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8/20/2019 MODELO CIDOC CRM: INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA DE INFORMAÇÕES CULTURAIS http://slidepdf.com/reader/full/modelo-cidoc-crm-interoperabilidade-semantica-de-informacoes-culturais 1/7 56 Santo, Hercules Pimenta dos. Modelo CIDOC CRM: interoperabilidade semântica de informações culturais . // Brazilian Journal of Information Studies: Research Trends. 10:1 (2016) 56-62. ISSN 1981-1640.  MODELO CIDOC CRM: INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA DE INFORMAÇÕES CULTURAIS  Model CIDOC CRM: Semantic Interoperability of Cultural Information Hercules Pimenta dos Santos Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte – Minas Gerais, [email protected]. Resumo O presente artigo tem o objetivo de apresentar o modelo CIDOC CRM, um padrão capaz de integrar informação cultural de variadas fontes. Trata-se de uma ontologia formal de referência que busca atender a uma crescente demanda por  pesquisa orientada, estudos comparativos, transferência de dados e migração de dados entre fontes heterogêneas de conteúdos culturais. Como a maioria dos aplicativos é executada em ambientes relativamente similares, a complexidade da aplicação se torna insignificante entre os sistemas. A pesquisa apoiou-se em uma investigação teórica, com revisão de literatura explorando representações conceituais e buscando compreender as potencialidades deste modelo de padrão internacional (ISO 21127), multidisciplinar e que tem como um de seus objetivos corrigir o descompasso dos problemas que os cientistas da computação e os implementadores de sistemas têm para compreender a lógica dos conceitos culturais. Se conclui que ontologias não são específicas de apenas um domínio. Uma série de domínios e subdomínios diferentes utiliza os mesmos conceitos básicos. Entendemos estar diante de uma noção de método científico mostrando que este modelo é útil em vários domínios e tem sido capaz de fazê-lo com um conjunto muito pequeno de conceitos. Tal modelo proporciona grande capacidade de mover os dados entre diferentes grupos com riqueza semântica. O CRM mostra que a descrição dos problemas semânticos intrincados em linguagem comum não só é  passível de erro, havendo ainda o risco de imprecisão e certo grau de ambiguidade, apesar de todo o esforço que se empreende para uma precisão da argumentação. Palavras-chave: Organização da Informação;  Ontologias; Interoperabilidade semântica; Patrimônio cultural. Abstract This article aims to present the CIDOC CRM model, a standard available to integrating cultural information from various sources. It is a formal ontology of refer- ence, which seeks to meet a growing demand for target- ed research, comparative studies, data transfer and data migration between heterogeneous sources of cultural content. Like most applications is performed in relative- ly similar environments, the complexity of the applica- tion becomes negligible between systems. The survey relied on a theoretical research, with literature review exploring conceptual representations and trying to un- derstand the potential of this international standard model (ISO 21127), multidisciplinary and that has as one of its objectives to correct the imbalance of the  problems that computing's scientists and system imple- menters have to understand the logic of cultural con- cepts. It follows that ontologies are not specific to only one domain. A number of areas and different subdo- mains uses the same basic concepts. Understood to be on a notion of scientific method shows that this model is useful in various fields and has been able to do it with a very small set of concepts. This model provides great ability to move data between different groups with se- mantic richness. CRM shows that the description of the semantic problems that involves common language is not only error-prone, with a risk of inaccuracy and a de- gree of ambiguity, despite all the efforts being undertak- en for a precision argument. Keywords: Organization of information; Ontology; Se- mantic interoperability; Cultural heritage. 1 Introdução Ontologias buscam proporcionar a classificação de entidades em todas as esferas. Segundo Smith (2003), esta classificação deve ser definitiva, no sentido de que  possa servir como uma resposta a questões como: What classes of entities are needed for a complete description and explanation of all the goings-on in the universe? (p. 1). Todos os tipos de entidades devem ser incluídos nesta classificação, abarcando, também, os tipos de relações em que as entidades estão ligadas entre si para formar conjuntos maiores. As informações sobre o patrimônio cultural consistem em desafios específicos para o tratamento formal. Como constatamos, o modelo CIDOC CRM

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Santo, Hercules Pimenta dos. Modelo CIDOC CRM: interoperabilidade semântica de informações culturais. // Brazilian Journal of InformationStudies: Research Trends. 10:1 (2016) 56-62. ISSN 1981-1640. 

MODELO CIDOC CRM: INTEROPERABILIDADESEMÂNTICA DE INFORMAÇÕES CULTURAIS

 Model CIDOC CRM: Semantic Interoperability of Cultural Information

Hercules Pimenta dos Santos

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte – Minas Gerais, [email protected].

Resumo

O presente artigo tem o objetivo de apresentar o modeloCIDOC CRM, um padrão capaz de integrar informaçãocultural de variadas fontes. Trata-se de uma ontologia formalde referência que busca atender a uma crescente demanda por pesquisa orientada, estudos comparativos, transferência dedados e migração de dados entre fontes heterogêneas deconteúdos culturais. Como a maioria dos aplicativos éexecutada em ambientes relativamente similares, acomplexidade da aplicação se torna insignificante entre ossistemas. A pesquisa apoiou-se em uma investigação teórica,com revisão de literatura explorando representaçõesconceituais e buscando compreender as potencialidades destemodelo de padrão internacional (ISO 21127), multidisciplinare que tem como um de seus objetivos corrigir o descompassodos problemas que os cientistas da computação e os

implementadores de sistemas têm para compreender a lógicados conceitos culturais. Se conclui que ontologias não sãoespecíficas de apenas um domínio. Uma série de domínios esubdomínios diferentes utiliza os mesmos conceitos básicos.Entendemos estar diante de uma noção de método científicomostrando que este modelo é útil em vários domínios e temsido capaz de fazê-lo com um conjunto muito pequeno deconceitos. Tal modelo proporciona grande capacidade demover os dados entre diferentes grupos com riquezasemântica. O CRM mostra que a descrição dos problemassemânticos intrincados em linguagem comum não só é passível de erro, havendo ainda o risco de imprecisão e certograu de ambiguidade, apesar de todo o esforço que seempreende para uma precisão da argumentação.

Palavras-chave: Organização da Informação;  Ontologias;Interoperabilidade semântica; Patrimônio cultural.

Abstract

This article aims to present the CIDOC CRM model, astandard available to integrating cultural informationfrom various sources. It is a formal ontology of refer-ence, which seeks to meet a growing demand for target-ed research, comparative studies, data transfer and datamigration between heterogeneous sources of culturalcontent. Like most applications is performed in relative-ly similar environments, the complexity of the applica-tion becomes negligible between systems. The surveyrelied on a theoretical research, with literature reviewexploring conceptual representations and trying to un-derstand the potential of this international standardmodel (ISO 21127), multidisciplinary and that has asone of its objectives to correct the imbalance of the problems that computing's scientists and system imple-

menters have to understand the logic of cultural con-cepts. It follows that ontologies are not specific to onlyone domain. A number of areas and different subdo-mains uses the same basic concepts. Understood to beon a notion of scientific method shows that this model isuseful in various fields and has been able to do it with avery small set of concepts. This model provides greatability to move data between different groups with se-mantic richness. CRM shows that the description of thesemantic problems that involves common language isnot only error-prone, with a risk of inaccuracy and a de-gree of ambiguity, despite all the efforts being undertak-en for a precision argument.

Keywords: Organization of information; Ontology; Se-

mantic interoperability; Cultural heritage.

1 Introdução

Ontologias buscam proporcionar a classificação deentidades em todas as esferas. Segundo Smith (2003),esta classificação deve ser definitiva, no sentido de que

 possa servir como uma resposta a questões como: What

classes of entities are needed for a complete descriptionand explanation of all the goings-on in the universe?

(p. 1). Todos os tipos de entidades devem ser incluídosnesta classificação, abarcando, também, os tipos derelações em que as entidades estão ligadas entre si paraformar conjuntos maiores.

As informações sobre o patrimônio cultural consistemem desafios específicos para o tratamento formal.Como constatamos, o modelo CIDOC CRM

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(conceptual reference model) (2014) é uma ontologiaformal de referência que busca atender a uma crescentedemanda por pesquisa orientada, estudos comparativos,transferência de dados e migração de dados entre fontesheterogêneas de conteúdos culturais.

O CRM surgiu a partir do Grupo de Documentação doComitê Internacional de Documentação (CIDOC) doConselho Internacional de Museus (ICOM). Também édestinado a fornecer definições semânticas para arecuperação de informações, como por exemplo, dentrode uma grande instituição via intranet. Sua perspectivaé concebida de maneira institucional e captada a partirde um determinado contexto local. Um dos seus

 principais objetivos é facilitar a interoperabilidadeentre dados e bancos de dados (ICOM/CIDOC, 2013).

2 O modelo

Segundo Crofts (2004), o CRM foi desenvolvido baseado em experiências de projetos de integração deinformação, com os seguintes objetivos:

a) tratar de todos os aspectos da documentação do patrimônio cultural necessária para o intercâmbio deinformações em um contexto global;

 b) permitir a integração e o intercâmbio sem perdasemântica entre esquemas relativamente “ricos e

 pobres”;

c) prover uma infraestrutura extensível e claramentedefinida para desenvolvimento futuro.

Segundo Lima (2008), uma das inovações do CRM é aestruturação das informações em torno dos eventostemporais, em oposição à maioria dos modelos demetadados que têm o recurso como objeto central deinteresse. Nesta abordagem, os eventos são definidoscomo entidades que agregam atores, fatos e objetos(físicos e abstratos), localidades e duração de intervalode tempo. Múltiplos nomes, identificadores e tipos

 podem ser atribuídos a todas as entidades do modelo. AFigura 1 apresenta uma visão geral das principaisentidades envolvidas.

Figura 1. Principais Entidades do CIDOC CRM. Fonte: Lima

(2008) 

O CRM é um modelo de padrão internacional. Foi

aceito pela Organização Internacional de Normalização(ISO), no Comitê Técnico ISO 46 em setembro de

2000. Passou pelo processo ISO 21127, se tornando um padrão em Outubro de 2006. Foi concebido de formamultidisciplinar, envolvendo de físicos a arqueólogos,compreendendo uma gama ampla de profissionais deáreas diferentes. Acadêmicos de todo o mundo

contribuíram no seu desenvolvimento, o que permiteafirmar que este modelo não é centrado em norte-americanos ou europeus. Trata-se de uma abordagemmultidisciplinar, verdadeiramente internacional.

Figura 2. Entidades do CIDOC CRM. Adaptado. Fonte:

CIDOC CRM

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Figura 3. Propriedades do CIDOC CRM. Adaptado. Fonte:

CIDOC CRM

O grupo de trabalho CIDOC CRM é, portanto,multidisciplinar, com o objetivo de corrigir odescompasso dos problemas que os cientistas dacomputação e os implementadores de sistemas têm

 para compreender a lógica dos conceitos culturais.Envolve pessoas da ciência da computação nodesenvolvimento de uma linguagem válida, mas

necessita das pessoas do património cultural - museus, bibliotecas e arquivos -, de modo que se elabore umalinguagem pertinente para os pesquisadores envolvidoscom estas áreas sociais. Assim, seus idealizadores

 buscaram o desenvolvimento de um padrão no qual acomunidade computacional pudesse entender o que édemandado pela comunidade do patrimônio cultural.

Um trabalho em conjunto de pessoas com formação emmuseologia, história das artes, arqueologia, histórianatural, física, ciência da computação, filosofia - não seesgotando nestas -, conseguiu chegar a um termofuncional entre a complexidade da organização dosconceitos e a complexidade da descrição de processos,

objetos ou fenômenos da forma como os especialistasde domínio apreciariam.

Assim, esta ontologia busca resolver um elementofundamental: a codificação das principaisconceituações de domínio por meio de um grupo

interdisciplinar, de forma que permita funcionalidade eseja extensível o suficiente para garantir um longociclo de vida, além de dar conta dos detalhes destasdiferentes disciplinas de áreas comuns. Além disso, étambém pensada como um guia intelectual na análisede requisitos e fase de modelagem conceitual para ossistemas de informação cultural.

O CRM é um padrão capaz de integrar informaçãocultural de variadas fontes. Como a maioria dosaplicativos são executados em ambientes relativamentesimilares - uma biblioteca, um museu de arte moderna,um arquivo histórico, um museu paleontológico, etc. -,

a complexidade da aplicação se torna insignificanteentre os sistemas.

Assim, como uma ontologia formal, o CRM podeservir para diversas finalidades, entre elas:

- Uma ontologia para modelagem de aplicações;

- Ferramenta para a interoperabilidade e integração dedados;

- Para o processamento de consultas complexas quenecessitam de inferências.

3 Qual o motivo da especificidade desse

modelo? 

3.1 Historicidade

O que é "Histórico" deve ser entendido no sentido maisabrangente: cultural, político, arqueológico, emregistros médicos, em registros de gestão de empresas,registros de experiências científicas ou dados decriminalística. Compreende qualquer descrição feita no

 passado sobre o passado, seja ele científico, médico oucultural, por normalmente ser único e não poder serempiricamente verificado, nem mesmo obtidasconclusões no sentido absoluto. Na história, qualquer

resolução de conflitos de registros contraditórios é aelaboração de outra opinião, ou uma versão analisadados fatos, obtida de perspectivas diferentes.

É desta forma que, em termos metodológicos, para umaontologia ser capaz de suportar o conjunto deconhecimentos a partir de dados históricos, deve sertomado princípios ontológicos sobre como nós

 percebemos e expressamos as coisas e os princípiosepistemológicos, além de sobre como o conhecimento

 pode ser adquirido e deve ser validado. O que não poderá ocorrer são grandes diferenças na credibilidadedas distintas proposições, ou seja, uma grande

discrepância nas análises e interpretações subjetivas.

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Como um exemplo prático, Stead (2008) cita o MuseuBenaki, em Atenas. No desenvolvimento de umaontologia, para esta instituição de guarda do patrimôniocultural material, levou-se em consideração osseguintes conceitos:

- Para entender as coisas que aconteceram no passado é preciso compreender as relações entre estas coisasreunidas em um tempo e espaço específicos,

- É preciso perceber estas coisas como objetos eacontecimentos que tiveram formas diferentes de usosnaquele contexto,

- Só é possível compreender os fatos a partir dasrelações entre as coisas de onde estas provieram.

Estes são conceitos chave para a análise, interpretaçãoe descrição de elementos observados em determinadomomento do passado, a partir do presente. É a primazia

do método de estudos que versa sobre fatos eacontecimentos históricos.

3.2 Períodos de Tempo

Pensar em Períodos de Tempo, no caso em foco, émuito diferente do que os Períodos de Tempoempregados em ontologias de outras áreas, queconsideram um momento como apenas um instante ouintervalo de tempo. Períodos no CRM devem ser muitoespecíficos, pois representam um fenômeno culturaldelimitado no tempo e no espaço. Como exemplo, nãose pode falar sobre o período romano como um todo,

deve-se ter em mente o período romano no norte daItália, ou o período romano no sul da Inglaterra. No sulda Inglaterra, os romanos ali habitaram em um períodode tempo diferente do que no norte da Itália. Deve-sedeterminar qual local e momento está sendoconsiderado sobre o fenômeno, porque culturalmente esocialmente estamos diante de diferentes limitestemporais em lugares distintos o que implica em umnúmero grande de condicionantes para o momento elocal delimitados.

Historicamente, muitos episódios sócio-políticos-culturais aconteceram no mesmo lugar e ao mesmotempo, como: uma comunidade nômade presente na

mesma área espacial de uma comunidade pastoral,local onde um grupo de pessoas vive e trabalha na terrae não se move ao seu redor, enquanto o outro grupo de

 pessoas se move pela mesma região, ou uma áreamuito maior, tudo isto ao mesmo tempo. Trata-se demomentos iguais, mas são diferentes os fenômenos,diferentes as formações e organizações políticas,culturais e sociais (Stead, 2008).

Esta característica geral de influência entre eventos,objetos e eventos é indissociável daquilo que éhistórico. É imprescindível determinar onde e quandoum episódio sócio-político-cultural, em particular,

ocorreu. Entidades temporais podem se relacionar com

outras, assim, o CRM adota os treze operadoresdefinidos por Allen (1983). O uso, como a ordem dosoperadores, é importante por ser possível definir fatostemporais de forma precisa (Lima, 2008). A Figura 4apresenta os operadores utilizados.

Figura 4. Operadores Temporais. Fonte: Allen (1983) 

3.3 Objetos e elementos culturais

Lidar com cultura é lidar com um complexo de hábitose capacidades adquiridos pelo homem como agentesocial (Laraia, 2006), que inclui:

- Conhecimento- Crenças- Arte- Moral: como o conjunto de regras adquiridas atravésda cultura, da educação, da tradição.

- Leis- Costumes

As informações culturais provêm de um grandedomínio, que envolve diferentes comunidades.Diversas são as instituições que demandam organizar eclassificar este tipo de informações, como as que seocupam do patrimônio cultural. Trata-se de uma amplagama de informações sobre uma grande variedade deobjetos de coleções. É uma demanda de diferentesvertentes da informação, enriquecida pelo fato de queexistem muitas áreas diferentes trabalhando emdiferentes partes do setor do patrimônio cultural.

- Artes plásticas;- Objetos tridimensionais, como esculturas earquitetura;

- Patrimônio arqueológico;- Aldeamentos, cerâmicas, inscrições

rupestres;- Patrimônio cultural físico;

- Espaço físico, objetos de maneira geral,ferramentas, instrumentos;

- Patrimônio cultural imaterial;- Práticas, representações, expressões,conhecimentos e técnicas. Bens cuja

existência depende da contínua ação humana.

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Envolve, também, informações arquivísticas eliterárias, registrando e classificando sobre, em umsentido amplo, as “coisas” que foram feitas (patrimônioimaterial), e que chegam ao nosso conhecimento porestarem preservadas e registradas em algum suporte

material, como:- Tratados,- Contratos;- Cartas escritas entre pessoas,- Trabalhos artísticos

- poemas e romances- peças de teatro

3.4 Especificidades metodológicas do CRM

Os profissionais que constroem este tipo de ontologia,a partir dos dados que temos sobre as coisas,demonstram entender que estas informações interessam

a profissionais envolvidos em áreas de interesse muitoespecífico que possuem metodologias de pesquisa comquestões que necessitam esclarecer demandadas deolhares e pontos de vistas os mais diversos, sobre osmesmos fatos. Este fator acrescenta a existência de umincontável conjunto de tipos de dados. Doerr (2002)defende, portanto, que a concepção de modelosconceituais para capturar o passado deve ser regidamuito mais por argumentos epistemológicos do que pormodelos de engenharia. Sua defesa nos coloca dianteda grande diferença existente entre as áreas dehumanas, exatas e biológicas.

Vemos que os profissionais da computação consideramnão ser fácil desenvolver classificações para objetosque mesmo calcados na realidade assumemsignificados os mais variados em contextos diferentes.Isto é fomentado pelo fato de que cada uma dessasdemandas de investigação tem diferentes métodos ediferentes formas de reunir informação, a fim de tornara história compreensível, sem deixar “fios soltos”.

Especialistas da computação geralmente nãocompreendem os processos que fazem parte do

 patrimônio cultural, pois existem quadros de referênciaos quais estes especialistas nem mesmo necessitamcompreender. Eles acham que é realmente muito difícil

fazer o mapeamento sem ter um especialista dedomínio como parte da equipe. Para Stead (2008), elesficam entediados com isso, por considerar umconhecimento muito detalhado, que carece de muitotempo na definição dos significados.

 Neste caso, estamos diante de um momento chavenessa compreensão, pois o especialista da computaçãodeverá estar na periferia do processo, e a força motrizda modelagem estará nos especialistas de domínio.Estes últimos profissionais podem contar com osespecialistas da computação para ajudá-los com aforma como eles determinam as suas classificações,

 pois serão eles que realmente precisam compreender os

dados da forma como organizam sua área deconhecimento. Consideramos que isto é o maisimportante no processo de mapeamento.

O que o CRM faz é trazer os eventos para fora dasestruturas de dados subjacentes e torná-los explícitos,

 permitindo ligar dados de outros fluxos de dados aestes eventos fazendo a integração. Isto permiteintercambiar dados entre organizações e entre bancosde dados diferentes. As construções de modelosconceituais são iniciadas com um pequeno conjunto deconceitos e funções primitivas. Outros conceitos sãodefinidos por expressões compostas que expressamcondições suficientes e necessárias.

Há exemplos de CRM sendo usado em organizaçõesonde existem estruturas de dados que precisam serinterligadas. Estas organizações podem combinardados automaticamente entre as suas diferentes bases

de pesquisa. Assim se dá a integração dos dados:reunindo diferentes fontes de dados e combinando-asem um único fluxo de dados. Isso forneceinteroperabilidade semântica, produzindo umaontologia: classes e tipos de objetos obtidos a partir dediferentes estruturas de dados (Stead, 2008).

Stead (2008) fala sobre a necessidade de ferramentasmais intuitivas para ajudar os especialistas de domínio,e essa era uma das questões de investigação em abertono CRM, que infelizmente até este momento nãoconseguimos informações sobre um possível avanço.Há um grupo de trabalho preocupado em olhar para aforma de lidar com o problema da correferência, ouseja, a relação existente entre dois ou mais termos quese referem à mesma entidade. Por exemplo, se umgrupo de pessoas define uma construção como um"castelo" e outro grupo o chama de "lugar fortificado",como ter certeza de que eles estão falando da mesmacoisa, ou que estão apenas usando terminologiadiferente para o mesmo objeto? Este grupo de trabalhose dedica incansavelmente em amenizar este tipo deinconsistência.

4 Linguagens adotadas e um comparativo comoutras ontologias 

O CRM é uma ontologia formal, na medida em que éformado por um conjunto de regras. Foi definido emlinguagem TELOS. Esta se refere a uma linguagem que

 permite criar as definições de uma forma prudente eautomaticamente processável. As instâncias do CRM

 podem ser codificadas de muitas maneiras. Pode-seusar um banco de dados relacional – pode-se encontrarimplementações usando o Oracle. Podem-se usar

 bancos de dados orientados a objetos - extensões pararelacionais ou puros bancos de dados. Podem-se usar oXML, ou, provavelmente, um pouco mais ricos, comoem RDFS (ICOM/CIDOC, 2013).

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Ao longo de seu desenvolvimento o CRM encontrououtras ontologias. O grupo CIDOC trabalha de formadiferente em relação a muitas delas. Muitas dessasoutras ontologias carecem de uma base empírica. Deacordo com Stead (2008), o CRM não foi construído a

 partir de: "I think therefore I am" (Penso, logo existo),até se chegar às inferências. Foi trabalhado a partir dasestruturas de dados utilizadas pelas diferentesdisciplinas, extraindo-se dessas os elementos comunsem todas as subdisciplinas, a partir das diferentesestruturas de dados fundamentadas pela prática real decada domínio. Algumas dessas outras ontologias estãosendo pensadas a partir de conceitos de alto nível,seguindo a direção das coisas concretas. Costuma sermuito fácil se perder ao longo deste caminho.Trabalhar a partir das conceituações definidas peloCRM, em geral, fornece uma base mais firme.

Outras ontologias, para o caso cultural, tendem a nãoter riqueza suficiente nas relações ao serem

 processadas olhando-se para terminologias diferentes.Sendo assim, boas em subclasses, mas pobres em comoas “coisas” se relacionam entre si (Stead, 2008).

 Nestas, não se tem ideia do que se está tentandoalcançar. No CRM temos uma forte ideia do que sequer alcançar, ou seja, a interoperabilidade no domíniode um rico conjunto de relacionamentos construídos a

 partir de uma base empírica consistente.

Stead (2008) relaciona algumas destas ontologias,comparando-as com o CRM, como: Dolce, BFO,INDECS e ABC Harmony. Descrevemos a seguir um

 pouco sobre elas:Dolce, parte de uma base lexical usando intuição e

 processamento de terminologias. É uma descriçãológica, teoricamente muito boa, com boas relaçõesfundamentais, mas muito detalhadas. Seu modelo deespaço-tempo não tem a capacidade de falar sobrelimites externos e internos, ela não tem operadoresAllen.

BFO apresenta um modelo pobre de relacionamentos,classificando coisas a partir de uma visão da realidadesubjacente e determinística. No CRM, está-se falandode observações da realidade, levando em conta a não

existência de uma verdade real. O que se considera é oque as pessoas disseram sobre uma determinada“verdade”, ou um determinado regime de verdades,

 buscando-se produzir uma ontologia para estasverdades. Entendemos, nesta análise, que o uso da

 proposição que considera as coisas que as pessoasdisseram sobre tal regime de verdade, com o objetivode realizar uma classificação formal na construção deuma ontologia, recorre claramente à teoria dos Atos deFala, mesmo que seu emprego não aconteça de formaintencional e consciente. Uma vez que, durante asleituras realizadas para a elaboração deste trabalho, nãonos deparamos com qualquer menção a tal teoria, mas

entendemos que aceitar como verdade algo que se diz

sobre uma “verdade”, só poderia ser validado apoiado por um conceito que é aceito cientificamente. Sobre os“Atos de Fala”, John Langshaw Austin, seguido porJohn Searle entendiam a linguagem como uma formade ação, refletindo sobre os tipos de ações humanas

que se concretizam a partir da expressão verbalizada.Para informações mais detalhadas consulte Austin(1965) e Searle (1979).

Há ainda INDECS e ABC Harmony, que são pequenasontologias: ambas possuem forte sobreposição com oCRM, de modo a esta possuir tudo o que INDECS eABC Harmony vinham incorporando. Foramrealizados trabalhos conjuntos com estas equipes queconcordaram que o CRM cumpre as funções que eles

 pretendiam alcançar, os levando a encerrar os seusdesenvolvimentos e a adotarem o CRM em definitivo.

5 Características e exemplificação do CIDOCCRM 

Uma determinada fonte de dados não precisa contertodos os tipos de informações sobre um determinadoassunto. Pode-se ter, como exemplo, uma fonte dedados que não tem informações sobre os detalhes

 biográficos de um artista, apenas informações muitodetalhadas sobre um subconjunto específico de suas

 pinturas. Não é necessário ter informações sobre todosos quadros, não é preciso saber os dados pessoais doartista, a fim de lidar com esse conjunto particular dequestões de pesquisa. Pode-se fazer a integração dasdemais informações a partir de outros bancos de dados

similares, gerando informações mais completas. Osfluxos de dados precisam ser completos, eles precisamser rigorosos. Pode-se ater a diferentes fontes para

 produzir bancos maiores. Como um exemplo simples, podemos olhar para a pintura a seguir.

Type.DCT1: image

Type: painting

Title: Garden of Paradise

Creator: Master of theParadise Garden

Publisher: Staedelsches

Kunstinstitut  

Figura 5. Garden of Paradise. Fonte: Stead (2008) 

Acima, à sua esquerda, temos o registro de metadadosDublin Core sobre esta pintura: é de tipo imagem e dotipo pintura, duas tipologias diferentes em uso noregistro Dublin Core. É chamado de O Jardim doParaíso e foi criada por volta de 1410. Esta obra foinomeada como de autoria de Master of ParadiseGarden. Foi atribuído este nome para a tela no campoda autoria porque esta pintura é de um artistadesconhecido. A publicação desta obra foi registrada,ou catalogada, pelo museu alemão situado em

Frankfurt, na Alemanha, Staedelsches Kunstinstitut. O

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que isto significa é que esta instituição foi a primeira adocumentar esta obra de maneira formal e apresentaresse documento para o mundo, cabendo a elesdefinirem os dados de sua referência.

Desta forma, o CIDOC CRM vai facilitar a integração,

mediação e o intercâmbio de informações de património cultural heterogêneo a partir de umcontexto local específico. Essa meta determina asconstruções e o nível de detalhe do CRM. Asinformações disponíveis por meio dos metadados doobjeto em questão, ou seja, a pintura “O Jardim doParaíso“, poderão ser integradas a bancos de dados deoutras unidades de informação, ou locais de guarda damemória cultural como museus, arquivos etc. Estaintegração atende, por exemplo, à transferência emigração de dados entre fontes heterogêneas deconteúdos culturais acolhendo a uma demanda por

 pesquisas orientadas, o que colabora muito para arealização de estudos comparativos. O modelo permiteintegrar o maior número de recursos de informação,

 proporcionando uma maior flexibilidade entre sistemas para se tornar mais compatível. A compatibilidade dizrespeito às associações pelo qual os usuários gostariam

 para os dados demandados pelo tipo de estudos,estando acessível em um ambiente integrado,destinando conteúdo para outros ambientes que serão

 preservados no sistema de destino.

Um sistema de informação é compatível com o CRMse for possível exportar os dados a partir de umaestrutura compatível. Esta capacidade é o tipo

recomendado para sistemas de informação locais. Podehaver, também, sistemas de informação parcialmentecompatíveis que também permitirão a exportação.

6 Considerações finais

A partir do contato bibliográfico com o trabalhodesenvolvido pelo grupo CIDOC foi possível obteralgumas conclusões sobre o processo. Todos pensamque ontologias são muito específicas de um domínio,que quando você vai para uma ontologia o que vocêestá fazendo é trabalhar em um ambiente muito

 particular. O CRM seria praticamente o oposto: quase

tudo não se restringe a um domínio específico. Umasérie de domínios e subdomínios diferentes utilizam osmesmos conceitos básicos. Portanto, é uma noção demétodo científico – uma análise retrospectiva, umdiscurso taxonômico, comum à arqueologia e a histórianatural, por exemplo –, mostrando que este modelo éútil em vários domínios. A equipe CIDOC tem sidocapaz de fazê-lo com um conjunto muito pequeno deconceitos.O CRM pode ser entendido como uma linguagem paraa interoperabilidade semântica, certamente dentro dodomínio do patrimônio cultural, mas também pode ser

empregado em outros domínios, inclusive para o dosmedicamentos. Assim o entendemos, devido ao fato doCRM proporcionar uma enorme capacidade de moveros dados entre diferentes grupos com considerávelriqueza semântica.

A partir de alguns exemplos obtidos nas leituras para aconstrução do presente texto, sendo alguns aquiapresentados, notamos que, apesar de todo o esforço na

 precisão da argumentação, o CRM mostra que adescrição dos problemas semânticos intrincados emlinguagem comum não só é passível de erros, há algumrisco de imprecisão e certo grau de ambiguidade.

Referências

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Received: 2015-06-04. Accepted: 2016-02-24.