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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS DO ESTADO DE NEVER LAND
AÇÃO PENAL Nº: 001/2012
FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro,
serralheiro, portador da cédula de identidade nº 001234567 SSP/NL, residente e
domiciliado na Rua H-5, nº 17, Bairro Parque S. JUDAS, ONDE JUDAS PERDEU AS
BOTAS, assistido da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE NEVER LAND, por meio do
Defensor Público que, ao final subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, nos termos do art. 55 da Lei 11.343/06, e, em atenção ao inserto nas folhas
45, apresentar DEFESA PRÉVIA, nos autos da ação penal em epígrafe, que contra si
lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE NEVER LAND, pelos motivos fáticos e
jurídicos que adiante passa a expor:
1- PREAMBULARMENTE:
De início e, com exatidão, pode-se dizer
que esta ação possui duplo desiderato, a saber: a) a extinção deste processo-crime; b)
a libertação do réu. Para tanto, Excelência, há de se restar demonstrado que a tese
arvorada pelo Ministério Público do ESTADO DE NEVER LAND está absolutamente
divorciada da verdade, ou seja, do conjunto probatório-fático, e, que por isso não deve
prosperar; conforme se entrevê a seguir.
2 – SÍNTESE DA INICIAL:
Tem-se, na espécie, que o senhor FULANO
DE TAL foi denunciado como incurso nas penas do crime previsto no art. 33 da Lei
11.343/06, bem como, nas do art. 155, “caput”, c/c art. 14, ambos, do Código Penal;
em concurso material; por ser encontrado, no interior duma construção na Rodovia
FERNADO HENRIQUE CARDOSO km 16, com exatamente 60,74 (sessenta e setenta e
quatro centigramas) de drogas ilícitas sem a devida autorização.
Depreende-se ainda da peça acusatória
que o ora réu, instantes antes de sua prisão, procurou guarida num centro de
tratamento contra o vício das drogas denominado CASA DE RECUPERAÇÃO ISRAEL;
comunidade terapêutica na qual já houvera estado por três meses com a mesma
finalidade.
Por fim, deflui-se que a prisão do acusado
ocorreu, única e exclusivamente, por conta de uma ligação telefônica feita pelo
vigilante “in loco”, o qual receava que o denunciado intencionasse, naquele momento,
praticar um furto. O que redunda em dizer que a interceptação policial sofrida pelo
senhor FULANO DE TAL não se deu em razão de “denúncias anônimas” e, tão-pouco,
campana; mas, simplesmente, por obra do acaso. Esses são os fatos em apertada
síntese.
3 – PRELIMINARES:
É cediço que o exercício do direito de ação,
no âmbito da processualística penal, implica sérias consequências ao réu; como, na
constrição de sua liberdade ambulatória. Razão pela qual não é admissível
hodiernamente que essa prática forense seja uma aventura incoerente, consoante o
talante do autor. Desse modo, impõe-se necessário neste momento sublinhar alguns
vícios/carências formais da Denúncia, vislumbrados no plano da validade, que
evidenciam porque tal ação não deve ser recebida; são eles:
a) INÉPCIA DA EXORDIAL ACUSATÓRIA:
Infere-se da dicção do art. 41, do CPB -
mais, precisamente, do trecho “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias”-, que a peça acusatória, longe ser
apenas um clamor eloquente por justiça, deve se pautar pela busca da verdade real.
Daí, a necessidade do fato criminoso estar lastreado em um conjunto probatório
robusto, isto é, em que exista a lógica da subsunção fato-norma, o que não é o caso.
Em outros termos, arguto magistrado, a
tese acusatória veiculada pela Denúncia não possui qualquer liame entre o réu
(FULANO DE TAL) e as condutas apontadas (TRÁFICO DE DROGAS E FURTO). A título
de ilustração, convém trazer à colação o V. Aresto do Egrégio Superior Tribunal De
Justiça, em sede de “Habeas Corpus”, proferido pelo eminente Ministro GILSON DIPP,
in verbis:
“CRIMINAL. HC. PECULATO E CORRUPÇÃO
PASSIVA. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
DEFICIÊNCIA EVIDENCIADA. LIAME ENTRE O
PACIENTE E AS CONDUTAS APONTADAS
COMO ILÍCITAS. NÃO EVIDENCIADO.
ORDEM CONCEDIDA.” (STJ - HC Nº 6.924/SP
DJU 22.10.01, SEÇÃO 1, P. 340, J. 11.09.01,
Rel.: Min. GILSON DIPP).
Sendo assim, Excelência, é patente que
essa Denúncia se mostra absolutamente inepta, uma vez que pretende atribuir ao réu
uma pecha incompatível com a sua real conduta no momento da prisão. Pelo que se
requer a este ínclito Juízo não receber a sobredita Denúncia, nos termos do art. 395, I,
do Código de Processo Penal, extinguindo esse feito sem resolução de mérito.
b) CARÊNCIA POR FALTA DE INTERESSE
DE AGIR:
Em linhas gerais, pode-se dizer que o
interesse de agir está assentado sobre o trinômio “nessidade-utilidade-adequação” e,
que, na seara da processualística penal, traduz-se no dever legal do Estado de punir
uma infração que lhe é deduzida em juízo. Todavia, para que o Estado não dispense
recursos em vão, é imprescindível que haja possibilidade – mesmo que longínqua – da
realização do “jus puniendi” sem arbitrariedades; situação essa que se convencionou
chamar doutrinariamente de interesse de agir. Senão vejamos:
“Já quanto ao interesse-utilidade, este só
existe se houver esperança, mesmo que
remota, da realização do jus puniendi
estatal, com aplicação da sanção penal
adequada. Se a punição não é possível, a
ação passa a ser absolutamente inútil.”
(TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rodrigues
Rosmar. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL
PENAL. 8ª. Ed. SALVADOR: 2013, Editora
jusPodvm. 1384 pp).
Assim sendo, colige-se nobre Magistrado
que a pretensão deduzida em Juízo pela ACUSAÇÃO se mostra claramente sem
INTERESSE DE AGIR, pelos menos, nos termos em que se encontra; uma vez que não
há possibilidade alguma de exercer o jus puniendi estatal neste caso isento de
arbitrariedades - eis que não se pode punir ninguém por crime que não cometeu.
Em outras palavras, vislumbra-se no caso
concreto tão-somente o crime tipificado no art. 28, “caput”, da Lei 11.343/06, ou seja,
USO DE DROGAS ilícitas. De maneira que falar em TRÁFICO DE ENTORPECENTE e
FURTO representa, in casu, um grande esforço para adequar o fato à norma; isto é, um
capricho desmedido.
Daí se afirmar Excelência que a aludida
exordial acusatória está absolutamente desprovida do imperioso INTERESSE DE AGIR.
Razão pela qual se depreca, mais uma vez, a este ínclito Juízo para que não receba a
citada Denúncia, bem como, extinga este feito, sem resolução do mérito, nos termos
do Art. 395, II, do Código de Processo Penal.
4 – MÉRITO:
No que tange ao aspecto substancial da
Denúncia, também, não é diferente. A tese embandeirada pela ACUSAÇÃO não
encontra supedâneo tanto no conjunto probatório-fático quanto no direito material
respectivo. Como já dito alhures, a exordial acusatória representa apenas um enorme
trabalho intelectivo - ou, porque não dizer imaginativo - de amoldar determinado fato
concreto (uso de drogas) a um tipo penal abstrato (tráfico de drogas). Trocando em
miúdos, Excelência, essa Denúncia não deve prosperar nos atuais moldes em função
de dois motivos:
A) AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA
PARA O CRIME DE TRÁFICO:
Em rigor, pode-se dizer que se emerge no
caso em tela, apenas, a materialidade da posse dos entorpecentes; e, não a autoria de
tráfico de drogas, como quer a ACUSAÇÃO. Haja vista que não consta nenhum indício
na peça acusatória de mercancia de drogas ilícitas (tais como balança de precisão,
depoimento de compradores, etc.), tão imprescindível para configuração de crimes
desse potencial ofensivo. Nesse sentido é a jurisprudência pátria:
PENAL – POSSE DE ENTORPECENTE -
DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS
PARA USO PRÓPRIO – RECURSO DO MP –
IMPROVIMENTO – FALTA DE PROVAS DA
MERCANCIA. (Acórdão 387.981, TJDF, 1ª
Turma Criminal, Rel. Min. Des. Sandra de
Santis; 22.10.09).
De maneira que, conspícuo Pretor, não há
que se falar em condenação por tráfico de entorpecentes (como pretende a
ACUSAÇÃO), na medida em que inexiste qualquer elemento comprobatório para
tanto. Eis que não é suficiente apenas probabilidade do cometimento de delito, pois a
dúvida acerca da destinação da droga apreendida se volta a favor do réu.
Pelo que se requer ALTERNATIVAMENTE a
Vossa Excelência duas medidas, quais sejam: I) a ABSOLVIÇÃO DO RÉU, nos termos do
art. 415, II, do Código de Processo Penal; OU, II) a DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO
PARA USO PRÓPRIO. Ressaltando-se, em tempo: isso, caso se não decida pela extinção
deste feito antes.
b) AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE E
AUTORIA PARA O CRIME DE FURTO:
Nesse particular, está cristalino que não
existe qualquer evidência com relação à tentativa de “subtrair, para si ou para
outrem, coisa móvel” (art.155, “caput”, do CP), haja vista a inexistência de uma
elementar crucial: a coisa móvel. Isto é, o denunciado foi preso sem nenhum objeto
móvel.
De mais a mais, o próprio MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE NEVER LAND reconheceu que “não há elementos seguros de
que o denunciado adentrou a obra com a intenção de subtrair coisa alheia móvel da
obra, máxime se levado em conta que o vigilante Hugo, em seu depoimento (fls.
06/07), mencionou que não deram por falta de nada” (sic, fl.45). Razão pela qual se
requer a absolvição do réu de mais este crime, nos termos do art. 415, II, do Código de
Processo Penal.
5 – DO PEDIDO
Ante o exposto, pede-se a Vossa
Excelência que, digne-se em:
a.) Dar procedência a esta DEFESA
PRÉVIA , no sentido de não receber a Denúncia em comento, face vícios
formais alegados, nos termos do Art. 395, I e I I do CPP ;
b.) No mérito, julgar improcedente
o pedido de condenação formulado pelo Ministério Público do Estado de
NEVER LAND, considerando todos os vícios materiais já esgrimidos, bem
como, absolver o réu nos termos do Art. 415, I I , do CPP, expedindo o
competente alvará de soltura; ou,
c.) Caso não se entenda pela total
improcedência da acusação ministerial, desclassif icar o crime de tráfico
para o do uso de drogas, como medida de direito e da mais l ídima
justiça.
V - REQUERIMENTOS:
Também, requer que:
I . Que seja concedida os benefícios
da justiça gratuita a este acusado, consoante o Art. 4º e 5º, da Lei
1.060/50; e,
I I . Que seja permitida a produção
de provas de todos os fatos contestados.
I I I . Que seja arrolado como
testemunha de defesa o presidente da CASA DE RECUPERAÇÃO ISRAEL
( localizada Rodovia Palmiro Paes de Barros Km 23), na região conhecida
como “Morrinho”, a f im de esclarecer a situação de dependente químico
do réu.
Nesses termos, pede deferimento.
Cuiabá, 22 de Julho de 2013.
LEONARDO DA VINCIDefensor Público do Estado de NEVER LAND