Upload
raianebrandao
View
61
Download
7
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Modelação Numérica do Comportamento de um Muro de Contenção
Citation preview
Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro
Modelao Numrica do Comportamento de um Muro de Terra
Armada da Autoestrada A4. Comparao com os Resultados de
Instrumentao
Dissertao de Mestrado em Engenharia Civil
Mrio Joo Moreira Sobrinho
Orientador
Professor Doutor Nuno Miguel Cordeiro Cristelo
Coorientador
Professor Doutor Carlos Manuel da Silva Flix
Vila Real, 2013
Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro
Modelao Numrica do Comportamento de um Muro de Terra
Armada da Autoestrada A4. Comparao com os Resultados de
Instrumentao
Dissertao de Mestrado em Engenharia Civil
Mrio Joo Moreira Sobrinho
Orientador Professor Doutor Nuno Miguel Cordeiro Cristelo
Coorientador
Professor Doutor Carlos Manuel da Silva Flix
Composio do Jri:
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
Vila Real, 2013
Pgina i
AGRADECIMENTOS
Na realizao da presente dissertao de Mestrado, estiveram envolvidas diversas pessoas e
entidades, de entre as quais, o autor deseja manifestar o seu mais sincero agradecimento:
Ao Professor Doutor Nuno Miguel Cordeiro Cristelo docente na UTAD, orientador
desta dissertao de Mestrado, pelo interesse manifestado, colaborao,
disponibilidade e apoio prestados, bem como pela amizade e boa disposio;
Ao Professor Doutor Carlos Manuel da Silva Flix docente na FEUP, coorientador desta
dissertao de Mestrado, pelos conhecimentos transmitidos, especialmente na anlise
da instrumentao, bem como pela colaborao, disponibilidade e apoio prestados;
empresa Autoestrada do Maro, em particular ao Engenheiro Fernando Afonso
Correia, pela autorizao da utilizao dos dados relativos ao muro de terra armada
analisado, pois sem eles no teria sido possvel a realizao do presente trabalho;
Ao Professor Doutor Jos Grazina, docente na FCT/UC, pelo auxlio no esclarecimento
de diversas dvidas relacionadas com a utilizao de elementos finitos na modelao
numrica e ainda por todo o tempo disponibilizado;
Diana Pinto por todo o apoio, compreenso e boa disposio demonstradas, mesmo
nos momentos mais difceis;
restante famlia, pela compreenso e incentivo que sempre demonstraram, em
particular me e ao primo Joo Azevedo.
Pgina iii
RESUMO
A utilizao de estruturas em terra armada tem vindo a ser cada vez mais difundida dentro do
campo da Geotecnia, principalmente em vias de comunicao. Essa difuso est associada ao
aumento do conhecimento do funcionamento interno dessas estruturas, ao desenvolvimento
de novos materiais e ao melhoramento das tcnicas construtivas que facilita a implantao dos
macios reforados.
A presente dissertao tem como objetivo contribuir para um melhor conhecimento do
comportamento dos muros de terra armada, usufruindo para isso da utilizao de dados de
instrumentao obtidos durante e aps a construo de um muro de terra armada, localizado
na autoestrada A4 que ligar Amarante a Vila Real, bem como o desenvolvimento de modelos
numricos para o clculo deste tipo de estruturas, nomeadamente, atravs da utilizao do
mtodo dos elementos finitos.
Para atingir os objetivos propostos, comea-se por apresentar os pressupostos tericos sobre
o comportamento deste tipo de muros e feita uma anlise detalhada do mtodo dos
elementos finitos, que serve de suporte ao desenvolvimento do modelo numrico utilizado.
De seguida, feita a descrio do plano de observao do comportamento do muro, bem
como a metodologia usada na instalao dos equipamentos de monitorizao e a anlise aos
resultados da observao da estrutura.
Posteriormente realizada a modelao numrica do referido muro utilizando por um lado,
um programa desenvolvido de raiz no mbito do presente trabalho, em linguagem MATLAB,
que simula as condies elsticas do muro de terra armada; e por outro lado, um programa
comercial, PLAXIS, que simula tanto as condies elsticas, como as condies elastoplsticas
da estrutura.
Por fim, feita uma reflexo crtica sobre os dados da instrumentao, comparando-os com os
resultados alcanados atravs das simulaes efetuadas em regime elstico, quer atravs do
programa desenvolvido, quer atravs do PLAXIS. Finalmente so comparados os resultados da
simulao do PLAXIS, em regime elastoplstico, com os dados reais obtidos da instrumentao,
e feita uma anlise s diferenas de resultados entre o regime elstico e o regime
elastoplstico.
PALAVRAS-CHAVE: terra armada, muros, reforos extensveis, mtodo dos elementos finitos,
dimensionamento.
Pgina v
ABSTRACT
The use of mechanically stabilized earth (MSE) wall structures is becoming ever more
widespread on the geotechnical field, especially on communication pathways. This wide
diffusion is associated with the growth of the internal working knowledge of those structures,
with the development of new materials and with the improvement of the construction
techniques, which makes this kind of structures easier to implement.
This dissertation aspires to contribute to a better knowledge of the MSE wall structures,
through instrumentation data obtained during and after a MSE wall construction in the A4
highway between Amarante and Vila Real, and numerical models based in the finite element
method.
In order to attain the proposed goals, at first the theoretical assumptions about MSE wall
structures behaviour are presented and a detailed analysis of the finite element method is
provided.
Following, the description of the observation plan for the reinforced soil wall behaviour and
the methodology used in the installation of the monitoring equipments are made, as well as
the analysis from the structure observation results.
Next, the numerical modelling of the reinforced soil wall is presented. This numerical
modelling was performed using: on one hand a MATLAB program, developed within the scope
of this work, providing a simulation for the elastic wall conditions of MSE wall structure; and
on the other hand a commercial program, PLAXIS, which provided the elastic and elastoplastic
simulated conditions of such structure.
Last of all, a critical reflection of the obtained structure instrumentation data is provided, in
addition to a comparison of such data with the results attained in the elastic regime
simulations, through the home-made and PLAXIS programs. In addition, the instrumentation
data and the elastoplastic regime PLAXIS simulation data are compared, and an analysis of the
differences between the elastic and elastoplastic regime simulation results is presented.
Keywords: Reinforced soil wall, retaining wall, extensible reinforces, finite element method,
numerical analyses.
Pgina vii
SIMBOLOGIA
Alfabeto latino
b Largura til
[B] Matriz deformao-deslocamento
c Coeso
[C] Matriz constitutiva elstica
e Espessura til
E Mdulo de elasticidade
{Fe} Vetor de foras nodais
[J] Matriz jacobiana
K(z) Coeficiente de impulso profundidade z
[Ke] Matriz rigidez do elemento e
L Comprimento
La Comprimento da zona ativa
Ni Funo interpoladora ou funo de forma, relativa ao ponto i
p Nmero de pontos de Gauss
Q Potencial plstico
T Trao nas armaduras
{T} Vetor referente carga externa aplicada ao elemento e
Ui Deslocamento no ponto i
Wi Peso atribudo ao ponto de Gauss i
Alfabeto grego
f, r Coeficientes de minorao
Peso especfico
H Espaamento vertical entre armaduras
Simbologia
Pgina viii
Extenso
, Coordenadas naturais das funes de forma
Coeficiente de ligao entre diferentes materiais (coeficiente de atrito)
{e} Vetor referente ao peso especfico do elemento e
Tenso normal
Coeficiente de poisson
Tenso de corte
ngulo de atrito
Siglas
AASHTO American Association of State Highway and Transportation Officials
ASTM American Society for Testing Materials
CBR Califrnia Bearing Ratio
EP Estradas de Portugal
LCPC Laboratoire Central des Ponts et Chausses
Pgina ix
NDICE DO TEXTO
1 INTRODUO ........................................................................................................................ 1
1.1 Consideraes gerais ................................................................................................... 1
1.2 Contedo da dissertao ............................................................................................. 1
2 REVISO BIBLIOGRFICA ...................................................................................................... 3
2.1 PRINCIPIOS BSICOS SOBRE MUROS DE TERRA ARMADA .......................................... 3
2.1.1 Breve nota histrica ................................................................................................ 3
2.1.2 Constituio dos muros de terra armada ................................................................ 4
2.1.2.1 Conceito geral................................................................................................ 4
2.1.2.2 Reforos ......................................................................................................... 4
2.1.2.3 Solo de aterro ................................................................................................ 5
2.1.2.4 Painis ........................................................................................................... 6
2.1.3 Aplicaes da terra armada ..................................................................................... 7
2.1.4 Processo construtivo ............................................................................................... 9
2.1.5 Vantagens da aplicao da terra armada .............................................................. 10
2.1.6 Funcionamento interno das estruturas em terra armada .................................... 10
2.1.6.1 Interao entre o solo e as armaduras ........................................................ 11
2.1.6.1.1 Avaliao das caractersticas de interao entre o solo e as armaduras 14
2.1.6.1.2 Fatores que influenciam os solos reforados ......................................... 18
2.1.7 Princpios bsicos para o dimensionamento interno de muros em terra armada 21
2.1.7.1 Mtodo de equilbrio local .......................................................................... 22
2.1.7.2 Mtodo de equilbrio global ........................................................................ 24
2.2 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .......................................................................... 26
2.2.1 Introduo ............................................................................................................. 26
2.2.2 Elementos finitos isoparamtricos ........................................................................ 26
2.2.2.1 Funes de interpolao ............................................................................. 27
2.2.2.2 Transformao de coordenadas .................................................................. 28
2.2.2.3 Relao deformao-deslocamento............................................................ 29
2.2.2.4 Matriz rigidez ............................................................................................... 30
2.2.2.5 Foras atuantes ........................................................................................... 31
2.2.2.6 Matriz constitutiva ...................................................................................... 32
2.2.2.7 Integrao numrica ................................................................................... 33
2.3 PRINCPIO DA ELASTOPLASTICIDADE EM SOLOS ....................................................... 35
2.3.1 Funo de plastificao ......................................................................................... 35
2.3.2 Funo de potencial plstico ................................................................................. 36
2.3.3 Lei de endurecimento/amolecimento ................................................................... 37
3 CASO DE ESTUDO: INSTRUMENTAO E ANLISE DE RESULTADOS ................................. 39
ndice do texto
Pgina x
3.1 Introduo ................................................................................................................. 39
3.2 Instalao dos equipamentos de observao ............................................................ 42
3.2.1 Extensmetros ....................................................................................................... 42
3.2.2 Inclinmetros ......................................................................................................... 45
3.2.3 Alvos topogrficos ................................................................................................. 46
3.3 Observao dos resultados ........................................................................................ 46
3.3.1 Deformaes nos reforos .................................................................................... 46
3.3.2 Deslocamentos horizontais internos do macio ................................................... 50
3.3.3 Deslocamentos do paramento .............................................................................. 52
3.4 Concluses ................................................................................................................. 53
4 MODELAO NUMRICA.................................................................................................... 55
4.1 Regime elstico .......................................................................................................... 55
4.1.1 Descrio do problema .......................................................................................... 55
4.1.2 Modelo numrico em MATLAB ............................................................................. 56
4.1.2.1 Introduo ................................................................................................... 56
4.1.2.2 Geometria.................................................................................................... 56
4.1.2.3 Caractersticas dos materiais ....................................................................... 57
4.1.3 Modelo numrico no PLAXIS ................................................................................. 58
4.1.3.1 Geometria.................................................................................................... 58
4.1.3.2 Caractersticas dos materiais ....................................................................... 59
4.1.4 Resultados da modelao ...................................................................................... 60
4.1.4.1 Comparao das diferentes modelaes com os resultados experimentais .. ..................................................................................................................... 63
4.2 Regime elastoplstico ................................................................................................ 69
4.2.1 Simulao do comportamento do material e interfaces....................................... 69
4.2.1.1 Solo .............................................................................................................. 69
4.2.1.2 Restantes materiais ..................................................................................... 69
4.2.2 Anlise dos resultados ........................................................................................... 69
4.3 Anlise comparativa entre os dados obtidos em regime elstico e em regime elastoplstico .......................................................................................................................... 74
4.4 Concluses ................................................................................................................. 75
5 CONCLUSES ...................................................................................................................... 77
5.1 Consideraes Finais .................................................................................................. 77
5.2 Desenvolvimentos Futuros ........................................................................................ 78
6 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 81
Pgina xi
NDICE DE FIGURAS
Figura 2-1 Esquema de um macio em terra armada (Flix, 1991)............................................ 4
Figura 2-2 Tipos de reforos: a) em tiras de ao galvanizado (reforo inextensvel); b)
compostos por fios de polister de alta aderncia, embainhados em tiras de polietileno
(reforo extensvel) ....................................................................................................................... 5
Figura 2-3 Painis retangulares .................................................................................................. 6
Figura 2-4 Pormenor dos olhais de ligao do paramento aos reforos ................................... 7
Figura 2-5 Aplicaes de muros de terra armada (Flix, 1991).................................................. 8
Figura 2-6 Pormenor dos escoramentos e tiras de geotxtil ................................................... 10
Figura 2-7 Comportamento interno dos muros de terra armada (Flix, 1991) ....................... 11
Figura 2-8 Deformao dos dois elementos: a) atrito nulo; b) ligao entre elementos
perfeita ........................................................................................................................................ 12
Figura 2-9 Estado de tenso dos elementos quando a ligao na interface perfeita ........... 13
Figura 2-10 Efeito das armaduras no interior de um macio reforado: a) tenso tangencial
nas interfaces solo-armaduras; b) distribuio das traes nas armaduras; c) tenso de
confinamento (Flix, 1991) ......................................................................................................... 13
Figura 2-11 Fenmeno de dilatncia na interao solo-armaduras (Flix, 1991) .................... 14
Figura 2-12 Ensaio de corte direto das interfaces solo-reforo ............................................... 15
Figura 2-13 Resultado tpico do ensaio de corte direto ........................................................... 15
Figura 2-14 Ensaio de arranque ............................................................................................... 16
Figura 2-15 Relao entre a fora de trao e o deslocamento experimentado pelo reforo,
no ensaio de arranque ................................................................................................................ 17
Figura 2-16 Curva tenso-deformao de uma areia reforada e de uma areia no reforada:
a) solta; b) densa (McGown et al., 1978, extrado de Mendona, 2004) .................................... 19
Figura 2-17 Localizao da superfcie de rotura nos reforos: a) inextensveis; b) extensveis
(adaptado de AASHTO, (2005)) ................................................................................................... 22
Figura 2-18 Determinao das traes mximas (LCPC-SETRA, 1979, extrado de Flix, 1991)
..................................................................................................................................................... 23
Figura 2-19 Determinao do coeficiente de atrito (AASHTO, 2005) (nota: F*=) ................. 24
Figura 2-20 Mtodo de equilbrio global (LCPC-SETRA, 1979, extrado de Cardoso, 1987)..... 24
Figura 2-21 Elemento quadriltero representado nas suas coordenadas naturais ................. 27
Figura 2-22 Elemento em estado de equilbrio ........................................................................ 30
Figura 2-23 Pontos de integrao de Gauss para situaes unidimensionais, at quatro
pontos ......................................................................................................................................... 34
ndice de figuras
Pgina xii
Figura 2-24 Pontos de integrao de Gauss para elementos quadrilteros bidimensionais, at
quatro pontos .............................................................................................................................. 34
Figura 2-25 a) curva de plastificao; b) superfcie de plastificao ........................................ 36
Figura 2-26 Comportamento bidimensional de um material elastoplstico com
endurecimento ............................................................................................................................ 37
Figura 3-1 Representao de parte do alado do muro em estudo com a localizao dos
perfis instrumentados (VSL, 2009) .............................................................................................. 39
Figura 3-2 Representao esquemtica da instrumentao: a) Pk 1+225; b) Pk 1+300; c) Pk
1+350 ........................................................................................................................................... 40
Figura 3-3 Crackmeter Modelo 4420 (fonte GEOKON) ............................................................ 42
Figura 3-4 Representao esquemtica do Crackmeter Modelo 4420 (fonte GEOKON) ........ 43
Figura 3-5 Pormenor da montagem do extensmetro ............................................................ 44
Figura 3-6 Leitura dos extensmetros: a) diretamente dos fios durante a construo; b)
atravs da caixa de proteo aps a construo ........................................................................ 45
Figura 3-7 Processo de leitura dos inclinmetros .................................................................... 45
Figura 3-8 Alvos topogrficos colocados na face do paramento ............................................. 46
Figura 3-9 Medio da extenso ao Pk 1+225 a 9.0m de altura e a 2m de distncia do
paramento ................................................................................................................................... 47
Figura 3-10 Medio da extenso ao Pk 1+300 a 7.5m de altura a 2m e 5m de distncia do
paramento ................................................................................................................................... 47
Figura 3-11 Medio da extenso ao Pk 1+350 a 5.5m de altura a 2m e a 5m de distncia do
paramento ................................................................................................................................... 47
Figura 3-12 Medio da extenso ao Pk 1+350 a 8m de altura a 2m e a 5m de distncia do
paramento ................................................................................................................................... 48
Figura 3-13 Correlao das extenses a 2m de distncia do paramento a uma altura de muro
aproximada de 8m ...................................................................................................................... 49
Figura 3-14 Correlao das extenses a 2m de distncia do paramento a diferentes alturas
medidas no Pk 1+350 .................................................................................................................. 50
Figura 3-15 Acumulado dos deslocamentos horizontais internos do macio: a) Inc1; b) Inc2; c)
Inc3 .............................................................................................................................................. 51
Figura 3-16 Deslocamento horizontal da face do paramento ao Pk 1+350 ............................. 52
Figura 3-17 Deslocamento vertical da face do paramento ao Pk 1+350 ................................. 52
Figura 4-1 Modelo de elementos finitos a utilizar para a simulao em MATLAB .................. 56
Figura 4-2 Seco do reforo (unidades em mm) .................................................................... 57
Figura 4-3 Modelo de elementos finitos a utilizar para a simulao no PLAXIS ...................... 59
ndice de figuras
Pgina xiii
Figura 4-4 Deslocamentos horizontais (MATLAB) .................................................................... 61
Figura 4-5 Deslocamentos horizontais (PLAXIS) ....................................................................... 61
Figura 4-6 Deslocamentos verticais (MATLAB) ........................................................................ 62
Figura 4-7 Deslocamentos verticais (PLAXIS) ........................................................................... 62
Figura 4-8 Malha deformada no MATLAB (deslocamentos com um fator de escala de 100
vezes) ........................................................................................................................................... 63
Figura 4-9 Malha deformada no PLAXIS (deslocamentos com um fator de escala de 100
vezes) ........................................................................................................................................... 64
Figura 4-10 Comparao dos deslocamentos horizontais do paramento, simulados nos dois
programas, com os dados dos alvos topogrficos ...................................................................... 64
Figura 4-11 Relao entre a trao mxima nas armaduras e a altura do aterro simulados no
MATLAB e no PLAXIS ................................................................................................................... 66
Figura 4-12 Localizao da trao mxima em cada nvel de reforo para as simulaes no
MATLAB e no PLAXIS e comparao com os pressupostos tericos definidos pela AASHTO
(2005) .......................................................................................................................................... 67
Figura 4-13 Comparao da trao para as simulaes feitas no MATLAB e PLAXIS, com os
dados obtidos da instrumentao: a) reforo ao nvel 8; b) reforo ao nvel 11 ........................ 68
Figura 4-14 Malha deformada (deslocamentos com um fator de escala de 100 vezes) ......... 70
Figura 4-15 Deslocamentos horizontais ................................................................................... 70
Figura 4-16 Comparao dos deslocamentos horizontais do paramento simulados no PLAXIS,
com os deslocamentos horizontais do paramento resultantes dos alvos topogrficos ............. 71
Figura 4-17 Localizao da trao mxima em cada nvel de reforo para as simulaes no
PLAXIS .......................................................................................................................................... 72
Figura 4-18 Comparao das traes nos reforos simuladas pelo PLAXIS, com as traes
calculadas com base nas deformaes obtidas pelos extensmetros: a) reforo ao nvel 8; b)
reforo ao nvel 11 ...................................................................................................................... 73
Figura 4-19 Comparao entre os deslocamentos horizontais do paramento, simulados em
regime elstico, e os deslocamentos horizontais do paramento, simulados em regime
elastoplstico .............................................................................................................................. 74
Figura 4-20 Comparao entre as traes mximas nas armaduras em regime elstico e em
regime elastoplstico .................................................................................................................. 75
Pgina xv
NDICE DE QUADROS
Quadro 2-1 Coordenadas e pontos a utilizar na integrao de Gauss (quatro pontos)
(Ferreira, 2010)............................................................................................................................ 33
Quadro 3-1 Resumo da instrumentao e respetiva localizao ............................................. 42
Pgina 1
1 INTRODUO
1.1 Consideraes gerais
Os muros em Terra Armada so estruturas de conteno tipo gravidade, com elevada
ductilidade, e que associam aterro selecionado e compactado, elementos lineares de reforo
submetidos trao e elementos modulares pr-fabricados de revestimento. Trata-se de um
tipo de muro largamente utilizado em obras rodovirias, ferrovirias, industriais, entre outras
aplicaes de engenharia civil. Devido sua elevada capacidade estrutural, a terra armada
ideal para vencer grandes alturas, ou suportar sobrecargas excecionalmente elevadas. O
princpio da tecnologia em que se baseia este tipo de muro a interao entre o aterro
selecionado e os reforos - armaduras de alta aderncia - que corretamente dimensionados
produzem um macio integrado no qual as armaduras resistem aos esforos internos de trao
desenvolvidos no seu interior. Estes macios armados passam a ter um comportamento
semelhante a um corpo coesivo monoltico, suportando, alm de seu peso prprio, as cargas
externas para as quais foram projetados.
A anlise destas estruturas de suporte passa, em muitos casos, pela realizao de anlises
numricas tenso/deformao, recorrendo geralmente ao mtodo dos elementos finitos.
Muitas destas anlises so realizadas em condies bidimensionais, assumindo com frequncia
a validade do estado plano de deformao. Neste contexto, fundamental o desenvolvimento
e aperfeioamento de tecnologias de clculo que garantam a exequibilidade das contenes
perifricas, no s do ponto de vista da segurana estrutural, mas tambm das deformaes
do aterro envolvente.
1.2 Contedo da dissertao
Com o presente trabalho pretende-se realizar o dimensionamento e anlise de uma estrutura
em terra armada atravs de ferramentas de clculo automtico, nomeadamente o Mtodo dos
Elementos Finitos (MEF), comparando os resultados finais com dados resultantes da
instrumentao de um muro de terra armada real.
Ser desta forma possvel discutir o processo de dimensionamento e a contribuio da
modelao numrica para o estudo prvio e clculo deste tipo de estruturas de conteno,
bem como, ajustar certos parmetros de dimensionamento no sentido de otimizar a utilizao
dos modelos analticos correntes.
Captulo 1 - Introduo
Pgina 2
No Captulo 2 feita uma abordagem terica dos muros de terra armada, dando especial
ateno interao entre os reforos e o solo. ainda descrito o mtodo de elementos finitos
que permitiu escrever o cdigo em linguagem MATLAB para dimensionamento deste tipo de
estruturas.
No Captulo 3 so apresentados os dados da instrumentao relativos ao muro de terra
armada analisado no presente trabalho, sendo para tal a sua estrutura dividida em duas
partes. Na primeira parte, feita uma descrio da metodologia utilizada para a instalao dos
equipamentos de monitorizao e de observao. Na segunda parte, so apresentados os
resultados obtidos das leituras dos diversos dispositivos apresentados anteriormente, durante
e aps a construo do muro de terra armada.
O Captulo 4 , semelhana do anterior, dividido em duas partes. A primeira, onde se
apresenta a modelao numrica em regime elstico, efetuada utilizando o programa
desenvolvido no mbito do presente trabalho em linguagem MATLAB, e o PLAXIS, comparando
posteriormente os resultados obtidos destas modelaes com os dados da instrumentao. Na
segunda parte, feita a modelao em regime elastoplstico utilizando apenas o PLAXIS e,
novamente, confrontando os resultados obtidos com os dados da instrumentao.
Adicionalmente, usufruindo do trabalho j realizado nas duas primeiras partes, so
contrastadas as modelaes numricas efetuadas nos dois regimes.
Por ltimo, no Captulo 5, so apresentadas as dificuldades na realizao deste trabalho, as
concluses e ainda, as propostas de desenvolvimentos futuros.
Pgina 3
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 PRINCIPIOS BSICOS SOBRE MUROS DE TERRA ARMADA
2.1.1 Breve nota histrica
O conceito de muro com base em solo reforado surgiu na dcada de 60 pelo engenheiro e
arquiteto francs Henri Vidal, que comprovou que associando ao solo um material resistente
trao obtia uma melhoria significativa da natureza estrutural do mesmo. Com a ideia, surgiu
ento o nome terra armada que foi patenteado pelo mesmo autor.
Nos primeiros estudos efetuados foram utilizados polmeros reforados com fibras de vidro.
Posteriormente, devido ao colapso da estrutura aps apenas 10 meses, optou-se pela
utilizao de reforos de ao macio e alumnio, que de igual forma se mostraram uma m
soluo devido pouca durabilidade dos materiais.
O desafio centrava-se portanto, na escolha dos materiais a aplicar e na anlise do
comportamento interno dos muros.
De acordo com Flix (1991), durante as dcadas de 60 e 70 realizaram-se diversos estudos com
vista anlise do comportamento dos muros de terra armada no sentido de desenvolver
mtodos adequados ao dimensionamento deste tipo de estruturas. Esses estudos consistiram
na observao do comportamento de modelos reduzidos (Gueguan e Legeay, 1969; Bacot e
Lareal, 1973; Legeay, 1978), assim como em experiencias em muros experimentais escala
natural (Binquet e Carlier, 1973; Boden et al, 1977; Bastick et al, 1991; etc.).
Posteriormente, em meados da dcada de 70, e com o desenvolvimento dos sistemas
informticos, surgem os primeiros modelos numricos que possibilitam uma anlise mais
detalhada do comportamento dos muros de terra armada (Guellec et al, 1976; Anderson e
Bastick, 1983; Buhan e Salenon, 1987; etc.), continuando, no entanto, a desenvolverem-se
estudos baseados na observao de obras reais e ensaios em modelos reduzidos.
Ainda durante a dcada de 70, d-se o desenvolvimento do material polimrico no Reino
Unido, com a construo de uma grande estrutura experimental pelo Transport and Road
Research Laboratory (TRRL). Em Portugal, o uso do material polimrico em muros de terra
armada surgiu em 2009 na Concesso da Grande Lisboa.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 4
2.1.2 Constituio dos muros de terra armada
2.1.2.1 Conceito geral
Os muros de terra armada so constitudos por trs elementos principais: os reforos, o solo
do aterro e os painis do paramento exterior (geralmente pr-fabricados), tambm
denominados de elementos de pele. Na Figura 2-1 apresenta-se um esquema da constituio
de um muro de terra armada.
So ainda elementos destes muros a soleira de beto simples, betonada in situ, de reduzidas
dimenses, sobre a qual vai assentar a primeira fiada dos painis, os elementos de fixao das
armaduras aos elementos da face do paramento, juntas horizontais entre painis e juntas
verticais filtrantes.
Figura 2-1 Esquema de um macio em terra armada (Flix, 1991)
2.1.2.2 Reforos
Os reforos de um macio de terra armada tm como principais funes a mobilizao, por
atrito, de tenses tangenciais ao longo da sua superfcie e a resistncia aos esforos de trao.
Pelo fato de os reforos estarem envoltos pelo aterro, torna-se necessrio assegurar cuidados
acrescidos de forma a garantir a manuteno das suas funes a longo prazo. Como tal, a
escolha do material deve ter em conta as seguintes caractersticas:
Boa resistncia trao;
Bom coeficiente de atrito com o solo;
Pouca fluncia e rotura do tipo no frgil;
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 5
Ser flexvel para uma correta adaptao s ondulaes geradas na superfcie do aterro
aquando da sua construo;
Apresentar baixa deformabilidade s cargas de servio;
Permitir uma fcil implantao;
Boa durabilidade e ser econmico.
Atualmente existem dois tipos de reforos classificados quanto sua deformabilidade:
inextensveis (pouco deformveis) e extensveis (deformveis).
Os reforos inextensveis so formados por tiras ou vares de ao galvanizado conforme ilustra
a Figura 2-2 a). Os reforos extensveis (ver Figura 2-2 b)) so compostos por fios de polister
de alta aderncia, embainhados em tiras de polietileno. A superfcie exterior das bandas possui
um acabamento serrilhado para aumentar o atrito entre o reforo e o solo.
a) b)
Figura 2-2 Tipos de reforos: a) em tiras de ao galvanizado (reforo inextensvel); b) compostos por fios de polister de alta aderncia, embainhados em tiras de polietileno (reforo extensvel)
Os reforos extensveis garantem, com maior eficcia, a ausncia de problemas de degradao
biolgica ou fsico-qumica. Testes de carga, realizados em amostras sujeitas a hidrlises
aceleradas, indicaram que estes materiais mantm as suas caractersticas por um perodo de
vida superior a 120 anos.
2.1.2.3 Solo de aterro
O funcionamento dos muros de terra armada repousa no pressuposto de existncia de atrito
entre o solo e os reforos. Como tal, conveniente que o material de aterro possua um
elevado ngulo de atrito interno o que, em princpio, exclui a utilizao de solos com elevadas
percentagens de partculas finas.
De acordo com o praticado em Portugal e, estipulado no Caderno de Encargos da empresa
Estradas de Portugal (EP), os materiais constituintes do aterro reforado devero ser
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 6
constitudos por solo de boa qualidade, isento de detritos, matria orgnica ou quaisquer
outras substncias nocivas, devendo obedecer s seguintes caractersticas:
- Dimenso mxima------------------------------------------------------------------------------------------75 mm
- Percentagem de material que passa no peneiro n 200 ASTM, mxima--------------------------20%
- Limite de liquidez, mximo-----------------------------------------------------------------------------------25%
- ndice de plasticidade, mximo-------------------------------------------------------------------------------6%
- Equivalente de areia, mnimo--------------------------------------------------------------------------------30%
- Valor de azul-de-metileno (material de dimenso inferior a 75 m), mximo-------------------2,0
- CBR a 95% de compactao relativa, e teor timo em H20 (Proctor Modificado), mnimo--10%
- Expansibilidade (ensaio CBR), mxima-------------------------------------------------------------------1,5%
- Percentagem de matria orgnica---------------------------------------------------------------------------0%
2.1.2.4 Painis
Os painis so utilizados como revestimento da face exterior para impedir rotura ou eroso do
solo. Hoje em dia so normalmente constitudos por placas pr-fabricadas em beto armado
(ver Figura 2-3), com diferentes tipos de acabamento e formatos. Os mais usuais so os
hexagonais e retangulares, com uma espessura a varias entre os 0.15m e os 0.25m.
Figura 2-3 Painis retangulares
Para facilitar a sua colocao em obra, apresentam dois pontos de suspenso de modo a
permitir o deslocamento dos mesmos atravs de meios mecnicos. Possuem ainda entre
quatro a oito olhais de ligao para os reforos, conforme Figura 2-4.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 7
Figura 2-4 Pormenor dos olhais de ligao do paramento aos reforos
2.1.3 Aplicaes da terra armada
A aplicao deste tipo de estruturas muito vasta. Dependendo do fim a que se destinam e
das aes a que esto sujeitos, os muros de terra armada podem chegar a atingir alturas da
ordem das dezenas de metros. A quantidade, o comprimento e a seco transversal das
armaduras constituem o objeto do dimensionamento.
Flix (1991) descreve alguns exemplos, esquematizados na Figura 2-5. O primeiro exemplo
refere-se aplicao deste tipo de estrutura como muro de conteno de terras, formado
assim pelo paramento, pelos reforos e pelo aterro. O segundo mostra a aplicao enquanto
muro de encontro de viadutos, formado pelos mesmos constituintes dos muros de solo
reforados de conteno e por uma viga de apoio que recebe as aes do tabuleiro. A
fundao da viga pode assentar diretamente sobre o macio armado, ou apoiar-se em pilares
implantados no interior ou no exterior do macio armado. Esta escolha depende dos
assentamentos experimentados pelas vigas que, no caso de estarem fundadas diretamente
sobre o macio armado, podem ser elevados quando comparados com os que ocorrem
normalmente na outra alternativa. Outra razo que pode levar escolha deste tipo de soluo
est relacionada com os valores das reaes de apoio que, sendo muito elevadas, podem
tornar pouco econmica a primeira das solues referidas, ou mesmo inviabiliz-la.
Em viadutos isostticos o apoio direto sobre os macios armados pode constituir uma
vantagem na medida em que se eliminam os assentamentos diferenciais entre aqueles e os
aterros dos encontros. No caso em que as estruturas so hiperestticas, esta soluo pode
ficar inviabilizada devido aos assentamentos diferenciais dos apoios do tabuleiro.
O terceiro esquema, designado por plataforma para trnsito virio, constitui apenas uma
variante da conteno de terras, formada por dois paramentos paralelos ligados entre si pelos
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 8
reforos e frequentemente utilizado nas rampas de acesso a viadutos, conforme se
esquematiza na Figura 2-5.
A terra armada pode igualmente ser dimensionada de forma a resistir ao de gruas em cais
de carga-descarga (plataforma fortemente carregada). Pode ser utilizada em local seco ou
beira-rio ou beira-mar (estruturas parcialmente submersas), como representado no quarto
esquema da Figura 2-5. A sua elevada resistncia s aes dinmicas permite ainda a sua
utilizao como elemento protetor dos impactos provocados por exploses (conteno de
exploses), tal como esquematizado no quinto esquema. Finalmente, uma outra aplicao
muito interessante esquematizada no sexto esquema, diz respeito execuo de silos
enterrados ou semienterrados para armazenamento de materiais granulares.
Figura 2-5 Aplicaes de muros de terra armada (Flix, 1991)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 9
Os muros de terra armada tm-se mostrado especialmente vantajosos quando utilizados como
estruturas temporrias, tais como desvios temporrios necessrios para projetos de
reconstruo de vias, diques de solos reforados, quer utilizados como estruturas de
conteno de gua e resduos, quer utilizados no aumento da altura de barragens j
existentes.
2.1.4 Processo construtivo
A execuo de muros de terra armada pode ser feita em simultneo com a construo do
aterro, evitando assim paragens no decorrer dos trabalhos.
O processo construtivo pode-se resumir no seguinte:
1. Implantao topogrfica;
2. Saneamento de fundao e/ou preparao da fundao para receber os painis;
3. Execuo de um soco de nivelamento, em beto simples, para assentamento da
primeira fiada de painis;
4. Colocao da primeira camada de aterro;
5. Colocao da primeira fiada de reforos;
6. Colocao de nova camada de aterro, sobre os reforos;
7. Colocao de nova fiada alternada de painis.
8. Repetio sequencial de todo o processo desde o ponto 4 at ao ponto 7, at o aterro
atingir a cota final.
Importa ainda referir que durante a montagem dos painis so colocados escoramentos em
madeira de forma a garantir a inclinao desejada, conforme ilustra a Figura 2-6. Todas as
juntas, verticais e horizontais, dos painis so preenchidas com geotxtil pelo seu interior, de
forma a evitar qualquer tipo de eroso interna.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 10
Figura 2-6 Pormenor dos escoramentos e tiras de geotxtil
2.1.5 Vantagens da aplicao da terra armada
As principais vantagens da aplicao dos muros de solo reforado em estruturas de engenharia
civil resultam do seu processo construtivo e do seu comportamento, podendo ser resumidas
nas seguintes:
facilidade de montagem, mesmo em obras de grande altura;
procedimentos de construo rpidos e que no necessitam de grandes equipamentos;
eliminao de cofragens, andaimes, escoramentos, betonagens in situ e terraplenagens
manuais;
elevada flexibilidade dos paramentos, o que permite aos macios adaptarem-se a
fundaes compressveis, aceitando bem assentamentos diferenciais inadmissveis
para solues rgidas;
facilidade no tratamento esttico do paramento;
ausncia de mo-de-obra especializada;
menor rea de preparao;
menos espaos na frente da estrutura para operaes de construo;
tecnicamente viveis para alturas superiores a 25 m;
custos reduzidos.
2.1.6 Funcionamento interno das estruturas em terra armada
Sem os reforos, as estruturas com paramento vertical obviamente deslizariam at atingir um
ngulo que lhes permita conferir estabilidade, formando um talude natural. Adicionando
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 11
reforos ao macio, as suas caractersticas de resistncia so aumentadas e, simultaneamente
diminuda a sua deformabilidade. Isto acontece porque a tenso normal do solo, resultante do
peso prprio e eventuais sobrecargas, transferida para os reforos gerando uma tenso
tangencial nestes equilibrando o sistema, de modo a impedir deslocamentos relativos dos
reforos em relao ao solo.
Uma particularidade dos muros de terra armada a formao de duas zonas distintas no
interior do macio, conforme Figura 2-7. A primeira zona, denominada de zona ativa,
compreendida entre o paramento e a zona de trao mxima nas armaduras; e uma segunda
zona, denominada de zona passiva, compreendida entre a zona da trao mxima e a
extremidade posterior das armaduras.
Figura 2-7 Comportamento interno dos muros de terra armada (Flix, 1991)
Na zona ativa, os deslocamentos do solo para a face so superiores aos das armaduras, e
portanto transmitem a estas tenses tangenciais que lhes aumentam o esforo de trao.
Na zona resistente, os deslocamentos relativos tm sentido oposto aos da zona ativa, visto que
so as armaduras que transferem ao solo tenses tangenciais, pelo que as traes nestas
decrescem at se anularem nas extremidades.
Esta interao entre o solo e os reforos o principal fator a ter em conta aquando do
dimensionamento das estruturas em terra armada.
2.1.6.1 Interao entre o solo e as armaduras
Para uma melhor compreenso da interao entre o solo e as armaduras considere-se,
simplificadamente, dois materiais com propriedades mecnicas distintas, designados como
elemento 1 e elemento 2, colocados um sobre o outro, conforme ilustra a Figura 2-8.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 12
Admitindo que os mesmos esto sujeitos a uma tenso vertical, (tenso resultante do peso
prprio e foras exteriores), existem duas hipteses extremas quanto ao tipo de interao
entre ambos os materiais. No primeiro caso, a interao desprovida de qualquer atrito, ou
coeso, o que permite que as superfcies deslizem livremente uma sobre a outra. A
deformao experimentada por cada elemento depende unicamente do material que o
constitui. No segundo caso, as duas superfcies esto ligadas e quando sujeitas a tenso
vertical, a deformao experimentada pelo material 1 igual deformao do material 2, ou
seja, as deformaes dependem de ambos os materiais.
a) b)
Figura 2-8 Deformao dos dois elementos: a) atrito nulo; b) ligao entre elementos perfeita
Assumindo que ambos os elementos exibem um comportamento elstico e que se encontram
em estado plano de deformao, a deformao lateral de cada elemento dada pela
expresso (2-1)
(2-1)
Onde:
xi Deformao lateral no elemento i;
vi Coeficiente de poisson do elemento i;
Ei Mdulo de elasticidade do elemento i;
v Tenso vertical atuante.
Como consequncia de diferentes mdulos de elasticidade, a deformao ser, obviamente
diferente.
No caso da ligao entre os diferentes materiais ser perfeita, ou seja, os deslocamentos
relativos entre ambos serem nulos, a deformao lateral que os mesmos experimentam ser
igual.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 13
Para que isto acontea, necessria a instalao de tenso lateral nos dois elementos. O
elemento 1 est sujeito a tenso lateral de compresso, enquanto que o elemento 2 est
sujeito a tenso lateral de trao, conforme representado na Figura 2-9.
Figura 2-9 Estado de tenso dos elementos quando a ligao na interface perfeita
No caso do solo em contacto com as armaduras, o princpio bsico semelhante. A Figura 2-10
ilustra de forma simples as tenses desenvolvidas nesse contacto, que servem de base para o
dimensionamento das estruturas em terra armada.
Figura 2-10 Efeito das armaduras no interior de um macio reforado: a) tenso tangencial nas interfaces solo-armaduras; b) distribuio das traes nas armaduras; c) tenso de confinamento (Flix, 1991)
O colapso dos solos reforados pode ocorrer devido rotura das armaduras ou por falta de
resistncia nas interfaces solo-armadura. De acordo com o referido por Flix (1991), foram
realizados diversos ensaios com provetes de areia reforada, que mostram que prevalece um
ou outro modo de rotura, em funo do nvel de tenso de confinamento. Se esta for inferior a
um certo valor crtico, a rotura ocorre por falta de resistncia das interfaces. Caso contrrio,
a cedncia das armaduras que condiciona o colapso do sistema.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 14
Outro aspeto muito importante a ter em conta aquando do dimensionamento deste tipo de
estruturas a dilatncia. Esta consiste na tendncia que o solo tem em sofrer dilatao
quando as armaduras so sujeitas a esforos de trao. Estes esforos solicitam, por corte, um
volume de solo envolvente das armaduras de reforo. Dependendo da compacidade relativa e
do estado de tenso, o solo tende a dilatar. Como esta dilatao est parcialmente impedida
pela presena do solo envolvente, d-se um aumento da tenso normal na interface solo-
armadura e, consequentemente aumenta a tenso tangencial mobilizvel ao longo dos
reforos, conforme representado na Figura 2-11.
Figura 2-11 Fenmeno de dilatncia na interao solo-armaduras (Flix, 1991)
2.1.6.1.1 Avaliao das caractersticas de interao entre o solo e as armaduras
A mobilizao da resistncia entre os solos e os reforos caracterizada pela determinao de
um coeficiente de ligao entre ambos. Essa determinao pode ser feita em laboratrio,
atravs de ensaios de arranque e ensaios de corte direto, ou atravs de mtodos indiretos.
De acordo com Flix (1991), a escolha do mtodo mais eficaz para a determinao do
coeficiente de ligao depende do tipo de movimento relativo entre o solo e os reforos,
movimento esse que responsvel pela mobilizao da resistncia nas interfaces.
Segundo o mesmo autor, os tipos de movimento relativo que podem ocorrer nas interfaces
solo-reforo so basicamente dois:
a) O reforo permanece solidrio com a parte do solo envolvente, sendo a resistncia na
interface mobilizada pelo deslizamento da restante massa de solo relativamente ao
reforo;
b) O reforo desloca-se em relao ao solo envolvente, sendo este movimento relativo o
responsvel pela mobilizao da resistncia na interface.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 15
Tendo isto em conta, aparentemente os ensaios de corte direto simulam mais corretamente os
fenmenos que ocorrem nas interfaces (alnea a); enquanto que os ensaios de arranque
funcionam melhor no caso da alnea b).
Ensaios de corte direto
Nos ensaios de corte direto, conforme Figura 2-12, o solo colocado na parte superior da
caixa, que desliza diretamente sobre o reforo, sujeito ao de uma tenso normal
constante. A parte inferior da caixa pode ser constituda por um suporte rgido ou estar
preenchida por solo do mesmo tipo.
Figura 2-12 Ensaio de corte direto das interfaces solo-reforo
Neste tipo de ensaio, o coeficiente de ligao () entre o solo e o reforo obtido pela
expresso (2-2) resultante da anlise da Figura 2-13.
A reta apresentada nessa figura une diversos pontos que representam a tenso tangencial
necessria para que ocorra deslocamento do solo em relao fita quando sujeito a uma
determinada tenso normal constante. Para cada valor de tenso normal corresponder um
valor de tenso tangencial.
(2-2)
Onde:
Tenso de corte;
v Tenso normal.
Figura 2-13 Resultado tpico do ensaio de corte direto
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 16
Potyondy (1961) realizou uma srie de ensaios e concluiu sobre quais os fatores que mais
influenciam as resistncias das interfaces:
Percentagem das partculas finas;
Compacidade relativa, no caso de solos granulares e o teor em gua no caso dos solos
com elevadas percentagens de partculas finas;
Estado da superfcie do material estrutural;
Nvel de tenso normal.
Cardoso (1987) salienta que os ensaios de corte direto, nomeadamente os realizados com
tenso normal constante, representam bastante mal o que se passa numa obra de reforo com
armaduras lineares. As principais razes apontadas para a inadequao destes ensaios nas
circunstncias indicadas so:
O carcter bidimensional dos ensaios de corte direto no permite a simulao dos
fenmenos de interao, essencialmente tridimensionais, que ocorrem quando uma
armadura linear tracionada;
A resistncia da interface marcadamente influenciada pela restrio da dilatncia
dos solos granulares. No se verificando essa restrio nos ensaios de corte direto,
realizados sob tenso normal constante, no possvel contabilizar a influncia desse
parmetro na resistncia das interfaces;
Os ensaios de corte direto no consideram a influncia da rigidez dos reforos no
mecanismo de mobilizao da resistncia das interfaces, pois, ao suprimirem ou
restringirem as deformaes dos reforos, alteram o mecanismo de interao.
Ensaios de arranque
O princpio do ensaio, representado na Figura 2-14, consiste na colocao do reforo entre
duas camadas de solo e numa das extremidades aplicada uma fora de trao.
Figura 2-14 Ensaio de arranque
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 17
A fora aplicada e o respetivo deslocamento so registados durante o ensaio, permitindo o
clculo do coeficiente de ligao entre o solo e o reforo, de acordo com a expresso (2-3)
(Sawicki, 2000).
(2-3)
Onde:
F Fora de trao aplicada no reforo;
B Espessura do reforo;
L Comprimento do reforo.
O diagrama resultante do ensaio de arranque que permite a interpretao dos resultados do
mesmo encontra-se representado na Figura 2-15.
Figura 2-15 Relao entre a fora de trao e o deslocamento experimentado pelo reforo, no ensaio de arranque
Estes ensaios podem ser feitos com recurso a caixas, mas tambm utilizando modelos
reduzidos, aterros experimentais ou obras reais. Diversos autores serviram-se deste tipo de
ensaio para caracterizar a interao entre o solo e os reforos de entre os quais se destacam:
Schlosser e Vidal (1969); Holtz (1975); Alimi et al. (1977); Schwab et al. (1977); Bacot et al.
(1978); Schlosser e Guilloux (1979); Marczal (1983); Palmeira e Milligan (1989); Ladeira (1995);
Ochiai et al. (1996); Pinho-Lopes (1998); Mendona e Lopes (2002); etc.
No entanto, a distribuio das traes nas armaduras sujeitas a ensaios de arranque apresenta
algumas diferenas importantes em relao que se observa nas obras de reforo de solos.
Como se realou anteriormente, para muros de terra armada possvel identificar no macio,
duas zonas distintas: uma zona ativa, na qual as tenses tangenciais so transferidas do solo
para as armaduras e uma zona passiva em que, pelo contrrio, as traes nos reforos so
transmitidas para o solo envolvente, anulando-se nas suas extremidades posteriores. Nos
ensaios de arranque, as tenses tangencias so transferidas unicamente do reforo para o
solo. Outra diferena reside nos deslocamentos. No caso dos ensaios de arranque, os nicos
movimentos do macio so devidos s foras transmitidas ao solo pelas armaduras, enquanto
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 18
que, no caso de obras de solo reforado coexistem os deslocamentos resultantes da ao dos
reforos e os deslocamentos globais da estrutura. Como tal, devido existncia das duas zonas
referidas acima, verifica-se que, nos macios reforados, as tenses tangenciais mais elevadas
comeam por se mobilizar nas extremidades posteriores dos reforos, enquanto que, em
comparao, nos ensaios de arranque acontece exatamente o contrrio.
Mtodos indiretos
Como ficou provado, os ensaios de corte direto e os ensaios de arranque possuem as suas
limitaes, em especial no que se refere s condies de deformao, que diferem das
estruturas reais. Na tentativa de ultrapassar essas restries, alguns autores tm procurado
determinar os parmetros caracterizadores da interao solo-reforos atravs dos resultados
de ensaios com modelos reduzidos (Bacot et al., 1978; Hausmann e Lee, 1978; Hoshiya, 1978;
Shen et al., 1979; etc.), ou atravs da anlise do comportamento de obras reais (Magyarne et
al., 1979).
O problema da utilizao de modelos reduzidos prende-se com o facto da tenso de
confinamento do solo ser menor quando comparada com estruturas reais. Isso leva a que o
ngulo de atrito do solo nos modelos reduzidos seja superior ao ngulo de atrito da estrutura
real. Quer isto dizer que, sendo a resistncia dos solos afetada pela resistncia das interfaces,
que condicionada em grande parte pelo ngulo de atrito do solo, leva a que os valores
determinados nos ensaios possam no ser os mais adequados, quando utilizados para o
dimensionamento de estruturas reais.
2.1.6.1.2 Fatores que influenciam os solos reforados
A interao entre o solo e os reforos depende, naturalmente, das propriedades dos solos bem
como das armaduras. De seguida ser feita uma breve descrio da influncia das
caractersticas dos solos e armaduras no comportamento das interfaces.
Influncia das caractersticas do solo
Os solos granulares, reforados ou no, apresentam um comportamento mecnico
influenciado por fatores como a compacidade, a tenso de confinamento, a granulometria e a
forma das partculas.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 19
Citando Mendona (2004), a resistncia mxima dos solos granulares fortemente
condicionada pelas variaes volumtricas experimentadas pelo solo durante o processo de
corte. Os solos granulares soltos tm tendncia a diminuir de volume, uma vez que o seu
ndice de vazios inicial superior ao crtico. Nestes casos, o diagrama tenso-deformao no
apresenta pico. A resistncia mxima mobilizada para grandes deformaes, aps ser
atingido o valor crtico do ndice de vazios do solo. A resistncia mxima dos solos granulares
soltos coincide com a resistncia a volume constante exibida quando o seu estado inicial
denso. McGown et al. (1978) realizaram ensaios de deformao plana com uma areia mdia a
grossa, uniforme, com porosidade mxima e mnima de 0,345 e de 0,450, respetivamente.
Parte dos ensaios foram executados com a areia reforada a meia altura do provete, tendo
sido utilizados, entre outros, os seguintes materiais: uma malha de alumnio e um geotxtil
no tecido.
As curvas tenso-deformao apresentadas na Figura 2-16 ilustram claramente a influncia do
ndice de compacidade do solo no seu comportamento. Concluses semelhantes foram
obtidas por Schwab et al. (1977), Miyamori et al. (1986), Eigenbroad e Locker (1987), etc.. Por
outro lado, como se observa na Figura 2-16, existe uma clara influncia do tipo de reforo nas
caractersticas mecnicas do solo reforado.
Figura 2-16 Curva tenso-deformao de uma areia reforada e de uma areia no reforada: a) solta; b) densa (McGown et al., 1978, extrado de Mendona, 2004)
Para alm do ndice de compacidade h outros fatores que podem condicionar o
comportamento dos solos granulares, como sejam: a tenso de confinamento, a granulometria
e a forma dos gros.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 20
A tenso de confinamento condiciona a resistncia dos solos granulares uma vez que o ndice
de vazios crtico diminui com o aumento daquela tenso. Ou seja, ao aumentar a tenso de
confinamento, os fenmenos de imbricamento indutores de dilatncia perdem relevncia,
diminuindo a razo entre as resistncias de pico e a volume constante.
A granulometria e a forma dos gros afetam o comportamento mecnico dos solos arenosos
atravs da sua contribuio para o maior ou menor imbricamento dos gros. Quanto
granulometria, tm mais importncia os seus aspetos distributivos do que a dimenso mdia
dos gros. Este facto resulta daqueles aspetos poderem possibilitar, ou no, arranjos mais ou
menos densos das partculas. Por outro lado, a dimenso mdia dos gros pouca influncia
tem nas caractersticas mecnicas dos solos arenosos, no entanto afeta de modo relevante o
mecanismo de interao dos solos com os reforos.
Influncia das caractersticas geomtricas das armaduras
Dados recolhidos por Flix (1991), sobre resultados de ensaios de arranque (Schlosser e Elias,
1978; Alimi et al, 1977) mostram que o coeficiente de ligao () entre o solo e o reforo
aumenta com o aumento do comprimento dos reforos. Ainda segundo o mesmo autor, que
cita Schlosser e Elias (1978), este fenmeno devido ao fato da tenso normal prxima da face
do muro ser menor do que no interior do macio.
Flix (1991) concluiu que s cresce at um determinado valor de comprimento. Para valores
superiores a um determinado valor limite, a influncia de elongao provocada pelas traes,
combinada com a forma da curva tenso-deformao do solo, a qual pode ter valores de pico e
residuais, deve conduzir a uma pequena diminuio de .
A rugosidade superficial dos reforos outra das caractersticas que provoca o aumentos de .
Influncia das caractersticas mecnicas das armaduras
Para alm das caractersticas geomtricas das armaduras, as caractersticas mecnicas
influenciam em grande medida o comportamento das estruturas de terra armada.
Como j dito anteriormente, os reforos constituintes dos muros de terra armada podem ser
extensveis (geossintticos) ou inextensveis (metlicos). Os reforos constitudos por materiais
geossintticos experimentam grandes deformaes quando comparados com os reforos
metlicos. No entanto, estes ltimos sofrem rotura rpida, enquanto no caso dos
geossintticos essa rotura progressiva. Desta forma, o comportamento do segundo sistema
de reforo mais frgil do que o do solo no reforado, enquanto, pelo contrrio, o dos
sistemas com armaduras extensveis mais dctil.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 21
Outra diferena est relacionada com o fenmeno da deformao a longo prazo, que uma
caracterstica a ter em conta aquando do dimensionamento de estruturas em terra armada
com reforos constitudos por material geossinttico, pois este experimenta aumento de
deformao com o tempo.
2.1.7 Princpios bsicos para o dimensionamento interno de muros em terra armada
O dimensionamento interno comporta as seguintes verificaes:
Resistncia do paramento;
Resistncia trao das armaduras;
Segurana ao deslizamento das armaduras.
A verificao da estabilidade interna dos macios de terra armada deve conduzir seleo das
dimenses das armaduras, bem como definio do afastamento (horizontal e vertical) entre
elas.
As seces transversais das armaduras devem ser capazes de resistir s traes mximas, com
um fator de segurana adequado. Por outro lado, a superfcie lateral na zona resistente do
macio deve ser tal que as tenses tangenciais necessrias para equilibrar as traes mximas
sejam suficientemente inferiores resistncia das interfaces do solo com as armaduras.
Note-se que duas situaes completamente distintas podem ocorrer conforme se der o caso
de um reforo romper por falta de resistncia trao ou por ser excedida a resistncia numa
interface solo-reforo. No primeiro caso, a fora anteriormente suportada pelo reforo em
rotura transferida para os outros reforos, o que pode dar origem ao desenvolvimento de
uma rotura progressiva mais ou menos rpida. Por outro lado, no caso de rotura por falta de
resistncia de uma interface, o reforo correspondente continua a suportar uma grande
percentagem da fora anterior, cujo valor depende da percentagem das tenses de corte
residuais na interface solo-reforo; da que, neste tipo de rotura, o que geralmente acontece
a ocorrncia de deformaes excessivas na massa reforada.
Os mtodos mais usuais de anlise da estabilidade interna baseiam-se em consideraes de
Equilbrio Limite e podem ser divididos em mtodos de equilbrio local e mtodos de equilbrio
global. Os primeiros conduzem avaliao das traes mximas em cada um dos reforos,
enquanto nos segundos o equilbrio garantido considerando a contribuio conjunta de
todos os reforos sem que haja a preocupao de estabelecer a parcela correspondente a cada
um.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 22
A maioria dos mtodos de equilbrio local baseia-se nas hipteses de Coulomb ou Rankine e
em hipteses adicionais sobre a distribuio das traes nos reforos.
Os mtodos de equilbrio global consideram superfcies de rotura arbitrrias (planares,
biplanares, circulares, etc.) e determinam as foras que se tm de mobilizar na globalidade dos
reforos para garantir a estabilidade do bloco potencialmente instvel (Cardoso, 1987).
2.1.7.1 Mtodo de equilbrio local
Trata-se de um mtodo utilizado pela AASHTO (2005) e em Frana (LCPC-SETRA, 1979) e que
se baseia em trabalhos desenvolvidos por outros autores e, sobretudo, em resultados da
observao do comportamento de obras.
A sua descrio assenta nas seguintes consideraes:
1) Dependendo do tipo de reforo, caso seja extensvel ou inextensvel, a superfcie que
une os pontos onde se instalam as traes mximas nos referidos reforos uma das
superfcies simplificadas, representadas na Figura 2-17;
a) b)
Figura 2-17 Localizao da superfcie de rotura nos reforos: a) inextensveis; b) extensveis (adaptado de AASHTO, (2005))
2) Citando Flix (1991), na rotura a maior parte da zona ativa, confinada entre a cortina e
a zona resistente, no pode deformar-se lateralmente, sendo que as nicas tenses
tangenciais que se podem desenvolver naquela zona, em qualquer plano horizontal,
so as devidas s tenses mobilizadas nas interfaces do solo com as armaduras.
Conforme ilustrado na Figura 2-18, entre cada dois nveis de reforos contguos existir
um plano que se pode considerar equidistante de ambos os nveis, onde as tenses
tangenciais so nulas. Ento, considerando o prisma limitado pelo paramento, pela
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 23
superfcie das traes mximas e, pelos dois planos de tenso tangencial nula, a trao
mxima num reforo localizado profundidade z dada por:
(2-4)
Em que h(z,x) representa a tenso horizontal profundidade z e, H e n representam,
respetivamente, o espaamento vertical e horizontal dos reforos.
Figura 2-18 Determinao das traes mximas (LCPC-SETRA, 1979, extrado de Flix, 1991)
3) A tenso horizontal obtida de acordo com:
(2-5)
Onde K(z) representa o coeficiente de impulso, v(z,x) representa a tenso vertical
profundidade z e h(z) o incremento da tenso horizontal resultante da aplicao,
na superfcie do terreno, de solicitaes com aquela direo.
4) Por fim, determinam-se a seco e comprimento de cada armadura, considerando
que: a trao mxima deve ser menor que a resistncia da armadura rotura, dividida
por um coeficiente de segurana; por outro lado, aquela trao deve ser inferior que
se pode mobilizar por atrito entre o ponto de trao mxima e o extremo livre,
convenientemente minorada. Ou seja:
(2-6)
Em que r e f so coeficientes de minorao das propriedades resistentes, eu, b, L e La
so, respetivamente, espessura til, largura, comprimento total e comprimentos da
zona resistente da armadura, c a resistncia trao do material do reforo e (z)
o coeficiente de atrito aparente profundidade z, que deve ser avaliado atendendo s
propriedades do material de aterro e s caractersticas das superfcies das armaduras.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 24
Na Figura 2-19, apresenta-se uma metodologia proposta pela AASHTO (2005) para a
determinao de .
Figura 2-19 Determinao do coeficiente de atrito (AASHTO, 2005) (nota: F*=)
2.1.7.2 Mtodo de equilbrio global
De acordo com o descrito por Cardoso (1987), este mtodo assemelha-se a outros do mesmo
tipo, com a diferena de que as superfcies de deslizamento so consideradas planas,
enquanto que, nos outros se estipulam superfcies com outras formas.
Figura 2-20 Mtodo de equilbrio global (LCPC-SETRA, 1979, extrado de Cardoso, 1987)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 25
Conforme se pode verificar pela Figura 2-20, para cada superfcie potencial de rotura, definida
pela coordenada Z e pelo ngulo , o equilbrio das foras exteriores aplicadas cunha
limitada pela superfcie considerada, pelo paramento, pela superfcie do aterro e pela
superfcie que limita posteriormente o macio reforado, permite determinar o somatrio das
foras que necessrio mobilizar na globalidade das incluses, para garantir o equilbrio.
A estabilidade interna do macio assegurada se, para qualquer superfcie de deslizamento, se
verificar:
(2-7)
Sendo, para cada armadura intersectada,
(2-8)
Em que ref o coeficiente de minorao das propriedades resistentes e Tr(z) e Tf(z) so dados
pela expresso (2-6).
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 26
2.2 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS
2.2.1 Introduo
O Mtodo dos Elementos Finitos (MEF) um processo numrico para obteno de solues
aproximadas de muitos problemas de engenharia, nomeadamente quando os fenmenos em
estudo se regem por equaes diferenciais cujas solues analticas so difceis ou impossveis
de obter.
Nestes casos necessrio recorrer a mtodos numricos de aproximao que permitam
substituir as solues analticas exatas por solues numricas aproximadas, de modo a que o
problema de integrao das equaes diferenciais seja substitudo pela resoluo de um
sistema de equaes algbricas.
extensivamente utilizado em anlise estrutural, conhecendo tambm uma larga difuso em
vrios tipos de problemas fsicos, como transferncia de calor, percolao, mecnica de fludos
e potencial eltrico e magntico.
A ideia de base consiste em considerar o meio contnuo como uma montagem de um nmero
finito de elementos que partilham um determinado conjunto pr-definido de ns. Ou seja, o
nmero infinito de graus de liberdade que existem no meio substitudo por incgnitas
especficas nos ns.
A formulao da malha ou discretizao do meio contnuo consiste na diviso em pequenas
pores do espao fsico em estudo, sendo cada elemento tratado individualmente, com
propriedades fsicas e mecnicas eventualmente distintas e com uma formulao prpria,
dependendo do tipo de elemento.
A aplicao do mtodo dos elementos finitos na anlise da estabilidade de muros reforados
permite o estudo detalhado das deformaes do macio, bem como da importncia relativa de
cada um dos fatores que dele fazem parte. A aplicao deste mtodo permite, ainda, a
possibilidade da anlise do papel desempenhado por cada componente estrutural e das suas
interaes.
2.2.2 Elementos finitos isoparamtricos
Um aspeto muito importante de qualquer clculo por elementos finitos o clculo de matrizes
de elementos finitos, entre outras, a matriz de rigidez, a matriz de massa, o vetor de cargas
nodais equivalente s cargas exteriores aplicadas.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 27
Um dos avanos mais significativos no mtodo dos elementos finitos foi obtido aquando da
introduo de elementos finitos isoparamtricos (Ferreira, 2010). A ideia bsica dos elementos
finitos isoparamtricos a de que a relao entre os deslocamentos no interior do elemento e
os deslocamentos nodais pode ser diretamente estabelecida atravs de funes de
interpolao (tambm chamadas funes de forma).
2.2.2.1 Funes de interpolao
Este tipo de funes define a variao de determinadas propriedades dentro do elemento
(Zienkiewick, et al., 2000). Para o caso concreto do presente trabalho, permitem caracterizar
valores correspondentes aos deslocamentos e coordenadas de um determinado ponto
localizado no interior de um elemento, em funo dos valores definidos nos pontos nodais do
mesmo.
Tome-se como exemplo o valor de U, como sendo o deslocamento num qualquer ponto (x,y),
no interior do elemento.
Sendo,
(2-9)
Onde n corresponde ao nmero de pontos nodais do elemento e Ni representa o valor da
funo de interpolao relativa ao ponto nodal i. Como tal, conhecendo os valores de Ui
relativos a cada ponto nodal, o valor U pertencente a qualquer ponto no interior do elemento
poder assim ser determinado.
As funes de interpolao so definidas em termos de coordenadas naturais ( e ), tanto
para elementos quadrilteros, representado na Figura 2-21, como para elementos de barra,
cuja coordenada natural apenas representada por .
Figura 2-21 Elemento quadriltero representado nas suas coordenadas naturais
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 28
Estas coordenadas variam entre -1 e +1, assumindo o valor zero no seu ponto central (Ferreira,
2010). A definio deste tipo particular de intervalo facilita a aplicao da integrao de Gauss,
conforme se ver mais adiante.
Para o elemento representado na Figura 2-21, as funes de interpolao assumem a seguinte
forma (Ferreira, 2010):
(2-10)
Importa referir que as funes interpoladoras tero que ser unitrias no n a que respeitam e
nulas nos restantes e, possurem a repartio da unidade, ou seja, .
Devem tambm ser derivveis no interior do domnio do elemento finito e contnuas na
fronteira dos elementos.
2.2.2.2 Transformao de coordenadas
A determinao dos deslocamentos e respetiva tenso e deformao nos elementos feita
tendo em considerao as coordenadas globais (x,y). Uma vez que as funes interpoladoras
no so funo das coordenadas globais, mas sim funo das coordenadas naturais torna-se
necessrio obter uma relao entre ambas.
Seja o incremento de rea de um elemento definido por dA=d.d, a sua relao com as
coordenadas globais pode ser calculada de acordo com:
(2-11)
Onde, J a matriz jacobiana que relaciona as coordenadas globais (x,y) com as coordenadas
naturais (,) do elemento.
(2-12)
Assim, a rea do elemento no sistema global dada pela expresso (2-13).
(2-13)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 29
Onde |J| o determinante da matriz jacobiana.
As derivadas parciais (
, ) so obtidas, relacionando as derivadas das funes de forma
(
) com as coordenadas dos pontos nodais atravs da derivada da expresso geral (2-14).
(2-14)
No que respeita s derivadas parciais das funes de forma em relao s coordenadas
naturais, responsveis pela constituio da matriz [B], a sua determinao pode ser feita
considerando a regra da cadeia conforme:
(2-15)
(2-16)
Cuja sua representao na forma matricial ser:
(2-17)
2.2.2.3 Relao deformao-deslocamento
Sejam u e v os deslocamentos segundo as direes x e y. Para o caso de deformao plana
(z=0), e considerando pequenas deformaes, tem-se:
(2-18)
As deformaes num ponto no interior do elemento podem ser relacionadas com os
deslocamentos nos pontos nodais. Usando a equao (2-10), para expressar u e v em termos
de deslocamentos dos pontos nodais, define-se:
(2-19)
Onde,
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 30
o vetor correspondente aos deslocamentos dos pontos nodais do elemento, de acordo
com a expresso (2-20) .
(2-20)
[B] representa a matriz deformao-deslocamento, de acordo com a expresso (2-21).
(2-21)
Que para o caso de deformao plana ser:
(2-22)
2.2.2.4 Matriz rigidez
A matriz rigidez global relaciona as foras aplicadas nos pontos nodais com os seus
deslocamentos e obtida, estabelecendo-se, em primeiro lugar, as matrizes de rigidez
correspondentes a cada elemento. Posteriormente efetua-se a assemblagem destas na matriz
global, cuja ordem corresponde ao nmero de graus de liberdade da malha (Zienkiewick, et al.,
2000).
Figura 2-22 Elemento em estado de equilbrio
Considere-se o elemento da Figura 2-22. De acordo com o Principio dos Trabalhos Virtuais, no
qual, {u*} corresponde ao vetor de deslocamentos virtuais, {} ao valor da tenso num dado
ponto do elemento e {*} a deformao resultante dos deslocamentos virtuais. O trabalho
desenvolvido pela ao das foras internas igual ao trabalho desenvolvido pela ao das
foras externas, conforme expresso (2-23).
(2-23)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 31
Onde dV representa o volume do elemento e pode ser expresso em funo de e conforme
expresso (2-24).
(2-24)
Considerando a expresso (2-19) tem-se:
(2-25)
E como tal,
(2-26)
Substituindo (2-26) em (2-23) e, tendo em conta que o vetor de deslocamentos virtuais
arbitrrio, resulta:
(2-27)
Considerando a relao existente entre a tenso e a deformao de acordo com a expresso
(2-28):
(2-28)
Pode-se reescrever a expresso (2-27) da seguinte forma:
(2-29)
Considerando,
(2-30)
como sendo a matriz rigidez do elemento, a relao entre as foras aplicadas ao mesmo e o
respetivo deslocamento dado pela expresso (2-31).
(2-31)
A expresso (2-31) constitui o princpio bsico do mtodo dos elementos finitos.
2.2.2.5 Foras atuantes
As foras atuantes num elemento podem ser de dois tipos: foras externas, resultantes de
cargas; ou foras internas, resultantes do peso prprio.
Em qualquer dos casos, as foras s podem ser aplicadas nos ns como foras concentradas.
Como tal, as mesmas tm que ser distribudas pelos respetivos ns usando igualmente as
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 32
funes de interpolao. Assim, as foras atuantes podem ser representadas de acordo com a
expresso (2-32).
(2-32)
Com:
(2-33)
Onde:
T Representa a carga externa aplicada; Representa o peso prprio.
2.2.2.6 Matriz constitutiva
Como referido em 2.2.2.4 a relao entre a tenso e a deformao dada de acordo com a
expresso (2-34).
(2-34)
Cuja forma matricial tem a seguinte representao:
(2-35)
No caso de problemas geotcnicos, onde uma das dimenses espaciais muito maior quando
comparada com as outras duas, razovel considerar que a deformao sentida na maior das
dimenses seja igual a zero, ou seja, =0. Este tipo de anlise denominado de estado plano
de deformao.
Partindo deste princpio, para elementos quadrilteros, a matriz constitutiva elstica pode ser
constituda de acordo com a expresso (2-36).
(2-36)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 33
2.2.2.7 Integrao numrica
Na grande maioria dos elementos finitos, torna-se impraticvel calcular as matrizes de rigidez,
K e vetores de carga f, sem recurso a integrao numrica. O tipo de integrao mais utilizada
para casos semelhantes ao tratado no presente trabalho, a denominada integrao de
Gauss-Legendre, mais conhecida por integrao de Gauss (Ferreira, 2010).
Considere-se uma funo f(x), x [-1,1]. Na regra de integrao de Gauss, o integral
(2-37)
expresso na forma de um somatrio estendido a p pontos de Gauss, no interior do elemento,
onde se multiplica o valor da funo f nesses pontos p por pesos, de acordo com:
(2-38)
No qual Wi representa os pesos correspondentes ao ponto i. No
Quadro 2-1 apresentam-se as coordenadas e os pesos utilizados para a tcnica de integrao
de Gauss, at quatro pontos.
Quadro 2-1 Coordenadas e pontos a utilizar na integrao de Gauss (quatro pontos) (Ferreira, 2010)
P xi Wi
1 0,0 2,0
2 0,5773502692 1,0
3 0,774596697 0,5555555556
0,0 0,8888888889
4 0,86113663116 0,3478548451
0,3399810436 0,6521451549
Na Figura 2-23 apresentam-se ilustraes das posies dos pontos de Gauss para elementos
unidimensionais.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 34
Figura 2-23 Pontos de integrao de Gauss para situaes unidimensionais, at quatro pontos
No caso dos elementos quadrilteros bidimensionais, o integral substitudo por dois
somatrios, contendo produtos dos pesos de Gauss e funo nos pontos de Gauss respetivos,
conforme ilustra a expresso (2-39).
(2-39)
Em que p e q so o nmero de pontos na direo e , respetivamente. wi e wj os respetivos
pesos.
Na Figura 2-24 apresentam-se ilustraes das posies dos pontos de Gauss para elementos
quadrilteros bidimensionais.
Figura 2-24 Pontos de integrao de Gauss para elementos quadrilteros bidimensionais, at quatro pontos
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 35
2.3 PRINCPIO DA ELASTOPLASTICIDADE EM SOLOS
Os modelos elastoplsticos baseiam-se num conjunto de hipteses respeitantes ao carcter
das deformaes experimentadas pelos corpos quando sujeitas a variaes de tenso e ao tipo
de relao entre estas. Como tal, considera-se vlido o princpio da sobreposio, que postula
que o incremento da deformao, associado a qualquer variao do estado de tenso
composto, em geral, por duas parcelas: uma elstica, recupervel no caso de se aplicar um
incremento de tenses simtrico do anterior, e outra plstica, inaltervel com a descarga.
Assim,
Em que {d}, {de} e {dp}, representam as componentes dos tensores das deformaes
incrementais total, elstica e plstica, respetivamente.
A deformao elstica, linear ou no, depende da grandeza do incremento de tenso, sendo
essa dependncia controlada pelos parmetros elsticos de acordo com:
Em que [C] a matriz elasticidade, formada pelos parmetros elsticos, os quais assumem
valores constantes se a relao tenso-deformao for linear ou variar com o estado de tenso
no caso contrrio.
Relativamente deformao plstica ser conveniente introduzir os seguintes conceitos:
Funo de plastificao;
Funo de potencial plstico;
Lei de endurecimento/amolecimento.
2.3.1 Funo de plastificao
No espao geral das tenses e deformaes, para se determinar o limite onde o material deixa
de se comportar elasticamente e passa a ter comportamento plstico, ser necessria uma
funo de plastificao, funo escalar, por um lado, das componentes do tensor das tenses
e, por outro, das deformaes plsticas:
(2-40)
(2-41)
(2-42)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 36
Num espao de tenses n-dimensional, a expresso,
define a posio da superfcie de plastificao em cada momento, isto , em funo das
deformaes plsticas experimentadas at esse momento. Ento, se no espao referido uma
dada variao das tenses for representada por pontos localizados no interior da superfcie de
plastificao (F0.
A Figura 2-25 a) e Figura 2-25 b) ilustram, respetivamente, a curva de plastificao e superfcie
de plastificao.
Figura 2-25 a) curva de plastificao; b) superfcie de plastificao
2.3.2 Funo de potencial plstico
Para modelos unidimensionais, as deformaes plsticas ocorrem na mesma direo da
aplicao das tenses. Para modelos bidimensionais ou tridimensionais, a direo onde ocorre
a deformao plstica mais difcil de determinar. Para tal torna-se necessria a introduo de
uma lei de fluxo, que determina a direo do incremento de deformao plstica. A maior
parte das vezes, a lei de fluxo utiliza o conceito de potencial plstico e baseia-se no princpio
da normalidade que postula que, num dado ponto sujeito a uma determinada variao das
(2-43)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
Pgina 37
tenses, os incrementos de deformao plstica so normais superfcie definida pelo
potencial plstico:
Sendo um fator de proporcionalidade de cujo valor dependem as grandezas das
componentes de deformao plstica e Q o potencial plstico, funo escalar das
componentes do tensor