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Página 1 de 32 Comissão Processante Presidente: Vereador José Eduardo Martins de Souza Relator: Vereador Marco Antonio da Rocha Membro: Vereadora Maria de Lourdes Santiago Os membros da Comissão Processante emitem o presente PARECER FINAL. Síntese do processo A Comissão Processante foi instaurada em razão de denúncia ofertada pelos cidadãos Marco Antonio Souza Mendes e Carlos Eduardo de Faria, visando à cassação do mandato do Vereador Dione Laurindo, em razão de suposta prática de infração-político administrativa, denunciando o fato do Vereador Dione Laurindo no exercício do mandato de vereador, ser arrendatário da emissora de rádio local, denominada Pinhal Rádio Clube e a mesma possuir contrato de prestação de serviço com a Prefeitura Municipal, violando assim o artigo 54, inciso I, alínea “a”, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal de 1988, que devem ser analogicamente aplicados aos vereadores em razão do disposto no art. 29 da CF, bem como violou os artigos: art. 4º, § 6º, art. 276, I, IV, XIII, art. 279, I, a), II, a), art. 298, II e IV e art. 323, VIII e XI do Regimento Interno e ainda: art. 8º, § 3º, art. 23, IV e art. 25, II e IV da Lei Orgânica Municipal, dando assim ensejo a aplicação do art. 297, art. 306, III e art. 310 do Regimento Interno e art. 24 e 65 da Lei Orgânica Municipal, art. 7º, I, Decreto-lei nº 201/67 e o art. 11, I, da Lei 8.429 de 1992. Em atendimento ao disposto no inciso IV do art. 324 do Regimento Interno e inciso II do art. 5º do Decreto-Lei nº 201, de 1967, na primeira sessão após o protocolo da denúncia realizada em 14 de fevereiro, em 17 de fevereiro aconteceu à primeira sessão subsequente ao protocolo da denúncia. Assim, durante a 3ª sessão ordinária foi efetuada sua leitura e submetido ao plenário para votação sobre seu recebimento, sendo a denúncia aceita por 06 votos a 03, obtendo quórum de 2/3 (dois terços).

Síntese do processo · cerceamento de defesa pela ausência de documentos necessários para a defesa; violação ao direito de ampla defesa. As alegações da defesa prévia foram

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Comissão Processante

Presidente: Vereador José Eduardo Martins de Souza

Relator: Vereador Marco Antonio da Rocha

Membro: Vereadora Maria de Lourdes Santiago

Os membros da Comissão Processante emitem o presente PARECER FINAL.

Síntese do processo

A Comissão Processante foi instaurada em razão de denúncia ofertada pelos

cidadãos Marco Antonio Souza Mendes e Carlos Eduardo de Faria, visando à

cassação do mandato do Vereador Dione Laurindo, em razão de suposta prática

de infração-político administrativa, denunciando o fato do Vereador Dione

Laurindo no exercício do mandato de vereador, ser arrendatário da emissora de

rádio local, denominada Pinhal Rádio Clube e a mesma possuir contrato de

prestação de serviço com a Prefeitura Municipal, violando assim o artigo 54,

inciso I, alínea “a”, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal de 1988, que

devem ser analogicamente aplicados aos vereadores em razão do disposto no art.

29 da CF, bem como violou os artigos: art. 4º, § 6º, art. 276, I, IV, XIII, art. 279,

I, a), II, a), art. 298, II e IV e art. 323, VIII e XI do Regimento Interno e ainda: art.

8º, § 3º, art. 23, IV e art. 25, II e IV da Lei Orgânica Municipal, dando assim

ensejo a aplicação do art. 297, art. 306, III e art. 310 do Regimento Interno e art.

24 e 65 da Lei Orgânica Municipal, art. 7º, I, Decreto-lei nº 201/67 e o art. 11,

I, da Lei 8.429 de 1992.

Em atendimento ao disposto no inciso IV do art. 324 do Regimento Interno e inciso

II do art. 5º do Decreto-Lei nº 201, de 1967, na primeira sessão após o protocolo da

denúncia realizada em 14 de fevereiro, em 17 de fevereiro aconteceu à primeira

sessão subsequente ao protocolo da denúncia. Assim, durante a 3ª sessão ordinária

foi efetuada sua leitura e submetido ao plenário para votação sobre seu recebimento,

sendo a denúncia aceita por 06 votos a 03, obtendo quórum de 2/3 (dois terços).

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Após, foi efetuado o sorteio, ficando a Comissão constituída pelos vereadores José

Eduardo Martins de Souza (Presidente), Marco Antônio da Rocha (Relator) e Maria

de Lourdes Santiago (Membro).

No dia 18 de fevereiro foi expedida a portaria nº 02/2020 nomeando os integrantes

da Comissão Processante, dando início aos trabalhos por seu Presidente, após o

recebimento do processo.

Seguindo os trâmites legais, em 26 de fevereiro de 2020 o denunciado foi notificado

para apresentar defesa prévia.

Em sua defesa prévia o denunciado em preliminar alegou nulidades em razão da

inaplicabilidade da legislação estadual e municipal; por tentativa de afastamento

prévio; inexistência de demonstração de quitação eleitoral dos denunciantes;

inobservância do princípio da representação proporcional dos partidos na

composição da comissão processante; de irregularidade no sorteio da comissão

processante pela retirada imotivada do nome do Vereador José Gilberto Viola;

cerceamento de defesa pela ausência de documentos necessários para a defesa;

violação ao direito de ampla defesa.

As alegações da defesa prévia foram superadas, conforme fundamentação do

parecer fls. 115/128 dos autos da Comissão Processante, exarado pelo relator

Marco Antonio da Rocha, acompanhado pelo membro, Maria de Lourdes

Santiago que concluiu pelo prosseguimento da Comissão Processante para

apuração da responsabilidade do denunciado em razão da suposta prática de

infração político-administrativa, consistente no fato do denunciado, vereador

eleito, na qualidade de controlador/arrendatário da Pinhal Rádio Clube, ter

mantido contrato, com recebimento de dinheiro público, com os Poderes

Legislativo e Executivo, o que viola os artigos 54, I, “a”, II, “a”, da Constituição

Federal de 1988, que devem ser analogicamente aplicados aos vereadores em

razão do disposto no art. 29 da CF.

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No decorrer dos trabalhos da Comissão Processante foram realizadas diligências

no sentido de elucidar os fatos narrados na denúncia.

Foi efetuada a exclusão do polo ativo da denúncia do Sr. Carlos Eduardo de

Faria, em razão da ausência de prova de sua quitação eleitoral e com a

comprovação de quitação eleitoral do denunciante Marco Antonio Souza Mendes,

prosseguiu a denúncia com este no polo ativo.

Cita-se que a Comissão Processante declinou da oitiva dos informantes, visto

que não constam na denúncia na condição de testemunhas e respeitando o

devido processo legal, o princípio da legalidade e segurança jurídica e,

principalmente o princípio do contraditório e da ampla defesa, no intuito de

evitar possível nulidade.

Também restou prejudicada a resposta do ofício enviado ao Ministério Público

para que fornecesse cópia das denúncias que tramitam na Promotoria de Justiça

em face do denunciado, inclusive, a que deu ensejo ao ofício nº 772/2019 (RC

43.0739.12902/2019-9), em razão da suspensão dos trabalhos no Ministério

Público Estadual, em decorrência da pandemia advinda do COVID-19.

A Comissão Processante também não logrou êxito após solicitar através dos

ofícios nº 20, 21, 48 e 49, respectivamente para Pinhal Rádio Clube e Laurindo

& Canato, as informações, porém, ambas as empresas não se dignaram em

responder.

Em xxxxxxxxx o denunciado solicitou a suspensão dos trabalhos da

Comissão Processante em razão da pandemia mundial do COVID-19, visando

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salvaguardar a saúde dos envolvidos e da população, assim, com base no pedido

do próprio denunciado e aplicando analogicamente as medidas aplicadas pelo

CNJ, demais tribunais e órgãos públicos que suspenderam os prazos judiciais e

administrativos e sendo, uma situação excepcional foi determinada a suspensão

dos trabalhos da comissão e do prazo decadencial.

Sobre a suspensão foi devidamente encaminhado ofício através de e-mail ao

denunciado e sua defesa, os quais não se manifestaram.

As testemunhas indicadas pelo denunciado foram oportunamente ouvidas em

21 de maio de 2020. A defesa dispensou a oitiva do denunciante Marco Antonio

Souza Mendes, presente no recinto e do Senhor Maurício Cristiano de Paula,

ausente injustificadamente.

Concluída a fase de instrução, com a oitiva das testemunhas e diligências

promovidas pela Comissão Processante com objetivo de elucidar os fatos da

denúncia, o denunciado foi notificado para apresentação das razões finais por

escrito, que destacamos abaixo:

ALEGAÇÕES FINAIS DA DEFESA

I - DA INAPLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO ESTADUAL E MUNICIPAL

Alega o denunciado que a aplicação da legislação estadual e municipal é

inconstitucional, devendo ser aplicado o Decreto lei nº 201/67 e de forma

subsidiária o Código de Processo Penal.

Contudo, não existe razão ao denunciado, eis que, além da observância do

Decreto Lei nº 201/1967, também devem ser observadas as disposições do

Regimento Interno e da Lei Orgânica Municipal, posto que a própria Constituição

Federal determine a aplicação da Lei Orgânica e ainda que devam ser observados

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os preceitos referentes às incompatibilidades e impedimentos, previstos em

diversos dispositivos, a saber:

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:

I - desde a expedição do diploma:

a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia,

empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de

serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;

(...)

II - desde a posse:

a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor

decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer

função remunerada;

Por sua vez, sobre a aplicação da Lei Orgânica, o art. 29 da Constituição Federal

determina:

Art. 29 - O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o

interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da

Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos

nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes

preceitos:

IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que

couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional

e na Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembleia

Legislativa;

Do mesmo modo, os artigos 51, inciso III; 52, inciso XII e 55, § 1º, da

Constituição Federal dispõem sobre a aplicação do Regimento Interno, assim

como prevê o art. 26 da Lei Orgânica Municipal.

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Portanto, o Regimento Interno e a Lei Orgânica do Município trazem regramentos

de ordem político-administrativa e desde que não afrontem um ordenamento

jurídico maior, de aplicação estadual ou nacional, devem ser respeitados.

Neste sentido, vejamos entendimentos do Tribunal de Justiça de São Paulo em

que houve ratificação da normatização municipal:

APELAÇÃO CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA. MANDATO PARLAMENTAR MUNICÍPIO DE ARAPEÍ AFASTAMENTO DAS FUNÇÕES. 1- Nulidade da sentença por ausência de fundamentação. Inocorrência. Não configura nulidade por ausência de fundamentação a decisão que expõe, de forma sucinta, as razões do convencimento de seu prolator. Inteligência do art. 93, IX da CF e art. 11 do CPC. Preliminar afastada. 2- Câmara Municipal de Arapeí. Processo político-administrativo para cassação de mandato de vereador. Conduta tipificada no Decreto-lei federal nº 201/67, art. 23 da Lei Orgânica do Município e art. 337 e 338, V, do Regimento Interno da Câmara Municipal. Recebimento da denúncia e afastamento das funções, conforme prevê o art. 340 do Regimento Interno da Casa Legislativa. Observância das garantias constitucionais do devido processo legal (art. 5º, LIV). Violação a direito líquido e certo não demonstrado. 3- Sentença que denegou a segurança mantida. 4- Recurso não provido (Apelação Cível nº 1000697-94.2018.8.26.0059, 12ª Câmara de Direito Público, relator Desembargador Osvaldo de Oliveira, j. 18/09/2019).

MANDADO DE SEGURANÇA – Cassação do Prefeito e Vice-Prefeito de Mirassol - Denúncia realizada por cidadão e pautada na ordem do dia seguinte, em menos de quarenta e oito horas do início da sessão legislativa - Violação ao artigo 114 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Mirassol - Pretensão voltada à anulação do processo de cassação nº 01/2015 - A denúncia foi protocolada na mesma data em que determinada à elaboração de parecer jurídico a seu respeito e submetida à votação, com a instituição da Comissão Processante, em desrespeito ao art. 114 do Regimento Interno da Câmara de Mirassol, que estabelece a necessidade de que toda proposição seja incluída na

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Ordem do Dia com antecedência de até 48 horas do início das sessões - Ratificação dos fundamentos da r. sentença, cujos elementos de convicção não foram infirmados (art. 252 do RITJSP/2009) – Sentença mantida – Recurso de apelação e reexame necessário não provido.(TJ-SP - APL: 00033523720158260358 SP 0003352-37.2015.8.26.0358, Relator: Ponte Neto. Data de Julgamento: 14/09/2016, 8ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 14/09/2016)

Além disso, observa-se que não foi violado qualquer dispositivo do Decreto lei nº

201/67, o qual é em seu art. 5º compatível com a legislação municipal.

Assim, deve ser rejeitada a alegação de nulidade.

II - DA DECADÊNCIA

A defesa alega que o prazo para encerramento da comissão processante é

decadencial, o que de fato é. Alega que o prazo se esgotou em 25/05/2020.

Ocorre que em decorrência da excepcionalidade da pandemia mundial

ocasionada pela COVID-19 a defesa protocolou pedido fls. 234 a 240, requerendo

a suspensão da Comissão Processante, juntando vasta legislação sobre o tema

fls. 241 a 272.

Percebe-se agora a capciosidade do pedido formulado pela defesa. A má-fé se

estampa na alegação das razões escritas.

A defesa às fls. 239 fundamenta seu pedido em razão da exposição do

denunciado, das testemunhas e de toda a população ao risco de contágio pelo

COVID-19, senão vejamos:

A defesa em seu pedido alega que “todos os órgãos públicos estão

suspendendo as atividades privadas e públicas de natureza NÃO

ESSENCIAL. O depoimento do vereador não possui características de

essencialidade de serviço, devendo a comissão impetrada suspender a

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tramitação da comissão processante para salvaguardar a saúde dos

envolvidos e de toda a população.

Atenta, ao cenário mundial, às orientações advindas da Organização Mundial da

Saúde, dos Decretos de Calamidade Pública do Governo Federal, Estadual e

Municipal, da suspensão dos prazos judiciais e administrativos, a Comissão

Processante acatou o pedido de suspensão da Comissão Processante, na boa fé,

a fim de resguardar qualquer alegação de esgotamento do prazo decadencial da

Comissão Processante, encaminhou-se à defesa e ao denunciado ofício nº fls.

298 a 299, para se manifestar a respeito da suspensão do prazo e a retomada

do prazo a partir de 30/04/2020, sem qualquer prejuízo à Comissão

Processante.

Sem razão o pedido da defesa, pois além de se tratar, conforme já mencionado

de um pedido da própria defesa para resguardar o denunciado e as testemunhas,

a alegação de nulidade deve ser feita na primeira oportunidade, ou seja, se fosse

o caso, a defesa teve a oportunidade de se manifestar em razão do ofício nº

47/2020, fls. 298 a 299, e não o fez.

A ausência de manifestação naquela oportunidade demonstra a má-fé da defesa

e a índole do denunciado. Há uma evidente afronta aos princípios moralidade

por parte do denunciado, que age de forma a induzir a Comissão ao erro,

buscando evidentemente forçar uma possível nulidade dos atos praticados pela

Comissão Processante.

Há de se destacar que a Comissão Processante a todo momento zelou pela

observância aos princípios do contraditório e ampla defesa.

Além do mais, a Medida Provisória nº 928 de 23 de março de 2020 o qual

suspendeu os prazos processuais em desfavor dos acusados:

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“Art. 6º-C: Não correrão os prazos processuais em desfavor dos

acusados e entes privados processados em processos

administrativos enquanto perdurar o estado de calamidade de que

trata o Decreto Legislativo nº 6, de 2020.

É evidente que a falta de suspensão do prazo causaria prejuízo ao acusado, além

de significar uma afronta à Medida Provisória do Governo Federal n° 928, acima

descrita. Sem dúvidas haveria prejuízo a oitiva das suas testemunhas de defesa,

bem como o impediria de qualquer diligência junto à órgãos públicos ou privados

em razão do fechamento total de todos os estabelecimentos, inclusive das

entradas das cidades, inclusive a entrada de seus advogados em Espírito Santo

do Pinhal, visto a municipalidade ter adotado como medida protetiva a instalação

de barreiras sanitárias em suas “portas” de entrada. Logo, lembramos que a

defesa possui sede na cidade de São Paulo, epicentro da crise no Brasil.

Diante da evidente tentativa da denúncia de forçar a nulidade, agindo com

latente má-fé, diante de uma situação de extrema excepcionalidade, não há o

que se falar em nulidade em decorrência do decurso do prazo.

III - DA IMPOSSIBILIDADE DE REQUISIÇÃO DE DOCUMENTOS NÃO

SOLICITADOS PELAS PARTES (DENUNCIADO E DEFESA) E DA NULIDADE

PELA JUNTADA DE DOCUMENTOS POR TERCEIROS.

No que diz respeito à nulidade das provas produzidas pela Comissão Processante

que não tenham sido requeridas pelas partes, em atenção ao princípio da inércia

de jurisdição, tem-se que a inércia de jurisdição diz respeito ao ato de

impulsionar o processo (art. 2º, do CPC) ou ao estabelecimento dos contornos da

lide, que devem se prender aos termos do pedido (art. 490/492, do CPC). No caso

concreto, não se verifica presente nenhuma das hipóteses de ofensa ao princípio

da inércia de jurisdição, porquanto o processo foi deflagrado por iniciativa de

parte legitimada para fazê-lo e os contornos da lide estão devidamente alinhados

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aos termos do pedido. Quanto às provas referidas pela defesa em sua s razões

escritas, observa-se que, como bem disse o denunciado através de seus

representantes, “a prerrogativa da comissão processante se assemelha à

prerrogativa do Poder Judiciário, já que realiza toda a tramitação e profere juízo

de valor em processo que visa à condenação do vereador a pena de cassação”,

razão pela qual cumpre a Comissão Processante adotar todas as medidas

necessárias e ao seu alcance para o total esclarecimento dos fatos, a fim de

legitimar sua decisão.

Além do mais, é primordial que esteja claro que tais documentos mencionados

pela defesa não foram determinantes para a formação da convicção da

conclusão, haja vista que a decisão está inteiramente pautada pelo contrato e

termo aditivo fls. 2-4 da denúncia; e das provas produzidas pelo próprio acusado

em sua defesa inicial e nos depoimentos das testemunhas.

IV - DA NULIDADE PELA AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFESA

O denunciado alega não ter sido intimado dos atos processuais citando as

reuniões realizadas pela Comissão Processante.

Inicialmente é importante estabelecer que o comando legal para que o

denunciado passe a ser intimado de todos os atos do processo (art. 5º, IV, do

DL201/1967), tem como marco inicial justamente o parecer inicial da comissão

pelo prosseguimento do processo político administrativo, previsto no inciso III do

art. 5º, do diploma legal telado. Tanto é assim, que, até esse momento do

processo, não se fala em intimação do denunciado, mas sim em notificação.

A alegação de ausência de intimação da defesa não prospera uma vez que o

denunciado recebeu ofício nº 014/2020, da Comissão Processante em

18/03/2020, fls. 137 com cópia do parecer exarado pelo relator e membro e

cópia do parecer em separado (voto vencido) do presidente da Comissão,

inclusive com a notificação do início da fase de instrução.

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Além do mais, conforme se depreende dos documentos fls. 189; 205; 218; 219-

226; 290-291; 298-300; 308; 322; 325-326; 334-337; 340; 347-350; 448-449;

450-451; 454,o denunciado foi intimado de todas as diligências promovidas pela

Comissão Processante e atos que pudessem lhe causar afronta ao contraditório

e ampla defesa.

Sendo assim, não se verifica qualquer prejuízo ao denunciado capaz de causar

nulidade.

V - DA ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE QUITAÇÃO

ELEITORAL DOS DENUNCIANTES

O denunciado alega que não se colacionou documentos comprobatórios de que

os denunciantes estão no gozo efetivo de suas obrigações eleitorais, requerendo,

assim, a nulidade do processo.

Ocorre que, conforme se observa às fls. 112 o primeiro denunciante requereu a

juntada de certidão de quitação eleitoral, fls 113, além do que já se encontra

juntado nos autos cópia de seu título de eleitor, o qual aponta domicilio eleitoral

nesta Comarca de Espírito Santo do Pinhal, fls 41.

Desta forma, ocorrendo à prova da condição de cidadão, ao menos por um dos

denunciantes, ainda que posteriormente à denúncia, porém durante a instrução

processual, foi dado prosseguimento ao feito, eis que sanada qualquer

irregularidade.

Portanto, suprida essa questão, não há que se falar em nulidade ou prejuízo à

defesa.

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Também devem ser observados os princípios da razoabilidade, proporcionalidade

e da supremacia do interesse público, não havendo razoabilidade na nulidade

de uma denúncia que visa defender os interesses da coletividade em razão de

uma irregularidade que já foi sanada.

Nesse sentido a jurisprudência:

Apelação. Processo de Cassação de Prefeito. Título de eleitor do

denunciante. Irregularidade sanada. Recurso a que se nega provimento.

1. Comprovada a capacidade eleitoral ativa do denunciante – que se dá

por meio da juntada de cópia do título de eleitor deste –, assim como

preenchidos os demais requisitos legais previstos no Decreto Lei nº

201/67, está demonstrada a regularidade da denúncia, de forma que

adequada a permissão de apuração dos fatos nela narrados. 2. Negado

provimento ao recurso. (TJ-RO - APL: 00060604820158220010 RO

0006060-48.2015.822.0010, Data de Julgamento: 14/06/2019, Data

de Publicação: 02/07/2019).

Por fim, como somente um dos denunciantes apresentou a prova de sua quitação

eleitoral, foi o denunciante Sr. Carlos Eduardo de Faria excluído do polo ativo da

denúncia, conforme relatório fls. 115-128 , mantendo-se no polo ativo da

denúncia o Sr. Marco Antonio Souza Mendes, que comprovou a sua capacidade

e quitação eleitoral.

Sendo assim, foi sanada a questão.

VI - DA ALEGAÇÃO DE INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA

REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL DOS PARTIDOS NA COMPOSIÇÃO DA

COMISSÃO PROCESSANTE

Alega o denunciado que, na composição da comissão, a proporcionalidade

partidária não foi respeitada.

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Menciona que a composição da comissão com os partidos PSD, MDB e

CIDADANIA mediante sorteio foi irregular, ocasionando nulidade insanável.

Novamente não assiste razão ao denunciado, eis que tanto o art. 324, V do

Regimento Interno, como o próprio Decreto lei nº 201/67 (art. 5º, I) determinam

expressamente que a composição da comissão será efetuada mediante sorteio,

sendo que consta ainda no texto legal do Regimento interno da Casa, que deverá

ser observado, se possível, a o princípio da representação proporcional dos

partidos.

Ademais, observa-se que foram sorteados 03 (três) membros, sendo um de cada

partido político, inclusive com a participação do vereador José Eduardo Martins

de Souza, como Presidente, PSD, o qual é do mesmo partido do denunciado,

ainda assim, as premissas do sorteio foram debatidas pelo colegiado dos 09

(nove) vereadores e vereadoras, estando todos naquele momento de acordo.

Ora, razão assistiria ao denunciado caso a comissão fosse composta por dois

vereadores do mesmo partido ou coligação, fato este que não ocorreu.

Portanto, a legislação foi observada, não ocorrendo qualquer irregularidade.

VII - DA ALEGAÇÃO DE IRREGULARIDADE NO SORTEIO DA COMISSÃO

PROCESSANTE PELA RETIRADA IMOTIVADA DO NOME DO VEREADOR

JOSÉ GILBERTO VIOLA

O denunciado alega também que a retirada do nome do Vereador José Gilberto

Viola do sorteio dos membros da comissão ocasionou nulidade insanável.

Ocorre que referido vereador exerce a presidência desta Casa Legislativa.

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Assim, sendo o Decreto-lei nº 201/67 omisso quanto ao assunto, foi observado

o Regimento Interno, que em seus artigos 19, 20 e 23 destacam as funções,

atribuições e prerrogativas do Presidente da Câmara e em especial o art. 23 que

veda a participação em qualquer comissão permanente ou provisória, ressalvada

a de representação.

VIII - DA ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELA AUSÊNCIA DE

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA A DEFESA

Alega o denunciante que sua defesa foi cerceada pelo fato de não sido

encaminhada a ata da sessão legislativa que recebeu e formou a comissão

processante.

No entanto, em conformidade com o art. 119 do Regimento Interno a ata de cada

sessão será submetida ao plenário em discussão única na sessão subsequente.

Assim, ocorrendo à sessão legislativa no dia 17 de fevereiro de 2020, a ata foi

aprovada na sessão do dia 02 de março de 2020 e publicada nos site da câmara

municipal no dia 03 de março de 2020.

Portanto, não havia possibilidade de ser encaminhada a ata juntamente com a

notificação que foi expedida ao denunciado.

Também não pode ser ignorado o fato de que o denunciado estava presente, no

plenário, na sessão legislativa do dia 17 de fevereiro. Nesse sentido, cumpre

destacar que as sessões plenárias da Câmara são transmitidas ao vivo através

do YouTube e do Facebook.

Ademais, o artigo 324, VIII, letra b) do Regimento Interno da Câmara dispõe que

será determinada a notificação do denunciado, mediante a remessa de cópia da

denúncia e dos documentos que a instruem, o que de fato foi feito.

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Igualmente reza o inciso III do artigo 5º do Decreto Lei nº 201/67.

Portanto, a notificação do denunciado foi feita mediante a remessa de cópia da

denúncia e dos documentos que a instruíram, nos estritos termos da Lei.

A simples cópia da ata em nada mudaria o contexto da denúncia, tampouco a

estratégia da defesa, visto que o denunciado acompanhou todos os passos, desde

a entrega da denúncia na Câmara Municipal no dia 14 de fevereiro, visto que a

protocolização foi transmitida ao vivo via live em página gerenciada por um dos

denunciantes.

Nessa mesma forma de interação, ou seja, as redes sociais, o denunciado ainda

na sexta-feira, 14 de fevereiro, fez também uma transmissão ao vivo via live em

sua página, oportunidade em que externou seu pensamento sobre a denúncia e

teceu vários comentários a respeito dela.

IX - DA ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO DIREITO DE AMPLA DEFESA

De forma genérica o denunciado alega que foi violado o princípio do contraditório

e da ampla defesa, mencionando, ainda, que o denunciado deveria estar presente

no momento em que a denúncia foi lida e recebida pela Câmara.

Ocorre que o denunciado não apenas estava presente, como também

antecipadamente já tinha conhecimento de que a denúncia seria lida na ocasião,

tanto que, estiveram presentes no plenário diversas pessoas que, mesmo sendo

vedado, se manifestaram em alto e bom som a favor do denunciado.

Não obstante, foi rigorosamente observado o disposto no art.324, VIII, letra a) e

b) do regimento interno e art. 5º, III, do Decreto-lei nº 201/67, o qual determina

que entregue o processo ao Presidente da Comissão, este dentro de 05 (cinco)

dias dará início os trabalhos da comissão, notificando o denunciado, para que,

no prazo de 10 (dez) dias, apresente defesa prévia.

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Referidos artigos dispõem sobre o momento em que será exercido o direito a

ampla defesa e ao contraditório, o que foi respeitado.

O denunciado foi intimado de todos os atos do processo, não sendo observado

qualquer cerceamento de defesa capaz de ensejar em nulidade.

X – DA ALEGAÇÃO DE PERSSEGUIÇÃO POLÍTICA

Por fim completamente insustentável e desemparada de fundamentação fática

ou jurídica é a alegação de perseguição política, tendo em vista que os membros

da comissão foram devidamente sorteados, respeitando o devido processo legal

e após, apenas diligenciaram de modo a cumprirem suas funções observando o

Decreto Lei 201-67, a Lei Orgânica e o Regimento Interno.

DO MÉRITO

No mérito, afirmou não ser o controlador da rádio, afirmando possuir apenas

contrato de cessão de tempo, assim como outros cessionários, trazendo aos

autos contratos firmados entre a Pinhal Rádio Clube e os Senhores José Carlos

Batista Ribeiro; Maurício Cristiano e José Maria Scannapieco, requerendo a

oitiva do denunciante, das testemunhas Davilson Sales, José Maria Martelli

Scannapieco, Maurício Cristiano de Paula, José Carlos Batista Ribeiro e Siomara

Corezolla.

Inicialmente ressalta-se que a Comissão Processante emite seu relatório

final pautando-se nos documentos trazidos pela denúncia fls. 02-04 do

processo, bem como, nos documentos trazidos pela defesa fls. 81-98 e

depoimento das testemunhas.

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Destaca-se que a veracidade do contrato e termo aditivo que ensejou a denúncia

é fato incontroverso, eis que não houve qualquer impugnação dos documentos

por parte do denunciado, que, inclusive, em seu depoimento pessoal também

confirmou a existência de referidos documentos.

Desta forma, é incontroverso que o denunciado detinha 23 horas diárias dos

horários da rádio, ou seja, detinha a integralidade do tempo, eis que 1 hora é

destinada para a transmissão da “Voz do Brasil”.

Referidos documentos demonstram que a empresa Pinhal Rádio Clube cedeu,

em 10/05/2015, prorrogando de 01/06/2018 a 30/05/2021, 23 horas da

exploração do serviço de radiodifusão à empresa Laurindo e Canato Produções

LTDA, empresa que é de propriedade do denunciado.

Assim, como consequência temos que nos horários destinados à Prefeitura

Municipal, mediante processo licitatório, o serviço contratado de exploração de

radiodifusão sonora era controlado e gerenciado por empresa de propriedade do

denunciado, a qual, inclusive, é este quem a administra, sendo veiculado dentro

do horário que integra o referido contrato.

Além disso, pela análise dos documentos juntados aos autos pela defesa no

comparativo dos contratos fls. 2-4; 81-98, bem como pela oitiva das testemunhas

fica evidente que o contrato celebrado entre a Pinhal Rádio Clube e os Senhores

Dione Laurindo e Aparecido Faria destoa demasiadamente dos demais contratos

celebrados com os Senhores José Carlos Batista Ribeiro, Maurício Cristiano e

José Maria M. Scannapieco.

Sobre os contratos resta destacar que o contrato entre a Pinhal Rádio Clube e o

Senhor José Maria M. Scannapieco foi apresentado no intuito de induzir a erro

a comissão e os Vereadores desta casa, tendo em vista que em seu depoimento

o Sr. José Maria declarou ter assinado apenas recentemente referido contrato e

que até então, não possuía nenhum contrato com a emissora. Afirma que

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assinou referido contrato há aproximadamente 03 (três) ou 04 (quatro) meses.

Tratando-se, portanto, evidentemente de um contrato simulado, visto que

referido contrato apresentado fls. 95-98 está com data de 22/02/2002 e foi

assinado apenas recentemente, sendo possível concluir que foi assinado após o

oferecimento da denúncia e instauração da Comissão Processante.

Referida conduta deve ser rechaçada por esta Comissão, pois beira a má-fé.

Da análise do contrato firmado entre a CEDENTE Pinhal Rádio Clube,

representada por seu proprietário Davilson Sales e os CESSIONÁRIOS Dione

Laurindo e Aparecido Faria, firmado em 10/05/2015, o qual se mostra

extremamente diferente dos contratos existentes entre a Pinhal Rádio Clube e os

Senhores Maurício Cristiano e José Carlos Batista Ribeiro, chama a atenção

algumas cláusulas que em detrimento aos depoimentos colhidos merecem

destaque:

Cláusula A - o cedente cederá os horários de programação compreendido

entre as 5 horas da manhã das segundas feiras até as 12:15 horas do

sábado. (fls. 02 e 03 da Comissão Processante).

TERMO ADITIVO NÚMERO 3 FLS. 04 DA COMISSÃO PROCESSANTE:

Cláusula A - A cedente cederá os horários para programação para

exploração comercial sendo das 20 às 19 horas dos dias subsequentes.

Vejamos que já no contrato originário/inicial se trata de um horário estendido.

Sendo possível perceber que o horário cedido no contrato fls 03 e 04 compreende

a programação de segunda a sábado por todo o período de 24 horas, sendo

excluído da programação apenas o horário compreendido entre as 12:16 do

sábado e as 4:59 da segunda-feira. Nota-se que o horário contratado absorve

todos os demais horários.

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O termo aditivo nº 03 estende o horário contratado para 20 às 19 horas dos dias

subsequentes, ou seja, 23 horas por dia, 7 dias por semana.

Menciona-se que não consta no processo os termos aditivos 01 a 02.

A defesa ao trazer ao processo o termo aditivo de contrato nº 9, firmado com o

Sr. José Carlos Batista Ribeiro, fls. 87, bem como na tomada de depoimentos do

Sr. José Carlos Batista Ribeiro tentou demostrar que este possui um contrato

no período compreendido entre as 6 às 24 horas, (termo aditivo 09 datado de 01

de novembro de 2019). Não trouxe, no entanto, os demais termos aditivos.

Em seu depoimento, o Sr. José Carlos Batista Ribeiro ao ser perguntado pela

defesa afirmou:

DEFESA: SENHOR JOSÉ CARLOS, O SENHOR JÁ INFORMOU QUE É

RADIALISTA E EXERCE FUNÇÕES NA PINHAL RÁDIO CLUBE. QUAL A

RELAÇÃO CONTRATUAL DO SENHOR COM A RÁDIO CLUBE?

JOSÉ CARLOS: É EU SOU CESSIONÁRIO DOS HORÁRIOS DA PINHAL

RÁDIO CLUBE, NO PERÍODO DE 23 HORAS POR DIA. EXISTE UM

PAPEL DE DIRETOR DE ESPORTES DA EMISSORA. FAÇO O

PROGRAMA SERTANEJO DAS 6 DA MANHÃ ÀS 8 HORAS DA MANHÃ,

TAMBÉM AOS DOMINGOS DAS 10 HORAS DA MANHÃ ATÉ O MEIO

DIA. PARTICIPO DE TODA PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA QUANDO

TEM ESPORTES, QUE ATUALMENTE ESTÁ PARADO DEVIDO A

PANDEMIA, PARTICIPANDO DO JORNAL DA CIDADE OU NO

DECORRER DE TODA A PROGRAMAÇÃO COM FLASHES AO VIVO.

Ao ser questionado pelo Relator, afirmou:

RELATOR: QUAL HORÁRIO QUE O SENHOR FAZ NA RÁDIO E HÁ

QUANTO TEMPO O SENHOR JÁ TEM ESSE HORÁRIO?

JOSÉ CARLOS: OLHA, EU TENHO ESSE HORÁRIO DESDE 1983.

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Vejamos que o depoimento da testemunha é conflitante com os documentos

apresentados pela própria defesa, tendo em vista que referidos documentos

estabelecem horário diferente daquele afirmado pela testemunha. É importante

esclarecer que a defesa apenas juntou aos autos um contrato firmado em

01/11/1992 e um termo aditivo nº 9 datado de 01/11/2019 e não trouxe aos

autos outros contratos ou os demais termos aditivos.

Ora, se os termos do contrato inicial firmado entre a Pinhal Rádio Clube e o Sr.

José Carlos Batista Ribeiro que se difere escandalosamente do contrato firmado

entre a Pinhal Rádio Clube e os Srs. Dione Laurindo e Aparecido Faria,

estabelece o período de cessão de 02h30, compreendido “aos sábados das 8:30

as 11:00”. A testemunha afirma possuir um contrato de 23 horas, PORÉM, não

trouxe aos autos o contrato onde restou estabelecido a suposta cessão de 23

horas. Por oportuno, apenas se limitou em trazer o Termo Aditivo nº 09 com

horário para “transmissão esportivas e eventos das 6h às 24 horas, o que

também não prova a suposta existência de um contrato de 23 horas”.

A realidade apontada pelos documentos deve, então, ser confirmada por

testemunha, que tem a função de dar detalhes dos fatos e que corroborem com

os documentos trazidos, de forma segura e convincente. Fato que não se

verificou no caso concreto.

Portanto, não é possível formar a convicção de que o Sr. José Carlos Batista

Ribeiro possuía de fato o horário de 23 horas na programação da Pinhal Rádio

Clube, prestando testemunho no mínimo duvidoso, além do fato de que os

valores dos contratos das testemunhas e do denunciado destoam de forma

considerável.

Acontece ainda, que em seu depoimento, o Senhor Davilson Sales afirma que

não interfere dentro dos horários cedidos: “ENTÃO DENTRO DAQUELE HORÁRIO

EU NÃO DOU NENHUMA INFORMAÇÃO, EU NÃO INTERFIRO NAQUELE

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HORÁRIO, É DELE”. Destaca-se que o depoente afirma que não dá nenhuma

informação dentro daquele horário.

Por outro lado, temos a Cláusula H do contrato firmado entre a Pinhal Rádio

Clube e os Sr. Dione Laurindo e Aparecido Faria a qual estabelece:

CLÁUSULA H – TODO O FATURAMENTO ADVINDO DE PUBLICIDADES NOS

HORÁRIOS SERÃO REVERTIDOS TOTALMENTE AO CESSIONÁRIO.

Na análise comparativa entre os contratos trazidos pela defesa infere-se que,

apenas no contrato de cessão de horário firmado com o Sr. Maurício Cristiano e

José Carlos Batista Ribeiro consta reserva de horário para veiculação de

inserções agenciadas por terceiros.

Já no contrato do Sr. Dione Laurindo e Aparecido Faria, não existe essa reserva

de horário. Pelo contrário, de acordo com o que consta na cláusula acima

transcrita bem como pelo depoimento do Sr. Davilson Sales, onde o mesmo

afirma que ele não dá nenhuma informação nos horários cedidos: “NESSE

PROGRAMA, ESSE HORÁRIO NUNCA FOI MEU, QUER DIZER, O HORÁRIO É MEU,

SÓ QUE CEDIDO PARA ELE FAZER O PROGRAMA. ENTÃO DENTRO DAQUELE

HORÁRIO EU NÃO DOU NENHUMA INFORMAÇÃO, EU NÃO INTERFIRO NAQUELE

HORÁRIO, É DELE”.

Ou seja, de acordo com o depoimento do Sr. Davilson Sales, já é possível concluir

que as veiculações advindas do contrato firmado entre a emissora Pinhal Rádio

Clube e a Prefeitura Municipal ocorrem dentro da programação cedida ao

Vereador Dione Laurindo.

Isso cominado com a cláusula “H” do contrato firmado entre a Pinhal Rádio

Clube, representada pelo Sr. Davilson Sales a qual estabelece que todo o

faturamento advindo de publicidades nos horários serão revertidos totalmente

ao cessionário, Dione Laurindo e Aparecido Faria.

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Destaca-se que os contratos dos Srs. José Maria, Maurício Cristiano e José

Carlos Ribeiro deixam claro que poderão vender publicidade, conforme cláusula

7.1 em ambos os contratos fls. 82 a 86 e 89 a 92:

CLÁUSULA 7.1: “A CESSIONÁRIA PODERÁ AGENCIAR OU VENDER

PUBLICIDADE EM QUALQUER MUNICÍPIO, CUJOS RESULTADOS SERÃO

INTEIRAMENTE SEUS”.

Porém, como já mencionado anteriormente, os respectivos contratos preveem a

reserva de horários, diferentemente do contrato firmado com o Vereador Dione

Laurindo e Aparecido Faria.

Da análise, fatalmente se verifica que as inserções referentes ao contrato com a

Prefeitura Municipal e Câmara Municipal são revertidos integralmente para o

Vereador Dione Laurindo.

Visto que, conforme mencionado inicialmente, a Pinhal Rádio Clube não fez

nenhuma reserva de horários no contrato celebrado com Dione Laurindo e

Aparecido Faria, diferentemente do que constam nos contratos dos senhores

José Carlos Batista Ribeiro e Maurício Cristiano.

CLÁUSULA F – O CESSIONÁRIO SERÁ OBRIGADO A RESPONDER A TODAS

AS QUESTÕES TRABALHISTAS DOS FUNCIONÁRIOS A TODOS OS

FUNCIONÁRIOS QUE UTILIZAR NOS HORÁRIOS.

Nos contratos celebrados com José Carlos Batista Ribeiro e Maurício Cristiano,

de fato existem cláusulas com previsão sobre a responsabilização pelos salários

e encargos dos funcionários utilizados naquele horário listados nas cláusulas 06

e 10: cláusula 06: “COM EXCEÇÃO DOS SÓCIOS QUE CONSTITUÍRAM A

CESSIONÁRIA TODOS OS DEMAIS FUNCIONÁRIOS OU TERCEIROS A SEREM

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UTILIZADOS POR ESTA NAS TRANSMISSÕES AQUI REFERIDAS, DEVERÃO SER

PREVIAMENTE APROVADOS PELO CEDENTE”.

Cláusula 10: “Todos os encargos salariais, sociais, previdenciais e securitários,

inclusive seguro de vida dos funcionários que a cessionária utilizar nas

transmissões serão responsabilidade desta, bem como efetuar as anotações em

conformidade com a categoria profissional do funcionário”.

Muito diferente, no entanto, a redação das cláusulas G e Q, do contrato firmado

entre a Pinhal Rádio Clube e os Senhores Dione Laurindo e Aparecido Faria, a

qual em sua redação estabelece:

G – OS FUNCIONÁRIOS SERÃO REGISTRADOS NA EMPRESA DOS

CESSIONÁRIOS;

Q – A PINHAL RÁDIO CLUBE TERÁ O PRAZO DE ATÉ TRÊS MESES PARA DEMITIR

SEUS FUNCIONÁRIOS, COM EXECEÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS APARECIDO

FARIA E SIOMARA COREZOLA ATÉ SUAS RESPECTIVAS APOSENTADORIAS.

Ora, não se mostra coerente e compatível para uma simples cessão de horário

estabelecer a demissão de funcionários da cedente.

Vejamos que a grande diferença entre os contratos celebrados dão ensejo à

conclusão de que de fato a denúncia realizada pelo munícipe Marco Antonio

Souza Mendes procede, havendo sim, uma relação de arrendamento e de

controlador na emissora de Rádio Pinhal Rádio Clube, contrariando assim a

inteligência do artigo 54, incisos I, alínea a e inciso II, alínea a da Constituição

Federal e demais artigos já mencionados na página 01 deste relatório.

Isso fica AINDA MAIS evidente com o depoimento abaixo transcrito, da

testemunha José Maria Marteli Scannapieco fls. 394-399.

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RELATOR - TÁ OK SENHOR JOSÉ MARIA. COM TODO ESSE TEMPO DE

PINHAL RÁDIO CLUBE O SENHOR EXECUTA OS TRABALHOS LÁ, O

SENHOR ALGUMA VEZ PRESENCIOU O VEREADOR DIONE LAURINDO

PASSANDO ATRIBUIÇÕES PARA ALGUM DOS FUNCIONÁRIOS?

JOSÉ MARIA: O DIONE LÓGICO QUE ESTAVA DIARIAMENTE LÁ, ELE

REALMENTE TINHA, A GENTE CHAMAVA DE GERENTÃO, O GERENTÃO

LÁ. ENTÃO, AÍ ELE DAVA REALMENTE AS COORDENADAS LÁ.

Em seu depoimento a testemunha quando perguntado pela defesa sobre quem

administra a rádio, afirma categoricamente que quem administra a rádio é o

Vereador Dione Laurindo. Afirmando ainda que o Vereador Dione Laurindo é o

“gerentão” há aproximadamente 08 anos. Posteriormente quando indagado pelo

relator Marco Antonio da Rocha, reafirmou que o Vereador Dione Laurindo é

quem administra a rádio., senão vejamos:

COMISSÃO PROCESSANTE DEPOIMENTO: JOSÉ MARIA MARTELLI SCANNAPIECO

DATA: Quinta-feira, 21/05/2020 – 14h42min

José Maria: O que existia na realidade era um contrato de relacionamento mútuo, de confiança mútua, melhor dizendo. Era um contrato verbal entre mim e a rádio. (...) José Maria: Ah sim, e depois o Davilson achou interessante a gente deixasse documentado aquilo que era verbalmente combinado. É muito, 40 anos na rádio, a gente tinha muita confiança um no outro e aí nós colocamos no papel, ficou registrado na rádio todo o período em que eu estive na apresentação de um outro programa chamado Show de Sucesso. Relator - O senhor lembra quando assinou esse contrato? José Maria: A não, foi agora recentemente.

Relator - Cerca de quanto tempo mais ou menos? José Maria: Talvez, uns quatro ou cinco meses. Relator - Aqui no processo está constando 22 de fevereiro do ano de 2002, 18 anos atrás, né? José Maria: Então, mas acontece que ficou registrado o período, ficou registrado aquilo que era, não tinha contrato, aquilo que era combinado entre as partes verbalmente, foi colocado no papel para que ficasse registrado nos anais da rádio.

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(...) José Maria: Assinei esse de 2002 a 2007. Porque era uma coisa que existia verbalmente, né? Muita confiança entre as ambas as partes, é bom guardar, colocar no papel e guardar assim lá. (...) Defesa – Senhor José Maria, quem é o proprietário da rádio? José Maria: Davilson. Defesa - Quem administra a rádio?

José Maria: O Dione Defesa – Quem administra a programação da rádio? José Maria: Programação da rádio é o Dione Laurindo. Defesa – Como jornalista responsável?

José Maria: Também, jornalista responsável. (...) Relator – Senhor José Maria, o senhor mencionou aí anteriormente que o Dione é um gerentão entre aspas, tá? José Maria: É

Relator – O senhor saberia informar desde quando ele administra a Pinhal Rádio Clube? José Maria: Ai, talvez uns oito anos, não lembro agora não. Relator – Mais ou menos em torno de oito anos.

José Maria: Oito anos, por aí, é. Relator – Ok. Defesa - Senhor José Maria, o Dione alguma vez já te deu alguma ordem? José Maria: Não, nosso relacionamento é muito positivo, muito cordial, ordem assim não. Defesa – Não, recomendação, se ele falava o senhor obedecia, entendeu? José Maria: Ah, sim. Claro. Defesa – Ele tem esse poder dentro da rádio?

José Maria: Não, é. Defesa – Interferir na programação? José Maria: Com relação à minha pessoa em si, é uma relação muito cordial. Defesa – Não, não, o que estou querendo dizer, o senhor sabe dizer, além da relação que ele tem, de criar conteúdo para que seja dito lá no jornal ... José Maria: Ah, sim, claro. Ele pode sugerir. Como gerentão da rádio ele pode ... (...).

Relator – O senhor falou de gerentão, né?, Que é uma questão de amizade, e ele administra ou não, então? Fiquei na dúvida. José Maria - Sim, ele administra.

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É certo que a testemunha afirma que o proprietário da Pinhal Rádio Clube é o

Senhor Davilson Sales, fato que não se questiona, até porque os documentos

que instruem o processo da COMISSÃO PROCESSANTE apontam que o Senhor

Davilson é o proprietário de direito da emissora, contudo, da mesma forma que

resta evidente que o Vereador Dione Laurindo é mais que um cessionário, é o

administrador da emissora, é um arrendatário.

Importante destacar que a defesa, induz a resposta das testemunhas sempre

que a resposta é contrária ao interesse de seu cliente, tentando contornar e

induzir a resposta da testemunha, tentando também induzir a Comissão

Processante a erro.

Nota-se tal estratégia em todos os depoimentos, destacando de forma evidente

no testemunho acima transcrito referente a Testemunha José Maria Marteli

Scannapieco, bem como no testemunho da Senhora Siomara Corezolla. Vejamos

que a Senhora Siomara inicia seu depoimento afirmando que o Vereador Dione

Laurindo é quem administra a rádio. Afirma que já recebeu pagamento advindo

do Vereador Dione Laurindo. Afirma que no serviço responde ao Vereador Dione

Laurindo.

No entanto, a partir da indução da defesa, muda a forma das suas

respostas:

(...)

Defesa: Há 30 anos que a sra. Trabalha lá? Quem que é o proprietário

da Rádio?

Siomara: Davilson Sales

Defesa: Quem administra a rádio?

Siomara: Dione Laurindo

Defesa: Dione Laurindo que administra a rádio?

Siomara: Isso.

Defesa: A sra. sabe me dizer quem recebe o bruto da rádio?

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Siomara: Ele repassa pro Davilson, ele administra a rádio

Defesa: O Davilson que ...

Siomara: recebe.

Defesa: A sra sabe me dizer, a senhora responde a quem? Quem é o

chefe?

Siomara: No serviço, o Dione, na empresa o Davilson.

Defesa: Dona Siomara, existem outros locutores na rádio que fazem

esse serviço para pro Dione?

Siomara: Sim, claro.

Defesa: .........

Siomara: É cessão de horário, tem alguns que tem os seus horários.

Cessionaram aquele horário e fazem acerto daquele período.

Defesa: Eles administram nesse período?

Siomara: Os horários deles, secionado sim.

Defesa: Então o Dione administra o período dele?

Siomara: Sim, cada um o seu período.

Defesa: a grade da rádio quem define é o Davilson?

Siomara: quem define, sim.

Defesa: então o proprietário e administrador geral da rádio é o

Davilson?

Siomara: Sim, mas assim, como cada um tem também os seus horários

secionados, cada um toma conta dele.

Defesa: Então o Dione não é o Administrador da Rádio? Ele cuida do

horário dele?

(...)

Relator: Houve algum pagamento de salário pelo Vereador Dione

Laurindo ou por sua esposa Pâmela diretamente a senhora?

Siomara: Houve no começo, quando ele secionou o horário, ele fez

pagamento pra mim sim.

Relator: e esse começo, a senhora lembra quando foi?

Siomara: ele nem era Vereador, nada. Era só meu colega de trabalho,

não fazia parte nem da política.

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(...)

(...)

Relator: a senhora alguma vez já foi registrada em nome da empresa

Laurindo & Canato?

Siomara: não

Relator: sabe se algum funcionário que trabalha na Rádio esteja ou

tenha sido registrado no nome da empresa Laurindo & Canato?

Siomara: creio que sim

Relator: senhora lembra de algum deles de cabeça?

Siomara: conheço o Caio Cesar Rosa

Relator: mais algum? A senhora lembra?

Siomara: não

Relator: a senhora já fez ou recebeu algum pagamento diretamente do

Vereador Dione Laurindo?

Siomara: já recebi, no começo eu recebi sim dele

Relator: a senhora recebia em cheque? Em mãos?

Siomara: recebia em cheque.

(...)

Relator: no início a senhora falou que o Dione é o administrador, a

senhora poderia esclarecer melhor sobre essa administração do

Vereador Dione Laurindo dentro da Pinhal Rádio Clube?

Siomara: é, cada funcionário tem uma cessão de horário, assim: o Bem

Te Vi tem o dele que é de manhã e nos finais de semana, o Maurício tem

a tarde e o Dione tem também os horários da programação e é um pouco

maior os horários dele, mas é igual a todos. Mas como a gente já está

há muito tempo, cada horário, cada um já sabe o que faz, então ninguém

delega poder a ninguém, cada um já chega e sabe o que vai fazer. Todos

os funcionários são mais antigos, então não tem muito que ficar dando

ordens, delegando poder.

Relator: a senhora saberia informar esse horário que o Vereador Dione

Laurindo tem dentro da Pinhal Rádio Clube? Quantas horas diárias?

De que hora a que hora?

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Siomara: Horário, horário, horário, eu não sei. Mas sei que é maior que

o dos outros, ele tem horário da 5:30 da manhã, depois tem do Bem Te

Vi que vem na sequência. Tipo assim: das 5:30 às 6:00 é dele, depois

das 6 às 8 é do Bem Te Vi, depois volta com ele e depois a tarde é do

Maurício. São horários picados, então eu não tenho assim como te falar,

a são 12 horas, 24 horas ... não tem, porque no meio desses horários

tem outras pessoas que tem horário. Então ele vai de um período, para,

volta, vem outra pessoa, outro período. Tem todas as documentações

que precisar, contrato de cada funcionário.

Relator: a senhora tem conhecimento desse contrato de cessão de

horário entre o Vereador Dione Laurindo e a Pinhal Rádio Clube Ltda?

Siomara: Eu não tinha, mas acho que agora todo mundo tem.

Relator: a senhora nunca tinha ouvido falar antes da denúncia sobre

essa cessão de horários?

Siomara: Sim, sim. Eu ouvi falar, mas nunca tinha vista o contrato. O

contrato só vi depois.

(...)

Defesa: a senhora me disse que no começo do contrato a senhora

recebeu pagamento do Vereador Dione, a senhora sabe especificar em

que época foi isso?

Siomara: foi junho de 2000 o primeiro pagamento, no começo do contrato

ele me pagou com dinheiro dele, 2015.

Defesa: o Monsenhor Augusto também tem horário?

Siomara: sim, da meio dia a meio dia e meia e da 5:30 da manhã às 6

horas.

Defesa: então ele também é cessionário, no mesmo sistema do

Vereador Dione?

Siomara: é, só que no caso a propaganda dele é fora de horário, a gente

recebe em banco e nem passa pela ... ninguém vai receber.

Defesa: a senhora também, só para reafirmar é cada cessionário é o

administrador do seu horário?

Siomara: sim

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Defesa: o administrador geral é o Sr. Davilson?

Siomara: na programação cada um tem seu horário, cada um cuida do

seu horário. Pela rádio quem responde tudo é o Davilson.

(...)

Portanto, muito embora o Sr. Davilson Sales conste como o proprietário da

Pinhal Rádio Clube, restou amplamente demonstrado que o Vereador Dione

Laurindo possui muito mais que um contrato de cessão de horário, sendo o

arrendatário, controlador, “gerente” da emissora, auferindo os lucros e

rendimentos da emissora, conforme fundamentação.

O Senhor Davilson Salles menciona que não interfere nos horários cedidos, que

toda publicidade advinda daquele horário é revertida em favor do cessionário,

consubstanciando a cláusula H do contrato firmado com os senhores Dione

Laurindo e Aparecido Faria.

Se contradiz, porque afirma que o Vereador Dione Laurindo foi seu funcionário

e posteriormente afirma que o Vereador Dione Laurindo é seu funcionário, mas

em nenhum momento a defesa apresentou alguma prova do vínculo

empregatício.

Quis justificar o depoimento da Sra. Siomara Corezolla onde a mesma afirma

que o Vereador Dione Laurindo era é o administrator da rádio, justificando ser o

Vereador Dione Laurindo o jornalista responsável. Afirmando ser seu

funcionário: (...) Dione não, o Dione não era um funcionário registrado nessa

emissora, entendeu, ele era repórter policial e recebia cachê, assim como recebe o

repórter Luís Fernando, hoje.

Em outro momento, afirma que o Vereador Dione Laurindo é seu funcionário:

(...) Dione, quando ele se formou jornalista, a legislação, o Sindicato exigia um

jornalista responsável, assim como tem um farmacêutico responsável pela

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farmácia. A farmácia tem que ter um responsável, a rádio tinha que ter um

jornalista responsável, certo. Então, no acordo que eu fiz com ele, contratei ele

como jornalista responsável para assinar pelo jornal da rádio também. Então,

como ele faz essa questão jornalística, é ele que exige folga para os repórteres e

apresentadores do jornal, no programa do jornal porque é responsabilidade dele,

mas ele é meu funcionário e está respondendo pelo jornal que também é meu e

que é da Pinhal Rádio Clube há 50 anos. Então, se a D. Siomara falou que ele

troca o horário policial dele, tudo bem. Nesse contrato aí, do horário do Faria e

dele, ... nos outros horários é assim. Agora, ele é o jornalista responsável da rádio,

porque ele é formado e na época havia essa necessidade. Eu não renegociei isso

com ele ainda, ele continua a serviço da rádio hoje.

Outro momento do depoimento do Sr. Davilson Sales que merece destaque e se

mostra contraditório, é o momento em que diante da pergunta da defesa o

mesmo afirma que recebe os lucros da emissora, contradizendo a Cláusula H do

contrato firmado com Dione Laurindo.

Não restam dúvidas que a relação de emprego entre o Vereador Dione Laurindo

e a Pinhal Rádio Clube não foi comprovada, até porque, não teria coerência na

realização de um contrato de “cessão de horário” de 23 horas com pagamento

mensal elevado por um funcionário. A relação isonômica entre os contratos fls.

02-04 e 81-98 , também não foi comprovada, concluindo se tratar de uma

situação de fato correspondente a um arrendamento ou, no mínimo que o

denunciado controlava e administrava a rádio.

Ademais, no caso do denunciado exercer função remunerada também estaria

sendo violado os artigos 54, inciso II, alínea a, da Constituição Federal. Portanto,

por qualquer ângulo, a conduta do denunciado violou os preceitos

constitucionais e legais.

Restou demostrado que o Vereador Dione Laurindo, a partir de sua posse não

desincompatibilizou e, na condição de arrendatário da emissora de radiodifusão,

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inevitavelmente sendo o controlador de empresa que firmou contrato com pessoa

jurídica de direito público, advindo do contrato de prestação de serviços firmado entre a Pinhal

Rádio Clube a Prefeitura Municipal de Espírito Santo do Pinhal.

Diante o exposto, restou demonstrado que a conduta do denunciado afrontou o

disposto nos artigos 54, inciso I, alínea “a “e II, alínea “a “ da Constituição

Federal, que devem ser analogicamente aplicados aos vereadores em razão do

disposto no art. 29 da CF, bem como violou os artigos: art. 4º, § 6º, art. 276, I,

IV, XIII, art. 279, I, a), II, a), art. 298, II e IV e art. 323, VIII e XI do Regimento

Interno e ainda: art. 8º, § 3º, art. 23, IV e art. 25, II e IV da Lei Orgânica

Municipal, dando assim ensejo a aplicação do art. 297, art. 306, III e art. 310 do

Regimento Interno e art. 24 e 65 da Lei Orgânica Municipal, art. 7º, I, Decreto-

lei nº 201/67 e o art. 11, I, da Lei 8.429 de 1992 e também, na qualidade de

vereador e representante da população, violou os princípios da Administração

Pública, em especial da MORALIDADE e da IMPESSOALIDADE.

Desta forma, a Comissão Processante emite parecer final pela procedência da

acusação concluindo pela cassação do mandato em razão da violação aos artigos

acima mencionados.

Espírito Santo do Pinhal, 18 de junho de 2020