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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Carolina Wolff Nunes
Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela
Paraisópolis em São Paulo
Mestrado em Ciências Sociais
SÃO PAULO
2019
Carolina Wolff Nunes
Moda e Identidade Social: um estudo de caso da Favela de
Paraisópolis em São Paulo.
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo ao Programa de
Estudos Pós-Graduados em Ciências
Sociais, como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre, em Ciências
Sociais, área de concentração Sociologia,
sob orientação da Prof. Dra. Marisa do
Espirito Santo Borin.
São Paulo
2019
Banca Examinadora
Dedico esta dissertação a todos os
jovens e estudantes, que mesmo em
momentos de repressão e cortes ás
ciências e pesquisa, como os que
estamos vivendo hoje no país,
seguem lutando e sonhando em
poder viver para a educação.
Agradeço ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) pela concessão da Bolsa
(147008/2017-4) para o mestrado, no período de 2017 a 2019, que permitiu a
realização desta pesquisa.
Agradecimentos
Agradeço, em especial, a minha orientadora Marisa Borin pelo acolhimento e
total apoio nesses anos, não somente na época do mestrado, mas também, por toda
minha trajetória acadêmica, desde a Iniciação Cientifica durante a graduação e por todos
os anos que passamos juntas no Observatório das Metrópoles, tendo seus conselhos e
orientações. Sem ela esse trabalho não poderia ter sido realizado.
Agradeço também a professora Lucia Bógus, por todo apoio e carinho durante
todos os anos que estivemos trabalhando juntas no Observatório das Metrópoles, pelo
grande aprendizado, pelo acolhimento, pelo espaço proporcionado na Pós Graduação.
Meu mais carinhoso agradecimento, por em tantos momentos ter feito com que me
encantasse cada vez mais pela pesquisa.
Agradeço também a todos os professores e pesquisadores que pude conhecer e
trabalhar juntos, nos anos entre graduação e Pós e no Observatório das Metrópoles,
como as professoras Dulce Baptista e Susana Pasternak, e também tanto outros que a
cada dia me agraciavam com valiosas lições sobre o meio acadêmico e que fazem parte
da minha formação.
Agradeço, com muito carinho, a Kátia e Rafael, funcionários da Pós Graduação
em Ciências Sociais, da PUC-SP, pele excelente trabalho e constante auxílio aos alunos;
muito mais que funcionários, hoje grandes amigos.
A todos os professores da PUC - SP, que tive a honra de conhecer e participar de
suas aulas, entre Graduação e Pós, pelos inúmeros ensinamentos dentro e fora de sala de
aula. Ensinamentos esses que, com certeza, me trouxeram até o presente momento.
Meu agradecimento mais que especial e com muito amor aos meus pais, João e
Célia, por sempre me apoiarem e acreditarem nas minhas escolhas, que me motivam
sempre a ser uma pessoa melhor, por me mostrarem desde cedo a importância da
educação e que, por muitas vezes, se sacrificaram para que eu pudesse seguir estudando.
Sem eles nada disso teria sido possível.
Agradeço também ao meu noivo, Caio Camillo, pelo apoio durante essa jornada
e por me ajudar a seguir em frente, sempre. Acreditando no meu trabalho e sonhos, por
não me deixar desistir.
Aos meus amigos e familiares que sempre torceram por mim.
Agradeço também, por ter por perto, durante todo o processo deste trabalho,
minha cadela Gaia, que sempre se manteve sentada ao meu lado, enquanto redigia esse
trabalho e estava sempre pronta para me alegrar quando o desânimo ou cansaço batia e
que nunca deixa de cumprir esse papel.
―Talvez não tenha conseguido fazer o
melhor, mas lutei para que o melhor fosse
feito. Não sou o que deveria ser, mas
Graças a Deus, não sou o que era antes‖.
(MARTHIN LUTHER KING)
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo analisar a moda enquanto identidade do sujeito que a
usa e sua relação com o espaço em que está inserido. Para realização deste objetivo foi
feita uma pesquisa sobre os hábitos de consumo de moda na periferia da cidade de São
Paulo, com foco na Favela de Paraisópolis, através de seus moradores, de suas lojas de
modas e do Projeto ―Periferia Inventando Moda‖ - PIM, localizado no interior desta
comunidade. O projeto PIM usa a lógica da moda como um fator de inclusão social,
aliado à capacitação profissional. A partir do vestuário e dos espaços que a moda ocupa
na vida social, pelo olhar do consumo e das lojas de moda encontradas em Paraisópolis,
procura-se identificar elementos constitutivos da cultura, da identidade e da
representação social das pessoas que lá vivem. Parte-se da premissa de que a moda é
parte importante na construção identitária das pessoas. A metodologia utilizada se
apoiou em abordagem qualitativa, especialmente em entrevistas semiestruturadas, com
lojistas, moradores, com os dois líderes do referido projeto e seus alunos, assim como,
em observação participante, durante os eventos de moda realizados em Paraisópolis pelo
PIM.
Palavras Chave: Moda; Identidade; Consumo; Capacitação Profissional; Inclusão
Social; Favela; Paraisópolis.
ABSTRACT
This work aims to analyze fashion as the identity of the subject who uses it and its
relation to the space in which it is inserted. In order to achieve this goal, a survey was
carried out on the fashion consumption habits of the outskirts of the city of São Paulo,
focusing on the Favela of Paraisópolis, through its residents, its fashion stores and the
"Periferia Inventando Moda" Project - PIM , located within this community. The PIM
project uses the logic of fashion as a factor of social inclusion, combined with
professional training. From the clothing and spaces that fashion occupies in social life,
by the look of consumption and fashion stores found in Paraisópolis, seeks to identify
constitutive elements of the culture, identity and social representation of the people who
live there. It starts from the premise that fashion is an important part in the identity
construction of people. The methodology used was based on a qualitative approach,
especially in semi-structured interviews with shopkeepers, residents, with the two
project leaders and their students, as well as, in participant observation, during the
fashion events performed in Paraisópolis by PIM.
Keywords: Fashion; Identity; Consumption; Professional Training; Social inclusion;
Shanty town ; Paraisópolis.
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.Vista panorâmica da Favela de Paraisópolis .................................................41
Figura 2. Demarcação no mapa do espaço geográfico da Favela de Paraisópolis.
......................................................................................................................................42
Figura 3. Foto de uma das principais entradas da Favela de Paraisópolis, pela Avenida
Hebe Camargo, umas das principais avenidas da Favela.............................................42
Figura 4. Foto divulgação do primeiro evento PIM ainda com nome antigo...............51
Figura 5. Foto divulgação do último evento realizado pelo PIM.................................51
Figura 6. Foto dos modelos/alunos PIM em evento realizado pelo projeto, diversidade
de corpos na passarela..................................................................................................52
Figura 7. Foto dos alunos do PIM em aula de passarela..............................................53
Figura 8. Foto dos alunos/modelos no PIM em dia de casting....................................56
Figura 9. Foto divulgação das mídias onde o projeto foi notícia.................................61
Figura 10. Foto divulgação evento realizado pela UniPIm..........................................65
Figura 11. Mapa localizando o quadrante dentro da Favela de Paraisópolis onde o maior
percentual de lojas de roupas estão concentradas, incluindo as ruas Ernest Renan, Rua
Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e Hebert Spencer...................................................66
Figuras 12. Fachada de uma loja de moda na Favela de Paraisópolis..........................68
Figuras 13. Banners colocados em frente às lojas como meio de propaganda............70
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - UDH -
Paraisópolis – SP.............................................................................................................43
Tabela 2. Estrutura Etária da População - UDH - Paraisópolis – SP..............................44
Tabela 3. Ocupação da população de 18 anos ou mais - UDH - Paraisópolis – SP.…...44
Tabela 4. Indicadores de Habitação - UDH - Paraisópolis – SP....................................45
Tabela 5. Vulnerabilidade Social - UDH - Paraisópolis – SP.........................................45
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico Nº 1 - Infra Estrutura.............. ...........................................................................41
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................15
O Processo Metodológico...............................................................................18
A Estrutura do Trabalho..................................................................................19
CAPITULO I.
Entendendo o conceito de moda..............................................................................20
CAPITULO II
Moda e Identidade....................................................................................................30
2.1 Sobre Identidades.....................................................................................30
2.2 Moda, Identidade e Consumo..................................................................34
CAPITULO III.
Sobre Moda e Identidade: um estudo de caso em Paraisópolis........................39
3.1. A favela de Paraisópolis: sua origem e história..................................40
3.1.1 Interversões Publicas em Paraisópolis...................................47
3.2. Projeto ―Periferia Inventando Moda‖ - PIM.......................................49
3.2.1 O PIM - alcances e repercussão.............................................50
3.2.2. UniPIM – moda e educação na periferia..............................61
3.3. A Moda de Rua e seu consumo em Paraisópolis.................................65
CONSIDERAÇOES FINAIS...............................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................77
ANEXOS................................................................................................................82
15
Introdução
A moda está por toda parte; é celebrada nos museus, na rua, na indústria e na
mídia. A moda tem como poder hierarquizar os indivíduos, pois, pela roupa, há
diferenciação social, tanto por gênero, classes sociais e econômicas e também pelos
espaços que ela ocupa na cidade, visto que além de ser algo artístico, econômico,
político e sociológico, ela atinge questões de expressão da identidade social
A moda não pode ser identificada à simples
manifestação das paixões vaidosas e distintivas; ela se
torna uma instituição excepcional, altamente
problemática, uma realidade sócia histórica
característica do Ocidente e da própria modernidade.
(GILLES LIPOVETSKY, 2009. p.11).
Como afirma Godart (2010), a moda como uma posição dominante surgiu ―no
ocidente‖, mais especificamente durante o período chamado: primeira modernidade. No
entanto, para ele foi durante a renascença que a moda apareceu. O capitalismo, que
assume impulso nessa época, permite a emergência de uma nova classe social – a
burguesia - que não hesitou em expressar, por meio de suas vestimentas e de seus
acessórios luxuosos, sua nova força política, econômica e social.
Não constituindo mais privilégio de casta, torna-se ela,
na sociedade dita ―democrática‖, a diferenciadora por
excelência de status, além de signo certeiro de
contemporaneidade cultural. (MELO e SOUZA, 1987,
P.13)
A moda gera diferentes pontos de vista, gostos e costumes, que coexistem entre
si, não havendo mais lugar para posturas definidas ou movimentos unificados,
apresentando uma sociedade com múltiplas identidades. Sendo assim, a partir do
vestuário, pode-se analisar e debater vários conceitos como: cultura, identidade e
16
representações sociais, possibilitando que a roupa revele elementos que auxiliem o
entendimento dessas questões.
Considerando a moda como um fenômeno cultural e antropológico, Lipovetsky
(2009) fala em entrevista à revista Moda Brasil1: ―Quando o sentido da história não é
mais um objeto maior da interrogação filosófica ou teórica, há uma interrogação mais
real voltada para a vida cotidiana, para a aparência, para a identidade. Creio que, no
futuro, nas sociedades pós-modernas, os problemas das identidades religiosas, nacional,
ética e pessoal vão ter uma importância cada vez maior. É notável o quanto a imprensa
feminina tem um papel cada vez mais considerável na sociedade contemporânea. Na
imprensa, as questões individuais, da vida privada, da decoração da casa, da
maquiagem, da juventude, interessam muito às pessoas, porque na lógica da moda
desenvolveu-se o valor da vida privada, da individualidade e assim todas essas questões
tornam-se muito mais centrais‖.
Desde os primórdios da história que as pessoas usam de
objetos para interagir socialmente. A relação pessoa-
objeto é uma relação simbólica e, como tal, reveladora
de práticas sociais e culturais. (MIRANDA, 2008, p.
15).
O vestuário, além de sua função básica de cobrir e proteger o corpo, é um meio
de comunicação não verbal. Marshal McLuham (1964) ―considera que a roupa é uma
extensão da pele, funciona como meio de definição social do indivíduo. É um elemento
que participa da construção da identidade, classe e gênero; possibilita ao indivíduo
revelar e afirmar quem ele é, ou como ele gostaria de ser visto‖. A moda ajuda a compor
as diversas identidades que a realidade nos faz viver e querer dentro de uma sociedade,
onde, cada vez mais, torna-se adaptável a todos os públicos, não havendo, assim, um
isolamento por parte dos sujeitos.
1 (sem data)
17
A moda se espalha por todas as camadas e a
competição, ferindo–se a todos os momentos, na rua, no
passeio, nas visitas, acelera a variação de estilos, que
mudam em espaços de tempo cada vez mais breve.
(MELO e SOUSA, p.21, 1987).
A moda acompanha a sociedade da mesma maneira que a sociedade acompanha
a moda, suas ideias, seus gostos, passando e se reinventando por épocas a fim. Serve a
estrutura social, traduz ideias e sentimento. Tanto para o consumo como para a sua
relação com a identidade de quem a usa, a moda está ligada ao espaço e tempo que é
apresentada.
Para se ter um exemplo de como a moda realmente se liga às questões
identitárias e de consumo, e como gera mudanças e cria estruturas no âmbito real,
buscou-se lugares e projetos onde a moda possa ser vista como fator de
representatividade. Para tanto, a procura por espaços mais expressivos e com dinâmicas
sociais distintas, foi algo essencial para analisar teorias sobro moda e colocá-las à prova.
Sendo assim, a periferia foi um bom caminho para se seguir com a pesquisa. Foi assim
que se conheceu o projeto PIM – Periferia Inventando Moda, situado na Favela de
Paraisópolis.
Tendo em vista que a indústria da moda permite diferentes olhares, sendo um
deles o fato de envolver formas e usos de consumo, o objetivo inicial desta dissertação
foi conhecer o Projeto PIM e entender até que ponto ele propicia a inclusão social e a
capacitação profissional de seus alunos.
Contudo, ao se analisar o referido Projeto e seus percalços ao longo de sua
existência, se redesenhou o objetivo central desta dissertação, voltando-se para o
entendimento de como é construída a relação com a moda, através do consumo, pelos
moradores da favela, descobrindo-se identidades que ela permite neste espaço social,
sem contudo se deixar de apontar a importância do projeto PIM para a moda e
moradores da periferia da cidade de São Paulo.
18
O Percurso Metodológico
Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica, sobre os conceitos de moda,
identidade, inclusão social, consumo da moda e projetos sociais, dentre outros.
Em paralelo, foram realizadas várias visitas ao campo, através de observação
sistemática, junto ao Projeto PIM, em suas aulas, além de participação nos eventos por
ele ocorridos durante os anos de 2018 e 2019.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com os dois líderes do referido
projeto e com 8 alunos que dele participavam e, também, com 10 lojistas e 12
moradores da Favela de Paraisópolis.
Por último, através de observação direta, foram feitas visitas pelas ruas da favela
e suas lojas de roupa, sendo que a realização da pesquisa se deu de forma contínua entre
o campo e a teoria.
Através de abordagem qualitativa, Segundo Fonseca (2002), a pesquisa é
inserida no meio em que vivemos como atividade corriqueira, descrita como uma
postura, uma indagação sistemática, crítica e criativa, somada à intervenção eficaz na
realidade, ou o diálogo crítico constante com a realidade em direção teórica e prática.
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de
referências teóricas já analisadas e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas
de web sites. A pesquisa documental recorre a fontes mais
diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como:
tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos
oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias,
relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. A
pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações em que,
além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza
coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de diferentes
tipos de pesquisa. (FONSECA, 2002, p. 32).
19
Estrutura do Trabalho
No primeiro capítulo se apresenta uma discussão teórica sobre os conceitos de
moda e a maneira como ela é vista em determinados momentos da história.
O segundo capítulo analisa a moda ligada à questão da identidade, apontando-
se, através de referências teóricas, definições de identidade na modernidade e a sua
ligação direta com a moda.
O terceiro capítulo contém uma análise da moda de rua e uma apresentação da
Favela de Paraisópolis, onde se tem uma breve descrição de sua formação histórica,
localização, assim como, do Projeto PIM, desde a sua formação, até os dias de hoje.
Está contida, também, neste capitulo, a análise das entrevistas realizadas junto aos
lojistas e moradores da comunidade em questão.
Nas Considerações Finais estão apontadas as principais conclusões da pesquisa
realizada, buscando responder às questões inicias que conduziram o processo de
elaboração da dissertação.
20
CAPITULO I.
ENTENDENDO O CONCEITO DE MODA
Ao procurarmos no dicionário por uma definição sobre o significado da palavra
moda, encontramos a seguinte resposta: Moda - substantivo feminino, conjunto de
opiniões, gostos, assim como, modos de agir, viver e sentir coletivos.
Com esta simples definição, já se pode perceber que a moda ocupa um papel
importante na vida social e que nos remete à ideia de ser algo que envolve uma
identidade individual e coletiva na sociedade.
Segundo Frédéric Godart, ―em primeiro lugar, ela pode ser definida como a
indústria do vestuário e do luxo... Essa perspectiva também engloba as modas de
consumo dos indivíduos, grupos ou classes sociais que utilizam maneiras de vestir para
definir sua identidade... Em segundo lugar, a moda pode ser definida como um tipo de
mudança social especifica regular e não cumulativa e que, além do vestuário, manifesta-
se em múltiplos domínios da vida social‖. (GODART, 2010)
A moda pode afirmar, unir, diferenciar, separar e identificar; são vários os
sinônimos a ela atrelados, tornando-a, assim, um fato social amplo. Estabelece conexões
com a economia, o lazer, as artes, o consumo e a cultura a ela ligada. Com isso a moda
cria objetos portadores de significados, tornando-a um meio para a inserção e
diferenciação social. Tem como um dos seus princípios a afirmação onde diferentes
grupos e indivíduos utilizam da moda em seu vestuário ou modo de agir para se
juntarem ou se destacarem.
A moda como vestuário, como se conhece hoje, teve seu início durante a
Renascença; o capitalismo, que adquire força nessa época, admite a emergência de uma
nova classe social - a burguesia. Com isso a burguesia não mede esforços para expressar
por meio do vestuário uma nova força política, econômica e social, fazendo do uso da
moda um fator de diferenciação, obrigando, assim, a aristocracia a reagir da mesma
maneira. Portanto, o início da moda está diretamente ligado às elites, tendo como meio
fundador da moda a sua distinção e afirmação de identidades de classe.
Dessa maneira, a moda age sobre aspectos das nossas vidas guiada por uma
tentativa de definir uma identidade social dos sujeitos. Da mesma forma, oferece um
21
acolhimento diante da variedade de opções oferecidas, proporciona, também, um espaço
de valor e de expressão de uma individualidade.
Há muito tempo vem se pensando a moda como uma questão de estudo
sociológico. O filósofo e sociólogo George Simmel, em seu texto intitulado ―Filosofia
da Moda‖, faz uma distinção entre moda e vestimenta, considerando a moda um
fenômeno social amplo que se aplica a todas as arenas sociais, sendo o vestuário apenas
um caso entre muitos. (SIMMEL apud LARS SVENDSEN, 2010).
Pensando a moda como uma questão ampla de estudo, Svendsen também nos
traz uma citação de Lipovetsky: ―Moda é uma forma específica de mudança social,
independentemente de qualquer objeto particular; antes de tudo, é um mecanismo social
caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e por mudanças mais ou
menos ditadas pelo capricho, que lhe permitem afetar esferas muito diversas da vida
coletiva‖. (LIPOVESTSKY apud Lars SVENDSEN, 2010).
A partir desta ideia, se pode observar o vestuário como a matéria prima da moda,
sendo que seu sistema carrega um grande significado cultural e simbólico.
Em ―Filosofia da Moda‖, Simmel (2008) descreve o ser humano como sendo
dualista, integrando múltiplas versões dentro da sociedade, como indivíduo e também
pertencente a grupos sociais, na luta pela permanência nesses meios, tanto para a
elevação ou diminuição, passa por essa esfera social constituindo assim sua identidade.
Podemos ver esse movimento como uma distinção de classe dentro de uma sociedade
organizada, que usa da moda como intermediadora para diferenciar, mas também
agrupar seus indivíduos, uma vez que ela aparece em múltiplos estilos e tem relações
simultâneas.
Assim, a partir desse dualismo, a moda pode integrar ou excluir, tendo o
vestuário como ponto principal da distinção social. Em ―O Costureiro e sua grife‖,
Pierre Bourdieu (2015) cita: ―Entre todos os campos de produção de bens de luxo, a alta
costura é aquele que deixa transparecer mais claramente um dos princípios de divisão da
classe dirigente – ou seja o que estabelece oposição entre diferentes faixas etárias,
indissociavelmente caracterizada como classes endinheiradas e detentoras de poder –
além de introduzir no campo da moda certas divisões secundárias.‖
22
A variedade e a distinção dos múltiplos símbolos que geram a moda seriam, para
Bourdieu, (2015), uma expressão cultural, de sentido e ou de valores dados pelos grupos
aos objetos usados, ao longo de suas experiências nos grupos sociais. A moda e todas as
práticas culturais que a ela se remete, seus meios de sociabilidade e controle, seriam
práticas pelas quais os indivíduos e os grupos se mantêm unidos ou se dissociam.
Para Bourdieu (2015), ―Se há uma situação em que são feitas coisas com
palavras, como na magia – inclusive, melhor que na magia, isso se verifica no universo
da moda. A grife, simples ―palavra colada sobre o produto‖ é sem dúvida como a
assinatura do pintor consagrado, uma das palavras mais poderosas, do ponto de vista
econômico e simbólico‖.
Segundo Bourdieu, (2015) a estrutura social é vista como um sistema
hierarquizado de poder e de privilégio. Poderes e privilégios determinados, tanto pelas
relações materiais e/ou econômicas (salário, renda), como pelas relações simbólicas
(status) e/ou culturais (diplomas) entre os indivíduos.
No que se refere ao campo da moda, onde a mesma está em constante
transformação e por isso expressa uma temporalidade reduzida, suas tendências devem
ser pensadas como algo passageiro, onde seus agentes estão sempre em busca de uma
nova maneira de distinção. Como podemos ver expresso por Bourdieu (2015), ―sem
dúvida, a moda, à semelhança da canção, da fotografia, do romance popular e de todas
as ―artes medias‖, situa-se no tempo de curta duração dos bens simbólicos perecíveis e
porque ela só pode exercer um efeito de distinção, servindo-se, sistematicamente, das
diferenças temporais, e portando, da mudança.
A moda como prática que traduz uma tendência de gosto, pode e deve ser
pensada como expressão de um conjunto de disposições de habitus, construído pelo e
no processo de socialização. Tendo a moda como um produto de culturas em grupos
diversos, expressando, assim, de uma maneira simbólica processos individuais e de
classe. Assim pensamos o habitus como um produto desse processo simultâneo de
estímulos à moda, onde a mesma expressaria de maneira exemplar a condição de
construção desse habitus referente a uma maneira particular de se socializar.
Em ―Gostos de Classe e Estilo de Vida‖, Bourdieu (1983), afirma: ―Às
diferentes posições no espaço social correspondem estilos de vida, sistemas de desvios
23
diferenciais que são a retradução simbólica de diferenças objetivamente inscritas nas
condições de existência‖ no entanto, a posição que o indivíduo ocupa dentro da esfera
social define seu estilo de vida, independente da classe ocupada, mas essas práticas não
são livres e sim determinadas pelo habitus."
O papel do gosto no campo da moda é considerado de extrema importância, pois
é por meio dele que a dominação simbólica acontece. Mesmo ciente do poder de
influência dos detentores do discurso de moda, o gosto depende justamente de uma
iniciação que pode vir de berço ou de estudo. Um gosto sem liberdade é alvo do
domínio ocorrido do posicionamento construído do capital simbólico, concebido pelo
criador de moda por meio da marca e confirmada pela mídia especializada.
Outro aspecto importante do gosto é que ele é inseparável da aversão estética e
as aversões decorrem do estilo de vida, que é resultado das diferenças entre as classes.
Sendo assim, o habitus para o gosto é como a grife para a moda. Para o criador, não
basta apenas produzir modelos; se fosse assim, toda confecção seria uma marca. E para
o consumidor, não adianta possuir uma peça de uma grife consagrada, sem o
conhecimento necessário para configurar o look.
Ela é um produto tanto material, quanto simbólico, fazendo parte do cultural,
seja imitada ou expressada, de maneira singular ou coletiva.
Para Bourdieu (2015): ―Em todo campo em que as dimensões do estilo e do
estilo de vida, estabelece uma separação entre as estratégias dos dominantes e as dos
pretendente: os dominantes que só precisam ser o que são, sobressaem e distinguem-se
pela recusa ostensiva das estratégias vistosas de distinção.‖ Como no casso da alta
costura, que fornece às classes dominantes o simbolismo predominante à sua classe,
celebrando, assim, a sua própria distinção.
Mas não somente de alta costura que se permeia o campo da moda; para além da
ideia de distinção de classe, ela passa também por setores de inclusão social e de
identidade pessoal, não somente buscando a sua imitação nas classes altas, mas
afirmando culturas, gostos e estilos das massas.
Para Gilles Lipovetsky (2009), em o ―Império do Efêmero‖, ―a versatilidade da
moda encontra seu lugar e sua verdade última na existência das rivalidades de classes,
24
nas lutas de concorrência por prestigio que opõem as diferentes camadas e parcelas do
corpo social‖.
Apenas pela lógica da distinção social, que se tem como marco em estudos de
moda, não dá conta de explicar o uso que se dá ao vestuário e nem como esse uso se dá
nos seus espaços sociais na cultura moderna. Onde as grandes mutações organizacionais
dos meios da moda fazem com que ela transite por diversas camadas e adquira múltiplas
funções sociais.
Assim, a moda hoje atua dentro de nossa sociedade como uma forte guiadora de
nossos hábitos e maneiras de consumo, onde a sedução e o efêmero tornaram-se os
princípios organizadores da vida coletiva moderna, como aponta Lipovetsky (2009).
Há tempo a moda segue incessantes variações, deriva de novas valorações
sociais, ligadas a uma nova posição e representação do indivíduo frente à sociedade. É
uma valorização da renovação das formas e do novo, em detrimento do passado.
Em seu texto, ―Os tempos Hipermodernos‖, Lipovetsky (2004) cita: ―Os
indivíduos hipermodernos são ao mesmo tempo mais informados e mais
desestruturados, mais adultos e mais instáveis, menos ideológicos e mais tributários das
modas, mais abertos e mais influenciáveis, mais críticos e mais superficiais, mais
céticos e menos profundos.‖.
Nesse sentido, a moda se estende ao corpo social, que permitiu novas formas de
se ligar a ela, onde a normatividade não se impõe mais pela disciplina, mas pela escolha
e pela individualidade e identidade de seus agentes sociais.
A era do hiperconsumo e da hipermodernidade
assinalou o declínio das grandes estruturas
tradicionais de sentido e a recuperação destas
pela lógica da moda e do consumo.
(LIPOVETSKY, (2004).
25
Essa hipermodernidade2 chegou permitindo que o domínio do consumo na moda
se estendesse ao máximo, com todas as tecnologias de comunicação e informação
existentes. Assim, os indivíduos se encontram livres, capazes de exercer o livre arbítrio,
de se informar, de escolherem os seus próprios sistemas ideológicos e identitários,
embora, esses sistemas de diferenciação de classes e gostos na moda como poder de
restrição ou agrupamento continuam presentes, porém não mais se valendo da
imposição, mas sim da argumentação, sendo também endossados pela opinião pública.
A diferença é que hoje há liberdade de escolha.
―Os átomos sociais não torcem o nariz para a ideia de reencontrar-se, comunicar-
se, reagrupar-se em movimentos associativos, sendo estes marcados pelo egocentrismo,
porque a adesão é espontânea, flexível e segmentar, em todos os aspectos, conforme a
lógica da moda.‖ LIPOVETSKY, (2004).
A lógica da moda e do consumo tornou o ser social mais atento e crítico aos
objetos industriais, fazendo com que passassem a ter uma maior autonomia, pois há um
maior leque de opções para escolha e maior acesso às informações para criarem assim,
suas próprias identidades individuais e coletivas quando ligadas à moda.
Assim, surgiu um novo arranjo do regime do tempo social: uma economia
voltada ao consumo e à comunicação de massa, e uma sociedade ligada à moda
reestruturada pelas práticas do efêmero, da renovação e sedução permanente, que
permeou setores cada vez mais amplos da sociedade.
As várias facetas da moda quando ligadas a seu papel social, mostram variações
de códigos e condutas a ela ligadas, podem indicar a identidade pessoal do seu usuário
como também a sua ligação a determinado grupo de valores específicos.
Em seu livro "A moda e seu papel social", Diana Crane (2006), aponta
mudanças pelas quais o conceito de moda passa. ―Com a globalização, na virada dos
2 Para Gilles Lipovetsky, a pós-modernidade deu espaço para o estado cultural que ele chama de
hipermodernidade. Neste novo estado, a ordem social e econômica, juntamente com a cultura, são
pautados em uma senso de consumo em massa. Segundo o autor: “A sociedade hipermoderna seria a
sociedade da hipervalorização das sensações íntimas, do hipernarcisismo, onde os paradoxos da
modernidade se exibem às claras. Está muito presente a dicotomia responsável-irresponsável: Os
indivíduos hipermodernos são ao mesmo tempo mais informados e mais desestruturados, mais adultos
e mais instáveis, menos ideológicos e mais tributários das modas, mais abertos e mais influenciáveis,
mais críticos e mais superficiais, mais céticos e menos profundos”(2004).
26
anos 1970 para os anos 1980, o mundo da moda foi se tornando cada vez mais
complexo e sua importância social aumentou consideravelmente. O que no século XIX
era privilegio das elites converteu-se num universo altamente segmentado, esfera de
construção de identidades e estilos de vida, por onde passaram a transitar indivíduos de
diferentes camadas sociais.‖
A moda afeta a atitude da maioria das pessoas, tanto em relação a si mesmo,
quanto em relação ao outro.
Reconstruir as mudanças na natureza da moda e nos critérios
que orientam as escoas de vestuário é um modo de entender as
diferenças entre o tipo de sociedade que está aos poucos
desaparecendo e o que está lentamente emergindo. Por um lado,
as roupas da moda personificam os ideias e valores
hegemônicos de um período determinado. Por outro, as escolhas
de vestuário refletem as formas pelas quais os membros de
grupos sociais e agrupamentos de diversos níveis sociais veem a
si mesmos em relação aos valores dominantes.‖ (CRANE,
2006)
A moda quando ligada ao vestuário se torna uma das formas mais visíveis de
consumo e com isso desempenha um papel de grande importância na construção de
identidade, nos mostrando como cada indivíduo determina sua própria forma de uso
para a moda, negociando assim suas fronteiras de status. Com isso os conceitos ligados
à moda vão variáveis, ora determinam posições, ora agrupam e por vezes geram
comportamentos por sua capacidade de fixar identidade sociais latentes. Com o passar
do tempo a moda deixa um pouco de lado a questão econômica como umas das suas
principais diferenciadores e passa a ser cada vez mais simbólica.
Para Diana Crane: ―A oferta de roupas baratas significa que aqueles cujos
recursos são limitados podem encontrar ou criar estilos pessoais que expressem a
percepção que têm de suas identidades, em vez de imitar estilos originalmente vendidos
aos mais ricos... A natureza da moda mudou, assim como as maneiras pelas quais as
respondem a ela. A moda do século XIX consistia num padrão bem definido de
27
apresentação largamente adotado. A moda contemporânea é mais ambígua e
multifacetada, em concordância com a natureza altamente fragmentada das sociedades
pós-industriais‖ (2006).
Tendo em vista essas mudanças, à medida que as redes sociais do indivíduo se
expandem, ele, por sua vez, é exposto a novas formas de cultura e estilos de vida,
tornando-o mais predisposto a adotar novas formas de ser e vestir.
A variedade de opções, de estilos de vida pelo qual estamos cercados nessa era
da hipermodernidade não mais prende o indivíduo às tradições e lhe permite fazer
escolhas, onde possa criar uma auto identidade cada vez mais significativa.
―A moda contribui para redefinir identidades
sociais ao atribuir constantemente novos
significados aos artefatos. Fred David afirma
que roupas da moda são bastantes significativas
para os consumidores porque expressam as
ambivalências que cercam as identidades
sociais, tais como ―juventude versus idade,
masculinidade versus feminilidade, androgenia
versus singularidade, trabalho versus diversão,
conformismo versus rebeldia.‖ O fascínio da
moda reside nos modos como ela
continuamente redefine essas tensões e as
incorpora em novos estilos.‖ DIANA CRANE
(2006)
Portanto, esses novos conceitos e formas de ver a moda podem ser vistos como
uma preocupação com a identidade pessoal e uma maneira de se adaptar às novas
formas de organização social e cultural, onde, juntamente com as atividades de lazer, o
consumo acaba por moldar as percepções que o indivíduo gera sobre si mesmo e sobre
os outros.
28
Quando pensado em modelos que expliquem o fenômeno social pelo qual a
moda se dá, o modelo ―de cima para baixo‖ usado tanto por Simmel e aprofundado por
Bourdieu era a maneira dominante pela qual a moda encontrava a sua distinção tanto
social quanto econômica. A partir do momento em que as sociedades pós-modernas
avançam e fatores demográficos e econômicos influenciam as juventudes e aumentam
seu poder de consumo comparada a gerações anteriores de jovens a influência da moda
e seus conceitos mudam.
Hoje aliados às questões de afirmação tanto pessoal como em grupos o modelo
―de baixo para cima‖ onde novos estilos aparecem em grupos de “status‖ inferiores e
passam a ser adotados por grupos de “status” superior, explicando-se novos fenômenos
e novas tendências pela qual a moda permeia.
‖ ...estilos que emergem de grupos socioeconômicos inferiores são
normalmente gerados por adolescentes e jovens adultos que pertencem
a subculturas ou tribos de estilo com modos de vestir caracterizados,
que atraem a atenção e por fim levam à imitação por parte outro grupos
etários e socioeconômico....Em ambos os modelos, o processo de
difusão para baixo ou para cima tem sido acelerado pela exposição da
mídia, o que leva à rápida informação a respeito de novos estilos em
todos os níveis do sistema". DIANA CRANE (2006).
Contudo, não se pode deixar de perceber que as trajetórias percorridas pela moda
são certamente cada vez mais complexas do que esses dois modelos sugerem.
Atualmente os consumidores não são mais percebidos como ―escravos da moda‖, onde
simplesmente imitam grandes personalidades, mas sim como agentes que buscam
estilos e gostos próprios diante do que lhe é apresentado pelos criadores, sendo cada vez
mais uma escolha do que algo imposto. Assim, o indivíduo constrói sua própria moda a
partir das opções apresentadas, usando de símbolos para tornar pessoal e carregado de
significados.
Para Crane (2006), hoje em dia, a moda tem pautas diversificadas e
contraditórias, indo de representações cada vez mais amplas. A individualidade e o
29
posicionamento pessoal estão aliados ao grupo onde o indivíduo está inserido, tornando
a questão da identidade um ponto importante para análises sobre o fenômeno social que
é a moda.
30
CAPÍTULO II.
MODA E IDENTIDADE
A questão da identidade está em constante discussão nas teorias sociais e
analisando-se pelo viés da moda a mesma cumpre um papel de grande importância na
criação do identitário social.
A moda apresenta posições, como afirmação, como espelho de pensamentos e
reflexões individuais e coletivas. Ao longo do tempo, a moda serviu como espelho das
dinâmicas e das práticas dos contextos onde se insere construindo-se como discurso ao
comunicar traços distintos e identitários de cada um e de cada coletividade. Inserimo-
nos numa sociedade definida pelo consumo e que é, simultaneamente, hedonista e
individualista.
Numa realidade repleta de paradoxos, a moda resulta da relação com os
consumidores e da relação que estes têm com o mundo. Molda-se à passagem do tempo,
aos lugares e aos desejos. Com a realidade atual, a moda orientada pelo fenômeno da
globalização, pela aceleração da transmissão da informação e na facilidade de acesso a
outras culturas e socialidades, conduz à construção de identidades misturadas.
A moda padroniza valores estéticos mas distingue identidades pelo seu conteúdo
social, cultural e político e nos torna parte de um todo e nos distingue simultaneamente.
Quando pensado em identidades, temos uma palavra usada para invocar e/ou
afirmar algo e quando usada pelo viés da moda pode haver variações em seu conceito.
Mesmo tendo suas limitações estruturais as questões ligadas a identidade, quando
pensando pela lógica da moda, permite que seu significado possa ser renegociado.
2.1. Sobre Identidade.
Hoje em dia pertencemos a uma sociedade que valoriza o individualismo, o
estilo pessoal, a liberdade e o desejo como formas de sermos singular.
Segundo Stuart Hall em seu livro ―A Identidade cultural na pós modernidade‖
(2005), a identidade é formada na interação do sujeito com a sociedade, num diálogo
31
contínuo com o mundo. Nessa relação o sujeito se projeta e internaliza imagens e
símbolos que irão constituir sua identidade numa relação dinâmica e constante.
Contudo, podem-se identificar três entendimentos diferentes sobre identidade em
relação ao sujeito e o tempo vivido, sendo eles: o sujeito do iluminismo, o sujeito
sociológico e o sujeito pós-moderno.
..[ ] o sujeito do iluminismo estava baseado numa
concepção da pessoa humana como um indivíduo
totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, cujo o centro
consistia num núcleo interior, que ela primeira vez
quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda
que permanecendo essencialmente o mesmo...[ ] a
noção do sujeito sociológico refletia a crescente
complexidade do mundo moderno e a consciência de
que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e
auto-suficiente, mas era formado na relação com
―outras pessoas importantes para ele‖, que mediavam
para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – cultura –
do mundo que ele habitava... a identidade é formada na
interação entre o eu e a sociedade...[ ] esse processo
produz o sujeito pós-moderno, conceptualizando como
não tendo uma identidade fixa, essencial ou
permanente. A identidade torna-se uma ―celebração
móvel‖ formada transformada continuamente em
relação as formas pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam [].
(HALL, 2005).
Se antes as identidades eram determinadas e pré formadas pela sociedade,
ligando, assim, o sujeito e sua cultura, agora elas são percebidas como múltiplas,
conflitantes, contrárias e em constante movimento. A identidade que antes consolidava
o sujeito e o conectava como a determinado grupo ou nacionalidade, hoje é vista como
algo que pode ser mudada e aprimorada, podendo assumirem-se diferentes identidades
32
em determinado momento ou referente ao meio em que se está inserido, estando, assim,
em constante mudança, devido ao processo de globalização e ao seu impacto sobre a
identidade cultural.
A identidade torna-se uma celebração
móvel: formada e transformada
continuamente em relação às formas
pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que
nos rodeiam…Assim, em vez de falar
da identidade como uma coisa acabada,
deveríamos falar de identificação, e vê-
la como um processo em andamento.
(HALL, 2005)
Stuart Hall (2005) ainda destaca que a identidade do sujeito contemporâneo é o
resultado de uma série de mudanças estruturais nas sociedades, acontecimento que
conhecemos por globalização, que caracteriza uma sociedade de mudanças rápidas e
constantes, pautada na novidade, onde as culturas e etnias mais distantes encontram-se
em conexão e coinfluência direta.
Segundo Hall (2005) ―as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o
mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o
indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado‖. Assim as novas formas
estruturais que aparecem com as sociedades modernas acabam por transformar as ideias
sobre o sujeito e, então, assumem novas formas de se apresentar uma identidade.
Contudo, essas condições modernas possibilitam que o indivíduo se depare com
uma grande multiplicidade de escolhas sobre qual estilo e identidade seguir. Como
podemos ver apresentado por Anthony Giddens em Modernidade e Identidade (2002):
33
A noção de estilo de vida soa um tanto trivial
porque é muitas vezes pensada apenas em
termos de um consumismo superficial — estilos
de vida como os sugeridos pelas imagens das
revistas ilustradas e da publicidade. Mas há algo
mais fundamental em andamento do que sugere
essa concepção: nas condições da alta
modernidade, não só seguimos estilos de vida,
mas num importante sentido somos obrigados a
fazê-lo — não temos escolha senão escolher.
Um estilo de vida pode ser definido como um
conjunto mais ou menos integrado de práticas
que um indivíduo abraça, não só porque essas
práticas preenchem necessidades utilitárias, mas
porque dão forma material a uma narrativa
particular da auto-identidade. (GIDDENS,
2002)
Para Giddens a variedade de opção e estilos disponíveis na sociedade liberta o
indivíduo da tradição e lhe permite fazer escolhas onde se cria uma auto identidade
significativa, para o outro responder a si mesmo determinadas perguntas como: Onde
você quer morar? Com quem você quer viver? Você quer trabalhar? Estudar? Existem
ingredientes de sua vida de fantasia que você gostaria de incorporar à sua vida corrente?
São fatores de grande importância para o eu como sujeito e as identidades.
Outro autor que elucida essa questão é Zygmunt.Bauman em seu texto
―Identidade‖ (2005), quando afirma que a identidade exerce um papel fundamental no
mundo hoje, no qual os indivíduos passaram a criar as suas próprias identidades e não
mais a herdá-las. Não apenas ―partem do zero‖, mas a redefinem por toda uma vida.
As identidade se tornam, em nosso mundo moderno-líquido,
mais ambivalentes e líquidas. A continuidade para roda uma
vida assim como a coerência e univocidade das identidades, não
são mais algo que exija grande preocupação. Os projetos de
vida vitalícios, hoje, já não são bem acolhidos. Uma identidade
coesa, fixada solidamente construída é vista, atualmente, como
um fardo, uma limitação da liberdade. (BAUMAN, 2005)
34
As identidades, na modernidade, se tornam cada vez mais algo em construção,
uma realização de valor individual, A moda surge, deste modo, ligada à questão da
identidade pela busca de um modelo ideal e assume um papel de representação da
identidade. Desta forma, as roupas e os acessórios, adquirem o valor de símbolos,
através dos quais o sujeito se representa. Em todo esse movimento, a moda revela
questões sobre o sujeito como idade, gênero, condição social e ambições, além do
contexto cultural e regional que o sujeito está inserido.
Como identidade, a moda muda conforme o período que ela representa. Cada
época histórica tem suas crenças e valores e tem seu referencial distinto. Assim, as
representações criadas pela roupa mudam de acordo com o que representam.
Através das imagens de modelos ideais a moda cria e oferece uma manifestação
do imaginário, na qual o sujeito constrói a própria identidade.
2.2. Moda, Identidade e Consumo.
No perídio atual o indivíduo tem, como nunca antes visto, a liberdade de
estabelecer novas identidades fora das esferas econômicas e políticas e a identidade
social não está mais totalmente ligada ao poder econômico.
O consumo de bens culturais, como a moda, exerce cada vez mais um papel de
grande relevância na construção da identidade pessoal, deixando de lado a imitação das
classes superiores como algo sendo de grande importância.
Com isso, o consumo é apresentado como caminho para os consumidores que
estão em busca de algo que projete em si seus valores identitários e é nesse papel que a
moda está cada vez mais presente e o estilo de vida pode ter mais relevância do que o
status de classe, levando o indivíduo a ter uma constante preocupação com a identidade
pessoal como modo de adaptação às constantes novas maneiras de reorganização social
e cultural.
35
Para Daiana Crane (2006), ―a moda contribui para redefinir identidades sociais
ao atribuir constantemente novos significados aos artefatos. Fred Davis afirma que
roupas da moda são bastante significativas para os consumidores porque expressam as
ambivalências que cercam as identidades sociais, tais como juventude versus idades,
masculinidade versus feminilidade, androgenia versus singularidades [...] trabalho
versus diversão, conformismo versus rebeldia. O fascínio da moda reside nos modos
como ela continuamente redefine essas tensões e as incorpora em novos estilos. [...]
onde as atividades de lazer, entre elas o consumo, moldam as percepções que os
indivíduos tem de si mesmos e, para muitos, são mais significativas que o trabalho‖.
O vestuário então se torna útil para ―disfarçar‖ o status social e tem o ―poder‖ de
tornar diferente e de deixar mais atraente ao depender do imaginário construído através
dela.
Portanto, na moda de consumo, que por sua vez substitui a de classe, há muito
mais opções de estilo e muito menos consenso sobre o que está na moda em
determinada época e com isso ela alcança o interesse de vários grupos em múltiplos
níveis sociais.
As lojas apresentam cada vez mais opções, pelas quais o consumidor consegue
montar um look de acordo com sua identidade, o que torna a moda um fator de
representação na sociedade contemporânea. Suas escolhas estão cada vez mais pautadas
na identificação com os grupos sociais pertencentes pelo indivíduo.
Hoje a moda tem ligação direta com o ―pessoal‖, não mais unida às tradições,
sendo que suas definições e as escolhas partem do querer individual.
Como se pode constatar com Lipovetsky, em ―A Estilização do Mundo‖ (2015),
estamos presenciando a era hipermoderna, uma sociedade do extremo, da felicidade, das
emoções, das sensações do agora do hoje, a era da estética, da arte, do novo, do
consumo, convergindo tudo pela lógica da moda, a era da sedução, da valorização do
futuro transformando a sociedade da moda com o referencial do tempo.
36
A cidade industrial do capitalismo de produção tende a
ceder a vez à cidade-lazer, à cidade das compras de que
as passagens e lojas de departamentos forneceram,
Desde então, a lógica exponencial do espetáculo, do
divertimento e do consumo comercial não para de
ganhar terreno, dos bares descolados às flagship stores,
dos restaurantes às concept stores, das galerias
comerciais às lojas de luxo, das strips aos malls, dos
centros de lazer aos parques temáticos, das butiques-
hotéis aos bairros inteiramente reurbanizados para
atrair os consumidores. Mais do que nunca, o mundo
hipermoderno é o da estética mercantil e do comércio
consumista que invade e reestrutura o espaço urbano e
arquitetônico. (LIPOVETSKY, 2015).
Se a estilização do consumo se dá pelos objetos que são por ela representados,
também fala muito sobre seus consumidores; são representações de seus gostos, estilos
de vida e seus desejos, onde a moda acaba sendo o ponto de partida e mais visível para
se expressarem essas representações.
O consumidor de moda presente no tempo hipermoderno é um consumidor
estético, onde ela se torna elemento essencial para a caracterização pessoal,
valorizando-se, assim, através de novas tendências a hiperindividualidade.
Para Lipovetsky (2015) ―Até um período recente, a moda impunha uma
tendência homogênea que seguia princípios e uma temporalidade estritos. Ao mesmo
tempo, o vestuário tinha a função de classificar os grupos sociais, expressar a hierarquia
social. Não é mais assim: vivemos num tempo de moda policentrada e balcanizada em
que os valores de autonomia e a profusão dos estilos possibilitam a emancipação dos
sujeitos em relação às antigas limitações de classe‖.
Com isso todos têm a possibilidade de ―compor‖ seu estilo à vontade; o
individualismo segue se tornando o ponto chave para a moda e o consumo. Assim, não
se tem a questão da classe como sendo algo tratado como de primeira importância,
(mesmo que ainda haja divisões nesse sentido em determinados espaços ocupados pela
37
elite), o gosto e a expressão da personalidade única e singular são os pontos onde o
sujeito se empenha através da moda para apresentar a imagem que tem de si mesmo
para o público que o cerca.
A relação de si com o outro é sempre fundamental e
estruturante, mas a roupa está mais a serviço da
promoção da imagem pessoal do que de uma imagem
ou posição de classe. (LIPOVETSKY, 2015).
Há tempos se pensava que para estar na moda era preciso dispor das últimas
tendências apresentada pela mídia; já não é mais o caso em um momento onde a mídia é
tão diversa e segue por vários caminhos. O sujeito da moda continua sim a ―seguir‖
tendência, mas o faz de uma maneira muito mais descompromissada com o que é
apresentado e mais comprometido com seus gostos pessoais e o com o que lhe ―cai
bem‖, não seguindo assim a moda pela moda. O valor individual tem cada vez mais
―poder‖.
A individualização na moda hipermoderna não significa
a originalidade do parecer – na verdade muito pouco
difundida, mas na escolha da própria aparência de
acordo com a imagem pessoal que queremos dar de nós
mesmo, expressão estética de si que compomos
copiando isto e não aquilo, como quisermos, quando
quisermos, de acordo com gostos subjetivos, momentos
e humores. Enquanto o regime da moda provém dos
imperativos estéticos de classe constitui-se um novo
sistema das aparências que funciona num registro mais
subjetivo, mais dissonante, mais efetivo.
(LIPOVETSKY, 2015).
Contudo, quanto menos a moda impõe seus valores e estilos, mais os
consumidores ficam desorientados em relação ao excesso de opções e à atual ausência
de uma tradição de classe que antes guiava as referências de estilo e estética. No
38
momento atual o sujeito da moda é livre para fazer suas escolhas, mas pode se perder
em relação ao mercado e a si mesmo.
Para Lipovetsky (2015) as dinâmicas da individualização e do capitalismo
trabalham de mãos dadas para criar um consumidor tanto mais desorientado quanto
mais é autônomo, tanto mais desprovido de princípios estéticos quanto mais é
reconhecido como ―senhor de si mesmo‖ em matéria de aparência.
A relação com a moda se apresenta sob
uma luz contrastada. Por um lado a
época vê se multiplicarem as revistas,
os sites e as informações de moda. O
interesse pelos looks, as marcas e as
moda se exprimo em todos os meios
sociais e atinge todas as faixas etárias: é
nos pátios das escolas que nascem hoje
os fashionistas. (LIPOVETSKY, 2015).
O gosto pela moda está expresso em todo lugar; não tem mais limite social ou
financeiro e está estendido a todos os públicos. Fazendo do espaço ocupado um meio de
expressão do sujeito.
Nesse sentido, é possível se verificar o quanto esse espaço pode gerar influência
quando se trata de moda; o que se usa além de representar o ―eu‖ pode também mostrar
origens e gostos de um determinado lugar, como no caso da moda oriunda das
periferias, onde as barreias sobre o comportamento e moda usada nesses espaços vem
sendo quebrada e refletindo identidades locais e estabelecidas não mais por
determinações do centro.
A periferia já não precisa do centro e cada vez mais mostra seu ―poder‖ e
independência em relação à moda, tendo voz própria e usando suas próprias mídias para
se estabelecer; com isso a moda se espalha pela cidade e reorganiza seus espaços.
39
Capitulo III.
SOBRE MODA E IDENTIDADE: UM ESTUDO DE CASO EM
PARAISÓPOLIS.
A partir da ideia de aliar o consumo da moda ao social e suas questões
identitárias, foi feita uma busca por projetos que poderiam conter essa característica.
Nesse processo, foi encontrado, por meio de mídias sociais, o Projeto PIM -Periferia
Inventando Moda.
O Projeto PIM – ―Periferia Inventando Moda‖, localizado na favela de
Paraisópolis, se denomina como uma iniciativa que usa a moda para promover a
inclusão social dos moradores da favela, usando a lógica da moda como agente de
transformação do indivíduo e do coletivo, promovendo a percepção da própria
identidade e apresentando caminhos para ampliar o desempenho social e profissional e é
nesse sentido que os idealizadores do Projeto acreditam no poder transformador da sua
intervenção, promovendo uma grande oficina de moda na favela de Paraisópolis.
Pelo fato do projeto estar localizado em Paraisópolis, o estudo ligado a esse
projeto se estendeu por toda a favela, analisando, assim, não somente o projeto mas o
consumo de moda que se estabelece nesse espaço, buscando lojas e hábitos de consumo
de seus moradores.
Estando a moda diretamente ligada à lógica do consumo, atualmente é cada vez
mais comum o indivíduo buscar conforto e satisfação pessoal ao adquirir determinada
peça ou objeto de moda, desejando passar ao mundo o seu estilo pessoal. A moda
propriamente dita e o seu consumo ultrapassam a barreira de serem tão somente produto
e compra respectivamente, mas são, também, agentes comunicadores de mensagens, de
significados e de desejos, tornando-se um fator de inclusão social, ou seja, a moda passa
a carregar um caráter identitário na vida de uma pessoa.
40
A sociedade centrada na expansão das necessidades é,
antes de tudo, aquela que reordena a produção e o
consumo de massa sob a lei da obsolescência, da
sedução e da diversificação, aquela que faz passar o
econômico para a órbita da forma moda.
(LIPOVETSKY, 2009)
Com isso a moda acaba exercendo um papel de grande importância para a
inclusão social do indivíduo, podendo apresentar características de uso em um
determinado espaço e identificação com o local em que está inserido.
3.1. - A Favela de Paraisópolis: sua origem e história.
Paraisópolis é considerada a segunda maior favela da cidade de São Paulo, com
cerca de 100.000 habitantes, vivendo em 17.730 domicílios, onde 90% dos imóveis
estão irregulares. Situada na região do Morumbi, distrito da Vila Andrade,
Subprefeitura de Campo Limpo, é reconhecida como zona especial de interesse social
desde 2003 e caracteriza-se como espaço territorial em acelerada transformação3.
Entretanto, pelo Censo Demográfico de 2010, do IBGE, Paraisópolis conta com
uma população estimada bem menor, mostrando com isso a dificuldade de se obter
dados concretos para áreas de favelas, nomeadas atualmente como comunidades.
Segundo o IBGE, Paraisópolis/Porto Seguro/Jardim Colombo contam com
13.678 domicílios particulares, ocupados em aglomerados subnormais, e 56.369
habitantes. O atendimento por rede de abastecimento de água e de coleta de lixo se dá
em quase a totalidade dos domicílios das três áreas. Em relação ao atendimento por
coleta de esgoto e energia elétrica nos domicílios, tem-se 100% no Porto Seguro e
Jardim Colombo e, respectivamente, 88% e 98,6% em Paraisópolis. (IBGE, 2010)
[...] Os levantamentos HABISP (2012) contabilizam 17.159 domicílios em Paraisópolis,
Porto Seguro 612 e Jardim Colombo 3.244 moradias. Em relação à infraestrutura
urbana, Paraisópolis possui 64% de abastecimento de água, 22% de esgotamento
sanitário, 50% de coleta de lixo e 40% de rede elétrica domiciliar. O setor Porto Seguro
3Segundo dados do site oficial da Prefeitura de São Paulo.
41
conta com 57% de abastecimento de água, 10% de esgotamento sanitário, 50% de coleta
de lixo e 50% de energia elétrica. No Jardim Colombo o levantamento HABISP aponta
para 59% dos domicílios com abastecimento de água, 15% com coleta de esgoto e 50%
de lixo, e 15% com rede elétrica na moradia. (CASTILHO, 2013, p. 177-179).
Gráfico Nº 1 - Infra Estrutura
Fonte. Elaborado pela autora com base no dados do censo de 2010.
Figura 1. Vista panorâmica da favela de Paraisópolis.
Foto da autora.
42
Figura 2 – Demarcação no mapa do espaço geográfico da favela de Paraisópolis.
Fonte: Imagem retirada do Google)
Figura 3- Uma das principais entradas de Paraisópolis, Avenida Hebe Camargo,
uma das principais avenidas da favela.
Foto da autora.
43
Segundo o portal4, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),
Unidade de Desenvolvimento Humano (UDH) em questão, localizada no município de
São Paulo, da RM de São Paulo, é 0,639, em 2010. Esse valor situa a UDH na faixa de
Desenvolvimento Humano Médio (IDHM entre 0,600 e 0,699). A dimensão que mais
contribui para o valor do IDHM da UDH é Longevidade, com índice de 0,774, seguida
de Renda, com índice de 0,654, e de Educação, com índice de 0,516.
Tabela 1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes –
UDH- Paraisópolis –SP.
IDHM e componentes 2000 2010
IDHM Educação 0,301 0,516
% de 18 anos ou mais com fundamental completo 24,91 37,90
% de 5 a 6 anos na escola
Razão entre a população de 5 a 6 anos de idade que estava
frequentando a escola, em qualquer nível ou série e a população
total nesta faixa etária multiplicado por 100.
40,75 87,04
% de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental REGULAR
SERIADO ou com fundamental completo 51,41 84,52
% de 15 a 17 anos com fundamental completo 28,25 46,38
% de 18 a 20 anos com médio completo 12,12 22,75
IDHM Longevidade 0,746 0,774
Esperança de vida ao nascer 69,78 71,45
IDHM Renda 0,658 0,654
Renda per capita 480,17 469,78
4 Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.
44
Fonte: PNUD, Ipea e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)
Tabela 2.
Estrutura Etária da População – UDH – Paraisópolis - SP
Estrutura Etária População
(2000)
% do Total
(2000)
População
(2010)
% do Total
(2010)
Menos de 15 anos 12.534 35,76 16.672 29,58
15 a 64 anos 22.181 63,28 38.929 69,06
População de 65 anos
ou mais 339 0,97 768 1,36
Razão de dependência 58,04 - 44,80 -
Taxa de
envelhecimento 0,97 - 1,36 -
Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)
Tabela 3.
Ocupação da População de18 anos ou mais – UDH- Paraisópolis -SP
Ocupação da População de 18 anos e mais - UDH 2000 2010
Taxa de atividade - 18 anos ou mais 79,35 80,83
Taxa de desocupação - 18 anos ou mais 21,76 8,04
Grau de formalização dos ocupados - 18 anos ou mais 63,60 71,97
Nível educacional dos ocupados
% dos ocupados com fundamental completo - 18 anos ou mais 26,53 38,69
% dos ocupados com médio completo - 18 anos ou mais 12,63 17,56
Rendimento médio
% dos ocupados com rendimento de até 1 s.m. - 18 anos ou
mais 16,49 12,29
% dos ocupados com rendimento de até 2 s.m. - 18 anos ou
mais 75,79 85,65
% dos ocupados com rendimento de até 5 s.m. - 18 anos ou
mais 95,44 98,81
Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)
45
Tabela 4
Indicadores de Habitação – UDH – Paraisópolis - SP
Indicadores de Habitação 2000 2010
% da população em domicílios com água encanada 99,90 99,86
% da população em domicílios com energia elétrica 100,00 98,84
% da população em domicílios com coleta de lixo 95,46 100,00
Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)
Tabela 5
Vulnerabilidade Social – UDH – Paraisópolis - SP
Vulnerabilidade Social - UDH - Paraisópolis - SP
Crianças e Jovens 2000 2010
Mortalidade infantil 24,00 20,80
% de crianças de 0 a 5 anos fora da escola 87,99 52,27
% de crianças de 6 a 14 fora da escola 20,33 5,79
% de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não trabalham e são vulneráveis, na população dessa faixa
17,05 8,03
% de mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos 5,57 5,61
Taxa de atividade - 10 a 14 anos 7,10 5,59
Família
% de mães chefes de família sem fundamental e com filho menor, no total de mães chefes de família
80,79 70,33
% de vulneráveis e dependentes de idosos 0,16 0,28
% de crianças extremamente pobres 3,44 3,94
Trabalho e Renda
% de vulneráveis à pobreza 42,95 29,20
% de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental completo e em ocupação informal
47,03 31,18
Condição de Moradia
% da população em domicílios com banheiro e água encanada
96,08 96,16
Fonte: PNUD, IPEA e FJP. In: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_udh/27333#idh)
46
A Favela de Paraisópolis data de 1921, com a divisão de parte do loteamento da
antiga ―Fazenda do Morumbi‖, originalmente dívida em 2.200 lotes. No final da década
de 1960, ainda com terrenos não habitados, em uma área com características rurais,
houve a sua ocupação por parte de famílias de baixa renda, grande maioria de
nordestinos, atraídos pelo emprego na construção civil. A prefeitura municipal não teve
como evitar o seu crescimento por hora desordenado e oficializou o nascimento do local
através de uma Lei de Zoneamento Geral do Município em 1968.
Em 1975, a prefeitura elaborou um plano de reurbanização, consentimento dos
proprietários e a desapropriação do espaço, que não foi consolidada por causa da falta
de recursos orçamentários e financeiros. Em 1979, o governo do Estado realizou 20%
das ligações de energia elétrica na região.
Atualmente Paraisópolis vem criando um processo para se transformar em um
novo bairro da cidade de São Paulo, ocupando hoje uma área de 800 mil metros
quadrados, sendo que 55% das famílias residem no local há mais de onze anos, 78% dos
moradores com emprego fixo trabalham na área do Morumbi.
O comércio em Paraisópolis conta com uma estimativa de 8 mil
estabelecimentos comerciais, segundo o site da Associação de Moradores de
Paraisópolis, sendo que a venda de imóveis responde pela maior fatia do mercado –
35%. Entre as lojas, predominam as de roupas e de material de construção. Em 12 de
novembro de 2008, Paraisópolis recebeu uma filial das Casas Bahia. A loja fatura R$
1,5 milhão por mês, contra R$ 700 mil dos pontos nos shoppings West Plaza e Plaza
Sul.
No ano de 1983 foi criada a União dos Moradores da Favela de Paraisópolis.
Com isso, no final da década de 1980 e no começo da de 1990, várias organizações não
governamentais começaram a atuar em Paraisópolis. Hoje, de acordo com o site
(Paraisópolis.org), que hospeda informações sobre a atual União dos Moradores e
Comércio de Paraisópolis, são mais de 25 ONGS (Organizações Não Governamentais)
atuando em diversos setores, dentro de sua área.
Fórum Multientidades de Paraisópolis congrega as ONGs do bairro e foi criado
em 1994. São cerca de 25 entidades que operam em rede, com reuniões mensais nas
47
diversas organizações em sistema de rodízio, objetivando fortalecer as iniciativas
populares em Paraisópolis e os esforços para melhoria da qualidade de vida na região.
Não tem filiação política, religiosa ou comercial. (PARAISOPOLIS.ORG)
Em 2003, Paraisópolis foi reconhecida como Zona Especial de Interesse Social,
pela Prefeitura da cidade de São Paulo5. Segundo matéria feita pelo jornal ―Estado de
São Paulo‖, no ano de 2010, com o título ―Paraisópolis a queridinha dos projetos
sociais‖, nenhuma outra favela possui tantas ONGS como Paraisópolis; de acordo com
dados apresentados pela matéria, eram 64 projetos sociais atuando na região.
3.1.1 Intervenções Públicas em Paraisópolis
A Favela de Paraisópolis é um exemplo de área que recebe programas de
intervenções públicas por parte do governo municipal da cidade de São Paulo. Com o
Plano Diretor Municipal de 2002, Paraisópolis passa a ser vista como Zona Especial de
Interesse Social e em 2003 o Decreto Municipal nº 42.871/2003 conferiu à Secretaria de
Habitação e Desenvolvimento Urbano a elaboração e a implantação do Plano de
Urbanização do Complexo de Paraisópolis.
O início da implantação deste plano se dá em 2006 e visa integrar o acesso à
cidade formal, por meio da regularização urbanística e fundiária, possibilitando o acesso
dos moradores à infraestrutura, inclusão social e melhorias nas condições de habitação,
saúde e ambiental.
A execução do programa se deu pela parceria entre PMSP, SABESP,
ELETROPAULO, CDHU, Fundo Municipal de Saneamento e Infraestrutura e Fundo de
Desenvolvimento Urbano, com previsão de atender mais de 20 mil famílias.
O programa foi divido em três etapas de obras, sendo a 1ª implantada entre
junho de 2006 e agosto de 2008, incluindo a construção da escadaria da Rua Manuel
Antônio Pinto, com 104 unidades de alojamentos, em vários pontos do complexo,
pavimentação de ruas, canalização de córregos, rede de drenagem pluvial, colocação de
guias e sarjetas.
5 Fonte: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/zona-especial-de-interesse-social-zeis/
48
A 2º etapa de obras se deu entre março de 2009 e outubro de 2010, sendo feitas
obras de infraestrutura, praças, conjuntos habitacionais e áreas de uso coletivo; nessa
etapa se deu início a implementação dos estabelecimentos institucionais de educação
como creches, saúde como AMAS e UBS e assistência social.
Com início em 2010, a 3º etapa, com contrato previsto para sua realização até
2013, contou com a proposta de serviços de 100% no atendimento de abastecimento de
água e coleta de esgoto.
Conforme dados informados pela Prefeitura de São Paulo, seriam ainda
realizadas a regularização fundiária e urbanística. Em paralelo com a reurbanização,
Paraisópolis recebeu uma unidade do complexo CEU, a construção de uma escola
técnica (ETEC), um centro de apoio psicossocial (CAPES), o centro de educação
infantil (CEI) e conta também com o Projeto Escola da Música, que foi vencedor do
Prêmio Internacional de Sustentabilidade HolcinAwards 2011, da América Latina, nível
ouro.
Em 2013, a Prefeitura de São Paulo6 anunciou um novo projeto, ou seja, um
conjunto de nove intervenções em Paraisópolis, visando beneficiar 20 mil famílias. O
investimento de cerca de R$ 90 milhões previa uma melhoria em infraestrutura,
urbanização e unidades habitacionais, sendo que serão R$ 37,3 milhões do Governo
Federal, através do PAC, R$ 55.492 milhões da PMSP e R$ 208 mil da Sabesp.
Serão nove áreas de intervenção, sendo elas: Pavilhão Social, Viaduto Rua
Pasquale, Pq. Sanfona, Muros de Contenção, Central de Triagem, Escola da Música,
Canalização do Córrego Antonico, Canalização do Córrego Jardim Colombo, obras na
Av Avenida Perimetral e a instalação de coletores tronco de esgoto.
Das nove obras em andamento, quatro incluem remoções das famílias por se
tratar de áreas de risco, em encostas, com histórico de deslizamento. Segundo
declaração oficial no site da prefeitura de São Paulo na intervenção do Parque Sanfona
658 famílias precisam ser removidas, onde já foram cadastradas 532 famílias. Com
relação à construção da Escola de Música, 625 moradias devem ser removidas da área,
18 famílias já passaram pela fase de cadastro.
6 Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=156093
49
Para a canalização do Córrego Antonico já foram removidas 276 famílias. O
mesmo procedimento acontece com as obras do Córrego Jardim Colombo, cujas
remoções de 249 famílias já foram feitas. As 525 famílias que estão nas áreas dos dois
Córregos já foram cadastradas. Todas as famílias removidas serão atendidas com
unidades habitacionais na própria comunidade. Todos os projetos apresentados pela
prefeitura em 2013 ainda estão em fase de andamento, não tendo até o momento sua
completa conclusão.
3.2. Projeto PIM - Periferia Inventando Moda
O projeto PIM teve sua origem em abril de 2014, quando o idealizador e
fundador do projeto, o estilista Alex Santos, morador da Favela de Paraisópolis,
frequentava a Faculdade de Moda, no Centro Universitário Anhanguera.
A ideia do projeto surgiu quando Alex participou de um evento promovido pela
Prefeitura de São Paulo, onde ocorreu um desfile do estilista João Pimenta, e logo após
o desfile uma roda de conversa com o mesmo. Segundo relato de Alex, em uma das
entrevistas com ele realizadas, a ideia foi abordada porque um evento do porte do São
Paulo Fashion Week não vai diretamente para a periferia e a resposta dada pelo estilista
foi que a moda sai da rua e volta para a rua. Contudo, Alex Santos disse não se sentir
satisfeito com essa resposta, e a partir disso surgiu a ideia de fazer algo para a
comunidade em que morava, sendo ele morador da favela de Paraisópolis.
A primeira ideia era fazer uma exposição de roupas na favela de Paraisópolis,
mas a coordenadora da sua Faculdade sugeriu fazer um desfile das suas roupas, na
própria comunidade. Com isso pensou em como não queria ―pecar‖ nesse desfile
usando modelos de agências, visando que era um evento voltado para a comunidade e,
assim, decidiu criar um pequeno workshop de modelos apenas para formar pessoas para
esse desfile.
Esse primeiro evento foi realizado em julho de 2014 e contou, além do desfile
com peças de alunos da faculdade, também com o desfile do estilista João Pimenta e um
desfile da ONG Florescer, que é comandada pela Karina Bach.
50
Para a realização desse primeiro evento, as aulas foram sediadas no CEU de
Paraisópolis, onde o próprio Alex entrou em contato com a coordenação e teve, assim,
apoio para a realização das aulas.
Os custos para a realização do evento se deram todos em formas de parceria com
a própria comunidade, como iluminação, cadeiras, divulgação (feita pelos próprios
alunos de marketing da faculdade), sem custo algum para a realização do evento.
3.2.1 O PIM: história, alcances e repercussão.
Foi a partir do evento acima descrito que o PIM realmente foi criado, tendo o
Alex Santos como fundador e como diretor criativo, o psicólogo e produtor cultural Nil
Mariano, fundador e diretor executivo. A entrada do Nil no projeto se deu através de
contato feito pelo próprio Alex, pois também sendo morador de Paraisópolis, iria ajudar
a visibilizar tanto o primeiro desfile, como dar continuidade ao projeto.
O projeto foi apresentado pelos seus fundadores como sendo um movimento
fashion sediado na comunidade de Paraisópolis, utilizando o poder transformador da
moda e da beleza para articular e capacitar jovens da periferia, promovendo o
empoderamento e a autoestima e facilitando a atuação no mercado.
Os padrões de moda e de beleza que
vemos em nossas passarelas tendem em
sua maioria a espelhar as características
e desejos da elite europeia e norte-
americana, reforçando a crença ainda
enraizada em parte da elite brasileira de
que não pertencem a esse lugar...
(ALEX SANTOS- Idealizador do PIM)
A partir desse momento, foi criado um workshop de passarela, curso
preparatório de modelos que aconteceu no CEU de Paraisópolis. A coordenação do
CEU, por já ter conhecido o projeto e apreciado o evento, realizado com o desfile, cedeu
o espaço para que eles pudessem dar continuidade. Todos os envolvidos na realização
51
do projeto participaram desse primeiro evento e mostraram interesse em ajudar a
viabilizar a sua continuidade.
Na primeira fase do projeto foi feita uma divulgação nas redes sociais, buscando
pessoas da favela de Paraisópolis, que tivessem interesse no curso, tanto que o projeto
inicialmente se chamava ―Paraisópolis Inventando Moda‖. Mas como foi feita uma
grande divulgação nas mídias sociais, matérias onde o projeto era mencionado e
também em eventos de moda que o próprio coordenador e seus primeiros alunos
participavam, houve uma grande procura de pessoas de outras comunidades, mudando
assim o nome do projeto para ―Periferia Inventando Moda‖. Isso aconteceu logo no
primeiro ano e todo o recrutamento de alunos ainda se dá via mídias sociais.
Figura 4 – Foto divulgação do primeiro evento PIM ainda com nome antigo
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
Figura 5 – Foto divulgação do último evento realizado pelo PIM
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
52
Quanto ao perfil dos alunos que o projeto abrange, foi relatado por Alex que há
uma tentativa para que se filtre o mínimo possível, tentando quebrar barreiras
consolidadas no universo das passarelas todos os tipos de corpos e gêneros são aceitos.
Porém o próprio Alex admite que não é possível inserir todo mundo, pois não adiantaria
ele dar o curso, sendo que algumas pessoas não conseguiriam ingressar no mercado de
trabalho.
Assim, perfis que não estariam totalmente no ―padrão‖ ainda dominante nas
passarelas são encaixados para revistas e outros tipos de editoriais. A única restrição
seria o fato de que os alunos devem ser moradores de periferias e de baixa renda.
Figura 6. Foto dos modelos/alunos PIM em evento realizado pelo projeto,
diversidade de corpos na passarela.
Fonte: Foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
53
Logo nessa primeira fase, seus fundadores já conseguiram implantar, além do
curso preparatório de modelos, também cursos de maquiagem e fotografia, voltados
para moda. Todos esses eventos ainda eram realizados no CEU de Paraisópolis e todos
os cursos são dados por voluntários.
Sobre os cursos:
Modelo - Dirigido pelo estilista Alex Santos, no workshop de modelos jovens da
periferia recebem treinamento em passarela, postura e andamento, cultura de moda,
estilo, pose fotográfica e ética profissional. Além da capacitação profissional, os efeitos
sobre a identidade e a autoestima dos participantes são notórios e marcantes.
Figura 7. Foto dos alunos do PIM em aula de passarela
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
54
Maquiagem - Em parceria com a Vult Cosmética, o curso de maquiagem do
PIM oferece capacitação e qualificação para jovens e adultos da comunidade do
Paraisópolis e de outras regiões da periferia, formando futuros maquiadores.
Fotografia - Ministrado pelo fotógrafo Túlio Vidal, o workshop de fotografia
oferece qualificação profissional para fotógrafos amadores e iniciantes da comunidade
de Paraisópolis, ensinando técnicas avançadas de fotografia.
Desde seu início, o PIM realiza um evento anual, com desfiles de estilistas de
periferias da cidade de São Paulo contando com a participação dos modelos do PIM.
O PIM tem como objetivo divulgar a moda produzida na periferia, como
manifestação genuína da cultura de moda nacional, proporcionando aos profissionais
capacitados nas oficinas do projeto, a oportunidade de exercitar seus conhecimentos e
promover seu trabalho; Sensibilizar a imprensa e o público especializado para a moda
marginal, simultaneamente consumida como inspiração pela high fashion, alijada dos
principais eventos, graças a uma cultura de moda ainda excludente.
.....Uma democracia mais representativa, uma moda marcada
pelo elitismo e pela segregação e num período tão peculiar, em
que a população de diversos países sai às ruas pedindo maior
representatividade, em que se ruma para estar muito longe de
representar a cultura e as pessoas de nosso país. (NIL
MARIANO - diretor do PIM).
No sentido de divulgar o trabalho do PIM e a forma como profissionais
capacitados pelo projeto possam atuar em suas áreas, o projeto produz frequentes
editoriais e ensaios fotográficos, utilizando a moda como instrumento para a inclusão
social e promoção da autoestima e protagonismo de jovens da periferia de São Paulo.
Através da realização de cursos, workshops, editoriais de moda e desfiles, criaram-se
espaços de capacitação profissional, empoderamento e visibilidade desses indivíduos,
visando romper os padrões excludentes da moda atual.
55
Segundo os coordenadores, o PIM tem como MISSÃO: Consolidar-se como
uma das referências na democratização da moda e figurar entre os principais eventos de
moda da cidade de São Paulo e seus VALORES: Foco na inclusão e Respeito à
diversidade.
Nesse primeiro momento de projeto e em seus primeiros anos, o PIM obteve
alguns avanços, como a parceria para obter um espaço próprio. Esse espaço esteve
sediado na favela de Paraisópolis e seu aluguel foi pago pela parceria firmada com a
empresa Vult Cosméticos que, além de custear o espaço, cedia uma bolsa cultura para
os coordenadores, para a realização de eventos e manutenção do projeto. A partir do
momento que o PIM obteve esse espaço, as aulas e demais eventos deixaram de ser
realizados no CEU e passaram e ser feitos na seu própria sede. No entanto, essa parceria
se deu até o ano de 2018, quando a empresa informou que por motivos internos à
mesma, não renovaria os contratos e as aulas voltaram a acontecer nos espaços do CEU,
que sempre se mostrou aberto ao projeto.
Algum ganho a ser mencionado pelo PIM é a sua recente entrada com modelos
desfilando para diversos estilista, no evento anual realizado pela Casa de Criados –
importante evento de moda realizado na cidade de São Paulo, para novos estilistas.
Essa parceria com a Casa vem rendendo um grande avanço e destaque para o
PIM, tanto no lugar onde está instalado, como pela presença em vários veículos de
mídia, tanto empresa como televisiva.
Além da Casa, no ano de 2019 tiverem os primeiros modelos do PIM desfilando
para marcas no São Paulo Fashion Week (SPFW), o maior circuito de moda o país,
onde três modelos do PIM foram convidados a desfilar para a marca Ponto Firme do
estilista Gustavo Silvestre.
Em entrevista feita com seu fundador Alex Santos, fomos informados que
atualmente o projeto PIM se encontra em reestruturação devido à perda de patrocínio no
ano de 2018. No começo do ano de 2019, seus integrantes foram convidados a
participarem de um projeto potencializado pela marca SKOL, que deu origem à RODA
DO CORRE, que foi desenvolvido com três coletivos da periferia de São Paulo. No
final deste piloto foi desenvolvida uma Coleção COLLAB junto com a SKOL, onde os
modelos do projeto desfilaram.
56
Figura 8. Foto dos alunos/modelos no PIM em dia de casting7
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim)
Alex ainda mencionou algumas das metas que deseja alcançar com o projeto
como: ―Com o final do projeto desenvolvido pela SKOL, agora nossas próximas metas
são continuar desenvolvendo nossas ações do projeto à procura de apoiadores e futuros
patrocinadores. Em julho estaremos com a nona edição do PIM, que acontecerá nos dias
20 e 21 no CEU Paraisópolis. Teremos uma exposição também a ser feita pelo fotógrafo
de street style e do SPFW Leo Faria. A exposição deve ter sua estreia na semana
anterior à nona edição do PIM e, ainda, fortalecer novas parcerias, sendo uma delas pelo
SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos, onde iremos tirar o DRT
7 Casting consiste em selecionar profissionais para atuar em um evento. Os profissionais podem ser
modelos, atores/atrizes, recepcionistas, etc. O evento pode ser um desfile, uma festa, promoção,
lançamento, etc. O trabalho é feito por agências de modelos, produtoras de vídeo, cerimoniais,
estúdios, agências de eventos, áreas de marketing, entre outras.
57
dos nossos modelos e teremos aula de teatro que será feito pelo SATED‖ (Alex Santos
em entrevista realizada pela autora).
Com um posicionamento de inclusão, o projeto PIM tenta abranger vários
segmentos e estilos em relação à moda, mas, segundo os organizadores, a avaliação é de
que as maioria dos estilos apresentados são os de moda urbana, afro e LGBTQ+8, que
vêm sendo, cada vez mais, representadas e se tornando identitárias nas periferias da
cidade.
Para Alex, a moda periférica tem um viés mais forte, pois é uma moda que tem
uma mensagem, um poder, pois tem relação direta com a vivência do usuário e sua
identidade pessoal.
O projeto está mais conectado com uma ideia de empoderamento pessoal, onde
os modelos são instruídos a ter uma melhora na percepção que têm de si mesmos, em
encontrar sua própria identidade, ganhar uma autoconfiança, e isso é feito através da
moda, tanto no setor profissionalizante com os cursos desenvolvidos pelo projeto como
na maneira de se vestir. Pode se perceber em conversa com os alunos que muitos não
viam a moda como algo que pudesse expressar suas personalidades, antes de
começarem a participar do projeto.
A moda era vista como algo distante e falar de moda podia ser sinônimo de
grifes, mas mesmo sem perceber ou ter a consciência do significado de moda, todos as
consumiam e carregavam algum estilo oriundo do ambiente em que estavam inseridos.
Para Alex, ao perceber a maneira de usar a moda de seus alunos, diz que muitos
já têm sua identidade e conseguem ter a ―sua‖ moda, mas acredita que ainda há pessoas
que precisam daquela ―ajudinha‖ da mídia ou aquela famosa modinha da ―novela das
nove‖; porém, não encaram isso como um problema, pois a moda deve ser democrática
e cada um seguir da maneira que mais se sentir bem.
8 Atualmente o termo LGBT é o mais utilizado, representando: lésbicas, gay, bissexuais, travestis e
transexuais. O termo foi aprovado no Brasil em 2008 em uma conferência nacional para debater os
direitos humanos e políticas públicas de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. O Q é Queer
pode significar muitas coisas; não é sobre uma orientação sexual específica ou identidade de gênero, é
sobre se identificar como algumas das letras da sigla, mas também fazer parte de todas elas. Queer
engloba todas as orientações e identidades, sem se especificar em apenas uma delas, conforme
definição de Magô Tonhon, 2019.
58
Ao acompanhar o projeto em eventos como o desfile de moda que é realizado
todo ano, com estilistas vindos de periferias e desfilados por modelos do PIM, foi
possível realizar entrevistas com alguns alunos, tendo-se, assim, uma visão mais ampla
de como era visto por eles o projeto e sua relação com a moda.
Por meio dessas entrevistas, foi constatado que metade dos alunos é oriunda de
Paraisópolis e a outra parte é de outros bairros de São Paulo.
Em média, os alunos participam do projeto em um período de 3 a 5 anos e
quanto à idade, embora variada, está em torno de 17 a 30 anos.
Em sua maioria os participantes exercem outras atividades profissionais, além de
trabalhar com moda; seja desfilando ou participando de campanhas, todos manifestam o
desejo de viver exclusivamente com trabalhos ligados à moda.
Para os alunos entrevistados, o PIM representa um lugar onde a autoconfiança
foi descoberta, onde podem expressar e até descobrir suas identidades em relação à
moda, um lugar onde se pode sonhar com outros caminhos para seguir na vida. O
projeto traz para os alunos a ideia de que podem ―ser mais‖, aprendem a ter uma olhar
diferente sobre seus corpos e como isso pode refletir na maneira como se vestem e se
apresentam para o mundo. A moda como profissão e identidade foi apresentada para os
alunos através do projeto, algo que antes possivelmente só era visto na sua forma mais
direta pelo consumo, sem ter o entendimento do porquê se consumir determinada
vestimenta.
Primeiramente me deu o poder da Auto confiança,
força, Garra e a Esperança de pensar que sempre
existirá coisas boas a serem buscadas na vida.
(DOUGLAS, aluno do PIM)
Quando questionados sobre qual o significado de moda para eles, as respostas
seguem quase um mesmo padrão de resposta: a moda está ligada à maneira de se
comportar em relação a si mesmo e aos outros, uma forma de se apresentar ao mundo
como indivíduo e ao lugar onde está inserido.
59
Falar sobre o significado da moda é algo de extrema
importância e ao mesmo tempo um assunto grande,
moda é uma forma de viver, se comportar e até mesmo
um costume, pois é através desse pensamento
conseguimos transmitir o mesmo. (DOUGLAS, aluno
do PIM).
A identidade quando ligada à moda nesses casos apresenta um caráter cultural,
pois está ligada não somente ao indivíduo mas também ao social, tendo reflexo do local
onde essa moda é usada. Identidade é atitude e respeito por si e pelos outros.
Em sua maioria, acreditam que a maneira como se vestem hoje, e muito disso foi
visto e aprendido através do projeto, transmitem suas opiniões e posições, marcando,
sim, suas identidades.
Tudo que vestimos e usamos no dia a dia pode dizer
algo sobre nós, cabe a nós mostrar ou não os nossos
gostos individuais (YURI, aluno do PIM).
Em relação ao estilo, percebe-se pelos alunos que hoje não há um definido; as
peças são sempre variadas e as inspirações estão ligadas não só à mídia, mas, também,
ao lugar de origem. A rua é sempre um lugar para a moda.
A moda é liberdade, se sente livre quando se esta
desfilando, Identidade é atitude, e respeito por si e pelos
outros. Acredito que me vesti de acordo com a maneira
que penso, gosto do meu estilo e como ele é
reconhecido. (SILAS, aluno do PIM).
Para o consumo de moda, as redes sociais como Instagram acabam sendo a
maior fonte de inspiração e conhecimento, tanto sobre marcas como conteúdos sobre
60
moda. Um fato a ser percebido é que entre os alunos do PIM, diferentemente do que
veremos no próximo capitulo, a compra de peças de moda se dá mais em grandes lojas
de departamento, como, por exemplo, a RENNER e outras desse segmento, pois
acreditam que tendências da moda e uma variedade de estilos são encontrados nestas
lojas. Brechós também são muito procurados por trazerem peças únicas.
Por fim, embora o projeto apresente uma mudança para os alunos, há uma falta
de entrosamento, ou seja, uma ligação direta com a comunidade onde o projeto atua; é
constantemente relatado pelos organizadores que a capacitação de alunos se dá quase
que exclusivamente por meio de redes sociais e que muitos dos moradores de
Paraisópolis não sabem da existência do projeto.
Desde que começamos o nosso trabalho na
comunidade temos um certo estranhamento ou
até mesmo uma falta de comunicação entre a
comunidade. Mas durante esses 5 anos sempre
apresentamos em evento da comunidade para
exatamente fazer esta troca de informações e
sempre mostrar o que estamos realizando dentro
da comunidade. Desta forma sempre fazemos
nossos principais eventos na comunidade para
exatamente fazer estra aproximação da
população com a moda. (ALEX SANTOS-
fundador do PIM).
Os organizadores analisam que o projeto é uma referência em relação à moda da
periferia, algo que está situado em Paraisópolis, mas a sua ligação direta com a
comunidade só se dá de fato quando ocorrem os eventos como desfile que são ali
realizados. De forma geral, o projeto acaba por promover9 a comunidade mais para as
9 Durante pesquisa realizada sobre o projeto PIM foram encontradas várias matérias em grandes meios
de comunicação como Estadão, Portal G1 de notícias, UOL, Isto É e, também, participação em
programas de televisão como, Encontro com Fatima Bernardes, Conversa com o Bial, Programa Como
Será, entre outros.
61
mídias e para pessoas externas à favela, não tendo uma grande envolvimento e nem é
percebido ou mesmo valorizado por muitos dos moradores. O campo da moda como
algo profissionalizando ou até mesmo como fator social não desperta o interesse de
muitos desses moradores.
Figura 9. Foto divulgação das mídias onde o projeto foi notícia
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
3.2.2. UniPIM – moda e educação na periferia.
No ano de 2018, depois de ser convidado para participar de um evento chamado
Revirada Cultura, realizado pela ECA-USP, para a realização de um desfile, o PIM
chamou a atenção de professoras da Universidade, em que conversas com seu
coordenador Nil geraram o interesse de se levar a academia para dentro do projeto.
Nesse momento, acaba nascendo a chamada UniPIM, que é uma iniciativa que
pretende suprir a demanda de uma importante região da periferia de São Paulo por
62
cultura, informação e formação de qualidade nas áreas relacionadas ao universo
simbólico da moda.
Para tanto, o PIM pretende criar um espaço de formação, criação e discussão
permanentes dentro da comunidade de Paraisópolis. O objetivo é oferecer formação
gratuita e de qualidade e promover o pensamento e a cultura de moda, favorecendo o
enriquecimento cultural, o autoconhecimento e a inserção no mercado de trabalho.
Segundo Nil, coordenador do projeto, a ―capacitação profissional para o
segmento da moda e áreas relacionadas (beleza, fotografia, pesquisa de tendências,
design etc.) além de facilitar o acesso ao mercado de trabalho, proporciona
oportunidades de convívio social amplo e possibilita o desenvolvimento de habilidades
e competências úteis nos mais diversos contextos: a leitura de comportamento social e
valores culturais; o desenvolvimento de novas linguagens criativas e de modos de ser; o
aprofundamento do cuidado de si por meio do vestir-se e embelezar-se; uma maior
compreensão dos códigos socioculturais a partir da dimensão do ser visto‖.
No Brasil, áreas relacionadas à moda, por constituírem uma fatia de mercado
bastante movimentada e em expansão, demandam grande interesse por estudo e
pesquisa, mobilizando agentes econômicos, culturais e educacionais no sentido de
viabilizar a formação qualificada, a inovação e o empreendedorismo.
A UniPIM tem como objetivos:
• Criar um espaço de discussão e criação permanentes, por meio de cursos,
palestras, vivências, congressos, debates e outras ações que coordenem e divulguem
saberes e práticas relativos à moda em geral e à moda periférica em particular;
• Oferecer capacitação profissional gratuita e de excelência na área de moda para
jovens da periferia;
• Favorecer a continuidade aos estudos e o desenvolvimento de habilidades e
capacidades;
• Promover a inserção dos profissionais no mercado por meio de estágios e
parcerias;
63
• Promover eventos e intervenções nos quais os profissionais formados pela escola
possam, além de exercitar o que aprenderam, agregar a experiência em seus currículos e
portfólios, enriquecendo sua experiência profissional;
• Dar visibilidade à produção de moda e à beleza da periferia.
• Promover a inclusão social, a autoestima e o empoderamento da população
periférica e de grupos historicamente vítimas de preconceito.
Foram realizadas, no ano de 2018, ações educacionais como as oficinas Start em
parceria com a ECA-USP e a ABEPEM (Associação Brasileira de Estudos e Pesquisa
em Moda) que consistem em cursos e oficinas de imersão sobre temas como mídias
sociais, branding, fotografia, costura, dentre outros. Integrando a grade de atividades de
extensão da Escola de Comunicações e Artes, os cursos terão certificado da
Universidade de São Paulo (USP) e ocorrerão no último sábado de cada mês no CEU
Paraisópolis. As oficinas e cursos Start consistem em imersões com foco na reflexão e
aquisição de habilidades e competências, explorando modos possíveis de atuação. Os
professores trabalharão o contexto e os modos de inserção no mercado e universo da
moda. Com a duração de 08 horas, a metodologia dos cursos Start pode variar a
depender do tema a ser desenvolvido e da didática do professor, sempre privilegiando
metodologias ativas de aprendizagem, com o predomínio dos exercícios e práticas.
Todos os certificados entregues aos alunos nos cursos e oficinas terão
certificação disponibilizada pela ECA-USP.
No ano de 2018 foram realizadas as primeiras oficinas Starts que dispuseram dos
seguintes temas: ―Os sentidos da Marca na Contemporaneidade‖, ―Mídias Sociais e a
Moda‖ e ―Técnicas de Fotografia com Celular‖.
A UniPIM também centralizará as ações educacionais do ―Periferia Inventando
Moda‖, dando continuidade aos cursos de modelo, de maquiador e de fotógrafo. Os
alunos destes cursos participarão ativamente na produção dos eventos PIM em suas
edições semestrais.
Outra realização proposta pela UniPIM se dará pelo seguimento denominado
Pensando Moda, que consiste em um encontro mensal no CEU Paraisópolis com o
objetivo de difundir a cultura e o pensamento de moda, bem como promover a reflexão
64
sobre o mercado, visando sobretudo estimular a atitude empreendedora dos que estão
entrando neste segmento. As atividades consistirão em congressos, palestras, mesas
redondas e debates com convidados ligados ao mercado, ao pensamento e ao ensino de
moda. A primeira edição do Pensando Moda foi realizada em 17/03/2018 com o tema:
―Como criar marcas com propósito para construir negócios de sucesso‖, ministrada por
Jaime Troiano.
Além da coordenação dos seus fundadores Alex Santos e Nil Mariano, a UniPIM
contará com a coordenação educacional de professores acadêmicos da USP, PUC-SP,
Universidade Anhembi- Morumbi, Belas Artes, SENAC-SP, entre outros.
Atualmente, o projeto da UniPIM está passando por uma reformulação e se
encontra estacionado, junto aos professores da ECA-USP e aos coordenadores do PIM,
devido à falta de adesão dos alunos aos cursos e oficinas. Foi relatado que nos
eventos/cursos oferecidos estavam presentes, em sua grande maioria, alunos de
faculdades de moda, ou áreas afins, da USP, Santa Marcelina, PUC-SP, em vez do PIM
e seus parceiros.
Essa falta de comparecimento dos alunos aos cursos foi encarada pelos
coordenadores como uma falta de entendimento do projeto, pois não houve uma real
compreensão da necessidade de se aperfeiçoar em um campo acadêmico, onde para
muitos dos alunos não é um lugar/espaço de costume por eles frequentados.
O projeto se mantém, tentando quebrar essas barreiras, muitas vezes fixadas em
espaços periféricos, pretendendo dar uma nova abordagem para o ano de 2019 e seguir
com a proposta elaborada pela UniPIM.
De início, será feita uma reformulação da ideia que será mais voltada para os
estilistas que desfilam suas marcas no PIM, por serem um grupo de pessoas mais
familiarizadas com as temáticas teóricas sobre moda, podendo assim chamar a atenção
para a escola e fazer com que gere um interesse e procura por outros grupos, como os
alunos dos cursos técnicos e pessoas das comunidades periféricas de São Paulo.
65
Figura 10. Foto divulgação evento realizado pela UniPIm
Fonte: foto retirada da rede social Instagram do PIM @projetopim
3.3. A Moda de Rua e seu Consumo em Paraisópolis
Além do projeto PIM, foi realizado um trabalho de campo pelas ruas de
comércio na favela de Paraisópolis, visando conhecer o tipo de moda oferecido pelas
lojas e o do consumo por seus moradores. Por meio de entrevistas com lojistas e
consumidores foram percebidos importantes aspectos dos hábitos de consumo e estilos
que circulam pelo espaço em questão.
Entre as ruas de Paraisópolis, foi percebido que as lojas, em sua grande maioria,
se concentram em algumas ruas, onde são conhecidas pelos moradores como as ruas de
comércio.
Nesse espaço estão, além das lojas de roupas, outros pontos como farmácias,
padarias, supermercados, açougues e bancos, entre outros comércios de necessidades
básicas e variadas, incluindo uma filial das Casas Bahia localizada na rua Ernest Renan.
Entre as ruas Ernest Renan, Rua Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e rua Hebert
Spencer, foi encontrado o maior número de lojas de roupas; na sua grande maioria as
lojas seguem um determinado padrão visual e oferecem roupas para públicos variados.
São poucas as lojas de segmentos específicos como, por exemplo, roupas para festas
formais ou estilo de peças determinadas.
66
Entre as ruas mencionadas, as com maior destaque e maior concentração de
comercio são as Ruas Melchior Giola e Hebert Spencer, exceto a Rua Ernest Renan; as
demais citadas têm ligação com a Avenida Hebe Camargo, um dos pontos principais de
entrada para a favela de Paraisópolis.
Pode se observar que o que define o consumo e o consumidor não é mais a
classe social e sim o estilo de vida. As ruas do comércio mantêm um fluxo constante,
sendo quase uma extensão do centro, (nota-se uma semelhança muito grande com ruas
famosas de comércio popular como Brás e Bom Retiro), nos finais de semana.
Figura 11 - mapa localizando o quadrante dentro da favela de Paraisópolis onde o
maior percentual de lojas de roupas está concentrada, incluindo as ruas Ernest
Renan, Rua Melchior Giola, rua Rodolf Lotze e Hebert Spencer.
Fonte: Mapa retirado do Google Maps e sinalizado pela autora
Para que pudesse haver um maior entendimento dos hábitos de consumos de
Paraisópolis, foram feitas entrevistas com lojistas e moradores. Foi selecionada uma
67
pequena amostra de lojas de roupas e moradores que estavam pelas ruas de comércio no
horário da pesquisa de campo.
A pesquisa foi feita pelas ruas de Paraisópolis, em uma sexta-feira, anterior ao
domingo de Dia das Mães, durante todo o horário comercial.
Foi percebido em relação à origem das roupas que são vendidas, na sua grande
maioria, aquelas trazidas de lojas de atacados do bairro do Brás e Bom Retiro, da cidade
de São Paulo e uma pequena parcela das lojas encomenda suas mercadorias de
fornecedores particulares oriundos de sites de internet.
Sobre as referências que são buscadas para atrair os clientes um fato a ser notado
é que os programas de TV, como novelas, já não fazem mais parte do ideal de estilo
para as lojas da periferia. Em sua maioria, as lojas buscam por influenciadores digitais,
por meio de contas na rede social Instagram, tanto de famosos como os próprios
influenciadores da comunidade; todos relataram que baseiam quase todas as suas
compras de peças pelo que é visto e seguido nessa rede social. Segundo os lojistas os
próprios clientes pedem por peças que são vistas no Instagram, levando essas
referências na loja.
Agora é tudo Instragem né, a gente fica de olho
lá e traz para a loja. (Sonia, lojista).
Mas também é percebido que as lojas refletem um estilo próprio de vestir de
seus moradores, onde, na sua maioria, seguem os mesmos estilos e modelos de peças
que são vendidas.
No caso de roupas femininas, as lojas oferecem em sua maioria entre tops, saias,
calças e shorts, sempre curtos e justos. No caso masculino camisetas são sempre
imitações de marcas de grife como Lacoste, Adidas e Calvin Klein.
Essa questão da réplica ou imitação de marcas de luxo também está muito
presente quando se fala em acessórios como bolsas, relógios, bonés e as marcas mais
copiadas são Chanel, Gucci e Louis Vuitton.
68
Por aqui quanto mais justo e curto melhor, bem estilo
―piriquete10
‖ mesmo é só o que você vai encontrar, é o
que usam nos bailes‖. (Thiago, lojista)
Figuras 12. Fachada de uma loja de moda na Favela de Paraisópolis
Fonte: Foto da autora
Para os lojistas não há muita diferença na procura entre roupas para se ―usar no
dia a dia11
‖ e roupas com intuito de ―usar para sair12
‖, mas, se tivessem que apontar um
10
Piriguetes é um termo usado para se referir às mulheres independentes e liberais, que procuram ter
várias relações sexuais sem estabelecer um critério muito assertivo para as suas escolhas.
Frequentemente, esta palavra é usada com sentido depreciativo, para qualificar uma mulher fútil, que só
pensa em diversão e prazer. As piriguetes são estereotipadas pela sua forma de vestir. As chamadas
―roupas de piriguete‖ costumam ser bastante apelativas sexualmente, com muitas partes do corpo que não
são cobertas. (Fonte: https://www.significados.com.br/piriguete/)
11 O termo usado em questão se refere à maneira como as classes populares definem e separam suas
roupas em determinada categoria, sendo essa usada para peças mais básicas e muitas vezes tendo um
valor de compra menor.
69
destino, afirmam que a procura por roupas para balada são um pouco maior,
principalmente entre as mulheres.
Também foi observado um segmento de lojas mesmo que em uma porção
menor, voltado para um público evangélico, onde as roupas e estilos diferem das
demais, tendo roupas mais ―comportadas‖. Foi apontado pelos lojistas que a procura por
essas lojas se dá geralmente por pessoas mais velhas.
Outro ponto importante a ser notado é o fato de que há uma minoria de lojas
com um segmento especializado ou lojas que vendam apenas roupas para uma certa
idade ou público como masculino e feminino; em sua grande maioria o público e as
roupas encontradas são diversificadas. Entre as lojas segmentadas as que vendem
apenas roupas femininas estão em maior número. Há também uma boa parcela de lojas
que vende roupas a preço único.
Com relação à faixa etária dos clientes, é percebida uma compra maior pelo
público mais jovem, que estaria na faixa dos 18 aos 35 anos, conforme informado pelos
lojistas. O público mais velho está mais concentrado nas lojas de preços únicos ou em
lojas segmentadas.
Um aspecto a ser apontado é o fato de que em todas as entrevistas se obteve
exatamente a mesma resposta para as questões em relação aos clientes que compram nas
lojas como sendo todos da própria favela de Paraisópolis e que raramente vêm pessoas
de fora para comprar com eles. E também o fato de que a maior forma de pagamento
feita pelos clientes é à vista, no dinheiro ou cartão de débito, e que poucas das compras
são parceladas.
12
O termo usado em questão se refere à maneira como as classes populares definem e separam suas
roupas em determinada categoria, sendo esse usado quando se refere às roupas compradas e separadas
para uma determinada ocasião, como festas, eventos, compromissos religiosos. Normalmente essas peças
são escolhidas com mais cuidado e investida uma soma maior de dinheiro.
70
Figuras 13. Banners colocados em frente às lojas como meio de propaganda.
Fonte: Foto da autora
Em relação às falas dos moradores, foram percebidas, através das entrevistas,
alguns pontos que expressam os hábitos de consumo em Paraisópolis.
Ressalta-se o fato da maioria dos moradores não se identificarem com a noção
de identidade gerada pela moda, sendo esse um conceito que não é percebido
conscientemente no seu dia a dia.
Não penso nisso não, eu compro o que vejo na loja
e gosto. (Lurdes, moradora).
Para os moradores que veem a moda apenas como objeto de consumo, a questão
de identidade é identificada como estilo, uma maneira especifica de se vestir usando
peças que acreditam que lhes caem bem e acham bonitas e confortáveis.
Quando perguntados onde se inspiram, também seguem tendências do
Instagram; na sua minoria buscam por peças que veem nas novelas. Com isso acabam
usando as peças que são vendidas pelas lojas e não buscam por algo especifico.
71
Agora a gente compra tudo que vê pelo celular, o povo aqui
posta13
bastante, ai quando acho legal eu procura nas lojas aqui
mesmo, as vezes já marcam a loja que é ai fica até mais fácil.
(Denize, moradora).
No dia a dia a regra é ser básico: calça jeans, shorts e blusas básicas para as
mulheres e camiseta e bermuda para os homens e isso se dá na mesma forma tanto para
crianças quanto para pessoas mais velhas. As variações dessas peças têm a ver com
relação ao estilo escolhido, como peças mais largas ou mais juntas, cores neutras ou
estampas e brilhos.
As compras por necessidade foram relatadas pela maioria dos moradores em
peças mais básicas e para trabalho e para o ―dia a dia‖, sendo geralmente peças mais
baratas, quando se busca por algo mais ―bonito e na moda‖; como muitos relataram, são
sempre roupas para ―sair‖ e sempre estão dispostos a gastar um pouco mais, segundo as
entrevistas.
Foi percebido também que homens e mulheres estão tendo praticamente a
mesma preocupação com o que vestem e pelo qual estilo são conhecidos, mas
ressaltando que essa preocupação se dá na sua maioria entre os jovens em uma faixa
etária dos 17 aos 35 anos.
Eu gosto de andar na moda, sempre compro uns pano14
novo quando posso, ai compro mais pra ir pros bailes
mesmo, as meninas gosta. (Jeferson, morador).
Entre os entrevistados que estão nessa faixa etária são também os que mais
procuram peças fora da favela, recorrendo assim às grandes lojas de departamento. As
mais citadas foram C&A e Renner. Mas ressaltam que recorrem a essas lojas quando
buscam objetos específicos que não são tão facilmente encontradas nas lojas da favela.
Contudo, esse fato acaba sendo algo mais esporádico, pois, na sua maioria, os
moradores entrevistados acabam se identificando com o estilo apresentado pelas lojas
13
Referência usada quando é feita uma publicação de fotos, textos, vídeos, em redes sociais.
14 Gíria usada para se referir à roupas.
72
locais e também afirmam que os preços pregadas pelas lojas locais acabam sendo mais
baixo e por isso atraindo. Assim, a população.
Todos os entrevistados residem em Paraisópolis, mas a sua maioria têm seus
trabalhos fora da favela, sendo o bairro do Morumbi e região central de São Paulo com
o maior número de moradores empregados. Para os moradores que não trabalham fora
da favela, estão empregados no próprio comércio oferecido no local. Contudo, pode se
perceber que o consumo de moda oferecido em Paraisópolis acaba por suprir as
necessidades básicas e determinam, por fim, um estilo seguido pelos seus moradores.
73
Considerações Finais
O papel social que a moda exerce junto ao indivíduo acaba por moldar sua
construção social da identidade através do vestuário.
A moda sofreu mudanças significativas com o passar dos anos, antes voltada
para as ―classes‖ onde só se pensava em um moda vinda de cima para baixo, em que a
imitação era o seu lugar comum e assim sua melhor maneira de poder subir em uma
escala econômica pela maneira como se vestia.
Hoje a moda se vê voltada para o consumidor, o status conferido pela classe
social tem a sua importância, mas já não é mais o fator dominante. As questões
relacionadas a estilo de vida, gênero e espaço são mais importantes para o indivíduo,
pois apresentam ao mundo sua escolha, reveladas na aparência das roupas escolhidas.
A globalização e a cultura popular mudaram a maneira com que o indivíduo se
relaciona com a moda. A construção da identidade do indivíduo se tornou ponto chave
em relação às suas escolhas sobre o que vestir.
Seus conceitos foram mudando e se adaptando com o passar do tempo e estão
cada vez mais fluidos, cada vez mais pessoais e singulares: mesmo quando seguem
padrões só se fazem em relação ao espaço e contexto social em que a moda está
localizada.
A moda segue a identidade do seu usuário, identidade essa que não é mais
estabelecida ou determinada apenas por classe, poder econômico ou localização do
indivíduo.
A identidade hoje está mais ligada ao que o ser social consome, não somente em
questões de bens materiais, mas também no conhecimento adquirido através do meio e
de seus próprios interesses.
Se consideramos que estamos na era da hipermodernidade, a nossa identidade
está diretamente ligada ao ―que podemos ser hoje‖, e vai se moldando e se
transformando a cada novo ―click‖. Não estando mais determinada por nascimento, a
identidade do indivíduo na hipermodernidade está cada vez mais democrática e ligada à
aparência do ser. É vista como algo libertário, onde cada um escolhe o que é melhor
para si, onde as poucas imposições estabelecidas podem se dar apenas pelo espaço
74
social ocupado ou frequentado. Como pode ser observado quando se tem a favela de
Paraisópolis como meio de análise.
A moda estabelecida nesse espaço se dá de maneira distinta, quando se fala em
um projeto de moda que acontece lá dentro e quando se percebe realmente a moda que é
consumida. A moda separa quem vive ou estuda sobre ela e quem apenas a consome.
O PIM é percebido como um meio de formação de identidade, tendo como base
um desejo de empoderamento pessoal em relação aos seus alunos.
Mesmo que tenha um caráter profissionalizante, acaba por possibilitar mais uma
postura em relação a mudanças de comportamento e aceitação de quem se é e como a
moda pode lhe servir e ser bem empregada para a sua valorização pessoal e crescimento
da autoestima.
O PIM acaba por apresentar o caráter social e identitário da moda aos seus
alunos; o consumo acaba por ficar em segundo plano, assim como o viver da moda
acaba sendo um sonho que é constantemente buscado. O projeto se dá como um difusor
de conhecimento sobre moda.
Apresenta a seus alunos outras possibilidades de carreira, mesmo que muitas
vezes são sejam efetivadas de fato, usando a moda como algo abstrato e ampliando o
horizonte profissional e mostrando o poder que a moda pode exercer sobre como você
se apresente ao mundo.
O projeto vai mais no sentido de uma experiência fashion, e como algo até de
terapêutico em relação de como a moda pode cuidar de si e criar suas próprias
identidades. Tendo-se um efeito como a moda pode-se através do olhar do outro
melhorar o olhar que você tem de si.
Mas mesmo ligado à favela e às identidades singulares que lá não, o projeto em
si não tem ligação com a comunidade, podendo-se se observar que há uma falta de
interesse por grande parte dos moradores e também agentes que geram rentabilidade
para projetos sociais em ter uma ligação efetiva com o PIM, afinal como são citados por
seus organizadores não é todo mundo na favela gosta de moda, ele serve apenas como
uma referência em moda, mas não somente como algo de moda que é totalmente ligada
a comunidade.
75
Já quando se pensa em moda em relação aos moradores e seu consumo, é visto
algo bastante singular e indentitário do espaço onde estão na periferia.
Pode-se observar que as lojas de roupas seguem um mesmo padrão em relação
as peças oferecidas, segue-se um estilo próprio que são usados por seus moradores,
mesmo quando são oferecidas peças para públicos diferentes, como mais jovem ou mais
velhos as peças para esses dois públicos se dão de maneira similar.
Algo importante que foi apontado pela pesquisa se relaciona com as buscas por
referências, onde pode se notar que hoje em dia se dão quase que exclusivamente
através de redes sociais como o Instagram, apontando, assim, essa ligação com o tempo
vivido pela hipermodernidade.
Seus moradores não têm uma ligação com a moda quando pensada como um
fator social, a moda é vista pela ótica do consumo e do bem estar e mesmo sem ter essa
consciência é possível enxergar que moda apresenta uma identidade a seus moradores,
que estão ligados ao espaço em que a moda ocupa dentro da favela e à maneira como
seus moradores vivem.
Não há mais necessidade de se seguir o estilo integralmente apresentado pelas
classes mais altas, mas se tem nas cópias de marcas de luxo a criação de um estilo
próprio e singular; utilizando-se dessas se cria uma noção de status mas sem deixar de
lado a identidade gerada pela moda e pelo espaço de vida que está ocupado.
Contudo podemos dizer que a periferia carrega consigo uma identidade própria,
seus moradores, mesmo que se frequente outros espaços que não seja o de sua origem,
esse moradores se mantém fieis a sua origem e consomem o que acreditam ser destinado
para si.
A moda na periferia cria, assim, seus próprios significados e estabelece intensa
relação com o que é percebido como cultura que está estabelecida nesse espaço.
Colabora para a identificação de comunidades sociais como no caso da favela de
Paraisópolis e também acaba por favorecer o consumo e valorização desses espaços em
relação aos seu moradores.
76
A moda nos mostra que se estabelece em ―vários mundos‖, gerando assim seus
próprios símbolos e sentidos, criando e estabelecendo identidades, de uma maneira que
não para de se expandir. Em cada canto ocupado por ela, veremos uma maneira
diferente para seus usos e conceito.
77
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82
ANEXOS I: Roteiro de entrevista com lojistas da Favela
Nome da loja
Endereço
Nome do responsável
Quanto tempo trabalha/dono da loja?
De onde vêm as roupas?
Quais as referências que mais saem?
Considera que suas roupas tem uma identidade própria da favela?
Quais as diferenças que você percebe quando vende roupa para sair e roupa para o dia a
dia?
Seus clientes são do entorno ou de toda a comunidade?
Há pessoas de fora de Paraisópolis que compram com você?
Sua maior forma de pagamento?
Clientes são mais novos ou mais velhos? (Público alvo)
83
ANEXO II: Roteiro de entrevista com moradores da Favela
Nome e idade
Profissão e lugar onde trabalha
Endereço
Como você identifica a sua identidade em relação a moda? qual seria o seu estilo?
Onde você se inspira?
O que mais usa?
Quais as maiores mudanças que você percebe entre suas roupas do dia a dia com o que
você usa pra sair? Exemplos.
Compra suas roupas nas lojas de Paraisópolis?
Costuma comprar roupas em outros lugares além das lojas de Paraisópolis? Se sim, qual
o motivo dessa compra?
84
ANEXO III: Roteiro de entrevistas com modelos do Projeto PIM
Nome completo
Idade
Endereço
Faz parte do projeto PIM? há quanto tempo?
Além do PIM, tem outro tipo de trabalho? Se sim, onde? (Além da função, nome e
endereço da empresa)
O que o PIM significa para você?
O que de efetivo mudou na sua vida após o PIM?
O que aprendeu com o PIM?
O que significa moda para você?
Qual a sua ideia quando se fala em identidade na moda?
Você acredita que suas roupas e sua maneira de vestir carregam a sua identidade através
da moda?
Como define seu estilo? Acredita que tenha um definido?
Onde se inspira?
O que mais usa?
Onde você consome conhecimento sobre moda? Onde busca por referências?
Onde consome moda fisicamente? Onde compra? (Lojas do bairro, lojas de
Departamento, centro, shopping, brechós), ou você mesmo produz?
85
ANEXO IV: Roteiro de entrevista com fundadores do Projeto PIM
As entrevistas foram feitas com os dois fundadores do projeto, sendo que algumas
perguntas foram direcionadas apenas a um deles, por sua formação e atuação dentro do
projeto. O roteiro abaixo é um compilado dessas entrevistas; elas foram feitas de
maneira informal, em situação de conversa, obtendo-se, assim, muitas vezes, respostas
que não estavam originalmente em questões pré-formuladas.
Como se deu o início do projeto PIM?
Como você enxerga o PIM hoje? Quais avanços você consegue apontar?
Quais as metas ou desejos a serem seguidos?
Quais foram as maiores barreiras enfrentadas?
Como se deu a experiência e como foi a parceria entre o PIM e a Skol?
Você acredita que uma identidade da periferia voltada para moda realmente é mostrada
e percebida com esse tipo de evento como no caso da roda do corre?
Como se deu a entrado dos modelos do PIM na Casa de Criadores e também no SPFW?
Como foi o processo para iniciar a UniPIM? Dificuldades e avanços.
Qual o tipo de trabalho que o PIM acredita que desenvolve com seus alunos?
Quais as barreiras e avanços enfrentados para marcar essa identidade quando se ocupa
outros espaços como a casa de criados?
Qual o tipo de moda que você percebe que o PIM carrega? Diria que é algo que abrange
corpos, estilos, gostos. Como você vê isso no papel de idealizador, fundador e estando à
frente do PIM?
Você acredita que a periferia tem uma identidade própria em relação a moda? o PIM
reflete isso?
Como você vê o posicionamento do PIM dentro de Paraisópolis? é percebido?
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Qual a ligação do projeto com os moradores da favela de Paraisópolis? acredita que há
essa ligação?
Quais as barreiras burocráticas que o PIM enfrenta para se estabelecer como projeto
social?
Qual o tipo de assistência que se dá aos alunos?
Em relação aos alunos, quais os aprendizados e mudanças de comportamento são
percebidas por você?
Em relação a você, como estilista, qual a identidade de moda que você carrega?
Você, como criador e também usuário da moda, acredita que o indivíduo hoje cria sua
própria identidade e gostos, observando e assimilando o que está à sua volta, ou ainda
sofrem muita influência da mídia/redes sociais e de grandes marcas?
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ANEXO V: Fotos da favela de Paraisópolis.
Fiação elétrica Paraisópolis - Foto da autora
Foto ruas e becos Paraisópolis - Foto da autora
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Estilo predominante de tipo de moradia em Paraisópolis -
Foto da autora
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ANEXO VI: Fotos do Projeto PIM
Alunos do PIM - foto da rede social Instagram do PIM @projetopim
Modelo do PIM desfilando para a marca Ponto Firme no SPFW - foto da rede
social instagram do PIM @projetopim
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ANEXO VII: Fotos das lojas da favela de Paraisópolis
Loja 1 – foto da autora
Loja 2- foto da autora
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Loja 3 – foto da autora
Loja 4 – foto da autora
Loja 5 – foto da autora
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Loja 6 – foto da autora
Loja 7- foto da autora