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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................ 4 2. CONCEITOS DE MODALIZAÇÃO AO LONGO DO TEMPO............5 3. TIPOS DE MODALIZAÇÃO..................................6 3.1 ADVÉRBIOS MODALIZADORES........................................7 3.2 QUESTÕES SEMÂNTICAS........................................... 8 4. TENDÊNCIAS ATUAIS.....................................8 4.1 CLASSIFICAÇÃO DE KOCH.........................................8 4.2 MODALIZAÇÃO EM DISCURSO SEGUNDO.................................9 4.3 MODALIZAÇÃO IMPLÍCITA..........................................9 4.4 PERSPECTIVA SEMÂNTICO-DISCURSIVA.................................9 5. ANÁLISE DE TEXTOS.....................................9 5.1 TEXTO 1....................................................10 5.2 TEXTO 2....................................................11 5.3 TEXTO 3....................................................11 5.4 TEXTO 4....................................................12 6. CONCLUSÃO.............................................14 REFERÊNCIAS..............................................15

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................4

2. CONCEITOS DE MODALIZAÇÃO AO LONGO DO TEMPO......................5

3. TIPOS DE MODALIZAÇÃO.........................................................................6

3.1 ADVÉRBIOS MODALIZADORES.......................................................................................7

3.2 QUESTÕES SEMÂNTICAS..............................................................................................8

4. TENDÊNCIAS ATUAIS................................................................................8

4.1 CLASSIFICAÇÃO DE KOCH............................................................................................8

4.2 MODALIZAÇÃO EM DISCURSO SEGUNDO........................................................................9

4.3 MODALIZAÇÃO IMPLÍCITA.............................................................................................9

4.4 PERSPECTIVA SEMÂNTICO-DISCURSIVA.........................................................................9

5. ANÁLISE DE TEXTOS................................................................................9

5.1 TEXTO 1....................................................................................................................10

5.2 TEXTO 2....................................................................................................................11

5.3 TEXTO 3....................................................................................................................11

5.4 TEXTO 4....................................................................................................................12

6. CONCLUSÃO...............................................................................................14

REFERÊNCIAS.................................................................................................15

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1. INTRODUÇÃO

O estudo da modalização, ou pelo menos de suas noções, existe desde a Grécia Antiga e se modificou, ganhando maior ou menor ênfase, de acordo com as tendências linguísticas de cada época.

O presente trabalho mostra, para fins comparativos, os diferentes conceitos de modalização até a atualidade, momento no qual é considerada um fenômeno não apenas linguístico, mas enunciativo.

Partindo de uma perspectiva enunciativa, faremos uma análise de textos nos quais apontaremos usos da modalização de acordo com o contexto em questão.

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2. CONCEITOS DE MODALIZAÇÃO AO LONGO DO TEMPO

A modalização se caracteriza como um importante recurso linguístico, dado o fato de que é por meio dela se pode perceber várias nuances relevantes para a compreensão e percepção do conteúdo que está sendo enunciado. Contudo, os conceitos e teorias sobre esse assunto mudaram ao longo do tempo.

Dependendo do uso de determinados verbos e advérbios, a modalização vai trazer diferentes ideias para o interlocutor, influenciando, assim, o sentido que ele vai captar do que está sendo dito.

Segundo Ilari (2010),

A linguagem corrente coloca à disposição do falante uma série de recursos destinados a precisar os limites dentro dos quais se compromete com uma determinada afirmação. O uso desses recursos representa sempre uma intervenção do falante a propósito do conteúdo de sua mensagem. Os linguistas reúnem às vezes esses recursos de intervenção sob a denominação genérica de modus, e falam de 'modalizações de uma afirmação.

Em se tratando de verbo, ao se estudar a relação entre sujeito e predicado, pode-se perceber que é muito comum a definição de que é verbo une o sujeito ao predicado. Porém, tal definição é contestada quando, por exemplo, se toma verbos impessoais.

Desde a Grécia Antiga, muitos estudos foram feitos sobre a modalização. Os estudiosos gregos já tentavam versar sobre a relação entre o conteúdo e a sua forma, mais precisamente, o verbo e a sua significação.

Os gregos analisavam o enunciado segregando o conteúdo proposicional e modalidade. Aristóteles em sua obra “Refutações Sofísticas” dizia que existia diversidade na interpretação quando se usavam verbos modais. Para ilustrar o seu conceito, ele toma o verbo “poder” (dýnamai) como exemplo. Esse verbo pode ser considerado como predicado para uma proposição (composição – sýnthesis) ou então se relacionar a apenas uma certa parte da proposição (divisão – diaíresis).

A autora Maria Neves apud Rodrigues (2008) elucida uma das construções analisada por Aristóteles:

Em “Uma pessoa sentada pode andar”, se interpretada pela composição, significa “é possível que uma pessoa esteja sentada e andando ao mesmo tempo”. Se interpretada pela divisão, essa sequência significa “uma pessoa sentada tem a possibilidade (= capacidade) de andar

Tais conceitos de Aristóteles foram fundamentais para o aprimoramento e estudo da modalização, pois dariam origem mais tarde ao que conhecemos como modalidade de raiz e modalidade epistêmica.

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Posteriormente, Santo Agostinho retoma os estudos da modalização por meio da dicotomia “de re vs. De dicto”. Podemos conceituar de dicto como a modalidade se relacionando à proposição por completo, ou seja, a relação entre modus e dictum (senso composito), ao passo que de re pode se definir como a modalidade se relacionando a apenas um dos constituintes da oração subordinada (senso diuiso), isto é, a relação entre modus e res. Ambos conceitos foram estudados a partir dos sentidos que Aristóteles atribuiu à dicotomia divisão e composição.

Os lógicos tiveram também grande importância na elaboração do conceito de modalidade em seu tempo. No século XVII, Arnauld e Lancelot escrevem Logique ou art de penser, texto que confere uma primorosa sistematização da lógica clássica. Posteriormente, esses autores escreveram a Grammaire de Port-Royal, na qual eles afirmam que a lógica e a gramática, sob perspectivas diversas, dão conta da atividade de pensar. Segundo Ilari, “Port-Royal reconhece que as orações da linguagem corrente são muito diferentes entre si”.

Mais recentemente, os autores Castilho e Castilho (1996) fazem a distinção entre o que eles denominam de modalidade e modalização. Segundo eles, a Gramática Tradicional aborda o assunto como dois grandes componentes na sentença. O componente proposicional se constitui de Sujeito e Predicado, este último também chamado de dictum; e o componente modal seria a qualificação do conteúdo do Predicado de acordo com o julgamento do falante, isto é, modus.

Os autores afirmam que o julgamento do falante perante o conteúdo se divide entre modalidade e modalização. Na modalização, o falante expressa seu relacionamento com o conteúdo proposicional avaliando o seu teor de verdade, ou expressando seu julgamento sobre a forma escolhida para a verbalização do conteúdo, ou seja, por meio dela, por exemplo, o falante vai demonstrar se está se eximindo da responsabilidade de tomar como verdadeiro o conteúdo do seu enunciado que está sendo proferido, ou valer-se dele tomando-o como verdadeiro e aceitando as responsabilidades que ele lhe acarretará. Já a modalidade é a forma que o enunciador vai emitir o seu enunciado. Essas formas podem ser classificadas como forma assertiva, que compreende a negação e a afirmação, a forma interrogativa, que se classifica em polar ou não-polar, e a forma jussiva, que pode ser imperativa ou afirmativa.

Também é importante mencionar a definição que a autora Maria Neves confere à atual oposição entre modalidade, classificando-a em duas: a epistêmica e a de raiz.

A epistêmica ou impessoal seria a relação entre a modalidade e o sujeito, ao passo que a de raiz ou pessoal seria a relação entre um sujeito modal e um verbo pessoal.

3. TIPOS DE MODALIZAÇÃO

A famosa classificação de Ataliba e Célia de Castilho (1996), situada em uma gramática referencial, pretende ser descritiva e apresenta os diversos tipos de modalização dentro do estudo dos advérbios. Porém, mostram que a

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modalização também ocorre através de prosódia, modos verbais, verbos auxiliares, adjetivos e sintagmas preposicionados em função adverbial.

3.1 Advérbios modalizadores

Castilho e Castilho retomam Ilari ao classificarem advérbios em dois eixos básicos: o semântico e o sintático. Dentro do eixo semântico existem os advérbios predicativos e os não-predicativos. Os predicativos podem ser qualitativos, intensificadores, modalizadores e aspectualizadores.

A classificação dos advérbios modalizadores de acordo com Ilari compreende três subclasses e são eles: os quase-modais (que seriam superados pelo estudo de Castilho e Castilho e se tornariam os asseverativos) como realmente, logicamente; os hedges (que seriam, segundo Castilho e Castilho, os delimitadores) como basicamente, uma espécie de; e os de atitude proposicional (que foram substituídos pelos afetivos), como felizmente, lamentavelmente.

Castilho e Castilho utilizam alguns conceitos de Ilari, porém baseados no corpus do projeto de gramática do português falado eles fazem alterações consideráveis que superam e atualizam conceitos de Ilari.

Sua classificação passa a ser uma subdivisão dos advérbios modalizadores em três tipos: os modalizadores epistêmicos, os modalizadores deônticos e os modalizadores afetivos.

A modalização epistêmica expressa avaliação sobre o valor de verdade e condições de verdade do conteúdo a ser referido. Essa modalização é dividida em três classes: a dos asseverativos, dos quase-asseverativos e dos delimitadores. Os asseverativos apresentam certeza em seu conteúdo, seja afirmação ou negação. Não existe dúvida do falante em sua proposição. Constitui uma necessidade epistêmica e mostra alta adesão do falante sobre o conteúdo. Exemplos: realmente, evidentemente, certamente, absolutamente, sem dúvida, etc.

Diferente dos asseverativos, nos quase-asseverativos o falante está próximo da verdade, porém ela não é absoluta. É uma hipótese que necessita de confirmação do interlocutor. É um caso de possibilidade epistêmica e o falante tem baixa adesão em relação à proposição. Exemplos: talvez, provavelmente, possivelmente, etc.

Nos delimitadores, chamados de hedges (traduzido significa cerca, limitação) por Ilari, o conteúdo está restrito a certos limites que o falante utiliza e os lança ao interlocutor. Exemplos: quase, uma espécie de, praticamente,etc.

A modalização deôntica indica que o falante transmite uma proposição considerada obrigatória ou necessária de acontecer. Exemplos: obrigatoriamente, necessariamente ,etc.

A modalização afetiva verbaliza reações emotivas do falante em função da proposição apresentada. Seu principal predicador é a expressão “eu sinto”. São divididos em subjetivos e intersubjetivos. Os subjetivos expressam predicação dupla, a do falante em relação ao conteúdo e a do próprio conteúdo. Já os intersubjetivos expressam predicação simples, apenas o falante se assume diante do seu interlocutor.

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3.2 Questões semânticas

Outro ponto interessante que Castilho e Castilho relatam é a dificuldade de esclarecer a significação que os advérbios representam no enunciado. Eles lançam perguntas sobre esse problema. Uma delas é: como as línguas naturais administram a significação? Para tentar responder a essa pergunta eles retomam a teoria de Dascal conhecida como a “teoria da cebola”. Esse nome é dado por ela ser construída por camadas, que são a proposicional, que mostra o “falar de” e o “falar que”; a modal, que é a parte onde o falante se posiciona e expõe o que diz respeito de seu conteúdo; e a pragmática. Essa terceira camada vai alem das formas lexicais e gramaticais, pois abrange também a correlação entre falante e interlocutor e ambos estão em diálogo diante das proposições.

Outra pergunta que Castilho e Castilho fazem é: qual a atuação dos advérbios na criação dos sentidos? Para essa pergunta, eles consideram que os advérbios podem assumir três tipos diferentes de valores. O valor prototípico é quando o advérbio tem apenas um escopo. No valor paragógico ou agregado o advérbio tem dois escopos, atuando em parte e em toda a proposição. Já no valor complexo, o mesmo advérbio pode produzir diferentes efeitos dependendo de uma combinação verbo-adverbial.

4. TENDÊNCIAS ATUAIS

Em sua classificação, Castilho e Castilho falam do interlocutor e de um nível pragmático, mas não se aprofundam nesse aspecto. Já em estudos baseados nas tendências linguísticas mais atuais, a modalização é abordada com ênfase na enunciação, considerando também a interação e o interlocutor como parte da ação. O contexto passa a ser fundamental na distinção entre os diversos tipos de modalizadores.

A definição de Coracini apud Rodrigues (2002), ilustra bem essa visão:A modalidade é a expressão da subjetividade de um

enunciador que assume com maior ou menor força o que enuncia, ora comprometendo-se, ora afastando-se, seguindo normas determinadas pela comunidade em que se insere.

4.1 Classificação de Koch

Para Koch apud Ribeiro (2003):Ao produzir um discurso, o locutor manifesta suas

intenções e sua atitude perante os enunciados que produz através de sucessivos atos ilocucionários de modalização, que se atualizam por meio dos diversos modos de lexicalização que a língua oferece.

Situada nessas tendências atuais, Koch (1999) propôs uma nova classificação para os modalizadores. Para isso, utliza o hexágono de Blanché (figura abaixo), situando as modalizações epistêmicas no eixo da crença, as deônticas no eixo da conduta e inclui julgamentos de valor (valores morais, técnicos e afetivos), atos de vontade e quantificadores.

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4.2 Modalização em discurso segundo

Para Maingueneau (2008), a modalização em discurso segundo é uma estratégia usada pelo enunciador para não se responsabilizar por seu enunciado. Exs.:

De acordo com Einstein, o tempo é uma ilusão.Segundo fontes seguras, as taxas de emissão de carbono serão

absurdas daqui a 10 anos.

4.3 Modalização implícita

Koch (1999) fala de uma ocultação da modalidade epistêmica e Rodrigues (2002) expressa a existência de uma modalização explícita e uma implícita. Esta última seria uma ocultação dos elementos modalizadores pelo enunciador para seu discurso parecer neutro, mas que sempre deixa traços. É comum no discurso científico e no didático.

4.4 Perspectiva semântico-discursiva

Partindo de uma visão sócio-interacionista, e usando as definições de Coracini e Koch, Ribeiro (2003) considera a modalização uma forma de argumentação, mais persuasiva que a informação, que seria mais objetiva. Para tanto, utiliza o modelo de Toulmin, para quem o argumento é formado por: dados, conclusão, justificativa, apoio, qualificador modal (grau de certeza do argumentador em relação à sua conclusão) e refutação. Para a autora, o tipo de modalidade escolhido pelo enunciador marcará a distância deste em relação a seu enunciado e o consequente grau de tensão estabelecido entre os interlocutores. Além dos itens linguísticos, ela considera os fatores extralinguísticos, ou seja, destaca a importância do contexto de uso e das diversas enunciações relacionadas a uma determinada enunciação. Pretendemos, na nossa análise de textos, assumir uma postura semelhante a desta autora.

5. ANÁLISE DE TEXTOS

Em nossa análise, nos basearemos na classificação de Koch, mas sem nos limitarmos a ela, pois além da análise linguística, levaremos em consideração a enunciação em questão e o seu contexto, nos aproximando da abordagem de Ribeiro. Para isto, selecionaremos alguns modalizadores para mostrar sua função no discurso. Iremos identificar, quando presente, a modalização em discurso segundo abordada por Maingueneau.

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5.1 Texto 1

É preciso saber viver

Quem espera que a vidaSeja feita de ilusãoPode1 até ficar malucoOu morrer na solidãoÉ preciso2 ter cuidadoPra mais tarde não sofrerÉ preciso3 saber viver

Toda pedra do caminhoVocê pode4 retirarNuma flor que tem espinhosVocê pode5 se arranharSe o bem e o mal existemVocê pode6 escolher É preciso saber viver

É preciso saber viverÉ preciso saber viverÉ preciso saber viverSaber viver

O gênero textual em questão é uma música, da autoria de Roberto e Erasmo Carlos, com a finalidade de servir como um conselho amigável aos ouvintes. Para tanto, os modalizadores grifados servem para expressar o alto grau de adesão do narrador em relação ao próprio discurso como veremos a seguir:

5.1.1) Modalizador epistêmico plausível, dando a idéia de possibilidade de

acontecimento de um dado evento. Neste, o narrador não adere tanto, mas mesmo assim expressa uma crença sua baseada no conhecimento de uma verdade geral, de que quem pensa que a vida é uma ilusão pode enlouquecer.

5.1.2) Modalização deôntica obrigatória, reforçando o caráter de conselho que a música traz.

5.1.3) “É preciso”, neste trecho, traz a mesma idéia do item anterior.5.1.4) “pode” tem um valor semântico diferente do valor existente no item

5.1.1. Neste, temos um modalizador epistêmico certo, posto que a idéia deste é demonstrar a certeza do enunciador em relação à capacidade do interlocutor de remover a pedra, metáfora para obstáculos e problemas que ele enfrentará no decorrer de sua vida.

5.1.5) “pode” neste item tem um valor semântico semelhante do ao do item 5.1.1, porém a verdade exposta é de que uma flor com espinhos pode arranhar quem a toca.

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5.1.6) Neste, vemos a certeza da possibilidade de escolha, dentro da hipótese metafísica da existência do bem e do mal. Com isto, o sentido da modalização em questão é semelhante ao do item 5.1.4.

5.2 Texto 2

O tempo é uma ilusão?

“Ainda de acordo1 com a sabedoria convencional - ou, pelo menos2, de acordo com aquele tipo peculiar de sabedoria pouco convencional3 que governa a física quântica e a cosmologia - o tempo é uma ilusão que emerge de uma física mais profunda3.

Nesse ponto de vista4, o tempo é uma representação ficcional para o comportamento em larga escala de algo mais fundamental5.”

Site Inovação Tecnológica, 09/05/2011

Este é um texto de divulgação científica. Com isto podemos encontrar elementos de textos jornalísticos e textos científicos que, no geral, pretendem ser neutros. Porém, o grau de adesão ao próprio discurso é grande, para demonstrar que se trata de verdades e o fato de a autora se referir a uma sabedoria pouco convencional expressa o quão especial é esse tipo de conhecimento para quem o possui.

5.2.1) Trata-se de uma modalização em discurso segundo. A enunciadora tem por objetivo explicitar que o que diz tem como base a sabedoria convencional, se eximindo da responsabilidade do enunciado.

5.2.2) Modalização epistêmica plausível. O “pelo menos” restringe a sabedoria convencional do item 5.2.1 para uma sabedoria pouco convencional, do item a seguir.

5.2.3) Modalização epistêmica contestável. “pouco convencional” é um qualificador que explicita a opinião da autora em relação aos estudos da física quântica e cosmologia.

5.2.4) Modalização em discurso segundo, pois a autora refere-se ao ponto de vista desta sabedoria pouco convencional, da qual podemos inferir que a autora se insere.

5.2.5) Modalização epistêmica estabelecida. A autora expressa crença diante do enunciado e demonstra que esta opinião, de ser algo mais fundamental, está estabelecida por essa sabedoria pouco convencional.

5.3 Texto 3

Que a liberdade ressoe!

“Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade.

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É óbvio1 que a América ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar este compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente". Porém2 nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar3 que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.(...)

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda4 lamentavelmente5

dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.”

Este discurso é conhecido historicamente por se situar em um momento de extrema segregação racial nos Estados Unidos e se destacou por pregar a paz, a fim de comover, e a desobediência civil, a fim de protestar, ao contrário de outros discursos da época, que pregavam a violência como forma de responder ao branco pela discriminação.

5.3.1) Modalização epistêmica estabelecida. O autor expressa seu enunciado como evidente, verificável na realidade.

5.3.2) Modalização epistêmica contestável. King contesta a enunciação “saldo insuficiente”.

5.3.3) Modalização epistêmica excluída (desmentida). O enunciador usa o verbo “recusar” na primeira pessoa do plural, inserindo os interlocutores no discurso como se fossem também enunciadores, a fim de persuadir o público de que é impossível crer na enunciação seguinte.

5.3.4) Modalização epistêmica estabelecida. O advérbio expressa o estabelecimento da situação de segregação mesmo após cem anos do fim da Guerra Civil americana, evento não explícito nesse trecho.

5.3.5) Modalização afetiva penosa. Baseados no evento discursivo que foi a segregação racial americana, inferimos ser verdadeiro o pesar expresso por King.

5.4 Texto 4

MUUUUUUUUUUUUITO FELIZ :*

“Oi meninassssssssssssssss1 boa noiteeeeeeeeeee... dando o ar da graças . férias acabaram, trabalho começou ...a dieta não tá lá essas coisas, jaquei pra caramba.... meu novo peso é 78.8 .... mais amanhã é dia de recomeçar depois desse carnaval maravilhoso o meu foi 10 e o de vcs? ... vamos lá? HERBALIFE NA VEIA KKKKKKKKKKK2 E MUITAS CAMINHADAS .... E VCS COMO ESTÃO? APESAR DE TUDO3 , ESTOU ME SENTINDO MTO BONITA, DE BEM COM A VIDA E MUITO FELIZ, AFINAL DE CONTAS4 ... SEM AMOR NADA SERÍAMOS ESTOU MUUUUUUUUUUUUUITO FELIZ ... BJOS AMO VCSS...”

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Este texto foi retirado de um blog, cuja autora se denomina “Nova mulher”, no qual ela relata sua luta para conseguir emagrecer.

5.4.1) Modalização afetiva agradável (entonação). Apesar de a entonação ser limitada por Koch à oralidade, vemos neste exemplo que o texto da enunciadora é uma escrita oralizada. Nele, vemos o sentimento de prazer por estar falando com as amigas em seu blog.

5.4.2) Modalização afetiva agradável (entonação). A capitalização da letra K e sua repetição servem para mostrar que a enunciadora gostou do que escreveu anteriormente e está rindo bastante.

5.4.3) Modalização epistêmica contestável. Ela se sente bonita apesar das verdades apontadas no texto irem contra isto. Entende-se com isto que, para a autora, ser bonita é ser magra.

5.4.4) Modalização epistêmica estabelecida. A autora crê no que afirma a respeito de que sem o amor as pessoas seriam nada.

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6. CONCLUSÃO

A modalização é um recurso linguístico (e enunciativo) pelo qual o enunciador demonstra um grau de menor ou maior adesão em relação ao seu enunciado. Portanto, se quiser um discurso autoritário, por exemplo, o enunciador pode usar as modalidades epistêmicas e deônticas e, se quiser atenuar a força ilocutória de seu enunciado, pode utilizar elementos de outros eixos que não o da obrigatoriedade nem o da crença.

Nos textos analisados, a maior quantidade de modalizações apresentadas é de epistêmicas estabelecidas. Com isto, notamos que os enunciadores geralmente tentam expressar suas opiniões através das suas crenças, as quais consideram verdadeiras e óbvias. Observamos também que o nosso conhecimento do contexto dos textos analisados faz com que os entendamos melhor e consigamos analisar mais profundamente os mesmos, fato que não aconteceria caso pegássemos os trechos isoladamente.

Como Koch não pratica análises de textos no livro no qual nos baseamos, as interpretações aqui feitas foram baseadas pura e somente em conhecimentos semântico-discursivos numa tentativa de se aproximar da abordagem de Ribeiro.

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REFERÊNCIAS

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CASTILHO, A. T. de; CASTILHO, C. M. M. de. “Advérbios modalizadores”. In: ILARI, R. (org.) Gramática do Português Falado, vol. 2. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1996.

RODRIGUES, S. G. C. A modalização como expressão da subjetividade no discurso científico. Recife, 2002. 101 folhas ; Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Linguística, 2002.

______. Questões de dialogismo: o discurso científico, o eu e os outros. Recife, 2008. 298 folhas : Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Letras, 2008.

KOCH, I. G. V. Argumentacao e linguagem. 5.ed. São Paulo: Cortez, 1999.

MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

RIBEIRO, M. das G. C. Uma abordagem semântico discursiva de estruturas nominais em -mente em interações orais dialogadas. Recife, 2003. 242 folhas : Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Lingüística, 2003.

http://www.vagalume.com.br/titas/e-preciso-saber-viver-letras.html

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=tempo-realidade-ou-ilusao

http://www.arqnet.pt/portal/discursos/agosto05.html

http://eupamella.blogspot.com/2011/03/muuuuuuuuuuuuito-feliz.html?zx=6429c4bc57ee6f51

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