente que um dos

aspectos mais relevantes e consequentes deste acordo eacute o facto do reconhecimento das

qualificaccedilotildees apenas poder ser recusado por um paiacutes hospedeiro quando estas forem

substancialmente diferentes das praticadas no seu proacuteprio sistema de ensino recaindo

sobre si o oacutenus de fazer prova disso atraveacutes das suas instituiccedilotildees educativas 27

Da anaacutelise dos artigos do texto da Convenccedilatildeo torna-se evidente a preocupaccedilatildeo

dos membros signataacuterios com questotildees relacionadas com a igualdade de oportunidades

entre cidadatildeos europeus percebendo-se esta preocupaccedilatildeo pela inclusatildeo no texto da

Convenccedilatildeo de normas tatildeo lineares como sejam a existecircncia de mecanismos adequados

para a atribuiccedilatildeo de equivalecircncias das qualificaccedilotildees obtidas em paiacuteses estrangeiros ou

pelo zelo e preocupaccedilatildeo em natildeo discriminar cidadatildeos de paiacuteses estrangeiros seja por

questotildees de raccedila cor liacutengua ou religiatildeo

Aleacutem do mais este acordo pretende assegurar a competecircncia dos paiacuteses

signataacuterios no reconhecimento das qualificaccedilotildees para efeitos de prosseguimento de

estudos de um cidadatildeo num paiacutes estrangeiro ou mesmo a competecircncia destes no reco-

nhecimento e uso de um tiacutetulo acadeacutemico para efeitos de exerciacutecio de uma profissatildeo

estando deste modo o proponente sujeito agraves leis e regulamentos do paiacutes onde solicita a

equivalecircncia ou o reconhecimento do seu tiacutetulo acadeacutemico

Eacute igualmente importante a influecircncia exercida pela Convenccedilatildeo de Lisboa no que

concerne agrave facilitaccedilatildeo do acesso ao mercado de trabalho de cidadatildeos estrangeiros uma

vez que defende entre outros aspectos que todos os paiacuteses signataacuterios deveratildeo adoptar

27 Council of Europe Convention On The Recognition Of Qualifications Concerning Higher Education In

The European Region European Treaty Series Nordm 165 Lisbon 11IV1997 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpconventionscoeintTreatyenSummariesHtml165htm Arquivo captu-rado em 5 de Abril de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

procedimentos de afericcedilatildeo sobre as competecircncias e capacidades de cidadatildeos estran-

geiros (refugiados ou emigrantes) para acederem ao ensino superior ou ao mercado de

trabalho mesmo na ausecircncia de documentaccedilatildeo Para aleacutem da demais informaccedilatildeo

fornecida sobre os sistemas de ensino superior todos os paiacuteses deveratildeo providenciar

centros de informaccedilatildeo no sentido de fornecer serviccedilos de apoio e aconselhamento para

o reconhecimento de tiacutetulos graus qualificaccedilotildees etc a cidadatildeos estrangeiros Cada

paiacutes deveraacute encorajar as suas instituiccedilotildees de ensino superior formais a adoptar o ldquoSuple-

mento de Diplomardquo como instrumento facilitador o processo de reconhecimento dos

estudantes O ldquoSuplemento de Diplomardquo eacute um instrumento desenvolvido no sentido de

auxiliar a determinaccedilatildeo das qualificaccedilotildees de forma perceptiacutevel adequando-as aos

sistemas de ensino superior 28

A implementaccedilatildeo e supervisatildeo das normas criadas por esta convenccedilatildeo ficou a

cargo de duas instituiccedilotildees criadas para o efeito (o ENIC jaacute existe haacute cerca de uma

vintena de anos) nomeadamente o ldquoComiteacute da Convenccedilatildeo para o Reconhecimento das

Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeiardquo e a ldquoRede Europeia dos Centros

de Informaccedilatildeo Nacionais de Reconhecimento e Mobilidade Acadeacutemicardquo (Rede ENIC)

que para tal adoptaram aquando da reuniatildeo de Riga em Junho de 2001 o ldquoCode of

Good Practice mdash in the provision of transnational educationrdquo como instrumento de

auxilio na procura de um entendimento comum que ajude a encontrar soluccedilotildees para a

resoluccedilatildeo de problemas praacuteticos da Regiatildeo Europeia dos Estados desta regiatildeo e de

outras regiotildees do mundo e ateacute dentro de um espaccedilo ainda mais global do ensino

superior 29 A este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente a propoacutesito do ensino transnacional

A Convenccedilatildeo de Lisboa para aleacutem de tentar minimizar as muitas dificuldades inerentes

agrave nova realidade europeia nomeadamente no que concerne agrave grande diversidade dos

sistemas educativos para natildeo falar da diversidade cultural social poliacutetica econoacutemica e

religiosa tem a virtude de reconhecer que os estudos os certificados os diplomas e os

28 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

29 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

graus obtidos noutro paiacutes da Europa representam um importante instrumento de medida

e afericcedilatildeo da mobilidade acadeacutemica entre os paiacuteses envolvidos 30

Em jeito de conclusatildeo pode dizer-se que este documento tem a pretensatildeo de

repor as disposiccedilotildees das seis convenccedilotildees anteriormente assinadas por estes oacutergatildeos mas

principalmente foi criado como instrumento regulador e legalizador do trabalho desen-

volvido a niacutevel europeu Pretende-se que este seja um mecanismo facilitador que sirva

de garante a que as qualificaccedilotildees obtidas num paiacutes aderente sejam reconhecidas noutro

para tal haacute que criar e manter mecanismos de avaliaccedilatildeo justos que operem no mais

curto espaccedilo de tempo

Enquadrado neste contexto assistiu-se nas uacuteltimas duas deacutecadas a um esforccedilo

por parte da Uniatildeo Europeia no desenvolvimento de poliacuteticas educativas de promoccedilatildeo

de programas de apoio ao ensino superior nomeadamente de apoio agrave investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica sendo muitos deles dedicados agrave mobilidade Alguns destes programas

tiveram uma enorme visibilidade e um elevado grau de popularidade e sucesso junto da

comunidade estudantil europeia como eacute o caso do Erasmus (1987) Petra (1987) Helios

(1988) Liacutengua (1989) TEMPUS COMMET etc a provaacute-lo estaacute o sucesso do progra-

ma SoacutecratesErasmus cuja origem e desenvolvimento foram jaacute aqui abordados Estes

programas abriram precedentes no que respeita ao reconhecimento dos curricula dos

cursos nos paiacuteses da Comunidade Europeia mas tambeacutem foram uma forma de diminuir

a rigidez que outrora caracterizava os sistemas de ensino superiores europeus Assiste-se

hoje a uma tendecircncia crescente dos paiacuteses europeus principalmente os de menor

dimensatildeo para oferecerem cada vez mais cursos em liacutenguas estrangeiras de modo a

atraiacuterem alunos e parcerias estrangeiras

Eacute comummente aceite que as poliacuteticas educativas europeias satildeo discutidas na

Europa Comunitaacuteria agrave margem dos problemas do mercado comum mas tambeacutem eacute

verdade que se comeccedila a inverter esta tendecircncia com a abordagem cada vez mais

insistente destes assuntos ainda que agrave margem das reuniotildees da Uniatildeo Europeia nos

Conselhos de Ministros Europeus Apesar de ser um facto incontornaacutevel que as mudan-

ccedilas no Ensino Superior se tecircm operado a longo prazo e que as reuniotildees de Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo natildeo tecircm ainda caraacutecter vinculativo a verdade eacute que atraveacutes delas

comeccedilam a ser tomadas decisotildees relevantes e assumem-se hoje compromissos poliacuteticos 30 Ibidem

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sem precedentes com vista agrave maior abertura da liberdade de movimentos e promoccedilatildeo de

flexibilizaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior europeus

No ano 2000 coube a Portugal a Presidecircncia do Conselho Europeu e a propoacutesito

da realizaccedilatildeo de um Conselho Europeu Extraordinaacuterio Portugal elaborou um

documento orientador das linhas de acccedilatildeo denominado ldquoEmprego Reformas Econoacute-

micas e Coesatildeo Social mdash para uma Europa da Inovaccedilatildeo e do Conhecimentordquo Este

documento viria a servir de suporte ao Conselho Europeu Extraordinaacuterio realizado em

Lisboa que teve como principais pontos de trabalho a aacuterea da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo

ldquoPela primeira vez teve a educaccedilatildeo tal presenccedila numa reuniatildeo a este niacutevelrdquo 31 As

conclusotildees do referido Conselho Europeu vieram confirmar os aspectos focados no

documento de trabalho elaborado pelo Conselho de Ministros de Educaccedilatildeo Europeu e

das conclusotildees resultantes do Conselho Europeu de Lisboa realizado em 23 e 24 de

Marccedilo de 2000 sobressaem dois aspectos que traduzem um passo importante para as

poliacuteticas de ensino superior europeias a conclusatildeo nuacutemero 27 refere que ldquoo Conselho

Europeu solicita ao Conselho (Educaccedilatildeo) que proceda a uma reflexatildeo geral sobre os

objectivos futuros concretos dos sistemas educativos que incida nas preocupaccedilotildees e

prioridades e simultaneamente respeite a diversidade nacionalhelliprdquo Para Pedro Lourtie

entatildeo Presidente do Comiteacute de Educaccedilatildeo da Uniatildeo Europeia esta conclusatildeo representa

uma oportunidade para que o sector da educaccedilatildeo passe a ter uma maior participaccedilatildeo na

construccedilatildeo europeia 32 A segunda conclusatildeo a destacar respeita agrave contribuiccedilatildeo do

Conselho de Educaccedilatildeo para o Processo do Luxemburgo 33 Para Lourtie esta recomen-

daccedilatildeo eacute um reconhecimento da importacircncia da educaccedilatildeo (e da formaccedilatildeo) para as poliacuteti-

cas de emprego na Europeias 34 Face aos aspectos apresentados eacute indiscutiacutevel que o

sistema educativo comeccedila jaacute a entrar num niacutevel de discussatildeo europeu

31 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo

Educacional 2000 32 Ibidem 33 O ldquoProcesso do Luxemburgordquo respeita agraves poliacuteticas de emprego 34 Ibidem

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia

Podemos considerar que o sistema de ensino superior portuguecircs passou por dois

momentos distintos separados entre si por uma revoluccedilatildeo No entanto mesmo apoacutes o

periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio de 1974 as transformaccedilotildees operadas no ensino superior

portuguecircs continuaram num processo ritmado de evoluccedilatildeo e mudanccedila devido agraves

poliacuteticas estabelecidas que em parte se devem agrave preparaccedilatildeo da entrada de Portugal na

Uniatildeo Europeia

Antes da revoluccedilatildeo de 25 de Abril de 1974 a populaccedilatildeo portuguesa caracte-

rizava-se por apresentar elevadas taxas de iliteracia e analfabetismo inversamente

proporcionais agraves taxas de frequecircncia do ensino superior O periacuteodo poacutes revoluccedilatildeo daacute

lugar ao iniacutecio de um processo evolutivo que procurou melhorar os niacuteveis de formaccedilatildeo

da sociedade portuguesa e que viria a gerar grandes transformaccedilotildees sociais que

arrastaram consigo o sistema educativo nomeadamente o subsistema de ensino

superior A antecacircmara das transformaccedilotildees operadas em Portugal no periacuteodo poacutes

revolucionaacuterio teve iniacutecio na reforma de Veiga Simatildeo no decurso do ano de 1973 esta

reforma inspirada na ldquoteoria do capital humanordquo viria a implementar uma seacuterie de

mudanccedilas de entre as quais se conta a criaccedilatildeo de um sistema de ensino superior binaacuterio

A este ministro eacute atribuiacutedo o impulso na expansatildeo geograacutefica (espelhados no apoio que

prestou agrave criaccedilatildeo de universidades em cidades mais perifeacutericas do paiacutes) e a diversifi-

caccedilatildeo do sistema de ensino superior

No poacutes 25 de Abril o sector da educaccedilatildeo foi tido como uma das prioridades dos

Governos provisoacuterios que se seguiram O periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio que vai do ano de

1974 a 1976 caracteriza-se por uma eacutepoca em que as poliacuteticas educativas em total

oposiccedilatildeo ao regime ditatorial anterior defendiam a abertura do ensino superior a todos

os cidadatildeos que se propunham frequentar este sistema de ensino para aleacutem de

estabelecer novos objectivos de diversificaccedilatildeo e evoluccedilatildeo do ensino superior em

Portugal Os anos entre 1976 e 1986 satildeo segundo Amaral e Magalhatildees anos de

normalizaccedilatildeo do sistema de ensino nomeadamente para o subsistema de ensino

superior que a par com a investigaccedilatildeo cientiacutefica satildeo considerados instrumentos essen-

ciais para a estabilizaccedilatildeo poliacutetica e o crescimento econoacutemico (Amaral e Magalhatildees

2000) As necessidades do paiacutes nomeadamente ao niacutevel do ensino intermeacutedio levam ao

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

aparecimento no ano de 1979 do subsistema de ensino politeacutecnico como meio para

colmatar as necessidades de formaccedilatildeo de quadros teacutecnicos intermeacutedios formados em

ciclos de curta duraccedilatildeo

O periacuteodo revolucionaacuterio teria como consequecircncia a ascensatildeo dos sistemas de

ensino de formaccedilatildeo meacutedia a formaccedilatildeo de niacutevel superior Este facto viria a provocar um

desequiliacutebrio entre o nuacutemero de graduados e as necessidades do mercado Tendo toma-

do consciecircncia deste fenoacutemeno o Governo reconhece em 1977 a necessidade de criar

um subsistema de ensino superior meacutedio o que acontece com a promulgaccedilatildeo do

Decreto-Lei 427-B77 estabelecendo assim em Portugal um ciclo de formaccedilatildeo mais

curto de natureza vocacional Em consequecircncia de um Decreto-Lei posterior (Decreto-

-Lei 513-T79) este subsistema de ensino viria a tornar-se no subsistema de ensino

superior politeacutecnico (Amaral e Magalhatildees 2000)

Mais tarde o segundo Governo Constitucional introduziu em Portugal o conceito

de numerus clausus o que atraveacutes das poliacuteticas de acesso viria a servir como

mecanismo regulador do sistema Com a Lei nordm 6178 foram eliminados os graus

intermeacutedios que caracterizavam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior Politeacutecnicas ao

considerar-se que os seus graduados passariam a ter um niacutevel de graduaccedilatildeo superior

Por outro lado agrave sua competecircncia para dar formaccedilatildeo na aacuterea vocacional juntou-se o

reconhecimento para desenvolver trabalho de investigaccedilatildeo cientiacutefica

No entanto para Amaral e Magalhatildees (2000) apesar de haver cada vez mais

aproximaccedilatildeo entre o sistema de ensino universitaacuterio e o politeacutecnico natildeo deixa de ser

importante para o florescimento da economia portuguesa o papel desempenhado por

ambos os subsistemas A auscultaccedilatildeo da sociedade foi reveladora das necessidades do

paiacutes em termos de necessidades de teacutecnicos intermeacutedios revelaccedilotildees essas reforccediladas

pelas recomendaccedilotildees proferidas no relatoacuterio do Banco Mundial de 1977 e que vatildeo

precisamente no sentido de incentivar a formaccedilatildeo de quadros intermeacutedios que sirvam as

necessidades da economia do paiacutes

A adesatildeo de Portugal agrave Uniatildeo Europeia no ano de 1986 trouxe consigo mudan-

ccedilas a vaacuterios niacuteveis colocando o sistema educativo portuguecircs em rota de convergecircncia

com os sistemas educativos de outros paiacuteses europeus em termos qualitativos e quan-

titativos De entre os aspectos mais relevantes deste redireccionamento das poliacuteticas

educativas destacam-se o fenoacutemeno da massificaccedilatildeo do acesso ao ensino superior e a

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sua diversificaccedilatildeo estas traduzem-se na introduccedilatildeo de um sistema binaacuterio por um lado

e do alargamento do sistema de ensino superior ao ensino privado por outro Quanto ao

ensino superior puacuteblico viu aumentada a sua autonomia e a regulaccedilatildeo do acesso a este

atraveacutes da introduccedilatildeo de poliacuteticas de acesso Amaral e Magalhatildees (ibidem) entendem o

periacuteodo que medeia entre 1986 e 1989 como um periacuteodo de consolidaccedilatildeo da dualidade

do sistema de ensino superior que passou a ser constituiacutedo por instituiccedilotildees puacuteblicas e

privadas este processo contou com o apoio do entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Roberto

Carneiro Nesta altura regista-se um aumento exponencial da iniciativa privada quando

comparado com o ensino superior puacuteblico apresentando-se o primeiro como uma alter-

nativa ao ensino puacuteblico Entre os anos de 1987 e 1991 o nuacutemero de alunos a frequentar

o ensino superior puacuteblico aumentou 40 ao passo que no mesmo periacuteodo no ensino

superior privado registou-se um aumento exponencial de 250 (Amaral e Carvalho

2003) As causas que justificam esta explosatildeo de alunos no ensino privado satildeo atribuiacute-

das natildeo soacute a factores de ordem poliacutetica como a factores de ordem social e econoacutemica

Nesta altura satildeo crescentes as preocupaccedilotildees com a qualidade do ensino superior

oferecido pelas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas preocupaccedilotildees essas que mais tarde viratildeo

a ter um papel determinante e a liderar a lista de preocupaccedilotildees no que respeita agraves

problemaacuteticas deste sector Eacute ainda durante a deacutecada de 80 que se assiste agrave consolidaccedilatildeo

da autonomia universitaacuteria atraveacutes da promulgaccedilatildeo de Lei nordm 10888 de 24 de

Setembro segundo a qual as universidades puacuteblicas passam a ter liberdade para

estabelecer os seus estatutos gozando de autonomia cientiacutefica pedagoacutegica

administrativa e financeira tendo para aleacutem do mais poder para intervir em questotildees

de disciplina acadeacutemica (Amaral e Magalhatildees 2000)

No actual contexto soacutecio-econoacutemico eacute possiacutevel identificar alguns dos principais

constrangimentos do actual sistema de ensino superior portuguecircs que se resumem nos

seguintes aspectos

Desvalorizaccedilatildeo social da formaccedilatildeo profissional e teacutecnica especializada

natildeo conferente de grau mas com fortes ligaccedilotildees ao mercado empresarial

Ausecircncia de um planeamento estrateacutegico das actividades de formaccedilatildeo

poacutes-graduada natildeo sendo dada a atenccedilatildeo necessaacuteria a aacutereas estrateacutegicas

fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Deficiente ligaccedilatildeo entre a componente de investigaccedilatildeo e de leccionaccedilatildeo

nas instituiccedilotildees de ensino superior

Deficiente ligaccedilatildeo entre o sistema de ensino superior portuguecircs e as

actividades de produccedilatildeo particularmente em aacutereas convencionalmente

consideradas relevantes para o desenvolvimento de um paiacutes

Dificuldades na revitalizaccedilatildeo do ensino superior nomeadamente no que

respeita agrave gestatildeo estrateacutegica das instituiccedilotildees que apresentam uma

estrutura ao niacutevel dos recursos humanos pouco eficiente e mal preparada

para os desafios da modernidade

Maacute preparaccedilatildeo dos alunos ao niacutevel do ensino secundaacuterio particularmente

em aacutereas de formaccedilatildeo de base determinantes para o sucesso escolar

Insuficiecircncia de equipamentos e infra-estruturas de apoio ao ensino e agrave

investigaccedilatildeo

Problemas ao niacutevel operativo da maacutequina administrativa das instituiccedilotildees

de ensino superior

Fraco investimento em mecanismos que apostem numa maior internacio-

nalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees como forma de alcanccedilar meios alternativos de

financiamento

Fraco investimento na atracccedilatildeo de novos puacuteblicos face ao actual decreacutes-

cimo do nuacutemero de alunos agravado pela actual formula de financia-

mento das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

As dificuldades acima identificadas procuram caracterizar o actual subsistema de

ensino superior portuguecircs satildeo coincidentes com alguns dos aspectos reconhecidos por

Marccedilal Grilo 35 como pontos fracos deste subsistema Este autor reconhece no entanto

alguns desenvolvimentos recentes que levaram a resultados positivos cujos principais

aspectos a seguir se identificam

Criaccedilatildeo de novos cursos de licenciatura com curricula e conteuacutedos

adaptados agrave realidade portuguesa nomeadamente em aacutereas importantes

35 Marccedilal Grilo Eduardo ldquoThe transformation of Higher Education in Portugalrdquo in Claudius Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o desenvolvimento da economia do paiacutes tal como a agricultura a

produccedilatildeo alimentar ou tecnoloacutegica

Desenvolvimento de um novo sistema de estruturaccedilatildeo dos cursos com a

adopccedilatildeo de unidades de creacutedito As unidades de creacutedito tecircm a particula-

ridade de proporcionar aos alunos a possibilidade de privilegiarem

dentro do curriacuteculo do curso determinadas aacutereas de formaccedilatildeo Em Portu-

gal apenas as universidades puacuteblicas podem recorrer ao sistema de creacutedi-

tos e ainda assim este natildeo eacute ainda muito utilizado Agraves universidades

privadas e institutos politeacutecnicos eacute vedada esta possibilidade por parte

dos oacutergatildeos de tutela

Realizaccedilatildeo de esforccedilos no sentido de modernizar o sistema de gestatildeo das

instituiccedilotildees de ensino que passa natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas ins-

tituiccedilotildees como tambeacutem pela aposta na dinamizaccedilatildeo das estruturas

existentes nomeadamente na aposta em formaccedilatildeo dos recursos humanos

inclusive o corpo docente

Investimento em projectos de investigaccedilatildeo nas aacutereas ligadas ao sector

produtivo nacional (muitas instituiccedilotildees de ensino procuram hoje criar

cursos e promover projectos de investigaccedilatildeo ligados ao sector produtivo

da regiatildeo onde estatildeo inseridas)

Criaccedilatildeo de novos institutos de pesquisa com ligaccedilatildeo agraves universidades e

ao sector produtivo

Criaccedilatildeo de um novo estatuto de autonomia para as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico nomeadamente universidades e institutos politeacutecnicos o

que vem tornar simultaneamente estas instituiccedilotildees mais independentes

mas tambeacutem mais responsaacuteveis por elas proacuteprias

O sucesso do sistema de ensino superior portuguecircs no futuro passaraacute pela

concretizaccedilatildeo senatildeo de todos pelo menos de alguns dos aspectos anteriormente

identificados sob pena de perder a sua capacidade competitiva face a uma Europa

Globalizada Impotildee-se a curto prazo a criaccedilatildeo de mecanismos que permitam agraves

instituiccedilotildees de ensino ir cada vez mais ao encontro das necessidades do tecido empre-

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sarial portuguecircs apostando na formaccedilatildeo de quadros cuja preparaccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica

responda agraves necessidades empresariais nesse domiacutenio Tambeacutem no que respeita agrave inves-

tigaccedilatildeo cientiacutefica comeccedila a verificar-se algumas tentativas bem sucedidas de aproxi-

maccedilatildeo das universidades ao sector industrial e empresarial portuguecircs A procura de

novos puacuteblicos impotildee-se igualmente como estrateacutegia de sobrevivecircncia atraveacutes da

criaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo ao longo da vida direccionados para um mercado natildeo

apenas de licenciados mas de outros actores com formaccedilatildeo meacutedia

O ensino transnacional com objectivos comerciais e lucrativos constitui uma das

aacutereas que num futuro proacuteximo poderaacute vir a assumir alguma importacircncia no sector

educativo portuguecircs Esta nova realidade representa para as instituiccedilotildees portuguesas um

esforccedilo de actualizaccedilatildeo e de manutenccedilatildeo de padrotildees de qualidade acrescido quer

enquanto promotoras deste tipo de sistema de ensino quer enquanto competidoras no

mercado nacional Estes novos desafios encerram inevitavelmente aspectos positivos e

negativos para o contexto nacional do subsistema do ensino superior como a seguir se

veraacute

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha

O processo de Bolonha resulta de um propoacutesito da Europa Unificada em criar

um Espaccedilo Europeu do Ensino Superior espaccedilo que se pretende coeso atractivo mas

igualmente competitivo para os actores intervenientes

Este processo teve iniacutecio em Maio de 1998 por ocasiatildeo de um encontro entre os

Ministros da Educaccedilatildeo Alematildeo Francecircs Italiano e do Reino Unido o qual originou a

assinatura da Declaraccedilatildeo de Sorbonne Esta declaraccedilatildeo preconizaria pela primeira vez

a construccedilatildeo de um Espaccedilo Europeu de Ensino Superior

Em Junho de 1999 os Ministros da Educaccedilatildeo de 29 Estados Europeus entre os

quais Portugal reuniram-se em Itaacutelia de onde resultaria a assinatura da Declaraccedilatildeo de

Bolonha que estabelece em definitivo os objectivos acima identificados abrangendo

56

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

desta feita docentes discentes e funcionaacuterios dos paiacuteses da Europa e Paiacuteses Terceiros

No ano de 2004 satildeo jaacute 33 os paiacuteses subscritores da Declaraccedilatildeo de Bolonha (ateacute agrave Confe-

recircncia de Berlim na qual vaacuterios outros aderiram) Da manifestaccedilatildeo deste desiacutegnio

emanou por parte dos seus signataacuterios a identificaccedilatildeo de 6 linhas de acccedilatildeo prioritaacuterias

algumas delas largamente abordadas na presente dissertaccedilatildeo As linhas de actuaccedilatildeo

definidas pautam-se pelos seguintes princiacutepios

bull A adopccedilatildeo de um sistema de graus comparaacutevel e legiacutevel entre os paiacuteses

membros

bull A implementaccedilatildeo de um sistema de ensino superior baseado fundamen-

talmente em 2 ciclos de formaccedilatildeo

bull O estabelecimento de um sistema de creacuteditos mdash ECTS

bull A promoccedilatildeo da mobilidade entre os actores do ensino superior [e natildeo soacute haacute

que ter em conta a mobilidade em geral (empregabilidade)]

bull A promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo europeia no domiacutenio da avaliaccedilatildeo da qualidade

bull A promoccedilatildeo de uma dimensatildeo europeia no domiacutenio do ensino superior

Os Ministros responsaacuteveis pela aacuterea do Ensino Superior desta feita de 33 paiacuteses

europeus reafirmariam as intenccedilotildees manifestadas em Praga e Bolonha atraveacutes da

assinatura do Comunicado de Berlim em Setembro de 2003 Este comunicado viria

para aleacutem do mais a considerar a necessidade de promover sinergias entre o Espaccedilo

Europeu do Ensino Superior e um Espaccedilo Europeu de Investigaccedilatildeo considerando-se

serem estes os dois pilares fundamentais da consolidaccedilatildeo da Sociedade do Conhe-

cimento (MCES 2004) A Comissatildeo Europeia tem a este respeito ideias bastante

concretas que resultam da reflexatildeo sobre a forma como as universidades poderatildeo vir a

desempenhar um papel fundamental e de extrema importacircncia na sociedade e na

economia do conhecimento na Europa (Comissatildeo das Comunidades Europeias 2003)

A verdade eacute que o desenvolvimento da sociedade do conhecimento depende da

produccedilatildeo de novos conhecimentos da sua eficaz transmissatildeo e divulgaccedilatildeo Uma eficaz

transmissatildeo de conhecimentos soacute eacute possiacutevel atraveacutes de processos educativos e

formativos do desenvolvimento da investigaccedilatildeo do crescimento regional e local sendo

este um papel tradicionalmente desempenhado pelas universidades Daiacute ser fundamental

57

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o sucesso dos objectivos traccedilados pelos paiacuteses signataacuterios a existecircncia ldquode uma

comunidade universitaacuteria soacutelida e proacutespera A Europa precisa de excelecircncia nas suas

universidades uma vez que soacute assim poderaacute optimizar os processos que estatildeo na base

da sociedade do conhecimento e concretizar o objectivo fixado no Conselho Europeu de

Lisboa tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinacircmica e competitiva

do mundo capaz de garantir um crescimento econoacutemico sustentaacutevel com mais e

melhores empregos e com maior coesatildeo socialrdquo (ibidem) O relevante papel que eacute dado

desempenhar agraves universidades europeias em todo este processo eacute bastante marcante

revelando-se para aleacutem do mais um importante desafio Esta eacute uma excelente fonte de

oportunidades trazendo no entanto e por outro lado dificuldades acrescidas devido agrave

forte concorrecircncia a que estatildeo sujeitas competindo-lhes de igual modo combater e

ultrapassar essas mesmas dificuldades

Perante a heterogeneidade do panorama universitaacuterio europeu que se reflecte

entre e dentro dos paiacuteses revelando-se aos mais variados niacuteveis quer seja na

organizaccedilatildeo nos modos de gestatildeo no funcionamento ou nos graus as reformas instau-

radas na sequecircncia do Processo de Bolonha representam um esforccedilo no sentido de

organizar essa diversidade tornando o sistema de ensino superior europeu mais coerente

e compatiacutevel

A Confederaccedilatildeo Europeia das Conferecircncias de Reitores em conjunto com a

Associaccedilatildeo Europeia de Universidades entendem Bolonha como ldquoum ponto de viragem

no desenvolvimento do Ensino Superior Europeurdquo (CRUE e CRE 2000) A visatildeo que

estas duas instituiccedilotildees tecircm do processo eacute uma visatildeo positiva uma vez que para estas ele

resulta de um compromisso assumido pelas instituiccedilotildees de forma livre e independente

Aparentemente estas duas instituiccedilotildees representantes dos sistemas de ensino univer-

sitaacuterios europeus entendem o papel de Bolonha como algo positivo que natildeo vem pocircr

em causa a especificidade dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses signataacuterios Esta

deduccedilatildeo decorre da interpretaccedilatildeo das afirmaccedilotildees constantes no documento em referecircn-

cia assinado por ambas as instituiccedilotildees Neste documento eacute mencionado que a

Declaraccedilatildeo de Bolonha ldquoreconhece os valores fundamentais e a diversidade de ensino

superior europeu a) reconhece claramente a independecircncia e a autonomia necessaacuteria

das universidades b) refere-se explicitamente aos princiacutepios fundamentais colocados

na Magna Charta Universitatum assinada (tambeacutem em Bolonha) em 1988 c) acentua a

58

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade de alcanccedilar um espaccedilo comum para o ensino superior dentro de um

enquadramento da diversidade de culturas idiomas e sistemas educacionais (CRUE e

CRE 2000)

Esta posiccedilatildeo oficialmente assumida pelos representantes das instituiccedilotildees de

ensino superior europeias viria a ser corroborada publicamente pelo Conselho de Reito-

res das Universidades Puacuteblicas Portuguesas em 2001 reflectindo desta feita a posiccedilatildeo

das universidades portuguesas sobre este assunto No documento divulgado pelo

CRUP 36 eacute assumida a relevacircncia que tem para o sistema de ensino superior portuguecircs o

processo de criaccedilatildeo de um espaccedilo europeu com vista ao objectivo comum da promoccedilatildeo

de uma maior integraccedilatildeo europeia das instituiccedilotildees universitaacuterias possibilitando

consequentemente a afirmaccedilatildeo do sistema de ensino superior europeu no mundo

Eacute claramente expresso o empenho e o interesse das universidades puacuteblicas numa

participaccedilatildeo activa em todo este processo propondo-se no entanto uma reflexatildeo atenta

sobre alguns aspectos que por se revestirem de especial importacircncia satildeo dignos de uma

maior atenccedilatildeo por parte do subsistema de ensino superior portuguecircs e de entre os quais

se destacam o facto da convergecircncia de graus acadeacutemicos dever revestir-se de especial

cuidado assegurando-se a comparabilidade de graus ao inveacutes de um qualquer processo

de uniformizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo o que seria contraacuterio aos pressupostos expressos

na proacutepria Declaraccedilatildeo de Bolonha Qualquer situaccedilatildeo contraacuteria poria em risco a

identidade dos subsistemas de ensino nacionais defende o CRUP

Outro aspecto que merece reflexatildeo eacute o facto da reforma do sistema de ensino

portuguecircs poder vir a resumir-se a dois ciclos sendo o de graduaccedilatildeo especialmente

vocacionado para a preparaccedilatildeo dos alunos para o mercado de trabalho Estas e as

demais transformaccedilotildees a operar visam em uacuteltima anaacutelise facilitar a mobilidade

acadeacutemica e tornar os diplomas portugueses mais reconheciacuteveis para o exerciacutecio de

profissotildees no mercado europeu (CRUP 2003)

Na planificaccedilatildeo de todas estas reformas estruturais haacute que natildeo esquecer que o

sistema de ensino superior portuguecircs eacute composto por uma panoacuteplia de instituiccedilotildees de

ensino superior universitaacuterias e politeacutecnicas puacuteblicas e privadas revestindo-se como eacute

sabido de grande complexidade e singularidade Sobre isto natildeo satildeo conhecidos estudos 36 CRUP ldquoPosiccedilatildeo do CRUP sobre a Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via

WWWURL httpwwwcruppt Arquivo capturado em 27 de Novembro de 2003

59

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comparativos que permitam posicionar o sistema de ensino superior portuguecircs no

quadro europeu ou internacional Haacute pois que ter em conta que os riscos de uma reforma

profunda implicando uma alteraccedilatildeo suacutebita do sistema de graus satildeo elevados em prol

da manutenccedilatildeo do equiliacutebrio Esta reforma a operar-se deveraacute ser gradual de forma a

permitir uma melhor consciencializaccedilatildeo social

Para Joseacute Ferreira Gomes a reforma do sistema educativo portuguecircs quando a

curto prazo deveraacute ir antes no sentido de combater o insucesso escolar e promover

eficazmente a entrada no mercado de trabalho dos licenciados Esta poliacutetica implica

medidas que levem a uma maior aproximaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino ao tecido

empresarial atraveacutes por exemplo do incentivo agrave criaccedilatildeo de estaacutegios ou mesmo na

implementaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vida (Gomes 2002) Para os

defensores de uma estrateacutegia de reforma mais lenta e gradual a prioridade assenta na

promoccedilatildeo de uma poliacutetica de transparecircncia junto do puacuteblico estudantil empregador e da

sociedade civil em geral conquistando deste modo a sua confianccedila O seu alcance

deveraacute focalizar-se por um lado em tentar aumentar o papel do mercado na definiccedilatildeo

dos niacuteveis de formaccedilatildeo mas tambeacutem por desenvolver um sistema de avaliaccedilatildeo e

acreditaccedilatildeo rigoroso e transparente

Outros autores associam-se agrave ideia de se dever contrariar a tendecircncia e alertar os

poliacuteticos e demais intervenientes para os riscos da aplicaccedilatildeo de uma reforma

inconsequente do sistema em prol da raacutepida aplicabilidade das linhas orientadoras do

processo de Bolonha Autores como Pedro Lourtie 37 alertam para o facto de o sucesso

de Bolonha natildeo ser ainda um dado adquirido havendo ainda muitos obstaacuteculos a

ultrapassar O elevado nuacutemero de actores envolvidos eacute por si soacute um elemento dificul-

tador haacute primeiramente que garantir que as reformas a operar sejam convergentes e

consonantes no tempo diz o autor

Agrave semelhanccedila de Joseacute Gomes tambeacutem Lourtie defende que eacute fundamental para

o sucesso do processo assegurar o envolvimento e a participaccedilatildeo activa de todos os

intervenientes directos no sistema bem como da sociedade civil A sustentabilidade de

Bolonha passa inevitavelmente pela realizaccedilatildeo de estudos de sustentaccedilatildeo das medidas

37 Lourtie Pedro ldquoA Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL

httpwwwutlptorgovernodecbolPLhtm arquivo capturado em 5 de Dezembro de 2003

60

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

a adoptar quer a niacutevel institucional quer a niacutevel das poliacuteticas nacionais e europeias

O forte envolvimento das administraccedilotildees (enquanto oacutergatildeos legisladores e reformadores)

e das instituiccedilotildees de ensino superior satildeo aleacutem do mais elementos fundamentais para o

seu sucesso perfilando-se este processo reformista como um novo desafio para Portugal

e para o resto da Europa

61

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

62

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO II 2 O Ensino Superior Transnacional 21 O ensino transnacional no contexto da Uniatildeo Europeia

O ldquoensino transnacionalrdquo 38 define-se como um sistema de ensino que ultrapassa

os limites das fronteiras dos sistemas de ensino superior nacionais enquadrando-se

regra geral ldquona categoria do ensino superior natildeo oficial no paiacutes hospedeirordquohellip O ensino

transnacional eacute frequentemente associado ao ldquofranschisingrdquo de instituiccedilotildees e programas

mas pode assumir tambeacutem outros modos de transmissatildeordquo 39 No entanto muito mais

haveraacute a dizer sobre este sistema de ensino que ultrapassa as fronteiras do seu proacuteprio

paiacutes

A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo eacute um fenoacutemeno recente jaacute na Ida-

de Meacutedia era tradicional os alunos deslocarem-se de universidade em universidade na

procura dos mestres mais famosos (o que era facilitado pela uniformidade dos estudos

na eacutepoca) do mesmo modo que os mestres se deslocavam para trocar ideias com outros

colegas ou para consultar bibliotecas (pois entatildeo natildeo existiam meios faacuteceis de comuni-

caccedilatildeo) Para aleacutem do mais as universidades sempre defenderam que eram livres e 38 ldquoHigher education activities (study programmes or sets of courses of study or educational services

including those distance education) in which the learners are located in a host country different from the one where the awarding institution is based such programmes may belong to the education of a State different from the host country or may operate outside of any national systemrdquo (Machado dos Santos 2000)

39 Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior 2002

63

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

internacionais em espiacuterito Tambeacutem no periacuteodo das colonizaccedilotildees a universidade foi

exportada de continente para continente primeiro como forma de dominaccedilatildeo colonial e

mais tarde depois da independecircncia como apoio aos povos libertados O que eacute novo eacute

um conceito de internacionalizaccedilatildeo que tende a ser confundido com o processo de

globalizaccedilatildeo e em que a difusatildeo do conhecimento e os ideais seculares satildeo substituiacutedos

por conceitos neo-liberais o que leva a considerar o ensino como um serviccedilo

ldquointernacionalmenterdquo vendaacutevel A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior numa oacuteptica

mercantilista e enquanto ldquobem de consumordquo teve iniacutecio nos anos 80 e ldquocomeccedilou por se

desenvolver e a ser incentivada natildeo tanto como um fim em si mesmo mas como meio

para o desenvolvimento de novas aacutereas do conhecimento e para a promoccedilatildeo da

qualidade atraveacutes dos seus efeitos positivos em aspectos tatildeo variados como o desem-

penho dos docentes o desempenho individual dos estudantes e as carreiras profissionais

consequentes os processos de ensino-aprendizagem o desenvolvimento curricular e os

proacuteprios niacuteveis institucional e sisteacutemico em resultado de uma aprendizagem transcul-

tural de uma comparaccedilatildeo e troca de boas praacuteticas e em alguns casos de um aumento

de massa criacuteticardquo 40 Este movimento viria ainda a contribuir para o fortalecimento da

investigaccedilatildeo cientiacutefica bem como para a introduccedilatildeo de novas linhas de trabalho nesta

aacuterea

Como se referiu anteriormente a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo

apenas ao niacutevel europeu mas num sentido mais lato agrave escala mundial faz com que

tenham sido traccedilados objectivos bastante ambiciosos para o ensino superior dando ori-

gem a acccedilotildees internacionais como satildeo exemplos os programas para a promoccedilatildeo da mo-

bilidade docente e discente anteriormente referidos

No entanto apesar das vantagens inegaacuteveis da internacionalizaccedilatildeo das insti-

tuiccedilotildees de ensino superior o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior alerta

para os riscos que pode trazer um crescimento raacutepido e descontrolado do ensino transna-

cional bem como as tentativas de o incluir no General Agreement On Trade in Services

(GATS) como veremos mais aprofundadamente mais agrave frente

Efectivamente regista-se nos uacuteltimos anos um aumento raacutepido e significativo em

termos quantitativos da oferta deste tipo de ensino apontando-se como principal

impulsionador deste sistema de ensino as facilidades proporcionadas pelas novas 40 Ibidem

64

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo Se o alargamento das oportunidades de

formaccedilatildeo a novos puacuteblicos eacute regra geral de louvar jaacute a propagaccedilatildeo raacutepida e algo

descontrolada do ensino superior transnacional levanta problemas que natildeo estatildeo ainda

controlados e circunscritos Eacute oacutebvio que natildeo satildeo apenas dificuldades que estatildeo associa-

das ao ensino superior transnacional o aumento deste sistema de ensino encerra

igualmente virtudes e aspectos positivos como se veraacute de seguida

Quando se abordam os aspectos negativos associados ao ensino superior transna-

cional eacute inevitaacutevel falar-se de uma das questotildees mais preocupantes relacionadas com

este tipo de oferta de ensino e que tem a ver com o facto de este se encontrar

sistematicamente fora dos mecanismos de controlo regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a que os

sistemas de ensino superior europeus estatildeo hoje sujeitos Para Seacutergio Machado dos

Santos o aumento exponencial do ensino transnacional eacute um assunto prioritaacuterio nas

abordagens ao processo de Bolonha na medida em que a Declaraccedilatildeo de Bolonha tem

como um dos seus objectivos preparar a Europa para o ensino transnacional (new

providers) que se posicionam fora dos sistemas de ensino formais Segundo o autor o

tema central das recentes abordagens ao processo de Bolonha gira agrave volta da

problemaacutetica da mobilidade nomeadamente dos programas educativos dos serviccedilos e

pessoas e da necessidade premente em criar-se mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo do

ensino transnacional (Machado dos Santos 2000) A verdade eacute que com o processo de

Bolonha a Europa prepara-se para fazer convergir esforccedilos e criar uma plataforma de

entendimento que lhe permita fornecer serviccedilos educativos ao resto do mundo

Fruto da Globalizaccedilatildeo a competitividade de mercado ao niacutevel do ensino superior

eacute generalizada a todas os paiacuteses atingindo natildeo soacute a Europa como outros paiacuteses

Kokosalakis 41 num estudo comparativo realizado em vaacuterios paiacuteses europeus concluiu

que na Uniatildeo Europeia o ensino superior natildeo oficial eacute jaacute um problema com alguma

expressatildeo devido ao aparecimento de um mercado florescente de oferta de novos

promotores de ensino superior natildeo oficial O estudo deste autor revelou que paiacuteses

Europeus como a Greacutecia Itaacutelia Espanha Reino Unido Irlanda e Franccedila satildeo aqueles

41 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo documento

apresentado na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

65

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

onde este fenoacutemeno eacute mais visiacutevel mas para Machado dos Santos a tendecircncia de

crescimento deste mercado verifica-se de igual modo em Portugal onde no ano de 1998

se contavam jaacute um total de 113 instituiccedilotildees de ensino superior privadas das quais satildeo

raras aquelas que natildeo apostam no ensino transnacional como meio para cativar novos

puacuteblicos fora do periacutemetro geograacutefico nacional Actualmente esta situaccedilatildeo foi

regulamentada com a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12003 de 6 de Janeiro que proiacutebe no

artigo 16ordm o funcionamento de estabelecimentos de ensino em regime de franquia

circunscrevendo a oferta de ensino superior agrave comunidade atraveacutes de relaccedilotildees de

intercacircmbio cultural cientiacutefico e teacutecnico com instituiccedilotildees congeacuteneres atraveacutes da

celebraccedilatildeo de protocolos ou acordos de cooperaccedilatildeo que apresentam caracteriacutesticas

distintas do ldquofranchisingrdquo Tambeacutem o ensino agrave distacircncia tem vindo a causar

preocupaccedilatildeo no que concerne ao garante de padrotildees miacutenimos de qualidade e regras de

protecccedilatildeo do consumidor face ao fornecimento deste serviccedilo Baseando-se nos

resultados da anaacutelise obtidos por Kokosalakis Machado dos Santos conclui que o Reino

Unido eacute sem margem para duacutevida o maior exportador europeu de educaccedilatildeo no sector

do ensino superior enquanto que os maiores importadores deste serviccedilo satildeo a Greacutecia a

Espanha e a Itaacutelia 42

As principais causas apontadas para justificar o aumento da ldquoglobalizaccedilatildeordquo do

mercado do ensino superior podem atribuir-se natildeo apenas ao aumento da procura por

parte dos estudantes do ensino graduado mas tambeacutem por parte de outros puacuteblicos

sendo no caso destes uacuteltimos um fenoacutemeno resultante da saturaccedilatildeo do mercado de

trabalho de licenciados e do aumento do niacutevel de exigecircncia do mercado empresarial que

cada vez mais procura candidatos especializados em aacutereas inovadoras A educaccedilatildeo ao

longo da vida e a formaccedilatildeo profissional tendem a ajustar-se agraves necessidades do mercado

e dos empregadores Por outro lado e em contrapartida o ensino oficial por nem

sempre se adequar agraves necessidades do mercado de trabalho e por nem sempre serem

suficientes as vagas de formaccedilatildeo que oferece propicia o aparecimento de sistemas de

ensino alternativo fora dos sistemas de ensino oficiais o que os estudiosos desta

mateacuteria denominam de ldquoformaccedilatildeo agrave medidardquo A proliferaccedilatildeo do ensino transnacional eacute

entatildeo impulsionada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo que

vieram permitir a descentralizaccedilatildeo do sistema de ensino e o aparecimento de novos 42 Ibidem

66

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

modelos de ensino e aprendizagem como o e-learning A este propoacutesito Seacutergio

Machado dos Santos atenta na possibilidade de num futuro proacuteximo em paiacuteses com

caracteriacutesticas especiacuteficas e de forma a suprimir a incapacidade da oferta fazer face agrave

procura os promotores de ensino possam vir a revelar-se instituiccedilotildees que noutros paiacuteses

se encontrem inseridas nos sistemas de ensino oficiais o que poderaacute nestes casos

assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade na formaccedilatildeo prestada pelas instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional 43 Apesar das ideias do autor quanto agrave manutenccedilatildeo

dos padrotildees de qualidade pelo facto de tratar-se de instituiccedilotildees de ensino superior que

no seu paiacutes de origem se encontram inseridas nos sistemas de ensino formais a verdade

eacute que no ensino transnacional imperam objectivos de lucro faacutecil e portanto a qualidade

eacute recorrentemente relegada para segundo plano A verdade eacute que as instituiccedilotildees

envolvidas neste tipo de mercantilizaccedilatildeo do ensino satildeo normalmente instituiccedilotildees com

um nome pouco firmado nacional e internacionalmente

No caso portuguecircs e reportando mais directamente agraves actividades de cooperaccedilatildeo

promovidas pelas instituiccedilotildees de ensino superior publicas portuguesas a realidade

assume contornos diferentes assim como diferentes satildeo as motivaccedilotildees das instituiccedilotildees

A grande maioria das universidades e institutos politeacutecnicos portugueses realizam

ensino transnacional normalmente integrado em Programas de Cooperaccedilatildeo nacionais

Neste caso natildeo se trataraacute de actividades de ldquofranchisingrdquo mas antes de actividades de

formaccedilatildeo graduada e de poacutes-graduaccedilatildeo integradas num contexto nacional mais lato e

abrangente que poderatildeo ou natildeo implicar proveitos financeiros para as instituiccedilotildees

mas que normalmente representam generosos proveitos financeiros para os docentes

envolvidos Mas este assunto seraacute convenientemente aprofundado nos capiacutetulos

seguintes

211 Principais problemas do ensino superior transnacional

Dos muitos problemas inerentes ao ensino superior transnacional contam-se

alguns que por serem transversais aos vaacuterios sistemas de ensino satildeo facilmente 43 Ibidem

67

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

identificaacuteveis Agrave medida que este sistema de ensino ganha terreno natildeo apenas nos

paiacuteses da Uniatildeo Europeia mas no resto do mundo agudizam-se as tensotildees geradas agrave sua

volta particularmente resultantes da reacccedilatildeo dos demais sistemas de ensino dos paiacuteses

hospedeiros particularmente os sistemas de ensino formais acentuando-se desta forma

cada vez mais a competiccedilatildeo crescente ao niacutevel do ensino superior Uma das deficiecircncias

recorrentemente apontadas ao ensino transnacional tem a ver com a falta de transpa-

recircncia e a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo que infelizmente o caracterizam

O facto de este tipo de ensino estar recorrentemente agrave margem dos Mecanismos de

regulaccedilatildeo e controlo pode ser um elemento gerador de tensatildeo entre os restantes sistemas

de ensino que coabitam no mesmo paiacutes e que a eles estatildeo sujeitos

O problema da regulaccedilatildeo eacute uma das questotildees que se reveste de maior cuidado

uma vez que estaacute intimamente ligado agraves questotildees legislativas linguiacutesticas e culturais do

ensino transnacional A garantia da manutenccedilatildeo de padrotildees miacutenimos de qualidade eacute um

problema que se tem vindo a acentuar em parte devido ao crescimento acelerado que

tem tido este tipo de ensino nos uacuteltimos anos As preocupaccedilotildees que provoca estatildeo

relacionadas quer com os conteuacutedos programaacuteticos e a sua multiplicidade quer com o

reconhecimento dos graus concedidos Autores como Kokosalakis ou Seacutergio Machado

dos Santos salientam a questatildeo do reconhecimento dos diplomas como uma

preocupaccedilatildeo eminente nas esferas de decisatildeo sendo este indubitavelmente um

ingrediente indispensaacutevel para o sucesso do ensino transnacional mdash ldquocertification plays

an important role in this contextrdquo afirma Machado dos Santos (Machado dos Santos

2000)

Esta questatildeo ganha uma nova dimensatildeo quando analisada na oacuteptica do consu-

midor a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade que caracteriza

pela negativa o Ensino Transnacional impede muitas vezes o reconhecimento do

diploma pelas estruturas legais em vigor no paiacutes onde se instalou o promotor do curso

ou ateacute noutros paiacuteses estrangeiros ficando deste modo o seu detentor inibido de

potencializar o investimento e o consequente logro das suas expectativas As questotildees

que se prendem com o reconhecimento e paridade de tiacutetulos e diplomas que eacute como

quem diz o reconhecimento da certificaccedilatildeo fora do paiacutes onde foi obtida tecircm normal-

mente como principal causa o facto de recorrentemente o ensino transnacional se

68

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

encontrar fora dos sistemas de ensino formais do paiacutes hospedeiro estando por inerecircncia

fora dos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo em vigor

A implementaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo eacute uma das medidas veemente-

mente defendida pelos impulsionadores do ensino transnacional em nome da transpa-

recircncia e da sua subsistecircncia ensino que apesar das fragilidades que ainda apresenta

ajuda muitas vezes a resolver algumas das lacunas de formaccedilatildeo dos paiacuteses onde se

encontra instalado

Um outro aspecto negativo eacute o facto de as instituiccedilotildees promotoras de ensino

transnacional tenderem a privilegiar aacutereas de saber com maior procura de mercado

investindo menos em aacutereas que apesar de serem de maior interesse para o desenvol-

vimento do paiacutes hospedeiro por oposiccedilatildeo satildeo menos procuradas pelos estudantes

contrariando desta forma os interesses estrateacutegicos do paiacutes hospedeiro

Segundo Kokosalakis acresce que os problemas acima identificados satildeo

transversais aos vaacuterios paiacuteses da Uniatildeo Europeia e adquirem contornos de difiacutecil

soluccedilatildeo uma vez relacionados com questotildees do foro legal Haacute apesar de tudo que ter

alguma reserva sobre as fragilidades e problemas conotados com o ensino transnacional

pois para Seacutergio Machado dos Santos a ldquotransnational education in general should not

be identified with fraudulous activities or bogus titles Much of its provision works in

parallel to the formal systems and in some cases it can be of comparable mechanisms or

even higher qualityrdquo 44 No entanto o autor natildeo deixa de reforccedilar a ideia mais saliente

sobre a falta de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo adequados que caracteriza pela

negativa o ensino transnacional Eacute de certo isenta a opiniatildeo do autor ao defender que

nem todo o ensino transnacional eacute necessariamente fraudulento no entanto a verdade eacute

que esta afirmaccedilatildeo apesar de verdadeira natildeo eacute aplicaacutevel no contexto de todos os paiacuteses

senatildeo vejamos nos paiacuteses desenvolvidos que apresentam sistemas de ensino superior

puacuteblicos e inseridos nos sistemas formais nacionais como satildeo exemplo os paiacuteses

europeus o sistema de ensino nacional eacute agrave partida melhor do que qualquer sistema de

ensino paralelo transnacional A premissa de que parte o autor isto eacute de que o ensino

transnacional natildeo tem de ser necessariamente fraudulento e desprovido de qualidade

aplica-se com maior rigor a paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

44 Ibidem

69

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

No contexto dos paiacuteses pobres os sistemas de ensino paralelos aos sistemas formais de

ensino satildeo assumidamente de maior qualidade e rigor cientiacutefico do que os nacionais

ldquoThere are indeed serious implications from the fast and

unchecked growth of transnational education hellip the crucial

problems (raised by non-official higher education) for the whole

above all the legal framework witch legitimises these issues

across the EU The difficulties are augmented by the fact that

transnational education often falls outside the official framework

for higher education and as a consequence stays outside the

formal supervision of academic standardsrdquo (Machado dos Santos 2000)

A anaacutelise do ensino superior transnacional natildeo estaria completa e seria certa-

mente tendenciosa se apenas se assinalassem os seus aspectos negativos Natildeo sendo isso

que se pretende com o presente trabalho deve clarificar-se que o ensino transnacional se

reveste igualmente de aspectos positivos natildeo soacute para o paiacutes promotor mas tambeacutem para

o paiacutes hospedeiro Digamos que o paiacutes emissor de ensino transnacional deteacutem um

oacuteptimo instrumento de divulgaccedilatildeo aleacutem fronteiras do seu ensino possibilitando a

internacionalizaccedilatildeo das suas instituiccedilotildees As actividades de ensino transnacional satildeo

tambeacutem um oacuteptimo aliado dos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto

um importante aliado para a manutenccedilatildeo de boas relaccedilotildees diplomaacuteticas entre paiacuteses

Aliado agraves relaccedilotildees diplomaacuteticas que se estabelecem entre paiacuteses andam invariavelmente

interesses econoacutemicos e culturais Econoacutemicos porque no que respeita ao domiacutenio do

ensino superior eacute uma forma de as instituiccedilotildees encontrarem novos puacuteblicos e formas

alternativas de financiamento interesses culturais porque sentimentos neo-colonialistas

agrave parte eacute uma forma de extensatildeo transnacional de uma cultura acadeacutemica

ldquoO ensino transnacional tambeacutem eacute considerado um meio para

reforccedilar a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior e promover a

cooperaccedilatildeo intercultural (Vlasceanu 1999) podendo trazer

benefiacutecios agraves instituiccedilotildees de um Paiacutes atraveacutes de ligaccedilotildees com

instituiccedilotildees estrangeiras prestigiadasrdquo

(Adam citado por CNAVES 2002)

70

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Nos paiacuteses em que a procura de ensino superior excede largamente a oferta por

parte das instituiccedilotildees de ensino nacionais quer sejam formais ou natildeo o ensino trans-

nacional eacute sem duacutevida um meio que proporciona formaccedilatildeo a um maior nuacutemero de

candidatos que de outra forma natildeo poderiam aspirar a uma formaccedilatildeo superior

Os problemas do ensino transnacional merecem pela sua importacircncia e

complexidade uma reflexatildeo mais aprofundada e criteriosa pois de futuro o sucesso

deste tipo de ensino passa indubitavelmente pela ultrapassagem de alguns dos seus

problemas mais prementes A ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo no ensino transna-

cional afigura-se como uma das questotildees de difiacutecil resoluccedilatildeo e aparece recorrentemente

na primeira linha de preocupaccedilotildees para Seacutergio Machado dos Santos natildeo se vislumbra

faacutecil o trabalho de implementaccedilatildeo destes mecanismos de regulaccedilatildeo formais e legais

neste sistema de ensino uma vez que os mecanismos reguladores diferem de paiacutes para

paiacutes e quaisquer que sejam as medidas de reconhecimento a implementar eacute de extrema

importacircncia que estas estejam em sintonia com o contexto nacional europeu ou interna-

cional dependendo do paiacutes onde se pretendem aplicar Cresce a niacutevel mundial o movi-

mento pro-liberalizaccedilatildeo do comeacutercio de serviccedilos educacionais Eacute neste contexto que

surge o GATS-General Agreement Trade Services

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-nacional

Sobre os mecanismos de regulaccedilatildeo do ensino transnacional o CNAVES

surpreendentemente revela que os paiacuteses com um sistema liberal de ensino como eacute o

caso da Austraacutelia e da Holanda apresentam menos problemas com o ensino transna-

cional do que outros paiacuteses com regras mais apertadas uma vez que sistemas de ensino

mais abertos tendem a absorver o ensino superior natildeo oficial que a curto prazo acaba

por se oficializar tornando-se por isso susceptiacutevel de mecanismos de controlo de quali-

dade Tratar-se-aacute de um processo de regulaccedilatildeo gradual e progressivo

No entanto regra geral natildeo eacute este o caminho que segue o ensino superior

transnacional mantendo-se antes pelo contraacuterio tendencialmente agrave margem do ensino

71

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

oficial do paiacutes onde se encontra implantado Satildeo bem conhecidos os problemas de

transparecircncia que suscita o ensino transnacional e a ausecircncia de mecanismos

reguladores e de controlo que o caracterizam problemas esses com que recorrentemente

se vecirc confrontado o paiacutes onde se encontra instalado Da parte da entidade promotora

uma das duas situaccedilotildees seguintes podem ocorrer na primeira a entidade proponente do

serviccedilo estaacute integrada no sistema oficial de ensino no seu paiacutes de origem e neste caso

ficaraacute sujeita aos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo existentes no seu proacuteprio paiacutes o

que lhe confere agrave partida credibilidade e assegura o cumprimento de padrotildees miacutenimos

de qualidade Neste caso parte-se do princiacutepio que a formaccedilatildeo ministrada seraacute baseada

nos cursos existentes no paiacutes de origem Este eacute o caso que melhor descreve as

actividades de ensino transnacional praticadas pelas instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas que incidem quase exclusivamente sobre os Paiacuteses de Liacutengua

Oficial Portuguesa Como veremos nos casos de estudo analisados nos capiacutetulos

seguintes e que serviram de base de estudo empiacuterico a este trabalho (casos de Cabo

Verde e de Timor Leste) os modelos de ensino transnacional portugueses estatildeo por

norma associados a programas de cooperaccedilatildeo e as instituiccedilotildees envolvidas apesar de

integradas nos sistemas de ensino formais do paiacutes de origem e ateacute mesmo do paiacutes

receptor natildeo estatildeo sujeitas a qualquer mecanismo de regulaccedilatildeo ou de avaliaccedilatildeo da

qualidade do seu ensino transnacional apenas as suas actividades regulares de ensino

satildeo avaliadas

A segunda situaccedilatildeo que pode ocorrer eacute o serviccedilo prestado ser promovido por

entidades agrave margem do sistema oficial de ensino quer no seu paiacutes de origem quer no

paiacutes hospedeiro havendo neste caso uma total ausecircncia de mecanismos que garantam

padrotildees miacutenimos de qualidade

Da parte das entidades promotoras de ensino transnacional verifica-se um

esforccedilo para a legitimaccedilatildeo da sua actividade aleacutem fronteiras e credibilizaccedilatildeo do ensino

transnacional muitas destas instituiccedilotildees de ensino superior oficiais criaram coacutedigos de

eacutetica e de conduta de que fazem parte recomendaccedilotildees que quando postas em praacutetica

pretendem assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade Jaacute as instituiccedilotildees de ensino que se

posicionam absolutamente fora de qualquer sistema de ensino oficial tentam por todos

os meios legitimar a sua actividade por vezes aliando-se a outras instituiccedilotildees bem

posicionadas Outra das soluccedilotildees encontradas para colmatar as dificuldades do exerciacutecio

72

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de regulaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo do ensino superior transnacional foi o aparecimento de

agecircncias privadas de acreditaccedilatildeo Estas agecircncias internacionais privadas actuam por

aacutereas de conhecimento e dedicam-se agrave criaccedilatildeo de coacutedigos de boas praacuteticas para o ensino

transnacional e agrave certificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que se submetem voluntariamente a este

mecanismo de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade para aleacutem do mais criam e aplicam

coacutedigos de conduta e de boa praacutetica agraves instituiccedilotildees que voluntariamente as decidem

adoptar e aplicar nas suas actividades de ensino transnacional Fica por esclarecer a

legitimidade de tais coacutedigos de conduta e de boa praacutetica assim como a credibilidade do

trabalho desenvolvido por estas agecircncias

Do lado dos paiacuteses hospedeiros os mecanismos de controlo vulgarmente

adoptados passam pela integraccedilatildeo de programas de ensino transnacional no sistema

oficial de ensino antecedido de procedimentos de reconhecimento O Conselho Nacio-

nal de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior entende que a aposta num sistema apertado de

regulaccedilatildeo e controlo do ensino transnacional natildeo resolveraacute o problema para aleacutem de

eventualmente se correr o risco de entrar em conflito com a Uniatildeo Europeia ou com as

leis internacionais Satildeo propostas por este oacutergatildeo outras formas mais interessantes e

aparentemente mais eficazes para regular este sistema de ensino por parte do paiacutes

hospedeiro como por exemplo a criaccedilatildeo de mecanismos eou incentivos para que estes

se submetam a procedimentos de avaliaccedilatildeo e apostem num ensino de qualidade

recebendo como contrapartida a possibilidade de integraccedilatildeo no sistema de ensino

oficial Neste caso aconselha-se a protecccedilatildeo a algumas nomenclaturas e alguns tiacutetulos

como por exemplo o de ldquouniversidaderdquo ldquoinstituto universitaacuteriordquo ou o poder de

reconhecimento de graus acadeacutemicos ou ateacute o reconhecimento puacuteblico oficial

Interessante eacute a alusatildeo feita pelo CNAVES ao projecto ldquoBorderless Educationrdquo

desenvolvido no Reino Unido onde eacute proposto de forma exaustiva e bastante

interessante um quadro de referecircncia qualitativa a aplicar ao ensino transnacional do

qual a seguir se transcreve um excerto pela pertinecircncia das sugestotildees nele contidas

ldquoSugerimos que os principais elementos de um quadro de referecircn-

cia qualitativa para o ensino sem fronteiras deve incluir aceitaccedilatildeo

e seguranccedila das qualificaccedilotildees auditoria do sistema para a

estruturaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos curricula ou contratos de aprendi-

zagem apropriados um sistema de creacuteditos reconhecido interna-

73

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

cionalmente qualificaccedilatildeo oficial do corpo docente seguranccedila nos

mecanismos de avaliaccedilatildeo uma abordagem de registo e certifi-

caccedilatildeo da consecuccedilatildeo de objectivos que seja reconhecida

internacionalmente informaccedilatildeo puacuteblica adequada e exacta sobre

oportunidades de aprendizagem sistemas aprovados de orien-

taccedilatildeo e de tratamento de reclamaccedilotildees para os estudantes proces-

sos transparentes de gestatildeo da qualidade para cada agente da

cadeia de formaccedilatildeo educativa acesso assegurado pelo prestador

a recursos de aprendizagem adequados publicaccedilatildeo de orienta-

ccedilotildees relevantes para as diferentes modalidades da ofertardquo

(CNAVES 2002)

O reconhecimento de instituiccedilotildees e programas de ensino eacute uma mateacuteria

controversa e de difiacutecil resoluccedilatildeo uma vez que envolve desde logo um conflito de

interesses a vaacuterios niacuteveis que pode ir de situaccedilotildees extremas como a acreditaccedilatildeo de

diplomas agrave manutenccedilatildeo de profissotildees tradicionais de cada paiacutes e agrave preservaccedilatildeo do

mercado de emprego nacional agrave crescente necessidade de mobilidade e de expansatildeo do

mercado Da Convenccedilatildeo de Lisboa aludida anteriormente resultou um quadro

normativo e metodoloacutegico para o reconhecimento de graus decorrentes do ensino

transnacional no entanto o quadro normativo proposto eacute particularmente direccionado

para a mobilidade de discentes Para aleacutem do mais o quadro normativo resultante da

Convenccedilatildeo aplica-se a qualificaccedilotildees obtidas em instituiccedilotildees de ensino superior

reconhecidas por um Estado seu signataacuterio natildeo se aplicando as mesmas normas de

reconhecimento de graus agraves qualificaccedilotildees resultantes do ensino transnacional que se

posicione fora deste contexto

Eacute sabido que a problemaacutetica do reconhecimento de instituiccedilotildees e de programas

tanto para fins acadeacutemicos como para fins profissionais envolve conflitos de interesses

pondo em oposiccedilatildeo a oacuteptica acadeacutemica que tenta proteger os diplomas e as profissotildees

tradicionais e por outro as necessidades do mercado de emprego e o irreversiacutevel

processo de mobilidade de pessoas que soacute faz sentido se lhes for permitido a

portabilidade das suas habilitaccedilotildees acadeacutemicas e qualificaccedilotildees profissionais

Sobre o ensino transnacional foi criado um grupo de reflexatildeo o Working Group

on Transnacional Education que em conjunto com o trabalho jaacute desenvolvido pela

European Network of Information Centres (Rede ENIC) e sob a eacutegide da UNESCO

74

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(CEPES) e do Conselho da Europa tentam haacute muito lidar com ldquothe issues of quality and

assessment of franchised higher education programmesinstitutions (in order to) propose

guidelines for the recognition of qualifications granted by these institutionsrdquo 45

Posteriormente agrave realizaccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Lisboa o Comiteacute da Convenccedilatildeo

para o Reconhecimento das Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeia viria

a adoptar na reuniatildeo de Riga o ldquoCode of Good Practice mdash in the provision of

transnacional educationrdquo 46 Neste documento que vem complementar a Convenccedilatildeo de

Reconhecimento de Lisboa satildeo delineados uma seacuterie de princiacutepios sob a forma de

normativas cujo principal objectivo eacute servir de referecircncia agraves actividades de avaliaccedilatildeo de

modo a permitir a manutenccedilatildeo da qualidade dos programas educativos e das instituiccedilotildees

que operam fora do paiacutes de origem O ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo define as condiccedilotildees de

prestaccedilatildeo de serviccedilos de educaccedilatildeo que uma vez cumpridas garantem a qualidade dos

serviccedilos prestados e por inerecircncia a protecccedilatildeo dos stakeholders (alunos funcionaacuterios

empregadores etc) A facilitaccedilatildeo do reconhecimento das qualificaccedilotildees pelos membros

do Conselho da EuropaUNESCO eacute outro dos objectivos pretendidos com a adopccedilatildeo do

coacutedigo normativo devendo os princiacutepios nele defendidos ser respeitados pelas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas no fornecimento dos serviccedilos educativos

Os princiacutepios do ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo satildeo apresentados sob a forma de

determinaccedilotildees normativas De modo a executar essas determinaccedilotildees particularmente no

que concerne ao reconhecimento de qualificaccedilotildees alcanccediladas atraveacutes de acordos de

ensino transnacional a rede ENIC recorre igualmente aos ldquoprocedures outlined in the

Recommendation on procedures and criteria for the assessment of foreign qualifi-

cationsrdquo 47 como instrumento complementar

Um outro aspecto importante a assegurar eacute a transparecircncia no trabalho de

certificaccedilatildeo que segundo o CNAVES poderaacute ser garantida pela adopccedilatildeo sistemaacutetica de

um ldquoSuplemento de Diplomardquo Esta proposta foi desenvolvida a partir de uma iniciativa

45 CEPES in Ibidem 46 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo comunicaccedilatildeo

apresentada na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

47 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

75

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comum entre a Comissatildeo Europeia o Conselho da Europa e a UNESCOCEPES que se

aplicado a todos os sistemas de ensino internacionais seraacute um valioso instrumento de

validaccedilatildeo e reconhecimento das qualificaccedilotildees dos seus detentores

No plano nacional ldquoa formulaccedilatildeo de poliacuteticas institucionais para a interna-

cionalizaccedilatildeo a cooperaccedilatildeo com os Paiacuteses de Expressatildeo Portuguesa deveraacute natural-

mente merecer uma atenccedilatildeo especiacuteficardquo (CNAVES 2002) Consciente das dificuldades

que o ensino transnacional traz para as estruturas de ensino nacionais formais no que

respeita em particular ao enquadramento e agrave competiccedilatildeo o CNAVES defende que a

tomada de medidas facilitadoras da implementaccedilatildeo do ensino superior transnacional

nomeadamente no que diz respeito agraves oportunidades de aprendizagem ao auxiacutelio na

resoluccedilatildeo de falhas de qualidade e aos padrotildees das qualificaccedilotildees concedidas deveratildeo

ser ponderadas e controladas Para o CNAVES ldquouma questatildeo inicial e baacutesica eacute a da

clarificaccedilatildeo e transparecircncia Uma melhor compreensatildeo da base normativa do ensino

transnacional das suas praacuteticas e dos seus efeitos eacute essencial como forma de o tornar

aceitaacutevel quer para os sistemas receptores quer para os emissoresrdquo Essencial seraacute zelar

pela transparecircncia nos mecanismos de regulaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de acordos transna-

cionais na sua monitorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e no reconhecimento e certificaccedilatildeo das

qualificaccedilotildees O CNAVES defende ser da responsabilidade das instituiccedilotildees de ensino

superior dos governos e das entidades internacionais aumentar o conhecimento puacuteblico

sobre os diversos elementos a ter em conta nos serviccedilos de ensino transnacional tais

como os estatutos das instituiccedilotildees a sua acreditaccedilatildeo e o reconhecimento dos seus

programas de estudo Para aleacutem do mais segundo este oacutergatildeo eacute da competecircncia das

autoridades nacionais fornecerem agrave sociedade civil informaccedilatildeo actualizada sobre as

instituiccedilotildees e os diplomas reconhecidos oficialmente A adopccedilatildeo destas medidas parte

de um princiacutepio de que existem outras medidas paralelas como sejam os quadros

normativos de regulaccedilatildeo para o ensino superior pressupondo-se neste caso que sejam

definidos de forma clara e rigorosa os requisitos necessaacuterios para o reconhecimento

oficial de instituiccedilotildees de ensino superior e para o registo de cursos Eacute tambeacutem defendido

pelo CNAVES a afirmaccedilatildeo do papel das agecircncias nacionais de avaliaccedilatildeo que deveratildeo

incluir no seu acircmbito de actuaccedilatildeo o ensino superior transnacional em estreita

articulaccedilatildeo com as agecircncias ENIC como garante de padrotildees miacutenimos de qualidade

Prevalece no entanto a ideia de que compete exclusivamente a cada paiacutes a avaliaccedilatildeo e

76

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acreditaccedilatildeo do ensino transnacional partindo-se do princiacutepio de que a especificidade

cultural seja salvaguardada

22 O GATS e o ensino transnacional

O General Agreement on Trade in Services (GATS) 48 foi criado no ano de 1995

e tem vindo a ser negociado sobre o controlo da WTO mdash World Trade Organization

(Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) O GATS cobre um total de 12 sectores de

serviccedilos de entre as quais o sector da educaccedilatildeo um dos uacuteltimos a ser incluiacutedo no

GATS 49 Dos muitos motivos invocados para que a Educaccedilatildeo fosse um dos uacuteltimos

serviccedilos a constar da listagem do GATS um dos mais recorrentes tem directamente a

ver com o facto de ter sido dada prioridade a outros serviccedilos alegadamente mais

lucrativos O sector da educaccedilatildeo raramente assumiu um papel de destaque nas relaccedilotildees

internacionais e europeias Este fenoacutemeno natildeo eacute diferente no caso do GATS no qual o

sector da educaccedilatildeo foi incluiacutedo soacute muito recentemente e ainda sujeito a bastantes

restriccedilotildees apesar de neste caso concreto este envolvimento tardio natildeo ser de lamentar

Uma excepccedilatildeo a esta situaccedilatildeo verifica-se no caso dos serviccedilos que envolvem a

deslocaccedilatildeo do consumidor para o paiacutes promotor do serviccedilo Um exemplo concreto desta

situaccedilatildeo satildeo os programas de mobilidade de estudantes Estes programas representam

actualmente a maior percentagem de prestaccedilatildeo de serviccedilos no mercado do ensino

superior Prevecirc-se que a primeira ronda de negociaccedilotildees sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilos

entre paiacuteses esteja concluiacuteda no ano de 2005 Esta situaccedilatildeo requer cautelas especiais da

parte dos paiacuteses envolvidos uma vez que a comercializaccedilatildeo do ensino natildeo poderaacute ser

submetido agraves mesmas regras de mercado a que satildeo submetidos os restantes bens ou

serviccedilos comercializados sob pena de comprometer a qualidade do serviccedilo prestado

48 ldquoIs the first set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo (UNESCO 2003) 49 ldquoOnly 44 of the 144 WTO Members have made commitments to education and only 21 of these have

included commitments to higher educationrdquo (WTO in Knight 2002)

77

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS coloca-o agrave mercecirc das regras do

mercado da oferta e da procura Satildeo quatro os aspectos baacutesicos que regem o sector da

educaccedilatildeo no contexto do GATS e que se traduzem no seguinte

Facilitaccedilatildeo e apoio a programas de mobilidade direccionados para alunos

professores investigadores e funcionaacuterios com vista agrave obtenccedilatildeo de

ldquoserviccedilosrdquo educativos em instituiccedilotildees de ensino estrangeiras Na praacutetica e

se fizermos um paralelismo com as leis de mercado livre esta situaccedilatildeo

permite que qualquer paiacutes possa passar a vender serviccedilos de educaccedilatildeo em

qualquer outro paiacutes Trata-se da abertura de fronteiras ao mercado da

educaccedilatildeo

Possibilidade de fornecimento de um serviccedilo educativo no paiacutes receptor

mas a partir das estruturas existentes no paiacutes promotor do serviccedilo No

caso do sector educativo este aspecto diz directamente respeito aos

programas de ensino agrave distacircncia que estatildeo hoje em franca expansatildeo De

referir que com o raacutepido desenvolvimento das novas tecnologias aliado agrave

nova sociedade de informaccedilatildeo o desenvolvimento deste tipo de ensino

tem-se tornado cada vez mais exequiacutevel

Presenccedila fiacutesica de estruturas do paiacutes que presta o serviccedilo Eacute possiacutevel

fazer-se um certo paralelismo entre esta situaccedilatildeo com o ensino trans-

nacional apesar do ensino transnacional estar muitas vezes associado a

actividades sem fins comerciais ou lucrativos como satildeo exemplo as

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

Presenccedila fiacutesica de recursos humanos originaacuterios do paiacutes promotor do

serviccedilo no proacuteprio paiacutes receptor onde desenvolvem a actividade Trata-se

concretamente da acccedilotildees de mobilidade do corpo docente e investi-

gadores que passam a desenvolver a sua actividade cientiacutefica e acadeacute-

mica em paiacuteses estrangeiros

Das regras definidas pelo GATS quer as gerais quer aquelas apenas aplicaacuteveis a

compromissos especiacuteficos posteriormente estabelecidos com determinados paiacuteses

aquela que aparentemente maior consequecircncias poderaacute trazer para o sector da Educaccedilatildeo

78

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eacute a denominada MFNT mdash ldquoMost Favoured Nation Treatmentrdquo (Estatuto de Naccedilatildeo Mais

Favorecida) De acordo com esta regra estabelecida pelo GATS todos os paiacuteses

parceiros encontram-se em peacute de igualdade e portanto merecem igualdade de

tratamento Eacute aquilo que a WTO define como a ldquofavour one favour allrdquo O MFNT

coloca em peacute de igualdade todos os sistemas de ensino que participem no GATS natildeo

distinguindo as especificidades ou fragilidades do sector educativo dos paiacuteses

envolvidos Perante um cenaacuterio segundo o qual o sector da educaccedilatildeo aparece agrave mercecirc

das leis do mercado logo sem mecanismos formais de regulaccedilatildeo e controlo pode levar

ao desenvolvimento de determinadas aacutereas em detrimento de outras apenas porque

aquelas tecircm mais procura de mercado Esta situaccedilatildeo pode originar que as aacutereas

estrateacutegicas necessaacuterias ao desenvolvimento econoacutemico do paiacutes sejam preteridas

Este risco eacute mais acentuado em paiacuteses em vias de desenvolvimento onde eacute

crucial a decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo onde investir

O sector da educaccedilatildeo no GATS encontra-se dividido em 5 subsectores sendo um

dos contemplados o ensino superior Segundo a UNESCO o ensino superior eacute

considerado uma das 3 categorias mais relevantes na educaccedilatildeo terciaacuteria O ensino

superior abrange neste caso os serviccedilos de educaccedilatildeo poacutes-secundaacuterio teacutecnicos e

vocacionais bem como outros programas de educaccedilatildeo que conduzam a um grau de

formaccedilatildeo universitaacuterio ou equivalente De salientar que a educaccedilatildeo de adultos estaacute

neste caso considerada fora do sistema regular de educaccedilatildeo

Os motivos invocados para a inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS satildeo

segundo a UNESCO o facto de ldquoTrade in higher education is a million dollar businessrdquo

Este argumento torna-se irrefutaacutevel ao constatar-se o aumento acelerado e exponencial

da procura neste sector ao qual tem sido dado pronta resposta atraveacutes das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional de caraacutecter privado ou com fins lucrativos O sector

puacuteblico natildeo tem ateacute hoje conseguido dar resposta agraves necessidades da procura e quando

este facto eacute aliado agrave implementaccedilatildeo dos ECTS e ao crescente desenvolvimento do

e-learning estamos perante um mercado bastante lucrativo e em franca expansatildeo

Bastante empenhados em garantir a competiccedilatildeo internacional nos serviccedilos educacionais

com o miacutenimo de intervenccedilatildeo governamental estatildeo entre outros paiacuteses os Estados

Unidos e desta sua intenccedilatildeo deram conta no OCDEUS Forum mdash Trade in Education

Services realizado em Maio de 2002 na cidade de Washington

79

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Para os defensores da inclusatildeo do ensino superior no GATS e desta forma a

liberalizaccedilatildeo do seu comeacutercio os argumentos usados baseiam-se em alegaccedilotildees

fundamentadas no processo de globalizaccedilatildeo como eacute o caso das alegaccedilotildees que advogam

que a inclusatildeo do sector da Educaccedilatildeo no GATS ldquoajudaria a eliminar barreiras existentes

como sejam os quadros juriacutedicos que reconhecem a educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria como um

produto puacuteblico e natildeo uma funccedilatildeo proprietaacuteria as poliacuteticas que restringem o acesso ao

mercado de serviccedilos educacionais por parte de fornecedores estrangeiros restriccedilotildees agrave

posse de universidades por entidades estrangeiras e legislaccedilatildeo que impede ou limita a

acreditaccedilatildeo de fornecedores estrangeirosrdquo (CNAVES 2002) Mais politizada eacute a

argumentaccedilatildeo a favor do GATS no sector da Educaccedilatildeo que Jane Knight 50 invoca

afirmando que este sistema poderaacute vir de alguma forma ameaccedilar o papel dos governos

como entidades reconhecidas de regulaccedilatildeo do ensino superior e defensores dos

objectivos poliacuteticos nacionais Jane Knight enumera alguns argumentos a favor da

inclusatildeo da Educaccedilatildeo no GATS como sejam a possibilidade de acesso agrave educaccedilatildeo por

um maior nuacutemero de estudantes diminuindo desta forma a disparidade entre a oferta e a

procura Tambeacutem a maior capacidade de inovaccedilatildeo pode ser usada como um argumento

a favor uma vez que os novos promotores de ensino trazem normalmente consigo

formas de ensino inovadoras porque da sua capacidade de criaccedilatildeo depende o sucesso

dos seus serviccedilos e a sua sobrevivecircncia O aumento dos ganhos econoacutemicos eacute outra das

razotildees apontadas por Knight como um dos argumentos mais usados

Este uacuteltimo argumento assume grande importacircncia na medida em que a partir do

momento em que o sistema de educaccedilatildeo passa a estar sujeito agraves leis do mercado fica agrave

mercecirc da lei da ldquoofertardquo e da ldquoprocurardquo logo susceptiacutevel de fracassar sempre que

determinados requisitos natildeo se verifiquem requisitos esses que nem sempre passam por

criteacuterios de qualidade e interesses nacionais Criteacuterios pouco ortodoxos e ditados pelas

leis de mercado ou seja pelos consumidores em suma pelo puacuteblico em geral Estes

passam a sobrepor-se a requisitos de qualidade ou outros igualmente importantes uma

vez que a oferta eacute ditada pela procura e apenas sobreviveratildeo os serviccedilos que melhor

correspondam agraves exigecircncias do mercado Todas estas questotildees pressupotildeem que o sector

50 Knight Jane ldquoGlobalization and higher Educationrdquo GATS mdash Higher Education Implications

Opinions and questions UNESCO Paris October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwunescoorgeducationstudyingabroadindexshtml Arquivo capturado em 10 de Maio de 2003

80

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

da educaccedilatildeo particularmente os responsaacuteveis pelas instituiccedilotildees de ensino bem como os

responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas de cada paiacutes passem a desempenhar um papel

activo e participante cabendo-lhes a importante tarefa de estimular as instituiccedilotildees de

ensino na busca de um ensino de excelecircncia Deve procurar-se cultivar um ensino

dinacircmico e de qualidade apenas alcanccedilaacutevel adoptando uma postura proacute-activa que

saiba acompanhar os desafios lanccedilados pelo GATS

No entanto este processo levanta ainda uma seacuterie de questotildees e algumas

reservas a muitos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas sob o argumento de que o

ensino superior natildeo se pode reduzir a um mero produto comercial governado pelas

forccedilas do mercado Esta posiccedilatildeo foi jaacute assumida publicamente por representantes de

diversas instituiccedilotildees de ensino superior associaccedilotildees de estudantes e demais actores

ligados ao sector A ldquoJoint Declaration on Higher Education and the General Agreement

on Trade in Servicesrdquo datada de Setembro de 2001 eacute disso exemplo Produzida em

conjunto e assinada pela European Universities Association pela Canadian Association

of Universities and Colleges pela American Council for Education e pelo Council for

Higher Education Accreditation esta declaraccedilatildeo expressa a intenccedilatildeo e o compromisso

dos seus signataacuterios em reduzir os obstaacuteculos agrave internacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

atraveacutes da realizaccedilatildeo de convenccedilotildees e de acordos colocando-se deste modo agrave margem

das poliacuteticas submetidas agraves leis de mercado (Knight 2002)

Dos argumentos utilizados contra a inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS

salienta-se o facto de este sector constituir um direito humano fundamental natildeo

devendo por isso ser encarada como um produto de troca comercial e como tal sujeito agraves

forccedilas do mercado por si soacute incontrolaacuteveis Por outro lado a educaccedilatildeo eacute considerada

um bem puacuteblico ao serviccedilo do desenvolvimento dos indiviacuteduos e do desenvolvimento

sustentado da sociedade como um todo o facto do ensino ser uma responsabilidade

puacuteblica faz com que deva continuar a ser regulado pelas autoridades puacuteblicas

legitimadas para tal Como aliaacutes alega Sauve ldquoSupporters of the GATS emphasise that

is to a large extent a government function and that the agreement does not seek to

displace the public education systems and the right of government to regulate and meet

domestic policy objectivesrdquo (Sauve citado por Knight 2002)

Apesar dos argumentos antiliberalizaccedilatildeo admite-se que ldquoos obstaacuteculos agrave interna-

cionalizaccedilatildeo do ensino superior devem ser removidos de forma a estimular uma

81

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

competiccedilatildeo promotora da qualidade do ensino superior mas esses objectivos devem ser

atingidos atraveacutes de um novo quadro legal de regulaccedilatildeo para o reconhecimento acadeacute-

mico a garantia de qualidade e a acreditaccedilatildeo quadro esse a ser desenvolvido pelas

instacircncias acadeacutemicas com o suporte de autoridades puacuteblicas nacionais e regionaisrdquo

(CNAVES 2002) Este quadro pressupotildee que os serviccedilos educacionais puacuteblicos e priva-

dos coexistam e cooperem para a satisfaccedilatildeo das necessidades educacionais da socie-

dade

As preocupaccedilotildees espelhadas com o ensino no GATS tornam-se ainda mais

acentuadas quando se trata de paiacuteses em vias de desenvolvimento uma vez que a

aplicaccedilatildeo do GATS neste contexto pode asfixiar os sistemas formais de ensino superior

que natildeo resistiriam a uma concorrecircncia desregulada principalmente porque essas regras

ditariam limitaccedilotildees ao financiamento puacuteblico das instituiccedilotildees de ensino o que de certo

seria incomportaacutevel para paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Sobre este aspecto em particular o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

chama a atenccedilatildeo para o Relatoacuterio do Desenvolvimento Humano do PNUD uma vez que

nele satildeo reveladas as ldquogritantes assimetrias nos quadros de indicadores relativos ao

iacutendice de desenvolvimento humano entre os paiacuteses de desenvolvimento elevado meacutedio

e baixo nomeadamente no que respeita agraves taxas de escolaridade e ao iacutendice de

educaccedilatildeordquo (CNAVES 2002) Neste quadro os sistemas nacionais de ensino superior de

cada paiacutes desempenham um papel crucial pois quando devidamente adaptados agrave

realidade social cultural e econoacutemica podem desempenhar um papel preponderante no

contributo para o seu desenvolvimento

Por conseguinte o desenvolvimento de uma aacuterea europeia comum no sector da

educaccedilatildeo poderaacute constituir uma vantagem que permitiraacute aos paiacuteses europeus manterem-

se numa posiccedilatildeo de vanguarda e vantagem face a outros paiacuteses do resto do mundo

particularmente se falamos de paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Segundo Neave a mobilidade dos indiviacuteduos ao niacutevel da cooperaccedilatildeo para investigaccedilatildeo

e formaccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios se o indiviacuteduo retornar ao paiacutes de origem Esta eacute uma

forma das regiotildees mais favorecidas contribuiacuterem para a diminuiccedilatildeo das assimetrias

entre regiotildees possibilitando que a partir da formaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de quadros os

paiacuteses mais favorecidos contribuam para o desenvolvimento dos paiacuteses menos

favorecidos (Neave 2001 citado por Veiga 2003)

82

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

As implicaccedilotildees negativas da liberalizaccedilatildeo desregulada do ensino superior natildeo

cessam aqui quando transposto para o contexto de paiacuteses desenvolvidos deparamo-nos

com problemas de outra dimensatildeo proacuteprios de um estadium de evoluccedilatildeo mais

avanccedilado como sejam os valores universitaacuterios tradicionais nomeadamente face ao

modo como eacute ministrado o ensino transnacional

ldquoA comercializaccedilatildeo do ensino superior num ambiente de

competiccedilatildeo que raia o selvagem levanta na realidade conflitos

seacuterios com o ethos universitaacuterio de reflexatildeo e procura desinte-

ressada do conhecimentohelliprdquo no entanto conclui-se que na

verdade ldquohellipmudanccedilas enormes vatildeo certamente ocorrer como

consequecircncia das cada vez maiores expectativas que a sociedade

coloca no ensino superior mas o valor intriacutenseco da ldquovida no

campusrdquo mdash o valor acrescentado da interacccedilatildeo face-a-face deveraacute

permanecer como elemento essencial para a aquisiccedilatildeo das

capacidades e competecircncias transferiacuteveis que se revestem de uma

importacircncia crucial para os mercados de trabalho de hoje e de

amanhatilderdquo (CNAVES 2002)

Para Jane Knight o GATS 51 eacute hoje uma realidade e natildeo poderemos ignorar que

ldquocross border for-profit delivery of higher education is not a new phenomenon It has

been taking place long before GATS appeared in 1995 and has clearly increased in the

last decaderdquo (Larsen citado por Knight 2002) A autora defende que ao contraacuterio de

tentar inverter-se esta tendecircncia dever-se-aacute tentar retirar o maacuteximo partido dos seus

aspectos positivos aproveitando as oportunidades que proporciona e os benefiacutecios que

traz aos paiacuteses Esta postura exige por parte das estruturas e dos actores envolvidos um

estado de vigilacircncia e alerta permanentes devendo procurar-se estar sempre informado

e activo no sector da educaccedilatildeo

51 ldquoThe GATS is the set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo Knight 2002

83

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-econoacutemica internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilos

No contexto de uma Europa global importa aferir o que distingue as actividades

de internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior daquelas que satildeo

consideradas actividades comerciais Numa oacuteptica acadeacutemica as actividades de

internacionalizaccedilatildeo encetadas pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo encaradas como motores

do desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino superior que se vecircem a braccedilos com um

mercado globalizador cada vez mais competitivo a internacionalizaccedilatildeo exige a

preparaccedilatildeo das instituiccedilotildees para esta realidade por parte dos vaacuterios actores que agora

enfrentam um mundo bem mais interligado e dependente

Numa vertente mais economicista a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees pode

ser vista como um forma de comercializaccedilatildeo de serviccedilos logo uma forma de

rentabilizaccedilatildeo das potencialidades e um agente da globalizaccedilatildeo por si soacute o recrutamento

de estudantes estrangeiros ou a comercializaccedilatildeo aleacutem fronteiras dos serviccedilos fornecidos

pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo algumas das formas encontradas por muitas instituiccedilotildees

para aumentar o orccedilamento

Este assunto assume especial importacircncia quando falamos de paiacuteses em vias de

desenvolvimento como eacute o caso dos paiacuteses do continente africano Neste trabalho

importa destacar em especial o caso dos Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portu-

guesa (daqui para a frente denominados por PALOP) pois eacute para laacute que Portugal exporta

maioritariamente ensino superior mas a este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente

Caberaacute aqui lugar agrave identificaccedilatildeo de alguns dos aspectos que permitem distinguir

entre actividades de caraacutecter meramente comercial e actividades que tecircm como

finalidade a promoccedilatildeo e a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior o

exerciacutecio de identificaccedilatildeo desses aspectos e motivaccedilotildees deveraacute residir numa anaacutelise tatildeo

racional quanto possiacutevel das reais motivaccedilotildees e dos verdadeiros benefiacutecios retirados da

realizaccedilatildeo das actividades quaisquer que elas sejam natildeo tendo tanto a ver com a

natureza das actividades desenvolvidas

Segundo Jane Knight as actividades de internacionalizaccedilatildeo podem ter como

finalidade o desenvolvimento e a promoccedilatildeo da qualidade a visibilidade ou ateacute mesmo

os benefiacutecios sociais das instituiccedilotildees e da educaccedilatildeo no sentido em que funciona como

84

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

um mecanismo de fornecimento de uma ferramenta de trabalho agraves futuras geraccedilotildees de

modo a permitir a obtenccedilatildeo de ganhos econoacutemicos futuros Para a autora esta postura

deveraacute ser necessariamente assumida por ambas as partes intervenientes

Para provar a subversatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo52 normalmente

associado ao aspecto menos econoacutemico das actividades de ensino superior a autora

considera que o conceito de internacionalizaccedilatildeo estaacute hoje subdividido em dois

patamares a internacionalizaccedilatildeo que visa o lucro mdash ldquofor-profit internationalisationrdquo mdash

e a internacionalizaccedilatildeo que natildeo visa o lucro mdash ldquonon-profit internationalisationrdquo

Segundo Knight esta separaccedilatildeo ajudar-nos-aacute a destrinccedilar entre as actividades educa-

tivas transnacionais que tecircm como objectivo primaacuterio a obtenccedilatildeo do lucro o que a

autora chama de ldquotrade in educational servicesrdquo e aquelas que satildeo movidas por razotildees

de caraacutecter meramente cientiacutefico ou cooperativo isto eacute pela mera promoccedilatildeo da

qualidade ou quaisquer outras actividades de caraacutecter natildeo lucrativo como sejam o

ensino a investigaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de serviccedilos que promovam o desenvolvimento de

sistemas de ensino carenciados Importa esclarecer como ponto de partida para a

distinccedilatildeo clara entre estas duas posturas face ao processo de internacionalizaccedilatildeo que

ldquothis for-profit versus non-profit approach to internationalisation needs to be explored

furtherhellip It is just too simple to label all activities which cross borders as internatio-

nalisation activities Trade in services is clearly a for-profit approach to internationali-

sation of education Whether trade in education has a net positive effect on inter-

nationalisation of higher education is yet to be determinedrdquo (Knight 2002)

52 ldquoThe process of integrating dimension into the teaching research and service functions of higher

educationrdquo Knight 2002

85

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

86

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III 3 A Metodologia de Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo

selecccedilatildeo da amostra recolha e anaacutelise de dados

O trabalho de pesquisa em ciecircncias sociais obedece a uma seacuterie de etapas

evolutivas tendo normalmente iniacutecio no momento da definiccedilatildeo dos objectivos e

culminando na anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos resultados A presente investigaccedilatildeo natildeo

pretende ser diferente e desde a definiccedilatildeo da problemaacutetica de partida ateacute ao teacuterminos do

processo de investigaccedilatildeo (aquando da apresentaccedilatildeo das conclusotildees e recomendaccedilotildees

finais) procurou-se cumprir com as etapas consideradas mais relevantes e adequadas agrave

natureza do estudo que se propocircs realizar

Trata-se pois de uma pesquisa monodisciplinar uma vez que procura

compreender os mecanismos de cooperaccedilatildeo institucionais a partir de um uacutenico campo

de conhecimento cientiacutefico e essencialmente descritiva dado que se propotildee analisar o

fenoacutemeno da cooperaccedilatildeo atraveacutes da reconstruccedilatildeo e anaacutelise dos modelos de cooperaccedilatildeo

portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior aplicados na uacuteltima deacutecada em Cabo Verde

e Timor Leste

Em ciecircncias sociais a etapa de pesquisa eacute fundamental e funciona como pedra

basilar da fiabilidade e da evoluccedilatildeo do processo de investigaccedilatildeo Cientificamente

considera-se que um trabalho de pesquisa tem qualidade quando este procura o

progresso cientiacutefico e a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos teoacutericos Nesta linha Ander-Egg

defende que uma pesquisa formal eacute aquela que generaliza princiacutepios ou leis isto eacute para

o autor o objectivo principal do cientista eacute o conhecimento pelo conhecimento

87

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(Marconi 1990) Beste 53 apesar de se posicionar na mesma linha teoacuterica que Ander-

Egg objectiva mais claramente a definiccedilatildeo do conceito de pesquisa classificando-o

como um trabalho descritivo um procedimento que visa abordar a descriccedilatildeo o registo

a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de fenoacutemenos actuais objectivando o seu funcionamento no

presente

Numa primeira etapa do trabalho de pesquisa aqui realizado procurou-se

delimitar o objecto de anaacutelise O objecto de anaacutelise escolhido para a realizaccedilatildeo deste

estudo foram os Programas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior

Este eacute o primeiro momento do trabalho exploratoacuterio atraveacutes do qual se procuraraacute

identificar e delimitar o objecto de estudo e determinar os objectivos

A segunda etapa do trabalho de pesquisa eacute normalmente dedicada agrave clarificaccedilatildeo

da orientaccedilatildeo a dar agrave anaacutelise A este momento segue-se uma terceira etapa igualmente

fundamental na qual se estabelece a hipoacutetese de partida instrumento este que serviraacute de

fio condutor e de elemento orientador ao longo das restantes etapas de trabalho

Seraacute pertinente fazer aqui uma breve abordagem aos limites do meacutetodo cientiacutefico

em ciecircncias sociais e humanas de modo a identificar as limitaccedilotildees proacuteprias que se

impotildee no rigor cientiacutefico em trabalhos desta natureza Donald Ary 54 tem sobre este

assunto uma visatildeo bastante precisa ao considerar que na utilizaccedilatildeo do meacutetodo

cientiacuteficoexperimental as ciecircncias humanas revelam grandes limitaccedilotildees quando

comparadas com o rigor cientiacutefico das ciecircncias naturais Na verdade as ciecircncias

educativas sociais e humanas natildeo conseguiram estabelecer um modo de generalizaccedilatildeo

equivalente agraves teorias das ciecircncias da natureza nem tatildeo pouco formular previsotildees dos

fenoacutemenos estudados Alguns dos maiores obstaacuteculos apontados por este autor agrave falta de

rigor cientiacutefico em ciecircncias sociais e humanas traduzem-se em questotildees que passam

pela natureza e complexidade do objecto de estudo Acresce a isto as proacuteprias

dificuldades de observaccedilatildeo (isto porque o sujeito observado eacute tambeacutem o observador ou

seja ambos satildeo seres humanos logo a natureza de ambos eacute a mesma) fazendo com que

o grau de subjectividade seja consideravelmente maior relativamente agraves ciecircncias

naturais Tambeacutem as motivaccedilotildees os valores a priori e todas as atitudes do cientista

53 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 pp 456 54 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 456 pp

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

social influenciam o seu trabalho condicionando a observaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo que este faz

dos resultados e consequentemente as conclusotildees resultantes do trabalho realizado

Mas a maior dificuldade reside sem duacutevida no facto dos fenoacutemenos sociais natildeo

serem homogeacuteneos logo as experiecircncias realizadas natildeo satildeo susceptiacuteveis de se repetirem

em condiccedilotildees semelhantes como acontece com as ciecircncias naturais Em ciecircncias

humanas trata-se de acontecimentos singulares condicionados por um determinado

contexto e portanto trata-se de fenoacutemenos de ordem qualitativa nos quais

inevitavelmente o observador eacute simultaneamente participante concluindo-se assim que

em ciecircncias humanas o meacutetodo cientiacutefico eacute bastante limitado A este propoacutesito Jean

Piaget corrobora com as afirmaccedilotildees de Ary e defende que

ldquo (hellip) As ciecircncias do homem natildeo tecircm pois nenhuma razatildeo para

se espantar da lentidatildeo passada da sua formaccedilatildeohellip Poreacutem aleacutem

das dificuldades comuns a todas as disciplinas experimentais as

ciecircncias do homem encontram-se em presenccedila de uma situaccedilatildeo

epistemoloacutegica e de problemas metodoloacutegicos que lhe satildeo mais

ou menos proacuteprios e que importa examinar de perto eacute que tendo

o homem como objecto nas suas inumeraacuteveis actividades e

sendo elaboradas pelo homem nas suas actividades cognitivas

as ciecircncias humanas estatildeo colocadas nesta posiccedilatildeo particular de

dependerem do homem simultaneamente como sujeito e como

objecto o que levanta como eacute evidente uma seacuterie de questotildees

particulares e difiacuteceis (hellip)rdquo (Jean Piaget in Marconi 1990)

Haacute que assumir agrave partida as limitaccedilotildees e dificuldades proacuteprias de um trabalho

desta natureza Ao longo do desenvolvimento do trabalho de pesquisa tentou-se ter

presente a consciecircncia de que o envolvimento do investigador deve ser controlado de

modo a natildeo se deixar tomar emocionalmente pela problemaacutetica que estaacute a tratar e assim

evitar quaisquer juiacutezos de valor sempre com o objectivo uacuteltimo de comprovar a

hipoacutetese de partida Se tal pretensatildeo natildeo foi bem sucedida no presente trabalho deve-se

natildeo haacute ignoracircncia do risco mas devido ao facto de como diz Deshaires ldquoquando nos

colocamos na posiccedilatildeo de investigador comeccedilamos por dispor das nossas proacuteprias

inclinaccedilotildees intelectuais cognitivas afectivas e outras () a investigaccedilatildeo exige uma

participaccedilatildeo iacutentima e pessoal no processo de conhecimento Faz apelo a um

investimento indispensaacutevel da proacutepria pessoardquo (Deshaires 1992)

89

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo

A definiccedilatildeo do problema 55 de partida significa precisar tanto quanto possiacutevel

com clareza e objectividade o assunto que se vai tratar no trabalho de pesquisa

Eacute consensualmente aceite que uma colocaccedilatildeo clara do problema pode facilitar a

construccedilatildeo da hipoacutetese de trabalho

O problema ou problemas de partida deve ser formulado preferencialmente sob

a forma de interrogaccedilotildees e delimitado a partir da indicaccedilatildeo das variaacuteveis que intervecircm

no estudo e possiacuteveis relaccedilotildees entre si Trata-se de um processo contiacutenuo que exige um

pensamento criacutetico e reflexivo cuja formulaccedilatildeo pressupotildee conhecimentos preacutevios sobre

o assunto ldquoa caracterizaccedilatildeo do problema define e identifica o assunto em estudo ou

seja um problema muito abrangente torna a pesquisa mais complexa quando bem

delimitado simplifica e facilita a maneira de conduzir a investigaccedilatildeordquo (Marinho in

Marconi 1990) O trabalho de pesquisa tem iniacutecio com o levantamento de dados que

podem ser recolhidos a partir de fontes variadas esta eacute normalmente a primeira

abordagem ao problema e eacute um procedimento que para aleacutem de fornecer todo um

manancial de informaccedilotildees ao investigador sobre o assunto em estudo pode evitar a

duplicaccedilatildeo de esforccedilos Para aleacutem do mais o trabalho de recolha de dados e a anaacutelise

bibliograacutefica permite sugerir hipoacuteteses orientando desta forma o sentido da pesquisa

Uma reflexatildeo mais aprofundada sobre algumas das questotildees suscitadas pelo

enquadramento teoacuterico das problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional bem

como o resultado de alguma troca de ideias com os orientadores ao longo da construccedilatildeo

do quadro teoacuterico viriam a revelar-se instrumentos decisivos para a maturaccedilatildeo da

problemaacutetica de partida que conduziria posteriormente agrave definiccedilatildeo do objecto de anaacutelise

O quadro teoacuterico quando eacute exaustivo e bem fundamentado auxilia eficazmente na com-

preensatildeo do universo da pesquisa documental

Da contextualizaccedilatildeo teoacuterica realizada resultou uma seacuterie de interrogaccedilotildees e

pressupostos sobre o ensino transnacional nomeadamente a convicccedilatildeo de que eacute

importante aferir rapidamente se estaacute de alguma forma salvaguardada a existecircncia de

55 ldquoProblema eacute uma dificuldade teoacuterica ou praacutetica no conhecimento de alguma coisa de real importacircncia

para a qual se deve encontrar uma soluccedilatildeordquo (Marconi 1990)

90

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino transnacional que se enquadram nos

programas de cooperaccedilatildeo nacional Uma outra interrogaccedilatildeo suscitada pelo quadro

teoacuterico eacute a necessidade de aferir se satildeo ou natildeo utilizados mecanismos de regulaccedilatildeo e

controlo que assegurem a qualidade do trabalho realizado ao niacutevel das instituiccedilotildees de

ensino superior esta eacute uma interrogaccedilatildeo que assumiraacute um papel dianteiro na lista de

preocupaccedilotildees deste trabalho de investigaccedilatildeo Mas outros problemas de igual relevacircncia

foram identificados nomeadamente a importacircncia que representa para o paiacutes receptor de

ensino transnacional o acesso a informaccedilotildees sobre as instituiccedilotildees que realizam as

acccedilotildees nomeadamente o enquadramento legal destas no seu paiacutes de origem o acesso

aos seus estatutos se se encontram ou natildeo integradas nos sistemas formais de ensino

entre outras Essa transparecircncia e facilitaccedilatildeo de acesso agrave informaccedilatildeo imprime por si soacute

um cunho de credibilidade e fiabilidade aos programas de ensino transnacional

valorizando-os A juntar agraves questotildees jaacute enunciadas identificaram-se outras relacionadas

com a necessidade de salvaguardar por parte do paiacutes emissor o respeito pelas

especificidades culturais do paiacutes receptor sendo essencial assegurar neste processo que

a liacutengua oficial falada no paiacutes beneficiaacuterio seja tambeacutem a liacutengua utilizada pelo paiacutes

promotor que ministra o ensino Parte-se do princiacutepio de que estes e outros princiacutepios

basilares do ensino transnacional deveratildeo estar assegurados e um eventual processo de

avaliaccedilatildeo deveraacute imperativamente averiguar o cumprimento destas regras fundamentais

para a operacircncia de um ensino transnacional transparente e de qualidade

Questotildees como a definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo o reconhecimento

dos diplomas ou a existecircncia de sinais de resistecircncia por parte das estruturas de ensino

formais dos paiacuteses receptores condicionam igualmente a definiccedilatildeo do objecto de estudo

como se veraacute de seguida

Como se disse o objecto de estudo foi delimitado agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

portuguesa para o sector da educaccedilatildeo mais propriamente no domiacutenio do ensino

superior Interessa fundamentalmente centrar a pesquisa realizada nas acccedilotildees de ensino

transnacional nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa Como anteriormente referido o

problema de partida condicionou a definiccedilatildeo do objecto de estudo uma vez que as

questotildees inicialmente suscitadas satildeo mais susceptiacuteveis de ser observadas em paiacuteses em

vias de desenvolvimento uma vez que o contexto soacutecio-econoacutemico e cultural destes os

tornam mais vulneraacuteveis agrave proliferaccedilatildeo de praacuteticas de ensino transnacional

91

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma vez definido o assunto e devido agrave escassez de recursos e de tempo o

trabalho de pesquisa incidiu sobre uma amostra que se pretende representativa do

universo Delimitou-se a anaacutelise agraves instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas univer-

sitaacuterias e politeacutecnicas visto que tratando-se de poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais

e representando estas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilateral assumidas oficialmente pelo

governo portuguecircs interessaria essencialmente ter em linha de conta o trabalho

desenvolvido pelas instituiccedilotildees de ensino de caraacutecter puacuteblico cujas actividades de

ensino transnacional se integrem nas poliacuteticas externas do paiacutes Foram portanto consi-

deradas apenas instituiccedilotildees de caraacutecter puacuteblico natildeo fazendo parte da amostra as

instituiccedilotildees de ensino superior privadas Esta demarcaccedilatildeo prende-se com vaacuterias ordens

de factores que passam natildeo soacute pelos motivos atraacutes invocados mas tambeacutem por

condicionalismos de trabalho de campo (na verdade e apesar de vaacuterias tentativas natildeo

foi possiacutevel chegar agrave fala com os responsaacuteveis pelos programas de cooperaccedilatildeo das

instituiccedilotildees privadas contactadas) Acresce a isto a escassez de informaccedilatildeo que aleacutem do

mais eacute inconclusiva e pouco revela sobre a natureza objectivos e resultados das

actividades de cooperaccedilatildeo no subsector do ensino superior privado e uma vez que nos

dois casos de estudo apenas se regista a presenccedila de uma uacutenica instituiccedilatildeo desta

natureza optou-se por deixar de fora da amostra os programas de ensino transnacional

desenvolvidos por instituiccedilotildees de ensino superior privadas

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida

Em teoria a hipoacutetese de partida eacute uma proposiccedilatildeo que serve para verificar a

validade da resposta dada a um problema Trata-se portanto de uma suposiccedilatildeo que

antecede a constataccedilatildeo dos factos e que se caracteriza como uma formulaccedilatildeo provisoacuteria

que se torna vaacutelida depois de testada e comprovada A hipoacutetese de partida assume na

pesquisa cientiacutefica o papel de propor explicaccedilotildees para os factos e ao mesmo tempo

orientar o trabalho sendo fundamental a clareza da sua definiccedilatildeo O fim uacuteltimo do

trabalho de pesquisa trata precisamente de comprovar ou rejeitar a (ou as) hipoacutetese(s)

de partida

92

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Depois da construccedilatildeo do quadro teoacuterico e da formulaccedilatildeo do problema sendo

como vimos esta uacuteltima etapa fortemente condicionada pelo enquadramento teoacuterico-

-conceptual 56 que a precede (os capiacutetulos I e II foram inteiramente dedicados agrave

identificaccedilatildeo do problema na expectativa de balizar as referecircncias teoacuterico-conceptuais

sobre o ensino transnacional) a pesquisa bibliograacutefica sobre este assunto conduziu a

uma abordagem pragmaacutetica do problema permitindo identificar objectivamente alguns

dos seus pontos fortes mas tambeacutem algumas das fragilidades de que padece o ensino

transnacional aspectos jaacute oportunamente enunciados Agrave luz da contextualizaccedilatildeo teoacuterica

definiu-se como meacutetodo de trabalho a descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos modelos de

cooperaccedilatildeo para os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa na aacuterea da Educaccedilatildeo e mais

concretamente no domiacutenio do ensino superior

Tendo como objecto de anaacutelise os programas de cooperaccedilatildeo portugueses para o

sector do ensino superior nos PALOPacutes e em Timor Leste e com base em alguns dos

problemas mais significativos relacionadas com o ensino transnacional formularam-se

questotildees de partida que permitiram construir uma hipoacutetese de trabalho que no processo

de pesquisa funciona como pedra basilar Das vaacuterias questotildees que foram sendo

suscitadas pela consulta bibliograacutefica importa salientar algumas das que se viriam a

revelar mais significativas para o desenvolvimento da pesquisa

Existem sinais de resistecircncia aos programas de ensino transnacional portu-

guecircs por parte dos sistemas de ensino formais dos paiacuteses hospedeiros

Quais os mecanismos de regulaccedilatildeo e ou controlo existentes em programas

de ensino transnacional realizado por instituiccedilotildees de ensino superior por-

tuguesas

As actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa no sector do ensino superior satildeo

enquadradas num plano integrado de acccedilatildeo governamental

Qual o paiacutes responsaacutevel pela definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas para a coope-

raccedilatildeo no sector do ensino superior

Estaacute assegurado o reconhecimento dos diplomas por parte das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional

56 Ibidem

93

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Chegou-se assim agrave formulaccedilatildeo da seguinte hipoacutetese de trabalho

Hipoacutetese A Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa carece de um planeamento estrateacutegico soacutelido e exequiacutevel que congregue todos os programas de cooperaccedilatildeo para o sector do ensino superior transnacional nos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Definida a hipoacutetese de partida estavam criadas as condiccedilotildees que permitiram

precisar o objecto de estudo sobre o qual incidiu o trabalho de pesquisa empiacuterica subse-

quente

313 A selecccedilatildeo da amostra

A amostra 57 para a realizaccedilatildeo do trabalho empiacuterico foi retirada do universo 58

constituiacutedo pelos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa em vias de desenvolvimento que

tenham beneficiado na uacuteltima deacutecada dos programas de cooperaccedilatildeo portuguesa no

sector da educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior Trata-se de uma

amostra natildeo probabiliacutestica ou seja para a sua selecccedilatildeo natildeo foram utilizadas quaisquer

teacutecnicas aleatoacuterias de selecccedilatildeo A amostra seleccionada eacute intencional uma vez que

foram escolhidas criteriosamente a documentaccedilatildeo consultada e as personalidades inqui-

ridas que neste caso natildeo tecircm de ser obrigatoriamente representativos de todos os

intervenientes no processo mas que se entendeu pela funccedilatildeo que desempenham e por

determinados cargos que ocupam ou ocupavam em momentos decisivos para os estudos

de caso tecircm ou tinham entatildeo um papel determinante em todo o processo Esta eacute uma

teacutecnica assumidamente limitada uma vez que natildeo permite o mesmo grau de

generalizaccedilatildeo dos resultados que permitem as outras teacutecnicas natildeo deixando no entanto

de ser uma teacutecnica vaacutelida dentro do contexto especiacutefico

O tempo e os recursos disponiacuteveis para a realizaccedilatildeo do trabalho de campo

revelaram-se limitados tendo-se optado por seleccionar apenas dois paiacuteses com

57 ldquoPorccedilatildeo ou parcela convenientemente seleccionada do universo (populaccedilatildeo) eacute um subconjunto do

universordquo (Marconi 1990) 58 ldquoEacute o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma caracteriacutestica em

comumrdquo (Ibidem)

94

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

caracteriacutesticas distintas e com diferentes experiecircncias e modelos de cooperaccedilatildeo com

Portugal condicionados pela trajectoacuteria histoacuterica e pelo contexto geograacutefico de cada um

deles os paiacuteses seleccionados para o estudo de caso foram Cabo Verde e Timor Leste

Cabo Verde porque desde a declaraccedilatildeo da independecircncia manteacutem fortes relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo com Portugal que tecircm vindo a evoluir nos mais diversos sentidos e o sector

da educaccedilatildeo natildeo eacute excepccedilatildeo As relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo existentes entre Portugal e

Cabo Verde satildeo reveladoras do elevado grau de relacionamento existente colocando

Portugal na dianteira entre os paiacuteses com quem Cabo Verde manteacutem relaccedilotildees de

parceria bilaterais

Timor Leste surge como o mais novo paiacutes a adoptar a Liacutengua Portuguesa como

liacutengua oficial e cuja histoacuteria ditou que em Maio de 2000 se tornasse independente e

reconhecesse em Portugal um paiacutes irmatildeo As acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que Timor Leste

tem vindo desde entatildeo a beneficiar revelando-se fundamentais para a criaccedilatildeo da sua

identidade e para o seu desenvolvimento nos mais diversos sectores A educaccedilatildeo ocupa

neste contexto um lugar estrateacutegico muito importante uma vez que sendo o Portuguecircs

uma das liacutenguas oficiais de Timor a sua afirmaccedilatildeo e a sua proliferaccedilatildeo atraveacutes do sector

educativo eacute um elemento estrateacutegico e um factor chave na sua difusatildeo e implementaccedilatildeo

no territoacuterio timorense O modelo do programa de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o

ensino superior revela-se peculiar quando comparado com os modelos praticados nos

PALOPacutes tendo o seu estudo um interesse especial uma vez tratar-se de uma

experiecircncia ldquopilotordquo levada a cabo pela cooperaccedilatildeo portuguesa e as instituiccedilotildees de

ensino superior Eacute certo que os resultados da sua aplicaccedilatildeo a meacutediolongo prazo ainda

natildeo satildeo verificaacuteveis nem comprovaacuteveis logo natildeo haacute ainda um balanccedilo das eventuais

vantagens que este modelo possa ter comparativamente com outros modelos de coope-

raccedilatildeo tradicionalmente usados quer em termos de execuccedilatildeo quer em termos de resulta-

dos No entanto uma virtude lhe assiste o facto de vir demonstrar ser possiacutevel inovar e

criar novas formas de cooperaccedilatildeo no sector do ensino superior transnacional como

alternativa aos formatos tradicionalmente existentes

95

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

314 O processo de recolha de dados mdash construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos

O trabalho de pesquisa resultou na construccedilatildeo de dois modelos de cooperaccedilatildeo

para tal e devido agrave natureza dos dados que se dividem entre dados objectivos ou

factuais e dados subjectivos optou-se por duas teacutecnicas de observaccedilatildeo distintas a

teacutecnica documental e a teacutecnica de observaccedilatildeo caracterizando-se esta uacuteltima por ser uma

teacutecnica viva a primeira pertence agrave categoria dos meacutetodos de observaccedilatildeo indirectos e

quando as fontes documentais se revelam fiaacuteveis este eacute um processo de recolha de dados

vaacutelido e que confere fiabilidade ao trabalho de pesquisa empiacuterica Foram consultados

para o efeito vaacuterios documentos oficiais e cientiacuteficos nomeadamente publicaccedilotildees

oficiais (revistas) do IPAD antigo ICP bem como todo um manancial de informaccedilatildeo

disponiacutevel na Internet em paacuteginas oficiais de organismos puacuteblicos portugueses cabo-

-verdianos e timorenses Alguns relatoacuterios oficiais de oacutergatildeos governamentais foram

igualmente fundamentais na fase de recolha de dados e informaccedilotildees nomeadamente o

relatoacuterio da ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e o ldquoEast Timor Human

Development Report 2002rdquo do PNUD

Quanto agraves teacutecnicas de observaccedilatildeo directa utilizou-se entre outras a entrevista 59

natildeo estruturada tambeacutem denominada de entrevista focalizada de perguntas abertas Este

meacutetodo permitiu recolher informaccedilotildees relevantes para o trabalho de anaacutelise documental

A teacutecnica da entrevista natildeo estruturada permite ao entrevistado ter liberdade para

direccionar a conversa no sentido que este considere mais adequado Trata-se de uma

forma que permite explorar mais amplamente o assunto em discussatildeo

A elaboraccedilatildeo de um Guiatildeo de Entrevista (anexos I e II) funcionou como roteiro

de toacutepicos e viria a revelar-se um instrumento de trabalho essencial uma vez que

permitiu assegurar uma certa homogeneidade na conduccedilatildeo das entrevistas possibili-

tando posteriormente um trabalho de anaacutelise comparativa das respostas

Os entrevistados foram escolhidos criteriosa e intencionalmente tendo sido

contactadas para o efeito individualidades representativas de oacutergatildeos governamentais

59 Para Goode e Hatt a entrevista ldquoconsiste no desenvolvimento de precisatildeo focalizaccedilatildeo fidedignidade e validade de um certo acto social como a conversaccedilatildeordquo (Goode e Hatt in Marconi 1990) Jaacute Beste

96

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilaterais

portuguesas mas tambeacutem docentes de instituiccedilotildees portuguesas directamente respon-

saacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de programas e acccedilotildees de ensino transnacional no

domiacutenio do ensino superior Realizaram-se um total de seis entrevistas a personalidades

com um grau elevado de envolvimento e capacidade de decisatildeo neste domiacutenio Dado

tratar-se de um assunto que pode suscitar poleacutemica e produz confronto de ideias de

forma a permitir maior liberdade de expressatildeo aos entrevistados natildeo satildeo identificados

nomes apenas cargos encontrando-se as entrevistas numeradas de 1 a 6 para melhor

identificaccedilatildeo a uacutenica excepccedilatildeo vai para os entrevistados dos paiacuteses beneficiaacuterios como

eacute exemplo a entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) Aproveitando o facto de este se encontrar se encontrar em Portugal surgiu a

oportunidade de o entrevistar permitindo deste modo dar voz igualmente aos paiacuteses

beneficiaacuterios No caso de Cabo Verde e por falta de oportunidade natildeo foi possiacutevel

entrevistar pessoalmente nenhum representante do governo cabo-verdiano no entanto as

facilidades disponibilizadas hoje em dia pelas novas tecnologias permitiram que apoacutes

um contacto telefoacutenico preacutevio a Directora Geral do Ensino Superior de Cabo Verde se

disponibilizasse para responder a algumas perguntas via e-mail Este meio de entrevista

alternativo natildeo permite a mesma margem de manobra permitida pela entrevista

presencial no entanto foi uma forma alternativa encontrada para auscultar a posiccedilatildeo de

Cabo Verde sobre a problemaacutetica em estudo permitindo a ambos os paiacuteses beneficiaacuterios

pronunciarem-se Apesar dos esforccedilos envidados Cabo Verde nunca chegaria a respon-

der agraves questotildees colocadas natildeo havendo por isso qualquer posiccedilatildeo oficial sobre estas

problemaacuteticas da parte deste paiacutes

As questotildees colocadas aos elementos dos paiacuteses beneficiaacuterios obedeceram igual-

mente a um Guiatildeo de Entrevista especiacutefico criado para o efeito (Anexo II) uma vez

que e apesar da natureza das questotildees ser a mesma a sua formulaccedilatildeo impotildee-se dife-

rente por forccedila das circunstacircncias

O observador assume em todo este processo um papel preponderante uma vez

que eacute utilizado como meacutetodo complementar a observaccedilatildeo participante Mann caracteriza

a observaccedilatildeo participante como ldquouma tentativa de colocar o observador e o observado

considera este meacutetodo de pesquisa como o instrumento por excelecircncia da investigaccedilatildeo social ldquoEacute muitas vezes superior a outros sistemas de obtenccedilatildeo de dadosrdquo (Best in Marconi 1990)

97

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do mesmo lado tornando-se o observador um membro do grupo de molde a vivenciar o

que eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referecircncia delesrdquo (Mann in

Marconi 1990) Estamos perante uma teacutecnica de observaccedilatildeo participante natural uma

vez que o observador se encontra profissionalmente envolvido com um dos programas

de cooperaccedilatildeo em anaacutelise Neste caso a intimidade gerada por este facto pode dificultar

o distanciamento desejaacutevel entre o investigador e o seu objecto de estudo Haacute de facto

um risco desde logo assumido de enviesamento de resultados

O Quadro nordm 1 procura resumir e clarificar melhor as teacutecnicas utilizadas neste

estudo

QUADRO Nordm 1

Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas

Categoria Teacutecnicas Referecircncias

Teacutecnicas

Documentais bull Observaccedilatildeo indirecta

bull Documentos oficiais (protocolos relatoacuterios etc)

bull Paacuteginas de internet oficiais

bull Publicaccedilotildees

bull Revistas

Teacutecnicas de

Observaccedilatildeo

bull Observaccedilatildeo directa

bull Intensiva

bull Estudo de caso

bull Entrevista (natildeo estruturada

de questotildees abertas)

bull Observaccedilatildeo participante

Fonte a autora

Apesar das fragilidades que cada uma destas teacutecnicas possa encerrar segundo

Deshaires em Ciecircncias Sociais e Humanas ldquo(hellip) conforme se trata de observaccedilatildeo

indirecta (pelas teacutecnicas documentais) ou de observaccedilatildeo directa extensiva ou intensiva

(pelas teacutecnicas vivas) devem ser respeitadas precauccedilotildees especiais Nas teacutecnicas vivas

de observaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre observador e observado apresenta inuacutemeras conse-

quecircncias no plano metodoloacutegico A conduccedilatildeo da observaccedilatildeo requer uma vigilacircncia

acrescida natildeo apenas das atitudes do observador mas tambeacutem das reacccedilotildees dos sujeitos

98

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

observados () Aliaacutes a tendecircncia actual dos investigadores para o desenvolvimento de

uma metodologia qualitativa na anaacutelise de situaccedilotildees ou de problemas em ciecircncias

humanas demonstra a que ponto a medida quantitativa eacute incapaz de responder a todas as

questotildees Em contrapartida a ideia de verificaccedilatildeo natildeo deve perder de vista a finura da

sensibilidade discriminativa ldquo (Deshaires 1992)

99

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

100

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de

Cooperaccedilatildeo Portuguesa 41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso

Como referido anteriormente o presente trabalho propotildee-se realizar um estudo

comparativo entre os modelos de ensino integrados em programas de cooperaccedilatildeo com

os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior procurando pocircr

em contraposiccedilatildeo o modelo tradicional de cooperaccedilatildeo com um outro de caracteriacutesticas

diferentes como eacute o modelo de cooperaccedilatildeo praticado com Timor Leste

Seleccionou-se como Estudo de Caso nordm 1 a anaacutelise das relaccedilotildees bilaterais entre

Portugal e Cabo Verde uma vez que a poliacutetica portuguesa de cooperaccedilatildeo com este paiacutes

traduz a dinacircmica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa e reflecte a geacutenese das acccedilotildees

de ensino transnacional nos PALOPs A anaacutelise deste Estudo de Caso procuraraacute

descrever a trajectoacuteria de cooperaccedilatildeo para a aacuterea do Ensino Superior e analisar a

evoluccedilatildeo do modelo de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde na uacuteltima deacutecada

O Estudo de Caso nordm 2 refere-se agrave cooperaccedilatildeo com Timor Leste este modelo de

cooperaccedilatildeo reveste-se de caracteriacutesticas distintas e algo peculiares relativamente ao caso

anterior particularmente salientadas quando comparado com as praacuteticas de cooperaccedilatildeo

que Portugal vem mantendo com os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa Portugal tem

um passado muito recente no que respeita agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Timor Leste

facto que confere a este modelo de cooperaccedilatildeo caracteriacutesticas de grande interesse e

singularidade revelando particularidades que se devem natildeo soacute ao passado histoacuterico que

une os dois paiacuteses mas tambeacutem ao contexto cultural e geograacutefico de Timor Leste

situaccedilatildeo que confere a este especificidades uacutenicas

101

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

4111 Enquadramento socio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde

A Repuacuteblica de Cabo Verde situa-se geograficamente ao largo da Costa Oeste

Africana e eacute constituiacuteda por um arquipeacutelago composto por dez ilhas que ocupam um

total de 4033 km2 Das dez ilhas que compotildeem o arquipeacutelago de Cabo Verde apenas

nove satildeo habitadas e o uacuteltimo censo determinou a existecircncia de um total de 341 607

habitantes com uma densidade populacional de 847 hkm2 O idioma oficial de Cabo

Verde eacute o Portuguecircs Segundo fontes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Cabo-

-Verdiano 60 a escolaridade obrigatoacuteria eacute de 6 anos que podem ser seguidos de um

ciclo de mais 5 anos trecircs dos quais para formaccedilatildeo geral e mais dois de um curso preacute-

-universitaacuterio O niacutevel de escolaridade para um paiacutes com estas caracteriacutesticas eacute consi-

derado elevado registando-se uma taxa de frequecircncia escolar na ordem dos 222 do

total de habitantes sendo este valor notoriamente superior se tivermos em atenccedilatildeo a

taxa de escolaridade do ensino baacutesico que ascende a 96 da populaccedilatildeo No ano de 1990

estimava-se uma taxa de analfabetismo de cerca de 30 o que para um paiacutes em vias de

desenvolvimento pode ser considerado um valor bastante animador em termos de

perspectivas de desenvolvimento

A populaccedilatildeo activa exerce a sua actividade maioritariamente no sector primaacuterio

seguindo-se o sector terciaacuterio sendo que o primeiro o sector de actividades onde se

inclui a agricultura e pescas eacute responsaacutevel por gerar a maior percentagem do PIB do

paiacutes A agricultura e o gado constituem portanto as principais bases da economia cabo

verdiana Economicamente o paiacutes caracteriza-se por um acentuado crescimento do saldo

negativo da balanccedila comercial e dos serviccedilos compensado pelas remessas dos

emigrantes e pela ajuda puacuteblica ao desenvolvimento (donativos e empreacutestimos)

60 Infopor (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpedendeiucpt~infoporcabo_ver-

deeducacaohtml Arquivo capturado em 1 de Julho de 2003

102

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Em suma e segundo um estudo da Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 61 podemos

considerar como condicionalismos ao desenvolvimento do paiacutes exteriores ao sistema

educativo os seguintes aspectos de ordem econoacutemico-financeira cultural e de desenvol-

vimento

Insuficiente satisfaccedilatildeo das necessidades sociais baacutesicas

Carecircncia generalizada de quadros

Reduzida dimensatildeo do sector industrial

Elevado niacutevel de dependecircncia externa

Balanccedila comercial deficitaacuteria

Grande peso do sector dos serviccedilos

Elevada taxa de desemprego atingindo maioritariamente a populaccedilatildeo

jovem

Persistecircncia de assimetrias soacutecio-culturais significativas

Grande atracccedilatildeo pela emigraccedilatildeo

Pouca atracccedilatildeo para o regresso ao trabalho agriacutecola apoacutes a escolarizaccedilatildeo

Ainda assim regista-se um grande dinamismo na sociedade cabo-verdiana com

vista agrave modernizaccedilatildeo da sua economia sendo este movimento reforccedilado pela neces-

sidade de procura de uma identidade nacional que compatibilize os valores da tradiccedilatildeo

com os desafios postos pela modernidade

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde

Os fortes e ancestrais laccedilos culturais e de amizade que unem Portugal e Cabo

Verde foram criando condiccedilotildees que propiciaram agraves instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas ao longo dos anos a manutenccedilatildeo de estreitas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo com

este paiacutes cuja afinidade linguiacutestica se revelou uma mais valia acrescida e um elemento

impulsionador ao fortalecimento das relaccedilotildees acadeacutemicas Cabo Verde soube gerir da

melhor forma as oportunidades de apoio oferecidas por Portugal particularmente para o

61 Estudos Africanos ldquoA Educaccedilatildeo na Repuacuteblica de Cabo Verde ndash Anaacutelise Sectorialrdquo Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian Volume I Lisboa 1987

103

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sector do ensino superior de tal forma que actualmente a contribuiccedilatildeo Portuguesa para

o Orccedilamento de Estado para a Educaccedilatildeo daquele paiacutes oscila entre os 20 e 30 Para

aleacutem das iniciativas individuais das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

universitaacuterias e politeacutecnicas para a promoccedilatildeo de ensino transnacional em Cabo Verde

tambeacutem o Estado Portuguecircs desde sempre financiou iniciativas desta natureza

incluindo a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo No entanto como referido anteriormente

para efeitos deste trabalho apenas interessaraacute estudar as actividades de cooperaccedilatildeo ao

niacutevel do ensino superior desenvolvidas no territoacuterio cabo-verdiano e que respeitem

apenas a instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblico

Desde sempre tecircm existido tentativas de regular e coordenar as actividades de

cooperaccedilatildeo para o ensino superior A descoordenaccedilatildeo destas actividades o desconhe-

cimento entre instituiccedilotildees governamentais sobre os programas de cooperaccedilatildeo em curso

nos vaacuterios domiacutenios eacute uma questatildeo recorrente e um problema assumido presentemente

pelo Estado Portuguecircs como uma das maiores dificuldades para a qual eacute necessaacuterio

envidar esforccedilos no sentido de minorar a ineficaacutecia das acccedilotildees daiacute decorrente Esta

constataccedilatildeo eacute assumida e reconhecida pelo Estado Portuguecircs pela voz de um

responsaacutevel pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo nacionais

ldquoEacute preciso primeiro reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos

meios que lhe permitam ter capacidade de articulaccedilatildeo e de

cooperaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas

depois eacute fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute

faz sentido no quadro de estrateacutegias de programas natildeo faz

sentido a acccedilotildees (hellip) ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as

instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo de que dentro do proacuteprio

Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou

seja como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees

de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com esse mundo todo que estaacute aiacute

fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a

sua instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do

organismo central da cooperaccedilatildeo

Portantohellip o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da

cooperaccedilatildeo com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo

(hellip)rdquo (Entrevista nordm 1)

104

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Efectivamente a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute frontalmente acusada de

ser incipiente e os seus programas de cooperaccedilatildeo incluindo aqueles ligados ao ensino

superior transnacional satildeo realizados a partir de contactos privilegiados e relaccedilotildees

pessoais ldquo(hellip) dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso

encontrar executores Como eacute que se faz o recrutamento de

executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa nesse aspecto eacute

extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais (hellip) Essa

gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de

deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final quando natildeo haacute mais dinheiro

o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da

nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo comparativamente a outros paiacuteses

(hellip) (Entrevista nordm 6)

(hellip)

ldquoPara lhe responder a isso era preciso que eu estivesse

convencido que haacute alguma estrateacutegia da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo Aahellipestas coisas da cooperaccedilatildeo pode haver uma

estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do

conhecimento das realidades locais e de conhecimentos inter-

pessoais (hellip) Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portugue-

sa pode haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo

nenhuma nunca conheci nenhumardquo (Entrevista nordm 2)

Natildeo eacute claro que se trate de uma questatildeo de ldquofavorecimentosrdquo pessoais ou insti-

tucionais no sentido de beneficiar determinada instituiccedilatildeo de ensino em detrimento de

outra mas antes de oportunidades poliacuteticas e institucionais fruto do acaso e do sentido

de oportunidade ao inveacutes de resultarem como seria desejaacutevel de uma reflexatildeo seacuteria e

conjunta que desse origem a um planeamento estrateacutegico a implementar por Portugal

No caso de Cabo Verde foi identificada desde logo a necessidade de coorde-

naccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo necessidade que se tentou suprir atraveacutes da

105

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

criaccedilatildeo da Comissatildeo Instaladora do Ensino Superior criada em 1992 no acircmbito do

Plano de Reforma do Ensino Este oacutergatildeo tinha por objectivo fazer o enquadramento

institucional das competecircncias existentes e a coordenaccedilatildeo dos projectos internacionais

atraveacutes da assinatura de acordos sucessivos No entanto e segundo o Relatoacuterio de

Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superiorrdquo 62

apesar destes esforccedilos continuaria a verificar-se uma relativa dispersatildeo das iniciativas

de cooperaccedilatildeo

Perante este facto foi aumentando cada vez mais a consciecircncia da necessidade de

uma maior coordenaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com vista agrave rentabilizaccedilatildeo dos

recursos e a um planeamento mais rigoroso para o desenvolvimento sustentado do

ensino superior em Cabo Verde nomeadamente com o apoio agrave criaccedilatildeo de uma univer-

sidade De referir que sendo a ldquofuga de ceacuterebrosrdquo uma das maiores dificuldades que

enfrentam os paiacuteses em desenvolvimento uma vez que natildeo possuem estruturas para

atrair e fixar os seus quadros meacutedios e superiores a criaccedilatildeo de uma universidade no

territoacuterio de Cabo Verde surge como uma alternativa para tentar diminuir o nuacutemero de

bolsas para fora do paiacutes anualmente atribuiacutedas quer pelo Estado Portuguecircs quer pelo

Cabo-Verdiano de referir que a taxa de retorno deste investimento eacute assumidamente

considerada abaixo dos valores desejaacuteveis uma vez que satildeo poucos os alunos que

pretendem regressar ao seu paiacutes de origem depois de formados

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Resultante deste contexto foi assinado em 1997 um Acordo de Cooperaccedilatildeo entre

Portugal e Cabo Verde para a aacuterea do ensino superior publicado em Decreto-Lei 4197

(ver anexo IX) cujo objectivo principal eacute segundo o artigo 1ordm do referido Decreto-Lei

ldquoConjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo

Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre instituiccedilotildees de ensino superior e de

investigaccedilatildeo de ambos os paiacutesesrdquo 63

62 Matias Neacutelson et al ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Marccedilo 2003 mdash Documento natildeo publicado 63 Decreto-Lei nordm 4197 de 12 de Agosto Diaacuterio da Repuacuteblica ndash I Seacuterie-A

106

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Conforme decretado constituiu-se pela primeira vez na histoacuteria de cooperaccedilatildeo

portuguesa com os paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa uma Comissatildeo Paritaacuteria cujas

atribuiccedilotildees eram essencialmente de implementaccedilatildeo e acompanhamento das acccedilotildees

conducentes ao desenvolvimento do ensino superior Esta Comissatildeo tinha como

incumbecircncia a elaboraccedilatildeo de um projecto de regulamento a homologar por ambas as

partes mdash Portugal e Cabo Verde onde estivesse especificado a sua forma de

funcionamento e o plano de actividades a implementar de modo a concretizar os

objectivos propostos Os objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria assentavam num

plano estrateacutegico de acccedilatildeo para o desenvolvimento do ensino superior e tinham um

prazo de execuccedilatildeo maacuteximo ateacute ao ano de 2002

A Comissatildeo Paritaacuteria esteve sob a coordenaccedilatildeo pela parte Portuguesa da Di-

recccedilatildeo Geral do Ensino Superior e nela encontravam-se representadas entre outras as

instituiccedilotildees de ensino superior atraveacutes de delegados do CRUP mdash Conselho de Reitores

das Universidades Portuguesas e do CCISP mdash Conselho Coordenador Institutos

Superiores Politeacutecnicos Pelo lado cabo-verdiano a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo

competia igualmente agrave Direcccedilatildeo Geral do Ensino Superior e as restantes representaccedilotildees

cabo verdianos eram exclusivamente de elementos governamentais

QUADRO Nordm 2

Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para cooperaccedilatildeo com Cabo Verde

EstruturasServiccedilos Portugal Cabo Verde

Coordenaccedilatildeo e

Desenvolvimento do

Ensino Superior

(ME)

Director do Departamento

Ensino Superior (DGESup)

Director Geral do Ensino

Superior e da Ciecircncia

(DGESC)

Ensino Superior

(instituiccedilotildees)

CRUP

CCISP mdash

Coordenaccedilatildeo da

Cooperaccedilatildeo (MNE)

Instituto da Cooperaccedilatildeo

Portuguesa (ICP)

Departamento de Cooperaccedilatildeo

da Embaixada de Cabo Verde

Direcccedilatildeo Geral de

Cooperaccedilatildeo Internacional

Observadores Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

107

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma anaacutelise mais atenta ao Quadro nordm 2 permite facilmente concluir que

enquanto do lado portuguecircs estariam representadas todas as entidade e instituiccedilotildees com

intervenccedilatildeo no processo quer ao niacutevel do financiamento e coordenaccedilatildeo quer na sua

vertente mais praacutetica de execuccedilatildeo o mesmo natildeo acontece do lado cabo-verdiano

Efectivamente a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo do paiacutes beneficiaacuterio eacute feita por

representantes de instituiccedilotildees que por norma assumem nestes processos um papel dema-

siado poliacutetico e menos planificador e executivo como seria desejaacutevel Na verdade os

principais beneficiaacuterios ou melhor os verdadeiros receptores dos programas de coope-

raccedilatildeo a implementar por esta Comissatildeo encontram-se ausentes da mesma Esta consta-

taccedilatildeo permite desde logo antever os motivos que levaram a uma certa inoperacircncia que

caracterizaria a sua actividade como a seguir se veraacute

Os eixos de actuaccedilatildeo que a Comissatildeo Paritaacuteria definiu como plano de acccedilatildeo satildeo

claramente identificados no relatoacuterio de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde produzido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento 64 Nele satildeo

indicados como objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria ldquoa reciprocidade a partilha

de tarefas a abertura a outras instituiccedilotildees um sentido de representaccedilatildeo institucional em

detrimento da representaccedilatildeo pessoal uma perspectiva de funcionamento permanente e

uma missatildeo orientada fundamentalmente para o planeamento coordenaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo

duma forma retrospectiva mas tambeacutem prospectivardquo O primeiro Plano de Actividades

da Comissatildeo definiu como linhas de acccedilatildeo questotildees pertinentes para o desenvolvimento

do ensino superior neste paiacutes que se resumem agrave necessidade de criar um enquadramento

legal do ensino superior em Cabo Verde atraveacutes do apoio agrave produccedilatildeo de legislaccedilatildeo

adequada a avaliaccedilatildeo institucional das instituiccedilotildees nacionais jaacute existentes a reorga-

nizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das dinacircmicas de cooperaccedilatildeo passando esta questatildeo pela identi-

ficaccedilatildeo de parceiros para a cooperaccedilatildeo a instalaccedilatildeo de processos de acesso ao ensino

superior em Portugal entre outros Este uacuteltimo objectivo natildeo seraacute aqui alvo de comen-

taacuterios ou consideraccedilotildees por natildeo se enquadrar nos objectivos de anaacutelise do presente

trabalho

Tendo a Comissatildeo Paritaacuteria sido criada com o intuito de monitorar as actividades

de cooperaccedilatildeo que ela proacutepria se propunha realizar a sua capacidade de execuccedilatildeo viria

a revelar-se pouco eficaz em parte devido aos fracos recursos financeiros e ateacute humanos

108

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

disponiacuteveis tendo o seu desempenho ficado aqueacutem do pretendido O relatoacuterio produ-

zido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento acusa mesmo esta Comissatildeo de

estar ldquo() condicionada na sua capacidade de realizar um acompanhamento de

proximidade da cooperaccedilatildeo e de intervirreorientar o seu plano de actividades quando

tal se tornasse necessaacuterio e em particular nas componentes em que a fragilidade deste

era mais evidente desde o iniacutecio nomeadamente na avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico

das instituiccedilotildees de ensino superior ()rdquo 65 Esta fragilidade claramente identificada no

referido relatoacuterio reveste-se de especial importacircncia na medida em que denuncia de

forma clara a ausecircncia de mecanismos de coordenaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo

levadas a cabo pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas em Cabo Verde

correndo-se o risco de haver uma desmultiplicaccedilatildeo de esforccedilos de vaacuterias instituiccedilotildees

numa mesma aacuterea carenciada em detrimento de outras aacutereas de intervenccedilatildeo igualmente

importantes O desconhecimento das actividades de cooperaccedilatildeo e a inoperacircncia da

Comissatildeo Paritaacuteria satildeo claramente denunciadas por um coordenador de programas de

cooperaccedilatildeo com Cabo Verde que apesar da existecircncia deste oacutergatildeo coordenador realiza

acordos de cooperaccedilatildeo e promove acccedilotildees em Cabo Verde com o total desconhecimento

da Comissatildeo Paritaacuteria tudo isto a partir de conveacutenios realizados entre a sua instituiccedilatildeo

de ensino e o entatildeo Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa actual Instituto Portuguecircs de

Apoio ao Desenvolvimento entidade que tutela a Comissatildeo Paritaacuteria Estas

constataccedilotildees satildeo confirmadas pelas afirmaccedilotildees do entrevistado nuacutemero 6 quando

questionado sobre as actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

ldquohellipmas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez nada eacute assim

reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido

define grandes linhas mas depois natildeo acompanhahellip a

implementaccedilatildeo das linhas (hellip) E portanto pode dizer aiacute que a

prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em primeiro

lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro

entreva e pronto Eacute uma barafunda Por outro lado a Comissatildeo

Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do ensino

superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe nada eacute que

eu negociei tudo isto agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em

64 Ibidem

109

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

minha casa falaacutessemos da Comissatildeo ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip)

soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordmhellip (referindo-

se a um elemento do ICP) foi eu natildeo quero os projectos incluiacutedos

no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute um

montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os

projectos autoacutenomosrdquo (Entrevista nordm 6)

O Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo potildee igualmente a nu a ausecircncia de qualquer Meca-

nismo de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade do trabalho desenvolvido pelas instituiccedilotildees

de ensino cooperantes Este documento vai mais longe nesta mateacuteria ao revelar que ldquoos

factos mostram que natildeo se poderaacute falar propriamente na existecircncia de um sistema de

planificaccedilatildeo e programaccedilatildeo de projectos de cooperaccedilatildeo jaacute que a evoluccedilatildeo verificada

levou a que os planos de actividades viessem a assumir a mera forma de mapas de

calendarizaccedilatildeo de missotildees A dimensatildeo visiacutevel dos projectos reduziu-se assim agrave reali-

zaccedilatildeo de missotildees (soacute) aparentemente avulsas que apenas se tornam compreensiacuteveis no

quadro do plano de actividades dos estabelecimentos de ensino de Cabo Verde e no

quadro da calendarizaccedilatildeo do serviccedilo docente relativamente agrave implementaccedilatildeo dos

curriacuteculos dos cursos que as missotildees pretendiam apoiarrdquo

As conclusotildees deste Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo revelam a existecircncia de cerca de 60

protocolos e conveacutenios celebrados entre instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

puacuteblicas e privadas e outros tantos com outras entidades de outra natureza entre as

quais instituiccedilotildees de investigaccedilatildeo Dos muitos protocolos assinados eacute assumido pelo

grupo de trabalho que os analisou e produziu o referido relatoacuterio que a grande parte

destes natildeo gerou qualquer relaccedilatildeo sustentada entre as entidades que os subscreveram

satildeo normalmente demasiado geneacutericos na sua grande maioria natildeo satildeo referidas as

fontes de financiamento e caracterizam-se particularmente por darem prioridade ao

apoio ao corpo docente agrave criaccedilatildeo de cursos e ao desenvolvimento institucional e

organizacional nomeadamente a participaccedilatildeo em conselhos cientiacuteficos apoio agrave organi-

zaccedilatildeo administrativa e cientiacutefico-departamental das escolas e das estruturas de investi-

gaccedilatildeo apoio bibliograacutefico ou laboratorial

65 Ibidem

110

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Entre 1997 e 2002 os anos de vigecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria regista-se um

incremento nas relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e cabo-

-verdianas fundamentalmente em torno dos cursos ministrados no territoacuterio A maioria

das acccedilotildees levadas a cabo satildeo missotildees pontuais de docecircncia num determinado curso

apesar de se registar igualmente programas que contemplam um ldquopacoterdquo que vai

normalmente desde a criaccedilatildeo dos curricula ateacute agrave efectiva leccionaccedilatildeo passando pelo

apoio bibliograacutefico e integraccedilatildeo de docentes cabo-verdianos no corpo docente

Segundo o mesmo Relatoacuterio registam-se taxas de leccionaccedilatildeo de docentes portugueses

nas Instituiccedilotildees de Ensino Cabo-Verdianas que oscilam entre os 80 a 100 o que

significa que natildeo estaacute a ser preparado o caminho para um desenvolvimento sustentado

apesar destes factos contrariarem as intenccedilotildees de apoio ao desenvolvimento sustentado

reveladas por governantes portugueses quando inquiridos sobre este assunto

ldquoDa poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante

desenvolver universidades locais do que transplantar univer-

sidades para esses paiacuteses (hellip) Natildeo podemos imaginar que

estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de

Direito de uma universidade qualquer como se fizeacutessemos uma

espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque

isso natildeo eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar

desenvolvimento (hellip) Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa

no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da cultura e do ensino

exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveisrdquo (Entrevista nordm 1)

Deduz-se das palavras deste representante do governo portuguecircs que para a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa mais do que organizar cursos em aacutereas estrateacutegias haacute que criar

condiccedilotildees para que a meacutedio prazo Cabo Verde possa constituir a sua proacutepria

universidade dotada de um corpo docente local apesar de natildeo ser de excluir a hipoacutetese

de manter uma cooperaccedilatildeo activa embora a outros niacuteveis

Para aleacutem das alteraccedilotildees registadas agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa

motivadas por inuacutemeros factores tais como a mudanccedila consecutiva dos responsaacuteveis

pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo estas mudanccedilas natildeo viriam a ser tatildeo

determinantes quanto isso para a efectiva concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de cooperaccedilatildeo jaacute

111

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

delineadas Determinante viria a revelar-se o Foacuterum sobre o Ensino Superior

promovido pelo Governo Cabo-Verdiano A realizaccedilatildeo deste evento marcou o processo

de criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde definido entatildeo como uma meta a atingir

pelo paiacutes a curtomeacutedio prazo A criaccedilatildeo desta instituiccedilatildeo passaraacute obrigatoriamente por

um processo de preparaccedilatildeo que entre outros ajustes obriga agrave consolidaccedilatildeo das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior jaacute existentes ao aumento da oferta de formaccedilatildeo

agrave criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de leis reguladoras do ensino superior etc Contrariamente

agraves expectativas iniciais este planeamento estrateacutegico natildeo viria a concretizar-se na sua

plenitude por responsabilidade das autoridades cabo-verdianas com excepccedilatildeo da

criaccedilatildeo da universidade cuja existecircncia apesar de tudo natildeo passou do papel assistindo-

se paralelamente ao desenvolvimento do ensino superior privado do qual pouco ou

nada se conhece nomeadamente quais os objectivos traccedilados mas que no contexto

actual do paiacutes acaba por desempenhar um papel importante na ajuda agrave supressatildeo das

necessidades de oferta

As actividades da cooperaccedilatildeo portuguesa passaram a partir desta altura a

restringir-se ao desenvolvimento e consolidaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino

superior puacuteblicos de Cabo Verde com especial incidecircncia no aumento da oferta de

formaccedilatildeo Satildeo identificadas no Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo as dificuldades

sentidas pela Comissatildeo Paritaacuteria na concretizaccedilatildeo das componentes natildeo docentes do

Plano de Actividades afirmando-se claramente que a ldquoavaliaccedilatildeo e o planeamento

estrateacutegico das instituiccedilotildees quer na identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo de parcerias estrateacutegicas

conduziu-a a uma aproximaccedilatildeo progressiva ao terrenordquo 66 Nesta fase de redefiniccedilatildeo das

linhas de acccedilatildeo da cooperaccedilatildeo traccedilaram-se novas metas no sentido de implementar

novas estrateacutegias que passam pelo fortalecimento de relaccedilotildees inter-institucionais entre

parceiros estrateacutegicos indicados por cada uma das instituiccedilotildees de ensino superior jaacute

existentes no paiacutes receptor Pretende-se com esta nova atitude promover o desenvol-

vimento sustentado do sector do ensino superior uma vez ter-se voltado novamente agrave

praacutetica de criaccedilatildeo de ldquopacotesrdquo de cursos que incluem a criaccedilatildeo dos curriacuteculos ateacute agrave sua

leccionaccedilatildeo por um corpo de docente portugueses Esta poliacutetica contrariamente ao

objectivo para a qual foi desenhada pode ser considerada regressiva na perspectiva do

paiacutes beneficiaacuterio apenas sendo entendida e aceite enquanto estrateacutegia para diminuir o

112

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fluxo de estudantes que saem do paiacutes para estudar muitos deles com bolsas da

cooperaccedilatildeo portuguesa Nesta altura a Comissatildeo Paritaacuteria estaria notoriamente

impotente para exercer as suas funccedilotildees de regulaccedilatildeo limitando-se apenas a realizar um

trabalho de conciliadora dos problemas que entretanto iam surgindo supostamente

devido agrave quantidade de projectos de cooperaccedilatildeo diacutespares que proliferavam

QUADRO Nordm 3

Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior segundo a entidade financiadora e executora

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde e Avaliaccedilatildeo das Instituiccedilotildees Ensino e Investigaccedilatildeo

Apoio concepccedilatildeo do modelo e produccedilatildeo de

legislaccedilatildeo FCG

Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian mdash

Avaliaccedilatildeo e desenvolvimento

estrateacutegico das instituiccedilotildees de ensino superior

ICP DGESup ICCTI

CIPES A vertente de avaliaccedilatildeo institucional nunca teraacute sido posta em praacutetica

Desenvolvimento do CFNISECMAR e do ensino das engenharias e nas aacutereas naacuteutica e

naval

Desenvolvimento Centro Formaccedilatildeo Naacuteutica

ICP MES

ENIDH IST

U Algarve mdash

Desenvolvimento do ISECMAR

ICP MES

U Algarve ISECMAR

ENIDH U Algarve

ICP FCT-UC

mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na Formaccedilatildeo de

Professores IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea das

Engenharias e da Gestatildeo IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea da

Matemaacutetica

ICP U

Portucalense

Esta acccedilatildeo natildeo chegou a concretizar-se por falta de confirmaccedilatildeo do ISECMAR

66 Ibidem

113

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento da Formaccedilatildeo em Economia e Gestatildeo criaccedilatildeo do ISCEE e apoio ao INAG

Cooperaccedilatildeo ISEG e ISCEE ICP ISEG FEUC

mdash

Cooperaccedilatildeo em Gestatildeo Bancaacuteria (ISGB-ISCEE)

ISGB Sistema Bancaacuterio

ISGB ISCEE

mdash

Outras cooperaccedilotildees com o ISCEE

IP Santareacutem IP Leiria

IP Santareacutem IP Leiria

mdash

Cooperaccedilatildeo com o INAG ESG Santareacutem

ESG Santareacutem

mdash

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Desenvolvimento do CFAINIDA e da formaccedilatildeo em Ciecircncias Agraacuterias e Desenvolvimento Rural

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Desenvolvimento da formaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede e criaccedilatildeo de uma Escola Superior de Sauacutede

Mestrado em Ciecircncias da Sauacutede

ICP U Coimbra mdash

Escola Superior de Sauacutede ICP U Coimbra mdash

Desenvolvimento do ISE do IP e da Formaccedilatildeo para o Sistema Educativo

1 Apoio em infraestruturas fiacutesicas e equipamentos

Construccedilatildeo de Escolas (edifiacutecio ISE)

DGAERI mdash mdash

2 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

PUENTI ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

Assistecircncia teacutecnica e cientiacutefica e docecircncia para o Bacharelato

em Educaccedilatildeo Fiacutesica ICP IP Coimbra mdash

PUENTI CEB ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

U Aberta deslocaccedilotildees

ICP U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Aberta com o ISE e o IP

ICP

U Aberta U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Portucalense com o ISE

ICP U Portucalense mdash

3 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

Apoio ao IP de Cabo Verde GAERI Vaacuterios mdash

Reconversatildeo de docentes do Ensino Baacutesico

IP Leiria IP Leiria mdash

Professores para o Poacutelo IP da Assomada

ICP ndash mdash

Curso Poacutes Graduaccedilatildeo Educadores de Infacircncia

IP IP Coimbra mdash

Bacharelato Educadores de Infacircncia

ICP IP Coimbra Curso natildeo reconhecido por Cabo Verde como formaccedilatildeo

de Ensino Superior

114

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4 Desenvolvimento de outras formaccedilotildees no ISE

Estudos Humaniacutesticos GAERI

ICP Fac Letras mdash

Cooperaccedilatildeo entre Centro Internacional matemaacutetica

e o ISE

ICP

GAERI CIM mdash

Ciclo de conferecircncias ICP CNDP mdash

Cooperaccedilatildeo Fac Letras e ISE ICP Fac Letras Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo U Coimbra e ISE ICP U Coimbra Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Histoacuteria

ICP U Portucalense Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Filosofia

ICP

U Eacutevora

U Lisboa

U Porto

Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

5 Acccedilotildees de Apoio agrave divulgaccedilatildeo e desenvolvimento da liacutengua e cultura portuguesas

Leitores Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Centro de Liacutengua

Portuguesa Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Apoio ao desenvolvimento de outros cursos aacutereas e instituiccedilotildees

1 Desenvolvimento da Formaccedilatildeo no sector do Turismo

Bacharelato em Turismo ISP IP Coimbra mdash

2 Apoio ao LEC e ao desenvolvimento da Engenharia Civil

Apoio ao LEC ICP IST mdash

Apoio agrave coordenaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo bilateral no acircmbito do ensino superior

Protocolo Ensino Superior ICP

GAERI Vaacuterios mdash

Programa de intervenccedilatildeo

do IP de Coimbra ICP

ICP

IP Coimbra mdash

Criaccedilatildeo da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Cooperaccedilatildeo PIAGET

Instituto Piaget

ICP

Instituto

Piaget mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

115

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A anaacutelise do Quadro nordm 3 vem confirmar algumas das constataccedilotildees que tecircm

vindo a ser feitas ao longo do presente capiacutetulo de um total de 40 projectos listados no

quadro nordm 3 como previstos ou efectivamente realizados para o sector do ensino

superior no territoacuterio de Cabo Verde mais de metade satildeo da responsabilidade de insti-

tuiccedilotildees de ensino superior ou outras de natureza puacuteblica Esta constataccedilatildeo vem provar

que as actividades de ensino transnacional com fins meramente cooperativos satildeo maio-

ritaacuteriamente realizadas por instituiccedilotildees puacuteblicas Jaacute o mesmo natildeo se poderaacute afirmar das

actividades desenvolvidas por instituiccedilotildees privadas que podem natildeo ter fins meramente

cooperativos mas antes de caraacutecter lucrativo Este fenoacutemeno pode levar agrave conclusatildeo

que quando as actividades de ensino transnacional se encontram integradas em poliacuteticas

de cooperaccedilatildeo logo sem natureza comercial ou sem fins lucrativos (pelo menos em

teoria) natildeo despertam o interesse das instituiccedilotildees de ensino superior privado que

sobrevivem como eacute sabido em funccedilatildeo do lucro e dos proveitos financeiros resultantes

das suas actividades Nos uacuteltimos anos a proliferaccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino

superior privado nos paiacuteses africanos tem sido exponencial levando a crer que este

aumento da oferta se faccedila a troco de propinas de valor avultado o que indicia um

retorno raacutepido do investimento e o lucro faacutecil

Quanto agraves razotildees que levaram a que alguns dos projectos aqui representados

obtivessem apoio financeiro por parte do Governo Portuguecircs e segundo as palavras de

um representante de uma instituiccedilatildeo de ensino puacuteblica beneficiaacuteria desses apoios (e

esquecendo por instantes a figura do Gestor criada pelo ICP e cujas atribuiccedilotildees seratildeo

analisadas de seguida) pode deduzir-se natildeo ter existido qualquer criteacuterio especiacutefico

mas antes por motivos que podem ser completamente aleatoacuterios como os que a seguir

se apresentam

ldquo(hellip) a primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees

futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees pessoais em escolas

que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na

parte das Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento

pessoal que a gente tem com alguns dos ex-alunos daqui que

estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses (hellip) a cabo-

-verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos os cursos que

116

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes

adaptaacutemo-nos com os curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e

pedagoacutegica do curso face a essa necessidade Mashellip em muitos

paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se

passa eacute o seguinte como as populaccedilotildees demograficamente satildeo

jovens a entrada no mercado natildeo se daacute porque natildeo haacute mercado

de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entre-

ter estes jovens e logo optam pelo ensino desde quehellip (hellip) Natildeo haacute

que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal

quanto mais noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito gran-

des neste momento em Angola do ensino superior temos muita

gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos

anaacuterquica dependendo da vontade dos dirigentes do que propria-

mente das necessidadeshelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Interessante eacute igualmente a anaacutelise das entidades financiadoras dos projectos

listados no quadro nordm 3 um total de 45 dos projectos inscritos eacute financiado na sua

totalidade pelo ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa que a niacutevel governamental eacute

a instituiccedilatildeo que tem responsabilidades ao niacutevel da concepccedilatildeo das poliacuteticas bilaterais

coordenaccedilatildeo e financiamento das actividades de cooperaccedilatildeo Dos restantes projectos o

ICP aparece como entidade financiadora parcialmente em mais 25 o que significa

que do elenco de projectos analisado o Estado Portuguecircs suporta financeiramente total

ou parcialmente 70 cabendo a outras instituiccedilotildees muitas delas puacuteblicas o

financiamento dos restantes 30 Esta anaacutelise poderaacute servir de amostra para concluir

que indubitavelmente o Estado Portuguecircs eacute o grande financiador das actividades

desenvolvidas em Cabo Verde e as instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas as

executoras no domiacutenio do Ensino Superior Eacute igualmente interessante constatar que dos

40 projectos enumerados apenas 4 estatildeo integrados no Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997

logo sob a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria Eacute caso para questionar em que contexto

eacute que aparecem os restantes projectos e qual a instituiccedilatildeo que os coordena sendo agrave

partida claro que eacute o Estado Portuguecircs a entidade financiadora Perante esta constataccedilatildeo

natildeo seraacute despiciente questionar-se a relevacircncia de todas estas acccedilotildees para o

desenvolvimento (sustentado) do sector do ensino superior cabo-verdiano ou seja natildeo

havendo um trabalho de campo e uma anaacutelise cientiacutefica que identifique claramente as

117

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidades e aacutereas estrateacutegicas corre-se o risco de se estarem a realizar acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo ldquoavulsasrdquo que muito pouco contribuiratildeo para o efectivo alcance dos

objectivos pretendidos

Num quadro de relativa indefiniccedilatildeo por parte das proacuteprias autoridades cabo-

-verdianas sobre a orientaccedilatildeo a dar agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que eacute exemplo concreto

a natildeo viabilidade da constituiccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde pelo lado de Portugal

regista-se apesar de tudo um apoio mais concertado nomeadamente na promoccedilatildeo de

formaccedilatildeo em novas aacutereas fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes de que satildeo

exemplo o sector da sauacutede ou do turismo

QUADRO Nordm 4

Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo (puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido

Instituiccedilatildeo Niacutevel de Formaccedilatildeo

199900 (nordm cursos)

200001 (nordm cursos)

200102 (nordm cursos)

200203 (nordm cursos)

Meacutedio 1 1 1 1

Bacharelato

mdash mdash ndash ndash Licenciatura mdash mdash mdash mdash

Instituto Pedagoacutegico

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 9 7 4 2

Licenciatura mdash 3 8 11 ISE ndash Instituto

Superior de Educaccedilatildeo Mestrado mdash mdash 1 1

Bacharelato 5 5 8 8

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISECMAR Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 2 2 mdash 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash CFA ndash INIDA Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 1 1 1 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISCEE Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato mdash mdash 3 3

Licenciatura mdash mdash mdash mdash Direcccedilatildeo Geral de Turismo

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

O Quadro nordm 4 apresenta a evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos e niacutevel de formaccedilatildeo

que conferem distribuiacutedos por anos lectivos e realizados nas instituiccedilotildees puacuteblicas cabo-

118

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

-verdianas desde 1999 ateacute 2003 Numa anaacutelise superficial dos dados aqui apresentados

desde logo eacute verificaacutevel que de todas as instituiccedilotildees listadas o ISE (Instituto Superior

de Educaccedilatildeo) eacute aquele que apresenta uma evoluccedilatildeo ou crescimento mais coerente No

ano lectivo de 199900 o ISE oferecia 9 cursos de bacharelato que passaram a 10 cursos

no ano lectivo seguinte distribuiacutedos entre bacharelatos e licenciaturas A evoluccedilatildeo desta

instituiccedilatildeo eacute positiva e tem sido em crescendo oferecendo no presente lectivo

(20022003) um total de 14 cursos dos quais um eacute de Mestrado (primeiro curso de

Mestrado ministrado em Cabo Verde) O ISECMAR eacute uma aposta mais vincada a partir

do ano lectivo de 200102 oferecendo desde entatildeo formaccedilatildeo em 8 cursos todos condu-

centes ao grau de bacharel Esta aacuterea eacute fundamental para o desenvolvimento do paiacutes

sendo portanto de louvar as iniciativas para o seu desenvolvimento

Apesar da recente incidecircncia de acccedilotildees de cooperaccedilatildeo nas aacutereas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a anaacutelise transversal do quadro nordm 4 revela que regra geral a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa continua a apostar maioritariamente em acccedilotildees que incidem nos

chamados cursos de ldquopapel e laacutepisrdquo as razotildees para tal satildeo oacutebvias e amplamente

conhecidas e passam pela maior facilidade e baixos custos que acarreta formar pessoas

em aacutereas para as quais natildeo satildeo necessaacuterias grandes infra-estruturas de apoio ao ensino

nem um grande investimento em material didaacutectico ou equipamentos como eacute o caso de

laboratoacuterios O Bacharelato continua a ter primazia sobre os restantes niacuteveis de

formaccedilatildeo superior o que aparentemente eacute a opccedilatildeo correcta e mais indicada tendo em

conta as reais necessidades do paiacutes No entanto o ISE salienta-se uma vez mais pelo

facto de nos dois uacuteltimos anos lectivos apostar numa formaccedilatildeo em niacuteveis mais

avanccedilados nomeadamente licenciatura e mestrado

Paralelamente agrave existecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria em funccedilotildees desde 1997 foi

criada para cada paiacutes beneficiaacuterio a figura do Gestor Para desempenhar esta tarefa foi

nomeado para cada PALOP uma individualidade ligada ao ensino superior e com vasta

experiecircncia no sector Segundo foi possiacutevel apurar este cargo reportava directamente ao

ICP e a sua actividade passava completamente agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria no caso

particular de Cabo Verde A figura do Gestor foi criado com o intuito de auxiliar Cabo

Verde na definiccedilatildeo dos programas e acccedilotildees e mediar essa negociaccedilatildeo junto das

autoridades portuguesas no entanto eacute assumido pelo proacuteprio executor do cargo na

primeira pessoa que haacute uma certa tentaccedilatildeo para exercer uma certa influecircncia junto das

119

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

autoridades cabo-verdianas Conclui-se desta forma que haacute fortes probabilidades do

processo de negociaccedilatildeo ser encaminhado pelo proacuteprio gestor que interveacutem directamente

junto do Governo Portuguecircs o que a confirmar-se vem demonstrar uma vez mais que a

Cooperaccedilatildeo Portuguesa natildeo construiu uma base sustentada de negociaccedilatildeo das suas

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo baseada em estudos cientiacuteficos e diagnoacutestico de necessidades

como seria desejaacutevel

(hellip) convidou-me e disse-me ldquoolhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute

ter um gestor da cooperaccedilatildeo para cada um dos paiacuteses eacute a pessoa

com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o

que quer eacute o outro paiacutes mas eacute preciso que algueacutem em Portugal vaacute

trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para se

encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip

porque agraves vezes as pessoas quando tambeacutem natildeo sabem o que

querem tecircm dificuldade em se exprimirrdquo (Entrevista nordm6)

Por outro lado e no caso particular de Cabo Verde o gestor tinha como moeda

de troca pelo desempenho do cargo a atribuiccedilatildeo de verbas para a execuccedilatildeo de projectos

de cooperaccedilatildeo a implementar pela instituiccedilatildeo a que ele proacuteprio pertencia Trata-se neste

caso de um claro favorecimento de uma instituiccedilatildeo de ensino pela colaboraccedilatildeo junto do

ICP de um docente procedimento que eacute interpretado pelo proacuteprio como uma moeda de

troca Sem querer fazer quaisquer juiacutezos de valor ou entrar em questotildees como a

legitimidade destes procedimentos este facto uma vez mais vem provar a ausecircncia de

uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa coerente planificada e fundamentada

ldquo(hellip) Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma remu-

neraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem

funcionado na base do voluntarismo e natildeo na base de qualquer

poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo com Cabo

Verde e nunca ganhei um tostatildeo (hellip) Sim senhora nomeiam-me

assim portanto agora vamos dar uma moeda de troca eacute o

Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute

nessa base que noacutes aahelliprdquo (hellip) As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das

120

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

relaccedilotildeeshellip (hellip) Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio

pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que aacutereas necessitava e depois

compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu

papel como gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com

as autoridades Cabo-Verdianas eu quando ia fazia uma ronda

pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o

Ministro das Financcedilas com o dos Transportesrdquo (Entrevista nordm 6)

A acccedilatildeo do Gestor aparentemente revela-se demasiado influenciadora junto das

autoridades cabo-verdianas no entanto natildeo sabemos ateacute que ponto esta atitude natildeo se

impotildee face agrave indefiniccedilatildeo do Governo Cabo-Verdiano quanto a este assunto Na verdade

compete a Portugal pelo menos moralmente e como parte detentora de meios de

diagnoacutestico criar instrumentos vaacutelidos que auxiliem Cabo Verde a tomar decisotildees nesta

mateacuteria

Pode concluir-se que a cooperaccedilatildeo com o apoio das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas tem levado a cabo uma seacuterie de iniciativas no sentido de

diversificar a oferta formativa em aacutereas que num futuro proacuteximo poderatildeo vir a integrar a

Universidade Nacional de Cabo Verde Referimo-nos concretamente agrave aacuterea das

ciecircncias e tecnologias nomeadamente as engenharias que estatildeo integradas no

ISECMAR ou agrave formaccedilatildeo de professores do ISE O reforccedilo no apoio agrave formaccedilatildeo de

professores de ensino baacutesico foi igualmente assegurado tendo o Instituto Pedagoacutegico de

Cabo Verde como instituiccedilatildeo promotora

Em suma Portugal apoiou financeiramente a criaccedilatildeo de dois institutos

pedagoacutegicos para a formaccedilatildeo de professores de niacutevel primaacuterio e secundaacuterio e manteacutem

activo o apoio no ensino poacutes-secundaacuterio nomeadamente em aacutereas como o turismo

agricultura ambiente gestatildeo e economia e sauacutede Outro exemplo do esforccedilo realizado

no sentido da criaccedilatildeo de estruturas de sustentaccedilatildeo para o ensino superior eacute a criaccedilatildeo do

Programa ldquoFUNDO FAacuteCILrdquo do ICCTI (Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecno-

loacutegica Internacional) que visa ao abrigo do Conveacutenio de Cooperaccedilatildeo de 1997 apostar

no apoio agrave cooperaccedilatildeo e actividades de ligaccedilatildeo entre Cabo Verde e Portugal (FAacuteCIL)

destinado a apoiar contactos entre investigadores cabo-verdianos e portugueses por

periacuteodos natildeo superiores a duas semanas

121

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Podemos considerar que a experiecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria natildeo produziu os

efeitos a que se propocircs aquando da sua constituiccedilatildeo mas a avaliar pelo trabalho por

esta desenvolvido natildeo deveraacute ser considerado um esforccedilo ingloacuterio O Plano Indicativo

de Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde para 2002-2004 eacute revelador de que das anteriores

experiecircncias alguns ensinamentos foram retirados apesar de este ser um documento

pouco concretizador quanto aos programas a implementar Eacute no entanto revelador das

principais linhas orientadoras nesta mateacuteria ao afirmar-se que

ldquoO apoio ao ensino superior deveraacute prosseguir quer no acircmbito de

acordos conveacutenios e protocolos celebrados entre universidades e

institutos superiores politeacutecnicos portugueses e seus congeacuteneres

dos paiacuteses parceiros quer no quadro de projectos visando a

criaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de cursos superiores em aacutereas estra-

teacutegicas bem como a promoccedilatildeo de projectos-piloto de mobilidade e

intercacircmbio de professores e estudantes

Seguindo as orientaccedilotildees introduzidashellip de que a intervenccedilatildeo na

formaccedilatildeo de quadros superiores dos PALOP deveraacute corresponder

de forma mais efectiva agraves necessidades de formaccedilatildeo superior

indispensaacutevel ao desenvolvimento sustentado dos paiacuteses o

Programa de bolsas prevecirc uma reduccedilatildeo que se procura seja

gradual do nuacutemero de bolseiros para licenciaturas no ensino

superior em Portugal que seraacute acompanhada pela concessatildeo de

bolsas internas para frequecircncia nos estabelecimentos de ensino

dos PALOP e pelo alargamento das bolsas de poacutes-graduaccedilatildeo

mestrados e doutoramentos em Portugalrdquo (Programa Indicativo de

Cooperaccedilatildeo 2002-2004)

O Programa de Cooperaccedilatildeo assinado em 2003 entre Portugal e Cabo Verde no

domiacutenio do Ensino Superior Ciecircncia e Tecnologia segue as mesmas linhas estrateacutegicas

de cooperaccedilatildeo do executivo que lhe antecedeu concretizando no entanto os termos de

alguns projectos a implementar e que parecem vir reforccedilar a ideia de que a cooperaccedilatildeo

estaacute cada vez mais voltada para o desenvolvimento das estruturas locais de formaccedilatildeo

directamente proporcional agrave reduccedilatildeo de apoios para a formaccedilatildeo graduada fora do paiacutes

de origem

122

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O acordo assinado em 2003 (ver anexo X) veio introduzir questotildees de grande

relevacircncia para o desenvolvimento concertado de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo na aacuterea do

ensino superior ao dar prioridade agrave realizaccedilatildeo de projectos conjuntos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento mas em nosso entender mais importante que isso eacute o facto de prever

acccedilotildees de avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico do ensino superior e da ciecircncia e tecno-

logia A execuccedilatildeo das acccedilotildees delineadas por este acordo ficaraacute a cargo de uma nova

Comissatildeo Paritaacuteria nomeada para o afeito da qual faratildeo parte um maacuteximo de 5 repre-

sentantes de cada paiacutes que teraacute a seu cargo planeamento articulaccedilatildeo acompanhamento

e avaliaccedilatildeo dos trabalhos

Os esforccedilos encetados no sentido da avaliaccedilatildeo da qualidade das aacutereas de

formaccedilatildeo existentes eacute essencial para a credibilidade do ensino realizado e para fixar os

jovens no territoacuterio tanto mais quando o relatoacuterio de avaliaccedilatildeo agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

de Portugal com Cabo Verde produzido em 2001 pelo CAD (Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento) da OCDE refere que ldquoOfficial statistics in Cape Verde show

universal primary enrolment which is exemplary in SSA However quality of

education at this level is still a problemrdquo 67 As novas tecnologias natildeo foram esquecidas

e agrave parte dos constrangimentos que possa trazer a exequibilidade de projectos que delas

estejam dependentes [uma vez tratar-se de paiacuteses sem infra-estruturas que permitam um

elevado niacutevel de sucesso] a verdade eacute que o e-learning apresenta-se como uma

alternativa eficaz agrave mobilidade discente e docente

O mesmo relatoacuterio conclui na fase final e no que respeita ao sector do ensino

superior que ldquohellipalthough Cape Verde is presently in the process of developing a

sector-wide strategy in education Portugal does not seem to be convinced by this

approach Portugal could take a more positive role in this process by supporting sector

analysis data collection and providing intellectual input towards the quality of basic

education improvement of secondary enrolment costs and opportunity costs of tertiary

education and so onrdquo 68 O Relatoacuterio da OCDE ao identificar como aspectos a melhorar

no modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde o processo de avaliaccedilatildeo das

actividades de cooperaccedilatildeo ou a ausecircncia dele vem confirmar as conclusotildees jaacute

67 Portugalrsquos Aid Programme in Cape Verde addendum to the main report

(DCDDACAR(2001)216PART1 and PART2) April 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL sdataprpm_portugaldocuments216add2cape_verde_2doc

68 Ibidem

123

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

anteriormente aqui retiradas Este procedimento que deveria ser regular de modo a

permitir proceder aos reajustes necessaacuterios com vista agrave melhoria da qualidade das

acccedilotildees e ao seu redireccionamento sempre que tal seja necessaacuterio eacute efectivamente um

procedimento inexistente pelo menos ateacute haacute bem pouco tempo Sobre isto seraacute de

salientar as seguintes afirmaccedilotildees de um entrevistado que curiosamente colaborou

activamente na realizaccedilatildeo deste Relatoacuterio da OCDE

(hellip) Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi

criacutetica foi dito oralmente mas estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo

existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip (hellip) Como vecirc

a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute

a minha porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo

independentes e fura completamente as regras Portanto aliaacutes

eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um

modelo perigoso (hellip) Admito e mais quer dizer eu lamento que

seja assim (hellip) portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo

portuguesa natildeo tem poliacuteticardquo (Entrevista nordm 6)

De referir que posteriormente a esta recomendaccedilatildeo da OCDE e jaacute no ano de

2003 foi realizado um trabalho de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com Cabo

Verde pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento relatoacuterio esse que por ter sido

realizado recentemente serviu de fonte de dados privilegiada para o presente trabalho

Natildeo satildeo ainda mensuraacuteveis os efeitos que esse documento possa vir a ter para a poliacutetica

de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no sector do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos identificam-se os seguintes Pontos Fortes

Manutenccedilatildeo de fortes relaccedilotildees bilaterais entre Portugal e Cabo Verde

Reforccedilo dos laccedilos culturais que unem ambos os paiacuteses

124

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Fortalecimento do Portuguecircs como primeira liacutengua falada em Cabo

Verde

Apoio agrave criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde

Tentativa de congregaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo dos projectos de cooperaccedilatildeo

para a o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no domiacutenio do ensino

superior atraveacutes da assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo em 1997

Nomeaccedilatildeo de uma Comissatildeo Paritaacuteria como oacutergatildeo planificador coorde-

nador e executante do projecto de desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do

ensino e da investigaccedilatildeo

Tentativa de implementaccedilatildeo de um oacutergatildeo representativo cada vez mais

institucional e menos pessoal atraveacutes da criaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria

Criaccedilatildeo pela primeira vez de instrumentos de trabalho como sejam os

Planos de Actividades e os Relatoacuterios de Actividades produzidos pela

Comissatildeo Paritaacuteria

Definiccedilatildeo de linhas de acccedilatildeo adequadas nomeadamente quando satildeo

definidas como estrateacutegias de actuaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo retrospectiva e

prospectiva das acccedilotildees ou ateacute questotildees como o enquadramento legal das

instituiccedilotildees de ensino a avaliaccedilatildeo da qualidade etc

Levantamento junto dos oacutergatildeos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas CRUP e CCISP dos projectos em curso no sentido

de futuramente congregar todas as actividades de cooperaccedilatildeo num uacutenico

plano de desenvolvimento evitando-se deste modo o risco de sobrepo-

siccedilatildeo de projectos

Reforccedilo das relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

e cabo-verdianas particularmente impulsionado pela assinatura do

Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997 e mais recentemente pela assinatura do

Accedilordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Adopccedilatildeo de uma estrateacutegia para a reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas de estudo

para o exterior reforccedilando em contrapartida os apoios agraves instituiccedilotildees

nacionais

125

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apoio agrave diversificaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo no sentido de preparar

estruturas miacutenimas de base que permitam o surgimento efectivo da

Universidade de Cabo Verde

Reforccedilo das poliacuteticas definidas no Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

2002-2004 com a assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Aumento da consciencializaccedilatildeo quanto agrave necessidade de implementaccedilatildeo

a breve prazo de procedimentos de avaliaccedilatildeo regulares que permitam

conduzir ao desenvolvimento sustentado do paiacutes

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos retiram-se os seguintes Pontos Fracos

Descentralizaccedilatildeo sistemaacutetica da informaccedilatildeo quanto aos programas de

cooperaccedilatildeo que podem resultar num desaproveitamento dos recursos

financeiros e humanos (haacute casos em que a sobreposiccedilatildeo de apoios eacute

verificaacutevel ateacute mesmo ao niacutevel de oacutergatildeos governamentais)

Ausecircncia de uma clara e sustentada planificaccedilatildeo estrateacutegica de acccedilotildees o

que vem atrasar o tatildeo ansiado desenvolvimento sustentado do sector da

educaccedilatildeo

Atraso na concretizaccedilatildeo do arranque da Universidade de Cabo Verde

Insucesso na plena execuccedilatildeo da poliacutetica de reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas

para formaccedilatildeo graduada no estrangeiro em parte devido ao atraso no

arranque da Universidade Nacional

Quem planeia natildeo eacute quem paga logo a exequibilidade dos projectos eacute

desde logo posta em causa

Ausecircncia na Comissatildeo Paritaacuteria de representantes das instituiccedilotildees cabo-

-verdianas de ensino superior puacuteblico

Reconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de alguma incapa-

cidade de monitorizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das acccedilotildees a que se propocircs

126

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de um mecanismo centralizador das actividades de cooperaccedilatildeo

Ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade

Multiplicaccedilatildeo de protocolos com instituiccedilotildees de ensino superior portu-

guesas e instituiccedilotildees de outra natureza

Apoio a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo conducentes ao efectivo desenvol-

vimento sustentado do ensino superior como sejam a criaccedilatildeo de ldquopaccedilo-

tesrdquo de formaccedilatildeo

Fraco investimento em aacutereas de apoio agrave formaccedilatildeo poacutes-graduada e activi-

dades de investigaccedilatildeo

Necessidade de maior regulamentaccedilatildeo da qualidade das actividades de

formaccedilatildeo de modo a aumentar a sua credibilidade

Total ausecircncia de informaccedilatildeo relativamente a questotildees importantes

como requisitos de acesso natureza das certificaccedilotildees atribuiacutedas reco-

nhecimento dos graus acadeacutemicos e equivalecircncias

A determinaccedilatildeo dos Programas e das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo a desenvolver

satildeo de certa forma condicionadas por Portugal dependendo da vontade

dos dirigentes

A cooperaccedilatildeo funciona ainda com base no voluntarismo e nas relaccedilotildees

pessoais

Alguma ineacutercia e desconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de

algumas das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo executadas durante o seu mandato

Conhecimento escasso por parte das entidades financiadoras da

qualidade e do impacto gerado pelos projectos financiados

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste

A Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste situa-se geograficamente na parte

Leste da ilha de Timor arquipeacutelago das ilhas Lesser Sunda e eacute constituiacuteda pela parte

127

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste da Ilha de Timor dela fazendo igualmente parte as pequenas ilhas de Atauacutero e

Jaco

Pouco tempo depois da retirada de Portugal do territoacuterio no ano de 1975 Timor

Leste sofreu uma ocupaccedilatildeo Indoneacutesia situaccedilatildeo que viria a prevalecer ateacute ao ano de

1999 Eacute de facto em Novembro de 1991 que apoacutes a denuacutencia ao mundo do massacre do

Cemiteacuterio de Santa Cruz eacute despoletado um movimento mundial de apoio agrave retirada das

tropas indoneacutesias de Timor Leste que sob o olhar atento das Naccedilotildees Unidas culminaria

na realizaccedilatildeo de um referendo ao povo timorense em 30 de Agosto de 1999 sobre o

desejo de independecircncia O resultado dessa consulta popular acabaria por expressar uma

vitoacuteria esmagadora a favor da independecircncia estavam dados os primeiros passos que

conduziriam agrave libertaccedilatildeo do povo timorense e ao nascimento em 20 de Maio de 2001

da mais nova Naccedilatildeo do Seacuteculo XXI a Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste

A caracterizaccedilatildeo econoacutemico-financeira de Timor Leste conduz-nos a um paiacutes

cujas caracteriacutesticas satildeo em muitos aspectos semelhantes ao caso de estudo anterior

No entanto e devido ao longo periacuteodo de ocupaccedilatildeo indoneacutesio natildeo foram criadas

condiccedilotildees que lhe permitam estar presentemente no mesmo niacutevel de desenvolvimento

econoacutemico-financeiro e cultural que Cabo Verde Timor Leste caracteriza-se por ter

uma rede de infra-estruturas extremamente precaacuteria e insuficiente para fazer face agraves

necessidades sociais baacutesicas Esta carecircncia agudizou-se com o rasto de destruiccedilatildeo

deixado pelas tropas indoneacutesias quando se retiraram contrariadas do territoacuterio O sector

industrial eacute inexistente permanecendo actualmente uma total dependecircncia da ajuda

externa As elevadas taxas de desemprego sobretudo na franja mais jovem da

populaccedilatildeo e a carecircncia generalizada de quadros qualificados satildeo problemas soacutecio-

econoacutemicos que conduzem a uma enorme atracccedilatildeo da populaccedilatildeo pela emigraccedilatildeo em

oposiccedilatildeo agrave atracccedilatildeo pelo sector agriacutecola posiccedilatildeo essa particularmente vincada numa

faixa de populaccedilatildeo mais jovem e escolarizada

Conscientes do longo caminho que ainda estaacute por percorrer na prossecuccedilatildeo do

desenvolvimento do Paiacutes e segundo dados revelados pelo Relatoacuterio da PNUD 69 os

timorenses identificaram aquando de um inqueacuterito agrave populaccedilatildeo o sector da educaccedilatildeo

69 United Nations Development Programme (UNDP) ldquoUkun Rasij Arsquoan The way aheadrdquo East Timor

Human Development Report 2002 Dili 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwundporg

128

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

como a aacuterea de investimento prioritaacuteria para o desenvolvimento de Timor Leste (70

dos respondentes indicaram a educaccedilatildeo como aacuterea prioritaacuteria) seguida da aacuterea da sauacutede

Em 2001 o Relatoacuterio das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento para Timor

Leste registava um total de 792 298 mil habitantes dos quais 235 se encontram

concentrados na aacuterea urbana O paiacutes apresenta elevadas taxas de populaccedilatildeo jovem cerca

de 439 da populaccedilatildeo situa-se abaixo dos 15 anos de idade e 537 encontra-se entre

os 15 e os 64 anos de idade no entanto a mesma fonte determina que 43 da

populaccedilatildeo timorense sofre de iliteracia e 46 eacute analfabeto 70 Estes valores satildeo revela-

dores das dificuldades acrescidas que enfrenta o Paiacutes e quando associados estes dados

ao contexto soacutecio-econoacutemico caracterizado como se viu por uma elevada taxa de

populaccedilatildeo jovem e desocupada percebe-se a urgecircncia do Governo do paiacutes em formar e

ocupar rapidamente os jovens sob pena de comprometer a estabilidade poliacutetica e social

e por inerecircncia comprometer todo o plano de desenvolvimento do paiacutes Neste contexto

o sector da educaccedilatildeo assume uma importacircncia acrescida como mecanismo de equiliacutebrio

e estabilizaccedilatildeo social e poliacutetica

As Naccedilotildees Unidas procuraram apoiar e acompanhar de perto a primeira fase de

reconstruccedilatildeo de Timor Leste atraveacutes da constituiccedilatildeo de uma Administraccedilatildeo Transitoacuteria

das Naccedilotildees Unidas em Timor Leste (UNTAET) que para aleacutem de proporcionar as

condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia ao povo timorense no periacuteodo poacutes-independecircncia

procurou ainda preparar o paiacutes para o desenvolvimento sustentado O trabalho deste

Governo de Transiccedilatildeo culminou com a declaraccedilatildeo de independecircncia e a constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste em 20 de Maio de 2002 A Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica viria a eleger como liacutenguas oficiais do paiacutes o Teacutetum e o Portuguecircs

No entanto apesar dos esforccedilos desenvolvidos e de todo o trabalho realizado por

parte dos paiacuteses cooperantes vai ainda demorar alguns anos ateacute que Timor atinja a

maturidade desejada

ldquoEast Timor must now move forward on the longer-term process of

national capacity building for sustainable development But it will

not be doing so alone There will be donor support and a sizeable

UN successor missionhellip

70 Ibidem

129

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

I know that the newly independent government of East Timor will

be ready and eager to take up the challenge of sustainable

development to achieve progress in human survival knowledge

communications and productivity

Seacutergio Vieira de Mello (East Timor Human Development Report 2002)

Os problemas do sector educativo de Timor Leste natildeo se revelam de faacutecil

soluccedilatildeo ainda mais porque tratando-se de problemas estruturais directamente

relacionados com a conjuntura poliacutetica econoacutemica e social do paiacutes mais

condicionalismo geram no processo de evoluccedilatildeo deste sector Volvido um ano apoacutes a

declaraccedilatildeo da independecircncia de Timor Leste o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no

domiacutenio do ensino superior tem ainda um longo caminho a percorrer e os desafios que

tem enfrentado e os que ainda teraacute de enfrentar no futuro natildeo se auguram de faacutecil

ultrapassagem

Como foi jaacute referido a iliteracia e o analfabetismo satildeo apenas alguns dos

problemas soacutecio-educativos mais evidentes mas natildeo satildeo os uacutenicos A verdade eacute que o

facto de a Liacutengua Portuguesa ter sido escolhida como uma das liacutenguas oficiais traz

dificuldades acrescidas aos proacuteprios oacutergatildeos de governo timorenses uma vez que a

maioria do corpo docente em todos os niacuteveis de ensino natildeo domina o Portuguecircs Esta

opccedilatildeo poliacutetica revela apesar de tudo uma grande coragem e determinaccedilatildeo por parte do

Governo Timorense mas exige do Governo Portuguecircs um enorme esforccedilo no sentido de

reforccedilar as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo para com Timor Leste particularmente no que respeita

a este sector no sentido de rapidamente proporcionar condiccedilotildees aos timorenses de

aprenderem e difundirem a Liacutengua Portuguesa Esta opccedilatildeo pode revelar uma visatildeo

estrateacutegica da poliacutetica timorense que usa a Liacutengua Portuguesa como elemento

diferenciador no contexto geograacutefico Asiaacutetico onde se inserem demarcando-se assim

culturalmente das vizinhas Austraacutelia e Indoneacutesia Esta interpretaccedilatildeo eacute reiterada por

Benjamim-Corte Real Reitor da UNTL ao afirmar que ldquoO Portuguecircs sempre foi um

siacutembolo da resistecircncia timorense um factor de diferenciaccedilatildeo entre noacutes e a outra metade

da ilha que pertence agrave Indoneacutesia Agora vamos ter de dar um passo mais agrave frente e viver

a liacutengua implementaacute-la nos vaacuterios niacuteveis de ensinordquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003) No

entanto eacute tambeacutem estrategicamente importante para Portugal que a Liacutengua Portuguesa

seja adoptada por Timor Leste como liacutengua oficial uma vez que permite a presenccedila de

130

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Portugal numa plataforma geograacutefica importante que nos coloca na rota do Oriente

Esta conclusatildeo eacute aliaacutes confirmada pelas palavras de um dos entrevistados directamente

responsaacutevel pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo e que sobre este assunto faz as

seguintes afirmaccedilotildees

ldquoO Lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a

Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de

pessoas do que por exemplo o Francecircs e eacute uma liacutengua vital viva com imenso

futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas do mundo onde a

tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees em termos demograacuteficos a estagnar

Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa afirmaccedilatildeo

internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa

eacute essencial para Portugal daiacute tambeacutem a importacircncia da Liacutengua Portuguesa

no nosso relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP

(hellip) Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave

mestra a ideia de que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente

e a aposta essencial deve ser na formaccedilatildeo de formadores locais (hellip) o futuro

passaraacute o futuro da Liacutengua Portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

Liacutengua Portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem

ensina portuguecircs nas escolas satildeo professores timorenses que aprenderam

portuguecircs com professores portugueses preferencialmente laacute porque a

formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo de

inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute

uma aposta importantiacutessima (hellip) O papel das universidades portuguesas nisto

eacute fundamental evidentemente (Entrevista nordm 1)

O legado cultural deixado pela Indoneacutesia ao povo timorense eacute francamente

mediacuteocre uma vez que os estabelecimentos de ensino eram utilizados como meios de

propaganda ao serviccedilo da Indoneacutesia visando contribuir para o enfraquecimento das

capacidades de resistecircncia da populaccedilatildeo atraveacutes de um ensino parco em qualidade Esta

situaccedilatildeo gerou um corpo docente timorense que permanece ainda hoje desprovido de

uma qualificaccedilatildeo acadeacutemica e cientiacutefica adequada a que para aleacutem das evidentes

necessidades de formaccedilatildeo graduada e poacutes-graduada se junta a dificuldade acrescida da

131

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade iminente da aprendizagem da Liacutengua Portuguesa Destas dificuldades daacute

conta o Reitor da UNTL na primeira pessoa

ldquo(hellip) Aahellip e isto eacute vaacutelido eu devo dizer natildeo soacute no contexto dos

alunos estudantes timorenses a receber explicaccedilotildees de pro-

fessores portugueses mas eu devo dizer que como princiacutepio

estamos a tratar de alunos que estejam a aprender aahellip de

professores digamos que natildeo sejam ou aliaacutes alunos que

estejam a aprender numa liacutengua em que natildeo estejam habituados

ouhellip pura e simplesmente numa liacutengua que para eles ainda eacute uma

liacutengua estrangeira Aahellip portanto eacute soacute para dizer que natildeo

acontece soacute com os timorenses mas pode acontecer em qualquer

contexto em que a liacutengua de instruccedilatildeo natildeo eacute na liacutengua materna

digamos do aprendente(hellip) Eu devo dizer categoricamente que

natildeo O facto de agora estarmos a registar ainda certas

deficiecircncias natildeo eacute pelo facto dos professores se deslocarem a

Timor Leste mas essencialmente pelo facto dos proacuteprios

aprendentes alunos natildeo terem uma preparaccedilatildeo preacutevia do mesmo

niacutevel dos estudantes portugueses que vivem e que estudam caacute em

Portugalrdquo (Entrevista nordm 5)

No domiacutenio do ensino superior a Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) eacute a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica que se insere nas estruturas formais de ensino

Inaugurada em 2000 esta instituiccedilatildeo segundo o seu Reitor ldquohellip em termos de curriacuteculos

dos cursos livros pessoal docente e grande parte dos estudantes a UNTL eacute uma

heranccedila daquilo que foi em tempos durante a ocupaccedilatildeo indoneacutesia uma universidade

provincialrdquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003)

132

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

QUADRO Nordm 5

A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero de Alunos

Faculdade Cursos Ministrados

Nordm total docentes

(20002001)

Graduaccedilatildeo do corpo docente

Nordm total alunos

(20022203 ndash 2ordm Semestre)

mdash Bacharelato 23 Licenciatura

1 Mestrado 1 Doutoramento

Agricultura

Agronomia Agroeconomia Agropecuaacuteria

Ciecircncias Agraacuterias (FUP) mdash Outro

1060

mdash Bacharelato 18 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas

Administraccedilatildeo Puacuteblica Estudo Governamental

Desenvolvimento Comunitaacuterio

mdash Outro

1911

mdash Bacharelato

24 Licenciatura

2 Mestrado

1 Doutoramento

Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Liacutengua Malaia Liacutengua Inglesa

Liacutengua Portuguesa Biologia

Matemaacutetica Quiacutemica

Fiacutesica Formaccedilatildeo Professores Portuguecircs (FUP)

ndash Outro

1406

ndash Bacharelato 10 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Economia

Gestatildeo Ciecircncias de Economia e Estudo do

Desenvolvimento Economia e Gestatildeo (FUP)

mdash Outro

968

15 Bacharelato 19 Licenciatura

mdash Mestrado

mdash Doutoramento

Teacutecnica

Engenharia Civil Engenharia Electroteacutecnica

Engenharia Mecacircnica Engenharia Electroteacutecnica (FUP)

Engenharia Informaacutetica (FUP) 4 Outro

674

Fonte Universidade Nacional de Timor Leste (2003)

Uma anaacutelise superficial do quadro nordm 5 permite ter desde logo uma visatildeo geral

relativamente ao modo como estaacute organizada a UNTL os cursos ministrados o nuacutemero

e qualificaccedilatildeo do corpo docente e o nuacutemero de alunos por faculdade Percebe-se de

imediato que as dificuldades em manter um ensino de qualidade satildeo enormes se

considerarmos a raacutecio professoraluno que eacute extremamente baixa face aos valores que

seriam desejaacuteveis ainda que natildeo tenham sido considerados nestes dados os docentes do

Programa da FUP que apesar de tudo pouca expressividade teria neste caso Satildeo vagos

133

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

os indicadores de qualidade do pessoal docente sendo no entanto desde logo

confirmado o que jaacute aqui foi dito quanto agrave necessidade urgente de formaccedilatildeo acadeacutemica

poacutes-graduada dos docentes da UNTL que maioritariamente apresentam uma graduaccedilatildeo

maacutexima de licenciatura Eacute no entanto omissa nestes dados a percentagem de profes-

sores que se encontra presentemente a fazer formaccedilatildeo poacutes-graduada Tal como referido

anteriormente os estudantes universitaacuterios que frequentavam a universidade nacional na

altura da ocupaccedilatildeo revelam graves lacunas e insuficiente preparaccedilatildeo cientiacutefica de base

facto atribuiacutedo ao facilitismo e agrave baixa qualidade do ensino superior ministrado nessa

altura Apesar de todos estes constrangimentos a Universidade Nacional de Timor

Leste eacute um importante motor de desenvolvimento para aleacutem de ser um poacutelo dinami-

zador e gerador de um certo equiliacutebrio do paiacutes uma vez que perante a elevada taxa de

desemprego apresenta-se como uma alternativa de ocupaccedilatildeo para muitos jovens que de

outra forma estariam inactivos

O nuacutemero de docentes timorenses eacute claramente insuficiente face ao elevado

nuacutemero de alunos Se a este deficitaacuterio nuacutemero de docentes deduzirmos aqueles que se

encontram em formaccedilatildeo no estrangeiro rapidamente se percebe que as dificuldades com

que luta a Universidade Nacional de Timor Leste satildeo enormes sendo portanto

compreensiacutevel que as preocupaccedilotildees com aspectos como a qualidade natildeo sejam

prioridades de instituiccedilotildees com carecircncias como as que esta apresenta Como vimos este

tipo de cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave proliferaccedilatildeo de actividades de ensino transnacional que

normalmente eacute visto como um benefiacutecio face agraves dificuldades enfrentadas sendo estas

acccedilotildees integradas nos sistemas de ensino formais com grande facilidade natildeo sendo

imposto qualquer requisito ou limite pelo paiacutes receptor

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste

Portugal demonstrou desde sempre empenho no apoio ao processo de

independecircncia de Timor Leste natildeo apenas por razotildees histoacutericas mas pela afinidade que

os portugueses sempre mantiveram com o povo timorense Em 5 de Maio de 1999

Portugal viria a assinar com o Governo Indoneacutesio um Acordo de Bases sobre Timor

134

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste testemunhado por Kofi Annan Secretaacuterio-Geral das Naccedilotildees Unidas Neste

documento ficou acordado entre as partes que Timor Leste deveria pronunciar-se

atraveacutes de um referendo universal por sufraacutegio sobre a vontade de tornar-se indepen-

dente Por esta ocasiatildeo o Presidente da Repuacuteblica Portuguesa Jorge Sampaio faria as

seguintes declaraccedilotildees aquando do anuacutencio da celebraccedilatildeo do acordo

ldquohellipPortugal is prepared to undertake all its commitments resulting

from the agreement both before and after the referendum In this

framework I would like to underline our continuing willingness to

accept all Portugalacutes responsibilities as an administrating power

If the Timorese choose independence Portugal will be ready to

cooperate as a member of the United Nations in Timoracutes peaceful

transition to independence especially from the point of view of

political institutions administration and securityhelliprdquo

(East Timor Reconstruction for Development 19992000 2000)

Os representantes poliacuteticos portugueses tecircm vindo desde entatildeo a reforccedilar esta

ideia quer junto da comunidade timorense quer da comunidade internacional Satildeo

claras e assumidas as intenccedilotildees de Portugal em continuar a manter activas as suas bases

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste nos mais variados niacuteveis com o fim uacuteltimo de promo-

ver o tatildeo desejado desenvolvimento sustentado deste Paiacutes

Durante o periacuteodo de governaccedilatildeo do territoacuterio pela UNTAET e antes da

passagem da governaccedilatildeo para as autoridades timorenses pode dizer-se que foram

construiacutedas pelas entidades externas as bases miacutenimas de apoio agrave consolidaccedilatildeo da

democracia multipartidaacuteria permitindo simultaneamente a criaccedilatildeo de estruturas que

permitiram completar a implementaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo puacuteblica o investimento

na educaccedilatildeo e na sauacutede na certeza poreacutem de que no plano do desenvolvimento

econoacutemico do paiacutes ainda muito estaraacute por realizar

No Programa Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de

Timor Leste para o ano 2000 71 eacute explicitamente assumida a educaccedilatildeo como sector

prioritaacuterio do Programa de Cooperaccedilatildeo Portuguesa com Timor Leste para esse ano

71 ldquoPrograma Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor Leste 2000rdquo

Gabinete do Comissaacuterio Para o Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor LesteSecretaria de Estado dos Negoacutecios Estrangeiros e Cooperaccedilatildeo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Junho 2000

135

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

intenccedilatildeo aliaacutes jaacute anteriormente expressa no relatoacuterio apresentado pelo Ministeacuterio dos

Negoacutecios Estrangeiros em Maio de 1999 Esta intenccedilatildeo viria a resultar na criaccedilatildeo de

sinergias para este sector nomeadamente a partir do estabelecimento de importantes

ligaccedilotildees com estruturas da sociedade civil No domiacutenio do ensino superior eacute anunciado

no PIC () para 2000 a intenccedilatildeo da reabertura progressiva de cursos na UNTL nas aacutereas

de Agronomia e Gestatildeo Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas e Ciecircncias

da Educaccedilatildeo o apoio agrave criaccedilatildeo de um Instituto da Liacutengua Portuguesa e outro de Teacutetum

apoio agrave reconstruccedilatildeo da biblioteca e ainda a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo para o ensino

superior para apoio a estudantes timorenses tanto no estrangeiro como em Timor Leste

Agrave semelhanccedila do anterior estudo de caso natildeo cabe aqui lugar agrave apreciaccedilatildeo das poliacuteticas

de atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo apesar de ser de reconhecer que muitas vezes estas

questotildees estatildeo interligadas e dependem mutuamente entre si

Para aleacutem do Decreto-Lei nordm 102000 de 10 de Fevereiro (ver anexo XI) que

regula a participaccedilatildeo de cooperantes nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo desenvolvidas com

Timor Leste desconhece-se a existecircncia de qualquer outro decreto-lei ou acordo de

cooperaccedilatildeo que regule ou estabeleccedila a realizaccedilatildeo de quaisquer outros programas ou

acccedilotildees a implementar no acircmbito da cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior

O Relatoacuterio de Actividades relativo agraves acccedilotildees desenvolvidas nos primeiros

meses do ano 2000 pela Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o sector da educaccedilatildeo daacute conta de

uma primeira actividade de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e que constou do envio de

professores portugueses para Timor Leste a fim de proporcionar a professores primaacuterios

e a alunos do ensino superior funcionaacuterios governamentais e demais staff um primeiro

contacto com a Liacutengua Portuguesa No domiacutenio do ensino superior concretamente o

mesmo relatoacuterio anuncia oficialmente a instalaccedilatildeo de trecircs cursos de ensino superior

organizados e ministrados por Portugal nas aacutereas da Economia Gestatildeo e Agricultura

Com isto seria dado o primeiro passo para a implementaccedilatildeo de um projecto mais amplo

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o Ensino Superior A execuccedilatildeo deste projecto viria

a assumir contornos peculiares partindo para um modelo de organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo

diferente dos modelos de cooperaccedilatildeo habitualmente praticados pela Cooperaccedilatildeo

Portuguesa como a seguir se veraacute

136

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do ensino superior

As Universidades Puacuteblicas Portuguesas desde o ano de 1990 que atraveacutes da

Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas (FUP) vinham desenvolvendo acccedilotildees de

colaboraccedilatildeo com o Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense (CNRT) acccedilotildees essas

enquadradas nos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto apoiadas

financeiramente pelo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Durante os primeiros nove

anos de cooperaccedilatildeo podemos falar de acccedilotildees pontuais avulsas de iniciativa institucional

eou pessoal que por forccedila das circunstacircncias poliacuteticas que envolviam Timor Leste natildeo

se enquadravam num plano de acccedilatildeo previamente estudado e negociado digamos que se

tratava de acccedilotildees espontacircneas

O movimento de apoio que se foi gerando em Portugal a favor da causa

timorense foi evoluindo rapidamente e a esta causa associaram-se rapidamente outras

forccedilas da vida acadeacutemica como as associaccedilotildees de estudantes que participaram activa-

mente nomeadamente em acccedilotildees de acolhimento e integraccedilatildeo de estudantes timorenses

refugiados poliacuteticos do regime indoneacutesio

No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo e ainda durante o Governo Transitoacuterio da UNTAET o

Padre Filomeno Jacob Conselheiro para o Ensino Superior do CNRT solicitou ao

Governo Portuguecircs atraveacutes do Ministro da Educaccedilatildeo portuguecircs apoio na aacuterea da

educaccedilatildeo um dos sectores mais problemaacuteticos no qual pelos motivos anteriormente

expostos era urgente intervir

Neste quadro o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)

manifestou ao Governo Portuguecircs total disponibilidade para a colaboraccedilatildeo com Timor

no acircmbito das acccedilotildees a desenvolver no domiacutenio do ensino superior e em Dezembro de

1999 eacute assinada uma carta de intenccedilotildees envolvendo o CRUP a FUP e o CNRT sob a

coordenaccedilatildeo e tutela dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e dos Negoacutecios Estrangeiros O com-

promisso entatildeo assumido envolvia o apoio concreto de Portugal e particularmente das

Universidades Portuguesas para as seguintes acccedilotildees

Organizaccedilatildeo de Cursos de Reciclagem de Professores do Ensino

Secundaacuterio

Criaccedilatildeo do Instituto de Liacutengua Portuguesa e do Instituto de Liacutengua

Teacutetum

137

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento das aacutereas de Agronomia EconomiaGestatildeo Direito

Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas na Universidade de

Dili

Atribuiccedilatildeo de Bolsas de Estudo para cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo

As explicaccedilotildees de um membro do CRUP que esteve directamente envolvido em

todo o processo de negociaccedilatildeo como membro do Conselho de Reitores testemunha

como o Governo de Timor Leste interveio directamente na definiccedilatildeo das acccedilotildees a

desenvolver e na escolha das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo

ldquo(hellip) entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do Governo

de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e

na presenccedila do Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria

estrutura dos cursos e todo o programa ele deslocou-se a Portugal

vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (referindo-se a um dos

coordenadores iniciais do projecto) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo Interna que estava a trabalhar nissohellip e mandou-se

para laacute depois no fim os Programas foi mandado para Timor

para aprovaccedilatildeo do Governordquo (Entrevista nordm 3)

Cada universidade nomeou um representante para os assuntos de Timor Leste a

quem cabe ainda hoje representar a sua instituiccedilatildeo e acompanhar as acccedilotildees desenvol-

vidas no acircmbito deste programa de cooperaccedilatildeo Neste seguimento satildeo preparados dois

programas distintos de actuaccedilatildeo um de emergecircncia e um outro a meacutedio prazo ambos

planeados coordenados e implementados pela FUP e cujas acccedilotildees se pautam quanto ao

primeiro programa pelos seguintes objectivos

A presenccedila fiacutesica de portugueses ou falantes de portuguecircs em territoacuterio

timorense

Assegurar o desenvolvimento do portuguecircs como liacutengua de ensino e

aprendizagem

Envolver rapidamente jovens timorenses em acccedilotildees lectivas e de actua-

lizaccedilatildeo de conhecimentos

138

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O segundo Programa de acccedilatildeo a meacutedio prazo foi desenhado com o objectivo

primeiro de ajudar agrave construccedilatildeo da Universidade Nacional de Timor Leste e depois de

definidas as prioridades de cooperaccedilatildeo pelo CNRT foram consideradas prioridades de

cooperaccedilatildeo as aacutereas das Ciecircncias Agraacuterias Economia Gestatildeo e Contabilidade Enge-

nharias e Ciecircncias da Sauacutede

As Universidades Puacuteblicas Catoacutelica e ISCTE por solicitaccedilatildeo do Misteacuterio da

Educaccedilatildeo e atraveacutes do financiamento do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros viriam a

desenvolver sob a coordenaccedilatildeo da FUP uma proposta concreta de actuaccedilatildeo que se

dividiu nas seguintes etapas

1 Um primeiro programa de voluntariado que consistia no envio pelo

periacuteodo de 3 meses de docentes das universidades portuguesas visando a

introduccedilatildeo da liacutengua portuguesa aos estudantes universitaacuterios atraveacutes da

leccionaccedilatildeo de disciplinas especiacuteficas como a Matemaacutetica Biologia

Quiacutemica etc Esta acccedilatildeo viria a ter lugar entre Abril e Setembro de 2000

e envolveu um total de 50 docentes voluntaacuterios

2 Um segundo Programa de Cooperaccedilatildeo alargando o espectro de

participaccedilatildeo aos Institutos Politeacutecnicos consistia na criaccedilatildeo de comissotildees

de trabalho por aacutereas cientiacuteficas que tinham como tarefa desenhar os

curriacuteculos para cursos superiores a leccionar em Timor Leste sob a total

coordenaccedilatildeo portuguesa ministrados numa primeira fase por docentes

portugueses com a intenccedilatildeo de a meacutedio prazo se verificar uma passagem

gradual para os docentes da UNTL na perspectiva de um desenvol-

vimento sustentado

As linhas de orientaccedilatildeo deste Programa de Cooperaccedilatildeo pautam-se por objectivos

claramente definidos que visam o desenvolvimento sustentado do sistema de ensino

superior formal timorense com particular incidecircncia no apoio agrave construccedilatildeo da UNTL

O coordenador cientiacutefico de um dos cursos ministrados actualmente em Timor Leste daacute

conta de como o processo de criaccedilatildeo dos curricula dos cursos e organizaccedilatildeo dos cursos

se processou

ldquohellipos Cursos de Timor nascem nume primeira reuniatildeo que tive-

mos em Coimbra em que eu disse ldquomdash eu tenho esta experiecircncia

139

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu resultadohelliprdquo e

a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade

nenhuma natildeo foi nenhuma habilidade especial foi delineado

porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e isto eacute uma

maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estra-

teacutegia Soacute se houver alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso

assim haacute uns anos permanentemente nunca conheci nenhuma

estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesardquo (Entrevista n ordm 2)

No ano lectivo de 2001-2002 tiveram iniacutecio os quatro primeiros cursos de

bacharelato e uma licenciatura a decorrer na UNTL a estrateacutegia de criaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo dos cursos apresenta semelhanccedilas com Cabo Verde usando-se um

sistema de ldquopacote completordquo segundo o qual Portugal desenha os curricula apoiado

em moacutedulos de leccionaccedilatildeo trimestral fornece o corpo docente e toda a bibliografia e

demais infra-estruturas de apoio agrave leccionaccedilatildeo como por exemplo os materiais para

equipar laboratoacuterios e salas de aula O Quadro nordm 6 apresenta o Programa de

Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP com Timor Leste por aacutereas cientiacuteficas

QUADRO Nordm 6 Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP

de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste

Participantes ProjectoAacuterea de Formaccedilatildeo Financiador Executor

Niacutevel de Formaccedilatildeo

Anos Observaccedilotildees

Formaccedilatildeo de Professores de

Portuguecircs IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Economia Gestatildeo IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Ciecircncias Agraacuterias IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Licenciatura Estaacutegio na

Missatildeo Agriacutecola

Engenharia Electroteacutecnica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Engenharia Informaacutetica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Fonte Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

Numa primeira fase do projecto todos os cursos satildeo ministrados quase

exclusivamente por um corpo docente portuguecircs Inicialmente e porque as dificuldades

140

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

com a aprendizagem da Liacutengua Portuguesa se revelaram difiacuteceis de superar pondo em

causa o sucesso do Projecto integraram-se nos cursos elementos do corpo docente

timorense que comeccedilariam por desempenhar funccedilotildees de monitorizaccedilatildeo e traduccedilatildeo mais

tarde alguns viriam a ser responsaacuteveis pela leccionaccedilatildeo de algumas cadeiras e a

tendecircncia eacute para que o nuacutemero de cadeiras sob a coordenaccedilatildeo timorense aumente

exponencialmente ateacute ao momento em que todas as disciplinas possam ser asseguradas

pelo corpo docente da UNTL Esta poliacutetica de preparaccedilatildeo e integraccedilatildeo progressiva do

corpo docente timorense continua a ser uma das apostas de Portugal como se veraacute mais

a frente surgindo como a estrateacutegia mais coerente face agraves intenccedilotildees de apoio ao

desenvolvimento sustentado do ensino superior em Timor A definiccedilatildeo dos criteacuterios e o

processo de selecccedilatildeo dos candidatos para os cursos eacute da total responsabilidade de Timor

Leste sabendo-se no entanto que foram seguidos os criteacuterios de selecccedilatildeo dos sistemas

universitaacuterios ocidentais para aleacutem de o conhecimento da Liacutengua Portuguesa falada e

escrita

Uma das particularidades do desenho destes cursos relativamente aos programas

analisados anteriormente eacute que eacute permitido aos alunos regressar agrave universidade

posteriormente a terem ingressado no mercado de trabalho para concluiacuterem a

licenciatura Os cursos tecircm a duraccedilatildeo de 3 anos agrave excepccedilatildeo como vimos de Ciecircncias

Agraacuterias e soacute em anos de excepccedilatildeo natildeo regulares seraacute ministrado mais um ano para

conclusatildeo da licenciatura Isto permite que os alunos tenham uma experiecircncia

profissional e permite uma certa rotatividade de alunos em formaccedilatildeo Timor precisa de

quadros qualificados e este sistema parece permitir que a curto prazo estes alunos

estejam preparados para contribuir para o desenvolvimento do paiacutes

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino superior ateacute 2010

Volvidos trecircs anos do Programa de Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor

Leste para o sector do ensino superior algumas ilaccedilotildees poderatildeo ser retiradas desta

experiecircncia Eacute certo que as especificidades do paiacutes condicionam os resultados obtidos

mas natildeo deixa de ser interessante e inovador o modelo implementado que apresenta

caracteriacutesticas diferentes dos modelos de cooperaccedilatildeo praticados com outros paiacuteses de

141

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa Se eacute verdade que alguns avanccedilos na afirmaccedilatildeo e difusatildeo da

Liacutengua junto da comunidade estudantil foram feitos existe a clara percepccedilatildeo de que o

niacutevel de satisfaccedilatildeo nesta mateacuteria ainda estaacute longe de ser alcanccedilado O corpo docente

timorense continua mal preparado em termos cientiacuteficos e a Liacutengua permanece uma

barreira Nem todos os objectivos traccedilados inicialmente para este Programa foram

alcanccedilados Eacute um dado adquirido que os cursos ministrados por Portugal e que apenas

ocupam cerca de 400 alunos num universo de 7000 natildeo satildeo suficientemente

expressivos para que lhes seja atribuiacuteda maior importacircncia no entanto e apesar disso

Timor Leste reconhece neste projecto um embriatildeo do que seraacute a futura UNTL e eacute aqui

que reside a forccedila do Programa e as suas verdadeiras potencialidades

Consciente das expectativas que quer o Governo Timorense quer o Governo

Portuguecircs depositaram neste projecto a FUP enquanto entidade coordenadora do

Programa promoveu a vinda a Portugal do Director Geral do Ensino Superior de Timor

e do Reitor da UNTL para em conjunto reflectirem sobre a dinacircmica futura do projecto

e a partir daqui elaborar um plano estrateacutegico a apresentar aos governos de ambos os

paiacuteses Apoacutes um periacuteodo de reflexatildeo que resultou dos vaacuterios encontros e reuniotildees de

trabalho com os principais intervenientes e instituiccedilotildees envolvidas no qual se incluem

os representantes das universidades e institutos politeacutecnicos e os representantes dos

oacutergatildeos de tutela que satildeo simultaneamente financiadores chegou-se a algumas

conclusotildees importantes que permitiratildeo a continuidade do projecto e que se pautam

pelos seguintes aspectos expressos num Memorando que resultou das vaacuterias reuniotildees

realizadas (Anexo XII) ldquohellip esta acccedilatildeo tem-se caracterizado por uma incerteza

permanente no que respeita ao seu financiamento natildeo tendo os orccedilamentos referentes

aos diferentes anos sido cumpridos por parte dos departamentos governamentais

responsaacuteveis As maiores dificuldades nesta acccedilatildeo tecircm como origem a baixa

proficiecircncia dos alunos em Liacutengua Portuguesa e a baixa preparaccedilatildeo cientiacutefica dos alunos

para acompanharem as disciplinas ministradasrdquo No que concerne agrave questatildeo da liacutengua

desde o iniacutecio estava previsto o apoio do Instituto Camotildees na leccionaccedilatildeo do Portuguecircs

aos alunos dos Cursos da FUP o que soacute viria a acontecer de modo regular no iniacutecio do

ano lectivo de 20032004 Jaacute no que respeita agrave questatildeo recorrente da baixa preparaccedilatildeo

cientiacutefica dos alunos os coordenadores cientiacuteficos dos cursos tecircm vindo a adaptar os

142

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

curriacuteculos dos cursos ao contexto do paiacutes permitindo desta forma aumentar

progressivamente a taxa de sucesso escolar

Foi assumido pelos signataacuterios da proposta de acccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do Ensino Superior ateacute ao ano 2010 que natildeo foi ainda alcanccedilado um niacutevel de

colaboraccedilatildeo pleno entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e a UNTL

mantendo-se aqueacutem das actividades de cooperaccedilatildeo que tecircm vindo a ser desenvolvidas

com os PALOP Num exerciacutecio de autocriacutetica satildeo diagnosticadas neste documento as

falhas do actual modelo que resultam da ausecircncia de estruturas que viabilizem o

desenvolvimento sustentado da UNTL e lhe permitam atingir um grau de autonomia

desejaacutevel a meacutedio prazo soacute assim seraacute possiacutevel assegurar a continuidade dos cursos

ministrados actualmente pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas A meacutedio

prazo a sustentaccedilatildeo a cem por cento destes cursos tornar-se-aacute incomportaacutevel para as

instituiccedilotildees de ensino portuguesas aumentando o risco de perca de controlo do projecto

em sacrifiacutecio da qualidade

A questatildeo da qualidade dos cursos ministrados por Portugal em Timor eacute

assumida pelos proacuteprios timorenses como uma questatildeo essencial apesar de natildeo estarem

ainda criadas as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo Natildeo existe registo de nenhuma

acccedilatildeo desenvolvida para a avaliaccedilatildeo da qualidade ou planos que a viabilizem num

futuro proacuteximo quer da parte timorense quer da parte portuguesa Timor mostra-se no

entanto consciente dos benefiacutecios que um processo de avaliaccedilatildeo externa poderia trazer

agrave sua instituiccedilatildeo no entanto natildeo estatildeo ainda criadas as condiccedilotildees que permitam a

implementaccedilatildeo destes procedimentos tal como afirma o proacuteprio

ldquohellip uma consciecircncia geral de que se deve fazer uma avaliaccedilatildeo ao

ensino (hellip) e as discussotildees aahellip as pessoas reconhecem que esta

eacute uma das urgecircncias Agora eu devo dizer que para se comeccedilar

um processo de avaliaccedilatildeo teria primeiro de determinar os

paracircmetros Aqui devo dizer que a lei de bases do sistema

nacional em primeiro lugar deve ser oficializada estabelecida e

oficializada e depois a partir daiacute os regimentos acadeacutemicos que

um criteacuterio dehellip acreditaccedilatildeo portanto tem de haver o estabe-

lecimento de um padratildeo nacional e que esse padratildeo nacional seja

construiacutedo depois de um cruzamento de referecircncias a outros

contextos que para Timor fazem sentidordquo (Entrevista n ordm 5)

143

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Estes factos natildeo deveratildeo no entanto servir de argumento agraves instituiccedilotildees de

ensino portuguesas para a inexistecircncia de exerciacutecios de auto-avaliaccedilatildeo da componente

cientiacutefica e pedagoacutegica das suas actividades de ensino transnacional ainda que as

mesmas se insiram em programas de cooperaccedilatildeo como eacute o caso para as instituiccedilotildees de

ensino portuguesas estes procedimentos fazem hoje parte das suas actividades regulares

E a sua implementaccedilatildeo em acccedilotildees desta natureza soacute poderia trazer benefiacutecios para

ambas as partes Um ex-representante do CRUP e anterior governante considera sobre

este assunto que

ldquoUm programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo sistemaacutetica

e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um

programa exigente para as universidades e para os e para os

docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo depois da

experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo

querer continuar e portanto eacute um programa que vai ter que gerir

estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica (hellip) da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma

atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo regularhelliprdquo (Entrevista nordm 3)

Conclui-se tal como no caso de estudo anterior que natildeo existe qualquer

mecanismo de avaliaccedilatildeo de qualidade nem tatildeo pouco se vislumbra quando tal poderaacute

vir a acontecer quer da parte timorense quer da parte portuguesa Haacute apesar de tudo

uma consciecircncia dos benefiacutecios que tal sistematizaccedilatildeo de praacuteticas poderia trazer para

ambas as partes

Algumas das propostas concretas de acccedilatildeo a desenvolver que resultam de um

processo de reflexotildees empiacuterica desprovida portanto de uma base de sustentaccedilatildeo

cientiacutefica de anaacutelise do actual modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o ensino

superior reduz-se agraves seguintes medidas a adoptar no futuro da cooperaccedilatildeo portuguesa

neste domiacutenio

Selecccedilatildeo pela UNTL de candidatos para a frequecircncia de cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo mestrado e doutoramento a realizar em Portugal ou em Paiacuteses

144

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Liacutengua Oficial Portuguesa Seraacute dada prioridade aos candidatos

provenientes do corpo docente da UNTL

A frequecircncia da formaccedilatildeo poacutes-graduada seraacute precedida de um periacuteodo de

formaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e adaptaccedilatildeo cultural ao paiacutes

Anualmente seratildeo concedidas bolsas de estudo pelo Estado Portuguecircs aos

cinco melhores alunos dos cursos da FUP em Timor para conclusatildeo da

licenciatura em Portugal na expectativa de que estes alunos possam vir a

ingressar futuramente no corpo docente da UNTL

Realizaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo extraordinaacuterios de apenas um ano

para a obtenccedilatildeo da licenciatura dirigidos apenas aos alunos dos cursos de

bacharelato da FUP depois de estes terem jaacute realizado 2 anos de

experiecircncia profissional no mercado de trabalho

Elaboraccedilatildeo de um plano global de formaccedilatildeo de docentes da UNTL e

reformulaccedilatildeo da acccedilatildeo em curso com vista ao alcance dos objectivos

acima identificados

Redefiniccedilatildeo das modalidades de ensino da Liacutengua Portuguesa a partir de

um esquema de estreita colaboraccedilatildeo entre a FUP o Instituto Camotildees e a

UNTL com vista agrave optimizaccedilatildeo do ensino da Liacutengua Portuguesa a

docentes e discentes da UNTL

Iniacutecio do planeamento de um curso de Direito na UNTL com a

colaboraccedilatildeo das Instituiccedilotildees de Ensino Superior Portuguesas e nos

moldes de coordenaccedilatildeo actualmente em vigor

Atribuiccedilatildeo pelo Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

(IPAD) de bolsas internas aos alunos mais carenciados dos cursos da

FUP na UNTL permitindo deste modo diminuir a taxa de desistecircncia e

abandono

Concluiacuteda a anaacutelise do segundo caso de estudo estaremos em condiccedilotildees de

retirar algumas conclusotildees que no iniacutecio deste caso de estudo natildeo seriam mais do que

suposiccedilotildees resultantes de alguma sensibilidade empiacuterica De facto estaremos agora em

condiccedilotildees de afirmar com maior certeza que Timor Leste eacute um caso de cooperaccedilatildeo que

assume de factos algumas particularidades quando comparado com outros paiacuteses de

145

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa daiacute receber por vezes um tratamento especial e

individualizado por parte do Governo Portuguecircs relativamente agraves poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo adoptadas Estas atenccedilatildeo especial que merece Timor Leste por parte de

Portugal eacute por exemplo verificaacutevel no programa de bolseiros timorenses que no

entanto natildeo faz parte deste estudo

A situaccedilatildeo de Timor Leste revestiu-se desde logo de um dramatismo invulgar

relativamente aos outros paiacuteses beneficiaacuterios mobilizando por isso a opiniatildeo puacuteblica

portuguesa e ateacute mundial pelos motivos atraacutes enumerados impocircs-se desde logo a

presenccedila fiacutesica portuguesa no territoacuterio uma presenccedila renovada e capaz de responder

eficazmente agraves necessidades mais imediatas Associado a este aspecto natildeo deveraacute ser

esquecido o que para Portugal viria a assumir uma importacircncia significativa no contexto

mundial a adopccedilatildeo do Portuguecircs como uma das liacutenguas oficiais de Timor Leste Esta

conjugaccedilatildeo de factores colocaram sobre Portugal uma enorme responsabilidade e a

obrigaccedilatildeo pelo menos moral de honrar os compromissos assumidos com Timor Leste

A especificidade deste estudo de caso e as particularidades que o processo de coope-

raccedilatildeo com este paiacutes apresenta satildeo reconhecidas por aqueles que de alguma forma estatildeo

ligados sob a forma de programas de cooperaccedilatildeo sendo um sentimento recorrente em

todos aqueles que estatildeo directamente ligados agraves acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do ensino superior A afirmaccedilatildeo do coordenador cientiacutefico de um dos cursos da

FUP em Timor permite perceber todo o desenvolvimento do processo relativamente agrave

criaccedilatildeo dos cursos actualmente ministrados no territoacuterio

(hellip) Timor foi um caso especiacutefico houve toda aquelahellip o

dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve a

necessidade de responder a todas as necessidades entre as

quais a substituiccedilatildeo raacutepida do ensino indoneacutesio pelo ensino

universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim

Evidentemente que os cursos que noacutes FUP transnacionais que

noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de

entreter as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo

Ministro da Educaccedilatildeo o ex-Reitor ainda no Governo de transiccedilatildeo

etc tanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras

como vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as

146

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom parece-me que a gente

natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu

contexto transnacional ao fim de 25 anos da potecircncia colonial

Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das questotildees do Mundo 25

anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de

independecircncia E os cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se

noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos para

Aacutefrica era muito mais faacutecilhelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Um membro do governo responsaacutevel pela implementaccedilatildeo das poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo natildeo tem duacutevidas em considerar que o projecto da FUP em Timor se reveste

de especial importacircncia uma vez que atende de forma eficaz a algumas das

necessidades imediatas do paiacutes no domiacutenio do ensino superior

ldquoEu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das

Universidades em Timor eacute um projecto extremamente importante e

tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da problemaacutetica

de Timor (hellip) haacute uma enorme responsabilidade que eventual-

mente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar portuguecircs e

pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e

pelo facto dos timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor

estarem profundamente empenhadas na manutenccedilatildeo do Portu-

guecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo

primeiro da sua identidade nacional Eacute da sua marca de diferenccedila

na regiatildeo (hellip) Portanto noacutes ao desenvolvermos um projecto de

ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em

Timor noacutes estamos simultaneamente estamos aquilo que eu lhe

disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia estrateacutegica do

portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde

Timor se insere Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo

a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a formaccedilatildeo de formadores

portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismordquo (Entrevista nordm 1)

Quanto ao modelo de leccionaccedilatildeo propriamente dito teraacute alguma relevacircncia

neste caso proceder-se a uma anaacutelise mais atenta do mesmo sendo um dos temas aqui

abordados a preocupaccedilatildeo com a qualidade do ensino transnacional nomeadamente o

147

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino promovido pelas instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas e tendo jaacute

sido aqui concluiacutedo que essas actividades de ensino transnacional satildeo integradas em

programas de cooperaccedilatildeo torna-se por isso pertinente analisar mais ao pormenor o

modelo de ensino praticado em Timor Leste Desde logo eacute um dado adquirido que os

cursos realizados em Timor agrave semelhanccedila do que acontece com Cabo Verde satildeo cursos

ministrados em formato de ldquopacotes de acccedilotildeesrdquo isto eacute Portugal proporciona ao paiacutes

beneficiaacuterio a execuccedilatildeo de todas as etapas envolvidas na criaccedilatildeo e execuccedilatildeo de um

curso exigindo deste uacuteltimo pouca ou nenhuma intervenccedilatildeo Esta postura por parte da

cooperaccedilatildeo portuguesa deveraacute ser contrariada devendo as acccedilotildees futuras ser

desenhadas de forma a que gradualmente a coordenaccedilatildeo e execuccedilatildeo dos cursos bem

como outras actividades associadas ao meio acadeacutemico como por exemplo a

investigaccedilatildeo cientiacutefica passem a ser da responsabilidade do paiacutes beneficiaacuterio neste caso

passariam a ser da competecircncia do corpo docente da UNTL A bem da verdade deveraacute

referir-se que as recentes recomendaccedilotildees por parte da Secretaria de Estado dos

Negoacutecios Estrangeiros e da Cooperaccedilatildeo vatildeo precisamente nesse sentido desconhe-

cendo-se sobre este aspecto qual a posiccedilatildeo do oacutergatildeo de tutela relativamente a Cabo

Verde e restantes PALOPs No entanto este processo de passagem gradual da

responsabilidade das actividades cientiacuteficas no domiacutenio do ensino superior que eacute como

quem diz promover o desenvolvimento sustentado da Universidade exige um

investimento financeiro e em termos de tempo que permita ao corpo docente da UNTL

preparar-se cientiacutefica e pedagogicamente para um ensino de qualidade Tambeacutem deveraacute

ser referido que o facto de estarmos perante um sistema de ensino dividido em

trimestres entre os quais o corpo docente portuguecircs eacute renovado pode gerar algum

desconforto nos alunos e periacuteodos de adaptaccedilatildeo de cada grupo de docentes renovado

que satildeo sem duacutevida contraproducentes no entanto as virtudes deste sistema para aleacutem

de ser o sistema possiacutevel que assegura que haja sempre candidatos permite o contacto

com uma diversidade de docentes com diferentes motivaccedilotildees interesses competecircncias

oferecendo agrave comunidade acadeacutemica de Timor a possibilidade de contactar com uma

grande diversidade de docentes portugueses

148

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A propoacutesito do modelo de leccionaccedilatildeo adoptado para Timor Leste o coor-

denador cientiacutefico de um dos cursos diz o seguinte

ldquoNatildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do

possiacutevel eacute o melhor modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute

muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo Verde era

exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de

quatro cursosrdquo(Entrevista nordm 2)

Quando questionado sobre o facto de estarem envolvidas todas as instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino superior em simultacircneo afirmou

ldquoAiacute eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o

modelo eacute quer dizer eacute igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo

Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees

deste modelo de Timor Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de

professores por um determinado espaccedilo temporal e a leccionaccedilatildeo

das cadeiras e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas

com as disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a

funcionar por partes ou por trimestres no fundo os modelos

aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor

modelo Permite o contacto interpessoal permite o acompa-

nhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar

mais tempo de conviacutevio entre professores e os alunos mas nas

condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de perma-

necircncia simplesmente as condiccedilotildees natildeo o permitem Evidente-

mente que eu acho que este modelo eacute o melhor do que o outro

modelo que temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute

deslocar soacute professores juniores e que normalmente satildeo pessoas

sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em

Cabo Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldadesrdquo

(Ibidem)

149

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Quanto agrave receptividade e aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense agrave

presenccedila portuguesa em Timor particularmente no que respeita agrave implementaccedilatildeo deste

programa pode dizer-se que a aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense tem-se

revelado bastante positiva Os programas de ensino transnacional desta natureza satildeo

por norma integrados nos sistemas formais de ensino dos paiacuteses beneficiaacuterios como eacute o

caso Inicialmente registaram-se ecos de alguma desconfianccedila por parte do corpo

docente da UNTL que temiam pela continuidade da sua actividade profissional

sentindo-se ameaccedilados pela presenccedila de professores mais qualificados e experientes do

que eles proacuteprios No entanto essa questatildeo foi rapidamente ultrapassada e hoje a

presenccedila portuguesa na Universidade Nacional de Timor Leste eacute bem vinda e encarada

como uma mais valia para o desenvolvimento da instituiccedilatildeo Num passado recente

quando um membro do Governo se deslocou ao territoacuterio de Timor em visita oficial

reteve uma opiniatildeo bastante positiva sobre o programa e sobre a presenccedila de Portugal

em Timor Leste opiniatildeo essa retratada nas seguintes palavras

ldquo(hellip) aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi gente

muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma

realidade diferente com que tinham lidado portanto natildeo eram

problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as

perspectivas das pessoas que tendo relativamente pouca

experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria

experiecircncia que ainda era relativamente curta (hellip) Tambeacutem

encontrei um eco extremamente positivo do que estava a

acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma

manifestaccedilatildeo dos alunos da Universidade nacional de Timor Leste

a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a colaboraccedilatildeo dos nossos

docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso

estava a acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo

muito positiva da docecircncia dos cursos que a FUP laacute estava a

coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar (hellip)

pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e

que se tivesse o desenvolvimento que este tipo de valorizaccedilatildeo

implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuarrdquo

(Entrevista nordm 3)

150

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Opiniatildeo mais reservada sobre este assunto tem o coordenador de vaacuterias acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo nos PALOP e simultaneamente coordenador cientiacutefico de um curso em

Timor Leste para este docente e indo ao encontro de algumas conclusotildees jaacute aqui

assumidas evidencia-se um mal-estar inicial face agrave presenccedila portuguesa ainda que

ldquodisfarccediladordquo Esses indiacutecios de alguma resistecircncia satildeo no seu entender considerados

situaccedilotildees saudaacuteveis desde que esclarecidas e ultrapassadas por ambas as partes

envolvidas

ldquoHaacute sempre algumas formas de resistecircncia e ainda bem que haacute

quer dizer nos casos que eu conheccedilo bem nomeadamente Cabo

Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente que noacutes

integraacutemos alguns cabo Verdianos como professores mas haacute

sempre a uacuteltima tentativa de diversos quadros formados em

vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo-noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a

gente natildeo vai tirar nenhum mercado de trabalho queremos eacute sair

quando aquilo for sustentaacutevel etc E no caso de Timor conhece-se

alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com

os professores da chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute

estava que nos viam como invasores como tirar o mercado de

trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existirrdquo

(Entrevista nordm 2)

Ambos os paiacuteses como se viu podem retirar vantagens das relaccedilotildees bilaterais

que estabelecem no entanto parece evidente que Timor Leste na qualidade de paiacutes

receptor e beneficiaacuterio teraacute sempre mais a ganhar do que Portugal nesta conjugaccedilatildeo de

interesses O facto do ensino transnacional desenvolvido por Portugal em Timor se

encontrar integrado num programa de cooperaccedilatildeo e a sua coordenaccedilatildeo estar centralizada

numa uacutenica entidade afasta agrave partida a hipoacutetese destas acccedilotildees serem levadas a cabo por

eventuais interesses econoacutemicos no entanto natildeo poderaacute ser esquecido que o ensino

superior atravessa actualmente uma fase difiacutecil em Portugal e na Europa e este poderaacute

ser um caminho para algumas instituiccedilotildees de ensino superior As vantagens para as

instituiccedilotildees envolvidas em projectos desta natureza satildeo no entender dos proacuteprios

151

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

docentes extraordinaacuterias particularmente ao niacutevel do enriquecimento pessoal e

desenvolvimento das relaccedilotildees interpessoais entre actores intervenientes

ldquoTudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro

vantagens extraordinaacuterias E as vantagens que satildeo extraor-

dinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos da

FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos professores agraves escolas agraves

universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se

durar uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de

investigaccedilatildeo conjunta as trocas conjuntas os seminaacuterios etc

Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro eacute

um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem

natildeo tecircm relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de

desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para a

Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura

portuguesa (hellip)rdquo (Entrevista nordm 2)

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fortes

O sector da educaccedilatildeo eacute considerado prioritaacuterio nas poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo portuguesa para Timor Leste

Aposta na formaccedilatildeo no domiacutenio do ensino superior em aacutereas

estrateacutegicas para o desenvolvimento sustentado

Forte envolvimento das autoridades timorenses e representantes do

ensino superior timorense no programa nomeadamente na definiccedilatildeo das

aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo no planeamento das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

a implementar identificaccedilatildeo dos candidatos a bolsas de graduaccedilatildeo e poacutes-

-graduaccedilatildeo

152

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Grande esforccedilo da parte de Portugal para o fortalecimento da Liacutengua

Portuguesa na comunidade acadeacutemica

Pela primeira vez na histoacuteria da cooperaccedilatildeo portuguesa neste domiacutenio

existe uma instituiccedilatildeo que coordena todas as actividades de cooperaccedilatildeo

neste domiacutenio permitindo um maior controlo das acccedilotildees desenvolvidas

Natildeo existe sobreposiccedilatildeo de projectos

Manifesto envolvimento dos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior de ambos os paiacuteses

Pela primeira vez em Portugal todas as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas estatildeo envolvidas no mesmo projecto de cooperaccedilatildeo

Planeamento estrateacutegico que visa o aumento do investimento na

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando o corpo docente da UNTL como

meio de apoiar o desenvolvimento sustentado

Formaccedilatildeo superior em ciclos de trecircs anos com a possibilidade de

regresso agrave universidade para conclusatildeo da licenciatura apoacutes um periacuteodo

de experiecircncia profissional

Adaptaccedilatildeo dos curricula dos cursos ao contexto soacutecio-cultural do puacuteblico

a que se destinam

Garantia de padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino ministrado dado

tratar-se de instituiccedilotildees promotoras que estatildeo integradas nas estruturas

formais de ensino no paiacutes de origem e portanto sujeitas a avaliaccedilatildeo de

qualidade

Adequada poliacutetica de concessatildeo de bolsas de estudo a implementar num

futuro proacuteximo

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fracos

Ausecircncia de qualquer compromisso de cooperaccedilatildeo firmado entre ambas

as partes neste domiacutenio

153

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de instrumentos tais como relatoacuterios de auto-avaliaccedilatildeo planos

de actividades ou relatoacuterios de actividades que permitam proceder a um

correcto planeamento estrateacutegico das actividades e acccedilotildees a desenvolver

Inexistecircncia de uma comissatildeo de acompanhamento que legitime as

acccedilotildees a implementar no quadro do Programa de Cooperaccedilatildeo Global

Ausecircncia de mecanismos de avaliaccedilatildeo da qualidade do ensino trans-

nacional

Indefiniccedilatildeo quanto ao reconhecimento de graus acadeacutemicos e equiva-

lecircncias da certificaccedilatildeo

Niacutevel de desenvolvimento da Liacutengua Portuguesa na comunidade acadeacute-

mica ainda aqueacutem das expectativas

Niacutevel de desenvolvimento cientiacutefico do corpo docente da UNTL ainda

abaixo do desejaacutevel

Cursos de bacharelato em sistema de ldquopacoterdquo sendo desejaacutevel um au-

mento progressivo do envolvimento do corpo docente da UNTL

Nuacutemero de alunos nos cursos ministrados por Portugal pouco expressivo

face ao universo dos estudantes da UNTL

154

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees

Concluiacuteda a anaacutelise comparativa dos dois casos de estudo resta tecer algumas

consideraccedilotildees e sintetizar alguns dos principais problemas identificados propondo

algumas recomendaccedilotildees que visam contribuir para a melhoria da qualidade dos modelos

de cooperaccedilatildeo portuguesa no domiacutenio do ensino superior com o fim uacuteltimo de

optimizar e potencializar ao maacuteximo o investimento realizado

Em primeiro lugar torna-se desde logo evidente que o modelo de cooperaccedilatildeo

implementado para Cabo Verde eacute claramente mais susceptiacutevel de originar sobreposiccedilotildees

de acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Timor Leste Este uacuteltimo por estar centralizado numa instituiccedilatildeo coordenadora

seraacute eventualmente mais eficiente do que o primeiro em termos organizativos e planifi-

cadores

Este modelo de trabalho poderaacute servir de exemplo agrave futura organizaccedilatildeo

estrateacutegica da cooperaccedilatildeo portuguesa uma vez que segundo um dos responsaacuteveis poliacuteti-

cos pela cooperaccedilatildeo estaacute em estudo a criaccedilatildeo em Portugal de um nuacutecleo que serviraacute de

mecanismo articulador e oacutergatildeo coordenador das actividades de cooperaccedilatildeo pressupon-

do-se a existecircncia de um nuacutecleo com as mesmas funccedilotildees em cada paiacutes receptor Prevecirc-

se com esta medida evitar a duplicaccedilatildeo de projectos promovendo antes a sua comple-

mentaridade Haacute no entanto a consciecircncia de que uma dinacircmica organizativa com estas

caracteriacutesticas natildeo seraacute faacutecil de alcanccedilar e portanto a sua implementaccedilatildeo efectiva

poderaacute levar ainda algum tempo a concretizar ateacute porque eacute difiacutecil aos paiacuteses bene-

ficiaacuterios disporem de estruturas exclusivamente para estes fins

No caso de Cabo Verde e dos restantes PALOP o risco de sobreposiccedilatildeo de

projectos apenas seraacute evitado quando as entidades financiadoras que satildeo simultanea-

mente a tutela adoptarem uma poliacutetica que condicione a atribuiccedilatildeo de financiamento a

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo afectas a projectos que estejam integrados num plano estrateacutegico

concebido para cada paiacutes beneficiaacuterio e alargado a todas as aacutereas Soacute desta forma seraacute

possiacutevel controlar as actividades desenvolvidas em cada aacuterea de intervenccedilatildeo apesar de

ser verdade que ainda assim acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que disponham de financiamento

proacuteprio continuaratildeo a realizar-se agrave margem deste controlo

155

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A promoccedilatildeo de ligaccedilotildees inter-institucionais eacute igualmente desejaacutevel de forma a

permitir o estreitar de laccedilos entre a comunidade acadeacutemica e cientiacutefica no fundo trata-

se de agrave semelhanccedila do que se verifica actualmente na Europa promover a mobilidade

na comunidade acadeacutemica envolvendo os vaacuterios actores do processo Na praacutetica esta

situaccedilatildeo pressupotildee a realizaccedilatildeo de acordos eou protocolos de cooperaccedilatildeo entre as

instituiccedilotildees sempre que integrados num contexto de actuaccedilatildeo mais lato da poliacutetica

governamental

De notar que as instituiccedilotildees de ensino superior que promovem regularmente

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde revelam jaacute alguma consciecircncia quanto agrave

necessidade de um planeamento estrateacutegico futuro destas actividades neste aspecto as

actividades de cooperaccedilatildeo desenvolvidas em Timor Leste encontram-se numa fase mais

inicial Por norma a cooperaccedilatildeo portuguesa carece de um trabalho sustentado de

planificaccedilatildeo das suas acccedilotildees Eacute necessaacuterio que num futuro proacuteximo se criem

mecanismos que permitam planificar as acccedilotildees a desenvolver no acircmbito de um

Programa de Cooperaccedilatildeo desenhado para cada paiacutes o estabelecimento de metas tempo-

rais e a definiccedilatildeo de objectivos e acima de tudo a identificaccedilatildeo das instituiccedilotildees finan-

ciadoras e das entidades executantes de cada acccedilatildeo A elaboraccedilatildeo destes instrumentos

deveraacute ser preferencialmente realizada por peritos especializados em cada sector de

actividade Estes seratildeo no futuro instrumentos essenciais para o sucesso da Coope-

raccedilatildeo Portuguesa nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Apesar do modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revelar pela primeira vez

uma intenccedilatildeo de congregaccedilatildeo de esforccedilos e centralizaccedilatildeo das actividades cooperaccedilatildeo

numa soacute instituiccedilatildeo (neste caso concreto esse papel eacute assumido pela Fundaccedilatildeo das

Universidades Portuguesas) eacute ainda assim desejaacutevel a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo onde

estejam representados ambos os paiacuteses envolvidos nomeadamente representantes de

todas as instituiccedilotildees envolvidas Este oacutergatildeo teria como competecircncia para aleacutem da

monitorizaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo implementadas planificar avaliar e regular

todo o trabalho desenvolvido Os dispositivos de monitorizaccedilatildeo satildeo instrumentos

fundamentais para o garante de uma articulaccedilatildeo eficaz dos projectos e que infelizmente

tecircm sido ignorados No caso particular de Cabo Verde houve uma tentativa falhada de

atribuir esse papel agrave Comissatildeo Paritaacuteria que no entanto se revelou incapaz de

desempenhar essa tarefa eficazmente talvez pelo facto das instituiccedilotildees de ensino

156

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

beneficiaacuterias que neste caso seriam as entidades mais directamente interessadas natildeo

estarem representadas nesta Comissatildeo O Acordo de Cooperaccedilatildeo para 2003 ao prever a

constituiccedilatildeo de uma nova Comissatildeo Paritaacuteria assente basicamente nos mesmos objecti-

vos que a anterior deveraacute ter em atenccedilatildeo as fragilidades reveladas pelo trabalho desen-

volvido pela anterior Comissatildeo que claramente natildeo alcanccedilou as metas a que se propocircs

Uma outra preocupaccedilatildeo a reter eacute o facto de nos futuros programas dever ser

observado um esforccedilo de articulaccedilatildeo das vaacuterias iniciativas sempre que se trate de

acccedilotildees do mesmo domiacutenio procurando desta forma garantir a convergecircncia de esforccedilos

de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees O modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revela jaacute

algumas preocupaccedilotildees desta natureza uma vez que todas as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico se vecircem pela primeira vez envolvidas num mesmo projecto de

cooperaccedilatildeo A autonomia administrativa e financeira de que gozam as instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblicas portuguesas poderaacute ser uma dificuldade acrescida agrave jaacute difiacutecil

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo como aquela que aqui se defende no

entanto deveratildeo ser envidados esforccedilos de sensibilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino para

os benefiacutecios que tal procedimento poderaacute trazer para a cooperaccedilatildeo no futuro

A efectivar-se um processo de reestruturaccedilatildeo e mudanccedila natildeo deveraacute ser

esquecido um aspecto fundamental que a curto prazo deveraacute fazer parte dos

procedimentos regulares a questatildeo da qualidade Idealmente este conceito deveria

caracterizar os modelos de ensino superior transnacional portugueses cabendo aos

paiacuteses receptores a implementaccedilatildeo de mecanismos que assegurem os padrotildees miacutenimos

de qualidade Apesar deste procedimento de regulaccedilatildeo das actividades ser desejaacutevel

conclui-se pela documentaccedilatildeo consultada e pelos testemunhos que os mecanismos de

avaliaccedilatildeo de qualidade satildeo totalmente inexistentes Eacute um facto que nos casos de estudo

aqui considerados as instituiccedilotildees de ensino superior envolvidas estatildeo integradas nos

sistemas de ensino formais do seu paiacutes logo estatildeo ciclicamente sujeitas a processos de

avaliaccedilatildeo externa o que confere a estas acccedilotildees transnacionais agrave partida o garante de

que seratildeo assegurados padrotildees miacutenimos de qualidade por outro lado o corpo docente eacute

maioritariamente constituiacutedo por professores com elevados niacuteveis de qualificaccedilatildeo

acadeacutemica e cientiacutefica e alguns anos de experiecircncia de ensino

O reconhecimento dos diplomas eacute uma questatildeo importante que muitas vezes

acaba por ser relegada para segundo plano No trabalho de pesquisa realizado nunca o

157

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de reconhecimento de graus eacute totalmente esclarecido por parte das partes

envolvidas No caso de Timor Leste por exemplo eacute referido pelo Reitor que a

atribuiccedilatildeo dos graus acadeacutemicos seraacute da competecircncia da proacutepria UNTL natildeo deixando

no entanto de reconhecer a importacircncia que teria para as partes envolvidas encontrar-se

um mecanismo conjunto de atribuiccedilatildeo de graus No caso especifico de Cabo Verde eacute

referido claramente que o reconhecimento na Europa dos graus acadeacutemicos serve

apenas para efeitos de prosseguimento de estudos sendo da competecircncia das ordens

profissionais o reconhecimento para efeitos de exerciacutecio da profissatildeo Esta questatildeo

merece alguma clarificaccedilatildeo no futuro sendo desejaacutevel o estabelecimento e a definiccedilatildeo

das regras antes do iniacutecio das acccedilotildees

Segundo as autoridades governamentais portuguesas eacute poliacutetica nacional manter

as actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa com ambos os paiacuteses analisados no entanto eacute

necessaacuterio que a curto prazo essas actividades deixem de fazer-se com base no

voluntarismo Natildeo se pretende com isto defender a profissionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

mas antes a profissionalizaccedilatildeo e a formaccedilatildeo especiacutefica de quem planeia e coordena estas

acccedilotildees Eacute preciso que rapidamente seja realizado um estudo cientiacutefico exaustivo das

necessidades destes paiacuteses no domiacutenio do ensino superior e a partir desse instrumento

estabelecer um plano de acccedilatildeo que seja efectivamente cumprido ateacute ao fim O sector

empresarial poderaacute constituir um importante aliado que natildeo deveraacute ser ignorado uma

vez que envolvendo as empresas que se encontram a actuar nestes paiacuteses poderatildeo

estabelecer-se importantes laccedilos que de futuro seratildeo fundamentais para o

desenvolvimento destes paiacuteses Eacute de registar positivamente a perspectiva de criaccedilatildeo de

um nuacutecleo nacional coordenador da cooperaccedilatildeo que a concretizar-se poderaacute vir a

imprimir um cunho de rigor e coerecircncia aos futuros programas ao mesmo tempo que

possibilitaraacute a observacircncia dos procedimentos desejaacuteveis nomeadamente ao niacutevel da

avaliaccedilatildeo da qualidade e da sustentabilidade

Conclui-se que em sobreposiccedilatildeo agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais para

o apoio ao desenvolvimento dos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no sector da

educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior mais do que motivaccedilotildees de

ordem econoacutemica ou estrateacutegica o princiacutepio da solidariedade entre paiacuteses com fortes

laccedilos culturais e afectivos eacute talvez a motivaccedilatildeo mais presente no ensino superior

transnacional em Portugal

158

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CONCLUSOtildeES FINAIS

Em jeito de conclusatildeo tecem-se algumas consideraccedilotildees finais sobre os modelos

de cooperaccedilatildeo analisados no sentido de aferir em que medida eacute que estes reflectem

algumas das questotildees e problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional aborda-

das no enquadramento teoacuterico introdutoacuterio

As poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas que determinam o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior satildeo condicionadas por factores de natu-

reza soacutecio-econoacutemica do paiacutes beneficiaacuterio um dos factores mais significativos que

recentemente tem tido bastante peso eacute o aumento gradual do nuacutemero de candidatos aos

estabelecimentos de ensino superior cabo-verdianos Consciente deste fenoacutemeno a

cooperaccedilatildeo portuguesa tecircm vindo a ajustar progressivamente a sua poliacutetica de

cooperaccedilatildeo a esta realidade diminuindo o nuacutemero de bolsas de estudo para formaccedilatildeo

graduada no exterior aumentando por outro lado proporcionalmente os apoios conce-

didos para a melhoria dos recursos internos ou aumentando o nuacutemero de bolsas para

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando desta feita professores das instituiccedilotildees de ensino

superior Este reposicionamento de Portugal sobre a poliacutetica de cooperaccedilatildeo pode ser

interpretada como uma tentativa de adopccedilatildeo de medidas que conduzam mais

rapidamente ao desenvolvimento sustentado das estruturas de ensino dos paiacuteses benefi-

ciaacuterios apesar dessa natildeo ser ainda uma realidade no caso das instituiccedilotildees de ensino

superior cabo-verdianas

A desadequaccedilatildeo de alguns dos cursos ministrados face agraves reais necessidades do

paiacutes acresce a outros factores desfavoraacuteveis para o sucesso do programa de cooperaccedilatildeo

para o ensino superior como eacute exemplo concreto o facto de continuar por instalar e

regulamentar a Universidade de Cabo Verde o que de resto tem contribuiacutedo fortemente

para atrasar o desenvolvimento e a autonomia do paiacutes neste domiacutenio

Espera-se que o Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003 permita acelerar o desenvol-

vimento do sector uma vez que se trata de um Acordo inovador na medida em que

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

apela ao recurso a ferramentas de trabalho ligadas agraves novas tecnologias postas agrave

disposiccedilatildeo pela nova sociedade de informaccedilatildeo As orientaccedilotildees deste acordo referem as

novas tecnologias como forma de proporcionar um sistema de ensino e aprendizagem

alternativo eou complementar (e-learning) que permita assegurar o niacutevel de qualidade

e que sirva simultaneamente para ajudar a diminuir o fluxo de emigraccedilatildeo e ldquofuga de

ceacuterebrosrdquo As medidas de incentivo agrave fixaccedilatildeo de residentes no paiacutes de origem revelam-

se essenciais para que o investimento nas estruturas de ensino e para o desenvolvimento

possam ter os efeitos desejados

O estudo de caso de Timor Leste apresenta uma realidade de contornos

diferentes sendo a instituiccedilatildeo de ensino superior de referecircncia nacional a UNTL Esta

instituiccedilatildeo encontra-se fortemente implantada nos sistemas formais de ensino do paiacutes

paiacutes que adquiriu jaacute uma dinacircmica e uma cultura acadeacutemica muito proacuteprias Neste caso

as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo revestem-se de maior complexidade e os seus resultados

podem ser mais consequentes uma vez que estaacute em jogo a afirmaccedilatildeo perante a

comunidade acadeacutemica a sociedade civil e as estruturas governamentais da cultura de

ensino europeia onde a liacutengua se por um lado desempenha um papel fundamental de

demarcaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo cultural por outro revela-se um dos principais obstaacuteculos ao

sucesso das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

O Modelo de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste apesar de apresentar igualmente

fragilidades tem algumas vantagens comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde Na verdade o princiacutepio natildeo deixa de ser o mesmo apesar de ser de

notar uma intervenccedilatildeo mais directa por parte das autoridades timorenses na definiccedilatildeo

das acccedilotildees a implementar na identificaccedilatildeo das aacutereas de intervenccedilatildeo prioritaacuterias na

reflexatildeo que conduz aos ajustamentos entretanto realizados entre outros

Em suma considera-se que as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para a edu-

caccedilatildeo particularmente no domiacutenio do ensino superior revelam ainda fragilidades que a

serem corrigidas permitiriam uma maior potencializaccedilatildeo do investimento

Partindo do pressuposto que no domiacutenio do ensino superior a cooperaccedilatildeo passa

essencialmente pelas iniciativas de instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas poderaacute

questionar-se sobre quais os benefiacutecios que estas instituiccedilotildees retiram destas acccedilotildees Na

verdade uma conclusatildeo poderaacute desde logo ser retirada natildeo se trata de razotildees de ordem

cientiacutefica natildeo seraacute a busca de novas aacutereas de conhecimento nem a perspectiva do

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fortalecimento da investigaccedilatildeo cientiacutefica nem tatildeo pouco seraacute a perspectiva de poder vir

a melhorar a qualidade do ensino praticado (melhor desempenho do corpo docente

novas linhas de trabalho mobilidade discente) As afinidades culturais e as raiacutezes

histoacutericas poderatildeo ser invocados como factores decisivos apesar da introduccedilatildeo de

novos modelos de ensinoaprendizagem ter aberto agrave cooperaccedilatildeo outros horizontes no

domiacutenio do ensino superior Haacute uma forte componente de aprendizagem transcultural

que se revela um elemento bastante motivador e enriquecedor para os intervenientes

Por outro lado o crescimento dos sistemas de ensino superior na Europa e a

diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos tem vindo a aumentar o niacutevel de competiccedilatildeo entre

instituiccedilotildees O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo aliado ao processo de Bolonha traz novos

desafios resultantes da abertura das fronteiras e do alargamento do sector da educaccedilatildeo a

um mercado concorrencial que se vislumbra cada vez mais agressivo As instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblico portuguesas conscientes das inevitaacuteveis dificuldades que se

avizinham de entre as quais se destacam a ausecircncia de acccedilotildees que impulsionem a sua

internacionalizaccedilatildeo europeia for-profit e a busca de novos puacuteblicos internacionais satildeo

forccediladas a procurar alternativas de expansatildeo apostando por motivos de afinidade

cultural em acccedilotildees de cooperaccedilatildeo em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa com a

vantagem acrescida de muitas dessa acccedilotildees estarem integrados em programas

governamentais financiados A inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS a concretizar-

se viraacute contribuir para acentuar algumas das dificuldades jaacute existentes uma vez que a

introduccedilatildeo da educaccedilatildeo num mercado global sujeito agraves leis da oferta e da procura iraacute

segundo os prognoacutestico de Jane Knight intensificar ainda mais a necessidade de apostar

em acccedilotildees transfronteiriccedilas for-profit

Apesar de tudo haacute que ter presente que natildeo seratildeo decerto apenas motivaccedilotildees de

ordem estritamente econoacutemica ou de sobrevivecircncia que levam as instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas a apostar na cooperaccedilatildeo mas tambeacutem o vislumbre de uma porta

que lhes confira a possibilidade de conquistar novos puacuteblicos ou a possibilidade de

alcanccedilar maior visibilidade e projecccedilatildeo noutros paiacuteses Natildeo poderemos ainda assim

negar que o lucro ou o alcance de formas de financiamento alternativos satildeo questotildees agraves

quais natildeo satildeo indiferentes as instituiccedilotildees de ensino superior No entanto estas acccedilotildees

natildeo se caracterizam propriamente por uma poliacutetica de ldquofranchisingrdquo ainda para mais

161

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

porque a transnacionalizaccedilatildeo de ensino superior portuguecircs com fins meramente

mercantilistas estaacute particularmente associada a instituiccedilotildees de ensino superior privadas

Uma das preocupaccedilotildees que num passado recente recaiacutea recorrentemente sobre

o ensino transnacional era a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo

constatando-se que essa lacuna permanece natildeo havendo efectivamente referecircncias a

qualquer tipo de oacutergatildeo ou mecanismo que regule ou avalie a qualidade das acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo realizadas neste sector Verifica-se que da parte dos paiacuteses receptores natildeo

estatildeo criadas as condiccedilotildees necessaacuterias para que esse processo de regulaccedilatildeo e controlo

possa partir deles proacuteprios apesar da maioria dos projectos se encontrar integrado nas

estruturas formais de ensino do paiacutes receptor O uacutenico garante de que satildeo respeitados

padrotildees miacutenimos de qualidade eacute o facto das instituiccedilotildees puacuteblicas que promovem acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo se encontrarem integradas nos sistemas formais dos seus proacuteprios paiacuteses

e portanto sujeitas a processos ciacuteclicos de avaliaccedilatildeo de qualidade Esta premissa

garante agrave partida um niacutevel de qualidade miacutenimo ao ensino transnacional por elas

praticado Natildeo deixa apesar de tudo de continuar a existir uma lacuna nos processos de

avaliaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo das actividades de ensino transnacionais portuguesas Seria

desejaacutevel a sujeiccedilatildeo destes projectos a processos de avaliaccedilatildeo de qualidade externos

quer atraveacutes da adesatildeo a agecircncias internacionais criadas para o efeito quer pela criaccedilatildeo

de mecanismos no paiacutes receptor com esses fins Um outro mecanismo de regulaccedilatildeo que

poderaacute sempre vir a ser implementado em alternativa e como princiacutepio de um

procedimento mais rigoroso seria a criaccedilatildeo de comissotildees internas de auto-avaliaccedilatildeo

constituiacutedas por docentes das vaacuterias aacutereas que periodicamente reflictam e auto-avaliem

o trabalho desenvolvido nas faculdades face aos objectivos traccedilados e aos resultados

alcanccedilados

Segundo as teorias de Neave (Neave 1997) haacute uma necessidade premente em

assegurar o retorno e a fixaccedilatildeo dos jovens licenciados nos paiacuteses menos favorecidos de

modo a promover o desenvolvimento e a consequentemente diminuiccedilatildeo das assimetrias

regionais conclui-se assim que as novas orientaccedilotildees das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

caminham nesse sentido reduzindo os apoios concedidos para formaccedilatildeo no exterior e

intensificando os apoios ao desenvolvimento interno De igual modo parece haver uma

preocupaccedilatildeo na preservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos valores universitaacuterios por parte das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior reflectida numa aposta na preparaccedilatildeo cientiacutefica

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do corpo docente dotando as instituiccedilotildees de recursos humanos e meios teacutecnicos que

permitam o seu desenvolvimento futuro

Por uacuteltimo caberaacute aos paiacuteses receptores a funccedilatildeo de regular no sentido de evitar

no futuro o asfixiamento das suas proacuteprias estruturas formais de ensino por parte do

ensino transnacional Esta postura de defesa e preservaccedilatildeo das suas estruturas formais

de ensino exige da parte destes paiacuteses um elevado grau de discernimento o que nem

sempre eacute conseguido A posiccedilatildeo de fragilidade em que se encontram perante os paiacuteses

dadores conduz muitas vezes a uma passividade exagerada e contraproducente que

deveraacute ser combatida

Haacute duas questotildees fundamentais que importa reter deste trabalho a primeira eacute

que natildeo existe actualmente nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas uma poliacutetica

concertada de internacionalizaccedilatildeo a segunda questatildeo fundamental a reter eacute o facto de

natildeo existir em Portugal uma estrateacutegica poliacutetica de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e

particularmente no domiacutenio do ensino superior

Concretizando a primeira questatildeo constata-se pelo presente trabalho que as

instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas revelam uma poliacutetica de

planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo das suas actividades transfronteiriccedilas fraacutegil e pouco articulada

Eacute necessaacuterio criar mecanismos que permitam uma efectiva internacionalizaccedilatildeo das

instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas realizada de forma concertada e proacute-activa

que natildeo tem necessariamente por passar apenas pelos paiacuteses de Liacutengua Oficial

Portuguesa eacute preciso apostar igualmente noutros caminhos noutras formas de interna-

cionalizaccedilatildeo Satildeo muitas e aliciantes as vantagens que as instituiccedilotildees podem retirar de

um processo de internacionalizaccedilatildeo o proacuteprio facto de se criar um ambiente interna-

cionalizado numa instituiccedilatildeo por si soacute eacute uma mais valia para os actores envolvidos

Isto para natildeo falar nos interessantes proveitos financeiros de que poderaacute beneficiar uma

instituiccedilatildeo de ensino que esteja aberta a um universo transnacional de largo espectro

A segunda questatildeo vem validar a hipoacutetese de partida uma vez que foi aqui amplamente

provado que natildeo existe em Portugal uma estrateacutegia da cooperaccedilatildeo que a partir da

criaccedilatildeo de mecanismos de anaacutelise baseados em estudos cientiacuteficos permitam agraves

entidades financiadoras planear definir objectivos e garantir a eficaacutecia do investimento

nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees de ensino superior apostarem na realizaccedilatildeo

de um ensino transnacional concertado e direccionado para determinados fins

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Universidade de Aveiro 2006

Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa Para o Ensino Superior

ANEXOS

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO I

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 1

(Dirigido a responsaacuteveis pelo planeamento e execuccedilatildeo das Poliacuteticas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no sector do ensino superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo O ensino transnacional eacute portanto um fenoacutemeno que natildeo eacute novo tendo jaacute sido experimentado pela maioria das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas Com base neste pressuposto 1 Eacute comum as instituiccedilotildees de ensino superior promotoras de ensino transnacional

identificarem como principais benefiacutecios a retirar destas actividades factores como a evoluccedilatildeo de desempenho do seu corpo docente e discente o desenvolvimento curricular e cientiacutefico a aprendizagem transcultural Acha que nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas estes benefiacutecios tecircm vindo a ser alcanccedilados atraveacutes da promoccedilatildeo do ensino transnacional

2 Acha que o aumento exponencial do Ensino Superior Transnacional eacute resultante do aumento

da competitividade do mercado de ensino europeu e mundial

21 Como vecirc o futuro das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas face agrave tendecircncia para o crescimento descontrolado do Ensino Superior Transnacional agrave escala mundial Quer enquanto receptoras quer enquanto promotoras de ensino

3 Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de

informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a substituir o ensino presencial no ensino transnacional

4 Como encara este modelo de ensino aprendizagem nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa 5 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes pela

ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica ao(s) caso(s) de TimorCabo Verde

6 Qual a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa de cooperaccedilatildeo para o sector da educaccedilatildeo 7 Tendo como exemplo o modelo Australiano no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional que se encontrava fora dos sistemas formais como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado acha que este modelo de actuaccedilatildeo poderia funcionar em paiacuteses como Cabo Verde ou Timor-Leste

8 Como vecirc a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos que levem o ensino transnacional a

submeter-se a processos de avaliaccedilatildeo e agrave posterior integraccedilatildeo nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes ldquohospedeirordquo

9 Em que ano Portugal comeccedilou a praticar ensino transnacional em Timor Leste

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 10 O Governo timorense teve intervenccedilatildeo na selecccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo do ensino

transnacional A selecccedilatildeo dos cursos a ministrar foi baseada em algum estudo avaliativo no sentido de identificar as aacutereas prioritaacuterias em funccedilatildeo das reais necessidades do paiacutes (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

11 Como avalia os efeitos do ensino transnacional portuguecircs em Timor nomeadamente no

desenvolvimento cultural cientiacutefico e econoacutemico do paiacutes 12 Qual tem sido a receptividadereacccedilatildeo dos sistemas de ensino formais ao ensino

transnacional 13 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO II

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 2

(Dirigido a autoridades Timorenses com responsabilidades no Sector do Ensino Superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade 1 Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a

substituir o ensino presencial no ensino transnacional

11 Como vecirc a aplicaccedilatildeo deste modelo de ensino aprendizagem em Timor-Leste Existe algum projecto nesta aacuterea em funcionamento

2 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes

devido agrave ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica a Timor-Leste

21 O que pensa da aplicaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo por parte das

estruturas formais de regulaccedilatildeo dos paiacuteses hospedeiros ao ensino transnacional 3 Quais julga serem as verdadeiras motivaccedilotildees que levam as instituiccedilotildees de ensino de paiacuteses

desenvolvidos a promoverem ensino transnacional em paiacuteses em desenvolvimento (questotildees econoacutemicas ou cooperaccedilatildeo)

4 Tomando como exemplo o modelo Australiano [no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado] acha que este modelo seria adequado para Timor-Leste

5 Acha que seria positivo a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos de avaliaccedilatildeo do

ensino transnacional tendo como contrapartida a integraccedilatildeo destes nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes hospedeiro

6 No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo em que ano comeccedilou ser praticado ensino transnacional em

Timor- Leste 7 Quais os paiacuteses que estatildeo actualmente a cooperar com Timor-Leste ao niacutevel do sistema

educativo (com estruturas de ensino) 8 Qual foi o criteacuterio utilizado pelo governo transitoacuterio de Timor-Leste para a selecccedilatildeo das

aacutereas de formaccedilatildeo superior A selecccedilatildeo dos cursos foi baseada em algum estudo (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 9 Os cursos ministrados em Timor-Leste satildeo adaptados agraves especificidades do puacuteblico a que satildeo

dirigidos 10 O ensino transnacional ministrado em Timor-Leste por instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas estaacute de alguma forma sujeito agraves regras dos sistemas de ensino formais (do paiacutes hospedeiro)

101 Estaacute integrado no sistema de ensino formal do paiacutes hospedeiro 102 Qual tem sido a receptividadeIntegraccedilatildeo por parte dos sistemas de ensino formais de

Timor Tem encontrado resistecircncia por parte destes uacuteltimos 11 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor 12 Como avalia os efeitos do ensino promovido por Portugal no desenvolvimento cultural

cientiacutefico e econoacutemico de Timor-Leste

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ANEXO III

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm1

Entrevista realizada a um alto responsaacutevel de um instituto puacuteblico portuguecircs com actividades

na aacuterea da Cooperaccedilatildeo

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador A = entrevistado A F= funcionaacuterio do instituto presente E Aaaahellip Em relaccedilatildeo entatildeo a este tema da da cooperaccedilatildeo eu gostaria de saber a opiniatildeo do

Senhor X hellip e neste caso na qualidade dehellip (cargo que ocupa) se acha que hellip e eu tentaria

direccionar-me mais para as universidades e para a cooperaccedilatildeo daquilo que conhece do trabalho

das universidades nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa nomeadamente e particularmente Timor

e Cabo Verde uma vez que satildeo os meus casos de estudo mas se entender dar exemplos de outros

paiacuteses e de outros PALOP estaacute agrave vontade

Se acha quehellip aaaahellip a apetecircncia ou aaahellip o gosto que hoje em dia as universidades e

os institutos politeacutecnicos tecircm por paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eacute no sentido da cooperaccedilatildeo

pura chamemos-lhe assim ou se por detraacutes disso denota algum interesse de cariz econoacutemico e

ateacute face ao contexto actual de Portugal do ensino e as dificuldades se nota que satildeohellip que haacute uma

fuga para a frente no fundo Ou se natildeo se eacute soacute por caraacutecter cooperativo O que eacute que acha da

actualidade em relaccedilatildeo a isso

A Muito bem olhe eu prefiro comentar a pergunta que me faz num contexto mais geral

perspectiva-la a dar-lhe um enquadramento sem me eximir de depois comentar especificamente

aquilo quehellip a que se referiu na sua pergunta Eu julgo que eacute preciso partir de uma premissa

fundamental a liacutengua a liacutengua e a cultura portuguesa mas sobretudo a liacutengua como veiacuteculo

dessa cultura eacute um vector fundamental da afirmaccedilatildeo da nossa identidade e da nossa poliacutetica

externa Ou seja noacutes somos por vocaccedilatildeo e por opccedilatildeo poliacutetica sobretudo a partir de uma eacutepoca em

que se reinstaurou a democracia em Portugal um paiacutes europeu e que encontra o seu destino na

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Uniatildeo Europeia E eu insisto sobretudo numa entrevista de caraacutecter acadeacutemico em frisar uma

coisa que muitas vezes eacute esquecida Portugal natildeo eacute uma democracia apenas desde 1974 Durante

um largo periacuteodo do seacuteculo XIX noacutes tivemos um funcionamento democraacutetico das nossas

instituiccedilotildees Houve trecircs periacuteodos diferentes um periacuteodo que houve muita instabilidade e havia

democracia um periacuteodo dehellip estabilidade formal aaaahellip e democracia tambeacutem formal mas

houve um periacuteodo significativo sobretudo a partir de 1852 quase ateacute ao final do seacuteculo em que

houve efectivamente exerciacutecio de alguma estabilidade poliacutetica e de democracia tambeacutem Portanto

noacutes natildeo somos neoacutefitos da democracia E quando aaaahellip em contacto com os Paiacuteses Africanos de

Liacutengua Oficial Portuguesa e Timor dizemos retoricamente ldquoSim noacutes somos todos jovens

democracias temos todos praacutetica democraacutetica haacute 25 anoshelliprdquo isto natildeo eacute assim Portugal tem

efectivamente uma diferente experiecircncia histoacuterica em termos institucionais Aleacutem disso somos

uma naccedilatildeo com 850 anos natildeo nascemos ontem mas temos efectivamente neste contexto das

democracias ocidentais o nosso lugar claramente definido no quadro da Uniatildeo Europeia

No entanto a Uniatildeo Europeia natildeo esgota o destino histoacuterico de Portugal nem a projecccedilatildeo

de Portugal no mundo ao contraacuterio do que acontece com outros paiacuteses europeus e isso eacute

fundamental distinguir Por exemplo se eu pensar ma Beacutelgica ou na Aacuteustria o que distingue a

Beacutelgica de Aacuteustria eacute evidentemente a Uniatildeo Europeia a Europa Nem haacute outra possibilidade

natildeo haacute outra forma nem nunca houve e obviamente o futuro acelera esse tipo de dependecircncia No

caso de Portugal natildeo eacute assim O lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a liacutengua portuguesa e

uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de pessoas do que por exemplo o Francecircs

e eacute uma liacutengua vital viva com imenso futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas

do mundo onde a tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees tendem a envelhecer e a populaccedilatildeo em termos

demograacuteficos a estagnar Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa

afirmaccedilatildeo internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa eacute

essencial para Portugal a daiacute tambeacutem a importacircncia da liacutengua portuguesa no nosso

relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP designadamente agora mais

Eu julgo que noacutes estamos finalmente a caminho da preparaccedilatildeo daquilo a que se chamaraacute

uma estrateacutegia para a divulgaccedilatildeo e a expansatildeo da liacutengua portuguesa no mundo Natildeo existe um

documento estrateacutegico de enquadramento estaacute criado um grupo de trabalho inter-ministrial no

qual o Ministeacuterio dos Negoacutecios estrangeiros participa de uma forma multi-facetada atraveacutes do

Camotildees atraveacutes atraveacutes do IPAD da Missatildeo para a CPLP da Direcccedilatildeo Geral das Comunidades

Portuguesas e evidentemente um grupo de trabalho que engloba outros ministeacuterios e que no

momento oportuno teraacute que ter necessariamente a contribuiccedilatildeo da Fundaccedilatildeo das Universidades

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Portuguesas e das Universidades no seu no seu conjunto Haacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo o

Ministeacuterio do Ensino Superior e Ciecircncia etc a ideia eacute elaborar uma estrateacutegia uma estrateacutegia que

natildeo tem soacute a ver com os PALOPs com o Brasil com Timor mas tem a ver tambeacutem com a

importacircncia de manter viva a liacutengua portuguesa nos paiacuteses onde haacute uma forte comunidade

portuguesa

Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave mestra a ideia de

que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente e a aposta essencial deve ser na

formaccedilatildeo de formadores locais Ou seja a ambiccedilatildeo de fazer com que o portuguecircs possa ser

ensinado por exemplo no Senegal por professores guineenses em vez de ser por professores

portugueses ser ensinado no Brasil por professores brasileiros ou na Argentina por professores

brasileiros ou seja a mesma coisa que a poliacutetica para Timor aahellip mudanccedila dessa estrateacutegia

global quando chegamos ao dia da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento deve apostar sobretudo na

formaccedilatildeo de professores ou seja eu compreendo que durante a fase de afirmaccedilatildeo da

independecircncia fosse necessaacuterio ter em Timor cento o muitos professores portugueses e

supostamente especialistas em portuguecircs liacutengua estrangeira Mas tambeacutem sei que o futuro natildeo eacute

por aiacute que vai o futuro passaraacute o futuro da liacutengua portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

liacutengua portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem ensina portuguecircs nas

escolas satildeo professores timorenses que aprenderam portuguecircs com professores portugueses

preferencialmente laacute porque a formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo

de inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute uma aposta

importantiacutessima eacute uma aposta de futuro e passa designadamente por aahellip se ensinar o portuguecircs a

todos os niacuteveis do ensino todos os niacuteveis da escolaridade desde a educaccedilatildeo baacutesica da secundaacuteria

ateacute ao ensino universitaacuterio O papel das universidades portuguesas nisto eacute fundamental

evidentemente tal como eacute fundamental o papel institucional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior Eu dou-lhe um exemplo muito especiacutefico do que eacute

que estou a pensar da importacircncia do papel institucional noacutes temos escolas oficiais portuguesas

em Maputo e vamos ter em Dili a primeira fase estaacute concluiacuteda a segunda fase jaacute foi aprovada

financeiramente a adjudicaccedilatildeo estaacute em curso e vamos ter o arranque da segunda fase da escola

portuguesa de Dili Na escola portuguesa de Maputohellip

E Uma escola portuguesa ao niacutevel do ensino secundaacuterio

A Sim ao niacutevel do ensino exactamente a ideia eacute a ideia eacute que a escola portuguesa em

20062007 cubra toda a escolaridade secundaacuteria como o equivalente ao 12ordm ano em Portugal que

acontece na escola portuguesa de Maputo E satildeo escolas que satildeo geridas sob a batuta do

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Ministeacuterio da Educaccedilatildeo como deve ser institucionalmente Soacute que porque houve em Portugal

um periacuteodo onde natildeo havia para esse tipo de opccedilotildees estrateacutegicas os meios financeiros adequados

haacute outros paiacuteses de liacutengua portuguesa onde as escolas portuguesas satildeo produto de cooperativas de

ensino como acontece em Luanda com as dificuldades todas que daiacute advecircm E com muitas vezes

as incompreensotildees que daiacute resultam tanto da cooperativa e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo do qual a

cooperativa formalmente natildeo depende

Por outro lado haacute organizaccedilotildees natildeo governamentais que tecircm tambeacutem acompanhado este

processo basta pensar na Guineacute naquilo que a Fundaccedilatildeo de Evangelizaccedilatildeo e Cultura estaacute a fazer

directamente ao niacutevel do ensino do portuguecircs portanto haacute uma multiplicidade de actores que eacute

preciso reunir na linha estrateacutegica de que aquilo que temos que fazer eacute formar formadores eacute

formar professores de portuguecircs Natildeo eacute enviar professores para esses paiacuteses

Ora bem isto responde-lhe um pouco agrave segunda parte da sua pergunta que eacute a parte que eu

percebo que eacute a que lhe interessa mais directamente Eacute evidente que eacute mais importante na

perspectiva da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento na perspectiva do desenvolvimentohellip

E E da poliacutetica governamentalhelliptambeacutem

A Da poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante desenvolver universidades locais

do que transplantar universidades para esses paiacuteses ou seja se a Universidade Agostinho Neto

que eacute a universidade do Estado Angolano tem uma Faculdade de Direito essa Faculdade de

Direito por exemplo estou-lhe a dar apenas um exemplo tem que ter meios para se auto-sustentar

e gerir o universo dos alunos potenciais em Direito numa perspectiva Angolana de acordo com o

mercado de trabalho com o sistema juriacutedico angolano com as perspectivas de Angola no contexto

regional Natildeo podemos imaginar que estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de Direito de uma universidade qualquer

como se fizeacutessemos uma espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque isso natildeo

eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar desenvolvimento

E Eacute o chamado desenvolvimento sustentado

A Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da

cultura e do ensino exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveis Ora bem eacute evidente no

entanto que quando se fala das universidades privadas haacute aqui umas que tecircm esta perspectiva eu

dou-lhe o exemplo a Universidade Catoacutelica de Luanda ou a Universidade Lusiacuteada de Luanda satildeo

instituiccedilotildees criadas laacute de raiz e que tecircm preocupaccedilotildees de gestatildeo de um universo local nacional

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agora haacute outro tipo de instituiccedilotildees que evidentemente fizeram aquilo que no mundo empresarial

equivale agrave deslocalizaccedilatildeo de empresas o que natildeo eacute mau do ponto de vista empresarial ou seja se

eu tiver uma faacutebrica tecircxtil em Satildeo Joatildeo da Madeira que tenha equipamento obsoleto e que eu natildeo

tenha meios financeiros porque natildeo haacute escoamento suficiente de produtos por causa da minha

falta de agressividade comercial ou das cotas estabelecidas ao niacutevel da Uniatildeo Europeia eu natildeo

tenho meios financeiros suficientes para manter o niacutevel salarial pretendido eu posso

eventualmente pegar em maquinaria e instalar essa faacutebrica na Iacutendia ou no Paquistatildeo e essa faacutebrica

pode de repente tornar-se viaacutevel e o fluxo financeiro criado com esse tipo de deslocalizaccedilatildeo pode

ser muito beneacutefico porque eu posso reinvestir exactamente em Satildeo Joatildeo da Madeira beneficiando

a populaccedilatildeo que entretanto ficou sem emprego com a deslocalizaccedilatildeo da minha faacutebrica Agora

seraacute que do ponto de vista da educaccedilatildeo e da cultura este tipo de raciociacutenio eacute o raciociacutenio mais

loacutegico e coerente Seraacute que a educaccedilatildeo e a cultura e o ensino satildeo um negoacutecio E seraacute que a

deslocalizaccedilatildeo de universidades privadas para os nossos interlocutores em mateacuteria de cooperaccedilatildeo

equivale efectivamente a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento Eu tenho as maiores duacutevidas

tenho as maiores duacutevidas natildeo sei se eacute assim duvido Instintivamente diria que natildeo

Definitivamente natildeo estamos no domiacutenio da ajuda puacuteblica ao desenvolvimento apesar de

podermos se calhar contabilizar isso em termos de OCDE mas julgo que estamos muito mais

proacuteximos do domiacutenio do domiacutenio puramente comercial e infelizmente haacute exemplos disso mesmo

Mas tambeacutem satildeo exemplos que denotam uma realidade que eacute muito interessantehellip pensar Mais

uma vez o exemplo de Luanda que eacute o exemplo que eu conheccedilo melhor as universidades privadas

que laacute estatildeo custam por mecircs a cada aluno cerca de 300 doacutelares que eacute o equivalente enfim a

duzentos e cinquenta euros duzentos e quarenta euros por mecircs cada aluno e estatildeo cheias E tecircm

cerca de mil alunos cada uma o que significa que haacute uma burguesia de 3 mil ou 4 mil famiacutelias

que pode pagar que pode pagar este tipo dehellip de propinas E isso eacute tambeacutem revelador que aiacute haacute

eventualmente uma perspectiva que eacute redutora que acaba por incidir sobre outras camadas da

populaccedilatildeo agora o que natildeo se pode eacute fazer de tudo isso apenas um negoacutecio apenas um comeacutercio

tem que haver preocupaccedilotildees mais de mudanccedila

E Entatildeo eu posso concluir que o projecto que a Fundaccedilatildeo das Universidades desenvolve em

Timor aproxima-se do modelo quehellip ideal Natildeo haacute ideias mashellip do modelo que seria desejaacutevel

no futuro da cooperaccedilatildeo

A Eu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades em Timor eacute um

projecto extremamente importante e tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da

problemaacutetica de Timor Repare que Timor eacute deixe-me soacute dizer-lhe trecircs coisas muito raacutepidas de

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enquadramento que me parece que satildeo muito uacuteteis noacutes temos uma grande responsabilidade em

relaccedilatildeo a Timor Timor soacute eacute independente porque aaaahellip Portugal e os portugueses e a

diplomacia portuguesa durante deacutecadas insistiram na manutenccedilatildeo da questatildeo de Timor no topo da

agenda poliacutetica internacional Eu tenho 20 anos de carreira diplomaacutetica um pouco mais e lembro-

me das primeiras reuniotildees internacionais em que participei haacute 20 anos atraacutes quando falava de

Timor os meus colegas bocejavam Aaaahellip e sem querer discriminar nacionalidades mas

bocejavam porque ningueacutem acreditava que fosse possiacutevel manter a questatildeo de Timor no topo da

agenda e conseguir os resultados que se conseguiu portanto haacute uma enorme responsabilidade haacute

uma enorme responsabilidade que eventualmente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar

portuguecircs e pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e pelo facto dos

timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor estarem profundamente empenhadas na

manutenccedilatildeo do Portuguecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo primeiro

da sua identidade nacional E da sua marca de diferenccedila na regiatildeo

Ora bem dito isto Timor aahellip tem um contexto regional especiacutefico e um contexto

regional natildeo nos iludamos soacute tem sustentabilidade com um eventual relacionamento poliacutetico

econoacutemico militar de seguranccedila etc com a Indoneacutesia e com a Austraacutelia porque satildeo esses os

vizinhos de Timor Timor natildeo pode viver natildeo passa pela cabeccedila de ningueacutem que Timor sobreviva

como Naccedilatildeo tendo maacutes relaccedilotildees com esses vizinhos Portanto noacutes ao desenvolvermos um

projecto de ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em Timor noacutes estamos

simultacircneamente estamos aquilo que eu lhe disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia

estrateacutegica do portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde Timor se insere

Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a

formaccedilatildeo de formadores portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismo Essa pedagogia tambeacutem tem que ser feita acompanharatildeo de que haacute

ali um espaccedilo regional de integraccedilatildeo O projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas sim

parece-me a mim basicamente um projecto correcto natildeo me parece um projecto de natureza

comercial ou mercantil parece-me um projecto que tem uma dinacircmica que se insere na linha da

estrateacutegia do que eacute a nossa cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

E Isto leva-me a perguntar-lhe se aahellip se o projecto vai ao encontro das necessidades de

Timor ou se pelo contraacuterio vai no sentido do que Portugal decidiu ser o melhor ou seja se foram

ouvidos os Timorenses as aacutereas estrateacutegicas estatildeo de acordo com as necessidades identificadas

por eles proacuteprios ou se pelo contraacuterio fomos noacutes quehellip delineaacutemos no fundo a actuaccedilatildeo que

estamos a ter actualmente

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A Eu percebo muito bem a sua pergunta mas repare o idealhellip

E Eacute uma pergunta natildeo eacute uma afirmaccedilatildeo

A Natildeo natildeo natildeo eu percebo muito bem eu percebo muito bem o ideal eacute que essas duas

vertentes coincidam ou seja no mundo ideal seria se objectivos programaacuteticos e estrateacutegicos de

Portugal nesse contexto coincidissem com os anseios as ambiccedilotildees os interesses e as necessidades

dos timorenses Noacutes estamos convencidos que o modelo que estaacute a ser delineado corresponde a

isso mesmo Ateacute porque repare se natildeo correspondesse esses desequiliacutebrios essas disfunccedilotildees

acabariam por se notar e por comprometer o projecto Eacute fundamental repare que em ajuda puacuteblica

ao desenvolvimento tudo o que tem a ver com cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute essencial

que aquilo que a comunidade dadora internacional oferece corresponda aquilo que os paiacuteses

anseiam Natildeo eacute apenas por uma questatildeo retoacuterica de respeito pelas escolhas individuais dos paiacuteses

ou por uma ingerecircncia aahellip natildeo eacute nada disso eacute por uma razatildeo muito mais substantiva estaacute

demonstrado estaacute absolutamente demonstrado aahellip todos os niacuteveis e todas as instituiccedilotildees que se

ocupam destas mateacuterias que natildeo haacute desenvolvimento sustentaacutevel sem aquilo a que se chama a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento onership hellip hellip sem o onership do processo a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento ou seja os paiacuteses receptores de ajuda os parceiros

do oner do desenvolvimento tecircm que se sentir no lugar do condutor do automoacutevel do processo de

desenvolvimento porque se natildeo se apropriam do processo de desenvolvimento ele natildeo eacute

endogeneizado ele natildeo eacute aahellip adquirido de uma forma perene pelas sociedades que estatildeo em

causa Repare que o modelo de desenvolvimento eu quando estou a falar de desenvolvimento

tenho perfeita consciecircncia de que hoje em dia cada vez mais o desenvolvimento eacute tambeacutem o

crescimento econoacutemico a integraccedilatildeo das economias desses paiacuteses na economia global tem

imensas relaccedilotildees com o desenvolvimento do comeacutercio internacional tudo isso

Mas para aleacutem de tudo isso para aleacutem de tudo isso o desenvolvimento eacute um processo

endoacutegeno eacute um processo de consciecircncia colectiva Eu natildeo tenho a certeza se pegar aqui aahellip no

modelo AlfragideReboleira e colocar o mesmo tipo de preacutedios em Baucau se isso corresponde a

um modelo de desenvolvimento Ou melhor estou praticamente seguro que natildeo natildeo eacute Portanto

haacute todo um conjunto de caracteriacutesticas que tecircm que ser endogeneizadas pela populaccedilatildeo local o

que eacute que eu quero dizer com isto eacute evidente que se o portuguecircs como liacutengua e a cultura

portuguesa como matriz forem rejeitados pela populaccedilatildeo timorense pelos jovens timorenses pelas

(hellip) de Timor e se essa aproximaccedilatildeo natildeo tiver passado de um episoacutedio histoacuterico noacutes natildeo

podemos fazer nada contar isso noacutes natildeo podemos remar contra essa mareacute O portuguecircs ou eacute a

liacutengua veicular (hellip) das liacutenguas oficiais de Timor e corresponde agrave identidade ou natildeo eacute E ponto

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final natildeo eacute Natildeo haacute volta a dar em relaccedilatildeo a isso Eacute o drama neste momento com que a Franccedila

se debate no contexto internacional aahellip a Franccedila tem imensa dificuldades as autoridades

francesas em compreender que muito provavelmente o francecircs perdeu de uma forma definitiva a

batalha da internacionalizaccedilatildeo e de ser ouvido internacional a favor do inglecircs E provavelmente

perdeu definitivamente Eventualmente isso eacute definitivo E eventualmente as outras liacutenguas

veiculares satildeo eventualmente o Espanhol o Portuguecircs e o Aacuterabe Aaahellip Mas eacute evidente uma

pessoa tem que pensar isto em termos globais porque como todos noacutes sabemos a liacutengua mais

falada no mundo eacute o Chinecircs de Pequim ou o Chinecircs Mandarim daquela zona da China que eacute

falado por um biliatildeo de pessoas Mas isso natildeo faz do Chinecircs Mandarim uma liacutengua global

enquanto que o Espanhol e o Portuguecircs e o Aacuterabe eventualmente satildeo muito mais liacutenguas de

dehellip de globalizaccedilatildeo

E Satildeo liacutenguas a niacutevel mundial

A A aposta do portuguecircs tambeacutem passa por aiacute Eacute evidente que os timorenses vatildeo ter que

saber falar inglecircs como todos os jovens portugueses ou todos os jovens espanhoacuteis sob pena se

um jovem timorense natildeo dominar o inglecircs ou um jovem portuguecircs natildeo dominar o inglecircs daqui a

vinte anos estaacute totalmente fora de qualquer mercado de trabalho E natildeo eacute qualquer mercado de

trabalho na Uniatildeo Europeia eacute qualquer mercado de trabalho em Portugal Portanto eacute preciso ter

consciecircncia de que haacute um instrumento aaa a falar inglecircs eacute a mesma coisa do que saber utilizar

um computador eacute um tipo de linguagem que ou se aprende ou se fica for a do mercado de

trabalho

Em relaccedilatildeo ao Portuguecircs eu acho que eacute fundamental a aprendizagem ou a expansatildeo do

Portuguecircs tambeacutem como liacutengua para o mercado de trabalho e para a formaccedilatildeo em paiacuteses como

Portugal como o Brasil como Angola comohellip Moccedilambique como Timor eacute essa a nossa aposta

eacute essa a nossa aposta e cada vez mais o Portuguecircs pode servir qual eacute o paiacutes mais rico do mundo

Eacute o Luxemburgo e 30 da populaccedilatildeo fala Portuguecircs mashellip claro que isto em termos

estatiacutesticos vale o que vale mas o que eacute certo eacute que 30 da populaccedilatildeo do paiacutes mais rico do

mundo fala portuguecircs e tem ascendecircncia e ligaccedilotildees a Portugal Isso eacute muito significativo

E Por razotildees histoacutericas natildeo eacute

A Mas isso eacute muito importante Natildeo eacute natildeo eacute discipiente isto tem um grandehellip natildeo falam

chinecircs nem nem Persa natildeo eacute falam curiosamente falam Portuguecircs eacute interessante

E E os jovens jaacute vatildeo tendo algum peso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Vatildeo tendo algum peso

E Eles tecircm uma importacircncia muito significativa Mas eu julgo que sim repetindo o que disse

no princiacutepio o projecto da FUP eacute um projecto que se insere neste quadro da ajuda puacuteblica ao

desenvolvimento Agora a ajuda puacuteblica ao desenvolvimento natildeo eacute apenas o trabalho de

caritativo solidaacuterio a vertente ONGs de desenvolvimento eacute um trabalho que tem que ser pensado

numa loacutegica que estaacute muito para aleacutem da mera loacutegica da solidariedade Eacute muito significativo isto

que eu lhe vou dizer sem querer que daqui extraiacutea nenhuma conclusatildeo ideoloacutegica o problema das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento eacute umahellip um organismo que apareceu numa determinada

numa determinada condicionante e num determinado circunstancialismo histoacuterico e que natildeo eacute

aahellip nenhum amaacutetena nem eacute politicamente incorrecto se eu disser que o PNUDE que vem pelo

sistema das Naccedilotildees Unidas comeccedilou por ser ideologicamente muito descrente e esteve muito

marcado pela loacutegica sobretudo voltada para a solidariedade

Hoje em dia o PNUDE publica uma declaraccedilatildeo em livro sobre as relaccedilotildees do

desenvolvimento com o comeacutercio internacional Isto natildeo eacute publicado pelo Banco Mundial natildeo eacute

um livro do FMI eacute um livro do PNUDE Portanto a dinacircmica de desenvolvimento tem tambeacutem

outras componentes e outras vertentes a que noacutes temos que estar cada vez mais atentos

E E tem tambeacutem a vecircr com o GATS no qual o mercado da Educaccedilatildeo estaacute tambeacutem a ser

incluiacuteda natildeo eacute

A Eacute fundamental eacute fundamental a educaccedilatildeo para todos eacute um dos objectivos agora quando

estamos a falar em Educaccedilatildeo eacute preciso temos tambeacutem consciecircncia do que eacute que estamos a falar

natildeo eacute Porque aahellip repare na violecircncia disto que lhe vou dizer imagine as liacutenguas nacionais em

Angola o kimbondohellip por aiacute fora ou o ohellip

E O teacutetum

A O teacutetum haacute Cursos de Medicina em teacutetum natildeo haacute Haacute Cursos de Engenharia Electroacutenica

ou Informaacutetica em teacutetum ou em kimbondo natildeo haacute Ou seja se eu insistir que as crianccedilas de uma

determinada localidade no interior de Angola tenham uma educaccedilatildeo sobretudo razoaacutevel na

liacutengua nacional que eacute o kimbondo o que eu estou a fazer eacute imediatamente a decretar decretar que

elas natildeo vatildeo ter nunca o acesso ao ensino superior E isso eacute uma questatildeo poliacutetica natildeo eacute

Enquanto que o portuguecircs eacute natildeo soacute uma liacutengua de acesso ao ensino superior como uma liacutengua

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

veicular como para aleacutem disso o ensino em instituiccedilotildees onde se aprende portuguecircs eacute um ensino

tambeacutem muito aberto e alerta para a necessidade de dominar outras linguagens como as duas que

neste momento na minha opiniatildeo satildeo as mais importantes que satildeo o Word e o Inglecircs Mais

E No contexto informaacutetico claro Podia haver outrahellip outra interpretaccedilatildeo Aahellip em relaccedilatildeo

agora saindo um bocadinho deste que eacute quase umhellip um modelo novo e que natildeo eacute o existente nos

outros paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa as instituiccedilotildees de ensino superior privadas aahellip que

conhece e conheceraacute com certeza ateacute melhor do que eu aahellip o trabalho desenvolvido por estas

natildeo estaacute de maneira nenhuma em sintonia ou seja natildeo estatildeo metidashellip aahellip natildeo haacute um

alinhamento com a poliacutetica e com a estrateacutegia portuguesa de cooperaccedilatildeo Estatildeohellip eu natildeo queria

dizer de costas voltadas mas cada uma segue o seu caminhohellip

A Eu eu percebo o que diz Repare a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute muitas vezes

vista como a cooperaccedilatildeo institucional Este instituto e os antecessores deste instituto tantas vezes

vista como uma espeacutecie de gaveta onde se vai buscar dinheiro para financiar projectos Aahellip e

muitas vezes isso correspondia a (hellip) ateacute porque as pessoas tinham o dinheiro na gaveta e tinham

que o gastar ateacute ao final do ano sob pena de ele ser absorvido pelo Ministeacuterio das Financcedilas Aahellip

esta loacutegica eacute uma loacutegica totalmente perversa e natildeo faz sentido nenhum Eacute preciso primeiro

reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos meios que lhe permitam ter capacidade de

articulaccedilatildeo e de coordenaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas depois eacute

fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute faz sentido no quadro de estrateacutegias de

programas natildeo faz sentido a acccedilotildees natildeo eacute E eacute oacutebvio que se a Drordf Moacutenica Pimentel me viesse

pedir um subsiacutedio para fazer uma viagem a Timor no contexto de uma acccedilatildeo eu devo dizer que

natildeo porque isto natildeo se insere num programa mais vasto num contexto loacutegico mas se essa

viagem se inserir num programa num programa indicativo num projecto no contexto de trabalho

com sustentabilidade avaliado com certeza que esse subsiacutedio para ohellip a realizaccedilatildeo dessa viagem

nesse contexto especiacutefico tem que ser observada a uma luz completamente diferente Portanto

fazer perceber agraves instituiccedilotildees designadamente agraves universidades privadas que devem falar

connosco natildeo na perspectiva de virem aqui encontrar complementos de financiamento para

acccedilotildees e para projectos (hellip) mas podem articular os projectos com as perspectivas e os programas

da cooperaccedilatildeo portuguesa De facto isto eacute muito delicado o que eu estou a dizer eacute menos

delicado no caso das universidades do que por exemplo no caso das ONGs Repare em rigor as

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem sempre dizer ldquo- Natildeo mas noacutes somos a sociedade

civil noacutes temos projectos proacuteprios e vocecircs satildeo o Estado financiam-nos ou natildeo nos financiam

O que natildeo podem eacute estar a pretender ter um direito de super visatildeo sobre aquilo que noacutes fazemosrdquo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ora bem este argumento eacute reversiacutevel porque o dinheiro da cooperaccedilatildeo portuguesa eacute dinheiro

puacuteblico eacute dinheiro dos portugueses E as organizaccedilotildees natildeo governamentais tecircm que perceber

que tendo eu responsabilidades ao niacutevel do Estado ao niacutevel da governaccedilatildeo eu natildeo posso

financiar uma organizaccedilatildeo governamental que tenha um projecto que vaacute contra que seja

totalmente exterior contraacuterio ou nocivo da minha poliacutetica de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

Ora bem um exemplo muito concreto do que eacute que eu quero dizer imagine uma organizaccedilatildeo natildeo

governamental que pretendia desenvolver em Timor uma acccedilatildeo aahellip a favor da manutenccedilatildeo dohellip

baaza como liacutengua eacute evidente que eu natildeo posso financiar este tipo de coisas natildeo eacute Mais

E Mudando agora um bocadinho dehellip de temahellip

A A Drordf F (teacutecnico superior do instituto presente na entrevista) se quiser comentar ou

acrescentar alguma coisa diga

F Natildeo estava a ouvir o projecto sobre as universidades privadas nem o proacuteprio paiacutes quase

sabe (hellip) quando laacute estivemos ultimamente as autoridades de facto desconheciam o que eacute que se

estava a fazer

A Pois

E E o Governo portuguecircs natildeo podehellip natildeo pode actuar com certeza natildeo eacute

A Inclusive noacutes temos noacutes temoshellip

E Natildeo pode regular As autoridades Cabo Verdianas neste caso por exemplo tomarem

medidas de regulamentaccedilatildeo dehellip de regulaccedilatildeo porque isso eacute uma das perguntas que eu tenho

tambeacutem para colocar defende defende de alguma forma aahellip instrumentos reguladores das

actividades de dehellip das instituiccedilotildees de ensino das actividades que desenvolvem nestehellip nos

paiacuteses onde fazem cooperaccedilatildeo

A Aahellip eu julgohellip haacute aqui uma coisa que eacute muito importante que eacute o reforccedilo deste

mecanismo coordenador e de cooperaccedilatildeo repare que ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo

de que dentro do proacuteprio Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou seja

como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

esse mundo todo que estaacute aiacute fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a sua

instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do organismo central da cooperaccedilatildeo

portuguesa Portantohellip o primeiro o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da cooperaccedilatildeo

com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo Eu natildeo estou a dizer que isso esteja

adquirido eu acho que eacute um trabalho que estaacute a ser feito eacute uma das ambiccedilotildees da criaccedilatildeo dohellip

(nome do instituto) como lhe digo natildeo sei se vamos conseguir eacute um trabalho Eacute fundamental eacute

um aspecto fundamental e que tem vaacuterias vertentes natildeo interessa agora estarmos a analisar

tecnicamente mas tem uma vertente essencial que digo-lhe jaacute que eacute o problema da orccedilamentaccedilatildeo

ou seja enquanto o Ministeacuterio X que eu natildeo vou dizer qual tem um orccedilamento que usa a seu belo

prazer para acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e que se natildeo usa depois transfere para outro tipo de verbas e que

natildeo eacute aprovado no princiacutepio do ano nohellip no na elaboraccedilatildeo do orccedilamento em consonacircncia comhellip

o meu instituto aahellip e que aleacutem disso ele natildeo tem acesso aos nuacutemeros exactos nem aparece um

mapa global reflectido na lei da execuccedilatildeo orccedilamental inicialmente no orccedilamento eu natildeo tenho

mecanismos de coordenar nem de articular

Se eu natildeo sou ouvido por que razatildeo eacute que o Ministeacuterio X em vez de ter 60 tem 100 ou

tem 20 e se eu natildeo percebo para que eacute que vatildeo ser aqueles 20 ou aqueles 60 jaacute natildeo estou a falar

como eacute que esses projectos eventuais se vatildeo articular com outros E natildeo eacute com os meus que eu

natildeo sou executor de projectos eacute com outros projectos de outros Ministeacuterios para que esse

mundohellip

E Par que natildeo haja duplicaccedilatildeo tambeacutem natildeo eacute

A Natildeo haja duplicaccedilatildeo para que haja complementaridade para que o dinheiro seja bem

utilizado para que haja eficaacutecia para que haja especializaccedilatildeo para que os eixos vitais de

intervenccedilatildeo sejam respeitados portanto haacute todo um mundo de articulaccedilatildeo a fazer E que vai

demorar tempo natildeo tenhamos nenhuma ilusatildeo que essa articulaccedilatildeo inter-ministerial vai levar

tempo Este eacute um aspecto fundamental e depois haacute o mundo exterior agrave cooperaccedilatildeo puacuteblica e

institucional que satildeo as organizaccedilotildees natildeo governamentais satildeo as instituiccedilotildees privadas ou de

direito privado que fazem cooperaccedilatildeo A proliferaccedilatildeo de associaccedilotildees de fundaccedilotildees de

organismos que se dedicam a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo eacute inimaginaacutevel E repare que noacutes em Portugal

ainda natildeo estamos no momento de uma alteraccedilatildeo significativa da Lei do Mecenato porque eacute que

natildeo estamos nesse momento Porque tudo aquilo que seja falar eventual reduccedilatildeo de receitas

fiscais neste momento natildeo tem viabilidade nenhuma no actual contexto da politica de contenccedilatildeo

da despesa puacuteblica Mas no dia que eu possa deduzir os meus impostos numa acccedilatildeo de

cooperaccedilatildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Aiacute as acccedilotildees vatildeo-se multiplicar

A Elas vatildeo-se multiplicar a articulaccedilatildeo vai ser muito mais complicada muito mais difiacutecil a

coordenaccedilatildeo vai aindahellip apresentar outras outras dificuldades Eu tenho que ter aqui este

mecanismo articulador e coordenador e depois tenho que ter nos paiacuteses (hellip) um

mecanismo espelho que seja o interlocutor em mateacuteria de cooperaccedilatildeo porque se eu puder

eu sou o Director Geral do Ministeacuterio A de Transportes ou do Urbanismo falo com o

meu colega Cabo-Verdiano e combino com ele uma acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo eu estou a agir agrave

revelia da articulaccedilatildeo das autoridades portuguesas mas tambeacutem das autoridades Cabo-

Verdianas Portanto tem que haver em Cabo-Verde ou na Guineacute ou em Timor ou em

Satildeo Tomeacute um organismo centralizador e coordenador Eacute basicamente isto

E Agora reportando-nos exactamente e soacute agraves universidades ou agraves instituiccedilotildees que

promovem educaccedilatildeo ou ensino nesses paiacuteses e agora uma questatildeo muito pessoal talvez de

sensibilidade mais pessoal acha que o ensino que praticam carece de maior qualidade

aahellip que eacute um ensino feito hellip um bocadinho natildeo queria levar a pergunta muito parahellip

um ensino a ldquogranelrdquo

A Eu julgo que haacute de tudo Eu julgo que haacute de tudo

E Ou melhor como qualifica o ensinohellip

A Haacute vaacuterios exemplos e eu julgo que haacute de tudo Eu julgo no entanto eu julgo que haacute

de tudo Haacute no entanto um problema essencial aahellip que eacute digamos assim transversal a

todas essas experiecircncias que eacute o ensino natildeo ter na minha opiniatildeo suficientemente em

conta as necessidades do proacuteprio processo de desenvolvimento Ou seja aahellip em Angola

um curso de engenharia eu estou a formar um engenheiro e o engenheiro estaacute a pensar em

vir depois exercer engenharia para Portugal ou Medicina para Portugal ou para os

Estados Unidos eu tenho quehellip focar esse ensino no processo de desenvolvimento do

paiacutes da regiatildeo em que estaacute inserido Eu preciso de engenheiros especialistas em aacutegua ou

de engenheiros especialistas em agricultura ou economistas agraacuterios e se calhar eu natildeo

preciso de outro tipo de valecircncias Portanto haacute muitas vezes um desejo desajustamento

em relaccedilatildeo agrave realidade local e ao mercado de trabalho potencial e agrave inserccedilatildeo no processo

de desenvolvimento

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E E eacute motivado porquecirc

A Eacute motivado por razotildees eacute motivado por razotildees simples porque repare aahellip eu

tenho aqui aahellip cursos cujos curriacuteculos satildeo estabelecidos e cujos professores tecircm

determinado tipo dehellip experiecircncia profissional e que vatildeo ensinar isso mesmo nesses

paiacuteses Tem que haver uma adaptaccedilatildeo agrave realidade local agrave realidade do mercado local E

essa adaptaccedilatildeo se calhar soacute vai ser plenamente conseguida quando os professores forem

do paiacutes mais uma vez a questatildeo da formaccedilatildeo de formadores Agora quanto agrave qualidade

do ensino haacute de tudo Haacute de tudo Julgo no entanto que as universidades portuguesas natildeo

praticam aahellip erros como certas universidades de outros paiacuteses em que os diplomas satildeo

aahellip natildeo tecircm nenhum significado natildeo tecircm nenhum valor Noacutes conhecemos todas aahellip as

histoacuterias de universidades espanholas do Brasil aahellip que ensinam tambeacutem nesses paiacuteses

em desenvolvimento Aahellip a velha anedota das pessoas que estatildeo na paragem do

autocarro no Rio de Janeiro e diz um para o outro ldquo- se o autocarro demora mais tempo

ficamos com mais um graurdquo Aahellip isto reflecte isto isto reflecte a mentalidade e as

universidades portuguesas natildeo cometem este tipo de asneiras E haacute inclusivamente

exemplos do contraacuterio de grande exigecircncia profissional Eu devo dizer-lhe mais uma

vez relacionado com Angola como digo eacute o paiacutes que eu melhor conheccedilo comeccedilou este

ano em Angola um Mestrado em Direito o primeiro Mestrado em Direito na Faculdade de

Direito da Universidade Agostinho Neto eacute dado por professores de Coimbra e o Mestrado

as provas de Mestrado satildeo corrigidas em Coimbra natildeo satildeo sequer corrigidas laacute

portanto a exigecircncia eacute evidentemente uma exigecircncia enorme

E Claro

A Natildeo sei qual vai ser o resultado natildeo eacute Agora eacute um exemplo mas ateacute bom que

eu esteja a dar um exemplo de grande exigecircncia E eu acho quehellip evitar o tal facilitismo

de que falaacutevamos no princiacutepio da nossa conversa que eacute pequenino agora adaptando agrave

realidade local

(hellip)

A E depois haacute um aspecto aqui muito importante que tem a ver com as ordens e essas

coisas todas se eacute para incentivar a colocaccedilatildeo das pessoas laacute eacute muito importante que esses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

diplomas tenham algum reconhecimento internacional natildeo eacute Ateacute parahellip eacute preciso eacutehellip aiacute

balancear bem se natildeo estamos a abrir a porta agrave fuga de bivalecircncias e de experiecircncias

profissionais Drordf Moacutenica Pimentel mais

E Eu estou prestes a concluirhellip Acha que o ensino aahellip a partir de e-learning poderaacute

vir a ser um ensino aahellip

A Acho que sim Acho que sim Acho que eacute muito importante eacute um ensino eacute

fundamental em imensos domiacutenios aahellip haacute aiacute todo um mundo para explorar O mundo do

ensino agrave distacircncia o mundo da medicina aahellip da tele-medicina para evitar por exemplo

as evacuaccedilotildees repare que noacutes gastamos uma fortuna todos os anos com evacuaccedilotildees

muitas vezes as evacuaccedilotildees satildeo para diagnoacutestico Haacute evacuaccedilotildees para diagnoacutestico As

pessoas sentem-se mal natildeo haacute meios de saber o que tecircm vatildeo fazer o diagnoacutestico fazem

uma ecografia detecta-se aiacute a doenccedila Enquanto que a tele-medicina jaacute permite fazer

ecografias agrave distacircncia e inclusive realizar operaccedilotildees agrave distacircncia O ensino agrave distacircncia eu

aprendi no outro dia numa reuniatildeo com o Ministeacuterio da Cultura natildeo se diz ensino agrave

distacircncia deve dizer-se ensino a distacircncia Vale o que vale Estaacute a ver como como todos

os dias aperfeiccediloamoshellip Ensino a distacircncia eacute o termo sofisticado

Agora eu acredito no ensino eu acredito no ensino a distacircncia mas eacute preciso

evidentemente que essas teacutecnicas efectivamente funcionem e sejam oleadas Eu acredito

no ensino a distacircncia Acredito e ateacute lhe digo inclusivamente mais aahellip haacute cada vez mais

empresas e ateacute governos que funcionam que funcionam com esse tipo de coisas Soacute para

lhe dar um que natildeo tem nada a ver com o ensino agrave distacircncia mas daacute-lhe ou o ensino a

distacircncia daacute-lhe uma ideia de como as coisas podem funcionar aahellip tradicionalmente o

Embaixador dos Estados Unidos nas Naccedilotildees Unidas o Embaixador Americano nas Naccedilotildees

Unidas em Nova York faz parte do Governo Americano faz parte tem categoria de

Ministro se quiserhellip antes do Conselho de Ministros em Washington do Governo

Americano esse membro do Governo participa sempre por viacutedeo conferecircncia Estaacute sempre

presente nunca laacute falta Portanto isso permite hoje em dia que haja aulas em que os

professores estatildeo a falar atraveacutes de uma televisatildeo e daacute aulas se calhar daacute aulas praacuteticas

em que ele tem os seus instrumentos e os alunos estatildeo no laboratoacuterio e vatildeo repetindo os

gestos ei julgo que sim que o ensino a distacircncia tem imenso futuro e noacutes inclusivamente

temos um projecto aahellip de ensino a distacircncia em portuguecircs que envolve Timor tambeacutem

oxalaacute haja dinheiro suficiente para financiar esse projecto a curto prazo Eu julgo que sim

Mais Drordf Moacutenica Pimentel

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Finalmente qual acha que eacute a receptividade quer da parte das autoridades

governamentais quer da parte das instituiccedilotildees formais de ensino dos paiacuteses aahellip

beneficiaacuterios neste caso da cooperaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave ida de instituiccedilotildees e de docentes para

promover o nosso ensino Acha que somos bem integrados bem recebidos bem vistos ou

a sensibilidade e a experiecircncia que tem deixa antever alguma desconfianccedila algum peacute

atraacutes

A Natildeo eu julgo eu julgo que natildeo Eu julgo que em todos os paiacuteses os formadores

portugueses os cooperantes portugueses satildeo extremamente bem recebidos satildeo

extremamente acarinhados em todo o lado isso eacute praticamente universal O que tem a ver

com uma multiplicidade com uma multiplicidade de factores a nossa facilidade tambeacutem

de integraccedilatildeo aahellip enfim o bom relacionamento que permaneceu sempre ao longo da

histoacuteria dos povos penso que haacute uma enorme uma enorme receptividade E essa

receptividade evidentemente eacute um capital que natildeo se pode desperdiccedilar Agora o que eu

acho eacute que preciso ver estas coisas na medida proporccedilatildeo ou seja eacute mais uacutetil na minha

opiniatildeo ter 10 formadores de formadores em Dili do que ter 150 professores portugueses

no estrangeiro aahellip no fundo soacute ali a leccionar alunos timorenses quando deviam estar a

ensinar os professores de portuguecircs E eacute essa a grande aposta e eacute essa a grande questatildeo O

efeito multiplicador eacute esse mesmo eacute exactamente isso

(hellip)

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO IV

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm2

Entrevista realizada a um docente de uma Universidade Puacuteblica Portuguesa Coordenador de Projectos de Cooperaccedilatildeo com Timor

e Cabo Verde na aacuterea da Agronomia

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador B = entrevistado B E Bom a minha primeira pergunta eacute de caraacutecter geneacuterico e pretende saber qual eacute a sua

opiniatildeo em relaccedilatildeo aos verdadeiros motivos que levam as instituiccedilotildees de ensino superior e em

particular as puacuteblicas privadas e puacuteblicas a investir tanto na cooperaccedilatildeo como hoje se verifica

Isto eacute aahellip apregoamos muitas vezes ouhellip as instituiccedilotildees apregoam quehellip esta coisa do ensino

transnacional eacute para a evoluccedilatildeo do corpo docente para o desenvolvimento curricular e cientiacutefico

etchellip No seu entender acha que esses satildeo os verdadeiros motivos ou por ventura existiratildeo ateacute

interesses econoacutemicos

B Humhellip ora eu posso falar agrave partida aqui da minha experiecircncia e do meu instituto

E Sim isso eu percebo

B Aahellip os motivos natildeo tinham nada a ver nem com o corpo docente internacional os

motivos tinham essencialmente a ver com a possibilidade de desencadear experiecircncias de

formaccedilatildeo abrangendo os paiacuteses de liacutengua portuguesa a partir de duas duas ideias centrais a

primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees

pessoais em escolas que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na parte das

Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento pessoal que a gente tem com alguns dos

ex-alunos daqui que estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A segunda razatildeo embora pareccedila um poucohellip um pouco pretensioso o que eu vou dizer

mas no nosso caso eacute quer dizer como noacutes fazemos Ciecircncias Agraacuterias Ciecircncias Agraacuterias ligadas agrave

questatildeo da alimentaccedilatildeo da luta contra a pobreza a seguranccedila alimentar quer dizer noacutes no

Instituto temos uma linha de gente que trabalha muito nisso e temos muitos teacutecnicos para Africa

que vieram tambeacutem a desenvolver linhas e trabalhos Relatoacuterios Finais e Teses de Mestrados e

Doutoramentos nessa linha que eacute uma linha que eacute um desafio profissional muito aliciante para as

pessoas de Ciecircncias Agraacuterias que eacute o desenvolvimento do mundo sub-desenvolvido onde a

agricultura tem um papel fundamental

E Exactamente Portanto a chamada fuga para a frente dado o contextohellip actualhellip

B Natildeo natildeo natildeo Natildeo foi o nosso caso porque noacutes comeccedilamos ainda natildeo havia este

contexto

E Mas a niacutevel geral vamo-nos agora abstrair um bocadinho aqui dahellip

B A niacutevel geral a gente tem que distinguir entrehellip ensino puacuteblico e ensino privado do meu

ponto de vista O ensino privado avanccedila com vaacuterias realizaccedilotildees em vaacuterios paiacuteses de liacutengua

portuguesa no meu ponto de vista mais numa loacutegica que eacute a sua loacutegica de deslocar no fundo de

explorar mercados e colocar activos para rentabilizar economicamente Aahellip isso aiacute parece-me

que eacute a loacutegica essencial Embora tenha tambeacutem com certeza uma prestaccedilatildeo humanitaacuteria diversa

Do ensino puacuteblico natildeo haacute muitas experiecircncias de cooperaccedilatildeo a niacutevel das licenciaturas a nossa

penso que foi das primeiras em Cabo-Verde a niacutevel do ensino de licenciatura Aahellip as

experiecircncias que eu conheccedilo de poacutes-graduaccedilatildeo de Direito etc era tambeacutem tirar proveito da

Cooperaccedilatildeo Portuguesa que dava a justiccedila como uma das formas essenciais de cooperaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo do Estado das Leis etchellip

E O Direito

B E por isso Direito entrou muito rapidamente nos vaacuterios paiacuteses porque eles tinham uma

necessidade muito forte de fazer o aparelho do Estado da Justiccedila de formar as normas etc

Noacutes comeccedilaacutemos jaacute haacute 15 anos e por isso o contexto era diferente mas agora no contexto

actual evidentemente que haacute tambeacutem a necessidade de que face ao contexto do escasso nuacutemero de

alunos e professores a mais vaacute tentar responder a essa questatildeo colocando de algum modo a

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

discussatildeo esse mercado digamos em funccedilatildeo das necessidades das vaacuterias escolas Isso parece-me

que actualmente existe

E Aahellip da sua experiecircncia os paiacuteses receptores de ensino transnacional aahellip intervecircm de

alguma forma na decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo ou satildeo meros receptores paciacuteficos ou

seja natildeo natildeo tecircm qualquer intervenccedilatildeo na escolha das aacutereas de actuaccedilatildeo ou natildeo

B Da experiecircncia aqui da nossa escola que eacute a experiecircncia Cabo-Verdiana e a experiecircncia

timorense deixemos agora a timorense a Cabo-Verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos

os cursos que eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes adaptaacutemo-nos com os

curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica do Curso face a essa necessidade Mashellipem

muitos paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se passa eacute o seguinte como

as populaccedilotildees demograficamente satildeo jovens a entrada no mercado de trabalho natildeo se daacute porque

natildeo haacute mercado de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entreter estes jovens e

logo optam pelo ensino desde quehellip optam pelo ensino desde que desde que natildeo natildeohellip desde

que sirva para de facto ocupar uns anos os jovens etc

E O caso de Timor eacutehellip

B Natildeo haacute que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal quanto mais

noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito grandes neste momento em Angola do ensino

superior temos muita gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos anaacuterquica

dependendo da vontade dos dirigentes do que propriamente das necessidadeshellip

E Reais

B hellipda da economia e das populaccedilotildees

E E Cabo Verde entra nessa loacutegica ou natildeo

B Em Cabo Verde quer dizer no Curso de Ciecircncias Agraacuterias natildeo porquecirc Primeiro noacutes

como parceiros principais fomos sempre contra a abertura de cursos permanentes O que noacutes

demos foi dois cursos acaba os cursos demora uns anos ateacute recomeccedilar outro etc porque tivemos

sempre em conta que o mercado natildeo ia absorver os formados Noutras aacutereas concretamente natildeo

lhe sei dizer Haacute neste momento aacutereas laacute das Psicologias das Sociologias que se calhar aquilo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

devem estar a formarhellip natildeo natildeo tenho um conhecimento profundo para lhe poder responder

Muito embora Cabo Verde com a sua estrutura demograacutefica com cerca de 51 da populaccedilatildeo

com menos de 20 anos e com as fronteiras de emigraccedilatildeo um pouco fechadas tenha o problema

enorme destes jovens quando chegam agrave idade de estudar ou entrar no mercado de trabalho natildeo haacute

mercado de trabalho e tecircm de responder a essa situaccedilatildeo

Em Timor digamos que a histoacuteria a histoacuteria de Timor natildeo pode ser balanceada ou

estudada do meu ponto de vista em paralelo com estas histoacuterias Porque Timor foi um caso

especiacutefico houve toda aquelahellip o dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve

tambeacutem a necessidade de responder a todas as necessidades entre as quais a substituiccedilatildeo raacutepida

do ensino Indoneacutesio pelo ensino universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim Evidentemente que os cursos que

noacutes FUP transnacionais que noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de entreter

as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo Ministro da Educaccedilatildeo o eis Reitor ainda

no Governo de transiccedilatildeo etcTanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras como

vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom

parece-me que a gente natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu contexto

transnacional ao fim do de 25 anos da potecircncia colonial Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das

questotildees do Mundo 25 anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de independecircncia E os

cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos

para Africa era muito mais faacutecilhellip

E E mais barato

B E mais barato

E Mashellip aahellip acha que eu agora perdi-me no meu raciociacuteniohellip tinha uma questatildeo que

encadeava com isso

B Se a Economia vai absorver os nossos formados eacute uma questatildeo seguinte Bem quer dizer

aqui eacute sempre complicado porquehellip Timor eacute muito pobre ainda vai demorar um bocadinho esta

eacute a minha opiniatildeo vai haver natildeo haacute grandes serviccedilos puacuteblicos Natildeo haacute uma economia de

investimento privado embora os nossos jovens em alguns campos nas Informaacuteticas nas

Electroteacutecnicas podem ser orientados para formar as proacuteprias empresas para formar os seus

proacuteprios postos de trabalho com interesse para o paiacutes Agora Timor eacute de facto como vocecirc sabe

bem um paiacutes pobre 90 da populaccedilatildeo vive da agricultura na agricultura precisa imenso de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

serviccedilos teacutecnicos para poder transformar eacute preciso ainda um apoio como disse muito forte agravequelas

populaccedilotildees precisa da agricultura tropical para fazer a transformaccedilatildeo da agricultura e logo natildeo

natildeo vejo a economia a absorver os nossos quadros rapidamente

Os outros paiacuteses todos onde haacute essa experiecircncia aahellip depende francamente depende

porque enquanto Angola e Moccedilambique eu acho que jaacute haacute alguma possibilidade de absorver

quadros para rentabilizar como vai haver no futuro agora Angola agora depois da paz como eacute

evidente e ateacute Moccedilambique nalguns agricultores algumas ldquofarmasrdquo bastante grandes uma uma

grande potencialidade para as industrias alimentares que tem que tem que subir a essa fase satildeo

paiacuteses Moccedilambiquehellip o uacuteltimo relatoacuterio da ONU o PNUD de 2003 Moccedilambique ainda eacute dos

paiacuteses mais pobres do mundo Angola estaacute como estaacute (hellip) na orla litoral no Wambo e entre o

deserto tem processo econoacutemicos muito distintos onde a economia absorveu quadros laacute mas eacute de

facto era de facto uma varinha de condatildeo eacute uma coisa que de facto leva o seu tempo

E Jaacute consegui recuperar aquela pergunta que lhe queria colocar Eu julgo que o modelo que

estaacute a ser praticado em Timor de formaccedilatildeo eacute um modelo nomeadamente da Fundaccedilatildeo das

Universidades eacute um modelo pioneiro natildeo me parece que tenha ateacute ao momento havido um

modelo deste geacutenero Aahellip este modelo acha que eacute o modelo ideal pelo menos aproxima-se

mais do oacuteptimo do que os modelos de formaccedilatildeo praticados noutros paiacuteses ou pelo contraacuterio tem

uma outra experiecircncia mais positiva do que aquela que estamos a viver presentemente em Timor

Por exemplo em Cabo Verde se teve um modelo que melhor se adequasse ahellip a este tipo

de cooperaccedilatildeo ao niacutevel do ensino

B Natildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do possiacutevel eacute o melhor

modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo

Verde era exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de quatro cursos

E Exacto aiacute eacute que estaacute a diferenccedila

B Aliaacutes este modelohellip

E Porque estatildeo todas as universidades envolvidas natildeo eacute

B Ai eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o modelo eacute quer dizer eacute

igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees deste modelo de Timor

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de professores por um determinado espaccedilo temporal e a

leccionaccedilatildeo das cadeiras e os exames e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas com as

disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a funcionar por partes ou por trimestres no

fundo os modelos aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor modelo Permite o contacto

inter-pessoal permite o acompanhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar mais tempo de conviacutevio entre

professores e os alunos mas nas condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de permanecircncia simplesmente as condiccedilotildees

natildeo o permitem Evidentemente que eu acho que este modelo eacute melhor do que o outro modelo que

temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute deslocar soacute professores juniores e que

normalmente satildeo pessoas sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em Cabo

Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldades Eacute o modelo por exemplo que os

Holandeses utilizam em muitos paiacuteses de Aacutefrica E isso aiacute dependehellip embora o tempo de

permanecircncia seja maior mas a capacidade pedagoacutegico-cientiacutefica de acompanhamento eacute muito

menor

E Isso leva-me a colocar uma questatildeo sobre o ensino agrave distacircncia acha que num futuro

proacuteximo o ensino agrave distacircncia pode gradualmente vir a substituir o ensino presencial

B Olhe vocecirc estaacute com azar sabe Eu sou muito conservador

E (risos) Eu natildeo estou a defender o ensino agrave distacircncia

B Para jaacute digo-lhe jaacute uma coisa eu sou um bocado conservador nessas coisas O ensino agrave

distacircnciahellip sou conservador mas natildeo sou para parar o mundo O ensino agrave distacircncia vai ter cada

vez mais o seu papel mas eu acho que este contacto pessoal entre professoraluno entrehellip olhos

nos olhos a gente acompanhar o dia a dia etc eacute essencial para a gente perceber o que eacute que estaacute a

fazer se estaacute a ensinar se natildeo estaacute a ensinar se aquilo estaacute a ser uacutetil se natildeo estaacute a ser uacutetil etc

Agora o ensino agrave distacircncia tem potencialidades que permite transformar as distacircncias em

minutos Eacute possiacutevel hoje pela Internet jaacute haacute a oferta aiacute de uma seacuterie de mestrados e doutoramentos

e eu como jaacute sou velho faz-me um bocado de confusatildeo

E Mas como meacutetodo complementar digamos assim vecirc algumas virtudes nessahellip nessahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Jaacute jaacute tem virtualidades Eacute claro que se a gente conseguisse por exemplo em Timor os

professores depois de irem continuarem atraveacutes do ensino agrave distacircncia tirando duacutevidas tirandohellip

fazendo exposiccedilotildees etc ah Isso seria perfeitamente um sistema complementar de ensino

Agora naquele caso de Timor por exemplo se nunca laacute ningueacutem tivesse ido e se a gente tivesse

comeccedilado com o ensino agrave distacircncia isso era um absurdo aquilo natildeo servia para nada natildeo servia

absolutamente para nada

E Portanto sempre como meacutetodo complementar nunca como meacutetodo principal

B Como meacutetodo principal noutras condiccedilotildees noutros contextos de culturas jaacute diferentes etc

Acho perfeitamente possiacutevel como formaccedilotildees de 2ordm ciclo de 3ordm ciclo acho possiacutevel agora neste

contexto acho um disparate total

E Hoje o (entrevistado A) falava nahellip na questatildeo da evoluccedilatildeo sustentada isto eacute aahellip que

estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo deveratildeo sempre resultar nohellip que gradualmente passasse as acccedilotildees

de formaccedilatildeo para oshellip para os residentes no sentido de formar pessoas para darem continuidade

a estes projectos Eacute essahellip eacute esse o seu entendimento da cooperaccedilatildeo portuguesa em termos

dehellip

B A realidade eacute o que eacute e eacute incontornaacutevel Evidentemente que eu desejo a sustentabilidade

deste projecto como vocecirc disse Mas noacutes ainda agora acabaacutemos um projecto em Aacutefrica e eu sei

o que eacute que isso quer dizer tambeacutem aahellip mas o problema eacutehellip quando a gente trabalha em

situaccedilotildees de paiacuteses comhellip diferenccedilas culturais a ausecircncia do Estado das instituiccedilotildees etc satildeo

muito fortes a gente natildeo pode falar de sustentabilidade a gente pode formar professores e natildeo

sabe se depois de um ano de estarem na universidade jaacute esteja a falar a universidade funciona

os diversos serviccedilos da universidade funcionam etc quer dizer uma universidade natildeo eacute soacute as

pessoas a universidade eacute uma instituiccedilatildeo tem um conjunto de regras e tem a ver com a

sociedade onde estaacute inserida no meu ponto de vista Par ter uma universidade sustentaacutevelhellip

(interrupccedilatildeo) a gente natildeo pode ter soacute laacute professores e depois ter uma universidade uma

universidade eacute muito mais do que isso Satildeo bibliotecas satildeo laboratoacuterios para trabalho agrave agrave

sociedade etc Bom eu defendo essa ideia da sustentabilidade dos projectos como eacute evidente

mas natildeo (hellip) depende tambeacutem da evoluccedilatildeo da sociedade

E Mas agrave partida deve ser planeado com esse propoacutesito

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Com certeza que deve ser planeado com esse propoacutesito Mashellip vamos laacute a ver quer dizer

a sustentabilidade de um projecto universitaacuterio por exemplo em Timor como a engenharia

agraacuteria e fazendo por exemplo um paralelo com a sustentabilidade das universidades no nosso

paiacutes ou por exemplo ou se fizermos a histoacuteria para natildeo ir mais longe da Universidade de

Angola ainda no tempo colonial ou em Moccedilambique implicou uma vastiacutessima soma de

dinheiro uma formaccedilatildeo acelerada de quadros no estrangeiro que fizeram nos Estados Unidos da

Ameacuterica a maior parte das Ciecircncias Agraacuterias que eu conheccedilo que aquilo ainda natildeo estaacute em

condiccedilotildees de se suster neste momento E a universidade eacute uma universidade extremamente

jovem mas com muita aceleradamente formada havia essa disponibilidade financeira para isso

A gente deve planear os projectos com os paiacuteses com a noccedilatildeo absoluta de que podem ser

projectos falhados Noutros casos de desenvolvimento agriacutecola rural a gente planeia sempre os

projectos para a sustentabilidade Natildeo haacute nada maishellip (hellip) do que a hellip tomar-se a decisatildeo

desses projectos e ao fim de um ano deixam de ser sustentaacuteveis

E Claro No caso de Cabo Verde teve algum projecto que tivesse continuidade no tempo

B Sim vaacuterios projectos tecircm continuidade no tempo Cabo Verde tambeacutem eacute um paiacutes

especiacutefico natildeo eacute um paiacutes que se possa comparar aos outros paiacuteses de Aacutefrica Este nosso projecto

de ensino jaacute se repetiu noacutes jaacute demos dois cursos com a durabilidade de 2 anos e dentro de 6

anos estamos a preparar um outro para Cabo Verde que tem a ver com necessidades especiacuteficas

a primeira foi para as ciecircncias agro-florestais que era uma necessidade especiacutefica de quadros

para a parte (hellip) de Cabo Verde O segundo jaacute foi parahellip outra necessidade especiacutefica para a

proteccedilatildeo de plantas e era a Economia e Sociologia Rural e este terceiro jaacute eacute outra necessidade

especiacutefica tinha a ver com o Ambiente Bom satildeo pedidos que tecircm a ver com a proacutepria sociedade

cabo verdiana Satildeo sustentaacuteveis tambeacutem porque satildeo feitos no seio de uma instituiccedilatildeo de

investigaccedilatildeo que jaacute existe haacute 20 anos e que tem alguns projectos de investigaccedilatildeo e que tem o

seu trajectohellip

E Que eacutehellip

B Que eacute o INEDA - Instituto Nacional de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Agraacuterio de Cabo

Verde Logo Cabo Verde eacute um caso particular e mesmo assim a gente nunca repetiu ano a ano

a gente formou vinte e dois quadros no primeiro vinte e quatro no segundo e agora mais vinte e

tal temos outros paiacuteses lusoacutefonos temos caacute alguns alunos etc A questatildeo quer dizer eacute projecto

sustentaacuteveis haacute projectos sustentaacuteveis por exemplo eu dou-lhe o exemplo de um projecto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sustentaacutevel que eacute muito interessante que eacute o da (hellip) da altitude das nuvens que Cabo Verde com

os recursos naturais que temhellip que jaacute dura haacute muitos anos mas tambeacutem haacute imensos projectos

que acaba o financiamento este ano ehellip morrem

E E quem eacute que identifica normalmente essas aacutereas de formaccedilatildeo

B Eacute Cabo Verde Eacute Cabo Verde

E Eacute Cabo Verde que determina essahellip

B Satildeo os Cabo Verdianos eacute que fazem isso

E E o financiamento Eacute a partir do Governo Portuguecircs ou eacutehellip

B Eacutehellip satildeo normalmente financiamento externo uma parte financiamento externo (hellip) uma

parte e outra parte o Governo Portuguecircs no segundo curso foi numa parte o Governo Portuguecircs

uma parte o proacuteprio Governo Cabo Verdiano ahellip e alguma cooperaccedilatildeo algum paiacutes

Luxemburguecircs ou Austriacuteaco natildeo me lembro agora satildeo muitas coisashellip e neste terceiro estaacute-se a

discutir agora o modelo de financiamento natildeo sei Mas logo satildeohellip natildeo satildeo cursos caros mas

satildeo cursos que exigem algum financiamento

E Ahellip ehellip este tipo de projectos em que tem estado envolvido eu posso deduzir entatildeo que

vatildeo ao encontro da estrateacutegia de Portugal em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo ou seja natildeo satildeo acccedilotildees

individualizadas e da iniciativa da (nome da Escola e da Universidade Portuguesa a que pertence

o entrevistado) neste caso Estatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo definidas

pelo Governo Portuguecircs

B Para lhe responder a isso era preciso que eu estivesse convencido que haacute alguma estrateacutegia

da Cooperaccedilatildeo Portuguesa Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da cooperaccedilatildeo Aahellip estas coisas da

cooperaccedilatildeo pode haver uma estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do conhecimento das realidades

locais e de conhecimentos interpessoais

E Em Portugal

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Em Portugal com os outros paiacuteses laacute laacute com os outros paiacuteses Porque isso facilita

extraordinariamente a conversa ahellipa detecccedilatildeo dos problemas e das necessidades Por exemplo

Cabo Verde como eacute que comeccedila Comeccedila porque o Presidente do INEDA era um ex-agroacutenomo

daqui que tinha sido professor da Universidade de Lourenccedilo Marques que tinha que era um

bom cientista conhecido e que erahellip quer dizerhellip muito nosso conhecido o sentimento da

nacionalidade que vem de Cabo Verde haacute umas primeiras conversas ldquovocecircs podem responder

podem natildeo responderhelliprdquo

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo

B Natildeo passou muito pela estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de coisa nenhuma

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo e natildeo eacute o Governo os envolve a vocecircs

B Houve uma janela de oportunidade que foi uma verba disponiacutevel para o primeiro curso

houve o aparar com ambas as matildeos dessa instituiccedilatildeo no curso e depois eacute que houve a negociaccedilatildeo

com a Cooperaccedilatildeo Portuguesa Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portuguesa pode

haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo nenhuma nunca conheci nenhuma

E Podemos pensar que natildeo existe nenhuma estrateacutegia

B Nunca conheci nenhuma Depois evidentemente que a proacutepria cooperaccedilatildeo portuguesa

achou a experiecircncia bastante boa foi muito elogiada pela proacutepria cooperaccedilatildeo etcEu natildeo quero

ser vaidoso mas os Cursos de Timor nascem numa primeira reuniatildeo que tivemos em Coimbra

em que eu disse ldquo- eu tenho esta experiecircncia noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu

resultadohelliprdquo e a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade nenhuma natildeo foi

nenhuma habilidade especial foi delineado porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e

isto eacute uma maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estrateacutegia Soacute se houver

alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso assim haacute uns anos permanentemente nunca

conheci nenhuma estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesa

E Ou seja eu posso deduzir que as instituiccedilotildees que tecircm contactos e proximidade com

Governos ouhellip de outros paiacuteses com as instituiccedilotildees de ensino de outros paiacuteses eacute que acabam

por envolver-se no ensinohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Acabam Ateacute porque na experiecircncia que eu conheccedilo eacute assim pode-se afirmar isso Porque

para haver uma estrateacutegia era preciso que a cooperaccedilatildeo portuguesa dissesse ldquo- Noacutes queremos

apoiar isto quem se candidatarrdquohellip etc Seria ao contraacuterio natildeohellip nunca conheci nada disso

E E por acaso com com Timor eu julgo que foi um bocadinho em simultacircneo o Governo

Timorense pediu ao Governo Portuguecircs que negociou com o CRUP e houve ali um

entendimentohellip

B Sim mas teve que ver com o Governo timorense

E Exactamente

B Foi uma visatildeo do Padre Filomeno Jacob do meu ponto de vista

E Laacute estaacute agarrou uma oportunidade que lhe surgiu Mudando agora um bocadinho de

assunto indo para aacutereas um bocadinho mais delicadas ehellip talvez mais faacuteceis de discutir O

ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia dehellip de algumhellip de

alguma falta de qualidade aahellip por natildeo haver talvez ateacute articulaccedilatildeo o que eacute que acha destas

acusaccedilotildees que satildeo feitas ao ensino transnacional Uma vez que eacute coordenador de tantos

projectoshellip de ensino transnacional Isto aplica-se tanto aos privados como aos puacuteblicos a

niacutevel geral

B Evidentemente que tudo decorre de uma situaccedilatildeo que temhellip e agora vou falar a niacutevel

geral europeu de paiacuteses ricos paiacuteses pobres no ensino como em todos os outros eu acho que

tecircm tendecircncia a ter uma visatildeo neo-colonial das coisas Evidentemente que tecircm tendecircncia a poder

por um ensino de menor qualidade tecircm tendecircncia a facilitar de algum modo a haver algum

facilitismohellip mas esta eacute uma visatildeo natildeo propositada mas que as proacuteprias pessoas tecircm das

proacuteprias realidades com que se confrontam etc e tecircmhellip haacute certos casos agora jaacute natildeo tanto nos

anos 6070 dar diplomas a filhos da elite a troco de dinheirohellip etc

Tudo isto tem um passado e tem uma histoacuteria Natildeo muito nossa ateacute eacute mais dos Ingleses

dos Franceses tudo tem um passado e tem uma histoacuteria que soacute acaba quando estas proacuteprias

sociedades tiverem a formaccedilatildeo da sociedade civil que exija determinadas formas para o ensino

o que natildeo estaacute a acontecer neste momento Agora as acusaccedilotildees que se fazem sobre o ensino se

natildeo fizermos ensino transnacional tambeacutem natildeo fazemos nenhum E se natildeo fazemos nenhum e

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

haacute outra situaccedilatildeo ainda pior que eacute manter o analfabetismo a ausecircncia de quadros etc do meu

ponto de vista a transformaccedilatildeo dos paiacuteses menos desenvolvidos soacute laacute vai com a educaccedilatildeo natildeo

vai laacute de outra maneira E logo a educaccedilatildeo eacute a gente fomentar o maacuteximo de cursos possiacuteveis

porque mesmo que seja de qualidade agraves vezes menor isso vai crescendo a sociedade eacute como

uma bola vai segregando pessoas cada vez melhores vai sendo foco essencial para uma melhor

sociedade Agora pouco transparente em quecirc Em dinheiros Evidentemente se a gente vai

falar em transparecircncia natildeo falamos em ensino A histoacuteria dos uacuteltimos 35 anos poacutes Segunda

Guerra Mundial a eacutepoca de todos os apoios a avaliaccedilatildeo mundial eacute pouco transparente Aliaacutes a

gente pode fazer uma listagem dos projectos que satildeo fracassos absolutos que satildeo disparates que

satildeo natildeo sei quantohellip e pode atraveacutes desta ajuda puacuteblica ao desenvolvimento mais em benefiacutecio

dos paiacuteses ricos do que paiacuteses pobres Pouco transparente em quecirc Na qualidade de ensino

E Tambeacutem

B Tambeacutem Evidentemente que a noacutes que fazemos o possiacutevel nestes nossos projectos quer

no projecto de Timor para que ele tenha qualidade mas a qualidade tambeacutem eacute uma coisa

abstracta Este discurso da qualidade que agora atravessa Portugal eacute uma coisa que me faz muita

impressatildeo Natildeo haacute qualidade abstracta soacute haacute qualidades concretas neste concreto onde

vivemos Repare no exemplo em Timor os alunos seratildeo de qualidade inferior agrave meacutedia dos

nossos aqui satildeo capaz de ser um pouco Mas no concreto no contexto daquela sociedade eles

tecircm um conhecimento inestimaacutevel A qualidade natildeo eacute uma coisahellip aliaacutes eu quando estava a

falar sobre o prestiacutegio e sobre a qualidade em abstracto Tudo isto evidentementehellip haacute outro

paiacutes de Liacutengua Portuguesa que eacute uma desgraccedila a Guineacute Bissau o que era qualidade Do meu

ponto de vista saber ler e escrever jaacute era qualidade na visatildeo concreta das coisas Bom pode ter

um bocadinho menos de qualidade mas haacute uma tendecircncia quer dizer inevitaacutevel da raccedila

humana estatildeo aqui moccedilos que se deslocam laacute e apaixonam-se por aquilo e apaixonam-se pelas

pessoas pelos alunos e haacute uma tendecircncia de factohellip e esta paixatildeo natildeo leva ahellip tambeacutem a

reprovar toda a gente a facilitar um bocadinho etchellip porque satildeo coisas inevitaacuteveis e satildeo boas

no meuhellip na minhahellip na minha visatildeo

Agora evidentemente se me falar eu venho fazer ensino privado para as elites para os

filhos das elites dos corruptos daqueles paiacuteses que pagam natildeo sei quantoshellip e a gente daacute-lhe o

diploma quer dizer isso natildeo eacute transparente isso eacute uma fraude natildeo tem nada a ver com

transparecircncia eacute uma fraude E fraudes haacute aqui como tambeacutem haacute no traacutefico de diamantes haacute o

de droga isso natildeo eacute uma coisa diferente das outras

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Em relaccedilatildeo ao reconhecimento dos diplomas obtidos nestes paiacuteses isso ao niacutevel europeu

como eacute que se processa Haacute o reconhecimento imediato tecircm de se submeter aahellip a um

exerciacutecio de equiparaccedilatildeo ouhellip datildeo-lhe equivalecircncia como eacute que eacute

B A gente tem de ter algum cuidado nisto porque o reconhecimento dos diplomas para o

exerciacutecio profissional natildeo depende das universidades depende das ordens profissionais de cada

paiacutes E o que eacute que noacutes fizemos no caso de e temos vindo a fazer no caso dehellip nos casos de

Guineacute e Cabo Verde Noacutes soacute reconhecemos aquela formaccedilatildeo para efeitos de prosseguimento de

estudos

E Noacuteshellip

B Noacutes aquihellip (referindo o nome da Escola a que pertence) Para efeito de prosseguimento de

estudos a questatildeo do reconhecimento profissional eacute uma questatildeo dos paiacuteses de origem do

estudante E eu penso que natildeo nos devemos meter nisso Quer dizer os paiacuteses tecircm as suas

ordens juriacutedicas tecircm as suas coisas defendem os seus estudos profissionais agora para efeito

de prosseguimento de estudos noacutes reconhecemos quer eacute essa a nossa obrigaccedilatildeo somos

responsaacuteveis logo muitos dos alunos a que demos cursos em Cabo Verde jaacute vieram para caacute

proseguir os seus estudos ateacute obter depois o diploma que eacute o diploma depois da escola que eacute

reconhecido como qualquer diploma no contextohellipna licenciatura

E E digamos que ele queira exercer a profissatildeo num paiacutes Europeu

B Se tirar a licenciatura aqui eacute o diploma da escola se tirar laacute depende do reconhecimento

das ordens profissionais Depende das ordens profissionais Eu tenho aqui trecircs alunos de

mestrado emhellip de Angola veterinaacuterios que estatildeo a submeter-se ao reconhecimento da ordem de

meacutedicos veterinaacuterios para poderem exercer

As universidades natildeo se devem meter nessas coisas do reconhecimento dashellip isso eacute uma

questatildeo de cada paiacutes e as ordens profissionais eacute que devem fazer o reconhecimento profissional

Noacutes devemos reconhecer sempre do meu ponto de vista para prosseguimento de estudos

E O que eacute que acha dashellip chamadas Agecircncias de Avaliaccedilatildeo e de Regulaccedilatildeo do Ensino

Transnacional aquelas redes que hoje em dia vatildeo surgindo como forma de mecanismo de

controlo da qualidade do ensino transnacional A que as instituiccedilotildees aderem se quiserem natildeo

satildeo obviamente obrigadas a isso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Quer dizer eu natildeo sei o que eacute que vocecirc vai fazer agrave entrevista mas se quer mesmo saber o

que eacute que eu penso sobre issohellip

E (risos) O que eacute que eu vou fazer vou analisaacute-lo e tentar retirar oshellip

B O que eacute que eu pensohellip eu penso que eacute outra forma de arranjar algumas formas de ganhar

dinheiro para as universidades do fundo de desenvolvimento O problema eacute quer dizer na

sociedade que noacutes vivemos cada vez mais aberta a questatildeo da avaliaccedilatildeo vem porquecirc Porque a

universidade se transformou nos uacuteltimos 10 anos A universidade no seu sentido etimoloacutegico

atirava para a cultura universal e principalmente atirava para o universitaacuterio era aquele que tinha

uma abertura de espiacuterito para a cultura para a sociedade que o rodeava Com a transformaccedilatildeo

das universidades em maacutequinas de encher salsichas ou seja com esta especializaccedilatildeo que levou

ao avanccedilo brutal do ensino superior em todo o sitio aparece a avaliaccedilatildeo necessaacuteria para fazer

reconhecer os que satildeo mais seacuterios e os que satildeo menos seacuterios natildeo eacute

O problema que se potildee eacute e aparece quer dizer no fundo no seguimento dahellip da histoacuteria

das universidades dos Estados Unidos Nos Estados Unidos como toda a gente sabe haacute das

melhores universidades do mundo mas tambeacutem haacute das piores universidades do mundo e logo

quer dizer a sua avaliaccedilatildeo eacute necessaacuteria para dar uma resposta no fundo aos clientes Tem que

entender as universidades como um mercado os alunos como clientes e o produto final cada

licenciatura eacute transformada na economia de mercado

E O professor desculpe natildeo perca a ideia com o GATS aahellip e com a introduccedilatildeo da

educaccedilatildeo no GATS na economia de mercadohellip

B Eu ia laacute chegar

E hellip estamos precisamente a caminhar para o mesmo

B Pois eu jaacute laacute ia chegar Estamos a caminhar para o mesmo soacute que para mim eu jaacute estou a

caminhar para a reforma E por isso espero natildeo vir a reunir muitas dessa coisas Porque

evidentemente que com com os programas europeus com a mobilidade com essa tudo isso

noacutes temos de caminhar para essa avaliaccedilatildeo para o ranking das universidades para essas coisas

todas Agora evidentemente transpondo isto para o outro contexto do Sul dos paiacuteses mais

pobres etc essas redes servem para dar o aval a algumas universidades para terem acccedilotildees de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino transnacional E logo porque eacute que o ensino que a nossa instituiccedilatildeo faz haacute-de ser pior

que o ensino dos Australianos para dar o caso de Timor etcEacute porque essa gente diz sim ou

natildeo Entatildeo e essa gente obedece a que valores Satildeo valores de tendecircncia poliacutetica ou satildeo valores

soacute universitaacuterios Quer dizer a questatildeo toda tem de ser estudada Eu natildeo sou especialista destas

coisas mas faz-me muita impressatildeo que haja um ranking dado por uma rede que ningueacutem sabe

como daacute A que valores eacute que obedece O que eacute que quer quer dizer etc O valor eacute soacute essa

causalidade do ensino em abstracto quer dizer ou eacute o contexto concreto de que falaacutevamos haacute

bocado Ora tudo isso satildeo paracircmetros que teratildeo de ser julgados natildeohellip tambeacutem natildeo sou grande

especialista nisso

E Vecirc com alguma renitecircncia essahellip

B Com alguma dificuldade de ser seacuterio Eu vejo eacute com alguma dificuldade de ser seacuterio

Logo como vejo com dificuldade de ser seacuterio e como tenho medo das coisas que natildeo satildeo

seacuteriashellip

E Por exemplo ainda voltando a outra questatildeo sobre a regulaccedilatildeo a Austraacutelia por exemplo eacute

um paiacutes que tentou absorver nas suas estruturas de ensino formais o ensino transnacional como

forma dehellip regulaccedilatildeo porque desta forma as instituiccedilotildees vecircem-se obrigadas ahellip

B A obedecer a determinados criteacuterioshellip

E A obedecerem mesmos criteacuterios que as instituiccedilotildees formais Isso seria uma hipoacutetese que

veria comohellip como viaacutevel por exemplo

B Eu natildeo sei Moacutenica eacute-me difiacutecil responder a isso porque eu natildeohellip natildeo sou grande

especialista nessa mateacuterias nem estudei aprofundadamente isso Mas natildeo eacute soacute a Austraacutelia isso

a histoacuteria comeccedila muito antes por exemplo nos anos 50 e 60 os Ingleses tinham ensino

universitaacuterio para Ingleses e tinha ensino universitaacuterio para os Indianos para os Paquistaneses

quer dizer haacute toda uma histoacuteria atraacutes que tem a ver comhellip e haacute um desenvolvimento fantaacutestico

das universidades em toda em toda a Aacutefrica a Aacutefrica tem muitas mais pessoas formadas do que

tinha haacute 30 anos atraacutes ou 40 anos atraacutes Agora o que eacute que nos diz que satildeo as universidades

deste ponto de vista que daacute o confere ou o atestado de bom cumprimento agraves universidades Eu

acho que todas as inter-ligaccedilotildees todos os projectos de investigaccedilatildeo todas as mobilidades satildeo

possiacuteveis mas quer dizer ainda acho quehellip sabe a gente natildeo pode discutir isto sem discutir as

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

opiniotildees que tem sobre esta questatildeo toda da globalizaccedilatildeo toda do mundo actualhellipessahellip porque

eacute que a gente haacute-de achar que o ensino aqui tem de ser igual ao ensino no Norte de

Moccedilambique Porque eacute que o Norte de Moccedilambique a partir do seu contexto natildeo pode ter as

experiecircncias de ensino que se adaptem mais agrave sua sociedade agraves suas necessidades etc do que

ter agora quer dizer isto tudo vai tender para 3 graus 4 em 4 mais 1 mais 1 mais natildeo sei quecirc

e haacute-de ser tudo igual haacute-de ser tudo ldquoamericanozinhosrdquo formados a 3 e se possiacutevel com a farda

com a bandeira americana

E Eacute o produto da globalizaccedilatildeo natildeo eacute

B Mas faz-me impressatildeo esse mundo e como me faz impressatildeo esse mundo eu tenho

tendecircncia a discutir estas questotildees natildeo da regulaccedilatildeo mas a pender para a individualidade das

questotildees dos paiacuteses A gente anda muito preocupado com a biodiversidade do mundo e natildeo nos

esqueccedilamos da biodiversidade da raccedila humana dos seus contextos histoacutericos das suas culturas

Como eu me importo um pouco com isso acho que a resistecircncia cultural a um mundo uacutenico eacute

uma chave ideal para o mundo do futuro E por isso acho defendo a individualidade de ter

cursos diferentes conforme as culturas das sociedades porque senatildeo este mundo passa para o

continente uacutenico a sentirem todos o mesmo verem todos o mesmo programa de televisatildeo a

comerem todos hamburgueses e ldquofrench-friesrdquo que aquilo eacute uma hellip natildeo tem ponta por onde se

lhe pegue

E Como eacute que os paiacuteses que recebem ensino transnacional tecircm reagido agrave nossa presenccedila agrave

presenccedila de Portugal no seu sistema de ensino Ou seja noacutes os nossos cursos as licenciaturas

portuguesas tecircm sido bem recebidas tecircm-se integrado rapidamente Ou pelo contraacuterio haacute

algumas forccedilas de resistecircncia quer por parte das licenciaturas que jaacute existem nesses paiacuteses e ateacute

por parte dos Governos

B Haacute sempre algumas forma de resistecircncia e ainda bem que haacute quer dizer no casos que eu

conheccedilo bem nomeadamente Cabo Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente

que noacutes integraacutemos alguns Cabo Verdianos como professores mas haacute sempre a uacuteltima tentativa

de diversos quadros formados em vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo- noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a gente natildeo vai tirar nenhum

mercado de trabalho queremos eacute sair quando aquilo for sustentaacutevel etc e no caso de Timor

conhece-se alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com os professores da

chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute estava que nos viam como invasores como tirar o

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mercado de trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existir Evidentemente

que se a gente quiser ir a um paiacutes qualquer e uma das universidades chegar em forccedila e tomar

conta do ensino haacute resistecircncia desses paiacuteses e ainda bem que haacute Mas imagine jaacute se o ensino

for muito forte e se puder ir avanccedilando a pouco e pouco essa resistecircncia esbate-se E que

medida eacute que a gente tem que ter A gente tem que ter uma medida que a gente vai bate e foge

quer dizer tem que tornar claro que a nossa acccedilatildeo de formaccedilatildeo eacute para sair mais tarde de facto o

caminho eacute a sustentabilidade e ter que estar laacute enquanto formos necessaacuterios quando natildeo formos

necessaacuterios natildeo haacute nenhuma nenhumahellip sustentaccedilatildeo neo-colonial de substituir os quadros

locais por quadros estrangeiros

E segundo agraves vezes tambeacutem haacute resistecircncias que satildeo resistecircncias que tecircm a ver com os

diferentes niacuteveis de qualificaccedilatildeo e isso quer dizer satildeo problemas mais gerais e se o niacutevel for

muito baixo as pessoas que vecircm de fora potildee em causa muitos quadros existentes que natildeo tecircm

muitas vezes preparaccedilatildeo e isso reflecte-se nos profissionais normais a um niacutevel dos chamado

institucional nunca vi nenhuma resistecircncia antes pelo contraacuterio

E Como eacute que explica por exemplo que em Timor e passado jaacute um ano depois da

independecircncia consigam subsistir cerca de vinte e tal universidades privadas para aleacutem da

Universidade Nacional de Timor Leste pela sua experiecircncia como eacute que acha possiacutevel a

subsistecircncia a permanecircncia de tantas aahellip instituiccedilotildees de ensino num paiacutes como Timor

B Se eu fosse Catoacutelico eu diria que Deus explicaraacute os milagres se fosse Muccedilulmano dizia

que era Alaacute Eu natildeo consigo explicar isso a natildeo ser por duas questotildees a questatildeo demograacutefica eacute

essencial para a gente explicar isso noacutes natildeo temos instituiccedilotildees que absorvam ningueacutem e temos

um nuacutemero muito grande de jovens a partir dos 18 anos e essa populaccedilatildeo natildeo tem perspectivas

de vida econoacutemica e logo pode andar nestes cursos todos a tentar alguma coisa mas tambeacutem a

ver se isso daraacute passagem depois para a Indoneacutesia com uma licenciatura aprovada etc A maior

parte desses cursos viveratildeo de de muito pouco dinheirohellip

E Do ponto de vista das instituiccedilotildees eacute que me faz um bocadinho mais de confusatildeo

B Do ponto de vista do Governo de Timor eacute que faz confusatildeo

E Do Governo e tambeacutem das proacuteprias instituiccedilotildees porque lucrativa a sua actividade natildeo

devem ser natildeo eacute Portanto natildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B A Moacutenica estaacute completamente enganada porque eacute simples a nossa noccedilatildeo de lucrativa natildeo

eacute a noccedilatildeo de lucrativa desses paiacuteses quer dizer e quando vocecirc fala em lucrativa aquilo um

pequenohellip um pequeno lucro as pequenas propinas pequeno lucro pequenos ordenados

corresponde a uma saiacuteda de vidahellip

E hellip para muita gente

B O que eacute lucrativo tambeacutem a gente estaacute a falar em 80 da populaccedilatildeo que natildeo tem receita

nenhuma e aquihellip olhe para lhe dar o exemplo que tem agora o golpe de Satildeo Tomeacute um oficial

de Satildeo Tomeacute ganha hellip 40 euros a noccedilatildeo de lucro eacute uma noccedilatildeo que tem que serhellip tambeacutem

levada ao contexto ao concreto Evidentemente que se eu tiver 30 alunos e cada aluno pagar 10

euros e se eu tiver dois professores os dois professores jaacute estatildeo num niacutevel superior dessa

sociedade e outras questotildees que se devem ver na sua devida relatividade Mais impressionante

talvez eacute como eacute que se autoriza isto e quem eacute que daacute estes diplomas haacute diplomas que ficamos

sem perceber nada quer dizer ldquo- mostre caacute o diploma para que eacute que isto serve Anda a

enganar timorensesrdquo Haacute toda uma questatildeo aiacute a estudar para saber o que eacute que eacutehellip e num estudo

de caso a gente tiraria o que eacute que eacute aquilo A gente estaacute a falar um pouco no vazio A gente

estamos a falarhellip

E Eu tambeacutem duvido que se faccedilahellip

B Aliaacutes vocecirc esteve comigo outro dia com a Vice-ministra da Educaccedilatildeo (de Timor) e

apercebeu-se que a gente fosse perguntar sobre isto agrave Vice-ministra da educaccedilatildeo ela tambeacutem natildeo

sabia responder Aliaacutes eacute nesta relatividade do contexto a que pode chamar-se universidades a

uma coisa com umas cadeiras que ensina a ler e escrever e que como natildeo haacute mecanismos para

mostrar se aquilo eacute legal se natildeo eacute legalhellip noacutes vivemos aindahellip na ausecircncia de Estado e depois

quer dizer sem qualquer restriccedilotildees e regrashellip uma universidade natildeo eacute uma ilha eacute uma

universidade como eacute evidente

E Uacuteltima questatildeohellip

B Aliaacutes muitas daquelas devem dar cursos de inglecircs que eacute para as pessoas tiraremhellip

E (Risos) Para virem trabalhar para a Europa ou para a Austraacutelia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Deve ser uma coisa dessas

E Finalmente como avalia aahellip a meacutediolongo prazo os resultados da presenccedila de Portugal

em Timor e tambeacutem porque natildeo em Cabo Verde no que respeita ao desenvolvimento cultural

cientiacutefico econoacutemico etc

E Tudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro vantagens extraordinaacuterias E as

vantagens que satildeo extraordinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos

professores agraves escolas agraves universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se durar

uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de investigaccedilatildeo conjunta as trocas

conjuntas os seminaacuterios etc Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro

eacute um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem natildeo tecircm relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para

a Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura portuguesa quer dizer

portanto aliaacutes ainda hoje esteve aqui uma aluna minha de doutoramento que esteve laacute a dar

aulas recebe cartas dos alunoshellip recebeu agora uma carta dos alunos sabem que ela se vai

casarhellip a desejar-lhe muitas felicidadeshellip a perguntar se quer prenda a pedir coisas etc e tudo

isso eacute satildeo ligaccedilotildees para a vida

Aliaacutes da minha experiecircncia laacute que eu jaacute trabalho em Aacutefrica haacute muitos anos as relaccedilotildees

pessoais e o conhecimento pessoal com as pessoas ainda satildeo aquilo que faz a gente prosseguir

gostar das pessoas etc Isto seraacute o computo geral Agora qual eacute a visatildeo no futuro mas o futuro

depende de uma coisa que vocecirc jaacute disse aiacute que existia que eu natildeo sei se existe que eacute a estrateacutegia

de cooperaccedilatildeo eacute a estrateacutegia do investimento eacute a estrateacutegia da presenccedila Portuguesa os Centros

Culturais Portugueses quer dizer as bibliotecas aquilo que satildeo os investimentos natildeo tangiacuteveis

especialmente natildeo tangiacuteveis mas que eacute permanentemente levar cultura espectaacuteculo livros

ensino senatildeo natildeo daacute quer dizer o Centro Cultural Portuguecircs da Guineacute darem uns cursos no

Centro Cultural Portuguecircs de Liacutengua Francesa Haacute aqui uma seacuterie de coisa que tecircm a ver aiacute com

estrateacutegias de cooperaccedilatildeo com poliacutetica que eu natildeo me queria meter

Agora do ponto de vista do futuro das nossas universidades o que eu sei o conhecimento

interpessoal eacute absolutamente vital para estas pessoas se nunca nenhum professor tivesse ido a

Timor dar aulas a gente natildeo sabia de nada do que laacute estava

E Sim e conveacutem natildeo esquecer que a cultura portuguesa estaacute ali

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Eacute absolutamente vital eacute talvez do meu ponto de vista o mais vital Eacute um investimento

muito barato para o papel a niacutevel futuro da presenccedila portuguesa

E Muito bem agradeccedilo-lhe muitohellip

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO V

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm3

Entrevista realizada a um ex-reitor de uma Universidade Puacuteblica

Portuguesa alto responsaacutevel no Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas agrave data do iniacutecio do Programa de

Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor-Leste

7 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador C = entrevistado C E Entatildeo a primeira questatildeo aahellip que eu tenho para lhe colocar e vou fazer talvez uma

introduccedilatildeo para nos contextualizarmos o ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 tanto

quanto se sabe e estaacute nos livros e embora tenha assumido ao longo dos diferentes anos em que

tem evoluiacutedo diferentes nomenclaturas nomeadamente a internacionalizaccedilatildeo do ensino eacute o que

se tem normalmente chamado ou o desenvolvimento da cooperaccedilatildeo noutros paiacuteses etc o ensino

transnacional eacute um fenoacutemeno que natildeo eacute novo que natildeo eacute recente E que abrange jaacute vaacuterias

instituiccedilotildees de ensino portuguesas Partindo deste pressuposto desta introduccedilatildeo a minha pergunta

eacute se acha que as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas aahellip tecircm retirado algum proveito da

promoccedilatildeo de ensino transnacional ouhellip

C Repare se entender por ensino transnacional a oferta do ensino do ensino superior num

paiacutes diferente do de origem das instituiccedilotildees eu julgo que eacute isso ohellip natildeo tenho notiacutecia de muitas

iniciativas das instituiccedilotildees portuguesas fora do territoacuterio nacional a natildeo ser a iniciativa de Timor

porque digamos foi tatildeo faladohellip ahellip e a cooperaccedilatildeo das universidades puacuteblicas em vaacuterias

iniciativas nas instituiccedilotildees portuguesas uma eacute a MCarthy que eacute uma boa iniciativa da Gulbenkian

para Moccedilambique foi pena natildeo ser mais desenvolvida houve ali uma oportunidade que creio natildeo

foi suficientemente desenvolvida haveraacute em Cabo Verde algumas tambeacutem que eacute o caso mais

diversificado de iniciativas vocecirc pode chamar a todas de iniciativas de ensino transnacional e

depois Timor Mas Timor eacute que me parece serhellip configura-se como (hellip) Natildeo haacute em nenhuma

destas iniciativas um objectivo claramente comercial nem de se quiser de aproveitamento de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

benefiacutecios imediatos por parte das instituiccedilotildees que se envolveram No caso de Timor houve

claramente uma iniciativa de solidariedade para com Timor

E Mas esseshellip as outras experiecircncias anteriores que satildeo conhecidas acha que o objectivo que

as move eacute o mesmo

C Estamos a falar naquelas que conheccedilo na experiecircncia com Moccedilambique que faz a

Gulbenkian tambeacutem foi um objectivo dessa natureza foi um objectivo de solidariedade para com

as universidades de Moccedilambique numa altura em que Moccedilambique estava a ressurgir da guerra

de 77 e que houve condiccedilotildees para retomar a cooperaccedilatildeo basicamente foihellip os outros natildeo

conheccedilo nem como presidente do CRUP estive minimamente envolvido nemhellip aqui na

Universidade de (hellip) eu acompanhei por exemplo noacutes nunca fizemos em relaccedilatildeo a Cabo Verde

uma iniciativa especialmente preparada nem temos muitahellip precisamente porque aqui na

Universidade tivemos a percepccedilatildeo de que havia jaacute tanta gente envolvida que natildeo valia a pena

estarmos a ser mais uma universidade a envolver-se

Agora o que euhellip portanto e respondendo mais directamente agrave sua pergunta natildeo creio

que tenha havido agrave parte de Timor e Moccedilambique neste caso uma iniciativa organizada geral das

universidades teraacute havido com certeza universidade a universidade mas essas eu natildeo conheccedilo O

que me permite dizer uma coisa que jaacute tenho vindo a dizer haacute muito tempo eacute que eacute uma falta

grave do sistema de ensino superior portuguecircs esta falta de organizaccedilatildeo parahellip para estar

presente ou acolher porque pode tambeacutem fazer-se ao contraacuterio ter uma oferta dirigida

naturalmente para destinataacuterios que natildeo sejam portugueses residentes

E Neste caso por exemplo vagas especiais um contingente de vagas especiais

C Natildeo sei se eacute isso tem que se arranjar um modelo exactamente Podia existir

exactamente cursos ouhellip ouhellip campos existentes ou mesmo cursos que fossem pensados e

desenhados para candidatos que natildeo satildeo necessariamente aqueles que habitualmente acedem ao

ensino superior Portanto eu cheguei a defender isso em tempos enquanto presidente do CRUP

que a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior universitaacuterio portuguecircs ainda estava por fazer de uma

forma proacute-activa Acontecia mas acontecia porque tinha que acontecer Acontecia porhellip por via

dos factos mas essa demonstrava o que evidenciava que isto era um mercado um mercado num

sentido de poder haver procura e poder haver capacidade de oferta eu julgo que nunca foi incluiacutedo

dentro das condiccedilotildees das instituiccedilotildees de ensino superior e portanto nunca deram fruto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E considera que nunca teve na linha da frente das preocupaccedilotildees das universidades porque

pouco elas retiram dessas experiecircncias

C Natildeo necessariamente natildeo necessariamente natildeo necessariamente Natildeo digo que seja essa

a razatildeo O resultado pode ser esse o resultado pode ser esse Natildeo eu acho que repare o

seguinte haacute uma outra dificuldade eacute que por exemplo noacutes natildeo tiacutenhamos um sistema de

pagamento de propinas que permite ter no sistema de estudantes natildeo nacionais ou natildeo residentes

na Uniatildeo Europeia a pagar os custos reaise eacute oacutebvio que haacute um problema de natureza ateacute

poliacutetica saber se o sistema deve oferecer a natildeo nacionais lugares ao preccedilo que oferece aos

nacionais ou natildeo pagando propinas por exemplo como sabe natildeo eacute essa a praacutetica habitual em

projectos transnacionais e portanto noacutes natildeo natildeo tiacutenhamos nas universidades por ventura o

enquadramento adequado para as universidades portuguesas defenderem uma politico nessa

direcccedilatildeo Portanto eu natildeo creio que seja por natildeo poderem tirar daiacute vantagens mas eacute mais por natildeo

terem existido ateacute agora condiccedilotildees de governo das instituiccedilotildees onde elas pudessem tomar essa

opccedilatildeo e pudessem geri-la com a autonomia que se deve ter de modo a entatildeo sim avaliarem os

custosbenefiacutecios e inscreverem ou natildeo na sua comissatildeo Tambeacutem eu creio que a experiecircncia de

Timor demonstrou eacute um dos tais projectos que eu jaacute natildeo acompanho haacute muito tempo que oshellip

que porem outras missotildees em cima dos universitaacuterios quando eles jaacute estatildeo tatildeo divididos entre as

inuacutemeras tarefas que tecircm a fazer soacute deve acontecer quando existirem condiccedilotildees para eles para

poder haver distribuiccedilatildeo de tarefas e de funccedilotildees de uma maneira mais evidente de modo a que

aquilo que se faz seja claramente bem feito e feito comhellip com o tempo que as pessoas possam ser

disponibilizadas para isso portantohellip

E Claro

C Pode haver tambeacutem este problema como eacute que as universidades pagam esse esforccedilo extra

de ter um programa dirigido para um para um puacuteblico diferente daquele que eacute o puacuteblico habitual

que as frequenta Pode haver um problema desta natureza mashellip a mim parece-me que eacute um

caminho que pode trazer benefiacutecios agraves instituiccedilotildees Noacutes estamos no entanto a esquecermo-nos de

que jaacute estamos naquilo que acontece ao niacutevel da formaccedilatildeo doutoral e na formaccedilatildeo doutoral

nomeadamente no quadro da Uniatildeo Europeia e das redes de cooperaccedilatildeo cientiacutefica europeias mas

tambeacutem de outros paiacuteses noacutes jaacute temos um nuacutemero muito grande de pessoas que vecircem caacute fazer o

doutoramento ou que fazem alternacircncia passaratildeo caacute um periacuteodo e outro noutra instituiccedilatildeo com

claros benefiacutecios para as nossas instituiccedilotildees temos essa possibilidade

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E o Professor percebeu que eventualmente haveria alguns benefiacutecios que as instituiccedilotildees

pudessem retirar do ensino transnacional Quer-me dar o exemplo de alguns

C Pois uma delas eacute criar um ambiente mais internacionalizado nas proacuteprias instituiccedilotildees e

isso a internacionalidade quer pelo facto dos seus docentes se envolverem nesse ambiente quer

pelo facto dessas ofertas poderem ter um desenho em que os estudantes passem um tempo no

proacuteprio campus das universidades ou nas escolas nos siacutetios onde as universidades tecircm as suas

origens e portanto haacute uma grande internacionalizaccedilatildeo de ambos portanto essa eacute logo uma Mas

pode como haacute bocadinho jaacute lhe referi e se a poliacutetica de pagamento de propinas lhe permitir o

pagamento dos custos que a instituiccedilatildeo entender que deve ter pode ter aiacute um retorno que seja

interessante Aahellip pode finalmente contribuir para instaurar uma verdadeira escola de poacutes-

graduaccedilatildeo em Portugal porque noacutes estamos ainda no comeccedilo da formaccedilatildeo poacutes-graduada e

portanto pode esse tipo de puacuteblico adiantar alguma actividade de poacutes-graduaccedilatildeo sistemaacutetica e

com um certo tipo de objectivos de desenvolvimento interessantes

E O professor considera que e partindo do princiacutepio que haacute maior competitividade entre as

instituiccedilotildees universitaacuterias a niacutevel nacional e ateacute a niacutevel europeu uma vez que estamos num

mercado global no contexto da globalizaccedilatildeo aahellip e focalizando-nos essencialmente no ensino

transnacional de Portugal em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa acha que o aumento de ensino

transnacional de Portugal para outros paiacuteses pode ser considerado uma fuga para a frente no

sentido que as universidades tecircm cada vez menos alunos o corpo docente precisa de ser

potencializado digamos assim aahellip e entatildeo vamos aumentar o ensino transnacional como forma

de mantermos o nuacutemero de docentes como forma de continuarmos as actividades e alguma ateacute

alguma internacionalizaccedilatildeo Vecirc isso como uma fuga para a frente ou natildeo

C Vamos laacute a ver o problema tem de se por nestes termos essa aacuterea de graduaccedilatildeo eacute uma aacuterea

extremamente competitiva portanto soacute vatildeo ter hipoacutetese de ter uma intervenccedilatildeo minimamente

significativa as instituiccedilotildees que tenham qualidade Natildeo estou aqui a incluir o trabalho com as ex-

coloacutenias portuguesas nomeadamente em Aacutefrica natildeo eacute onde haacute claramente uma carecircncia docente

e pode acontecer que haja algum espaccedilo para oferta nesses proacuteprios paiacuteses e estamos a ver isso

com algumas instituiccedilotildees privadas Aahellip ora bem eu natildeo gostaria que as Universidades

Portuguesas aahellip sobretudo as Universidades Puacuteblicas que eu conheccedilo melhor aahellip tomassem

digamos entrassem em pacircnico com a situaccedilatildeo que existe de menos procura pelos habituais

destinataacuterios do ensino superior portanto a faixa etaacuteria de 18-24 anos Mas antes tomassem esta

conjuntura para se darem conta de que haacute um excesso de oferta do mesmo tipo hatilde Noacutes se

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

compararmos aquilo que eacute oferta de ensino superior em Portugal haacute oferta muito pouco

diversificada natildeo haacute verdadeiramente formaccedilatildeo diferenciada de ofertas e de tarefas natildeo temos

formaccedilotildees curtas praticamente nenhumas se formos aos Estados Unidos e maior parte dos

estudantes que frequentam o ensino superior entendendo por ensino superior todo o ensino poacutes-

secundaacuterio natildeo estatildeo em programas de ensino daqueles que noacutes apostamos estatildeo em programas

de ensino conducentes a diploma outros com diplomas de 6 anos mas ateacute podem se diplomas

com graduaccedilatildeo superior mas frequentemente diplomas de 6 anos eacute muito comum nos Estados

Unidos e no Canadaacute 60 da populaccedilatildeo do ensino superior dos vaacuterios Estados estarem em cursos

desses conducentes a diploma e natildeo de licenciatura em Portugal natildeo existe essa oferta Portanto a

pergunta que se tem eacute quem vai oferecer quem eacute que faz essa oferta nomeadamente quando

voltar a crescer o ensino secundaacuterio para niacuteveis tais que haja outra vez procura desse tipo de

formaccedilotildees natildeo eacute Portanto haacute aqui um problemahellip

E por isso eacute que eu digo natildeo gostaria de acreditar que o ensino superior em Portugal vai

tentar resolver a conjuntura actual sem pensar que deve diversificar a sua oferta porque aiacute eacute que

estaacute a resposta aos problemas Natildeo eacute a oferta transnacional aiacute seratildeo muito poucos os ganhadores

se falarmos em ganhadores aqueles que entram nesse mercado para ficar e ao entrar para ficar

tecircm que ter uma qualidade que lhes permita competir com a oferta em liacutengua Inglesa por

exemplo Portanto isso natildeo vai ser para todos

E Eacute o mais apeteciacutevel natildeo eacute por parte da procurahellip

C Claro que eacute por enquanto Pode ser que isto mude e que haja espaccedilo ateacute para uma

estrateacutegia para o mundo que fala Portuguecircs e Espanhol e portanto haveria tambeacutem que haver lugar

a algumas instituiccedilotildees posicionarem-se para esse mercado Portuguecircs e Espanhol e ateacute fazer

alianccedilas mas em qualquer dos casos um posicionamento seacuterio e de meacutediolongo prazo para a

oferta de ensino superior transnacional natildeo vai estar ao alcance de todos e quem fizer essa natildeo

deve fazecirc-lo de uma forma oportunista isto eacute ldquo- eu vou ali tentar mais um ano ou doishelliprdquo

porquecirc Porque natildeo deve isso obriga a um reposicionamento da instituiccedilatildeo a uma distribuiccedilatildeo

interna dos recursos agrave aprendizagem dessahellip desse tipo de actividade etc

Agora se as instituiccedilotildees natildeo estiverem para aiacute voltadas e quiserem realmente apenas

fazer mudar isso para aguentar um bocadinho a conjuntura admito que uma ou outra possa ser

melhor algum tempo mas natildeo tenho nenhuma duacutevida que entrar aiacute para ficar natildeo vejo estar ao

alcance de todos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O modelo que hoje em dia inclusivo aqui na Universidade (hellip) comeccedila a surgir quando

haacute velocidade de informaccedilatildeo e modelos de ensino agrave distacircncia ndash e-learning como eacute que vecirc no

futuro o ensino transnacional em funccedilatildeo do e-learning ou seja acha que esse tipo de formaccedilatildeo de

ensinoaprendizagem pode substituir o ensino presencial no que toca ao ensino transnacional

C Bem ningueacutem eacute capaz de dizer qual eacute o papel exacto que o ensino agrave distacircncia o e-learning

vai ter No entanto toda a gente que eu tenho visto pronunciar-se com alguma percepccedilatildeo e

conhecimento desse tipo de ensino sugere eacute que ele vai ter uma presenccedila e uma presenccedila muito

significativa O que eu costumo dizer eacute talvez natildeo seja possiacutevel dizer jaacute qual vai ser o papel do

ensino agrave distacircncia mas que ele vai ter um papel e um papel muito forte vai ter E tanto vai ter no

territoacuterio nacional como vai ter no internacional e portanto noacutes aqui nas primeiras iniciativas que

fizemos vimos logo que havia muita gente interessada de variadiacutessimos territoacuterios e portanto haacute

lugar para isso Mas eu volto a insistir quem quiser posicionar-se para a utilizaccedilatildeo dessa

tecnologia e desse mundo tem de ser capaz de o fazer muito bem

E Tem de se profissionalizar

C Tem de fazer muito bem

E Tem que ter qualidade

C Portanto voltamos agravequilo que eu haacute bocado lhe dizia eu acho que eacute um bom momento

para as instituiccedilotildees se posicionarem perante o mercado e o mercado aqui significa oferta nacional

diversificada em que se inclua a capacidade de ter um nuacutemero muito grande de pessoas eu agora

jaacute natildeo falo apenas sobre os 18-24 mas tambeacutem adultos em formaccedilotildees natildeo conducentes a grau isto

natildeo existe vai ter que existir e se o ensino superior puacuteblico natildeo se posicionar para isto isto vai

aparecer por si proacuteprio porque vai haver muita gente que realmente querem vir aprender certo

tipo de coisas este tipo de competecircncias mas natildeo querem caacute vir fazer um grau Portanto quem eacute

que vai oferecer isso Natildeo havendo uma oferta evidente algueacutem iraacute oferecer portanto eacute preciso as

instituiccedilotildees posicionarem-se para isso Eacute preciso decidirem se querem realmente entrar a seacuterio na

formaccedilatildeo poacutes-graduada no mestrado e doutoramento a competir com as ofertas que existem neste

tipo de formaccedilatildeo para as pessoas que existem no territoacuterio e aiacute sim para outras fora do territoacuterio

nacional

Quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer istohellip e por sua vez quem eacute que se torna

competitivo quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer isto em parcerias internacionais europeias

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

multi-linguiacutesticas com o uso da liacutengua portuguesa com outras liacutenguas ouhellip portanto haacute aiacute um

grande espaccedilo e noacutes noacutes sentimos aqui em (hellip) haacute oportunidade para fazer isso quem eacute quehellip

sim senhora quem eacute que faz o quecirc natildeo faz sentido competir em todas as aacutereas mas haacute lugar para

isso Como eacute que nos vamos organizar eu acho que este eacute um desafio para as unihellip para

corresponder e tecircm-me chegado vaacuterias solicitaccedilotildees dos antigos territoacuterios coloniais portugueses

nomeadamente em Aacutefrica Angola e Moccedilambique que satildeo grandes espaccedilos satildeo espaccedilos que vatildeo

tendo a necessidade crescente de ensino superior de qualidade e eu tenho recebido vaacuterios apelos

no sentido das universidades puacuteblicas estarem mais por dentro do desenvolvimento dos sistemas

Como eacute que vamos estar Cada umhellip cada universidade iraacute por si ou haacute uma articulaccedilatildeo outra

vez portanto se calhar natildeo eacute uacutetil todos estarem em tudo mas talvezhellip fizesse sentido haver aiacute

uma poliacutetica nacional Como o ensino agrave distacircncia o ensino agrave distacircncia tambeacutem eacute um desafio mas

eacute um desafio que exige grande qualidade muito profissionalismo e pessoas que dediquem uma

parte muito significativa do seu tempo a fazer isso se fizerem isso natildeo podem fazer outras coisas

E Com programas ateacute especiacuteficoshellip

C Claro Exactamente

E Ainda bem que falou em qualidade porque o ensino transnacional eacute muitas vezes acusado

de falta de transparecircncia e de natildeo haver um controlo de qualidade natildeo haverhellip um mecanismo

regulador Eu pergunto regra geral acha que efectivamente estas acusaccedilotildees satildeo justas para quem

regra geral promove o ensino superior transnacional nomeadamente nas universidades ouhellip e jaacute

agora no caso de Timor se conhece qual eacute o modelo e se acha efectivamente que estas

acusaccedilotildees ao modelo que estamos neste momento a utilizar em Timor se satildeo ou natildeo satildeo

aplicaacuteveis uma vez que se trata de docentes das universidades puacuteblicas portuguesas na sua

maioria e politeacutecnico

C Eu em relaccedilatildeo agrave criacutetica geral natildeo tenho acompanhado e natildeo sei sei que haacute uma

preocupaccedilatildeo da qualidade da oferta natildeo eacute essa eacute que eacute ahellip Mas haacute um problema adicional eacute o

problema de ainda das directivas do GATS sobre considerar ou natildeo o ensino superior como um

serviccedilo e a sua total liberalizaccedilatildeo e natildeo estaacute ainda adquirido que assim natildeo seja portanto eu

inscrevia esta situaccedilatildeo como preocupaccedilatildeo ainda prioritaacuteria em relaccedilatildeo depois de garantir a

qualidade porque se ele for considerado um serviccedilo e entrar naquilo que eacute a loacutegica do comeacutercio

internacional de serviccedilos os problemas de afericcedilatildeo da qualidade ou de ausecircncia de qualidade potildee-

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

se em relaccedilatildeo a esse serviccedilo como se potildee aos outros e portanto entramos ali numa nova era e numa

era muito problemaacutetica nomeadamente para paiacuteses como o nosso e ateacute para os passos em relaccedilatildeo

aos quais noacutes queremos e ambicionamos natildeo eacute

Em relaccedilatildeo a Timor e ao que estaacute a acontecer em Timor eu natildeo acompanhei ou natildeo

acompanho haacute trecircs anos para aiacute o que se estaacute a passar e portanto natildeo faccedilo ideia porque apanhei

aquilo mesmo no comeccedilo natildeo eacute No comeccedilo depois teve um problema que foi este foi houve

uma boa preparaccedilatildeo e um bom envolvimento das universidades e um bom arranque creio que

houve depois dificuldade em manter equipas relativamente estaacuteveis no terreno e com pessoas com

algum grau de solidariedade Passaramhellip aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi

gente muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma realidade diferente com que

tinham lidado portanto natildeo eram problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as perspectivas das pessoas que tendo

relativamente pouca experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria experiecircncia

que ainda era relativamente curta Natildeo sei como eacute que isso se corrigiu mas parece-me que na

altura era a questatildeo a corrigir e os directores dos vaacuterios cursos pareceu que estavam cientes que

isso era um problema a ser acompanhado Tambeacutem encontrei um eco extremamente positivo do

que estava a acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma manifestaccedilatildeo dos

alunos da Universidade Nacional de Timor-Leste a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a

colaboraccedilatildeo dos nossos docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso estava a

acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo muito positiva da docecircncia dos cursos que a

FUP laacute estava a coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar Pois esta eacute a memoacuteria

que eu tenho e portanto pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e que se tivesse o desenvolvimento

que este tipo de valorizaccedilatildeo implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuar porque

na loacutegicahellip soacute dois anos passaram portanto neste momento deveratildeo estar no 3ordm ano do curso

talvez natildeo eacute Estatildeo no 3ordm ano

E Vamos entrar no 3ordm anohellip relativamente ao que eu digo eacute que o cenaacuterio que me descreveu

eacute o cenaacuterio actual quer dizer a dificuldade para levar pessoas com experiecircncia no terreno estaacute a

ser grande aahellip podiacuteamos depois avaliar quais satildeo os motivos que levam a isso a verdade eacute que

satildeo os docentes mais jovens que continuam a candidatar-se e efectivamente a receptividade de

Timor para com os cursos da FUP continua altiacutessima aahellip inclusivamente estamos a ver haacute o

reiniacutecio de novos primeiros anos portanto o projecto estava desenhado para abrirmos 2 vezes o

primeiro ano neste momento Timor e o Governo Portuguecircs querem que se continue a abrir

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

primeiros anos por mais duas ou trecircs vezes portanto isto deve estar para durar E portanto o

cenaacuterio que me descreve eacute exactamente ohellip julgo eu nemhellip

C Mas (hellip) para as universidades portuguesas fazerem uma avaliaccedilatildeo sentarem-se agrave volta de

uma mesa e fazerem uma avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do desempenho que estatildeo a ter e aahellip

debruccedilarem-se sobre se eacute essa a presenccedila que querem ter ou natildeo eacute natildeo eacute

E Entatildeo na sua na sua perspectiva haacutehellip aahellip em funccedilatildeo desse cenaacuterio que descreve e que eu

confirmo que eacute o actual haacute mateacuteria para discussatildeo para melhoramento e para introduccedilatildeo de

melhorias

C Na minha opiniatildeo sem duacutevida Um programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um programa exigente

para as universidades e para os e para os docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo

depois da experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo querer continuar e

portanto eacute um programa que vai ter que gerir estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma

avaliaccedilatildeo sistemaacutetica portanto tem que ter da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo

regular aahellip e como lhe disse haacute bocadinho a mim parece-me que temos aiacute no terreno uma

experiecircncia que nos pode ensinar a lanccedilarmo-nos para outro tipo de experiecircncias porque por

exemplo poderia-se pensar numa experiecircncia anaacuteloga para Angola onde numa situaccedilatildeo parecida

com Timor se vir bem o fim de guerra e a passagem a um clima de paz que vai exigir um esforccedilo

de desenvolvimento do paiacutes extraordinaacuterio que estaacute centrado e feito laacute e que vai ter com certeza

interesse em formar os seus quadros laacute para eles natildeo saiacuterem portanto podia perfeitamente pensar-

se em aprender com Timor como eacute que se potildee uma oferta destas num territoacuterio fora do paiacutes

pensado de uma forma que seria a alternativa provaacutevel porque um programa destes se pensar

bem o que foi o primeiro programa o primeiro programa foi soacute fazer com que as pessoas

correspondessem agrave necessidade que havia para a cultura portuguesa e as pessoas foram para laacute

professores universitaacuterios a ensinar as pessoas as primeiras palavras em portuguecircs aahellip reciclar

alguns professores criar interesse das pessoas pela escola e pela liacutengua portuguesa e pelahellip e pela

afeiccedilatildeo com Portugal portanto haacute aiacute outra dimensatildeo da poliacutetica internacional de Portugal que natildeo

eacute despiciente portanto por isso eacute que eu dizia haacute dois planos nisto haacute o plano da poliacutetica

universitaacuteria e haacute o plano da poliacutetica do Estado Portuguecircs e portanto uma apreciaccedilatildeo sistemaacutetica a

esse projecto permitiraacute ver que correcccedilotildees devem ser feitas Eu encontrei laacute algumas pessoas que

davam vaacuterias horas de aulas por dia e satisfeitas e encontrei outras que natildeo estavam tatildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

entusiasmos que natildeo era bem aquilo que elas queriam fazer natildeo devem ser levadas a mal por

isso as pessoas foram experimentar e pelo facto de laacute terem ido jaacute fizeram um grande trabalho

natildeo devemos tomar como dramaacutetico elas saiacuterem de laacute ldquo- Eu natildeo gostaria de ter outra experiecircncia

em Timorrdquo Era preciso eacute que as outras que se as conseguiacutessemos manter no programa sem elas

prejudicarem em excesso a sua proacutepria vida profissional porque alguns deles alguns professores

que eu laacute vi satildeo professores jaacute seniores com experiecircncia outros eram professores relativamente

jovens mas jaacute com uma vida universitaacuteria bastante significativa e depois eacute preciso compatibilizar

isto com o resto Quer dizer acho que para quem conduzir o programa isto eacute uma forma isto eacute

umahellip

E Por exemplo o caso dehellip um caso de estudohellip

C Exactamente mas natildeo mas eacute diferente portanto natildeo eacute natildeo eacute trivial

E Hum Hum

C Portantohellip

E E como eacute que o professor veria num futuro proacuteximo uma avaliaccedilatildeo do projecto por

comissotildees de peritos de pareshellip

C Para jaacute tem de serhellip repare nas avaliaccedilotildees eu acho que se deve escolher pessoas que

tenham alguma experiecircncia de avaliaccedilatildeo que estejam dispostos se natildeo tiverem experiecircncia a

aprender como eacute que se faz avaliaccedilatildeo que estejamhellip que tenham alguma capacidade de ver o que

eacute o projecto e o que eacute que ele significa e de olhar para paiacuteses destes natildeo eacute porque realmente

quem nunca olhou para estes paiacuteses e natildeo eacute sensiacutevel agravequilo que eacute a sua realidade muito concreta

pode natildeo ter vaacute laacute nem disponibilidade nem os olhos para vecircr o projecto naquele contexto

Mas eu natildeo fazia uma equipa muito grande fazia uma equipa relativamente pequena com

pessoas que tivessem estas condiccedilotildees fossem capazes de perceber o ambiente os objectivos do

projecto e depois ir ao local e ver como eacute que os objectivos se cumpriram ou natildeo cumpriram

F O modelo australiano para o ensino transnacional acabou por como forma de implementar

esses mecanismos de controlo de regulaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo o que se lhe quiser chamar acabou

por absorver por usar como estrateacutegia a absorccedilatildeo do ensino transnacional que estava for a dos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

circuitos formais de ensino e chamaacute-lo a si e absorvecirc-lo nas suas proacuteprias estruturas formais de

forma pontual digamos assim Acha que no futuro isto poderia ser uma boa estrateacutegia para o

ensino transnacional neste caso em Timor em Cabo Verde

C Mas estaacute a dizer isso do ponto de vista da oferta

E Do ponto de vistahellip portanto o ensino formal o ensino formal os sistemas puacuteblicos de

ensino australianos acabaram ao longo do tempo por absorver o ensino transnacional que

existia no paiacutes portantohellip

C Se uma universidade Grega estivesse a oferecer um programa na Austraacutelia como eacute que

eles faziam

E Exactamente acabavam porhellip por absorver esse curso nas suas proacuteprias estruturas na sua

proacutepria universidade o curso passaria a ser neste caso em termos concretos os cursos da FUP

em Timor passariam a constar do sistema de ensino nacional eacute mais ou menos isto Sujeitos a

todas as regras a todas as leis formais que vigorassem no paiacutes

C Claro Bom se se conseguir que o ensino superior natildeo seja metido na regra do GATS eacute

evidente que o ensino superior pode ser em cada Estado tratado dentro do que satildeo as leis desse

Estado para a oferta do ensino superior e portanto teratildeo o tratamento que essas leis permitirem

para a oferta que vem das suas proacuteprias estruturas para as instalaccedilotildees de outros paiacuteses em causa

Eu preferia isso porque me parece que o ensino superior e sobretudo o ensino universitaacuterio e a

educaccedilatildeo universitaacuteria e a universidade fazem parte em grande medida das instituiccedilotildees que

que de algum modo estruturam o Estado Naccedilatildeo e satildeo de algum modo os garantes daquilo que

satildeo os valores ashellip ou pelo menos satildeo o siacutetio onde esses valores e os princiacutepios de organizaccedilatildeo

dos Estados e das culturas nacionais satildeo preservadas e desenvolvidas portantohellip nessa medida

eu natildeo levaria e por isso eacute que eu o problema do GATS eacute um problema tambeacutem tatildeo agudo eu

preferiria que se mantivesse dentro dos poderes dos Estados as poliacuteticas do ensino superior e em

particular do ensino universitaacuterio portanto essa seraacute uma forma de garantir que ohellip quando se

fala do ensino transnacional natildeo se fala de ensino superior como serviccedilo comercial o

desenvolvimento de carreiras comerciais portanto essa eacute verdadeiramente e luta entre estas

duas opccedilotildees que estatildeo em causa natildeo eacute Quando jaacute todas fazem isso eles estatildeohellip estariam

admito eu a distanciar-se da opccedilatildeo a) natildeo sei se isso eacute verdade ou natildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Eu posso deduzir pelas suas palavras que eacute absolutamente contra a introduccedilatildeo do sector da

educaccedilatildeo no GATS

C Claramente

E Vecirc algum risco para a qualidade do ensino

C Natildeo eacute soacute pela qualidade a proacutepriahellip eacute tambeacutemhellip eu acho que noacutes perigamos em ser

Naccedilotildees diferentes e termos identidades nacionais e culturas nacionais com alguma capacidade

de se afirmarem e isso eacute essa medida de incorporaccedilatildeo do ensino superior nos serviccedilos

comerciaacuteveis na loacutegica do GATS seria uma machadada nesta relaccedilatildeo

E Seria ou vai ser porque eu daacute-me ideia que o GATS estaacute aiacute parahellip

C Eu acho que tem havido ateacute aqui tem havido claras vozes contra isso eacute preciso eacute

trabalharhellip

E Mas haacute paiacuteses que estatildeo a assinar acordos natildeo eacute

C Natildeo me parece que seja assim tatildeo expressivo e portanto acho que se estaacute a tempo de

manter uma posiccedilatildeo claramente dominante contra essa tendecircncia mas agora natildeo se pode eacute

dormir agora satildeo outras plataformas que movimentam essa (hellip) e portanto as plataformas da

educaccedilatildeo e da investigaccedilatildeo cientiacutefica e do ensino superior essas plataformas que tecircm de se

movimentar senatildeo podem ser dominadas por outras

E E acha que em Portugal vai manter-sehellip

C Portugal estava um pouco a leste disso natildeo estava a acompanhar sequer isso natildeo havia

grande informaccedilatildeo ateacute haacute pouco tempo natildeo sei como eacute que estaacute neste momento porque natildeo

tenho acompanhado mesmo mas quer dizer de maneira que haacute aqui um problema aqui de

Portugal os portugueses estatildeo um bocado frios em relaccedilatildeo e esse problema eu creio que

ultimamente tem havido maishellip um bocadito mais de consciecircncia de que haacute esse problema

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O Professor recorda-se na altura quando comeccedilou o projecto de Timor se Governo de

Timor teve alguma intervenccedilatildeo teve alguma palavrahellip acompanhou a selecccedilatildeo dos cursos que

noacutes fomos ministrar

C Com certeza que acompanhou entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do

Governo de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e na presenccedila do

Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria estrutura dos cursos e todo o programa ele

deslocou-se a Portugal vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (hellip) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo interna que estava a trabalhar nisso foramhellip e mandou-se para laacute depois no fim os

Programas foi mandado para Timor para aprovaccedilatildeo do Governo

E Portanto os cursos servem naturalmente os interesses de Timorhellip

C Exactamente foram desenhadoshellip

E hellip foram desenhados para servir os interesses de Timor

C Claramente exactamente E devem continuar a ter esse sentido natildeo eacute Os Timorenses

queriam claramente que fossem cursos que tivessem uma qualidade garantida e que a qualidade

fosse aferida agrave qualidade profissional em Portugalhellip

E Esta pergunta pode ser um bocadinho indelicada mas acha que o que move as

universidades portuguesas a estar neste momento em Timor satildeohellip objectivos de cooperaccedilatildeo ou

econoacutemicos Natildeo de imediato mas num futurohellip

C Natildeo faccedilo a miacutenima ideia porque natildeo tenho acompanhado os processos

E Mas enquanto (hellip)

C Na altura eu creio que o interesse genuiacuteno de muitos era pela cooperaccedilatildeo ok O

interesse genuiacuteno pela cooperaccedilatildeo Natildeo sei se todas as pessoas que tinham interesse genuiacuteno

pela cooperaccedilatildeo se mantiveram e portanto eacute uma pergunta que deve ser feita agraves universidades e

ateacute se as pessoas que foram envolvidas nos primeiros programas e se foram laacute naquela

campanha muito difiacutecil se estatildeo minimamente envolvidas pode suceder que elas tenham ido de

um modo geral eu falei com elas e elas gostaram e de um modo geral acharam que foi uma

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

experiecircncia muito enriquecedora natildeo sei se as universidades usaram essas pessoas aquelas que

estavam envolvidas neste programa e portanto tambeacutem natildeo como lhe disse haacute bocadinho natildeo

sei se se monitorizou a reacccedilatildeo das pessoas que depois foram jaacute para os proacuteprios cursos de

maneira a distinguir aquelas que o fizeram pela cooperaccedilatildeo portanto vamos ver o seguinte eu

creio que muito provavelmente ningueacutem quereraacute ir a Timor se natildeo tiver algum interesse pela

cooperaccedilatildeo Natildeo digo que isso esteja a acontecer porque eacute um esforccedilo eacute um esforccedilo

extraordinaacuterio Natildeo haacute mal nenhum e eacute perfeitamente normal que as pessoas acautelem de

algum modo uma compensaccedilatildeo por esse esforccedilo porque as pessoas estatildeo claramente a fazer

um esforccedilo para aleacutem do que eacute a sua actividade normal Aahellip portanto acho que tem que haver

aiacute um juiacutezo prudente e aquilo que devia contar eacute se eacute ou natildeo possiacutevel agraves universidades disporem

de um conjunto de pessoas que tecircm esse interesse e disponibilidade para fazer esse trabalho e se

se lhes pode oferecer condiccedilotildees para elas o poderem fazer sem porem em risco a sua vida

profissional futura que natildeo eacute bom para elas nem eacute bom para as proacuteprias universidades desde

que esse equiliacutebrio exista eu natildeo acho que haja aiacute um conflito

E Eu referia-me agrave universidade enquanto instituiccedilatildeo enquanto politica de cooperaccedilatildeo da

proacutepria universidade isto eacute Timor eacute sem duacutevida um o nosso ldquopezinhordquo no Orientehellip

C Sim

E hellip acha que as Universidades vecircem a cooperaccedilatildeo actual comohellip uma forma de no futuro

aahellip irem para hellip

C Natildeo creio natildeo creio que nenhuma universidade esteja a ver a cooperaccedilatildeo com Timor como

um passe para um futuro bi- direccional Natildeo tenho isto tem o valor que tem eacute uma impressatildeo

minha Eacute uma impressatildeo minha natildeo me parece natildeo me parece

Agora voltamos a algumas das suas primeiras perguntas natildeo era mal nenhum e podia ser

ateacute bem que existisse um nuacutemero um certo nuacutemero de universidades que se punham de acordo

em ter um programa de intervenccedilatildeo e de internacionalizaccedilatildeo que significasse ter acesso aos (hellip)

e que isto fosse uma parte de uma estrateacutegia onde aparecia outro tipo de incentivos mas natildeo

tenho grande expectativa em relaccedilatildeo a que as universidades estejam a pensar nisso

E Como eacute que avalia num futuro proacuteximo a intervenccedilatildeo de Portugal em Timor no que diz

respeito aahellip agrave sociedade agrave vida cultural econoacutemica acadeacutemicahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro C Isso vai depender muito dos timorenses eacute como eu digo vai depender sobretudo dos

timorenses que eles eacute que sabem que papel eacute que querem que Portugal tenha aiacute Mas natildeo eacute

menor a atenccedilatildeo diplomaacutetica e que foi dada agraves relaccedilotildees de Portugal com Timor Eacute preciso saber

que natildeo haacute repare a presenccedila de aahellip professores na universidade de Timor como cooperantes

que eacute um programa relativamente barato se formos pensar agora em outro tipo de iniciativas

que Portugal tem em termos de cooperaccedilatildeo internacional tinha um efeito multiplicador

extraordinaacuterio e era extraordinariamente apreciado pelas populaccedilotildees timorenses Imagine o que

seria se em vez dos 300 professores que noacutes conseguiacuteamos ter em Timor tiveacutessemos os mil que

o Senhor Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres prometeu que teriam em Timor mas (hellip) que

isso tem um efeito extraordinaacuterio e esse programa podia ser perfeitamente articulado com o

programa para as universidades E imagine agora que isso correspondia ao desejo da

Universidade de Timor Leste de por a usar a liacutengua portuguesa como sua liacutengua fundamental de

ensino estas trecircs coisas juntas divididas como um pacote da diplomacia portuguesa para Timor

se os timorenses quisessem por isso eacute que eu digo que quem primeiro decide satildeo os timorenses

isto iria ter um efeito brutal em termos da escolha timorense da liacutengua portuguesa e de uma

relaccedilatildeo bastante proacutexima com Portugal Se se conjugasse esta continuaccedilatildeo desta escolha de

portuguecircs com Portugal com capacidade de ter um esforccedilo de financiamento e de presenccedila e de

presenccedila que duplicasse pelo menos o nuacutemero de professores laacute e correspondesse ao desejo da

universidade nacional de Timor Leste como agora a proacutepria igreja quer instituir a universidade

catoacutelica poderia haver aqui um conjunto de factores que podiam e eu eu quando estive em

Timor sabia que da parte dos timorenses realmente haacute uma grande afectividade para com os

portugueses e para Portugal de uma maneira que eu nunca vi em nenhum lado e jaacute estive em

vaacuterios paiacuteses que foram coloacutenias portuguesas portanto muito diferente haacute ali uma miacutestica

completamente uacutenica que natildeo eacute comum

Bom mas se isto acontecer tudo bem se isto natildeo acontecer eacute evidente que a populaccedilatildeo

timorense vive muitas dificuldades diversas dificuldades em sair continuar a ter essas

dificuldades em sair da situaccedilatildeo de esteve para uma situaccedilatildeo de maior bem estar e tal e saiu

Ora bem o peso dessas dificuldades eacute um peso contra outro tipo de objectivos qual vai ser o

predominante vatildeo ser as dificuldades econoacutemicas e de sauacutede e de saneamento portanto e de

seguranccedila dehellip qual vai ser o outro caminho dehellip quem tem condiccedilotildees para dizer natildeo sei

E E se calhar nem eles natildeo eacute ainda estatildeo muito perdidos

C Mas eu creio que o programa universitaacuterio pode ser um excelente contributo todo o

programa universitaacuterio eacute a melhor coisa que Portugal pode proporcionar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Eacute uma arma uma arma que um instrumento de dehellip

C Um instrumento E defenderem a sua opccedilatildeo cultural e dehellip e de afirmaccedilatildeo como povo

naquela regiatildeo natildeo eacute

E Mas eu jaacute ouvi o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no passado dizer que a escolha da liacutengua

portuguesa foi precisamente para que aahellip se distinguissem aahellip os timorenses dos restantes

paiacuteses asiaacuteticoshellip

C Claro Claro e haacute muito tempo se provou que uma opccedilatildeo por uma identidade e uma liacutengua

com grande consistecircncia que foram aliaacutes Timor eacute um caso exemplar a resistecircncia de Timor

teve que ver com a nossa proacutepria identidade foi aquelehellip com a liacutengua com o factor dessa

identidade e dessa unidade Eles tecircm razotildees muito seacuterias para terem feito a opccedilatildeo que fizeram

oxalaacute tenham condiccedilotildees para digamos fazerem vingar essa opccedilatildeo e aiacute eacute que vamos noacutes ter

condiccedilotildees para os ajudar e corresponder ao desejo deles dehellip a concretizar essa opccedilatildeo ou natildeo

temos Bom volto ao que haacute bocadinho lhe disse haacute o plano da poliacutetica do governo e haacute o

plano da poliacutetica das instituiccedilotildees depois se forem bem apreciados talvez consigamos dar um

contributo nosso

E E Portugal soacute tem a ganhar com isso tambeacutem natildeo eacute

C Tem claro que tem eacute evidente que tem Acho que sim eacute uma referecircncia importante numa

aacuterea bastante boa e eacute uma eacute um reconhecimento que ele tem do papel na cultura e da histoacuteria de

Portugal no mundo quer dizer tem pontos difiacuteceis mas tambeacutem tem outros que as pessoas

reconhecem que tecircm valor e portanto noacutes aahellip natildeo podemos dar a volta agravequilo que somos e ao

passado que temos devemos pensar que esta presenccedila nas condiccedilotildees em que ela estaacute a ser

desenvolvida e solicitada soacute nos honra natildeo eacute

E Exactamente Bom uma uacuteltima pergunta para natildeo o maccedilar Sabe se os cursos que

Portugal promove em Timor tecircm o grau reconhecido nomeadamente em Portugal e noutros

paiacuteses europeus

C Eu natildeo sei se essa questatildeo foi adequadamente resolvida aahellip portanto isso de estar repare

houve ali uma grande tentaccedilatildeo de se arrancar com estes projectos tatildeo cedo quanto se pudesse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Havia que ter depois um desenvolvimento de aspectos mais formais que natildeo sei se foram jaacute

feitos Repare o seguinte haacute um problema quem eacute que concede aquele grau Natildeo sei se estaacute a

ver isso Qual eacute a entidade que concede aquele grau parahellip

E Julgo que eacute a Universidade Nacional de Timor-Leste

C Se for aquele diploma tem o valor que tecircm os diplomas da Universidade Nacional de

Timor-Leste mas isso eacute que era de pensar Se for um diploma de universidades portuguesas eacute

preciso saber quem satildeo as universidades que vatildeo dar o grau e se for eacute um diploma de

universidades portuguesas tem o valor do diploma de universidades portuguesas portantohellip

E Mas na altura isso foi uma preocupaccedilatildeo

C Natildeo creio Natildeo natildeo natildeo foi porque era a preocupaccedilatildeo inicial foi preparar os cursos

lanccedilaacute-los ter condiccedilotildees para eles comeccedilarem mais cedo o que foi possiacutevel natildeo eacute E foi

respondido ao interesse que os proacuteprios timorenses tinham que assim fosse e houve questotildees que

tiveram que se ir resolvendo agrave medida que chegou a oportunidade de lhes responder a natildeo ser

que mas natildeo tenho conhecimento que se tenhahellip

E Mas foihellip nunca chegou a serhellip

C Natildeo me recordo que eu tenha memoacuteria que eu tenha memoacuteria natildeo Estaacute bem Mas ainda

estaacute a tempo

E Da minha parte estaacute tudo natildeo sei se quer fazer alguma pergunta

C Natildeo acho que estaacute bem

E Muito obrigada

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO VI

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm4

Entrevista realizada a um membro do Governo ligado ao Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior

08 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador D = entrevistado D E Bom eu iria talvez comeccedilar por perguntas mais geneacutericas de ordem mais geneacutericas no

que respeita ao ensino transnacional nomeadamente o ensino tranancional dos paiacuteses europeus

em particular Portugal Iria comeccedilar por lhe perguntar o seguinte as instituiccedilotildees de ensino

superior costumam dizer que o ensino transnacional uma das virtudes que tem para as

Universidades e aos Politeacutecnicos eacute realmente um melhor desempenho do corpo docente a

Internacionalizaccedilatildeo a oportunidade de internacionalizaccedilatildeo o desenvolvimento curricular o

cientiacutefico das instituiccedilotildees aahellip eu gostaria que me dissesse se efectivamente acha que satildeo esses os

benefiacutecios que as instituiccedilotildees retiram da cooperaccedilatildeo nomeadamente com paiacuteses de liacutengua oficial

portuguesa ou se pelo contraacuterio acha que eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia face ao processo de

globalizaccedilatildeo face agrave competitividade a que as instituiccedilotildees estatildeo sujeitas aahellip ou que sejam de

ordem econoacutemica quer dizer haacute uma seacuterie de outras possibilidades que poderatildeo aahellip levar a que

as instituiccedilotildees realmente apostem nesse tipo de actividades Qual eacute a sua opiniatildeo sobre isto

D Eacute fundamentalmente a possibilidade de que enunciou primeiro mas tambeacutem a de fazer

prolongar um tipo de ligaccedilatildeo de relacionamento que eacute extremamente uacutetil para as instituiccedilotildees e

para os paiacuteses desenvolvidos Portugal e os outros paiacuteses no sentido em que se estabelece um

conjunto de laccedilos por exemplo nesta fase mais perene o que no passado podia ser de uma

natureza maishellip numa perspectiva em que umas satildeo dominantes e outras satildeo dominadas o que

natildeo eacute propriamente aquilo que as instituiccedilotildees teratildeo certamente em menta mas mais em relaccedilatildeo

dehellip de espaccedilos de novos espaccedilos tambeacutem dehellip abre perspectivas agraves instituiccedilotildees dehellip de outros

puacuteblicos digamos Hoje em dia as instituiccedilotildees de ensino superior eacute uma questatildeo em cima da

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mesa se abrirem a puacuteblicos diferentes seja dentro do seu proacuteprio espaccedilo paiacutes a puacuteblicos de

vaacuterios niacuteveis a puacuteblicos tambeacutem de natureza diferente o aluno normal naquela faixa etaacuteria dos

dezoito aos vinte e cinco anos mas possivelmente o profissional que procura uma requalificaccedilatildeo

uma actualizaccedilatildeo de conhecimentos e tambeacutem novos puacuteblicos dos paiacuteses de expressatildeo portuguesa

onde portanto haacute um conjunto imenso de oportunidades que eu acho que eacute natural serem

procuradas pelas instituiccedilotildees

E Essas oportunidades satildeo de interesse econoacutemico por exemplo Poderatildeo vir a ser

D Tecircm naturalmente uma resultante econoacutemica mashellip satildeo relaccedilotildees que vatildeo mais para aleacutem

disso as oportunidades no fundo as oportunidades de intervenccedilatildeo que resultaratildeo com certeza em

benefiacutecios de vaacuterias naturezas uma das quais natildeo eacute despiciente a parte econoacutemica certamente

quando falamoshellip abre perspectivas de subsiacutedios directos que natildeo satildeo de forma alguma de

esquecer perspectivas da aacuterea de projectos de intervenccedilatildeo local perspectivas no proacuteprio espaccedilo

europeu agora que inclusive se fala aiacute do Erasmus Mundus que no fundo eacute com paiacuteses terceiros

portanto acaba por ser outro destes novos espaccedilos reforccedilando os laccedilos intra-europeus Os espaccedilos

com outras universidades com os intervenientes de paiacuteses terceiros Portanto eacute resultante eacute uma

resultante muito forte que obviamente uma das suas vertentes eacute a vertente econoacutemica eacute eacute natural

talvez natildeo na vertente talvez natildeo sejahellip mesmo do ponto de vista econoacutemico natildeo seja tatildeo

significativa noutro tipo de acccedilatildeo mas depois que resulta em priorizaccedilatildeo de verbas

E Por inerecircncia

D Pois

E Acha que no contexto da globalizaccedilatildeo como eu dizia haacute pouco e da competitividade acha

que a ida de instituiccedilotildees de ensino superior para paiacuteseshellip para PALOPS para paiacuteses em vias de

desenvolvimento pode ser considerada uma fuga para a frente ou seja noacutes somos no fundo

atacados entre aspas por instituiccedilotildees europeias por outras instituiccedilotildees europeias face ao

decreacutescimo tambeacutem do nuacutemero de alunos debatendo-se hoje as instituiccedilotildees com algumas

dificuldades a niacutevel de financiamento acha que isto pode tambeacutem ser entendido como uma fuga

para a frente das instituiccedilotildees superiores puacuteblicas portuguesas

D Natildeo eu acho que eacute exactamente a mesma perspectiva que estava a dizer quer dizer a

Globalizaccedilatildeo e a concorrecircncia obrigam as instituiccedilotildees a procurarem alternativas e puacuteblicos

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portanto no fundo eacute aquele binoacutemio conhecido natildeo eacute as ameaccedilas tecircm que ser transformadas em

oportunidades portanto a partir das ameaccedilas que nascem da concorrecircncia somos obrigados laacute

estaacute a procurar numa linguagem mais economicista novos mercados numa linguagem mais

mais acadeacutemica digamos novos puacuteblicos que podem estar nos PALOPS como podem ser

aqueles que mencionou como pode ser nos Estados Unidos eacute a Globalizaccedilatildeo no fundo natildeo eacute

Por isso eu acho que eacute procurar obviamentehellip resultante da concorrecircncia que a procura tal como

aqui nas muitas fronteiras portuguesas naturalmente que a concorrecircncia das instituiccedilotildees tambeacutem

vai gerar a definiccedilatildeo de vocaccedilotildees algumas que vatildeo-se virar mais para um tipo de puacuteblico outras

para outro portanto isso eacute saudaacutevel natildeo eacute

E Eacute curioso que ontem entrevistei o Prof (hellip) e ele tinha exactamente a mesma perspectiva

no futuro as instituiccedilotildees iratildeo com certeza direccionar-se para determinados sectores seguir

determinada viahellip

D Efectivar assim as suas estrateacutegias identificar e e actuar Umas quereratildeo definir como

estrateacutegia a internacionalizaccedilatildeo desse ponto de vista portanto poderaacute ser natildeo eacute A classificaccedilatildeo

se eacute fuga para a frente ou natildeo dependeraacute mais de uma anaacutelise que se faccedila Esta estrateacutegia foi

escolhida por esta instituiccedilatildeo poderaacute isso (hellip) eacute uma fuga de facto para a frente mas estou

crente que na maior parte dos casos eu conheccedilo alguns deles natildeo eacute exactamente isso natildeo eacute Eacute de

facto encontrar novoshellip

E Novas vias

D Novas vias novas oportunidades

E Qual eacute a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS Aquela

questatildeo dehellip natildeo sei se sabe deve estar com certeza dentro dohellip desta problemaacutetica dehellip da

educaccedilatildeo entrar numa vertente mais econoacutemica nahellip na futura transacccedilatildeo de um bem de

consumo no fundo natildeo eacute a niacutevel mundial no futuro

D Eu acho que eacute inevitaacutevel se quer que lhe diga por muitashellip muitahellip muitas duacutevidas que

possamos ter acerca da bondade dessehellip dessehellip desse facto eu entendo que na transformaccedilatildeo

dahellip para a sociedade na transiccedilatildeo para a sociedade do conhecimento natildeo eacute Aahellip passa a ser

um valor quer dizer eacute um valor de riqueza natildeo eacute A riqueza a riqueza que eacute produzida portanto

cada vez numa sociedade do conhecimento eacute precisamente produzida a partir do conhecimento

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

natildeo eacute Eacute a transformaccedilatildeo daquilo que eacute o conhecimento em riqueza mais ou menos tangiacutevel

consoante os casos mas certamente bastante tangiacutevel portanto a certa altura teremos esta

integraccedilatildeo da educaccedilatildeo nestes esquemas com todas as questotildees que se colocam agrave volta natildeo eacute de

que noacutes proacuteprios jaacute sentimos jaacute sentimos no nosso quotidiano jaacute sentimos um conjunto de

oportunidadeshellip natildeo eacute de actividades desta natureza

E Claro

D Portanto eu natildeo julgo que natildeo vale muito a pena fingir que natildeo existe natildeo eacute Haacute que

encontrar as melhores formas de lidar comhellip

E E num futuro proacuteximo pode-se tornar um mecanismo de supremacia de uns sobre outros

natildeo eacute nessahellip nessa perspectivahellip a educaccedilatildeo diria eu eacute apenas uma opiniatildeo pessoalhellip

D Claro Claro

E hellip a educaccedilatildeohellip

D Natildeo exactamente deixe-me soacute pocircr-lhe a um niacutevel muito especulativo ainda porque eacute

evidente nesta fase ainda estamos nesta mateacuteria no domiacutenio especulativo mas eacute um pouco como

o ambiente como a atmosfera quer dizer natildeo eacute

E Sim sim

D A educaccedilatildeo eacute um pouco como isso eacute um bem a que todos tecircm o direito de aspirar natildeo eacute

mas que tambeacutem carece de ser gerido digamos porque natildeo vamos fingir que natildeo houvesse regras

porque no fundo noacutes hoje temos os acordos de Kioto que tentam impor restriccedilotildees sobre o

consumo da nossa atmosfera no meu ponto de vista

E Sim sim

D Portanto digamos que tambeacutem temos quehellip quanto mais natildeo seja para definir claramente

as regras que natildeo podem ser ultrapassadas pela entidade que de facto se aproveitam da melhor

forma da ausecircncia da definiccedilatildeo destes elementos que decorrem de natildeo se querer assumir como um

bem eventualmente eacute um bem escasso eventualmente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Poderaacute ser

D Poderaacute ser pensado isto eacute do ponto de vista especulativo

E Sim sim sim

D Portanto o que eu quero dizer eacute que inevitavelmente eacute um bem eacute um bem que natildeo seraacute

como qualquer capital transaccionaacutevel no sentido das trocas comerciais normais mas eacute um bem

cujo consumo tem de ser regulaacutevel de alguma forma como o ambiente comohellip de uma forma o

regular talvez aqui seja diferente

E Com mecanismos de controlo

D Com mecanismos de controlo

E Qualidade

D Qualidade natureza exactamente e que assegurem no fundo mas que tenham poder tatildeo

elevado como o ar que respiramos quer dizer todos tecircm direito natildeo eacute

E Claro

D Natildeo vamos com certeza cortar a ningueacutem por qualquer medida de natureza comercial

embora na verdade isto esteja um bocado viciado por segundas vias uns cumprem menos

quer os outros outros cumprem e natildeo cumprem as cotas Portanto poderaacute natildeo ser os melhores

exemplos nestahellip

E Eu percebo eu percebo a ideia Sobre a sociedade de informaccedilatildeo acha que num futuro

proacuteximo o ensino transnacional possa vir a ser substituiacutedo pelo e-learning pelo ensino agrave

distacircncia mantendo a estrutura e o corpo docente no seu paiacutes de origem e desta forma alcanccedilar

um puacuteblico transfronteiriccedilo Ou pelo contraacuterio acha que isso eacute uma utopia e que natildeo estaremos

ainda em condiccedilotildees de implementar a 100 esse tipo de ensino

D O ensino teraacute sempre a componente presencial e a componente natildeo presencial

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Eacute essencial

D Eacute essencial

E Para o Senhor (hellip) como professor que eacute a questatildeo presencial eacute essencial

D Em alguma fase do processo de aprendizagem eacute importante aahellip e eu julgo que isso natildeo

estaacute muito em causa O que talvez esteja agraves vezes mais em causa nas questotildees do e-learning satildeo

os aspectos de socializaccedilatildeo natildeo eacute do ensino e da aprendizagem que possam ser mais raacutepidos Eu

penso que a questatildeo presencial ou natildeo eacute uma falsa questatildeo porque ela acaba sempre por ser

colmatada e noacutes vimos nas instituiccedilotildees eacute uma resposta e portantohellip e natildeo eacute homogeacutenea quer

dizer natildeo eacutehellip haacute mateacuterias e haacutehellip e haacute mateacuterias relativas que podem perfeitamente ser transmitidas

numa base de distacircncia e haacute outras mateacuterias que tecircm de ser necessariamente presencial portanto

dentro da sala de aula a complementaridade entre os dois eacute que me parece-me que eacute o futuro natildeo

eacute Parece-me que eacute o grandehellip que eacute o futuro ou seja muda a pedagogia muda a natureza mas eacute

natural que uma universidade mude mesmo com os seus alunos normais aahellip o ensino presencial

seja de outro cariz natildeo eacute Sejahellip portanto sejahellip natildeo seja uma aula por exemplohellip

E Mais praacutetica

D hellip muito descritiva mas por exemplo uma aula mais de discussatildeo de temas do que uma

preacute-preparaccedilatildeo dehellip um aspecto muitas vezes esquecido nesta mateacuteria eacute o aspecto da

sociabilizaccedilatildeo natildeo eacute do conviacutevio do conhecimento dos estudantes conhecerem outros

estudantes conhecerem os problemas de uns que de alguma forma os meacutetodos mais avanccedilados

desenvolvidos tecircm esse problema

Mas a cooperaccedilatildeo tem inuacutemeros tem outros problemas e agraves vezes esquece-se por exemplo

tem o problema que eacute pura e simplesmente pocircr uma mateacuteria muito bonitinha em power point ou

o que quer que seja natildeo eacute propriamente e-learning eacutehellip utilizar as novas tecnologias para

disseminar o e-learning tem muito mais por traacuteshellip

E Eacute mais interactivo

D hellip interactivo ehellip haacute esta partilha da cooperaccedilatildeo que numa fase ou noutra tambeacutem vai

exigir o conhecimento presencial portanto como eu vejo a sociedade do futuro nessa mateacuteria

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

vejo sim senhora muito baseada na formaccedilatildeo agrave distacircncia porque a permitir acessibilidades que

natildeo eram possiacuteveis aos alunos dentro da Universidade de Lisboa aceder ao curso da

Universidade de Londres por exemplo a um curso de uma mateacuteria daquele com o proacuteprio

professor de caacute o outro comanda e caacute daacute o apoio e a discussatildeo do proacuteprio daquele material vejo

neste sentido natildeo eacute Em quehellip

E Sim sim Eacute mais no sentido complementar natildeo eacute

D Complementar e portanto e em que a ecircnfase passa muito mais para o lado da

aprendizagem que ou seja eacute mais o aprendiz quem marca o ritmo natildeo eacute Enquanto a aula

normal eacute o professor quem marca o ritmo ldquo- comeccedilo agora acabo e daqui a dois dias

continuamosrdquo natildeo eacute Muda um pouco Eacute mais o aprendiz que aprendeu leu consultou viu

um curso similar na universidade de Harvard viu um curso similar na universidade da

Califoacuternia e chega agrave aula e discute com o professor ldquo- Entatildeo mas eu li isto e aquilohellip naquele

trabalho do natildeo sei quantoshelliprdquo portanto como imagino eacute uma visatildeo que eu possa ter para daqui

a vinte vinte e cinco anoshellip

E Natildeo eacute uma visatildeo muito positiva Ehellip muito interessante ehellip

D Natildeo pode deixar de ser de outra forma quer dizer e isso tem grandes vantagens natildeo

apenas do ponto de vista da formaccedilatildeo mas da qualidade dos conteuacutedos e da questatildeo formaccedilatildeo

sobre sobrehellip

E hellip sobre os actores tambeacutem natildeo eacute

D hellip a globalizaccedilatildeo Falaacutevamos haacute bocado de globalizaccedilatildeo mas falamos tambeacutem quer dizer

sobre os docentes acaba-se sempre porhellipos docentes portanto jaacute natildeo eacute quer dizer jaacute vatildeo longe

aqueles tempos do aluno caracteriacutestico que tinha a sebenta ehellip e nada existia para aleacutem da

sebenta para o estudante natildeo eacute Portanto o estudantehellip

E Nem podia contestar natildeo eacute

D Sim mas nem tinha acesso a informaccedilatildeo que lhe permitisse contestar natildeo eacute

E Pois

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro D Tinha muita dificuldade Tinha que ir para a biblioteca passar laacute horas para ver do que eacute

que andava agrave procura porque alguns nem sabiam porque nem bibliografia tinham natildeo eacute O que

jaacute natildeo eacute os tempos de hoje natildeo eacute Hoje existem manuais existe bibliografia as bibliotecas tecircm

relativamente maishellip estatildeo bastante melhor apetrechadas e portanto os estudanteshellip essa tarefa

estaacute muita mais facilitada do ponto de vista em quehellip e eacute visiacutevel aliaacutes o mundo da Internet jaacute eacute

generalizado nessa mateacuteria e portanto jaacute eacute faacutecil a um estudante meter uma palavra chave e

aparecer-lhe imensas informaccedilotildees sobrehellip e jaacute poder discutir com base em algumas coisashellip

E Eacute verdade Por exemplo para a minha tese mais de 50 da documentaccedilatildeo que obtive foi a

partir da Internet jaacute quase que natildeo tenho necessidade de me deslocar agrave biblioteca

D Pois Eacute uma vantagem os ganhos satildeo muito significativos em todos os aspectos natildeo eacute soacute

tanto a qualidade eacute a capacidade que temos de aceder a trabalhos cientiacuteficos utilizando os

motores normais de busca nem sequer eacute preciso estarhellip sem se precisar de muita coisa

E Qual eacute a poliacutetica portuguesa em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo aahellip em termos de ensino superior

D A poliacuteticahellip a poliacutetica de cooperaccedilatildeohellip

E Em traccedilos gerais

D A poliacutetica de cooperaccedilatildeo do ensino superior aahellip eacute perfeitamente enquadraacutevel na poliacutetica

de cooperaccedilatildeo aahellip que genuinamente noacutes queremos que seja de cooperaccedilatildeo o que eacute que eu

quero dizer com isto natildeo eacute de colonizaccedilatildeo natildeo eacutehellip eacute de colonizaccedilatildeo portanto resistir muito

agravequela ideia de ldquo- coitadinhos vamos laacute ajudaacute-loshelliprdquo Acho que natildeo eacute bom para nenhuma das

partes e o sentido de cooperaccedilatildeo quer dizer isto quer dizer encontrarmos pontos que nos unem

aspectos que nos movem em conjunto e vantagens para umas partes e para outras Natildeo seratildeo

universais natildeo seratildeo exactamente mas haacute um conjunto de vantagens que satildeo obviamente

universais para o espaccedilo portanto os PALOPS e Timor ou os PALOP Natildeo os PALOP seratildeo

os africanos os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa incluindo Timor e portanto as vantagens

eacute encontrar uma zona de interesse comum suficientemente forte que suscite a cooperaccedilatildeo e isso

nasce de vantagens evidentes parahellip a politica eacute exactamente esta natildeo viraacute-la ao contraacuterio

como muitas vezes tivemos essa essa tentaccedilatildeo de maacute consciecircncia colonialista etc que natildeohellip

que natildeohellip nem tentamos cair na tentaccedilatildeo dehellip dehellip de copiar modelos de outra natureza para os

quais nem temos recursos nem temos vocaccedilatildeo ou seja natildeo vou aqui mencionar alguns paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

nossos parceiros europeus inclusive que tecircm uma poliacutetica mas que tecircm a poliacutetica tambeacutem dos

anos 6070 natildeo eacute a mesma de hoje eu penso que esses paiacuteses jeacute natildeo tecircm exactamente a mesma

poliacutetica eacute claro que a cooperaccedilatildeo seraacute e a educaccedilatildeo tem muito a ver com a cooperaccedilatildeo que se

consiga nessas aacutereas e portanto ehellip e por isso eacute que eu faccedilo muita questatildeo que a cooperaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo natildeo seja vista do ponto de vista financeiro natildeo seja vista isoladamente das outras o

que eacute que eu quero dizer com isto quer dizer porquehellip aiacute eacute bilateral eacute difiacutecil na educaccedilatildeo eacute

difiacutecil haver as compensaccedilotildees que satildeo expectaacuteveis de um lado e do outro ou seja enquanto por

exemplo em termos de cooperaccedilotildees econoacutemicas e educaccedilatildeo jaacute introduzimos uma em que eacute

possiacutevel encontrar retornoshellip

E Mais raacutepidos pelo menos natildeo eacute

D hellip na aacuterea da educaccedilatildeo Eacute difiacutecil eacute natural A gente estaacutevamos a falar dos nossos

puacuteblicos natildeo eacute o mecanismo das propinas eacute um mecanismohellip natildeo estou a ver que seja faacutecil

uma universidade instalar-se e esperar que o dinheiro das propinas seja a sua fonte quando

muito eacute a sua fonte indirecta tem de haver uma cooperaccedilatildeo econoacutemica entre as empresas

portuguesas que tenham ahellip vantagens econoacutemicas natildeo eacute e que parte dessas vantagens sejam

traduzidas ou entre aspas pagas se assim quisermos pelo paiacutes recipiente pela via da educaccedilatildeo

Portanto no fundo eacutehellip isoladamente nas condiccedilotildees actuais ahellip tecircm dificuldades E no fundo eacute

o que a poliacutetica dos outros paiacuteses dos paiacuteses chamados aahellip como eacute que eu lhe hei-de dizerhellip

supostamente ldquomatildeos largasrdquo na educaccedilatildeo natildeo precisam de retirar vantagens nessa aacuterea tinham

capacidade de o tirar eacute isto que tem cerceado muito agraves vezes a nossa geraccedilatildeo na educaccedilatildeo as

nossas empresas a nossa actividade sente dificuldade em ser competitiva e ganhar esse

mercado natildeo eacute pronto () uma exploraccedilatildeo petroliacutefera em Angola mas eacute um bom exemplo

nesse sentido quer dizer na medida em que noacutes uma franja europeia ao ganharem um volume

natildeo eacute o vatildeo retirar daiacute reciclam com formaccedilatildeo ou assistecircncia meacutedica nesses paiacuteses E ateacute acaba

por beneficiar eles proacuteprios porque vai trazer matildeo-de-obra mais saudaacutevel e melhor conhecedora

para trabalhar portanto eacute perceber esse tipo de que noacutes jaacute percebemos haacute muitos anos Haacute

cinquenta anos que jaacute deviacuteamos ter quer dizer a capacidade de

E de execuccedilatildeo eacute que eacute mais complicado

D executar eacute devido agrave fragilidades do nosso tecido produtivo

E Exactamente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

D E tambeacutem agraves vezes o nosso tecido de ensino tambeacutem tambeacutem mas eu julgo que a

questatildeo natildeo estaacute no nosso tecido de ensino mas estaacute mais na capacidade de disputar com

vantagens esse esse

E Mas eu noto que no caso de Timor que eacute o que eu conheccedilo efectivamente melhor aa

parece-me que jaacute haacute essa sintonia

D Claro Exactamente

E Natildeo eacute haacute uma PT a instalar a rede de telecomunicaccedilotildees

D Claro exactamente exactamente

E E isso eacute o exemplo claro do que estaacute a defender que se bem que em Cabo Verde

tambeacutem tambeacutem jaacute haacute um tecido industrial que

D Deu os dois melhores exemplos de facto onde onde isso estaacute a ser melhor conseguido

Mais uma vez se for ver bem estaacute associado aos sectores mais agressivos da economia

portuguesa mais competitivos natildeo eacute

E Exacto O turismo agora tambeacutem comeccedila a ser talvez uma aposta de futuro

Particularmente em Cabo Verde ainda natildeo haacute condiccedilotildees

D Exactamente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E sanitaacuterias e infra estruturas convenientes mas nesse aspecto jaacute haacute sinais de que

realmente estamos a aprender alguma coisa natildeo eacute

O ensino transnacional eacute recorrentemente acusado de alguma falta de transparecircncia

digamos assim de alguma falta de regras aa acha que o ensino que Portugal promove aa para

os PALOP sofre deste mal digamos deveria ser mais controlado Deveriam haver estruturas

redes inclusive de avaliaccedilatildeo acha que eacute uma afirmaccedilatildeo justa para o ensino transnacional

portuguecircs

D Eu acho que no fundo o envolvimento que deveria merecer

(hellip)

(Restante entrevista eacute inaudiacutevel por defeitos de gravaccedilatildeo)

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO VII

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm5

Entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor-Leste

17 de Setembro de 2003

Legenda E = entrevistador F = entrevistado F E A primeira questatildeo tem a ver com o e-learning o ensino agrave distacircncia Noacutes chamamos e-

learning eacute uma o ensino agrave distacircncia eacute uma traduccedilatildeo para e-learning E eu julgo que em

Timor jaacute haacute

F Jaacute haacute jaacute

E Exactamente Portanto eacute um sistema em que o docente estaacute em Portugal e manda via

computador a informaccedilatildeo para os alunos que estatildeo em Timor Natildeo haacute o contacto fiacutesico Eu

gostaria de saber se em Timor jaacute haacute algum tipo de projecto aa deste geacutenero e qual eacute a opiniatildeo do

Reitor da Universidade de Timor em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo se natildeo houver haacute implementaccedilatildeo

deste tipo de ensino agrave distacircncia Portanto eacute o chamado ensino natildeo presencial natildeo haacute uma

presenccedila fiacutesica entre o professor e o aluno

F Bom Primeiro o que devo dizer eacute que a existe em Timor uma tal facilidade mas que

estaacute fora das pertenccedilas natildeo pertence agrave universidade estaacute instalada junto ao banco mundial no

edifiacutecio do banco mundial em Timor-Leste e a Universidade eacute de quando em quando convidada a

delegar os seus membros desde a reitoria ateacute aos professores mais seniores responsaacuteveis das

faculdades departamentos em programas previamente planeados pelo responsaacutevel que eacute

portuguecircs portanto professor acadeacutemico natildeo eacute que eacute da cooperaccedilatildeo portuguesa e que se dedica

a este tipo de actividades Falava-se no inicio da instalaccedilatildeo desta facilidade a eventual abertura

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

dentro das instalaccedilotildees da universidade ou a montagem deste centro de um centro de ensino agrave

distacircncia Aa

E Mas que natildeo veio a acontecer

F Natildeo veio a acontecer eu acho que tambeacutem natildeo vai acontecer dentro de dos proacuteximos

anos Este centro esta facilidade que eu estive a descrever neste momento estaacute a usar apenas a

sua componente aa audiovisual ainda estaacute por utilizar a outra componente que eacute atraveacutes da

Internet Eu gostaria de recomendar aa a existecircncia a instalaccedilatildeo dessas facilidades dentro da

universidade o que acarreta portanto a instalaccedilatildeo de um laboratoacuterio de computadores e o acesso agrave

Internet e a definiccedilatildeo de programas especiacuteficos que respondam agraves necessidades de uma forma

particular agrave universidade de uma forma geral agraves necessidades do paiacutes em que outras entidades

como por exemplo as agecircncias do Governo e outras pessoas fora desses ciacuterculos possam

beneficiar Portanto eu acho que ateacute jaacute faz parte das exigecircncias nesta fase de desenvolvimento da

evoluccedilatildeo da tecnologia que os timorenses tambeacutem possam utilizar essa facilidade como meio de

aprendizagem

E Entatildeo estaacute aberto a esse tipo de ensino no futuro muito bem Outra questatildeo e agora peccedilo-

lhe que seja mesmo muito sincero porque isto eacute para um trabalho cientiacutefico de investigaccedilatildeo eu

nem sequer vou referir os nomes das pessoas que tenho entrevistado e portanto estaacute perfeitamente

agrave vontade

O ensino transnacional ou melhor o ensino que estaacute ligado agrave cooperaccedilatildeo com outros

paiacuteses nomeadamente Portugal o ensino que pratica em paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa

Timor Cabo Verde Angola Moccedilambique etc este tipo de ensino a niacutevel geral natildeo me refiro soacute

a Portugal mas aos outros paiacuteses que fazem cooperaccedilatildeo muitas vezes satildeo acusados em teoria nos

muitos artigos que satildeo escritos sobre isto acusados de praticarem um ensino com pouco rigor

com pouca qualidade aa um ensino que na comunidade cientiacutefica que estuda estas coisas eacute

acusado realmente de alguma de alguma falta de rigor Por exemplo quando comparados os

cursos realizados com os mesmos cursos no seu paiacutes de origem Avaliando e analisando de uma

maneira muito fria e estaacute como digo agrave vontade para criticar se tiver de o fazer como eacute que

qualificaria os cursos que Portugal neste momento estaacute a ministrar aos alunos da Universidade

Nacional de Timor-Leste

F Mas de caraacutecter presencial

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim os que estatildeo actualmente em funcionamento natildeo eacute As licenciaturas e os

bacharelatos que Portugal neste momento tem na Universidade de Timor portanto se acha que

tem um rigor uma qualidade aa equiparada ao que se faz em Portugal Por exemplo se for um

curso imagine imagine que laacute estava um curso Australiano se o curso que os australianos laacute

estatildeo a dar normalmente tem a mesma qualidade que se fosse dado numa universidade na

Austraacutelia Neste caso o que eu lhe pergunto eacute se o ensino que Portugal laacute faz se acha que eacute um

ensino de rigor de qualidade igual agravequele que as mesmas universidades fazem mas em Portugal

F Bom acho que vamos ter de distinguir duas coisas logo de partida primeiro o facto de os

estudantes aliaacutes a educaccedilatildeo a interacccedilatildeo digamos pedagoacutegica entre o aluno e professor eacute uma

actividade aa de participaccedilatildeo Haacute um que transmite o conhecimento haacute outro que recebe O

sucesso ou natildeo sucesso deste processo de transmissatildeo e de recepccedilatildeo depende de certo modo da

do grau de participaccedilatildeo de ambos os lados Isto tem a ver com o factor recipiente e o factor fonte

Naturalmente haacute uma diferenccedila entre os professores portugueses ensinarem em Portugal e os

professores portugueses deslocados a Timor-Leste a ensinarem estudantes timorenses

A audiecircncia tambeacutem eacute contornada por certos factores Neste caso particular o domiacutenio da

liacutengua portuguesa aparece como um desses factores

(entrevista interrompida abruptamente por um telefonema)

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ANEXO VIII

ENTREVISTA Nordm6

Entrevista realizada a um responsaacutevel pela poliacutetica de cooperaccedilatildeo

de um instituto politeacutecnico puacuteblico portuguecircs

23 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador G = entrevistado G E (a entrevista natildeo foi gravada desde o seu iniacutecio uma vez que o entrevistado comeccedilou por

mostrar uma seacuterie de documentaccedilatildeo relacionada com o tema)

G hellip entre o ex-ICP actual IPAD e cada um dos PALOPS nesta caso estamos a falar de

PALOPS era assinado um acordo de cooperaccedilatildeo que tinha uma designaccedilatildeo em termos de

cooperaccedilatildeo bilateral aahellip tinha uma designaccedilatildeo de PIC (Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo) que

eacute feito de 3 em anos Estamos agora no PIC de 20022004 O uacuteltimo foi o 992001 Portanto eacute

feito com cada paiacutes como vecirc um PIC para Cabo-Verde um PIC de Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e haacute

uma brochura que o ICP na altura o IPAD elabora mas que decorre de um documento escrito

assinado pelos pares normalmente ministros de negoacutecios estrangeiros de ambas as partes

E De ambos os paiacuteses

G Ora bem eacute este PIC que por grandes categorias definehellip

E hellip as acccedilotildees

G hellip natildeo natildeo natildeo eacute as acccedilotildees as aacutereas dehellip estrateacutegicas se quiser (Reportando-se agrave leitura

de um documento do IPAD) Ora bem ldquoPoliacutetica e estrateacutegia de desenvolvimento ndash prioridade da

cooperaccedilatildeo de Cabo-Verde estrateacutegia da cooperaccedilatildeo portuguesardquo Ora bem na estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo portuguesa encontram-se os principais eixos portanto a questatildeo a liacutengua a educaccedilatildeo e

ciecircncia portanto isto satildeo as diversas partes eacute as parte que conta do protocolo Portanto os eixos

de concentraccedilatildeo e depois e depois dentro de cada um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada

um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada um destes eixos fica no fim e o PIC soacute assume os

traccedilos gerais

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Natildeo tem nada a ver com projectos concretos nem programas Entatildeo vamos passar agrave

fase seguinte que eacute a seguinte dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso encontrar executores

Como eacute que se faz o recrutamento dos executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa

nesse aspecto eacute extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais Eacute a minha opiniatildeo

Portanto em primeiro lugar quandohellip por exemplo Cabo Verde disse que gostaria de ter apoio na

aacuterea da construccedilatildeo de barreiras dehellip agrave erosatildeo dos solos natildeo define projecto nenhum natildeo define

parceiro a menos que jaacute saiba que quer fazer isso com a instituiccedilatildeo tal E depois eacute preciso que

essa manifestaccedilatildeo de vontade seja transmitida pelas autoridades cabo verdianas atraveacutes da sua

secretaria para a cooperaccedilatildeo agraves autoridades portuguesas mas por outro lado a instituiccedilatildeo

portuguesa tambeacutem diga ao IPADhellip portanto eacute preciso haver aqui natildeo haacute nenhum natildeo haacute

nenhum sistema estruturadohellip

E Natildeo haacute uma coordenaccedilatildeo no fundo destas aacutereashellip

G hellip sob o ponto de vista dehellip portanto e todo este processo de mora muito tempo o que

significa que as acccedilotildees que estatildeo programadas para um certo PIC e do PIC resulta uma coisa que

me esqueci de dizer satildeos os PACS portanto um PIC tem 3 PACS satildeo os programas anuais o

PIC eacute um programa indicativo o PAC que eacute anual eacute um programa jaacute concreto para aquela aacuterea de

execuccedilatildeo do PIC natildeo eacute Pronto Ai sim jaacute satildeo os projectos por ano

Esses projectos satildeo negociados naturalmente com os respectivos ministeacuterios de acordo

com as disponibilidades financeiras porque repare eu possohellip eu vou-lhe mostrarhellipeu vou

mostrando as coisas agrave medida que vamos dizendo

E Hum hum

G Por exemplo no programa indicativo de 992001 que eacute aquele que eu acabei de lhe

mostrar isto fui eu que fiz jaacute lhe vou explicar porque eacute que fui eu por exemplo para 2001

vamos supor para o PAC para 2001 no acircmbito da educaccedilatildeo base e secundaacuteria projecto integrado

de apoio agrave crianccedila e jovens deficientes os antecedentes deste projecto jaacute vecircm de traacutes ahellip o que eacute

que em 2001 se define quem eacute o financiador neste caso por exemplo eacute o ICP mas pode ser o

financiador pode ser o ICP mais a Gulbenkian ou pode ser mais a Beacutelgica E o executor por

exemplo neste caso aqui eacute o ISCAC

Tem de definir para cada um dos projectos e tem de se atribuir naturalmente um

montantehellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Agrave acccedilatildeo

G hellip agrave acccedilatildeo Pronto Essa gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final

quando natildeo haacute mais dinheiro o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo

comparativamente a outros paiacuteses ser algo extremamentehellip

E Acha que jaacute agora aproveito para lhe perguntar isso acha que haacute realmente uma poliacutetica

de cooperaccedilatildeo e uma estrateacutegia definida a niacutevel governamental

G Natildeo

E Ou vamos andando agrave medida quehellip

G Vamos andando Tanto eacute assim que vamos andando que o Primeiro-Ministro acabou de vir

de Cabo Verde e disse que ia dar 800 vagas para estudanteshellip portanto natildeo consultou ningueacutem

daacute 800 porque eacute Cabo Verde entatildeo porque eacute que natildeo daacute 200 a Satildeo Tomeacute porque eacute que natildeo daacute

300hellip

E Se calhar devia-se reportar agora ao bolseiros timorenses que estatildeo com seacuterias

dificuldadeshellip

G Qual foi o criteacuterio que suportou Nada Portanto satildeo questotildees poliacuteticas dehellip de agora de

poliacuteticahellip

E De oportunidade

G De oportunidade poliacutetica Bom e tambeacutem usando a questatildeo da oportunidade e eu vou ser

franca se quiser dizer isso para o jornal eu digo que natildeo disse (risos) Se quiser dizerhellip eu

tambeacutem aproveitei o contexto poliacutetico eacute assim sendo grande amiga do Engordm helliphelliphellip (indicaccedilatildeo

do nome e cargo da pessoa em causa) acreditando eu que dado o meu historial de relaccedilotildees com

Cabo Verde o que eacute que eu fiz com Cabo Verde eu comecei a trabalhar em 76 comhellip eu o

(referindo-se a mais duas pessoas) fizemos os estudos para a criaccedilatildeo do ensino superior em Cabo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Verde que foi a escola da formaccedilatildeo de professores do ensino secundaacuterio que depois veio a ser

escola de formaccedilatildeo do secundaacuterio ehellip que eacute hoje o chamado instituto superior de educaccedilatildeo

Portanto estamos a falar de 76 A partir daiacute aahellip o (referindo-se a uma terceira pessoa) seguiu

mais pela aacuterea de apoio aos cursos e eu segui mais pela aacuterea da consultoria portanto fiquei eu

trabalhei com todos os ministros da educaccedilatildeo em termos de apoio no teacutecnico-cientiacutefico e

desenvolvimento curricular Depois de ter feito os programas para a aacuterea educativa os programas

da maior parte dos cursos e cadeiras de ter feito os regulamentos de estaacutegio avaliaccedilatildeo portanto

todos os anos eu passavahellip eu fazia cinco seis missotildees por ano em Cabo Verde as que eram de

Veratildeo normalmente tinham dois meses tanto que a minha filha passou grande parte do tempo em

Cabo Verde quando era pequenina porque eu ia por exemplo Julho e Agosto todo para laacute Aahellip

mas fazia portanto com esta frequecircncia terei natildeo sei 100 missotildees portanto ateacute maishellip ao longo

de 20 anos natildeo eacute

E Claro

G Trabalhei com todos em termos de assessoria aos ministros ao Gabinete Mas aleacutem disso

pela parte da (referindo-se a uma entidade) dado este know how que tinha a hellip convidou-me e eu

fiz os estudos para a reforma do sistema educativo de Cabo Verde depois fiz tambeacutem para

Moccedilambique porque isto era um financiamento do BAD (Banco Africano de Desenvolvimento)

como Moccedilambique verificou que a equipa de Cabo Verde tinhahellip

E Estava a ter resultadoshellip

G hellip e tinha os resultados porque os proacuteprios termos de referecircncia para o concurso

tinham sido feitos por mim proacutepria portanto eu fiz os termos de referecircncia e depois concorri

Quer dizer natildeo concorri individualmente ora bem natildeo (indicando nomes de outras personalidades

envolvidas)hellip para darem nome agrave equipa mas que no fundo eram convidadoshellip aa bom

Portanto depoishellip aahellip portanto esse projecto e essa forma de sistema educativo foi um projecto

que durou 6 anos aahellip mas que era um projecto com imensos componentes tinha componente do

emprego e formaccedilatildeo profissional que era liderada essa componente pelohellip pelo ex-ministro

Nascimento Rodrigues Eacute ohellip como eacute que se chama hoje o provedor dahellip da justiccedila ou da

comunicaccedilatildeo social ou dahellip pronto o provedor Foi Ministro do Trabalho natildeo eacute

E Sim

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G No tempo do PSD Depois tinha uma aacuterea de arquitectura reconstruccedilatildeo Tinha uma aacuterea de

engenharia e tinha uma aacuterea dehellip educaccedilatildeo e desenvolvimento curricular portanto a aacuterea em que

eu estava inserida

E E trabalhou nesta altura para no fundo ou melhor com o Governo de Cabo Verde

G Exactamente eu estava contratada pela Partex que era a empresa que ganhou porque isto

foi um concurso internacional cento e tal empresas Aahellip a Partex ganhou a Partex tinha-me

vindo buscar porquecirc porque sabia que eu eacute que tinha feito os termos de referecircncia e portanto eu

sabia muito bem dar a resposta aahellip e por isso eacute que depois no convite fez a mesma coisa

portanto noacutes ganhaacutemos contra uma equipa a Profabril que na altura tinha o Engordm (hellip) que estava

com um projecto pela Profabril fez este projecto foi a reforma do sistema foram seis anos noacutes

tiacutenhamos casa tiacutenhamos uma casa tiacutenhamos 2 carros portanto eacuteramos uma equipa com uma casa

laacute com 2 funcionaacuterias com motoristas com teacutecnico de contas com natildeo sei quecirc que era a Partex

portanto eu estava ao serviccedilo da Partex Embora continuasse sempre aqui a trabalhar portanto eu

fazia tudo isto em regime de consultoria

E Ia laacute coordenar no fundo e regressava natildeo eacute

G Sim ia fazer a parte fundamentalmente eu tinha a aacuterea de formaccedilatildeo de professores desde

a preacute-escola a ensino secundaacuterio Depois aahellip mas isto era a propoacutesito de eu dizer que o (hellip)

conhecendo muito bem todo este percurso que tinha vindo desde o poacutes-independecircncia portanto eu

trabalhei com todos os ministros convidou-me e disse-me ldquo- olhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute ter um gestor da cooperaccedilatildeo para

cada um dos paiacuteses eacute a pessoa com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o que quer eacute o outro paiacutes mas eacute

preciso que algueacutem em Portugal vaacute trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para

se encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip porque agraves vezes as pessoas

quando tambeacutem natildeo sabem o que querem tecircm dificuldade em se exprimir

Portanto ele criou essa figura do gestor do grupo de missatildeo por paiacutes A pessoa que foi por

exemplo indigitada para Satildeo Tomeacute eacute hoje adido cultural em Satildeo Tomeacute porque haacute muita cunha da

(hellip) Ora o Engordm (hellipreferindo-se ao entatildeo presidente do ICP) fez isto para que realmente com

elementos internos do ICP e parcialmente com pessoas externas quando tinha uma relaccedilatildeo de

confianccedila e de conhecimento da sua experiecircncia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro Para que eu pudesse ir fazer este trabalho dado que eu tinha as minhas funccedilotildees caacute ele fez

um protocolo e eacute isso que eu lhe vou mostrar elaboraacutemos um Protocolohellip

E Eacute este aqui

G Exactamente Entre o Politeacutecnico a Cooperaccedilatildeo Portuguesa que no fundo natildeo diz mais do

que isto manifesta muito boas intenccedilotildees para cooperar disponibiliza a base de dados a

participaccedilatildeo de docentes que envolve vaacuterias escolas o ICP tal talhellip depoishellip bem isto eacute uma

coisa inoacutecuahellip

E Hum hum E com base nelehellip

G Com base nisto que eacute a tal intenccedilatildeo para fazer muitas coisas de colaboraccedilatildeo uma das

colaboraccedilotildees e diz a certa altura neste protocolo ldquocada uma das colaboraccedilotildees seraacute objecto de um

protocolo adicionalrdquo Faz-se um protocolo adicional em que ele veio aqui assinar em que me

autoriza o politeacutecnico por um lado e ele me indigita e entatildeo o Instituto da Cooperaccedilatildeo

compromete-se a designar fulana como chefe do grupo de trabalho responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo

da execuccedilatildeo do PIC Portugal ndash Cabo Verde 992001 bem como os programas anuais os PAC de

9920002001

O Politeacutecnico compromete-se a disponibilizar fulana para o exerciacutecio tal talhellip No fundo

cabe ao Instituto assegurar o apoio e conceder as facilidades nomeadamente autorizar as

deslocaccedilotildees e cabe ao Politeacutecnico pagar essas deslocaccedilotildees embora eu natildeo recebesse portanto eu

natildeo recebi nenhuma remuneraccedilatildeo por isto Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma

remuneraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem funcionado na base do

voluntarismo e natildeo na base de qualquer poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo

com Cabo Verde e nunca ganhei um tostatildeo Aahellip se eu tivesse aiacute a dar aulas numa privada estava

hoje rica pelas horas que despendi tenho muito gosto mas eacute de facto uma coisa que soacute porhellip

espiacuterito de missatildeo Sim senhora nomeiam-me assim portanto agora vamos dar uma moeda de

troca eacute o Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute nessa base que noacutes

aahellip

E Uma boa jogada

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Entatildeo por exemplo por aqui jaacute podemos ver em relaccedilatildeo este eacute um documento muito

maishellip entatildeo vamos definir projecto a projecto e note-se embora haja sabe o que eacute ohellip a

Comissatildeo Paritaacuteria

E Confesso que natildeo

G Entatildeo eacute assim Cabo Verde eacute dos PALOPS uacutenico que tem uma coisa que se chama

Comissatildeo Paritaacuteria A Comissatildeo Paritaacuteria estabelece as prioridades de cooperaccedilatildeo bem como as

questotildees do acesso ao ensino superior as vagas mas eacute o uacutenico PALOP que tem isso em Portugal

E Desculpe as vagas de alunos que vecircm para Portugal como bolseiros Natildeo tem nada a ver

com o ensino laacute OK

G Esta Comissatildeo Paritaacuteria tinha quem o Director-Geral do Ensino Superior de Cabo Verde

o Director Geral do Ensino-Superior de Portugal tinha o representante do CRUP que era o Jorge

Veiga um representante do CCISP que era o Luiacutes Soares o Presidente do ICP ou o seu

substituto mais aahellip natildeo interessa quem mas no fundo tinha estas 6 ou 7 pessoas A Comissatildeo

Paritaacuteria perante as propostas que existiam dizia ldquo- Bom eacute prioritaacuterio dentro deste montante fazer

isto aquilo e aquele outrordquo E qual era esse montante Era o montante que estava inscrito num

projecto que se chamava assim sempre se chamou deixe-me encontrar chamava-se ldquoProtocolo

Do Ensino Superiorrdquo Este protocolo celebrado em 97 prevendo acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que agora

foi assinada um novo que eacute este que assinou o Duratildeo Barroso

E Que foi-o laacute assinar

G ldquoProtocolo de Cooperaccedilatildeo da Repuacuteblica de Cabo Verde nos domiacutenios do Ensino Superior

de Ciecircncia e Tecnologiardquo

E Isso estaacute disponiacutevel nahellip Internet natildeo

G Istohellip acho que estaacute Nem sei quem eacute que me mandou istohellip

E Posso-lhe pedir uma coacutepia disso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Com este protocolo em 2000 estamos a falar de 2001 portanto eacute acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo mas

soacute no superior foram orccedilamentados 18 mil contos destinados a financiar vaacuterios projectos e foram

executados 4685 Portanto quando se diz que natildeo haacute dinheiro para a cooperaccedilatildeo isso eacute mentira

porque eu eacute que estive a coordenar isto sei que tambeacutem natildeo se gasta o dinheiro que se atribui

porque as pessoas gostam de laacute ir passear a primeira vez mas agrave segunda como eacute para trabalhar jaacute

natildeo gostam

E Jaacute natildeo vatildeo

G Aahellip com as seguintes acccedilotildees pronto ora bem quem define as prioridades sendo que o

montante estipulado portanto em 2001 estipulava-se 2000 contos a Comissatildeo Paritaacuteria aleacutem de

definir as prioridades natildeo eacute porque o ISEG o Instituto Portuguecircs de Educaccedilatildeo diz assim ldquo- noacutes

queremos que venham ajudar a dar um curso de Geologiardquo depois o ISECMAR que eacute o Instituto

Superior de Ciecircncias do Mar diz ldquo- eu quero natildeo sei quecircrdquo Depois o outro diz das Ciecircncias

Agraacuteriashellip Ora bem a Comissatildeo Paritaacuteria tem a funccedilatildeo de ir ajuizar Por outro lado te como eu

disse tem de se pronunciar relativamente agraves vagas agravehellip mas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez

nada eacute assim reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido define grandes linhas

mas depois natildeo acompanhahellip a implementaccedilatildeo das linhas

E A sua execuccedilatildeo

G E portanto pode dizer aiacute que a prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em

primeiro lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro entrava e pronto Eacute uma

barafunda Por outro lado a Comissatildeo Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do

ensino superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe de nada eacute que eu negociei tudo isto agrave

margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em minha casa falaacutessemos de Comissatildeo

ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip) soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordm (hellip referindo-se ao Presidente do ICP) foi

eu natildeo quero os projectos incluiacutedos no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute

um montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os projectos autoacutenomos Entatildeo

criei 6 ou 7 projectos sem nome projecto nuacutemero 1 Programa de intervenccedilatildeo manutenccedilatildeo de um

coordenador do politeacutecnico em que termos Deslocaccedilotildees perioacutedicas a Cabo Verde por um

periacuteodo de 3 anos que eacute a duraccedilatildeo dos Cursos que estaacute previsto desenvolver e a manutenccedilatildeo de

um coordenador para acompanhamento As acccedilotildees que noacutes vamos desenvolver satildeo estas que aqui

estatildeo para acompanhar isto in loco Eu nunca pus este indiviacuteduo laacute porquecirc porque natildeo tenho

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ningueacutem que queira natildeo eacute que queira nem eu achei necessaacuterio soacute que isto diz como possiacutevel em

que eu soacute fiz entatildeo juntei 2 mil contos natildeo foi 2 mil contos foi cerca de 2 mil em cada ano para

quecirc para ter possibilidade de mandar anualmente meia duacutezia de portanto de 2 em 2 meses uma

pessoa laacute que ia eu ou me fazia substituir para coordenar os projectos que laacute estavam mas

pronto a proacutepria ida de um coordenador era uma acccedilatildeo Depois vai a cada um destes que aqui

estatildeo e cada um deles que satildeo um bacharelato em turismo que satildeo 3 bacharelatos porque eacute um

bacharelato de turismo com 3 variantes e as cadeiras comuns satildeo poucas portanto satildeo 3

bacharelatos um curso de Formaccedilatildeo de Formadores portanto eacute uma poacutes-graduaccedilatildeo eacute poacutes-

licenciatura e era um na Praia e outro no Mindelo portanto eram 2 Aahellip bacharelato em

Educaccedilatildeo Fiacutesica a assistecircncia teacutecnica jaacute tinha sido criada ateacute jaacute estava no 1ordm ano natildeo se devia

chamar bacharelato propriamente dito porque jaacute tinha comeccedilado bacharelato em Educaccedilatildeo de

Infacircncia um Curso de Especializaccedilatildeo Profissional para o 12ordm em Turismo e Ambiente Educaccedilatildeo

para a Sauacutede Especializaccedilatildeo Profissional em Contabilidade e Gestatildeo e um Curso de

Especializaccedilatildeo Profissional em Agro-Pecuaacuteria Todos estes projectos que eu abri rapidamente

veja executorhellip estaacute Portanto estamos na preparaccedilatildeo do lanccedilamento em 2001 ainda estaacutevamos a

lanccedilar portanto as missotildees que eu mandava tinham 5 mil contos era para preparar o lanccedilamento

Por exemplo Curso de formaccedilatildeo de formadores de monitores de infacircncia estaacute a ver

E Sim sim sim

G Aahellip formaccedilatildeo profissional Curso de Formaccedilatildeo Profissional em Turismo e Ambiente

Objectivos formar e desenvolver competecircncias para o turismo aos alunos que tenham o 12ordm ano

tal tal tal entidade financiadora o ICP Eu natildeo dependia de mais nenhuma entidade natildeo quero caacute

depender de entidades externas que natildeo sei se me pagam eu faccedilo gratuitamente a funccedilatildeo de

gestora porque eu era gestora natildeo aacuterea soacute da educaccedilatildeo eu geria a aacuterea dos transportes das infra-

estruturas da rede rodoviaacuteria dahellip portanto tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa da parte

cultural da cooperaccedilatildeo da cidade velha tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa eu geria a

contrapartida como eu natildeo ganhava nada eu natildeo era funcionaacuteria do ICP eles deram-me projectos

que natildeo eram para mim portanto no fundo eacute assim o Politeacutecnico ficou a dever-me e a cooperaccedilatildeo

ficou a dever um gestor agrave borla e no fundo soacute tenho que mostrar que isto funciona e funciona de

tal maneira que agora portanto este era o processo antigo com a entrada do Dr (hellip referindo-se

a um novo presidente do ICP) para Presidente o (hellip) foi extremamente correcto e eu fui laacute e disse

ldquo- olhe eu ponho o lugar de gestora agrave disposiccedilatildeo porque eu natildeo sou de caacute portanto estouhelliprdquo Ele

disse ldquo- Natildeo senhora tem muito trabalho feito ateacute agora e se quiser continuar eu soacute lhe fico

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gratordquo Eu continuei e disse ldquo- Estaacute bem mas entatildeo tambeacutem continue a apoiar-nos porque ateacute

porque agora eacute um problema de poliacutetica de governos quer dizer as coisas estatildeo a meiohellip

E Natildeo se pode parar

G Natildeo se pode parar Sim senhora tudo correu muito bem e agora veio o terceiro presidente

Quando isto muda de ICP para IPAD Eu faccedilo n cartas ao IPAD ao Presidente do IPAD respondo

toda a situaccedilatildeo anterior porque ele deve laacute ter documentos e dossiers portanto deve laacute ter o que

satildeo os antecedentes toda a actualizaccedilatildeo sobre o Politeacutecnico aqui haacute cerca de 2 meses noacutes fomos

eu e o Presidente do Politeacutecnico mais o Presidente de cada Escola fomos a Cabo Verde

convidados pela Directora Geral do Ensino Superior entregar os diplomas dos Cursos mas

pagaacutemos por nossa conta Pronto e eacute tambeacutem algo enfim pouco pouco recomendaacutevel que noacutes

natildeo tivemos a fazer nada em termos pessoais e acabaacutemos por pagar mashellip pronto foi a nossa

contribuiccedilatildeo Noacutes temos dado outra contribuiccedilatildeo que eacute por exemplo aahellip e eacute uma grande

contribuiccedilatildeo os nossos docentes que vatildeo e eu posso-lhe mostrar satildeo as missotildees que eu tenho

agora em curso portanto todo o docente que vai o que eacute que tem quehellip tem quehellip fazer tem que

ter uma autorizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo dele portanto este eacute a Escola (hellip) para ele se deslocar a Escola

(hellip) tem de fazer uma reestruturaccedilatildeo no seu plano curricular para que ele possa laacute estar 15 dias ou

3 semanas e poder compensar as aulas

E Para natildeo prejudicar as aulas

G Eu pago adiantado aqui pelo Politeacutecnico agrave agecircncia de viagens ele passa-me o cartatildeo da

viagem duas viagens e pago antecipadamente agrave agecircncia Depois de euhellip eu depois mandohellip a

escola respectiva manda-me o boletim itineraacuterio depois disso eu mando a conta da viagem para o

IPAD o IPAD reembolsa-me e das ajudas de custo Antigamente o IPAD pagava directamente e

natildeo era contra envio de factura Porque eacute que isso acontece uma parte porque fiz um Protocolo

com o IPAD que ele me propocircs agora caso a caso portanto noacutes jaacute acabaacutemos os outros cursos soacute

estamos com os 3 bacharelatos de Turismo e entatildeo este Protocolo que jaacute estaacute assinado por noacutes

falta vir o exemplar dele aprovou ainda o montante dehellip para este ano civil natildeo eacute portanto para

as cadeiras que eu disse que precisava de pocircr a leccionar que satildeo estas

E Hum hum

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Atribuiu um montante de 102 mil euros Esta forma embora mais difiacutecil de conseguir eacute

uma forma para mim muito mais segura Eu natildeo tenho o dinheiro mas tenho a garantia de quehellip

Tenho eacute sempre o problema que tenho de pagar tudo antecipadamente e depois portanto eacute uma

gestatildeo complicada Mas para noacutes eacute uma gestatildeo complicada porque temos que pagar e pedir o

reembolso depois voltar a fazer a entrada de maneira que essa situaccedilatildeo natildeo eacute muitohellip

E Claro

G Mas tenho um tecto ao passo que eu assim estou a funcionar sem redehellip

E Claro

G hellip eu mandava e depois natildeo sabiacuteamoshellip estamos a chegar ao fim de 2003 e ainda natildeo sei o

que eacute que vai acontecer mas aiacute foi o que aconteceu em 2002 noacutes soacute recomeccedilamos 2003 em

Maio os alunos ficaram sem aulas euhellip eacutehellip

E Porque eacute que estes projectos satildeo tatildeo semelhantes nos problemashellip

G Eacute uma questatildeo de gestatildeo deslocados das ilhas eu estou a falar de um sistema insular

como tal eles estatildeo deslocados das ilhas ou por conta proacutepria ou com uma bolsa do Governo

Cabo Verdiano sem aulas ateacute Maio porque o Governo Portuguecircs natildeo deu luz verde e os alunos

estavam no segundo ano

E Mas isso aconteceu em Timor tambeacutem

G Portanto neste momento a situaccedilatildeo estaacute regularizada vou ter que comeccedilar a ver jaacute a

questatildeo de 2004 depois tem o proacuteximo anohellip

E Eu em Timor jaacute agora tinha laacute os docentes e o Governo natildeo tinha dado luz verde para

comeccedilar o segundo ano

G Pois estaacute a ver Eu a certa a altura devia 7 mil e tal contos de viagens agrave agecircncia de um ano

porque eu mandei os docentes todos sem ter ainda o Protocolo Agora as coisas estatildeo

normalizadas e estamos a funcionar nestahellip nesta base

Aahellip o que eacute que eu estava a dizer com isto tudo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Estava-me a dizer que agora este ano que jaacute vai comeccedilar a planear 2004

G Portanto com este protocolo que ainda natildeo estaacute acabado de assinar vamos comeccedilar a

preparar o ano 2004 Isto eacute para lhe dizer como eacute que funcionou na praacutetica uma coisa que estaacute

escrita nos papeacuteis ah e depois noacutes lanccedilaacutemos quando eu jaacute era gestora noacutes lanccedilaacutemos uma coisa

um concurso para equipas que se candidatassem a fazer a avaliaccedilatildeo externa porquecirc Porque eu

participei numa missatildeo do CAD Comiteacute de Apoio ao Desenvolvimento que era integrada por

uma seacuterie de peritos estrangeiros e eu depois fui pelo CAD para fazer a avaliaccedilatildeo da poliacutetica

portuguesa para os PALOPS da Poliacutetica Externa Portuguesa poliacutetica de cooperaccedilatildeo para Cabo

Verde Quando eu era a gestora e acompanhei a equipa do CAD

E Mas isso eacute importantiacutessimo o que me estaacute a dizer eu natildeo conhecia esse trabalho Isso eacute um

trabalho de avaliaccedilatildeo da poliacutetica de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde

G Isto eacute umhellip olhe ldquo- Teraacute lugar em 20002001 em Paris um exame do Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento da OCDE agrave Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa como preparaccedilatildeo deslocou-se a

Portugal uma equipa constituiacuteda por elementos tal talhellipEssa equipa constituiacuteda por fulanos

fulanos vai agora proceder agrave avaliaccedilatildeo dessa poliacutetica em Cabo Verde como coordenadora do

grupo de missatildeo da relaccedilatildeo PortugalCabo Verde ao abrigo do Protocolo solicito a V Exordf

autorizaccedilatildeohelliprdquo

E E essahellip avaliaccedilatildeo jaacute teve um relatoacuterio Natildeo tecircm disponiacutevel E quem eacute que teraacute essehellip

G Portanto estaacute a ver programa de visita aahellip

E A preparaccedilatildeo da visitahellip

G hellip isto foihellip uma fase anterior para a preparaccedilatildeo Tem aqui os documentos olhe Foi

elaborado pelo CAD isto satildeo os documentos todos

E Os comentaacuterioshellip G Depois fez-se tambeacutem caacute em Portugal eles primeiro vieram a Portugal para preparaccedilatildeo

deslocam-se a Portugal portanto eu fui a essa reuniatildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Isto eacute uma adenda ao Relatoacuterio G Isto eacute o que eu tenho portanto natildeo tenho mais documentaccedilatildeo porque eu no fundo fui

acompanhar a como professora natildeo eacute

E Sim sim G Ah depois entretanto fiz um conveacutenio de cooperaccedilatildeo entre o Politeacutecnico e a proacutepria

Direcccedilatildeo Geral de Ensino Superior de Cabo Verde para suportar exactamentehellip

E Claro hellip as actividades G hellip pode usar estes trecircs protocolos que eu fiz

E Diga-me uma coisa no meio disto tudo qual eacute a receptividade e a reacccedilatildeo do Governo

Cabo Verdiano

G Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi criacutetica foi dito oralmente mas

estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip

E Natildeo havia nenhuma auto-avaliaccedilatildeo no fundo

G Natildeo avaliaccedilatildeo aahellip externa

E Externa

G E entatildeo resolvemos lanccedilar portanto eu neste momento jaacute natildeo sou gestora com a entrada

deste presidente mas na altura lanccedilou-se uma seacuterie de concursos para que equipas apresentassem

candidatura a fazerem a avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portuguesa sei laacute no domiacutenio imagine dahellip das

redes viaacuterias Bom mas comeccedilaacutemos exactamente pelo ensino superior E haacute este Relatoacuterio cuja

maior parte das coisas eu discordo ehellip porque isto eacute de quem natildeo sabe eacute de quem estaacute a ouvir a

fazer entrevistas aahellip mas a dizer o que teoricamente eacute uma coisa eacute o teoricamente e outra coisa

eacutehellip se eu lhe disser que teoricamente a Comissatildeo Paritaacuteria que define a poliacutetica de cooperaccedilatildeo no

ensino superior

E Mas na praacutetica natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Como vecirc a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute a minha

porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo independentes e fura completamente as regras

Portanto aliaacutes eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um modelo

perigosohellip

E Mas a (hellipdirigindo-me agrave entrevistada) admite entatildeo quehellip

G Admito e mais quer dizer eu lamento que seja assim

E Eacute incriacutevel natildeo eacute

G Eacute tatildeo engraccedilado que a certa altura eles ateacute conseguem fazer um capiacutetulo que eu acho que eacute

uma coisa que vale a pena mostrar haacute um capiacutetulohellip haacute muita coisa aqui que natildeo estaacute correcta

foram os dados que eles conseguiram obterhellip agora haacute aqui uma parte que eu acho muito

engraccedilada que eles chamam mesmo numa secccedilatildeo a poliacutetica do ICP e o caso do (hellip nomeando o

instituto que representa)

E Risos Portanto o (hellip) aparece quase como haacute margem dehellip Pronto no fundo eles o que

dizem eacute que o ICP eacute o executor ohellip desculpe o (hellip) eacute o executor da poliacutetica de cooperaccedilatildeo do

ICP

G Pois

E Natildeo eacute

G Natildeo Eles fazem um relato eles tecircm uma mapa de todashellip o Departamento de Matemaacutetica

da Universidade de Coimbra tambeacutem faz protocolo com eles Aahellip os serviccedilos de biblioteca

tambeacutem fazhellip o que eles potildee mas natildeo potildee um capiacutetulo A cooperaccedilatildeo desenvolvida pela

Faculdade de Medicinardquo Eles potildee ldquoO voluntarismo da cooperaccedilatildeo e a cooperaccedilatildeo desenvolvidardquo

Portanto vatildeo mandando uma ldquobocasrdquo quer dizerhellip

E Risos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G (lecirc um estrato do Relatoacuterio) ldquo O apoio a estes novos cursos seraacute a partir de agora

estruturado no ICP de modo a permitir uma dotaccedilatildeo e gestatildeo financeira individualizada de cada

projecto e autoacutenomahelliprdquo em relaccedilatildeo ao projecto que tinha estado a ser coordenado pela Comissatildeo

Paritaacuteria cujo instrumento de coordenaccedilatildeo era a Comissatildeo Paritaacuteria criada em 9697 ldquoEstes novos

cursos eram conhecidos da Comissatildeo Paritaacuteria a quem eram comunicados para validaccedilatildeo pois na

base dehellip no entanto acabavam por gozar de uma relativa autonomiahelliprdquo Natildeo eacute relativa eacute total

ldquohellip na medida em que surgem a partir do ICP sem gerar hellip a partir das partes portuguesa quer as

instituiccedilotildees de ensinohellipal tal tal Tirando assim partido do planeamento tiravam partido do

planeamento porquecirc porque quem estava no planeamento era eu do ICP Portanto eu tinha a

dupla postura de estarhellip

E A planear e a candidatar-se ao ensino

G Estaacute bem ldquoUma outra consequecircncia dessa estrateacutegia foi feita com um contrato chapeacuteu dos

financiamentos de acccedilotildees avulsas pelo projecto protocolo do ensino superiorrdquo Isto eacute verdade satildeo

acccedilotildees avulsas natildeo eacute Quer dizer ia laacute agora um indiviacuteduo uma semana ia outrohellip depois ia laacute

fazer uma conferecircncia Eventualmente por razotildees mais faacuteceis a participaccedilatildeo tornou-se mais

significativa sendo ao mesmo tempo este projecto tentar ultrapassar as dificuldadeshellip (continua a

leitura de excertos do Relatoacuterio)

Portanto eacute soacute para ver quehellip depois conseguiram pocircrhellip pronto eles ateacute criam uma sub-

secccedilatildeo soacute porhellip (referindo-se ao seu instituto) porque de facto fugiu agrave regra do que da Comissatildeo

Paritaacuteria portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo portuguesa natildeo tem poliacutetica

E Pois e mostrou muito bem (risos)

G Natildeo eacute Na altura foi a poliacutetica toda foi a poliacutetica toda somos de certeza a instituiccedilatildeo que

tem mais cursos a funcionar laacute mas natildeo eacute ida de docentes parahellip natildeo estamos a falar de ida de

docentes para fazer uma comunicaccedilatildeo ou para dar uma cadeira noacutes damos os cursos do primeiro

ao uacuteltimohellip do iniacutecio ao fim e portanto eu tenho todas as semanas 5 ou 10 pessoas em Cabo

Verde os meus docentes natildeo levam um tostatildeo natildeo eacute como os Vossos de Timor

E Natildeo natildeo ganham nem ajudas de custo Nada

G Pagamos-lhes as despesas para viver laacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Claro claro

G Eles tecircm quehellip para jaacute natildeo ficam dispensados do serviccedilo caacute como os de Timor que satildeo

substituiacutedos

E Exacto

G E vocecircs sabemhellip

E Exacto exactamente

G Os nossos natildeo portanto o horaacuterio eacute alterado e eles quando vierem datildeo as aulas caacute e

depois natildeo ganham nada por irem para laacute soacute ganham a ajuda de custo Portanto eacute um trabalho de

voluntarismo

E Haacute bocadinho perguntava-lhehellip este dossier eacute puacuteblico ou natildeo Mas posso usar estas

informaccedilotildees para a tese Portanto agrave partida eacute um dossier puacuteblico e a informaccedilatildeo pode ser

divulgada Pronto Aahellip eu sei que o CIPES por exemplo tambeacutem estaacute a fazer um trabalho de

estudo comparativo dos vaacuterios paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eu posso-lhes facultar esta

informaccedilatildeo Eu estou a perguntar porque natildeo quer terhellip

G Quem me mandou isto foi o Instituto Superior para o Desenvolvimentohellip

E sabe que eles estatildeo com muita dificuldade em obter informaccedilatildeo

G Sabe que noacutes na altura fomos ouvidos Olhe o (hellipreferindo-se a outro elemento que foi

entrevistado) foi ouvido mas foi portanto mas noacutes fomos ouvidos comohellip

E Intervenientes no fundo

G hellip a Cooperaccedilatildeo deu os nossos nomes como pessoas quehellip o Prof (hellip) foi ouvido

enquantohellip agora natildeo concordo comhellip Destas pastas a primeira eacute sobre as vaacuterias concepccedilotildees de

cooperaccedilatildeo olhe o Acordo entre Portugal e Cabo Verde em 93 o Acordo eacute o tal de 97 que agora

existe este como lhe disse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim sim

G A concepccedilatildeo e a programaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portanto como eacute que foi concebiacutevelhellip Ora

bem eacute nisto que eu natildeo concordo porque quem estaacute de forahellip Haacute aiacute muita coisa que eacutehellip

E Depois podia arranjar-me uma coacutepia do Protocolo assinado agora Mas agora para natildeo lhe

estar a roubar muito tempo que sei que tambeacutem estaacutehellip muito ocupadahellip

G Olhe as acccedilotildees programadashellip estaacute a ver

E Sim sim

G Foram estas todas agora eacute que eu as estou a mandar para laacute

E No meio disto tudo como eacute que tem sido a intervenccedilatildeo do Governo Cabo Verdiano

G Arranja as salas aahellip

E E decide eles decidem algum tipo de estrateacutegia ou natildeo Satildeo meros espectadores

G As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das relaccedilotildees isto eacute definido sei laacute por exemplo vamos

ouhellip precisamos de um curso de turismo ou entatildeo eles natildeo dizem mas satildeo convencidos outra

coisa que aiacute estaacute ditohellip

E Eacute isso eacute que eu quero saber (risos) Isto eacute satildeo eles que identificam as suas verdadeiras

necessidades ou satildeo levados a identificar (risos)

G Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que

aacutereas necessita e depois compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu papel como

gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com as autoridades Cabo Verdianas eu quando ia

fazia uma ronda pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o Ministro das

Financcedilas com o dos Transportes mas eu natildeo fazia eu natildeo auscultava as opiniotildees deles o que eu

tentava era convencecirc-los

E Era dizer ldquo- olha vai precisar distohelliprdquo (risos)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G Eacute evidente agora o que vem escritohellip

E Eacute isso que vem escrito Mas isso eacute normal

G Agora eu digo que foram eles que disseram e natildeo era natildeo eacute

E Claro Mas a verdade eacute que eles precisam de ser orientados natildeo eacute

G Aliaacutes eu tive esse trabalho como consultora dahellip da Uniatildeo Europeia para os 5 PALOPS

emhellip portanto fui consultora para a aacuterea da educaccedilatildeo dos 5 PALOPS no acircmbito do chamado

ldquoPIR PALOP 3rdquo natildeo sei se sabe o que eacute

E Natildeo

G O ldquoPIR PALOPrdquo eacute o Programa Indicativo Regional com os PALOPS portanto em vez de

ser um Programa Indicativo para um Paiacutes e ser da Cooperaccedilatildeo Portuguesahellip

E Eacute para os PALOP em geral

G Este natildeo era da Cooperaccedilatildeo Portuguesa mas era da Comissatildeo Europeia

E Sim sim

G A Comissatildeo Europeia por qualquer razatildeo natildeo conhecia laacute ningueacutem e um dia telefonou-me

um Senhor Frank natildeo sei quantos um francecircs a convidar-me eu achei que era algum amigo meu a

gozar comigo Aahellip e depois ele mandou-me o convite formal eu aceitei e entretanto integrei

uma equipa que era toda estrangeira portanto eu estava pela aacuterea da educaccedilatildeo depois havia uma

pessoa pela aacuterea dahellip dahellip da agricultura da sauacutede e fizemos um peacuteriplo pelos 5 paiacuteses que

demorou um mecircs e tal aahellip para a chamada identificaccedilatildeo das necessidades a financiar agora natildeo

por Portugal mas pela Uniatildeo Europeia E aiacute sim o meu papel foi identificar aiacute sim na aacuterea da

educaccedilatildeo em cada um dos 5 paiacuteses as grandeshellip os grandes projectos

Depois se a Comissatildeo Europeia tinha possibilidade de os financiar ou natildeo e se os paiacuteses os

queriam ou natildeo era outro problema mas a minha funccedilatildeo era identificar Aahellip aqui como gestora

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

era negociar com os Governos aquilo que era possiacutevel Portugal dar dentro do que PAC que estava

disponiacutevel

E Agora diga-me uma coisa aahellip em relaccedilatildeo agora concretamente em relaccedilatildeo agraves acccedilotildees

desenvolvidas no terreno e ao ensino promovido pelas instituiccedilotildees sejam puacuteblicas sejam

privadas aahellip de ao niacutevel da cooperaccedilatildeo acha que as acusaccedilotildees que satildeo feitas muitas vezes ao

ensino transnacional de falta de qualidade de dehellip ateacute alguma falta de transparecircncia muitas

vezes aahellip

G O que eacute que eacute o ensino transnacional

E Olhe por exemplo sei laacute uma universidade quehellip estou-me a lembrar de algumas

universidadeshellip Natildeo estou soacute a reportar-me agora a estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo aahellip no geral Agrave

ida dehellip agrave promoccedilatildeo de ensinohellip

G No exterior

E No exterior neste caso

G Normalmente uma fraude Eacute um noventahellip eacute assim eu natildeo devia estar a dizer isto a

experiecircncia que eu tenho natildeo eacute minha

E Eu natildeo lhe estou a pedir para se reportar soacute agrave sua experiecircncia A sua sensibilidade no geral

G Natildeo natildeo se eu usasse a experiecircncia pessoal diria que sem ponta de vaidade eu sou um

caso tiacutepico dohellip do voluntarismo eu pertenccedilo quase agraves ONGs aos Meacutedicos sem Fronteirashellip

E (risos)

G Eu e o (hellip referindo-se a outro docente) trabalhaacutemos vinte e tal anos graciosamente com

perda das nossas feacuterias eu passava laacute as feacuterias sim mas estava a trabalhar Mas foi um gosto eu

tenho amigos em Cabo Verde como natildeo tenho em Portugal os meus amigos de peito satildeo de laacute eu

vi aquele paiacutes crescer eacute um gosto Se eu pensar nas dezenas de docentes que eu consegui envolver

nestes projectos todos e que estatildeo a tiacutetulo gracioso porque eles vecircm natildeo ganham um tostatildeo e

chegam caacute tecircm que repor as aulas todas que caacute deixaram e ganham uma miacutesera ajuda de custo que

lhes daacute soacute para comer e dormir ainda satildeo vinte e tal contos mas o hotel custa vinte contos natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Claro

G Portanto natildeo ganham um tostatildeo eu direi que eles satildeo aahellip quase uns heroacuteis quando

podiam estar aqui a dar acccedilotildees de formaccedilatildeo a 12 contos agrave hora Agora eu natildeo posso apostar nisto

que felizmente ou infelizmente aquilo que eu conheccedilo realmente estou na cooperaccedilatildeo agrave quase 30

anos e devo-lhe dizer que a Cooperaccedilatildeo e particularmente estou a falar da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

que eacute da que eu quero falar porque a outra eu conheccedilo mas enfim conheccedilo soacute por olfacto como

eu digo natildeo eacute porque estou laacute com as pessoas vejo o que fazem como se comportam mas natildeo

sei em que condiccedilotildees vatildeo e quehellip

E Claro claro

G Da Cooperaccedilatildeo Portuguesa eacute uma fraude do mais alto niacutevel eacute uma vigarice de dehellip da

maacutexima as pessoas vatildeo daqui eu natildeo vou dizer nomes mashellip

E Natildeo vale a pena

G Cada vez que eu viajava iam 5 professores da universidade todos eles meus amigos que

chegavam laacute que queriam era comer uma bela lagosta que natildeo sei quecirc iam 2 horas laacute agrave escola natildeo

sei quantos faziam uma conferecircncia estavam laacute 5 dias vinham 3 ficavam no Sal levavam a

mulher ou o marido aahellip os filhos se natildeo levavam pediam para fazer um peacuteriplo pelas ilhas

porque gostavam de conhecer todas e tinham feito era uma conferecircncia para dizer meia duacutezia de

ldquobalelasrdquo e quem diz ldquobalelasrdquo pode ter sido uma conferecircncia muito boa mas natildeo eacute isso que estaacute

em causa

E Claro

G Podia ter sido uma conferecircncia muito boa mas aahellip isso fazia indo num dia e vindo n

outro portanto o custo a relaccedilatildeo custobenefiacutecio eacute absolutamente insustentaacutevel

(Interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravaccedilatildeo)

E Noacutes estaacutevamos a falar dehellip ah das instituiccedilotildeeshellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Portanto quando eacute dito escrito natildeo sei quecirc eacute uma coisa a verdade eacute aquilo que eu lhe

estava a dizer portanto as pessoas vatildeo por 3 dias gastam aahellip 700 contos em viagens e ajudas de

custo porque vatildeo fazer uma conferecircncia portanto noacutes aqui funcionamos assim por exemplo eu

tenho um moacutedulo de 60 horas os alunos tecircm 6 horas de aulas por dia incluindo Saacutebados o

docente chega num dia agraves 4 h da manhatilde e comeccedila a trabalhar agraves 8 do dia seguinte e vem embora

no proacuteprio dia em que acabou as aulas que eacute a uacutenica forma de fazer render o dinheiro

E Noacutes com Timor tambeacutem fazemos assim mais ou menos Agora as pessoas muitas vezes

querem eacute ir mais cedo para fazerem uns peacuteriplos pela Austraacuteliahellip

G E podem fazer desde quehellip

E Claro e tudo o que seja extra custos da Fundaccedilatildeo eacute pago directamente por eles claro Mas

diga-me o que eu precisava que me dissesse eacute Qual eacute a sua sensibilidade em relaccedilatildeo por

exemplo a universidades privadas que estatildeo a promover uma seacuterie de cursos nomeadamente em

Cabo Verde

G Penso que eacute uma fraude do (hellip nomeando uma instituiccedilatildeo privada que promove ensino em

Cabo Verde) em Cabo Verde natildeo lhe posso dar a minha opiniatildeo porque a minha opiniatildeo eacutehellip

(gravaccedilatildeo interrompida deliberadamente para que o entrevistado se sentisse mais agrave vontade para

expressar a sua opiniatildeo)

E Claro eu percebi e percebo daquilo que tenho ouvido das vaacuterias conversas que tenho

tido com vaacuterias pessoas tenho percebido essa instituiccedilatildeo normalmente ningueacutem percebe muito

bem como eacute quehellip como eacute que estaacutehellip

G Eles hatildeo-de ter alguma vantagem em laacute estar como eacute evidente

E Claro

G Cabo Verde tambeacutem haacute-de ter no sentido em que eles hatildeo-de ter tambeacutem prometido sei laacute

o quecirc Tambeacutem natildeo sei porque sei que eles pagamhellip propinas os alunoshellip sei um monte de

coisas e portantohellip tambeacutem sei que muitos pais que tecircm laacute tido os filhos ou que tecircm laacute natildeo os

querem laacute mais mas isso algum dia a gente haacute-de ver o fundo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E O resultado natildeo eacute Para finalizar aahellip em relaccedilatildeo a isto o que eacute que acha dashellip da

implementaccedilatildeo de estruturas de regulaccedilatildeo do ensino transnacional O que eacute que acha como

mecanismo de controlo por exemplo as redes de as redes privadas dehellip de avaliaccedilatildeo e de

regulaccedilatildeo do ensino transnacional ou ainda por exemplo a inserccedilatildeo desses cursos e destas acccedilotildees

no ensino formal dos paiacuteses propriamente no sentida dehellip

G Eu achava por exemplo vou-me reportar outra vez ao meu caso eu achava por exemplo

este tipo de actividades lectivas dos docentes podiam estar incluiacutedas na sua proacutepria aahellip carga

horaacuteria porque no fundo satildeo a carga horaacuteria que natildeo eacute dada caacute eacute dada noutro siacutetio eu acho que

eacute umhellip umhellip um peso excessivo e este voluntarismo acaba quer dizer ningueacutem estaacute disposto a

continuar a fazer isto a vida inteira natildeo eacute

E Claro

G Natildeo pode ser por estas regras de voluntarismo que as coisas funcionam tambeacutem Tambeacutem

basta natildeo eacute

E Claro E em relaccedilatildeo a esse dito mecanismo de controlo acha que o ensino transnacionalhellip

G Olhe eu acho que a questatildeo para mim a questatildeo eacute outra eacute eacutehellip eacute o estabelecimento

chame-lhe contrato programa ou o que quiser da entidade que eacute financiadora eacute o IPAD que

contratualizou uma instituiccedilatildeo para uma determinada acccedilatildeo que lhe apresenta portanto sempre

que a instituiccedilatildeo lhe apresenta um projecto de intervenccedilatildeo diz ldquo- Noacutes propomos fazer isto nestes

timings com estes produtos e no fim tem que haver um mecanismo de avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo e

dizer estahellip esta empresa essa instituiccedilatildeo eacute afastada para o futuro porque natildeo cumpriu da

proacutexima vez natildeo entra Mas para fazer isto tem que o IPAD ter estruturas que natildeo tem porque

aquilo eacute uma estrutura altamente desactualizada e velha ter estruturas para gerir este processo O

que eacute que eu tenho eacute um contrato programa Este protocolo eacute um contrato programa natildeo eacute Diz

o montante 72 mil euros tenho quehellip eu disse que ia dar estas cadeiras estas estas estashellip que

eu arranjava os docentes que eu pagava antecipadamente que eles me davam o dinheiro que eu

fazia o Relatoacuterio Final pronto tudo bem Agora se eu natildeo tiver cumprido o que eacute que me

acontece natildeo me acontece nada

E Ningueacutem vai avaliar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G E se eles natildeo cumprirem tambeacutem natildeo acontece nada

E Natildeo eacute consequente E o que eacute que acha os curriacuteculos ehellip quehellip ou melhor as acccedilotildees que

elabora satildeo elaborados curriacuteculos especiacuteficos para o contexto do paiacutes

G Natildeo tem nada a ver com os de caacute

E Satildeo completamente diferentes

G Pois Eu laacute natildeo dou a histoacuteria de Portugal dou a histoacuteria de Cabo Verde ou douhellip quando

dou itineraacuterios turiacutesticos natildeo eacute em Portugal eacute em Cabo Verde a um curso de turismo Quer os

programas das cadeiras quer o proacuteprio curriacuteculo

E E estatildeo planeados no sentido de haver depois umahellip

(interrupccedilatildeo na gravaccedilatildeo para virar a cassete)

G hellip quer dizer natildeo eacute neste curso de turismo que jaacute deixo gente preparada parahellip para poder

pegar no proacuteprio curso agora a nossa ideia por exemplo ao fazermos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

formaccedilatildeo de formadores e de educaccedilatildeo na infacircncia eacute fazer o quecirc foi pegar em pessoas que jaacute

eram licenciadas dar-lhes uma poacutes-graduaccedilatildeo especiacutefica para a educaccedilatildeo de infacircncia e eles jaacute

poderem ser docentes nos cursos de educadores de infacircncia Estaacute a ver

E Exactamente

G Ora mas isso tem a ver com o o que se pode chamar um programa integrado de

intervenccedilatildeo Para aleacutem de ir fazer um curso de turismo repare que eu a par do curso de turismo de

bacharelato fiz cursos teacutecnico-profissionais poacutes 12ordm ano em ecoturismo em agroturismo emhellip

exactamente foram aqueles que saiacuteram do 12ordm ano e natildeo prosseguiram os estudos e mais nos

bacharelatos de turismo eu deixei uma quota para aqueles que fizeram outro curso profissional que

tiveram equivalecircncia ao 1ordm ano e entraram directamente

E Sim sim

G Mas portanto esse eacute um problema de concepccedilatildeo estaacute a ver

E Claro FIM

Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Acordo de Cooperaccedilatildeo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

Considerando que o ensino superior constitui uma instituiccedilatildeo de cultura e de formaccedilatildeo ciacutevica de actividades sociais cientiacuteficas e teacutecnicas e ao tempo um indicador de referecircncia sobre o desenvolvimento de uma sociedade contemporacircnea cabendo-lhe um lugar essencial na produccedilatildeo desenvolvimento e dinamizaccedilatildeo da sociedade

Considerando que nesta perspectiva eacute funccedilatildeo da formaccedilatildeo superior realizar um integral aproveitamento das capacidades humanas dos cidadatildeos dos recursos e dos valores num todo orientado para a mais completa utilizaccedilatildeo das riquezas do paiacutes

Considerando que uma longa tradiccedilatildeo nesse domiacutenio pode ser invocada a respeito de Cabo Verde nomeadamente desde meados do seacuteculo XIX com a instituiccedilatildeo de escolas de elevado niacutevel pedagoacutegico e cientiacutefico responsaacuteveis pelo notaacutevel quadro actual nos diferentes planos do saber cultural cientiacutefico e teacutecnico

Considerando que a receacutem-formada Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa vem aumentar por um lado a importacircncia do desenvolvimento do ensino superior atendendo ao estreitamento de relaccedilotildees entre os seus membros e por outro o sentido da solidariedade entre as instituiccedilotildees de ensino que podem colaborar no desenvolvimento da formaccedilatildeo superior considerada nas suas diferentes aacutereas culturais cientiacuteficas e teacutecnicas onde quer que haja condiccedilotildees de viabilidade

Considerando a realidade da cooperaccedilatildeo existente entre Portugal e Cabo Verde e os resultados positivos alcanccedilados A Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde acordam em

Artigo 1ordm

Conjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre as instituiccedilotildees de ensino superior e de investigaccedilatildeo de ambos os paiacuteses

Artigo 2ordm

Para esse efeito seraacute constituiacuteda uma comissatildeo paritaacuteria destinada a desenvolver os trabalhos conducentes agrave concretizaccedilatildeo dos objectivos expostos integrando um maacuteximo de cinco representantes de cada paiacutes

Artigo 3ordm

Os elementos da comissatildeo paritaacuteria seratildeo nomeados no prazo de 45 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo

Artigo 4ordm

A comissatildeo paritaacuteria reuniraacute no prazo de 90 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo e elaboraraacute um projecto de regulamento a homologar por ambas as Partes contemplando a sua forma de funcionamento e o plano de actividades que se propotildee desenvolver com vista a atingir os objectivos previstos

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Paacutegina Inicial Publicaccedilotildees Contactos Novidades Ligaccedilotildees Mapa O Que eacute o GAERI

Artigo 5ordm

A comissatildeo paritaacuteria poderaacute convidar organizaccedilotildees privadas com trabalho desenvolvido na aacuterea do ensino para participar nas suas reuniotildees agraves quais seraacute dado estatuto de observador

Artigo 6ordm

1 - O presente Acordo entraraacute em vigor na data da uacuteltima notificaccedilatildeo do cumprimento das formalidades exigidas para o efeito pela ordem juriacutedica de cada uma das Partes e seraacute vaacutelido por um periacuteodo de cinco anos podendo ser denunciado por qualquer das Partes mediante comunicaccedilatildeo escrita agrave outra com uma antecedecircncia miacutenima de nove meses

2 - O presente Acordo poderaacute ser prorrogado por acordo entre as Partes por um periacuteodo susceptiacutevel de ir ateacute cinco anos tendo em conta a avaliaccedilatildeo do projecto feita no decurso do ano lectivo de 2001-2002 caso haja lugar agrave prorrogaccedilatildeo ela far-se-aacute por simples troca de notas entre os Ministeacuterios dos Negoacutecios Estrangeiros de cada um dos paiacuteses

Feito na cidade da Praia aos 18 de Fevereiro de 1997 em dois originais em liacutengua portuguesa fazendo os dois textos igualmente feacute

Pela Repuacuteblica Portuguesa Eduardo Carrega Marccedilal Grilo Ministro da Educaccedilatildeo

Pela Repuacuteblica de Cabo Verde Joseacute Luiacutes Livramento Ministro da Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

Declaraccedilatildeo por ocasiatildeo da assinatura do Acordo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superior

A Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian vem desde o iniacutecio dos anos 90 e no quadro da colaboraccedilatildeo estabelecida com as autoridades cabo-verdianas no domiacutenio da educaccedilatildeo prestando o seu contributo para a institucionalizaccedilatildeo do ensino superior em Cabo Verde A prioridade concedida pela Fundaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo deste niacutevel de ensino em Cabo Verde funda-se no reconhecimento da importacircncia que a formaccedilatildeo de niacutevel superior tem para o desenvolvimento sustentado do paiacutes

A Fundaccedilatildeo iraacute prosseguir o seu apoio agraves actividades de ensino superior em Cabo Verde nos termos recentemente acordados com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo deste paiacutes designadamente atraveacutes de acccedilotildees de assistecircncia teacutecnica de formaccedilatildeo de docentes de desenvolvimento curricular da oferta de equipamento cientiacutefico e didaacutectico e de bibliografia

Nesta conformidade e com o objectivo de promover uma eficaz colaboraccedilatildeo no desenvolvimento do apoio ao ensino superior em Cabo Verde a Fundaccedilatildeo mostra-se disponiacutevel em participar com o estatuto de observador na comissatildeo paritaacuteria ora criada entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde nos termos e nas condiccedilotildees que vierem a ser definidos pelas duas Partes

Cidade da Praia 18 de Fevereiro de 1997 - Pela Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian o Administrador Victor de Saacute Machado

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Assuntos Comunitaacuterios Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento Assuntos Bilaterais e Multilaterais Equivalecircncias

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 499

3 mdash Os elementos necessaacuterios agrave identificaccedilatildeo das pes-soas a abranger satildeo

a) Nomeb) Local de trabalho ou estabelecimento de ensinoc) Categoria ou cargo consoante o casod) Periacuteodo de dispensa a conceder

4 mdash Dos requerimentos de dispensa de trabalho oudas declaraccedilotildees a emitir com vista agrave justificaccedilatildeo dasfaltas deveraacute constar uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do pro-jecto e da razatildeo pela qual se entende que eacute justificadaa participaccedilatildeo do tripulante no evento

Artigo 7o

Limite temporal

Para efeitos do presente diploma a dispensa de tra-balho ou a relevaccedilatildeo de faltas escolares circunscrever--se-aacute ao periacuteodo maacuteximo de 15 de Fevereiro a 31 deAgosto de 2000

Artigo 8o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia imedia-tamente seguinte ao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 21 deJaneiro de 2000 mdash Juacutelio de Lemos de Castro Cal-das mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Luiacutes Manuel Fer-reira Parreiratildeo Gonccedilalves mdash Fernando Manuel dos SantosGomes mdash Rui Antoacutenio Ferreira Cunha mdash GuilhermedrsquoOl ive i ra Mar t ins mdash Alber to de Sousa Mar-tins mdash Armando Antoacutenio Martins Vara

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 2 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

MINISTEacuteRIO DA REFORMA DO ESTADOE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Decreto-Lei no 102000de 10 de Fevereiro

No quadro das responsabilidades que Portugal temassumido relativamente a Timor Leste assente na soli-dariedade decorrente de mais de quatro seacuteculos de his-toacuteria partilhada e no papel que internacionalmente sem-pre lhe foi reconhecido cabe ao Governo Portuguecircscriar as condiccedilotildees e os mecanismos que incentivem ereforcem a cooperaccedilatildeo com o povo de Timor Leste

Com este objectivo e integrando-se no programa deassistecircncia e cooperaccedilatildeo jaacute aprovado que visa a con-solidaccedilatildeo da paz da ordem e da tranquilidade naqueleterritoacuterio e a reestruturaccedilatildeo dos sectores baacutesicos dasociedade timorense dando resposta aos problemasquotidianos com que o povo de Timor Leste se defrontao presente diploma institui uma licenccedila especial quepossibilita o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou de interessepuacuteblico em Timor por trabalhadores do sector puacuteblicoou do sector privado no activo ou aposentados ereformados

A licenccedila especial ora instituiacuteda tem semelhanccedilas coma licenccedila definida no Decreto-Lei no 89-G98 de 13de Abril para o exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio deMacau licenccedila esta cujo regime seguia de perto o esta-belecido para a licenccedila sem vencimento para o exerciacuteciode funccedilotildees em organismos internacionais constante hojedos artigos 89o a 92o do Decreto-Lei no 10099 de31 de Marccedilo mas vai para aleacutem dela atentas as par-ticulares condiccedilotildees de exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuteriode Timor por um lado e a sua aplicaccedilatildeo aos traba-lhadores do sector privado por outro jaacute que este sectorpor certo seraacute fonte de potenciais candidatos com perfile qualificaccedilotildees adequadas ao exerciacutecio de funccedilotildees emaacutereas chave de economia do territoacuterio

Foram ouvidos os oacutergatildeos de governo proacuteprio dasRegiotildees Autoacutenomas a Associaccedilatildeo Nacional de Muni-ciacutepios e a Associaccedilatildeo Nacional de Freguesias

Foram cumpridas as disposiccedilotildees relativas agrave negocia-ccedilatildeo colectiva nos termos da Lei no 2398 de 26 deMaio

AssimNos termos da aliacutenea a) do no 1 do artigo 198o da

Constituiccedilatildeo o Governo decreta para valer como leigeral da Repuacuteblica o seguinte

Artigo 1o

Objecto

O presente diploma institui uma licenccedila especial quevisa possibilitar o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou deinteresse puacuteblico em Timor Leste no quadro das res-ponsabilidades que Portugal assumiu na assistecircnciaagravequele territoacuterio

Artigo 2o

Acircmbito pessoal

1 mdash O regime estabelecido no presente diploma apli-ca-se aos trabalhadores sujeitos a um regime de trabalhosubordinado do sector puacuteblico ou do sector privado

2 mdash As disposiccedilotildees do presente diploma satildeo tambeacutemaplicaacuteveis agraves forccedilas de seguranccedila com as adaptaccedilotildeesdecorrentes dos seus estatutos especiais

3 mdash Aos militares das Forccedilas Armadas independen-temente da situaccedilatildeo em que se encontrem aplicam-seas regras constantes do respectivo estatuto e demaislegislaccedilatildeo especial sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo de dis-posiccedilotildees mais favoraacuteveis previstas no presente diploma

4 mdash Satildeo ainda aplicaacuteveis as disposiccedilotildees do presentediploma com as necessaacuterias adaptaccedilotildees aos aposen-tados e reformados bem como agraves forccedilas de seguranccedilana situaccedilatildeo de reserva salvaguardando quanto aos apo-sentados e reformados por invalidez a exigecircncia do exer-ciacutecio de actividade diversa daquela pela qual foi reco-nhecida a respectiva incapacidade

5 mdash A concessatildeo da licenccedila especial prevista no pre-sente diploma aos trabalhadores das empresas puacuteblicase das empresas privadas seraacute obrigatoriamente pre-cedida da requisiccedilatildeo agraves respectivas entidades patronaisa efectuar pelo serviccedilo competente do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

Artigo 3o

Acircmbito institucional

1 mdash O presente diploma eacute aplicaacutevel aos serviccedilos daadministraccedilatildeo puacuteblica central local e regional autoacute-

500 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000

noma incluindo os institutos puacuteblicos na modalidadede serviccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabe-lecimentos puacuteblicos

2 mdash O presidente diploma eacute ainda aplicaacutevel agravesempresas puacuteblicas e agraves empresas privadas mediante omecanismo de requisiccedilatildeo a que se refere o no 5 doartigo 2o

Artigo 4o

Duraccedilatildeo da licenccedila

A licenccedila especial pode ser concedida aos trabalha-dores que a requeiram por periacuteodos de duraccedilatildeo natildeosuperior a dois anos renovaacuteveis ateacute ao limite de trecircsrenovaccedilotildees

Artigo 5o

Concessatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila eacute concedida por despacho do Ministrodos Negoacutecios Estrangeiros mediante requerimento dointeressado devidamente fundamentado

2 mdash No caso dos trabalhadores de empresas puacuteblicase de empresas privadas a concessatildeo de licenccedila estaacute con-dicionada a preacutevia efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que serefere o no 5 do artigo 2o

3 mdash O requerimento deve ainda conter as seguintesindicaccedilotildees

a) Nome estado civil residecircncia e telefoneb) Habilitaccedilotildees literaacuteriasc) Qualificaccedilotildees profissionaisd) Viacutenculo laborale) Serviccedilo ou entidade onde exerce funccedilotildeesf) Tipo de funccedilotildees desempenhadas e niacutevel de

responsabilidadeg) Duraccedilatildeo da licenccedila

4 mdash A concessatildeo da licenccedila depende de preacutevia pon-deraccedilatildeo do caso pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros tendo em conta todosos aspectos integrantes do programa de assistecircncia ecooperaccedilatildeo com Timor Leste e da concomitante anuecircn-cia do membro do Governo que tutela o serviccedilo deorigem ou do oacutergatildeo autaacuterquico ou regional autoacutenomocompetente

5 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores daadministraccedilatildeo puacuteblica local e regional autoacutenoma a con-cessatildeo da licenccedila pode ficar condicionada ao natildeo paga-mento da remuneraccedilatildeo durante o decurso da licenccediladevendo a sua posiccedilatildeo ser comunicada ao Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros no prazo de 15 dias a contarda data da consulta que lhe tiver sido feita pelos serviccediloscompetentes deste Ministeacuterio sob pena de se considerartaacutecita e incondicionalmente consentida

6 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores deempresas puacuteblicas e privadas a concessatildeo da licenccediladepende da preacutevia anuecircncia das respectivas entidadesempregadoras agrave efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que se refereo no 5 do artigo 2o

7 mdash Na comunicaccedilatildeo de anuecircncia agrave requisiccedilatildeo refe-rida no nuacutemero anterior devem as entidades empre-gadoras referir a assunccedilatildeo ou natildeo dos encargos comas remuneraccedilotildees durante o periacuteodo da requisiccedilatildeo

8 mdash Para efeitos da ponderaccedilatildeo a que se refere aprimeira parte do no 4 poderatildeo os serviccedilos competentesdo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros proceder agravesentrevistas que considerem necessaacuterias bem como sub-meter os interessados a exames meacutedicos e psicoloacutegicos

Artigo 6o

Efeitos da licenccedila

1 mdash A licenccedila especial natildeo afecta a situaccedilatildeo juriacutedi-co-laboral em que o trabalhador se encontra e carac-teriza-se especialmente por

a) Natildeo determinar a abertura da vaga no quadrode origem nem a alteraccedilatildeo ou perda do viacutenculolaboral

b) Natildeo implicar a perda das remuneraccedilotildees quesejam objecto de desconto para o respectivoregime de seguranccedila social

c) Manter o direito agrave contagem do tempo de ser-viccedilo para todos os efeitos legais havendo lugaragrave efectivaccedilatildeo dos correspondentes descontoslegais com base na remuneraccedilatildeo do lugar deorigem com as alteraccedilotildees remuneratoacuterias queentretanto ocorrerem

d) Manter o direito agrave progressatildeo e promoccedilatildeodevendo os serviccedilos a que pertence o trabalha-dor notificaacute-lo da abertura de concursos atraveacutesdo serviccedilo competente do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros

e) Suspender a comissatildeo de serviccedilo dos dirigentesf) Manter todos os direitos inerentes ao corres-

pondente regime de seguranccedila social aplicaacutevelg) Suspender a requerimento do interessado a con-

tagem dos prazos para apresentaccedilatildeo de rela-toacuterios ou prestaccedilatildeo de provas previstas nos esta-tutos das carreiras do pessoal docente univer-sitaacuterio de investigaccedilatildeo cientiacutefica e do docentedo ensino superior politeacutecnico

2 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees aos funcionaacuteriose agentes dos serviccedilos da administraccedilatildeo puacuteblica centralincluindo os institutos puacuteblicos na modalidade de ser-viccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabelecimentospuacuteblicos constitui encargo dos serviccedilos ou organismosa que pertencem

3 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees obrigatoacuterias para regimes de protecccedilatildeo social dosfuncionaacuterios e agentes da administraccedilatildeo local e regionalautoacutenoma quando natildeo haja anuecircncia destes quanto aoseu pagamento constitui encargo do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

4 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees para a seguranccedila social dos trabalhadores dasempresas puacuteblicas ou privadas quando natildeo haja anuecircn-cia destas quanto ao seu pagamento constitui encargodo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

5 mdash Se no decurso da licenccedila o trabalhador vier aser abrangido pelo recrutamento para a prestaccedilatildeo doserviccedilo militar poderaacute ver o tempo de duraccedilatildeo do exer-ciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio de Timor Leste contadocomo serviccedilo ciacutevico de interesse nacional para efeitosde cumprimento dos deveres de serviccedilo militarmediante despacho conjunto dos Ministros da DefesaNacional e dos Negoacutecios Estrangeiros a requerimentodo interessado

Artigo 7o

Direitos

1 mdash Os trabalhadores a quem eacute concedida a licenccedilaespecial tecircm direito

a) Ao pagamento de um subsiacutedio complementara fixar por despacho dos Ministros dos Negoacutecios

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 501

Estrangeiros e das Financcedilas a pagar em TimorLeste em doacutelares dos Estados Unidos da Ameacute-rica (USD)

b) A alojamento em Timor Leste ou a subsiacutediode renda de casa a fixar por despachos do Minis-tros dos Negoacutecios Estrangeiros e das Financcedilasde acordo com os preccedilos praticados naqueleterritoacuterio

c) A seguro de viagens de acidentes pessoaisincluindo acidentes de trabalho e doenccedilas pro-fissionais no caso de a protecccedilatildeo destes riscosnatildeo estar assegurada pelo regime de seguranccedilasocial em que se mantecircm enquadrados

d) Ao pagamento das despesas de transporte deida e volta para Timor Leste e respectivas baga-gens a partir do local de residecircncia em Portugal

e) Agrave assistecircncia meacutedica medicamentosa ciruacutergicae hospitalar ou seguro de sauacutede

f) A 30 dias uacuteteis de feacuterias por anog) Ao pagamento das despesas de viagem de feacuterias

a Portugal caso a licenccedila seja renovada ao fimde dois anos por pelo menos mais um ano

h) A um subsiacutedio de embarque de montante a fixarpor despacho conjunto dos Ministros das Finan-ccedilas e dos Negoacutecios Estrangeiros a abonar antesda deslocaccedilatildeo para Timor

2 mdash O pagamento de todas as remuneraccedilotildees e des-pesas referidas no no 1 constitui encargo do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

Artigo 8o

Fim e renovaccedilatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila termina no fim do prazo para que foiconcedida se o interessado natildeo requerer fundamenta-damente a sua renovaccedilatildeo ateacute 90 dias antes do seu termo

2 mdash O Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros devedecidir adoptando o procedimento do no 3 do artigo5o ateacute 60 dias antes do seu termo depois do que natildeohavendo decisatildeo se considera que a renovaccedilatildeo natildeo foiautorizada

3 mdash A licenccedila pode ser dada por finda por motivosde interesse puacuteblico devidamente fundamentados

4 mdash O trabalhador pode requerer o fim antecipadoda licenccedila por motivos ponderosos devidamente fun-damentados

5 mdash Se natildeo forem atendiacuteveis os motivos invocadospelo trabalhador este obriga-se a reembolsar o Estadodos pagamentos que houverem sido efectuados com asua viagem e transporte das respectivas bagagens naproporccedilatildeo dos meses que faltarem para completar operiacuteodo da licenccedila

6 mdash A licenccedila eacute ainda dada por finda no caso dedoenccedila grave natural ou de causa profissional queimpossibilite o trabalhador de exercer as suas funccedilotildeespor um periacuteodo superior a 90 dias

7 mdash Ocorrendo a morte do trabalhador em TimorLeste eacute aplicaacutevel agrave transladaccedilatildeo das cinzas ou do corpoo disposto no Decreto-Lei no 30883 de 1 de Julhosendo os requerimentos aiacute previstos endereccedilados aoMinistro dos Negoacutecios Estrangeiros e as despesas efec-tuadas custeadas pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

8 mdash Haveraacute ainda lugar na situaccedilatildeo referida nonuacutemero anterior se assim for requerido ao transportedos bens pessoais do trabalhador para Portugal custeadopelos serviccedilos referidos naquele nuacutemero

Artigo 9o

Apresentaccedilatildeo no regresso a Portugal

1 mdash O titular da licenccedila uma vez regressado a Por-tugal deve apresentar-se no prazo de cinco dias uacuteteisno serviccedilo competente do Ministeacuterio dos NegoacuteciosEstrangeiros onde receberaacute guia para o serviccedilo ou enti-dade a que se encontre vinculado a fim de ir ocuparo seu lugar e exercer as correspondentes funccedilotildees

2 mdash A guia a que se refere o nuacutemero anterior espe-cificaraacute o dia da apresentaccedilatildeo ao serviccedilo ou entidadede origem dia a partir do qual cessam as responsa-bilidades do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros pelopagamento dos respectivos encargos

Artigo 10o

Serviccedilos processadores

1 mdash Os actos administrativos e procedimentais neces-saacuterios agrave efectivaccedilatildeo da licenccedila especial designadamenteo pagamento de remuneraccedilotildees e outros abonos emTimor Leste os seguros e as despesas de transportesatildeo praticados pelos serviccedilos competentes do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

2 mdash Os serviccedilos competentes do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros devem articular com os serviccedilos ouentidades a que os titulares da licenccedila pertencem comvista a resolver todas as questotildees que surjam no decursoda mesma

Artigo 11o

Legislaccedilatildeo subsidiaacuteria

Em tudo o que natildeo esteja expressamente previstono presente diploma eacute aplicaacutevel o disposto no regimegeral da funccedilatildeo puacuteblica ou na legislaccedilatildeo geral do tra-balho consoante o regime a que se encontra sujeito otitular da licenccedila

Artigo 12o

Salvaguarda de regimes especiais

O disposto no presente diploma natildeo prejudica osdireitos dos trabalhadores emergentes de disposiccedilotildeesmais favoraacuteveis constantes de regimes especiais

Artigo 13o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia seguinteao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 22 deDezembro de 1999 mdash Antoacutenio Manuel de Oliveira Guter-res mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Juacutelio de Lemos deCastro Caldas mdash Fernando Manuel dos Santos Gomes mdashJoaquim Augusto Nunes Pina Moura mdash Eduardo Luiacutes Bar-reto Ferro Rodrigues mdash Alberto de Sousa Martins

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 3 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

  • Tese_versatildeo definitivapdf
    • intropdf
    • tesepdf
      • Anexos I a VIII - Guiotildees 1 e 2 e Entrevistaspdf
      • Anexo IX - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 1997pdf
      • Anexo X - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 2003pdf
      • Anexo XI - Decreto Lei 10-2000_1pdf
      • Anexo XII-Memorandumpdf
Page 3: Mónica Pimentel Modelos de Cooperação Portuguesa para o

o juacuteri

presidente Prof Dr Joseacute Manuel Lopes da Silva Moreira Professor Associado da Universidade de Aveiro

Profa Drordf Maria Luiacutesa Ferreira Cabral dos Santos Veiga Professora Coordenadora da Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Coimbra (arguente principal)

Prof Dr Antoacutenio Manuel Magalhatildees Evangelista de Sousa Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto

Prof Dr Alberto Manuel Sampaio Castro Amaral Professor Catedraacutetico da Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade do Porto (orientador)

Prof Dr Virgiacutelio Alberto Meira Soares Professor Catedraacutetico da Faculdade de Ciecircncias da Universidade de Lisboa (co-orientador)

agradecimentos

Aos meus orientadores Prof Alberto Amaral e Prof Virgiacutelio Meira Soarespelas excelentes capacidades cientiacuteficas e acadeacutemicas que os caracterizam eque desde sempre me permitiram partilhar Ao Prof Rui Santiago pelo apoio eincentivo que soube transmitir nos momentos de maior desacircnimo a todosaqueles que abdicaram do seu tempo para me concederem uma entrevistaaos meus amigos e familiares pela paciecircncia palavras de incentivo e motivaccedilatildeo com que sempre contei ao Bruno pelo amor que me dedica Agrave Beatriz por tudo

resumo

A presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma anaacutelise criacutetica das actividades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas nos PALOP e em Timor-Leste No actual sistema formal de educaccedilatildeo as actividades de ensino transnacional encontram-se por norma integradas emprogramas de cooperaccedilatildeo governamentais o que lhes confere caracteriacutesticas bastante peculiares Para aleacutem de identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos dosmodelos de cooperaccedilatildeo analisados satildeo tecidas consideraccedilotildees que procuramdar um contributo para a optimizaccedilatildeo da rentabilidade dos recursos financeirose humanos investidos por Portugal neste domiacutenio

abstract

This study intends to perform a critical analysis of the activities of transnational education performed by Portuguese public higher education institutions in thePALOP (African Countries of Official Portuguese Language) and East TimorIn the present formal education system the activities of transnational education are usually integrated in governmental cooperation programmes that providethem unique specificities and characteristics Beyond the identification of strong and weak aspects of the analysed models of cooperation some recommen-dations will be suggested in order to allow an optimization and profitability offinancial human resources of this domain in the future

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

IacuteNDICE

Lista de Siglas e Acroacutenimos 15

Lista de Quadros 17

Introduccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO I

1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 27

11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo 27

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior 30

121 O papel da Universidade na Europa Comum 42

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia 51

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha 56

CAPIacuteTULO II

2 O Ensino Superior Transnacional 63

21 O Ensino Transnacional no Contexto da Uniatildeo Europeia 63

211 Principais problemas do ensino superior transnacional 67

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-

nacional 71

22 O GATS e o ensino transnacional 77

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-

-econoacutemica Internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilo 84

11

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III

3 A metodologia da Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo selecccedilatildeo da amos-

tra recolha e anaacutelise dos dados 87

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo 90

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida 92

313 A selecccedilatildeo de amostra 94

314 O processo de escolha de dados e construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos 96

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo

Portuguesa 101

41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso 101

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio

do ensino superior 102

4111 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde 102

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde 103

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 106

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o en-

sino superior 122

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

sector do ensino superior 124

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no

domiacutenio do ensino superior 126

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio

do ensino superior 127

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste 127

12

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste 134

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do

ensino superior 137

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino

superior ateacute 2010 141

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 152

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior 153

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees 155

Conclusotildees Finais 159

Referecircncias Bibliograacuteficas 165

Tratados e Acordos 168

Revistas Jornais e Paacuteginas de Internet 168

13

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

14

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Siglas e Acroacutenimos ADISPOR mdash Associaccedilatildeo dos Institutos Superiores Politeacutecnicos Portugueses

CCISP mdash Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politeacutecnicos

CEPES (UNESCO) mdash European Centre for Higher Education

CNAVES mdash Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo Ensino do Superior

CNRT mdash Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense

CRUP mdash Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas

ECTS mdash European Credit Transfer System

ENIC mdash European Network of Information Centres

ESE mdash Instituto Superior de Educaccedilatildeo de Cabo Verde

EUA mdash European University Association

FUP mdash Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

GATE mdash Global Alliance for Transnacional Education

GATS mdash General Agreement on Trade in Services

ICA mdash Instituto Camotildees

ICCTI mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica Internacional

ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa

IPAD mdash Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

ISCTE mdash Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

ISECMAR mdash Instituto Superior de Engenharia

MCT mdash Ministeacuterio Ciecircncia e Tecnologia

MFNT mdash Most Favoured Nation Treatment

OCDE mdash Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Econoacutemica e Desenvolvimento

PALOP mdash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB mdash Produto Interno Bruto

PIC mdash Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

15

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

PNUD mdash Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

UE mdash Uniatildeo Europeia

UNDP mdash United Nations Development Programme

UNESCO ndash United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

UNTAET mdash United Nations Transnational Administration in East Timor

UNTL mdash Universidade Nacional de Timor Leste

UK mdash United Kingdom

WTO mdash World Trade Organization

16

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Lista de Quadros QUADRO Nordm 1 mdash Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas 98

QUADRO Nordm 2 mdash Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para a Cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde 107

QUADRO Nordm 3 mdash Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superior segundo a entidade financiadora e executor 113

QUADRO Nordm 4 mdash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo

(puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido 118

QUADRO Nordm 5 mdash A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero

de Alunos 133

QUADRO Nordm 6 mdash Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP de Cooperaccedilatildeo com Timor

Leste 140

17

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

18

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ldquoIn this world there are three creations whose continued and general well-being depend on their moving forward The first is the bicycle

the second the shark the third the universityrdquo

(Neave 1997)

19

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

20

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Introduccedilatildeo

No acircmbito do Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior da Univer-

sidade de Aveiro a presente dissertaccedilatildeo propotildee-se fazer uma abordagem criacutetica agrave

expansatildeo do ensino transnacional a niacutevel mundial identificando as causas deste fenoacute-

meno e avaliando as suas consequecircncias para o sector da educaccedilatildeo O caso portuguecircs

apresenta um modelo de ensino transnacional basicamente impulsionado por iniciativas

de cooperaccedilatildeo com paiacuteses em desenvolvimento que vem demonstrar que o processo de

globalizaccedilatildeo levou de certa forma a um estiacutemulo da procura de novos mercados por

parte das instituiccedilotildees de ensino que desta forma se viraram para novos puacuteblicos

apostando em mecanismos alternativos de promoccedilatildeo de actividades educativas no domiacute-

nio do ensino superior

A definiccedilatildeo do objecto de estudo seraacute determinante no desenvolvimento do tra-

balho empiacuterico e condicionaraacute a posterior identificaccedilatildeo das principais problemaacuteticas que

importa abordar sobre este assunto Assim sendo procurar-se-aacute circunscrever a anaacutelise

empiacuterica ao estudo e criacutetica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para o sector da

educaccedilatildeo mais concretamente no domiacutenio do ensino superior uma vez que nelas estatildeo

invariavelmente inseridas actividades de promoccedilatildeo de ensino transnacional por parte

das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas universitaacuterias e politeacutecnicas

No pressuposto de que a evoluccedilatildeo das praacuteticas de ensino transnacional resulta de

um processo de transformaccedilatildeo que estaacute intimamente ligado com a mudanccedila a que se

assiste hoje na Europa e no Mundo o primeiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado ao

fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo seus efeitos e consequecircncias Este movimento que de resto

tem vindo a modificar as sociedades industriais desde os anos 70 relegando para um

plano cada vez mais regulador o papel dos Estados-Naccedilatildeo na sua funccedilatildeo de zelar pela

harmonizaccedilatildeo dos mercados e pela conciliaccedilatildeo econoacutemica torna-se um elemento impul-

sionador agrave reestruturaccedilatildeo dos sistemas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo na Europa O sector do

21

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino enquanto motor dinamizador e de desenvolvimento de uma Naccedilatildeo e instrumento

de competitividade e supremacia de uns paiacuteses sobre outros eacute assumido como tal pelos

paiacuteses que apostam na mercantilizaccedilatildeo deste sector

As repercussotildees deste processo de globalizaccedilatildeo podem ser de vaacuterias ordens

destacando-se de entre as mais evidentes a convergecircncia dos sistemas educativos as

oportunidades de evoluccedilatildeo e experimentaccedilatildeo que proporcionam aos vaacuterios actores

envolvidos bem como o impulso que provoca nas instituiccedilotildees conferindo-lhes a pos-

sibilidade de um desenvolvimento a vaacuterios niacuteveis Neste acircmbito o papel que desem-

penha a Universidade numa Europa comum ganha especial importacircncia por isso

mesmo seraacute dada particular atenccedilatildeo a este assunto ainda no primeiro capiacutetulo deste

trabalho Por forccedila das circunstacircncias atribuiu-se ao Tratado de Maastricht a virtude de

consolidar por um lado uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo europeia entre Estados-Membros

para o sector educativo demonstrando por outro lado a permanecircncia de uma diversi-

dade de sistemas educativos na Europa A assinatura deste tratado vem legitimar os

direitos consagrados aos cidadatildeos dos Estados-Membros confinando o papel dos Esta-

dos-Naccedilatildeo a oacutergatildeos de poder reguladores e com capacidade decisoacuteria sobre as formas

de iniciativa puacuteblicas e privadas no sector educativo

O primeiro capiacutetulo natildeo estaria completo sem uma abordagem sintetizada ao

sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia e face ao processo

de globalizaccedilatildeo Parte-se da anaacutelise do sistema de ensino no periacuteodo preacute-revolucionaacuterio

para mais aprofundadamente se descrever e caracterizar a evoluccedilatildeo do sistema de ensino

superior no periacuteodo poacutes-revoluccedilatildeo de Abril e posteriormente no contexto de adesatildeo agrave

Uniatildeo Europeia

O segundo capiacutetulo eacute dedicado ao ensino superior transnacional fazendo-se uma

anaacutelise alargada sobre os aspectos positivos e negativos deste sistema de ensino na

perspectiva dos paiacuteses emissores e dos paiacuteses receptores Os motivos que explicam o

aumento exponencial deste sector nos uacuteltimos anos satildeo analisados elencando-se os

principais problemas a ele associados Questotildees como a avaliaccedilatildeo da qualidade do

ensino praticado o papel regulador das instituiccedilotildees receptoras de ensino transnacional

ou a total ausecircncia destes mecanismos satildeo apenas algumas das questotildees que mais

preocupaccedilotildees tecircm suscitado aos estudiosos desta problemaacutetica Mas outras questotildees

igualmente importantes surgem associadas ao ensino transnacional tal como a perti-

22

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necircncia e a adequaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo enquanto elemento determinante para o

desenvolvimento sustentado do paiacutes receptor a acreditaccedilatildeo e reconhecimento de graus

ou o planeamento estrateacutegico das actividades de apoio ao sector do ensino superior

Referimo-nos neste caso particular ao ensino transnacional que surge integrado em

programas de cooperaccedilatildeo para apoio aos paiacuteses em desenvolvimento

A internacionalizaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior

assumem-se claramente como aspectos positivos a retirar da praacutetica de ensino trans-

nacional em paiacuteses onde o mercado da procura excede largamente a capacidade de

oferta por exemplo a presenccedila destas estruturas alternativas de ensino traz benefiacutecios

ao paiacutes receptor que desta forma vecirc colmatada uma incapacidade de resposta do

mercado Benefiacutecios desta natureza favorecem essencialmente os paiacuteses pobres ou em

vias de desenvolvimento que natildeo dispotildeem na maioria das vezes de estruturas de ensino

suficientes para dar resposta agrave procura de mercado Ainda assim mesmo nestes casos eacute

importante e desejaacutevel que estejam assegurados os mecanismos de controlo miacutenimos

das actividades de ensino transnacional dos paiacuteses dadores Estes mecanismos assumem

uma importacircncia acrescida quando se trata de actividades de ensino transnacional com

fins lucrativos competindo neste caso aos paiacuteses receptores dotarem-se de meios de

defesa proacuteprios impondo mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo Muitas vezes a alter-

nativa para garantir condiccedilotildees miacutenimas de regulaccedilatildeo passa por integrar o ensino trans-

nacional nos sistemas de ensino formais do paiacutes

A uacuteltima parte do segundo capiacutetulo aborda basicamente a relaccedilatildeo do ensino

transnacional com o General Agreement on Trade in Services (GATS) O aumento

exponencial da procura da educaccedilatildeo a niacutevel mundial faz deste sector um dos mais

competitivos resultando na praacutetica na proliferaccedilatildeo de actividades de ensino trans-

nacional em parte devido agrave incapacidade das instituiccedilotildees de ensino nacionais para res-

ponderem satisfatoriamente agrave procura de mercado Muitos satildeo os factores que condi-

cionam esta realidade e a verdade eacute que devido a estas circunstacircncias o papel regulador

e defensor dos governos estaacute cada vez mais enfraquecido e difiacutecil de materializar Sobre

este assunto em concreto far-se-aacute uma abordagem particularmente fundamentada nas

opiniotildees de Jane Knight pela anaacutelise exaustiva clara e consubstanciada que a autora faz

deste assunto em alguns dos seus trabalhos

23

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O terceiro capiacutetulo eacute inteiramente dedicado agraves questotildees metodoloacutegicas A iden-

tificaccedilatildeo das principais metodologias de investigaccedilatildeo utilizadas para a realizaccedilatildeo do

trabalho empiacuterico permitiu definir a hipoacutetese de partida identificar o problema e o

objecto de estudo A selecccedilatildeo da amostra bem como o processo de recolha de dados e a

construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos mereceram igual destaque neste capiacutetulo

Como foi anteriormente referido procurou-se fazer uma abordagem agraves activi-

dades de ensino transnacional das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

que no caso se resumem na sua maioria e por forccedila das circunstacircncias a acccedilotildees

integradas em programas de cooperaccedilatildeo governamentais implementados em paiacuteses de

expressatildeo portuguesa em vias de desenvolvimento Reportando ao enquadramento

teoacuterico que antecedeu o trabalho empiacuterico foram seleccionados dois estudos de caso

que por apresentarem realidades e contextos econoacutemicos culturais e geograacuteficos dis-

tintos se entendeu representarem duas realidades diversas mas igualmente interes-

santes e reveladoras de algumas das problemaacuteticas identificadas anteriormente como

caracteriacutesticas do ensino transnacional

Pode considerar-se que existem dois modelos de cooperaccedilatildeo portuguesa para o

sector do ensino superior transnacional o primeiro tradicionalmente implementado

pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute analisado como estudo de caso nordm 1 e repor-

ta agrave experiecircncia de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde Este paiacutes representa pelas

suas caracteriacutesticas soacutecio-culturais e econoacutemicas a realidade da maioria das ex-coloacutenias

portuguesas Se eacute verdade que haveraacute muitas variaacuteveis que satildeo singulares ao contexto

Cabo-Verdiano eacute igualmente verdade que Cabo Verde eacute a ex-coloacutenia portuguesa com

quem Portugal tem a mais longa tradiccedilatildeo de cooperaccedilatildeo e onde a implementaccedilatildeo de um

sistema formal de ensino melhor tem vingado Estes satildeo alguns dos motivos que leva-

ram agrave escolha de Cabo Verde como caso de estudo

Apesar de partir de pressupostos teoacutericos semelhantes o modelo de cooperaccedilatildeo

que estaacute a ser implementado para o ensino superior no caso de Timor Leste desde 2000

a esta parte revela desde logo caracteriacutesticas distintas do modelo anterior O contexto

que envolve Timor-Leste confere-lhe especificidades e caracteriacutesticas uacutenicas quando

comparado com os PALOP e se juntarmos a estes factores a histoacuteria recente do paiacutes

rapidamente se percebe que o modelo de cooperaccedilatildeo praticado nunca poderia assumir os

mesmos contornos de modelo de cooperaccedilatildeo tradicionalmente usado por Portugal

24

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Timor Leste revelou-se um estudo de caso bastante interessante natildeo apenas pelas suas

caracteriacutesticas e especificidades mas por ser o princiacutepio de novas formas de cooperar e

de praticar ensino transnacional que se abre para as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas

25

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

26

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO I 1 A Uniatildeo Europeia Face ao Processo de Globalizaccedilatildeo 11 O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo na Europa e no Mundo

Enquanto cidadatildeos do mundo temos hoje o privileacutegio de assistir a um

acontecimento com repercussotildees agrave escala mundial mdash o fenoacutemeno da Globalizaccedilatildeo Este

movimento acontece paralelamente a um processo de evoluccedilatildeo da Comunidade

Europeia uma vez que ambos os movimentos estatildeo relacionados ou seja o desenvol-

vimento do conceito de Comunidade Europeia remonta ao periacuteodo poacutes Segunda Guerra

Mundial mais propriamente ao ano de 1950 e tal como o entendemos na sua definiccedilatildeo

mais simplista 1 estaacute condicionado pelo sucesso e efectivaccedilatildeo do processo de globali-

zaccedilatildeo agrave escala mundial

O processo da globalizaccedilatildeo tem vindo a modificar as sociedades industriais

desde os anos 70 e vaacuterias tecircm sido as definiccedilotildees que procuram caracterizar este fenoacuteme-

no que marca o seacuteculo XX Field usa a definiccedilatildeo de Vincent Cable para caracterizar o

movimento de Globalizaccedilatildeo que este uacuteltimo define como uma tendecircncia para a ldquointe-

graccedilatildeo econoacutemicardquo que atravessa as fronteiras nacionais 2

1 ldquoA Uniatildeo Europeia assenta no princiacutepio do Estado de direito e na democracia em que os seus Estados-

-Membros delegam soberania em instituiccedilotildees comuns que representam os interesses de toda a Uniatildeo em questotildees de interesse comum Todas as decisotildees e procedimentos decorrem dos tratados de base ratificados pelos Estados-Membrosrdquo Site da Uniatildeo Europeia 2003 disponiacutevel em WWWURL httpwwweuropaeuintabc-pthtml Capturado em 22 de Fevereiro de 2003

2 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp

27

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Mais recentemente outros autores desenvolveram teorias econoacutemicas sobre as

ldquoevidecircnciasrdquo e verdades adquiridas das actividades poliacutetica e econoacutemica que contribuiacute-

ram para a alteraccedilatildeo profunda das poliacuteticas econoacutemicas mundiais Para Harry Arthurs

em Amaral (2002) essas ldquoevidecircnciasrdquo traduzem-se nos seguintes aspectos

No periacuteodo poacutes-guerra o Estado tornou-se um organismo demasiado dis-

pendioso para manter e demasiado interventivo para tolerar

Se os mercados forem convenientemente ldquoalimentadosrdquo e regulados pro-

porcionaratildeo prosperidade a niacutevel local e global

Mercados saudaacuteveis e proacutesperos proporcionam boas condiccedilotildees para a de-

mocracia e para o bem-estar social

Segundo estes pressupostos e seguindo uma linha de raciociacutenio neo-liberal o

conceito de Globalizaccedilatildeo define-se como a organizaccedilatildeo e integraccedilatildeo das actividades

econoacutemicas em niacuteveis que transcendem as fronteiras e jurisdiccedilotildees (Jones in Amaral

2002) Alberto Amaral considera que as ideologias neo-liberais defendem a liberaliza-

ccedilatildeo do mercado de bens e capitais como o meio mais eficaz para alcanccedilar a prosperida-

de e a paz mundial Ainda sobre este assunto Jones baseia-se no trabalho de Goldman

para concluir que o mercado livre eacute um meio de contribuiccedilatildeo para a prosperidade dos

Estados-Naccedilatildeo e para o progresso intelectual da Humanidade Nesta perspectiva o

verdadeiro papel do Estado natildeo estaacute ainda completamente definido estando a sua

intervenccedilatildeo confinada agrave funccedilatildeo de zelar pela ordem e pela manutenccedilatildeo da liberdade de

mercado Ao Estado compete tornar a economia livre revitalizada e competitiva

(Amaral 2002)

Outras correntes ideoloacutegicas defendem que a Globalizaccedilatildeo natildeo tem de ser neces-

sariamente sinoacutenimo de Estados desprovidos de qualquer papel interventivo mas antes

pelo contrario entendem que o processo de Globalizaccedilatildeo requer um envolvimento do

Estado enquanto entidade protectora do mercado livre assumindo uma atitude proacute-

-mercantilista proacute-capitalista e por vezes ateacute de parceiro econoacutemico num mercado livre

e concorrencial (Ibidem)

Eacute patente o desapontamento geral face agraves ilusotildees criadas sobre os eventuais

benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos do processo de Globalizaccedilatildeo foram mal sucedidas as pre-

28

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

visotildees das teorias neo-liberais que auguravam o nivelamento dos paiacuteses pobres com os

paiacuteses ricos e a euforia daria lugar agrave desolaccedilatildeo

ldquoProducing ethically or socially unacceptable distribution outcomes

in terms of equity is one of the main problems of economic

globalisation in its present form The almost complete disregard of

social responsibilities is a consequence of the fact that there is no

regulation at global level nor there is any supra-national agency

to discipline transnational markets thus avoiding the negative

effects of savage capitalism It is in general accepted that a market

to be efficient needs to be regulatedrdquo

(Amaral 2002)

No actual contexto econoacutemico global facilmente se conclui que quem deteacutem o

controlo das economias mundiais satildeo as grandes multinacionais para Amaral qualquer

acccedilatildeo social solidaacuteria por parte dos Governos seraacute infrutiacutefera ou pouco significativa

uma vez que a sua capacidade de intervenccedilatildeo se encontra bastante circunscrita e limi-

tada devido ao processo de privatizaccedilatildeo de grande parte dos serviccedilos puacuteblicos resultante

da necessidade de diminuiccedilatildeo da taxa de inflaccedilatildeo e da diacutevida puacuteblica Apesar da Univer-

sidade ser muitas vezes acusada de se encontrar arredada das discussotildees geradas em

torno deste tema a extinta Confederaccedilatildeo das Conferecircncias de Reitores Europeus repre-

sentada actualmente pela EUA mdash European University Association mdash define a

globalizaccedilatildeo a partir de uma oacuteptica economicista relacionando este conceito com a

educaccedilatildeo Para a EUA o processo de globalizaccedilatildeo estaacute associado ao facto de muitos

empregos por natildeo trazerem valor acrescentado satildeo exportados para paiacuteses pobres que

caracteristicamente proporcionam matildeo-de-obra barata 3 A uacutenica forma de os paiacuteses

ricos permanecerem ricos eacute manterem a populaccedilatildeo activa mais produtiva o que na

maior parte das vezes significa manter este sector da populaccedilatildeo melhor educado e

qualificado

Outros autores relacionam igualmente o conceito de Globalizaccedilatildeo com o sector

Educativo para Ball 4 a populaccedilatildeo activa foi directamente influenciada pelo processo

3 European Rectors Conference Ibidem 4 Amaral Alberto ldquoInstitutional identities and isomorphic pressuresrdquo CIPES and University of Porto

comunicaccedilatildeo apresentada na IMHE General Conference OECD Headquarters Paris 2002

29

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Globalizaccedilatildeo e pelas novas ideologias de direita Ainda segundo este autor os

impera-tivos das novas poliacuteticas econoacutemicas viriam a influenciar directamente as

poliacuteticas educativas o que resultou segundo Alberto Amaral 5 na metamorfose da

relaccedilatildeo ateacute aiacute estabelecida entre a Universidade e a Sociedade Esta transformaccedilatildeo natildeo eacute

apenas estrutural mas mais profunda resultando de mudanccedilas comportamentais e

ideoloacutegicas que afectam em uacuteltima instacircncia a relaccedilatildeo estabelecida entre as Instituiccedilotildees

de Ensino Superior e o Estado O papel social e cultural atribuiacutedo agrave Universidade daacute

lugar a uma funccedilatildeo com fins predominantemente econoacutemicos

A globalizaccedilatildeo favorece aleacutem do mais o desenvolvimento da economia em

consonacircncia com as poliacuteticas neo-liberais e monetaacuterias O mercado liberal eacute assumido

como a soluccedilatildeo dos problemas permitindo aleacutem do mais assegurar qualidade eficiecircn-

cia e eficaacutecia dos serviccedilos prestados favorecendo-se desta forma a iniciativa privada em

detrimento dos serviccedilos puacuteblicos

ldquoEducation is today considered an indispensable ingredient for

economic competition and is no longer seen as a social right and it

is becoming progressively a service As a direct result ldquostudents

are considered consumers and asked to pay higher feesrdquo (Torres

and Schugurensky 2002) Governments exert strong pressures

over institutions to make them more responsible to outside de-

mands and to ensure that education and research are ldquorelevantrdquo

for national economyrdquo

(Amaral 2002)

12 A influecircncia da globalizaccedilatildeo nos sistemas de ensino superior

Os sistemas de ensino superior nos anos 50 eram predominantemente consti-

tuiacutedos por universidades tradicionais geridas exclusivamente pelo poder Estatal

Na deacutecada de 70 verificou-se uma reestruturaccedilatildeo nos sistemas nacionais de

educaccedilatildeo e formaccedilatildeo europeus Dominavam as ideologias liberais e humanistas que

comeccedilam a sofrer pressotildees de outras correntes ideoloacutegicas que valorizavam maioritaria- 5 Ibidem

30

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mente a parte instrumental e vocacional o que levou agrave implementaccedilatildeo de uma seacuterie de

reformas como resposta agraves dificuldades de crescimento econoacutemico com as quais a

Europa se debatia face a um mercado global Perante uma Europa tradicionalmente rica

em ldquocapital humanordquo qualificado e com elevadas habilitaccedilotildees (entatildeo agrave mercecirc da

competiccedilatildeo global) havia que assegurar a competitividade face agrave ameaccedila do cresci-

mento econoacutemico e do desenvolvimento tecnoloacutegico de paiacuteses concorrentes Com o

avanccedilo das novas tecnologias a palavra de ordem era entatildeo criar uma maior aproxi-

maccedilatildeo entre a Universidade e a Induacutestria generalizando-se no pensamento poliacutetico a

necessidade do desenvolvimento destas capacidades na forccedila de trabalho dos paiacuteses

europeus principalmente a partir das camadas mais jovens As novas tecnologias de

informaccedilatildeo eram entatildeo encaradas como um importante e eficaz veiacuteculo de promoccedilatildeo e

difusatildeo do conhecimento capazes de fazer florescer a ldquoNova Sociedade de Infor-

maccedilatildeordquo O sistema de ensino superior ganha novo focirclego proporcionando formas alter-

nativas e diversificadas de oferta

Partindo da associaccedilatildeo dos conceitos de ldquoEconomiardquo e ldquoEducaccedilatildeordquo e encon-

trando-se o processo de globalizaccedilatildeo em desenvolvimento agrave escala mundial mdash o que faz

com que este fenoacutemeno esteja bem presente no processo de mudanccedila a que assistimos

hoje na Uniatildeo Europeia quer de ordem econoacutemica quer de ordem social ou poliacutetica mdash

como vimos anteriormente os sectores da Educaccedilatildeo e da Formaccedilatildeo satildeo duas aacutereas

determinantes na competitividade de um paiacutes uma vez que quando se fala de globali-

zaccedilatildeo referimo-nos implicitamente agrave competitividade entre paiacuteses

A probabilidade que um qualquer paiacutes tem de natildeo ser dominado ou ultrapas-

sado economicamente por um outro paiacutes mais desenvolvido eacute tanto menor quanto o

niacutevel de qualificaccedilatildeo e competecircncia dos seus cidadatildeos for elevado Por este motivo o

investimento na educaccedilatildeo e na formaccedilatildeo dos cidadatildeos eacute uma importante mais valia que

cabe ao Estado valorizar e dele retirar o devido proveito Nos paiacuteses da Uniatildeo Europeia

o niacutevel de autonomia eacute tanto maior quanto mais elevado for o niacutevel meacutedio de qualifi-

caccedilatildeo dos seus cidadatildeos Para aleacutem deste indicador haacute que ter ainda em linha de conta

as poliacuteticas existentes no domiacutenio educativo e de qualificaccedilatildeo ou os programas imple-

mentados a este niacutevel pelas instituiccedilotildees de ensino Neste loacutegica concorrencial de

mercado as Universidades que tradicionalmente satildeo governadas por acadeacutemicos

eleitos comeccedilam a ser vistas como lugares corporativistas viacutetimas de um sistema de

31

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gestatildeo obsoleto verificando-se gradualmente uma tendecircncia crescente para substituir os

acadeacutemicos por gestores qualificados e treinados para enfrentar as leis de mercado

Apesar das suas potencialidades enquanto motor dinamizador do desenvolvi-

mento de uma naccedilatildeo a aacuterea da educaccedilatildeo mereceu no passado recente pouca atenccedilatildeo

por parte das autoridades poliacuteticas europeias registando-se a primeira alusatildeo a esta aacuterea

no Tratado de Maastricht assinado inicialmente por 12 paiacuteses em 7 de Fevereiro do

ano de mil novecentos e noventa e dois Mesmo apoacutes a ratificaccedilatildeo deste Tratado foram

poucos e infrutiacuteferos os momentos de reflexatildeo que a Uniatildeo Europeia dedicou a este

sector Este facto resultaraacute da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual

ldquoa Comunidade apenas interveacutem na medida em que os objectivos natildeo possam ser

suficientemente realizados pelos Estados-Membrosrdquo (Lourtie 2000) mas a este assunto

far-se-aacute referecircncia mais adiante

Anteriormente agrave assinatura do Tratado de Maastricht eacute possiacutevel identificar quatro

momentos em que os poliacuteticos europeus dedicaram alguma atenccedilatildeo ao sector da

educaccedilatildeo a saber o periacuteodo entre 1957 e 1973 o periacuteodo entre 1974 e 1985 o periacuteodo

entre 1986 e 1992 e por uacuteltimo de 1992 em diante O primeiro momento que medeia

entre 1957 e 1973 eacute o menos profiacutecuo para o desenvolvimento das poliacuteticas educativas e

de formaccedilatildeo Europeias Sobre este primeiro momento pouco haveraacute a considerar a natildeo

ser por ocasiatildeo da assinatura do Tratado de Roma em 1957 em que apenas a formaccedilatildeo

profissional foi contemplada no artigo nordm 128 este artigo alude aos princiacutepios gerais

para o desenvolvimento de uma poliacutetica comum de formaccedilatildeo profissional considerada

condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo de uma Europa econoacutemica (Galvatildeo 2000)

Soacute num 2ordm momento que medeia entre os anos de 1974 e 1985 comeccedila a

despertar verdadeiramente nas autoridades responsaacuteveis pelas poliacuteticas europeias algum

interesse pelo sector da educaccedilatildeo especialmente no que diz respeito agrave aacuterea vocacional

surge entatildeo uma corrente que veio defender uma poliacutetica educativa comum para a

Europa cabendo ao Professor Henri Janne entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Belga a

formulaccedilatildeo dos primeiros princiacutepios deste novo pensamento poliacutetico Pela primeira vez

na histoacuteria da Europa unificada satildeo identificadas as necessidades baacutesicas de

desenvolvimento definindo-se uma estrateacutegia coerente e harmoniosa de uma poliacutetica

educativa para os Estados-Membros ldquoEacute neste contexto que foi criado o Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo que se reuniu pela 1ordf vez em 1971 e estabeleceu em 1976 o

32

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

primeiro programa de acccedilatildeordquo (Galvatildeo 2000) Esta orientaccedilatildeo poliacutetica resultou na

criaccedilatildeo de um Conselho Educativo e Cultural cujas actividades se traduzem na

promoccedilatildeo da liacutengua estrangeira na mobilidade discente e docente ou no fomento da

troca de experiecircncias entre Universidades Eacute igualmente recomendada neste primeiro

documento a criaccedilatildeo de um Comiteacute da Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 6

Com base nestas reflexotildees o Conselho de Ministros da Educaccedilatildeo Europeu

definiu como estrateacutegia que quaisquer medidas deveriam ser tomadas com base nas leis

de cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros Eacute entatildeo estabelecido em Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo onde tecircm assento todos os paiacuteses membros o Comiteacute de

Educaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo Educacional 7 com vista a impulsionar e promover a

cooperaccedilatildeo dos parceiros europeus nas vaacuterias aacutereas As principais linhas de actuaccedilatildeo

deste Comiteacute centralizam-se na dinamizaccedilatildeo de formaccedilatildeo direccionada para a populaccedilatildeo

jovem de outros Estados-Membros a convergecircncia entre sistemas de ensino dos Esta-

dos-Membros a compilaccedilatildeo de documentaccedilatildeo e de dados estatiacutesticos o aumento da

cooperaccedilatildeo na aacuterea da educaccedilatildeo a implementaccedilatildeo do reconhecimento de diplomas

acadeacutemicos o encorajamento de poliacuteticas que permitam a liberdade de movimentos e a

mobilidade de alunos professores e investigadores e finalmente a igualdade de oportu-

nidades no acesso aos vaacuterios niacuteveis de ensino 8

Este cenaacuterio eacute convergente com o modelo de sistema de ensino superior europeu

que Teichler 9 defende ter existido desde meados dos anos 70 ateacute meados dos anos 80

Para o autor esta deacutecada caracteriza-se pela existecircncia de uma diversidade de sistemas

educativos principalmente ao niacutevel do ensino superior esta diversidade caracteriza-se

por modelos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo para o sistema universitaacuterio e modelos de

formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo para o sistema de ensino natildeo universitaacuterio Para Teichler a

diversidade de sistemas eacute igualmente verificaacutevel ao niacutevel dos programas curriculares

dos Cursos existentes na Europa

Apesar de defender a existecircncia de uma diversidade de sistemas educativos na

Europa o autor reconhece no entanto tendecircncias de uniformizaccedilatildeo nos sistemas de 6 Field John European Dimensions Education Training and the European Union (Higher Education

Policy Series 39rdquo) United Kingdom Jessica Kingsley Publishers Ltd 1998 215 pp 7 Ibidem 8 Official Journal of the European Communities C381 1976 9 Teichler Ulrich ldquoStructures of Higher Education Systemsrdquo in Claudius Gellert Higher Education in

Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino superior europeus e a presenccedila de aspectos identitaacuterios nas poliacuteticas educativas

europeias da deacutecada de 70 apontando os sistemas de ensino preparatoacuterio e o sistema de

acesso ao ensino superior como aqueles que revelam sinais mais evidentes de tendecircncias

de uniformizaccedilatildeo

Fazendo um exerciacutecio de comparaccedilatildeo entre os modelos de gestatildeo e organizaccedilatildeo

dos sistemas de ensino superior de alguns paiacuteses europeus nas deacutecadas de 70 e 80

constata-se que de facto existe uma diversidade de modelos organizacionais dos siste-

mas de ensino superior o que vem reforccedilar a teoria da diversidade defendida por

Teichler Como se veraacute de seguida o Reino Unido encontra-se organizado de forma

diferente da Espanha ou da Itaacutelia apesar de ser igualmente verdade que em alguns

aspectos eacute notoacuteria uma tendecircncia para a convergecircncia entre sistemas como por

exemplo o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que eacute variaacutevel entre os 3 anos miacutenimo e os

5 anos maacuteximo em funccedilatildeo dos cursos e do grau

Partindo de uma anaacutelise do modelo de organizaccedilatildeo do sistema de ensino do

Reino Unido verifica-se que neste paiacutes o ensino superior se encontra dividido por

instituiccedilotildees universitaacuterias politeacutecnicas ou equivalentes denominadas Scottish Equiva-

lent No Reino Unido as Universidades talvez devido agrave sua ancestralidade gozam de

um elevado grau de autonomia o que significa que apesar de financiadas pelo Estado

detecircm plenos poderes para determinar quais os graus concedidos e as condiccedilotildees neces-

saacuterias para a sua obtenccedilatildeo assim como autonomia para definir os criteacuterios de admissatildeo

de candidatos Os politeacutecnicos e demais instituiccedilotildees centrais inglesas revelam fortes

ligaccedilotildees ao mercado de trabalho em geral e agrave induacutestria em particular estando por

isso particularmente vocacionados para ministrar cursos de acentuado cariz tecnoloacute-

gico Em Abril de 1989 a gestatildeo dos politeacutecnicos e restantes instituiccedilotildees de ensino

superior do Reino Unido agrave excepccedilatildeo das universidades passou a ser realizada por um

uacutenico oacutergatildeo Estatal permitindo ao ensino politeacutecnico a partir desta altura conceder

graus de poacutes-graduaccedilatildeo e mestrado em paralelo com o sistema universitaacuterio Apesar

disso os politeacutecnicos continuaram a apostar maioritariamente na vertente de ensino e

menos na investigaccedilatildeo cientiacutefica Existem ainda no sistema de ensino superior inglecircs as

escolas superiores (colleges) especialmente direccionadas para um ensino teacutecnico e

particularmente ligado agrave formaccedilatildeo de professores Em qualquer um destes subsistemas

34

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de ensino ingleses o tempo miacutenimo para a obtenccedilatildeo da primeira graduaccedilatildeo varia entre

os 3 e 4 anos dependendo do curso

A Espanha apresenta nesta altura um modelo de educaccedilatildeo mais regionalizado

O sistema de ensino superior espanhol apenas compreende instituiccedilotildees de ensino

universitaacuterio organizadas hierarquicamente de forma descendente dividindo-se entre

faculdades escolas teacutecnicas e escolas superiores de engenharia e arquitectura escolas

universitaacuterias e coleacutegios universitaacuterios A frequecircncia de cada um destes subsistemas

corresponde a um nuacutemero de anos de formaccedilatildeo que varia entre os 3 anos para o niacutevel de

formaccedilatildeo mais baixo podendo ir ateacute ao maacuteximo de 5 ou 6 anos de formaccedilatildeo no caso das

faculdades

Jaacute no sistema de ensino superior Italiano a formaccedilatildeo superior eacute ministrada por

instituiccedilotildees de ensino universitaacuterias que podem ser Estatais (totalmente financiadas por

fundos puacuteblicos logo dependentes do Estado) ou natildeo estatais mas neste caso trata-se

de instituiccedilotildees reconhecidas pelo Estado (instituiccedilotildees privadas que surgem por volta dos

anos 80 e que concedem graus equivalentes aos Estatais) Em funccedilatildeo dos cursos que

ministram estes estabelecimentos de ensino denominam-se por universidades politeacutec-

nicos (apenas os que ministram engenharia e arquitectura) ou magisteacuterios (dirigidos

para a formaccedilatildeo de professores) variando o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo em funccedilatildeo do

curso

O desenvolvimento do Ensino Superior Universitaacuterio neste periacuteodo ficou mar-

cado natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas universidades mas tambeacutem pelo desenvolvimento de

estruturas alternativas de formaccedilatildeo e educaccedilatildeo o que originou uma enorme diversidade

de sistemas de ensino na Europa a este propoacutesito a OCDE 10 realizou um estudo sobre

as estruturas de ensino alternativas ao sistema universitaacuterio Os resultados deste trabalho

revelaram que nos uacuteltimos 25 anos a educaccedilatildeo do sector terciaacuterio sofreu um raacutepido

crescimento e valorizaccedilatildeo social contrariamente ao que se previa Durante este periacuteodo

o nuacutemero de estudantes da maior parte dos paiacuteses industrializados quadruplicou o que

provocou o crescimento proporcional das instituiccedilotildees universitaacuterias atraveacutes do aumento

do seu corpo docente e natildeo docente crescimento esse impulsionado por incentivos

financeiros ao ensino e agrave investigaccedilatildeo cientiacutefica por parte das autoridades gover-

namentais

35

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apesar do forte desenvolvimento destas estruturas de ensino alternativo e da

valorizaccedilatildeo social alcanccedilada o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo destas instituiccedilotildees por

parte do sistema de ensino universitaacuterio natildeo foram conseguidos e as relaccedilotildees satildeo ainda

deficitaacuterias revelando-se estes aspectos obstaacuteculos a que o ensino natildeo universitaacuterio atin-

ja o status social desejado

Claudius Gellert 11 conclui a partir dos resultados deste trabalho que a expansatildeo

do sector natildeo universitaacuterio se deu de forma raacutepida e inesperada e que o aumento signi-

ficativo do nuacutemero de alunos neste subsector de ensino eacute revelador da sua capacidade de

resposta raacutepida e positiva face agraves necessidades da procura do mercado de trabalho

apresentando-se o ensino natildeo superior muitas vezes melhor equipado comparativa-

mente com as universidades e com maior capacidade de ir ao encontro das necessidades

de formar pessoas com novos perfis em parte que melhor se coadunem com os desejos

e necessidades dos empregadores resultante da introduccedilatildeo das novas tecnologias no

mercado de trabalho

Paralelamente ao desenvolvimento do subsistema natildeo universitaacuterio tambeacutem o

sistema universitaacuterio revela um processo de desenvolvimento positivo em igual periacuteodo

A sua expansatildeo origina o florescimento de disciplinas natildeo tradicionais e a implemen-

taccedilatildeo de novas formas de governaccedilatildeo mais democraacuteticas e transparentes O desenvolvi-

mento deste sector resultaria assim quer na extensatildeo e expansatildeo de instituiccedilotildees jaacute

existentes quer no surgimento de novas universidades

A consequecircncia mais imediata desta diversidade de sistemas educativos na

Europa eacute a emergecircncia e a proliferaccedilatildeo de estruturas de formaccedilatildeo de cariz mais praacutetico e

orientadas para uma componente vocacional Cada vez mais haacute a afirmaccedilatildeo de formas

de ensino superior alternativas ao ensino universitaacuterio de que satildeo exemplo no Reino

Unido os politeacutecnicos e na Alemanha as Fachhochschulen

ldquoThis expansion of higher education occurred both through the

extension of the existing university sector (partly by founding new

universities) and through the development of alternative educa-

tional structures As a consequence of this institutional different-

tiation which was a general characteristic not only of the

10 OECD Alternatives to Universities OECD Publications Paris 1991 p 85

36

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

European systems but also of those in the United States Canada

Japan New Zealand and other OECD countries (cf Eg Reisman

1981 Clark 1987b) there emerged in most systems more

practically mdash and vocationally- oriented forms of higher education

than the universitiesrdquo

(OECD 1991)

Conclui-se do estudo da OCDE que as universidades continuam no entanto a

ocupar o lugar de topo na hierarquia dos sistemas de ensino superior As instituiccedilotildees natildeo

universitaacuterias que oferecem uma formaccedilatildeo alternativa agrave formaccedilatildeo universitaacuteria apesar

de totalmente integradas nos sistemas de ensino superior natildeo atingiram ainda o niacutevel de

prestiacutegio social desejado apesar de cada vez mais ajustarem as suas estruturas agrave imagem

das estruturas universitaacuterias A elevada competitividade que hoje se vive no sector

educativo eacute sem duacutevida um elemento perturbador sendo no entanto uma mais valia para

o sector natildeo universitaacuterio a sua proximidade agrave induacutestria e ao mercado de trabalho

Em jeito de resumo pode afirmar-se que os sistemas de ensino superior europeus

apresentam elementos convergentes entre si mas natildeo poderemos alhear-nos das

especificidades e caracteriacutesticas de cada paiacutes Sobre este assunto Neave 12 aponta

algumas medidas poliacuteticas convergentes medidas essas que segundo o autor foram

adoptadas como uma antevisatildeo do futuro no sentido da existecircncia de uma Europa

Comunitaacuteria totalmente integrada O autor aponta como exemplos flagrantes da sua

teoria que prevecirc a reduccedilatildeo dos anos de formaccedilatildeo ao niacutevel do ensino superior para o

periacuteodo de 3 anos os casos da Franccedila Espanha ou Dinamarca As previsotildees de Neave

satildeo no entanto facilmente refutaacuteveis ao analisar-se com algum rigor a actual organi-

zaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses que o autor apresenta como exemplos

Analisando o modelo espanhol cujo sistema foi um dos referidos por Neave

verifica-se que apenas os Coleacutegios Universitaacuterios oferecem uma formaccedilatildeo de 3 anos

nos restantes estabelecimentos de ensino superior eacute requerida uma formaccedilatildeo que varia

entre 5 a 6 anos de estudos

11 Ibidem 12 De Witte Bruno ldquoHigher Education and the constitution of the European Communityrdquo in Claudius

Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

37

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Dinamarca natildeo seraacute igualmente dos modelos mais adequados para Neave de-

monstrar a sua teoria uma vez que o sistema de ensino superior dinamarquecircs encontra-

-se actualmente dividido entre Coleacutegios que oferecem ciclos de curta ou longa duraccedilatildeo

e cuja formaccedilatildeo varia entre os 2 e os trecircs e ou quatro anos e as Universidades relativa-

mente a estas uacuteltimas o nuacutemero de anos de formaccedilatildeo eacute de 5 anos para os cursos de ciclo

meacutedio e 5 + 2 para cursos de ciclo longo O grau de doutoramento exige em meacutedia

8 anos de trabalho de investigaccedilatildeo

O sistema de ensino francecircs apesar de natildeo ter exactamente as caracteriacutesticas de

formaccedilatildeo de 3 anos defendidas por Neave parece ser o que mais se aproxima da sua

teoria da convergecircncia uma vez que o sistema de ensino superior francecircs contempla

estabelecimentos de formaccedilatildeo de longa duraccedilatildeo e estabelecimentos de formaccedilatildeo de

curta duraccedilatildeo Este sistema de ensino apresenta-se como um dos mais variados quer em

termos de categorizaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino quer em termos do nuacutemero de

anos miacutenimo de formaccedilatildeo que cada um deles oferece Existem desde logo programas

de ensino tecnoloacutegico profissionalizante que exigem uma formaccedilatildeo de 2 anos incidindo

estes prioritariamente sobre a formaccedilatildeo em aacutereas tatildeo variadas como o turismo serviccedilos

transportes ou negoacutecios Os institutos tecnoloacutegicos e administrativos satildeo considerados

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo de curta duraccedilatildeo sendo que o tempo necessaacuterio para a

atribuiccedilatildeo do Diploma de Estudos Universitaacuterios pode variar entre os 2 e os 3 anos

podendo optar-se entre o ldquoMaster Profissionalizanterdquo ou o ldquoMaster para a Investi-

gaccedilatildeordquo O Diploma de Estudos Intermeacutedios eacute obtido no final de 4 anos de frequecircncia das

instituiccedilotildees universitaacuterias e estaacute mais proximamente ligado agraves aacutereas das ciecircncias sociais

e humanas e ao estudo das liacutenguas No topo da hierarquia encontram-se os

estabelecimentos de ensino de longa duraccedilatildeo como as Universidades e as Grandes

Eacutecoles que concedem o primeiro grau no final de 3 anos de formaccedilatildeo podendo este

periacuteodo aumentar para 5 anos ou ateacute mesmo 6 anos (ex escolas de arquitectura) conso-

ante o curso No sistema de ensino superior francecircs os cursos ligados aos cuidados de

sauacutede e agrave medicina aparecem organizados de uma forma peculiar relativamente agraves

restantes aacutereas de formaccedilatildeo Estes cursos tecircm um nuacutemero miacutenimo de 4 anos de for-

maccedilatildeo que vatildeo ateacute ao limite maacuteximo de 11 anos no caso da especializaccedilatildeo meacutedica

Haacute no entanto que ressalvar o facto de apesar dos exemplos aqui apresentados

facilmente demonstrarem que Neave faz afirmaccedilotildees algo precipitadas ao defender a

38

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tendecircncia europeia para a convergecircncia dos seus sistemas de ensino para 3 anos se

poder afirmar que muitos dos sistemas de ensino acima identificados se encontram

presentemente em processos de profunda reestruturaccedilatildeo dos seus sistemas de ensino

superior e que tendencialmente essa reestruturaccedilatildeo poderaacute vir a confirmar algumas das

ideias defendidas pelo autor

Teichler como se viu natildeo nega a existecircncia de elementos comuns e de poliacuteticas

convergentes nos sistemas educativos europeus no entanto coloca uma ecircnfase especial

na diversidade do desenvolvimento das poliacuteticas europeias para o ensino superior Para

este autor os sistemas educativos natildeo se tornam mais ou menos semelhantes soacute porque

existem elementos comuns ldquoIt challenges however my predictive summary that

Europe will settle with preserving and bridging the diversity rather than becoming more

similar as far as patterns of the higher education systems are concernedrdquo (Teichler

1993) Teichler discorda em absoluto do relatoacuterio da OCDE aqui abordado quando

neste eacute afirmado que muitas das variaccedilotildees dos sistemas de ensino se explicam pela

idiossincrasia e que os elementos comuns se explicam por poliacuteticas funcionais

orientadas O autor defende que as opccedilotildees poliacuteticas fazem uso intencional de compa-

raccedilotildees internacionais e de idiossincrasias nacionais que assumem necessidades funcio-

nais geneacutericas e modelos especiacuteficos Para Teichler pelo menos na deacutecada de 70 eacute

indubitaacutevel que os sistemas de ensino superior natildeo se tornaram mais similares pelo

menos entre os anos de 1974 e 1985

Os anos entre 1986 a 1992 foram privilegiados para o sector da educaccedilatildeo no que

respeita agrave poliacutetica europeia implementando-se uma seacuterie de programas com vista ao

desenvolvimento da sociedade de informaccedilatildeo (e-learning society) No entanto apenas

em 1992 a tendecircncia comunitaacuteria no domiacutenio da Educaccedilatildeo seria plenamente assumida e

consagrada atraveacutes da assinatura do Tratado de Maastricht 13 como anteriormente

aludido Neste periacuteodo a Europa despertou verdadeiramente para as questotildees da

educaccedilatildeo assistindo-se ao surgimento de poliacuteticas para a educaccedilatildeo dos novos cidadatildeos

para a Europa Nesta altura a populaccedilatildeo comeccedilou a tomar consciecircncia da sua condiccedilatildeo

de cidadania europeia Ainda neste mesmo ano foram criados pela Comissatildeo Europeia

39

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

uma seacuterie de fundos estruturais europeus que visavam a promoccedilatildeo de programas de

desenvolvimento social regional e agriacutecola Foram ainda colocadas em curso toda uma

seacuterie de iniciativas comunitaacuterias direccionadas particularmente para as novas

tecnologias que afectariam directamente a aacuterea da educaccedilatildeo na sua vertente do ensino

superior nomeadamente com a implementaccedilatildeo de programas que fomentam a mobili-

dade de discentes docentes e funcionaacuterios (EUROTECNET COMET ERASMUS) e

reforccedilam o relacionamento inter-universitaacuterio Particularmente nesta vertente destaca-se

a acccedilatildeo do Programa Erasmus em curso desde 1987 Este programa actualmente

denominado SoacutecratesErasmus faz parte da 1ordf geraccedilatildeo de programas comunitaacuterios

tambeacutem denominados por ldquoProgramas Europeusrdquo e foi criado com o objectivo primeiro

de promover a mobilidade dos estudantes universitaacuterios Esta acccedilatildeo resulta de uma

decisatildeo do Tribunal de Justiccedila das Comunidades Europeias tomada dois anos antes do

programa ter tido iniacutecio e que considerou o subsistema do ensino superior como parte

da formaccedilatildeo profissional possibilitando deste modo a criaccedilatildeo deste programa Nesta

altura comeccedila jaacute a falar-se de ECTS mdash European Credit Transfer System

De 1992 em diante assiste-se a uma maior dinamizaccedilatildeo das poliacuteticas de mobili-

dade transferindo-se a responsabilidade da sua implementaccedilatildeo para o domiacutenio Europeu

(Field 1998) No que respeita directamente ao Ensino Superior John Field analisa o

desenvolvimento da Uniatildeo Europeia sob duas perspectivas por um lado e assumindo

uma postura de abertura e desejo de uma Europa homogeacutenea e unificada os estados-

naccedilatildeo diminuem a ldquoacircnsiardquo de controlar os seus sistemas de ensino permitindo a criaccedilatildeo

de coligaccedilotildees transnacionais entre instituiccedilotildees de ensino superior Estas coligaccedilotildees

revelam-se natildeo soacute por uma grande interacccedilatildeo mas tambeacutem pela constituiccedilatildeo de redes

inter-universitaacuterias transnacionais

Por outro lado e numa atitude defensiva subsistem paralelamente nas insti-

tuiccedilotildees de ensino redes e poliacuteticas locais e nacionais que asseguram a identidade dos

paiacuteses mantendo as especificidades proacuteprias de instituiccedilotildees que estatildeo integradas num

sistema soacutecio-cultural e econoacutemico proacuteprio

A anaacutelise de Field leva-nos a concluir que apesar da educaccedilatildeo ser uma das aacutereas

que nos uacuteltimos anos mais tem contribuiacutedo para a Europeizaccedilatildeo natildeo significa neces-

sariamente que exista convergecircncia dos sistemas de educaccedilatildeo europeus Para Field o 13 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 3251 de 24122002

40

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de Globalizaccedilatildeo estaraacute sempre condicionado pelas circunstacircncias locais de

cada naccedilatildeo pelos sistemas e praacuteticas relacionais estabelecidas entre os vaacuterios sistemas

educativos de cada paiacutes sendo esta teoria do processo de Globalizaccedilatildeo aparentemente

consistente face agrave realidade

A este propoacutesito Teichler defende que na 2ordf conferecircncia de Sienna realizada em

1992 e subordinada agrave temaacutetica ldquoPlanning for the year 2000rdquo a Comissatildeo Europeia

procurou estabelecer medidas que promovessem uma grande compatibilidade entre os

sistemas de ensino (Teichler p 32) Estas medidas foram criadas com o intuito de

promoverem uma maior mobilidade entre docentes e discentes Uma das principais

vantagens da mobilidade entre actores dos vaacuterios sistemas de ensino eacute o facto de lhes

proporcionar a possibilidade de contactarem com outros modelos de formaccedilatildeo para

aleacutem de permitir a implementaccedilatildeo de processos de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees de

ensino superior que normalmente datildeo origem a profiacutecuas trocas de experiecircncias e

curricula dos cursos que resultam muitas vezes na convergecircncia dos sistemas de

educaccedilatildeo e no surgimento de redes de cooperaccedilatildeo universitaacuteria Apesar de afirmar que

na Europa existe uma diversidade de sistemas de ensino superior Teichler defende a

evoluccedilatildeo gradual destes sistemas de ensino no sentido de qualificar os cidadatildeos para o

emprego e em uacuteltima instacircncia conduzir a uma sociedade altamente qualificada Para o

autor o cenaacuterio ideal seraacute aquele em que os sistemas de ensino superior europeus

convergem num modelo de sistema uacutenico ainda que natildeo seja possiacutevel contornar as

especificidades nacionais e que essas mesmas especificidades sejam elementos

caracterizadores dos sistemas educativos de cada paiacutes Enquanto estivermos perante um

sistema que distingue claramente os diferentes tipos de instituiccedilotildees e hierarquias o

futuro do sistema de emprego e da estrutura social estaraacute comprometido (Teichler

1993)

Eacute indiscutiacutevel que a Uniatildeo Europeia e o processo de globalizaccedilatildeo favorecem a

convergecircncia dos sistemas educativos dos paiacuteses membros no entanto haveraacute que res-

peitar as diversidades culturais pois este eacute o elemento de identidade de cada paiacutes e a sua

maior riqueza A participaccedilatildeo em programas europeus traz oportunidades irrecusaacuteveis

para as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas que para aleacutem de adquirirem expe-

riecircncia e prestiacutegio tecircm a possibilidade de contactar com novas metodologias de ensino e

aprendizagem o processo de transferecircncia e acumulaccedilatildeo de creacuteditos (ECTS) ldquopoderaacute

41

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ser de grande valor na organizaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vidardquo

(CNAVES 2002)

121 O papel da Universidade na Europa Comum

Roberto Carneiro 14 considera que estamos numa eacutepoca em que a Europa procura

uma coerecircncia sustentada as respostas que procura para estar agrave altura dos novos

desafios apenas as poderaacute encontrar nas suas instituiccedilotildees ancestrais de natureza criativa

capazes de perspectivar o futuro mdash as universidades Perante uma Europa que enfrenta

tempos difiacuteceis tempos de transiccedilatildeo de mudanccedila de interrogaccedilatildeo e incerteza 15 a

Universidade como depositaacuteria da memoacuteria histoacuterica das naccedilotildees eacute a uacutenica instituiccedilatildeo

capaz de oferecer um saber que permita agrave Europa encontrar o caminho da continuidade

Roberto Carneiro parte desta argumentaccedilatildeo para defender a ideia que a crise de iden-

tidade que sofre hoje este mosaico de paiacuteses que eacute a Europa eacute um desafio bem agrave

medida das capacidades da Universidade como instituiccedilatildeo que tem aqui a oportunidade

de desempenhar um importante papel de lideranccedila na construccedilatildeo das estrateacutegias euro-

peias de cooperaccedilatildeo

Bruno de Witte reforccedila a ideia de Carneiro ao considerar que a Uniatildeo Europeia

natildeo definiu uma poliacutetica para o ensino superior no entanto as medidas adoptadas para

esta aacuterea pelos Estados-Membros satildeo inevitavelmente influenciadas pelas decisotildees

tomadas pela Uniatildeo Europeia De Witte considera que apesar das medidas econoacutemicas

centrais adoptadas pela Uniatildeo Europeia afectarem as poliacuteticas de ensino superior

assiste-se nos uacuteltimos anos a uma mudanccedila de atitude por parte da Uniatildeo Europeia que

comeccedila a querer adoptar posiccedilotildees que ultrapassem as medidas meramente econoacutemicas

dedicando-se especificamente a discutir as questotildees ligadas agrave educaccedilatildeo e particular-

mente ao ensino superior Num futuro proacuteximo prevecirc-se que a UE possa vir inclusive

a tomar posiccedilotildees especificamente relacionadas com o ensino superior (De Witte 1993)

14 Carneiro Roberto ldquoHigher education and European integration The European Challengerdquo in Philip G Altbach Contemporary Higher Education International Issues for the Twenty-First Century vol 7 Peter Darvas 1997 284 p 15 Ibidem

42

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Como exemplo do esforccedilo que tem vindo a ser desenvolvido para a adopccedilatildeo destas

medidas estaacute a recente criaccedilatildeo dos direitos individuais do cidadatildeo europeu directa-

mente relacionados com o ensino A decisatildeo tomada em 2002 pelo Parlamento Europeu

e pelo Conselho 16 por exemplo estabelece um ldquoprograma para o reforccedilo da qualidade

no ensino superior e a promoccedilatildeo da compreensatildeo intelectual atraveacutes da cooperaccedilatildeo com

paiacuteses terceirosrdquo 17 Estas directivas assumem como suporte o Tratado de Maastricht 18

sendo em 1997 reformuladas e reforccediladas pelo Tratado de Amesterdatildeo 19 No Tratado

de Maastricht e aludindo com maior detalhe aos artigos 126ordm e 127ordm posteriormente

substituiacutedos como referido anteriormente pelos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado de

Amesterdatildeo estes instituem no Capiacutetulo III dedicado agrave Educaccedilatildeo Formaccedilatildeo

Profissional e Juventude uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo entre Estados-Membros numa

clara recusa agrave constituiccedilatildeo de uma poliacutetica comum nestes domiacutenios O artigo 149ordm

determina que ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma educaccedilatildeo de

qualidade incentivando os Estados-Membros e se necessaacuterio apoiando e completando

a sua acccedilatildeo respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-Membros pelo

conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema educativo bem como a sua

diversidade cultural e linguiacutesticahelliprdquo 20 Mais adiante no mesmo artigo estabelece-se

que ldquohellipO Conselho adopta acccedilotildees de incentivo com exclusatildeo de qualquer

harmonizaccedilatildeo das disposiccedilotildees legislativas e regulamentares dos Estados-Membrosrdquo 21

Segundo Pedro Lourtie o artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo quando conjugado

com o princiacutepio da subsidiariedade significa que apenas sejam formuladas recomen-

daccedilotildees ou realizadas acccedilotildees que natildeo impliquem alteraccedilotildees legislativas ou regulamen-

tares dos Estados-Membros Emiacutelia Galvatildeo concretiza melhor o princiacutepio da subsidia-

riedade ao afirmar que os Estados-Membros entendem que soacute faz sentido haver uma

atribuiccedilatildeo ascendente de poderes e competecircncias quando tal for complementar agrave sua

16 O Conselho eacute constituiacutedo pelos Ministros dos Estados-Membros que reunem em vaacuterias formaccedilotildees

como eacute exemplo o Conselho da ldquoEducaccedilatildeordquo 17 Jornal Oficial das Comunidades Europeias C 331 E25 de 31122002 18 Tratado da Uniatildeo Europeia ldquoVersatildeo Compilada do Tratado da Uniatildeo Europeiardquo Compilaccedilatildeo dos

Tratados TOMOI vol I 1999 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuro-paeuinteurlexpttreatiesdattreatiespt Arquivo capturado em 6 de Novembro de 2002

19 Tratado de Amesterdatildeo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpeuropaeuinteur-lexpttreatiesdatamsterdamhtml Arquivo capturado em 10 de Junho de 2003

20 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

21 Ibidem

43

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acccedilatildeo ou seja do interesse e acccedilotildees comuns aos vaacuterios Estados europeus para

alcanccedilarem objectivos que de outro modo poderiam ficar comprometidos Galvatildeo

defende que o princiacutepio da subsidiariedade eacute destinado a controlar a tentaccedilatildeo de

excessiva regulamentaccedilatildeo por parte das instituiccedilotildees comunitaacuterias 22 Segundo esta

autora o contributo que actualmente se pretende dar agrave reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo e a

Formaccedilatildeo no acircmbito da Uniatildeo Europeia centra-se nas vaacuterias facetas de que se reveste a

dimensatildeo europeia tentando simultaneamente perceber-se as razotildees pelas quais os

Estados-Membros rejeitam a dimensatildeo europeia da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo sob o ponto

de vista poliacutetico uma vez que para Emiacutelia Galvatildeo ldquoos artigos 149ordm e 150ordm do Tratado

de Amesterdatildeo postulam que a Uniatildeo Europeia pluralista e democraacutetica deve respeitar

a identidade linguiacutestica e cultural dos Estados-Membros e igualmente criar as condiccedilotildees

que lhes permitam cooperar na construccedilatildeo desta nova entidade que se quer uacutenica e

pluralrdquo 23 Agrave luz dos direitos nele consagrados pode afirmar-se que este tratado legiacutetima

a cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas promotoras de ensino em paiacuteses

da Uniatildeo Europeia seja o serviccedilo fornecido por estas sob a forma presencial seja

atraveacutes do ensino agrave distacircncia

ldquoA Comunidade contribuiraacute para o desenvolvimento de uma

educaccedilatildeo de qualidade incentivando a cooperaccedilatildeo entre Estados-

Membros e se necessaacuterio apoiando e completando a sua acccedilatildeo

respeitando integralmente a responsabilidade dos Estados-

Membros pelo conteuacutedo do ensino e pela organizaccedilatildeo do sistema

educativo bem como a sua diversidade cultural e linguiacutesticardquo

[Artigo 149ordm do Tratado de Amesterdatildeo (ex-artigo 126ordm do Tra-

tado de Maastricht)]

Compete no entanto aos Estados-Membros regular e decidir se e em que for-

mas a iniciativa privada eacute autorizada

De Witte debruccedilou-se mais longamente na anaacutelise dos dois uacuteltimos direitos

consagrados no Tratado de Maastricht o direito de estudar e o direito do reconheci-

mento do diploma Estes satildeo os direitos consagrados aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia 22 Galvatildeo Emiacutelia ldquoA Dimensatildeo Europeia na Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo um dilema europeurdquo NOESIS

nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo Educacional 2000

44

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

que pela sua natureza trazem maiores problemas de execuccedilatildeo O primeiro o direito a

estudar estaacute intimamente ligado com a natildeo discriminaccedilatildeo dos cidadatildeos europeus uma

vez que qualquer cidadatildeo estrangeiro que frequente uma instituiccedilatildeo de ensino superior

deveraacute merecer o mesmo tipo de tratamento que um estudante natural desse paiacutes

O direito a estudar encerra duas realidades distintas a dos estudantes filhos de

emigrantes residentes e a dos estudantes cuja mobilidade teve como uacutenico objectivo

estudar numa instituiccedilatildeo de um paiacutes que natildeo o seu No primeiro caso poucas duacutevidas se

colocam uma vez que os movimentos dos trabalhadores conquistaram o direito a

estudar para os filhos dos emigrantes residentes Em 1968 o Conselho de Ministros

reconheceu o direito de mobilidade aos cidadatildeos da Uniatildeo Europeia aliado ao direito a

todos os benefiacutecios sociais Igualmente foram reconhecidos aos cidadatildeos dos Estados-

Membros os direitos agrave mobilidade mdash os EC Students mdash e ao acesso ao sistema

educativo dos paiacuteses membros sempre que estejam cumpridos os requisitos de acesso

impostos pelo paiacutes hospedeiro

De Witte considera que o Tratado de Maastricht teve consequecircncias indirectas

no sistema de ensino superior dos paiacuteses membros uma vez que as consequecircncias

directas particularmente nos curricula dos cursos natildeo satildeo verificaacuteveis As conse-

quecircncias indirectas apontadas por Bruno de Witte da abertura do mercado do ensino

europeu traduzem-se em suma na promoccedilatildeo da qualidade do sistema educativo por

parte das instituiccedilotildees de ensino e consequentemente no melhoramento das oportunida-

des de emprego dos seus cidadatildeos no mercado europeu Actualmente a tendecircncia

europeia vai no sentido de possibilitar uma equivalecircncia directa dos curricula (Teichler

p 191) 24 Bruno de Witte revela-se mais ceacuteptico do que Teichler quanto a este processo

de equivalecircncias uma vez que segundo este se o reconhecimento acadeacutemico por si soacute eacute

uma situaccedilatildeo problemaacutetica mesmo tratando-se de um soacute paiacutes (como por exemplo o

Reino Unido) muito mais seraacute ao niacutevel internacional (De Witte 1993) 25

A problemaacutetica das equivalecircncias do ensino superior mereceu ao longo das

uacuteltimas deacutecadas pouca atenccedilatildeo por parte dos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas

europeias o reforccedilo dos direitos adquiridos pelos cidadatildeos Europeus viria a verificar-se

com a assinatura da Convention on the Recognition of Qualifications concerning Higher 23 Ibidem 24 De Witte ibidem

45

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Education in the European Region realizada em 1997 na Cidade de Lisboa sob a

responsabilidade do Conselho da Europa e dos paiacuteses membros da UNESCO

pertencentes agrave regiatildeo europeia onde estiveram tambeacutem representados outros paiacuteses

convidados A ideia da realizaccedilatildeo desta convenccedilatildeo partiu do Secretaacuterio-geral do

Conselho da Europa e surgiu como uma proposta de reflexatildeo conjunta sobre a evoluccedilatildeo

do ensino superior na Europa a partir de 1960 bem como uma reflexatildeo sobre o raacutepido

aumento de participantes europeus no Conselho Europeu para a Educaccedilatildeo e Cultura

A UNESCO apoiaria esta iniciativa na convicccedilatildeo de que esta beneficiaria todos os

Estados-Membros evitando a tatildeo temida ideia de uma ldquoEuropa a duas velocidadesrdquo

ajudando ainda na ligaccedilatildeo das regiotildees europeias a outras regiotildees do mundo De frisar

que na conferecircncia sobre ldquoqualifications concerning higher educationrdquo procurou ter-se

em conta as qualificaccedilotildees obtidas tanto a partir da frequecircncia do ensino superior como

as qualificaccedilotildees que permitem o acesso ao ensino superior O conceito de ldquoEuropean

Regionrdquo tenta realccedilar que ldquowhile Europe constitutes the main area of the Conventionacutes

application certain States which do not geographically belong to the European

continent (but which belong to the UNESCO Europe Region andor are party to the

UNESCO Convention on the Recognition of Studies diplomas and Degrees concerning

Higher Education in the States belonging to the Europe Region) were invited to the

Diplomatic Conference entrusted with the adoption of this convention and are thus

among the potential Partiesrdquo 26

A preceder a realizaccedilatildeo da ldquoConvenccedilatildeo de Reconhecimento de Lisboardquo nome

pela qual informalmente eacute conhecida esteve em 1993 a realizaccedilatildeo de um ldquoJoint

Feasibility Studyrdquo cuja importacircncia foi desde sempre reconhecida e aprovada nos

vaacuterios conselhos e reuniotildees que antecederam a Convenccedilatildeo de Lisboa como satildeo

exemplos o Conselho Cultural e de Cooperaccedilatildeo o Conselho Executivo da UNESCO o

Comiteacute de Ministros do Conselho da Europa ou o Comiteacute da Educaccedilatildeo do Ensino

Superior etc A Convenccedilatildeo de Lisboa eacute conhecida como a convenccedilatildeo do reconheci-

mento das qualificaccedilotildees sobre o ensino superior uma vez que este encontro tratou

25 De Witte ibidem 26 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) dispo-niacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo cap-turado em 7 de Abril de 2003

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

basicamente do reconhecimento das qualificaccedilotildees no que respeita ao ensino superior na

Regiatildeo Europeia O texto da Convenccedilatildeo que mais tarde viria a ser ratificado pela

maioria dos paiacuteses europeus eacute entendido como um instrumento que veio fornecer um

quadro de referecircncias normativa e metodoloacutegica que permite de forma geral lidar com

o reconhecimento de qualificaccedilotildees concedidas no acircmbito de acordos de colaboraccedilatildeo

transnacionais particularmente no que respeita agrave mobilidade de estudantes uma vez que

a Convenccedilatildeo se aplica apenas a qualificaccedilotildees obtidas no sistema de ensino de um paiacutes

reconhecido por um dos Estados seus signataacuterios

Da leitura do texto da Convenccedilatildeo de Lisboa percebe-se rapidamente que um dos

aspectos mais relevantes e consequentes deste acordo eacute o facto do reconhecimento das

qualificaccedilotildees apenas poder ser recusado por um paiacutes hospedeiro quando estas forem

substancialmente diferentes das praticadas no seu proacuteprio sistema de ensino recaindo

sobre si o oacutenus de fazer prova disso atraveacutes das suas instituiccedilotildees educativas 27

Da anaacutelise dos artigos do texto da Convenccedilatildeo torna-se evidente a preocupaccedilatildeo

dos membros signataacuterios com questotildees relacionadas com a igualdade de oportunidades

entre cidadatildeos europeus percebendo-se esta preocupaccedilatildeo pela inclusatildeo no texto da

Convenccedilatildeo de normas tatildeo lineares como sejam a existecircncia de mecanismos adequados

para a atribuiccedilatildeo de equivalecircncias das qualificaccedilotildees obtidas em paiacuteses estrangeiros ou

pelo zelo e preocupaccedilatildeo em natildeo discriminar cidadatildeos de paiacuteses estrangeiros seja por

questotildees de raccedila cor liacutengua ou religiatildeo

Aleacutem do mais este acordo pretende assegurar a competecircncia dos paiacuteses

signataacuterios no reconhecimento das qualificaccedilotildees para efeitos de prosseguimento de

estudos de um cidadatildeo num paiacutes estrangeiro ou mesmo a competecircncia destes no reco-

nhecimento e uso de um tiacutetulo acadeacutemico para efeitos de exerciacutecio de uma profissatildeo

estando deste modo o proponente sujeito agraves leis e regulamentos do paiacutes onde solicita a

equivalecircncia ou o reconhecimento do seu tiacutetulo acadeacutemico

Eacute igualmente importante a influecircncia exercida pela Convenccedilatildeo de Lisboa no que

concerne agrave facilitaccedilatildeo do acesso ao mercado de trabalho de cidadatildeos estrangeiros uma

vez que defende entre outros aspectos que todos os paiacuteses signataacuterios deveratildeo adoptar

27 Council of Europe Convention On The Recognition Of Qualifications Concerning Higher Education In

The European Region European Treaty Series Nordm 165 Lisbon 11IV1997 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpconventionscoeintTreatyenSummariesHtml165htm Arquivo captu-rado em 5 de Abril de 2003

47

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

procedimentos de afericcedilatildeo sobre as competecircncias e capacidades de cidadatildeos estran-

geiros (refugiados ou emigrantes) para acederem ao ensino superior ou ao mercado de

trabalho mesmo na ausecircncia de documentaccedilatildeo Para aleacutem da demais informaccedilatildeo

fornecida sobre os sistemas de ensino superior todos os paiacuteses deveratildeo providenciar

centros de informaccedilatildeo no sentido de fornecer serviccedilos de apoio e aconselhamento para

o reconhecimento de tiacutetulos graus qualificaccedilotildees etc a cidadatildeos estrangeiros Cada

paiacutes deveraacute encorajar as suas instituiccedilotildees de ensino superior formais a adoptar o ldquoSuple-

mento de Diplomardquo como instrumento facilitador o processo de reconhecimento dos

estudantes O ldquoSuplemento de Diplomardquo eacute um instrumento desenvolvido no sentido de

auxiliar a determinaccedilatildeo das qualificaccedilotildees de forma perceptiacutevel adequando-as aos

sistemas de ensino superior 28

A implementaccedilatildeo e supervisatildeo das normas criadas por esta convenccedilatildeo ficou a

cargo de duas instituiccedilotildees criadas para o efeito (o ENIC jaacute existe haacute cerca de uma

vintena de anos) nomeadamente o ldquoComiteacute da Convenccedilatildeo para o Reconhecimento das

Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeiardquo e a ldquoRede Europeia dos Centros

de Informaccedilatildeo Nacionais de Reconhecimento e Mobilidade Acadeacutemicardquo (Rede ENIC)

que para tal adoptaram aquando da reuniatildeo de Riga em Junho de 2001 o ldquoCode of

Good Practice mdash in the provision of transnational educationrdquo como instrumento de

auxilio na procura de um entendimento comum que ajude a encontrar soluccedilotildees para a

resoluccedilatildeo de problemas praacuteticos da Regiatildeo Europeia dos Estados desta regiatildeo e de

outras regiotildees do mundo e ateacute dentro de um espaccedilo ainda mais global do ensino

superior 29 A este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente a propoacutesito do ensino transnacional

A Convenccedilatildeo de Lisboa para aleacutem de tentar minimizar as muitas dificuldades inerentes

agrave nova realidade europeia nomeadamente no que concerne agrave grande diversidade dos

sistemas educativos para natildeo falar da diversidade cultural social poliacutetica econoacutemica e

religiosa tem a virtude de reconhecer que os estudos os certificados os diplomas e os

28 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents

in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

29 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session APPENDIX 10 Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

48

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

graus obtidos noutro paiacutes da Europa representam um importante instrumento de medida

e afericcedilatildeo da mobilidade acadeacutemica entre os paiacuteses envolvidos 30

Em jeito de conclusatildeo pode dizer-se que este documento tem a pretensatildeo de

repor as disposiccedilotildees das seis convenccedilotildees anteriormente assinadas por estes oacutergatildeos mas

principalmente foi criado como instrumento regulador e legalizador do trabalho desen-

volvido a niacutevel europeu Pretende-se que este seja um mecanismo facilitador que sirva

de garante a que as qualificaccedilotildees obtidas num paiacutes aderente sejam reconhecidas noutro

para tal haacute que criar e manter mecanismos de avaliaccedilatildeo justos que operem no mais

curto espaccedilo de tempo

Enquadrado neste contexto assistiu-se nas uacuteltimas duas deacutecadas a um esforccedilo

por parte da Uniatildeo Europeia no desenvolvimento de poliacuteticas educativas de promoccedilatildeo

de programas de apoio ao ensino superior nomeadamente de apoio agrave investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica sendo muitos deles dedicados agrave mobilidade Alguns destes programas

tiveram uma enorme visibilidade e um elevado grau de popularidade e sucesso junto da

comunidade estudantil europeia como eacute o caso do Erasmus (1987) Petra (1987) Helios

(1988) Liacutengua (1989) TEMPUS COMMET etc a provaacute-lo estaacute o sucesso do progra-

ma SoacutecratesErasmus cuja origem e desenvolvimento foram jaacute aqui abordados Estes

programas abriram precedentes no que respeita ao reconhecimento dos curricula dos

cursos nos paiacuteses da Comunidade Europeia mas tambeacutem foram uma forma de diminuir

a rigidez que outrora caracterizava os sistemas de ensino superiores europeus Assiste-se

hoje a uma tendecircncia crescente dos paiacuteses europeus principalmente os de menor

dimensatildeo para oferecerem cada vez mais cursos em liacutenguas estrangeiras de modo a

atraiacuterem alunos e parcerias estrangeiras

Eacute comummente aceite que as poliacuteticas educativas europeias satildeo discutidas na

Europa Comunitaacuteria agrave margem dos problemas do mercado comum mas tambeacutem eacute

verdade que se comeccedila a inverter esta tendecircncia com a abordagem cada vez mais

insistente destes assuntos ainda que agrave margem das reuniotildees da Uniatildeo Europeia nos

Conselhos de Ministros Europeus Apesar de ser um facto incontornaacutevel que as mudan-

ccedilas no Ensino Superior se tecircm operado a longo prazo e que as reuniotildees de Conselho de

Ministros da Educaccedilatildeo natildeo tecircm ainda caraacutecter vinculativo a verdade eacute que atraveacutes delas

comeccedilam a ser tomadas decisotildees relevantes e assumem-se hoje compromissos poliacuteticos 30 Ibidem

49

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sem precedentes com vista agrave maior abertura da liberdade de movimentos e promoccedilatildeo de

flexibilizaccedilatildeo dos sistemas de ensino superior europeus

No ano 2000 coube a Portugal a Presidecircncia do Conselho Europeu e a propoacutesito

da realizaccedilatildeo de um Conselho Europeu Extraordinaacuterio Portugal elaborou um

documento orientador das linhas de acccedilatildeo denominado ldquoEmprego Reformas Econoacute-

micas e Coesatildeo Social mdash para uma Europa da Inovaccedilatildeo e do Conhecimentordquo Este

documento viria a servir de suporte ao Conselho Europeu Extraordinaacuterio realizado em

Lisboa que teve como principais pontos de trabalho a aacuterea da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo

ldquoPela primeira vez teve a educaccedilatildeo tal presenccedila numa reuniatildeo a este niacutevelrdquo 31 As

conclusotildees do referido Conselho Europeu vieram confirmar os aspectos focados no

documento de trabalho elaborado pelo Conselho de Ministros de Educaccedilatildeo Europeu e

das conclusotildees resultantes do Conselho Europeu de Lisboa realizado em 23 e 24 de

Marccedilo de 2000 sobressaem dois aspectos que traduzem um passo importante para as

poliacuteticas de ensino superior europeias a conclusatildeo nuacutemero 27 refere que ldquoo Conselho

Europeu solicita ao Conselho (Educaccedilatildeo) que proceda a uma reflexatildeo geral sobre os

objectivos futuros concretos dos sistemas educativos que incida nas preocupaccedilotildees e

prioridades e simultaneamente respeite a diversidade nacionalhelliprdquo Para Pedro Lourtie

entatildeo Presidente do Comiteacute de Educaccedilatildeo da Uniatildeo Europeia esta conclusatildeo representa

uma oportunidade para que o sector da educaccedilatildeo passe a ter uma maior participaccedilatildeo na

construccedilatildeo europeia 32 A segunda conclusatildeo a destacar respeita agrave contribuiccedilatildeo do

Conselho de Educaccedilatildeo para o Processo do Luxemburgo 33 Para Lourtie esta recomen-

daccedilatildeo eacute um reconhecimento da importacircncia da educaccedilatildeo (e da formaccedilatildeo) para as poliacuteti-

cas de emprego na Europeias 34 Face aos aspectos apresentados eacute indiscutiacutevel que o

sistema educativo comeccedila jaacute a entrar num niacutevel de discussatildeo europeu

31 Lourtie Pedro ldquoA Europa e a Educaccedilatildeordquo NOESIS nordm 54 (AbrJun) Dossier Instituto de Inovaccedilatildeo

Educacional 2000 32 Ibidem 33 O ldquoProcesso do Luxemburgordquo respeita agraves poliacuteticas de emprego 34 Ibidem

50

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

122 O sistema de ensino superior portuguecircs no contexto da Uniatildeo Europeia

Podemos considerar que o sistema de ensino superior portuguecircs passou por dois

momentos distintos separados entre si por uma revoluccedilatildeo No entanto mesmo apoacutes o

periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio de 1974 as transformaccedilotildees operadas no ensino superior

portuguecircs continuaram num processo ritmado de evoluccedilatildeo e mudanccedila devido agraves

poliacuteticas estabelecidas que em parte se devem agrave preparaccedilatildeo da entrada de Portugal na

Uniatildeo Europeia

Antes da revoluccedilatildeo de 25 de Abril de 1974 a populaccedilatildeo portuguesa caracte-

rizava-se por apresentar elevadas taxas de iliteracia e analfabetismo inversamente

proporcionais agraves taxas de frequecircncia do ensino superior O periacuteodo poacutes revoluccedilatildeo daacute

lugar ao iniacutecio de um processo evolutivo que procurou melhorar os niacuteveis de formaccedilatildeo

da sociedade portuguesa e que viria a gerar grandes transformaccedilotildees sociais que

arrastaram consigo o sistema educativo nomeadamente o subsistema de ensino

superior A antecacircmara das transformaccedilotildees operadas em Portugal no periacuteodo poacutes

revolucionaacuterio teve iniacutecio na reforma de Veiga Simatildeo no decurso do ano de 1973 esta

reforma inspirada na ldquoteoria do capital humanordquo viria a implementar uma seacuterie de

mudanccedilas de entre as quais se conta a criaccedilatildeo de um sistema de ensino superior binaacuterio

A este ministro eacute atribuiacutedo o impulso na expansatildeo geograacutefica (espelhados no apoio que

prestou agrave criaccedilatildeo de universidades em cidades mais perifeacutericas do paiacutes) e a diversifi-

caccedilatildeo do sistema de ensino superior

No poacutes 25 de Abril o sector da educaccedilatildeo foi tido como uma das prioridades dos

Governos provisoacuterios que se seguiram O periacuteodo poacutes-revolucionaacuterio que vai do ano de

1974 a 1976 caracteriza-se por uma eacutepoca em que as poliacuteticas educativas em total

oposiccedilatildeo ao regime ditatorial anterior defendiam a abertura do ensino superior a todos

os cidadatildeos que se propunham frequentar este sistema de ensino para aleacutem de

estabelecer novos objectivos de diversificaccedilatildeo e evoluccedilatildeo do ensino superior em

Portugal Os anos entre 1976 e 1986 satildeo segundo Amaral e Magalhatildees anos de

normalizaccedilatildeo do sistema de ensino nomeadamente para o subsistema de ensino

superior que a par com a investigaccedilatildeo cientiacutefica satildeo considerados instrumentos essen-

ciais para a estabilizaccedilatildeo poliacutetica e o crescimento econoacutemico (Amaral e Magalhatildees

2000) As necessidades do paiacutes nomeadamente ao niacutevel do ensino intermeacutedio levam ao

51

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

aparecimento no ano de 1979 do subsistema de ensino politeacutecnico como meio para

colmatar as necessidades de formaccedilatildeo de quadros teacutecnicos intermeacutedios formados em

ciclos de curta duraccedilatildeo

O periacuteodo revolucionaacuterio teria como consequecircncia a ascensatildeo dos sistemas de

ensino de formaccedilatildeo meacutedia a formaccedilatildeo de niacutevel superior Este facto viria a provocar um

desequiliacutebrio entre o nuacutemero de graduados e as necessidades do mercado Tendo toma-

do consciecircncia deste fenoacutemeno o Governo reconhece em 1977 a necessidade de criar

um subsistema de ensino superior meacutedio o que acontece com a promulgaccedilatildeo do

Decreto-Lei 427-B77 estabelecendo assim em Portugal um ciclo de formaccedilatildeo mais

curto de natureza vocacional Em consequecircncia de um Decreto-Lei posterior (Decreto-

-Lei 513-T79) este subsistema de ensino viria a tornar-se no subsistema de ensino

superior politeacutecnico (Amaral e Magalhatildees 2000)

Mais tarde o segundo Governo Constitucional introduziu em Portugal o conceito

de numerus clausus o que atraveacutes das poliacuteticas de acesso viria a servir como

mecanismo regulador do sistema Com a Lei nordm 6178 foram eliminados os graus

intermeacutedios que caracterizavam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior Politeacutecnicas ao

considerar-se que os seus graduados passariam a ter um niacutevel de graduaccedilatildeo superior

Por outro lado agrave sua competecircncia para dar formaccedilatildeo na aacuterea vocacional juntou-se o

reconhecimento para desenvolver trabalho de investigaccedilatildeo cientiacutefica

No entanto para Amaral e Magalhatildees (2000) apesar de haver cada vez mais

aproximaccedilatildeo entre o sistema de ensino universitaacuterio e o politeacutecnico natildeo deixa de ser

importante para o florescimento da economia portuguesa o papel desempenhado por

ambos os subsistemas A auscultaccedilatildeo da sociedade foi reveladora das necessidades do

paiacutes em termos de necessidades de teacutecnicos intermeacutedios revelaccedilotildees essas reforccediladas

pelas recomendaccedilotildees proferidas no relatoacuterio do Banco Mundial de 1977 e que vatildeo

precisamente no sentido de incentivar a formaccedilatildeo de quadros intermeacutedios que sirvam as

necessidades da economia do paiacutes

A adesatildeo de Portugal agrave Uniatildeo Europeia no ano de 1986 trouxe consigo mudan-

ccedilas a vaacuterios niacuteveis colocando o sistema educativo portuguecircs em rota de convergecircncia

com os sistemas educativos de outros paiacuteses europeus em termos qualitativos e quan-

titativos De entre os aspectos mais relevantes deste redireccionamento das poliacuteticas

educativas destacam-se o fenoacutemeno da massificaccedilatildeo do acesso ao ensino superior e a

52

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sua diversificaccedilatildeo estas traduzem-se na introduccedilatildeo de um sistema binaacuterio por um lado

e do alargamento do sistema de ensino superior ao ensino privado por outro Quanto ao

ensino superior puacuteblico viu aumentada a sua autonomia e a regulaccedilatildeo do acesso a este

atraveacutes da introduccedilatildeo de poliacuteticas de acesso Amaral e Magalhatildees (ibidem) entendem o

periacuteodo que medeia entre 1986 e 1989 como um periacuteodo de consolidaccedilatildeo da dualidade

do sistema de ensino superior que passou a ser constituiacutedo por instituiccedilotildees puacuteblicas e

privadas este processo contou com o apoio do entatildeo Ministro da Educaccedilatildeo Roberto

Carneiro Nesta altura regista-se um aumento exponencial da iniciativa privada quando

comparado com o ensino superior puacuteblico apresentando-se o primeiro como uma alter-

nativa ao ensino puacuteblico Entre os anos de 1987 e 1991 o nuacutemero de alunos a frequentar

o ensino superior puacuteblico aumentou 40 ao passo que no mesmo periacuteodo no ensino

superior privado registou-se um aumento exponencial de 250 (Amaral e Carvalho

2003) As causas que justificam esta explosatildeo de alunos no ensino privado satildeo atribuiacute-

das natildeo soacute a factores de ordem poliacutetica como a factores de ordem social e econoacutemica

Nesta altura satildeo crescentes as preocupaccedilotildees com a qualidade do ensino superior

oferecido pelas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas preocupaccedilotildees essas que mais tarde viratildeo

a ter um papel determinante e a liderar a lista de preocupaccedilotildees no que respeita agraves

problemaacuteticas deste sector Eacute ainda durante a deacutecada de 80 que se assiste agrave consolidaccedilatildeo

da autonomia universitaacuteria atraveacutes da promulgaccedilatildeo de Lei nordm 10888 de 24 de

Setembro segundo a qual as universidades puacuteblicas passam a ter liberdade para

estabelecer os seus estatutos gozando de autonomia cientiacutefica pedagoacutegica

administrativa e financeira tendo para aleacutem do mais poder para intervir em questotildees

de disciplina acadeacutemica (Amaral e Magalhatildees 2000)

No actual contexto soacutecio-econoacutemico eacute possiacutevel identificar alguns dos principais

constrangimentos do actual sistema de ensino superior portuguecircs que se resumem nos

seguintes aspectos

Desvalorizaccedilatildeo social da formaccedilatildeo profissional e teacutecnica especializada

natildeo conferente de grau mas com fortes ligaccedilotildees ao mercado empresarial

Ausecircncia de um planeamento estrateacutegico das actividades de formaccedilatildeo

poacutes-graduada natildeo sendo dada a atenccedilatildeo necessaacuteria a aacutereas estrateacutegicas

fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes

53

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Deficiente ligaccedilatildeo entre a componente de investigaccedilatildeo e de leccionaccedilatildeo

nas instituiccedilotildees de ensino superior

Deficiente ligaccedilatildeo entre o sistema de ensino superior portuguecircs e as

actividades de produccedilatildeo particularmente em aacutereas convencionalmente

consideradas relevantes para o desenvolvimento de um paiacutes

Dificuldades na revitalizaccedilatildeo do ensino superior nomeadamente no que

respeita agrave gestatildeo estrateacutegica das instituiccedilotildees que apresentam uma

estrutura ao niacutevel dos recursos humanos pouco eficiente e mal preparada

para os desafios da modernidade

Maacute preparaccedilatildeo dos alunos ao niacutevel do ensino secundaacuterio particularmente

em aacutereas de formaccedilatildeo de base determinantes para o sucesso escolar

Insuficiecircncia de equipamentos e infra-estruturas de apoio ao ensino e agrave

investigaccedilatildeo

Problemas ao niacutevel operativo da maacutequina administrativa das instituiccedilotildees

de ensino superior

Fraco investimento em mecanismos que apostem numa maior internacio-

nalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees como forma de alcanccedilar meios alternativos de

financiamento

Fraco investimento na atracccedilatildeo de novos puacuteblicos face ao actual decreacutes-

cimo do nuacutemero de alunos agravado pela actual formula de financia-

mento das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

As dificuldades acima identificadas procuram caracterizar o actual subsistema de

ensino superior portuguecircs satildeo coincidentes com alguns dos aspectos reconhecidos por

Marccedilal Grilo 35 como pontos fracos deste subsistema Este autor reconhece no entanto

alguns desenvolvimentos recentes que levaram a resultados positivos cujos principais

aspectos a seguir se identificam

Criaccedilatildeo de novos cursos de licenciatura com curricula e conteuacutedos

adaptados agrave realidade portuguesa nomeadamente em aacutereas importantes

35 Marccedilal Grilo Eduardo ldquoThe transformation of Higher Education in Portugalrdquo in Claudius Gellert Higher Education in Europe V 16 United Kingdom 1993 256 pp

54

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o desenvolvimento da economia do paiacutes tal como a agricultura a

produccedilatildeo alimentar ou tecnoloacutegica

Desenvolvimento de um novo sistema de estruturaccedilatildeo dos cursos com a

adopccedilatildeo de unidades de creacutedito As unidades de creacutedito tecircm a particula-

ridade de proporcionar aos alunos a possibilidade de privilegiarem

dentro do curriacuteculo do curso determinadas aacutereas de formaccedilatildeo Em Portu-

gal apenas as universidades puacuteblicas podem recorrer ao sistema de creacutedi-

tos e ainda assim este natildeo eacute ainda muito utilizado Agraves universidades

privadas e institutos politeacutecnicos eacute vedada esta possibilidade por parte

dos oacutergatildeos de tutela

Realizaccedilatildeo de esforccedilos no sentido de modernizar o sistema de gestatildeo das

instituiccedilotildees de ensino que passa natildeo soacute pela criaccedilatildeo de novas ins-

tituiccedilotildees como tambeacutem pela aposta na dinamizaccedilatildeo das estruturas

existentes nomeadamente na aposta em formaccedilatildeo dos recursos humanos

inclusive o corpo docente

Investimento em projectos de investigaccedilatildeo nas aacutereas ligadas ao sector

produtivo nacional (muitas instituiccedilotildees de ensino procuram hoje criar

cursos e promover projectos de investigaccedilatildeo ligados ao sector produtivo

da regiatildeo onde estatildeo inseridas)

Criaccedilatildeo de novos institutos de pesquisa com ligaccedilatildeo agraves universidades e

ao sector produtivo

Criaccedilatildeo de um novo estatuto de autonomia para as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico nomeadamente universidades e institutos politeacutecnicos o

que vem tornar simultaneamente estas instituiccedilotildees mais independentes

mas tambeacutem mais responsaacuteveis por elas proacuteprias

O sucesso do sistema de ensino superior portuguecircs no futuro passaraacute pela

concretizaccedilatildeo senatildeo de todos pelo menos de alguns dos aspectos anteriormente

identificados sob pena de perder a sua capacidade competitiva face a uma Europa

Globalizada Impotildee-se a curto prazo a criaccedilatildeo de mecanismos que permitam agraves

instituiccedilotildees de ensino ir cada vez mais ao encontro das necessidades do tecido empre-

55

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sarial portuguecircs apostando na formaccedilatildeo de quadros cuja preparaccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica

responda agraves necessidades empresariais nesse domiacutenio Tambeacutem no que respeita agrave inves-

tigaccedilatildeo cientiacutefica comeccedila a verificar-se algumas tentativas bem sucedidas de aproxi-

maccedilatildeo das universidades ao sector industrial e empresarial portuguecircs A procura de

novos puacuteblicos impotildee-se igualmente como estrateacutegia de sobrevivecircncia atraveacutes da

criaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo ao longo da vida direccionados para um mercado natildeo

apenas de licenciados mas de outros actores com formaccedilatildeo meacutedia

O ensino transnacional com objectivos comerciais e lucrativos constitui uma das

aacutereas que num futuro proacuteximo poderaacute vir a assumir alguma importacircncia no sector

educativo portuguecircs Esta nova realidade representa para as instituiccedilotildees portuguesas um

esforccedilo de actualizaccedilatildeo e de manutenccedilatildeo de padrotildees de qualidade acrescido quer

enquanto promotoras deste tipo de sistema de ensino quer enquanto competidoras no

mercado nacional Estes novos desafios encerram inevitavelmente aspectos positivos e

negativos para o contexto nacional do subsistema do ensino superior como a seguir se

veraacute

1221 O sistema de ensino superior portuguecircs e o processo de Bolonha

O processo de Bolonha resulta de um propoacutesito da Europa Unificada em criar

um Espaccedilo Europeu do Ensino Superior espaccedilo que se pretende coeso atractivo mas

igualmente competitivo para os actores intervenientes

Este processo teve iniacutecio em Maio de 1998 por ocasiatildeo de um encontro entre os

Ministros da Educaccedilatildeo Alematildeo Francecircs Italiano e do Reino Unido o qual originou a

assinatura da Declaraccedilatildeo de Sorbonne Esta declaraccedilatildeo preconizaria pela primeira vez

a construccedilatildeo de um Espaccedilo Europeu de Ensino Superior

Em Junho de 1999 os Ministros da Educaccedilatildeo de 29 Estados Europeus entre os

quais Portugal reuniram-se em Itaacutelia de onde resultaria a assinatura da Declaraccedilatildeo de

Bolonha que estabelece em definitivo os objectivos acima identificados abrangendo

56

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

desta feita docentes discentes e funcionaacuterios dos paiacuteses da Europa e Paiacuteses Terceiros

No ano de 2004 satildeo jaacute 33 os paiacuteses subscritores da Declaraccedilatildeo de Bolonha (ateacute agrave Confe-

recircncia de Berlim na qual vaacuterios outros aderiram) Da manifestaccedilatildeo deste desiacutegnio

emanou por parte dos seus signataacuterios a identificaccedilatildeo de 6 linhas de acccedilatildeo prioritaacuterias

algumas delas largamente abordadas na presente dissertaccedilatildeo As linhas de actuaccedilatildeo

definidas pautam-se pelos seguintes princiacutepios

bull A adopccedilatildeo de um sistema de graus comparaacutevel e legiacutevel entre os paiacuteses

membros

bull A implementaccedilatildeo de um sistema de ensino superior baseado fundamen-

talmente em 2 ciclos de formaccedilatildeo

bull O estabelecimento de um sistema de creacuteditos mdash ECTS

bull A promoccedilatildeo da mobilidade entre os actores do ensino superior [e natildeo soacute haacute

que ter em conta a mobilidade em geral (empregabilidade)]

bull A promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo europeia no domiacutenio da avaliaccedilatildeo da qualidade

bull A promoccedilatildeo de uma dimensatildeo europeia no domiacutenio do ensino superior

Os Ministros responsaacuteveis pela aacuterea do Ensino Superior desta feita de 33 paiacuteses

europeus reafirmariam as intenccedilotildees manifestadas em Praga e Bolonha atraveacutes da

assinatura do Comunicado de Berlim em Setembro de 2003 Este comunicado viria

para aleacutem do mais a considerar a necessidade de promover sinergias entre o Espaccedilo

Europeu do Ensino Superior e um Espaccedilo Europeu de Investigaccedilatildeo considerando-se

serem estes os dois pilares fundamentais da consolidaccedilatildeo da Sociedade do Conhe-

cimento (MCES 2004) A Comissatildeo Europeia tem a este respeito ideias bastante

concretas que resultam da reflexatildeo sobre a forma como as universidades poderatildeo vir a

desempenhar um papel fundamental e de extrema importacircncia na sociedade e na

economia do conhecimento na Europa (Comissatildeo das Comunidades Europeias 2003)

A verdade eacute que o desenvolvimento da sociedade do conhecimento depende da

produccedilatildeo de novos conhecimentos da sua eficaz transmissatildeo e divulgaccedilatildeo Uma eficaz

transmissatildeo de conhecimentos soacute eacute possiacutevel atraveacutes de processos educativos e

formativos do desenvolvimento da investigaccedilatildeo do crescimento regional e local sendo

este um papel tradicionalmente desempenhado pelas universidades Daiacute ser fundamental

57

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

para o sucesso dos objectivos traccedilados pelos paiacuteses signataacuterios a existecircncia ldquode uma

comunidade universitaacuteria soacutelida e proacutespera A Europa precisa de excelecircncia nas suas

universidades uma vez que soacute assim poderaacute optimizar os processos que estatildeo na base

da sociedade do conhecimento e concretizar o objectivo fixado no Conselho Europeu de

Lisboa tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinacircmica e competitiva

do mundo capaz de garantir um crescimento econoacutemico sustentaacutevel com mais e

melhores empregos e com maior coesatildeo socialrdquo (ibidem) O relevante papel que eacute dado

desempenhar agraves universidades europeias em todo este processo eacute bastante marcante

revelando-se para aleacutem do mais um importante desafio Esta eacute uma excelente fonte de

oportunidades trazendo no entanto e por outro lado dificuldades acrescidas devido agrave

forte concorrecircncia a que estatildeo sujeitas competindo-lhes de igual modo combater e

ultrapassar essas mesmas dificuldades

Perante a heterogeneidade do panorama universitaacuterio europeu que se reflecte

entre e dentro dos paiacuteses revelando-se aos mais variados niacuteveis quer seja na

organizaccedilatildeo nos modos de gestatildeo no funcionamento ou nos graus as reformas instau-

radas na sequecircncia do Processo de Bolonha representam um esforccedilo no sentido de

organizar essa diversidade tornando o sistema de ensino superior europeu mais coerente

e compatiacutevel

A Confederaccedilatildeo Europeia das Conferecircncias de Reitores em conjunto com a

Associaccedilatildeo Europeia de Universidades entendem Bolonha como ldquoum ponto de viragem

no desenvolvimento do Ensino Superior Europeurdquo (CRUE e CRE 2000) A visatildeo que

estas duas instituiccedilotildees tecircm do processo eacute uma visatildeo positiva uma vez que para estas ele

resulta de um compromisso assumido pelas instituiccedilotildees de forma livre e independente

Aparentemente estas duas instituiccedilotildees representantes dos sistemas de ensino univer-

sitaacuterios europeus entendem o papel de Bolonha como algo positivo que natildeo vem pocircr

em causa a especificidade dos sistemas de ensino superior dos paiacuteses signataacuterios Esta

deduccedilatildeo decorre da interpretaccedilatildeo das afirmaccedilotildees constantes no documento em referecircn-

cia assinado por ambas as instituiccedilotildees Neste documento eacute mencionado que a

Declaraccedilatildeo de Bolonha ldquoreconhece os valores fundamentais e a diversidade de ensino

superior europeu a) reconhece claramente a independecircncia e a autonomia necessaacuteria

das universidades b) refere-se explicitamente aos princiacutepios fundamentais colocados

na Magna Charta Universitatum assinada (tambeacutem em Bolonha) em 1988 c) acentua a

58

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade de alcanccedilar um espaccedilo comum para o ensino superior dentro de um

enquadramento da diversidade de culturas idiomas e sistemas educacionais (CRUE e

CRE 2000)

Esta posiccedilatildeo oficialmente assumida pelos representantes das instituiccedilotildees de

ensino superior europeias viria a ser corroborada publicamente pelo Conselho de Reito-

res das Universidades Puacuteblicas Portuguesas em 2001 reflectindo desta feita a posiccedilatildeo

das universidades portuguesas sobre este assunto No documento divulgado pelo

CRUP 36 eacute assumida a relevacircncia que tem para o sistema de ensino superior portuguecircs o

processo de criaccedilatildeo de um espaccedilo europeu com vista ao objectivo comum da promoccedilatildeo

de uma maior integraccedilatildeo europeia das instituiccedilotildees universitaacuterias possibilitando

consequentemente a afirmaccedilatildeo do sistema de ensino superior europeu no mundo

Eacute claramente expresso o empenho e o interesse das universidades puacuteblicas numa

participaccedilatildeo activa em todo este processo propondo-se no entanto uma reflexatildeo atenta

sobre alguns aspectos que por se revestirem de especial importacircncia satildeo dignos de uma

maior atenccedilatildeo por parte do subsistema de ensino superior portuguecircs e de entre os quais

se destacam o facto da convergecircncia de graus acadeacutemicos dever revestir-se de especial

cuidado assegurando-se a comparabilidade de graus ao inveacutes de um qualquer processo

de uniformizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo o que seria contraacuterio aos pressupostos expressos

na proacutepria Declaraccedilatildeo de Bolonha Qualquer situaccedilatildeo contraacuteria poria em risco a

identidade dos subsistemas de ensino nacionais defende o CRUP

Outro aspecto que merece reflexatildeo eacute o facto da reforma do sistema de ensino

portuguecircs poder vir a resumir-se a dois ciclos sendo o de graduaccedilatildeo especialmente

vocacionado para a preparaccedilatildeo dos alunos para o mercado de trabalho Estas e as

demais transformaccedilotildees a operar visam em uacuteltima anaacutelise facilitar a mobilidade

acadeacutemica e tornar os diplomas portugueses mais reconheciacuteveis para o exerciacutecio de

profissotildees no mercado europeu (CRUP 2003)

Na planificaccedilatildeo de todas estas reformas estruturais haacute que natildeo esquecer que o

sistema de ensino superior portuguecircs eacute composto por uma panoacuteplia de instituiccedilotildees de

ensino superior universitaacuterias e politeacutecnicas puacuteblicas e privadas revestindo-se como eacute

sabido de grande complexidade e singularidade Sobre isto natildeo satildeo conhecidos estudos 36 CRUP ldquoPosiccedilatildeo do CRUP sobre a Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via

WWWURL httpwwwcruppt Arquivo capturado em 27 de Novembro de 2003

59

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comparativos que permitam posicionar o sistema de ensino superior portuguecircs no

quadro europeu ou internacional Haacute pois que ter em conta que os riscos de uma reforma

profunda implicando uma alteraccedilatildeo suacutebita do sistema de graus satildeo elevados em prol

da manutenccedilatildeo do equiliacutebrio Esta reforma a operar-se deveraacute ser gradual de forma a

permitir uma melhor consciencializaccedilatildeo social

Para Joseacute Ferreira Gomes a reforma do sistema educativo portuguecircs quando a

curto prazo deveraacute ir antes no sentido de combater o insucesso escolar e promover

eficazmente a entrada no mercado de trabalho dos licenciados Esta poliacutetica implica

medidas que levem a uma maior aproximaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino ao tecido

empresarial atraveacutes por exemplo do incentivo agrave criaccedilatildeo de estaacutegios ou mesmo na

implementaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo ao longo da vida (Gomes 2002) Para os

defensores de uma estrateacutegia de reforma mais lenta e gradual a prioridade assenta na

promoccedilatildeo de uma poliacutetica de transparecircncia junto do puacuteblico estudantil empregador e da

sociedade civil em geral conquistando deste modo a sua confianccedila O seu alcance

deveraacute focalizar-se por um lado em tentar aumentar o papel do mercado na definiccedilatildeo

dos niacuteveis de formaccedilatildeo mas tambeacutem por desenvolver um sistema de avaliaccedilatildeo e

acreditaccedilatildeo rigoroso e transparente

Outros autores associam-se agrave ideia de se dever contrariar a tendecircncia e alertar os

poliacuteticos e demais intervenientes para os riscos da aplicaccedilatildeo de uma reforma

inconsequente do sistema em prol da raacutepida aplicabilidade das linhas orientadoras do

processo de Bolonha Autores como Pedro Lourtie 37 alertam para o facto de o sucesso

de Bolonha natildeo ser ainda um dado adquirido havendo ainda muitos obstaacuteculos a

ultrapassar O elevado nuacutemero de actores envolvidos eacute por si soacute um elemento dificul-

tador haacute primeiramente que garantir que as reformas a operar sejam convergentes e

consonantes no tempo diz o autor

Agrave semelhanccedila de Joseacute Gomes tambeacutem Lourtie defende que eacute fundamental para

o sucesso do processo assegurar o envolvimento e a participaccedilatildeo activa de todos os

intervenientes directos no sistema bem como da sociedade civil A sustentabilidade de

Bolonha passa inevitavelmente pela realizaccedilatildeo de estudos de sustentaccedilatildeo das medidas

37 Lourtie Pedro ldquoA Declaraccedilatildeo de Bolonhardquo (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL

httpwwwutlptorgovernodecbolPLhtm arquivo capturado em 5 de Dezembro de 2003

60

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

a adoptar quer a niacutevel institucional quer a niacutevel das poliacuteticas nacionais e europeias

O forte envolvimento das administraccedilotildees (enquanto oacutergatildeos legisladores e reformadores)

e das instituiccedilotildees de ensino superior satildeo aleacutem do mais elementos fundamentais para o

seu sucesso perfilando-se este processo reformista como um novo desafio para Portugal

e para o resto da Europa

61

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

62

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO II 2 O Ensino Superior Transnacional 21 O ensino transnacional no contexto da Uniatildeo Europeia

O ldquoensino transnacionalrdquo 38 define-se como um sistema de ensino que ultrapassa

os limites das fronteiras dos sistemas de ensino superior nacionais enquadrando-se

regra geral ldquona categoria do ensino superior natildeo oficial no paiacutes hospedeirordquohellip O ensino

transnacional eacute frequentemente associado ao ldquofranschisingrdquo de instituiccedilotildees e programas

mas pode assumir tambeacutem outros modos de transmissatildeordquo 39 No entanto muito mais

haveraacute a dizer sobre este sistema de ensino que ultrapassa as fronteiras do seu proacuteprio

paiacutes

A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo eacute um fenoacutemeno recente jaacute na Ida-

de Meacutedia era tradicional os alunos deslocarem-se de universidade em universidade na

procura dos mestres mais famosos (o que era facilitado pela uniformidade dos estudos

na eacutepoca) do mesmo modo que os mestres se deslocavam para trocar ideias com outros

colegas ou para consultar bibliotecas (pois entatildeo natildeo existiam meios faacuteceis de comuni-

caccedilatildeo) Para aleacutem do mais as universidades sempre defenderam que eram livres e 38 ldquoHigher education activities (study programmes or sets of courses of study or educational services

including those distance education) in which the learners are located in a host country different from the one where the awarding institution is based such programmes may belong to the education of a State different from the host country or may operate outside of any national systemrdquo (Machado dos Santos 2000)

39 Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior 2002

63

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

internacionais em espiacuterito Tambeacutem no periacuteodo das colonizaccedilotildees a universidade foi

exportada de continente para continente primeiro como forma de dominaccedilatildeo colonial e

mais tarde depois da independecircncia como apoio aos povos libertados O que eacute novo eacute

um conceito de internacionalizaccedilatildeo que tende a ser confundido com o processo de

globalizaccedilatildeo e em que a difusatildeo do conhecimento e os ideais seculares satildeo substituiacutedos

por conceitos neo-liberais o que leva a considerar o ensino como um serviccedilo

ldquointernacionalmenterdquo vendaacutevel A internacionalizaccedilatildeo do ensino superior numa oacuteptica

mercantilista e enquanto ldquobem de consumordquo teve iniacutecio nos anos 80 e ldquocomeccedilou por se

desenvolver e a ser incentivada natildeo tanto como um fim em si mesmo mas como meio

para o desenvolvimento de novas aacutereas do conhecimento e para a promoccedilatildeo da

qualidade atraveacutes dos seus efeitos positivos em aspectos tatildeo variados como o desem-

penho dos docentes o desempenho individual dos estudantes e as carreiras profissionais

consequentes os processos de ensino-aprendizagem o desenvolvimento curricular e os

proacuteprios niacuteveis institucional e sisteacutemico em resultado de uma aprendizagem transcul-

tural de uma comparaccedilatildeo e troca de boas praacuteticas e em alguns casos de um aumento

de massa criacuteticardquo 40 Este movimento viria ainda a contribuir para o fortalecimento da

investigaccedilatildeo cientiacutefica bem como para a introduccedilatildeo de novas linhas de trabalho nesta

aacuterea

Como se referiu anteriormente a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior natildeo

apenas ao niacutevel europeu mas num sentido mais lato agrave escala mundial faz com que

tenham sido traccedilados objectivos bastante ambiciosos para o ensino superior dando ori-

gem a acccedilotildees internacionais como satildeo exemplos os programas para a promoccedilatildeo da mo-

bilidade docente e discente anteriormente referidos

No entanto apesar das vantagens inegaacuteveis da internacionalizaccedilatildeo das insti-

tuiccedilotildees de ensino superior o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior alerta

para os riscos que pode trazer um crescimento raacutepido e descontrolado do ensino transna-

cional bem como as tentativas de o incluir no General Agreement On Trade in Services

(GATS) como veremos mais aprofundadamente mais agrave frente

Efectivamente regista-se nos uacuteltimos anos um aumento raacutepido e significativo em

termos quantitativos da oferta deste tipo de ensino apontando-se como principal

impulsionador deste sistema de ensino as facilidades proporcionadas pelas novas 40 Ibidem

64

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo Se o alargamento das oportunidades de

formaccedilatildeo a novos puacuteblicos eacute regra geral de louvar jaacute a propagaccedilatildeo raacutepida e algo

descontrolada do ensino superior transnacional levanta problemas que natildeo estatildeo ainda

controlados e circunscritos Eacute oacutebvio que natildeo satildeo apenas dificuldades que estatildeo associa-

das ao ensino superior transnacional o aumento deste sistema de ensino encerra

igualmente virtudes e aspectos positivos como se veraacute de seguida

Quando se abordam os aspectos negativos associados ao ensino superior transna-

cional eacute inevitaacutevel falar-se de uma das questotildees mais preocupantes relacionadas com

este tipo de oferta de ensino e que tem a ver com o facto de este se encontrar

sistematicamente fora dos mecanismos de controlo regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a que os

sistemas de ensino superior europeus estatildeo hoje sujeitos Para Seacutergio Machado dos

Santos o aumento exponencial do ensino transnacional eacute um assunto prioritaacuterio nas

abordagens ao processo de Bolonha na medida em que a Declaraccedilatildeo de Bolonha tem

como um dos seus objectivos preparar a Europa para o ensino transnacional (new

providers) que se posicionam fora dos sistemas de ensino formais Segundo o autor o

tema central das recentes abordagens ao processo de Bolonha gira agrave volta da

problemaacutetica da mobilidade nomeadamente dos programas educativos dos serviccedilos e

pessoas e da necessidade premente em criar-se mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo do

ensino transnacional (Machado dos Santos 2000) A verdade eacute que com o processo de

Bolonha a Europa prepara-se para fazer convergir esforccedilos e criar uma plataforma de

entendimento que lhe permita fornecer serviccedilos educativos ao resto do mundo

Fruto da Globalizaccedilatildeo a competitividade de mercado ao niacutevel do ensino superior

eacute generalizada a todas os paiacuteses atingindo natildeo soacute a Europa como outros paiacuteses

Kokosalakis 41 num estudo comparativo realizado em vaacuterios paiacuteses europeus concluiu

que na Uniatildeo Europeia o ensino superior natildeo oficial eacute jaacute um problema com alguma

expressatildeo devido ao aparecimento de um mercado florescente de oferta de novos

promotores de ensino superior natildeo oficial O estudo deste autor revelou que paiacuteses

Europeus como a Greacutecia Itaacutelia Espanha Reino Unido Irlanda e Franccedila satildeo aqueles

41 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo documento

apresentado na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

65

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

onde este fenoacutemeno eacute mais visiacutevel mas para Machado dos Santos a tendecircncia de

crescimento deste mercado verifica-se de igual modo em Portugal onde no ano de 1998

se contavam jaacute um total de 113 instituiccedilotildees de ensino superior privadas das quais satildeo

raras aquelas que natildeo apostam no ensino transnacional como meio para cativar novos

puacuteblicos fora do periacutemetro geograacutefico nacional Actualmente esta situaccedilatildeo foi

regulamentada com a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12003 de 6 de Janeiro que proiacutebe no

artigo 16ordm o funcionamento de estabelecimentos de ensino em regime de franquia

circunscrevendo a oferta de ensino superior agrave comunidade atraveacutes de relaccedilotildees de

intercacircmbio cultural cientiacutefico e teacutecnico com instituiccedilotildees congeacuteneres atraveacutes da

celebraccedilatildeo de protocolos ou acordos de cooperaccedilatildeo que apresentam caracteriacutesticas

distintas do ldquofranchisingrdquo Tambeacutem o ensino agrave distacircncia tem vindo a causar

preocupaccedilatildeo no que concerne ao garante de padrotildees miacutenimos de qualidade e regras de

protecccedilatildeo do consumidor face ao fornecimento deste serviccedilo Baseando-se nos

resultados da anaacutelise obtidos por Kokosalakis Machado dos Santos conclui que o Reino

Unido eacute sem margem para duacutevida o maior exportador europeu de educaccedilatildeo no sector

do ensino superior enquanto que os maiores importadores deste serviccedilo satildeo a Greacutecia a

Espanha e a Itaacutelia 42

As principais causas apontadas para justificar o aumento da ldquoglobalizaccedilatildeordquo do

mercado do ensino superior podem atribuir-se natildeo apenas ao aumento da procura por

parte dos estudantes do ensino graduado mas tambeacutem por parte de outros puacuteblicos

sendo no caso destes uacuteltimos um fenoacutemeno resultante da saturaccedilatildeo do mercado de

trabalho de licenciados e do aumento do niacutevel de exigecircncia do mercado empresarial que

cada vez mais procura candidatos especializados em aacutereas inovadoras A educaccedilatildeo ao

longo da vida e a formaccedilatildeo profissional tendem a ajustar-se agraves necessidades do mercado

e dos empregadores Por outro lado e em contrapartida o ensino oficial por nem

sempre se adequar agraves necessidades do mercado de trabalho e por nem sempre serem

suficientes as vagas de formaccedilatildeo que oferece propicia o aparecimento de sistemas de

ensino alternativo fora dos sistemas de ensino oficiais o que os estudiosos desta

mateacuteria denominam de ldquoformaccedilatildeo agrave medidardquo A proliferaccedilatildeo do ensino transnacional eacute

entatildeo impulsionada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informaccedilatildeo que

vieram permitir a descentralizaccedilatildeo do sistema de ensino e o aparecimento de novos 42 Ibidem

66

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

modelos de ensino e aprendizagem como o e-learning A este propoacutesito Seacutergio

Machado dos Santos atenta na possibilidade de num futuro proacuteximo em paiacuteses com

caracteriacutesticas especiacuteficas e de forma a suprimir a incapacidade da oferta fazer face agrave

procura os promotores de ensino possam vir a revelar-se instituiccedilotildees que noutros paiacuteses

se encontrem inseridas nos sistemas de ensino oficiais o que poderaacute nestes casos

assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade na formaccedilatildeo prestada pelas instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional 43 Apesar das ideias do autor quanto agrave manutenccedilatildeo

dos padrotildees de qualidade pelo facto de tratar-se de instituiccedilotildees de ensino superior que

no seu paiacutes de origem se encontram inseridas nos sistemas de ensino formais a verdade

eacute que no ensino transnacional imperam objectivos de lucro faacutecil e portanto a qualidade

eacute recorrentemente relegada para segundo plano A verdade eacute que as instituiccedilotildees

envolvidas neste tipo de mercantilizaccedilatildeo do ensino satildeo normalmente instituiccedilotildees com

um nome pouco firmado nacional e internacionalmente

No caso portuguecircs e reportando mais directamente agraves actividades de cooperaccedilatildeo

promovidas pelas instituiccedilotildees de ensino superior publicas portuguesas a realidade

assume contornos diferentes assim como diferentes satildeo as motivaccedilotildees das instituiccedilotildees

A grande maioria das universidades e institutos politeacutecnicos portugueses realizam

ensino transnacional normalmente integrado em Programas de Cooperaccedilatildeo nacionais

Neste caso natildeo se trataraacute de actividades de ldquofranchisingrdquo mas antes de actividades de

formaccedilatildeo graduada e de poacutes-graduaccedilatildeo integradas num contexto nacional mais lato e

abrangente que poderatildeo ou natildeo implicar proveitos financeiros para as instituiccedilotildees

mas que normalmente representam generosos proveitos financeiros para os docentes

envolvidos Mas este assunto seraacute convenientemente aprofundado nos capiacutetulos

seguintes

211 Principais problemas do ensino superior transnacional

Dos muitos problemas inerentes ao ensino superior transnacional contam-se

alguns que por serem transversais aos vaacuterios sistemas de ensino satildeo facilmente 43 Ibidem

67

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

identificaacuteveis Agrave medida que este sistema de ensino ganha terreno natildeo apenas nos

paiacuteses da Uniatildeo Europeia mas no resto do mundo agudizam-se as tensotildees geradas agrave sua

volta particularmente resultantes da reacccedilatildeo dos demais sistemas de ensino dos paiacuteses

hospedeiros particularmente os sistemas de ensino formais acentuando-se desta forma

cada vez mais a competiccedilatildeo crescente ao niacutevel do ensino superior Uma das deficiecircncias

recorrentemente apontadas ao ensino transnacional tem a ver com a falta de transpa-

recircncia e a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo que infelizmente o caracterizam

O facto de este tipo de ensino estar recorrentemente agrave margem dos Mecanismos de

regulaccedilatildeo e controlo pode ser um elemento gerador de tensatildeo entre os restantes sistemas

de ensino que coabitam no mesmo paiacutes e que a eles estatildeo sujeitos

O problema da regulaccedilatildeo eacute uma das questotildees que se reveste de maior cuidado

uma vez que estaacute intimamente ligado agraves questotildees legislativas linguiacutesticas e culturais do

ensino transnacional A garantia da manutenccedilatildeo de padrotildees miacutenimos de qualidade eacute um

problema que se tem vindo a acentuar em parte devido ao crescimento acelerado que

tem tido este tipo de ensino nos uacuteltimos anos As preocupaccedilotildees que provoca estatildeo

relacionadas quer com os conteuacutedos programaacuteticos e a sua multiplicidade quer com o

reconhecimento dos graus concedidos Autores como Kokosalakis ou Seacutergio Machado

dos Santos salientam a questatildeo do reconhecimento dos diplomas como uma

preocupaccedilatildeo eminente nas esferas de decisatildeo sendo este indubitavelmente um

ingrediente indispensaacutevel para o sucesso do ensino transnacional mdash ldquocertification plays

an important role in this contextrdquo afirma Machado dos Santos (Machado dos Santos

2000)

Esta questatildeo ganha uma nova dimensatildeo quando analisada na oacuteptica do consu-

midor a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade que caracteriza

pela negativa o Ensino Transnacional impede muitas vezes o reconhecimento do

diploma pelas estruturas legais em vigor no paiacutes onde se instalou o promotor do curso

ou ateacute noutros paiacuteses estrangeiros ficando deste modo o seu detentor inibido de

potencializar o investimento e o consequente logro das suas expectativas As questotildees

que se prendem com o reconhecimento e paridade de tiacutetulos e diplomas que eacute como

quem diz o reconhecimento da certificaccedilatildeo fora do paiacutes onde foi obtida tecircm normal-

mente como principal causa o facto de recorrentemente o ensino transnacional se

68

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

encontrar fora dos sistemas de ensino formais do paiacutes hospedeiro estando por inerecircncia

fora dos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo em vigor

A implementaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo eacute uma das medidas veemente-

mente defendida pelos impulsionadores do ensino transnacional em nome da transpa-

recircncia e da sua subsistecircncia ensino que apesar das fragilidades que ainda apresenta

ajuda muitas vezes a resolver algumas das lacunas de formaccedilatildeo dos paiacuteses onde se

encontra instalado

Um outro aspecto negativo eacute o facto de as instituiccedilotildees promotoras de ensino

transnacional tenderem a privilegiar aacutereas de saber com maior procura de mercado

investindo menos em aacutereas que apesar de serem de maior interesse para o desenvol-

vimento do paiacutes hospedeiro por oposiccedilatildeo satildeo menos procuradas pelos estudantes

contrariando desta forma os interesses estrateacutegicos do paiacutes hospedeiro

Segundo Kokosalakis acresce que os problemas acima identificados satildeo

transversais aos vaacuterios paiacuteses da Uniatildeo Europeia e adquirem contornos de difiacutecil

soluccedilatildeo uma vez relacionados com questotildees do foro legal Haacute apesar de tudo que ter

alguma reserva sobre as fragilidades e problemas conotados com o ensino transnacional

pois para Seacutergio Machado dos Santos a ldquotransnational education in general should not

be identified with fraudulous activities or bogus titles Much of its provision works in

parallel to the formal systems and in some cases it can be of comparable mechanisms or

even higher qualityrdquo 44 No entanto o autor natildeo deixa de reforccedilar a ideia mais saliente

sobre a falta de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo adequados que caracteriza pela

negativa o ensino transnacional Eacute de certo isenta a opiniatildeo do autor ao defender que

nem todo o ensino transnacional eacute necessariamente fraudulento no entanto a verdade eacute

que esta afirmaccedilatildeo apesar de verdadeira natildeo eacute aplicaacutevel no contexto de todos os paiacuteses

senatildeo vejamos nos paiacuteses desenvolvidos que apresentam sistemas de ensino superior

puacuteblicos e inseridos nos sistemas formais nacionais como satildeo exemplo os paiacuteses

europeus o sistema de ensino nacional eacute agrave partida melhor do que qualquer sistema de

ensino paralelo transnacional A premissa de que parte o autor isto eacute de que o ensino

transnacional natildeo tem de ser necessariamente fraudulento e desprovido de qualidade

aplica-se com maior rigor a paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

44 Ibidem

69

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

No contexto dos paiacuteses pobres os sistemas de ensino paralelos aos sistemas formais de

ensino satildeo assumidamente de maior qualidade e rigor cientiacutefico do que os nacionais

ldquoThere are indeed serious implications from the fast and

unchecked growth of transnational education hellip the crucial

problems (raised by non-official higher education) for the whole

above all the legal framework witch legitimises these issues

across the EU The difficulties are augmented by the fact that

transnational education often falls outside the official framework

for higher education and as a consequence stays outside the

formal supervision of academic standardsrdquo (Machado dos Santos 2000)

A anaacutelise do ensino superior transnacional natildeo estaria completa e seria certa-

mente tendenciosa se apenas se assinalassem os seus aspectos negativos Natildeo sendo isso

que se pretende com o presente trabalho deve clarificar-se que o ensino transnacional se

reveste igualmente de aspectos positivos natildeo soacute para o paiacutes promotor mas tambeacutem para

o paiacutes hospedeiro Digamos que o paiacutes emissor de ensino transnacional deteacutem um

oacuteptimo instrumento de divulgaccedilatildeo aleacutem fronteiras do seu ensino possibilitando a

internacionalizaccedilatildeo das suas instituiccedilotildees As actividades de ensino transnacional satildeo

tambeacutem um oacuteptimo aliado dos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto

um importante aliado para a manutenccedilatildeo de boas relaccedilotildees diplomaacuteticas entre paiacuteses

Aliado agraves relaccedilotildees diplomaacuteticas que se estabelecem entre paiacuteses andam invariavelmente

interesses econoacutemicos e culturais Econoacutemicos porque no que respeita ao domiacutenio do

ensino superior eacute uma forma de as instituiccedilotildees encontrarem novos puacuteblicos e formas

alternativas de financiamento interesses culturais porque sentimentos neo-colonialistas

agrave parte eacute uma forma de extensatildeo transnacional de uma cultura acadeacutemica

ldquoO ensino transnacional tambeacutem eacute considerado um meio para

reforccedilar a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior e promover a

cooperaccedilatildeo intercultural (Vlasceanu 1999) podendo trazer

benefiacutecios agraves instituiccedilotildees de um Paiacutes atraveacutes de ligaccedilotildees com

instituiccedilotildees estrangeiras prestigiadasrdquo

(Adam citado por CNAVES 2002)

70

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Nos paiacuteses em que a procura de ensino superior excede largamente a oferta por

parte das instituiccedilotildees de ensino nacionais quer sejam formais ou natildeo o ensino trans-

nacional eacute sem duacutevida um meio que proporciona formaccedilatildeo a um maior nuacutemero de

candidatos que de outra forma natildeo poderiam aspirar a uma formaccedilatildeo superior

Os problemas do ensino transnacional merecem pela sua importacircncia e

complexidade uma reflexatildeo mais aprofundada e criteriosa pois de futuro o sucesso

deste tipo de ensino passa indubitavelmente pela ultrapassagem de alguns dos seus

problemas mais prementes A ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo no ensino transna-

cional afigura-se como uma das questotildees de difiacutecil resoluccedilatildeo e aparece recorrentemente

na primeira linha de preocupaccedilotildees para Seacutergio Machado dos Santos natildeo se vislumbra

faacutecil o trabalho de implementaccedilatildeo destes mecanismos de regulaccedilatildeo formais e legais

neste sistema de ensino uma vez que os mecanismos reguladores diferem de paiacutes para

paiacutes e quaisquer que sejam as medidas de reconhecimento a implementar eacute de extrema

importacircncia que estas estejam em sintonia com o contexto nacional europeu ou interna-

cional dependendo do paiacutes onde se pretendem aplicar Cresce a niacutevel mundial o movi-

mento pro-liberalizaccedilatildeo do comeacutercio de serviccedilos educacionais Eacute neste contexto que

surge o GATS-General Agreement Trade Services

212 Algumas propostas de resoluccedilatildeo dos principais problemas do ensino trans-nacional

Sobre os mecanismos de regulaccedilatildeo do ensino transnacional o CNAVES

surpreendentemente revela que os paiacuteses com um sistema liberal de ensino como eacute o

caso da Austraacutelia e da Holanda apresentam menos problemas com o ensino transna-

cional do que outros paiacuteses com regras mais apertadas uma vez que sistemas de ensino

mais abertos tendem a absorver o ensino superior natildeo oficial que a curto prazo acaba

por se oficializar tornando-se por isso susceptiacutevel de mecanismos de controlo de quali-

dade Tratar-se-aacute de um processo de regulaccedilatildeo gradual e progressivo

No entanto regra geral natildeo eacute este o caminho que segue o ensino superior

transnacional mantendo-se antes pelo contraacuterio tendencialmente agrave margem do ensino

71

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

oficial do paiacutes onde se encontra implantado Satildeo bem conhecidos os problemas de

transparecircncia que suscita o ensino transnacional e a ausecircncia de mecanismos

reguladores e de controlo que o caracterizam problemas esses com que recorrentemente

se vecirc confrontado o paiacutes onde se encontra instalado Da parte da entidade promotora

uma das duas situaccedilotildees seguintes podem ocorrer na primeira a entidade proponente do

serviccedilo estaacute integrada no sistema oficial de ensino no seu paiacutes de origem e neste caso

ficaraacute sujeita aos mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo existentes no seu proacuteprio paiacutes o

que lhe confere agrave partida credibilidade e assegura o cumprimento de padrotildees miacutenimos

de qualidade Neste caso parte-se do princiacutepio que a formaccedilatildeo ministrada seraacute baseada

nos cursos existentes no paiacutes de origem Este eacute o caso que melhor descreve as

actividades de ensino transnacional praticadas pelas instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas que incidem quase exclusivamente sobre os Paiacuteses de Liacutengua

Oficial Portuguesa Como veremos nos casos de estudo analisados nos capiacutetulos

seguintes e que serviram de base de estudo empiacuterico a este trabalho (casos de Cabo

Verde e de Timor Leste) os modelos de ensino transnacional portugueses estatildeo por

norma associados a programas de cooperaccedilatildeo e as instituiccedilotildees envolvidas apesar de

integradas nos sistemas de ensino formais do paiacutes de origem e ateacute mesmo do paiacutes

receptor natildeo estatildeo sujeitas a qualquer mecanismo de regulaccedilatildeo ou de avaliaccedilatildeo da

qualidade do seu ensino transnacional apenas as suas actividades regulares de ensino

satildeo avaliadas

A segunda situaccedilatildeo que pode ocorrer eacute o serviccedilo prestado ser promovido por

entidades agrave margem do sistema oficial de ensino quer no seu paiacutes de origem quer no

paiacutes hospedeiro havendo neste caso uma total ausecircncia de mecanismos que garantam

padrotildees miacutenimos de qualidade

Da parte das entidades promotoras de ensino transnacional verifica-se um

esforccedilo para a legitimaccedilatildeo da sua actividade aleacutem fronteiras e credibilizaccedilatildeo do ensino

transnacional muitas destas instituiccedilotildees de ensino superior oficiais criaram coacutedigos de

eacutetica e de conduta de que fazem parte recomendaccedilotildees que quando postas em praacutetica

pretendem assegurar padrotildees miacutenimos de qualidade Jaacute as instituiccedilotildees de ensino que se

posicionam absolutamente fora de qualquer sistema de ensino oficial tentam por todos

os meios legitimar a sua actividade por vezes aliando-se a outras instituiccedilotildees bem

posicionadas Outra das soluccedilotildees encontradas para colmatar as dificuldades do exerciacutecio

72

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de regulaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo do ensino superior transnacional foi o aparecimento de

agecircncias privadas de acreditaccedilatildeo Estas agecircncias internacionais privadas actuam por

aacutereas de conhecimento e dedicam-se agrave criaccedilatildeo de coacutedigos de boas praacuteticas para o ensino

transnacional e agrave certificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que se submetem voluntariamente a este

mecanismo de regulaccedilatildeo e controlo de qualidade para aleacutem do mais criam e aplicam

coacutedigos de conduta e de boa praacutetica agraves instituiccedilotildees que voluntariamente as decidem

adoptar e aplicar nas suas actividades de ensino transnacional Fica por esclarecer a

legitimidade de tais coacutedigos de conduta e de boa praacutetica assim como a credibilidade do

trabalho desenvolvido por estas agecircncias

Do lado dos paiacuteses hospedeiros os mecanismos de controlo vulgarmente

adoptados passam pela integraccedilatildeo de programas de ensino transnacional no sistema

oficial de ensino antecedido de procedimentos de reconhecimento O Conselho Nacio-

nal de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior entende que a aposta num sistema apertado de

regulaccedilatildeo e controlo do ensino transnacional natildeo resolveraacute o problema para aleacutem de

eventualmente se correr o risco de entrar em conflito com a Uniatildeo Europeia ou com as

leis internacionais Satildeo propostas por este oacutergatildeo outras formas mais interessantes e

aparentemente mais eficazes para regular este sistema de ensino por parte do paiacutes

hospedeiro como por exemplo a criaccedilatildeo de mecanismos eou incentivos para que estes

se submetam a procedimentos de avaliaccedilatildeo e apostem num ensino de qualidade

recebendo como contrapartida a possibilidade de integraccedilatildeo no sistema de ensino

oficial Neste caso aconselha-se a protecccedilatildeo a algumas nomenclaturas e alguns tiacutetulos

como por exemplo o de ldquouniversidaderdquo ldquoinstituto universitaacuteriordquo ou o poder de

reconhecimento de graus acadeacutemicos ou ateacute o reconhecimento puacuteblico oficial

Interessante eacute a alusatildeo feita pelo CNAVES ao projecto ldquoBorderless Educationrdquo

desenvolvido no Reino Unido onde eacute proposto de forma exaustiva e bastante

interessante um quadro de referecircncia qualitativa a aplicar ao ensino transnacional do

qual a seguir se transcreve um excerto pela pertinecircncia das sugestotildees nele contidas

ldquoSugerimos que os principais elementos de um quadro de referecircn-

cia qualitativa para o ensino sem fronteiras deve incluir aceitaccedilatildeo

e seguranccedila das qualificaccedilotildees auditoria do sistema para a

estruturaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos curricula ou contratos de aprendi-

zagem apropriados um sistema de creacuteditos reconhecido interna-

73

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

cionalmente qualificaccedilatildeo oficial do corpo docente seguranccedila nos

mecanismos de avaliaccedilatildeo uma abordagem de registo e certifi-

caccedilatildeo da consecuccedilatildeo de objectivos que seja reconhecida

internacionalmente informaccedilatildeo puacuteblica adequada e exacta sobre

oportunidades de aprendizagem sistemas aprovados de orien-

taccedilatildeo e de tratamento de reclamaccedilotildees para os estudantes proces-

sos transparentes de gestatildeo da qualidade para cada agente da

cadeia de formaccedilatildeo educativa acesso assegurado pelo prestador

a recursos de aprendizagem adequados publicaccedilatildeo de orienta-

ccedilotildees relevantes para as diferentes modalidades da ofertardquo

(CNAVES 2002)

O reconhecimento de instituiccedilotildees e programas de ensino eacute uma mateacuteria

controversa e de difiacutecil resoluccedilatildeo uma vez que envolve desde logo um conflito de

interesses a vaacuterios niacuteveis que pode ir de situaccedilotildees extremas como a acreditaccedilatildeo de

diplomas agrave manutenccedilatildeo de profissotildees tradicionais de cada paiacutes e agrave preservaccedilatildeo do

mercado de emprego nacional agrave crescente necessidade de mobilidade e de expansatildeo do

mercado Da Convenccedilatildeo de Lisboa aludida anteriormente resultou um quadro

normativo e metodoloacutegico para o reconhecimento de graus decorrentes do ensino

transnacional no entanto o quadro normativo proposto eacute particularmente direccionado

para a mobilidade de discentes Para aleacutem do mais o quadro normativo resultante da

Convenccedilatildeo aplica-se a qualificaccedilotildees obtidas em instituiccedilotildees de ensino superior

reconhecidas por um Estado seu signataacuterio natildeo se aplicando as mesmas normas de

reconhecimento de graus agraves qualificaccedilotildees resultantes do ensino transnacional que se

posicione fora deste contexto

Eacute sabido que a problemaacutetica do reconhecimento de instituiccedilotildees e de programas

tanto para fins acadeacutemicos como para fins profissionais envolve conflitos de interesses

pondo em oposiccedilatildeo a oacuteptica acadeacutemica que tenta proteger os diplomas e as profissotildees

tradicionais e por outro as necessidades do mercado de emprego e o irreversiacutevel

processo de mobilidade de pessoas que soacute faz sentido se lhes for permitido a

portabilidade das suas habilitaccedilotildees acadeacutemicas e qualificaccedilotildees profissionais

Sobre o ensino transnacional foi criado um grupo de reflexatildeo o Working Group

on Transnacional Education que em conjunto com o trabalho jaacute desenvolvido pela

European Network of Information Centres (Rede ENIC) e sob a eacutegide da UNESCO

74

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(CEPES) e do Conselho da Europa tentam haacute muito lidar com ldquothe issues of quality and

assessment of franchised higher education programmesinstitutions (in order to) propose

guidelines for the recognition of qualifications granted by these institutionsrdquo 45

Posteriormente agrave realizaccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Lisboa o Comiteacute da Convenccedilatildeo

para o Reconhecimento das Qualificaccedilotildees do Ensino Superior da Regiatildeo Europeia viria

a adoptar na reuniatildeo de Riga o ldquoCode of Good Practice mdash in the provision of

transnacional educationrdquo 46 Neste documento que vem complementar a Convenccedilatildeo de

Reconhecimento de Lisboa satildeo delineados uma seacuterie de princiacutepios sob a forma de

normativas cujo principal objectivo eacute servir de referecircncia agraves actividades de avaliaccedilatildeo de

modo a permitir a manutenccedilatildeo da qualidade dos programas educativos e das instituiccedilotildees

que operam fora do paiacutes de origem O ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo define as condiccedilotildees de

prestaccedilatildeo de serviccedilos de educaccedilatildeo que uma vez cumpridas garantem a qualidade dos

serviccedilos prestados e por inerecircncia a protecccedilatildeo dos stakeholders (alunos funcionaacuterios

empregadores etc) A facilitaccedilatildeo do reconhecimento das qualificaccedilotildees pelos membros

do Conselho da EuropaUNESCO eacute outro dos objectivos pretendidos com a adopccedilatildeo do

coacutedigo normativo devendo os princiacutepios nele defendidos ser respeitados pelas

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas no fornecimento dos serviccedilos educativos

Os princiacutepios do ldquoCoacutedigo de Boas Praacuteticasrdquo satildeo apresentados sob a forma de

determinaccedilotildees normativas De modo a executar essas determinaccedilotildees particularmente no

que concerne ao reconhecimento de qualificaccedilotildees alcanccediladas atraveacutes de acordos de

ensino transnacional a rede ENIC recorre igualmente aos ldquoprocedures outlined in the

Recommendation on procedures and criteria for the assessment of foreign qualifi-

cationsrdquo 47 como instrumento complementar

Um outro aspecto importante a assegurar eacute a transparecircncia no trabalho de

certificaccedilatildeo que segundo o CNAVES poderaacute ser garantida pela adopccedilatildeo sistemaacutetica de

um ldquoSuplemento de Diplomardquo Esta proposta foi desenvolvida a partir de uma iniciativa

45 CEPES in Ibidem 46 Machado dos Santos Seacutergio ldquoIntroduction to the theme of transnational educationrdquo comunicaccedilatildeo

apresentada na Conference of the Directors General for Higher Education and Heads of the Rectoracutes Conferences of the European Union Aveiro 2000 (on line) disponiacutevel na Internet via wwwURL httpwwwunigecheua Arquivo capturado em 20 de Marccedilo de 2003

47 Steering Committee for Higher Education and Research (CD-ESR) Compendium of Basic Documents in the Bologna Process 1st plenary session Strasbourg October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwcoeint Higher education (restrited access) arquivo capturado em 7 de Abril de 2003

75

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

comum entre a Comissatildeo Europeia o Conselho da Europa e a UNESCOCEPES que se

aplicado a todos os sistemas de ensino internacionais seraacute um valioso instrumento de

validaccedilatildeo e reconhecimento das qualificaccedilotildees dos seus detentores

No plano nacional ldquoa formulaccedilatildeo de poliacuteticas institucionais para a interna-

cionalizaccedilatildeo a cooperaccedilatildeo com os Paiacuteses de Expressatildeo Portuguesa deveraacute natural-

mente merecer uma atenccedilatildeo especiacuteficardquo (CNAVES 2002) Consciente das dificuldades

que o ensino transnacional traz para as estruturas de ensino nacionais formais no que

respeita em particular ao enquadramento e agrave competiccedilatildeo o CNAVES defende que a

tomada de medidas facilitadoras da implementaccedilatildeo do ensino superior transnacional

nomeadamente no que diz respeito agraves oportunidades de aprendizagem ao auxiacutelio na

resoluccedilatildeo de falhas de qualidade e aos padrotildees das qualificaccedilotildees concedidas deveratildeo

ser ponderadas e controladas Para o CNAVES ldquouma questatildeo inicial e baacutesica eacute a da

clarificaccedilatildeo e transparecircncia Uma melhor compreensatildeo da base normativa do ensino

transnacional das suas praacuteticas e dos seus efeitos eacute essencial como forma de o tornar

aceitaacutevel quer para os sistemas receptores quer para os emissoresrdquo Essencial seraacute zelar

pela transparecircncia nos mecanismos de regulaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de acordos transna-

cionais na sua monitorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e no reconhecimento e certificaccedilatildeo das

qualificaccedilotildees O CNAVES defende ser da responsabilidade das instituiccedilotildees de ensino

superior dos governos e das entidades internacionais aumentar o conhecimento puacuteblico

sobre os diversos elementos a ter em conta nos serviccedilos de ensino transnacional tais

como os estatutos das instituiccedilotildees a sua acreditaccedilatildeo e o reconhecimento dos seus

programas de estudo Para aleacutem do mais segundo este oacutergatildeo eacute da competecircncia das

autoridades nacionais fornecerem agrave sociedade civil informaccedilatildeo actualizada sobre as

instituiccedilotildees e os diplomas reconhecidos oficialmente A adopccedilatildeo destas medidas parte

de um princiacutepio de que existem outras medidas paralelas como sejam os quadros

normativos de regulaccedilatildeo para o ensino superior pressupondo-se neste caso que sejam

definidos de forma clara e rigorosa os requisitos necessaacuterios para o reconhecimento

oficial de instituiccedilotildees de ensino superior e para o registo de cursos Eacute tambeacutem defendido

pelo CNAVES a afirmaccedilatildeo do papel das agecircncias nacionais de avaliaccedilatildeo que deveratildeo

incluir no seu acircmbito de actuaccedilatildeo o ensino superior transnacional em estreita

articulaccedilatildeo com as agecircncias ENIC como garante de padrotildees miacutenimos de qualidade

Prevalece no entanto a ideia de que compete exclusivamente a cada paiacutes a avaliaccedilatildeo e

76

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

acreditaccedilatildeo do ensino transnacional partindo-se do princiacutepio de que a especificidade

cultural seja salvaguardada

22 O GATS e o ensino transnacional

O General Agreement on Trade in Services (GATS) 48 foi criado no ano de 1995

e tem vindo a ser negociado sobre o controlo da WTO mdash World Trade Organization

(Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) O GATS cobre um total de 12 sectores de

serviccedilos de entre as quais o sector da educaccedilatildeo um dos uacuteltimos a ser incluiacutedo no

GATS 49 Dos muitos motivos invocados para que a Educaccedilatildeo fosse um dos uacuteltimos

serviccedilos a constar da listagem do GATS um dos mais recorrentes tem directamente a

ver com o facto de ter sido dada prioridade a outros serviccedilos alegadamente mais

lucrativos O sector da educaccedilatildeo raramente assumiu um papel de destaque nas relaccedilotildees

internacionais e europeias Este fenoacutemeno natildeo eacute diferente no caso do GATS no qual o

sector da educaccedilatildeo foi incluiacutedo soacute muito recentemente e ainda sujeito a bastantes

restriccedilotildees apesar de neste caso concreto este envolvimento tardio natildeo ser de lamentar

Uma excepccedilatildeo a esta situaccedilatildeo verifica-se no caso dos serviccedilos que envolvem a

deslocaccedilatildeo do consumidor para o paiacutes promotor do serviccedilo Um exemplo concreto desta

situaccedilatildeo satildeo os programas de mobilidade de estudantes Estes programas representam

actualmente a maior percentagem de prestaccedilatildeo de serviccedilos no mercado do ensino

superior Prevecirc-se que a primeira ronda de negociaccedilotildees sobre a prestaccedilatildeo de serviccedilos

entre paiacuteses esteja concluiacuteda no ano de 2005 Esta situaccedilatildeo requer cautelas especiais da

parte dos paiacuteses envolvidos uma vez que a comercializaccedilatildeo do ensino natildeo poderaacute ser

submetido agraves mesmas regras de mercado a que satildeo submetidos os restantes bens ou

serviccedilos comercializados sob pena de comprometer a qualidade do serviccedilo prestado

48 ldquoIs the first set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo (UNESCO 2003) 49 ldquoOnly 44 of the 144 WTO Members have made commitments to education and only 21 of these have

included commitments to higher educationrdquo (WTO in Knight 2002)

77

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS coloca-o agrave mercecirc das regras do

mercado da oferta e da procura Satildeo quatro os aspectos baacutesicos que regem o sector da

educaccedilatildeo no contexto do GATS e que se traduzem no seguinte

Facilitaccedilatildeo e apoio a programas de mobilidade direccionados para alunos

professores investigadores e funcionaacuterios com vista agrave obtenccedilatildeo de

ldquoserviccedilosrdquo educativos em instituiccedilotildees de ensino estrangeiras Na praacutetica e

se fizermos um paralelismo com as leis de mercado livre esta situaccedilatildeo

permite que qualquer paiacutes possa passar a vender serviccedilos de educaccedilatildeo em

qualquer outro paiacutes Trata-se da abertura de fronteiras ao mercado da

educaccedilatildeo

Possibilidade de fornecimento de um serviccedilo educativo no paiacutes receptor

mas a partir das estruturas existentes no paiacutes promotor do serviccedilo No

caso do sector educativo este aspecto diz directamente respeito aos

programas de ensino agrave distacircncia que estatildeo hoje em franca expansatildeo De

referir que com o raacutepido desenvolvimento das novas tecnologias aliado agrave

nova sociedade de informaccedilatildeo o desenvolvimento deste tipo de ensino

tem-se tornado cada vez mais exequiacutevel

Presenccedila fiacutesica de estruturas do paiacutes que presta o serviccedilo Eacute possiacutevel

fazer-se um certo paralelismo entre esta situaccedilatildeo com o ensino trans-

nacional apesar do ensino transnacional estar muitas vezes associado a

actividades sem fins comerciais ou lucrativos como satildeo exemplo as

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

Presenccedila fiacutesica de recursos humanos originaacuterios do paiacutes promotor do

serviccedilo no proacuteprio paiacutes receptor onde desenvolvem a actividade Trata-se

concretamente da acccedilotildees de mobilidade do corpo docente e investi-

gadores que passam a desenvolver a sua actividade cientiacutefica e acadeacute-

mica em paiacuteses estrangeiros

Das regras definidas pelo GATS quer as gerais quer aquelas apenas aplicaacuteveis a

compromissos especiacuteficos posteriormente estabelecidos com determinados paiacuteses

aquela que aparentemente maior consequecircncias poderaacute trazer para o sector da Educaccedilatildeo

78

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eacute a denominada MFNT mdash ldquoMost Favoured Nation Treatmentrdquo (Estatuto de Naccedilatildeo Mais

Favorecida) De acordo com esta regra estabelecida pelo GATS todos os paiacuteses

parceiros encontram-se em peacute de igualdade e portanto merecem igualdade de

tratamento Eacute aquilo que a WTO define como a ldquofavour one favour allrdquo O MFNT

coloca em peacute de igualdade todos os sistemas de ensino que participem no GATS natildeo

distinguindo as especificidades ou fragilidades do sector educativo dos paiacuteses

envolvidos Perante um cenaacuterio segundo o qual o sector da educaccedilatildeo aparece agrave mercecirc

das leis do mercado logo sem mecanismos formais de regulaccedilatildeo e controlo pode levar

ao desenvolvimento de determinadas aacutereas em detrimento de outras apenas porque

aquelas tecircm mais procura de mercado Esta situaccedilatildeo pode originar que as aacutereas

estrateacutegicas necessaacuterias ao desenvolvimento econoacutemico do paiacutes sejam preteridas

Este risco eacute mais acentuado em paiacuteses em vias de desenvolvimento onde eacute

crucial a decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo onde investir

O sector da educaccedilatildeo no GATS encontra-se dividido em 5 subsectores sendo um

dos contemplados o ensino superior Segundo a UNESCO o ensino superior eacute

considerado uma das 3 categorias mais relevantes na educaccedilatildeo terciaacuteria O ensino

superior abrange neste caso os serviccedilos de educaccedilatildeo poacutes-secundaacuterio teacutecnicos e

vocacionais bem como outros programas de educaccedilatildeo que conduzam a um grau de

formaccedilatildeo universitaacuterio ou equivalente De salientar que a educaccedilatildeo de adultos estaacute

neste caso considerada fora do sistema regular de educaccedilatildeo

Os motivos invocados para a inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS satildeo

segundo a UNESCO o facto de ldquoTrade in higher education is a million dollar businessrdquo

Este argumento torna-se irrefutaacutevel ao constatar-se o aumento acelerado e exponencial

da procura neste sector ao qual tem sido dado pronta resposta atraveacutes das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional de caraacutecter privado ou com fins lucrativos O sector

puacuteblico natildeo tem ateacute hoje conseguido dar resposta agraves necessidades da procura e quando

este facto eacute aliado agrave implementaccedilatildeo dos ECTS e ao crescente desenvolvimento do

e-learning estamos perante um mercado bastante lucrativo e em franca expansatildeo

Bastante empenhados em garantir a competiccedilatildeo internacional nos serviccedilos educacionais

com o miacutenimo de intervenccedilatildeo governamental estatildeo entre outros paiacuteses os Estados

Unidos e desta sua intenccedilatildeo deram conta no OCDEUS Forum mdash Trade in Education

Services realizado em Maio de 2002 na cidade de Washington

79

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Para os defensores da inclusatildeo do ensino superior no GATS e desta forma a

liberalizaccedilatildeo do seu comeacutercio os argumentos usados baseiam-se em alegaccedilotildees

fundamentadas no processo de globalizaccedilatildeo como eacute o caso das alegaccedilotildees que advogam

que a inclusatildeo do sector da Educaccedilatildeo no GATS ldquoajudaria a eliminar barreiras existentes

como sejam os quadros juriacutedicos que reconhecem a educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria como um

produto puacuteblico e natildeo uma funccedilatildeo proprietaacuteria as poliacuteticas que restringem o acesso ao

mercado de serviccedilos educacionais por parte de fornecedores estrangeiros restriccedilotildees agrave

posse de universidades por entidades estrangeiras e legislaccedilatildeo que impede ou limita a

acreditaccedilatildeo de fornecedores estrangeirosrdquo (CNAVES 2002) Mais politizada eacute a

argumentaccedilatildeo a favor do GATS no sector da Educaccedilatildeo que Jane Knight 50 invoca

afirmando que este sistema poderaacute vir de alguma forma ameaccedilar o papel dos governos

como entidades reconhecidas de regulaccedilatildeo do ensino superior e defensores dos

objectivos poliacuteticos nacionais Jane Knight enumera alguns argumentos a favor da

inclusatildeo da Educaccedilatildeo no GATS como sejam a possibilidade de acesso agrave educaccedilatildeo por

um maior nuacutemero de estudantes diminuindo desta forma a disparidade entre a oferta e a

procura Tambeacutem a maior capacidade de inovaccedilatildeo pode ser usada como um argumento

a favor uma vez que os novos promotores de ensino trazem normalmente consigo

formas de ensino inovadoras porque da sua capacidade de criaccedilatildeo depende o sucesso

dos seus serviccedilos e a sua sobrevivecircncia O aumento dos ganhos econoacutemicos eacute outra das

razotildees apontadas por Knight como um dos argumentos mais usados

Este uacuteltimo argumento assume grande importacircncia na medida em que a partir do

momento em que o sistema de educaccedilatildeo passa a estar sujeito agraves leis do mercado fica agrave

mercecirc da lei da ldquoofertardquo e da ldquoprocurardquo logo susceptiacutevel de fracassar sempre que

determinados requisitos natildeo se verifiquem requisitos esses que nem sempre passam por

criteacuterios de qualidade e interesses nacionais Criteacuterios pouco ortodoxos e ditados pelas

leis de mercado ou seja pelos consumidores em suma pelo puacuteblico em geral Estes

passam a sobrepor-se a requisitos de qualidade ou outros igualmente importantes uma

vez que a oferta eacute ditada pela procura e apenas sobreviveratildeo os serviccedilos que melhor

correspondam agraves exigecircncias do mercado Todas estas questotildees pressupotildeem que o sector

50 Knight Jane ldquoGlobalization and higher Educationrdquo GATS mdash Higher Education Implications

Opinions and questions UNESCO Paris October 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwunescoorgeducationstudyingabroadindexshtml Arquivo capturado em 10 de Maio de 2003

80

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

da educaccedilatildeo particularmente os responsaacuteveis pelas instituiccedilotildees de ensino bem como os

responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas de cada paiacutes passem a desempenhar um papel

activo e participante cabendo-lhes a importante tarefa de estimular as instituiccedilotildees de

ensino na busca de um ensino de excelecircncia Deve procurar-se cultivar um ensino

dinacircmico e de qualidade apenas alcanccedilaacutevel adoptando uma postura proacute-activa que

saiba acompanhar os desafios lanccedilados pelo GATS

No entanto este processo levanta ainda uma seacuterie de questotildees e algumas

reservas a muitos responsaacuteveis pelas poliacuteticas educativas sob o argumento de que o

ensino superior natildeo se pode reduzir a um mero produto comercial governado pelas

forccedilas do mercado Esta posiccedilatildeo foi jaacute assumida publicamente por representantes de

diversas instituiccedilotildees de ensino superior associaccedilotildees de estudantes e demais actores

ligados ao sector A ldquoJoint Declaration on Higher Education and the General Agreement

on Trade in Servicesrdquo datada de Setembro de 2001 eacute disso exemplo Produzida em

conjunto e assinada pela European Universities Association pela Canadian Association

of Universities and Colleges pela American Council for Education e pelo Council for

Higher Education Accreditation esta declaraccedilatildeo expressa a intenccedilatildeo e o compromisso

dos seus signataacuterios em reduzir os obstaacuteculos agrave internacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

atraveacutes da realizaccedilatildeo de convenccedilotildees e de acordos colocando-se deste modo agrave margem

das poliacuteticas submetidas agraves leis de mercado (Knight 2002)

Dos argumentos utilizados contra a inserccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS

salienta-se o facto de este sector constituir um direito humano fundamental natildeo

devendo por isso ser encarada como um produto de troca comercial e como tal sujeito agraves

forccedilas do mercado por si soacute incontrolaacuteveis Por outro lado a educaccedilatildeo eacute considerada

um bem puacuteblico ao serviccedilo do desenvolvimento dos indiviacuteduos e do desenvolvimento

sustentado da sociedade como um todo o facto do ensino ser uma responsabilidade

puacuteblica faz com que deva continuar a ser regulado pelas autoridades puacuteblicas

legitimadas para tal Como aliaacutes alega Sauve ldquoSupporters of the GATS emphasise that

is to a large extent a government function and that the agreement does not seek to

displace the public education systems and the right of government to regulate and meet

domestic policy objectivesrdquo (Sauve citado por Knight 2002)

Apesar dos argumentos antiliberalizaccedilatildeo admite-se que ldquoos obstaacuteculos agrave interna-

cionalizaccedilatildeo do ensino superior devem ser removidos de forma a estimular uma

81

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

competiccedilatildeo promotora da qualidade do ensino superior mas esses objectivos devem ser

atingidos atraveacutes de um novo quadro legal de regulaccedilatildeo para o reconhecimento acadeacute-

mico a garantia de qualidade e a acreditaccedilatildeo quadro esse a ser desenvolvido pelas

instacircncias acadeacutemicas com o suporte de autoridades puacuteblicas nacionais e regionaisrdquo

(CNAVES 2002) Este quadro pressupotildee que os serviccedilos educacionais puacuteblicos e priva-

dos coexistam e cooperem para a satisfaccedilatildeo das necessidades educacionais da socie-

dade

As preocupaccedilotildees espelhadas com o ensino no GATS tornam-se ainda mais

acentuadas quando se trata de paiacuteses em vias de desenvolvimento uma vez que a

aplicaccedilatildeo do GATS neste contexto pode asfixiar os sistemas formais de ensino superior

que natildeo resistiriam a uma concorrecircncia desregulada principalmente porque essas regras

ditariam limitaccedilotildees ao financiamento puacuteblico das instituiccedilotildees de ensino o que de certo

seria incomportaacutevel para paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Sobre este aspecto em particular o Conselho Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

chama a atenccedilatildeo para o Relatoacuterio do Desenvolvimento Humano do PNUD uma vez que

nele satildeo reveladas as ldquogritantes assimetrias nos quadros de indicadores relativos ao

iacutendice de desenvolvimento humano entre os paiacuteses de desenvolvimento elevado meacutedio

e baixo nomeadamente no que respeita agraves taxas de escolaridade e ao iacutendice de

educaccedilatildeordquo (CNAVES 2002) Neste quadro os sistemas nacionais de ensino superior de

cada paiacutes desempenham um papel crucial pois quando devidamente adaptados agrave

realidade social cultural e econoacutemica podem desempenhar um papel preponderante no

contributo para o seu desenvolvimento

Por conseguinte o desenvolvimento de uma aacuterea europeia comum no sector da

educaccedilatildeo poderaacute constituir uma vantagem que permitiraacute aos paiacuteses europeus manterem-

se numa posiccedilatildeo de vanguarda e vantagem face a outros paiacuteses do resto do mundo

particularmente se falamos de paiacuteses subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento

Segundo Neave a mobilidade dos indiviacuteduos ao niacutevel da cooperaccedilatildeo para investigaccedilatildeo

e formaccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios se o indiviacuteduo retornar ao paiacutes de origem Esta eacute uma

forma das regiotildees mais favorecidas contribuiacuterem para a diminuiccedilatildeo das assimetrias

entre regiotildees possibilitando que a partir da formaccedilatildeo e especializaccedilatildeo de quadros os

paiacuteses mais favorecidos contribuam para o desenvolvimento dos paiacuteses menos

favorecidos (Neave 2001 citado por Veiga 2003)

82

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

As implicaccedilotildees negativas da liberalizaccedilatildeo desregulada do ensino superior natildeo

cessam aqui quando transposto para o contexto de paiacuteses desenvolvidos deparamo-nos

com problemas de outra dimensatildeo proacuteprios de um estadium de evoluccedilatildeo mais

avanccedilado como sejam os valores universitaacuterios tradicionais nomeadamente face ao

modo como eacute ministrado o ensino transnacional

ldquoA comercializaccedilatildeo do ensino superior num ambiente de

competiccedilatildeo que raia o selvagem levanta na realidade conflitos

seacuterios com o ethos universitaacuterio de reflexatildeo e procura desinte-

ressada do conhecimentohelliprdquo no entanto conclui-se que na

verdade ldquohellipmudanccedilas enormes vatildeo certamente ocorrer como

consequecircncia das cada vez maiores expectativas que a sociedade

coloca no ensino superior mas o valor intriacutenseco da ldquovida no

campusrdquo mdash o valor acrescentado da interacccedilatildeo face-a-face deveraacute

permanecer como elemento essencial para a aquisiccedilatildeo das

capacidades e competecircncias transferiacuteveis que se revestem de uma

importacircncia crucial para os mercados de trabalho de hoje e de

amanhatilderdquo (CNAVES 2002)

Para Jane Knight o GATS 51 eacute hoje uma realidade e natildeo poderemos ignorar que

ldquocross border for-profit delivery of higher education is not a new phenomenon It has

been taking place long before GATS appeared in 1995 and has clearly increased in the

last decaderdquo (Larsen citado por Knight 2002) A autora defende que ao contraacuterio de

tentar inverter-se esta tendecircncia dever-se-aacute tentar retirar o maacuteximo partido dos seus

aspectos positivos aproveitando as oportunidades que proporciona e os benefiacutecios que

traz aos paiacuteses Esta postura exige por parte das estruturas e dos actores envolvidos um

estado de vigilacircncia e alerta permanentes devendo procurar-se estar sempre informado

e activo no sector da educaccedilatildeo

51 ldquoThe GATS is the set of multilateral rules covering international trade in servicesrdquo Knight 2002

83

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

221 O papel da cooperaccedilatildeo no ensino superior face agrave actual conjuntura soacutecio-econoacutemica internacionalizaccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de serviccedilos

No contexto de uma Europa global importa aferir o que distingue as actividades

de internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior daquelas que satildeo

consideradas actividades comerciais Numa oacuteptica acadeacutemica as actividades de

internacionalizaccedilatildeo encetadas pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo encaradas como motores

do desenvolvimento das instituiccedilotildees de ensino superior que se vecircem a braccedilos com um

mercado globalizador cada vez mais competitivo a internacionalizaccedilatildeo exige a

preparaccedilatildeo das instituiccedilotildees para esta realidade por parte dos vaacuterios actores que agora

enfrentam um mundo bem mais interligado e dependente

Numa vertente mais economicista a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees pode

ser vista como um forma de comercializaccedilatildeo de serviccedilos logo uma forma de

rentabilizaccedilatildeo das potencialidades e um agente da globalizaccedilatildeo por si soacute o recrutamento

de estudantes estrangeiros ou a comercializaccedilatildeo aleacutem fronteiras dos serviccedilos fornecidos

pelas instituiccedilotildees de ensino satildeo algumas das formas encontradas por muitas instituiccedilotildees

para aumentar o orccedilamento

Este assunto assume especial importacircncia quando falamos de paiacuteses em vias de

desenvolvimento como eacute o caso dos paiacuteses do continente africano Neste trabalho

importa destacar em especial o caso dos Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portu-

guesa (daqui para a frente denominados por PALOP) pois eacute para laacute que Portugal exporta

maioritariamente ensino superior mas a este assunto voltar-se-aacute mais agrave frente

Caberaacute aqui lugar agrave identificaccedilatildeo de alguns dos aspectos que permitem distinguir

entre actividades de caraacutecter meramente comercial e actividades que tecircm como

finalidade a promoccedilatildeo e a internacionalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior o

exerciacutecio de identificaccedilatildeo desses aspectos e motivaccedilotildees deveraacute residir numa anaacutelise tatildeo

racional quanto possiacutevel das reais motivaccedilotildees e dos verdadeiros benefiacutecios retirados da

realizaccedilatildeo das actividades quaisquer que elas sejam natildeo tendo tanto a ver com a

natureza das actividades desenvolvidas

Segundo Jane Knight as actividades de internacionalizaccedilatildeo podem ter como

finalidade o desenvolvimento e a promoccedilatildeo da qualidade a visibilidade ou ateacute mesmo

os benefiacutecios sociais das instituiccedilotildees e da educaccedilatildeo no sentido em que funciona como

84

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

um mecanismo de fornecimento de uma ferramenta de trabalho agraves futuras geraccedilotildees de

modo a permitir a obtenccedilatildeo de ganhos econoacutemicos futuros Para a autora esta postura

deveraacute ser necessariamente assumida por ambas as partes intervenientes

Para provar a subversatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo52 normalmente

associado ao aspecto menos econoacutemico das actividades de ensino superior a autora

considera que o conceito de internacionalizaccedilatildeo estaacute hoje subdividido em dois

patamares a internacionalizaccedilatildeo que visa o lucro mdash ldquofor-profit internationalisationrdquo mdash

e a internacionalizaccedilatildeo que natildeo visa o lucro mdash ldquonon-profit internationalisationrdquo

Segundo Knight esta separaccedilatildeo ajudar-nos-aacute a destrinccedilar entre as actividades educa-

tivas transnacionais que tecircm como objectivo primaacuterio a obtenccedilatildeo do lucro o que a

autora chama de ldquotrade in educational servicesrdquo e aquelas que satildeo movidas por razotildees

de caraacutecter meramente cientiacutefico ou cooperativo isto eacute pela mera promoccedilatildeo da

qualidade ou quaisquer outras actividades de caraacutecter natildeo lucrativo como sejam o

ensino a investigaccedilatildeo ou a prestaccedilatildeo de serviccedilos que promovam o desenvolvimento de

sistemas de ensino carenciados Importa esclarecer como ponto de partida para a

distinccedilatildeo clara entre estas duas posturas face ao processo de internacionalizaccedilatildeo que

ldquothis for-profit versus non-profit approach to internationalisation needs to be explored

furtherhellip It is just too simple to label all activities which cross borders as internatio-

nalisation activities Trade in services is clearly a for-profit approach to internationali-

sation of education Whether trade in education has a net positive effect on inter-

nationalisation of higher education is yet to be determinedrdquo (Knight 2002)

52 ldquoThe process of integrating dimension into the teaching research and service functions of higher

educationrdquo Knight 2002

85

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

86

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO III 3 A Metodologia de Investigaccedilatildeo hipoacutetese e objecto de estudo

selecccedilatildeo da amostra recolha e anaacutelise de dados

O trabalho de pesquisa em ciecircncias sociais obedece a uma seacuterie de etapas

evolutivas tendo normalmente iniacutecio no momento da definiccedilatildeo dos objectivos e

culminando na anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos resultados A presente investigaccedilatildeo natildeo

pretende ser diferente e desde a definiccedilatildeo da problemaacutetica de partida ateacute ao teacuterminos do

processo de investigaccedilatildeo (aquando da apresentaccedilatildeo das conclusotildees e recomendaccedilotildees

finais) procurou-se cumprir com as etapas consideradas mais relevantes e adequadas agrave

natureza do estudo que se propocircs realizar

Trata-se pois de uma pesquisa monodisciplinar uma vez que procura

compreender os mecanismos de cooperaccedilatildeo institucionais a partir de um uacutenico campo

de conhecimento cientiacutefico e essencialmente descritiva dado que se propotildee analisar o

fenoacutemeno da cooperaccedilatildeo atraveacutes da reconstruccedilatildeo e anaacutelise dos modelos de cooperaccedilatildeo

portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior aplicados na uacuteltima deacutecada em Cabo Verde

e Timor Leste

Em ciecircncias sociais a etapa de pesquisa eacute fundamental e funciona como pedra

basilar da fiabilidade e da evoluccedilatildeo do processo de investigaccedilatildeo Cientificamente

considera-se que um trabalho de pesquisa tem qualidade quando este procura o

progresso cientiacutefico e a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos teoacutericos Nesta linha Ander-Egg

defende que uma pesquisa formal eacute aquela que generaliza princiacutepios ou leis isto eacute para

o autor o objectivo principal do cientista eacute o conhecimento pelo conhecimento

87

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

(Marconi 1990) Beste 53 apesar de se posicionar na mesma linha teoacuterica que Ander-

Egg objectiva mais claramente a definiccedilatildeo do conceito de pesquisa classificando-o

como um trabalho descritivo um procedimento que visa abordar a descriccedilatildeo o registo

a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de fenoacutemenos actuais objectivando o seu funcionamento no

presente

Numa primeira etapa do trabalho de pesquisa aqui realizado procurou-se

delimitar o objecto de anaacutelise O objecto de anaacutelise escolhido para a realizaccedilatildeo deste

estudo foram os Programas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior

Este eacute o primeiro momento do trabalho exploratoacuterio atraveacutes do qual se procuraraacute

identificar e delimitar o objecto de estudo e determinar os objectivos

A segunda etapa do trabalho de pesquisa eacute normalmente dedicada agrave clarificaccedilatildeo

da orientaccedilatildeo a dar agrave anaacutelise A este momento segue-se uma terceira etapa igualmente

fundamental na qual se estabelece a hipoacutetese de partida instrumento este que serviraacute de

fio condutor e de elemento orientador ao longo das restantes etapas de trabalho

Seraacute pertinente fazer aqui uma breve abordagem aos limites do meacutetodo cientiacutefico

em ciecircncias sociais e humanas de modo a identificar as limitaccedilotildees proacuteprias que se

impotildee no rigor cientiacutefico em trabalhos desta natureza Donald Ary 54 tem sobre este

assunto uma visatildeo bastante precisa ao considerar que na utilizaccedilatildeo do meacutetodo

cientiacuteficoexperimental as ciecircncias humanas revelam grandes limitaccedilotildees quando

comparadas com o rigor cientiacutefico das ciecircncias naturais Na verdade as ciecircncias

educativas sociais e humanas natildeo conseguiram estabelecer um modo de generalizaccedilatildeo

equivalente agraves teorias das ciecircncias da natureza nem tatildeo pouco formular previsotildees dos

fenoacutemenos estudados Alguns dos maiores obstaacuteculos apontados por este autor agrave falta de

rigor cientiacutefico em ciecircncias sociais e humanas traduzem-se em questotildees que passam

pela natureza e complexidade do objecto de estudo Acresce a isto as proacuteprias

dificuldades de observaccedilatildeo (isto porque o sujeito observado eacute tambeacutem o observador ou

seja ambos satildeo seres humanos logo a natureza de ambos eacute a mesma) fazendo com que

o grau de subjectividade seja consideravelmente maior relativamente agraves ciecircncias

naturais Tambeacutem as motivaccedilotildees os valores a priori e todas as atitudes do cientista

53 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 pp 456 54 Deshaies Bruno Metodologia da Investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas (ldquoEpistemologia e Sociedaderdquo)

sl Instituto Piaget 1992 456 pp

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

social influenciam o seu trabalho condicionando a observaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo que este faz

dos resultados e consequentemente as conclusotildees resultantes do trabalho realizado

Mas a maior dificuldade reside sem duacutevida no facto dos fenoacutemenos sociais natildeo

serem homogeacuteneos logo as experiecircncias realizadas natildeo satildeo susceptiacuteveis de se repetirem

em condiccedilotildees semelhantes como acontece com as ciecircncias naturais Em ciecircncias

humanas trata-se de acontecimentos singulares condicionados por um determinado

contexto e portanto trata-se de fenoacutemenos de ordem qualitativa nos quais

inevitavelmente o observador eacute simultaneamente participante concluindo-se assim que

em ciecircncias humanas o meacutetodo cientiacutefico eacute bastante limitado A este propoacutesito Jean

Piaget corrobora com as afirmaccedilotildees de Ary e defende que

ldquo (hellip) As ciecircncias do homem natildeo tecircm pois nenhuma razatildeo para

se espantar da lentidatildeo passada da sua formaccedilatildeohellip Poreacutem aleacutem

das dificuldades comuns a todas as disciplinas experimentais as

ciecircncias do homem encontram-se em presenccedila de uma situaccedilatildeo

epistemoloacutegica e de problemas metodoloacutegicos que lhe satildeo mais

ou menos proacuteprios e que importa examinar de perto eacute que tendo

o homem como objecto nas suas inumeraacuteveis actividades e

sendo elaboradas pelo homem nas suas actividades cognitivas

as ciecircncias humanas estatildeo colocadas nesta posiccedilatildeo particular de

dependerem do homem simultaneamente como sujeito e como

objecto o que levanta como eacute evidente uma seacuterie de questotildees

particulares e difiacuteceis (hellip)rdquo (Jean Piaget in Marconi 1990)

Haacute que assumir agrave partida as limitaccedilotildees e dificuldades proacuteprias de um trabalho

desta natureza Ao longo do desenvolvimento do trabalho de pesquisa tentou-se ter

presente a consciecircncia de que o envolvimento do investigador deve ser controlado de

modo a natildeo se deixar tomar emocionalmente pela problemaacutetica que estaacute a tratar e assim

evitar quaisquer juiacutezos de valor sempre com o objectivo uacuteltimo de comprovar a

hipoacutetese de partida Se tal pretensatildeo natildeo foi bem sucedida no presente trabalho deve-se

natildeo haacute ignoracircncia do risco mas devido ao facto de como diz Deshaires ldquoquando nos

colocamos na posiccedilatildeo de investigador comeccedilamos por dispor das nossas proacuteprias

inclinaccedilotildees intelectuais cognitivas afectivas e outras () a investigaccedilatildeo exige uma

participaccedilatildeo iacutentima e pessoal no processo de conhecimento Faz apelo a um

investimento indispensaacutevel da proacutepria pessoardquo (Deshaires 1992)

89

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

311 A definiccedilatildeo do problema e do objecto de estudo

A definiccedilatildeo do problema 55 de partida significa precisar tanto quanto possiacutevel

com clareza e objectividade o assunto que se vai tratar no trabalho de pesquisa

Eacute consensualmente aceite que uma colocaccedilatildeo clara do problema pode facilitar a

construccedilatildeo da hipoacutetese de trabalho

O problema ou problemas de partida deve ser formulado preferencialmente sob

a forma de interrogaccedilotildees e delimitado a partir da indicaccedilatildeo das variaacuteveis que intervecircm

no estudo e possiacuteveis relaccedilotildees entre si Trata-se de um processo contiacutenuo que exige um

pensamento criacutetico e reflexivo cuja formulaccedilatildeo pressupotildee conhecimentos preacutevios sobre

o assunto ldquoa caracterizaccedilatildeo do problema define e identifica o assunto em estudo ou

seja um problema muito abrangente torna a pesquisa mais complexa quando bem

delimitado simplifica e facilita a maneira de conduzir a investigaccedilatildeordquo (Marinho in

Marconi 1990) O trabalho de pesquisa tem iniacutecio com o levantamento de dados que

podem ser recolhidos a partir de fontes variadas esta eacute normalmente a primeira

abordagem ao problema e eacute um procedimento que para aleacutem de fornecer todo um

manancial de informaccedilotildees ao investigador sobre o assunto em estudo pode evitar a

duplicaccedilatildeo de esforccedilos Para aleacutem do mais o trabalho de recolha de dados e a anaacutelise

bibliograacutefica permite sugerir hipoacuteteses orientando desta forma o sentido da pesquisa

Uma reflexatildeo mais aprofundada sobre algumas das questotildees suscitadas pelo

enquadramento teoacuterico das problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional bem

como o resultado de alguma troca de ideias com os orientadores ao longo da construccedilatildeo

do quadro teoacuterico viriam a revelar-se instrumentos decisivos para a maturaccedilatildeo da

problemaacutetica de partida que conduziria posteriormente agrave definiccedilatildeo do objecto de anaacutelise

O quadro teoacuterico quando eacute exaustivo e bem fundamentado auxilia eficazmente na com-

preensatildeo do universo da pesquisa documental

Da contextualizaccedilatildeo teoacuterica realizada resultou uma seacuterie de interrogaccedilotildees e

pressupostos sobre o ensino transnacional nomeadamente a convicccedilatildeo de que eacute

importante aferir rapidamente se estaacute de alguma forma salvaguardada a existecircncia de

55 ldquoProblema eacute uma dificuldade teoacuterica ou praacutetica no conhecimento de alguma coisa de real importacircncia

para a qual se deve encontrar uma soluccedilatildeordquo (Marconi 1990)

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino transnacional que se enquadram nos

programas de cooperaccedilatildeo nacional Uma outra interrogaccedilatildeo suscitada pelo quadro

teoacuterico eacute a necessidade de aferir se satildeo ou natildeo utilizados mecanismos de regulaccedilatildeo e

controlo que assegurem a qualidade do trabalho realizado ao niacutevel das instituiccedilotildees de

ensino superior esta eacute uma interrogaccedilatildeo que assumiraacute um papel dianteiro na lista de

preocupaccedilotildees deste trabalho de investigaccedilatildeo Mas outros problemas de igual relevacircncia

foram identificados nomeadamente a importacircncia que representa para o paiacutes receptor de

ensino transnacional o acesso a informaccedilotildees sobre as instituiccedilotildees que realizam as

acccedilotildees nomeadamente o enquadramento legal destas no seu paiacutes de origem o acesso

aos seus estatutos se se encontram ou natildeo integradas nos sistemas formais de ensino

entre outras Essa transparecircncia e facilitaccedilatildeo de acesso agrave informaccedilatildeo imprime por si soacute

um cunho de credibilidade e fiabilidade aos programas de ensino transnacional

valorizando-os A juntar agraves questotildees jaacute enunciadas identificaram-se outras relacionadas

com a necessidade de salvaguardar por parte do paiacutes emissor o respeito pelas

especificidades culturais do paiacutes receptor sendo essencial assegurar neste processo que

a liacutengua oficial falada no paiacutes beneficiaacuterio seja tambeacutem a liacutengua utilizada pelo paiacutes

promotor que ministra o ensino Parte-se do princiacutepio de que estes e outros princiacutepios

basilares do ensino transnacional deveratildeo estar assegurados e um eventual processo de

avaliaccedilatildeo deveraacute imperativamente averiguar o cumprimento destas regras fundamentais

para a operacircncia de um ensino transnacional transparente e de qualidade

Questotildees como a definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo o reconhecimento

dos diplomas ou a existecircncia de sinais de resistecircncia por parte das estruturas de ensino

formais dos paiacuteses receptores condicionam igualmente a definiccedilatildeo do objecto de estudo

como se veraacute de seguida

Como se disse o objecto de estudo foi delimitado agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

portuguesa para o sector da educaccedilatildeo mais propriamente no domiacutenio do ensino

superior Interessa fundamentalmente centrar a pesquisa realizada nas acccedilotildees de ensino

transnacional nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa Como anteriormente referido o

problema de partida condicionou a definiccedilatildeo do objecto de estudo uma vez que as

questotildees inicialmente suscitadas satildeo mais susceptiacuteveis de ser observadas em paiacuteses em

vias de desenvolvimento uma vez que o contexto soacutecio-econoacutemico e cultural destes os

tornam mais vulneraacuteveis agrave proliferaccedilatildeo de praacuteticas de ensino transnacional

91

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma vez definido o assunto e devido agrave escassez de recursos e de tempo o

trabalho de pesquisa incidiu sobre uma amostra que se pretende representativa do

universo Delimitou-se a anaacutelise agraves instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas univer-

sitaacuterias e politeacutecnicas visto que tratando-se de poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais

e representando estas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilateral assumidas oficialmente pelo

governo portuguecircs interessaria essencialmente ter em linha de conta o trabalho

desenvolvido pelas instituiccedilotildees de ensino de caraacutecter puacuteblico cujas actividades de

ensino transnacional se integrem nas poliacuteticas externas do paiacutes Foram portanto consi-

deradas apenas instituiccedilotildees de caraacutecter puacuteblico natildeo fazendo parte da amostra as

instituiccedilotildees de ensino superior privadas Esta demarcaccedilatildeo prende-se com vaacuterias ordens

de factores que passam natildeo soacute pelos motivos atraacutes invocados mas tambeacutem por

condicionalismos de trabalho de campo (na verdade e apesar de vaacuterias tentativas natildeo

foi possiacutevel chegar agrave fala com os responsaacuteveis pelos programas de cooperaccedilatildeo das

instituiccedilotildees privadas contactadas) Acresce a isto a escassez de informaccedilatildeo que aleacutem do

mais eacute inconclusiva e pouco revela sobre a natureza objectivos e resultados das

actividades de cooperaccedilatildeo no subsector do ensino superior privado e uma vez que nos

dois casos de estudo apenas se regista a presenccedila de uma uacutenica instituiccedilatildeo desta

natureza optou-se por deixar de fora da amostra os programas de ensino transnacional

desenvolvidos por instituiccedilotildees de ensino superior privadas

312 A definiccedilatildeo da hipoacutetese de partida

Em teoria a hipoacutetese de partida eacute uma proposiccedilatildeo que serve para verificar a

validade da resposta dada a um problema Trata-se portanto de uma suposiccedilatildeo que

antecede a constataccedilatildeo dos factos e que se caracteriza como uma formulaccedilatildeo provisoacuteria

que se torna vaacutelida depois de testada e comprovada A hipoacutetese de partida assume na

pesquisa cientiacutefica o papel de propor explicaccedilotildees para os factos e ao mesmo tempo

orientar o trabalho sendo fundamental a clareza da sua definiccedilatildeo O fim uacuteltimo do

trabalho de pesquisa trata precisamente de comprovar ou rejeitar a (ou as) hipoacutetese(s)

de partida

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Depois da construccedilatildeo do quadro teoacuterico e da formulaccedilatildeo do problema sendo

como vimos esta uacuteltima etapa fortemente condicionada pelo enquadramento teoacuterico-

-conceptual 56 que a precede (os capiacutetulos I e II foram inteiramente dedicados agrave

identificaccedilatildeo do problema na expectativa de balizar as referecircncias teoacuterico-conceptuais

sobre o ensino transnacional) a pesquisa bibliograacutefica sobre este assunto conduziu a

uma abordagem pragmaacutetica do problema permitindo identificar objectivamente alguns

dos seus pontos fortes mas tambeacutem algumas das fragilidades de que padece o ensino

transnacional aspectos jaacute oportunamente enunciados Agrave luz da contextualizaccedilatildeo teoacuterica

definiu-se como meacutetodo de trabalho a descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos modelos de

cooperaccedilatildeo para os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa na aacuterea da Educaccedilatildeo e mais

concretamente no domiacutenio do ensino superior

Tendo como objecto de anaacutelise os programas de cooperaccedilatildeo portugueses para o

sector do ensino superior nos PALOPacutes e em Timor Leste e com base em alguns dos

problemas mais significativos relacionadas com o ensino transnacional formularam-se

questotildees de partida que permitiram construir uma hipoacutetese de trabalho que no processo

de pesquisa funciona como pedra basilar Das vaacuterias questotildees que foram sendo

suscitadas pela consulta bibliograacutefica importa salientar algumas das que se viriam a

revelar mais significativas para o desenvolvimento da pesquisa

Existem sinais de resistecircncia aos programas de ensino transnacional portu-

guecircs por parte dos sistemas de ensino formais dos paiacuteses hospedeiros

Quais os mecanismos de regulaccedilatildeo e ou controlo existentes em programas

de ensino transnacional realizado por instituiccedilotildees de ensino superior por-

tuguesas

As actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa no sector do ensino superior satildeo

enquadradas num plano integrado de acccedilatildeo governamental

Qual o paiacutes responsaacutevel pela definiccedilatildeo das aacutereas estrateacutegicas para a coope-

raccedilatildeo no sector do ensino superior

Estaacute assegurado o reconhecimento dos diplomas por parte das instituiccedilotildees

promotoras de ensino transnacional

56 Ibidem

93

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Chegou-se assim agrave formulaccedilatildeo da seguinte hipoacutetese de trabalho

Hipoacutetese A Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa carece de um planeamento estrateacutegico soacutelido e exequiacutevel que congregue todos os programas de cooperaccedilatildeo para o sector do ensino superior transnacional nos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Definida a hipoacutetese de partida estavam criadas as condiccedilotildees que permitiram

precisar o objecto de estudo sobre o qual incidiu o trabalho de pesquisa empiacuterica subse-

quente

313 A selecccedilatildeo da amostra

A amostra 57 para a realizaccedilatildeo do trabalho empiacuterico foi retirada do universo 58

constituiacutedo pelos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa em vias de desenvolvimento que

tenham beneficiado na uacuteltima deacutecada dos programas de cooperaccedilatildeo portuguesa no

sector da educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior Trata-se de uma

amostra natildeo probabiliacutestica ou seja para a sua selecccedilatildeo natildeo foram utilizadas quaisquer

teacutecnicas aleatoacuterias de selecccedilatildeo A amostra seleccionada eacute intencional uma vez que

foram escolhidas criteriosamente a documentaccedilatildeo consultada e as personalidades inqui-

ridas que neste caso natildeo tecircm de ser obrigatoriamente representativos de todos os

intervenientes no processo mas que se entendeu pela funccedilatildeo que desempenham e por

determinados cargos que ocupam ou ocupavam em momentos decisivos para os estudos

de caso tecircm ou tinham entatildeo um papel determinante em todo o processo Esta eacute uma

teacutecnica assumidamente limitada uma vez que natildeo permite o mesmo grau de

generalizaccedilatildeo dos resultados que permitem as outras teacutecnicas natildeo deixando no entanto

de ser uma teacutecnica vaacutelida dentro do contexto especiacutefico

O tempo e os recursos disponiacuteveis para a realizaccedilatildeo do trabalho de campo

revelaram-se limitados tendo-se optado por seleccionar apenas dois paiacuteses com

57 ldquoPorccedilatildeo ou parcela convenientemente seleccionada do universo (populaccedilatildeo) eacute um subconjunto do

universordquo (Marconi 1990) 58 ldquoEacute o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma caracteriacutestica em

comumrdquo (Ibidem)

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

caracteriacutesticas distintas e com diferentes experiecircncias e modelos de cooperaccedilatildeo com

Portugal condicionados pela trajectoacuteria histoacuterica e pelo contexto geograacutefico de cada um

deles os paiacuteses seleccionados para o estudo de caso foram Cabo Verde e Timor Leste

Cabo Verde porque desde a declaraccedilatildeo da independecircncia manteacutem fortes relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo com Portugal que tecircm vindo a evoluir nos mais diversos sentidos e o sector

da educaccedilatildeo natildeo eacute excepccedilatildeo As relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo existentes entre Portugal e

Cabo Verde satildeo reveladoras do elevado grau de relacionamento existente colocando

Portugal na dianteira entre os paiacuteses com quem Cabo Verde manteacutem relaccedilotildees de

parceria bilaterais

Timor Leste surge como o mais novo paiacutes a adoptar a Liacutengua Portuguesa como

liacutengua oficial e cuja histoacuteria ditou que em Maio de 2000 se tornasse independente e

reconhecesse em Portugal um paiacutes irmatildeo As acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que Timor Leste

tem vindo desde entatildeo a beneficiar revelando-se fundamentais para a criaccedilatildeo da sua

identidade e para o seu desenvolvimento nos mais diversos sectores A educaccedilatildeo ocupa

neste contexto um lugar estrateacutegico muito importante uma vez que sendo o Portuguecircs

uma das liacutenguas oficiais de Timor a sua afirmaccedilatildeo e a sua proliferaccedilatildeo atraveacutes do sector

educativo eacute um elemento estrateacutegico e um factor chave na sua difusatildeo e implementaccedilatildeo

no territoacuterio timorense O modelo do programa de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o

ensino superior revela-se peculiar quando comparado com os modelos praticados nos

PALOPacutes tendo o seu estudo um interesse especial uma vez tratar-se de uma

experiecircncia ldquopilotordquo levada a cabo pela cooperaccedilatildeo portuguesa e as instituiccedilotildees de

ensino superior Eacute certo que os resultados da sua aplicaccedilatildeo a meacutediolongo prazo ainda

natildeo satildeo verificaacuteveis nem comprovaacuteveis logo natildeo haacute ainda um balanccedilo das eventuais

vantagens que este modelo possa ter comparativamente com outros modelos de coope-

raccedilatildeo tradicionalmente usados quer em termos de execuccedilatildeo quer em termos de resulta-

dos No entanto uma virtude lhe assiste o facto de vir demonstrar ser possiacutevel inovar e

criar novas formas de cooperaccedilatildeo no sector do ensino superior transnacional como

alternativa aos formatos tradicionalmente existentes

95

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

314 O processo de recolha de dados mdash construccedilatildeo dos instrumentos analiacuteticos

O trabalho de pesquisa resultou na construccedilatildeo de dois modelos de cooperaccedilatildeo

para tal e devido agrave natureza dos dados que se dividem entre dados objectivos ou

factuais e dados subjectivos optou-se por duas teacutecnicas de observaccedilatildeo distintas a

teacutecnica documental e a teacutecnica de observaccedilatildeo caracterizando-se esta uacuteltima por ser uma

teacutecnica viva a primeira pertence agrave categoria dos meacutetodos de observaccedilatildeo indirectos e

quando as fontes documentais se revelam fiaacuteveis este eacute um processo de recolha de dados

vaacutelido e que confere fiabilidade ao trabalho de pesquisa empiacuterica Foram consultados

para o efeito vaacuterios documentos oficiais e cientiacuteficos nomeadamente publicaccedilotildees

oficiais (revistas) do IPAD antigo ICP bem como todo um manancial de informaccedilatildeo

disponiacutevel na Internet em paacuteginas oficiais de organismos puacuteblicos portugueses cabo-

-verdianos e timorenses Alguns relatoacuterios oficiais de oacutergatildeos governamentais foram

igualmente fundamentais na fase de recolha de dados e informaccedilotildees nomeadamente o

relatoacuterio da ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e o ldquoEast Timor Human

Development Report 2002rdquo do PNUD

Quanto agraves teacutecnicas de observaccedilatildeo directa utilizou-se entre outras a entrevista 59

natildeo estruturada tambeacutem denominada de entrevista focalizada de perguntas abertas Este

meacutetodo permitiu recolher informaccedilotildees relevantes para o trabalho de anaacutelise documental

A teacutecnica da entrevista natildeo estruturada permite ao entrevistado ter liberdade para

direccionar a conversa no sentido que este considere mais adequado Trata-se de uma

forma que permite explorar mais amplamente o assunto em discussatildeo

A elaboraccedilatildeo de um Guiatildeo de Entrevista (anexos I e II) funcionou como roteiro

de toacutepicos e viria a revelar-se um instrumento de trabalho essencial uma vez que

permitiu assegurar uma certa homogeneidade na conduccedilatildeo das entrevistas possibili-

tando posteriormente um trabalho de anaacutelise comparativa das respostas

Os entrevistados foram escolhidos criteriosa e intencionalmente tendo sido

contactadas para o efeito individualidades representativas de oacutergatildeos governamentais

59 Para Goode e Hatt a entrevista ldquoconsiste no desenvolvimento de precisatildeo focalizaccedilatildeo fidedignidade e validade de um certo acto social como a conversaccedilatildeordquo (Goode e Hatt in Marconi 1990) Jaacute Beste

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo bilaterais

portuguesas mas tambeacutem docentes de instituiccedilotildees portuguesas directamente respon-

saacuteveis pela criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de programas e acccedilotildees de ensino transnacional no

domiacutenio do ensino superior Realizaram-se um total de seis entrevistas a personalidades

com um grau elevado de envolvimento e capacidade de decisatildeo neste domiacutenio Dado

tratar-se de um assunto que pode suscitar poleacutemica e produz confronto de ideias de

forma a permitir maior liberdade de expressatildeo aos entrevistados natildeo satildeo identificados

nomes apenas cargos encontrando-se as entrevistas numeradas de 1 a 6 para melhor

identificaccedilatildeo a uacutenica excepccedilatildeo vai para os entrevistados dos paiacuteses beneficiaacuterios como

eacute exemplo a entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) Aproveitando o facto de este se encontrar se encontrar em Portugal surgiu a

oportunidade de o entrevistar permitindo deste modo dar voz igualmente aos paiacuteses

beneficiaacuterios No caso de Cabo Verde e por falta de oportunidade natildeo foi possiacutevel

entrevistar pessoalmente nenhum representante do governo cabo-verdiano no entanto as

facilidades disponibilizadas hoje em dia pelas novas tecnologias permitiram que apoacutes

um contacto telefoacutenico preacutevio a Directora Geral do Ensino Superior de Cabo Verde se

disponibilizasse para responder a algumas perguntas via e-mail Este meio de entrevista

alternativo natildeo permite a mesma margem de manobra permitida pela entrevista

presencial no entanto foi uma forma alternativa encontrada para auscultar a posiccedilatildeo de

Cabo Verde sobre a problemaacutetica em estudo permitindo a ambos os paiacuteses beneficiaacuterios

pronunciarem-se Apesar dos esforccedilos envidados Cabo Verde nunca chegaria a respon-

der agraves questotildees colocadas natildeo havendo por isso qualquer posiccedilatildeo oficial sobre estas

problemaacuteticas da parte deste paiacutes

As questotildees colocadas aos elementos dos paiacuteses beneficiaacuterios obedeceram igual-

mente a um Guiatildeo de Entrevista especiacutefico criado para o efeito (Anexo II) uma vez

que e apesar da natureza das questotildees ser a mesma a sua formulaccedilatildeo impotildee-se dife-

rente por forccedila das circunstacircncias

O observador assume em todo este processo um papel preponderante uma vez

que eacute utilizado como meacutetodo complementar a observaccedilatildeo participante Mann caracteriza

a observaccedilatildeo participante como ldquouma tentativa de colocar o observador e o observado

considera este meacutetodo de pesquisa como o instrumento por excelecircncia da investigaccedilatildeo social ldquoEacute muitas vezes superior a outros sistemas de obtenccedilatildeo de dadosrdquo (Best in Marconi 1990)

97

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do mesmo lado tornando-se o observador um membro do grupo de molde a vivenciar o

que eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referecircncia delesrdquo (Mann in

Marconi 1990) Estamos perante uma teacutecnica de observaccedilatildeo participante natural uma

vez que o observador se encontra profissionalmente envolvido com um dos programas

de cooperaccedilatildeo em anaacutelise Neste caso a intimidade gerada por este facto pode dificultar

o distanciamento desejaacutevel entre o investigador e o seu objecto de estudo Haacute de facto

um risco desde logo assumido de enviesamento de resultados

O Quadro nordm 1 procura resumir e clarificar melhor as teacutecnicas utilizadas neste

estudo

QUADRO Nordm 1

Teacutecnicas de Pesquisa Utilizadas

Categoria Teacutecnicas Referecircncias

Teacutecnicas

Documentais bull Observaccedilatildeo indirecta

bull Documentos oficiais (protocolos relatoacuterios etc)

bull Paacuteginas de internet oficiais

bull Publicaccedilotildees

bull Revistas

Teacutecnicas de

Observaccedilatildeo

bull Observaccedilatildeo directa

bull Intensiva

bull Estudo de caso

bull Entrevista (natildeo estruturada

de questotildees abertas)

bull Observaccedilatildeo participante

Fonte a autora

Apesar das fragilidades que cada uma destas teacutecnicas possa encerrar segundo

Deshaires em Ciecircncias Sociais e Humanas ldquo(hellip) conforme se trata de observaccedilatildeo

indirecta (pelas teacutecnicas documentais) ou de observaccedilatildeo directa extensiva ou intensiva

(pelas teacutecnicas vivas) devem ser respeitadas precauccedilotildees especiais Nas teacutecnicas vivas

de observaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre observador e observado apresenta inuacutemeras conse-

quecircncias no plano metodoloacutegico A conduccedilatildeo da observaccedilatildeo requer uma vigilacircncia

acrescida natildeo apenas das atitudes do observador mas tambeacutem das reacccedilotildees dos sujeitos

98

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

observados () Aliaacutes a tendecircncia actual dos investigadores para o desenvolvimento de

uma metodologia qualitativa na anaacutelise de situaccedilotildees ou de problemas em ciecircncias

humanas demonstra a que ponto a medida quantitativa eacute incapaz de responder a todas as

questotildees Em contrapartida a ideia de verificaccedilatildeo natildeo deve perder de vista a finura da

sensibilidade discriminativa ldquo (Deshaires 1992)

99

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

100

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CAPIacuteTULO IV

4 O Ensino Superior Transnacional no Contexto da Actual Poliacutetica de

Cooperaccedilatildeo Portuguesa 41 Cabo Verde e Timor Leste dois estudos de caso

Como referido anteriormente o presente trabalho propotildee-se realizar um estudo

comparativo entre os modelos de ensino integrados em programas de cooperaccedilatildeo com

os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no domiacutenio do Ensino Superior procurando pocircr

em contraposiccedilatildeo o modelo tradicional de cooperaccedilatildeo com um outro de caracteriacutesticas

diferentes como eacute o modelo de cooperaccedilatildeo praticado com Timor Leste

Seleccionou-se como Estudo de Caso nordm 1 a anaacutelise das relaccedilotildees bilaterais entre

Portugal e Cabo Verde uma vez que a poliacutetica portuguesa de cooperaccedilatildeo com este paiacutes

traduz a dinacircmica das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa e reflecte a geacutenese das acccedilotildees

de ensino transnacional nos PALOPs A anaacutelise deste Estudo de Caso procuraraacute

descrever a trajectoacuteria de cooperaccedilatildeo para a aacuterea do Ensino Superior e analisar a

evoluccedilatildeo do modelo de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde na uacuteltima deacutecada

O Estudo de Caso nordm 2 refere-se agrave cooperaccedilatildeo com Timor Leste este modelo de

cooperaccedilatildeo reveste-se de caracteriacutesticas distintas e algo peculiares relativamente ao caso

anterior particularmente salientadas quando comparado com as praacuteticas de cooperaccedilatildeo

que Portugal vem mantendo com os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa Portugal tem

um passado muito recente no que respeita agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Timor Leste

facto que confere a este modelo de cooperaccedilatildeo caracteriacutesticas de grande interesse e

singularidade revelando particularidades que se devem natildeo soacute ao passado histoacuterico que

une os dois paiacuteses mas tambeacutem ao contexto cultural e geograacutefico de Timor Leste

situaccedilatildeo que confere a este especificidades uacutenicas

101

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

411 Estudo de caso nordm 1 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

4111 Enquadramento socio-econoacutemico e cultural de Cabo Verde

A Repuacuteblica de Cabo Verde situa-se geograficamente ao largo da Costa Oeste

Africana e eacute constituiacuteda por um arquipeacutelago composto por dez ilhas que ocupam um

total de 4033 km2 Das dez ilhas que compotildeem o arquipeacutelago de Cabo Verde apenas

nove satildeo habitadas e o uacuteltimo censo determinou a existecircncia de um total de 341 607

habitantes com uma densidade populacional de 847 hkm2 O idioma oficial de Cabo

Verde eacute o Portuguecircs Segundo fontes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Cabo-

-Verdiano 60 a escolaridade obrigatoacuteria eacute de 6 anos que podem ser seguidos de um

ciclo de mais 5 anos trecircs dos quais para formaccedilatildeo geral e mais dois de um curso preacute-

-universitaacuterio O niacutevel de escolaridade para um paiacutes com estas caracteriacutesticas eacute consi-

derado elevado registando-se uma taxa de frequecircncia escolar na ordem dos 222 do

total de habitantes sendo este valor notoriamente superior se tivermos em atenccedilatildeo a

taxa de escolaridade do ensino baacutesico que ascende a 96 da populaccedilatildeo No ano de 1990

estimava-se uma taxa de analfabetismo de cerca de 30 o que para um paiacutes em vias de

desenvolvimento pode ser considerado um valor bastante animador em termos de

perspectivas de desenvolvimento

A populaccedilatildeo activa exerce a sua actividade maioritariamente no sector primaacuterio

seguindo-se o sector terciaacuterio sendo que o primeiro o sector de actividades onde se

inclui a agricultura e pescas eacute responsaacutevel por gerar a maior percentagem do PIB do

paiacutes A agricultura e o gado constituem portanto as principais bases da economia cabo

verdiana Economicamente o paiacutes caracteriza-se por um acentuado crescimento do saldo

negativo da balanccedila comercial e dos serviccedilos compensado pelas remessas dos

emigrantes e pela ajuda puacuteblica ao desenvolvimento (donativos e empreacutestimos)

60 Infopor (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpedendeiucpt~infoporcabo_ver-

deeducacaohtml Arquivo capturado em 1 de Julho de 2003

102

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Em suma e segundo um estudo da Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 61 podemos

considerar como condicionalismos ao desenvolvimento do paiacutes exteriores ao sistema

educativo os seguintes aspectos de ordem econoacutemico-financeira cultural e de desenvol-

vimento

Insuficiente satisfaccedilatildeo das necessidades sociais baacutesicas

Carecircncia generalizada de quadros

Reduzida dimensatildeo do sector industrial

Elevado niacutevel de dependecircncia externa

Balanccedila comercial deficitaacuteria

Grande peso do sector dos serviccedilos

Elevada taxa de desemprego atingindo maioritariamente a populaccedilatildeo

jovem

Persistecircncia de assimetrias soacutecio-culturais significativas

Grande atracccedilatildeo pela emigraccedilatildeo

Pouca atracccedilatildeo para o regresso ao trabalho agriacutecola apoacutes a escolarizaccedilatildeo

Ainda assim regista-se um grande dinamismo na sociedade cabo-verdiana com

vista agrave modernizaccedilatildeo da sua economia sendo este movimento reforccedilado pela neces-

sidade de procura de uma identidade nacional que compatibilize os valores da tradiccedilatildeo

com os desafios postos pela modernidade

4112 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Cabo Verde

Os fortes e ancestrais laccedilos culturais e de amizade que unem Portugal e Cabo

Verde foram criando condiccedilotildees que propiciaram agraves instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas ao longo dos anos a manutenccedilatildeo de estreitas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo com

este paiacutes cuja afinidade linguiacutestica se revelou uma mais valia acrescida e um elemento

impulsionador ao fortalecimento das relaccedilotildees acadeacutemicas Cabo Verde soube gerir da

melhor forma as oportunidades de apoio oferecidas por Portugal particularmente para o

61 Estudos Africanos ldquoA Educaccedilatildeo na Repuacuteblica de Cabo Verde ndash Anaacutelise Sectorialrdquo Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian Volume I Lisboa 1987

103

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sector do ensino superior de tal forma que actualmente a contribuiccedilatildeo Portuguesa para

o Orccedilamento de Estado para a Educaccedilatildeo daquele paiacutes oscila entre os 20 e 30 Para

aleacutem das iniciativas individuais das instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas

universitaacuterias e politeacutecnicas para a promoccedilatildeo de ensino transnacional em Cabo Verde

tambeacutem o Estado Portuguecircs desde sempre financiou iniciativas desta natureza

incluindo a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo No entanto como referido anteriormente

para efeitos deste trabalho apenas interessaraacute estudar as actividades de cooperaccedilatildeo ao

niacutevel do ensino superior desenvolvidas no territoacuterio cabo-verdiano e que respeitem

apenas a instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblico

Desde sempre tecircm existido tentativas de regular e coordenar as actividades de

cooperaccedilatildeo para o ensino superior A descoordenaccedilatildeo destas actividades o desconhe-

cimento entre instituiccedilotildees governamentais sobre os programas de cooperaccedilatildeo em curso

nos vaacuterios domiacutenios eacute uma questatildeo recorrente e um problema assumido presentemente

pelo Estado Portuguecircs como uma das maiores dificuldades para a qual eacute necessaacuterio

envidar esforccedilos no sentido de minorar a ineficaacutecia das acccedilotildees daiacute decorrente Esta

constataccedilatildeo eacute assumida e reconhecida pelo Estado Portuguecircs pela voz de um

responsaacutevel pelas poliacuteticas de cooperaccedilatildeo nacionais

ldquoEacute preciso primeiro reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos

meios que lhe permitam ter capacidade de articulaccedilatildeo e de

cooperaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas

depois eacute fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute

faz sentido no quadro de estrateacutegias de programas natildeo faz

sentido a acccedilotildees (hellip) ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as

instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo de que dentro do proacuteprio

Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou

seja como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees

de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com esse mundo todo que estaacute aiacute

fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a

sua instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do

organismo central da cooperaccedilatildeo

Portantohellip o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da

cooperaccedilatildeo com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo

(hellip)rdquo (Entrevista nordm 1)

104

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Efectivamente a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa eacute frontalmente acusada de

ser incipiente e os seus programas de cooperaccedilatildeo incluindo aqueles ligados ao ensino

superior transnacional satildeo realizados a partir de contactos privilegiados e relaccedilotildees

pessoais ldquo(hellip) dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso

encontrar executores Como eacute que se faz o recrutamento de

executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa nesse aspecto eacute

extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais (hellip) Essa

gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de

deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final quando natildeo haacute mais dinheiro

o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da

nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo comparativamente a outros paiacuteses

(hellip) (Entrevista nordm 6)

(hellip)

ldquoPara lhe responder a isso era preciso que eu estivesse

convencido que haacute alguma estrateacutegia da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo Aahellipestas coisas da cooperaccedilatildeo pode haver uma

estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do

conhecimento das realidades locais e de conhecimentos inter-

pessoais (hellip) Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portugue-

sa pode haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo

nenhuma nunca conheci nenhumardquo (Entrevista nordm 2)

Natildeo eacute claro que se trate de uma questatildeo de ldquofavorecimentosrdquo pessoais ou insti-

tucionais no sentido de beneficiar determinada instituiccedilatildeo de ensino em detrimento de

outra mas antes de oportunidades poliacuteticas e institucionais fruto do acaso e do sentido

de oportunidade ao inveacutes de resultarem como seria desejaacutevel de uma reflexatildeo seacuteria e

conjunta que desse origem a um planeamento estrateacutegico a implementar por Portugal

No caso de Cabo Verde foi identificada desde logo a necessidade de coorde-

naccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo necessidade que se tentou suprir atraveacutes da

105

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

criaccedilatildeo da Comissatildeo Instaladora do Ensino Superior criada em 1992 no acircmbito do

Plano de Reforma do Ensino Este oacutergatildeo tinha por objectivo fazer o enquadramento

institucional das competecircncias existentes e a coordenaccedilatildeo dos projectos internacionais

atraveacutes da assinatura de acordos sucessivos No entanto e segundo o Relatoacuterio de

Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superiorrdquo 62

apesar destes esforccedilos continuaria a verificar-se uma relativa dispersatildeo das iniciativas

de cooperaccedilatildeo

Perante este facto foi aumentando cada vez mais a consciecircncia da necessidade de

uma maior coordenaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com vista agrave rentabilizaccedilatildeo dos

recursos e a um planeamento mais rigoroso para o desenvolvimento sustentado do

ensino superior em Cabo Verde nomeadamente com o apoio agrave criaccedilatildeo de uma univer-

sidade De referir que sendo a ldquofuga de ceacuterebrosrdquo uma das maiores dificuldades que

enfrentam os paiacuteses em desenvolvimento uma vez que natildeo possuem estruturas para

atrair e fixar os seus quadros meacutedios e superiores a criaccedilatildeo de uma universidade no

territoacuterio de Cabo Verde surge como uma alternativa para tentar diminuir o nuacutemero de

bolsas para fora do paiacutes anualmente atribuiacutedas quer pelo Estado Portuguecircs quer pelo

Cabo-Verdiano de referir que a taxa de retorno deste investimento eacute assumidamente

considerada abaixo dos valores desejaacuteveis uma vez que satildeo poucos os alunos que

pretendem regressar ao seu paiacutes de origem depois de formados

4113 O acordo de cooperaccedilatildeo de 1997 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Resultante deste contexto foi assinado em 1997 um Acordo de Cooperaccedilatildeo entre

Portugal e Cabo Verde para a aacuterea do ensino superior publicado em Decreto-Lei 4197

(ver anexo IX) cujo objectivo principal eacute segundo o artigo 1ordm do referido Decreto-Lei

ldquoConjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo

Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre instituiccedilotildees de ensino superior e de

investigaccedilatildeo de ambos os paiacutesesrdquo 63

62 Matias Neacutelson et al ldquoAvaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde no domiacutenio do Ensino

Superiorrdquo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Marccedilo 2003 mdash Documento natildeo publicado 63 Decreto-Lei nordm 4197 de 12 de Agosto Diaacuterio da Repuacuteblica ndash I Seacuterie-A

106

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Conforme decretado constituiu-se pela primeira vez na histoacuteria de cooperaccedilatildeo

portuguesa com os paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa uma Comissatildeo Paritaacuteria cujas

atribuiccedilotildees eram essencialmente de implementaccedilatildeo e acompanhamento das acccedilotildees

conducentes ao desenvolvimento do ensino superior Esta Comissatildeo tinha como

incumbecircncia a elaboraccedilatildeo de um projecto de regulamento a homologar por ambas as

partes mdash Portugal e Cabo Verde onde estivesse especificado a sua forma de

funcionamento e o plano de actividades a implementar de modo a concretizar os

objectivos propostos Os objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria assentavam num

plano estrateacutegico de acccedilatildeo para o desenvolvimento do ensino superior e tinham um

prazo de execuccedilatildeo maacuteximo ateacute ao ano de 2002

A Comissatildeo Paritaacuteria esteve sob a coordenaccedilatildeo pela parte Portuguesa da Di-

recccedilatildeo Geral do Ensino Superior e nela encontravam-se representadas entre outras as

instituiccedilotildees de ensino superior atraveacutes de delegados do CRUP mdash Conselho de Reitores

das Universidades Portuguesas e do CCISP mdash Conselho Coordenador Institutos

Superiores Politeacutecnicos Pelo lado cabo-verdiano a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo

competia igualmente agrave Direcccedilatildeo Geral do Ensino Superior e as restantes representaccedilotildees

cabo verdianos eram exclusivamente de elementos governamentais

QUADRO Nordm 2

Composiccedilatildeo Inicial da Comissatildeo Paritaacuteria para cooperaccedilatildeo com Cabo Verde

EstruturasServiccedilos Portugal Cabo Verde

Coordenaccedilatildeo e

Desenvolvimento do

Ensino Superior

(ME)

Director do Departamento

Ensino Superior (DGESup)

Director Geral do Ensino

Superior e da Ciecircncia

(DGESC)

Ensino Superior

(instituiccedilotildees)

CRUP

CCISP mdash

Coordenaccedilatildeo da

Cooperaccedilatildeo (MNE)

Instituto da Cooperaccedilatildeo

Portuguesa (ICP)

Departamento de Cooperaccedilatildeo

da Embaixada de Cabo Verde

Direcccedilatildeo Geral de

Cooperaccedilatildeo Internacional

Observadores Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

107

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uma anaacutelise mais atenta ao Quadro nordm 2 permite facilmente concluir que

enquanto do lado portuguecircs estariam representadas todas as entidade e instituiccedilotildees com

intervenccedilatildeo no processo quer ao niacutevel do financiamento e coordenaccedilatildeo quer na sua

vertente mais praacutetica de execuccedilatildeo o mesmo natildeo acontece do lado cabo-verdiano

Efectivamente a representaccedilatildeo nesta Comissatildeo do paiacutes beneficiaacuterio eacute feita por

representantes de instituiccedilotildees que por norma assumem nestes processos um papel dema-

siado poliacutetico e menos planificador e executivo como seria desejaacutevel Na verdade os

principais beneficiaacuterios ou melhor os verdadeiros receptores dos programas de coope-

raccedilatildeo a implementar por esta Comissatildeo encontram-se ausentes da mesma Esta consta-

taccedilatildeo permite desde logo antever os motivos que levaram a uma certa inoperacircncia que

caracterizaria a sua actividade como a seguir se veraacute

Os eixos de actuaccedilatildeo que a Comissatildeo Paritaacuteria definiu como plano de acccedilatildeo satildeo

claramente identificados no relatoacuterio de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com

Cabo Verde produzido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento 64 Nele satildeo

indicados como objectivos traccedilados pela Comissatildeo Paritaacuteria ldquoa reciprocidade a partilha

de tarefas a abertura a outras instituiccedilotildees um sentido de representaccedilatildeo institucional em

detrimento da representaccedilatildeo pessoal uma perspectiva de funcionamento permanente e

uma missatildeo orientada fundamentalmente para o planeamento coordenaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo

duma forma retrospectiva mas tambeacutem prospectivardquo O primeiro Plano de Actividades

da Comissatildeo definiu como linhas de acccedilatildeo questotildees pertinentes para o desenvolvimento

do ensino superior neste paiacutes que se resumem agrave necessidade de criar um enquadramento

legal do ensino superior em Cabo Verde atraveacutes do apoio agrave produccedilatildeo de legislaccedilatildeo

adequada a avaliaccedilatildeo institucional das instituiccedilotildees nacionais jaacute existentes a reorga-

nizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das dinacircmicas de cooperaccedilatildeo passando esta questatildeo pela identi-

ficaccedilatildeo de parceiros para a cooperaccedilatildeo a instalaccedilatildeo de processos de acesso ao ensino

superior em Portugal entre outros Este uacuteltimo objectivo natildeo seraacute aqui alvo de comen-

taacuterios ou consideraccedilotildees por natildeo se enquadrar nos objectivos de anaacutelise do presente

trabalho

Tendo a Comissatildeo Paritaacuteria sido criada com o intuito de monitorar as actividades

de cooperaccedilatildeo que ela proacutepria se propunha realizar a sua capacidade de execuccedilatildeo viria

a revelar-se pouco eficaz em parte devido aos fracos recursos financeiros e ateacute humanos

108

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

disponiacuteveis tendo o seu desempenho ficado aqueacutem do pretendido O relatoacuterio produ-

zido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento acusa mesmo esta Comissatildeo de

estar ldquo() condicionada na sua capacidade de realizar um acompanhamento de

proximidade da cooperaccedilatildeo e de intervirreorientar o seu plano de actividades quando

tal se tornasse necessaacuterio e em particular nas componentes em que a fragilidade deste

era mais evidente desde o iniacutecio nomeadamente na avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico

das instituiccedilotildees de ensino superior ()rdquo 65 Esta fragilidade claramente identificada no

referido relatoacuterio reveste-se de especial importacircncia na medida em que denuncia de

forma clara a ausecircncia de mecanismos de coordenaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo

levadas a cabo pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas em Cabo Verde

correndo-se o risco de haver uma desmultiplicaccedilatildeo de esforccedilos de vaacuterias instituiccedilotildees

numa mesma aacuterea carenciada em detrimento de outras aacutereas de intervenccedilatildeo igualmente

importantes O desconhecimento das actividades de cooperaccedilatildeo e a inoperacircncia da

Comissatildeo Paritaacuteria satildeo claramente denunciadas por um coordenador de programas de

cooperaccedilatildeo com Cabo Verde que apesar da existecircncia deste oacutergatildeo coordenador realiza

acordos de cooperaccedilatildeo e promove acccedilotildees em Cabo Verde com o total desconhecimento

da Comissatildeo Paritaacuteria tudo isto a partir de conveacutenios realizados entre a sua instituiccedilatildeo

de ensino e o entatildeo Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa actual Instituto Portuguecircs de

Apoio ao Desenvolvimento entidade que tutela a Comissatildeo Paritaacuteria Estas

constataccedilotildees satildeo confirmadas pelas afirmaccedilotildees do entrevistado nuacutemero 6 quando

questionado sobre as actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

ldquohellipmas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez nada eacute assim

reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido

define grandes linhas mas depois natildeo acompanhahellip a

implementaccedilatildeo das linhas (hellip) E portanto pode dizer aiacute que a

prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em primeiro

lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro

entreva e pronto Eacute uma barafunda Por outro lado a Comissatildeo

Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do ensino

superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe nada eacute que

eu negociei tudo isto agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em

64 Ibidem

109

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

minha casa falaacutessemos da Comissatildeo ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip)

soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordmhellip (referindo-

se a um elemento do ICP) foi eu natildeo quero os projectos incluiacutedos

no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute um

montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os

projectos autoacutenomosrdquo (Entrevista nordm 6)

O Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo potildee igualmente a nu a ausecircncia de qualquer Meca-

nismo de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade do trabalho desenvolvido pelas instituiccedilotildees

de ensino cooperantes Este documento vai mais longe nesta mateacuteria ao revelar que ldquoos

factos mostram que natildeo se poderaacute falar propriamente na existecircncia de um sistema de

planificaccedilatildeo e programaccedilatildeo de projectos de cooperaccedilatildeo jaacute que a evoluccedilatildeo verificada

levou a que os planos de actividades viessem a assumir a mera forma de mapas de

calendarizaccedilatildeo de missotildees A dimensatildeo visiacutevel dos projectos reduziu-se assim agrave reali-

zaccedilatildeo de missotildees (soacute) aparentemente avulsas que apenas se tornam compreensiacuteveis no

quadro do plano de actividades dos estabelecimentos de ensino de Cabo Verde e no

quadro da calendarizaccedilatildeo do serviccedilo docente relativamente agrave implementaccedilatildeo dos

curriacuteculos dos cursos que as missotildees pretendiam apoiarrdquo

As conclusotildees deste Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo revelam a existecircncia de cerca de 60

protocolos e conveacutenios celebrados entre instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

puacuteblicas e privadas e outros tantos com outras entidades de outra natureza entre as

quais instituiccedilotildees de investigaccedilatildeo Dos muitos protocolos assinados eacute assumido pelo

grupo de trabalho que os analisou e produziu o referido relatoacuterio que a grande parte

destes natildeo gerou qualquer relaccedilatildeo sustentada entre as entidades que os subscreveram

satildeo normalmente demasiado geneacutericos na sua grande maioria natildeo satildeo referidas as

fontes de financiamento e caracterizam-se particularmente por darem prioridade ao

apoio ao corpo docente agrave criaccedilatildeo de cursos e ao desenvolvimento institucional e

organizacional nomeadamente a participaccedilatildeo em conselhos cientiacuteficos apoio agrave organi-

zaccedilatildeo administrativa e cientiacutefico-departamental das escolas e das estruturas de investi-

gaccedilatildeo apoio bibliograacutefico ou laboratorial

65 Ibidem

110

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Entre 1997 e 2002 os anos de vigecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria regista-se um

incremento nas relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e cabo-

-verdianas fundamentalmente em torno dos cursos ministrados no territoacuterio A maioria

das acccedilotildees levadas a cabo satildeo missotildees pontuais de docecircncia num determinado curso

apesar de se registar igualmente programas que contemplam um ldquopacoterdquo que vai

normalmente desde a criaccedilatildeo dos curricula ateacute agrave efectiva leccionaccedilatildeo passando pelo

apoio bibliograacutefico e integraccedilatildeo de docentes cabo-verdianos no corpo docente

Segundo o mesmo Relatoacuterio registam-se taxas de leccionaccedilatildeo de docentes portugueses

nas Instituiccedilotildees de Ensino Cabo-Verdianas que oscilam entre os 80 a 100 o que

significa que natildeo estaacute a ser preparado o caminho para um desenvolvimento sustentado

apesar destes factos contrariarem as intenccedilotildees de apoio ao desenvolvimento sustentado

reveladas por governantes portugueses quando inquiridos sobre este assunto

ldquoDa poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante

desenvolver universidades locais do que transplantar univer-

sidades para esses paiacuteses (hellip) Natildeo podemos imaginar que

estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de

Direito de uma universidade qualquer como se fizeacutessemos uma

espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque

isso natildeo eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar

desenvolvimento (hellip) Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa

no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da cultura e do ensino

exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveisrdquo (Entrevista nordm 1)

Deduz-se das palavras deste representante do governo portuguecircs que para a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa mais do que organizar cursos em aacutereas estrateacutegias haacute que criar

condiccedilotildees para que a meacutedio prazo Cabo Verde possa constituir a sua proacutepria

universidade dotada de um corpo docente local apesar de natildeo ser de excluir a hipoacutetese

de manter uma cooperaccedilatildeo activa embora a outros niacuteveis

Para aleacutem das alteraccedilotildees registadas agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesa

motivadas por inuacutemeros factores tais como a mudanccedila consecutiva dos responsaacuteveis

pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo estas mudanccedilas natildeo viriam a ser tatildeo

determinantes quanto isso para a efectiva concretizaccedilatildeo de estrateacutegias de cooperaccedilatildeo jaacute

111

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

delineadas Determinante viria a revelar-se o Foacuterum sobre o Ensino Superior

promovido pelo Governo Cabo-Verdiano A realizaccedilatildeo deste evento marcou o processo

de criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde definido entatildeo como uma meta a atingir

pelo paiacutes a curtomeacutedio prazo A criaccedilatildeo desta instituiccedilatildeo passaraacute obrigatoriamente por

um processo de preparaccedilatildeo que entre outros ajustes obriga agrave consolidaccedilatildeo das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior jaacute existentes ao aumento da oferta de formaccedilatildeo

agrave criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de leis reguladoras do ensino superior etc Contrariamente

agraves expectativas iniciais este planeamento estrateacutegico natildeo viria a concretizar-se na sua

plenitude por responsabilidade das autoridades cabo-verdianas com excepccedilatildeo da

criaccedilatildeo da universidade cuja existecircncia apesar de tudo natildeo passou do papel assistindo-

se paralelamente ao desenvolvimento do ensino superior privado do qual pouco ou

nada se conhece nomeadamente quais os objectivos traccedilados mas que no contexto

actual do paiacutes acaba por desempenhar um papel importante na ajuda agrave supressatildeo das

necessidades de oferta

As actividades da cooperaccedilatildeo portuguesa passaram a partir desta altura a

restringir-se ao desenvolvimento e consolidaccedilatildeo dos estabelecimentos de ensino

superior puacuteblicos de Cabo Verde com especial incidecircncia no aumento da oferta de

formaccedilatildeo Satildeo identificadas no Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo da Cooperaccedilatildeo as dificuldades

sentidas pela Comissatildeo Paritaacuteria na concretizaccedilatildeo das componentes natildeo docentes do

Plano de Actividades afirmando-se claramente que a ldquoavaliaccedilatildeo e o planeamento

estrateacutegico das instituiccedilotildees quer na identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo de parcerias estrateacutegicas

conduziu-a a uma aproximaccedilatildeo progressiva ao terrenordquo 66 Nesta fase de redefiniccedilatildeo das

linhas de acccedilatildeo da cooperaccedilatildeo traccedilaram-se novas metas no sentido de implementar

novas estrateacutegias que passam pelo fortalecimento de relaccedilotildees inter-institucionais entre

parceiros estrateacutegicos indicados por cada uma das instituiccedilotildees de ensino superior jaacute

existentes no paiacutes receptor Pretende-se com esta nova atitude promover o desenvol-

vimento sustentado do sector do ensino superior uma vez ter-se voltado novamente agrave

praacutetica de criaccedilatildeo de ldquopacotesrdquo de cursos que incluem a criaccedilatildeo dos curriacuteculos ateacute agrave sua

leccionaccedilatildeo por um corpo de docente portugueses Esta poliacutetica contrariamente ao

objectivo para a qual foi desenhada pode ser considerada regressiva na perspectiva do

paiacutes beneficiaacuterio apenas sendo entendida e aceite enquanto estrateacutegia para diminuir o

112

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fluxo de estudantes que saem do paiacutes para estudar muitos deles com bolsas da

cooperaccedilatildeo portuguesa Nesta altura a Comissatildeo Paritaacuteria estaria notoriamente

impotente para exercer as suas funccedilotildees de regulaccedilatildeo limitando-se apenas a realizar um

trabalho de conciliadora dos problemas que entretanto iam surgindo supostamente

devido agrave quantidade de projectos de cooperaccedilatildeo diacutespares que proliferavam

QUADRO Nordm 3

Projectos de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior segundo a entidade financiadora e executora

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde e Avaliaccedilatildeo das Instituiccedilotildees Ensino e Investigaccedilatildeo

Apoio concepccedilatildeo do modelo e produccedilatildeo de

legislaccedilatildeo FCG

Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian mdash

Avaliaccedilatildeo e desenvolvimento

estrateacutegico das instituiccedilotildees de ensino superior

ICP DGESup ICCTI

CIPES A vertente de avaliaccedilatildeo institucional nunca teraacute sido posta em praacutetica

Desenvolvimento do CFNISECMAR e do ensino das engenharias e nas aacutereas naacuteutica e

naval

Desenvolvimento Centro Formaccedilatildeo Naacuteutica

ICP MES

ENIDH IST

U Algarve mdash

Desenvolvimento do ISECMAR

ICP MES

U Algarve ISECMAR

ENIDH U Algarve

ICP FCT-UC

mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na Formaccedilatildeo de

Professores IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea das

Engenharias e da Gestatildeo IP Leiria IP Leiria mdash

Cooperaccedilatildeo com o ISECMAR na aacuterea da

Matemaacutetica

ICP U

Portucalense

Esta acccedilatildeo natildeo chegou a concretizar-se por falta de confirmaccedilatildeo do ISECMAR

66 Ibidem

113

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento da Formaccedilatildeo em Economia e Gestatildeo criaccedilatildeo do ISCEE e apoio ao INAG

Cooperaccedilatildeo ISEG e ISCEE ICP ISEG FEUC

mdash

Cooperaccedilatildeo em Gestatildeo Bancaacuteria (ISGB-ISCEE)

ISGB Sistema Bancaacuterio

ISGB ISCEE

mdash

Outras cooperaccedilotildees com o ISCEE

IP Santareacutem IP Leiria

IP Santareacutem IP Leiria

mdash

Cooperaccedilatildeo com o INAG ESG Santareacutem

ESG Santareacutem

mdash

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

Desenvolvimento do CFAINIDA e da formaccedilatildeo em Ciecircncias Agraacuterias e Desenvolvimento Rural

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Bacharelato em Agroeconomia ICP ISA mdash

Desenvolvimento da formaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede e criaccedilatildeo de uma Escola Superior de Sauacutede

Mestrado em Ciecircncias da Sauacutede

ICP U Coimbra mdash

Escola Superior de Sauacutede ICP U Coimbra mdash

Desenvolvimento do ISE do IP e da Formaccedilatildeo para o Sistema Educativo

1 Apoio em infraestruturas fiacutesicas e equipamentos

Construccedilatildeo de Escolas (edifiacutecio ISE)

DGAERI mdash mdash

2 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

PUENTI ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

Assistecircncia teacutecnica e cientiacutefica e docecircncia para o Bacharelato

em Educaccedilatildeo Fiacutesica ICP IP Coimbra mdash

PUENTI CEB ICP

GAERI (ME) U Lisboa mdash

U Aberta deslocaccedilotildees

ICP U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Aberta com o ISE e o IP

ICP

U Aberta U Aberta mdash

Cooperaccedilatildeo da U Portucalense com o ISE

ICP U Portucalense mdash

3 Formaccedilatildeo de professores e apoio agrave consolidaccedilatildeo e desenvolvimento do Sistema Educativo

Apoio ao IP de Cabo Verde GAERI Vaacuterios mdash

Reconversatildeo de docentes do Ensino Baacutesico

IP Leiria IP Leiria mdash

Professores para o Poacutelo IP da Assomada

ICP ndash mdash

Curso Poacutes Graduaccedilatildeo Educadores de Infacircncia

IP IP Coimbra mdash

Bacharelato Educadores de Infacircncia

ICP IP Coimbra Curso natildeo reconhecido por Cabo Verde como formaccedilatildeo

de Ensino Superior

114

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4 Desenvolvimento de outras formaccedilotildees no ISE

Estudos Humaniacutesticos GAERI

ICP Fac Letras mdash

Cooperaccedilatildeo entre Centro Internacional matemaacutetica

e o ISE

ICP

GAERI CIM mdash

Ciclo de conferecircncias ICP CNDP mdash

Cooperaccedilatildeo Fac Letras e ISE ICP Fac Letras Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo U Coimbra e ISE ICP U Coimbra Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Histoacuteria

ICP U Portucalense Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Cooperaccedilatildeo aacuterea do ensino da Filosofia

ICP

U Eacutevora

U Lisboa

U Porto

Inserido no Plano de Actividades da Comissatildeo Paritaacuteria

Participantes

Projecto

Financiadores

Executores

Observaccedilotildees

5 Acccedilotildees de Apoio agrave divulgaccedilatildeo e desenvolvimento da liacutengua e cultura portuguesas

Leitores Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Centro de Liacutengua

Portuguesa Inst Camotildees Inst Camotildees mdash

Apoio ao desenvolvimento de outros cursos aacutereas e instituiccedilotildees

1 Desenvolvimento da Formaccedilatildeo no sector do Turismo

Bacharelato em Turismo ISP IP Coimbra mdash

2 Apoio ao LEC e ao desenvolvimento da Engenharia Civil

Apoio ao LEC ICP IST mdash

Apoio agrave coordenaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo bilateral no acircmbito do ensino superior

Protocolo Ensino Superior ICP

GAERI Vaacuterios mdash

Programa de intervenccedilatildeo

do IP de Coimbra ICP

ICP

IP Coimbra mdash

Criaccedilatildeo da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Cooperaccedilatildeo PIAGET

Instituto Piaget

ICP

Instituto

Piaget mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

115

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A anaacutelise do Quadro nordm 3 vem confirmar algumas das constataccedilotildees que tecircm

vindo a ser feitas ao longo do presente capiacutetulo de um total de 40 projectos listados no

quadro nordm 3 como previstos ou efectivamente realizados para o sector do ensino

superior no territoacuterio de Cabo Verde mais de metade satildeo da responsabilidade de insti-

tuiccedilotildees de ensino superior ou outras de natureza puacuteblica Esta constataccedilatildeo vem provar

que as actividades de ensino transnacional com fins meramente cooperativos satildeo maio-

ritaacuteriamente realizadas por instituiccedilotildees puacuteblicas Jaacute o mesmo natildeo se poderaacute afirmar das

actividades desenvolvidas por instituiccedilotildees privadas que podem natildeo ter fins meramente

cooperativos mas antes de caraacutecter lucrativo Este fenoacutemeno pode levar agrave conclusatildeo

que quando as actividades de ensino transnacional se encontram integradas em poliacuteticas

de cooperaccedilatildeo logo sem natureza comercial ou sem fins lucrativos (pelo menos em

teoria) natildeo despertam o interesse das instituiccedilotildees de ensino superior privado que

sobrevivem como eacute sabido em funccedilatildeo do lucro e dos proveitos financeiros resultantes

das suas actividades Nos uacuteltimos anos a proliferaccedilatildeo e o desenvolvimento do ensino

superior privado nos paiacuteses africanos tem sido exponencial levando a crer que este

aumento da oferta se faccedila a troco de propinas de valor avultado o que indicia um

retorno raacutepido do investimento e o lucro faacutecil

Quanto agraves razotildees que levaram a que alguns dos projectos aqui representados

obtivessem apoio financeiro por parte do Governo Portuguecircs e segundo as palavras de

um representante de uma instituiccedilatildeo de ensino puacuteblica beneficiaacuteria desses apoios (e

esquecendo por instantes a figura do Gestor criada pelo ICP e cujas atribuiccedilotildees seratildeo

analisadas de seguida) pode deduzir-se natildeo ter existido qualquer criteacuterio especiacutefico

mas antes por motivos que podem ser completamente aleatoacuterios como os que a seguir

se apresentam

ldquo(hellip) a primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees

futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees pessoais em escolas

que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na

parte das Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento

pessoal que a gente tem com alguns dos ex-alunos daqui que

estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses (hellip) a cabo-

-verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos os cursos que

116

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes

adaptaacutemo-nos com os curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e

pedagoacutegica do curso face a essa necessidade Mashellip em muitos

paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se

passa eacute o seguinte como as populaccedilotildees demograficamente satildeo

jovens a entrada no mercado natildeo se daacute porque natildeo haacute mercado

de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entre-

ter estes jovens e logo optam pelo ensino desde quehellip (hellip) Natildeo haacute

que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal

quanto mais noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito gran-

des neste momento em Angola do ensino superior temos muita

gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos

anaacuterquica dependendo da vontade dos dirigentes do que propria-

mente das necessidadeshelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Interessante eacute igualmente a anaacutelise das entidades financiadoras dos projectos

listados no quadro nordm 3 um total de 45 dos projectos inscritos eacute financiado na sua

totalidade pelo ICP mdash Instituto de Cooperaccedilatildeo Portuguesa que a niacutevel governamental eacute

a instituiccedilatildeo que tem responsabilidades ao niacutevel da concepccedilatildeo das poliacuteticas bilaterais

coordenaccedilatildeo e financiamento das actividades de cooperaccedilatildeo Dos restantes projectos o

ICP aparece como entidade financiadora parcialmente em mais 25 o que significa

que do elenco de projectos analisado o Estado Portuguecircs suporta financeiramente total

ou parcialmente 70 cabendo a outras instituiccedilotildees muitas delas puacuteblicas o

financiamento dos restantes 30 Esta anaacutelise poderaacute servir de amostra para concluir

que indubitavelmente o Estado Portuguecircs eacute o grande financiador das actividades

desenvolvidas em Cabo Verde e as instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas as

executoras no domiacutenio do Ensino Superior Eacute igualmente interessante constatar que dos

40 projectos enumerados apenas 4 estatildeo integrados no Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997

logo sob a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria Eacute caso para questionar em que contexto

eacute que aparecem os restantes projectos e qual a instituiccedilatildeo que os coordena sendo agrave

partida claro que eacute o Estado Portuguecircs a entidade financiadora Perante esta constataccedilatildeo

natildeo seraacute despiciente questionar-se a relevacircncia de todas estas acccedilotildees para o

desenvolvimento (sustentado) do sector do ensino superior cabo-verdiano ou seja natildeo

havendo um trabalho de campo e uma anaacutelise cientiacutefica que identifique claramente as

117

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidades e aacutereas estrateacutegicas corre-se o risco de se estarem a realizar acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo ldquoavulsasrdquo que muito pouco contribuiratildeo para o efectivo alcance dos

objectivos pretendidos

Num quadro de relativa indefiniccedilatildeo por parte das proacuteprias autoridades cabo-

-verdianas sobre a orientaccedilatildeo a dar agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo de que eacute exemplo concreto

a natildeo viabilidade da constituiccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde pelo lado de Portugal

regista-se apesar de tudo um apoio mais concertado nomeadamente na promoccedilatildeo de

formaccedilatildeo em novas aacutereas fundamentais para o desenvolvimento do paiacutes de que satildeo

exemplo o sector da sauacutede ou do turismo

QUADRO Nordm 4

Evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos em Cabo Verde segundo a instituiccedilatildeo (puacuteblica) e o niacutevel de formaccedilatildeo conferido

Instituiccedilatildeo Niacutevel de Formaccedilatildeo

199900 (nordm cursos)

200001 (nordm cursos)

200102 (nordm cursos)

200203 (nordm cursos)

Meacutedio 1 1 1 1

Bacharelato

mdash mdash ndash ndash Licenciatura mdash mdash mdash mdash

Instituto Pedagoacutegico

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 9 7 4 2

Licenciatura mdash 3 8 11 ISE ndash Instituto

Superior de Educaccedilatildeo Mestrado mdash mdash 1 1

Bacharelato 5 5 8 8

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISECMAR Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 2 2 mdash 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash CFA ndash INIDA Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato 1 1 1 1

Licenciatura mdash mdash mdash mdash ISCEE Mestrado mdash mdash mdash mdash

Bacharelato mdash mdash 3 3

Licenciatura mdash mdash mdash mdash Direcccedilatildeo Geral de Turismo

Mestrado mdash mdash mdash mdash

Fonte Relatoacuterio Final ldquoA Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superiorrdquo

O Quadro nordm 4 apresenta a evoluccedilatildeo do nuacutemero de cursos e niacutevel de formaccedilatildeo

que conferem distribuiacutedos por anos lectivos e realizados nas instituiccedilotildees puacuteblicas cabo-

118

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

-verdianas desde 1999 ateacute 2003 Numa anaacutelise superficial dos dados aqui apresentados

desde logo eacute verificaacutevel que de todas as instituiccedilotildees listadas o ISE (Instituto Superior

de Educaccedilatildeo) eacute aquele que apresenta uma evoluccedilatildeo ou crescimento mais coerente No

ano lectivo de 199900 o ISE oferecia 9 cursos de bacharelato que passaram a 10 cursos

no ano lectivo seguinte distribuiacutedos entre bacharelatos e licenciaturas A evoluccedilatildeo desta

instituiccedilatildeo eacute positiva e tem sido em crescendo oferecendo no presente lectivo

(20022003) um total de 14 cursos dos quais um eacute de Mestrado (primeiro curso de

Mestrado ministrado em Cabo Verde) O ISECMAR eacute uma aposta mais vincada a partir

do ano lectivo de 200102 oferecendo desde entatildeo formaccedilatildeo em 8 cursos todos condu-

centes ao grau de bacharel Esta aacuterea eacute fundamental para o desenvolvimento do paiacutes

sendo portanto de louvar as iniciativas para o seu desenvolvimento

Apesar da recente incidecircncia de acccedilotildees de cooperaccedilatildeo nas aacutereas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a anaacutelise transversal do quadro nordm 4 revela que regra geral a poliacutetica de

cooperaccedilatildeo portuguesa continua a apostar maioritariamente em acccedilotildees que incidem nos

chamados cursos de ldquopapel e laacutepisrdquo as razotildees para tal satildeo oacutebvias e amplamente

conhecidas e passam pela maior facilidade e baixos custos que acarreta formar pessoas

em aacutereas para as quais natildeo satildeo necessaacuterias grandes infra-estruturas de apoio ao ensino

nem um grande investimento em material didaacutectico ou equipamentos como eacute o caso de

laboratoacuterios O Bacharelato continua a ter primazia sobre os restantes niacuteveis de

formaccedilatildeo superior o que aparentemente eacute a opccedilatildeo correcta e mais indicada tendo em

conta as reais necessidades do paiacutes No entanto o ISE salienta-se uma vez mais pelo

facto de nos dois uacuteltimos anos lectivos apostar numa formaccedilatildeo em niacuteveis mais

avanccedilados nomeadamente licenciatura e mestrado

Paralelamente agrave existecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria em funccedilotildees desde 1997 foi

criada para cada paiacutes beneficiaacuterio a figura do Gestor Para desempenhar esta tarefa foi

nomeado para cada PALOP uma individualidade ligada ao ensino superior e com vasta

experiecircncia no sector Segundo foi possiacutevel apurar este cargo reportava directamente ao

ICP e a sua actividade passava completamente agrave margem da Comissatildeo Paritaacuteria no caso

particular de Cabo Verde A figura do Gestor foi criado com o intuito de auxiliar Cabo

Verde na definiccedilatildeo dos programas e acccedilotildees e mediar essa negociaccedilatildeo junto das

autoridades portuguesas no entanto eacute assumido pelo proacuteprio executor do cargo na

primeira pessoa que haacute uma certa tentaccedilatildeo para exercer uma certa influecircncia junto das

119

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

autoridades cabo-verdianas Conclui-se desta forma que haacute fortes probabilidades do

processo de negociaccedilatildeo ser encaminhado pelo proacuteprio gestor que interveacutem directamente

junto do Governo Portuguecircs o que a confirmar-se vem demonstrar uma vez mais que a

Cooperaccedilatildeo Portuguesa natildeo construiu uma base sustentada de negociaccedilatildeo das suas

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo baseada em estudos cientiacuteficos e diagnoacutestico de necessidades

como seria desejaacutevel

(hellip) convidou-me e disse-me ldquoolhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute

ter um gestor da cooperaccedilatildeo para cada um dos paiacuteses eacute a pessoa

com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o

que quer eacute o outro paiacutes mas eacute preciso que algueacutem em Portugal vaacute

trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para se

encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip

porque agraves vezes as pessoas quando tambeacutem natildeo sabem o que

querem tecircm dificuldade em se exprimirrdquo (Entrevista nordm6)

Por outro lado e no caso particular de Cabo Verde o gestor tinha como moeda

de troca pelo desempenho do cargo a atribuiccedilatildeo de verbas para a execuccedilatildeo de projectos

de cooperaccedilatildeo a implementar pela instituiccedilatildeo a que ele proacuteprio pertencia Trata-se neste

caso de um claro favorecimento de uma instituiccedilatildeo de ensino pela colaboraccedilatildeo junto do

ICP de um docente procedimento que eacute interpretado pelo proacuteprio como uma moeda de

troca Sem querer fazer quaisquer juiacutezos de valor ou entrar em questotildees como a

legitimidade destes procedimentos este facto uma vez mais vem provar a ausecircncia de

uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa coerente planificada e fundamentada

ldquo(hellip) Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma remu-

neraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem

funcionado na base do voluntarismo e natildeo na base de qualquer

poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo com Cabo

Verde e nunca ganhei um tostatildeo (hellip) Sim senhora nomeiam-me

assim portanto agora vamos dar uma moeda de troca eacute o

Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute

nessa base que noacutes aahelliprdquo (hellip) As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das

120

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

relaccedilotildeeshellip (hellip) Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio

pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que aacutereas necessitava e depois

compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu

papel como gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com

as autoridades Cabo-Verdianas eu quando ia fazia uma ronda

pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o

Ministro das Financcedilas com o dos Transportesrdquo (Entrevista nordm 6)

A acccedilatildeo do Gestor aparentemente revela-se demasiado influenciadora junto das

autoridades cabo-verdianas no entanto natildeo sabemos ateacute que ponto esta atitude natildeo se

impotildee face agrave indefiniccedilatildeo do Governo Cabo-Verdiano quanto a este assunto Na verdade

compete a Portugal pelo menos moralmente e como parte detentora de meios de

diagnoacutestico criar instrumentos vaacutelidos que auxiliem Cabo Verde a tomar decisotildees nesta

mateacuteria

Pode concluir-se que a cooperaccedilatildeo com o apoio das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas tem levado a cabo uma seacuterie de iniciativas no sentido de

diversificar a oferta formativa em aacutereas que num futuro proacuteximo poderatildeo vir a integrar a

Universidade Nacional de Cabo Verde Referimo-nos concretamente agrave aacuterea das

ciecircncias e tecnologias nomeadamente as engenharias que estatildeo integradas no

ISECMAR ou agrave formaccedilatildeo de professores do ISE O reforccedilo no apoio agrave formaccedilatildeo de

professores de ensino baacutesico foi igualmente assegurado tendo o Instituto Pedagoacutegico de

Cabo Verde como instituiccedilatildeo promotora

Em suma Portugal apoiou financeiramente a criaccedilatildeo de dois institutos

pedagoacutegicos para a formaccedilatildeo de professores de niacutevel primaacuterio e secundaacuterio e manteacutem

activo o apoio no ensino poacutes-secundaacuterio nomeadamente em aacutereas como o turismo

agricultura ambiente gestatildeo e economia e sauacutede Outro exemplo do esforccedilo realizado

no sentido da criaccedilatildeo de estruturas de sustentaccedilatildeo para o ensino superior eacute a criaccedilatildeo do

Programa ldquoFUNDO FAacuteCILrdquo do ICCTI (Instituto de Cooperaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecno-

loacutegica Internacional) que visa ao abrigo do Conveacutenio de Cooperaccedilatildeo de 1997 apostar

no apoio agrave cooperaccedilatildeo e actividades de ligaccedilatildeo entre Cabo Verde e Portugal (FAacuteCIL)

destinado a apoiar contactos entre investigadores cabo-verdianos e portugueses por

periacuteodos natildeo superiores a duas semanas

121

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4114 O acordo de cooperaccedilatildeo de 2003 entre Portugal e Cabo Verde para o ensino superior

Podemos considerar que a experiecircncia da Comissatildeo Paritaacuteria natildeo produziu os

efeitos a que se propocircs aquando da sua constituiccedilatildeo mas a avaliar pelo trabalho por

esta desenvolvido natildeo deveraacute ser considerado um esforccedilo ingloacuterio O Plano Indicativo

de Cooperaccedilatildeo Portugal ndash Cabo Verde para 2002-2004 eacute revelador de que das anteriores

experiecircncias alguns ensinamentos foram retirados apesar de este ser um documento

pouco concretizador quanto aos programas a implementar Eacute no entanto revelador das

principais linhas orientadoras nesta mateacuteria ao afirmar-se que

ldquoO apoio ao ensino superior deveraacute prosseguir quer no acircmbito de

acordos conveacutenios e protocolos celebrados entre universidades e

institutos superiores politeacutecnicos portugueses e seus congeacuteneres

dos paiacuteses parceiros quer no quadro de projectos visando a

criaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de cursos superiores em aacutereas estra-

teacutegicas bem como a promoccedilatildeo de projectos-piloto de mobilidade e

intercacircmbio de professores e estudantes

Seguindo as orientaccedilotildees introduzidashellip de que a intervenccedilatildeo na

formaccedilatildeo de quadros superiores dos PALOP deveraacute corresponder

de forma mais efectiva agraves necessidades de formaccedilatildeo superior

indispensaacutevel ao desenvolvimento sustentado dos paiacuteses o

Programa de bolsas prevecirc uma reduccedilatildeo que se procura seja

gradual do nuacutemero de bolseiros para licenciaturas no ensino

superior em Portugal que seraacute acompanhada pela concessatildeo de

bolsas internas para frequecircncia nos estabelecimentos de ensino

dos PALOP e pelo alargamento das bolsas de poacutes-graduaccedilatildeo

mestrados e doutoramentos em Portugalrdquo (Programa Indicativo de

Cooperaccedilatildeo 2002-2004)

O Programa de Cooperaccedilatildeo assinado em 2003 entre Portugal e Cabo Verde no

domiacutenio do Ensino Superior Ciecircncia e Tecnologia segue as mesmas linhas estrateacutegicas

de cooperaccedilatildeo do executivo que lhe antecedeu concretizando no entanto os termos de

alguns projectos a implementar e que parecem vir reforccedilar a ideia de que a cooperaccedilatildeo

estaacute cada vez mais voltada para o desenvolvimento das estruturas locais de formaccedilatildeo

directamente proporcional agrave reduccedilatildeo de apoios para a formaccedilatildeo graduada fora do paiacutes

de origem

122

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O acordo assinado em 2003 (ver anexo X) veio introduzir questotildees de grande

relevacircncia para o desenvolvimento concertado de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo na aacuterea do

ensino superior ao dar prioridade agrave realizaccedilatildeo de projectos conjuntos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento mas em nosso entender mais importante que isso eacute o facto de prever

acccedilotildees de avaliaccedilatildeo e planeamento estrateacutegico do ensino superior e da ciecircncia e tecno-

logia A execuccedilatildeo das acccedilotildees delineadas por este acordo ficaraacute a cargo de uma nova

Comissatildeo Paritaacuteria nomeada para o afeito da qual faratildeo parte um maacuteximo de 5 repre-

sentantes de cada paiacutes que teraacute a seu cargo planeamento articulaccedilatildeo acompanhamento

e avaliaccedilatildeo dos trabalhos

Os esforccedilos encetados no sentido da avaliaccedilatildeo da qualidade das aacutereas de

formaccedilatildeo existentes eacute essencial para a credibilidade do ensino realizado e para fixar os

jovens no territoacuterio tanto mais quando o relatoacuterio de avaliaccedilatildeo agraves acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

de Portugal com Cabo Verde produzido em 2001 pelo CAD (Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento) da OCDE refere que ldquoOfficial statistics in Cape Verde show

universal primary enrolment which is exemplary in SSA However quality of

education at this level is still a problemrdquo 67 As novas tecnologias natildeo foram esquecidas

e agrave parte dos constrangimentos que possa trazer a exequibilidade de projectos que delas

estejam dependentes [uma vez tratar-se de paiacuteses sem infra-estruturas que permitam um

elevado niacutevel de sucesso] a verdade eacute que o e-learning apresenta-se como uma

alternativa eficaz agrave mobilidade discente e docente

O mesmo relatoacuterio conclui na fase final e no que respeita ao sector do ensino

superior que ldquohellipalthough Cape Verde is presently in the process of developing a

sector-wide strategy in education Portugal does not seem to be convinced by this

approach Portugal could take a more positive role in this process by supporting sector

analysis data collection and providing intellectual input towards the quality of basic

education improvement of secondary enrolment costs and opportunity costs of tertiary

education and so onrdquo 68 O Relatoacuterio da OCDE ao identificar como aspectos a melhorar

no modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde o processo de avaliaccedilatildeo das

actividades de cooperaccedilatildeo ou a ausecircncia dele vem confirmar as conclusotildees jaacute

67 Portugalrsquos Aid Programme in Cape Verde addendum to the main report

(DCDDACAR(2001)216PART1 and PART2) April 2001 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL sdataprpm_portugaldocuments216add2cape_verde_2doc

68 Ibidem

123

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

anteriormente aqui retiradas Este procedimento que deveria ser regular de modo a

permitir proceder aos reajustes necessaacuterios com vista agrave melhoria da qualidade das

acccedilotildees e ao seu redireccionamento sempre que tal seja necessaacuterio eacute efectivamente um

procedimento inexistente pelo menos ateacute haacute bem pouco tempo Sobre isto seraacute de

salientar as seguintes afirmaccedilotildees de um entrevistado que curiosamente colaborou

activamente na realizaccedilatildeo deste Relatoacuterio da OCDE

(hellip) Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi

criacutetica foi dito oralmente mas estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo

existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip (hellip) Como vecirc

a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute

a minha porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo

independentes e fura completamente as regras Portanto aliaacutes

eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um

modelo perigoso (hellip) Admito e mais quer dizer eu lamento que

seja assim (hellip) portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo

portuguesa natildeo tem poliacuteticardquo (Entrevista nordm 6)

De referir que posteriormente a esta recomendaccedilatildeo da OCDE e jaacute no ano de

2003 foi realizado um trabalho de avaliaccedilatildeo das actividades de cooperaccedilatildeo com Cabo

Verde pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento relatoacuterio esse que por ter sido

realizado recentemente serviu de fonte de dados privilegiada para o presente trabalho

Natildeo satildeo ainda mensuraacuteveis os efeitos que esse documento possa vir a ter para a poliacutetica

de cooperaccedilatildeo portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

4115 Pontos fortes do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no sector do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos identificam-se os seguintes Pontos Fortes

Manutenccedilatildeo de fortes relaccedilotildees bilaterais entre Portugal e Cabo Verde

Reforccedilo dos laccedilos culturais que unem ambos os paiacuteses

124

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Fortalecimento do Portuguecircs como primeira liacutengua falada em Cabo

Verde

Apoio agrave criaccedilatildeo da Universidade de Cabo Verde

Tentativa de congregaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo dos projectos de cooperaccedilatildeo

para a o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no domiacutenio do ensino

superior atraveacutes da assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo em 1997

Nomeaccedilatildeo de uma Comissatildeo Paritaacuteria como oacutergatildeo planificador coorde-

nador e executante do projecto de desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do

ensino e da investigaccedilatildeo

Tentativa de implementaccedilatildeo de um oacutergatildeo representativo cada vez mais

institucional e menos pessoal atraveacutes da criaccedilatildeo da Comissatildeo Paritaacuteria

Criaccedilatildeo pela primeira vez de instrumentos de trabalho como sejam os

Planos de Actividades e os Relatoacuterios de Actividades produzidos pela

Comissatildeo Paritaacuteria

Definiccedilatildeo de linhas de acccedilatildeo adequadas nomeadamente quando satildeo

definidas como estrateacutegias de actuaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo retrospectiva e

prospectiva das acccedilotildees ou ateacute questotildees como o enquadramento legal das

instituiccedilotildees de ensino a avaliaccedilatildeo da qualidade etc

Levantamento junto dos oacutergatildeos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas CRUP e CCISP dos projectos em curso no sentido

de futuramente congregar todas as actividades de cooperaccedilatildeo num uacutenico

plano de desenvolvimento evitando-se deste modo o risco de sobrepo-

siccedilatildeo de projectos

Reforccedilo das relaccedilotildees entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas

e cabo-verdianas particularmente impulsionado pela assinatura do

Acordo de Cooperaccedilatildeo de 1997 e mais recentemente pela assinatura do

Accedilordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Adopccedilatildeo de uma estrateacutegia para a reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas de estudo

para o exterior reforccedilando em contrapartida os apoios agraves instituiccedilotildees

nacionais

125

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Apoio agrave diversificaccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo no sentido de preparar

estruturas miacutenimas de base que permitam o surgimento efectivo da

Universidade de Cabo Verde

Reforccedilo das poliacuteticas definidas no Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo

2002-2004 com a assinatura do Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003

Aumento da consciencializaccedilatildeo quanto agrave necessidade de implementaccedilatildeo

a breve prazo de procedimentos de avaliaccedilatildeo regulares que permitam

conduzir ao desenvolvimento sustentado do paiacutes

4116 Pontos fracos do modelo de cooperaccedilatildeo Portuguesa com Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior dos uacuteltimos 10

anos retiram-se os seguintes Pontos Fracos

Descentralizaccedilatildeo sistemaacutetica da informaccedilatildeo quanto aos programas de

cooperaccedilatildeo que podem resultar num desaproveitamento dos recursos

financeiros e humanos (haacute casos em que a sobreposiccedilatildeo de apoios eacute

verificaacutevel ateacute mesmo ao niacutevel de oacutergatildeos governamentais)

Ausecircncia de uma clara e sustentada planificaccedilatildeo estrateacutegica de acccedilotildees o

que vem atrasar o tatildeo ansiado desenvolvimento sustentado do sector da

educaccedilatildeo

Atraso na concretizaccedilatildeo do arranque da Universidade de Cabo Verde

Insucesso na plena execuccedilatildeo da poliacutetica de reduccedilatildeo do nuacutemero de bolsas

para formaccedilatildeo graduada no estrangeiro em parte devido ao atraso no

arranque da Universidade Nacional

Quem planeia natildeo eacute quem paga logo a exequibilidade dos projectos eacute

desde logo posta em causa

Ausecircncia na Comissatildeo Paritaacuteria de representantes das instituiccedilotildees cabo-

-verdianas de ensino superior puacuteblico

Reconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de alguma incapa-

cidade de monitorizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das acccedilotildees a que se propocircs

126

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de um mecanismo centralizador das actividades de cooperaccedilatildeo

Ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da qualidade

Multiplicaccedilatildeo de protocolos com instituiccedilotildees de ensino superior portu-

guesas e instituiccedilotildees de outra natureza

Apoio a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo conducentes ao efectivo desenvol-

vimento sustentado do ensino superior como sejam a criaccedilatildeo de ldquopaccedilo-

tesrdquo de formaccedilatildeo

Fraco investimento em aacutereas de apoio agrave formaccedilatildeo poacutes-graduada e activi-

dades de investigaccedilatildeo

Necessidade de maior regulamentaccedilatildeo da qualidade das actividades de

formaccedilatildeo de modo a aumentar a sua credibilidade

Total ausecircncia de informaccedilatildeo relativamente a questotildees importantes

como requisitos de acesso natureza das certificaccedilotildees atribuiacutedas reco-

nhecimento dos graus acadeacutemicos e equivalecircncias

A determinaccedilatildeo dos Programas e das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo a desenvolver

satildeo de certa forma condicionadas por Portugal dependendo da vontade

dos dirigentes

A cooperaccedilatildeo funciona ainda com base no voluntarismo e nas relaccedilotildees

pessoais

Alguma ineacutercia e desconhecimento por parte da Comissatildeo Paritaacuteria de

algumas das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo executadas durante o seu mandato

Conhecimento escasso por parte das entidades financiadoras da

qualidade e do impacto gerado pelos projectos financiados

412 Estudo de caso nordm 2 Portugal e a Cooperaccedilatildeo com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

4121 Enquadramento soacutecio-econoacutemico e cultural de Timor Leste

A Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste situa-se geograficamente na parte

Leste da ilha de Timor arquipeacutelago das ilhas Lesser Sunda e eacute constituiacuteda pela parte

127

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste da Ilha de Timor dela fazendo igualmente parte as pequenas ilhas de Atauacutero e

Jaco

Pouco tempo depois da retirada de Portugal do territoacuterio no ano de 1975 Timor

Leste sofreu uma ocupaccedilatildeo Indoneacutesia situaccedilatildeo que viria a prevalecer ateacute ao ano de

1999 Eacute de facto em Novembro de 1991 que apoacutes a denuacutencia ao mundo do massacre do

Cemiteacuterio de Santa Cruz eacute despoletado um movimento mundial de apoio agrave retirada das

tropas indoneacutesias de Timor Leste que sob o olhar atento das Naccedilotildees Unidas culminaria

na realizaccedilatildeo de um referendo ao povo timorense em 30 de Agosto de 1999 sobre o

desejo de independecircncia O resultado dessa consulta popular acabaria por expressar uma

vitoacuteria esmagadora a favor da independecircncia estavam dados os primeiros passos que

conduziriam agrave libertaccedilatildeo do povo timorense e ao nascimento em 20 de Maio de 2001

da mais nova Naccedilatildeo do Seacuteculo XXI a Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste

A caracterizaccedilatildeo econoacutemico-financeira de Timor Leste conduz-nos a um paiacutes

cujas caracteriacutesticas satildeo em muitos aspectos semelhantes ao caso de estudo anterior

No entanto e devido ao longo periacuteodo de ocupaccedilatildeo indoneacutesio natildeo foram criadas

condiccedilotildees que lhe permitam estar presentemente no mesmo niacutevel de desenvolvimento

econoacutemico-financeiro e cultural que Cabo Verde Timor Leste caracteriza-se por ter

uma rede de infra-estruturas extremamente precaacuteria e insuficiente para fazer face agraves

necessidades sociais baacutesicas Esta carecircncia agudizou-se com o rasto de destruiccedilatildeo

deixado pelas tropas indoneacutesias quando se retiraram contrariadas do territoacuterio O sector

industrial eacute inexistente permanecendo actualmente uma total dependecircncia da ajuda

externa As elevadas taxas de desemprego sobretudo na franja mais jovem da

populaccedilatildeo e a carecircncia generalizada de quadros qualificados satildeo problemas soacutecio-

econoacutemicos que conduzem a uma enorme atracccedilatildeo da populaccedilatildeo pela emigraccedilatildeo em

oposiccedilatildeo agrave atracccedilatildeo pelo sector agriacutecola posiccedilatildeo essa particularmente vincada numa

faixa de populaccedilatildeo mais jovem e escolarizada

Conscientes do longo caminho que ainda estaacute por percorrer na prossecuccedilatildeo do

desenvolvimento do Paiacutes e segundo dados revelados pelo Relatoacuterio da PNUD 69 os

timorenses identificaram aquando de um inqueacuterito agrave populaccedilatildeo o sector da educaccedilatildeo

69 United Nations Development Programme (UNDP) ldquoUkun Rasij Arsquoan The way aheadrdquo East Timor

Human Development Report 2002 Dili 2002 (on line) disponiacutevel na Internet via WWWURL httpwwwundporg

128

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

como a aacuterea de investimento prioritaacuteria para o desenvolvimento de Timor Leste (70

dos respondentes indicaram a educaccedilatildeo como aacuterea prioritaacuteria) seguida da aacuterea da sauacutede

Em 2001 o Relatoacuterio das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento para Timor

Leste registava um total de 792 298 mil habitantes dos quais 235 se encontram

concentrados na aacuterea urbana O paiacutes apresenta elevadas taxas de populaccedilatildeo jovem cerca

de 439 da populaccedilatildeo situa-se abaixo dos 15 anos de idade e 537 encontra-se entre

os 15 e os 64 anos de idade no entanto a mesma fonte determina que 43 da

populaccedilatildeo timorense sofre de iliteracia e 46 eacute analfabeto 70 Estes valores satildeo revela-

dores das dificuldades acrescidas que enfrenta o Paiacutes e quando associados estes dados

ao contexto soacutecio-econoacutemico caracterizado como se viu por uma elevada taxa de

populaccedilatildeo jovem e desocupada percebe-se a urgecircncia do Governo do paiacutes em formar e

ocupar rapidamente os jovens sob pena de comprometer a estabilidade poliacutetica e social

e por inerecircncia comprometer todo o plano de desenvolvimento do paiacutes Neste contexto

o sector da educaccedilatildeo assume uma importacircncia acrescida como mecanismo de equiliacutebrio

e estabilizaccedilatildeo social e poliacutetica

As Naccedilotildees Unidas procuraram apoiar e acompanhar de perto a primeira fase de

reconstruccedilatildeo de Timor Leste atraveacutes da constituiccedilatildeo de uma Administraccedilatildeo Transitoacuteria

das Naccedilotildees Unidas em Timor Leste (UNTAET) que para aleacutem de proporcionar as

condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia ao povo timorense no periacuteodo poacutes-independecircncia

procurou ainda preparar o paiacutes para o desenvolvimento sustentado O trabalho deste

Governo de Transiccedilatildeo culminou com a declaraccedilatildeo de independecircncia e a constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Democraacutetica de Timor Leste em 20 de Maio de 2002 A Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica viria a eleger como liacutenguas oficiais do paiacutes o Teacutetum e o Portuguecircs

No entanto apesar dos esforccedilos desenvolvidos e de todo o trabalho realizado por

parte dos paiacuteses cooperantes vai ainda demorar alguns anos ateacute que Timor atinja a

maturidade desejada

ldquoEast Timor must now move forward on the longer-term process of

national capacity building for sustainable development But it will

not be doing so alone There will be donor support and a sizeable

UN successor missionhellip

70 Ibidem

129

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

I know that the newly independent government of East Timor will

be ready and eager to take up the challenge of sustainable

development to achieve progress in human survival knowledge

communications and productivity

Seacutergio Vieira de Mello (East Timor Human Development Report 2002)

Os problemas do sector educativo de Timor Leste natildeo se revelam de faacutecil

soluccedilatildeo ainda mais porque tratando-se de problemas estruturais directamente

relacionados com a conjuntura poliacutetica econoacutemica e social do paiacutes mais

condicionalismo geram no processo de evoluccedilatildeo deste sector Volvido um ano apoacutes a

declaraccedilatildeo da independecircncia de Timor Leste o sector da educaccedilatildeo nomeadamente no

domiacutenio do ensino superior tem ainda um longo caminho a percorrer e os desafios que

tem enfrentado e os que ainda teraacute de enfrentar no futuro natildeo se auguram de faacutecil

ultrapassagem

Como foi jaacute referido a iliteracia e o analfabetismo satildeo apenas alguns dos

problemas soacutecio-educativos mais evidentes mas natildeo satildeo os uacutenicos A verdade eacute que o

facto de a Liacutengua Portuguesa ter sido escolhida como uma das liacutenguas oficiais traz

dificuldades acrescidas aos proacuteprios oacutergatildeos de governo timorenses uma vez que a

maioria do corpo docente em todos os niacuteveis de ensino natildeo domina o Portuguecircs Esta

opccedilatildeo poliacutetica revela apesar de tudo uma grande coragem e determinaccedilatildeo por parte do

Governo Timorense mas exige do Governo Portuguecircs um enorme esforccedilo no sentido de

reforccedilar as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo para com Timor Leste particularmente no que respeita

a este sector no sentido de rapidamente proporcionar condiccedilotildees aos timorenses de

aprenderem e difundirem a Liacutengua Portuguesa Esta opccedilatildeo pode revelar uma visatildeo

estrateacutegica da poliacutetica timorense que usa a Liacutengua Portuguesa como elemento

diferenciador no contexto geograacutefico Asiaacutetico onde se inserem demarcando-se assim

culturalmente das vizinhas Austraacutelia e Indoneacutesia Esta interpretaccedilatildeo eacute reiterada por

Benjamim-Corte Real Reitor da UNTL ao afirmar que ldquoO Portuguecircs sempre foi um

siacutembolo da resistecircncia timorense um factor de diferenciaccedilatildeo entre noacutes e a outra metade

da ilha que pertence agrave Indoneacutesia Agora vamos ter de dar um passo mais agrave frente e viver

a liacutengua implementaacute-la nos vaacuterios niacuteveis de ensinordquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003) No

entanto eacute tambeacutem estrategicamente importante para Portugal que a Liacutengua Portuguesa

seja adoptada por Timor Leste como liacutengua oficial uma vez que permite a presenccedila de

130

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Portugal numa plataforma geograacutefica importante que nos coloca na rota do Oriente

Esta conclusatildeo eacute aliaacutes confirmada pelas palavras de um dos entrevistados directamente

responsaacutevel pela definiccedilatildeo das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo e que sobre este assunto faz as

seguintes afirmaccedilotildees

ldquoO Lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a

Liacutengua Portuguesa eacute uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de

pessoas do que por exemplo o Francecircs e eacute uma liacutengua vital viva com imenso

futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas do mundo onde a

tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees em termos demograacuteficos a estagnar

Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa afirmaccedilatildeo

internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa

eacute essencial para Portugal daiacute tambeacutem a importacircncia da Liacutengua Portuguesa

no nosso relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP

(hellip) Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave

mestra a ideia de que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente

e a aposta essencial deve ser na formaccedilatildeo de formadores locais (hellip) o futuro

passaraacute o futuro da Liacutengua Portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

Liacutengua Portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem

ensina portuguecircs nas escolas satildeo professores timorenses que aprenderam

portuguecircs com professores portugueses preferencialmente laacute porque a

formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo de

inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute

uma aposta importantiacutessima (hellip) O papel das universidades portuguesas nisto

eacute fundamental evidentemente (Entrevista nordm 1)

O legado cultural deixado pela Indoneacutesia ao povo timorense eacute francamente

mediacuteocre uma vez que os estabelecimentos de ensino eram utilizados como meios de

propaganda ao serviccedilo da Indoneacutesia visando contribuir para o enfraquecimento das

capacidades de resistecircncia da populaccedilatildeo atraveacutes de um ensino parco em qualidade Esta

situaccedilatildeo gerou um corpo docente timorense que permanece ainda hoje desprovido de

uma qualificaccedilatildeo acadeacutemica e cientiacutefica adequada a que para aleacutem das evidentes

necessidades de formaccedilatildeo graduada e poacutes-graduada se junta a dificuldade acrescida da

131

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

necessidade iminente da aprendizagem da Liacutengua Portuguesa Destas dificuldades daacute

conta o Reitor da UNTL na primeira pessoa

ldquo(hellip) Aahellip e isto eacute vaacutelido eu devo dizer natildeo soacute no contexto dos

alunos estudantes timorenses a receber explicaccedilotildees de pro-

fessores portugueses mas eu devo dizer que como princiacutepio

estamos a tratar de alunos que estejam a aprender aahellip de

professores digamos que natildeo sejam ou aliaacutes alunos que

estejam a aprender numa liacutengua em que natildeo estejam habituados

ouhellip pura e simplesmente numa liacutengua que para eles ainda eacute uma

liacutengua estrangeira Aahellip portanto eacute soacute para dizer que natildeo

acontece soacute com os timorenses mas pode acontecer em qualquer

contexto em que a liacutengua de instruccedilatildeo natildeo eacute na liacutengua materna

digamos do aprendente(hellip) Eu devo dizer categoricamente que

natildeo O facto de agora estarmos a registar ainda certas

deficiecircncias natildeo eacute pelo facto dos professores se deslocarem a

Timor Leste mas essencialmente pelo facto dos proacuteprios

aprendentes alunos natildeo terem uma preparaccedilatildeo preacutevia do mesmo

niacutevel dos estudantes portugueses que vivem e que estudam caacute em

Portugalrdquo (Entrevista nordm 5)

No domiacutenio do ensino superior a Universidade Nacional de Timor Leste

(UNTL) eacute a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica que se insere nas estruturas formais de ensino

Inaugurada em 2000 esta instituiccedilatildeo segundo o seu Reitor ldquohellip em termos de curriacuteculos

dos cursos livros pessoal docente e grande parte dos estudantes a UNTL eacute uma

heranccedila daquilo que foi em tempos durante a ocupaccedilatildeo indoneacutesia uma universidade

provincialrdquo (Diaacuterio Econoacutemico 2003)

132

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

QUADRO Nordm 5

A UNTL em funccedilatildeo das Faculdades Cursos Corpo Docente e Nuacutemero de Alunos

Faculdade Cursos Ministrados

Nordm total docentes

(20002001)

Graduaccedilatildeo do corpo docente

Nordm total alunos

(20022203 ndash 2ordm Semestre)

mdash Bacharelato 23 Licenciatura

1 Mestrado 1 Doutoramento

Agricultura

Agronomia Agroeconomia Agropecuaacuteria

Ciecircncias Agraacuterias (FUP) mdash Outro

1060

mdash Bacharelato 18 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas

Administraccedilatildeo Puacuteblica Estudo Governamental

Desenvolvimento Comunitaacuterio

mdash Outro

1911

mdash Bacharelato

24 Licenciatura

2 Mestrado

1 Doutoramento

Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Liacutengua Malaia Liacutengua Inglesa

Liacutengua Portuguesa Biologia

Matemaacutetica Quiacutemica

Fiacutesica Formaccedilatildeo Professores Portuguecircs (FUP)

ndash Outro

1406

ndash Bacharelato 10 Licenciatura 1 Mestrado mdash Doutoramento

Economia

Gestatildeo Ciecircncias de Economia e Estudo do

Desenvolvimento Economia e Gestatildeo (FUP)

mdash Outro

968

15 Bacharelato 19 Licenciatura

mdash Mestrado

mdash Doutoramento

Teacutecnica

Engenharia Civil Engenharia Electroteacutecnica

Engenharia Mecacircnica Engenharia Electroteacutecnica (FUP)

Engenharia Informaacutetica (FUP) 4 Outro

674

Fonte Universidade Nacional de Timor Leste (2003)

Uma anaacutelise superficial do quadro nordm 5 permite ter desde logo uma visatildeo geral

relativamente ao modo como estaacute organizada a UNTL os cursos ministrados o nuacutemero

e qualificaccedilatildeo do corpo docente e o nuacutemero de alunos por faculdade Percebe-se de

imediato que as dificuldades em manter um ensino de qualidade satildeo enormes se

considerarmos a raacutecio professoraluno que eacute extremamente baixa face aos valores que

seriam desejaacuteveis ainda que natildeo tenham sido considerados nestes dados os docentes do

Programa da FUP que apesar de tudo pouca expressividade teria neste caso Satildeo vagos

133

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

os indicadores de qualidade do pessoal docente sendo no entanto desde logo

confirmado o que jaacute aqui foi dito quanto agrave necessidade urgente de formaccedilatildeo acadeacutemica

poacutes-graduada dos docentes da UNTL que maioritariamente apresentam uma graduaccedilatildeo

maacutexima de licenciatura Eacute no entanto omissa nestes dados a percentagem de profes-

sores que se encontra presentemente a fazer formaccedilatildeo poacutes-graduada Tal como referido

anteriormente os estudantes universitaacuterios que frequentavam a universidade nacional na

altura da ocupaccedilatildeo revelam graves lacunas e insuficiente preparaccedilatildeo cientiacutefica de base

facto atribuiacutedo ao facilitismo e agrave baixa qualidade do ensino superior ministrado nessa

altura Apesar de todos estes constrangimentos a Universidade Nacional de Timor

Leste eacute um importante motor de desenvolvimento para aleacutem de ser um poacutelo dinami-

zador e gerador de um certo equiliacutebrio do paiacutes uma vez que perante a elevada taxa de

desemprego apresenta-se como uma alternativa de ocupaccedilatildeo para muitos jovens que de

outra forma estariam inactivos

O nuacutemero de docentes timorenses eacute claramente insuficiente face ao elevado

nuacutemero de alunos Se a este deficitaacuterio nuacutemero de docentes deduzirmos aqueles que se

encontram em formaccedilatildeo no estrangeiro rapidamente se percebe que as dificuldades com

que luta a Universidade Nacional de Timor Leste satildeo enormes sendo portanto

compreensiacutevel que as preocupaccedilotildees com aspectos como a qualidade natildeo sejam

prioridades de instituiccedilotildees com carecircncias como as que esta apresenta Como vimos este

tipo de cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave proliferaccedilatildeo de actividades de ensino transnacional que

normalmente eacute visto como um benefiacutecio face agraves dificuldades enfrentadas sendo estas

acccedilotildees integradas nos sistemas de ensino formais com grande facilidade natildeo sendo

imposto qualquer requisito ou limite pelo paiacutes receptor

4122 As iniciativas de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste

Portugal demonstrou desde sempre empenho no apoio ao processo de

independecircncia de Timor Leste natildeo apenas por razotildees histoacutericas mas pela afinidade que

os portugueses sempre mantiveram com o povo timorense Em 5 de Maio de 1999

Portugal viria a assinar com o Governo Indoneacutesio um Acordo de Bases sobre Timor

134

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Leste testemunhado por Kofi Annan Secretaacuterio-Geral das Naccedilotildees Unidas Neste

documento ficou acordado entre as partes que Timor Leste deveria pronunciar-se

atraveacutes de um referendo universal por sufraacutegio sobre a vontade de tornar-se indepen-

dente Por esta ocasiatildeo o Presidente da Repuacuteblica Portuguesa Jorge Sampaio faria as

seguintes declaraccedilotildees aquando do anuacutencio da celebraccedilatildeo do acordo

ldquohellipPortugal is prepared to undertake all its commitments resulting

from the agreement both before and after the referendum In this

framework I would like to underline our continuing willingness to

accept all Portugalacutes responsibilities as an administrating power

If the Timorese choose independence Portugal will be ready to

cooperate as a member of the United Nations in Timoracutes peaceful

transition to independence especially from the point of view of

political institutions administration and securityhelliprdquo

(East Timor Reconstruction for Development 19992000 2000)

Os representantes poliacuteticos portugueses tecircm vindo desde entatildeo a reforccedilar esta

ideia quer junto da comunidade timorense quer da comunidade internacional Satildeo

claras e assumidas as intenccedilotildees de Portugal em continuar a manter activas as suas bases

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste nos mais variados niacuteveis com o fim uacuteltimo de promo-

ver o tatildeo desejado desenvolvimento sustentado deste Paiacutes

Durante o periacuteodo de governaccedilatildeo do territoacuterio pela UNTAET e antes da

passagem da governaccedilatildeo para as autoridades timorenses pode dizer-se que foram

construiacutedas pelas entidades externas as bases miacutenimas de apoio agrave consolidaccedilatildeo da

democracia multipartidaacuteria permitindo simultaneamente a criaccedilatildeo de estruturas que

permitiram completar a implementaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo puacuteblica o investimento

na educaccedilatildeo e na sauacutede na certeza poreacutem de que no plano do desenvolvimento

econoacutemico do paiacutes ainda muito estaraacute por realizar

No Programa Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de

Timor Leste para o ano 2000 71 eacute explicitamente assumida a educaccedilatildeo como sector

prioritaacuterio do Programa de Cooperaccedilatildeo Portuguesa com Timor Leste para esse ano

71 ldquoPrograma Indicativo da Cooperaccedilatildeo Portuguesa para Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor Leste 2000rdquo

Gabinete do Comissaacuterio Para o Apoio agrave Transiccedilatildeo de Timor LesteSecretaria de Estado dos Negoacutecios Estrangeiros e Cooperaccedilatildeo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Junho 2000

135

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

intenccedilatildeo aliaacutes jaacute anteriormente expressa no relatoacuterio apresentado pelo Ministeacuterio dos

Negoacutecios Estrangeiros em Maio de 1999 Esta intenccedilatildeo viria a resultar na criaccedilatildeo de

sinergias para este sector nomeadamente a partir do estabelecimento de importantes

ligaccedilotildees com estruturas da sociedade civil No domiacutenio do ensino superior eacute anunciado

no PIC () para 2000 a intenccedilatildeo da reabertura progressiva de cursos na UNTL nas aacutereas

de Agronomia e Gestatildeo Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas e Ciecircncias

da Educaccedilatildeo o apoio agrave criaccedilatildeo de um Instituto da Liacutengua Portuguesa e outro de Teacutetum

apoio agrave reconstruccedilatildeo da biblioteca e ainda a atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo para o ensino

superior para apoio a estudantes timorenses tanto no estrangeiro como em Timor Leste

Agrave semelhanccedila do anterior estudo de caso natildeo cabe aqui lugar agrave apreciaccedilatildeo das poliacuteticas

de atribuiccedilatildeo de bolsas de estudo apesar de ser de reconhecer que muitas vezes estas

questotildees estatildeo interligadas e dependem mutuamente entre si

Para aleacutem do Decreto-Lei nordm 102000 de 10 de Fevereiro (ver anexo XI) que

regula a participaccedilatildeo de cooperantes nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo desenvolvidas com

Timor Leste desconhece-se a existecircncia de qualquer outro decreto-lei ou acordo de

cooperaccedilatildeo que regule ou estabeleccedila a realizaccedilatildeo de quaisquer outros programas ou

acccedilotildees a implementar no acircmbito da cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no

domiacutenio do ensino superior

O Relatoacuterio de Actividades relativo agraves acccedilotildees desenvolvidas nos primeiros

meses do ano 2000 pela Cooperaccedilatildeo Portuguesa para o sector da educaccedilatildeo daacute conta de

uma primeira actividade de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e que constou do envio de

professores portugueses para Timor Leste a fim de proporcionar a professores primaacuterios

e a alunos do ensino superior funcionaacuterios governamentais e demais staff um primeiro

contacto com a Liacutengua Portuguesa No domiacutenio do ensino superior concretamente o

mesmo relatoacuterio anuncia oficialmente a instalaccedilatildeo de trecircs cursos de ensino superior

organizados e ministrados por Portugal nas aacutereas da Economia Gestatildeo e Agricultura

Com isto seria dado o primeiro passo para a implementaccedilatildeo de um projecto mais amplo

de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o Ensino Superior A execuccedilatildeo deste projecto viria

a assumir contornos peculiares partindo para um modelo de organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo

diferente dos modelos de cooperaccedilatildeo habitualmente praticados pela Cooperaccedilatildeo

Portuguesa como a seguir se veraacute

136

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

4123 A cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste para 2000-2003 no domiacutenio do ensino superior

As Universidades Puacuteblicas Portuguesas desde o ano de 1990 que atraveacutes da

Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas (FUP) vinham desenvolvendo acccedilotildees de

colaboraccedilatildeo com o Conselho Nacional de Resistecircncia Timorense (CNRT) acccedilotildees essas

enquadradas nos programas de cooperaccedilatildeo governamentais e portanto apoiadas

financeiramente pelo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros Durante os primeiros nove

anos de cooperaccedilatildeo podemos falar de acccedilotildees pontuais avulsas de iniciativa institucional

eou pessoal que por forccedila das circunstacircncias poliacuteticas que envolviam Timor Leste natildeo

se enquadravam num plano de acccedilatildeo previamente estudado e negociado digamos que se

tratava de acccedilotildees espontacircneas

O movimento de apoio que se foi gerando em Portugal a favor da causa

timorense foi evoluindo rapidamente e a esta causa associaram-se rapidamente outras

forccedilas da vida acadeacutemica como as associaccedilotildees de estudantes que participaram activa-

mente nomeadamente em acccedilotildees de acolhimento e integraccedilatildeo de estudantes timorenses

refugiados poliacuteticos do regime indoneacutesio

No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo e ainda durante o Governo Transitoacuterio da UNTAET o

Padre Filomeno Jacob Conselheiro para o Ensino Superior do CNRT solicitou ao

Governo Portuguecircs atraveacutes do Ministro da Educaccedilatildeo portuguecircs apoio na aacuterea da

educaccedilatildeo um dos sectores mais problemaacuteticos no qual pelos motivos anteriormente

expostos era urgente intervir

Neste quadro o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)

manifestou ao Governo Portuguecircs total disponibilidade para a colaboraccedilatildeo com Timor

no acircmbito das acccedilotildees a desenvolver no domiacutenio do ensino superior e em Dezembro de

1999 eacute assinada uma carta de intenccedilotildees envolvendo o CRUP a FUP e o CNRT sob a

coordenaccedilatildeo e tutela dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e dos Negoacutecios Estrangeiros O com-

promisso entatildeo assumido envolvia o apoio concreto de Portugal e particularmente das

Universidades Portuguesas para as seguintes acccedilotildees

Organizaccedilatildeo de Cursos de Reciclagem de Professores do Ensino

Secundaacuterio

Criaccedilatildeo do Instituto de Liacutengua Portuguesa e do Instituto de Liacutengua

Teacutetum

137

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Desenvolvimento das aacutereas de Agronomia EconomiaGestatildeo Direito

Ciecircncias e Tecnologia Ciecircncias Sociais e Humanas na Universidade de

Dili

Atribuiccedilatildeo de Bolsas de Estudo para cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo

As explicaccedilotildees de um membro do CRUP que esteve directamente envolvido em

todo o processo de negociaccedilatildeo como membro do Conselho de Reitores testemunha

como o Governo de Timor Leste interveio directamente na definiccedilatildeo das acccedilotildees a

desenvolver e na escolha das aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo

ldquo(hellip) entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do Governo

de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e

na presenccedila do Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria

estrutura dos cursos e todo o programa ele deslocou-se a Portugal

vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (referindo-se a um dos

coordenadores iniciais do projecto) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo Interna que estava a trabalhar nissohellip e mandou-se

para laacute depois no fim os Programas foi mandado para Timor

para aprovaccedilatildeo do Governordquo (Entrevista nordm 3)

Cada universidade nomeou um representante para os assuntos de Timor Leste a

quem cabe ainda hoje representar a sua instituiccedilatildeo e acompanhar as acccedilotildees desenvol-

vidas no acircmbito deste programa de cooperaccedilatildeo Neste seguimento satildeo preparados dois

programas distintos de actuaccedilatildeo um de emergecircncia e um outro a meacutedio prazo ambos

planeados coordenados e implementados pela FUP e cujas acccedilotildees se pautam quanto ao

primeiro programa pelos seguintes objectivos

A presenccedila fiacutesica de portugueses ou falantes de portuguecircs em territoacuterio

timorense

Assegurar o desenvolvimento do portuguecircs como liacutengua de ensino e

aprendizagem

Envolver rapidamente jovens timorenses em acccedilotildees lectivas e de actua-

lizaccedilatildeo de conhecimentos

138

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

O segundo Programa de acccedilatildeo a meacutedio prazo foi desenhado com o objectivo

primeiro de ajudar agrave construccedilatildeo da Universidade Nacional de Timor Leste e depois de

definidas as prioridades de cooperaccedilatildeo pelo CNRT foram consideradas prioridades de

cooperaccedilatildeo as aacutereas das Ciecircncias Agraacuterias Economia Gestatildeo e Contabilidade Enge-

nharias e Ciecircncias da Sauacutede

As Universidades Puacuteblicas Catoacutelica e ISCTE por solicitaccedilatildeo do Misteacuterio da

Educaccedilatildeo e atraveacutes do financiamento do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros viriam a

desenvolver sob a coordenaccedilatildeo da FUP uma proposta concreta de actuaccedilatildeo que se

dividiu nas seguintes etapas

1 Um primeiro programa de voluntariado que consistia no envio pelo

periacuteodo de 3 meses de docentes das universidades portuguesas visando a

introduccedilatildeo da liacutengua portuguesa aos estudantes universitaacuterios atraveacutes da

leccionaccedilatildeo de disciplinas especiacuteficas como a Matemaacutetica Biologia

Quiacutemica etc Esta acccedilatildeo viria a ter lugar entre Abril e Setembro de 2000

e envolveu um total de 50 docentes voluntaacuterios

2 Um segundo Programa de Cooperaccedilatildeo alargando o espectro de

participaccedilatildeo aos Institutos Politeacutecnicos consistia na criaccedilatildeo de comissotildees

de trabalho por aacutereas cientiacuteficas que tinham como tarefa desenhar os

curriacuteculos para cursos superiores a leccionar em Timor Leste sob a total

coordenaccedilatildeo portuguesa ministrados numa primeira fase por docentes

portugueses com a intenccedilatildeo de a meacutedio prazo se verificar uma passagem

gradual para os docentes da UNTL na perspectiva de um desenvol-

vimento sustentado

As linhas de orientaccedilatildeo deste Programa de Cooperaccedilatildeo pautam-se por objectivos

claramente definidos que visam o desenvolvimento sustentado do sistema de ensino

superior formal timorense com particular incidecircncia no apoio agrave construccedilatildeo da UNTL

O coordenador cientiacutefico de um dos cursos ministrados actualmente em Timor Leste daacute

conta de como o processo de criaccedilatildeo dos curricula dos cursos e organizaccedilatildeo dos cursos

se processou

ldquohellipos Cursos de Timor nascem nume primeira reuniatildeo que tive-

mos em Coimbra em que eu disse ldquomdash eu tenho esta experiecircncia

139

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu resultadohelliprdquo e

a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade

nenhuma natildeo foi nenhuma habilidade especial foi delineado

porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e isto eacute uma

maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estra-

teacutegia Soacute se houver alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso

assim haacute uns anos permanentemente nunca conheci nenhuma

estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesardquo (Entrevista n ordm 2)

No ano lectivo de 2001-2002 tiveram iniacutecio os quatro primeiros cursos de

bacharelato e uma licenciatura a decorrer na UNTL a estrateacutegia de criaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo dos cursos apresenta semelhanccedilas com Cabo Verde usando-se um

sistema de ldquopacote completordquo segundo o qual Portugal desenha os curricula apoiado

em moacutedulos de leccionaccedilatildeo trimestral fornece o corpo docente e toda a bibliografia e

demais infra-estruturas de apoio agrave leccionaccedilatildeo como por exemplo os materiais para

equipar laboratoacuterios e salas de aula O Quadro nordm 6 apresenta o Programa de

Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP com Timor Leste por aacutereas cientiacuteficas

QUADRO Nordm 6 Programa de Cooperaccedilatildeo CRUP-FUP

de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste

Participantes ProjectoAacuterea de Formaccedilatildeo Financiador Executor

Niacutevel de Formaccedilatildeo

Anos Observaccedilotildees

Formaccedilatildeo de Professores de

Portuguecircs IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Economia Gestatildeo IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Ciecircncias Agraacuterias IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Licenciatura Estaacutegio na

Missatildeo Agriacutecola

Engenharia Electroteacutecnica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Engenharia Informaacutetica IPAD FUP

Inst Ensino Puacuteblicas Bacharelato

(3+1) Ano Lic alternado

Fonte Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas

Numa primeira fase do projecto todos os cursos satildeo ministrados quase

exclusivamente por um corpo docente portuguecircs Inicialmente e porque as dificuldades

140

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

com a aprendizagem da Liacutengua Portuguesa se revelaram difiacuteceis de superar pondo em

causa o sucesso do Projecto integraram-se nos cursos elementos do corpo docente

timorense que comeccedilariam por desempenhar funccedilotildees de monitorizaccedilatildeo e traduccedilatildeo mais

tarde alguns viriam a ser responsaacuteveis pela leccionaccedilatildeo de algumas cadeiras e a

tendecircncia eacute para que o nuacutemero de cadeiras sob a coordenaccedilatildeo timorense aumente

exponencialmente ateacute ao momento em que todas as disciplinas possam ser asseguradas

pelo corpo docente da UNTL Esta poliacutetica de preparaccedilatildeo e integraccedilatildeo progressiva do

corpo docente timorense continua a ser uma das apostas de Portugal como se veraacute mais

a frente surgindo como a estrateacutegia mais coerente face agraves intenccedilotildees de apoio ao

desenvolvimento sustentado do ensino superior em Timor A definiccedilatildeo dos criteacuterios e o

processo de selecccedilatildeo dos candidatos para os cursos eacute da total responsabilidade de Timor

Leste sabendo-se no entanto que foram seguidos os criteacuterios de selecccedilatildeo dos sistemas

universitaacuterios ocidentais para aleacutem de o conhecimento da Liacutengua Portuguesa falada e

escrita

Uma das particularidades do desenho destes cursos relativamente aos programas

analisados anteriormente eacute que eacute permitido aos alunos regressar agrave universidade

posteriormente a terem ingressado no mercado de trabalho para concluiacuterem a

licenciatura Os cursos tecircm a duraccedilatildeo de 3 anos agrave excepccedilatildeo como vimos de Ciecircncias

Agraacuterias e soacute em anos de excepccedilatildeo natildeo regulares seraacute ministrado mais um ano para

conclusatildeo da licenciatura Isto permite que os alunos tenham uma experiecircncia

profissional e permite uma certa rotatividade de alunos em formaccedilatildeo Timor precisa de

quadros qualificados e este sistema parece permitir que a curto prazo estes alunos

estejam preparados para contribuir para o desenvolvimento do paiacutes

4124 A proposta de cooperaccedilatildeo entre Portugal e Timor Leste para o ensino superior ateacute 2010

Volvidos trecircs anos do Programa de Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor

Leste para o sector do ensino superior algumas ilaccedilotildees poderatildeo ser retiradas desta

experiecircncia Eacute certo que as especificidades do paiacutes condicionam os resultados obtidos

mas natildeo deixa de ser interessante e inovador o modelo implementado que apresenta

caracteriacutesticas diferentes dos modelos de cooperaccedilatildeo praticados com outros paiacuteses de

141

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa Se eacute verdade que alguns avanccedilos na afirmaccedilatildeo e difusatildeo da

Liacutengua junto da comunidade estudantil foram feitos existe a clara percepccedilatildeo de que o

niacutevel de satisfaccedilatildeo nesta mateacuteria ainda estaacute longe de ser alcanccedilado O corpo docente

timorense continua mal preparado em termos cientiacuteficos e a Liacutengua permanece uma

barreira Nem todos os objectivos traccedilados inicialmente para este Programa foram

alcanccedilados Eacute um dado adquirido que os cursos ministrados por Portugal e que apenas

ocupam cerca de 400 alunos num universo de 7000 natildeo satildeo suficientemente

expressivos para que lhes seja atribuiacuteda maior importacircncia no entanto e apesar disso

Timor Leste reconhece neste projecto um embriatildeo do que seraacute a futura UNTL e eacute aqui

que reside a forccedila do Programa e as suas verdadeiras potencialidades

Consciente das expectativas que quer o Governo Timorense quer o Governo

Portuguecircs depositaram neste projecto a FUP enquanto entidade coordenadora do

Programa promoveu a vinda a Portugal do Director Geral do Ensino Superior de Timor

e do Reitor da UNTL para em conjunto reflectirem sobre a dinacircmica futura do projecto

e a partir daqui elaborar um plano estrateacutegico a apresentar aos governos de ambos os

paiacuteses Apoacutes um periacuteodo de reflexatildeo que resultou dos vaacuterios encontros e reuniotildees de

trabalho com os principais intervenientes e instituiccedilotildees envolvidas no qual se incluem

os representantes das universidades e institutos politeacutecnicos e os representantes dos

oacutergatildeos de tutela que satildeo simultaneamente financiadores chegou-se a algumas

conclusotildees importantes que permitiratildeo a continuidade do projecto e que se pautam

pelos seguintes aspectos expressos num Memorando que resultou das vaacuterias reuniotildees

realizadas (Anexo XII) ldquohellip esta acccedilatildeo tem-se caracterizado por uma incerteza

permanente no que respeita ao seu financiamento natildeo tendo os orccedilamentos referentes

aos diferentes anos sido cumpridos por parte dos departamentos governamentais

responsaacuteveis As maiores dificuldades nesta acccedilatildeo tecircm como origem a baixa

proficiecircncia dos alunos em Liacutengua Portuguesa e a baixa preparaccedilatildeo cientiacutefica dos alunos

para acompanharem as disciplinas ministradasrdquo No que concerne agrave questatildeo da liacutengua

desde o iniacutecio estava previsto o apoio do Instituto Camotildees na leccionaccedilatildeo do Portuguecircs

aos alunos dos Cursos da FUP o que soacute viria a acontecer de modo regular no iniacutecio do

ano lectivo de 20032004 Jaacute no que respeita agrave questatildeo recorrente da baixa preparaccedilatildeo

cientiacutefica dos alunos os coordenadores cientiacuteficos dos cursos tecircm vindo a adaptar os

142

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

curriacuteculos dos cursos ao contexto do paiacutes permitindo desta forma aumentar

progressivamente a taxa de sucesso escolar

Foi assumido pelos signataacuterios da proposta de acccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do Ensino Superior ateacute ao ano 2010 que natildeo foi ainda alcanccedilado um niacutevel de

colaboraccedilatildeo pleno entre as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas e a UNTL

mantendo-se aqueacutem das actividades de cooperaccedilatildeo que tecircm vindo a ser desenvolvidas

com os PALOP Num exerciacutecio de autocriacutetica satildeo diagnosticadas neste documento as

falhas do actual modelo que resultam da ausecircncia de estruturas que viabilizem o

desenvolvimento sustentado da UNTL e lhe permitam atingir um grau de autonomia

desejaacutevel a meacutedio prazo soacute assim seraacute possiacutevel assegurar a continuidade dos cursos

ministrados actualmente pelas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas A meacutedio

prazo a sustentaccedilatildeo a cem por cento destes cursos tornar-se-aacute incomportaacutevel para as

instituiccedilotildees de ensino portuguesas aumentando o risco de perca de controlo do projecto

em sacrifiacutecio da qualidade

A questatildeo da qualidade dos cursos ministrados por Portugal em Timor eacute

assumida pelos proacuteprios timorenses como uma questatildeo essencial apesar de natildeo estarem

ainda criadas as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo Natildeo existe registo de nenhuma

acccedilatildeo desenvolvida para a avaliaccedilatildeo da qualidade ou planos que a viabilizem num

futuro proacuteximo quer da parte timorense quer da parte portuguesa Timor mostra-se no

entanto consciente dos benefiacutecios que um processo de avaliaccedilatildeo externa poderia trazer

agrave sua instituiccedilatildeo no entanto natildeo estatildeo ainda criadas as condiccedilotildees que permitam a

implementaccedilatildeo destes procedimentos tal como afirma o proacuteprio

ldquohellip uma consciecircncia geral de que se deve fazer uma avaliaccedilatildeo ao

ensino (hellip) e as discussotildees aahellip as pessoas reconhecem que esta

eacute uma das urgecircncias Agora eu devo dizer que para se comeccedilar

um processo de avaliaccedilatildeo teria primeiro de determinar os

paracircmetros Aqui devo dizer que a lei de bases do sistema

nacional em primeiro lugar deve ser oficializada estabelecida e

oficializada e depois a partir daiacute os regimentos acadeacutemicos que

um criteacuterio dehellip acreditaccedilatildeo portanto tem de haver o estabe-

lecimento de um padratildeo nacional e que esse padratildeo nacional seja

construiacutedo depois de um cruzamento de referecircncias a outros

contextos que para Timor fazem sentidordquo (Entrevista n ordm 5)

143

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Estes factos natildeo deveratildeo no entanto servir de argumento agraves instituiccedilotildees de

ensino portuguesas para a inexistecircncia de exerciacutecios de auto-avaliaccedilatildeo da componente

cientiacutefica e pedagoacutegica das suas actividades de ensino transnacional ainda que as

mesmas se insiram em programas de cooperaccedilatildeo como eacute o caso para as instituiccedilotildees de

ensino portuguesas estes procedimentos fazem hoje parte das suas actividades regulares

E a sua implementaccedilatildeo em acccedilotildees desta natureza soacute poderia trazer benefiacutecios para

ambas as partes Um ex-representante do CRUP e anterior governante considera sobre

este assunto que

ldquoUm programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo sistemaacutetica

e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um

programa exigente para as universidades e para os e para os

docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo depois da

experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo

querer continuar e portanto eacute um programa que vai ter que gerir

estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica (hellip) da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma

atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo regularhelliprdquo (Entrevista nordm 3)

Conclui-se tal como no caso de estudo anterior que natildeo existe qualquer

mecanismo de avaliaccedilatildeo de qualidade nem tatildeo pouco se vislumbra quando tal poderaacute

vir a acontecer quer da parte timorense quer da parte portuguesa Haacute apesar de tudo

uma consciecircncia dos benefiacutecios que tal sistematizaccedilatildeo de praacuteticas poderia trazer para

ambas as partes

Algumas das propostas concretas de acccedilatildeo a desenvolver que resultam de um

processo de reflexotildees empiacuterica desprovida portanto de uma base de sustentaccedilatildeo

cientiacutefica de anaacutelise do actual modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste para o ensino

superior reduz-se agraves seguintes medidas a adoptar no futuro da cooperaccedilatildeo portuguesa

neste domiacutenio

Selecccedilatildeo pela UNTL de candidatos para a frequecircncia de cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo mestrado e doutoramento a realizar em Portugal ou em Paiacuteses

144

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

de Liacutengua Oficial Portuguesa Seraacute dada prioridade aos candidatos

provenientes do corpo docente da UNTL

A frequecircncia da formaccedilatildeo poacutes-graduada seraacute precedida de um periacuteodo de

formaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa e adaptaccedilatildeo cultural ao paiacutes

Anualmente seratildeo concedidas bolsas de estudo pelo Estado Portuguecircs aos

cinco melhores alunos dos cursos da FUP em Timor para conclusatildeo da

licenciatura em Portugal na expectativa de que estes alunos possam vir a

ingressar futuramente no corpo docente da UNTL

Realizaccedilatildeo de cursos de formaccedilatildeo extraordinaacuterios de apenas um ano

para a obtenccedilatildeo da licenciatura dirigidos apenas aos alunos dos cursos de

bacharelato da FUP depois de estes terem jaacute realizado 2 anos de

experiecircncia profissional no mercado de trabalho

Elaboraccedilatildeo de um plano global de formaccedilatildeo de docentes da UNTL e

reformulaccedilatildeo da acccedilatildeo em curso com vista ao alcance dos objectivos

acima identificados

Redefiniccedilatildeo das modalidades de ensino da Liacutengua Portuguesa a partir de

um esquema de estreita colaboraccedilatildeo entre a FUP o Instituto Camotildees e a

UNTL com vista agrave optimizaccedilatildeo do ensino da Liacutengua Portuguesa a

docentes e discentes da UNTL

Iniacutecio do planeamento de um curso de Direito na UNTL com a

colaboraccedilatildeo das Instituiccedilotildees de Ensino Superior Portuguesas e nos

moldes de coordenaccedilatildeo actualmente em vigor

Atribuiccedilatildeo pelo Instituto Portuguecircs de Apoio ao Desenvolvimento

(IPAD) de bolsas internas aos alunos mais carenciados dos cursos da

FUP na UNTL permitindo deste modo diminuir a taxa de desistecircncia e

abandono

Concluiacuteda a anaacutelise do segundo caso de estudo estaremos em condiccedilotildees de

retirar algumas conclusotildees que no iniacutecio deste caso de estudo natildeo seriam mais do que

suposiccedilotildees resultantes de alguma sensibilidade empiacuterica De facto estaremos agora em

condiccedilotildees de afirmar com maior certeza que Timor Leste eacute um caso de cooperaccedilatildeo que

assume de factos algumas particularidades quando comparado com outros paiacuteses de

145

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Liacutengua Oficial Portuguesa daiacute receber por vezes um tratamento especial e

individualizado por parte do Governo Portuguecircs relativamente agraves poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo adoptadas Estas atenccedilatildeo especial que merece Timor Leste por parte de

Portugal eacute por exemplo verificaacutevel no programa de bolseiros timorenses que no

entanto natildeo faz parte deste estudo

A situaccedilatildeo de Timor Leste revestiu-se desde logo de um dramatismo invulgar

relativamente aos outros paiacuteses beneficiaacuterios mobilizando por isso a opiniatildeo puacuteblica

portuguesa e ateacute mundial pelos motivos atraacutes enumerados impocircs-se desde logo a

presenccedila fiacutesica portuguesa no territoacuterio uma presenccedila renovada e capaz de responder

eficazmente agraves necessidades mais imediatas Associado a este aspecto natildeo deveraacute ser

esquecido o que para Portugal viria a assumir uma importacircncia significativa no contexto

mundial a adopccedilatildeo do Portuguecircs como uma das liacutenguas oficiais de Timor Leste Esta

conjugaccedilatildeo de factores colocaram sobre Portugal uma enorme responsabilidade e a

obrigaccedilatildeo pelo menos moral de honrar os compromissos assumidos com Timor Leste

A especificidade deste estudo de caso e as particularidades que o processo de coope-

raccedilatildeo com este paiacutes apresenta satildeo reconhecidas por aqueles que de alguma forma estatildeo

ligados sob a forma de programas de cooperaccedilatildeo sendo um sentimento recorrente em

todos aqueles que estatildeo directamente ligados agraves acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo no

domiacutenio do ensino superior A afirmaccedilatildeo do coordenador cientiacutefico de um dos cursos da

FUP em Timor permite perceber todo o desenvolvimento do processo relativamente agrave

criaccedilatildeo dos cursos actualmente ministrados no territoacuterio

(hellip) Timor foi um caso especiacutefico houve toda aquelahellip o

dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve a

necessidade de responder a todas as necessidades entre as

quais a substituiccedilatildeo raacutepida do ensino indoneacutesio pelo ensino

universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim

Evidentemente que os cursos que noacutes FUP transnacionais que

noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de

entreter as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo

Ministro da Educaccedilatildeo o ex-Reitor ainda no Governo de transiccedilatildeo

etc tanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras

como vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as

146

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom parece-me que a gente

natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu

contexto transnacional ao fim de 25 anos da potecircncia colonial

Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das questotildees do Mundo 25

anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de

independecircncia E os cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se

noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos para

Aacutefrica era muito mais faacutecilhelliprdquo (Entrevista nordm 2)

Um membro do governo responsaacutevel pela implementaccedilatildeo das poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo natildeo tem duacutevidas em considerar que o projecto da FUP em Timor se reveste

de especial importacircncia uma vez que atende de forma eficaz a algumas das

necessidades imediatas do paiacutes no domiacutenio do ensino superior

ldquoEu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das

Universidades em Timor eacute um projecto extremamente importante e

tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da problemaacutetica

de Timor (hellip) haacute uma enorme responsabilidade que eventual-

mente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar portuguecircs e

pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e

pelo facto dos timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor

estarem profundamente empenhadas na manutenccedilatildeo do Portu-

guecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo

primeiro da sua identidade nacional Eacute da sua marca de diferenccedila

na regiatildeo (hellip) Portanto noacutes ao desenvolvermos um projecto de

ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em

Timor noacutes estamos simultaneamente estamos aquilo que eu lhe

disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia estrateacutegica do

portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde

Timor se insere Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo

a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a formaccedilatildeo de formadores

portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismordquo (Entrevista nordm 1)

Quanto ao modelo de leccionaccedilatildeo propriamente dito teraacute alguma relevacircncia

neste caso proceder-se a uma anaacutelise mais atenta do mesmo sendo um dos temas aqui

abordados a preocupaccedilatildeo com a qualidade do ensino transnacional nomeadamente o

147

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino promovido pelas instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas e tendo jaacute

sido aqui concluiacutedo que essas actividades de ensino transnacional satildeo integradas em

programas de cooperaccedilatildeo torna-se por isso pertinente analisar mais ao pormenor o

modelo de ensino praticado em Timor Leste Desde logo eacute um dado adquirido que os

cursos realizados em Timor agrave semelhanccedila do que acontece com Cabo Verde satildeo cursos

ministrados em formato de ldquopacotes de acccedilotildeesrdquo isto eacute Portugal proporciona ao paiacutes

beneficiaacuterio a execuccedilatildeo de todas as etapas envolvidas na criaccedilatildeo e execuccedilatildeo de um

curso exigindo deste uacuteltimo pouca ou nenhuma intervenccedilatildeo Esta postura por parte da

cooperaccedilatildeo portuguesa deveraacute ser contrariada devendo as acccedilotildees futuras ser

desenhadas de forma a que gradualmente a coordenaccedilatildeo e execuccedilatildeo dos cursos bem

como outras actividades associadas ao meio acadeacutemico como por exemplo a

investigaccedilatildeo cientiacutefica passem a ser da responsabilidade do paiacutes beneficiaacuterio neste caso

passariam a ser da competecircncia do corpo docente da UNTL A bem da verdade deveraacute

referir-se que as recentes recomendaccedilotildees por parte da Secretaria de Estado dos

Negoacutecios Estrangeiros e da Cooperaccedilatildeo vatildeo precisamente nesse sentido desconhe-

cendo-se sobre este aspecto qual a posiccedilatildeo do oacutergatildeo de tutela relativamente a Cabo

Verde e restantes PALOPs No entanto este processo de passagem gradual da

responsabilidade das actividades cientiacuteficas no domiacutenio do ensino superior que eacute como

quem diz promover o desenvolvimento sustentado da Universidade exige um

investimento financeiro e em termos de tempo que permita ao corpo docente da UNTL

preparar-se cientiacutefica e pedagogicamente para um ensino de qualidade Tambeacutem deveraacute

ser referido que o facto de estarmos perante um sistema de ensino dividido em

trimestres entre os quais o corpo docente portuguecircs eacute renovado pode gerar algum

desconforto nos alunos e periacuteodos de adaptaccedilatildeo de cada grupo de docentes renovado

que satildeo sem duacutevida contraproducentes no entanto as virtudes deste sistema para aleacutem

de ser o sistema possiacutevel que assegura que haja sempre candidatos permite o contacto

com uma diversidade de docentes com diferentes motivaccedilotildees interesses competecircncias

oferecendo agrave comunidade acadeacutemica de Timor a possibilidade de contactar com uma

grande diversidade de docentes portugueses

148

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A propoacutesito do modelo de leccionaccedilatildeo adoptado para Timor Leste o coor-

denador cientiacutefico de um dos cursos diz o seguinte

ldquoNatildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do

possiacutevel eacute o melhor modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute

muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo Verde era

exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de

quatro cursosrdquo(Entrevista nordm 2)

Quando questionado sobre o facto de estarem envolvidas todas as instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino superior em simultacircneo afirmou

ldquoAiacute eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o

modelo eacute quer dizer eacute igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo

Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees

deste modelo de Timor Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de

professores por um determinado espaccedilo temporal e a leccionaccedilatildeo

das cadeiras e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas

com as disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a

funcionar por partes ou por trimestres no fundo os modelos

aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor

modelo Permite o contacto interpessoal permite o acompa-

nhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar

mais tempo de conviacutevio entre professores e os alunos mas nas

condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de perma-

necircncia simplesmente as condiccedilotildees natildeo o permitem Evidente-

mente que eu acho que este modelo eacute o melhor do que o outro

modelo que temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute

deslocar soacute professores juniores e que normalmente satildeo pessoas

sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em

Cabo Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldadesrdquo

(Ibidem)

149

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Quanto agrave receptividade e aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense agrave

presenccedila portuguesa em Timor particularmente no que respeita agrave implementaccedilatildeo deste

programa pode dizer-se que a aceitaccedilatildeo por parte da comunidade timorense tem-se

revelado bastante positiva Os programas de ensino transnacional desta natureza satildeo

por norma integrados nos sistemas formais de ensino dos paiacuteses beneficiaacuterios como eacute o

caso Inicialmente registaram-se ecos de alguma desconfianccedila por parte do corpo

docente da UNTL que temiam pela continuidade da sua actividade profissional

sentindo-se ameaccedilados pela presenccedila de professores mais qualificados e experientes do

que eles proacuteprios No entanto essa questatildeo foi rapidamente ultrapassada e hoje a

presenccedila portuguesa na Universidade Nacional de Timor Leste eacute bem vinda e encarada

como uma mais valia para o desenvolvimento da instituiccedilatildeo Num passado recente

quando um membro do Governo se deslocou ao territoacuterio de Timor em visita oficial

reteve uma opiniatildeo bastante positiva sobre o programa e sobre a presenccedila de Portugal

em Timor Leste opiniatildeo essa retratada nas seguintes palavras

ldquo(hellip) aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi gente

muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma

realidade diferente com que tinham lidado portanto natildeo eram

problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as

perspectivas das pessoas que tendo relativamente pouca

experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria

experiecircncia que ainda era relativamente curta (hellip) Tambeacutem

encontrei um eco extremamente positivo do que estava a

acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma

manifestaccedilatildeo dos alunos da Universidade nacional de Timor Leste

a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a colaboraccedilatildeo dos nossos

docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso

estava a acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo

muito positiva da docecircncia dos cursos que a FUP laacute estava a

coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar (hellip)

pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e

que se tivesse o desenvolvimento que este tipo de valorizaccedilatildeo

implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuarrdquo

(Entrevista nordm 3)

150

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Opiniatildeo mais reservada sobre este assunto tem o coordenador de vaacuterias acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo nos PALOP e simultaneamente coordenador cientiacutefico de um curso em

Timor Leste para este docente e indo ao encontro de algumas conclusotildees jaacute aqui

assumidas evidencia-se um mal-estar inicial face agrave presenccedila portuguesa ainda que

ldquodisfarccediladordquo Esses indiacutecios de alguma resistecircncia satildeo no seu entender considerados

situaccedilotildees saudaacuteveis desde que esclarecidas e ultrapassadas por ambas as partes

envolvidas

ldquoHaacute sempre algumas formas de resistecircncia e ainda bem que haacute

quer dizer nos casos que eu conheccedilo bem nomeadamente Cabo

Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente que noacutes

integraacutemos alguns cabo Verdianos como professores mas haacute

sempre a uacuteltima tentativa de diversos quadros formados em

vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo-noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a

gente natildeo vai tirar nenhum mercado de trabalho queremos eacute sair

quando aquilo for sustentaacutevel etc E no caso de Timor conhece-se

alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com

os professores da chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute

estava que nos viam como invasores como tirar o mercado de

trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existirrdquo

(Entrevista nordm 2)

Ambos os paiacuteses como se viu podem retirar vantagens das relaccedilotildees bilaterais

que estabelecem no entanto parece evidente que Timor Leste na qualidade de paiacutes

receptor e beneficiaacuterio teraacute sempre mais a ganhar do que Portugal nesta conjugaccedilatildeo de

interesses O facto do ensino transnacional desenvolvido por Portugal em Timor se

encontrar integrado num programa de cooperaccedilatildeo e a sua coordenaccedilatildeo estar centralizada

numa uacutenica entidade afasta agrave partida a hipoacutetese destas acccedilotildees serem levadas a cabo por

eventuais interesses econoacutemicos no entanto natildeo poderaacute ser esquecido que o ensino

superior atravessa actualmente uma fase difiacutecil em Portugal e na Europa e este poderaacute

ser um caminho para algumas instituiccedilotildees de ensino superior As vantagens para as

instituiccedilotildees envolvidas em projectos desta natureza satildeo no entender dos proacuteprios

151

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

docentes extraordinaacuterias particularmente ao niacutevel do enriquecimento pessoal e

desenvolvimento das relaccedilotildees interpessoais entre actores intervenientes

ldquoTudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro

vantagens extraordinaacuterias E as vantagens que satildeo extraor-

dinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos da

FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos professores agraves escolas agraves

universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se

durar uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de

investigaccedilatildeo conjunta as trocas conjuntas os seminaacuterios etc

Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro eacute

um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem

natildeo tecircm relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de

desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para a

Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura

portuguesa (hellip)rdquo (Entrevista nordm 2)

4125 Pontos Fortes do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fortes

O sector da educaccedilatildeo eacute considerado prioritaacuterio nas poliacuteticas de

cooperaccedilatildeo portuguesa para Timor Leste

Aposta na formaccedilatildeo no domiacutenio do ensino superior em aacutereas

estrateacutegicas para o desenvolvimento sustentado

Forte envolvimento das autoridades timorenses e representantes do

ensino superior timorense no programa nomeadamente na definiccedilatildeo das

aacutereas estrateacutegicas de formaccedilatildeo no planeamento das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

a implementar identificaccedilatildeo dos candidatos a bolsas de graduaccedilatildeo e poacutes-

-graduaccedilatildeo

152

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Grande esforccedilo da parte de Portugal para o fortalecimento da Liacutengua

Portuguesa na comunidade acadeacutemica

Pela primeira vez na histoacuteria da cooperaccedilatildeo portuguesa neste domiacutenio

existe uma instituiccedilatildeo que coordena todas as actividades de cooperaccedilatildeo

neste domiacutenio permitindo um maior controlo das acccedilotildees desenvolvidas

Natildeo existe sobreposiccedilatildeo de projectos

Manifesto envolvimento dos representantes das instituiccedilotildees de ensino

superior de ambos os paiacuteses

Pela primeira vez em Portugal todas as instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas portuguesas estatildeo envolvidas no mesmo projecto de cooperaccedilatildeo

Planeamento estrateacutegico que visa o aumento do investimento na

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando o corpo docente da UNTL como

meio de apoiar o desenvolvimento sustentado

Formaccedilatildeo superior em ciclos de trecircs anos com a possibilidade de

regresso agrave universidade para conclusatildeo da licenciatura apoacutes um periacuteodo

de experiecircncia profissional

Adaptaccedilatildeo dos curricula dos cursos ao contexto soacutecio-cultural do puacuteblico

a que se destinam

Garantia de padrotildees miacutenimos de qualidade do ensino ministrado dado

tratar-se de instituiccedilotildees promotoras que estatildeo integradas nas estruturas

formais de ensino no paiacutes de origem e portanto sujeitas a avaliaccedilatildeo de

qualidade

Adequada poliacutetica de concessatildeo de bolsas de estudo a implementar num

futuro proacuteximo

4126 Pontos Fracos do modelo de cooperaccedilatildeo portuguesa com Timor Leste no domiacutenio do ensino superior

Da anaacutelise do modelo de cooperaccedilatildeo para o ensino superior retiram-se os

seguintes Pontos Fracos

Ausecircncia de qualquer compromisso de cooperaccedilatildeo firmado entre ambas

as partes neste domiacutenio

153

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ausecircncia de instrumentos tais como relatoacuterios de auto-avaliaccedilatildeo planos

de actividades ou relatoacuterios de actividades que permitam proceder a um

correcto planeamento estrateacutegico das actividades e acccedilotildees a desenvolver

Inexistecircncia de uma comissatildeo de acompanhamento que legitime as

acccedilotildees a implementar no quadro do Programa de Cooperaccedilatildeo Global

Ausecircncia de mecanismos de avaliaccedilatildeo da qualidade do ensino trans-

nacional

Indefiniccedilatildeo quanto ao reconhecimento de graus acadeacutemicos e equiva-

lecircncias da certificaccedilatildeo

Niacutevel de desenvolvimento da Liacutengua Portuguesa na comunidade acadeacute-

mica ainda aqueacutem das expectativas

Niacutevel de desenvolvimento cientiacutefico do corpo docente da UNTL ainda

abaixo do desejaacutevel

Cursos de bacharelato em sistema de ldquopacoterdquo sendo desejaacutevel um au-

mento progressivo do envolvimento do corpo docente da UNTL

Nuacutemero de alunos nos cursos ministrados por Portugal pouco expressivo

face ao universo dos estudantes da UNTL

154

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

42 Conclusotildees e Recomendaccedilotildees

Concluiacuteda a anaacutelise comparativa dos dois casos de estudo resta tecer algumas

consideraccedilotildees e sintetizar alguns dos principais problemas identificados propondo

algumas recomendaccedilotildees que visam contribuir para a melhoria da qualidade dos modelos

de cooperaccedilatildeo portuguesa no domiacutenio do ensino superior com o fim uacuteltimo de

optimizar e potencializar ao maacuteximo o investimento realizado

Em primeiro lugar torna-se desde logo evidente que o modelo de cooperaccedilatildeo

implementado para Cabo Verde eacute claramente mais susceptiacutevel de originar sobreposiccedilotildees

de acccedilotildees e programas de cooperaccedilatildeo comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Timor Leste Este uacuteltimo por estar centralizado numa instituiccedilatildeo coordenadora

seraacute eventualmente mais eficiente do que o primeiro em termos organizativos e planifi-

cadores

Este modelo de trabalho poderaacute servir de exemplo agrave futura organizaccedilatildeo

estrateacutegica da cooperaccedilatildeo portuguesa uma vez que segundo um dos responsaacuteveis poliacuteti-

cos pela cooperaccedilatildeo estaacute em estudo a criaccedilatildeo em Portugal de um nuacutecleo que serviraacute de

mecanismo articulador e oacutergatildeo coordenador das actividades de cooperaccedilatildeo pressupon-

do-se a existecircncia de um nuacutecleo com as mesmas funccedilotildees em cada paiacutes receptor Prevecirc-

se com esta medida evitar a duplicaccedilatildeo de projectos promovendo antes a sua comple-

mentaridade Haacute no entanto a consciecircncia de que uma dinacircmica organizativa com estas

caracteriacutesticas natildeo seraacute faacutecil de alcanccedilar e portanto a sua implementaccedilatildeo efectiva

poderaacute levar ainda algum tempo a concretizar ateacute porque eacute difiacutecil aos paiacuteses bene-

ficiaacuterios disporem de estruturas exclusivamente para estes fins

No caso de Cabo Verde e dos restantes PALOP o risco de sobreposiccedilatildeo de

projectos apenas seraacute evitado quando as entidades financiadoras que satildeo simultanea-

mente a tutela adoptarem uma poliacutetica que condicione a atribuiccedilatildeo de financiamento a

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo afectas a projectos que estejam integrados num plano estrateacutegico

concebido para cada paiacutes beneficiaacuterio e alargado a todas as aacutereas Soacute desta forma seraacute

possiacutevel controlar as actividades desenvolvidas em cada aacuterea de intervenccedilatildeo apesar de

ser verdade que ainda assim acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que disponham de financiamento

proacuteprio continuaratildeo a realizar-se agrave margem deste controlo

155

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A promoccedilatildeo de ligaccedilotildees inter-institucionais eacute igualmente desejaacutevel de forma a

permitir o estreitar de laccedilos entre a comunidade acadeacutemica e cientiacutefica no fundo trata-

se de agrave semelhanccedila do que se verifica actualmente na Europa promover a mobilidade

na comunidade acadeacutemica envolvendo os vaacuterios actores do processo Na praacutetica esta

situaccedilatildeo pressupotildee a realizaccedilatildeo de acordos eou protocolos de cooperaccedilatildeo entre as

instituiccedilotildees sempre que integrados num contexto de actuaccedilatildeo mais lato da poliacutetica

governamental

De notar que as instituiccedilotildees de ensino superior que promovem regularmente

acccedilotildees de cooperaccedilatildeo com Cabo Verde revelam jaacute alguma consciecircncia quanto agrave

necessidade de um planeamento estrateacutegico futuro destas actividades neste aspecto as

actividades de cooperaccedilatildeo desenvolvidas em Timor Leste encontram-se numa fase mais

inicial Por norma a cooperaccedilatildeo portuguesa carece de um trabalho sustentado de

planificaccedilatildeo das suas acccedilotildees Eacute necessaacuterio que num futuro proacuteximo se criem

mecanismos que permitam planificar as acccedilotildees a desenvolver no acircmbito de um

Programa de Cooperaccedilatildeo desenhado para cada paiacutes o estabelecimento de metas tempo-

rais e a definiccedilatildeo de objectivos e acima de tudo a identificaccedilatildeo das instituiccedilotildees finan-

ciadoras e das entidades executantes de cada acccedilatildeo A elaboraccedilatildeo destes instrumentos

deveraacute ser preferencialmente realizada por peritos especializados em cada sector de

actividade Estes seratildeo no futuro instrumentos essenciais para o sucesso da Coope-

raccedilatildeo Portuguesa nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

Apesar do modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revelar pela primeira vez

uma intenccedilatildeo de congregaccedilatildeo de esforccedilos e centralizaccedilatildeo das actividades cooperaccedilatildeo

numa soacute instituiccedilatildeo (neste caso concreto esse papel eacute assumido pela Fundaccedilatildeo das

Universidades Portuguesas) eacute ainda assim desejaacutevel a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo onde

estejam representados ambos os paiacuteses envolvidos nomeadamente representantes de

todas as instituiccedilotildees envolvidas Este oacutergatildeo teria como competecircncia para aleacutem da

monitorizaccedilatildeo das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo implementadas planificar avaliar e regular

todo o trabalho desenvolvido Os dispositivos de monitorizaccedilatildeo satildeo instrumentos

fundamentais para o garante de uma articulaccedilatildeo eficaz dos projectos e que infelizmente

tecircm sido ignorados No caso particular de Cabo Verde houve uma tentativa falhada de

atribuir esse papel agrave Comissatildeo Paritaacuteria que no entanto se revelou incapaz de

desempenhar essa tarefa eficazmente talvez pelo facto das instituiccedilotildees de ensino

156

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

beneficiaacuterias que neste caso seriam as entidades mais directamente interessadas natildeo

estarem representadas nesta Comissatildeo O Acordo de Cooperaccedilatildeo para 2003 ao prever a

constituiccedilatildeo de uma nova Comissatildeo Paritaacuteria assente basicamente nos mesmos objecti-

vos que a anterior deveraacute ter em atenccedilatildeo as fragilidades reveladas pelo trabalho desen-

volvido pela anterior Comissatildeo que claramente natildeo alcanccedilou as metas a que se propocircs

Uma outra preocupaccedilatildeo a reter eacute o facto de nos futuros programas dever ser

observado um esforccedilo de articulaccedilatildeo das vaacuterias iniciativas sempre que se trate de

acccedilotildees do mesmo domiacutenio procurando desta forma garantir a convergecircncia de esforccedilos

de cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees O modelo de cooperaccedilatildeo com Timor Leste revela jaacute

algumas preocupaccedilotildees desta natureza uma vez que todas as instituiccedilotildees de ensino

superior puacuteblico se vecircem pela primeira vez envolvidas num mesmo projecto de

cooperaccedilatildeo A autonomia administrativa e financeira de que gozam as instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblicas portuguesas poderaacute ser uma dificuldade acrescida agrave jaacute difiacutecil

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo como aquela que aqui se defende no

entanto deveratildeo ser envidados esforccedilos de sensibilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino para

os benefiacutecios que tal procedimento poderaacute trazer para a cooperaccedilatildeo no futuro

A efectivar-se um processo de reestruturaccedilatildeo e mudanccedila natildeo deveraacute ser

esquecido um aspecto fundamental que a curto prazo deveraacute fazer parte dos

procedimentos regulares a questatildeo da qualidade Idealmente este conceito deveria

caracterizar os modelos de ensino superior transnacional portugueses cabendo aos

paiacuteses receptores a implementaccedilatildeo de mecanismos que assegurem os padrotildees miacutenimos

de qualidade Apesar deste procedimento de regulaccedilatildeo das actividades ser desejaacutevel

conclui-se pela documentaccedilatildeo consultada e pelos testemunhos que os mecanismos de

avaliaccedilatildeo de qualidade satildeo totalmente inexistentes Eacute um facto que nos casos de estudo

aqui considerados as instituiccedilotildees de ensino superior envolvidas estatildeo integradas nos

sistemas de ensino formais do seu paiacutes logo estatildeo ciclicamente sujeitas a processos de

avaliaccedilatildeo externa o que confere a estas acccedilotildees transnacionais agrave partida o garante de

que seratildeo assegurados padrotildees miacutenimos de qualidade por outro lado o corpo docente eacute

maioritariamente constituiacutedo por professores com elevados niacuteveis de qualificaccedilatildeo

acadeacutemica e cientiacutefica e alguns anos de experiecircncia de ensino

O reconhecimento dos diplomas eacute uma questatildeo importante que muitas vezes

acaba por ser relegada para segundo plano No trabalho de pesquisa realizado nunca o

157

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

processo de reconhecimento de graus eacute totalmente esclarecido por parte das partes

envolvidas No caso de Timor Leste por exemplo eacute referido pelo Reitor que a

atribuiccedilatildeo dos graus acadeacutemicos seraacute da competecircncia da proacutepria UNTL natildeo deixando

no entanto de reconhecer a importacircncia que teria para as partes envolvidas encontrar-se

um mecanismo conjunto de atribuiccedilatildeo de graus No caso especifico de Cabo Verde eacute

referido claramente que o reconhecimento na Europa dos graus acadeacutemicos serve

apenas para efeitos de prosseguimento de estudos sendo da competecircncia das ordens

profissionais o reconhecimento para efeitos de exerciacutecio da profissatildeo Esta questatildeo

merece alguma clarificaccedilatildeo no futuro sendo desejaacutevel o estabelecimento e a definiccedilatildeo

das regras antes do iniacutecio das acccedilotildees

Segundo as autoridades governamentais portuguesas eacute poliacutetica nacional manter

as actividades de cooperaccedilatildeo portuguesa com ambos os paiacuteses analisados no entanto eacute

necessaacuterio que a curto prazo essas actividades deixem de fazer-se com base no

voluntarismo Natildeo se pretende com isto defender a profissionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

mas antes a profissionalizaccedilatildeo e a formaccedilatildeo especiacutefica de quem planeia e coordena estas

acccedilotildees Eacute preciso que rapidamente seja realizado um estudo cientiacutefico exaustivo das

necessidades destes paiacuteses no domiacutenio do ensino superior e a partir desse instrumento

estabelecer um plano de acccedilatildeo que seja efectivamente cumprido ateacute ao fim O sector

empresarial poderaacute constituir um importante aliado que natildeo deveraacute ser ignorado uma

vez que envolvendo as empresas que se encontram a actuar nestes paiacuteses poderatildeo

estabelecer-se importantes laccedilos que de futuro seratildeo fundamentais para o

desenvolvimento destes paiacuteses Eacute de registar positivamente a perspectiva de criaccedilatildeo de

um nuacutecleo nacional coordenador da cooperaccedilatildeo que a concretizar-se poderaacute vir a

imprimir um cunho de rigor e coerecircncia aos futuros programas ao mesmo tempo que

possibilitaraacute a observacircncia dos procedimentos desejaacuteveis nomeadamente ao niacutevel da

avaliaccedilatildeo da qualidade e da sustentabilidade

Conclui-se que em sobreposiccedilatildeo agraves poliacuteticas de cooperaccedilatildeo governamentais para

o apoio ao desenvolvimento dos Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa no sector da

educaccedilatildeo e particularmente no domiacutenio do ensino superior mais do que motivaccedilotildees de

ordem econoacutemica ou estrateacutegica o princiacutepio da solidariedade entre paiacuteses com fortes

laccedilos culturais e afectivos eacute talvez a motivaccedilatildeo mais presente no ensino superior

transnacional em Portugal

158

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

CONCLUSOtildeES FINAIS

Em jeito de conclusatildeo tecem-se algumas consideraccedilotildees finais sobre os modelos

de cooperaccedilatildeo analisados no sentido de aferir em que medida eacute que estes reflectem

algumas das questotildees e problemaacuteticas relacionadas com o ensino transnacional aborda-

das no enquadramento teoacuterico introdutoacuterio

As poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas que determinam o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde no domiacutenio do ensino superior satildeo condicionadas por factores de natu-

reza soacutecio-econoacutemica do paiacutes beneficiaacuterio um dos factores mais significativos que

recentemente tem tido bastante peso eacute o aumento gradual do nuacutemero de candidatos aos

estabelecimentos de ensino superior cabo-verdianos Consciente deste fenoacutemeno a

cooperaccedilatildeo portuguesa tecircm vindo a ajustar progressivamente a sua poliacutetica de

cooperaccedilatildeo a esta realidade diminuindo o nuacutemero de bolsas de estudo para formaccedilatildeo

graduada no exterior aumentando por outro lado proporcionalmente os apoios conce-

didos para a melhoria dos recursos internos ou aumentando o nuacutemero de bolsas para

formaccedilatildeo poacutes-graduada privilegiando desta feita professores das instituiccedilotildees de ensino

superior Este reposicionamento de Portugal sobre a poliacutetica de cooperaccedilatildeo pode ser

interpretada como uma tentativa de adopccedilatildeo de medidas que conduzam mais

rapidamente ao desenvolvimento sustentado das estruturas de ensino dos paiacuteses benefi-

ciaacuterios apesar dessa natildeo ser ainda uma realidade no caso das instituiccedilotildees de ensino

superior cabo-verdianas

A desadequaccedilatildeo de alguns dos cursos ministrados face agraves reais necessidades do

paiacutes acresce a outros factores desfavoraacuteveis para o sucesso do programa de cooperaccedilatildeo

para o ensino superior como eacute exemplo concreto o facto de continuar por instalar e

regulamentar a Universidade de Cabo Verde o que de resto tem contribuiacutedo fortemente

para atrasar o desenvolvimento e a autonomia do paiacutes neste domiacutenio

Espera-se que o Acordo de Cooperaccedilatildeo de 2003 permita acelerar o desenvol-

vimento do sector uma vez que se trata de um Acordo inovador na medida em que

159

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

apela ao recurso a ferramentas de trabalho ligadas agraves novas tecnologias postas agrave

disposiccedilatildeo pela nova sociedade de informaccedilatildeo As orientaccedilotildees deste acordo referem as

novas tecnologias como forma de proporcionar um sistema de ensino e aprendizagem

alternativo eou complementar (e-learning) que permita assegurar o niacutevel de qualidade

e que sirva simultaneamente para ajudar a diminuir o fluxo de emigraccedilatildeo e ldquofuga de

ceacuterebrosrdquo As medidas de incentivo agrave fixaccedilatildeo de residentes no paiacutes de origem revelam-

se essenciais para que o investimento nas estruturas de ensino e para o desenvolvimento

possam ter os efeitos desejados

O estudo de caso de Timor Leste apresenta uma realidade de contornos

diferentes sendo a instituiccedilatildeo de ensino superior de referecircncia nacional a UNTL Esta

instituiccedilatildeo encontra-se fortemente implantada nos sistemas formais de ensino do paiacutes

paiacutes que adquiriu jaacute uma dinacircmica e uma cultura acadeacutemica muito proacuteprias Neste caso

as acccedilotildees de cooperaccedilatildeo revestem-se de maior complexidade e os seus resultados

podem ser mais consequentes uma vez que estaacute em jogo a afirmaccedilatildeo perante a

comunidade acadeacutemica a sociedade civil e as estruturas governamentais da cultura de

ensino europeia onde a liacutengua se por um lado desempenha um papel fundamental de

demarcaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo cultural por outro revela-se um dos principais obstaacuteculos ao

sucesso das acccedilotildees de cooperaccedilatildeo

O Modelo de Cooperaccedilatildeo com Timor Leste apesar de apresentar igualmente

fragilidades tem algumas vantagens comparativamente com o modelo de cooperaccedilatildeo

para Cabo Verde Na verdade o princiacutepio natildeo deixa de ser o mesmo apesar de ser de

notar uma intervenccedilatildeo mais directa por parte das autoridades timorenses na definiccedilatildeo

das acccedilotildees a implementar na identificaccedilatildeo das aacutereas de intervenccedilatildeo prioritaacuterias na

reflexatildeo que conduz aos ajustamentos entretanto realizados entre outros

Em suma considera-se que as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo portuguesas para a edu-

caccedilatildeo particularmente no domiacutenio do ensino superior revelam ainda fragilidades que a

serem corrigidas permitiriam uma maior potencializaccedilatildeo do investimento

Partindo do pressuposto que no domiacutenio do ensino superior a cooperaccedilatildeo passa

essencialmente pelas iniciativas de instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas poderaacute

questionar-se sobre quais os benefiacutecios que estas instituiccedilotildees retiram destas acccedilotildees Na

verdade uma conclusatildeo poderaacute desde logo ser retirada natildeo se trata de razotildees de ordem

cientiacutefica natildeo seraacute a busca de novas aacutereas de conhecimento nem a perspectiva do

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

fortalecimento da investigaccedilatildeo cientiacutefica nem tatildeo pouco seraacute a perspectiva de poder vir

a melhorar a qualidade do ensino praticado (melhor desempenho do corpo docente

novas linhas de trabalho mobilidade discente) As afinidades culturais e as raiacutezes

histoacutericas poderatildeo ser invocados como factores decisivos apesar da introduccedilatildeo de

novos modelos de ensinoaprendizagem ter aberto agrave cooperaccedilatildeo outros horizontes no

domiacutenio do ensino superior Haacute uma forte componente de aprendizagem transcultural

que se revela um elemento bastante motivador e enriquecedor para os intervenientes

Por outro lado o crescimento dos sistemas de ensino superior na Europa e a

diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos tem vindo a aumentar o niacutevel de competiccedilatildeo entre

instituiccedilotildees O fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo aliado ao processo de Bolonha traz novos

desafios resultantes da abertura das fronteiras e do alargamento do sector da educaccedilatildeo a

um mercado concorrencial que se vislumbra cada vez mais agressivo As instituiccedilotildees de

ensino superior puacuteblico portuguesas conscientes das inevitaacuteveis dificuldades que se

avizinham de entre as quais se destacam a ausecircncia de acccedilotildees que impulsionem a sua

internacionalizaccedilatildeo europeia for-profit e a busca de novos puacuteblicos internacionais satildeo

forccediladas a procurar alternativas de expansatildeo apostando por motivos de afinidade

cultural em acccedilotildees de cooperaccedilatildeo em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa com a

vantagem acrescida de muitas dessa acccedilotildees estarem integrados em programas

governamentais financiados A inclusatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS a concretizar-

se viraacute contribuir para acentuar algumas das dificuldades jaacute existentes uma vez que a

introduccedilatildeo da educaccedilatildeo num mercado global sujeito agraves leis da oferta e da procura iraacute

segundo os prognoacutestico de Jane Knight intensificar ainda mais a necessidade de apostar

em acccedilotildees transfronteiriccedilas for-profit

Apesar de tudo haacute que ter presente que natildeo seratildeo decerto apenas motivaccedilotildees de

ordem estritamente econoacutemica ou de sobrevivecircncia que levam as instituiccedilotildees de ensino

superior portuguesas a apostar na cooperaccedilatildeo mas tambeacutem o vislumbre de uma porta

que lhes confira a possibilidade de conquistar novos puacuteblicos ou a possibilidade de

alcanccedilar maior visibilidade e projecccedilatildeo noutros paiacuteses Natildeo poderemos ainda assim

negar que o lucro ou o alcance de formas de financiamento alternativos satildeo questotildees agraves

quais natildeo satildeo indiferentes as instituiccedilotildees de ensino superior No entanto estas acccedilotildees

natildeo se caracterizam propriamente por uma poliacutetica de ldquofranchisingrdquo ainda para mais

161

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

porque a transnacionalizaccedilatildeo de ensino superior portuguecircs com fins meramente

mercantilistas estaacute particularmente associada a instituiccedilotildees de ensino superior privadas

Uma das preocupaccedilotildees que num passado recente recaiacutea recorrentemente sobre

o ensino transnacional era a ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo

constatando-se que essa lacuna permanece natildeo havendo efectivamente referecircncias a

qualquer tipo de oacutergatildeo ou mecanismo que regule ou avalie a qualidade das acccedilotildees de

cooperaccedilatildeo realizadas neste sector Verifica-se que da parte dos paiacuteses receptores natildeo

estatildeo criadas as condiccedilotildees necessaacuterias para que esse processo de regulaccedilatildeo e controlo

possa partir deles proacuteprios apesar da maioria dos projectos se encontrar integrado nas

estruturas formais de ensino do paiacutes receptor O uacutenico garante de que satildeo respeitados

padrotildees miacutenimos de qualidade eacute o facto das instituiccedilotildees puacuteblicas que promovem acccedilotildees

de cooperaccedilatildeo se encontrarem integradas nos sistemas formais dos seus proacuteprios paiacuteses

e portanto sujeitas a processos ciacuteclicos de avaliaccedilatildeo de qualidade Esta premissa

garante agrave partida um niacutevel de qualidade miacutenimo ao ensino transnacional por elas

praticado Natildeo deixa apesar de tudo de continuar a existir uma lacuna nos processos de

avaliaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo das actividades de ensino transnacionais portuguesas Seria

desejaacutevel a sujeiccedilatildeo destes projectos a processos de avaliaccedilatildeo de qualidade externos

quer atraveacutes da adesatildeo a agecircncias internacionais criadas para o efeito quer pela criaccedilatildeo

de mecanismos no paiacutes receptor com esses fins Um outro mecanismo de regulaccedilatildeo que

poderaacute sempre vir a ser implementado em alternativa e como princiacutepio de um

procedimento mais rigoroso seria a criaccedilatildeo de comissotildees internas de auto-avaliaccedilatildeo

constituiacutedas por docentes das vaacuterias aacutereas que periodicamente reflictam e auto-avaliem

o trabalho desenvolvido nas faculdades face aos objectivos traccedilados e aos resultados

alcanccedilados

Segundo as teorias de Neave (Neave 1997) haacute uma necessidade premente em

assegurar o retorno e a fixaccedilatildeo dos jovens licenciados nos paiacuteses menos favorecidos de

modo a promover o desenvolvimento e a consequentemente diminuiccedilatildeo das assimetrias

regionais conclui-se assim que as novas orientaccedilotildees das poliacuteticas de cooperaccedilatildeo

caminham nesse sentido reduzindo os apoios concedidos para formaccedilatildeo no exterior e

intensificando os apoios ao desenvolvimento interno De igual modo parece haver uma

preocupaccedilatildeo na preservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos valores universitaacuterios por parte das

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior reflectida numa aposta na preparaccedilatildeo cientiacutefica

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

do corpo docente dotando as instituiccedilotildees de recursos humanos e meios teacutecnicos que

permitam o seu desenvolvimento futuro

Por uacuteltimo caberaacute aos paiacuteses receptores a funccedilatildeo de regular no sentido de evitar

no futuro o asfixiamento das suas proacuteprias estruturas formais de ensino por parte do

ensino transnacional Esta postura de defesa e preservaccedilatildeo das suas estruturas formais

de ensino exige da parte destes paiacuteses um elevado grau de discernimento o que nem

sempre eacute conseguido A posiccedilatildeo de fragilidade em que se encontram perante os paiacuteses

dadores conduz muitas vezes a uma passividade exagerada e contraproducente que

deveraacute ser combatida

Haacute duas questotildees fundamentais que importa reter deste trabalho a primeira eacute

que natildeo existe actualmente nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas uma poliacutetica

concertada de internacionalizaccedilatildeo a segunda questatildeo fundamental a reter eacute o facto de

natildeo existir em Portugal uma estrateacutegica poliacutetica de cooperaccedilatildeo no sector da educaccedilatildeo e

particularmente no domiacutenio do ensino superior

Concretizando a primeira questatildeo constata-se pelo presente trabalho que as

instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas portuguesas revelam uma poliacutetica de

planificaccedilatildeo e execuccedilatildeo das suas actividades transfronteiriccedilas fraacutegil e pouco articulada

Eacute necessaacuterio criar mecanismos que permitam uma efectiva internacionalizaccedilatildeo das

instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas realizada de forma concertada e proacute-activa

que natildeo tem necessariamente por passar apenas pelos paiacuteses de Liacutengua Oficial

Portuguesa eacute preciso apostar igualmente noutros caminhos noutras formas de interna-

cionalizaccedilatildeo Satildeo muitas e aliciantes as vantagens que as instituiccedilotildees podem retirar de

um processo de internacionalizaccedilatildeo o proacuteprio facto de se criar um ambiente interna-

cionalizado numa instituiccedilatildeo por si soacute eacute uma mais valia para os actores envolvidos

Isto para natildeo falar nos interessantes proveitos financeiros de que poderaacute beneficiar uma

instituiccedilatildeo de ensino que esteja aberta a um universo transnacional de largo espectro

A segunda questatildeo vem validar a hipoacutetese de partida uma vez que foi aqui amplamente

provado que natildeo existe em Portugal uma estrateacutegia da cooperaccedilatildeo que a partir da

criaccedilatildeo de mecanismos de anaacutelise baseados em estudos cientiacuteficos permitam agraves

entidades financiadoras planear definir objectivos e garantir a eficaacutecia do investimento

nas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees de ensino superior apostarem na realizaccedilatildeo

de um ensino transnacional concertado e direccionado para determinados fins

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

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Universidade de Aveiro 2006

Secccedilatildeo Autoacutenoma de Ciecircncias Sociais Juriacutedicas e Poliacuteticas

Moacutenica Pimentel

Modelos de Cooperaccedilatildeo Portuguesa Para o Ensino Superior

ANEXOS

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO I

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 1

(Dirigido a responsaacuteveis pelo planeamento e execuccedilatildeo das Poliacuteticas de Cooperaccedilatildeo Portuguesa no sector do ensino superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo O ensino transnacional eacute portanto um fenoacutemeno que natildeo eacute novo tendo jaacute sido experimentado pela maioria das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas Com base neste pressuposto 1 Eacute comum as instituiccedilotildees de ensino superior promotoras de ensino transnacional

identificarem como principais benefiacutecios a retirar destas actividades factores como a evoluccedilatildeo de desempenho do seu corpo docente e discente o desenvolvimento curricular e cientiacutefico a aprendizagem transcultural Acha que nas instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas estes benefiacutecios tecircm vindo a ser alcanccedilados atraveacutes da promoccedilatildeo do ensino transnacional

2 Acha que o aumento exponencial do Ensino Superior Transnacional eacute resultante do aumento

da competitividade do mercado de ensino europeu e mundial

21 Como vecirc o futuro das instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas face agrave tendecircncia para o crescimento descontrolado do Ensino Superior Transnacional agrave escala mundial Quer enquanto receptoras quer enquanto promotoras de ensino

3 Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de

informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a substituir o ensino presencial no ensino transnacional

4 Como encara este modelo de ensino aprendizagem nos paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa 5 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes pela

ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica ao(s) caso(s) de TimorCabo Verde

6 Qual a poliacutetica de cooperaccedilatildeo portuguesa de cooperaccedilatildeo para o sector da educaccedilatildeo 7 Tendo como exemplo o modelo Australiano no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional que se encontrava fora dos sistemas formais como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado acha que este modelo de actuaccedilatildeo poderia funcionar em paiacuteses como Cabo Verde ou Timor-Leste

8 Como vecirc a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos que levem o ensino transnacional a

submeter-se a processos de avaliaccedilatildeo e agrave posterior integraccedilatildeo nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes ldquohospedeirordquo

9 Em que ano Portugal comeccedilou a praticar ensino transnacional em Timor Leste

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 10 O Governo timorense teve intervenccedilatildeo na selecccedilatildeo das aacutereas de formaccedilatildeo do ensino

transnacional A selecccedilatildeo dos cursos a ministrar foi baseada em algum estudo avaliativo no sentido de identificar as aacutereas prioritaacuterias em funccedilatildeo das reais necessidades do paiacutes (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

11 Como avalia os efeitos do ensino transnacional portuguecircs em Timor nomeadamente no

desenvolvimento cultural cientiacutefico e econoacutemico do paiacutes 12 Qual tem sido a receptividadereacccedilatildeo dos sistemas de ensino formais ao ensino

transnacional 13 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO II

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Guiatildeo de Entrevista 2

(Dirigido a autoridades Timorenses com responsabilidades no Sector do Ensino Superior)

O Ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 embora tenha assumido ao longo dos anos diferentes nomenclaturas como seja ldquointernacionalizaccedilatildeo do ensinordquo ou ldquodesenvolvimento da internacionalizaccedilatildeo da cooperaccedilatildeordquo Fruto do raacutepido desenvolvimento dos meios de comunicaccedilatildeo surge a nova sociedade de informaccedilatildeo tornando-se inevitaacutevel a adesatildeo das instituiccedilotildees de ensino a esta nova realidade 1 Pensa que a curtomeacutedio prazo os modelos de ensino agrave distacircncia (e-learning) possam vir a

substituir o ensino presencial no ensino transnacional

11 Como vecirc a aplicaccedilatildeo deste modelo de ensino aprendizagem em Timor-Leste Existe algum projecto nesta aacuterea em funcionamento

2 O ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia muitas vezes

devido agrave ausecircncia de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo O que pensa desta afirmaccedilatildeo Acha que ela se aplica a Timor-Leste

21 O que pensa da aplicaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controlo por parte das

estruturas formais de regulaccedilatildeo dos paiacuteses hospedeiros ao ensino transnacional 3 Quais julga serem as verdadeiras motivaccedilotildees que levam as instituiccedilotildees de ensino de paiacuteses

desenvolvidos a promoverem ensino transnacional em paiacuteses em desenvolvimento (questotildees econoacutemicas ou cooperaccedilatildeo)

4 Tomando como exemplo o modelo Australiano [no qual as estruturas de ensino formais

acabaram por absorver o ensino transnacional como forma de mecanismo regulador do ensino ministrado] acha que este modelo seria adequado para Timor-Leste

5 Acha que seria positivo a introduccedilatildeo gradual de mecanismosincentivos de avaliaccedilatildeo do

ensino transnacional tendo como contrapartida a integraccedilatildeo destes nos sistemas de ensino oficiais do paiacutes hospedeiro

6 No periacuteodo poacutes-ocupaccedilatildeo em que ano comeccedilou ser praticado ensino transnacional em

Timor- Leste 7 Quais os paiacuteses que estatildeo actualmente a cooperar com Timor-Leste ao niacutevel do sistema

educativo (com estruturas de ensino) 8 Qual foi o criteacuterio utilizado pelo governo transitoacuterio de Timor-Leste para a selecccedilatildeo das

aacutereas de formaccedilatildeo superior A selecccedilatildeo dos cursos foi baseada em algum estudo (ldquoFormaccedilatildeo agrave medidardquo)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro 9 Os cursos ministrados em Timor-Leste satildeo adaptados agraves especificidades do puacuteblico a que satildeo

dirigidos 10 O ensino transnacional ministrado em Timor-Leste por instituiccedilotildees de ensino superior

portuguesas estaacute de alguma forma sujeito agraves regras dos sistemas de ensino formais (do paiacutes hospedeiro)

101 Estaacute integrado no sistema de ensino formal do paiacutes hospedeiro 102 Qual tem sido a receptividadeIntegraccedilatildeo por parte dos sistemas de ensino formais de

Timor Tem encontrado resistecircncia por parte destes uacuteltimos 11 Estaacute assegurado o reconhecimento dos graus acadeacutemicos concedidos pelo ensino

transnacional portuguecircs em Timor 12 Como avalia os efeitos do ensino promovido por Portugal no desenvolvimento cultural

cientiacutefico e econoacutemico de Timor-Leste

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO III

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm1

Entrevista realizada a um alto responsaacutevel de um instituto puacuteblico portuguecircs com actividades

na aacuterea da Cooperaccedilatildeo

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador A = entrevistado A F= funcionaacuterio do instituto presente E Aaaahellip Em relaccedilatildeo entatildeo a este tema da da cooperaccedilatildeo eu gostaria de saber a opiniatildeo do

Senhor X hellip e neste caso na qualidade dehellip (cargo que ocupa) se acha que hellip e eu tentaria

direccionar-me mais para as universidades e para a cooperaccedilatildeo daquilo que conhece do trabalho

das universidades nos paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa nomeadamente e particularmente Timor

e Cabo Verde uma vez que satildeo os meus casos de estudo mas se entender dar exemplos de outros

paiacuteses e de outros PALOP estaacute agrave vontade

Se acha quehellip aaaahellip a apetecircncia ou aaahellip o gosto que hoje em dia as universidades e

os institutos politeacutecnicos tecircm por paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eacute no sentido da cooperaccedilatildeo

pura chamemos-lhe assim ou se por detraacutes disso denota algum interesse de cariz econoacutemico e

ateacute face ao contexto actual de Portugal do ensino e as dificuldades se nota que satildeohellip que haacute uma

fuga para a frente no fundo Ou se natildeo se eacute soacute por caraacutecter cooperativo O que eacute que acha da

actualidade em relaccedilatildeo a isso

A Muito bem olhe eu prefiro comentar a pergunta que me faz num contexto mais geral

perspectiva-la a dar-lhe um enquadramento sem me eximir de depois comentar especificamente

aquilo quehellip a que se referiu na sua pergunta Eu julgo que eacute preciso partir de uma premissa

fundamental a liacutengua a liacutengua e a cultura portuguesa mas sobretudo a liacutengua como veiacuteculo

dessa cultura eacute um vector fundamental da afirmaccedilatildeo da nossa identidade e da nossa poliacutetica

externa Ou seja noacutes somos por vocaccedilatildeo e por opccedilatildeo poliacutetica sobretudo a partir de uma eacutepoca em

que se reinstaurou a democracia em Portugal um paiacutes europeu e que encontra o seu destino na

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Uniatildeo Europeia E eu insisto sobretudo numa entrevista de caraacutecter acadeacutemico em frisar uma

coisa que muitas vezes eacute esquecida Portugal natildeo eacute uma democracia apenas desde 1974 Durante

um largo periacuteodo do seacuteculo XIX noacutes tivemos um funcionamento democraacutetico das nossas

instituiccedilotildees Houve trecircs periacuteodos diferentes um periacuteodo que houve muita instabilidade e havia

democracia um periacuteodo dehellip estabilidade formal aaaahellip e democracia tambeacutem formal mas

houve um periacuteodo significativo sobretudo a partir de 1852 quase ateacute ao final do seacuteculo em que

houve efectivamente exerciacutecio de alguma estabilidade poliacutetica e de democracia tambeacutem Portanto

noacutes natildeo somos neoacutefitos da democracia E quando aaaahellip em contacto com os Paiacuteses Africanos de

Liacutengua Oficial Portuguesa e Timor dizemos retoricamente ldquoSim noacutes somos todos jovens

democracias temos todos praacutetica democraacutetica haacute 25 anoshelliprdquo isto natildeo eacute assim Portugal tem

efectivamente uma diferente experiecircncia histoacuterica em termos institucionais Aleacutem disso somos

uma naccedilatildeo com 850 anos natildeo nascemos ontem mas temos efectivamente neste contexto das

democracias ocidentais o nosso lugar claramente definido no quadro da Uniatildeo Europeia

No entanto a Uniatildeo Europeia natildeo esgota o destino histoacuterico de Portugal nem a projecccedilatildeo

de Portugal no mundo ao contraacuterio do que acontece com outros paiacuteses europeus e isso eacute

fundamental distinguir Por exemplo se eu pensar ma Beacutelgica ou na Aacuteustria o que distingue a

Beacutelgica de Aacuteustria eacute evidentemente a Uniatildeo Europeia a Europa Nem haacute outra possibilidade

natildeo haacute outra forma nem nunca houve e obviamente o futuro acelera esse tipo de dependecircncia No

caso de Portugal natildeo eacute assim O lugar da afirmaccedilatildeo de Portugal no mundo eacute o espaccedilo da liacutengua

portuguesa eacute o espaccedilo da liacutengua e da cultura portuguesa E porquecirc porque a liacutengua portuguesa e

uma liacutengua veiculada falada por muitos mais milhotildees de pessoas do que por exemplo o Francecircs

e eacute uma liacutengua vital viva com imenso futuro e que sobretudo neste momento eacute falada em zonas

do mundo onde a tendecircncia demograacutefica eacute exactamente a inversa daquilo que acontece no

continente europeu onde as populaccedilotildees tendem a envelhecer e a populaccedilatildeo em termos

demograacuteficos a estagnar Portanto noacutes temos na liacutengua um elemento fundamental da nossa

afirmaccedilatildeo internacional cultural econoacutemica em termos estrateacutegicos a liacutengua portuguesa eacute

essencial para Portugal a daiacute tambeacutem a importacircncia da liacutengua portuguesa no nosso

relacionamento com os PALOP com o Brasil no contexto da CPLP designadamente agora mais

Eu julgo que noacutes estamos finalmente a caminho da preparaccedilatildeo daquilo a que se chamaraacute

uma estrateacutegia para a divulgaccedilatildeo e a expansatildeo da liacutengua portuguesa no mundo Natildeo existe um

documento estrateacutegico de enquadramento estaacute criado um grupo de trabalho inter-ministrial no

qual o Ministeacuterio dos Negoacutecios estrangeiros participa de uma forma multi-facetada atraveacutes do

Camotildees atraveacutes atraveacutes do IPAD da Missatildeo para a CPLP da Direcccedilatildeo Geral das Comunidades

Portuguesas e evidentemente um grupo de trabalho que engloba outros ministeacuterios e que no

momento oportuno teraacute que ter necessariamente a contribuiccedilatildeo da Fundaccedilatildeo das Universidades

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Portuguesas e das Universidades no seu no seu conjunto Haacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo o

Ministeacuterio do Ensino Superior e Ciecircncia etc a ideia eacute elaborar uma estrateacutegia uma estrateacutegia que

natildeo tem soacute a ver com os PALOPs com o Brasil com Timor mas tem a ver tambeacutem com a

importacircncia de manter viva a liacutengua portuguesa nos paiacuteses onde haacute uma forte comunidade

portuguesa

Essa estrateacutegia que eacute poliacutetica e que eacute cultural tem sobretudo como trave mestra a ideia de

que o portuguecircs deve ser aprendido ou ensinado localmente e a aposta essencial deve ser na

formaccedilatildeo de formadores locais Ou seja a ambiccedilatildeo de fazer com que o portuguecircs possa ser

ensinado por exemplo no Senegal por professores guineenses em vez de ser por professores

portugueses ser ensinado no Brasil por professores brasileiros ou na Argentina por professores

brasileiros ou seja a mesma coisa que a poliacutetica para Timor aahellip mudanccedila dessa estrateacutegia

global quando chegamos ao dia da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento deve apostar sobretudo na

formaccedilatildeo de professores ou seja eu compreendo que durante a fase de afirmaccedilatildeo da

independecircncia fosse necessaacuterio ter em Timor cento o muitos professores portugueses e

supostamente especialistas em portuguecircs liacutengua estrangeira Mas tambeacutem sei que o futuro natildeo eacute

por aiacute que vai o futuro passaraacute o futuro da liacutengua portuguesa da expansatildeo ou da reintroduccedilatildeo da

liacutengua portuguesa nomeadamente em Timor passaraacute pelo dia em que quem ensina portuguecircs nas

escolas satildeo professores timorenses que aprenderam portuguecircs com professores portugueses

preferencialmente laacute porque a formaccedilatildeo de formadores no local evita evidentemente todo o tipo

de inconvenientes que afectam as populaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento e eacute uma aposta

importantiacutessima eacute uma aposta de futuro e passa designadamente por aahellip se ensinar o portuguecircs a

todos os niacuteveis do ensino todos os niacuteveis da escolaridade desde a educaccedilatildeo baacutesica da secundaacuteria

ateacute ao ensino universitaacuterio O papel das universidades portuguesas nisto eacute fundamental

evidentemente tal como eacute fundamental o papel institucional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior Eu dou-lhe um exemplo muito especiacutefico do que eacute

que estou a pensar da importacircncia do papel institucional noacutes temos escolas oficiais portuguesas

em Maputo e vamos ter em Dili a primeira fase estaacute concluiacuteda a segunda fase jaacute foi aprovada

financeiramente a adjudicaccedilatildeo estaacute em curso e vamos ter o arranque da segunda fase da escola

portuguesa de Dili Na escola portuguesa de Maputohellip

E Uma escola portuguesa ao niacutevel do ensino secundaacuterio

A Sim ao niacutevel do ensino exactamente a ideia eacute a ideia eacute que a escola portuguesa em

20062007 cubra toda a escolaridade secundaacuteria como o equivalente ao 12ordm ano em Portugal que

acontece na escola portuguesa de Maputo E satildeo escolas que satildeo geridas sob a batuta do

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo como deve ser institucionalmente Soacute que porque houve em Portugal

um periacuteodo onde natildeo havia para esse tipo de opccedilotildees estrateacutegicas os meios financeiros adequados

haacute outros paiacuteses de liacutengua portuguesa onde as escolas portuguesas satildeo produto de cooperativas de

ensino como acontece em Luanda com as dificuldades todas que daiacute advecircm E com muitas vezes

as incompreensotildees que daiacute resultam tanto da cooperativa e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo do qual a

cooperativa formalmente natildeo depende

Por outro lado haacute organizaccedilotildees natildeo governamentais que tecircm tambeacutem acompanhado este

processo basta pensar na Guineacute naquilo que a Fundaccedilatildeo de Evangelizaccedilatildeo e Cultura estaacute a fazer

directamente ao niacutevel do ensino do portuguecircs portanto haacute uma multiplicidade de actores que eacute

preciso reunir na linha estrateacutegica de que aquilo que temos que fazer eacute formar formadores eacute

formar professores de portuguecircs Natildeo eacute enviar professores para esses paiacuteses

Ora bem isto responde-lhe um pouco agrave segunda parte da sua pergunta que eacute a parte que eu

percebo que eacute a que lhe interessa mais directamente Eacute evidente que eacute mais importante na

perspectiva da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento na perspectiva do desenvolvimentohellip

E E da poliacutetica governamentalhelliptambeacutem

A Da poliacutetica governamental portuguesa eacute mais importante desenvolver universidades locais

do que transplantar universidades para esses paiacuteses ou seja se a Universidade Agostinho Neto

que eacute a universidade do Estado Angolano tem uma Faculdade de Direito essa Faculdade de

Direito por exemplo estou-lhe a dar apenas um exemplo tem que ter meios para se auto-sustentar

e gerir o universo dos alunos potenciais em Direito numa perspectiva Angolana de acordo com o

mercado de trabalho com o sistema juriacutedico angolano com as perspectivas de Angola no contexto

regional Natildeo podemos imaginar que estamos a prestar um grande serviccedilo ao desenvolvimento se

transplantarmos o nuacutecleo de uma das nossas faculdades de Direito de uma universidade qualquer

como se fizeacutessemos uma espeacutecie de de proacutetese na Universidade Agostinho Neto porque isso natildeo

eacute criar condiccedilotildees de sustentabilidade isso natildeo eacute criar desenvolvimento

E Eacute o chamado desenvolvimento sustentado

A Eacute o desenvolvimento sustentaacutevel que passa no domiacutenio que nos preocupa da liacutengua da

cultura e do ensino exactamente pela criaccedilatildeo de instituiccedilotildees viaacuteveis Ora bem eacute evidente no

entanto que quando se fala das universidades privadas haacute aqui umas que tecircm esta perspectiva eu

dou-lhe o exemplo a Universidade Catoacutelica de Luanda ou a Universidade Lusiacuteada de Luanda satildeo

instituiccedilotildees criadas laacute de raiz e que tecircm preocupaccedilotildees de gestatildeo de um universo local nacional

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

agora haacute outro tipo de instituiccedilotildees que evidentemente fizeram aquilo que no mundo empresarial

equivale agrave deslocalizaccedilatildeo de empresas o que natildeo eacute mau do ponto de vista empresarial ou seja se

eu tiver uma faacutebrica tecircxtil em Satildeo Joatildeo da Madeira que tenha equipamento obsoleto e que eu natildeo

tenha meios financeiros porque natildeo haacute escoamento suficiente de produtos por causa da minha

falta de agressividade comercial ou das cotas estabelecidas ao niacutevel da Uniatildeo Europeia eu natildeo

tenho meios financeiros suficientes para manter o niacutevel salarial pretendido eu posso

eventualmente pegar em maquinaria e instalar essa faacutebrica na Iacutendia ou no Paquistatildeo e essa faacutebrica

pode de repente tornar-se viaacutevel e o fluxo financeiro criado com esse tipo de deslocalizaccedilatildeo pode

ser muito beneacutefico porque eu posso reinvestir exactamente em Satildeo Joatildeo da Madeira beneficiando

a populaccedilatildeo que entretanto ficou sem emprego com a deslocalizaccedilatildeo da minha faacutebrica Agora

seraacute que do ponto de vista da educaccedilatildeo e da cultura este tipo de raciociacutenio eacute o raciociacutenio mais

loacutegico e coerente Seraacute que a educaccedilatildeo e a cultura e o ensino satildeo um negoacutecio E seraacute que a

deslocalizaccedilatildeo de universidades privadas para os nossos interlocutores em mateacuteria de cooperaccedilatildeo

equivale efectivamente a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento Eu tenho as maiores duacutevidas

tenho as maiores duacutevidas natildeo sei se eacute assim duvido Instintivamente diria que natildeo

Definitivamente natildeo estamos no domiacutenio da ajuda puacuteblica ao desenvolvimento apesar de

podermos se calhar contabilizar isso em termos de OCDE mas julgo que estamos muito mais

proacuteximos do domiacutenio do domiacutenio puramente comercial e infelizmente haacute exemplos disso mesmo

Mas tambeacutem satildeo exemplos que denotam uma realidade que eacute muito interessantehellip pensar Mais

uma vez o exemplo de Luanda que eacute o exemplo que eu conheccedilo melhor as universidades privadas

que laacute estatildeo custam por mecircs a cada aluno cerca de 300 doacutelares que eacute o equivalente enfim a

duzentos e cinquenta euros duzentos e quarenta euros por mecircs cada aluno e estatildeo cheias E tecircm

cerca de mil alunos cada uma o que significa que haacute uma burguesia de 3 mil ou 4 mil famiacutelias

que pode pagar que pode pagar este tipo dehellip de propinas E isso eacute tambeacutem revelador que aiacute haacute

eventualmente uma perspectiva que eacute redutora que acaba por incidir sobre outras camadas da

populaccedilatildeo agora o que natildeo se pode eacute fazer de tudo isso apenas um negoacutecio apenas um comeacutercio

tem que haver preocupaccedilotildees mais de mudanccedila

E Entatildeo eu posso concluir que o projecto que a Fundaccedilatildeo das Universidades desenvolve em

Timor aproxima-se do modelo quehellip ideal Natildeo haacute ideias mashellip do modelo que seria desejaacutevel

no futuro da cooperaccedilatildeo

A Eu julgo que sim eu julgo que o projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades em Timor eacute um

projecto extremamente importante e tem que ser visto mais uma vez no quadro geral da

problemaacutetica de Timor Repare que Timor eacute deixe-me soacute dizer-lhe trecircs coisas muito raacutepidas de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

enquadramento que me parece que satildeo muito uacuteteis noacutes temos uma grande responsabilidade em

relaccedilatildeo a Timor Timor soacute eacute independente porque aaaahellip Portugal e os portugueses e a

diplomacia portuguesa durante deacutecadas insistiram na manutenccedilatildeo da questatildeo de Timor no topo da

agenda poliacutetica internacional Eu tenho 20 anos de carreira diplomaacutetica um pouco mais e lembro-

me das primeiras reuniotildees internacionais em que participei haacute 20 anos atraacutes quando falava de

Timor os meus colegas bocejavam Aaaahellip e sem querer discriminar nacionalidades mas

bocejavam porque ningueacutem acreditava que fosse possiacutevel manter a questatildeo de Timor no topo da

agenda e conseguir os resultados que se conseguiu portanto haacute uma enorme responsabilidade haacute

uma enorme responsabilidade que eventualmente soacute eacute explicada pelo facto de em Timor se falar

portuguecircs e pelo facto do portuguecircs ser uma das liacutenguas oficiais de Timor e pelo facto dos

timorenses do governo e a populaccedilatildeo de Timor estarem profundamente empenhadas na

manutenccedilatildeo do Portuguecircs como liacutengua oficial exactamente como reforccedilo e sustentaacuteculo primeiro

da sua identidade nacional E da sua marca de diferenccedila na regiatildeo

Ora bem dito isto Timor aahellip tem um contexto regional especiacutefico e um contexto

regional natildeo nos iludamos soacute tem sustentabilidade com um eventual relacionamento poliacutetico

econoacutemico militar de seguranccedila etc com a Indoneacutesia e com a Austraacutelia porque satildeo esses os

vizinhos de Timor Timor natildeo pode viver natildeo passa pela cabeccedila de ningueacutem que Timor sobreviva

como Naccedilatildeo tendo maacutes relaccedilotildees com esses vizinhos Portanto noacutes ao desenvolvermos um

projecto de ensino de formaccedilatildeo de formadores de afirmaccedilatildeo do portuguecircs em Timor noacutes estamos

simultacircneamente estamos aquilo que eu lhe disse haacute pouco ou seja reafirmar a importacircncia

estrateacutegica do portuguecircs num contexto tatildeo longe de Portugal como eacute a zona onde Timor se insere

Por outro lado noacutes temos que reafirmar a ligaccedilatildeo a Portugal a influecircncia do Portuguecircs a

formaccedilatildeo de formadores portugueses em Timor numa perspectiva de concoacuterdia e natildeo numa

perspectiva de antagonismo Essa pedagogia tambeacutem tem que ser feita acompanharatildeo de que haacute

ali um espaccedilo regional de integraccedilatildeo O projecto da Fundaccedilatildeo das Universidades Portuguesas sim

parece-me a mim basicamente um projecto correcto natildeo me parece um projecto de natureza

comercial ou mercantil parece-me um projecto que tem uma dinacircmica que se insere na linha da

estrateacutegia do que eacute a nossa cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

E Isto leva-me a perguntar-lhe se aahellip se o projecto vai ao encontro das necessidades de

Timor ou se pelo contraacuterio vai no sentido do que Portugal decidiu ser o melhor ou seja se foram

ouvidos os Timorenses as aacutereas estrateacutegicas estatildeo de acordo com as necessidades identificadas

por eles proacuteprios ou se pelo contraacuterio fomos noacutes quehellip delineaacutemos no fundo a actuaccedilatildeo que

estamos a ter actualmente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Eu percebo muito bem a sua pergunta mas repare o idealhellip

E Eacute uma pergunta natildeo eacute uma afirmaccedilatildeo

A Natildeo natildeo natildeo eu percebo muito bem eu percebo muito bem o ideal eacute que essas duas

vertentes coincidam ou seja no mundo ideal seria se objectivos programaacuteticos e estrateacutegicos de

Portugal nesse contexto coincidissem com os anseios as ambiccedilotildees os interesses e as necessidades

dos timorenses Noacutes estamos convencidos que o modelo que estaacute a ser delineado corresponde a

isso mesmo Ateacute porque repare se natildeo correspondesse esses desequiliacutebrios essas disfunccedilotildees

acabariam por se notar e por comprometer o projecto Eacute fundamental repare que em ajuda puacuteblica

ao desenvolvimento tudo o que tem a ver com cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute essencial

que aquilo que a comunidade dadora internacional oferece corresponda aquilo que os paiacuteses

anseiam Natildeo eacute apenas por uma questatildeo retoacuterica de respeito pelas escolhas individuais dos paiacuteses

ou por uma ingerecircncia aahellip natildeo eacute nada disso eacute por uma razatildeo muito mais substantiva estaacute

demonstrado estaacute absolutamente demonstrado aahellip todos os niacuteveis e todas as instituiccedilotildees que se

ocupam destas mateacuterias que natildeo haacute desenvolvimento sustentaacutevel sem aquilo a que se chama a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento onership hellip hellip sem o onership do processo a

apropriaccedilatildeo do processo de desenvolvimento ou seja os paiacuteses receptores de ajuda os parceiros

do oner do desenvolvimento tecircm que se sentir no lugar do condutor do automoacutevel do processo de

desenvolvimento porque se natildeo se apropriam do processo de desenvolvimento ele natildeo eacute

endogeneizado ele natildeo eacute aahellip adquirido de uma forma perene pelas sociedades que estatildeo em

causa Repare que o modelo de desenvolvimento eu quando estou a falar de desenvolvimento

tenho perfeita consciecircncia de que hoje em dia cada vez mais o desenvolvimento eacute tambeacutem o

crescimento econoacutemico a integraccedilatildeo das economias desses paiacuteses na economia global tem

imensas relaccedilotildees com o desenvolvimento do comeacutercio internacional tudo isso

Mas para aleacutem de tudo isso para aleacutem de tudo isso o desenvolvimento eacute um processo

endoacutegeno eacute um processo de consciecircncia colectiva Eu natildeo tenho a certeza se pegar aqui aahellip no

modelo AlfragideReboleira e colocar o mesmo tipo de preacutedios em Baucau se isso corresponde a

um modelo de desenvolvimento Ou melhor estou praticamente seguro que natildeo natildeo eacute Portanto

haacute todo um conjunto de caracteriacutesticas que tecircm que ser endogeneizadas pela populaccedilatildeo local o

que eacute que eu quero dizer com isto eacute evidente que se o portuguecircs como liacutengua e a cultura

portuguesa como matriz forem rejeitados pela populaccedilatildeo timorense pelos jovens timorenses pelas

(hellip) de Timor e se essa aproximaccedilatildeo natildeo tiver passado de um episoacutedio histoacuterico noacutes natildeo

podemos fazer nada contar isso noacutes natildeo podemos remar contra essa mareacute O portuguecircs ou eacute a

liacutengua veicular (hellip) das liacutenguas oficiais de Timor e corresponde agrave identidade ou natildeo eacute E ponto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

final natildeo eacute Natildeo haacute volta a dar em relaccedilatildeo a isso Eacute o drama neste momento com que a Franccedila

se debate no contexto internacional aahellip a Franccedila tem imensa dificuldades as autoridades

francesas em compreender que muito provavelmente o francecircs perdeu de uma forma definitiva a

batalha da internacionalizaccedilatildeo e de ser ouvido internacional a favor do inglecircs E provavelmente

perdeu definitivamente Eventualmente isso eacute definitivo E eventualmente as outras liacutenguas

veiculares satildeo eventualmente o Espanhol o Portuguecircs e o Aacuterabe Aaahellip Mas eacute evidente uma

pessoa tem que pensar isto em termos globais porque como todos noacutes sabemos a liacutengua mais

falada no mundo eacute o Chinecircs de Pequim ou o Chinecircs Mandarim daquela zona da China que eacute

falado por um biliatildeo de pessoas Mas isso natildeo faz do Chinecircs Mandarim uma liacutengua global

enquanto que o Espanhol e o Portuguecircs e o Aacuterabe eventualmente satildeo muito mais liacutenguas de

dehellip de globalizaccedilatildeo

E Satildeo liacutenguas a niacutevel mundial

A A aposta do portuguecircs tambeacutem passa por aiacute Eacute evidente que os timorenses vatildeo ter que

saber falar inglecircs como todos os jovens portugueses ou todos os jovens espanhoacuteis sob pena se

um jovem timorense natildeo dominar o inglecircs ou um jovem portuguecircs natildeo dominar o inglecircs daqui a

vinte anos estaacute totalmente fora de qualquer mercado de trabalho E natildeo eacute qualquer mercado de

trabalho na Uniatildeo Europeia eacute qualquer mercado de trabalho em Portugal Portanto eacute preciso ter

consciecircncia de que haacute um instrumento aaa a falar inglecircs eacute a mesma coisa do que saber utilizar

um computador eacute um tipo de linguagem que ou se aprende ou se fica for a do mercado de

trabalho

Em relaccedilatildeo ao Portuguecircs eu acho que eacute fundamental a aprendizagem ou a expansatildeo do

Portuguecircs tambeacutem como liacutengua para o mercado de trabalho e para a formaccedilatildeo em paiacuteses como

Portugal como o Brasil como Angola comohellip Moccedilambique como Timor eacute essa a nossa aposta

eacute essa a nossa aposta e cada vez mais o Portuguecircs pode servir qual eacute o paiacutes mais rico do mundo

Eacute o Luxemburgo e 30 da populaccedilatildeo fala Portuguecircs mashellip claro que isto em termos

estatiacutesticos vale o que vale mas o que eacute certo eacute que 30 da populaccedilatildeo do paiacutes mais rico do

mundo fala portuguecircs e tem ascendecircncia e ligaccedilotildees a Portugal Isso eacute muito significativo

E Por razotildees histoacutericas natildeo eacute

A Mas isso eacute muito importante Natildeo eacute natildeo eacute discipiente isto tem um grandehellip natildeo falam

chinecircs nem nem Persa natildeo eacute falam curiosamente falam Portuguecircs eacute interessante

E E os jovens jaacute vatildeo tendo algum peso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A Vatildeo tendo algum peso

E Eles tecircm uma importacircncia muito significativa Mas eu julgo que sim repetindo o que disse

no princiacutepio o projecto da FUP eacute um projecto que se insere neste quadro da ajuda puacuteblica ao

desenvolvimento Agora a ajuda puacuteblica ao desenvolvimento natildeo eacute apenas o trabalho de

caritativo solidaacuterio a vertente ONGs de desenvolvimento eacute um trabalho que tem que ser pensado

numa loacutegica que estaacute muito para aleacutem da mera loacutegica da solidariedade Eacute muito significativo isto

que eu lhe vou dizer sem querer que daqui extraiacutea nenhuma conclusatildeo ideoloacutegica o problema das

Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento eacute umahellip um organismo que apareceu numa determinada

numa determinada condicionante e num determinado circunstancialismo histoacuterico e que natildeo eacute

aahellip nenhum amaacutetena nem eacute politicamente incorrecto se eu disser que o PNUDE que vem pelo

sistema das Naccedilotildees Unidas comeccedilou por ser ideologicamente muito descrente e esteve muito

marcado pela loacutegica sobretudo voltada para a solidariedade

Hoje em dia o PNUDE publica uma declaraccedilatildeo em livro sobre as relaccedilotildees do

desenvolvimento com o comeacutercio internacional Isto natildeo eacute publicado pelo Banco Mundial natildeo eacute

um livro do FMI eacute um livro do PNUDE Portanto a dinacircmica de desenvolvimento tem tambeacutem

outras componentes e outras vertentes a que noacutes temos que estar cada vez mais atentos

E E tem tambeacutem a vecircr com o GATS no qual o mercado da Educaccedilatildeo estaacute tambeacutem a ser

incluiacuteda natildeo eacute

A Eacute fundamental eacute fundamental a educaccedilatildeo para todos eacute um dos objectivos agora quando

estamos a falar em Educaccedilatildeo eacute preciso temos tambeacutem consciecircncia do que eacute que estamos a falar

natildeo eacute Porque aahellip repare na violecircncia disto que lhe vou dizer imagine as liacutenguas nacionais em

Angola o kimbondohellip por aiacute fora ou o ohellip

E O teacutetum

A O teacutetum haacute Cursos de Medicina em teacutetum natildeo haacute Haacute Cursos de Engenharia Electroacutenica

ou Informaacutetica em teacutetum ou em kimbondo natildeo haacute Ou seja se eu insistir que as crianccedilas de uma

determinada localidade no interior de Angola tenham uma educaccedilatildeo sobretudo razoaacutevel na

liacutengua nacional que eacute o kimbondo o que eu estou a fazer eacute imediatamente a decretar decretar que

elas natildeo vatildeo ter nunca o acesso ao ensino superior E isso eacute uma questatildeo poliacutetica natildeo eacute

Enquanto que o portuguecircs eacute natildeo soacute uma liacutengua de acesso ao ensino superior como uma liacutengua

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

veicular como para aleacutem disso o ensino em instituiccedilotildees onde se aprende portuguecircs eacute um ensino

tambeacutem muito aberto e alerta para a necessidade de dominar outras linguagens como as duas que

neste momento na minha opiniatildeo satildeo as mais importantes que satildeo o Word e o Inglecircs Mais

E No contexto informaacutetico claro Podia haver outrahellip outra interpretaccedilatildeo Aahellip em relaccedilatildeo

agora saindo um bocadinho deste que eacute quase umhellip um modelo novo e que natildeo eacute o existente nos

outros paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa as instituiccedilotildees de ensino superior privadas aahellip que

conhece e conheceraacute com certeza ateacute melhor do que eu aahellip o trabalho desenvolvido por estas

natildeo estaacute de maneira nenhuma em sintonia ou seja natildeo estatildeo metidashellip aahellip natildeo haacute um

alinhamento com a poliacutetica e com a estrateacutegia portuguesa de cooperaccedilatildeo Estatildeohellip eu natildeo queria

dizer de costas voltadas mas cada uma segue o seu caminhohellip

A Eu eu percebo o que diz Repare a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute muitas vezes

vista como a cooperaccedilatildeo institucional Este instituto e os antecessores deste instituto tantas vezes

vista como uma espeacutecie de gaveta onde se vai buscar dinheiro para financiar projectos Aahellip e

muitas vezes isso correspondia a (hellip) ateacute porque as pessoas tinham o dinheiro na gaveta e tinham

que o gastar ateacute ao final do ano sob pena de ele ser absorvido pelo Ministeacuterio das Financcedilas Aahellip

esta loacutegica eacute uma loacutegica totalmente perversa e natildeo faz sentido nenhum Eacute preciso primeiro

reforccedilar a cooperaccedilatildeo portuguesa dotaacute-la dos meios que lhe permitam ter capacidade de

articulaccedilatildeo e de coordenaccedilatildeo junto das outras instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas depois eacute

fundamental perceber que a cooperaccedilatildeo portuguesa soacute faz sentido no quadro de estrateacutegias de

programas natildeo faz sentido a acccedilotildees natildeo eacute E eacute oacutebvio que se a Drordf Moacutenica Pimentel me viesse

pedir um subsiacutedio para fazer uma viagem a Timor no contexto de uma acccedilatildeo eu devo dizer que

natildeo porque isto natildeo se insere num programa mais vasto num contexto loacutegico mas se essa

viagem se inserir num programa num programa indicativo num projecto no contexto de trabalho

com sustentabilidade avaliado com certeza que esse subsiacutedio para ohellip a realizaccedilatildeo dessa viagem

nesse contexto especiacutefico tem que ser observada a uma luz completamente diferente Portanto

fazer perceber agraves instituiccedilotildees designadamente agraves universidades privadas que devem falar

connosco natildeo na perspectiva de virem aqui encontrar complementos de financiamento para

acccedilotildees e para projectos (hellip) mas podem articular os projectos com as perspectivas e os programas

da cooperaccedilatildeo portuguesa De facto isto eacute muito delicado o que eu estou a dizer eacute menos

delicado no caso das universidades do que por exemplo no caso das ONGs Repare em rigor as

Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem sempre dizer ldquo- Natildeo mas noacutes somos a sociedade

civil noacutes temos projectos proacuteprios e vocecircs satildeo o Estado financiam-nos ou natildeo nos financiam

O que natildeo podem eacute estar a pretender ter um direito de super visatildeo sobre aquilo que noacutes fazemosrdquo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Ora bem este argumento eacute reversiacutevel porque o dinheiro da cooperaccedilatildeo portuguesa eacute dinheiro

puacuteblico eacute dinheiro dos portugueses E as organizaccedilotildees natildeo governamentais tecircm que perceber

que tendo eu responsabilidades ao niacutevel do Estado ao niacutevel da governaccedilatildeo eu natildeo posso

financiar uma organizaccedilatildeo governamental que tenha um projecto que vaacute contra que seja

totalmente exterior contraacuterio ou nocivo da minha poliacutetica de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

Ora bem um exemplo muito concreto do que eacute que eu quero dizer imagine uma organizaccedilatildeo natildeo

governamental que pretendia desenvolver em Timor uma acccedilatildeo aahellip a favor da manutenccedilatildeo dohellip

baaza como liacutengua eacute evidente que eu natildeo posso financiar este tipo de coisas natildeo eacute Mais

E Mudando agora um bocadinho dehellip de temahellip

A A Drordf F (teacutecnico superior do instituto presente na entrevista) se quiser comentar ou

acrescentar alguma coisa diga

F Natildeo estava a ouvir o projecto sobre as universidades privadas nem o proacuteprio paiacutes quase

sabe (hellip) quando laacute estivemos ultimamente as autoridades de facto desconheciam o que eacute que se

estava a fazer

A Pois

E E o Governo portuguecircs natildeo podehellip natildeo pode actuar com certeza natildeo eacute

A Inclusive noacutes temos noacutes temoshellip

E Natildeo pode regular As autoridades Cabo Verdianas neste caso por exemplo tomarem

medidas de regulamentaccedilatildeo dehellip de regulaccedilatildeo porque isso eacute uma das perguntas que eu tenho

tambeacutem para colocar defende defende de alguma forma aahellip instrumentos reguladores das

actividades de dehellip das instituiccedilotildees de ensino das actividades que desenvolvem nestehellip nos

paiacuteses onde fazem cooperaccedilatildeo

A Aahellip eu julgohellip haacute aqui uma coisa que eacute muito importante que eacute o reforccedilo deste

mecanismo coordenador e de cooperaccedilatildeo repare que ateacute agora era muito difiacutecil falarmos da

possibilidade de regular coordenar e de articular com as instituiccedilotildees privadas pela simples razatildeo

de que dentro do proacuteprio Estado natildeo havia essa adequada coordenaccedilatildeo e articulaccedilatildeo ou seja

como eacute que eu podia pretender estar aahellip assumir funccedilotildees de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo com

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

esse mundo todo que estaacute aiacute fora se dentro do Governo os vaacuterios Ministeacuterios cada um tinha a sua

instituiccedilatildeo que fazia cooperaccedilatildeo e muitas vezes agrave revelia do organismo central da cooperaccedilatildeo

portuguesa Portantohellip o primeiro o primeiro passo eacute dotar o mecanismo central da cooperaccedilatildeo

com essa capacidade de coordenaccedilatildeo e de articulaccedilatildeo Eu natildeo estou a dizer que isso esteja

adquirido eu acho que eacute um trabalho que estaacute a ser feito eacute uma das ambiccedilotildees da criaccedilatildeo dohellip

(nome do instituto) como lhe digo natildeo sei se vamos conseguir eacute um trabalho Eacute fundamental eacute

um aspecto fundamental e que tem vaacuterias vertentes natildeo interessa agora estarmos a analisar

tecnicamente mas tem uma vertente essencial que digo-lhe jaacute que eacute o problema da orccedilamentaccedilatildeo

ou seja enquanto o Ministeacuterio X que eu natildeo vou dizer qual tem um orccedilamento que usa a seu belo

prazer para acccedilotildees de cooperaccedilatildeo e que se natildeo usa depois transfere para outro tipo de verbas e que

natildeo eacute aprovado no princiacutepio do ano nohellip no na elaboraccedilatildeo do orccedilamento em consonacircncia comhellip

o meu instituto aahellip e que aleacutem disso ele natildeo tem acesso aos nuacutemeros exactos nem aparece um

mapa global reflectido na lei da execuccedilatildeo orccedilamental inicialmente no orccedilamento eu natildeo tenho

mecanismos de coordenar nem de articular

Se eu natildeo sou ouvido por que razatildeo eacute que o Ministeacuterio X em vez de ter 60 tem 100 ou

tem 20 e se eu natildeo percebo para que eacute que vatildeo ser aqueles 20 ou aqueles 60 jaacute natildeo estou a falar

como eacute que esses projectos eventuais se vatildeo articular com outros E natildeo eacute com os meus que eu

natildeo sou executor de projectos eacute com outros projectos de outros Ministeacuterios para que esse

mundohellip

E Par que natildeo haja duplicaccedilatildeo tambeacutem natildeo eacute

A Natildeo haja duplicaccedilatildeo para que haja complementaridade para que o dinheiro seja bem

utilizado para que haja eficaacutecia para que haja especializaccedilatildeo para que os eixos vitais de

intervenccedilatildeo sejam respeitados portanto haacute todo um mundo de articulaccedilatildeo a fazer E que vai

demorar tempo natildeo tenhamos nenhuma ilusatildeo que essa articulaccedilatildeo inter-ministerial vai levar

tempo Este eacute um aspecto fundamental e depois haacute o mundo exterior agrave cooperaccedilatildeo puacuteblica e

institucional que satildeo as organizaccedilotildees natildeo governamentais satildeo as instituiccedilotildees privadas ou de

direito privado que fazem cooperaccedilatildeo A proliferaccedilatildeo de associaccedilotildees de fundaccedilotildees de

organismos que se dedicam a acccedilotildees de cooperaccedilatildeo eacute inimaginaacutevel E repare que noacutes em Portugal

ainda natildeo estamos no momento de uma alteraccedilatildeo significativa da Lei do Mecenato porque eacute que

natildeo estamos nesse momento Porque tudo aquilo que seja falar eventual reduccedilatildeo de receitas

fiscais neste momento natildeo tem viabilidade nenhuma no actual contexto da politica de contenccedilatildeo

da despesa puacuteblica Mas no dia que eu possa deduzir os meus impostos numa acccedilatildeo de

cooperaccedilatildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Aiacute as acccedilotildees vatildeo-se multiplicar

A Elas vatildeo-se multiplicar a articulaccedilatildeo vai ser muito mais complicada muito mais difiacutecil a

coordenaccedilatildeo vai aindahellip apresentar outras outras dificuldades Eu tenho que ter aqui este

mecanismo articulador e coordenador e depois tenho que ter nos paiacuteses (hellip) um

mecanismo espelho que seja o interlocutor em mateacuteria de cooperaccedilatildeo porque se eu puder

eu sou o Director Geral do Ministeacuterio A de Transportes ou do Urbanismo falo com o

meu colega Cabo-Verdiano e combino com ele uma acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo eu estou a agir agrave

revelia da articulaccedilatildeo das autoridades portuguesas mas tambeacutem das autoridades Cabo-

Verdianas Portanto tem que haver em Cabo-Verde ou na Guineacute ou em Timor ou em

Satildeo Tomeacute um organismo centralizador e coordenador Eacute basicamente isto

E Agora reportando-nos exactamente e soacute agraves universidades ou agraves instituiccedilotildees que

promovem educaccedilatildeo ou ensino nesses paiacuteses e agora uma questatildeo muito pessoal talvez de

sensibilidade mais pessoal acha que o ensino que praticam carece de maior qualidade

aahellip que eacute um ensino feito hellip um bocadinho natildeo queria levar a pergunta muito parahellip

um ensino a ldquogranelrdquo

A Eu julgo que haacute de tudo Eu julgo que haacute de tudo

E Ou melhor como qualifica o ensinohellip

A Haacute vaacuterios exemplos e eu julgo que haacute de tudo Eu julgo no entanto eu julgo que haacute

de tudo Haacute no entanto um problema essencial aahellip que eacute digamos assim transversal a

todas essas experiecircncias que eacute o ensino natildeo ter na minha opiniatildeo suficientemente em

conta as necessidades do proacuteprio processo de desenvolvimento Ou seja aahellip em Angola

um curso de engenharia eu estou a formar um engenheiro e o engenheiro estaacute a pensar em

vir depois exercer engenharia para Portugal ou Medicina para Portugal ou para os

Estados Unidos eu tenho quehellip focar esse ensino no processo de desenvolvimento do

paiacutes da regiatildeo em que estaacute inserido Eu preciso de engenheiros especialistas em aacutegua ou

de engenheiros especialistas em agricultura ou economistas agraacuterios e se calhar eu natildeo

preciso de outro tipo de valecircncias Portanto haacute muitas vezes um desejo desajustamento

em relaccedilatildeo agrave realidade local e ao mercado de trabalho potencial e agrave inserccedilatildeo no processo

de desenvolvimento

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E E eacute motivado porquecirc

A Eacute motivado por razotildees eacute motivado por razotildees simples porque repare aahellip eu

tenho aqui aahellip cursos cujos curriacuteculos satildeo estabelecidos e cujos professores tecircm

determinado tipo dehellip experiecircncia profissional e que vatildeo ensinar isso mesmo nesses

paiacuteses Tem que haver uma adaptaccedilatildeo agrave realidade local agrave realidade do mercado local E

essa adaptaccedilatildeo se calhar soacute vai ser plenamente conseguida quando os professores forem

do paiacutes mais uma vez a questatildeo da formaccedilatildeo de formadores Agora quanto agrave qualidade

do ensino haacute de tudo Haacute de tudo Julgo no entanto que as universidades portuguesas natildeo

praticam aahellip erros como certas universidades de outros paiacuteses em que os diplomas satildeo

aahellip natildeo tecircm nenhum significado natildeo tecircm nenhum valor Noacutes conhecemos todas aahellip as

histoacuterias de universidades espanholas do Brasil aahellip que ensinam tambeacutem nesses paiacuteses

em desenvolvimento Aahellip a velha anedota das pessoas que estatildeo na paragem do

autocarro no Rio de Janeiro e diz um para o outro ldquo- se o autocarro demora mais tempo

ficamos com mais um graurdquo Aahellip isto reflecte isto isto reflecte a mentalidade e as

universidades portuguesas natildeo cometem este tipo de asneiras E haacute inclusivamente

exemplos do contraacuterio de grande exigecircncia profissional Eu devo dizer-lhe mais uma

vez relacionado com Angola como digo eacute o paiacutes que eu melhor conheccedilo comeccedilou este

ano em Angola um Mestrado em Direito o primeiro Mestrado em Direito na Faculdade de

Direito da Universidade Agostinho Neto eacute dado por professores de Coimbra e o Mestrado

as provas de Mestrado satildeo corrigidas em Coimbra natildeo satildeo sequer corrigidas laacute

portanto a exigecircncia eacute evidentemente uma exigecircncia enorme

E Claro

A Natildeo sei qual vai ser o resultado natildeo eacute Agora eacute um exemplo mas ateacute bom que

eu esteja a dar um exemplo de grande exigecircncia E eu acho quehellip evitar o tal facilitismo

de que falaacutevamos no princiacutepio da nossa conversa que eacute pequenino agora adaptando agrave

realidade local

(hellip)

A E depois haacute um aspecto aqui muito importante que tem a ver com as ordens e essas

coisas todas se eacute para incentivar a colocaccedilatildeo das pessoas laacute eacute muito importante que esses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

diplomas tenham algum reconhecimento internacional natildeo eacute Ateacute parahellip eacute preciso eacutehellip aiacute

balancear bem se natildeo estamos a abrir a porta agrave fuga de bivalecircncias e de experiecircncias

profissionais Drordf Moacutenica Pimentel mais

E Eu estou prestes a concluirhellip Acha que o ensino aahellip a partir de e-learning poderaacute

vir a ser um ensino aahellip

A Acho que sim Acho que sim Acho que eacute muito importante eacute um ensino eacute

fundamental em imensos domiacutenios aahellip haacute aiacute todo um mundo para explorar O mundo do

ensino agrave distacircncia o mundo da medicina aahellip da tele-medicina para evitar por exemplo

as evacuaccedilotildees repare que noacutes gastamos uma fortuna todos os anos com evacuaccedilotildees

muitas vezes as evacuaccedilotildees satildeo para diagnoacutestico Haacute evacuaccedilotildees para diagnoacutestico As

pessoas sentem-se mal natildeo haacute meios de saber o que tecircm vatildeo fazer o diagnoacutestico fazem

uma ecografia detecta-se aiacute a doenccedila Enquanto que a tele-medicina jaacute permite fazer

ecografias agrave distacircncia e inclusive realizar operaccedilotildees agrave distacircncia O ensino agrave distacircncia eu

aprendi no outro dia numa reuniatildeo com o Ministeacuterio da Cultura natildeo se diz ensino agrave

distacircncia deve dizer-se ensino a distacircncia Vale o que vale Estaacute a ver como como todos

os dias aperfeiccediloamoshellip Ensino a distacircncia eacute o termo sofisticado

Agora eu acredito no ensino eu acredito no ensino a distacircncia mas eacute preciso

evidentemente que essas teacutecnicas efectivamente funcionem e sejam oleadas Eu acredito

no ensino a distacircncia Acredito e ateacute lhe digo inclusivamente mais aahellip haacute cada vez mais

empresas e ateacute governos que funcionam que funcionam com esse tipo de coisas Soacute para

lhe dar um que natildeo tem nada a ver com o ensino agrave distacircncia mas daacute-lhe ou o ensino a

distacircncia daacute-lhe uma ideia de como as coisas podem funcionar aahellip tradicionalmente o

Embaixador dos Estados Unidos nas Naccedilotildees Unidas o Embaixador Americano nas Naccedilotildees

Unidas em Nova York faz parte do Governo Americano faz parte tem categoria de

Ministro se quiserhellip antes do Conselho de Ministros em Washington do Governo

Americano esse membro do Governo participa sempre por viacutedeo conferecircncia Estaacute sempre

presente nunca laacute falta Portanto isso permite hoje em dia que haja aulas em que os

professores estatildeo a falar atraveacutes de uma televisatildeo e daacute aulas se calhar daacute aulas praacuteticas

em que ele tem os seus instrumentos e os alunos estatildeo no laboratoacuterio e vatildeo repetindo os

gestos ei julgo que sim que o ensino a distacircncia tem imenso futuro e noacutes inclusivamente

temos um projecto aahellip de ensino a distacircncia em portuguecircs que envolve Timor tambeacutem

oxalaacute haja dinheiro suficiente para financiar esse projecto a curto prazo Eu julgo que sim

Mais Drordf Moacutenica Pimentel

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Finalmente qual acha que eacute a receptividade quer da parte das autoridades

governamentais quer da parte das instituiccedilotildees formais de ensino dos paiacuteses aahellip

beneficiaacuterios neste caso da cooperaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave ida de instituiccedilotildees e de docentes para

promover o nosso ensino Acha que somos bem integrados bem recebidos bem vistos ou

a sensibilidade e a experiecircncia que tem deixa antever alguma desconfianccedila algum peacute

atraacutes

A Natildeo eu julgo eu julgo que natildeo Eu julgo que em todos os paiacuteses os formadores

portugueses os cooperantes portugueses satildeo extremamente bem recebidos satildeo

extremamente acarinhados em todo o lado isso eacute praticamente universal O que tem a ver

com uma multiplicidade com uma multiplicidade de factores a nossa facilidade tambeacutem

de integraccedilatildeo aahellip enfim o bom relacionamento que permaneceu sempre ao longo da

histoacuteria dos povos penso que haacute uma enorme uma enorme receptividade E essa

receptividade evidentemente eacute um capital que natildeo se pode desperdiccedilar Agora o que eu

acho eacute que preciso ver estas coisas na medida proporccedilatildeo ou seja eacute mais uacutetil na minha

opiniatildeo ter 10 formadores de formadores em Dili do que ter 150 professores portugueses

no estrangeiro aahellip no fundo soacute ali a leccionar alunos timorenses quando deviam estar a

ensinar os professores de portuguecircs E eacute essa a grande aposta e eacute essa a grande questatildeo O

efeito multiplicador eacute esse mesmo eacute exactamente isso

(hellip)

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO IV

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm2

Entrevista realizada a um docente de uma Universidade Puacuteblica Portuguesa Coordenador de Projectos de Cooperaccedilatildeo com Timor

e Cabo Verde na aacuterea da Agronomia

22 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador B = entrevistado B E Bom a minha primeira pergunta eacute de caraacutecter geneacuterico e pretende saber qual eacute a sua

opiniatildeo em relaccedilatildeo aos verdadeiros motivos que levam as instituiccedilotildees de ensino superior e em

particular as puacuteblicas privadas e puacuteblicas a investir tanto na cooperaccedilatildeo como hoje se verifica

Isto eacute aahellip apregoamos muitas vezes ouhellip as instituiccedilotildees apregoam quehellip esta coisa do ensino

transnacional eacute para a evoluccedilatildeo do corpo docente para o desenvolvimento curricular e cientiacutefico

etchellip No seu entender acha que esses satildeo os verdadeiros motivos ou por ventura existiratildeo ateacute

interesses econoacutemicos

B Humhellip ora eu posso falar agrave partida aqui da minha experiecircncia e do meu instituto

E Sim isso eu percebo

B Aahellip os motivos natildeo tinham nada a ver nem com o corpo docente internacional os

motivos tinham essencialmente a ver com a possibilidade de desencadear experiecircncias de

formaccedilatildeo abrangendo os paiacuteses de liacutengua portuguesa a partir de duas duas ideias centrais a

primeira ideia eacute que a cooperaccedilatildeo futura e as relaccedilotildees futuras passam por exemplo pelas relaccedilotildees

pessoais em escolas que eacute uma ligaccedilatildeo que fica para toda a vida e no seguimento na parte das

Ciecircncias Agraacuterias no seguimento do muito conhecimento pessoal que a gente tem com alguns dos

ex-alunos daqui que estavam em cargos importantes nos vaacuterios paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

A segunda razatildeo embora pareccedila um poucohellip um pouco pretensioso o que eu vou dizer

mas no nosso caso eacute quer dizer como noacutes fazemos Ciecircncias Agraacuterias Ciecircncias Agraacuterias ligadas agrave

questatildeo da alimentaccedilatildeo da luta contra a pobreza a seguranccedila alimentar quer dizer noacutes no

Instituto temos uma linha de gente que trabalha muito nisso e temos muitos teacutecnicos para Africa

que vieram tambeacutem a desenvolver linhas e trabalhos Relatoacuterios Finais e Teses de Mestrados e

Doutoramentos nessa linha que eacute uma linha que eacute um desafio profissional muito aliciante para as

pessoas de Ciecircncias Agraacuterias que eacute o desenvolvimento do mundo sub-desenvolvido onde a

agricultura tem um papel fundamental

E Exactamente Portanto a chamada fuga para a frente dado o contextohellip actualhellip

B Natildeo natildeo natildeo Natildeo foi o nosso caso porque noacutes comeccedilamos ainda natildeo havia este

contexto

E Mas a niacutevel geral vamo-nos agora abstrair um bocadinho aqui dahellip

B A niacutevel geral a gente tem que distinguir entrehellip ensino puacuteblico e ensino privado do meu

ponto de vista O ensino privado avanccedila com vaacuterias realizaccedilotildees em vaacuterios paiacuteses de liacutengua

portuguesa no meu ponto de vista mais numa loacutegica que eacute a sua loacutegica de deslocar no fundo de

explorar mercados e colocar activos para rentabilizar economicamente Aahellip isso aiacute parece-me

que eacute a loacutegica essencial Embora tenha tambeacutem com certeza uma prestaccedilatildeo humanitaacuteria diversa

Do ensino puacuteblico natildeo haacute muitas experiecircncias de cooperaccedilatildeo a niacutevel das licenciaturas a nossa

penso que foi das primeiras em Cabo-Verde a niacutevel do ensino de licenciatura Aahellip as

experiecircncias que eu conheccedilo de poacutes-graduaccedilatildeo de Direito etc era tambeacutem tirar proveito da

Cooperaccedilatildeo Portuguesa que dava a justiccedila como uma das formas essenciais de cooperaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo do Estado das Leis etchellip

E O Direito

B E por isso Direito entrou muito rapidamente nos vaacuterios paiacuteses porque eles tinham uma

necessidade muito forte de fazer o aparelho do Estado da Justiccedila de formar as normas etc

Noacutes comeccedilaacutemos jaacute haacute 15 anos e por isso o contexto era diferente mas agora no contexto

actual evidentemente que haacute tambeacutem a necessidade de que face ao contexto do escasso nuacutemero de

alunos e professores a mais vaacute tentar responder a essa questatildeo colocando de algum modo a

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

discussatildeo esse mercado digamos em funccedilatildeo das necessidades das vaacuterias escolas Isso parece-me

que actualmente existe

E Aahellip da sua experiecircncia os paiacuteses receptores de ensino transnacional aahellip intervecircm de

alguma forma na decisatildeo das aacutereas estrateacutegicas de actuaccedilatildeo ou satildeo meros receptores paciacuteficos ou

seja natildeo natildeo tecircm qualquer intervenccedilatildeo na escolha das aacutereas de actuaccedilatildeo ou natildeo

B Da experiecircncia aqui da nossa escola que eacute a experiecircncia Cabo-Verdiana e a experiecircncia

timorense deixemos agora a timorense a Cabo-Verdiana foi a escolha directa deles Noacutes fizemos

os cursos que eles nos pediram para a necessidade dos seus quadros e noacutes adaptaacutemo-nos com os

curriacuteculos e a direcccedilatildeo cientiacutefica e pedagoacutegica do Curso face a essa necessidade Mashellipem

muitos paiacuteses neste momento falando de uma forma mais geral o que se passa eacute o seguinte como

as populaccedilotildees demograficamente satildeo jovens a entrada no mercado de trabalho natildeo se daacute porque

natildeo haacute mercado de trabalho os governos tecircm tendecircncia a arranjar formas de entreter estes jovens e

logo optam pelo ensino desde quehellip optam pelo ensino desde que desde que natildeo natildeohellip desde

que sirva para de facto ocupar uns anos os jovens etc

E O caso de Timor eacutehellip

B Natildeo haacute que eu conheccedila estudos das necessidades natildeo haacute em Portugal quanto mais

noutros paiacuteses Haacute explosotildees de ensino muito grandes neste momento em Angola do ensino

superior temos muita gente a fazer perguntas etc mas eacute mais de uma forma digamos anaacuterquica

dependendo da vontade dos dirigentes do que propriamente das necessidadeshellip

E Reais

B hellipda da economia e das populaccedilotildees

E E Cabo Verde entra nessa loacutegica ou natildeo

B Em Cabo Verde quer dizer no Curso de Ciecircncias Agraacuterias natildeo porquecirc Primeiro noacutes

como parceiros principais fomos sempre contra a abertura de cursos permanentes O que noacutes

demos foi dois cursos acaba os cursos demora uns anos ateacute recomeccedilar outro etc porque tivemos

sempre em conta que o mercado natildeo ia absorver os formados Noutras aacutereas concretamente natildeo

lhe sei dizer Haacute neste momento aacutereas laacute das Psicologias das Sociologias que se calhar aquilo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

devem estar a formarhellip natildeo natildeo tenho um conhecimento profundo para lhe poder responder

Muito embora Cabo Verde com a sua estrutura demograacutefica com cerca de 51 da populaccedilatildeo

com menos de 20 anos e com as fronteiras de emigraccedilatildeo um pouco fechadas tenha o problema

enorme destes jovens quando chegam agrave idade de estudar ou entrar no mercado de trabalho natildeo haacute

mercado de trabalho e tecircm de responder a essa situaccedilatildeo

Em Timor digamos que a histoacuteria a histoacuteria de Timor natildeo pode ser balanceada ou

estudada do meu ponto de vista em paralelo com estas histoacuterias Porque Timor foi um caso

especiacutefico houve toda aquelahellip o dramatismo da situaccedilatildeo houve a independecircncia e houve

tambeacutem a necessidade de responder a todas as necessidades entre as quais a substituiccedilatildeo raacutepida

do ensino Indoneacutesio pelo ensino universitaacuterio que existia por uma resposta que tivesse em conta

as opccedilotildees estrateacutegicas do paiacutes na Liacutengua Portuguesa e assim Evidentemente que os cursos que

noacutes FUP transnacionais que noacutes estamos a dar partem do meu ponto de vista natildeo soacute de entreter

as pessoas mas de necessidades reais detectadas laacute pelo Ministro da Educaccedilatildeo o eis Reitor ainda

no Governo de transiccedilatildeo etcTanto que os cursos natildeo foram muito para a Gestatildeo e Letras como

vatildeo noutros siacutetios foram para as Informaacuteticas para as Tecnologias para as Agraacuterias etc Bom

parece-me que a gente natildeo pode pocircr Timor em paralelo tem que pocircr Timor no seu contexto

transnacional ao fim do de 25 anos da potecircncia colonial Indoneacutesia que sucedeu a Portugal e das

questotildees do Mundo 25 anos depois porque os outros paiacuteses jaacute tecircm 25 anos de independecircncia E os

cursos da FUP natildeo podem de todo pocircr-se noutra coisa porque senatildeo a gente ainda ia dar cursos

para Africa era muito mais faacutecilhellip

E E mais barato

B E mais barato

E Mashellip aahellip acha que eu agora perdi-me no meu raciociacuteniohellip tinha uma questatildeo que

encadeava com isso

B Se a Economia vai absorver os nossos formados eacute uma questatildeo seguinte Bem quer dizer

aqui eacute sempre complicado porquehellip Timor eacute muito pobre ainda vai demorar um bocadinho esta

eacute a minha opiniatildeo vai haver natildeo haacute grandes serviccedilos puacuteblicos Natildeo haacute uma economia de

investimento privado embora os nossos jovens em alguns campos nas Informaacuteticas nas

Electroteacutecnicas podem ser orientados para formar as proacuteprias empresas para formar os seus

proacuteprios postos de trabalho com interesse para o paiacutes Agora Timor eacute de facto como vocecirc sabe

bem um paiacutes pobre 90 da populaccedilatildeo vive da agricultura na agricultura precisa imenso de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

serviccedilos teacutecnicos para poder transformar eacute preciso ainda um apoio como disse muito forte agravequelas

populaccedilotildees precisa da agricultura tropical para fazer a transformaccedilatildeo da agricultura e logo natildeo

natildeo vejo a economia a absorver os nossos quadros rapidamente

Os outros paiacuteses todos onde haacute essa experiecircncia aahellip depende francamente depende

porque enquanto Angola e Moccedilambique eu acho que jaacute haacute alguma possibilidade de absorver

quadros para rentabilizar como vai haver no futuro agora Angola agora depois da paz como eacute

evidente e ateacute Moccedilambique nalguns agricultores algumas ldquofarmasrdquo bastante grandes uma uma

grande potencialidade para as industrias alimentares que tem que tem que subir a essa fase satildeo

paiacuteses Moccedilambiquehellip o uacuteltimo relatoacuterio da ONU o PNUD de 2003 Moccedilambique ainda eacute dos

paiacuteses mais pobres do mundo Angola estaacute como estaacute (hellip) na orla litoral no Wambo e entre o

deserto tem processo econoacutemicos muito distintos onde a economia absorveu quadros laacute mas eacute de

facto era de facto uma varinha de condatildeo eacute uma coisa que de facto leva o seu tempo

E Jaacute consegui recuperar aquela pergunta que lhe queria colocar Eu julgo que o modelo que

estaacute a ser praticado em Timor de formaccedilatildeo eacute um modelo nomeadamente da Fundaccedilatildeo das

Universidades eacute um modelo pioneiro natildeo me parece que tenha ateacute ao momento havido um

modelo deste geacutenero Aahellip este modelo acha que eacute o modelo ideal pelo menos aproxima-se

mais do oacuteptimo do que os modelos de formaccedilatildeo praticados noutros paiacuteses ou pelo contraacuterio tem

uma outra experiecircncia mais positiva do que aquela que estamos a viver presentemente em Timor

Por exemplo em Cabo Verde se teve um modelo que melhor se adequasse ahellip a este tipo

de cooperaccedilatildeo ao niacutevel do ensino

B Natildeo eacute um modelo ideal nem eacute um modelo oacuteptimo mas dentro do possiacutevel eacute o melhor

modelo dentro do possiacutevel Tambeacutem natildeo eacute muito pioneiro porque o nosso modelo em Cabo

Verde era exactamente igual mas era dentro de uma escola soacute e natildeo de quatro cursos

E Exacto aiacute eacute que estaacute a diferenccedila

B Aliaacutes este modelohellip

E Porque estatildeo todas as universidades envolvidas natildeo eacute

B Ai eacute completamente diferente mas o modelo de leccionaccedilatildeo o modelo eacute quer dizer eacute

igualzinho eacute o nosso modelo de Cabo Verde que comeccedilou em 199091 que aliaacutes prontohellip como

experiecircncia serviu um pouco de base nas primeiras discussotildees deste modelo de Timor

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Exactamente igual eacute a deslocaccedilatildeo de professores por um determinado espaccedilo temporal e a

leccionaccedilatildeo das cadeiras e os exames e os exames um curso natildeo com as cadeiras todas com as

disciplinas todas a funcionar ao mesmo tempo mas a funcionar por partes ou por trimestres no

fundo os modelos aproximam-se muito

Dentro das condiccedilotildees de ensino agrave distacircncia este eacute o melhor modelo Permite o contacto

inter-pessoal permite o acompanhamento dos alunos permite acompanhar o seu crescimento

embora seja pouco tempo de conviacutevio A universidade deve dar mais tempo de conviacutevio entre

professores e os alunos mas nas condiccedilotildees este eacute o melhor modelo Seria melhor mas tambeacutem eacute

exigir muito que os professores tivessem mais tempo de permanecircncia simplesmente as condiccedilotildees

natildeo o permitem Evidentemente que eu acho que este modelo eacute melhor do que o outro modelo que

temos em Aacutefrica da parte de outros paiacuteses que eacute deslocar soacute professores juniores e que

normalmente satildeo pessoas sem nenhuma experiecircncia no contexto que noacutes enviamos quer em Cabo

Verde quer em Timor e que tecircm muito mais dificuldades Eacute o modelo por exemplo que os

Holandeses utilizam em muitos paiacuteses de Aacutefrica E isso aiacute dependehellip embora o tempo de

permanecircncia seja maior mas a capacidade pedagoacutegico-cientiacutefica de acompanhamento eacute muito

menor

E Isso leva-me a colocar uma questatildeo sobre o ensino agrave distacircncia acha que num futuro

proacuteximo o ensino agrave distacircncia pode gradualmente vir a substituir o ensino presencial

B Olhe vocecirc estaacute com azar sabe Eu sou muito conservador

E (risos) Eu natildeo estou a defender o ensino agrave distacircncia

B Para jaacute digo-lhe jaacute uma coisa eu sou um bocado conservador nessas coisas O ensino agrave

distacircnciahellip sou conservador mas natildeo sou para parar o mundo O ensino agrave distacircncia vai ter cada

vez mais o seu papel mas eu acho que este contacto pessoal entre professoraluno entrehellip olhos

nos olhos a gente acompanhar o dia a dia etc eacute essencial para a gente perceber o que eacute que estaacute a

fazer se estaacute a ensinar se natildeo estaacute a ensinar se aquilo estaacute a ser uacutetil se natildeo estaacute a ser uacutetil etc

Agora o ensino agrave distacircncia tem potencialidades que permite transformar as distacircncias em

minutos Eacute possiacutevel hoje pela Internet jaacute haacute a oferta aiacute de uma seacuterie de mestrados e doutoramentos

e eu como jaacute sou velho faz-me um bocado de confusatildeo

E Mas como meacutetodo complementar digamos assim vecirc algumas virtudes nessahellip nessahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Jaacute jaacute tem virtualidades Eacute claro que se a gente conseguisse por exemplo em Timor os

professores depois de irem continuarem atraveacutes do ensino agrave distacircncia tirando duacutevidas tirandohellip

fazendo exposiccedilotildees etc ah Isso seria perfeitamente um sistema complementar de ensino

Agora naquele caso de Timor por exemplo se nunca laacute ningueacutem tivesse ido e se a gente tivesse

comeccedilado com o ensino agrave distacircncia isso era um absurdo aquilo natildeo servia para nada natildeo servia

absolutamente para nada

E Portanto sempre como meacutetodo complementar nunca como meacutetodo principal

B Como meacutetodo principal noutras condiccedilotildees noutros contextos de culturas jaacute diferentes etc

Acho perfeitamente possiacutevel como formaccedilotildees de 2ordm ciclo de 3ordm ciclo acho possiacutevel agora neste

contexto acho um disparate total

E Hoje o (entrevistado A) falava nahellip na questatildeo da evoluccedilatildeo sustentada isto eacute aahellip que

estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo deveratildeo sempre resultar nohellip que gradualmente passasse as acccedilotildees

de formaccedilatildeo para oshellip para os residentes no sentido de formar pessoas para darem continuidade

a estes projectos Eacute essahellip eacute esse o seu entendimento da cooperaccedilatildeo portuguesa em termos

dehellip

B A realidade eacute o que eacute e eacute incontornaacutevel Evidentemente que eu desejo a sustentabilidade

deste projecto como vocecirc disse Mas noacutes ainda agora acabaacutemos um projecto em Aacutefrica e eu sei

o que eacute que isso quer dizer tambeacutem aahellip mas o problema eacutehellip quando a gente trabalha em

situaccedilotildees de paiacuteses comhellip diferenccedilas culturais a ausecircncia do Estado das instituiccedilotildees etc satildeo

muito fortes a gente natildeo pode falar de sustentabilidade a gente pode formar professores e natildeo

sabe se depois de um ano de estarem na universidade jaacute esteja a falar a universidade funciona

os diversos serviccedilos da universidade funcionam etc quer dizer uma universidade natildeo eacute soacute as

pessoas a universidade eacute uma instituiccedilatildeo tem um conjunto de regras e tem a ver com a

sociedade onde estaacute inserida no meu ponto de vista Par ter uma universidade sustentaacutevelhellip

(interrupccedilatildeo) a gente natildeo pode ter soacute laacute professores e depois ter uma universidade uma

universidade eacute muito mais do que isso Satildeo bibliotecas satildeo laboratoacuterios para trabalho agrave agrave

sociedade etc Bom eu defendo essa ideia da sustentabilidade dos projectos como eacute evidente

mas natildeo (hellip) depende tambeacutem da evoluccedilatildeo da sociedade

E Mas agrave partida deve ser planeado com esse propoacutesito

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Com certeza que deve ser planeado com esse propoacutesito Mashellip vamos laacute a ver quer dizer

a sustentabilidade de um projecto universitaacuterio por exemplo em Timor como a engenharia

agraacuteria e fazendo por exemplo um paralelo com a sustentabilidade das universidades no nosso

paiacutes ou por exemplo ou se fizermos a histoacuteria para natildeo ir mais longe da Universidade de

Angola ainda no tempo colonial ou em Moccedilambique implicou uma vastiacutessima soma de

dinheiro uma formaccedilatildeo acelerada de quadros no estrangeiro que fizeram nos Estados Unidos da

Ameacuterica a maior parte das Ciecircncias Agraacuterias que eu conheccedilo que aquilo ainda natildeo estaacute em

condiccedilotildees de se suster neste momento E a universidade eacute uma universidade extremamente

jovem mas com muita aceleradamente formada havia essa disponibilidade financeira para isso

A gente deve planear os projectos com os paiacuteses com a noccedilatildeo absoluta de que podem ser

projectos falhados Noutros casos de desenvolvimento agriacutecola rural a gente planeia sempre os

projectos para a sustentabilidade Natildeo haacute nada maishellip (hellip) do que a hellip tomar-se a decisatildeo

desses projectos e ao fim de um ano deixam de ser sustentaacuteveis

E Claro No caso de Cabo Verde teve algum projecto que tivesse continuidade no tempo

B Sim vaacuterios projectos tecircm continuidade no tempo Cabo Verde tambeacutem eacute um paiacutes

especiacutefico natildeo eacute um paiacutes que se possa comparar aos outros paiacuteses de Aacutefrica Este nosso projecto

de ensino jaacute se repetiu noacutes jaacute demos dois cursos com a durabilidade de 2 anos e dentro de 6

anos estamos a preparar um outro para Cabo Verde que tem a ver com necessidades especiacuteficas

a primeira foi para as ciecircncias agro-florestais que era uma necessidade especiacutefica de quadros

para a parte (hellip) de Cabo Verde O segundo jaacute foi parahellip outra necessidade especiacutefica para a

proteccedilatildeo de plantas e era a Economia e Sociologia Rural e este terceiro jaacute eacute outra necessidade

especiacutefica tinha a ver com o Ambiente Bom satildeo pedidos que tecircm a ver com a proacutepria sociedade

cabo verdiana Satildeo sustentaacuteveis tambeacutem porque satildeo feitos no seio de uma instituiccedilatildeo de

investigaccedilatildeo que jaacute existe haacute 20 anos e que tem alguns projectos de investigaccedilatildeo e que tem o

seu trajectohellip

E Que eacutehellip

B Que eacute o INEDA - Instituto Nacional de Educaccedilatildeo e Desenvolvimento Agraacuterio de Cabo

Verde Logo Cabo Verde eacute um caso particular e mesmo assim a gente nunca repetiu ano a ano

a gente formou vinte e dois quadros no primeiro vinte e quatro no segundo e agora mais vinte e

tal temos outros paiacuteses lusoacutefonos temos caacute alguns alunos etc A questatildeo quer dizer eacute projecto

sustentaacuteveis haacute projectos sustentaacuteveis por exemplo eu dou-lhe o exemplo de um projecto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

sustentaacutevel que eacute muito interessante que eacute o da (hellip) da altitude das nuvens que Cabo Verde com

os recursos naturais que temhellip que jaacute dura haacute muitos anos mas tambeacutem haacute imensos projectos

que acaba o financiamento este ano ehellip morrem

E E quem eacute que identifica normalmente essas aacutereas de formaccedilatildeo

B Eacute Cabo Verde Eacute Cabo Verde

E Eacute Cabo Verde que determina essahellip

B Satildeo os Cabo Verdianos eacute que fazem isso

E E o financiamento Eacute a partir do Governo Portuguecircs ou eacutehellip

B Eacutehellip satildeo normalmente financiamento externo uma parte financiamento externo (hellip) uma

parte e outra parte o Governo Portuguecircs no segundo curso foi numa parte o Governo Portuguecircs

uma parte o proacuteprio Governo Cabo Verdiano ahellip e alguma cooperaccedilatildeo algum paiacutes

Luxemburguecircs ou Austriacuteaco natildeo me lembro agora satildeo muitas coisashellip e neste terceiro estaacute-se a

discutir agora o modelo de financiamento natildeo sei Mas logo satildeohellip natildeo satildeo cursos caros mas

satildeo cursos que exigem algum financiamento

E Ahellip ehellip este tipo de projectos em que tem estado envolvido eu posso deduzir entatildeo que

vatildeo ao encontro da estrateacutegia de Portugal em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo ou seja natildeo satildeo acccedilotildees

individualizadas e da iniciativa da (nome da Escola e da Universidade Portuguesa a que pertence

o entrevistado) neste caso Estatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo definidas

pelo Governo Portuguecircs

B Para lhe responder a isso era preciso que eu estivesse convencido que haacute alguma estrateacutegia

da Cooperaccedilatildeo Portuguesa Haacute o que satildeo eu estou convencido aliaacutes eacute muito difiacutecil responder-

lhe agrave pergunta que comeccedilahellip tendo em conta a estrateacutegia da cooperaccedilatildeo Aahellip estas coisas da

cooperaccedilatildeo pode haver uma estrateacutegia que eu natildeo conheccedilo mas do meu ponto de vista para

lhe ser o mais franco possiacutevel dependem muito muito muito do conhecimento das realidades

locais e de conhecimentos interpessoais

E Em Portugal

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Em Portugal com os outros paiacuteses laacute laacute com os outros paiacuteses Porque isso facilita

extraordinariamente a conversa ahellipa detecccedilatildeo dos problemas e das necessidades Por exemplo

Cabo Verde como eacute que comeccedila Comeccedila porque o Presidente do INEDA era um ex-agroacutenomo

daqui que tinha sido professor da Universidade de Lourenccedilo Marques que tinha que era um

bom cientista conhecido e que erahellip quer dizerhellip muito nosso conhecido o sentimento da

nacionalidade que vem de Cabo Verde haacute umas primeiras conversas ldquovocecircs podem responder

podem natildeo responderhelliprdquo

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo

B Natildeo passou muito pela estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de coisa nenhuma

E Vocecircs eacute que envolvem o Governo e natildeo eacute o Governo os envolve a vocecircs

B Houve uma janela de oportunidade que foi uma verba disponiacutevel para o primeiro curso

houve o aparar com ambas as matildeos dessa instituiccedilatildeo no curso e depois eacute que houve a negociaccedilatildeo

com a Cooperaccedilatildeo Portuguesa Logo a estrateacutegia de ensino da cooperaccedilatildeo portuguesa pode

haver agora porque natildeo havia nenhuma natildeo conheccedilo nenhuma nunca conheci nenhuma

E Podemos pensar que natildeo existe nenhuma estrateacutegia

B Nunca conheci nenhuma Depois evidentemente que a proacutepria cooperaccedilatildeo portuguesa

achou a experiecircncia bastante boa foi muito elogiada pela proacutepria cooperaccedilatildeo etcEu natildeo quero

ser vaidoso mas os Cursos de Timor nascem numa primeira reuniatildeo que tivemos em Coimbra

em que eu disse ldquo- eu tenho esta experiecircncia noacutes funcionamos assim as seis semanas e isto deu

resultadohelliprdquo e a gente delineou a partir daiacute Tambeacutem natildeo foi habilidade nenhuma natildeo foi

nenhuma habilidade especial foi delineado porque as pessoas natildeo podem laacute estar mais tempo e

isto eacute uma maneira de encarar as coisas de uma forma uacutetil Agora estrateacutegia Soacute se houver

alguma estrateacutegia eu jaacute natildeo acompanho isso assim haacute uns anos permanentemente nunca

conheci nenhuma estrateacutegia para a cooperaccedilatildeo portuguesa

E Ou seja eu posso deduzir que as instituiccedilotildees que tecircm contactos e proximidade com

Governos ouhellip de outros paiacuteses com as instituiccedilotildees de ensino de outros paiacuteses eacute que acabam

por envolver-se no ensinohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Acabam Ateacute porque na experiecircncia que eu conheccedilo eacute assim pode-se afirmar isso Porque

para haver uma estrateacutegia era preciso que a cooperaccedilatildeo portuguesa dissesse ldquo- Noacutes queremos

apoiar isto quem se candidatarrdquohellip etc Seria ao contraacuterio natildeohellip nunca conheci nada disso

E E por acaso com com Timor eu julgo que foi um bocadinho em simultacircneo o Governo

Timorense pediu ao Governo Portuguecircs que negociou com o CRUP e houve ali um

entendimentohellip

B Sim mas teve que ver com o Governo timorense

E Exactamente

B Foi uma visatildeo do Padre Filomeno Jacob do meu ponto de vista

E Laacute estaacute agarrou uma oportunidade que lhe surgiu Mudando agora um bocadinho de

assunto indo para aacutereas um bocadinho mais delicadas ehellip talvez mais faacuteceis de discutir O

ensino transnacional eacute muitas vezes acusado de falta de transparecircncia dehellip de algumhellip de

alguma falta de qualidade aahellip por natildeo haver talvez ateacute articulaccedilatildeo o que eacute que acha destas

acusaccedilotildees que satildeo feitas ao ensino transnacional Uma vez que eacute coordenador de tantos

projectoshellip de ensino transnacional Isto aplica-se tanto aos privados como aos puacuteblicos a

niacutevel geral

B Evidentemente que tudo decorre de uma situaccedilatildeo que temhellip e agora vou falar a niacutevel

geral europeu de paiacuteses ricos paiacuteses pobres no ensino como em todos os outros eu acho que

tecircm tendecircncia a ter uma visatildeo neo-colonial das coisas Evidentemente que tecircm tendecircncia a poder

por um ensino de menor qualidade tecircm tendecircncia a facilitar de algum modo a haver algum

facilitismohellip mas esta eacute uma visatildeo natildeo propositada mas que as proacuteprias pessoas tecircm das

proacuteprias realidades com que se confrontam etc e tecircmhellip haacute certos casos agora jaacute natildeo tanto nos

anos 6070 dar diplomas a filhos da elite a troco de dinheirohellip etc

Tudo isto tem um passado e tem uma histoacuteria Natildeo muito nossa ateacute eacute mais dos Ingleses

dos Franceses tudo tem um passado e tem uma histoacuteria que soacute acaba quando estas proacuteprias

sociedades tiverem a formaccedilatildeo da sociedade civil que exija determinadas formas para o ensino

o que natildeo estaacute a acontecer neste momento Agora as acusaccedilotildees que se fazem sobre o ensino se

natildeo fizermos ensino transnacional tambeacutem natildeo fazemos nenhum E se natildeo fazemos nenhum e

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

haacute outra situaccedilatildeo ainda pior que eacute manter o analfabetismo a ausecircncia de quadros etc do meu

ponto de vista a transformaccedilatildeo dos paiacuteses menos desenvolvidos soacute laacute vai com a educaccedilatildeo natildeo

vai laacute de outra maneira E logo a educaccedilatildeo eacute a gente fomentar o maacuteximo de cursos possiacuteveis

porque mesmo que seja de qualidade agraves vezes menor isso vai crescendo a sociedade eacute como

uma bola vai segregando pessoas cada vez melhores vai sendo foco essencial para uma melhor

sociedade Agora pouco transparente em quecirc Em dinheiros Evidentemente se a gente vai

falar em transparecircncia natildeo falamos em ensino A histoacuteria dos uacuteltimos 35 anos poacutes Segunda

Guerra Mundial a eacutepoca de todos os apoios a avaliaccedilatildeo mundial eacute pouco transparente Aliaacutes a

gente pode fazer uma listagem dos projectos que satildeo fracassos absolutos que satildeo disparates que

satildeo natildeo sei quantohellip e pode atraveacutes desta ajuda puacuteblica ao desenvolvimento mais em benefiacutecio

dos paiacuteses ricos do que paiacuteses pobres Pouco transparente em quecirc Na qualidade de ensino

E Tambeacutem

B Tambeacutem Evidentemente que a noacutes que fazemos o possiacutevel nestes nossos projectos quer

no projecto de Timor para que ele tenha qualidade mas a qualidade tambeacutem eacute uma coisa

abstracta Este discurso da qualidade que agora atravessa Portugal eacute uma coisa que me faz muita

impressatildeo Natildeo haacute qualidade abstracta soacute haacute qualidades concretas neste concreto onde

vivemos Repare no exemplo em Timor os alunos seratildeo de qualidade inferior agrave meacutedia dos

nossos aqui satildeo capaz de ser um pouco Mas no concreto no contexto daquela sociedade eles

tecircm um conhecimento inestimaacutevel A qualidade natildeo eacute uma coisahellip aliaacutes eu quando estava a

falar sobre o prestiacutegio e sobre a qualidade em abstracto Tudo isto evidentementehellip haacute outro

paiacutes de Liacutengua Portuguesa que eacute uma desgraccedila a Guineacute Bissau o que era qualidade Do meu

ponto de vista saber ler e escrever jaacute era qualidade na visatildeo concreta das coisas Bom pode ter

um bocadinho menos de qualidade mas haacute uma tendecircncia quer dizer inevitaacutevel da raccedila

humana estatildeo aqui moccedilos que se deslocam laacute e apaixonam-se por aquilo e apaixonam-se pelas

pessoas pelos alunos e haacute uma tendecircncia de factohellip e esta paixatildeo natildeo leva ahellip tambeacutem a

reprovar toda a gente a facilitar um bocadinho etchellip porque satildeo coisas inevitaacuteveis e satildeo boas

no meuhellip na minhahellip na minha visatildeo

Agora evidentemente se me falar eu venho fazer ensino privado para as elites para os

filhos das elites dos corruptos daqueles paiacuteses que pagam natildeo sei quantoshellip e a gente daacute-lhe o

diploma quer dizer isso natildeo eacute transparente isso eacute uma fraude natildeo tem nada a ver com

transparecircncia eacute uma fraude E fraudes haacute aqui como tambeacutem haacute no traacutefico de diamantes haacute o

de droga isso natildeo eacute uma coisa diferente das outras

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Em relaccedilatildeo ao reconhecimento dos diplomas obtidos nestes paiacuteses isso ao niacutevel europeu

como eacute que se processa Haacute o reconhecimento imediato tecircm de se submeter aahellip a um

exerciacutecio de equiparaccedilatildeo ouhellip datildeo-lhe equivalecircncia como eacute que eacute

B A gente tem de ter algum cuidado nisto porque o reconhecimento dos diplomas para o

exerciacutecio profissional natildeo depende das universidades depende das ordens profissionais de cada

paiacutes E o que eacute que noacutes fizemos no caso de e temos vindo a fazer no caso dehellip nos casos de

Guineacute e Cabo Verde Noacutes soacute reconhecemos aquela formaccedilatildeo para efeitos de prosseguimento de

estudos

E Noacuteshellip

B Noacutes aquihellip (referindo o nome da Escola a que pertence) Para efeito de prosseguimento de

estudos a questatildeo do reconhecimento profissional eacute uma questatildeo dos paiacuteses de origem do

estudante E eu penso que natildeo nos devemos meter nisso Quer dizer os paiacuteses tecircm as suas

ordens juriacutedicas tecircm as suas coisas defendem os seus estudos profissionais agora para efeito

de prosseguimento de estudos noacutes reconhecemos quer eacute essa a nossa obrigaccedilatildeo somos

responsaacuteveis logo muitos dos alunos a que demos cursos em Cabo Verde jaacute vieram para caacute

proseguir os seus estudos ateacute obter depois o diploma que eacute o diploma depois da escola que eacute

reconhecido como qualquer diploma no contextohellipna licenciatura

E E digamos que ele queira exercer a profissatildeo num paiacutes Europeu

B Se tirar a licenciatura aqui eacute o diploma da escola se tirar laacute depende do reconhecimento

das ordens profissionais Depende das ordens profissionais Eu tenho aqui trecircs alunos de

mestrado emhellip de Angola veterinaacuterios que estatildeo a submeter-se ao reconhecimento da ordem de

meacutedicos veterinaacuterios para poderem exercer

As universidades natildeo se devem meter nessas coisas do reconhecimento dashellip isso eacute uma

questatildeo de cada paiacutes e as ordens profissionais eacute que devem fazer o reconhecimento profissional

Noacutes devemos reconhecer sempre do meu ponto de vista para prosseguimento de estudos

E O que eacute que acha dashellip chamadas Agecircncias de Avaliaccedilatildeo e de Regulaccedilatildeo do Ensino

Transnacional aquelas redes que hoje em dia vatildeo surgindo como forma de mecanismo de

controlo da qualidade do ensino transnacional A que as instituiccedilotildees aderem se quiserem natildeo

satildeo obviamente obrigadas a isso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

B Quer dizer eu natildeo sei o que eacute que vocecirc vai fazer agrave entrevista mas se quer mesmo saber o

que eacute que eu penso sobre issohellip

E (risos) O que eacute que eu vou fazer vou analisaacute-lo e tentar retirar oshellip

B O que eacute que eu pensohellip eu penso que eacute outra forma de arranjar algumas formas de ganhar

dinheiro para as universidades do fundo de desenvolvimento O problema eacute quer dizer na

sociedade que noacutes vivemos cada vez mais aberta a questatildeo da avaliaccedilatildeo vem porquecirc Porque a

universidade se transformou nos uacuteltimos 10 anos A universidade no seu sentido etimoloacutegico

atirava para a cultura universal e principalmente atirava para o universitaacuterio era aquele que tinha

uma abertura de espiacuterito para a cultura para a sociedade que o rodeava Com a transformaccedilatildeo

das universidades em maacutequinas de encher salsichas ou seja com esta especializaccedilatildeo que levou

ao avanccedilo brutal do ensino superior em todo o sitio aparece a avaliaccedilatildeo necessaacuteria para fazer

reconhecer os que satildeo mais seacuterios e os que satildeo menos seacuterios natildeo eacute

O problema que se potildee eacute e aparece quer dizer no fundo no seguimento dahellip da histoacuteria

das universidades dos Estados Unidos Nos Estados Unidos como toda a gente sabe haacute das

melhores universidades do mundo mas tambeacutem haacute das piores universidades do mundo e logo

quer dizer a sua avaliaccedilatildeo eacute necessaacuteria para dar uma resposta no fundo aos clientes Tem que

entender as universidades como um mercado os alunos como clientes e o produto final cada

licenciatura eacute transformada na economia de mercado

E O professor desculpe natildeo perca a ideia com o GATS aahellip e com a introduccedilatildeo da

educaccedilatildeo no GATS na economia de mercadohellip

B Eu ia laacute chegar

E hellip estamos precisamente a caminhar para o mesmo

B Pois eu jaacute laacute ia chegar Estamos a caminhar para o mesmo soacute que para mim eu jaacute estou a

caminhar para a reforma E por isso espero natildeo vir a reunir muitas dessa coisas Porque

evidentemente que com com os programas europeus com a mobilidade com essa tudo isso

noacutes temos de caminhar para essa avaliaccedilatildeo para o ranking das universidades para essas coisas

todas Agora evidentemente transpondo isto para o outro contexto do Sul dos paiacuteses mais

pobres etc essas redes servem para dar o aval a algumas universidades para terem acccedilotildees de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ensino transnacional E logo porque eacute que o ensino que a nossa instituiccedilatildeo faz haacute-de ser pior

que o ensino dos Australianos para dar o caso de Timor etcEacute porque essa gente diz sim ou

natildeo Entatildeo e essa gente obedece a que valores Satildeo valores de tendecircncia poliacutetica ou satildeo valores

soacute universitaacuterios Quer dizer a questatildeo toda tem de ser estudada Eu natildeo sou especialista destas

coisas mas faz-me muita impressatildeo que haja um ranking dado por uma rede que ningueacutem sabe

como daacute A que valores eacute que obedece O que eacute que quer quer dizer etc O valor eacute soacute essa

causalidade do ensino em abstracto quer dizer ou eacute o contexto concreto de que falaacutevamos haacute

bocado Ora tudo isso satildeo paracircmetros que teratildeo de ser julgados natildeohellip tambeacutem natildeo sou grande

especialista nisso

E Vecirc com alguma renitecircncia essahellip

B Com alguma dificuldade de ser seacuterio Eu vejo eacute com alguma dificuldade de ser seacuterio

Logo como vejo com dificuldade de ser seacuterio e como tenho medo das coisas que natildeo satildeo

seacuteriashellip

E Por exemplo ainda voltando a outra questatildeo sobre a regulaccedilatildeo a Austraacutelia por exemplo eacute

um paiacutes que tentou absorver nas suas estruturas de ensino formais o ensino transnacional como

forma dehellip regulaccedilatildeo porque desta forma as instituiccedilotildees vecircem-se obrigadas ahellip

B A obedecer a determinados criteacuterioshellip

E A obedecerem mesmos criteacuterios que as instituiccedilotildees formais Isso seria uma hipoacutetese que

veria comohellip como viaacutevel por exemplo

B Eu natildeo sei Moacutenica eacute-me difiacutecil responder a isso porque eu natildeohellip natildeo sou grande

especialista nessa mateacuterias nem estudei aprofundadamente isso Mas natildeo eacute soacute a Austraacutelia isso

a histoacuteria comeccedila muito antes por exemplo nos anos 50 e 60 os Ingleses tinham ensino

universitaacuterio para Ingleses e tinha ensino universitaacuterio para os Indianos para os Paquistaneses

quer dizer haacute toda uma histoacuteria atraacutes que tem a ver comhellip e haacute um desenvolvimento fantaacutestico

das universidades em toda em toda a Aacutefrica a Aacutefrica tem muitas mais pessoas formadas do que

tinha haacute 30 anos atraacutes ou 40 anos atraacutes Agora o que eacute que nos diz que satildeo as universidades

deste ponto de vista que daacute o confere ou o atestado de bom cumprimento agraves universidades Eu

acho que todas as inter-ligaccedilotildees todos os projectos de investigaccedilatildeo todas as mobilidades satildeo

possiacuteveis mas quer dizer ainda acho quehellip sabe a gente natildeo pode discutir isto sem discutir as

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

opiniotildees que tem sobre esta questatildeo toda da globalizaccedilatildeo toda do mundo actualhellipessahellip porque

eacute que a gente haacute-de achar que o ensino aqui tem de ser igual ao ensino no Norte de

Moccedilambique Porque eacute que o Norte de Moccedilambique a partir do seu contexto natildeo pode ter as

experiecircncias de ensino que se adaptem mais agrave sua sociedade agraves suas necessidades etc do que

ter agora quer dizer isto tudo vai tender para 3 graus 4 em 4 mais 1 mais 1 mais natildeo sei quecirc

e haacute-de ser tudo igual haacute-de ser tudo ldquoamericanozinhosrdquo formados a 3 e se possiacutevel com a farda

com a bandeira americana

E Eacute o produto da globalizaccedilatildeo natildeo eacute

B Mas faz-me impressatildeo esse mundo e como me faz impressatildeo esse mundo eu tenho

tendecircncia a discutir estas questotildees natildeo da regulaccedilatildeo mas a pender para a individualidade das

questotildees dos paiacuteses A gente anda muito preocupado com a biodiversidade do mundo e natildeo nos

esqueccedilamos da biodiversidade da raccedila humana dos seus contextos histoacutericos das suas culturas

Como eu me importo um pouco com isso acho que a resistecircncia cultural a um mundo uacutenico eacute

uma chave ideal para o mundo do futuro E por isso acho defendo a individualidade de ter

cursos diferentes conforme as culturas das sociedades porque senatildeo este mundo passa para o

continente uacutenico a sentirem todos o mesmo verem todos o mesmo programa de televisatildeo a

comerem todos hamburgueses e ldquofrench-friesrdquo que aquilo eacute uma hellip natildeo tem ponta por onde se

lhe pegue

E Como eacute que os paiacuteses que recebem ensino transnacional tecircm reagido agrave nossa presenccedila agrave

presenccedila de Portugal no seu sistema de ensino Ou seja noacutes os nossos cursos as licenciaturas

portuguesas tecircm sido bem recebidas tecircm-se integrado rapidamente Ou pelo contraacuterio haacute

algumas forccedilas de resistecircncia quer por parte das licenciaturas que jaacute existem nesses paiacuteses e ateacute

por parte dos Governos

B Haacute sempre algumas forma de resistecircncia e ainda bem que haacute quer dizer no casos que eu

conheccedilo bem nomeadamente Cabo Verde e Timor nomeadamente Cabo Verde evidentemente

que noacutes integraacutemos alguns Cabo Verdianos como professores mas haacute sempre a uacuteltima tentativa

de diversos quadros formados em vaacuterias partes do mundo de voltar ao seu paiacutes e dizer ldquo- noacutes jaacute

temos preparaccedilatildeordquo mas que se esbate quando se percebe que a gente natildeo vai tirar nenhum

mercado de trabalho queremos eacute sair quando aquilo for sustentaacutevel etc e no caso de Timor

conhece-se alguma resistecircncia e uma dificuldade de contacto ao princiacutepio com os professores da

chamada ldquoUniversidade Indoneacutesiardquo que laacute estava que nos viam como invasores como tirar o

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mercado de trabalho como mais bem preparados isso eacute normaliacutessimo existir Evidentemente

que se a gente quiser ir a um paiacutes qualquer e uma das universidades chegar em forccedila e tomar

conta do ensino haacute resistecircncia desses paiacuteses e ainda bem que haacute Mas imagine jaacute se o ensino

for muito forte e se puder ir avanccedilando a pouco e pouco essa resistecircncia esbate-se E que

medida eacute que a gente tem que ter A gente tem que ter uma medida que a gente vai bate e foge

quer dizer tem que tornar claro que a nossa acccedilatildeo de formaccedilatildeo eacute para sair mais tarde de facto o

caminho eacute a sustentabilidade e ter que estar laacute enquanto formos necessaacuterios quando natildeo formos

necessaacuterios natildeo haacute nenhuma nenhumahellip sustentaccedilatildeo neo-colonial de substituir os quadros

locais por quadros estrangeiros

E segundo agraves vezes tambeacutem haacute resistecircncias que satildeo resistecircncias que tecircm a ver com os

diferentes niacuteveis de qualificaccedilatildeo e isso quer dizer satildeo problemas mais gerais e se o niacutevel for

muito baixo as pessoas que vecircm de fora potildee em causa muitos quadros existentes que natildeo tecircm

muitas vezes preparaccedilatildeo e isso reflecte-se nos profissionais normais a um niacutevel dos chamado

institucional nunca vi nenhuma resistecircncia antes pelo contraacuterio

E Como eacute que explica por exemplo que em Timor e passado jaacute um ano depois da

independecircncia consigam subsistir cerca de vinte e tal universidades privadas para aleacutem da

Universidade Nacional de Timor Leste pela sua experiecircncia como eacute que acha possiacutevel a

subsistecircncia a permanecircncia de tantas aahellip instituiccedilotildees de ensino num paiacutes como Timor

B Se eu fosse Catoacutelico eu diria que Deus explicaraacute os milagres se fosse Muccedilulmano dizia

que era Alaacute Eu natildeo consigo explicar isso a natildeo ser por duas questotildees a questatildeo demograacutefica eacute

essencial para a gente explicar isso noacutes natildeo temos instituiccedilotildees que absorvam ningueacutem e temos

um nuacutemero muito grande de jovens a partir dos 18 anos e essa populaccedilatildeo natildeo tem perspectivas

de vida econoacutemica e logo pode andar nestes cursos todos a tentar alguma coisa mas tambeacutem a

ver se isso daraacute passagem depois para a Indoneacutesia com uma licenciatura aprovada etc A maior

parte desses cursos viveratildeo de de muito pouco dinheirohellip

E Do ponto de vista das instituiccedilotildees eacute que me faz um bocadinho mais de confusatildeo

B Do ponto de vista do Governo de Timor eacute que faz confusatildeo

E Do Governo e tambeacutem das proacuteprias instituiccedilotildees porque lucrativa a sua actividade natildeo

devem ser natildeo eacute Portanto natildeohellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B A Moacutenica estaacute completamente enganada porque eacute simples a nossa noccedilatildeo de lucrativa natildeo

eacute a noccedilatildeo de lucrativa desses paiacuteses quer dizer e quando vocecirc fala em lucrativa aquilo um

pequenohellip um pequeno lucro as pequenas propinas pequeno lucro pequenos ordenados

corresponde a uma saiacuteda de vidahellip

E hellip para muita gente

B O que eacute lucrativo tambeacutem a gente estaacute a falar em 80 da populaccedilatildeo que natildeo tem receita

nenhuma e aquihellip olhe para lhe dar o exemplo que tem agora o golpe de Satildeo Tomeacute um oficial

de Satildeo Tomeacute ganha hellip 40 euros a noccedilatildeo de lucro eacute uma noccedilatildeo que tem que serhellip tambeacutem

levada ao contexto ao concreto Evidentemente que se eu tiver 30 alunos e cada aluno pagar 10

euros e se eu tiver dois professores os dois professores jaacute estatildeo num niacutevel superior dessa

sociedade e outras questotildees que se devem ver na sua devida relatividade Mais impressionante

talvez eacute como eacute que se autoriza isto e quem eacute que daacute estes diplomas haacute diplomas que ficamos

sem perceber nada quer dizer ldquo- mostre caacute o diploma para que eacute que isto serve Anda a

enganar timorensesrdquo Haacute toda uma questatildeo aiacute a estudar para saber o que eacute que eacutehellip e num estudo

de caso a gente tiraria o que eacute que eacute aquilo A gente estaacute a falar um pouco no vazio A gente

estamos a falarhellip

E Eu tambeacutem duvido que se faccedilahellip

B Aliaacutes vocecirc esteve comigo outro dia com a Vice-ministra da Educaccedilatildeo (de Timor) e

apercebeu-se que a gente fosse perguntar sobre isto agrave Vice-ministra da educaccedilatildeo ela tambeacutem natildeo

sabia responder Aliaacutes eacute nesta relatividade do contexto a que pode chamar-se universidades a

uma coisa com umas cadeiras que ensina a ler e escrever e que como natildeo haacute mecanismos para

mostrar se aquilo eacute legal se natildeo eacute legalhellip noacutes vivemos aindahellip na ausecircncia de Estado e depois

quer dizer sem qualquer restriccedilotildees e regrashellip uma universidade natildeo eacute uma ilha eacute uma

universidade como eacute evidente

E Uacuteltima questatildeohellip

B Aliaacutes muitas daquelas devem dar cursos de inglecircs que eacute para as pessoas tiraremhellip

E (Risos) Para virem trabalhar para a Europa ou para a Austraacutelia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Deve ser uma coisa dessas

E Finalmente como avalia aahellip a meacutediolongo prazo os resultados da presenccedila de Portugal

em Timor e tambeacutem porque natildeo em Cabo Verde no que respeita ao desenvolvimento cultural

cientiacutefico econoacutemico etc

E Tudo isto tem do meu ponto de vista em termos de futuro vantagens extraordinaacuterias E as

vantagens que satildeo extraordinaacuterias satildeo o facto dahellip do relacionamento interpessoal

Evidentemente todos aqueles que forem formados em cursos FUP ficaratildeo com uma ligaccedilatildeo aos

professores agraves escolas agraves universidades portuguesas que dura toda a vida e conforme se durar

uma vida ou natildeo lembrar-se-atildeo e faratildeo os projectos de investigaccedilatildeo conjunta as trocas

conjuntas os seminaacuterios etc Tudo isso eacute um bem inestimaacutevel porque o relacionamento futuro

eacute um relacionamento interpessoal pessoas que natildeo se conhecem natildeo tecircm relaccedilotildees de

cooperaccedilatildeo natildeo tecircm nada a niacutevel de desenvolvimento natildeo tecircm nada Bom isto eacute essencial para

a Liacutengua Portuguesa para a presenccedila de Portugal para a cultura portuguesa quer dizer

portanto aliaacutes ainda hoje esteve aqui uma aluna minha de doutoramento que esteve laacute a dar

aulas recebe cartas dos alunoshellip recebeu agora uma carta dos alunos sabem que ela se vai

casarhellip a desejar-lhe muitas felicidadeshellip a perguntar se quer prenda a pedir coisas etc e tudo

isso eacute satildeo ligaccedilotildees para a vida

Aliaacutes da minha experiecircncia laacute que eu jaacute trabalho em Aacutefrica haacute muitos anos as relaccedilotildees

pessoais e o conhecimento pessoal com as pessoas ainda satildeo aquilo que faz a gente prosseguir

gostar das pessoas etc Isto seraacute o computo geral Agora qual eacute a visatildeo no futuro mas o futuro

depende de uma coisa que vocecirc jaacute disse aiacute que existia que eu natildeo sei se existe que eacute a estrateacutegia

de cooperaccedilatildeo eacute a estrateacutegia do investimento eacute a estrateacutegia da presenccedila Portuguesa os Centros

Culturais Portugueses quer dizer as bibliotecas aquilo que satildeo os investimentos natildeo tangiacuteveis

especialmente natildeo tangiacuteveis mas que eacute permanentemente levar cultura espectaacuteculo livros

ensino senatildeo natildeo daacute quer dizer o Centro Cultural Portuguecircs da Guineacute darem uns cursos no

Centro Cultural Portuguecircs de Liacutengua Francesa Haacute aqui uma seacuterie de coisa que tecircm a ver aiacute com

estrateacutegias de cooperaccedilatildeo com poliacutetica que eu natildeo me queria meter

Agora do ponto de vista do futuro das nossas universidades o que eu sei o conhecimento

interpessoal eacute absolutamente vital para estas pessoas se nunca nenhum professor tivesse ido a

Timor dar aulas a gente natildeo sabia de nada do que laacute estava

E Sim e conveacutem natildeo esquecer que a cultura portuguesa estaacute ali

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro B Eacute absolutamente vital eacute talvez do meu ponto de vista o mais vital Eacute um investimento

muito barato para o papel a niacutevel futuro da presenccedila portuguesa

E Muito bem agradeccedilo-lhe muitohellip

FIM

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ANEXO V

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm3

Entrevista realizada a um ex-reitor de uma Universidade Puacuteblica

Portuguesa alto responsaacutevel no Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas agrave data do iniacutecio do Programa de

Cooperaccedilatildeo Governamental com Timor-Leste

7 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador C = entrevistado C E Entatildeo a primeira questatildeo aahellip que eu tenho para lhe colocar e vou fazer talvez uma

introduccedilatildeo para nos contextualizarmos o ensino transnacional remonta agrave deacutecada de 80 tanto

quanto se sabe e estaacute nos livros e embora tenha assumido ao longo dos diferentes anos em que

tem evoluiacutedo diferentes nomenclaturas nomeadamente a internacionalizaccedilatildeo do ensino eacute o que

se tem normalmente chamado ou o desenvolvimento da cooperaccedilatildeo noutros paiacuteses etc o ensino

transnacional eacute um fenoacutemeno que natildeo eacute novo que natildeo eacute recente E que abrange jaacute vaacuterias

instituiccedilotildees de ensino portuguesas Partindo deste pressuposto desta introduccedilatildeo a minha pergunta

eacute se acha que as instituiccedilotildees de ensino superior portuguesas aahellip tecircm retirado algum proveito da

promoccedilatildeo de ensino transnacional ouhellip

C Repare se entender por ensino transnacional a oferta do ensino do ensino superior num

paiacutes diferente do de origem das instituiccedilotildees eu julgo que eacute isso ohellip natildeo tenho notiacutecia de muitas

iniciativas das instituiccedilotildees portuguesas fora do territoacuterio nacional a natildeo ser a iniciativa de Timor

porque digamos foi tatildeo faladohellip ahellip e a cooperaccedilatildeo das universidades puacuteblicas em vaacuterias

iniciativas nas instituiccedilotildees portuguesas uma eacute a MCarthy que eacute uma boa iniciativa da Gulbenkian

para Moccedilambique foi pena natildeo ser mais desenvolvida houve ali uma oportunidade que creio natildeo

foi suficientemente desenvolvida haveraacute em Cabo Verde algumas tambeacutem que eacute o caso mais

diversificado de iniciativas vocecirc pode chamar a todas de iniciativas de ensino transnacional e

depois Timor Mas Timor eacute que me parece serhellip configura-se como (hellip) Natildeo haacute em nenhuma

destas iniciativas um objectivo claramente comercial nem de se quiser de aproveitamento de

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

benefiacutecios imediatos por parte das instituiccedilotildees que se envolveram No caso de Timor houve

claramente uma iniciativa de solidariedade para com Timor

E Mas esseshellip as outras experiecircncias anteriores que satildeo conhecidas acha que o objectivo que

as move eacute o mesmo

C Estamos a falar naquelas que conheccedilo na experiecircncia com Moccedilambique que faz a

Gulbenkian tambeacutem foi um objectivo dessa natureza foi um objectivo de solidariedade para com

as universidades de Moccedilambique numa altura em que Moccedilambique estava a ressurgir da guerra

de 77 e que houve condiccedilotildees para retomar a cooperaccedilatildeo basicamente foihellip os outros natildeo

conheccedilo nem como presidente do CRUP estive minimamente envolvido nemhellip aqui na

Universidade de (hellip) eu acompanhei por exemplo noacutes nunca fizemos em relaccedilatildeo a Cabo Verde

uma iniciativa especialmente preparada nem temos muitahellip precisamente porque aqui na

Universidade tivemos a percepccedilatildeo de que havia jaacute tanta gente envolvida que natildeo valia a pena

estarmos a ser mais uma universidade a envolver-se

Agora o que euhellip portanto e respondendo mais directamente agrave sua pergunta natildeo creio

que tenha havido agrave parte de Timor e Moccedilambique neste caso uma iniciativa organizada geral das

universidades teraacute havido com certeza universidade a universidade mas essas eu natildeo conheccedilo O

que me permite dizer uma coisa que jaacute tenho vindo a dizer haacute muito tempo eacute que eacute uma falta

grave do sistema de ensino superior portuguecircs esta falta de organizaccedilatildeo parahellip para estar

presente ou acolher porque pode tambeacutem fazer-se ao contraacuterio ter uma oferta dirigida

naturalmente para destinataacuterios que natildeo sejam portugueses residentes

E Neste caso por exemplo vagas especiais um contingente de vagas especiais

C Natildeo sei se eacute isso tem que se arranjar um modelo exactamente Podia existir

exactamente cursos ouhellip ouhellip campos existentes ou mesmo cursos que fossem pensados e

desenhados para candidatos que natildeo satildeo necessariamente aqueles que habitualmente acedem ao

ensino superior Portanto eu cheguei a defender isso em tempos enquanto presidente do CRUP

que a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior universitaacuterio portuguecircs ainda estava por fazer de uma

forma proacute-activa Acontecia mas acontecia porque tinha que acontecer Acontecia porhellip por via

dos factos mas essa demonstrava o que evidenciava que isto era um mercado um mercado num

sentido de poder haver procura e poder haver capacidade de oferta eu julgo que nunca foi incluiacutedo

dentro das condiccedilotildees das instituiccedilotildees de ensino superior e portanto nunca deram fruto

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E considera que nunca teve na linha da frente das preocupaccedilotildees das universidades porque

pouco elas retiram dessas experiecircncias

C Natildeo necessariamente natildeo necessariamente natildeo necessariamente Natildeo digo que seja essa

a razatildeo O resultado pode ser esse o resultado pode ser esse Natildeo eu acho que repare o

seguinte haacute uma outra dificuldade eacute que por exemplo noacutes natildeo tiacutenhamos um sistema de

pagamento de propinas que permite ter no sistema de estudantes natildeo nacionais ou natildeo residentes

na Uniatildeo Europeia a pagar os custos reaise eacute oacutebvio que haacute um problema de natureza ateacute

poliacutetica saber se o sistema deve oferecer a natildeo nacionais lugares ao preccedilo que oferece aos

nacionais ou natildeo pagando propinas por exemplo como sabe natildeo eacute essa a praacutetica habitual em

projectos transnacionais e portanto noacutes natildeo natildeo tiacutenhamos nas universidades por ventura o

enquadramento adequado para as universidades portuguesas defenderem uma politico nessa

direcccedilatildeo Portanto eu natildeo creio que seja por natildeo poderem tirar daiacute vantagens mas eacute mais por natildeo

terem existido ateacute agora condiccedilotildees de governo das instituiccedilotildees onde elas pudessem tomar essa

opccedilatildeo e pudessem geri-la com a autonomia que se deve ter de modo a entatildeo sim avaliarem os

custosbenefiacutecios e inscreverem ou natildeo na sua comissatildeo Tambeacutem eu creio que a experiecircncia de

Timor demonstrou eacute um dos tais projectos que eu jaacute natildeo acompanho haacute muito tempo que oshellip

que porem outras missotildees em cima dos universitaacuterios quando eles jaacute estatildeo tatildeo divididos entre as

inuacutemeras tarefas que tecircm a fazer soacute deve acontecer quando existirem condiccedilotildees para eles para

poder haver distribuiccedilatildeo de tarefas e de funccedilotildees de uma maneira mais evidente de modo a que

aquilo que se faz seja claramente bem feito e feito comhellip com o tempo que as pessoas possam ser

disponibilizadas para isso portantohellip

E Claro

C Pode haver tambeacutem este problema como eacute que as universidades pagam esse esforccedilo extra

de ter um programa dirigido para um para um puacuteblico diferente daquele que eacute o puacuteblico habitual

que as frequenta Pode haver um problema desta natureza mashellip a mim parece-me que eacute um

caminho que pode trazer benefiacutecios agraves instituiccedilotildees Noacutes estamos no entanto a esquecermo-nos de

que jaacute estamos naquilo que acontece ao niacutevel da formaccedilatildeo doutoral e na formaccedilatildeo doutoral

nomeadamente no quadro da Uniatildeo Europeia e das redes de cooperaccedilatildeo cientiacutefica europeias mas

tambeacutem de outros paiacuteses noacutes jaacute temos um nuacutemero muito grande de pessoas que vecircem caacute fazer o

doutoramento ou que fazem alternacircncia passaratildeo caacute um periacuteodo e outro noutra instituiccedilatildeo com

claros benefiacutecios para as nossas instituiccedilotildees temos essa possibilidade

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E E o Professor percebeu que eventualmente haveria alguns benefiacutecios que as instituiccedilotildees

pudessem retirar do ensino transnacional Quer-me dar o exemplo de alguns

C Pois uma delas eacute criar um ambiente mais internacionalizado nas proacuteprias instituiccedilotildees e

isso a internacionalidade quer pelo facto dos seus docentes se envolverem nesse ambiente quer

pelo facto dessas ofertas poderem ter um desenho em que os estudantes passem um tempo no

proacuteprio campus das universidades ou nas escolas nos siacutetios onde as universidades tecircm as suas

origens e portanto haacute uma grande internacionalizaccedilatildeo de ambos portanto essa eacute logo uma Mas

pode como haacute bocadinho jaacute lhe referi e se a poliacutetica de pagamento de propinas lhe permitir o

pagamento dos custos que a instituiccedilatildeo entender que deve ter pode ter aiacute um retorno que seja

interessante Aahellip pode finalmente contribuir para instaurar uma verdadeira escola de poacutes-

graduaccedilatildeo em Portugal porque noacutes estamos ainda no comeccedilo da formaccedilatildeo poacutes-graduada e

portanto pode esse tipo de puacuteblico adiantar alguma actividade de poacutes-graduaccedilatildeo sistemaacutetica e

com um certo tipo de objectivos de desenvolvimento interessantes

E O professor considera que e partindo do princiacutepio que haacute maior competitividade entre as

instituiccedilotildees universitaacuterias a niacutevel nacional e ateacute a niacutevel europeu uma vez que estamos num

mercado global no contexto da globalizaccedilatildeo aahellip e focalizando-nos essencialmente no ensino

transnacional de Portugal em Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa acha que o aumento de ensino

transnacional de Portugal para outros paiacuteses pode ser considerado uma fuga para a frente no

sentido que as universidades tecircm cada vez menos alunos o corpo docente precisa de ser

potencializado digamos assim aahellip e entatildeo vamos aumentar o ensino transnacional como forma

de mantermos o nuacutemero de docentes como forma de continuarmos as actividades e alguma ateacute

alguma internacionalizaccedilatildeo Vecirc isso como uma fuga para a frente ou natildeo

C Vamos laacute a ver o problema tem de se por nestes termos essa aacuterea de graduaccedilatildeo eacute uma aacuterea

extremamente competitiva portanto soacute vatildeo ter hipoacutetese de ter uma intervenccedilatildeo minimamente

significativa as instituiccedilotildees que tenham qualidade Natildeo estou aqui a incluir o trabalho com as ex-

coloacutenias portuguesas nomeadamente em Aacutefrica natildeo eacute onde haacute claramente uma carecircncia docente

e pode acontecer que haja algum espaccedilo para oferta nesses proacuteprios paiacuteses e estamos a ver isso

com algumas instituiccedilotildees privadas Aahellip ora bem eu natildeo gostaria que as Universidades

Portuguesas aahellip sobretudo as Universidades Puacuteblicas que eu conheccedilo melhor aahellip tomassem

digamos entrassem em pacircnico com a situaccedilatildeo que existe de menos procura pelos habituais

destinataacuterios do ensino superior portanto a faixa etaacuteria de 18-24 anos Mas antes tomassem esta

conjuntura para se darem conta de que haacute um excesso de oferta do mesmo tipo hatilde Noacutes se

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

compararmos aquilo que eacute oferta de ensino superior em Portugal haacute oferta muito pouco

diversificada natildeo haacute verdadeiramente formaccedilatildeo diferenciada de ofertas e de tarefas natildeo temos

formaccedilotildees curtas praticamente nenhumas se formos aos Estados Unidos e maior parte dos

estudantes que frequentam o ensino superior entendendo por ensino superior todo o ensino poacutes-

secundaacuterio natildeo estatildeo em programas de ensino daqueles que noacutes apostamos estatildeo em programas

de ensino conducentes a diploma outros com diplomas de 6 anos mas ateacute podem se diplomas

com graduaccedilatildeo superior mas frequentemente diplomas de 6 anos eacute muito comum nos Estados

Unidos e no Canadaacute 60 da populaccedilatildeo do ensino superior dos vaacuterios Estados estarem em cursos

desses conducentes a diploma e natildeo de licenciatura em Portugal natildeo existe essa oferta Portanto a

pergunta que se tem eacute quem vai oferecer quem eacute que faz essa oferta nomeadamente quando

voltar a crescer o ensino secundaacuterio para niacuteveis tais que haja outra vez procura desse tipo de

formaccedilotildees natildeo eacute Portanto haacute aqui um problemahellip

E por isso eacute que eu digo natildeo gostaria de acreditar que o ensino superior em Portugal vai

tentar resolver a conjuntura actual sem pensar que deve diversificar a sua oferta porque aiacute eacute que

estaacute a resposta aos problemas Natildeo eacute a oferta transnacional aiacute seratildeo muito poucos os ganhadores

se falarmos em ganhadores aqueles que entram nesse mercado para ficar e ao entrar para ficar

tecircm que ter uma qualidade que lhes permita competir com a oferta em liacutengua Inglesa por

exemplo Portanto isso natildeo vai ser para todos

E Eacute o mais apeteciacutevel natildeo eacute por parte da procurahellip

C Claro que eacute por enquanto Pode ser que isto mude e que haja espaccedilo ateacute para uma

estrateacutegia para o mundo que fala Portuguecircs e Espanhol e portanto haveria tambeacutem que haver lugar

a algumas instituiccedilotildees posicionarem-se para esse mercado Portuguecircs e Espanhol e ateacute fazer

alianccedilas mas em qualquer dos casos um posicionamento seacuterio e de meacutediolongo prazo para a

oferta de ensino superior transnacional natildeo vai estar ao alcance de todos e quem fizer essa natildeo

deve fazecirc-lo de uma forma oportunista isto eacute ldquo- eu vou ali tentar mais um ano ou doishelliprdquo

porquecirc Porque natildeo deve isso obriga a um reposicionamento da instituiccedilatildeo a uma distribuiccedilatildeo

interna dos recursos agrave aprendizagem dessahellip desse tipo de actividade etc

Agora se as instituiccedilotildees natildeo estiverem para aiacute voltadas e quiserem realmente apenas

fazer mudar isso para aguentar um bocadinho a conjuntura admito que uma ou outra possa ser

melhor algum tempo mas natildeo tenho nenhuma duacutevida que entrar aiacute para ficar natildeo vejo estar ao

alcance de todos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O modelo que hoje em dia inclusivo aqui na Universidade (hellip) comeccedila a surgir quando

haacute velocidade de informaccedilatildeo e modelos de ensino agrave distacircncia ndash e-learning como eacute que vecirc no

futuro o ensino transnacional em funccedilatildeo do e-learning ou seja acha que esse tipo de formaccedilatildeo de

ensinoaprendizagem pode substituir o ensino presencial no que toca ao ensino transnacional

C Bem ningueacutem eacute capaz de dizer qual eacute o papel exacto que o ensino agrave distacircncia o e-learning

vai ter No entanto toda a gente que eu tenho visto pronunciar-se com alguma percepccedilatildeo e

conhecimento desse tipo de ensino sugere eacute que ele vai ter uma presenccedila e uma presenccedila muito

significativa O que eu costumo dizer eacute talvez natildeo seja possiacutevel dizer jaacute qual vai ser o papel do

ensino agrave distacircncia mas que ele vai ter um papel e um papel muito forte vai ter E tanto vai ter no

territoacuterio nacional como vai ter no internacional e portanto noacutes aqui nas primeiras iniciativas que

fizemos vimos logo que havia muita gente interessada de variadiacutessimos territoacuterios e portanto haacute

lugar para isso Mas eu volto a insistir quem quiser posicionar-se para a utilizaccedilatildeo dessa

tecnologia e desse mundo tem de ser capaz de o fazer muito bem

E Tem de se profissionalizar

C Tem de fazer muito bem

E Tem que ter qualidade

C Portanto voltamos agravequilo que eu haacute bocado lhe dizia eu acho que eacute um bom momento

para as instituiccedilotildees se posicionarem perante o mercado e o mercado aqui significa oferta nacional

diversificada em que se inclua a capacidade de ter um nuacutemero muito grande de pessoas eu agora

jaacute natildeo falo apenas sobre os 18-24 mas tambeacutem adultos em formaccedilotildees natildeo conducentes a grau isto

natildeo existe vai ter que existir e se o ensino superior puacuteblico natildeo se posicionar para isto isto vai

aparecer por si proacuteprio porque vai haver muita gente que realmente querem vir aprender certo

tipo de coisas este tipo de competecircncias mas natildeo querem caacute vir fazer um grau Portanto quem eacute

que vai oferecer isso Natildeo havendo uma oferta evidente algueacutem iraacute oferecer portanto eacute preciso as

instituiccedilotildees posicionarem-se para isso Eacute preciso decidirem se querem realmente entrar a seacuterio na

formaccedilatildeo poacutes-graduada no mestrado e doutoramento a competir com as ofertas que existem neste

tipo de formaccedilatildeo para as pessoas que existem no territoacuterio e aiacute sim para outras fora do territoacuterio

nacional

Quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer istohellip e por sua vez quem eacute que se torna

competitivo quem eacute que estaacute em condiccedilotildees de fazer isto em parcerias internacionais europeias

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

multi-linguiacutesticas com o uso da liacutengua portuguesa com outras liacutenguas ouhellip portanto haacute aiacute um

grande espaccedilo e noacutes noacutes sentimos aqui em (hellip) haacute oportunidade para fazer isso quem eacute quehellip

sim senhora quem eacute que faz o quecirc natildeo faz sentido competir em todas as aacutereas mas haacute lugar para

isso Como eacute que nos vamos organizar eu acho que este eacute um desafio para as unihellip para

corresponder e tecircm-me chegado vaacuterias solicitaccedilotildees dos antigos territoacuterios coloniais portugueses

nomeadamente em Aacutefrica Angola e Moccedilambique que satildeo grandes espaccedilos satildeo espaccedilos que vatildeo

tendo a necessidade crescente de ensino superior de qualidade e eu tenho recebido vaacuterios apelos

no sentido das universidades puacuteblicas estarem mais por dentro do desenvolvimento dos sistemas

Como eacute que vamos estar Cada umhellip cada universidade iraacute por si ou haacute uma articulaccedilatildeo outra

vez portanto se calhar natildeo eacute uacutetil todos estarem em tudo mas talvezhellip fizesse sentido haver aiacute

uma poliacutetica nacional Como o ensino agrave distacircncia o ensino agrave distacircncia tambeacutem eacute um desafio mas

eacute um desafio que exige grande qualidade muito profissionalismo e pessoas que dediquem uma

parte muito significativa do seu tempo a fazer isso se fizerem isso natildeo podem fazer outras coisas

E Com programas ateacute especiacuteficoshellip

C Claro Exactamente

E Ainda bem que falou em qualidade porque o ensino transnacional eacute muitas vezes acusado

de falta de transparecircncia e de natildeo haver um controlo de qualidade natildeo haverhellip um mecanismo

regulador Eu pergunto regra geral acha que efectivamente estas acusaccedilotildees satildeo justas para quem

regra geral promove o ensino superior transnacional nomeadamente nas universidades ouhellip e jaacute

agora no caso de Timor se conhece qual eacute o modelo e se acha efectivamente que estas

acusaccedilotildees ao modelo que estamos neste momento a utilizar em Timor se satildeo ou natildeo satildeo

aplicaacuteveis uma vez que se trata de docentes das universidades puacuteblicas portuguesas na sua

maioria e politeacutecnico

C Eu em relaccedilatildeo agrave criacutetica geral natildeo tenho acompanhado e natildeo sei sei que haacute uma

preocupaccedilatildeo da qualidade da oferta natildeo eacute essa eacute que eacute ahellip Mas haacute um problema adicional eacute o

problema de ainda das directivas do GATS sobre considerar ou natildeo o ensino superior como um

serviccedilo e a sua total liberalizaccedilatildeo e natildeo estaacute ainda adquirido que assim natildeo seja portanto eu

inscrevia esta situaccedilatildeo como preocupaccedilatildeo ainda prioritaacuteria em relaccedilatildeo depois de garantir a

qualidade porque se ele for considerado um serviccedilo e entrar naquilo que eacute a loacutegica do comeacutercio

internacional de serviccedilos os problemas de afericcedilatildeo da qualidade ou de ausecircncia de qualidade potildee-

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se em relaccedilatildeo a esse serviccedilo como se potildee aos outros e portanto entramos ali numa nova era e numa

era muito problemaacutetica nomeadamente para paiacuteses como o nosso e ateacute para os passos em relaccedilatildeo

aos quais noacutes queremos e ambicionamos natildeo eacute

Em relaccedilatildeo a Timor e ao que estaacute a acontecer em Timor eu natildeo acompanhei ou natildeo

acompanho haacute trecircs anos para aiacute o que se estaacute a passar e portanto natildeo faccedilo ideia porque apanhei

aquilo mesmo no comeccedilo natildeo eacute No comeccedilo depois teve um problema que foi este foi houve

uma boa preparaccedilatildeo e um bom envolvimento das universidades e um bom arranque creio que

houve depois dificuldade em manter equipas relativamente estaacuteveis no terreno e com pessoas com

algum grau de solidariedade Passaramhellip aquilo que eu fui encontrar quando estive no terreno foi

gente muito jovem e com uma certa dificuldade em lidar com uma realidade diferente com que

tinham lidado portanto natildeo eram problemas se quiser de qualidade eram problemas de ajuste

entre aquilo que era a situaccedilatildeo no terreno e aquilo que eram as perspectivas das pessoas que tendo

relativamente pouca experiecircncia logo tinham como experiecircncia de vida a sua proacutepria experiecircncia

que ainda era relativamente curta Natildeo sei como eacute que isso se corrigiu mas parece-me que na

altura era a questatildeo a corrigir e os directores dos vaacuterios cursos pareceu que estavam cientes que

isso era um problema a ser acompanhado Tambeacutem encontrei um eco extremamente positivo do

que estava a acontecer ao ponto de quando eu fui para Timor ter tido uma manifestaccedilatildeo dos

alunos da Universidade Nacional de Timor-Leste a quererem ter o ensino em Portuguecircs e a

colaboraccedilatildeo dos nossos docentes nos proacuteprios cursos da Universidade portanto se isso estava a

acontecer na altura era porque havia uma valorizaccedilatildeo muito positiva da docecircncia dos cursos que a

FUP laacute estava a coordenar e a que as universidades estavam a proporcionar Pois esta eacute a memoacuteria

que eu tenho e portanto pareceu-me que era uma iniciativa com um potencial que era uma

iniciativa que nessa altura estava a ser apreciada e valorizada e que se tivesse o desenvolvimento

que este tipo de valorizaccedilatildeo implicava com certeza que soacute tinha a ganhar em continuar porque

na loacutegicahellip soacute dois anos passaram portanto neste momento deveratildeo estar no 3ordm ano do curso

talvez natildeo eacute Estatildeo no 3ordm ano

E Vamos entrar no 3ordm anohellip relativamente ao que eu digo eacute que o cenaacuterio que me descreveu

eacute o cenaacuterio actual quer dizer a dificuldade para levar pessoas com experiecircncia no terreno estaacute a

ser grande aahellip podiacuteamos depois avaliar quais satildeo os motivos que levam a isso a verdade eacute que

satildeo os docentes mais jovens que continuam a candidatar-se e efectivamente a receptividade de

Timor para com os cursos da FUP continua altiacutessima aahellip inclusivamente estamos a ver haacute o

reiniacutecio de novos primeiros anos portanto o projecto estava desenhado para abrirmos 2 vezes o

primeiro ano neste momento Timor e o Governo Portuguecircs querem que se continue a abrir

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primeiros anos por mais duas ou trecircs vezes portanto isto deve estar para durar E portanto o

cenaacuterio que me descreve eacute exactamente ohellip julgo eu nemhellip

C Mas (hellip) para as universidades portuguesas fazerem uma avaliaccedilatildeo sentarem-se agrave volta de

uma mesa e fazerem uma avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do desempenho que estatildeo a ter e aahellip

debruccedilarem-se sobre se eacute essa a presenccedila que querem ter ou natildeo eacute natildeo eacute

E Entatildeo na sua na sua perspectiva haacutehellip aahellip em funccedilatildeo desse cenaacuterio que descreve e que eu

confirmo que eacute o actual haacute mateacuteria para discussatildeo para melhoramento e para introduccedilatildeo de

melhorias

C Na minha opiniatildeo sem duacutevida Um programa destes tem que ser sujeito a avaliaccedilatildeo

sistemaacutetica e a uma situaccedilatildeo sistemaacutetica porque eacute um programa difiacutecil eacute um programa exigente

para as universidades e para os e para os docentes eacute um programa que vai ter pessoas que vatildeo

depois da experiecircncia querer continuar mas haveraacute outras que natildeo vatildeo querer continuar e

portanto eacute um programa que vai ter que gerir estas estas explicaccedilotildees e portanto precisa de uma

avaliaccedilatildeo sistemaacutetica portanto tem que ter da conduccedilatildeo da poliacutetica universitaacuteria quer da

conduccedilatildeo da poliacutetica do Governo para esse programa uma atenccedilatildeo sistemaacutetica e uma atenccedilatildeo

regular aahellip e como lhe disse haacute bocadinho a mim parece-me que temos aiacute no terreno uma

experiecircncia que nos pode ensinar a lanccedilarmo-nos para outro tipo de experiecircncias porque por

exemplo poderia-se pensar numa experiecircncia anaacuteloga para Angola onde numa situaccedilatildeo parecida

com Timor se vir bem o fim de guerra e a passagem a um clima de paz que vai exigir um esforccedilo

de desenvolvimento do paiacutes extraordinaacuterio que estaacute centrado e feito laacute e que vai ter com certeza

interesse em formar os seus quadros laacute para eles natildeo saiacuterem portanto podia perfeitamente pensar-

se em aprender com Timor como eacute que se potildee uma oferta destas num territoacuterio fora do paiacutes

pensado de uma forma que seria a alternativa provaacutevel porque um programa destes se pensar

bem o que foi o primeiro programa o primeiro programa foi soacute fazer com que as pessoas

correspondessem agrave necessidade que havia para a cultura portuguesa e as pessoas foram para laacute

professores universitaacuterios a ensinar as pessoas as primeiras palavras em portuguecircs aahellip reciclar

alguns professores criar interesse das pessoas pela escola e pela liacutengua portuguesa e pelahellip e pela

afeiccedilatildeo com Portugal portanto haacute aiacute outra dimensatildeo da poliacutetica internacional de Portugal que natildeo

eacute despiciente portanto por isso eacute que eu dizia haacute dois planos nisto haacute o plano da poliacutetica

universitaacuteria e haacute o plano da poliacutetica do Estado Portuguecircs e portanto uma apreciaccedilatildeo sistemaacutetica a

esse projecto permitiraacute ver que correcccedilotildees devem ser feitas Eu encontrei laacute algumas pessoas que

davam vaacuterias horas de aulas por dia e satisfeitas e encontrei outras que natildeo estavam tatildeo

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entusiasmos que natildeo era bem aquilo que elas queriam fazer natildeo devem ser levadas a mal por

isso as pessoas foram experimentar e pelo facto de laacute terem ido jaacute fizeram um grande trabalho

natildeo devemos tomar como dramaacutetico elas saiacuterem de laacute ldquo- Eu natildeo gostaria de ter outra experiecircncia

em Timorrdquo Era preciso eacute que as outras que se as conseguiacutessemos manter no programa sem elas

prejudicarem em excesso a sua proacutepria vida profissional porque alguns deles alguns professores

que eu laacute vi satildeo professores jaacute seniores com experiecircncia outros eram professores relativamente

jovens mas jaacute com uma vida universitaacuteria bastante significativa e depois eacute preciso compatibilizar

isto com o resto Quer dizer acho que para quem conduzir o programa isto eacute uma forma isto eacute

umahellip

E Por exemplo o caso dehellip um caso de estudohellip

C Exactamente mas natildeo mas eacute diferente portanto natildeo eacute natildeo eacute trivial

E Hum Hum

C Portantohellip

E E como eacute que o professor veria num futuro proacuteximo uma avaliaccedilatildeo do projecto por

comissotildees de peritos de pareshellip

C Para jaacute tem de serhellip repare nas avaliaccedilotildees eu acho que se deve escolher pessoas que

tenham alguma experiecircncia de avaliaccedilatildeo que estejam dispostos se natildeo tiverem experiecircncia a

aprender como eacute que se faz avaliaccedilatildeo que estejamhellip que tenham alguma capacidade de ver o que

eacute o projecto e o que eacute que ele significa e de olhar para paiacuteses destes natildeo eacute porque realmente

quem nunca olhou para estes paiacuteses e natildeo eacute sensiacutevel agravequilo que eacute a sua realidade muito concreta

pode natildeo ter vaacute laacute nem disponibilidade nem os olhos para vecircr o projecto naquele contexto

Mas eu natildeo fazia uma equipa muito grande fazia uma equipa relativamente pequena com

pessoas que tivessem estas condiccedilotildees fossem capazes de perceber o ambiente os objectivos do

projecto e depois ir ao local e ver como eacute que os objectivos se cumpriram ou natildeo cumpriram

F O modelo australiano para o ensino transnacional acabou por como forma de implementar

esses mecanismos de controlo de regulaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo o que se lhe quiser chamar acabou

por absorver por usar como estrateacutegia a absorccedilatildeo do ensino transnacional que estava for a dos

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circuitos formais de ensino e chamaacute-lo a si e absorvecirc-lo nas suas proacuteprias estruturas formais de

forma pontual digamos assim Acha que no futuro isto poderia ser uma boa estrateacutegia para o

ensino transnacional neste caso em Timor em Cabo Verde

C Mas estaacute a dizer isso do ponto de vista da oferta

E Do ponto de vistahellip portanto o ensino formal o ensino formal os sistemas puacuteblicos de

ensino australianos acabaram ao longo do tempo por absorver o ensino transnacional que

existia no paiacutes portantohellip

C Se uma universidade Grega estivesse a oferecer um programa na Austraacutelia como eacute que

eles faziam

E Exactamente acabavam porhellip por absorver esse curso nas suas proacuteprias estruturas na sua

proacutepria universidade o curso passaria a ser neste caso em termos concretos os cursos da FUP

em Timor passariam a constar do sistema de ensino nacional eacute mais ou menos isto Sujeitos a

todas as regras a todas as leis formais que vigorassem no paiacutes

C Claro Bom se se conseguir que o ensino superior natildeo seja metido na regra do GATS eacute

evidente que o ensino superior pode ser em cada Estado tratado dentro do que satildeo as leis desse

Estado para a oferta do ensino superior e portanto teratildeo o tratamento que essas leis permitirem

para a oferta que vem das suas proacuteprias estruturas para as instalaccedilotildees de outros paiacuteses em causa

Eu preferia isso porque me parece que o ensino superior e sobretudo o ensino universitaacuterio e a

educaccedilatildeo universitaacuteria e a universidade fazem parte em grande medida das instituiccedilotildees que

que de algum modo estruturam o Estado Naccedilatildeo e satildeo de algum modo os garantes daquilo que

satildeo os valores ashellip ou pelo menos satildeo o siacutetio onde esses valores e os princiacutepios de organizaccedilatildeo

dos Estados e das culturas nacionais satildeo preservadas e desenvolvidas portantohellip nessa medida

eu natildeo levaria e por isso eacute que eu o problema do GATS eacute um problema tambeacutem tatildeo agudo eu

preferiria que se mantivesse dentro dos poderes dos Estados as poliacuteticas do ensino superior e em

particular do ensino universitaacuterio portanto essa seraacute uma forma de garantir que ohellip quando se

fala do ensino transnacional natildeo se fala de ensino superior como serviccedilo comercial o

desenvolvimento de carreiras comerciais portanto essa eacute verdadeiramente e luta entre estas

duas opccedilotildees que estatildeo em causa natildeo eacute Quando jaacute todas fazem isso eles estatildeohellip estariam

admito eu a distanciar-se da opccedilatildeo a) natildeo sei se isso eacute verdade ou natildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Eu posso deduzir pelas suas palavras que eacute absolutamente contra a introduccedilatildeo do sector da

educaccedilatildeo no GATS

C Claramente

E Vecirc algum risco para a qualidade do ensino

C Natildeo eacute soacute pela qualidade a proacutepriahellip eacute tambeacutemhellip eu acho que noacutes perigamos em ser

Naccedilotildees diferentes e termos identidades nacionais e culturas nacionais com alguma capacidade

de se afirmarem e isso eacute essa medida de incorporaccedilatildeo do ensino superior nos serviccedilos

comerciaacuteveis na loacutegica do GATS seria uma machadada nesta relaccedilatildeo

E Seria ou vai ser porque eu daacute-me ideia que o GATS estaacute aiacute parahellip

C Eu acho que tem havido ateacute aqui tem havido claras vozes contra isso eacute preciso eacute

trabalharhellip

E Mas haacute paiacuteses que estatildeo a assinar acordos natildeo eacute

C Natildeo me parece que seja assim tatildeo expressivo e portanto acho que se estaacute a tempo de

manter uma posiccedilatildeo claramente dominante contra essa tendecircncia mas agora natildeo se pode eacute

dormir agora satildeo outras plataformas que movimentam essa (hellip) e portanto as plataformas da

educaccedilatildeo e da investigaccedilatildeo cientiacutefica e do ensino superior essas plataformas que tecircm de se

movimentar senatildeo podem ser dominadas por outras

E E acha que em Portugal vai manter-sehellip

C Portugal estava um pouco a leste disso natildeo estava a acompanhar sequer isso natildeo havia

grande informaccedilatildeo ateacute haacute pouco tempo natildeo sei como eacute que estaacute neste momento porque natildeo

tenho acompanhado mesmo mas quer dizer de maneira que haacute aqui um problema aqui de

Portugal os portugueses estatildeo um bocado frios em relaccedilatildeo e esse problema eu creio que

ultimamente tem havido maishellip um bocadito mais de consciecircncia de que haacute esse problema

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E O Professor recorda-se na altura quando comeccedilou o projecto de Timor se Governo de

Timor teve alguma intervenccedilatildeo teve alguma palavrahellip acompanhou a selecccedilatildeo dos cursos que

noacutes fomos ministrar

C Com certeza que acompanhou entatildeo o Padre Filomeno Jacob que nessa altura foi do

Governo de transiccedilatildeo (hellip) os cursos foram escolhidos com o apoio directo e na presenccedila do

Governo de Transiccedilatildeo na altura e mesmo a proacutepria estrutura dos cursos e todo o programa ele

deslocou-se a Portugal vaacuterias vezes e trabalhou com o Prof (hellip) e teve algumas reuniotildees com a

Comissatildeo interna que estava a trabalhar nisso foramhellip e mandou-se para laacute depois no fim os

Programas foi mandado para Timor para aprovaccedilatildeo do Governo

E Portanto os cursos servem naturalmente os interesses de Timorhellip

C Exactamente foram desenhadoshellip

E hellip foram desenhados para servir os interesses de Timor

C Claramente exactamente E devem continuar a ter esse sentido natildeo eacute Os Timorenses

queriam claramente que fossem cursos que tivessem uma qualidade garantida e que a qualidade

fosse aferida agrave qualidade profissional em Portugalhellip

E Esta pergunta pode ser um bocadinho indelicada mas acha que o que move as

universidades portuguesas a estar neste momento em Timor satildeohellip objectivos de cooperaccedilatildeo ou

econoacutemicos Natildeo de imediato mas num futurohellip

C Natildeo faccedilo a miacutenima ideia porque natildeo tenho acompanhado os processos

E Mas enquanto (hellip)

C Na altura eu creio que o interesse genuiacuteno de muitos era pela cooperaccedilatildeo ok O

interesse genuiacuteno pela cooperaccedilatildeo Natildeo sei se todas as pessoas que tinham interesse genuiacuteno

pela cooperaccedilatildeo se mantiveram e portanto eacute uma pergunta que deve ser feita agraves universidades e

ateacute se as pessoas que foram envolvidas nos primeiros programas e se foram laacute naquela

campanha muito difiacutecil se estatildeo minimamente envolvidas pode suceder que elas tenham ido de

um modo geral eu falei com elas e elas gostaram e de um modo geral acharam que foi uma

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

experiecircncia muito enriquecedora natildeo sei se as universidades usaram essas pessoas aquelas que

estavam envolvidas neste programa e portanto tambeacutem natildeo como lhe disse haacute bocadinho natildeo

sei se se monitorizou a reacccedilatildeo das pessoas que depois foram jaacute para os proacuteprios cursos de

maneira a distinguir aquelas que o fizeram pela cooperaccedilatildeo portanto vamos ver o seguinte eu

creio que muito provavelmente ningueacutem quereraacute ir a Timor se natildeo tiver algum interesse pela

cooperaccedilatildeo Natildeo digo que isso esteja a acontecer porque eacute um esforccedilo eacute um esforccedilo

extraordinaacuterio Natildeo haacute mal nenhum e eacute perfeitamente normal que as pessoas acautelem de

algum modo uma compensaccedilatildeo por esse esforccedilo porque as pessoas estatildeo claramente a fazer

um esforccedilo para aleacutem do que eacute a sua actividade normal Aahellip portanto acho que tem que haver

aiacute um juiacutezo prudente e aquilo que devia contar eacute se eacute ou natildeo possiacutevel agraves universidades disporem

de um conjunto de pessoas que tecircm esse interesse e disponibilidade para fazer esse trabalho e se

se lhes pode oferecer condiccedilotildees para elas o poderem fazer sem porem em risco a sua vida

profissional futura que natildeo eacute bom para elas nem eacute bom para as proacuteprias universidades desde

que esse equiliacutebrio exista eu natildeo acho que haja aiacute um conflito

E Eu referia-me agrave universidade enquanto instituiccedilatildeo enquanto politica de cooperaccedilatildeo da

proacutepria universidade isto eacute Timor eacute sem duacutevida um o nosso ldquopezinhordquo no Orientehellip

C Sim

E hellip acha que as Universidades vecircem a cooperaccedilatildeo actual comohellip uma forma de no futuro

aahellip irem para hellip

C Natildeo creio natildeo creio que nenhuma universidade esteja a ver a cooperaccedilatildeo com Timor como

um passe para um futuro bi- direccional Natildeo tenho isto tem o valor que tem eacute uma impressatildeo

minha Eacute uma impressatildeo minha natildeo me parece natildeo me parece

Agora voltamos a algumas das suas primeiras perguntas natildeo era mal nenhum e podia ser

ateacute bem que existisse um nuacutemero um certo nuacutemero de universidades que se punham de acordo

em ter um programa de intervenccedilatildeo e de internacionalizaccedilatildeo que significasse ter acesso aos (hellip)

e que isto fosse uma parte de uma estrateacutegia onde aparecia outro tipo de incentivos mas natildeo

tenho grande expectativa em relaccedilatildeo a que as universidades estejam a pensar nisso

E Como eacute que avalia num futuro proacuteximo a intervenccedilatildeo de Portugal em Timor no que diz

respeito aahellip agrave sociedade agrave vida cultural econoacutemica acadeacutemicahellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro C Isso vai depender muito dos timorenses eacute como eu digo vai depender sobretudo dos

timorenses que eles eacute que sabem que papel eacute que querem que Portugal tenha aiacute Mas natildeo eacute

menor a atenccedilatildeo diplomaacutetica e que foi dada agraves relaccedilotildees de Portugal com Timor Eacute preciso saber

que natildeo haacute repare a presenccedila de aahellip professores na universidade de Timor como cooperantes

que eacute um programa relativamente barato se formos pensar agora em outro tipo de iniciativas

que Portugal tem em termos de cooperaccedilatildeo internacional tinha um efeito multiplicador

extraordinaacuterio e era extraordinariamente apreciado pelas populaccedilotildees timorenses Imagine o que

seria se em vez dos 300 professores que noacutes conseguiacuteamos ter em Timor tiveacutessemos os mil que

o Senhor Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres prometeu que teriam em Timor mas (hellip) que

isso tem um efeito extraordinaacuterio e esse programa podia ser perfeitamente articulado com o

programa para as universidades E imagine agora que isso correspondia ao desejo da

Universidade de Timor Leste de por a usar a liacutengua portuguesa como sua liacutengua fundamental de

ensino estas trecircs coisas juntas divididas como um pacote da diplomacia portuguesa para Timor

se os timorenses quisessem por isso eacute que eu digo que quem primeiro decide satildeo os timorenses

isto iria ter um efeito brutal em termos da escolha timorense da liacutengua portuguesa e de uma

relaccedilatildeo bastante proacutexima com Portugal Se se conjugasse esta continuaccedilatildeo desta escolha de

portuguecircs com Portugal com capacidade de ter um esforccedilo de financiamento e de presenccedila e de

presenccedila que duplicasse pelo menos o nuacutemero de professores laacute e correspondesse ao desejo da

universidade nacional de Timor Leste como agora a proacutepria igreja quer instituir a universidade

catoacutelica poderia haver aqui um conjunto de factores que podiam e eu eu quando estive em

Timor sabia que da parte dos timorenses realmente haacute uma grande afectividade para com os

portugueses e para Portugal de uma maneira que eu nunca vi em nenhum lado e jaacute estive em

vaacuterios paiacuteses que foram coloacutenias portuguesas portanto muito diferente haacute ali uma miacutestica

completamente uacutenica que natildeo eacute comum

Bom mas se isto acontecer tudo bem se isto natildeo acontecer eacute evidente que a populaccedilatildeo

timorense vive muitas dificuldades diversas dificuldades em sair continuar a ter essas

dificuldades em sair da situaccedilatildeo de esteve para uma situaccedilatildeo de maior bem estar e tal e saiu

Ora bem o peso dessas dificuldades eacute um peso contra outro tipo de objectivos qual vai ser o

predominante vatildeo ser as dificuldades econoacutemicas e de sauacutede e de saneamento portanto e de

seguranccedila dehellip qual vai ser o outro caminho dehellip quem tem condiccedilotildees para dizer natildeo sei

E E se calhar nem eles natildeo eacute ainda estatildeo muito perdidos

C Mas eu creio que o programa universitaacuterio pode ser um excelente contributo todo o

programa universitaacuterio eacute a melhor coisa que Portugal pode proporcionar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Eacute uma arma uma arma que um instrumento de dehellip

C Um instrumento E defenderem a sua opccedilatildeo cultural e dehellip e de afirmaccedilatildeo como povo

naquela regiatildeo natildeo eacute

E Mas eu jaacute ouvi o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no passado dizer que a escolha da liacutengua

portuguesa foi precisamente para que aahellip se distinguissem aahellip os timorenses dos restantes

paiacuteses asiaacuteticoshellip

C Claro Claro e haacute muito tempo se provou que uma opccedilatildeo por uma identidade e uma liacutengua

com grande consistecircncia que foram aliaacutes Timor eacute um caso exemplar a resistecircncia de Timor

teve que ver com a nossa proacutepria identidade foi aquelehellip com a liacutengua com o factor dessa

identidade e dessa unidade Eles tecircm razotildees muito seacuterias para terem feito a opccedilatildeo que fizeram

oxalaacute tenham condiccedilotildees para digamos fazerem vingar essa opccedilatildeo e aiacute eacute que vamos noacutes ter

condiccedilotildees para os ajudar e corresponder ao desejo deles dehellip a concretizar essa opccedilatildeo ou natildeo

temos Bom volto ao que haacute bocadinho lhe disse haacute o plano da poliacutetica do governo e haacute o

plano da poliacutetica das instituiccedilotildees depois se forem bem apreciados talvez consigamos dar um

contributo nosso

E E Portugal soacute tem a ganhar com isso tambeacutem natildeo eacute

C Tem claro que tem eacute evidente que tem Acho que sim eacute uma referecircncia importante numa

aacuterea bastante boa e eacute uma eacute um reconhecimento que ele tem do papel na cultura e da histoacuteria de

Portugal no mundo quer dizer tem pontos difiacuteceis mas tambeacutem tem outros que as pessoas

reconhecem que tecircm valor e portanto noacutes aahellip natildeo podemos dar a volta agravequilo que somos e ao

passado que temos devemos pensar que esta presenccedila nas condiccedilotildees em que ela estaacute a ser

desenvolvida e solicitada soacute nos honra natildeo eacute

E Exactamente Bom uma uacuteltima pergunta para natildeo o maccedilar Sabe se os cursos que

Portugal promove em Timor tecircm o grau reconhecido nomeadamente em Portugal e noutros

paiacuteses europeus

C Eu natildeo sei se essa questatildeo foi adequadamente resolvida aahellip portanto isso de estar repare

houve ali uma grande tentaccedilatildeo de se arrancar com estes projectos tatildeo cedo quanto se pudesse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Havia que ter depois um desenvolvimento de aspectos mais formais que natildeo sei se foram jaacute

feitos Repare o seguinte haacute um problema quem eacute que concede aquele grau Natildeo sei se estaacute a

ver isso Qual eacute a entidade que concede aquele grau parahellip

E Julgo que eacute a Universidade Nacional de Timor-Leste

C Se for aquele diploma tem o valor que tecircm os diplomas da Universidade Nacional de

Timor-Leste mas isso eacute que era de pensar Se for um diploma de universidades portuguesas eacute

preciso saber quem satildeo as universidades que vatildeo dar o grau e se for eacute um diploma de

universidades portuguesas tem o valor do diploma de universidades portuguesas portantohellip

E Mas na altura isso foi uma preocupaccedilatildeo

C Natildeo creio Natildeo natildeo natildeo foi porque era a preocupaccedilatildeo inicial foi preparar os cursos

lanccedilaacute-los ter condiccedilotildees para eles comeccedilarem mais cedo o que foi possiacutevel natildeo eacute E foi

respondido ao interesse que os proacuteprios timorenses tinham que assim fosse e houve questotildees que

tiveram que se ir resolvendo agrave medida que chegou a oportunidade de lhes responder a natildeo ser

que mas natildeo tenho conhecimento que se tenhahellip

E Mas foihellip nunca chegou a serhellip

C Natildeo me recordo que eu tenha memoacuteria que eu tenha memoacuteria natildeo Estaacute bem Mas ainda

estaacute a tempo

E Da minha parte estaacute tudo natildeo sei se quer fazer alguma pergunta

C Natildeo acho que estaacute bem

E Muito obrigada

FIM

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ANEXO VI

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm4

Entrevista realizada a um membro do Governo ligado ao Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior

08 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador D = entrevistado D E Bom eu iria talvez comeccedilar por perguntas mais geneacutericas de ordem mais geneacutericas no

que respeita ao ensino transnacional nomeadamente o ensino tranancional dos paiacuteses europeus

em particular Portugal Iria comeccedilar por lhe perguntar o seguinte as instituiccedilotildees de ensino

superior costumam dizer que o ensino transnacional uma das virtudes que tem para as

Universidades e aos Politeacutecnicos eacute realmente um melhor desempenho do corpo docente a

Internacionalizaccedilatildeo a oportunidade de internacionalizaccedilatildeo o desenvolvimento curricular o

cientiacutefico das instituiccedilotildees aahellip eu gostaria que me dissesse se efectivamente acha que satildeo esses os

benefiacutecios que as instituiccedilotildees retiram da cooperaccedilatildeo nomeadamente com paiacuteses de liacutengua oficial

portuguesa ou se pelo contraacuterio acha que eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia face ao processo de

globalizaccedilatildeo face agrave competitividade a que as instituiccedilotildees estatildeo sujeitas aahellip ou que sejam de

ordem econoacutemica quer dizer haacute uma seacuterie de outras possibilidades que poderatildeo aahellip levar a que

as instituiccedilotildees realmente apostem nesse tipo de actividades Qual eacute a sua opiniatildeo sobre isto

D Eacute fundamentalmente a possibilidade de que enunciou primeiro mas tambeacutem a de fazer

prolongar um tipo de ligaccedilatildeo de relacionamento que eacute extremamente uacutetil para as instituiccedilotildees e

para os paiacuteses desenvolvidos Portugal e os outros paiacuteses no sentido em que se estabelece um

conjunto de laccedilos por exemplo nesta fase mais perene o que no passado podia ser de uma

natureza maishellip numa perspectiva em que umas satildeo dominantes e outras satildeo dominadas o que

natildeo eacute propriamente aquilo que as instituiccedilotildees teratildeo certamente em menta mas mais em relaccedilatildeo

dehellip de espaccedilos de novos espaccedilos tambeacutem dehellip abre perspectivas agraves instituiccedilotildees dehellip de outros

puacuteblicos digamos Hoje em dia as instituiccedilotildees de ensino superior eacute uma questatildeo em cima da

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

mesa se abrirem a puacuteblicos diferentes seja dentro do seu proacuteprio espaccedilo paiacutes a puacuteblicos de

vaacuterios niacuteveis a puacuteblicos tambeacutem de natureza diferente o aluno normal naquela faixa etaacuteria dos

dezoito aos vinte e cinco anos mas possivelmente o profissional que procura uma requalificaccedilatildeo

uma actualizaccedilatildeo de conhecimentos e tambeacutem novos puacuteblicos dos paiacuteses de expressatildeo portuguesa

onde portanto haacute um conjunto imenso de oportunidades que eu acho que eacute natural serem

procuradas pelas instituiccedilotildees

E Essas oportunidades satildeo de interesse econoacutemico por exemplo Poderatildeo vir a ser

D Tecircm naturalmente uma resultante econoacutemica mashellip satildeo relaccedilotildees que vatildeo mais para aleacutem

disso as oportunidades no fundo as oportunidades de intervenccedilatildeo que resultaratildeo com certeza em

benefiacutecios de vaacuterias naturezas uma das quais natildeo eacute despiciente a parte econoacutemica certamente

quando falamoshellip abre perspectivas de subsiacutedios directos que natildeo satildeo de forma alguma de

esquecer perspectivas da aacuterea de projectos de intervenccedilatildeo local perspectivas no proacuteprio espaccedilo

europeu agora que inclusive se fala aiacute do Erasmus Mundus que no fundo eacute com paiacuteses terceiros

portanto acaba por ser outro destes novos espaccedilos reforccedilando os laccedilos intra-europeus Os espaccedilos

com outras universidades com os intervenientes de paiacuteses terceiros Portanto eacute resultante eacute uma

resultante muito forte que obviamente uma das suas vertentes eacute a vertente econoacutemica eacute eacute natural

talvez natildeo na vertente talvez natildeo sejahellip mesmo do ponto de vista econoacutemico natildeo seja tatildeo

significativa noutro tipo de acccedilatildeo mas depois que resulta em priorizaccedilatildeo de verbas

E Por inerecircncia

D Pois

E Acha que no contexto da globalizaccedilatildeo como eu dizia haacute pouco e da competitividade acha

que a ida de instituiccedilotildees de ensino superior para paiacuteseshellip para PALOPS para paiacuteses em vias de

desenvolvimento pode ser considerada uma fuga para a frente ou seja noacutes somos no fundo

atacados entre aspas por instituiccedilotildees europeias por outras instituiccedilotildees europeias face ao

decreacutescimo tambeacutem do nuacutemero de alunos debatendo-se hoje as instituiccedilotildees com algumas

dificuldades a niacutevel de financiamento acha que isto pode tambeacutem ser entendido como uma fuga

para a frente das instituiccedilotildees superiores puacuteblicas portuguesas

D Natildeo eu acho que eacute exactamente a mesma perspectiva que estava a dizer quer dizer a

Globalizaccedilatildeo e a concorrecircncia obrigam as instituiccedilotildees a procurarem alternativas e puacuteblicos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

portanto no fundo eacute aquele binoacutemio conhecido natildeo eacute as ameaccedilas tecircm que ser transformadas em

oportunidades portanto a partir das ameaccedilas que nascem da concorrecircncia somos obrigados laacute

estaacute a procurar numa linguagem mais economicista novos mercados numa linguagem mais

mais acadeacutemica digamos novos puacuteblicos que podem estar nos PALOPS como podem ser

aqueles que mencionou como pode ser nos Estados Unidos eacute a Globalizaccedilatildeo no fundo natildeo eacute

Por isso eu acho que eacute procurar obviamentehellip resultante da concorrecircncia que a procura tal como

aqui nas muitas fronteiras portuguesas naturalmente que a concorrecircncia das instituiccedilotildees tambeacutem

vai gerar a definiccedilatildeo de vocaccedilotildees algumas que vatildeo-se virar mais para um tipo de puacuteblico outras

para outro portanto isso eacute saudaacutevel natildeo eacute

E Eacute curioso que ontem entrevistei o Prof (hellip) e ele tinha exactamente a mesma perspectiva

no futuro as instituiccedilotildees iratildeo com certeza direccionar-se para determinados sectores seguir

determinada viahellip

D Efectivar assim as suas estrateacutegias identificar e e actuar Umas quereratildeo definir como

estrateacutegia a internacionalizaccedilatildeo desse ponto de vista portanto poderaacute ser natildeo eacute A classificaccedilatildeo

se eacute fuga para a frente ou natildeo dependeraacute mais de uma anaacutelise que se faccedila Esta estrateacutegia foi

escolhida por esta instituiccedilatildeo poderaacute isso (hellip) eacute uma fuga de facto para a frente mas estou

crente que na maior parte dos casos eu conheccedilo alguns deles natildeo eacute exactamente isso natildeo eacute Eacute de

facto encontrar novoshellip

E Novas vias

D Novas vias novas oportunidades

E Qual eacute a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo do sector da educaccedilatildeo no GATS Aquela

questatildeo dehellip natildeo sei se sabe deve estar com certeza dentro dohellip desta problemaacutetica dehellip da

educaccedilatildeo entrar numa vertente mais econoacutemica nahellip na futura transacccedilatildeo de um bem de

consumo no fundo natildeo eacute a niacutevel mundial no futuro

D Eu acho que eacute inevitaacutevel se quer que lhe diga por muitashellip muitahellip muitas duacutevidas que

possamos ter acerca da bondade dessehellip dessehellip desse facto eu entendo que na transformaccedilatildeo

dahellip para a sociedade na transiccedilatildeo para a sociedade do conhecimento natildeo eacute Aahellip passa a ser

um valor quer dizer eacute um valor de riqueza natildeo eacute A riqueza a riqueza que eacute produzida portanto

cada vez numa sociedade do conhecimento eacute precisamente produzida a partir do conhecimento

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natildeo eacute Eacute a transformaccedilatildeo daquilo que eacute o conhecimento em riqueza mais ou menos tangiacutevel

consoante os casos mas certamente bastante tangiacutevel portanto a certa altura teremos esta

integraccedilatildeo da educaccedilatildeo nestes esquemas com todas as questotildees que se colocam agrave volta natildeo eacute de

que noacutes proacuteprios jaacute sentimos jaacute sentimos no nosso quotidiano jaacute sentimos um conjunto de

oportunidadeshellip natildeo eacute de actividades desta natureza

E Claro

D Portanto eu natildeo julgo que natildeo vale muito a pena fingir que natildeo existe natildeo eacute Haacute que

encontrar as melhores formas de lidar comhellip

E E num futuro proacuteximo pode-se tornar um mecanismo de supremacia de uns sobre outros

natildeo eacute nessahellip nessa perspectivahellip a educaccedilatildeo diria eu eacute apenas uma opiniatildeo pessoalhellip

D Claro Claro

E hellip a educaccedilatildeohellip

D Natildeo exactamente deixe-me soacute pocircr-lhe a um niacutevel muito especulativo ainda porque eacute

evidente nesta fase ainda estamos nesta mateacuteria no domiacutenio especulativo mas eacute um pouco como

o ambiente como a atmosfera quer dizer natildeo eacute

E Sim sim

D A educaccedilatildeo eacute um pouco como isso eacute um bem a que todos tecircm o direito de aspirar natildeo eacute

mas que tambeacutem carece de ser gerido digamos porque natildeo vamos fingir que natildeo houvesse regras

porque no fundo noacutes hoje temos os acordos de Kioto que tentam impor restriccedilotildees sobre o

consumo da nossa atmosfera no meu ponto de vista

E Sim sim

D Portanto digamos que tambeacutem temos quehellip quanto mais natildeo seja para definir claramente

as regras que natildeo podem ser ultrapassadas pela entidade que de facto se aproveitam da melhor

forma da ausecircncia da definiccedilatildeo destes elementos que decorrem de natildeo se querer assumir como um

bem eventualmente eacute um bem escasso eventualmente

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E Poderaacute ser

D Poderaacute ser pensado isto eacute do ponto de vista especulativo

E Sim sim sim

D Portanto o que eu quero dizer eacute que inevitavelmente eacute um bem eacute um bem que natildeo seraacute

como qualquer capital transaccionaacutevel no sentido das trocas comerciais normais mas eacute um bem

cujo consumo tem de ser regulaacutevel de alguma forma como o ambiente comohellip de uma forma o

regular talvez aqui seja diferente

E Com mecanismos de controlo

D Com mecanismos de controlo

E Qualidade

D Qualidade natureza exactamente e que assegurem no fundo mas que tenham poder tatildeo

elevado como o ar que respiramos quer dizer todos tecircm direito natildeo eacute

E Claro

D Natildeo vamos com certeza cortar a ningueacutem por qualquer medida de natureza comercial

embora na verdade isto esteja um bocado viciado por segundas vias uns cumprem menos

quer os outros outros cumprem e natildeo cumprem as cotas Portanto poderaacute natildeo ser os melhores

exemplos nestahellip

E Eu percebo eu percebo a ideia Sobre a sociedade de informaccedilatildeo acha que num futuro

proacuteximo o ensino transnacional possa vir a ser substituiacutedo pelo e-learning pelo ensino agrave

distacircncia mantendo a estrutura e o corpo docente no seu paiacutes de origem e desta forma alcanccedilar

um puacuteblico transfronteiriccedilo Ou pelo contraacuterio acha que isso eacute uma utopia e que natildeo estaremos

ainda em condiccedilotildees de implementar a 100 esse tipo de ensino

D O ensino teraacute sempre a componente presencial e a componente natildeo presencial

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E Eacute essencial

D Eacute essencial

E Para o Senhor (hellip) como professor que eacute a questatildeo presencial eacute essencial

D Em alguma fase do processo de aprendizagem eacute importante aahellip e eu julgo que isso natildeo

estaacute muito em causa O que talvez esteja agraves vezes mais em causa nas questotildees do e-learning satildeo

os aspectos de socializaccedilatildeo natildeo eacute do ensino e da aprendizagem que possam ser mais raacutepidos Eu

penso que a questatildeo presencial ou natildeo eacute uma falsa questatildeo porque ela acaba sempre por ser

colmatada e noacutes vimos nas instituiccedilotildees eacute uma resposta e portantohellip e natildeo eacute homogeacutenea quer

dizer natildeo eacutehellip haacute mateacuterias e haacutehellip e haacute mateacuterias relativas que podem perfeitamente ser transmitidas

numa base de distacircncia e haacute outras mateacuterias que tecircm de ser necessariamente presencial portanto

dentro da sala de aula a complementaridade entre os dois eacute que me parece-me que eacute o futuro natildeo

eacute Parece-me que eacute o grandehellip que eacute o futuro ou seja muda a pedagogia muda a natureza mas eacute

natural que uma universidade mude mesmo com os seus alunos normais aahellip o ensino presencial

seja de outro cariz natildeo eacute Sejahellip portanto sejahellip natildeo seja uma aula por exemplohellip

E Mais praacutetica

D hellip muito descritiva mas por exemplo uma aula mais de discussatildeo de temas do que uma

preacute-preparaccedilatildeo dehellip um aspecto muitas vezes esquecido nesta mateacuteria eacute o aspecto da

sociabilizaccedilatildeo natildeo eacute do conviacutevio do conhecimento dos estudantes conhecerem outros

estudantes conhecerem os problemas de uns que de alguma forma os meacutetodos mais avanccedilados

desenvolvidos tecircm esse problema

Mas a cooperaccedilatildeo tem inuacutemeros tem outros problemas e agraves vezes esquece-se por exemplo

tem o problema que eacute pura e simplesmente pocircr uma mateacuteria muito bonitinha em power point ou

o que quer que seja natildeo eacute propriamente e-learning eacutehellip utilizar as novas tecnologias para

disseminar o e-learning tem muito mais por traacuteshellip

E Eacute mais interactivo

D hellip interactivo ehellip haacute esta partilha da cooperaccedilatildeo que numa fase ou noutra tambeacutem vai

exigir o conhecimento presencial portanto como eu vejo a sociedade do futuro nessa mateacuteria

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

vejo sim senhora muito baseada na formaccedilatildeo agrave distacircncia porque a permitir acessibilidades que

natildeo eram possiacuteveis aos alunos dentro da Universidade de Lisboa aceder ao curso da

Universidade de Londres por exemplo a um curso de uma mateacuteria daquele com o proacuteprio

professor de caacute o outro comanda e caacute daacute o apoio e a discussatildeo do proacuteprio daquele material vejo

neste sentido natildeo eacute Em quehellip

E Sim sim Eacute mais no sentido complementar natildeo eacute

D Complementar e portanto e em que a ecircnfase passa muito mais para o lado da

aprendizagem que ou seja eacute mais o aprendiz quem marca o ritmo natildeo eacute Enquanto a aula

normal eacute o professor quem marca o ritmo ldquo- comeccedilo agora acabo e daqui a dois dias

continuamosrdquo natildeo eacute Muda um pouco Eacute mais o aprendiz que aprendeu leu consultou viu

um curso similar na universidade de Harvard viu um curso similar na universidade da

Califoacuternia e chega agrave aula e discute com o professor ldquo- Entatildeo mas eu li isto e aquilohellip naquele

trabalho do natildeo sei quantoshelliprdquo portanto como imagino eacute uma visatildeo que eu possa ter para daqui

a vinte vinte e cinco anoshellip

E Natildeo eacute uma visatildeo muito positiva Ehellip muito interessante ehellip

D Natildeo pode deixar de ser de outra forma quer dizer e isso tem grandes vantagens natildeo

apenas do ponto de vista da formaccedilatildeo mas da qualidade dos conteuacutedos e da questatildeo formaccedilatildeo

sobre sobrehellip

E hellip sobre os actores tambeacutem natildeo eacute

D hellip a globalizaccedilatildeo Falaacutevamos haacute bocado de globalizaccedilatildeo mas falamos tambeacutem quer dizer

sobre os docentes acaba-se sempre porhellipos docentes portanto jaacute natildeo eacute quer dizer jaacute vatildeo longe

aqueles tempos do aluno caracteriacutestico que tinha a sebenta ehellip e nada existia para aleacutem da

sebenta para o estudante natildeo eacute Portanto o estudantehellip

E Nem podia contestar natildeo eacute

D Sim mas nem tinha acesso a informaccedilatildeo que lhe permitisse contestar natildeo eacute

E Pois

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro D Tinha muita dificuldade Tinha que ir para a biblioteca passar laacute horas para ver do que eacute

que andava agrave procura porque alguns nem sabiam porque nem bibliografia tinham natildeo eacute O que

jaacute natildeo eacute os tempos de hoje natildeo eacute Hoje existem manuais existe bibliografia as bibliotecas tecircm

relativamente maishellip estatildeo bastante melhor apetrechadas e portanto os estudanteshellip essa tarefa

estaacute muita mais facilitada do ponto de vista em quehellip e eacute visiacutevel aliaacutes o mundo da Internet jaacute eacute

generalizado nessa mateacuteria e portanto jaacute eacute faacutecil a um estudante meter uma palavra chave e

aparecer-lhe imensas informaccedilotildees sobrehellip e jaacute poder discutir com base em algumas coisashellip

E Eacute verdade Por exemplo para a minha tese mais de 50 da documentaccedilatildeo que obtive foi a

partir da Internet jaacute quase que natildeo tenho necessidade de me deslocar agrave biblioteca

D Pois Eacute uma vantagem os ganhos satildeo muito significativos em todos os aspectos natildeo eacute soacute

tanto a qualidade eacute a capacidade que temos de aceder a trabalhos cientiacuteficos utilizando os

motores normais de busca nem sequer eacute preciso estarhellip sem se precisar de muita coisa

E Qual eacute a poliacutetica portuguesa em relaccedilatildeo agrave cooperaccedilatildeo aahellip em termos de ensino superior

D A poliacuteticahellip a poliacutetica de cooperaccedilatildeohellip

E Em traccedilos gerais

D A poliacutetica de cooperaccedilatildeo do ensino superior aahellip eacute perfeitamente enquadraacutevel na poliacutetica

de cooperaccedilatildeo aahellip que genuinamente noacutes queremos que seja de cooperaccedilatildeo o que eacute que eu

quero dizer com isto natildeo eacute de colonizaccedilatildeo natildeo eacutehellip eacute de colonizaccedilatildeo portanto resistir muito

agravequela ideia de ldquo- coitadinhos vamos laacute ajudaacute-loshelliprdquo Acho que natildeo eacute bom para nenhuma das

partes e o sentido de cooperaccedilatildeo quer dizer isto quer dizer encontrarmos pontos que nos unem

aspectos que nos movem em conjunto e vantagens para umas partes e para outras Natildeo seratildeo

universais natildeo seratildeo exactamente mas haacute um conjunto de vantagens que satildeo obviamente

universais para o espaccedilo portanto os PALOPS e Timor ou os PALOP Natildeo os PALOP seratildeo

os africanos os Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa incluindo Timor e portanto as vantagens

eacute encontrar uma zona de interesse comum suficientemente forte que suscite a cooperaccedilatildeo e isso

nasce de vantagens evidentes parahellip a politica eacute exactamente esta natildeo viraacute-la ao contraacuterio

como muitas vezes tivemos essa essa tentaccedilatildeo de maacute consciecircncia colonialista etc que natildeohellip

que natildeohellip nem tentamos cair na tentaccedilatildeo dehellip dehellip de copiar modelos de outra natureza para os

quais nem temos recursos nem temos vocaccedilatildeo ou seja natildeo vou aqui mencionar alguns paiacuteses

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

nossos parceiros europeus inclusive que tecircm uma poliacutetica mas que tecircm a poliacutetica tambeacutem dos

anos 6070 natildeo eacute a mesma de hoje eu penso que esses paiacuteses jeacute natildeo tecircm exactamente a mesma

poliacutetica eacute claro que a cooperaccedilatildeo seraacute e a educaccedilatildeo tem muito a ver com a cooperaccedilatildeo que se

consiga nessas aacutereas e portanto ehellip e por isso eacute que eu faccedilo muita questatildeo que a cooperaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo natildeo seja vista do ponto de vista financeiro natildeo seja vista isoladamente das outras o

que eacute que eu quero dizer com isto quer dizer porquehellip aiacute eacute bilateral eacute difiacutecil na educaccedilatildeo eacute

difiacutecil haver as compensaccedilotildees que satildeo expectaacuteveis de um lado e do outro ou seja enquanto por

exemplo em termos de cooperaccedilotildees econoacutemicas e educaccedilatildeo jaacute introduzimos uma em que eacute

possiacutevel encontrar retornoshellip

E Mais raacutepidos pelo menos natildeo eacute

D hellip na aacuterea da educaccedilatildeo Eacute difiacutecil eacute natural A gente estaacutevamos a falar dos nossos

puacuteblicos natildeo eacute o mecanismo das propinas eacute um mecanismohellip natildeo estou a ver que seja faacutecil

uma universidade instalar-se e esperar que o dinheiro das propinas seja a sua fonte quando

muito eacute a sua fonte indirecta tem de haver uma cooperaccedilatildeo econoacutemica entre as empresas

portuguesas que tenham ahellip vantagens econoacutemicas natildeo eacute e que parte dessas vantagens sejam

traduzidas ou entre aspas pagas se assim quisermos pelo paiacutes recipiente pela via da educaccedilatildeo

Portanto no fundo eacutehellip isoladamente nas condiccedilotildees actuais ahellip tecircm dificuldades E no fundo eacute

o que a poliacutetica dos outros paiacuteses dos paiacuteses chamados aahellip como eacute que eu lhe hei-de dizerhellip

supostamente ldquomatildeos largasrdquo na educaccedilatildeo natildeo precisam de retirar vantagens nessa aacuterea tinham

capacidade de o tirar eacute isto que tem cerceado muito agraves vezes a nossa geraccedilatildeo na educaccedilatildeo as

nossas empresas a nossa actividade sente dificuldade em ser competitiva e ganhar esse

mercado natildeo eacute pronto () uma exploraccedilatildeo petroliacutefera em Angola mas eacute um bom exemplo

nesse sentido quer dizer na medida em que noacutes uma franja europeia ao ganharem um volume

natildeo eacute o vatildeo retirar daiacute reciclam com formaccedilatildeo ou assistecircncia meacutedica nesses paiacuteses E ateacute acaba

por beneficiar eles proacuteprios porque vai trazer matildeo-de-obra mais saudaacutevel e melhor conhecedora

para trabalhar portanto eacute perceber esse tipo de que noacutes jaacute percebemos haacute muitos anos Haacute

cinquenta anos que jaacute deviacuteamos ter quer dizer a capacidade de

E de execuccedilatildeo eacute que eacute mais complicado

D executar eacute devido agrave fragilidades do nosso tecido produtivo

E Exactamente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

D E tambeacutem agraves vezes o nosso tecido de ensino tambeacutem tambeacutem mas eu julgo que a

questatildeo natildeo estaacute no nosso tecido de ensino mas estaacute mais na capacidade de disputar com

vantagens esse esse

E Mas eu noto que no caso de Timor que eacute o que eu conheccedilo efectivamente melhor aa

parece-me que jaacute haacute essa sintonia

D Claro Exactamente

E Natildeo eacute haacute uma PT a instalar a rede de telecomunicaccedilotildees

D Claro exactamente exactamente

E E isso eacute o exemplo claro do que estaacute a defender que se bem que em Cabo Verde

tambeacutem tambeacutem jaacute haacute um tecido industrial que

D Deu os dois melhores exemplos de facto onde onde isso estaacute a ser melhor conseguido

Mais uma vez se for ver bem estaacute associado aos sectores mais agressivos da economia

portuguesa mais competitivos natildeo eacute

E Exacto O turismo agora tambeacutem comeccedila a ser talvez uma aposta de futuro

Particularmente em Cabo Verde ainda natildeo haacute condiccedilotildees

D Exactamente

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E sanitaacuterias e infra estruturas convenientes mas nesse aspecto jaacute haacute sinais de que

realmente estamos a aprender alguma coisa natildeo eacute

O ensino transnacional eacute recorrentemente acusado de alguma falta de transparecircncia

digamos assim de alguma falta de regras aa acha que o ensino que Portugal promove aa para

os PALOP sofre deste mal digamos deveria ser mais controlado Deveriam haver estruturas

redes inclusive de avaliaccedilatildeo acha que eacute uma afirmaccedilatildeo justa para o ensino transnacional

portuguecircs

D Eu acho que no fundo o envolvimento que deveria merecer

(hellip)

(Restante entrevista eacute inaudiacutevel por defeitos de gravaccedilatildeo)

FIM

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ANEXO VII

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ENTREVISTA Nordm5

Entrevista realizada ao Reitor da Universidade Nacional de Timor-Leste

17 de Setembro de 2003

Legenda E = entrevistador F = entrevistado F E A primeira questatildeo tem a ver com o e-learning o ensino agrave distacircncia Noacutes chamamos e-

learning eacute uma o ensino agrave distacircncia eacute uma traduccedilatildeo para e-learning E eu julgo que em

Timor jaacute haacute

F Jaacute haacute jaacute

E Exactamente Portanto eacute um sistema em que o docente estaacute em Portugal e manda via

computador a informaccedilatildeo para os alunos que estatildeo em Timor Natildeo haacute o contacto fiacutesico Eu

gostaria de saber se em Timor jaacute haacute algum tipo de projecto aa deste geacutenero e qual eacute a opiniatildeo do

Reitor da Universidade de Timor em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo se natildeo houver haacute implementaccedilatildeo

deste tipo de ensino agrave distacircncia Portanto eacute o chamado ensino natildeo presencial natildeo haacute uma

presenccedila fiacutesica entre o professor e o aluno

F Bom Primeiro o que devo dizer eacute que a existe em Timor uma tal facilidade mas que

estaacute fora das pertenccedilas natildeo pertence agrave universidade estaacute instalada junto ao banco mundial no

edifiacutecio do banco mundial em Timor-Leste e a Universidade eacute de quando em quando convidada a

delegar os seus membros desde a reitoria ateacute aos professores mais seniores responsaacuteveis das

faculdades departamentos em programas previamente planeados pelo responsaacutevel que eacute

portuguecircs portanto professor acadeacutemico natildeo eacute que eacute da cooperaccedilatildeo portuguesa e que se dedica

a este tipo de actividades Falava-se no inicio da instalaccedilatildeo desta facilidade a eventual abertura

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

dentro das instalaccedilotildees da universidade ou a montagem deste centro de um centro de ensino agrave

distacircncia Aa

E Mas que natildeo veio a acontecer

F Natildeo veio a acontecer eu acho que tambeacutem natildeo vai acontecer dentro de dos proacuteximos

anos Este centro esta facilidade que eu estive a descrever neste momento estaacute a usar apenas a

sua componente aa audiovisual ainda estaacute por utilizar a outra componente que eacute atraveacutes da

Internet Eu gostaria de recomendar aa a existecircncia a instalaccedilatildeo dessas facilidades dentro da

universidade o que acarreta portanto a instalaccedilatildeo de um laboratoacuterio de computadores e o acesso agrave

Internet e a definiccedilatildeo de programas especiacuteficos que respondam agraves necessidades de uma forma

particular agrave universidade de uma forma geral agraves necessidades do paiacutes em que outras entidades

como por exemplo as agecircncias do Governo e outras pessoas fora desses ciacuterculos possam

beneficiar Portanto eu acho que ateacute jaacute faz parte das exigecircncias nesta fase de desenvolvimento da

evoluccedilatildeo da tecnologia que os timorenses tambeacutem possam utilizar essa facilidade como meio de

aprendizagem

E Entatildeo estaacute aberto a esse tipo de ensino no futuro muito bem Outra questatildeo e agora peccedilo-

lhe que seja mesmo muito sincero porque isto eacute para um trabalho cientiacutefico de investigaccedilatildeo eu

nem sequer vou referir os nomes das pessoas que tenho entrevistado e portanto estaacute perfeitamente

agrave vontade

O ensino transnacional ou melhor o ensino que estaacute ligado agrave cooperaccedilatildeo com outros

paiacuteses nomeadamente Portugal o ensino que pratica em paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa

Timor Cabo Verde Angola Moccedilambique etc este tipo de ensino a niacutevel geral natildeo me refiro soacute

a Portugal mas aos outros paiacuteses que fazem cooperaccedilatildeo muitas vezes satildeo acusados em teoria nos

muitos artigos que satildeo escritos sobre isto acusados de praticarem um ensino com pouco rigor

com pouca qualidade aa um ensino que na comunidade cientiacutefica que estuda estas coisas eacute

acusado realmente de alguma de alguma falta de rigor Por exemplo quando comparados os

cursos realizados com os mesmos cursos no seu paiacutes de origem Avaliando e analisando de uma

maneira muito fria e estaacute como digo agrave vontade para criticar se tiver de o fazer como eacute que

qualificaria os cursos que Portugal neste momento estaacute a ministrar aos alunos da Universidade

Nacional de Timor-Leste

F Mas de caraacutecter presencial

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim os que estatildeo actualmente em funcionamento natildeo eacute As licenciaturas e os

bacharelatos que Portugal neste momento tem na Universidade de Timor portanto se acha que

tem um rigor uma qualidade aa equiparada ao que se faz em Portugal Por exemplo se for um

curso imagine imagine que laacute estava um curso Australiano se o curso que os australianos laacute

estatildeo a dar normalmente tem a mesma qualidade que se fosse dado numa universidade na

Austraacutelia Neste caso o que eu lhe pergunto eacute se o ensino que Portugal laacute faz se acha que eacute um

ensino de rigor de qualidade igual agravequele que as mesmas universidades fazem mas em Portugal

F Bom acho que vamos ter de distinguir duas coisas logo de partida primeiro o facto de os

estudantes aliaacutes a educaccedilatildeo a interacccedilatildeo digamos pedagoacutegica entre o aluno e professor eacute uma

actividade aa de participaccedilatildeo Haacute um que transmite o conhecimento haacute outro que recebe O

sucesso ou natildeo sucesso deste processo de transmissatildeo e de recepccedilatildeo depende de certo modo da

do grau de participaccedilatildeo de ambos os lados Isto tem a ver com o factor recipiente e o factor fonte

Naturalmente haacute uma diferenccedila entre os professores portugueses ensinarem em Portugal e os

professores portugueses deslocados a Timor-Leste a ensinarem estudantes timorenses

A audiecircncia tambeacutem eacute contornada por certos factores Neste caso particular o domiacutenio da

liacutengua portuguesa aparece como um desses factores

(entrevista interrompida abruptamente por um telefonema)

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ANEXO VIII

ENTREVISTA Nordm6

Entrevista realizada a um responsaacutevel pela poliacutetica de cooperaccedilatildeo

de um instituto politeacutecnico puacuteblico portuguecircs

23 de Julho de 2003

Legenda E = entrevistador G = entrevistado G E (a entrevista natildeo foi gravada desde o seu iniacutecio uma vez que o entrevistado comeccedilou por

mostrar uma seacuterie de documentaccedilatildeo relacionada com o tema)

G hellip entre o ex-ICP actual IPAD e cada um dos PALOPS nesta caso estamos a falar de

PALOPS era assinado um acordo de cooperaccedilatildeo que tinha uma designaccedilatildeo em termos de

cooperaccedilatildeo bilateral aahellip tinha uma designaccedilatildeo de PIC (Programa Indicativo de Cooperaccedilatildeo) que

eacute feito de 3 em anos Estamos agora no PIC de 20022004 O uacuteltimo foi o 992001 Portanto eacute

feito com cada paiacutes como vecirc um PIC para Cabo-Verde um PIC de Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e haacute

uma brochura que o ICP na altura o IPAD elabora mas que decorre de um documento escrito

assinado pelos pares normalmente ministros de negoacutecios estrangeiros de ambas as partes

E De ambos os paiacuteses

G Ora bem eacute este PIC que por grandes categorias definehellip

E hellip as acccedilotildees

G hellip natildeo natildeo natildeo eacute as acccedilotildees as aacutereas dehellip estrateacutegicas se quiser (Reportando-se agrave leitura

de um documento do IPAD) Ora bem ldquoPoliacutetica e estrateacutegia de desenvolvimento ndash prioridade da

cooperaccedilatildeo de Cabo-Verde estrateacutegia da cooperaccedilatildeo portuguesardquo Ora bem na estrateacutegia da

cooperaccedilatildeo portuguesa encontram-se os principais eixos portanto a questatildeo a liacutengua a educaccedilatildeo e

ciecircncia portanto isto satildeo as diversas partes eacute as parte que conta do protocolo Portanto os eixos

de concentraccedilatildeo e depois e depois dentro de cada um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada

um destes eixos como estaacute a ver dentro de cada um destes eixos fica no fim e o PIC soacute assume os

traccedilos gerais

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Natildeo tem nada a ver com projectos concretos nem programas Entatildeo vamos passar agrave

fase seguinte que eacute a seguinte dentro de um PIC que eacute um documento poliacutetico eacute preciso

encontrar 1ordm acccedilotildees concretas dentro de cada eixo e eacute preciso encontrar executores

Como eacute que se faz o recrutamento dos executores E eu julgo que a poliacutetica portuguesa

nesse aspecto eacute extremamente incipiente faz-se por relaccedilotildees pessoais Eacute a minha opiniatildeo

Portanto em primeiro lugar quandohellip por exemplo Cabo Verde disse que gostaria de ter apoio na

aacuterea da construccedilatildeo de barreiras dehellip agrave erosatildeo dos solos natildeo define projecto nenhum natildeo define

parceiro a menos que jaacute saiba que quer fazer isso com a instituiccedilatildeo tal E depois eacute preciso que

essa manifestaccedilatildeo de vontade seja transmitida pelas autoridades cabo verdianas atraveacutes da sua

secretaria para a cooperaccedilatildeo agraves autoridades portuguesas mas por outro lado a instituiccedilatildeo

portuguesa tambeacutem diga ao IPADhellip portanto eacute preciso haver aqui natildeo haacute nenhum natildeo haacute

nenhum sistema estruturadohellip

E Natildeo haacute uma coordenaccedilatildeo no fundo destas aacutereashellip

G hellip sob o ponto de vista dehellip portanto e todo este processo de mora muito tempo o que

significa que as acccedilotildees que estatildeo programadas para um certo PIC e do PIC resulta uma coisa que

me esqueci de dizer satildeos os PACS portanto um PIC tem 3 PACS satildeo os programas anuais o

PIC eacute um programa indicativo o PAC que eacute anual eacute um programa jaacute concreto para aquela aacuterea de

execuccedilatildeo do PIC natildeo eacute Pronto Ai sim jaacute satildeo os projectos por ano

Esses projectos satildeo negociados naturalmente com os respectivos ministeacuterios de acordo

com as disponibilidades financeiras porque repare eu possohellip eu vou-lhe mostrarhellipeu vou

mostrando as coisas agrave medida que vamos dizendo

E Hum hum

G Por exemplo no programa indicativo de 992001 que eacute aquele que eu acabei de lhe

mostrar isto fui eu que fiz jaacute lhe vou explicar porque eacute que fui eu por exemplo para 2001

vamos supor para o PAC para 2001 no acircmbito da educaccedilatildeo base e secundaacuteria projecto integrado

de apoio agrave crianccedila e jovens deficientes os antecedentes deste projecto jaacute vecircm de traacutes ahellip o que eacute

que em 2001 se define quem eacute o financiador neste caso por exemplo eacute o ICP mas pode ser o

financiador pode ser o ICP mais a Gulbenkian ou pode ser mais a Beacutelgica E o executor por

exemplo neste caso aqui eacute o ISCAC

Tem de definir para cada um dos projectos e tem de se atribuir naturalmente um

montantehellip

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E Agrave acccedilatildeo

G hellip agrave acccedilatildeo Pronto Essa gestatildeo financeira natildeo eacute feita dando agrave instituiccedilatildeo o dinheiro para

gerir mas sim ir sucessivamente pedindo autorizaccedilatildeo de deslocaccedilatildeo ao ICP e depois no final

quando natildeo haacute mais dinheiro o projecto acabou ali Portanto eacute um projecto eacute um processo

extremamente incipiente de cooperaccedilatildeo e isso eacute uma questatildeo da nossa poliacutetica de cooperaccedilatildeo

comparativamente a outros paiacuteses ser algo extremamentehellip

E Acha que jaacute agora aproveito para lhe perguntar isso acha que haacute realmente uma poliacutetica

de cooperaccedilatildeo e uma estrateacutegia definida a niacutevel governamental

G Natildeo

E Ou vamos andando agrave medida quehellip

G Vamos andando Tanto eacute assim que vamos andando que o Primeiro-Ministro acabou de vir

de Cabo Verde e disse que ia dar 800 vagas para estudanteshellip portanto natildeo consultou ningueacutem

daacute 800 porque eacute Cabo Verde entatildeo porque eacute que natildeo daacute 200 a Satildeo Tomeacute porque eacute que natildeo daacute

300hellip

E Se calhar devia-se reportar agora ao bolseiros timorenses que estatildeo com seacuterias

dificuldadeshellip

G Qual foi o criteacuterio que suportou Nada Portanto satildeo questotildees poliacuteticas dehellip de agora de

poliacuteticahellip

E De oportunidade

G De oportunidade poliacutetica Bom e tambeacutem usando a questatildeo da oportunidade e eu vou ser

franca se quiser dizer isso para o jornal eu digo que natildeo disse (risos) Se quiser dizerhellip eu

tambeacutem aproveitei o contexto poliacutetico eacute assim sendo grande amiga do Engordm helliphelliphellip (indicaccedilatildeo

do nome e cargo da pessoa em causa) acreditando eu que dado o meu historial de relaccedilotildees com

Cabo Verde o que eacute que eu fiz com Cabo Verde eu comecei a trabalhar em 76 comhellip eu o

(referindo-se a mais duas pessoas) fizemos os estudos para a criaccedilatildeo do ensino superior em Cabo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

Verde que foi a escola da formaccedilatildeo de professores do ensino secundaacuterio que depois veio a ser

escola de formaccedilatildeo do secundaacuterio ehellip que eacute hoje o chamado instituto superior de educaccedilatildeo

Portanto estamos a falar de 76 A partir daiacute aahellip o (referindo-se a uma terceira pessoa) seguiu

mais pela aacuterea de apoio aos cursos e eu segui mais pela aacuterea da consultoria portanto fiquei eu

trabalhei com todos os ministros da educaccedilatildeo em termos de apoio no teacutecnico-cientiacutefico e

desenvolvimento curricular Depois de ter feito os programas para a aacuterea educativa os programas

da maior parte dos cursos e cadeiras de ter feito os regulamentos de estaacutegio avaliaccedilatildeo portanto

todos os anos eu passavahellip eu fazia cinco seis missotildees por ano em Cabo Verde as que eram de

Veratildeo normalmente tinham dois meses tanto que a minha filha passou grande parte do tempo em

Cabo Verde quando era pequenina porque eu ia por exemplo Julho e Agosto todo para laacute Aahellip

mas fazia portanto com esta frequecircncia terei natildeo sei 100 missotildees portanto ateacute maishellip ao longo

de 20 anos natildeo eacute

E Claro

G Trabalhei com todos em termos de assessoria aos ministros ao Gabinete Mas aleacutem disso

pela parte da (referindo-se a uma entidade) dado este know how que tinha a hellip convidou-me e eu

fiz os estudos para a reforma do sistema educativo de Cabo Verde depois fiz tambeacutem para

Moccedilambique porque isto era um financiamento do BAD (Banco Africano de Desenvolvimento)

como Moccedilambique verificou que a equipa de Cabo Verde tinhahellip

E Estava a ter resultadoshellip

G hellip e tinha os resultados porque os proacuteprios termos de referecircncia para o concurso

tinham sido feitos por mim proacutepria portanto eu fiz os termos de referecircncia e depois concorri

Quer dizer natildeo concorri individualmente ora bem natildeo (indicando nomes de outras personalidades

envolvidas)hellip para darem nome agrave equipa mas que no fundo eram convidadoshellip aa bom

Portanto depoishellip aahellip portanto esse projecto e essa forma de sistema educativo foi um projecto

que durou 6 anos aahellip mas que era um projecto com imensos componentes tinha componente do

emprego e formaccedilatildeo profissional que era liderada essa componente pelohellip pelo ex-ministro

Nascimento Rodrigues Eacute ohellip como eacute que se chama hoje o provedor dahellip da justiccedila ou da

comunicaccedilatildeo social ou dahellip pronto o provedor Foi Ministro do Trabalho natildeo eacute

E Sim

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G No tempo do PSD Depois tinha uma aacuterea de arquitectura reconstruccedilatildeo Tinha uma aacuterea de

engenharia e tinha uma aacuterea dehellip educaccedilatildeo e desenvolvimento curricular portanto a aacuterea em que

eu estava inserida

E E trabalhou nesta altura para no fundo ou melhor com o Governo de Cabo Verde

G Exactamente eu estava contratada pela Partex que era a empresa que ganhou porque isto

foi um concurso internacional cento e tal empresas Aahellip a Partex ganhou a Partex tinha-me

vindo buscar porquecirc porque sabia que eu eacute que tinha feito os termos de referecircncia e portanto eu

sabia muito bem dar a resposta aahellip e por isso eacute que depois no convite fez a mesma coisa

portanto noacutes ganhaacutemos contra uma equipa a Profabril que na altura tinha o Engordm (hellip) que estava

com um projecto pela Profabril fez este projecto foi a reforma do sistema foram seis anos noacutes

tiacutenhamos casa tiacutenhamos uma casa tiacutenhamos 2 carros portanto eacuteramos uma equipa com uma casa

laacute com 2 funcionaacuterias com motoristas com teacutecnico de contas com natildeo sei quecirc que era a Partex

portanto eu estava ao serviccedilo da Partex Embora continuasse sempre aqui a trabalhar portanto eu

fazia tudo isto em regime de consultoria

E Ia laacute coordenar no fundo e regressava natildeo eacute

G Sim ia fazer a parte fundamentalmente eu tinha a aacuterea de formaccedilatildeo de professores desde

a preacute-escola a ensino secundaacuterio Depois aahellip mas isto era a propoacutesito de eu dizer que o (hellip)

conhecendo muito bem todo este percurso que tinha vindo desde o poacutes-independecircncia portanto eu

trabalhei com todos os ministros convidou-me e disse-me ldquo- olhe porque eacute que com a sua

experiecircncia noacutes eu vou criar uma estrutura dentro do ICP que eacute ter um gestor da cooperaccedilatildeo para

cada um dos paiacuteses eacute a pessoa com quem eu dialogo para fazer o PIC para esse paiacutesrdquo Embora o

PIC natildeo deva ser imposto por Portugal naturalmente quem sabe o que quer eacute o outro paiacutes mas eacute

preciso que algueacutem em Portugal vaacute trabalhar para o outro paiacutes no sentido de criar sinergias para

se encontrar um PIC que interesse a Portugal e acima de tudo aoshellip porque agraves vezes as pessoas

quando tambeacutem natildeo sabem o que querem tecircm dificuldade em se exprimir

Portanto ele criou essa figura do gestor do grupo de missatildeo por paiacutes A pessoa que foi por

exemplo indigitada para Satildeo Tomeacute eacute hoje adido cultural em Satildeo Tomeacute porque haacute muita cunha da

(hellip) Ora o Engordm (hellipreferindo-se ao entatildeo presidente do ICP) fez isto para que realmente com

elementos internos do ICP e parcialmente com pessoas externas quando tinha uma relaccedilatildeo de

confianccedila e de conhecimento da sua experiecircncia

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro Para que eu pudesse ir fazer este trabalho dado que eu tinha as minhas funccedilotildees caacute ele fez

um protocolo e eacute isso que eu lhe vou mostrar elaboraacutemos um Protocolohellip

E Eacute este aqui

G Exactamente Entre o Politeacutecnico a Cooperaccedilatildeo Portuguesa que no fundo natildeo diz mais do

que isto manifesta muito boas intenccedilotildees para cooperar disponibiliza a base de dados a

participaccedilatildeo de docentes que envolve vaacuterias escolas o ICP tal talhellip depoishellip bem isto eacute uma

coisa inoacutecuahellip

E Hum hum E com base nelehellip

G Com base nisto que eacute a tal intenccedilatildeo para fazer muitas coisas de colaboraccedilatildeo uma das

colaboraccedilotildees e diz a certa altura neste protocolo ldquocada uma das colaboraccedilotildees seraacute objecto de um

protocolo adicionalrdquo Faz-se um protocolo adicional em que ele veio aqui assinar em que me

autoriza o politeacutecnico por um lado e ele me indigita e entatildeo o Instituto da Cooperaccedilatildeo

compromete-se a designar fulana como chefe do grupo de trabalho responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo

da execuccedilatildeo do PIC Portugal ndash Cabo Verde 992001 bem como os programas anuais os PAC de

9920002001

O Politeacutecnico compromete-se a disponibilizar fulana para o exerciacutecio tal talhellip No fundo

cabe ao Instituto assegurar o apoio e conceder as facilidades nomeadamente autorizar as

deslocaccedilotildees e cabe ao Politeacutecnico pagar essas deslocaccedilotildees embora eu natildeo recebesse portanto eu

natildeo recebi nenhuma remuneraccedilatildeo por isto Ora bem exactamente por natildeo receber nenhuma

remuneraccedilatildeo isto eacute a cooperaccedilatildeo portuguesa o que tem funcionado tem funcionado na base do

voluntarismo e natildeo na base de qualquer poliacuteticahellip satildeo neste momento 25 anos de trabalho aacuterduo

com Cabo Verde e nunca ganhei um tostatildeo Aahellip se eu tivesse aiacute a dar aulas numa privada estava

hoje rica pelas horas que despendi tenho muito gosto mas eacute de facto uma coisa que soacute porhellip

espiacuterito de missatildeo Sim senhora nomeiam-me assim portanto agora vamos dar uma moeda de

troca eacute o Politeacutecnico de (hellip) vai ficar executor de alguns dos projectos E eacute nessa base que noacutes

aahellip

E Uma boa jogada

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Entatildeo por exemplo por aqui jaacute podemos ver em relaccedilatildeo este eacute um documento muito

maishellip entatildeo vamos definir projecto a projecto e note-se embora haja sabe o que eacute ohellip a

Comissatildeo Paritaacuteria

E Confesso que natildeo

G Entatildeo eacute assim Cabo Verde eacute dos PALOPS uacutenico que tem uma coisa que se chama

Comissatildeo Paritaacuteria A Comissatildeo Paritaacuteria estabelece as prioridades de cooperaccedilatildeo bem como as

questotildees do acesso ao ensino superior as vagas mas eacute o uacutenico PALOP que tem isso em Portugal

E Desculpe as vagas de alunos que vecircm para Portugal como bolseiros Natildeo tem nada a ver

com o ensino laacute OK

G Esta Comissatildeo Paritaacuteria tinha quem o Director-Geral do Ensino Superior de Cabo Verde

o Director Geral do Ensino-Superior de Portugal tinha o representante do CRUP que era o Jorge

Veiga um representante do CCISP que era o Luiacutes Soares o Presidente do ICP ou o seu

substituto mais aahellip natildeo interessa quem mas no fundo tinha estas 6 ou 7 pessoas A Comissatildeo

Paritaacuteria perante as propostas que existiam dizia ldquo- Bom eacute prioritaacuterio dentro deste montante fazer

isto aquilo e aquele outrordquo E qual era esse montante Era o montante que estava inscrito num

projecto que se chamava assim sempre se chamou deixe-me encontrar chamava-se ldquoProtocolo

Do Ensino Superiorrdquo Este protocolo celebrado em 97 prevendo acccedilotildees de cooperaccedilatildeo que agora

foi assinada um novo que eacute este que assinou o Duratildeo Barroso

E Que foi-o laacute assinar

G ldquoProtocolo de Cooperaccedilatildeo da Repuacuteblica de Cabo Verde nos domiacutenios do Ensino Superior

de Ciecircncia e Tecnologiardquo

E Isso estaacute disponiacutevel nahellip Internet natildeo

G Istohellip acho que estaacute Nem sei quem eacute que me mandou istohellip

E Posso-lhe pedir uma coacutepia disso

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Com este protocolo em 2000 estamos a falar de 2001 portanto eacute acccedilatildeo de cooperaccedilatildeo mas

soacute no superior foram orccedilamentados 18 mil contos destinados a financiar vaacuterios projectos e foram

executados 4685 Portanto quando se diz que natildeo haacute dinheiro para a cooperaccedilatildeo isso eacute mentira

porque eu eacute que estive a coordenar isto sei que tambeacutem natildeo se gasta o dinheiro que se atribui

porque as pessoas gostam de laacute ir passear a primeira vez mas agrave segunda como eacute para trabalhar jaacute

natildeo gostam

E Jaacute natildeo vatildeo

G Aahellip com as seguintes acccedilotildees pronto ora bem quem define as prioridades sendo que o

montante estipulado portanto em 2001 estipulava-se 2000 contos a Comissatildeo Paritaacuteria aleacutem de

definir as prioridades natildeo eacute porque o ISEG o Instituto Portuguecircs de Educaccedilatildeo diz assim ldquo- noacutes

queremos que venham ajudar a dar um curso de Geologiardquo depois o ISECMAR que eacute o Instituto

Superior de Ciecircncias do Mar diz ldquo- eu quero natildeo sei quecircrdquo Depois o outro diz das Ciecircncias

Agraacuteriashellip Ora bem a Comissatildeo Paritaacuteria tem a funccedilatildeo de ir ajuizar Por outro lado te como eu

disse tem de se pronunciar relativamente agraves vagas agravehellip mas soacute que a Comissatildeo Paritaacuteria nunca fez

nada eacute assim reuacutene uma vez laacute uma vez caacute nunca fez nada neste sentido define grandes linhas

mas depois natildeo acompanhahellip a implementaccedilatildeo das linhas

E A sua execuccedilatildeo

G E portanto pode dizer aiacute que a prioridade eacute tal se aparecer um pedido estava eu em

primeiro lugar mas passou agrave frente do outro que chegou laacute primeiro entrava e pronto Eacute uma

barafunda Por outro lado a Comissatildeo Paritaacuteria deveria saber de todas as acccedilotildees no domiacutenio do

ensino superior e para lhe dar um exemplo de que natildeo sabe de nada eacute que eu negociei tudo isto agrave

margem da Comissatildeo Paritaacuteria embora em minha casa falaacutessemos de Comissatildeo

ParitaacuteriaPoliteacutecnico de (hellip) soacute que eacute uma conversa privada Eu nunca dei cavaco agrave Comissatildeo

Paritaacuteria porquecirc Porque o meu negoacutecio com o Engordm (hellip referindo-se ao Presidente do ICP) foi

eu natildeo quero os projectos incluiacutedos no chamado projecto protocolo do ensino superior onde haacute

um montante global que a Comissatildeo Paritaacuteria decide mas quero os projectos autoacutenomos Entatildeo

criei 6 ou 7 projectos sem nome projecto nuacutemero 1 Programa de intervenccedilatildeo manutenccedilatildeo de um

coordenador do politeacutecnico em que termos Deslocaccedilotildees perioacutedicas a Cabo Verde por um

periacuteodo de 3 anos que eacute a duraccedilatildeo dos Cursos que estaacute previsto desenvolver e a manutenccedilatildeo de

um coordenador para acompanhamento As acccedilotildees que noacutes vamos desenvolver satildeo estas que aqui

estatildeo para acompanhar isto in loco Eu nunca pus este indiviacuteduo laacute porquecirc porque natildeo tenho

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

ningueacutem que queira natildeo eacute que queira nem eu achei necessaacuterio soacute que isto diz como possiacutevel em

que eu soacute fiz entatildeo juntei 2 mil contos natildeo foi 2 mil contos foi cerca de 2 mil em cada ano para

quecirc para ter possibilidade de mandar anualmente meia duacutezia de portanto de 2 em 2 meses uma

pessoa laacute que ia eu ou me fazia substituir para coordenar os projectos que laacute estavam mas

pronto a proacutepria ida de um coordenador era uma acccedilatildeo Depois vai a cada um destes que aqui

estatildeo e cada um deles que satildeo um bacharelato em turismo que satildeo 3 bacharelatos porque eacute um

bacharelato de turismo com 3 variantes e as cadeiras comuns satildeo poucas portanto satildeo 3

bacharelatos um curso de Formaccedilatildeo de Formadores portanto eacute uma poacutes-graduaccedilatildeo eacute poacutes-

licenciatura e era um na Praia e outro no Mindelo portanto eram 2 Aahellip bacharelato em

Educaccedilatildeo Fiacutesica a assistecircncia teacutecnica jaacute tinha sido criada ateacute jaacute estava no 1ordm ano natildeo se devia

chamar bacharelato propriamente dito porque jaacute tinha comeccedilado bacharelato em Educaccedilatildeo de

Infacircncia um Curso de Especializaccedilatildeo Profissional para o 12ordm em Turismo e Ambiente Educaccedilatildeo

para a Sauacutede Especializaccedilatildeo Profissional em Contabilidade e Gestatildeo e um Curso de

Especializaccedilatildeo Profissional em Agro-Pecuaacuteria Todos estes projectos que eu abri rapidamente

veja executorhellip estaacute Portanto estamos na preparaccedilatildeo do lanccedilamento em 2001 ainda estaacutevamos a

lanccedilar portanto as missotildees que eu mandava tinham 5 mil contos era para preparar o lanccedilamento

Por exemplo Curso de formaccedilatildeo de formadores de monitores de infacircncia estaacute a ver

E Sim sim sim

G Aahellip formaccedilatildeo profissional Curso de Formaccedilatildeo Profissional em Turismo e Ambiente

Objectivos formar e desenvolver competecircncias para o turismo aos alunos que tenham o 12ordm ano

tal tal tal entidade financiadora o ICP Eu natildeo dependia de mais nenhuma entidade natildeo quero caacute

depender de entidades externas que natildeo sei se me pagam eu faccedilo gratuitamente a funccedilatildeo de

gestora porque eu era gestora natildeo aacuterea soacute da educaccedilatildeo eu geria a aacuterea dos transportes das infra-

estruturas da rede rodoviaacuteria dahellip portanto tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa da parte

cultural da cooperaccedilatildeo da cidade velha tudo o que fosse cooperaccedilatildeo portuguesa eu geria a

contrapartida como eu natildeo ganhava nada eu natildeo era funcionaacuteria do ICP eles deram-me projectos

que natildeo eram para mim portanto no fundo eacute assim o Politeacutecnico ficou a dever-me e a cooperaccedilatildeo

ficou a dever um gestor agrave borla e no fundo soacute tenho que mostrar que isto funciona e funciona de

tal maneira que agora portanto este era o processo antigo com a entrada do Dr (hellip referindo-se

a um novo presidente do ICP) para Presidente o (hellip) foi extremamente correcto e eu fui laacute e disse

ldquo- olhe eu ponho o lugar de gestora agrave disposiccedilatildeo porque eu natildeo sou de caacute portanto estouhelliprdquo Ele

disse ldquo- Natildeo senhora tem muito trabalho feito ateacute agora e se quiser continuar eu soacute lhe fico

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

gratordquo Eu continuei e disse ldquo- Estaacute bem mas entatildeo tambeacutem continue a apoiar-nos porque ateacute

porque agora eacute um problema de poliacutetica de governos quer dizer as coisas estatildeo a meiohellip

E Natildeo se pode parar

G Natildeo se pode parar Sim senhora tudo correu muito bem e agora veio o terceiro presidente

Quando isto muda de ICP para IPAD Eu faccedilo n cartas ao IPAD ao Presidente do IPAD respondo

toda a situaccedilatildeo anterior porque ele deve laacute ter documentos e dossiers portanto deve laacute ter o que

satildeo os antecedentes toda a actualizaccedilatildeo sobre o Politeacutecnico aqui haacute cerca de 2 meses noacutes fomos

eu e o Presidente do Politeacutecnico mais o Presidente de cada Escola fomos a Cabo Verde

convidados pela Directora Geral do Ensino Superior entregar os diplomas dos Cursos mas

pagaacutemos por nossa conta Pronto e eacute tambeacutem algo enfim pouco pouco recomendaacutevel que noacutes

natildeo tivemos a fazer nada em termos pessoais e acabaacutemos por pagar mashellip pronto foi a nossa

contribuiccedilatildeo Noacutes temos dado outra contribuiccedilatildeo que eacute por exemplo aahellip e eacute uma grande

contribuiccedilatildeo os nossos docentes que vatildeo e eu posso-lhe mostrar satildeo as missotildees que eu tenho

agora em curso portanto todo o docente que vai o que eacute que tem quehellip tem quehellip fazer tem que

ter uma autorizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo dele portanto este eacute a Escola (hellip) para ele se deslocar a Escola

(hellip) tem de fazer uma reestruturaccedilatildeo no seu plano curricular para que ele possa laacute estar 15 dias ou

3 semanas e poder compensar as aulas

E Para natildeo prejudicar as aulas

G Eu pago adiantado aqui pelo Politeacutecnico agrave agecircncia de viagens ele passa-me o cartatildeo da

viagem duas viagens e pago antecipadamente agrave agecircncia Depois de euhellip eu depois mandohellip a

escola respectiva manda-me o boletim itineraacuterio depois disso eu mando a conta da viagem para o

IPAD o IPAD reembolsa-me e das ajudas de custo Antigamente o IPAD pagava directamente e

natildeo era contra envio de factura Porque eacute que isso acontece uma parte porque fiz um Protocolo

com o IPAD que ele me propocircs agora caso a caso portanto noacutes jaacute acabaacutemos os outros cursos soacute

estamos com os 3 bacharelatos de Turismo e entatildeo este Protocolo que jaacute estaacute assinado por noacutes

falta vir o exemplar dele aprovou ainda o montante dehellip para este ano civil natildeo eacute portanto para

as cadeiras que eu disse que precisava de pocircr a leccionar que satildeo estas

E Hum hum

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Atribuiu um montante de 102 mil euros Esta forma embora mais difiacutecil de conseguir eacute

uma forma para mim muito mais segura Eu natildeo tenho o dinheiro mas tenho a garantia de quehellip

Tenho eacute sempre o problema que tenho de pagar tudo antecipadamente e depois portanto eacute uma

gestatildeo complicada Mas para noacutes eacute uma gestatildeo complicada porque temos que pagar e pedir o

reembolso depois voltar a fazer a entrada de maneira que essa situaccedilatildeo natildeo eacute muitohellip

E Claro

G Mas tenho um tecto ao passo que eu assim estou a funcionar sem redehellip

E Claro

G hellip eu mandava e depois natildeo sabiacuteamoshellip estamos a chegar ao fim de 2003 e ainda natildeo sei o

que eacute que vai acontecer mas aiacute foi o que aconteceu em 2002 noacutes soacute recomeccedilamos 2003 em

Maio os alunos ficaram sem aulas euhellip eacutehellip

E Porque eacute que estes projectos satildeo tatildeo semelhantes nos problemashellip

G Eacute uma questatildeo de gestatildeo deslocados das ilhas eu estou a falar de um sistema insular

como tal eles estatildeo deslocados das ilhas ou por conta proacutepria ou com uma bolsa do Governo

Cabo Verdiano sem aulas ateacute Maio porque o Governo Portuguecircs natildeo deu luz verde e os alunos

estavam no segundo ano

E Mas isso aconteceu em Timor tambeacutem

G Portanto neste momento a situaccedilatildeo estaacute regularizada vou ter que comeccedilar a ver jaacute a

questatildeo de 2004 depois tem o proacuteximo anohellip

E Eu em Timor jaacute agora tinha laacute os docentes e o Governo natildeo tinha dado luz verde para

comeccedilar o segundo ano

G Pois estaacute a ver Eu a certa a altura devia 7 mil e tal contos de viagens agrave agecircncia de um ano

porque eu mandei os docentes todos sem ter ainda o Protocolo Agora as coisas estatildeo

normalizadas e estamos a funcionar nestahellip nesta base

Aahellip o que eacute que eu estava a dizer com isto tudo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Estava-me a dizer que agora este ano que jaacute vai comeccedilar a planear 2004

G Portanto com este protocolo que ainda natildeo estaacute acabado de assinar vamos comeccedilar a

preparar o ano 2004 Isto eacute para lhe dizer como eacute que funcionou na praacutetica uma coisa que estaacute

escrita nos papeacuteis ah e depois noacutes lanccedilaacutemos quando eu jaacute era gestora noacutes lanccedilaacutemos uma coisa

um concurso para equipas que se candidatassem a fazer a avaliaccedilatildeo externa porquecirc Porque eu

participei numa missatildeo do CAD Comiteacute de Apoio ao Desenvolvimento que era integrada por

uma seacuterie de peritos estrangeiros e eu depois fui pelo CAD para fazer a avaliaccedilatildeo da poliacutetica

portuguesa para os PALOPS da Poliacutetica Externa Portuguesa poliacutetica de cooperaccedilatildeo para Cabo

Verde Quando eu era a gestora e acompanhei a equipa do CAD

E Mas isso eacute importantiacutessimo o que me estaacute a dizer eu natildeo conhecia esse trabalho Isso eacute um

trabalho de avaliaccedilatildeo da poliacutetica de cooperaccedilatildeo de Portugal com Cabo Verde

G Isto eacute umhellip olhe ldquo- Teraacute lugar em 20002001 em Paris um exame do Comiteacute de Apoio ao

Desenvolvimento da OCDE agrave Poliacutetica de Cooperaccedilatildeo Portuguesa como preparaccedilatildeo deslocou-se a

Portugal uma equipa constituiacuteda por elementos tal talhellipEssa equipa constituiacuteda por fulanos

fulanos vai agora proceder agrave avaliaccedilatildeo dessa poliacutetica em Cabo Verde como coordenadora do

grupo de missatildeo da relaccedilatildeo PortugalCabo Verde ao abrigo do Protocolo solicito a V Exordf

autorizaccedilatildeohelliprdquo

E E essahellip avaliaccedilatildeo jaacute teve um relatoacuterio Natildeo tecircm disponiacutevel E quem eacute que teraacute essehellip

G Portanto estaacute a ver programa de visita aahellip

E A preparaccedilatildeo da visitahellip

G hellip isto foihellip uma fase anterior para a preparaccedilatildeo Tem aqui os documentos olhe Foi

elaborado pelo CAD isto satildeo os documentos todos

E Os comentaacuterioshellip G Depois fez-se tambeacutem caacute em Portugal eles primeiro vieram a Portugal para preparaccedilatildeo

deslocam-se a Portugal portanto eu fui a essa reuniatildeo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Isto eacute uma adenda ao Relatoacuterio G Isto eacute o que eu tenho portanto natildeo tenho mais documentaccedilatildeo porque eu no fundo fui

acompanhar a como professora natildeo eacute

E Sim sim G Ah depois entretanto fiz um conveacutenio de cooperaccedilatildeo entre o Politeacutecnico e a proacutepria

Direcccedilatildeo Geral de Ensino Superior de Cabo Verde para suportar exactamentehellip

E Claro hellip as actividades G hellip pode usar estes trecircs protocolos que eu fiz

E Diga-me uma coisa no meio disto tudo qual eacute a receptividade e a reacccedilatildeo do Governo

Cabo Verdiano

G Com base nas recomendaccedilotildees do CAD uma coisa que foi criacutetica foi dito oralmente mas

estaacute no Relatoacuterio foi que natildeo existia digamos nenhumhellip nenhuma avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

portuguesa feita por Portugal e entatildeo comeccedilava ahellip

E Natildeo havia nenhuma auto-avaliaccedilatildeo no fundo

G Natildeo avaliaccedilatildeo aahellip externa

E Externa

G E entatildeo resolvemos lanccedilar portanto eu neste momento jaacute natildeo sou gestora com a entrada

deste presidente mas na altura lanccedilou-se uma seacuterie de concursos para que equipas apresentassem

candidatura a fazerem a avaliaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portuguesa sei laacute no domiacutenio imagine dahellip das

redes viaacuterias Bom mas comeccedilaacutemos exactamente pelo ensino superior E haacute este Relatoacuterio cuja

maior parte das coisas eu discordo ehellip porque isto eacute de quem natildeo sabe eacute de quem estaacute a ouvir a

fazer entrevistas aahellip mas a dizer o que teoricamente eacute uma coisa eacute o teoricamente e outra coisa

eacutehellip se eu lhe disser que teoricamente a Comissatildeo Paritaacuteria que define a poliacutetica de cooperaccedilatildeo no

ensino superior

E Mas na praacutetica natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Como vecirc a grande poliacutetica a uacutenica poliacutetica sistematizada com Cabo Verde eacute a minha

porque como vecirc satildeo os uacutenicos projectos que estatildeo independentes e fura completamente as regras

Portanto aliaacutes eles dizem aqui a certa altura que o modelo que estaacute definido eacute um modelo

perigosohellip

E Mas a (hellipdirigindo-me agrave entrevistada) admite entatildeo quehellip

G Admito e mais quer dizer eu lamento que seja assim

E Eacute incriacutevel natildeo eacute

G Eacute tatildeo engraccedilado que a certa altura eles ateacute conseguem fazer um capiacutetulo que eu acho que eacute

uma coisa que vale a pena mostrar haacute um capiacutetulohellip haacute muita coisa aqui que natildeo estaacute correcta

foram os dados que eles conseguiram obterhellip agora haacute aqui uma parte que eu acho muito

engraccedilada que eles chamam mesmo numa secccedilatildeo a poliacutetica do ICP e o caso do (hellip nomeando o

instituto que representa)

E Risos Portanto o (hellip) aparece quase como haacute margem dehellip Pronto no fundo eles o que

dizem eacute que o ICP eacute o executor ohellip desculpe o (hellip) eacute o executor da poliacutetica de cooperaccedilatildeo do

ICP

G Pois

E Natildeo eacute

G Natildeo Eles fazem um relato eles tecircm uma mapa de todashellip o Departamento de Matemaacutetica

da Universidade de Coimbra tambeacutem faz protocolo com eles Aahellip os serviccedilos de biblioteca

tambeacutem fazhellip o que eles potildee mas natildeo potildee um capiacutetulo A cooperaccedilatildeo desenvolvida pela

Faculdade de Medicinardquo Eles potildee ldquoO voluntarismo da cooperaccedilatildeo e a cooperaccedilatildeo desenvolvidardquo

Portanto vatildeo mandando uma ldquobocasrdquo quer dizerhellip

E Risos

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G (lecirc um estrato do Relatoacuterio) ldquo O apoio a estes novos cursos seraacute a partir de agora

estruturado no ICP de modo a permitir uma dotaccedilatildeo e gestatildeo financeira individualizada de cada

projecto e autoacutenomahelliprdquo em relaccedilatildeo ao projecto que tinha estado a ser coordenado pela Comissatildeo

Paritaacuteria cujo instrumento de coordenaccedilatildeo era a Comissatildeo Paritaacuteria criada em 9697 ldquoEstes novos

cursos eram conhecidos da Comissatildeo Paritaacuteria a quem eram comunicados para validaccedilatildeo pois na

base dehellip no entanto acabavam por gozar de uma relativa autonomiahelliprdquo Natildeo eacute relativa eacute total

ldquohellip na medida em que surgem a partir do ICP sem gerar hellip a partir das partes portuguesa quer as

instituiccedilotildees de ensinohellipal tal tal Tirando assim partido do planeamento tiravam partido do

planeamento porquecirc porque quem estava no planeamento era eu do ICP Portanto eu tinha a

dupla postura de estarhellip

E A planear e a candidatar-se ao ensino

G Estaacute bem ldquoUma outra consequecircncia dessa estrateacutegia foi feita com um contrato chapeacuteu dos

financiamentos de acccedilotildees avulsas pelo projecto protocolo do ensino superiorrdquo Isto eacute verdade satildeo

acccedilotildees avulsas natildeo eacute Quer dizer ia laacute agora um indiviacuteduo uma semana ia outrohellip depois ia laacute

fazer uma conferecircncia Eventualmente por razotildees mais faacuteceis a participaccedilatildeo tornou-se mais

significativa sendo ao mesmo tempo este projecto tentar ultrapassar as dificuldadeshellip (continua a

leitura de excertos do Relatoacuterio)

Portanto eacute soacute para ver quehellip depois conseguiram pocircrhellip pronto eles ateacute criam uma sub-

secccedilatildeo soacute porhellip (referindo-se ao seu instituto) porque de facto fugiu agrave regra do que da Comissatildeo

Paritaacuteria portanto isto vem mostrar que a cooperaccedilatildeo portuguesa natildeo tem poliacutetica

E Pois e mostrou muito bem (risos)

G Natildeo eacute Na altura foi a poliacutetica toda foi a poliacutetica toda somos de certeza a instituiccedilatildeo que

tem mais cursos a funcionar laacute mas natildeo eacute ida de docentes parahellip natildeo estamos a falar de ida de

docentes para fazer uma comunicaccedilatildeo ou para dar uma cadeira noacutes damos os cursos do primeiro

ao uacuteltimohellip do iniacutecio ao fim e portanto eu tenho todas as semanas 5 ou 10 pessoas em Cabo

Verde os meus docentes natildeo levam um tostatildeo natildeo eacute como os Vossos de Timor

E Natildeo natildeo ganham nem ajudas de custo Nada

G Pagamos-lhes as despesas para viver laacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Claro claro

G Eles tecircm quehellip para jaacute natildeo ficam dispensados do serviccedilo caacute como os de Timor que satildeo

substituiacutedos

E Exacto

G E vocecircs sabemhellip

E Exacto exactamente

G Os nossos natildeo portanto o horaacuterio eacute alterado e eles quando vierem datildeo as aulas caacute e

depois natildeo ganham nada por irem para laacute soacute ganham a ajuda de custo Portanto eacute um trabalho de

voluntarismo

E Haacute bocadinho perguntava-lhehellip este dossier eacute puacuteblico ou natildeo Mas posso usar estas

informaccedilotildees para a tese Portanto agrave partida eacute um dossier puacuteblico e a informaccedilatildeo pode ser

divulgada Pronto Aahellip eu sei que o CIPES por exemplo tambeacutem estaacute a fazer um trabalho de

estudo comparativo dos vaacuterios paiacuteses de liacutengua oficial portuguesa eu posso-lhes facultar esta

informaccedilatildeo Eu estou a perguntar porque natildeo quer terhellip

G Quem me mandou isto foi o Instituto Superior para o Desenvolvimentohellip

E sabe que eles estatildeo com muita dificuldade em obter informaccedilatildeo

G Sabe que noacutes na altura fomos ouvidos Olhe o (hellipreferindo-se a outro elemento que foi

entrevistado) foi ouvido mas foi portanto mas noacutes fomos ouvidos comohellip

E Intervenientes no fundo

G hellip a Cooperaccedilatildeo deu os nossos nomes como pessoas quehellip o Prof (hellip) foi ouvido

enquantohellip agora natildeo concordo comhellip Destas pastas a primeira eacute sobre as vaacuterias concepccedilotildees de

cooperaccedilatildeo olhe o Acordo entre Portugal e Cabo Verde em 93 o Acordo eacute o tal de 97 que agora

existe este como lhe disse

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro E Sim sim sim

G A concepccedilatildeo e a programaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo portanto como eacute que foi concebiacutevelhellip Ora

bem eacute nisto que eu natildeo concordo porque quem estaacute de forahellip Haacute aiacute muita coisa que eacutehellip

E Depois podia arranjar-me uma coacutepia do Protocolo assinado agora Mas agora para natildeo lhe

estar a roubar muito tempo que sei que tambeacutem estaacutehellip muito ocupadahellip

G Olhe as acccedilotildees programadashellip estaacute a ver

E Sim sim

G Foram estas todas agora eacute que eu as estou a mandar para laacute

E No meio disto tudo como eacute que tem sido a intervenccedilatildeo do Governo Cabo Verdiano

G Arranja as salas aahellip

E E decide eles decidem algum tipo de estrateacutegia ou natildeo Satildeo meros espectadores

G As acccedilotildees satildeo definidas agrave conta das relaccedilotildees isto eacute definido sei laacute por exemplo vamos

ouhellip precisamos de um curso de turismo ou entatildeo eles natildeo dizem mas satildeo convencidos outra

coisa que aiacute estaacute ditohellip

E Eacute isso eacute que eu quero saber (risos) Isto eacute satildeo eles que identificam as suas verdadeiras

necessidades ou satildeo levados a identificar (risos)

G Eacute assim compete realmente ao paiacutes beneficiaacuterio pedir agraves vaacuterias cooperaccedilotildees e dizer que

aacutereas necessita e depois compete a esse paiacutes responder sim ou natildeo natildeo eacute Ora o meu papel como

gestora da cooperaccedilatildeo era exactamente negociar com as autoridades Cabo Verdianas eu quando ia

fazia uma ronda pelos vaacuterios ministeacuterios com quem havia cooperaccedilatildeo fazia com o Ministro das

Financcedilas com o dos Transportes mas eu natildeo fazia eu natildeo auscultava as opiniotildees deles o que eu

tentava era convencecirc-los

E Era dizer ldquo- olha vai precisar distohelliprdquo (risos)

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G Eacute evidente agora o que vem escritohellip

E Eacute isso que vem escrito Mas isso eacute normal

G Agora eu digo que foram eles que disseram e natildeo era natildeo eacute

E Claro Mas a verdade eacute que eles precisam de ser orientados natildeo eacute

G Aliaacutes eu tive esse trabalho como consultora dahellip da Uniatildeo Europeia para os 5 PALOPS

emhellip portanto fui consultora para a aacuterea da educaccedilatildeo dos 5 PALOPS no acircmbito do chamado

ldquoPIR PALOP 3rdquo natildeo sei se sabe o que eacute

E Natildeo

G O ldquoPIR PALOPrdquo eacute o Programa Indicativo Regional com os PALOPS portanto em vez de

ser um Programa Indicativo para um Paiacutes e ser da Cooperaccedilatildeo Portuguesahellip

E Eacute para os PALOP em geral

G Este natildeo era da Cooperaccedilatildeo Portuguesa mas era da Comissatildeo Europeia

E Sim sim

G A Comissatildeo Europeia por qualquer razatildeo natildeo conhecia laacute ningueacutem e um dia telefonou-me

um Senhor Frank natildeo sei quantos um francecircs a convidar-me eu achei que era algum amigo meu a

gozar comigo Aahellip e depois ele mandou-me o convite formal eu aceitei e entretanto integrei

uma equipa que era toda estrangeira portanto eu estava pela aacuterea da educaccedilatildeo depois havia uma

pessoa pela aacuterea dahellip dahellip da agricultura da sauacutede e fizemos um peacuteriplo pelos 5 paiacuteses que

demorou um mecircs e tal aahellip para a chamada identificaccedilatildeo das necessidades a financiar agora natildeo

por Portugal mas pela Uniatildeo Europeia E aiacute sim o meu papel foi identificar aiacute sim na aacuterea da

educaccedilatildeo em cada um dos 5 paiacuteses as grandeshellip os grandes projectos

Depois se a Comissatildeo Europeia tinha possibilidade de os financiar ou natildeo e se os paiacuteses os

queriam ou natildeo era outro problema mas a minha funccedilatildeo era identificar Aahellip aqui como gestora

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

era negociar com os Governos aquilo que era possiacutevel Portugal dar dentro do que PAC que estava

disponiacutevel

E Agora diga-me uma coisa aahellip em relaccedilatildeo agora concretamente em relaccedilatildeo agraves acccedilotildees

desenvolvidas no terreno e ao ensino promovido pelas instituiccedilotildees sejam puacuteblicas sejam

privadas aahellip de ao niacutevel da cooperaccedilatildeo acha que as acusaccedilotildees que satildeo feitas muitas vezes ao

ensino transnacional de falta de qualidade de dehellip ateacute alguma falta de transparecircncia muitas

vezes aahellip

G O que eacute que eacute o ensino transnacional

E Olhe por exemplo sei laacute uma universidade quehellip estou-me a lembrar de algumas

universidadeshellip Natildeo estou soacute a reportar-me agora a estas acccedilotildees de cooperaccedilatildeo aahellip no geral Agrave

ida dehellip agrave promoccedilatildeo de ensinohellip

G No exterior

E No exterior neste caso

G Normalmente uma fraude Eacute um noventahellip eacute assim eu natildeo devia estar a dizer isto a

experiecircncia que eu tenho natildeo eacute minha

E Eu natildeo lhe estou a pedir para se reportar soacute agrave sua experiecircncia A sua sensibilidade no geral

G Natildeo natildeo se eu usasse a experiecircncia pessoal diria que sem ponta de vaidade eu sou um

caso tiacutepico dohellip do voluntarismo eu pertenccedilo quase agraves ONGs aos Meacutedicos sem Fronteirashellip

E (risos)

G Eu e o (hellip referindo-se a outro docente) trabalhaacutemos vinte e tal anos graciosamente com

perda das nossas feacuterias eu passava laacute as feacuterias sim mas estava a trabalhar Mas foi um gosto eu

tenho amigos em Cabo Verde como natildeo tenho em Portugal os meus amigos de peito satildeo de laacute eu

vi aquele paiacutes crescer eacute um gosto Se eu pensar nas dezenas de docentes que eu consegui envolver

nestes projectos todos e que estatildeo a tiacutetulo gracioso porque eles vecircm natildeo ganham um tostatildeo e

chegam caacute tecircm que repor as aulas todas que caacute deixaram e ganham uma miacutesera ajuda de custo que

lhes daacute soacute para comer e dormir ainda satildeo vinte e tal contos mas o hotel custa vinte contos natildeo eacute

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E Claro

G Portanto natildeo ganham um tostatildeo eu direi que eles satildeo aahellip quase uns heroacuteis quando

podiam estar aqui a dar acccedilotildees de formaccedilatildeo a 12 contos agrave hora Agora eu natildeo posso apostar nisto

que felizmente ou infelizmente aquilo que eu conheccedilo realmente estou na cooperaccedilatildeo agrave quase 30

anos e devo-lhe dizer que a Cooperaccedilatildeo e particularmente estou a falar da Cooperaccedilatildeo Portuguesa

que eacute da que eu quero falar porque a outra eu conheccedilo mas enfim conheccedilo soacute por olfacto como

eu digo natildeo eacute porque estou laacute com as pessoas vejo o que fazem como se comportam mas natildeo

sei em que condiccedilotildees vatildeo e quehellip

E Claro claro

G Da Cooperaccedilatildeo Portuguesa eacute uma fraude do mais alto niacutevel eacute uma vigarice de dehellip da

maacutexima as pessoas vatildeo daqui eu natildeo vou dizer nomes mashellip

E Natildeo vale a pena

G Cada vez que eu viajava iam 5 professores da universidade todos eles meus amigos que

chegavam laacute que queriam era comer uma bela lagosta que natildeo sei quecirc iam 2 horas laacute agrave escola natildeo

sei quantos faziam uma conferecircncia estavam laacute 5 dias vinham 3 ficavam no Sal levavam a

mulher ou o marido aahellip os filhos se natildeo levavam pediam para fazer um peacuteriplo pelas ilhas

porque gostavam de conhecer todas e tinham feito era uma conferecircncia para dizer meia duacutezia de

ldquobalelasrdquo e quem diz ldquobalelasrdquo pode ter sido uma conferecircncia muito boa mas natildeo eacute isso que estaacute

em causa

E Claro

G Podia ter sido uma conferecircncia muito boa mas aahellip isso fazia indo num dia e vindo n

outro portanto o custo a relaccedilatildeo custobenefiacutecio eacute absolutamente insustentaacutevel

(Interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravaccedilatildeo)

E Noacutes estaacutevamos a falar dehellip ah das instituiccedilotildeeshellip

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro G Portanto quando eacute dito escrito natildeo sei quecirc eacute uma coisa a verdade eacute aquilo que eu lhe

estava a dizer portanto as pessoas vatildeo por 3 dias gastam aahellip 700 contos em viagens e ajudas de

custo porque vatildeo fazer uma conferecircncia portanto noacutes aqui funcionamos assim por exemplo eu

tenho um moacutedulo de 60 horas os alunos tecircm 6 horas de aulas por dia incluindo Saacutebados o

docente chega num dia agraves 4 h da manhatilde e comeccedila a trabalhar agraves 8 do dia seguinte e vem embora

no proacuteprio dia em que acabou as aulas que eacute a uacutenica forma de fazer render o dinheiro

E Noacutes com Timor tambeacutem fazemos assim mais ou menos Agora as pessoas muitas vezes

querem eacute ir mais cedo para fazerem uns peacuteriplos pela Austraacuteliahellip

G E podem fazer desde quehellip

E Claro e tudo o que seja extra custos da Fundaccedilatildeo eacute pago directamente por eles claro Mas

diga-me o que eu precisava que me dissesse eacute Qual eacute a sua sensibilidade em relaccedilatildeo por

exemplo a universidades privadas que estatildeo a promover uma seacuterie de cursos nomeadamente em

Cabo Verde

G Penso que eacute uma fraude do (hellip nomeando uma instituiccedilatildeo privada que promove ensino em

Cabo Verde) em Cabo Verde natildeo lhe posso dar a minha opiniatildeo porque a minha opiniatildeo eacutehellip

(gravaccedilatildeo interrompida deliberadamente para que o entrevistado se sentisse mais agrave vontade para

expressar a sua opiniatildeo)

E Claro eu percebi e percebo daquilo que tenho ouvido das vaacuterias conversas que tenho

tido com vaacuterias pessoas tenho percebido essa instituiccedilatildeo normalmente ningueacutem percebe muito

bem como eacute quehellip como eacute que estaacutehellip

G Eles hatildeo-de ter alguma vantagem em laacute estar como eacute evidente

E Claro

G Cabo Verde tambeacutem haacute-de ter no sentido em que eles hatildeo-de ter tambeacutem prometido sei laacute

o quecirc Tambeacutem natildeo sei porque sei que eles pagamhellip propinas os alunoshellip sei um monte de

coisas e portantohellip tambeacutem sei que muitos pais que tecircm laacute tido os filhos ou que tecircm laacute natildeo os

querem laacute mais mas isso algum dia a gente haacute-de ver o fundo

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

E O resultado natildeo eacute Para finalizar aahellip em relaccedilatildeo a isto o que eacute que acha dashellip da

implementaccedilatildeo de estruturas de regulaccedilatildeo do ensino transnacional O que eacute que acha como

mecanismo de controlo por exemplo as redes de as redes privadas dehellip de avaliaccedilatildeo e de

regulaccedilatildeo do ensino transnacional ou ainda por exemplo a inserccedilatildeo desses cursos e destas acccedilotildees

no ensino formal dos paiacuteses propriamente no sentida dehellip

G Eu achava por exemplo vou-me reportar outra vez ao meu caso eu achava por exemplo

este tipo de actividades lectivas dos docentes podiam estar incluiacutedas na sua proacutepria aahellip carga

horaacuteria porque no fundo satildeo a carga horaacuteria que natildeo eacute dada caacute eacute dada noutro siacutetio eu acho que

eacute umhellip umhellip um peso excessivo e este voluntarismo acaba quer dizer ningueacutem estaacute disposto a

continuar a fazer isto a vida inteira natildeo eacute

E Claro

G Natildeo pode ser por estas regras de voluntarismo que as coisas funcionam tambeacutem Tambeacutem

basta natildeo eacute

E Claro E em relaccedilatildeo a esse dito mecanismo de controlo acha que o ensino transnacionalhellip

G Olhe eu acho que a questatildeo para mim a questatildeo eacute outra eacute eacutehellip eacute o estabelecimento

chame-lhe contrato programa ou o que quiser da entidade que eacute financiadora eacute o IPAD que

contratualizou uma instituiccedilatildeo para uma determinada acccedilatildeo que lhe apresenta portanto sempre

que a instituiccedilatildeo lhe apresenta um projecto de intervenccedilatildeo diz ldquo- Noacutes propomos fazer isto nestes

timings com estes produtos e no fim tem que haver um mecanismo de avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo e

dizer estahellip esta empresa essa instituiccedilatildeo eacute afastada para o futuro porque natildeo cumpriu da

proacutexima vez natildeo entra Mas para fazer isto tem que o IPAD ter estruturas que natildeo tem porque

aquilo eacute uma estrutura altamente desactualizada e velha ter estruturas para gerir este processo O

que eacute que eu tenho eacute um contrato programa Este protocolo eacute um contrato programa natildeo eacute Diz

o montante 72 mil euros tenho quehellip eu disse que ia dar estas cadeiras estas estas estashellip que

eu arranjava os docentes que eu pagava antecipadamente que eles me davam o dinheiro que eu

fazia o Relatoacuterio Final pronto tudo bem Agora se eu natildeo tiver cumprido o que eacute que me

acontece natildeo me acontece nada

E Ningueacutem vai avaliar

Mestrado em Poliacuteticas e Gestatildeo do Ensino Superior Universidade de Aveiro

G E se eles natildeo cumprirem tambeacutem natildeo acontece nada

E Natildeo eacute consequente E o que eacute que acha os curriacuteculos ehellip quehellip ou melhor as acccedilotildees que

elabora satildeo elaborados curriacuteculos especiacuteficos para o contexto do paiacutes

G Natildeo tem nada a ver com os de caacute

E Satildeo completamente diferentes

G Pois Eu laacute natildeo dou a histoacuteria de Portugal dou a histoacuteria de Cabo Verde ou douhellip quando

dou itineraacuterios turiacutesticos natildeo eacute em Portugal eacute em Cabo Verde a um curso de turismo Quer os

programas das cadeiras quer o proacuteprio curriacuteculo

E E estatildeo planeados no sentido de haver depois umahellip

(interrupccedilatildeo na gravaccedilatildeo para virar a cassete)

G hellip quer dizer natildeo eacute neste curso de turismo que jaacute deixo gente preparada parahellip para poder

pegar no proacuteprio curso agora a nossa ideia por exemplo ao fazermos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo

formaccedilatildeo de formadores e de educaccedilatildeo na infacircncia eacute fazer o quecirc foi pegar em pessoas que jaacute

eram licenciadas dar-lhes uma poacutes-graduaccedilatildeo especiacutefica para a educaccedilatildeo de infacircncia e eles jaacute

poderem ser docentes nos cursos de educadores de infacircncia Estaacute a ver

E Exactamente

G Ora mas isso tem a ver com o o que se pode chamar um programa integrado de

intervenccedilatildeo Para aleacutem de ir fazer um curso de turismo repare que eu a par do curso de turismo de

bacharelato fiz cursos teacutecnico-profissionais poacutes 12ordm ano em ecoturismo em agroturismo emhellip

exactamente foram aqueles que saiacuteram do 12ordm ano e natildeo prosseguiram os estudos e mais nos

bacharelatos de turismo eu deixei uma quota para aqueles que fizeram outro curso profissional que

tiveram equivalecircncia ao 1ordm ano e entraram directamente

E Sim sim

G Mas portanto esse eacute um problema de concepccedilatildeo estaacute a ver

E Claro FIM

Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Acordo de Cooperaccedilatildeo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no domiacutenio do Ensino Superior

Considerando que o ensino superior constitui uma instituiccedilatildeo de cultura e de formaccedilatildeo ciacutevica de actividades sociais cientiacuteficas e teacutecnicas e ao tempo um indicador de referecircncia sobre o desenvolvimento de uma sociedade contemporacircnea cabendo-lhe um lugar essencial na produccedilatildeo desenvolvimento e dinamizaccedilatildeo da sociedade

Considerando que nesta perspectiva eacute funccedilatildeo da formaccedilatildeo superior realizar um integral aproveitamento das capacidades humanas dos cidadatildeos dos recursos e dos valores num todo orientado para a mais completa utilizaccedilatildeo das riquezas do paiacutes

Considerando que uma longa tradiccedilatildeo nesse domiacutenio pode ser invocada a respeito de Cabo Verde nomeadamente desde meados do seacuteculo XIX com a instituiccedilatildeo de escolas de elevado niacutevel pedagoacutegico e cientiacutefico responsaacuteveis pelo notaacutevel quadro actual nos diferentes planos do saber cultural cientiacutefico e teacutecnico

Considerando que a receacutem-formada Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa vem aumentar por um lado a importacircncia do desenvolvimento do ensino superior atendendo ao estreitamento de relaccedilotildees entre os seus membros e por outro o sentido da solidariedade entre as instituiccedilotildees de ensino que podem colaborar no desenvolvimento da formaccedilatildeo superior considerada nas suas diferentes aacutereas culturais cientiacuteficas e teacutecnicas onde quer que haja condiccedilotildees de viabilidade

Considerando a realidade da cooperaccedilatildeo existente entre Portugal e Cabo Verde e os resultados positivos alcanccedilados A Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde acordam em

Artigo 1ordm

Conjugar os meios conducentes ao desenvolvimento do ensino superior em Cabo Verde nomeadamente atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre as instituiccedilotildees de ensino superior e de investigaccedilatildeo de ambos os paiacuteses

Artigo 2ordm

Para esse efeito seraacute constituiacuteda uma comissatildeo paritaacuteria destinada a desenvolver os trabalhos conducentes agrave concretizaccedilatildeo dos objectivos expostos integrando um maacuteximo de cinco representantes de cada paiacutes

Artigo 3ordm

Os elementos da comissatildeo paritaacuteria seratildeo nomeados no prazo de 45 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo

Artigo 4ordm

A comissatildeo paritaacuteria reuniraacute no prazo de 90 dias a contar da data da entrada em vigor do presente Acordo e elaboraraacute um projecto de regulamento a homologar por ambas as Partes contemplando a sua forma de funcionamento e o plano de actividades que se propotildee desenvolver com vista a atingir os objectivos previstos

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Paacutegina Inicial Publicaccedilotildees Contactos Novidades Ligaccedilotildees Mapa O Que eacute o GAERI

Artigo 5ordm

A comissatildeo paritaacuteria poderaacute convidar organizaccedilotildees privadas com trabalho desenvolvido na aacuterea do ensino para participar nas suas reuniotildees agraves quais seraacute dado estatuto de observador

Artigo 6ordm

1 - O presente Acordo entraraacute em vigor na data da uacuteltima notificaccedilatildeo do cumprimento das formalidades exigidas para o efeito pela ordem juriacutedica de cada uma das Partes e seraacute vaacutelido por um periacuteodo de cinco anos podendo ser denunciado por qualquer das Partes mediante comunicaccedilatildeo escrita agrave outra com uma antecedecircncia miacutenima de nove meses

2 - O presente Acordo poderaacute ser prorrogado por acordo entre as Partes por um periacuteodo susceptiacutevel de ir ateacute cinco anos tendo em conta a avaliaccedilatildeo do projecto feita no decurso do ano lectivo de 2001-2002 caso haja lugar agrave prorrogaccedilatildeo ela far-se-aacute por simples troca de notas entre os Ministeacuterios dos Negoacutecios Estrangeiros de cada um dos paiacuteses

Feito na cidade da Praia aos 18 de Fevereiro de 1997 em dois originais em liacutengua portuguesa fazendo os dois textos igualmente feacute

Pela Repuacuteblica Portuguesa Eduardo Carrega Marccedilal Grilo Ministro da Educaccedilatildeo

Pela Repuacuteblica de Cabo Verde Joseacute Luiacutes Livramento Ministro da Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

Declaraccedilatildeo por ocasiatildeo da assinatura do Acordo entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde no Domiacutenio do Ensino Superior

A Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian vem desde o iniacutecio dos anos 90 e no quadro da colaboraccedilatildeo estabelecida com as autoridades cabo-verdianas no domiacutenio da educaccedilatildeo prestando o seu contributo para a institucionalizaccedilatildeo do ensino superior em Cabo Verde A prioridade concedida pela Fundaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo deste niacutevel de ensino em Cabo Verde funda-se no reconhecimento da importacircncia que a formaccedilatildeo de niacutevel superior tem para o desenvolvimento sustentado do paiacutes

A Fundaccedilatildeo iraacute prosseguir o seu apoio agraves actividades de ensino superior em Cabo Verde nos termos recentemente acordados com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo deste paiacutes designadamente atraveacutes de acccedilotildees de assistecircncia teacutecnica de formaccedilatildeo de docentes de desenvolvimento curricular da oferta de equipamento cientiacutefico e didaacutectico e de bibliografia

Nesta conformidade e com o objectivo de promover uma eficaz colaboraccedilatildeo no desenvolvimento do apoio ao ensino superior em Cabo Verde a Fundaccedilatildeo mostra-se disponiacutevel em participar com o estatuto de observador na comissatildeo paritaacuteria ora criada entre a Repuacuteblica Portuguesa e a Repuacuteblica de Cabo Verde nos termos e nas condiccedilotildees que vierem a ser definidos pelas duas Partes

Cidade da Praia 18 de Fevereiro de 1997 - Pela Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian o Administrador Victor de Saacute Machado

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

Assuntos Comunitaacuterios Cooperaccedilatildeo para o Desenvolvimento Assuntos Bilaterais e Multilaterais Equivalecircncias

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01-03-2006fileCDocuments and SettingsAdministradorOs meus documentosMestradoAne

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 499

3 mdash Os elementos necessaacuterios agrave identificaccedilatildeo das pes-soas a abranger satildeo

a) Nomeb) Local de trabalho ou estabelecimento de ensinoc) Categoria ou cargo consoante o casod) Periacuteodo de dispensa a conceder

4 mdash Dos requerimentos de dispensa de trabalho oudas declaraccedilotildees a emitir com vista agrave justificaccedilatildeo dasfaltas deveraacute constar uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do pro-jecto e da razatildeo pela qual se entende que eacute justificadaa participaccedilatildeo do tripulante no evento

Artigo 7o

Limite temporal

Para efeitos do presente diploma a dispensa de tra-balho ou a relevaccedilatildeo de faltas escolares circunscrever--se-aacute ao periacuteodo maacuteximo de 15 de Fevereiro a 31 deAgosto de 2000

Artigo 8o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia imedia-tamente seguinte ao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 21 deJaneiro de 2000 mdash Juacutelio de Lemos de Castro Cal-das mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Luiacutes Manuel Fer-reira Parreiratildeo Gonccedilalves mdash Fernando Manuel dos SantosGomes mdash Rui Antoacutenio Ferreira Cunha mdash GuilhermedrsquoOl ive i ra Mar t ins mdash Alber to de Sousa Mar-tins mdash Armando Antoacutenio Martins Vara

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 2 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

MINISTEacuteRIO DA REFORMA DO ESTADOE DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Decreto-Lei no 102000de 10 de Fevereiro

No quadro das responsabilidades que Portugal temassumido relativamente a Timor Leste assente na soli-dariedade decorrente de mais de quatro seacuteculos de his-toacuteria partilhada e no papel que internacionalmente sem-pre lhe foi reconhecido cabe ao Governo Portuguecircscriar as condiccedilotildees e os mecanismos que incentivem ereforcem a cooperaccedilatildeo com o povo de Timor Leste

Com este objectivo e integrando-se no programa deassistecircncia e cooperaccedilatildeo jaacute aprovado que visa a con-solidaccedilatildeo da paz da ordem e da tranquilidade naqueleterritoacuterio e a reestruturaccedilatildeo dos sectores baacutesicos dasociedade timorense dando resposta aos problemasquotidianos com que o povo de Timor Leste se defrontao presente diploma institui uma licenccedila especial quepossibilita o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou de interessepuacuteblico em Timor por trabalhadores do sector puacuteblicoou do sector privado no activo ou aposentados ereformados

A licenccedila especial ora instituiacuteda tem semelhanccedilas coma licenccedila definida no Decreto-Lei no 89-G98 de 13de Abril para o exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio deMacau licenccedila esta cujo regime seguia de perto o esta-belecido para a licenccedila sem vencimento para o exerciacuteciode funccedilotildees em organismos internacionais constante hojedos artigos 89o a 92o do Decreto-Lei no 10099 de31 de Marccedilo mas vai para aleacutem dela atentas as par-ticulares condiccedilotildees de exerciacutecio de funccedilotildees no territoacuteriode Timor por um lado e a sua aplicaccedilatildeo aos traba-lhadores do sector privado por outro jaacute que este sectorpor certo seraacute fonte de potenciais candidatos com perfile qualificaccedilotildees adequadas ao exerciacutecio de funccedilotildees emaacutereas chave de economia do territoacuterio

Foram ouvidos os oacutergatildeos de governo proacuteprio dasRegiotildees Autoacutenomas a Associaccedilatildeo Nacional de Muni-ciacutepios e a Associaccedilatildeo Nacional de Freguesias

Foram cumpridas as disposiccedilotildees relativas agrave negocia-ccedilatildeo colectiva nos termos da Lei no 2398 de 26 deMaio

AssimNos termos da aliacutenea a) do no 1 do artigo 198o da

Constituiccedilatildeo o Governo decreta para valer como leigeral da Repuacuteblica o seguinte

Artigo 1o

Objecto

O presente diploma institui uma licenccedila especial quevisa possibilitar o exerciacutecio de funccedilotildees puacuteblicas ou deinteresse puacuteblico em Timor Leste no quadro das res-ponsabilidades que Portugal assumiu na assistecircnciaagravequele territoacuterio

Artigo 2o

Acircmbito pessoal

1 mdash O regime estabelecido no presente diploma apli-ca-se aos trabalhadores sujeitos a um regime de trabalhosubordinado do sector puacuteblico ou do sector privado

2 mdash As disposiccedilotildees do presente diploma satildeo tambeacutemaplicaacuteveis agraves forccedilas de seguranccedila com as adaptaccedilotildeesdecorrentes dos seus estatutos especiais

3 mdash Aos militares das Forccedilas Armadas independen-temente da situaccedilatildeo em que se encontrem aplicam-seas regras constantes do respectivo estatuto e demaislegislaccedilatildeo especial sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo de dis-posiccedilotildees mais favoraacuteveis previstas no presente diploma

4 mdash Satildeo ainda aplicaacuteveis as disposiccedilotildees do presentediploma com as necessaacuterias adaptaccedilotildees aos aposen-tados e reformados bem como agraves forccedilas de seguranccedilana situaccedilatildeo de reserva salvaguardando quanto aos apo-sentados e reformados por invalidez a exigecircncia do exer-ciacutecio de actividade diversa daquela pela qual foi reco-nhecida a respectiva incapacidade

5 mdash A concessatildeo da licenccedila especial prevista no pre-sente diploma aos trabalhadores das empresas puacuteblicase das empresas privadas seraacute obrigatoriamente pre-cedida da requisiccedilatildeo agraves respectivas entidades patronaisa efectuar pelo serviccedilo competente do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

Artigo 3o

Acircmbito institucional

1 mdash O presente diploma eacute aplicaacutevel aos serviccedilos daadministraccedilatildeo puacuteblica central local e regional autoacute-

500 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000

noma incluindo os institutos puacuteblicos na modalidadede serviccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabe-lecimentos puacuteblicos

2 mdash O presidente diploma eacute ainda aplicaacutevel agravesempresas puacuteblicas e agraves empresas privadas mediante omecanismo de requisiccedilatildeo a que se refere o no 5 doartigo 2o

Artigo 4o

Duraccedilatildeo da licenccedila

A licenccedila especial pode ser concedida aos trabalha-dores que a requeiram por periacuteodos de duraccedilatildeo natildeosuperior a dois anos renovaacuteveis ateacute ao limite de trecircsrenovaccedilotildees

Artigo 5o

Concessatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila eacute concedida por despacho do Ministrodos Negoacutecios Estrangeiros mediante requerimento dointeressado devidamente fundamentado

2 mdash No caso dos trabalhadores de empresas puacuteblicase de empresas privadas a concessatildeo de licenccedila estaacute con-dicionada a preacutevia efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que serefere o no 5 do artigo 2o

3 mdash O requerimento deve ainda conter as seguintesindicaccedilotildees

a) Nome estado civil residecircncia e telefoneb) Habilitaccedilotildees literaacuteriasc) Qualificaccedilotildees profissionaisd) Viacutenculo laborale) Serviccedilo ou entidade onde exerce funccedilotildeesf) Tipo de funccedilotildees desempenhadas e niacutevel de

responsabilidadeg) Duraccedilatildeo da licenccedila

4 mdash A concessatildeo da licenccedila depende de preacutevia pon-deraccedilatildeo do caso pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros tendo em conta todosos aspectos integrantes do programa de assistecircncia ecooperaccedilatildeo com Timor Leste e da concomitante anuecircn-cia do membro do Governo que tutela o serviccedilo deorigem ou do oacutergatildeo autaacuterquico ou regional autoacutenomocompetente

5 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores daadministraccedilatildeo puacuteblica local e regional autoacutenoma a con-cessatildeo da licenccedila pode ficar condicionada ao natildeo paga-mento da remuneraccedilatildeo durante o decurso da licenccediladevendo a sua posiccedilatildeo ser comunicada ao Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros no prazo de 15 dias a contarda data da consulta que lhe tiver sido feita pelos serviccediloscompetentes deste Ministeacuterio sob pena de se considerartaacutecita e incondicionalmente consentida

6 mdash Tratando-se de interessados trabalhadores deempresas puacuteblicas e privadas a concessatildeo da licenccediladepende da preacutevia anuecircncia das respectivas entidadesempregadoras agrave efectivaccedilatildeo da requisiccedilatildeo a que se refereo no 5 do artigo 2o

7 mdash Na comunicaccedilatildeo de anuecircncia agrave requisiccedilatildeo refe-rida no nuacutemero anterior devem as entidades empre-gadoras referir a assunccedilatildeo ou natildeo dos encargos comas remuneraccedilotildees durante o periacuteodo da requisiccedilatildeo

8 mdash Para efeitos da ponderaccedilatildeo a que se refere aprimeira parte do no 4 poderatildeo os serviccedilos competentesdo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros proceder agravesentrevistas que considerem necessaacuterias bem como sub-meter os interessados a exames meacutedicos e psicoloacutegicos

Artigo 6o

Efeitos da licenccedila

1 mdash A licenccedila especial natildeo afecta a situaccedilatildeo juriacutedi-co-laboral em que o trabalhador se encontra e carac-teriza-se especialmente por

a) Natildeo determinar a abertura da vaga no quadrode origem nem a alteraccedilatildeo ou perda do viacutenculolaboral

b) Natildeo implicar a perda das remuneraccedilotildees quesejam objecto de desconto para o respectivoregime de seguranccedila social

c) Manter o direito agrave contagem do tempo de ser-viccedilo para todos os efeitos legais havendo lugaragrave efectivaccedilatildeo dos correspondentes descontoslegais com base na remuneraccedilatildeo do lugar deorigem com as alteraccedilotildees remuneratoacuterias queentretanto ocorrerem

d) Manter o direito agrave progressatildeo e promoccedilatildeodevendo os serviccedilos a que pertence o trabalha-dor notificaacute-lo da abertura de concursos atraveacutesdo serviccedilo competente do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros

e) Suspender a comissatildeo de serviccedilo dos dirigentesf) Manter todos os direitos inerentes ao corres-

pondente regime de seguranccedila social aplicaacutevelg) Suspender a requerimento do interessado a con-

tagem dos prazos para apresentaccedilatildeo de rela-toacuterios ou prestaccedilatildeo de provas previstas nos esta-tutos das carreiras do pessoal docente univer-sitaacuterio de investigaccedilatildeo cientiacutefica e do docentedo ensino superior politeacutecnico

2 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees aos funcionaacuteriose agentes dos serviccedilos da administraccedilatildeo puacuteblica centralincluindo os institutos puacuteblicos na modalidade de ser-viccedilos personalizados fundos puacuteblicos e estabelecimentospuacuteblicos constitui encargo dos serviccedilos ou organismosa que pertencem

3 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees obrigatoacuterias para regimes de protecccedilatildeo social dosfuncionaacuterios e agentes da administraccedilatildeo local e regionalautoacutenoma quando natildeo haja anuecircncia destes quanto aoseu pagamento constitui encargo do Ministeacuterio dosNegoacutecios Estrangeiros

4 mdash O pagamento das remuneraccedilotildees e das contribui-ccedilotildees para a seguranccedila social dos trabalhadores dasempresas puacuteblicas ou privadas quando natildeo haja anuecircn-cia destas quanto ao seu pagamento constitui encargodo Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

5 mdash Se no decurso da licenccedila o trabalhador vier aser abrangido pelo recrutamento para a prestaccedilatildeo doserviccedilo militar poderaacute ver o tempo de duraccedilatildeo do exer-ciacutecio de funccedilotildees no territoacuterio de Timor Leste contadocomo serviccedilo ciacutevico de interesse nacional para efeitosde cumprimento dos deveres de serviccedilo militarmediante despacho conjunto dos Ministros da DefesaNacional e dos Negoacutecios Estrangeiros a requerimentodo interessado

Artigo 7o

Direitos

1 mdash Os trabalhadores a quem eacute concedida a licenccedilaespecial tecircm direito

a) Ao pagamento de um subsiacutedio complementara fixar por despacho dos Ministros dos Negoacutecios

No 34 mdash 10 de Fevereiro de 2000 DIAacuteRIO DA REPUacuteBLICA mdash I SEacuteRIE-A 501

Estrangeiros e das Financcedilas a pagar em TimorLeste em doacutelares dos Estados Unidos da Ameacute-rica (USD)

b) A alojamento em Timor Leste ou a subsiacutediode renda de casa a fixar por despachos do Minis-tros dos Negoacutecios Estrangeiros e das Financcedilasde acordo com os preccedilos praticados naqueleterritoacuterio

c) A seguro de viagens de acidentes pessoaisincluindo acidentes de trabalho e doenccedilas pro-fissionais no caso de a protecccedilatildeo destes riscosnatildeo estar assegurada pelo regime de seguranccedilasocial em que se mantecircm enquadrados

d) Ao pagamento das despesas de transporte deida e volta para Timor Leste e respectivas baga-gens a partir do local de residecircncia em Portugal

e) Agrave assistecircncia meacutedica medicamentosa ciruacutergicae hospitalar ou seguro de sauacutede

f) A 30 dias uacuteteis de feacuterias por anog) Ao pagamento das despesas de viagem de feacuterias

a Portugal caso a licenccedila seja renovada ao fimde dois anos por pelo menos mais um ano

h) A um subsiacutedio de embarque de montante a fixarpor despacho conjunto dos Ministros das Finan-ccedilas e dos Negoacutecios Estrangeiros a abonar antesda deslocaccedilatildeo para Timor

2 mdash O pagamento de todas as remuneraccedilotildees e des-pesas referidas no no 1 constitui encargo do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

Artigo 8o

Fim e renovaccedilatildeo da licenccedila

1 mdash A licenccedila termina no fim do prazo para que foiconcedida se o interessado natildeo requerer fundamenta-damente a sua renovaccedilatildeo ateacute 90 dias antes do seu termo

2 mdash O Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros devedecidir adoptando o procedimento do no 3 do artigo5o ateacute 60 dias antes do seu termo depois do que natildeohavendo decisatildeo se considera que a renovaccedilatildeo natildeo foiautorizada

3 mdash A licenccedila pode ser dada por finda por motivosde interesse puacuteblico devidamente fundamentados

4 mdash O trabalhador pode requerer o fim antecipadoda licenccedila por motivos ponderosos devidamente fun-damentados

5 mdash Se natildeo forem atendiacuteveis os motivos invocadospelo trabalhador este obriga-se a reembolsar o Estadodos pagamentos que houverem sido efectuados com asua viagem e transporte das respectivas bagagens naproporccedilatildeo dos meses que faltarem para completar operiacuteodo da licenccedila

6 mdash A licenccedila eacute ainda dada por finda no caso dedoenccedila grave natural ou de causa profissional queimpossibilite o trabalhador de exercer as suas funccedilotildeespor um periacuteodo superior a 90 dias

7 mdash Ocorrendo a morte do trabalhador em TimorLeste eacute aplicaacutevel agrave transladaccedilatildeo das cinzas ou do corpoo disposto no Decreto-Lei no 30883 de 1 de Julhosendo os requerimentos aiacute previstos endereccedilados aoMinistro dos Negoacutecios Estrangeiros e as despesas efec-tuadas custeadas pelos serviccedilos competentes do Minis-teacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros

8 mdash Haveraacute ainda lugar na situaccedilatildeo referida nonuacutemero anterior se assim for requerido ao transportedos bens pessoais do trabalhador para Portugal custeadopelos serviccedilos referidos naquele nuacutemero

Artigo 9o

Apresentaccedilatildeo no regresso a Portugal

1 mdash O titular da licenccedila uma vez regressado a Por-tugal deve apresentar-se no prazo de cinco dias uacuteteisno serviccedilo competente do Ministeacuterio dos NegoacuteciosEstrangeiros onde receberaacute guia para o serviccedilo ou enti-dade a que se encontre vinculado a fim de ir ocuparo seu lugar e exercer as correspondentes funccedilotildees

2 mdash A guia a que se refere o nuacutemero anterior espe-cificaraacute o dia da apresentaccedilatildeo ao serviccedilo ou entidadede origem dia a partir do qual cessam as responsa-bilidades do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros pelopagamento dos respectivos encargos

Artigo 10o

Serviccedilos processadores

1 mdash Os actos administrativos e procedimentais neces-saacuterios agrave efectivaccedilatildeo da licenccedila especial designadamenteo pagamento de remuneraccedilotildees e outros abonos emTimor Leste os seguros e as despesas de transportesatildeo praticados pelos serviccedilos competentes do Ministeacuteriodos Negoacutecios Estrangeiros

2 mdash Os serviccedilos competentes do Ministeacuterio dos Negoacute-cios Estrangeiros devem articular com os serviccedilos ouentidades a que os titulares da licenccedila pertencem comvista a resolver todas as questotildees que surjam no decursoda mesma

Artigo 11o

Legislaccedilatildeo subsidiaacuteria

Em tudo o que natildeo esteja expressamente previstono presente diploma eacute aplicaacutevel o disposto no regimegeral da funccedilatildeo puacuteblica ou na legislaccedilatildeo geral do tra-balho consoante o regime a que se encontra sujeito otitular da licenccedila

Artigo 12o

Salvaguarda de regimes especiais

O disposto no presente diploma natildeo prejudica osdireitos dos trabalhadores emergentes de disposiccedilotildeesmais favoraacuteveis constantes de regimes especiais

Artigo 13o

Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor no dia seguinteao da sua publicaccedilatildeo

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 22 deDezembro de 1999 mdash Antoacutenio Manuel de Oliveira Guter-res mdash Luiacutes Filipe Marques Amado mdash Juacutelio de Lemos deCastro Caldas mdash Fernando Manuel dos Santos Gomes mdashJoaquim Augusto Nunes Pina Moura mdash Eduardo Luiacutes Bar-reto Ferro Rodrigues mdash Alberto de Sousa Martins

Promulgado em 31 de Janeiro de 2000

Publique-se

O Presidente da Repuacuteblica JORGE SAMPAIO

Referendado em 3 de Fevereiro de 2000

O Primeiro-Ministro Antoacutenio Manuel de OliveiraGuterres

  • Tese_versatildeo definitivapdf
    • intropdf
    • tesepdf
      • Anexos I a VIII - Guiotildees 1 e 2 e Entrevistaspdf
      • Anexo IX - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 1997pdf
      • Anexo X - Acordo Cooperaccedilatildeo Portugal-Cabo Verde 2003pdf
      • Anexo XI - Decreto Lei 10-2000_1pdf
      • Anexo XII-Memorandumpdf
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